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Proletários de todos os países, uni-vos!

 

HISTÓRIA 

DO 

PARTIDO COMUNISTA(BOLCHEVIQUE)

 

DA URSS     

REDIGIDA POR COMISSÃO DO CC do PCUS (b)APROVADA PELO CC do PCUS (b). Ano 1938

 

          

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CAPÍTULO I 

A Luta pela Criação do Partido Operário Social-Democrata daRússia (1883 – 1901)

 1 – Abolição da servidão e desenvolvimento do capitalismo industrial naRússia. Formação do proletariado industrial moderno. Os primeirospassos do movimento operário.  

A Rússia czarista entrou mais tarde que os outros países na via dodesenvolvimento capitalista. Até os anos 60 do século passado (XIX), existia apenasum número muito reduzido de oficinas e de fábricas na Rússia. Predominava o sistemaeconômico feudal da nobreza rural. Sob o regime de servidão a indústria não podiadesenvolver-se verdadeiramente. E na agricultura, o trabalho não livre, servil, era defraca produtividade. O rumo do desenvolvimento econômico conduzia à supressão daservidão. Em 1861 o governo czarista, enfraquecido pela derrota militar durante acampanha da Crimeia e aterrorizado pelas “revoltas” dos camponeses contra osproprietários rurais, viu-se obrigado a abolir a servidão.

Mas, mesmo depois da abolição da servidão, os proprietários rurais continuarama oprimir os camponeses. Na época da “emancipação”, despojaram-nos privando-os,

amputando-os de uma parte considerável da terra de que usufruíam anteriormente.Foi a esta parte da terra que os camponeses chamaram otrezeki , os cortes (da palavraotrezat , cortar). Para a sua “emancipação”, se obrigava os camponeses a pagarem aoslatifundiários um direito de resgate de cerca de dois bilhões de rublos.

Após a abolição da servidão, os camponeses viram-se obrigados a arrendar aterra do proprietário rural nas mais duras condições. Além da renda em dinheiro, oproprietário sujeitava muitas vezes os camponeses a trabalharem gratuitamente, comos seus instrumentos e com os seus cavalos, numa porção de terra senhorial. Era oque se chamava prestação de trabalho, corvéia. Mais freqüentemente, o camponês eraobrigado a pagar ao proprietário rural o arrendamento da terra em gêneros, cerca demetade da colheita. Chama-se a isso o trabalho ispolu (o trabalho a metade).

A situação permanecia, pois, semelhante à que existia durante a servidão, coma única diferença de que agora o camponês era livre. Ninguém podia vendê-lo ou 

comprá-lo como a uma coisa.O produto do cultivo rudimentar da terra era extorquido aos camponeses por

todos os meios (arrendamento, multas). E o jugo que os proprietários rurais exerciamsobre a grande massa dos camponeses impedia estes últimos de aperfeiçoarem ocultivo da terra. Daí o atraso extremo da agricultura da Rússia anterior à revolução,atraso que provocava com freqüência más colheitas e penúria.

Os vestígios da economia feudal, os impostos esmagadores, as indenizações deresgate pagas aos latifundiários e que, muitas vezes, excediam o lucro das exploraçõescamponesas, provocavam a ruína, o empobrecimento das massas camponesas,forçavam os camponeses a abandonar a sua aldeia para procurarem o seu ganha-pão.Iam empregar-se nas oficinas e nas fábricas. E os donos das fábricas arranjavamassim mão-de-obra barata.

Os operários e os camponeses tinham sobre eles todo um exército deispravniks, uriadniks, polícias, fiscais, guardas que protegiam o czar, os capitalistas eos latifundiários contra os trabalhadores, contra os explorados. Os castigos corporaisestiveram em vigor até 1903. Apesar da servidão ter sido abolida, açoitava-se oscamponeses pela menor falta, pelo não pagamento dos impostos. A polícia e oscossacos agrediam os operários com matracas, sobretudo durante as greves, quandoestes últimos paravam o trabalho por não poderem mais suportar a opressão dosdonos das fabricas. Os operários e os camponeses não possuíam nenhum direitopolítico na Rússia czarista. A autocracia do czar era o pior inimigo do povo.

Uma prisão dos povos, eis o que era a Rússia czarista. Privadas de todos osdireitos, as numerosas nacionalidades não-russas sofriam continuamente toda espéciede humilhações e ultrajes. O governo czarista habituou a população russa a considerar

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as populações autóctones das regiões nacionais como raças inferiores; chamava-lhesoficialmente “alógenos”, inculcava o desprezo e o ódio em relação a eles. O governoczarista atiçou conscientemente os ódios nacionais, lançou um povo contra o outro,organizou pogromos contra os judeus, massacres tártaro-armênios na Transcaucásia.

Nas regiões nacionais, todos ou quase todos os cargos de Estado eramocupados por funcionários russos. Todos os assuntos das administrações ou dostribunais eram tratados em língua russa. Era proibido editar jornais e livros nas línguasnacionais; o uso da língua materna para o ensino era proibido nas escolas. O governoczarista procurava abafar todas as manifestações de cultura nacional; desenvolvia umapolítica de “russificação” forçada das nacionalidades não russas. O czarismo era ocarrasco, o torcionário dos povos não russos.

Após a abolição da servidão, o desenvolvimento do capitalismo industrial naRússia foi bastante rápido apesar dos vestígios da servidão que travava ainda a suamarcha. Em vinte e cinco anos, de 1865 a 1890, o número de operários, considerandoapenas as grandes oficinas, fábricas e estradas de ferro, tinha passado de 706.000para 1.433.000, isto é, tinham aumentado para mais do dobro.

A grande indústria capitalista sofreu um desenvolvimento ainda mais rápido nosanos 90. No fim desta década, considerando apenas as 50 províncias da RússiaEuropéia, o numero de operários empregados nas grandes oficinas e fábricas, naindústria mineira e estradas de ferro atingia os 2.207.000 e, para o conjunto daRússia, 2.792.000.

Tratava-se de um proletariado industrial moderno, fundamentalmente distinto

dos operários das oficinas da época da servidão, assim como dos operários da pequenaindústria, artesanal ou outra, quer pela sua concentração nas grandes empresascapitalistas quer pela sua combatividade revolucionária.

O surto industrial dos anos 90 foi devido, em primeiro lugar, ao intensodesenvolvimento das estradas de ferro. No decurso da década de 1890-1900,construíram-se mais de 21 mil km de vias férreas. As estradas de ferro necessitavamde uma quantidade enorme de metal (para os trilhos, as locomotivas, as carruagens);consumiam uma quantidade cada vez maior de combustível, de óleo e de petróleo. Daí o desenvolvimento da metalurgia e da indústria de combustíveis.

Na Rússia anterior à revolução, como em todos os países capitalistas, os anosde surto industrial foram seguidos por anos de crise industrial e de marasmo queatingiram duramente a classe operária e levaram centenas de milhares de operários aodesemprego e à miséria.

Ainda que, desde a abolição da servidão o desenvolvimento do capitalismo naRússia tenha sido bastante rápido, a evolução econômica deste país em relação à dosoutros países capitalistas estava sensivelmente atrasada. A imensa maioria dapopulação dedicava-se ainda à agricultura. Na sua célebre obra O desenvolvimento docapitalismo na Rússia, Lênin citou números significativos tirados do recenseamentogeral de 1897. Ai se verifica que cerca de cinco sextos da população se dedicavam àagricultura, enquanto que só cerca de um sexto se ocupava na grande e pequenaindústria, comércio, estradas de ferro e transportes fluviais, construção civil,explorações florestais, etc.

Daqui se conclui que a Rússia, ainda que o capitalismo estivesse aí emdesenvolvimento, era um país agrário, economicamente atrasado, um país pequeno-burguês, isto é, um país onde predominava ainda a pequena propriedade, a pequena

exploração camponesa individual de fraco rendimento.O capitalismo avançava não só nas cidades, mas também no campo. Ocampesinato, a classe mais numerosa da Rússia anterior à revolução, desagregava-se,diferenciava-se. No seio do campesinato mais abastado evidenciava-se uma camadasuperior, a camada dos kulaks, a burguesia rural; por outro lado, muitos camponesescaíam na ruína; via-se aumentar nos campos o número de camponeses pobres, dosproletários e semi-proletários. Quanto aos camponeses médios, o seu número diminuíade ano para ano.

Em 1903, existiam na Rússia cerca de 10 milhões de propriedades camponesas.Na sua brochura Ao campesinato pobre Lênin calculou que, deste número pelo menostrês milhões e meio não tinham cavalo. Normalmente, os camponeses pobrescultivavam uma porção de terreno insignificante, alugavam o resto aos kulaks e iam

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eles próprios procurar noutro lado um ganha pão. Pela sua situação, os camponesespobres aproximavam-se mais do que quaisquer outros do proletariado. Lêninchamava-lhes proletários rurais ou semi-proletários.

Por outro lado, um milhão e meio de famílias de camponeses ricos, de kulaks(sobre um total de 10 milhões de lares camponeses) tinham açambarcado metade detodas as terras cultiváveis dos camponeses. Esta burguesia camponesa enriqueciaoprimindo os pobres e médios camponeses, explorando o trabalho dos assalariadosagrícolas e diaristas; transformava-se em capitalismo agrário.

Depois dos anos 70 e, sobretudo, dos anos 80 do século XIX, a classe operáriada Rússia desperta e entra em luta contra os capitalistas. A situação dos operários naRússia czarista era extremamente penosa. De 1880 a 1890, a jornada de trabalho nasoficinas e nas fábricas era de, pelo menos, 12 horas e meia; e atingia de 14 a 15 horasna indústria têxtil. Explorava-se largamente a mão-de-obra feminina e infantil. Ascrianças trabalhavam um número de horas igual ao dos adultos; mas, tal como asmulheres, cabia-lhes um salário sensivelmente inferior. Os salários eramextremamente baixos. A maioria dos operários ganhava de 7 a 8 rublos por mês. Osoperários melhor pagos das fábricas metalúrgicas e das fundições não ganhavam maisde 35 rublos por mês. Não existia nenhuma segurança no trabalho: daí a grandequantidade de mutilações e acidentes mortais que se verificavam. Não existiamseguros para os operários; a assistência médica era paga. As condições de alojamentoeram extremamente más. Nos cubículos das barracas amontoavam-se de 10 a 12operários. Os donos das fábricas enganavam os operários com freqüência na questão

dos salários, obrigavam-nos a abastecerem-se nas suas lojas de produtos que faziampagar três vezes mais caro; levavam-nos à miséria acumulando-os de multas.Os operários começaram a tomar decisões em conjunto; apresentavam em

comum ao patrão as reivindicações para que a sua situação insustentável fossemelhorada. Abandonavam o trabalho, proclamavam a greve; as primeiras greves dosanos 70 e 80 tiveram geralmente por motivos as multas exageradas, o roubo, afraude, da quais os operários eram vítimas no momento dos pagamentos, assim comoas diminuições de preços do trabalho.

Nas primeiras greves, os operários enfurecidos destruíam as máquinas, partiamos vidros dos edifícios da oficina, saqueavam os estabelecimentos patronais e osescritórios.

Mas os operários avançados começaram a dar-se conta de que para lutareficazmente contra os capitalistas, precisavam, de se organizar. Surgiram assim as

associações operárias.Em 1875 foi fundada, em Odessa, a União dos Operários da Rússia Meridional.

Esta primeira organização operária funcionou durante oito ou nove meses; emseguida, foi destruída pelo governo czarista.

Em 1878 foi fundada, em Petersburgo, a União dos Operários Russos do Norte;tinha à cabeça o marceneiro Khalturin e o ajustador Obnorski. No programa destaunião, se afirmava que, pelos seus objetivos, ela se aliava aos partidos operáriossocial-democrátas do Ocidente. A União apresentava como seu objetivo final arevolução socialista, a “derrubada do regime político e econômico do Estado, regimeextremamente injusto”. Um dos organizadores da União, Obnorski, tinha vividodurante algum tempo no estrangeiro; aí se familiarizou com a atividade dos partidossocial-democrátas marxistas e da I Internacional, dirigida por Marx. E esta

circunstância influenciou o programa da União dos Operários Russos do Norte. Comotarefa imediata, a União estabelecia a conquista da liberdade e dos direitos políticospara o povo (liberdade de expressão, de imprensa, de reunião, etc.). Entre asreivindicações imediatas figurava igualmente a limitação da jornada de trabalho.

A União contava 200 membros e outros tantos simpatizantes. Começou aparticipar nas greves operárias e a dirigi-las. O governo czarista também a destruiu.

Mas o movimento operário continuava a crescer, atingindo um número de novasregiões cada vez maior. Os anos 80 foram marcados por um grande número degreves. Em cinco anos (1881-1886), verificou-se mais de 48 greves mobilizando umtotal de 80.000 grevistas.

A poderosa greve que eclodiu em 1885 na fábrica Morozov de Orekhovo-Zuevofoi de particular importância para a história do movimento revolucionário.

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Esta empresa empregava cerca de 8.000 operários. As suas condições detrabalho tornavam-se piores dia após dia: de 1882 a 1884, os salários sofreram cincodiminuições; em 1884, os preços do trabalho foram reduzidos de 25% de uma só vez.Além disso, Morozov, o dono da fábrica, sobrecarregava os operários com multas.Durante o julgamento que se seguiu à greve, verificou-se que, por cada rublo ganho,eram descontados ao operário, em proveito do dono da fábrica, de 30 a 50 copeckssob a forma de multas. Não podendo suportar mais este roubo os operários entraramem greve em janeiro de 1885. A greve tinha sido preparada com antecedência. Foidirigida por um operário de vanguarda, Piotr Moisseyenko, antigo membro da Uniãodos Operários Russos do Norte, que já possuía uma grande experiência revolucionária.Na véspera da greve, Moisseyenko elaborara juntamente com outros tecelões maisconscientes um caderno reivindicativo, que fora aprovado numa conferência secreta deoperários. Estes exigiam, em primeiro lugar, que se acabasse com as multas que osdeixavam na miséria.

A greve foi reprimida pela Força Armada. Mais de 600 operários foram presos,sendo várias dezenas levados ao tribunal.

Verificaram-se greves análogas em 1885 nas fábricas de Ivanovo-Voznessensk.No ano seguinte, o governo czarista, a quem a progressão do movimento

operário aterrorizava, viu-se obrigado a promulgar uma lei sobre as multas. Esta leidizia que as quantias provenientes das multas não deviam ser embolsadas pelo donoda fábrica, mas servir às necessidades dos próprios operários.

A experiência da greve Morozov e de outras greves fez compreender aos

operários o muito que poderiam obter através de uma luta organizada. Dirigentes eorganizadores de talento surgiram no seio do movimento operário a defender comfirmeza os interesses da classe operária.

Ao mesmo tempo, graças ao desenvolvimento do movimento operário na Rússiae influenciadas pelo da Europa Ocidental, viam-se surgir no país as primeirasorganizações marxistas.

 2 – O Populismo e o Marxismo na Rússia. Plekhanov e o seu grupoLibertação do Trabalho. Luta de Plekhanov contra o populismo. Difusãodo marxismo na Rússia.

 Antes de surgirem os grupos marxistas, o trabalho revolucionário na Rússia

esteve a cargo dos populistas, adversários do marxismo.O primeiro grupo marxista surgiu em 1883. Foi o grupo Libertação do Trabalho,organizado por G. Plekhanov no estrangeiro, em Genebra, onde teve de se refugiarpara escapar às perseguições do governo czarista, perseguições motivadas pela suaatividade revolucionária.

De início, o próprio Plekhanov tinha sido populista. Na emigração, a partir domomento em que tomou conhecimento do marxismo, rompeu com o populismo parase tornar um eminente propagandista do marxismo.

O grupo Libertação do Trabalho contribui consideravelmente para a difusão domarxismo na Rússia. Traduziu na língua russa diversas obras de Marx e Engels: OManifesto do Partido Comunista, Trabalho assalariado e Capital, Socialismo utópico esocialismo científico, etc., e imprimiu-os no estrangeiro para difundi-los secretamentena Rússia. G. Plekhanov, Zassulitch, Axelrod e os outros membros do grupo

escreveram também uma série de obras em que expõem a doutrina de Marx e deEngels, as idéias do socialismo científico.

Marx e Engels, os grandes educadores do proletariado, foram os primeiros aexplicar, opondo-se aos socialistas utópicos, que o socialismo não é uma invenção desonhadores (de utópicos), mas o resultado inevitável do desenvolvimento da sociedadecapitalista moderna. Mostraram que o regime capitalista se desmoronaria do mesmomodo que se tinha desmoronado o regime da servidão; que o próprio capitalismocriava o seu coveiro na pessoa do proletariado. Mostraram que só a luta de classe doproletariado, só a vitória do proletariado sobre a burguesia libertaria a humanidade docapitalismo, da exploração.

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Marx e Engels ensinaram o proletariado a tomar consciência das suas forças,dos seus interesses de classe e a unir-se para uma luta decisiva contra a burguesia.Marx e Engels descobriram as leis do desenvolvimento da sociedade capitalista edemonstraram cientificamente que o desenvolvimento desta sociedade e a luta declasses no seu seio provocariam inevitavelmente a queda do capitalismo, a vitória doproletariado, a ditadura do proletariado.

Marx e Engels demonstraram que a libertação do poder do capital e atransformação da propriedade capitalista em propriedade social eram impossíveis, pelavia pacífica; que a classe operária só pode atingir esses objetivos através da violênciarevolucionária contra a burguesia, através da revolução proletária, estabelecendo oseu domínio político, a ditadura do proletariado, que esmagara a resistência dosexploradores e criara uma sociedade nova, a sociedade comunista sem classes.

Marx e Engels demonstraram que o proletariado industrial é a classe maisrevolucionária e, conseqüentemente, a classe mais avançada da sociedade capitalista;que só uma classe como o proletariado pode agrupar a sua volta todas as forças queestão descontentes com o capitalismo e conduzi-las ao assalto ao capitalismo. Maspara derrotar o velho mundo e criar uma sociedade nova, sem classes, o proletariadodeve ter o seu próprio partido operário, ao qual Marx e Engels chamaram partidocomunista.

Difundir as idéias de Marx e de Engels foi a tarefa a que se entregou o primeirogrupo marxista russo, o grupo de Plekhanov Libertação do Trabalho.

Quando o grupo Libertação do Trabalho se empenhou na luta pelo marxismo na

imprensa russa do estrangeiro, ainda não existia na Rússia o movimento social-democrata. Tornava-se necessário antes de tudo abrir caminho a este movimento nocampo teórico, no campo ideológico. E o principal obstáculo ideológico à propagaçãodo marxismo e do movimento social-democrata era representado nesta época pelasconcepções populistas, que predominavam entre os operários de vanguarda e osintelectuais de espírito revolucionário.

Com o desenvolvimento do capitalismo na Rússia, a classe operária tornava-seuma força de vanguarda capaz de uma luta revolucionária organizada. Ora, ospopulistas não compreendiam o papel de vanguarda da classe operária. Os populistasrussos consideravam erradamente que a principal força revolucionária não era a classeoperária, mas o campesinato; que era possível derrubar o poder do czar e doslatifundiários apenas por meio de “revoltas” camponesas. Os populistas não conheciama classe operária; não compreendiam que não sendo aliados da classe operária e não

sendo dirigidos por ela, os camponeses não poderiam por si só vencer o czarismo e oslatifundiários. Os populistas não compreendiam que a classe operária era a classe maisrevolucionária e mais avançada da sociedade.

Eles tentaram de início conduzir os camponeses à luta contra o governoczarista. Para este fim, a juventude intelectual revolucionária, vestida com roupascamponesas, dirigiu-se para os campos “para o povo” como se dizia então. Daí lhesvem o nome de “populistas”. Mas não foram seguidos pelos camponeses que, de resto,não conheciam nem compreendiam convenientemente. A maior parte dos populistasfoi presa. Os populistas resolveram então prosseguir a luta contra a autocracia czaristapelas suas próprias forças, sem o povo, o que os levou a erros ainda mais graves.

A sociedade secreta populista Narodnaia Volia (Vontade do Povo) preparou oassassinato do czar. Em 1 de março de 1881, os narodovoltsy mataram com uma

bomba o czar Alexandre II. Mas este ato não foi de nenhuma utilidade para o povo.Não era possível, pela execução de pessoas isoladas, derrubar a autocracia czarista,nem destruir a classe dos latifundiários. O lugar do czar morto foi ocupado por outro,Alexandre III, sob cujo regime a vida dos operários e dos camponeses se tornou aindamais dura.

A via escolhida pelos populistas para lutar contra o czarismo, a dos atentadosisolados, do terror individual, era errada e prejudicial à revolução. A política do terrorindividual inspirava-se na falsa teoria populista dos “heróis” ativos e da “multidão” passiva, que fica à espera das façanhas destes “heróis”. Entendia esta falsa teoria quea história é feita apenas pelas individualidades da elite, enquanto que as massas, opovo, a classe, “a multidão” , como se exprimiam desdenhosamente os escritorespopulistas, são incapazes de ações conscientes, organizadas; que não pode deixar de

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seguir cegamente os “heróis”. Por estas razões os populistas renunciaram à açãorevolucionária de massas no seio do campesinato e da classe operária e passaram aoterror individual. Os populistas levaram um dos maiores revolucionários da época,Stepan Khalturin, ao abandono do trabalho de organização de uma União operáriarevolucionária para se dedicar inteiramente ao terrorismo.

Os populistas desviaram a atenção dos trabalhadores da luta contra a classedos opressores, executando – sem proveito para a revolução – representantes isoladosdesta classe. Entravaram o desenvolvimento da iniciativa revolucionária e da atividadeda classe operária e do campesinato.

Os populistas impediam a classe operária de compreender o papel dirigente quedevia assumir na revolução e punham entraves à criação de um partido independentepara a classe operária.

Apesar da organização secreta dos populistas ter sido destruída pelo governoczarista, as concepções populistas mantiveram-se ainda durante bastante tempo entreos intelectuais de espírito revolucionário. O que restou dos populistas resistiuobstinadamente à difusão do marxismo na Rússia impedindo a classe operária de seorganizar.

Portanto, o marxismo só pôde crescer e fortificar-se na Rússia lutando contra opopulismo.

Foi o grupo Libertação do Trabalho que travou a luta contra as concepçõeserradas dos populistas; mostrou todo o mal que a sua doutrina e os seus processos deluta causavam ao movimento operário.

Nos seus escritos contra os populistas, Plekhanov mostrou que as concepçõesdeles não tinham nada de comum com o socialismo científico, apesar de se auto-intitularem socialistas.

Plekhanov foi o primeiro a fazer a crítica marxista às idéias erradas dospopulistas. Assestando golpe após golpe nas suas concepções, Plekhanov desenvolveusimultaneamente uma brilhante defesa das concepções marxistas.

Quais foram os erros principais dos populistas a que Plekhanov deu um rudegolpe?

Primeiramente, os populistas afirmavam que o capitalismo era o fenômeno“acidental” na Rússia, que não se desenvolveria e que, por essa razão, o proletariadotambém não aumentaria nem se desenvolveria neste país.

Em segundo lugar, os populistas não viam a classe operária como a classe devanguarda na revolução. Sonhavam atingir o socialismo sem o proletariado. Para eles,

a principal força revolucionária era o campesinato dirigido pelos intelectuais, e viam acomunidade camponesa como o embrião e a base do socialismo.

Em terceiro lugar, os populistas defendiam um ponto de vista errado eprejudicial sobre a marcha da história humana. Não conheciam, não compreendiam asleis do desenvolvimento econômico e político da sociedade. Sob este ponto de vistaeram homens bastante atrasados. Segundo eles, não eram as classes nem a luta declasses que faziam a história, mas unicamente as individualidades da elite, os “heróis”,que seguem cegamente as massas, a “multidão”, o povo, as classes.

Na sua luta contra os populistas, ao desmascará-los Plekhanov escreveu umasérie de obras marxistas que serviram para a aprendizagem e educação dos marxistasna Rússia. Obras de Plekhanov tais como O socialismo e a luta política, As nossasdivergências, Estudo sobre o desenvolvimento da concepção monista da História,

abriram o caminho para o triunfo do marxismo na Rússia.Nelas Plekhanov expôs as questões fundamentais do marxismo. O seu Estudosobre o desenvolvimento da concepção monista da Historia, editado em 1895,desempenhou um papel particularmente importante. Acerca desta obra Lênin disse que“educou toda uma geração de marxistas russos” (Lênin t. XIV p. 347, ed. Russa).

Nos seus escritos dirigidos contra os populistas, Plekhanov demonstrou que eraabsurdo pôr a questão tal como eles punham: o capitalismo irá ou não desenvolver-sena Rússia? A verdade, dizia Plekhanov citando casos concretos, é que a Rússia jáentrara na via do desenvolvimento capitalista e não havia forças que a pudessemdesviar desse caminho.

A tarefa dos revolucionários não era a de travar o desenvolvimento docapitalismo na Rússia – de resto teriam podido fazê-lo! A tarefa dos revolucionários

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consistia em apoiarem-se na ascendente força revolucionária que o capitalismo emdesenvolvimento origina, na classe operária; consistia em desenvolver nela aconsciência de classe, em organizá-la, em auxiliá-la na formação do seu própriopartido operário.

Plekhanov refutou a segunda concepção essencial, mas não menos errônea dospopulistas: a negação do papel de vanguarda do proletariado na luta revolucionária. Ospopulistas consideravam o aparecimento do proletariado na Rússia como uma espéciede “infelicidade histórica”; nos seus escritos falavam da “praga do proletarismo”.Plekhanov, defendendo a doutrina marxista e a sua perfeita adaptação à Rússia,demonstrou que, apesar de superioridade numérica do campesinato e apesar doproletariado ser relativamente pouco numeroso, era justamente no proletariado, noseu crescimento, que os revolucionários deviam depositar as suas maiores esperanças.

Por que precisamente o proletariado?Porque o proletariado, apesar da sua fraqueza numérica de então, era a classe

trabalhadora ligada à forma mais avançada da economia, a grande produção, eporque, por esse motivo, o futuro lhe pertence.

Porque o proletariado, enquanto classe, cresce de ano para ano, desenvolve-sepoliticamente, presta-se facilmente à organização graças às condições de trabalho nagrande produção; e porque é eminentemente revolucionário devido à sua condiçãoproletária, pois nada tem a perder com a revolução, exceto as suas cadeias.

O mesmo não acontece com o campesinato.O campesinato (então constituído por camponeses individuais – N. da R.),

apesar da sua força numérica, era a classe trabalhadora ligada à forma mais atrasadada economia, a pequena produção; deste modo, o futuro não lhe pertence nem podepertencer-lhe.

O campesinato não só não se desenvolve enquanto classe como, pelo contrário,se decompõe de ano para ano em burguesia (kulaks) e em campesinato pobre(proletários e semi-proletários). Além disso, os camponeses prestam-se maisdificilmente à organização devido à sua dispersão; e, sendo essencialmente pequenosproprietários, juntam-se menos voluntariosamente ao movimento revolucionário que oproletariado.

Os populistas afirmavam que na Rússia o socialismo não viria através daditadura do proletariado, mas a partir da comunidade camponesa: consideravam-na oembrião e a base do socialismo. Mas esta comunidade não era e não poderia vir a sera base ou o embrião do socialismo visto que na comunidade dominavam os kulaks,

verdadeiros vampiros que exploravam os camponeses pobres, os operários agrícolas eos pequenos camponeses. A posse comunal da terra que existia oficialmente e aredistribuição da terra conforme o número de bocas, à qual se procedia de tempos atempos, em nada alterava a situação. Usufruíam da terra os membros da comunidadeque possuíam animais para o trabalho, material agrícola, sementes, ou seja, oscamponeses abastados e os kulaks. Os camponeses sem cavalo, os pobres e, de umaforma geral, os pequenos camponeses viam-se obrigados a entregarem as suas terrasaos kulaks e a venderem a sua força de trabalho, tornar-se diaristas (“bóia-fria”). Acomunidade camponesa era na realidade uma forma cômoda de mascarar o domíniodos kulaks e, nas mãos do czarismo, um meio pouco dispendioso de obrigar oscamponeses a pagarem os impostos segundo a lei da caução solidária. Era por estarazão que o czarismo não tocava na comunidade camponesa. Daí também o ridículo da

idéia de considerar esta comunidade como o embrião ou a base do socialismo.Plekhanov refutou a terceira concepção essencial, não menos errônea, dospopulistas sobre o papel primordial dos “heróis”, das individualidades de elite, das suasidéias, e sobre o papel ínfimo das massas, da “multidão”, do povo, das classes, nodesenvolvimento social. Plekhanov acusava os populistas de idealismo, mostrando quea verdade não se encontrava do lado do idealismo, mas do lado do materialismo deMarx e de Engels.

Plekhanov desenvolveu e justificou o ponto de vista do materialismo marxista.Inspirando-se nesta doutrina, demonstrou que o desenvolvimento da sociedade não éafinal determinado pelas vontades ou pelas idéias das individualidades de elite, maspelo desenvolvimento das condições materiais de existência da sociedade, pelasmodificações no modo de produção dos bens materiais necessários à existência da

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sociedade, pela alteração das relações entre as classes no campo da produção dosbens materiais, pela luta de classes por um papel e um lugar no campo da produção eda partilha dos bens materiais. Não são as idéias que determinam a situaçãoeconômica e social dos homens, mas a situação econômica e social dos homens quedetermina as suas idéias. As individualidades de elite podem ser reduzidas a nada seas suas idéias e as suas vontades vão contra o desenvolvimento econômico dasociedade, contra as necessidades da classe de vanguarda; e, ao contrário, os homensde elite podem verdadeiramente tornar-se personalidades marcantes se as suas idéiase as suas vontades traduzem exatamente as necessidades do desenvolvimentoeconômico da sociedade, as necessidades da classe de vanguarda.

Aos populistas que afirmavam serem as massas uma multidão desordenada,que só os heróis faziam a história e transformavam a multidão em povo, os marxistasrespondiam: não são os heróis que fazem a história, é a história que faz os heróis; porconseguinte, não são os heróis que criam o povo, é o povo que cria os heróis e fazavançar a história. Os heróis, as individualidades de elite, só podem desempenhar umpapel sério na vida da sociedade na medida em que sabem compreender corretamenteas condições de desenvolvimento da sociedade, compreender o que é necessário fazerpara melhorá-las, os heróis, as individualidades de elite, podem encontrar-se nasituação de homens falhados, ridículos e inúteis, se não souberem compreendercorretamente as condições do desenvolvimento da sociedade e se lançarem contra asnecessidades históricas desta, imaginando-se os “fazedores” da história. 

É precisamente a esta categoria de falhados do heroísmo que pertenciam os

populistas.Os escritos de Plekhanov, a sua luta contra os populistas, comprometeramseriamente a influência dos populistas entre os intelectuais revolucionários. Mas aderrota ideológica do populismo estava ainda longe. Esta tarefa – destruir o populismoenquanto inimigo do marxismo – estava reservada a Lênin.

A maior parte dos populistas, pouco depois do esmagamento do partido Narodnaia Volia, renunciou à luta revolucionária contra o governo czarista e começou apregar a reconciliação, a harmonia com esse governo. Os populistas dos anos 80 e 90tornaram-se os porta-vozes dos interesses dos kulaks.

O grupo Libertação do Trabalho redigiu dois projetos de programa para ossocial-democrátas russos (o primeiro em 1884 e o segundo em 1887). Isto constituiuum passo muito importante no sentido da criação de um partido social-democratamarxista na Rússia.

Porém, o grupo Libertação do Trabalho tinha igualmente cometido erros graves.O seu primeiro projeto de programa apresentava-se ainda com vestígios deconcepções populistas, admitia a tática do terror individual. Além disso, Plekhanov nãose dava conta de que, no decurso da revolução, o proletariado podia e devia arrastaratrás de si o campesinato, que só aliando-se ao campesinato poderia o proletariadoalcançar a vitória sobre o czarismo. Seguidamente, Plekhanov considerava a burguesialiberal como uma força capaz de prestar um auxílio, por precário que fosse, àrevolução; quanto ao campesinato, nem sequer lhe fazia referência em alguns dosseus escritos. Afirmava por exemplo: “Além da burguesia e do proletariado, não vemosoutras forças sociais em que se possam apoiar, no caso da Rússia, as combinações deoposição ou revolucionárias” (Plekhanov, t. III, p. 119, ed. Russa). 

Estas opiniões errôneas de Plekhanov encerravam o germe das suas futuras

concepções mencheviques.Nem o grupo Libertação do Trabalho nem os círculos marxistas deste tempoestavam ainda ligados na prática ao movimento operário. Estava-se num período emque acabavam de aparecer e se afirmavam na Rússia a teoria marxista, as idéiasmarxistas, os princípios do programa da social-democracia. Durante a década de 1884-1894, a social-democracia só existia sob a forma de pequenos grupos e círculos quenão estavam ligados, ou estavam-no muito pouco, ao movimento operário de massas.Tal como uma criança que ainda não nasceu, mas que já se desenvolve no ventrematerno, a social-democracia atravessava, como escrevia Lênin, “um processo dedesenvolvimento uterino”. 

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O grupo Libertação do Trabalho, dizia Lênin, “só tinha fundado a social-democracia teoricamente, e apenas dera o primeiro passo em frente do movimentooperário”. 

Coube a Lênin resolver o problema da fusão do marxismo com o movimentooperário na Rússia, assim como o problema da correção dos erros cometidos pelogrupo Libertação do Trabalho.

  3 – O início da atividade revolucionária de Lênin. A União de Luta para a

Libertação da Classe Operária em Petersburgo. Vladimir Ilitch Ulianov (Lênin), fundador do bolchevismo, nasceu em Simbirsk

(hoje Ulianovsk) em 1870. Em 1887, Lênin entra na Universidade de Kazan, mas embreve é preso e expulso da Universidade por participar no movimento revolucionáriodos estudantes. Em Kazan, Lênin tinha aderido a um círculo marxista organizado porFedoseyev. Instalado em Samara, Lênin rapidamente constituiu a sua volta o primeirocírculo marxista desta cidade. A partir deste momento, causara a admiração de todo omundo com os seus conhecimentos do marxismo.

Nos fins de 1893, Lênin fixa-se em Petersburgo. Logo a partir das suasprimeiras intervenções causa uma forte impressão nos membros dos círculos marxistasde Petersburgo. Um conhecimento profundo de Marx, a aptidão para aplicar omarxismo à situação econômica e política da Rússia contemporânea, uma fé ardente,indestrutível na vitória da causa operária, notáveis qualidades de organização: tudoisso fez de Lênin o dirigente reconhecido dos marxistas de Petersburgo.

Lênin era muito estimado pelos operários de vanguarda que freqüentavam oscírculos em que ele ensinava: “As nossas lições – disse o operário Babuchkin apropósito das conferências de Lênin nos círculos operários – tinham um vivo interesse.Todos nós estávamos muito satisfeitos com estas conferências, e constantementeadmirávamos a inteligência do nosso conferencista”. 

Em 1895, Lênin agrupou todos os círculos operários marxistas de Petersburgo(existiam já cerca de vinte) numa só União da Luta para a Libertação da ClasseOperária. Assim se preparou a formação de um partido operário revolucionáriomarxista.

Lênin determinou para a União de Luta a tarefa de se ligar mais estreitamente

ao movimento operário de massas e de assumir a direção política deste. Dapropaganda do marxismo junto de um pequeno número de operários de vanguarda,agrupados em círculos de propaganda, Lênin propôs a passagem à agitação política deatualidade entre as grandes massas da classe operária. Esta virada no sentido daagitação das massas foi da maior importância para o desenvolvimento do movimentooperário na Rússia.

Depois de 1890 verificou-se um período de desenvolvimento na indústria. Onúmero de operários aumentou. O movimento operário desenvolveu-se. De 1895 a1899, segundo dados incompletos, pelo menos 221 mil operários entraram em greve.O movimento operário tornou-se uma força séria na vida política do país. A própriavida vinha confirmar as idéias defendidas pelos marxistas contra os populistas quantoao papel de vanguarda da classe operária no movimento revolucionário.

Dirigida por Lênin, a União de Luta para a Libertação da Classe Operária ligou a

luta dos operários pelas reivindicações econômicas – melhoria das condições detrabalho, redução da jornada de trabalho, aumento de salários – à luta política contrao czarismo. A União de Luta iniciou a educação política dos operários.

Sob a direção de Lênin, a União de Luta para a Libertação da Classe Operária dePetersburgo foi a primeira a empreender na Rússia a fusão do socialismo com omovimento operário. Logo que uma greve rebentava, a União de Luta, que conheciaperfeitamente a situação nas empresas através dos membros dos seus círculos, reagiapublicando panfletos, proclamações socialistas. Estes panfletos denunciavam aopressão da qual os operários eram vítimas por parte dos donos das fábricas;explicavam como deviam os operários lutar pela defesa dos seus interesses eexpunham as reivindicações operárias. Os panfletos proclamavam toda a verdade

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sobre as chagas do capitalismo, sobre a vida miserável dos operários, sobre a suaesgotante jornada de 12 a 14 horas, sobre a sua situação de párias. Neles seencontravam também as reivindicações políticas apropriadas. Nos fins de 1894, Lêninescreveu, com o concurso do operário Babuchkin, o primeiro destes panfletos deagitação com um apelo aos operários grevistas da fábrica Semiannikov, emPetersburgo. No Outono de 1895, Lênin dirigiu um panfleto aos operários e operáriasem greve na fábrica Thornton. Esta pertencia a patrões ingleses e os seus lucroscifravam-se na ordem dos milhões. A jornada de trabalho era superior a 14 horas e ostecelões ganhavam cerca de 7 rublos por mês. A greve findou com a vitória dosoperários. Em pouco tempo, a União de Luta tinha editado dezenas de apelos desteteor dirigidos aos operários de diversas oficinas. Cada um destes panfletos elevavapoderosamente o moral dos operários. Estes verificavam que eram auxiliados,defendidos pelos socialistas.

No Verão de 1896, desencadeou-se uma greve de 30 mil operários têxteis emPetersburgo, sob a direção da União de Luta. A reivindicação principal era a redução dajornada de trabalho. Foi sob o impulso desta greve que o governo czarista se viuobrigado a promulgar a lei de 2 de junho de 1897, que limitava a jornada de trabalhoa 11 horas e meia. Antes desta lei não existiam, de uma forma geral, limites para ajornada de trabalho.

Em dezembro de 1895, Lênin é preso pelo governo czarista. Mesmo na prisãocontinua o combate revolucionário. Auxilia a União de Luta com os seus conselhos e assuas indicações, envia da prisão brochuras e panfletos. É nessa altura que redige a

brochura A propósito das greves e o panfleto Ao governo czarista, no qual denuncia aferoz arbitrariedade deste governo. É ainda na prisão que Lênin redige o projeto deprograma do Partido (escreveu-o com leite entre linhas de um livro de medicina).

A União de Luta de Petersburgo auxiliou poderosamente a constituição doscírculos operários em uniões semelhantes nas outras cidades e regiões da Rússia. Emmeados dos anos 90, aparecem organizações marxistas na Transcaucásia. Em 1894constitui-se a União Operária de Moscou. Nos fins dos anos 90 está organizada a UniãoSocial Democrata da Sibéria. Nos anos 90 aparecem em Ivanovo-Voznessensk,Iaroslavl, Kostroma, grupos marxistas que, mais tarde, formarão a União do Norte doPartido Social-Democrata. A partir de 1895, organizaram-se grupos e uniões social-democrátas em Rostov-No-Don, Iekaterinoslav, Kiev, Nikolaev, Tula, Samara, Kazan,Orekhovo-Zuevo e outras cidades.

A União de Luta para a libertação da Classe Operária de Petersburgo

representava, segundo as palavras de Lênin, o primeiro sério embrião de um partidorevolucionário apoiado no movimento operário.

Foi na experiência revolucionária da União de Luta de Petersburgo que Lênin seinspirou ao trabalhar mais tarde para a criação do partido social-democrata marxistada Rússia.

Após a prisão de Lênin e dos seus companheiros de armas mais próximos,verificou-se uma virada digna de nota na direção da União de Luta de Petersburgo.Apareceram homens novos, que se designavam a si próprios “jovens” e chamavam“velhos” a Lênin e aos seus companheiros de armas. Os “jovens” começaram a seguiruma linha política errada. Afirmavam que bastava mobilizar os operários para a lutaeconômica contra os padrões; quanto à luta política, tratava-se de um assunto daburguesia liberal. A ela competia, portanto, assumir a direção desta luta.

A estes homens deu-se o nome de “economicistas”. Nas fileiras das organizações marxistas da Rússia foi o primeiro grupo deconciliadores, de oportunistas, que apareceu. 4 – Luta de Lênin contra o populismo e o “marxismo legal”. As idéias deLênin acerca da aliança da classe operária e do campesinato. ICongresso do Partido Operário Social-Democrata da Rússia. 

Apesar de Plekhanov ter dado, entre 1880-1890, um rude golpe no sistema dasconcepções populistas, estas reuniam ainda, depois de 1890, as simpatias de umaparte da juventude revolucionária. Alguns jovens continuavam a pensar que a Rússia

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podia evitar a via do desenvolvimento capitalista, que o papel principal na revoluçãopertenceria ao campesinato e não à classe operária. O que restava dos populistasesforçava-se por todos os meios por impedir a difusão do marxismo na Rússia;empreenderam a luta contra os marxistas, a quem procuraram difamar por todos osprocessos. Era necessário, pois demolir completamente o populismo no campoideológico, para assegurar a difusão contínua do marxismo e a possibilidade de criarum partido social-democrata.

Desta tarefa se encarregou Lênin.Na sua obra Quem são os amigos do povo e como lutam contra os social-

democratas (1894), Lênin arrancou a máscara dos populistas, esses falsos “amigos dopovo” que na realidade, marchavam contra o povo.

Os populistas de 1890-1900 tinham, na verdade, abandonado há muito tempotoda a luta revolucionária contra o governo czarista. Os populistas liberais pregavam areconciliação com o governo czarista. “Eles pensam simplesmente - escrevia Lêninreferindo-se aos populistas dessa época – que este governo, se lhe pedirem bastante ecom bons modos, tudo poderá resolver da melhor forma” (Lênin, t.l.p 161. Ed. russa). 

Os populistas de 1890-1900 fechavam os olhos à situação dos camponesespobres, à luta de classes na aldeia, onde os camponeses pobres eram oprimidos peloskulaks; exaltavam o progresso das explorações kulaks. Na realidade, surgiam comoporta-vozes dos interesses dos kulaks.

Ao mesmo tempo, nas suas revistas, faziam campanha contra os marxistas. Aodeformarem e alterarem propositadamente as concepções dos marxistas russos,

afirmavam que os marxistas queriam arruinar o campo, que queriam “fazer passarcada mujik pela fornalha da fábrica”. Lênin denunciando esta tendenciosa críticapopulista mostrou que de maneira nenhuma se tratava de “desejos” dos marxistas,mas da marcha real do desenvolvimento do capitalismo na Rússia que fazia com que oproletariado aumentasse inevitavelmente. Além do que o proletariado seria o coveiroda ordem capitalista.

Lênin demonstrou que os verdadeiros amigos do povo, aqueles que desejavamsuprimir a opressão dos capitalistas e dos grandes latifundiários, suprimir o czarismo,não eram os populistas, mas os marxistas.

Na sua obra Quem são os “amigos do povo”, formulou pela primeira vez a idéiada aliança revolucionária dos operários e dos camponeses, principal meio de derrubaro czarismo, os latifundiários, a burguesia.

Em diversas obras deste período, Lênin criticou também os métodos de luta

política do principal grupo populista – os narodovoltsy (membros da Narodnaia Volia) – e mais tarde os continuadores dos populistas, os socialista-revolucionários, criticou,sobretudo a tática do terror individual. Lênin considerava esta tática como prejudicialao movimento revolucionário, visto que substituía a luta de massas pela luta dosheróis isolados. Ela revelava a falta de confiança no movimento revolucionário popular.

Na sua obra Quem são os “amigos do povo”, Lênin traçou os objetivosfundamentais dos marxistas russos. Segundo Lênin, os marxistas russos deviam, emprimeiro lugar, organizar um partido operário socialista único com os círculos marxistasdispersos. Lênin indicava em seguida que só a classe operária da Rússia, aliada aocampesinato, poderia derrubar a autocracia czarista; seguidamente, o proletariadorusso, aliado às massas trabalhadoras e exploradas, aliar-se-ia ao proletariado dosoutros países na via da luta política aberta em direção à vitória da revolução

comunista.Eis como há já mais de quarenta anos Lênin mostrou de uma forma justa ocaminho que devia seguir a luta da classe operária, definiu o seu papel de forçarevolucionária de vanguarda na sociedade e definiu o papel do campesinato enquantoaliado da classe operária.

Entre 1890-1900, a luta de Lênin e dos seus partidários contra o populismoconduziu à derrota ideológica, definitiva, deste último.  É também de uma grande importância a luta de Lênin contra o “marxismolegal”. Como sempre acontece na história, alguns “companheiros de viagem” instáveisagarram-se por algum tempo aos grandes movimentos sociais. Entre esses“companheiros de viagem” alguns havia a quem se chamou de os “marxistas legais”.Quando se verificou uma grande expansão do marxismo na Rússia, os intelectuais

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burgueses começaram a mascarar-se com vestuário marxista. Faziam imprimir os seusartigos nas revistas e jornais legais, isto é, autorizados pelo governo czarista. Daí lhesveio o nome de “marxistas legais”. 

Eles lutavam à sua maneira contra o populismo. Mas tanto esta luta como oestandarte do marxismo eram por eles utilizados para subordinarem e adaptarem omovimento operário aos interesses da burguesia. Da doutrina de Marx, eles rejeitavamo essencial, a doutrina da revolução proletária, da ditadura do proletariado. PiotrStruve, o mais destacado dos “marxistas legais”, exaltava a burguesia e, em vez deexortar à luta revolucionária contra o capitalismo, apelava para “o reconhecimento danossa falta de cultura e a nossa inclusão na escola do capitalismo”. 

Na luta contra os populistas, Lênin admitia alianças provisórias com os“marxistas legais” a fim de utilizá-los contra os populistas, por exemplo, na publicaçãoem comum de uma compilação dirigida contra estes. Mas, ao mesmo tempo, Lêninfazia uma severa crítica aos “marxistas legais”, denunciando seu fundo de liberalismoburguês.  Muitos destes “companheiros de viagem” tornar-se-ão em seguida cadetes(principal partido da burguesia russa) e, durante a guerra civil, perfeitos guardasbrancos.

Paralelamente às Uniões de Luta de Petersburgo, Moscou, Kiev, etc. formam-setambém organizações social-democrátas nas regiões nacionais periféricas no Oeste daRússia. Depois de 1890, os elementos marxistas retiram-se do partido nacionalistapolaco para formar a Social-Democracia da Polônia e da Lituânia. Por volta de 1900

constituem-se as organizações da social democracia da Letônia. Em outubro de 1897nas províncias ocidentais da Rússia, criou-se o Bund. União Geral Social DemocrataJudaica.

Em 1898 várias Uniões de Luta – as de Petersburgo, Moscou, Kiev,Iekaterinoslav – e o Bund fazem a primeira tentativa para se agrupar num partidosocial-democrata. Para este efeito reúnem em Minsk, em março de 1898, o ICongresso do Partido Operário Social-Democrata da Rússia (POSDR).

O I Congresso do POSDR reunia apenas nove delegados. Lênin não pôdeassistir, pois nessa época estava deportado na Sibéria. O comitê Central do Partido,eleito no congresso, foi preso pouco tempo depois. O Manifesto lançado em nome doCongresso ainda deixava a desejar em muitos pontos. Não se pronunciava sobre anecessidade, para o proletariado, de conquistar o poder político; nada dizia a cerca dahegemonia do proletariado e não se pronunciava sobre os aliados do proletariado na

sua luta contra o czarismo e a burguesia.Nas suas decisões e no seu Manifesto, o Congresso proclamava a criação do

Partido Operário Social-Democrata da Rússia.É neste ato formal, destinado a desempenhar um grande papel do ponto de

vista da propaganda revolucionária, que reside à importância do I Congresso doPOSDR.

Contudo, apesar da reunião deste I Congresso, o Partido social-democratamarxista ainda não estava efetivamente criado na Rússia. O Congresso não conseguiraagrupar os círculos e organizações marxistas, nem uni-los por vínculos organizativos.Não existia ainda uma linha única no trabalho das organizações locais, nem programa,nem estatutos do partido; não existia uma direção a partir de um centro único.

Por estas razões e muitas outras ainda, a confusão ideológica aumentara nas

organizações locais; esta situação era favorável ao reforço de uma correnteoportunista, o “economismo” no seio do movimento operário. Foram precisos muitos anos de trabalho intenso de Lênin e do jornal Iskra (A

Centelha) fundado por ele para ultrapassar a confusão, para vencer as vacilaçõesoportunistas e preparar a formação do Partido operário social-democrata da Rússia. 5 – Luta de Lênin contra o “economismo”. Lênin funda o Jornal Iskra 

Lênin não pôde assistir ao I Congresso do POSDR. Encontrava-se nessa alturana Sibéria, deportado na aldeia de Chuchenskoia, para onde o governo czarista odesterrara depois de tê-lo conservado preso por muito tempo em Petersburgo devidoao caso da União de Luta.

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Mas, mesmo no exílio, Lênin continuava a sua ação revolucionária. Foi aí queterminou a sua grande obra científica O desenvolvimento do capitalismo na Rússia,livro que deu o golpe mortal na derrota ideológica do populismo. Foi aí também queescreveu a sua famosa brochura As tarefas dos social-democrátas russos.  

Ainda que separado da ação revolucionária prática e direta, Lênin souberaconsertar algumas relações com militantes do local da deportação onde se encontrava,trocava correspondência com eles, pedia-lhes informações, dava-lhes conselhos. O quemais preocupava Lênin, nesta altura, era a questão dos “economicistas”. Compreendeumelhor que ninguém que o “economismo” era o núcleo central da política deconciliação, do oportunismo, que a vitória do “economismo” no movimento operáriosignificaria a ruína do movimento revolucionário do proletariado, a derrota domarxismo.

E Lênin atacou os “economicistas” desde o seu aparecimento. Os “economicistas” afirmavam que os operários deviam unicamente conduzir a

luta econômica, quanto à luta política, era preciso deixar esse trabalho para aburguesia liberal, que devia ser apoiada pelos operários. Lênin considerava estapropaganda dos “economicistas” como uma negação do marxismo, uma negação danecessidade, para a classe operária, de ter um partido político independente, umatentativa de transformar a classe operária num apêndice político da burguesia.

Em 1899, um grupo de “economicistas” (Prokopovitch, e outros, passados maistarde para os cadetes) lançou um manifesto no qual se afirmavam contra o marxismorevolucionário e exigiam que se renunciasse à criação de um partido político proletário

independente, que se renunciasse às reivindicações políticas independentes formuladaspela classe operária. Os “economicistas” achavam que a luta política era um assuntoda burguesia liberal, e que aos operários bastava conduzirem a luta econômica contraos patrões.

Quando teve conhecimento deste documento oportunista, Lênin convocou umaconferência dos deportados marxistas que se encontravam nas zonas vizinhas; e 17camaradas com Lênin à cabeça, formularam um protesto – requisitório contra o pontode vista dos “economicistas”. 

Este protesto, redigido por Lênin, foi difundido nas organizações marxistas detoda a Rússia; teve uma enorme importância para o desenvolvimento do pensamentomarxista e do partido marxista neste país.

Os “economicistas” russos pregavam as mesmas idéias que os adversários domarxismo dos partidos social-democrátas do estrangeiro, aqueles a que se chamava

bernsteinianos, quer dizer, os seguidores do oportunista Bernstein.  Assim, a luta de Lênin contra os “economicistas” era, ao mesmo tempo, umaluta contra o oportunismo internacional.

Foi principalmente o jornal ilegal Iskra, fundado por Lênin, que conduziu a lutacontra o “economismo” e pela criação de um partido político proletário independente.

Nos princípios de 1900, Lênin e os outros membros da União de Lutareentravam na Rússia de regresso da sua deportação na Sibéria. Lênin concebera oprojeto de fundar um grande jornal marxista ilegal para toda a Rússia. Os numerosospequenos círculos e organizações marxistas que já existiam não estavam ainda ligadosentre si. No momento em que, segundo a expressão do camarada Stalin, “o trabalhode forma artesanal e por círculos isolados corroia o partido de alto a baixo; em que aconfusão ideológica era o aspecto característico da vida interna do Partido”, a criação

de um jornal ilegal para toda a Rússia apresentava-se aos marxistas revolucionáriosrussos como uma tarefa essencial. Só esse jornal poderia ligar entre si as organizaçõesmarxistas disseminadas e preparar a formação de um verdadeiro partido.

Mas era impossível organizar tal jornal na Rússia czarista devido àsperseguições policiais. Ao fim de um ou dois meses o jornal seria detectado pelosinformadores do czar e desmantelado. Por isso Lênin decidira editá-lo no estrangeiro.Impresso num papel muito fino e muito sólido, o jornal era introduzido secretamentena Rússia. Esses números do Iskra eram reimpressos nas tipografias clandestinas emBaku, em Kichinev, na Sibéria.

Em outubro de 1900, Vladimir Ilitch Lênin foi ao estrangeiro para aí se entendercom os camaradas do grupo Libertação do Trabalho acerca da edição de um jornalpolítico para toda a Rússia. No exílio, Lênin tinha amadurecido esta idéia em todos os

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seus pormenores. Logo que regressou da Sibéria, organizou uma série de conferênciasem Ufa, Pskov, Moscou, Petersburgo. Em todos os lados entrou em contato com oscamaradas para combinar assuntos tais como um código numerado para acorrespondência secreta, endereços para o envio da literatura do partido, etc., e emtodo o lado discutiu o plano da luta futura.

O governo czarista dava-se conta de que tinha em Lênin um inimigoextremamente perigoso. O polícia Zubatov, agente da Okhrana czarista, escreveu nasua correspondência secreta: “Hoje em dia, ninguém é maior do que Ulianov (Lênin)na revolução”. Do mesmo modo considerava oportuno organizar o assassinato deLênin.

Uma vez no estrangeiro, Lênin entrou em contato com o grupo Libertação doTrabalho, isto é, com Plekhanov, Axelrod e V. Zassulitch para se entenderem sobre apublicação em comum do Iskra. O plano de edição foi estabelecido duma ponta à outrapor Lênin.

Em dezembro de 1900, sai no estrangeiro o primeiro numero do jornal Iskra (ACentelha). Sob o titulo do jornal lia-se esta epígrafe: “Da centelha brotará a chama”  tirada da resposta dos dezembristas ao poeta Pushkin, que lhes tinha dirigido umamensagem de saudações para a Sibéria, onde se encontravam deportados.

Mais tarde, com efeito, da centelha ateada por Lênin brotou a chama do grandeincêndio revolucionário que reduziu às cinzas não só a monarquia czarista dos nobres edos grandes latifundiários, mas também o poder da burguesia. 

  RESUMO 

  O Partido social-democrata marxista da Rússia temperou-se de início na lutacontra o populismo, contra as suas concepções errôneas e prejudiciais à causa darevolução.

Só quando os populistas estavam vencidos no campo ideológico foi possível abrir caminho para a formação de um partido operário marxista da Rússia. Em 1880-1890, Plekhanov e o seu grupo Libertação do Trabalho deram um golpe decisivo aopopulismo.

Em 1890-1900, Lênin finaliza a tarefa ideológica do populismo: dá-lhe o golpede misericórdia.

O grupo Libertação do Trabalho, fundado em 1883, realizou um importantetrabalho de difusão do marxismo na Rússia; forneceu a social-democracia uma baseteórica e deu o primeiro passo em frente do movimento operário.

Com o desenvolvimento do capitalismo na Rússia, os efetivos do proletariadoindustrial aumentam rapidamente. Por volta de 1885, a classe operária lança-se na viada luta organizada, na via de uma ação de massas sob a forma de greves organizadas.Mas os círculos e grupos marxistas ocupavam-se apenas de propaganda: nãocompreendiam a necessidade de passar à agitação das massas da classe operária. Por isso não estavam ainda ligados na prática ao movimento operário, o qual não dirigiam.

A fundação da União de Luta para a Libertação da Classe Operária por Lênin emPetersburgo (1895), União que desenvolveu uma agitação de massas entre osoperários e dirigiu as greves de massas, marcou uma nova etapa, a passagem àagitação de massas entre os operários e a fusão do marxismo com o movimento

operário.  A União de Luta para a Libertação da Classe Operária de Petersburgo foi oprimeiro embrião do partido proletário revolucionário da Rússia. Segundo o exemplo daUnião de Luta de Petersburgo, foram criadas organizações de marxistas em todos osprincipais centros industriais e também na periferia do país.

Em 1898, reuniu-se o I Congresso do POSDR, primeira tentativa, aliás,infrutífera para agrupar as organizações social-democratas marxistas no seio de umpartido. Mas não foi ainda este Congresso que fundou o partido: não existia programa,estatutos do partido ou direção a partir de um centro único; não existia quasenenhuma ligação entre os diferentes círculos e grupos marxistas.

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Foi para agrupar e ligar entre si no seio de um só partido, as organizaçõesmarxistas disseminadas que Lênin estabeleceu e realizou o plano de fundação doprimeiro jornal dos marxistas revolucionários para toda a Rússia, o Iskra.  Neste período, os “economicistas” eram os principais adversários na formaçãode um partido político operário único. Negavam a necessidade de tal partido.Mantinham a dispersão dos diferentes grupos e os seus métodos de trabalhos na formaartesanal. Foi contra os “economicistas” que Lênin e o Iskra por ele fundado dirigiramos seus ataques.

A publicação dos primeiros números do Iskra (1900-1901) marcou a transiçãopara um período novo, para o período da formação efetiva, com os grupos e círculosdispersos, do Partido operário social-democrata único da Rússia. 

    

CAPÍTULO II  

Formação do Partido Operário Social-Democrata da Rússia.Surgem Duas Frações no Partido: Bolchevique e Menchevique

(1901-1904) 

1 – Auge do movimento revolucionário na Rússia nos anos de 1901 a1904. 

Em fins do século XIX, estourou na Europa uma crise industrial. Esta crise nãotardou em estender-se também à Rússia. Durante os anos da crise – 1900 a 1903 – fecharam-se 3.000 grandes e pequenas empresas. Mais de 100.000 operários foramlançados à rua. Os salários dos que continuaram trabalhando experimentaram umabrusca diminuição. Os capitalistas apressaram-se em revogar as insignificantesconcessões que os operários lhes haviam arrancado à força de tenazes greves de

caráter econômico.Porém a crise industrial e o desemprego não paralisaram nem debilitaram omovimento operário. Longe disso, a luta dos operários começou a adquirir um carátercada vez mais revolucionário. Os operários foram passando das greves de carátereconômico às greves de caráter político. Por último, passaram à etapa dasmanifestações, formulando diversas reivindicações políticas em torno das liberdadesdemocráticas e lançando a consigna de “Abaixo a autocracia czarista!”. 

A greve de 1° de Maio de 1901 na fábrica de material de guerra “Obukhov”, dePetersburgo, se converteu num choque sangrento entre os operários e a tropa. Osoperários só podiam fazer frente aos destacamentos armados do czarismo com pedrase pedaços de ferro. Foi vencida a tenaz resistência dos operários, e após ela veio umaterrível repressão: foram detidos cerca de 800 operários, muitos dos quais foramencarcerados e outros morreram na prisão. Porém a heróica “defesa de Obuknov” exerceu uma grande influência sobre os operários da Rússia e despertou entre elesuma onda de simpatia.

Em março de 1902 produziram-se as grandes greves e a manifestação dosoperários de Batum, organizadas pelo comitê social-democrata daquela cidade. Amanifestação de Batum pôs de pé os operários e as massas camponesas daTranscaucásia.

No mesmo ano de 1902, desencadeou-se uma grande greve em Rostov sobre oDon. No princípio, só os ferroviários abandonaram o trabalho, porém depois se unirama eles os operários de muitas fábricas. Esta greve levantou todos os operários deRostov, e nos comícios organizados nos arredores da cidade durante vários dias sereuniram mais de 30.000 proletários. Nestes comícios lia-se em voz alta as

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proclamações social-democratas e diversos oradores faziam uso da palavra. Nem apolícia nem os cossacos eram suficientemente fortes para dispersar os muitos milharesde operários congregados naquelas assembléias. A polícia matou vários operários; nodia seguinte seu enterro se converteu numa imensa manifestação. O governo czaristaviu-se obrigado a trazer tropas das guarnições vizinhas para poder esmagar a greve. Aluta dos operários de Rostov foi dirigida pelo Comitê do Don do POSDR.

No ano de 1903, as greves assumiram proporções ainda maiores. Durante esteano produziram-se várias greves políticas de massas no sul, estendendo-se a toda aTranscaucásia (Baku, Tiflis, Batum) e às principais cidades da Ucrânia (Odessa, Kiev,Ekaterinoslav). As greves apresentavam um caráter cada vez mais tenaz e maisorganizado. Ao contrário do que ocorrera em outras ações anteriores da classeoperária, agora quase toda a luta política dos operários começava a ser dirigida porComitês social-democratas.

A classe operária da Rússia se ia levantando na luta revolucionária contra opoder czarista.

O movimento operário repercutia entre os camponeses. Na primavera e noverão de 1902, estalou um movimento camponês na Ucrânia (nas províncias dePoltava e Kharkov) e na região do Volga. Os camponeses incendiavam as propriedadessenhoriais, se apoderavam das terras e matavam os “zemskie nachalniki” (3) elatifundiários mais odiados. Enviaram-se contra os camponeses sublevados, forçasarmadas que entraram a tiros nas aldeias; centenas de camponeses foram detidos e osdirigentes e organizadores do movimento encarcerados, porém o movimento

revolucionário camponês seguia sua marcha ascendente.A atuação revolucionária dos operários e camponeses indicava que na Rússia seestava gestando e se aproximava a revolução.

Sob a influência da luta revolucionária dos operários, robusteceu-se também omovimento de oposição entre os estudantes. Como réplica às manifestações e àsgreves estudantis, o governo fechou as Universidades, prendeu centenas deestudantes, e, por último, surgiu a idéia de utilizar os estudantes rebeldes comosoldados. Como resposta a isto, os alunos de todos os centros superiores de ensinoorganizaram, durante o inverno de 1901 a 1902, uma greve geral dos estudantes queafetou a 30.000 pessoas.

O movimento revolucionário dos operários e camponeses e, sobretudo, arepressão contra os estudantes, puseram também de pé a burguesia e os latifundiáriosliberais que tinham sua plataforma nos chamados “zemstvos”; obrigaram-nos a

levantar a voz “protestando” contra o “rigor” do governo czarista, que castigavaduramente seus filhinhos, os estudantes.

O ponto de apoio destes liberais eram os “zemskie upravi”. Chamavam-seassim os organismos de tipo local cuja competência se achava circunscrita a questõespuramente municipais, relacionadas com a população rural (construção de estradas, dehospitais e escolas, etc.). Nos ditos organismos os senhores de terra liberaisdesempenhavam um papel bastante destacado. Estes se achavam estreitamentevinculados e quase fundidos com a burguesia liberal, pois começavam a passar, emsuas propriedades, do sistema semifeudal ao capitalista, mais benéfico para seusinteresses. Ambos os grupos de liberais eram, naturalmente, partidários do governoczarista, embora não estivessem de acordo com o “rigor” do czarismo, precisamenteporque temiam que este “rigor” pudesse robustecer o movimento revolucionário. E

ainda que os alarmasse o “rigor” czarista, alarmava-os ainda mais a revolução. Comseus protestos contra o “rigor” czarista, os liberais perseguiam dois fins: em primeirolugar, fazer o czar “entrar na razão”; em segundo lugar aparentar farisaicamente um“grande descontentamento” com o czarismo, para desse modo ganhar a confiança dopovo, desviar este ou uma parte dele da revolução e debilitar assim o movimentorevolucionário.

O movimento liberal dos “zemstvos” não representava, evidentemente, nenhumperigo para a existência do czarismo, porém era, apesar de tudo, um indício de queeste não estava muito bem ajustado com os esteios “seculares” do regime czarista.  

O movimento liberal dos “zemstvos” conduziu, em 1902, à organização dogrupo burguês denominado “Libertação” que havia de ser o núcleo constitutivo dofuturo e principal partido da burguesia russa, do partido dos kadetes.

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Vendo que o movimento operário e camponês se estendia por todo o país, comouma torrente cada dia mais ameaçadora, o czarismo tomou todas as medidas visandodeter o movimento revolucionário. As greves e as manifestações operárias eramreprimidas, e cada vez mais freqüentemente, pela força das armas; as balas e ochicote se converteram na resposta normal do governo czarista às ações dos operáriose dos camponeses; os cárceres e os lugares de deportação se encheram derevolucionários.

Porém, a par destas repressões violentas, o governo czarista tenta aplicaroutras medidas mais “flexíveis”, não repressivas, para desviar os operários domovimento revolucionário.

Fazem-se tentativas para criar falsas organizações operárias sob a tutela dosgendarmes e da polícia. Estas organizações eram conhecidas com o nome deorganizações do “socialismo policial” e organização Zubatov (nome do coronel dagendarmeria a quem se deveu a criação destas entidades operárias de tipo policial).Por meio de seus agentes, a “okhrana” czarista esforçava-se em inculcar nos operáriosa crença de que o governo do czar estava disposto, por sua própria iniciativa, a ajudaros operários e satisfazer suas reivindicações econômicas.

“Para que necessitais meter-vos em política, para que ides organizar arevolução, se o próprio czar está ao lado dos operários?” – diziam aos proletários osagentes de Zubatov. Estes criaram suas organizações em várias cidades. Tomandocomo modelo o método de Zubatov e perseguindo idênticos fins, o padre Gaponefundou, em 1904, uma organização intitulada “Associação dos operários fabris russos

de Petersburgo”. Porém a tentativa da polícia secreta czarista, de apoderar-se da direção domovimento operário, fracassou. O governo czarista não lograva atalhar, comsemelhantes medidas, o crescente movimento das massas operárias. O movimentorevolucionário da classe operária, cada vez mais poderoso, encarregou-se de varrer deseu caminho estas organizações policiais.  2 – Plano de Lênin para a organização de um partido marxista – Ooportunismo dos “economistas” – A luta da “Iskra” em prol do plano deLênin – Aparece o livro de Lênin “Que fazer?” – Os fundamentosideológicos do partido marxista.

 Apesar de haver-se celebrado em 1898 o primeiro Congresso do PartidoOperário Social-Democrata Russo, no qual se havia proclamado a criação do Partido, arealidade era que este não estava formado ainda. Não tinha programa nem estatutos.O Comitê Central do Partido eleito no primeiro Congresso foi detido e não voltou areconstituir-se, pois não houve quem o reconstituísse. Mais ainda, depois do primeiroCongresso, a dispersão ideológica e a desarticulação orgânica do Partido, longe dediminuir, aumentaram.

Os anos de 1884 a 1894 foram os períodos de triunfo sobre o populismo e depreparação ideológica da social-democracia; durante os anos de 1894 a 1898, foramfeitas uma série de tentativas, certamente infrutíferas, para criar, sobre a base dasdiversas organizações marxistas, um partido social-democrata; o período que segue a1898 é um período de recrudescimento do caos ideológico e orgânico dentro doPartido. O triunfo do marxismo sobre o populismo e a atuação revolucionária da classeoperária pôs em evidência a razão que assistia aos marxistas, com o que aumentaramas simpatias da juventude revolucionária pelo marxismo. O marxismo se tornou moda.Isto fez que invadissem as organizações marxistas massas inteiras de jovensrevolucionários procedentes do campo intelectual, de formação teórica débil,inexperientes no aspecto político e em matéria de organização e que só tinham umaidéia confusa e em grande parte falsa do marxismo, nutrida nos escritos oportunistasdos “marxistas legais”, de que estava infestada a Imprensa. Esta circunstância fez quedescesse o nível teórico e político das organizações marxistas, se infiltraram nelas astendências oportunistas dos “marxistas legais” e aumentou a dispersão ideológica, asvacilações políticas e o caos orgânico.

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A marcha ascendente, cada vez mais acentuada, do movimento operário e aclara iminência da revolução, clamavam pela criação de um partido único ecentralizado da classe operária, capaz de pôr-se à frente do movimento revolucionário.Porém, o estado em que se encontravam os órgãos de base do Partido, os comitêslocais, os grupos e os círculos, era tão pouco lisonjeiro, sua desarticulação orgânica esua falta de unidade ideológica tão grandes, que a criação de semelhante partidooferecia dificuldades incríveis.

Estas dificuldades não residiam somente no fato de ter que organizar o Partidosob o fogo das cruéis perseguições do czarismo, que arrebatava das fileiras dasorganizações os melhores militantes, para mandá-los ao desterro, ou às prisões.Havia, além disso, outra dificuldade, e era que uma parte considerável dos comitêslocais e de seus militantes não queria levantar a vista de seu pequeno trabalho práticolocal, não compreendia o dano que a falta de uma unidade orgânica e ideológica doPartido fazia; estava acostumada ao fracionamento deste e ao caos ideológico dentrodele, e imaginava que era possível prescindir de um partido único e centralizado.

Para criar um partido centralizado era preciso acabar com este atraso, com esteestancamento e praticismo estreito dos órgãos locais.

Porém ainda havia mais. Existia dentro do Partido um grupo bastante numerosode pessoas que tinha seus órgãos próprios na Imprensa, na Rússia, “Rabochaia Misl” (“O Pensamento Operário”), e no estrangeiro “Rabochee Dielo” (“A Causa Operária”), eque pretendia justificar teoricamente a desarticulação orgânica e a dispersão ideológicado Partido, chegando inclusive, não poucas vezes, a elogiá-las, e considerando que a

tarefa de criar um partido político único e centralizado da classe operária era umatarefa desnecessária e artificial.Este grupo era o dos “economicistas” e seus sequazes.A primeira coisa a fazer, para poder criar o partido político único do proletariado

era acabar com os “economistas”. Lênin tomou a si esta tarefa e a organização do Partido da classe operária.Existiam diversos critérios a cerca do problema de por onde devia começar-se a

organizar o Partido único da classe operária. Alguns entendiam que a organização doPartido deveria começar pela convocação do II Congresso deste, deixando que ele seencarregasse de unificar as organizações locais e de criar o Partido. Lênin era contrárioa esta opinião. A seu juízo, antes de convocar o congresso era necessário esclarecer oproblema dos fins e tarefas do Partido, saber que classe de partido se pretendiaorganizar, deslindar ideologicamente os campos com os “economistas”, dizer ao

Partido, honrada e abertamente, que com respeito a seus fins e tarefas, existiam doiscritérios distintos: o dos “economistas” e o dos social-democratas revolucionários,desencadear uma ampla campanha de propaganda na Imprensa em prol das idéias dasocial-democracia revolucionária, do mesmo modo que os “economistas” adesenvolviam em prol das suas por intermédio de seus órgãos, dar às organizaçõeslocais a possibilidade de escolher, com plena consciência, entre estas duas correntes;só depois de realizar este trabalho prévio, indispensável, se poderia convocar ocongresso do Partido.

Lênin dizia, claramente: “Antes de unificar-se e para unificar-se é necessáriocomeçar por deslindar os campos de um modo resoluto e definido” (Lênin, t. IX pág.378, ed. Russa).

Eis aqui porque Lênin entendia que a organização do Partido político da classe

operária devia ter como ponto de partida a criação de um periódico político combativo,destinado a toda a Rússia, no qual se fizesse propaganda e agitação em prol das idéiasda social-democracia revolucionária, e que a criação deste periódico tinha que ser oprimeiro passo para a organização do Partido.

Em seu conhecido artigo intitulado “Por onde começar?”, Lênin esboçava umplano concreto de organização do Partido, que logo depois havia de desenvolver emseu célebre livro “Que fazer?”. 

“A nosso juízo – dizia Lênin naquele artigo – o ponto de partida para atuação, oprimeiro passo prático para a criação da organização desejada (isto é, para a criaçãodo Partido – Nota da Redação) e, finalmente, o fio fundamental a que teríamos quenos agarrar para desenvolver, aprofundar e ampliar inquebrantavelmente estaorganização, deve ser a criação de um periódico político destinado a toda a Rússia.

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Sem este, não seria possível desenvolver de um modo sistemático uma propaganda eagitação, sólidas no plano dos princípios e extensivas a todos os aspectos, que são atarefa constante e fundamental da social-democracia agora e sempre e que devem ser,sobretudo, a tarefa vital nos momentos atuais, em que o interesse pela política, pelosproblemas do socialismo foi despertado nas mais extensas camadas da população” (Lênin, t. IV, pág. 110, ed. Russa).

“Lênin entendia que um jornal assim serviria de meio, não só para a coesão ideológica do Partido, como também para a unificação orgânica das diversasorganizações locais, formando um partido. A rede de camaradas, agentes ecorrespondentes deste jornal, que seriam ao mesmo tempo, representantes dasorganizações locais, constituiria o esqueleto em torno do qual se aglutinariaorganicamente o Partido. Pois, “o periódico” – dizia Lênin – não é só um propagandistae um agitador coletivo, como também um organizador coletivo”. 

