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Comitê Científico Internacional da UNESCO para Redação da História Geral da África HISTÓRIA GERAL DA ÁFRICA II África Antiga EDITOR GAMAL MOKHTAR UNESCO Representação no BRASIL Ministério da Educação do BRASIL Universidade Federal de São Carlos

História geral da Africa, II: Africa antiga; 2010

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  • Comit Cientfico Internacional da UNESCO para Redao da Histria Geral da frica

    HISTRIA GERAL DA FRICA II

    frica AntigaEDITOR GAMAL MOKHTAR

    UNESCO Representao no BRASILMinistrio da Educao do BRASILUniversidade Federal de So Carlos

  • HISTRIA GERAL DA FRICA II

    frica antiga

    Comit Cientfico Internacional da UNESCO para Redao da Histria Geral da frica

  • Coleo Histria Geral da frica da UNESCO

    Volume I Metodologia e pr-histria da frica (Editor J. Ki-Zerbo)

    Volume II frica antiga (Editor G. Mokhtar)

    Volume III frica do sculo VII ao XI (Editor M. El Fasi) (Editor Assistente I. Hrbek)

    Volume IV frica do sculo XII ao XVI (Editor D. T. Niane)

    Volume V frica do sculo XVI ao XVIII (Editor B. A. Ogot)

    Volume VI frica do sculo XIX dcada de 1880 (Editor J. F. A. Ajayi)

    Volume VII frica sob dominao colonial, 1880-1935 (Editor A. A. Boahen)

    Volume VIII frica desde 1935 (Editor A. A. Mazrui) (Editor Assistente C. Wondji)

    Os autores so responsveis pela escolha e apresentao dos fatos contidos neste livro, bem como pelas opinies nele expressas, que no so necessariamente as da UNESCO, nem comprometem a Organizao. As indicaes de nomes e apresentao do material ao longo deste livro no implicam a manifestao de qualquer opinio por parte da UNESCO a respeito da condio jurdica de qualquer pas, territrio, cidade, regio ou de suas autoridades, tampouco da delimitao de suas fronteiras ou limites.

  • Comit Cientfico Internacional da UNESCO para Redao da Histria Geral da frica

    HISTRIA GERAL DA FRICA IIfrica antigaEDITOR GAMAL MOKHTAR

    Organizaodas Naes Unidas

    para a Educao,a Cincia e a Cultura

  • Histria geral da frica, II: frica antiga / editado por Gamal Mokhtar. 2.ed. rev. Braslia : UNESCO, 2010.

    1008 p.

    ISBN: 978-85-7652-124-2

    1. Histria 2. Histria antiga 3. Histria africana 4. Culturas africanas 5. Norte da frica 6. Leste da frica 7. Oeste da frica 8. Sul da frica 9. frica Central 10. frica I. Mokhtar, Gamal II. UNESCO III. Brasil. Ministrio da Educao IV. Universidade Federal de So Carlos

    Esta verso em portugus fruto de uma parceria entre a Representao da UNESCO no Brasil, a Secretaria de Educao Continuada, Alfabetizao e Diversidade do Ministrio da Educao do Brasil (Secad/MEC) e a Universidade Federal de So Carlos (UFSCar).

    Ttulo original: General History of Africa, II: Ancient Civilizations of Africa. Paris: UNESCO; Berkley, CA: University of California Press; London: Heinemann Educational Publishers Ltd., 1981. (Primeira edio publicada em ingls).

    UNESCO 2010 (verso em portugus com reviso ortogrfica e reviso tcnica)

    Coordenao geral da edio e atualizao: Valter Roberto SilvrioPreparao de texto: Eduardo Roque dos Reis FalcoReviso tcnica: Kabengele MunangaReviso e atualizao ortogrfica: Cibele Elisa Viegas AldrovandiProjeto grfico e diagramao: Marcia Marques / Casa de Ideias; Edson Fogaa e Paulo Selveira / UNESCO no Brasil

    Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura (UNESCO)Representao no BrasilSAUS, Quadra 5, Bloco H, Lote 6, Ed. CNPq/IBICT/UNESCO, 9 andar70070-912 Braslia DF BrasilTel.: (55 61) 2106-3500Fax: (55 61) 3322-4261Site: www.unesco.org/brasiliaE-mail: [email protected]

    Ministrio da Educao (MEC)Secretaria de Educao Continuada, Alfabetizao e Diversidade (Secad/MEC) Esplanada dos Ministrios, Bl. L, 2 andar70047-900 Braslia DF BrasilTel.: (55 61) 2022-9217Fax: (55 61) 2022-9020Site: http://portal.mec.gov.br/index.html

    Universidade Federal de So Carlos (UFSCar)Rodovia Washington Luis, Km 233 SP 310Bairro Monjolinho13565-905 So Carlos SP BrasilTel.: (55 16) 3351-8111 (PABX)Fax: (55 16) 3361-2081Site: http://www2.ufscar.br/home/index.php

    Impresso no Brasil

    http://www.unesco.org/brasiliamailto:[email protected]://portal.mec.gov.br/index.htmlhttp://www2.ufscar.br/home/index.php

  • SUMRIO

    Apresentao ...................................................................................VIINota dos Tradutores .......................................................................... IXCronologia ....................................................................................... XILista de Figuras ............................................................................. XIIIPrefcio ..........................................................................................XXIApresentao do Projeto ..............................................................XXVIIIntroduo Geral ......................................................................... XXXI

    Captulo 1 Origem dos antigos egpcios .................................................. 1Captulo 2 O Egito faranico ................................................................. 37Captulo 3 O Egito faranico: sociedade, economia e cultura ................ 69Captulo 4 Relaes do Egito com o resto da frica ............................. 97Captulo 5 O legado do Egito faranico .............................................. 119Captulo 6 O Egito na poca helenstica .............................................. 161Captulo 7 O Egito sob dominao romana ......................................... 191Captulo 8 A importncia da Nbia: um elo entre a frica central

    e o Mediterrneo................................................................. 213Captulo 9 A Nbia antes de Napata (3100 a 750 antes da Era

    Crist) ................................................................................. 235Captulo 10 O Imprio de Kush: Napata e Mroe .............................. 273

  • VI frica antiga

    Captulo 11 A civilizao de Napata e Mroe ...................................... 297Captulo 12 A cristianizao da Nbia ................................................. 333Captulo 13 A cultura pr -axumita ...................................................... 351Captulo 14 A civilizao de Axum do sculo I ao sculo VII ............ 375Captulo 15 Axum do sculo I ao sculo IV: economia,

    sistema poltico e cultura .................................................. 399Captulo 16 Axum cristo ..................................................................... 425Captulo 17 Os protoberberes .............................................................. 451Captulo 18 O perodo cartagins ........................................................ 473Captulo 19 O perodo romano e ps -romano na frica do Norte ...... 501

    PARTE I O perodo romano ....................................... 501PARTE II De Roma ao Isl ......................................... 547

    Captulo 20 O Saara durante a Antiguidade clssica ........................... 561Captulo 21 Introduo ao fim da Pr -Histria na frica

    subsaariana ........................................................................ 585Captulo 22 A costa da frica oriental e seu papel no comrcio

    martimo .......................................................................... 607Captulo 23 A frica oriental antes do sculo VII ............................... 627Captulo 24 A frica ocidental antes do sculo VII ............................ 657Captulo 25 A frica central ............................................................... 691Captulo 26 A frica meridional: caadores e coletores ...................... 713Captulo 27 Incio da Idade do Ferro na frica meridional ................ 749Captulo 28 Madagscar ...................................................................... 773Captulo 29 As sociedades da frica subsaariana na Idade do Ferro

    Antiga .............................................................................. 803

    Anexo Sntese do colquio O povoamento do antigo Egito e a decifrao da escrita merota ..................................................... 821

    Concluso ................................................................................................ 857Membros do Comit Cientfico Internacional para a Redao de

    uma Histria Geral da frica................................................... 865Dados Biogrficos dos Autores do Volume II ........................................ 867Abreviaes e Listas de Peridicos ......................................................... 871Referncias Bibliogrficas ...................................................................... 879ndice Remissivo ..................................................................................... 939

  • Outra exigncia imperativa de que a histria (e a cultura) da frica devem pelo menos ser vistas de dentro, no sendo medidas por rguas de valores estranhos... Mas essas conexes tm que ser analisadas nos termos de trocas mtuas, e influncias multilaterais em que algo seja ouvido da contribuio africana para o desenvolvimento da espcie humana. J. Ki-Zerbo, Histria Geral da frica, vol. I, p. LII.

    A Representao da UNESCO no Brasil e o Ministrio da Educao tm a satis-fao de disponibilizar em portugus a Coleo da Histria Geral da frica. Em seus oito volumes, que cobrem desde a pr-histria do continente africano at sua histria recente, a Coleo apresenta um amplo panorama das civilizaes africanas. Com sua publicao em lngua portuguesa, cumpre-se o objetivo inicial da obra de colaborar para uma nova leitura e melhor compreenso das sociedades e culturas africanas, e demons-trar a importncia das contribuies da frica para a histria do mundo. Cumpre-se, tambm, o intuito de contribuir para uma disseminao, de forma ampla, e para uma viso equilibrada e objetiva do importante e valioso papel da frica para a humanidade, assim como para o estreitamento dos laos histricos existentes entre o Brasil e a frica.

    O acesso aos registros sobre a histria e cultura africanas contidos nesta Coleo se reveste de significativa importncia. Apesar de passados mais de 26 anos aps o lana-mento do seu primeiro volume, ainda hoje sua relevncia e singularidade so mundial-mente reconhecidas, especialmente por ser uma histria escrita ao longo de trinta anos por mais de 350 especialistas, sob a coordenao de um comit cientfico internacional constitudo por 39 intelectuais, dos quais dois teros africanos.

    A imensa riqueza cultural, simblica e tecnolgica subtrada da frica para o conti-nente americano criou condies para o desenvolvimento de sociedades onde elementos europeus, africanos, das populaes originrias e, posteriormente, de outras regies do mundo se combinassem de formas distintas e complexas. Apenas recentemente, tem-se considerado o papel civilizatrio que os negros vindos da frica desempenharam na formao da sociedade brasileira. Essa compreenso, no entanto, ainda est restrita aos altos estudos acadmicos e so poucas as fontes de acesso pblico para avaliar este complexo processo, considerando inclusive o ponto de vista do continente africano.

