Historia Em Bra Er

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    Histriada

    Embraer

    Sumrio

    1965-1969

    1000 a.C.-1936 A Gravidade Vencida

    1936-1969 A Primeira Fabricao em Srie de Aeronaves no Pas

    1969-1976 Choque do Futuro

    1975-1980

    1972-1983 Em Busca de Novas Oportunidades de Negcio

    1978-1983 Grandes Desafios

    1980-1991 A Aviao na Dcada de 80

    1976-1998 Segurana e Desenvolvimento

    1989-1999 Uma Boa Idia: Jato Regional

    1994-2005 Famlia do ERJ 145: PT-ZJA, Um por Todos

    1993-2005 Transferncia Tecnolgica

    1991-2006 Derivados Militares do ERJ 145

    2006 Presente e Futuro

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    O Programa Piper

    A Criao da Embraer

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    1965 - 1969A Criao da Embraer

    Ahistria da aeronutica , essencialmente, a histriada evoluo tecnolgica do setor temperada pelo

    esprito empreendedor dos pioneiros e inovadores.A nossa srie de artigos sobre a histria da Embraer seiniciar com o nascimento do bimotor Bandeirante, que, emprimeira anlise, levou criao da empresa. No prximofascculo ser feito um apanhado dos principais fatos quemarcaram a histria da aeronutica no Brasil desde osprimrdios da aviao. A narrao da histria seguir comos principais marcos da histria da Embraer, encerrando-secom um ensaio sobre a aviao no futuro.

    Brasileira, mas de alcance mundialNo ms de agosto de 2004, durante as comemoraes do35 o aniversrio da criao da Empresa Brasileira de

    Aeronutica S.A., a Embraer, deve-se tambm ser festejadauma incrvel histria de um sucesso comercial, econmicoe tecnolgico. A empresa possui uma histria peculiar, poiso bimotor Bandeirante, o seu principal produto durantemuitos anos, precedeu a sua criao. Apenas aps o primeirovo do Bandeirante, em 1968, e antevendo as possibilidadesde sua comercializao, que o governo brasileiro decidiu-se pela fundao da Embraer, o que aconteceu em 19 deagosto de 1969 por um decreto-lei da Junta Militar queento governava o pas. Para atingir o atual patamar, coma Embraer posicionada entre os maiores fabricantesaeronuticos do mundo, vrios percalos marcaram a histriada indstria aeronutica brasileira. Pouco menos do que

    quatro anos decorreram, desde o primeiro vo de SantosDumont com o 14Bis na Frana at a construo do primeiroavio inteiramente nacional, o monoplano So Paulo, querealizou o seu primeiro vo em janeiro de 1910.

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    1 - INCIO DA MONTAGEM DO IPD-6504 NO CTA2 - PRIMEIRO PROTTIPO COM TREM DE POUSO3 - PREPARAO FINAL ANTES DO PRIMEIRO VO4 - PROTTIPO NO PTIO DO X-10 NO CTA5 - PROVA DE MOTORES DO PRIMEIRO PROTTIPO6 - O PROTTIPO, AGORA MATRICULADO FAB YC-95 2130,

    VOA PELA PRIMEIRA VEZ NO DIA 22/10/687 - BANDEIRANTE NA BASE AREA DE BELM8 - BANDEIRANTE NA BASE AREA DE SALVADOR

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    Outros vinte e cinco anos seriam decorridos at a primeirafabricao em srie de aeronaves no pas, feito realizadopela Companhia Nacional de Navegao Area (CNNA) coma manufatura do biplano Muniz M-7. A partir da, mais trintae trs longos anos iriam transcorrer at a criao da Embraer,

    a primeira empresa nacional com produtos tecnologicamenteatualizados e que representa a consolidao da indstriaaeronutica brasileira.Para se ter uma idia de como o perodo de gestao da

    moderna indstria aeronutica nacional foi longo, suficiente observar o histrico da criao das primeirasindstrias aeronuticas na Europa e nos Estados Unidos.

    O francs Gabriel Voisin comeou a sua carreira aeronuticaem 1903 com a construo de planadores. Em 1905, ele

    fundou com Louis Blriot a primeira companhia deaeronutica do mundo, mas logo comprou a parte de Blriot

    no empreendimento. Juntamente com o seu irmo Charlesele reformou a companhia, agora Appareils dAviation Les

    Frres Voisin, fabricando at 1912, 75 avies. Henri Farman,um dos maiores fabricantes franceses da poca, produziuem sua empresa 12.000 aparelhos durante a Primeira GuerraMundial. A primeira indstria aeronutica norte-americana

    foi fundada em 1908 por Edson Gaulladet. Inicialmente umescritrio de engenharia aeronutica, o empreendimento

    tornou-se em 1910 a Gaulladet Engineering Companycom opropsito de construir avies. A General Dynamics considera

    a empresa de Gaulladet como a sua ancestral. Desdeento, as duas grandes Guerras Mundiais e a Guerra Friaimpulsionaram em muito a aviao. Outros fatores no-

    militares, tambm, naturalmente, contriburam para o avanotecnolgico aeronutico.Quando a Embraer foi criada em 1969, os jatos comerciais

    j dominavam o transporte de passageiros no segmento degrande capacidade. No ano anterior, o avio-fogueteexperimental X-15 fez o seu ltimo vo. Em duas de suas

    misses, o X-15 atingiu altitude de 100 km, recorde em votripulado apenas repetido este ano com a misso doSpaceshipOne de Burt Rutan e sua equipe. Em outras misses,

    o X-15 atingiu a incrvel marca de Mach 6,72 de velocidade,ainda no superada por qualquer outra aeronave que osucedeu. Tambm em 1969, o Boeing 747, o supersnico

    Concorde e a aeronave experimental X-24A realizaram o seuprimeiro vo. Muitos acreditavam que o Boeing 747 serialogo suplantado por avies mais velozes; o Concorde, apesar

    de ser uma maravilha tecnolgica, foi de operao comercial

    deficitria; o X-24 era uma aeronave desprovida de asas,com a fora sustentadora gerada pela prpria fuselagem.

    Em 1969, o astronauta norte-americano Neil Armstrongcaminhou na Lua e foi criado a ARPANET, o sistemapredecessor daInternet.

    Criao do Centro Tcnico de Aeronutica (CTA)Apesar do longo tempo decorrido para a indstriaaeronutica brasileira tornar-se competitiva em termos

    globais, o que ocorreu algum tempo aps a criao daEmbraer, o esforo anterior no setor aeronutico em muito

    contribuiu para que isso acontecesse. Os fabricantesaeronuticos que precederam a Embraer e as instituies

    governamentais civis e militares desempenharam um papelfundamental no que se refere formao de mo-de-obraespecializada, encomendas de aeronaves, incentivosfinanceiros e na estruturao e manuteno da atividade

    aeronutica no pas, de modo geral. Um desses passosfundamentais foi a criao do Centro Tcnico de Aeronutica(CTA, posteriormente, rebatizado de Centro Tcnico

    Aeroespacial). O CTA foi idealizado e tornou-se realidade porobra do Brigadeiro Casimiro Montenegro Filho. Com o CTA,ocorreu a nucleao de especialistas em um centro de

    excelncia e a aplicao de conhecimento aeronutico nasindstrias que vieram a ser criadas em sua proximidade.

    Nasce o BandeiranteNo Brasil, sempre se sonhara com a construo de avies

    multimotores, mas, na maioria das vezes, os projetos malpassaram das pranchetas dos projetistas. Em 25 de maio de1922, o biplanoIndependncia fez o seu primeiro vo. Ele

    era um bimotor push-pull construdo pelo Capito Etienne

    Lafay, equipado com motores rotativos, ultrapassados paraa poca. Posteriormente, o Independncia fez vrios vos

    de longa durao, mas no passou de um nico exemplar.Muito tempo depois, pouco antes da Segunda Guerra Mundial,a Fbrica do Galeo chegou a montar duas dezenas do avio

    bimotor Focke Wulf58 Weihe sob licena. Aps a fabricao

    BANDEIRANTE SAI DOHANGAR X-10 DO CTAPELA PRIMEIRA VEZ

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    do Weihe, planejava-se fabricar em srie o quadrimotor Focke-Wulf 200C Condor. O Fw 200C era to avanado para a poca,

    que fez um vo sem escalas entre Berlim e Nova York em1938, um ano aps o trgico acidente do dirigvel

    Hindenburg, evento que ps fim ao transporte transocenico

    de passageiros por dirigveis. O Condorfoi operado no Brasilpela Condor Syndikat(mais tarde nacionalizada, tornando-se Cruzeiro). Isto, aliado aos planos de expanso da Fbrica

    do Galeo, levou idia de fabric-lo no pas e contatosforam feitos com a Focke-Wulf Flugzeugbau AG. Parte doferramental chegou a ser enviado ao Brasil. Contudo, os

    planos foram abandonados em decorrncia do incio daSegunda Guerra Mundial e nenhum exemplar do Fw 200Cchegou a ser fabricado.

    A Fbrica do Galeo prosseguiu at 1962 fabricando vrios

    tipos de monomotores. A nica exceo foi a montagem de

    kits do caa birreator ingls Gloster Meteor. Antes disso,

    surgiu o primeiro trimotor fabricado no Brasil, o HL-8 da

    CNNA, de propriedade do industrial Henrique Lage. O HL-8realizou seu primeiro vo em 30 de dezembro de 1943. Sua

    silhueta era semelhante ao Beechcraft C-45 e, como este,

    possua dupla deriva. Houve, tambm, o bimotor metlicoCasmuniz 5-2, cujo projetista, o austraco Willibald Weber,

    baseou-se em pequenos bimotores checos Aero 45 para

    constru-lo em 1952. Em fins de 1954, depois de ter

    acumulado mais de 200 h de vo, o prottipo do Casmuniz

    5-2 foi enviado ao Centro Tcnico de Aeronutica para

    ensaios, sendo homologado em 1955. De posse do certificado

    de homologao, a diretoria da Cssio Muniz procurou a

    Cessna, propondo a instalao no Brasil de uma linha de

    montagem capaz de fabricar em srie os monomotores Cessna

    e os bimotores Casmuniz 5-2. A proposta foi recusada, pois

    os americanos estavam negociando a montagem de seus

    avies na Argentina, que julgavam um mercado mais

    promissor.Em meados da dcada de 60, tornava-se ntida uma

    tendncia de reduo do nmero de cidades atendidas pelo

    transporte areo. Desde o final da Segunda Guerra Mundial,

    centenas de cidades eram atendidas por equipamentos de

    procedncia norte-americana, especialmente, o conhecido

    aparelho Douglas DC-3. Eram aeronaves que pousavam em

    pistas de terra, de curta extenso, transportando at 30passageiros e com pouca ou nenhuma infra-estrutura de

    apoio navegao. Dessa forma, o Brasil, que nos anos

    cinqenta chegara a contar com 360 cidades atendidas por

    avies, em 1960 tinha apenas cerca de 120 cidades sendo

    servidas por transporte areo.

    Foi precisamente nesta ocasio, que um grupo do Institutode Pesquisa e Desenvolvimento (IPD) do CTA props a

    elaborao do projeto de um avio bimotor, turbolice, capaz

    de transportar cerca de 20 passageiros e operar nas condies

    vigentes na grande maioria das cidades brasileiras. Esse grupo

    era constitudo essencialmente por tcnicos formados pelo

    Instituto Tecnolgico da Aeronutica (ITA), sob a liderana

    de Ozires Silva, ento major da Fora Area Brasileira (FAB).

    Apesar do ceticismo reinante, o Ministrio da Aeronutica

    encomendou ao IPD em 1964 um estudo sobre a viabilidade

    de ser criada no Brasil uma linha de produo de bimotores

    turbolice de transporte. O Ministrio pretendia alcanar dois

    objetivos bsicos: projetar uma aeronave moderna, simplese possvel de ser construda em srie no Brasil; e equipar aFAB com uma aeronave verstil, adaptada s condies

    brasileiras. O grupo encarregado do estudo analisou umaantiga proposta da Fokkerde montar o F-27 no Brasil,avaliando, tambm, o Hawker Siddeley HS-748, o Dart Herald

    e o Convair 580. Todos foram considerados grandes ecomplexos demais para a capacidade industrial brasileira.

    Por outro lado, o Broussard, tambm proposto, era pequenoe rstico demais. A soluo seria ento a criao de ummodelo intermedirio de projeto nacional.