“Esta rede de agentes – dizia Lênin no citado artigo – servirá de esqueletoprecisamente para a organização de que necessitamos: será suficientemente grandepara abarcar todo o país; suficientemente vasta e variada para poder introduzir nelauma rigorosa e detalhada divisão do trabalho; suficientemente resistente para saberprosseguir inquebrantavelmente seu trabalho sob todas as circunstancias e ante todasas “viradas” e situações inesperadas; suficientemente flexível para saber, de um ladonão aceitar as batalhas em campo aberto contra um inimigo perigoso por sua forçaesmagadora, quando concentre toda sua força num ponto, porém sabendo, de outrolado, aproveitar-se da torpeza de movimentos deste inimigo e lançar-se sobre ele no

lugar e no momento em que menos espere ser atacado”. (Obra citada, pág. 112). Eis aqui o que se queria que fosse o periódico “Iskra”. E, com efeito, a “Iskra” foi precisamente o periódico político que preparou a

coesão ideológica e orgânica do Partido em toda a Rússia.No que se refere à sua estrutura e composição, Lênin entendia que o Partido

devia constar de duas partes: a) um círculo reduzido de militantes, que formassem osquadros de direção fixos e no qual deviam entrar, fundamentalmente, osrevolucionários profissionais, isto é, os militantes sem mais ocupação que o trabalhodo Partido e dotados do mínimo indispensável de conhecimentos teóricos, deexperiência política, de capacidade de organização e de habilidade para lutar com apolicia czarista e escapulir dela; b) uma extensa rede de organizações periféricas doPartido, integradas por uma massa numerosíssima de filiados e rodeadas da simpatia edo apoio de centenas de milhares de trabalhadores.

“Eu afirmo, escrevia Lênin: 1) que não pode haver um movimentorevolucionário sólido sem uma organização de dirigentes estável e que assegure acontinuidade; 2) que quanto mais extensa for a massa que se sentir espontaneamentearrastada à luta, mais premente é a necessidade de semelhante organização e maissólida tem que ser esta; 3) que dita organização deve estar formada,fundamentalmente, por homens integrados profissionalmente nas atividadesrevolucionárias; 4) que no país da autocracia, quanto mais restringirmos o contingentedos membros de uma organização deste tipo, até não incluir nela senão aqueles que seocupem profissionalmente de atividades revolucionárias e que tenham já umapreparação profissional na arte de lutar com a polícia política, mais difícil será “caçar” esta organização; 5) tanto maior será o contingente de indivíduos da classe operária edas demais classes da sociedade que poderão participar no movimento e colaborar

ativamente nele”. (Lênin, t. IV pág. 456, ed. Russa).Quanto ao caráter do Partido que se tratava de criar e o seu papel em relação àclasse operária, assim como quanto aos fins e tarefas do Partido, Lênin entendia queeste devia ser o destacamento de vanguarda da classe operária, a força dirigente domovimento operário, que unificasse e orientasse a luta de classe do proletariado. Ameta final do Partido havia de ser a derrubada do capitalismo e a instauração dosocialismo. Sua meta imediata, derrubar o czarismo e implantar um regimedemocrático. E como a derrubada do capitalismo pressupunha a destruição doczarismo, o objetivo fundamental do Partido, naquele momento concreto, consistia empor de pé a classe operária e todo o povo para a luta contra o czarismo, emdesencadear um movimento revolucionário popular contra o czarismo e em derrubar o

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regime czarista, que era o primeiro e o grande obstáculo que se levantava no caminhopara o socialismo.  “A história nos apresenta hoje – dizia Lênin – uma tarefa imediata, que, maisque em nenhum outro país, é a mais revolucionária de todas as tarefas imediatas doproletariado. A realização desta tarefa, a derrubada do mais poderoso baluarte, nãosomente da reação européia, senão também (podemos dizer hoje) da reação asiática,converteria o proletariado russo na vanguarda do proletariado revolucionáriointernacional” (Lênin, t. IV pág. 382, ed. Russa).

E noutro lugar escreve:  “Devemos recordar que a luta contra o governo por reivindicações parciais, aconquista de algumas concessões isoladas, não são mais do que pequenasescaramuças com o inimigo, pequenos combates de avançadas, e que a batalhadecisiva não se deu ainda. Diante de nós se levanta com todo o seu poder a fortalezainimiga, da qual nos são feitas descargas que varrem nossos melhores combatentes.Temos que tomar esta fortaleza e a tomaremos, si soubermos unir num só partido – ao qual se somará o que houver na Rússia de vital e honrado – todas as forças doproletariado, que já abriu os olhos e todas as forças revolucionárias russas. Só entãose cumprirá a grande profecia do revolucionário operário russo Piotr Alexeiev”:   “Levantar-se-á o braço vigoroso dos milhões de homens operários, e o jugo dodespotismo, defendido pelas baionetas dos soldados, saltará em pedaços” (Obracitada, pág. 59).

Tal era o plano de Lênin para a criação do Partido da classe operária, dentro das

condições da Rússia czarista autocrática.  Os “economistas” não tardaram em romper o fogo contra o plano de Lênin.Afirmavam que a luta no plano político geral contra o czarismo era incumbência

de todas as classes e, sobretudo da burguesia, e que não apresentava, portanto,nenhum interesse considerável para a classe operária, já que o que fundamentalmenteinteressava aos operários era a luta econômica contra os patrões pela elevação dossalários, a melhora das condições de trabalho, etc. Por conseguinte, os social-democratas não deviam indicar como tarefa imediata fundamental a luta política contrao czarismo, a derrubada do regime czarista, senão a organização da “luta econômicados operários contra os patrões e o governo”, entendendo por luta econômica contra ogoverno a luta pelo aperfeiçoamento da legislação industrial. Os “economistas” asseguravam que por este meio podia “dar-se à própria luta econômica um caráterpolítico”. 

  Os “economistas” já não se atreviam a manifestar-se formalmente contra anecessidade de um partido político para a classe operária. Porém entendiam que estepartido não devia ser a força dirigente do movimento operário, que não devia imiscuir-se no movimento espontâneo da classe operária, nem muito menos dirigi-lo, senãomarchar à retaguarda dele, estudá-lo e tirar ensinamentos dele.  Afirmavam do mesmo modo os “economistas” que o papel do elementoconsciente no movimento operário, o papel organizador e orientador da consciênciasocialista, da teoria socialista, era insignificante ou pouco menos, que a social-democracia não devia elevar os operários ao nível da consciência socialista, senão,pelo contrário, descer e adaptar-se ao nível das camadas médias e inclusive das maisatrasadas da classe operária; que a social-democracia não devia inculcar na classeoperária uma consciência socialista, senão esperar que o próprio movimento

espontâneo da classe operária forjasse nela uma consciência socialista por suaspróprias forças.Quanto ao plano orgânico de estruturação do Partido, traçado por Lênin,

consideravam-no como uma espécie de coação a que se pretendia submeter omovimento espontâneo.  Nas páginas da “Iskra” e, sobretudo, em seu célebre livro “Que fazer?”, Lênin selançou contra esta filosofia oportunista do “economismo” e dela não deixou pedrasobre pedra.

1) Lênin assinala que desviar a classe operária da luta política geral contra oczarismo, reduzindo sua missão à luta econômica contra os patrões e o governo edeixando de pé e indenes a um e outros, significava condenar os operários à eternaescravidão. A luta econômica dos operários contra os patrões e o governo é uma luta

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de tipo trade-unionista por lograr melhores condições de venda da força de trabalhoaos capitalistas, porém os operários não querem lutar somente para melhorar ascondições de venda de sua força de trabalho, senão que querem lutar também paradestruir o próprio sistema capitalista, que os condena à necessidade de vender aoscapitalistas sua força de trabalho e de se submeter à exploração. Pois bem, osoperários não poderão desenvolver a luta contra o capitalismo, não poderãodesenvolver a luta pelo socialismo, enquanto o czarismo, que é o cão de fila docapitalismo, se colocar no caminho do movimento operário. Por isso, a tarefa maisurgente do partido e da classe operária consiste em afastar o czarismo,desembaraçando com isso o caminho para o socialismo.

2) Lênin assinalou que exaltar o processo espontâneo do movimento operário enegar o papel dirigente do Partido, reduzindo sua missão à de mero registrador dosacontecimentos, significava: pregar o “seguidismo” (ir “a reboque” dosacontecimentos), pregar que o Partido devia marchar à retaguarda do processoespontâneo; converter-se numa força passiva do movimento, apta somente paracontemplar o processo espontâneo e abandonar-se a seu desenvolvimento automático.Preconizar isto equivalia a preconizar a destruição do Partido, isto é, a deixar a classeoperária sem partido ou, o que é o mesmo, a desarmar a classe operária. É desarmara classe operária num momento em que se levantavam diante dela inimigos tãopoderosos como o czarismo, armado com todos os meios de luta, e a burguesia,organizada à moderna e dotada de seu próprio partido que a dirigia na luta contra aclasse operaria, equivalia a trair o proletariado.

3) Lênin assinalou que prosternar-se ante o movimento operário espontâneo erebaixar o papel do elemento consciente, o papel da consciência socialista, da teoriasocialista, significava, em primeiro lugar, zombar dos operários, que tendem para aconsciência como a planta para a luz, e em segundo lugar, desprestigiar a teoria aosolhos do Partido, ou melhor, a arma graças à qual o Partido tem consciência dopresente e prevê o futuro, e em terceiro lugar, mergulhar total e definitivamente nocharco do oportunismo.

“Sem teoria revolucionária – dizia Lênin – não pode haver tão pouco movimentorevolucionário. Só um partido dirigido por uma teoria de vanguarda pode cumprir suamissão de combatente de vanguarda” (Lênin, t. I pág. 380, ed. russa). 

4) Lênin assinalou que os “economistas” enganavam a classe operáriaafirmando que o movimento espontâneo do proletariado podia engendrar umaideologia socialista, pois na realidade esta não brota do movimento espontâneo, senão

da ciência. Negando a necessidade de inculcar na classe operária, uma consciênciasocialista, os “economistas” aplainavam o caminho à ideologia burguesa, ajudando-a ainfiltrar-se, a penetrar na classe operária, e, por conseguinte, enterravam a idéia dafusão do movimento operário com o socialismo e prestavam um serviço à burguesia.

“Tudo o que seja prosternar-se ante o movimento operário espontâneo – diziaLênin – tudo o que seja rebaixar a importância do “elemento consciente”, aimportância da social-democracia, equivale – inteiramente independente da vontadede quem o faz – a fortalecer a influência da ideologia burguesa sobre os operários”.(Obra citada, pág. 390).

E mais adiante: “O problema se apresenta somente assim: ideologia burguesaou ideologia socialista? Não há meio termo. Por isso, tudo o que seja rebaixar aideologia socialista, tudo o que seja afastar-se dela, equivale a fortalecer a ideologia

burguesa”. (Obra citada, págs. 391-392).5) Resumindo todos estes erros dos “economistas”, Lênin chegou à conclusãode que o que eles aspiravam não era criar o partido da revolução social, queemancipasse do capitalismo a classe operária, senão um partido de “reformas sociais”,cuja premissa era a manutenção da dominação do capitalismo, que, portanto, os“economistas” eram reformistas que atraiçoavam os interesses fundamentais doproletariado.

6) Finalmente, Lênin assinalou que o “economismo” não brotara na Rússia porazar, senão que seus mantenedores eram o veículo da influência burguesa sobre aclasse operária e que seus aliados nos partidos social-democratas dos países ocidentaiseram os revisionistas, os adeptos do oportunista Bernstein. Entre os social-democratasda Europa ocidental se ia fortalecendo cada vez mais a corrente oportunista, que

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atuava sob a bandeira da “liberdade de crítica” do marxismo, exigia a “revisão” dateoria de Marx (daí o nome de “revisionismo”) e exigia que se renunciasse à revolução,ao socialismo, à ditadura do proletariado. Pois bem, Lênin demonstrou que estamesma linha de renúncia à luta revolucionária, ao socialismo e à ditadura doproletariado era a que seguiam os “economistas” russos. 

Tais são as teses teóricas fundamentais desenvolvidas por Lênin em seu livro“Que fazer?”. 

A difusão desta obra de Lênin foi tão eficaz, que no ano de seu aparecimento(“Que fazer?” veio à luz em março de 1902) na época em que se celebrou o IICongresso do Partido Social-Democrata da Rússia, já não restava das posiçõesideológicas dos “economistas” mais que uma recordação pouco agradável, e o apelidode “economistas” começava a ser considerado pela maioria dos militantes do Partidocomo um insulto.

O “economismo”, a ideologia do oportunismo, do “seguidismo” e doautomatismo, tinha ficadocompletamente pulverizado.

 Porém a importância da obra de Lênin “Que fazer?” não se reduziu a isto. A significação histórica desta bela obra consiste em que nela Lênin:1) põe a nu pela primeira vez na história do pensamento marxista, até as suas

últimas raízes, as fontes ideológicas do oportunismo, demonstrando que consistem,antes de tudo, em prosternar-se perante a espontaneidade do movimento operário erebaixar o papel da consciência socialista no movimento proletário.

2) reivindicou em todo seu valor a importância da teoria, do elemento

consciente, do Partido, como força revolucionária e dirigente do movimento operárioespontâneo.3) fundamentou de um modo brilhante a tese cardeal do marxismo, segundo a

qual o Partido marxista é a fusão do movimento operário com o socialismo.4) elaborou genialmente os fundamentos ideológicos do Partido marxista.As teses teóricas desenvolvidas na obra “Que fazer?” serviram logo depois de

base para a ideologia do Partido bolchevique.Armada com esta riqueza teórica, a “Iskra” pôde desenvolver e desenvolveu,

com efeito, uma ampla campanha em prol do plano leninista de organização doPartido, em prol da concentração de forças do Partido, em prol do II Congresso doPartido, em prol de uma social-democracia revolucionária, contra os “economistas”,contra os oportunistas de toda a classe e teor, contra os revisionistas.

A tarefa mais importante realizada pela “Iskra” consistiu em elaborar umprojeto de programa do Partido. O programa do Partido operário é, como se sabe, umabreve exposição, plasmada em fórmulas científicas, dos fins e tarefas de luta da classeoperária. O programa traça tanto a meta final do movimento revolucionário doproletariado como as reivindicações pelas quais o Partido luta em sua marcha para ameta final. Por isso, a elaboração de um projeto de programa não podia deixar de teruma importância primordial.

Durante a elaboração do projeto do programa surgiram, no seio da redação da“Iskra”, sérias divergências entre Lênin e Plekhanov, assim como entre Lênin e osdemais redatores. Estas divergências e dissensões estiveram a ponto de conduzir auma ruptura completa entre Lênin e Plekhanov. Porém a ruptura não chegou aproduzir-se por aquela época. Lênin logrou que no projeto de programa se fizessefigurar o ponto importantíssimo da ditadura do proletariado e se proclamasse de um

modo terminante o papel dirigente da classe operaria na revolução.Obra de Lênin era também toda a parte agrária do partido. Lênin já era entãopartidário da nacionalização da terra, ainda que na primeira etapa da luta reputassenecessário lançar a consigna da devolução aos camponeses dos “recortes”, ou seja,das terras que lhes haviam sido arrebatadas pelos latifundiários no momento de sua“emancipação”. Plekhanov, em troca, se manifestava contra a nacionalização da terra. 

As divergências entre Lênin e Plekhanov em torno do programa do Partido jáeram uma antecipação da delimitação de campos que mais adiante havia de se traçarentre os bolcheviques e os mencheviques.

 

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3 – O II Congresso do Partido Operário Social-Democrata da Rússia – São aprovados o Programa e os estatutos e se cria o Partido único – Divergências no Congresso e aparecimento de duas tendências dentrodo Partido: Bolchevique e Menchevique. 

O triunfo dos princípios de Lênin e a luta eficaz da “Iskra” em prol do planoleninista de organização foram, pois, preparando todas as condições fundamentais,necessárias, para criar o Partido, ou como se dizia naquela época, o verdadeiroPartido. A tendência da “Iskra” triunfou entre as organizações social-democratas da

Rússia. Agora já se podia convocar o II Congresso do Partido.Este Congresso iniciou suas tarefas a 17 (30) de julho de 1903: teve que se

reunir clandestinamente no estrangeiro. As primeiras sessões se celebraram emBruxelas. Porém, ante as perseguições da polícia, os delegados tiveram de sair daBélgica, e o Congresso se trasladou para Londres.

Assistiram a ele 43 delegados, representando 26 organizações. Cada Comitêtinha direito a enviar ao Congresso 2 delegados, porém alguns só enviaram um. Assimse explica que os 43 delegados representassem 51 votos.

A tarefa fundamental deste consistia: “em criar um verdadeiro Partido sobreaquelas bases orgânicas e de princípios que foram propugnados e elaborados pela“Iskra”“. (Lênin, t. VI, pág. 164, ed. russa).

A Comissão do Congresso era heterogênea. Os “economistas” não estavam,abertamente, representados nele, porque a derrota que haviam sofrido os impediadisso. Porém, com o tempo, chegaram a disfarçar-se tão habilmente, que algunsdelegados lograram infiltrar-se. Ademais, os delegados do “Bund” só de palavras sediferenciavam dos “economistas”, pois na realidade estavam de acordo com eles.  

Portanto, neste Congresso não tomaram parte somente os adeptos do “Iskra”,mas também seus adversários. Os “Iskristas” eram 33, isto é, a maioria. Porém nemtodos os que figuravam neste campo estavam sinceramente identificados com asposições de Lênin. Os delegados se dividiam em diversos grupos. Os Leninistas, ouseja, os adeptos firmes do “Iskra”, contavam com 24 votos. Martov tinha 9 votos de“Iskristas” pouco conseqüentes. Uma parte dos delegados vacilava entre a “Iskra” eseus adversários, e dispunha de 10 votos. Estes delegados formavam o centro. Osadversários declarados da “Iskra” contavam com 8 votos (3 “economistas” e 5 doBund). Se os defensores da “Iskra” aparecessem desunidos, seus inimigos podiam

ganhar-lhes a batalha.Basta isto para compreender quão complexa era a situação em que sedesenvolvia o Congresso. Lênin despendeu grandes esforços para assegurar nele otriunfo da “Iskra”. 

A tarefa mais importante do Congresso era a aprovação do programa doPartido. O problema fundamental que provocou a posição do setor oportunista nadiscussão do programa foi o da ditadura do proletariado. Não era este o único pontoprogramático em que os oportunistas não estavam de acordo com o setorrevolucionário do Congresso. Porém decidiram dar a batalha, fundamentalmente, noponto da ditadura do proletariado, referindo-se ao fato de que este ponto não figuravanos programas de uma série de partidos social-democratas do estrangeiro, razão pelaqual, não havia, segundo eles, porque incluí-lo no programa da social-democracia daRússia.

Os oportunistas opunham-se também a que figurassem no programa do Partidoas reivindicações referentes ao problema camponês. Aqueles indivíduos não queriam arevolução, por isso evitam os aliados da classe operária, os camponeses, e osconsideravam com maus olhos.

Os “Bundistas” e os social-democratas polacos se manifestaram contra o direitode autodeterminação das nações. Lênin sustentara sempre que a classe operária tinhao dever de lutar contra a opressão nacional. Manifestar-se contra esta reivindicaçãodentro do programa, equivalia a desertar do internacionalismo proletário, converte-seem cúmplice da opressão nacional.

Lênin assestou um golpe demolidor na oposição em todos estes problemas.O Congresso aprovou o programa proposto pela “Iskra”.  

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Este programa constava de duas partes: o programa máximo e o programamínimo. No programa máximo se falava da missão fundamental do Partido da classeoperária: da revolução socialista, da derrubada do poder dos capitalistas e dainstauração da ditadura do proletariado. No programa mínimo se expunham osobjetivos imediatos do Partido, que podiam ser realizados sem aguardar que o regimecapitalista fosse derrubado e se instaurasse a ditadura do proletariado, a saber:derrubada da autocracia czarista, implantação da República democrática, introdução dajornada de 8 horas para os operários, destruição de todos os vestígios feudais nocampo, devolução aos camponeses das terras que lhes haviam sido arrebatadas pelossenhores de terra (os chamados “recortes”). 

Mais tarde os bolcheviques substituíram esta última reivindicação por outra,pela de confiscação de todas as terras dos latifundiários.

O programa aprovado pelo II Congresso era o programa revolucionário doPartido da classe operária. Este programa se manteve em vigor até o VIII Congressodo Partido bolchevique, convocado depois do triunfo da Revolução proletária, na qualum novo programa foi aprovado.

Depois da aprovação do programa do Partido, o II Congresso passou àdiscussão do projeto de estatutos. Uma vez aprovado o programa e assentadas asbases para a unificação ideológica do Partido, o Congresso deveria aprovar também osestatutos, para por fim ao trabalho à maneira artesã e ao mal de círculos, à dispersãoorgânica do Partido e à ausência de uma disciplina firme dentro dele.

Porém, se a aprovação do programa havia sido relativamente fácil, o problema

dos estatutos provocou furiosas discussões no seio do Congresso. A divergência maisaguda foi a que surgiu em torno do texto do primeiro artigo dos estatutos, no qual sedefinia a condição de membro do Partido. Quem podia ser membro do Partido, comoeste devia estar formado, que devia ser o Partido quanto à organização, um todoorgânico ou algo informe? Tais eram os problemas que a discussão do artigo primeirodos estatutos apresentava. Estavam em luta duas formas: a de Lênin, apoiada porPlekhanov e pelos “Iskristas” conseqüentes, e a de Martov, apoiada por Axelrod,Zasulich, os partidários vacilantes da “Iskra”, Trotsky e todos os oportunistasdeclarados que tomavam parte no Congresso.

A fórmula de Lênin consistia em que só poderia ser membro do Partido quemaceitasse seu programa, ajudasse o Partido no aspecto material e estivesse filiado auma de suas organizações. A fórmula de Martov, ainda considerando como condiçõesnecessárias em todo o membro do Partido o reconhecimento do programa e a ajuda

material aquele, não reputava requisito indispensável o fato de tomar parte numaorganização do Partido, por entender que se podia ser membro deste sem estar filiadoa nenhuma de suas organizações.

Lênin considerava o Partido como um destacamento organizado, cujos membrosnão se somam por si mesmos ao Partido, senão que são admitidos por uma de suasorganizações, submetendo-se com isso à disciplina do Partido, enquanto que Martovvia nele, do ponto de vista orgânico, uma entidade informe cujos membros sesomavam por si mesmos ao Partido e não se achavam, portanto, sujeitos à suadisciplina, já que não ingressavam em nenhuma de suas organizações.

A fórmula de Martov diferentemente da de Lênin, abria, e par em par as portasdo Partido aos elementos vacilantes não proletários. Em vésperas da revoluçãodemocrático-burguesa havia, entre os intelectuais da burguesia, homens desta classe

que simpatizavam momentaneamente com a revolução. Estes homens podiam, de vezem quando, prestar inclusive certos serviços ao Partido. Porém não se prestavam aentrar na organização, a submeter-se á disciplina do Partido, a cumprir suas tarefas,nem se exporiam aos perigos que isto acarretava.

Era esta classe de indivíduos que Martov e outros mencheviques propunhamque fossem considerados como filiados ao Partido, dando-lhes o direito e apossibilidade de influir nos assuntos do Partido. Chegavam inclusive a propor quequalquer grevista tivesse direito a “considerar-se” como membro do Partido, apesar deque nas greves tomavam parte também elementos não socialistas, anarquistas esocial-revolucionários.

Em vez de um Partido monolítico e combativo, claramente organizado, pelo quallutavam Lênin e os leninistas no Congresso, os martovistas queriam um Partido

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heterogêneo, difuso e informe, que não podia jamais ser um Partido combativo, aindaque só fosse em virtude de sua heterogeneidade, e porque jamais poderia possuir umarija disciplina.  A deserção dos “Iskristas” vacilantes, que deixaram a sós os partidáriosconseqüentes da “Iskra” para aliar-se com os delegados do centro, e o reforço dosoportunistas descarados, deu a Martov a superioridade numérica neste problema. OCongresso, por 28 votos contra 22 e uma abstenção, aprovou o artigo primeiro dosestatutos com o texto proposto por Martov.  Depois da cisão dos “Iskristas” por causa do artigo primeiro dos estatutos,acentuou-se ainda mais a luta dentro do Congresso. Este se aproximava do pontofinal, a eleição dos organismos de direção do Partido, redação do órgão central doPartido (a “Iskra”) e Comitê Central. Porém, antes de chegar a este último ponto daordem do dia, produziram-se no Congresso alguns fatos que fizeram mudar acorrelação de forças estabelecida.

Em relação com os estatutos, o Congresso teve de tratar do “Bund”. Estepretendia ocupar uma situação especial dentro do Partido. Exigia que fossereconhecido como a única representação dos operários judeus da Rússia. Ceder a estepedido equivalia a cindir os operários, dentro das organizações do Partido, de acordocom sua nacionalidade, renunciando à existência de organizações únicas de classe doproletariado segundo o principio territorial. O Congresso rechaçou o nacionalismo do“Bund” como base de organização política. Em vista disto, os “bundistas” se retiraram.Retiraram-se também dois “economistas”, quando o Congresso se negou a reconhecer

o agrupamento organizado por eles no estrangeiro como representação do Partido forada Rússia.A retirada destes sete oportunistas do Congresso fez com que a correlação de

forças se alterasse em favor dos leninistas.O problema da composição dos organismos centrais do Partido ocupou o centro

da atenção de Lênin desde o primeiro momento. Lênin considerava necessário levar aoComitê Central, revolucionários firmes e conseqüentes. Os martovistas lutavam pordar aos elementos vacilantes, oportunistas, o predomínio dentro daquele organismo. Amaioria do Congresso se colocou neste ponto ao lado de Lênin. O Comitê Central ficouintegrado por leninistas.

Por proposta de Lênin, foram eleitos para a redação da “Iskra”, Lênin,Plekhanov e Martov. Este exigiu que os seis antigos redatores da “Iskra”, a maioria dosquais eram martovistas, fossem reeleitos para a redação do jornal. O Congresso

rechaçou por maioria de votos esta proposta, sendo eleitos os três redatores,propostos por Lênin. Em vista disto, Martov demitiu-se da redação do Jornal.

Portanto, as resoluções tomadas pelo Congresso quanto à formação dosorganismos centrais do Partido aprofundaram a derrota dos martovistas e deram otriunfo aos partidários de Lênin.

Desde então, os partidários de Lênin, que obtiveram maioria de votos, noCongresso, na eleição dos organismos centrais, começaram a ser chamadosbolcheviques e seus adversários, que ficaram em minoria, mencheviques.

Resumindo as tarefas do II Congresso do Partido, chegamos às seguintesconclusões:

1) O Congresso garantiu a vitória do marxismo sobre o “economismo”, sobre ooportunismo declarado;

2) Aprovou o programa e os estatutos do Partido, criou o Partido Social-Democrata e, com ele, o marco para um Partido único;3) Pôs à nu a existência de graves divergências no que se refere à organização,

divergências que dividiram o Partido em dois campos, o dos bolcheviques e o dosmencheviques, os primeiros dos quais defendiam os princípios de organização dasocial-democracia revolucionária, enquanto que os segundos se afundavam no charcoda difusão orgânica, no charco do oportunismo;

4) Salientou que a vaga dos antigos oportunistas, já derrotados pelo Partido, avaga dos “economistas”, começava a ser ocupada dentro do Partido por novosoportunistas, os mencheviques;

5) O Congresso não se mostrou à altura de sua missão no tocante aosproblemas de organização, deu provas de vacilações, inclusive chegando, ás vezes, a

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dar predomínio aos mencheviques; e ainda que para o final se corrigisse, não soube,não já desmascarar o oportunismo dos mencheviques nos problemas de organização ede isolá-los dentro do Partido, mas nem sequer apresentar perante este semelhantetarefa;

Esta última circunstância foi uma das causas fundamentais porque a luta entreos bolcheviques e os mencheviques, longe de aplacar-se depois do II Congresso,recrudescesse ainda mais.

 4 – Manobras divisionistas dos lideres mencheviques e acirramento da

luta dentro do Partido depois do II Congresso – O oportunismo dosmencheviques – O livro de Lênin “Um passo adiante, dois passos atrás” – Bases para a organização do Partido marxista. 

Depois do II Congresso, a luta dentro do Partido se acentuou ainda mais. Osmencheviques esforçavam-se com todo o afinco em minar as resoluções do Congressoe apoderar-se dos organismos centrais do Partido. Exigiam que incorporassem àredação da “Iskra” e ao Comitê Central um número de representantes seusnecessários para ter maioria na redação do jornal e a paridade com os bolcheviques noC.C. Os bolcheviques rechaçaram esta exigência que transgredia as resoluçõesexplícitas do Congresso. À vista disto, os mencheviques criaram, às escondidas dopartido e hostil ao mesmo, sua própria organização fracionada, a cujo frente seachavam Martov, Trotsky e Axelrod, “se rebelaram – segundo frase de Martov – contrao leninismo”.  Escolheram como método de luta contra o Partido “a desorganização de todo o trabalho do Partido, sabotando, entorpecendo-o em tudo o que podiam” (palavras de Lênin). Entrincheiraram-se na “Liga estrangeira” dos social-democratasrussos, noventa por cento de cujos componentes eram intelectuais emigrados,desligados de toda atuação prática na Rússia, e começaram a hostilizar todo o Partido,Lênin e os leninistas.

Plekhanov ajudou consideravelmente os mencheviques. O II Congresso haviamarchado de acordo com Lênin, também depois se deixou assustar pelosmencheviques com ameaça da cisão e decidiu “reconciliar-se” a todo custo com eles. Opeso de seus velhos erros oportunistas o arrastava ao campo menchevique. Nãotardou em converter-se, de conciliador com os mencheviques oportunistas, em maisum menchevique. Exigiu que fossem incorporados à redação da “Iskra” todos os

antigos redatores mencheviques, rechaçados pelo Congresso. E como Lênin não iria,naturalmente, concordar com isto, saiu da redação do jornal para fortalecer-se noComitê Central do Partido para daí derrotar os oportunistas. Plekhanov, por si eperante todos, mesmo infringindo a vontade do Congresso, incorporou à redação da“Iskra” os redatores mencheviques que tinham sido eliminados dela. Desde estemomento, a partir do número 52, os mencheviques converteram o jornal em seu ecomeçaram a pregar por intermédio dele, suas idéias oportunistas.

Desde então, se estabeleceu dentro do Partido o costume de chamar a velha“Iskra”, a “Iskra” leninista, bolchevique, de a nova “Iskra”, menchevique, oportunista. 

Ao passar às mãos dos mencheviques, a “Iskra” se converteu em órgão de lutacontra Lênin e os bolcheviques, em órgão de propaganda do oportunismomenchevique, sobretudo no tocante aos problemas de organização. Os mencheviques,coligados com os “economistas” e os “bundistas”, abriram, das colunas da “Iskra”, umacampanha contra o leninismo como eles o chamavam. Plekhanov, na impossibilidadede manter à margem suas posições conciliadoras, se juntou também à campanha, aocabo de algum tempo. Tampouco podia ser de outro modo, segundo a lógica dascoisas: quem desce ao terreno da conciliação com os oportunistas, acaba afundando-se no oportunismo. Das colunas da nova “Iskra” choviam artigos e declarações,sustentando que o Partido não devia ser um todo orgânico, que devia admitir aexistência, dentro de suas fileiras, de grupos e indivíduos livres, não sujeitos àdisciplina das resoluções de seus órgãos; que se devia permitir a todo intelectualsimpatizante com o Partido, a “qualquer grevista” e a “qualquer manifestante” considerar-se como membro do Partido; que exigir que os filiados se submetessem atodas as resoluções do Partido era focalizar o assunto de um modo “formal e

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burocrático”; que impor a submissão da minoria à maioria era “sufocarmecanicamente” a vontade dos membros do Partido; que pretender que todos osfiliados tanto os dirigentes como os militantes de base se submetessem por igual àdisciplina do Partido, equivalia a instaurar dentro deste um “regime feudal”; que o que“nós” necessitávamos no Partido não era um regime de centralismo, senão um“autonomismo” anárquico, que desse aos indivíduos e às organizações do Partidodireito a não cumprir suas resoluções.

Era uma propaganda desenfreada que tendia a relaxar os laços da organização,minar a coesão e a disciplina do Partido, glorificar o individualismo peculiar dosintelectuais e justificar uma indisciplina anárquica.

Os mencheviques arrastavam claramente o Partido aos tempos anteriores ao IICongresso, aos velhos tempos de sua dispersão orgânica, aos tempos dos círculosisolados e do trabalho à maneira artesã.

Era necessário dar uma resposta completa aos mencheviques.Lênin deu esta resposta, com sua célebre obra intitulada “Um passo adiante,

dois passos atrás” que veio à luz em maio de 1904. Eis aqui as teses fundamentais de organização desenvolvidas por Lênin neste

livro, e que mais tarde serviram de base para a organização do Partido bolchevique:1) O Partido marxista é uma parte da classe operária, um destacamento dela.

Porém destacamentos da classe operária há muitos, e não podemos considerá-los atodos como Partido da classe operária. O Partido se distingue de outros destacamentosda classe operária antes de tudo, em que não é um destacamento puro e simples,

senão um destacamento de vanguarda, um destacamento consciente, umdestacamento marxista, da classe operária, armado com o conhecimento da vidasocial, com o conhecimento das leis que regem o desenvolvimento da vida social, como conhecimento das leis da luta de classes, o que o capacita para conduzir a classeoperária e dirigir sua luta. Por isso não se deve confundir o Partido com a classeoperária, como não se deve confundir a parte com o todo, nem pretender que qualquergrevista possa considerar-se como membro do Partido, pois confundir o Partido com aclasse equivale a rebaixar o nível de consciência do Partido até o nível de “qualquergrevista”; equivale a destruir o Partido, como destacamento consciente de vanguardada classe operária. A missão do Partido não é rebaixar  seu nível até o de “qualquer grevista”, senão elevar as massas operárias, elevar “qualquer grevista” ao nível doPartido.

“Nós – escrevia Lênin – somos um Partido de classe e por isso quase toda a

classe (e em tempo de guerra, em épocas de guerra civil, a classe em sua integridade)tem que atuar sob a direção de nosso Partido tem que aderir a ele o maisestreitamente possível; porém seria uma “maniloviada” (4) e “seguidismo” crer quequase toda ou toda a classe pode estar em qualquer tempo, sob o capitalismo, emcondições de elevar-se ao grau de consciência e de atividade de seu destacamento devanguarda, de seu Partido social-democrata. Nenhum social-democrata que aindaesteja em são juízo pôs nunca em dúvida que, sob o capitalismo, nem mesmo aorganização sindical (mais primitiva e mais acessível ao grau de consciência dascamadas menos desenvolvidas) está em condições de abarcar toda ou quase toda aclasse operária. Esquecer a diferença que existe entre o destacamento de vanguarda etoda a massa que marcha atrás dele, esquecer o dever constante que tem odestacamento de vanguarda de elevar a seu próprio nível avançado, camadas cada vez

mais amplas, só significa enganar-se a si mesmo, cerrar os olhos à imensidade denossas tarefas e amesquinhar estas”. (Lênin, t. VI, pág. 205-206, ed. russa).2) O Partido não é somente o destacamento de vanguarda, o destacamento

consciente da classe operária, mas é, além disso, seu destacamento organizado, comsua disciplina própria, obrigatória para todos os seus membros. Por isso os filiados aoPartido se acham obrigados a estar filiados também a uma de suas organizações. Se oPartido não fosse um destacamento organizado da classe operária, um sistema deorganizações, mas uma simples soma de indivíduos que se consideram por si mesmosmembros do Partido, porém que não fazem parte de nenhuma de suas organizações eque, portanto, não estão organizados e, não o estando não se acham sujeitos àsresoluções do Partido, este não teria jamais uma vontade única, não poderia conseguirjamais a unidade de ação de seus membros e, por conseguinte, não estaria em

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vínculos com as massas, conquistar a confiança das massas de milhões de homens desua classe.

“Para ser um partido social-democrata – dizia Lênin – é preciso conquistar oapoio da classe propriamente”. (Obra citada, pág. 208) 

5) Para funcionar bem e dirigir as massas de acordo com um plano, o Partidodeve estar organizado sobre a base do centralismo, com estatutos únicos, com umadisciplina de partido igual para todos, com um só órgão de direção à frente, a saber: OCongresso do Partido e, nos intervalos entre um congresso e outro, o Comitê Central,com a submissão da minoria à maioria, das diferentes organizações aos organismoscentrais, e das organizações inferiores às superiores. Sem ajustar-se a estascondições, o partido da classe operária não pode ser verdadeiro partido, nem cumprircom seus deveres de direção do proletariado.

Está claro que o regime de ilegalidade, em que vivia o Partido sob a autocraciaczarista, não permitia a suas organizações, naqueles momentos, estruturar-se sobre oprincipio da eleição a partir de baixo, por cuja razão o Partido se veria obrigado amanter um caráter estritamente conspirativo. Porém, Lênin entendia que isto era, navida de nosso Partido, uma situação passageira, que desaparecia no dia seguinte àderrubada do czarismo, e então o Partido começaria a atuar abertamente, dentro dalegalidade, e suas organizações se estruturariam sobre a base da eleição democrática,sobre a base do centralismo democrático. 

“Antes – escrevia Lênin – nosso Partido não era uma unidade formalmenteorganizada, senão simplesmente uma soma de grupos privados, razão pela qual não

existia nem podia existir entre eles mais relação que a da influência ideológica. Agorajá somos um Partido organizado, e isto inclui a criação de uma autoridade, atransformação do prestígio da autoridade, a submissão dos organismos inferiores aosorganismos superiores do Partido” (Lênin, t.VI, pág. 291, ed. russa).  

Acusando os mencheviques de nihilismo em matéria de organização e deanarquismo senhorial, ao não admitir sobre suas pessoas a autoridade do Partido e suadisciplina, Lênin dizia: “Este anarquismo senhorial é muito peculiar do nihilista russo. Aorganização do Partido se lhe afigura uma „fábrica‟ monstruosa, a submissão da parteao todo e da minoria à maioria lhe parece um “avassalamento”... a divisão dostrabalhos sob a direção dos organismos centrais suscita nele gritinhos tragicômicoscontra os que pretendem converter os homens em „rodas e engrenagens‟ de ummecanismo (e entre estas transformações, a que julga mais espantosa é a dosredatores em simples colaboradores), toda menção dos estatutos de organização do

Partido o leva a um gesto de desprezo e à observação desdenhosa (dirigida aos„formalistas‟) de que se pode viver sem estatutos” (Obra citada, pág. 310). 

6) Se o Partido, em sua atuação prática, quer conservar a unidade de suasfileiras, tem que manter uma disciplina proletária única, que obrigue por igual a todosos membros do Partido, tanto aos dirigentes como aos militantes de base. Por isso, noPartido não podem fazer-se distinções entre pessoas “seletas”, às quais não é obrigadaa disciplina do Partido, e pessoas “do monturo”, obrigadas a se submeter a ela. Semuma disciplina única e igual para todos, não se poderá manter a integridade do Partidoe a unidade dentro de suas fileiras.

 “A carência total, por parte de Martov & Cia., de argumentos razoáveis contra aredação nomeada pelo Congresso, ilustra melhor que nada – diz Lênin – sua frasezinhade 'nós não somos servos'”. Nesta frase transparece com notável nitidez a psicologia

do intelectual burguês, que crê estar por cima da organização e da disciplina dasmassas, que se considera um “espírito seleto”. Para o individualismo intelectual, todaorganização e toda disciplina proletárias são um avassalamento feudal”. (Lênin, t. VI,pág. 282, ed. russa).

E mais adiante: “À medida em que se estruturar em nosso país um verdadeiroPartido, o operário consciente irá aprendendo a distinguir a psicologia do combatentedo exército proletário, da psicologia do intelectual burguês que se pavoneia com frasesanarquistas; irá aprendendo a exigir que cumpram seus deveres de membros doPartido não só os militantes de base, senão também “os de cima”. (Obra citada, pág.312).

Resumindo a análise das divergências e definindo a posição dos mencheviquescomo “oportunismo nos problemas de organização”, Lênin entendia que um dos

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pecados capitais do menchevismo era o menosprezar a importância da organização doPartido, como arma do proletariado na luta por sua emancipação. Os mencheviquesopinavam que a organização do Partido do proletariado não tinha grande importânciapara o triunfo da revolução. Pelo contrário, Lênin entendia que a união ideológica doproletariado por si só não bastava para vencer, senão que para isto era necessário“garantir ” a unidade ideológica com a “unidade material de organização” doproletariado; Lênin considerava que só sob esta condição o proletariado podiaconverter-se em uma força invencível.

“O proletariado – escrevia Lênin – não dispõe, em sua luta pelo Poder, de outraarma que não seja a organização. O proletariado, disseminado pelo império daanárquica concorrência dentro do mundo burguês, esmagado pelos trabalhos forçados,ao serviço do capital, lançado constantemente ao 'abismo ' da miséria mais completa,do embrutecimento e da degeneração, só pode fazer-se e se fará inevitavelmenteinvencível, sempre e quando sua união ideológica por meio dos princípios do marxismose consolidar mediante a unidade material da organização, que serve de base aosmilhões de trabalhadores no exército da classe operária. Perante este exército, nãoprevalecerão nem o Poder senil da autocracia russa, nem o Poder caduco docapitalismo internacional”. (Lênin, t. VI, pág. 328, ed. russa). 

Com estas proféticas palavras termina a obra de Lênin “Um passo adiante, doispassos atrás”. 

Tais são as teses fundamentais de organização desenvolvidas por Lênin nestecélebre livro.

A importância desta obra reside, antes de tudo, em haver mantido o principiodo Partido contra o regime dos círculos, haver defendido o Partido contra osdesorganizadores, aniquilado o oportunismo menchevique no que se refere aosproblemas de organização, e haver assentado as bases orgânicas para o Partidobolchevique.

Mas, não se reduz a isto a importância da obra em questão. Sua significaçãohistórica consiste em que nela, Lênin traça, pela primeira vez na história do marxismoa teoria do Partido como organização dirigente do proletariado e como armafundamental em mãos deste, sem a qual é impossível triunfar na luta pela ditaduraproletária.

A difusão desta obra de Lênin entre os militantes do Partido fez com que amaioria das organizações de base se agrupasse estreitamente em torno de Lênin.

Porém, quanto mais estreitamente se agrupavam as organizações em torno dos

bolcheviques, maior era a irritação de que os líderes mencheviques davam mostras.No verão de 1904, os mencheviques se apoderaram da maioria dentro do

Comitê Central, graças à ajuda que lhes prestou Plekhanov e à traição de doisbolcheviques degenerados: Krasin e Noskov. Era evidente que os mencheviquesmarchavam rumo à cisão. A perda das posições da “Iskra” e do C.C. colocou osbolcheviques numa posição difícil. Era necessário organizar um jornal bolcheviquepróprio. Era necessário organizar um novo Congresso do Partido, o III Congresso, paraeleger um novo C.C. e destruir os mencheviques.

Lênin e os bolcheviques se encarregaram desta tarefa.Os bolcheviques começaram a fazer campanha em prol da convocação do III

Congresso do Partido. Em agosto de 1904 se celebrou na Suíça, sob a direção deLênin, uma conferência à qual assistiram 22 bolcheviques. Nela se aprovou o chamado

dirigido “Ao Partido”, que foi, para os bolcheviques, o programa de luta em prol daconvocação do III Congresso.Em três conferências regionais de Comitês bolcheviques (a do Sul, a do Cáucaso

e a do Norte) foi eleito um bureau de Comitês da maioria, que se encarregou derealizar o trabalho prático de preparação para o III Congresso.

A 4 de janeiro de 1905 apareceu o primeiro número do jornal bolchevique“Vperiod” (“Adiante”).  

Dentro do Partido se haviam formado, como se vê, duas frações independentes,a bolchevique e a menchevique, cada uma com seus organismos centrais e seusórgãos na imprensa.

  

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RESUMO 

Durante os anos de 1901 a 1904, crescem e se fortalecem, na Rússia, na basedo auge do movimento operário revolucionário, as organizações social-democratasmarxistas. Mediante uma luta tenaz de princípios contra os “economistas”, triunfa alinha revolucionária leninista da “Iskra”, se superam a dispersão ideológica e otrabalho à “maneira artesã”. 

A “Iskra” serve de traço d e união entre os grupos e círculos social-democratasdispersos, e prepara o II Congresso do Partido. Neste Congresso, celebrado em 1903,se formou o Partido Operário Social-Democrata da Rússia, foram aprovados oprograma e os estatutos do Partido, e se criaram os organismos centrais deste.

Na luta travada no II Congresso pelo triunfo definitivo na linha da “Iskra”, doisgrupos manifestaram-se dentro do POSDR, o dos bolcheviques e o dos mencheviques.

As principais divergências existentes entre os bolcheviques e os mencheviques,depois do II Congresso, versaram sobre os problemas de organização.

Os mencheviques se aproximaram dos “economistas” e ocuparam o postodestes no Partido. No momento, o oportunismo dos mencheviques se manifesta noterreno dos problemas de organização. Os mencheviques são contrários a um partidorevolucionário combativo de tipo leninista. Batem-se por um partido informe, nãoorganizado, que vá a reboque dos acontecimentos. Seguem uma linha divisionistadentro do Partido. Com a ajuda de Plekhanov, se apoderam da “Iskra” e do CC,valendo-se destas posições centrais para seus fins divisionistas.

Ante a ameaça de uma cisão por parte dos mencheviques, os bolcheviquestomam medidas para cerrar a passagem aos divisionistas, mobilizam as organizaçõesde base em prol da convocação do III Congresso, e editam um jornal próprio,intitulado “Vperiod”. 

Portanto, em vésperas da primeira revolução russa e já no começo da guerrarusso-japonesa, os bolcheviques e os mencheviques apareceram como dois grupospolíticos independentes um do outro.

    

CAPÍTULO III 

Os Mencheviques e os Bolcheviques no Período da GuerraRusso-Japonesa e da Primeira Revolução Russa (1904-1907)

 1 – A Guerra Russo-Japonesa – O movimento revolucionário da Rússiasegue sua marcha ascendente – Greves em Petersburgo – Manifestaçãodos operários diante do Palácio de Inverno a 9 de janeiro de 1905 – Astropas fazem fogo contra os manifestantes – Começa a revolução.   

Em fins do século XIX, os Estados imperialistas começaram a lutarenergicamente pelo predomínio no Oceano Pacífico e pela partilha da China. Nesta luta

a Rússia czarista também tomava parte. Em 1900, as tropas czaristas, em união comas tropas japonesas, alemãs, inglesas e francesas, reprimiram com indizível crueldadeuma insurreição popular que estourara na China e que se dirigia contra os imperialistasestrangeiros. Anteriormente a isto, o governo czarista obrigara a China a entregar àRússia a península de Liao-tung, com a fortaleza de Porto-Artur. A Rússia arrancou,além disso, o direito de construir estradas de ferro em território chinês e estendeu, nonorte da Manchúria, uma linha férrea: a estrada de ferro da China Oriental, enviandotropas russas para defendê-la. A Manchúria do Norte foi ocupada militarmente pelaRússia czarista. O czarismo ia se aproximando cautelosamente da Coréia. A burguesiarussa maquinava planos destinados a criar uma “Rússia Amarela” na Manchúria. 

Em suas anexações no Extremo-Oriente, o czarismo chocou com outra ave derapina, o Japão, que se convertera rapidamente num país imperialista e que também

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aspirava cravar sua garra no continente asiático, estendendo seus domínios, sobretudoà custa da China. O Japão ambicionava também, como a Rússia czarista, apoderar-seda Coréia e da Manchúria. Sonhava, além disso, já por aquela época, apoderar-se dailha de Sakhalina e do Extremo-Oriente. A Inglaterra, que não via com bons olhos aconsolidação da Rússia czarista no Extremo-Oriente, se inclinava secretamente para olado do Japão. Estava-se gestando a guerra russo-japonesa. O Governo czarista via-seempurrado para ela pela grande burguesia, ávida de novos mercados, e pelas camadasmais reacionárias dos latifundiários.

Sem aguardar que o governo czarista declarasse a guerra, o Japão se lançou aela. Pelas informações do excelente serviço de espionagem que tinha montado naRússia, calculava que havia de enfrentar-se com um adversário pouco preparado. Emjaneiro de 1904, sem declaração prévia de guerra, o Japão atacou inesperadamente afortaleza russa de Porto-Artur, infringindo duras perdas à frota russa, que guarneciaesse porto.

Assim começou a guerra russo-japonesa.O governo czarista especulava com a idéia de que a guerra o ajudaria a firmar

sua situação política e conter a revolução. Porém seus cálculos resultaram falhos: aguerra sacudiu ainda mais as bases do czarismo.

O exército russo, mal armado e mal instruído, dirigido por generais incapazes ecorrompidos, começou a sofrer uma derrota após outra.

A guerra servia para enriquecer os capitalistas, os altos funcionários e osgenerais. O latrocínio florescia de um modo exuberante. As tropas tinham poucas

munições. Justamente quando não havia bastante cartucho, enviavam-se à frente,como por burla, vagões inteiros carregados de imagens religiosas. “Os japoneses nosatiram balas, nós os atacamos com imagens religiosas”, diziam amargamente ossoldados. Em vez de evacuar os feridos, os trens especiais transportavam para aretaguarda os objetos roubados pelos generais czaristas.

Os japoneses cercaram e logo depois tomaram a fortaleza de Porto-Artur.Depois de infligir uma série de derrotas ao exército czarista, destruíram-no perto deMukden. O exército czarista, que constava de 300.000 homens, teve, neste revés,cerca de 120.000 baixas entre mortos, feridos e prisioneiros. Pouco tempo depois,sobreveio a derrota total e o afundamento no estreito de Tsusima da esquadra russaque havia sido enviada do Mar Báltico em socorro de Porto-Artur sitiado. O desastre deTsusima representava uma catástrofe completa; dos vinte e dois barcos de guerra,enviados pelo czar, foram postos a pique e destruídos treze, e quatro caíram em poder

do inimigo. A guerra estava definitivamente perdida para a Rússia czarista.O governo do czar viu-se obrigado a concertar uma paz ignominiosa com o

Japão. Este anexou a Coréia e despojou a Rússia de Porto-Artur e da metade da ilha deSakhalina.

As massas populares não queriam aquela guerra e se inteiravam do dano quehavia de causar à Rússia. O povo pagava muito caro o atraso da Rússia czarista.

Bolcheviques e mencheviques adotaram uma atitude diferente frente a estaguerra.

Os mencheviques, incluindo Trotsky, desceram às posições do defensismo, valedizer, abraçaram a defesa da “pátria” do czar, dos latifundiários e dos capitalistas. 

Em troca, os bolcheviques, encabeçados por Lênin, entendiam que a derrota dogoverno czarista naquela guerra de rapina seria benéfica, pois conduziria ao

enfraquecimento do czarismo e ao fortalecimento da revolução.As derrotas das tropas czaristas puseram o nu ante as mais extensas massasdo povo toda a podridão do czarismo. O ódio contra o regime czarista, entre as massaspopulares, era cada dia maior. A queda de Porto-Artur marca o começo da queda daautocracia, escreveu Lênin.

O czar havia querido estrangular a revolução com a guerra. Porém conseguiu ocontrário. O que a guerra russo-japonesa fez foi acelerar a revolução.

Na Rússia czarista, a opressão capitalista se reforçava com a opressão doczarismo. Os operários não eram vítimas somente da exploração capitalista, dostrabalhos forçados ao serviço do capital, senão também da privação de direitos quepesava sobre todo o povo. Por isso, os operários conscientes aspiravam pôr-se à frentedo movimento revolucionário de todos os elementos democráticos da cidade e do

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campo contra o czarismo. Os camponeses viviam asfixiados pela falta de terra e pelasnumerosas sobrevivências do feudalismo; neles, se cravavam as garras doslatifundiários e do kulak. As nacionalidades que povoavam a Rússia czarista gemiamsob um duplo jugo: o de seus próprios latifundiários e capitalistas e o dos latifundiáriose capitalistas russos. A crise econômica de 1900 a 1903 havia acentuado ascalamidades das massas trabalhadoras, e a guerra veio aumentá-las ainda mais. Asderrotas sofridas na guerra recrudesciam o ódio das massas contra o czarismo. Apaciência do povo ia se esgotando.

Como se vê havia causas mais que suficientes para a revolução.Em dezembro de 1904, estalou uma grande greve dos operários de Baku, muito

bem organizada e mantida sob a direção do Comitê bolchevique daquela cidade. Estagreve terminou com o triunfo dos operários, graças ao qual se concertou entre estes eos patrões da indústria petrolífera o primeiro contrato coletivo de trabalho que ahistória do movimento operário russo registra.

A greve de Baku foi o começo do auge revolucionário na Transcaucásia e numasérie de regiões da Rússia.

“A greve de Baku – disse Stalin – foi o sinal para as gloriosas ações de janeiro efevereiro em toda a Rússia”. 

Esta greve foi, em vésperas da grande tempestade revolucionária, como o raioque precede a tormenta.

Os acontecimentos de 9 (22) de janeiro de 1905, em Petersburgodesencadearam a tempestade revolucionária.

A 3 de janeiro de 1905 havia estalado uma greve na fábrica mais importante dacapital, a fábrica Putilov (hoje “Kirov”). Esta greve teve sua origem na exclusão dequatro operários. O movimento grevista cresceu rapidamente juntando-se a ele outrasfábricas e empresas de Petersburgo. A greve se converteu em greve geral. O governoczarista decidiu liquidar no próprio começo o movimento, que se desenvolvia de ummodo alarmante.

Já em 1904, antes da greve da fábrica Putilov, a polícia criara entre osoperários, com ajuda de um provocador, padre Gapone, uma organização policialintitulada “Associação dos operários fabris russos”. Esta organização tinha seções emtodos os distritos de Petersburgo. Ao estalar a greve, o padre Gapone propôs nasassembléias desta sociedade um plano de provocação: a 9 de janeiro, todos osoperários se congregariam, para acudir em procissão pacífica, diante do Palácio deInverno, com estandartes e retratos do czar, com o objetivo de lhe entregar uma

petição na qual se exporiam suas necessidades. O czar sairia para receber o povo, eescutaria e satisfaria suas petições. Gapone se prestou a servir de instrumento àsmanobras da “Okhrana” czarista: tratava-se de escarmentar os operários e afogar emsangue o movimento proletário. Porém o plano policial se voltou contra o governo doczar.

A petição foi discutida nas assembléias de operários, introduzindo-se nelaalgumas emendas e modificações. Nestas assembléias, os bolcheviques intervieramtambém, embora sem apresentar-se abertamente como tais. Foram eles queconseguiram que se juntassem à petição as reivindicações seguintes: liberdade deimprensa e de palavra, liberdade de associação para os operários, convocação de umaAssembléia Constituinte para mudar a forma de governo da Rússia, igualdade de todosperante a lei, separação da Igreja do Estado, terminação da guerra, implantação da

jornada de 8 horas e entrega da terra aos camponeses.Em suas intervenções nestas assembléias, os bolcheviques faziam ver aosoperários que a liberdade não se conseguia com súplicas ao czar, senão que se deviaconquistá-la com as armas na mão. Preveniram de que se faria fogo contra osoperários. Porém não lograram evitar a manifestação em frente ao Palácio de Inverno.Uma parte considerável dos operários ainda acreditava que o czar os ajudaria. Omovimento se havia apoderado das massas com uma força enorme.

Na petição dos operários petersburguenses se dizia:“Nós, operários de Petersburgo, recorremos a ti, Senhor, com nossas mulheres,

nossos filhos e nossos anciãos e inválidos, para implorar de ti a verdade e tua ajuda.Vivemos na miséria, nos oprimem, nos sobrecarregam com um trabalho esgotador,mofam de nós, não nos tratam como homens. Temos sofrido tudo com paciência,

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porém nos empurram cada vez mais para a borda da miséria, da escravidão e daignorância; o despotismo e a tirania nos sufocam. Nossa paciência se esgotou.Chegamos a esse momento terrível em que se prefere morrer a continuar suportandotormentos irresistíveis...”  

Nas primeiras horas da manhã de 9 de janeiro de 1905, os operáriosmarchavam em procissão para o Palácio de Inverno, onde o czar tinha sua residência.Iam acompanhados de suas famílias, mulheres, crianças e anciãos, e desfilavam comretratos do czar e estandartes de confrarias, entoando canções religiosas, e semarmas. No total, se reuniram nas ruas de Petersburgo, naquele dia, mais de 140000homens.

Nicolau II os recebeu com maneiras muito pouco corteses. Deu ordens dedisparar sobre os operários inermes. Mais de mil operários caíram mortos ante os fuzisdas tropas czaristas e mais de dois mil ficaram feridos. As ruas de Petersburgo ficaramempapadas de sangue proletário.

Os bolcheviques desfilaram com os operários. Muitos deles caíram mortos ouforam detidos. Ali mesmo, sobre as ruas banhadas em sangue proletário, explicaramàs massas quem eram os responsáveis por aquela matança espantosa e como eranecessário lutar contra eles.

O 9 de janeiro começou a chamar-se “domingo sangrento”. Foi uma liçãosangrenta a que os operários receberam nesse dia. A 9 de janeiro a fé dos operáriosno czar morreu fuzilada. Compreenderam que só lutando podiam conquistar seusdireitos. Ao anoitecer daquele dia, nos bairros operários se começaram a levantar as

primeiras barricadas. “Já que o czar nos recebeu a tiros, lhe pagaremos na mesmamoeda!”, diziam os operários de Petersburgo. A horrível notícia do crime sangrento do czar correu como um rastilho de

pólvora por toda a Rússia. A ira e a indignação se apoderaram de toda a classeoperária, de todo o país. Não houve cidade onde os operários não se declarassem emgreve em sinal de protesto contra o crime do czar e onde não formulassemreivindicações políticas. Agora, os operários se lançavam à rua com a consigna de“Abaixo a autocracia!” No mês de janeiro, o número de grevistas atingiu a cifra de440.000. Num só mês, puseram-se em greve mais operários que nos dez anosanteriores juntos. O movimento operário se elevou a uma altura formidável.

Havia começado a revolução na Rússia.  

2 – Greves políticas e manifestações operárias – Intensifica-se omovimento revolucionário dos camponeses – A sublevação do couraçado“Potemkim”.  

A partir de 9 de janeiro, a luta revolucionária dos operários toma um carátermais agudo e mais político. Das greves econômicas e de solidariedade, os operáriospassam às greves políticas, às manifestações e, em alguns lugares, à resistênciaarmada contra as tropas czaristas. Em Petersburgo, Moscou, Varsóvia, Riga, Baku eem outras grandes cidades, onde se concentravam massas consideráveis de operários,as greves se revestiram de um caráter mais tenaz e mais organizado. À frente doproletariado em luta marchavam os operários metalúrgicos. Com suas greves, osdestacamentos operários de vanguarda arrastavam as camadas operárias menos

conscientes e lançavam toda a classe operária à luta. A influência da social-democraciacrescia rapidamente.

As manifestações de 1º de Maio deram origem, em diversos lugares a choquescom a polícia e as tropas. Em Varsóvia, os manifestantes foram recebidos a tiros ehouve várias centenas de mortos e feridos. Os operários de Varsóvia responderam aochamado da social-democracia polaca, responderam à matança com uma greve geralde protesto. Durante todo o mês de maio, as greves e manifestações não cessaram.Mais de 200 mil operários tomaram parte, na Rússia, nas greves de maio. A grevegeral se estendeu aos operários de Baku, Lodz e Ivanovo-Vosnesensk. Os choquesentre os operários grevistas e as tropas do czar eram cada vez mais freqüentes.

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Choques destes se produziram numa série de cidades, como Odessa, Varsóvia, Riga,Lodz, etc.

No grande centro industrial da Polônia, Lodz, a luta assumiu um caráterespecialmente agudo. Os operários de Lodz encheram as ruas desta cidade debarricadas, nas quais lutaram contra as tropas czaristas durante três dias (de 22 a 24de junho de 1905). Aqui, a ação armada se fundiu com a greve geral. Lêninconsiderava este combate como a primeira ação armada dos operários na Rússia.

Entre as greves produzidas durante o verão, se destaca principalmente a dosoperários de Ivanovo-Vosnesensk. Esta greve durou desde fins de maio até começosde agosto de 1905, ou seja, cerca de dois meses e meio. Tomaram parte nela cerca de70.000 operários, entre os quais figuravam muitas mulheres. O Comitê bolchevique daregião Norte dirigiu essa greve. Nos arrabaldes da cidade, às margens do rio Talka,milhares de operários se reuniram quase diariamente. Nestas assembléias discutiamseus problemas e suas necessidades. Nelas, os bolcheviques faziam uso da palavra.Para liquidar a greve, as autoridades czaristas ordenaram às tropas dissolver osoperários, fazendo fogo contra eles. Várias dezenas de operários caíram mortos, ehouve centenas de feridos. Foi proclamado o estado de guerra na cidade de Ivanovo.Porém os operários se mantinham firmes, sem reatar o trabalho. Passavam fome comsuas famílias, porém não cediam. Só o esgotamento mais extremo os obrigounovamente a trabalhar. Esta greve temperou os operários. Revelou exemplosmaravilhosos de valentia, de firmeza, de abnegação e de solidariedade por parte daclasse operária. Serviu de verdadeira escola de educação política para os operários de

Ivanovo-Vosnesensk.Durante esta greve, os operários de Ivanovo criaram um Soviet de delegadosque foi, de fato, um dos primeiros Soviets de deputados operários da Rússia.

As greves políticas puseram todo o país de pé.Atrás da cidade, o campo começou a levantar-se. Os camponeses começaram a

agitar-se na primavera de 1905, marchavam em grandes multidões contra os senhoresde terra, destruindo suas possessões, suas fábricas de açúcar e suas destilarias,botando fogo nos palácios e casas senhoriais. Numa série de comarcas, os camponesesse apoderaram das terras dos latifundiários, procederam à derrubada em massa dosbosques e exigiram que as terras senhoriais lhes fossem adjudicadas. Os camponesesconfiscaram o trigo e outros produtos armazenados pelos latifundiários e os repartiramentre os famintos. Os latifundiários, aterrorizados, fugiam para a cidade. O governoczarista enviou os soldados e os cossacos para sufocar as insurreições camponesas. As

tropas disparavam contra os camponeses, detinham, espancavam e torturavam seus“instigadores”. Porém os camponeses não retrocediam em sua luta. 

O movimento camponês começou a estender-se por todo o centro da Rússia,pela região do Volga e pela Transcaucásia, principalmente na Geórgia.

Os social-democratas iam cada vez mais penetrando no campo. O ComitêCentral do Partido lançou uma proclamação encabeçada assim: “Camponeses, escutainossa palavra!”. Os Comitês social-democratas de Tver, Saratov, Poltava, Chernigov,Ekaterinoslav, Tiflis e muitas outras províncias dirigiram manifestos aos camponeses.Os social-democratas organizavam “meetings” e círculos políticos nas aldeias, ecriavam Comitês de camponeses. Greves de operários agrícolas, organizadas porsocial-democratas, estalaram numa série de comarcas, no verão de 1905.

Porém, isto só era o começo da luta no campo. O movimento camponês só se

arraigara em 85 distritos, o que representava a sétima parte, aproximadamente, dosdistritos da Rússia européia czarista.O movimento operário e camponês, unido à série de derrotas das tropas russas

na guerra russo-japonesa, repercutiu sobre o exército. Este baluarte do czarismocomeçou a cambalear.

Em junho de 1905 estalou uma sublevação na esquadra do Mar Negro, a bordodo couraçado “Potemkin”. Por aqueles dias o “Potemkin” estava fundeado não longe deOdessa, onde os operários haviam declarado a greve geral. Os marinheiros sublevadosajustaram as contas com os oficiais mais odiados por eles, e rumaram para Odessa. O“Potemkin” se passou para o campo da revolução.

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Lênin atribuía uma importância muito grande a esta sublevação. Reputavanecessário que os bolcheviques dirigissem este movimento e o ligassem ao movimentodos operários, dos camponeses e das guarnições locais.

O czar enviou contra o “Potemkin” vários barcos de guerra, porém a tripulaçãodestes se negou a disparar contra seus camaradas sublevados. Durante vários dias abandeira vermelha da revolução ondulou no couraçado “Potemkin”. Porém naquelestempos, em 1905, o Partido bolchevique não era ainda o partido único que dirigia omovimento, como mais tarde, em 1917. No “Potemkin” havia não poucosmencheviques, social-revolucionários e anarquistas. Por isso, ainda que alguns social-democratas tomassem parte na sublevação, os sublevados não tiveram uma direçãosegura e suficientemente experiente. Uma parte dos marinheiros vacilava nosmomentos decisivos. Os demais navios da esquadra do Mar Negro não se uniram asublevação. Por falta de carvão e de provisões, o couraçado revolucionário foi obrigadoa retirar-se para as costas da Romênia e entregar-se às autoridades deste país.

A insurreição dos marinheiros do “Potemkin” terminou com uma derrota. Osmarinheiros sublevados, que mais tarde caíram nas mãos do governo czarista, foramentregues aos tribunais. Parte deles foi executada e outros enviados à prisão. Porém, osimples fato da sublevação teve uma importância extraordinária. A insurreição doPotemkin foi a primeira ação revolucionária de massas que se produziu no exército ena frota, a primeira grande unidade de tropas czaristas que se passou para o lado darevolução. Esta sublevação fez que os operários, os camponeses e, sobretudo, aspróprias massas de soldados e marinheiros vissem mais clara e mais próxima a idéia

da passagem do exército e da marinha para o lado da classe operária, para o lado dopovo.A passagem dos operários às greves políticas e às manifestações de massas, o

recrudescimento do movimento camponês, os choques armados do povo com a políciae as tropas e, finalmente, a sublevação na esquadra do Mar Negro: tudo indicava queas condições para a insurreição armada do povo estavam amadurecendo. Isto obrigoua burguesia liberal a pôr-se energicamente de pé. Alarmada ante a revolução, porémao mesmo tempo assustando o czar com ela, pretendeu chegar a um acordo com oczar contra a revolução e pleitear a necessidade de decretar algumas pequenasreformas “em favor do povo” para “aplacar” a este, semear a discórdia entre as forçasda revolução e atalhar com isso os “horrores da revolução”. “É necessário retalharterras para os camponeses, pois de outro modo nos retalharão o pescoço”, diziam ossenhores de terra liberais. A burguesia liberal se dispunha a compartilhar o Poder com

o czar. “Enquanto o proletariado luta, a burguesia pretende acercar-se cautelosamentedo Poder”, escrevia Lênin naqueles dias, referindo-se à tática da classe operária e à daburguesia liberal.

O governo czarista continuava esmagando o movimento operário e camponêscom uma violência brutal. Porém não podia desconhecer que com os simples meiosrepressivos era impossível sufocar a revolução. Por isso, sem abandonar a repressão,começou a recorrer às manobras de rodeios. Por uma parte, com ajuda de seusagentes provocadores, começou a açular os povos da Rússia uns contra os outros,organizando pogromos judeus e matanças entre armênios e tártaros. De outro lado,prometeu convocar uma “Assembléia representativa” – na forma de “Zemski Sobor” (5)ou Duma do Estado, - encarregando o ministro Buliguin para que redigisse o projetodesta Assembléia, porém com a condição de que não tivesse faculdades legislativas.

Todas estas medidas visavam semear a discórdia entre as forças da revolução eapartar desta, as camadas moderadas do povo.Os bolcheviques declararam o boicote à Duma buliguiniana, propondo-se como

objetivo jogar por terra esta caricatura de representação popular.Ao contrário, os mencheviques concordaram em não fazer fracassar a Duma e

consideraram necessário participar nela. 3 – Divergências táticas entre os bolcheviques e os mencheviques – OIII Congresso do Partido – O livro de Lênin “As duas táticas da social-democracia na Revolução Democrática” – Fundamentos táticos doPartido marxista.

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 A revolução pôs em movimento todas as classes da sociedade. A virada

provocada pela revolução na vida política do país as fez sair de suas velhas posições deestagnação e as obrigou a reagrupar-se de acordo com a nova situação. Cada classe,cada partido, esforçava-se em traçar sua tática, sua linha de conduta, sua relação comas demais classes e com o governo. Até o governo czarista se viu obrigado a elaborar,coisa insólita nele, uma nova tática, consistente em prometer a convocação de uma“Assembléia representativa”, a Duma buliguiniana. 

Também o Partido social-democrata se viu na necessidade de traçar sua linhatática. Assim o exigia a marcha ascendente da revolução. Assim o exigiam também osproblemas práticos impostergáveis que se apresentavam ante o proletariado:organização da insurreição armada, derrubada do governo czarista, instauração de umgoverno provisório revolucionário, participação da social democracia neste governo,relações com os camponeses e com a burguesia liberal, etc. Era necessário traçar atática marxista da social-democracia, uma tática única e bem meditada. Porém, graçasao oportunismo e ao trabalho divisionista dos mencheviques, a social-democracia russase achava, naqueles momentos, cindida em duas frações. Ainda não se podiaconsiderar consumada a cisão, porém, ainda que formalmente estas duas frações nãofossem dois partidos distintos, de fato se pareciam muito a dois partidos, cada qualcom seus próprios organismos centrais e seus próprios órgãos na imprensa.

Contribuía para aprofundar a cisão o fato de que às velhas divergências dosmencheviques com a maioria do Partido em matéria de organização, vieram somar-se

outras divergências novas, que afetavam os problemas táticos. A falta de um Partidounido traduzia-se na falta de unidade quanto a sua tática.Cabia resolver a situação, convocando imediatamente o III Congresso ordinário

do Partido, para estabelecer nele uma tática única, obrigando a minoria a aplicarhonradamente as resoluções do Congresso e a submeter-se às decisões da maioria.Esta solução foi, com efeito, a que os bolcheviques propuseram aos mencheviques.Porém estes não queriam nem ouvir falar do Congresso. Em vista disto e considerandocomo um crime continuar-se mantendo o Partido sem uma tática sancionada por seuórgão supremo e obrigatória para todos seus membros, os bolcheviques decidiramtomar em suas mãos a iniciativa de convocar o III Congresso.

Foram convidadas a enviarem delegados a ele todas as organizações do Partido,tanto as bolcheviques como as mencheviques. Porém, os mencheviques se negaram aparticipar no Congresso e decidiram convocar outro por sua conta. Não o chamaram

congresso, senão conferência, pelo reduzido número de delegados que a ele acudiram,porém, na realidade foi um congresso, o congresso do partido menchevique, cujasresoluções se consideravam obrigatórias para todos os mencheviques.

Em abril de 1905, se reuniu em Londres o terceiro Congresso do Partido Social-Democrata da Rússia. Assistiram a ele 24 delegados em nome de 20 comitêsbolcheviques. Todas as grandes organizações do Partido achavam-se representadasnele.

O Congresso condenou os mencheviques, considerando-os como “uma parteque se havia separado do Partido”, e passou aos problemas da ordem do dia, queversavam sobre a tática do Partido.

Ao mesmo tempo se reunia em Genebra a conferência dos mencheviques.“Dois congressos, dois partidos”, tais eram os termos com que Lênin julgava a

situação.Tanto o congresso, como a conferência, examinavam, no fundo, os mesmosproblemas táticos, porém as resoluções que recaíram sobre estes problemas foramdiametralmente opostas. As duas diferentes séries de resoluções votadas no congressoe na conferência punham a descoberto, em toda sua profundidade, as divergênciastáticas existentes entre o III Congresso do Partido e a Conferência menchevique, entreos bolcheviques e os mencheviques.

Eis aqui os pontos fundamentais destas divergências:Linha tática do III Congresso do Partido. O Congresso achava que, apesar do

caráter democrático-burguês da revolução que se estava desenvolvendo e apesar deque esta não podia, naqueles momentos, sair do marco das medidas compatíveis como capitalismo, seu triunfo total interessava de um modo primordial ao proletariado,

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pois o triunfo desta revolução lhe daria a possibilidade de organizar-se, de educar-sepoliticamente, de adquirir experiência e hábitos de direção política das massastrabalhadoras, e de passar da revolução burguesa à revolução socialista.

A tática do proletariado, visando o triunfo total da revolução democrático-burguesa, só podia ser apoiada pelos camponeses, já que estes não conseguiriamdesembaraçar-se dos senhores de terra e obter suas terras senão com o triunfocompleto da revolução. Os camponeses eram, pois, os aliados naturais do proletariado.

A burguesia liberal não estava interessada no triunfo completo desta revolução,já que necessitava do Poder czarista como chicote contra os operários e oscamponeses, aos quais temia mais que a nenhuma outra coisa, pelo que se esforçariaem manter o czarismo, embora restringindo um pouco suas prerrogativas; portanto, aburguesia liberal procuraria encerrar o assunto mediante um acordo com o czar, nabase de uma monarquia constitucional.

A revolução só poderá triunfar se o proletariado se põe à frente dela, se este,como chefe da revolução, sabe assegurar sua aliança com os camponeses, se se isolaa burguesia liberal, se a social-democracia toma parte ativa na organização dainsurreição popular contra o czarismo, se, como resultado de uma insurreiçãotriunfante, se instaura um governo provisório revolucionário, capaz de extirpar asraízes da contra-revolução e de convocar uma Assembléia Constituinte de todo o povo,e se a social-democracia não recusa, em condições propícias, participar neste governoprovisório revolucionário para levar a revolução a seu termo.

