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Montes Claros/MG - 2014

Alysson Luiz Freitas de JesusDayse Lúcide Silva Santos

2ª edição atualizada porDayse Lúcide Silva Santos

História do BrasilColônia I

2ª EDIÇÃO

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2014Proibida a reprodução total ou parcial.

Os infratores serão processados na forma da lei.

EDITORA UNIMONTESCampus Universitário Professor Darcy Ribeiros/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG)

Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089Correio eletrônico: [email protected] - Telefone: (38) 3229-8214

Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge - UnimontesFicha Catalográfica:

Copyright ©: Universidade Estadual de Montes Claros

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES

REITOR

João dos Reis Canela

VICE-REITORAMaria Ivete Soares de Almeida

DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕESHumberto Velloso Reis

EDITORA UNIMONTESConselho EditorialProf. Silvio Guimarães – Medicina. Unimontes.Prof. Hercílio Mertelli – Odontologia. Unimontes.Prof. Humberto Guido – Filosofia. UFU.Profª Maria Geralda Almeida. UFG.Prof. Luis Jobim – UERJ.

Prof. Manuel Sarmento – Minho – Portugal.Prof. Fernando Verdú Pascoal. Valencia – Espanha.Prof. Antônio Alvimar Souza - Unimontes.Prof. Fernando Lolas Stepke. – Univ. Chile.Prof. José Geraldo de Freitas Drumond – Unimontes.Profª Rita de Cássia Silva Dionísio. Letras – Unimontes.Profª Maisa Tavares de Souza Leite. Enfermagem – Unimontes.Profª Siomara A. Silva – Educação Física. UFOP.

CONSELHO EDITORIAL

Ana Cristina Santos PeixotoÂngela Cristina BorgesBetânia Maria Araújo PassosCarmen Alberta Katayama de GasperazzoCésar Henrique de Queiroz PortoCláudia Regina Santos de AlmeidaFernando Guilherme Veloso QueirozJânio Marques DiasLuciana Mendes OliveiraMaria Ângela Lopes Dumont MacedoMaria Aparecida Pereira QueirozMaria Nadurce da SilvaMariléia de SouzaPriscila Caires Santana AfonsoZilmar Santos Cardoso

REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESACarla RoselmaWaneuza Soares Eulálio

REVISÃO TÉCNICAKaren Torres C. Lafetá de AlmeidaViviane Margareth Chaves Pereira Reis

DESIGN EDITORIAL E CONTROLE DE PRODUÇÃO DE CONTEÚDOAndréia Santos DiasCamilla Maria Silva RodriguesFernando Guilherme Veloso QueirozMagda Lima de OliveiraSanzio Mendonça HenriiquesWendell Brito MineiroZilmar Santos Cardoso

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Diretora do Centro de Ciências Biológicas da Saúde - CCBS/UnimontesMaria das Mercês Borem Correa Machado

Diretor do Centro de Ciências Humanas - CCH/UnimontesAntônio Wagner Veloso Rocha

Diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA/UnimontesPaulo Cesar Mendes Barbosa

Chefe do Departamento de Comunicação e Letras/UnimontesSandra Ramos de Oliveira

Chefe do Departamento de Educação/UnimontesAndréa Lafetá de Melo Franco

Chefe do Departamento de Educação Física/UnimontesRogério Othon Teixeira Alves

Chefe do Departamento de Filosofia/UnimontesÂngela Cristina Borges

Chefe do Departamento de Geociências/UnimontesAntônio Maurílio Alencar Feitosa

Chefe do Departamento de História/UnimontesFrancisco Oliveira Silva

Jânio Marques Dias

Chefe do Departamento de Estágios e Práticas EscolaresCléa Márcia Pereira Câmara

Chefe do Departamento de Métodos e Técnicas EducacionaisHelena Murta Moraes Souto

Chefe do Departamento de Política e Ciências Sociais/UnimontesMaria da Luz Alves Ferreira

Ministro da EducaçãoAloizio Mercadante Oliva

Presidente Geral da CAPESJorge Almeida Guimarães

Diretor de Educação a Distância da CAPESJoão Carlos Teatini de Souza Clímaco

Governador do Estado de Minas GeraisAntônio Augusto Junho Anastasia

Vice-Governador do Estado de Minas Gerais

Alberto Pinto Coelho Júnior

Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino SuperiorNarcio Rodrigues da Silveira

Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - UnimontesJoão dos Reis Canela

Vice-Reitora da Universidade Estadual de Montes Claros -UnimontesMaria Ivete Soares de Almeida

Pró-Reitor de Ensino/UnimontesJoão Felício Rodrigues Neto

Diretor do Centro de Educação a Distância/UnimontesJânio Marques Dias

Coordenadora da UAB/UnimontesMaria Ângela Lopes Dumont Macedo

Coordenadora Adjunta da UAB/UnimontesBetânia Maria Araújo Passos

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Autores

Alysson Luiz Freitas de Jesus

Mestre em História pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG e Doutorando em HistóriaSocial pela Universidade de São Paulo - USP. Atualmente é professor efetivo do Departamento deHistória da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes e professor das Faculdades Santo

Agostinho.Lattes: http://lattes.cnpq.br/8343318896504129

Dayse Lúcide Silva SantosMestre e Doutoranda em História Social Cultura – Universidade Federal de Minas Gerais/ UFMG.Atualmente é professora de História e Sociologia do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais/

IFNMG-Campus Pirapora.Lattes: http://lattes.cnpq.br/2165446647770584

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Sumário

Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

A América antes dos Portugueses: cultura nativa e sociedade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11

1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

1.2 Os vestígios dos povos da América Portuguesa e sua dispersão geográfica . . . . . . .11

1.3 Distribuição primitiva dos indígenas no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .14

1.4 Dispersão espacial dos povos brasileiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

1.5 Técnicas, estrutura social e organização política. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .18

1.6 Crenças, ritos e antropofagia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

1.7 Visões: o contato com o branco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .24

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27

Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29

A colonização Portuguesa na América: Portugal e o Brasil na era dos descobrimentos 29

2.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29

2.2 Antecedentes: Europa e Portugal nos séculos XIII e XIV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29

2.3 Tempos de expansão ultramarina portuguesa entre os séculos XIV a XVI. . . . . . . . . .33

2.4 A sociedade portuguesa: dilemas do “novo” e do “velho”. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .35

2.5 As condições técnicas para as grandes navegações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37

2.6 Descobrimento? achamento? esta é a América Portuguesa! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

2.7 Relações coloniais entre Portugal e América Portuguesa no início da conquista . . 40

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41

Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43

O início da colonização: a distribuição das terras, economia e administração . . . . . . . . .43

3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43

3.2 Brasil: preparando para colonizar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43

3.3 Organização administrativa da colônia e a efetiva colonização do Brasil. . . . . . . . . . 46

3.4 Organização judiciária brasileira colonial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

3.5 Trabalho: índios e portugueses nas relações com o pau-brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50

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3.6 A exploração econômica do açúcar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .53

Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

Unidade 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .55

Organização social e econômica da colônia: trabalho escravo, produção colonial ecultura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .55

4.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .55

4.2 A escravidão negra no Brasil: teoria e prática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

4.3 Gilberto Freyre: cultura escrava, cultura africana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .59

4.4 Cotidiano escravista na colônia: o mundo rural, o mundo urbano e as atividadese c o n ô m i c a s . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 2

4.5 Cotidiano escravista: escravos, ex-escravos e a liberdade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64

R e f e r ê n c i a s . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 7

Unidade 5 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .69

Modelos explicativos do sistema colonial: teoria e historiografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .69

5.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .69

5.2 O Sistema Colonial: concepções teóricas e cotidiano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .70

5.3 A lógica de funcionamento do sistema colonial: autores e abordagens clássicas. . .71

5.4 Cultura e sociedade colonial: autores e abordagens clássicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .73

5.5 A colônia em movimento: revisionistas e perspectivas atuais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .74

R e f e r ê n c i a s . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 5

Unidade 6 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .77

Portugal, Brasil e a União Ibérica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

6.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

6.2 A União Ibérica: motivações e consequências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .78

6.3 Os holandeses na colônia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80

6.4 Do fim da União Ibérica a remontagem do poder português no nordeste colonial 81

R e f e r ê n c i a s . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 2

R e s u m o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 3

Referências básicas, complementares e sumplementares. . .85

Atividades de Aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .89

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História - História do Brasil Colônia I

ApresentaçãoA disciplina História do Brasil Colônia I é um dos conteúdos temáticos de enorme impor-

tância para a formação do pesquisador e professor de História. A disciplina História tem as suasparticularidades e suas subdivisões. É a partir destas que você poderá compreender a discipli-na em sua totalidade, pois a separação da história em diversas etapas permite compreender osprocessos sociais, políticos, econômicos e culturais que caracterizam a História em seus diversostempos. Todavia, deve compreender que aqui apresentaremos o conteúdo organizado didatica-mente e que o mesmo deve compreendido de modo a relacionar-se com os demais estudadosao longo do curso.

Você, enquanto historiador e professor, perceberá que a disciplina História do Brasil ColôniaI será de suma importância para a compreensão não apenas da História do Brasil, como tambémda formação de toda a era moderna. Em período posterior você terá a oportunidade de estudar asequência da disciplina, analisando os séculos XVII e XVIII no sistema colonial.

Além disso, o estudo do período colonial brasileiro é uma oportunidade temática de repen-

sar valores, culturas e práticas políticas dos homens do passado, neste caso, do passado colonial.Essa é, indiscutivelmente, uma das grandes questões que você deve ter em mente enquanto his-toriador e professor de História, já que ela norteia a teoria e a prática da sua formação acadêmica,conforme você observou desde o início do seu curso.

Os objetivos dessa disciplina são muito claros, e podem ser pensados a partir dos seguintesaspectos:

◄ Figura 1: Clio – Deusada História

Fonte: Disponível emhttp://www.imagick.org.br/zbolemail/Bol05x05/BE05x12.html. Acesso em14/10/2013.

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UAB/Unimontes - 2º Período

• analisar a estrutura política, social e cultural da América antes dos portugueses, em especialas sociedades indígenas;

• compreender as formas de colonização portuguesa na América e as relações metrópole ecolônia;

• estabelecer uma relação entre o início da colonização portuguesa e as práticas políticas eeconômicas de Portugal para com o Brasil;

• avaliar as relações escravistas e cotidianas na dinâmica do sistema colonial;• compreender os modelos explicativos do sistema colonial a partir de uma análise historio-

gráfica;• analisar as relações Brasil-Portugal no contexto da União Ibérica.

Tendo isso em mente, esse material foi produzido e divido em seis grandes unidades, asaber:

A Primeira Unidade, intitulada “A América antes dos Portugueses: cultura nativa e socieda-de”, procura analisar a cultura e a organização das sociedades indígenas na região, a partir doestudo de seus ritos, crenças e organizações.

Na Unidade 2, “A Colonização Portuguesa na América: Portugal e o Brasil na Era dos Desco-brimentos”, o objetivo é compreender a história de Portugal, bem como o processo de expansãomarítima que culminou com a chegada ao Novo Mundo. Assim, as conquistas e o “descobrimen-to” são as principais questões abordadas nessa parte.

Na Unidade 3, “O Início da Colonização: a Distribuição das Terras, Economia e Administra-ção”, pretende-se estudar o início da colonização, bem como da organização das terras e da eco-nomia portuguesa, no primeiro século das relações coloniais entre Brasil e Portugal.

A Unidade 4, “Organização Social e Econômica da Colônia”, tem como objetivo avaliar comose deu a escravidão negra ao longo do período, evidenciando as relações cotidianas, culturais ede trabalho na América Portuguesa.

Na Unidade 5, “Modelos Explicativos do Sistema Colonial”, a abordagem adquire um tommais teórico e metodológico, pois se pretende analisar alguns dos autores que tiveram o sistemacolonial como objeto de estudo, sobretudo aqueles que pensaram sobre o sistema colonial por-tuguês na América.

Por fim, a última Unidade, “Portugal, Brasil e a União Ibérica”, objetiva compreender as rela-

ções coloniais em um momento específico, isto é, no momento de união das coroas de Portugale Espanha, período normalmente conhecido como União Ibérica. Aqui, procuramos, também,analisar as relações da Holanda junto à exploração colonial no Brasil.

Você perceberá, portanto, que essa disciplina será fundamental para todo o seu curso. Nasdemais disciplinas de História do Brasil, é imprescindível que você identifique criteriosamentecomo se deu o nosso passado colonial, bem como as metodologias para o ensino da História doBrasil Colônia.

O texto está estruturado a partir do desenvolvimento das unidades e subunidades. Você de-verá perceber que as questões para discussão e reflexão são muito importantes, e acompanhamo texto, bem como as sugestões para transitar do ambiente de aprendizagem aos sites, paraacessar bibliotecas virtuais na web, etc. As sugestões e dicas estão localizadas junto ao texto,aparecendo com os respectivos ícones. A leitura dos textos complementares indicados também

é importante, pois indicam os possíveis desenvolvimentos e ampliações para o estudo e a discus-são. São recursos que podem ser explorados de maneira eficaz, por você, pois buscam promoveratividades de observação e de investigação que permitem desenvolver habilidades próprias daanálise sociológica e exercitar a leitura e a interpretação de fenômenos sociais e culturais.

Ao planejar esta disciplina consideramos que essas questões e sugestões seriam fundamen-tais, de forma a familiarizar o acadêmico, gradativamente, com a visão e procedimentos própriosda disciplina.

Agora é com você! Explore tudo, abra espaços para a interação com os colegas, para o ques-tionamento, para a leitura crítica do texto, bem como para as atividades e leituras complementares.

Bom estudo!

Prof. Alysson Luiz Freitas de JesusProfa. Dayse Lúcide Silva Santos

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História - História do Brasil Colônia I

UNIDADE 1A América antes dos Portugueses:

cultura nativa e sociedadeDayse Lúcide Silva Santos

1.1 IntroduçãoEsta primeira unidade visa apresentar-lhe o universo cultural brasileiro antes da chegada

dos portugueses na “terra brasilis”. Para tanto discutiremos subtemas pertinentes a essa unidade,tais como: os vestígios dos povos que ocuparam a América Portuguesa, a maneira pela qual hou-ve a sua dispersão geográfica e distribuição/localização no território que mais tarde chamaremosde Brasil.

Ainda, seremos apresentados aos instrumentos técnicos utilizados pelos indígenas, bemcomo a maneira pela qual eles estabeleceram uma estrutura social e organização política pró-prias de suas relações socioculturais e com o meio físico no qual sobreviveram.

Tudo isso não será estudado sem antes compreendermos as crenças, os rituais e as transfor-mações advindas do contato com o homem branco português. Optamos, sobretudo, por eviden-ciar um olhar sobre o indígena brasileiro que o colocou no centro de nossas preocupações, o quenos levou a evitar o olhar etnocêntrico, privilegiando a diferença e a compreensão do outro emseu fazer cotidiano.

Assinalamos para você alguns conceitos chaves visando a compreensão dessa história que,

podemos dizer, é produzida na fronteira com outras disciplinas-irmãs da História: a Antropologia,a Geografia e a Arqueologia.

Por fim, chamamos a sua atenção para as dicas de estudos que inserimos ao longo dessematerial. Sugerimos alguns filmes e sites para que você, juntamente com seus colegas, possaaprofundar os temas apresentados aqui e refletir sobre as questões suscitadas.

Não deixe de esclarecer todas as suas dúvidas com seu professor formador e com os tutores.Certamente, todos nós desejamos contribuir e ver o seu crescimento.

Desejamos boa aula!

1.2 Os vestígios dos povosda América Portuguesa e suadispersão geográfica

Você já se perguntou sobre quem eram os habitantes da terra que hoje ocupamos? Já seperguntou o porquê de chamá-los de índios ou mesmo o motivo de comemorarmos o descobri-mento da América Portuguesa? Essas questões são fundamentais para pensarmos a história donosso continente e especialmente a história brasileira antes do contato com os portugueses.

Então vamos lá, esse é um convite para aprofundarmos um pouco mais em nossa história!

O continente americano abrigou grande quantidade de povos. Nesse item vamos observara localização dos povos da América, enfatizando os indígenas brasileiros.O povoamento da América é de difícil datação, entretanto, existem vestígios do desenvolvi-

mento de culturas americanas desde o período neolítico. Também, é preciso compreender que

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UAB/Unimontes - 2º Período

o desenvolvimento cultural dos povos americanos ocorreu num processo que durou séculos equase sempre envolveu grupos diversos. Assim, diversas culturas se desenvolveram nessas terras,a saber: os Esquimós, os Sioux, os Apaches, os Astecas, os Maias, os Aruaques, os Caribes, os Gua-ranis, os Tupis, os Jês, entre outros.

Em momentos diferentes da nossa história, cada um desses povos construiu, à sua maneira,forma própria de expressão cultural, a qual sofreu diversas mudanças ao longo do tempo, esta-

belecendo diferentes maneiras de apropriação e relacionamento com a natureza.Para visualizar melhor a distribuição espacial dos povos americanos. Vejamos a figura 2.

Do ponto de vista do europeu, a História brasileira foi contada e registrada a partir da che-gada de Pedro Álvares Cabral (1467/68–1520/26) em nossas terras. Para se ter uma idéia, come-moramos os 500 anos do descobrimento do Brasil, pois consideramos que a nossa história te-ria iniciado após a chegada dos europeus. Podemos afirmar que essa visão é eurocêntrica. Damesma maneira, se tomarmos o conceito de índio perceberemos que ele também obedece a umconstruto social. Senão, vejamos:

• Quando Cristóvão Colombo (1437/48–1506) “descobriu” a América ele chamou os habitan-tes do território de “índios”, pois pensou ter chegado às Índias;

• Outros termos são utilizados para designar o habitante da América pré-colombiana, qualseja: aborígine, ameríndio, autóctone, brasilíndio, gentio, negro da terra, bugre, silvícola, ín-cola, entre outros. Enfim, o termo “índio” foi utilizado e pode ser compreendido à luz da afir-mação do sociólogo Darcy Ribeiro, o qual se baseou na autoidentificação étnica das comu-nidades, considerando que o índio é todo o indivíduo reconhecido como membro de umacomunidade pré-colombiana que se identifica etnicamente diversa da nacional e é conside-rada indígena pela população brasileira com que está em contato. (RIBEIRO, 1986).

DICA

Teoria de Bering:Esta teoria procura ex-plicar que a ocupação

da América foi feita emetapas e a chegada dos

primeiros grupos deu--se através do Estreitode Bering, daí o nome

da teoria. Durante umadas glaciações, época

em que o nível do marbaixava cerca de 50

metros, nesse local seestabeleceu uma espé-

cie de ponte ligandoa Sibéria Asiática e o

Alasca americano, poruma faixa estreita de

terra à vista, por ondeteriam passado os

grupos humanos para aAmérica.

Essa “ponte” pareceter existido, segundo

a teoria, entre 50 e 40mil anos atrás e deu

passagem aos mamífe-ros; reapareceu entre

28 e 12 mil anos atrás,dando passagem pos-sivelmente aos grupos

humanos. Essa teoriaafirma ainda que o po-voamento da Américado Sul se deu após umperíodo de degelo degrandes geleiras que

recobriam a Baía deHudson, na América

do Norte. Esse degeloocorreu aproximada-mente entre 27 e 13

anos atrás.Existem outras teorias

que procuram expli-car o povoamento da

América, especialmentea América do Sul.

Sugestão: pesquise

sobre essas teorias eprocure entender osmotivos de hoje dizer-

mos que há questio-namentos à teoria de

Bering. Discuta com oseu professor formador.

Figura 2: Mapa daAmérica.

Fonte: HUMBERG, 1996,p. 19.

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História - História do Brasil Colônia I

Esses povos ocuparam o território há muito tempo. Na busca de alimentos e melhores cli-mas, o homem foi se espalhando por todos os continentes, até chegar ao que se convencionouchamar de América. Não há consenso entre os pesquisadores antropólogos e arqueólogos quan-

to a data inicial do povoamento, entretanto, vale ressaltar esse dissenso da seguinte forma:• A partir de pesquisas arqueológicas houve a fixação aproximada do homem na América do

Sul, mais especificamente no Piauí – sítio arqueológico de Raimundo Nonato – há cerca de40.000 anos. Nem todos os especialistas concordam com uma data tão recuada e criticam apesquisa da professora em questão.

• Outros pesquisadores fixam datas mais recentes para o povoamento de nosso território, cer-ca de 12 a 15 mil anos antes de cristo, baseando-se nas datações de restos humanos encon-trados em diversos sítios arqueológicos existentes no Brasil, como é o caso de Lagoa Santa/MG (16.000 anos) e de Ibicuí no Rio Grande do Sul, com cerca de 12.700 anos.É relevante ressaltar que a trajetória das nações indígenas no atual Brasil não pode ser com-

preendida de maneira homogênea, pois estes possuíam diferenças marcantes, quer sejam dife-renças linguísticas, quer seja na sua cor de pele, altura, corpulência, etc.

É preciso compreender que à época em que os Portugueses chegaram ao Brasil encontra-

ram diversas nações indígenas ou nativas, povos dos quais falaremos no item seguinte.

◄ Figura 3: ÍndiosKrahôs da aldeia RioVermelho, em 2004.Parque Nacional daSerra do Capivari.

Fonte: Editado em RevistaNossa História. Ano 2, nº22. Agosto/2005.

PARA SABER MAIS

Outra teoria, defendidapor cientistas do Museudo Homem em Paris e já recriada por arque-ólogos, afirma que ohomem teria migradoa partir da Oceania, na-vegando em embarca-

ções primitivas, indo deilha em ilha até chegara América, um processoque teria demorado 6mil anos. Atualmente,as duas teorias sãoaceitas, sendo provávelque os dois processosocorreram simultanea-mente, ao passo que opovoamento da Amé-rica teria se dado tantopelo norte como sul docontinente. Confira nomapa da figura 4

◄ Figura 4: Mapa-mundi.

Fonte: Disponível emhttp://fabiopestana-ramos.blogspot.com.br/2011/08/o-surgimento--do-homem-os-primeiros.html Acesso em19/08/2013.

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UAB/Unimontes - 2º Período

1.3 Distribuição primitiva dosindígenas no Brasil

Podemos criar diversas maneiras de classificar os povos da América visando o seu estudocientífico. Consideramos mais apropriado o estudo da antropóloga Betty Meggers que classificaos povos da América de acordo com a apropriação/alteração da natureza/espaço em que vive-ram ao longo do tempo. Nesse caso, procurando identificar traços culturais apresentados por es-ses povos que nos permitam aproximá-los. Assim, os dividimos em:

a) Povos caçadores e coletores (ex: Sioux, Esquimós, Tehuelches, Apaches e etc)b) Povos agricultores de florestas tropicais (ex: Guaranis, Tupis, Jês, Aruaques e etc)c) Civilizações agrícolas (ex: Incas, Maias e Astecas).Essa classificação será a adotada nesse manual exclusivamente para facilitar a nossa com-

preensão geral do processo histórico vivenciado pelos indígenas na América, notadamente paracompreender o estudo da História brasileira, pois teremos em nosso território os povos classifi-cados como caçadores e coletores, bem como os agricultores de florestas tropicais. Ressaltamos

que as ditas grandes civilizações agrícolas serão estudadas em momento próprio deste curso.Existem questionamentos quanto a essas terminologias, pois que as mesmas hierarquizam os in-dígenas em sua experiência histórica, não sendo essa a nossa intenção.

É preciso destacar que os indígenas brasileiros não estavam na estaca zero da sua experi-ência cultural e material, haja vista que os tupis do litoral brasileiro desenvolviam a agricultura.Entretanto, isso não quer dizer que eles possuíam nível cultural superior a quaisquer outros po-vos no Brasil. Ora, o conhecimento antropológico nos sensibiliza para a seguinte questão: nãoexistem culturas superiores ou inferiores, mas sim culturas diferentes entre si.

Os estudos mais recentes ressaltam que em função do aumento populacional, a busca demelhores locais para adquirir alimentos, as guerras entre as tribos e as migrações constantes con-duziram tais nativos a diferentes conformações linguísticas e culturais.

Sendo assim, podemos agrupar as línguas indígenas faladas no Brasil em troncos linguísti-

cos e famílias. Essa classificação obedece a critérios de semelhança e de origem comum, e con-sidera a diversificação que ocorreu ao longo do tempo, mas que manteve estrutura semelhanteque nos permitiu aproximá-las.

Destacamos pelo menos duas classificações: a primeira delas foi proposta pelo Prof. AryonDall’Igna Rodrigues (1986), publicada em Línguas brasileiras: para o conhecimento das línguasindígenas, e propõe a divisão dos troncos linguísticos brasileiros como mostra o quadro 1.

QUADRO 1Classificação das línguas indígenas no Brasil

TRONCOLINGUÍSTICO

FAMÍLIAEXEMPLO DE ALGUMASLÍNGUAS

Tronco

tupi

TUPI-GUARANI, ARIKÉM, AWETÍ, JURUNA,

MAWÉ, MONDÉ, PUROBORÁ, MUNDURUKÚ,RAMARAMA, TUPARÍ 

Família: Tupi-Guarani Línguas:

Asuriní do Xingu, Asurini doTocantins; Akwáwa; Amanayé;Apiaká; Anambé; Araweté

TroncoMacro-Jê

BORÓRO, JÊ, KRENÁK, GUATÓ, MAXAKALÍ,OFAYÉ, KARAJÁ, IKBAKTSÁ, YATÊ.

Família: JêLínguas: Akwén; Apinayé;Kaingáng; Kayapó; Panará(Kren-akore, Kren-akarore);Suyá; Timbira; Xokléng

Outras nãoafiliadasaos troncoslinguísticos

acima citados

AIKANÁ, ARAWÁ, ARÚAK (Arawak, Maipure),GUAIKURU, IRANXE, JABUTÍ, KANOÊ, KARIB,KATUKíNA, KOAZÁ (KWAZÁ), MÁKU, MURA,NAMBIKWÁRA, PANO, TRUMÁI TIKÚNA,

TUKANO, YANOMAMI, TXAPAKÚRA

Família: Yanomami.Línguas: Ninam; Sanumá;Yanomám; Yanomami

Fonte: Classificação de Aryon Dall’Igna Rodrigues, divulgada na obra Línguas brasileiras : para o conhecimento das línguasindígenas, São Paulo: Loyola, (1986), atualizada em 1997 para o site do Instituto Socioambiental (ISA). Adaptado do site:http://br.geocities.com/indiosbr_nicolai/classif.htm Acesso em dez/2008. Acesso em 19/08/2013.

DICA

Maurício Martins Alvesescreveu uma tese de

doutorado extrema-

mente interessante quevale a pena você ler.Título: Formas de Viver:

formação de laços pa-rentais entre cativos em

Taubaté, 1680-1848Sob a orientação do

professor Manolo Flo-rentino, esse trabalho

foi cuidadosamentedocumentado a partir

de inventários, listasde habitantes e outrosdocumentos inéditos,

onde o autor esmiuçou

a composição da popu-lação escrava (incluin-do índios no primeiroperíodo) de Taubaté,

cobrindo quase dois sé-culos. Trata-se de uma

contribuição originale importante para a

história econômica co-lonial e para a história

dos índios, revelando apresença e persistência

do trabalho indígenaaté meados do século

XVIII. As estatísticas ar-

roladas e apresentadasem forma de tabelas e

gráficos proporcionamuma base quantita-tiva importante no

dimensionamento dosmovimentos da popu-

lação indígena. Ondeencontrar?

Baixe do site abaixo e...boa leitura!

http://www.dominio-publico.gov.br

ALVES, Maurício Mar-tins. Formas de Viver:

formação de laçosparentais entre cativos

em Taubaté, 1680-1848.Tese de Doutorado em

História, UFRJ, 2001(orientador Manolo

Florentino), 416p.

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História - História do Brasil Colônia I

A segunda proposição advém de diversos estudiosos que defendem a existência de quatrograndes troncos linguísticos, a saber: Tupi, Macro-Jê, Aruaque e Caraíba. Tanto na primeira clas-sificação, quanto nesta segunda, há a identificação de diversas línguas isoladas, sem filiação anenhum dos troncos ditos acima. Veja a distribuição espacial no mapa da figura 5.

1.4 Dispersão espacial dos povosbrasileiros

Você já se perguntou quem eram e de onde vieram os homens e mulheres com quem os por-tugueses se depararam e que posteriormente viriam a ser designados índios?

Ao longo do tempo, durante o processo de povoamento do Brasil, observamos que houveuma diferenciação dos povos que ocupavam a nossa terra. Há cerca de 5 mil anos se tem notícia damovimentação do povo do tronco macrotupi, na região do baixo Amazonas. Greg Urban, em Histó-ria das Culturas Brasileiras segundo as línguas nativas, identifica que:

Há cerca de 2 a 3 000 anos atrás, ter-se-á verificado a primeira grande movi-mentação expansionista da família Tupi-Guarani, que provocou a migraçãodos Cocama e dos Omágua para norte, rumo à região amazônica, dos Guaiaquipara sul, em direcção ao Paraguai e dos Xirionó para sudoeste, onde penetra-ram em território actualmente pertencente à Bolívia. Seguidamente eclodiu a

fase de separação do núcleo central, que levou os Pauserna e os Cauaib paraoeste, os Oiampi para as Guianas, os Caiabi e os Camaiurá para o curso do Xin-gu, os Tapirapé e os Teneteára para as imediações da foz do Amazonas e osXetá para o extremo sul do Brasil. (URBAN, 1992, p. 92)

Segundo Cougo (2000), em artigo publicado na revista Camões, cujo título é A gente da ter-ra, afirma que essa última cisão no grupo TUPI-GUARANI deveu-se ao crescimento da populaçãoe aos terríveis efeitos de um processo prolongado de seca que obrigou, provavelmente, os tupi--guaranis a buscarem lugares outros que proporcionassem condições de subsistência adequadaa esses “horticultores da floresta tropical” e à produção de cerâmica. Dessa maneira, buscavam:

• zonas de mata situadas na proximidade de cursos de água navegáveis;• áreas pouco acidentadas, úmidas, pluviosas e quentes ou, no mínimo, temperadas.

É neste sentido que as populações do Brasil vão se situar em locais próximos aos rios e seus

vales férteis, há cerca de 1 800 anos, a saber: Paraguai, Paraná, Uruguai e Jacuí, bem como os seusafluentes. A partir dessa área, irradiaram, posteriormente, para leste, ocupando paulatinamente aorla marítima compreendida entre o Rio Grande do Sul e o Ceará. Por volta do século VIII, observa-mos que esses povos foram se separando e constituindo dois grupos distintos, a saber:

◄ Figura 5: Brasil,distribuição primitivados povos indígenas

Fonte: Heber Lisboacitado por MICELLIN,2004, p.218

DICA

Figura 6: Pinturas deEckhout - Albert vander Eckhout (Holandês,1610 - 1666)

Fonte: Disponível emhttp://www.cliohistoria.

hpg.ig.com.br. Acesso em19/08/2013.

Visite o site Clio históriae conheça um poucomais sobre as 08 ima-gens sobre a produçãode Eckhout.Discuta com seuscolegas a maneira pelaqual a mulher indígenafoi representada. Aque conclusões vocêspoderão chegar?

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UAB/Unimontes - 2º Período

• o tupi, que quer dizer “pai supremo, tronco da geração”. Abrange as populações litorâneasdo Brasil. Dedicavam-se à cultura da mandioca amarga; e

• o guarani, que quer dizer “guerra”. Abrange áreas subtropicais, como o Mato Grosso do Sul,região meridional do Brasil, Paraguai, Uruguai e nordeste da Argentina. Dedicavam-se espe-cialmente à cultura do milho.Cabral, ao desembarcar na Terra de Santa Cruz, “encontrou” os indígenas brasileiros, ou me-

lhor, os Tupis e os Guaranis, se esforçando ao máximo para completar o domínio sobre o litoralque naquele momento dispunha de alimentos fartos capazes de lhes assegurar a sobrevivência.Tal é o caso do peixe, tartarugas, moluscos, crustáceos e sal, imprescindíveis para a alimentação epara sustentar os guerreiros no processo de dominação do espaço e de outras tribos. Soma-se aessa boa alimentação a sua capacidade de organização técnica e numérica para vencer as guer-ras intertribais.

Segundo Cougo (2000), grosso modo, podem ser assim distribuídos espacialmente as na-ções indígenas (tomando os devidos cuidados relacionados às fontes disponíveis):

• Os aruaques: habitavam o norte desde a foz do Oiapoque (Amapá) até à costa paraense,incluindo o delta amazônico e as respectivas ilhas, designadamente a de Marajó (territóriodo grupo aruã, “pacífico”).

• Os Tremembés (“alagadiço”): pertencentes à família Cariri e ao tronco Macro-Jê, por seulado, estavam sobretudo fixados no Meio-Norte (Maranhão-Piauí), estendendo-se a sua áreade influência das desembocaduras dos rios Gurupi (no limite sul do Pará) ao Camocim ou aoMucuripe (Ceará).

• Os tupis: os potiguaras (“comedor de camarão”) dominavam a zona costeira localizada en-tre aquele rio e o Paraíba; os tabajaras (“senhor da aldeia”) viviam no litoral situado entre oestuário deste curso de água e Itamaracá e os caetés (“mata verdadeira”); predominavam notrecho de costa compreendido entre este marco geográfico e a margem norte do rio de SãoFrancisco (Alagoas).

• Nos sertões nordestinos (Serras da Borborema, dos Cariris Velhos e dos Cariris Novos e valesdo Acarajú, do Jaguaribe, do Açú, do Apodi e do baixo São Francisco) refugiaram-se os cari-ris (“silencioso”), pertencentes ao tronco Macro-Jê, após terem sido expulsos do litoral pelostupis. Numa parcela do interior cearense (sobretudo na serra de Ibiapaba), do Rio Grande doNorte e da Paraíba imperavam os tabajaras.

• Os  tupinambás  (“descendentes dos tupis”) ocupavam a costa desde a margem direita doSão Francisco até à zona norte de Ilhéus, depois de terem vencido os seus habitantes ante-riores; no entanto, a sua divisão em dois grupos rivais - o primeiro abarcando a área enqua-drada pelos rios de São Francisco e Real (Sergipe), e o segundo senhoreando o litoral desdeaí até ao Camamu - deu origem a um estado de guerra permanente. Por outro lado, os mo-radores da região onde veio a ser edificada a vila do Pereira e, posteriormente, a cidade doSalvador eram inimigos dos habitantes das ilhas de Itaparica e Tinharé e da costa norte deIlhéus, situação que provocava acesos combates entre aqueles bandos.

• Nos sertões baianos fixaram-se os tapuia, os tupina e os amoipira  (“os da outra banda dorio”), um ramo segregado dos tupinambás, após terem sido derrotados em sucessivas guer-ras, quer entre si, quer com os tupinambás. Aí viviam, também, os ibirajara  (“senhor dopau”), pertencentes ao grupo Caiapó da família Jê.

