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(145 paginas)3 As relações internacionais. 3.1 Modelos e interpretações. 3.2 O Concerto Europeu e sua crise (1815- 1918): do Congresso de Viena à Santa Aliança e à Quádrupla Aliança, os pontos de ruptura, os sistemas de Bismarck, as Alianças e a diplomacia secreta. O Concerto Europeu e sua crise (1815-1918): do Congresso de Viena à Santa Aliança e à Quádrupla Aliança O Congresso de Viena Com a ascensão e queda do Império Napoleônico, as estruturas do Antigo Regime foram abaladas e o ordenamento geopolítico que dali restou não correspondia à ordem tradicional. Desta forma, de setembro de 1814 a junho de 1815, as grandes potências do big four (Inglaterra, Prússia, Rússia e Áustria) reuniram-se no Congresso de Viena buscando reconstruir a velha ordem européia e redesenhar o mapa político europeu. A escolha da cidade de Viena representava o perfil conservador do congresso, dada a dupla aversão da monarquia danubiana ao liberalismo e ao nacionalismo. Obviamente, apenas os representantes do big four tomaram decisões fundamentais. As principais figuras do encontro foram: pela Áustria, o príncipe Klemens Wenzel Von Metternich; pela Prússia, o chanceler Karl August Von Hardenberg e o diplomata Wilhelm Von Humboldt; pela Inglaterra, o secretário do Foreign Office Robert Stewart, então Visconde de Castlereagh; e pela Rússia, o próprio czar Alexandre I. Inicialmente, os representantes das quatro potências vitoriosas sobre as forças revolucionárias esperavam excluir a França de participar nas negociações mais sérias, mas o ministro francês Talleyrand, conseguiu incluir-se nesses conselhos desde as primeiras semanas de negociações. Durante os encontros, o representante do rei Luís XVIII tentou limitar o efeito da derrota, apresentando a França como uma vítima da revolução. O Congresso de Viena, quadro de Jean- Baptiste Isabey (1819)

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(145 paginas)3 As relações internacionais. 3.1 Modelos e interpretações. 3.2 O Concerto Europeu e sua crise (1815-1918): do Congresso de Viena à Santa Aliança e à QuádruplaAliança, os pontos de ruptura, os sistemas de Bismarck, as Alianças e a diplomacia secreta.

O Concerto Europeu e sua crise (1815-1918): do Congresso de Viena à Santa Aliança e à Quádrupla Aliança

O Congresso de Viena

Com a ascensão e queda do Império Napoleônico, as estruturas do Antigo Regime foram abaladas e o ordenamento geopolítico que dali restou não correspondia à ordem tradicional. Desta forma, de setembro de 1814 a junho de 1815, as grandes potências do big four (Inglaterra, Prússia, Rússia e Áustria) reuniram-se no Congresso de Viena buscando reconstruir a velha ordem européia e redesenhar o mapa político europeu.

A escolha da cidade de Viena representava o perfil conservador do congresso, dada a dupla aversão da monarquia danubiana ao liberalismo e ao nacionalismo. Obviamente, apenas os representantes do big four tomaram decisões fundamentais. As principais figuras do encontro foram: pela Áustria, o príncipe Klemens Wenzel Von Metternich; pela Prússia, o chanceler Karl August Von Hardenberg e o diplomata Wilhelm Von Humboldt; pela Inglaterra, o secretário do Foreign Office Robert Stewart, então Visconde de Castlereagh; e pela Rússia, o próprio czar Alexandre I.

Inicialmente, os representantes das quatro potências vitoriosas sobre as forças revolucionárias esperavam excluir a França de participar nas negociações mais sérias, mas o ministro francês Talleyrand, conseguiu incluir-se nesses conselhos desde as primeiras semanas de negociações. Durante os encontros, o representante do rei Luís XVIII tentou limitar o efeito da derrota, apresentando a França como uma vítima da revolução.

O Congresso de Viena, quadro de Jean-Baptiste Isabey (1819)

O congresso nunca teve uma sessão plenária de fato: as sessões eram informais entre as grandes potências. A maioria das delegações (Espanha, Portugal, Suécia e dos estados alemães) pouco tinha que fazer, pelo que o anfitrião, Francisco II, Imperador do Sacro Império Romano-Germânico, oferecia entretenimento para as manter ocupadas. Isto levou a um comentário famoso: le Congrès ne marche pas; il danse (o Congresso não anda; ele dança).

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A Rússia era, no momento, o estado mais poderoso em uma Europa arruinada pela guerra. O país não sofrera com a ocupação napoleônica e o poder do czar não chegou a ser posto à prova. Com seu poder político e social, reinando em uma sociedade arcaica em que a burguesia é praticamente inexistente, Alexandre I assumiu a liderança da reação.

No outro extremo, a França representava o país vencido. No entanto, seu representante foi gradativamente desenvolvendo uma maior capacidade de manobra ao incitar desacordos entre as quatro potências, principalmente na questão da Polônia e da Saxônia.

A França, desejosa em impedir o fortalecimento russo e prussiano e aproveitando a oposição que lhes faziam austríacos e ingleses assinou, em janeiro de 1815, um acordo secreto com Áustria e Inglaterra. Este acordo definia ajuda militar mútua se qualquer dos signatários fosse ameaçado por uma ou várias potências, bem como proibia que os membros assinassem tratados de paz com os inimigos.

Outro ponto fundamental nas negociações do Congresso foram os assuntos alemães. Não era interessante para nenhum dos participantes que se promovesse a unificação. Ao contrário, em um esforço de reação, as lideranças consideravam conveniente manter o fracionamento feudal da Alemanha.

No decorrer dos trabalhos, os membros do Congresso foram surpreendidos pela noticia de que Napoleão regressara à França e reassumira o poder (Governo dos Cem Dias). Em Paris, Napoleão encontrou o tratado secreto de janeiro de 1815 e o fez chegar imediatamente a Alexandre I. Embora a traição ficasse comprovada e os ânimos se acirrassem, a idéia de que havia um inimigo comum projetou-se como prioridade. Após a derrota de Napoleão em Waterloo (Bélgica), em 18 de junho de 1815, foi estabelecida a segunda restauração dos Bourbons na França.

Dentre os princípios gerais propostos, impôs-se o de legitimidade, sugerido por Talleyrand e defendido por ingleses e austríacos: cada país deveria voltar a ter os limites de antes de 1789. Essa busca do equilíbrio acabou favorecendo a França.

O mapa da Europa e das colônias mudou bastante. Em suma:

A Inglaterra garantiu sua supremacia nos mares, graças à anexação de pontos estratégicos no Mediterrâneo, no caminho das Índias e nas Antilhas.

A Bélgica, dominada pela França, foi ligada à Holanda para evitar uma ação francesa sobre o porto belga de Antuérpia.

A Rússia recebeu parte da Polônia, a Finlândia e a Bessarábia (região da atual Moldávia).

À Prússia coube grande parte da região do Reno, na Alemanha.

A Áustria recebeu a Lombardia e Veneza, além da supremacia política sobre a Itália.

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De maneira geral, as decisões do congresso desagradaram as nações subjugadas ao serem utilizadas como moedas de troca entre as potências que as ocupavam. A Alemanha e a Itália continuaram divididas; a Polônia sob o jugo de povos vizinhos; os cristãos dos Balcãs foram submetidos pelos turcos muçulmanos; os belgas, pelo rei da Holanda. Contra essa Europa dos príncipes, ergueram-se os movimentos liberais e nacionalistas.

Um dos principais objetivos de Metternich e de outros corifeus da reação era fazer do acordo de Viena um baluarte permanente do status quo. Com esse fim em vista, criaram a Quádrupla Aliança da Inglaterra, Áustria, Prússia e Rússia como um instrumento para manter o acordo intacto. Em 1818 a França foi admitida na combinação, convertendo-a destarte numa Quíntupla Aliança que, durante alguns anos, funcionou como uma espécie de Liga das Nações encarregada de fazer cumprir o sistema de Metternich. Também é muitas vezes denominada “Concerto Europeu“, uma vez que os seus membros se comprometiam a cooperar na supressão de quaisquer distúrbios decorrentes de tentativas dos povos para depor os seus governos “legítimos” ou mudar as fronteiras internacionais. No espírito dos liberais e nacionalistas da época, a Quíntupla Aliança era muitas vezes confundida com outra combinação também nascida do acordo de Viena, a chamada Santa Aliança, um produto do idealismo sentimental do czar Alexandre I. O fato é que a Santa Aliança nunca passou de uma série de votos piedosos. A verdadeira arma garantidora do triunfo da reação não foi ela, mas o Concerto Europeu ou Quíntupla Aliança.

O big four passou a sustentar o poder do rei Luís XVIII na França. O comando da ocupação este a cargo do comandante inglês Wellington. Com isso, os ingleses conseguiram assumir uma posição de destaque no equilíbrio europeu. Entretanto, foi Metternich quem exerceu um papel preponderante na Aliança, utilizando-a em proveito da Áustria, reprimindo o nacionalismo alemão e as insurreições na Itália e na Espanha. Por esse motivo, alguns autores como Edward McNall Burns o chamam de Sistema de Metternich.

 O Concerto Europeu e sua crise (1815-1918): os pontos de ruptura

A idéia básica que orientou os trabalhos do Congresso de Viena foi o princípio de legitimidade. Este princípio foi inventado por Talleyrand como meio de proteger a França contra punições drásticas por parte de seus vencedores, mas acabou sendo adotado por Metternich como expressão apropriada da política geral de reação. Significava o termo que as dinastias reinantes da Europa nos tempos pré-revolucionários deviam ser restauradas e que cada país devia readquirir essencialmente os territórios que possuía em 1789. De acordo com esse princípio Luís XVIII foi reconhecido como o soberano “legítimo” da França, ao mesmo tempo que se confirmava a restauração da Casa de Orange na Holanda, da Casa de Sabóia no Piemonte e na Sardenha, e dos reis Bourbons da Espanha e das Duas Sicilias. A França foi obrigada a pagar uma indenização de 700.000.000 de francos, mas as suas fronteiras permaneceram, em essência, as mesmas que em 1789. Outros arranjos territoriais também obedeceram ao critério da volta ao status quo. Permitiu-se que o papa recuperasse as suas possessões temporais na Itália; a Suíça foi restaurada como uma confederação independente, com a sua neutralidade garantida pelas potências principais, ao passo que o reino da Polónia, fundado por

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Napoleão, era abolido e o país novamente dividido entre a Rússia, a Áustria e a Prússia.

Mas o Congresso de Viena não foi menos cínico em violar o princípio de legitimidade do que a Conferência de Versalhes em espezinhar a doutrina da autodeterminação dos povos. Em ambos os casos, motivos de conveniência e de cobiça nacional fizeram esquecer a devoção aos ideais. Estavam os elegantes príncipes de Viena ainda longe de completar a restauração do antigo mapa da Europa quando começaram a diluir o princípio de legitimidade no seu curioso sistema de compensações. O propósito real desse sistema era dar a algumas das potências maiores o ensejo de satisfazer a sua fome de despojos. Permitiu-se à Inglaterra, por exemplo, conservar os valiosos territórios que tomara aos holandeses, aliados, por algum tempo, dos franceses. Entre essas ricas presas contavam-se a África do Sul, uma parte da Guiana na América Meridional e a ilha de Ceilão. Então, para compensar aos holandeses a perda de tão grande parte do seu império, tomaram-se medidas para transferir à Holanda as províncias austríacas dos Países-Baixos, ou seja a Bélgica. Como isso implicasse num sacrifício para a Áustria, os Habsburgos foram recompensados com um extenso pedaço de terra na Itália, anexando a república de Veneza, o ducado de Milão e colocando, além disso, membros da sua família nos tronos da Toscana, de Parma e de Módena. Destarte quem saía lucrando era a Áustria, com a formação de um império compacto que ocupava uma posição dominante na Europa Central. Outra série de compensações semelhantes foi levada a efeito a fim de recompensar a Rússia pela participação na derrota de Napoleão. O czar pôde conservar a Finlândia, que fora tomada à Suécia em 1809. Esta, por sua vez, foi indenizada com a aquisição da Noruega, tomada à Dinamarca. Todos esses arranjos se fizeram com total desrespeito aos interesses dos povos neles envolvidos. Não obstante diferirem os belgas radicalmente dos holandeses em matéria de cultura e religião, foram forçados a submeter-se ao governo da Holanda. Também não se teve a menor consideração pelos interesses dos noruegueses ao transferi-los para a soberania da Suécia. Como no caso do acordo de Versalhes, em 1919, esses crimes contra as nacionalidades prepararam o terreno para o desenvolvimento de rancorosos conflitos no futuro.

Um dos principais objetivos de Metterniche de outros corifeus da reação era fazer do acordo de Viena um baluarte permanente do status quo. Com esse fim em vista, criaram a Quádrupla Aliança da Inglaterra, Áustria, Prússia e Rússia como um instrumento para manter o acordo intacto. Em 1818 a França foi admitida na combinação, convertendo-a destarte numa Quíntupla Aliança que, durante alguns anos, funcionou como uma espécie de Liga das Nações encarregada de fazer cumprir o sistema de Metternich. Também é muitas vezes denominada “Concerto Europeu”, uma vez que os seus membros se comprometiam a cooperar na supressão de quaisquer distúrbios decorrentes de tentativas dos povos para depor os seus governos “legítimos” ou mudar as fronteiras internacionais. No espírito dos liberais e nacionalistas da época, a Quíntupla Aliança era muitas vezes confundida com outra combinação também nascida do acordo de Viena. Referimo-nos à chamada Santa Aliança, um produto do idealismo sentimental do czar Alexandre I. Em setembro de 1815 Alexandre propôs que os monarcas da Europa tomassem “como seu único guia… os preceitos de Justiça, Caridade Cristã e Paz” e que baseassem as relações internacionais, bem assim como o tratamento dos seus

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súditos “nas sublimes verdades ensinadas pela Santa Religião do Nosso Salvador…” Mas nenhum dos seus reais colegas o tomou a sério, Embora muitos tivessem assinado o ajuste proposto por ele, tendiam a considerar aquilo tudo como um palavriado místico. O fato é que a Santa Aliança nunca passou de uma série de votos piedosos. A verdadeira arma garantidora do triunfo da reação não foi ela, mas o Concerto Europeu.

Os objetivos da Quíntupla Aliança foram conseguidos principalmente graças a uma série de congressos internacionais que se reuniram entre 1818 e 1822. Ao todo, foram quatro: o de Aix-la-Chapelle em 1818, o de Troppau em 1820, o de Laibach em 1821 e o de Verona em 1822. Foi no segundo deles, o de Troppau, que se revelou mais descaradamente o verdadeiro caráter da Aliança. Seus delegados firmaram um acordo que patenteava a intenção, por parte das grandes potências, de intervirem pela força das armas na repressão de qualquer revolta capaz de ameaçar a estabilidade da Europa. Essa política de intervenção chegou a ser posta em prática em duas ocasiões diferentes. Após uma insurreição no Reino das Duas Sicílias, em que o monarca Bourbon, Fernando I, foi obrigado a jurar fidelidade a uma constituição liberal, Metternich convocou o Congresso de Laibach em 1822. Chamado à presença do congresso, o rei Fernando recebeu ordem de anular o juramento e foi persuadido a solicitar o auxílio de um exército austríaco para marchar sobre Nápoles. O resultado foi ser revogada a constituição e restaurado Fernando na sua posição de soberano autocrático. Em 1822 convocou-se o Congresso de Verona para tratar de uma insurreição na Espanha, a qual também tivera o efeito de forçar o rei a subscrever uma constituição liberal. Depois de muitas altercações entre as potências sobre as medidas a ser tomadas para esmagar a revolta, decidiu-se que o rei da França enviaria um exército à Espanha para ajudar o seu parente Bourbon.

Não só a revolta foi prontamente dominada mas também a essa intervenção seguiu-se a mais negra reação que até aquela data se tinha visto na Europa. Centenas de apaixonados liberais foram mortos; maior número ainda foi trancafiado em enxovias da mais sórdida espécie. E não deixa de apresentar interesse o fato de algumas das bárbaras medidas do rei espanhol terem resultado da instigação direta dos chefes da Quíntupla Aliança.

Embora a intervenção estrangeira se limitasse à Espanha e ao Reino das Duas Sicílias, não foram esses, de modo algum, os únicos países em que ocorreram conflitos violentos entre liberais e conservadores, pois o sistema de Metternich não só incluía a subjugação das revoltas nos pequenos países mas também um regime de dura repressão interna por parte dos governos das grandes potências. Mas, quanto mais cega e furiosa a política de repressão, mais se multiplicavam os levantes contra ela. Na Grã-Bretanha o governo dos tones (conservadores), favorável à aristocracia territorial, suscitou a poderosa oposição de intelectuais radicais como Wilham Godwin, dos poetas Shelley e Byron e das novas classes industriais. Como os seus protestos fossem silenciados por leis que proibiam os comícios públicos e amordaçavam a imprensa, alguns dos líderes mais encarniçados tramaram em 1820 a conspiração da Cato Street para assassinar todo o gabinete tory. A conjura, foi naturalmente descoberta e cinco dos conspiradores mandados para o patíbulo. Na França, o modesto compromisso com as idéias progressistas que Luís XVIII incluíra na Carta de 1814 pareceu insuportável aos

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conservadores ferrenhos daquele país. Consequentemente, os anos entre 1815 e 1820 foram repletos de desavenças ferozes e às vezes sangrentas entre os ultra-realistas e os seus adver-sários liberais e moderados. Em 1820, o assassínio do sobrinho do rei por um liberal fanático amedrontou de tal forma o povo que os ultra-realistas passaram a dominar o parlamento. Seguiu-se uma série de leis reacionárias que fizeram a França recuar ainda mais para o atoleiro do antigo regime. Estabeleceu-se uma rigorosa censura da imprensa e revogaram-se as garantias da liberdade individual. O controle da instrução pública foi entregue ao clero católico. O sistema eleitoral foi modificado de modo a assegurar aos ricos uma grande maioria no parlamento. Em 1824 a vitória das forças da reação foi ainda mais fortalecida pela morte de Luís XVIII e pela ascensão de Carlos X, seu irmão e chefe dos ultra-realistas.

Lutas semelhantes ocorreram na Europa central e oriental, com resultados quase idênticos. Na Alemanha, os estudantes das universidades organizaram sociedades secretas e participaram de tempestuosas agitações contra os regimes odiosos. Essas revoltas incipientes culminaram no assassínio do dramaturgo Kotzebue, reacionário notório e espião russo, por um estudante exaltado. Esse fato convenceu Metternich, que dominava a Confederação Germânica, de que toda a Europa Central estava a ponto de ser engolfada numa revolução radical. Diante disso, forçou a aprovação, pela Dieta federal, de um programa de medidas repressivas conhecido como os Decretos de Carlsbad (1819). Estabeleciam eles que toda universidade teria um inspetor oficial, que os professores rebeldes fossem demitidos de seus cargos, que as sociedades de estudantes fossem dissolvidas e a imprensa submetida a uma estrita censura. A execução implacável dos Decretos de Carlsbad fêz o movimento liberal na Alemanha cair numa obscuridade da qual só saiu em 1848.

Entrementes, a mudança de atitude do czar Alexandre I provocara alguns murmúrios de descontentamento na atrasada Rússia. Tempo houve em que Alexandre fora um dos mais esclarecidos monarcas da Europa. Fundara escolas e universidades. Emancipara alguns servos e formara planos de libertar os demais. Chegara até a acalentar a idéia de conceder uma constituição escrita. Mas depois de 1818 virou reacionário e fez penitência, com saco e com cinza, dos pecados liberais da sua mocidade. Essa viravolta do czar foi o sinal para o surto de um movimento de oposição entre oficiais do exército e intelectuais. Ao morrer Alexandre em 1825, os chefes desse movimento resolveram obstar a que a reação se desenvolvesse ainda mais. Organizaram a Revolta Dezembrista para forçar a ascensão ao trono do Grão-duque Constantino, um liberal, em lugar de seu indomável irmão Nicolau. Infelizmente, Constantino recusou solidarizar-se com a rebelião e Nicolau dominou-a rapidamente. O reinado que se seguiu foi um dos piores da história da Rússia. Não se satisfazendo com abolir a liberdade da imprensa, Nicolau organizou um sistema de polícia secreta e converteu a Rússia num gigantesco acampamento militar em que cada movimento dos cidadãos podia ser vigiado e controlado pelo governo.

A despeito do que pareciam ser vitórias duradouras para a causa da reação, em 1830 o sistema de Metternich começou a esboroar-se. A primeira brecha foi a retirada da Inglaterra da Quíntupla Aliança. Já em 1822 os ingleses tinham recusado participar do plano de Metternich para abafar a revolução da Espanha.

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Pouco depois, repudiaram peremptoriamente toda a política de intervenção nos negócios dos países estrangeiros. Não quer isso dizer que os ingleses daquela época fossem mais liberais do que os seus aliados do Continente, mas sim que a Revolução Industrial estava forçando a Inglaterra a procurar novos mercados para os seus produtos manufaturados. Por esse motivo opunha-se vigorosamente a uma política exterior que hostilizasse outras nações e prejudicasse as suas relações comerciais com estas. Tinha desenvolvido um comércio lucrativo com os países da América Central e do Sul, havia pouco libertadas da submissão à Espanha, e receava que o sistema de Metternich pudesse ser utilizado para forçar essas antigas colônias a voltar para o domínio espanhol. Levada por essas considerações, resolveu desligar-se da Quíntupla Aliança.

Mais ou menos ao tempo em que a Inglaterra ia enfraquecendo os laços que a prendiam ao Concerto da Europa, a Rússia começou a alimentar ambições que ameaçavam a supremacia do sistema de Metternich. Havia alguns anos que os russos aguardavam ansiosamente a desagregação do Império Otomano, da qual dependeria a sua fácil expansão nos Balcãs. A oportunidade surgiu para eles depois de 1821, quando os gregos desencadearam uma rebelião contra o governo turco. Todavia, como o czar Alexandre I ainda estivesse preso pela lealdade à doutrina legitimista, nenhuma iniciativa se tomou antes da sua morte, em 1825. Seu sucessor, Nicolau I, não tinha escrúpulos dessa sorte. Especialmente ao observar, na Inglaterra e na França, expressões da mais profunda simpatia pelos gregos na sua luta contra um opressor de outra religião, resolveu acudir-lhes em auxílio. Em 1828 declarou guerra à Turquia, e em pouco mais de um ano um exército russo chegava quase até as portas da capital otomana, forçando o sultão a assinar o Tratado de Andrinopla. Pelos termos desse tratado a Turquia reconhecia a independência da Grécia, concedia autonomia à Sérvia e permitia o estabelecimento de um protetorado russo sobre as províncias que mais tarde viriam a formar o reino da Rumânia. Contribuindo, destarte, para desmembrar o império de um governante “legítimo”, a Rússia, bem encorajada pela Inglaterra e pela França, desferiu um poderoso golpe no sistema de estagnação política que Metternich se esforçava por manter, Para todos os fins práticos, o império dos czares deixara de pertencer à Quíntupla Aliança.

O sistema de Metternich foi ainda mais enfraquecido pela série de revoluções que irromperam na Europa Ocidental em 1830. A primeira delas foi a Revolução de Julho, na França, de que resultou a queda de Carlos X, o último dos Bourbons de linhagem direta. Carlos X, que havia sucedido a Luís XVIII em 1824, era a encarnação perfeita do espírito de reação. Sua atitude obstinada e vingativa inspirou um ódio implacável, principalmente entre os burgueses, que se ressentiam da redução dos juros sobre as obrigações públicas e da tentativa de Carlos para privar do direito de voto três quartas partes dos eleitores. Acumulando-se os indícios de que o rei estava resolvido a governar em completo desprezo ao parlamento, levantaram-se barricadas nas ruas. Após inúteis esforços para subjugar a insurreição com um remanescente de tropas fiéis, Carlos abdicou e fugiu para a Inglaterra. Os líderes da burguesia escolheram então como seu sucessor Luís Filipe, pertencente ao ramo Orleans da casa dos Bourbons e antigo jacobino que desempenhara papel ativo na Revolução de 1789. O novo governo foi proclamado como uma monarquia constitucional baseada no princípio da

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soberania popular e a bandeira branca dos Bourbons foi substituída pela tricolor, criada originalmente pelos apóstolos da Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

Logo após a Revolução de Julho na França, irrompeu uma revolta nas províncias belgas dos Países-Baixos. O leitor certamente se lembrará de que, pelo acordo de Viena de 1815, a Bélgica, ou sejam as províncias austríacas dos Países-Baixos, fora submetida ao governo da Holanda a despeito de óbvias diferenças de língua, nacionalidade e religião entre belgas e holandeses. Outro motivo de atritos eram os interesses econômicos divergentes dos dois povos. Enquanto os holandeses se dedicavam principalmente ao comércio e à agricultura, os belgas eram sobretudo industriais. Essas diferenças, combinadas com a estúpida tirania do rei holandês, incitaram os belgas a proclamar sua independência no outono de 1830. A revolta foi olhada com simpatia pelo novo governo da França e também pelos ingleses, na esperança de que isso viesse a beneficiar o seu comércio. Consequentemente, no ano seguinte foi firmado em Londres um acordo internacional que reconhecia a independência da Bélgica como uma monarquia constitucional. Os holandeses não tiveram outro remédio senão concordar. Em 1839 a independência e a neutralidade da Bélgica foram garantidas por todas as grandes potências.

A Revolução Belga, de Egide Charles Gustave Wappers, 1834

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O movimento revolucionário de 1830 espalhou-se por vários outros países, mas os resultados não foram tão favoráveis. Na Itália, estalaram revoltas nos Estados Pontifícios contra Gregório XVI, um reacionário zeloso e amigo dos Habsburgos, e em Parma e Módena contra os títeres austríacos que ali governavam. Em todos esses casos, porém, as tropas austríacas foram chamadas à cena e restauraram sem demora os governos depostos. O único resultado duradouro foi estimular o nacionalismo italiano e despertar um ódio mórbido aos austríacos. Em terra alemã, as insurreições ocorridas em vários ducados e reinos menores tiveram como fruto a adoção de constituições moderadas, mas os governos dos dois mais importantes estados alemães — a Prússia e a Áustria — tinham-se tornado tão poderosos que os grupos da oposição permaneciam paralisados pelo medo. A única outra revolta de proporções sérias foi a insurreição dos poloneses em 1831, uma desesperada tentativa desse povo tão castigado para recuperar a sua independência dá Rússia. Se os poloneses tivessem sido tão afortunados quanto os belgas em obter o auxílio de nações estrangeiras, poderiam ter vencido. Mas os ingleses e franceses estavam, na ocasião, muito ocupados com os negócios da Europa Ocidental e não prestaram mais do que um apoio verbal. O czar Nicolau I pôde assim esmagar a revolta com bárbara severidade. Centenas de chefes insurretos foram fuzilados ou exilados para os ermos da Sibéria e passou-se a governar a Polônia como província conquistada. No entanto, essas vitórias isoladas dos reacionários contra povos como o polonês e o italiano não conseguiram livrar da morte certa o regime fundado por Metternich. Como instrumento para preservar a estagnação interna, persistiu na Áustria e em algumas partes da Itália até 1848, mas como sistema de repressão internacional sua sentença já tinha sido lavrada pela defecção da Inglaterra e pelos levantes vitoriosos da Bélgica e da Grécia.

Em 13 de março de 1848, multidões de estudantes e de trabalhadores amotinaram-se em Viena e forçaram a renúncia do último pilar do antigo regime, o príncipe Metternich. Amedrontado pela recusa das suas tropas a atirar contra os rebeldes, o imperador prometeu uma constituição para a Áustria alemã, excluindo a Hungria e as possessões italianas. A constituição que veio a ser finalmente adotada dispunha sobre a responsabilidade do ministério perante o Parlamento e estabelecia um sistema eleitoral liberal, ao mesmo tempo que as remanescentes obrigações feudais dos camponeses eram abolidas pela assembleia que a redigiu. Quase imediatamente os húngaros aproveitaram-se da desordem reinante em Viena para instalar um governo liberal e em abril de 1849, sob a chefia de Luís Kossuth, proclamaram a independência da República Húngara. Mas nenhuma dessas revoluções teve sucesso duradouro, pois logo se viram enredadas nas discórdias do nacionalismo. Os libe-rais húngaros não se mostraram mais inclinados do que os austríacos a conceder às nacionalidades submetidas os privilégios que reclamavam para si mesmos. Daí poderem os Habsburgos incitar o ressentimento dos eslavos e usá-los proveitosamente para refrear as ambições das nacionalidades dominantes. No verão de 1849 o imperador havia conseguido derrubar a república húngara e revogar a constituição austríaca. Do naufrágio salvou-se somente a isenção, para os camponeses, das obrigações feudais devidas aos nobres. Prosseguiu, todavia, o descontentamento até ser firmado, em 1867, um compromisso entre austríacos e húngaros. Esse compromisso, conhecido como o Ausgleich,

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estabelecia uma monarquia dual em que o chefe da Casa dos Habsburgos fazia simultaneamente o papel de imperador da Áustria e de rei da Hungria. Cada uma das duas partes do império tornava-se praticamente autônoma, com o seu ministério e o seu parlamento próprios. Três ministros — o da guerra, o das finanças e o dos negócios exteriores — zelavam pelos interesses do estado como um todo, em suas respectivas esferas. Esse arranjo, que permitia tanto aos magiares da Hungria como aos alemães da Áustria governarem como raças dominantes, sobreviveu até o desmembramento do império dual em 1918.

3.3 As rivalidades coloniais.

As rivalidades coloniais

PUBLICADO POR RAFA TROTAMUNDOS ⋅ 05/11/2012 ⋅ DEIXE UM COMENTÁRIO ARQUIVADO EM  ALEMANHA, ÁUSTRIA, FRANÇA, INGLATERRA, ITÁLIA, JAPÃO, NEOCOLONIALISMO, RÚSSIA De 1871 a 1890, as relações entre as grandes potências foram dominadas pelo sistema de alianças estruturado por Bismarck e pela corrida por novos territórios coloniais. Nessa fase, embora a Alemanha se apresentasse com potencial econômico e militar suficiente para romper com o equilíbrio de poderes consagrado em 1815, preferiu apostar em uma política mais cautelosa, na qual não se pusesse em risco sua unificação e o isolamento de seu grande rival, a França. A Grã-Bretanha persistia na política de manter-se afastada das disputas de poder na Europa que não afetassem seus interesses. O período inaugurado com a Segunda Revolução Industrial influencia e altera as dinâmicas internacionais universalizando um novo paradigma científico e tecnológico.

Neste contexto, as unificações alemã e italiana alteraram o equilíbrio europeu ao forjarem duas novas potências no centro da Europa, cujos desenvolvimentos viriam a desequilibrar a balança de poder, na medida em que o Segundo Reich se tornava a potência mais dinâmica no centro e depois no conjunto do continente.

Nos novos países industriais, o Estado impulsionava o desenvolvimento não apenas pelas necessidades de controle social interno, mas também para superar o atraso econômico em relação aos países mais industrializados. Aos que necessitavam queimar etapas, o liberalismo não convinha, como argumentou Friedrich List, inspiração da estratégia de industrialização alemã. O protecionismo comercial e a intervenção social eram considerados indispensáveis para o rápido crescimento econômico, até que fosse atingido um nível suficiente de competitividade.

A Alemanha, ao herdar o papel de principal perturbador, antes ocupado pela França e outrora pela Espanha, afirmou sua preponderância continental. Essa condição ficou evidente nas Conferências de Berlim de 1878 sobre os assuntos

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balcânicos, e 1884-85, sobre os assuntos africanos. Por outro lado, o grande movimento de expansão colonial iniciado nos anos 1880 desbloqueou a força crescente do movimento das nacionalidades que, de certa forma, condicionou a diplomacia européia nas décadas anteriores.

Neste contexto, Ásia e África, até então marginalmente integradas à economia capitalista, passaram a ser o principal alvo de um novo surto colonial: o neocolonialismo.

 

Razões do novo surto colonial

Uma das principais causas foi econômica. A expansão da industrialização, notadamente a Segunda Revolução Industrial da segunda metade do século, resultou no surgimento de novas demandas nas economias capitalistas, essencialmente a ampliação do mercado consumidor e de novas fontes de matérias-primas. À medida que se dinamizava a economia capitalista, com a aceleração cada vez maior do processo de reprodução do capital, fazia-se necessário o estabelecimento de novas áreas para sua aplicação. Mineração na África do Sul, agricultura na Índia, navegação fluvial no Egito, ferrovias na China, uma infinidade de novas oportunidades de investimento se abriam para os detentores do capital. A depressão da década de 1870 também pode ser considerada um fator, uma vez que a abertura de novas frentes econômicas acenava para a superação da crise.

Outra causa foi de ordem demográfica. O aumento da expectativa de vida promovido pela Revolução Industrial fez com que a questão demográfica passasse a ter importância vital na Europa. Diversos governos europeus já estimulavam a emigração rumo à América e passaram a ver também a colonização da Ásia e da África como uma “válvula de escape”  para seus problemas populacionais. Territórios como Argélia, África do Sul e Austrália passaram a receber grande

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contingente de imigrantes, os quais em alguns destinos (por exemplo, na Austrália) chegaram a ser mais numerosos que a população nativa.

Fatores estratégicos contribuíram com a expansão imperialista, na medida em que o desenvolvimento do comércio marítimo internacional e a expansão da navegação a vapor (consumidora em larga escala de carvão) levavam as grandes potências mundiais a tentar estabelecer postos militares e de abastecimento em locais onde as rotas se cruzavam e circulava grande número de navios.

Finalmente, pode-se falar de fatores ideológicos, uma vez que a ocupação de territórios africanos e asiáticos e o domínio sobre suas populações justificavam-se como “missão civilizadora”, isto é, iniciativa de levar aos povos “atrasados” desses continentes os grandes avanços da civilização européia. Tal concepção denota o etnocentrismo europeu, ou seja, a certeza sobre a superioridade de sua cultura e a decorrente convicção de que outras civilizações, por serem diferentes, são “inferiores”. Ainda no que se refere à ideologia, a teoria racista do “darwinismo social” teve grande importância. Desenvolvida pelo filósofo inglês Herbert Spencer (1820-1903), buscava adaptar a sociologia a teoria evolucionista da sobrevivência do mais apto. De acordo com essa teoria, as sociedades e as nações se encontravam em luta e, no futuro, apenas as mais adaptadas iriam sobreviver.

O domínio imperialista se fazia através da conquista militar seguida do estabelecimento de uma administração metropolitana no território dominado. Sempre que possível, a potência colonizadora buscava atrair o apoio de elites locais ou mesmo criar um corpo de funcionários nativos fiéis à autoridade da metrópole. Dessa forma, garantia-se que a exploração econômica da colônia se daria em consonância com as necessidades do capitalismo industrial.

Diferenças entre o imperialismo colonial (mercantilista) e o neocolonial

O imperialismo da época mercantilista orientava-se principalmente no sentido de engrandecer o poder e a riqueza do Estado — acumular ouro nos cofres públicos, para que o governo pudesse manter exércitos e equipar armadas; o novo imperialismo agia em benefício dos cidadãos ricos da metrópole, proporcionando saída às suas mercadorias e oportunidades de emprego para o seu capital excedente. As matérias-primas mais ardentemente desejadas pelos imperialistas dos primeiros tempos eram o ouro, a prata, os produtos tropicais e os abastecimentos navais; os novos imperialistas interessavam-se pouco por tais coisas, mas buscavam avidamente territórios ricos em ferro, cobre, petróleo, manganês e trigo. Como última diferença podemos assinalar o fato de que o antigo imperialismo em geral desencorajava a emigração em larga escala para as colônias, ao passo que um dos objetivos principais do novo é a aquisição de colônias para abrigar o excesso de população das metrópoles.

Corrida neocolonial na África

Se alguém merece o título de pai do novo imperialismo, esse homem é provavelmente Leopoldo II, rei da Bélgica. Em 1876 Leopoldo tomou posse do rico território do rio Congo, na África (aproximadamente dez vezes maior do que a

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Bélgica) e conservou-o praticamente sob o seu domínio pessoal até 1908, quando o vendeu por gorda quantia ao governo belga.

Pouco depois de Leopoldo II ter dado o exemplo, a Inglaterra e a França começaram a mostrar um interesse mais profundo que nunca pelo desmembramento da África. A primeira estabeleceu um protetorado no Egito por volta de 1882 e subsequentemente apossou-se do Sudão Egípcio, da Rodésia, de Uganda e da África Oriental Inglesa a título de colônias. Em 1902, ao cabo de três anos de guerra, os ingleses lograram conquistar as repúblicas dos boeres (Estado Livre de Orange e Transval), que em 1909 foram anexadas à Colónia do Cabo e a Xatal para formar o domínio da África do Sul, com governo próprio.

Os planos da França relativos ao território africano já vinham de 1830, quando esse país estabeleceu o controle sobre alguns portos argelinos. Em 1857 os franceses tinham conseguido conquistar e anexar o resto da Argélia. Mas os seus esforços para fundar um império no Continente Negro não tomaram realmente vulto senão em 1881. Nesse ano ocuparam a Tunísia e a partir de então instalaram-se progressivamente no Saara, no Congo Francês, na Guiné Francesa, no Senegal e no Daomé (Bênin). Em 1905 quase todos os melhores territórios da África achavam-se monopolizados pelos belgas, ingleses e franceses.

A entrada da Alemanha e da Itália na competição pelas colônias africanas foi retardada pela complexidade dos seus problemas internos. Ambas essas nações tinham recentemente completado longas campanhas de unificação e ainda estavam envolvidas em sérias disputas com o papado. Além disso, os governantes de uma e de outra não se interessavam muito por possessões distantes. Bismarck, por exemplo, ambicionava consolidar o seu império doméstico e manter a posição de liderança que a Alemanha conquistara nos negócios da Europa continental. No entanto, o próprio Bismarck acabou sendo convencido pelos comerciantes, industriais e magnatas da navegação a entrar na corrida pelo império africano. Em 1884 proclamou o protetorado alemão sobre o Sudoeste Africano, feito o que apossou-se, em rápida sucessão, da África Oriental Alemã, de Camarões e Togo.

Cerca de 1888 os italianos chegaram à conclusão de que eles também precisavam ter uma parte do que ainda restava da África. Estabeleceram uma cabeça de ponte na Somália, situada na costa oriental, e dali tentaram reduzir a um protetorado a Abissínia (Etiópia), país limítrofe. O resultado foi uma das derrotas mais desastrosas já sofridas por uma nação moderna. As forças italianas foram tão completamente destroçadas pelos abissínios em Ádua, no ano de 1896, que até 1935 a Itália não fêz novas tentativas para conquistar o Leão de Judá. Suas únicas aquisições importantes em território africano, entre 1896 e 1914, foram Trípoli e a Cirenaica, que conquistou aos turcos em 1912 e uniu sob a nova denominação de Líbia.

Corrida neocolonial na Ásia

Entrementes, as potências européias começavam a demarcar novas concessões para si mesmas no continente asiático. Muito antes de 1870 algumas nações européias se haviam empenhado em aventuras de conquista territorial no Oriente.

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Já em 1582 os russos tinham atravessado os Urais e, em menos de um século, alcançaram o Pacífico.

Em 1763, após eliminar os seus rivais franceses na posse da Índia, os ingleses começaram a subjugar e desenvolver esse país, cuja maior parte foi convertida, em 1858, em possessão da coroa britânica. Em consequência da chamada Guerra do Ópio (1842), a Inglaterra forçou os chineses a ceder Hong Kong, e poucos anos depois os franceses estabeleceram um protetorado na Indochina.

Em 1858 a Rússia tomou posse de todo o território ao norte do rio Amur e pouco depois fundou a cidade de Vladivostok (Senhora do Oriente), também em território extorquido à China.

Entretanto, foi só por volta de 1880 que as principais nações militares e industrializadas começaram a sonhar com a divisão de toda a Ásia em colônias e esferas de influência. A mais rica de todas as presas era certamente o Império Chinês, com os seus quatrocentos milhões de habitantes e a sua área igual à da Europa. Pode-se dizer que a Inglaterra iniciou as atividades com a anexação da Birmânia, em 1885. Dez anos depois travou-se a primeira Guerra Sino-Japonesa (1894-95), em resultado da qual o Japão obteve a ilha de Formosa e a renúncia da China a todas as suas pretensões sobre a Coréia, que o Império do Sol Nascente por fim anexou e rebatizou com o nome de Chôsen. Nos últimos anos do século XIX, diversas potências européias que recentemente haviam protestado contra a agressão japonesa trataram de abocanhar novas fatias de território chinês. Em 1897 a Alemanha convenceu-se de que só poderia vingar o assassínio de dois missionários seus apossando-se da baía de Kiaochow e exigindo o direito exclusivo de construir estradas de ferro e explorar as minas da península de Xantum. Já no ano seguinte, a Rússia extorquiu o direito de construir uma estrada de ferro entre a Manchúria Chinesa e Vladivostok, enquantos os ingleses e franceses pleiteavam e obtinham o controle completo de importantes portos da costa chinesa. Por volta de 1898, parecia estar a independência da China fadada a rápida extinção. A generalidade dos europeus, pelo menos, presumia que a porção sudeste do império cairia sob a esfera de influência da França, que a Inglaterra e a Alemanha dividiriam entre si a porção central e que a Rússia e o Japão competiriam para obter o que restasse no norte.