    APRESENTAO

  • VIII frica antiga

    A publicao da Coleo da Histria Geral da frica em portugus tambm resul-tado do compromisso de ambas as instituies em combater todas as formas de desigual-dades, conforme estabelecido na Declarao Universal dos Direitos Humanos (1948), especialmente no sentido de contribuir para a preveno e eliminao de todas as formas de manifestao de discriminao tnica e racial, conforme estabelecido na Conveno Internacional sobre a Eliminao de todas as Formas de Discriminao Racial de 1965.

    Para o Brasil, que vem fortalecendo as relaes diplomticas, a cooperao econ-mica e o intercmbio cultural com aquele continente, essa iniciativa mais um passo importante para a consolidao da nova agenda poltica. A crescente aproximao com os pases da frica se reflete internamente na crescente valorizao do papel do negro na sociedade brasileira e na denncia das diversas formas de racismo. O enfrentamento da desigualdade entre brancos e negros no pas e a educao para as relaes tnicas e raciais ganhou maior relevncia com a Constituio de 1988. O reconhecimento da prtica do racismo como crime uma das expresses da deciso da sociedade brasileira de superar a herana persistente da escravido. Recentemente, o sistema educacional recebeu a responsabilidade de promover a valorizao da contribuio africana quando, por meio da alterao da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (LDB) e com a aprovao da Lei 10.639 de 2003, tornou-se obrigatrio o ensino da histria e da cultura africana e afro-brasileira no currculo da educao bsica.

    Essa Lei um marco histrico para a educao e a sociedade brasileira por criar, via currculo escolar, um espao de dilogo e de aprendizagem visando estimular o conheci-mento sobre a histria e cultura da frica e dos africanos, a histria e cultura dos negros no Brasil e as contribuies na formao da sociedade brasileira nas suas diferentes reas: social, econmica e poltica. Colabora, nessa direo, para dar acesso a negros e no negros a novas possibilidades educacionais pautadas nas diferenas socioculturais presentes na formao do pas. Mais ainda, contribui para o processo de conhecimento, reconhecimento e valorizao da diversidade tnica e racial brasileira.

    Nessa perspectiva, a UNESCO e o Ministrio da Educao acreditam que esta publica-o estimular o necessrio avano e aprofundamento de estudos, debates e pesquisas sobre a temtica, bem como a elaborao de materiais pedaggicos que subsidiem a formao inicial e continuada de professores e o seu trabalho junto aos alunos. Objetivam assim com esta edio em portugus da Histria Geral da frica contribuir para uma efetiva educao das relaes tnicas e raciais no pas, conforme orienta as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educao das Relaes tnico-Raciais e para o Ensino da Histria e Cultura Afro-brasileira e Africana aprovada em 2004 pelo Conselho Nacional de Educao.

    Boa leitura e sejam bem-vindos ao Continente Africano.

    Vincent Defourny Fernando Haddad

    Representante da UNESCO no Brasil Ministro de Estado da Educao do Brasil

  • IXNOTA DOS TRADUTORES

    NOTA DOS TRADUTORES

    A Conferncia de Durban ocorreu em 2001 em um contexto mundial dife-rente daquele que motivou as duas primeiras conferncias organizadas pela ONU sobre o tema da discriminao racial e do racismo: em 1978 e 1983 em Genebra, na Sua, o alvo da condenao era o apartheid.

    A conferncia de Durban em 2001 tratou de um amplo leque de temas, entre os quais vale destacar a avaliao dos avanos na luta contra o racismo, na luta contra a discriminao racial e as formas correlatas de discriminao; a avaliao dos obstculos que impedem esse avano em seus diversos contextos; bem como a sugesto de medidas de combate s expresses de racismo e intolerncias.

    Aps Durban, no caso brasileiro, um dos aspectos para o equacionamento da questo social na agenda do governo federal a implementao de polticas pblicas para a eliminao das desvantagens raciais, de que o grupo afrodescen-dente padece, e, ao mesmo tempo, a possibilidade de cumprir parte importante das recomendaes da conferncia para os Estados Nacionais e organismos internacionais.

    No que se refere educao, o diagnstico realizado em novembro de 2007, a partir de uma parceria entre a UNESCO do Brasil e a Secretaria de Educao Continuada, Alfabetizao e Diversidade do Ministrio da Educao (SECAD/MEC), constatou que existia um amplo consenso entre os diferentes participan-tes, que concordavam, no tocante a Lei 10.639-2003, em relao ao seu baixo grau de institucionalizao e sua desigual aplicao no territrio nacional. Entre

  • X frica antiga

    os fatores assinalados para a explicao da pouca institucionalizao da lei estava a falta de materiais de referncia e didticos voltados Histria de frica.

    Por outra parte, no que diz respeito aos manuais e estudos disponveis sobre a Histria da frica, havia um certo consenso em afirmar que durante muito tempo, e ainda hoje, a maior parte deles apresenta uma imagem racializada e eurocntrica do continente africano, desfigurando e desumanizando especial-mente sua histria, uma histria quase inexistente para muitos at a chegada dos europeus e do colonialismo no sculo XIX.

    Rompendo com essa viso, a Histria Geral da frica publicada pela UNESCO uma obra coletiva cujo objetivo a melhor compreenso das sociedades e cul-turas africanas e demonstrar a importncia das contribuies da frica para a histria do mundo. Ela nasceu da demanda feita UNESCO pelas novas naes africanas recm-independentes, que viam a importncia de contar com uma his-tria da frica que oferecesse uma viso abrangente e completa do continente, para alm das leituras e compreenses convencionais. Em 1964, a UNESCO assumiu o compromisso da preparao e publicao da Histria Geral da frica. Uma das suas caractersticas mais relevantes que ela permite compreender a evoluo histrica dos povos africanos em sua relao com os outros povos. Contudo, at os dias de hoje, o uso da Histria Geral da frica tem se limitado sobretudo a um grupo restrito de historiadores e especialistas e tem sido menos usada pelos professores/as e estudantes. No caso brasileiro, um dos motivos desta limitao era a ausncia de uma traduo do conjunto dos volumes que compem a obra em lngua portuguesa.

    A Universidade Federal de So Carlos, por meio do Ncleo de Estudos Afrobrasileiros (NEAB/UFSCar) e seus parceiros, ao concluir o trabalho de traduo e atualizao ortogrfica do conjunto dos volumes, agradece o apoio da Secretaria de Educao Continuada, Alfabetizao e Diversidade (SECAD), do Ministrio da Educao (MEC) e da UNESCO por terem propiciado as condies para que um conjunto cada vez maior de brasileiros possa conhecer e ter orgulho de compartilhar com outros povos do continente americano o legado do continente africano para nossa formao social e cultural.

  • Na apresentao das datas da pr -histria convencionou -se adotar dois tipos de notao, com base nos seguintes critrios:

    Tomando como ponto de partida a poca atual, isto , datas B.P. (before present), tendo como referncia o ano de + 1950; nesse caso, as datas so todas negativas em relao a + 1950.

    Usando como referencial o incio da Era Crist; nesse caso, as datas so simplesmente precedidas dos sinais - ou +. No que diz respeito aos sculos, as menes antes de Cristo e depois de Cristo so substitudas por antes da Era Crist, da Era Crist.

    Exemplos:

    (i) 2300 B.P. = -350

    (ii) 2900 a.C. = -2900 1800 d.C. = +1800

    (iii) sculo V a.C. = sculo V antes da Era Crist sculo III d.C. = sculo III da Era Crist

    CRONOLOGIA

  • XIIILista de Figuras

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 O Nilo, fotografado por um satlite Landsat em rbita a 920 km da Terra ........................................................................................................... XXXVII

    Figura 2 A Pedra de Palermo. .......................................................................................... XLIFigura 3 O Papiro de Turim ............................................................................................XLIIFigura 4 Cheias sazonais do Nilo ................................................................................. XLVIIFigura 5 A Paleta em xisto de Narmer, I dinastia, face anterior e posterior .......................LIIFigura 6 Esttua do escriba sentado, Knubaf .................................................................LVIIIFigura 1.1 Representao proto -histrica de Tera -Neter, um nobre negro da raa dos

    Anu, primeiros habitantes do Egito ....................................................................... 7Figura 1.2 Estatuetas pr -dinsticas ........................................................................................ 7Figura 1.3 Cabo da faca de Djebel el -Arak, Pr -Dinstico Tardio ...................................... 14Figura 1.4 Cativos semitas do tempo dos faras. Rocha do Sinai .......................................14Figura 1.5 Cativos indo -europeus ......................................................................................... 15Figura 1.6 Cativo indo -europeu ............................................................................................ 15Figura 1.7 Quops, fara da IV dinastia, construtor da Grande Pirmide ............................ 19Figura 1.8 Fara Mentuhotep I ............................................................................................. 20Figura 1.9 Ramss II e um Batutsi moderno ........................................................................ 23Figura 1.10 A Esfinge, tal como foi encontrada pela primeira misso cientfica francesa

    no sculo XIX .................................................................................................... 23Figuras 1.11, 1.12, 1.13 e 1.14 Quatro tipos indo -europeus ................................................. 24Figura 1.15 Dois semitas ....................................................................................................... 24Figura 1.16 Estrangeiro ......................................................................................................... 28

