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Parmetros para aEducao Bsica do
Estado de Pernambuco
2013
Parmetros para aEducao Bsica do
Estado de Pernambuco
Parmetros Curriculares de Histria Educao de Jovens
e Adultos1
1 importante pontuar que, para todos os fins, este documento considera a educao de idosos como parte integrante da EJA. Apenas no se agrega a palavra Idosos Educao de Jovens e Adultos porque a legislao vigente ainda no contempla essa demanda que, no entanto, conta com o apoio dos educadores e estudantes de EJA.
Eduardo CamposGovernador do Estado
Joo Lyra NetoVice-Governador
Ricardo DantasSecretrio de Educao
Ana SelvaSecretria Executiva de Desenvolvimento da Educao
Ceclia PatriotaSecretria Executiva de Gesto de Rede
Paulo DutraSecretrio Executivo de Educao Profissional
Undime | PE
Horcio Reis Presidente Estadual
GERNCIAS DA SEDE
Shirley MaltaGerente de Polticas Educacionais de Educao Infantil e Ensino Fundamental
Raquel QueirozGerente de Polticas Educacionais do Ensino Mdio
Cludia AbreuGerente de Educao de Jovens e Adultos
Cludia GomesGerente de Correo de Fluxo Escolar
Marta LimaGerente de Polticas Educacionais em Direitos Humanos
Vicncia TorresGerente de Normatizao do Ensino
Albanize CardosoGerente de Polticas Educacionais de Educao Especial
Epifnia ValenaGerente de Avaliao e Monitoramento
GERNCIAS REGIONAIS DE EDUCAO
Antonio Fernando Santos SilvaGestor GRE Agreste Centro Norte Caruaru
Paulo Manoel LinsGestor GRE Agreste Meridional Garanhuns
Sinsio Monteiro de Melo FilhoGestor GRE Metropolitana Norte
Maria Cleide Gualter Alencar ArraesGestora GRE Serto do Araripe Araripina
Josefa Rita de Cssia Lima SerafimGestora da GRE Serto do Alto Paje Afogados da Ingazeira
Anete Ferraz de Lima FreireGestora GRE Serto Mdio So Francisco Petrolina
Ana Maria Xavier de Melo SantosGestora GRE Mata Centro Vitria de Santo Anto
Luciana Anacleto SilvaGestora GRE Mata Norte Nazar da Mata
Sandra Valria CavalcantiGestora GRE Mata Sul
Gilvani PilGestora GRE Recife Norte
Marta Maria LiraGestora GRE Recife Sul
Patrcia Monteiro CmaraGestora GRE Metropolitana Sul
Elma dos Santos RodriguesGestora GRE Serto do Moxot Ipanema Arcoverde
Maria Dilma Marques Torres Novaes GoianaGestora GRE Serto do Submdio So Francisco Floresta
Edjane Ribeiro dos SantosGestora GRE Vale do Capibaribe Limoeiro
Waldemar Alves da Silva JniorGestor GRE Serto Central Salgueiro
Jorge de Lima BeltroGestor GRE Litoral Sul Barreiros
CONSULTORES EM HISTRIA
Daniella Maria Pinto Alves FerreiraDiva Carneiro do NascimentoDurval Paulo Gomes JuniorEdimir Dantas de S OliveiraEleta de Carvalho FreireFlaviana Karla Gomes Leonel de LimaJuliana Alves de Andrade Julio Cesar Pessoa de Barros
Ladjane Carla TorresMaria Thereza Didier de MoraesMarta Margarida de Andrade LimaRicardo Frederico de AraujoRimrio Clismrio da SilvaThiago Oliveira Reis M. FreireVera Lcia Braga de MouraWaldilma Batista de Santana
Reitor da Universidade Federal de Juiz de ForaHenrique Duque de Miranda Chaves Filho
Coordenao Geral do CAEdLina Ktia Mesquita Oliveira
Coordenao Tcnica do ProjetoManuel Fernando Palcios da Cunha Melo
Coordenao de Anlises e PublicaesWagner Silveira Rezende
Coordenao de Design da ComunicaoJuliana Dias Souza Damasceno
EQUIPE TCNICA
Coordenao Pedaggica GeralMaria Jos Vieira Fres
Coordenao de Planejamento e LogsticaGilson Bretas
OrganizaoMaria Umbelina Caiafa Salgado
Assessoria PedaggicaAna Lcia Amaral
Assessoria PedaggicaMaria Adlia Nunes Figueiredo
DiagramaoLuiza Sarrapio
Responsvel pelo Projeto GrficoRmulo Oliveira de Farias
Responsvel pelo Projeto das CapasEdna Rezende S. de Alcntara
RevisoLcia Helena Furtado Moura
Sandra Maria Andrade del-Gaudio
Especialistas em HistriaAdriana Lenira Fornari de Souza
Alxia Pdua Franco Selva Guimares Fonseca
Zlia Granja Porto
SUMRIO
11 ......................................................................................... APRESENTAO
13 ............................................................................................ INTRODUO
15 ............................. INTRODUO: REFLExES SOBRE OS RUMOS DO ENSINO DE HISTRIA
18 .......................................................... 1 ESCOLA, SUJEITOS E SABERES
22 ..................................................... 2 ENSINAR E APRENDER HISTRIA
42 ................................................... 3 OS PARMETROS CURRICULARES
42 ...............................................................................................DE HISTRIA
61 ..........................................................................................4 REFERNCIAS
64 ...................................................... 5 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
66 ....................................................................................COLABORADORES
Apresentao
Os parmetros curriculares que agora chegam s mos dos
professores tm como objetivo orientar o processo de ensino
e aprendizagem e tambm as prticas pedaggicas nas salas
de aula da rede estadual de ensino. Dessa forma, antes de tudo,
este documento deve ser usado cotidianamente como parte do
material pedaggico de que dispe o educador.
Ao estabelecerem as expectativas de aprendizagem dos estudantes
em cada disciplina e em todas as etapas da educao bsica,
os parmetros curriculares funcionam como um instrumento
decisivo de acompanhamento escolar. E toda ferramenta de
acompanhamento, usada de maneira adequada, tambm
um instrumento de diagnstico das necessidades e das prticas
educativas que devem ser empreendidas para melhorar o
rendimento escolar.
A elaborao dos novos parmetros curriculares faz parte do
esforo da Secretaria de Educao do Estado de Pernambuco (SEE)
em estabelecer um currculo escolar que esteja em consonncia
com as transformaes sociais que acontecem na sociedade.
preciso que a escola seja capaz de atender s expectativas dos
estudantes desse novo mundo.
Este documento foi pensado e elaborado a partir de incansveis
debates, propostas, e avaliaes da comunidade acadmica, de
especialistas da SEE, das secretarias municipais de educao. E, claro,
dos professores da rede pblica de ensino. Por isso, os parmetros
curriculares foram feitos por professores para professores.
Ricardo DantasSecretrio de Educao de Pernambuco
Introduo
com muita satisfao que a Secretaria de Educao do Estado de
Pernambuco publica os Parmetros Curriculares do Estado, com
cadernos especficos para cada componente curricular e com um
caderno sobre as concepes tericas que embasam o processo
de ensino e aprendizagem da rede pblica.
A elaborao dos Parmetros foi uma construo coletiva
de professores da rede estadual, das redes municipais, de
universidades pblicas do estado de Pernambuco e do Centro
de Polticas Pblicas e Avaliao da Educao da Universidade
Federal de Juiz Fora/Caed. Na formulao destes documentos,
participaram professores de todas as regies do Estado, debatendo
conceitos, propostas, metas e objetivos de ensino de cada um dos
componentes curriculares. vlido evidenciar o papel articulador
e o empenho substancial dos Educadores, Gerentes Regionais
de Educao e da UNDIME no processo de construo desses
Parmetros. Assim, ressaltamos a importncia da construo plural
deste documento.
Esta publicao representa um momento importante para a
educao do estado em que diversos setores compartilharam
saberes em prol de avanos nas diretrizes e princpios educacionais
e tambm na organizao curricular das redes pblicas do estado
de Pernambuco. Alm disto, de forma pioneira, foram elaborados
parmetros para Educao de Jovens e Adultos, contemplando
todos os componentes curriculares.
O objetivo deste documento contribuir para a qualidade
da Educao de Pernambuco, proporcionando a todos os
pernambucanos uma formao de qualidade, pautada na
Educao em Direitos Humanos, que garanta a sistematizao dos
conhecimentos desenvolvidos na sociedade e o desenvolvimento
integral do ser humano. Neste documento, o professor ir
encontrar uma discusso de aspectos importantes na construo
do conhecimento, que no traz receitas prontas, mas que fomenta
a reflexo e o desenvolvimento de caminhos para qualificao
do processo de ensino e de aprendizagem. Ao mesmo tempo,
o docente ter clareza de objetivos a alcanar no seu trabalho
pedaggico.
Por fim, a publicao dos Parmetros Curriculares, integrando
as redes municipais e a estadual, tambm deve ser entendida
como aspecto fundamental no processo de democratizao do
conhecimento, garantindo sintonia com as diretrizes nacionais,
articulao entre as etapas e nveis de ensino, e, por conseguinte,
possibilitando melhores condies de integrao entre os espaos
escolares.
Esperamos que os Parmetros sejam teis aos professores no
planejamento e desenvolvimento do trabalho pedaggico.
Ana SelvaSecretria Executiva de
Desenvolvimento da Educao
PARMETROS CURRICULARES DE HISTRIA
15
IntROdUO: REflExES SOBRE OS RUMOS dO EnSInO dE HIStRIA
Nas ltimas dcadas do sculo xx, ocorreu no Brasil um intenso
debate sobre o ensino de Histria, que foi acompanhado de
reformas curriculares, de norte a sul do pas. Propostas de
renovao de metodologias, temas, problemas e fontes foram
criadas e reapropriadas em salas de aula. No processo de discusso
e renovao curricular desencadeado a partir dos anos 1980, uma
das principais lutas dos movimentos acadmicos e sociais foi pela
revalorizao da Histria e demais componentes curriculares das
Cincias Humanas como reas especficas do conhecimento na
educao bsica. Durante os anos 1990, as disciplinas Histria
e Geografia foram desmembradas no ensino fundamental e os
Parmetros Curriculares Nacionais (PCNs), implementados pelo
Ministrio da Educao (MEC), a partir de 1997, indicam o estudo da
Histria e da Geografia desde os anos iniciais, em todo o territrio
nacional.