    Em princpios de 1965, esteve em visita ao Brasil, oengenheiro francs Max Holste, famoso construtor de avies,

    ocasio em que foi procurado pelo diretor do IPD, Eng. OziresSilva, ento com pouco mais de 30 anos de idade, sendocolocado a par dos planos de construo de um bimotor

    nacional. Jos Carlos Neiva, proprietrio da SociedadeConstrutora Aeronutica Neiva, e Joseph Kovacs, scio destaempresa e participante do projeto do treinador T-25

    Universal, foram buscar Max Holste em So Paulo e otrouxeram, de carro, para So Jos dos Campos. Inicialmente,Holste quis saber das reais possibilidades do CTA, pois no

    acreditava muito na capacidade industrial brasileira. Depois,props que o Brasil produzisse, sob licena, o seu bimotorBroussard Major, uma aeronave de asa alta movida a pisto.

    Em vez disso, acabou colaborando no projeto do bimotorbrasileiro, formando uma equipe brasileira de alto gabarito.A cpula da FAB foi convencida que Holste viera para

    coordenar a modernizao de aparelhos de sua frota e nopara coordenar tecnicamente o projeto de um novo avio.

    De qualquer modo, o esforo resultou no projeto do bimotor

    IPD-6504, de concepo simples: turbolice, metlico, asabaixa, trem triciclo escamotevel, com peso mximo dedecolagem de cerca de 4.500 kg, e equipado com dois

    motores turbolice Pratt & Whitney Canada PT6A-20.Em 12 de junho de 1965, o ento Ministro da Aeronutica,Brig. Eduardo Gomes, assinou o documento bsico de

    aprovao do projeto IPD-6504, e nesse mesmo ms, no PAR,

    DA ESQUERDA PARA A DIREITA: MAX HOLSTE,MAJOR MARIOTTO FERREIRA, BRIGADEIRO PAULO VICTOR,ENG. MICHEL CURY E ENG. JOS XIMENESLOGO APS O 1 VO DO BANDEIRANTE

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    Departamento de Aeronaves do IPD, era iniciada a construodaquele que viria a ser conhecido posteriormente como

    Bandeirante. Para a construo do primeiro prottipo,decorreram trs anos e quatro meses, entre os primeirosestudos preliminares e o vo do dia 22 outubro de 1968.

    Para isso, foram gastos 110 mil horas de projeto, tendo sidoexecutados 12 mil desenhos de fabricao; 22 mil horasde clculo estrutural e aerodinmico e 282 mil horas de

    fabricao do avio e do seu ferramental. Somente do IPD/PAR, trabalharam cerca de 300 pessoas durante esse perodo.Alm da equipe do IPD/PAR, outras organizaes do

    Ministrio da Aeronutica, como o Parque de Aeronuticados Afonsos, o Ncleo do Parque de Lagoa Santa, o Grupode Suprimento e Manuteno, assim como vrias empresasdo setor privado, ligadas ao ramo aeronutico, entre elas

    Aerotec e Avitec, muito contriburam para que o primeiroprottipo do IPD-6504 pudesse realizar seu primeiro vo.Finalmente, s 7h07 do dia 22 de outubro de 1968, pilotado

    pelo Maj. Eng. Jos Mariotto Ferreira, tendo ao seu lado oEng. Michel Cury, como engenheiro de ensaios em vo, vooupela primeira vez o prottipo do IPD-6504, pintado nas cores

    da FAB, decolando da pista de terra do CTA. Todavia, somenteem 26 de outubro de 1968, diante de autoridades e

    convidados, que ocorreu oficialmente o 1 o vo dedemonstrao do IPD-6504, matriculado YC-2130.

    Infelizmente, alguns dias depois, o Maj. Mariotto viria afalecer ao testar um avio Uirapuru. Sobre o vo do IPD-6504, Michel Cury uma vez declarou:

    O vo, apesar das nossas naturais preocupaes, transcorreuoperacionalmente normal; j havamos tomado algumascautelas quando fosse realizado o pouso, porque sabamos

    que havia um problema na reverso das hlices, j que umapea usada nessa operao estava fora das caractersticasdas turbinas. As surpresas, porm, foram aparecendo quando

    j estvamos no ar. Comeou com uma chuva de limalhasobre a cabea dos pilotos, limalha essa que se desprendeudos painis de equipamentos eletrnicos.

    Posteriormente, o Maj. Mariotto percebeu que os comandosdos compensadores estavam invertidos. Evidentemente, oscomandos foram acionados ao contrrio e assim se

    prosseguiu. O vo foi realizado em ms condiesmeteorolgicas, quase chegando operao porinstrumentos. No pouso, dobraram a ateno no momento

    da reverso dos motores, para se evitar solavancos da

    aeronave. Em 15 de maio de 1969, em Braslia, o 1o

    prottipo, de matrcula YC-95 2130, voou pela primeira vez

    com passageiros, transportando na ocasio, o ento Ministroda Aeronutica Brig. Mrcio de Souza e Mello, o prefeito deBraslia, Wadj Gomide, e os comandantes do 6o COMAR, do

    Comando Naval de Braslia e do Comando Militar do Planalto,em um vo panormico sobre a cidade. Tambm, o Presidente

    Costa e Silva voou no Bandeirante espontaneamente, sem

    estar programado, deixando o pessoal da segurana empnico, conforme relata o Eng. Ozires em seu livro aDecolagem de um Sonho. Os jornalistas presentes foram

    os passageiros dos vos seguintes, realizados na ocasio.Com a construo do primeiro prottipo do Bandeirante,

    praticamente chegou ao fim o trabalho de Max Holste.Os atritos surgidos entre ele e os tcnicos brasileiros forammuitos. Holste continuava no acreditando nas possibilidadesbrasileiras de fabricao em srie do Bandeirante, fazendo

    com que ele deixasse a equipe em 1969, mudando-se parao Uruguai.Aps a criao da Embraer em 19 de agosto de 1969, outros

    prottipos se seguiram e deu-se incio produo seriadado Bandeirante.

    Bibliografia- Lins de Barros, Henrique, Alberto Santos Dumont, Editora Index, 1986.

    - Viegas, Joao Alexandre, Vencendo o Azul, Livraria Duas Cidades Editora, 1989.- Andrade, Roberto Pereira, Histria da Construo Aeronutica no Brasil, Artigraph

    Editora, 3 Edio, 1991.- Mattos, Bento, Serra, Paulo e Kovacs, Joseph, Edio Especial da Revista ABCM

    Engenharia Sobre Histria da Aeronutica, Vol 9, n 2, 2003.

    TextoBento Mattos, Engenheiro da Gerncia de Desenvolvimento Tecnolgico eProcessos da Vice-Presidncia de Engenharia e Desenvolvimento de NovosProdutos.ApoioPaulo Furtado, da APVE - Associao dos Pioneiros e Veteranos da Embraer;

    Paulo R. Serra, Professor do Programa de Especializao em Engenharia daEmbraer.

    MAJOR OZIRES SILVAE BRIGADEIRO PAULO VICTORBATIZAM O BANDEIRANTE

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    1000a.C. -1936

    A gravidade vencida

    Ahistria da civilizao data de alguns milnios, masa histria da aviao muito recente, contando

    aproximadamente um sculo. O primeiro filmefotogrfico apareceu em 1825. Em Berlim, em 1895, o filmeanimado teve a sua primeira exibio pblica. Assim, osacontecimentos primordiais da aviao esto relativamentebem documentados. Bem menos conhecida, por ser maisantiga que a do avio, a histria do aerstato (bales edirigveis). Inscries e textos antigos indicam que balesde ar quente e pipas gigantes teriam sido empregados embatalhas pelos chineses antes da era crist com o intuitode observar a zona de combate. Para sinalizao, os mongis

    teriam empregado pipas luminosas contraos poloneses na Batalha de Legnica em1241 da era crist. Muito mais tarde, o

    brasileiro e jesuta Bartholomeu deGusmo, filho de pais portugueses,redescobriu o princpio do balo de arquente. Em 1709, Gusmo construiu umpequeno balo e fez uma demonstraode vo na corte do Rei Dom Joo V. Em1783, os franceses Jean Piltre de Roziere Marquis d'Arlandes fazem o primeirovo registrado na histria, a bordo deum balo construdo pelos irmosMontgolfier. A partir da, o balonismotorna-se uma febre. Em 1785, Jean-Pierre Blanchard e John Jeffries cruzamo Canal da Mancha em balo partindo daInglaterra. Em 1794, a Frana criava umaescola e dois corpos de bales militarese bales foram empregados nas batalhasde Maubeuge e Fleurus, e, no ano seguinte,

    no cerco de Mainz. Em julho de 1849, pela primeira vez, balesso empregados em bombardeio, por tropas austracas emataque a Veneza. A partir de meados do sculo XIX duas novastendncias ganhavam substncia por conta do emprego demotores a vapor: a corrida por tornar controlvel o vo doaparelho mais-leve-que-o-ar dotado de motores (dirigveis) ea construo de aeronaves de asa fixa.

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    1 - O PRIMEIRO VO DE BALO COM PASSAGEIROS UM GALO, UM PATO EUM CARNEIRO EM 19 DE SETEMBRO DE 1783 EM UM BALO CONSTRUDOPELOS IRMOS MONTGOLFIER

    2 - GEORGE CAYLEY FOI O PRIMEIRO A ENTENDER OS PRINCPIOSESSENCIAIS E AS FORAS DO VO. CAYLEY PROJETOU VRIAS MQUINASAREAS E PLANADORES, ESSES LTIMOS MOSTRADOS NA FIGURA

    3 - PRIMEIRA TENTATIVA DE SANTOS DUMONT DE GANHAR O PRMIO DEUTSCH DELA MEURTHE COM O DIRIGVEL N 5. POR CAUSA DE UM VAZAMENTO DUMONTFOI OBRIGADO A FAZER UMA ATERRISSAGEM DE EMERGNCIA. VINTE E DOISDIAS DEPOIS, ELE CONQUISTOU O PRMIO COM O SEU DIRIGVEL N 6

    4 - COM O DIRIGVEL N 3, SANTOS DUMONT FEZ O PRIMEIRO VOCONTROLADO DA HISTRIA

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    Em 1852, o francs Henri Giffard, foi o primeiro a voarem um aparelho mais-leve-que-o-ar dotado de motores,no caso com propulso a vapor. A partir de ento,inmeros aparelhos seguiriam, para citar alguns, oconstrudo por Paul Haelein, em 1872, e outro por Charles

    Ritchel, em 1878. O alemo Paul Haelein foi o primeiro aempregar motores a combusto interna em dirigveis.Hidrognio era o combustvel que provinha do mesmocompartimento que o armazenava para dar sustentao aeronave. Charles Ritchel faz demonstraes areas nosEstados Unidos de um aparelho mais-leve-que-o-arconstrudo com tela impermevel e estrutura tubular paraalojamento do motor e piloto, vendendo cinco unidadesde sua mquina voadora. Vrios outros dirigveis doperodo que antecederam virada do sculo trouxeraminovaes importantes.

    Enquanto isso, o avio tomava forma. O ingls George Cayleycorretamente delineou as foras de sustentao, arrasto etrao que atuam em uma aeronave em vo, em 1799. Eletambm assinalou a importncia do uso de aerofliosarqueados para gerar sustentao adequada e projetouplanadores com superfcies de controle que foramconstrudos e realizaram vos bem-sucedidos em meados

    do sculo XIX. A partir de 1891, o alemo Otto Lilienthalfez cerca de 2000 vos com planadores. Lilienthal e Cayleypublicaram livros e artigos acerca da teoria do vo queinfluenciaram os trabalhos dos pioneiros que se seguiriam.Vrias tentativas foram feitas para se voar com aviesdotados de motor a vapor, que, por conta de sua elevadarazo peso/potncia, no foram bem-sucedidas. Apenascom o aperfeioamento do motor a combusto interna, o

    vo do aparelho mais-pesado-que-o-ar tornou-se possvel.Em dezembro de 1903 os irmos Wright efetuaram, com obiplano Flyer, o que reconhecido por vrios historiadorescomo o primeiro vo tripulado da histria. Em outubro de1906, Santos Dumont pilotando o seu 14Bis, no campo deLe Bagatelle, nas cercanias de Paris, realizou o primeiro votripulado testemunhado publicamente por milhares depessoas e certificado por uma instituio oficial: o Aeroclubeda Frana. Os irmos Wright so os primeiros a transportarpassageiros em seus vos na Europa em 1908; o Canal daMancha cruzado pela primeira vez em 1909 por LouisBlriot. A Primeira Guerra Mundial proporciona grande avano aviao e, aps o conflito, as primeiras companhias areas

    se formam e iniciam operao com bombardeiros adaptados.A fbrica alem Junkers projetou e construiu os primeirosavies inteiramente metlicos, alguns deles entrando emcombate na Primeira Guerra. O Junkers F.13 foi o primeiroavio concebido, desde o incio, para transporte depassageiros, realizando o seu primeiro vo em 1919.Do lado terico, a mecnica dos fluidos vinha seestabelecendo desde longa data. Em 1738, o suo DanielBernoulli publicou a sua famosa equao relacionandoa presso e velocidade dos gases. Leonard Euler, discpulode Bernoulli, elaborou equaes que descrevem ocomportamento de fluidos compressveis, publicadas emartigos em 1750. As equaes de Navier-Stokes, o mais

    completo modelo matemtico do escoamento de fluidos,foram deduzidas no comeo do sculo XIX. Contudo, asequaes de Euler e Navier-Stokes s puderam ser resolvidasem meados do sculo XX. Assim, os pioneiros da aeronuticalanaram mo da experimentao e modelos tericos maissimples para poderem realizar os seus feitos.