  • XIV frica antiga

    Figura 1.17 Fechadura de porta, de Hieracmpolis. I dinastia egpcia ................................... 28Figura 1.18 Prisioneiro lbio .................................................................................................. 28Figura 1.19 Um fara da I dinastia egpcia ........................................................................... 29Figura 1. 20 Zoser, tpico negro, fara da III dinastia ........................................................... 29Figura 2.1 O Nilo, da Terceira Catarata at o Mediterrneo ................................................ 40Figura 2.2 Cronologia da histria egpcia ............................................................................. 41Figura 2.3 Tesouro de Tutancmon. Anbis na entrada do tesouro ...................................... 44Figura 2.4 Qufren ................................................................................................................ 49Figura 2.5 Rainha Hatshepsut sentada.................................................................................. 59Figura 2.6 Aquenton diante do Sol ..................................................................................... 61Figura 2.7 Tesouro de Tutancmon ....................................................................................... 64Figura 2.8 Howard Carter, o arquelogo que descobriu o tmulo de Tutancmon .............. 64Figura 3.1 Empilhamento do feno ........................................................................................ 71Figura 3.2 Colheita ............................................................................................................... 71Figura 3.3 Caa ao hipoptamo ............................................................................................ 73Figura 3.4 Pesca com rede ..................................................................................................... 73Figura 3.5 Abastecimento dos celeiros (desenho) ................................................................. 80Figura 3.6 Prestao de contas .............................................................................................. 80Figura 3.7 Tributo de prisioneiros lbios do Antigo Imprio ................................................ 85Figura 3.8 Sti I matando um chefe lbio. ............................................................................ 85Figura 3.9 Vindima e espre medura ....................................................................................... 90Figura 4.1 O Chifre da frica e as regies vizinhas na Antiguidade .................................. 100Figura 4.2 Pelicanos domesticados ...................................................................................... 103Figura 4.3 Operaes navais ................................................................................................ 103Figura 4.4 Tributo nbio de Rekhmira. ............................................................................... 109Figura 4.5 Habitaes do reino de Punt. ............................................................................ 114Figura 4.6 Tributo de Punt. ................................................................................................. 114Figura 5.1 Fabricao de tijolos ........................................................................................... 122Figura 5.2 Fabricao de vasos de metal ............................................................................. 125Figura 5.3 Fabricao da cerveja. Antigo Imprio ............................................................... 128Figura 5.4 Modelo de uma oficina de tecelagem. XII dinastia, c. - 2000 ............................ 128Figura 5.5 Marceneiros trabalhando.................................................................................... 129Figura 5.6 Colunas protodricas de Deir el -Bahari ............................................................ 132Figura 5.7 As pirmides de Snefru, no Dachur ................................................................... 132Figura 5.8 Carnac: cmara do barco de mon .................................................................... 134Figura 5.9 Gis: cmara do barco de Quops. ..................................................................... 134Figura 5.10 Ramss II (tcnica dos fluidos) ........................................................................ 136Figura 5.11 e 5.12 Vista parcial de Mirgissa, fortaleza militar construda h

    aproximadamente 4 mil anos ........................................................................... 145Figura 5.13 Colunas fasciculadas do templo de Sacar ....................................................... 146

  • XVLista de Figuras

    Figura 5.14 e 5.15 Mirgissa: Rampa para barcos. ................................................................ 148Figura 5.16 Um jardim egpcio ........................................................................................... 149Figura 5.17 Urbanismo: planta da cidade de Illahun (Kahun) ............................................ 149Figura 5.18 Mirgissa ........................................................................................................... 151Figura 5.19 Mirgissa ........................................................................................................... 151Figura 5.20 Mirgissa, Muralha externa ............................................................................... 153Figura 5.21 Mirgissa. Muralha setentrional ........................................................................ 153Figura 5.22 Mirgissa. Casa particular .................................................................................. 155Figura 5.23 Modelo de uma casa do Mdio Imprio .......................................................... 155Figura 5.24 A deusa Htor .................................................................................................. 157Figura 6.1 Relevo representando a deusa sis com o filho Harpcrates em segundo

    plano. .................................................................................................................. 167Figura 6.2 Cabea de Alexandre, o Grande. ........................................................................ 170Figura 6.3 O Farol de Alexandria. ....................................................................................... 173Figura 6.4 O mundo segundo Herdoto e Hecateu ............................................................ 179Figura 6.5 Ulisses fugindo de Polifemo, escondido sob o ventre de um carneiro. ............... 182Figura 6.6 Pintura do tmulo de Anfushi, Alexandria ........................................................ 182Figura 6.7 Fragmento de um balsamrio em bronze ........................................................... 184Figura 6.8 Cabea grotesca .................................................................................................. 184Figura 6.9 Estatueta (fragmento): acendedor de candeeiro negro, caminhando,

    vestindo uma tnica e carregando uma pequena escada no brao esquerdo (faltam o brao direito e os ps) ......................................................................... 184

    Figura 6.10 Clepatra VII ................................................................................................... 188Figura 7.1 Cabea de tetrarca .............................................................................................. 194Figura 7.2 Cabea de Vespasiano ........................................................................................ 199Figura 7.3 Termas romanas e hipocausto ............................................................................ 201Figura 7.4 O corredor que circunda o teatro romano .......................................................... 201Figura 7.5 Estatueta de um gladiador negro em p, vestindo uma tnica, couraa e

    elmo, armado de escudo e adaga ......................................................................... 204Figura 7.6 Estatueta de um soldado negro em p, empunhando um machado duplo ......... 204Figura 7.7 Ladrilho de cermica: negro ajoelhado, soprando um instrumento musical ...... 204Figura 7.8 Pintura de Baouit ............................................................................................... 211Figura 7.9 Mosteiro de Mari -Mina. .................................................................................... 211Figura 8.1 O vale do Nilo e o Corredor Nbio ................................................................... 214Figura 8.2 A Nbia antiga................................................................................................... 216Figura 8.3 A Alta Nbia sudanesa ...................................................................................... 217Figura 8.4 Monumentos nbios de Filas em reconstruo na ilha vizinha de Agilkia ........ 220Figura 8.5 O templo de sis em reconstruo em Agilkia ................................................... 220Figura 9.1 A Nbia e o Egito ............................................................................................. 237Figura 9.2 Tipos de sepulturas do Grupo A ....................................................................... 239

  • XVI frica antiga

    Figura 9.3 Inscrio do rei Djer em Djebel Sheikh Suliman .............................................. 239Figura 9.4 Tipos de cermica do Grupo A ......................................................................... 239Figura 9.5 Sepulturas tpicas do Grupo C .......................................................................... 244Figura 9.6 Tipos de cermica do Grupo C ......................................................................... 244Figura 9.7 A Nbia, 1580 antes da Era Crist .................................................................... 247Figura 9.8 As fortificaes ocidentais de uma fortaleza do Mdio Imprio em Buhen ...... 249Figuras 9.9, 9.10 e 9.11 Cermica de Kerma ...................................................................... 251Figuras 9.12 e 9.13 Cermica de Kerma ............................................................................. 253Figura 9.14 Kerma: o Dufufa do Leste, com uma sepultura no primeiro plano ................. 255Figura 9.15 Sepultura de Kerma ......................................................................................... 255Figuras 9.16 e 9.17 Cermica de Kerma ............................................................................. 258Figura 9.18 Ornamentos pessoais........................................................................................ 260Figura 9.19 Cermica de Kerma ......................................................................................... 260Figura 9.20 A Nbia durante o Novo Imprio ................................................................... 262Figura 9.21 O templo de Amenfis III em Soleb ............................................................... 265Figuras 9.22 e 9.23 Tipos de sepulturas do Novo Imprio. ................................................. 270Figura 10.1 Saqia ................................................................................................................. 279Figura 10.2 Esttua do rei Aspelta, em granito negro da Etipia ....................................... 281Figura 10.3 Detalhe (busto) ................................................................................................ 281Figura 10.4 A rainha Amanishaketo: relevo da pirmide Beg N6 de Mroe ...................... 287Figura 10.5 Artigo de vidro azul pintado, de Sedinga ......................................................... 291Figura 10.6 Coroa de Ballana .............................................................................................. 291Figura 10.7 Stios merotas .................................................................................................. 293Figura 11.1 Carneiro de granito em Naga .......................................................................... 301Figura 11.2 Pirmide do rei Natakamani em Mroe, com runas de capela e pilono

    em primeiro plano ............................................................................................ 301Figura 11.3 Placa de arenito representando o prncipe Arikankharor massacrando seus

    inimigos (possivelmente do sculo II da Era Crist) ....................................... 307Figura 11.4 Rei Arnekhamani (templo dos lees em Mussawarat es -Sufra) ...................... 307Figura 11.5 Recipientes de bronze originrios de Mroe .................................................... 315Figura 11.6 Vrias peas de cermica merota ..................................................................... 321Figura 11.7 Joias de ouro da rainha Amanishaketo (-41 a -12) .......................................... 323Figura 11.8 O deus Apedemak conduzindo outros deuses merotas ................................... 329Figura 11.9 O deus merota Sebiumeker (templo dos lees em Mussawarat es -Sufra) ...... 329Figura 12.1 O Nilo da Primeira Sexta Catarata ............................................................... 335Figura 12.2 Arcadas da fachada leste da igreja de Qasr Ibrim ............................................ 337Figura 12.3 Catedral de Faras ............................................................................................. 337Figura 12.4 Planta geral do stio no interior das muralhas.................................................. 343Figura 12.5 Edifcios cristos descobertos pela expedio polonesa (1961 -1964) ............... 343Figura 12.6 Cabea de Santa Ana: mural da nave norte da catedral de Faras

    (sculo VIII) ..................................................................................................... 345

  • XVIILista de Figuras

    Figura 12.7 Faras: verga de porta decorada do incio da Era Crist (segunda metade do sculo VI ou incio do sculo VII) ...................................................................... 345

    Figura 12.8 Fragmento de um friso decorativo em arenito do abside da catedral de Faras (primeira metade do sculo VII)............................................................. 347

    Figura 12.9 Faras: Capitel de arenito (primeira metade do sculo VII) .............................. 347Figura 12.10 Janela em terracota da Igreja das Colunas de Granito na Velha Dongola,