Entre os dois séculos, o imperialismo na China foi detido por três acontecimentos extraordinários. O primeiro e o menos importante foi a proclamação pelos Estados Unidos, em 1898, da política de “porta aberta”. Embora essa política fosse pouco mais que uma expressão vazia aos olhos dos outros governos, não há dúvida que ela infundiu nos chineses a esperança de que os Estados Unidos se ressentiriam das agressões imperialistas das outras potências, e talvez se opusessem a tais agressões. Teve repercussão muito maior uma manifestação de violenta resistência por parte dos próprios chineses. Em 1900, a Sociedade dos Punhos Unidos, comumente chamada os “Boxers”, organizou um movimento para expulsar do país os “diabos estrangeiros”. Houve extensas depredações, as legações de Pequim foram sitiadas e mortos centenas de estrangeiros, inclusive o ministro alemão. Embora o governo chinês lhe prestasse apoio, a revolta foi finalmente dominada por uma força expedicionária composta de ingleses, russos, japoneses, alemães, franceses e americanos. A terceira e mais importante causa do

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declínio temporário do imperialismo na China foi a rivalidade entre os próprios espoliadores. Algumas grandes potências começaram a desconfiar que os seus competidores estivessem tentando abarcar uma parte maior do que a que lhes competia no saque. Essa desconfiança tornou-se particularmente aguda entre a Inglaterra, a Rússia, a Alemanha e o Japão. Em 1902 os ingleses e os japoneses formaram uma aliança para proteger contra os abusos dos russos e dos alemães certas áreas que esperavam desenvolver. Quando, em 1904, se tornou evidente que a Rússia pretendia anexar a Manchúria, os japoneses declararam a guerra. O conflito Russo-Japonês terminou no ano seguinte com uma vitória decisiva para o Japão. A Rússia foi forçada a entregar Porto Artur ao seu rival e a reconhecer a supremacia japonesa na Coréia. Esses acontecimentos, porém, não fizeram mais que retardar a espoliação da China.

A política de Poder e a Paz Armada

Seria erro, entretanto, supor que os habitantes do mundo ocidental não tivessem outra preocupação além das rivalidades de poder e dos conflitos brutais pelo engrandecimento nacional. O período que vai de 1830 a 1914 distinguiu-se por um progresso considerável no desenvolvimento do direito e da organização internacionais. Várias conferências, sobretudo a Primeira e a Segunda Conferências de Haia, respectivamente em 1899 e 1907, conseguiram formular alguns significativos princípios novos de direito internacional.

Mas o progresso do direito e da organização internacionais, considerável como era, não se mostrou à altura das necessidades da época. Cerca de 1914, quase haviam cessado de existir as condições econômicas e políticas favoráveis à manutenção da paz. O benéfico sistema de livre-câmbio, dentro do qual a Inglaterra supria o capital e os produtos manufaturados, enquanto o resto do mundo fornecia os alimentos e as matérias-primas, tornara-se virtualmente uma coisa do passado. A Inglaterra continuava interessada em manter o status quo, de que por tão longo tempo havia tirado proveito, mas certas nações do continente europeu almejavam subvertê-lo. A Alemanha, em particular, possuía agora uma florescente indústria própria e estava ansiosa por encontrar mercados em zonas até então monopolizadas pelos ingleses. O desenvolvimento simultâneo do nacionalismo e do militarismo corria parelho com a expansão das ambições econômicas. Em tais circunstâncias, somente a maquinaria internacional mais poderosa e eficiente seria capaz de preservar a paz. Mas o tribunal de Haia era fraco. Na realidade, não era um tribunal, mas uma simples lista de árbitros. Como não tinha jurisdição compulsória, os governos podiam submeter-lhe as suas disputas ou não, conforme lhes conviesse. Acresce que todas as tentativas das potências para regular os armamentos por acordo internacional terminaram em fracasso. A competição armamentista intensificou os receios e transformou o sistema de estados independentes numa sementeira de guerras.

Durante os três últimos quartéis do século XIX a civilização ocidental se construiu sobre uma multidão de estados. Variavam grandemente em superfície e população, mas, com exceção de um só, nenhum deles era bastante poderoso para impor a sua vontade aos demais. A exceção era naturalmente a Grã-Bretanha, com um sistema industrial altamente desenvolvido e uma armada igual em força às armadas conjuntas de duas quaisquer das outras potências que se

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tomassem. Em razão do seu poderio industrial, naval e também financeiro, a Inglaterra conseguia manter o resto das nações européias numa espécie de equilíbrio. Eis aí por que não ocorreram conflitos de importância nesse continente entre o fim das campanhas napoleônicas e o deflagrar da Primeira Guerra Mundial. Não será perfeitamente correto atribuir esse fato à influência exclusiva da Inglaterra, visto que a maioria das outras nações estavam demasiado absorvidas em problemas de desenvolvimento interno para dar muita atenção aos negócios exteriores. Não obstante, a chamada Paz dos Cem Anos foi em larga medida uma Pax Britannica.

Ambições neocoloniais

Cerca de 1900, seis grandes potências — Alemanha, França, Rússia, Itália, Áustria-Hungria e Grã-Bretanha — competiam entre si pelo poder, pela segurança e pelas vantagens econômicas. Cada uma delas tinha objetivos especiais, cuja realização considerava essencial aos seus interesses nacionais.

A Alemanha concentrava as suas ambições em torno da expansão para leste. Depois de 1890 os capitalistas e imperialistas alemães começaram a sonhar com um Drang nach Osten (arremetida para leste) e planejaram a construção de uma estrada de ferro de Berlim a Bagdá para facilitar o controle econômico do Império Otomano.

A Áustria também volvia os olhos nessa direção, mas visava os Balcãs ao invés da Ásia Ocidental. O seu domínio sobre Trieste e outras porções da costa do Adriático era um tanto precário, visto que boa parte desse território era habitada por italianos. Se pudesse abrir uma estrada para o Egeu através dos Balcãs o seu acesso ao mar estaria mais garantido.

Com o passar dos anos, Áustria e Alemanha tornavam-se cada vez mais dependentes uma da outra, a primeira por causa dos contratempos com os eslavos tanto dentro como fora das suas fronteiras, a segunda pelo temor crescente de se ver cercada. Em 1879 Bismarck firmou com a Áustria uma aliança que se renovou e fortaleceu nos anos subsequentes. Era uma aliança com um cadáver, mas os alemães apegaram-se a ela com desespero à medida que se exacerbavam as tensões internacionais.

Os objetivos da França eram ditados, em grande parte, pelo desejo de refrear ou contrabalançar o poderio crescente da Alemanha. A França esperava reaver a Alsácia-Lorena, que assumira repentinamente grande valor com o descobrimento de um método para converter em aço os minérios pobres de ferro. Havia mais, porém: os franceses estavam decididos a acrescentar Marrocos ao seu império africano, sem levar em conta os interesses de outras potências nesse país lamentavelmente mal governado. Os motivos do governo de Paris eram ao mesmo tempo econômicos e políticos. O Marrocos possuía ricas jazidas minerais, mas também seria valioso do ponto de vista estratégico e como reserva de tropas para compensar a escassez de potencial humano na metrópole.

A ambição suprema da Rússia era obter o controle do Bósforo e dos Dardanelos. Desde o começo do século XIX considerava isso como a sua “missão

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histórica”. O cumprimento dessa missão impediria que a sua frota ficasse engarrafada no Mar Negro em caso de guerra com uma potência naval. Dar-lhe-ia, ademais, o acesso indisputado ao Mediterrâneo e provavelmente a posse de Constantinopla. A Turquia seria eliminada da Europa e a Rússia herdaria os Balcãs. Acresce que, se os agentes do czar alcançassem Constantinopla antes dos alemães, poderiam converter num sonho vão a estrada de ferro Berlim-Bagdá. Mas a Rússia imperial tinha ainda outras ambições. Cobiçava o acesso ao Golfo Pérsico e ao Oceano Índico, e durante anos tentou converter a Pérsia em protetorado russo. Esforçava-se também por obter melhores saídas para o Pacífico e procurou, como já vimos, estender o seu controle à Manchúria. Aspirava finalmente por desempenhar, através do pan-eslavismo, o papel de guia e protetora de todos os povos eslavos da Europa Oriental, inclusive os que se achavam sob o domínio da Áustria-Hungria. É desnecessário sublinhar que cada uma dessas ambições constituía uma ameaça para o status quo.

A política da Inglaterra era dirigida contra quase todo o mundo. Não suspeitava menos das ambições russas em Constantinopla do que das alemãs. Ainda em pleno século XX, desconfiava da França. Seus grandes objetivos eram: 1) manter as linhas vitais de comunicação do império; 2) conservar desimpedidas as vias marítimas para as suas fontes de importação e os seus mercados estrangeiros; e 3) manter o equilíbrio entre as nações do continente europeu, a fim de que nenhuma delas jamais se tornasse bastante forte para atacá-la. Qualquer ação de um outro país que ameaçasse criar um impedimento a esses objetivos vitais (como, aliás, sucedeu muitas vezes) provocava ato contínuo a hostilidade da Inglaterra, que procurava colocar a intrusa no seu lugar por meio da pressão diplomática, formando uma aliança contra ela ou lançando-se à guerra, como finalmente fêz contra a Alemanha, em 1914.

As ambições da Itália antes desta data eram quase exclusivamente territoriais. Não tinha um grande império que defender nem era a sua segurança ameaçada por qualquer fonte externa. No entanto, cobiçava Trípoli no norte da África, que esperava tomar à Turquia, e a “Itália irredenta”, isto é, sobretudo Trieste e o Tirol Meridional, que ainda se achavam nas mãos da Áustria.

Pouco antes de 1900 o Império Japonês começou a tomar parte ativa na política de poder. Durante a segunda metade do século XIX esse reino do Extremo-Oriente saiu do seu isolamento oriental e passou por uma transformação que assombrou o mundo. O feudalismo foi abolido e estabeleceu-se um Estado altamente centralizado, com uma constituição modelada pela do Império Alemão. A ciência, o industrialismo, a educação universal e a conscrição foram importadas do Ocidente. Cada cidade grande teve os seus bondes, os seus arranha-céus e a sua iluminação elétrica, se bem que, na opinião da maioria dos entendidos, isso tudo não passasse de um verniz ocidental na superfície de uma cultura que continuava a ser fundamentalmente oriental. Em 1895, como já vimos, o Japão inflingiu à China uma derrota decisiva, tomando-lhe Formosa e conseguindo carta branca na Coréia. Em 1904-5, os generais e almirantes do micado surpreenderam ainda mais o mundo com a vitória sobre a Rússia. Esses êxitos militares valeram ao império extremo-oriental uma posição virtualmente indisputada entre as grandes potências.

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Às vésperas de um conflito mundial

Um dos fatos que mais claramente exprimiam as realidades da política de poder era o crescimento do militarismo. Uma vez que as nações do mundo viviam num estado de anarquia internacional, era quase inevitável que os seus temores e suspeitas conduzissem a corrida armamentista. Depois de 1870 cada uma das principais potências desse continente, com exceção da Grã-Bretanha, adotou a conscrição e o adestramento militar universal. Não só isso, mas adotaram também a crença de que a segurança nacional dependia quase inteiramente do grau de preparação militar e naval. Depois de cada pânico aumentava o tamanho dos exércitos e das armadas, até que, pelas alturas de 1914, todos os países importantes, além de muitos países pequenos, estavam a cambalear sob um fardo que num mundo mais sensato seria considerado intolerável.

3.4 A questão balcânica (incluindo antecedentes e desenvolvimento recente).

A questão balcânica

PUBLICADO POR RAFA TROTAMUNDOS ⋅ 06/11/2012 ⋅ DEIXE UM COMENTÁRIO ARQUIVADO EM  ALEMANHA, BALCÃS, FRANÇA, IMPÉRIO AUSTRO-HÚNGARO, IMPÉRIO TURCO-OTOMANO, INGLATERRA, ITÁLIA, NACIONALIDADES, PAN-ESLAVISMO, PANGERMANISMO, RÚSSIA O período compreendido entre o término das revoluções de 1848 e o término do conflito franco-prussiano, em 1871, caracterizou-se por um considerável recuo do movimento operário, bem como por uma mudança de rumo nos movimentos liberais, que passaram a encampar a via nacionalista sob liderança de grupos conservadores. A partir de então, o panorama político europeu foi caracterizado pela chamada “política das nacionalidades”. Foi nesse contexto que ocorreu a unificação italiana, com a formação do Reino da Itália, o surgimento do Império Alemão e a Questão do Oriente, assunto abordado neste tópico.

O Império Turco Otomano

Os turcos otomanos, originários da Ásia Central e seguidores do islamismo, criaram um dos mais poderosos impérios da Idade Moderna. Com capital em Constantinopla (que os turcos haviam tomado em 1453 depois de destruírem o que restava do Império Bizantino), o Império Otomano em seu apogeu no século XVI dominava os Bálcãs, a Armênia, parte do Cáucaso e a maior parte dos países árabes do Oriente Médio e do Norte da África. Entre os territórios que os turcos controlaram até a Primeira Guerra Mundial estavam as três principais cidades santas do Oriente Médio: Meca e Medina (sagradas para os muçulmanos) e Jerusalém (sagrada para os judeus, cristãos e muçulmanos). Em razão do seu tamanho, força militar e localização estratégica, o Império Turco Otomano foi a maior potência muçulmana do mundo em 1520-1914, embora a maioria dos seus súditos nos Bálcãs e na Armênia fosse constituída por cristãos – fator que contribuiu, no século XIX, para a desestabilização do poder turco.

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Politicamente, o império era caracterizado pelo despotismo, com uma monarquia absolutista encabeçada pelo sultão, considerado também califa (líder e protetor da ummah, a comunidade islâmica). A corte do sultão (que incluía o Grão-Vizir ou Sadrazam, espécie de primeiro-ministro) era conhecida como a Sublime Porta.

O declínio do Império Otomano e a Questão do Oriente

O expansionismo turco se esgotou no século XVII e, a partir do final do século XVIII, o Império Otomano entrou em processo de decadência em função de suas deficiências internas: uma sociedade tradicional, com uma ordem social baseada em distinções religiosas, que não conseguia acompanhar o ritmo de modernização do Ocidente; economia agrária com baixa produtividade e atraso tecnológico; despotismo da Sublime Porta e dos governadores (alguns, na prática, independentes do poder central), burocracia corrupta, administração ineficiente, tributação distorcida sufocando a maioria da população, exército obsoleto, banditismo endêmico, conservadorismo cultural e baixa mobilidade social. Na segunda metade do século XIX os problemas financeiros do império se

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agravaram por causa do aumento dos gastos militares (guerra da Criméia contra a Rússia em 1853-1856), dos tratados comerciais com as potências européias que reduziram o protecionismo (e a arrecadação alfandegária) e das dificuldades em pagar a crescente dívida externa. Reformas modernizadoras foram tentadas na década de 1870, mas fracassaram, sobretudo por causa da resistência dos grupos mais conservadores.

O resultado foi a Questão do Oriente – as incertezas sobre o futuro do decadente Império Otomano (o “velho doente da Europa”) e os problemas internacionais gerados por sua desintegração, como as disputas entre as grandes potências européias pelos territórios turcos no Oriente Médio, no Norte da África e nos Bálcãs. 

A desintegração do Império Otomano

A crise do Império Otomano e seu processo de desintegração começou na década de 1770, mas foi agravada cem anos depois, nos anos de 1870, com a intensificação do nacionalismo dos povos dominados pelos otomanos e do imperialismo das grandes potências européias.

(a) Os movimentos nacionalistas pela independência dos povos cristãos

Nos Bálcãs foi o caso dos gregos, eslavos (sérvios, bósnios, montenegrinos, búlgaros) e romenos. No Oriente Médio foi o caso dos armênios. Frequentemente, a luta armada desses povos e a repressão otomana assumiram a forma de conflitos étnicos, acompanhados por uma grande violência sobre a população civil. O que se convencionou chamar de limpeza étnica – o extermínio de uma etnia pela rival – foi amplamente praticado pelos dois lados. A Grécia conseguiu ficar independente em 1829 (reconhecida pela Sublime Porta em 1832), mas continuou reivindicando mais territórios dominados pelos turcos. Entretanto, as revoltas nacionalistas dos eslavos, sobretudo sérvios e montenegrinos, nas décadas de 1810 e 1860 fracassaram e a dominação turca continuou reconhecida internacionalmente sobre seus territórios. Na década de 1870, Sérvia, Bósnia-Herzegovina, Montenegro, Romênia e Bulgária nos Bálcãs, e a Armênia, na Ásia Menor, ainda eram províncias do Império Otomano com graus variados de autonomia.

(b) O imperialismo das grandes potências européias 

Principalmente da Rússia, interessada em conquistar territórios no Sudeste Europeu, para obter acesso ao Mar Mediterrâneo (como Constantinopla e o Estreito de Dardanelos entre a Europa e a Ásia), e no Cáucaso (como a Geórgia), para poder penetrar no Oriente Médio e alcançar o Golfo Pérsico. O país somente possuía acesso a mares semi-fechados, cuja saída era controlada por outras potências, como o caso do Mar Báltico e do Mar Negro, totalmente fechados como o Mar Cáspio ou gelados em boa parte do ano, como os Oceano Ártico e Oceano Pacífico. Assim, ainda que constituindo um Estado continental, a Rússia possuía um complexo de cerco.

Nos Bálcãs, a Rússia se apresentava como protetora dos povos eslavos locais, com os quais compartilhava um mesmo tronco lingüístico (a família de línguas eslavas) e uma mesma religião (cristã ortodoxa), idéia que foi a base do pan-

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eslavismo – a defesa da união, cooperação e solidariedade dos povos eslavos sob a liderança da Rússia. A política russa de penetração no Oriente Médio envolvia também se posicionar como a protetora da comunidade cristã (principalmente dos ortodoxos) e dos seus locais sagrados na Palestina e na Síria.

A Áustria-Hungria também procurou expandir seu império à custa de territórios balcânicos controlados pelos otomanos (como a Croácia no final do século XVII e a Bósnia no final do século XIX). O choque do pangermanismo com o pan-eslavismo contribuía ainda mais para a instabilidade balcânica.

A França buscou ampliar seu controle no Mediterrâneo dominando Estados-vassalos do Império Otomano no Norte da África (Argélia, Tunísia). Com a Rússia, disputava também a condição de defensora dos cristãos da Palestina e Síria.

A Itália igualmente desejava territórios otomanos no Norte da África e na Ásia Menor.

A Grã-Bretanha, em princípio, estava mais interessada na preservação e estabilidade do Império Otomano, que serviria de barreira contra a expansão das outras potências européias no Oriente Médio, região que separava a Europa da Índia, a principal colônia britânica. Na maioria das vezes, o governo em Londres utilizou a diplomacia para frear o imperialismo das outras potências sobre os otomanos e negociar arranjos de redistribuição de territórios que não implicassem no desabamento completo do império turco ou em uma drástica alteração do equilíbrio do poder na Europa. No entanto, quando a diplomacia falhava ou algum problema interno dos domínios otomanos ameaçava interesses estratégicos da Grã-Bretanha, o governo britânico recorria à guerra, como na intervenção ao lado dos gregos na Guerra de Independência da Grécia (1821-1829) e ao lado dos otomanos na Guerra Turco-Egípcia (1832-1841) e na Guerra da Criméia (1854-1856, contra a tentativa russa de tomar territórios turcos).

(c) Principais momentos da Questão do Oriente a partir da década de 1870

1870-1875. Crescentes problemas econômicos. Os gastos militares (modernização da marinha), a corrupção das autoridades, tratados comerciais com as potências européias que reduziram o protecionismo (e a arrecadação alfandegária) e o aumento da dívida externa levou o Estado otomano à bancarrota em 1875. Más colheitas em 1873, acompanhadas pelos efeitos da Depressão Mundial iniciada na década de 1870 agravaram a situação econômica, aumentando a pressão por reformas, defendida pelo movimento político dos Jovens Otomanos (intelectuais nacionalistas liberais, não confundir com o movimento posterior dos Jovens Turcos).

1875-1876. Revolta Eslava nos Bálcãs. Os cristãos da Bósnia e da Bulgária, sobretudo camponeses, rebelaram-se contra as taxas e os mal-tratos praticados pelas autoridades islâmicas locais, que não adotaram as reformas prometidas pela Sublime Porta. Em 1876, a Sérvia e Montenegro, auxiliados por voluntários russos, aderiram à revolta e declararam guerra ao Império Otomano. Os turcos conseguiram sufocar a rebelião com grande violência. Na verdade, os dois

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lados (rebeldes eslavos e forças otomanas) cometeram massacres, mas a repressão desencadeada pelo governo turco foi mais divulgada no Ocidente, causando indignação da opinião pública e dos governos europeus.

1876. Reforma liberal. Em meio às revoltas dos eslavos, estourou uma crise política e, em único ano (1876), o Império Otomano conheceu três sultões consecutivos, dois deles depostos. O terceiro, Abdulhamid II, em um primeiro momento cedeu às pressões por reformas e aceitou uma constituição liberal, que estabeleceu um parlamento e reduziu a autoridade do monarca, inaugurando o período conhecido como Primeira Era Constitucional (1876-1878). Na visão dos defensores da constituição (os Jovens Otomanos), a reforma política seria o primeiro passo para a efetiva modernização e salvação do Império Otomano.

1877-1878. Guerra Russo-Turca. Sob o pretexto de proteger os eslavos nos Bálcãs contra a violência da repressão turca, a Rússia declarou guerra ao Império Otomano (abril, 1877) e invadiu a Romênia, a Bulgária e o Cáucaso. Em janeiro de 1878, com as forças russas ameaçando Constantinopla, o governo turco pediu o armistício. A Rússia iniciou as negociações de paz, mas continuou avançando. Criticado pelo desastre militar, Abdulhamid II suspendeu a constituição e restaurou o despotismo (fevereiro 1878). Alarmada, a Grã-Bretanha enviou uma frota para impedir que os russos tomassem a capital otomana. A Rússia deteve o seu avanço, mas impôs aos turcos o Tratado de San Stefano (março 1878), um acordo de paz que reorganizou os Bálcãs visando a ampliação do poder russo na região e no Cáucaso: a Rússia anexou parte da Romênia (sul da Bessarábia) e da Armênia (província de Kars); a Sérvia e Montenegro ampliaram seus territórios e ficaram independentes; uma Grande Bulgária (estendendo-se do Mar Negro ao Egeu, incluindo a Macedônia e Rumélia Oriental) foi estabelecida como um principado autônomo sob ocupação militar russa; e a Áustria-Hungria ocupou a Bósnia-Herzegovina e o Sanjak de Novibazar (parte do atual Kosovo). A Grã-Bretanha, no entanto, opôs-se ao fortalecimento da Rússia nos Bálcãs e pressionou pela revisão do acordo de paz.

1878, junho-julho. O Congresso de Berlim. Organizado sob mediação do chanceler alemão Bismarck, o Congresso de Berlim confirmou, com o Tratado de Berlim, a independência da Sérvia, de Montenegro e da Romênia, os ganhos territoriais russos e o controle austro-húngaro sobre a Bósnia-Herzegovina e o Sanjak de Novibazar. Mas a decisão mais importante foi sobre a Bulgária, que foi dividida: o Principado Autônomo da Bulgária, com o território reduzido e governado por um príncipe não-russo, eleito por uma assembléia búlgara e aprovado pelas grandes potências; a Macedônia, com uma parte voltando a ser controlada pelo Império Otomano e outra parte incorporada à Sérvia; e a Rumélia Oriental, que também retornou ao domínio otomano como província autônoma. Em troca do apoio que deu ao governo turco, a Grã-Bretanha recebeu Chipre. O Tratado de Berlim agravou os problemas balcânicos ao deixar a Rússia, a Bulgária, a Sérvia e o Império Otomano insatisfeitos.

1881. A França ocupa a Tunísia. O pretexto foi conter os ataques de tribos tunisianas na fronteira com a Argélia, colônia francesa. A Tunísia virou um protetorado da França.

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1882. A Grã-Bretanha ocupa o Egito. Em 1859-1869 os franceses construíram o Canal de Suez no Egito, ligando o Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho e ao Índico, encurtando o caminho entre a Europa e a Ásia. O governo egípcio era o maior acionista do Canal, seguido pela França. Mas dificuldades financeiras (gastos excessivos na tentativa de modernizar o país) levaram o Egito a vender suas ações para a Grã-Bretanha em 1875. O controle estrangeiro sobre o Canal e a crescente presença de ocidentais causou um grande ressentimento entre os egípcios, sobretudo entre os militares nacionalistas. Distúrbios populares antiocidentais estouraram em 1881-1882. Temendo perder o controle sobre o Canal, a Grã-Bretanha invadiu o Egito em 1882 e ocupou o país, transformando-o em um protetorado.

1885. Unificação da Bulgária. Uma revolta na Rumélia Oriental resultou em sua união com a Bulgária, sob protestos da Rússia (insatisfeita com o governo do príncipe Alexandre von Battenberg) e da Sérvia (que temia o fortalecimento búlgaro).

1885-1886. Guerra Servo-Búlgara. A Sérvia exigiu territórios búlgaros como compensação pelo crescimento da Bulgária. A Sérvia foi derrotada.

1896. Revolta em Creta. Os gregos locais fizeram um levante contra o domínio otomano. A revolta serviu de pretexto para a intervenção da Grécia, que entrou em guerra contra os turcos.

1897. Guerra Greco-Turca. Os gregos fracassaram em tomar territórios otomanos e um acordo de paz foi assinado.

1899. Protetorado britânico no Kuwait. Parte autônoma da província otomana de Basra, no sul do Iraque, o Kuwait era governado pelo sheik árabe Mubarak al-Sabah, o Grande. As tentativas otomanas de ampliar o controle sobre o país levaram o sheik a se aproximar da Grã-Bretanha. Os britânicos estabeleceram um protetorado no Kuwait, que formalmente continuou sendo território otomano – situação confirmada na Convenção Anglo-Otomana de 1913.

1903. Revolta da Macedônia. Liderada por grupos favoráveis à unificação com a Bulgária. Os otomanos sufocaram a insurreição.

1906. Formação do Comitê de União e Progresso (CUP). Organização política revolucionária nacionalista dos Jovens Turcos (herdeiros políticos dos Jovens Otomanos), reunindo estudantes, intelectuais e jovens oficiais. Objetivos: restauração da Constituição de 1876 e reformas modernizadoras para salvar o império do colapso.

1908, julho. Revolução dos Jovens Turcos. Começou com a revolta militar do III Exército turco na Macedônia liderada por Enver Pasha, membro do CUP. A revolta se espalhou pelo império e o sultão Abdulhamid II foi obrigado a restaurar a Constituição de 1876, inaugurando a Segunda Era Constitucional (1908-1920). Contudo, o CUP não conseguiu organizar um governo estável, gerando incertezas sobre a viabilidade do novo regime em um quadro de crescente violência social (banditismo, conflitos étnicos e religiosos). A instabilidade deixou o império mais vulnerável, favorecendo o separatismo e os interesses expansionistas dos

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vizinhos, que buscaram agir o mais rápido possível antes que surgisse um governo nacionalista forte capaz de restaurar o poder otomano.

1908, setembro. A Grécia anexa Creta. Fortaleceu o movimento de criação da “Grande Grécia”.

1908, outubro. Independência da Bulgária. Proclamada pelo príncipe Ferdinando I, que assumiu o título de czar da Bulgária.

1908, outubro. A Áustria-Hungria anexa a Bósnia-Herzegovina. Causou a crise da Bósnia. A Sérvia, que reivindicava a Bósnia-Herzegovina (território otomano ocupado pelos austro-húngaros desde 1878) visando criar a “Grande Sérvia”, viu seus planos serem frustrados. O distrito turco do Sanjak de Novibazar, que a Áustria-Hungria também tinha ocupado em 1878 e que era igualmente reivindicado pelos sérvios, foi devolvido aos otomanos. A Rússia, inicialmente, apoiou a Áustria-Hungria esperando receber em troca vantagens sobre o Estreito de Dardanelos. Contudo, a Grã-Bretanha barrou os planos dos russos, que se sentiram enganados pela Áustria-Hungria. A Rússia passou a dar apoio à Sérvia e a Alemanha confirmou seu apoio à Áustria-Hungria.

1909. Tentativa de contra-revolução no Império Otomano. Grupos conservadores, apoiados pelos fundamentalistas islâmicos e por Abdulhamid II, assumiram o controle de Constantinopla com o objetivo de restaurar o absolutismo e impor uma legislação religiosa baseada na sharia (leis islâmicas). Os revolucionários do CUP recuperaram o poder, depuseram Abdulhamid II e o substituíram por um novo sultão, Mehmed V.

Um agravante nessa questão foi aproximação da Alemanha do Império Otomano, iniciada na década de 1880, depois que os turcos perderam territórios para a França (Tunísia, 1881) e a Grã-Bretanha (Egito, 1882) e sentiram-se ameaçados pelas pretensões russas por Constantinopla e pelo Cáucaso. Os alemães estabeleceram uma missão militar para reorganizar o exército turco (1883) e, em troca de empréstimos ao governo otomano, obtiveram concessões (1899 e 1902) para construir a Ferrovia Berlim-Bagdá – na verdade, estender a ferrovia Berlim-Constantinopla para Bagdá e Basra, próxima do Golfo Pérsico. A penetração alemã no Império Turco Otomano e no Oriente Médio precipitou a aliança entre a Grã-Bretanha e a Rússia em 1907, simbolizada pela divisão da Pérsia (Irã) entre as duas potências.

 

3.5 Causas da Primeira Guerra Mundial.

Causas da Primeira Guerra Mundial

PUBLICADO POR RAFA TROTAMUNDOS ⋅ 23/11/2012 ⋅ DEIXE UM COMENTÁRIO

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ARQUIVADO EM  ALEMANHA, BALCÃS, CRISE DO ORIENTE, EUROPA, FRANÇA, IMPÉRIO AUSTRO-HÚNGARO, IMPÉRIO TURCO-OTOMANO, INGLATERRA, ITÁLIA, MARROCOS, PAN-ESLAVISMO, PANGERMANISMO, PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL, RÚSSIA, REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Algumas das causas subjacentes ou remotas da Primeira Guerra Mundial remontam à história européia de um século atrás. A maioria delas, porém, data de cerca de 1870. Isto se aplica particularmente às causas econômicas, que muitos historiadores consideram como bases de todas as demais. A causa econômica que geralmente colocam no cabeçalho da lista é a rivalidade industrial e comercial entre a Alemanha e a Inglaterra. A Alemanha, após a fundação do império em 1871, atravessou um período de desenvolvimento econômico pouco menos que milagroso. Em 1914, estava produzindo mais ferro e aço do que a Inglaterra e a França juntas. Em produtos químicos, corantes de anilina e na manufatura de instrumentos científicos achava-se à frente do mundo inteiro. Os produtos da sua indústria desalojavam os congêneres ingleses de quase todos os mercados da Europa continental, bem como do Extremo Oriente e da própria Inglaterra.

Há indícios de que certos interesses britânicos começavam a alarmar-se seriamente com a ameaça da competição alemã. Depois de 1900 o ressentimento diminuiu por algum tempo, mas tornou a inflamar-se nos anos que precederam o deflagrar da guerra. Parecia reinar a forte convicção de que a Alemanha estava movendo à Inglaterra uma guerra econômica deliberada e implacável, visando tomar-lhe os mercados por meios fraudulentos e escorraçar os seus navios dos mares. Permitir que a Alemanha saísse vitoriosa dessa luta significaria para a Inglaterra o fim da sua prosperidade e uma grave ameaça à sua existência nacional. Os cidadãos britânicos que se preocupavam com tais assuntos viam a sua pátria como vítima inocente da agressividade alemã e sentiam-se plenamente justificados em tomar quaisquer medidas que se fizessem necessárias para defender a sua posição.

Também os franceses estavam alarmados com a expansão industrial alemã. Em 1870 a França fora despojada dos extenso depósitos de ferro e carvão da Lorena, que passaram a contribuir para o crescimento industrial da Alemanha. Acresce que a França se via na necessidade de importar carvão, o que lhe feria o orgulho quase tanto quanto a perda do ferro. Havia ainda várias outras causas de atrito econômico que muito contribuíram para provocar a guerra. Havia, por fim, um agudo antagonismo econômico entre a Alemanha e a França com respeito ao direito de explorar os recursos minerais e as oportunidades comerciais do Marrocos.

A ambição russa de obter o controle de Constantinopla e de outras porções do território turco entrava em conflito com os planos dos alemães e austríacos, que queriam para si o Império Otomano como um paraíso de privilégios comerciais. Rússia e Áustria também rivalizavam entre si na obtenção do monopólio comercial dos reinos balcânicos da Sérvia, da Rumânia, da Bulgária e da Grécia. A Áustria estava tão ansiosa de evitar que esses países caíssem na órbita russa quanto desejosa estava a Rússia de estender o seu poder a todos os eslavos da Europa Oriental.

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Até certo ponto, a construção da estrada de ferro Berlim-Bagdá foi uma causa econômica da guerra, embora tivesse efeitos políticos não menos importantes. A conclusão dessa estrada envolvia, como é de ver, o assentamento de uma Iinha do Bósforo a Bagdá pelo rio Tigre, uma vez que já existia a ligação ferroviária entre Berlim e Constantinopla. De Bagdá talvez pudesse ser estendida até o Golfo Pérsico, abrindo assim um caminho mais curto para a Índia. Os planos da estrada de ferro tinham sido traçados por uma companhia alemã desde 1890.

Considerando os riscos demasiadamente grandes para ser empreendidos por eles sós, os capitalistas alemães convidaram, banqueiros ingleses e franceses para cooperarem. O capital seria dividido igualmente entre os três países e a Inglaterra e a França teriam a mesma representação que a Alemanha na diretoria. O ciúme e a desconfiança, contudo, fizeram com que a proposta fosse rejeitada pelos governos britânico e francês. Os ingleses parecem ter receado que as linhas vitais do seu império corressem perigo, bem assim como os seus interesses econômicos na Pérsia e na Mesopotâmia. Os políticos franceses, por seu lado, parecem ter cedido à pressão por parte da Rússia, a qual temia que uma estrada de ferro a atravessar a Turquia ressuscitasse a “enferma do Levante” e adiasse indefinidamente a partilha dos seus bens. Em 1913-14 foi concluída uma série de acordos entre ingleses, franceses e alemães para a construção de ferrovias turcas sobre a base de uma divisão do Império Otomano em esferas de influência. A essas alturas, porém, a

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amizade internacional estava ferida de morte, sobretudo porque a Alemanha já havia completado cerca de 600 quilômetros da linha de Bagdá.

É impossível aquilatar o verdadeiro valor das causas econômicas subjacentes da guerra. Tiveram certamente influência, mas não tão importante, talvez, quanto em geral se acredita. Para começar, a rivalidade entre a Inglaterra e a Alemanha tem sido provavelmente exagerada. Em 1914 a Inglaterra não corria perigo de ser reduzida ao nível de uma potência industrial de terceira categoria. É verdade que o seu comércio exterior já não crescia tão rapidamente como o da Alemanha, mas assim mesmo crescia. Do mesmo modo, devemos abster-nos de atribuir demasiada gravidade à competição entre a Rússia e a Alemanha. A Rússia não era ainda uma grande nação capitalista, com um excesso de produtos que tivesse necessidade de vender no exterior. Dependia muito mais da importação. Por outro lado, não devemos esquecer que sempre há indivíduos poderosos que são prejudicados pela concorrência estrangeira. Tais pessoas invariavelmente exercem a maior pressão possível para forçarem os seus governos a uma ação agressiva. Convém lembrar também que as rivalidades econômicas resultam amiúde em atrito político. Os ingleses temiam, por exemplo, que o gigantesco desenvolvimento industrial da Alemanha ocidental tornasse indispensável ao império do kaiser o controle de Antuérpia e Amsterdã. O resultado final seria a anexação da Bélgica e da Holanda pela Alemanha, com sério prejuízo para a posição estratégicas da Inglaterra.

Entre as causas políticas da Primeira Guerra Mundial desempenhou papel proeminente o nacionalismo. Esse fator, como explicamos anteriormente, tinha raízes que remontavam pelo menos à Revolução Francesa. Nos começos do século XX, porém, ele passou a assumir uma variedade de formas particularmente perigosas. As principais dentre elas eram o plano da Grande Sérvia, o pan-eslavismo na Rússia, o movimento de révanche na França e o movimento pangermânico. Os dois primeiros relacionavam-se intimamente entre si. Pelo menos desde o começo do século XX a pequena Sérvia sonhava estender a sua jurisdição sobre todos os povos que passavam por ser da mesma raça e cultura que os seus próprios cidadãos. Alguns desses povos habitavam as então províncias turcas da Bósnia e da Herzegovina. Outros incluíam os croatas e eslovenos das províncias meridionais da Áustria-Hungria. Depois de 1908, quando a Áustria repentinamente anexou a Bósnia e a Herzegovina, o plano da Grande Sérvia dirigiu-se exclusivamente contra o império dos Habsburgos. Assumiu a forma de uma agitação para provocar o descontentamento entre os súditos eslavos da Áustria, na esperança de afastá-los desta e unir à Sérvia os territórios que eles habitavam. Daí adveio uma série de perigosas conspirações contra a paz e a integridade da Monarquia Dual, e o clímax fatídico dessas conspirações foi o assassínio do herdeiro do trono austríaco em 28 de junho de 1914.

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Em muitas de suas atividades os nacionalistas sérvios foram auxiliados e instigados pelos pan-eslavistas da Rússia. O pan-eslavismo baseava-se na teoria de que todos os eslavos da Europa Oriental constituíam uma grande família. Argumentava-se por conseguinte que a Rússia, como o mais poderoso dos estados eslavos, deveria ser guia e protetora das suas pequenas irmãs dos Balcãs. Era preciso encorajar estas últimas a voltar os olhos para a Rússia sempre que os seus interesses corressem perigo. Os sérvios, búlgaros e montenegrinos, nas suas lutas contra a Áustria ou a Turquia, deviam saber que sempre teriam um amigo poderoso e simpatizante no outro lado dos Cárpatos. O pan-eslavismo não era apenas o ideal interessado alguns nacionalistas ardentes, mas fazia verdadeiramente parte da política oficial do governo russo. Muito contribui para explicar a atitude agressiva da Rússia em todas as disputas que surgiram entre a Sérvia e a Áustria.

Outra das formas malignas de nacionalismo que contribuíram para a guerra de 1914 foi o movimento francês pela revanche. Desde 1870 os patriotas exaltados da França vinham almejando um ensejo de vingar a derrota sofrida na guerra franco-prussiana. É quase impossível, para quem não é europeu, formar uma concepção justa do ascendente que tinha essa idéia sobre o espírito de milhões de franceses. Era cuidadosamente cultivada pela imprensa amarela e servida aos escolares como iguaria cotidiana da sua nutrição intelectual. Deve-se compreender, no entanto, que essa idéia nunca passou, provavelmente, da opinião de uma minoria do povo francês. Por volta de 1914, era fortemente combatida pelos socialistas e por muitos líderes liberais.

É difícil avaliar a influência do pangermanismo como uma modalidade de nacionalismo antes de 1914. O nome do movimento passa, em geral, por derivar da Liga Pangermânica, fundada por volta de 1895. Essa liga advogava particularmente a expansão da Alemanha, que deveria incorporar todos os povos teutônicos da Europa Central. Os limites do império seriam estendidos até abranger a Dinamarca, a Holanda, o Luxemburgo, a Suíça; a Áustria e a Polônia até Varsóvia. Alguns líderes não se contentavam sequer com isso, exigindo também um grande império colonial e uma ampla expansão para leste, até os Balcãs e a Ásia

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Ocidental. Faziam questão de que povos como os búlgaros e turcos se tornassem pelo menos satélites do Reich. Embora a Liga Pangermânica fizesse muito ruído, dificilmente poderia alimentar a pretensão de representar a nação alemã. Ainda em 1912 não contava mais de 17.000 membros e as suas violentas críticas ao governo eram mal recebidas por muita gente. Não obstante, certas doutrinas suas tinham vivido em estado latente por mais de um século no pensamento alemão. O filósofo Fichte ensinara que os alemães, em virtude da sua superioridade espiritual, tinham a missão de impor a paz ao resto da Europa. Conceitos de arianismo e de supremacia nórdica também contribuíram para a idéia de que os alemães eram divinamente predestinados a persuadir ou obrigar as “raças inferiores” a aceitarem a sua cultura. Por fim, os esforços de filósofos como Heinrich von Treitschke para divinizar o estado e glorificar o poder como instrumento de política nacional ajudaram a incutir no espírito de muitos alemães das classes média e superior a intolerância para com as outras nações e a crença no direito da Alemanha a dominar os seus vizinhos mais fracos.