Linha tática da conferência menchevique. Posto que se trata de uma revolução

burguesa, só pode ter como chefe à burguesia liberal. O proletariado tem que seaproximar dela e não dos camponeses. Para isto, o mais importante é não assustar aburguesia liberal com atitudes revolucionárias e não dar-lhe pretexto para voltar àscostas à revolução, a qual se debilitará, se a burguesia liberal se desvia dela.

É possível que a insurreição triunfe, porém, a social-democracia, depois dotriunfo da insurreição, deverá ficar à margem para não atemorizar a burguesia liberal.É possível que, como resultado da insurreição, se instaure um governo provisóriorevolucionário, porém a social-democracia não deverá participar nele de modo algumjá que este governo não será, por seu caráter, um governo socialista, e, sobretudo,porque a participação nele da social-democracia e sua atitude revolucionária poderiamassustar a burguesia liberal e solapar com isso a revolução.

Do ponto de vista das perspectivas da revolução seria melhor convocarqualquer assembléia representativa, um “Zemski Sobor” ou uma Duma de Estado, a

qual se poderia submeter à pressão da classe operária, de fora, para convertê-la emuma Assembléia Constituinte ou forçá-la a convocar esta.

O proletariado tem seus interesses próprios e peculiares, interesses puramenteoperários, com os quais deve preocupar-se sem tentar erigir-se em chefe da revoluçãoburguesa, que é uma revolução política geral e que afeta, portanto, a todas as classese não ao proletariado somente.

Tais eram, em breves palavras, as duas táticas das duas frações do PartidoOperário Social-Democrata da Rússia.

Em seu histórico livro intitulado “As duas táticas da social-democracia narevolução democrática”, Lênin faz a crítica clássica da tática menchevique efundamenta de um modo genial a tática bolchevique.

Este livro apareceu em julho de 1905, ou seja, dois meses após o III Congresso

do Partido. A julgar pelo título da obra, poder-se-ia crer que Lênin só examina nela osproblemas táticos do período da revolução democrático-burguesa, e que sua crítica serefere unicamente aos mencheviques russos. Porém, na realidade, ao criticar a táticados mencheviques, põe também a nu a tática do oportunismo internacional e aofundamentar a tática marxista no período da revolução burguesa e traçar as diferençasentre esta e a revolução socialista, formula também os fundamentos da tática domarxismo no período de transição da revolução burguesa à revolução socialista.

Eis aqui as teses táticas fundamentais desenvolvidas por Lênin em sua obra “Asduas táticas da social-democracia na revolução na revolução democrática”. 

1) A tese tática fundamental de que trata a obra de Lênin é a idéia de que oproletariado pode e deve ser o chefe da revolução democrático-burguesa, o dirigenteda revolução democrático-burguesa na Rússia.

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Lênin reconhecia o caráter burguês desta revolução, isto visto que, segundo eleassinalou, “não se estava em condições de sair imediatamente do estado de umatransformação puramente democrática”. Porém, entendia que não era um movimentode cima, senão uma revolução popular, que punha em movimento todo o povo, toda aclasse operária, todos os camponeses. Por isso, reputava como uma traição aosinteresses do proletariado as tentativas dos mencheviques de diminuir a importânciada revolução burguesa para a classe operária, de menoscabar o papel do proletariadonela e dela descartar as forças proletárias.

“O marxismo – escrevia Lênin – não ensina o proletariado a ficar à margem darevolução burguesa, a não participar nela, a entregar sua direção à burguesia, mas,pelo contrário, ensina que deve participar do modo mais enérgico e mais decidido naluta pelo democratismo proletário conseqüente, na luta para levar a revolução ao fim”.(Lênin, t. VIII pág. 58, ed. russa).

“Não devemos esquecer – escrevia Lênin mais adiante – que nestes momentosnão há nem pode haver outro meio de se aproximar do socialismo que a liberdadepolítica completa, a República democrática”. (Obra citada, pág. 104). 

Lênin previa dois possíveis desenlaces para a revolução.a) ou a revolução terminava com o completo triunfo sobre o czarismo, com a

derrubada deste e a instauração da República democrática, ou ...b) se a revolução não era bastante forte, podia terminar com um acordo entre o

czar e a burguesia à custa do povo, com qualquer Constituição minguada, ou melhor,dito, com qualquer caricatura constitucional.

O proletariado achava-se interessado em que a solução fosse a melhor, asaber: a do triunfo decisivo sobre o czarismo. Porém, para que esta solução fossepossível, era necessário que o proletariado soubesse converte-se em chefe, emdirigente da revolução.

“O desenlace da revolução – escrevia Lênin – depende do papel que a classeoperária desempenhe nela: de que se limite a ser um mero auxiliar da burguesia,ainda que seja um auxiliar poderoso pela intensidade de seu impulso contra aautocracia, porém politicamente impotente, ou de que assuma o papel de dirigente darevolução popular” (Obra citada, pág. 32). 

Lênin entendia que o proletariado contava com todas as possibilidades paradeixar de ser auxiliar da burguesia e converter-se em dirigente da revoluçãodemocrático-burguesa. Estas possibilidades se cifravam, segundo Lênin, no seguinte:  Em primeiro lugar, “o proletariado, sendo como é por sua situação, a classe

mais avançada e a única conseqüentemente revolucionária, está chamado, por isso, adesempenhar o papel dirigente no movimento geral democrático revolucionário daRússia”. (Lênin, t. VIII pág. 75, ed. russa). 

Em segundo lugar, o proletariado tem seu próprio partido político, independenteda burguesia, que lhe permite fundir-se “numa força política unida e independente” (Obra citada, pág. 75).

Em terceiro lugar, o proletariado se acha mais interessado no triunfo decisivoda revolução que a burguesia, já que “em certo sentido, e revolução burguesa é maisbenéfica para o proletariado que para a burguesia” (Obra citada, pág. 57). 

 “À burguesia – escrevia Lênin – convêm apoiar-se em algumas dassobrevivências do velho regime contra o proletariado, por exemplo, na monarquia, noexército permanente, etc. À burguesia convêm que a revolução burguesa não varra

demasiado resolutamente todas as sobrevivências do velho regime, senão que deixede pé algumas delas; isto é, que esta revolução não seja de todo conseqüente, nãoseja levada até o fim, não seja decidida e implacável. À burguesia convêm mais que asmudanças necessárias num sentido democrático-burguês se estabeleçam lentamente,gradualmente, prudentemente, de um modo cauto, por meio de reformas e não por viada revolução; que estas mudanças desenvolvam o menos possível a independência, ainiciativa e a energia revolucionária do povo simples, isto é, dos camponeses eprincipalmente dos operários, pois, de outro modo a estes últimos lhes será tanto maisfácil “mudar o fuzil de um ombro para o outro”, como dizem os franceses, isto é, dirigircontra a própria burguesia a arma que a revolução burguesa põe em suas mãos, aliberdade que esta lhes dá, as instituições democráticas que brotam no terreno limpodo feudalismo. Pelo contrário, à classe operária convêm mais que as mudanças

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necessárias num sentido democrático-burguês se introduzam não por meio dereformas, senão pela via revolucionária, pois o caminho reformista é o caminho dosadiamentos, dos estabelecimentos de prazo, da agonia dolorosa e lenta dos membrospodres do organismo social e os que mais e primordialmente sofrem com esteprocesso de agonia, são o proletariado e os camponeses. Em troca, o caminhorevolucionário é o único caminho que consiste na operação mais rápida e menosdolorosa para o proletariado, na eliminação direta dos membros podres, o caminho demínimas concessões e cautelas com respeito à monarquia e a suas instituiçõesrepelentes, ignominiosas e podres, que envenenam a atmosfera com suadecomposição”. (Obra citada, págs. 57-58).

 “Precisamente por isso – continua Lênin – o proletariado luta na vanguarda pelaRepública, rechaçando com desprezo os conselhos néscios e indignos dos que lhedizem que tenha cuidado para não assustar a burguesia”. (Obra citada, pág. 94). 

Para que a possibilidade de que o proletariado dirija a revolução se converta emrealidade, para que o proletariado se erija de fato em chefe, em dirigente da revoluçãoburguesa, duas condições, pelo menos, têm que se dar, segundo Lênin.

Em primeiro lugar, é necessário que o proletariado conte com um aliado que seache interessado no triunfo decisivo sobre o czarismo e que esteja disposto a colocar-se sob a direção do proletariado. Esta exigência vai implicar na própria idéia dedireção, pois o dirigente deixa de o ser quando não tem a quem dirigir e o chefe,quando não tem a quem mandar. Eram os camponeses – segundo Lênin – este aliado.

Em segundo lugar, é necessário que a classe que se acha em luta com o

proletariado por dirigir a revolução, por erigir-se em seu único dirigente, sejaeliminada da luta pela direção e isolada. Também isto vai implícito na própria idéia dedireção, que exclui a possibilidade de admitir dois dirigentes da revolução. Esta classeera, segundo Lênin, a burguesia liberal.

 “Só o proletariado – escrevia Lênin – pode ser um lutador conseqüente pelademocracia. Porém, só pode lutar vitoriosamente pela democracia com a condição deque as massas camponesas se unam à sua luta revolucionária” (Obra citada, pág. 65).

 E mais adiante: “Entre os camponeses há, ao lado dos elementos pequeno -burgueses, uma massa de elementos semi-proletários. Isto lhes faz também instáveis,obrigando o proletariado a fundir-se num partido rigorosamente de classe. Porém, ainstabilidade dos camponeses é radicalmente diferente da instabilidade da burguesia;pois neste momento concreto os camponeses se acham menos interessados em que semantenha indene a propriedade privada do que em arrebatar aos latifundiários suas

terras, que são uma das principais formas daquela propriedade. Sem se converterempor isso em socialistas, nem deixarem de ser pequenos burgueses, os camponeses sãosuscetíveis de atuar como os mais perfeitos e radicais defensores da revoluçãodemocrática. Os camponeses procederão inevitavelmente assim, sempre e quando amarcha dos acontecimentos revolucionários que iluminam seu caminho não seinterrompa bruscamente pela traição da burguesia e da derrota do proletariado. Oscamponeses se converterão inevitavelmente sob tal condição, num baluarte darevolução e da República; já que só uma revolução plenamente vitoriosa pode dar aocamponês tudo em matéria de reforma agrária, tudo quanto o camponês quer, com oque sonha e o que realmente necessita”. (Obra citada, págs. 94-95).

Analisando as objeções dos mencheviques, que afirmavam que semelhantetática, a traçada pelos bolcheviques, “obrigará as classes burguesas a voltar às costas

à revolução, com o que reduzirá o alcance desta”, e caracterizando-a como “uma táticade traição à revolução”, como a “tática de converter o proletariado num lamentávelapêndice das classes burguesas”, Lênin escrevia: 

“Quem compreender verdadeiramente qual é o papel dos camponeses narevolução russa vitoriosa, será incapaz de dizer que o alcance da revolução se reduziráse a burguesia lhe volta às costas, pois, na realidade, a revolução russa não começaráa adquirir seu verdadeiro alcance, não começará a adquirir a maior envergadurarevolucionária possível na época da revolução democrático-burguesa, até que aburguesia não lhe volte às costas e o elemento revolucionário ativo não seja a massacamponesa, em união com o proletariado. Para ser levada conseqüentemente atérmino, nossa revolução democrática deve apoiar-se em forças capazes de

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contrabalançar a inevitável inconseqüência da burguesia, isto é, capazes precisamentede obrigá-la a voltar às costas” (Obra citada, págs. 95-96).

Tal é a tese tática fundamental sobre o proletariado como chefe da revoluçãoburguesa, a tese tática fundamental sobre a hegemonia (papel dirigente) doproletariado na revolução burguesa, desenvolvida por Lênin em sua obra “As duastáticas da social-democracia na revolução democrática”. 

Com isso, o partido marxista se situava num ponto de vista novo ante osproblemas da tática na revolução democrático-burguesa, ponto de vista que sedistinguia profundamente das posições táticas que até então figuravam no arsenalmarxista. Anteriormente, o problema se reduzia a que, nas revoluções burguesas, porexemplo, nas dos países ocidentais, o papel dirigente ficasse em mãos da burguesia,vendo-se o proletariado reduzido, na melhor das hipóteses ao papel de auxiliar, e oscamponeses convertidos em reserva da burguesia. Os marxistas consideravam estacombinação como algo mais ou menos inevitável, fazendo no ato a reserva de que oproletariado devia defender, neste transe, o mais possível, suas reivindicaçõesimediatas de classe e ter seu partido político próprio. Agora, dentro da nova situaçãohistórica, o problema era colocado, de acordo com o ponto de vista de Lênin, de ummodo novo: o proletariado passava a ser força dirigente da revolução burguesa, aburguesia era deslocada da direção do movimento revolucionário e os camponeses seconvertiam na reserva do proletariado.

A crença de que Plekhanov “era também partidário” da hegemonia doproletariado, responde a um equívoco. Plekhanov “flertava” com a idéia da hegemonia

do proletariado. Embora seja verdade que a reconhecia de palavra, de fato eracontrário à essência desta idéia. A hegemonia do proletariado implica no papeldirigente deste na revolução burguesa, com uma política de aliança entre oproletariado e os camponeses e uma política de isolamento da burguesia liberal. EPlekhanov era, como sabemos, contrário a esta política de isolamento da burguesialiberal, partidário de uma política de acordo com esta burguesia e contrário à políticade aliança entre o proletariado e os camponeses. Na realidade, o ponto de vista táticode Plekhanov era o ponto de vista menchevique, que consistia em negar a hegemoniado proletariado.

2. Lênin considerava a insurreição armada vitoriosa do povo como o meio maisimportante para derrubar o czarismo e conquistar a República democrática. Entendia,ao contrário dos mencheviques, que o “movimento revolucionário democrático geralcolocava já a necessidade da insurreição armada”, que “a organização do proletariado

para a insurreição” já “estava na ordem do dia, como uma das tarefas essenciais,fundamentais e imprescindíveis do Partido”, que era necessário “tomar medidas maisenérgicas para armar o proletariado e lhe assegurar a possibilidade de tomar em suasmãos a direção imediata da insurreição” (Lênin, t. VIII pág. 75, ed. Russa). 

Para levar as massas à insurreição e fazer esta extensiva a todo o povo, Lêninconsiderava necessário lançar para as massas as consignas, os chamamentosadequados para multiplicar sua iniciativa revolucionária, para organizá-las rumo àinsurreição, e desorganizar o aparato de Poder do czarismo. Estas consignas eram,segundo ele, os acordos táticos do III Congresso do Partido, a cuja defesa consagravasua obra “As duas táticas da social-democracia na revolução democrática”. 

Eis aqui quais eram estas consignas:a) Emprego das “greves políticas de massas, que podem ter grande

importância no começo e no mesmo transcurso da insurreição” (Obra cit,pág.75).b) “Implantação imediata, pela via revolucionária, da jornada de 8 horas e de

outras reivindicações imediatas da classe operária” (Obra cit, pág.47). c) “Organização imediata de Comitês camponeses revolucionários para

implantar”, pela via revolucionária, “todas as mudanças democráticas”, atéchegar ao confisco das terras dos latifundiários (Obra cit, pág. 88).

d) Armamento para os operários.Interessa destacar aqui especialmente dois pontos:Em primeiro lugar, a tática da implantação revolucionária da jornada de 8 horas

na cidade e das mudanças democráticas no campo; ou seja, sua implantação semcontar com as autoridades, sem contar com a lei, prescindindo das autoridades e da

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legalidade, destroçando as leis vigentes e instaurando uma nova ordem pela própriainiciativa das massas, pela sua própria vontade. Este era um novo meio tático, cujaaplicação paralisava o aparato de Poder do czarismo e desatava a atividade e ainiciativa criadora das massas. Sobre a base desta tática surgiram os comitêsrevolucionários de greve na cidade e os comitês revolucionários de camponeses nocampo, que mais tarde se transformariam nos Soviets de deputados operários e nosSoviets de deputados camponeses respectivamente.

Em segundo lugar, o emprego das greves políticas de massas, o emprego dasgreves políticas gerais, que mais tarde, no transcurso da revolução deveriamdesenvolver um papel de primeira ordem para a mobilização revolucionária dasmassas. Era esta uma arma nova e importantíssima em mãos do proletariado, armadesconhecida até então na atuação dos partidos marxistas e que haveria de adquirirmais tarde aceitação geral.

Lênin entendia que, como resultado da insurreição vitoriosa do povo, o governoczarista haveria de ser substituído por um governo provisório revolucionário. A missãodeste governo provisório revolucionário consistiria em reforçar as conquistas darevolução, em esmagar a resistência da contra-revolução e em realizar o programamínimo do Partido Operário Social-democrata da Rússia. Lênin entendia que semcumprir estas tarefas era impossível conseguir um triunfo decisivo sobre o czarismo. E,para cumprir estas tarefas e conquistar uma vitória decisiva sobre o czarismo, ogoverno provisório revolucionário devia ser não um governo como outro qualquer, maso governo da ditadura das classes vitoriosas, dos operários e camponeses, a ditadura

revolucionária do proletariado e dos camponeses. Se remetendo à conhecida tese deMarx segundo a qual “a estrutura provisória de todo Estado depois da revolução exigea ditadura, e uma ditadura enérgica”, Lênin chegava a conclusão de que, se queria-segarantir a vitória decisiva sobre o czarismo, o governo provisório revolucionário nãopodia ser mais que a ditadura do proletariado e dos camponeses.  “A vitória decisiva da revolução sobre o czarismo – escrevia Lênin – é a ditadurarevolucionário-democrática do proletariado e dos camponeses... Esta vitória será,precisamente, uma ditadura; ou seja, deverá se apoiar inevitavelmente na força dasarmas, nas massas armadas, na insurreição, e não nestas ou nas outras instituiçõescriadas “pela via legal”, “pela via pacífica”. Só pode ser uma ditadura, porque aimplantação das mudanças imediata e absolutamente necessárias para o proletariado eos camponeses provocará uma resistência desesperada por parte dos latifundiários, dagrande burguesia e do czarismo. Sem ditadura, será impossível esmagar esta

resistência, rechaçar as tentativas contra-revolucionárias. Mas não será, naturalmente,uma ditadura socialista, mas uma ditadura democrática. Esta ditadura não poderátocar (sem passar por toda uma série de graus intermediários de desenvolvimentorevolucionário) as bases do capitalismo. Poderá, no melhor dos casos, introduzir mudanças radicais na distribuição da propriedade da terra a favor dos camponeses,implantar um democratismo conseqüente e completo, até chegar à República,desarraigar não só da vida do campo, como também do regime da fábrica, todos ostraços asiáticos de servilismo, iniciar uma melhora séria na situação dos operários eelevar seu nível de vida, e finalmente – embora não é isto o menos importante -, fazer com que a fogueira revolucionária prenda na Europa. Semelhante vitória nãotransformará ainda, nem muito menos, nossa revolução burguesa em socialista; arevolução democrática não sairá imediatamente do marco das relações econômico-

sociais burguesas, mas, não obstante isto, terá uma importância gigantesca para odesenvolvimento futuro da Rússia e do mundo inteiro. Nada elevará a tal altura aenergia revolucionária do proletariado mundial, nada encurtará tão consideravelmenteo caminho que conduz a sua vitória total, como esta vitória decisiva da revolução quese iniciou já na Rússia” ( Obra cit., págs. 62-63).

No que diz respeito à atitude da social-democracia ante o governo provisóriorevolucionário e à possibilidade de que aquela participasse nele, Lenin defendiaintegralmente o correspondente acordo do III Congresso do Partido, que dizia assim:

“De acordo com a correlação de forças e outros fatores que não é possível fixar com precisão de antemão, é admissível a participação de dirigentes de nosso Partidono governo provisório revolucionário, com a finalidade de lutar implacavelmente contratodas as tentativas contra-revolucionárias e defender os interesses próprios da classe

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operária; condição necessária para esta participação é o controle rigoroso do Partidosobre seus representantes e a salvaguarda constante da independência da social-democracia, que aspira à revolução socialista completa e é, portanto,irreconciliavelmente inimiga de todos os partidos burgueses; independentemente deque seja ou não possível a participação da social-democracia no governo provisóriorevolucionário, se deve propagar entre as mais extensas camadas do proletariado aidéia de que é necessário que o proletariado armado, dirigido pela social-democracia,pressione constantemente o governo provisório, com a finalidade de manter,consolidar e estender as conquistas da revolução” ( Obra cit., pág.37).

Às objeções dos mencheviques de que o governo provisório seria, a pesar detudo, um governo burguês e de que não se devia admitir a participação dos social-democrátas em semelhante governo, a menos que quisesse se cometer o mesmo erroque tinha cometido o socialista francês Millerand ao entrar a formar parte do governoda burguesia francesa, Lênin respondia mostrando que os mencheviques confundiamaqui duas coisas distintas e revelavam sua incapacidade para abordar o problemacomo marxistas: na França, se tratava da participação dos socialistas num governoburguês reacionário e numa época em que não existia uma situação revolucionáriadentro do país, o que obrigava aos socialistas a não participar naquele governo; já naRússia se tratava da participação dos socialistas num governo burguês revolucionário,que lutava pela vitória da revolução, num momento em que esta se encontrava em seuapogeu, circunstância que fazia admissível, e sob condições propícias, obrigatória, aparticipação dos social-democrátas nele, para dar batalha à contra-revolução, não só

“de baixo” e desde fora, mas também “desde cima”, desde dentro do governo. 3) Ao lutar pela vitória da revolução burguesa e pela conquista da Repúblicademocrática, Lênin não pensava, nem muito menos, se deter na etapa democrática ereduzir o alcance do movimento revolucionário à conquista dos objetivos democrático-burgueses. Pelo contrário, entendia que, imediatamente depois de conseguidos osobjetivos democráticos, haveria de começar a luta do proletariado e das demaismassas exploradas pela revolução socialista. Lênin sabia isto e considerava dever dasocial-democracia tomar todas as medidas encaminhadas no sentido de que arevolução democrático-burguesa começasse a se transformar em revolução socialista.Se Lênin reputava necessária a ditadura do proletariado e dos camponeses, não erapara por fim à revolução depois de coroada a vitória sobre o czarismo, mas paraprolongar tudo o possível o estado de revolução, para destruir integramente osvestígios da contra-revolução, para fazer que a chama da revolução acendesse na

Europa e, depois de conseguir que, durante este tempo, o proletariado se educassepoliticamente e se organizasse num grande exército, começar a passar diretamentepara a revolução socialista.

Referindo-se ao alcance da revolução burguesa e ao caráter que o partidomarxista deve lhe dar, Lênin escrevia: “O proletariado deve levar até o fim a revoluçãodemocrática atraindo a massa dos camponeses, para esmagar pela força a resistênciada autocracia e paralisar a instabilidade da burguesia. O proletariado deve consumar arevolução socialista atraindo a massa dos elementos semi-proletários da população,para destroçar pela força a resistência da burguesia e paralisar a instabilidade doscamponeses e da pequena burguesia. Tais são as tarefas do proletariado, que os neo-iskristas [quer dizer, os mencheviques. NR] representam de um modo tão mesquinhoem todas suas colocações e resoluções sobre o alcance da revolução” (Lênin, t. VIII,

pág. 96, ed. Russa).E mais na frente:“À frente de todo o povo, e em particular, dos camponeses, pela liberdade total,

pela revolução democrática conseqüente, pela República! À frente de todos ostrabalhadores e explorados, pelo socialismo! Essa deve ser, na prática, a política doproletariado revolucionário, esta é a consigna de classe que deve informar edeterminar a solução de cada problema tático, de cada passo prático do Partidooperário durante a revolução” (Obra cit. Pág.105).

Para que não restasse nenhuma dúvida, dois meses depois de aparecer seulivro “As duas táticas”, no artigo intitulado “A atitude da social-democracia ante omovimento camponês”, Lênin expunha: 

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“Da revolução democrática começaremos a passar em seguida, e justamente namedida de nossas forças, das forças do proletariado consciente e organizado, para arevolução socialista. Nós somos partidários da revolução ininterrupta. Não ficaremosna metade do caminho” (Obra cit., pág. 186).

Era esta uma nova concepção do problema das relações entre a revoluçãoburguesa e a revolução socialista, uma nova teoria da reagrupação de forças em tornoao proletariado para, ao fim da revolução burguesa, passar diretamente à revoluçãosocialista, a teoria da transformação da revolução democrático-burguesa em revoluçãosocialista.

Ao elaborar esta nova concepção, Lênin se apoiava, em primeiro lugar, naconhecida tese de Marx sobre a revolução ininterrupta, tese que se encontra na“Circular para a Liga dos Comunistas”, redigida no final da década dos 40 do séculoXIX, e, em segundo lugar, na conhecida idéia de Marx sobre a necessidade decombinar o movimento revolucionário camponês com a revolução proletária,expressada numa carta dirigida a Engels em 1856, na que diz: “Todo o problema, naAlemanha, dependerá da possibilidade de respaldar a revolução proletária com umaespécie de segunda edição da guerra camponesa”. Estas idéias geniais de Marx nãotinham sido desenvolvidas mais tarde por Marx e Engels, e os teóricos da SegundaInternacional tomaram todas as medidas para sepultá-las e enterrá-las noesquecimento. A Lênin lhe tocou a tarefa de puxar de novo à luz estas tesesesquecidas e as restaurar em toda a sua plenitude. Mas, em sua obra de restauraçãodestas teses, não se limitou, nem podia limitar-se, pura e simplesmente, a repeti-las,

mas as desenvolveu e as elaborou numa teoria harmônica da revolução socialista,acrescentando, como aspecto obrigatório desta, um novo fator: o da aliança doproletariado e dos elementos semi-proletários da cidade e do campo, como condiçãopara a vitória da revolução proletária.

Esta concepção estraçalhou as posições táticas da social-democracia dos paísesda Europa ocidental, que partia do suposto de que, depois da revolução burguesa, asmassas camponesas, sem excluir as massas pobres do campo, se afastariamnecessariamente da revolução, pelo que a revolução burguesa seria, forçosamente,seguida de um longo período de trégua, de um longo período “de calma”, que durariade 50 a 100 anos ou mais, e durante o qual o proletariado seria explorado“pacificamente” e a burguesia se enriqueceria “legitimamente”, até que chegasse omomento da nova revolução, da revolução socialista.

Era esta uma nova teoria da revolução socialista, realizada não pelo

proletariado isolado contra toda a burguesia, mas pelo proletariado como forçahegemônica e que tem como aliados os elementos semi-proletários da população, ouseja, os milhões de seres das “massas trabalhadoras e exploradas”. 

Segundo esta teoria, a hegemonia do proletariado na revolução burguesamediante a aliança do proletariado e dos camponeses, devia se transformar nahegemonia do proletariado na revolução socialista mediante a aliança do proletariado edas demais massas trabalhadoras e exploradas, e a ditadura democrática doproletariado e dos camponeses devia preparar o terreno para a ditadura socialista doproletariado.

Esta concepção jogou por terra a teoria de moda entre os social-democrataseuropeus ocidentais, que negavam as possibilidades revolucionárias das massas semi-proletárias da cidade e do campo e partiam do suposto de que “fora a burguesia e o

proletariado, não vemos outras forças sociais nas que possam se apoiar, no nossopaís, as combinações oposicionistas e revolucionárias” (palavras de Plekhanov, típicasdos social-democratas da Europa ocidental).

Os social-democratas da Europa ocidental entendiam que na revoluçãosocialista o proletariado estaria sozinho contra toda a burguesia, sem aliados, seenfrentando a todas as classes e setores não proletários. Não queria levar em conta ofato de que o capital não explora somente os proletários, mas explora também amilhões de homens das camadas semi-proletárias da cidade e do campo, asfixiadaspelo capitalismo e susceptíveis de virar aliados do proletariado na luta por emancipar asociedade do jugo capitalista. Por isso, os social-democratas europeus ocidentaisopinavam que na Europa não tinham amadurecido ainda as condições para a revoluçãosocialista e que estas condições só poderiam se considerar maduras quando o

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proletariado representasse a maioria dentro da nação, à maioria dentro da sociedade,como resultado do ulterior desenvolvimento econômico desta.

A teoria da revolução socialista preconizada por Lênin vinha jogar por terra esteponto de vista podre e antiproletário dos social-democratas da Europa ocidental.

Na teoria de Lênin não se chegava ainda diretamente a conclusão de que erapossível a vitória do socialismo em um só país. Mas se continham já nela todos ouquase todos os elementos fundamentais necessários para chegar, mais tarde ou maiscedo, a esta conclusão.

Como é sabido, Lênin chegou a esta conclusão em 1915, ou seja, dez anos maistarde.

Essas são as teses fundamentais sobre tática, desenvolvidas por Lênin em suahistórica obra “As duas táticas da social-democracia na revolução democrática”. 

A importância histórica deste livro consiste, ante de mais nada, em que destruiuideologicamente o ponto de vista tático pequeno-burguês dos mencheviques,apetrechando a classe operária da Rússia com as armas necessárias para o ulteriordesenvolvimento da revolução democrático-burguesa, para uma nova arremetidacontra o czarismo, e dando aos social-democratas russos uma perspectiva clara sobrea transformação necessária da revolução burguesa em revolução socialista.

Mas a importância da obra de Lênin não se reduz a isto. Seu valor inapreciávelreside em ter enriquecido o marxismo com uma nova teoria da revolução e em terjogado os alicerces da tática revolucionária do Partido bolchevique, graças a qual oproletariado de nosso país pode triunfar sobre o capitalismo, em 1917.

 4 – A Revolução prossegue sua marcha ascendente – A Greve política deoutubro de 1905 em toda Rússia – Recuada do czarismo – A mensagemdo czar – Aparecem os soviets de deputados operários.

 Para o outono de 1905, o movimento revolucionário se estendeu a todo o país,

cobrando, aliás, um fôlego enorme.Em 19 de setembro estourou em Moscou uma greve dos operários tipógrafos.

De Moscou se estendeu a Petersburgo e a outras cidades. Em Moscou, foi apoiadapelos operários de outras indústrias e se transformou numa greve geral de caráterpolítico.

Nos primeiros dias de outubro começou a greve nas ferrovias de Moscou a

Kazan. No dia seguinte, estavam em greve os operários de todo o complexo ferroviáriode Moscou. Logo a greve se estendeu a todas as ferrovias do país. Pararam também osempregados de Correios e Telégrafos. Os operários de diversas cidades da Rússia sereuniram em grandes atos e decidiram abandonar o trabalho. A greve ia se estendendode uma fábrica a outra, de uma empresa a outra, de uma cidade a outra, de uma aoutra região. Os funcionários públicos, os estudantes, os intelectuais (advogados,engenheiros, médicos, etc,), faziam causa comum com os operários grevistas.

A greve política de outubro se estendeu a toda a Rússia, a quase todo o país,até às comarcas mais remotas, e arrastou a quase todos os operários, até as camadasmais atrasadas. Nesta greve geral de caráter político tomou parte cerca de um milhãode homens, contando somente os operários industriais, sem incluir aos ferroviários, osempregados dos Correios e Telégrafos, nem outros setores de trabalho, que deramtambém um grande contingente de grevistas. Toda a vida do país ficou paralisada. O

governo ficou amarrado de pés e mãos.A classe operária marchava à cabeça da luta das massas populares contra a

autocracia.A consigna dos bolcheviques sobre a greve política de massas dava seus frutos.A greve geral de outubro pôs de manifesto a força, a potência do movimento

proletário, e obrigou o czar, morto de medo, a lançar sua mensagem de 17 de outubrode 1905. Nessa mensagem, o czar prometia ao povo “as bases inegociáveis dasliberdades civis: inviolabilidade pessoal efetiva, liberdade de consciência, de palavra,de reunião e de associação”. Prometia, ademais, convocar uma Duma legislativa,concedendo diretos eleitorais a todas as classes da população.

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A força da revolução se encarregou, pois, de varrer a Duma consultiva deBuliguin. A tática bolchevique de boicote contra esta Duma tinha sido correta.

Porém, a mensagem de 17 de outubro era uma manobra para enganar asmassas do povo, um despiste do czar, uma espécie de respiro que este necessitavapara atordoar os incautos, ganhar tempo, acumular forças e depois descarregar umgolpe contra a revolução. O governo czarista, embora prometesse de palavra concedera liberdade, de fato não dava nada substancial ao povo. Os operários e camponesesnão tinham recebido do governo outra coisa mais que promessas. Em vez da amplaanistia política que se esperava, em 21 de outubro foram anistiados somente umpunhado de presos políticos. Ao mesmo tempo, com o objetivo de semear a discórdiaentre as forças do povo, o governo organizou uma série de sangrentos pogromosjudeus nos que pereceram milhares e milhares de seres, e criou os bandospolicialescos “União do povo russo” e “Liga do Arcanjo São Miguel”, destinados areprimir a revolução. Estas organizações, em que os latifundiários, comerciantesreacionários, popes e alguns elementos criminosos, tinham a voz cantante, forambatizadas pelo povo com o nome de “Centúrias Negras”. Os indivíduos destas bandas,em colaboração com a polícia, espancavam e assassinavam em público aos operáriosavançados, aos intelectuais revolucionários, aos estudantes, botavam fogo nas sedesdas organizações e dissolviam a tiros as manifestações e assembléias. A isso sereduzia, no momento, o resultado da mensagem do czar.

Entre o povo circulava esta música acerca da mensagem do czar:“O czar, todo assustado, 

lançou uma mensagem:liberdade aos mortos,os vivos à cadeia”. Os bolcheviques mostravam às massas que a mensagem de 17 de outubro era

uma cilada. Denunciavam como uma provocação a conduta do governo depois de dar amensagem. Chamavam os operários a pegar em armas, a preparar a insurreiçãoarmada.

Os operários se dedicavam ainda mais energicamente a formar suas milíciasarmadas. Compreendiam claramente que aquela primeira vitória de 17 de outubro,arrancada pela greve política geral, lhes obrigava a continuar ampliando seus esforços,a seguir lutando pela derrubada do czarismo.

Lênin, avaliando a mensagem do 17 de outubro, a caracterizou como ummomento de certo equilíbrio provisório de forças, em que o proletariado e os

camponeses, tendo arrancado do czar aquela mensagem, não tinham ainda força paraderrubar o czarismo, mas este não podia já governar exclusivamente com os antigosmeios e era obrigado a prometer de palavra “liberdades civis” e uma Duma“legislativa”. 

Nos dias agitados da greve política de outubro, sob o fogo da luta contra oczarismo, a iniciativa criadora revolucionária das massas operárias forjou uma nova epoderosa arma: os Soviets de deputados operários.

Os Soviets de deputados operários, assembléias de delegados de todas asfábricas e empresas industriais, eram uma organização política de massas da classeoperária sem precedentes no mundo. Estes soviets, que aparecem pela primeira vezem 1905, seriam o protótipo do Poder Soviético, criado pelo proletariado, sob a direçãodo Partido bolchevique, em 1917. Os soviets eram uma nova forma revolucionária,

fruto da iniciativa popular. Foram criados exclusivamente pelas camadasrevolucionárias da população, jogando por terra todas as leis e normas do czarismo.Foram obra da iniciativa própria do povo, alçado contra o regime czarista.

Os bolcheviques enxergavam nos Soviets o germe do Poder revolucionário. Eentendiam que a força e a importância dos Soviets dependiam por inteiro da força e dosucesso da insurreição.

Os mencheviques não consideravam os Soviets nem como órgãos incipientes doPoder revolucionário nem como órgãos da insurreição. Viam neles, simplesmente, unsórgãos autônomos locais, uma espécie de legislativos urbanos democratizados.

Em 13 (26) de outubro de 1905, foram efetuadas em todas as fábricas eempresas industriais de Petersburgo as eleições para o Soviet de deputados operários.

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Pela noite, se realizou a primeira sessão do Soviet. Pouco depois do de Petersburgo, seorganizou o Soviet de deputados operários de Moscou.

O Soviet de deputados operários de Petersburgo, por ser o do centro industriale revolucionário mais importante da Rússia, o da capital do Império czarista, estavachamado a jogar um papel decisivo na revolução de 1905. Mas sua direção ruim, queestava em mãos dos mencheviques, lhe impediu cumprir com a sua missão. Como ésabido, naquela época Lênin não se achava ainda em Petersburgo, mas continuava noestrangeiro. Os mencheviques, se aproveitando de sua ausência, se infiltraram noSoviet de Petersburgo e se apoltronaram em sua direção. Nestas condições, não éestranho que os mencheviques Jrustaliev, Trotski, Parvus e outros conseguissem por oSoviet de Petersburgo em contra da política da insurreição. Em vez de armar osoperários e os preparar para a insurreição, o Soviet dava voltas e mais voltas sem semexer do lugar e adotava uma atitude negativa ante a preparação do movimento paraa insurreição.

Totalmente diferente foi o papel que desenvolveu na revolução o Soviet dedeputados operários de Moscou. O Soviet de Moscou levou a cabo desde os primeirosdias de sua existência uma política revolucionária conseqüente. A direção deste Sovietestava em mãos dos bolcheviques. Graças a eles, surgiu em Moscou, ao lado do Sovietde deputados operários, um Soviet de deputados soldados. O Soviet de Moscou setransformou no órgão da Insurreição armada.

Durante os meses de outubro a dezembro de 1905, se criaram Soviet dedeputados operários numa série de grandes cidades e em quase todos os centros

operários. Houve tentativas de organização de Soviets de deputados e soldados emarinheiros, e de fusão destes com os Soviets de deputados operários. Em algunslugares, surgiram Soviets de deputados operários e camponeses.

A influencia dos Soviets era imensa. Apesar de que freqüentemente tinhamaparecido de um modo espontâneo, sem estar estruturados nem ter uma composiçãocoerente, atuavam como Poder. Os Soviets implantaram via de fato a liberdade deimprensa e a jornada de 8 horas, e se dirigiram ao povo o incitando a não pagar osimpostos ao governo czarista. Em alguns casos, procediam a confiscar o dinheiro doerário czarista e o investiam nas necessidades da revolução.

 5 – A Insurreição armada de dezembro – É derrotada a insurreição – Arevolução recua – A primeira Duma de Estado – O IV Congresso (de

unificação) do Partido. A luta revolucionária das massas seguiu se desenvolvendo com uma força

enorme durante os meses de outubro e novembro de 1905. O movimento de grevesoperárias continuava seu curso.

No outono de 1905, cobrou amplas proporções a luta dos camponeses contra oslatifundiários. O movimento camponês atingia já mais de uma terceira parte dosdistritos de todo o país. Nas províncias de Sarátov, Tambov, Chernígov, Tiflís, Kutais ealgumas outras se desenvolveu uma verdadeira insurreição camponesa. E a pesardisto, o impulso das massas camponesas era ainda insuficiente. O movimentocamponês adoecia de falta de organização e de direção.

Crescia também a agitação entre as massas de soldados numa série de cidadescomo Tiflís, Vladivostok, Tashkent, Samarcanda, Kursk, Sujum, Varsóvia, Kiev e Riga.

Estourou também uma sublevação entre os marinheiros do Cronstadt e na esquadra doMar Negro, em Sebastopol (novembro de 1905). Mas, estas sublevações, isoladas,foram esmagadas pelo czarismo.

Em algumas unidades do exército e da armada, o motivo que dava origem àssublevações era, não poucas vezes, a grosseria dos oficiais, a má qualidade daalimentação. A massa dos marinheiros e soldados sublevados não tinha ainda claraconsciência da necessidade de derrubar o governo czarista e de prosseguirenergicamente a luta armada. Os soldados e marinheiros sublevados abrigavam aindaum espírito demasiado pacífico e generoso: com freqüência, cometiam o erro de porem liberdade aos oficiais detidos, ao estourar a sublevação, e se deixavam levar pelaspromessas e pelas exortações de mando.

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A revolução entrava em cheio na fase da insurreição armada. Os bolcheviqueschamavam as massas à insurreição armada contra o czar e os latifundiários eexplicavam a inevitabilidade da mesma. Sem descanso, os bolcheviques começaram apreparar a insurreição armada. Desenvolvendo seu trabalho revolucionário entre ossoldados e os marinheiros, criaram dentro do exército organizações militares doPartido. Numa série de cidades se formaram milícias armadas de operários, ensinandoa seus componentes a mexer com armas. Foi organizada a compra de armas noestrangeiro e seu transporte clandestino a Rússia. Na organização do transporte dearmas tomaram parte prestigiosos militantes do Partido.

Em novembro de 1905, retornou Lênin a Rússia. Se ocultando dos policiais eespiões czaristas, interveio pessoalmente, durante aqueles dias, na preparação dainsurreição armada. Seus artigos, publicados no jornal bolchevique Novaia Zhisn (NovaVida), davam orientações para o trabalho diário do Partido.

Naquela época, o camarada Stalin realizava um formidável trabalhorevolucionário na Transcaucásia. Desmascarava e espinafrava aos mencheviques,como inimigos da revolução e da insurreição armada, e preparava tenazmente osoperários para a luta decisiva contra a autocracia. Num ato feito em Tiflis no dia emque foi publicada a mensagem do czar, Stalin disse aos operários: “O quenecessitamos para conseguir uma verdadeira vitória? Para isto necessitamos trêscoisas: primeiro o armamento, segundo o armamento e terceiro, uma e outra vez, oarmamento”. 

Em dezembro de 1905, se reuniu em Tammerfors (Finlândia) a Conferência dos

bolcheviques. Embora, formalmente, bolcheviques e mencheviques formavam parte domesmo partido, o Partido Social-democrata, de fato representavam dois partidosdistintos, cada qual com seus órgãos centrais correspondentes. Nesta Conferência foionde se conheceram pessoalmente Lênin e Stalin. Até então, tinham mantidoconstantemente relações por intermédio de cartas ou através de camaradas.

Entre os acordos de Tammerfors há que assinalar aqui dois: um, sobre orestabelecimento da unidade do Partido, dividido em dois, e outro, sobre o boicote àprimeira Duma, a chamada Duma de Witte.

Como por aqueles dias tinha estourado já em Moscou a insurreição armada, aConferência, por conselho de Lênin, se apressou a terminar suas tarefas e osdelegados retornaram a suas respectivas localidades, para tomar parte pessoalmentena insurreição.

Mas, o governo czarista também não dormia. Ele se preparava para a luta

decisiva. Depois de concertar a paz com o Japão, aliviando com isso sua difícilsituação, o governo czarista passou à ofensiva contra os operários e os camponeses.Proclamou estado de guerra numa série de províncias, afetadas pela insurreiçãocamponesa, deu ordens brutais – “nada de prisioneiros!”, “não economizar balas!” – eordenou a prisão dos dirigentes do movimento revolucionário e a dissolução dosSoviets de deputados operários.

Os bolcheviques de Moscou e o Soviet de deputados operários nesta capital,dirigido por eles e vinculado a grandes massas operárias, acertaram realizar a imediatapreparação da insurreição armada. Em 5 (18) de dezembro, o Comitê de Moscoupropôs ao Soviet declarar a greve geral de caráter político, para depois, no transcursoda luta, transformá-la em insurreição. Este acordo foi apoiado por atos políticosoperários de massa. O Soviet de Moscou, se submetendo à vontade da classe operária,

decidiu por unanimidade declarar a greve geral política.O proletariado de Moscou contava, ao começar a insurreição, com a sua própriamilícia: cerca de mil homens, mais da metade dos quais eram bolcheviques. Existiamtambém milícias numa série de fábricas de Moscou. O número total de milicianos deque dispunham os insurgentes era de uns dois mil. Os operários contavam com quepoderiam neutralizar e dividir as tropas da guarnição, fazendo passar para seu campoa uma parte dela.

Em 7 (20) de dezembro começou a greve política em Moscou.Não foi possível, porém, que a greve se estendesse para todo o país; em

Petersburgo, não se encontrou o apoio necessário, o que contribuiu a debilitar, desde oprimeiro momento, as possibilidades de sucesso da insurreição. A estrada de ferro deNicolai (hoje de Outubro), estava em mãos do governo czarista. O tráfego nesta linha

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ferroviária não se paralisou, e o governo pode transportar de Petersburgo a Moscoualguns regimentos da Guarda para esmagar a insurreição.

O destacamento de Moscou estava vacilante. Os operários tinham lançado omovimento insurrecional, confiando, em parte no apoio do destacamento. Mas, osrevolucionários perderam tempo, e o governo czarista pode triunfar nas revoltas dodestacamento.

Em 9 (22) de dezembro levantaram-se em Moscou as primeiras barricadas. Asruas da cidade logo estiveram cobertas de barricadas. O governo czarista pôs em açãoa artilharia. Concentrou tropas, cujo número excedia numa proporção avassaladora àsforças dos revolucionários. Durante nove dias, milhares de operários armadosmantiveram uma luta heróica. Para poder afogar a insurreição, o czarismo viu-seobrigado a trazer tropas de Petersburgo, de Tver e do território Oeste. Os órgãosdirigentes do movimento tinham sido, em parte, detidos e, em parte, isolados navéspera do dia em que começou a luta. O comitê bolchevique de Moscou foi preso. Aação armada se converteu numa insurreição de distritos sem conexão entre si.Carentes de um centro de direção e sem um plano geral de luta em toda a cidade, osdistritos lutavam, fundamentalmente, na defensiva. E esta foi, como mais tarde farianotar Lênin, uma das razões principais da debilidade da insurreição de Moscou e umadas causas de seu fracasso.

A insurreição adquiriu um caráter especialmente tenaz e encarniçado no bairrode Krasnaia Presnia, em Moscou. Esse bairro era a fortaleça principal, o centro dainsurreição. Era ali onde estavam concentradas as melhores milícias, dirigidas pelos

bolcheviques. Mas foi submetida a sangue e fogo, reduzida a escombros pelosincêndios provocados pela artilharia. A insurreição de Moscou ficou esmagada.A insurreição não ficou circunscrita a Moscou. O movimento revolucionário

insurrecional se estendeu também a outras cidades e regiões, como Krasnoyarsk,Motovilizha (Perm), Novorosisk, Sormovo, Sebastopol e Cronstadt.

Também tomaram parte na luta armada as nacionalidades oprimidas da Rússia.A insurreição pegou em quase toda a Geórgia. Estourou também uma grandeinsurreição na Ucrânia, nas cidades próximas do Donetz: em Gorlovka, Alexandrovsk eLugank (hoje Voroshilovgrado). Na Letônia, a luta foi fortíssima. Na Finlândia, osoperários criaram sua guarda vermelha e se lançaram também à insurreição.

Mas, da mesma maneira que a de Moscou, todas essas insurreições foramesmagadas com uma crueldade inumana pelo czarismo.

Os mencheviques e os bolcheviques avaliaram de forma distinta a insurreição

armada de dezembro.O menchevique Plekhanov fez ao Partido, depois da insurreição armada, esta

cobrança: “Não teria que ter se levantado em armas”. Os mencheviques avaliaram quea insurreição era desnecessária e prejudicial, que nas revoluções se pode prescindir dainsurreição e que o sucesso não se consegue com insurreições armadas, mas pormeios pacíficos de luta.

Os bolcheviques consideraram esta atitude como uma traição. Eles entendiamque a experiência da insurreição armada de Moscou não fazia mais que confirmar anecessidade de uma luta armada vitoriosa da classe operária. Contestando à cobrançade Plekhanov quando dizia que “não teria que ter pegado em armas”, Lênin escreveu:“Pelo contrário, o que deveria ter sido feito é pegar em armas com mais decisão, commais energia e maior clareza, explicar às massas a impossibilidade de uma greve

puramente pacífica e a necessidade de uma luta armada intrépida e implacável”  (Lênin, t.X, pág. 50, ed. Russa).A insurreição de dezembro de 1905 marca o ponto culminante da revolução. Em

dezembro, a autocracia czarista infringiu à insurreição uma derrota. Depois do fracassoda insurreição de dezembro, começou a virada em direção ao recuo gradativo darevolução. A marcha ascendente desta cessou.

O governo czarista se apresou a se aproveitar desta derrota para estrangular arevolução. Os verdugos e os carcereiros czaristas começaram sua jornada sangrenta.Na Polônia, na Letônia, na Estônia, na Transcaucásia, na Sibéria, por todas partesfizeram estragos as expedições de castigo.

Mas a revolução ainda não estava esmagada. Os operários e os camponesesrevolucionários recuavam pouco a pouco, e lutando. Novas camadas de operários eram

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arrastadas à luta. O número de operários grevistas foi, em 1906, de mais de 1 milhão;em 1907, 740.000. No primeiro semestre do ano de 1906, o movimento camponês seestendia à cerca da metade dos distritos da Rússia czarista; no segundo semestre dedito ano, a uma quinta parte. A agitação dentro do exército e da armada continuava.

Em sua luta contra a revolução, o governo czarista não se limitou a simplesrepressão. Depois de alcançar os primeiros sucessos pela via repressiva, decidiuassestar um novo golpe à revolução, mediante a convocação de uma nova Duma,“legislativa”. Mediante esta manobra, aspirava a desviar aos camponeses da revolução,fazendo-a assim fracassar. Em dezembro de 1905, o governo czarista ditou uma leisobre a convocação de uma nova Duma, “legislativa”, diferente da antiga Duma“consultiva” de Buliguin, que tinha fracassado graças ao boicote dos bolcheviques. A leieleitoral czarista era, naturalmente, antidemocrática. As eleições não tinham carátergeral. Ficava privada do voto mais da metade da população, por exemplo: as mulherese mais de dois milhões de operários. O voto não era igual. Os eleitores se classificavamem quatro “cúrias”, como se dizia na linguagem da época: a agrária (latifundiários), aurbana (burguesia), a camponesa e a operária. As eleições não eram diretas, mas devárias etapas. De fato, o voto não era secreto. A lei eleitoral garantia um predomínioformidável na Duma a um punhado de latifundiários e capitalistas sobre os milhões deoperários e camponeses.

Com a Duma, o czar pretendia desviar as massas da revolução. Uma parteconsiderável dos camponeses acreditava, naquele tempo, na possibilidade de obter aterra por intermédio da Duma. Os kadetes, os mencheviques e os sociais

revolucionários enganavam os operários e os camponeses, lhes fazendo acreditar queera possível conseguir o regime que o povo necessitava sem insurreição e semrevolução. Para lutar contra esta enganação que se fazia contra o povo, osbolcheviques declararam e levaram a cabo a tática de boicotar a primeira Duma, emcomprimento do acordo feito na Conferência de Tammerfors.

Os operários empenhados na luta contra o czarismo exigiam, ao mesmo tempo,a unidade das forças do Partido, a unificação do Partido do proletariado. Osbolcheviques, apetrechados com o acordo de unidade realizado na Conferência deTammerfors, que já conhecemos, apoiaram esta aspiração dos operários e propuseramaos mencheviques a convocação de um Congresso de unificação do Partido. Sob apressão das massas operárias, os mencheviques não tiveram mais remédio queconcordar com a unificação.

Lênin era partidário da unificação, mas de uma unificação na qual não se

evitassem as discrepâncias referentes aos problemas da revolução. Causavam grandeprejuízo ao Partido os conciliadores (Bogdanov, Krasin e outros), com seus esforçospara demonstrar que entre os bolcheviques e os mencheviques não existiamdivergências importantes. Lutando contra os conciliadores, Lênin exigia que osbolcheviques se apresentassem no Congresso com a sua própria plataforma, para queos operários pudessem ver claramente quais eram as posições dos bolcheviques esobre que bases se operava a unificação. Os bolcheviques formularam esta plataformae a colocaram para discutir entre os membros do Partido.

Em abril de 1906 se reuniu em Estocolmo (Suécia) o IV Congresso do POSDR,que se conhece com o nome de Congresso de Unificação. Tomaram parte desteCongresso 111 delegados com voz e voto, em representação de 57 organizações debase do Partido. Ademais, assistiram a ele representantes de alguns partidos social-

democratas nacionais: 3 do “Bund”, 3 do Partido social-democrata polonês e 3 daorganização social-democrata de Letônia.Em conseqüência da repressão que se desatou contra as organizações

bolcheviques durante a insurreição de dezembro e depois dela, nem todas puderamenviar seus delegados ao Congresso. Além do que, os mencheviques tinham acolhidoem suas fileiras, durante os “dias da liberdade” do ano 1905, uma massa deintelectuais pequeno burgueses, que não tinham a menor afinidade com o marxismorevolucionário. Basta dizer que os mencheviques de Tiflis (onde havia poucos operáriosindustriais) enviaram ao Congresso o mesmo número de delegados que a organizaçãoproletária mais forte, que era a de Petersburgo. Assim se explica que no Congresso deEstocolmo, os mencheviques contassem, embora em proporção insignificante, com amaioria.

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Esta composição do Congresso determinou o caráter menchevique dos acordosaprovados nele sobre uma série de problemas.

Neste Congresso se estabeleceu uma unificação puramente formal. No fundo,bolcheviques e mencheviques continuaram mantendo suas idéias e suas organizaçõespróprias e independentes.

Os problemas mais importantes discutidos no IV Congresso foram: o problemaagrário, a apreciação do momento e das tarefas de classe do proletariado, a atitudeperante à Duma e os problemas de organização.

Apesar de ter maioria no Congresso, os mencheviques se viram obrigados, paranão se enfrentar com os operários, a reconhecer a fórmula de Lênin sobre o artigoprimeiro dos estatutos, sobre a condição de membro do Partido.

No problema agrário, Lênin defendeu a nacionalização da terra, mas só aconsiderava possível se triunfasse a revolução, se derrocasse o czarismo. Nestascondições, a nacionalização da terra facilitaria ao proletariado, em aliança com oscamponeses pobres, a passagem para a revolução socialista. A nacionalização da terraexigia a expropriação sem indenização (confisco) de toda a terra dos latifundiários emproveito dos camponeses. O programa agrário dos bolcheviques chamava oscamponeses à revolução contra o czar e os latifundiários.

Bem diferentes eram as posições dos mencheviques. Estes defendiam oprograma de municipalização. Segundo este programa, as terras dos latifundiários nãoseriam adjudicadas às comunidades camponesas, nem sequer se entregariam para seuuso, mas se colocariam à disposição dos municípios (quer dizer, dos órgãos autônomos

de administração local ou “zemstvos”). Os camponeses que quiserem terra teriam quealugá-la, cada qual de acordo com seus próprios meios.O programa menchevique de municipalização era um programa oportunista e,

por isso, pernicioso para a revolução. Não podia mobilizar aos camponeses para umaluta revolucionária, não se propunha como objetivo a supressão completa dapropriedade latifundiária. O programa menchevique implicava uma solução no meio docaminho da revolução.

O Congresso aprovou por maioria de votos o programa menchevique.Mas, onde os mencheviques botaram mais a nu seu caráter anti-proletário e

oportunista foi ao discutir a resolução apresentada sobre a apreciação do momento esobre a Duma.

O menchevique Martínov se manifestou francamente contra a hegemonia doproletariado na revolução. Contestando aos mencheviques, o camarada Stalin colocou

o problema em termos diretos: “A hegemonia do proletariado ou a hegemonia daburguesia democrática: assim é como está colocado o problema dentro do Partido e énisso que estão as nossas discrepâncias”. 

Em quanto a Duma, os mencheviques a definiam em sua resolução como omelhor meio para resolver os problemas da revolução e para liberar o povo doczarismo. Pelo contrário, os bolcheviques consideravam a Duma como um apêndiceimpotente do czarismo, como uma tela para cobrir as lacras do regime czarista e queeste cuidaria de tirar do meio assim que lhe resultasse incômodo.

Do Comitê Central do Partido eleito no IV Congresso formavam parte 3bolcheviques e 6 mencheviques. Para a redação do órgão central foram eleitosexclusivamente mencheviques.

Era evidente que a luta intestina dentro do Partido continuaria.

A luta entre bolcheviques e mencheviques recrudesceu ainda mais depois do IVCongresso. Nas organizações locais, formalmente unificadas, era muito comum que oinforme acerca do Congresso ficasse a cargo de dois oradores, um bolchevique e outromenchevique. Como resultado da discussão das duas linhas, a maioria dos membrosda organização votava, na maior parte dos casos, com os bolcheviques.

A realidade se encarregava de mostrar cada vez mais a razão dos bolcheviques.O Comitê Central menchevique eleito no IV Congresso ia revelando cada vez maisclaramente seu oportunismo e sua total incapacidade para dirigir a luta revolucionáriadas massas. Durante o verão e o outono de 1906, a luta revolucionária das massasvoltou a acirrar. Em Cronstadt e em Sveaborg se sublevaram os marinheiros.Aumentou a luta dos camponeses contra os latifundiários. E o CC menchevique soltavapalavras de ordem oportunistas, que não eram seguidas pelas massas.

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 6 – Dissolução da primeira e convocação da segunda Duma – O VCongresso do Partido – Dissolução da segunda Duma – Causas daderrota da primeira Revolução Russa.

 Como a primeira Duma não resultou ser o bastante submissa, o governo

czarista procedeu a dissolvê-la, no verão de 1906. O governo recrudesceu ainda maisa repressão contra o povo, espalhou por todo o país expedições de castigo, quesemeavam por todas as partes o terror, e proclamou sua decisão de convocar num

prazo breve a segunda Duma. O governo czarista mostrava já claramente suainsolência. Não temia a revolução porque via que esta estava em descenso.Os bolcheviques tiveram que  tomar uma decisão sobre tomar parte na segunda

Duma ou boicotá-la. E ao falar de boicote, não se referiam meramente à simplesabstenção eleitoral, mas a uma campanha de boicote ativo. Viam neste boicote ativoum meio revolucionário para pôr em guarda o povo contra as tentativas do czar dedesviá-lo do caminho revolucionário, para levá-lo ao caminho “constitucional” czaristae para organizar uma nova acometida do povo contra o czarismo.

A experiência do boicote contra a Duma buliguiniana tinha posto de manifestoque o boicote “era a única tática acertada, confirmada plenamente pelosacontecimentos” (Lênin, t.X, pág.27, ed. Russa). Aquele boicote tinha s ido coroadopelo sucesso, pois não só tinha posto o povo alerta contra os perigos que lheameaçavam pelo caminho constitucional czarista, como tinha conseguido fazerfracassar a Duma já antes de nascer. Teve sucesso, porque tinha sido posto em práticana etapa ascendente da revolução e se apoiando em seus avanços, e não na etapa dodescenso revolucionário, pois só sob as condições de auge da revolução era possívelfazer fracassar a Duma.

O boicote contra a Duma de Witte, ou seja, contra a primeira Duma, se aplicoudepois do fracasso da insurreição de dezembro; quando já o czar tinha saído vencedor,ou seja, quando já devia se supor que a revolução declinava.

“Mas, logicamente se compreende –escrevia Lênin – que esta vitória [a do czar.N da R] não podia se considerar ainda, naquele momento, como decisiva. A insurreiçãode dezembro de 1905 teve sua continuidade em toda uma série de insurreiçõesdesarticuladas e parciais dentro do Exército, e de greves, que se produziram durante overão de 1906. A palavra de ordem do boicote contra a Duma de Witte era uma

palavra de ordem de luta encaminhada a concentrar e generalizar estas insurreições” ( Lênin, t. XII, pág.20, ed. Russa).O boicote contra a Duma de Witte não conseguiu fazê-la fracassar, embora

diminuísse consideravelmente a autoridade da Duma e quebrasse a fé de uma parte dapopulação nela. E não conseguiu fazê-la fracassar, porque este boicote tinha sidolevado a cabo, como depois ficou claro, na etapa de descenso, de declive da revolução.Eis porque o boicote contra a primeira Duma, estabelecido em 1906, não teve sucesso.Em sua célebre obra intitulada “O esquerdismo, doença infantil do comunismo”, dizLênin, se referindo àquele boicote: “O boicote dos bolcheviques contra o „parlamento‟ no ano 1905 enriqueceu o proletariado revolucionário com uma experiência políticaextraordinariamente preciosa, lhe fazendo ver que, na combinação das formas legais eilegais, das formas parlamentarias e extra parlamentarias de luta é, às vezes,conveniente e até obrigatório saber renunciar às formas parlamentarias. O que

constituiu já um erro, embora não grande e facilmente corrigível, foi o boicote dosbolcheviques da Duma em 1906... Da política e dos partidos se pode dizer – com asvariantes correspondentes – o mesmo que dos indivíduos. Não é inteligente quem nãocomete erros. Homens que não cometam erros não há e nem pode haver. Inteligente équem comete erros que não são muito graves e sabe corrigi- los bem e rápido” (Lênin,t. XXV págs. 182 –183, ed. Russa).

Pelo que se refere à segunda Duma, Lênin entendia que, tendo em conta a novasituação e o descenso do movimento revolucionário, os bolcheviques “deviamsubmeter à revisão a questão do boicote da Duma” (Lênin, t. X, pág.26, ed. Russa). 

“A história ensina – escrevia Lênin – que quando se reúne a Duma, cabe apossibilidade de desenvolver uma agitação proveitosa desde seu interior e em torno

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dela, que dentro da Duma é possível levar a cabo a tática de aproximação doscamponeses revolucionários contra os kadetes” (Obra cit, pág 29).

De tudo isso se desdobra que é necessário não só saber avançar resolutamentee na linha de frente quando a revolução se encontra em sua etapa ascendente, mastambém saber recuar corretamente quando cessa a etapa ascendente da revolução,mudando de tática de acordo com as mudanças ocorridas na situação; e recuar nãoem desordem, mas de modo organizado, com serenidade, sem pânico, aproveitandoaté as menores possibilidades para salvar os quadros dos golpes do adversário,acumular forças e se preparar para um novo ataque contra o inimigo.

Os bolcheviques decidiram participar nas eleições à segunda Duma.Mas não iam a ela para intervir nas tarefas orgânicas “legislativas”, coligados

aos kadetes, como o fizeram os mencheviques, mas para utilizá-la como tribuna aoserviço da revolução.

Já o Comitê Central menchevique fez um chamado para que se fizessemacordos eleitorais com os kadetes e se os apoiasse na Duma, considerando esta comoum órgão legislativo, capaz de pôr um freio ao governo czarista.

A maioria das organizações do Partido se manifestou contra da política do CCmenchevique.

Os bolcheviques exigiram que se convocasse um novo Congresso do Partido.Em maio de 1907, se reuniu em Londres o V Congresso do Partido. Naquele

período, o P.O.S.D.R (em união com as organizações social-democrátas nacionais)contava já com 150.000 filiados. Assistiram ao Congresso, no total, 336 delegados,

deles 105 bolcheviques e 107 mencheviques. Os restantes representavam asorganizações social-democratas nacionais: a social-democracia polonesa e letona e o“Bund”, que tinham sido admitidos dentro do POSDR no Congresso anterior.  

Trotsky tentou formar nesse Congresso seu grupinho centrista, ou seja, semi-menchevique, como grupo aparte, mas ninguém se dispôs a acompanhá-lo.

Como os bolcheviques puxavam com eles os poloneses e os letões, dispunhamde uma sólida maioria no Congresso.

Um dos problemas fundamentais sobre o que girou a luta no Congresso foi odas relações com os partidos burgueses. Este problema tinha sido já objeto de lutaentre os bolcheviques e os mencheviques no II Congresso. O Congresso julgou comcritério bolchevique a todos os partidos não proletários – centúrias negras, outubristas,kadetes e social-revolucionários – e traçou frente a eles uma tática bolchevique.

O Congresso aprovou a política dos bolcheviques e aprovou manter uma luta

implacável tanto contra os partidos das centúrias negras – a “União do Povo Russo”, osmonarquistas, o Conselho da nobreza unificada – como contra a “União de 17 deOutubro” (outubristas), o partido comercial industrial e o partido da “RenovaçãoPacífica”, partidos todos claramente contra-revolucionários.

Em relação à burguesia liberal, ao partido kadete, o Congresso preconizou umaluta irreconciliável de denúncia contra ele. Aprovou que era necessário desmascarar o“democratismo” hipócrita e farisaico do partido kadete e lutar contra as tentativas daburguesia liberal de se pôr à cabeça do movimento camponês.

No que se refere aos partidos chamados populistas ou do trabalho (socialistaspopulares, agrupação do trabalho e social-revolucionários), o Congresso recomendavaque se desmascarassem suas tentativas de se fantasiarem de socialistas. Ao mesmotempo, admitia a possibilidade de estabelecer acordos concretos com estes partidos

para lutar conjunta e simultaneamente contra o czarismo e contra a burguesia kadete,já que aqueles partidos eram, naquela época, democráticos e refletiam os interessesda pequena burguesia da cidade e do campo.

Já antes de acontecer o Congresso, os mencheviques tinham lançado aproposta de convocar um chamado “congresso operário”. O plano mencheviqueconsistia em convocar um congresso no qual tomassem parte, com os social-democratas, os social-revolucionários e os anarquistas. Pretendia-se que o talcongresso “operário” criasse uma espécie de “partido sem partido” ou uma espécie de“amplo” partido operário pequeno-burguês, sem nenhum programa. Lênindesmascarou esta perniciosa tentativa dos mencheviques, que ia encaminhada aliquidar o Partido Operário Social-democrata e a diluir o destacamento de vanguarda

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da classe operária entre a massa pequeno-burguesa. O Congresso condenouenergicamente a consigna menchevique do “congresso operário”. 

Nas deliberações do V Congresso do Partido teve um lugar especial o problemados sindicatos. Os mencheviques defendiam a “neutralidade” dos sindicatos, ou seja,se manifestaram contra o papel dirigente do Partido no movimento sindical. OCongresso rejeitou a proposta dos mencheviques e aprovou a resolução sobre ossindicatos apresentada pelos bolcheviques. Nesta resolução se assinalava que devia selutar para conseguir que a direção ideológica e política dos sindicatos estivessem emmãos do Partido.

O V Congresso assinalou um grande triunfo dos bolcheviques no movimentooperário. Mas os bolcheviques não se deixaram levar pela soberbia, nem dormiram noslouros. Não era isso o que Lênin ensinava. Sabiam que teriam que continuar lutandocontra os mencheviques.

Em seu artigo “Apontamentos de um delegado”, publicado em 1907, ocamarada Stalin avaliava assim os resultados do Congresso: “A unificação efetiva dosoperários mais avançados de toda a Rússia num único partido que abrangesse o paístodo, sob a bandeira da social-democracia revolucionária: eis aqui o objetivo doCongresso de Londres, seu caráter geral”. 

Nesse artigo, o camarada Stalin fornece dados sobre a composição doCongresso. Os delegados bolcheviques representavam, fundamentalmente, os grandescentros industriais (Petersburgo, Moscou, região dos Urais, Ivanovo-Vosnesensk eoutros). Os mencheviques foram ao Congresso representando as regiões de pequena

produção nas que predominavam os operários artesanais, os semi-proletários, assimcomo também a uma série de regiões puramente camponesas.“É evidente – dizia o camarada Stalin, fazendo o balanço do Congresso – que a

tática dos bolcheviques é a tática dos proletários da grande indústria, a tática dasregiões onde as contradições de classe aparecem mais nítidas e a luta de classes émais acirrada. O bolchevismo é a tática dos autênticos proletários. E, de outra parte,não é menos evidente que a tática dos mencheviques é, predominantemente, a táticados operários artesãos e dos semi-proletários camponeses, a tática de aquelas regiõesem que os antagonismos de classe aparecem velados e a luta de classes dissimulada.O menchevismo é a tática dos elementos semi-burgueses do proletariado. Assim oindicam os números” ( Atas do V Congresso do POSDR, págs. XI e XII, 1935).

Depois de dissolver a primeira Duma, o czar acreditou ter na segunda uminstrumento mais dócil. Mas esta também não satisfez suas esperanças. Em vista

disso, decidiu dissolver também esta Duma e convocar a terceira, restringindo aindamais os direitos eleitorais, na esperança de ter nela um instrumento mais submisso.

Pouco depois do V Congresso do Partido, o governo czarista deu o chamadogolpe de Estado de 3 de junho de 1907, dissolvendo a segunda Duma. A fração social-democrata da Duma, composta de 65 deputados, foi detida e deportada a Sibéria.Ditou-se uma nova lei eleitoral. Os direitos dos operários e camponeses sofreramnovas restrições. O governo czarista continuava atacando.

O ministro czarista Stolypin organizava sua sangrenta repressão contra osoperários e camponeses. Milhares de operários e camponeses revolucionários morriamfuzilados ou enforcados pelos destacamentos de castigo. Nas prisões czaristas eramtorturados e martirizados milhares de revolucionários. As organizações operárias,sobre tudo as de tendência bolchevique, eram perseguidas com uma crueldade

especial. Os policiais czaristas buscavam o rastro de Lênin, que vivia clandestinamentena Finlândia. Queriam cravar sua garra sangrenta no chefe da revolução. Em dezembrode 1907, enfrentando um enorme perigo, Lênin conseguiu se trasladar de novo aoestrangeiro, emigrando.

Começaram os terríveis anos da reação stolypiniana.A primeira revolução russa tinha acabado, pois, com uma derrota.Para isso contribuíram as seguintes causas:1.  A revolução não contava ainda com uma sólida aliança dos operários e

os camponeses contra o czarismo. Os camponeses se puseram de pé para lutar contraos latifundiários, contra os quais estavam decididos a se aliar com os operários. Mas,ainda não compreendiam que era impossível derrubar aos latifundiários sem derrubaro czar, não compreendiam que este fazia causa comum com aqueles, e tinha uma

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parte considerável de camponeses que ainda acreditava no czar e que botava suasesperanças na Duma czarista. Por isso, muitos camponeses não quiseram se aliar aosoperários para derrubar o czarismo. Os camponeses tinham mais fé no partidooportunista dos social-revolucionários que nos verdadeiros revolucionários, nosbolcheviques. Como resultado disto, a luta dos camponeses contra os latifundiários nãochegou a adquirir a suficiente organização. Lênin escrevia: “...os camponeses atuaramdemasiado espalhados, demasiado desorganizadamente e com insuficiente brio naofensiva, sendo esta uma das causas cardinais da derrota da revolução” ( Lênin, t. XIX,pág. 354, ed. Russa).

2.  A resistência de uma parte considerável dos camponeses para marcharde acordo com os operários pela derrubada do czarismo se deixou sentir também naconduta do exército formado, em sua maioria, por filhos de camponeses vestidos como uniforme militar. Em algumas unidades isoladas do exército czarista se produzirammotins e sublevações, mas a maioria dos soldados continuou ajudando o czar a afogaras greves e a insurreição dos operários.

3.  Os operários também não atuaram com a suficiente unanimidade. Osdestacamentos de vanguarda da classe operária desenvolveram em 1905 uma heróicaluta revolucionária. Mas as camadas mais atrasadas – os operários das provínciasmenos industriais, aqueles que viviam nas aldeias – se punham em movimento maislentamente. Sua participação na luta revolucionária se intensificou especialmente em1906, mas naquela época já a vanguarda da classe operária se encontravaconsideravelmente debilitada.

4.  Embora a classe operária era a força de vanguarda, a força fundamentalda revolução, dentro das fileiras do Partido da classe operária não existiam a unidade ea coesão necessárias. O POSDR, o Partido da classe operária se encontrava divididoem dois grupos: o dos bolcheviques e o dos mencheviques. Os bolcheviquesmantinham uma linha conseqüentemente revolucionária e chamavam aos operáriospara derrubar o czarismo. Os mencheviques, com sua tática oportunista brecavam arevolução, semeavam a confusão entre uma parte considerável dos operários e oproletariado. Por isso, os operários não atuaram sempre na revolução de uma formaunânime, e a classe operária, por carecer ainda de unidade dentro de suas própriasfileiras, não pode se constituir ainda em verdadeiro chefe da revolução.

5.  A autocracia czarista contava, para afogar a revolução de 1905, com aajuda dos imperialistas do ocidente da Europa. Os capitalistas estrangeiros temiam porseus capitais investidos na Rússia e por suas fabulosas ganâncias. Ademais, temiam

que, se triunfasse na Rússia a revolução, os operários de outros países também selançassem a ela. Isso é o que moveu aos imperialistas da Europa ocidental a ajudar oczar-verdugo. Os banqueiros da França lhe concederam um grande empréstimo paraesmagar a revolução. O imperador da Alemanha tinha preparado um exército demuitos milhares de homens para intervir em ajuda do czar da Rússia.

6.  Uma ajuda importante para o czar foi a paz com o Japão, concertada emsetembro de 1905. Sua derrota na guerra e os avanços ameaçadores da revoluçãoobrigaram o czar a apressar a assinatura da paz. A derrota na guerra russo-japonesatinha quebrado o czarismo, mas a assinatura da paz fortaleceu a situação do czar.

  

RESUMO

   A primeira revolução russa representa toda uma etapa histórica nodesenvolvimento da Rússia. Esta etapa histórica consta de dois períodos. No primeiroperíodo, a revolução, aproveitando-se do debilitamento do regime czarista, derrotadonos campos da Manchúria, continua sua marcha ascendente e passa da greve geral decaráter político, em outubro, à insurreição armada, em dezembro; varre a Dumabuliguiniana e arranca ao czar uma concessão após a outra. No segundo período, oczar depois de se refazer, graças à assinatura da paz com o Japão, se aproveita domedo da burguesia liberal à revolução e das vacilações dos camponeses, joga a estescomo uma gorjeta a Duma de Witte e passa à ofensiva contra a classe operária e arevolução.

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Os três anos que, pouco mais ou menos, durou a revolução (1905 a 1907)foram, para a classe operária e os camponeses, uma escola tão fecunda de educaçãopolítica como não poderiam ter sido trinta anos de desenvolvimento pacífico e normal.O que não tinham conseguido fazer ver dezenas de anos de desenvolvimento pacífico,o fizeram ver claramente esses poucos anos de revolução.

A revolução pôs de manifesto que o czarismo era o inimigo jurado do povo, queo czarismo era como o corcunda a quem só o túmulo endireita.