    Sudo (fim do sculo VII) ............................................................................. 348Figura 12.11 Cermica da Nbia crist ............................................................................... 348Figura 13.1 A Etipia no perodo sul -arbico ..................................................................... 353Figura 13.2 O trono ou naos de Halti .......................................................................... 356Figura 13.3 Esttua de Halti ............................................................................................. 358Figura 13.4 Altar de incenso em Addi Galamo .................................................................. 358Figura 13. 5 A Etipia no perodo pr -axumita intermedirio ........................................... 369Figura 13.6 Touro em bronze, Mahabere Dyogwe .............................................................. 373Figuras 13.7, 13.8 e 13.9 Marcas de identidade em bronze de Yeha, em forma de

    pssaro, de leo e de ca brito monts ................................................................. 373Figura 14.1 Fotografia area de Axum. (Foto Instituto Etope de Arqueologia.) ............... 378Figura 14.2 Leoa esculpida na parte lateral de uma rocha, perodo axumita ....................... 384Figura 14.3 Matara: alicerce de um edifcio axumita........................................................... 384Figura 14.4 Base de um trono ............................................................................................. 390Figura 14.5 Matara: inscrio do sculo II da Era Crist ................................................... 390Figura 14.6 Gargalo de jarro ............................................................................................... 393Figura 14.7 Incensrio de estilo alexandrino ....................................................................... 393Figura 14.8 Presa de elefante ............................................................................................... 393Figura 15.1 Mapa da expanso axumita .............................................................................. 402Figura 15.2 Moeda de ouro do rei Endybis (sculo III da Era Crist) ................................ 407Figura 15.3 Moeda de ouro do reino de Ousanas ............................................................... 407Figura 15.4 Inscrio grega de Ezana (sculo IV) .............................................................. 416Figura 15.5 Inscrio em caracteres pseudo -sabeanos de WaZaba (sculo VI) .................. 422Figura 16.1 O bispo Frumncio, o rei Abraha (Ezana) e seu irmo Atsbaha, igreja de

    Abraba we Atsbaha (sculo XVII) ................................................................... 433Figura 16.2 Debre -Damo visto a distncia. ......................................................................... 437Figura 16.3 O acesso ao convento em Debre -Damo. .......................................................... 437Figura 16.4 Pintura da igreja de Goh: os Apstolos (sculo XV) ....................................... 440Figura 16.5 Igreja de Abba Aregawi em Debre -Damo ....................................................... 449Figura 16.6 Chantres inclinando -se religiosamente ............................................................ 449Figura 17.1 Crnio de Columnata ...................................................................................... 455Figura 17.2 Homem de Champlain: crnio ibero -maurusiense .......................................... 457Figura 17.3 Crnio de homem capsiense ............................................................................ 457Figura 17.4 Lees de Kbor Roumia ..................................................................................... 468Figura 17.5 Estela lbia de Abizar (sudeste de Tigzirt) ....................................................... 471

  • XVIII frica antiga

    Figura 19.1 As provncias romanas da frica do Norte no final do sculo II da Era Crist................................................................................................................ 503

    Figura 19.2 Timgad (antiga Thamugadi, Arglia): Avenida e Arco de Trajano .................. 505Figura 19.3 Mactar (antiga Mactaris, Tunsia): Arco de Trajano, entrada do frum ........... 505Figura 19.4 As provncias romanas da frica do Norte no final do sculo IV da Era

    Crist................................................................................................................ 511Figura 19.5 O aqueduto de Chercell (Arglia) .................................................................... 520Figura 19.6 Sabrata (Lbia): Frons scaenae do teatro romano .............................................. 520Figura 19.7 Mosaico de Susa: Virglio escrevendo a Eneida ............................................. 529Figura 19.8 Djemila (antiga Cuicul, Arglia): centro da cidade .......................................... 535Figura 19.9 Lebda (antiga Leptis Magna, Lbia): trabalhos em curso no anfiteatro

    romano ............................................................................................................. 535Figura 19.10 Mosaico de Chebba: Triunfo de Netuno ....................................................... 539Figura 19.11 Trpoli (antiga Oea, Lbia): Arco do Triunfo de Marco Aurlio .................... 543Figura 19.12 Timgad (Arglia): Fortaleza bizantina, sculo VI .......................................... 555Figura 19.13 e 19.14 Haidra (Tunsia): Fortaleza bizantina, sculo VI. Detalhe e

    vista geral ....................................................................................................... 557Figura 19.15 Sbeitla (Tunsia): Prensa de azeite instalada numa antiga rua da cidade

    romana (sculos VI a VII) .................................................................................. 559Figura 19.16 Djedar de Ternaten, perto de Frenda (Arglia): Cmara funerria,

    sculo VI. ....................................................................................................... 559Figura 20.1 Esqueleto da rainha Tin Hinan ..................................................................... 572Figura 20.2 Bracelete de ouro da rainha Tin Hinan ......................................................... 572Figura 20.3 O tmulo da rainha Tin Hinan em Abalessa................................................. 575Figura 20.4 Tipos garamantes num mosaico romano de Zliten, Tripolitnia ................... 579Figuras 20.5 e 20.6 A avaliao da idade das pinturas rupestres baseia -se em critrios

    de estilo e de ptina .......................................................................................... 581Figura 21.1 Hipteses da origem dos Bantu e do incio da metalurgia do ferro ................. 587Figura 21.2 Jazidas de cobre e rotas de caravana atravs do Saara ...................................... 599Figura 23.1 frica oriental: mapa poltico e mapa indicativo da distribuio de lnguas

    e povos ............................................................................................................. 629Figura 23.2 Agrupamentos de lnguas africanas ocidentais e suas relaes de parentesco. .. 642Figura 24.1 frica ocidental: stios pr -histricos importantes ........................................... 663Figura 24.2 Saara: mapa do relevo ...................................................................................... 664Figura 24.3 Complexo do vale de Tilemsi........................................................................... 667Figura 24.4 Regio de Tichitt ............................................................................................. 670Figura 24.5 Montculos de detritos do Firki ....................................................................... 685Figura 25.1 Mapa da frica central com a indicao dos lugares mencionados

    no texto. ............................................................................................................ 692Figura 25.2 Mapa da frica Central com a indicao das regies de ocupao

    neoltica e da Idade do Ferro Antiga ........................................................... 695Figura 25.3 Machado polido uelense (hematita) ................................................................. 698

  • XIXLista de Figuras

    Figura 25.4 Objetos encontrados no stio de Batalimo, no sul de Bangui (Repblica Centro -Africana) ......................................................................... 703

    Figura 25.5 Objetos encontrados em Sanga ........................................................................ 705Figura 26.1 Pintura rupestre: mulheres com bastes de cavar lastreados por pedras

    perfuradas ........................................................................................................... 723Figura 26.2 Grupo de homens com arcos, flechas e aljavas ................................................. 723Figura 26.3 Cena de pesca de Tsoelike, Lesoto ................................................................... 723Figura 26.4 Grupo de caadores em sua caverna, cercados por uma srie de bastes

    de cavar, bolsas, aljavas e arcos.......................................................................... 729Figura 26.5 Grande grupo de figuras, a maioria delas visivelmente masculinas,

    provavelmente numa cena de dana ................................................................. 729Figura 26.6 Os encontros ocasionais de grupos so assinalados muito mais pelo

    conflito do que pela cooperao ....................................................................... 729Figura 26.7 Mapa da frica meridional mostrando a distribuio de stios da Idade

    da Pedra Recente ................................................................................................ 737Figura 26.8 As mais antigas datas conhecidas para o aparecimento da cermica e

    dos animais domsticos nos contextos da Idade da Pedra Recente na frica austral .................................................................................................... 738

    Figura 26.9 Rebanho de carneiros de cauda grossa ............................................................. 742Figura 26.10 Galeo pintado nas montanhas do Cabo ocidental ........................................ 742Figura 26.11 Carroas, cavalos e trekkers (migrantes) observados quando se dirigiam

    para as pastagens entre montanhas do Cabo ocidental no princpio do sculo XVIII da Era Crist ...................................................................... 747

    Figura 26.12 Grupo de pequenos ladres de gado armados com arcos e flechas, defendendo sua presa contra figuras maiores munidas de escudos e lanas ............................................................................................................. 747

    Figura 27.1 frica meridional: stios da Idade do Ferro Antiga e stios conexos mencionados no texto ...................................................................................... 751

    Figura 27.2 frica meridional: stios. .................................................................................. 753Figura 27.3 Cermica de Mabveni e de Dambwa ............................................................... 758Figura 27.4 Cermica da Idade do Ferro Antiga proveniente de Twickenham Road

    e de Kalundu .................................................................................................... 758Figura 28.1 Madagscar: lugares citados no texto ............................................................... 775Figura 28.2 Madagscar: stios importantes ........................................................................ 777Figura 28.3 Aldeia de Andavadoaka no sudoeste ................................................................ 780Figura 28.4 Cemitrio de Ambohimalaza (Imerina) ........................................................... 780Figura 28.5 Porta antiga de Miandrivahiny Ambohimanga, Imerina ................................. 784Figura 28.6 Canoa de pesca vezo de tipo indonsio, com balancim .................................... 788Figura 28.7 Fole de forja com duplo pisto do tipo encontrado na Indonsia .................... 788Figura 28.8 Cemitrio de Marovoay, perto de Morondava. ............................................... 791Figura 28.9 Esttua de Antsary: arte antanosy das proximidades de Fort -Dauphin ........... 791Figura 28.10 Cermica chinesa de Vohemar ....................................................................... 795

  • XX frica antiga

    Figura 28.11 Caldeiro de pedra, civilizao de Vohemar ................................................... 795Figura 28.12 Arrozais em terraos nas proximidades de Ambositra, semelhantes aos

    de Luzn, nas Filipinas .................................................................................. 799Figura 28.13 Exerccio de geomancia: extremo sul.............................................................. 799Figura 28.14 Tmulo antalaotse em Antsoheribory ............................................................ 801Figura 28.15 Cermicas de Kingany e de Rasoky (sculo XV). Anzis de Takaly

    (sculo XII) .................................................................................................... 801

  • XXIPrefcio

    PREFCIOpor M. Amadou - Mahtar MBow,

    Diretor Geral da UNESCO (1974-1987)

    Durante muito tempo, mitos e preconceitos de toda espcie esconderam do mundo a real histria da frica. As sociedades africanas passavam por socie-dades que no podiam ter histria. Apesar de importantes trabalhos efetuados desde as primeiras dcadas do sculo XX por pioneiros como Leo Frobenius, Maurice Delafosse e Arturo Labriola, um grande nmero de especialistas no africanos, ligados a certos postulados, sustentavam que essas sociedades no podiam ser objeto de um estudo cientfico, notadamente por falta de fontes e documentos escritos.