O nacionalismo dos tipos que acabamos de descrever teria sido quase suficiente de per si para mergulhar um número considerável de nações européias na voragem da guerra. Foi o sistema de alianças múltiplas que transformou a contenda local entre a Áustria e a Sérvia numa guerra geral. Quando a Rússia interveio em favor da Sérvia, a Alemanha sentiu-se obrigada a acudir em defesa da Áustria. A França estava ligada à Rússia por laços estreitos e a Inglaterra foi arrastada ao conflito devido, pelo menos em parte, aos seus compromissos com a França. O sistema de alianças, além disso, era uma fonte de suspeita e de medo. Impossível esperar que a Europa continuasse indefinidamente dividida em campos opostos de força mais ou menos igual. As condições não podiam deixar de mudar com a passagem do tempo. Os motivos que originalmente tinham levado determinadas nações a associar-se a outras perdiam a sua importância, desaparecendo assim a base da aliança. Veremos, por exemplo, a Itália abandonar praticamente a aliança com a Alemanha e a Áustria, às quais parecera, de começo, tão ansiosa por juntar-se. O resultado foi unir mais fortemente as suas antigas aliadas e aumentar-lhes a obsessão de estarem cercadas por um anel de potências hostis.

A evolução do sistema de alianças múltiplas remonta à década de 1870 e seu arquiteto inicial foi Bismarck. Em essência, os objetivos do Chanceler de Ferro eram pacíficos. A Prússia e os seus aliados alemães tinham saído vitoriosos da guerra com a França e o recém-criado império germânico era o estado mais poderoso do Continente. Almejava Bismarck, acima de tudo, preservar os frutos dessa vitória; nada indica que ele estivesse a planejar novas conquistas. Não obstante, perturbava-o o receio de que a França pudesse iniciar uma guerra de desforra. Era pouco provável que tentasse sozinha uma tal coisa, mas podia fazê-lo auxiliada por uma outra potência. Conseqüentemente, Bismarck resolveu isolar a França ligando todos os seus possíveis amigos à Alemanha. Em 1873 conseguiu formar uma aliança simultânea com a Áustria e a Rússia — a chamada Liga dos Três Imperadores. Essa combinação era entretanto de caráter precário. Desfez-se depois do Congresso de Berlim, em 1878, quando a Rússia acusou a Alemanha e a Áustria de escamotear-lhe os frutos da guerra que acabava de ter com a Turquia. Extinta a Liga dos Três Imperadores, Bismarck cimentou uma nova aliança, agora muito mais forte, com a Áustria. Em 1882 essa parceria expandiu-se na célebre Tripla Aliança, com a

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adesão da Itália. Os italianos não aderiram por amor aos alemães ou aos austríacos, mas sim levados pela cólera e pelo medo. Despeitava-os o fato de ter a França anexado a Tunísia (1881), um território que consideravam como legitimamente seu. Além disso, os políticos italianos ainda andavam às testilhas com a igreja e receavam que os clericais da França subissem ao poder e enviassem um exército francês para defender o papa. Nesse meio tempo foi ressuscitada a Liga dos Três Imperadores. Conquanto durasse apenas seis anos (1881-87), a Alemanha conseguiu manter a amizade com a Rússia até 1890!

Destarte, ao cabo de pouco mais de uma década de manobras políticas Bismarck lograra realizar as suas ambições. Por volta de 1882 a França estava praticamente impossibilitada de obter o auxílio de amigos poderosos. A Áustria e a Itália achavam-se unidas à Alemanha pela Tríplice Aliança e a Rússia, após três anos de ausência, havia retornado ao arraial bismarckiano. O único auxílio possível era o da Inglaterra; mas, com respeito aos assuntos continentais, os ingleses tinham voltado à sua política tradicional de “esplêndido isolamento”. Por conseguinte, no que dizia respeito ao perigo de uma guerra de vingança a Alemanha pouco tinha a temer. Mas, se Bismarck ou qualquer outra pessoa imaginava que tal segurança era permanente, estava-lhe reservada uma triste decepção. Entre 1890 e 1907 a Europa passou por uma revolução diplomática que aniquilou praticamente a obra de Bismarck. É verdade que a Alemanha ainda tinha a Áustria ao seu lado, mas perdera a amizade tanto da Rússia como da Itália, ao mesmo tempo que a Inglaterra saíra do seu isolamento para entrar em ajustes com a Rússia e a França. Esse deslocamento do equilíbrio de poderes teve resultados fatídicos. Convenceu os alemães de que estavam rodeados por um anel de inimigos e, portanto, tinham de fazer o que estivesse ao seu alcance para conservar a lealdade da Áustria, ainda mesmo que fosse preciso prestar apoio às temerárias aventuras desta no estrangeiro. Seria difícil encontrar melhor ilustração da futilidade de se confiar num sistema de alianças para preservar a paz.

Não é necessário procurar muito longe as causas dessa revolução diplomática. Em primeiro lugar, desavenças entre Bismarck e o novo kaiser, Guilherme II, determinaram o afastamento do chanceler em 1890. Seu sucessor, o Conde Caprivi, estava interessado principalmente numa tentativa de cultivar a amizade da Inglaterra e por isso deixou caducar o tratado com a Rússia. Em segundo lugar, o desenvolvimento do pan-eslavismo na Rússia colocou o império do czar em conflito com a Áustria. Na contingência de escolher entre a Áustria e a Rússia, a Alemanha muito naturalmente preferiu a primeira. Em terceiro lugar, o estabelecimento de laços financeiros entre a França e a Rússia abriu caminho inevitavelmente para uma aliança política. Em 1888-89 tinham sido lançados, na Bolsa de Paris, empréstimos russos no valor aproximado de 500 milhões de dólares. As obrigações, oferecidas a preço convidativo, foram prontamente compradas pelos capitalistas franceses. A partir de então, grande número de cidadãos influentes da França passaram a ter um interesse direto nos destinos políticos da Rússia. Uma quarta causa foi o abandono do isolacionismo pela Inglaterra, mudança essa devida a várias razões: uma delas foi a preocupação causada pelo crescente poder econômico da Alemanha; outra, o fato de terem os ingleses e os franceses descoberto, por volta de 1900, uma base de cooperação para a partilha da África do Norte. Uma última causa da

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revolução diplomática foi a mudança de atitude da Itália em relação à Tríplice Aliança. Pelas alturas de 1900 estavam os republicanos franceses consolidados no poder, não tendo pois a Itália mais que temer uma intervenção monárquico-clerical em favor do papa. Além disso, a maioria dos italianos tinha-se conformado com a perda da Tunísia e tratava apenas de reaver os territórios em poder da Áustria e de ganhar o apoio da França para a conquista de Trípoli. Por essas razões a Itália perdeu o interesse em manter a lealdade à Tríplice Aliança.

O primeiro resultado importante da revolução diplomática foi a Tríplice Entente. Chegou-se a ela por uma série de estágios. Em 1890 a Rússia e a França iniciaram uma aproximação política que aos poucos amadureceu numa aliança. O convênio militar secreto assinado pelos dois países em 1894 estabelecia que uma das partes iria em auxílio da outra em caso de ataque pela Alemanha, ou pela Áustria ou Itália apoiada pela Alemanha; e que, em caso de mobilização por parte de qualquer dos componentes da Tríplice Aliança, tanto a Rússia como a França mobilizariam imediatamente todas as suas forças e as colocariam tão próximo das fronteiras quanto possível. Essa Aliança Dual entre a Rússia e a França foi seguida pela Entente Cordiale entre a França e a Inglaterra. Durante as duas últimas décadas do século XIX, ingleses e franceses haviam tido amiudadas e sérias altercações a respeito de colônias e comércio. As duas nações quase chegaram às vias de fato em 1898, em Fachoda, no Sudão Egípcio. Subitamente, porém, a França abandonou todas as suas pretensões a essa parte da África e iniciou negociações para um entendimento amplo em relação a outras contendas. O resultado foi a conclusão, em 1904, da Entente Cordiale. Não era uma aliança formal, mas um acordo amigável sobre muitos assuntos. O que continha de mais importante eram certos artigos secretos referentes à partilha do Norte da África. A França concordava em dar carta branca à Inglaterra no Egito, e em troca a Inglaterra consentia na aquisição de quase todo o Marrocos pelos franceses. O passo final na formação da Triple Entente foi a conclusão de um entendimento mútuo entre a Inglaterra e a Rússia. Também aqui não houve aliança formal. As duas potências chegaram simplesmente, em 1907, a um acordo relativo às suas ambições na Ásia. O núcleo desse acordo consistia na divisão da Pérsia em esferas de influência. A Rússia ficaria com a parte do norte e a Inglaterra, com a do sul. Uma porção mediana seria conservada, pelo menos temporariamente, como zona neutra sob o governo do seu soberano legítimo, o xá.

Destarte, em 1907 as grandes potências da Europa achavam-se alinhadas em dois campos hostis — a Tríplice Aliança e a Triple Entente. Enquanto, porém, esta última ia em vias de desenvolvimento, a primeira foi muitíssimo enfraquecida pela defecção da Itália. Já vimos que por volta de 1900 os motivos que levaram a Itália a juntar-se à Tríplice Aliança haviam perdido a sua importância. Não somente se observava uma decidida frieza nas relações ítalo-austríacas mas também os nacionalistas italianos clamavam incessantemente por um império na África. Por isso, em 1900 o governo firmou um acordo secreto com a França, estipulando que em troca da plena liberdade de ação em Trípoli a Itália se absteria de qualquer interferência nas ambições francesas sobre o Marrocos. Em 1902 os dois países concluíram outro pacto secreto, pelo qual cada um se comprometia a manter a neutralidade em caso de ataque por uma terceira potência. A obrigação subsistia mesmo que alguma das partes, por motivo de uma ameaça à sua honra ou à sua segurança, se visse

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obrigada a “tomar a iniciativa da declaração de guerra”. Sendo os termos “honra” e “segurança” suscetíveis de ampla interpretação, é evidente que a Itália estava, na realidade, comprometendo-se a permanecer neutra em quase qualquer guerra que viesse a estalar entre a França e a Alemanha. Sua obrigação anterior, decorrente da Tríplice Aliança, de ajudar a Alemanha no caso de um ataque francês ficava assim praticamente anulada. O auge da deslealdade foi alcançado pela Itália no “Acordo de Racconigi” de 1909, com a Rússia. Por esse acordo o governo de Roma prometia “encarar com benevolência” as pretensões russas ao controle dos Estreitos e de Constantinopla, em troca do apoio diplomático à conquista de Trípoli.

A fortuna da Triple Entente esteve também sujeita a flutuações. Foi ela um tanto fortalecida entre 1905 e 1912 por uma série de “conversações” militares e de acordos não-oficiais entre a Inglaterra e a França.

Consistiam estes mormente em planos pormenorizados dos estados-maiores britânico e francês para uma ação conjunta dos dois exércitos, na eventualidade de ser a França atacada pela Alemanha. Mais tarde foram assumidos certos compromissos de cooperação naval entre a Inglaterra e a França, de um lado, e a Inglaterra e a Rússia do outro. Mas a coalizão foi seriamente enfraquecida em 1909, em consequência da recusa da Inglaterra e da França a apoiar a Rússia na sua disputa com a Áustria em torno da anexação da Bósnia-Herzegovina por esta última. Outra ameaça à integridade da Triple Entente surgiu em 1913, quando a Inglaterra colaborou com a Alemanha e a Áustria no desígnio de forçar a Sérvia a abandonar suas pretensões à Albânia. Embora as Potências Centrais pretendessem ver na Triple Entente uma poderosa coligação contra elas, na realidade era tão instável quanto a Tríplice Aliança. As ambições russas sobre Constantinopla entravam em conflito com os interesses britânicos na mesma localidade. Os próprios ingleses pareciam por vezes afagar a idéia de lançar as potências continentais umas contra as outras. Daí a sua tendência a vacilar entre o apaziguamento da Alemanha e o encorajamento à França. Até quase os fins de julho de 1914, nem os inimigos da Inglaterra nem os seus aliados podiam ter absoluta certeza sobre a decisão que ela tomaria.

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A última das causas subjacentes da Primeira Guerra Mundial a ser considerada foi uma série de crises internacionais que puseram em perigo a paz européia entre 1905 e 1913. Houve, ao todo, cinco crises de grave importância: três suscitadas pela questão marroquina e duas relacionadas com disputas na Europa Oriental. Conquanto a maioria delas tivesse sido afastada por meio de compromissos, todas deixaram um legado de suspeita e ressentimento. Em alguns casos, a guerra só foi evitada por estar na ocasião demasiadamente fraca uma das partes para oferecer resistência. Daí o sentimento de humilhação, o rancor reprimido que em ocasião futura teria de explodir. Outro efeito dessas crises foi lançar alguma luz sobre as verdadeiras simpatias das grandes potências. Destarte se evidenciou, durante a terceira crise marroquina, que a Inglaterra reconhecia uma comunhão de interesses com a França. Do mesmo modo, a atitude assumida pela Itália mostrou que esse país estava longe de ser um membro seguro da Tríplice Aliança.

A crise marroquina nasceu de um entrechoque de interesses econômicos franceses e alemães. No começo do século XX era o Marrocos um país independente, governado por um sultão. Seu território, porém, era relativamente rico em minerais e produtos agrícolas, que as nações européias cobiçavam. O que despertava principalmente a cupidez dos franceses e alemães eram as jazidas de ferro e manganês e as excelentes oportunidades de comércio. Em 1880 as principais potências do mundo haviam assinado a Convenção de Madrid, estabelecendo que os representantes de todas as nações teriam privilégios econômicos iguais no Marrocos. Mas os franceses não se satisfizeram por muito tempo com tal combinação. Em 1903 o seu comércio marroquino ultrapassava o de qualquer outro país e a França almejava nada menos que um monopólio. Além disso, cobiçavam o Marrocos como uma reserva de tropas e como um baluarte na defesa da Argélia. Por conseguinte, em 1904 a França entrou em acordo com a Inglaterra para estabelecer uma nova ordem no território do sultão. Os artigos do acordo que foram dados à publicidade enunciavam a louvável resolução das potências signatárias de manter a independência do Marrocos. Os artigos secretos prescreviam justamente o contrário. Em época oportuna, o Marrocos seria desmembrado. Uma pequena porção fronteira a Gibraltar seria dada à Espanha e o resto caberia à França. A Grã-Bretanha, como vimos, tinha como recompensa a liberdade de ação no Egito.

Foi esse acordo de 1904 que precipitou a encarniçada disputa entre a França e a Alemanha. Em 1905, alguns funcionários do governo alemão farejaram a trapaça. Resolveram obrigar a França a desistir de suas pretensões sobre Marrocos, ou então oferecer compensações. Em 1905 o chanceler von Bülow induziu o kaiser a desembarcar no porto marroquino de Tânger e pronunciar ali um discurso declarando que a Alemanha estava pronta a defender a independência de sultão. O resultado foi uma crise que levou a Europa a dois passos da guerra. A fim de resolver a disputa reuniu-se em 1906, na localidade espanhola de Algeciras, um congresso internacional. Embora confirmasse a soberania do sultão, a conferência reconhecia ao mesmo tempo os interesses especiais da França nos domínios daquele. Esse resultado convinha admiravelmente aos franceses, que podiam agora penetrar na terra dos mouros sob o manto da legalidade. Em 1908 deu-se uma segunda crise e em 1911 uma terceira, ambas resultantes de tentativas dos alemães para proteger o que

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consideravam seus legítimos direitos no Marrocos. A terceira crise revestiu-se de particular importância por causa da atitude positiva assumida pelos ingleses. Em julho de 1911 David Lloyd George, no seu célebre discurso da Mansion House (Prefeitura de Londres), virtualmente ameaçou de guerra a Alemanha se esta tentasse estabelecer uma base na costa marroquina. A controvérsia em torno de Marrocos foi resolvida nos fins de 1911, quando a França concordou em ceder uma porção do Congo Francês à Alemanha. O governo do kaiser abandonou então todas as pretensões sobre Marrocos e informou os franceses de que podiam fazer o que entendessem com esse país. Pouco depois todo o território, com exceção da estreita nesga concedida à Espanha, foi adicionado ao império colonial da França. Nenhuma das partes, todavia, esqueceu os ressentimentos nascidos da contenda. Os franceses afirmavam ter sido vítimas de uma chantagem pela qual lhe fora arrebatado um território valioso. Os alemães alegavam que a porção do Congo cedida pela França não era compensação suficiente para a perda de privilégios econômicos em Marrocos.

Mais sérias ainda que o caso marroquino foram as duas crises balcânicas. A primeira foi a crise da Bósnia, em 1908. Pelo Congresso de Berlim, em 1878, as duas províncias turcas da Bósnia e da Herzegovina tinham sido colocadas sob o controle administrativo da Áustria, se bem que o Império Otomano conservasse ainda a posse legitima. A Sérvia também cobiçava esses territórios, que duplicariam a extensão do seu reino e lhe colocariam as fronteiras nas imediações do Adriático. Subitamente, em 5 de outubro de 1908, a Áustria anexa as duas províncias, numa franca violação ao Tratado de Berlim. Os sérvios ficaram furiosos e apelaram para a Rússia. O governo do czar ameaçou com a guerra até que a Alemanha enviou uma áspera nota a S. Petersburgo, anunciando a sua firme intenção de apoiar a Áustria. Como a Rússia ainda não se houvesse refeito inteiramente da guerra com o Japão e não estivesse em condições de guerrear com a Alemanha e a Áustria unidas, acabou por informar os sérvios de que eles teriam de esperar um momento mais favorável. A opinião dominante na Europa Ocidental era de crítica veemente à Áustria. Censuravam-na por ter violado o direito internacional e por perturbar temerariamente o equilíbrio de poderes. Não se sabia então que a responsabilidade da crise também recaía, em boa parte, sobre os ombros do ministro russo do Exterior, Alexandre Izvolski. Em setembro de 1908 Izvolski firmara um acordo secreto com o Conde Aerenthal, seu colega austríaco, no castelo deste em Buchlau, prometendo a não-interferência da Rússia na anexação das duas províncias se a Áustria desse seu apoio à ambição russa de abrir os Estreitos. Izvolski foi, porém, impedido de levar a efeito a sua parte do pacto pela oposição da Inglaterra e da França. Quando Aerenthal consumou a anexação, Izvolski voltou-se contra ele numa atitude de inocência ofendida. A crise da Bósnia foi, indubitavelmente, uma das causas mais importantes da Primeira Guerra Mundial. Seria quase impossível mencionar um outro fator isolado que tivesse provocado tanta malquerença entre as nações. Insuflou a ira dos sérvios contra a Áustria e encorajou-os a solicitar o apoio da Rússia. Convenceu os imperialistas de S. Petersburgo de que teriam de lutar eventualmente não só contra a Áustria, mas também contra a Alemanha. Efeito não menos importante foi o de levar a França a uma aproximação mais estreita com a Rússia. Depois de ver frustrados os seus planos em 1908, Isvolski renunciou ao

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cargo de ministro e aceitou a sua nomeação como embaixador em Paris. Ali, de 1910 a 1914, trabalhou com magistral habilidade para fazer da França uma aliada leal da Rússia. Parece ter exercido considerável influência junto a Poincaré.

A inimizade austro-sérvia foi ainda mais intensificada pelas guerras dos Balcãs. A primeira dessas guerras foi, em parte, um fruto do programa de otomanização posto em prática pelos Jovens Turcos. Relatos de atrocidades cometidas pelo governo do sultão contra os eslavos da Macedônia despertaram as simpatias dos povos balcânicos da mesma raça e serviram de pretexto para um ataque ao território turco. Em 1912 a Sérvia, a Bulgária, o Montenegro e a Grécia, com o encorajamento da Rússia, formaram a Liga Balcânica para a conquista da Macedônia. A guerra iniciou-se em outubro de 1912 e em menos de dois meses a resistência turca foi completamente desmantelada. Surgiu então o problema da divisão dos despojos. Por tratados secretos, negociados antes do início das hostilidades, fora prometida à Sérvia a Albânia, além de uma generosa fatia da Macedônia ocidental. Mas então a Áustria, receosa como sempre de qualquer aumento do poder sérvio, interveio na conferência de paz e obteve o apoio da Inglaterra e da França para o reconhecimento da Albânia como estado independente. Para os sérvios isso foi a última gota. Dir-se-ia que o governo dos Habsburgos estava disposto a bloquear-lhes sistematicamente todas as tentativas de expansão, pelo menos na direção de oeste. Desde então tornou-se ainda mais rancorosa a agitação anti-austríaca na Sérvia e na província vizinha da Bósnia. Conquanto os sérvios tivessem conseguido forçar os búlgaros a ceder uma porção das suas conquistas na Macedônia, isso não era compensação suficiente para a perda da Albânia, que teria oferecido uma saída para o mar.

A caminho do Armagedom

Como todos sabem, a causa imediata da Primeira Guerra Mundial foi o assassínio do Arquiduque Francisco Fernando, em 28 de junho de 1914. Foi a faísca lançada ao barril de pólvora das suspeitas e ódios acumulados. Sem embargo, não foi um, fato tão trivial como muita gente pensa. Na realidade teve um significado muito mais profundo do que geralmente se imaginava fora da Europa Central. Francisco Fernando não era simplesmente uma figura inútil da nobreza austríaca; era um homem que em breve se tornaria imperador. O monarca reinante, Francisco José, atingira os oitenta e cinco anos e a sua morte era esperada a cada momento. Por isso, o assassínio do herdeiro do trono foi considerado muito justamente como um ataque ao estado.

O assassino de Francisco Fernando foi um estudante bosníaco chamado Princip. Isto, porém, não é nem metade da história. Princip não passava de um instrumento dos nacionalistas sérvios. O assassínio, embora tenha ocorrido em Sarajevo, capital da Bósnia, resultou de uma conspiração urdida em Belgrado. Os conspiradores eram membros de uma sociedade secreta oficialmente conhecida como “União ou Morte”, mas comumente chamada “Mão Negra”. Documentos importantes vieram à luz ultimamente, mostrando que o governo sérvio tinha conhecimento da conspiração. Nem o primeiro ministro nem qualquer dos seus colegas, porém, tomou medidas eficazes para impedir-lhe a execução ou, pelo menos, alertar o governo austríaco. Isto leva, naturalmente, a indagar dos

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motivos que levaram a agir os assassinos. O principal deles parece ter sido o plano de reorganização do império dos Habsburgos, que se sabia estar sendo arquitetado por Francisco Fernando. Esse plano, denominado trialismo, incluía uma proposta no sentido de transformar a Monarquia Dual numa monarquia tríplice. Além da Áustria alemã e da Hungria magiar, já então praticamente autônoma, haveria uma terceira unidade semi-independente composta pelos eslavos. Tal coisa era exatamente o que os nacionalistas sérvios não desejavam. Temiam que, se tal acontecesse, os seus consanguíneos croatas e eslovenos se conformassem com o domínio dos Habsburgos. Decidiram, portanto, eliminar Francisco Fernando antes que se tornasse imperador da Áustria-Hungria.

Ainda depois de terminada a guerra, pensava-se na Europa e nos Estados Unidos que o assassínio do arquiduque tivesse sido obra de bosníacos descontentes. Mas nas semanas que se seguiram imediatamente à tragédia as autoridades austríacas procederam a um inquérito que confirmou as suas suspeitas quanto à origem servia da conspiração. Por conseguinte, no dia 23 de julho enviaram ao governo sérvio um severo ultimato que continha onze exigências. Entre mitras coisas, a Sérvia devia fechar os jornais anti-austríacos, liquidar as sociedades patrióticas secretas, excluir do governo e do exército todas as pessoas culpadas de propaganda anti-austríaca e aceitar a colaboração das autoridades austríacas na eliminação do movimento subversivo contra o império dos Habsburgos. A 25 de julho, dentro do prazo-limite de quarenta e oito horas, o governo sérvio transmitiu a sua resposta. Era um documento ainda hoje sujeito a variadas interpretações. Do total de onze exigências, somente uma era categoricamente repelida e cinco eram aceitas sem reservas. O chanceler alemão considerou-o como uma capitulação quase completa e o Kaiser afirmou que todos os motivos para a guerra tinham desaparecido. A Áustria, no entanto, declarou insatisfatória a resposta servia, rompeu as relações diplomáticas e mobilizou parte do seu exército. Os próprios sérvios não parecem ter nutrito ilusões de agradar à Áustria, visto que três horas antes de transmitir a resposta haviam dado ordem de mobilizar as tropas.

Neste ponto, a atitude de outras nações assume extrema importância. Com efeito, algum tempo antes disso, diversos governantes de grandes potências haviam assumido atitudes bem definidas. Já em 18 de julho Sazonov, ministro russo do exterior, avisara a Áustria de que a Rússia não toleraria qualquer tentativa de humilhar a Sérvia. Ao tomar conhecimento do ultimato à Sérvia o governo russo ordenou uma série de preparativos para pôr o país em pé de guerra. Foram canceladas as licenças dos oficiais, recolhidas as tropas aos quartéis, acumularam-se estoques de provisões e declarou-se o estado de guerra nos setores limítrofes à Alemanha e à Áustria. Em 24 de julho Sazonov disse ao embaixador alemão: “Eu não odeio a Áustria, desprezo-a. A Áustria está procurando um pretexto para engolir a Sérvia, mas nesse caso a Rússia fará guerra à Áustria”. O governo de Moscou contava com o apoio da França ao assumir essa atitude beligerante. Mais ou menos a 20 de julho Raymond Poincaré, que se tornara presidente da República Francesa, fêz uma visita a S. Petersburgo. Insistiu com Sazonov para que “fosse firme” e evitasse qualquer compromisso capaz de resultar em perda de prestígio para a Triple Entente. Preveniu o embaixador austríaco de que “a Sérvia

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contava com amigos sinceros entre o povo russo e a Rússia tinha uma aliada, a França”.

A atitude da Alemanha nesses dias críticos foi aparentemente mais moderada. Se bem que o kaiser ficasse chocado e enfurecido com o assassínio do arquiduque, o seu governo não formulou qualquer ameaça nem tomou deliberações especiais para a guerra senão depois de dar motivo para alarma à atitude da Rússia. Infelizmente, porém, tanto o kaiser como o chanceler von Bethmann-Hollweg adotaram a premissa de que uma punição severa deveria ser aplicada sem mais delongas à Sérvia. Esperavam com isso colocar as potências diante de um fato consumado e evitar assim uma guerra geral. Em 30 de junho o kaiser declarou: “Agora ou nunca! Devemos pôr tudo em pratos limpos com os sérvios, e isso já”. A 6 de julho Bethmann-Hollweg prestou ao ministro das relações exteriores da Áustria um compromisso que foi interpretado por este último como um cheque em branco. O governo austríaco era informado de que o kaiser “estaria ao lado da Áustria, de acordo com as obrigações assumidas em tratado e com a sua antiga amizade”. Ao dar essa garantia, Bethmann e o seu imperial chefe estavam jogando com a esperança de que a Rússia não interviesse em auxílio da Sérvia, ficando assim a disputa limitada ao âmbito local. Mais tarde, quando descobriram ser vã tal esperança, procuraram conter a Áustria. Tentaram persuadi-la a que limitasse sua ação a uma ocupação temporária de Belgrado, como garantia de que os termos do ultimato seriam observados. Como isso falhasse, Bethmann chegou até a ameaçar a Áustria com o rompimento da aliança caso Berchtold persistisse em não aceitar os seus conselhos. Todos esses esforços, porém, chegaram muito tarde, pois a guerra entre a Áustria e a Sérvia já havia começado.

A Áustria declarou guerra à Sérvia em 28 de julho de 1914. Por um efêmero e ansioso momento, houve a tênue possibilidade de circunscrever-se o conflito. Foi ele, todavia, rapidamente transformado numa guerra de maiores proporções pela ação da Rússia. A 29 de julho, Sazonov e a clique militar persuadiram o czar a emitir uma ordem de mobilização geral, não só contra a Áustria mas também contra a Alemanha. Antes, porém, que fosse a ordem executada, Nicolau mudou de idéia ao receber um apelo urgente do kaiser para que o ajudasse a preservar a paz. A 30 de julho, Sazonov e o general Tatichtchev trataram de fazer com que o czar mudasse mais uma vez de idéia. Durante mais de uma hora procuraram convencer o relutante autocrata de que todo o sistema militar deveria ser posto em movimento. Por fim, o general Tatichtchev comentou: “Sim, é difícil tomar uma decisão”, ao que Nicolau retrucou, com mostras de irritação: “Eu decidirei”, e assinou a ordem de mobilização imediata. Sazonov correu ao telefone para comunicar a notícia ao chefe do estado-maior. Dessa vez tinham sido tomadas todas as precauções para evitar um arrependimento de última hora por parte do czar. Providenciara-se para que a ordem fosse imediatamente telegrafada a todo o país e para que o chefe do estado-maior quebrasse o seu telefone e se sumisse durante todo o dia. Na manhã seguinte, numa remota aldeia siberiana, um viajante inglês foi despertado por uma comoção diante da sua janela, seguida pela alvoroçada pergunta de um camponês: “Sabe da notícia? Estamos em guerra”.

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Já não havia possibilidade de recuar diante do abismo. Os alemães estavam alarmados com os preparativos de guerra dos russos. A última medida tomada pelo governo do czar tornava a situação muito mais crítica, uma vez que nos círculos militares alemães, assim como nos franceses e russos, mobilização geral significava guerra. A França menos que o czar pudesse de algum modo suspender o processo depois de iniciado, tanto a Alemanha como a Áustria seriam obrigadas a pegar em armas contra a Rússia. E, se a Alemanha entrasse no conflito, a França indubitavelmente faria o mesmo. Ao saber que o decreto do czar tinha sido posto em execução o governo do kaiser expediu um ultimato a S. Petersburgo, exigindo que a mobilização cessasse dentro de doze horas. Na tarde de 1.° de agosto o embaixador alemão solicitou uma entrevista com o ministro russo das relações exteriores. Rogou a Sazonov que desse uma resposta favorável ao ultimato alemão. Sazonov respondeu que a mobilização não podia ser detida, mas que a Rússia estava disposta a entrar em negociações. O embaixador reiterou o seu pedido uma segunda e uma terceira vez, acentuando as terríveis consequências de uma resposta negativa. Sazonov terminou dizendo: “Não tenho outra resposta para lhe dar.” O embaixador entregou então uma declaração de guerra ao ministro e, sem poder conter as lágrimas, retirou-se da sala. Nesse meio tempo, os ministros do kaiser tinham também enviado um ultimato à França, exigindo que ela desse a conhecer as suas intenções. O primeiro ministro Viviani respondeu, em 1.° de agosto, que a França agiria “de acordo com os seus interesses” e ordenou imediatamente a mobilização. Em 3 de agosto a Alemanha declarou guerra à França.

Todos os olhares voltaram-se então para a Inglaterra. Que faria ela agora, ao ver que os dois outros membros da Triple Entente se haviam atirado à guerra? Durante algum tempo, depois de ter-se tornado crítica a situação no Continente, a Inglaterra vacilou. Tanto o gabinete como a nação estavam divididos. Sir Edward Grey e Winston Churchill advogavam uma atitude resoluta em favor da França, com o recurso às armas se os interesses britânicos fossem ameaçados. Alguns de seus colegas, porém, encaravam com pouco entusiasmo uma intervenção da Inglaterra nas disputas continentais. Por todo o país havia também uma oposição considerável contra a participação em conflitos que não fossem de interesse vital para a Inglaterra. Conquanto Grey tivesse em várias ocasiões animado os russos e franceses a contar com o auxílio inglês, só depois de ter recebido promessas de apoio dos líderes do partido conservador é que tomou compromissos formais. Em 2 de agosto informou os franceses de que “se a esquadra alemã entrasse na Mancha ou cruzasse o Mar do Norte para realizar operações hostis contra a costa ou os navios franceses, a esquadra britânica dispensaria toda a proteção que estivesse a seu alcance”.

Diante dessa promessa feita à França, era difícil acreditar que a Inglaterra pudesse permanecer muito tempo fora da guerra, mesmo que a neutralidade da Bélgica não tivesse sido violada. Com efeito, ainda em 29 de julho Sir Edward Grey advertira o embaixador alemão em Londres, de maneira “amistosa e privada”, de que se a França fosse arrastada ao conflito a Inglaterra lhe seguiria os passos. Não obstante, foi a invasão do território belga que forneceu o motivo imediato para que a Inglaterra desembainhasse a espada. Em 1839, juntamente com as outras grandes potências, assinara ela um tratado garantindo a neutralidade da Bélgica. Além disso, havia um século que a Grã-Bretanha

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seguia a política de impedir o dominio dos Países-Baixos, que lhe ficavam fronteiros no outro lado do estreito, por qualquer nação poderosa do Continente. Mas o famoso Plano Schlieffen dos alemães dispunha que a França fosse atacada pela Bélgica. Por conseguinte, pediram ao governo belga permissão para enviar tropas através do seu território, prometendo respeitar a independência da nação e indenizar os belgas de todas as depredações causadas às suas propriedades. Como a Bélgica recusasse, as tropas alemãs começaram a atravessar a fronteira. O ministro britânico do Exterior compareceu imediatamente ao Parlamento e declarou que o seu país devia acorrer em defesa do direito internacional, protegendo as pequenas nações. Argumentou que a paz em tais circunstâncias seria um crime moral e que a Inglaterra perderia o respeito dos países civilizados se deixasse de cumprir os seus compromissos de honra nessa ocasião. Os aplausos com que foi recebido o seu discurso na Câmara dos Comuns não lhe deixaram dúvidas quanto à atitude desse órgão. No dia seguinte, 4 de agosto, o gabinete resolveu mandar um ultimato a Berlim, exigindo que a Alemanha respeitasse a neutralidade belga e desse até a meia-noite uma resposta satisfatória. Os ministros do kaiser não tiveram outra resposta a dar senão que se tratava de uma necessidade militar e que era questão de vida ou de morte para a Alemanha poderem os seus soldados alcançar a França pelo caminho mais fácil e mais rápido. Quando o relógio bateu meia-noite, estavam em guerra a Inglaterra e a Alemanha.

Outras nações foram rapidamente lançadas no terrível sorvedouro. Em 7 de agosto os montenegrinos juntaram-se aos seus consanguíneos sérvios na luta contra a Áustria. Duas semanas depois o Japão declarou guerra à Alemanha, em parte devido a sua aliança com a Inglaterra, mas sobretudo com o objetivo de conquistar as possessões alemãs do Extremo-Oriente. Em 1.° de agosto a Turquia negociou uma aliança com a Alemanha e em outubro iniciou o bombardeio dos portos russos do Mar Negro. Destarte, a maioria das nações positivamente ligadas por alianças ingressaram no conflito em sua fase inicial, quer de um lado, quer do outro. A Itália, no entanto, embora ainda fosse oficialmente um membro da Tríplice Aliança, proclamou a sua neutralidade. Insistiam os italianos em que a Alemanha não estava fazendo uma guerra defensiva e, por conseguinte, não tinham a obrigação de auxiliá-la. Nada diziam, está claro, sobre o seu acordo secreto com a França, firmado em 1902. A Itália manteve-se neutra até maio de 1915, quando, seduzida por promessas secretas da cessão de territórios austríacos e turcos, lançou-se à guerra ao lado da Triple Entente.

O tumulto e a excitação que acompanharam o início da grande hecatombe de 1914 há muito que se extinguiram, mas continua de pé a importante questão de saber-se quem foi o responsável pela horrível conflagração. Os historiadores que examinaram os fatos declaram com unanimidade quase absoluta que não se pode considerar como culpada nenhuma nação em particular. A culpa deve ser dividida entre a Sérvia, a Áustria, a Rússia, a Alemanha, a França e, talvez, a Inglaterra e a Itália também. É impossível determinar, todavia, qual a parte que cabe a cada um desses países. Parece justo afirmar que nenhuma das grandes potências desejava realmente uma guerra geral, mas a política adotada por algumas delas tornavam tal guerra

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inevitável. A Alemanha, por exemplo, considerou essencial aos seus interesses apoiar a Áustria na temerária decisão desta de punir a Sérvia, embora estivesse lançando com isso um desafio à Rússia. Os alemães aparentemente esperavam que a Rússia negasse ouvidos ao desafio, mas não tinham certeza e estavam disposto a jogar no escuro, com risco de provocar uma guerra geral. Os próprios russos talvez não tivessem nenhuma intenção de guerrear a Alemanha ou mesmo a Áustria, mas não vacilaram em ameaçar o status quo conspirando para obter o controle dos Estreitos, nem em favorecer o nacionalismo sérvio ao ponto de fazer perigar a segurança da Áustria-Hungria. Do mesmo modo a França, no tocante à sua política marroquina, visava objetivos que sem dúvida lhe pareciam razoáveis, mas que não poderiam ser alcançados senão à custa dos interesses alemães. E assim por diante. A ambição econômica e a preocupação com a segurança ou com a grandeza nacional levaram muitos estados europeus a adotar linhas de ação que colocaram o continente à beira da guerra. A guerra ern si mesma não era o objetivo, mas foi o resultado inevitável quando se tornou impossível conciliar as ambições nacionais antagônicas.

Considerar a Grande Loucura de 1914 como obra de um único indivíduo é ainda mais absurdo do que encará-la como a conspiração diabólica de uma só nação. Atualmente está mais que provado que o kaiser, tantas vezes representado como o Anjo das Trevas, foi menos culpado do que geralmente se crê. É verdade que gostava de fazer discursos jactanciosos, gabando-se, por exemplo, de ter permanecido ao lado da Áustria, na sua “armadura resplandecente”, por ocasião da crise da Bósnia e referindo-se a si mesmo como o “Altíssimo”. Mas o seu controle sobre o governo alemão diminuía de mês para mês. Raramente consagrava mais de duas horas por dia aos negócios públicos e em geral fazia apenas uma vaga idéia do que estava ocorrendo. Os verdadeiros negócios de estado eram dirigidos pelos seus ministros. Nenhum destes, porém, pode ser acusado de planejar deliberadamente a guerra. O chanceler von Bethmann-Hollweg foi tomado de profunda prostração nervosa nos trágicos dias finais. Tinha sido um dos últimos estadistas europeus a abandonar as esperanças de paz. Quando por fim compreendeu que a horrível catástrofe já não podia ser evitada, por pouco não enlouqueceu. Outros estadistas, talvez, mostraram mais sangue-frio, mas a maioria deles simulou, pelo menos, tentar impedir o conflito.

Na realidade, a Primeira Guerra Mundial foi um movimento de proporções demasiado vastas para ter sido causado em seu todo por planos individuais. Conquanto a maíor parte dos políticos então no poder tenham sido de certo modo responsáveis, a culpa que lhes coube consistia antes da estupidez do que nas intenções criminosas. Provavelmente, poucos deles desejaram de fato a guerra, mas deixaram-se arrastar a situações difíceis e tiveram de recorrer a expedientes perigosos para evitar uma perda de prestígio. A maioria acreditava, como acreditam ainda hoje os estadistas, na fanfarronada e na ameaça como métodos de forçar um governo rival a ceder. Por vezes tais táticas surtiam efeito, como em 1909, quando o chanceler von Bulow fêz a Rússia recuar da posição assumida na crise da Bósnia. Mesmo nas circunstâncias maís favoráveis, porém, o blefe entre nações está repleto de tremendos riscos. Em grande parte, também, os indivíduos que ocupavam os postos de mando em 1914 não passaram de instrumentos de forças muito mais poderosas que eles. Sazonov e Izvolski não criaram o pan-eslavismo na Rússia, do mesmo modo que o movimento de revanche na França não

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foi invenção de Poincaré. A Primeira Guerra Mundial foi um produto do chauvinismo, de ambições de prestígio nacional, da competição capitalista pelos mercados e por novos campos de investimento, dos ódios seculares entre as nações e dos temores suscitados pelas crises e pelas corridas armamentistas. Quando tais fatores se combinam para governar a constelação dos acontecimentos, primeiros-ministros e ministros do Exterior pouco mais são do que meros joguetes do destino.

Num sentido ainda mais amplo, a conflagração de 1914 foi a consequência virtualmente inevitável do sistema de política de poder que havia cerca de trezentos anos vinha fazendo a infelicidade do continente europeu. Esse sistema baseava-se na doutrina de que cada estado é absolutamente soberano e, por conseguinte, tem o direito de seguir a política exterior que parecer mais adequada aos seus interesses. Se um estado, a fim de obter matérias-primas ou melhorar as suas defesas, achava conveniente lançar as suas garras sobre o território de um vizinho fraco, fazia-o sem trepidar e não havia ninguém para lhe negar tal direito. A maioria das grandes nações da Europa procurava conseguir a segurança para si estabelecendo uma espécie de equilíbrio de forças. Infelizmente, porém, cada uma tentava inclinar a balança em seu favor, em geral formando alianças para depois fortalecê-las ao máximo. Isso conduzia, entre as nações não incluídas nessas alianças, ao receio de serem cercadas, à formação de contra-alianças e aos esforços para anular qualquer coisa que se assemelhasse a uma liga de inimigos. Pelas alturas de 1914 as nações do mundo se encontravam quase num estado de natureza, sem nenhuma autoridade eficaz para refreá-las ou para julgar-lhes as contendas. Era, virtualmente, uma condição de anarquia internacional.