No sculo xxI, consolidou-se no Brasil democrtico uma rica
diversidade de modos de conceber e ensinar Histria, na complexa
e plural realidade escolar brasileira. No h, entre ns, um ensino
nico, nem um conhecimento histrico exclusivo. A atual
produo acadmica e didtica na rea da Histria e da Educao,
os documentos das polticas pblicas, os debates realizados nos
espaos educacionais evidenciam uma variedade de propostas
de temas, problemas, abordagens e fontes de estudo de Histria,
produzidos por diferentes agentes: professores, historiadores,
educadores, produtores de materiais didticos. O movimento
PARMETROS PARA A EDUCAO BSICA DO ESTADO DE PERNAMBUCO
16 expressa o dilogo existente entre experincias locais, nacionais e
internacionais, na busca de respostas s demandas da sociedade.
Esse contexto requer de ns, educadores, uma reflexo permanente
sobre o que, para que, por que e como ensinar. Isso significa pensar
acerca do que se deseja e espera que os estudantes aprendam.
A Histria, como saber escolar, tem um papel fundamental na
formao da cidadania, mediante a compreenso da experincia
humana em diversos tempos e lugares. Logo, ocupa um lugar
estratgico no currculo escolar, pois contribui para a construo
de identidades, de sujeitos que no apenas vivem a histria, mas
participam ativamente de sua construo e exercem, no cotidiano,
um dos direitos bsicos da cidadania: o acesso educao e ao
conhecimento.
Nesse sentido, acreditamos que as distintas abordagens e
perspectivas tericas, polticas e pedaggicas do ensino e
aprendizagem de Histria, as mltiplas interpretaes que
perpassam o debate curricular devam ser tratadas com uma
riqueza de debate prpria ao espao pblico. O movimento
de reformulao curricular constitui um espao e um tempo
privilegiados para a formulao e debate de proposies sobre
o ensinar e aprender Histria. As narrativas produzidas de forma
coletiva e democrtica constituem referenciais potencializadores
de novas reflexes e prticas educativas em Histria.
Este documento objetiva apresentar as proposies debatidas
e formuladas com profissionais da educao do estado de
Pernambuco, envolvidos no processo de ensino e aprendizagem
em Histria. Est organizado em trs partes: a primeira apresenta os
princpios terico-metodolgicos, as concepes historiogrficas
e pedaggicas norteadoras da Proposta de Parmetros Curriculares
de Histria; a segunda e terceira apresentam a arquitetura curricular
da proposta, organizada em ncleos conceituais e temticos e
PARMETROS CURRICULARES DE HISTRIA
17expectativas de aprendizagem. No fim, so descritas as referncias
utilizadas na construo do texto curricular e apresenta-se uma
bibliografia complementar.
Desejamos que os princpios, os desafios e as perspectivas do
ensino e aprendizagem de Histria expressos nesse movimento
de reconstruo curricular possam convergir, no sentido de
assegurar uma experincia gratificante para gestores, professores
e estudantes, nas diferentes realidades escolares do estado de
Pernambuco!
PARMETROS PARA A EDUCAO BSICA DO ESTADO DE PERNAMBUCO
18
1 EScOlA, SUjEItOS E SABERES
No tempo presente, pesquisadores, formadores, gestores e
professores brasileiros, de um modo geral, compreendem a
escola como um espao complexo de debates de diferentes
propostas de construo e socializao de saberes. Um espao de
formao dos indivduos, de produo e reproduo de culturas,
saberes, ideias e valores. De acordo com o artigo 11 das Diretrizes
Curriculares Nacionais Gerais para a Educao Bsica (2010), a
escola de Educao Bsica o espao em que se ressignifica e se
recria a cultura herdada, reconstruindo-se as identidades culturais,
em que se aprende a valorizar as razes prprias das diferentes
regies do Pas. Em outras palavras, a escola constitui um espao
democrtico, no qual diversas possibilidades de aprender e
ensinar esto presentes. Lugar de diversidade, de construo de
identidades e saberes.
certo que a formao histrica dos sujeitos, assim como o
processo de aprendizagem ocorrem tambm em outros espaos
educativos, nos diversos tempos da vida. Isso no significa
desvalorizar o papel da escola, da educao escolar, como lugar
de aprendizagem e desenvolvimento humano. Ao contrrio, a
escola continua a ser um espao de enorme importncia para a
maior parte da populao brasileira, que no dispe, por exemplo,
de bibliotecas, laboratrios e computadores em casa (SILVA;
GUIMARES, 2007). A escola um local para convvio em torno
dos saberes, pois oferece oportunidades para a exposio, o
debate e a soluo de dvidas, assim como para a apresentao
e a discusso de conquistas e aprendizagens alcanadas por
estudantes e professores.
PARMETROS CURRICULARES DE HISTRIA
19A Histria, como um campo de saber, componente curricular
do ncleo da formao bsica obrigatria, conforme definido
no Artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional,
desempenha um papel educativo, cultural e poltico no espao
escolar. Sua relao com a construo da cidadania explcita e
pressupe o dilogo que perpassa as diferentes reas e espaos
de produo de saberes. Nesse sentido, essencial localizar, no
campo da Histria, questes/temas/problemas considerados
significativos para os estudantes, considerando a multiplicidade de
culturas, etnias, grupos sociais que forma a comunidade escolar.
A escola constitui um campo de relaes, de sujeitos (professores
e estudantes), de saberes plurais (sociais, experienciais, cientficos,
escolares...) e prticas (culturais, polticas e pedaggicas...).
Concordando com Sacristn (1998), o papel do professor, no
caso o de Histria, o de um agente ativo, decisivo na seleo e
concretizao dos contedos e dos significados dos currculos. No
entanto, o professor no est sozinho frente aos estudantes e aos
saberes. Nas interaes, no entrecruzamento das relaes entre os
sujeitos, os saberes e prticas em que se configuram determinadas
culturas, os professores leem, interpretam, traduzem, reproduzem,
produzem, re/constroem propostas curriculares que lhes so
apresentadas, seja pelas instituies e prescries administrativas
ou pelos livros didticos, materiais e fontes, seja pelas demandas
da mdia, do mercado, da comunidade, das famlias e dos prprios
estudantes. Trata-se, pois, de um exerccio complexo, um ato
poltico, cultural e pedaggico.
A Histria e as demais disciplinas que compem o currculo no
so meros espaos de vulgarizao de saberes, nem tampouco de
adaptao, transposio das cincias de referncia, mas, sim, de
criaes histricas e sociais singulares, que constituem a cultura
escolar, ou melhor, as culturas escolares em sua heterogeneidade.
Como argumenta Forquin (1993, p. 17), ela dotada de uma
PARMETROS PARA A EDUCAO BSICA DO ESTADO DE PERNAMBUCO
20 dinmica prpria [...], sustentando com as outras dinmicas
culturais [...] relaes complexas e sempre sobredeterminadas,
de nenhum modo redutveis, em todo caso, aos processos de
simples reflexo [...]. Nesse sentido, Vidal (2003, p. 19) afirma que
ela constituda pela apropriao criativa de modelos, baseada
na relao entre determinantes sociais e histricas e as urgncias
prprias da organizao e do funcionamento escolares.
Os professores tm autonomia, questionam, criticam, subvertem
os saberes e as prticas no cotidiano escolar. Promovem
mediaes entre sujeitos (estudantes, professores, gestores),
saberes de diferentes fontes (livros didticos, fontes histricas,
imprensa escrita, audiovisual e digital, textos literrios e cientficos,
produes cinematogrficas, jogos e outros), prticas institucionais,
burocrticas e comunitrias, em contextos muito diferenciados.
Nessa trama relacional, imprescindvel a valorizao do papel
do professor, de sua formao, autonomia e das condies do
trabalho docente.
O processo de aprendizagem e de construo do saber um ato
coletivo. Envolve professores em sua realizao. As expectativas
de aprendizagem so propsitos que queremos alcanar e
expressam o que e para que aprender determinadas habilidades,
valores e conhecimentos. Revelam intencionalidades educativas
debatidas, apropriadas, reelaboradas em salas de aula, nas relaes
entre professor, estudante e conhecimento. Traduzem direitos de
aprendizagem inerentes ao estudante como cidado.
O professor, como mediador e incentivador do processo de
aprender, deve somar e articular os seus objetivos (da sociedade)
aos dos estudantes. Para tanto, fundamental reconhecer o
protagonismo do estudante, nas diferentes etapas e modalidades
da educao. Em Histria, dizemos que o estudante no uma
tabula rasa, expresso latina que nos indica algo como uma pgina
PARMETROS CURRICULARES DE HISTRIA
21em branco, a ser preenchida; um ser desprovido de conscincia, de
conhecimentos. Ao contrrio, o estudante um ser social completo.
Tem vida prpria fora da escola, participa de outras organizaes,
vivencia outras experincias, em outros lugares, com outras
pessoas, com as quais convive e aprende. Ou seja, possui ideias,
valores, concepes, informaes, conhecimentos mltiplos, que
podem ser o ponto de partida dos caminhos a percorrer na escola.
Os saberes construdos pelos estudantes, em diferentes espaos e
por diversos meios, constituem uma base que deve ser valorizada,
na formulao das expectativas de aprendizagem. O professor deve
possibilitar e incentivar a manifestao dos interesses, curiosidades
e anseios dos estudantes, que no apenas participam da histria,
mas fazem histria!
A Histria, como componente curricular escolar, no uma
instncia burocrtica e repetitiva de transmisso de saberes prontos
e acabados elaborados por especialistas, mas um espao em que a
busca de respostas formulada de muitas maneiras, com base nas
relaes entre estudantes, professores e conhecimentos. Aprender
estabelecer relaes!
PARMETROS PARA A EDUCAO BSICA DO ESTADO DE PERNAMBUCO
22
2 EnSInAR E APREndER HIStRIA
2.1 PArA quE EnsinAr E APrEndEr HistriA
As diretrizes e propostas curriculares para o ensino de Histria,
vigentes na educao bsica brasileira, so frutos de transformaes
ocorridas nas polticas educacionais, conquistadas a partir de
lutas de professores e pesquisadores, e expressas na Constituio
Federal de 1988 e na LDB, Lei 9394/96. Dentre as mudanas que
se tornaram realidade no contexto sociopoltico, econmico e
cultural dos anos 1990, destacamos algumas consideradas avanos
significativos para a rea: a extino das disciplinas Estudos Sociais,
EMC (Educao Moral e Cvica), OSPB (Organizao Social e
Poltica) e EPB (Estudos dos Problemas Brasileiros), nos diferentes
nveis de ensino; as reformas curriculares nos cursos superiores
de Licenciatura Curta em Estudos Sociais, que tambm foram,
paulatinamente, extintos; o fortalecimento das Licenciaturas em
Histria espaos de formao de professores para os anos
finais do ensino fundamental e ensino mdio e dos Cursos de
Pedagogia, como formadores de professores para a educao
infantil e os anos iniciais do ensino fundamental; a poltica pblica
de avaliao, aquisio e distribuio gratuita de livros didticos,
por meio da consolidao do PNLD (Programa Nacional do Livro
Didtico) e da implantao do PNLEM (Programa Nacional do Livro
Didtico do Ensino Mdio) e do PNLDEJA (Programa Nacional do
Livro Didtico da Educao de Jovens de Adultos). Ressaltam-se,
tambm, as experincias de reformulao curricular realizadas de
forma democrtica, no mbito dos estados e municpios, bem
PARMETROS CURRICULARES DE HISTRIA
23como o desenvolvimento de programas e projetos de formao
docente, em diversas regies do territrio nacional.