    Brasil, um pas de alma aeronuticaEm 15 de novembro de 1889 foi proclamada a Repblica doBrasil. Em 1893, na Revolta da Armada, os revoltososdominaram a maior parte da esquadra e conquistaramo controle da Baa da Guanabara. Com essas foras,bombardearam a ento capital do Brasil, a cidade do Rio deJaneiro, exigindo a renncia do presidente Floriano Peixoto.Momentaneamente, sem esquadra para atacar os naviossublevados, Floriano acolheu com simpatia a proposta dodeputado Augusto Severo, de construir um dirigvelentrevendo a possibilidade do emprego da aeronave na lutacontra os revoltosos. Empregar bales em operaes militaresno era uma idia estranha s Foras Armadas do Brasil.Durante a Guerra do Paraguai, bales cativos haviam sidoutilizados para observao de posies inimigas. Assim,Augusto Severo viajou a Paris, em 1893, para mandarconstruir e acompanhar a fabricao do dirigvel Bartholomeude Gusmo, pela conhecida casa Lachambre & Machuron.

    DIRIGVEL BARTOLOMEU GUSMO, PROJETADO PORSEVERO MARANHO E CONSTRUDO PELA CASA LACHAMBRE EM PARIS.REALENGO, RIO DE JANEIRO, 1894

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    Em fevereiro de 1894, o dirigvel realizava sua primeiraascenso, mas durante os ensaios de estabilidade teve umacidente. Devido ao fim da revolta, o governo sedesinteressou pelas experincias de Severo, sua aeronaveno recebendo os reparos necessrios, foi abandonada.A partir de ento, contou apenas com seus recursosparticulares para dar seqncia a seus trabalhos. Em 1902,Severo perdeu a vida logo aps a decolagem em Paris de

    seu recm construdo dirigvel, o Pax. Houve vrios outrospioneiros brasileiros que projetaram e mesmo construramdirigveis. O paraense Jlio Cesar Ribeiro de Souza oautor da primeira tentativa de desenvolver um projeto deum dirigvel no Brasil. Ele teria voado o dirigvel Vitria,no ano de 1881, e o Cruzeiro, em 1886, ambos os feitosrealizados em Paris.

    Santos Dumont: um brasileiro pioneiro dos aresAlberto Santos Dumont nasceu no estado brasileiro deMinas Gerais em 20 de julho de 1873. Seu pai, um ricoplantador de caf, dispunha de uma ferrovia particularpara o escoamento de sua produo. Desde cedo, Dumontinteressou-se por mquinas. Ele freqentou como ouvinte,na Universidade de Bristol, Inglaterra, os cursos deconstrues mecnicas, aeronuticas e navais. Com o seuvis experimentalista, Dumont foi um filho direto daRevoluo Industrial. Vrios de seus amigos, entre os quais,Louis Blriot, Henri Farman e Gabriel Voisin mal podiamacreditar na rapidez com que Dumont colocava suas idiasem prtica. Dumont no foi por formao um terico, umcientista, mas, antes de tudo, um magnfico integradorde tecnologias existentes sua poca. Naquele perodo,solucionou o problema da lubrificao do motor de cilindrosopostos e inventou dispositivos e mecanismos para melhorara estabilidade e guiagem de dirigveis.Em 13 de novembro de 1889, Dumont realizou o primeirovo controlado da histria da humanidade com umaaeronave motorizada. Para tal, ele utilizou o seu aparelhon 3, um dirigvel sustentado por hidrognio e movidopor um motor combusto interna. Em 1900, o Conde

    7

    BIMOTOR INDEPENDNCIA ANTESDE UM VO COM CINCO PASSAGEIROSEM JUNHO DE 1922

    von Zeppelin efetuou um vo com o seu dirigvel rgidoLZ-1 no Lago Constana, na Alemanha. O seu segundodirigvel apenas ficou pronto em 1905, mas foi destrudopor uma tempestade em 1906. Nos primeiros anos dosculo XX, Dumont era o nico a navegar pelos ares.O Prmio Deutsch de la Meurthe foi institudo pelo milionrioHenri Deutsch de la Meurthe em 1900 para ser concedido aoprimeiro que, partindo do campo de Saint Cloud, completasse

    uma volta ao redor da Torre Eiffel e retornasse ao mesmo campoem, no mximo, 30 minutos. Com toda a cidade de Parisvoltada para ele, Santos Dumont realizou tal feito em outubrode 1901, pilotando o seu dirigvel n 6. Dumont imaginavaum futuro onde o transporte areo teria um papelpredominante. O maior de seus dirigveis, o n 10, denominadoOmnibus, foi concebido para o transporte de passageiros. Estesonho tornou-se realidade j em 1910, com os vos regularescom dirigveis da primeira companhia rea a se constituirna histria, a alem DELAG. Posteriormente, o emprego dosdirigveis no transporte transocenico de passageiros acabousendo imortalizado pela companhia Zeppelin.Desde longa data, Dumont pensava no mais-pesado-que-

    o-ar. Ele chegou a conceber um avio monoplano, o n11, mas os seus amigos o convenceram a adotar umaconfigurao biplana em forma de pipa, denominada caixade Hargrave, j usada com sucesso nos planadores dacompanhia dos irmos Voisin e Blriot. Dumont realizouvrios ensaios em terra e no ar com o seu novo aeroplano.Inicialmente, o seu aparelho n 14, um dirigvel, serviude plataforma sustentadora, para avaliao da estabilidadede seu avio, batizado, por isso, de 14Bis. Dumontfinalmente realizou alguns vos com o seu biplano naFrana, em 23 de outubro de 1906, o mais longo destesvos cobrindo cerca de 60 metros de solo. Ele logrouxito aps aumentar a potncia do motor, que passou a

    fornecer 50 hp. O 14Bis decolou por seus prprios meiosperante um enorme pblico e de uma comisso doAeroclube da Frana especialmente constituda paraanalisar a questo do vo. Em 12 de novembro, Dumontrealizou vos mais extensos com o 14Bis.

    SANTOS DUMONT REALIZA VOCOM O 14BIS EM LE BAGATELLE,CERCANIAS DE PARIS, EM 1906

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    Bibliografia- Lins de Barros, Henrique, Alberto Santos Dumont, Editora Index, 1986.- Viegas, Joo Alexandre, Vencendo o Azul, Livraria Duas Cidades Editora, 1989.- Andrade, Roberto Pereira, Histria da Construo Aeronutica no Brasil, Artigraph

    Editora, 3 Edio, 1991.- Mattos, Bento, Serra, Paulo e Kovacs, Joseph, Edio especial da Revista ABCM

    Engenharia sobre a Histria da Aeronutica, Vol 9, n 3, 2003.- Wikipedia, The Free Encyclopedia @ http://en.wikipedia.org/wiki/Main_Page- U.S. Centennial of Flight Commission @ http://www.centennialofflight.gov- Scott, Phil. The Shoulders of Giants: A History of Human Flight to 1919. Reading,

    Mass.: Addison-Wesley, Publishing Company, 1995.

    TextoBento Mattos, Engenheiro da Gerncia de Desenvolvimento Tecnolgico eProcessos da Vice-Presidncia de Engenharia e Desenvolvimento de Novos

    Produtos.ApoioPaulo Furtado, da APVE - Associao dos Pioneiros e Veteranos da Embraer;Paulo R. Serra, Professor do Programa de Especializao em Engenharia daEmbraer.

    Santos Dumont continuou construindo outras aeronaves,aperfeioando, entre 1907 e 1909, o seu aparelhomonoplano Demoiselle (Liblula). O Demoiselle representouum avano poca em termos de construo econfigurao. Foi fabricado em vrios pases, entre os

    quais, Alemanha, Frana, Holanda e Estados Unidos. Em1909, Dumont encerrou suas atividades de construoaeronutica. Faleceu no Brasil em 1932.

    O incio da aviao no Brasil Marinha coube a primazia da criao de uma escola deaviao militar e, posteriormente, da arma da aviao. Jem 1908, a imprensa carioca publicava artigos defendendoa tese de que a Marinha deveria contar com dirigveis parareconhecimento martimo e fluvial. Em 7 de janeiro de 1910,voou em So Paulo, o primeiro avio inteiramente fabricadono pas, o monomotor So Paulo. Ele foi construdo porDemetre Sensaud de Lavaud, um francs radicado no Brasil.O monoplano de J. DAlvear foi o segundo avio construdono Brasil, tendo realizado o seu primeiro vo em 1914.

    Apesar de bem-sucedido, J. DAlvear abandonou a construoaeronutica a partir de ento.O tenente do Exrcito Marcos Evangelista Villela Jnior foienviado Frana para supervisionar a montagem de aviesBlriot comprados naquele pas. Em 1918, percebendo o valordo avio como arma militar, ele projetou no Brasil ummonomotor de observao que denominou Aribu. Por terexcelentes qualidades de vo, a aeronave foi adquirida pelo

    Exrcito Brasileiro. Com ajuda do exrcito, Villela construiuum outro avio, desta vez de dois lugares, mais adequado instruo, o qual batizou de Alagoas. Em 11 de novembro de1918, no mesmo dia em que era assinado o armistcio pondofim Primeira Guerra Mundial, voou o Alagoas e chegaramao Rio de Janeiro os primeiros membros da Misso MilitarFrancesa contratada pelo Exrcito Brasileiro para organizar asua Escola de Aviao. Desse primeiro contingente, fazia parteo capito Etienne Lafay, que posteriormente fabricou doisavies no Brasil. Trabalhando nas oficinas do industrialHenrique Lage, do ramo de reparos navais e navegaomartima, Lafay e o engenheiro Braconnot projetaram,primeiro, um monomotor biplano, semelhante ao Caudron G.3,

    francs. O aparelho ficou pronto em meados de abril de 1920e foi batizado de Rio de Janeiro. Seguiu-se o biplano de cincolugares Independncia, uma configurao tratora-propulsoramovida por dois motores rotativos Charget, ultrapassados poca. Aps estas tentativas, vrias outras aconteceram, masas aeronaves mal saram da prancheta de desenho e chegaram,no mximo, a fase de prottipos. A entrega dos primeirosbiplanos Muniz M-7, em 1936, sinaliza o marco da primeirafabricao em srie no Brasil. O M-7 foi construdo pelaCompanhia Nacional de Navegao Area de Henrique Lage,que j havia tentado sem sucesso fabricar sob licena aviesdas companhias Blackburn e Bristol, chegando a adquiriralgum ferramental para tal. A demora at a fabricao em

    srie e a experincia de D'Alvear indicam a falta de umapoltica industrial no primeiro quarto do sculo XX, o que seconseguiu at ento podendo ser creditado s iniciativasindividuais. A primeira fabricao seriada de avies no Brasilpode ser concretizada devido ao bom relacionamento entreos militares (Exrcito) e a indstria civil com apoiogovernamental, na figura de Getlio Vargas. Muito tempodepois, o apoio governamental, e, em especial, o dos militares,seria decisivo para a criao da Embraer.