A revolução ensinou que a burguesia liberal não buscava seu aliado no povo,mas no czar; que era uma força contra-revolucionária, e que fazer acordo com elaequivalia a trair o povo.

A revolução ensinou que o chefe da revolução democrático-burguesa só podiaser a classe operária, que só ela era capaz de despejar a burguesia liberal, aoskadetes, de emancipar aos camponeses de sua influencia, de esmagar aoslatifundiários, de levar a revolução até seu término e de limpar o caminho para osocialismo.

A revolução ensinou, finalmente, que, apesar de suas vacilações, oscamponeses trabalhadores são a única força importante capaz de se aliar com a classeoperária.

Durante a revolução lutaram dentro do POSDR duas linhas políticas: a dosbolcheviques e a dos mencheviques. Os bolcheviques davam rumo ao desenvolvimentoda revolução, à derrubada do czarismo pela via da insurreição armada, à hegemoniada classe operária, ao isolamento da burguesia kadete, à aliança com os camponeses,

à formação de um governo provisório revolucionário de representantes dos operários edos camponeses, ao desenvolvimento da revolução até a vitória final. Pelo contrário, oroteiro que seguiam os mencheviques era o do amortecimento da revolução. Em vez da derrubada do czarismo através da insurreição, preconizavam sua reforma e“melhoria”; em vez da hegemonia do proletariado, a hegemonia da burguesia liberal;em vez de um governo provisório revolucionário, a Duma, como centro das “forçasrevolucionárias” do país.   Assim foi como os mencheviques se afundaram na lama do oportunismo, setransformando em veículo da influência burguesa sobre a classe operária e passando aser, de fato, agentes da burguesia no campo proletário.

Os bolcheviques demonstraram ser a única força marxista revolucionária quehavia no partido e no país.

Como é lógico, depois de se produzir discrepâncias tão graves, o POSDR

apareceu, de fato, dividido em dois partidos, o partido bolchevique e o partidomenchevique. O IV Congresso não fez mudar em nada a situação de fato existentedentro do Partido. Não fez mais que manter e afiançar um pouco a sua unidade formal.O V Congresso representou um passo a frente no sentido da unificação efetiva dopartido, unificação que, ademais, se levou a cabo sob a bandeira bolchevique.

Fazendo o balanço do movimento revolucionário, o V Congresso do Partidocondenou a linha menchevique como uma linha oportunista e aprovou a linhabolchevique, como a linha marxista revolucionária. Com isto, confirmou, uma vez mais, o que havia sido já confirmado por toda a marcha da primeira revolução russa.  A revolução pôs de manifesto que os bolcheviques sabem avançar quandoassim o exige a situação, e que sabem avançar em vanguarda levando com eles opovo ao assalto. Mas destacou, assim mesmo, que os bolcheviques sabem também

recuar ordenadamente, quando a situação toma um caráter desfavorável, quando arevolução declina; que sabem recuar certeiramente, sem pânico e sem precipitação,para manter protegidos seus quadros, acumular forças e, depois de se refazer deacordo a nova situação, se lançar de novo ao ataque contra o inimigo.

Não é possível vencer o inimigo, se não se sabe atacar certeiramente.Não é possível evitar um descalabro em caso de derrota, se não se sabe

retroceder certeiramente, recuando sem pânico e em perfeita ordem.    

CAPÍTULO IV 

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Mencheviques e Bolcheviques Durante o Período da ReaçãoStolypiniana. Os Bolcheviques Constituem-se Partido Marxista

Independente (1908 – 1912) 

1. A reação stolypiniana - Surge a decomposição entre as capasintelectuais da oposição - A decadência - Uma parte dos intelectuais doPartido passa para o campo dos inimigos do marxismo e tenta revisar a

teoria marxista - Lênin responde aos revisionistas com o seu livro"Materialismo e empiriocriticismo", defendendo os fundamentos teóricosdo Partido marxista. 

A II Duma de Estado foi dissolvida pelo governo czarista a 3 de junho de 1907.É o que se convencionou de chamar, na história, de golpe de Estado de 3 de junho. Ogoverno czarista fez uma nova lei sobre o modo de eleição para a III Duma de Estado,violando assim o que ele próprio declarara a 17 de outubro de 1905, pois nos termosdesse manifesto só deviam se promulgar novas leis com o consentimento da Duma. Osmembros da fração social-democrata da II Duma foram levados a tribunal; osrepresentantes da classe operária foram presos uns, e outros deportados.

A nova lei eleitoral tinha sido estabelecida de tal maneira que aumentavabastante o numero de representantes dos proprietários rurais e da burguesia comercial

e industrial na Duma. Por outro lado, o número de representantes dos camponeses edos operários, já muito reduzido, diminuía ainda mais.

Pela sua composição, a III Duma foi uma Duma de Centúrias Negras e decadetes. Num total de 442 deputados, havia 171 homens de direita (CentúriasNegras), 113 outubristas e membros de grupos semelhantes, 101 cadetes e membrosde grupos vizinhos, 13 trudoviques e 18 social-democratas.

Os homens de direita (assim chamados porque se sentavam do lado direito daassembléia) eram os piores inimigos dos operários e dos camponeses; eram oslatifundiários feudais ultra-reacionários que tinham espancado e fuzilado em massa oscamponeses quando a atividade do campesinato tinha sido reprimida, que tinhamorganizado os pogromos contra os judeus, as matanças dos manifestantes operários, oincêndio selvagem dos locais onde se realizavam comícios nos dias da revolução. Os

homens de direita defendiam a mais feroz repressão dos trabalhadores e o poderilimitado do czar, contra o que se afirmava no manifesto czarista de 17 de Outubro de1905.

O partido outubrista, ou “União de 17 de Outubro”, aproximava-se muito dadireita. Os outubristas representavam os interesses do grande capital industrial e dosgrandes proprietários rurais que dirigiam as suas fazendas pelos métodos capitalistas(no início da revolução de 1905, uma parte considerável dos cadetes, grandesproprietários rurais, tinha-se juntado aos outubristas). Uma única diferença distinguiaos outubristas dos homens de direita: aqueles se pronunciavam – mas apenas empalavras – a favor do manifesto de 17 de Outubro. Os outubristas apoiavaminteiramente, na prática, tanto a política interna como a política externa do governoczarista.

Os cadetes, ou partido “constitucional-democrata”, dispunham de menos

lugares na III Duma do que nas anteriores. Isto se devia ao fato de uma parte dosvotos dos proprietários rurais ter passado dos cadetes para os outubristas.Havia na III Duma um grupo pouco numeroso de democratas pequeno-

burgueses ditos trudoviques. Estes oscilavam entre os cadetes e a democracia operária(os bolcheviques). Lênin afirmava que apesar da sua extrema fraqueza na Duma, ostrudoviques representavam as massas camponesas. As oscilações dos trudoviquesentre os cadetes e a democracia operária eram o resultado inevitável da situação declasse dos pequenos proprietários. Lênin atribuia aos deputados bolcheviques, àdemocracia operária, a tarefa “de auxiliar os fracos democratas pequeno-burgueses,de libertá-los da influencia dos liberais, de formar um campo da democracia contra os

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cadetes contra-revolucionários e não simplesmente contra as direitas...” (Lênin, ObrasEscolhidas, t.l, p. 651).

Durante a revolução de 1905 e, sobretudo depois da sua derrota, os cadetesafirmaram-se cada vez mais como uma força contra-revolucionária. Passaram arejeitar mais deliberadamente a máscara “democrática” e a agirem como verdadeirosmonarquistas defensores do czarismo. Em 1909, um grupo de célebres escritorescadetes publicou uma antologia intitulada Vekhi (Marcos) na qual os cadetes, em nomeda burguesia, agradeciam ao czarismo ter esmagado a revolução. Servilmenteinclinados perante o governo do chicote e da forca, os cadetes escreviam com todas asletras que era necessário “agradecer a este poder que, com as suas baionetas e assuas prisões, é ainda o único a nos proteger („nós‟ significa aqui a burguesia liberal)contra o furor popular”.  

Depois de ter dissolvido a II Duma de Estado e reprimido a fração social-democrata, o governo czarista empreendeu a destruição das organizações políticas eeconômicas do proletariado. Os campos de trabalhos forçados, as fortalezas e oslugares de deportação estavam abarrotados de revolucionários. Estes eram submetidosa terríveis castigos e torturas nas prisões. O terror das Centúrias Negras abatia-se emtodo o país. O ministro czarista Stolypin encheu de forcas e patíbulos todo o país.Milhares de revolucionários foram executados. A forca era chamada, naquela época, de"gravata stolypiniana".

Mas, na sua obra de extermínio do movimento revolucionário dos operários ecamponeses, o governo czarista não podia se limitar simplesmente a organizar

repressões, expedições de castigo, fuzilamentos e prisões em massa. O governoczarista enxergava alarmado que a fé ingênua dos camponeses no "paizinho czar" ia sedissipando cada vez mais. Isto lhe fez recorrer a uma manobra de grandeenvergadura, apelando à  armadilha de criar uma forte base no campo, sob a forma deuma numerosa classe de burgueses camponeses, de kulaks.

Em 9 de novembro de 1906, Stolypin ditou uma nova lei agrária, dando normaspara que os camponeses pudessem sair da comunidade rural e se estabelecer empovoados. A lei agrária de Stolypin destruía o regime comunal de posse da terra. Cadacamponês podia pegar em propriedade pessoal a terra que lhe correspondia, seseparando da comunidade. Além disso, podia vender sua parte, coisa que antes nãoera permitido. A comuna ficava obrigada a conceder aos camponeses que saíssem dacomunidade toda a terra, num mesmo sitio (casario, chácara).

Isto permitia aos camponeses ricos, aos kulaks, comprar por pouco dinheiro as

terras dos camponeses menos abastados. Aos poucos anos de ter sido ditada esta lei,tinham ficado completamente privados de terras e arruinados mais de um milhão decamponeses humildes. À custa deles, foram se criando as casas e fazendas dos kulaks,que, às vezes, eram verdadeiras fazendas de latifundiários, nas que se empregava otrabalho assalariado em abundância, a mão de obra de diaristas. O governo obrigavaos camponeses a segregar da comunidade as melhores terras, para entregá-las aoskulaks.

E assim, como ao se decretar a "libertação" dos camponeses os latifundiáriostinham roubado a estes suas terras, agora os kulaks começaram a roubar as terras dacomunidade, ficando com as melhores parcelas e comprando por mixaria os lotes doscamponeses pobres.

O governo czarista concedeu aos kulaks grandes empréstimos para lhes ajudar

a comprar terras e a formar seus conjuntos de casas. O plano de Stolypin era fazer doskulaks pequenos latifundiários, nos quais a autocracia czarista tivesse verdadeirosdefensores.

Em nove anos (de 1906 a 1915), se separam do regime comunal mais de doismilhões de propriedades camponesas.

O regime stolypiniano piorou ainda mais a situação dos camponeses humildes edos pobres do campo. O processo de diferenciação da massa camponesa se acentuou.Começaram os choques entre os camponeses e os kulaks dos casarios.

Ao mesmo tempo, os camponeses começaram a compreender que nãoconseguiriam recuperar as terras dos latifundiários, enquanto existissem o governoczarista e uma Duma composta por latifundiários e cadetes.

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Ao início, durante os anos em que se intensificou o processo de separação doscamponeses do regime comunal para se estabelecer em casarios (1907-1909), omovimento camponês foi em descenso, mas logo, em 1910-1911 e depois, os choquesentre os membros da comunidade e os donos de casarios fizeram que o movimentocamponês contra os latifundiários e os kulaks dos casarios recrudescesse.

Ainda no terreno industrial se operaram, depois da revolução, mudançasconsideráveis. Acentuou-se razoavelmente a concentração da indústria, ou seja, oincremento das empresas e sua acumulação em mãos de grupos capitalistas cada vezmais fortes. Já antes da revolução de 1905, tinham começado os capitalistas a seorganizar em agrupações para elevar os preços das mercadorias dentro do país,destinando os lucros conseguidos deste modo a um fundo de fomento das exportações,com o objetivo de poder lançar as mercadorias ao mercado exterior a preços baixos econquistar assim os mercados estrangeiros. Estas agrupações organizadas peloscapitalistas (monopólios) se chamavam trustes ou consórcios. Depois da revolução, onúmero de trustes e consórcios capitalistas foi aumentando. Aumentou também onúmero dos grandes bancos, crescendo a importância destes na indústria. E cresceuda mesma maneira a afluência dos capitais estrangeiros para a Rússia.

Por tanto, o capitalismo, na Rússia, ia se convertendo cada vez mais em umcapitalismo monopolista, imperialista.

Depois de vários anos de paralisia, a indústria voltava a se reanimar: a extraçãode carvão e de petróleo aumentava, a quantidade de metal produzido aumentava, aprodução de tecidos e de açúcar crescia. A exportação de trigo tomava fortes

proporções.Mas, embora durante este período a Rússia tivesse feito alguns progressos noque diz respeito a sua indústria, continuava sendo um país atrasado, em comparaçãocom a Europa ocidental, e dependia do capitalismo estrangeiro. Não existia dentro dopaís uma produção de maquinaria industrial: havia que importar todas as máquinas.Não existia tampouco a indústria automobilística, nem a indústria química, nem seproduziam abonos minerais. Na indústria do armamento, a Rússia ia também à zagados demais países capitalistas.

Assinalando o baixo nível de consumo de metais na Rússia como sinal de seuatraso, Lênin escrevia: "Meio século depois da libertação dos camponeses, o consumode ferro na Rússia tem se quintuplicado, e a pesar disso, a  Rússia continua sendo umpaís incrivelmente, insolitamente atrasado, miserável e semi-selvagem, quatro vezespior apetrechado de instrumentos modernos de produção que Inglaterra, cinco vezes

pior que a Alemanha e dez vezes pior que os Estados Unidos" ( Lênin, t. XVI, pág. 543,ed. russa).

Conseqüência direta do atraso econômico e político da Rússia era a dependênciaem que, tanto o capitalismo russo como o próprio czarismo, se encontrava em relaçãoao capitalismo da Europa ocidental. 

Esta dependência se mostrava no fato de que setores importantíssimos daEconomia nacional como o carvão, o petróleo, a indústria elétrica e a metalurgiaestivessem em mãos do capital estrangeiro, e de que quase toda a maquinaria e todaa instalação industrial que necessitava a Rússia czarista tivessem que ser importadas.

Revelavam-se nos avassaladores empréstimos estrangeiros, cujos interessespagava o czarismo, espremendo todos os anos a população em centenas e centenas demilhões de rublos.

Aparecia nos tratados secretos com os "aliados", nos quais o czarismo secomprometia a enviar, em caso de guerra, milhões de soldados russos às frentesimperialistas, para apoiar os "aliados" e defender as fabulosas ganâncias doscapitalistas anglo-franceses.

Os anos da reação stolypiniana se caracterizaram, especialmente, pelos assaltosde gangues da gendarmeria e da polícia, dos provocadores czaristas e dos assassinosdas bandas negras contra a classe operária. Mas, não eram só os esbirros czaristas osque torturavam e perseguiam os operários. Não ficavam para trás, neste terreno, ospatrões das fábricas e oficinas, cuja ofensiva contra a classe operária recrudesceuespecialmente durante os anos de estagnação industrial e de intensa paralisia. Ospatrões declaravam "locautes" em massa e levavam "listas negras", nas que figuravamos operários conscientes que haviam tomado parte ativa nas greves. Os que apareciam

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nas "listas negras" não encontravam trabalho em nenhuma das empresas alistadas naassociação patronal da indústria correspondente. O salário sofreu já em 1908 umaqueda de 10 a 15 por cento. A jornada de trabalho foi prolongada em todas partespara até 10 e 12 horas. Voltava a florescer o sistema de latrocínio em forma demultas.

A derrota da revolução de 1905 produziu o desmoronamento e a decomposiçãoentre os que tinham aderido circunstancialmente à revolução. Onde mais se notava adecomposição e a decadência era entre os intelectuais. Os "companheiros de viagem",que tinham se passado às fileiras revolucionárias desde o campo da burguesia duranteo período de avanço avassalador da revolução, se separaram do Partido ao chegar àetapa reacionária. Uma parte deles passou ao campo dos inimigos descarados darevolução, outros se refugiaram nas organizações legais da classe operária que saíramindenes da repressão e se esforçavam em desviar o proletariado da sendarevolucionária e em desacreditar o Partido revolucionário do proletariado. Afastando-seda revolução, os antigos revolucionários de circunstâncias procuravam se adaptar àreação e viver em paz com o czarismo.

O governo czarista se aproveitou da derrota da revolução para puxar para seulado, como agentes provocadores, aos desertores da revolução mais covardes e maisarrivistas. Estes vis e repugnantes delatores e provocadores, destacados pela"okhrana" czarista entre os operários e nas organizações do Partido, espreitavamdesde dentro e entregavam os revolucionários a seus verdugos.

A ofensiva da contra-revolução se desenvolvia também no frente ideológico.

Surgiu toda uma multidão de escritores de moda, que "criticavam" e "desacreditavam"o marxismo, que cuspiam na revolução e zombavam dela, glorificando a traição eelogiando a perversão sexual sob o nome de "culto à personalidade".

No campo da filosofia, se multiplicavam as tentativas de "criticar", de revisar omarxismo, e surgiam também todo gênero de correntes religiosas, envolvidas emargumentos pretensamente "científicos".

A "crítica" do marxismo se pôs de moda.Apesar da grande diversidade de suas tendências, todos estes senhores

perseguiam uma finalidade comum: desviar as massas da revolução.A falta de perspectiva e de fé se apoderou também de uma parte dos

intelectuais do Partido que, ainda se considerando marxistas, jamais tinham mantidofirmeza nas posiciones do marxismo. Entre eles figuravam escritores como Bogdanov,Basarov, Lunacharski (que em 1905 tinham aderido aos bolcheviques) e como

Yushkevich e Valentinov (mencheviques). Estes intelectuais espalhavam sua "crítica"ao mesmo tempo contra os fundamentos filosófico-teóricos do marxismo, ou seja,contra o materialismo dialético, e contra seus fundamentos histórico-científicos, ouseja, contra o materialismo histórico. Esta crítica se distinguia da corriqueira em quenão se desenvolvia de uma forma sincera e honrada, mas velada e hipócrita, apretexto de "defender" as posições fundamentais do marxismo. "Nós - diziam estes„críticos‟ - somos essencialmente marxistas, mas queremos „melhorar‟ o marxismo,depurá-lo de algumas teses fundamentais". Em realidade, eram inimigos do marxismo,pois aspiravam a socavar seus cimentos teóricos, embora de palavra negassemhipocritamente sua hostilidade contra ele e continuassem se chamando, em seucinismo, marxistas. O perigo desta crítica farisaica consistia em que com ela sepretendia enganar os militantes do Partido que podiam ser levados à confusão. E

quanto mais hipócrita fosse este trabalho de crítica por baixo do pano dosfundamentos teóricos do marxismo, mais perigosa era para o Partido, pois seidentificava em cheio com a campanha geral empreendida pela reação contra o Partidoe contra a revolução. Uma parte dos intelectuais (o grupo dos chamados"procuradores" ou "construtores de Deus"), que havia desertado do marxismo, chegouinclusive a predicar a necessidade de criar uma nova religião.

Aos marxistas se colocava a tarefa irrecusável de dar a esses degenerados umaresposta precisa no campo da teoria do marxismo, de lhes tirar a máscara edesmascará-los por inteiro, defendendo, deste modo, os fundamentos teóricos doPartido marxista.

Podia se pensar que Plekhanov e seus amigos mencheviques a tomariam emsuas mãos, já que se consideravam a sim mesmos como "célebres teóricos marxistas".

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Mas, preferiram limitar-se a escrever, para manter a aparência, um par de artigos decrítica de folhetim e depois saíram pela tangente.

Foi Lênin quem peitou e levou à prática esta empresa, com o seu famoso livro"Materialismo e Empiriocriticismo", publicado em 1909.

"Em menos de meio ano - escrevia Lênin nesta obra - viram a luz quatro livrosconsagrados fundamental e quase exclusivamente a atacar o materialismo dialético.Entre eles, e em primeiro lugar, figura o intitulado „Apontamentos sobre (contra, é oque deveria dizer) a filosofia do marxismo‟, São Petersburgo, 1908; uma coleção deartigos de Basarov, Bogdanov, Lunacharski, Berman, Helfond, Yushkevich e Suvorov.Depois vieram os livros de Yushkevich, „O materialismo e o realismo crítico‟; Berman,„A dialética à luz da moderna teoria do conhecimento‟ e Valentinov, „As construçõesfilosóficas do marxismo‟. Todos esses indivíduos unidos - apesar das profundasdiferenças que há entre suas idéias políticas - pela sua hostilidade ao materialismodialético, pretendem, ao mesmo tempo, se fazer passar, em filosofia, por marxistas! Adialética de Engels é um „misticismo‟, disse Berman; as idéias de Engels ficaram„antiquadas‟, exclama Basarov de passagem, como algo que não necessita dedemonstração; o materialismo é refutado por nossos valentes paladinos, que seremetem orgulhosamente à „moderna teoria do conhecimento‟, à „novíssima filosofia‟ (ou ao „novíssimo positivismo‟), à „filosofia das modernas ciências naturais‟ e inclusiveà „filosofia das ciências naturais do século XX‟” (Lênin, t. XIII, pág. 11, ed. russa).

Contestando a Lunacharski, que, na pretensão de justificar a seus amigos, osrevisionistas no campo filosófico, dizia: "Tal vez nos equivoquemos, mas indagamos",

escrevia Lênin:  “Pelo que se refere a mim, também eu sou, em filosofia, umindagador. Nestes apontamentos (trata-se da obra “Materialismo e Empiriocriticismo”.N. da R.), me propus como tarefa indagar aonde vieram parar estes indivíduos quepregam, sob o nome de marxismo, algo incrivelmente caótico, confuso e reacionár io” (Obra citada, pág. 12).

Porém, na realidade, o livro de Lênin ia muito além do âmbito desta modestatarefa. Na realidade, este livro não é somente uma crítica de Bogdanov, Yuschkevich,Basarov, Valentinov e seus mestres filosóficos, Avenarius e Mach, que em suas obrastentavam ensinar um refinado e polido idealismo, contrapondo-o ao materialismomarxista. O livro de Lênin é, além disso, uma defesa dos fundamentos teóricos domarxismo, do materialismo dialético e do materialismo histórico; um apanhadomaterialista dos descobrimentos mais importantes e essenciais da ciência em geral e,sobretudo, das ciências naturais, durante um período histórico inteiro, que vai desde a

morte de Engels até o aparecimento da obra “Materialismo e Empiriocriticismo”.  Depois de criticar e rebater completamente os empiriocriticistas russos e seus

mestres estrangeiros, Lênin chega, em seu livro, às seguintes conclusões contra orevisionismo teórico-filosófico:

1) “Uma falsificação e o disfarce cada vez mais sutis das doutrinasantimaterialistas do marxismo: tal é o que caracteriza o revisionismo moderno, tantono campo da Economia política como nos problemas de tática e no campo da filosofiaem geral” (Obra citada, pág. 270). 

2) “Toda a escola de Mach e Avenarius tende ao idealismo” (Obra citada, pág.291).

 3) “Nossos machistas estão todos empapados de idealismo” (Obra citada, pág.282).

 4) “Detrás do escolasticismo gnoseológico do empiriocriticismo não se podedeixar de ver a luta dos partidos na filosofia, luta que reflete, em última instância, astendências e a ideologia das classes inimigas dentro da sociedade moderna”. (Obracitada, pág. 292).

 5) “O papel objetivo, de classe do empiriocriticismo se reduz de modo absolutoa servir aos fideístas (reacionários que antepõem a fé à ciência) (N. da R.) em sua lutacontra o materialismo em geral e contra o materialismo histórico em particular” (Obracitada, pág. 292).

 6) “O idealismo filosófico é o caminho para o obscurantismo clerical” (Obracitada, pág. 304).

Para poder julgar a enorme importância que esta obra de Lênin tem na históriado Partido bolchevique, e compreender a riqueza teórica que defendia Lênin contra

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todos e cada um dos revisionistas e degenerados do período da reação stolypiniana, énecessário deter-se a examinar, ainda que seja brevemente, os fundamentos domaterialismo dialético e histórico.

Este exame é tanto mais necessário uma vez que o materialismo dialético e omaterialismo histórico constituem a base teórica do comunismo, as bases teóricas doPartido marxista, e todo militante ativo do Partido Comunista é obrigado a conhecerestes fundamentos teóricos e assimilá-los.

Assim, pois:1) Que é o materialismo dialético?2) Que é o materialismo histórico?

 2 – Sobre o Materialismo Dialético e o Materialismo Histórico. 

O materialismo dialético é a concepção filosófica do Partido marxista-leninista.Chama-se materialismo dialético, por que seu modo de abordar os fenômenos danatureza, seu método de estudar estes fenômenos e de concebê-los é dialético; e suainterpretação dos fenômenos da natureza, seu modo de analisá-los, sua teoria,materialista.  

O materialismo histórico é a aplicação dos princípios do materialismo dialéticoao estudo da vida social, aos fenômenos da vida da sociedade, ao estudo desta e desua história.

Caracterizando seu método dialético, Marx e Engels se referem com freqüência

a Hegel como ao filósofo que formulou os traços fundamentais da dialética. Porém, istonão quer dizer que a dialética de Marx e Engels seja idêntica à dialética hegeliana. Narealidade, Marx e Engels só tomaram da dialética de Hegel sua “medula racional” abandonando a casca idealista hegeliana e desenvolvendo a dialética para dar-lhe umaforma científica atual.

 “Meu método dialético – diz Marx – não só é fundamentalmente diverso dométodo de Hegel, senão que é em tudo e por tudo, seu reverso. Para Hegel, oprocesso do pensamento que ele converte inclusive em sujeito com vida própria, sob onome de idéia, é o demiurgo (criador) do real e isto (o real), a simples forma externaem que toma corpo. Para mim, o ideal, pelo contrário, não é mais do que o materialtraduzido e transposto para a cabeça do homem”. (K. Marx, palavras finais à 2ª ediçãodo t. I de “O Capital”). 

Na caracterização de seu materialismo, Marx e Engels se referem comfreqüência a Feuerbach, como ao filósofo que restaurou os direitos do materialismo.Porém isto não quer dizer que o materialismo de Marx e Engels seja idêntico aomaterialismo de Feuerbach. Na realidade, Marx e Engels só tomaram do materialismode Feuerbach sua “medula”, desenvolvendo-a até convertê-la na teoria científico-filosófica do materialismo, e desprezando sua escória idealista e ético-religiosa. Ésabido que Feuerbach, que era no fundamental um materialista, se rebelava contra onome de materialismo. Engels declarou mais uma vez que “apesar a base materialista,Feuerbach não chegou a desprender-se dos vínculos idealistas tradicionais”, e que“onde o verdadeiro idealismo de Feuerbach se põe em evidência é em sua filosofia dareligião e em sua ética”. (F. Engels, “Ludwig Feuerbach”, em Karl Marx, Obrasescolhidas, ed., Europa-América, t. I pág. 414-417).

 A palavra dialética vem do grego “dialegos”, que quer dizer diálogo ou

polêmica. Os antigos entendiam por dialética a arte de descobrir a verdadeevidenciando as contradições implícitas na argumentação do adversário e superandoestas contradições. Alguns filósofos da antiguidade entendiam que o descobrimentodas contradições no processo discursivo e o choque das opiniões contrapostas era omelhor meio para encontrar a verdade. Este método dialético de pensamento, quemais tarde se fez extensivo aos fenômenos naturais, converteu-se no método dialéticode conhecimento da natureza, consistente em considerar os fenômenos naturais comosujeitos em perpétuo movimento e mudança e o desenvolvimento da natureza como oresultado do desenvolvimento das contradições existentes nesta, como o resultado daação mútua das forças contraditórias no seio da natureza.

A dialética é, fundamentalmente, o contrário da metafísica.

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1) O método dialético marxista se caracteriza pelos seguintes pontosfundamentais:

a) Em oposição à metafísica, a dialética não considera a natureza como umconglomerado casual de objetos e fenômenos, desligados e isolados uns dos outros esem nenhuma relação de dependência entre si, senão como um todo articulado eúnico, no qual os objetos e os fenômenos se acham organicamente vinculados uns aosoutros, dependem uns dos outros e se condicionam um aos outros.

Por isso, o método dialético entende que nenhum fenômeno da natureza podeser compreendido, se é focalizado isoladamente, sem conexão com os fenômenos queo rodeiam, pois todo fenômeno, tomado de qualquer campo da natureza, podeconverter-se num absurdo, se é examinado sem conexão com as condições que orodeiam, desligado delas; e pelo contrário, todo fenômeno pode ser compreendido eexplicado, se é examinado em sua conexão indissolúvel com os fenômenoscircundantes e condicionado por eles.

b) em oposição à metafísica, a dialética não considera a natureza como algoquieto e imóvel, parado e imutável, senão como algo sujeito a perene movimento e amudanças constantes, como algo que se renova e se desenvolve incessantemente eonde há sempre alguma coisa que nasce e se desenvolve e algo que morre e caduca.

Por isso, o método dialético exige que se examinem os fenômenos, não só doponto de vista de suas relações mútuas e de seu mútuo condicionamento, senãotambém do ponto de vista de seu movimento, de suas mudanças e de seudesenvolvimento, do ponto de vista de seu nascimento e de sua morte.

O que interessa, sobretudo, ao método dialético não é o que num momentodado parece estável, porém começa já a morrer, senão o que nasce e se desenvolve,ainda que num momento dado pareça pouco estável pois a única coisa que há deinsuperável, segundo ele, é o que se acha em estado de nascimento e dedesenvolvimento.

 “Toda a natureza – diz Engels – desde suas partículas mais minúsculas até seuscorpos mais gigantescos, desde o grão de areia até o sol, desde o protozoário (célulaviva primogênia. N da R.) até o homem, se acha em estado perene de nascimento emorte, em fluxo constante, sujeita a incessantes mudanças e movimentos”. (Engels,“Dialética da Natureza”, Obras completas de Marx e Engels, ed. alemã do InstitutoMarx-Engels-Lênin, de Moscou, Sonderausgabe, pág. 491).

Por isso, a dialética – diz Engels – “focaliza as coisas e suas imagensconceituais, substancialmente, em suas conexões mútuas, em sua ligação e

concatenação, em sua dinâmica, em seu processo de gênese e caducidade” (“Dosocialismo utópico ao socialismo científico”, Obras Escolhidas, ed. Europa-América, t. Ipág. 65). I.

c) Em oposição à metafísica, a dialética não examina o processo dedesenvolvimento dos fenômenos como um simples processo de crescimento, em queas mudanças quantitativas não se traduzem em mudanças qualitativas, senão comoum processo em que se passa das mudanças quantitativas insignificantes e ocultas àsmudanças manifestas, às mudanças radicais, às mudanças qualitativas; em que estasse produzem, não de modo gradual, senão repentina e subitamente, em forma desaltos de um estado de cousas a outro, e não de um modo casual, senão de acordocom as leis, como resultado da acumulação de uma série de mudanças quantitativasinadvertidas e graduais.

Por isso, o método dialético entende que os processos de desenvolvimento nãose devem conceber como movimentos circulares, como uma simples repetição docaminho já percorrido, senão como movimentos progressivos, como movimentos emlinha ascensional, como a transição do velho estado qualitativo a um novo estadoqualitativo, como a evolução do simples ao complexo, do inferior ao superior.

 “A natureza – diz Engels – é a pedra de toque da dialética, e as modernasciências naturais nos brindam como prova disto um acervo de dadosextraordinariamente copioso e enriquecido com cada dia que se passa, demonstrandocom isso que a natureza se move, em última instância, pelos canais dialéticos e nãopelos trilhos metafísicos, que não se move na eterna monotonia de um cicloconstantemente repetido, senão que percorre uma verdadeira história. Aqui énecessário citar em primeiro lugar Darwin, que, com a prova de que toda a natureza

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orgânica existente, plantas e animais, e entre eles, como é lógico, o homem, é oproduto de um processo evolutivo que dura milhões de anos, assestou à concepçãometafísica da natureza o mais rude golpe”. (F. Engels, “Do socialismo utópico aosocialismo cientifico”, em Karl Marx, Obras Escolhidas, t. I, pág. 165).

Caracterizando o desenvolvimento dialético como a transição das mudançasquantitativas às mudanças qualitativas, diz Engels:

 “Em física... toda mudança é uma transformação de quantidade em qualidade,uma conseqüência da mudança quantitativa da massa de movimento de qualquerforma inerente ao corpo ou que se transmite a este. Assim, por exemplo, o grau detemperatura da água não influi em nada, a princípio, em seu estado liquido; porém, aoaumentar ou diminuir a temperatura da água líquida, se chega a um ponto em que seuestado de coesão se modifica e a água se converte, num caso, em vapor, e noutrocaso, em gelo. Assim também, para que o fio de platina da lâmpada elétrica acenda, énecessário um mínimo de corrente; todo metal tem seu grau térmico de fusão, e todolíquido, dentro de uma determinada pressão, seu ponto fixo de congelação e deebulição, na medida em que os meios de que dispomos nos permitem produzir atemperatura necessária; e, finalmente, todo gás tem seu ponto crítico, no qual sobuma pressão e temperatura adequadas se liquefaz em forma de gotas... As chamadasconstantes da física (os pontos de transição de um estado a outro. N. da R.) não são amaior parte das vezes, mais que os nomes dos pontos nodais em que a soma ousubtração quantitativas (mudanças quantitativas) de movimento provocam mudançasqualitativas no estado do corpo de que se trata; em que, portanto, a quantidade se

troca em qualidade” (F. Engels, “Dialética da Natureza”, ed. cit. Pág. 503). E mais adiante, passando à química, Engels prossegue: “Poderíamos dizer que a química é a ciência das mudanças qualitativas dos

corpos por efeito das mudanças operadas em sua composição quantitativa. E isto já osabia o próprio Hegel. Basta observar o oxigênio: se combinarmos, para formar umamolécula, três átomos em vez de dois, que é o corrente, produziremos ozônio, corpoque se distingue de um modo muito definido do oxigênio normal, tanto pelo cheirocomo pelos efeitos. E não falemos das diversas proporções em que o oxigênio secombina com o nitrogênio ou com o enxofre, e cada uma das quais produz um corpoqualitativamente diverso de todos os demais” (Obra citada, pág. 528). 

Por último, criticando Dühring, que ataca Hegel com injúrias – sem prejuízo detomar dele, sorrateiramente, a conhecida tese de que a transição do reino doinsensível ao reino das sensações, do mundo inorgânico ao mundo da vida orgânica,

representa um salto a um novo estado – Engels disse: “É, certamente, a linha nodal hegeliana das proporções de medida, na qual o

simples aumento ou a simples diminuição quantitativa determinam, ao chegar a umdeterminado ponto nodal, um salto qualitativo, como ocorre, por exemplo, com a águaposta a aquecer ou a esfriar, onde o ponto de ebulição e o ponto de congelação são osnódulos em que – sob uma pressão normal – se produz o salto a um novo estado decoesão, isto é, em que a quantidade se transforma em qualidade” (F. Engels, “Anti -Duhring”, pág. 49).  

d) Em oposição à metafísica, a dialética parte do critério de que os objetos e osfenômenos da natureza levam sempre implícitas contradições internas, pois todos elestêm seu lado positivo e seu lado negativo, seu passado e seu futuro, seu lado decaducidade e seu lado de desenvolvimento; do critério de que a luta entre estes lados

contrapostos, a luta entre o velho e o novo, entre o que organiza e o que nasce, entreo que caduca e o que se desenvolve, forma o conteúdo interno do processo dedesenvolvimento, o conteúdo interno da transformação das mudanças quantitativasem mudanças qualitativas.

Por isso, o método dialético entende que o processo de desenvolvimento doinferior ao superior não decorre como um processo de desenvolvimento harmônico dosfenômenos, senão pondo sempre de relevo as contradições inerentes aos objetos e aosfenômenos, num processo de “luta” entre as tendências contrapostas que atuam sobrea base daquelas contradições.

 “Dialética, em sentido restrito, é – diz Lênin – o estudo das contradiçõescontidas na própria essência dos objetos” (Lênin, “Cadernos Filosóficos”, pág. 263, ed.russa).

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E mais adiante: “O desenvolvimento é a „luta‟ entre tendências contrapostas” (Lênin, t. XIII

pág. 301, ed. russa).Tais são, brevemente expostos, os pontos fundamentais do método dialético

marxista.Não é difícil compreender quão enorme é a importância que a difusão dos

princípios do método dialético tem para o estudo da vida social e da história dasociedade e que importância enorme encerra a aplicação destes princípios à história dasociedade e à atuação prática do Partido do proletariado.

Se no mundo não existem fenômenos isolados, se todos os fenômenos estãovinculados entre si e se condicionam uns aos outros, é evidente que todo regime sociale todo movimento social que aparece na história deve ser julgado, não do ponto devista da “justiça eterna” ou de qualquer outra idéia pré-concebida, que é o quecostumam fazer os historiadores, senão do ponto de vista das condições queengendraram este regime e este movimento social e aos quais se acham vinculados.

Dentro das condições modernas, o regime da escravidão é um absurdo e umaignorância contrária à lógica. Em troca, dentro das condições de desagregação doregime do comunismo primitivo, a escravidão era um fenômeno perfeitamente lógico enatural já que representava um progresso em comparação com o comunismoprimitivo.

A reivindicação da República democrático-burguesa dentro das condições doczarismo e da sociedade burguesa, por exemplo, na Rússia de 1905, era uma

reivindicação perfeitamente lógica, acertada e revolucionária, pois a Repúblicaburguesa representava, naquele tempo, um progresso. Em troca, dentro das condiçõesatuais da URSS, a reivindicação da República democrático-burguesa seria absurda econtra-revolucionária, pois, comparada com a República Soviética, a Repúblicaburguesa significa um retrocesso.

Tudo depende, pois, das condições, do lugar e do tempo.É evidente que, sem abordar deste ponto de vista histórico os fenômenos

sociais, não poderia existir nem desenvolver-se a ciência da História, pois este modode abordar os fenômenos é o único que impede à ciência histórica converter-se numcaos de sucessos fortuitos e num montão dos mais absurdos erros.

Pois bem, se o mundo se acha em incessante movimento e desenvolvimento, ese a lei deste desenvolvimento é a extinção do velho e o fortalecimento do novo, éevidente que já não pode haver nenhum regime social “irremovível”, nem podem

existir os “princípios eternos” da propriedade privada e da exploração, nem as “idéiaseternas” de submissão dos camponeses aos latifundiários e dos operários aoscapitalistas.

Isto quer dizer, que o regime capitalista pode ser substituído pelo regimesocialista, do mesmo modo que, em seu dia, o regime capitalista substituiu o regimefeudal.

Isto quer dizer que é preciso orientar-se, não para aquelas camadas dasociedade que chegaram já ao termo de seu desenvolvimento, embora no momentopresente constituam a força predominante, senão para aquelas outras que se estãodesenvolvendo e que tem um porvir, ainda que não sejam as forças predominantes nomomento atual.

Na década de 80 do século XIX, na época de luta entre os marxistas e os

populistas, o proletariado, na Rússia, constituía uma minoria insignificante, emcomparação com os camponeses individuais, que formavam a imensa maioria dapopulação. Porém o proletariado se estava desenvolvendo como classe, enquanto queos camponeses, enquanto classe, se desagregavam. Precisamente por isto, porque oproletariado se estava desenvolvendo como classe, os marxistas se orientavam paraele. E não se equivocaram, pois, como é sabido, o proletariado se converteu, com ocorrer do tempo, de uma força insignificante numa força histórica e política de primeiraordem.

Isto que dizer que em política, para não se equivocar, é preciso olhar paradiante e não para trás.

Continuemos. Se a transição das lentas mudanças quantitativas às rápidas esúbitas mudanças qualitativas constitui uma lei do desenvolvimento, é evidente que as

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transformações revolucionárias levadas a cabo pelas classes oprimidas representamum fenômeno absolutamente natural e inevitável.

Isto quer dizer que a passagem do capitalismo ao socialismo e a libertação daclasse operária do jugo capitalista não pode realizar-se por meio de mudanças lentas,por meio de reformas, mas só por meio da transformação qualitativa do regimecapitalista isto é, mediante a revolução.

Isto quer dizer que em política, para não se equivocar, é preciso serrevolucionário e não reformista.

Pois bem, se o processo de desenvolvimento é um processo de revolução decontradições internas, um processo de choques entre forças contrapostas, na basedestas contradições, e com o fim de superá-las, é evidente que a luta de classes doproletariado constitui um fenômeno perfeitamente natural e inevitável.

Isto quer dizer que o que é preciso fazer, não é dissimular as contradições doregime capitalista, senão apresentá-las em toda sua extensão, - não é amortecer aluta de classes, senão levá-la ao fim conseqüentemente.

Isto quer dizer que em política, para não se equivocar, é preciso manter umapolítica proletária, de classe, intransigente, e não uma política reformista de harmoniade interesses entre o proletariado e a burguesia. Uma política oportunista de “evoluçãopacífica” do capitalismo ao socialismo. 

Nisto consiste o método dialético marxista, aplicado à vida social e a história dasociedade.

No que se refere ao materialismo filosófico marxista, é, fundamentalmente, o

oposto do idealismo filosófico.2) O Materialismo filosófico marxista se caracteriza pelos seguintes pontosfundamentais:

a) Em oposição ao idealismo, que considera o mundo como a materialização da“idéia absoluta”, do “espírito universal”, da “consciência”; o materialismo filosófico deMarx parte do critério de que o mundo é, por sua natureza, algo material; de que osmúltiplos e variados fenômenos do mundo constituem diversas formas e modalidadesda matéria em movimento; de que os vínculos mútuos e as relações deinterdependência entre os fenômenos que o método dialético põe de relevo são as leis,de acordo com as quais se desenvolve a matéria em movimento; de que o mundo sedesenvolve de acordo com as leis que regem o movimento da matéria, semnecessidade de nenhum “espírito universal”. 

 “A concepção materialista do mundo – diz Engels – se limita simplesmente a

conceber a natureza tal como é, sem nenhuma classe de aditamentos estranhos" (F.Engels, "Ludwig Feuerbach”, em Karl Marx, Obras Escolhidas, ed. Europa-América, t. I,pág. 413).

Referindo-se à concepção materialista de um filósofo da antiguidade, Heráclito,segundo o qual o “mundo forma uma unidade por si mesmo e não foi criado pornenhum deus nem por nenhum homem, mas foi, e será eternamente um fogo que seacende e se apaga de acordo com as leis”, diz Lênin: “Eis uma excelente definição dosprincípios do materialismo dialético” (Lênin, “Cadernos Filosóficos” pág. 318). 

b) Em oposição ao idealismo, o qual afirma que só nossa consciência tem umaexistência real e que o mundo material, o ser, a natureza, só existem em nossaconsciência, em nossas percepções, em nossas idéias, o materialismo filosóficomarxista parte do critério de que a matéria, a natureza, o ser, são uma realidade

objetiva, existem fora de nossa consciência e independentemente dela, de que amatéria é o primário, já que constitui a fonte da qual se derivam as sensações, aspercepções e a consciência, e esta o secundário, o derivado, já que é a imagemrefletida da matéria, a imagem refletida do ser; parte do critério de que o pensamentoé um produto da matéria ao chegar a um alto grau de perfeição em seudesenvolvimento, e mais concretamente, um produto do cérebro e este o órgão dopensamento, e de que, portanto, não cabe, a menos que se caia num erro crasso,separar o pensamento da matéria.

 “O problema da relação entre o pensamento e o ser, entre o espírito e anatureza é – diz Engels – o problema supremo de toda a filosofia... Os filósofos sedividiam em dois grandes campos, segundo a reposta que dessem a esta pergunta. Osque afirmavam o caráter primário do espírito frente à natureza formavam no campo do

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idealismo. Os outros, os que reputavam a natureza como o primário, figuram nasdiversas escolas do materialismo”. (F. Engels, “Ludwig Feuerbach”, em Karl Marx,Obras Escolhidas, t. I págs. 407-408).

E mais adiante: “O mundo material e perceptível pelos sentidos, do qual formamos parte

também os homens, é o único mundo real. Nossa consciência e nosso pensamento, pormuito desligados dos sentidos que pareçam, são o produto de um órgão material,físico. A matéria não é um produto do espírito, senão este, o produto supremo damatéria” (Engels, obra citada, pág. 411). 

Referindo-se ao problema da matéria e do pensamento, Marx manifesta: “Não é possível separar o pensamento da matéria pensante. A matéria é o

objeto de todas as mudanças”. (Obra citada, pág. 380). Caracterizando o materialismo filosófico marxista, diz Lênin: “O materialismo em geral reconhece a existência real e objetiva do ser (a

matéria), independentemente da consciência, das sensações, da experiência. Aconsciência não é mais que um reflexo do ser, no melhor dos casos seu reflexo maisou menos exato (adequado, ideal quanto à precisão)”. (t. XIII págs. 266 -267, ed.russa. Lênin).

E em outras passagens: a) “É matéria o que, atuando sobre nossos órgãos sensoriais, produz as

sensações; a matéria é a realidade objetiva, que as sensações nos transmitem. Amatéria, a natureza, a existência, o físico, é o primeiro; o espírito, a consciência, as

sensações, o psíquico, o secundário”. (Obra citada, págs. 119-120). b) “O quadro do mundo é o quadro de como se move e como pensa a matéria”.(Obra citada, pág. 288).

 c) “O cérebro é o órgão do pensamento”. (Obra citada, pág. 125).  d) Em oposição ao idealismo, que disputa a possibilidade de conhecer o mundo

e as leis pelas quais se rege, que não crê na veracidade de nossos conhecimentos, quenão reconhece a verdade objetiva e entende que o mundo está cheio de “coisas em si”,que jamais poderão ser conhecidas pela ciência; o materialismo filosófico marxistaparte do principio de que o mundo e as leis pelas quais se rege são perfeitamentecognoscíveis, de que nossos conhecimentos acerca das leis da natureza, comprovadospela experiência, pela prática, são conhecimentos verídicos, que têm o valor deverdades objetivas, de que no mundo não há coisas incognoscíveis, se nãosimplesmente coisas ainda não conhecidas, porém que a ciência e a experiência se

encarregarão de revelar e dar a conhecer.Criticando a tese de Kant e de outros idealistas acerca da incognoscibilidade do

mundo e das “coisas em si” incognoscíveis e defendendo a conhecida tese domarxismo acerca da veracidade de nossos conhecimentos, escreve Engels:

 “A refutação mais contundente destas manias, como de todas as demais maniasfilosóficas, é a prática, ou seja, a experiência. Se pudermos demonstrar a exatidão denosso modo de conceber um processo natural, reproduzindo-o nós mesmos, criando-ocomo resultado de suas próprias condições, e se, além disso, o colocamos a serviço denossos próprios fins, daremos um ponto final a “coisa em si” inacessível de Kant. Assubstâncias químicas produzidas no mundo vegetal e animal continuaram sendo“coisas em si” inacessíveis até que a química orgânica começou a produzi-las umasapós outras; com isso, a “coisa em si” se converteu em uma coisa para nós, como, por

exemplo, a matéria corante da loira, a alizarina, que hoje não se extrai da raiz naturaldaquela planta, senão que se obtém do alcatrão da hulha, processo muito mais baratoe mais fácil. O sistema solar de Copérnico foi durante trezentos anos uma hipótese,pela qual se podia apostar cem mil, dez mil contra um, porém apesar de tudo, umahipótese, até que Leverrier, com os dados tomados deste sistema pôde calcular, nãosó a necessidade da existência de um planeta desconhecido, senão, além disso, o lugarem que este planeta tinha que se encontrar no firmamento; veio logo depois, Galleque descobriu efetivamente este planeta: a partir deste momento, o sistema deCopérnico ficou demonstrado”. (Karl Marx, Obras Escolhidas, t. I, pág. 409).

Acusando Bogdanov, Basarov, Yushekevich e outros partidários de Mach defideísmo e defendendo a conhecida tese do materialismo de que nossos conhecimentos

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científicos acerca das leis pelas quais a natureza se rege são conhecimentos verídicos ede que as leis da ciência constituem verdades objetivas, diz Lênin:

 “O fideísmo moderno não rechaça, absolutamente, a ciência; a única coisa querechaça são as “pretensões desmesuradas” da ciência; e concretamente, suaspretensões de verdade objetiva. (como entendem os materialistas) e se as ciênciasnaturais refletindo o mundo exterior na “experiência” do homem, são as únicas quenos podem dar essa verdade objetiva, todo fideísmo fica refutadoincontrovertivelmente”. (Lênin, t. XII pág. 102 ed. russa). 

Tais são, brevemente expostos, os pontos característicos do materialismofilosófico marxista.

É fácil compreender a enorme importância que tem a aplicação dos princípiosdo materialismo filosófico ao estudo da vida social, ao estudo da história da sociedade,a enorme importância que tem o aplicar estes princípios à história da sociedade e àatuação prática do Partido do proletariado.

Se a lei pela qual se rege o desenvolvimento da natureza é a relação entre osfenômenos naturais e sua interdependência, daqui se deduz que a relação einterdependência entre os fenômenos sociais não constituem tão pouco um fatofortuito, senão a lei pela qual se rege o desenvolvimento da sociedade.

Isto quer dizer que a vida social e a história da sociedade já não são umconglomerado de fatos “fortuitos”, pois a história da sociedade se converte nodesenvolvimento da sociedade de acordo com suas leis, e o estudo da história dasociedade adquire categoria de ciência.

Isto quer dizer que a atuação prática do Partido do proletariado deve basear-senão nos bons desejos das “ilustres personalidades”, não nos postulados da “razão”, da“moral universal”, etc., senão nas leis do desenvolvimento da sociedade e no estudodestas.

Pois bem, se o mundo é cognoscível, e nossos conhecimentos acerca das leisque regem o desenvolvimento da natureza são conhecimentos verdadeiros, que têm ovalor de verdades objetivas, isto quer dizer que também a vida social, odesenvolvimento da sociedade, são suscetíveis de serem conhecidos; e que os dadoscom que nos brinda a ciência sobre as leis do desenvolvimento da sociedade são dadosverídicos, que têm o valor de verdades objetivas.

Isto quer dizer que a ciência que estuda a história da sociedade pode adquirir,mal grado toda a complexidade dos fenômenos da vida social, a mesma precisão que abiologia, por exemplo, oferecendo-nos a possibilidade de dar uma aplicação prática às

leis que regem o desenvolvimento da sociedade.Isto quer dizer que, em sua atuação prática, o Partido do proletariado deve

guiar-se, não por estes ou outros motivos fortuitos, senão pelas leis que regem odesenvolvimento da sociedade e pelas conclusões que delas derivam.

Isto quer dizer que o socialismo deixa de ser um sonho acerca de um futuromelhor da Humanidade, para converter-se numa ciência.

Isto quer dizer que o enlace entre a ciência e a atuação prática, entre a teoria ea prática, sua unidade, deve ser a estrela polar que guia o Partido do proletariado.

Logo, se a natureza, a existência, o mundo material são o primário, e aconsciência, o pensamento, o secundário, o derivado; se o mundo material constitui arealidade objetiva, que existe independentemente da consciência do homem, e aconsciência é a imagem refletida desta realidade objetiva, deduz-se daí que a vida

material da sociedade, sua existência, é também o primário, e sua vida espiritual, osecundário, o derivado; que a vida material da sociedade é a realidade objetiva, queexiste independentemente da vontade dos homens, e a vida espiritual da sociedade, oreflexo desta realidade objetiva, o reflexo do ser.

Isto quer dizer que a fonte donde se forma a vida espiritual da sociedade, afonte da qual emanam as idéias sociais, as teorias sociais, as concepções e asinstituições políticas devem buscar-se não nestas mesmas idéias, teorias, concepções einstituições políticas, senão nas condições da vida material da sociedade, na existênciasocial, da qual são reflexos estas idéias, teorias, concepções, etc.

Isto quer dizer que se nos diversos períodos da história da sociedade nosencontramos com diversas idéias, teorias e concepções sociais e instituições políticasdiferentes; se sob o regime da escravidão observamos umas idéias, teorias e

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concepções sociais, umas instituições políticas, sob o feudalismo outras, e outrasdiferentes sob o capitalismo, a explicação disto não está na “natureza”, e nem na“peculiaridade” das próprias idéias, teorias, concepções e instituições políticas, senãonas diferentes condições da vida material da sociedade dentro dos diversos períodosde desenvolvimento social.

Segundo sejam as condições de existência da sociedade, as condições em quese desenvolve sua vida material, assim são suas idéias, suas teorias, suas concepçõese instituições políticas.

Em relação com isto, diz Marx: “Não é a consciência do homem a que determina sua existência, senão, pelo

contrário, sua existência social o que determina sua consciência” (Karl Marx, ObrasEscolhidas, t. I pág. 339).

Isto quer dizer que, em política, para não se equivocar e não se converter numacoleção de vagos sonhadores, o Partido do proletariado deve tomar como ponto departida para sua atuação, não os “princípios” abstratos da “razão humana”, senão ascondições concretas da vida material da sociedade, que constituem a força decisiva dodesenvolvimento social; não os bons desejos dos “grandes homens”, senão asexigências reais, impostas pelo desenvolvimento da vida material da sociedade.

O fracasso dos utopistas, incluindo entre eles os populistas, os anarquistas e ossocial-revolucionários, explica-se, entre outras razões, porque não reconheciam aimportância primária das condições da vida material da sociedade quanto aodesenvolvimento desta, senão que, caindo no idealismo, erigiam toda a atuação

prática, não sobre as exigências do desenvolvimento da vida material da sociedade,senão, independentemente delas e contra elas, sobre “planos ideais” e “projetosuniversais”, desligados da vida real da sociedade. 

A força e a vitalidade do marxismo-leninismo se estribam precisamente em quetoma como base para sua atuação prática as exigências do desenvolvimento da vidamaterial da sociedade, sem desligar-se jamais da vida real desta.

No entanto, das palavras de Marx não se depreende que as idéias e as teoriassociais, as concepções e as instituições políticas, não tenham importância alguma navida da sociedade, que não exerçam de maneira incidental uma influência sobre aexistência social, sobre o desenvolvimento das condições materiais da vida dasociedade. Até agora, viemos nos referindo unicamente à origem das idéias e teoriassociais e das concepções e instituições políticas, a seu nascimento, ao fato de que avida espiritual da sociedade é o reflexo das condições de sua vida material. No tocante

à importância das idéias e teorias sociais e das concepções e instituições políticas, notocante ao papel que desempenham na história, o materialismo histórico não só nãonega, mas, pelo contrário, salienta a importância do papel e da significação que lhescorrespondem na vida e na história da sociedade.

Porém, as idéias e teorias sociais não são todas iguais. Há idéias e teoriasvelhas que já cumpriram sua missão e que servem aos interesses de forças sociaiscaducas. Seu papel consiste em frear o desenvolvimento da sociedade, sua marchaprogressiva. E há idéias e teorias novas, avançadas, que servem aos interesses dasforças de vanguarda da sociedade. O papel destas consiste em facilitar odesenvolvimento da sociedade, sua marcha progressiva, sendo sua importância tantomaior quanto maior é a exatidão com que correspondem às exigências dodesenvolvimento da vida material da sociedade.

As novas idéias e teorias sociais só surgem depois que o desenvolvimento davida material da sociedade apresenta a essas novas tarefas. Porém, depois de surgir,se convertem numa força importante, que facilita a execução destas novas tarefasexigidas pelo desenvolvimento da vida material da sociedade, que facilita osprogressos desta. É aqui, precisamente, onde se acusa a formidável importânciaorganizadora, mobilizadora e transformadora das novas idéias, das novas teorias e dasnovas concepções políticas, das novas instituições políticas. Por isso, as novas idéias eteorias sociais surgem em rigor, porque são necessárias para a sociedade, porque semseu trabalho organizador, mobilizador e transformador seria impossível levar a cabo astarefas que o desenvolvimento da vida material da sociedade exige e que já estão emtempo de ser cumpridas. E como surgem sobre a base das novas tarefas exigidas pelodesenvolvimento da vida material da sociedade, as novas idéias e teorias sociais

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abrem caminho, convertem-se em patrimônio das massas populares, mobilizam eorganizam estas contra as forças sociais caducas, facilitando assim a derrocada destasforças sociais caducas que freiam o desenvolvimento da vida material da sociedade.

Eis como as idéias e teorias sociais, as instituições políticas, que brotam nabase das tarefas já maduras para sua solução, exigidas pelo desenvolvimento da vidamaterial da sociedade, pelo desenvolvimento da existência social, atuam logo depois,por sua vez, sobre esta existência social, sobre a vida material da sociedade, criandoas condições necessárias para levar ao fim a execução das tarefas já maduras da vidamaterial da sociedade e tornar possível seu desenvolvimento ulterior.

Em relação a isto, diz Marx: “A teoria se converte numa força material tão cedo seja aprendida pelas

massas” (K. Marx e F. Engels, Obras Completas, t. I pág. 406).Isto quer dizer que para poder atuar sobre as condições da vida material da

sociedade e acelerar seu desenvolvimento, acelerar seu desenvolvimento, acelerar seumelhoramento, o Partido do proletariado tem que se apoiar numa teoria social, numaidéia social que reflita acertadamente as exigências do desenvolvimento da vidamaterial da sociedade que, graças a isso, seja capaz de por em movimento grandesmassas do povo, de mobilizá-las e organizar com elas o grande exercito do Partidoproletário apto para esmagar as forças reacionárias e aplainar o caminho para asforças avançadas da sociedade.

 O fracasso dos “economistas” e dos mencheviques se explica, entre outrasrazões, pelo fato de que não reconheciam a importância mobilizadora, organizadora e

transformadora da teoria de vanguarda, da idéia de vanguarda e, caindo nummaterialismo vulgar, reduziam seu papel quase a nada, e consequentementecondenavam o Partido á passividade, a viver vegetando.

A força e a vitalidade do marxismo-leninismo se estribam em que se apóianuma teoria de vanguarda que reflete acertadamente as exigências dodesenvolvimento da vida material da sociedade, e que coloca a teoria à altura que lhecorresponde e considera seu dever utilizar integralmente sua força de mobilização, deorganização e de transformação.

É assim como o materialismo histórico resolve o problema das relações entre aexistência social e a consciência social, entre as condições de desenvolvimento da vidamaterial e o desenvolvimento da vida espiritual da sociedade.

Resta só responder a esta pergunta: Que se entende, do ponto de vista domaterialismo histórico, por “condições de vida material da sociedade” que são as que

determinam em última instância, a fisionomia da sociedade, suas idéias, suasconcepções instituições políticas, etc.?

 Quais são essas “condições de vida material da sociedade”, quais seus traçoscaracterísticos?

 É indubitável que neste conceito de “condições de vida material da sociedade” entra, antes de tudo, a natureza que rodeia a sociedade, o meio geográfico, que é umadas condições necessárias e constantes da vida material da sociedade e que,naturalmente influi no desenvolvimento desta. Qual é o papel do meio geográfico nodesenvolvimento da sociedade? Não será, por acaso, o meio geográfico o fatorfundamental que determina a fisionomia da sociedade, o caráter do regime social doshomens, a transição de um regime a outro?

O materialismo histórico responde negativamente a esta pergunta.

O meio geográfico é, indiscutivelmente, uma das condições constantes enecessárias do desenvolvimento da sociedade e influi, indubitavelmente, nele,acelerando-o ou amortecendo-o. Porém esta influência não é determinante, já que asmudanças e o desenvolvimento da sociedade se operam com uma rapidezincomparavelmente maior do que os afetam o meio geográfico. No transcurso de trêsmil anos, a Europa viu desaparecer três regimes sociais: o do comunismo primitivo, oda escravidão e o regime feudal, e na parte oriental da Europa, na URSS feneceramquatro. Pois bem, durante este tempo, as condições geográficas da Europa nãosofreram mudança alguma, ou se sofreram foi tão leve que a geografia não crê quemereça a pena registrá-lo. E se compreende que seja assim. Para que o meiogeográfico experimente mudanças de certa importância, são precisos milhões de anos,

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enquanto que em umas centenas ou em um par de milhares de anos podem operar-seinclusive mudanças da maior importância no regime social.

Daqui se depreende que o meio geográfico não pode ser a causa fundamental,o fator determinante do desenvolvimento social, pois como é que o que permanecequase invariável através de dezenas de milhares de anos vai poder ser a causafundamental a que obedeça o desenvolvimento daquilo que no espaço de umasquantas centenas de anos experimenta mudanças radicais?

Do mesmo modo, é indubitável que o crescimento da população, a maior oumenor densidade da população, é também um fator que forma também parte doconceito das “condições materiais da vida da sociedade”, já que entre estas condiçõesmateriais se conta, como elemento necessário, o homem, e não poderia existir amaterialidade da vida social sem um determinado mínimo de seres humanos. Nãoserá, acaso, o desenvolvimento da população o fator cardinal que determina o caráterdo regime social em que os homens vivem?

O materialismo histórico também responde negativamente a esta pergunta.É indubitável que o crescimento da população influi no desenvolvimento da

sociedade, facilitando ou entorpecendo este desenvolvimento, porém não pode ser ofator central a que obedece, nem sua influencia pode ter um caráter determinantequanto ao desenvolvimento social, já que o crescimento da população por si só nãonos oferece a chave para explicar por que um dado regime social é substituídoprecisamente por um determinado regime novo e não por outro, porque o regime docomunismo primitivo foi substituído precisamente pelo regime da escravidão, o regime

escravagista pelo regime feudal e este pelo burguês, e não por outros quaisquer.Se o crescimento da população fosse o fator determinante do desenvolvimentosocial, a uma maior densidade de população teria que corresponder forçosamente, naprática, um tipo proporcionalmente mais elevado de regime social. Porém na realidadenão ocorre assim. A densidade da população da China é quatro vezes maior que a dosEstados Unidos e, apesar disso, os Estados Unidos ocupam um lugar mais elevado doque a China no que se refere ao desenvolvimento social, pois enquanto que na Chinacontinua imperando o regime semifeudal, os Estados Unidos já há muito tempo quechegaram à fase culminante de desenvolvimento do capitalismo. A densidade dapopulação da Bélgica é 19 vezes maior que a dos Estados Unidos e 26 vezes maior quea da URSS e, no entanto, a América do Norte sobrepassa a Bélgica no tocante a seudesenvolvimento social, e a URSS leva-lhe de vantagem toda uma época histórica, poisenquanto que na Bélgica impera o regime capitalista, a URSS já liquidou o capitalismo

e instaurou o regime socialista.Daí se depreende que o crescimento da população não é nem pode ser o fator

cardinal no desenvolvimento da sociedade, o fator determinante do caráter do regimesocial, da fisionomia da sociedade.

Qual é, então, dentro do sistema das condições materiais de vida da sociedade,o fator cardinal que determina a fisionomia daquela, o caráter do regime social, apassagem da sociedade de um regime social a outro?

Este fator é, segundo o materialismo histórico, o modo de obtenção dos meiosde vida necessários para a existência do homem, o modo de produção dos bensmateriais, do alimento, do vestuário, do calçado, da habitação, do combustível, dosinstrumentos da produção, etc., necessários para que a sociedade possa viver edesenvolver-se.

Para viver, o homem necessita de alimentos, vestuário, calçado, habitação,combustível, etc. Para obter estes bens materiais, tem que produzi-los, e para poderproduzi-los necessita dispor de meios de produção, com ajuda dos quais se consegue oalimento, se fabrica o vestuário, o calçado, se constrói a habitação, se obtém ocombustível, etc, necessita aprender a produzir estes instrumentos e a servir-se deles.

 Instrumentos de produção, com ajuda dos quais se produzem os bensmateriais, e homens que os manejam e efetuam a produção dos bens materiais, porter uma certa experiência produtiva e hábitos de trabalho: tais são os elementos que,em conjunto, formam as forças produtivas da sociedade.

Porém as forças produtivas não são mais que um dos aspectos da produção, umdos aspectos do modo de produção, o aspecto que reflete a relação entre o homem eos objetos e as forças da natureza empregadas para a produção dos bens materiais. O

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outro fator da produção, o outro aspecto do modo de produção, é constituído pelasrelações de uns homens com outros, dentro do processo da produção, as relações deprodução entre os homens. Os homens não lutam com a natureza e não a utilizamisoladamente, desligados uns dos outros, senão juntos, em grupos, em sociedades. Porisso, a produção é sempre e sob qualquer condição uma produção social. Ao efetuar aprodução dos bens materiais, os homens estabelecem entre si, dentro da produção,tais ou quais relações mútuas, tais ou quais relações de produção. Estas relaçõespodem ser relações de colaboração e ajuda mútua entre homens livres de todaexploração, podem ser relações de império e subordinação ou podem ser, por último,relações de tipo transitório entre a primeira forma e a segunda. Porém, qualquer queseja seu caráter, as relações de produção constituem – sempre em todos os regimes – um elemento tão necessário da produção como as próprias forças produtivas dasociedade.

 “Na produção – diz Marx – os homens não atuam somente sobre a natureza,senão que atuam também, uns sobre os outros. Não podem produzir sem associar-sede um certo modo para atuar em comum e estabelecer um intercâmbio de atividades.Para produzir, os homens contraem determinados vínculos e relações, e através destesvínculos, e relações sociais, e só através deles, é como se relacionam com a natureza ecomo se efetua a produção”. (K.Marx, e F. Engels. Obras Completas, ed. citada, t. V,pág. 429).

Conseguintemente, a produção, o modo de produção, não abarca somente asforças produtivas da sociedade, senão também as relações de produção entre os

homens, relações que são, portanto, a forma em que toma corpo sua unidade dentrodo processo da produção de bens materiais. Uma das características da produção é que jamais se detém num ponto durante

um longo período, senão que muda e se desenvolve constantemente, com aparticularidade de que estas mudanças operadas no modo de produção provocaminevitavelmente a mudança de todo regime social, das idéias sociais, das concepções einstituições políticas; provoca a reorganização de todo o sistema político e social. Nasdiversas fases de desenvolvimento, o homem emprega diversos modos de produçãoou, para dizê-lo em termos mais vulgares, mantém gênero de vida diferente. Sob oregime do comunismo, o modo de produção empregado é diferente daquele que se dásob a escravidão, sob o regime da escravidão é diferente daquele que se dá sob ofeudalismo, etc. E, em consonância com isto, variam também o regime social de vidados homens, sua vida espiritual, suas concepções e instituições políticas.

Segundo seja o modo de produção existente numa sociedade, assim é também,fundamentalmente, esta mesma sociedade e assim são suas idéias e suas teorias, suasconcepções e instituições políticas.

Ou, para dizê-lo em termos vulgares, conforme vive o homem, assim pensa ele.Isto significa que a história do desenvolvimento da sociedade e, antes de tudo,

a história do desenvolvimento da produção, a história dos modos de produção que sesucedem uns aos outros ao longo dos séculos, a história do desenvolvimento dasforças produtivas e das relações de produção entre os homens.

Isto quer dizer que a história do desenvolvimento social é, ao mesmo tempo, ahistória dos próprios produtores de bens materiais, a história das massastrabalhadoras, que são o fator fundamental do processo de produção e as que levam acabo a produção dos bens materiais necessários para existência da sociedade.

Isto quer dizer que a ciência histórica, se pretende ser uma verdadeira ciência,não deve continuar reduzindo a história do desenvolvimento social aos atos dos reis edos caudilhos militares, aos atos dos “conquistadores” e “usurpadores” de Estados,mas deve ocupar-se, antes de tudo, da história das massas trabalhadoras, da históriados povos.

Isto quer dizer que a chave para o estudo das leis da história da sociedade nãose deve procurar nas cabeças dos homens, nas idéias e concepções da sociedade,senão no modo de produção aplicado pela sociedade em cada um de seus períodoshistóricos, isto é, na economia da sociedade.

Isto quer dizer que a tarefa primordial da ciência histórica é o estudo e odescobrimento das leis da produção, das leis do desenvolvimento das forças produtivase das relações de produção, das leis do desenvolvimento econômico da sociedade.

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Isto quer dizer que o Partido do Proletariado, para ser um verdadeiro partido,deve, antes de tudo, conhecer inteiramente as leis do desenvolvimento da produção,as leis do desenvolvimento econômico da sociedade.

Isto quer dizer que em política, para não se equivocar, o Partido do proletariadodeve, antes de tudo, tanto no que se refere à formação de seu programa como no quetoca a sua atuação prática, partir das leis do desenvolvimento da produção, das leis dodesenvolvimento econômico da sociedade.

A segunda característica da produção consiste em que suas mudanças e seudesenvolvimento começam sempre, como de seu ponto de partida, das mudanças e dodesenvolvimento das forças produtivas, e, antes de tudo, das que afetam aosinstrumentos de produção. As forças produtivas constituem, portanto, o elemento maisdinâmico e mais revolucionário da produção. A principio, mudam e se desenvolvem asforças produtivas da sociedade, e logo depois sujeitas a estas mudanças econseqüentemente com elas, mudam as relações de produção entre os homens, suasrelações econômicas. Entretanto, isto não quer dizer que as relações de produção nãoinfluam sobre o desenvolvimento das forças produtivas e que estas não dependamdaquelas. As relações de produção, ainda que seu desenvolvimento dependa do dasforças produtivas, atuam por sua vez sobre o desenvolvimento destas, acelerando-a ouamortecendo-o. A respeito convém advertir que as relações de produção não podemficar por um tempo demasiado longo atrasadas das forças produtivas ao crescer estas,nem se achar em contradição com elas, já que as forças produtivas só podemdesenvolver-se plenamente quando as relações de produção estão em harmonia com

elas por seu caráter e seu estado de progresso e deixam a margem para seudesenvolvimento. Por isso, por muito atrasadas que fiquem as relações de produçãoem relação ao desenvolvimento das forças produtivas, têm necessariamente que sepôr e se põem realmente – mais tarde ou mais cedo – em harmonia com o nível dodesenvolvimento das forças produtivas, e com o caráter destas. De outro modo, nosencontraríamos ante uma ruptura radical da unidade entre as forças produtivas e asrelações de produção dentro do sistema desta, com um desconjuntamento daprodução em bloco, com uma crise de produção, com a derrubada das forçasprodutivas.

Um exemplo de desarmonia entre as relações de produção e o caráter dasforças produtivas, de conflito entre ambos os fatores, o temos nas crises econômicasdos países capitalistas, onde a propriedade privada capitalista sobre os meios deprodução está em violenta discordância com o caráter social do processo de produção,

com o caráter das forças produtivas. Resultado desta discordância são as criseseconômicas, que conduzem à destruição das forças produtivas; e esta discordânciaconstitui, por si só, a base econômica da revolução social, cuja missão consiste emdestruir as relações de produção existentes, para criar outras novas, em harmonia como caráter das forças produtivas.

Pelo contrário, um exemplo de uma harmonia completa entre as relações deprodução e o caráter das forças produtivas, nos oferece a Economia socialista daURSS, onde a propriedade social sobre os meios de produção concorda plenamente,com o caráter social do processo da produção e onde, portanto, não existem criseseconômicas, nem se produzem casos de destruição das forças produtivas.

Por conseguinte, as forças produtivas não são somente o elemento maisdinâmico e mais revolucionário da produção, mas são, além disso, o elemento

determinante de seu desenvolvimento.Conforme forem as forças produtivas, assim tem que ser também as relaçõesde produção.

Se o estado das forças produtivas responde à pergunta de com que instrumentode produção os homens criam os bens materiais que lhes são necessários, o estadodas relações de produção responde logo a outra pergunta: em poder de quem estão osmeios de produção (a terra, os bosques, as águas, o subsolo, as matérias primas, asferramentas e os edifícios de produção, as vias e meios de comunicação, etc.), adisposição de quem se acham os meios de produção: a disposição de toda a sociedade,ou à disposição de determinados indivíduos, grupos ou classes, que os empregam paraexplorar outros indivíduos, grupos ou classes?

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Eis um quadro esquemático do desenvolvimento das forças produtivas desde ostempos primitivos até nossos dias. Das ferramentas de pedra sem polimento se passaao arco e a flecha e, em relação com isto, da caça como sistema de vida àdomesticação de animais e à criação de gado primitiva; das ferramentas de pedra sepassa às ferramentas de metal (ao machado de ferro, arado com relha de ferro, etc.)e, em consonância com isto, ao cultivo das plantas e à agricultura; vem logo depois omelhoramento progressivo das ferramentas metálicas para a elaboração de materiais,passa-se à forja de fole e à olaria e, em consonância com isto, desenvolvem-se osofícios artesãos, separam-se estes ofícios da agricultura, desenvolve-se a produçãoindependente dos artesãos e, mais tarde, a manufatura; dos instrumentos artesãos deprodução se passa à máquina, e a produção artesã e manufatureira se transforma naindústria mecânica, e, por fim, passa-se ao sistema de máquinas, e aparece a grandeindústria mecânica moderna: tal é, em linhas gerais e não completas, o quadro dedesenvolvimento das forças produtivas sociais no transcurso da história daHumanidade. Além disso, como é lógico, o desenvolvimento e aperfeiçoamento dosinstrumentos de produção correm a cargo de homens relacionados com a produção enão se realizam com independência destes: portanto, à par com as mudanças e odesenvolvimento dos instrumentos de produção, mudam e se desenvolvem também oshomens, como elemento mais importante das forças produtivas, mudam e sedesenvolvem sua experiência no que se refere à produção, seus hábitos de trabalho eseu talento para o emprego dos instrumentos de produção.