Os debates, a literatura acadmica e didtica, as diretrizes
legais e documentos curriculares explicitam os objetivos, as
intencionalidades, as posies polticas e tericas que configuram
o papel e o lugar da Histria no currculo escolar. Isso nos remete a
algumas perguntas: para que ensinar e aprender Histria? Por que
so endereados s escolas determinados contedos especficos,
selecionados, elaborados em diferentes lugares de produo?
Como os currculos de Histria operam, no sentido de selecionar
para que, o que e como ensinar em Histria? Como os professores,
em sala de aula, se apropriam dessas prescries? Como questiona
Boschi (2007): por que importante aprender Histria?
De acordo com os Parmetros Curriculares Nacionais, os objetivos
da disciplina Histria na educao bsica esto voltados formao
do cidado, ao desenvolvimento da capacidade de: valorizar o
direito de cidadania dos indivduos, dos grupos e dos povos, como
condio de efetivo fortalecimento da democracia, mantendo-se o
respeito s diferenas e a luta contra as desigualdades (p. 43).
Esses objetivos corroboram as finalidades da educao nacional,
definidas no Artigo 2, da Lei de Diretrizes e Bases da Educao
Nacional, Lei 9394-96, e nas Diretrizes Curriculares Nacionais
Gerais para a Educao Bsica, implantadas em 2010. Segundo
o Artigo 1 das Diretrizes, as metas ali delineadas baseiam-
se no direito de toda pessoa ao seu pleno desenvolvimento,
preparao para o exerccio da cidadania. Os PCNs de Histria
(1997) tambm reiteram essas proposies e delas se aproximam,
ainda que com limites, como apresentado por pesquisadores do
ensino de Histria, nas ltimas dcadas do sculo passado. De
acordo com Franco (p. 53, 2009),
[...] as atuais prescries para o ensino de Histria baseiam-se em
alternativas ao tradicional saber histrico escolar, construdas, [...] quando o
PARMETROS PARA A EDUCAO BSICA DO ESTADO DE PERNAMBUCO
24 etnocentrismo cultural e os regimes autoritrios passaram a ser duramente combatidos pelos movimentos sociais que defendiam a formao de
cidados mais crticos e participativos [...] Nesse contexto, o saber histrico
escolar vem sofrendo modificaes com o intuito de favorecer a discusso
de como o processo histrico constri-se no confronto de indivduos e
grupos que se movem conforme mltiplas temporalidades, projetos e
prticas sociais. Modificaes que tiram do silncio sujeitos histricos at
ento marginalizados e desqualificados e do voz, dessa forma, a diferentes
verses da histria elaboradas conforme os interesses de vrios grupos
sociais, a partir da valorizao e interpretao de diversas fontes histricas.
Verses da histria que, atravs de um mtodo de ensino dialgico, precisam
ser discutidas e interpretadas pelos alunos, com o auxlio do professor, como
verdades histrico-sociais...
Desse modo, h uma relao intrnseca entre ensinar e aprender
Histria e a construo da cidadania nos diversos contextos. A
Histria, como disciplina escolar, tem o papel de contribuir para
a formao da conscincia histrica dos homens; possibilita
a construo de identidades, a elucidao do vivido, a anlise
e crtica da realidade; potencializa a interveno social, a prxis
individual e coletiva. O estudo da Histria possibilita a compreenso
da experincia humana pelos sujeitos, cidados capazes de pensar
e agir sobre a realidade. Nessa perspectiva, a cidadania no algo
abstrato, nem algo apenas herdado via nacionalidade, nem se liga
a um nico caminho de transformao poltica. Tampouco se deve
restringir a condio de cidado de mero trabalhador, eleitor e
consumidor. A cidadania possui um carter humano e construtivo,
em condies concretas de existncia.
Bittencourt (2003), em pesquisa realizada nos anos 1990,
identificou, em vrias propostas curriculares de ensino de Histria
das unidades federativas, produzidas nesse perodo, um conceito de
cidadania limitada esfera poltica (formao do eleitor do Estado
democrtico liberal). A autora defende a ampliao do conceito de
cidadania, com a introduo e a explicitao de cidadania social,
que envolve os diversos direitos e os movimentos sociais como
ecolgicos, feministas, dos sem-terra, dentre outros. Confere,
assim, outra dimenso aos objetivos da Histria, quanto ao seu
PARMETROS CURRICULARES DE HISTRIA
25papel na formao poltica dos estudantes. Trata-se de ampliar
e no de restringir, nem simplificar ou banalizar a concepo de
cidadania, o que demanda dos professores de Histria outras
posturas em relao s temporalidades histricas, cidadania no
ensino de Histria, no contexto em que vivemos.
Segundo Jon Pags (2011, p. 20), educador espanhol, as
contribuies do ensino de Histria para a formao da cidadania
podem ser muitas e variadas. Dentre as principais, o pesquisador
ressalta a capacitao dos estudantes para que: a) construam um
olhar lcido sobre o mundo e um sentido crtico; desenvolvam
o pensamento histrico, a temporalidade, a historicidade, a
conscincia histrica; b) adquiram maturidade poltica ativa e
participativa como cidados do mundo; c) relacionem passado,
presente e futuro e construam sua conscincia histrica; d)
trabalhem sobre problemas e temas sociais e polticos; sobre
temas e problemas contemporneos; e) aprendam a debater, a
construir suas prprias opinies, a criticar, a escolher, a interpretar,
a argumentar e a analisar fatos; f) desenvolvam um sentido de sua
identidade, respeito, tolerncia e empatia em relao s demais
pessoas e culturas; g) analisem o modo como se elaboram os
discursos; aprendam a relativizar e a verificar os argumentos dos
demais e h) defendam os princpios da justia social e econmica
e rechacem a marginalizao das pessoas.
Portanto, a Histria ocupa um lugar estratgico no currculo da
educao bsica, pois, como conhecimento e prtica social,
pressupe movimento, contradio, um processo de permanente
re/construo, um campo de lutas. Como afirma Boschi (2007),
a Histria faz parte do nosso cotidiano, nos a ensina a viver, nos
ajuda a compreender a ao dos homens em sociedade e a nos
posicionar diante dela.
PARMETROS PARA A EDUCAO BSICA DO ESTADO DE PERNAMBUCO
26 2.2 O quE E COmO EnsinAr E APrEndEr Em
HistriA
No debate, na busca de respostas, de novas possibilidades de
conhecimento, novas expectativas de aprendizagem, no universo
de ampliao de temas, problemas e abordagens, livros e materiais
didticos, o professor deve estar atento para o fato de que ningum
poder aprender, nem ensinar tudo de tudo. O trabalho de
selecionar, eleger uma exigncia permanente. Um currculo de
Histria processo e produto de concepes, vises, interpretaes,
escolhas de algum ou de algum grupo em determinados lugares,
tempos, circunstncias. Os contedos, os temas e os problemas de
ensino de Histria quer aqueles selecionados por formuladores
das polticas pblicas, pesquisadores, autores de livros e materiais
da indstria editorial, quer os construdos pelos professores
na experincia cotidiana da sala de aula expressam opes,
revelam tenses, conflitos, acordos, consensos, aproximaes e
distanciamentos; enfim, relaes de poder.
Segundo o historiador ingls Jenkins,
[...] nenhum historiador consegue abarcar e assim recuperar a totalidade dos
acontecimentos passados, porque o contedo desses acontecimentos
praticamente ilimitado. [...] nenhum relato consegue recuperar o passado tal
qual era. A Histria, (para o autor), est sempre fadada a ser um constructo
pessoal, uma manifestao da perspectiva do historiador como narrador...
O passado que conhecemos sempre condicionado por nossas prprias
vises, nosso prprio presente (2005, p. 31-33).
Nessa perspectiva, a histria ensinada construo, produto de
mltiplas leituras, interpretaes de sujeitos histricos situados
socialmente. O currculo, assim como a Histria, no um
conjunto neutro de expectativas, conhecimentos escolares a
serem ensinados, apreendidos e avaliados. Como define Sacristn,
o currculo uma construo social, um projeto seletivo de cultura,
cultural, social, poltica e administrativamente condicionado (1998,
PARMETROS CURRICULARES DE HISTRIA
27p.34). Um currculo de Histria sempre fruto de escolhas, uma
opo cultural, terica, poltica e pedaggica.
De acordo com o Parecer CNE/CED 11/2000 sobre as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educao de Jovens e Adultos (p.
61), no que se refere aos componentes curriculares da EJA, deve-
se ter como referncia as diretrizes curriculares nacionais destas
mesmas etapas exaradas pela CEB/CNE: [...] valem, pois, para a
EJA as diretrizes do ensino fundamental e mdio. A elaborao
de outras diretrizes poderia se configurar na criao de uma nova
dualidade [...].
Nesse sentido, os contedos (o que ensinar), os saberes histricos
selecionados e sugeridos pelas Propostas Curriculares para o
Primeiro e Segundo Segmentos da EJA, nos anos 2000 (RIBEIRO,
2001; BRASIL, 2002), assemelham-se aos Parmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) para o ensino fundamental, isso , apresentam
uma organizao curricular por blocos de contedo ou eixos
temticos, desdobrados em subtemas. Para o primeiro segmento
da EJA, ensino fundamental, foi proposto o estudo de seis blocos
de contedo, dentro da rea interdisciplinar denominada Estudos
da Sociedade e da Natureza: O educando e o lugar de vivncia; O
corpo humano e suas necessidades; Cultura e diversidade cultural;
Os seres humanos e o meio ambiente; As atividades produtivas e as
relaes sociais; Cidadania e participao. Em relao ao segundo
segmento da EJA, para o ensino de Histria, foram propostos
dois eixos temticos, divididos em subtemas. O primeiro deles,
Relaes sociais e trabalho: migraes e identidades, subdivide-se em
Migraes, cultura e identidades; Trabalho e relaes sociais. Para
o segundo, Relaes de poder, conflitos sociais e cidadania, foram
propostos os subtemas Relaes de poder e conflitos sociais;
Cidadania e cultura contempornea.