Do estuário do Camamu (a norte de Ilhéus) até ao do Cricaré ou São Mateus (Espírito San-to), as zonas litorâneas pertenciam aos tupiniquins (“colaterais dos tupis”) que, contudo, sedebatiam com as duras investidas dos aimorés (vocábulo tupi que designa uma espécie demacacos), pertencentes à família Botocuda (Macro-Jê), que lhes disputavam o território. Nossertões de Porto Seguro e do Espírito Santo viviam os papanás, que foram forçados a aban-donar o litoral devido aos ataques dos tupiniquins e dos aimorés. Os goitacás  (“nómadas”)provinham do tronco Macro-Jê e viviam no trecho de costa compreendido entre o rio Crica-ré e o cabo de São Tomé, ocupando também o interior dessa região.

• A área costeira fluminense delimitada pelo cabo de São Tomé e Angra dos Reis era controla-da pelos tamoios (“avô”) - outro ramo dos tupinambás - que dispunham, ainda, de algumaspovoações mais ao sul: Ariró, Mambucaba, Taquaraçu-Tiba, Ticoaripe e Ubatuba. Todavia,ainda restavam nessa área alguns núcleos de temiminós (“netos do homem”), designada-mente na ilha de Paranapuã ou dos Maracajás (atual ilha do Governador, na baía da Guana-bara), que resistiam às constantes investidas dos seus implacáveis inimigos.

• O domínio do litoral paulista localizado entre Caraguatatuba e Iguape - ilha Comprida per-tencia aos tupiniquins, que também viviam numa parcela do sertão.

PARA SABER MAIS

A principal herança quedeles recebemos (dosíndios) foi a parte que

nos coube desta sabe-

doria ecológica. Princi-palmente seu sistema

de roças itinerantes decoivara, tão admira-velmente adaptadoà natureza tropical.

Roças em que delescultivavam dezenas deplantas, domesticadasdiretamente da riquís-

sima flora brasileira,cujas qualidades eles

descobriram e, aolongo dos milênios,desenvolveram. Nas

roças e ao redor delas,nas capoeiras, os índios

cultivavam dezenasde variedades de

mandioca e batatas,carás e muitas espécies

de milho, feijão, deamendoim, de abacaxi,

de bananas, goiabas,graviolas, de sapotis,

de utis, de pupunhas,de mamão, de caju, de

maracujá, de cacau...ainda, a erva mate, oguaraná, as taquaras

para fazer flechas, cipóspara tangas, cestos

e dezenas de outrasplantas. Essas heranças,

basicamente tupis, éque constituem a base

de nossa adaptação àfloresta tropical.

Fonte: RIBEIRO & MO-REIRA. A Fundação doBrasil. Rio de Janeiro:

Vozes, 1992, p. 33.

DICAPesquise em um mapado Brasil a localizaçãodos pontos geográfi-

cos contidos no texto,objetivando construir“setas” que apontarão

as direções tomadaspelos povos indígenas

brasileiros.Divulgue no e-mail dosseus colegas de turma!

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História - História do Brasil Colônia I

• Os guaianás (“gente aparentada”) predominavam na zona de matas de pinheiro, a 300 me-tros de altitude, e na área de planalto correspondente à faixa que se estende de Angra dosReis à Cananeia. Pertenciam à família Jê, devendo ser considerados antepassados dos atuaisCaingangues.

• A partir da Cananeia entrava-se no espaço dos guaranis e dos autóctones por eles assimila-dos ou “guaranizados” - conhecidos por diversas designações locais, nomeadamente carijós,

tapes, patos e arachãs - que se estendia até à lagoa dos Patos, numa extensão de cerca de80 léguas de costa. Estes tinham como vizinhos e adversários populações pertencentes aosgrupos pampianos: os charruas, no sudoeste, fixados em ambas as margens do rio Uruguaie respectivos afluentes, e os minuanos, no sudeste, que detinham a posse do trecho de cos-ta que se iniciava na lagoa dos Patos e alcançava o estuário platino (nas imediações do localonde, no século XVIII, viria a ser edificada a cidade de Montevidéu).

Os povos tupi-guaranis se encontravam melhor organizados e bem armados, considerandoque dispunham de técnicas que sobrevivem ainda nos dias de hoje, este é o caso da técnica uti-lizada na agricultura denominada coivara. Conheciam também a técnica do manuseio da cerâ-mica, de estruturas defensivas, da construção de habitações e de canoas. Os tupis denominavamseus inimigos de tapuias, que quer dizer o outro, ou seja, os não pertencentes à tribo tupi-guara-ni, especialmente os indígenas do tronco Jê. Observe a figura 8 e confira a distribuição espacialda qual vimos falando.

Figura 7: Os índios daBacia Amazônica e doBrasil em 1500.

Fonte: HEMMINIG, citadopor BETHELL, 1997, p.103.

PARA SABER MAIS

Johann Moritz Rugendas (Augsburg, Alemanha

1802 - Weilheim, Alema-nha 1858) vem para oBrasil em 1821, integrandoa Expedição Langsdorffcomo desenhista docu-mentarista.Em 1824, viaja para MinasGerais e registra paisa-gens, cenas de costumes eo trabalho escravo. Na vol-ta, abandona a expedição,sendo substituído pelodesenhista Adrien-AiméTaunay.Passa por Mato Grosso,Bahia e Espírito Santo,

retorna ao Rio de Janeiro esegue para a Europa, ondepublica, em 1834, o livroVoyage Pittoresque dansle Brésil .De 1831 a 1833 vive noMéxico, envolvendo-se po-liticamente. Muda-se parao Chile, onde permanecepor doze anos, período emque viaja para Argentina,Peru e Bolívia. Registracenas da vida campesina eindígena.Em 1845, retorna ao Rio deJaneiro e realiza retratosde D. Pedro II, da Impe-

ratriz Tereza Cristina e doPríncipe D. Afonso. No anoseguinte parte definitiva-mente para a Europa. Pormotivos financeiros cedesua coleção de desenhose aquarelas ao Rei LudwigI, da Baviera, em troca deuma pensão anual.Fonte: Disponível emhttp://www.cliohistoria.hpg.ig.com.br . Acesso em14/10/2013Nesse site você encontrarádiversas imagens. Pesqui-se sobre outras imagens

que Rugendas fez sobreo Brasil.

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UAB/Unimontes - 2º Período

1.5 Técnicas, estrutura social eorganização política

Os diferentes povos indígenas do Brasil (Pindorama ou Piratininga), a exemplo dos demaisíndios da América, tinham maneiras próprias de organizar-se: diferentes modos de vida, línguase culturas. Vamos compreender isso melhor? Iniciemos observando a figura feita pelo viajante

Johann Moritz Rugendas, realizada no século XIX, e que se refere a representações de situaçõespossíveis da vivência dos indígenas brasileiros.

Figura 8: Mapa dedistribuição espacial

dos indígenasbrasileiros.

Fonte: Disponível emhttp://www.culturabrasil.

pro.br/pindorama.htmAcesso em 14/10/2013

PARA SABER MAIS

O alemão Hans Stadenesteve duas vezes no Brasil

na primeira metade doséculo XVI. Na segunda, foi

aprisionado em Bertiogapor índios antropófagos,

com os quais conviveudurante meses até ser

resgatado por um naviofrancês. Ao retornar à sua

terra, escreveu um livrocontando suas experiên-cias, publicado em 1557,

que é um dos documentosmais preciosos sobre os

anos iniciais do Brasilcolonial.

(ver site: Clio história.Textos e Documentos.)Existe lá, naquela terra,uma espécie de árvore,que chamam igá-ibira.

Tiram-lhe a casca, de altoabaixo, numa só peça e

para isso levantam em vol-ta da árvore uma estrutura

especial, a fim de sacá-lainteira. Depois trazemessa casca das montanhas

ao mar. Aquecem-naao fogo e recurvam-na

para cima, diante e atrás,amarrando-lhe antes, aomeio, transversalmente,

madeira, para que não sedistenda. Assim fabricam

botes nos quais podemir trinta dos seus para aguerra. As cascas têm agrossura dum polegar,

mais ou menos quatro pésde largura e quarenta de

comprimento, algumasmais longas, outras me-nos. Remam rápido com

estes barcos e neles viajamtão distante quanto lhes

apraz. Quando o mar estátormentoso, puxam as

embarcações para a praia,até que se torne manso

de novo. Não remam maisque duas milhas mar afora,

mas ao longo da costaviajam longe.

Fonte: Extraído de HansStaden, Duas viagens ao

Brasil, trad. de Guiomar deCarvalho Franco, Belo Ho-

rizonte/São Paulo, Itatiaia/Edusp, 1988. (1a ed., 1557)

Figura 9: Índiosbrasileiros – Rugendas.

 Fonte: Disponível emwww.dominiopúblico.

gov.br Acesso em14/10/2013.

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História - História do Brasil Colônia I

Os graus de diferenciação social nas sociedades indígenas brasileiras não são muito gran-des, predominando uma tendência à organização comunitária e ao desenvolvimento de forteslaços de solidariedade. Sendo assim, vamos compreender a maneira pela qual se estruturava asociedade indígena brasileira, considerando, de modo geral, como essas sociedades se caracteri-zavam, como afirma John Hemminig:

A maioria dos índios brasileiros vivia em aldeias de curta duração. A principalrazão disso era a ausência, nas terras baixas da América do Sul, de animais quepudessem ser domesticados – ao contrário das Ilhamas e das cobaias que for-neciam proteínas às grandes civilizações andinas. Não havia, assim, criadoresde gado na Amazônia. Para aumentar suas safras agrícolas, suas populaçõesestavam condenadas a caçar, pescar ou a coletar (...). O resultado foi o desen-volvimento de uma sociedade em comunidades que moravam em aldeias, po-pulações de alta mobilidade, que podiam transportar suas poucas posses ra-pidamente para áreas mais ricas de caça ou pesca. (HEMMINING, 1997, p. 104)

a) As técnicasChamamos a sua atenção para a técnica utilizada no cultivo de produtos alimentícios. A

simples tarefa de preparação da mata para ser cultivada exigia um esforço conjunto: limpavama mata utilizando machados de pedra, principalmente para cortar arbustos. Na sequência, da-

vam início ao processo de queima da lenha que havia secado, construindo fogueiras em tornode grandes árvores, para que então fosse “furado o chão” para abrigar mudas que logo seriamrecobertas pela terra. O cultivo assim se repetia de 03 a 04 anos, mas logo era abandonado pelacomunidade nuclear que fixava em outros locais da floresta repetindo a mesma ação.

Em geral, era comum o cultivo de: mandioca (os Tupis), milho (os Guaranis) e amendoim (osJês). Além destes alimentos básicos, os indígenas plantavam feijão, batata-doce, cará (inhame), jerimum (abóbora) e cumari (pimenta). Entre as plantas não alimentares destacavam-se a purun-ga (cabaça), o jenipapo e o urucu (corantes), o algodão e o tabaco.

As técnicas de caça para se alimentarem e vestirem eram:• o mutá: era um posto de observação construído em árvores altas (cerca de 15 metros de altu-

ra), onde os caçadores se situavam para observar a passagem de animais e assim capturá-los.• o mundéu: era uma armadilha que possuía covas escavadas recobertas de ramos e folhas ou

numa estacada de pau a pique, com uma só entrada dotada de um dispositivo que se fecha-va quando a presa lá entrava.

Caçavam os seguintes animais: antas, pacas, capivaras, cutias, caititus, queixadas, veados,preguiças, tamanduás, tatus, além de onças, macacos, aves e répteis. Em especial, os guerreirostupis dedicavam-se à ingestão de animais velozes, pois acreditavam que assim procedendo ab-sorveriam a agilidade de tais animais. Essa é uma concepção extremamente interessante entre ostupis, é também a expressão de sua cosmovisão, da qual trataremos mais adiante.

As técnicas destinadas à pesca também devem ser ressaltadas, considerando que as mes-mas tinham forte apelo coletivo:

• o timbó, que era a prática de utilizar venenos vegetais para atordoar e asfixiar os peixes;• as armadilhas nos perequês, que era a prática de prender os peixes na época da piracema

no estuário dos rios, conseguindo assim pescar quantidades enormes de peixes;• uso do arco e flecha e a pindaíba (vara de pescar).

ATIVIDADE

Analise atentamente afigura 9, pesquise na in-ternet sobre os “IndiosBrasileiros” de Rugen-das e discuta com osseus colegas no sistemaUAB/Unimontes:Quais as condições deprodução dessa figura?Qual a intencionalidadedo pintor ao retratartais representaçõesnessa imagem?

PARA SABER MAIS

Veja figura do ParqueIndígena do Xingu.Observe a organizaçãoatual dos indígenas doBrasil.

Figura 10: Vista aéreada aldeia Ngojwêrêdo povo Kisêdjê. FotoAndré Villas Bôas ISAFonte: Disponível em http://

www.yikatuxingu.org.br/wp-content/uploads/2011/05/Vista-a%C3%A9rea-da--aldeia-Ngoiw%C3%AAr%C3%AA-do-povo--Kis%C3%AAdj%C3%AA.-Foto-Andr%C3%A9-Villas-B%C3%B4as-ISA2.jpg.Acesso 14/10/2013.

16 etnias indígenas: Kuikuro, Kalapalo, Matipu,Nahukuá, Mehinako,Waurá (Waujá), Aweti, Ka-maiurá, Trumai, Yawalapiti,Kisêdjê (Suya), Kawaiwetê(Kaiabi), Ikpeng ( Txicão),

Yudja (Juruna), Naruvotu eTapayuna.14 línguas: Kamaiurá eKaiabi (família Tupi-Gua-rani, tronco Tupí); Juruna(família Juruna, troncoTupí); Aweti (família Aweti,tronco Tupi); Mehinako,Wauja e Yawalapiti (famíliaAruák); Kalapalo, Ikpeng,Kuikuro, Matipu, Nahukwáe Naruvotu (família K aríb);Suyá e Tapayuna (famíliaJê, tronco Macro-Jê); Tru-mai (língua isolada).População: 6.152 indiví-duos (Funasa, 2009)

Área: 2,6 milhões dehectares

◄ Figura 11:Representação deuma moradia indígenaDestaque para a rede-de-dormir. Cidade dePorto Seguro/BA.

Fonte: Acervo pessoal

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UAB/Unimontes - 2º Período

Observe a figura 11 que representa diversas matérias-primas vegetais utilizadas. Destaca-mos o algodão para a confecção da rede-de-dormir, largamente difundido o seu uso em todas asregiões por onde se expandiram os povos tupi. Os utensílios resultantes do trabalho de transfor-mação da natureza geraram produtos como: confecção de cordões, cordas, fios, espremedoresde polpa de mandioca (tipiti), peneiras, abanadores de fogo, esteiras, diversos tipos de cestos,gaiolas e armadilhas de pesca.

Os produtos advindos da manufatura da cerâmica facilitavam a vida dos indígenas, como éo caso da cerâmica tupi-guarani que se caracterizava pela técnica do alisado simples e pela pin-tura policroma com linhas vermelhas e pretas sobre fundo branco, assim faziam grandes potesou igaçabas. Com madeiras mais leves confeccionavam suas jangadas e canoas que eram molda-das nos troncos das árvores.

A aldeia era geralmente chamada de taba e abrigava de 30 a 60 famílias em média sobrevi-vendo em 4 a 8 ocas (morada), o que totalizava cerca de 600 a 700 indivíduos. A morada era comouma grande casa comunitária, entretanto, a maneira de construir a habitação variava de tribo paratribo. Por exemplo, os Tupinambás viviam em aldeias circulares quase sempre protegidas por cer-cas resistentes. Já os Xavantes e Xerentes construíram as aldeias em forma de ferradura.

O corpo do indígena era lugar de especial atenção. As diversas pinturas tinham significados,entretanto, não eram apenas enfeites, antes pelo contrário, protegiam de raios solares, de picadade insetos e, sobretudo, demonstravam uma linguagem simbólica e de distinção na vida em so-ciedade. Era como uma segunda pele que passava a fazer parte da vida do indivíduo.

b) Estrutura Social e Organização PolíticaA sociedade brasileira indígena realizava uma divisão de trabalho baseada na diferenciação

sexual. A cargo das mulheres estava o trabalho agrícola, o preparo do alimento e os cuidadoscom as crianças. Já aos homens eram destinadas as tarefas de derrubada da mata, do preparo daterra, da pesca, da caça, do fabrico de canoas e de atividades guerreiras. A propriedade dos bensera coletiva e a organização das comunidades se assentava num padrão de família extensa, quetinha como base famílias nucleares ligadas entre si por laços de parentesco.

Praticamente todas as tribos brasileiras ignoravam o trabalho escravo, à exceção de algumaspoucas sociedades do passado fixadas em território brasileiro, a saber os índios Kadiwéus (viviamdo tributo e do saque sobre outros grupos indígenas) e os Terena, de acordo com Melatti (1994),

em Índios do Brasil.

GLOSSÁRIO

Monogamia:a monogamia é termo

utilizado para desig-

nar a relação que umindivíduo estabelecesomente com um

parceiro.Poligamia:

é termo usado paradesignar a relação

estabelecida por umindivíduo com maisde um parceiro. Em

geral, esses termos sãoutilizados quando nosreferimos a uma dada

sociedade.Poliandria:

é a união em que umasó mulher é ligada adois ou mais maridosao mesmo tempo. É o

contrário direto da poli-ginia, que é uma formade poligamia em que ohomem possui duas ou

mais esposas.

Figura 12: Na famíliaindígena, os paisdavam bastante

atenção aos filhos.

“Maloca dos apiacáno rio Jurema”, deHércules Florence –

Expedição Langsdorff.

Fonte: PRIORE, 1999, p.11.

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História - História do Brasil Colônia I

O casamento entre os indígenas representava regras e costumes que variavam de tribo paratribo. Os antigos tupinambás admitiam a poligamia, apesar de apenas alguns poucos indivídu-os (chefes, feiticeiros e grandes guerreiros) possuírem várias mulheres. Já as tribos timbiras erammonogâmicas, e uma variação importante a ser entendida é o que ocorria entre os xoclengues,mais conhecida como a poliandria e o casamento grupal.

A estrutura social dessas sociedades foi desenvolvida com um reduzido grau de diferencia-

ção, todavia, gerou alguns tipos de hierarquias. Destacamos a existência de acentuadas tendên-cias comunitárias e de fortes laços de solidariedade. Os Tupi-guaranis adotaram como forma deorganização dominante o grupo local (correspondente a uma taba), que se situava numa posi-ção intermédia entre a menor unidade (a oca) e o agrupamento territorial mais abrangente (ogrupo tribal).

Os líderes ou chefes (morubixabas) dos tupis não conheceram poder centralizado ou coer-citivo. Eles buscavam sempre convencer por meio da persuasão. Tinha que demonstrar valentia,oratória e grande aceitação entre os demais componentes da comunidade. Geralmente esse che-fe tinha sua autoridade posta em “funcionamento” em momentos de guerra. Politicamente, suainstituição básica era o “conselho dos chefes”, formado pelo morubixaba, pajé, chefes das ocas eguerreiros prestigiados. Este órgão, frequentemente designado por “roda de fumadores”, segun-do Cougo (2000), tomava as decisões mais importantes referentes à taba, tais como: mudançade local de residência, organização de expedições guerreiras, definição da rede de alianças e fixa-ção da data para a execução ritual dos prisioneiros.

Com relação à antropofagia, o imaginário europeu foi sagaz: na figura 13, o indígena é re-presentado como um quase monstro, um selvagem sedento de carne humana. Repare que nopano de fundo veremos um português sendo ameaçado por um índio com arco e flecha, e opanorama geral da figura retrata a morte e/ou aspectos que a lembram. Por exemplo, analise amulher caída, os ossos e a caveira; obviamente que a cena principal da figura tem o seu “toquemortífero”.

A guerra era a instituição mais importante entre os tupi-guaranis, por exemplo. Nesse con-texto precisamos entender bem como se deu a relação complexa da GUERRA, das CRENÇAS eRITUAIS e da ANTROPOFAGIA.

PARA SABER MAIS

Antropofagia: osíndios acreditavam que

comendo o prisioneirode guerra adquiriam asqualidades do morto.O ritual antropofágicodurava vários dias.“Ao alvorecer do diaescolhido, o prisioneiroera lavado, enfeitado eamarrado pela cinturacom a mussurana (cor-da grossa de algodão),sendo seguidamenteconduzido ao centrodo terreiro, onde seencontravam reunidos

os convivas.Chegado o executor,profusamente enfeita-do, recebia cerimonial-mente o ibirapema (ta-cape cerimonial) como qual iniciava umadança junto do cativo,imitando as evoluçõesde uma ave de rapina.Terminada a gesticula-ção, o algoz e a vítimatravavam um curtodiálogo, findo o qual oexecutor esmagava o

crânio do inimigo.Abatido o prisioneiro,escaldavam-no para lheretirar a pele e esquar-tejavam-no. Algumaspartes do corpo (braçose pernas) eram moque-adas, sendo as víscerasaproveitadas para fazerum cozinhado. Existiamregras para a distribui-ção do corpo da vítima,que era integralmenteaproveitado.Fonte: COUGO, Jorge. A

gente da terra. RevistaCamões, nº8, jan/mar2000.

◄ Figura 13:Visão européia:antropófagos doBrasil devorandoportugueses. JohnMawe.

Fonte: BOTELHO & REIS,2001, p.17.

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UAB/Unimontes - 2º Período

1.6 Crenças, ritos e antropofagiaAs crenças e os ritos fazem parte de toda e qualquer sociedade humana. Entre os indígenas

brasileiros não seria diferente, como observamos nos destaques feitos sobre o canibalismo. As

práticas dos nossos indígenas exprimem o seu modo de ver o mundo, de fabricar instrumentos ede cultivar a terra.Em geral, os indígenas acreditavam que os seres humanos possuíam algo semelhante à con-

cepção de alma para os cristãos, que também pode ser chamado de espírito. Os antigos acredi-tavam que após a morte, esse espírito ia em direção ao chamado guajupiá (paraíso de grandebeleza) onde se reuniam todos os ancestrais mortos, os quais viviam em abundância e alegria.Raramente esses índios creram num ser supremo que teria criado o universo. Essa crença, ao queparece, esteve presente entre os apapocuvas.

As atividades criadoras quase sempre estiveram ligadas a mitos, os quais podiam ter pes-soas que eram transmissoras de técnicas, ritos e regras sociais que permitiam aos homens mo-dificar sua existência num dado momento. Entre estes destacamos o mito do Sumé, a quem eraatribuída a instituição da agricultura de coivara e da organização social. Outra personagem mi-tológica importante era Tupã, associado ao raio e ao trovão. Para o caso do mito do civilizadorSumé, ou São Tomé, segundo descrição de Sérgio Buarque de Holanda em Visões do Paraíso, esteseria mais um mito trazido pelos europeus ao fazer menção ao apóstolo de Jesus (São Tomé),visando facilitar o processo civilizatório e, obviamente, facilitar também o contato com os indíge-nas, pois esses já conheciam mitos de criação de suas sociedades que faziam menção ao retornode um ser, comumente associado aos deuses.

Cabe pensar mais sobre um ritual que se tem notícia entre os índios brasileiros, que é a An-tropofagia. Essa parece ter sido uma prática entre os Tupi-Guaranis, entretanto, sabe-se que o ca-nibalismo não foi apenas simbólico. Ou se devoram os inimigos, como faziam os tupis do litoralbrasileiro no século XVI, em impressionantes cerimônias coletivas, ou se praticava antropofagiafunerária e religiosa. Daí se explica a ingestão das cinzas dos mortos em homenagem no sentidode ajuda à alma/espírito daquele que morreu (esse ritual faz parte, ainda hoje, dos costumes dosyanomami).

Segundo Raminelli (2009), há diferença substancial entre antropófagos e canibais, pois afir-ma que a antropofagia seria ritual, enquanto o canibalismo ocorreria motivado pela necessidade,pela fome. Essa diferença destaca que o consumo da carne humana como mantimento era maisdegradante do que a ingestão segundo regras sociais. Os antropólogos discordam da variação,pois não há notícias de sociedade que consumiu carne humana como alimento.

No período colonial, foram descritos dois tipos de canibalismo ou antropofagia: exocaniba-lismo, comum entre os tupis, e endocanibalismo, praticado, segundo cronistas coloniais, pelos

tapuias do nordeste. Como explica Raminelli (2009), entre os tupis o ritual canibal faz parte daguerra. Sendo assim,

DICA

Filmes!!!O cinema tem produzi-

do vários filmes sobrea conquista da América

pelos Portugueses.Sugerimos:

1492 – A conquista doParaíso (Dirigido por

Riddley Scott, cujotema são as viagens de

Colombo e o primeirocontato com os povos

Ameríndios).A Missão (filme de Ro-land Joffé, temática asmissões jesuíticas e oscolonizadores ibéricos

no Paraguai.Divirta-se ao apren-

der!!! Não deixe de re-lacionar o conteúdo dofilme com as unidades Ie II. O professor poderáorientar-lhe quanto àscríticas que podemos

fazer a tais filmes, bemcomo sobre a relação

cinema e história.

Figura 14: Canibalismo

Fonte: Disponível emhttp://jbonline.terra.com.

br/destaques/500anos/id2ma7.html. Acesso em

14/10/2013

GLOSSARIO

Escambo: Troca comer-cial que não envolve

diretamente paga-mento em dinheiro oumeio circulante. Troca

de uma mercadoria poroutra, ou pagamentode uma prestação de

serviço por algumobjeto, sem utilização

de dinheiro ou moeda.O escambo foi utilizadopelos portugueses, en-tre outros negócios, na

exploração do pau-bra-sil, quando trocavam o

trabalho indígena deextrair e transportar a

madeira por objetos demetal, espelhos, contas,

tecidos e miçangas, etambém na África onde

se trocava o tabacoe a aguardente pelo

escravo. O escambo foiutilizado pelos France-

ses, em suas relaçõescom os índios que lhes

forneciam o pau-de--tinta.

Fonte: BOTELHO, Ânge-la Vianna & REIS, LianaMaria Reis. Dicionário

Histórico Brasil . BeloHorizonte: o autor,2001, p.66.

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História - História do Brasil Colônia I

BOX 1

O prisioneiro era conduzido à aldeia, onde, mais tarde, encontraria a morte em ritual mar-cado pela vingança e coragem. Logo após a chegada, o chefe designava uma mulher paracasar com ele, mas ela não podia afeiçoar-se ao esposo. O dia da execução era uma grandefesta. No centro da aldeia, os índios, sobretudo as índias, se alvoroçavam. Os vizinhos tambémestavam convidados, todos provariam da carne do oponente. No ritual, homens, mulheres e

crianças lembravam e vingavam-se dos parentes mortos. Imobilizada, a vítima não esqueciado ímpeto guerreiro: enfrentava com bravura os inimigos e perpetuava o sentimento de vin-gança. Seus parentes logo o reparariam a sua morte. Essa morte era honrosa, criava elos en-tre amigos e entre inimigos e identidade entre grupos. Depois de morto, a carne era divididaentre músculos e entranhas. As partes duras eram moqueadas e consumidas pelos homens;mulheres e crianças ingeriam as partes internas cozidas em forma de mingau. O matador, noentanto, não participava do banquete, entrava em resguardo e trocava de nome. Com a colo-nização, esse rito foi paulatinamente abandonado, provocando, segundo Eduardo Viveiro deCastro, a perda de uma dimensão essencial da sociedade tupinambá: a identidade. O antropó-logo ainda comenta que a repressão ao canibalismo não foi o único motivo para o abandono.Os europeus passaram a ocupar o lugar e as funções dos inimigos, alterando a lógica do ritual.

Fonte: Raminelli (2009). Disponível em http://radialistaediziolimaedizio.blogspot.com.br/2012/04/criminosos-canibais-que-chocaram-o.html. Acesso em 14/10/2013

O mesmo autor explica ainda que o endocanibalismo não se pautava na vingança, “masna ingestão da carne de amigos ou parentes já mortos”. Entre os tapuias, acreditava-se que omelhor túmulo eram as “entranhas dos companheiros”. Nesse sentido, é certo supor que este eraum ato de amor. Logo, após a morte de um ente querido, este era retalhado, cozido e servidonum banquete. Havia a incineração dos ossos e logo se ingeria o pó com água. Por fim, paraencerrar o banquete, os indígenas se punham a gritar e a chorar. A figura representa cenas decanibalismo dos índios. Esse ritual se reveste de especial atenção para todos nós estudantes dehistória. Vejamos:

Hans Staden, viajante alemão a serviço dos portugueses deixou relato impressionante sobreos ritos antropofágicos dos tupinambás, potiguaras, caetés e tamoios, enfaticamente ilustradapor Jean de Lery em Viagem à terra do Brasil.

O ritual antropofágico dos tupinambás, como lembrou Quintas (2008), fazia parte de umprocesso social determinado por um código de honra e de vingança ritual, praticado contra seusinimigos. O repertório iconográfico demonstra as várias vertentes de significações da antropofa-gia, algumas mais fantasiosas e elaboradas, outras mais simplórias. O importante é observarmos

PARA SABER MAIS

Descrição do caniba-lismo, por Staden:[...] aquele que devematar o prisioneiropega na clava e diz:

“Sim, aqui estou, querote matar, porque osteus também matarammuitos dos meus ami-gos e os devoraram”.Responde-lhe o outro:“Depois de morto,tenho ainda muitosamigos que decerto mehão de vingar.” Entãodesfecha-lhe o matadorum golpe na nuca, osmiolos saltam e logoas mulheres tomam ocorpo, puxando-o para

o fogo; esfolam-no atéficar bem alvo e lhe en-fiam um pauzinho porde traz, para que nadalhes escape.Uma vez esfolado, umhomem o toma e lhecorta as pernas, acimados joelhos, e tambémos braços. Vêm entãoas mulheres; pegamnos quatro pedaços ecorrem ao redor dascabanas, fazendo umgrande vozerio.

Depois abrem-lhe ascostas, que separamdo lado da frente, e re-partem entre si; mas asmulheres guardam osintestinos, fervem-nos,e do caldo fazem umasopa que se chamaMingau, que elas e ascrianças bebem.Comem os intestinose também a carne dacabeça; os miolos, alíngua e o mais quehouver são para ascrianças. Tudo acabado,volta cada qual parasua casa levando o seuquinhão.Extraído de STADEN,Hans. Viagem ao Brasil.Rio de Janeiro: Acade-mia Brasileira de Letras,1930. (Equipe Revistade História)Fonte: Disponivelem http://www.revistadehistoria.com.br/secao/conteudo--complementar/o--banquete-segundo--hans-staden Acessoem: 14/10/2013.

◄ Figura 15: Antropofagiano Brasil em 1557,segundo a descriçãode Hans Staden eilustração de Jean deLery.

Fonte: DEL PRIORE, 1997.

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UAB/Unimontes - 2º Período

o elo entre as imagens, através da estilização do ato imoral de comer seus semelhantes e dosprocedimentos de pesquisa fornecidos pela antropologia.

Na figura, sabemos que há uma representação desse rito. Como representação histórica,não é a verdade e/ou a realidade em si que estão ali demonstrados, mas é algo que opera nocaminho da verossimilhança, passível de muitos questionamentos, assim como qualquer outrodocumento histórico.

Um dos questionamentos que podemos fazer a essa imagem é: teria o índio brasileiro esseperfil físico? Essa figura pode ainda suscitar outras dúvidas, como por exemplo, a maneira pelaqual se ensinava história no Brasil! O que aprendemos sobre os indígenas e sobre esse ritual?Que visão está sendo veiculada nessa representação?

Foi em meio a esse universo que os europeus estabeleceram seus primeiros contatos comos indígenas do Brasil, encontro esse marcado pelo escambo. Vamos entender melhor essecontato?

1.7 Visões: o contato com o brancoO mapa é uma das representações que possuímos sobre o imaginário europeu no século

XVI. Na figura 16, chamamos a atenção para os detalhes que povoam este mapa, cedendo espa-ço para a imaginação e para alguns aspectos conhecidos no início da época moderna. Vejamos:

▲ ▲

Figura 16: O imaginário europeu à época da expansão marítima

Fonte: BOTELHO & REIS, 2001, p.73.

Figura 17: Réplica da Vela portuguesa. Ênfase à cruzrepresentativa da Ordem de Cristo.

Fonte: Em exposição em Porto Seguro / Arquivo pessoal.

Em 1500, sob o comando de Pedro Álvares Cabral, o Brasil foi batizado com a fixação, emterra, da primeira cruz, seguida da reza da primeira missa, proferida na ocasião pelo frei Henri-

que de Coimbra, um franciscano. Um dos principais interesses da coroa portuguesa em “buscar”novas terras, era o de conseguir estabelecer novas rotas comerciais. O atual Brasil, outrora conhe-cido como Terra de Santa Cruz, Terra de Vera Cruz, carregava estes nomes no sentido de repre-sentar as intenções portuguesas e sua representação cristã, firmada na imagem da haste de suasnaus, como podemos bem observar na figura 17.

Uma dessas intenções era a expressão da religiosidade que esteve presente no processo decolonização dos portugueses na América, os quais pensaram - de imediato - que os gentios nãopossuíam “vida religiosa”. Nesse caso, podemos nos remeter ao início dessa unidade quando fa-lamos de eurocentrismo. Podemos agora falar também de etnocentrismo. Você sabe o que issosignifica? (Confira no glossário).

Ora, para o branco europeu do século XVI, já conhecedor de técnicas como a pólvora e aimprensa, encontrar um povo nas condições que dissemos, só poderia ter gerado impressõesincompreensíveis no que diz respeito ao universo cultural indígena. Esses portugueses de for-

mação católica consideravam o universo do gentio como sendo um retrocesso à civilização, eracomo um tanto de selvagem à solta num território, o qual deveria ser domesticado. Isso significadizer que o desejo era que os indígenas fossem convertidos à fé cristã e, assim, abandonassem asseguintes práticas culturais: a poligamia, a antropofagia, o andar sem roupas, dentre outros.

PARA SABER MAIS

Elisa Fruhauf Garcia pu-blicou na Revista Nossa

História o texto sobrea escravidão indígena

que começou logo noinício da colonização emanteve-se até meados

do século XVIII, apesarde ser ilegal.

Socialize sua opiniãocom os demais colegasnos fóruns dessa disci-

plina.Fonte: Disponivel em

http://www.revista-dehistoria.com.br/

secao/capa/solucao--caseira Acesso em

14/10/2013

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História - História do Brasil Colônia I

Na concepção do Padre Manoel da Nóbrega, os indígenas eram como um papel em branco,onde se poderia escrever à vontade. Mudando de idéia, à medida que o contato com os indíge-nas ia se estreitando, os missionários perceberam que, ao contrário do que imaginavam, os indí-genas só poderiam ser governados pelo demônio. Da visão de que haviam chegado ao paraíso,foi sendo criada a concepção de que esse paraíso era algo torto.