Em consonância com as mudanças e o desenvolvimento experimentados pelas

forças produtivas da sociedade no curso da história, mudam também e sedesenvolvem as relações de produção entre os homens, suas relações econômicas.A história conhece cinco tipos fundamentais de relações de produção: o

comunismo primitivo, a escravidão, o feudalismo, o capitalismo e o socialismo.Sob o regime do comunismo primitivo, a base das relações de produção é a

propriedade social sobre os meios de produção. Isto é o que em substância,corresponde ao caráter das forças produtivas durante este período. As ferramentas depedra e o arco e a flecha, que aparecem mais tarde, excluíam a possibilidade de lutarisoladamente contra as forças da natureza e contra os animais ferozes. Se nãoqueriam morrer de fome, ser devorados pelas feras ou sucumbir nas mãos das tribosvizinhas, os homens daquela época viam-se obrigados a trabalhar em comum, e assimera como recolhiam os frutos no bosque, como organizavam a pesca, como construíamsuas habitações, etc. O trabalho em comum conduz à propriedade em comum sobre os

instrumentos de produção do mesmo modo que sobre os produtos. Ainda não haviasurgido a idéia da propriedade privada sobre os meios de produção, excetuando apropriedade pessoal de certas ferramentas, que ao mesmo tempo em que ferramentasde trabalho eram armas de defesa contra os animais ferozes. Ainda não existiaexploração, não existiam classes.

Sob o regime da escravidão, a base das relações de produção é a propriedadedo escravagista sobre os meios de produção, assim como também sobre os própriosprodutores, os escravos, a quem o escravagista podia vender, comprar e matar, comoo gado. Estas relações de produção se acham, fundamentalmente, em consonânciacom o estado das forças produtivas durante este período.

Agora, em vez das ferramentas e pedra, o homem já dispõe de ferramentas demetal. Em vez daquela mísera economia primitiva baseada na caça e que não conhecia

nem a pecuária nem a agricultura, existem a pecuária, a agricultura, os ofíciosartesãos e a divisão do trabalho entre estes diversos ramos da produção; existe apossibilidade de efetuar um intercâmbio de produtos entre os diversos indivíduos e asdiversas sociedades e a possibilidade de acumular riquezas em mãos de umas quantaspessoas; produz-se, com efeito, uma acumulação de meios de produção em mãos deuma minoria e surge a possibilidade de que esta minoria subjugue a maioria econverta seus componentes em escravos. Já não existe o trabalho livre e em comumde todos os membros da sociedade dentro do processo da produção, mas imperam ostrabalhos forçados dos escravos explorados pelos escravagistas que não trabalham.Não existe, portanto, propriedade social sobre os meios de produção nem sobre osprodutos. A propriedade social é substituída pela propriedade privada. O escravagista éo primeiro e fundamental proprietário com plenitude de direitos.

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Ricos e pobres exploradores e explorados homens com plenitude de direitos ehomens privados totalmente de direitos; uma furiosa luta de classes entre uns eoutros: tal é o quadro que o regime da escravidão apresenta.

Sob o regime feudal, a base das relações de produção é a propriedade dosenhor feudal sobre os meios de produção e sua propriedade parcial sobre osprodutores, sobre os servos, a quem já não pode matar, porém a quem se podecomprar e vender. A par com a propriedade feudal existe a propriedade pessoal docamponês e do artesão sobre os instrumentos de produção e sobre sua terra ou suaindústria privada, baseada no trabalho pessoal. Estas relações de produção se achamfundamentalmente, em consonância com o estado das forças produtivas durante esteperíodo. O aperfeiçoamento progressivo da fundição e elaboração de metais, a difusãodo arado de ferro e do tear, os progressos da agricultura, da horticultura, davinicultura e da fabricação de azeite, o aparecimento das primeiras manufaturas juntoàs oficinas dos artesãos: tais são os traços característicos do estado das forçasprodutivas durante este período.

As novas forças produtivas exigem que se deixe ao trabalhador, certa iniciativana produção, que sinta certa inclinação para o trabalho e se ache interessado nele. Porisso, o senhor feudal prescinde dos escravos, que não sentem nenhum interesse porseu trabalho, não põem nele a menor iniciativa, e prefere entender-se com os servos,que tem seus próprios bens e suas próprias ferramentas e se acham interessados emcerto grau pelo trabalho na medida necessária para trabalhar a terra e pagar ao senhorem espécie com uma parte da colheita.

Durante este período, a propriedade privada faz novos progressos. A exploraçãocontinua sendo tão voraz quanto na escravidão ainda que um pouco suavizada. A lutade classes entre os exploradores e os explorados é o traço fundamental do feudalismo.

Sob o regime capitalista a base das relações de produção é a propriedadecapitalista sobre os meios de produção e a inexistência de propriedade sobre osprodutores, operários assalariados, a quem o capitalista não pode matar nem vender,pois se acham isentos dos vínculos de sujeição pessoal, porém carecem de meios deprodução, pelo que, para não morrerem de fome, se vêem obrigados a vender suaforça de trabalho ao capitalista e submeter-se ao jugo da exploração. À par com apropriedade capitalista sobre os meios de produção existe e se acha, nos primeirostempos muito generalizada, a propriedade privada do camponês e do artesão, livres daservidão, sobre seus meios de produção, e baseada no trabalho pessoal. Em lugar dasoficinas dos artesãos e das manufaturas, surgem as grandes fábricas e empresas,

dotadas de maquinarias. Em lugar de fazendas dos nobres, cultivadas com osprimitivos instrumentos camponeses de produção, aparecem as grandes exploraçõesagrícolas capitalistas, montadas com técnica agrária e dotadas de maquinaria agrícola.

As novas forças produtivas exigem trabalhadores mais cultos e mais hábeis queos servos mantidos no embrutecimento e na ignorância; trabalhadores capazes deatender e manejar as máquinas. Por isso, os capitalistas preferem tratar com operáriosassalariados livres dos vínculos da servidão e suficientemente cultos para saberemmanejar a maquinaria.

Porém, depois de desenvolverem-se as forças produtivas em proporçõesgigantescas, o capitalismo se enreda em contradições insolúveis para ele. Ao produzircada vez mais mercadorias e fazer baixar cada vez mais seus preços, o capitalismoestimula a concorrência, arruína uma massa de pequenos e médios proprietários,

converte-os em proletários e abaixa seu poder aquisitivo, com o que a venda dasmercadorias produzidas se torna impossível. Ao dilatar a produção e concentrarmilhões de operários em enormes fábricas e empresas, o capitalismo dá ao processode produção um caráter social e vai minando com isso sua própria base, já que ocaráter social do processo de produção reclama a propriedade social sobre os meios deprodução, enquanto que a propriedade sobre os meios da produção continua sendouma propriedade privada capitalista, incompatível com o caráter social que o processode produção apresenta.

Estas contradições irredutíveis entre o caráter das forças produtivas e o dasrelações de produção se manifestam nas crises periódicas de superprodução, em queos capitalistas, não encontrando compradores solventes, como conseqüência doempobrecimento da massa da população, provocada por eles próprios, se vêem

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obrigados a queimar os produtos, destruir as mercadorias elaboradas, paralisar aprodução e devastar as forças produtivas, e em que milhões e milhões de seres sevêem condenados ao desemprego e à fome, não por que escasseiem as mercadorias,mas muito ao contrário: por havê-las produzido em excesso.

Isto quer dizer que as relações capitalistas de produção já não estão emconsonância com o estado das forças produtivas da sociedade, mas se acham emirredutível contradição com elas.

Isto quer dizer que o capitalismo leva em sua entranha a revolução, umarevolução que está chamada a substituir a atual propriedade capitalista sobre os meiosde produção pela propriedade socialista.

Isto quer dizer que o traço fundamental do regime capitalista é a maisencarniçada luta de classes entre os explorados.

Sob o regime socialista que até hoje só é uma realidade na URSS, a base dasrelações de produção é a propriedade social sobre os meios de produção. Aqui já nãohá exploradores nem explorados. Os produtos criados se distribuem de acordo com otrabalho, segundo o princípio de “quem não trabalha não come”. As relações mútuasentre os indivíduos dentro do processo de produção têm o caráter de relações decolaboração fraternal e de mútua ajuda socialista entre os trabalhadores livres de todaa exploração. As relações de produção se acham em plena consonância com o estadodas forças produtivas, pois o caráter social do processo de produção é referendadopela propriedade social sobre os meios de produção.

Por isso, a produção socialista da URSS não conhece as crises periódicas de

superprodução nem os absurdos que acarretam.Por isso, na URSS, as forças produtivas se desenvolvem com ritmo acelerado,já que suas respectivas relações de produção, ao se acharem em consonância comelas, não opõem o menor entrave a este desenvolvimento.

Tal é o quadro que o desenvolvimento das relações de produção entre oshomens apresenta, no curso da história da Humanidade.

Tal é a relação de dependência em que se acha o desenvolvimento das relaçõesde produção a respeito do desenvolvimento das forças produtivas da sociedade, e,sobretudo, quanto ao desenvolvimento dos instrumentos de produção, em virtude dosquais as mudanças e o desenvolvimento que experimentam as forças produtivas setraduzem, mais cedo ou mais tarde, nas mudanças e no desenvolvimento congruentesdas relações de produção.

 “O uso e a criação de meios de trabalho (1) – diz Marx – ainda que em gérmen

se apresente já em certas espécies animais, caracterizam o processo de trabalhoespecificamente humano, razão por que Franklin define o homem como um animal quefabrica instrumentos. E assim como a estrutura de restos fósseis de ossos tem umagrande importância para reconstruir a organização de espécies animais desaparecidas,os vestígios de meios de trabalho nos servem para apreciar antigas formaçõeseconômicas da sociedade já sepultadas. O que distingue as épocas econômicas umasde outras não é o que se produz, senão como se produz. Os meios de trabalho não sãosomente o graduador do desenvolvimento da força de trabalho do homem, mastambém o expoente das relações sociais em que se trabalha”. (K. Marx, “O Capital”, t.I pág. 189).

E em outras passagens: a) “As relações sociais estão intimamente vinculadas às forças produtivas. Ao

descobrir novas forças produtivas, os homens mudam de modo de produção (e aomudar de modo de produção, a maneira de ganhar a vida, mudam todas suas relaçõessociais). O moinho movido a braço engendra a sociedade com os senhores feudais: omoinho a vapor, a sociedade dos capitalistas industriais”. (C. Marx, “Miséria daFilosofia”, em C. Marx e Engels, Obras completas, ed. citada, t. VI, pág. 179).

 b) “Existe um movimento constante de incrementação das forças produtivas, de destruição das relações sociais e de formação das idéias: a abstração do movimentoé a única coisa imutável”. (K. Marx, Obra citada, pág. 364).

 Caracterizando o materialismo histórico, tal como se formula no “Manifesto doPartido Comunista”, diz Engels:

 “A produção econômica e a estruturação social que dela se derivanecessariamente em cada época histórica, constituem a base sobre a qual repousa a

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história política e intelectual dessa época. Portanto, toda a história da sociedade, desdea dissolução do regime primitivo de propriedade coletiva sobre o solo, tem sido umahistória de lutas de classe, de lutas entre classes exploradoras e exploradas,dominantes e dominadas, adequada às diferentes fases do progresso social... Agoraesta luta chegou a uma fase em que a classe explorada e oprimida (o proletariado) jánão pode emancipar-se da classe que a explora e a oprime (a burguesia), sememancipar para sempre a sociedade inteira da opressão, da exploração, e da luta declasses...” (Prólogo de Engels à edição alemã de 1883, “Manifesto do PartidoComunista”, ed. Europa-América, 1883, pág. 9).

A terceira característica da produção consiste em que as forças produtivas e asnovas relações de produção congruentes com elas não surgem desligadas do velhoregime, depois de desaparecer este, mas se formam no seio dele; e não como fruto daação premeditada e consciente do homem, senão de um modo espontâneo,inconsciente e independentemente da vontade humana, por duas razões.

Em primeiro lugar, por que os homens não são livres para escolher tal ou qualmodo de produção, pois cada nova geração, ao entrar na vida, se encontra já com umsistema estabelecido de forças produtivas e relações de produção como fruto dotrabalho das gerações passadas, em vista do que, se quer ter a possibilidade deproduzir bens materiais, não tem, nos primeiros tempos, outro remédio que aceitar oestado de coisas com que se encontra dentro do campo da produção e adaptar-se aele.

Em segundo lugar, porque quando se aperfeiçoa tal ou qual instrumento de

produção, tal ou qual elemento das forças produtivas, o homem não sabe, nãocompreende, nem lhe ocorre sequer pensar nisso, que conseqüências sociais suainovação pode acarretar, mas pensa única e exclusivamente em seu interesse pessoal,em facilitar seu trabalho e em obter algum proveito imediato e tangível para si.

Quando alguns indivíduos da sociedade comunista primitiva começaram asubstituir, paulatinamente e tateando o terreno, as ferramentas de pedra pelas deferro, ignoravam, naturalmente, e não lhes passava pela mente, que conseqüênciassociais haviam de ter esta inovação, não sabiam nem compreendiam que a passagempara as ferramentas metálicas significava uma mudança radical na produção, mudançaque no fim de contas conduziria ao regime da escravidão; a única coisa que lhesinteressava era facilitar seu trabalho e conseguir um proveito imediato e sensível: aação consciente com que realizavam aquele ato não saía do estreito limite destavantagem tangível, de caráter pessoal.

Quando, dentro do período do regime feudal, a jovem burguesia européiacomeçou a organizar, junto às pequenas oficinas gremiais dos artesãos, as grandesempresas manufatureiras, imprimindo com isso um avanço às forças produtivas dasociedade, não sabia, naturalmente, nem passava por sua mente, que conseqüênciassociais esta inovação havia de acarretar: não sabia nem compreendia que esta“pequena” inovação conduziria a uma reagrupação tal das forças sociais, quenecessariamente desembocaria na revolução, a qual iria dirigida tanto contra a realeza,cujas mercês tanto apreciava, como contra a nobreza, cuja condição social não poucosdos seus melhores representantes sonhavam escalar; a única coisa que a preocupavaera baratear a produção de mercadorias, lançar uma maior quantidade de artigos nosmercados da Ásia e da América recém-descoberta, e obter maiores lucros; a açãoconsciente com que realizavam aquele ato não ia além do estreito limite desta

finalidade tangível.Quando os capitalistas russos, juntamente com os capitalistas estrangeiros,começaram a aclimatar na Rússia, de um modo intensivo, a moderna e grandeindústria mecânica, deixando o czarismo intacto e os camponeses entregues àvoracidade dos senhores de terra, não sabiam, naturalmente, nem lhes passava pelamente, que conseqüências sociais este importante incremento das forças produtivashavia de acarretar; não sabiam, nem comprendiam que este importante salto que sedava no campo das forças produtivas da sociedade conduziria a uma reagrupação taldas forças sociais, que daria ao proletariado a possibilidade de se unir aos camponesese de levar a cabo a revolução socialista vitoriosa; a única coisa que eles queriam eraincrementar até o máximo a produção industrial, dominar o gigantesco mercadointerior do país, converter-se em monopolistas e obter maiores lucros da Economia

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nacional: a consciência com que realizavam aquele ato não ia mais além do horizonteempírico e estreito de seus interesses pessoais.

Em relação com isto, diz Marx: “Na produção social da vida (isto é, na produção dos bens materiais necessários

para a vida dos homens. N. da R.), os homens contraem determinadas relaçõesnecessárias e independentes (1) de sua vontade, relações de produção quecorrespondem a uma determinada fase de desenvolvimento de suas forças produtivasmateriais” (Karl Marx , ed. citada, pág. 339).

Isto não significa, naturalmente, que as mudanças operadas nas relações deprodução e a passagem das velhas relações de produção a outras novas decorrampura e simplesmente, sem conflitos e sem comoções. Pelo contrário, estas mudançasrevestem geralmente a forma de uma derrocada revolucionária das velhas relações deprodução para dar lugar à instauração de outras novas. Até chegar um certo período, odesenvolvimento das forças produtivas e as mudanças que se operam no campo dasrelações de produção decorrem dum modo espontâneo, independentemente davontade dos homens. Porém só até um determinado momento, até o momento em queas forças produtivas que surgem e se desenvolvem logram amadurecer inteiramente.Uma vez que as novas forças produtivas estão amadurecidas, as relações de produçãoexistentes e seus representantes, as classes dominantes, se convertem nesteobstáculo “insuperável” que só se pode eliminar por meio da ação consciente dasnovas classes, por meio da ação violenta destas classes, por meio da revolução. Aquise destaca com grande nitidez a enorme importância das novas idéias sociais, das

novas instituições políticas, no novo Poder político, chamados a liquidar pela força asvelhas relações de produção. Do conflito entre as novas forças produtivas e as velhasrelações de produção, das novas exigências econômicas da sociedade surgem novasidéias sociais; estas novas idéias organizam e mobilizam as massas, as massas sefundem num novo exército político, criam um novo Poder revolucionário e utilizam estepoder para liquidar pela força o velho regime estabelecido no campo das relações deprodução e referendar o regime novo. O processo espontâneo de desenvolvimento dálugar à ação consciente do homem, o desenvolvimento pacífico à transformaçãoviolenta, a evolução à revolução.

 “O proletariado – diz Marx – se vê obrigado a organizar-se como classe paralutar contra a burguesia... por meio da revolução se converte em classe dominante e,enquanto classe dominante destrói pela força as relações vigentes de produção”.(“Manifesto do Partido Comunista” ed. citada, pág. 37). 

E em suas obras, noutros trechos:a) “O proletariado valer-se-á do Poder político para ir despojando

gradualmente a burguesia de todo o capital, de todos os instrumentos de produção,centralizando-os em mãos do Estado, isto é, do proletariado organizado como classedominante, e procurando aumentar por todos os meios e com a maior rapidez possívelas forças produtivas”. (Obra citada, pág. 36).

b) “A violência é a parteira de toda sociedade velha que leva em suasentranhas outra nova” (Marx, “O Capital”, t. II pág. 788). 

Eis em que termos Marx formulava, com traços geniais a essência domaterialismo histórico, no memorável “prólogo” escrito em 1859 para seu famoso livro“Contribuição à crítica da Economia política”: 

 “Na produção social de sua vida, os homens contraem determinadas relações

necessárias, independentes de sua vontade, relações de produção, que correspondema uma determinada fase do desenvolvimento de suas forças produtivas materiais. Oconjunto destas relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade, abase real sobre a qual se levanta a superestrutura jurídica e política e a quecorrespondem determinadas formas de consciência social. O sistema de produção davida material condiciona todo o processo da vida social, política e espiritual. Não é aconsciência do homem que determina sua existência, mas, pelo contrário, suaexistência social que determina sua consciência. Ao chegar a uma determinada fase dedesenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade se chocam com ascondições de produção existentes ou, o que não é mais do que a expressão jurídicadisto, com as relações de propriedade dentro das quais se tem movido até ali. Deformas de desenvolvimento das forças produtivas, estas relações se transformam em

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entraves. E se abre assim uma época de revolução social. Ao mudar a base econômica,se transforma mais ou menos lentamente, mais ou menos rapidamente, toda a imensasuperestrutura erigida sobre ela. Quando se estudam estas transformações, tem-seque distinguir sempre entre as mudanças materiais operadas nas condiçõeseconômicas de produção e que podem apreciar-se com a exatidão própria das ciênciasnaturais, e as formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas,ideológicas, em uma palavra, em que os homens tomam consciência deste conflito e ocombatem. E do mesmo modo que não podemos julgar um indivíduo pelo que elepensa de si mesmo, não podemos julgar tão pouco estas épocas de transformação porsua consciência, mas, pelo contrário, deve explicar-se esta consciência pelascontradições da vida material, pelo conflito existente entre as forças produtivas sociaise as relações de produção. Nenhuma formação social desaparece antes que sedesenvolvam todas as forças produtivas que cabem dentro dela, e jamais aparecemnovas e mais altas relações de produção antes que as condições materiais para suaexistência hajam amadurecido no seio da sociedade antiga. Por isso, a humanidadesempre propõe a si mesma unicamente os objetivos que pode alcançar, pois, bemolhadas as coisas, vemos sempre que estes objetivos só brotam quando já se dão ou,pelo menos, se estão gestando as condições materiais para sua realização”. (K. Marx,  Obras Escolhidas, t. I, págs. 338-339).

Tal é a concepção do materialismo marxista, em sua aplicação à vida social, emsua aplicação à história da sociedade.

Tais são os traços fundamentais do materialismo dialético e do materialismo

histórico.Pelo exposto, se vê que riqueza teórica era a que Lênin defendia para o Partido,contra os ataques dos revisionistas e dos degenerados, e quão imensa foi aimportância que teve a publicação do seu livro “Materialismo e Empiriocriticismo”, parao desenvolvimento do Partido bolchevique.

 3 – Os bolcheviques e os mencheviques durante os anos da reaçãostolypiniana – A luta dos bolcheviques contra os liquidacionistas e os“otsovistas”.  

Durante os anos da reação, o trabalho nas organizações do Partido eramuitíssimo mais difícil que no período precedente de avanço da revolução. O

contingente de filiados ao Partido desceu bruscamente. Muitos elementos pequeno-burgueses que haviam aderido circunstancialmente ao Partido, principalmente entre osintelectuais, começaram a abandonar suas fileiras, temerosos das perseguições dogoverno czarista.

Lênin assinalava que em momentos como estes os partidos revolucionáriosdevem completar sua aprendizagem. Nos períodos de auge da revolução aprendem aavançar, nos períodos de reação devem aprender a recuar acertadamente, a passar àclandestinidade, a manter e fortalecer o Partido como organização clandestina, autilizar todas as possibilidades legais e todas as organizações legais, principalmente asorganizações de massas para fortalecer os vínculos com estas.

Os mencheviques batiam em retirada, cheios de pânico, sem fé no novo avançoda revolução, renegando vergonhosamente as reivindicações revolucionárias doprograma e as consignas revolucionárias do Partido, e pretendiam liquidar, destruir o

Partido clandestino revolucionário do proletariado. Daí o nome de liquidacionistas comque se começou a designar esta espécie de mencheviques.

Ao contrário dos mencheviques, os bolcheviques estavam convencidos de quedentro de poucos anos sobreviria um novo avanço da revolução e de que era dever doPartido preparar as massas para este novo avanço. Os problemas fundamentais darevolução não haviam sido resolvidos. Os camponeses não tinham obtido as terras doslatifundiários, os operários não tinham conseguido a jornada de 8 horas, não tinha sidoderrubada à autocracia czarista, odiada pelo povo, e voltaram a ser estranguladas aspequenas liberdades políticas que haviam sido arrancadas ao czarismo em 1905. Emsuma, as causas que provocaram esta revolução continuavam de pé. Por isso, os

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bolcheviques estavam convencidos de que sobreviria um novo avanço do movimentorevolucionário, preparavam-se para ele e concentravam as forças da classe operária.

Outra das razões que dava aos bolcheviques a segurança de que era inevitávelum novo avanço da revolução foi que a revolução de 1905 havia ensinado aosoperários a conquistar seus direitos por meio da luta revolucionária de massas.Durante os anos de reação, durante os anos de ofensiva do capital, os operários nãopodiam esquecer os ensinamentos de 1905.

Lênin citava cartas de operários, nas quais estes, expondo os abusos e asburlas de que voltavam a ser vítimas por parte dos patrões exclamavam:

 “Aguardai que já virá um novo 1905”. O objetivo político fundamental dos bolcheviques continuava sendo o mesmo de

1905: derrubar o czarismo, levar a termo a revolução democrático-burguesa, passar àrevolução socialista. Os bolcheviques não perdiam de vista nem um minuto esteobjetivo e continuavam esclarecendo as massas com as consignas revolucionáriasfundamentais: República democrática, confiscação das terras dos latifundiários,jornada de 8 horas.

Porém a tática do Partido não podia continuar sendo a mesma que no períodode auge da revolução de 1905. Por exemplo, durante os primeiros tempos não erapossível chamar as massas à greve política geral, nem à insurreição armada, porque oPartido se achava num período de declínio do movimento revolucionário, ante umcansaço enorme da classe operária e ante um fortalecimento considerável das classesreacionárias. O Partido não podia deixar de ter em conta a nova situação. Tinha que

substituir a tática da ofensiva pela tática da defensiva, pela tática da acumulação deforças, pela tática de retirar os quadros para a clandestinidade e organizar o trabalhoclandestino do Partido, pela tática de combinar o trabalho ilegal do Partido com otrabalho nas organizações operárias legais.

E os bolcheviques souberam cumprir esta missão. “Soubemos trabalhar durante longos anos com vistas à revolução – diz Lênin – 

Não é em vão que dizem que somos firmes como a rocha. Os social-democrátascriaram um Partido proletário que não desanima ante o fracasso da primeira acometidaguerreira, que não perde a cabeça nem se deixa levar por aventuras” (Lênin, t. XIIIpág. 126, ed. russa).

Os bolcheviques lutavam por manter e assegurar as organizações clandestinasdo Partido. Porém, ao mesmo tempo, consideravam necessário utilizar todas aspossibilidades legais, até o menor vestígio legal, para manter e fortalecer os vínculos

com as massas, reforçando com isso o Partido.“Foi o período em que nosso Partido fez a mudança da luta revolucionária

aberta contra o czarismo pela luta por meio de rodeios, pela utilização de todas e cadauma das possibilidades legais, desde as associações operárias de socorros mútuos atéa tribuna da Duma. Foi o período de recuo depois de terem sido derrotados narevolução de 1905. Esta mudança exigia de nós a assimilação de novos métodos deluta para, depois de acumularmos forças, lançarmo-nos de novo à luta revolucionáriaaberta contra o czarismo” (Stalin, “Atas taquigráficas do XVI Congresso do PC (b) daURSS”, 1935, págs. 366-367).

As organizações legais que tinham saído indenes serviam como de anteparopara as organizações clandestinas do Partido e de meio de ligação com as massas.Para manter os vínculos com estas, os bolcheviques se valiam dos sindicatos e das

demais organizações sociais de caráter legal: associações de socorros mútuos,cooperativas operárias, clubes e sociedades culturais, Casas do Povo, etc. Utilizavam atribuna da Duma para desmascarar a política do governo czarista, para desmascarar osKadetes, para atrair os camponeses para o lado dos operários. A manutenção daorganização clandestina do Partido e a direção através dela de todas as demais formasde ação política garantiam ao Partido a aplicação da linha política acertada e apreparação das forças para o novo avanço revolucionário.

Os bolcheviques aplicaram sua linha revolucionária, lutando em duas frentes:contra os liquidacionistas, inimigos abertos do Partido, e contra os chamadosotsovistas, adversários encobertos dele.

Os bolcheviques, com Lênin à frente, mantiveram uma luta intransigente contraos liquidacionistas desde o primeiro momento em que surgiu esta tendência

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oportunista. Lênin assinalava que os liquidacionistas eram agentes da burguesia liberaldentro do Partido.

Em dezembro de 1908, celebrou-se em Paris a quinta Conferência (nacional) doPOSDR. Por proposta de Lênin, esta conferência condenou a posição dosliquidacionistas, ou melhor, as tentativas de uma parte dos intelectuais filiados aoPartido (mencheviques) de “liquidar a organização existente do POSDR e substituí -lapor uma agrupação informe, mantida a todo custo dentro do aspecto da legalidade,ainda que para isso houvesse que renunciar de um modo claro e franco ao programa, àtática e às tradições do Partido” (“Resoluções do PC (b.) da URSS”, parte I, pág. 128).  

A Conferência fez um chamado a todas as organizações do Partido para quelutassem energicamente contra estas tentativas dos liquidacionistas.

Porém os mencheviques não se limitaram a esta resolução da Conferência doPartido e foram descendo cada vez mais pela senda dos liquidacionistas, traindo arevolução e aproximando-se dos kadetes. Os mencheviques voltavam às costas cadavez mais descaradamente ao programa revolucionário do Partido do proletariado, àsreivindicações da República democrática, da jornada de 8 horas e da confiscação dasterras dos latifundiários. À custa de renunciar ao programa e à tática do Partido,queriam obter do governo czarista a autorização para que funcionasse um partidopretendidamente “operário”, com existência aberta e legal. Estavam dispostos a f azeras pazes com o regime stolypiniano e a adaptar-se a ele, razão porque se davatambém aos liquidacionistas o nome de “partido operário stolypiniano”. 

Ao mesmo tempo em que lutavam contra estes adversários descarados da

revolução, contra os liquidacionistas – acaudilhados por Dan, Axerold e Potresov,ajudados por Martov, Trotsky e outros mencheviques –, os bolcheviques mantinhamtambém uma luta implacável contra os liquidacionistas encobertos, contra os“otsovistas”, que disfarçavam seu oportunismo com frases “esquerdistas”. Começou-sea dar o nome de “otsovistas” a um grupo de ex-bolcheviques que exigiam que oPartido retirasse os deputados operários da Duma e renunciasse em geral a todaatuação dentro das organizações legais.

Estes filiados ao Partido bolchevique, que em 1908 exigiam a retirada dosdeputados social-democratas da Duma, e daí o nome de “otsovistas” (do russo“otsavat” - revogar, retirar), formaram um grupo a parte (constituído por Bogdanov,Lunacharski, Alexinski, Paravski, Bubnov e outros), o qual começou a lutar contraLênin e contra a linha leninista. Os “otsovistas” negavam-se resolutamente a trabalharnos sindicatos operários e nas demais organizações legais. Com isso, infligiam um

grave dano à causa operária. Rompiam os vínculos entre o Partido e o proletariado,privavam aquele da ligação com as massas sem partido, queriam encerrar-se naorganização clandestina e ao mesmo tempo expunham esta aos golpes do inimigo, aoprivá-la da possibilidade de entrincheirar-se atrás das organizações legais. Os“otsovistas” não compreendiam que na Duma e através dela os bolcheviques podiaminfluir sobre os camponeses, podiam desmascarar a política do governo czarista, apolítica dos kadetes, os quais pretendiam arrastar com eles os camponeses por meiodo engano. Os “otsovistas” entorpeciam o trabalho de acumular forças para o novoavanço revolucionário. Eram, portanto, “liquidacionistas ao reverso”, pois aspiravamliquidar a possibilidade de valer-se das organizações legais e de fato renunciavam àdireção proletária sobre as grandes massas sem partido, renunciavam ao trabalhorevolucionário.

 Numa Conferência ampliada da redação do periódico bolchevique “Proletari” (Oproletário), convocada em 1909 para julgar a conduta dos “otsovistas”, foi condenadaa atitude deste grupo. Os bolcheviques declararam que não tinham a menor afinidadecom eles e os expulsaram do Partido.

 Tanto os liquidacionistas como os “otsovistas” nunca foram mais do queelementos pequeno-burgueses circunstancialmente aderidos ao proletariado e a seuPartido e que, ao chegarem os momentos difíceis para o proletariado, tiraram amáscara e descobriram sua verdadeira face.

 4 – A luta dos bolcheviques contra o trotskismo – O Bloco de Agostocontra o Partido.

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   Enquanto os bolcheviques lutavam encarniçadamente em duas frentes – contra

os liquidacionistas e os “otsovistas” – por manter a linha do Partido proletário, Trotskyapoiava os mencheviques liquidacionistas. Foi precisamente por estes anos que Lênin ochamou “o Judas Trotsky”. Este organizou em Viena (Áustria) um grupo publicista ecomeçou a editar um jornal “situado por cima das frações” que na realidade era umórgão menchevique. Eis o que Lênin escrevia então sobre ele: “Trotsky se comportacomo o pior arrivista e divisionista. Fala muito no Partido, porém se conduz pior quetodos os demais divisionistas”. 

Mais tarde, em 1912, Trotsky foi o organizador do bloco de Agosto, que não erasenão um bloco de todos os grupos e tendências anti-bolcheviques contra Lênin econtra o Partido. A este bloco anti-bolchevique se uniram os liquidacionistas e os“otsovistas”, demonstrando com isso sua finalidade. Trotsky e os trotskistas adotavamem todos os problemas fundamentais uma posição liquidacionista. No entanto, Trotskydisfarçava sua tendência liquidacionista com uma atitude centrista, ou melhor,conciliadora, afirmando que ele estava à margem dos bolcheviques e dosmencheviques e lutava por conciliá-los. Por este motivo, Lênin dizia que Trotsky eramais vil e mais daninho que os liquidacionistas descarados, por que enganava osoperários, fazendo-lhes crer que estava “por cima das frações”, quando na realidadeapoiava com todas suas forças os liquidacionistas mencheviques.

O trotskismo era o grupo principal entre os fomentadores do centrismo. “O centrismo – escreve o camarada Stalin – é um conceito político. Sua

ideologia é a ideologia da adaptação, a ideologia da subordinação dos interessesproletários aos interesses da pequena-burguesia dentro de um partido comum. Estaideologia é estranha e hostil ao leninismo” (Stalin, “Problemas do Leninismo”, pág.379, ed. russa).

Durante este período, Kamenev, Zinoviev e Rykov atuavam, de fato, comoagentes dissimulados de Trotsky, pois o ajudavam não poucas vezes na luta contraLênin. Com o apoio de Zinoviev, Kamenev, Rykov e outros aliados encobertos deTrotsky, foi convocado em janeiro de 1910, contra a opinião de Lênin, um Pleno doComitê Central. Naquela época, em conseqüência da detenção de uma série debolcheviques, havia mudado a fisionomia do CC do Partido e isto deu aos elementosvacilantes a possibilidade de fazer votar resoluções anti-leninistas. Assim se explicacomo neste Pleno se resolvesse suspender a publicação do jornal bolchevique“Proletari” e ajudar com dinheiro o jornal “Pravda” (“A Verdade”), que Trotsky editava

em Viena. Kamenev passou a formar parte da redação do órgão trotskista e seesforçou, junto com Zinoviev, em convertê-lo em órgão do Comitê Central.

Só ante a insistência de Lênin se logrou que o Pleno de Janeiro do CC tomassea resolução de condenar os liquidacionistas e os “otsovistas”; porém também aquiZinoviev e Kamenev defenderam tenazmente a proposta trotskista de que não sechamasse os liquidacionistas por seu verdadeiro nome.

Ocorreu tal como Lênin havia previsto e advertido: só os bolcheviques acataramas resoluções do Pleno, suspendendo a publicação de seu órgão “Proletari”, enquantoos mencheviques continuavam publicando o jornal divisionista e liquidacionista “A Vozdo Social-democrata”. 

A posição de Lênin foi apoiada inteiramente pelo camarada Stalin, o qualpublicou um artigo especial no número 11 do “Social-democrata”. Neste artigo se

condenava a conduta dos cúmplices do trotskismo e se falava da necessidade deliquidar a situação anormal criada dentro da fração bolchevique pela atitude traidorade Kamenev e Rykov. Em seu artigo, o camarada Stalin destacava as tarefas urgentes,que foram resolvidas mais tarde pela Conferência do Partido celebrada em Praga:convocação de uma conferência geral do Partido, publicação de um diário legal deste ecriação de um centro clandestino para a atuação prática na Rússia. Este artigo sebaseava nas resoluções do Comitê de Baku, que apoiava Lênin sem reservas.

Para contrabalançar o bloco anti-bolchevique de Agosto, o bloco de Trotsky, doqual faziam parte exclusivamente elementos hostis ao Partido, desde osliquidacionistas e os trotskistas até os “otsovistas” e os “construtores de deus”, foicriado um bloco de partidários da manutenção e fortalecimento do Partido proletárioclandestino. Neste bloco entraram os bolcheviques, com Lênin à frente, e um pequeno

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número de mencheviques defensores do Partido, à frente dos quais se achavaPlekhanov. Embora numa série de problemas Plekhanov e seu grupo de mencheviquesdefensores do Partido permaneciam nas posições mencheviques, mantinham-seresolutamente á margem do Bloco de Agosto e dos liquidacionistas e lutavam porchegar a um acordo com os bolcheviques. Lênin aceitou a proposta de Plekhanov epactuou um bloco temporário com ele, contra os elementos inimigos do Partido, tendoem conta que este bloco era benéfico para o Partido e funesto para os liquidacionistas.

O camarada Stalin apoiou incondicionalmente este bloco. Achava-se naquelaépoca no desterro, de onde dirigiu uma carta a Lênin, em que dizia:

 “A meu modo de ver, a linha do bloco (Lênin-Plekhanov) é a única acertada: 1)esta linha e só ela é a que responde aos verdadeiros interesses da atuação dentro daRússia, que exige a coesão de todos os elementos que verdadeiramente estão com oPartido; 2) esta linha e só ela é a que acelera o processo de libertação dasorganizações legais do jugo dos liquidacionistas, abrindo um fosso entre os operáriosmencheviques e os liquidacionistas, dispersando-os e esmagando-os”. (Antologia“Lênin e Stalin”, ed. russa, t. I 529-530).

Graças à sua hábil combinação do trabalho clandestino com o trabalho legal, osbolcheviques chegaram a ter nas organizações operárias legais uma forçaconsiderável. Isto ficou claro, entre outras coisas, na grande influência que osbolcheviques tiveram nos grupos operários de quatro congressos legais celebradosdurante este período: o das Universidades Populares, o Congresso Feminino, o dosMédicos de Fábricas e o Congresso contra o Alcoolismo. As intervenções dos

bolcheviques nestes congressos legais tiveram uma grande importância política erepercutiram em todo o país. Assim, por exemplo, a delegação operária bolcheviqueque interveio no Congresso das Universidades Populares desmascarou a política doczarismo, que sufocava todo trabalho cultural, e demonstrou que sem acabar com oczarismo não era possível pensar num verdadeiro auge cultural na Rússia.

A delegação operária que interveio no Congresso dos Médicos Fabris expôs asespantosas condições sanitárias em que tinham que viver e trabalhar os operários,para chegar à conclusão de que sem derrubar o regime czarista não havia possibilidadede organizar, como era devido à higiene fabril.

Os bolcheviques foram pouco a pouco desalojando os liquidacionistas dasdiversas organizações legais indenes em que se haviam entrincheirado. A peculiartática de frente única com o grupo plekhanovista de filiados ao Partido permitiu aosbolcheviques ganhar uma série de organizações operárias mencheviques (distrito de

Viborg, Ekaterinoslav etc.).Durante este difícil período, os bolcheviques deram, com sua atuação, um

exemplo de como se deve combinar o trabalho legal com o trabalho clandestino. 5 – A Conferência do Partido em Praga (1912) – Os bolcheviquespassam a formar um Partido marxista independente. 

A luta contra os liquidacionistas e os “otsovistas”, assim como a luta contra ostrotskistas criava aos bolcheviques a tarefa imediata de reforçar a coesão de todos osbolcheviques e de formar com eles um Partido bolchevique independente. Era istoabsolutamente necessário, não só para acabar com as tendências oportunistas dentrodo Partido, tendências que semeavam a discórdia entre a classe operária, como, além

disso, para levar a termo a obra de concentrar as forças da classe operária e prepará-la para o novo avanço da revolução.Porém, para poder cumprir esta tarefa, era necessário, antes de tudo, limpar o

Partido de oportunistas, de mencheviques.Agora, já nenhum bolchevique duvidava de que a convivência dos bolcheviques

com os mencheviques num só partido era algo inconcebível. A conduta traidora dosmencheviques durante o período da reação stolypiniana, suas tentativas de liquidar oPartido proletário e de organizar um novo partido, de tipo reformista, levaram àruptura com eles. Convivendo num partido com os mencheviques, os bolchevistasassumiam de um modo ou de outro uma responsabilidade moral pela condutadaqueles. E os bolcheviques não podiam, de modo algum, carregar com nenhuma

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responsabilidade moral pela conduta descaradamente traidora dos mencheviques, amenos que quisessem converter-se também eles em traidores do Partido e da classeoperária. A unidade com os mencheviques dentro de um só partido convertia-se, pois,numa traição à classe operária e ao Partido desta. Era necessário, portanto, levar atermo a ruptura efetiva com os mencheviques, romper com eles de um modo formal eorgânico, expulsá-los do Partido.

Este caminho era o único pelo qual se podia restaurar o Partido revolucionáriodo proletariado, com unidade de programa, unidade de tática e unidade deorganização de classe.

Era o único caminho pelo qual se podia instaurar dentro do Partido uma unidadeefetiva (e não meramente formal), unidade que havia sido quebrada pelosmencheviques.

Tal era a tarefa que a VI Conferência geral do Partido tinha de cumprir,conferência preparada pelos bolcheviques.

Porém este problema não era mais que um dos aspectos do assunto. A rupturaformal com os mencheviques e a formação de um partido a parte com os bolcheviquesconstituíam indubitavelmente, uma tarefa política muito importante. Mas, seapresentava aos bolcheviques, além disso, outra ainda mais importante. Não setratava somente de romper com os mencheviques e constituir um partidoindependente, mas se tratava, antes de tudo, de criar, rompendo com osmencheviques, um novo partido, de criar um partido de novo tipo, um partidodiferente dos partidos social-democrátas correntes dos países ocidentais, um partido

livre de elementos oportunistas e capaz de conduzir o proletariado à luta pelo Poder.Em sua luta contra os bolcheviques, todos os mencheviques, sem distinção dematizes, desde Axerold e Martinov até Martov e Trotsky, se serviam invariavelmentede armas obtidas no arsenal dos social-democrátas do Ocidente da Europa. Queriampossuir na Rússia um partido como, por exemplo, o Partido social-democrata alemãoou francês. E lutavam contra os bolcheviques, precisamente porque pressentiam nelesalgo novo, insólito, diverso da social-democracia ocidental. E que eram, então, ospartidos social-democrátas do Ocidente? Uma mistura, um conglomerado de elementosmarxistas e oportunistas, de amigos e inimigos da revolução, de partidários eadversários da causa do Partido, numa conciliação ideológica gradual dos primeiroscom os segundos e uma submissão gradual e efetiva daqueles a estes. Conciliação comos oportunistas, com os traidores da revolução, em nome de que?, perguntavam osbolcheviques aos social-democratas da Europa ocidental. Em nome da “paz dentro do

Partido”, em nome da “unidade”, respondiam-lhes. A unidade com quem, com osoportunistas? Sim, respondiam aqueles; com os oportunistas. Era evidente quepartidos assim não podiam ser partidos revolucionários.

Os bolcheviques não podiam deixar de observar que, depois da morte deEngels, os partidos social-democrátas da Europa ocidental haviam começado adegenerar de partidos da revolução social em partidos de “reformas sociais”, e quetodos eles se haviam convertido, como organizações, de forças dirigentes em simplesapêndices de seus próprios grupos parlamentares.

Os bolcheviques não podiam desconhecer que um partido assim não é capaz deconduzir a classe operária à revolução.

Os bolcheviques não podiam desconhecer que o proletariado não precisa departidos como estes, porém de um partido diferente, novo, um autêntico Partido

marxista, irreconciliável em sua atitude frente aos oportunistas, e revolucionário emsua atitude frente à burguesia, um partido que fosse o Partido da revolução social, oPartido da ditadura do Proletariado.

Um partido assim, um partido novo deste tipo, era precisamente o que osbolcheviques aspiravam criar. E, com efeito, os bolcheviques criaram, forjaram estepartido. Toda a história de sua luta contra os “economistas”, os mencheviques, ostrotskistas, os “otsovistas”, os idealistas de todos os matizes, até chegar aosempiriocriticistas, não era, precisamente, senão a história da preparação deste tipo departido. Os bolcheviques aspiravam forjar um partido novo, o Partido bolchevique quepudesse servir de modelo para quantos quisessem criar um partido marxistaautenticamente revolucionário. Este era o Partido que os bolcheviques vinhampreparando já desde os tempos da velha “Iskra”. Entregaram–se à sua preparação

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tenaz e ardorosamente, destruindo todos os obstáculos. Neste trabalho de preparaçãodesempenharam um papel decisivo trabalhos de Lênin tais como “Que fazer?”, “Asduas táticas”, etc. O livro de Lênin “Que fazer?” preparou ideologicamente este tipo departido. Seu livro “Um passo adiante, dois passos atrás” preparou-o no terreno daorganização. O livro “As duas táticas da social-democracia na revolução democrática” opreparou no terreno político. Finalmente, o livro de Lênin “Materialismo eEmpiriocriticismo” preparou no terreno teórico.  

Pode-se afirmar com segurança que jamais houve na história nenhum grupopolítico tão conscientemente preparado para formar um partido, como o grupobolchevique.

Em tais condições, a formação de um Partido bolchevique independente eraalgo perfeitamente preparado e amadurecido.

A missão da VI Conferência do Partido consistia em coroar a obra, já madura,com o ato da expulsão dos mencheviques e a formação de novo partido, do Partidobolchevique.

A VI Conferência nacional do Partido se celebrou em Praga, em Janeiro de1912. Estiveram representados nela mais de 20 organizações do Partido.Formalmente, teve, portanto, a mesma importância de um Congresso.

Na circular sobre a Conferência, depois de comunicar a reconstituição doaparelho central do Partido, que havia sido destruído, e a criação do CC, dizia-se queos anos de reação eram os anos mais duros por que havia passado o Partido desde aconstituição da social-democracia russa como organização definida. Porém, apesar de

todas as perseguições, apesar dos terríveis golpes assestados de obra e da traição edas vacilações dos oportunistas dentro dele, o Partido do proletariado havia mantidode pé sua bandeira e sua organização.

 “A social-democracia da Rússia não só lograra manter sua bandeira, seuprograma, seus postulados revolucionários, senão que havia mantido também suaorganização, que poderia ter saído quebrantada e debilitada, porém que nenhumaperseguição lograra aniquilar”, dizia-se na circular de convocação da Conferência.

A Conferência de Praga registrou os primeiros sinais do novo auge domovimento revolucionário da Rússia e da determinação do trabalho do Partido.

 Pelos informes dos delegados, a Conferência comprovou que “entre os operáriossocial-democratas de base se desenvolve em todas as partes um enérgico trabalhodestinado a fortalecer os grupos e organizações clandestinas da social-democracia”. 

A Conferência pôde comprovar que na base se acatava por toda parte a norma

mais importante da tática bolchevique durante o período de recuo: a de combinar otrabalho clandestino com o trabalho legal nas diversas sociedades e agrupamentosoperários deste caráter.

Na Conferência de Praga foi eleito um Comitê Central bolchevique. Dele faziamparte: Lênin, Stalin, Ordzhonikidze, Sverdlov, Spandarian, Goloshchekin e outros. Oscamaradas Stalin e Sverdlov foram eleitos na ausência deles, pois se achavamdeportados. Entre os membros suplentes do C. C. foi designado o camarada Kalinin.

Estabeleceu-se um centro de caráter prático para a direção do trabalhorevolucionário na Rússia (o Bureau russo do CC), à frente do qual se pôs o camaradaStalin. Faziam parte dele, além deste, os camaradas I. Sverdlov, S. Spandarian, S.Ordzhonikidze, M. Kalinin e Goloshchekin.

A Conferência de Praga fez o balanço de toda a luta anterior dos bolcheviques

contra o oportunismo e resolveu expulsar do Partido os mencheviques.Depois da expulsão dos mencheviques, ficou constituído, nesta conferência oPartido bolchevique independente.

Havendo liquidado ideologicamente e no terreno da organização osmencheviques com sua expulsão do Partido, os bolcheviques conservaram a velhabandeira do Partido Operário Social Democrata da Rússia, nome que o Partidobolchevique continuou usando até o ano de 1918, com a palavra “bolchevique” acrescentada entre parênteses.

Referindo-se aos resultados da Conferencia de Praga, escrevia Lênin a Gorki,em começos de 1912:

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 “Por fim, se logrou, em que pese à canalhada dos liquidacionistas, fazerrenascer o Partido e seu Comitê Central. Espero que você se alegre disto conosco”.(Lênin, t. XXXIX pág. 19, ed. russa).

E o camarada Stalin, valorizando a importância da Conferencia de Praga, dizia: “Esta Conferência teve uma enorme importância na história de nosso Partido,

pois delimitou os campos entre os bolcheviques e os mencheviques e uniu asorganizações de todo o país num Partido bolchevique único”. (Atas taquigráficas do XVCongresso do PC (b) da URSS, págs. 361-362).

Depois da expulsão dos mencheviques e da constituição dos bolcheviques empartido independente, o Partido bolchevique aumentou em solidez e fortaleza. Opartido se fortalece ao depurar-se dos elementos oportunistas: eis uma das consignasdo Partido bolchevique, como partido de novo topo, diverso por princípio dos partidossocial-democrátas da Segunda Internacional. Os partidos da Segunda Internacionalainda que de palavra se chamassem marxistas, de fato toleravam dentro de suasfileiras os adversários do marxismo, os oportunistas descarados, permitindo-lhesdecompor e por a pique a Segunda Internacional. Pelo contrário, os bolcheviquesmantinham uma luta intransigente contra os oportunistas, limpando o Partidoproletário do lixo do oportunismo e conseguindo criar um partido de novo tipo, Partidoleninista, o Partido que mais tarde havia de conquistar a ditadura do proletariado.

Se os oportunistas permanecessem dentro das fileiras do Partido proletário, oPartido bolchevique jamais teria podido marchar para seus objetivos e arrastar com eleo proletariado, jamais teria podido tomar o Poder e organizar a ditadura proletária,

jamais teria podido sair vencedor da guerra civil, jamais teria podido edificar osocialismo.Nas resoluções da Conferência de Praga se destacaram como consignas

políticas fundamentais e imediatas as reivindicações que formavam o programamínimo do Partido: a República democrática, a jornada de 8 horas e a confiscação dasterras dos latifundiários.

Com estas consignas revolucionárias os bolcheviques realizaram a campanhaeleitoral à quarta Duma.

Com estas consignas se desenvolveu o novo auge do movimento revolucionáriodas massas operárias nos anos de 1912 a 1914.  

RESUMO 

 Os anos de 1908 a 1912 foram um período dificílimo para a atuaçãorevolucionária. Depois da derrota da revolução, sob as condições do declínio domovimento revolucionário e do cansaço das massas, os bolcheviques mudaram detática e passaram da luta aberta contra o czarismo a luta por meios indiretos. Sob asduras condições da reação stolypiniana, os bolcheviques aproveitavam as menorespossibilidades legais para manter a ligação com as massas (desde as associaçõesoperárias de socorros mútuos e os sindicatos até a tribuna da Duma) e acumulavam,incansavelmente, forças para o novo auge do movimento revolucionário.

 Na dura situação criada pela derrota da revolução, pela derrubada dascorrentes de oposição, o desengano quanto à revolução e a acentuação dos ataquesrevisionistas de uma série de intelectuais desertores do Partido (Bogdanov, Basarov,

etc.) contra os fundamentos teóricos deste, os bolcheviques acreditaram ser a únicaforça dentro do Partido que não tinha enrolado sua bandeira, que se mantinha leal aseu programa e rechaçava os ataques dos “críticos” da teoria marxista (livro de Lênin“Materialismo e Empiriocriticismo”). A tempera ideológica marxista-leninista e suacapacidade para compreender as perspectivas da revolução ajudaram o núcleofundamental dos bolcheviques, estreitamente agrupados em torno de Lênin, adefender a causa do Partido e seus princípios revolucionários. “Não é em vão quedizem que somos firmes como a rocha” escrevia Lênin, falando dos bolcheviques. 

Durante este período, os mencheviques vão-se afastando cada vez mais darevolução. Convertem-se em liquidacionistas, exigem a liquidação, a destruição doPartido clandestino, revolucionário, do proletariado, apartam-se cada vez maisabertamente do programa do Partido e de suas tarefas e consignas revolucionarias, e

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tentam organizar seu próprio partido, um partido reformista, que os operários batizamcom o nome de “partido operário stolypiniano”. Trotsky ajuda os liquidacionistas,cobrindo-se farisaicamente com a consigna da “unidade do partido”, que significava,na realidade, a unidade com os liquidacionistas.

De outra parte, um grupo de bolcheviques, incapazes de compreender anecessidade de dar uma virada para novos métodos, para métodos indiretos de lutacontra o czarismo, exige que se renuncie à utilização das possibilidades legais e que seretirem os deputados operários da Duma. Este grupo, o dos “otsovistas”, pressiona oPartido para romper suas ligações com as massas, entorpece a concentração de forçaspara o novo avanço da revolução. Disfarçando-se com frases “esquerdistas”, renuncia,na realidade, à luta revolucionária, tanto quanto os liquidacionistas.

 Liquidacionistas e “otsovistas” se unem contra Lênin num bloco, o Bloco deAgosto, organizado por Trotsky.

 Os bolcheviques triunfam na luta contra os liquidacionistas e os “otsovistas” naluta contra o Bloco de Agosto e defendem com êxito o Partido proletário clandestino.

O acontecimento mais importante deste período é a Conferência de Praga doP.O.S.D.R. (janeiro de 1912). Nesta Conferencia foram expulsos do Partido osmencheviques e se acabou para sempre com a convivência formal de bolcheviques emencheviques num só partido. Os bolcheviques deixaram de ser um grupo políticopara formar um partido independente: o Partido Operário Social Democrata da Rússia(bolchevique). A Conferência de Praga assentou as bases para um partido de novotipo, para o Partido do Leninismo, para o Partido bolchevique.

A depuração do Partido proletário mediante a eliminação dos oportunistas, dosmencheviques, levada a cabo pela Conferência de Praga, teve uma grande e decisivaimportância para o futuro desenvolvimento do Partido e da revolução. Se osbolcheviques não tivessem expulsado do Partido os traidores da causa operária, osoportunistas mencheviques, o Partido proletário não teria podido conduzir as massas àconquista da ditadura do proletariado no ano 1917.

     

CAPITULO V 

O Partido Bolchevique Durante os Anos do Auge doMovimento Operário, Anteriores à Primeira Guerra

Imperialista (1912-1914) 

1 – O apogeu do movimento revolucionário durante os anos de 1912 a1914. 

O triunfo da reação stolipyniana não durou muito tempo. Um governo que nadaqueria dar ao povo, exceto o chicote e a força, não podia ser estável. A repressão,utilizada em larga escala, acabou por não mais assustar o povo. Começou a

desaparecer o cansaço que se havia apoderado dos operários nos anos que seseguiram à derrota da revolução. Os operários tornavam a se pôr de pé para a luta. Oprognóstico dos bolcheviques, quando diziam que surgiria inevitavelmente um novoapogeu revolucionário, viu-se confirmado pela realidade. Em 1911 o número degrevistas passou já de 100 mil, enquanto nos anos precedentes nunca havia passadode 50 a 60 mil. A Conferência do Partido, celebrada em Praga em janeiro de 1912,pôde registrar já a reanimação iniciada no movimento operário. Mas quando omovimento revolucionário começa verdadeiramente sua marcha ascendente é nosmeses de abril e maio de 1912, ao estalarem as greves políticas de massas provocadaspela chacina dos operários do Lena.

A 4 de abril de 1912, no curso de uma greve declarada nas minas de ouro doLena, na Sibéria, as tropas, executando ordens de um oficial da polícia czarista,

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fizeram fogo e ficaram mortos e feridos mais de 500 operários. Esta chacina em massade mineiros inermes, que pacificamente iam negociar com a administração das minas,sublevou de indignação todo o país. Este novo crime da autocracia czarista tinha sidoperpetuado em proveito dos capitalistas ingleses, donos das minas de ouro do Lena,com o objetivo de esmagar uma greve econômica dos mineiros. Os capitalistasingleses e seus sócios russos tiraram destas minas lucros fabulosos, mais de 7 milhõesde rublos todos os anos, à custa da exploração mais desavergonhada dos operários.Pagavam a estes um salário insignificante e os alimentavam com víveres avariados epodres. Cansados já de tantos abusos e vexames, os 6 mil operários das minas doLena tinham abandonado o trabalho.

O proletariado respondeu à chacina do Lena com greves, manifestações ecomícios de massas em Petersburgo, em Moscou e em todos os centros e regiõesindustriais.

 “Estávamos tão perplexos e tão comovidos – escreviam em sua resolução osoperários de um grupo de empresa – que não conseguimos encontrar as palavrasnecessárias. Qualquer protesto que tivéssemos formulado teria sido uma sombra débilda indignação que fervia na alma de cada um de nós. Mas não remediaremos coisaalguma com lágrimas e com protestos. A única coisa que nos pode salvar é a lutaorganizada das massas”. 

A indignação e a cólera dos operários cresceram ainda mais quando o ministroczarista Makarov, respondendo na Duma a uma pergunta da fração social-democrata arespeito dos motivos da chacina do Lena, declarou insolentemente: “Assim aconteceu

e assim continuará acontecendo”. O número de operários que tomaram parte nasgreves políticas de protesto contra a chacina do Lena subiu a 300 mil.As jornadas do Lena foram um verdadeiro furacão desencadeado na atmosfera

de “pacificação” criada pelo regime stolipyniano.  Eis o que a este propósito escreve o camarada Stalin no Jornal “Sviesda” (“A

Estrela”), de Petersburgo, em 1912:   “As matanças do Lena quebraram o gelo do silêncio e o rio do movimento

popular se pôs em marcha. Pôs-se em marcha! Tudo o que havia de mau e funesto noregime atual, tudo o que martirizava a atormentadíssima Rússia, tudo vinha secondensar em um ponto: nos acontecimentos do Lena. Essa é a razão porque foramprecisamente as descargas do Lena que deram o sinal para o movimento de greves emanifestações”. 

Em vão os liquidacionistas e os trotskistas tinham pretendido enterrar a

revolução. Os acontecimentos do Lena revelaram que as forças revolucionáriasestavam vivas, que no seio da classe operária se havia acumulado uma massaformidável de energia revolucionária. Nas greves de 1° de Maio de 1912 tomaramparte cerca de 400 mil operários. Estas greves apresentavam um caráter claramentepolítico e se desenvolviam sob as palavras de ordem revolucionárias bolcheviques:República democrática, jornada de 8 horas, confiscação de todas as terras doslatifundiários. Estas palavras-de-ordem fundamentais estavam concebidas no sentidode unir sob elas, para o assalto revolucionário contra a autocracia, não só as grandesmassas operárias, mas também os camponeses e os soldados.

A grandiosa greve de maio do proletariado de toda a Rússia – escrevia Lêninem seu artigo intitulado “O auge da revolução” – e as manifestações de rua reunidas aela, as proclamações e os discursos revolucionários perante multidões operárias,

revelam que a Rússia entrava numa fase de ascenso da revolução (Lênin, t. I, XV, 533ed. russa).Os liquidacionistas, alarmados diante do espírito revolucionário dos operários,

se manifestaram contra a luta grevista, que eles qualificavam de “jogo de azargrevista”. Os liquidacionistas, e seu aliado Trotsky, queriam substituir a lutarevolucionária do proletariado por uma “campanha de petições”. Propunham aosoperários assinar um papelucho, uma “petição”, suplicando a concessão de “direitos” (a abolição das restrições do direito de associação e greve, etc.). Para logo depoisentregá-lo à Duma. Mas os liquidacionistas só conseguiram reunir ao pé de sua“petição” 1.300 assinaturas, enquanto em torno das palavras de ordem revolucionáriaslançadas pelos bolcheviques se agrupavam centenas de milhares de operários.

A classe operária marchava pelo caminho traçado pelos bolcheviques.

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A situação econômica do país, durante este período, apresentava o seguintequadro: à paralisação industrial se seguira, já no ano de 1910, uma reanimação daindústria, o aumento da produção nos ramos fundamentais. A fundição de ferro, queem 1910 havia contribuído com 3.046.000 toneladas, contribuiu em 1912 com4.193.000 e em 1913 com 4.635.000. A extração de carvão de pedra em 1910 deu24.930.000 toneladas e em 1913 subiu a 36.262.000.

A par com o desenvolvimento da indústria capitalista, cresceu rapidamente oproletariado. O desenvolvimento da indústria se caracterizava pela concentraçãoprogressiva da produção nas grandes e poderosas empresas. Em 1901, trabalhavamem grandes empresas, de mais de 50 operários, o 46,7% de todos os operários dopaís; em 1910, cerca de 54%, ou seja, mais da metade do total dos operários,trabalhavam em empresas deste tipo. Isto representava uma concentração industrialsem precedentes. Inclusive em um país tão desenvolvido industrialmente como osEstados Unidos só trabalhava nas grandes empresas, naquela época, uma terça parte,aproximadamente, do número total de operários.

O aumento e a concentração do proletariado em grandes empresas, contandocom um partido revolucionário como Partido bolchevique, convertiam a classe operáriada Rússia numa força formidável dentro da vida política do país. As brutais formas deexploração dos operários nas empresas, reunidas ao insuportável regime policial dosesbirros czaristas, davam a qualquer greve um pouco séria um caráter político. E esteentrelaçamento da luta política com a luta econômica infundia as greves de massasuma força especialmente revolucionária.

À frente do movimento operário revolucionário marchava o heróico proletariadode Petersburgo, e através dele vinham à região do Báltico, Moscou e sua província,depois a região do Volga e o Sul da Rússia. Em 1913, o movimento se estendeu aoterritório Oeste, à Polônia e ao Cáucaso. No ano de 1912, o número total de grevistasfoi, segundo os dados oficiais, de 725.000, e segundo outros dados mais completos,passou de um milhão de operários; no ano de 1913, tomaram parte no movimentogrevista, segundo os dados oficiais, 861.000 operários e segundo dados maiscompletos, 1.272.000. Na primeira metade do ano de 1914, tinham-se declarado emgreve 1 milhão e meio de operários, aproximadamente.

Como se vê, o ascenso da revolução durante os anos de 1912 a 1914 e aenvergadura do movimento grevista colocavam a Rússia numa situação parecida a dosprimeiros meses da revolução de 1905.

As greves revolucionárias de massas do proletariado atingiam, por sua

significação, a todo o povo. Este movimento era dirigido contra a autocracia. As grevesdespertavam a simpatia da imensa maioria da população trabalhadora. Os fabricantese os industriais se vingavam dos operários grevistas declarando “lock-outs”. Em 1913,os capitalistas da província de Moscou lançaram ao desemprego 50 mil operáriostêxteis. No mês de março de 1914 foram despedidos num só dia, em Petersburgo, 70mil operários. Os operários de outras empresas e ramos industriais ajudavam osgrevistas e os camaradas que sofriam represálias, vítimas dos “lock-outs”, com coletasem massa, e em certas ocasiões, com greves de solidariedade.

O ascenso do movimento operário e as greves de massas também levantaram earrastaram à luta as massas camponesas. Os camponeses voltaram a se lançar à lutacontra os latifundiários, destruindo seus bens e as propriedades dos kulaks. De 1910 a1914 produziram-se mais de 8 mil ações camponesas.

Começaram também a se produzir manifestações revolucionárias entre astropas. Em 1912, estalou uma sublevação armada entre as tropas do Turquestão.Gestavam-se movimentos insurrecionais na esquadra no Báltico e no Sebastopol.

O movimento de greves e manifestações revolucionárias, dirigidas pelo Partidobolchevique, revelava que a classe operária não lutava por reivindicações parciais, por“reformas”, mas sim, para libertar o povo do czarismo. A Rússia marchava rumo auma nova revolução.

Com o objetivo de ficar mais perto da Rússia, no verão de 1912, Lênin setrasladou de Paris para a Galitizia (na antiga Áustria). Aí, celebraram-se duasconferências de membros do CC e militantes responsáveis, presididas por ele: uma emCracóvia, em fins de 1912, e outra no outono de 1913, no pequeno povoado dePoronino, não longe daquela cidade. Nestas reuniões tomaram-se resoluções sobre os

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problemas mais importantes do movimento operário: sobre a marcha ascendente darevolução, sobre as greves e as tarefas do Partido, sobre o fortalecimento dasorganizações clandestinas, sobre a fração social-democrata da Duma, sobre aimprensa do Partido e sobre a campanha dos seguros sociais.

 2 - O jornal bolchevique “Pravda” – A fração bolchevique da quartaDuma. 

Uma arma poderosa com que o Partido bolchevique montava para fortalecer

suas organizações e conquistar influência entre as massas foi o diário bolchevique“Pravda” (“A Verdade”), que se editava em Petersburgo. Este jornal tinha sidofundado, segundo as indicações de Lênin, por iniciativa de Stalin, Olminski e Poletaiev.Era um jornal operário de massas, que nasceu com o novo ascenso do movimentorevolucionário. Seu primeiro número saiu a 22 de abril de 1912 (5 de maio do novocalendário). Foi um acontecimento verdadeiramente memorável para os proletários.Em homenagem ao aparecimento do primeiro número do “Pravda”, se resolveudeclarar a data de 5 de maio jornada de festa da imprensa operária.

 Antes de aparecer o “Pravda”, publicava-se um semanário bolchevique com otítulo de “Sviesda”, destinado aos operários mais conscientes. “Sviesda” desempenhouum importante papel durante as jornadas do Lena. Em suas colunas, veio à luz umasérie de artigos políticos combativos de Lênin e Stalin, que mobilizaram a classeoperária para a luta. Mas, nas condições criadas pela marcha ascendente da revolução,

ao Partido bolchevique já não bastava como órgão semanal. Era necessário um diáriopolítico, destinado as grandes massas operárias. E isto é o que era o “Pravda”. 

 Durante este período, o “Pravda” desempenhou um papel extraordinariamenteimportante. O “Pravda” atraiu para o bolchevismo as grandes massas da classeoperária. Numa situação como aquela, de incessantes perseguições policiais, de multase apreensões do jornal pela publicação de artigos e correspondências que nãoagradavam à censura, o “Pravda” só podia existir graças ao apoio ativo de dezenas demilhares de operários avançados. Somente as grandes coletas feitas entre os operárioslhe permitiam fazer frente às enormes multas que lhe eram impostas. Freqüentesvezes uma parte considerável da tiragem dos números mandados recolher chegava,apesar de tudo, a seus leitores, graças aos operários mais conscientes que seapresentavam à noite nas oficinas e tiravam os pacotes do jornal.

Em dois anos e meio, o governo czarista suspendeu 8 vezes a publicação do“Pravda”, mas este, com o apoio dos operários, reaparecia sempre com um novo título,semelhante ao proibido, por exemplo: “Pela Pravda”, “O caminho da Pravda”, “APravda do Trabalhador” [pravda, em russo, quer dizer „verdade‟. Quando é usado comotítulo do jornal é „o Pravda‟] . Enquanto o “Pravda” vendia, em média, 40 milexemplares diários, a tiragem do jornal menchevique “Luch” (“O Raio”) não passava de15 a 16 mil.

 Os operários consideravam o “Pravda” como alguma coisa sua, tinham grandefé nele e escutavam atentamente sua voz. Cada exemplar do “Pravda”, passando demão em mão, servia para dezenas de leitores, formava sua consciência de classe,educava-os, organizava-os, chamava-os à luta.

De que falava o “Pravda”? Em cada um de seus números se publicavam dezenas de correspondências de

operários, nas quais se descrevia a vida dos proletários, a brutal exploração e osmúltiplos abusos e vexames que sofriam de parte dos capitalistas e seus gerentes ecapatazes. Eram condenações enérgicas e precisas do regime capitalista. Nas noticiasdo “Pravda” apareciam freqüentemente casos de suicídios de operáriosdesempregados, mortos de fome e desesperados por não encontrarem trabalho. O“Pravda” falava das necessidades e das reivindicações dos operários das diversasfábricas e ramos industriais, e contava como lutavam os operários por suasreivindicações. Quase em todos os números se informava o que havia sobre as grevesrealizadas nas diferentes empresas. Quando se desenvolviam greves importantes egrandes, o jornal organizava os operários de outras empresas e ramos industriais paraque ajudassem com coletas para fundos de greve. Às vezes, nestas coletas para o

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fundo de ajuda aos grevistas se reuniam dezenas de milhares de rublos, somasenormes para aqueles tempos, em que a maioria dos operários ganhava de 70 a 80centavos de rublos por dia. Isto educava os operários no espírito da solidariedadeproletária e da consciência de unidade de interesses entre todos os operários.

Não havia acontecimento político, não havia triunfo ou derrota, diante dos quaisos operários não reagissem enviando ao “Pravda” cartas, saudações, protestos, etc.Em seus artigos, o “Pravda” esclarecia as tarefas do movimento operário segundo oponto de vista conseqüentemente bolchevique. Seu caráter de jornal legal não lhepermitia aconselhar diretamente a derrubada do czarismo. Tinha que se exprimir pormeio de alusões, que os operários conscientes compreendiam perfeitamente e seencarregavam de explicar às massas. Assim, por exemplo, quando o “Pravda” falavadas “reivindicações totais e completas do ano de 1905”, os operários sabiam que setratava das palavras de ordem revolucionárias dos bolcheviques: derrubada doczarismo, República democrática, confiscação das terras dos latifundiários e jornada de8 horas.

 O “Pravda” organizou os operários avançados nas vésperas das eleições àquarta Duma. Desmascarando a posição traidora dos partidários de um acordo com aburguesia liberal, dos defensores do “partido operário stolipyniano” – dosmencheviques –, chamava os operários a votarem pelos partidários das “reivindicaçõesintegrais do ano de 1905”, isto é, pelos bolcheviques. As eleições eram de terceirograu. Primeiro os operários elegiam em assembléias seus delegados, e estes logodepois designavam os mandatários, que eram os encarregados de votar nos deputados

operários da Duma. No dia das eleições, o “Pravda” publicou a lista dos mandatáriosbolcheviques cuja candidatura recomendava aos operários. Não foi possível publicaresta lista antes, para não expor os candidatos recomendados ao perigo de serempresos.

 O “Pravda” ajudava a organizar as ações do proletariado. Em virtude de umgrande “lock-out” levado a efeito em Petersburgo na primavera de 1914, em condiçõesem que não era conveniente declarar uma greve de massas, o “Pravda” aconselhou osoperários a recorrerem a outras formas de luta, a comícios de massas nas fábricas e amanifestações nas ruas. O jornal não podia passar semelhante orientaçãoabertamente. Mas o chamado da “Pravda” foi compreendido pelos operáriosconscientes que leram em suas colunas o artigo de Lênin, publicado sob o modestotítulo de “Sobre as formas do movimento operário”, no qual se dizia que, naquelemomento era necessário substituir a greve por outra forma mais elevada do

movimento operário, o que equivalia a preconizar a organização de comícios emanifestações.

Era assim que os bolcheviques combinavam a atuação revolucionáriaclandestina com a agitação e a organização legal das massas operárias através do“Pravda”. 

 Mas o “Pravda” não se ocupava somente da vida dos operários, das greves edas manifestações operárias. Em suas colunas se tratava sistematicamente da vidacamponesa, da fome que os camponeses passavam, da exploração dos camponesespelos latifundiários feudais, do roubo das melhores terras dos camponeses paraengrossar as propriedades dos kulaks, por obra da “reforma” stolipyniana. O “Pravda” fazia ver aos operários conscientes a grande quantidade de material inflamável que seia acumulando no campo. Ressaltava perante o proletariado que as tarefas da

revolução de 1905 não tinham sido resolvidas e que surgiria uma nova revolução. Eensinava que nesta segunda revolução o proletariado teria que atuar como overdadeiro chefe, como verdadeiro dirigente do povo, e que nesta revolução contariacom um aliado tão forte como os camponeses revolucionários.

Os mencheviques lutavam por tirar da cabeça do proletariado a idéia darevolução. Pregavam aos operários que deviam deixar de preocupar-se com o povo,com os camponeses famintos e com o domínio dos grandes proprietários feudais dosCentúrias Negras, para lutar somente pela “liberdade de coalizão” dirigindo para isso“petições” ao governo do czar. Os bolcheviques faziam ver aos operários que estasprédicas mencheviques, em que os operários eram convidados a renunciar à revoluçãoe à aliança com os camponeses, serviam aos interesses da burguesia, que os operáriosvenceriam com toda a segurança o czarismo, se soubessem atrair para seu lado os

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camponeses, como seus aliados, e que deviam voltar as costas aos maus pregadores,inimigos da revolução, do tipo dos mencheviques.

 De que tratava o “Pravda”, na seção intitulada “A vida do camponês”? Daremos como exemplo algumas das correspondências publicadas no ano de

1913.Em um informe enviado por um correspondente de Semara, e que apareceu sob

o título de “Um pleito agrário”, comunicava-se que dos 45 camponeses da aldeia deNovoiasbulat, no distrito de Bugulmá, acusados de terem feito resistência aofuncionário encarregado de praticar a delimitação das parcelas de terras dos que seseparavam da comunidade, grande parte tinha sido condenada a longas penas deprisão. Numa breve notícia enviada por um correspondente da província de Pskov sedizia: “Os camponeses da aldeia de Psitsa (nas imediações da estação de Savale)empunharam armas contra os guardas rurais. Há vários feridos. A causa do choqueforam os conflitos agrários. Em Psitsa foram concentrados guardas rurais; viajarampara este povoado o vice-governador e o fiscal”. 

Um correspondente da província de Ufá informava a respeito da venda dos lotesde terra dos camponeses e expunha que a fome e a lei sobre a separação dacomunidade rural tinham vindo reforçar o processo de privação de terras doscamponeses. Veja-se, por exemplo, o que ocorreu no povoado de Borisovka.

Nele havia 27 casas que possuíam 543 hectares de terras de lavoura. Na épocade fome, 5 lavradores venderam para sempre 31 hectares, à razão de 25 a 33 rubloscada um, isto é, 3 ou 4 vezes menos do que valia a terra. 7 lavradores hipotecaram

177 hectares, obtendo em troca de 18 a 20 rublos por hectare, a serem pagos em 6anos e a 12 por cento de juro anual. Tendo em conta o empobrecimento da populaçãocamponesa e o tipo brutal de juro, podia afirmar-se com segurança que dos 177hectares a metade passaria para as mãos do usuário, pois era muito pouco provávelque num prazo de 6 anos mesmo a metade dos vendedores pudesse pagar uma somatão elevada.