Em relao ao ensino mdio, as Orientaes Curriculares do
PARMETROS PARA A EDUCAO BSICA DO ESTADO DE PERNAMBUCO
28 Ensino Mdio OCEM (BRASIL, 2006, p. 65-100) tambm
propem abordagens embasadas na perspectiva de um currculo
baseado no em uma listagem de contedos fragmentados,
mas em conceitos estruturadores da Histria (histria, processo
histrico, temporalidades histricas, sujeitos histricos, trabalho,
poder, cultura, memria, cidadania) que, nesse documento, so
identificados como o horizonte para a seleo e a organizao
dos contedos (p. 92) a serem realizadas no mbito de cada
contexto escolar.
Alm das OCEM, as diretrizes curriculares que norteiam o Enem
Exame Nacional do Ensino Mdio constituem referncias
na seleo de temas e contedos para o ensino de Histria na
modalidade EJA, pois muitos estudantes intencionam prestar
o referido exame, que lhes concede o certificado de concluso
desse nvel de ensino e constitui uma porta de entrada para
o ensino superior. Uma dessas proposies, denominada
Orientaes Educacionais Complementares, publicadas
pelo MEC, nos anos 2000, de forma semelhante s do ensino
fundamental, prope quatro eixos temticos para o ensino de
Histria: Cidadania: diferenas e desigualdade; Cultura e trabalho;
Transporte e comunicao no caminho da globalizao; Naes
e nacionalismos. Esses eixos so subdivididos em vrios temas e
norteiam-se por uma delimitao mais geral de conceitos histricos
bsicos, semelhantes aos definidos nas OCEM memria, tempo,
processo histrico, cidadania, cultura, trabalho e habilidades para
o trabalho com a Histria.
No estado de Pernambuco, a tendncia de organizar as propostas
curriculares por temas est evidenciada nos documentos
produzidos pela Gerncia da Educao de Jovens, Adultos e Idosos,
da Secretaria de Educao do Estado, tais como as Orientaes
Terico-Metodolgicas (OTM) produzidas, no primeiro semestre
de 2012, seguindo orientaes, diretrizes e parmetros curriculares
PARMETROS CURRICULARES DE HISTRIA
29elaborados pelo MEC. As OTM sugerem atividades ao professor
na EJA Ensino Fundamental e Mdio, convidando-o, na medida
do possvel, a desenvolv-las de forma interdisciplinar. Alm disso,
propem que o professor construa relaes entre os diferentes
contedos, atravs dos eixos estruturantes.
A organizao dos currculos de Histria por temas, problemas
ou conceitos estruturantes foi gestada no debate curricular
ocorrido no Brasil, nos anos 1980, em dilogo com experincias
europeias. Tal proposio constitua uma alternativa estrutura
curricular tradicional, que privilegiava a organizao cronolgica
linear, baseada em fatos/marcos da histria europeia, integrados,
quando possvel, aos fatos/marcos da histria da nao brasileira.
Era, assim, uma resposta crtica ao quadripartismo francs (Idade
Antiga, Mdia, Moderna e Contempornea) e verso marxista da
organizao curricular por meio dos modos de produo (Primitivo,
Escravista, Feudal, Capitalista e Socialista). Os dois modelos
difundem o eurocentrismo, tradicionalmente norteador do ensino
de Histria no Brasil, por meio de currculos, da educao bsica e
superior, e de livros didticos.
A opo por temas e conceitos estruturantes representava uma
insubordinao ao imprio do fato, ponto de localizao de
significaes e lugar onde entrevista a realizao da Histria,
como analisou Carlos Vesentini. Na obra A teia do fato (1997), o autor
nos alerta: alguns fatos so difundidos, impondo-se no conjunto
do social antes da possibilidade de qualquer reflexo especfica
voltar-se para o seu exame (p.19). A organizao dos contedos
por temas, problemas e conceitos passou a ser um desafio terico
e metodolgico, uma postura crtica ante as tramas da produo e
difuso do conhecimento histrico.
O estudo de temas e problemas da Histria do Brasil no ensino
fundamental, nos anos 1990, foi uma mudana curricular relevante,
PARMETROS PARA A EDUCAO BSICA DO ESTADO DE PERNAMBUCO
30 no seio de conquistas maiores: o fim das disciplinas Estudos
Sociais e correlatas, tais como Formao Social e Poltica,
Integrao Social; a separao das disciplinas Histria e Geografia
e, como decorrncia, a posterior produo e adoo de livros
didticos especficos para cada uma das disciplinas, nessa etapa
de formao. A implantao dessas medidas em mbito nacional
em muitos estados e municpios, elas estavam sendo realizadas
desde o fim da ditadura estimulou o debate acerca do objeto de
estudo e do papel da Histria para a formao das identidades e da
cidadania, desde os primeiros anos de escolaridade (GUIMARES,
2012). Nesse sentido, potencializaram-se as investigaes no
mbito acadmico, o repensar da formao de professores e
os investimentos em produo de livros e materiais didticos e
paradidticos voltados para a aprendizagem da Histria, no mbito
da educao.
Essas propostas de saber esto sendo repensadas. O movimento
curricular dinmico. Novas pesquisas, experincias didticas,
projetos de ensino e aprendizagem, construes curriculares
evidenciam uma rica diversidade. Nesse repensar, duas questes
so indissociveis: o que ensinar e como ensinar. Algumas
proposies vm se consolidando entre ns e produzindo
resultados exitosos na aprendizagem de Histria por crianas,
jovens, adultos e pessoas idosas.
Est em curso, h alguns anos, um processo de alargamento do
campo da histria ensinada, evidenciado na ampliao do universo
de temas, problemas estudados e de materiais/fontes utilizadas
no ensino de Histria. H experincias exitosas que visam tornar
acessvel aos estudantes uma pluralidade de fontes com diferentes
verses da histria. Verses da histria que eram recorrentes na
historiografia debatida e ensinada nas universidades so, cada vez
mais, incorporadas histria ensinada na educao bsica, por
meio de textos didticos e paradidticos, de revistas, jornais de
PARMETROS CURRICULARES DE HISTRIA
31Histria destinados ao grande pblico, filmes e outros materiais de
ampla divulgao. A histria nica, verdade absoluta que privilegia
alguns heris, mitos e fatos da memria oficial, combatida por
meio de outras leituras, fontes e verses que enfatizam a histria
como uma construo. Logo, mltiplas leituras so mobilizadas
e confrontadas nas aulas de Histria, o que requer a necessria e
permanente atualizao, investigao e incorporao de diferentes
fontes, respeitando-se as especificidades de cada uma delas e seus
dilogos.
O trabalho pedaggico, fundamentado em prticas
interdisciplinares que articulam temas histricos aos demais
componentes curriculares, mostra-se tarefa complexa, que requer
uma concepo de educao e de conhecimento interdisciplinar,
envolvimento individual e coletivo dos diferentes agentes
educativos. Na prtica, tem-se configurado em ricas possibilidades
de aprendizagem e construo de saberes, valores, habilidades.
Essa perspectiva metodolgica pode ser percebida, de modo
especial, nas atuais propostas curriculares e em livros didticos
aprovados pelo MEC para EJA, que se baseiam na interseco
das reas de conhecimento. Experincias educacionais exitosas
podem ser apreendidas em dois Programas desenvolvidos pelo
Governo Federal, nos anos 2000: a) Coleo Cadernos de EJA,
parceria Secadi/MEC e Unitrabalho1, coordenado por Francisco
Jos Carvalho Mazzeu e; b) PROJOVEM Programa Nacional de
Incluso de Jovens, coordenado por Maria Jos Vieira Feres2.
Alm disso, publicaes e apresentaes em eventos cientficos
expem experincias didticas bem sucedidas, realizadas em
escolas de diferentes lugares do Brasil, que articulam o ensino e
1 MAZZEU, F. J. C.; DEMARCO, D. J.; KALIL, L. (Orgs.). Coleo Cadernos de EJA. So Paulo: Unitrabalho; Braslia: SECADI, 2007.
2 SALGADO, M, U, C. PROJOVEM Manual do Educador. Braslia, DF, Programa Nacional de Incluso de Jovens, 2007.
PARMETROS PARA A EDUCAO BSICA DO ESTADO DE PERNAMBUCO
32 pesquisa, ou que tm como pressuposto do ensino de Histria a
pesquisa desenvolvida por meio de projetos. O desafio, em muitas
realidades, permanece o mesmo apontado desde o final dos anos
1980 e incio dos anos 1990: no banalizar o conceito de pesquisa,
confundido, muitas vezes, com cpia de textos produzidos
por outros, antes (nos anos 1980, por exemplo) capturados em
enciclopdias e livros e, na atualidade, em sites que disponibilizam
trabalhos escolares prontos, sobre diversos assuntos. Mudaram-
se as fontes, os recursos tecnolgicos. Mas o procedimento de
reproduo acrtica de informaes histricas ainda permanece,
em muitas situaes. Sem incorrer em generalizaes, s vezes, o
nico trabalho do estudante (da educao bsica universidade)
imprimir o texto e entregar ao professor. Os projetos e demais
trabalhos escolares que envolvem pesquisa requerem orientao,
acompanhamento, discusso e avaliao em todas as fases,
desde a problematizao at a publicizao dos resultados. Para
a formao da conscincia histrica, importante o estudante
compreender, desde os primeiros anos, que a Histria uma
construo elaborada a partir da coleta, anlise e confronto de
fontes. Professores e estudantes podem escrever, narrar, contar
histria.
Outra metodologia de ensino de Histria que tem sido recorrente
a prtica de construo de conceitos nas aulas de Histria.
Para Schmidt e Cainelli (2004), esse trabalho requer respeito pelo
conhecimento e pelo conjunto de representaes que o estudante
traz para a sala de aula. Tendo como referncia suas representaes,
o estudante tem a possibilidade de efetivar suas prprias ideias
sobre os fenmenos do mundo social (p. 61-62). Os conceitos so
denominados possibilidades cognitivas pelas autoras. Alguns so
considerados chaves para o processo de compreenso da Histria,
tais como tempo e espao, fontes histricas, sujeito histrico,
trabalho e cultura, sociedade e relaes sociais de gnero, classe,
PARMETROS CURRICULARES DE HISTRIA
33grupos tnico-raciais. Como possibilidades cognitivas, devem
ser desenvolvidas desde os primeiros anos de escolarizao.