    EM JULHO DE 1931, NO ANIVERSRIO DA ESCOLA DE AVIAO,GETLIO VARGAS VOOU NO APARELHO MUNIZ M-5 PARA DEMONSTRARSUA CONFIANA NA CAPACIDADE DOS TCNICOS BRASILEIROS.DA ESQUERDA PARA A DIREITA, APARECEM GUEDES MUNIZ, GETLIO VARGAS,DARCY VARGAS, O CHEFE DA ESCOLA E O PILOTO ADHERBAL OLIVEIRA

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    A primeira fabricao emsrie de aeronaves no pas

    Em 1927, ano de criao da arma da aviao do Exrcito,o capito Guedes Muniz comeou a freqentar a EscolaSuperior de Aeronutica na Frana, onde projetou seus

    trs primeiros aparelhos, designados M-1, M-3 e M-5. No anoseguinte, Muniz acompanhou a fabricao e ensaios de aviesque estavam sendo construdos para o Brasil, na Frana. Graasa essa circunstncia, pde conhecer mais profundamentetrs companhias aeronuticas: Caudron, Farman e Potez.Posteriormente, o M-5 foi fabricado pela empresa Caudronpara as foras armadas brasileiras. De volta ao Brasil, em 1931,declarou que a felicidade daquela gente estava baseada nasua industrializao. No eram simplesmente pases produtoresou consumidores de alimentos e outras matrias-primas.

    Portanto, Muniz estava convencido da necessidade de dotaro Brasil de uma indstria aeronutica moderna, no apenaspor consideraes militares, mas como vetor de modernizaodo pas. A fabricao de aeronaves tambm teria reflexospositivos em outras indstrias de componentes. No Brasil,

    Muniz projetou o biplano de instruo M-7, queviria a se tornar a primeira aeronave fabricadaem srie no pas. Em 1935, iniciou-se aconstruo de dois prottipos do M-7 no Campodos Afonsos, Rio de Janeiro. Assim, pde testarsuas idias sobre a produo seriada de aviesno Brasil. A Usina Santa Luzia construiu abequilha e as rodas, fundidas de liga de metalleve; a Companhia Nacional de Navegao Area(CNNA) construiu os lemes de ao soldado; a telade algodo para o revestimento da asa tambmfoi encomendada indstria txtil nacional.Vrios outros itens utilizados nos prottipos enos modelos de srie foram fabricados no Brasil.

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    1 - HELICPTERO BEIJA-FLOR PROJETADO EM 1955 POR ALGUNS INTEGRANTESDA EQUIPE DO PROF. FOCKE. VOOU AT 1965, QUANDO SOFREU UMACIDENTE

    2 - HL-6 DA CIA. NACIONAL DE NAVEGAO AREA DE HENRIQUE LAGEESTACIONADOS NO AEROPORTO SANTOS DUMONT, RIO DE JANEIRO

    3 - FABRICAO DO 3FG (PT-19) NA FBRICA DO GALEO4 - BRIGADEIRO CASIMIRO MONTENEGRO FILHO EXAMINANDO UMA MAQUETE DO

    TNEL DE VENTO TA-2 DO CTA5 - UM EXEMPLAR DOS CERCA DE 1019 PAULISTINHA FABRICADOS PELA CAP

    E NEIVA. EM 2004, A AERONAVE ESTAVA OPERANDO EM UM AEROCLUBEBRASILEIRO (FOTO JULIANO DAMSIO)

    2

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    1936 - 1969

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    6 - EXEMPLAR DE SRIE DO MUNIZ M-7 SENDO PREPARADO PARA O PRIMEIROVO NA ILHA DO VIANA, RIO DE JANEIRO

    7 - NEIVA T-25 UNIVERSAL8 - OS TREINADORES T-21 E T-22 DE PROJETO DA FOKKER HOLANDESA

    DIFERIAM PELA CONFIGURAO DO TREM DE POUSO. LTIMOS MODELOSFABRICADOS PELA FBRICA DO GALEO

    9 - VISTA AREA DO INSTITUTO TECNOLGICO DE AERONUTICA (ITA),LOCALIZADO EM SO JOS DOS CAMPOS, SO PAULO

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    INSTALAES DA NEIVAEM BOTUCATU EM SEUS PRIMRDIOS

    Muniz defendia o aproveitamento de madeiras nacionais naconstruo aeronutica e preconizava a implantao daindstria de aos especiais e alumnio. No tocante fabricaode motores, ele acreditava que inicialmente se devesseestabelecer um contrato de fabricao sob licena com uma

    grande empresa estrangeira. O militar desejava que o GovernoFederal subsidiasse as pesquisas sobre madeiras nacionaisrealizadas pelo Instituto de Pesquisas Tecnolgicas (IPT) dogoverno do Estado de So Paulo. Ele props a criao doMinistrio do Ar para coordenar as atividades relacionadas coma aviao. Desejava, tambm, que o governo encomendasseavies de turismo para doaes a Aeroclubes, a sua fabricaoconstituindo um verdadeiro laboratrio de pesquisa e formaode recursos humanos. Ary Torres, diretor do IPT, concordavacom as teses de Muniz, propondo a criao de um curso deengenharia aeronutica no Rio de Janeiro e a constituio deuma comisso de tcnicos dos ministrios da Guerra, Marinhae Aviao, engenheiros civis especializados, com recursos e

    poderes para iniciar a fabricao de avies no pas. Em 1936,foram entregues os dois primeiros exemplares de uma sriede 26 aparelhos Muniz M-7, fabricados pela CompanhiaNacional de Navegao Area (CNNA). Nascia a indstriaaeronutica nacional, com base no esforo e idias de Munize com apoio do Presidente Getlio Vargas. Em 1939, oMinistrio do Exrcito criou um curso de especializao emengenharia aeronutica na Escola Tcnica do Exrcito no Riode Janeiro, o primeiro curso de nvel superior do pas voltadopara a aeronutica.

    A indstria aeronutica antes da criao doCentro Tcnico de Aeronutica

    Esta fase da aeronutica brasileira, que cobre o intervalo detempo entre 1939 e 1946, marcada pela atuao de empresasparticulares, totalmente dependentes de apoio e encomendasgovernamentais, e iniciativas de construo de avies por partedo Estado. A atuao dos empreendimentos dava-se de maneiradescoordenada e, muitas vezes, conflitante. A produo deaeronaves militares atendia a interesses especficos e no seencaixava dentro de uma poltica central. A produo civilera praticamente voltada demanda de aeroclubes e a grandemaioria dos produtos era ultrapassada. No podendo contarcom economias de escala, grande parte das iniciativas nofoi comercialmente bem-sucedida. Felizmente, havia um pulsodesenvolvimentista norteando a atividade aeronutica no pas

    e o aprendizado e formao de mo-de-obra foram essenciaispara o perodo seguinte, iniciado com a criao do CentroTcnico de Aeronutica (CTA). Em linha com os princpiosbsicos de sua concepo, as atividades do CTA voltaram-sedesde o princpio para a pesquisa, ensino e desenvolvimentoda aeronutica, bem como homologao de aeronaves.O conceituado Laboratrio de Madeiras do IPT evoluiu paraum departamento aeronutico, o qual foi responsvel pelafabricao de vrios avies e planadores experimentais. Almde contribuir com a formao de mo-de-obra aeronutica,o IPT deu incio a projetos da iniciativa privada como omonomotor CAP-3 Planalto e ao bem-sucedido CAP-4Paulistinha, estes da Cia. Area Paulista (CAP). O Paulistinha,por sua vez, foi um reprojeto do EAY-201, originalmenteplanejado para ser fabricado pela Empresa AeronuticaYpiranga (EAY), que, at ento, fabricava planadores. A aeronaveEAY-201 era um monomotor de asa alta, dois lugares, estruturade madeira e ao, cobertura de tela e contraplacado de madeira.Em 1941, a EAY vendeu o prottipo, mas comprou-o novamente,submetendo-o a extensas modificaes. O IPT foi contratadopara o projeto de um avio a partir do EAY-201. Assim, pelasmos de Romeu Corsini e Adonis Maitino, nascia o Paulistinha.

    A CAP, de propriedade do industrial Francisco BabyPignatari,e a Sociedade Aeronutica Neiva, aps a falncia da CAP,produziram cerca de 1.019 unidades do Paulistinha. Tanto oprottipo do EAY-201 quanto o do Muniz M-7 realizaram oseu primeiro vo em 1935. Posteriormente, surgiu o MunizM-9, derivado do M-7. Em 1937, ficou pronto o prottipo doM-9, que foi homologado em fevereiro de 1938. Em maio de1939, o Exrcito encomendou uma primeira srie de vinte M-9.Cinco aeronaves deste modelo foram exportadas e vinte foramencomendadas pela Aviao Militar e fabricados pela CNNAat 1943. Guedes Muniz ainda projetou o M-10 e o M-11, esteltimo um monoplano de asa baixa e inteiramente construdocom madeiras nacionais. Ambos os programas foram

    abandonados. A razo para o cancelamento do M-11 foi agrande quantidade de aeronaves PT-19 que o Brasil haviarecebido pelo sistema de Emprstimos e Arrendamento dogoverno norte-americano, o que levou sua fabricao emsrie pela Fbrica do Galeo. A CNNA seguiu fabricando outrostipos de avies at 1948, quando encerrou suas atividades.

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    Fbrica do Galeo

    A idia da Fbrica do Galeo (FGAL) teve origem na Marinhaem meados da dcada de 30. Negociou-se com a empresa alemFocke-Wulf Flugzeugbau o licenciamento de quatro modelosde aeronaves, desde um aparelho para treinamento at o Fw200C, um quadrimotor metlico de passageiros. Dois dosquatros modelos negociados foram efetivamente montados nopas. Em junho de 1936, foi lanada a pedra fundamental dasOficinas Gerais da Aviao Naval, que ganhariam o nome de

    Fbrica do Galeo, na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro.Em junho de 1939, foram inauguradas as instalaes da FGAL,que passaram ao controle da Aeronutica, logo aps a criaodesta arma, em 1941. O Capito Raymundo Aboim foi o Diretorda FGAL e tambm foi o articulador do acordo com a fbricaalem Focke-Wulf. Aboim pretendia fabricar as aeronavesestrangeiras com um grau crescente de nacionalizao para,em uma segunda etapa, passar a projet-los e fabric-los nopas. Em 1952, o Ministrio da Aeronutica (MAer) encomendouda FGAL a produo de um avio leve para o treinamento depilotos nos aeroclubes. O modelo escolhido foi o aparelho 1-80, projetado pelo engenheiro Marc Niess, em 1949. Na CAP,Niess havia participado dos projetos do Paulistinha e da

    aeronave Planalto. O prottipo do 1-80 possua bomdesempenho e manejo e estava homologado. Era um avio deestrutura de ao soldado e asa de madeira, coberta de tela.Entretanto, o Ministrio da Aeronutica fixou um prazoexguo para a entrega dos primeiros exemplares. Assim, aFGAL promoveu alteraes no projeto, que comprometeram odesempenho do avio, tornando-o inadequado para instruo,sendo abandonado pelos aeroclubes. Foram tambm produzidosna FGAL os monomotores de instruo metlicos T-21 e T-22,ambos projetados pela Fokker holandesa. Em 1962, terminavaa fabricao seriada do T-22 e com ela encerravam-se asatividades da prpria FGAL. Em 1965, ela se transformou emparque de manuteno da Aeronutica.

    Fbrica de Lagoa SantaA Fbrica de Lagoa Santa foi outra tentativa de se fabricaravies no pas. Ela teve origem nos primeiros anos do governoVargas. J em 1935, uma comisso, nomeada pelo Ministroda Viao e Obras Pblicas e composta por representantes doExrcito, Marinha e Aviao Civil, estudava a localizao deuma fbrica de avies militares. Depois de vrios estudos econtatos com diferentes empresrios, estabeleceu-se, noestado de Minas Gerais, no municpio de Lagoa Santa, umafbrica para a montagem dos avies North American T-6.As aeronaves comearam a ser fabricadas em 1946, dez anosaps o planejado para o incio das atividades de Lagoa Santa.As aeronaves T-6 estavam, ento, obsoletas. A fabricao das

    ltimas 20 unidades do T-6, de uma encomenda de 81 aparelhos,deveria se dar com ndices de nacionalizao crescentes. Porfalta de infra-estrutura adequada e dificuldade de encontrar etreinar mo-de-obra especializada naquela regio, oempreendimento no foi adiante.