3.6 Os 14 pontos de Wilson.

Os 14 Pontos de Wilsonsetembro 20, 2009

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ESTADOS UNIDOS PROPÕE UM ACORDO DE PAZ

O presidente americano Woodrow Wilson apresentou no dia 18 de Janeiro deste ano de 1918 um possível acordo de paz para evitar novos conflitos e que não humilhasse e nem punisse severamente os países da Aliança. Assim  o presidente Wilson apresentou um tratado que ficou conhecido como “Os 14 pontos de Wilson”, que são:

1) Inaugurar pactos de paz, depois dos quais não deverá haver acordos diplomáticos secretos, mas sim diplomacia franca e sob os olhos públicos;

2) Liberdade absoluta de navegação nos mares e águas fora do território nacional, tanto na paz quanto na guerra, com exceção dos mares fechados completamente ou em parte por ação internacional em cumprimento de pactos internacionais;

3) Abolição, na medida do possível, de todas as barreiras econômicas entre os países e o estabelecimento de uma igualdade das condições de comércio entre todas as nações que consentem com a paz e com a associação multilateral;

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4) Garantias adequadas da redução dos armamentos nacionais até o menor nível necessário para garantir a segurança nacional;

5) Um reajuste livre, aberto e absolutamente imparcial da política colonialista, baseado na observação estrita do princípio de que a soberania dos interesses das populações colonizadas deve ter o mesmo peso dos pedidos equiparáveis das nações colonizadoras;

6) Retirada dos Exércitos do território russo e solução de todas as questões envolvendo a Rússia, visando assegurar melhor cooperação com outras nações do mundo. O tratamento dispensado à Rússia por suas nações irmãs será o teste de sua boa vontade, da compreensão de suas necessidades como distintas de seus próprios interesses e de sua simpatia inteligente e altruísta;

7) Bélgica, o mundo inteiro concordará, precisa ser restaurada, sem qualquer tentativa de limitar sua soberania a qual ela tem direito assim como as outras nações livres;

8- Todo território francês deve ser libertado e as partes invadidas restauradas. O mal feito à França pela Prússia, em 1871, na questão da Alsácia e Lorena, deve ser desfeito para que a paz possa ser garantida mais uma vez, no interesse de todos;

9) Reajuste das fronteiras italianas, respeitando linhas reconhecidas de nacionalidade;

10) Reconhecimento do direito ao desenvolvimento autônomo dos povos da Áustria-Hungria, cujo lugar entre as nações queremos ver assegurado e salvaguardado;

11) Retirada das tropas estrangeiras da Romênia, da Sérvia e de Montenegro, restauração dos territórios invadidos e o direito de acesso ao mar para a Sérvia;

12) Reconhecimento da autonomia da parte da Turquia dentro do Império Otomano e a abertura permanente do estreito de Dardanelos como passagem livre aos navios e ao comércio de todas as nações, sob garantias internacionais;

13) Independência da Polônia, incluindo os territórios habitados por população polonesa, que devem ter acesso seguro e livre ao mar;

14) Criação de uma associação geral sob pactos específicos para o propósito de fornecer garantias mútuas de independência política e integridade territorial dos grandes e pequenos Estados.

Porém esse tratado foi recusado, pois acusaram de estar sendo muito leve nas punições contra os países da Aliança. O presidente ainda negocia com os demais países vencedores sobre uma possível reformulação.

ESTADOS UNIDOS LANÇAM TRATADO CONTRA A ALIANÇA

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Presidente Woodrow Wilson apresentou um tratado, “Os 14 Pontos de Wilson”, que seria um possível acordo de paz mas com algumas punições aos países ligados à Aliança. Entre elas destacam a redução dos exércitos para um número mínimo que garanta a segurança nacional, prejudicando muito a Alemanha e o Império Austro-Húngaro que devem reduzir seus exércitos; a retirada dos exércitos dos territórios dos países pertencentes à Entente e de outros territórios conquistados como na Rússia e França e ainda reconhecimento de alguns países como a Turquia e Polônia.

Os jornais da Entente classificam esse tratado como muito leve em relação às punições aos países da Aliança. Como se não bastasse perder a guerra, ainda vamos ter que passar por humilhações e entregar algumas das nossas conquistas. Por acharem que o tratado possui punições leves, acabaram recusando-o, prometendo uma reformulação com o intuito de aumentar a punição aos nossos países.

3.7 A Paz de Versalhes e a ordem mundial resultante (1919-1939).

Tratado de Versalhes (1919)

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Tratado de Versalhes

Tratado de Paz entre os aliados e Potências Associadas e a Alemanha

Página frontal da versão em língua inglesa

Assinado 28 de junho de 1919

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Local Versalhes, França

Em vigor 10 de janeiro de 1920

Condição Ratificação pela Alemanha e as três principais Potências Associadas

Signatários  Reich Alemão

 Império Britânico

 França

 Itália

 Japão

 Estados Unidos

outras potências aliadas[Expandir]

Depositário Governo francês

Línguas Francês e inglês

Texto original (Wikisource)

Treaty of Versailles

O Tratado de Versalhes (1919) foi um tratado de paz assinado pelas potências europeias que encerrou oficialmente a Primeira Guerra Mundial. Após seis meses de negociações, em Paris, o tratado foi assinado como uma continuação do armistício de Novembro de 1918, em Compiègne, que tinha posto um fim aos confrontos.1 O principal ponto do tratado determinava que a Alemanha aceitasse todas as responsabilidades por causar a guerra e que, sob os termos dos artigos 231-247, fizesse reparações a um certo número de nações da Tríplice Entente.

Os termos impostos à Alemanha incluíam a perda de uma parte de seu território para um número de nações fronteiriças, de todas as colônias sobre os oceanos e sobre o continente africano, uma restrição ao tamanho do exército e uma indenização pelos prejuízos causados durante a guerra. A República de Weimar também aceitou reconhecer a independência da Áustria. O ministro alemão do

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exterior, Hermann Müller, assinou o tratado em 28 de Junho de 1919.1 O tratado foi ratificado pela Liga das Nações em 10 de Janeiro de 1920. Na Alemanha o tratado causou choque e humilhação na população, o que contribuiu para a queda da República de Weimar em 1933 e a ascensão do Nazismo.

No tratado foi criada uma comissão para determinar a dimensão precisa das reparações que a Alemanha tinha de pagar. Em 1921, este valor foi oficialmente fixado em 33 milhões de dólares. Os encargos a comportar com este pagamento são frequentemente citados como a principal causa do fim da República de Weimar e a subida ao poder de Adolf Hitler, o que inevitavelmente levou à eclosão da Segunda Guerra Mundial apenas 20 anos depois da assinatura do Tratado de Versalhes.

Índice [esconder] 

1 Condições o 1.1 Cedências territoriais o 1.2 Reparações de guerra e cláusulas de culpa o 1.3 A posição dos Estados Unidos

2 As negociações 3 Estrutura do Tratado 4 Ver também 5 Referências 6 Bibliografia 7 Ligações externas

Condições[editar | editar código-fonte]

O tratado tinha criado Liga das Nações, um dos objetivos maiores do presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson. A Liga das Nações pretendia arbitrar disputas internacionais para evitar futuras guerras. Só quatro dos chamados Quatorze Pontos de Wilson foram concretizados, já que Wilson era obrigado a negociar com Clemenceau, Lloyd George e Orlando alguns pontos para conseguir a aprovação para criação da Liga das Nações.1 A visão mais comum era que a França de Clemenceau era a mais vigorosa na luta por uma represália contra a Alemanha, já que grande parte da guerra tinha sido no solo francês.

Cedências territoriais[editar | editar código-fonte]

Outras cláusulas incluíam a perda das colônias alemãs e dos territórios que o país tinha anexado ou invadido num passado recente-:1

Alsácia-Lorena , os territórios cedidos a Alemanha no acordo de Paz assinado em Versalhes em 26 de Janeiro de 1871 e o Tratado de Frankfurt em 10 de Maio de 1871, seriam devolvidos a França (área 14 522 km², 1 815 000 habitantes, 1905).

A Sonderjutlândia seria devolvida a Dinamarca se assim fosse decidido por um plebiscito na região (toda a região da Schleswig-Holstein teve o

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plebiscito, sendo a Sonderjutlândia a única região a se decidir separar)(3984 km², 163 600 habitantes, 1920).

As províncias de Posen e Prússia Oriental, que a Prússia Ocidental tinha conquistado nas Partições da Polônia eram devolvidas após a população local ter ganho a liberdade na Revolução da Grande Polônia (área 53 800 km², 4 224 000 habitantes, 1931).

Hlučínsko , região da Alta Silésia, para a Checoslováquia (316 ou 330 km² e 49 000 habitantes)

Parte leste da Alta Silésia para a Polônia (área 3214 km², 965 000 habitantes) apesar do plebiscito ter apontado que 60% população preferia ficar sob domínio da Alemanha.

As cidades alemãs de Eupen e Malmedy para a Bélgica. A região de Soldau da Prússia Oriental a Polônia (área de 492 km²). Parte setentrional da Prússia Ocidental, Klaipėda, sob o controle francês,

depois transferida para a Lituânia. Na parte oriental da Prússia Ocidental e na parte sul da Prússia Oriental,

Vármia e Masúria, pequenas partes para a Polônia. A província de Sarre para o comando da Liga das Nações durante 15 anos. A cidade de Danzig (hoje Gdańsk, Polônia com o delta do Rio Vístula foi

transformada na Cidade Livre de Danzig sobre o controlo da Liga das Nações (área de 1893 km², 408 000 habitantes, 1929).

O artigo 156 do tratado transferiu as concessões de Shandong, da China para o Japão ao invés de retornar a região à soberania chinesa. O país considerou tal decisão ultrajante o que levou a movimentos como o Movimento de Quatro de Maio, que influenciou a decisão final chinesa de não aderir ao Tratado de Versalhes. A República da China declarou o fim da guerra contra a Alemanha em Setembro de 1919 e assinou um tratado em separado com a mesma em 1921.

Reparações de guerra e cláusulas de culpa[editar | editar código-fonte]Ficheiro:WilsonVersailles.jpg

Woodrow Wilson com os comissários americanos de paz.

Em seu livro sabrina lima escreve:2

No início, França e Bélgica argumentavam que o dano direto deveria receber prioridade em qualquer distribuição de reparações. No norte francês, altamente industrializado, os alemães levaram tudo o que queriam para o uso próprio e destruíram muito do que sobrara. Mesmo batendo em retirada em 1918, as forças alemãs encontraram tempo para destruir as minas de carvão mais importantes da França.

O artigo 231 do Tratado (a cláusula da 'culpa de guerra') responsabilizou unicamente a Alemanha por todas as 'perdas e danos' sofridas pela Tríplice Entente durante a guerra obrigando-a a pagar uma reparação por tais atos. O montante total foi decidido entre a Tríplice Entente na Comissão de Reparação. Em Janeiro de 1921 esse número foi oficializado em 269 bilhões de marcos, dos quais

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226 bilhões como principal, e mais 12% do valor das exportações anuais alemãs - um valor que muitos economistas consideraram ser excessivo. Mais tarde, naquele ano, a dívida foi reduzida para 132 biliões, o que ainda era considerado uma soma astronômica para os observadores germânicos.

Os problemas econômicos que tal pagamento trouxe, e a indignação alemã pela sua imposição são normalmente citados como um dos mais significantes factores que levaram ao fim da República de Weimar e ao início da ditadura de Adolf Hitler, que levou à II Guerra Mundial. Alguns historiadores, como Margaret Olwen MacMillan discordam desta afirmação, popularizada por John Maynard Keynes.

A posição dos Estados Unidos[editar | editar código-fonte]

Os Estados Unidos não ratificaram o tratado. As eleições para o Senado em 1918 deram a vitória ao Partido Republicano (49 contra 47 lugares), que assumiu o controlo do Senado e por duas vezes bloqueou a ratificação (a segunda vez em 19 de março de 1920), favorecendo o isolamento do país opondo-se à Sociedade das Nações. Outros senadores queixaram-se da quantidade excessiva de reparações a que a Alemanha era obrigada. Como resultado, os Estados Unidos nunca aderiram à Sociedade das Nações e negociaram em separado uma paz com a Alemanha: o Tratado de Berlim de 1921, que confirmou a pagamento de indenizações e de outras disposições do Tratado de Versalhes, mas excluiu explicitamente todos os assuntos relacionados com a Sociedade das Nações.

As negociações[editar | editar código-fonte]

Assinatura do Tratado na Sala dos Espelhos do Palácio de Versalhes.

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As

A Europa em 1920

1. República Portuguesa 2. Reino de Espanha 3. Principado de Andorra 4. Terceira República

Francesa5. Reino de Itália 6. Suíça 7. Reino da Bélgica 8. Reino dos Países Baixos 9. República de Weimar 10. Reino da Dinamarca e da

Islândia11. Primeira República

Austríaca12. República Checoslovaca 13. Segunda República

Polaca14. Silésia 15. Reino da Hungria 16. Reino da Jugoslávia 17. Reino da Roménia 18. Reino da Albânia 19. Grécia 20. Reino da Bulgária

21. Ucrânia 22. União Soviética 23. Lituânia Central 24. República da Letónia 25. Constantinopla 26. Turquia 27. República da Finlândia 28. Reino da Suécia 29. Reino da Noruega 30. Império Britânico 31. Rif 32. Reino de Marrocos 33. Argélia (colónia francesa)34. Tunísia (protectorado

francês)35. Tripolitânia (Líbia)36. Egito 37. República de San Marino 38. Vaticano (Reino de Itália)39. Cidade Livre de Danzig 40. Grão-Ducado do

Luxemburgo41. República Democrática da

Geórgia

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negociações entre as potências aliadas começaram em 18 de Janeiro, no Salão dos Relógios no Ministério dos Negócios Estrangeiros francês, no Quai d'Orsay, em Paris. No início participaram nas negociações 70 delegados representado 27 nações.3

Tendo sido derrotados, a Alemanha, a Áustria e a Hungria (estados que sucederam à Áustria-Hungria) foram excluídas das negociações. A República Socialista Federativa Soviética da Rússia também foi excluída porque tinha negociado o Tratado de Brest-Litovsk, que estabelecia uma paz separada com a Alemanha em 1918, graças ao qual a Alemanha ganhou uma grande faixa de terras e de recursos à Rússia.1

Até Março de 1919, as extremamente complexas negociações das condições de paz foram conduzidas através de reuniões periódicas do "Conselho dos Dez" (líderes de governo e ministros dos Negócios Estrangeiros), composto pelos cinco grandes vencedores (Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Itália e Japão). Uma vez que este organismo revelou ser demasiado pesado e formal para uma tomada eficaz de decisões, o Japão e os ministros dos Negócios Estrangeiros deixaram as principais reuniões, de modo que apenas os ditos "Quatro Grandes" permaneceram.4 Após as suas reivindicações territoriais para a região de Fiume (hoje Rijeka) terem sido rejeitadas, o primeiro-ministro da Itália, Vittorio Orlando, deixou as negociações (apenas voltaria para a assinatura em Junho). As condições finais foram determinadas pelos líderes das "três grandes" nações: o primeiro-ministro britânico David Lloyd George, o primeiro-ministro francês Georges Clemenceau, e o presidente dos EUA, Woodrow Wilson.

O Japão tentou no início inserir uma cláusula nos artigos referentes à constituição da Sociedade das Nações contra a discriminação baseada na raça ou na nacionalidade, mas teve de retirar a pretensão devido sobretudo à atitude da Austrália.5

Em Versalhes, era difícil chegar a posições comuns porque os conferencistas defendiam objetivos que entravam em conflito entre si. O resultado foi chamado um "compromisso infeliz".6 Por exemplo, enquanto os líderes americanos e britânicos quiseram chegar a uma paz justa e a um acordo razoável, os interesses da França apelavam a vastíssimas indenizações, já que a maior parte das batalhas e destruição se deram em solo francês, além de a França ter perdido cerca de 1 500 000 combatentes e 400 000 civis.

3.8 A Liga das Nações.

Liga das Nações ou Sociedade das Nações  era o nome de uma organização internacional criada em 1919 e autodissolvida em 1946, e que tinha como objetivo reunir todas as nações da Terra e, através da mediação e arbitragem entre as mesmas em uma organização, manter a paz e a ordem no mundo inteiro, evitando assim conflitos desastrosos como o da guerra que recentemente devastara a Europa.

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Instalada em janeiro de 1919, pelo Tratado de Versalhes, o mesmo que colocava termo à Primeira Guerra, sua sede era Genebra, cidade suíça. A Liga das Nações era organizada de uma maneira bem semelhante à da atual ONU, sendo composta de um Secretariado, Assembleia Geral, e um Conselho Executivo (semelhante ao Conselho de Segurança atual da ONU).

O Secretariado Permanente, era composto de um corpo de especialistas em diversos assuntos de relações internacionais e capitaneado por um Secretário Geral, como na ONU de hoje.

Já a Assembleia Geral compreendia representantes de todos os países que integravam o sistema da Liga. O órgão reunia-se anualmente, e cada um tinha direito a um voto.

No Conselho Executivo estavam as potências vitoriosas da Primeira Guerra Mundial, a saber: Grâ-Bretanha, França, Itália, Japão e mais tarde Alemanha e União Soviética. Assim como no sistema atual da ONU, membros não permanentes compunham o tal Conselho Executivo por determinado período, mediante voto, cedendo sua posição mais tarde a outro país escolhido, realizando assim um rodízio permanente.

Os Estados Unidos não participaram da Liga das Nações durante toda a existência da organização, apesar do presidente norte-americano Woodrow Wilson (de 1913 a 1921) ter alimentado fortemente a ideia de sua criação. O Congresso norte-americano, por entender que os EUA, ao aderir à Liga das Nações estaria se desviando de sua política externa tradicional, e por isso, vetou a entrada de seu país na organização.

Importante salientar que diferentemente da ONU, a Liga das Nações não dispunha de qualquer corpo militar (denominada "Força de Paz") destinado a prover e sustentar situações de paz em áreas de conflito, por isso, sua ferramenta de coerção baseava-se em sanções econômicas e militares.

Infelizmente, ante o fracasso em sua missão mais importante, a de impedir novo conflito mundial, a Liga das Nações acabou por ser dissolvida e reformada naquilo que hoje vemos como a ONU, com os princípios básicos mantidos, porém com o cuidado de evitar os equívocos que levaram à inefetividade da Liga.

Ainda importante mencionar que o Brasil foi membro fundador da Liga, tendo porém deixado a instituição em situação embaraçosa, de péssima memória para os representantes do país no exterior. Ao pleitear, durante o governo do presidente Artur Bernardes, por uma vaga permanente no Conselho Executivo (assim como o país hoje pleiteia uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU), o Brasil forçou sua admissão por meio da recusa em aceitar a entrada permanente da Alemanha para o mesmo Conselho. Todos os outros países voltaram-se contra o Brasil, o país ficou isolado dentro da organização, e logo depois, acabou por abandonar a organização, em 1926.

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3.9 A “teoria dos dois campos” e a coexistência pacífica.

É conhecida como "Teoria dos dois campos" a fórmula geopolítica idealizada por Andrei Zdanov, político soviético e ideólogo do stalinismo, que foi utilizada como pretexto para que o Partido Comunista Soviético dinamizasse sua influência ante os países do Leste Europeu, tornando-os assim "satélites" soviéticos. Consistia tal teoria ainda numa resposta à política norte-americana pós-guerra de distanciamento e hostilidade aos comunistas, especialmente após o discurso de Winston Churchill em Fulton, Missouri, Estados Unidos (de onde surgiu a famosa expressão "Cortina de Ferro") além da iniciativa do Plano Marshall, que acabou deixando de fora os países do bloco socialista, adicionando-se a tal conjuntura as ideias da chamada "Doutrina Truman", que claramente esboçavam uma política de isolamento em relação à crescente influência soviética na Europa e no extremo oriente.

A Teoria dos Dois Campos é lançada em Szklarska Poreba, na Polônia, por ocasião da constituição do Kominform (Birô de Informação Comunista), a 22 de setembro de 1947, sendo uma réplica frontal ao Plano Marshall de auxílio à Europa.

De acordo com o que se pronunciou naquela reunião, todas as esferas da ação e pensamento estavam divididas em dois campos mutuamente excludentes, antagônicos e irreconciliáveis, sendo representados mundialmente pelas duas grandes potências, EUA e URSS. No primeiro bloco, estavam respectivamente os EUA sob liderança do Bloco Imperialista e Antidemocrático, enquanto que a União Soviética fazia parte do grupo Antiimperialista e Democrático. Do mesmo modo, nos campos da filosofia e da ciência, o ser humano estaria diante de dois caminhos, o do idealismo socialista ou o do materialismo capitalista, sendo estudiosos, pesquisadores e grandes mentes das artes e das ciências em todos os tempos analisados e vistos a partir de tal paradigma; no cenário político, estaríamos experimentando a luta entre imperialismo e socialismo. Enfim, todos os aspectos da existência humana não fugiam de tal dualidade, que traduzindo de modo simplificado, representavam o bem e o mal, e o cidadão soviético que não estivesse alinhado entusiasmadamente com os ideais socialistas, estava logicamente do outro lado, ou seja, o do mal.

Tal teoria servia assim, a dois propoósitos, sendo o primeiro o de manter toda a população soviética unida em torno da doutrina stalinista, abafando de modo eficaz qualquer tipo de revolta contra o governo, e por outro lado, servia para demonizar o outro lado, o dos norte-americanos, tornando-os inimigos a serem batidos pelo bem da sociedade proletária, facilitando a união dos comunistas espalhados pelo mundo em torno da URSS .

Apesar da Teoria dos dois campos estar presente de modo implícito na cultura popular produzida no ocidente durante muito tempo, ela entraria em decadência já na metade da década de 1950, e com a ascensão de Nikita Khrushchev como secretário-geral do partido comunista soviético. Este denunciaria Stalin e o seu chamado "culto da personalidade", iniciando uma outra forma de convivência com os países ocidentais, batizada de "coexistência pacífica".

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Bibliografia:

3.10 As causas da Segunda Guerra Mundial.

Causas da Segunda Guerra Mundial

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A Segunda Guerra Mundial foi decorrente de um conjunto de fatores de uma profunda crise económica e grandes tensões políticas e sociais em várias partes da Terra. Nesta conjuntura despontaram regimes autoritários, sobretudo na Alemanha, na Itália e no Japão. A ideologia expansionista principalmente destas potências levou-as a se apetrecharem militarmente. Nasceu, assim, um clima de tensão internacional que ficou marcado por várias ações belicistas.

Índice [esconder] 

1 Causas subjacentes 2 Causas na Europa 3 Causas na Ásia 4 Em busca do domínio mundial 5 Referências

Causas subjacentes[editar | editar código-fonte]

Nacionalismo: Uma das causas mais fortes teria sido o nacionalismo estudantil, fonte das agressões da Alemanha, Itália e Japão. Os regimes fascistas existentes à época, nestes países, foram sendo construídos com base num sentimento nacionalista. Adolf Hitler e o Partido Nazista usaram o sentimento nacionalista, na época bastante explícito na sociedade alemã, de maneira eficaz. Na Itália, a ideia da restauração de um Império Romano era atractivo para muitos habitantes deste país. No Japão, o nacionalismo, no

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sentido de dever e honra dedicados especialmente ao imperador, tinha já séculos de prevalência.

A crise político-econômica mundial do período entre-guerras. Militarismo . Disputa de territórios

Imperialismo; Disputas prévias não resolvidas; Um complexo sistema de alianças; Governos não-unificados; Atrasos e discrepâncias nas comunicações diplomáticas; Corrida armamentista; Planejamento militar rígido; Movimentos Ultra-nacionalistas, como o Irredentismo.

Causas na Europa[editar | editar código-fonte]

Tratado de Versalhes : O tratado pode ser visto como a causa indireta mais importante para o início da guerra. Culpando apenas a Alemanha e os seus Aliados pela Primeira Guerra Mundial, o tratado impôs, além de intensos pagamentos por parte da Alemanha aos Aliados, aplicando um forte golpe na economia do país e elevando a inflação a índices astronômicos, um irrecuperável sentimento de humilhação para os cidadãos alemães.

Primeira Guerra Mundial : Tida pelo então presidente Norte-Americano Woodrow Wilson como a guerra para acabar com todas as guerras, acabou não sendo bem assim principalmente para a Alemanha, que buscava meios de se vingar das humilhações sofridas pela derrota. Como disse Winston Churchill, Essa guerra é, de fato, uma continuação da anterior.

Lebensraum : A preocupação primária de Hitler durante esse período foi com a necessidade alemã de Lebensraum, ou seja, de espaço vital. Se o país devia passar de nação de segunda categoria para grande potência mundial, necessitava de espaço para se expandir. Se precisava comportar uma população em rápido crescimento e exigindo prosperidade, necessitava de terras para cultivo e matérias-primas para energia e indústria.

Grande Depressão . Política de apaziguamento . Antissemitismo . Polônia : Principalmente, com relação ao corredor polonês. Revolução Russa e o Anticomunismo. Itália : Uma aliança entre a Alemanha e a Itália é um dos objetivos essenciais

contidos no Mein Kampf. Os acontecimentos haviam mostrado quão úteis essas duas potências podiam ser uma à outra. A recusa alemã de participar das sanções contra a Itália diminuiu grandemente a eficiência dessas sanções. E agora os dois Estados estavam lutando lado a lado para esmagar o governo republicano da Espanha. E entre o entendimento a respeito da Espanha e a colaboração num âmbito europeu, ia apenas um passo.

Causas na Ásia[editar | editar código-fonte]

As relações entre os Estados Unidos e o Japão andavam tensas há algum tempo, e o principal ponto de discórdia eram as tentativas japonesas de colocar a China sob o controle do império do sol nascente, por meios bélicos. A Segunda Guerra Sino-Japonesa começara em 1937, provocando protestos americanos, visto que os

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Estados Unidos tinham fortes interesses na China. A recusa do Japão em dar ouvidos a esses protestos moveu o governo americano a declarar um embargo na exportação de certos produtos para o Japão, inclusive petróleo, o que gradualmente reforçou a disputa. Privados de uma importante fonte de combustível, os japoneses tinham duas alternativas: aceitar um acordo humilhante com uma América pretendendo a inviolabilidade da China; ou procurar petróleo em outro lugar, se necessário pela força.

Em busca do domínio mundial[editar | editar código-fonte]

Afirma-se, não sem alguma razão, que a Segunda Guerra Mundial foi uma consequência lógica da Primeira, por conta do tratamento draconiano que os aliados, sobretudo a França, impuseram à Alemanha. Certamente, as condições do Tratado de Versalhes ajudaram a exacerbar os conflitos políticos, mas não os criaram. Na verdade, o que as potências imperialistas - particularmente a Alemanha, o Japão, os Estados Unidos e a União Soviética - buscavam conquistar, com a guerra, política e economicamente, continentes inteiros, como etapa preliminar à conquista da hegemonia mundial, mediante a combinação de força militar e superioridade econômica.1

O Memorando Tanaka já estabelecia que a conquista da China seria apenas o primeiro passo para o domínio japonês sobre a Ásia, e que seria necessário esmagar seu principal rival nessa escalada: os Estados Unidos da América.

Também Hitler tinha uma clara visão sobre os propósitos imperialistas da Alemanha, que tornavam indispensável a guerra contra a União Soviética: "A luta pela hegemonia mundial será decidida, na Europa, pelo domínio do espaço russo. Qualquer ideia de política mundial é ridícula, para a Alemanha, enquanto ela não dominar o continente [europeu]".2

Os Estados Unidos também estavam "conscientes" de seu "Destino Manifesto" de se tornarem a potência dominante no mundo. A guerra seria a alavanca que abriria o mercado mundial e os recursos mundiais à exploração norte-americana.3

A União Soviética tinha em Josef Stalin a sua própria face imperialista. O "Comintern" tinha na Rússia a pátria mãe da revolução e, a partir dela, deveria promover a redenção da humanidade através da conversão gradual do mundo ao regime socialista, fato que começou a acontecer muito antes da invasão alemã da Polônia, através das repúblicas bálticas que foram obrigadas a integrar a URSS, fato ao qual também as potências ocidentais nada fizeram para impedir.

Em resumo, o que estava em jogo na Segunda Guerra Mundial - e, por conseguinte, foi sua causa determinante - era o domínio mundial por uma potência imperialista hegemônica. Ao final do conflito, os Estados Unidos emergiram como líderes incontestes do mundo capitalista, mas seu domínio mundial foi, por algum tempo, contestado por uma potência não-capitalista, a URSS. A disputa entre as duas super-potências (Guerra Fria) só se encerraria em 1991.

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3.11 As conferências de Moscou, Teerã, Ialta, Potsdam e São Francisco e a ordem mundial decorrente.

Conferência de Moscou

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A Conferência de Moscou entre os aliados da Segunda Guerra Mundial ocorreu entre 18 de outubro a 11 de novembro de 1943, no Kremlin e no Palácio Spiridonovka.1

A Conferência foi uma série de 12 encontros entre os ministros do Reino Unido, Anthony Eden; dos Estados Unidos, Cordell Hull; da China, Foo Ping-sheung; e da União Soviética, Vyacheslav Molotov; a conferência resultou na Declaração de Moscou e na criação da Comissão de Assessoramento Europeia

Conferência de Teerã

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Da esquerda para a direita, Stalin, Roosevelt e Churchill.

A Conferência de Teerã (português brasileiro) ou Conferência de Teerão (português europeu) foi o primeiro dos acordos firmados entre as superpotências durante a Segunda Guerra Mundial. A ocasião reuniu pela primeira vez os três grandes estadistas do mundo da época: Josef Stalin, da União Soviética, Winston Churchill, do Reino Unido, e Franklin Delano Roosevelt, dos Estados Unidos. Esta conferência teve lugar em Teerã, entre 28 de Novembro e 1 de Dezembro de 1943.

Além de lançarem bases de definições de partilhas, decidiu-se que as forças anglo-americanas interviriam na França, completando o cerco de pressão à Alemanha, juntamente com as forças orientais soviéticas, o que concretizou-se com o

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desembarque dos Aliados na Normandia no Dia D. Deliberou-se ainda sobre a divisão da Alemanha e as fronteiras da Polônia ao terminar a guerra, além de se formularem propostas de paz com a colaboração de todas as nações. Os Estados Unidos e o Reino Unido reconheceram, ainda, a fronteira soviética no Ocidente, com a anexação da Estônia, da Letônia, da Lituânia e do Leste da Polônia

Conferência de Ialta

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Churchill, Roosevelt e Stalin durante a conferência.

A Conferência de Yalta, também chamada de Conferência da Crimeia, é composta por um conjunto de reuniões ocorridas entre 4 e 11 de fevereiro de 1945 no Palácio Livadia, na estação balneária de Yalta, nas margens do Mar Negro, na Crimeia. Foi a segunda das três conferências em tempo de guerra entre os líderes das principais nações aliadas (a anterior ocorreu em Teerã, e a posterior em Potsdam).

Os chefes de governo dos Estados Unidos (Franklin D. Roosevelt) e da União Soviética (Josef Stalin), e o primeiro-ministro do Reino Unido (Winston Churchill) reuniram-se em segredo em Ialta para decidir o fim da Segunda Guerra Mundial e a repartição das zonas de influência entre o Oeste e o Leste.

Em 11 de fevereiro de 1945, eles assinam os acordos cujos objetivos são de assegurar um fim rápido à guerra e a estabilidade do mundo após a vitória final.

Estes acordos são essenciais para a compreensão do mundo após-guerra. Mesmo se suas interpretações pelos historiadores são diversas e variadas, vários deles estão de acordo sobre diversos pontos dos acordos. As diretrizes afirmadas nesta reunião determinaram boa parte da ordem durante a Guerra Fria, precisando as zonas de influência e ação dos blocos antagônicos, capitalista e socialista. Contudo, em 1991, após a queda da União Soviética, o ambiente internacional entrou em um período de transição, abandonando estes preceitos.

Conferência de Potsdam

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Attlee, Truman, e Stalin em Potsdam

A Conferência de Potsdam - ocorreu em Potsdam, Alemanha (perto de Berlim), entre 17 de julho e 2 de agosto de 1945. Os participantes foram os vitoriosos aliados da Segunda Guerra Mundial, que se juntaram para decidir como administrar a Alemanha, que se tinha rendido incondicionalmente nove semanas antes, no dia 8 de Maio, Dia da Vitória na Europa. Os objectivos da conferência incluíram igualmente o estabelecimento da ordem pós-guerra, assuntos relacionados com tratados de paz e contornar os efeitos da guerra.

Índice [esconder] 

1 Participantes 2 Primeiros resultados da Conferência 3 Territórios ocupados 4 Precedentes da Conferência de Potsdam 5 Ver também 6 Referências 7 Bibliografia

Participantes[editar | editar código-fonte]

União Soviética: representada por Josef Stalin.

Chegou à conferência com um dia de atraso, justificando-se com "assuntos oficiais" que requereram a sua atenção, embora seja possível que, na realidade, Stalin tenha tido problemas cardiovasculares.1

Reino Unido: representado por Winston Churchill e posteriormente Clement Attlee.

Os resultados das eleições britânicas foram conhecidos durante a conferência. Como resultado da vitória do Partido Trabalhista sobre o Partido Conservador, o cargo de primeiro-ministro mudou de mãos.

Estados Unidos: representados por Harry Truman.

Stalin sugeriu que Truman fosse o único chefe de estado presente na conferência, sugestão que foi aceita por Churchill.

Primeiros resultados da Conferência[editar | editar código-fonte]

Reversão de todas as anexações alemãs na Europa após 1937 e a separação da Áustria da Alemanha.

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Estabelecimento dos objectivos da ocupação da Alemanha pelos aliados: desmilitarização, desnazificação, democratização e descartelização.

O Acordo de Potsdam, que estabelecia a divisão da Alemanha e da Áustria em zonas de ocupação, como anteriormente decidido na Conferência de Ialta, e a similar divisão de Berlim e Viena em quatro zonas (americana, britânica, francesa e soviética). Posteriormente, em 1961, a zona aliada (americana, britânica, francesa) em Berlim seria isolada do resto da Alemanha Oriental pelo Muro de Berlim, que completou a fronteira interna alemã.

Julgamento dos criminosos de guerra Nazis em Nuremberg.

O estabelecimento da fronteira da Alemanha com a Polónia nos rios Oder e Neisse (Linha Oder-Neisse).

A expulsão das populações germânicas que ficaram fora das novas fronteiras da Alemanha.

Acordo sobre as indenizações de guerra. Os aliados estimaram as suas perdas em 200 bilhões (português brasileiro) ou 200 mil milhões (português europeu) de dólares. Após insistências das forças ocidentais (excluíndo assim a URSS), a Alemanha foi obrigada apenas ao pagamento de 20 bilhões (português brasileiro) ou 20 mil milhões (português europeu), em propriedades, produtos industriais e força de trabalho. No entanto, a Guerra Fria impediu que o pagamento se processasse na totalidade.

Stalin propôs que a Polónia não tivesse direito a uma indenização directa, mas sim que tivesse direito a 15% da compensação da União Soviética (esta situação nunca aconteceu).

Os aliados editaram a Declaração de Potsdam que ultimou os termos de rendição do Japão.

Todos os outros assuntos seriam tratados na conferência de paz final, que seria convocada assim que possível.

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Antigas e novas fronteiras da Polônia, 1945. O território previamente parte da Alemanha está identificado em rosa. A nova fronteira soviético-polonesa segue aproximadamente a Linha Curzon.

A Linha Oder-Neisse

Enquanto que a fronteira entre a Alemanha e a Polónia foi praticamente determinada e tornada irreversível através da transferência forçada de populações, facto acordado em Potsdam, o ocidente queria que na conferência final de paz se confirmasse a linha Oder- Neisse como marco permanente.

Dado que a II Guerra Mundial nunca foi terminada com uma Conferência de Paz formal, a fronteira Germano-Polaca foi sendo confirmada com base em acordos mútuos: 1950 pela República Democrática Alemã, 1970 pela República Federal Alemã e em 1990 pela Alemanha já reunificada (Ver: Reunificação da Alemanha). Este estado de incerteza levou a uma grande influência da União Soviética sobre a Polónia e Alemanha.

Os aliados ocidentais, especialmente Churchill, mostraram-se desconfiados das jogadas de Stalin, o qual já tinha instalado governos comunistas em países da Europa Central sob sua influência; a conferência de Potsdam acabou por ser a última conferência entre os Aliados.

Durante a conferência, Truman mencionou a Stalin uma "nova arma potente" não especificando detalhes. Stalin, que ironicamente já sabia da existência desta arma muito antes que Truman soubesse da mesma, encorajou o uso de uma qualquer arma que proporcionasse o final da guerra. Perto do final da conferência foi apresentado um ultimato ao império do Japão, ameaçando uma "rápida e total destruição", sem mencionar a nova bomba.

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Após a recusa do Japão, ocorreram os bombardeamentos de Hiroshima e Nagasaki, com o lançamento de bombas atómicas sobre Hiroshima (6 de agosto) e Nagasaki (9 de agosto). 15 de Agosto de 1945 foi o dia V-J (dia da vitória sobre o Japão). Representantes japoneses assinaram a rendição oficial do país em 2 de Setembro.

Truman tomou a decisão de usar armamento atómico para acabar com a guerra enquanto esteve na conferência. Ainda que, hodiernamente, a historiologia recente admita que as bombas foram utilizadas com o intuito de apenas abreviar a guerra para que a URSS não avançasse mais na frente oriental.

Territórios ocupados[editar | editar código-fonte]Ver artigo principal: Zonas ocupadas pelos Aliados na Alemanha e Zonas ocupadas

pelos Aliados na Áustria

Em janeiro de 1946 o Conselho de Controlo Aliado dividiu a Alemanha em 4 zonas de ocupação controladas por Estados Unidos, União Soviética, Reino Unido, e França. Estes países ocuparam a Alemanha de 1945 até 1948.

O território austríaco foi igualmente dividido e ocupado, ficando sob controle aliado até 1955. De acordo com o historiador norte-americano Frank McCann,2 o Brasil teria sido chamado a também ocupar a Áustria.3 4

Alemanha ocupada em1947. Áustria ocupada no período 1945-1955.

Precedentes da Conferência de Potsdam[editar | editar código-fonte]

Conferência de Ialta , 4 a 11 de fevereiro, 1945 Conferência de Teerã , 28 de novembro a 1 de dezembro, 1943 Conferência do Cairo , 22 a 26 de novembro, 1943 Conferência de Casablanca , 14 a 24 de janeiro, 1943 Conferência de S. Francisco

A cidade norte-americana de S. Francisco era, no decurso da Segunda Guerra Mundial, o maior centro de construção naval. No final do conflito, em 1945, celebrizou-se por acolher uma conferência onde se debateram os princípios da Carta das Nações Unidas já esboçados na Conferência de

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Dumbarton Oaks de 1944.O primeiro acordo que veio estabelecer uma nova organização internacional foi ensaiado na Carta do Atlântico, um documento assinado por dois dos mais influentes líderes mundiais: o presidente norte-americano Franklin D. Roosevelt e Winston Churchill, o primeiro ministro britânico.A 14 de agosto de 1941 a bordo de um navio de guerra na Costa de Newfoundland, estas duas potências acordaram na criação de um sistema de segurança a título permanente e, mais abrangente, exprimiram o desejo de alcançar uma colaboração no domínio económico mais eficaz entre todas as nações.Na Declaração das Nações Unidas de 1 de janeiro de 1942, onde se juntaram os representantes das 26 nações aliadas que lutaram contra as potências do Eixo, foi pela primeira vez utilizado o termo Nações Unidas proferido pelo presidente dos Estados Unidos da América Franklin Roosevelt.Estes acordos tiveram como consequência uma série de reuniões envolvendo as principais potências aliadas. Nelas começaram a estabelecer-se os princípios de uma nova ordem mundial e a traçar-se as linhas gerais de uma futura instituição de carácter mundial capaz de cumprir o objetivo a que a antiga Sociedade das Nações se propusera: impedir uma nova guerra mundial. Na Conferência de Ialta (fevereiro de 1945), determinou-se a marcação de uma ampla reunião internacional, com o objetivo de se fundar a nova instituição. Assim aconteceu; entre abril e junho de 1945, decorreu nessa cidade norte-americana uma conferência decisiva para o futuro mundial: no seu seguimento, os delegados de 50 países (entre os quais Portugal) assinaram a Carta das Nações Unidas. A ONU recebia a sua certidão de nascimento.

3.12 Bretton Woods.

Acordos de Bretton Woods

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Coordenadas: 44° 15' 29" N, 71° 26' 25" O

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O Hotel Mount Washington, em Bretton Woods, New Hampshire, local da histórica Conferência de 1944.