Experincias significativas, nesse sentido, tm sido objetivadas no
cotidiano escolar, envolvendo a histria de vida dos estudantes, a
histria local, a histria oral, documentos e objetos biogrficos do
estudante, da famlia e da comunidade.
Ao mesmo tempo, tem-se fortalecido, no Brasil, a educao
patrimonial como parte do processo de aprendizagem histrica,
ampliando a leitura do mundo e a compreenso de trajetrias
temporais e histricas. O trabalho pedaggico com os diferentes
lugares de memria (museus, arquivos, bibliotecas, monumentos,
objetos, stios histricos ou arqueolgicos, paisagens, parques
ou reas de proteo ambiental, centros histricos urbanos
ou comunidades rurais) e com as manifestaes populares (as
cantigas, as religies, os hbitos e costumes, os modos de falar, de
vestir e outras manifestaes culturais) contribuiu para a formao
do respeito diversidade, multiplicidade de manifestaes
culturais. Focalizar, desde os primeiros anos de escolaridade,
os elementos que compem a riqueza e a diversidade cultural
dos diversos grupos tnico-raciais que participaram da histria
do nosso pas certamente propicia o respeito, a valorizao das
diferentes culturas, sem distinguir, hierarquizar ou discriminar umas
como melhores do que outras.
Conforme foi explicitado anteriormente, o professor, ao ensinar
Histria, incorpora aprendizagem escolar as noes construdas
no processo de socializao do estudante, no mundo vivido fora da
escola, na famlia, no trabalho, nos espaos de lazer, nos diversos
ambientes sociais e educativos etc. A constituio identitria do
estudante/cidado se faz ao longo da vida, em diversos espaos,
entre eles, a escola. Esse exerccio exige reconhecer como fontes
do ensino de Histria todos os veculos, materiais, vozes, indcios
que colaboram para a criao e difuso do conhecimento,
PARMETROS PARA A EDUCAO BSICA DO ESTADO DE PERNAMBUCO
34 responsveis pela formao do pensamento crtico: meios de
comunicao de massa (rdio, TV, imprensa em geral), internet
e espaos virtuais, literatura, cinema, fontes orais, monumentos,
museus, arquivos, objetos, poemas, canes, alm de documentos
impressos e textuais e de fontes iconogrficas. Os livros didticos
e paradidticos como fontes, suportes de trabalho, tambm
propiciam o acesso de estudantes e professores compreenso
desse universo de linguagens. Ao explorar diferentes linguagens
no processo de ensino de Histria, assumimos no s a estreita
ligao entre os saberes escolares e a vida social, mas tambm
a necessidade de (re) construirmos o nosso conceito de ensino
e aprendizagem. Esse trabalho pedaggico requer dilogo com
outras fontes e os distintos campos de saber, reconhecendo e
respeitando as especificidades das diversas linguagens.
Uma problemtica pedaggica relevante, no atual debate
curricular, a relao entre a alfabetizao, de modo mais
especfico, o domnio da escrita e da leitura e a aprendizagem
em Histria pelos estudantes, nas diferentes etapas da educao
bsica. A concepo de Histria como disciplina formativa exige
metodologias, envolvendo leitura e escrita desde o incio do
processo de alfabetizao, nos primeiros anos de escolaridade,
at a concluso do ensino mdio (e pode continuar na educao
superior). Umas das preocupaes frequentes dos professores de
Histria em relao aprendizagem diz respeito s dificuldades
(ou mesmo dficits) na capacidade de comunicao, de leitura e
escrita dos estudantes, em todos os nveis de ensino, o que interfere
na compreenso e anlise crtica das fontes e textos histricos.
Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais, ao longo dos trs
primeiros anos da educao bsica, o foco central da formao
deve ser a alfabetizao (Item II, Artigo 24, 2010). Esse privilgio da
alfabetizao no significa que se deva excluir o ensino de Histria,
Geografia e Cincias, mas que, alm da prpria alfabetizao
PARMETROS CURRICULARES DE HISTRIA
35nessas reas, o trabalho nelas desenvolvido pode/deve tambm,
ao mesmo tempo em que se volta para o ensino dessas
disciplinas/reas, ser uma atividade fundamental no processo de
desenvolvimento da linguagem oral e escrita. Exemplo: podem-
se realizar aulas de leitura, por meio da interpretao de textos
histricos, assim como trabalhar com a produo de textos
focalizando temas da Histria. A leitura propicia a aprendizagem
em Histria, inerente atividade de construo de saberes
histricos. As aulas de Histria no podem ser espaos, como
alerta Aisenberg (2012), nos quais apenas se usa a leitura, mas, sim,
espaos em que se ensina a ler e a escrever. Em outras palavras,
as atividades de ensino e aprendizagem em Histria podem
favorecer a aquisio de habilidades cognitivas e lingusticas, como
a compreenso leitora, a expresso oral e escrita, a capacidade de
descrever, definir, comparar, explicar, argumentar e justificar. Assim,
em diversas situaes e atividades educativas, possvel articular
o desenvolvimento dessas habilidades aprendizagem histrica.
O foco na alfabetizao no implica perder de vista as mltiplas
dimenses que o processo de alfabetizao envolve, pois, como
nos ensinou Paulo Freire, ler ler o mundo (FREIRE, 2001). Logo,
no podemos aprender a ler as palavras sem buscar a compreenso
do mundo, da Histria, da Geografia, das experincias humanas
construdas nos diversos tempos e lugares. Isso requer dos
educadores outra concepo de aprendizagem da Lngua
Portuguesa e da Histria. Muitos professores, pelo Brasil afora, ainda
questionam se possvel ensinar Histria sem antes alfabetizar (ler
e escrever)? Cabe questionar o inverso: possvel alfabetizar sem
ensinar Histria? (GUIMARES, 2009). possvel, sim, alfabetizar
as pessoas, ensinando e aprendendo Histria. Aprender Histria
ler e compreender o mundo em que vivemos!
PARMETROS PARA A EDUCAO BSICA DO ESTADO DE PERNAMBUCO
36 2.3 O EstudO dA HistriA E CulturA
AfrObrAsilEirA E indgEnA
Desde os anos 1970, vivenciamos, na sociedade brasileira, a
organizao de movimentos sociais de diversos atores, como
mulheres, operrios, trabalhadores do campo, negros, indgenas,
jovens e tantos outros. Intensificaram-se as lutas contra as
desigualdades sociais, de gnero, tnico-raciais, contra as variadas
formas de racismo, preconceitos, marginalizao e prticas
discriminatrias, de excluso e violncia. Esses movimentos
se foram interpenetrando por meio de demandas especficas
no campo da cultura, da educao e da cidadania. Alcanaram
vitrias expressivas na elaborao da Constituio Federal de
1988 e, paulatinamente, vrios projetos e polticas sociais foram
conquistadas, no campo da previdncia social, sade, educao,
cultura, trabalho e renda, desenvolvimento rural, igualdade racial e
igualdade de gnero. Novos marcos jurdicos e aes afirmativas,
como, por exemplo, o estabelecimento do sistema de cotas nas
instituies de ensino superior, passaram a ser construdos na
rea da cultura e da educao de afrodescendentes e indgenas,
visando superao das desigualdades raciais e sociais.
Nesse contexto, no ano de 2003, foi sancionada, pelo Presidente
da Repblica, a Lei Federal n. 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que
altera a Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece
as diretrizes e bases da educao nacional, para incluir no currculo
oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temtica Histria e
Cultura Afro-Brasileira, e d outras providncias. Em 2004, foram
aprovadas pelo Conselho Nacional de Educao as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educao das Relaes tnico-
Raciais e para o Ensino de Histria e Cultura Afro-Brasileira e
Africana, e a Resoluo n. 1 do CNE, de 7 de junho de 2004, que
instituiu as Diretrizes.
PARMETROS CURRICULARES DE HISTRIA
37Houve, portanto, alteraes na Lei Federal n. 9.394, de 20 de
dezembro de 1996 Lei de Diretrizes e Bases da Educao
Nacional (LDB) , com o acrscimo de dois artigos, que se referem
ao ensino de Histria:
Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e mdio, oficiais
e particulares, torna-se obrigatrio o ensino sobre Histria e Cultura Afro-
Brasileira (Includo pela Lei n. 10.639, de 9.1.2003).
Pargrafo 1 O contedo programtico a que se refere o caput deste artigo
incluir o estudo da Histria da frica e dos Africanos, a luta dos negros no
Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formao da sociedade nacional,
resgatando a contribuio do povo negro nas reas social, econmica
e poltica, pertinentes Histria do Brasil (Includo pela Lei n. 10.639, de
9.1.2003).
Pargrafo 2 Os contedos referentes Histria e Cultura Afro-Brasileira
sero ministrados no mbito de todo o currculo escolar, em especial nas
reas de Educao Artstica e de Literatura e Histria Brasileiras ( ) (Includo
pela Lei n. 10.639, de 9.1.2003).
Art. 79-B. O calendrio escolar incluir o dia 20 de novembro como Dia
Nacional da Conscincia Negra (Includo pela Lei n. 10.639, de 9.1.2003).
A mudana do texto legal prev a obrigatoriedade do estudo da
Histria e Cultura da frica e Afro-Brasileira, define o que ensinar,
o contedo programtico, resgatando a importncia do estudo
da luta dos africanos e afro-brasileiros, da Histria e da cultura
desses povos. O pargrafo 2 do Artigo 26-A estabelece que os
contedos devam ser objeto de todas as disciplinas, em especial
das disciplinas Educao Artstica, Literatura e Histria Brasileira.
Registre-se que no objeto exclusivo da disciplina Histria, mas
tambm das correlatas.
O Artigo 79-B das Disposies Gerais da LDB incluiu, no calendrio
escolar, o dia 20 de novembro como o Dia da Conscincia Negra.
Trata-se de uma referncia memria (dia da morte) de Zumbi
dos Palmares, um dos principais lderes da luta dos escravos no
Quilombo dos Palmares, pelo fim do regime escravocrata. Para
muitas lideranas dos movimentos sociais e historiadores, a
institucionalizao do dia 20 de novembro no calendrio escolar
um importante contraponto memria oficial.
PARMETROS PARA A EDUCAO BSICA DO ESTADO DE PERNAMBUCO
38 A ampliao e o aprofundamento das lutas e as demandas dos
movimentos por mudanas nas polticas sociais provocaram novas
alteraes na LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional).