    Sociedade Aeronutica Neiva

    A Sociedade Aeronutica Neiva foi fundada por Jos Carlosde Barros Neiva para a fabricao artesanal de planadores.Contudo, o Ministrio da Aeronutica continuava importandoavies para os aeroclubes e a Neiva pretendia atender a estemercado com avies de projeto nacional. Por conta doPaulistinha, a empresa sobreviveu e cresceu durante anos

    difceis do fim da dcada de 50 e incio da dcada seguinte,quando muitas iniciativas fracassavam no Brasil. Contudo,a dependncia total da indstria aeronutica brasileira aogoverno continuava: dos 242 Paulistinha, 232 responderama encomendas do MAer. Em 1959, a Neiva apresentava Aeronutica o Regente, um monomotor metlico e, ao mesmotempo, desenvolvia o Campeiro , uma nova verso doPaulistinha, dotado de motor mais potente, ampla visibilidadee rdio. O MAer encomendou 120 Regente. O Regente foihomologado em 1963 e o Campeiro ficou restrito a dois prottipos.Tambm, foram fabricados 40 modelos do Regente Elo, quepossua maior visibilidade traseira.

    A Criao do Centro Tcnico de AeronuticaCriada em 20 de Janeiro de 1941, por um Decreto-Lei, a ForaArea Brasileira (FAB) veio da fuso do Corpo de Aviao daMarinha e da Arma de Aeronutica do Exrcito. No perodocompreendendo o final da Segunda Guerra Mundial at acriao da Embraer, o MAer concentrou os esforos de

    desenvolvimento da indstria aeronutica brasileira e os seusexecutores foram os oficiais superiores da FAB. O perodotambm foi marcado pelo projeto e construo de aeronavesmetlicas de treinamento e pela continuao da fabricaodo Paulistinha pela Neiva. Os esforos da equipe lideradapelo ento major Ozires Silva dentro do Instituto de Pesquisase Desenvolvimento (IPD/PAR), parte do CTA, conduziram aoBandeirante.A criao do CTA foi uma cruzada pessoal do ento Tenente-coronel Casemiro Montenegro Filho. Montenegro formou-se naprimeira turma de engenheiros aeronuticos brasileiros naEscola Tcnica do Exrcito, em 1942. Aps visitas aos EstadosUnidos, passou a trabalhar pela criao de um centro voltado

    pesquisa aeronutica no Brasil. Montenegro convidou oProf. Richard Smith, do Massachusetts Institute of Techonologypara auxiliar na implantao do centro tecnolgico. Smithestabeleceu-se no Brasil pouco tempo depois. Em janeiro de1946, durante a presidncia interina de Jos Linhares, foiconstituda a Comisso Organizadora do Centro Tecnolgicoda Aeronutica (COCTA), data esta que considerada como ada fundao do CTA. Uma lei extinguiu as atividades da COCTAe criou o CTA, em So Jos dos Campos, So Paulo, em 1953.Inicialmente, o CTA contou com duas unidades: o InstitutoTecnolgico de Aeronutica (ITA) e o IPD. Inicialmente, o IPDabsorveu grande parte dos engenheiros aeronuticos formadospelo ITA.

    OFICINA AERONUTICA DOINSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLGICAS (IPT)

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    Bibliografia- Viegas, Joo Alexandre, Vencendo o Azul, Livraria Duas Cidades Editora, 1989.- Andrade, Roberto Pereira, Histria da Construo Aeronutica no Brasil, Artigraph

    Editora, 3 Edio, 1991.- Mattos, Bento, Serra, Paulo e Kovacs, Joseph, Edio especial da Revista ABCM

    Engenharia sobre a Histria da Aeronutica, Vol 9, n 2, 2003.- Entrevista com Paulo Csar Giarola, engenheiro da Embraer (VED/GDT).

    TextoBento Mattos, Engenheiro da Gerncia de Desenvolvimento Tecnolgico eProcessos da Vice-Presidncia de Engenharia e Desenvolvimento de NovosProdutos.ApoioPaulo Furtado, da APVE - Associao dos Pioneiros e Veteranos da Embraer;Paulo R. Serra, Professor do Programa de Especializao em Engenharia daEmbraer.

    BANCADA DE ENSAIO DO SISTEMA

    PROPULSIVO/SUSTENTADOR DOCONVERTIPLANO, UMA AERONAVE DEDECOLAGEM VERTICAL PROJETADAPELA EQUIPE DO PROFESSORALEMO FOCKE NO CTA

    O ITA trouxe para o Brasil o projetista alemo Prof. HenrichFocke, um dos fundadores das fbricas Focke-Wulf e da Focke-Achgelis, esta ltima voltada a helicpteros. Focke haviainventado o mecanismo coletivo do helicptero e desenvolveuos helicpteros Fa 61 e o Fa 223. O Fa 61 considerado oprimeiro helicptero bem-sucedido da histria e o Fa 223 foio primeiro a entrar em produo seriada. No Brasil, ele desejavadesenvolver o Convertiplano, uma aeronave monomotora capaz

    de decolar na vertical e voar como um avio, com base emum conjunto de quatro hlices basculantes. O projeto envolveucerca de 40 pessoas, entre os quais Joseph Kovacs, vindo doIPT, onde havia atuado no projeto e construo de vriasaeronaves. O programa do Convertiplano no teve resultadosprticos, pois apenas foram feitos ensaios em uma bancadacom as hlices movidas por um motor e, ainda, no em plenapotncia, de acordo com Kovacs. Em 1953, o projeto doConvertiplano foi interrompido.No IPD, foram projetados trs dos quatro primeiros aparelhosfabricados pela Embraer: o Bandeirante, o avio agrcola

    Ipanema e o planador Urupema. A criao da Embraer resultoudo trabalho de um grupo de engenheiros que atuava no IPD,

    sob a liderana de Ozires Silva. Assim, a origem da Embraerest diretamente ligada ao CTA. Tambm, no IPD, HansSwoboda da equipe do Convertiplano, que havia se radicadono Brasil, projetou o helicptero Beija-Flor, em 1955.A proximidade do CTA ensejou a instalao de indstriasaeronuticas em So Jos dos Campos, antes mesmo da criaoda Embraer. o caso da Sociedade Aerotec, fundada em 1962que iniciou suas atividades desenvolvendo o Uirapuru, ummonomotor metlico, que realizou o seu primeiro vo em 1965.Em 1967, foi contratada a construo de trinta Uirapuru emsubstituio aos aparelhos T-21 e T-22. Posteriormente, aempresa obteve nova encomenda de quarenta aeronaves,exportando tambm para a Bolvia e Paraguai. Em marode 1981, voou o Tangar, uma aeronave para substituir oUirapuru. O MAer apoiou o projeto do Tangar, mas noencomendou o avio. A partir da, a Aerotec limitou-se aproduzir partes doIpanema e de alguns dos avies da linhaPiperfabricados pela Embraer e Neiva, antes de encerrar assuas atividades, em 1987. Enquanto isso, no incio dos anos60, a Neiva lanou-se no projeto de um avio de treinamentopara substituir os North American T-6, o T-25 Universal. Em1966, o prottipo do Universal fez o seu primeiro vo. Era um

    avio metlico com trem de pouso retrtil, que podia carregararmamentos. O MAer encomendou 150 unidades do T-25.Aps o Universal, a Neiva tentou comercializar uma versocivil do Regente, o Lanceiro, mas sem sucesso. Sem novasencomendas, entrou em crise financeira sendo mais tardeabsorvida pela Embraer. Os percalos da indstria aeronuticabrasileira desde o So Paulo de 1910 foram muitos. Valedestacar o esforo pioneiro das autoridades militares em dotaro pas de uma indstria aeronutica moderna. Para a fabricaoseriada do Bandeirante, o governo decidiu-se pela criao deuma nova empresa, a Embraer, o que aconteceu em 19 deagosto de 1969. Trs fatores contriburam basicamente paraos insucessos anteriores criao da Embraer: a falta de

    continuado apoio governamental; a inexistncia de produtostecnologicamente atualizados, capazes de competir no mercadointernacional; e, por fim, a falta de linhas especiais de crdito.As razes para a consolidao da Embraer residem na superaodestas questes.

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    Choque do Futuro

    Em agosto de 1969, a Embraer foi criada. O incio dasatividades de fabricao de avies deu-se aps a concluso

    de algumas obras de infra-estrutura civil, em janeiro de1970. A Empresa contava com 150 profissionais contratados,dentre a equipe que trabalhou no projeto do primeiro prottipodo Bandeirante no Centro Tcnico de Aeronutica (CTA). A criaoda Embraer estava fundamentada na fabricao do bimotorBandeirante, mas logo a sua carteira de produtos aumentou,incorporando o planador Urupema, o avio agrcolaIpanema e o

    jato de combateXavante.O incio da Embraer sinalizou a modernizao da Fora AreaBrasileira (FAB), que operava, desde longa data, vrios tiposobsoletos de avies, a maioria oriunda da Segunda Guerra Mundial.Freqentemente, a FAB adquiria aeronaves estrangeiras semarmamento e um grande esforo ps-compra era necessrio paraarm-las. O Gloster Meteor- o segundo caa a jato da histria da

    aviao - formava a "linha de frente" da FAB, no incio dos anos70. Os Meteorforam substitudos pelo Mirage III, que entrou emoperao na FAB em 1973, e pelo Northtrop F-5. A produoseriada do EMB 326Xavante veio para atender modernizao dosegmento intermedirio de avies de combate, necessria porconta da aquisio dos Mirage, aposentando, desta maneira, oNorth American T-6 e o LockheedF-80 Shooting Star. O T-6, quetambm serviu na Esquadrilha da Fumaa, foi utilizado nainstruo de pilotos militares na Segunda Guerra; o F-80 foio primeiro jato de combate operacional norte-americano.O Bandeirante tambm marcou a modernizao da FAB em termosde avio de transporte e ligao, calibrao de sistemas deaeroportos e patrulha martima. O bimotor brasileiro substituiuo DC-3, o avio de patrulha Lockheed Neptune e o avio de

    transporte de pra-quedistas Fairchild C-119. O DC-3, que tambmfazia misses no Correio Areo nacional, da dcada de 30;o Neptune foi projetado durante a Segunda Guerra, tendo feitoo seu primeiro vo em maio de 1945; o Fairchild C-119 vooupela primeira vez em 1947 e foi tambm substitudo pelo DHCBuffalo na FAB. A modernizao da FAB continuou em projetossubseqentes da Embraer, para citar apenas um exemplo, o EMB312 Tucano, substituiu os antiquados Cessna T-37 na Academiada Fora Area. A Embraer tambm dotou a FAB de aeronavesdas quais ela nunca disps de forma efetiva, como o caso doSuper Tucano e os avies de vigilncia R-99A (EMB 145 SA) eR-99B (EMB 145 RS). A Embraer no apenas atende s suasespecificaes, como tambm prope configuraes de aeronaveque podem vir a ser de interesse da FAB, um verdadeiro laboratrio

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    1 - ROLL-OUT DO PRIMEIRO BANDEIRANTE DE SRIE EM AGOSTO DE 19722 - APRESENTAO PBLICA ANTES DO PRIMEIRO VO DO PRIMEIRO

    BANDEIRANTE DE SRIE EM 18 DE AGOSTO DE 19723 - PRIMEIRA FUSELAGEM DO BANDEIRANTE DE SRIE4 - PRIMEIRO VO DO PRIMEIRO BANDEIRANTE DE SRIE EM 18 DE AGOSTO

    DE 19725 - ESTE EXEMPLAR DO BANDEIRANTE FOI ADAPTADO PARA USO AGRCOLA NA

    FRICA DO SUL, O QUE DEMONSTRA A ROBUSTEZ E VERSATILIDADE DOMODELO (FOTO: FANNIE KLEYNHANS)

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    1969 - 19761

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    transversal, colocou-se o piloto na posio deitada. O IPD 6505Urupema um planador monoposto de asa alta, construdo emmadeira e sanduche de contraplacado/espuma plstica/contraplacado com enchimentos de isopor na asa. O planadorpossui bateria, rdio e horizonte artificial e foi a primeira aeronavefabricada pela Embraer. Para atender a uma encomenda doMinistrio da Aeronutica (MAer), foram construdas cerca de 12unidades (10 de srie e dois prottipos), designadas EMB 400.Joseph Kovacs adquiriu o prottipo de ensaios estticos,

    introduzindo vrias modificaes, entre as quais uma extensode ponta de asa, vedao do aileron e reposicionamento dodesligador. Tambm modificou a fuselagem dianteira, dotando-ade um novo nariz, reprojetando o "canopy", permitindo que opiloto se acomodasse mais sentado. Muitas destas modificaescontriburam para compensar o maior arrasto causado peloaumento da seo transversal.