    Se a Ilada e a Odisseia podiam ser devidamente consideradas como fontes essenciais da histria da Grcia antiga, em contrapartida, negava-se todo valor tradio oral africana, essa memria dos povos que fornece, em suas vidas, a trama de tantos acontecimentos marcantes. Ao escrever a histria de grande parte da frica, recorria-se somente a fontes externas frica, oferecendo uma viso no do que poderia ser o percurso dos povos africanos, mas daquilo que se pensava que ele deveria ser. Tomando frequentemente a Idade Mdia europeia como ponto de referncia, os modos de produo, as relaes sociais tanto quanto as instituies polticas no eram percebidos seno em referncia ao passado da Europa.

    Com efeito, havia uma recusa a considerar o povo africano como o criador de culturas originais que floresceram e se perpetuaram, atravs dos sculos, por

  • XXII frica antiga

    vias que lhes so prprias e que o historiador s pode apreender renunciando a certos preconceitos e renovando seu mtodo.

    Da mesma forma, o continente africano quase nunca era considerado como uma entidade histrica. Em contrrio, enfatizava-se tudo o que pudesse refor-ar a ideia de uma ciso que teria existido, desde sempre, entre uma frica branca e uma frica negra que se ignoravam reciprocamente. Apresentava-se frequentemente o Saara como um espao impenetrvel que tornaria impossveis misturas entre etnias e povos, bem como trocas de bens, crenas, hbitos e ideias entre as sociedades constitudas de um lado e de outro do deserto. Traavam-se fronteiras intransponveis entre as civilizaes do antigo Egito e da Nbia e aquelas dos povos subsaarianos.

    Certamente, a histria da frica norte-saariana esteve antes ligada quela da bacia mediterrnea, muito mais que a histria da frica subsaariana mas, nos dias atuais, amplamente reconhecido que as civilizaes do continente africano, pela sua variedade lingustica e cultural, formam em graus variados as vertentes histricas de um conjunto de povos e sociedades, unidos por laos seculares.

    Um outro fenmeno que grandes danos causou ao estudo objetivo do passado africano foi o aparecimento, com o trfico negreiro e a colonizao, de esteretipos raciais criadores de desprezo e incompreenso, to profundamente consolidados que corromperam inclusive os prprios conceitos da historiografia. Desde que foram empregadas as noes de brancos e negros, para nomear genericamente os colonizadores, considerados superiores, e os colonizados, os africanos foram levados a lutar contra uma dupla servido, econmica e psicolgica. Marcado pela pigmentao de sua pele, transformado em uma mercadoria entre outras, e destinado ao trabalho forado, o africano veio a simbolizar, na conscincia de seus dominadores, uma essncia racial imaginria e ilusoriamente inferior: a de negro. Este processo de falsa identificao depreciou a histria dos povos africanos no esprito de muitos, rebaixando-a a uma etno-histria, em cuja apreciao das realidades histricas e culturais no podia ser seno falseada.

    A situao evoluiu muito desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em particular, desde que os pases da frica, tendo alcanado sua independncia, comearam a participar ativamente da vida da comunidade internacional e dos intercmbios a ela inerentes. Historiadores, em nmero crescente, tm se esfor-ado em abordar o estudo da frica com mais rigor, objetividade e abertura de esprito, empregando obviamente com as devidas precaues fontes africanas originais. No exerccio de seu direito iniciativa histrica, os prprios africanos sentiram profundamente a necessidade de restabelecer, em bases slidas, a his-toricidade de suas sociedades.

  • XXIIIPrefcio

    nesse contexto que emerge a importncia da Histria Geral da frica, em oito volumes, cuja publicao a Unesco comeou.

    Os especialistas de numerosos pases que se empenharam nessa obra, pre-ocuparam-se, primeiramente, em estabelecer-lhe os fundamentos tericos e metodolgicos. Eles tiveram o cuidado em questionar as simplificaes abusivas criadas por uma concepo linear e limitativa da histria universal, bem como em restabelecer a verdade dos fatos sempre que necessrio e possvel. Eles esfor-aram-se para extrair os dados histricos que permitissem melhor acompanhar a evoluo dos diferentes povos africanos em sua especificidade sociocultural.

    Nessa tarefa imensa, complexa e rdua em vista da diversidade de fontes e da disperso dos documentos, a UNESCO procedeu por etapas. A primeira fase (1965-1969) consistiu em trabalhos de documentao e de planificao da obra. Atividades operacionais foram conduzidas in loco, atravs de pesquisas de campo: campanhas de coleta da tradio oral, criao de centros regionais de documentao para a tradio oral, coleta de manuscritos inditos em rabe e ajami (lnguas africanas escritas em caracteres rabes), compilao de inventrios de arquivos e preparao de um Guia das fontes da histria da frica, publicado posteriormente, em nove volumes, a partir dos arquivos e bibliotecas dos pases da Europa. Por outro lado, foram organizados encontros, entre especialistas africanos e de outros continentes, durante os quais se discutiu questes meto-dolgicas e traou-se as grandes linhas do projeto, aps atencioso exame das fontes disponveis.

    Uma segunda etapa (1969 a 1971) foi consagrada ao detalhamento e articu-lao do conjunto da obra. Durante esse perodo, realizaram-se reunies interna-cionais de especialistas em Paris (1969) e Addis-Abeba (1970), com o propsito de examinar e detalhar os problemas relativos redao e publicao da obra: apresentao em oito volumes, edio principal em ingls, francs e rabe, assim como tradues para lnguas africanas, tais como o kiswahili, o hawsa, o peul, o yoruba ou o lingala. Igualmente esto previstas tradues para o alemo, russo, portugus, espanhol e chins1, alm de edies resumidas, destinadas a um pblico mais amplo, tanto africano quanto internacional.

    1 O volume I foi publicado em ingls, rabe, chins, coreano, espanhol, francs, hawsa, italiano, kiswahi-li, peul e portugus; o volume II, em ingls, rabe, chins, coreano, espanhol, francs, hawsa, italiano, kiswahili, peul e portugus; o volume III, em ingls, rabe, espanhol e francs; o volume IV, em ingls, rabe, chins, espanhol, francs e portugus; o volume V, em ingls e rabe; o volume VI, em ingls, rabe e francs; o volume VII, em ingls, rabe, chins, espanhol, francs e portugus; o VIII, em ingls e francs.

  • XXIV frica antiga

    A terceira e ltima fase constituiu-se na redao e na publicao do trabalho. Ela comeou pela nomeao de um Comit Cientfico Internacional de trinta e nove membros, composto por africanos e no africanos, na respectiva proporo de dois teros e um tero, a quem incumbiu-se a responsabilidade intelectual pela obra.

    Interdisciplinar, o mtodo seguido caracterizou-se tanto pela pluralidade de abordagens tericas quanto de fontes. Dentre essas ltimas, preciso citar primeiramente a arqueologia, detentora de grande parte das chaves da histria das culturas e das civilizaes africanas. Graas a ela, admite-se, nos dias atuais, reconhecer que a frica foi, com toda probabilidade, o bero da humanidade, palco de uma das primeiras revolues tecnolgicas da histria, ocorrida no perodo Neoltico. A arqueologia igualmente mostrou que, na frica, especifi-camente no Egito, desenvolveu-se uma das antigas civilizaes mais brilhantes do mundo. Outra fonte digna de nota a tradio oral que, at recentemente desconhecida, aparece hoje como uma preciosa fonte para a reconstituio da histria da frica, permitindo seguir o percurso de seus diferentes povos no tempo e no espao, compreender, a partir de seu interior, a viso africana do mundo, e apreender os traos originais dos valores que fundam as culturas e as instituies do continente.

    Saber-se- reconhecer o mrito do Comit Cientfico Internacional encarre-gado dessa Histria geral da frica, de seu relator, bem como de seus coordena-dores e autores dos diferentes volumes e captulos, por terem lanado uma luz original sobre o passado da frica, abraado em sua totalidade, evitando todo dogmatismo no estudo de questes essenciais, tais como: o trfico negreiro, essa sangria sem fim, responsvel por umas das deportaes mais cruis da histria dos povos e que despojou o continente de uma parte de suas foras vivas, no momento em que esse ltimo desempenhava um papel determinante no pro-gresso econmico e comercial da Europa; a colonizao, com todas suas conse-quncias nos mbitos demogrfico, econmico, psicolgico e cultural; as relaes entre a frica ao sul do Saara e o mundo rabe; o processo de descolonizao e de construo nacional, mobilizador da razo e da paixo de pessoas ainda vivas e muitas vezes em plena atividade. Todas essas questes foram abordadas com grande preocupao quanto honestidade e ao rigor cientfico, o que constitui um mrito no desprezvel da presente obra. Ao fazer o balano de nossos conhecimentos sobre a frica, propondo diversas perspectivas sobre as culturas africanas e oferecendo uma nova leitura da histria, a Histria geral da frica tem a indiscutvel vantagem de destacar tanto as luzes quanto as sombras, sem dissimular as divergncias de opinio entre os estudiosos.

  • XXVPrefcio

    Ao demonstrar a insuficincia dos enfoques metodolgicos amide utiliza-dos na pesquisa sobre a frica, essa nova publicao convida renovao e ao aprofundamento de uma dupla problemtica, da historiografia e da identidade cultural, unidas por laos de reciprocidade. Ela inaugura a via, como todo tra-balho histrico de valor, para mltiplas novas pesquisas.

    assim que, em estreita colaborao com a UNESCO, o Comit Cientfico Internacional decidiu empreender estudos complementares com o intuito de aprofundar algumas questes que permitiro uma viso mais clara sobre certos aspectos do passado da frica. Esses trabalhos, publicados na coleo UNESCO Histria geral da frica: estudos e documentos, viro a constituir, de modo til, um suplemento presente obra2. Igualmente, tal esforo desdobrar-se- na elaborao de publicaes versando sobre a histria nacional ou sub-regional.