A Lei Federal n. 11.645, de 10 de maro de 2008, determinou a
obrigatoriedade da incluso do estudo da Histria e Cultura Afro-
Brasileira e Indgena nos ensinos fundamental e mdio, pblicos e
privados. Foram feitas alteraes e modificaes no Artigo 26-A
e respectivos pargrafos, que passaram a ter a seguinte redao:
Art. 26-A.Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino mdio,
pblicos e privados, torna-se obrigatrio o estudo da Histria e Cultura Afro-
Brasileira e Indgena (Redao dada pela Lei n. 11.645, de 2008).
1O contedo programtico a que se refere este artigo incluir diversos
aspectos da histria e da cultura que caracterizam a formao da populao
brasileira, a partir desses dois grupos tnicos, tais como o estudo da Histria
da frica e dos Africanos, a luta dos negros e dos povos indgenas no Brasil,
a cultura negra e indgena brasileira e o negro e o ndio na formao da
sociedade nacional, resgatando as suas contribuies nas reas social,
econmica e poltica, pertinentes histria do Brasil (Redao dada pela Lei
n. 11.645, de 2008).
2Os contedos referentes histria e cultura afro-brasileira e dos povos
indgenas brasileiros sero ministrados no mbito de todo o currculo
escolar, em especial nas reas de Educao Artstica e de Literatura e Histria
Brasileiras (Redao dada pela Lei n. 11.645, de 2008).
As alteraes e modificaes inseridas pela Lei Federal n. 11.645,
de 10 de maro de 2008, no invalidaram nem revogaram as
leis anteriores, mas acrescentaram os pressupostos dos estudos
referentes questo indgena. Esse complemento refere-se ao
contedo, uma vez que vrios outros aspectos importantes em
relao educao escolar indgena possuam regulamentao.
Desde ento, os movimentos e organizaes sociais vm atuando
junto s diferentes esferas de governo, instituies culturais e
educacionais da sociedade, no sentido de promoverem um
conjunto de aes, visando implementao da Lei. Nesse sentido,
em 2009, o MEC, lanou o Plano Nacional de Implementao das
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educao das Relaes
tnico-Raciais e para o ensino de Histria e Cultura Brasileira
e Africana. As propostas ultrapassam as fronteiras das aulas de Histria,
envolvendo vrios sujeitos e espaos. Um dos elementos referidos no Plano
o carter interdisciplinar da temtica etnicorracial. A abordagem interdisciplinar
no ensino e aprendizagem de Histria e Cultura Afro-Brasileira e Indgena
crucial, pois reafirma o dilogo da Histria com campos do conhecimento,
como Geografia, Sociologia, Antropologia, Lingustica, Literatura, Filosofia e
outros. O carter dialgico favorece a compreenso das singularidades, dos
processos histricos, dos intercmbios culturais, das contribuies mtuas,
das contradies em processo. A postura interdisciplinar alarga o campo
de formao de estudantes e professor, assim como facilita a incorporao
de diversificadas fontes e problemas. Assim, evitam-se as armadilhas do
etnocentrismo, do privilgio da viso exterior e superior determinando o
curso da histria e assume-se uma atitude histrica que no ser uma atitude
vingativa, nem de autossatisfao, mas um exerccio vital de memria coletiva
(KI-ZERBO, 2010, p. LIII). Evita-se o retorno aos maniquesmos (heri x vilo,
dominante x dominado), idealizao e romantizao de modos de ser e
viver na histria (GUIMARES, 2012, p. 87).
Dentre as metas delineadas para o ensino fundamental, ressalta-se a de
assegurar formao inicial e continuada aos professores e profissionais desse
nvel de ensino para a incorporao dos contedos da cultura afro-brasileira
e indgena e o desenvolvimento de uma educao para as relaes tnico-
raciais (BRASIL, 2006, p. 48-49).
Essa meta merece especial ateno dos educadores e gestores. de
conhecimento geral que, desde a implantao da Lei n. 10.639, em 2003,
experincias educativas tm sido desenvolvidas nas vrias regies do Brasil.
H um esforo coletivo que vai desde a produo e utilizao de materiais
pedaggicos sobre a temtica em sala de aula at a pesquisa, produo e
socializao de saberes e prticas, em diferentes reas e espaos. No Estado
de Pernambuco, tem-se promovido Fruns3, oficinas culturais, cursos de
3 Cf. Frum Afro PE possui funes de proposio, acompanhamento, consulta, sensibilizao, informao
PARMETROS PARA A EDUCAO BSICA DO ESTADO DE PERNAMBUCO
40 Formao Continuada4, construo de Orientaes Curriculares
para a Educao em Direitos Humanos5.
No entanto, investigadores na rede escolar de ensino pblico
e privado, como, por exemplo, Silva (2011), tm identificado
contradies e dificuldades dos professores na prtica docente
decorrentes da formao que tiveram. As razes tericas, polticas
e pedaggicas narradas pelos professores so mltiplas. Poucas
delas so partilhadas e publicadas no meio escolar e acadmico.
Muitas se perdem na rotina estressante do trabalho docente.
Assim, faz-se necessrio assegurar a formao inicial e continuada
dos professores e condies de trabalho adequadas, no s
para o ensino dessas temticas, mas para as aes educativas
multiculturalmente orientadas. Isso demanda transformaes nos
currculos, nos projetos pedaggicos dos cursos superiores, na
formao dos formadores de professores e tambm na gesto dos
recursos.
Evidenciamos que projetos educacionais, com foco na construo
de relaes tnico-raciais positivas, no combate s prticas racistas,
discriminatrias e excludentes tm avanado, significativamente,
no Brasil, em comparao ao que vivamos h algumas dcadas.
Porm, ainda se encontram dificuldades, muitas ligadas
formao, concepo excludente e discriminatria disseminada
e participao social em assuntos relativos Educao para a Diversidade tnico-Racial, realizando a interao dos diversos atores necessrios a implementao da temtica. Disponvel em: http://forumafrope.blogspot.com.br/ed. Acesso em: 22 de julho de 2012.
4 Como, por exemplo, podemos citar o I Curso de Aperfeioamento em Histria, organizado, em 2011, pela REDHIS (Rede de Educadores em Histria, que rene professores atuantes no curso de Licenciatura em Histria da UFPE e professores de Histria da educao bsica na rede pblica da regio metropolitana de Recife). Esse curso, que contou com um mdulo sobre Histria da frica moderna e contempornea e outro sobre o uso das TICs no ensino da Histria, resultou na elaborao de material didtico, no formato de DVD, sobre a biografia de Mohamad Gardo Baquaqua (africano escravizado e libertado, que redigiu e publicou sua autobiografia, no sculo xIx).
5 V. PERNAMBUCO. SECRETARIA DE EDUCAO. Caderno de orientaes pedaggicas para a educao em direitos humanos: rede estadual de ensino de Pernambuco/Secretaria de Educao. Recife: A Secretaria, 2012.
PARMETROS CURRICULARES DE HISTRIA
41na cultura escolar e fora dela. Isso exige dos educadores aes
permanentes contra todas as formas de racismo e discriminao.
A temtica da histria e da cultura afro-brasileira e indgena no
currculo da educao bsica no constitui mero preceito legal,
mas um posicionamento crtico frente ao papel da Histria na luta
pela superao de concepes racistas, em prol de uma educao
inclusiva, republicana, libertadora e plural.
PARMETROS PARA A EDUCAO BSICA DO ESTADO DE PERNAMBUCO
42
3 OS PARMEtROS cURRIcUlARES dE HIStRIA
3.1 nClEOs COnCEituAis E tEmtiCOs
O documento Parmetros para Educao Bsica do Estado de
Pernambuco Histria apresenta uma proposta de organizao
curricular em ncleos conceituais e temticos, por compartilharmos
da perspectiva de que ensinar Histria no significa apenas transmitir
contedos histricos relacionados ao passado da humanidade,
mas tambm e, principalmente, contribuir para a formao do
pensamento histrico nos estudantes. Pensamento atravs do qual
dirigimos nosso olhar ao passado, para compreender problemas do
presente, formamos nossa identidade social e, assim, refletirmos e
decidirmos sobre nosso agir cotidiano. Conforme sintetiza Cerri
(2011, p. 81-82): [...] O objetivo maior formar a capacidade de
pensar historicamente e, portanto, de usar as ferramentas de que
a histria dispe na vida prtica, no cotidiano, desde as pequenas
at as grandes aes individuais e coletivas[...].
Os ncleos foram sistematizados, de modo a contemplarem
conceitos e temas relevantes para a formao do pensamento
histrico, por meio de um dilogo ativo entre sujeitos, tempos
(presente e passado) e espaos (local, regional, nacional,
mundial). Em cada um dos ncleos, foi delineado um conjunto de
expectativas de aprendizagem em Histria, ou seja, habilidades e
conhecimentos que se espera que os estudantes sejam capazes de
desenvolver e alcanar, nas diferentes etapas da educao bsica.
PARMETROS CURRICULARES DE HISTRIA
43Elegeram-se trs ncleos conceituais comuns a todas as etapas
e modalidades de ensino, que so considerados estruturantes,
ferramentas bsicas da construo do conhecimento histrico:
Sujeito histrico: professores e estudantes so concebidos
como sujeitos da histria e do conhecimento. Os mltiplos
sujeitos sociais no apenas esto na histria, mas participam,
fazem a histria, em sua identidade/diversidade; diferena;
desigualdade; tenses; aproximaes; distanciamentos;
relaes de poder entre diferentes grupos no fazer cotidiano.
Tempo: o tempo faz parte das nossas vidas. O tempo histrico
mltiplo e complexo, abrange vrias dimenses que se
interpenetram, se sobrepem. O desenvolvimento desse
conceito processual, favorece a compreenso do mundo,
de onde viemos e para onde vamos, ir alm do aqui/agora,
do imediato, do efmero e do presentesmo, numa relao
ativa e crtica do estudante com as diferentes termporalidades
(presente, passado e futuro), favorecendo a identificao e
explorao das permanncias e transformaes, diferenas e
semelhanas nas experincias humanas e sociais.
Fontes histricas: consideradas as matrias-primas da histria.
O aprendizado do fazer, do produzir saberes histricos, por
meio da identificao, levantamento, leitura, problematizao,
seleo, interpretao e crtica, confronto e preservao de
mltiplas fontes oral, imagtica, arquitetnica, material,
escrita.