As conferências de Bretton Woods, definindo o Sistema Bretton Woods de gerenciamento econômico internacional, estabeleceram em julho de 1944 as regras para as relações comerciais e financeiras entre os países mais industrializados do mundo. O sistema Bretton Woods foi o primeiro exemplo, na história mundial, de uma ordem monetária totalmente negociada, tendo como objetivo governar as relações monetárias entre Nações-Estado independentes.

Preparando-se para reconstruir o capitalismo mundial enquanto a Segunda Guerra Mundial ainda grassava, 730 delegados de todas as 44 nações aliadas encontraram-se no Mount Washington Hotel, em Bretton Woods, New Hampshire, para a Conferência monetária e financeira das Nações Unidas. Os delegados deliberaram e finalmente assinaram o Acordo de Bretton Woods (Bretton Woods Agreement) durante as primeiras três semanas de julho de 1944.

Índice [esconder] 

1 Os acordos 2 As origens do sistema Bretton Woods

o 2.1 As experiências da Grande Depressão 2.1.1 Segurança econômica 2.1.2 O surgimento do intervencionismo governamental 2.1.3 A carta do Atlântico

3 Referências 4 Bibliografia

Os acordos[editar | editar código-fonte]

Definindo um sistema de regras, instituições e procedimentos para regular a política econômica internacional, os planificadores de Bretton Woods estabeleceram o Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento (International Bank for Reconstruction and Development, ou BIRD) (mais tarde dividido entre o Banco Mundial e o "Banco para investimentos internacionais") e o Fundo Monetário Internacional (FMI). Essas organizações tornaram-se operacionais em 1946, depois que um número suficiente de países ratificou o acordo.

As principais disposições do sistema Bretton Woods foram, primeiramente, a obrigação de cada país adotar uma política monetária que mantivesse a taxa de câmbio de suas moedas dentro de um determinado valor indexado ao dólar —mais ou menos um por cento— cujo valor, por sua vez, estaria ligado ao ouro numa base fixa de 35 dólares por onça Troy, e em segundo lugar, a provisão pelo FMI de financiamento para suportar dificuldades temporárias de pagamento. Em 1971, diante de pressões crescentes na demanda global por ouro, Richard Nixon, então

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presidente dos Estados Unidos, suspendeu unilateralmente o sistema de Bretton Woods, cancelando a conversibilidade direta do dólar em ouro.

As origens do sistema Bretton Woods[editar | editar código-fonte]

As bases políticas do sistema Bretton Woods podem ser encontradas na confluência de várias condições principais: as experiências comuns da Grande Depressão, a concentração de poder em um pequeno número de Estados e a presença de uma potência dominante querendo (e capaz de) assumir um papel de liderança.

As experiências da Grande Depressão[editar | editar código-fonte]

Um alto nível de concordância entre os países sobre as metas e meios do gerenciamento econômico internacional facilitou em muito as decisões tomadas pela Conferência de Bretton Woods. A fundação daquele acordo foi uma crença comum no Capitalismo intervencionista. Apesar de os países desenvolvidos diferirem quanto ao tipo de intervenções que preferiam para suas economias nacionais (a França, por exemplo, preferia um maior planejamento e intervenção estatal, enquanto os Estados Unidos eram favoráveis a uma intervenção estatal mais limitada), todos, no entanto, baseavam-se predominantemente em mecanismos de mercado e na noção de propriedade privada.

Assim, foram as semelhanças, mais do que as diferenças, que foram postas em evidência. Todos os governos participantes de Bretton Woods concordavam que o caos monetário do período entre-guerras forneceu valiosas lições.

A experiência da Grande Depressão, quando a proliferação de controles e barreiras de comércio levaram ao desastre econômico, estava fresca na memória dos participantes. Os conferencistas esperavam evitar a repetição da debandada dos anos 30, quando os controles das trocas minaram o sistema internacional de pagamentos, base do comércio mundial. A política de "beggar-thy-neighbor" ("empobrece teu vizinho") dos governos dos anos 30—usando tarifas alfandegárias a fim de aumentar a competitividade de seus produtos de exportação e, assim, reduzir os déficits da balança de pagamentos—ocasionaram espirais deflacionárias que resultaram na diminuição da produção, desemprego em massa e declínio generalizado do comércio mundial. O comércio nos anos 30 ficou restrito a blocos monetários (grupos de nações que empregavam uma moeda equivalente, como o bloco da "Libra esterlina" do Império Britânico). Esses blocos retardaram o fluxo internacional de capitais e as oportunidades de investimentos estrangeiros. Apesar de esta estratégia tender a aumentar o dinheiro arrecadado pelo governo a curto prazo, ela piorou drasticamente a situação a médio e longo prazo.

Assim, para a economia internacional, todos os planificadores de Bretton Woods favoreceram um sistema relativamente liberal, um sistema que se baseasse primeiramente no mercado, com um mínimo de barreiras ao fluxo de comércio e capital privados. Apesar de não estarem inteiramente de acordo sobre a maneira de pôr em prática esse sistema liberal, todos concordavam com um sistema aberto.

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Segurança econômica[editar | editar código-fonte]

Também com base nas experiências do período entre-guerras, os planificadores estadunidenses desenvolveram um conceito de segurança econômica—que um sistema econômico liberal internacional aumentaria as possibilidades de paz no pós-guerra. Um dos que viram tal segurança foi Cordell Hull, o secretário de Estado dos Estados Unidos de 1933 a 1944.1 Hull acreditava que as causas fundamentais das duas guerras mundiais estavam na discriminação econômica e guerras comerciais. Especificamente, ele tinha em mente acordos bilaterais de controle de comércio e trocas da Alemanha Nazi e o sistema de preferência imperial praticado pelo Reino Unido (pelo qual membros ou antigos membros do Império britânico beneficiavam de um status comercial especial). Hull argumentava que:

Comércio sem obstáculos associado com paz; altas tarifas, barreiras comerciais e competição econômica injusta, com guerra... se conseguíssemos tornar o comércio mais livre... mais livre no sentido de menos discriminações e obstruções... de tal modo que um país não ficaria mortalmente invejoso de outro e os padrões de vida de todos os países pudessem crescer, eliminando com isso a insatisfação econômica que alimenta a guerra, teríamos uma chance razoável de paz durável.2

O surgimento do intervencionismo governamental[editar | editar código-fonte]

Harry Dexter White, do Tesouro americano, e John Maynard Keynes, na conferência inaugural dos governadores do Fundo Monetário Internacional, em 1946.

Os países desenvolvidos também concordaram que o sistema econômico liberal internacional requeria intervencionismo do governo. Após a Grande Depressão, a administração pública da economia emergiu como uma atividade primeira dos governos de Estados desenvolvidos: emprego, estabilidade e crescimento eram então assuntos importantes da política pública. Com isso, o papel do governo na economia nacional ficou associado com a apropriação, pelo Estado, da responsabilidade de garantir a seus cidadãos um certo grau de bem-estar econômico. O welfare state (estado protetor) nasceu da Grande Depressão, que criou uma necessidade popular de intervencionismo estatal na economia, e das

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contribuições teóricas da escola econômica Keynesiana, que defendia a necessidade de intervenção estatal a fim de manter níveis adequados de emprego.

Em âmbito internacional, essas idéias também surgiram da experiência dos anos 30. A prioridade dos objetivos nacionais, a ação independente nacional no período entre-guerras e o fracasso em perceber que esses objetivos nacionais não poderiam ser atingidos sem uma certa forma de colaboração internacional resultaram em políticas de estilo "empobrece teu vizinho" como alta tarificação e desvalorizações competitivas, que contribuíram para a queda da economia, instabilidade política doméstica e guerra internacional. A lição foi, como explica Harry Dexter White, adepto do New Deal e principal arquiteto do sistema Bretton Woods:

a falta de um alto grau de colaboração econômica entre as nações industrializadas... resultará, inevitavelmente, em guerra econômica que será o prelúdio e instigador de guerra militar em uma escala ainda maior.3

Para garantir a estabilidade econômica e a paz política, os Estados concordaram em cooperar para regular o sistema econômico internacional. O pilar da visão estadunidense do mundo pós-guerra era o comércio livre. Liberdade de comércio implicava tarifas baixas e, entre outras coisas, uma balança comercial favorável ao sistema capitalista.

Assim, as economias de mercado mais desenvolvidas aceitaram a visão dos Estados Unidos de gerenciamento econômico internacional do pós-guerra, que foi concebido para criar e manter um sistema monetário internacional efetivo e encorajar a redução de barreiras ao comércio e ao fluxo de capital .

O surgimento da hegemonia dos Estados Unidos da América. O gerenciamento econômico internacional baseava-se na potência dominante para dirigir o sistema. A concentração de poder facilitou o gerenciamento na medida em que reduziu o número de atores cujo acordo era necessário para o estabelecimento de regras, instituições e procedimentos e para levar a cabo o gerenciamento dentro dos sistemas em acordo. Esse líder foi os Estados Unidos da América. Como a potência com a economia e política mais avançadas do mundo, os EUA estavam claramente em uma posição ideal para assumir essa liderança.

Os EUA emergiram da Segunda Guerra Mundial como a mais forte economia do mundo, vivendo um rápido crescimento industrial e uma forte acumulação de capital. Os EUA não haviam sofrido as destruições da Segunda Guerra Mundial, tinham construído uma indústria manufatureira poderosa e enriqueceram vendendo armas e emprestando dinheiro aos outros combatentes; na verdade, a produção industrial dos EUA em 1945 foi mais do que o dobro da produção anual dos anos entre 1935 e 1939. Em comparação, a Europa e o Japão estavam dizimados militar e economicamente.

Quando a Conferência de Bretton Woods aconteceu, as vantagens econômicas dos Estados Unidos eram indiscutíveis e esmagadoras. Os EUA tinham a maioria dos investimentos mundiais, da produção manufaturada e das exportações. Em 1945,

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os EUA produziam a metade de todo o carvão mundial, dois-terços do petróleo e mais do que a metade da eletricidade. Os EUA eram capazes de produzir imensas quantidades de navios, aviões, automóveis, armamentos, máquinas, produtos químicos, etc. Reforçando a vantagem inicial—e assegurando a liderança dos EUA no mundo capitalista—os EUA detinham 80% das reservas mundiais de ouro e tinham não somente poderosas Forças Armadas, mas também a bomba atômica.

Na condição de maior potência mundial e uma das poucas nações não afetadas pela guerra, os EUA estavam em posição de ganhar mais do que qualquer outro país com a liberação do comércio mundial. Os EUA teriam com isso um mercado mundial para suas exportações, e teriam acesso irrestrito a matérias-primas vitais.

Os EUA não eram somente capazes de, mas também queriam, assumir essa liderança. Apesar de os EUA terem mais ouro, mais capacidade produtora e mais poder militar do que todo o resto do mundo junto, o capitalismo dos EUA não poderia sobreviver sem mercados e aliados. William Clayton, o Secretário de Estado assistente para Assuntos Econômicos, foi uma das várias personalidades influentes na política estado-unidense que colocaram em evidência esse ponto: "Precisamos de mercados—grandes mercados—por todo o mundo, onde poderemos comprar e vender."

Houve várias previsões de que a paz traria de volta a depressão e o desemprego devido ao término da produção bélica e ao retorno dos soldados ao mercado de trabalho. Entre as dificuldades econômicas estava um aumento abrupto da inquietude trabalhista. Determinado a evitar uma catástrofe econômica equivalente à da década de 1930, o presidente Franklin D. Roosevelt viu a criação de uma ordem pós-guerra como uma maneira de garantir a prosperidade dos EUA.

A carta do Atlântico[editar | editar código-fonte]

Durante a guerra, os Estados Unidos da América imaginaram uma ordem econômica mundial pós-guerra na qual os EUA pudessem penetrar em mercados que estivessem previamente fechados a outros blocos, bem como abrir novas oportunidades a investimentos estrangeiros para as empresas estado-unidenses, removendo restrições de fluxo de capital internacional.

A Carta do Atlântico, esboçada em agosto de 1941 durante o encontro do presidente Roosevelt com o primeiro-ministro britânico Winston Churchill em um navio no Atlântico norte, foi o mais notável precursor à Conferência de Bretton Woods. Assim como Woodrow Wilson antes dele, cujos "Quatorze pontos" (Fourteen Points) delinearam os objetivos dos Estados Unidos para o pós-guerra da Primeira Guerra Mundial, Roosevelt lançou uma série de objetivos ambiciosos para o mundo pós-guerra antes mesmo de os EUA entrarem na Segunda Guerra Mundial. A carta do Atlântico afirmou o direito de todas as nações a igual acesso ao comércio e à matéria-prima. Além disso, a carta apelou pela liberdade dos mares (um objetivo principal da política estrangeira estado-unidense desde que a França e o Reino Unido ameaçaram navios estado-unidenses nos anos 1790), o desarmamento dos agressores e o "estabelecimento de um amplo e permanente sistema de segurança geral."

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Quando a guerra aproximava-se do fim, a Conferência de Bretton Woods foi o ápice de dois anos e meio de planejamento da reconstrução pós-guerra pelos Tesouros dos EUA e Reino Unido. Representantes estado-unidenses estudaram com os colegas britânicos a reconstituição do que tinha estado faltando entre as duas guerras mundiais: um sistema internacional de pagamentos que permitisse que o comércio fosse efetuado sem o medo de desvalorizações monetárias repentinas ou flutuações selvagens das taxas de câmbio — problemas que praticamente paralisaram o capitalismo mundial durante a Grande Depressão.

Na ausência de um mercado europeu forte para os bens e serviços estado-unidenses, pensava a maior parte dos políticos, a economia dos EUA seria incapaz de sustentar a prosperidade que ela alcançara durante a guerra. Além disso, os sindicatos de trabalhadores tinham aceitado a contragosto as restrições impostas pelo governo aos seus pedidos durante a guerra, e eles não queriam esperar mais tempo por mudanças, principalmente depois que a inflação afetara as escalas de salários de maneira violenta (no final de 1945, já havia acontecido greves importantes nas indústrias de automóvel, eletricidade e aço).

Financiador e conselheiro autoindicado de presidentes e congressistas, Bernard Baruch resumiu o espírito de Bretton Wood no início de 1945: se pudermos "eliminar o subsídio ao trabalho e à competição acirrada nos mercados exportadores," bem como prevenir a reconstrução de máquinas de guerra, "oh boy, oh boy, que prosperidade a longo termo nós teremos."4 Assim, os Estados Unidos vão usar sua posição predominante para restaurar uma economia mundial aberta, unificada sob controle dos EUA, que deu aos EUA acesso ilimitado a mercados e matéria-prima.

3.14 O Plano Marshall.

Plano Marshall

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Mapa da Europa mostrando os países que receberam ajuda do Plano Marshall. As colunas azuis mostram a quantidade total relativa de ajuda por país.

O Plano Marshall, um aprofundamento da Doutrina Truman, conhecido oficialmente como Programa de Recuperação Europeia, foi o principal plano dos Estados Unidos para a reconstrução dos países aliados da Europa nos anos seguintes à Segunda Guerra Mundial. A iniciativa recebeu o nome do Secretário do Estado dos Estados Unidos, George Marshall.

O plano de reconstrução foi desenvolvido em um encontro dos Estados europeus participantes em julho de 1947. A União Soviética e os países da Europa Oriental foram convidados, mas Josef Stalin viu o plano como uma ameaça e não permitiu a participação de nenhum país sob o controle soviético. O plano permaneceu em operação por quatro anos fiscais a partir de julho de 1947. Durante esse período, algo em torno de US$ 13 bilhões de assistência técnica e econômica — equivalente a cerca de US$ 132 bilhões em 2006, ajustado pela inflação — foram entregues para ajudar na recuperação dos países europeus que juntaram-se à Organização Europeia para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.

Quando o plano foi completado, a economia de cada país participante, com a exceção da Alemanha, tinha crescido consideravelmente acima dos níveis pré-guerra. Pelas próximas duas décadas a Europa Ocidental iria gozar de prosperidade e crescimento. O Plano Marshall também é visto como um dos primeiros elementos da integração européia, já que anulou barreiras comerciais e criou instituições para coordenar a economia em nível continental. Uma consequência intencionada foi a adoção sistemática de técnicas administrativas norte-americanas.

Recentemente os historiadores vêm questionando tanto os verdadeiros motivos e os efeitos gerais do Plano Marshall. Alguns historiadores acreditam que os benefícios do plano foram na verdade o resultado de políticas de laissez faire que

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permitiram a estabilização de mercados através do crescimento econômico. Além disso, alguns criticam o plano por estabelecer uma tendência dos EUA a ajudar economias estrangeiras em dificuldades, valendo-se do dinheiro dos impostos dos cidadãos norte-americanos.

Com a devastação provocada pela guerra, a Europa enfrentava cada vez mais manifestações de contestação aos governos constituídos. Os Estados Unidos analisaram a crise europeia e, concluíram que ela punha em risco o futuro do capitalismo, o que poderia prejudicar sua própria economia, dando espaço para a expansão do comunismo.

Com isso, os norte-americanos optaram por ajudar na recuperação dos países europeus. Com esse objetivo criaram o Plano Marshall. No início os recursos foram utilizados para comprar alimentos, fertilizantes e rações. Logo depois, foram adquirindo matérias-primas, produtos semi-industrializados, combustíveis, veículos e máquinas. Aproximadamente, 70% desses bens eram de procedência norte-americana. Além de se beneficiar com o plano Marshall, a França elaborou seu próprio plano de recuperação econômica, o Plano Monnet.

A Inglaterra também se recuperou, porém perdeu a importância econômica e política. A Alemanha e a Itália também entraram em ritmo de recuperação. Com a criação da OTAN, os Estados Unidos visavam garantir a exportação de excedentes e concretizar a hegemonia econômica sobre o velho continente.

Índice [esconder] 

1 Ajuda financeira recebida 2 Efeitos 3 Ver também 4 Ligações externas

Ajuda financeira recebida[editar | editar código-fonte]

País1948-49

(milhões

de dólares)

1949-50(milhões

de dólares)

1950-51(milhões

de dólares)

Total(milhões

de dólares)

 Alemanha 510 438 500 1,448

 Áustria 232 166 70 488

 Bélgica e  Luxemburgo 195 222 360 777

 Dinamarca 103 87 195 385

 França 1,085 691 520 2,296

 Grécia 175 156 45 366

 Irlanda 88 45 — 133

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 Islândia 6 22 15 43

 Itália e Trieste 594 405 205 1,204

 Noruega 82 90 200 372

 Países Baixos 471 302 355 1,128

 Portugal — — 70 70

 Reino Unido 1,316 921 1,060 3,297

 Suécia 39 48 260 347

Suíça — — 250 250

 Turquia 28 59 50 137

Efeitos[editar | editar código-fonte]

O Plano Marshall instituído pelos estadunidenses resultou em incrível crescimento econômico para os países europeus envolvidos e grande influência, fazendo os beneficiados terem dívidas para depois pagá-las. A produção industrial cresceu 35%, e a produção agrícola havia superado níveis dos anos pré-guerra.

O comunismo, portanto, passou a ser considerado pelos dirigentes da Europa Ocidental como uma ameaça menor, e a popularidade dos partidos ou organizações comunistas na região caiu bastante.

3.15 A Organização das Nações Unidas.

Organização das Nações Unidas

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

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 Nota: Nações Unidas redireciona para este artigo. Para outros significados, veja Nações Unidas (desambiguação).

Organização das Nações Unidas ONU

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Bandeira

Mapa dos Estados membros das Nações UnidasNote-se que este mapa não representa a opinião de seus membros ou das Nações Unidas sobre o estatuto jurídico de qualquer país,1 também não refletir com precisão que áreas do governo têm representação das Nações Unidas.

Fundação 24 de outubro de 1945 (68 anos)

Tipo Organização internacional

Sede Território internacionalNova York

Membros 193 estados-membros mais a Santa Sé e Palestina

Línguas oficiais Árabe, chinês, espanhol, francês, inglês e russo.

Secretário Geral Ban Ki-moon

Sítio oficial www.un.org

Organização das Nações Unidas (ONU), ou simplesmente Nações Unidas (NU), é uma organização internacional cujo objetivo declarado é facilitar a cooperação em matéria de direito internacional, segurança internacional, desenvolvimento econômico, progresso social, direitos humanos e a realização da paz mundial. A ONU foi fundada em 1945 após a Segunda Guerra Mundial para substituir a Liga das Nações, com o objetivo de deter guerra entre países e para fornecer uma plataforma para o diálogo. Ela contém várias organizações subsidiárias para realizar suas missões.2 3

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Existem atualmente 193 países-membros, incluindo quase todos os Estados soberanos do mundo. De seus escritórios em todo o mundo, a ONU e suas agências especializadas decidem sobre questões dessubstantivas e administrativas em reuniões regulares ao longo do ano. A organização está dividida em instâncias administrativas, principalmente: a Assembleia Geral (assembleia deliberativa principal); o Conselho de Segurança (para decidir determinadas resoluções de paz e segurança); o Conselho Econômico e Social (para auxiliar na promoção da cooperação econômica e social internacional e desenvolvimento); o Conselho de Direitos Humanos (para promover e fiscalizar a proteção dos direitos humanos e propor tratados internacionais sobre esse tema); o Secretariado (para fornecimento de estudos, informações e facilidades necessárias para a ONU), o Tribunal Internacional de Justiça (o órgão judicial principal). Além de órgãos complementares de todas as outras agências do Sistema das Nações Unidas, como a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Programa Alimentar Mundial (PAM) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). A figura mais publicamente visível da ONU é o Secretário-Geral, cargo ocupado desde 2007 por Ban Ki-moon, da Coreia do Sul. A organização é financiada por contribuições voluntárias dos Estados-membros, e tem seis línguas oficiais: árabe, chinês, inglês, francês, russo e espanhol.4

Índice [esconder] 

1 História 2 Organização

o 2.1 Assembleia Geral o 2.2 Conselho de Segurança o 2.3 Secretariado

2.3.1 Secretário-geral o 2.4 Tribunal Internacional de Justiça o 2.5 Conselho Econômico e Social o 2.6 Conselho de Direitos Humanos o 2.7 Instituições especializadas

3 Membros 4 Funções

o 4.1 Manutenção da paz e da segurança o 4.2 Direitos humanos e assistência humanitária o 4.3 Desenvolvimento social e econômico o 4.4 Mandatos o 4.5 Outros

5 Financiamento 6 Reforma 7 Referências 8 Bibliografia 9 Ver também 10 Ligações externas

História[editar | editar código-fonte]Ver artigo principal: História da Organização das Nações Unidas

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Ver também: Declaração das Nações Unidas

Harry Truman na conferência de fundação da ONU em São Francisco, Estados Unidos, em 1945.

Após o fracasso da Liga das Nações (1919-1946) (da qual os Estados Unidos nunca se tornaram membro), a Organização das Nações Unidas foi criada em 1945 para manter a paz internacional e promover a cooperação internacional na solução dos problemas econômicos, sociais e humanitários. Os primeiros planos concretos para uma nova organização mundial foram iniciados sob a égide do Departamento de Estado dos Estados Unidos em 1939. O termo "Nações Unidas" foi usado pela primeira vez em 1 de janeiro de 1942 por Winston Churchill e Franklin D. Roosevelt em Washington, quando 26 governos assinaram a Carta do Atlântico, comprometendo-se a continuar o esforço de guerra.5 Em 25 de abril de 1945, a Conferência das Nações Unidas sobre Organização Internacional começou em São Francisco, Estados Unidos, reunindo 51 governos e um número de organizações não governamentais envolvidas na elaboração da Carta das Nações Unidas. A ONU entrou oficialmente em existência em 24 de outubro de 1945 após a ratificação da Carta pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança (França, República da China, União Soviética, Reino Unido e os Estados Unidos) e pela maioria dos outros 46 países signatários. As primeiras reuniões da Assembleia Geral, com 51 nações representadas, e do Conselho de Segurança, tiveram lugar em Westminster Central Hall, em Londres em janeiro de 1946.6

Desde a sua criação, tem havido controvérsia e críticas sobre a atuação da Organização das Nações Unidas. Nos Estados Unidos, um grande opositor da ONU foi a John Birch Society, que começou a campanha "get US out of the UN" em 1959, alegando que o objetivo da ONU era o de estabelecer um "Governo Mundial Único". Após a Segunda Guerra Mundial, o Comitê Francês de Libertação Nacional não foi reconhecido pelos Estados Unidos como o governo da França e assim o país foi inicialmente excluído das conferências que visavam à criação da nova organização. Charles de Gaulle criticou a ONU e não estava convencido de que uma aliança global de segurança ajudaria a manter a paz no mundo, preferindo a defesa direta dos tratados entre os países.7

Organização[editar | editar código-fonte]Ver artigo principal: Estrutura da Organização das Nações Unidas

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A estrutura das Nações Unidas baseia-se em cinco principais órgãos (eram seis - o Conselho de Administração Fiduciária suspendeu suas operações em 1994);8 a Assembleia Geral, o Conselho de Segurança, o Conselho Econômico e Social (ECOSOC), o Secretariado e o Tribunal Internacional de Justiça.

Quatro dos cinco órgãos principais estão localizados na sede principal das Nações Unidas em território internacional em Nova Iorque, nos Estados Unidos. O Tribunal Internacional de Justiça está localizado em Haia, nos Países Baixos, enquanto outras grandes agências estão baseadas nos escritórios da ONU em Genebra, Viena e Nairobi. Outras instituições das Nações Unidas estão localizadas em todo o mundo.

A ONU utiliza seis línguas oficiais: árabe, chinês, espanhol, francês, inglês e russo.4 Quase todas as reuniões oficiais são traduzidas simultaneamente para estas línguas. Quase todos os documentos oficiais, em suporte de papel e "on-line", são traduzidos para estes seis idiomas. Em algumas dependências, as conferências e os documentos de trabalho são só em francês e inglês, e as publicações realizam-se nestes dois idiomas.

Assembleia Geral[editar | editar código-fonte]Ver artigo principal: Assembleia Geral das Nações Unidas

Assembleia Geral das Nações Unidas, na sede da organização em Nova Iorque.

A Assembleia Geral é a assembleia deliberativa principal das Nações Unidas. Composta por todos os Estados membros das Nações Unidas, a Assembleia se reúne em uma sessão ordinária anual, no âmbito de um presidente eleito entre os Estados-Membros. Ao longo de um período de duas semanas, no início de cada sessão, todos os membros têm a oportunidade de dirigir a montagem. Tradicionalmente, o secretário-geral faz a primeira declaração, seguido pelo presidente da assembleia. A primeira sessão foi convocada em 10 de Janeiro de 1946 no Westminster Central Hall, em Londres, e contou com representantes de 51 nações".

Para a aprovação da Assembleia Geral sobre questões importantes, é necessária a maioria de dois terços dos presentes e votantes. Exemplos de questões importantes incluem: recomendações sobre a paz e segurança, eleição de membros de órgãos, admissão, suspensão e expulsão de membros e questões orçamentais. Todas as outras questões são decididas por maioria de votos. Cada país membro tem um voto. Além da aprovação da matéria orçamental, as resoluções não são

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vinculativas para os membros. A Assembleia pode fazer recomendações sobre quaisquer matérias no âmbito da ONU, excetuando as questões de paz e segurança que estão sob consideração do Conselho de Segurança.

Conselho de Segurança[editar | editar código-fonte]Ver artigo principal: Conselho de Segurança das Nações Unidas

Sala do Conselho de Segurança em Nova Iorque.

O Conselho de Segurança é o responsável por manter a paz e a segurança entre os países do mundo. Enquanto outros órgãos das Nações Unidas só podem fazer "recomendações" para os governos membros, o Conselho de Segurança tem o poder de tomar decisões vinculativas que os governos-membros acordaram em realizar, nos termos do artigo 25 da Carta.9 As decisões do Conselho são conhecidas como Resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

O Conselho de Segurança é composto por 15 Estados-membros, sendo 5 membros permanentes - China, França, Rússia, Reino Unido e Estados Unidos - e por 10 membros temporários, atualmente a Áustria, Bósnia e Herzegovina, Brasil, Gabão, Japão, Líbano, México, Nigéria, Turquia e Uganda. Os cinco membros permanentes têm o poder de veto sobre as resoluções do Conselho, mas não processual, permitindo que um membro permanente impeça a adoção, mas não bloqueie o debate de uma resolução inaceitável por ele. Os dez membros temporários são mantidos em mandatos de dois anos conforme votado na Assembleia Geral sobre uma base regional. A Presidência do Conselho de Segurança é girada em ordem alfabética de cada mês10 e foi realizada pela Áustria em 2011.

Secretariado[editar | editar código-fonte]Ver artigo principal: Secretariado das Nações Unidas

Edifício do secretariado em Nova Iorque, Estados Unidos.

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O Secretariado das Nações Unidas é chefiado pelo Secretário-Geral, auxiliado por uma equipe de funcionários internacionais no mundo inteiro. Ele fornece estudos, informações e facilidades necessárias para que os organismos das Nações Unidas façam suas reuniões. Também realiza tarefas como dirigir Conselho de Segurança das Nações Unidas, a Assembleia Geral da ONU, o Conselho Econômico e Social das Nações Unidas e outros organismos da ONU. A Carta das Nações Unidas prevê que os funcionários do Secretariado sejam escolhidos pela aplicação das normas mais elevadas "de eficiência, competência e integridade", tendo na devida conta a importância do recrutamento numa base geográfica ampla.

A Carta prevê também que os funcionários não solicitarão nem receberão instruções de qualquer autoridade que não seja a ONU. Cada país membro da ONU é convocado a respeitar o carácter internacional do Secretariado e não procurar influenciar a instituição. O secretário-geral é o único responsável pela selecção dos funcionários.

Os direitos do Secretário-Geral incluem a resolução de disputas internacionais, gestão de operações de paz, organização de conferências internacionais, recolhimento de informação sobre a aplicação das decisões do Conselho de Segurança e consulta com os governos membros a respeito de diversas iniciativas. Escritórios do Secretariado nesta área incluem o Escritório do Coordenador de Assuntos Humanitários e o Departamento de Operações de Manutenção. O Secretário-Geral poderá levar à atenção do Conselho de Segurança qualquer assunto que, na sua opinião, possa ameaçar a paz e a segurança internacionais.

Secretário-geral[editar | editar código-fonte]Ver artigo principal: Secretário-geral das Nações Unidas

O atual secretário-geral, Ban Ki-moon da Coreia do Sul.

O Secretariado é chefiado pelo secretário-geral, que atua como porta-voz de facto e líder da ONU. O atual secretário-geral é Ban Ki-moon, que assumiu no lugar de Kofi Annan, em 2007, e será substituído quando o seu primeiro mandato expirar em 2011.11

Previsto por Franklin D. Roosevelt como o "moderador do mundo", a posição é definido na Carta das Nações Unidas como "chefe administrativo oficial" da

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organização,12 mas a Carta também afirma que o secretário-geral pode chamar a atenção do Conselho de Segurança sobre "qualquer assunto que, em sua opinião, possa ameaçar a manutenção da paz e da segurança internacionais",13 dando a posição de maior capacidade de ação na cena mundial. A situação evoluiu em um duplo papel de um administrador da organização das Nações Unidas e de um diplomata e mediador para resolver disputas entre os Estados-Membros e chegar a um consenso sobre questões globais.11

O secretário-geral é nomeado pela Assembleia Geral, depois de ter sido recomendado pelo Conselho de Segurança. A seleção pode ser vetada por qualquer membro do Conselho de Segurança,14 e a Assembleia Geral pode, teoricamente, substituir a recomendação do Conselho de Segurança se uma maioria de votos não for atingida, embora isso não tenha acontecido até agora.15 Não há nenhum critério específico para o cargo, mas ao longo dos anos, admitiu-se que o cargo será realizado por um ou dois mandatos de cinco anos, que o cargo deve ser nomeado com base no sistema de rotação geográfica e que o secretário-geral não deve ser originário de um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança.15

Secretários-Gerais das Nações Unidas16

Nº NomePaís de origem

Início do mandato

Fim do mandato

Nota

1 Trygve Lie  Noruega2 de Fevereiro de 1946

10 de Novembro de 1952

Resignou ao cargo

2Dag Hammarskjöld

 Suécia10 de Abril de 1953

18 de Setembro de 1961

Morreu durante o mandato

3 U Thant Birmânia30 de Novembro de 1961

1 de Janeiro de 1972

Primeiro Secretário-Geral da Ásia

4 Kurt Waldheim  Áustria1 de Janeiro de 1972

1 de Janeiro de 1982

5Javier Pérez de Cuéllar

 Peru1 de Janeiro de 1982

1 de Janeiro de 1992

Primeiro Secretário-Geral da América do Sul

6Boutros Boutros-Ghali

 Egito1 de Janeiro de 1992

1 de Janeiro de 1997

Primeiro Secretário-Geral da África

7 Kofi Annan Gana1 de Janeiro de 1997

1 de Janeiro de 2007

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8 Ban Ki-moon Coreia do

Sul1 de Janeiro de 2007

atual

Tribunal Internacional de Justiça[editar | editar código-fonte]Ver artigo principal: Corte Internacional de Justiça

Palácio da Paz, sede do Tribunal Internacional de Justiça em Haia, Países Baixos.

O Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), localizado em Haia, Países Baixos, é o principal órgão judicial das Nações Unidas. Fundado em 1945 pela Organização das Nações Unidas, o Tribunal começou a trabalhar em 1946 como sucessor da Corte Permanente de Justiça Internacional. O Estatuto da Corte Internacional de Justiça, semelhante ao do seu antecessor, é o principal documento constitucional, constituindo e regulando o Tribunal de Justiça.17

Baseia-se no Palácio da Paz, em Haia, Países Baixos, partilha o edifício com a Academia de Direito Internacional de Haia, um centro privado para o estudo do direito internacional. Vários dos atuais juízes do Tribunal de Justiça são alunos ou ex-membros do corpo docente da Academia. Sua finalidade é dirimir litígios entre os Estados. O tribunal ouve casos relacionados a crimes de guerra, a interferência estatal ilegal, casos de limpeza étnica, entre outros.18

Um tribunal relacionado, o Tribunal Penal Internacional (TPI), iniciou a sua atividade em 2002 através de discussões internacionais iniciada pela Assembleia Geral. É o primeiro tribunal internacional permanente, encarregado de tentar aqueles que cometem os crimes mais graves do direito internacional, incluindo os crimes de guerra e genocídio. O TPI é funcionalmente independente das Nações Unidas, em termos de pessoal e financiamento, mas algumas reuniões do organismo que rege o TPI, a Assembleia dos Estados Partes do Estatuto de Roma, são realizadas na ONU. Existe um "acordo de relacionamento" entre o TPI e a ONU que determina como as duas instituições em relacionam-se entre si juridicamente.19

Conselho Econômico e Social[editar | editar código-fonte]Ver artigo principal: Conselho Econômico e Social das Nações Unidas

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Sala do Conselho Econômico e Social na sede da ONU.

O Conselho Econômico e Social (ECOSOC) assiste à Assembleia Geral na promoção da cooperação econômica e social e do desenvolvimento internacional. O ECOSOC possui 54 membros, os quais são eleitos pela Assembleia Geral para um mandato de três anos. O presidente é eleito para um mandato de um ano e é escolhido entre os poderes pequenos ou médios representados no ECOSOC. O ECOSOC se reúne uma vez por ano, em julho, por um período de quatro semanas. Desde 1998, ele realiza uma outra reunião em Abril, com os principais Ministros das Finanças do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI). Criada para separar os organismos especializados que coordena, as funções do ECOSOC incluem a recolha de informação e o aconselhando e recomendações aos países membros. Além disso, o ECOSOC está bem posicionado para fornecer coerência de políticas e coordenar as funções de sobreposição de organismos subsidiários da ONU e é nesse papel que é mais ativo.

Conselho de Direitos Humanos[editar | editar código-fonte]Ver artigo principal: Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas

O Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas é o sucessor da Comissão das Nações Unidas para os Direitos Humanos e é parte do corpo de apoio à Assembleia Geral das Nações Unidas. Baseado em Genebra, sua principal finalidade é aconselhar a Assembleia Geral sobre situações em que os direitos humanos são violados. À Assembléia Geral, por sua vez, compete fazer recomendações ao Conselho de Segurança.20

Em 15 de março de 2006, a ONU aprovou a criação dessa nova organização de Direitos Humanos, apesar da oposição dos Estados Unidos. É formado por 47 países, enquanto a Comissão de Direitos Humanos contava com 53 países membros. A criação do novo conselho foi aprovada por 170 membros da Assembleia - formada por 190. Quatro nações votaram contra (Estados Unidos, as Ilhas Marshall, Palau, e Israel). Não votaram: Bielorrússia, Irã e Venezuela. Os Estados Unidos, as Ilhas Marshall, Palau e Israel justificaram seus votos contrários, alegando que haveria pouco poder envolvido e não se conseguiria evitar os abusos contra os Direitos Humanos que acontecem ao redor do mundo. As 47 cadeiras desse novo conselho são distribuídas entre grupos regionais: 13 para a África, 13 para a Ásia, 6 para a Europa Oriental, 8 para a América Latina e Caribe, e 7 para

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"Europa Ocidental e Outros", que inclui a América do Norte, a Oceania e a Turquia. A primeira eleição de membros aconteceu no dia 9 de Maio de 2006.21

Instituições especializadas[editar | editar código-fonte]

Há muitas organizações e agências das Nações Unidas que funcionam para trabalhar sobre questões específicas. Algumas das agências mais conhecidas são a Agência Internacional de Energia Atómica, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), o Banco Mundial e a Organização Mundial da Saúde.

É por meio dessas agências que a ONU realiza a maior parte de seu trabalho humanitário. Exemplos incluem programa de vacinação em massa (através da OMS), de prevenção da fome e da desnutrição (através do trabalho do PAM) e à proteção dos mais vulneráveis e as pessoas deslocadas (por exemplo, o ACNUR).

A Carta das Nações Unidas prevê que cada órgão principal da ONU pode estabelecer várias agências especializadas para cumprir suas funções.

Agências especializadas das Nações Unidas

Nº Acrônimo Bandeira Agência Sede ChefeFundada

em

1 FAO

Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura

Roma, Itália

José Graziano da Silva

1945

2 AIEAAgência Internacional de Energia Atómica

Viena, Áustria

Mohamed ElBaradei

1957

3 OACIOrganização da Aviação Civil Internacional

Montreal, Canadá

Raymond Benjamin

1947

4 IFAD

Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola

Roma, Itália

Kanayo F. Nwanze

1977

5 OITOrganização Internacional do Trabalho

Genebra, Suíça

Juan Somavía

1946

6 OMI Organização Marítima

Londres, Efthimios 1948

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Internacional Reino UnidoE. Mitropoulos

7 FMIFundo Monetário Internacional

Washington, D.C., Estados Unidos

Christine Lagarde 22

1944

8 UITUnião Internacional de Telecomunicações

Genebra, Suíça

Hamadoun Touré

1947

9 UNESCOOrganização para a Educação, a Ciência e a Cultura

Paris, França

Irina Bokova

1946

10 UNIDO

Organização para o Desenvolvimento Industrial

Viena, Áustria

Kandeh Yumkella

1967

11 UPUUnião Postal Universal

Berna, Suíça

Edouard Dayan

1947

12 BM Banco MundialWashington, D.C., Estados Unidos

Robert B. Zoellick

1945

13 PAMPrograma Alimentar Mundial

Roma, Itália

Josette Sheeran

1963

14 OMSOrganização Mundial da Saúde

Genebra, Suíça

Margaret Chan

1948

15 OMPI

Organização Mundial da Propriedade Intelectual

Genebra, Suíça

Francis Gurry

1974

16 OMMOrganização Meteorológica Mundial

Genebra, Suíça

Alexander Bedritsky

1950

17 OMTOrganização Mundial do Turismo

Madrid, Espanha

Taleb Rifai

1974

Membros[editar | editar código-fonte]Ver artigo principal: Estados-membros das Nações Unidas

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Membros da ONU. Note que a Antártica não tem nenhum governo, o controle político do Sahara Ocidental está em disputa e os territórios da República da China (Taiwan) e Kosovo são considerados pela ONU como províncias da República Popular da China e da República da Sérvia, respectivamente.

Com a adição de Sudão do Sul em 14 de Julho de 2011, passaram a existir 193 países membros das Nações Unidas, incluindo todos os Estados independentes plenamente reconhecidos para além da Cidade do Vaticano e a Palestina, que tem o estatuto de observador..23

A Carta das Nações Unidas descreve as regras de adesão:

1. Filiação na Organização das Nações Unidas é aberta a todos os outros estados que amam a paz que aceitarem as obrigações contidas na presente Carta e, no entender da organização, são capazes e dispostos a realizar estas obrigações.

2. A admissão de qualquer desses estados, para solicitar a adesão às Nações Unidas será efetuada por uma decisão da Assembleia Geral, sob recomendação do Conselho de Segurança.