No artigo intitulado “A grande propriedade dos latifundiários e a pequenapropriedade camponesa na Rússia”, publicado no “Pravda”, Lênin fazia ver de ummodo tangível aos operários e camponeses, quão fabulosa era a riqueza de terras empoder dos parasitas latifundiários. Cerca de 30 mil latifundiários dos mais fortesaçambarcavam aproximadamente 70 milhões de hectares de terra. Enquanto oscamponeses tinham que se contentar com uma extensão equivalente, repartida entre10 milhões de famílias. Cada um daqueles grandes latifundiários era detentor, em

média, de 2.300 hectares de terra; em troca, a cada família camponesa, incluindo oskulaks, correspondiam, em média, 7 hectares; mas, além disso, havia 5 milhões defamílias camponesas pobres, isto é, a metade da população camponesa, que nãopossuíam, de propriedade sua, mais do que um ou dois hectares. Estes fatosdemonstravam de um modo tangível que a causa da miséria e da fome doscamponeses estava no regime dos grandes latifundiários, nas sobrevivências dofeudalismo, das quais os camponeses só se podiam libertar mediante a revoluçãodirigida pela classe operária.

 Através dos operários relacionados com o campo, o “Pravda” penetrava naaldeia, despertando para a luta revolucionária os camponeses mais conscientes.

No período em que se fundou o “Pravda”, as organizações social-democrátasclandestinas estavam inteiramente nas mãos dos bolcheviques. Em troca, as formas

legais de organização – a fração da Duma, a imprensa, as sociedades operárias deauxílios mútuos, os sindicatos – não tinham sido ainda inteiramente tirados das mãosdos mencheviques. Os bolcheviques tiveram que travar uma luta enérgica paradesalojar os liquidacionistas das organizações legais da classe operária. Esta luta foicoroada de êxito, graças ao “Pravda”. 

 O “Pravda” ocupava um lugar central na luta em prol da causa do Partido, emprol da reconstituição de um partido operário revolucionário de massas. Suascampanhas faziam com que as organizações legais se agrupassem estreitamente emtorno dos centros clandestinos do Partido bolchevique e encaminhavam o movimentooperário para uma meta definida: a preparação da revolução.

 O “Pravda” contava com uma quantidade enorme de correspondentes operários.Mais de 11 mil correspondências operárias foram publicadas em suas colunas num só

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ano. Mas não eram as cartas e a colaboração de seus correspondentes o único meiopelo qual ela mantinha contato com as massas operárias. Sua reação era visitadadiariamente por numerosos operários das fábricas. Nela se concentrava uma parteconsiderável do trabalho de organização do partido. Celebravam-se ali reuniões com osrepresentantes das células de base do Partido, ali chegavam os informes sobre otrabalho do Partido nas fábricas e empresas industriais e dali se transmitiam asinstruções do Comitê de Petersburgo e do Comitê Central do Partido.

Como fruto de dois anos e meio de luta tenaz contra os liquidacionistas pelareconstituição de um Partido operário revolucionário de massa, os bolcheviquesconseguiram que, até o verão de 1914, o Partido bolchevique, a tática “pravdista” contasse com os quatro quintos dos operários ativos da Rússia.

Assim, a testemunha, por exemplo, o fato de que 5.600 grupos operários, dos7.000 que em 1914 organizaram coletas para a imprensa operária, recolhessemdinheiro para os bolcheviques, e só 1.400 para os mencheviques. Em troca, estesdispunham de muitos “amigos ricos” entre a burguesia liberal e os intelectuaisburgueses, que contribuíam com mais da metade do dinheiro para sustentar seujornal.

Aos bolcheviques por esta época se costumava dar o nome de “pravdistas”.Com o “Pravda” se desenvolveu uma geração inteira do proletariado revolucionário quemais tarde havia de se por à frente da Revolução Socialista de Outubro. Atrás do“Pravda” marchavam dezenas e centenas de milhares de operários. Durante os anosdo ascenso revolucionário (1912-1914) se construíram os sólidos alicerces de um

Partido bolchevique de massas, contra os quais tinham de se chocar todas asperseguições do czarismo no período da guerra imperialista.  “Sobre o “Pravda” no ano de 1912 se cimentou o triunfo do bolchevismo em1917” (Stalin).

Outro órgão legal do Partido, extensivo a toda a Rússia, era a fraçãobolchevique da quarta Duma.

Em 1912 o governo convocou as eleições à quarta Duma. O Partido bolcheviquedeu grande importância à participação nestas eleições. A fração social-democrata daDuma e o “Pravda” eram os pontos fundamentais da resistência legal para toda aRússia, através dos quais o Partido bolchevique desenvolvia o seu trabalhorevolucionário entre as massas.

O Partido bolchevique foi às eleições à Duma com sua plataforma independentee sob palavras de ordem próprias, lutando ao mesmo tempo contra os partidos

governamentais e contra a burguesia liberal (contra os kadetes). Os bolcheviquesdesenvolveram sua campanha eleitoral sob as palavras de ordem de RepúblicaDemocrática, jornada de 8 horas e confiscação das terras dos latifundiários.

As eleições à quarta Duma celebraram-se no outono de 1912. Em começos deoutubro, o governo, descontente com a marcha das eleições em Petersburgo, tentouviolar os direitos eleitorais dos operários numa série de grandes fábricas. Comoresposta a isso, o Comitê de Petersburgo do Partido bolchevique, por proposta docamarada Stalin, convidou os operários das empresas mais importantes a declararemuma greve de um dia. O governo, vendo-se colocado numa situação difícil, não teveoutro remédio senão ceder, e as assembléias operárias puderam eleger os candidatosque melhor lhes pareceram. Os operários, por imensa maioria, votaram a favor do“Mandato” aos delegados e ao deputado, redigido pelo camarada Stalin. O “Mandato” 

dos operários petersburgueses a seu deputado operário recordava as tarefas ainda nãoresolvidas do ano de 1905. “Achamos – dizia o “Mandato” – que a Rússia se acha nas vésperas de

movimentos de massas iminentes, talvez mais profundos que no ano de 1905. A frentedestes movimentos se porá, como se pôs também no ano de 1905, a classe maisavançada de nossa sociedade, o proletariado russo. E seu aliado não pode ser outrosenão a ultra-sofredora massa camponesa, vitalmente interessada na emancipação daRússia”. 

 No “Mandato” se declarava que as futuras ações do povo teriam que se revestirda forma de uma luta em duas frentes, tanto contra o governo czarista como contra aburguesia liberal, ansiosa de chegar a um acordo com o czarismo.

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 Lênin dava grande importância a esse “Mandato”, no qual se chamava osoperários à luta revolucionária. E em suas resoluções os operários acolhiam este apelo.

Os bolcheviques triunfaram nas eleições, sendo enviado à Duma, representandoos operários de Petersburgo, o camarada Badaiev.

Os operários votavam, nas eleições à Duma, à parte dos demais setores dapopulação (na chamada “cúria” operária). Dos noves deputados eleitos pelos operários,seis eram membros do Partido bolchevique (Badaiev, Petrovski, Muranov, Samolinov,Shagov e Malinovski, que se descobriu mais tarde ser um espião da polícia). Osdeputados bolcheviques procediam dos centros industriais mais importantes nos quaisestavam concentradas, pelo menos, os quatro quintos da classe operária. Em troca,alguns liquidacionistas eleitos para a Duma, não deviam sua eleição à cúria operária,mas a outros setores da população. Assim se explica que na Duma houvesse 7deputados liquidacionistas frente aos 6 bolcheviques. Nos primeiros momentos, osdeputados bolcheviques e os liquidacionistas constituíram na Duma uma fração social-democrática única. Mas em outubro de 1913, depois de uma luta tenaz contra osliquidacionistas, que entravavam o trabalho revolucionário dos bolcheviques, osdeputados bolcheviques, seguindo as instruções de seu Comitê Central, saíram dafração social-democrata comum e passaram a constituir uma fração bolcheviqueindependente.

Os deputados bolcheviques pronunciavam na Duma discursos revolucionários,desmascarando o regime da autocracia e interpelavam o governo à cerca dos atos derepressão contra os operários e a respeito da exploração desumana de que os

capitalistas os faziam vítimas.Sua atuação na Duma versava também sobre o problema agrário e em seusdiscursos se incitava os camponeses a lutarem contra os latifundiários feudais e sedesmascarava o partido kadete, contrário ao confisco das terras dos latifundiários e àsua entrega aos camponeses.

Os bolcheviques apresentaram à Duma um projeto de lei sobre a jornada de 8horas, projeto que, naturalmente, não podia ser aprovado pela ultra-reacionária Duma,mas que teve uma grande importância no terreno da agitação.

A fração bolchevique da Duma atuava em estreito contato com o ComitêCentral do Partido e com Lênin, de quem recebia diretivas. Ocupava-se de sua direçãoimediata, enquanto permaneceu em Petersburgo, o camarada Stalin.

Os deputados bolcheviques não se limitavam a atuar na Duma; tambémdesenvolviam uma grande atividade fora dela. Visitavam as fábricas e oficinas,

percorriam os centros operários do país, dando informes nesses centros, organizavamassembléias clandestinas, nas quais explicavam as resoluções do Partido, e criavamnovas organizações deste. Os deputados sabiam combinar habilmente a atuação legalcom o trabalho ilegal, clandestino.

 3 – Triunfo dos bolcheviques nas organizações Legais – O movimentorevolucionário segue sua marcha ascendente – Aproxima-se a guerraimperialista.  

O Partido bolchevique deu durante este período mostras de direçãoexemplar de todas as formas e manifestações, da luta de classes do proletariado.Criava organizações clandestinas, editava folhas ilegais. Desenvolvia um trabalhorevolucionário clandestino entre as massas. E paralelamente a tudo isto, ia cada vez

mais penetrando de cheio nas diversas organizações legais da classe operária. OPartido aspirava ganhar os Sindicatos, as Casas do Povo, as Universidades noturnas,os clubes e as sociedades operárias de auxílios mútuos. Estas organizações legaistinham sido, desde outros tempos, o refúgio dos liquidacionistas. Os bolcheviqueslutaram energicamente para converter estas sociedades legais em pontos deresistência do Partido bolchevique. Combinando habilmente o trabalho clandestino como trabalho dentro da ilegalidade, os bolcheviques atraíram a maioria dos sindicatos dasduas capitais. Nas eleições celebradas em 1913 para preencher os postos de direçãodo Sindicato Metalúrgico de Petersburgo, obtiveram os bolcheviques um triunfobrilhantissimo. Numa assembléia de 3 mil metalúrgicos, só votaram pelosliquidacionistas uns 150 operários.

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Outro tanto se deve dizer da organização legal que a fração social-democratada quarta Duma representava. Se bem que os mencheviques contassem com setedeputados e os bolcheviques com 6 somente, aqueles 7 mencheviques, procedentesem sua maioria de regiões não operárias, apenas representavam, aproximadamente,uma quinta parte de proletariado, enquanto que os seis bolcheviques, procedentes dosprincipais centros industriais do país (Petersburgo, Moscou, Ivanovo-Vosnessensk,Kostromá, Ekaterinoslav e Karkov), representavam mais dos quatro quintos da classeoperária na Rússia. Os operários consideravam como seus deputados os seisbolcheviques (Badaiev, Petrovski, etc.) e não os setes mencheviques.

Os bolcheviques conseguiram ganhar as organizações legais porque, apesar dasbrutais perseguições do czarismo e das encarniçadas campanhas dos liquidacionistas edos trotskistas, souberam manter de pé o Partido clandestino e assegurar umadisciplina férrea dentro de suas fileiras, defendendo com firmeza os interesses daclasse operária, mantendo estreito contato com as massas e travando uma lutaintransigente contra os inimigos do movimento operário.

Os bolcheviques, portanto, triunfaram em toda a linha dentro das organizaçõeslegais e os mencheviques sofreram uma derrota completa. Tanto no terreno daagitação feita da tribuna da Duma, como no campo da imprensa operária e de outrasorganizações legais, os mencheviques foram relegados a segundo plano. A classeoperária arrastada pelo movimento revolucionário se agrupava notadamente em tornodos bolcheviques e viravam as costas aos mencheviques.

Para cúmulo de seu fracasso, os mencheviques sofreram também uma derrota

esmagadora no campo do problema nacional. Para atuar no movimento revolucionárioda periferia da Rússia era necessário ter um programa claro sobre o problemanacional. Os mencheviques careciam de qualquer programa, fora do ponto da“autonomia cultural” do “Bund”, que não podia satisfazer ninguém. Só os bolcheviquestinham um programa marxista sobre o problema nacional, programa exposto noestudo do camarada Stalin intitulado “O marxismo e o problema nacional” e nosartigos de Lênin “Sobre o direito de auto-determinação das nações” e “Notas criticassobre o problema nacional”. 

Não é de estranhar que, depois de tais derrotas dos mencheviques, o Bloco deAgosto começasse a fazer água por todos os lados. Este Bloco, composto doselementos mais heterogêneos, não resistiu aos embates dos bolcheviques e começou adesmoronar-se. O Bloco de Agosto, criado para lutar contra os bolcheviques, nãotardou a cair sob os golpes destes. Os primeiros que saíram dele foram os do grupo do

“Vperiod” (“Avante”) (Bogdanov, Lunacharski etc.); foram seguidos pelos letões, elogo depois se dispersaram todos os outros.

Derrotados na luta contra os bolcheviques, os liquidacionistas apelaram para aajuda da Segunda Internacional. Esta acudiu em seu socorro. Sob o pretexto de uma“reconciliação” entre os bolcheviques e os liquidacionistas, sob o pretexto derestabelecer a “paz dentro do Partido”, a Segunda Internacional exigiu que osbolcheviques cessassem suas críticas contra a política oportunista dos liquidacionistas.Mas os bolcheviques mantiveram uma atitude irredutível: negaram-se a acatar asdecisões da Segunda Internacional oportunista e não fizeram a menor concessão.

O triunfo dos bolcheviques nas organizações legais não foi nem podia ser poracaso. Não só porque os bolcheviques eram os únicos que tinham uma teoria marxistacerta, um programa claro e um partido revolucionário temperado nos combate, mas

porque, além disso, o triunfo dos bolcheviques refletia a marcha ascendente domovimento revolucionário.O movimento operário revolucionário se desenvolvia cada vez mais,

estendendo-se a novas cidades e regiões. Ao entrar o ano de 1914, as greves, longede diminuir, cobraram novo ânimo. Aumentava sem cessar sua tenacidade, earrastavam um número de operários cada vez maior. Em 9 de janeiro se declararamem greve 250.000 operários, dos quais 140.000 somente em Petersburgo. Em 1° deMaio se registrou mais de meio milhão de grevistas dos quais correspondiam aPetersburgo mais de 250.00. A firmeza de que davam prova os operários grevistas eraextraordinária. A greve da fábrica “Obukov” em Petersburgo durou mais de dois mesese a da fábrica “Lessner”, uns três meses. As intoxicações em massa produzidas emuma série de fábricas em Petersburgo provocaram uma greve de 115.000 operários,

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seguida de manifestações. O movimento continuava crescendo. O número total degrevistas, durante o primeiro semestre de 1914 (incluindo os primeiros dias do mês dejulho), foi de 1.425.000 operários.

Em maio, começou a greve geral dos operários da indústria petrolífera emBaku, que atraiu a atenção de todo o proletariado russo. Esta greve se desenvolveuorganizadamente. Em 20 de junho, se celebrou em Baku uma manifestação de 20 miloperários. A polícia adotou medidas draconianas contra os operários daquela cidade.Em sinal de protesto e de solidariedade com os operários de Baku, estalou a greve emMoscou, de onde se estendeu a outras regiões.

Em 3 de julho, celebrou-se na fábrica “Putilov” de Petersburgo um comício, emconseqüência da greve de Baku. A policia atirou contra os operários. Uma indignaçãoenorme se apoderou do proletariado de Petersburgo. Em 4 de Julho, respondendo aochamado do Comitê de Petersburgo do Partido, declararam-se em greve nesta cidade,em sinal de protesto, 90 mil operários; em 7 de julho havia já 130 mil grevistas; em 8de julho 150 mil, e em 11 de julho 200 mil.

A agitação se apoderou de todas as fábricas; por toda a parte se celebravamcomícios e manifestações. Houve até tentativas de levantar barricadas, como, comefeito, chegaram a levantar-se em Baku e Lodz. Numa série de pontos, a policia fezfogo sobre os operários. Para esmagar o movimento, o governo tomou medidas“extraordinárias”, a capital foi transformada num acampamento militar e o “Pravda” foisuspenso.

Neste momento, apresentou-se em cena uma nova força de ordem

internacional: a guerra imperialista, que havia de mudar o rumo dos acontecimentos.Em pleno desenvolvimento dos acontecimentos revolucionários de julho, chegou aPetersburgo o presidente da República francesa, Poincaré, para entrevistar-se com oczar e tratar do começo da guerra, que se avizinhava. Poucos dias depois a Alemanhadeclarava guerra à Rússia. O governo czarista se aproveitou da guerra para destroçaras organizações bolcheviques e asfixiar o movimento operário. A marcha ascendenteda revolução foi interrompida pela guerra mundial, na qual o governo czarista buscavasua salvação contra a revolução.

  

RESUMO 

 Durante os anos do ascenso revolucionário (1912 a 1914), o Partidobolchevique se pôs à frente do movimento operário e o conduziu, sob as palavras deordem bolcheviques, para a nova revolução. O Partido soube combinar o trabalhoclandestino com o trabalho legal. Vencendo a resistência dos liquidacionistas e seusamigos, os trotskistas e os “otsovistas” se apoderaram de todas as formas domovimento legal e converteu as organizações legais em pontos de resistência para suaatuação revolucionária.

Lutando contra os inimigos da classe operária e contra seus agentes dentro domovimento proletário, o Partido reforçou suas fileiras e reforçou seus vínculos com aclasse operária. Valendo-se amplamente da tribuna da Duma para a agitaçãorevolucionária e fundando um magnífico jornal operári o de massas, o “Pravda”, oPartido educou uma nova geração de operários revolucionários, a geração dos“pravdistas”. Esta geração de operários se manteve durante os anos da guerra

imperialista, fiel à bandeira do internacionalismo e da revolução proletária. Mais tardeconstitui o núcleo do Partido bolchevique nas jornadas da Revolução de Outubro de1917.

Nas vésperas da guerra imperialista, o Partido bolchevique dirigia as açõesrevolucionárias da classe operária. Estas ações eram combates de vanguarda, que aguerra imperialista acabou, mas que foram reiniciadas três anos mais tarde para aderrubada do czarismo. O Partido bolchevique entrava na dura etapa da guerraimperialista com as bandeiras do internacionalismo proletário desfraldadas.

    

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CAPÍTULO VI 

O Partido bolchevique durante o período da guerraimperialista. A segunda revolução na Rússia (1914 – março

de 1917) 

1 – Origem e causas da guerra imperialista. 

Em 14 (27) de julho de 1914, o governo czarista decretou mobilização geral.Em 19 de julho (1° de agosto), a Alemanha declarou guerra à Rússia.

A Rússia entrou na guerra.Já muito tempo antes que a guerra começasse, os bolcheviques, encabeçados

por Lênin, tinham previsto que ela estalaria inevitavelmente. Nos congressosinternacionais socialistas, Lênin tinha formulado propostas destinadas a encabeçar alinha revolucionária de conduta que os socialistas deviam adotar quando a guerraestalasse.

Lênin assinalava que a guerra era um satélite inevitável do capitalismo; arapina de territórios estrangeiros, a apropriação e o saque das colônias, a conquista de

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novos mercados, tinha provocado repetidas vezes guerras de anexação dos Estadoscapitalistas. Para os países capitalistas, a guerra é um fenômeno tão natural e tãolegítimo como a exploração da classe operária.

As guerras fizeram-se ainda mais inevitáveis em fins do século XIX e começosdo XX, ao passar o capitalismo, definitivamente, para a fase culminante e última deseu desenvolvimento: o imperialismo. Sob o imperialismo, os potentes agrupamentos(monopólios) dos capitalistas e dos bancos adquiram uma importância decisiva na vidados Estados capitalistas. O capital financeiro se converteu no amo dos Estadoscapitalistas. E o capital financeiro exigia novos mercados, a anexação de novascolônias, novas bases para a exportação de capitais e novas fontes de matériasprimas.

Mas, nos fins do século XIX, todo o território do planeta se achava já repartidoentre os Estados capitalistas. Pois bem, na época imperialista, o capitalismo sedesenvolve de um modo extraordinariamente desigual e em saltos: países que antesapareciam em primeiro lugar, vêem arrefecer o ritmo relativo de desenvolvimento desua indústria, enquanto outros, que antes eram países atrasados, dão um rápido salto,os alcançam e ultrapassam. A correlação entre as forças econômicas e militares dosEstados imperialistas tinha mudado. Manifestava-se a aspiração de proceder a umanova partilha do mundo. A luta por uma nova partilha do mundo tinha que provocar,inevitavelmente, a guerra imperialista. A guerra de 1914 foi uma guerra por uma novadivisão do mundo e das zonas de influência. Esta guerra tinha sido longamentepreparada pelos Estados imperialistas. Os imperialistas de todos os países foram

culpados dela.A guerra tinha sido preparada, em particular, pela Alemanha e Áustria, de umlado, e de outro, pela França, Inglaterra e Rússia, coagida por elas. Em 1907 se haviaconstituído a Tríplice Entente - aliança entre a Inglaterra, a França e a Rússia. Outraaliança imperialista existia entre a Alemanha, a Áustria-Hungria e a Itália. Mas aoestalar a guerra de 1914, a Itália saiu desta aliança, e mais tarde aderiu à Entente. AAlemanha e a Áustria-Hungria contavam com o apoio da Bulgária e da Turquia.

A Alemanha se preparava para a guerra imperialista, ambicionando despojar aInglaterra e a França de suas colônias, e a Rússia, da Ucrânia, Polônia e territórios doBáltico. Com a construção da estrada de ferro de Bagdá, a Alemanha ameaçava adominação da Inglaterra no Oriente Próximo. A Inglaterra via com temor o incrementodos armamentos navais da Alemanha.

A Rússia czarista aspirava à divisão da Turquia e sonhava conquistar os

estreitos que unem o Mar Negro ao Mediterrâneo (os Dardanelos) e anexarConstantinopla. Entrava também nos planos do governo czarista a anexação deGalitzia, que fazia parte da Áustria-Hungria.

A Inglaterra aspirava esmagar por meio da guerra sua perigosa competidora, aAlemanha, cujas mercadorias iam desalojando cada vez mais os produtos ingleses domercado mundial de antes da guerra. Além disso, acalentava o propósito de tirar àTurquia a Mesopotâmia e a Palestina e de se estabelecer solidamente no Egito.

Os capitalistas franceses aspiravam arrebatar à Alemanha a bacia do Sarre, ricaem carvão e ferro, e as províncias de Alsácia-Lorena, das quais a Alemanha tinhadespojado a França na guerra de 1870-1871.

Foram, pois, as formidáveis contradições existentes entre os dois grupos deEstados capitalistas que trouxeram a guerra imperialista.

Esta guerra de rapina, na qual se ventilava a repartição do mundo, afetava osinteresses de todos os países imperialistas, razão por que se viram arrastados a ela,no transcurso de seu desenvolvimento, o Japão, os Estados Unidos e outra série depaíses.

A guerra adquiriu caráter mundial.A burguesia tinha preparado a guerra imperialista, mantendo seus preparativos

no mais profundo segredo, para que deles não ficassem inteirados os povos. Quando aguerra estalou, todos os governos imperialistas se esforçaram por demonstrar que nãoeram eles os que atacavam os países vizinhos, senão que eram vítimas da agressãodestes. A burguesia enganava o povo, ocultando os verdadeiros fins da guerra, seucaráter imperialista de anexação. Todos os governos imperialistas declararam quefaziam a guerra em defesa da pátria.

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Os oportunistas da Segunda Internacional ajudaram a burguesia a enganar opovo. Os social-democrátas da Segunda Internacional traíram vilmente a causa dosocialismo, a causa da solidariedade internacional do proletariado. Longe de selevantarem contra a guerra, o que fizeram foi ajudar a burguesia a lançar os operáriose os camponeses dos Estados beligerantes uns contra os outros, sob a bandeira dadefesa da pátria.

O fato da Rússia entrar na guerra imperialista, ao lado da Entente, da França eda Inglaterra, tinha sua razão de ser. Não se perca de vista que antes de 1914 osramos mais importantes da indústria russa se achavam em mãos do capitalestrangeiro, e principalmente do capital francês, inglês e belga, isto é, dos países daEntente. As fábricas metalúrgicas mais importantes da Rússia eram propriedades decapitalistas franceses. Quase três quartos da metalurgia russa. (72 por cento)dependiam do capital estrangeiro. Outro tanto ocorria com a produção do carvão depedra na bacia do Donetz. A metade, aproximadamente, da extração de petróleoachava-se em mãos do capital anglo-francês. Uma parte considerável dos lucros daindústria russa ia parar nos bancos estrangeiros, e principalmente nos da Inglaterra eFrança. Todas estas razões, às quais é preciso juntar os empréstimos de milhares demilhões feitos pelo czar na França e na Inglaterra, pretendiam o czarismo aoimperialismo anglo-francês e convertiam a Rússia em tributária destes países, em umasemicolônia sua.

A burguesia russa esperava que lançando-se à guerra melhoraria de situação,conquistaria novos mercados, se enriqueceria com os pedidos e os fornecimentos de

guerra, e ao mesmo tempo poderia, valendo-se da situação criada pela guerra,esmagar o movimento revolucionário.A Rússia czarista entrou na guerra sem estar preparada para ela. A indústria

russa achava-se muito atrasada em relação à dos outros países capitalistas.Predominavam nela as velhas fábricas com uma instalação já muito gasta. Aagricultura russa com um regime semi-feudal de propriedade da terra e de massas decamponeses reduzidos à mais extrema miséria, não podia oferecer uma baseeconômica para manter uma guerra longa.

O czar tinha seu principal apoio nos latifundiários feudais. Os grandeslatifundiários das centúrias negras, coligados aos grandes capitalistas eram ossenhores do país da Duma. Estes elementos apoiavam em bloco a polícia interior eexterior do governo czarista. A burguesia imperialista russa tinha todas as suasesperanças postas na autocracia czarista, no punho de ferro que lhe podia assegurar a

conquista de novos mercados e de novos territórios, além disso esmagar o movimentorevolucionário dos operários e camponeses.

O Partido da burguesia liberal – os kadetes – se fazia passar por um partido deoposição, mas apoiava sem reservas a política exterior do governo czarista.

Os partidos pequeno-burgueses, social-revolucionário menchevique, encobrindosua conduta com a bandeira do socialismo, ajudaram a burguesia, desde o primeiromomento da guerra, a enganar o povo, a ocultar o caráter imperialista e rapace daguerra. Pregavam a necessidade de defender a “pátria” burguesa contra os “bárbarosprussianos”, e apoiavam a política da “paz interior”, e deste modo ajudavam o governodo czar a fazer a guerra, exatamente da mesma forma que os social-democrátasalemães ajudavam o governo do kaiser a guerrear contra os “bárbaros russos”. 

O Partido bolchevique foi o único que permaneceu fiel à grande bandeira do

internacionalismo revolucionário, mantendo-se firme nas posições marxistas e lutandoresolutamente contra a autocracia czarista, contra os capitalistas e latifundiários econtra a guerra imperialista. O Partido bolchevique manteve, desde os primeiros diasde guerra, o ponto de vista de que esta não se havia desencadeado para defender apátria, senão para se apoderar de territórios estrangeiros, para saquear outros povosno interesse dos latifundiários e capitalistas, e que os operários deviam adotar emrelação a ela uma atitude de luta decidida.

A classe operária apoiava o Partido bolchevique.É certo que as fumaças patriótico-burguesas, que no começo da guerra

embriagaram os intelectuais e o setor dos kulaks, contaminaram também uma partedos operários. Mas foram principalmente, contaminados os que se encontravam entrea malandragem da “União do Povo Russo” e um setor dos operários influenciado

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ideologicamente pelos social-revolucionários e os mencheviques. Estes elementos nãorefletiam nem podiam refletir, naturalmente, o estado de espírito da classe operária.Eram os elementos que desfilavam nas manifestações chauvinistas da burguesia,organizadas pelo governo czarista nos primeiros dias de guerra.

 2 – Os Partidos da Segunda Internacional passaram para o lado de seusgovernos imperialistas – A Segunda Internacional se decompõe numasérie de partidos social-chauvinistas isolados. 

Lênin repetidas vezes havia lançado o brado de alerta contra o oportunismo daSegunda Internacional e a falta de firmeza de seus chefes. Havia afirmado sempre queos chefes da Segunda Internacional só de palavra eram contrários à guerra e que nocaso da guerra estalar desertariam certamente de suas posições e passariam para olado da burguesia imperialista, converter-se-iam com toda a certeza em defensores daguerra. O prognóstico de Lênin se confirmou desde os primeiros dias de guerra.

Em 1910, no Congresso celebrado pela Segunda Internacional em Copenhague,se havia tomado uma resolução que obrigava os socialistas a votar nos parlamentoscontra os créditos de guerra. O congresso mundial da Segunda Internacional celebradoem Basiléia, em 1912, durante a guerra dos Bálcãs, declarou que os operários detodos os países consideravam um crime atirar uns contra os outros para aumentar oslucros capitalistas. Tal era a posição que se adotava, de palavra, nas resoluções dosCongressos.

Mas quando começaram a troar os canhões da guerra imperialista e seapresentou a necessidade de levar à prática aquelas resoluções, os chefes da SegundaInternacional se revelaram como traidores do proletariado e servidores da burguesia,passando para o campo dos defensores da guerra.

Em 4 de Agosto de 1914, a social-democracia alemã votou no parlamento oscréditos de guerra, votou a favor da guerra imperialista. E exatamente o mesmofizeram, em sua esmagadora maioria, os socialistas da França, da Inglaterra, daBélgica e dos demais países.

A Segunda Internacional havia deixado de existir. Decompôs-se de fato numasérie de partidos social-chauvinistas isolados que faziam a guerra uns contra os outros.

Os chefes dos partidos socialistas, traindo o proletariado, passaram para aposição do social-chauvinismo e abraçaram a defesa da burguesia imperialista. Ajudou

os governos imperialistas a enganar a classe operária e a inocular-lhe o veneno donacionalismo. Sob a bandeira da defesa da pátria, estes social-traidores começaram aatiçar os operários alemães contra os franceses e os operários franceses e inglesescontra os alemães. Só uma minoria insignificante de homens dentro da SegundaInternacional se manteve na posição internacionalista, marchando contra a corrente,sem uma convicção muito firme e de um modo bastante vago, é certo, mas, apesar detudo, marchando contra a corrente.

O Partido bolchevique foi o único que levantou desde o primeiro momento esem vacilações a bandeira da luta decidida contra a guerra imperialista. Nas tesessobre a guerra, redigidas por Lênin no outono de 1914, se assinalava que o fracassoda Segunda Internacional não era por acaso. A Segunda Internacional, dizia Lênin,foram os oportunistas que a puseram a pique. E contra eles, fazia há muito tempo queos melhores representantes do proletariado revolucionário se vinham pondo em

guarda.Os partidos da Segunda Internacional estavam contagiados de oportunismo, já

antes da guerra. Os oportunistas pregavam abertamente a renúncia à lutarevolucionária, a teoria da “evolução pacífica do capitalismo para o socialismo”. ASegunda Internacional não queria lutar contra o oportunismo, era partidária de viverem paz com ele e o deixava fortalecer-se. E seguindo a política de conciliação com ooportunismo, acabou por se converter ela também em oportunista.

À custa dos lucros que arrancava das colônias e da exploração de que eramvítimas os países atrasados, a burguesia imperialista, mediante uma política desalários elevados e outras remunerações, corrompia sistematicamente uma minoriaescolhida de operários qualificados, a chamada aristocracia operária. Deste reduzido

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setor operário saíam muitos dos dirigentes dos sindicatos e das cooperativas, muitosdos deputados e conselheiros, muitos dos redatores da imprensa e dos funcionáriosdas organizações social-democratas. Ao estalar a guerra, estas pessoas, receosas deperderem sua posição privilegiada, fizeram-se inimigos da revolução, convertendo-senos defensores mais raivosos de sua burguesia e de seus governos imperialistas.

De oportunistas se converteram em social-chauvinistas.Os social-chauvinistas – incluindo entre eles os mencheviques e social-

revolucionários russos – pregavam a paz de classes entre os operários e a burguesiadentro do país, e a guerra com os outros povos no exterior. Enganavam as massas acerca dos verdadeiros responsáveis da guerra, fazendo-as acreditar que a burguesia deseu próprio país esta livre de toda a culpa. Muitos social-chauvinistas passaram a serministros dos governos imperialistas de seus países.

Não menos perigosa para a causa do proletariado era a posição dos social-chauvinistas encobertos, dos chamados centristas. Os centristas – Kautski, Trotsky,Martov e outros – defendiam e justificavam os social-chauvinistas declarados e,portanto, traíam em ligação com estes, o proletariado, encobrindo sua traição comfrases “esquerdistas” a respeito da luta contra a guerra, frases destinadas a enganar aclasse operária. De fato, os centristas apoiavam a guerra, pois não equivalia à outracoisa sua proposta de não votarem contra os créditos de guerra, limitando-se a seabsterem desta votação. Também eles, tanto quanto os social-chauvinistas, exigiamque se renunciasse à luta de classes enquanto durasse a guerra, para não impedir seusgovernos imperialistas de prosseguirem a guerra. Em face dos problemas mais

importantes da guerra e do socialismo, o centrista Trotsky se manifestava semprecontra Lênin, contra o Partido bolchevique.Desde os primeiros dias da guerra, Lênin começou a agrupar forças para criar

uma nova Internacional, a Terceira Internacional. A tarefa de fundar a TerceiraInternacional para substituir a Segunda, que havia fracassado tão vergonhosamente,aparece no manifesto lançado contra a guerra, em Novembro de 1914, pelo ComitêCentral do Partido bolchevique.

Em fevereiro de 1915, celebrou-se em Londres uma conferência de socialistasdos países da Entente, na qual interveio, por diretiva de Lênin, o camarada Litvinov.Este exigiu que os socialistas (Vandervelde, Sembat, Guesde) saíssem de seusgovernos burgueses da Bélgica e da França e rompessem totalmente com osimperialistas, abandonando a colaboração com eles. E exigiu que os socialistasmantivessem uma luta decidida contra seus próprios governos imperialistas e

condenassem quantos votassem a favor dos créditos de guerra. Mas a voz de Litvinovnão encontrou o menor eco nesta conferência.

Em começo de setembro de 1915, se reuniu em Zimmerwald a primeiraConferência dos internacionalistas. Lênin dizia que esta Conferência tinha sido o“primeiro passo” no desenvolvimento do movimento internacional contra a guerra.Lênin formou nela o grupo de esquerda de Zimmerwald. Mas o único que, dentro daesquerda zimmerwaldiana, manteve uma posição acertada e conseqüente do princípioao fim contra a guerra foi o Partido bolchevique, com Lênin à frente. A esquerdazimmerwaldiana editava em alemão um periódico intitulado “Vorbote” (“O Precursor”),onde se publicaram vários artigos de Lênin.

Em 1916, conseguiu-se reunir na pequena vila suíça de Kienthal a SegundaConferência Internacionalista, que se conhece com o nome de Segunda Conferência

zimmerwaldiana. Naquela ocasião, iam-se definindo grupos de internacionalistas emquase todos os países e se destacava já com traços acentuados a cisão entre oselementos internacionalistas e os social-chauvinistas. E, sobretudo, as própriasmassas, sob influência da guerra e das calamidades provocadas por ela, iam-seorientando para a esquerda. O manifesto de Kienthal foi o fruto de uma resoluçãoentre os diversos grupos que se debateram na Conferência. Representava, emcomparação com o manifesto de Zimmerwald, um passo à frente.

Mas também a Conferência de Kienthal não adotou as teses fundamentais dapolítica bolchevique: transformação da guerra imperialista em guerra civil, derrota naguerra, do governo imperialista do próprio país e organização da TerceiraInternacional. Não obstante, a Conferência de Kienthal tornou possível o afastamento

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dos elementos internacionalistas, que mais tarde haviam de formar a TerceiraInternacional, a Internacional Comunista.

Lênin criticava os erros dos internacionalistas pouco conseqüentes dentro dasfileiras dos social-democratas de esquerda, tais como Rosa Luxemburgo e KarlLiebkenecht, ao mesmo tempo em que os ajudava a adotar uma posição acertada.  3 – Teoria e tática do Partido bolchevique sobre os problemas da guerra,da paz e da revolução.

  Os bolcheviques não eram simples pacifistas, enamorados da paz e que secontentassem em pregar a paz a qualquer custo, como a maioria dos social-democrátas de esquerda. Os bolcheviques eram partidários da luta revolucionária ativapela paz, até chegarem à derrubada do poder da burguesia imperialista causadora dasguerras. Os bolcheviques vinculavam a causa da paz à causa do triunfo da revoluçãoproletária, pois entendiam que o meio mais seguro para acabar com a guerra econquistar uma paz justa, uma paz sem anexações nem indenizações, era a derrubadado poder da burguesia imperialista.

Em face dos mencheviques e dos social-revolucionários, que renegavam arevolução, e em face da palavra de ordem traidora da manutenção da “paz interior”,enquanto durasse a guerra, os bolcheviques lançaram a palavra de ordem de“transformação da guerra imperialista em guerra civil”. Esta palavra de ordem

significava que os trabalhadores, incluindo entre eles os operários e os camponesesarmados, vestidos com o uniforme militar, deviam voltar as armas contra suaburguesia e derrubar o Poder desta, se queriam livrar-se da guerra e conseguir umapaz justa.

Em face da política dos mencheviques e dos social-revolucionários, política dedefesa da pátria burguesa, os bolcheviques defendiam a política de “derrota do própriogoverno, na guerra imperialista”. Isto significava que era necessário votar contra oscréditos de guerra, criar organizações revolucionárias clandestinas dentro do Exército,apoiar os atos de confraternização dos soldados nas frentes e organizar açõesrevolucionárias dos operários e camponeses contra a guerra, convertendo-as numainsurreição contra o governo imperialista de seu próprio país.

Os bolcheviques entendiam que o mal que a guerra imperialista poderia

acarretar ao povo seria a derrota militar do governo czarista, pois esta derrotafacilitaria o triunfo do povo sobre o czarismo e a luta vitoriosa da classe operária paraemancipar-se da escravidão capitalista e das guerras imperialistas. Ao sustentar isto,Lênin entendia que esta política de derrota do próprio governo imperialista devia serseguida não só pelos revolucionários russos, como também pelos partidosrevolucionários da classe operária em todos os países beligerantes.

Os bolcheviques não eram contrários a toda guerra. Eram contrários somente àguerra de anexações, à guerra imperialista. Os bolcheviques entendiam que há duasclasses de guerra:

a) as guerras justas, sem anexações, de libertação, que tem como finalidadedefender o povo contra uma agressão exterior e contra quantos tentem escravizá-lo oulibertar o povo da escravidão do capitalismo, ou, finalmente, emancipar as colônias eos países dependentes do jugo dos imperialistas; e

b) as guerras injustas, de anexações, que tem como finalidade à anexação e aescravização de países e povos estrangeiros.Os bolcheviques apoiavam a primeira classe de guerras. Em troca propugnavam

por manter uma luta decidida contra as guerras da segunda classe, chegando até árevolução e à derrubada do governo imperialista do próprio país.

Os trabalhos teóricos de Lênin durante a guerra tiveram uma importânciaenorme para a classe operária do mundo inteiro. Na primavera de 1916, Lêninescreveu sua obra intitulada “O imperialismo, fase superior do capitalismo”. Neste livro Lênin esclarece que o imperialismo é a etapa culminante do capitalismo, a etapa emque este se converte de capitalismo “progressivo” em capitalismo parasitário, emdecomposição; que o imperialismo é o capitalismo agonizante. Isto não quer dizer,

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naturalmente, que o capitalismo vá morrer por si só, sem a revolução proletária, quevá apodrecer pela raiz. Lênin ensinou sempre que não é possível derrubar ocapitalismo sem a revolução da classe operária. Por isso, se bem que definido oimperialismo como o capitalismo agonizante, Lênin aponta ao mesmo tempo, nestaobra, que “o imperialismo é o limiar da revolução social do proletariado”. 

Lênin ressaltava que na época do imperialismo, o jugo capitalista se faz cadavez mais duro, que sob as condições do imperialismo cresce a indignação doproletariado contra os fundamentos do capitalismo, e vão amadurecendo, dentro dospaíses capitalistas, os elementos para uma explosão revolucionária.

Lênin ressaltava que na época do imperialismo acentua-se a crise revolucionárianos países coloniais e dependentes e vão crescendo os elementos de indignação e oselementos para a luta de libertação contra o imperialismo.

Lênin ressaltava que, sob as condições do imperialismo se acentuamespecialmente o desenvolvimento desigual e as contradições do capitalismo, e que aluta pelos mercados para dar saída às mercadorias e exportar os capitais, a luta pelascolônias e pelas fontes de matérias primas faz com que se produzam, inevitável eperiodicamente, guerras imperialistas por uma nova partilha do mundo.

Lênin ressaltava que, precisamente como conseqüência deste desenvolvimentodesigual do capitalismo, surgem as guerras imperialistas, que debilitam as forças doimperialismo e tornam possível a ruptura da frente do imperialismo por seu ponto maisfraco.

E, partindo de todas estas premissas, chegava à conclusão de que era

perfeitamente possível ao proletariado romper a frente imperialista por um pontoqualquer ou por vários; de que era possível o triunfo do socialismo, começando poralguns países e inclusive por um só isoladamente, de que o triunfo simultâneo dosocialismo em todos os países era impossível, dada a desigualdade dodesenvolvimento do capitalismo neles; de que o socialismo começaria triunfandosomente em um ou em vários países e que os demais continuariam sendo algumtempo países burgueses.

Eis como Lênin formulava esta conclusão genial, em dois artigos diferentes,escritos durante a guerra imperialista:

 1) “A desigualdade do desenvolvimento econômico e político é uma lei absolutado capitalismo. Donde se deduz que é possível que o socialismo comece triunfandosomente em alguns países capitalistas, ou inclusive num só país isoladamente. Oproletariado triunfante deste país, depois de expropriar os capitalistas e de organizar a

produção socialista dentro de suas fronteiras, se enfrentará contra o resto do mundo,contra o mundo capitalista, atraindo para seu lado as classes oprimidas dos demaispaíses”... (Do artigo intitulado “Sobre a palavra de ordem dos Estados Unidos daEuropa”, escrito em agosto de 1915, Lênin, t. XVIII, págs. 232-233, ed. Russa).

 2) “O desenvolvimento do capitalismo segue um curso extraordinariamentedesigual nos diversos países. Isto é uma conseqüência inevitável do regime deprodução de mercadorias. Donde a conclusão imutável de que o socialismo não podetriunfar simultaneamente em todos os países. Começara triunfando em um ou emvários países, e os demais continuarão sendo durante algum tempo países burguesesou pré – burgueses. Isto provocará, necessariamente, não só atritos, como também atendência aberta da burguesia dos demais países a esmagar o proletariado triunfantedo Estado socialista. Em tais condições, a guerra seria, de nossa parte, uma guerra

legítima e justa. Seria uma guerra pelo socialismo, para libertar da burguesia os outrospovos”. (Do artigo intitulado “O programa de guerra da revolução proletária”, escritono outono de 1916 Lênin, t. XIX, pág. 325, ed. Russa).

Esta teoria era uma nova e acabada teoria da revolução socialista, a teoria dapossibilidade do triunfo do socialismo em países isolados, das condições deste triunfo ede suas perspectivas, teoria cujas bases tinham sido esboçadas por Lênin já em 1905,em seu folheto “As duas táticas da social-democracia na revolução democrática”. 

Esta teoria afastava de um modo radical aquele ponto de vista em voga entreos marxistas no período do capitalismo pré-imperialista que consiste em considerarimpossível o triunfo do socialismo em um só país, qualquer que fosse, admitindo que osocialismo triunfaria ao mesmo tempo em todos os países civilizados.

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Lênin, baseando-se nos dados sobre o capitalismo imperialista exposto em seunotável livro “O imperialismo, fase superior do capitalismo”, abandonou este ponto devista teórico, segundo o qual o triunfo simultâneo do socialismo em todos os países eraimpossível, sendo, por outro lado, possível o seu triunfo num só país capitalistaisoladamente.

A importância incalculável da teoria de Lênin sobre a revolução socialista nãoesta somente em ter enriquecido e desenvolvido o marxismo com uma nova teoria.Sua importância consiste, alem do mais, em dar uma perspectiva revolucionária aosproletários dos diferentes países, em desenvolver sua iniciativa para se lançarem aoassalto contra sua própria burguesia, em lhes ensinar o aproveitamento da situação deguerra para organizarem esta ofensiva e em fortalecer sua fé no triunfo da revoluçãoproletária.

Tal era a posição teórica e tática dos bolcheviques quanto aos problemas daguerra, da paz e da revolução.

Tomando como base esta posição, os bolcheviques desenvolveram o seutrabalho prático na Rússia.

Apesar das furiosas perseguições policiais, os deputados bolcheviques da Duma- Badaiev, Petrovski, Muranov, Samoilov e Shagov -, percorreram, no começo daguerra, uma série de organizações operárias, dando informes da atitude dosbolcheviques em face da guerra e da revolução. Em novembro de 1914, a fraçãobolchevique da Duma organizou uma conferência para considerar o problema daatitude que se devia seguir em face da guerra. No terceiro dia foi presa a Conferência

em plena reunião. Os tribunais condenaram todos os deputados bolcheviques,impondo-lhes a pena de inabilitação e deportando-os para a Sibéria oriental. Ogoverno czarista acusou de “alta traição” os deputados bolcheviques da Duma. 

Neste processo, desenvolveu-se um quadro das atividades dos deputadosbolcheviques que podia encher de orgulho o Partido. Os deputados bolcheviques secomportaram valentemente perante seus juízes, convertendo o julgamento em umatribuna de onde desmascaram a política de anexações do regime czarista.

Outro foi o comportamento de Kamenev, arrolado no mesmo processo.Arrastado por sua covardia, quando se viu em perigo renegou a política do Partidobolchevique, declarando perante o tribunal que estava em desacordo com osbolcheviques no problema da guerra e dando como testemunha em apoio de suasafirmações o menchevique Iordanski.

Os bolcheviques realizaram um grande trabalho contra os comitês da indústria

de guerra, postos a serviço desta, e contra as tentativas dos mencheviques desubmeterem os operários à influencia da burguesia imperialista. A burguesia estavavitalmente interessada em apresentar perante à opinião geral a guerra imperialistacomo uma guerra de todo o povo. Durante a guerra a burguesia conseguiu adquiriruma grande influência nos negócios do Estado, criando, com as uniões dos Zemstvos edos conselhos urbanos, uma organização própria, extensiva a toda a Rússia. Precisavatambém de submeter os operários à sua direção e influência. Para isso lançou mão dorecurso de criar “grupos operários” anexos aos comitês da indústria de guerra. Osmencheviques fizeram sua, esta idéia da burguesia. A esta convinha incorporar aosditos Comitês representantes dos operários, para que se encarregassem de fazer entreas massas operárias o trabalho nas fabricas de obuses, canhões, fuzis, cartuchos edemais indústrias que trabalhavam para a guerra.

 “Tudo e todos para a guerra!”, tal era a palavra de ordem da burguesia. Narealidade esta palavra de ordem significava então: “Enriqueçamos à larga com osfornecimentos de guerra e com a anexação de territórios estrangeiros!” Osmencheviques participaram ativamente nesta obra pseudo patriótica empreendida pelaburguesia. Ajudavam os capitalistas, fazendo um intenso trabalho de agitação entre osoperários, para que estes tomassem parte nas eleições dos “grupos operários” adstritos aos Comitês da indústria de guerra. Os bolcheviques se manifestaram contraesta fraude. Preconizaram o boicote dos Comitês da indústria de guerra e mantiverameficazmente este boicote. Não obstante, uma parte dos operários participou nasatividades daqueles comitês, sob a direção do conhecido menchevique Gvosdiev e doprovocador Abrosimov.

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Quando os delegados dos operários se reuniram em setembro de 1915 paraproceder a eleição definitiva dos “grupos operários” dos citados Comitês, a maioria dosdelegados votou contra eles e formulou uma enérgica resolução contrária àparticipação nos Comitês da indústria da guerra, declarando que a tarefa que osoperários tinham esboçado era a de lutar pela paz e pela derrubada do czarismo.

Os bolcheviques desenvolveram também um grande trabalho dentro do Exércitoe da Marinha. Explicavam às massas de soldados e marinheiros quem eram osculpados pelos inauditos horrores da guerra e dos sofrimentos do povo e lhes faziamver que o único caminho que o povo tinha era sair da carnificina imperialista era arevolução. Criaram células bolcheviques dentro do Exército e da Marinha, nas unidadesda frente e na retaguarda e distribuíam proclamações com apelos contra a guerra.

 Os bolcheviques fundaram o “Grupo central da organização militar deKronstadt” que se achava em estreito conflito com o Comitê de Petrogrado do Partido.Adstrita ao Comitê de Petrogrado, criou-se uma organização militar para o trabalhoentre a guarnição. Em agosto de 1916, o chefe da polícia secreta de Petrogradoinformava que o “Grupo Central de Kronstadt é uma organização muito séria, decaráter conspirativo, cujos membros são todas pessoas caladas e precavidas. Estaorganização tem também representantes em terra”. 

Na frente, o Partido bolchevique fazia trabalho de agitação em prol daconfraternização entre os soldados dos exércitos beligerantes, ressaltando que oinimigo era a burguesia mundial e que só se poderia por fim à guerra, convertendo aguerra imperialista em guerra civil e voltando as armas cada qual contra a sua própria

burguesia e o governo desta. Cada vez se repetiam com mais freqüência os casos deunidades que se negavam o atacar. Casos destes se deram já em 1915 e, sobretudo,em 1916.

Onde os bolcheviques desenvolviam um trabalho mais intenso era nos exércitosda frente do Norte, na região do Báltico. Em começos do ano de 1917, o generalRusski, general em chefe dos exércitos da frente Norte, informava o Alto Comando arespeito do formidável trabalho revolucionário, desenvolvido pelos bolcheviquesnaquela frente.

A guerra impôs uma mudança radical e gigantesca na vida dos povos e na vidada classe operária internacional. Punha sobre o tapete a sorte dos Estados, a sorte dospovos, a sorte do movimento socialista. Era também, portanto, uma pedra de toque,uma prova para todos os partidos e tendências que se chamavam socialistas.Permaneceriam estes partidos e tendências fiéis à causa do socialismo, à causa do

internacionalismo, ou prefeririam atraiçoar a classe operária, atirar no chão suabandeira e arrastá-las aos pés de sua própria burguesia nacional? Tal era o problemaque se apresentava.

A guerra demonstrou que os partidos da Segunda Internacional não resistiramà prova, mas que traíram a classe operária, arriando sua bandeira diante da burguesiade seu próprio país, diante da burguesia nacional, imperialista.

Não podia ser outra a conduta de partidos como aqueles que cultivavam em seuseio o oportunismo e estavam educados na política de concessões aos oportunistas,aos nacionalistas.

A guerra demonstrou que o Partido bolchevique foi o único partido que soubeenfrentar com honra a prova e que permaneceu fiel até o fim à causa dointernacionalismo proletário.

E era lógico que fosse assim, pois só um partido de novo tipo, só um partidoeducado no espírito da luta intransigente contra o oportunismo, só um partido assimpodia sair vitorioso daquela grande prova e permanecer fiel à causa da classe operária,à causa do socialismo e do internacionalismo.

O partido em que se davam todas essas condições era o Partido bolchevique. 

4 – As tropas czaristas são derrotadas na frente – O desastre econômico- A crise do czarismo. 

A guerra havia entrado já no terceiro ano. Devorava milhões de vidas humanas,deixando uma esteira de mortos, de feridos, de seres que pereciam em virtude das

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epidemias produzidas pela guerra. A burguesia e os latifundiários se enriqueciam comela, enquanto que os operários e camponeses sofriam cada vez mais miséria e maisprivações. A guerra destruía a economia nacional da Rússia. Cerca de 14 milhões detrabalhadores fortes e sãos tinham sido arrebatados à produção pelo Exército.Paravam fábricas e oficinas. A colheita dos campos de cereais decrescia, por falta debraços. A população e os soldados na frente passavam fome e andavam nus edescalçados. A guerra havia devorado todos os recursos do país.

O exército czarista sofria derrota após derrota. A artilharia alemã descarregavasobre as tropas czaristas verdadeiras saraivadas de projeteis, enquanto no exércitoczarista escasseavam os canhões, munições e até os fuzis. Às vezes, havia um fuzilpara cada três soldados. Já em plena guerra, se descobriu a traição do ministro daguerra czarista, Sukhomlinov, que se verificou estar em relações com os espiõesalemães. O próprio ministro da Guerra se encarregava de executar as instruções daespionagem alemã: deixar a frente desabastecida de munições, não enviar para afrente nem canhões nem fuzis. Alguns ministros e generais czaristas contribuíam àsocapa para os êxitos do exército alemão; em ligação com a czarina, que estava ligadacom os alemães, delatavam a estes os segredos militares. Não tem, pois, nada deestranho que, nestas condições, o exército czarista fosse derrotado e obrigado a baterem retirada. Lá pelo ano de 1916, os alemães conseguiram apoderar-se da Polônia ede uma parte da Região do Báltico.

Tudo isso despertava o ódio e a cólera contra o governo czarista por parte dosoperários, dos camponeses, dos soldados e dos intelectuais, e acentuava e robustecia

o movimento revolucionário das massas populares contra a guerra e contra oczarismo, tanto na retaguarda como na frente, tanto no centro como na periferia.O descontentamento começou também a tomar conta da burguesia imperialista

russa. Esta se sentia indignada diante do fato de se tornarem senhores da Cortemalandros da marca de Rasputin, que trabalhavam claramente em prol de uma pazseparada com os alemães. Ia se convencendo cada vez mais de que o governo czaristaera incapaz de fazer uma guerra vitoriosa. Temia que o czarismo, para salvar asituação, recorresse a uma paz separada com a Alemanha. Em vista disso, a burguesiarussa decidiu organizar um “complot” palaciano para derrubar o czar Nicolau II, pondono trono o grão duque Miguel Romanov, que se achava ligado com a burguesia.Pretendia com isto matar dois pássaros com um só tiro; em primeiro lugar, escalar opoder e assegurar o prosseguimento da guerra imperialista, e em segundo lugar,atalhar com um pequeno “complot” palaciano o avanço da grande revolução popular,

cada vez mais ameaçador.A burguesia russa contava para esta empresa com o apoio incondicional dos

governos inglês e francês. Estes governos viam que o czar era incapaz de prosseguir aguerra e temiam que terminasse por assinar uma paz separada com os alemães. Se ogoverno czarista fizesse uma paz separada, os governos da Inglaterra e da Françaperderiam, com a Rússia, um aliado que, além de entreter em sua frente às forças doinimigo, punha à disposição da França dezenas de milhares de soldados russosescolhidos. Eis porque apoiavam a burguesia russa em suas intenções de levar a caboo “complot” palaciano. 

O czar achava-se, portanto, isolado.Ao mesmo tempo em que se multiplicavam os reveses na frente, o desastre da

Economia ia-se acentuando cada vez mais. Nos meses de janeiro e fevereiro de 1917,

a catástrofe do abastecimento das matérias primas e dos combustíveis chegou ao seuponto culminante. O provisionamento de Petrogrado e de Moscou cessou quase emabsoluto. Começaram a fechar fábricas após fábricas. O fechamento de fábricas veioacentuar o desemprego forçado. A situação se tornava verdadeiramente insuportávelpara os operários.

Massas cada vez mais extensas do povo iam se convencendo de que só haviaum caminho para sair daquela situação insustentável: a derrubada da autocraciaczarista.

O czarismo estava atravessando claramente uma crise mortal.A burguesia julgava poder resolver a crise por meio de um “complot” palaciano. Mas foi o povo que a resolveu à sua maneira.

 

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5 – A revolução de fevereiro. Queda do czarismo. Constituição dossoviets de deputados operários e soldados. Formação do governoprovisório. A dualidade de poderes. 

O ano de 1917 começou com a greve de 9 de janeiro. Durante esta greve,celebraram-se manifestações em Petrogrado, Moscou, Baku e Nijni-Novgorod; a 9 dejaneiro abandonaram o trabalho cerca de um terço dos operários de Moscou. Umamanifestação de 2 mil pessoas foi dissolvida violentamente pela polícia montada naAvenida Tverskaia. Em Petrogrado, os soldados se juntaram aos manifestantes, na

calçada de Viborg. “A idéia da greve geral – informava a polícia de Petrogrado – vai ganhandonovos adeptos dia a dia e adquirindo a mesma popularidade que em 1905”. 

Os mencheviques e os social-revolucionários se esforçavam por enquadrar omovimento revolucionário incipiente dentro do limite conveniente à burguesia liberal.Os mencheviques propuseram que em 14 de fevereiro, dia da abertura da Duma, seorganizasse um desfile de operários diante desta. Mas as massas operárias,marchando atrás dos bolcheviques, não desfilaram em frente à Duma, mas emmanifestação pelas ruas.

Em 18 de fevereiro de 1917 estalou, em Petrogrado, a greve dos operários dafábrica de “Putilov”. A 22 de fevereiro entraram em greve os operários da maioria dasgrandes fábricas. Em 23 de fevereiro (8 de março), Dia Internacional da Mulher, asoperárias, atendendo ao apelo do Comitê bolchevique de Petrogrado, saíram à rua emmanifestação contra a fome, a guerra e o czarismo. Em Petrogrado, esta manifestaçãodas operárias foi apoiada com uma ação grevista geral dos operários. A greve políticaprincipiava a converter-se em uma manifestação política geral contra o regimeczarista.

Em 24 de fevereiro (9 de março), a manifestação se renovou com outras forças.A greve atingia já cerca de 200 mil operários.

Em 25 de fevereiro (10 de março), o movimento revolucionário se estendeu atoda a classe operária de Petrogrado operário. As greves políticas por distritosconverteram-se em uma greve política geral em toda a cidade. Por toda à partesurgiram manifestações e choques com a polícia. Sobre as massas operárias seagitavam cartazes vermelhos com estas palavras de ordem: “Abaixo o czar!”, “Abaixoa guerra!”, “Pão!”. 

Na manhã de 26 de fevereiro (11 de março) a greve política e a manifestaçãocomeçaram a converter-se em tentativas de insurreição.Os operários desarmavam a polícia e os gendarmes para se armarem. Mas o

choque armado com a policia terminou com uma chacina de manifestantes na praçaSnamenskaia.

O general Khabalov, chefe da região militar de Petrogrado, ordenou que osoperários se reintegrassem no trabalho a 28 de fevereiro (13 de março), ameaçandoenviar para frente os que não acatassem esta ordem. Em 25 de fevereiro (10 demarço), o czar mandou ao general Khabalov esta ordem imperativa: “Exijo queamanhã se ponha fim às desordens na capital”. 

 Mas já não era possível “por fim” à revolução. A 25 de Fevereiro (10 de março), a 4ª Companhia do Batalhão de Reserva do

Regimento de Pavlovsk rompeu fogo, mas não contra os operários e sim contra os

destacamentos de guardas montadas que tinham começado a disparar contra osoperários.

A luta para ganhar a tropa se revestia do caráter mais enérgico e tenaz,sobretudo por parte das mulheres operárias, que se misturavam entre os soldados,confraternizavam com eles e os incitavam a ajudar o povo a derrubar a autocraciaczarista tão odiada por ele.

A direção do trabalho prático do Partido bolchevique corria, por aquela época,por conta do Burô do Comitê Central do Partido, residente em Petrogrado, e à frentedo qual se encontrava o camarada Molotov. Em 26 de fevereiro (11 de março), o Burôdo CC lançou um manifesto conclamando as massas a prosseguirem na luta contra oczarismo e a constituírem um Governo provisório revolucionário.

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Em 27 de fevereiro (12 de março), as tropas de Petrogrado se negaram adisparar contra os operários e começaram a passar para o lado do povo que selevantara em armas. Na manhã de 27 de fevereiro, os soldados sublevados nãopassavam de 10 mil; naquele mesmo dia, pela noite, já subiam a 60 mil.

Os operários e soldados sublevados começaram a deter os ministros e generaisczaristas e a tirar os revolucionários das cadeias. Os presos políticos, postos emliberdade, se juntavam à luta revolucionária.

Nas ruas havia ainda tiroteio entre o povo e os guardas e gendarmes quetinham colocado suas metralhadoras nos telhados das casas. Mas a rápida passagemda tropa para o lado dos operários decidiu da sorte da autocracia czarista.

Quando a notícia do triunfo da revolução em Petrogrado chegou a outrascidades e à frente, os operários e os soldados começaram a derrubar por toda a parteos representantes da autoridade czarista.

A revolução democrático-burguesa de fevereiro triunfara.A revolução triunfou porque à frente dela se pôs a classe operária, dirigindo o

movimento de massas de milhões de camponeses fardados “pela paz, pelo pão e pelaliberdade”. A hegemonia do proletariado foi que assegurou o triunfo da revolução. 

 “A revolução foi obra do proletariado, que deu provas de heroísmo, derramou oseu sangue e arrastou com ele as mais amplas massas dos trabalhadores e dapopulação mais pobre...”, escrevia Lênin, nos primeiros dias da revolução (Lênin, t. XXpágs. 23-24, ed. russa).

A primeira revolução, a revolução de 1905, havia preparado o terreno para o

rápido triunfo da segunda revolução, da revolução de 1917. “Sem os três anos de formidáveis combates de classe e de energiarevolucionária desenvolvida pelo proletariado russo de 1905 a 1907, teria sidoimpossível uma segunda revolução tão rápida, que cobriu sua etapa inicial em algunsdias”, assinalava Lênin (Obra citada, pág. 13).

Nos primeiros dias da revolução, apareceram os Soviets. A revolução triunfantese apoiava nos Soviets de deputados operários e soldados. Os operários e soldadossublevados criaram seus respectivos soviets. A revolução de 1905 tinha revelado queos Soviets são os órgãos da insurreição armada e ao mesmo tempo o gérmen do novoPoder, do Poder revolucionário. A idéia dos soviets vivia na consciencia das massasoperárias que a puseram em prática no dia seguinte à derrubada do czarismo, emboracom a diferença de que, enquanto os soviets criados em 1905 eram somente Sovietsde deputados operários, os que se criaram em fevereiro de 1917 eram, por iniciativa

dos bolcheviques, Soviets de deputados operários e soldados.Enquanto os bolcheviques se punham à frente da luta direta das massas nas

ruas, os partidos oportunistas, mencheviques e social-revolucionários, preocupavam-seem obter postos de deputados nos Soviets, alcançando neles uma maioria própria.Para este resultado contribuiu, em parte, o fato de que a maioria dos dirigentes doPartido bolchevique se achava no cárcere ou deportados (Lênin se encontrava naemigração, e Stalin e Sverdlov estavam deportados na Sibéria), enquanto osmencheviques e social-revolucionários passeavam livremente pelas ruas dePetrogrado. Assim se explica que os representantes dos partidos oportunistas, osmencheviques e os social-revolucionários se apoderassem da direção no Soviet dePetrogrado e em seu Comitê Executivo. E outro tanto aconteceu em Moscou e emoutra série de cidades. Somente em Ivanovo-Vosnessensk, Krasnoiarsk e alguns

outros pontos lograram os bolcheviques ter a maioria nos Soviets desde o primeiromomento.O povo armado, os operários e soldados, ao enviar seus representantes ao

Soviet viam nele o órgão do Poder popular. Entendiam e acreditavam que o Soviet dedeputados operários e soldados daria satisfação a todos os desejos do povorevolucionário e que o seu primeiro ato seria fazer a paz.

Mas o excesso de confiança dos operários e soldados lhes pregou uma peça. Ossocial-revolucionários e mencheviques não pensavam nem remotamente em pôr fim àguerra, em conquistar a paz. Seu propósito era se aproveitarem da revolução paraprosseguir a guerra. Quanto à revolução e as reivindicações revolucionárias do povo,os social-revolucionários e os mencheviques entendiam que a revolução já estavaterminada e que o problema que então se apresentava era consolidá-la e entrar na

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trilha da vida “normal”, da vida constitucional, pelo braço da burguesia. Assim, adireção social-revolucionária-menchevique do Soviet de Petrogrado tomou todas asmedidas que estavam em suas mãos para sufocar o problema da terminação daguerra, o problema da paz, e entregar o poder à burguesia.

Em 27 de fevereiro (12 de março) de 1917, os deputados liberais da Duma,combinados nos bastidores com os líderes social-revolucionários e mencheviques,formaram o Comitê Provisório da Duma, pondo à frente dele o presidente da QuartaDuma, o latifundiário monárquico Radzianko. Alguns dias depois o Comitê Provisório daDuma e os líderes social-revolucionários e mencheviques do Comitê Executivo doSoviet de Deputados operários e soldados, à revelia dos bolcheviques, se puseram deacordo sobre a formação de um governo na Rússia: o Governo provisório burguês,presidido pelo príncipe Lvov a quem o czar Nicolau II, já antes da revolução deFevereiro, tinha na pasta como primeiro-ministro para seu gabinete. Entraram a fazerparte do governo provisório o chefe dos kadetes, Miliukov, o chefe dos outubristas,Guckkov, e outros destacados representantes da classe capitalista; na qualidade derepresentante da “democracia”, foi incorporado ao governo o social-revolucionárioKerenski.

Deste modo, os líderes social-revolucionários e mencheviques do ComitêExecutivo do Soviet entregaram o Poder à burguesia; informando disso depois deproduzir-se o fato, o Soviet de deputados operários e soldados referendou por maioriade votos a conduta daqueles líderes, apesar dos protestos dos bolcheviques.

E assim se formou na Rússia um novo poder estatal, composto – como dizia

Lênin – por representantes da “burguesia e dos latifundiários aburguesados”. Mas, ao lado do governo burguês, existia outro Poder: o Soviet de deputadosoperários e soldados. Os deputados soldados do Soviet eram, fundamentalmente,camponeses mobilizados para a guerra. O Soviet de deputados operários e soldadosera o órgão da aliança dos operários e camponeses contra o poder czarista e, aomesmo tempo, o órgão de seu Poder, o órgão da ditadura da classe operária e doscamponeses.

Estabeleceu-se, pois, um original entrelaçamento entre dois poderes, entreduas ditaduras: a ditadura da burguesia, encarnada no governo provisório, e aditadura do proletariado e dos camponeses, representada pelo Soviet de deputadosoperários e soldados.

Estabeleceu-se uma dualidade de poderes.Como se explica que nos Soviets tivessem maioria, a princípio, os

mencheviques e os social-revolucionários?Como se explica que os operários e os camponeses triunfantes entregassem

voluntariamente o Poder aos representantes da burguesia?Lênin explicava isto pelos milhões de homens sem experiência política que

tinham despertado com ânsias de participar na vida política. Eram, em grande parte,pequenos proprietários, camponeses, operários que até a pouco trabalhavam nocampo, pessoas que ocupavam um lugar intermediário entre a burguesia e oproletariado.

A Rússia era, naquela época, o mais pequeno-burguês de todos os grandespaíses europeus. Neste país, “a gigantesca onda pequeno-burguesa inundava tudo,afogava o proletariado consciente, não só por seu volume, senão tambémideologicamente, isto é, contagiava setores vastíssimos e operários com suas déias

políticas pequeno-burguesas” (Lênin, t. XX pág. 115, ed. russa). Esta onda de elementos pequeno-burgueses foi também a que trouxe à tona ospartidos pequeno-burgueses e social-revolucionários.

Outra causa que Lênin assinalava era a mudança operada durante a guerraquanto aos elementos que compunham o proletariado, e o insuficiente nível deconsciência e de organização do proletariado nos primeiros momentos da revolução.Durante a guerra tinham-se operado mudanças consideráveis na composição doproletariado. Cerca de 40% dos quadros operários tinham sido mobilizadosmilitarmente. Com o objetivo de fugirem da mobilização, meteram-se nas fábricas, nosanos de guerra, muitos pequenos proprietários, artesãos e pequenos comerciantes,alheios à psicologia proletária.

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Estes setores operários de tipo pequeno-burguês era um terreno adequado parao cultivo dos políticos pequeno-burgueses, mencheviques e social-revolucionários.

Eis porque as grandes massas do povo, inexperientes em política, inundadaspela onda dos elementos pequeno-burgueses e embriagados pelos primeiros êxitos darevolução, marcharam durante os primeiros meses desta à retaguarda dos partidosoportunistas e se prestaram a ceder à burguesia o Poder estatal acreditandoingenuamente que o poder burguês não estorvaria o trabalho dos Soviets.

Isto obrigava o Partido bolchevique a fazer ver às massas, por meio de umpaciente trabalho de esclarecimento, o caráter imperialista do governo provisório, amostrar a traição dos social-revolucionários e mencheviques, fazendo compreender asmassas que não era possível conseguir a paz sem substituir o governo provisório pelogoverno dos Soviets.

E o partido bolchevique tomou em suas mãos esta empresa com toda a energia.O Partido restabeleceu a publicação de seus órgãos de imprensa legais. Cinco

dias depois da Revolução de Fevereiro se começou a publicar em Petrogrado o“Pravda” e, alguns dias mais tarde, apareceu em Moscou “O Social -democrata”.Começou a atuar à frente das massas que iam perdendo a confiança na burguesialiberal, nos mencheviques e social-revolucionários. Explicou pacientemente aossoldados e aos camponeses a necessidade de atuarem conjuntamente com a classeoperária. Fez ver aos camponeses que não obteriam a paz nem a terra, se a revoluçãonão continuasse a avançar, se o governo provisório da burguesia não fosse substituídopelo governo dos Soviets.

  RESUMO 

 A guerra imperialista estalou devido à desigualdade de desenvolvimento dospaíses capitalistas, devido à ruptura do equilíbrio entre as principais potências, devidoa necessidade em que se viam os imperialista de procederem a uma nova partilha domundo por meio da guerra e de criarem um novo equilíbrio de forças.

A guerra não teria adquirido um caráter tão desastroso, e até é provável quenão tivesse chegado a tomar tais proporções, se os partidos da Segunda Internacional não tivessem traído a causa da classe operária, se não tivessem infringido asresoluções dos congressos da Segunda Internacional contra a guerra, se tivessemdecidido a proceder ativamente e a levantar a classe operária contra os seus própriosgovernos imperialistas, contra os incendiários da guerra.

O Partido bolchevique foi o único partido proletário que se manteve fiel à causado socialismo e do internacionalismo, organizando a guerra civil contra seu própriogoverno imperialista. Todos os demais partidos da Segunda Internacional, vinculados àburguesia por meio de seu grupo, estavam afinal de contas entregues de pés e mãosao imperialismo, desertaram para o campo dos imperialistas.

A guerra, reflexo da crise geral do capitalismo, acentuou esta crise e debilitou ocapitalismo mundial. Os operários da Rússia e o Partido bolchevique foram osprimeiros do mundo que souberam aproveitar eficazmente a debilidade do capitalismopara romper a frente imperialista, derrubar o czar e criar os Soviets de deputados deoperários e soldados.

As grandes massas da pequena burguesia, dos soldados e inclusive dosoperários, embriagados pelos primeiros êxitos da revolução e confiadas nas garantias

que lhes davam os mencheviques e social-revolucionários de que agora em diante tudoandaria bem, deixaram-se levar pela confiança no governo provisório e o apoiaram.Ante o Partido bolchevique se apresentava a tarefa de explicar às massas de

operários e soldados, embriagados pelos primeiros êxitos, que ainda havia um longotrecho a percorrer até o triunfo total da revolução, que enquanto o Poder se achasseem mãos do governo provisório da burguesia e os oportunistas, os mencheviques esocial-revolucionários mandassem nos Soviets, o povo não obteria a paz, sem a terra,nem o pão, que, afim da vitória ser completa, era necessário dar um passo à frente eentregar o Poder aos Soviets.

  CAPÍTULO VII 

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O Partido Bolchevique durante o período de preparação erealização da Revolução Socialista de Outubro

(abril de 1917-1918) 

1 – Situação do país depois da Revolução de Fevereiro – O Partido saida clandestinidade e passa ao trabalho político aberto – Chegada deLênin a Petrogrado – Suas teses de abril – O Partido se orienta para a

Revolução Socialista.    Os acontecimentos e a conduta do Governo provisório confirmavam dia a dia a

justeza da linha bolchevique. Todos os fatos indicavam que o Governo provisório nãoestava com o povo, mas contra ele, não defendia a paz, mas a guerra, não queria nempodia dar ao país a paz, a terra ou o pão. O trabalho de esclarecimento dosbolcheviques encontrava um terreno favorável.