    Essa Histria geral da frica coloca simultaneamente em foco a unidade his-trica da frica e suas relaes com os outros continentes, especialmente com as Amricas e o Caribe. Por muito tempo, as expresses da criatividade dos afro-descendentes nas Amricas haviam sido isoladas por certos historiadores em um agregado heterclito de africanismos; essa viso, obviamente, no corresponde quela dos autores da presente obra. Aqui, a resistncia dos escravos deportados para a Amrica, o fato tocante ao marronage [fuga ou clandestinidade] poltico e cultural, a participao constante e massiva dos afrodescendentes nas lutas da primeira independncia americana, bem como nos movimentos nacionais de libertao, esses fatos so justamente apreciados pelo que eles realmente foram: vigorosas afirmaes de identidade que contriburam para forjar o conceito universal de humanidade. hoje evidente que a herana africana marcou, em maior ou menor grau, segundo as regies, as maneiras de sentir, pensar, sonhar e agir de certas naes do hemisfrio ocidental. Do sul dos Estados Unidos ao norte do Brasil, passando pelo Caribe e pela costa do Pacfico, as contribuies culturais herdadas da frica so visveis por toda parte; em certos casos, inclu-sive, elas constituem os fundamentos essenciais da identidade cultural de alguns dos elementos mais importantes da populao.

    2 Doze nmeros dessa srie foram publicados; eles tratam respectivamente sobre: n. 1 O povoamento do Egito antigo e a decodificao da escrita merotica; n. 2 O trfico negreiro do sculo XV ao sculo XIX; n. 3 Relaes histricas atravs do Oceano ndico; n. 4 A historiografia da frica Meridional; n. 5 A descolonizao da frica: frica Meridional e Chifre da frica [Nordeste da frica]; n. 6 Etnonmias e toponmias; n. 7 As relaes histricas e socioculturais entre a frica e o mundo rabe; n. 8 A metodologia da histria da frica contempornea; n. 9 O processo de educao e a historiografia na frica; n. 10 A frica e a Segunda Guerra Mundial; n. 11 Lbia Antiqua; n. 12 O papel dos movimentos estudantis africanos na evoluo poltica e social da frica de 1900 a 1975.

  • XXVI frica antiga

    Igualmente, essa obra faz aparecerem nitidamente as relaes da frica com o sul da sia atravs do Oceano ndico, alm de evidenciar as contribuies africanas junto a outras civilizaes em seu jogo de trocas mtuas.

    Estou convencido de que os esforos dos povos da frica para conquistar ou reforar sua independncia, assegurar seu desenvolvimento e consolidar suas especificidades culturais devem enraizar-se em uma conscincia histrica reno-vada, intensamente vivida e assumida de gerao em gerao.

    Minha formao pessoal, a experincia adquirida como professor e, desde os primrdios da independncia, como presidente da primeira comisso criada com vistas reforma dos programas de ensino de histria e de geografia de certos pases da frica Ocidental e Central, ensinaram-me o quanto era neces-srio, para a educao da juventude e para a informao do pblico, uma obra de histria elaborada por pesquisadores que conhecessem desde o seu interior os problemas e as esperanas da frica, pensadores capazes de considerar o continente em sua totalidade.

    Por todas essas razes, a UNESCO zelar para que essa Histria Geral da frica seja amplamente difundida, em numerosos idiomas, e constitua base da elaborao de livros infantis, manuais escolares e emisses televisivas ou radiofnicas. Dessa forma, jovens, escolares, estudantes e adultos, da frica e de outras partes, podero ter uma melhor viso do passado do continente africano e dos fatores que o explicam, alm de lhes oferecer uma compreenso mais precisa acerca de seu patrimnio cultural e de sua contribuio ao pro-gresso geral da humanidade. Essa obra dever ento contribuir para favorecer a cooperao internacional e reforar a solidariedade entre os povos em suas aspiraes por justia, progresso e paz. Pelo menos, esse o voto que manifesto muito sinceramente.

    Resta-me ainda expressar minha profunda gratido aos membros do Comit Cientfico Internacional, ao redator, aos coordenadores dos diferentes volu-mes, aos autores e a todos aqueles que colaboraram para a realizao desta prodigiosa empreitada. O trabalho por eles efetuado e a contribuio por eles trazida mostram, com clareza, o quanto homens vindos de diversos horizontes, conquanto animados por uma mesma vontade e igual entusiasmo a servio da verdade de todos os homens, podem fazer, no quadro internacional oferecido pela UNESCO, para lograr xito em um projeto de tamanho valor cientfico e cultural. Meu reconhecimento igualmente estende-se s organizaes e aos governos que, graas a suas generosas doaes, permitiram UNESCO publi-car essa obra em diferentes lnguas e assegurar-lhe a difuso universal que ela merece, em prol da comunidade internacional em sua totalidade.

  • APRESENTAO DO PROJETOpelo Professor Bethwell Allan Ogot

    Presidente do Comit Cientfico Internacional para a redao de uma Histria Geral da frica

    A Conferncia Geral da UNESCO, em sua dcima sexta sesso, solicitou ao Diretor -geral que empreendesse a redao de uma Histria Geral da frica. Esse considervel trabalho foi confiado a um Comit Cientfico Internacional criado pelo Conselho Executivo em 1970.

    Segundo os termos dos estatutos adotados pelo Conselho Executivo da UNESCO, em 1971, esse Comit compe -se de trinta e nove membros res-ponsveis (dentre os quais dois teros africanos e um tero de no africanos), nomeados pelo Diretor -geral da UNESCO por um perodo correspondente durao do mandato do Comit.

    A primeira tarefa do Comit consistiu em definir as principais caractersticas da obra. Ele definiu -as em sua primeira sesso, nos seguintes termos:

    Em que pese visar a maior qualidade cientfica possvel, a Histria Geral da frica no busca a exausto e se pretende uma obra de sntese que evitar o dogmatismo. Sob muitos aspectos, ela constitui uma exposio dos problemas indicadores do atual estgio dos conhecimentos e das grandes correntes de pensamento e pesquisa, no hesitando em assinalar, em tais circunstncias, as divergncias de opinio. Ela assim preparar o caminho para posteriores publicaes.

    A frica aqui considerada como um todo. O objetivo mostrar as relaes histricas entre as diferentes partes do continente, muito amide

  • XXVIII frica antiga

    subdividido, nas obras publicadas at o momento. Os laos histricos da frica com os outros continentes recebem a ateno merecida e so analisados sob o ngulo dos intercmbios mtuos e das influncias mul-tilaterais, de forma a fazer ressurgir, oportunamente, a contribuio da frica para o desenvolvimento da humanidade.

    A Histria Geral da frica consiste, antes de tudo, em uma histria das ideias e das civilizaes, das sociedades e das instituies. Ela fundamenta -se sobre uma grande diversidade de fontes, aqui compreendidas a tradio oral e a expresso artstica.

    A Histria Geral da frica aqui essencialmente examinada de seu inte-rior. Obra erudita, ela tambm , em larga medida, o fiel reflexo da maneira atravs da qual os autores africanos veem sua prpria civilizao. Embora elaborada em mbito internacional e recorrendo a todos os dados cientficos atuais, a Histria ser igualmente um elemento capital para o reconhecimento do patrimnio cultural africano, evidenciando os fatores que contribuem para a unidade do continente. Essa vontade de examinar os fatos de seu interior constitui o ineditismo da obra e poder, alm de suas qualidades cientficas, conferir -lhe um grande valor de atualidade. Ao evidenciar a verdadeira face da frica, a Histria poderia, em uma poca dominada por rivalidades econmicas e tcnicas, propor uma concepo particular dos valores humanos.

    O Comit decidiu apresentar a obra, dedicada ao estudo de mais de 3 milhes de anos de histria da frica, em oito volumes, cada qual compreendendo aproximadamente oitocentas pginas de texto com ilustraes (fotos, mapas e desenhos tracejados).

    Para cada volume designou -se um coordenador principal, assistido, quando necessrio, por um ou dois codiretores assistentes.

    Os coordenadores dos volumes so escolhidos, tanto entre os membros do Comit quanto fora dele, em meio a especialistas externos ao organismo, todos eleitos por esse ltimo, pela maioria de dois teros. Eles se encarregam da ela-borao dos volumes, em conformidade com as decises e segundo os planos decididos pelo Comit. So eles os responsveis, no plano cientfico, perante o Comit ou, entre duas sesses do Comit, perante o Conselho Executivo, pelo contedo dos volumes, pela redao final dos textos ou ilustraes e, de uma maneira geral, por todos os aspectos cientficos e tcnicos da Histria. o Conselho Executivo quem aprova, em ltima instncia, o original definitivo. Uma vez considerado pronto para a edio, o texto remetido ao Diretor -Geral

  • XXIXApresentao do Projeto

    da UNESCO. A responsabilidade pela obra cabe, dessa forma, ao Comit ou, entre duas sesses do Comit, ao Conselho Executivo.

    Cada volume compreende por volta de 30 captulos. Cada qual redigido por um autor principal, assistido por um ou dois colaboradores, caso necessrio.

    Os autores so escolhidos pelo Comit em funo de seu curriculum vitae. A preferncia concedida aos autores africanos, sob reserva de sua adequao aos ttulos requeridos. Alm disso, o Comit zela, tanto quanto possvel, para que todas as regies da frica, bem como outras regies que tenham mantido relaes histricas ou culturais com o continente, estejam de forma equitativa representadas no quadro dos autores.

    Aps aprovao pelo coordenador do volume, os textos dos diferentes cap-tulos so enviados a todos os membros do Comit para submisso sua crtica.

    Ademais e finalmente, o texto do coordenador do volume submetido ao exame de um comit de leitura, designado no seio do Comit Cientfico Inter-nacional, em funo de suas competncias; cabe a esse comit realizar uma profunda anlise tanto do contedo quanto da forma dos captulos.