    Revoluo AgrcolaAps o Urupema, o prximo aparelho a sair da linha de produoda Empresa foi o avio agrcola EMB 200Ipanema, que realizouo seu primeiro vo em julho de 1970, com o primeiro exemplarde srie entregue em janeiro de 1972. Os primeiros estudos paraa fabricao doIpanema comearam no ITA, em meados da dcadade 70, solicitados pelo MAer, devido preocupao com o atrasotecnolgico do setor agrcola. Seguindo as linhas bsicas doprojeto do ITA, nasceu o Ipanema EMB 200 da Embraer com hlicede passo fixo e um motor Lycoming de 260 hp. Em seguida, aEmbraer lanou o EMB 200A com hlice de passo varivel, queproporcionava ao aparelho uma srie de vantagens, inclusive maiorrazo de subida. Em 1974, lanou no mercado o EMB 201. Eleconservava a hlice de passo varivel e incorporava uma srie demodificaes: motor de 300 hp, rodas maiores (herdadas doBandeirante), sistema de injeo direta de combustvel, trem depouso reforado, cabina com maior visibilidade e capacidade detransportar carga paga de 750 kg. Em 1975, Jos Renato deOliveira Melo, um dos grandes responsveis pelo projeto doXingu,atualmente na Diretoria de Projetos Avanados (DAP), e SidneyNogueira, do Programa de Especializao em Engenharia (PEE),realizaram modificaes do aeroflio da asa do Ipanema paramelhorar as suas caractersticas em baixa velocidade. Nogueirautilizou pioneiramente, na ocasio, um programa de clculocomputacional para determinar as caractersticas de perfisaerodinmicos.

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    de idias. Em meados da dcada de 70, a Empresa propsalternativas para substituio dos PBY Catalina e outros aviesde transporte obsoletos em uso pela FAB. As vrias verses doCX, assim denominado na Empresa, eram variaes com diferentesmotores, tanto em nmero quanto em tipo, de uma configurao

    de asa alta com uma rampa de carga traseira.Para marcar seu avano nos primeiros anos de existncia, em 1976,a Embraer registrou a entrega do 100 Bandeirante, do 100

    Xavante e do 300Ipanema. O primeiro avio projetado e fabricadona Embraer, e tambm o primeiro avio pressurizado brasileiro, oEMB 121Xingu, realizou o seu primeiro vo em 1976. Um outrofato significativo foi a entrega do 1000 avio durante a visitado Presidente da Repblica Empresa em 3 de dezembro domesmo ano.

    Deitado nas NuvensUrupema uma palavra de origem indgena, que segundo registroshistricos, seria a designao de um pssaro na lngua tupi-guarani, e por isso escolhida para nomear a aeronave. O planador

    Urupema foi projetado por um grupo de engenheiros do CTA, entreos quais Guido Fontegalante Pessotti, na ocasio, professor doInstituto Tecnolgico de Aeronutica (ITA), objetivandoproporcionar aos pilotos brasileiros uma aeronave de altodesempenho capaz de competir em torneios internacionais. Aconstruo do planador iniciou-se em 1965 e o primeiro vo deensaio ocorreu em 1968. Pessotti, Eckhardt Schubert e CludioJunqueira, formados no ITA, participaram dos vos de ensaio.Para reduo do arrasto aerodinmico atravs da menor seo

    O PLANADOR URUPEMA FOI A PRIMEIRAAERONAVE FABRICADA PELA EMBRAER.NA FOTO, O PROTTIPO

    O IPANEMA FOI DESENVOLVIDO NO CTA E APERFEIOADO PELA EMBRAER.FOI O SEGUNDO TIPO DE AERONAVE A ENTRAR EM PRODUO NAEMBRAER. ATUALMENTE, A NEIVA RESPONSVEL POR SUA MONTAGEM,FABRICAO DE ALGUNS COMPONENTES E COMERCIALIZAO

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    Em 1975, oIpanema se consolidou definitivamente no mercadointerno. Nesse ano, o nmero de avies agrcolas no Brasil quaseduplicou, sendo produzidas 82 unidades do Ipanema. Em 1976,foram produzidos mais de uma centena de exemplares do avioagrcola nacional, todos comercializados no mercado interno.Atendendo a sugestes de diversos operadores, colocadas em umsimpsio de Aviao Agrcola, a Embraer efetuou uma srie demodificaes no EMB 201 lanando uma nova verso doIpanema,a quarta, denominada de EMB 201A. A montagem final desta

    aeronave foi transferida para a Indstria Aeronutica Neiva, emmaro de 1980, aps a companhia haver sido absorvida pelaEmbraer. A Neiva j havia sido contratada para fabricar a treliae a Aerotec, desde o incio, fabricou as asas do avio agrcola.Mais de 1.000Ipanema foram entregues e a nova verso, o EMB202Ipanemo, continua sendo produzida. Algumas unidades foramexportadas para o Uruguai e Bolvia. A Neiva est oferecendouma nova variante com motor a lcool.

    A Produo Seriada do EMB 110 BandeiranteO segundo prottipo do Bandeirante voou em 19 de outubro de1969 e o terceiro prottipo fez seu primeiro vo no dia 29 de

    junho de 1970. Este ltimo possua a pintura mais estilizada e amatrcula civil era PP-ZCN. Foi vendido Comisso Nacional de

    Atividades Espaciais, hojeInstituto Nacional de Pesquisas Espaciais(INPE), que o fez equipar com instrumentos de sensoriamentoremoto. Aps a construo dos trs prottipos (EMB 100), quepodem ser considerados demonstradores de conceito, fez-senecessrio modificar a configurao do avio para torn-loatraente para o mercado civil e militar e permitir a sua fabricaoseriada. A tarefa ficou a cargo do engenheiro Pessotti, que haviatambm participado do projeto e construo do Panelinha, ummonomotor de decolagem curta que comeou a ser desenvolvidopor alunos do ITA sob orientao do Prof. Ren Vandaele comotrabalho de graduao. Fazia parte do grupo inicial, o engenheiroJos Carlos Reis, que participou, tambm, dos projetos dos aviesFalco, Uirapuru eIpanema.Ao final de 1971, avanava a fabricao das peas e componentes

    para o Bandeirante, j reprojetado, que incorporou vrias melhoriasque aumentaram o seu desempenho e tornaram a aeronaveesteticamente mais atraente. Pessotti certa vez declarou que "noapenas foi necessrio redesenhar o avio para facilitar asdiferentes etapas de sua construo seriada, como tivemostambm de modificar suas caractersticas originais. E as mudanasforam to grandes que o primeiro exemplar de srie quase nadaconservava da aparncia do prottipo original".

    O vo inaugural do "novo" Bandeirante deu-se em 9 de agostode 1972. Designado EMB 110 (C-95 na verso militar) apresentavanovo pra-brisa, novas naceles dos motores, que acomodavampor completo o trem de pouso principal, que de retrtil passava

    O BANDEIRANTE EMPREGADO NA FORA AREABRASILEIRA (FAB) EM VRIOS TIPOS DE MISSESDEVIDO A SUA VERSATILIDADE. SUBSTITUIU VRIASAERONAVES OBSOLETAS EM USO ANTERIOR NA FAB(FOTO: RUDNEI DIAS DA CUNHA)

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    O BANDEIRANTE FOI O PRIMEIRO AVIO DEPROJETO NACIONAL OPERADO POR UMA COMPANHIAAREA BRASILEIRA. O PT-TBA FOI O PRIMEIROEXEMPLAR RECEBIDO PELA TRANSBRASIL

    a ser escamotevel, alm de uma fuselagem alongada capazde acomodar at doze passageiros. Em dezembro do mesmoano, o CTA entregava Embraer a homologao do aparelhoe, em fevereiro de 1973, os trs primeiros exemplares de srie,de uma encomenda inicial de 80 aparelhos, eram entregues FAB.A Transbrasil encomendou seis unidades, a FAB concordando emadiar o recebimento de parte dos avies que havia encomendado,abrindo vagas na linha de produo para atender aos pedidoscivis. Os exemplares do Bandeirante da Transbrasil eram da verso

    EMB 110C, basicamente similares aos recebidos pela FAB, excetopor poderem transportar 15 passageiros em vez de apenas 12.O primeiro vo comercial de um Bandeirante da Transbrasil ocorreuem abril de 1973. Foi um marco na histria da aviao comercialbrasileira: pela primeira vez, um avio projetado e fabricado nopas voava regularmente numa companhia area brasileira. Em 4de novembro de 1973, a VASP tornou-se a segunda empresa

    area brasileira a operar o Bandeirante: a primeira unidade de10 encomendas entrou em servio na data dos 40 anos de fundaoda VASP.Com o emprego de jatos de transporte no Brasil - aeronaves commaior custo operacional - no incio dos anos 60, da inexistnciada infra-estrutura adequada para a operao, alm de baixademanda, boa parte das cerca de 400 localidades no interior dopas, antes servidas pela aviao regular, foram deixadas semservio areo. O Sistema Integrado de Transporte Areo Regional(SITAR) foi criado por uma portaria do Departamento de AviaoCivil, em 1975, exatamente para suprir a demanda de transporteareo nessas localidades. O Bandeirante, aeronave ideal para estecenrio, foi, ento, comprado por todas as empresas regionais.A crise de grandes propores da aviao brasileira nos anos 60foi o embrio das medidas que mais tarde conduziram ao SITAR.A crise foi causada por diversos fatores: baixa rentabilidade dotransporte areo devido concorrncia excessiva; necessidade denovos investimentos para a renovao da frota, visando substituio das aeronaves do ps-guerra, cuja manutenotornava-se difcil e cuja baixa disponibilidade prejudicava aregularidade dos servios; e alteraes da poltica econmica dopas. Para fugir crise, as empresas areas e o Governo reuniram-se para estudar mudanas na poltica reinante, de forma agarantir a continuidade dos servios de transporte areo, mesmoque o nmero de empresas tivesse que ser reduzido e o Governoexercesse controles mais rgidos sobre elas. Conferncias Nacionaisde Aviao Comercial (CONAC) foram realizadas, que conduziram

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    ataque martimo. O Bandeirante tornou-se uma dos avies maisvendidos na sua categoria e contribuiu enormemente para odesenvolvimento do transporte areo regional no mundo. Foi oavio que colocou a Embraer no cenrio mundial de aviao efez dela uma empresa de renome internacional.

    O XavanteO fim da vida operacional dos jatos Lockheed AT-33A, em usonos principais esquadres operacionais de caa da FAB, bem como

    a necessidade de aquisio de uma aeronave que fizesse atransio para a primeira aeronave supersnica da Fora areaBrasileira, que estava em fase final de seleo, levou asautoridades da Aeronutica a iniciarem a escolha de uma aeronavede combate polivalente, que servisse tambm de ataque ao solo,

    j que os AT-6 estavam combatendo os movimentos guerrilheirosno pas. Vrias aeronaves foram avaliadas, porm o requisito deque a mesma tinha que ser montada no Brasil, inicialmente apartir de kits, passando a ser nacionalizada medida que aproduo avanasse, canalizou a escolha para um jato que jestava fazendo muito sucesso na Itlia e em sete foras areasde outros pases: era o jato de concepo italiana, o AermacchiMB 326. A aeronave acomoda dois pilotos sentados em linha,alm de cargas externas em seis diferentes pontos de fixao

    sob as asas, com uma capacidade mxima de 2.500 kg dearmamento ou um casulo para equipamento de reconhecimentofotogrfico. Isso, aliado velocidade mxima do MB 326 que de nmero de Mach 0,82, amplo envelope operacional, e longavida til fizeram com que a escolha da FAB recasse nesteavio. O contrato com a Aermacchi foi efetivado em 1970 e aEmbraer foi encarregada de assimilar a tecnologia da empresaitaliana e montar um lote inicial de 112 aeronaves para a FAB.O modelo foi designado EMB 326GB Xavante pela Embraer ede AT-26 pela FAB. A produo da aeronave teve incio emritmo acelerado e, em setembro de 1971, o primeiro aviomontado no Brasil realizava o seu vo inaugural. No diaseguinte, data da Independncia do Brasil, aconteceu o seuvo oficial nas cidades de So Jos dos Campos, Rio de Janeiro

    e So Paulo. A Embraer produziu 182 unidades do Xavante,dos quais 167 para a FAB, nove para o Paraguai e seis para oTogo. Onze aparelhos da FAB foram vendidos para a Argentina,em 1983. O MB 326 foi fabricado tambm sob licena naAustrlia e na frica do Sul. Para a Embraer, a fabricao do

    Xavante trouxe vrios benefcios: tecnologia de integrao eensaio de motor reao; desenvolvimento de ferramental defabricao para produo em larga escala; projeto de aviesde caa com base no Xavante (oferecidos FAB, mas nolevados adiante); elaborao de manuais tcnicos.Naturalmente, estes so apenas alguns desdobramentos queo Xavante proporcionou Embraer. Ele desempenhou um papelimportante na consolidao da Empresa.