Enquanto os operários e os soldados derrubavam o governo czarista edestruíam as raízes da monarquia, o Governo provisório se inclinava claramente para aconservação do regime monárquico. A 2 de março mandou Guchkov e Shulguin àsescondidas se entrevistarem com o czar. A burguesia queria entregar o Poder ao grão-duque Miguel, irmão de Nicolau Romanov. Mas quando, num comício de ferroviários,Guchkov terminou seu discurso com o grito de “Viva o imperador Miguel!”, os

operários exigiram que o orador fosse imediatamente detido e levado para o xadrez, eexclamaram indignados: “Tão bom é João como Diogo!”. 

Era evidente que os operários não estavam dispostos a consentir a restauraçãoda monarquia.

Enquanto os operários e os camponeses, levando a cabo a revolução ederramando o seu sangue, esperavam que se pusesse fim à guerra, lutavam pelo pãoe a terra e reclamavam medidas sérias na luta contra o desastre econômico, oGoverno provisório permaneceu surdo a essas reivindicações vitais do povo. AqueleGoverno, formado pelos mais característicos representantes dos capitalistas elatifundiários, não pensava sequer em satisfazer as exigências dos camponeses,entregando-lhes a terra. Tão pouco podia dar pão aos trabalhadores, já que para istoteria de lesar os interesses dos grandes comerciantes de cereais e arrebatar por todos

os meios o trigo aos latifundiários e aos kulaks, coisa que não se decidia a fazer umgoverno como aquele, ligado aos interesses destas classes. Também não podia dar apaz ao povo. O Governo provisório, amarrado aos imperialistas anglo-franceses, nãopensava em acabar a guerra; ao contrário, tencionava valer-se da revolução paraintensificar ainda mais a participação da Rússia na guerra imperialista e para darsatisfação a suas ambições imperialistas sobre a conquista de Constantinopla e dosDardanelos e sobre a anexação da Galitzia.

Era evidente que terminaria cedo a atitude de confiança das massas do povona política do Governo provisório.

Via-se claramente que a dualidade de poderes que se havia criado depois daRevolução de Fevereiro, não poderia sustentar-se por muito tempo, pois a marcha dosacontecimentos exigia que o Poder se concentrasse em um dos dois lugares: ou noseio do Governo provisório ou nas mãos dos Soviets.

É certo que a política oportunista dos mencheviques e social-revolucionáriosencontrava ainda apoio nas massas do povo. Ainda eram muitos os operários, e maisainda os soldados e camponeses, que confiavam em que “breve a AssembléiaConstituinte viria arranjar tudo como era devido”, que acreditavam que a guerra nãose fazia para obter conquistas, mas porque era necessária para a defesa do Estado.Era a estes que Lênin chamava de defensistas honradamente enganados. Estaspessoas consideravam ainda acertada a política de promessas e exortações dos social-revolucionários e mencheviques. Mas era indubitável que as promessas e exortaçõesnão continuariam surtindo efeito durante muito tempo, pois a marcha dosacontecimentos e a conduta do Governo provisório descobriam e punham a nu dia

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após dia que a política oportunista dos social-revolucionários e mencheviques não faziaoutra causa senão mistificar as pessoas crédulas e enganá-las.

O Governo provisório nem sempre se limitava a seguir uma política de lutasubterrânea contra o movimento revolucionário das massas, uma política de manejossub-reptícios contra a revolução. De vez em quando tentava passar à ofensiva franca eaberta contra as liberdades democráticas, tentava “restabelecer a disciplina”,principalmente entre os soldados, tentava “impor a ordem”, isto é, fazer entrar arevolução dentro dos limites convenientes à burguesia. Mas, por muito que seesforçasse para consegui-lo, não podia, e as massas populares punham zelosamenteem prática as liberdades democráticas: a liberdade de palavra, de imprensa, dereunião, de associação e de manifestação. Os operários e os soldados se esforçavampor utilizar plenamente os primeiros direitos democráticos conquistados por eles, paraparticipar de um modo ativo na vida política do país, com o objetivo de podercompreender e esclarecer a situação criada e decidir de sua atuação ulterior.

Depois da Revolução de Fevereiro, as organizações do Partido bolchevique, quesob as duras condições do czarismo tinham trabalhado ilegalmente, saíram daclandestinidade e começaram a desenvolver abertamente seu trabalho político e deorganização. Naquela ocasião, o número de filiados do Partido bolchevique era de 40 a45 mil. Mas eram quadros temperados na luta. Os Comitês do Partido foramreorganizados na base do centralismo democrático e se estabeleceu o principio dedesignar por eleição de baixo para cima todos os órgãos do Partido.

A passagem do Partido para a legalidade trouxe à tona as divergências

existentes em seu seio. Kamenev e alguns militantes da organização de Moscou, comopor exemplo, Rykov, Bubnov, abraçaram a posição semi-menchevique de apoiocondicional ao Governo provisório e à política dos defensistas. Stalin, que acabava dechegar do desterro, Molotov e outros, juntamente com a maioria do Partido,defenderam a política de desconfiança no Governo provisório, manifestaram-se contrao defensismo e aconselharam a luta ativa pela paz e contra a guerra imperialista. Umaparte dos militantes do Partido vacilava, refletindo com isso seu atraso político,resultado de sua longa permanência na cadeia ou no desterro.

Notava-se a ausência do chefe do Partido, Lênin.Em 3 (16) de abril de 1917, depois de uma longa expatriação, Lênin regressou

à Rússia.A chegada de Lênin teve uma importância enorme para o Partido e para a

revolução.

Achando-se ainda na Suíça, mal recebeu as primeiras notícias da Revolução,Lênin escreveu ao Partido e à classe operária da Rússia, em suas “Cartas de longe”: 

 “Operários! Tendes feito prodígios de heroísmo proletário e popular, na guerracivil contra o czarismo. Tereis que fazer prodígios de organização do proletariado e detodo o povo para preparar o vosso triunfo na Segunda etapa da revolução” (Lênin, t.XX pág. 19, ed. Russa).

Lênin chegou a Petrogrado a 3 de Abril, à noite. Na estação da Finlândia e napraça que dá acesso a ela, se congregaram para recebê-lo milhares de operários,soldados e marinheiros. Um entusiasmo indescritível se apoderou das massas, quandoLênin desceu do trem. O chefe da revolução foi erguido e levado nos braços do povoaté a grande sala de espera, onde os mencheviques Chkeidse e Skobelev o esperavampara dirigir-lhe uma saudação de “boas vindas” em nome do Soviet de Petrogrado,

saudação em que “exprimiam a esperança” de que Lênin “marcharia de acordo” comeles. Mas Lênin, sem escutá-los, passou por alto, dirigindo-se para a massa dosoperários e soldados, e, trepado num carro blindado, pronunciou o seu famosodiscurso, no qual chamava as massas a lutarem pelo triunfo da Revolução Socialista.“Viva a Revolução Socialista”, foram as palavras com que Lênin terminou estediscurso, o primeiro que pronunciava, depois de longos anos de desterro.

Em sua chegada à Rússia, Lênin se entregou com toda energia ao trabalhorevolucionário. No dia seguinte à sua chegada, pronunciou numa reunião do Partidobolchevique um informe sobre a guerra e a revolução, voltando logo a expor as tesesdeste informe numa assembléia à qual assistiram, além dos membros do Partido, osmencheviques.

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Tais foram as célebres Teses de Abril de Lênin, que traçaram para o Partido e oproletariado a linha revolucionária clara da passagem da revolução burguesa àrevolução socialista.

As teses de Lênin tiveram uma importância enorme para o trabalho posterior doPartido. A revolução significava uma mudança grandiosa na via do país e o Partido, nasnovas condições de luta criadas depois da derrubada do czarismo, necessitava de umanova orientação para marchar com passo audaz e seguro pelo novo caminho. Estaorientação foi a que as teses de Lênin deram ao Partido.

As Teses de Abril de Lênin traçavam um plano genial de luta do Partido para apassagem da primeira à segunda etapa da revolução, para a passagem da revoluçãodemocrático-burguesa à revolução socialista. Toda a história anterior do Partido opreparava para esta missão grandiosa. Já em 1905, seu folheto intitulado “As duastáticas da social-democracia na revolução democrática”, dizia Lênin que, depois dederrubar o czarismo, o proletariado passaria à realização da revolução socialista. O queas teses continham de novo era o fundamento teórico, o plano concreto para abordar apassagem à revolução socialista.

No terreno econômico, as medidas de transição podiam resumir-se assim:nacionalização de toda a terra do país, mediante o confisco das terras doslatifundiários; fusão de todos os bancos em um só Banco Nacional, submetido aocontrole do Soviet de deputados operários; implantação do controle sobre a produçãosocial e a partilha dos produtos.

No terreno político, Lênin preconizava a passagem da República parlamentar

para a República dos Soviets. Isto significava um importante avanço no terreno dateoria e da prática do marxismo. Até então, os teóricos marxistas vinham considerandoa República parlamentar como a melhor forma política de transição para o socialismo.

Agora, Lênin preconizava a substituição da República parlamentar pelaRepública dos Soviets como a forma mais adequada de organização política dasociedade no período de transição do capitalismo ao Socialismo.

 “A peculiaridade do momento atual na Rússia – diziam as “Teses” – consiste napassagem da primeira etapa da revolução, que deu o Poder à burguesia por faltar aoproletariado o necessário grau de consciência e organização, à sua segunda etapa, quecolocará o Poder nas mãos do proletariado e dos camponeses mais pobres” ( Lênin, t.pág. 88 ed. russa). E um pouco mais adiante:

 “Não uma república parlamentar – voltar a ela depois dos Soviets de deputadosoperários seria dar um passo atrás – mas uma República dos Soviets de deputados

operários, camponeses e trabalhadores do campo, em todo o país, de baixo a cima”.(Obra citada, pág. 88).

A guerra, dizia Lênin, continua sendo uma guerra de rapina, uma guerraimperialista, ainda sob o novo governo, sob o Governo provisório. E é missão doPartido explicar isto às massas e fazê-las compreender que, sem derrotar a burguesia,é impossível dar cabo da guerra, não com uma paz imposta pela força, mas com umapaz verdadeiramente democrática.

 A respeito do governo provisório, Lênin lançou esta palavra de ordem: “Nem omenor apoio ao Governo provisório!”. 

Em suas Teses, Lênin assinalava, além disso, que, naquele momento, o Partidobolchevique estava em minoria dentro dos Soviets e que nestes predominava o blocomenchevique-social-revolucionário, que servia de veículo à influência da burguesia

sobre o proletariado. Portanto, a missão do Partido consistia em: “Explicar às massas que o Soviet de deputados operários é a única formapossível de governo revolucionário, razão pela qual, enquanto este governo sesubmeter à influência da burguesia, nossa missão só pode consistir em explicar oserros de sua tática de um modo paciente, sistemático, tenaz e adaptando-seespecialmente às necessidades práticas das massas. Enquanto estivermos em minoria,desenvolveremos um trabalho de crítica e esclarecimento dos erros, mantendo, aomesmo tempo, a necessidade de que todo o Poder do Estado passe aos Soviets dedeputados operários...” (Lênin, t. XX pág. 88, ed. russa).

Isto quer dizer que Lênin não incitava à insurreição contra o Governoprovisório, sustentado naquele momento pela confiança dos Soviets, não exigia suaderrubada, mas aspirava, por meio de um trabalho de esclarecimento, e de

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recrutamento, a conquistar a maioria dentro dos Soviets, a mudar a política destes, e,através deles, a composição e a política do Governo.

O ponto de vista que aqui se adotava era o do desenvolvimento pacífico darevolução.

Lênin exigia, além disso, que o Partido tirasse a “roupa suja”, que deixasse dese chamar Partido social-democrata. Social-democratas se chamavam também osPartidos da Segunda Internacional e os mencheviques russos. Era um nomemanchado, desonrado pelos oportunistas, pelos traidores do socialismo. Lêninpropunha que o Partido bolchevique adotasse o nome de Partido Comunista, que eracomo Marx e Engels chamavam o seu partido. Esta denominação é cientificamenteexata, visto que a meta final do Partido bolchevique é a consecução do comunismo. AHumanidade, ao sair do capitalismo, só pode passar diretamente ao socialismo, isto é,ao regime de propriedade coletiva dos meios de produção e de distribuição dosprodutos em proporção ao trabalho de cada qual. Mas nosso partido, dizia Lênin, vêmais além.

O socialismo deverá inevitavelmente ir-se convertendo pouco a pouco nocomunismo, cujo lema é: “De cada um segundo suas forças, a cada um segundo suasnecessidades”. 

 Finalmente, Lênin em suas “Teses de Abril” exigia a fundação de uma novaInternacional, a Terceira Internacional ou Internacional Comunista, livre das taras dooportunismo e do social-chauvinismo.

As Teses de Lênin levantaram uma gritaria raivosa entre a burguesia, os

mencheviques e os social-revolucionários.Os mencheviques dirigiram um apelo aos operários, alertando-os com o grito deque “a revolução estava em perigo”. Para os mencheviques o perigo consistia nosbolcheviques lançarem a reivindicação da passagem do Poder para as mãos dosSoviets de deputados operários e soldados.

Plekhanov publicou em seu periódico intitulado “Udinstvo (“Unidade”) um artigoem que qualificava o discurso como “o discurso de um homem que delirava”. Referia-se às palavras do menchevique Chkheidse, que havia declarado: “Lênin ficará só àmargem da revolução, mas nós seguiremos nosso caminho”. 

Em 14 de abril, celebrou-se a Conferencia bolchevique da cidade de Petrogrado.Nesta Conferencia foram ratificadas as Teses de Lênin, que serviram de base para suasdeliberações.

Pouco depois, as organizações locais do Partido ratificaram também as Teses de

Lênin. Todo o Partido, com exceção de alguns indivíduos isolados do tipo de Kamenev,

Rykov e Piatakov, aprovou as Teses de Lênin com extraordinário entusiasmo. 

2 – Começa a crise do Governo Provisório – A Conferência de abril doPartido bolchevique.   

Enquanto os bolcheviques se preparavam para o desenvolvimento ulterior daRevolução, o Governo provisório prosseguia seus manejos contra o povo. Em 18 deAbril, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo provisório, Miliukov, declarouaos aliados que “todo o povo aspirava a prosseguir a guerra mundial até conseguir umtriunfo decisivo” e lhes assegurava que era intenção do Governo provisório cumprir

escrupulosamente os deveres assumidos para com os nossos aliados”. Quer dizer, o Governo provisório jurava lealdade aos tratados czaristas,prometia continuar derramando quanto sangue do povo fosse necessário para que osimperialistas conseguissem sua “vitória final”. 

Em 19 de abril chegou ao conhecimento dos operários e soldados estadeclaração (a “nota de Miliukov”). Em 20 de abril, o Comitê Central do Partidobolchevique convidou as massas a protestarem contra a política imperialista doGoverno provisório. Em 20 e 21 de abril (3 e 4 de maio) de 1917, saíram à rua emmanifestação massas de operários e soldados, em número não inferior a 100 milhomens, movidos por um sentimento de indignação contra a “nota de Miliukov”. Noscartazes liam-se estas palavras de ordem: “Que se publiquem os tratados secretos!”,

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“Abaixo a guerra!”, “Todo o poder aos Soviets”, Os operários e os soldados marcharamdesde os subúrbios até o centro da cidade em direção à residência do Governoprovisório. Na Avenida Nevski e em outros pontos se produziram choques com algunsgrupos avulsos de burgueses.

Os contra-revolucionários mais descarados, como o general Kornilov,declaravam que se devia dissolver a tiros a manifestação, e chegaram inclusive a darordens no momento. Mas as tropas às quais mandaram estas ordens se negaram aexecutá-las.

Um pequeno grupo de membros do Comitê do Partido em Petrogrado(Bagdatiev e outros) lançaram durante esta manifestação a palavra de ordem dederrubada imediata do Governo provisório. O CC do Partido bolchevique condenouseveramente a conduta destes aventureiros de “esquerda”, reputando aquela palavrade ordem como falsa, como uma palavra de ordem que impedia o Partido de ganhar amaioria dentro dos Soviets e que se achava em contradição com o ponto de vista dodesenvolvimento pacífico da revolução, adotado pelo Partido.

Os acontecimentos de 20 e 21 de abril marcaram o começo da crise do Governoprovisório.

Era a primeira brecha importante que se abria na política oportunista dosmencheviques e social-revolucionários.

Em 2 de maio de1917, Miliukov e Guchkov foram afastados do Governoprovisório sob a pressão das massas.

Constitui-se o primeiro Governo provisório de coalisão, no qual entraram, ao

lado dos representantes da burguesia, os mencheviques (Skobelev e Tsereteli) e ossocial-revolucionários (Chernov, Kerenski e outros).Por onde se vê que os mencheviques, que em 1905 não admitiam que os

representantes da social-democracia participassem em um Governo provisóriorevolucionário, achavam agora admissível dar seus representantes para um Governoprovisório contra-revolucionário. 

Com isto, os mencheviques e os social-revolucionários passavam para o campoda burguesia contra-revolucionária.

Em 24 de abril de 1917, a VII Conferência (Conferência de Abril) do Partidobolchevique inaugurou seus trabalhos. Pela primeira vez desde que existia o Partido,se reunia abertamente uma conferência bolchevique que, pela sua importância,ocupava na história do Partido o mesmo lugar que um congresso.

A Conferência de Abril, na qual estavam representados os bolcheviques de toda

a Rússia, revelou o desenvolvimento impetuoso do Partido. Representando um total de80 mil membros organizados do Partido, assistiram a ela 133 delegados com direito depalavra e voto e 18 com direito de palavra, mas sem direito de voto.

A Conferência de Abril discutiu e traçou a linha do Partido em todos osproblemas fundamentais da guerra e da revolução: a situação do momento, a guerra,o Governo provisório, os Soviets, o problema agrário, o problema nacional, etc;

Lênin desenvolveu em seu informe os pontos de vista já expostos por ele nasTeses de Abril. A missão do Partido consistia em realizar a passagem da primeira etapada revolução, “que deu o poder à burguesia... para a segunda etapa, que entregará oPoder ao proletariado e camponeses mais pobres” (Lênin). O Partido deverá rumarpara a preparação da revolução socialista. Como tarefa mais imediata do Partido, Lêninlança a palavra de ordem de “Todo o poder aos Soviets!” A palavra de ordem “Todo o

Poder aos Soviets” significava que era necessário acabar com a dualidade de poderes,isto é, com a divisão do Poder entre o Governo Provisório e os Soviets, que eranecessário entregar a estes o poder e expulsar dos órgãos do Poder os representantesdos latifundiários e capitalistas.

A Conferência de Abril estabeleceu que um das tarefas mais importantes doPartido consistia em explicar incansavelmente às massas a verdade de que “o Governoprovisório é, por seu caráter, o órgão de dominação dos latifundiários e da burguesia” e desmascarar a funesta política oportunista dos social-revolucionários emencheviques, que enganavam o povo com promessas mentirosas e o submetiam aosgolpes da guerra imperialista e da contra-revolução.

Nessa Conferência, Kamenev e Rykov se levantaram contra Lênin. Seguindo aspegadas dos mencheviques, repetiam que a Rússia não estava preparada para a

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revolução socialista, que na Rússia só era possível uma República burguesa epropunham ao Partido e a classe operária limitarem-se a “controlar” o Governoprovisório. Na realidade, sua posição, da mesma sorte que a dos mencheviques, era ade manter o capitalismo, a de manter o Poder da burguesia.

Zinoviev interveio também na Conferência de Abril contra Lênin a respeito doproblema se o Partido bolchevique devia continuar dentro da união de Zimmerwald ouromper com ela, para criar a nova Internacional. Os anos de guerra tinhamdemonstrado que aquela organização, embora fazendo a propaganda em favor da paz,não tinha chegado a romper, de fato, com os defensistas burgueses.Por isso, Lênininsistia na necessidade de abandonar imediatamente esta organização e criar umanova Internacional, a Internacional Comunista. Zinoviev propunha continuar com oszimmerwaldianos. Lênin condenou energicamente esta atitude de Zinoviev qualificandosua tática de “arquioportunista e perniciosa”. 

A Conferência de Abril apreciou também os problemas agrário e nacional.Depois de escutar o informe de Lênin sobre o problema agrário, a Conferência

aprovou uma resolução sobre a confiscação das terras dos latifundiários para pô-las àdisposição dos Comitês de camponeses e sobre a nacionalização de todas as terras dopaís. Os bolcheviques chamavam os camponeses a lutar pela terra e faziam ver àsmassas camponesas que o Partido bolchevique era o único partido revolucionário queajudava os camponeses de uma maneira leal a derrubar os latifundiários.

Teve grande importância o informe do camarada Stalin sobre o problemanacional. Já antes da revolução, nas vésperas da guerra imperialista, Lênin e Stalin

tinham traçado as bases para a política do Partido bolchevique em face do problemanacional. Lênin e Stalin diziam que o Partido proletário devia apoiar o movimento delibertação nacional dos povos oprimidos contra o imperialismo. A esse respeito oPartido bolchevique defendia o direito de auto-determinação das nações até chegar àseparação do Estado a que pertenciam para formar Estados próprios e independentes.Este ponto de vista foi o que o camarada Stalin defendeu na Conferencia, informandopelo C. C.

Contra Lênin e Stalin interveio Piatakov, que já durante a guerra havia adotadoem face do problema nacional, junto com Bukarin, uma posição nacional-chauvinista.Piatakov e Bukarin eram contrários ao direito de auto-determinação das nações.

A posição resoluta e conseqüente do Partido em face do problema nacional, aluta do Partido pela igualdade de direito das nações e pela destruição de todas asformas e modalidades de opressão e desigualdade nacionais, valeram-lhe a simpatia e

o apoio das nacionalidades oprimidas.Eis o texto da resolução sobre o problema nacional aprovado pela Conferência

de Abril: “A política de opressão nacional, herança da autocracia e da monarquia, é

defendida pelos latifundiários, capitalistas e pequena-burguesia, tendo em vista aconservação de seus privilégios de classe e a desunião dos operários das diversasnacionalidades. O imperialismo moderno, com sua tendência reforçada para asubmissão dos povos débeis, é um novo fator de acentuação do jugo nacional.

Na sociedade capitalista é possível acabar com a opressão nacional, na medidaem que esta o permite, só mediante um regime republicano conseqüentementedemocrático e um sistema de governo que garanta a plena igualdade de direitos detodas as nações e línguas.

Deve reconhecer-se o direito de todas as nações encravadas dentro da Rússia ase separarem livremente e a formarem Estados independentes. A negação destedireito e a abstenção de medidas destinadas a garantir sua realização práticaequivalem a apoiar a política de conquistas ou anexações. O reconhecimento peloproletariado do direito das nações à sua separação é a única medida que garante aplena solidariedade dos operários das diferentes nações e permite uma aproximaçãoverdadeiramente democrática entre estas.

O problema do direito das nações a se separarem livremente, não deve seconfundir com o problema da conveniência de que se separe tal ou qual nação e deque esta separação se realize em tal ou qual momento.

O partido do proletariado deverá resolver este problema de um modoabsolutamente independente em cada caso concreto, do ponto de vista dos interesses

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do desenvolvimento de toda a sociedade e da luta de classes do proletariado pelosocialismo.

O partido exige uma ampla autonomia regional, que se acabe com a fiscalizaçãoprocessada de cima, que se suprima a existência de uma língua oficial obrigatória e sedelimitem as fronteiras dos territórios descentralizados e autônomos, na base dascondições econômicas e de vida julgadas pela própria população local, pelo censonacional da população, etc.

 O Partido do proletariado rechaça resolutamente a chamada „autonomianacional-cultural‟, que consiste em subtrair da competência do Estado os assuntosescolares, etc., para colocá-los nas mãos de uma espécie de dietas nacionais. Aautonomia nacional-cultural traça fronteiras artificiais entre os operários que vivem namesma localidade e que inclusive trabalham na mesma empresa, segundo pertençama tal ou qual „cultura nacional‟, com o que reforçam os laços entre os operários e acultura burguesa de cada nação em separado, ao passo que a missão da social-democracia consiste em fortalecer a cultura internacional do proletariado do mundointeiro.

O Partido exige que se inclua na Constituição uma lei fundamental pela qual sedeclarem nulos qualquer classe de privilégios a favor de uma nação e toda a classe deinfrações contra os direitos das minorias nacionais.

Os interesses da classe operária exigem a fusão dos operários de todas asnacionalidades da Rússia em organizações proletárias únicas, tanto políticas comosindicais, cooperativas, culturais, etc. sem esta fusão dos operários de diversas

nacionalidades em organizações únicas, o proletariado não poderia manter uma lutavitoriosa contra o capitalismo internacional e contra o nacionalismo burguês” (Resoluções do P. C. (b) da URSS, parte 1, pág. 239-240).

Foi, assim, desmascarada, na Conferência de Abril, a linha oportunista,antileninista de Kamenev, Zinoviev, Piatakov, Bukarin, Rykov e seus contatos adeptos.

A Conferência seguiu unanimente Lênin, adotando uma atitude clara dedecidida em face de todos os problemas fundamentais e traçando o rumo para a vitóriada revolução socialista.

 3 – Êxitos do Partido Bolchevique na capital – Fracassa a ofensiva dastropas do Governo provisório na frente. É esmagada a manifestação dejulho dos operários e soldados.

  O Partido, tomando como base às resoluções da Conferência de Abril,desenvolveu um trabalho intenso pela conquista das massas, por sua educaçãocombativa e por sua organização. A linha do Partido, durante este período, se baseavaem conquistar a maioria dentro dos Soviets e isolar das massas os partidosmencheviques e social-revolucionário por meio do esclarecimento paciente da políticabolchevique e do desmascaramento da política de compromissos daqueles partidos.

Além de seu trabalho no seio dos Soviets, os bolcheviques desenvolviam umtrabalho gigantesco nos sindicatos e nos comitês de fábricas e empresas industriais.

Mas onde os bolcheviques realizavam o trabalho mais intenso era no seio doExército. Por toda a parte começaram a criar-se organizações militares. Osbolcheviques trabalhavam incansavelmente nas frentes e na retaguarda para organizaros soldados e os marinheiros. Para a obra de concientização dos soldados contribuiu

em alto grau um jornal destinado à frente, que os bolcheviques publicavam com otítulo de “Okopnaia Pravda” (“Pravda das Trincheiras”). Graças a este trabalho depropaganda e agitação dos bolcheviques, se conseguiu que já nos primeiros meses darevolução os operários de muitas cidades procedessem à reeleição dos Soviets,particularmente os distritais, expulsando deles os mencheviques e os social-revolucionários e substituindo-os por filiados do Partido bolchevique.

O trabalho dos bolcheviques deu excelente resultado, sobretudo em Petrogrado.Na Conferência de Comitês de fábricas, que se celebrou em Petrogrado de 30

de maio a 3 de junho de 1917, se agrupavam já em torno dos bolcheviques os trêsquartos dos delegados. O proletariado da capital marchava quase em sua totalidadesob a palavra de ordem bolchevique “Todo o Poder aos Soviets”. 

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Em 3 (16) de junho de 1917, se reuniu o I Congresso dos Soviets de toda aRússia. Os bolcheviques estavam ainda em minoria dentro dos Soviets; nesteCongresso, contavam com pouco mais de 100 delegados, contra 700 a 800 que osmencheviques, social-revolucionários e outros partidos possuíam.

No I Congresso dos Soviets os bolcheviques puseram a nu com grandeinsistência o caráter funesto da política de compromissos com a burguesia edesmascararam o caráter imperialista da guerra. Lênin pronunciou neste Congressoum discurso no qual demonstrou a justeza da linha bolchevique, declarando que só oPoder dos Soviets podia dar pão aos trabalhadores, a terra aos camponeses, conseguira paz e tirar o país do desastre econômico.

Naqueles dias, desenvolvia-se nos bairros operários de Petrogrado umacampanha de massas para organizar uma manifestação que levasse ao Congresso dosSoviets as reivindicações do povo. Querendo adiantar-se a esta manifestaçãoorganizada livremente pelos próprios operários e especulando com a idéia de utilizarem seu proveito a atitude revolucionária das massas, o Comitê Executivo do Soviet dePetrogrado resolveu convocar uma manifestação na capital para18 de junho (1º dejulho). Os mencheviques e os social-revolucionários acreditavam que estamanifestação se processaria sob palavras de ordem anti-bolcheviques. O Partidobolchevique entregou-se com grande energia à preparação deste ato de massas. Ocamarada Stalin escreveu, naquela ocasião, na “Pravda” que “nossa missão consisteem conseguir que a manifestação de 18 de junho de 1917, que passou diante dotúmulo das vítimas da revolução, se converteu em uma verdadeira revista das forças

do Partido bolchevique. Revelou o grau de amadurecimento revolucionário, cada vezmaior, das massas e a crescente confiança destas no Partido bolchevique. As palavrasde ordem dos mencheviques e social-revolucionários, pregando a confiança noGoverno provisório e a necessidade de continuar a guerra, perdiam-se entre a imensamassa de palavras de ordem bolcheviques. 400 mil manifestantes marchavam sobbandeiras que ostentavam estas palavras de ordem: “Abaixo a guerra”, “Abaixo os 10ministros capitalistas!”, “Todo o Poder aos Soviets!”. 

Era o fracasso completo dos mencheviques e social-revolucionários, o fracassodo Governo provisório na capital.

Não obstante, o Governo provisório, sustentado pelo apoio do I Congresso dosSoviets, decidiu prosseguir sua política imperialista. E foi isso precisamente a 18 dejunho, quando o governo, cumprindo a vontade dos imperialistas anglo-franceses,lançou à ofensiva as tropas da frente. A burguesia via nesta ofensiva a única

possibilidade de acabar com a revolução. Se a ofensiva tivesse êxito, a burguesiaconfiava em que poderia tomar em suas mãos todo o Poder, expulsar os Soviets eesmagar os bolcheviques. Se fracassasse, poderia lançar a culpa de tudo aos mesmosbolcheviques, acusando-os de desmoralizar o Exército.

Não poderia caber a menor dúvida de que a ofensiva fracassaria, como, de fato,fracassou. O cansaço dos soldados, sua ignorância dos fins perseguidos com aofensiva, desconfiança nos comandos, estranhos à tropa, a escassez de munições eartilharia, tudo isso contribuiu para o fracasso da ofensiva na frente.

As notícias a respeito da ofensiva empreendida e logo depois seu ruidosofracasso excitou os ânimos da capital. A indignação dos operários e soldados não tinhalimites. Inteiravam-se de que o Governo provisório enganava o povo quando pregavauma política de paz. Inteiravam-se de que o Governo provisório propugnava pela

continuação da guerra imperialista. Inteiravam-se de que o Comitê Executivo Centraldos Soviets e o Soviet de Petrogrado não queriam ou não podiam opor-se aos atoscriminosos do Governo provisório e iam de rastros atrás dele.

A indignação revolucionária dos operários e soldados de Petrogradoextravasava. A 3 (16) de julho, começaram a produzir-se manifestações espontâneasem Petrogrado, no bairro de Viborg. Estas manifestações continuaram durante todo odia. Algumas delas redundaram em uma grandiosa manifestação geral com armas soba palavra de ordem da passagem do Poder aos Soviets. O Partido bolchevique eracontrário à ação armada naquele momento, por entender que a crise revolucionárianão estava ainda madura, que o Exército e as províncias não estavam aindapreparados para apoiar a insurreição na capital, que uma insurreição isolada eprematura em Petrogrado só serviria para facilitar à contra-revolução, o esmagamento

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da vanguarda revolucionária. Mas, quando se viu que era impossível conter as massase evitar que se lançassem à manifestação, o Partido resolveu tomar parte nela, com oobjetivo de lhe dar um caráter pacífico e organizado. O Partido bolchevique conseguiuo que se propunha e centenas de milhares de manifestantes marcharam para o Sovietde Petrogrado e o Comitê Executivo Central dos Soviets, onde exigiram que estestomassem conta do poder, rompessem com a burguesia imperialista e empreendessemuma política ativa de paz.

Apesar do caráter pacífico da manifestação, foram lançadas contra osmanifestantes as tropas da reação, os destacamentos de kadetes e de oficiais. Pelasruas de Petrogrado correu abundantemente o sangue dos operários e dos soldados.Para esmagar os operários, foram trazidas da frente às unidades militares maisretrogradas e contra-revolucionárias.

Os mencheviques e social-revolucionários, unidos à burguesia e aos generaisbrancos, depois de esmagar a manifestação dos operários e dos soldados, se lançaramraivosamente sobre o Partido bolchevique. A redação do “Pravda” foi saqueada edestruída. Foram suspensos o “Pravda”, o “Soldatskaia Pravda” (“Pravda do Soldado”)e outra série de jornais bolcheviques. O operário Voinov foi assassinado na rua peloskadetes, pelo único fato de estar vendendo a “Listok Pravdi” (“Folha da Pravda”).Começou o desmoronamento dos guardas vermelhos. As unidades revolucionárias daguarnição de Petrogrado foram afastadas da capital e enviadas para a Frente.Multiplicaram-se as prisões, tanto nas frentes como na retaguarda.

Em sete de julho deu-se a ordem de prender Lênin. Uma série de prestigiosos

militantes do Partido bolchevique fora presa. Foi destruída a editora “Trud” (“Trabalho”), onde se imprimiam as publicações bolcheviques. Na precatória doPromotor Público do Tribunal de Justiça de Petrogrado dizia-se que Lênin e outra sériede bolcheviques deviam comparecer perante os tribunais como réus de “alta traição” eresponsáveis pela organização de um levante armado. A acusação contra Lênin tinhasido urdida no Estado-Maior do general Denikin, baseada em dados inventados porespiões e provocadores.

Com isto, o Governo provisório de coalisão, do qual faziam parte representantestão característicos dos mencheviques e social-revolucionários como Tsereteli eSkobelev, Kerenski e Chernov, afundava-se no charco do imperialismo e da contra-revolução aberta e descarada. Em vez de uma política de paz, desenvolvia uma políticade continuação da guerra. Em vez de defender os direitos democráticos do povo,adotava a política de liquidação destes direitos e de repressão armada contra os

operários e os soldados.O que os representantes da burguesia, Guchkov e Miukov não se haviam

atrevido a fazer, era feito pelos “socialistas” Kerenski e Tsereteli, Chernov e Skobelev.Havia-se acabado a dualidade de poderes.E se havia acabado em proveito da burguesia, pois todo o Poder passou para as

mãos do Governo provisório, e os Soviets, com sua direção social-revolucionária emenchevique, se converteram num apêndice do Governo provisório.

Havia terminado o período pacífico da revolução, pondo-se na ordem do dia aforça das baionetas.

Em face das mudanças operadas na situação, o Partido bolchevique decidiumudar de tática. Passou à ilegalidade, ocultando seu chefe, Lênin, em lugarrigorosamente secreto, e começou a se preparar para a insurreição, com o fim de

derrubar o Poder da burguesia pelas armas e instaurar o Poder Soviético. 4 – O Partido Bolchevique prepara a insurreição armada – O VICongresso do Partido. 

Em meio de uma campanha incrivelmente encarniçada da imprensa burguesa epequeno-burguesa, reuniu-se em Petrogrado o VI Congresso do Partido bolchevique.Reunia-se este Congresso 10 anos após o V Congresso de Londres e 5 anos após aConferência bolchevique de Praga. Suas sessões duraram desde 26 de julho até 3 deagosto de 1917 e tiveram caráter clandestino. A imprensa se limitou a anunciar aconvocação do Congresso, sem indicar o lugar em que tinha de reunir-se. As primeiras

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sessões se celebraram no bairro de Viborg. As últimas, na escola das imediações daPorta de Narva, no lugar onde agora se levanta a Casa da Cultura. A imprensaburguesa pedia a prisão de todos os congressistas. Mas, se bem que os esbirros dapolícia se pusessem em campo para descobrir o lugar em que se reunia o Congresso,não conseguiram encontrá-lo.

Quer dizer que, cinco meses após a derrubada do czarismo, os bolcheviquestinham que se reunir às escondidas e o chefe do Partido proletário, Lênin, se viaobrigado a viver escondido numa choça, perto da estação de Rasliv.

Lênin, procurando pelos esbirros do Governo provisório, não pôde assistir aoCongresso, mas dirigiu suas tarefas do esconderijo onde se encontrava, por meio deseus discípulos e colaboradores em Petrogrado: Stalin, Sverdlov, Molotov eOrdzhonikidse.

Assistiram ao Congresso 157 delegados com direito de palavra e voto e 128com direito de palavra somente. O Partido contava, então, com uns 240 mil filiados.Perto de 3 de julho, isto é, antes de ser esmagada a manifestação operária deste mês,quando os bolcheviques trabalhavam ainda na legalidade, o Partido tinha 41 mil órgãosde imprensa, dos quais 29 eram publicados em russo e 12 em outras línguas.

A batida contra os bolcheviques e contra a classe operária nas jornadas dejulho, longe de diminuir a influência do Partido bolchevique, só serviu para aumentá-la.Os delegados de base expuseram perante o Congresso uma quantidade de fatosdemonstrativos de que os operários e os soldados começavam a abandonar em massaos mencheviques e social-revolucionários, dos quais zombavam depreciativamente

com o nome de “social-carcereiros”. Os operários e os soldados filiados aos partidosmencheviques e social-revolucionários rompiam seus “carnets” e saíam destes partidosmaldizendo-os, e pediam aos bolcheviques que os admitissem em suas fileiras.

Os problemas fundamentais apresentados ao VI Congresso foram: o informepolítico do Comitê Central e o problema da situação política. Em seus informes sobreestes problemas, o camarada Stalin ressaltou com toda clareza e precisão que, apesarde todos os esforços da burguesia para esmagar a revolução, esta crescia e sedesenvolvia. Assinalou que a revolução criava o problema da implantação do controleoperário sobre a produção e a distribuição dos produtos, da entrega da terra aoscamponeses e da passagem do Poder das mãos da burguesia para as mãos da classeoperária e dos camponeses pobres. E disse que a revolução se convertia, por seucaráter, em uma revolução socialista.

Depois das jornadas de julho, mudou bruscamente a situação política do país.

Já não existia dualidade de poderes. Por não querer tomar todo o Poder, os Soviets,com sua direção social-revolucionária e menchevique, ficaram reduzidos à impotência.O Poder se concentrou em mãos do Governo provisório da burguesia, o qualcontinuava desarmando a revolução, esmagando suas organizações e perseguindo oPartido bolchevique. A possibilidade de um desenvolvimento pacífico da revoluçãohavia desaparecido. Só cabia – dizia o camarada Stalin – uma solução: derrubar oGoverno provisório e tomar o Poder pela força. E só o proletariado, aliado aoscamponeses pobres, podia tomar o Poder pela força.

Os Soviets, cuja direção continuava nas mãos dos mencheviques e social-revolucionários, iam deslizando para o campo da burguesia e, na situação existente, sópodiam atuar como auxiliares do Governo provisório. Depois das jornadas de julho, apalavra de ordem “Todo o Poder aos Soviets” devia ser abandonada, disse o camarada

Stalin, mas sem que o abandono temporário desta palavra de ordem significasse emabsoluto que se renunciava a lutar pelo Poder dos Soviets. Não se tratava dos Sovietsem geral, isto é, dos Soviets como órgãos de luta revolucionária; tratava-se, sim,somente daqueles Soviets concretos, dirigidos pelos mencheviques e social-revolucionários.

 “O período pacífico da revolução terminou – disse o camarada Stalin; – começou o período não pacífico da revolução, um período de choques e explosões...” (“Atas do VI Congresso do PC (b) da URSS”, pág. 111).

O Partido caminhava para a insurreição armada.No Congresso houve quem, refletindo a influência burguesa, se manifestasse

contra o rumo para a revolução socialista.

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O trotskista Preobrazhenski propôs que na resolução sobre a conquista do Poderse dissesse que só se poderia encaminhar o país pela senda do socialismo se arevolução proletária triunfasse na Europa ocidental.

O camarada Stalin rebateu esta proposição trotskista. “Não esta afastada – disse o camarada Stalin – a possibilidade de que seja

precisamente a Rússia o país que inicie a marcha para o socialismo... é precisorechaçar essa idéia caduca de que só a Europa nos pode assinalar o caminho. Há ummarxismo dogmático e um marxismo criador. Eu me situo no terreno do segundo” (Obra citada, págs. 233 – 234).

Bukharin, tomando posições trotskistas, afirmou que os camponeses tinhamidéias defensistas, que formavam um bloco com a burguesia e não marchariam com aclasse operária.

Refutando Bukharin, o camarada Stalin demonstrou que havia diversas classesde camponeses: os camponeses ricos, que apoiavam a burguesia imperialista, e oscamponeses pobres, que desejavam aliar-se à classe operária e a apoiavam na lutapelo triunfo da revolução.

O Congresso rechaçou as emendas de Preobrazhenski e Bukharin e aprovou oprojeto de resolução do camarada Stalin.

O Congresso examinou e aprovou a plataforma econômica do Partidobolchevique cujos pontos fundamentais eram: confiscação das terras dos latifundiáriose nacionalização de toda a terra do país, nacionalização dos bancos, nacionalização dagrande indústria, controle operário sobre a produção e a distribuição.

Ressaltou o Congresso a importância da luta pelo controle operário sobre aprodução, que desempenhava um grande papel como medida de transição para anacionalização da grande indústria.

Em todas as resoluções, o VI Congresso insistiu de um modo especial naimportância da tese leninista sobre a confiança do proletariado e dos camponesespobres, como condição para o triunfo da revolução Socialista.

A teoria menchevique da neutralidade dos sindicatos foi condenada peloCongresso. Este assinalou que, para poder resolver os grandes problemas que seapresentavam à classe operária da Rússia, era indispensável que os sindicatos fossemorganizações combativas de classe que acatassem a direção política do Partidobolchevique.

 O Congresso aprovou uma resolução “Sobre as organizações juvenis”, quenaquela ocasião, não raro surgiram espontaneamente. Com seu trabalho ininterrupto,

os bolcheviques conseguiram estreitar os laços destas organizações juvenis com oPartido, convertê-las em reservas deste.

Um dos problemas que se examinaram no Congresso foi o do comparecimentode Lênin ante os tribunais. Kamenev, Rykov, Trotsky e outros haviam sustentado já,antecedendo-se ao Congresso, que Lênin devia entregar-se aos tribunais da contra-revolução. O camarada Stalin se manifestou resolutamente contra esta tendência. O VICongresso compartilhou também o ponto de vista de Stalin, por entender que o que sepreparava não era um processo, mas uma repressão. O Congresso não duvidou nemum momento de que o propósito da burguesia não era outro senão o de se desfazerfisicamente de Lênin, como seu mais perigoso inimigo. Formulou-se seu protestocontra a encarniçada campanha policial-burguesa de que eram alvo os chefes doproletariado revolucionário e dirigiu uma saudação a Lênin.

No VI Congresso foram aprovados os novos estatutos do Partido. Neles sedeterminava que toda a organização do Partido se basearia nos princípios docentralismo democrático.

 Isto significava o seguinte:1) caráter eletivo de todos os órgãos de direção do Partido de baixo para cima;2) prestação periódica de contas da gestão dos órgãos do Partido perante as

organizações do Partido correspondentes;3) severa disciplina de Partido e submissão da minoria à maioria;4) obrigatoriedade incondicional das resoluções dos órgãos superiores para os

inferiores e para todos os membros do Partido.

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Os estatutos do Partido dispunham que os novos membros fossem admitidospelas organizações de base, mediante recomendação dos membros do Partido e préviaratificação da assembléia geral dos membros da organização de base.

 O VI Congresso admitiu no Partido os chamados “mezhraiontzi”, com seu líderTrotsky. Era este pequeno grupo que tinha sido criado em Petrogrado em 1913 e doqual faziam parte elementos trotskistas-mencheviques e alguns antigos bolcheviques,desviados do Partido. Durante a guerra, esta organização teve um caráter centrista.Lutava contra os bolcheviques, mas sem estar de acordo em muitas coisas com osmencheviques, pelo que ocupava uma posição intermediária, centrista, vacilante. Aocelebrar-se o VI Congresso, os membros desta organização declararam que estavamidentificados em tudo com os bolcheviques e pediram ingresso no Partido. O Congressoacedeu à sua petição, confiando em que com o tempo chegariam a ser verdadeirosbolcheviques. Alguns deles, como, por exemplo, Volodarski, Uritski e outros,chegaram, com efeito, a se converter em bolcheviques depois de entrarem no Partido.Mas Trotsky e os elementos mais afins a ele, que não eram muitos, não ingressaramno Partido, como havia de ficar demonstrado com o correr do tempo, para trabalharem favor dele, mas para, de dentro, enfraquecer e minar a sua força.

Todas as resoluções do VI Congresso visavam preparar o proletariado e oscamponeses pobres para a insurreição armada. O VI Congresso encaminhou o Partidopara a insurreição armada, para a revolução socialista.

O manifesto do Partido lançado pelo VI Congresso convidava os operários, ossoldados e os camponeses a prepararem suas forças para os encontros decisivos com

a burguesia. E terminava com estas palavras: “Preparai-vos para novas batalhas, camaradas de luta! Permanecei firmes,valentes e serenos, sem vos deixardes levar por provocações, acumulando forças eformando nossas colunas de combate! Agrupai-vos sob a bandeira do Partido,proletários e soldados! Formai sob nossa bandeira, oprimidos do campo!”. 

 5 – A intentona do general Kornilov contra a revolução – Esmagamentoda intentona – Os soviets de Petrogrado e Moscou passaram para o ladodos bolcheviques. 

Depois de se apoderar de todo o Poder, a burguesia começou a se prepararpara esmagar os já impotentes soviets e instaurar uma ditadura contra-revolucionária

descarada. O milionário Riabushinski declarava cinicamente que só via uma saída paraa situação, e era que “a mão descarnada da fome, a miséria do povo, agarrasse pelopescoço os falsos amigos destes, os Soviets e Comitês democráticos”. Na frente faziamestragos os Conselhos de terra, distribuindo a pena de morte contra os soldados. Em 3de agosto de 1917, o general-em-chefe Kornilov pediu que se implantasse também apena de morte na retaguarda.

Em 12 de agosto, abriu-se no Grande Teatro de Moscou a Conferência deEstado convocada pelo Governo provisório para mobilizar as forças da burguesia e doslatifundiários. Assistiram a esta Assembléia principalmente os representantes doslatifundiários, da burguesia, do generalato, a oficialidade e dos cossacos. Os Sovietsestiveram representados nela pelos mencheviques e os social-revolucionários.

No dia em que a Conferência de Estado começava suas missões, osbolcheviques organizaram em Moscou, em sinal de protesto, uma greve geral, na qual

tomou parte a maioria dos operários. Estalaram também greves em outra série decidades.

O social-revolucionário Kerenski ameaçou fanfarronescamente, em seu discursoperante a Conferência, com o esmagamento “a sangue e fogo” de qualquer tentativade movimento revolucionário, inclusive as tentativas dos camponeses de seapoderarem por si e por sua própria responsabilidade das terras dos latifundiários.

O general contra-revolucionário Kornilov pediu sem rodeios que se“suprimissem os Comitês e os Soviets”. 

No Estado-Maior do general-em-chefe pulavam em seu redor banqueiros,comerciantes e industriais, com promessas de dinheiro e ajuda.

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 Também se entrevistaram com ele os representantes dos “aliados”, isto é, daInglaterra e da França, exigindo que não se demorasse o ataque contra a revolução.

As coisas se combinavam para a conspiração contra-revolucionária do generalKornilov.

Esta conspiração preparava-se abertamente. Com o objetivo de desviar aatenção do que tramavam, os conjurados fizeram correr o rumor de que osbolcheviques de Petrogrado preparavam um levante para 27 de agosto, data em quese completariam os 6 meses do dia da revolução. O Governo provisório, com Kerenskià frente, lançou-se a perseguir furiosamente os bolcheviques e acentuou o terrorcontra o Partido do proletariado. Ao mesmo tempo, o general Kornilov concentravatropas para fazê-las marchar sobre Petrogrado, com o objetivo de acabar com osSoviets e instaurar um governo de ditadura militar.

Kornilov se pôs de acordo com Kerenski a respeito de sua projetada açãocontra-revolucionária. Mas, no mesmo momento em que Kornilov começou a atuar,Kerenski, modificando sua orientação, mudou de frente e se separou de seu aliado.Temia que as massas do povo, depois de se levantarem contra os kornilovistas eesmagá-los, varressem também, lançando-o no mesmo montão, o governo burguês deKerenski, se este não se desligasse a tempo dos autores da korniloviada.

Em 25 de agosto, Kornilov enviou sobre Petrogrado o 3° corpo de cavalaria, sobo comando do general Krimov, e declarou que se propunha “salvar a Pátria”. Comoresposta à sublevação kornilovista, o Comitê Central do Partido Bolchevique fez umchamado aos operários e aos soldados para que opusessem uma resistência ativa e

armada à contra-revolução. Os operários começaram a se armar e a se prepararrapidamente para a luta. Nesses dias, multiplicaram-se os destacamentos de guardasvermelhos. Os sindicatos mobilizaram seus membros. As unidades revolucionárias detropas de Petrogrado se prepararam também para o combate. Em torno de Petrogradose abriram trincheiras, estenderam-se cercas de arame e se arrancaram os trilhos dasvias férreas. De Kronstadt chegaram alguns milhares de marinheiros armados para adefesa da capital. Enviaram-se ao encontro da “Divisão selvagem”, que avançavasobre Petrogrado, delegados que explicaram àqueles soldados montanheses a intençãodo movimento kornilovista, conseguindo que estas tropas se negassem a marcharsobre a capital. Enviaram-se também agitadores a outras unidades kornilovistas.Foram criados Comitês revolucionários e Estados Maiores para a luta contra ossublevados em todos os lugares onde havia algum perigo.

Naqueles dias, os lideres social-revolucionários e mencheviques, entre eles

Kerenski, mortos de medo, iam buscar amparo com os bolcheviques, convencidos deque estes eram a única força efetiva da capital capaz de esmagar Kornilov.

Mas, ainda mobilizando as massas para esmagar o movimento de Kornilov, osbolcheviques não cessaram sua luta contra o Governo Kerenski, desmascarandoperante as massas este Governo e os mencheviques e social-revolucionários, que, comtoda sua política, ajudavam objetivamente a intentona contra-revolucionária deKornilov.

Graças a todas estas medidas, foi esmagada a intentona de Kornilov. O generalKrimov suicidou-se com um tiro. Kornilov e seus cúmplices, Denikin e Lukomski, forampresos (se bem que logo fossem postos de novo em liberdade por Kerenski).

O esmagamento da intentona kornilovista pôs a nu e expôs à luz do dia acorrelação de forças entre a revolução e a contra-revolução. Demonstrou o fracasso

total de todo o campo contra-revolucionário, desde os generais e o partido kadete atéos mencheviques e os social-revolucionários, colhidos nas redes, e prisioneiros daburguesia. Era evidente que a política de prolongamento daquela guerra esgotadora,que ao se alongar provocava o desastre econômico do país, havia enfraquecidodefinitivamente a influência destes partidos entre as massas do povo.

O esmagamento da korniloviada revelava, além disso, que o Partidobolchevique se havia convertido já na força decisiva da revolução, numa força capazde desfazer os manejos da contra-revolução, quaisquer que fossem. O PartidoBolchevique não era ainda um partido governante, mas durante os dias da korniloviadaatuou como uma verdadeira força de governo, pois suas instruções eram seguidas semvacilar pelos operários e soldados.

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Finalmente, o esmagamento da intentona kornilovista veio demonstrar queaqueles Soviets que pareciam agonizantes encerravam em seu seio, na realidade, umagrandiosa força de resistência revolucionária. Não se podia duvidar que tinham sidoprecisamente os Soviets e seus Comitês revolucionários que haviam detido apassagem das tropas de Kornilov e contra os quais se tinham aniquilado as suasforças.

A luta contra a korniloviada infundiu novo alento aos desanimados Soviets dedeputados operários e soldados, arrancou-os da política oportunista que os mantinhaprisioneiros, empurrou-os para o largo caminho da luta revolucionária e os colocoujunto ao Partido Bolchevique.

A influência dos bolcheviques dentro dos Soviets era maior que nunca.Começou também a ganhar terreno rapidamente a influência dos bolcheviques

no campo.A sublevação kornilovista fez ver às grandes massas camponesas que os

latifundiários e os generais, uma vez destroçados os bolcheviques e os Soviets, secevariam logo depois nos camponeses. Por isso, as grandes massas de camponesespobres começaram a se agrupar cada vez mais estreitamente em torno dosbolcheviques. Os camponeses médios, cujas vacilações tinham freado odesenvolvimento da revolução durante os meses de abril a agosto de 1917, depois daderrota de Kornilov, começaram a voltar-se de um modo decidido para o PartidoBolchevique, unindo-se à massa dos camponeses pobres. As grandes massascamponesas começaram a compreender que o partido bolchevique era o único que

podia libertá-las da guerra, o único capaz de acabar com os latifundiários e o único queestava disposto a dar a terra aos camponeses. Os meses de setembro e outubro de1917 registraram uma elevação enorme no número de terras de latifundiários dasquais os camponeses se apoderavam. O cultivo das terras dos latifundiários pordecisão dos próprios camponeses, adquiriu um caráter geral. Persuasões e expediçõespunitivas já não eram capazes de conter os camponeses em sua marcha esmagadorapara a revolução.

A revolução ia em ascenso.Começou a desenvolver-se a fase de animação e renovação dos Soviets, a fase

de bolchevização dos Soviets. As fábricas e empresas industriais e as unidadesmilitares, ao elegerem seus deputados, já não enviavam mencheviques e social-revolucionários aos Soviets, mas representantes do Partido Bolchevique. No diaseguinte ao esmagamento da intentona de Kornilov, em 31 de agosto, o Soviet de

Petrogrado se pronunciou a favor da política dos bolcheviques. O antigo Presidium doSoviet de Petrogrado, formado por mencheviques e social-revolucionários, comChkheidse à frente, se retirou, deixando o posto livre aos bolcheviques. Em 5 desetembro, o Soviet de deputados operários de Moscou passou para o lado dosbolcheviques. Também se retirou pelos fundos, deixando o caminho aberto aosbolcheviques, o Presidium social-revolucionário menchevique deste Soviet.

Isto significava que se davam já as premissas fundamentais necessárias parauma insurreição vitoriosa.

 Voltava a estar na ordem do dia a palavra de ordem “Todo o Poder aosSoviets!”. 

Mas já não era a antiga palavra de ordem de passagem do Poder para as mãosdos Soviets mencheviques e social-revolucionários. Não; agora era a palavra de ordem

da insurreição dos Soviets contra o Governo provisório, com o objetivo de entregartodo o poder do país aos Soviets dirigidos pelos bolcheviques.Começou a produzir-se a debandada entre os partidos oportunistas.No seio do partido social-revolucionário se formou, sob a pressão dos

camponeses de orientação revolucionária, uma ala esquerda, a ala dos social-revolucionários de “esquerda”, que começou a manifestar seu descontentamento pelapolítica de compromissos com a burguesia.

 Também no partido menchevique se definiu um grupo de “esquerda”, o doschamados “internacionalistas”, que começavam a inclinar-se para os bolcheviques.

Os anarquistas que constituíam um grupo insignificante quanto à sua influência,se cindiram definitivamente em vários grupinhos, dos quais uns se misturaram comdelinqüentes vulgares e provocadores, com os dejetos da sociedade, enquanto outros

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se converteram em expropriadores “ideológicos”, que roubavam os camponeses, e aspessoas modestas das cidades e arrebatavam aos clubes operários seus edifícios eeconomias; e outros, finalmente, passaram sem vacilar ao campo contra-revolucionário, acomodando sua vida pessoal à escada de serviço da burguesia. Todoseles eram contrários a qualquer classe de poder, mas muito especialmente ao Poderrevolucionário dos operários e camponeses, pois estavam seguros de que este Poderrevolucionário não lhes permitia despojar o povo nem espoliar os bens do povo.

Depois do esmagamento da intentona de Kornilov, os mencheviques e social-revolucionários fizeram uma nova tentativa para enfraquecer o progressivo ascenso darevolução. Com este fim, convocaram em 12 de setembro de 1917, uma conferênciademocrática de representantes dos partidos socialistas, dos Soviets oportunistas, dosSindicatos, dos Zemstvos, dos círculos comerciais e industriais e das unidades militaresde toda a Rússia. Desta conferência saiu o Pré-parlamento (Conselho provisório daRepública). Com a ajuda deste Pré-parlamento, os oportunistas confiavam em quepoderiam deter a marcha da revolução e desviar o país da senda da revoluçãosoviética para a do desenvolvimento burguês-constitucional, a senda do parlamentoburguês. Foi uma tentativa desesperada daqueles políticos fracassados, que seempenhavam em fazer recuar o processo da revolução. Era uma idéia condenada aofracasso, como, com efeito, ocorreu. Os operários, que zombavam da ginásticaparlamentar dos oportunistas, puseram em ridículo o Pré-parlamento, batizando-o comum nome depreciativo (“ante-banho”). 

O CC do Partido bolchevique resolveu boicotar o Pré-parlamento. E, se bem que

a fração bolchevique deste organismo, em que figuravam indivíduos como Kamenev eTeodorovich, não quisessem abandonar seus bancos, o CC do Partido obrigou-os adeixá-los.

Kamenev e Zinoviev defenderam tenazmente a participação no Pré-parlamento,confiando em que com isso poderiam desviar o Partido do trabalho preparatório dainsurreição. O camarada Stalin interveio energicamente na fração bolchevique daConferência democrática de toda a Rússia contra a participação no Pré-parlamento,que qualificou de “aborto kornilovista”. 

Lênin e Stalin consideraram um grave erro a participação no Pré-parlamento, sebem que tivesse sido por pouco tempo, já que aquilo podia infundir às massas aenganadora esperança de que aquele organismo era capaz de fazer alguma coisa pelostrabalhadores.

Ao mesmo tempo, os bolcheviques preparavam tenazmente a convocação do II

Congresso dos Soviets, no qual esperavam contar com a maioria. E, apesar de todosos subterfúgios dos mencheviques e social-revolucionários encastelados no ComitêExecutivo Central, ante a pressão dos Soviets bolcheviques, teve de ser convocado o IICongresso dos Soviets de toda a Rússia para a segunda quinzena de outubro de 1917.

 6 – A insurreição de outubro em Petrogrado. Prisão do GovernoProvisório – O II Congresso dos Soviets e formação do GovernoSoviético – Decretos do II Congresso dos Soviets sobre a terra – Triunfaa revolução socialista – Causas do triunfo da Revolução Socialista. 

 Os bolcheviques começaram a se preparar energicamente para a insurreição.Lênin assinalou que, tendo como já tinham maioria nos Soviets de deputados operáriose soldados das capitais, Moscou e Petrogrado, os bolcheviques podiam e deviam tomarem suas mãos o Poder. Fazendo o balanço do caminho percorrido, Lênin ressaltava: “Amaioria do povo está conosco”. Em seus artigos e cartas ao Comitê Central e àsorganizações bolcheviques, Lênin traçava um plano concreto para a insurreição: diziacomo deviam utilizar-se as unidades militares, a armada e os guardas vermelhos,quais os pontos decisivos que era necessário ocupar em Petrogrado para garantir oêxito da insurreição, etc.   

Em 7 de outubro Lênin se transportou clandestinamente da Finlândia paraPetrogrado. Em 10 de outubro de 1917, celebrou-se a histórica sessão do ComitêCentral do Partido Bolchevique, na qual se resolveu dar começo à insurreição armada

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poucos dias depois. A histórica resolução aprovada pelo CC do Partido e redigida porLênin, dizia:

 “O CC reconhece que a situação internacional da revolução russa (insurreiçãoda esquadra alemã, sinal agudo da marcha ascendente da revolução socialista mundialem toda a Europa, depois a ameaça de uma paz entre imperialistas com o fim deestrangular a revolução na Rússia), como a situação militar (decisão indubitável daburguesia russa e de Kerenski e Cia. de entregar Petrogrado aos alemães) e aconquista pelo Partido proletário da maioria dentro dos Soviets; ao lado da insurreiçãocamponesa e da confiança cada dia maior do povo para com nosso Partido (eleições deMoscou); e, finalmente, a preparação clara de uma segunda korniloviada (evacuaçãode tropas de Petrogrado, concentração de cossacos nesta capital, cerco de Minsk peloscossacos, etc.), põem na ordem do dia a insurreição armada”. 

Reconhecendo, pois que a insurreição armada é inevitável e se achaplenamente madura, o CC insta a todas as organizações do Partido para que se guiempor isto e examinem e resolvam deste ponto de vista todos os problemas práticos(Congresso dos Soviets da região Norte, saída de tropas de Petrogrado, ações emMoscou e Minsk, etc.)” (Lênin, t. XXI, pág. 330, ed. russa). 

Intervieram e votaram contra esta histórica resolução dois membros do CC:Kamenev e Zinoviev. Também eles sonhavam, como os mencheviques, com umaRepública parlamentar burguesa e injuriavam a classe operária, afirmando que não erabastante forte para realizar a revolução socialista e que não estava ainda capacitadapara tomar o Poder.

Trotsky, se bem que nesta sessão não votasse abertamente contra a resoluçãodo CC, apresentou uma emenda a ela que, se fosse aceita, a teria reduzido a nada efeito fracassar a insurreição. Propôs que esta não começasse até a abertura do IICongresso dos Soviets, o que equivalia a denunciar a insurreição, fixar de antemão odia em que havia de estalar, e pôr em guarda com isso o Governo Provisório.

O CC do Partido bolchevique enviou delegados com plenos poderes à bacia doDonetz, aos Urais, a Helsingfors, a Kronstadt, à frente sul-ocidental, etc., com o fim deorganizar sobre o terreno a insurreição. Os camaradas Vorochilov, Molotov,Dzerzhinski, Ordzhonikidse, Kirov, Kaganovich, Kuibichev, Frunze, Iaroslavski e outrosreceberam missões especiais do Partido para dirigir a insurreição em diferenteslugares. No Ural, em Shadrinsk, entre as tropas, atuou o camarada Zhdanov. Na frenteocidental, na Bielorússia, foi o camarada Ezhov quem preparou para a insurreição amassa dos soldados. Os delegados do CC levaram ao conhecimento dos dirigentes das

organizações bolcheviques de base o plano da insurreição e os estimulavam a preparare mobilizar suas forças para ajudar o movimento em Petrogrado.

Criou-se, por determinação do Comitê Central do Partido, o Comitê Militar Revolucionário adstrito ao Soviet de Petrogrado, que devia assumir as funções deEstado Maior legal da insurreição.

Ao mesmo tempo em que sucedia isto, a contra-revolução se apressavatambém a concentrar suas forças. A oficialidade do exército se organizava na entidadecontra-revolucionária intitulada “Liga dos Oficiais”. Os contra-revolucionários criavampor toda a parte estados-maiores para a formação de batalhões de choque. Em fins deoutubro, a contra-revolução dispunha de 43 batalhões desta espécie. Organizaram-se,além disso, batalhões formados exclusivamente pelos “Cavaleiros de São Jorge”. 

O Governo de Kerenski apresentou o problema de sua transferência de

Petrogrado para Moscou. Isto significava que estava preparando a entrega dePetrogrado aos alemães, para impedir a insurreição nessa capital. Mas o protesto dosoperários e soldados de Petrogrado obrigou o Governo Provisório a permanecer ali.

Em 16 de outubro, realizou-se uma sessão ampliada do C.C. do PartidoBolchevique. Nela se elegeu um Centro do Partido encarregado de dirigir a insurreição.À frente dele achava-se o camarada Stalin. Este centro era o núcleo dirigente doComitê Militar Revolucionário adstrito ao Soviet de Petrogrado e foi ele quepraticamente dirigiu toda a insurreição.

Nesta sessão do CC os capituladores Zinoviev e Kamenev tornaram a sepronunciar contra a insurreição. E tendo obtido a merecida réplica, combateramabertamente desde a imprensa a insurreição e o Partido. Em 18 de outubro um jornalmenchevique intitulado “Novaia Jisn” (“Vida Nova”) publicou uma declaração de

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Kamenev e Zinoviev, dizendo que os bolcheviques preparavam uma insurreição e queeles consideravam esta insurreição como uma aventura. Com isto, Kamenev e Zinovievlevavam ao conhecimento dos inimigos a decisão do CC sobre o movimento e suaorganização para uma data imediata. Esta atitude era uma traição. A propósito disto,Lênin escreveu: “Kamenev e Zinoviev delataram a Rodzianko e Kerenski a resoluçãodo CC de seu Partido sobre a insurreição armada”. E pleiteou ao Comitê Central aexpulsão de Zinoviev e Kamenev do Partido.

Os inimigos da revolução, prevenidos pelos traidores, começaram a tomar semperda de tempo as medidas necessárias para impedir a insurreição e esmagar o EstadoMaior dirigente da revolução, o Partido Bolchevique. O Governo provisório reuniu umConselho de ministros secreto, no qual se combinaram as medidas de luta contra osbolcheviques. Em 19 de outubro, o governo trouxe apressadamente tropas da frentepara Petrogrado. Começaram a circular pelas ruas patrulhas reforçadas. Foi em Moscouque a contra-revolução conseguiu concentrar uma quantidade muito grande de forças.O Governo provisório tinha traçado o plano de atacar e tomar o palácio de Smolni,sede do Comitê Central do Partido Bolchevique, na véspera do dia em que deviam serabertas as sessões do II Congresso dos Soviets e esmagar o Centro dirigente dosbolcheviques. Para isso foram transferidas para Petrogrado tropas de cuja lealdade ogoverno se julgava seguro.

Mas os dias e as horas de vida do Governo provisório estavam contados. Já nãohavia força capaz de deter a marcha esmagadora da Revolução Socialista.

Em 21 de outubro foram enviados a todas as unidades revolucionárias de

tropas comissários bolcheviques do Comitê Militar Revolucionário. Durante os dias queprecederam a insurreição se desenvolveu um enérgico trabalho preparatório da luta noseio das unidades militares e nas fábricas e empresas industriais. Designaram-setambém missões concretas aos navios de guerra, aos cruzadores “Aurora” e “SariáSvobodi” (“Amanhecer da Liberdade”). 

Na sessão do Soviet de Petrogrado, Trotsky, fazendo bravatas, bateu com alíngua nos dentes e delatou ao inimigo a data da insurreição, o dia assinalado pelosbolcheviques para desencadear o movimento. Para não dar ao Governo de Kerenski apossibilidade de fazer fracassar a insurreição armada, o CC do Partido decidiu começara insurreição antes da data marcada, na véspera do dia em que deviam ser abertas assessões do II Congresso dos Soviets.

Kerenski começou a agir nas primeiras horas da manhã de 24 de outubro (6 denovembro), dando ordem de suspender o jornal intitulado “Rabochi Put” (“O Caminho

Operário”), órgão central do Partido Bolchevique, e enviando os carros de assalto aolocal da redação do jornal e ao das oficinas dos bolcheviques. Mas, pelas 10 horas damanhã, seguindo instruções do camarada Stalin os guardas vermelhos e os soldadosrevolucionários expulsaram os carros de assalto e reforçaram a guarda das oficinas eda redação do jornal. Cerca das 11 horas, saiu “O Caminho Operário”, com um apelopara derrubar o Governo Provisório. Ao mesmo tempo, e seguindo instruções doCentro do Partido para a insurreição, foram concentrados urgentemente no Smolni osdestacamentos de soldados revolucionários e guardas vermelhos.

A insurreição começara:Na noite de 24 de outubro, Lênin se transferiu para o Smolni, a fim de se

incumbir pessoalmente da direção do movimento. Durante toda a noite, não cessaramde chegar ao Smolni unidades revolucionárias de tropas e destacamentos de guardas

vermelhos. Os bolcheviques mandavam-nos para o centro da cidade, a fim decercarem o Palácio de Inverno, onde se entrincheirara o Governo provisório.Em 25 de outubro (7 de novembro), a Guarda Vermelha e as tropas

revolucionárias tomaram as estações de estradas de ferro, as centrais de Correios eTelégrafos, os Ministérios e o Banco do Estado.

O Pré-parlamento foi dissolvido.O Palácio do Smolni, residência do Soviet de Petrogrado e do Comitê Central do

Partido Bolchevique, converteu-se em Quartel General da Revolução; era daí quesaíam as ordens de batalha.

Os operários de Petrogrado demonstraram nestas jornadas que tinhampassado, sob a direção do Partido bolchevique, por uma boa escola. As unidadesmilitares revolucionárias, preparadas para a insurreição pelo trabalho dos

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bolcheviques, cumpriram exatamente as ordens de batalha que lhes eram dadas e sebatiam em fraternal união com a Guarda Vermelha. A Marinha de guerra nãodesmereceu do Exército. Kronstadt era uma fortaleza do partido bolchevique, na qualjá há muito tempo não se reconhecia o Poder do Governo provisório. Com o estrondode seus canhões, apontados para o Palácio de Inverno, o cruzador “Aurora” anunciou,em 25 de outubro, o começo da nova era, a era da Grande Revolução Socialista.

Em 25 de outubro (7 de novembro), publicou-se um apelo do Partidobolchevique “Aos cidadãos da Rússia”. Nele se dizia que o Governo provisório burguêstinha passado para as mãos dos Soviets.

O governo provisório se tinha refugiado no Palácio de Inverno, sob a proteçãodos kadetes e dos batalhões de choque. Na noite de 25 a 26 de outubro, os operários,soldados e marinheiros revolucionários tomaram de assalto o Palácio de Inverno eprenderam o Governo provisório. A insurreição armada em Petrogrado vencera. O IICongresso dos Soviets de toda a Rússia abriu suas sessões no Smolni às 10 horas e 45minutos da noite de 25 de outubro (7 de novembro) de 1917, quando se achava emtodo seu apogeu a insurreição triunfante em Petrogrado, e o Poder, na capital, tinhapassado já de fato para as mãos do Soviet da cidade.

Os bolcheviques obtiveram neste Congresso uma esmagadora maioria. Osmencheviques, os delegados do “Bund” e os social-revolucionários de direita, vendoque já não tinham nada que fazer ali se retiraram do Congresso, não sem antesdeclarar que renunciavam a tomar parte em seus trabalhos. Nesta declaração tornadapública no Congresso dos Soviets, qualificavam como uma “conspiração militar” a

Revolução de Outubro. O Congresso ridicularizou os mencheviques e social-revolucionários, manifestando que, não só não lamentava sua retirada como ainda secongratulava com ela, já que, graças à retirada dos traidores, o Congresso seconvertia num verdadeiro Congresso revolucionário de deputados operários e soldados.

Em nome do Congresso foi proclamada a passagem de todo o Poder para asmãos dos Soviets.

 No apelo do II Congresso dos Soviets, se dizia: “Apoiando-se na vontade daimensa maioria dos operários, soldados e camponeses e na insurreição triunfantelevada a cabo pelos operários e a guarnição de Petrogrado, o Congresso toma em suasmãos o Poder”. 

Na noite de 26 de outubro (8 de novembro) de 1917, o II Congresso dosSoviets aprovou o decreto sobre a paz. O Congresso propunha aos países beligerantesconcertar imediatamente um armistício por um prazo mínimo de três meses, para

entabular negociações de paz. Ao mesmo tempo em que se dirigia aos governos e aospovos de todos os países beligerantes, o Congresso fazia um apelo aos “operáriosconscientes das três nações mais adiantadas da Humanidade e dos três Estados maisimportantes que tomam parte na atual guerra: Inglaterra, França e Alemanha”. Econvidava estes operários a que ajudassem a “levar a termo rapidamente a causa da paz e, com ela, a causa da libertação das massas trabalhadoras e exploradas, de todaa escravidão e de toda a exploração”. 

Na noite do mesmo dia, o II Congresso dos Soviets aprovou também o decretosobre a terra, no qual se declarava “imediatamente abolida, sem nenhum gênero deindenização a propriedade dos latifundiários sobre a terra”. Esta lei foi aprovada,tomando-se como base um mandato camponês geral, redigido de acordo com os 242mandatos locais formulados pelos camponeses. Nele se declarava abolido para sempre

o direito da propriedade privada sobre a terra, que passava a ser substituída pelapropriedade de todo o povo, do Estado. As terras dos latifundiários, da família imperiale da Igreja eram entregues em usufruto gratuito a todos os trabalhadores.

Por este decreto, a Revolução Socialista de Outubro entregava aos camponesesmais de 150 milhões de hectares de terras, que até então tinham estado em mãos doslatifundiários, da burguesia, da família real, dos conventos e da igreja.

Os camponeses ficavam isentos do dever de pagar as rendas aos latifundiários,rendas que subiam a cerca de 500 milhões de rublos ouro por ano.

Todas as riquezas do subsolo (petróleo, carvão, minerais, etc.), as matas e aságuas passavam a ser propriedade do Povo.

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Finalmente, do II Congresso dos Soviets de toda a Rússia saiu o primeiroGoverno Soviético, o Conselho de Comissários do Povo, formado em sua totalidade porbolcheviques. Para presidi-lo, foi designado Lênin.

Terminou, com isto, suas tarefas o histórico II Congresso dos Soviets.Os delegados do Congresso se disseminaram pelo país para difundir a nova do

triunfo dos Soviets em Petrogrado e assegurar a vitória do Poder Soviético em toda aRússia.