    Ao Conselho Executivo cabe aprovar, em ltima instncia, os originais.Tal procedimento, aparentemente longo e complexo, revelou -se necessrio,

    pois permite assegurar o mximo de rigor cientfico Histria Geral da frica. Com efeito, houve ocasies nas quais o Conselho Executivo rejeitou origi-nais, solicitou reestruturaes importantes ou, inclusive, confiou a redao de um captulo a um novo autor. Eventualmente, especialistas de uma questo ou perodo especfico da histria foram consultados para a finalizao definitiva de um volume.

    Primeiramente, uma edio principal da obra em ingls, francs e rabe ser publicada, posteriormente haver uma edio em forma de brochura, nesses mesmos idiomas.

    Uma verso resumida em ingls e francs servir como base para a traduo em lnguas africanas. O Comit Cientfico Internacional determinou quais os idiomas africanos para os quais sero realizadas as primeiras tradues: o kiswahili e o haussa.

    Tanto quanto possvel, pretende -se igualmente assegurar a publicao da Histria Geral da frica em vrios idiomas de grande difuso internacional (dentre outros: alemo, chins, italiano, japons, portugus, russo, etc.).

    Trata -se, portanto, como se pode constatar, de uma empreitada gigantesca que constitui um ingente desafio para os historiadores da frica e para a comu-nidade cientfica em geral, bem como para a UNESCO que lhe oferece sua chancela. Com efeito, pode -se facilmente imaginar a complexidade de uma

  • XXX frica antiga

    tarefa tal qual a redao de uma histria da frica, que cobre no espao todo um continente e, no tempo, os quatro ltimos milhes de anos, respeitando, todavia, as mais elevadas normas cientficas e convocando, como necessrio, estudiosos pertencentes a todo um leque de pases, culturas, ideologias e tra-dies histricas. Trata -se de um empreendimento continental, internacional e interdisciplinar, de grande envergadura.

    Em concluso, obrigo -me a sublinhar a importncia dessa obra para a frica e para todo o mundo. No momento em que os povos da frica lutam para se unir e para, em conjunto, melhor forjar seus respectivos destinos, um conhe-cimento adequado sobre o passado da frica, uma tomada de conscincia no tocante aos elos que unem os Africanos entre si e a frica aos demais continen-tes, tudo isso deveria facilitar, em grande medida, a compreenso mtua entre os povos da Terra e, alm disso, propiciar sobretudo o conhecimento de um patrimnio cultural cuja riqueza consiste em um bem de toda a Humanidade.

    Bethwell Allan OgotEm 8 de agosto de 1979

    Presidente do Comit Cientf ico Internacional para a redao de uma Histria Geral da frica

  • XXXIIntroduo Geral

    O presente volume da Histria Geral da frica refere-se ao longo perodo que se estende do final do Neoltico isto , em torno do VIII milnio antes da Era Crist at o incio do sculo VII da Era Crist.

    Esse perodo da histria africana, o qual abrange cerca de 9 mil anos, foi abordado, depois de alguma hesitao, considerando-se quatro zonas geogrficas principais:

    o corredor do Nilo, Egito e Nbia (captulos 1 a 12); a zona montanhosa da Etipia (captulos 13 a 16); a parte da frica comumente denominada Magreb e seu interior saariano

    (captulos 17 a 20); o restante da frica, inclusive as ilhas africanas do oceano ndico

    (captulos 21 a 29).

    Essa diviso determinada pela compartimentao que atualmente caracteriza a pesquisa em histria da frica. Poderia parecer mais lgico organizar o volume de acordo com as principais zonas ecolgicas do continente, oferecendo cada uma delas condies de vida semelhantes a todos os agrupamentos humanos que as habitam, sem que haja barreiras naturais a impedir o intercmbio (cultural ou de outro tipo) no interior de uma mesma regio.

    Nesse caso, obteramos um quadro inteiramente diferente: partindo do norte e seguindo em direo ao sul, teramos aquilo que, desde o sculo VIII da Era

    INTRODUO GERALG. Mokhtar colaborao de J. Vercoutter

  • XXXII frica antiga

    Crist, denominado ilha do Magreb de geologia, clima e ecologia geral predominantemente mediterrnicos e a larga faixa subtropical do Saara com seu acidente tectnico, o vale do Nilo. Em seguida, teramos a zona das grandes bacias fluviais subtropicais e equatoriais, com sua costa atlntica. Depois, a leste viriam as terras altas da Etipia e o Chifre da frica, voltado para a Arbia e o oceano ndico. Finalmente, viria a regio dos Grandes Lagos equatoriais, ligando as bacias do Nilo, Nger e Congo frica meridional e seus anexos: Madagscar e outras ilhas ocenicas prximas frica.

    Infelizmente, a adoo dessa diviso mais lgica do que aquela que tivemos que utilizar invivel. O pesquisador que deseja estudar a histria da frica na Antiguidade , de fato, consideravelmente tolhido pelo peso do passado. A compartimentao que a ele se impe e que se reflete no plano aqui adotado deriva, em grande parte, da colonizao dos sculos XIX e XX: o historiador, fosse ele um colono interessado no pas em que vivia ou um colonizado refletindo sobre o passado de seu povo, encontrava-se, a contragosto, confinado a limites territoriais arbitrariamente fixados. Para ele era difcil, se no impossvel, estudar as relaes com pases vizinhos, embora, do ponto de vista histrico, esses pases e o pas que o interessava diretamente quase sempre formassem um todo. Esse considervel peso do passado no desapareceu completamente; em parte, por inrcia quando se cai numa rotina, tende-se a permanecer nela, ainda que a contragosto , mas tambm pelo fato de os arquivos de histria da frica, constitudos por relatrios de escavaes ou textos e iconografia, estarem, para algumas regies, reunidos, classificados e publicados segundo uma ordem arbitrria que no se aplica situao atual da frica, mas que muito difcil de se questionar.

    Este volume da Histria Geral da frica, talvez mais ainda do que o volume anterior, teve que se apoiar em suposies. O perodo que ele abrange obscuro, devido escassez de fontes, em geral, e de fontes precisamente datadas, em particular. Isso se aplica tanto s desequilibradas colees de fontes arqueolgicas quanto s fontes escritas e figuradas, exceto no que diz respeito a algumas regies relativamente privilegiadas, como o vale do Nilo e o Magreb. essa falta de bases documentais slidas que torna necessrio o recurso a suposies, uma vez que fatos seguramente estabelecidos constituem excees.

    Um outro ponto deve ser enfatizado: as fontes arqueolgicas de que o historiador dispe so bastante inadequadas. As escavaes no se distribuem de maneira uniforme por todo o continente. Em outras partes no h a mesma densidade de escavaes que encontramos principalmente ao longo da costa, no interior da franja setentrional e, sobretudo, no vale do Nilo, na regio que se estende do mar at a Segunda Catarata.

  • XXXIIIIntroduo Geral

    Infelizmente, essa falta de documentos arqueolgicos no pode ser suprida pela narrativa de viajantes estrangeiros contemporneos dos eventos ou fatos que compem este livro. A natureza hostil e a extenso do continente desencorajaram, na Antiguidade, como depois, a penetrao de forasteiros. Notaremos que as viagens de circunavegao contriburam muito para elucidar a histria da frica. Pelo que se sabe at agora, a frica o nico continente em relao ao qual isso ocorreu (cf. captulos 18 e 22).

    As consideraes acima explicam por que a histria da frica, de -7000 a +700, ainda consiste amplamente em suposies. No entanto, essas suposies nunca so infundadas; baseiam-se em informaes reais, ainda que raras e insuficientes. A tarefa daqueles que contriburam para este trabalho foi coletar, examinar e avaliar essas fontes. Sendo especialistas nas regies cuja histria por mais fragmentria que seja eles investigam, apresentam aqui a sntese daquilo que pode ser legitimamente deduzido, a partir dos documentos de que dispem. As suposies que apresentam, embora sujeitas a reexame quando se puder contar com novas fontes, certamente proporcionaro estmulo e indicaro linhas de pesquisa para os futuros historiadores.

    Entre as zonas nebulosas que ainda escondem de ns a evoluo histrica da frica, talvez uma das mais densas seja a que envolve os primeiros habitantes do continente. Mesmo hoje em dia pouco se sabe a respeito desses habitantes. As vrias teses apresentadas que frequentemente se apiam em um nmero insuficiente de observaes cientificamente vlidas so de difcil comprovao, numa poca em que a antropologia fsica est em processo de rpida mudana. O prprio monogenismo (cf. captulo 1), por exemplo, ainda apenas uma hiptese de trabalho. Alm disso, o enorme lapso de tempo transcorrido entre o aparecimento de seres pr ou proto-humanos, descobertos no vale do Omo e em Olduvai (cf. volume 1), e de seres de tipo humano bem definido, notadamente na frica meridional, deve, infelizmente, levar-nos a considerar a ideia de continuidade ininterrupta e evoluo in situ como simples ponto de vista, pelo menos at que se obtenham provas ou se descubram elos intermedirios desse processo.

    Reveste-se de grande importncia a estimativa da densidade populacional da frica durante o perodo crucial que vai de -8000 a -5000, por ser este o perodo de surgimento das culturas que mais tarde se diferenciariam. Uma alta densidade populacional pode estimular o desenvolvimento da escrita, ao passo que uma baixa densidade pode torn-lo intil. A originalidade do antigo Egito em relao ao resto da frica no mesmo perodo talvez resida principalmente no fato de que a alta densidade populacional observada na Antiguidade ao

  • XXXIV frica antiga

    longo das margens do Nilo, entre a Primeira Catarata e a poro meridional do Delta, tenha, pouco a pouco, tornado necessrio o uso da escrita para coordenar o sistema de irrigao, fundamental para a sobrevivncia dos povos a fixados. Em contrapartida, o uso da escrita no foi essencial ao sul da catarata de Assu, regio de baixa densidade populacional ocupada por pequenos grupos somticos que se mantinham independentes uns dos outros. Como se v, lamentvel que a densidade populacional durante esse perodo permanea no mbito das suposies.