—Carta das Nações Unidas, capítulo 2, artigo 4

http://www.un.org/aboutun/charter/

O Grupo dos 77 nas Nações Unidas é uma coalizão de nações em desenvolvimento, destinadas a promover os seus membros, coletiva dos interesses econômicos e de criação de um reforço da capacidade de negociação conjunta na Organização das Nações Unidas. Havia 77 membros fundadores da organização, mas a organização tem, atualmente, 130 países-membros. O grupo foi fundado em 15 de Junho de

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1964 pela "Declaração Conjunta dos Setenta e Sete Países" emitida por ocasião da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD). O primeiro grande encontro foi em Argel, em 1967, quando a Carta de Argel e foi aprovada a base para a permanente das estruturas institucionais foi iniciada

Funções[editar | editar código-fonte]

Manutenção da paz e da segurança[editar | editar código-fonte]Ver artigo principal: Forças de manutenção da paz das Nações Unidas

Forças de manutenção da paz das Nações Unidas. As regiões em azul escuro indicam missões atuais, enquanto regiões em azul claro indicam missões anteriores.

A ONU, após aprovação pelo Conselho de Segurança, envia forças de manutenção da paz para regiões onde conflitos armados foram cessados ou pausados recentemente para fazer cumprir os termos dos acordos de paz e para evitar que os combatentes retomem as hostilidades. Como a ONU não mantém suas próprias forças armadas, forças de paz são fornecidas voluntariamente pelos Estados-Membros da ONU. As forças, também chamadas de "capacetes azuis", da ONU que cumprir acordos são celebradas com Medalhas das Nações Unidas, que são consideradas condecorações internacionais, em vez de condecorações militares. A força de paz como um todo recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1988.

Os fundadores das Nações Unidas tinham previsto que a organização iria tomar medidas para evitar conflitos entre as nações e tornar guerras futuras impossíveis, porém a eclosão da Guerra Fria tornou acordos de paz extremamente difíceis por causa da divisão do mundo em campos opostos. Após o fim da Guerra Fria, o apelo à ONU para se tornar a agência para alcançar a paz mundial havia sido renovado, pois há várias dezenas de conflitos em curso, que continuam a espalhar destruição ao redor do globo.

Um estudo da RAND Corp 2005 mostrou que a ONU é bem sucedida em dois de cada três esforços de paz. O estudo comparou os esforços da ONU com os dos Estados Unidos, e constatou que sete de oito questões que a ONU trata estão em paz, em comparação com quatro de oito questões no caso dos estados Unidos.24 Também em 2005, o Relatório de Segurança Humana documentou um declínio no número de guerras, genocídios e violações dos direitos humanos desde o fim da Guerra Fria, e apresentou provas, embora circunstanciais, que, na maior parte do ativismo internacional liderado pela ONU, tem sido a principal causa do declínio

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nos conflitos armados desde o fim da Guerra Fria.25 Situações em que a ONU não tem agido apenas para manter a paz, mas também interveio ocasionalmente incluem a Guerra da Coreia (1950-1953), e da autorização da intervenção no Iraque após a Guerra do Golfo Pérsico em 1990.

Uma autometralhadora britânica pintada para uma missão de paz da ONU.

A ONU também tem sido criticada por falhas notáveis. Em muitos casos, os Estados-Membros têm mostrado relutância em atingir ou cumprir as resoluções do Conselho de Segurança, uma questão que decorre da natureza intergovernamental da ONU, visto por alguns como uma simples associação de 192 Estados-Membros que devem chegar a um consenso, não como uma organização independente. Discordâncias no Conselho de Segurança sobre a ação e intervenção militar são vistos como tendo falhado em prevenir o Genocídio em Ruanda de 1994,26 em não conseguir prestar ajuda humanitária e intervir na Segunda Guerra do Congo, em não intervir no Massacre de Srebrenica, em 1995, em proteger refugiados de paz, o que autoriza a usar a força, em não entregar alimentos para pessoas famintas da Somália, em não aplicar as disposições das resoluções do Conselho de Segurança relacionadas com o Conflito israelo-palestino e a continua falhando em impedir o genocídio ou prestar assistência em Darfur. Tropas da ONU também foram acusados de estupro, abuso sexual ou solicitar prostitutas durante várias missões de paz, começando em 2003, no Congo,27 Haiti,28 29 Libéria,30 Sudão,31 Burundi e Costa do Marfim.32 Em 2004, o ex-embaixador de Israel à ONU, Dore Gold, criticou o que chamou de relativismo moral da organização em face de (e apoio ocasional)33

ao genocídio e ao terrorismo, que ocorreu entre a clareza moral do seu período de fundação até os dias atuais. Gold menciona especificamente o convite a Yasser Arafat em 1988 para discursar na Assembleia Geral como um ponto baixo na história da ONU.34

Além de paz, a ONU também é ativa em incentivar o desarmamento. A regulamentação dos armamentos foi incluída na redação da Carta da ONU em 1945 e foi idealizada como uma forma de limitar a utilização de recursos humanos e econômicos para a criação deles.35 No entanto, o advento das armas nucleares veio apenas algumas semanas após o assinatura da Carta e imediatamente suspendeu conceitos de limitação de armas e desarmamento, resultando na primeira resolução da primeira reunião da Assembleia Geral solicitando propostas concretas para "a eliminação do armamento nacional de armas atômicas e de todas as outras armas importantes adaptáveis a destruição em massa".36 Os fóruns

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principais para questões de desarmamento são a Primeira Comissão da Assembleia Geral, a Comissão de Desarmamento das Nações Unidas e a Conferência sobre o Desarmamento, e considerações foram feitas sobre os méritos de uma proibição de testes com armas nucleares, controle de armas no espaço, a proibição de armas químicas e minas terrestres, o desarmamento nuclear e convencional, zonas livres de armas nucleares, a redução dos orçamentos militares e as medidas de reforço da segurança internacional.

Direitos humanos e assistência humanitária[editar | editar código-fonte]

Eleanor Roosevelt com a Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1949.

O exercício dos direitos humanos foi a razão central para a criação da ONU. As atrocidades da Segunda Guerra Mundial e o genocídio levaram a um consenso que a nova organização deveria trabalhar para evitar tragédias semelhantes no futuro. O objetivo inicial era criar um quadro legal para considerar e agir sobre as denúncias sobre violações dos direitos humanos. A Carta das Nações Unidas obriga todos os países membros a promover o "respeito universal e a observância dos direitos humanos" e ter "uma ação conjunta e separada" para esse fim. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, embora não seja juridicamente vinculativa, foi aprovada pela Assembleia Geral em 1948 como uma norma comum a atingir por todos. A Assembleia regularmente retoma questões de direitos humanos.

A ONU e suas agências são centrais na defesa e aplicação dos princípios consagrados na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Um exemplo é o suporte por parte da ONU para os países em transição para a democracia. Assistência técnica na prestação de eleições livres e justas, a melhoria das estruturas judiciais, elaboração de constituições, formação de funcionários de direitos humanos e a transformação de movimentos armados em partidos políticos têm contribuído significativamente para a democratização no mundo inteiro. A ONU ajudou a executar eleições em países e territórios com pouca ou nenhuma história democrática, inclusive recentemente (Afeganistão e Timor-Leste). As Nações Unidas também é um fórum de apoio ao direito das mulheres de participar plenamente na vida política, econômica, social de seus países. A ONU contribui para aumentar a consciência do conceito de direitos humanos através de seus convênios e sua atenção para as violações específicas através de sua Assembleia Geral, as resoluções do Conselho de Segurança, ou da Corte Internacional de Justiça.

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O objetivo do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, criado em 2006,37 é o de combater as violações dos direitos humanos. O Conselho é o sucessor da Comissão das Nações Unidas sobre os Direitos Humanos, que foi muitas vezes criticada por posições de destaque que deu aos Estados-membros que não garantem os direitos humanos de seus cidadãos.38 O conselho tem 47 membros distribuídos por região, que servem cada mandato de três anos, e não podem exercer três mandatos consecutivos.39 Um candidato para o corpo deve ser aprovado pela maioria da Assembleia Geral. Além disso, o Conselho tem regras estritas para a adesão, incluindo uma revisão dos direitos humanos universais. Enquanto alguns membros com registros questionáveis de direitos humanos terem sido eleitos, é mais importante do que nunca dar um foco maior no registro de cada Estado-membro em matéria de direitos humanos.40

Os direitos dos cerca de 370 milhões de povos indígenas ao redor do mundo também é um foco para a ONU, com a Declaração sobre os Direitos dos Povos Indígenas a ser aprovada pela Assembleia Geral em 2007.41 A declaração define os direitos individuais e colectivos para a cultura, a linguagem, a educação, a identidade, o emprego ea saúde, resolvendo assim problemas pós-coloniais que confrontaram povos indígenas ao longo dos séculos. A declaração visa manter, reforçar e incentivar o crescimento das instituições, culturas e tradições indígenas. Também proíbe a discriminação contra os povos indígenas e promove a sua participação ativa em matérias que dizem respeito a seu passado, presente e futuro.41

Em conjunto com outras organizações como a Cruz Vermelha, a ONU oferece comida, água potável, abrigos e outros serviços humanitários para populações que sofrem de fome, deslocadas pela guerra, ou afetadas por outros desastres. Os principais ramos humanitárias da ONU são o Programa Alimentar Mundial (que ajuda a alimentar mais de 100 milhões de pessoas por ano em 80 países), o escritório do Alto Comissariado para os Refugiados, com projetos em mais de 116 países, bem como projetos de manutenção da paz em mais de 24 países.

Desenvolvimento social e econômico[editar | editar código-fonte]Metas de desenvolvimento do milênio

1. Erradicar a pobreza extrema e a fome;2. Atingir o ensino básico universal;3. Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres;4. Reduzir a mortalidade infantil;5. Melhorar a saúde materna;6. Combater o HIV/AIDS, a malária e outras doenças;7. Garantir a sustentabilidade ambiental; e8. Estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento.

A ONU está envolvida no apoio ao desenvolvimento, por exemplo, pela formulação das Metas de desenvolvimento do milênio. O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) é a maior fonte multilateral que concede assistência técnica em todo o mundo. Organizações como a Organização Mundial de Saúde

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(OMS), a UNAIDS e o Fundo Global de Luta contra Aids, Tuberculose e Malária são as principais instituições na luta contra as doenças em todo o mundo, especialmente nos países pobres. O Fundo de População das Nações Unidas é um importante fornecedor de serviços de reprodução. Ele tem ajudado a reduzir amortalidade infantil e materna em 100 países.

A ONU também promove o desenvolvimento humano através de diversas agências relacionadas. O Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), por exemplo, são agências independentes, especializadas e observadoras no âmbito da ONU, segundo um acordo de 1947. Eles eram inicialmente formados como organizações separadas da ONU através do Acordo de Bretton Woods em 1944.42

A ONU publica anualmente o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), medida comparativa de países que considera pobreza, alfabetização, educação, esperança de vida e outros fatores.

As Metas de desenvolvimento do milênio são oito objetivos que todos os 192 Estados-membros das Nações Unidas concordaram em tentar alcançar até o ano de 2015.43 Esta foi declarada na Declaração do Milênio das Nações Unidas, assinada em Setembro de 2000.

Mandatos[editar | editar código-fonte]

De vez em quando os diferentes órgãos das Nações Unidas aprovam resoluções que contenham pontos de funcionamento que começam com a expressão "pedidos", "convida" ou "incentiva", que o Secretário-geral interpreta como um mandato para criar uma organização temporária ou fazer alguma coisa. Esses mandatos podem ser para pesquisar e publicar um relatório escrito, ou montar uma operação de larga escala de manutenção da paz (geralmente o domínio exclusivo do Conselho de Segurança).

Apesar de as instituições especializadas, tais como a OMS, tenham sido originalmente criadas por este meio, elas não são os mesmos mandatos, porque são organizações permanentes que existem independentemente das Nações Unidas com a sua própria estrutura de associação. Poderíamos dizer que o mandato original era simplesmente para cobrir o processo de criação da instituição, e, portanto, a longo termo. A maioria dos mandatos expiram após um período de tempo limitado e pela necessidade de renovação do corpo que configurá-los.

Um dos resultados da Cúpula Mundial de 2005 foi um mandato (chamada id 17171) para o Secretário-Geral a "rever todos os mandatos de mais de cinco anos provenientes de resoluções da Assembleia Geral e outros órgãos". Para facilitar esta análise e, finalmente, dar coerência à organização, a Secretaria elaborou um registro on-line dos mandatos para reunir os relatórios referentes a cada uma delas e criar uma visão global.44

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Outros[editar | editar código-fonte]

Ao longo da história da ONU, mais de 80 colônias alcançaram a independência.45 A Assembleia Geral aprovou a Declaração sobre a Concessão de Independência aos Países e Povos Coloniais, em 1960, sem votos contra mas com abstenções de todas as grandes potências coloniais. Através do Comitê de Descolonização das Nações Unidas,46 criado em 1962, a ONU chamou uma atenção considerável para a descolonização. Ela também apoiou os novos Estados que surgiram como resultado de iniciativas auto-determinação. A comissão tem supervisionado a descolonização de todos os países maiores do que 20.000 km² e os removeu da lista das Nações Unidas de territórios não autônomos, além do Sahara Ocidental, um país maior do que o Reino Unido, apenas cedido pela Espanha em 1975.

A ONU declara e coordena observâncias internacionais, os períodos de tempo para observar algum assunto de interesse e preocupação internacional. Usando o simbolismo da ONU, um logotipo especialmente projetado para o ano e a infra-estrutura do Sistema das Nações Unidas, vários dias anos tornaram-se catalisadores para avançar com as questões-chave de interesse em escala global. Por exemplo, Dia Mundial da Tuberculose, Dia da Terra e Ano Internacional dos Desertos e da Desertificação.

Financiamento[editar | editar código-fonte]

15 principais doadores do orçamento da ONU (2012)47

Estado-membroContribuição

(% do orçamento da ONU)

 Estados Unidos 22,000%

 Japão 12,530%

 Alemanha 8,018%

 Reino Unido 6,604%

 França 6,123%

 Itália 4,999%

 Canadá 3,207%

 República Popular da China 3,189%

 Espanha 3,177%

 México 2,356%

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 Coreia do Sul 2,260%

 Austrália 1,933%

 Países Baixos 1,855%

 Brasil 1,611%

 Rússia 1,602%

Outros Estados-membros 18,536%

A ONU é financiada a partir de contribuições voluntárias dos Estados-membros. O periódico de dois anos os orçamentos das Nações Unidas e suas agências especializadas são financiados por avaliações. A Assembleia Geral aprova o orçamento regular e determina a avaliação para cada membro. Este é amplamente baseada na capacidade relativa de cada país a pagar, conforme medido pelo seu Rendimento Nacional Bruto (RNB), com correção da dívida externa e de baixa renda per capita.48

A Assembleia estabeleceu o princípio de que a ONU não deve ser excessivamente dependente de qualquer membro para financiar suas operações. Assim, existe uma taxa "teto", que fixa o montante máximo de cada membro é avaliado para o orçamento regular. Em dezembro de 2000, a Assembleia revisou a escala de avaliação global para refletir circunstâncias atuais. Como parte dessa revisão, o orçamento ordinário limite foi reduzido de 25% para 22%. Os Estados Unidos é o único membro que cumpriu o limite máximo. Além de uma taxa limite, o valor mínimo avaliado a qualquer membro nação (ou de 'andar' taxa) é fixado em 0,001% do orçamento da ONU. Também, para os países menos desenvolvidos, um limite máximo de taxa de 0,01% é aplicado.48

O orçamento operacional atual é estimado em US$ 4,19 bilhões48 (consulte a tabela para que os grandes contribuidores).

Uma grande parte das despesas da ONU aborda o cerne da missão das Nações Unidas a paz e a segurança. O orçamento para a manutenção da paz para os anos de 2005 e 2006 foi de aproximadamente US$ 5 bilhões (em comparação com aproximadamente US$ 1,5 bilhão para o orçamento da ONU núcleo no mesmo período), com cerca de 70.000 militares destacados em 17 missões em todo o mundo.49 Operações de paz da ONU são financiada por avaliações, utilizando uma fórmula derivada da escala financiamento regular, mas incluindo uma sobretaxa ponderado para os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança, que deve aprovar todas as operações da manutenção. Esta sobretaxa serve para compensar descontados taxas de manutenção de paz para a avaliação dos países menos desenvolvidos. A partir de 1 de janeiro de 2008, os 10 principais provedores de avaliadas as contribuições financeiras das Nações Unidas na

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manutenção da paz, foram: Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália, China, Canadá, Espanha e da República da Coreia.50

Programas especiais das Nações Unidas não incluídos no orçamento regular (como a UNICEF e PNUD), são financiadas por contribuições voluntárias dos governos membros. A maior parte desta está contribuições financeiras, mas alguns se sob a forma de commodities agrícolas doados para a população atingida.

Reforma[editar | editar código-fonte]

Proposta de logotipo para uma Assembleia Parlamentar das Nações Unidas, que envolve a eleição direta de um representante do país pelos seus cidadãos.

Desde a sua fundação, tem havido muitos pedidos para reformar as Nações Unidas, apesar de pouco consenso sobre como fazê-lo. Alguns querem que a ONU desempenhe um papel maior ou mais eficaz nos assuntos mundiais, enquanto outros querem o seu papel reduzido a trabalho humanitário.51 Também houve vários pedidos para que a adesão ao Conselho de Segurança fosse aumentada, para diferentes formas de eleição do Secretário-geral das Nações Unidas e para uma Assembleia Parlamentar das Nações Unidas.

A ONU também foi acusada de ineficiência burocrática e desperdício. Durante a década de 1990 os Estados Unidos reteve suas contribuições citando ineficiência, e só começou o reembolso, na condição de que uma iniciativa de grandes reformas fosse introduzida. Em 1994, o Escritório de Serviços de Supervisão Interna (ESSI) foi criado pela Assembleia Geral para servir como um observatório de eficiência.52

Um programa oficial da reforma foi iniciado por Kofi Annan, em 1997. As reformas incluem a mudança dos já mencionados membros permanentes do Conselho de Segurança (que atualmente reflete as relações de poder de 1945), fazer com que a burocracia fique mais transparente, responsável e eficiente, tornar a ONU mais democrática, e instituir uma tarifa internacional sobre fabricantes de armas no mundo.

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Nações G4, uma aliança entre Alemanha, Brasil, Índia e Japão com o objetivo de apoiar as propostas uns dos outros para ingressar em assentos permanentes no Conselho de Segurança.

Em setembro de 2005, a ONU convocou uma Cúpula Mundial, que reuniu os chefes da maioria dos Estados-membros, chamando a cúpula de "uma oportunidade única em uma geração para tomar decisões audaciosas nas áreas de desenvolvimento, segurança, direitos humanos e da reforma da das Nações Unidas."53 Kofi Annan propôs que a cúpula concordasse com um "grande contrato" global de reforma das Nações Unidas, que renovaria o foco da organização sobre a paz, segurança, direitos humanos e desenvolvimento, e a tornaria mais bem equipada para o enfrentamento das questões do século XXI. O resultado da cúpula foi um texto de compromisso acordado pelos líderes mundiais,54 que incluía a criação de uma Comissão de Consolidação da Paz para ajudar os países emergentes de conflito, um Conselho de Direitos Humanos, e um fundo para a democracia, uma condenação clara e inequívoca ao terrorismo "em todas as suas formas e manifestações", e os acordos de dedicar mais recursos para o Escritório de Serviços de Supervisão Interna, para gastar mais bilhões em alcançar as Metas de desenvolvimento do milênio, para encerrar o Conselho de Administração Fiduciária devido à realização da sua missão, e que a comunidade internacional tem a "responsabilidade de proteger" - o dever de intervir quando os governos nacionais não cumprem sua responsabilidade de proteger seus cidadãos de crimes atrozes.

O Escritório de Serviços de Supervisão Interna está a ser reestruturado a fim de definir mais claramente o seu alcance e mandato, e irá receber mais recursos. Para além disso, para melhorar a supervisão e auditoria da Assembleia Geral um Comitê Consultivo de Auditoria Independente (CCAI) está sendo criado. Em junho de 2007, o Quinto Comitê criou um projecto de resolução para os termos de referência desta comissão.55 56 Um escritório de ética foi criado em 2006, responsável pela gestão de informações financeiras e novas políticas de proteção do denunciante. Trabalhando com o ESSI, o Escritório de Ética também pretende implementar uma política para evitar a fraude e a corrupção.57 A Secretaria está em processo de revisão de todos os mandatos da ONU que são mais de cinco anos. A revisão destina-se a determinar que uma duplicação desnecessária ou programas deverão ser eliminados. Nem todos os Estados-membros estão de acordo quanto a qual dos mais de 7000 os mandatos devem ser revistos. A disputa centra-se que mandatos que foram renovados devem ser examinados. Em setembro de 2007, o processo estava em curso.58

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3.16 A Guerra Fria: a noção de bipolaridade (de Truman a Nixon).

Guerra Fria

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Guerra Fria

Mikhail Gorbachev, Secretário-Geral do Partido Comunista da União Soviética, e Ronald Reagan, Presidente dos Estados

Unidos, assinando o Tratado INF, em 8 de dezembro de 1987.

Data 1945 — 1991

Local Global

Desfecho

Vitória do Primeiro Mundo (capitalistas)

Status Fim da União Soviética

Fim do socialismo na maioria dos países de

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Segundo Mundo Divisão do mundo de acordo

com a Teoria dos Mundos, principalmente

Introdução do capitalismo como exemplo mundial

Combatentes

Primeiro Mundo (capitalistas)

 Estados Unidos

 Canadá  Reino

Unido  França  Itália  Alemanha

Ocidental  Vietnã do

Sul  Espanha  Portugal  Irlanda  Bélgica  Países

Baixos

Suíça  Áustria  Dinamarc

a  Noruega  Suécia  Finlândia  Islândia  Grécia  Chipre  Turquia  Luxembur

go  Liechtenst

ein  Andorra

Vaticano  São

Marino

Segundo Mundo (socialistas)

 União Soviética

 China  Alemanha

Oriental Vietnã do

Norte Coreia do

Norte  Cuba Laos Mongólia  Polónia  Bulgária  Hungria  Tchecoslová

quia  Roménia  Albânia Iugoslávia Etiópia Angola Moçambique Iêmen do Sul Congo Afeganistão Benin Madagascar

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 Austrália  Nova

Zelândia  Japão  Coreia do

Sul Taiwan

Guerra Fria é a designação atribuída ao período histórico de disputas estratégicas e conflitos indiretos entre os Estados Unidos e a União Soviética, compreendendo o período entre o final da Segunda Guerra Mundial (1945) e a extinção da União Soviética (1991), um conflito de ordem política, militar, tecnológica, econômica, social e ideológica entre as duas nações e suas zonas de influência.

Uma parte dos historiadores argumenta que foi uma disputa dos países que apoiavam as Liberdades civis, como a liberdade de opinião e de expressão e de voto, representada pelos Estados Unidos e outros países ocidentais e do outro lado a ditadura comunista ateia,1 2 (ver: Ateísmo Marxista-leninista) onde era suprimida a possibilidade de eleger e de discordar, defendida pela União Soviética (URSS)3 e outros países onde o comunismo fora imposto por ela.

Outra parte dos historiadores defende que esta foi uma disputa entre o capitalismo, que patrocinou regimes ditatoriais na América Latina,4 representado pelos Estados Unidos, e o socialismo totalitário5 6 expansionista7 , onde fora suprimida a propriedade privada, defendido pela União Soviética (URSS) e China.8 Entretanto, esta caracterização só pode ser considerada válida com uma série de restrições e apenas para o período do imediato pós-Segunda Guerra Mundial, até a década de 1950. Logo após, nos anos 1960, o bloco socialista se dividiu e durante as décadas de 1970 e 1980, a China comunista se aliou aos Estados Unidos na disputa contra a União Soviética. Além disso, muitas das disputas regionais envolveram Estados capitalistas, como os Estados Unidos contra diversas potências locais mais nacionalistas.

É chamada "fria" porque não houve uma guerra direta ou seja bélica, "quente", entre as duas superpotências, dada a inviabilidade da vitória em uma batalha nuclear. A corrida armamentista pela construção de um grande arsenal de armas nucleares foi o objetivo central durante a primeira metade da Guerra Fria, estabilizando-se na década de 1960 até à década de 1970 e sendo reativada nos anos 1980 com o projeto do presidente estadunidense Ronald Reagan chamado de "Guerra nas Estrelas".

Dada a impossibilidade da resolução do confronto no plano estratégico, pela via tradicional da guerra aberta e direta que envolveria um confronto nuclear; as duas superpotências passaram a disputar poder de influência política, econômica e ideológica em todo o mundo. Este processo se caracterizou pelo envolvimento dos Estados Unidos e União Soviética em diversas guerras regionais, onde cada potência apoiava um dos lados em guerra. Estados Unidos e União Soviética não apenas financiavam lados opostos no confronto, disputando influência político-

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ideológica, mas também para mostrar o seu poder de fogo e reforçar as alianças regionais.

Neste contexto, os chamados países não alinhados, mantiveram-se fora do conflito não alinhando-se aos blocos pró-URSS ou pró-EUA. E formariam um "terceiro bloco" de países neutros: o Movimento Não Alinhado.

Norte-americanos e soviéticos travaram uma luta ideológica, política e econômica durante esse período. Se um governo socialista fosse implantado em algum país do Terceiro Mundo, o governo norte-americano entendia como uma ameaça à sua hegemonia; se um movimento popular combatesse um governo aliado à soviético, logo poderia ser visto com simpatia pelos Estados Unidos e receber apoio.

A Guerra da Coreia (1950-1953) e a Guerra do Vietnã (1962-1975) são os conflitos mais famosos da Guerra Fria. Além da famosa tensão na Crise dos mísseis em Cuba (1962) e, também na América do Sul, a Guerra das Malvinas (1982). Entretanto, durante todo este período, a maior parte dos conflitos locais, guerras civis ou guerras inter-estatais foi intensificado pela polarização entre EUA e URSS.

Esta polarização dos conflitos locais entre apenas dois grandes polos de poder mundial, é que justifica a caracterização da polaridade deste período como bipolar. Principalmente porque, mesmo que tenham existido outras potências regionais entre 1945 e 1991, apenas Estados Unidos e URSS tinham capacidade nuclear de segundo ataque, ou seja, capacidade de dissuasão nuclear.

Índice [esconder] 

1 História o 1.1 A Crise no Pós-Guerra

1.1.1 Operação Impensável 1.1.2 Bloqueio de Berlim (Junho/1948 - Maio/1949)

o 1.2 Plano Marshall e COMECON o 1.3 Corrida armamentista o 1.4 OTAN e Pacto de Varsóvia o 1.5 Conflito ideológico o 1.6 Guerra da Coreia (Junho/1950 - Julho/1953) o 1.7 Operação Washtub o 1.8 Corrida Espacial o 1.9 Arpanet o 1.10 A coexistência pacífica (1953   - 1962) o 1.11 Os países não alinhados o 1.12 Crises da Guerra Fria (1956   - 1962)

1.12.1 Revolução húngara (1956) 1.12.2 Guerra de Suez (1956) 1.12.3 Crise dos Mísseis (1962) 1.12.4 América Latina

o 1.13 A Distensão (1962 - 1979) 1.13.1 Guerra do Vietnã (1962 - 1975)

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1.13.2 A Distensão na Europa 1.13.3 O reconhecimento da China pelos Estados Unidos

o 1.14 A "Segunda" Guerra Fria (1979-1985) o 1.15 A Era Gorbachev - o fim da Guerra Fria (1985-1991)

1.15.1 Perestroika e Glasnost 1.15.2 O desalinhamento das repúblicas orientais

2 Nova Guerra Fria o 2.1 A Era Medvedev (2008-2009) o 2.2 A Guerra na Ossétia do Sul e Geórgia o 2.3 A Era Vladmir Putin (2012-a atualmente)

3 Cronologia 4 Ver também 5 Referências

História[editar | editar código-fonte]

A Crise no Pós-Guerra[editar | editar código-fonte]

Parte da série sobre aHistória da Guerra Fria

Origens da Guerra Fria

Segunda Guerra MundialConferências de Guerra

Bloco OrientalCortina de Ferro

Guerra Fria (1947–1953)

Guerra Fria (1953–1962)

Guerra Fria (1962–1979)

Guerra Fria (1979–1985)

Guerra Fria (1985–1991)

Cronologia  · Historiografia

Com o final da Segunda Guerra Mundial, a Europa estava arrasada e ocupada pelos exércitos das duas grandes potências vencedoras, os Estados Unidos e a URSS. O desnível entre o poder destas duas superpotências e o restante dos países do

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mundo era tão gritante, que rapidamente se constitui um sistema global bipolar, ou seja, centrada em dois grandes polos.

Os Estados Unidos defendiam a economia capitalista, argumentando ser ela a representação da democracia e da liberdade. Em contrapartida a URSS enfatizava o socialismo, argumentando defesa ao domínio burguês e solução dos problemas sociais.

Os Aliados divergiam sobre a forma de como manter a segurança do pós-guerra. Os aliados ocidentais queriam criar uma rede de segurança que, com governos quanto mais possível democráticos, resolvessem suas diferenças de forma pacífica através de organizações internacionais.9 A Rússia devido à experiência, através da história de invasões freqüentes, bem como a perda humana estimada em 27 milhões e a destruição sofrida durante a Segunda Guerra Mundial, queria garantir sua segurança pelo controle dos assuntos internos de países vizinhos.9

Churchill, Roosevelt e Stalin na Conferência de Ialta, 1945.

Sob a influência das duas doutrinas, o mundo foi dividido em dois blocos liderados cada um por uma das superpotências: a Europa Ocidental e a América Central e do Sul sob influência cultural, ideológica e econômica estadunidense, e parte do Leste Asiático, Ásia central e Leste europeu, sob influência soviética. Assim, o mundo dividido sob a influência das duas maiores potências econômicas e militares da época, estava também polarizado em duas ideologias opostas: o Capitalismo e o Socialismo.

Entretanto era notória deste o início da Guerra Fria a superioridade economica norte americana. Em 1945 os Estados Unidos tinham metade do PIB mundial, 2/3 das reservas mundiais de ouro, 60% da capacidade industrial ativa do mundo, 67% da capacidade produtora de petróleo, além da maior Marinha e da maior Força Aérea que existia. Seus exércitos ocupavam parte da Europa ocidental e o Japão, algumas das zonas foram as mais ricas e industrializadas do mundo antes da Guerra. Também ocupavam parte do sudeste asiático, especificamente metade da península da Coreia e grande parte das ilhas do Pacífico. O território continental americano nunca havia sido realmente ameaçado durante a Segunda Guerra Mundial, sendo que a batalha travada geograficamente mais próxima do continente foi a de Pearl Harbor, no Havai.

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Por sua vez a União Soviética ocupava a metade oriental da Europa e a metade norte da Ásia, uma parte da Manchúria e da Coreia, regiões tradicionalmente agrícolas e pobres. O próprio território soviético havia sido palco de batalhas durante a II Guerra Mundial, contra divisões alemãs. O resultado é que em 1945 os Estados Unidos contabilizavam cerca de 500 mil mortos na guerra, contra cerca de 20 milhões de soviéticos mortos (civis e militares). Centenas de cidades soviéticas estavam destruídas em 1945. A maior parte das indústrias, da capacidade produtiva agrícola e da infraestrutura de transportes, energia e comunicações estava destruída ou seriamente comprometida.

Operação Impensável[editar | editar código-fonte]Ver artigo principal: Operação Impensável

Operação Impensável é o nome de um plano inicial de guerra feito pelo governo britânico em 1945. Tal operação consistia na invasão da então União Soviética por forças militares britânicas, poloneses exilados, americanos e mesmo alemães recém rendidos.

Bloqueio de Berlim (Junho/1948 - Maio/1949)[editar | editar código-fonte]Ver artigo principal: Bloqueio de Berlim, Desnazificação, Zonas ocupadas pelos

Aliados na Alemanha, Zonas ocupadas pelos Aliados na Áustria

Após a derrota alemã na Segunda Guerra, os países vencedores lhe impuseram pesadas sanções. Dentre as quais a divisão da Alemanha em 4 áreas administrativas, cada uma chefiada por um dos vencedores: Estados Unidos, França, Reino Unido e União Soviética e duas zonas de influência: Capitalista e Socialista. Berlim, a capital da Alemanha, também foi dividida, ainda que sob território de influência soviética. A comunicação entre o lado ocidental da cidade fragmentada e as outras zonas era feita por pontes aéreas e terrestres.

C-47 no Aeroporto de Tempelhof em Berlim durante o Bloqueio de Berlim.

Em 1948, numa tentativa de controlar a inflação galopante da Alemanha, os Estados Unidos, a França e o Reino Unido criaram uma "trizona" entre suas zonas de influência, para fazer valer nestes territórios o Deutsche Mark (Marco alemão). Josef Stalin, então líder da URSS, reprovou a ideia e, como contra-ataque, procurou reunificar Berlim sob sua influência. Desse modo, em 23 de Junho de 1948, todas

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as rotas terrestres foram fechadas pelas tropas soviéticas, privando a cidade de alimentos e combustiveis, numa violação dos acordos da Conferência de Ialta.

Para não abandonar as zonas ocidentais de Berlim e dar vitória à União Soviética, os países ocidentais prontificaram-se a criar uma grande ponte aérea, em que aviões de transporte de cargas estado-unidenses, ingleses, e australianos saíam da "trizona" levando mantimentos aos mais de dois milhões de berlinenses que viviam no ocidente da cidade. Stalin reconheceu a derrota dos seus planos em 12 de Maio de 1949. Pouco depois, as zonas estadunidense, francesa e britânica se unificaram, originando a Bundesrepublik Deutschland (República Federativa da Alemanha ou Alemanha Ocidental), cuja capital era Bonn. Da zona soviética surgiu a Deutsche Demokratische Republik (República Democrática Alemã ou Alemanha Oriental), com capital Berlim, a porção oriental.10 11

Plano Marshall e COMECON[editar | editar código-fonte]Ver artigo principal: Plano Marshall, COMECON

Mapa da Europa mostrando os países que receberam ajuda do Plano Marshall. As colunas azuis mostram a quantidade total relativa de ajuda por país.

A fragilização das nações europeias, após uma guerra violenta, permitiu que os Estados Unidos estendessem uma série de apoios econômicos à Europa aliada, para que estes países pudessem se reerguer e mostrar as vantagens do capitalismo. Assim, o Secretário de Estado dos Estados Unidos, George Marshall, propõe a criação de um amplo plano econômico, que veio a ser conhecido como Plano Marshall. Tratava-se da concessão de uma série de empréstimos a baixos juros e investimentos públicos para facilitar o fim da crise na Europa Ocidental e repelir a ameaça do socialismo entre a população descontente. Durante os primeiros anos da Guerra Fria, principalmente, os Estados Unidos fizeram substanciais investimentos nos países aliados, com notável destaque para o Reino Unido, a França e a Alemanha Ocidental.

O Japão, entre 1947 e 1950, recebeu menos apoio americano. A situação só se transformou com a explosão da Guerra da Coreia, que fez do Japão o principal aliado das tropas das Nações Unidas. Após a declaração da guerra, os americanos

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realizaram importantes investimentos na economia japonesa, que também foi impulsionada com a demanda de guerra.

Em 1951 foi elaborado o Plano Colombo, uma organização realizada por países do Sudeste Asiático, com intenções de reestruturação social. Os norte-americanos realizaram alguns investimentos para estimular a economia do sub-continente, mas o volume de capital investido foi muito menor ao destacado para o Plano Marshall, porém bem menos ambicioso, para estimular o desenvolvimento de países do sul e sudeste da Ásia.

Em resposta ao plano econômico estadunidense, a União Soviética propôs-se a ajudar também seus países aliados, com a criação do COMECON (Conselho para Assistência Econômica Mútua). O COMECON fora proposto como maneira de impedir os países-satélites da União Soviética de demonstrar interesse no Plano Marshall, e não abandonarem a esfera de influência de Moscou.

Corrida armamentista[editar | editar código-fonte]Ver artigo principal: Corrida armamentista

Teste nuclear realizado em 18 de Abril de 1953 na Área de Testes de Nevada.

Terminada a Segunda Guerra Mundial, as duas potências vencedoras dispunham de uma enorme variedade de armas, muitas delas desenvolvidas durante o conflito, outras obtidas dos cientistas alemães e japoneses.

Novos tanques, aviões, submarinos, navios de guerra e mísseis balísticos constituíam as chamadas armas convencionais. Mas também haviam sido desenvolvidas novas gerações de armas não convencionais, como armas químicas, que praticamente não foram utilizadas em batalha. A Alemanha que desenvolveu a maior indústria de armas químicas do mundo, utilizou esses gases mortais em câmaras de gás nos campos de concentração. Algumas armas biológicas foram testadas, principalmente pelo Japão na China ocupada, mas a tecnologia da época ainda era muito pouco eficiente. O maior destaque ficou com uma nova arma não-convencional, mais poderosa que qualquer outra arma já testada até então: bomba atómica. Só os Estados Unidos tinham essa tecnologia, o que aumentava em muito seu poderio bélico e sua superioridade militar estratégica em relação aos soviéticos.

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A União Soviética iniciou então seu programa de pesquisas para também produzir tais bombas, o que conseguiu em 1949. Mas logo a seguir, os Estados Unidos testavam a primeira bomba de hidrogênio, centena de vezes mais poderosa. A União soviética levaria até 1953 para desenvolver a sua versão desta arma, dando início a uma nova geração de ogivas nucleares menores, mais leves e mais poderosas.

A União Soviética obteve a tecnologia para armas nucleares através de espionagem. Em 1953, nos Estados Unidos, o casal Julius e Ethel Rosenberg foi condenado a morte por transmitir à União Soviética segredos sobre a bomba atómica norte americana.

Essa corrida ao armamento era movida pelo receio recíproco de que o inimigo passasse a frente na produção de armas, provocando um desequilíbrio no cenário internacional. Se um deles tivesse mais armas, seria capaz de destruir o outro.

A corrida atingiu proporções tais que, já na década de 1960, os Estados Unidos e a URSS tinham armas suficiente para vencer e destruir qualquer outro país do mundo. Uma quantidade tal de armas nucleares foi construída, que permitiria a qualquer uma das duas superpotências, sobreviver a um ataque nuclear maciço do adversário, e a seguir, utilizando apenas uma fração do que restasse do seu arsenal, pudesse destruir o mundo. Esta capacidade de sobreviver a um primeiro ataque nuclear, para a seguir retaliar o inimigo com um segundo ataque nuclear devastador, produziu medo suficiente nos líderes destes dois países para impedir uma Guerra Nuclear, sintetizado em conceitos como Destruição Mútua Assegurada ou "Equilíbrio do terror".

OTAN e Pacto de Varsóvia[editar | editar código-fonte]Ver artigo principal: OTAN, Pacto de Varsóvia

Em 1949 os Estados Unidos e o Canadá, juntamente com a maioria dos países europeus, suportados alguns destes com governos que incluiam os socialistas, criaram a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), uma aliança militar com o objetivo de proteção internacional em caso de um suposto ataque dos países do leste europeu.

Em resposta à OTAN, a URSS firmou entre ela e seus aliados o Pacto de Varsóvia (1955) para unir forças militares da Europa Oriental. Logo as alianças militares estavam em pleno funcionamento, e qualquer conflito entre dois países integrantes poderia ocasionar uma guerra nunca vista antes.

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Mapa dos países pertencentes ao Pacto de Varsóvia.

A tensão sentida pelas pessoas com relação às duas superpotências acentuou-se com o início da corrida armamentista, cujo “vencedor” seria a potência que produzisse mais armas e mais tecnologia bélica. Em contraponto, a corrida espacial trouxe grandes inovações tecnológicas e proporcionou um grande avanço nas telecomunicações e na informática.

O macartismo, criado pelo senador estadunidense Joseph McCarthy nos anos 50, culminou na criação do Comitê de Investigação de Atividades Antiamericanas do Senado dos Estados Unidos. Em outras palavras, toda e qualquer atividade pró-comunismo estava terminantemente proibida e qualquer um que as estimulasse estaria sujeito à prisão ou extradição. Inúmeros artistas e produtores de filmes ou de programas de televisão que criticavam o governo americano foram acusados de comunistas. Foi criada a Lista Negra de Hollywood contendo os nomes de pessoas do meio artístico acusados de atividades antiamericanas.

A era do macartismo acabou por extirpar do meio artístico americano a maior parte dos produtores progressistas ou simpatizantes da esquerda. A URSS aplicou extensivamente o Artigo 58 de seu Código Penal na Zona de ocupação soviética na Alemanha, onde as pessoas eram internadas como "espiões" pela simples suspeita de oposição ao regime stalinista, como pelo simples ato de contatar organizações com base nas Zonas ocupadas pelos Aliados ocidentais.12 No campo especial da NKVD em Bautzen, 66% dos presos, tinham sido encarcerados por suspeita de apoiarem o capitalismo .12

Conflito ideológico[editar | editar código-fonte]

Capa de New Lies for Old de Anatoliy Golitsyn 13

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Is this tomorrow: America under communism ! ("Este será o amanhã: a América sob o comunismo !"), revista em quadrinhos de propaganda anticomunista de 1947.