Os ncleos temticos foram selecionados conforme a observao
de questes/problemas considerados relevantes para a formao
da conscincia histrica dos estudantes na atualidade e as sugestes
das prescries curriculares vigentes para cada segmento de
ensino: a) a experincia educacional, historicamente acumulada
no mbito do Estado de Pernambuco, explcita em diversos
documentos das polticas pblicas, em particular nas diretrizes e
PARMETROS PARA A EDUCAO BSICA DO ESTADO DE PERNAMBUCO
44 orientaes curriculares; b) as diretrizes curriculares nacionais, os
parmetros curriculares nacionais; as diretrizes curriculares para o
ensino mdio, bem como os documentos/diretrizes do ENEM
Exame Nacional do Ensino Mdio; c) os livros didticos de Histria
aprovados pelos programas nacionais do MEC.
No quadro sntese, a seguir, esto apresentados os ncleos comuns
e os distintos nas diferentes etapas da EJA.
Sntese dos Ncleos Conceituais e Temticos HISTRIA-EJA
EJA EF Fases I, II, III, IV EJA EM Mdulos I, II, III
Ncleos Conceituais
1. Sujeito histrico: identidade e diversidade 1. Sujeito histrico: identidade e diversidade
2. Tempo 2. Tempo
3. Fontes Histricas 3. Fontes Histricas
Ncleos Temticos
4. Relaes de poder, cidadania, e movimentos sociais
4. Relaes de poder, cidadania e movimentos sociais
5. Organizaes polticas e conflitos: povos, naes, lutas, guerras, revolues
5. Organizaes polticas e conflitos: povos, naes, lutas, guerras, revolues
6. Natureza, terra e trabalho 6. Natureza, terra e trabalho
7. Sociedade, cultura, cotidiano e tecnologias 7. Sociedade, cultura, cotidiano e tecnologias
8. Histrias de Pernambuco: sujeitos, prticas culturais e experincias coletivas
8. Histrias de Pernambuco: sujeitos, prticas culturais e experincias coletivas
3.2 ExPECtAtivAs dE APrEndizAgEm
As expectativas de aprendizagem delineadas neste documento
representam uma proposta, uma contribuio ao debate, ao
movimento de re/construo curricular. Acreditamos que mudar
os currculos prescritos requer auscultar currculos vividos,
culturas escolares, saberes, concepes, narrativas de professores,
gestores, especialistas, crianas, jovens, adultos e pessoas idosas,
livros e materiais didticos e paradidticos, prticas construdas
e reconstrudas na escola e fora dela. Mais que auscult-los,
preciso dialogar com eles. Professores e estudantes, protagonistas
do processo, trazem consigo saberes, valores, ideias, atitudes. A
conscincia histrica do estudante comea a ser formada antes
mesmo do processo de escolarizao e continua no decorrer
PARMETROS CURRICULARES DE HISTRIA
45de sua vida, fora da escola, em diferentes espaos, por diferentes
meios. A construo de um currculo de Histria que, de fato,
objetive a formao de cidados crticos, requer a valorizao
permanente das vozes dos diferentes sujeitos, do dilogo, do
respeito diferena e o exerccio da cidadania em todos os
espaos.
Nesse sentido, as expectativas de aprendizagem propostas
emergiram dos ncleos conceituais e temticos, com o objetivo
de detalhar os conhecimentos, habilidades e competncias que
se espera que os estudantes desenvolvam em cada ncleo e esto
apresentadas no quadro a seguir. importante ressaltar que, neste
quadro, a numerao dos ncleos e expectativas no representa
uma ordem hierrquica e fragmentada. Um mesmo contedo do
programa de ensino conseguir envolver vrias das expectativas de
aprendizagem que compem os ncleos conceituais e temticos.
Esse trabalho requer cuidado, para que no ocorram justaposies,
simplificaes, generalizaes, naturalizaes e anacronismos.
O trabalho de localizao espao-temporal de qualquer tema/
problema/evento, de identificao e problematizao das
especificidades e singularidades dos contextos histricos deve ser
permanente e cuidadoso.
Nos Parmetros da EJA, as expectativas de aprendizagem
assemelham-se s do Ensino Fundamental e Mdio, pois essas
representam objetivos da formao em Histria em qualquer faixa
etria. A diferena est na gradao do tempo para consolidar
cada uma das expectativas, uma vez que jovens, adultos e idosos,
em geral, apresentam mais facilidade, apesar de terem ficado
ausentes da escola por um tempo, acumularam saberes, noes e
experincias sociais que os auxiliam na construo do pensamento
histrico. Conforme a Proposta Curricular de 2001 (RIBEIRO, p. 40),
o pblico dos programas de educao de jovens e adultos [...] chega escola
j com uma grande bagagem de conhecimentos adquiridos ao longo de
PARMETROS PARA A EDUCAO BSICA DO ESTADO DE PERNAMBUCO
46 histrias de vida as mais diversas. So donas de casa, balconistas, operrios, serventes da construo civil, agricultores, imigrantes de diferentes regies
do pas, mais jovens ou mais velhos, homens ou mulheres, professando
diferentes religies. Trazem, enfim, conhecimentos, crenas e valores j
constitudos. a partir do reconhecimento do valor de suas experincias
de vida e vises de mundo que cada jovem e adulto pode se apropriar das
aprendizagens escolares de modo crtico e original, sempre da perspectiva
de ampliar sua compreenso, seus meios de ao e interao no mundo.
Esta proposta contm, portanto, uma base curricular comum
para o ensino de Histria, mas flexvel para que os professores
e as unidades escolares possam, num processo de discusso
e construo coletiva entre escola e comunidade, selecionar
e organizar, de forma sistemtica, os recortes temporais, de
contedos e metodologias, estratgias e materiais (fontes
histricas) que atendam s singularidades e demandas locais, na
sua relao com a problemtica da formao do cidado, no
contexto da sociedade global e multicultural em que vivemos.
As expectativas de aprendizagem elencadas nestes Parmetros
Curriculares de Histria podem ser desenvolvidas em sala de
aula, por meio de variados recortes. Por exemplo, no ncleo 5,
Organizaes Sociais, Polticas e Conflitos: Povos, Naes, Lutas,
Guerras, Revolues, h vrias possibilidades de abordagem
da dcima expectativa de aprendizagem, que se refere ao
conhecimento das diferenas e semelhanas entre os movimentos
de emancipao desencadeados em vrias regies colonizadas
da Amrica, da frica, da sia e da Oceania, destacando-se os
movimentos emancipatrios ocorridos em Pernambuco e outras
regies do Brasil. Nas OTMs para EJA, de forma semelhante ao que
est exposto nos objetos de conhecimento associados Matriz
de Referncia de Cincias Humanas e suas Tecnologias, do Enem
(BRASIL, 2011, p. 18), As lutas pela conquista da independncia
poltica das colnias da Amrica, no se especificam quais
movimentos emancipatrios sero estudados. Na fase IV do ensino
fundamental, no eixo estruturante Relaes de Poder, aponta-
PARMETROS CURRICULARES DE HISTRIA
47se o estudo do iderio poltico que diferencia os movimentos
revolucionrios nativistas, reformistas e emancipatrios, os sujeitos
envolvidos e as transformaes ocorridas (PERNAMBUCO,
2012, p. 16). No mdulo 2, referente ao ensino mdio, nos eixos
Temporalidades Histricas e Processos Histricos e Relaes de
Poder, prope-se o estudo das Revolues Americana, Inglesa e
Francesa, por meio da anlise de seus antecedentes histricos e
das alianas polticas realizadas pelos diversos grupos sociais que
participaram dessas revolues (PERNAMBUCO, 2012, p. 8).
Enfim, conforme se pode observar no exemplo anterior, para
o estudo dos conhecimentos histricos, constituintes das
expectativas de aprendizagem propostas nos Parmetros de
Histria, h vrias possibilidades de recortes espaciais e temporais,
algumas j elaboradas e experimentadas e outras que ainda podem
ser construdas, atendendo a demandas da comunidade escolar,
do tempo presente, das caractersticas do alunado, seus interesses,
condies de vida e de trabalho, como determina a Resoluo
n. 4, de 13 de julho de 2010, que define as Diretrizes Curriculares
Nacionais Gerais para a Educao Bsica, no Art. 28, que se refere
Educao de Jovens e Adultos.
A apresentao das expectativas de aprendizagem de cada ncleo
conceitual ou temtico est desenhada em um nico quadro, que
inclui todas as fases e mdulos da EJA, para explicitar a conexo
horizontal e vertical entre todas as etapas dessa modalidade de
ensino e as expectativas em relao ao desenvolvimento da
aprendizagem histrica, ao longo de toda a Educao de Jovens
e Adultos.
Para possibilitar melhor compreenso da relao estabelecida
entre as expectativas e seus respectivos ncleos, optamos por
dividir o quadro em trs colunas:
1. na primeira, esto sistematizados os ncleos conceituais e
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48 temticos em que se aliceram as expectativas de aprendizagem.
Esses ncleos podero ser tratados ao longo das fases/etapas
que compem cada nvel de ensino, com variaes, conforme
a especificidade de cada uma;
2. na segunda coluna, esto detalhadas as expectativas de
aprendizagem;
3. na terceira coluna, subdividida em sete espaos correspondentes
s fases e mdulos da EJA, esto discriminadas as etapas de
escolarizao em que cada expectativa dever ser tratada. A
coluna apresenta trs cores, que demarcam as etapas nas quais
cada uma das expectativas de aprendizagem descritas pode ser
objeto de ensino sistemtico, a saber:
a cor azul claro indica o(s) perodos(s) no(s) qual (is) uma expectativa de aprendizagem comea a ser abordada nas prticas pedaggicas, ainda que de forma no sistemtica; significa possibilitar aos estudantes se familiarizarem com conceitos e temas relacionados Histria;
a cor azul celeste representa o(s) perodo(s) durante o(s) qual (is) uma expectativa de aprendizagem necessita ser objeto de sistematizao pelas prticas de ensino; significa sedimentar conceitos e temas relacionados Histria;
a cor azul escuro representa o(s) perodos(s) no(s) qual (is) se espera que uma expectativa de aprendizagem seja consolidada como condio para o prosseguimento, com sucesso, em etapas posteriores de escolarizao; significa aprofundar conceitos e temas consolidados e expandi-los para novas situaes.