Os índios estavam entre os que aprisionavam os seus e os padres, mas também encontra-

vam outro caminho possível: a guerra. Durante o contato entre esses povos, a guerra, a miscige-nação e as doenças conduziram a uma diminuição e/ou transformação da população. Doençasque os indígenas não conheciam e eram acometidos, tais como: varíola, gripe, sarampo, tifo, tu-berculose e malária, todas essas trazidas pelos brancos europeus.

Com relação ao trabalho indígena, vale ressaltar que, durante o contato com os brancos, osindígenas trabalhavam no corte e carregamento do pau-brasil e, em troca, recebiam quinquilha-rias (esta troca chamada de escambo). Podemos, então, começar a falar não mais de encontro

ou contato de populações, mas levantar a hipótese de choque de culturas, onde perceberemos,haverá uma superioridade tecnológica dos europeus (entre outros fatores) que designará o cami-nhar das populações indígenas do Brasil para um processo de drástica diminuição.

Segundo Garcia (2013), a escravidão indígena que começou logo no início da colonização emanteve-se até meados do século XVIII, apesar de ser ilegal. Optamos em destacar longo trechodessa autora dada a riqueza de suas palavras para exprimir situação dos indígenas nos primeirosséculos de colonização brasileira. Vejamos:

Transformá-los [os indígenas] em escravos era uma tarefa difícil e arriscada. Apresença portuguesa no Brasil e a ocupação das novas terras dependiam doapoio da população nativa. Para defender tão vasto território, a Coroa precisa-va dos índios como aliados militares contra os concorrentes europeus (no sé-culo XVI, especialmente os franceses). Eles também eram úteis para combater

grupos indígenas rivais que atacavam os incipientes núcleos coloniais, além defornecerem informações e alimentos indispensáveis à sobrevivência em umaterra ainda mal conhecida.Se a princípio chegou a existir um frágil equilíbrio entre índios e portugueses,ele logo se rompeu. Os nativos acharam bom negócio vender aos recém-che-gados seus prisioneiros de guerra, antes utilizados em atividades rituais e so-ciais (como a antropofagia). Quando, porém, o apresamento de escravos tor-nou-se um negócio concorrido, a ânsia de obter mais cativos desfez as aliançasiniciais. (GARCIA, 2013, p.1).

A definição de uma boa estratégia para ataque, defesa e manutenção de um tipo de vida naAmérica Portuguesa era fundamental para os colonizadores. A esse respeito, vejamos:

Não agiam [os portugueses] movidos por fins humanitários, mas sim a partir de

cálculos estratégicos: se as coisas continuassem como estavam, temiam que osportugueses fossem expulsos do Brasil. Para piorar, os franceses se aproximavamcada vez mais dos índios e entravam na disputa pelo território. A Coroa se viu en-tão diante de um dilema: como escravizá-los e, ao mesmo tempo, manter a sua“amizade”? A solução encontrada foi separar os índios aliados dos índios inimi-

GLOSSÁRIO

Etnocentrismo: é umconceito antropológico,segundo o qual a visãoou avaliação que umindivíduo ou grupo deindivíduos faz de umgrupo social diferen-te do seu é apenasbaseada nos valores,referências e padrõesadotados pelo grupo

social ao qual o próprioindivíduo ou grupofazem parte.É uma visão do mundoonde o “nosso grupo”é tomado como centrode tudo e todos osoutros são pensadose sentidos através dosnossos próprios valorese nossas definições doque é existência. Noplano intelectual, podeser visto como a difi-culdade de pensarmos

a diferença; no planoafetivo, como senti-mentos de estranheza,medo, hostilidade, etc.Temos então um grupodo “eu”, o “nosso” grupo,que come igual, vesteigual, gosta de coisasparecidas, ou seja, umreflexo de nós. Depois,então, nos deparamoscom um grupo diferen-te, o grupo do “outro”,que às vezes, nemsequer faz coisas comoas nossas ou quandoas faz é de forma talque não reconhecemoscomo possíveis.

Figura 18: Base para aformação da economiacolonial, a captura e aescravização indígenana litogravura de JeanBastiste Debret doséculo XIX.

Fonte: Disponível emhttp://www.revistadehis-toria.com.br/secao/capa/solucao-caseira acessoem 14/10/2013.

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UAB/Unimontes - 2º Período

gos. (...) Coube ao primeiro governador, Tomé de Souza, regulamentar a relaçãocom os índios. Para isso, contava com dois importantes recursos: um regimentoelaborado pelo rei oferecendo garantias aos aliados e a presença dos jesuítas,que chegaram na mesma época e passaram a ter voz ativa nas questões indíge-nas.O estatuto dos índios na sociedade colonial reafirmava a liberdade dos aliados. Ébem verdade que eles eram obrigados a trabalhar para a Coroa e para os colonos,

mas deveriam ser remunerados e tinham uma série de outras garantias, como apropriedade coletiva das terras dos seus aldeamentos. (GARCIA, 2013, p.2).

Falamos anteriormente sobre a escravização dos indígenas, mas cumpre-nos aqui enfatizaras duas formas pelas quais ela ocorria: o resgate e a guerra justa. O resgate “fazia referência aosprisioneiros feitos pelos próprios índios, destinados à antropofagia (...) algum colono poderiaresgatar o prisioneiro que, em retribuição, trabalharia algum tempo como escravo”. Já a guerra justa “era um recurso empregado quando os índios atacavam os portugueses, que então tinhamo direito de defender-se e de escravizar os prisioneiros.” (GARCIA, 2013). Não foram poucos, noentanto, as guerras justas e os resgates que não passaram de um pretexto para a obtenção de

escravos.Além disso, a medida que a economia colonial se desenvolvia a partir de um

produto destinado ao mercado internacional (o açúcar nordestino), os colonos

passam a importar escravos africanos. No entanto, em regiões menos prósperas,

os índios ainda eram parte importante da mão de obra, por vezes a principal.Sem outra alternativa de enriquecimento, os colonos lutavam pela manuten-ção dos “seus índios”, como então se dizia. Os paulistas alegavam que os índioseram “um remédio para a sua pobreza”. Uma forma de mantê-los cativos era aadministração particular. Teoricamente, tratava-se de uma relação de troca: osíndios eram livres, mas prestavam serviços ao seu “administrador” que, comopagamento, os instruía na fé católica. Na prática, muitas vezes adquiria ares deescravidão, como quando os índios eram deixados em testamento junto comas demais propriedades. (GARCIA, 2013, p.2).

Outro aspecto a ser destacado são as representações sobre o indígena. Você já reparou que quase sempre ele aparece triste? Observe a pintura do indígena na

figura 19.Essa fotografia foi feita em 2007 e ainda guarda concepção do período co-

lonial brasileiro. O exemplo do estudo de alguns historiadores, tais como os de Henri Bergson,Mikhail Bakhtin e Umberto Eco, que vêm se dedicando ao significado do riso, do cômico e dolúdico. Diversos historiadores se ocupam do tema, entretanto vamos destacar a afirmação de LeGoff:

o riso é um fenômeno cultural e social, podendo ser classificado a partir dedois aspectos: o primeiro seria pelas atitudes em relação a ele e o segundo, pe-las manifestações do riso expressas por outras pessoas. Estudar o riso, portan-to, é deparar-se, quase que inevitavelmente, com a história das atitudes e dosvalores mentais e das representações literárias e artísticas. Em linhas gerais, ogrande desafio do historiador que trabalha com o riso é interpretar a complexi-

dade dos domínios e das estéticas que cercam a representação através do riso.(LE GOFF. 2000, p. 65)

No período colonial, os portugueses valorizavam determinadas condutas que não com-portavam o riso, o humor, pois essas condutas seriam resultantes do embate entre a “barbáriecondenável” e a “verdadeira cultura” – a civilização. Assim, nas representações dos indígenas, es-pecialmente onde estes estão com semblante triste, como em xilogravuras, podemos nos per-guntar: o valor de quem está sendo representado? O do europeu ou do indígena?

Vale ainda lembrarmos que o riso e o lúdico sofreram um processo de institucionalização apartir da convivência dos povos, em decorrência da situação colonial e dos procedimentos de ca-tequese adotados pelos missionários jesuítas, passando a obedecer a um tempo e um lugar fixos.O deboche institucionalizado – notadamente presente em vários Autos Teatrais do período - émuitas vezes um deboche permitido, esperado e até ordenado, e, por isso, não necessariamente

precisa conter componentes subversivos.No entanto, a participação alegre e ativa dos indígenas na recepção solene, nas “danças

acompanhadas por tambores e violas com muita graça”, será associada, no discurso jesuítico, àpiedade e à devoção cristãs. As manifestações da “alegria de viver” dos Tupis, esvaziadas de sua

Figura 19: Pintura deindígena em Porto

Seguro/BA, 2007.

Fonte: Arquivo pessoal

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História - História do Brasil Colônia I

expressão indígena, foram apresentadas como indicativos de sua conversão. As festas, convíviose cantares, anteriormente associados às práticas rituais bárbaras, à licenciosidade sexual e à “in-constância da alma selvagem” passam a ocupar, no discurso jesuítico, um novo significado querevela não só a consciência de sua utilidade estratégica, como também o reconhecimento dasespecificidades da nova situação, a colonial.

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História - História do Brasil Colônia I

UNIDADE 2A colonização Portuguesa na

América: Portugal e o Brasil na erados descobrimentos

Dayse Lúcide Silva Santos

2.1 IntroduçãoO nosso objetivo nesta unidade é discutir a colonização portuguesa na América, buscando

compreender basicamente a constituição do universo cultural português na “terra brasilis”. Paratanto, analisaremos subtemas pertinentes a essa unidade para discutir, inicialmente, os antece-dentes históricos na conformação européia, notadamente a portuguesa nos tempos da expan-são ultramarina.

Analisaremos os dilemas vividos pela sociedade lusitana, bem como o entendimento do es-pírito da época moderna e as condições tecnológicas que em que Portugal vai se valer e, comisso, lançar-se ao mar para vencer “o tenebroso mar”. Na sequência, abordaremos dois assuntosde igual importância que giram em torno de concepções sobre descobrimento e achamento doBrasil, bem como as relações coloniais que foram estabelecidas entre a metrópole e a colônia.

Concepções de cidadania, de análise teórico-metodológica e conceitos fundamentais ao

nosso fazer cotidiano perpassarão por nosso estudo da história brasileira colonial. Nessa unida-de, como não poderia deixar de ser, buscamos construir um texto para você também na fronteirade outras disciplinas afins da História.

Por fim, chamamos a sua atenção para as dicas de estudos que inserimos nesse material esugerimos alguns filmes e sites para que você, juntamente com seus colegas, possa aprofundaros temas apresentados aqui e refletir sobre as questões suscitadas.

Não deixe de esclarecer todas as suas dúvidas com seu professor formador e com os tutores.

Desejamos boa aula!

2.2 Antecedentes: Europa ePortugal nos séculos XIII e XIVNa unidade anterior você estudou a sociedade brasileira antes da chegada dos portugueses.

Agora, nós vamos nos debruçar sobre a história européia, sobretudo a portuguesa, visando com-preender aspectos da “vida portuguesa” que permitiu a esses povos desbravarem o tenebrosomar. Nessa medida, vamos nos ocupar em responder a seguinte questão: qual era o contexto eu-ropeu português do final do período designado como feudal e do início da época dita moderna?

Iniciemos, então, observando a figura 20 que faz referência à movimentação comercial ma-rítima no Porto de Lisboa, situação que tem suas raízes fincadas nos séculos XIV e XV. Vejamos.

PARA SABER MAIS

Dados sobre a pestenegra:Na Europa, dos 73milhões de habitantesexistentes em 1300,chegou-se a poucomais de 50 milhões em1350.Na Inglaterra, desapa-receriam 450 aldeias emuitos outros lugare- jos entre meados do

século XIV e princípiodo seguinte.(FRAGOSO, 1998, p.8)

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UAB/Unimontes - 2º Período

Vamos lembrar o que ocorria na Europa entre os séculos XI e XIII. Grosso modo, podemosafirmar que existia uma expansão do feudalismo europeu associado a um rápido crescimentopopulacional e a introdução de novas técnicas, principalmente na agricultura. Este é o caso daintrodução da charrua, do sistema de três campos e do uso do cavalo. Essas transformações ocor-reram num momento em que cerca de 80% da população européia vivia no campo.

Junte-se a isso outro fator importante: a debilidade do poder real e, consequentemente, a

descentralização/pulverização do poder político real europeu. Considere, ainda que nessa épocahouve a ampliação do poder religioso e a reconquista dos territórios que estavam sob o domíniodos árabes. No caso específico de Portugal, vale lembrar que esta sociedade possuía também ca-racterísticas camponesas e procurava construir diversos castelos (daí o termo reino de Castela), oque, com o tempo, significou - entre outras coisas - um empecilho para os novos tempos, espe-cialmente o ressurgimento das cidades.

Segundo o historiador Jacques Le Goff, a cidade do mundo medieval estabelecerá nova di-nâmica com o tempo dos mercadores ou com o mundo dos negócios, em consequente decaídado tempo da Igreja. Vejamos.

(...) A Igreja tinha também determinado as horas do dia em função dos perí-odos litúrgicos e das respectivas orações. A hora das matinas, primas, e Ave--Marias, marcava-se pelo sol e variava durante o ano. Os sinos regiam-se pelosquadrantes solares. Mas o mercador precisava de um quadrante racional, divi-dido em 12 ou 24 partes iguais. Foi ele quem promoveu a descoberta dos reló-gios de repique automático e regular (...). Doravante já não será pelo relógio daIgreja, mas sim pelo relógio comunal, laico, que se regulará a vida das pessoas.À hora clerical suceda a hora dos homens. (LE GOFF 1956, p.77-8)

Sabedores desse processo histórico dos séculos XI ao XIII poderemos entender melhor oséculo XIV, se o compreendermos como certo “colapso” do mundo medieval. Ora, até meadosdo século XIII haverá uma explosão demográfica, decorrente do fim das invasões na Europa, amelhoria das técnicas agrícolas e o forte ressurgimento das cidades. Há que se considerar quehouve, no final do período medieval (além do exposto acima), o grande desenvolvimento dasfeiras de comércio, o crescimento de indústrias artesanais, o frequente uso de moedas, o direcio-namento da produção para o atendimento aos mercados consumidores e, por fim, o surgimento

de novos grupos sociais, especialmente os mercadores/burgueses.Ao final do século XIII e início do XIV, os europeus vivenciarão momentos de crise. Esse será

então o tempo das epidemias, aumento da mendicância e carestia de alimentos. Mas, por queisso ocorreu?

Figura 20: Detalhede Pintura do século

XVIII que retratamovimentação no

porto de Lisboa/Portugal.

Fonte: Jornal Estado deMinas, Domingo, 15 de

maio de 2005.

PARA SABER MAIS

“Ecos do passado”:“Pensemos num dia

comum de uma pessoacomum. Tudo começa

com algumas invençõesmedievais: ela põe suaroupa de baixo (que os

romanos conheciammas não usavam), veste

calças compridas (an-tes, gregos e romanos

usavam túnica, peçainteiriça, longa, que

cobria todo o corpo),passa um cinto fechado

com fivela (antes eleera amarrado). A seguir,

põe uma camisa e fazum gesto simples,

automático, tocandopequenos objetos quetambém relembram aIdade Média, quando

foram inventados,por volta de 1204: os

botões. Então ela põeos óculos (criados emtorno de 1285, prova-

velmente na Itália) e vaiverificar sua aparêncianum espelho de vidro(concepção do século

XIII). Por fim, antesde sair olha para fora

através da janela devidro (outra invenção

medieval, de fins do sé-culo XIV) para ver comoestá o tempo”.

Para saber mais sobre otexto consulte:

FRANCO JR, Hilário.Ecos do Passado. In:

Revista Nossa História.02/06/2008.

Disponível em: http://www.revistadehistoria.

com.br/secao/educa-cao/ecos-do-passado

acesso em 14/10/2013.Discuta com os seus

colegas no ambientevirtual de aprendiza-gem.

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História - História do Brasil Colônia I

Em linhas gerais podemos destacar aqui pelo menos cinco fatores que explicam o momentohistórico dos séculos XIII ao XIV, a saber:

1º - A expansão anterior ocorreu em meio a uma sociedade que apresentava limites ao cres-cimento. Ou seja, os camponeses deviam prover a subsistência, assim como a de seus “senhores”,os quais não empregavam os frutos do trabalho dos camponeses visando aumentar a área culti-vada ou multiplicar os rendimentos da cultura;

2º - A modificação do meio ambiente pelo homem foi “eficaz”: áreas de pântano foram dre-nadas, áreas de pastagens foram transformadas em áreas agricultáveis e florestas foram derruba-das. Enfim, a consequência disso foi um grande desequilíbrio ambiental. Segundo o historiadorGrimpel (1977,p.73) em a Revolução Industrial na Idade Média, “os navios eram de madeira, as-sim como os teares.. em 1300, as florestas da França cobriam 13 milhões de hectares, ou seja, ummilhão a menos que em nossa época (1970)”. Com isso, ocorreram chuvas torrenciais, compro-metendo as colheitas e empobrecendo ainda mais os camponeses.

3º - Os senhores feudais tiveram sua capacidade de produtividade diminuída e, para re-solver esse problema, superexploraram a população camponesa, a qual vivia em grande penú-ria, quase sempre endividada, com baixa expectativa de vida e falta de terra “boa” para plantar.Como consequência o aumento da mendicância generalizou-se. Essa situação logicamente vaiatingir as cidades, tornando este lugar mais caro para viver.

4º - A população camponesa migrou, em grande parte, para as cidades, o que gerou maiordiminuição dos rendimentos dos senhores aristocratas, bem como modificações no sistema decorvéia (trabalho gratuito em terras dos senhores feudais).

5º - A Peste Negra, vinda do oriente em 1348, assolou a Europa gerando um quadro de mor-tandade ao encontrar a população européia já debilitada biologicamente. Essa peste era umadoença transmitida pelas pulgas dos ratos, que em contato com o homem gerou um quadro deenfermidade e eliminou cerca de um terço da população européia, assim como proporcionou odesaparecimento de aldeias e lugarejos rurais.

Analisaremos brevemente o quadro “triunfo da morte” e procurar responder a alguns ques-tionamentos, os quais – acreditamos - conduzirão você a uma compreensão mais profunda das“pinturas ditas históricas” não como uma realidade em si, mas como um vestígio passível de es-tudo pelo historiador para construir a sua narrativa da história, onde o historiador estudará osaspectos que se assemelham à sociedade européia e com ela guarda uma relação de verossimi-lhança. Após esse cuidado teórico-metodológico, vamos refletir sobre o conteúdo da imagem eas pistas que ela apresenta sobre a sociedade que a produziu.

• Qual sociedade e tema podem ser percebidos nessa pintura?• Quais são as características de um dado lugar que se dá a conhecer através dessa pintura?• O que é possível discutir ao ensinar História a partir do uso de imagens como esta?• O que está em primeiro plano? E em plano de fundo? Parece uma cena corriqueira?• Seria possível, hoje em dia, uma cena como essa?• Em qual contexto histórico essa imagem foi produzida?

Após essa reflexão fica mais fácil compreender que com o decorrer do tempo, após o se-pultamento de boa parte da população, pelo menos um problema foi resolvido: o excesso debocas para alimentar e o início do retorno a certa normalidade na Europa. Entretanto, uma nova

◄ Figura 21: O quadroTriunfo da Morte (1562),do pintor belga PeterBruegel (1525-1569),

retrata o horror que apeste negra causou naEuropa.

Fonte: Disponível emhttp://www.sabado.pt/getattachment/7418c8d2-517a-4fe5-993c-15416f8716ac/Fotogaleria-1-(2).aspx?width=640&height=390. Acesso em14/10/2013.

PARA SABER MAIS

Você sabia que Portu-gal foi governado portrês dinastias?

Desde sua origem até aproclamação da repu-blica em 1910, tivemosas seguintes:Borgonha (1139 até1383),Avis (1385-1578),Filipina/União Ibérica (1580-1640) eBragança (1640-1910).

PARA SABER MAISDinastia de Avis (1385-1578)Os reis dessa dinastiarealizaram a aliança daburguesia com a mo-narquia, fazendo nasceras condições políticasfavoráveis à grandeexpansão comercial emarítima de Portugalno séc. XV. Foi entãoque Portugal decidiulivrar-se dos intermedi-ários no comércio como oriente.Observe que aí teremosos primórdios daglobalização, a partirdo conhecimento daexpansão marítima queatingiu Ceuta, Cabo daBoa Esperança, Índias eo Brasil.1º Rei: D. João I (1385-1433)2º Rei: D. Duarte(1433-1438)3º Rei: D. Afonso V

(1438-1481)4º Rei: D. João II(1481-1495)5º Rei: D.Manuel I(1495-1521)6º Rei: D.João III(1521-1557)7º Rei: D.Sebastião(1557-1578)8º Rei: Cardeal D.Henrique(1578-1580)

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UAB/Unimontes - 2º Período

situação, pelo menos a partir de 1450, se verificou com a queda dos preços dos cereais e o au-mento dos salários. Este é o momento da depressão agrária e é de fundamental importância paracompreensão de nosso estudo, haja vista que será nesse contexto que a “expansão ultramarinaeuropéia” ocorrerá.

Se por um lado houve a redução das receitas senhoriais e a diminuição da população provo-cou o aumento da produção, por outro lado, a crise da depressão agrária se alojou exatamente

no excesso de produção. Em síntese, podemos afirmar que os custos de mão-de-obra aumenta-ram e que, ao contrário do esperado, baixaram os ganhos senhoriais com a venda de cereais.

Paralelo a isso, ocorreram diversas revoltas camponesas em toda a Europa, notadamentecontra os nobres e os bispos, pois o desejo maior das pessoas envolvidas com tais revoltas eraeliminar o poder dos senhores. Exemplo disso foram as revoltas conhecidas como Jacqueries(França, 1358) e com Watt Tyler e John Ball (Inglaterra, 1381) Os camponeses atacaram de surpre-sa os castelos feudais e mataram muitos de seus habitantes.

Observe que a figura 22 demonstra exatamente um desses momentos de sublevação popu-lar na França. Vamos refletir sobre essa imagem lançando a ela os mesmos questionamentos comos quais analisamos a imagem anterior?

Prosseguindo em nosso estudo, devemos considerar o efeito dessas revoltas, mesmo sem su-cesso em cumprir seus objetivos. Observaremos que foi posto em curso um processo que ganhourelevo com tais revoltas: a desagregação do feudalismo. Os historiadores analisam de diferentesmaneiras esse processo de desintegração do feudalismo. Para Paul Sweezy, o que proporcionoutal processo foi o aparecimento das atividades comerciais, pois era incompatível com a lógica dofeudalismo. Já Maurice Dobb afirma que a superexploração dos camponeses foi o elemento quefez desagregar o sistema feudal. É fundamental destacar que, apesar dessas diferentes posições,ambas contribuem para a compreensão do momento histórico em curso na Europa: ao fim e aocabo, necessitavam de um governo forte e centralizador, de áreas produtoras, de novas fontes deminério, de uma nova Igreja e uma nova visão de homem e deus. (FRANCO Jr, 1984, p.93)

Podemos, enfim, compreender diante do exposto, a resposta que a Europa deu à crise pelaqual passou entre os séculos XIII e XIV. Entretanto, é importante perguntar como ficou Portugaldiante dessa crise. Como esse país saiu da crise agrária nos primeiros tempos da expansão ultra-marina? Esse será objeto de estudo do item a seguir.

Figura 22: Os jacquessão massacrados em

Meaux. Gaston Phébus,Conde de Foix, liberta asdonzelas da Normandia

e de Orleães. (9 de junhode 1358) (BNF , FR 2643),fol. 226v, Jean Froissart,

Chroniques, Flandre,Bruges XVe s. (170 x 200

mm)

Fonte : Disponível emhttp://www.sohistoria.

com.br/ef2/centralizacao-

poder/p3.php. Acesso em14/10/2013.

GLOSSÁRIO

Lei de Sesmarias:O objetivo maior dessa

lei era reunir esforçospara evitar que os tra-

balhadores saíssem dasáreas rurais.

A lei permitia ao Estadoportuguês, em linhas

gerais, obrigar osproprietários de terrasa cultivarem suas pos-sessões sob a pena deexpropriação; proibiua criação de gado quenão fosse para o desti-no da lavoura e, entre

outras coisas, fixouo preço das rendas e

também do gado.Essa lei foi promulgada

em 1375 e não se temcerteza da sua real

aplicação.

GLOSSÁRIO

Astrolábio: Instrumen-to para medir a alturade um astro acima do

horizonte. Ajudava adeterminar a posiçãodo navio no alto-mar.

Caravela: Navio doséc. XV. Foi utilizado

pelos Portugueses nasviagens de descober-

ta ao longo da costaocidental africana.

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História - História do Brasil Colônia I

2.3 Tempos de expansãoultramarina portuguesa entre os

séculos XIV a XVIProsseguindo em nossa discussão temos uma tarefa a realizar: a de compreender a confor-

mação desses “novos tempos” no contexto histórico português no período do século XIV ao XVI.Iniciaremos analisando a figura. Você consegue imaginar, a partir de seu olhar certamente

perspicaz, qual foi a resposta portuguesa às dificuldades vividas no início do período dito mo-derno?

A grande resposta portuguesa à crise vista na baixa Idade Média foi lançar-se ao mar! Antes,porém, vamos compreender as particularidades portuguesas nesse processo.

Em Portugal houve valorização e centralização do poder real, fincando suas raízes na doa-ção, ou melhor, os reis portugueses resistiram em abrir mão de seus direitos reais em função degrandes proprietários de terras, conservando valores que cultivaram em séculos anteriores.

Com relação a essa particularidade portuguesa vamos nos valer dos estudos de João Frago-

so, Manolo Florentino e Sheila de Castro Faria em A economia colonial brasileira, no qual obser-vamos que em terras portuguesas o regime agrário, ou o sistema dominial se caracterizava

pela divisão das terras da aristocracia em reservas (domínios) senhoriais e te-nências. As primeiras eram diretamente exploradas pelo senhor feudal, atravésda prestação de serviços (corvéia) de seus camponeses dependentes (servos) elavradores (com pouca ou nenhuma terra). Já as segundas – as tenências – es-tavam ligadas à subsistência das famílias camponesas. Em Portugal tal divisãonão teve grande importância. Em geral, a grande propriedade agrária era lavra-da por famílias camponesas, que davam parte de suas colheitas à aristocracia.Assim, as corvéias devidas pelos lavradores nunca representaram um impostocomparável ao lado de outras regiões européias, e muito menos consistiam noprincipal traço da organização econômica do campo. (FRAGOSO, FLORENTINOE FARIA, 1998, p. 14-15)

A agricultura tinha seu lugar de importância na sociedade portuguesa, entretanto, o “forte”nessa sociedade foi o comércio, especialmente o marítimo. Você se lembra do comércio de espe-ciarias, aquele que era feito entre a Europa e o Oriente?

Figura 23: Chegadade Vasco da Gama aCalicute

Fonte: Disponívelem http://forum.g--sat.net/showthread.php?t=128595. Acesso em14/10/2013.

ATIVIDADE

Mar PortuguêsÓ mar salgado, quantodo teu salSão lágrimas de Por-tugal!Por te cruzarmos, quan-tas mães choraram,Quantos filhos em vãorezaram!Quantas noivas ficarampor casar

Para que fosses nosso,ó mar!Valeu a pena? Tudo valea penaSe a alma não é pe-quena.Quem quiser passaralém do BojadorTem que passar alémda dor.Deus ao mar o perigo eo abismo deu,Mas nele é que espe-lhou o céu.Fernando António

Nogueira Pessoa(Lisboa, 13 de Junhode 1888 — Lisboa, 30de Novembro de 1935),mais conhecido comoFernando Pessoa, foium poeta e escritorportuguês.

No ambiente virtualde aprendizagemdiscuta a seguintequestão com os de-mais colegas: Qual a visão de Fernan-do Pessoa sobre o mar?Em que medida há umelogio aos portuguesnessa poesia?

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UAB/Unimontes - 2º Período

Esse comércio tinha integração com Portugal, pois esse mantinha contato com Flandres,norte da Espanha e norte da África, o qual só foi se tornando mais intenso a partir do século XIII.Um século depois, o comércio foi se intensificando cada vez mais, à medida que os problemastambém se multiplicavam. Exemplo disso é que em 1375, o rei Fernando I, como indica o profes-sor João Fragoso, se viu obrigado a forçar a população portuguesa a cultivar a terra, pelo menosaqueles que as possuíam através da lei de sesmarias.

Entre 1383 e 1385, Portugal vivenciará uma “revolução” conhecida como Revolução de Avis.Em meio às revoltas camponesas, os motins urbanos dos artesãos, alguns segmentos sociais sealiarão (ricos-homens, a pequena nobreza e os mercadores) e colocarão a dinastia de Avis no po-der. Uma das principais ações dos governantes dessa dinastia será estimular as atividades comer-ciais, abrir espaço político à burguesia e realizar rígido controle sobre a nobreza.

Nesse contexto, há ainda que ressaltar a carência de metais preciosos na Europa e o avan-ço turco-otomano sobre o mediterrâneo, que ameaçava o comércio de especiarias de que tantoPortugal se valia. Diante disso, os mercadores vão buscar outras rotas para manter o abasteci-mento das especiarias na Europa, além, é claro, de buscarem ouro e prata.

É importante ressaltar que o grande objetivo português era ampliar o comércio através dalucrativa carreira das Índias, assim conhecida porque era realizada anualmente uma viagem deLisboa a Goa, na índia, visando buscar pimenta-do-reino, que logo se transformou no principalproduto de exportação portuguesa para os demais países europeus.

Portugal, nos séculos XV e XVI, vivia uma burocracia mercantilizada: o Estado português as-sumiu o caráter de empresário e os comerciantes conseguiram se transformar em fidalgos. Todasessas transformações, em grande parte, os portugueses devem ao ímpeto de terem lançado “ve-las ao mar”, ou melhor, ao desenvolvimento do comércio ultramarino.

A esse respeito, destacamos aqui um argumento defendido pelo professor Serge Gruzinski.Ele se pergunta: “O que significa o advento do século XVI?” Para esse autor, e aí está a novidade,esse episódio significou o início do processo de globalização! Mas, por quê?

Segundo Gruzinski (2001) todo início da era moderna foi marcada por uma visão eurocêntri-ca. Ele adverte que falamos de Renascimento, por exemplo, como se isso fosse uma prerrogativaunicamente européia, pois “teríamos dificuldades em sair das abordagens do quadro europeu.”Diante da visão eurocentrista do passado, existiu e existem abordagens mais redutoras ainda,por exemplo:

• a que opõe a história espanhola à história portuguesa, a fim de determinar quem, entre Se-vilha e Lisboa, detém a primazia no Atlântico; ou

• a quem se limita a ler o nascimento do Estado Moderno na França das guerras contra a Itá-lia, dos castelos do Loire e de Francisco I.

Esse olhar “local” costuma ter o defeito de ignorar a história dos países vizinhos ou, na me-lhor das hipóteses, de minimizar sua importância, assinala o professor. Sendo assim, Gruzinski(1999) se perguntará se bastaria sair do quadro estritamente nacional ou europeu para perceber“o mundo para além da Europa”. Em suas palavras:

PARA SABER MAISExpansão e viagens marí-

timas:Primeiras viagens portu-

guesas e conhecimento dacosta africana. Conquistade Ceuta (entreposto co-

mercial árabe, localizado ao

norte da África), em 1415.De 1418-1483: etapa

marcada pela descobertae início da ocupação das

ilhas do Atlântico: Madeira(1418-1419); Açores (1427-

1428); Cabo Verde (1456).Essa etapa também foi

assinalada pela ocupaçãode pontos estratégicos

no litoral Africano: CaboBojador (1434); Senegal

(1450); Serra Leoa (1460);Congo (1483).

De 1487-1488: Período mar-cado pela chegada de umaexpedição comandada por

Bartolomeu Dias à extre-midade sul do continente

africano (Cabo da BoaEsperança). A importânciadessa etapa relaciona-se à

comprovação de que a “rotaoriental” (périplo africano),desenvolvida pelos portu-

gueses, era viável para sealcançar as Índias. Afinal,

transposto esse obstáculo,estava “aberto” o caminho

para o oriente.1498: chegada da expe-

dição comandada porVasco da Gama às Índias

(Calicute). A partir daí

rompeu-se o monopólioárabe e italiano sobre ocomércio das especiarias

abrindo à burguesia mer-cantil portuguesa grandespossibilidades de ganhos

financeiros da ordem de 6a 4 mil por cento de lucros

nas negociações.1500: Expedição coman-

dada por Pedro ÁlvaresCabral, formada por cerca

de 1500 homens, dentreeles cosmógrafos, fradesfranciscanos, escrivães e

outros funcionários, cujoobjetivo era fundar feitorias

(entrepostos comerciais)nas Índias. Essa expediçãoalcançou no Atlântico Sula terra que viria a chamar

Brasil.1511: Os portugueses seestabelecem no sudeste

asiático, conquistandoMalaca.

1517: os portuguesesalcançaram a China e em1555 fizeram acordo com

o imperador chinês para seestabelecerem na ilha de

Lampacao, rebatizada doisanos depois como Macau.Essa foi a porta de entradados portugueses no impé-

rio chinês.1543: os portugueses

chegaram até Tanegashina,no Japão.

Figura 24: Navegaçõesportuguesas

Fonte: Disponível emhttp://www.minerva.

uevora.pt/aventuras/bra-sil/biografias.htm. Acesso

em 14/10/2013.

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História - História do Brasil Colônia I

É evidente que o ingresso no século XVI marca o início da expansão européiapelo mundo afora. Os “descobrimentos” dos portugueses e dos espanhóis, sejaqual for o significado que se dê a esse termo, projetam a Europa para fora deseu quadro continental e revolucionam os conhecimentos que os sábios eu-ropeus acreditavam ter sobre o globo desde a antiguidade. Mas, centrar-se naexpansão ibérica é, mais uma vez, reproduzir uma história carregada de euro-centrismo no sentido em que a história dos outros continentes só existiria em

relação à que é construída pelos povos da Europa. Nessa toada, o México ouo Brasil só emergiriam à tona da história quando descobertos e conquistadospelos europeus.É nesse sentido que se essa passagem do século tem hoje um sentido para nós,um sentido que talvez não tivesse nos séculos anteriores, é porque vemos queaí é que surgem as premissas da globalização. E essa globalização é mais queum processo de expansão de origem ibérica, mesmo se o papel da penínsulafor dominante. A globalização que se esboça entre o fim do século XV e o iní-cio do século XVI corresponde a um fenômeno global de “desencravamento”,como bem mostrou Pierre Chaunu quando propôs uma “problemática nova eobjetiva da comunicação. (GRUZINSKI, S. 1999, p. 96-98.)