Durante o período da Guerra Fria, a disputa ideológica entre os dois blocos foi acirrada. As duas superpotências fizeram grandes esforços de propaganda política no intuito de conquistar o apoio mundial. Tanto Estados Unidos quanto União Soviética concentravam sua propaganda política-ideológica em duas frentes: desacreditar a ideologia e as ações do adversário e, ao mesmo tempo, convencer a opinião internacional de que seu sistema político, econômico e sócio-cultural era superior. Setores como tecnologia (ver: Programa espacial dos Estados Unidos e Programa espacial soviético) e mesmo esporte (ver: Boicote aos Jogos Olímpicos de Verão de 1980 e Jogos Olímpicos de Verão de 1984), eram usados para fins de propaganda.

Os serviços de inteligência e espionagem desempenharam papel decisivo nesta disputa. Usando de contrainformação, agentes soviéticos infiltrados conseguiram induzir governos ocidentais ao erro,15 atuando nos EUA já na presidência de Franklin Delano Roosevelt.16 17 Por exemplo, Harry Dexter White, funcionário que ocupou importantes cargos no governo americano, era na realidade, um agente a serviço da URSS.18 E que, por meio de manipulação de informações, ajudou a sabotar as relações nipo-americanas gerando tensão e desconfianças em ambos os lados.18 As ações de White levaram o Império do Japão a, erroneamente, tomar a decisão de lançar o ataque a Pearl Harbor, precipitando a entrada dos EUA na guerra mundial, o que era de interesse da URSS.18 Ainda durante a II Guerra Mundial, britânicos e estadunidenses retiraram o apoio dado ao general conservador Draža Mihailović líder dos Chetniks (movimento de resistência antifascista), resultando na implantação do comunismo na Iugoslávia no pós-guerra, sob comando de Josip Broz Tito.15 Na Guerra Civil Chinesa, os EUA não concederam apoio efetivo a Chiang Kai-shek, líder do exército nacionalista do Kuomintang. Assim, o movimento comunista, liderado por Mao Tsé-Tung, foi vitorioso.15 Estes equívocos (e outros) deveram-se ao trabalho de desinformação empregado pelos soviéticos.15

Os serviços secretos americanos tiveram várias vitórias de pequena escala. Por exemplo, na chamada exfiltração, que é auxiliar um alto funcionário do governo inimigo que deseja

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desertar. Tanto EUA quanto Reino Unido exfiltraram muitas pessoas. Mas na escala macroscópica, a KGB fez os governos ocidentais de trouxas.15

— Olavo de

Carvalho

Em seu avanço para a Alemanha Nazista, o exército vermelho ocupou o Leste Europeu, levando governos pró soviéticos ao poder nos países da região. Do "socialismo em um só país" chegou-se à "revolução mundial" e, no final do conflito, o comunismo estava presente em 12 países.19

Com a vitória sobre o nazifascismo garantida, o general George S. Patton desejava enfrentar os soviéticos, defendendo a estratégia de "rollback" (confronto militar direto ou guerra "quente"), pois considerava o comunismo uma ameaça maior. O exército dos Estados Unidos encontrava-se na Europa e a URSS estava esgotada pela guerra. Na visão de Patton, aquela era uma oportunidade única para enfrentá-los que não deveria ser desperdiçada. Em 7 de Maio de 1945 (um dia antes do Dia da Vitória na Europa), Patton declarou:19 20

“ (...) Não vamos dar tempo a eles (soviéticos) de arranjar suprimentos. Se dermos, teremos apenas vencido e desarmado a Alemanha mas teremos falhado na libertação da Europa; teremos perdido a guerra!(...) Devemos manter nossas botas polidas, baionetas afiadas, e apresentarmo-nos fortes perante os russos. Esta é a única linguagem que eles entendem e respeitam. ”

Porém, terminada a guerra, o bloco ocidental adotou a "estratégia de contenção" em lugar do confronto direto. Esta foi aplicada numa tentativa de impedir uma maior expansão geopolítica do bloco comunista (ver: teoria do dominó). A contenção teve êxito em barrar a expansão do comunismo na Europa Ocidental, mas não impediu o surgimento de regimes comunistas em países da América Latina, África e Ásia.

Vários dissidentes soviéticos desertaram para o ocidente. Muitos destes desertores denunciaram crimes contra a humanidade cometidos pela URSS, seus estados satélites e por movimentos marxistas-leninistas associados. Também foram reveladas ações de espionagem e esforços de propaganda para provocar subversão no mundo ocidental. Muitos dissidentes que revelaram fatos sobre a URSS, foram tratados com ceticismo ou descrédito por governos e mídia de países democráticos e também foram alvo de campanhas difamatórias movidas pelo governo soviético.

Victor Kravchenko pediu asilo político aos EUA em 1944. Dois anos depois publicou o livro I Choose Freedom 21 (Eu Escolhi a Liberdade). Nesta obra, ele denuncia os trágicos resultados da coletivização forçada na União Soviética e as condições desumanas dos Gulags (campos de trabalho forçado) mais de trinta anos antes da publicação de Arquipélago Gulag de Alexander Soljenítsin. Kravchenko foi vítima de uma campanha difamatória, neste caso, veiculada pela revista francesa Les Lettres Françaises. Isto, valeu ao semanário um processo por difamação, vencido por Kravchenko, que foi conhecido como "o julgamento do século".22

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Igor Gouzenko, ex funcionário da embaixada soviética no Canadá, denunciou que a espionagem de seu país roubava dos EUA segredos para a fabricação de armas nucleares. O livro Como Começou a Guerra Fria traz detalhes sobre as denúncias de Gouzenko. Em 1953, os americanos Julius e Ethel Rosenberg foram condenados a pena de morte por traição, acusados de transmitirem segredos, incluindo tecnologia nuclear, para a URSS.

Anatoliy Golitsyn afirmou que a ruptura sino-soviética (seguido do conflito fronteiriço sino-soviético) foi uma farsa encenada para criar a ilusão de que o bloco comunista estava dividido internamente e, assim, enganar o ocidente.13 Estudiosos acusam o Movimento Não Alinhado de ter sido idealizado pelos serviços de inteligência soviéticos, com o objetivo de disseminar, no terceiro mundo, o antiamericanismo "camuflado" de neutralidade.23 Golitsyn defendia a ideia que Ruptura Tito-Stalin não havia sido real, atendendo aos interesses da propaganda comunista ao reforçar a sensação da existência de neutralidades dentro do bloco.13

Svetlana Alliluyeva, filha de Josef Stalin, em viagem à Índia, solicitou asilo político para a embaixada americana em Nova Deli. Sua autobiografia Twenty Letters To A Friend 24 seria publicada em 1967 coincidindo com o 50º aniversário da Revolução Russa. Pressões da URSS adiaram o lançamento do livro. Svetlana denunciou as violências praticadas pelo regime soviético, antes e depois de seu pai.25

Ele se foi, mas sua sombra ainda está sobre nós. Ele continua dando ordens e nós, muitas vezes, ainda obedecemos.

— Svetlana Alliluyeva sobre seu

pai.25

Yuri Bezmenov, correspondente da agência de notícias RIA Novosti na Índia e agente da KGB, desertou para o Canadá em 1970. Revelou ao ocidente as estratégias usadas para incitar a subversão em países nas quais a URSS almejava implantar governos satélites. Descreveu que o processo de subversão de uma sociedade consiste em quatro fases distintas 26 ("desmoralização", "desestabilização", "crise", "normalização"). Cada fase busca um objetivo: desacreditar ("desmoralizar") religião, valores e cultura (ver: marxismo cultural); desorganizar ("desestabilizar") as estruturas política, econômica e sócio-cultural; incitar desordem generalizada ("crise") precipitando a implantação de um governo pró soviético e, após, estabilizar ("normalizar") a situação deste país.27 Segundo ele, a subversão é executada por agentes estrangeiros ou colaboradores locais que infiltram-se em diversas áreas, que vão de grupos religiosos, partidos políticos, meio empresarial e mídia conservadora a defensores dos direitos civis, homossexuais, feministas e indústria cultural.27 Alertava que, na fase de "normalização" os colaboradores mais idealistas e radicais (os "idiotas úteis") eram descartados, muitas vezes sendo eliminados fisicamente.27 Yuri Bezmenov deu inúmeros exemplos disto em livros, palestras,27 entrevistas e conferências.

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No período pós Guerra Fria, organizações internacionais reprovaram as violências praticadas em nome do comunismo. Em 25 de Janeiro de 2006, o Conselho da Europa oficializou uma resolução condenando os crimes dos governos que adotaram este sistema.28 29 Em 2008 foi firmada, na República Tcheca, a Declaração de Praga sobre Consciência Europeia e Comunismo (colocando no mesmo nível os crimes do marxismo-leninismo e do nazifascismo) e o Parlamento Europeu instituiu o Dia Europeu da Memória das Vítimas do Stalinismo e do Nacional-Socialismo 30 31 32 (23 de Agosto, dia da assinatura do Pacto Molotov-Ribbentrop).

Governos autoritários pró EUA e pró URSS, em todo o mundo, fizeram muitas vítimas. Repressão política, censura, exílio, tortura e assassinato foram praticados igualmente por governos comunistas e anticomunistas. Regimes políticos conservadores, reacionários e contrarrevolucionários de direita, apoiados pelos estadunidenses (ver: Ações de derrubada de governos patrocinadas pela CIA), foram responsáveis por graves violações dos direitos humanos (ver: Arquivo do Terror, Operação Condor e The War on Democracy). Contudo, estatísticas atuais 33 comprovam que o total de vítimas dos regimes comunistas, alinhados ou não, foi numericamente muito maior 34 (ver: Memorial das Vítimas do Comunismo, O Livro Negro do Comunismo e The Soviet Story).

Guerra da Coreia (Junho/1950 - Julho/1953)[editar | editar código-fonte]Ver artigo principal: Guerra da Coreia

O único grande confronto militar que envolveu batalhas em que de um lado haviam forças militares americanas e do outro forças soviéticas, foi a Guerra da Coreia. A península da Coreia foi dividida, em 1945, pelo paralelo 38 N, em duas zonas de influência: uma ao norte, ocupada pela União Soviética, e a partir de 1949 pela República Popular da China, comunista; era a República Popular Democrática da Coreia. A outra porção, ao sul do paralelo 38 N, foi ocupada pelas tropas americanas e permaneceu capitalista com apoio das nações ocidentais passou a ser conhecida como República da Coreia.

Em 1950, os líderes da Coreia do Norte, incentivada pela vitória do socialismo na China um ano antes, recebeu apoio da URSS para tentar reunificar a Coreia sob o comando de um governo socialista, invadiu e ocupou a capital sul-coreana Seul, desencadeando um conflito armado. Os Estados Unidos solicitaram ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, a formação de uma força multinacional para defender a Coreia do Sul. Na ocasião a URSS se recusou a participar da reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas em que esta medida foi discutida, e os Estados Unidos conseguiram legitimar a primeira grande batalha militar da Guerra Fria contra o bloco soviético.

As tropas anglo-americanas fizeram a resistência no sul, reconquistando a cidade e partindo em uma investida contra o norte. A China, sentindo-se ameaçada pela aproximação das forças ocidentais, enviou reforços à frente de batalha, fazendo da Coreia um grande campo de batalha.

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Após muitas batalhas, com avanços e recuos de ambos os lados, um primeiro acordo de paz é negociado, mas demora dois anos para ser ratificado. O General americano Douglas MacArthur chegou a solicitar o uso de armas nucleares contra a Coreia do Norte e a China, mas foi afastado do comando das forças americanas.

Apenas quando a União Soviética já havia testado sua primeira bomba de hidrogênio, em 1953, é que um armistício foi assinado em Panmunjon, em 27 de Julho de 1953. O acordo manteve a península da Coreia dividida em dois Estados soberanos, praticamente como antes do início da guerra, com mudanças mínimas na linha de fronteira. Essa divisão da Coreia em dois países se mantém até hoje. Em Junho de 2000, os governos das duas Coreias anunciaram planos de reaproximação dos dois países. Isso significou o início da desmilitarização da região, a diminuição do isolamento internacional da Coreia do Norte e, para milhares de coreanos, a possibilidade de reencontrar parentes separados há meio século pelo conflito. Pela tentativa, o então presidente da Coreia do Sul, Kim Dae Jung, recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2000.

Operação Washtub[editar | editar código-fonte]Ver artigo principal: Operação Washtub

A Operação Washtub, foi uma operação secreta da CIA organizada para plantar um falso esconderijo de armas Soviético na Nicarágua para demonstrar que a Guatemala tinha laços com Moscou. A operação fazia parte de um plano para derrubar o Presidente da Guatemala, Jacobo Arbenz Guzmán em 1954.

Corrida Espacial[editar | editar código-fonte]Ver artigo principal: Corrida espacial

Yuri Gagarin, a primeira pessoa no espaço (1961).

Um dos campos que mais se beneficiaram com a Guerra Fria foi o da tecnologia.35 Na urgência de se mostrarem superiores aos rivais, Estados Unidos e União

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Soviética procuraram melhorar os seus arsenais militares. Como consequência, algumas tecnologias conhecidas hoje (como alguns tecidos sintéticos) foram frutos dessa corrida.

A corrida espacial está nesse contexto. A tecnologia aeroespacial necessária para o lançamento de mísseis e de foguetes é praticamente a mesma, e portanto os dois países investiram pesadamente na tecnologia espacial.35

Sentindo-se ameaçada pelos bombardeiros estratégicos americanos, carregados de artefatos nucleares que sobrevoavam as fronteiras com a URSS constantemente, a URSS começou a investir em uma nova geração de armas que compensasse esta debilidade estratégica. Assim, a União Soviética dá início à corrida espacial no ano de 1957, quando os soviéticos lançaram Sputnik 1, o primeiro artefato humano a ir ao espaço e orbitar o planeta. Em novembro do mesmo ano, os russos lançaram Sputnik 2 e, dentro da nave foi a bordo o primeiro ser vivo a sair do planeta: a cadela Laika.

Após as missões Sputnik, os Estados Unidos entraram na corrida, lançando o Explorer I, em 1958. Mas a União Soviética tinha um passo na frente, e em 1961 os soviéticos conseguiram lançar a Vostok 1, que era tripulada por Yuri Gagarin, o primeiro ser humano a ir ao espaço e voltar são e salvo.

Astronauta Buzz Aldrin fotografado por Neil Armstrong (o primeiro homem a pisar na Lua) durante a missão Apollo 11, em 20 de Julho de 1969.

A partir daí, a rivalidade aumentou a ponto de o presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy, prometer enviar americanos à Lua e trazê-los de volta até o fim da década. Os soviéticos apressaram-se para vencer os estadounidenses na chegada ao satélite.35 As missões Zond deveriam levar os primeiros humanos a orbitarem a Lua, mas devido a falhas, só foi possível aos soviéticos o envio de missões não-tripuladas, Zond 5 e Zond 6, em 1968. Os Estados Unidos, por outro lado, conseguiram enviar a missão tripulada Apollo 8 no Natal de 1968 a uma órbita lunar.

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O passo seguinte, naturalmente, seria o pouso na superfície da Lua. A missão Apollo 11 conseguiu realizar com sucesso a missão, e Neil Armstrong e Edwin Aldrin tornaram-se os primeiros humanos, respectivamente, a caminhar em outro corpo celeste.35

A corrida espacial se tornou secundária com a distensão dos anos 1960-1970, mas volta a ter relevância nos anos 1980, no que pode ser considerado o último capítulo daquela disputa. O presidente dos Estados Unidos anuncia investimentos bilionários na construção de um sistema espacial de defesa anti-mísseis balísticos.35 A oficialmente denominada Iniciativa Estratégica de Defesa e conhecida como guerra nas estrelas, poderia defender o território americano dos mísseis russos e acabar com a lógica da Destruição Mútua Assegurada.

Neste contexto os Estados Unidos enviam ao espaço o primeiro veículo espacial reutilizáveis: o ônibus espacial.35 A URSS levaria alguns anos para construir a sua versão do ônibus espacial, (o Buran) mas foi a primeira a colocar no espaço uma nave espacial armada de ogivas nucleares, a Polyus, que teria sido destruída pelos próprios líderes soviéticos em 1987, quando já estavam avançadas as negociações diplomáticas para por fim à Guerra Fria.

Arpanet[editar | editar código-fonte]Ver artigo principal: ARPANET

Mapa da rede ARPANET em 1972.

Outro campo em que ocorreu grande desenvolvimento durante a Guerra Fria foi o das comunicações. Temendo um possível bombardeio soviético, durante a década de 1960, O Pentágono financiou o desenvolvimento de um sistema de comunicação entre os computadores, que envolveu centros de pesquisa militares e civis, como algumas das principais universidades americanas. A rede de comunicações criada pela agência Arpa ficaria conhecida como Arpanet.

A lógica do sistema era a seguinte: caso fosse feito um bombardeio soviético, a central de informações não estaria em um só lugar, mas sim em vários pontos conectados em uma rede, ou seja, cada nó da rede funcionaria como uma central, todas conectadas entre si. A infraestrutura da rede foi construída com fibra óptica para não sofrer interferência dos pulsos eletromagnéticos produzidos pelas

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explosões nucleares.36 O sistema foi inaugurado com sucesso em 1969, na Universidade da Califórnia (UCLA), com o envio de uma mensagem de caracteres para outro servidor.

Durante toda a década de 1970 e 1980 o uso dessa tecnologia se manteve restrito a fins militares e acadêmicos. Somente em Convenção realizada no ano de 1987 a rede seria liberada para uso comercial. A partir de então a Arpanet passou a se chamar Internet. Em 1990, o físico inglês Tim Berners-Lee criaria o HTML (Linguagem de Marcação de Hipertexto). Na década de 1990 a Internet passaria por um processo de expansão gigantesco, tornando-se um grande meio de comunicação da atualidade.

A coexistência pacífica (1953 - 1962)[editar | editar código-fonte]

Nikita Khrushchov.

Ver artigo principal: Coexistência pacífica

Após a morte de Stalin, em 1953, Nikita Khrushchov subiu ao posto de Secretário-Geral do Partido Comunista da União Soviética e, portanto, governante dos soviéticos. Condenou os crimes de seu antecessor (ver: Discurso secreto) e pregou a política da coexistência pacífica entre os soviéticos e americanos, o que significaria os esforços de ambos os lados em evitar o conflito militar, havendo apenas confronto ideológico e tecnológico (corrida espacial). Houve apenas tentativas de espionagem. Esta política também possibilitou uma aproximação entre os líderes. Khrushchov reuniu-se diversas vezes com os presidentes americanos: com Dwight D. Eisenhower, em 1956, no Reino Unido; em 1959 nos Estados Unidos; e em 1960 na França; e com Kennedy se encontrou uma vez, em 1961, em Viena, Áustria.

Os países não alinhados[editar | editar código-fonte]Ver artigo principal: Conferência de Bandung, Movimento Não Alinhado

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Um grupo de países optou por não tomar parte na Guerra Fria. Em sua maioria, países africanos, asiáticos e ex colônias europeias de independência recente. Para garantir sua neutralidade, os assim denominados países não alinhados promoveram, em abril de 1955 e através da Conferência de Bandung, a criação do Movimento Não Alinhado. Seu objetivo era dar apoio e segurança aos países em desenvolvimento contra as duas superpotências. Condenavam o colonialismo, imperialismo e o domínio de países estrangeiros em geral.37

A primeira conferência do movimento foi realizada em setembro de 1961, na cidade de Belgrado, com a presença de representantes de 25 países.37 Nessas conferências, se torna óbvio os conflitos entre os países do movimento, como por exemplo, entre o Irã e o Iraque, o que favorecia a posição das duas superpotências e até da China. Além disso, era difícil a neutralidade dos países por causa da fraca economia e agrava-se pelo atraso no desenvolvimento dos países recém-independentes.38

Com o fim da Guerra Fria e a extinção da União Soviética, o princípio político de "neutralidade" deixou de ter um sentido comum.38

Crises da Guerra Fria (1956 - 1962)[editar | editar código-fonte]

Revolução húngara (1956)[editar | editar código-fonte]Ver artigo principal: Primavera de Praga, Revolução Húngara de 1956

Cabeça da estátua de Josef Stálin, derrubada durante a revolução.

Na Hungria, a ocupação da Hungria pelo Exército Vermelho, após a Segunda Guerra Mundial, garantiu a influência da União Soviética sobre a região.39 O país no período pós-guerra tornou-se uma democracia pluripartidária, até 1949, quando a República Popular da Hungria foi declarada40 e tornou-se um estado comunista liderado por Mátyás Rákosi.41 Com o novo governo, começou uma série de prisões em campos de concentração, torturas, julgamentos e deportações para o leste. A economia não estava a ir muito bem, sofria com a desvalorização da moeda húngara, o pengő, considerada uma das mais altas hiperinflações conhecidas.

Esgotados com os índices econômicos cada vez piores e com os governos de Enrö Gero e Mátyás Rákosi, a população tomou as ruas de Budapeste na noite de 23 de outubro de 1956.6 O objetivo desse levante era o fim da ocupação da União

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Soviética e a implantação do "socialismo verdadeiro".42 Houve um confronto entre autoridades policiais e manifestantes e durante esse confronto, houve a derrubada da estátua de Josef Stálin.6

Mesmo após a troca de governo, os conflitos foram intensificando-se. Com isso, os soviéticos organizaram uma trégua com os populares. Logo após, o exército soviético executou uma violenta ação contra os populares, colocando no poder Janos Kadar. No dia 4 de novembro de 1956, um novo exército soviético provocou destruição nas ruas da capital húngara. Os populares foram derrubados.6

Guerra de Suez (1956)[editar | editar código-fonte]Ver artigo principal: Guerra do Suez

O rei do Egito, pró-europeu, foi derrubado por Gamal Abdel Nasser em 1953, que procurou instalar uma política nacionalista e pan-arabista. Sua primeira manobra política de efeito foi a guerra que declarou contra o recém-criado estado de Israel, porque eles teriam humilhado os árabes na Guerra de Independência Israelita. Com os clamores de outros países árabes para uma nova investida contra os judeus, Nasser aliou-se à Jordânia e à Síria.

 

Anúncio na nacionalização do Canal de Suez, feito por Gamal Abdel Nasser.

Na mesma época, Nasser teria declarado a intenção de nacionalizar o Canal de Suez, que era controlado majoritariamente por franceses e britânicos. Isso preocupou as duas potências, que necessitavam do canal para seus interesses colonialistas na África e Ásia. Assim, a França, o Reino Unido e Israel decidiram formar uma aliança, declararam guerra ao Egito de Nasser e cuidaram da ocupação do Egito. Os europeus cuidaram de bombardear e lançar paraquedistas em locais estratégicos, enquanto os israelitas cuidaram da invasão terrestre, invadindo a península do Sinai em poucos dias depois.

A guerra no Egito perturbou a paz que vinha sendo mantida entre Washington D.C. e Moscou. Dwight D. Eisenhower, então presidente americano, criticava a repressão em Budapeste, na Hungria, e teve que provar que era contra a invasão a Israel. Os Estados Unidos tentaram várias vezes fazer os europeus mudarem de ideia e retirar os ocupantes do Egito, ao mesmo tempo que Khrushchev demandava respostas. Os Estados Unidos, inclusive, tentaram, a 30 de Outubro de

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1956, levar ao Conselho de Segurança das Nações Unidas a petição de retirada das tropas do Egito, mas França e Reino Unido vetaram a petição. A União Soviética seguia a mesma linha de raciocínio do Estados Unidos, sendo assim favorável à desocupação das terras egípcias porque queria estreitar laços com os árabes, e se aliou rapidamente à Síria e ao Egito.

A crescente pressão econômica estadunidense e a ameaça de Khrushchov de que "modernas armas de destruição" seriam usadas em Londres e Paris fizeram os dois países recuarem, e os aliados se retiraram do Sinai em 1957. Após a retirada, o Reino Unido e a França foram forçadas a perceber que não eram mais líderes políticos do mundo, enquanto o Egito manteve sua política nacionalista e, mais tarde, pró-soviética.

Crise dos Mísseis (1962)[editar | editar código-fonte]Ver artigo principal: Crise dos mísseis de Cuba

Cuba, a maior das ilhas caribenhas, sofreu uma revolução em 1959, que retirou o ditador pró-estadunidense Fulgêncio Batista do poder, e instaurou a ditadura de Fidel Castro a partir de 1959. A instauração de um regime socialista preocupou a Casa Branca que ainda em 1959 tentou depor o novo governo, apoiando membros ligados ao antigo regime e iniciando um embargo econômico à ilha. Com o bloqueio do comércio de petróleo e grãos, Cuba passa a adquirir esses produtos da URSS. O governo de Fidel Castro, inicialmente composto por uma frente de grupos nacionalistas, populistas e de esquerda, que variava de social-democratas aos de inspiração marxista-leninista, rapidamente polarizaria em torno dos líderes mais pró-URSS. Em 1961, a CIA chegou a organizar o desembarque de grupos de oposição armados que deporiam Fidel Castro na operação da Invasão da Baía dos Porcos, que foi um fracasso completo. Diante desta situação o novo regime cubano se aproxima rapidamente da URSS, que oferece proteção militar.

Em 1962, a União Soviética foi flagrada construindo 40 silos nucleares em Cuba. Segundo Kruschev, a medida era puramente defensiva, para evitar que os Estados Unidos tentassem nova investida contra os cubanos. Por outro lado, no plano estratégico global, isto representava uma resposta à instalação de mísseis Júpiter II pelos estadunidenses na cidade de Esmirna, Turquia, que poderiam ser usadas para bombardear todas as grandes cidades da União Soviética.

Local de lançamento de mísseis em Cuba, dia 1 de Novembro de 1962.

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Rapidamente, o presidente Kennedy tomou medidas contrárias, como a ordenação de quarentena à ilha de Cuba, posicionando navios militares no mar do Caribe e fechando os contatos marítimos entre a União Soviética e Cuba. Vários pontos foram levantados a respeito deste bloqueio naval: os soviéticos disseram que não entendiam porque Kennedy havia tomado essa medida, já que vários mísseis estadunidenses estavam instalados em territórios dos países da OTAN contra os soviéticos, em distâncias equivalentes àquela entre Cuba e os Estados Unidos; Fidel Castro revelou que não havia nada de ilegal em instalar mísseis soviéticos em seu território[carece de fontes?]; e o primeiro-ministro britânico Harold Macmillan disse não ter entendido por que não foi sequer ventilada a hipótese de acordo diplomático[carece de fontes?].

Em 23 e 24 de Outubro, Kruschev teria enviado uma carta a Kennedy[carece de fontes?], informando suas intenções pacíficas. Em 26 de Outubro disse que retiraria seus mísseis de Cuba se Washington se comprometesse a não invadir Cuba[carece de fontes?]. No dia seguinte, pediu também a retirada dos balísticos Júpiter da Turquia. Mesmo assim, dois aviões espiões estadunidenses U-2 foram abatidos em Cuba e na Sibéria em 27 de Outubro, o ápice da crise. Neste mesmo dia, os navios mercantes soviéticos haviam chegado ao Caribe e tentariam passar pelo bloqueio. Em 28 de Outubro, Kennedy foi obrigado a ceder os pedidos, e concordou em retirar os mísseis da Turquia e não atacar Cuba. Assim, Nikita Kruschev retirou os mísseis nucleares soviéticos da ilha.

Apesar de o acordo ter sido negativo para os dois lados, o grande derrotado foi o líder soviético, que foi visto como um fraco que não soube manter sua posição frente aos estadunidenses.

Sobre isso, disse o Secretário de Estado Dean Rusk:

"Nós estivemos cara a cara, mas eles piscaram"[carece de fontes?].

Dois anos depois, Kruschev não aguentou a pressão e saiu do governo. Kennedy também foi mal-visto pelos comandantes militares dos Estados Unidos. O general Curtis LeMay disse a Kennedy que este episódio foi "a maior derrota da história estadunidense" [carece de fontes?], e pediu para que os Estados Unidos invadissem imediatamente Cuba[carece de fontes?].

América Latina[editar | editar código-fonte]Ver artigo principal: Intervencionismo

Ver página anexa: Lista de golpes de Estado bem sucedidos

Durante a Guerra Fria, a propaganda e os os esforços anticomunistas dos Estados Unidos fizeram-se sentir na região. De 1946 a 1984, os Estados Unidos mantiveram no Panamá a Escola das Américas. A finalidade deste órgão era formar lideranças militares pró-EUA. Vários ditadores latino-americanos foram alunos desta instituição, entre eles o ditador do Panamá Manuel Noriega, e Leopoldo Galtieri, líder da Junta Militar da Argentina. A partir de 1954, os serviços de inteligência norte-americanos participaram de golpes de estado contra governos latino-

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americanos43 44 (ver: Ações de derrubada de governos patrocinadas pela CIA). Após a Revolução cubana, o receio de que o comunismo se espalhasse pelas Américas cresceu muito. Governos simpáticos ao comunismo ou democraticamente eleitos, mas contrários aos interesses políticos e econômicos dos Estados Unidos foram removidos do poder.

Em 1961, o presidente Kennedy criou a Aliança para o Progresso, para abrandar as tensões sociais e auxiliar no desenvolvimento econômico das nações latino-americanas, além de conter o avanço comunista no continente americano. Este programa ofereceu ajuda técnica e econômica a vários países. Com isto pretendia-se afastar a possibilidade das nações da América Latina alinharem-se com o bloco soviético. Mas, como programa não alcançou os resultados esperados, foi extinto em 1969 pelo presidente Richard Nixon.

Alguns dos golpes de Estado ocorridos na América Latina neste período:

1954 : Golpe de Estado na Guatemala - Jacobo Arbenz Guzmán presidente reformista, eleito, foi deposto pelo 1º Golpe de Estado promovido pela CIA na América Latina.45

1964 : Golpe de Estado no Brasil: João Goulart foi deposto por uma revolta militar e exilou-se no Uruguai.

1973 : Golpe de Estado no Chile: em 11 de Setembro de 1973, uma rebelião militar liderada por Augusto Pinochet e apoiada pelos Estados Unidos, depôs o presidente Salvador Allende.

A Distensão (1962 - 1979)[editar | editar código-fonte]Ver artigo principal: Détente

Jimmy Carter e Leonid Brejnev assinando o SALT II, em 1979.

O período da distensão (Détente) seguiu-se à Crise dos Mísseis, por ela quase ter levado as duas superpotências a um embate nuclear. Os Estados Unidos e a URSS decidiram, então, realizar acordos para evitar uma catástrofe mundial. Nesta época, vários tratados foram assinados entre os dois lados. A política Détente, foi principalmente seguida por Brejnev, que mais tarde criaria um grande sistema diplomático e de distensão, sendo este o sistema que salvaria a pele de Brejnev, que entrara em uma estagnação econômica, apesar de alcançar um bem-estar para o povo soviético. Durante a direção de Brejnev e sua inseparável doutrina, o povo

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que nascera depois da Guerra Fria nunca havia presenciado um momento de tanta paz mundial.

Tratado de Moscou (1963) - Os dois países regularam a pesquisa de novas tecnologias nucleares e concordaram em não ocupar a Antártica.

TPN (Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares) (1968) - Os países signatários (Estados Unidos, URSS, China, França e Reino Unido) comprometiam-se a não transmitir tecnologia nuclear a outros e a se desarmarem de arsenais nucleares.

SALT I (Strategic Arms Limitation Talks - Acordo de Limitação de Armamentos Estratégicos) (1972) - Previa o congelamento de arsenais nucleares dos Estados Unidos e da União Soviética.

SALT II (1979) - Prorrogação das negociações do SALT I. (ver: Conversações sobre Limites para Armas Estratégicas)

Os dois países tinham seus motivos particulares para buscar acordos militares e políticos. A URSS estava com problemas nos relacionamentos com a China, e viu este país se desalinhar do socialismo monopolista de Moscou. Isso criou a prática da diplomacia triangular, entre Washington, Moscou e Pequim. Também estavam com dificuldades agrícolas e econômicas. E os Estados Unidos haviam entrado numa guerra contra o Vietnã, e na década de 1970 entrariam em uma grave crise econômica.

A Distensão, apesar de garantir o não-confronto militar, acirrou a rivalidade política e ideológica, culminando em algumas revoltas sociais e apoios a revoltas e revoluções na Europa e no Terceiro Mundo.

Como exemplo, pode-se citar a Invasão do Afeganistão, a Intervenção Soviética em Praga, e a própria guerra do Vietnã.

Guerra do Vietnã (1962 - 1975)[editar | editar código-fonte]Ver artigo principal: Guerra do Vietnã

A Guerra do Vietnã foi um dos maiores confrontos militares envolvendo capitalistas e socialistas no período da Guerra Fria. Opôs o Vietname do Norte e guerrilheiros pró-comunistas do Vietname do Sul contra o governo pró-capitalista do Vietname do Sul e os Estados Unidos.

Após a Convenção de Genebra (1954), o Vietnã, recém-independente da França, seria dividido em duas zonas de influência, como a Coreia, e estas zonas seriam desmilitarizadas e mantidas cada uma sob um dos regimes (capitalismo e socialismo). Foi estipulada uma data (1957) para a realização de um plebiscito, decidindo entre a reunificação do país ou não e, se sim, qual regime seria adotado.

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Corpos de Vietnamitas em Saigon, Vietname do Sul, 1968.

Infelizmente para o Vietname do Sul, o líder do Norte, Ho Chi Minh, era muito benquisto entre a população, por ser defensor popular e herói de guerra. O governo do Vietname do Sul decidiu proibir o plebiscito de ocorrer em seu território, pois queria manter o alinhamento com os estadunidenses. Como o Vietname do Norte queria a reunificação, lançaram-se em uma guerra contra o Sul.

O Vietname do Norte contou com o apoio da Frente de Liberação Nacional, ou vietcongs, um grupo de rebeldes no Vietname do Sul. E o Vietname do Sul contou, em 1965, com a valiosa ajuda dos Estados Unidos. Eles entraram na guerra para manter o governo capitalista no Vietname, e temendo a ideia do "efeito dominó" (Teoria do Dominó) no qual, ao verem um país que se libertou do capitalismo preferindo o socialismo, outros países poderiam seguir o exemplo (como foi o caso de Cuba).

Até 1965, a guerra estava favorável ao Vietname do Norte, mas quando os Estados Unidos se lançaram ao ataque contra o Vietname do Norte, tudo parecia indicar que seria um grande massacre dos vietnamitas, e uma fácil vitória ocidental. Mas os vietnamitas do norte viram nessa guerra uma extensão da guerra de independência que haviam acabado de vencer contra a França, e lutaram incessantemente. Contando com o conhecimento do território, os vietnamitas do norte conseguiram vencer os Estados Unidos, o que é visto como uma das mais vergonhosas derrotas militares dos Estados Unidos. Em 1975, os Estados Unidos e o Vietname do Norte assinaram os Acordos de Paz de Paris, onde os Estados Unidos reconheceram a unificação do Vietnã sob o regime comunista de Ho Chi Minh.

A derrota dos Estados Unidos evidenciou o fracasso da política norte-americana na Ásia e acarretou a reformulação, no Governo Nixon, da política externa no Oriente. Com isso, os norte-americanos buscaram uma maior flexibilidade e novos parceiros, destacando a aproximação com a China comunista.

A Distensão na Europa[editar | editar código-fonte]

A Europa, continente que mais sofreu com a divisão mundial, também sofreu os efeitos da distensão política. Os países começaram a questionar as ideologias a que

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foram impostos, e optaram cada vez mais pelo abrandamento, no lado ocidental, e pela revolta popular seguida de forte repressão, no lado oriental.

Em 1968, a Tchecoslováquia viu uma grande manifestação popular apoiar ideias de abertura política em direção à social-democracia e a um "socialismo com uma face humana". Este movimento ficou conhecido como Primavera de Praga, em alusão à capital da Tchecoslováquia, Praga, local onde os movimentos populares tomavam corpo. Temendo a liberdade política da Tchecoslováquia, Leonid Brejnev, líder da URSS, ordenou a invasão de Praga e a repressão do movimento popular.

Em 1966, Charles de Gaulle, presidente da França, manteve os seus ideais de nacionalismo francês e antiamericanismo e desalinhou-se com as práticas estadunidenses, saindo da OTAN.

Em 1969, o chanceler da Alemanha Ocidental anuncia a "Ostpolitik", uma política de aproximação dos vizinhos, os alemães orientais. Em 1972 os Estados passam a se reconhecerem mutuamente podendo, assim, voltar a integrar a ONU.

O reconhecimento da China pelos Estados Unidos[editar | editar código-fonte]Ver artigo principal: Relações entre China e Estados Unidos

Richard Nixon e Mao Tse-Tung durante a visita do Presidente americano à República Popular da China, em 1972.

Desde o início da década de 1950 a República Popular da China tinha problemas com a União Soviética, por causa de hierarquia de poderes. Moscou queria que o socialismo no mundo fosse unificado, sob a tutela do Kremlin, enquanto Pequim achava que a República Popular da China não deveria se submeter aos soviéticos. Além disso, o governo chines exigia que a URSS transferisse sua tecnologia nuclear para a China, o que não era bem visto por Moscou. Este processo acabou levando a ruptura sino-soviética.

Ao longo dos anos 1960 os Estados Unidos iniciaram uma aproximação com a URSS que levaria ao que ficou conhecido como distensão política, enquanto recrudesceram suas relações com a China comunista, aprofundando a disputa com este pais no Sudeste Asiático, onde se aprofundava a Guerra do Vietnã. Neste período as disputas entre URSS e China cresceram ainda mais. Esta tensão tornou-se um problema crescente para os soviéticos, que perdiam um forte aliado no Leste

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Asiático e passaram a ver a China como uma potencial ameaça. No fim dos anos 1960, a China passa a manter cerca de 1 milhão de soldados na fronteira com a URSS, o que força a URSS a manter outro volume equivalente de tropas na região.

O auge da disputa entre China e URSS é considerado o ano de 1969, quando ocorre um confronto armado na fronteira sino-soviética, na região do rio Ussuri (nordeste da Manchúria) e os dois países quase entram em guerra.

Nos anos 1970 a situação se inverte e os Estados Unidos passam a se aproximar da China e isolar novamente a URSS, iniciando inclusive um processo de ampliação das relações ecônomicas com a China e de guerra comercial com a URSS.46

Estas mudanças ocorridas na década de 1970, pioraram ainda mais a situação da URSS, pois Mao Tse-tung, secretario-geral da China socialista, ampliou o processo de aproximação com os Estados Unidos. Além de isolar a URSS, a aproximação com os Estados Unidos trouxe vantagens para a China, como o fim da Guerra do Vietnã, o reconhecimento diplomático pelos americanos, a adesão da China à ONU e a substituição de Taiwan (China nacionalista) pela China no Conselho de Segurança da ONU.

Desde a Revolução Chinesa de 1949, o mundo ocidental via o governo de Mao Tse-Tung como ilegal, e continuaram reconhecendo como governo legítimo da China o governo refugiado em Taiwan. Com a aproximação entre Pequim e Washington, os Estados Unidos passaram a reconhecer o governo de Mao Tse-tung como o legítimo regente chinês, ou seja, a República Popular da China como a China de fato. Assim, outros países ocidentais tomaram a mesma decisão, e a China pôde entrar para ONU, como participante e como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. Em 1975, os Estados Unidos e o Vietname do Norte assinaram os Acordos de Paz de Paris, os Estados Unidos reconheceram a unificação do Vietnã e iniciaram uma nova fase de cooperação com a China. A partir deste período, e principalmente nos anos 1980, a China passaria a apoiar os Estados Unidos na disputa deste pais com a URSS.

A "Segunda" Guerra Fria (1979-1985)[editar | editar código-fonte]

A Guerra Fria em 1980.

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Após o ano de 1979, seguiu-se uma nova fase nas relações amistosas entre os Estados Unidos e a União Soviética, que ampliaram as relações entre as duas superpotências. O período que vai de 1979 a 1985, 1987 ou 1988 (dependendo da classificação), ficou conhecido como "II Guerra Fria", devido à retomada das hostilidades indiretas entre Estados Unidos e URSS, após o período da "distensão". No plano estratégico ficou clara a formação de uma grande coalizão global contra a União Soviética, que passou a incluir, além dos Estados Unidos e seus aliados da OTAN e o Japão, também a China.47

Embora na época o apoio chinês à estratégia americana de cercamento da URSS tenha sido considerado secundário, hoje muitos historiadores consideram que este papel pode ter sido determinante para o desfecho da Guerra Fria.

Os principais episódios que marcaram este período foram:

Em 1979 a União Soviética invade o Afeganistão, assassinando Hafizullah Amin, e colocando em seu posto Brabak Karmal, que era a favor das políticas de Moscou. A este evento seguiu-se uma grande resistência anti-soviética, principalmente da parte dos mujahidin das montanhas afegãs. Eles eram abastecidos por outros países, como China, Arábia Saudita, Paquistão e o próprio Estados Unidos. Após dez anos de lutas, as tropas soviéticas tiveram que abandonar o país, em 1988. Esta vitória dos mujahidin possibilitou, anos depois, a formação do grupo Taleban, que aproveitou a desordem no país para instaurar um governo autoritário fundamentalista no Afeganistão, nos anos 1990.