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49Ncleos Conceituais e Temticos
Expectativas de AprendizagemFases Mdulos
I II III IV I II III
1. Sujeito histrico: identidade e diversidade
EA1 Perceber-se como sujeito social construtor da histria e do conhecimento, responsvel por participar da construo da sociedade.EA2- Posicionar-se diante de acontecimentos da atualidade, a partir da interpretao das relaes entre eles e acontecimentos de outros tempos histricos e espaos sociais. EA3 - Compreender as histrias individuais como partes integrantes de histrias coletivas.EA4 - Construir a identidade pessoal e social na dimenso histrica, a partir do reconhecimento do papel do indivduo nos processos histricos, simultaneamente, como sujeito e como produtor.EA5- Reconhecer as aes cotidianas dos mltiplos sujeitos histricos como constituintes da histria de uma sociedadeEA6- Compreender o carter histrico e social das aes dos sujeitos nas esferas pblicas (Estado, instituies oficiais, guerras civis e entre naes) e privadas do cotidiano (famlias, casas, ruas, festas, alimentao, escolas, fbricas).EA7- Narrar o processo histrico de formao e transformao de uma organizao social, atravs das aes dos mltiplos sujeitos nas esferas pblicas e nas esferas privadas do cotidiano.EA8 Reconhecer semelhanas e diferenas sociais, polticas, econmicas e culturais nos modos de viver dos indivduos e grupos sociais que pertencem ao seu prprio tempo (presente) e espao de vivncia (local) e entre estes e aqueles que viveram em outros tempos e lugares, sem classific-los como mais evoludos ou atrasados.EA9 Reconhecer especificidades e semelhanas e estabelecer relaes entre os modos de ser, viver e conviver dos grupos sociais e tnicos do campo e das cidades, no presente e em outros contextos histricos.EA10 - Compreender o processo histrico que constituiu a diversidade econmico-social, cultural, tnico-racial, religiosa de determinados espaos sociais e tempos histricos.EA11 Compreender os elementos culturais que constituem as identidades de diferentes grupos, em variados tempos e espaos.EA12 Compreender, numa perspectiva crtica e histrica, os diferentes significados de identidade, diversidade, sociedade e cultura. EA13 - Compreender a dinamicidade e historicidade das identidades, sociedades e culturas criadas e recriadas ao longo do tempo pelos seres humanos. EA14- Respeitar e valorizar a diversidade tnico-cultural entre indivduos e grupos. EA15- Diferenciar diversidade cultural e desigualdade social, perceber suas implicaes e posicionar-se em relao a elas. EA16- Relativizar a importncia dada a determinados personagens histricos que ocupam lugar mais destacado nos registros oficiais.EA17- Reconhecer as aes, inter-relaes e embates de homens e mulheres de diferentes grupos sociais, polticos, regionais, tnico-raciais, etrios, culturais como responsveis pelas transformaes da natureza, da sociedade e da cultura, em diferentes espaos e tempos.
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50 Ncleos Conceituais e Temticos
Expectativas de AprendizagemFases Mdulos
I II III IV I II III
1. Sujeito histrico: identidade e diversidade
EA18 Reconhecer a diversidade de povos indgenas que viviam no territrio hoje correspondente ao Brasil e Amrica e compreender seus diferentes modos de vida e suas culturas. EA19 Compreender a atual condio de vida dos povos indgenas e identificar os territrios que eles ocupam atualmente. EA20- Reconhecer, analisar e valorizar a participao de diferentes povos indgenas nos vrios perodos da histria local, regional, nacional e continental.EA21- Reconhecer, analisar e valorizar a participao dos povos africanos e dos afro-brasileiros, em sua diversidade sociocultural, nos vrios perodos da histria local, regional, nacional e mundial.EA22- Reconhecer, analisar e valorizar a participao de mulheres de diferentes classes sociais, grupos tnico-raciais, culturais, etrios e territoriais, nos vrios perodos da histria local, regional, nacional e mundial.EA23- Compreender as relaes sociais, econmicas, polticas e culturais entre os homens e mulheres, considerando a diversidade e identidade de gnero em diferentes contextos histricos.EA24- Compreender as instituies sociais, polticas, econmicas, culturais e religiosas como criaes das aes humanas, resultantes de prticas, conflitos e movimentos sociais desencadeados em diferentes contextos histricos. EA25- Compreender processos histricos que desencadearam mudanas e permanncias em manifestaes culturais de diferentes grupos da atualidade e tambm de outros tempos e espaos sociais.EA26- Reconhecer os deslocamentos populacionais em diferentes tempos histricos como prticas sociais que desencadearam e desencadeiam transformaes, encontros e desencontros entre diferentes culturas.
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51Ncleos
Conceituais e Temticos
Expectativas de AprendizagemFases Mdulos
I II III IV I II III
2 Tempo
EA1 Reconhecer e utilizar medidas de tempo usadas pelos homens e mulheres em seu cotidiano e pelos historiadores em seus escritos (dia, ms, semana, ano, dcada, sculo, milnio, era).
EA2 Identificar e comparar reguladores do tempo da sociedade em que os estudantes vivem e os reguladores de comunidades diferentes de espaos do campo e da cidade e de culturas de outros tempos e espaos, evitando anacronismos e rompendo com a viso de tempo linear.
EA3- Ler, interpretar e construir diferentes instrumentos de medida e representao do tempo (relgios, calendrios e outros).
EA4 Realizar operaes de datao, utilizando ano, dcada, sculo, milnio, era.
EA5 Compreender o calendrio cristo/gregoriano e sua organizao (a.C, d.C) como uma manifestao cultural produzida historicamente, seus vnculos culturais e polticos.
EA6 Reconhecer e comparar calendrios criados e utilizados em diferentes tempos histricos e espaos sociais, seus vnculos culturais e polticos.
EA7 Reconhecer especificidades e relaes entre o tempo da natureza e o tempo histrico.
EA8 Reconhecer diferentes ritmos de vida e maneiras de vivenciar, apreender, organizar, regular, representar o tempo cotidiano: tempo da natureza, tempo do relgio, cibertempo (tempo virtual).
EA9 Analisar a relao entre diferentes maneiras de vivenciar, apreender, organizar regular, representar o tempo cotidiano e diferentes contextos socioeconmicos e culturais.
EA10 Observar, registrar e levantar hipteses sobre as repeties dos fenmenos naturais, como posio do Sol no cu; diferenas entre os perodos do dia (manh e tarde) e noite.
EA11 Identificar e localizar informaes e acontecimentos histricos em linhas do tempo.
EA12 Localizar e comparar acontecimentos no tempo (desde os relacionados rotina diria e s histrias de vida at os acontecimentos histricos mais amplos), tendo como referncia as relaes de anterioridade, posterioridade, simultaneidade, sucesso, ordenao.
EA13 Construir linhas do tempo e outras snteses cronolgicas, incluindo e relacionando desde acontecimentos da histria pessoal e local at acontecimentos da histria regional, nacional e mundial.
EA14 Identificar e relacionar acontecimentos histricos de curta, mdia e longa durao, para compreender a dinmica de mudanas e permanncias de relaes polticas, econmicas, sociais e culturais, no transcorrer do tempo, em diferentes grupos de vivncia e espaos sociais.
EA15 Reconhecer os marcos histricos da periodizao clssica da Histria Ocidental (Pr-Histria, Antiguidade, Idade Mdia, Idade Moderna e Idade Contempornea) e da Histria do Brasil (Perodo Pr-Colonial, Brasil Colnia, Brasil Imprio, Brasil Repblica) construda pelos historiadores como marcos referenciais.
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52Ncleos
Conceituais e Temticos
Expectativas de AprendizagemFases Mdulos
I II III IV I II III
2 Tempo
EA16 Analisar, criticamente, as concepes polticas, culturais e sociais que norteiam a seleo dos marcos histricos de periodizaes construdas pelos historiadores.
EA17 Estabelecer relao entre o passado e o presente, por meio da percepo de continuidades, transformaes, diferenas e semelhanas.
EA18 Posicionar-se, criticamente, sobre os processos de transformaes sociais, econmicas, polticas e culturais no contexto societrio presente, identificando e comparando referenciais alternativos que visem a erradicar formas de excluso social em nvel local, regional, nacional e mundial.
EA19 Compreender permanncias e mudanas ocorridas nos jeitos de viver, conviver e trabalhar de grupos sociais de diferentes contextos e tempos histricos, rompendo com anacronismos e com a noo de tempo linear.
Ncleos Conceituais e Temticos
Expectativas de AprendizagemFases Mdulos
I II III IV I II III
3. Fontes histricas
EA1- Identificar formas de registro da memria importantes para a escrita da histria: fontes escritas, imagticas, materiais, orais.
EA2 Coletar, selecionar e preservar diferentes fontes histricas acerca dos temas estudados.
EA3 Localizar, interpretar e analisar informaes histricas em fontes escritas, imagticas, materiais, orais, tabelas, grficos, linhas do tempo e mapas histricos, entre outros.
EA4- Elaborar hipteses e argumentos a respeito de temas e problematizaes histricas atravs da leitura, interpretao e cruzamento de duas ou mais fontes.
EA5 Registrar conhecimentos histricos sobre o tema em estudo, empregando diferentes meios e linguagens: desenhos, imagens, textos, gravaes audiovisuais, exposies, canes, teatro e outros.
EA6 Produzir, coletiva ou individualmente, textos analticos e interpretativos sobre os processos histricos, valendo-se de categorias e procedimentos prprios do discurso historiogrfico.
EA7- Compreender as fontes como produes histricas, sociais e culturais.
EA8- Identificar, compreender e analisar a autoria e os vnculos sociais, econmicos, polticos e culturais de quem fala atravs de uma determinada fonte histrica ou patrimnio histrico-cultural.
EA9- Identificar, analisar e confrontar mltiplas abordagens histricas e pontos de vista sobre um mesmo evento, acontecimento, fato histrico, produzidos e veiculados pelos artefatos da cultura contempornea (msicas, filmes, jogos digitais, telenovelas, sites de internet, monumentos pblicos, obras de arte, charges, cartuns, livros, entre outros).
PARMETROS CURRICULARES DE HISTRIA
53Ncleos
Conceituais e Temticos
Expectativas de AprendizagemFases Mdulos
I II III IV I II III
3. Fontes histricas
EA10 Formar opinio sobre acontecimento histrico ou representao histrica apresentados nas fontes histricas.
EA11- Perceber as diferenas e relaes entre memrias (fontes histricas) e Histria (produo cientfica) e analisar sua produo pelas sociedades humanas.
EA12 Compreender a importncia da memria no processo de construo das identidades, do sentimento de pertena, pelos agrupamentos humanos.
EA13 Compreender a dinmica e o significado social do trabalho do historiador.
EA14 Compreender o processo de escrita da Histria como um processo sociocultural cientificamente produzido em dilogo com o presente e que desempenha funes identitria e de orientao na sociedade.
EA15 Diferenciar a Histria escrita da histria vivida.
EA16 Compreender o trabalho dos arquelogos e suas contribuies par