    Finalmente, a ecologia, que sofreu considerveis alteraes tanto no espao como no tempo, desempenhou um papel muito importante. A ltima fase mida do Neoltico terminou por volta de -2400, durante o perodo histrico, quando os faras da V dinastia reinavam no Egito. As condies climticas e, portanto, as condies agrcolas existentes na aurora das primeiras grandes civilizaes da frica no eram as mesmas que iriam prevalecer mais tarde, e isso deve ser levado em conta quando se estudam as relaes dessas civilizaes com os povos vizinhos. O meio ambiente de -7000 a -2400 - um perodo de 4600 anos, que representa mais da metade do perodo estudado neste volume era muito diferente daquele da segunda metade do III milnio. Este ltimo parece ter sido muito semelhante ao meio ambiente atual, e marcou profundamente as sociedades humanas que nele se desenvolveram. A vida em comunidade no e no pode ser a mesma nas grandes zonas desrticas subtropicais do norte e do sul e na floresta equatorial, nas cadeias de montanhas e nas bacias fluviais, nos pntanos e nos grandes lagos. A influncia dessas grandes zonas ecolgicas foi fundamental para o estabelecimento das rotas que permitiram o deslocamento de um domnio a outro: do Magreb, da montanhosa Etipia ou do vale do Nilo para as bacias centrais dos rios Congo, Nger e Senegal, por exemplo; ou, ainda, da costa atlntica para o mar Vermelho e o oceano ndico. No entanto, tais rotas so ainda muito pouco conhecidas. Supe-se que elas tenham existido; isto , sua existncia muito mais presumida do que efetivamente conhecida. Um estudo arqueolgico sistemtico a esse respeito nos ensinaria muito sobre a histria da frica. Na verdade, s poderemos empreender um estudo frutfero das migraes entre -8000 e -2500 que se seguiram s grandes mudanas climticas e alteraram profundamente a distribuio dos agrupamentos humanos na frica quando essas rotas forem descobertas e exploradas a fundo.

    At o momento, dispomos de pouqussimos pontos de referncia para determinadas rotas. at possvel que haja algumas totalmente desconhecidas para ns. Um estudo das fotografias de satlites provavelmente traria novos esclarecimentos sobre os principais eixos antigos de comunicao transafricana,

  • XXXVIntroduo Geral

    bem como sobre as rotas secundrias, no menos importantes. No entanto, ainda no se empreendeu nenhum estudo sistemtico dessas fotografias. Um tal estudo nos possibilitaria orientar e facilitar a verificao arqueolgica em campo, o que seria essencial, entre outras coisas, para a avaliao das influncias recprocas entre as principais reas culturais da Antiguidade. Talvez seja este o domnio para o qual mais podero contribuir as pesquisas, no futuro.

    Como se v, os captulos do volume II da Histria Geral da frica constituem pontos de partida para pesquisas futuras mais do que relatos de fatos bem estabelecidos. Estes so, infelizmente, bastante raros, exceto para algumas regies muito pequenas se comparadas imensa extenso do continente africano.

    O vale do Nilo, do Bahr el-Ghazal, ao sul, at o Mediterrneo, ao norte, ocupa um lugar muito especial na histria da frica antiga, devido a vrios fatores: primeiro, sua posio geogrfica; depois, natureza particular de sua ecologia em relao ao resto do continente; finalmente, e acima de tudo, abundncia relativa, mas sem paralelo na frica de fontes originais precisamente datadas, que nos permitem acompanhar sua histria desde o fim do Neoltico por volta de -3000 at o sculo VII da Era Crist.

    Egito: posio geogrfica

    Em grande parte paralelo s costas do mar Vermelho e do oceano ndico, aos quais tem acesso atravs de depresses perpendiculares ao curso do rio, o vale do Nilo, ao sul do 8. paralelo norte at o Mediterrneo, abre-se amplamente tambm para oeste, graas aos vales que comeam nas regies do Chade, Tibesti e Ennedi e terminam no prprio Nilo. Finalmente, a larga extenso do Delta, os osis da Lbia e o istmo de Suez do-lhe amplo acesso ao Mediterrneo. Dessa maneira, aberto para leste e oeste, para o sul e o norte, o corredor do Nilo uma zona de contatos privilegiados no apenas entre as regies africanas que o margeiam, mas tambm com os centros mais distantes das civilizaes antigas da pennsula Ar-bica, do oceano ndico e do mundo mediterrneo, tanto oriental como ocidental.

    Entretanto a importncia dessa posio geogrfica variou ao longo do tempo. Na frica, o final do Neoltico caracterizou-se por uma fase mida, que no hemisfrio norte durou at -2300, aproximadamente. Durante esse perodo, que se estendeu do VII ao III milnio antes da Era Crist, as regies a leste e a oeste do Nilo desfrutaram de condies climticas favorveis fixao humana. Consequentemente, os contatos e relaes entre o leste e o oeste do continente foram to importantes quanto os estabelecidos entre o norte e o sul.

  • XXXVI frica antiga

    Por outro lado, a partir de -2400, o ressecamento da parte da frica compreendida entre os paralelos 13 e 15, ao norte, fez com que o vale do Nilo se tornasse a principal rota de comunicao entre a costa mediterrnea do continente e o que hoje se designa como frica ao sul do Saara. Era atravs do vale do Nilo que matrias-primas, objetos manufaturados e, sem dvida, ideias transitavam do norte para o sul e vice-versa,

    evidente que, devido s variaes climticas, a posio geogrfica do mdio vale do Nilo, como a do Egito, no teve, no perodo entre -7000 e -2400, a mesma importncia, ou, mais exatamente, o mesmo impacto que veio a ter depois dessa poca. Durante esse tempo, os grupos humanos e as culturas puderam deslocar-se livremente, pelo hemisfrio norte, entre o leste e o oeste, assim como entre o norte e o sul. Esse foi o perodo primordial da formao e da individualizao das culturas africanas. Foi tambm o perodo em que as relaes entre leste e oeste, entre o vale do Nilo e o Oriente Mdio, de um lado, e entre a frica ocidental e a oriental, de outro, foram mais fceis. De -2400 at o sculo VII da Era Crist, entretanto, o vale do Nilo tornou-se a rota privilegiada entre o norte e o sul do continente. Foi atravs desse vale que se realizaram os vrios tipos de intercmbio entre a frica negra e o Mediterrneo.

    Fontes para a histria do vale do Nilo na Antiguidade

    A importncia e a situao privilegiada do vale do Nilo devem-se posio que ocupa na poro nordeste do continente. O vale teria permanecido apenas um tema intelectualmente estimulante, servindo, no mximo, como uma introduo pesquisa histrica, se no fosse tambm a regio mais rica da frica em fontes histricas antigas. Essas fontes nos permitem controlar e avaliar o papel dos fatores geogrficos na histria da frica como um todo, a partir de -5000. Permitem-nos tambm alcanar um conhecimento acurado dos eventos histricos do Egito propriamente dito, bem como, mais especialmente, fazer uma ideia precisa da cultura material, intelectual e religiosa do baixo e mdio vale do Nilo, at os pntanos do Bahr el-Ghazal.

    As fontes de que dispomos so de natureza arqueolgica portanto, mudas, pelo menos aparentemente e literria. As primeiras, especialmente para os perodos mais antigos, s foram exploradas e organizadas recentemente. At o momento, elas no apenas so incompletas e irregulares como tambm tm sido pouco ou mal utilizadas. As fontes literrias, por outro lado, tm uma longa tradio.

  • XXXVIIIntroduo Geral

    Na verdade, muito antes de Champollion, o misterioso Egito j despertava curiosidade. No perodo arcaico, no sculo VI antes da Era Crist, os sucessores dos pr-helenos j haviam chamado a ateno para a diferena entre os seus costumes e crenas e os do vale do Nilo. Graas a Herdoto, essas observaes chegaram at ns. Com o objetivo de compreender melhor seus novos sditos, os reis ptolomaicos, surpreendidos pela originalidade da civilizao egpcia, patrocinaram a compilao de uma histria do Egito faranico, no sculo III antes da Era Crist, abordando aspectos polticos, religiosos e sociais. Mneton, egpcio de nascimento, foi encarregado de escrever essa histria geral do Egito. Tinha acesso aos arquivos antigos e sabia l-los. Se seu trabalho tivesse chegado

    figura 1 O Nilo, fotografado por um satlite Landsat em rbita a 920 km da Terra (do artigo de Farouk El-Baz, Le Courrier de lUnesco, jul. 1977, foto Nasa, EUA). O conjunto de sessenta fotografias do Egito tiradas pelo satlite mostra nitidamente (em alto contraste) a estreita faixa frtil constituda pelo vale do Nilo, bem como o tringulo do Delta e o osis do Fayum. O deserto ocupa dois teros da imagem, a oeste do Nilo. Na parte inferior, podem-se distinguir fileiras de dunas desenhando curvas paralelas.

  • XXXVIII frica antiga

    at ns na ntegra, teria evitado muitas incertezas. Infelizmente desapareceu quando a biblioteca de Alexandria foi queimada. Os excertos preservados em vrias compilaes, frequentemente reunidos para fins apologticos, fornecem-nos, no obstante, um slido esquema da histria egpcia. Na verdade, as 31 dinastias manetonianas continuam sendo, at hoje, a base da cronologia relativa do Egito.

    O fechamento dos ltimos templos egpcios sob Justiniano I, no sculo VI da Era Crist, levou ao abandono das formas faranicas de escrita hieroglficas, hierticas ou demticas. Apenas a linguagem falada sobreviveu, no copta; as fontes escritas caram gradualmente em desuso. Foi s em 1822, quando Jean-Franois Champollion (1790-1832) decifrou a escrita hieroglfica, que se pde novamente ter acesso aos documentos antigos, escritos pelos prprios egpcios.

    Essas fontes literrias egpcias antigas devem ser utilizadas com reservas, pois tm uma natureza particular. Frequentemente foram elaboradas com um propsito especfico: enumerar as realizaes de um fara, para mostrar que ele cumprira plenamente sua misso terrestre de manter a ordem universal desejada pelos deuses (Mat) e de resistir s foras do caos que cada vez mais ameaavam essa ordem. Podiam tambm ter o propsito de garantir eterna devoo e lembrana aos faras que fizeram por merecer a gratido das gerae