Não poderíamos imaginar que nesse momento teríamos uma economia mundial, muitomenos capitalizada e global como observamos nos dias de hoje, certo? Então, vejam que não

é nesse sentido que a proposta do autor se direciona. Com essa idéia, ele quer chamar a nossaatenção para o fato de que foi no limiar do século XVI que setores do mundo que se ignoravamou não se frequentavam diretamente foram postos em contato uns com os outros. Com isso, nãose pode negar o feito dos portugueses em estabelecerem a comunicação entre a Europa, a Áfri-ca, e depois entre a Europa e a África e a Ásia. “É obra conjunta dos ibéricos pôr em relação àEuropa com a América – Labrador, Caribe, Costa da América do Sul, Brasil – e a América com aÁfrica, decorrência do início do tráfico de escravos transatlântico.” Também, inconscientemente,Colombo realiza, assim, o “desencravamento” de uma América isolada do resto do mundo há mi-lênios, ao passo que Vasco da Gama faz da “África o elo que une Portugal à Ásia.” Retornaremos aessa questão mais adiante. Por hora, vamos conhecer os dilemas portugueses no século XVI.

2.4 A sociedade portuguesa:dilemas do “novo” e do “velho”

A época moderna é marcada por dilemas. Fernando Novais lembra que entre a Idade MédiaFeudal (sociedade marcadamente sagrada) e o mundo burguês e capitalista (sociedade laica eracionalista) estende “uma zona incerta e por isso mesmo fascinante, não mais feudal, ainda nãocapitalista, não é por acaso denominada transição”. (NOVAIS, 1997, p.16). Vejamos.

As receitas do Estado português em sua maioria (65%), no século XVI, advinham do tráfi-co marítimo, ou seja, a sociedade portuguesa não se sustentava como em outras monarquias da

época, na agricultura. Entretanto, já dissemos anteriormente que o Estado português era inves-tidor no setor mercantil (Estado-empresário), lembra-se? Considerando que a prosperidade dosEstados depende dos impostos sobre as atividades econômicas, como Portugal iria tributar a simesmo? Ora, essa contradição era um limite ao crescimento e enriquecimento dessa monarquiaeuropéia, bem como limitava a atuação e a consolidação de um segmento empresarial e burguêsno país. O historiador João Fragoso adverte que o estado português se limitou à modernizaçãoda sociedade naquele momento.

Esse mesmo autor acrescenta que “os gastos com os casamentos, dotes e outras despesasreais equivaliam, então, a cerca de 50% das finanças públicas (...) ultrapassando o gasto com aexpansão comercial no Marrocos e ao sustento das armadas”. (FRAGOSO, et al . 1998, p.27). Nessesentido, compreendemos o motivo pelo qual o Estado português inibirá investimentos privados,reforçará a aristocracia (principalmente o clero) a se aliar a setores mercantis, além de atuar comoEstado empresário, entretanto, sem incentivar investimentos produtivos. Tudo isso gerou a ma-

nutenção de uma sociedade “velha” (características do antigo regime) num momento em que o“novo” aparece (sociedade comercial, burguesa).

Para entender essa contradição, Fragoso lembra que houve uma mercantilização do Estadoe da nobreza, mas não houve o seu aburguesamento, sendo assim, não prosperaram em Portu-

PARA SABER MAIS

A Espanha, visando ga-rantir integralmente asterras descobertas oupor descobrir, apoiou oPapa Alexandre VI,queelaborou a Bula InterCoetera (1493), estabe-lecendo como divisorum meridiano de 100léguas das Ilhas deCabo Verde. As terras aleste desse meridianopertenceriam a Portu-gal, e as terras a Oestepertenceriam Espanha.Portugal contestouessa bula papal, poistemia que os espanhóisse apoderassem doterritório africano, porisso, na cidade espa-nhola de Tordesilhas,foi assinado outro trata-do que levou o nomeda cidade. Esse tratadode Tordesilhas ampliavade 100 para 370 léguasas possessões das colô-nias portuguesas.Vasco da Gama, em1498, em seu diário debordo registrou ter per-cebido sinais segurosda existência de terras

a oeste de sua rota.Logo em 1500, paraconsolidar nova rotacom as Índias, PedroÁlvares Cabral “desco-bre” as terras brasileiras,permanece nessasterras por cerca de 10dias e, então, segueviagem.

GLOSSARIO

Carta náutica - Por-

tulano: mapa anteriorao tempo das Desco-bertas, mostrando osrecortes das costas eilhas, onde estavamassinalados os portos eas rotas marítimas.Especiarias: Produtosraros. Substâncias aro-máticas para temperaros alimentos (exemplo:gengibre, noz moscada,pimenta, etc.)Nau: Antiga embarca-ção à vela, de alto bor-

do, com três mastros enumerosos canhões.

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UAB/Unimontes - 2º Período

gal sociedades por ações nem as companhias monopolistas de comércio (a exemplo de todo orestante da Europa), pois que tais organizações mercantis representavam um perigo para a no-breza. O comércio serviu, em Portugal, para preservar valores aristocráticos. Logo, não podemosestranhar o fato que a própria burguesia tendia a se aristocratizar! Em outras palavras, podemos,então, afirmar que a expressão “subir na vida” significava adquirir terras e títulos. “Eis aí uma fi-gura do império ultramarino: o mercador-fidalgo”. (FRAGOSO, 1998, p.28). Na realidade, Portugal

se “dava ao luxo” de manter 1/3 de sua população sem participar diretamente da produção dariqueza; situação contrária podemos observar no restante da Europa, notadamente na França,onde 80% da população estava diretamente ligada a tal produção naquele país.

A figura 25 representa o que Xavier e Hespanha (1993) apontaram: a nobreza continuavasendo entendida como essencialmente natural e humana. Entretanto, eles também indicam quea existência de poderes informais tendia a se misturar e coexistir com outros critérios fincados noparentesco, na amizade, na fidelidade, na honra, na mercê e no serviço.

▲ ▲

Figura 25: Hierarquização social européia.

Fonte: Disponível em:http://castelodosaprendizes.com/album.htm. Acesso em 14/10/2013

Figura 26: Expansão ultramarina

Fonte: BOTELHO & REIS, 2001. p.58.

A expansão ultramarina retirou Portugal da depressão agrária, transformando os costumessociais tradicionais para melhor conservá-los.

Em vez de ter adotado práticas e mentalidades capitalistas ao adquirir um imenso impériocolonial, a sociedade portuguesa optou em reforçar a mentalidade aristocrática e seus símbolosde poder. Por isso entendemos o motivo da valorização da nobreza, a qual terá privilégios políti-cos e sociais, bem como construirá distinção social pelo gesto, pelo vestuário e por normas jurídi-cas (a isso chamamos de velho).

Para se ter idéia, por um mesmo crime um fidalgo tem punição diferente de um peão. Valeressaltar que os descobrimentos, ao permitirem um re-conhecimento do mundo, traziam con-sigo uma nova leitura da existência humana. A Igreja, detentora do saber primordial sobre asorigens da civilização ocidental, precisa redirecionar suas explicações. O microcosmo medievalsofre enorme abalo e, aos poucos vimos surgir um macrocosmo onde o pensamento cristão terá

que reordenar. O novo precisava ser inserido no discurso religioso das Escrituras Sagradas comose fosse algo perdido que, agora, fora encontrado.O surgimento de outro elemento totalmente desconhecido para identidade européia (as

Américas, os Indígenas) gerou a necessidade de introduzir um processo de transformação ouaproximação que significava a inserção do novo dentro do velho mundo, o qual se consolidaracom a preponderância do modelo europeu.

Agora, já é possível compreender o que o Brasil representou para Portugal, não é mesmo?As terras brasileiras eram um “novo mundo” de possibilidades e realização de sonhos de enrique-cimento luso. Considerando que Portugal se viu ameaçada diante do avanço inglês na costa daÁfrica Ocidental, assim como obrigado a abandonar parte de suas praças comerciais e alguns lo-cais no Marrocos (Norte da África), por conta do avanço dos muçulmanos, veremos que, nessecontexto, o Brasil terá uma importância ímpar (não imediatamente, mas num plano processual)para os interesses lusitanos, notadamente aos homens de negócio dos portos coloniais que cres-

ciam e se fortaleciam.

PARA SABER MAIS

Você sabia que a ditaEscola de Sagres, pre-

sumivelmente, foi umcentro náutico fundado

pelo Infante D. Henri-que, em 1418, e reunia

os mais importantescartógrafos, geógrafose marinheiros à época

das grandes navega-ções?

Você sabia tambémque segundo alguns

historiadores essadenominação sagres refere-se a uma téc-

nica de navegar que,progressivamente, foi

conquistada pelos ma-rinheiros do século XV,

não tendo, portanto,nenhum caráter didáti-

co ou pedagógico?A casa de Sagres

reunia navegantes quedominavam técnicas

adquiridas na própriaexperiência de navegar.BOTELHO, Ângela Vian-na & REIS, Liana Maria.

Dicionário HistóricoBrasil: Colônia e Impé-

rio. Belo Horizonte: O

autor, 2001, p.66.

GLOSSARIO

Burguesia: Termo quedesignava o habitante

do burgo ou cidade;grupo social prove-

niente do povo, e queenriquece devido à

sua especialização nocomércio e nos ofícios

artesanais.Cortes: Reuniões extra-

ordinárias dos repre-sentantes dos grupos

sociais de um reino. AsCortes reuniam-se porordem do Rei, quandoeste tinha necessidade

de ouvir as opiniõesdesses representantes

(fazer a guerra ou a paz,lançar impostos, casar

os príncipes...). Tinhamapenas um carácter

consultivo.

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História - História do Brasil Colônia I

2.5 As condições técnicas para asgrandes navegações

Nesse item, vamos viajar pelos conhecimentos técnicos disponíveis e utilizados pela socie-dade portuguesa do século XV e XVI. Nossa intenção é chegar ao seguinte ponto: a ciência e atécnica foram fortes aliados para os europeus no processo de “lançarem velas ao mar”. Vamos co-nhecer um pouco das técnicas de navegação desse período, pois isso contribuirá para a monta-gem do quadro histórico da Europa e de Portugal no momento estudado.

Sabemos que a localização geográfica do Estado português e a necessidade de se buscar novasrotas para o comércio com o oriente foram fatores que impulsionaram o interesse português pelanavegação. Temos que considerar, ainda, que no final do século XV poucos eram os homens quepossuíam uma visão mais global e de noções básicas das diversas ciências. Entretanto, com a fun-dação da Escola de Sagres (D. Henrique, 1433), Portugal terá condições de amealhar conhecimentoscientíficos diversos, o que facilitará o estudo e o aperfeiçoamento das técnicas de navegação.

Desde a antiguidade, existiram diversos instrumentos que os europeus herdaram dos ára-

bes. Esse é o caso da bússola, do astrolábio, da balestilha, da ampulheta e do quadrante. Ao seaventurarem por mares nunca antes navegados, os portugueses encontraram dificuldades, taiscomo: a imprecisão dos mapas e sua indeterminação na indicação da posição em alto mar. Ti-nham ainda que vencer o tenebroso mar que, de acordo com o pensamento dominante advindoda medievalidade, era repleto de animais gigantes, monstros, os quais imputavam temor ao ho-mem que desejasse ir além-mar.

Os portugueses, assim como diversos outros europeus, venceram esses limites, pois, desdea Idade Média, a navegação realizada era aquela que margeava a costa litorânea da Europa, daÁfrica e do mar Mediterrâneo, realizando diversas paradas na costa, criando pontos de referênciapara não se perderem.

Figura 27:Representação dotemor da navegaçãoem alto mar.

Fonte: Disponível emhttp://www.culturabra-sil.pro.br. Acesso em14/10/2013

◄ Figura 30: Navegaçãoastronômica.

Fonte: Disponível emhttp://www.museutec.org.br. Acesso em 14/10/2013

PARA SABER MAIS

Figura 28: Réplicada nau capitâniapertencente à esquadrade Pedro Álvares Cabralem exposição na cidadede Porto Seguro/BA.Fonte: Acervo pessoal.

Sua construção foi conclu-ída em 2000 e hoje integrao patrimônio histórico dacidade de Porto Seguro.

Quer representar operíodo das grandesnavegações e marcar olocal próximo a “coroavermelha”, onde foirezada a primeira missa noBrasil; mas também quermostrar a técnica náutica.Atualmente fez parte dascomemorações brasileirasacerca dos 500 anos de“descobrimento do Brasil”.Para construir essa réplicada Nau usada por Cabral,informações foram levan-tadas, a saber:

A nau terá instalaçõespara 20 tripulantes e 15passageiros, mas, apesardo seu pequeno tamanho,a nau original de Cabral,com apenas 28 metrosde comprimento, trazia abordo nada menos do que165 pessoas. Com 13 nauspequenas, Cabral chegouao Brasil com cerca de1500 homens.

Figura 29: Detalhe daárea interna da réplicada nau capitânia.

Fonte: Acervo pessoal.

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UAB/Unimontes - 2º Período

A figura 30 ilustra essa navegação astronômica. Tal navegação foi desenvolvida principal-mente a partir de dois pontos fundamentais: primeiro, do avanço das viagens atlânticas e, segun-do, da necessidade de outro método de orientação para percursos de vários dias e semanas empleno oceano.

As chamadas “grandes navegações” prolongaram-se por mais de cem anos, desde a conquis-ta de Ceuta, em 1415. Nesse momento, ocorreu um enorme número de viagem que, aos poucos,

foram conquistando espaços novos para os portugueses e espanhóis. Enfrentar os oceanos foitarefa que exigiu muito conhecimento e dependeu de progressos anteriores na construção náu-tica, na cartografia, na astronomia, na matemática, nos primeiros instrumentos náuticos. Depen-deu da formação de uma mentalidade moderna, voltada para o conhecimento, a experiência e avalorização da técnica e da ciência, em busca de novos horizontes econômicos e culturais. Con-forme afirmou Sérgio Buarque de Holanda em Visões do Paraíso, os marinheiros e exploradoresportugueses do período, tendo a experiência como mestra, constituíam “os olhos que enxergamas mãos que tateiam” o mundo os europeus. (HOLANDA, 1995, p.11).

Para tanto, era necessário desenvolver a técnica e se valer do desenvolvimento do conhe-cimento científico da época. Analise a figura 31 e observe como essas transformações tambémforam materializadas nessa representação de uma nau.

2.6 Descobrimento? achamento?esta é a América Portuguesa!

As comemorações dos quinhentos anos de descobrimento da América e do Brasil, respec-tivamente em 1992 e 2000, fizeram suscitar uma série de questionamentos. Desde questões li-gadas ao dito perfil identitário do brasileiro até indagações relacionadas ao processo histórico

político e econômico de nosso país. Mas, queremos aqui ressaltar a temática da discussão larga-mente discutida: nós, brasileiros, fomos achados ou descobertos pelos portugueses? Que olharpossui o dono de um “discurso” que opta em usar um dos termos achamento ou descobrimentopara narrar a nossa história?

Certamente sabemos que a história possui datas as mais diversas, que foram “produzidas”para marcar momentos significativos em nossa história num momento em que a historiografiapossuía uma concepção de história que atrelava ao fato/acontecimento a história humana, arrai-gada na ideia de verdade absoluta, ou seja, a produção da história era feita na concepção vigentedo século XIX, dentro da perspectiva da escola metódica, dita positivista. Entretanto, devemosentendê-la como um processo que possui movimentos de ruptura e de continuidade. Esses mo-vimentos são sentidos, coloridos, cheirados, experenciados por “pessoas” e não por datas que al-guns dizem ser significativas, mas vazias de sentido/significação para muitos.

Sendo assim, queremos chamar a sua atenção para pensarmos a história - a nossa história -

buscando compreender as ações dos mais diversos sujeitos sociais que vivenciaram esse proces-so fantástico em nosso caminhar. Sendo assim, vamos estudar esse momento da história do Bra-sil atentos aos “cheiros e às cores” desse país através dos vestígios históricos a que o historiador eo professor de História do Brasil precisam bem compreender.

DICA

Do outro lado do MarTenebroso

Águas fervilhantes, aresenvenenados, animais

fantásticos e canibaismonstruosos espreita-vam a imaginação dosque desciam o Atlânti-

co em direção ao sul.Quando o navegador

da Ordem de Cristo GilEanes passou o Cabo

Bojador, um pouco aosul das Ilhas Canárias,em 1434, mais do que

realizar um avanço náu-tico, estava desmon-

tando uma mitologiamilenar.

Acreditava-se que de-pois do cabo, localizadono que é hoje o Saara

Ocidental, começava oMar Tenebroso, onde aágua fumegaria sob o

sol, imensas serpentescomeriam os desgra-

çados que caíssem nooceano, o ar seria en-

venenado, os brancosvirariam pretos, havia

cobras com rostoshumanos, gigantes,

dragões e canibais com

a cabeça embutida noventre. O estrondo das

ondas nos penhascosdo litoral, que podia

ser ouvido a quilôme-tros de distância, as

correntes fortíssimase as névoas de areiareforçavam o pânicodos pilotos. Quando

finalmente reuniu cora-gem e viu que do outrolado não havia nada deespecial, Eanes abriu o

caminho para o sul.

O site CLIO HISTORIAde onde foi retirado

esse texto disponibi-liza diversos outros. Omaterial disponibiliza-

do para os interessadospela história versa so-bre diversos assuntos.Vale a pena navegar e

tirar dúvidas nesse site.Disponível em http://www.cliohistoria.hpg.ig.com.br/biblioteca/

brasil/hb_colonia/hb_colonia.htm Acesso

em 16/10/2013

Figura 31:Representação de

uma nau portuguesa(croqui).

Fonte: Disponível emhttp://www.culturabrasil.

pro.br/achamento.htm.Acesso em 14/10/2013

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História - História do Brasil Colônia I

Um dos vestígios que nos remete ao termo “achamento” está presente na Carta de Pero Vazde Caminha quando ele fala em “achamento de nova terra”, em detrimento do termo “descobri-mento” ou “casualidade”. Parece que isso é sintomático, afinal, procurava-se outra terra, no casoas Índias. Também, revela que esse achado foi importante, não tendo, entretanto, a mesma im-portância que as terras descobertas pela Espanha, pelo menos em seus primeiros trinta anos. Emsua carta, Caminha descrevia características da terra que via:

BOX 2

Na terça-feira à tarde, foram os grandes emaranhados de “ervas compridas a que os ma-reantes dão o nome de rabo-de-asno”. Surgiram flutuando ao lado das naus e sumiram nohorizonte. Na quarta-feira pela manhã, o vôo dos fura-buchos – uma espécie de gaivota –rompeu o silêncio dos mares e dos céus, reafirmando a certeza de que a terra se encontravapróxima. Ao entardecer, silhuetados contra o fulgor do crepúsculo, delinearam-se os contor-nos arredondados de “um grande monte”, cercado por terras planas, vestidas de um arvoredodenso e majestoso.

Fonte: Carta de Pero Vaz de Caminha. Acesso em 16/10/2013.

Era 22 de abril de 1500. O Brasil aparece para os portugueses com “data e certidão de nas-cimento” e riqueza em detalhes, como vimos anteriormente. Segundo o olhar dos europeus,houve um descobrimento, considerando que eles não conheciam essas terras e muito menosos seus habitantes, os quais lhes causaram sentimentos os mais diversos. Um desses sentimen-tos pode ser observado no momento em que o capitão Nicolau Coelho, veterano das Índias ecompanheiro de Vasco da Gama, foi à terra em um batel e deparou com 18 homens pardos,nus, com arcos e setas nas mãos. Coelho deu-lhes um gorro vermelho, uma carapuça de linhoe um sombreiro preto. Em troca, recebeu um cocar de plumas e um colar de contas brancas. O

Brasil, batizado de Ilha de Vera Cruz, entrava, naquele instante, no curso da História.Opa!!! No curso da História? Qual história? Então não tivemos história antes que os por-

tugueses aqui chegassem? É exatamente essa visão que nós queremos rever com você, estu-dante de História! Vamos separar as coisas. Os ditos indígenas, nativos de nossa terra, já nãoestavam aqui há muito tempo quando esses portugueses chegaram? Ora, então esse país foiachado! Comemoramos o processo de achamento do Brasil!

Todavia, comemoramos também a incursão do Brasil num mundo global, como afirmouGruzinski (1999), a partir do descobrimento da terra brasilis, do ponto de vista do europeu. En-tendeu? O que estamos discutindo então é o olhar! Queremos entender a nossa história peloolhar do europeu? Ou pelo nosso olhar? Essa resposta é com você. Pense nisso!

Bom, agora podemos prosseguir. Uma dúvida paira sobre o amplo desvio de rota que con-duziu a armada de Cabral muito mais para oeste do que o necessário para chegar à Índia. Teria

sido o descobrimento do Brasil um mero acaso? Ou foi algo intencional? Existem os que levan-tam a possibilidade desta terra já ter sido avistada em tempos anteriores e o desembarque, em1500, teria sido mera formalidade! É provável que esta questão jamais venha a ser esclarecida.Entretanto, existem os que utilizam informações do Tratado de Tordesilhas de 1494, como base

◄ Figura 32:Descobrimento doBrasil, ano 1500.Primeiro desembarquede Pedro ÁlvaresCabral. Quadro deOscar Pereira da Silva(1865-1939), MuseuPaulista.

Fonte: Disponível emwww.portalsaofrancisco.com.br/alfa/desco-brimento. Acesso em

14/10/2013

PARA SABER MAIS

O tratado de Tordesilhas,assinado entre D. João II eos Reis Católicos, Fernan-do e Isabel, contém o acor-do final a que chegaramas coroas de Portugal e

de Castela sobre as zonasde influência para as suasexpansões.Assinado em 1494, aofim de um longo conflitosobre as áreas a dominarpor uns e por outros,determina nas suas cláu-sulas essenciais que sereconheciam a Castelatodas as ilhas e terrasdescobertas para ocidentedo meridiano que passa a370 léguas a ocidente deCabo Verde.

A oriente, ficavam sal-vaguardados os direitosde Portugal, o que viria aincluir parte do territó-rio brasileiro, para alémda África e das regiõesorientais. Possivelmente,D. João II já teria, à data daassinatura do tratado, co-nhecimento da existênciado território brasileiro.Mesmo depois da assina-tura deste tratado houvealguns pequenos focos deconflito devido a dificulda-des em determinar a qual

das duas esferas de influ-ência pertenciam algunsterritórios e ilhas. Destesconflitos, destaca-se aquestão do arquipélagodas Molucas, que foi umdos motivos da viagemde Fernão de Magalhães àvolta do Mundo.

GLOSSÁRIO

Navegação astro-nômica: Navegação

marítima cuja orienta-ção é feita através daobservação dos astros.Quadrante:- Utensíliousado pelos navegado-res portugueses paradeterminar a altura doSol.Rota: Percurso conheci-do e anotado em cartasou mapas rumo a umcerto objetivo.Angola: nome dadopelos portugueses àregião de Ndoango,

devido ao fato de oschefes locais, sobas,possuírem o nome deNgola.

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UAB/Unimontes - 2º Período

para afirmar o conhecimento prévio pelos portugueses das terras brasileiras, pois se em 1494Portugal queria certa quantidade de terra que ele não conhecia. Mas além desse indicativo,existem outros, como a existência de mapas de 1339, onde aparece o nome Brasil. Clio Histó-ria, site que disponibiliza para fins educativos uma série de documentos na seção Clio história– textos e documentos. Disponibilizou-se nesse ambiente a figura 33. Confira:

Entretanto, se faz imperioso entender que relações coloniais foram estabelecidas com a me-trópole portuguesa a partir de então? De que maneira se processou a colonização na AméricaPortuguesa, especialmente no início da conquista dessa nova terra?

2.7 Relações coloniais entre

Portugal e América Portuguesa noinício da conquistaO mapa representa uma das maneiras de olhar e representar o novo território. Analise a

imagem de acordo com as questões que já sugerimos anteriormente. Entretanto, indicamos quedesde já observe os detalhes presentes, tais como: o que os índios fazem e qual visão do territó-rio está disposta na figura 34. 

Feita essa operação, vamos pensar sobre as visões desse dito paraíso e suas representações.Isso nos permitirá compreender relacionamentos estabelecidos entre a Europa e o Novo Mundo,bem como entender o papel das instituições que atuaram nesse lugar.

Uma das instituições que atuou na América Portuguesa foi a Igreja Católica que permitia umtrânsito cultural, ao mesmo tempo em que se efetivava a transformação do continente america-no a partir do modelo eurocêntrico cristão. É essa Igreja que descobrirá a existência de outro uni-verso estranho aos cristãos e desde a origem o considerou inferior, pois ele não era consideradocristão.

Mas, quem eram esses portugueses que por aqui aportaram? Os historiadores Antônio Ma-nuel Hespanha e Ana Cristina Nogueira da Silva escreveram um livro cujo pano de fundo foi dis-cutir a identidade do português. Em suas palavras, os portugueses

eram católicos, que eram muito menos europeus, que eram hispânicos(...),vassalos de um rei ou de senhores; eclesiásticos, nobres ou plebeus (...) Sendotudo isso, sem deixarem de ser portugueses, eram portugueses de uma manei-ra muito menos nítida e unidimensional do que o hoje supomos (HESPANHA,

2001, p.19).

Holanda (1995) também contribuirá acerca dessa questão, afirmando que os ibéricos erammuito diferentes dos europeus em geral, e todos esses autores apontam que os portugueses

Figura 33: Mapade 1482, feito pelo

cartógrafo GraciosoBenincasa, em

Ancona, na Itália,indica (1) costa

portuguesa; (2) costaafricana; (3) “Isola de

Brasil”; (4) “Antilia”.

Fonte: Disponível em www.cliohistoria.hpg.ig.com.br/biblioteca/

brasil/hb_colonia/hb_co-lonia.htm. Acesso em

14/10/2013

PARA SABER MAIS

DIVISÃO DAS CAPITA-NIAS

Murilo MendesA primeira pros londri-

nos,Pra assentarem telefo-

nes,Bondes puxados aburros

Naturais deste país;Cruzados nos empres-

taramA cinco por cento ao

mês.A segunda aos holan-

deses,Pra ensinarem a fazer

queijo,Lidar direito com moi-

nhosE algumas regras de

asseio.A terceira pros franceses,

Que trouxeram nasfragatas

Muitos vidros de per-fume,

Mulheres muito exci-tantes,

Maneiras finas, distintasE romances de adultério.

Quem falou francês foinós.

A quarta foi para osturcos,

Pra vender chitas, miçan-gas

Na porta das mamelu-cas.

Compraram a capitaniaEm diversas prestações.A quinta aos italianos,

Ajudaram a lavrar a terra,Engraxaram as botas da

gente;Nas sacolas de emi-

granteTrouxeram discos de

cantoQue amenizam a nossa

vidaNa hora do inglês

chegar.A sexta aos americanos,Trazem fitas de cow-boy.Os colonos vêem a fita,

Ficam logo entusiasma-dos,

Fazem negócio com eles.A sétima, aos alemães

Trouxeram cerveja loura,Fazem grande concor-

rênciaÀ cachaça nacional.

As outras cinco fazendas,Pra fazer conta redonda,Entregaram aos lisboetas

Que fornecem manti-mento

Às capitanias restantes.

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História - História do Brasil Colônia I

não eram muito europeus nosentido de que eles eram di-versos etnicamente, porém,católicos.

A grande dificuldadedesse processo é que o novo,

pela existência autônoma quelhe é peculiar, possui um graude dessemelhança grande emrelação ao universo europeu.Por conseguinte, partindo sede uma visão eurocêntrica,os demais povos eram vistosem função da proximidadeem que se encontravam domodelo padrão, tido como ci-vilizado, e a não proximidadeapontava para um estágio pri-mitivo humano (PAIVA, 1982,p. 23).

Certo é afirmar que notempo da chegada dos lusi-tanos na terra que viria a sero Brasil, não ocorreu o desen-volvimento e a efetivação deum imediato processo de ocupação, e muito menos colonização, pois a monarquia portuguesade 1500 a 1530 não propôs um planejamento concreto de aproveitamento do território desco-berto. Junte-se a isso o fato que os portugueses não encontraram imediatamente - a exemplo doque ocorreu na América Espanhola - os tão desejados metais (ouro e prata). Todavia, o pau-brasilnão passou despercebido aos olhos de nossos colonizadores, e nem aos olhos dos franceses que,a partir de então, passaram a intensificar relações com os nativos, ávidos pela obtenção e comer-

cialização da madeira e seus derivados na Europa.Portugal, visando assegurar a comercialização da madeira pau-brasil, expediu decreto ins-

tituindo o seu monopólio sobre esse vegetal, haja vista as caravelas da França frequentementepresentes no litoral brasileiro, ameaçando a sua hegemonia. O Estado francês só conheceria aposse portuguesa do Brasil se estas terras fossem efetivamente povoadas.

Nessa medida, Portugal estava temerosa em perder a posse do território, passou a enviarpara o Brasil as chamadas expedições guarda-costas e, também, a promover a fundação de fei-torias. Todavia, estes projetos metropolitanos não obtiveram êxito, devido a grande extensãodo litoral brasileiro e ao fato das feitorias serem em número reduzido e muito distante uma dasoutras.

A situação para Portugal não estava tão fácil de resolver. Vejam que o comércio de espe-ciarias que sustentou a economia lusitana até o século XV, a partir do século XVI sofre dificul-

dades, especialmente na manutenção de viagens marítimas que visavam o abastecimento des-te mercado e, principalmente, pelo surgimento de uma acentuada concorrência com outrospaíses europeus que também se lançaram ao mar e iniciaram seu processo expansionista naépoca moderna.

Sendo assim, o historiador Fernando Novais afirma que a colonização do Brasil se deu numquadro de competição e equilíbrio entre as nações européias. Desta forma, o Brasil passou a servisto como a alternativa para o reerguimento econômico luso após a decadência com o comér-cio indiano. Todavia, além desse fator, podemos identificar outros que ampliarão a nossa manei-ra de entender os interesses portugueses na colônia brasileira: ora, os franceses permaneceramem nosso litoral ameaçando a posse dos portugueses, assim como o sucesso espanhol com asdescobertas de ouro e prata em suas colônias na América reforçava esse desejo junto aos por-tugueses. Se os espanhóis encontraram ouro e prata, nós também encontraremos! Porém, não éapenas esse desejo que embalou os portugueses. O mito sobre montanhas de ouro, o chamadoEl Dourado, mantinha avivada a vontade portuguesa de dominar o seu território colonial.

PARA SABER MAIS

Somos o povo índio.Somos uma personali-dade com consciênciade raça, herdeiros eexecutores dos valoresculturais dos nossosmilenares povos daAmérica, independen-temente de nossa cida-

dania em cada Estado.(...) Sustentamos quedeve ensinar-se a his-tória começando pelaautêntica história dasculturas nativas, paracontribuir, assim, para acriação da consciênciaamericana. O respeito,surgido do conheci-mento maior entre oshomens que habitamessas terras...Essa é uma das con-clusões do primeiro

encontro de indígenasda América do Sul,realizado em San Ber-nardino, Paraguai, emoutubro de 1974, quereuniu representantesdo Brasil, da Argenti-na, da Colômbia, doEquador, do Canadá,dos EUA, do Paraguai eda Venezuela.Ela revela a tomada deconsciência por partedas nações indígenasde toda exploraçãoe dominação, atémdo extermínio, que oeuropeu praticou aoconquistar o continen-te americano.

PARLAMENTO Índiode San Bernardino,1974. O Estado de S.Paulo. SP, 20 out. 1974.Texto retirado do site“Clio história – área de“textos e documentos”.http://www.cliohistoria.

hpg.ig.com.br/bibliote-ca/brasil/hb_colonia/hb_colonia.htm. Acessoem 14/10/2013

 

◄ Figura 34: Mapa doDescobrimento doBrasil

Fonte: Disponível emhttp://www.culturabrasil.pro.br/achamento.htm.

Acesso em 14/10/2013

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UAB/Unimontes - 2º Período

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CARTA Pero Vaz de Caminha. Disponível em http://www.biblio.com.br/defaultz.asp?link=http://www.biblio.com.br/conteudo/perovazcaminha/carta.htm Acesso em 16/10/2013.

FRAGOSO, João; FLORENTINO, Manolo & FARIA, Sheila de Castro. A economia colonial brasilei-ra: séculos XVI-XIX. 4. ed. São Paulo: Atual, 1998. (Discutindo a História do Brasil).

FRANCO Jr., Hilário. O feudalismo. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1984.

GRIMPEL, Jean. Revolução Industrial na Idade Média. Rio de Janeiro: Zahar Editor, 1977.

GRUZINSKI, Serge. A passagem do século: 1480 – 1520: as origens da Globalização. São Paulo:Cia das Letras, 1999.

GRUZINSKI, Serge. O pensamento mestiço. São Paulo: Cia das Letras, 2001.

HESPANHA, Antônio M. As Estruturas Políticas em Portugal na Época Moderna. In: TENGARRI-NHA, José (Org.). História de Portugal. São Paulo: Universidade do Sagrado Coração – EDUSC,2001.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Visão do Paraíso. 5. ed. São Paulo: Brasiliense, 1992.

HOLANDA, Sérgio. B. Raízes do Brasil. São Paulo: Cia das Letras, 1995.

Jornal Estado de Minas, Ouro de Minas: 300 anos de História. Fl.16-17. Fotos: Emmanuel Pinheiroe Beto Novaes. Editor de Artes Gráficas: Álvaro Duarte. Domingo, 15 de maio de 2005.

LE GOFF, J. Mercadores e banqueiros na Idade Média. Lisboa: Gradativa, 1956.

NOVAIS, Fernando. Condições de privacidade na colônia. In: NOVAIS (dir.) & SOUZA (org). Históriada Vida Privada no Brasil: cotidiano e vida privada na América Portuguesa. São Paulo: Cia dasLetras, 1997 (História da Vida Privada no Brasil; 1).

PAIVA, José Maria de. Colonização e Catequese. São Paulo, Cortez, 1982.

XAVIER, Ângela B. e HESPANHA, Antônio M. A Representação da Sociedade e do Poder. In: HES-PANHA, Antônio M. (Org.). História de Portugal Vol. 4. Lisboa: Estampa, 1993.

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História - História do Brasil Colônia I

UNIDADE 3O início da colonização: a

distribuição das terras, economia eadministração

Dayse Lúcide Silva Santos

3.1 IntroduçãoEsta terceira unidade visa introduzir você ao início da colonização portuguesa na América.

Para isso, construímos cinco itens que melhor o ajudarão a compreender esse momento da nos-sa história, a saber: preparação para a colonização; sua organização administrativa e judicial; asrelações estabelecidas entre portugueses e índios no Brasil durante o período inicial da coloniza-ção e, por fim, o início da exploração do açúcar na América Portuguesa.