Donald Rumsfeld, em 1983, viaja como enviado especial dos Estados Unidos ao Oriente Medio, no Governo Reagan, para reforcar o apoio ao governo iraquiano de Saddam Hussein, na guerra contra o Irã, conhecida como Guerra Irã-Iraque, que era vista como uma forma de conter a influencia soviética na região. Posteriormente Donald Rumsfeld veio a ocupar o cargo de Secretario de Defesa dos Estados Unidos no Governo Bush.

Ainda em 1979 Margaret Thatcher foi eleita primeira-ministra do Reino Unido pelo Partido Conservador, e deu à política externa do país uma face mais agressiva contra o regime soviético.

Por fim, ainda em 1979 o principal aliado americano no Golfo Pérsico, o Irã, que passava por grande turbulência interna, passa por uma Revolução Islâmica nacionalista e de caráter fortemente anti-americana, que levou os

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Estados Unidos a iniciarem uma longa disputa com o novo regime no país.48 Como resultado deste processo, a partir de 1980, os Estados Unidos passaram a apoiar o Iraque na guerra deste país contra o Irã, que ficou conhecida como "Guerra Irã-Iraque".

Em 1981, Ronald Reagan foi eleito presidente dos Estados Unidos e, ao contrário de seus antecessores, que pregavam a Distensão, Reagan defendia a retomada da estrategia de cercamento da URSS, conforme defendido por Henry Kissinger no fim dos anos 1970 e, de forma mais clara, por Zbigniew Brzezinski e Donald Rumsfeld, nos anos 1980, o que implicava na retomada do confrontdo com a União Soviética. Dentre os resultados desta política, foi ampliado o fornecimento de armamentos a Saddam Hussein, ditador iraquiano, que lutava contra o Irã na Guerra Irã-Iraque e o apoio aos guerrilheiros mujahidin que lutavam contra os soviéticos no Afeganistão.49

Em 1983, forças militares americanas invadiram Granada, que havia sofrido um golpe militar liderado pelo vice-primeiro-ministro Bernard Coard, que havia depôsto o primeiro-ministro granadino, Maurice Bishop. O governo instituído por Bernard Coard, tinha o apoio de Cuba, mas em 25 de Outubro, 7.300 combatentes americanos invadiram a ilha, derrotando as forças granadinas e cubanas. Após a vitória dos Estados Unidos, o governador-geral de Granada, Paul Scoon, nomeou um novo governo e, em meados de Dezembro, as forças dos Estados Unidos retiraram-se.

Em 1983 o Presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, anuncia a criação da Iniciativa Estratégica de Defesa, que ficaria conhecida como "Programa Guerra nas Estrelas", que tinha por objetivo criar um "escudo" contra os mísseis balísticos soviéticos, dando grande vantagem aos Estados Unidos na corrida armamentista e na corrida espacial.50 A reação soviética foi ampliar ainda mais os seus elevados gastos na área de defesa e no desenvolvimento do seu dispendioso programa espacial.

A Era Gorbachev - o fim da Guerra Fria (1985-1991)[editar | editar código-fonte]

Mudanças políticas na Europa após 1989, incluindo a reunificação alemã.

Depois da gestão de Brejnev, a União Soviética teve duas rápidas governanças, Yuri Andropov e Konstantin Chernenko, homens que durante o período de Brejnev eram seus segundo homens, tendo um poder quase total sobre o país, sendo Andropov o chefe da temida e poderosa polícia secreta KGB e Chernenko, por treze anos carregando o segundo mais alto cargo dentro do país, que, na prática,

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governou o país durante a decadência na saúde de Brejnev, no final da década de 1970, e que surpreendentemente foi derrotado nas eleições por Andropov, que morreu pouco tempo depois de chegar ao cargo político máximo.

Seguinte a Chernenko, o chamado último bolchevique, foi eleito Mikhail Gorbachev, cuja plataforma política defendida era a necessidade de reformar a União Soviética, para que ela se adequasse à realidade mundial. Em seu governo, uma nova geração de políticos tecnocratas - que vinham ganhando espaço desde o governo Khrushchov - se firmou, e impulsionou a dinâmica de reformas na URSS e a aproximação diplomática com o mundo ocidental.

Perestroika e Glasnost[editar | editar código-fonte]Ver artigo principal: Colapso econômico da União Soviética, Perestroika e Glasnost

Gorbachev, embora defensor de Karl Marx, defendeu o liberalismo econômico na URSS como a única saída viável para os graves problemas econômicos e sociais. A União Soviética, desde o início dos anos 70, passava por grande fragilidade, evidenciada na queda da produtividade dos trabalhadores e a queda da expectativa de vida. A alta nos preços do petróleo no período 1973-1979 e a nova alta de 1979-1985, deram uma sobrevida temporária a um sistema econômico que já estava falido. A crise econômica mundial dos anos 1980, a escassez de moedas fortes e a queda no preço das commodities exportadas pela URSS (petróleo e cereais), ajudaram a aprofundar a crise do sistema econômico planificado da União Soviética.

Ronald Reagan e Mikhail Gorbachov em Genebra, Suíça, em 1985.

Os gastos militares estavam tornando-se muito altos para uma economia como a soviética, planificada, extremamente burocratizada e com cerca de metade do PIB dos Estados Unidos. A economia de mercado dos Estados Unidos era muito mais competitiva e permitia o repasse acelerado de tecnologias militares e aeroespaciais de ponta para o setor civil. Na URSS tudo que seria produzido era previamente planejado nos Planos Quinquenais. A burocracia dificultava qualquer transferência de tecnologia sensível para o setor produtivo civil e toda a produção agrícola era milimetricamente planejada. Quando ocorre o acidente nuclear de Chernobil 1986, toda a produção agrícola daquele ano foi perdida, os gastos inesperados foram enormes e o Estado que havia planejado exportar uma safra recorde de grãos, teve que importar comida. Rapidamente começava a faltar até mesmo pão no país que havia sido o maior produtor mundial de trigo. Somando-se aos custos do

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envolvimento de meio milhão de homens no Afeganistão durante os anos 1980, mais os gastos militares da nova corrida armamentista, conhecida como segunda Guerra Fria, aquela enorme economia engessada colapsou.

Frente a estes problemas, Mikhail Gorbachev aplicou dois planos de reforma na URSS: a perestroika e a glasnost.

Perestroika: série de medidas de reforma econômicas. Para Gorbachev, não seria necessário erradicar o sistema socialista, mas uma reformulação deste seria inevitável. Para tanto, ele passou a diminuir o orçamento militar da União Soviética, o que implicou diminuição de armamentos e a retirada das tropas soviéticas do Afeganistão.

Glasnost: a "liberdade de expressão" à imprensa soviética e a transparência do governo para a população, retirando a forte censura que o governo comunista impunha.

A nova situação de liberdade na União Soviética possibilitou um afrouxamento na ditadura que Moscou impunha aos outros países. Pouco a pouco, o Pacto de Varsóvia começou a enfraquecer, e cada vez mais o Ocidente e o Oriente caminhavam para vias pacíficas. Em 1986, Ronald Reagan encontrou Gorbachev em Reykjavík, Islândia, para discutir novas medidas de desarmamento dos mísseis estacionados na Europa.

O desalinhamento das repúblicas orientais[editar | editar código-fonte]Ver artigo principal: Dissolução da União Soviética, Revoluções de 1989

Ver também: Previsões do colapso da URSS

Alemães em pé em cima do Muro de Berlim, em 1989, ele começaria a ser destruído no dia seguinte.

O ano de 1989 viu as primeiras eleições livres no mundo socialista, com vários candidatos e com a mídia livre para discutir. Ainda que muitos partidos comunistas tivessem tentado impedir as mudanças, a perestroika e a glasnost de Gorbachev tiveram grande efeito positivo na sociedade. Assim, os regimes comunistas, país após país, começaram a cair.

A Polônia e a Hungria negociaram eleições livres (com destaque para a vitória do partido Solidariedade na Polônia), e a Tchecoslováquia, a Bulgária, a Romênia e a

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Alemanha Oriental tiveram revoltas em massa, que pediam o fim do regime socialista. O ponto culminante foi a queda do Muro de Berlim em 9 de Novembro de 1989, que pôs fim à Cortina de Ferro e, para alguns historiadores, à Guerra Fria em si.

Formação da CEI, o fim oficial da União Soviética.

Esta situação repentina levou alguns conservadores da União Soviética, liderados pelo General Guenédi Ianaiev e Boris Pugo, a tentar um golpe de estado contra Gorbachev em Agosto de 1991. O golpe, todavia, foi frustrado por Boris Iéltsin. Mesmo assim, a liderança de Gorbachev estava em decadência e, em Setembro, os países bálticos conseguiram a independência.

Em Dezembro, a Ucrânia também se tornou independente. Finalmente, no dia 31 de Dezembro de 1991, Gorbachev anunciava o fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, renunciando ao cargo que ocupava e ao seu sonho de ver um mundo socialista.

Nova Guerra Fria[editar | editar código-fonte]Ver artigo principal: Nova Ordem Mundial, Relações entre Estados Unidos e Rússia

A Nova Guerra Fria é a designação de um novo contexo político internacional, de tensão entre, adotado novamente as grandes potências militares que disputaram a Guerra Fria - Estados Unidos e Rússia -, na primeira década do novo milénio, onde ambos os países buscam redefinir suas respectivas regiões de influência e poder. A ideia de uma nova Guerra Fria nasce a partir da constatação do surgimento de uma série de novas tensões criadas entre Estados Unidos e Rússia nos anos 2000. Dentre os diversos atritos entre Estados Unidos e Rússia nesta década, destaca-se principalmente o projeto estadunidense de construir um "Escudo antimísseis", durante o governo Bush, que incluiria uma rede de radares e de sistemas anti-mísseis (bases de mísseis anti-mísseis, satélites e armas laser) em países da antiga área de influência soviética.51

Entretanto, outras disputas entre Rússia e Estados Unidos também se desenvolveram ao longo da década de 2000, incluindo as tensões relacionadas aos projetos de ampliação da OTAN para o leste da Europa, incluindo países da ex-URSS, como a Ucrânia, país alvo de novas tensões desde a "Revolução Laranja" de 2004-2005, que implementou um governo anti-russo no país. Destacaram-se ainda novas disputas envolvendo a região do Ártico.52 Também contribuíram para o aumento das tensões russo-americanas, o apoio indireto dos Estados Unidos aos

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separatistas da Chechênia, o apoio da Rússia (na forma de fornecimento de armas modernas) a governos considerados hostis aos interesses dos Estados Unidos, como a Venezuela e o Irã,53 e, principalmente, a resposta russa durante a Guerra da Geórgia.54 55

A Era Medvedev (2008-2009)[editar | editar código-fonte]

Em 2008, a tensão entre Washington e Moscou, a antiga capital da URSS, se agravaram depois dos Estados Unidos ter anunciado o início da construção do Escudo antimísseis no Leste Europeu, na área próxima e de influência direta da Rússia. Em resposta ao fato, Moscou condena a atitude dos Estados Unidos e anuncia a instalação de mísseis táticos Iskander na região ocidental de Kaliningrado, o desenvolvimento de contramedidas eletrônicas dos elementos do Escudo Antimísseis que Washington planeja instalar no Leste Europeu, composto por um radar na República Tcheca e mísseis interceptadores na Polônia,56 e o desenvolvimento de uma nova geração de armas nucleares e mísseis balisticos moveis por parte da Rússia.51

Em 2009, Moscou anuncia que irá rearmar suas forças militares e ampliar seu arsenal nuclear em resposta ao fortalecimento da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), criada para combater o avanço do socialismo na era bipolar. O reingresso da França e de outros países do Leste Europeu tem provocado tensões na região.57 58

Com a ascensão de Barack Obama a Presidência dos Estados Unidos, ocorre uma redução das tensões entre Estados Unidos e Rússia, principalmente devido ao anúncio da interrupção do plano de construção da infraestrutura do "Escudo anti-mísseis" (radares e sistemas anti-mísseis) em torno da Rússia.59

A Guerra na Ossétia do Sul e Geórgia[editar | editar código-fonte]Ver artigo principal: Guerra na Ossétia do Sul em 2008

Em Agosto de 2008, a Ossétia do Sul (apoiada pela Rússia), e a Geórgia (apoiada pelos Estados Unidos), entraram em conflito armado, tropas da Geórgia ocuparam militarmente a capital da Ossétia do Sul, região separatista da república georgiana. Em resposta ao ocorrido, tropas russas atacaram militarmente a Geórgia e reconheceu as regiões separatistas da Ossétia do Sul e Abecásia, o que causou forte desgaste diplomático entre Washington e Moscou.60 61 62 Guerra Fria foi assim chamada, “fria”, porque não houve uma guerra direta ou seja bélica, "quente", entre as duas superpotências. A guerra acontece no período histórico de disputas estratégicas e conflitos indiretos entre os Estados Unidos (que defendia o capitalismo) e a União Soviética (que era comunista), compreendendo o período entre o final da Segunda Guerra Mundial (1945) e a extinção da União Soviética (1991). Em resumo, foi um conflito de ordem política, militar, tecnológica, econômica, social e ideológica entre as duas nações e suas zonas de influência. Os soviéticos controlavam os países do Leste europeu, enquanto os Estados Unidos tentavam manter sua influência sobre o restante da Europa. A tensão aumento na décadas seguintes à medida que os Estados Unidos e a União Soviética acumulavam armas nucleares. Os países queriam expandir seus ideais pelo mundo,

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como eram ideais diferente, um do outro, a guerra começa. No começo da década de 1990, o então a União Soviética começou a acelerar o fim do socialismo no país e em seus aliados. Com reformas econômicas, acordos com os Estados Unidos e mudanças políticas, o sistema foi se enfraquecendo. Era o fim de um período de embates políticos, ideológicos e militares. O capitalismo vitorioso, aos poucos, iria sendo implantado nos países socialistas.

A Era Vladmir Putin (2012-a atualmente)[editar | editar código-fonte]Ver artigo principal: Novas divergências entre RÚSSIA e EUA

Em 2013, vimos novos casos de divergências entre os dois países como no caso do antigo espião da NSA Edward Snowden onde o mesmo divulgou milhares de documentos que comprovam a espionagem feita por Washington ao longo de anos para obter vantagens em relação a diversos países e o caso da Síria onde a Rússia decidiu apoiar o seu aliado Bashar al-Assad e os EUA decidiram apoiar os rebeldes que lutam pela derrubada do governo local.

3.17 Os conflitos localizados.

GUERRA FRIA

Com Estados Unidos (EUA) e União Soviética (URSS) tidos como os grandes vencedores da segunda guerra mundial, o mundo ficou dividido em dois blocos, cada um influenciado por uma das superpotências. A bipolarização do mundo durou até o final da década de 80 e manteve o mundo sobre tensão, apesar de não ocorrerem confrontos armados, apenas um conflito de ordem política, tecnológica, social e ideológica, o que levou o período a ser chamado de Guerra Fria.

Uma grande corrida armamentista começou entre as duas nações, principalmente na construção de um arsenal de armas nucleares. Mas devido à impossibilidade de um confronto pela via tradicional, pelos riscos de uma guerra nuclear, o conflito foi apenas indireto.

Durante a Guerra Fria, vários conflitos regionais aconteceram e, cada parte, geralmente, recebia o apoio de um das duas nações, ou URSS ou EUA. Os mais conhecidos foram a Guerra da Coreia, Guerra do Afeganistão e Guerra do Vietnã.

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Em 1949, EUA, Canadá e países da Europa capitalista criaram a OTAN, Organização do Tratado do Atlântico Norte, uma aliança militar com o objetivo de proteção internacional. A URSS, em resposta a OTAN, juntou-se com seus aliados e criou o Pacto de Varsóvia, unindo forças da Europa Oriental.

Um grande avanço durante a guerra fria se deu no campo tecnológico. A corrida espacial ganhou força, os dois países investiram pesado no seu desenvolvimento. Em 1957, a URSS lançou o Sputnik, primeiro artefato humano a ir ao espaço e orbitar a Terra. No mesmo ano, foi lançado o Sputnik II onde estava o primeiro ser vivo a sair do planeta, a cadela Laika. Os EUA não se deram por vencidos e lançaram o Explorer I, em 1958, mas em 1961, a URSS lançou o Vostok I, onde estava o primeiro ser humano a ir ao espaço e voltar são e salvo, Yuri Gagarin. A rivalidade aumentava a cada dia e o próximo passo seria a lua. Em 1969, os EUA levaram o Apollo 11 a lua, com Neil Armstrong e Edwin Aldrin, os primeiros a pisar em solo lunar.

Um símbolo bastante importante para essa época foi o Muro de Berlim que dividiu a Alemanha em duas, a República Federal da Alemanha, de orientação capitalista, e a República Democrática Alemã, dominada pelos socialistas.

Nos anos 70 e 80, uma crise assolava a URSS, o que estava tornando-a frágil, e que foi agravado com o acidente nuclear de Chernobil, em 1986. Para enfrentar estes problemas, o presidente da URSS, Mikhail Gorbachev aplicou dois planos: a perestroika (reforma econômica) e a glasnost (“liberdade de expressão à imprensa e transparência do governo). Esses planos foram afrouxando a ditadura que imperava aos outros países, aos poucos o Pacto de Varsóvia foi enfraquecendo e o Ocidente e o Oriente caminhavam rumo a paz. Os regimes comunistas começaram a cair país por país, a exemplo a Polônia, Hungria, Bulgária e a antiga Tchecoslováquia. O estopim foi a queda do Muro de Berlim em 9 de novembro de 1989, que muitos historiadores dão como marco do fim da Guerra Fria. 

Fonte: http://super.abril.com.br/multimidia/muro-berlim/muro-de-berlim-ah-76.swf

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3.18 A “détente”.

Détente

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Mikhail Gorbachev, Secretário-Geral do Partido Comunista da União Soviética, e Ronald Reagan, Presidente dos Estados Unidos, assinando o Tratado INF.

Détente é uma palavra francesa que significa distensão ou relaxamento. O termo tem sido usado em política internacional desde a década de 1970. De uma maneira geral, o termo pode ser empregado para se referir a qualquer situação internacional na qual nações que tinham anteriormente um relacionamento hostil (sem, no entanto, estarem em um estado de guerra declarada) passam a restabelecer relações diplomáticas e culturais, apaziguando seu relacionamento e diminuindo o risco de conflito declarado.

O termo é mais freqüentemente utilizado em referência à redução geral de tensão entre a União Soviética e os Estados Unidos da América durante a Guerra Fria, ocorrido no final da década de 1960 (após a Crise dos mísseis de Cuba) até o início dos anos 1980. A détente avançou paulatinamente até os Encontros de Cúpula de Reykjavík, em 1986, e de Washington (Intermediate-Range Nuclear Forces Treaty), em (1987), quando Ronald Reagan e Gorbatchev assinaram o fim da Guerra Fria. Há, todavia, quem defenda que a Guerra Fria continuou de facto até o colapso e conseqüente dissolução da URSS em 1991.

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Histórico[editar | editar código-fonte]

Durante a década de 1970, nas administrações de Nixon e Ford, nos EUA, e de Brezhnev na URSS, a Guerra Fria sofreu grandes modificações com a implementação da détente pelas duas potências. A URSS buscava mostrar ao público como a nova política de coexistência pacífica, com o fim da corrida armamentista era algo positivo, bem como tentava se vangloriar por isso.1 Cumpre destacar que essa foi uma política adotava pelas nações aos fins da década de 60 com medo de uma guerra nuclear, que dado o poderio armamentista de ambas as potências, teria consequências ainda mais desastrosas que as guerras anteriores, ainda, por lado da URSS, com o interesse de ter suas fronteiras no leste Europeu reconhecidas.

As principais motivações para a détente, conforme mencionado acima, era o medo do desencadeamento de mais uma guerra, pois o poder militar da URSS não era mais inferior àquele detido pelos EUA. Ainda, com essa nova política, desejavam expandir o comércio entre as nações, bem como reduzir a capacidade nuclear, buscando a suficiência, por parte dos EUA. Cumpre destacar que a détente, apesar da tentativas dos governos de mostrar o contrário, não foi livre de críticas, principalmente pelo Congresso e população estadunidense, que acreditavam que grande parte os atos decorrentes da détente, como o SALT, e os tratados de Helsinque favoreciam a URSS em detrimento dos EUA, entendimento esse compartilhado também pelo escritor soviético exilado Aleksandr Solzhenitsyn,2 que alertava os EUA sobre os perigos da détente indicando que o desconhecimento dos EUA a respeito do regime soviético é produto da distância, da falta de informação, da estreiteza dos pontos de vista e das interpretações tendenciosas dos observadores e comentaristas. A população temia a política de détente tanto por medo do avanço nuclear da URSS como também pela mesma significar um afastamento dos EUA sobre a violação dos direitos humanos que ocorria no governo soviético, manifestação evidente após a assinatura dos acordos de Helsinki, fato este também criticado pelo escritor acima mencionado.

Dentre os motivos que levaram ao fracasso da détente, pode-se mencionar a insatisfação popular dos americanos, das questões pessoais, principalmente do presidente Nixon, que se isolava na tomada de decisões com o secretário Kissinger, sofrendo diversas críticas dos demais membros da administração e deixando de se aproveitar de seu conhecimento. Por outro lado, à época, tiveram conflitos internacionais que alarmaram a situação entre os países, como a Guerra do Vietnã, a imigração de judeus para os EUA e as guerras travadas entre Síria, Egito e Israel, que contavam com o apoio de cada um dos lados e frequentes ameaças de uma potência para outra. Por fim, teve-se os conflitos com o Congresso americano, que acreditando que os acordos e medidas tomados no âmbito da détente era unilaterais e favoreciam apenas os EUA, dessa forma, propuseram várias emendas e restrições que não agradaram a URSS, conforme notícia de 15/01/75.3 Ainda, membros da administração, como o secretário de Defesa James Schlesinger, advertiu o congresso em 75 que reduções unilaterais do poderio norte-americano não eram positivas para a détente, e que apesar desta, ainda existiam inúmeras divergências entre os EUA e a URSS, decorrente de seus sistemas sociais e objetivos políticos econômicos, de forma que períodos de cooperação iriam

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inevitavelmente se intercalar com períodos de contestação, como de fato ocorreu, e os EUA deveriam estar preparados para isso.4 De forma geral, apesar das tentativas das duas potências de manter uma coexistência pacífica, inúmeras divergências ideológicas, políticas e econômicas manifestadas em atitudes pessoais, domésticas e internacionais refletiram a impossibilidade dessa política no longo prazo, refletida principalmente em conflitos internacionais nos quais havia ameaças de ambos os lados e nas manifestações domésticas que contrariavam essa política.

3.19 A “segunda Guerra Fria” (Reagan-Bush). A chamada "Segunda Guerra Fria" de Reagan-Bush (pai), juntamente com a crise e a desagregação do chamado "Bloco Soviético", são assuntos "quentes" por alinhavarem a Nova Ordem surgida na década de 1990. Um texto que ainda se impõe por emprestar inteligibilidade a todo esse processo, é a Era dos Extremos, de Eric Hobsbawm. Este pequeno texto, escrito de forma livre e sem anotações quanto a referências bibliográficas é colocado como uma pequena contribuição ao estudo desses temas.

Algumas Achegas sobre as Incertezas e Complexidades das Relações Internacionais, ou "Como a década de 1980 gerou a Nova Ordem Mundial"

A nova agenda internacional inaugurada nos anos iniciais da década de 1990 foi diretamente tributária dos acontecimentos surgidos a partir de 1980, ano no qual o presidente norte-americano Ronald Reagan, ator canastrão de filmes classe “B” das décadas de 1940 e 1950, e depois convertido, após o macartismo, a republicano e anticomunista ferrenho, a político sério com pretensões de estadista. Reagan imprimiu na sua administração os contornos daquilo que ficaria conhecida como a “nova guerra fria” a qual durou de 1980 a 1991. O “criativo” presidente que reutilizou a expressão “Império do Mal”, resgatando-a das histórias de Flash Gordon para utilizá-la em relação à União Soviética, não estava sozinho nesse novo papel, pois tinha na Europa, a conservadora Margaret Hilda Thatcher, primeiro-ministra britânica de 1979 a 1990. Com a eleição de um Papa polonês, o sempre sobrevalorizado – “por se manter fiel às raízes da Igreja e ao tempo presente” - Carol Woithila (João Paulo II), estavam pré-roteirizadas as propostas de desfecho, a nível superestrutural, para diversos eventos a ocorrer ao longo da década, os quais seriam considerados absurdos ao início da década de 1980. Reagan fazia com que seu governo atuasse em todas as frentes possíveis: o boicote às Olimpíadas de Moscou, onde de forma acertada e estratégica - se levarmos em conta apenas a 'razão de Estado', retirara parte do brilhantismo da peça de propaganda preparada pelos russos, o fazendo no entanto sob a desculpa da invasão russa ao Afeganistão, um ano antes. Reagan suspendera concessões unilaterais da administração Carter, endurecendo as relações com a URSS, e direcionando o Departamento de Estado e Defesa para o confrontacionismo, além de mover toda a administração norte-americana para o bloqueio econômico e tecnológico – em uma era na qual os microchips substituíam as antigas válvulas. O nunca executado projeto conhecido como “Guerra nas Estrelas”, a ambiciosa construção sobre o território norte-americano de um escudo anti-mísseis, selaria a sorte da corrida armamentista, e a URSS, desgastada ideologicamente e minada em termos econômicos, perdia a sua

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legitimidade nos países sob sua égide, e não conseguiria nem mesmo intervir diretamente no seu satélite polonês, colocado em estado de quase rebelião pelo sindicato Solidariedade. O sistema bipolar de organização do mundo, emergido ao final da II Guerra Mundial deixaria de existir pela simples dissolução de uma das superpotências, a URSS. Conseqüência imediata dessa transformação, seria que todos os países do Leste Europeu sob a influência soviética, constituintes da antiga “cortina de ferro”, e submetidos há quase seis décadas a um sistema de partido único e capitalismo de Estado, passavam após um rápido processo de revoluções-relâmpago, a integrar o sistema de economias de mercado. A única superpotência global, os EUA, colhidos de surpresa no meio de toda esta crise de poder, como o Departamento de Estado norte-americano mais tarde veio a admitir, não possuía as condições de estruturar por si próprio, uma nova ordem mundial. Abria-se espaço para a era da Globalização, do Consenso de Washington, da desregulamentação e abertura unilateral de mercados nos países em desenvolvimento, sob a ilusão da falácia de uma “smithisoniana mão invisível do mercado”, que na realidade, ainda que de forma “não invisível”, acabava por fazer fluir de maneira unilateral, e sob a desculpa das chamadas “vantagens comparativas” e de uma nunca admitida tentativa de reativação da antiga divisão internacional do trabalho, todos os benefícios da globalização para as economias dos chamados países capitalistas centrais. Restava ainda os diversos países e antigas colônias periféricas sob a antiga influência de americanos ou soviéticos. A descolonização e a retirada de apoio, mas não das armas fornecidas, a diversos regimes em países periféricos, serviu pelo abandono e falta de perspectivas, como combustível a alimentar ressentimentos contra o Ocidente – no caso do fundamentalismo islâmico – ou contra aqueles que tem os “olhos azuis e pele clara” em outras partes do mundo.

3.20 A crise e a desagregação do bloco soviético.

O fim da URSS

O FIM DO MODELO SOVIÉTICO

Fim da Guerra Fria

O período que se encontra entre 1985 e 1991, foi marcado por grandes modificações. A Guerra Fria terminou de forma inesperada, durante a década de 1980. Em 1989, a queda do muro de Berlim foi o ato simbólico que decretou o encerramento de décadas de disputas económicas, ideológicas e militares entre o bloco capitalista, comandado pelos Estados Unidos e o socialista, dirigido pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Na sequência deste facto, ocorreu a reunificação da Alemanha Ocidental e Oriental.

Podemos afirmar que a crise nos países socialistas funcionou como um catalisador do fim da Guerra Fria. Os países do bloco socialista, incluindo a União Soviética,

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passavam por uma grave crise económica na década de 1980. A falta de concorrência, os baixos salários e a falta de produtos causaram uma grave crise económica. A falta de democracia também gerava uma grande insatisfação popular.

No começo da década de 1990, o presidente da União Soviética Mikhail Gorbatchev começou a implementar a Glasnost (transparência / reformas políticas priorizando a liberdade) e a Perestroika (reestruturação económica). A União Soviética estava pronta para deixar o socialismo, rumo à economia de mercado capitalista, com mais abertura política e democrática. Na sequência, as diversas repúblicas que compunham a União Soviética foram retomando sua independência política. Futuros acordos militares entre Estados Unidos e Rússia garantiriam o início de um processo de desarmamento nuclear.

Na década de 1990, sem a pressão soviética, os outros países socialistas (Polónia, Hungria, Roménia, Bulgária, entre outros) também foram implementando mudanças políticas e económica no sentido do retorno da democracia e engajamento na economia de mercado.

Portanto, a década de 1990 marcou o fim da Guerra Fria e também da divisão do mundo em dois blocos ideológicos. O temor de uma guerra nuclear e as disputas armamentistas e ideológicas também foram sepultadas. 

O fim do modelo soviético transformou a geografia política do Leste europeu e lançou os antigos estados socialistas numa transição económica difícil, cujas marcas são, ainda, claramente percetíveis.

A Era Gorbatchev

Com a morte de Konstantin Chernenko (Presidente do Soviete Supremo da URSS e Secretário Geral do Partido Comunista de Fevereiro de 1984 a Março de 1985, e Chefe Supremo do Politburo, o segundo mais alto cargo na hierarquia soviética, de 1971 até 1984),  Mikhail Gorbachev, com 54 anos de idade, é eleito secretário geral do Partido Comunista a 11 de Março de 1985. Sendo, efetivamente, o verdadeiro líder da União Soviética.

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Bem mais novo e decidido do que os seus antecessores, o novo líder encara de frente a deterioração que o sistema vinha sofrendo desde os tempos de Brejnev.

Incapaz de igualar o arrojado programa de defesa nuclear da administração Reagan (conhecido como “guerra nas estrelas”), o líder soviético procura assim criar um clima internacional estável que refreie a corrida ao armamento e permita à URSS utilizar os seus recursos para a reestruturação interna.

Defensor de ideias modernizantes, instituiu grandes projetos inovadores ao conservadorismo dos dirigentes: a perestroika (reconstrução económica), democratizatsiya (democratização), o uskorenie (desenvolvimento económico) e aglasnost (transparência política).

Perestroika significa superar o processo de estagnação, quebrar o mecanismo de frenagem, criando um mecanismo confiável e eficaz para a aceleração do progresso social e económico e conferindo-lhe maior dinamismo; significa iniciativa da massa. É a conferência de desenvolvimento da democracia socialista, auto-governo, o incentivo da iniciativa e esforço criativo.

Por outras palavras...

Perestroika : reestruturação profunda do funcionamento do modelo soviético empreendida por M. Gorbatchev, a partir de 1985. Tendo um carácter

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marcadamente económico, a perestroika assumiu também a vertente política (a glasnost) que procurou reconciliar o socialismo e a democracia.

Por ainda mais palavras...

A Perestroika, que teve início em 1986, foi concebida para introduzir um novo dinamismo na economia soviética, que passava por sérios problemas. Para que os setores económicos do país tivessem uma expansão qualitativa e quantitativa, foram introduzidos mecanismos para estimular a livre concorrência (e acabar com o monopólio estatal), desenvolver setores secundários de produção (bens de consumo e serviços não-essenciais) através da iniciativa privada e descentralizar as operações empresariais. No campo, foi estimulado a criação de cooperativas por grupos familiares e arrendamento de terras estatais. A proposta também foi incentivar empresas estrangeiras a atuarem no país. Houve ainda uma redução dos gastos do governo, principalmente na indústria bélica.

Glasnost

Enquanto no Ocidente a noção da glasnost se associa com a liberdade de expressão, a meta principal desta política foi fazer o governo do país transparente e aberto para discutir, assim logrando o círculo estreito de apparatchiks que anteriormente exerceu o controle completo da economia. A Glasnost foi, portanto, um processo de abertura política.

A glasnost deu novas liberdades à população, como uma maior liberdade do discurso - uma modificação radical, visto que o controle de discurso e supressão da crítica do governo tinha sido anteriormente uma parte central do sistema soviético. Houve também um maior grau da liberdade dentro dos meios de comunicação. Até o final dos anos 1980, o governo soviético veio embaixo da crítica aumentada, como fez a ideologia leninista (que Gorbachev tinha tentado conservar como a fundação da reforma), e os membros da população soviética foram mais francos na sua visão de que o governo soviético não ia bem.

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Na área política e social, a Glasnost pretendeu colocar novos paradigmas no modo de vida soviético. Para que a União Soviética tivesse um desenvolvimento forte e profícuo, era necessário colocar uma nova mentalidade em todos os segmentos da sociedade. Assim, a proposta foi de acabar com a burocracia política, combater a corrupção e introduzir a democracia em todos os níveis de participação política, ou seja, autorizou o pluripartidarismo. A glasnost também libertou dissidentes políticos e permitiu a liberdade de imprensa e expressão.

O colapso do bloco soviético

“Investiga as causas históricas, políticas, sociais e econômicas que mais contribuíram para o colapso e desaparecimento da União Soviética em 1991. Como um esforço de reinterpretação do fenômeno, desde a gênese até o esgotamento da URSS, apóia-se em análises e dados de alguns dos mais conhecidos especialistas no assunto. Considera que um conjunto de elementos se combinou para tal desfecho. Aponta como causas principais:

a) o atraso material e cultural da velha Rússia para iniciar a construção do socialismo; b) o isolamento da Revolução Russa, fruto, entre outros fatores, do reformismo político que paralisou a classe operária no Ocidente;

c) as agressões militares que a URSS sofreu, com suas imensas perdas humanas e os custos insuportáveis de defesa, derivados da ameaça permanente que vinha do exterior, que contribuíram para exauri-la economicamente;

d) a natureza ditatorial do sistema político, como elemento central, que se pôde acelerar a industrialização e a modernização em uma primeira fase, trouxe imensos prejuízos humanos por outro e funcionou a partir de certo ponto no tempo como uma trava à continuidade do desenvolvimento da economia e da sociedade;

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e) o esgotamento do modelo extensivo de crescimento na virada para os anos 70, a desaceleração econômica que chega à estagnação no início dos anos 80 e o acentuado atraso tecnológico em relação ao mundo capitalista, verificado já na década de 70;

 f) As grandes transformações sociais, culturais e comportamentais ocorridas no mundo e na URSS, a Revolução da Informação e as mobilizações democráticas em todo Leste Europeu, que erodiram as fundações do sistema soviético;

g) A Perestroika, que como programa de reformas acelerou a democratização do regime político, levando à desagregação do velho mecanismo burocrático de planejamento e gestão estatais da economia, o que por sua vez gerou caos;

h) As mobilizações nacionalistas e a ofensiva restauracionista selaram a desagregação do sistema soviético. O processo final que levou ao colapso da URSS parece mais uma combinação de progressivas revoluções ou mobilizações democráticas - que em muito se assemelham às revoluções burguesas, já que suas bandeiras e demandas não diferem muito daquelas levantadas nas revoluções de 1789 e 1848 - com a implosão de um sistema político debilitado e ultrapassado, onde já não cabiam as forças produtivas e sociais que dentro dele se desenvolviam”

                                                                                O colapso da URSS: um estudo das causas

Gorbatchev, confiante no clima de concórdia que estabelecera com o Ocidente, passou a olhar as democracias populares como uma "obrigação" pesada, da qual o URSS só ganhava em libertar-se.

A doutrina da "soberania limitada" foi então posta de lado, e os antigos países-satélite da URSS puderam escolher o seu regime político. 

No ano de 1989, uma vaga democratizadora varre o Leste: os partidos comunistas perdem o seu lugar de "partido único" e, pouco depois realizam-se as primeiras eleições livres do pós-guerra.

Neste processo, a cortina de ferro, que há 4 décadas, separava a Europa, levanta-se finalmente: as fronteiras com o Ocidente são abertas e, em 9 de novembro, perante um mundo estarrecido, cai o Muro de Berlim.

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Face à queda do Muro e ao colapso dos regimes comunistas, a divisão da Alemanha deixara de fazer sentido. A Alemanha reunifica-se. Em 3 de outubro de 1990, menos de um ano depois da queda do Muro de Berlim, são retirados os marcos entre os dois países e a nação germânica reecontra a unidade perdida. No mês seguinte é anunciado, sem supresa, o fim do Pacto de Varsóvia e, pouco depois, a dissolução do COMECON.

Aqui seguem alguns vídeos em ordem, sobre a Reunificação Alemã:

                                           1º Uma chance para a Alemanha e para a Europa;

2º Alemanha: um sócio muito requisitado na Europa;

3º Berlim: a capital da Alemanha unificada;

4º A Alemanha assume responsabilidade global;

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5º O engajamento da Alemanha na ONU.

O Fim da URSS

A Dissolução da União Soviética resultou no fim do socialismo real e na indepêndencia de 15 repúblicas soviéticas:

Rússia,

Ucrânia,

Moldova,

Bielorrúsia,

Estônia,

Letônia,

Lituânia,

Geórgia,

Armênia,

Azerbaijão,

Casaquistão,

Turcomenistão,

Quirguistão,

Usbequistão e

Tajiquistão.

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No Leste Europeu, os países socialistas, como a: Polônia, Tchecoslováquia, Roménia, Hungria, Iugoslávia, Albânia, Bulgária e Alemanha Oriental, foram gradativamente declarando a independência do partido socialista e todos tornaram-se capitalistas e de governos democráticos (exceto na Jugoslávia onde houve guerra civil e separatista). A Tchecoslováquia se separou de forma amigável.

Confrontado com estas dissidências, Gorbatchev, que nunca tivera em mente a destruição da URSS ou do socialismo, tenta parar o processo pela força, intervindo militarmente nos Estados Bálticos (início de 1991). Esta atuação retira o líder soviético da vanguarda reformista e o apoio dos mais ousados passa para um ex-colaborador de Gorbatchev, Boris Ieltsin. Eleito, como independente, presidente da República da Rússia em junho de 1991, Ieltsin reforça o seu prestígio em agosto ao encabeçar a resistência de um golpe de Estado dos saudosistas do Partido, que pretendiam tomar o poder e parar as reformas em curso.

Pouco depois, no rescaldo do golpe, o novo presidente toma a medida extrema de poibir as atividades do partido comunista.

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No outono de 1991, a maioria das repúblicas da União declara a sua independência. Em 21 de dezembro, nasce oficialmente a CEI (Comunidade de Estados Independentes), à qual aderem 12 das 15 repúblicas que integravam a União Soviética. Quatro dias depois, ultrapassado pelos acontecimentos e vencido no seu propósito de manter o país unido, M. Gorbatchev abandona a presidência de uma URSS que, efetivamente, já desaparecera.

(símbolo da CEI)

OS PROBLEMAS DA TRANSIÇÃO PARA A ECONOMIA DE MERCADO

Na Economia de mercado a maior parte da produção econômica é gerada pela iniciativa privada. Indústria, comércio e prestação de serviços são controlados por cidadãos particulares, ou seja, são empresas do setor privado que detêm a maior parcela dos meios de produção.

O Estado tem o papel de regulamentação e fiscalização da economia, além de atender setores prioritários como: energia, segurança, educação e saúde, entre outros.

A perestroika tinha prometido aos soviéticos uma melhoria acentuada e rápida do nível de vida. Mas, ao contrário do previsto, a reconversão económica foi um fracasso e a economia deteriorou-se rapidamente.

O fim da economia planificada significou o fim dos subsídios estatais às empresas, que se viram na necessidade de se tornarem lucrativas ou enfrentarem a falência. Assim, muitas unidades desapareceram e outras extinguiram numerosos postos de trabalho, considerados excedentários.

De forma geral a riqueza passou para as mãos de antigos altos funcionários que souberam aproveitar a posição que se encontravam. Em meados dos anos 90, 45% do rendimento nacional encontrava-se nas mãos de menos de 5% da população.

Os países de Leste também viveram, de forma dolorosa, a transição para a economia de mercado.

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De acordo com o Banco Mundial (2002), nos países em transição para a economia de mercado, “a pobreza espalhou-se e cresceu a um ritmo mais acelerado do que em qualquer outro lugar do Mundo”.

Os países que encetaram reformas mais drásticas e que beneficiaram de uma relativa estabilidade política, como a República Checa, a Hungria ou a Polónia, captaram importantes investimentos estrangeiros e grandes fluxos turísticos, apresentando, a partir de meados da década de 90, uma evolução económica positiva. Aí, o nível de vida ultrapassou rapidamente o antigo padrão comunista e as previsões de crescimento económico mantêm-se animadoras, devido, em parte, ao forte estímulo que constitui a sua recente adesão à União Europeia.