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    O EMB 326GB XAVANTE FOI FABRICADO PELA EMBRAERSOB LICENA PARA A FORA AREA BRASILEIRA.ALGUNS EXEMPLARES FORAM EXPORTADOS

    a uma poltica de estmulo fuso e associao de empresas.Iniciava-se o regime de competio controlada, em que o Governopassou a intervir nas decises administrativas das empresas, sejana escolha de linhas, no reequipamento da frota, no estabelecimentodo valor das passagens e outras medidas do gnero. Esta fase da

    aviao comercial brasileira conduziu ao SITAR e perdurou at oincio da dcada de 80. O SITAR dividiu o pas em cinco regiesdistintas, servidas por empresas areas regionais especificamenteformadas: a VOTEC (centro-oeste); Rio-Sul (sul); a TAM TransportesAreos Regionais, empresa resultante da associao Txi AreoMarlia com a VASP, que lhe transferiu seus avies Bandeirante(centro-sul); a Nordeste Linhas Areas Regionais, resultado defuso da Transbrasil e do Governo do Estado da Bahia (nordeste);e finalmente a TABA, Transportes Areos da Bacia Amaznica(regio norte). Nos anos que seguiram a criao do SITAR, asempresas que operam o sistema adquiriram nada menos que 53aeronaves Bandeirante.A popularidade do Bandeirante fez com ele permanecesse emproduo contnua por praticamente dezoito anos, durante osquais foram fabricados e entregues 500 exemplares a clientes civise militares, em 36 pases. Vrias verses foram desenvolvidas paraos mercados civil e militar. Talvez uma das mais notveis sejao EMB 111 Bandeirulha, desenvolvido para patrulhamento e

    Bibliografia- Viegas, Joo Alexandre, Vencendo o Azul, Livraria Duas Cidades Editora, 1989.- Andrade, Roberto Pereira, Histria da Construo Aeronutica no Brasil, Artigraph

    Editora, 3 Edio, 1991.- Mattos, Bento, Serra, Paulo e Kovacs, Joseph, Edio especial da Revista ABCM

    Engenharia sobre a Histria da Aeronutica, Vol 9, n 2, 2003.

    TextoBento Mattos, Engenheiro da Gerncia de Desenvolvimento Tecnolgico eProcessos da Vice-Presidncia de Engenharia e Desenvolvimento de NovosProdutos.ApoioPaulo Furtado, da APVE - Associao dos Pioneiros e Veteranos da Embraer;Paulo R. Serra, Professor do Programa de Especializao em Engenharia daEmbraer.

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    O Programa Piper

    Onmero crescente de vendas de avies leves no Brasile as dificuldades com a balana de pagamentos

    levaram o Governo Federal a insistir para que aEmbraer fabricasse avies leves no Brasil. A deciso defabricar sob licena em vez de projetar foi devido aosdiferentes tipos de aeronaves necessrios. Aps discussescom os trs grandes fabricantes com presena significativano Brasil, ou seja, Beechcraft (hoje Raytheon), Cessna ePiper, a Embraer assinou com a Piper, em 1975, contratode cooperao industrial para fabricao sob licena deseis modelos: quatro monomotores (EMB 710 Carioca, EMB711 Corisco, EMB 720 Minuano e EMB 721 Sertanejo) edois bimotores (EMB 810 Seneca II e EMB 820 Navajo).A produo foi iniciada em 1976 e a primeira aeronaveentregue foi um Seneca. No ano seguinte, o Governo Federal

    decidiu que uma srie de produtos no poderia terfinanciamento direto ao consumidor final, entre elesestavam os avies. Foi um golpe muito forte no programaPiper e, de repente, os ptios da Embraer ficaram cheiosde avies novos sem compradores. Depois de muitanegociao com o governo o assunto foi resolvido, mas oprograma j havia sido duramente afetado.

    As Primeiras ExportaesA primeira exportao da Embraer foi para o Uruguai. Em1975, foram vendidos cinco EMB 110 C para a Fora AreaUruguaia e dez EMB 201 Ipanema para o Ministrio daAgricultura e Pesca. Em 1976, foram vendidos para a

    Marinha do Chile trs EMB 110 C(N) Bandeirante e, em1977, seis EMB 111 A(N). Em 1977, a Embraer chega frica com a venda para a Fora Area do Togo de seisaeronaves EMB 326 GB. Alm da venda das aeronaves, foiassinado contrato para a formao de pilotos. At ento,os pilotos da Fora Area eram estrangeiros. Um grupo de

    jovens foi selecionado e veio a So Jos dos Campos parareceber a formao bsica no Aeroclube local. Em seguida,foram ao CATRE, em Natal, estado do Rio Grande do Norte,onde receberam da FAB o treinamento de piloto militar.Com a aquisio do Xavante, a Fora Area do Togo teveseu primeiro grupo de pilotos nativos.

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    1 - EMB 110 P1 DA MOUNTAIN WEST2 - EMB 110 P1 DA MASLING3 - EMB 810 SENECA FABRICADO SOB LICENA DA PIPER4 - CERTIFICADO DE HOMOLOGAO DE TIPO DO EMB 110 P2 EMITIDO PELO

    DGAC, RGO HOMOLOGADOR DA FRANA

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    1975 - 1980

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    A Homologao no ExteriorEmbora o Bandeirante j estivesse operando regularmenteno Brasil, sua homologao pelo CTA no era aceita pelosEstados Unidos, Frana, Gr Bretanha e Austrlia, que eramos maiores mercados potenciais no exterior. A nica soluoera a busca das homologaes por meio de acordos comas autoridades homologadoras dos outros pases. A prioridadeera os Estados Unidos, sem dvida o maior mercado

    aeronutico do mundo e cuja regulamentao de homologaoaeronutica era referncia internacional.Os acordos com as autoridades homologadoras levaram auma fase de intenso treinamento do pessoal do CTA, poisa homologao internacional teria e ainda tem como baseo trabalho de homologao feito pelo CTA.

    A legislao norte-americana tem uma peculiaridade quelevou a homologao do Bandeirante nos Estados Unidosa um impasse. O FAA s poderia aceitar o pedido dehomologao de uma aeronave se um cidado ou empresanorte-americana j tivesse comprado uma aeronave do tipo.No caso do Bandeirante, algum teria que se arriscar acomprar uma aeronave ainda no homologada, fabricadapor uma empresa com menos de dez anos de vida elocalizada num pas sem tradio de construo aeronutica.O impasse foi quebrado pelo Sr. Robert Bob Terry,investidor que fundou uma empresa area, a Mountain WestAirlines. Comprou trs aeronaves e fundou uma outraempresa, a Aero Industries, que assumiu a representao

    exclusiva para venda do Bandeirante nos Estados Unidos.A viso do Sr. Terry permitiu que a Embraer, com oBandeirante, iniciasse sua presena vitoriosa nos EstadosUnidos.A primeira homologao internacional foi da Frana.O certificado, emitido pela DGAC (Direction Gnrale delAviation Civile), foi recebido, em Paris, no dia 21 dedezembro de 1977. Em 1978, vieram os certificados da Gr-Bretanha, emitido pelo CAA (Civil Aviation Authority), dosEstados Unidos, emitido pelo FAA e da Austrlia, emitidopelo DOT (Department of Transportation). Agora restava odesafio de vender e apoiar.

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    EMB 110 K1 LANANDO PRA-QUEDISTA

    Bandeirante Modelo ExportaoO Presidente da Federal Express (FedEx), Sr Frederick W.Smith Jr, visitou a Embraer, em 1975, em busca de umaaeronave para transporte de malotes. A FedEx operava novosistema de vos regulares a partir de uma cidade central,Memphis, no Tennessee, com ligaes para cidades em todosos estados. Naquela poca, a FedEx operava apenas nosEstados Unidos, mas j iniciava a expanso que a levou acobrir todo o mundo. Foram colocados como requisitos,entre outros, alongar a fuselagem, colocar uma porta decarga e, naturalmente, obter a homologao da aeronavepelo FAA (Federal Aviation Administration), rgo responsvelpela homologao de aeronaves nos Estados Unidos.O negcio no deu certo, mas as lies decorrentes da visitaforam bem aproveitadas. Foi iniciado o desenvolvimentode um Bandeirante alongado para utilizao civil e militar.A verso civil deveria atender aos requisitos internacionais

    de homologao. Como resultado tivemos o EMB 110 K1para transporte de carga ou tropas, inclusive lanamentode pra-quedistas, o EMB 110 P1 para passageiros ou cargase o EMB 110 P2 para passageiros.

    ENTREGA DO PRIMEIRO EMB 110PARA A FORA AREA URUGUAIAEM SO JOS DOS CAMPOS

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    ESQUERDA PARA DIREITA: ALBERTO MARCONDES,SILVIA LEIGH, CLUDIO RAEDER, ARLETE MARIA,FRANCISCO JURSE, JOS TOMANO, MARTINS DAROSA, NEWTON BERWIG, OCTACLIO MEDEIROS,PRICLES OLIVEIRA, HARRY HERMANN, PAULOFURTADO E MANUEL MONTEIRO, GRUPO QUE SAIUDO BRASIL PARA FUNDAR A EAC, EM FRENTE SPRIMEIRAS INSTALAES DA EMPRESA, EM DANIA,FLRIDA.

    A comercializao no exteriorA comercializao no exterior foi feita inicialmente por meiode empresas locais que eram remuneradas pelo sistema decomisso sobre as vendas. Esta abordagem comeou a serutilizada nas primeiras vendas internacionais para o Uruguaie Chile. Com a obteno da homologao do DGAC, FAA,CAA e DOT, as entregas comearam em 1978, que foi umano marcante na histria da Embraer.

    Na Europa, dois representantes foram importantes para olanamento do Bandeirante, a CGA (Compagnie GnraledAviation) na Frana e a CSE Aviation Ltd na Gr-Bretanha.Eles eram responsveis por reas na Europa, frica e OrienteMdio. A CGA teve participao na formao da Air Littoral,a primeira operadora comercial do Bandeirante no exterior.A Air Littoral adquiriu seu primeiro Bandeirante, um P2,ainda em 1977. A CSE Aviation Ltd adquiriu uma aeronavepara demonstrao e, inicialmente, teve um papelimportante no ps-venda, pois era representante da Pipere tinha uma estrutura de manuteno e venda de peas.Alm da Air Littoral, os primeiros operadores na Europaforam a Air Ecosse, na Esccia, Air Wales, no Pas de Gales,

    Brit Air, na Frana e Kar Air na Finlndia.No Oriente foi a Saudia, na Arbia Saudita, com um contratode arrendamento em que a Embraer foi responsvel pelaoperao de uma aeronave, utilizando sua prpria tripulaoe pessoal de manuteno. Na frica, foram a Air AffairesGabon, no Gabo, e Air Volta, no AltoVolta. Na Oceania, orepresentante era o Sr. Jack Masling. Os primeirosoperadores foram a Air Masling, na Austrlia, Air Pacific,nas Ilhas Fiji e Talair, em Papua Nova Guin. Nos EstadosUnidos, como vimos, a representao coube ao Sr. Bob Terry,que fundou a Aero Industries Inc. para vender e apoiar asaeronaves no territrio norte-americano.

    Os primeiros operadores foram Air Midwest, Hammonds, NewHaven, Aeromech, Royale, Cascade, e Imperial Airlines.Embora os representantes tivessem papel importante noincio da comercializao, as negociaes e os contratoseram sempre feitos com a Embraer. Uma grande dificuldadeencontrada era a desconfiana dos potenciais compradoresquanto capacidade da Embraer produzir e apoiar seusprodutos. Para cada um deles o ritual era sempre o mesmo.Trazer ao Brasil pelo Rio de Janeiro, fazer o trecho Rio -So Jos dos Campos no Bandeirante da Rio Sul, visitar afbrica e, para o pessoal de manuteno, visitar a Rio Sul,em Porto Alegre, que foi uma grande parceira noconvencimento dos mais descrentes.