Hans Staden publicou um texto em 1557 como resultado de duas visitas realizadas ao Brasil,uma em 1548 e outra em sua visita 1554. Esse relato é a visão de um europeu alemão sobre osindígenas e a terra brasileira. Vejamos:

A América é uma terra vasta. Lá existem muitas tribos de homens selvagenscom muitas línguas diversas, e numerosos animais esquisitos. Tem um aspectoagradável. As árvores estão sempre verdes[...]. Os habitantes andam nus. No sulonde faz muito frio vive uma tribo de índio que se chama carijós. Servem-sede peles de animais selvagens, preparam-nas bem e cobrem-se com elas. Suasmulheres fazem tecidos de fio de algodão como sacos, abertos em cima e em-baixo.Existem também naquela região frutos terrestres e arbóreos dos quais se ali-mentam homens e animais [...] o índio é gente capaz, astuta e maldosa, semprepronta a perseguir os inimigos e devorá-los. (STADEN, 1974, p. 152)

Esse é um olhar sobre o Brasil. Estudaremos outros olhares ao longo dessa unidade. Paratanto, chamamos a sua atenção para as dicas de estudos que inserimos nesse material. Não deixede esclarecer todas as suas dúvidas com seu professor formador e com os tutores. Socialize suasideias e opiniões com os demais colegas por meio do ambiente virtual do seu curso.

Desejamos boa aula!

3.2 Brasil: preparando paracolonizar

Você se lembra de já ter estudado sobre a primeira missa no Brasil? Já falamos disso ante-riormente. Retomamos, aqui, a figura 35 apenas para chamar a sua atenção para o fato de quemuitos estudantes de nossa história têm como marco essa imagem da efetiva colonização do

Brasil.

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UAB/Unimontes - 2º Período

Por volta de 1500 a 1530, a Coroa Portuguesa não desenvolveu, de imediato, nenhum pro- jeto sólido de colonização de suas porções de terra recém-descobertas. Você já se perguntou osmotivos de Portugal ter agido dessa forma?

Não é difícil imaginar que a primeira coisa a ser feita é realizar um reconhecimento do terri-tório, correto? Foi isso que Portugal fez!

O primeiro reconhecimento da nova terra foi feito em 1501, logo após a chegada da nau

enviada por Cabral (ele segue viagem para as Índias) a Portugal, levando a notícia do descobri-mento de novas terras. Esse primeiro reconhecimento se dá a partir do litoral do atual Rio Grandedo Norte, seguindo uma rota de navegação rumo ao sul por cerca de 2.500 milhas. É interessanteobservar que muitos nomes dos lugares tal qual hoje conhecemos, nasce nesse momento, porexemplo: Baía de Todos os Santos, Cabo de São Tomé, Angra dos Reis e São Vicente.

O segundo reconhecimento expedicionário ocorreu entre 1502 e 1503, contando com aparticipação de Américo Vespúcio que, nessa época, trabalhava para a Coroa Portuguesa. A in-formação encaminhada por Américo Vespúcio será importante para os burgueses aristocratas dePortugal: “pode se dizer que nessas terras não encontramos nada de proveito”. Nesse momento,os lusos ficaram sabendo que pouco tinham a explorar, pois esperavam encontrar imediatamen-te o mesmo que Pizzarro e Cortez encontraram na América Espanhola: ouro e prata.

Mas, além desse motivo que explica a atitude lusitana em não iniciar a colonização imediatadas terras brasileiras, existem outros motivos, os quais podemos enumerar:

Dissemos anteriormente que o Estado português é um estado-empresário e que a sua bur-guesia ainda estava apegada a valores aristocráticos, lembra-se disso? Logo, era preciso encon-trar algo que desse retorno financeiro imediato aos portugueses, pois essa sociedade possuíaaltos gastos com a “máquina do governo” e tímida capacidade de investimento. Junte-se a isso ainformação de que as atividades mercantis com as Índias ainda apresentavam reais possibilida-des de ganhos financeiros para os lusos.

Os lusitanos conviverão com alta mortalidade, vítimas de epidemias diversas, especialmentede 1569 a 1570.

Lisboa será vítima de terremotos em momentos bem próximos, como em 1531 e outro maisdevastador em 1575.

Diante de todos esses motivos, como Portugal iria fazer altos investimentos na colônia bra-sileira? Nesse momento, era praticamente impossível. Entretanto, a nova terra era farta em ma-

deira, principalmente o pau-brasil. Para isso, a Coroa portuguesa arrendou a exploração da costabrasileira para um grupo de comerciantes liderados por Fernão de Loronha, que entra para histó-ria com o nome de Fernando de Noronha. Eles eram autorizados a extrair pau-brasil do litoral, agarantir o compromisso de pagar as taxas devidas à coroa e a garantir a defesa da costa.

Figura 35:Representação da

Primeira Missa no Brasil(1861). Victor Meirelles

Fonte: Disponível emhttp://www.infoescola.com/wp-content/uplo-

ads/2010/09/primeira--missa.jpg. Acesso em

15/10/2013.

ATIVIDADE

Analise atentamentea figura 35.

No Fórum da disci-

plina discuta com osdemais colegas e o seu

professor:

- Quais críticas pode-mos fazer a esse tipode representação da

realidade?

- É a verdade ali repre-sentada? É mentira, é

invenção?

- Com quais cuidadosessa fonte deve ser uti-lizada pelo historiador?

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História - História do Brasil Colônia I

No continente negociam o corte do pau-brasil com os índios. O árduo trabalho de cortar e car-regar as toras até os navios era realizado pelos índios, que, em troca, recebiam machados, facas,facões e diversas “bugigangas”. A esse sistema de trocas deu-se o nome de escambo. Os locais ondeeram guardadas as madeiras até aguardar o retorno do navio era denominado de feitorias.

Para se ter uma idéia do rendimento de tal negócio, em média, os feitores conseguiam car-regar pelo menos seis navios por ano. Em 1511, Loronha levou para Portugal 5 mil toras de pau--brasil, índios escravizados e animais silvestres, como papagaios, tuins e sagüis.

Essa foi a saída que os portugueses conseguiram pensar de imediato para as suas novaspossessões coloniais. Está fundado o sistema de feitorias. Esse sistema foi responsável por contri-buir para a formação do Império Português, que além do Brasil, possuía feitorias também na Ásiae na África.

Muitas expedições serão organizadas de 1501 a 1530, tendo como objetivo explorar, coloni-zar e defender o território, conforme se vê no quadro 2:

QUADRO 2

Expedições Brasil 1501 a 1530

Expedição Ano Local

Expedição exploradora de Gaspar deLemos

1501 Reconhecimento área litorânea

Expedição de Gonçalo Coelho 1503 Atuou em vários pontos do litoral

Expedição de Paulmier de Gonneville 1503 - 1504 Litoral de Santa Catarina

Expedição de Cristóvão Jacques1516-1521-1526

Combate os franceses e lidera asexpedições guarda-costas

Expedição Colonizadora de Martim Afon-

so

1530 São Vicente

Fonte: Disponível em http://www.suapesquisa.com/pesquisa/brasil_colonial.htm acesso em 01/12/2013. Acesso em15/10/2013.

Os europeus se fixam no Brasil nos primeiros anos após o “descobrimento”. Foram náufragos,marinheiros desertores, degredados expulsos de Portugal pelas Ordenações Manuelinas, legisla-ção criminal portuguesa. Até a colônia chegaram também aventureiros de várias nacionalidades,inclusive fidalgos em missões oficiais ou em busca de fortuna. Junte-se a isso a chegada, tam-bém, de judeus portugueses convertidos ao cristianismo, denominados de cristãos-novos.

Um desses portugueses a aportar por aqui foi João Ramalho (1580). Há grande possibilidade deele ter vindo degredado de Portugal, deixando por lá a esposa grávida. João Ramalho aportará emSão Vicente (mas fixando morada no povoado de São Paulo do Piratininga) e por aí se estabeleceráe manterá relações sexuais com a índia Bartira, filha de Tibiriçá, chefe da tribo dos tupinambás, com

a qual terá muitos filhos. João Ramalho será de grande importância para Martim Afonso de Souzanas entradas de reconhecimento do planalto de Piratininga e ajudará a contatar tribos indígenas daregião. Quando fixou moradia no povoado de São Paulo de Piratininga, combateu os índios tupini-quins ao lado dos portugueses e recebeu o título e os privilégios de capitão-mor.

PARA SABER MAIS

O pau-brasil foi colo-cado sob monopólioda Coroa portuguesa.

A exploração foi feitaatravés de contratosde arrendamento comcompanhias particula-res, que devem pagarum quinto do valorobtido ao governoportuguês. É extraídodo litoral do Rio Grandedo Norte até o do Riode Janeiro. O corte eo transporte local sãorealizados inicialmen-te pelos índios, sobcontrole de feitores, co-merciantes ou colonos.Depois, por escravosnegros. Até 1875, o“pau de tinta” aparecenas listas de produtosexportados pelo Brasil.

◄ Figura 36: Mapaséculo XVI. GiovânioRamúcio.

Fonte: BOTELHO & REIS,2001, p.26

PARA SABER MAIS

Alvarás da Coroa Por-tuguesa no século XVI

apontam a preocu-pação em colonizar oterritório. Observe ofragmento deste alvará.“Ordenou o dito senhorque daí em diante aspessoas que, por seusmalefícios, segundo asordenações, houves-sem de ser degredadaspara a ilha de S. Tomé,pelo mesmo tempofossem degredadaspara o Brasil.”(Alvará de 31/05/1535)

“Ordenou o dito senhorque os moços vadios deLisboa, que andam naribeira a furtar bolsase fazer outros delitos,a primeira vez que fos-sem presos, se depoisde soltos tornassemoutra vez a ser presospelos semelhantescasos, que qualquerdegredo que lhe hou-vesse de ser dado fossepara o Brasil.” (Alvará de06/05/1536)

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UAB/Unimontes - 2º Período

3.3 Organização administrativada colônia e a efetiva

colonização do BrasilApós 1530, o governo português atuou de modo definitivo na montagem do seu sistema de

exploração sistemática dessas terras. Mas, por que somente trinta anos depois? Certamente você já sabe: houve o declínio do comércio de especiarias, temor português de perder a colônia bra-sileira dada a incursão de europeus de outras nacionalidades no litoral brasileiro, houve a com-preensão de que as feitorias não seriam suficientes para garantir a posse do território e, por fim, adescoberta de enormes minas no eixo México e Peru pelos espanhóis.

Já que as feitorias não funcionaram a contento, o que fazer? Portugal vai instituir o sistemade capitanias hereditárias e o governo geral. Esses dois sistemas terão mais sucesso no processode consolidar a colonização brasileira. Vamos entender melhor como esses sistemas administrati-

vos funcionaram?

a) As capitanias hereditáriasNa primeira metade do século XVI,

os lusitanos tinham D. João III como rei,e este, diante do que já falamos anterior-mente, determinou uma ocupação maisrápida do território, bem como a definiti-va colonização do Brasil.

Martim Afonso de Souza, sob ordemrégia, organizou uma expedição (1530-33) que daria início ao processo de co-lonização. Esta expedição era composta

por cinco navios e mais de 400 homens,que logo entraram em confronto comos franceses e alguns aliados indígenasseus. Após vencer esse confronto, MartinAfonso aportará na Bahia, onde encon-trará Diogo Álvares Correia e, quandoesteve no litoral sul, encontrará com JoãoRamalho (já citado), ambos portuguesesque viviam entre os índios brasileiros econheciam melhor o território. Isso facili-tou a colonização.

Entretanto, o sistema político na colônia tinha que ser descentralizado, a exemplo da expe-

riência dos portugueses em suas colônias africanas, será instituído o sistema de capitanias here-ditárias ou donatarias.

Sabemos até agora que esse sistema é descentralizado. Mas, como ele funciona?O território brasileiro foi dividido em faixas de terra no litoral, as quais foram entregues a

particulares com o objetivo de que eles a explorassem com seus próprios recursos. Em geral es-sas pessoas eram membros de uma pequena nobreza que recebia vários direitos e privilégios,devendo distribuir sesmarias (lotes de terra), as quais só poderiam ser doadas aos católicos. Essaação era estratégica para acelerar a colonização do Brasil. Também, era estipulado o prazo de cin-co anos para que se desenvolvesse a terra. A prática de “sesmaria” já era conhecida dos portugue-ses, como se observa:

Entre os poderes mais importantes dos nobres proprietários, e o principal meiode estimular a colonização, estava o direito de distribuir sesmarias, ou conces-

sões de terra. Em Portugal, durante a Idade Média, as terras devolutas e as cap-turadas dos Mouros haviam sido distribuídas pela coroa por meio de sesmarias.A coroa costumava nomear uma pessoa para distribuir as terras, e os que asrecebiam eram obrigados a cultivá-las e melhorá-las. (...) Mas havia aqui um pa-radoxo curioso. Enquanto as sesmarias em Portugal criaram uma classe de pe-

GLOSSÁRIO

Capitania: Divisões doterritório em parcelas

que são entregues acapitães donatários

que ficam responsáveispelo seu povoamento eexploração econômica.

Carta de Foral: Docu-mento em que o rei e

grandes senhores con-cedem certa autonomia

a uma comunidade eonde se estabelecem os

seus direitos e obriga-ções.

Bolinar: Navegar utili-zando ventos contrá-

rios. A bolina é um caboque serve para colocar

a vela numa posiçãooblíqua, de modo a queesta receba melhor o

vento de lado.Monopólio: Privilégio

de ter, em exclusivo,os direitos sobre a

comercialização de umproduto.

PARA SABER MAIS

Observe a figurademonstrativa das

capitanias hereditáriasno Brasil.

Figura 37: Capitaniashereditárias.

Fonte: Disponível emhttp://segundofsl.wor-

dpress.com/2011/03/11/historiaplinio-capitanias--hereditarias/ acesso em

30/11/2013.

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História - História do Brasil Colônia I

quenos arrendatários de terras e camponeses, no Brasil, onde a terra disponívelera aparentemente infinita, as sesmarias costumavam ser enormes, e, a longoprazo, resultaram num sistema de grande propriedade. Os regulamentos querezavam que só era permitido conceder a quantidade de terra que pudesse serusada foram ignoradas, e no final do século XVII algumas famílias no Brasil pos-suíam sesmarias que, juntas, eram maiores que províncias inteiras de Portugal.(LOCKHART, J e SCHWARTZ, S. 2002, p. 22)

Juridicamente, as relações entre o estado, os donatários e os sesmeiros eram determinadaspela carta de doação e pelo foral. É válido ressaltar que os resultados satisfatórios obtidos porPortugal com o sistema de donatarias nas ilhas africanas não se fez presente na América portu-guesa (com exceção de São Vicente e Pernambuco), pois diante da distância e outras dificulda-des muitos donatários não chegaram nem a vir para o Brasil assumir suas terras. Também, deve-mos destacar que no caso das donatarias, o donatário recebia da coroa portuguesa o usufrutodas terras e não sua posse, mas mesmo assim muitos donatários utilizavam suas capitanias comopropriedade particular, não se submetendo a autoridade de representante da coroa portuguesanas capitanias que eram patrimônio do estado, logo o público acabava misturando-se com o pri-vado, o que também ocorria com frequência na metrópole.

b) O governo geral (1548-1549)O sistema de Governo Geral será instituído no Brasil a partir do regimento de 1548, consi-

derando que o sistema anterior descentralizado não deu certo no Brasil. Logo, o governo geralterá a centralização administrativa como marca e, esperava-se, com capacidade de resolver al-guns problemas que preocupavam Portugal, a saber: o Brasil continuava vulnerável a invasões;as operações guarda-costas também não deram certo e o comércio com as índias declinava ver-tiginosamente. Entretanto, as capitanias hereditárias não serão extintas, antes pelo contrário, ogoverno geral estaria incumbido de prover apoio e coordenação às capitanias. Segundo CelsoFurtado, Portugal não conseguiria manter uma colônia tão grande por muito tempo protegida,para isso, o esforço teria que ser de monta. (FURTADO, 1961, p.56).

A capitania da Bahia de Todos os Santos será escolhida para sediar o Governo-Geral em 1549,fundando então a cidade de Salvador, a qual ficou sendo a primeira capitania real (administradadiretamente por um funcionário do Estado Real Português). À medida que essa ação foi expandin-

do para outras capitanias, observaremos que o processo de centralização do poder na colônia foise estruturando cada vez mais rápido.

A estrutura do Governo-Geral era:- GOVERNADOR GERAL  (representante direto da coroa: Tomé de Souza, Duarte da Costa

e Mem de Sá. Suas funções eram: efetivar uma minuciosa fiscalização nas capitanias, estimulara fundação de engenhos e vilas, controlar as relações com os índios e incentivar a catequese. Ébom que se perceba a superioridade do poder dos governadores em relação aos donatários, poisos primeiros eram representantes diretos com a coroa em um novo contexto, apresentando as-sim atribuições mais detalhadas). Era auxiliado pelo:

OUVIDOR-MOR(auxiliava o governador geral em matéria de justiça)

PROVEDOR-MOR(responsável pela cobrança de impostos e provimento dos cargos)

CAPITÃO-MOR DAS COSTAS(responsável pela defesa da América Portuguesa)

É preciso ressaltar aqui a atuação das Câmaras Municipais. Esses eram órgãos básicos para aadministração colonial, pois tinham as funções de:

• administração municipal, regulamentação das feiras e dos mercados;• obras públicas: estradas, pontes e calçada;• regulamento dos ofícios e do comércio;• abastecimento de gêneros e cultura da terra.

A Câmara funcionava, ainda, como um tribunal de primeira instância, particularmente parao cível, com direito de apelação ao ouvidor ou ao Tribunal da Relação. Sobre o poder das câma-ras municipais (apesar do exagero nos termos utilizados, como incontestável), ainda assim vale apena ver o fragmento do texto de Caio Prado Jr.

GLOSSÁRIO

Normas básicas queregem o ofício dosouvidores em Portugal,século XVLex Romana Wisi-

gothorum:  direitocomum dos povosgermânicos;Privilégios: direitosassegurados aos nobrespelos reis;Forais: leis particulareslocais, asseguradaspelos reis.Com a expansão do rei-no pela reconquista doterritório da penínsulaibérica aos mouros, ea uniformização dasnormas legais, consoli-

dadas nas Ordenaçõesdo Reino (Afonsinasde 1480, Manoelinasde 1520 e Filipinas de1603), foram surgindooutras figuras paraexercerem a função judicante e aplicaremas diversas formasnormativas:Juízes da terra (ou juí-zes ordinários): eleitospela comunidade, nãosendo letrados, queapreciavam as causas

em que se aplicavam osforais, isto é, o direitolocal (2 por cidade).Juízes de fora: (figuracriada em 1352) nome-ados pelo rei dentrebacharéis letrados, coma finalidade de seremo suporte do rei naslocalidades, garantindoa aplicação das ordena-ções gerais do Reino.Juízes de órfãos: coma função de seremguardiões dos órfãos edas heranças, solucio-nando as questões su-cessórias a eles ligados.Adaptado deFonte: MARTINS FILHO,Ives Gandra da Silva.Evolução histórica daestrutura judiciáriabrasileira. In: Revista

 Jurídica. Brasília, vol. 1,n. 5, setembro, 1999.

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o poder das câmaras é, pois, o dos proprietários.E seu raio de ação é grande,muito maior que o estabelecido nas leis. Vemos as câmaras fixarem salários eos preços das mercadorias; regularem o curso e o preço das moedas: proporeme recusarem tributos reais; organizarem expedições contra o gentio e com elecelebrarem pazes, tratarem da ereção de arraiais e povoações proverem sobreo comércio, a indústria e a administração pública em geral, chegam a suspen-der governadores e capitães, nomeando-lhes substitutos e prender e por a

ferro funcionários e delegados régios. Algumas câmaras mantinham até repre-sentantes efetivos em Lisboa, tratando assim diretamente com o governo me-tropolitano, por cima da autoridade dos seus delegados no Brasil. Por isso, nãoadmira que a câmara de São Luiz do Maranhão, apenas instalada, se dirija ao reipedindo ativamente que os capitães-mores, dali em diante, não dessem maisterras, e não se metessem em coisa alguma da competência exclusiva da auto-ridade municipal”. Dentro das normas da administração colonial neste primei-ro século e meio de descobrimento, nada sobrepor-se ao poder incontrastáveldas Câmaras. (PRADO JR., 1988, p. 30-1)

3.4 Organização judiciária

brasileira colonialVocê já se perguntou a respeito da maneira pela qual a justiça brasileira se processou no pe-

ríodo colonial? Certamente sim. Entretanto, talvez você não tivesse percebido que a organização judiciária brasileira ainda guarda alguns aspectos semelhantes desse período colonial. Vamoscompreender tal processo, analisando a estrutura judiciária portuguesa no século XV e a justiçabrasileira nos séculos XVI e XVII. Esperamos que tais informações contribuam com pesquisas re-gionais que vocês vierem a realizar, envolvendo documentos jurídicos como fonte histórica. Op-tamos por demonstrar para você, nesse momento, alguns dados mais estruturantes dessa orga-nização judiciária brasileira.

Observe que a justiça é prerrogativa do Rei. Portugal se estruturou judicialmente de manei-ra hierárquica, subordinando ao rei a Casa de Suplicação (tribunal de apelação), a qual terá duasmesas fundamentais, uma cível e outra criminal, respectivamente a Mesa de Consciência e Or-dens e o Desembargo do Paço. Para as colônias, a Casa de Suplicação era a Corte Suprema emPortugal, nessa medida, órgão máximo de apelação e também órgão que realizava a interpreta-ção da lei portuguesa, auxiliados pelos Tribunais de Relação.

Dissemos anteriormente que a institucionalização do governo geral na América Portuguesa

foi marco de efetivação na colonização brasileira. Podemos afirmar o mesmo para a organização judiciária, pois será Tomé de Souza o responsável em estruturar nessas terras portuguesas a ad-ministração da justiça. Segundo o estudo de Martins Filho,

Figura 38: JustiçaPortuguesa

Fonte: MARTINS FILHO,1999.

GLOSSÁRIO

Normas básicas queregem o ofício dos

ouvidores em Portugal,século XV (continua-

ção)

Provedores: colocadosacima dos juízes de

órfãos, para o cuida-do geral dos órfãos,

instituições de caridade(hospitais e irmanda-des) e legitimação de

testamentos (feitos,naquela época, verbal-

mente, o que geravamuitos problemas).Corregedores : no-

meados pelo rei, comfunção primordialmen-

te investigatória e re-

cursal, inspecionando,em visitas às cidades e

vilas que integravamsua comarca, como sedava a administração

da Justiça, julgando ascausas em que os pró-prios juízes estivessem

implicados.Desembargadores:

magistrados de 2ª ins-tância que apreciavam

as apelações e os recur-sos de suplicação (paraobter a clemência real).

Recebiam tal nomeporque despachavam

(“desembargavam”)diretamente com o rei

as petições formuladaspelos particulares em

questões de graça e de justiça, preparando e

executando as decisõesrégias. Aos poucos, osreis foram lhes confe-rindo autoridade paratomar, em seu nome,as decisões sobre taismatérias, passando a

constituir o Desembar-go do Paço.

Adaptado deFonte: MARTINS FILHO,

Ives Gandra da Silva.Evolução histórica da

estrutura judiciáriabrasileira. In: Revista

Jurídica. Brasília, vol. 1,n. 5, setembro, 1999.

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BOX 3

A administração da Justiça, no Brasil, fazia-se através do Ouvidor Geral, que ficava naBahia, ao qual se poderia recorrer das decisões dos ouvidores das comarcas, em cada capitania,que cuidavam da solução das contendas jurídicas nas vilas. Como, no entanto, as funções judi-ciais eram, nesses primórdios, confundidas com as funções administrativas e policiais, temostambém exercendo atividades jurisdicionais nas comarcas, durante o período colonial, os chan-

celeres, contadores e vereadores que compunham os Conselhos ou Câmaras Municipais. As fi-guras dos corregedores, provedores, juízes ordinários e juízes de fora, próprios da Justiça Por-tuguesa, começaram a aparecer no Brasil, na medida em que a colonização foi se ampliando,exigindo uma estrutura burocrática e administrativa mais sofisticada (MARTINS FILHO, 1999)

Fonte: Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_05/Revista_5.htm acessado em 30/11/2013.

Interessante observar que, durante o período de 1644 a 1713, na Bahia, surgiu a figura dos juízes do povo, os quais eram eleitos pela população local. Outra figura com jurisdição restritaera a dos almotacés, que julgavam as causas relativas a obras e construções, cabendo de sua de-cisão recurso para os ouvidores da comarca (extintos por Lei de 26 de agosto de 1830). Em cadacomarca existia o corregedor, ouvidor e juízes. Observe o diagrama.

No século XVII estará em pleno funcionamento a Relação da Bahia, órgão criado no períododa União Ibérica (1580 e 1640), visando congregar colegiadamente os interesses dos governa-dores-gerais, entretanto, esses não ficaram satisfeitos com tal decisão. Aliados dos governadoresnessa insatisfação foram os donatários de capitanias. Tudo isso porque ambos viram seus pode-res regionais ameaçados pelos ouvidores.

O desenvolvimento de uma noção de “viver em colônia” vai ganhando cada vez mais espa-ço no desejo e na consciência dos homens que aqui viveram. A título de ilustração, destacamosapenas que outros tribunais foram criados, como o Tribunal de Relação do Rio de Janeiro (1734,instalado apenas em 1751), a junta de Justiça do Pará (1758), entre outros. Observe o diagrama e

busque o glossário.A partir da vinda da corte portuguesa para o Brasil, diversas alterações irão ocorrer. Entre-

tanto, essa é outra história a ser tratada mais adiante no curso de vocês.

GLOSSÁRIO

A partir do século XVII,começam a funcionar

no Brasil tribunais e juizados especializa-dos, concedendo-seprivilégio de foro paradeterminadas matériase pessoas:Juntas Militares eConselhos de Guerra:para julgar os crimesmilitares e crimesconexos;Juntas da Fazen-da: para apreciar asquestões alfandegárias,tributárias e fiscais;

Juntas do Comér-cio: para apreciar asquestões econômicas,envolvendo também aagricultura, navegação,indústria e comércio.Veja a função dosórgãos judiciáriosbrasileiros no final doperíodo colonial:Juiz de Vintena: Juizde paz para os luga-res com mais de 20famílias, decidindoverbalmente peque-

nas causas cíveis, semdireito a apelação ouagravo (nomeado porum ano pela CâmaraMunicipal).Juiz Ordinário: Eleitona localidade, para ascausas comuns.Juiz de Fora: Nomeadopelo rei, para garantir aaplicação das leis gerais(substituía o ouvidor dacomarca).Adaptado de MARTINSFILHO, Ives Gandra da

Silva. Evolução históricada estrutura judiciáriabrasileira. In: RevistaJurídica. Brasília, vol. 1,n. 5, setembro, 1999

FONTE: Disponível emhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revis-ta/Rev_05/Revista_5.htm. Acessado em30/11/2013.

◄ Figura 39: JustiçaBrasileira, século XVI.

Fonte: MARTINS FILHO,1999.

◄ Figura 40: JustiçaBrasileira, século XVII.

Fonte: MARTINS FILHO,1999.

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3.5 Trabalho: índios e portuguesesnas relações com o pau-brasil

O homem branco se apresentou no imaginário dos indígenas Timbiras, do grupo Jê, que ha-bitavam o sul do Maranhão e o Norte de Goiás de maneira interessante, a ponto de ser criada a

lenda de Aukê. Vejamos.

Antigamente, não havia civilizados, mas apenas índios. Uma mulher indígenaficou grávida. Toda vez que ela ia tomar banho no ribeirão próximo da aldeia,seu filho, que ainda não havia nascido, saia de seu ventre e se transformava emanimais, brincando à beira da água. Depois voltava outra vez ao ventre mater-no. A mãe não dizia nada a ninguém. Um dia o menino nasceu. Era Aukê. Ain-da recém-nascido, transformava-se em rapaz, em homem adulto, em velho. Oshabitantes das aldeias temiam os poderes sobrenaturais de Aukê e, de acordocom seu avô materno, resolveram matá-lo. As primeiras tentativas de liquidá-lonão tiveram sucesso. Uma vez, por exemplo, o avô o levou ao alto de um morroe empurrou-o de lá no abismo. O menino, porém, virou folha seca, e foi caindodevagarzinho, voltando são e salvo para a aldeia até que o avô resolveu fazeruma grande fogueira e nela atirá-lo. Dias depois, quando foi ao local do assas-sinato para recolher as cinzas do menino, achou lá uma casa grande de fazen-da, com bois e outros animais domésticos: Aukê não havia morrido, mas simtransformara-se no primeiro homem civilizado. Aukê ordenou, então, ao avô,que fosse buscar os outros habitantes da aldeia. E eles vieram. Quando Aukê osfez escolher entre a espingarda e o arco, os índios ficaram com medo de usar aprimeira, preferindo o segundo. Por terem preferido o arco, os índios perma-neceram como índios. Se tivessem escolhido a espingarda, teriam se transfor-mado em civilizados. Aukê chorou com pena dos índios não terem escolhido acivilização. (MELATTI, J. C., 1994, p. 27-28.)

O mito de origem do homem branco entre os Timbiras, do grupo Jê,aponta para uma construção mítica que revela a mundivisão desse povo

no tocante à sua percepção quanto ao homem branco. Percebemos norelato do mito de Aukê que o nativo brasileiro se percebe em transforma-ção. Obviamente que a chegada do português provocou transformaçõesradicais na vida desses povos brasileiros, fato marcante na descrição mi-

tológica. Essa percepção do mito nos aponta ainda para a não tomada de posição dos índios,ou seja, Aukê chorou com pena dos índios não terem escolhido a civilização.

PARA SABER MAIS

Observe bem a imageme as perguntas que sãofeitas para o estudante

nessa época. Discutacom o seu professor

formador e colegas so-bre o ensino de História

no início do século.

Figura 42: Contatos dohomem branco com

os índios no século XXe XXI.

Fonte: Disponível emhttp://www.indiosonline.

net/brasil-512-anos-de--guerra-contra-os-indios/.

Acesso em 30/11/2013.

Figura 41: Perguntas deHistória para admissão

em escolas, 1911.

Fonte: F.T.D. HistóriaUniversal para uso dos

Gymmnasios. Rio deJaneiro: Livraria Francisco

Alves, 1911.

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História - História do Brasil Colônia I

Você percebeu que a escolha “imaginária” da civilização pode representar um tipo de sobre-vivência para os índios, evitando assim a morte de muitos; todavia, pode também demonstrar aresistência à colonização e aos hábitos portugueses. Além de dois aspectos observáveis (aceitaçãoe rejeição do modo de vida dos indígenas), a narrativa comporta uma terceira via, qual seja, a doprocesso (esse que ocorreu durante anos e não somente no período colonial) de transformaçãodo modo de vida indígena (em curso) a partir do contato com o branco. A constituição de uma

sociedade híbrida onde ocorre uma circularidade cultural ao longo do tempo será inevitável.É importante ressaltar que nos primeiros contatos com os nativos brasileiros, os índios tra-

balhavam no corte e no carregamento do pau-brasil em troca do escambo. Já falamos dissoanteriormente, lembra-se? Nesse contato com o branco, o indígena resistiu através do estabe-lecimento de conflitos maiores, como é o caso da Guerra dos Tamoios ou mesmo nas guerras noPlanalto de Piratininga. No nordeste brasileiro, por exemplo, houve a guerra dos bárbaros quedurou até meados do século XVIII, da Bahia ao Maranhão.

Devemos, então, considerar que os índios resistiram aos portugueses, nesse contato inicial- especialmente no século XVII - quando os portugueses avançam mais no processo de colo-nização do Brasil. O professor Fragoso nos informa que a escravidão indígena acabará por serregulamentada em 1570, embora se considerasse ilegal o cativeiro nativo, permanecerá lícita aescravização de índios capturados em guerras justas (índios hostis aos portugueses) e os índiosresgatados (prisioneiros de guerras das tribos indígenas).

Nesses contatos, as epidemias de varíola, gripe, tuberculose, tifo e malária trazidas pelosportugueses foram fortes aliadas nas guerrascontra os indígenas e contribuiu para o quaseaniquilamento dessa população, pois a essas

doenças os mecanismos biológicos de defesados nativos não tinham “resistência”.Visando enriquecer o universo das rela-

ções entre os portugueses e os indígenas, sa-bemos que estratégias outras, ao que parece,também foram desenvolvidas pelos indígenas.No processo de catequização, por exemplo,muitos indígenas “pareciam aprender o cristia-nismo”; entretanto, quando voltavam para suatribo, viviam tal como antes. Sabemos que os jesuítas reuniam os indígenas em aldeias e osensinava a religião católica. Já dissemos queo Padre Manoel da Nóbrega chegou a pensarque os indígenas eram um papel em branco,mas perceberam que ali não se podia escreverà vontade não! Ronaldo Vainfas é quem lembrabem tal situação, assim como reafirma a dita

DICA

Acesso o textoEvolução históricada Estrutura JudicialBrasileira e veja mais

detalhes sobre aconstituição de nossopaís emFonte: Disponível emhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_05/Revis-ta_5.htm Acesso em30/11/2013.

GLOSSÁRIO

Aldeamentos: Localonde os índios eramcompulsoriamentecolocados após o des-cimento dos sertões.Situados em áreas pró-ximas aos portos, cida-des e vilas, expunhamo indígena a todo tipode epidemias, que juntamente com a máalimentação e os traba-lhos forçados causavagrande mortandadeentre eles. Ao aldearemos indígenas, os colo-nizadores objetivavam,além do trabalho decatequese, proteger osmoradores dos índios“brabos”, impedir a fugade escravos negrospara a floresta tropicale manter mão-de-obradisponível nas proxi-midades dos povoa-mentos.

◄ Figura. 43: A luta entreíndios e portuguesesé apresentada nestepainel em aquarela,atribuído a JoaquimJosé de Miranda (XVIII).

Fonte: FRAGOSO; FLOREN-TINO; & FARIA, 1998, p. 35.

◄ Figura 44: P. AntónioVieira pregando aosíndios (C. Legrand, ca.

de 1841) A legendadiz: “O P.e AntónioVieira // N.1608 /+1697 / Os Brasis,largando as armas, securvavão a seus pés, re-verenciavam a imagemde Christo crucificado ena sua língua indígenaouvirão a voz doEvangelho com atenção//”

Fonte: Disponível emhttp://www2.crb.ucp.pt/Biblioteca/BibliotecaDi-gital/Historia/Main_Hist-Portugal.htm. Acesso em30/11/2013.

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santidade falsa, a que o Padre Nóbrega afirmou quando viu os índios catequizados incendiaremengenhos e igrejas, matar portugueses e libertar escravos. Esse autor lembra ainda da históriada santidade de Jaguaripe, ao sul do Recôncavo Baiano, movimento liderado por um índio quefugiu do aldeamento de Tinharé, em Ilhéus.

Esse indígena se dizia Tamandaré, que era o nome de um antigo ancestral mítico dos Tupi-nambás. Seu nome de batismo era Antônio. Ao fugir do aldeamento, Tamandaré dizia ser o papa,

nomeava bispos, sagrava índios com o nome de santos e, ainda, exigia que a Igreja tivesse ritoshíbridos, por exemplo, a cerimônia de batismo com fumaça de tabaco. (VAINFAS, 2000)

Além da conversão do gentio, os jesuítas se preocuparam muito com o ensino das crianças:ensinava a ler e a orar. Acreditavam quese as crianças fossem bem doutrinadase acostumadas na virtude cristã, seriamfirmes e constantes. Ocorreria a substi-tuição de gerações. O regozijo era geralquando os meninos começavam a abo-minar os costumes de seus pais. Assim,conseguiam doutrinar pela fé. Na verda-de a ideia é a de formar uma nova cris-tandade, através da educação.

A didática jesuítica incorporavacastigos físicos para os que fugissem daescola, apostavam na memorização erepresentação, por isso é que se traba-lhou muito com teatros e diálogos (osdiálogos foram traduzidos para o Tupicom o objetivo de ensinar a doutrinacristã). Também, as músicas os ensina-vam a cantar (orações) e a tocar instru-mentos, como forma de aprender osbons costumes.

Os missionários viam os indígenas

como fruto de um mesmo mundo deorigem divina, porém degenerada. Ca-

bia a eles direcioná-los para o rumo certo da evolução humana cristã. Para tanto, deveriam aban-donar seus vis costumes, converter-se e morrer cristãos.

A ordem jesuítica, criada por Inácio de Loyola em 1537, foi extremamente militante e atuanteno processo colonizador. Seu papel evangelizador proporcionou um contato muito próximo comos indígenas, a ponto de lutarem contra a escravização dos “povos da terra”, cujo grande objeti-vo era converter o pagão, e não procurar hereges. Bosi (1992), afirma que o Padre Antônio Viei-ra conduzia, dialeticamente, seus discursos de modo a reconceituar valores, elevando a condiçãodo trabalho a alto grau, “se havemos de tornar a nascer, porque não trabalharemos muito paranascermos muito honradamente?”(VIEIRA, apud BOSI, 1992, p.124). Para os jesuítas, converter ogentio era devolver “a deus um mundo que ele mesmo criara. Viam a natureza como algo em es-

tado bruto, elemento passivo da criação à espera de ser lapidado pelos soldados de Cristo, quetraziam, em sua mensagem, a civilização. (...) O índio se achava tão próximo de deus por se acharpróximo da natureza”.(LOPEZ,1994, p.29)

PARA SABER MAIS

Na segunda metade doséculo XVI, as guerras

alimentavam um mer-cado de cativos cadavez mais amplo. Isso

explica, por exemplo,porque na Bahia, entre

1572 e 1575 o escra-vo indígena custava

em média 7$000 réis,contra 20$000 réis do

escravo africano (FRA-GOSO. 1998, p.36)

Figura 47: Detalhe domapa da Comarca de

Villa Rica. Destaquepara a ilustração doindígena no mapa.

Fonte: Jornal Estado deMinas, Domingo, 29 de

maio de 2005. O Estadoque nasceu do ouro. Fl.3.Fotos: Emmanuel Pinhei-ro e Beto Novaes. Editor

de Artes Gráficas: ÁlvaroDuarte.

PARA SABER MAIS

 “São tão grandes asriquezas deste novomundo e da mesma

maneira sua fertilidadee abundância, que nãosei por qual das coisas

comece primeiramente;mas [...] de todas estas

coisas o principal nervoe substância da riquezada terra é a lavoura dos

açúcares. “Ambrósio Fernandes

Brandão (1618)Fonte: Disponível em

http://www.cliohistoria.hpg.ig.com.br/bibliote-

ca/brasil/hb_colonia/hb_colonia.htm. Acesso

em 30/11/2013.

Figura 45: Desenho dashabitações dos Guaná/

Cuiabá.

Fonte: Taunay, 1864.

Figura 46: Moinhocolonial.

Fonte: Disponível emhttp://www.cliohistoria.hpg.ig.com.br/bibliote-

ca/brasil/hb_colonia/hb_colonia.htm. Acesso

30/11/2013.

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História - História do Brasil Colônia I

A prática jesuítica para a conversão dos indígenas levou esses missionários a apresentaremuma contradição própria do processo colonizador e da Igreja colonial: como poderia uma insti-tuição, que vivia dentro do Estado monárquico e à custa dos excedentes deste, desenvolver umprojeto social coeso à revelia das forças que dominavam esse mesmo sistema? Bosi se colocaessa pergunta e chega à seguinte conclusão: ou os jesuítas escolhiam o compromisso ou a resis-tência, ambos desfavoráveis a eles, pois o primeiro levaria a uma exploração maior dos índios, e

isso os jesuítas não aceitavam, a segunda opção poderia levar à sua expulsão.Enfim, vale ressaltar que os jesuítas combateram fortemente a escravização indígena, mas

não atuaram com a mesma eficiência contra a escravidão negra. Por um lado, isto denuncia umaestreita ligação dos jesuítas com o sistema colonial e, por outro, representa a própria liberaçãodo indígena. No século XVIII, ocorrerá decadência do jesuitismo, até que em 1773 perde força echega a ser extinta temporariamente.

Vale ressaltar que Alencastro (2000), acredita que o caráter mercantilista da colonização ea lógica de evangelização não excluíam o caráter mercantilista do esforço de colonização; pelocontrário, justificava a compatibilidade entre escravidão e catolicismo.

3.6 A exploração econômica doaçúcarO processo colonizador no Brasil passou por um momento importante, qual seja fortalecer

os interesses comerciais dos portugueses incentivando a produção em larga escala e, é claro, cul-tivando um produto que tivesse boa aceitação no mercado internacional. Você já se perguntou oque foi necessário fazer para montar esse sistema produtivo?

A montagem de uma indústria açucareira exigia, à época, um investimento de alto risco, oque era extremamente dispendioso tanto para a coroa quanto para os senhores que arriscaramtais investimentos. Mas, como se deu exatamente a montagem desse sistema?

A base da produção era o latifúndio monocultor e agroexportador (plantation) e o traba-lho compulsório do indígena (o qual trabalhou até meados do século XVI, sendo majoritário nasplantações do nordeste) e do escravo africano, através do tráfico negreiro (essa mão-de-obra,aliada às dificuldades de aproveitamento da mão-de-obra indígena local, impuseram a escra-vidão africana como a relação de trabalho dominante). Em linhas bem gerais, podemos afirmarque as características do sistema colonial brasileiro foram:

• Economia complementar à européia;• Organização da produção em larga escala e a baixo custo;• Transferência de renda da América Portuguesa para Portugal (Estado e burguesia);• Caráter monocultor;• Proibição de manufaturas na América Portuguesa;• Única via para compra e venda de produtos: a burguesia comercial portuguesa.

Sobre a concepção das terras, orientação sobre seu uso e aviso aos interessados em montarum engenho, Antonil advertiu que

as terras boas ou más são o fundamento principal para ter um engenho realbom ou mau rendimento. As que chamam massapés, terras negras e fortes, sãoas mais excelentes para a planta das canas. Seguem-se, atrás destas, os salões,terra vermelha, capaz de poucos cortes, porque logo enfraquece. As areíscas,que são uma mistura de areia e salões servem para mandioca e legumes, masnão para cana. E o mesmo digo das terras brancas, que chamam terras de areia,como as do Camamu e da Sambara.A terra que se escolhe para o pasto ao redor do engenho ‘há de ter água e háde ser cercada, ou com plantas vivas, como são as de pinhões, ou com estacase varas do mato. (...). O pasto se há de conservar limpo, de outras ervas, quematam a grama, e no tempo do inverno se hão de botar fora dele os porcos,porque o destroem fossando.(...)

Contudo, de ter ou não ter o senhor do engenho cabedal e gente, feitores fiéise de experiência, bois e bestas, barcos e carros, depende o menear e governarbem ou mal o seu engenho.E, se não tiver gente para trabalhar e beneficiar as terras a seu tempo, será o

PARA SABER MAIS

Expansão bandeiranteA bandeira é umaexpedição guerreira decentenas e até milha-res de homens: a de

Manoel Preto, RaposoTavares e outros (1629)conta 69 bandeiran-tes, 900 mamelucos, 2mil índios flecheiros.Algumas mobilizama maioria da vila, decrianças a velhos,às vezes, mulheres.Varam o sertão durantealguns meses ou anos.Percorrem, quasesempre a pé, até 12 milkm (Raposo Tavares,1648-54, chega ao Peru

e ao Amazonas). Asmais demoradas pa-ram, erguem ranchos,plantam roças, colheme seguem adiante; ouacampam um mês amargem de um rio paraescavar canoas.A caça ao índio (apre-amento) é a atividadebandeirante típica. Vemdos primeiros anos daocupação e predo-mina nas bandeirasdo século XVI-XVII.Embora pouco lucrativa(rende 1% do açúcar),é o modo de vida dospaulistas.Teoricamente ilegal epecaminosa, ela é justi-ficada e até louvada...Domingos Jorge Velho,em carta ao rei (1694)os paulistas vão adqui-rir o tapuia gentio-bra-bo e comedor de carnehumana para o reduzirpara o conhecimentoda urbana humanidadee da humana socieda-de... (zomba dos jesu-ítas) em vão trabalhaquem os quer anjosantes de fazer homem.Fonte: Disponível emhttp://www.cliohistoria.hpg.ig.com.br/bibliote-ca/brasil/hb_colonia/hb_colonia.htm. Acessoem 30/11/2013.

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mesmo que ter mato bravo com pouco ou nenhum rendimento, assim comonão basta para a vida política ter dom natural, se não houver mestre que com oensino trate de o aperfeiçoar, ajudando-o (ANTONIL, 2007, p. 173).

O “mundo do açúcar” em sua grande produção, característica da empresa de colonização,e, ainda, como base de sustento da economia brasileira, nessa medida, durou por cerca de umséculo e meio. A sociedade brasileira descrita por Gilberto Freyre em Casa Grande e Senzala diziarespeito à sociedade construída - especialmente a família - no nordeste do Brasil. Sabemos, hoje,que as características, principalmente da família, descritas por Freyre, não podem ser pensadascomo a família brasileira como um todo, e sim a nordestina.

O grande engenho era unidade produtiva privilegiada nessa sociedade. O senhor de enge-nho compunha um segmento social dos “homens bons”, os quais tinham poder político e econô-mico. Entretanto, por mais poderosos que fossem, os senhores estavam presos a um sistema, osistema colonial; logo, à economia administrativa da metrópole portuguesa. A Holanda era paísresponsável pelo refino e distribuição do açúcar na Europa, enquanto que a Portugal cabia a pro-dução, a qual era feita pelos senhores de engenho.

Você já deve ter percebido que Portugal aparece como uma intermediária? Os Holandeses, vi-sando retirar essa condição de intermediários, ampliar os seus lucros, acabar com os entraves pos-tos pela União Ibérica (1580-1640), desejosos de controlar todo o processo de produção do açúcar,

bem como ampliar seus ganhos, invadem o nordeste brasileiro de 1630-1654. Foi nesse períodoque o Brasil passa a ser o maior produtor de açúcar no mundo e alcança grande rentabilidade.

ReferênciasALENCASTRO, Luiz Felipe de. O trato dos viventes. São Paulo: Cia das Letras, 2000.

ANTONIL, Cultura e opulência do Brasil. 1711. São Paulo, Edusp, 2007.

BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo: Cia das Letras, 1992.

BOTELHO, Ângela Vianna & REIS, Liana Maria. Dicionário Histórico Brasil: Colônia e Império. Belo Horizonte: o autor, 2001.

FRAGOSO, João; FLORENTINO, Manolo & FARIA, Sheila de Castro. A economia colonial brasilei-ra: séculos XVI-XIX. (Discutindo a História do Brasil). 4. ed. São Paulo: Atual, 1998.

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961.

FURTADO, Junia Ferreira. Cultura e Sociedade no Brasil Colônia. São Paulo: Atual, 2000. (Discu-tindo a História do Brasil).

LOCKHART, James e SCHWARTZ, Stuart. A América Latina na época colonial. Rio de Janeiro: Ci-vilização Brasileira, 2002.

LOPEZ, Luiz Roberto. Cultura Brasileira: das origens a 1808. 2. ed. Porto Alegre: Editora da Uni-versidade/UFRGS, 1994.

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MELATTI, J. C. Índios do Brasil. São Paulo: Hucitec, 1994.

NOVAIS, Fernando. Condições de privacidade na colônia. In: NOVAIS (dir) & SOUZA (org). Históriada Vida Privada no Brasil: cotidiano e vida privada na América Portuguesa. (História da VidaPrivada no Brasil; 1) São Paulo: Cia das Letras, 1997

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STADEN, Hans. Duas Viagens ao Brasil. Belo Horizonte-São Paulo: Itatiaia-Edusp, 1974.

PARA SABER MAIS

O gado e a expansãopara o sertão.

(...) Para RobertoSimonsen, quatro

foram os instrumentos

econômicos que ampa-raram a expansão parao interior: a criação degado, como “retaguar-

da econômica daszonas de engenho e,

mais tarde, em decidi-do apoio à mineração”;

a caça ao índio, comosuprimento de mão--de-obra em face do

comércio africano emdeclínio, em meados do

século XVII; e a buscade especiarias e drogas

do sertão.Entretanto, o elementomais importante nesta

fase, foi o gado e suaexpansão através decurrais, na luta pelavida e morte contra

o primeiro ocupanteda terra, desfazendo omito da boa convivên-

cia dos índios com oscurrais (...)

Francisco Carlos Teixei-ra da Silva. Conquista e

colonização da América

Portuguesa

Fonte: Disponível emhttp://www.cliohistoria.hpg.ig.com.br/bibliote-

ca/brasil/hb_colonia/hb_colonia.htm. Acesso

em 30/11/2013.

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História - História do Brasil Colônia I

UNIDADE 4Organização social e econômica

da colônia: trabalho escravo,produção colonial e cultura

Alysson Luiz Freitas de Jesus

4.1 Introdução“As razões da opção pelo escravo africano foram muitas. É melhor não falarem causas, mas em um conjunto de fatores. A escravização do índio chocou--se com uma série de inconvenientes, tendo em vista os fins da colonização.Os índios tinham uma cultura incompatível com o trabalho intensivo e regulare mais ainda compulsório, como pretendido pelos europeus. Não eram vadiosou preguiçosos. Apenas faziam o necessário para garantir sua subsistência. Se-ria errôneo pensar que, enquanto os índios se opuseram à escravidão, os ne-gros a aceitaram passivamente. Fugas individuais ou em massa, agressões con-tra senhores, resistência cotidiana fizeram parte das relações entre senhores eescravos, desde os primeiros tempos.” (FAUSTO, 2002, p.52).

A escravidão do negro no Brasil é um dos temas de maior debate entre os historiadores.Você sabia que no caso brasileiro o negro foi escravizado por mais de três séculos? Você sabia da

importância desses mesmos negros para a formação cultural e política do Brasil? E o mais impor-tante: você sabia que boa parte das nossas atuais relações sociais e econômicas de trabalho têmresquícios na nossa relação escravista?

Você terá notado que as questões acima não são de simples resposta. Muitos de nós nãoconseguimos estabelecer uma relação clara entre a escravidão negra colonial e as relações raciaise sociais de pobreza no país. Você tem consciência dessa relação? É para isso que compreende-remos um pouco do nosso passado escravista, por meio do estudo da cultura e das relações detrabalho coloniais.

▲ ▲

Figura 48: Johann Moritz Rugendas. O cotidiano escravista colonial

Fonte: Disponível em http://www.exposicaomulheresreais.com/voceSa-bia_modos.htm Acesso em 15/07/2009

Figura 49: O cotidiano de crianças em trabalho pesado

Fonte: Disponível em https://reader012.{domain}/reader012/html5/0807/5b69876e5Acesso em 15/07/2009

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UAB/Unimontes - 2º Período

Essa unidade está dividida nos seguintes tópicosA Escravidão Negra no Brasil: teoria e práticaGilberto Freyre: cultura escrava, cultura africanaCotidiano escravista na colônia: o mundo rural, o mundo urbano e as atividades econômicasCotidiano escravista: escravos, ex-escravos e a liberdade

4.2 A escravidão negra no Brasil:teoria e prática

A maneira como foi introduzido o braço do negro na economia brasileira deve ser explicada.Não se trata de excluirmos uma possível utilização do indígena porque este era indomesticável,ou mesmo porque era preguiçoso e não se adequava ao duro trabalho praticado pelos negros.Esta visão é como se afirmássemos que alguns grupos estariam aptos a ser escravizados, sendoesse o argumento utilizado pela máquina portuguesa para colocar o negro africano em situação

inferior aos demais homens. A Igreja forneceu grande suporte nesse contexto, afinal foi uma dasgrandes responsáveis por classificar o negro como figura inferior e, portanto, apto a ser utilizadocomo escravo em diversas regiões do mundo, e não apenas no caso do Brasil.

Colocando essa visão por terra, podemos notar que a maior e mais aceita justificativa paraintroduzir o trabalho negro no Brasil é a questão dos lucros com o tráfico negreiro.

Na África os negros eram negociados em troca de aguardente de cana, rolosde fumo, tecidos, facões, espelhos, guizos, etc. Depois de serem marcados comferro em brasa, eram acorrentados e levados até os presídios da costa africa-na, onde aguardavam os navios negreiros. (...) Chegando ao Brasil eram vendi-dos nos mercados da Bahia, do Rio de Janeiro, de Pernambuco e do Maranhão,onde eram aproveitados na lavoura, na pecuária, na mineração ou nos traba-lhos domésticos (PINSKY, 1981, p. 78).

Sendo assim, a escolha do braço escravo negro não foi aleatória ou negligente. Dentro dalógica do sistema colonial, nada mais natural que a mão-de-obra escolhida também representeimportante acumulo de capital. A escolha do africano seria fundamental nesse processo.

A África, principal fornecedora dos escravos no mundo moderno, tinha sua organização pró-pria antes da chegada dos europeus. A colonização levou à configuração de uma África cada vezmais voltada para o tráfico, como se pode ver pela crescente importância das regiões africanasna área ocidental, o que se convencionou chamar de “África Atlântica”.

PARA SABER MAIS

O Brasil não foi oúnico país moderno autilizar-se da escravi-

dão negra. Inglaterra,França, Estados Unidos

são outros exemplos deenorme importância.

Figura 50: JohannMoritz Rugendas. O

tráfico negreiro

Fonte: Disponível emhttp://www.materias-

-neltonlandia.blogspot.com/2007/03/civilizao-

-do-acar.html Acesso em15/07/2009

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História - História do Brasil Colônia I

Inúmeros historiadores se dedicaram a estudar o tema Escravidão. Entre os vários temasabordados, três deles merecem destaque: a violência, a resistência e a cultura africana no Brasil.Nesse tópico, abordaremos os dois primeiros temas, permitindo um tópico específico para a ter-ceira temática.

A violência foi, com certeza, uma importante característica do sistema escravista colonial. Naverdade, é importante ressaltar que a violência permeia praticamente todas as relações sociaise políticas, não sendo atributo específico da escravidão. Mesmo assim, cabe salientar como sederam tais relações de violência no sistema. Os castigos físicos, as relações de maus-tratos, e a

DICA

Pesquise um pouco dahistória de algumas das

regiões fornecedorasde escravos negrospara o Brasil.Destaque especialmen-te as regiões do Congoe de Angola, regiões deenorme contato com acolônia entre os séculosXV e XIX.

◄ Figura 51: A África

(destaque para aregião ocidental)

Fonte: Disponívelem http://www.rogeliocasado.blogspot.com/2008_08_01_archi-ve Acesso em 15/07/2009

DICA

Pesquise a biografia dealguns dos jesuítas epadres mais famososdo Brasil Colônia, comoo padre André João An-tonil e o padre AntônioVieira. Tal atividade vaiauxiliá-lo na compreen-são dos religiosos quecontribuíram com aestrutura administrati-va colonial.

◄ Figura 52: Jean-Baptiste Debret.A violência naescravidão

Fonte: Disponível emhttp://www.materias--neltonlandia.blogspot.com/2007/03/civilizao--do-acar.html Acesso em

15/07/2009

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UAB/Unimontes - 2º Período

extenuante carga de trabalho são exemplos muito conhecidos. Segundo o padre jesuíta Antonil,“os negros eram as mãos e os pés dos senhores”. Tal expressão demonstra um pouco da impor-tância do negro no mundo colonial. Dessa forma, a disciplina se apresentava como regra para obom funcionamento dos engenhos e, nesse sentido, a violência era tida como fundamental parao bom funcionamento do cotidiano escravista.

Mesmo com toda a violência comum ao sistema, a resistência se dava em praticamentetodo tipo de relação escravista.

A idéia de que o negro foi sempre passivo e aceitou a escravidão “calado” deve ser relegada.O negro resistiu, e resistiu sob diversas formas.

Os escravos fugiam constantemente das fazendas, sozinhos ou em grupos.Houve inúmeros casos de assassinato de senhores, de seus familiares e de ca-pitães-do-mato. O suicídio representava para alguns cativos a única forma delibertação (PINSKY, 1981, p. 78).

Percebemos, então, que várias foram as formas de resistência a que se propuseram os escra-vos no Brasil; desde fugir e formar comunidades livres (os quilombos) até a prática criminosa dire-ta ou indireta contra a camada senhorial. No entanto, devemos ampliar essa idéia de resistênciada escravidão no Brasil. Existem outras formas, não menos importantes e, portanto, dignas de des-taque. A própria convivência dos cativos com outros grupos sociais, como os homens livres po-bres, é um exemplo, pois nota-se em determinadas circunstâncias que o escravo “negociou coma sociedade” um cotidiano mais brando, e um espaço maior de sociabilidade. Com isso, não nega-mos a ideia de que a escravidão foi cruel e violenta, mas acredita-se que em algumas regiões doBrasil ela teve características distintas, possibilitando ao escravo diferente maneiras de agir.

PARA SABER MAIS

Um exemplo de nego-ciação e conflito aparece

claramente no documen-to transcrito a seguir,

que contém trechos deum tratado proposto por

um grupo de escravosrebeldes ao senhor de

engenho de Santana deIlhéus, Bahia, em 1789:

Meu senhor, nós quere-mos paz e não queremos

guerra: se meu senhortambém quiser nossa

paz há de ser nessa con--formidade, se quiser

estar pelo que nósquisermos, a saber:

Em cada semana nos háde dar os dias de sexta--feira e de sábado paratrabalharmos para nósnão tirando um destes

dias por causa de diasanto.

Para podermos viver noshá de dar rede, tarrafas e

canoas.Os atuais feitores não os

queremos, faça eleiçãode outros com a nossa

aprovação.Poderemos plantar

nosso arroz onde qui-sermos e em qualquer

brejo, sem que paraisso peçamos licença, e

poderemos cada um tirar jacarandás ou qualquerpau sem darmos parte

para isso.A estar por todos os ar-

tigos acima, e conceder--nos estar sempre deposse da ferramenta,

estamos prontos para oser-virmos como dantes,

porque não queremosseguir os maus costumes

dos mais engenhos.Poderemos brincar, fol-

gar, e cantar em todos ostempos que quisermos

sem que nos impeça enem seja preciso licença

Fonte: Disponível emwww.dialetico.com

Acesso em 16/10/2013.

Figura 53: Os negrosno dia-a-dia da colônia

Fonte: Disponível emhttp://www.scielo.br/scie-lo.php?script=sci_arttext

Acesso em 15/07/2009

Figura 54: JohannMoritz Rugendas

Negros no cotidianode uma senzala

Fonte: Disponível emhttp://www.commons.

wikimedia.org/wiki/Category:Slavery_in_Bra-zil. Acesso em 15/07/2009

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História - História do Brasil Colônia I

No Brasil foram comuns negociações e acomodamentos nas relações entre senhores e es-cravos. Nesses casos, não apenas as relações violentas explicavam a resistência, mas também re-lações bem mais complexas.

Discutindo sobre a violência nas relações escravistas, Sílvia Lara acentua que classificá-laapenas como violenta “não explica coisa alguma, ou melhor, exprime o óbvio, com a desvanta-gem de sermos induzidos a pensar que, nas sociedades contemporâneas, as estratégias de re-

produção das relações desiguais não são violentas” (LARA, 1988, p. 38). Para a historiadora, o con-senso existente na relação senhor/escravo era predominante, afinal, a relação pessoal entre osindivíduos estava permeada por um cotidiano que permitia estratégias ora de resistência, ora deacomodação:

Ultrapassando a simples descrição dos castigos e a denúncia veemente da vio-lência em termos gerais para perguntarmos pela sua especificidade, mergu-lhamos nas vivências senhoriais e escravas da escravidão, na dinâmica de seusconfrontos cotidianos, nas relações de luta e resistência, acomodamentos e so-lidariedades vividos e experimentados por aqueles homens e mulheres colo-niais (LARA, 1988, p. 21).

O historiador Alysson Luiz Freitas de Jesus, estudando a resistência escrava em Minas Gerais,destaca:

Nesse sentido, “diversidade” é o termo mais adequado para se pensar a noçãode resistência na escravidão. Ao contrário da existência de um modelo rígido,ou de um “sistema” perfeitamente lógico para o escravismo, acreditamos que,inseridos em um mundo plural e complexo, escravos libertos e livres reinventa-ram estratégias de sobrevivência, se adaptaram, entraram em conflito, enfim,lançaram mão de diversas maneiras para transformar o cotidiano em que vi-viam. Não acreditamos que foram raros os acordos e negociações no mundoda escravidão [...] (JESUS, 2007, p. 58).

Por fim, chegamos à cultura africana, tema do tópico seguinte.

4.3 Gilberto Freyre: cultura escrava,cultura africana

Um dos maiores intelectuais sobre a escravidão africanano Brasil foi Gilberto Freyre. O autor pernambucano foi respon-sável por uma série de estudos que privilegiavam a análise cul-tural sobre o negro, e não apenas o debate anterior que privile-giava a questão racial.

Durante muito tempo, as teorias raciais praticamente do-

minaram os estudos sobre o negro e o escravo no Brasil. Utili-zando-se de princípios teóricos do final do século XIX – todosadvindo da Europa – os cientistas sociais e pesquisadores bus-cavam entender como a raça, o negro, e a miscigenação carac-terizavam a formação do povo brasileiro.

Freyre (2002) deslocou parte dessa análise para a questãoda cultura, estudando aspectos fundamentais para a compre-ensão da cultura africana no Brasil e mesmo da própria África.

Freyre (2002) destacou vários elementos da cultura escra-vista brasileira. Contestou a pretensa inferioridade do negro,debateu a sua influência na sociedade brasileira e analisoumuito da vida cotidiana e sexual do negro no Brasil.

Sobre a tão discutida inferioridade do negro quanto aohomem branco e senhor de escravos, o autor pernambucanonos diz o seguinte:

PARA SABER MAIS

Você sabia que exis-tiram escravos quefugiam e, depois de umtempo, voltavam a suasfazendas de origem?

Isso poderia significaruma espécie de fugaparcial da escravidão?Ou seja, uma espéciede “férias escravistas”?...

GLOSSÁRIO

Raça: o conjunto dosascendentes e descen-dentes duma família,tribo ou povo, comorigens comuns. Oconjunto de indivíduoscujas características

corporais são seme-lhantes e transmitidaspor hereditariedade,embora possam variardum indivíduo paraoutro. Divisão de umaespécie animal pro-vinda do cruzamentode indivíduos selecio-nados para manter ouaprimorar determina-dos caracteres.Miscigenação: cruza-mento de etnias; calde-amento, mestiçagem,mestiçamento, mistura.Cultura: o comple-xo dos padrões decomportamento, dascrenças, das institui-ções, das manifestaçõesartísticas, intelectuais,etc., transmitidoscoletivamente, e típicosde uma sociedade. Oconjunto dos conheci-mentos adquiridos emdeterminado campo.

◄ Figura 55: GilbertoFreyre

Fonte: Disponível emhttp://www.diamang.com/diamang/Lunda/historia/images/Gilberto_Freyre.

 jpg Acesso em 15/07/2009

◄ Figura 56 O negro, oescravo

Fonte: Disponível emhttp://www.diamang.com/diamang/Lunda/historia/images/Gilber-to_Freyre.jpg http://

www.bigmarley.blogspot.com/2007_06_01_ar-chive.html Acesso em15/07/2009

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UAB/Unimontes - 2º Período

Os escravos vindos das áreas de cultura negra mais adiantada foram um ele-mento ativo, criador, e quase que se pode acrescentar nobre na colonizaçãodo Brasil; degradados apenas pela sua condição de escravos. Longe de teremsido apenas animais de tração e operários de enxada, a serviço da agricultu-ra, desempenharam uma função civilizadora. Foram a mão direita da formaçãoagrária brasileira, os índios, e sob certo ponto de vista, os portugueses, a mãoesquerda. (FREYRE, 2002 p. 364).

O autor pernambucano enfatiza a enorme contribuição que os negros deram à sociedadecolonial brasileira. Na comida, nas danças, nas músicas, nas crenças e nos rituais, o negro teria pa-pel fundamental na formação da cultura da colônia. Suas palavras são esclarecedoras:

Mas o grosso das crenças e práticas da magia sexual que se desenvolveram noBrasil foram coloridas pelo intenso misticismo do negro; algumas trazidas porele da África, outras africanas apenas na técnica, servindo-se de bichos e ervasindígenas. Nenhuma mais característica que a feitiçaria do sapo para apressara realização de casamentos demorados. O sapo tornou-se também, na magiasexual afrobrasileira, o protetor da mulher infiel que, para enganar o marido,basta tomar uma enfiada em retrós verde, fazer com ela uma cruz no rosto doindivíduo adormecido e coser depois os olhos do sapo. (...) Foi a perícia no pre-paro de feitiços sexuais e afrodisíacos que deu tanto prestígio a escravos ma-

cumbeiros junto a senhores brancos já velhos e gastos ( FREYRE 2002, p. 380 -1).

▲ ▲

Figura 57: Johann Moritz Rugendas. Ambiente do Brasil-Colônia, adança do lundu

Fonte: Disponível em http://www.commons.wikimedia.org/wiki/File:Rugendas_lund Acesso em 10/07/2009

Figura 58: Johann Moritz Rugendas. O negro e a capoeira

Fonte: Disponível em http://www.centroreferenciacapoeiracarioca.net/filosof ia.php Acesso em 10/07/2009

A vida sexual do negro na colônia foi um dos temas de maior interesse de Freyre. A sua asso-

ciação entre escravidão e depravação sexual era evidente. O mais interessante é que Freyre nãoresponsabilizava somente o negro pela característica das relações culturais do brasileiro. Em ou-tros casos, analisava mais detidamente as relações de iniciação sexual entre os meninos livres ebrancos e as “negrinhas” das fazendas. As citações abaixo são transcritas na íntegra, pois, se assimnão fosse, empobreceriam a capacidade de escrita do autor.

Passa por ser defeito da raça africana, comunicado ao brasileiro, o erotismo, aluxúria, a depravação sexual. Mas o que se tem apurado entre os povos negrosda África, como entre os primitivos em geral – já o salientamos em capítulo an-terior – é a maior moderação do apetite sexual que entre os europeus. É umasexualidade, a dos negros africanos, que para excitar-se necessita de estímulospicantes. Danças afrodisíacas. Culto fálico. Orgias. Enquanto que no civilizadoo apetite sexual de ordinário se excita sem grandes provocações. Sem esfor-ço. (...) Diz-se geralmente que a negra corrompeu a vida sexual da sociedade

brasileira, iniciando precocemente no amor físico os filhos-família. Mas essacorrupção não foi pela negra que se realizou, mas pela escrava. (...) É absurdoresponsabilizar-se o negro pelo que não foi obra sua nem do índio mas do sis-tema social e econômico em que funcionaram passiva e mecanicamente. Nãohá escravidão sem depravação sexual. (FREYRE, 2002 p. 371-2).

DICA

Procure pesquisaralgumas teorias raciais

populares entre ofinal do século XIX e

início do século XX. Sãoexemplos: a eugenia,o evolucionismo e o

darwinismo social.

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História - História do Brasil Colônia I

Figura 59: Johann Moritz Rugendas. Negro e NegraN’uma Fazenda, século XIX

Fonte: Disponível em http://www.pt.wikipedia.org/wiki/Acervo_Art%C3%ADstico-C Acesso em 10/07/2009

Figura 60: Johann Moritz Rugendas. Negro e negra:sociabilidades

Fonte: Disponível em http://www.desafio.ufba.br/gt3-006.html Acesso em 10/07/2009

Ao analisar as relações de sexualidade na colônia entre escravos e homens livres, Freyre(2002) faz importantes comparações e analogias com relações atuais que, para ele, caracteriza-riam a formação do brasileiro. A própria expressão explicitada por Freyre, “negra para trabalhar,branca para casar e mulata para f...” marcaria parte das preferências sexuais do brasileiro, e indica-

ria uma forma de dominação do homem branco com relação aos escravos.

◄ Figura 61: Asexualidade da negrana cultura nacionalFonte: Disponívelem http://terrade-odiaxere.blogspot.com/2008_09_01_archi.Acesso em 10/07/2009

PARA SABER MAIS

Quem foi GilbertoFreyre?Um dos maiores e maisinfluentes intelectuaisbrasileiros do século

XX cujos trabalhos sãoReconhecidos inter-nacionalmente até opresente momento. Asua Obra é estudadaaté hoje em importan-tes universidadesdo mundo Ocidental.Freyre iníciou aos seusestudos, em 1908, noColégio Americano Ba-tista Gilreath, instiuiçãoque o seu pai ajudoua fundar. Perto do fimda segunda década do

século XX, Freyre foiestudar na universida-de do Texas (USA) ondeconcluiu a graduaçãoem ciências sociais, edeu continuiadade aosseus estudos na Uni-versidade de Columbia(USA) onde obteve otítulo de Masters ofArts. Na Universiade deColumbia ConheceuFranz Boas, a sua princi-pal referência intelec-tual. No ano de 1922

publicou a sua tese demestrado “Social lifein Brazil in the middleof the 19th century”(Vida social no Brasilnos meados do séculoXIX — já traduzida parao português). Essa tesedeu origem ao que, cer-tamente, é o seu livromais conhecido e lido,Casa-Grande & Senzala(1933), um verdadeirotratado sobre a forma-ção do Brasil, que já foitraduzidopara o inglês e ofrancês entre outraslínguas. Gilberto Freyrecostuma ser apontado,e criticado, comoo criador e grandeteórico da (ideologiada) “democracia racial”,No entanto, em CasaGrande & Senzala, pri-meiro livro da trilogiasobre a formação dopatriarcalismo no Brasil,não há menção algumaà palavra “democraciaracial”.