    A desregulamentao do transporte areonos Estados UnidosEm 1978, o Presidente Jimmy Carter sancionou a lei quedesregulou o transporte areo regular (The AirlineDeregulation Act of 1978) nos Estados Unidos. At aqueleano o transporte areo regular era controlado pelo governofederal que decidia sobre concesso de rotas, oferta deassentos, preos e todos os demais aspectos econmicos.A entrada de novas empresas em rotas j exploradas erapraticamente impossvel.A nova lei retirou do governo o controle sobre os aspectos

    econmicos da operao. Cabia empresa area a decisode operar uma determinada rota, estabelecendo o tipo deaeronave, a freqncia e o preo da passagem. Foi um marcona histria dos transportes areos nos Estados Unidos e causouuma exploso do mercado com o surgimento de novasempresas e o fechamento de outras que no resistiram snovas regras de competio.O segmento das linhas regionais teve crescimento

    significativo. Nos trs primeiros anos aps a aprovao dalei, o nmero de passageiros transportados por regionaiscresceu 34%, o de pares de cidades servidas 100% e o deaeronaves, quase 50%.

    A EACA reao do mercado foi to rpida que levou os fabricantesde aeronaves a ficaram sem condies de atender ademanda por novas aeronaves. Foi neste cenrio que aEmbraer lanou o Bandeirante nos Estados Unidos, ou seja,o avio certo, na hora certa e no lugar certo.Logo no incio da operao do Bandeirante ficou claro quea Aero Industries tinha dificuldades nas vendas e,

    principalmente, no apoio ps-venda. Alm disso, nofaltaram demonstraes de clientes e compradorespotenciais indicando que as linhas areas desejavam umcontato direto com o fabricante, sem intermedirios.A Embraer no poderia falhar no maior e mais competitivomercado do mundo. A deciso no poderia ser outra. Foifeita uma negociao para a resciso do contrato com aAero Industries em que, numa primeira fase, o apoio ps-venda passaria para a Embraer e, em seguida, as vendas.Assim nasceu a primeira subsidiria da Embraer no exterior.A nova empresa, denominada EAC (Embraer AircraftCorporation), iniciou suas atividades em outubro de 1979

    e foi estabelecida em Dania, Flrida, em um prdio ondedividia as instalaes com a Aero Industries. Algum tempodepois, construiu instalaes prprias no AeroportoInternacional de Fort Lauderdale, Flrida, onde est athoje.

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    Bibliografia- Silva, Ozires, A Decolagem de Um Sonho, Lemos Editorial, 1998.- Andrade, Roberto Pereira, Piochi, Antnio Ermete, Histria da Construo

    Aeronutica no Brasil, Aquarius - Editora e Distribuidora de Livros Ltda., 1982.- Davies, R.E.G., Quastler, I.E., Commuter Airlines of the United States, Smithsonian

    Institution, 1995.- Manche - Revista Aeronutica, Outubro 1978.- Mattos, Bento, Serra, Paulo e Kovacs, Joseph, Edio especial da Revista ABCM

    Engenharia sobre a Histria da Aeronutica, Vol 9, n 2, 2001.

    TextoPaulo Furtado, da APVE - Associao dos Pioneiros e Veteranos da Embraer.

    ApoioBento Mattos, Engenheiro da Gerncia de Desenvolvimento Tecnolgico eProcessos da Vice-Presidncia de Engenharia e Desenvolvimento de NovosProdutos;Paulo R. Serra, Professor do Programa de Especializao em Engenharia daEmbraer.

    EMB 111DA FORA AREA BRASILEIRA

    Para dirigir a nova empresa, foi contratado o Sr. NewtonUrbano Berwig. O primeiro grupo de empregados foi formadopor pessoal da rea de ps-venda do Brasil e por pessoaladministrativo vindo do escritrio de compras que aEmbraer tinha em Arlington, Virginia, na regio deWashington, DC.Desde ento, a EAC teve papel marcante na comercializaoe apoio dos produtos Embraer tendo dado origem a outras

    empresas nos Estados Unidos, que sero apresentadas emoutros fascculos desta srie.

    O EMB 111 AEm 1978, a Embraer deu um passo importante comofornecedora de aeronaves de emprego militar para a FAB.Em abril, entregou as primeiras unidades do EMB 111 A(A),P-95 na FAB, aeronave derivada do Bandeirante que tinhacomo misso a Patrulha Martima. A aeronave tinha tanquesde ponta de asa, armamento e um radar de busca com umaantena alojada em um radome especial que a distinguemdos outros tipos de Bandeirante.

    Embraer - 10 AnosAo completar dez anos, em 1979, a Embraer j tinhaultrapassado os sonhos mais ousados de seus idealizadores.Sua marca voava nas Amricas, Europa, frica, OrienteMdio e Oceania. A conquista do mercado mais cobiado,o norte-americano, comeava e dava sinais que o sucessoestava prximo.O Bandeirante, seu produto de maior destaque, atingia a

    marca de 250 aeronaves entregues, chegando a 300 em1980 e 400 em 1982.Mas a empresa no parava. Para garantir o que tinha sidoconquistado, novos programas estavam em andamento.O EMB 121 Xingu (o tema ser tratado em profundidadeno captulo subseqente) j estava em operao no Brasil,o projeto do treinador militar EMB 312 Tucano estava bemadiantado e j comeava o desenvolvimento do sucessor doBandeirante, o EMB 120 Brasilia.

    A aquisio da NeivaEm 11 de maro de 1980, a Embraer assumiu o controleda Neiva. Em seguida, concentrou todas as atividades daempresa em Botucatu para onde transferiu as linhas demontagem dos avies leves (Ipanema e linha Piper).A comercializao, apoio de engenharia e ps-vendapermaneceram em So Jos dos Campos mais alguns anos,at serem assumidas pela equipe de Botucatu.

    EMB 110 P2DA AIR LITTORAL

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    Em busca de novasoportunidades de negcio

    Ao pesquisar o mercado aeronutico brasileiro einternacional, em princpios de 1973, a Embraerconcluiu que ambos evidenciavam uma oportunidade

    no setor de avies de transporte leve, pressurizados. Aviesturbolice, com alta velocidade de cruzeiro, boa capacidadede passageiros e/ou carga, adicionado o conforto dapressurizao, preencheriam um importante espao demercado. Um pouco antes, visando atender a uma necessidadeda Fora Area Brasileira, um conceito de aeronave detransporte militar de asa alta, quadrimotor (motores da famliaPT6), com rampa traseira, aspecto semelhante - porm menorque o C-130 Hercules, e que foi batizado de Amazonas, haviasido alvo de estudos no incio da dcada de 70. Acreditava-se

    tambm em uma oportunidade nessa categoria, atualmentepreenchida pelo CASA CN-235, ATR-42, Lockheed-AleniaC-27J Spartan e, at mesmo, por verses cargueiras doBrasilia. Tratava-se, entretanto, de um avio no pressurizado,e foi este um dos motivos para que no fosse frente.A Embraer comeava a desenvolver a viso do mercado civil,procurando criar uma alternativa para a exclusiva dependnciados contratos governamentais para a sua sobrevivncia, e,portanto, tornava-se indispensvel dominar a tecnologia deaeronaves pressurizadas. Como resultado, foi concebida umafamlia de aeronaves comerciais para atender aos requisitosde mercado (o conceito de "famlia", uma inovao para apoca, j existia na Embraer do incio dos anos setenta),

    consistia de trs produtos de tamanhos diferentes,identificados como EMB 120, EMB 121 e EMB 123, edenominados com nomes de rios amaznicos: Araguaia, Xingue Tapajs, respectivamente. O Araguaia era o maior, comcapacidade para 30 passageiros, o EMB 123 Tapajs era umpouco maior que o Bandeirante, para 20 passageiros, e o EMB121 Xingu, o menor de todos, para 6 a 8 passageiros. Quandoos projetos comeavam a deslanchar, entretanto, o do Tapajs frente, verificou-se a primeira grande crise do petrleo.O barril de petrleo saltou de centavos de dlar para mais deUS$ 30, e sua influncia no custo operacional da aeronavecresceu astronomicamente.

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    1 - HANGAR DA EAI, COM UMA SELEO DE AVIES BRASILEIROS, ANTES DAABERTURA, EM 1983

    2 - VOS DO XINGU DA FORA AREA FRANCESA AINDA NO BRASIL3 - XINGU SOBREVOANDO O RIO DE JANEIRO. AO FUNDO, O CRISTO REDENTOR4 - XINGU POUSANDO EM PISTA DE TERRA. UMA DAS IMPORTANTES

    CARACTERSTICAS DO AVIO A SUA ROBUSTEZ5 - FUSELAGEM PRESSURIZADA E CAUDA EM T FORAM OS GRANDES DESAFIOS

    NO DESENVOLVIMENTO DO XINGU

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    1972 - 1983

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    ENTREGA DE AVIES XINGUPARA A FORA AREA FRANCESA.AO FUNDO, AVIES QUE FORAMSUBSTITUDOS PELO XINGU

    As economias ocidentais entraram em recesso, o chamado"milagre brasileiro" iniciou a sua transio para uma das maisgraves crises econmicas por que esse pas j passou.A aviao, sempre sensvel a fatores geopolticos eeconmicos, mergulhou em um de seus perodos

    extremamente difceis. Nessa poca, o Brasil produzia apenascerca de 30% do seu consumo de petrleo; os governosoptaram por manter o ritmo de crescimento elevado que opas vinha exibindo at ento, mesmo ao preo de elevadasdespesas de importao de petrleo e com conseqnciasimediatas e adversas para a inflao: a reside um dosprincipais fundamentos da dvida externa brasileira queatormenta o pas h dcadas.

    XinguNesse contexto bastante desfavorvel, a nova famlia estavaameaada e a Embraer optou, numa reunio histrica na salade seu Diretor Tcnico, Guido Pessotti, mudar o rumo doprograma e desenvolver primeiro o EMB 121 Xingu. Emperodos de crise e de custos altos de combustvel,normalmente avies menores e de menor consumo levamvantagem. A Boeing quase faliu por ter apostado no B-747,que de repente passou a ser muito grande para a nova ordem

    econmica mundial. Mas esta empresa conseguiu flego paraesperar alguns anos at que o mercado se recuperasse, e o747 passasse a ser um avio com caractersticas econmicasadequadas. J a aeronave Concorde, quadrireator supersnicopara transporte de 144 passageiros (capacidade mxima) eque fazia o contraponto ao 747 na disputa "capacidade versusvelocidade", apresentava caractersticas operacionais eenorme consumo de combustvel que a longo prazoinviabilizaram o projeto: foram fabricados apenas 16 avies,vendidos para a Air France e para a British Airways ao custosimblico de 1 Franco Francs e 1 Libra Esterlina por unidade,respectivamente.Enquanto tudo isso acontecia no cenrio externo, a direoda Embraer decidiu inverter as prioridades e comear peloXingu, aeronave que, segundo o plano original, deveria surgircomo subproduto dos irmos maiores. Foi na reunio j citadaanteriormente, que ele comeou a tomar forma: o primeirodesenho 3-vistas foi feito com tesoura e fita adesiva,cortando-se pedaos de asas e fuselagens de outros avies.O Xingu nasceu, portanto, com compromissos de projetoherdados dos seus irmos, aproveitando peas caras comoforjados e usinados grandes, trens de pouso e asa do

    Bandeirante, que conferiram ao avio a robustez que acabousendo uma das suas principais caractersticas. Esta aeronaverepresentou um grande desafio para a Embraer em termos deprojeto aerodinmico e estrutural e manufatura, o que podeser atribudo fuselagem pressurizada e ao leme em "T".Segundo o Eng. Jos Renato de Oliveira Melo, da Diretoriade Projetos Avanados, "o Xingu foi a minha grande escola",acrescentando que para queimar etapas, apenas um nicoensaio em tnel foi realizado antes do primeiro vo, paraavaliao das caractersticas de estol.Ao mesmo tempo, a Embraer procurava meios criativos paracapacitar-se em tecnologias consideradas estratgicas: umexemplo foi o programa de cooperao com a empresa

    Northrop, oportunidade surgida em 1975, quando a ForaArea Brasileira adquiriu 49 caas F-5E e um acordo decompensao comercial possibilitou que a Embraer fabricassealguns componentes e partes do F-5 para aquela empresanorte-americana. Tecnologias na rea de colagem metal-metal,usinagem de ligas de alumnio-magnsio e fabricao decolmias de alumnio foram adquiridas. Na fabricao doXingu, a Empresa usou pela primeira vez usinagem qumica.A comunalidade com partes do Bandeirante, por outro lado,teve seu preo, principalmente em peso e desempenho,diminuindo a sua competitividade num mercadocompletamente obcecado pelo custo do combustvel. Osensaios em vo revelaram maior arrasto aerodinmico que o

    previsto e alguns problemas de estabilidade. O prottipoapresentava Dutch roll divergente. O Dutch roll oacoplamento dos modos lateral e dire