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UAB/Unimontes - 2º Período

4.4 Cotidiano escravista na colônia:o mundo rural, o mundo urbano e

as atividades econômicasOs ambientes rurais foram os primeiros a absorver os negros vindos da África. Por isso mes-

mo, é importante compreender um pouco das práticas escravistas nessas regiões.O cotidiano escravista rural criava uma rígida disciplina e hierarquia. Os senhores de enge-

nho e os barões do café do período imperial montavam toda uma lógica de funcionamento es-cravista em suas fazendas. A estrutura era montada para que as relações não prejudicassem ofuncionamento da lógica colonial, ou seja, obter lucros por meio da exploração e da exportaçãode mercadorias como o açúcar e o café.

Figura 63: EngenhoFonte: Disponível em http://www.i104.photobucket.com/albums/m199/famedsaid/lagoa05. jpg. Acesso em10/07/2009

Figura 64: Negros na colôniaFonte: Disponível em http://www.asminasgerais.com.br/.../Escrav0001.html. Acesso em 10/07/2009

Figura 62: Engenho

Fonte: Disponível emhttp://www.tempodea-

ventura.com.br/images/fazenda-jardim.jpg Acesso

em 10/07/2009

PARA SABERMAIS

“Casa Grande & Sen-zala”

Manuel Bandeira (1949)

“Casa Grande & Sen-zala”

Grande livro que falaDesta nossa leseira

Brasileira.Mas com aquele forte

Cheiro e sabor do Norte— Dos engenhos de

cana(Massangana!)

Com fuxicos danadosE chamegos safados

De mulecas fulôsCom sinhôs!

A mania arianaDo Oliveira VianaLeva aqui a sua lam-

badaBem puxada.

Se nos brasis abundaJenipapo na bunda,Se somos todos uns

Octoruns,Que importa? É lá

desgraça?Essa história de raça.

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História - História do Brasil Colônia I

Segundo o historiador Stuart Schwartz, em seu livro “Segredos Internos”, os engenhos e oseu cotidiano revelavam importantes características da sociedade colonial. Nesses engenhos, arelação senhor-escravo assumia variadas características, marcadas pelas relações de dominação,de submissão e de violência. Entretanto, essas mesmas relações também vinham marcadas poracentuadas doses de imprevisibilidade, marcadas por negociações, tensões, acordos e conflitos,típicos de uma sociedade como a que foi moldada pelo encontro de colonizadores e colonizados

(SCHWARTZ, 1988).Contudo, a escravidão no Brasil não se deu apenas em sociedades rurais. No mundo urbano

ela adquiriu características especiais, revelando um pouco do cotidiano do universo urbano dacolônia. Nas cidades, os escravos tinham uma intensa mobilidade e um contato mais próximocom o mundo dos brancos. Isso permitia um maior dinamismo e um maior acesso a elementosque o mundo rural limitava.

▲ ▲

Figura 65: Mercado da Rua do Valongo, no Rio deJaneiro, onde escravos eram vendidos (quadro deJean-Baptiste Debret)

Fonte: Disponível em http://www.blogdopaulonunes.com/noticias_especificas Acesso em 10/07/2009

Figura 66: Mercado de Escravos, gravura deRugendas, 1834Fonte: Disponível em http://www.polemica.uerj.br/pol16/cimagem/p16_zeca.htm Acesso em 18/07/2009

O mundo urbano possibilitava também algumas relações de trabalho não tão comuns nasfazendas e engenhos. Alguns exemplos são muito comuns, como os escravos de ganho e os es-cravos de aluguel.

Os escravos de ganho trabalhavam com relativa autonomia em relação a seu proprietário,em diversas funções remuneradas: transportadores de cargas e de pessoas, vendedores ambu-lantes, barbeiros, curandeiros, prostitutas, “negras de tabuleiros” e outras atividades. Parte dodinheiro obtido nesses serviços era repassado aos senhores, mas os escravos conservavam umaparcela, utilizada em alimentação, vestuário, compra de ferramentas e, eventualmente, na alfor-ria, a compra da liberdade.

Os escravos de aluguel, por sua vez, eram alugados a terceiros para o desempenho das maisvariadas tarefas.

Nas zonas rurais e de mineração, o escravo era utilizado em todo tipo de atividade. Sua lon-ga jornada de trabalho variava de acordo com a tarefa realizada. Estava sujeito a duros castigose torturas: chicotadas, palmatória, placas de ferro, correntes com peso, gargalheiras e muitas ou-tras espécies de punições.

Nesses casos, a condição da mulher escrava se tornava bem interessante. A sexualidade eraum elemento que as negras utilizavam com enorme habilidade, mas não se deve esquecer queoutras estratégias de sobrevivência e adaptação ao regime escravista eram intensamente explo-radas. Negras de tabuleiro, negras quitandeiras, amas de leite e mucamas são exemplos de ofí-

cios e posições que as negras ocupavam e que, muitas vezes, lhes permitiam uma posição maisconfortável nas, geralmente cruéis, relações escravistas.

PARA SABER MAIS

Pai Contra MãeMachado de Assis.A ESCRAVIDÃO levou con-sigo ofícios e aparelhos,como terá sucedido aoutras instituições sociais.

Não cito alguns aparelhossenão por se ligarem acerto ofício. Um deles erao ferro ao pescoço, outro oferro ao pé; havia tambéma máscara de folha de flan-dres. A máscara fazia per-der o vício da embriaguezaos escravos, por lhestapar a boca. Tinha só trêsburacos, dous para ver, umpara respirar, e era fechadaatrás da cabeça por umcadeado [...] O ferro aopescoço era aplicado aosescravos fujões. Imaginai

uma coleira grossa, coma haste grossa também àdireita ou à esquerda, atéao alto da cabeça e fecha-da atrás com chave [...] Hámeio século, os escravosfugiam com freqüência.Eram muitos, e nem todosgostavam da escravidão[...] Quem perdia um escra-vo por fuga dava algum di-nheiro a quem lho levasse.Punha anúncios nas folhaspúblicas, com os sinais dofugido, o nome, a roupa,o defeito físico, se o tinha,o bairro por onde andava

e a quantia de gratificação. Quando não vinhaa quantia, vinha promessa:“gratificar-se-á genero-samente”, ou receberáuma boa gratificação” [...]Cândido Neves perdera

 já o ofíc io de entalhador,como abrira mão deoutros muitos, melhoresou piores. Pegar escra-vos fugidos trouxe-lheum encanto novo. Nãoobrigava a estar longashoras sentado. Só exigiaforça, olho vivo, paciência,

coragem e um pedaço decorda. Cândido Neves liaos anúncios, copiava-os,metia-os no bolso e saíaàs pesquisas. Tinha boamemória. Fixados os sinaise os costumes de umescravo fugido, gastavapouco tempo em achá-lo,segurá-lo, amarrá-lo elevá-lo.

Fonte: Disponível emhttp://www.dominiopubli-co.gov.br/pesquisa/Deta-lheObraForm.do?select_action=&co_obra=1951>.

Acesso em 25 ago.2010

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UAB/Unimontes - 2º Período

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Figura 67: Jean-Baptiste Debret. A mulher escrava na colônia

Fonte: Disponível em http://www.paulodauria.zip.net/arch2008-05-01_2008-05-31.html. Acesso em 18/07/2009

Figura 68: Chica da Silva . Pintura de Marcial.

Fonte: Disponível em https://reader012.{domain}/reader012/html5/0807/5b69876e59a43/5so em 18/07/2009

4.5 Cotidiano escravista: escravos,ex-escravos e a liberdade

Pela manumissão tudo valia a pena, até mesmo fazer da vida uma representação. Nessaperspectiva tornar-se ou fazer-se passar por passivo, amável e fiel resultou em muitas cartas dealforria justificadas nos “bons serviços prestados”, na “lealdade e sujeição”, expressões recorren-tes nos testamentos e empregadas mesmo quando se tratava de manumissões pagas. Nessemomento, as estratégias engendradas no dia-a-dia obtinham sucesso. A partir daí, nova fase deadaptações iniciava-se como maneira de garantir a sociabilidade e a sobrevivência dos libertos.

No dia-a-dia, é comum empregar-se a palavra “liberdade” como se fosse um termo autoevi-dente, desligado da experiência histórica das pessoas. É como se a liberdade fosse um dado ab-soluto, que existe ou não, de forma claramente delimitada. Todavia, basta uma observação maiscautelosa, para verificarmos que isso não é exato. Se não for devidamente contextualizada notempo, a liberdade corre o risco de tornar-se um sonho, ou quando muito uma abstração de umasituação do presente, imposta sobre o passado.

ATIVIDADE

Pesquise algumasdiferenças entre a

escravidão de duasregiões brasileiras

muito estudadas pelosautores: Pernambuco e

São Paulo. Poste essasdiferenças no fórum de

discussão.

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História - História do Brasil Colônia I

No dia-a-dia da colônia os escravos mantinham relação direta com todos os que compu-nham a sociedade colonial. Essas relações permitiam criar aproximações que, por sua vez, pode-riam facilitar o acesso dos negros à liberdade.

Outra realidade sobre a escravidão no Brasil é a liberdade. Temos um número vasto de es-

cravos que conseguem se libertar do jugo senhorial e conseguir se tornar um liberto. A aquisiçãoda alforria poderia se dar sob várias formas, ou por doação dos próprios senhores ou por compra junto aos mesmos. Em ambos os casos, significava a tão sonhada “liberdade” que, como sabe-mos, não era tão “livre” assim, pois vários estudos comprovam que a condição do liberto não eramuito diferente da percebida pelos escravos. A inserção do ex-escravo na economia era sempremuito dificultada, o que levava o liberto a uma crescente marginalização.

Para se obter a liberdade, portanto, as alforrias eram de enorme importância. Era mais co-mum que mulheres tivessem maior acesso a essas cartas, mas os padrões variavam.

Deixar de ser escravo era, evidentemente, o objetivo central das motivações escravistas, jáque o princípio da liberdade é uma condição natural do ser humano. Antes mesmo que a Lei Áu-rea, de 1888, legalizasse definitivamente o fim da escravidão, inúmeros escravos procuraram des-frutar dessas liberdades no cotidiano da colônia, como foi o caso de tantas Marias, Josés, Anas e

Joaquins do Brasil.

PARA SABER MAIS

Freyre procura escla-recer de que maneiraos valores do sado--masoquismo social se

transmitia (se transmi-te?) de pai para filhopelos mecanismos sutisda “educação”:“... um dia quebrei acabeça de uma escrava,porque me negara umacolher de doce de cocoque estava fazendo,e, não contente como malefício, deitei umpunhado de cinza aotacho, e, não satisfeitoda travessura, fui dizera minha mãe que a

escrava é que estragarao doce “por pirraça”; eeu tinha apenas seisanos. Prudêncio, ummuleque de casa, erameu cavalo de todos osdias; punha as mãos nochão, recebia um cordelnos queixos, à guisa defreio, eu trepava-lhe aodorso, com uma vari-nha na mão, fustigava--o, davalhe mil voltas aum e outro lado, e eleobedecia, – algumas

vezes gemendo – masobedecia sem dizer pa-lavra, ou, quando mui-to, um – “ai, nhonhô!”– ao que eu retorquia –cala a boca, besta!”- es-conder os chapéus dasvisitas, deitar rabos depapel a pessoas graves,puxar pelo rabicho dascabeleiras, dar beliscãonos braços das matro-nas, e outras muitasfaçanhas deste jaez,eram mostras de um

gênio indócil, mas devocrer que eram tambémexpressões de um es-pírito robusto, porquemeu pai tinha-me emgrande admiração; e seàs vezes me repreendia,à vista de gente, fazia-opor simples formalida-de: em particular dava--me beijos” (FREYRE,2002, p. 354).Discuta esse trechocom os demais colegasde turma no ambiente

virtual.

◄ Figura 69: Carta dealforria

Fonte: Disponível emhttp://www.ccs.saude.gov.br/memoria%20da%20loucura/Mostra/images/DocAlforria.jpgAcesso em 18/07/2009

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UAB/Unimontes - 2º Período

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Figura 70: Sessão do Conselho de Estado em que a Princesa Isabel assina a LeiÁurea

Fonte: Disponível em http://www.passeiweb.com/.../segundo_reinado Acesso em 18/07/09

Figura 71: Extinta a escravidão no Brasil.

Fonte: Disponível em http://www.pindavale.com.br/agoravale/noticias.asp Acesso em 18/07/09

Conforme a maioria dos autores, os escravos lançavam mão de inúmeras estratégias paraconseguir a manumissão. Faziam-se passar por fiéis, amáveis, ou mesmo passivos, demonstran-do, assim, “lealdade e sujeição”. Em outros momentos, ficava evidente essa proximidade entre omundo dos negros e o mundo dos brancos. Essa proximidade foi retratada em várias imagens donosso passado escravista.

Finalizamos esse capítulo com uma imagem e um texto que sintetizam bem alguns dos as-pectos fundamentais para o bom funcionamento do sistema escravista brasileiro. A fotografiaabaixo, reproduzida em todos os seus detalhes,revela um pouco das relações de dominação ede afeto típicas do regime escravista brasileiro.O texto do historiador Luiz Felipe de Alencastroé ainda mais interessante, pois analisa a ima-gem a partir de todos os aspectos que privile-giamos nesse capítulo.

... Fotografia feita no Recife por volta de1860. Na época era preciso esperar no mínimoum minuto e meio para se fazer uma foto. As-sim, preferia-se fotografar as crianças de manhã

cedo, quando elas estavam meio sonolentas,menos agitadas. O menino veio com a sua mu-cama, enfeitada com a roupa chique, o colar eo broche emprestados pelos pais dele. Do ou-tro lado, além do fotógrafo Vilela, podiam estara mãe, o pai e outros parentes do menino. Tal-vez por sugestão do fotógrafo, talvez porquetivesse ficado cansado na expectativa da foto, omenino inclinou-se e apoiou-se na ama. Segu-rou-a com as duas mãozinhas. Conhecia bem ocheiro dela, sua pele, seu calor. Fora no vulto daama, ao lado do berço ou colado a ele nas horas

diurnas e noturnas da amamentação, que seusolhos de bebê haviam se fixado e começado aenxergar o mundo. Por isso ele invadiu o espa-ço dela: ela era coisa sua, por amor e por direito

ATIVIDADE

Faça uma pesquisaminuciosa da biografia

de Chica da Silva, eprocure compreender o

papel que as mulheresexerciam no cotidiano

escravista colonial.Poste a bibliografia no

fórum de discussão.

PARA SABER MAIS

É importante salien-tar que mulheres e

homens viviam oambiente escravista de

formas distintas, emespecial devido ao tipo

de trabalho que cadaum executava.

Figura 72: João FerreiraVillela. Artur GomesLeal com a ama-de-leite Mônica (1860)

Fonte: Disponívelem http://www.

cybelemeyer.blogspot.com/2008_05_07_ar-chive.html Acesso em

05/07/2008

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História - História do Brasil Colônia I

de propriedade. O olhar do menino voa no devaneio da inocência e das coisas postas em seudevido lugar.

Ela, ao contrário, não se moveu. Presa à imagem que os senhores queriam fixar, aos gestoscodificados de seu estatuto. Sua mão direita, ao lado do menino, está fechada no centro da foto,na altura do ventre, de onde nascera outra criança, da idade daquela. Manteve o corpo ereto, edo lado esquerdo, onde não se fazia sentir o peso do menino, seu colo, seu pescoço, seu braço

escaparam da roupa que não era dela, impuseram à composição da foto a presença incontida deseu corpo, de sua nudez, de seu ser sozinho, da sua liberdade.

O mistério dessa foto feita há 130 anos chega até nós. A imagem de uma união paradoxal,mas admitida. Uma união fundada no amor presente e na violência pregressa. Na violência quefendeu a alma da escrava, abrindo o espaço afetivo que está invadido pelo filho de seu senhor.Quase todo o Brasil cabe nessa foto (Alencastro 1997).

ReferênciasALENCASTRO, Luiz Felipe de. Epílogo. In: SOUZA, Laura de Mello e. História da Vida Privada noBrasil – Império. São Paulo: Cia das Letras, 1997.

FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2002.

FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala. 46. ed. Rio de Janeiro: Record, 2002.

JESUS, Alysson Luiz Freitas de. No sertão das Minas: escravidão, violência e liberdade – 1830-1888. São Paulo: Annablume, 2007.

LARA, Silvia Hunold. Campos da violência: escravos e senhores na capitania do Rio de Janeiro –1750-1808. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.

PINSKY, Jaime. Escravidão no Brasil. São Paulo: Global, 1981.

SCHWARTZ, Stuart. Segredos Internos: engenhos e escravos na sociedade colonial. São Paulo:Cia das Letras, 1988.

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História - História do Brasil Colônia I

UNIDADE 5Modelos explicativos do sistema

colonial: teoria e historiografiaAlysson Luiz Freitas de Jesus

5.1 IntroduçãoComo vimos, desde a chegada dos portugueses no Brasil as relações coloniais foram se mol-

dando às normas do império português e às formas de relações sociais presentes na colônia. Osportugueses não ocuparam apenas o Brasil, pois a África e a Ásia também foram alvos estratégi-cos da sua expansão colonial.

Vários sistemas administrativos, outras tantas atividades econômicas, e os diversos discursosmissionários foram largamente utilizados pelos lusitanos. Nesse sentido, é importante notar queo sistema colonial não foi pensado de forma homogênea. Isso se deu devido ao fato de que, adepender do momento e do local de colonização, Portugal teve que se valer de diversas estraté-gias para submeter os colonos.

▲ ▲

Figura 73: O contato inicial dos portugueses

Fonte: Disponível em http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/sala_de_aula/historia/imagens/indios_brasil_1.jpg Acesso em 5/10/2013

Figura 74: A Igreja e o seu papel na colonização

Fonte: Disponível em http://www.img225.imageshack.us/img225/5646/jesuitascx8.png Acesso em 5/10/2013

Sendo assim, essa unidade nos possibilitará pensar um pouco sobre as teorias que busca-ram explicar o sistema colonial. Dividimos a unidade nos seguintes tópicos:

O Sistema Colonial: concepções teóricas e cotidiano;A lógica de funcionamento do sistema colonial: autores e abordagens clássicas;Cultura e sociedade colonial: autores e abordagens clássicas; A colônia em movimento: revisionistas e perspectivas atuais.

PARA SABER MAIS

Você sabia que a igreja

católica cumpriu umaimportante função noprocesso do colonia-lismo dos séculos XVe XVI? Os jesuítas e arelação com os índiossão um exemplo dasformas de atividades daIgreja na colônia.

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UAB/Unimontes - 2º Período

5.2 O Sistema Colonial:concepções teóricas e cotidiano

BOX 4

Desde o século XIX, discute-se se a chegada dos portugueses ao Brasil foi obra do aca-so, sendo produzida pelas correntes marítimas, ou se já havia conhecimento anterior do NovoMundo e Cabral estava incumbido de uma espécie de missão secreta que o levasse a tomar orumo do ocidente. Tudo indica que a expedição de Cabral se destinasse efetivamente às Ín-dias. Isso não elimina a probabilidade de navegantes europeus, sobretudo portugueses, te-rem freqüentado a costa do Brasil antes de 1500. De qualquer forma, trata-se de uma contro-vérsia que hoje interessa pouco, pertencendo mais ao campo da curiosidade histórica do queà compreensão dos processos históricos.

Fonte: FAUSTO, (2002)

Questões como a colocada acima parecem hoje interessar pouco aos historiadores. As prin-cipais controvérsias e debates se dão, principalmente, sobre como funcionava o sistema coloniale, sobretudo, como os colonos se comportavam diante desse sistema. Alguns autores insistemem uma lógica central para o funcionamento das relações coloniais. Geralmente, trata-se de teó-ricos clássicos que, discordando em alguns pontos e concordando em outros, acabam por refor-çar a tese da existência de um sistema colonial tipicamente português.

Outros, por sua vez, procuram revisar tais posicionamentos, apresentando uma pluralidadede reações sociais e culturais dentro de um contestável sistema colonial. Tais autores, em umaperspectiva revisionista, procuram apresentar novas leituras sobre o período em questão.

O pacto colonial era um dos elementos que comportavam o funcionamento do sistema. Achegada dos portugueses impôs o chamado “exclusivismo metropolitano” e fez com que o Brasilse adequasse à lógica do colonialismo e do início da era moderna.

Sendo assim, o Brasil seria o que se comumente chamou de colônia de exploração, ao con-trário das conhecidas colônias de povoamento, como teria sido parte da colonização dos EstadosUnidos.

As relações econômicas e sociais entre Brasil e Portugal eram, portanto, estabelecidas pelochamado Pacto Colonial, no qual a função da colônia era propiciar lucros para a metrópole, po-dendo apenas negociar com esta. As atividades agrícolas são um exemplo disso.

Em linhas gerais, a economia colonial caracteri-za-se pela mão-de-obra escrava, pelo latifúndio, pelacultura de produtos tropicais e pela exploração demetais e pedras preciosas. Outras atividades tambémdesempenharam importante papel, coexistindo comaquelas que interessavam mais diretamente à polí-

tica mercantilista metropolitana. A agroindústria doaçúcar foi a primeira dessas atividades estratégicas.Sua implantação articulou a exploração da América eda África – fornecedora de mão-de-obra – e ajudou acontornar a crise do comércio oriental, num períodoem que o monopólio português das especiarias eraposto em xeque pelos holandeses e ingleses.

O cultivo açucareiro exigiu extensas proprieda-des, grande número de escravos, pastos para ani-mais de tração, transportes e áreas florestais paraobtenção de madeira e lenha e ainda a proteção doscanaviais contra predadores naturais. A necessidade

de unir a produção agrícola a uma atividade benefi-ciadora do açúcar tornou indispensáveis as instala-ções de alto custo e a utilização de grande quantida-de de mão-de-obra especializada.

GLOSSÁRIO

Conceito: formula-ção duma ideia porpalavras; definição.Pensamento; ideia.

Reputação.Historiografia: ciênciae arte de escrever a his-tória. Estudo histórico e

crítico acerca da histó-ria ou dos historiadores.Método: procedimento

organizado que conduza certo resultado. Pro-

cesso ou técnica de en-sino. Modo de agir, de

proceder. Regularidadee coerência na ação.

ATIVIDADE

Pesquise as principaisdiferenças entre a

colonização de explo-ração e a colonização

de povoamento.Procure, ainda, traçarum paralelo entre o

sistema colonial inglêsna América do Norte eo sistema colonial por-tuguês no Brasil. Poste

estes achados no fórumde discussão.

Figura 75: A produçãodo açúcar

Fonte: Disponível emhttp://www.materias-

-neltonlandia.blogspot.com/2007/03/ci. Acesso

em 5/10/2013

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História - História do Brasil Colônia I

Como dissemos, vários autores se debruçaram na análise do sistema colonial. Dividiremossuas abordagens em dois grupos: aqueles que chamaremos de “clássicos”, com abordagens quese constituem referência para o estudo do período, e aqueles que chamaremos de “revisionistas”,com trabalhos e pesquisas que procuram lançar novas perspectivas sobre o estudo da Históriado Brasil Colônia.

▲ ▲

Figura 76: As atividades na economia açucareira

Fonte: Disponível em http://www.oc-cerqueira.zip.net/images/enge-nho2.jpg. Acesso em 5/10/2013

Figura 77: As atividades econômicas na colônia

Fonte: Disponível em http://www.historianet.com.br/imagens/econo-mia_17.jpg. Acesso em 5/10/2013.

5.3 A lógica de funcionamento

do sistema colonial: autores eabordagens clássicas

Diferentes análises sobre o poder metropolitano na colônia examinaram a natureza e as ca-racterísticas do sistema colonial. Uma das questões mais levantadas pela historiografia clássicarefere-se ao pretenso controle que a metrópole exercia sobre a sua colônia na América, ou seja,a ideia de que Portugal exercia, através do seu direito de conquista, um controle sobre todas asáreas de atuação cotidiana no Brasil, sufocando, assim, as possibilidades de ações independentespor parte dos colonos. Alguns importantes cientistas

sociais caminharam nessa direção.Raimundo Faoro, em seu clássico Os Donos do

Poder, é um exemplo. Quando trata especificamen-te da centralização colonial, destaca que, a partir doséculo XIX, ocorre uma maior abrangência do poderpúblico na colônia, constatando assim que não so-bravam espaço para a ordem privada na Américaportuguesa. A criação do Governo Geral teria sido oprimeiro passo para a consolidação do poder público(FAORO, 1975).

Outros autores procuraram dedicar sua análisea questões mais ligadas à economia do sistema co-

lonial. Um dos maiores expoentes dessa perspectivafoi Caio Prado Jr. Em suas inúmeras obras, Caio Pradodefiniu conceitos, analisou teorias, e abordou inúme-ros aspectos das relações de exploração entre colônia

◄ Figura 78: O livro “Osdonos do poder”, deRaymundo Faoro

Fonte: Disponível emhttp://www.livrariaroteiro.com.br/images/os%20donos%20do%20poder.

 jpg. Acesso em 5/10/2013

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UAB/Unimontes - 2º Período

e metrópole. Uma das suas teses mais conhecidas é a do “Sentido da Coloni-zação”. Nessa lógica, o Brasil esteve sempre atrelado economicamente à Por-tugal no período em que era colônia deste país. E essa ligação pode ser per-cebida com um forte vínculo de alguns produtos explorados pela metrópoleportuguesa, que buscava retirar grandes lucros da nação colonizada, o Brasil.O Primeiro desses produtos foi o pau-brasil, quase que totalmente devastado

do território brasileiro. Com a efetivação da colonização, era necessário umproduto rentável e acessível para plantio e exploração no Brasil. A exploraçãoagrícola no litoral brasileiro teve início na época em que foram criadas as capi-tanias hereditárias. Como a costa brasileira não tinha as riquezas metálicas queos portugueses esperavam encontrar, o único recurso para explorar a regiãofoi a atividade agrícola. A escolha: o açúcar.

Para melhor explorar o Brasil, procurou-se implementar nas capitanias osistema de plantations (sistema que se constitui de latifúndio, monocultura,trabalho escravo e produção para exportação) que atendia os preceitos dopacto colonial preconizado pelo mercantilismo português. Para este empreen-dimento, Portugal valeu-se da experiência de práticas bem sucedidas em seuterritório e em suas colônias no Atlântico, que consistiam no plantio da cana,produção de açúcar e a utilização do trabalho escravo negro. Assim, iniciou-sea produção do principal produto (não o único) da economia colonial até mea-dos do século XVII quando entrou em decadência, mas que nunca deixou deser produzido no Brasil.

O sentido da colonização seria, portanto, que a metrópole sugaria o máximo de riquezasque pudesse extrair da colônia, por meio do que já analisamos como pacto colonial (PRADO JR,1973).

Outra questão levantada por Caio Prado é a conhecida “Tese da administração caótica”. Parao autor, Portugal não teria criado um sistema específico para se adequar à lógica colonial brasilei-ra, e isto teria provocado um caos na administração lusitana, impedindo o bom funcionamentodo sistema. Tais questões explicariam parte do atraso e da ineficácia da administração. E, maisainda: explicaria boa parte do nosso atraso social, político e econômico. O nosso “sentido” foi serexplorado por uma metrópole que sufocava as iniciativas coloniais, impedindo quaisquer possi-

bilidades de dinamismo interno da colônia. À população restava os motins, as revoltas e as sedi-ções (PRADO JR, 1973.)

▲ ▲

Figura 80: O cotidiano e as resistências na colôniaFonte: Disponível em http://www.jornallivre.com.br/images_en-viadas/periodo-colonial-revolta-de -be.jpg Acesso em 5/10/2013

Figura 81: O cotidiano e as resistências nacolônia

Fonte: Disponível em http://www.agenciaminas.mg.gov.br/maisfotos.php?cod_...Acesso em 5/10/13

PARA SABER MAIS

Faoro (1958) nega quea colonização brasileira

tenha obedecido aospadrões feudais; ao

contrário, sublinha aidéia de que a coloni-

zação do Brasil foi obrado rei e do estamentoburocrático, dentro da

lógica do capitalismopoliticamente orien-tado: A conquista daterra e a colonização

foram obra do rei, queas orientou até nos

detalhes mínimos. Ainiciativa particular foi,

ela própria, filha dasvantagens e favores doEstado: agia sob a pro-

teção e a tutela do reie seus agentes. Certo,

a colônia de plantaçãonão era empresa pú-

blica, mas de interessepúblico, amparada

pela vigilância de umavontade onipresente,

encarnada nos capi-tães, que cumpriam

um mandato público(FAORO, 1975, p. 52).

Figura 79: O livro“Formação do Brasil

Contemporâneo”, deCaio Prado Jr.

Fonte: Disponível emhttp://www.i.s8.com.br/

images/books/cover/img2/29872_4.jpg. Acesso

em 5/10/2013

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História - História do Brasil Colônia I

5.4 Cultura e sociedade colonial:autores e abordagens clássicas

Sérgio Buarque de Holanda e Gilberto Freyre são referências fundamentais para o estudo dacultura colonial. Freyre, como já vimos, contribuiu decisivamente para os estudos sobre a culturaescravista. Livros como Casa Grande & Senzala e Sobrados e Mucambos são clássicos sobre o es-tudo da nossa cultura, em especial o primeiro, que trata mais detidamente sobre a colônia.

Sérgio Buarque, por sua vez, marcou de forma madura e rigorosa o início de uma históriacultural sobre a colônia. Em sua obra Raízes do Brasil, o autor nos propiciou um ensaio com im-portante análise cultural, a partir de uma metodologia rigorosa e adequada. Escrevendo em ummomento em que muitos acreditavam na sobredeterminação do econômico, Holanda nos apre-senta temas mais cotidianos e mais sensíveis. (HOLANDA, 1976.)

Em outra obra, Visão do Paraíso, Sérgio Buarque de Holanda procura traçar, de forma pre-cursora, a história do universo mental dos colonos portugueses da época dos descobrimentos,enfatizando-lhe o caráter mítico.

É, pois, a história de uma projeção imaginária – a crença lusitana no mito doparaíso terrestre – ou, como se diz hoje, uma história do imaginário. Não dei-xa de ser uma história comparativa, pois há constante referência ao contextoespanhol: diante da riqueza mitificadora dos vizinhos – “frondosidades” –, aimaginação portuguesa aparece pobre e rasteira, apegada à experiência, ma-dre de todas as coisas, em detrimento da fantasia; imaginação enfastiada “deportentos e prodígios”: “os olhos que enxergam, as mãos que tateiam, hão demostrar-lhes constantemente a primeira e a última palavra do saber”. O espíritode aventura e o fascínio pelo desconhecido levam os espanhóis a aceitarem omaravilhoso, enquanto o predomínio da tradição amarra os portugueses à roti-na (FREITAS, 2000, p. 26).

▲ ▲ ▲

Figura 82: O livro “Casa Grande eSenzala”, de Gilberto Freyre

Fonte: Disponível em http://www.senado.gov.br/sf/senado/ilb/img/livrograndesenzala.jpg.Acesso em 5/10/2013

Figura 83: O livro “Raízes do Brasil”,de Sérgio Buarque de Holanda

Fonte: Disponível em ht tp://www.img.mercadolivre.com.br/jm/img?s=MLB&f=70041311_165.jpg&v=P.Acesso em 5/10/2013

Figura 84: “Visão do Paraíso”, deSérgio Buarque de Holanda

Fonte: Disponível em http://www.sebodomessias.com.br/loja/imagens/produtos/produtos/72275_27785_680.

 jpg. Acesso em 5/10/2013

O aspecto mental dos colonizadores, ou o seu imaginário, nunca havia sido abordado comoelemento imprescindível para se compreender a constituição do espaço geográfico da América

portuguesa e do processo colonizador. Em seus textos clássicos, Sérgio Buarque nos permitiu oacesso a essas questões, de forma brilhante e ao mesmo tempo criteriosa. (HOLANDA, 2004.)

PARA SABER MAIS

Você sabia que Portu-gal procurou transferirboa parte da sua estru-tura administrativa paraa América portuguesa?

Seria possível estabele-cer um paralelo entre aburocracia portuguesae a atual burocracia doEstado brasileiro?Socialize sua opiniãocom os demais cole-gas.

PARA SABER MAIS

Quem foi Caio PradoJúnior?

Caio da Silva Prado Jú-nior (1907 — 1990). Foihistoriador, geógrafo,escritor, político, pro-fessor e editor brasilei-ro. Formou-se em Di-reito pela Faculdade doLargo de São Francisco,em São Paulo (1928),onde mais tarde tour-nouse livre-docente deEconomia Política. Teveintensa vida política aolongo das décadas de30 e 40, participando

das articulações para aeclosão daRevolução de 1930. Noano de 1945 foi eleitodeputado estadual,como terceiro suplentepelo PCB e, em 1948,deputado da Assem-bleia Nacional Consti-tuinte, cujo mandatoseria cassado em 1948por Determinaçãodo Tribunal SuperiorEleitoral.

DICA

Procure uma biogra-fia do autor GilbertoFreyre e pesquise sobrealgumas das suas prin-cipais obras.Faça seu resumo ediscuta no ambientevirtual da disciplinaos resultados de suapesquisa.

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UAB/Unimontes - 2º Período

5.5 A colônia em movimento:revisionistas e perspectivas atuais

Nos últimos anos uma nova perspectiva sobre antigos temas de história colo-nial vem surgindo e se impondo no Brasil. Trata-se de romper com uma abor-dagem que insiste em analisar o ‘Brasil Colônia’ através de suas relações econô-micas com a Europa do mercantilismo, seja sublinhando sua posição periférica,seja enfatizando o caráter único e singular da sociedade escravista. No planopolítico, tende-se a ultrapassar uma visão dicotômica, centrada na ênfase daoposição Metrópole versus Colônia e na contradição de interesses entre colo-nizadores e colonos. Novas questões se colocam, tais como desfazer uma in-terpretação fundada na irredutível dualidade econômica entre a metrópole ea colônia? E como tecer um novo ponto de vista que, ao dar conta da lógicado poder no Antigo Regime, possa explicar práticas e instituições presentes nasociedade colonial? (FRAGOSO, GOUVEA, e BICALHO, 2000, p.1)

Um grupo importante de historiadores oriundos dos mais conhecidos programas de pós-

-graduação do país vem, nas últimas décadas, fazendo novas análises sobre o período colonialbrasileiro. A citação acima é de alguns desses teóricos e demonstra parte das perspectivas dessegrupo.

Inúmeras temáticas são abordadas nesses estudos, e ainda prevalecem estudos sobre escra-vidão, família e relações de poder e administração. Entretanto, o que vem mudando é a aborda-gem sobre esses temas, que hoje privilegiam os aspectos sociais e culturais, devido ao boom depublicações na área da atual História Cultural Brasileira.

Sheila de Castro Faria, em sua obra A colônia em movimento, faz uma importante aborda-gem teórica na linha dos atuais autores sobre o período colonial. Na sua análise sobressai o es-tudo da economia açucareira, que permite fazer uma ampla comparação com outras regiões doBrasil. Para a autora, a sociedade escravista apresenta um movimento: o ir e vir de pessoas; a cir-culação de bens; a construção das hierarquias sociais, entre outros.

Tais questões revelam uma importante opção teórica e, ainda mais, uma análise inovadora,que não procura se moldar aos modelos explicativos clássicos dos estudos do período colonialbrasileiro. Em alguns momentos de sua análise, Sheila de Castro Faria apresenta um rol enormede possibilidades de pesquisa, como se nota na passagem abaixo:

No Brasil, estudos sobre família têm se pautado na análise demográfica. Pormeio dela, foi possível identificar estruturas da população e organização defamílias e domicílios diversificados o bastante para questionar o padrão pa-triarcal e escravocrata dos estudos das décadas anteriores. Chegou-se a colocarem questão, também, a posição da mulher, vista pelos precursores do patriar-

PARA SABER MAIS

Caio Prado salienta apermanência de nosso

passado colonial nosimpasses e desafios his-

tóricos de seu tempo:Se vamos à essência da

nossa formação, vere-mos que na realidade

nos constituímos parafornecer açúcar, tabaco,

alguns outros gêne-ros; mais tarde ouro

e diamantes; depois,algodão, e em seguida

café, para o comércioeuropeu. Nada mais

que isto. E com tal ob- jetivo, objetivo exterior,

voltado para fora dopaís e sem atenção

a considerações quenão fossem o interessedaquele Comércio, que

se organizarão a so-ciedade e a economia

brasileiras. Tudo se dis-porá naquele sentido: aestrutura, bem como asatividades do país. Viráo branco europeu para

especular, realizar umnegócio;inverterá seus

cabedais e recrutaráa mão-de-obra que

precisa: indígenas ounegros importados.Com tais elementos,

articulados numaorganização puramente

produtora, industrial,se constituirá a colônia

brasileira. Este início,cujo caráter se manterádominante através dos

três séculos que vão atéo momento em que ora

abordamos a históriabrasileira, se gravará

profunda e totalmente

nas feições e na vida dopaís. Haverá resultan-tes secundárias que

tendem para algo maiselevado; mas elas ainda

mal se fazem notar. O“sentido” da evoluçãobrasileira, que é o que

estamos aqui indagan-do, ainda se afirma por

aquele caráter inicialda colonização (PRADO

JR., 1973, p. 20).

Figura 85: Jean-

Baptiste Debret. OBrasil na transição

colônia-império

Fonte: Disponível emhttp://www.prefeitura.

sp.gov.br/.../index.php?p=1102. Acesso em

5/10/2013

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História - História do Brasil Colônia I

calismo como dominada e enclausurada. A observação atual pretende que serepense a atuação feminina no período escravista. Não só, mas principalmente,entre os grupos mais empobrecidos, a mulher presidia unidades domésticas etinha certa liberdade de movimentos no espaço público, teoricamente reserva-do aos homens. O que as pesquisas apontam é que havia pluralidade de mode-los familiares e de atitudes femininas, que estavam longe dos visualizados paraa casa-grande. (FARIA, 1998, p. 20)

Atentando-se para a passagem acima, podemos apontar algumas questões importantes. Emprimeiro lugar, é inegável que essa atual historiografia, com a sua perspectiva revisionista, pro-cura alimentar novas questões e, por conseguinte, torna ainda mais dinâmico o debate sobre astemáticas coloniais. Em segundo lugar, novas pesquisas também se tornam possível, pois permi-tem revisar algumas visões tradicionais que não condizem quando se faz um estudo mais crite-rioso e cuidadoso das fontes sobre a Colônia.

É importante ainda acentuar uma relevante questão: essas análises mais atuais, que buscamprivilegiar questionamentos novos, não excluem a importância dos textos clássicos e de autorescomo Freyre, Holanda ou Caio Prado Jr. Cada um desses autores, independente da linha de análi-se que seguem, deve ser lido e professor de História deve se atentar para essas questões, funda-mentais para o exercício do seu oficio e da sua ciência.

Referências

FAORO, Raimundo. Os Donos do Poder. 2. ed. Porto Alegre/São Paulo/Globo/Edusp, 1975.FARIA, Sheila de Castro. A colônia em movimento. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.

FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2002

PARA SABER MAIS

Quem foi Sérgio Buar-que de Holanda?Nasceu e estudou emdiversas escolas deSão Paulo. Em 1921,mUdou-se para o Riode Janeiro, matriculan-do-se na Faculdade Na-cional de Direito, quehoje pertence a UFRJ,onde obteve o bacha-relado em CiênciasJurídicas e Sociais noano de 1925. Participoudo Movimento Mo-dernista, Escrevendopara as revistas Klaxone Estética. Atuou em

diferentes órgãos deimprensa e, entre 1929e 1930, foi correspon-dente especial dosDiários Associados emBerlim. De 1953 a 1955,viveu na Itália e nesseperíodo esteve à frenteda cátedra de estudosbrasileiros da Universi-dade de Roma. De voltaao Brasil, em 1958,assumiu a cadeira deHistória da CivilizaçãoBrasileira, da Faculdade

de Filosofia, Ciências eLetras da USP.

DICA

Pesquise em Programasde Pós-Graduação doBrasil o que as univer-sidades definem comoHistória Cultural e osprincipais tipos de pes-quisas que vêm sendo

feitas na área de His-tória do Brasil Colônia.Podem ser pesquisadasas seguintes universi-dades: USP, UFF, UFMG,UFRJ, entre outras.

◄ Figura 86: A sociedadecolonial era patriarcal

Fonte: Disponível emhttp://www2.uol.com.br/historiaviva/reporta-gens/img/familia04.jpg.Acesso em 5/10/2013

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UAB/Unimontes - 2º Período

FRAGOSO, João. GOUVEA, Maria de F. BICALHO, Maria Fernanda. Uma leitura do Brasil colonial.Revista Penélope, n. 23, 2000, p. 67-88.

FREITAS, Marcos Cezar de (org.). Historiografia brasileira em perspectiva. São Paulo: Contexto,2000.

FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala. 46. ed. Rio de Janeiro: Record, 2002.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1976.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Visão do Paraíso. São Paulo: Brasiliense, 2004.

PRADO JR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo: Brasiliense, 1973.

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História - História do Brasil Colônia I

UNIDADE 6Portugal, Brasil e a União Ibérica

Alysson Luiz Freitas de Jesus

6.1 IntroduçãoDurante todo o período colonial, Portugal manteve o seu status de metrópole sobre o Brasil.

O poder lusitano era definido por toda a engrenagem do sistema colonial, conforme estudamosem todo o material. Entretanto, um importante evento se deu entre o final do século XVI e a pri-meira metade do século XVII, e marcaria parte das relações entre Brasil e Portugal. Trata-se daUnião Ibérica.

A união das coroas ibéricas teve consequências importantes para o Brasil. Por um lado, tor-nou sem efeito a linha divisória do Tratado de Tordesilhas, o que estimulou o avanço dos portu-gueses em direção ao interior, no sul do Brasil e na Amazônia, em um processo que ficou conhe-cido como “expansão territorial”.

Por outro lado, a União Ibérica trouxe problemas para os domínios portugueses, uma vezque Portugal herdou os inimigos dos espanhóis, acarretando nas invasões holandesas. Conformeo historiador Boris Fausto,

As invasões holandesas que ocorreram no século XVII foram o maior conflitopolítico-militar da Colônia. Embora concentradas no Nordeste, elas não se re-sumiram a um simples episódio regional, ao contrário, fizeram parte do quadrode relações internacionais entre os países europeus, revelando a dimensão daluta pelo controle do açúcar e das fontes de suprimento de escravos. (FAUS-

TO,2002 p. 84)

Figura 87: BROZAS(Espanha). Fortaleza

de Brozas (ouCastillo Palacio de la

Encomienda Mayor deAlcántara).

Fonte: Disponível em

http://castillosespanyo-les.blogspot.com.

br/2011_08_01_archi-ve.html. Acesso em

30/11/2013.

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UAB/Unimontes - 2º Período

A construção abarcou os períodos que vão do século XIV ao século XVII. Da primeira etaparesta a torre de menagem e a última fase construtiva remonta ao período da nossa guerra daRestauração. É curioso ver os escudos de Filipe II e do português Cristóvão de Moura, secretáriodo rei, considerado na altura um traidor pelos portugueses.

Nesse sentido, essa unidade se subdivide nos seguintes tópicos: A União Ibérica: motivações e conseqüências;Os holandeses na colônia;Do fim da União Ibérica a remontagem do poder português no nordeste colonial.

6.2 A União Ibérica: motivações econsequências

No ano de 1580 ocorre em Portugal um fato inusitado. As coroas de Portugal e Espanha seunem, formando uma administração política única, o que vai refletir na administração portugue-sa sobre a sua colônia na América.

A morte do rei de Portugal, Sebastião, provoca o fim da dinastia de Ávis naquele país, abrin-

do espaço para que o seu sucessor fosse o dono da coroa espanhola. Vários foram os candidatosà coroa sem dono. Entre eles, Dom Antônio, prior do Crato, e Filipe II, rei da Espanha. Dom Antô-nio era o preferido pelo povo, mas o cardeal-rei, em seu leito de morte, não quis designá-lo seusucessor, deixando o caminho livre para o rei espanhol.

ATIVIDADE

Fazer uma pesquisasobre a história da

formação do reino es-panhol no início da era

moderna, isto é, entreos séculos XIV e XVI.

Poste sua pesquisa nofórum de discussão.

Figura 88: CORIA(Espanha): Castelo de

Coria.

Fonte: Disponível emhttp://www.blogi-magens.blogspot.

com/2008_05_01_ar-chive.html. Acesso em

5/10/2013

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História - História do Brasil Colônia I

Com isso, o novo dono da coroa portuguesa seria o rei da Espanha, Filipe II, que agora te-ria sob o seu domínio as duas coroas ibéricas, iniciando o período histórico que denominamosde União Ibérica. A União Ibérica estendeu-se até 1640 e teve consequências importantes parao Brasil, como as invasões do território brasileiro por ingleses e holandeses, inimigos da Espanha(TENGARRINHA, 2001).

No panorama histórico europeu os reinos da Espanha e da Holanda sempre foram grandesrivais. Havia uma forte inimizade entre os dois países. Como sabemos, a empresa açucareira noBrasil sempre recebeu grandes investimentos da Holanda, a maior responsável pelo refinamentoe distribuição do nosso açúcar, afinal a Holanda sempre foi tradicionalmente uma grande parcei-ra econômica de Portugal; na Idade Moderna o comércio dos produtos coloniais portugueses eraem grande parte feito pelos holandeses.

Sendo o Brasil agora controlado pela coroa espanhola, acontece o esperado: a Espanha rom-pe os laços econômicos existentes entre o Brasil Colonial e a Holanda, fazendo com que os ho-landeses demonstrem hostilidade nas relações antes amistosas entre os dois lados. Para garantirseu negócio na empresa açucareira brasileira, os holandeses invadem o Nordeste.

A primeira invasão foi feita na região da Bahia, no ano de 1624, mas os holandeses não con-seguiram alcançar as vitórias esperadas, acabando por ser obrigados a recuar na invasão. Um dosmotivos da derrota holandesa na Bahia seria o contingente militar holandês, que seria bastanteinferior às forças coloniais, que ainda receberam auxílio da Espanha.

A segunda invasão ocorre no estado de Pernambuco, e se apresenta bem mais estruturada.A perda sofrida pela Companhia das Índias Ocidentais, com o fracasso da invasão da Bahia, foicompensada quando o almirante holandês Piet Heyn aprisionou uma esquadra espanhola carre-

◄ Figura 89: Maparepresentando aEuropa no século XV

Fonte: Disponível emhttp://www.apm.pt/gt/gthem/PedroNunes/eu-ropa15.htm. Acesso em5/10/2013

DICA

Pesquise sobre a evolu-ção política e econômi-ca da Holanda no inícioda era moderna, e opapel dos judeus nessecrescimento.

GLOSSARIO

Península: porção deterra cercada de águapor todos os lados,menos um.Ibérica: da Ibéria, anti-go nome da Espanha,ou dos iberos.

◄ Figura 90: A Europa

Fonte: Disponível emhttp://hgp-recursos.blogspot.com/. Acessoem 5/10/2013

GLOSSÁRIOPaíses Baixos: (emneerlandês: Nederland,literalmente Neerlândiaou país baixo) são umpaís situado no noro-este da Europa, umademocracia parlamen-tar sob uma monarquiaconstitucional. Limitama norte e a leste com oMar do Norte, a oestecom a Alemanha e asul com a Bélgica. Sua

capital constitucional éAmsterdã, mas a Haiaé a sede do governo,da maioria das embai-xadas e a residência damonarquia. Os PaísesBaixos são um dospoucos países que nãotêm a sede do governona capital.Fonte: Disponívelem http://www.pt.wikipedia.org/wiki/Países_Baixos Acessoem 5/10/2013

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UAB/Unimontes - 2º Período

gada de prata, que viajava do México para a Espanha. O enorme lucro conseguido com esse apri-sionamento foi utilizado para financiar uma nova expedição ao Brasil. Dessa vez, os holandesesatacaram a capitania de Pernambuco, o maior centro açucareiro da colônia. Apesar da forte re-sistência inicial que os colonos estabeleceram contra os invasores, esta já se mostra uma invasão“amadurecida”, o que levou os holandeses a consolidarem o domínio sobre a região já no ano de1635 (PRADO Jr., 1973).

A oeste, a Companhia das Índias Ocidentais, criada em 1621, deixava seus cor-sários – Willekens, Piet Hein – saquear as costas do Brasil, ocupar a Guiana ea região de Sergipe e do Maranhão. O apogeu desse Brasil holandês situa-sena época em que Maurício de Nassau chega a Pernambuco em 1637 com umamissão de urbanistas e de cientistas; espírito tolerante, leva consigo uma co-lônia de judeus marranos da Ibéria, que organizam o comércio do açúcar e dofumo (FERRO,1996, p. 112)

6.3 Os holandeses na colôniaMaurício, desde que entrou no Brasil, quis lhe fossem do agrado labores e pe-rigos [...]. De tal forma combinou entre os estrangeiros a bravura, a prudência,a probidade, virtudes exímias dos generais, que aos soldados deu exemplo deseu denodo bélico e aos domésticos o de uma vida moderada exata [...]. Severoguarda do direito e da justiça, conteve, com lei igual, os mais altos e os mais hu-mildes, os bárbaros e os cristãos, os mercadores e os cidadãos. Velou por tudoquanto era em proveito e glória da Companhia. [...] (BARLEUS 1627 apud INÁ-CIO & LUCA 1993, p. 29).

Dominada a região, os holandeses estabelecem uma administração sepa-rada do restante da colônia, tendo como grande figura Maurício de Nassau. Apresença de Nassau se mostra muito importante para o intento dos holandeses,haja vista que após o domínio da Holanda na região ainda existia uma forte resis-tência dos colonos aos invasores.

É com a sua administração que a Holanda consegue firmar seu domínio emPernambuco e estendê-lo a quase todo o Nordeste do Brasil. A partir da chegadade Nassau, a situação dos invasores se modificou muito: a resistência oferecidapelos pernambucanos foi praticamente anulada.

A política de Nassau teve como base relações de cordialidade entre os habi-tantes da região e grandes investimentos culturais, além de tolerância às praticas

religiosas dos colonos. Interessado nas coisas da terra, o governador holandêsmantinha um jardim botânico e um pequeno zoológico, reunindo espécimesda fauna e da flora brasileira. Nassau deu liberdade de culto a católicos e judeus,embora restringisse, por mais de uma vez, essa garantia.

PARA SABER MAIS

“E se tivéssemos sidocolonizados pelos

holandeses?”Eis uma pergunta que

 já passou pela cabeçade muita gente. Noentanto, para a História

não existe o “se”, masapenas o que aconte-

ceu. Para os historiado-res, não existe sentido

em especular a respeitode “realidades alterna-tivas” ou de “universos

paralelos”, eles prefe-rem deixar essa tarefa

para os escritores deficção científica.

Para saber mais e vera discussão a respeito,

acesse:http://educacao.

uol.com.br/discipli-nas/historia-brasil/

holandeses-no-brasil--e-se-o-brasil-tivesse-

-sido-colonizado-pela--holanda.htm acesso

em 30/11/2013.

Figura 91: Engenhode açúcar - nordeste

(século XVII)

Fonte: Disponívelem http://www.

br.geocities.com/vam-pire_of_death2000/203.

 jpg. Acesso em5/10/2013

Figura 92: O condeMaurício de Nassau

Fonte: Disponível emhttp://www.upload.

wikimedia.org/wikipedia/commons/5/57/QT_-_Jo-

hann_Moritz_1937.PNGAcesso em 5/10/2013

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História - História do Brasil Colônia I

6.4 Do fim da União Ibérica aremontagem do poder português

no nordeste colonialNo ano de 1640, ocorre o fim da União

Ibérica, e com isso Portugal e Holanda esta-belecem um pacto de trégua por um prazo de10 anos. Um dos grandes problemas que a re-lação holandesa começa a sofrer é a tentativade Nassau em ampliar seu domínio na colônia,sendo um dos grandes alvos do governador oestado do Maranhão.

Sendo assim, os portugueses reagem con-

tra a dominação dos holandeses, criando umclima hostil entre os dois países. A própria rela-ção dos colonos com os holandeses já não eratão amistosa como na época de prosperidade.Segundo o historiador Boris Fausto:

Nessa época Nassau estava descontente com a Companhia das Índias Oci-dentais, cujo Conselho de Administração passou a adotar uma política de ju-ros altos e de cobrança rigorosa dos empréstimos aos senhores de engenhos.Nassau opunha-se a essa política, sendo por isso afastado do cargo. (...) Assim,pouco tempo depois do retorno de Nassau à Holanda, a reação contra o domí-nio holandês recomeçou em Pernambuco. Durante nove anos, os brasileiros eos portugueses que viviam no Brasil lutaram contra os holandeses até expulsá--los definitivamente (FAUSTO 2002, p. 25)

Pintura do século XIX. Por isso, brasileiros e holandeses têm a aparência de heróis românti-cos. Os holandeses resistiram, mas, em 1654, foram expulsos.

◄ Figura 93: PonteDuarte Coelho, Recife

(PE)Fonte: Disponívelem http://www.img.olhares.com/data/big/163/1637232.jpgAcesso em 5/10/2013

Figura 94: Batalhados Guararapes em1645, Pernambuco.Confronto entre luso-pernambucanos eholandeses.

Fonte: Disponível emhttp://www.mundoeduca-cao.com/historiadobrasil/insurreicao-pernambu-cana.htm. Acesso em30/11/2013.

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UAB/Unimontes - 2º Período

Transcrição de parte de um dos Sermões, pregado em 1649, chamado a Deus contra o do-mínio holandês:

BOX 5

Sermão de Vieira:“Pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda”

“Se determinais dar estas mesmas terras aos piratas de Holanda, por que não as destesenquanto eram agrestes e incultas, senão agora? Tantos serviços vos tem feito essa gente per-vertida e apóstata, que nos mandastes primeiro cá por seus aposentadores, para lhe lavrar-mos as terras, para edificarmos a cidades e depois de cultivadas e enriquecidas lhas entregar-des? Assim se hão de lograr os hereges, e inimigos da fé, dos trabalhos portugueses e dossuores católicos?

Fonte: Disponível em http://www.bocc.ubi.pt/pag/vieira-antonio-contra-armas-holanda.pdf. Acesso 30/11/2013.

Nesse contexto de afastamento dos holandeses da empresa açucareira no Brasil ocorre aInsurreição Pernambucana, que culmina na expulsão dos holandeses em 1654. Como uma das

grandes consequências desse processo histórico está a questão da decadência da produção ecomércio do açúcar no Brasil.

Quando deixaram o Brasil, os holandeses iniciaram a produção de açúcar nas Antilhas, commuito sucesso, já que eram senhores dos capitais, dos meios de transporte e das redes de distri-buição, bem como das técnicas de produção e refinamento da mercadoria. Com a concorrênciaantilhana, o açúcar brasileiro, mais caro, perdeu a primazia no mercado internacional.

Uma pergunta que sempre surge quanto ao episódio das invasões holandesas no Brasil,bem como da União Ibérica, é a seguinte: o destino do país seria diferente se tivesse ficado nasmãos da Holanda e não de Portugal? Esse questionamento nos permite avaliar e refletir sobreparte das questões que estudamos em quase todo esse curso. A análise do historiador BorisFausto sobre esse tema é suficientemente esclarecedora e merece ser reproduzida em sua ínte-gra, servindo-nos como uma boa conclusão:

Não há uma reposta segura para essa questão, pois ela envolve uma conjec-tura, uma possibilidade que não se tornou real. Quando se compara o gover-no de Nassau com a rudeza lusa e a natureza muitas vezes predatória de suacolonização, a resposta parece ser positiva. Mas convém lembrar que Nassaurepresentava apenas uma tendência e a Companhia das Índias Ocidentais ou-tra, mais próxima do estilo do empreendimento colonial português. Vista aquestão sob esse ângulo, e quando se constata o que aconteceu nas colôniasholandesas da Ásia e das Antilhas, as dúvidas crescem. A colonização depen-deu menos da nacionalidade do colonizador e mais do tipo de colonização im-plantado. Os ingleses, por exemplo, estabeleceram colônias bem diversas nosEstados Unidos e na Jamaica. Nas mãos de portugueses ou holandeses, commatizes certamente diversos, o Brasil teria mantido a mesma condição de colô-nia de exploração integrada no sistema colonial. (FAUSTO, 2002, p. 39)

ReferênciasBARLEUS, Gaspar. História dos feitos recentemente praticados durante oito anos no brasil [...](1627). In: INÁCIO, Inês C. & LUCA, Tania Regina de. Documentos do Brasil colonial. São Paulo,Ática, 1993.

FAUSTO, Boris. História do Brasil. 10 ed. São Paulo: Edusp, 2002.

FERRO, Marc. História das colonizações – das conquistas às independências – séculos XIII aXX. São Paulo, Companhia das Letras, 1996.

PRADO JR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo: Brasiliense, 1973.

TENGARRINHA, José (org.). História de Portugal. 2. ed. Bauru: Edusc; São Paulo: Unesp; Portugal:Instituto Camões, 2001.

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História - História do Brasil Colônia I

ResumoO presente material tem como objetivo analisar as relações coloniais do Brasil entre os sé-

culos XVI e XVII. Trata-se da primeira parte dos estudos coloniais, que privilegiam determinadostemas, relacionando Brasil e Portugal no contexto da colonização.

A análise se inicia na Unidade 1 a partir do estudo da América antes da chegada dos portu-gueses, o que permite ao aluno compreender as relações sociais na região antes da própria colo-nização, com o estudo das técnicas, ritos e crenças dos índios brasileiros.

Logo em seguida, na Unidade 2, privilegiamos os estudos da colonização em si, inserindoPortugal e Brasil na Era dos Descobrimentos, por meio do processo da expansão marítima. O de-bate sobre o descobrimento do Brasil também é analisado, com a intenção de pensar sobre oinício do processo colonial.

No tocante ao período de colonização, procuraremos avaliar a organização administrativados portugueses e dos colonos na região, por meio do estudo das capitanias hereditárias e dogoverno geral, ao longo da Unidade 3. O trabalho e o início da exploração econômica também é

motivo de discussão.Em seguida, na Unidade 4, o texto procura compreender as relações escravistas no Brasilcolonial, em estudo sistemático sobre a situação do negro na colônia, bem como das relaçõesentre escravos e livres durante o período. Procura-se, também, analisar alguns dos principais teó-ricos sobre o tema, e as práticas de resistência dos negros na América Portuguesa.

Uma das partes mais importantes se refere à análise dos teóricos que pensaram sobre o sis-tema colonial brasileiro, como Caio Prado Jr., Raymundo Faoro, Gilberto Freyre, Sérgio Buarquede Holanda, entre outros. Esta é a Unidade 5, no qual o material procura estabelecer uma impor-tante ligação entre as questões temáticas e teóricas.

Por fim, a Unidade 6  do presente material didático analisa o período conhecido comoUnião Ibérica, procurando compreender as relações entre Brasil, Portugal e Espanha entre 1580 e1640, que tiveram também como consequência a entrada dos holandeses na colônia, alterandosignificativamente o poder e a cultura no nordeste brasileiro.

Assim, é importante frisar que esse material trata apenas dos dois primeiros séculos da co-lonização portuguesa no Brasil, não sendo responsável pela análise do período que se inicia pelacrise do sistema colonial, típico do século XVIII. Analisamos aqui somente o funcionamento polí-tico e econômico da colônia, bem como as relações sociais e culturais que se deram a partir docontato entre europeus, índios e negros.

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História - História do Brasil Colônia I

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Atividades de

Aprendizagem - AA1) Analise a figura 16 que foi citada na unidade 1:

Assinale a alternativa INCORRETA quanto a existência de representações que marcam a visãodos europeus sobre o novo mundo.A) A presença da fantasia do eldorado.B) A presença de animais no mapa.

C) A presença do navio no oceano atlântico.D) A presença da natureza.E) A presença dos indígenas no mapa.

2) Leia a poesia.Mar Português

Ó mar salgado, quanto do teu salSão lágrimas de Portugal!Por te cruzarmos,Quantas mães choraram,Quantos filhos em vão rezaram!Quantas noivas ficaram por casar

Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a penaSe a alma não é pequena.Quem quiser passar além do BojadorTem que passar além da dor.Deus ao mar o perigo e o abismo deu,Mas nele é que espelhou o céu.(Fernando Pessoa)

Tendo como base o contexto histórico a que a poesia se refere, marque a alternativa CORRETA:

◄ Figura 95: O imaginárioeuropeu à época daexpansão marítima

Fonte: (BOTELHO & REIS,2001, p.73)

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UAB/Unimontes - 2º Período

A) O poeta faz referência às questões, como pano de fundo, às idéias iluministas marcantes nessaépoca.B) O poeta usa de metáfora para exprimir o significado das grandes navegações para os portu-gueses.C) O poeta quer frisar que sem o mar, sem o Bojador, os portugueses teriam conhecido unica-mente as Índias.

D) O poeta usa da metáfora para dizer das facilidades encontradas por Portugal para cruzar omar.E) O poeta faz referência aos navios perdidos, possivelmente abatidos pelos ingleses.

3) Leia o texto.

A Igreja tinha também determinado as horas do dia em função dos períodoslitúrgicos e das respectivas orações. A hora das matinas, primas, e Ave-Marias,marcava-se pelo sol e variava durante o ano. Os sinos regiam-se pelos qua-drantes solares. Mas o mercador precisava de um quadrante racional, divididoem 12 ou 24 partes iguais. Foi ele quem promoveu a descoberta dos relógiosde repique automático e regular (...). Doravante já não será pelo relógio da Igre- ja, mas sim pelo relógio comunal, laico, que se regulará a vida das pessoas. Àhora clerical suceda a hora dos homens. (LE GOFF 1956, p. 77-8)

Sobre o contexto histórico a que o autor se refere, é INCORRETO afirmar que:A) Este momento é vivenciado por novas técnicas, especialmente na agricultura.B) Este momento será marcado por rápido crescimento populacional.C) Neste momento já se registram atividades mercantis que tendem a ganhar força.D) Neste momento a sociedade ainda é marcada, preponderantemente, pelas normas clericais.E) Este momento da sociedade portuguesa jamais apresentou limites à expansão marítima, por

isso ter sido pioneira.

4) Leia o texto.

No seu conjunto, a colonização dos trópicos toma o aspecto de uma vastaempresa comercial, destinada a explorar os recursos naturais de um territóriovirgem em proveito do comércio europeu. ‘É este o verdadeiro sentido da co-lonização tropical, de que o Brasil é uma das resultantes, e ele explicará os ele-mentos fundamentais, tanto no plano econômico quanto no social, da forma-ção e evolução históricas dos trópicos americanos.Se vamos à essência de nossa formação, veremos que na realidade nos consti-tuímos para fornecer açúcar, tabaco, alguns outros gêneros; mais tarde, ouro ediamantes; depois, algodão e, em seguida, café para o comércio europeu. Nadamais que isto. É com tal objetivo, objetivo exterior, voltado para fora do paíse sem atenção a considerações que não fossem o interesse daquele comércioque se organizarão a sociedade e a economia brasileiras.O sentido da colonização brasileira ainda se afirma por aquele caráter inicial dacolonização (PRADO JR,1973, p. 31-32)

A alternativa que não traduz os dizeres de Caio Prado Jr é:

A) Nossa riqueza foi construída para o povo brasileiro, assumindo um caráter comercial endógeno.B) O Brasil, em seu nascedouro, foi exportador de matérias-primas e gêneros alimentícios para aEuropa.C) O sentido da nossa colonização é a de repetir a nossa história de dominados, fato observadono decorrer de nossa história.D) O comércio para os europeus foi preponderante na organização sócio-econômico da AméricaPortuguesa.E) O Brasil teve suas riquezas, no período inicial de colonização e a  posteriori , exploradas pelosinteresses portugueses.

5) Leia o texto.

O poder das câmaras é, pois, o dos proprietários. E seu raio de ação é grande,muito maior que o estabelecido nas leis. Por isso, não admira que a câmara deSão Luiz do Maranhão, apenas instalada, se dirija ao rei pedindo ativamenteque os capitães-mores, dali em diante, não dessem mais terras, e não se me-tessem em coisa alguma da competência exclusiva da autoridade municipal”.

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Dentro das normas da administração colonial neste primeiro século e meio dedescobrimento, nada sobrepõe-se ao poder incontrastável das Câmaras. (PRA-DO JR.1996, p 30-1)

A respeito da atuação das câmaras municipais, é INCORRETO afirmar que:A) Chegavam a fixar salários e preços de mercadorias.B) Regularam o curso e o preço das moedas.C) Organizaram expedições para busca de negros na África.D) Chegavam a ter representantes em Lisboa.E) Trataram da ereção de arraiais.

6)

Sobre a figura de Padre Antônio Vieira e o contexto histórico ao qual ela nos remete, assinale aalternativa INCORRETA.A) A didática jesuítica incorporava castigos físicos para os que fugissem da escola, apostavam na

memorização e representação.B) Os missionários viam os indígenas como fruto de um mesmo mundo de origem terrena, bemadversa da terra que gerou os puros, identificados como sendo os europeus.C) A ordem jesuítica teve seu papel evangelizador e proporcionou um contato com os indígenasa ponto de lutarem contra a escravização desses povos.D) A prática jesuítica para a conversão dos indígenas levou esses missionários a apresentaremuma contradição própria do processo colonizador e da Igreja colonial.E) Os diálogos utilizados nos teatros e outras representações foram traduzidos para o Tupi com oobjetivo de ensinar a doutrina cristã.

7) “Costumam alguns senhores dar aos escravos um dia em cada semana para plantarem parasi, mandando algumas vezes com eles o feitor para que não se descuidem. E isto serve para que

não padeçam fome, nem cerquem cada dia a casa de seu senhor pedindo-lhes a ração de fari-nha. Porém não lhes dar farinha nem dia para a plantarem, e querer que sirvam de sol a sol nopartido, de dia e de noite com pouco descanso no engenho, como se admitirá no Tribunal deDeus sem castigo?” (ANTONIL, 1711)

◄ Figura 96: PadreAntonio Vieira que foicitado na unidade 3

Fonte: Disponível emhttp://www2.crb.ucp.pt/Biblioteca/BibliotecaDi-gital/Historia/Main_Hist-Portugal.htm

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UAB/Unimontes - 2º Período

A partir da citação acima e de seus conhecimentos sobre a sociedade colonial da América Portu-guesa, examine as afirmativas a seguir.I - Na sociedade colonial, o prestígio social residia em ser senhor de terras e de homens, e a possi-bilidade de riqueza vinha da atividade comercial.II - Os senhores de engenho permitiam que alguns de seus escravos possuíssem uma lavoura desubsistência, inclusive com direito à venda de excedentes.

III - Apesar da violência que marcava o cotidiano dos engenhos, os escravos conseguiram, emcerta medida, criar e recriar laços culturais próprios, vários deles herdados de suas raízes africa-nas.IV - Diante do risco de punições pelos senhores - surras, aprisionamento com correntes de ferro,aumento do trabalho, etc. - as tentativas de fugas escravas diminuíram ao longo do período co-lonial.

Assinale a alternativa correta.A) Somente as afirmativas I e II estão corretas.B) Somente as afirmativas I e III estão corretas.C) Somente as afirmativas I, II e III estão corretas.D) Somente as afirmativas II, III e IV estão corretas.E) Todas as afirmativas estão corretas.

8) A expressão “Círculo de ferro da opressão colonial”, do historiador Caio Prado Jr., sintetiza ad-miravelmente a nova política adotada por Portugal com o fim da União Ibérica, em 1640. Comrelação a essa nova política administrativa, é CORRETO afirmar que:A) As Câmaras Municipais se tornaram soberanas e independentes expressando o poder máximodos grandes senhores rurais.B) A Intendência do Ouro, órgão especial de arrecadação tributária, passou a se subordinar dire-tamente ao controle do governador da Capitania das Gerais.C) Os Capitães donatários adquirem mais prestígio, principalmente, após a instalação do Vice--Reinado na América portuguesa.D) Com o fim da União Ibérica aumentou o poder da Inglaterra sobre o Brasil, acabando a relaçãocolonial Brasil-Portugal.

E) O Conselho Ultramarino se tornou o órgão supremo da administração responsável por todosos negócios das colônias portuguesas, criado em 1642, com o fim da União Ibérica.

9) No Brasil, o movimento político de 1930 trouxe perspectivas de modernização, abrindo espa-ços para se pensar os novos rumos da cultura, cujas bases foram lançadas pelo Movimento Mo-dernista dos anos de 1920. As obras de Sérgio Buarque, Caio Prado Júnior e Gilberto Freyre sedestacaram na produção intelectual dos anos de 1930, reforçando polêmicas e debates políticos.Esses autores acima citados:A) defenderam uma interpretação radicalmente nacionalista da vida social brasileira.B) firmaram concepções autoritárias contra a democracia e o progresso social.C) foram muito influenciados pelo modernismo e pelo anarquismo.D) contribuíram com suas obras para a renovação das interpretações históricas sobre o Brasil.

E) mantiveram propostas sociais nacionalistas, mas autoritárias e centralizadoras.

10) A presença holandesa no Brasil colonial é tema que se destaca nos estudos historiográficos.Sobre o governo de Nassau (1637-1644) e sua época, sempre surgem comentários e debates; po-rém, podemos afirmar que:A) a recuperação da autonomia política de Portugal, nesse período, deu mais condições para estepaís desenvolver relações com os holandeses no Brasil.B) Nassau não teve qualquer conflito com os nativos; apenas se desentendeu com o comandoeuropeu da Companhia das Índias.C) a atuação de Nassau em nada modificou as relações dos holandeses com os senhores de en-genho, fracassando, porém, na expansão militar e na exportação de açúcar.D) sua administração se restringiu a fazer benefícios à parte central do Recife, onde habitava coma sua família e onde construiu as obras mais importantes.E) não houve na sua administração nenhuma preocupação com as conquistas militares; seus in-teresses se voltavam sobretudo para a arte renascentista.

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