A passagem do Poder para os Soviets nem em todas partes foi tão rápida. Já seachava instaurado em Petrogrado, o Poder Soviético, e nas ruas de Moscou setravavam ainda nutridos e furiosos combates que duraram vários dias. Antes deconsentir que o Poder passasse para as mãos do Soviet de Moscou, os partidos contra-revolucionários, mencheviques e social-revolucionários, unidos aos guardas brancos eaos kadetes, desencadearam a luta armada contra os operários e contra os soldados.Custou vários dias esmagar os facciosos e instaurar em Moscou o poder dos Soviets.

Na própria Petrogrado e em suas imediações, fizeram-se, durante os primeirosdias do triunfo da revolução, algumas tentativas contra-revolucionárias para derrubar oPoder Soviético. Em 10 de novembro de 1917, Kerenski, que já em plena insurreiçãotinha fugido de Petrogrado para um setor da frente Norte, concentrou algumasunidades de cossacos e enviou-as sobre Petrogrado, com o general Krasnov à frente. A11 de novembro de 1917, a organização contra-revolucionária intitulada “Comitê deSalvação da Pátria e da revolução”, dirigida por social-revolucionários, desencadeouem Petrogrado uma sublevação de kadetes. Mas esta sublevação foi esmagada sem

grande esforço. Após um dia de luta, ao anoitecer do dia 11 de Novembro, osmarinheiros e os guardas vermelhos liquidaram a sublevação dos kadetes, e a 13 deNovembro era derrotado o general Krasnov perto das montanhas de Pulkovo. Lênindirigiu pessoalmente o esmagamento da sublevação anti-soviética, da mesma sorteque dirigira a insurreição de Outubro. Sua firmeza inquebrantável e sua serenasegurança no triunfo animavam e fundiam em um só bloco as massas. O inimigo foiesmagado. Krasnov caiu prisioneiro e deu sua “palavra de honra” de que não tornariaa lutar contra o Poder Soviético. Foi posto em liberdade sob esta “palavra de honra”,mas algum tempo depois Krasnov traía sua palavra de general. Kerenski conseguiufugir, disfarçado de mulher “em direção desconhecida”. 

Também o general Dukhonin tentou promover uma sublevação em Moguilev, noQuartel General do Exército. Quando o Governo Soviético ordenou a Dukhoninentabular imediatamente negociações para fazer um armistício com o comando

alemão, este general se negou a cumprir as ordens do Governo. Em vista disso, oPoder Soviético decretou sua destituição. O alto comando contra-revolucionário foiesmagado, e Dukhonin morreu nas mãos das tropas sublevadas contra ele.

Assim mesmo tentaram uma saída contra o Poder Soviético os já citadosoportunistas embuçados no Partido: Kamenev, Zinoviev, Rykov, Shliapnikov e outros.Estes elementos começaram a exigir a formação de um “governo socialistahomogêneo”, com a participação dos mencheviques e social-revolucionários, os quais,a Revolução de Outubro acabava de derrubar. Em 15 de novembro de 1917, o C.C. doPartido Bolchevique aprovou uma resolução, rechaçando qualquer compromisso comestes partidos contra-revolucionários e declarando Kamenev e Zinoviev fura-greves darevolução. Em 17 de novembro, Kamenev, Zinoviev, Rykov e Miliutin, em desacordocom a política do Partido, declararam que se demitiam de seus postos no Comitê

Central. No mesmo dia, 17 de novembro, Noguim, em seu nome e em nome de Rykov,V. Miliutin, Teodorovich, Shliapnikov, D. Riazanov, Iurenev e Larin - que tinhamentrado para o Conselho de Comissários do Povo -, formularam uma declaração dedesacordo com a política do CC do Partido, anunciando que os mencionados indivíduosse demitiam de seus cargos no Governo Soviético. A fuga deste punhado de covardesproduziu grande júbilo entre os inimigos da Revolução de Outubro. Toda a burguesia eos lacaios esfregavam as mãos de prazer, berrando sobre a derrocada do bolchevismoe prognosticando o naufrágio do Partido Bolchevique. Mas este punhado de desertoresnão conseguiu fazer que o Partido vacilasse um minuto sequer. O Comitê Centralcobriu-os com seu desprezo, como a desertores da revolução e lacaios da burguesia,sem se deter um instante em seu caminho.

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Quanto aos social-revolucionários de “esquerda”, não querendo perder suainfluência entre as massas camponesas, que simpatizavam claramente com osbolcheviques, decidiram não romper com estes e manter, no momento, a frente únicacom eles. O Congresso dos Soviets camponeses, celebrado em novembro de 1917,reconheceu todas as conquistas da Revolução Socialista de Outubro e os decretos doPoder Soviético. Foi feito um acordo com os social-revolucionários de “esquerda”,alguns dos quais (Kolegaiev, Spiridonova, Proshián e Steimberg) foram incluídos noConselho de Comissários do Povo. Mas este acordo só se manteve de pé até aassinatura da paz de Brest-Litovsk e a constituição dos Comitês de camponesespobres; a profunda diferenciação de classes que se produziu então entre oscamponeses, fez com que os social-revolucionários de “esquerda”, cuja posição refletiacada vez mais acentuadamente os interesses dos kulaks, desencadeassem umasublevação contra os bolcheviques, sendo esmagados pelo Poder Soviético.

Desde outubro de 1917, até janeiro-fevereiro de 1918, a Revolução soviéticaconseguiu estender-se por toda a Rússia. Tão rápido foi o ritmo com que o Poder dosSoviets se foi instaurando ao longo do território do imenso país, que Lênin falava da“marcha triunfal” do Poder Soviético. 

A Grande Revolução Socialista de Outubro havia triunfado.Entre as diversas causas que determinaram este triunfo tão relativamente fácil

da Revolução Socialista na Rússia, convém destacar como fundamentais as seguintes:1) A Revolução de Outubro defrontou-se com um inimigo relativamente tão

débil, tão mal organizado e tão inexperiente politicamente, como a burguesia russa. A

burguesia russa, ainda economicamente débil e inteiramente dependente dosfornecimentos ao Governo, não tinha nem a independência política nem a iniciativanecessária para encontrar uma saída da situação. Não possuía essa experiência nasbaixezas e nos manejos políticos em grande escala que, por exemplo, a burguesiafrancesa possui, nem tinha passado pela escola de cambalachos e patifarias de grandeestilo em que é mestra, por exemplo, a burguesia inglesa. A burguesia russa que diasantes, se esforçava para chegar a um acordo com o czar, derrubado pela Revolução deFevereiro, não soube, ao subir ao Poder, fazer coisa melhor do que continuar em suaslinhas fundamentais a política do odiado autocrata. Pugnava, tal como o czar, pela“guerra até a vitória final”, apesar de que a guerra arruinava e esgotava o país edeixava exaustas as energias do povo e do exército. Pugnava, tal como o czar, pelaconservação, em suas linhas fundamentais, da propriedade dos latifundiários sobre aterra, apesar dos camponeses morrerem por falta de terras e sucumbirem sob a

opressão dos latifundiários. Quanto à política seguida a respeito da classe operária, aburguesia russa ia mais além ainda que o czar em seu ódio contra o proletariado, poisnão só se esforçou por manter e robustecer a pressão dos patrões, mas também,tornava-a insuportável, mediante a aplicação de “lock-uts” em massa. 

Não era, pois, de estranhar que o povo não visse nenhuma diferença essencialentre a política do czar e a da burguesia, e transferisse para o Governo provisóriodesta seu ódio contra o czarismo.

Enquanto os partidos oportunistas social-revolucionários e mencheviquesconservaram certa influência sobre o povo, a burguesia pôde entrincheirar-se pordetrás deles e manter em suas mãos o Poder. Mas depois que os mencheviques e ossocial-revolucionários se desmascararam como agentes da burguesia imperialista,perdendo com isso sua influência sobre o povo, a burguesia e seu Governo provisório

ficaram no ar.2) À frente da Revolução de Outubro se apresentava uma classe revolucionáriacomo a classe operária da Rússia, temperada nas lutas, que havia em pouco tempopassado por duas revoluções e tinha sabido conquistar, nas vésperas da terceirarevolução, a autoridade de dirigente do povo, em sua luta pela paz, a terra, aliberdade e o socialismo.

Se não tivesse existido este dirigente da revolução, credor da confiança dopovo, que era a classe operária da Rússia, não se teria conseguido tão pouco a aliançaentre os operários e os camponeses, sem a qual não teria podido triunfar a Revoluçãode Outubro.

3) A classe operária da Rússia contava com um aliado tão importante narevolução como eram os camponeses pobres, que formavam a esmagadora maioria da

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população camponesa. A experiência de oito meses de revolução, que valia,indubitavelmente, pela de dezenas de anos de desenvolvimento “normal”, não tinhapassado em vão para as massas trabalhadoras do campo. Durante estes meses,tinham tido ocasião de tomar o pulso na realidade a todos os partidos da Rússia e dese convencer de que não eram os kadetes, nem os social-revolucionários, nem osmencheviques que lutariam contra os latifundiários nem derramariam seu sanguepelos camponeses; de que, na Rússia, só havia um partido que não se achavavinculado com os latifundiários e que estava disposto a esmagar estes para satisfazeras necessidades dos camponeses, e este partido era o Partido Bolchevique. Foi estacircunstância que serviu de base real para a aliança do proletariado com oscamponeses pobres. A existência desta aliança entre a classe operária e os pobres docampo determinou também a conduta dos camponeses médios, que vacilaram durantemuito tempo e só nas vésperas da insurreição de Outubro se orientaram devidamentepara a revolução, unindo-se aos camponeses pobres.

Cumpre demonstrar que sem esta aliança a Revolução de Outubro não teriapodido vencer.

4) A classe operária tinha à sua frente um partido tão experimentado nas lutaspolíticas como o Partido Bolchevique. Só um partido como o bolchevique,suficientemente intrépido para conduzir o povo ao assalto decisivo, e suficientementeprudente para evitar todos os obstáculos que se erguiam no caminho para o objetivo;só um partido assim, podia fundir tão habilmente em uma grande torrenterevolucionária, movimentos revolucionários tão diversos como o movimento

democrático-camponês pela posse das terras dos latifundiários, o movimento delibertação nacional dos povos oprimidos, pela igualdade de direitos das nações e omovimento socialista da classe operária pela derrubada da burguesia e a instauraçãoda ditadura do proletariado.

É indubitável que a fusão destas diversas correntes revolucionárias numapoderosa torrente revolucionária única foi o que decidiu da sorte do capitalismo naRússia.

5 ) A Revolução de Outubro estalou num momento em que a guerraimperialista estava ainda em seu apogeu, em que os principais Estados burgueses seachavam divididos em dois campos inimigos, em que estes Estados, empenhadosnuma guerra de uns contra os outros e se debilitando mutuamente, não podiamimiscuir-se a fundo nos “assuntos da Rússia”, intervindo ativamente contra aRevolução de Outubro.

É indubitável que esta circunstância facilitou consideravelmente o triunfo daRevolução Socialista de Outubro. 7 – A Luta do Partido Bolchevique pela consolidação do Poder Soviético– A paz de Brest-Litovsk – O VII Congresso do Partido. 

Para consolidar o Poder Soviético era necessário destroçar, romper o antigoaparelho do Estado burguês e substituí-lo pelo novo aparelho do Estado Soviético. Eranecessário, também, destruir os restos do regime de castas e de opressão nacional,abolir os privilégios da Igreja, acabar com a imprensa contra-revolucionária e com asorganizações contra-revolucionárias de todo gênero, tanto legais como ilegais, edissolver a Assembléia Constituinte burguesa. Por último, era necessário nacionalizar,

após a guerra, toda a grande indústria, e, sobretudo, sair da situação de guerra,acabar com a guerra, que era o maior obstáculo que se opunha à consolidação doPoder Soviético.

Todas estas medidas foram levadas à prática no transcurso de uns quantosmeses, desde fins de 1917 a meados de 1918.

Rompeu-se e liquidou-se a sabotagem dos funcionários nos velhos ministérios,organizados pelos social-revolucionários e os mencheviques. Foram suprimidos osministérios, criando-se, para substituí-los, aparelhos soviéticos de administração e oscorrespondentes Comissariados do Povo. Criou-se o Conselho Supremo de EconomiaNacional, encarregado de dirigir a indústria do país. Organizou-se a Comissãoextraordinária de toda a Rússia (a “Tcheca”) para combater a contra-revolução e a

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sabotagem, pondo-se à frente dela F. Dzerzhinski. Baixou-se um decreto criando oExército Vermelho e a Marinha Vermelha. Dissolveu-se a Assembléia Constituinte, quetinha sido eleita, fundamentalmente, antes da revolução de Outubro, e se tinha negadoa confirmar os decretos do II Congresso dos Soviets sobre a paz, sobre a terra e sobrea instauração do Poder Soviético.

Com o objetivo de liquidar definitivamente os resíduos do feudalismo, doregime de castas e da desigualdade de direitos em todos os graus da vida socialbaixou-se uma série de decretos abolindo os privilégios de casta, suprimindo asrestrições nacionais e religiosas, separando a Igreja do Estado e a Escola da Igreja, econcedendo igualdade de direitos às mulheres e às diversas nacionalidades da Rússia.

Em um decreto especial do Governo Soviético, que se conhece com o nome de“Declaração de direitos dos povos da Rússia”, se estatuiu como lei o livredesenvolvimento dos povos de toda a Rússia e sua plena igualdade de direitos.

Com o objetivo de minar a força econômica da burguesia e de organizar a novaEconomia nacional soviética e, sobretudo, a nova indústria soviética, foramnacionalizados os bancos, as estradas de ferro, o comércio exterior, a marinhamercante e toda a grande indústria, em seus diversos ramos: indústria carbonífera,metalúrgica, petrolífera, química, de construção de maquinaria, têxtil, açucareira, etc.

Com o objetivo de emancipar o país da dependência financeira e da exploraçãopelos capitalistas estrangeiros, foram anulados os empréstimos exteriores contraídosem nome da Rússia pelo czar e o Governo provisório. Os povos do país soviético nãotinham porque pagar as dívidas contraídas para prolongar a guerra de rapina e que

haviam entregado o país escravizado às garras do capital estrangeiro.Todas estas medidas e outras semelhantes atacavam pela base as forças daburguesia, dos latifundiários, da burocracia reacionária e dos partidos contra-revolucionários, consolidando consideravelmente o Poder Soviético no interior do país.Mas a situação do Poder Soviético não podia considerar-se plenamente garantida,enquanto a Rússia se achasse em estado de guerra com a Alemanha e a Áustria. Paraconsolidar definitivamente o Poder Soviético era necessário pôr fim a guerra. Por isso,o Partido começou a luta pela paz desde os primeiros dias do triunfo da Revolução deOutubro.

 O Governo Soviético propôs a “todos os países beligerantes e seus governosestabelecer negociações imediatas para uma paz justa e democrática”. Mas os“aliados”, a Inglaterra e a França, se negaram a aceitar a proposta do GovernoSoviético. Em vista da negativa da França e da Inglaterra de entabular negociações de

paz, o Governo Soviético cumprindo a vontade dos Soviets decidiu entrar emnegociações com a Alemanha e a Áustria. As negociações começaram a 3 dedezembro, em Brest-Litovsk. Em 5 de dezembro se assinou o convênio de armistício,isto é, de suspensão temporária das hostilidades.

As negociações de paz se desenrolaram numa situação em que a Economianacional entrava em derrocada, em que todo o país estava cansado da guerra, asunidades militares abandonavam as trincheiras e as frentes se desmoronavam.Durante as negociações se tornou claro que os imperialistas alemães pretendiamapoderar-se de enormes porções do território do antigo império Czarista e converter APolônia, a Ucrânia e os países do Báltico em estados vassalos da Alemanha.

Continuar a guerra nestas condições equivalia a jogar numa cartada aexistência da República Soviética, que acabava de nascer. Apresentava-se à classe

operária e aos camponeses a necessidade de aceitar as duras condições de paz erecuar ante o mais perigoso bandoleiro daquele momento, o imperialismo alemão,para obter uma trégua, robustecer o Poder Soviético e criar um novo exército, oExército Vermelho, capaz de defender o país contra os ataques de seus inimigos.Todos os contra-revolucionários, começando pelos mencheviques e os social-revolucionários e acabando pelos guardas brancos mais caracterizados,desencadearam uma furiosa campanha de agitação contra a assinatura da paz. Sualinha era clara: aspiravam romper as negociações de paz, provocar a ofensiva dosalemães e expor a um golpe o nascente Poder Soviético, pondo em perigo asconquistas dos operários e camponeses.

Nesta empresa tenebrosa, tinham como aliados a Trotsky e seu escudeiroBukharin; este, com Radek e Piatakov, encabeçava o grupo anti-bolchevique que se

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disfarçava com o nome de grupo dos “comunistas de esquerda”. Trotsky e o grupo dos“comunistas de esquerda” travaram no seio do Partido uma luta furiosa contra Lênin,exigindo a continuação da guerra. Estes indivíduos faziam claramente o jogo dosimperialistas alemães e dos contra-revolucionários dentro do país, uma vez quetrabalhavam para expor a nascente República Soviética, desprovida ainda de exército,aos golpes do imperialismo alemão. Era, verdadeiramente, uma política deprovocadores, habilmente disfarçada com frases esquerdistas.

Em 10 de fevereiro de 1918, se interromperam as negociações de paz de Brest-Litovsk. Embora Lênin e Stalin insistissem, em nome do CC do Partido Bolchevique,para que se assinasse a paz, Trotsky, que era presidente da delegação soviética de pazenviada a Brest, traiu abertamente as instruções do Partido Bolchevique. Declarou quea Republica Soviética se negava a assinar a paz nas condições propostas pelaAlemanha, e, ao mesmo tempo, comunicou aos alemães que os Soviets não fariam aguerra e continuariam desmobilizando o seu exército.

A coisa era monstruosa. Nem os próprios imperialistas alemães podiam pedirmais àquele traidor dos interesses do país soviético.

O governo alemão deu por terminado o armistício e passou à ofensiva. Osrestos de nosso antigo exército não fizeram frente ao arranco das tropas alemãs ecomeçaram a dispersar-se. Os alemães avançaram rapidamente, ocupando territóriosimensos e ameaçando Petrogrado. O imperialismo alemão, irrompendo no país dosSoviets, tinha como objetivo derrubar o Poder Soviético e converter o país numacolônia sua. O antigo exército czarista, que se desmoronava, não podia fazer frente às

legiões armadas do imperialismo alemão e recuava ante os golpes do exército inimigo.Mas a intervenção armada dos imperialistas alemães provocou uma potenteonda de ardor revolucionário dentro do país. A classe operária respondeu ao grito “APátria Socialista esta em perigo!” lançado pelo Partido e o Governo Soviético, pondoem pé de guerra numerosas unidades do Exército Vermelho. Os jovens destacamentosdo novo exército do povo revolucionário rechaçaram heroicamente a arremetida dobandoleiro imperialista alemão, armado até os dentes. Em Narva e em Pskov, osinvasores alemães depararam com uma réplica enérgica. O seu avanço sobrePetrogrado foi contido. No dia em que as tropas do imperialismo alemão foramrechaçadas – 23 de fevereiro – nasceu o Exército Vermelho.

Já em 18 de fevereiro de 1918, o CC do Partido Bolchevique aprovara aproposta de Lênin de enviar um telegrama ao governo alemão sobre a conclusãoimediata da paz. Para arrancar condições mais favoráveis, os alemães prosseguiram a

ofensiva e até 22 de fevereiro não se mostrou o governo alemão disposto a assinar apaz, exigindo, além do mais, condições muito mais duras que as primitivas.

Lênin, Stalin e Sverdlov tiveram de manter uma luta encarniçada no seio doComitê Central contra Trotsky, Bukharin e demais trotskistas, até conseguir que setomasse a resolução de negociar a paz. Lênin assinalou que Bukharin e Trotsky“ajudavam de fato aos imperialistas alemães e entravavam os avanços e odesenvolvimento da revolução na Alemanha” (Lênin, t. XXII pág. 307, ed. russa).

Em 23 de fevereiro, o CC resolveu aceitar as condições impostas pelo Comandoalemão e assinar o tratado de paz. A traição de Trotsky e Bukharin custou caro àRepública dos Soviets. Foram anexadas pela Alemanha a Letônia e a Estônia, além daPolônia, e a Ucrânia foi separada da República Soviética e convertida num Estadovassalo da Alemanha. Impôs-se, além disso, ao País Soviético a obrigação de pagar

uma contribuição de guerra aos alemães. Entretanto, os chamados “comunistas de esquerda” prosseguiram na lutacontra Lênin, afundando-se cada vez mais no pântano da traição.

A sessão regional do Partido de Moscou, do qual temporariamente conseguiramse apossar os “comunistas de esquerda” (Bukharin, Osinski, Iakovleva, Stukov,Mantzev), aprovou uma resolução divisionista de desconfiança no CC e declarou queconsiderava “quase inevitável a cisão do Partido em breve prazo”. E se chegava até aoextremo de incluir nesta resolução uma declaração anti-soviética! “No interesse darevolução internacional – diziam nela os “comunistas de esquerda” – consideramosconveniente aceitar a possibilidade da perda do Poder Soviético, que se estáconvertendo em um Poder puramente formal”. 

 Lênin qualificou esta resolução de “esquisita e monstruosa”. 

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Naquele momento, o Partido ainda não via claro a causa real desta condutaanti-bolchevique de Trotsky e dos “comunistas de esquerda”. Mas o processo do Blocoanti-soviético direitista – trotskista, levado a efeito recentemente (em começos de1938), revelou que Bukharin e o grupo de “comunistas de esquerda”, dirigido por ele,se achavam já naquele tempo, juntamente com Trotsky e os social-revolucionários de“esquerda”, em relações secretas e conspirativas contra o Governo dos Soviets.Comprovou-se que Bukharin, Trotsky e seus cúmplices na conjuração tinham comoobjetivo romper o tratado de paz de Brest-Litovsk, prender V. I. Lênin, I. V. Stalin e I.M. Sverdlov, assassiná-los e formar um novo governo, composto de bukharinistas,trotskistas e social-revolucionários de “esquerda”. 

 Ao mesmo tempo em que organizavam clandestinamente este “complot” contra-revolucionário, o grupo dos “comunistas de esquerda”, apoiado por Trotsky,atacava abertamente o Partido Bolchevique, esperando cindi-lo e decompor suasfileiras. Mas, naqueles momentos difíceis, o Partido formou um bloco em torno deLênin, Stalin e Sverdlov e apoiou o Comitê Central, tanto no problema da paz comonos demais problemas apresentados.

 O grupo dos “comunistas de esquerda” ficou isolado e derrotado. Para tomar uma decisão definitiva sobre o problema da paz, convocou-se o VII

Congresso do Partido bolchevique.O VII Congresso do Partido abriu suas sessões em 6 de março de 1918. Era o

primeiro Congresso que se convocava depois da tomada do Poder. Assistiram a ele 46delegados com direito a palavra e voto e 58, sem direito a votar. Estiveram

representados neste Congresso 145 mil membros. Na realidade o Partido tinha já maisde 270 mil membros. Esta diferença se explica pelo caráter urgente do Congresso, oque impediu a muitas organizações enviarem delegados, não tendo podido fazê-lo tãopouco as do território ocupado pelos alemães.

Informando sobre a paz de Brest-Litovsk, Lênin disse neste Congresso: “a duracrise que o nosso Partido atravessa, em virtude da formação dentro dele de umaoposição de esquerda, é uma das maiores crises pelas quais passou a revolução russa” (Lênin, t. XXXII, pág. 321, ed. russa).

A resolução apresentada por Lênin sobre a paz de Brest-Litovsk foi aprovadapor 30 votos contra 12 a 4 abstenções.

No dia seguinte à aprovação desta resolução, Lênin escrevia em seu artigointitulado “Uma paz desgraçada”: 

 “Insuportavelmente duras são as condições de paz. Mas apesar de tudo, a

história se imporá... Mãos à obra a trabalhar na organização, na organização e naorganização! O futuro é nosso, sejam quais forem às provas por que passarmos” (Obracitada, pág. 288).

Na resolução aprovada pelo Congresso se advertia que seria inevitável que nofuturo surgissem também ataques bélicos dos Estados imperialistas contra a Repúblicados Soviets, razão pela qual o Congresso considerava dever fundamental do Partidotomar as medidas mais enérgicas e decisivas com o objeto de aumentar a disciplina noseio do Partido e a dos operários e camponeses em geral, pôr as massas em condiçõesde defender abnegadamente a pátria socialista, organizar o Exército Vermelho einstruir militarmente toda a população.

O Congresso, depois de ratificar a justeza da linha leninista no problema da pazde Brest-Litovsk, condenou a posição de Trotsky e de Bukharin e estigmatizou a

tentativa dos “comunistas de esquerda”, derrotados, de prosseguirem no mesmoCongresso seu trabalho divisionista.A assinatura da paz de Brest-Litovsk deu ao Partido a possibilidade de ganhar

tempo para consolidar o Poder Soviético e pôr em ordem a economia do país.A assinatura da paz deu ao Partido a possibilidade de se aproveitar dos choques

existentes dentro do campo imperialista (continuação da guerra da Áustria e daAlemanha com a Entente), de decompor as forças do adversário, organizar a economiasoviética e criar o Exército Vermelho.

A paz de Brest-Litovsk permitiu ao proletariado manter do seu lado oscamponeses e acumular forças para esmagar os generais brancos no período da guerracivil.

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Durante o período da Revolução de Outubro, Lênin tinha ensinado ao PartidoBolchevique como se deve avançar resolutamente e sem medo, quando se dão ascondições necessárias para isso. Durante o período da paz de Brest-Litovsk, ensinou-lhe como se deve retroceder, ordenadamente, quando as forças do adversário superamcom toda a certeza as próprias, com o fim de preparar com a maior energia a novaofensiva contra o inimigo.

A história confirmou plenamente a justeza da linha leninista.No VII Congresso se tomou a resolução de mudar o nome do Partido e de

redigir um novo programa. O Partido passou a se chamar Partido Comunista da Rússia(bolchevique) – PCR (b). Lênin propôs este nome, por se ajustar exatamente aoobjetivo que o Partido Bolchevique se propõe, que é a realização do comunismo.

Para a redação do novo programa do Partido foi escolhida uma Comissãoespecial da qual fazia parte Lênin, Stalin e outros, tomando-se como base o projetoapresentado por Lênin.

Como se vê, o VII Congresso realizou uma obra histórica formidável: derrotouos inimigos emboscados dentro do Partido, os “comunistas de esquerda” e ostrotskistas, conseguiu tirar o país da guerra imperialista, conseguiu a paz, e com elauma trégua que permitiu ao Partido ganhar tempo para organizar o Exército Vermelho,e impôs ao Partido a missão de implantar uma ordem socialista na Economia nacional.      8 – O Plano de Lênin para abordar a construção do socialismo. Sãocriados os comitês de camponeses pobres e cortadas as asas aos kulaks– A sublevação dos social-revolucionários de “esquerda” e seuesmagamento – O V Congresso dos Soviets e a aprovação daconstituição da República Federativa Soviética da Rússia. 

Depois de concluir a paz e obter uma trégua, o Poder Soviético abordou oproblema de desenvolver a edificação do socialismo. Lênin chamava o período que vaidesde novembro de 1917 até fevereiro de 1918 de período de “ataque da GuardaVermelha contra o capital”. Durante o primeiro semestre do ano de 1918, o PoderSoviético conseguiu destruir a potência econômica da burguesia, concentrou em suasmãos os postos de direção da Economia Nacional (as fábricas e empresas industriais,os bancos, as estradas de ferro, o comércio exterior, a marinha mercante, etc.),destroçou o aparelho de Estado burguês e liquidou vitoriosamente as primeirastentativas da contra-revolução para derrubar o Poder Soviético.

Mas tudo isto estava ainda muito longe de ser suficiente. Para poder avançar,era necessário passar da derrubada do velho para a construção do novo. Por isso, naprimavera de 1918, se iniciou a passagem para a nova etapa da construção socialista,se passou da “expropriação dos expropriadores” à consolidação organizada das vitóriasconseguidas, à edificação da Economia nacional soviética. Lênin considerava

necessário aproveitar-se até o “máximo” da trégua para abordar o problema de lançaros alicerces da Economia socialista. Os bolcheviques tinham que aprender a organizarde um modo novo a produção e administrá-la. Lênin escrevia que o Partidobolchevique tinha conseguido convencer a Rússia e tinha conseguido arrancá-la dasmãos dos ricos para entregá-la ao povo; agora, dizia Lênin, é necessário que o Partidobolchevique aprenda a governar e administrar a Rússia.

Nesta etapa, Lênin reputava como tarefas fundamentais às de fazer acontabilidade do que se produzia na Economia nacional e controlar o consumo de todosos artigos produzidos. Na economia russa predominavam os elementos pequeno-burgueses. Milhões de pequenos industriais e camponeses formavam o terreno queservia de base para o desenvolvimento do capitalismo. Estes pequenos empresáriosnão reconheciam nem a disciplina do trabalho nem a disciplina geral do Estado; não se

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submetiam a nenhum requisito de contabilidade nem de controle. Naqueles momentosdifíceis, constituía um perigo especialmente grande o elemento pequeno-burguês deespeculação e mercantilismo, e as tentativas destes pequenos industriais ecomerciantes de enriquecerem a custa da miséria do povo.

O Partido bolchevique desencadeou uma luta enérgica contra a desídia naprodução, contra a falta de disciplina de trabalho na indústria. As massas iamassimilando lentamente novos hábitos de trabalho. Isto fazia que a luta por umadisciplina no trabalho fosse, durante este período, a tarefa central.

Lênin assinalou a necessidade de desenvolver a emulação socialista naindústria, de implantar o salário pelo valor do trabalho, de lutar contra o igualitarismo,aplicando, lado a lado com as medidas persuasivas de educação, medidas de coaçãocontra quantos pretendessem fraudar o Estado, contra os vagabundos e osespeculadores. Achava que a nova disciplina, uma disciplina de trabalho, umadisciplina de camaradagem, uma disciplina Soviética, seria forjada por milhões detrabalhadores, na prática do trabalho diário. E fazia notar que “esta obra encherá todauma época histórica” (Lênin, t. XXIII pág. 44 ed. russa).

Todos estes problemas da construção do socialismo, os problemas da criação denovas relações de produção de tipo socialista, foram esclarecidos por Lênin em seunotável trabalho intitulado “As tarefas atuais do Poder Soviético”. 

 Os “comunistas de esquerda”, pelo braço dos social-revolucionários emencheviques, lutaram também contra Lênin, no que diz respeito a estes problemas.Bukharin, Osinski e outros se manifestaram contra a implantação de uma disciplina,

contra a direção unipessoal das empresas, contra o emprego de especialistas naindústria, contra a instauração de um regime de contabilidade e controle financeiro. Ecaluniavam Lênin, afirmando que semelhante política representava a volta ao regimeburguês. Ao mesmo tempo, os “comunistas de esquerda” pregavam a tese trotskistasobre a impossibilidade de levarem adiante na Rússia a edificação socialista e o triunfodo socialismo.

 Por trás das frases “esquerdistas” dos “comunistas de esquerda” se escondia adefesa dos kulaks, dos vagabundos, dos especuladores, que eram inimigos dadisciplina do trabalho e viam com hostilidade a regulamentação, pelo Estado, da vidaeconômica, o regime de contabilidade e de controle.

Depois de delinear os problemas da organização da nova indústria soviética, oPartido bolchevique atacou os problemas do campo. No campo, estava em ebulição,naquele momento, a luta dos camponeses pobres contra os kulaks. Estes tomavam à

força, apoderavam-se das terras que tinham sido arrebatadas aos latifundiários. Oscamponeses pobres necessitavam de ajuda. Os kulaks lutavam contra o Estadoproletário, negando-se a vender-lhe o trigo ao preço taxado. Propunham-se obrigar oEstado Soviético, por meio da fome, a renunciar à implantação de medidas socialistas.O Partido bolchevique traçou a si mesmo o propósito de esmagar os kulaks contra-revolucionários. Para organizar os camponeses pobres e lutar com êxito contra oskulaks, que dispunham das sobras de trigo, organizou-se uma campanha dos operáriosno campo.

 “Camaradas operários! – escrevia Lênin – Recordai que a revolução passa poruma situação crítica. Recordai que sois vós, e ninguém mais que vós, que podeissalvar a revolução. Dezenas de milhares de operários escolhidos, adiantados,dedicados à causa do socialismo, incapazes de se render ao suborno ou à rapina,

capazes de criar uma força férrea contra os kulaks, os especuladores, osaproveitadores, os indivíduos venais, os desorganizadores; eis aí o que nos faz falta”.(Lênin, t. XXIII pág. 25, ed. russa).

 “A luta pelo pão é a luta pelo socialismo”, disse Lênin, e sob esta palavra deordem se desenvolveu a organização dos operários para a campanha nas aldeias.Baixou-se uma série de decretos, pelos quais se instaurava uma ditadura doabastecimento e se concediam aos órgãos do Comissariado de Abastecimento poderesextraordinários para comprar trigo a preços taxados.

Por um decreto de 11 de junho de 1918, foram criados os Comitês decamponeses pobres. Estes Comitês desempenharam um grande papel na luta contraos kulaks, na nova partilha das terras confiscadas e na distribuição dos instrumentosde lavoura e dos animais de tração, na aquisição aos kulaks da sobra dos produtos e

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no aprovisionamento dos centros operários e do Exército Vermelho. 50 milhões dehectares de terras de posse dos kulaks passaram para as mãos dos camponesespobres e médios. E foi confiscada aos kulaks, em benefício dos camponeses pobres,uma parte considerável dos meios de produção.

A organização destes Comitês de camponeses pobres representou uma etapapara frente na marcha da revolução socialista no campo. Estes Comitês eram osbaluartes da ditadura do proletariado na aldeia. E foram, além disso, uma considerávelmedida, o caminho pelo qual se recrutaram os quadros do Exército Vermelho entre apopulação camponesa.

A campanha dos proletários nas aldeias e a organização dos Comitês decamponeses pobres garantiram o Poder Soviético no campo e tiveram uma enormeimportância política para atrair os camponeses médios para o lado do Poder Soviético.Em fins de 1918, depois de cumprir sua missão, os Comitês de camponeses pobresdeixaram de existir, fundindo-se com os Soviets rurais.

Em 4 de julho de 1918, se abriu o V Congresso dos Soviets. Os social-revolucionários de “esquerda” desencadearam neste Congresso uma luta furiosa contraLênin, em defesa dos kulaks. Exigiram que se pusesse fim à campanha contra oskulaks e se renunciasse a enviar ao campo destacamentos operários encarregados doabastecimento. E quando se convenceram de que sua atitude encontrava umaresistência firme por parte da maioria do Congresso, organizaram uma sublevação emMoscou, apoderaram-se de uma rua e começaram dali a atirar contra o Kremlin. Masao cabo de poucas horas, esta aventura social-revolucionária de “esquerda” foi

aniquilada pelos bolcheviques. E se bem que as organizações locais dos social-revolucionários de “esquerda” tentaram também sublevar-se em uma série de pontosdo país, a aventura foi rapidamente liquidada em toda a parte.

Como o processo contra o Bloco anti-soviético direitista-trotskista acabou dedemonstrar ultimamente, a sublevação dos social-revolucionários de “esquerda” seproduziu com conhecimento e de acordo com Bukharin e Trotsky, e fazia parte doplano geral de um “complot” contra-revolucionário dos bukharinistas, os trotskistas eos social-revolucionários de “esquerda” contra o Poder Soviético.  

Por aqueles mesmos dias, o social-revolucionário de “esquerda” Bliumkim, quemais tarde passaria a ser agente de Trotsky, introduziu-se na embaixada alemã e, como propósito de provocar uma guerra com a Alemanha, assassinou o embaixadoralemão em Moscou, Mirbach. Mas o Governo Soviético conseguiu evitar a guerra efazer fracassar a provocação dos contra-revolucionários.

No V Congresso dos Soviets foi aprovada a Constituição da República SocialistaFederativa Soviética da Rússia, a primeira de todas as constituições soviéticas.

  

RESUMO 

 Durante os oito meses que vão desde fevereiro a outubro de 1917, o PartidoBolchevique realiza um dificílimo trabalho: conquista a maioria da classe operária e,dentro dos Soviets, atrai para o lado da Revolução Socialista milhões de camponeses.Arranca estas massas da influência dos partidos pequeno-burgueses (social-revolucionários, mencheviques, anarquistas) e vai desmascarando, passo a passo, apolítica destes partidos, dirigida contra os interesses dos trabalhadores. O Partido

Bolchevique desenvolve um trabalho político gigantesco na frente e na retaguarda,preparando as massas para a Revolução Socialista de Outubro.Os momentos decisivos na história do Partido Bolchevique neste período,

foram: a chegada de Lênin da emigração, suas Teses de Abril, a Conferência de Abril do Partido e o VI Congresso deste. As resoluções do Partido infundiram na classeoperária força e segurança no triunfo e lhe deram soluções para os problemas maisimportantes da Revolução. A Conferência de Abril encaminhou o Partido para a lutapela passagem da revolução democrático-burguesa para a revolução socialista. O VI Congresso orientou o Partido para a insurreição armada contra a burguesia e seugoverno provisório.

Os partidos oportunistas, social-revolucionários e mencheviques, anarquistas edemais partidos não comunistas, coroaram sua trajetória: todos eles se converteram,

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já antes da Revolução de Outubro, em partidos burgueses, defendendo a integridade ea conservação do regime capitalista. Só o Partido Bolchevique dirigiu as massas na sualuta pela derrubada da burguesia e a instauração do Poder aos Soviets.

Ao mesmo tempo, os bolcheviques esmagaram as tentativas dos capituladoresdentro do Partido, as tentativas de Zinoviev, Kamenev, Rykov, Bukharin, Trotsky,Piatakov e outros de desviar o Partido do caminho da Revolução Socialista.

A classe operária, dirigida pelo Partido Bolchevique, aliada aos camponesespobres e apoiada pelos soldados e os marinheiros, derrubou o Poder da burguesia,instaurou Poder dos Soviets, fundou um novo tipo de Estado, o Estado soviéticosocialista, aboliu a propriedade dos latifundiários sobre a terra, entregou esta emusufruto aos camponeses, nacionalizou toda a terra do país, expropriou os capitalistas,pôs termo à guerra conquistando a paz, obteve a necessária trégua e criou com isso ascondições indispensáveis para o desenvolvimento da construção socialista.

A Revolução Socialista de Outubro destruiu o capitalismo, arrebatou à burguesiaos meios de produção e converteu as fábricas e as empresas industriais, a terra, asestradas de ferro e os bancos em propriedade de todo o povo, em propriedade social.

Instaurou a ditadura do proletariado e entregou a direção de um imenso Estadoà classe operária, convertendo-a com isso em classe dominante.

Com isto, a Revolução Socialista de Outubro abre na história da Humanidadeuma nova era, a era das revoluções proletárias.

  

     

CAPÍTULO VIII

O PARTIDO BOLCHEVIQUE DURANTE O PERÍODO DAINTERVENÇÃO MILITAR ESTRANGEIRA E DA GUERRA CIVIL

(1918-1920) 

1 – Começa a intervenção militar estrangeira – Primeiro período daguerra civil. 

A assinatura da paz de Brest-Litovsk e o fortalecimento do Poder Soviético,como resultado da série de medidas de tipo econômico-revolucionário adotadas porele, nos momentos em que a guerra estava em seu apogeu nas frentes ocidentais,provocaram grande alarme entre os imperialistas da Europa ocidental e, sobretudo,entre os da Entente.

Os imperialistas do campo da Entente receavam que a paz entre a Alemanha ea Rússia aliviasse a situação militar da Alemanha, piorando assim, portanto, a situaçãodas tropas da Entente. Receavam, ainda mais, que a assinatura da paz entre a Rússiae a Alemanha acentuasse o anelo de paz em todos os países e em todas as frentes,

prejudicando deste modo a causa da guerra, a causa dos imperialistas. Receavam,finalmente, que a existência do Poder Soviético num território tão grande como o daRússia e os êxitos logrados por ele dentro do país, depois de ter derrubado o Poder daburguesia, fosse um exemplo contagioso para os operários e soldados dos paísesocidentais, nos quais fermentava um profundo descontentamento contra aquela guerrainterminável e que – seguindo o exemplo dos russos – podiam chegar a voltar asbaionetas contra seus amos e opressores. Por todas estas razões, os governos daEntente decidiram lançar-se à intervenção militar contra a Rússia, com o fim dederrubar o Poder Soviético e instaurar um Poder burguês que restabelecesse o regimecapitalista dentro do país, anulasse o tratado de paz com os alemães e refizesse afrente de guerra contra a Alemanha e a Áustria.

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Os imperialistas da Entente embarcaram alegremente nesta aventuratenebrosa, convencidos como estavam da instabilidade do Poder Soviético e certos deque, por pouco que seus inimigos se esforçassem, sua queda seria inevitável e rápida.

Maior ainda era o alarme que os êxitos do Poder Soviético e seu fortalecimentoinfundiam nas fileiras das classes derrubadas – entre os latifundiários e os capitalistas,- nas fileiras dos partidos derrotados – kadetes, mencheviques, social-revolucionários,anarquistas e nacionalistas burgueses de todos os matizes – e nas fileiras dos generaisbrancos, da oficialidade cossaca, etc.

Desde os primeiros dias do triunfo da Revolução de Outubro, todos esteselementos inimigos gritavam a pleno pulmão que o Poder Soviético não podia enraizar-se na Rússia, que estava condenado a morrer, que se desmoronaria forçosamente aocabo de uma ou duas semanas, dentro de um mês, ou no máximo de dois ou trêsmeses. E como o Poder Soviético, apesar dos exorcismos de seus adversários,continuava existindo e se reforçando, os seus inimigos dentro da Rússia viram-seobrigados a reconhecer que o novo Poder era muito mais forte do que eles haviampensado e que para derrubá-lo seria necessário desenvolver sérios esforços edesencadear uma luta feroz de todas as forças da contra-revolução. Em vista disto,decidiram desenvolver um amplo trabalho sedicioso e contra-revolucionário destinadoa agrupar as forças da contra-revolução, recrutar quadros militares e organizar asublevação, sobretudo, nas regiões dos cossacos e dos kulaks.

E assim, já no primeiro semestre do ano de 1918, formaram-se de um mododefinido dois grupos de forças dispostas a lutar para derrubar o Poder Soviético: no

estrangeiro, os imperialistas da Entente, e dentro da Rússia, a contra-revolução.Nenhuma destas duas forças contava com elementos suficientes para se lançarpor si só a conquistar o objetivo apetecido. A contra-revolução interior dispunha dealguns quadros militares, assim como de certa quantidade de homens, recrutadosprincipalmente entre os cossacos acomodados e os kulaks, com os quais necessitavacontar para desencadear a insurreição contra o Poder Soviético. Porém precisava dedinheiro e armas. Em compensação, os imperialistas estrangeiros tinham dinheiro earmas, porém não podiam “destinar” à intervenção a quantidade necessária de tropas,não só porque necessitavam delas para fazer a guerra contra a Alemanha e a Áustria,como também porque, estas tropas podiam tornar-se pouco seguras na luta contra oPoder Soviético.

As condições de luta contra os Soviets impunham a unificação de ambas àsforças anti-soviéticas, as do estrangeiro e as do interior. Com efeito, esta unificação se

consumou, no primeiro semestre do ano de 1918.Assim foi como se forjou a intervenção armada estrangeira contra o Poder

Soviético, apoiada pelas sedições contra-revolucionárias dos inimigos dos Sovietsdentro da Rússia.

Com isto, terminava a trégua e começava a guerra civil na Rússia, a guerra dosoperários e camponeses dos povos da Rússia contra os inimigos exteriores e interioresdo Poder Soviético.

Os imperialistas da Inglaterra, França, Japão e Estados Unidos começaram suaintervenção militar sem prévia declaração de guerra, apesar desta intervenção não sermais que uma guerra desencadeada contra a Rússia e uma guerra, além disso, da piorespécie. Estes bandoleiros “civilizados” estenderam as suas garras e desembarcaramsuas tropas no território russo, sub-repticiamente, como ladrões.

As tropas anglo-francesas desembarcaram no Norte da Rússia, ocuparamArkangelsk e Murmansk, apoiando a sublevação dos guardas brancos organizada nestaregião, derrubaram o Poder dos Soviets e criaram o chamado “governo do Norte daRússia”, governo faccioso de guardas brancos. 

As tropas japonesas desembarcaram em Vladivostok, apoderaram-se daProvíncia marítima, dissolveram os Soviets e apoiaram os guardas brancos facciososque se encarregaram depois de restaurar o regime burguês.

No Cáucaso do Norte, os generais Kornilov, Alexeiev e Denikin, apoiados pelosingleses e os franceses, organizaram um “exército voluntário” de guardas brancos,desencadearam uma sublevação de cossacos ricos e abriram a campanha contra osSoviets.

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Na região do Don, os generais Krasnov e Mamontov, apoiados secretamentepelos imperialistas alemães (o tratado de paz entre a Alemanha e a Rússia os impediade lhes prestar um apoio franco), desencadearam a sublevação dos cossacos do Don,ocuparam a região banhada por este rio e abriram também a campanha contra osSoviets.

Na região central do Volga e na Sibéria, os anglo-franceses intrigaram paraorganizar a sublevação do corpo de exército tchecoslovaco. Este corpo de exército,composto por prisioneiros de guerra, havia sido autorizado pelo Governo Soviético aregressar ao seu país pela Sibéria e Extremo Oriente. Em caminho, os social-revolucionários e os ingleses e franceses induziram-no a se sublevar contra o PoderSoviético. A sublevação deste corpo de exército foi o sinal para o levante sedicioso dos“kulaks” do Volga e da Sibéria e dos operários das fábricas de Votkinsk e Izhevskinfluenciados pelos social-revolucionários. Na região do Volga foi restaurado umgoverno de guardas brancos e social-revolucionários, com sede em Samara. Em Omsk,estabeleceu-se o governo dos guardas brancos da Sibéria.

A Alemanha não tomou nem podia tomar parte nesta campanha de intervençãodo bloco anglo-franco-japonês-norte-americano, entre outras coisas, pela simplesrazão de que se achava em guerra contra este bloco. Porém, apesar disto e daexistência de um tratado de paz entre a Rússia e a Alemanha, nenhum bolcheviqueabrigava a menor dúvida de que o governo alemão do Kaiser era um inimigo tão ferozdo país soviético como os intervencionistas ingleses, franceses, japoneses e norte-americanos. E, com efeito, os imperialistas alemães fizeram o possível e o impossível

para isolar, enfraquecer e afundar o país dos Soviets. Separaram a Ucrânia da Rússiasoviética – é certo que baseados num “tratado” com a Rada ucraniana -, introduziramsuas tropas na Ucrânia, a pedido da Rada ucraniana dos guardas brancos, começarama saquear e oprimir ferozmente o povo ucraniano, proibindo-o de manter o menorcontato com a Rússia soviética. Separaram desta a Transcaucásia, introduziram no seuterritório, a pedido dos nacionalistas georgianos e azerbaidjanos, tropas alemãs eturcas, começaram a mandar como amos e senhores em Tiflis e Baku, e ajudaram portodos os meios, embora sorrateiramente, com armas e provisões, o general Krasnov,sublevado no Don contra o Poder Soviético.

A Rússia soviética via-se deste modo isolada das regiões que eram suas fontesbásicas de abastecimentos, de matérias primas e de combustíveis.

A vida na Rússia soviética, durante este período foi terrivelmente dura.Escasseava o pão. Escasseava a carne. A fome mortificava os operários. Os operários

de Moscou e Petrogrado recebiam uma ração de pão de um oitavo de libra a cada doisdias. Havia dias em que não se distribuía nem um pedaço de pão. As fábricas estavamparadas ou trabalhavam muito pouco tempo, pois não havia matérias primas nemcombustíveis. A classe operária, porém, não se acovardava, nem se acovardava tãopouco o Partido bolchevique. As incríveis dificuldades deste período e a lutadesesperada contra elas revelaram como são inesgotáveis as energias que a classeoperária armazena e como é grande e incomensurável a força da autoridade do Partidobolchevique.

O Partido proclamou o país um acampamento de guerra e reconstruiusua vida econômica, política e cultural em consonância com isto. O Governo Soviéticodeclarou que “a pátria socialista estava em perigo” e chamou o povo à defesarevolucionária. Lênin lançou a palavra de ordem de “Tudo para a frente!”, e centenas

de milhares de operários e camponeses se alistaram como voluntários no ExércitoVermelho e foram para a frente. Cerca da metade do total de filiados ao Partido e àsJuventudes Comunistas foram ocupar o seu posto nas frentes de luta. O Partido pôs opovo de pé para a guerra de salvação da Pátria contra a invasão das tropas dosintervencionistas estrangeiros e contra a sublevação das classes exploradorasderrubadas pela revolução. O Conselho da Defesa operária e camponesa organizadopor Lênin, dirigia o envio de homens, víveres, equipamentos e armas para as frentes.A mudança do sistema do voluntariado ao serviço militar obrigatório levou para asfileiras do Exército Vermelho centenas de milhares de homens de reforço, e em poucotempo o Exército Vermelho se converteu num exército de um milhão de combatentes.

Apesar da duríssima situação do país e da pouca idade do Exército Vermelho,que ainda não havia logrado fortalecer-se, as medidas de defesa adotadas não

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tardaram em acarretar os primeiros êxitos. O general Krasnov foi repelido emTsaritsin, de cuja tomada estava seguro, e rechaçado para além do Don. As aventurasdo general Denikin ficaram localizadas dentro de uma região reduzida do Cáucaso doNorte, e o general Kornilov foi morto em combate contra o Exército Vermelho. Ostchecoslovacos e os bandos de social-revolucionários e guardas brancos foramdesalojados de Kazán, Simsbirsk e Samara e arrojados para os Urais. A sublevação doguarda branco Savinkov em Iaroslav, organizada pelo chefe da Missão inglesa emMoscou, Lockhart, foi esmagada e ele detido. Os social-revolucionários, que haviamassassinado os camaradas Uristski e Volodarski e perpetrado o atentado criminosocontra a vida de Lênin, foram submetidos ao terror vermelho em resposta ao terrorbranco desencadeado por eles contra os bolcheviques, sendo esmagados em todos ospontos mais ou menos importantes da Rússia central.

Nestes combates contra os inimigos se temperou e se fez forte e vigoroso ojovem Exército Vermelho.

Os comissários comunistas que atuaram durante este período no ExércitoVermelho desempenharam um papel decisivo na obra de fortalecimento do Exército,na obra de sua educação política, na obra de reforço de sua capacidade combativa e desua disciplina.

Compreendia, porém, o Partido bolchevique que estes êxitos do ExércitoVermelho não resolviam o problema, que só eram os êxitos iniciais. Compreendia queo aguardava novos combates, ainda mais encarniçados, e que o país só poderiarecobrar as regiões perdidas, que eram suas fontes de abastecimento de matérias

primas e de combustível, à custa de uma longa e dura luta contra seus inimigos. Poristo, os bolcheviques começaram a se preparar intensivamente para uma guerra longae decidiram pôr toda a retaguarda a serviço da frente. O Governo Soviético implantouo comunismo de guerra. O Poder dos Soviets pôs sob seu controle, além da grandeindústria, a indústria pequena e média, com o fim de acumular os artigos de primeiranecessidade para abastecer o exército e o campo. Implantou o monopólio do comérciodo trigo, proibiu o comércio privado de cereais e introduziu o sistema de cotização deprodutos agrícolas, com o objetivo de mobilizar toda a sobra dos produtos recolhidospelos camponeses, formar um estoque de trigo e abastecer de víveres o Exército e osoperários. Finalmente, implantou o trabalho obrigatório, extensivo a todas as classesda população. Esta incorporação da burguesia ao trabalho físico obrigatório permitiautilizar os operários para outros trabalhos mais importantes inclusive na frente, e comisto o Partido punha em prática, o principio de “quem não trabalha, não come”.  

Todo este sistema de medidas impostas pelas condições extraordinariamentedifíceis em que se devia organizar a defesa do país, tinha caráter provisório e seenglobava sob o nome de comunismo de guerra.

O país se preparava para uma longa e dura guerra civil contra os inimigosexteriores e interiores do Poder Soviético. Em fins do ano de 1918, houve necessidadede triplicar o contingente do exército. Este exército exigia que se acumulassem osmeios necessários para abastecê-lo.

 Eis como se expressava Lênin, por aqueles dias: “Decidimos ter um exército deum milhão de homens para a primavera: agora necessitamos um exército de trêsmilhões de homens. Podemos ter este exército e o teremos”. 

 2 – Derrota militar da Alemanha – A revolução alemã – Fundação da

Terceira Internacional – O VIII Congresso do Partido.   Enquanto o País Soviético se preparava para novos combates contra os

intervencionistas estrangeiros, no Ocidente, na retaguarda e nas frentes dos paísesbeligerantes, se produziam acontecimentos decisivos. A Alemanha e a Áustria iamficando exaustas entre os tormentos da guerra e da crise de subsistência. Enquanto aInglaterra, França e Estados Unidos mobilizavam novas reservas, a Alemanha e aÁustria esgotaram as últimas e exíguas reservas de que podiam dispor. Tal comoestava a coisa, a Alemanha e a Áustria, esgotadas a mais não poder, tinham que serderrotadas sem demora.

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Entretanto, ia fermentando dentro desses países a indignação do povo contraaquela guerra interminável e aniquiladora e contra os governos imperialistas dessespaíses que haviam conduzido o povo ao esgotamento e à fome. Também aqui serevelava a formidável influência revolucionária da Revolução de Outubro, de atos deconfraternização entre os soldados soviéticos e os soldados austro-alemães na frente,antes mesmo da paz de Brest-Litovsk e, depois desta, a influência da própriaterminação da guerra contra a Rússia Soviética e da paz concertada com ela. Oexemplo da Rússia, onde o povo pôs fim à guerra mediante a derrubada do seu própriogoverno imperialista, não podia deixar de servir de experiência aos operários austro-alemães. E os soldados alemães da frente oriental que haviam sido transferidos para afrente ocidental, depois da paz de Brest, tinham forçosamente que contribuir paradecompor o exército alemão ali destacado, com seus relatos acerca dos atos deconfraternização com os soldados soviéticos e acerca do modo como estes souberamdesembaraçar-se da guerra. Quanto ao exército austríaco, começara a se decompormesmo antes que o alemão, como resultado das mesmas causas. Todas estascircunstâncias contribuíram para aumentar nas tropas alemãs o anseio de paz, parafazer que já não dessem provas da mesma combatividade de antes e para quecomeçassem a retroceder ante o arrojo das tropas da Entente; no interior daAlemanha, estalou, em novembro de 1918, a revolução, derrubando o Kaiser e o seugoverno.

A Alemanha se viu obrigada a reconhecer sua derrota e a pedir a paz à Entente.Deste modo, a Alemanha, potência de primeira ordem, ficava reduzida de

repente, à situação de uma potência de segunda ordem.Do ponto de vista da situação do Poder Soviético, este fato exerceu certainfluência negativa, já que convertia os Estados da Entente, organizadores daintervenção contra o Poder Soviético na força dominante da Europa e da Ásia, dando-lhes a possibilidade de intensificar a intervenção e de organizar o bloqueio do paíssoviético, apertando ainda mais as muralhas em torno do poder dos soviets. E isto foi,com efeito, o que ocorreu, como veremos adiante. Porém, por outra parte, tinha umaimportância positiva ainda mais considerável, que vinha aliviar radicalmente a situaçãodo país dos Soviets. Em primeiro lugar, dava ao Poder Soviético a possibilidade deanular o tratado de paz bandido de Brest-Litovsk, de pôr fim aos pagamentos que lheforam impostos a título de indenização e de desenvolver uma luta aberta, no terrenomilitar e político, para libertar a Estônia, a Letônia, a Bielorússia, a Lituânia, a Ucrâniae a Transcaucásia do jugo do imperialismo alemão. Em segundo lugar – e isto era o

mais importante, - a existência no centro da Europa, na Alemanha, de um regimerepublicano e de Soviets de deputados operários e soldados, tinha necessariamenteque repercutir de um modo revolucionário, como de fato repercutiu, nos países daEuropa, circunstância que tinha de fortalecer a situação do Poder Soviético na Rússia.É verdade que a revolução não era uma revolução socialista, senão uma revoluçãoburguesa, e que os Soviets na Alemanha serviram de dócil instrumento ao parlamentoda burguesia, já que a sua direção estava nas mãos dos social-democratas, que eramoportunistas da laia dos mencheviques russos, circunstância que explicaespecialmente, a debilidade daquela revolução. Quanto era débil a revolução naAlemanha o demonstra um só fato: o de que permitisse que, pelos guardas brancosalemães fossem impunemente assassinados revolucionários de tanto prestígio comoRosa Luxemburgo e Karl Liebknecht. Porém apesar disso, era uma revolução; o Kaiser

foi derrubado do trono; os operários romperam suas cadeias e, ainda que não sehouvesse conseguido outra coisa, isto tinha necessariamente que fomentar a revoluçãono Ocidente, não podia deixar de provocar o auge da revolução nos países europeus.

A revolução começou a avançar na Europa. Na Áustria vinha se desenvolvendoo movimento revolucionário. Na Hungria foi proclamada a República dos Soviets. Aonda revolucionária fez aparecer os Partidos Comunistas na Europa.

Isto criou uma base real para a unificação dos Partidos Comunistas na TerceiraInternacional, na Internacional Comunista.

Em março de 1919, em Moscou, no primeiro Congresso dos PartidosComunistas de vários países, por iniciativa de Lênin e dos bolcheviques, foi fundada aInternacional Comunista. E ainda que o bloqueio e as perseguições dos imperialistasimpedissem a muitos delegados chegar a Moscou, tomaram parte neste primeiro

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Congresso representantes dos mais importantes países da Europa e da América. OCongresso foi dirigido por Lênin. No seu informe sobre a democracia burguesa e aditadura do proletariado, Lênin salientou a significação do Poder Soviético, como aautêntica democracia para os trabalhadores. O Congresso aprovou o Manifesto dirigidoao proletariado internacional, no qual se fazia um apelo à luta pela ditadura doproletariado e pelo triunfo dos Soviets em todos os países. Neste Congresso se elegeuo Comitê Executivo do Comintern, órgão executivo da Terceira Internacional ouInternacional Comunista.

Assim foi fundada esta organização proletária revolucionária internacional denovo tipo, a Internacional Comunista, Internacional marxista-leninista.

Numa situação formada por circunstâncias contraditórias, em que se reforçavao bloco reacionário de Estados da Entente contra o Poder Soviético, de uma parte, e,de outra, se acentuava o auge revolucionário na Europa, principalmente nos países quesaíram derrotados da guerra, circunstância que aliviava consideravelmente a situaçãodo País Soviético, se reuniu, em março de 1919, o VIII Congresso do Partidobolchevique.

Neste congresso participaram 301 delegados com direito de palavra e voto,representando 313.766 filiados. Havia, além disso, 102 delegados com palavra, porémsem direito a votar.

Lênin consagrou as primeiras palavras do seu discurso de abertura à memóriade I.M. Sverdlov, um dos melhores organizadores do Partido bolchevique, morto nasvésperas da abertura do Congresso.

Neste Congresso foi aprovado o novo programa do Partido.Define-se nele o que é o capitalismo e sua fase superior, o imperialismo.Comparam-se os dois sistemas de Estados: o sistema da democracia burguesa e osistema Soviético. Assinalam-se minuciosamente as tarefas concretas do Partido nasua luta pelo socialismo: levar até o fim a expropriação da burguesia, organizar aEconomia do país segundo um plano socialista único, fazer com que os sindicatosintervenham na organização da Economia nacional, implantar a disciplina socialista dotrabalho, utilizar os técnicos na Economia nacional, sob o controle dos órgãossoviéticos, incorporar gradual e planificadamente os camponeses médios ao trabalhoda edificação socialista.

O VIII Congresso aprovou por proposta de Lênin incluir no programa não só adefinição do imperialismo como etapa superior do capitalismo, como também adescrição do capitalismo industrial e do regime de produção simples de mercadorias,

que figurava no velho programa, aprovado no II Congresso do Partido. Lêninconsiderava necessário que fosse levada em conta no programa a complexidade daEconomia russa, e se assinalasse a existência no país de diversas formaçõeseconômicas, incluindo entre elas o regime de pequena produção de mercadorias, cujoexpoente era o camponês médio. Por isso, ao se discutir o programa, interveioenergicamente contra as idéias anti-bolcheviques de Bukharin, que propunha eliminardele os pontos em que se falava de capitalismo da pequena produção de mercadorias edo regime econômico do camponês médio. As idéias de Bukharin representavam anegação menchevique-trotskista da importância do camponês médio para a edificaçãosoviética. Ao mesmo tempo, Bukharin escondia o fato de que era o regime da pequenaprodução de mercadorias dos camponeses o que engendra e fomenta odesenvolvimento dos elementos “kulaks”. 

Lênin também combateu as idéias anti-bolcheviques de Bukharin e Piatakovsobre o problema nacional. Estes se manifestaram contra a inclusão no programa doponto no qual se reconhece o direito de autodeterminação das nações e sepronunciaram contra a igualdade de direitos dos povos, sob o pretexto de que estapalavra de ordem estorvava, segundo eles, o triunfo da revolução proletária edificultava a unificação dos proletários de diversas nacionalidades. Lênin lançou porterra estas funestas concepções fechadas e chauvinistas de Bukharin e Piatakov.

Nos trabalhos do VIII Congresso do Partido, ocupou um lugar importante oproblema da atitude que se devia adotar em face dos camponeses médios. Comoresultado do célebre decreto sobre a terra, a aldeia se convertia cada vez mais emaldeia de camponeses médios. Agora, estes formavam a maioria dentro da populaçãocamponesa. O estado de espírito e a conduta dos camponeses médios, vacilantes entre

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a burguesia e o proletariado, tinham uma importância enorme para a sorte da guerracivil e da edificação socialista. O desenlace da guerra civil dependia, em boa parte,para o qual lado se inclinasse o camponês médio, da classe que soubesse conquistá-lo,de que esta classe fosse o proletariado ou a burguesia. Se os tchecoslovacos, osguardas brancos, os kulaks, os social-revolucionários e os mencheviques lograramderrubar o Poder Soviético na região do Volga, no verão de 1918, foi porque contaramcom o apoio de uma parte considerável dos camponeses médios. E o mesmo ocorreunas sublevações organizadas pelos kulaks na Rússia central. A partir, porém do outonode 1918, o estado de espírito das massas de camponeses médios começou a seorientar resolutamente para o Poder Soviético. Os camponeses viam que o triunfo dosbrancos conduzia à restauração do poder dos latifundiários, com os conseqüentesdespojos de terras, saques, torturas e espancamentos de camponeses. Para estamudança operada quanto ao modo de pensar dos camponeses contribuiu também aatuação dos Comitês de camponeses pobres, que esmagou os kulaks. Em relação comisto, Lênin lançou, em Novembro de 1918, esta palavra de ordem:

 “Saber chegar a um acordo com os camponeses médios, sem cessar nem umminuto a luta contra os kulaks e tomando como sólido ponto de apoio somente oscamponeses pobres”. (Lênin, t. XXIII, pág. 294, ed. russa).

É certo que as vacilações existentes entre os camponeses médios não cessaramtotalmente, porém este setor da população camponesa se aproximou mais do PoderSoviético e começou a lhe prestar um apoio mais firme. Para isso contribuiu, em boaparte, a política traçada no VIII Congresso do Partido, em relação ao camponês médio.

O VIII Congresso marcou uma mudança na política do Partido a respeito doscamponeses médios. No informe de Lênin e nas resoluções do Congresso, destacou-sea nova linha do Partido em face deste problema. O Congresso exigiu que asorganizações do Partido e todos os comunistas estabelecessem uma rigorosa diferençae separação entre os camponeses médios e os kulaks, fazendo por atrair os primeirospara o lado da classe operária mediante uma política de atenção solícita às suasnecessidades. Era preciso lutar contra o atraso dos camponeses médios com o métododa persuasão, porém de modo algum com medidas de coação e de violência. Por isso,o Congresso traçou a forma de que, ao implantar medidas socialistas no campo (aocriar as comunas e os artels agrícolas), não se permitisse à coação. Sempre quefossem feridos os interesses fatais dos camponeses médios, era necessário chegar aum acordo prático com eles e lhes fazer concessões quanto à utilização dos métodosde implantação das transformações socialistas. O Congresso resolveu aplicar uma

política de sólida aliança com os camponeses médios, porém mantendo dentro dela opapel dirigente do proletariado.

A nova política de relações com os camponeses médios, preconizada por Lêninno VIII Congresso, exigia que o proletariado se apoiasse nos camponeses pobres,mantivesse uma sólida aliança com os camponeses médios e lutasse contra os kulaks.Até o VIII Congresso, o Partido havia seguido, em geral, a política de neutralizar oscamponeses médios. Isto é, seu objetivo era conseguir que o camponês médio não sepusesse ao lado do kulaks, ao lado da burguesia, em geral. Porém, agora, isto já nãobastava. O VIII Congresso passou da política de neutralização do camponês médio àpolítica de uma sólida aliança com ele para lutar contra a intervenção dos guardasbrancos e das tropas estrangeiras, assim como para a edificação vitoriosa dosocialismo.

A linha traçada pelo VIII Congresso a respeito da atitude que se devia seguircom as grandes massas camponesas, com os camponeses médios, teve umaimportância decisiva quanto ao desenlace vitorioso da guerra civil contra a intervençãoestrangeira e os guardas brancos que lhe serviam de auxiliares. No outono de 1919,quando tiveram que escolher entre o Poder Soviético e Denikin, os camponesesapoiaram os Soviets, e a ditadura proletária derrotou o seu mais perigoso inimigo.

No VIII Congresso se apresentou também, com caracteres especiais, oproblema da organização do Exército Vermelho. Neste Congresso, se destacou achamada “oposição militar”, na qual apareciam enquadrados não poucos dos antigos“comunistas de esquerda”. Porém justamente com estes representantes do“comunismo de esquerda”, já liquidado, a “oposição militar” englobava militantes doPartido que jamais haviam participado de nenhuma oposição, mas que estavam

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descontentes com a direção que Trotsky dava ao exército. A maioria dos delegadosmilitares estava acentuadamente contra Trotsky, contra sua admiração pelos técnicosmilitares procedentes do velho exército czarista, uma parte dos quais traiuabertamente o Poder Soviético na guerra civil, contra a atitude arrogante e hostil deTrotsky para com os velhos quadros bolcheviques dentro do exército. No Congresso seaduziram exemplos da “forma prática” como Trotsky tentara fuzilar toda uma série decomunistas que ocupavam postos responsáveis na frente e que não lhe agradavam,fazendo com isso o jogo do inimigo, e como só graças à intervenção do Comitê Centrale aos protestos dos militantes ativos da frente se conseguira evitar a morte dessescamaradas.

Entretanto, ainda que lutando contra o desvirtuamento da política militar doPartido por Trotsky, a “oposição militar” defendia concepções falsas a respeito de umasérie de problemas da organização do exército. Lênin e Stalin intervieramresolutamente contra a “oposição militar” que defendia as sobrevivências da guerrilhadentro do Exército e lutava contra a criação de um Exército Vermelho regular, contra oemprego dos técnicos militares, contra essa disciplina férrea sem a qual não podeexistir um verdadeiro exército. Combatendo a “oposição militar”, o camarada Stalinexigia a criação de um exército regular, compenetrado do espírito da mais severadisciplina.

 “Ou criamos – dizia o camarada Stalin – um verdadeiro exército operário-camponês, e predominantemente camponês, um exército rigorosamente disciplinado edefendemos a República, ou pereceremos”. 

 Ao mesmo tempo, porém, que rejeitava uma série de propostas da “oposiçãomilitar”, o Congresso assestou um golpe contra Trotsky, exigindo que se melhorasse aatuação dos organismos militares centrais e se reforçasse o papel dos comunistasdentro do Exército.

Como resultado do trabalho da comissão militar nomeada pelo Congresso,logrou-se que deste saísse uma resolução unânime sobre o problema militar.

As resoluções do VIII Congresso sobre o problema militar serviram parafortalecer o Exército Vermelho e estreitar ainda mais seus laços com o Partido.

O Congresso examinou, além disso, o problema da organização do Partido naatuação dos Soviets. Na discussão deste problema, o Congresso teve que rechaçar aposição do grupo oportunista Sapronov-Osinski, que negava o papel dirigente doPartido na atuação dos Soviets.

Finalmente, em relação com a enorme afluência de novos filiados, o Congresso

tomou a resolução de melhorar a composição social do Partido e rever os ingressos.Era o passo para a primeira depuração das fileiras do Partido.

 3 – Recrudesce a intervenção – Bloqueio do país soviético – Campanhade Kolchak e seu esmagamento – Campanha de Denikin e seuesmagamento – Uma trégua de três meses – O IX Congresso do Partido. 

Depois de derrotar a Alemanha e a Áustria, os Estados da Entente decidiramlançar grandes efetivos militares contra o país soviético. Ao se retirarem as tropasalemãs, depois da derrota, da Ucrânia e da Transcaucásia, vieram ocupar seu posto osanglo-franceses, que enviaram a esquadra ao Mar Negro e desembarcaram suas tropasem Odessa e na Transcaucásia. A conduta seguida pelos intervencionistas da Entente

nos territórios ocupados por eles era tão bestial, que chegavam a suprimir pelas armasgrupos inteiros de operários e camponeses. Depois de ocupar o Turquestão, aselvageria dos invasores levou-os a aprisionar e conduzir ao Transcáspio 26 dirigentesbolcheviques de Baku, os camaradas Shaumian, Filetov, Dzhaparidse, Malyguin,Asisbekov, Korganov e outros, assassinando-os bestialmente, com a ajuda dos social-revolucionários.

Algum tempo depois, os intervencionistas declararam o bloqueio da Rússia.Ficaram cortadas todas as comunicações marítimas e de outro gênero com o mundoexterior.

Com isso o país soviético se via cercado quase por todas as partes.

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A Entente depositava suas principais esperanças, naquele momento, noAlmirante Kolchak, posto por ela na Sibéria, em Omsk. Kolchak foi proclamado“regente supremo da Rússia”. Toda a contra-revolução russa se achava sob seucomando.

A frente oriental passou a ser, portanto, a frente principal da guerra civil.Na primavera de 1919, Kolchak, depois de reunir um formidável exército, se

aproximou quase até o Volga. Foram lançadas contra ele as melhores forçasbolcheviques: os jovens comunistas e os operários foram mobilizados. Em Abril de1919, o Exército Vermelho infligiu a Kolchak uma séria derrota. As tropas de Kolchaknão tardaram em começar o recuo em toda à frente.

No momento em que as operações ofensivas do Exército Vermelho na frenteoriental estavam em seu apogeu, Trotsky propôs um plano suspeito: deter-se diantedos Urais, cessar a perseguição dos kolchakistas e lançar as tropas da frente Orientalpara a frente sul. O C. C. do Partido, compreendendo perfeitamente bem que não erapossível deixar Urais e a Sibéria nas mãos de Kolchak, onde, com a ajuda dosjaponeses e dos ingleses, poderia refazer-se e pôr-se de novo em pé, rechaçou aqueleplano e deu instruções para prosseguir a ofensiva. Trotsky não concordando com estasinstruções, pediu demissão do seu posto; porém o CC se negou a isto, obrigando-o, aomesmo tempo, a não intervir na direção das operações da frente oriental. A ofensivado Exército Vermelho contra Kolchak continuou se desenvolvendo com renovado vigor.O Exército Vermelho infligiu-lhe uma série de novas derrotas e fez a limpeza dosbrancos nos Urais e na Sibéria, onde o Exército Vermelho se encontrava apoiado por

um potente movimento de guerrilheiros, organizados na retaguarda dos brancos.No verão de 1919, os imperialistas confiaram ao general Yudenich, que seachava dirigindo a contra-revolução na frente noroeste (na região do Báltico, próximade Petrogrado), a missão de distrair o Exército Vermelho da frente Oriental por meiodum ataque a Petrogrado. A guarnição de dois dos fortes que defendiam essa capital,atingida esta agitação contra-revolucionaria dos oficiais brancos, se revoltou contra oPoder Soviético, e no Estado Maior da frente foi descoberto um “complot” contra-revolucionário. O inimigo ameaçava Petrogrado. Porém, graças às medidas tomadaspelo Poder Soviético com a ajuda dos operários e dos marinheiros, os fortesamotinados foram limpos dos brancos, as tropas de Yudenich derrotadas, e o seucaudilho lançado para a Estônia.

A derrota de Yudenich perto de Petrogrado facilitou a luta contra Kolchak. Emfins de 1919, o seu exército ficou definitivamente desbaratado. Kolchak foi detido e

fuzilado em cumprimento da sentença baixada pelo Comitê Revolucionário.Kolchak foi, pois, liquidado.Na Sibéria, corria na boca do povo esta quadra depreciativa sobre Kolchak:

  

 “Uniforme inglês, Ombreira francesa,Tabaco japonêsDe Omsk o amo é.

 O uniforme se gastouA ombreira encolheu

O tabaco se fumou E o amo de Omsk se acabou”.  

Em vista de Kolchak não ter correspondido às esperanças nele depositadas, osintervencionistas mudaram o plano de agressão contra a República dos Soviets. Astropas desembarcadas em Odessa tiveram de voltar de novo para bordo dos seusnavios, pois o contato com as tropas da República Soviética lhes contagiava o espíritorevolucionário e já começavam a se sublevar contra seus opressores imperialistas.Assim, por exemplo, em Odessa se sublevaram os marinheiros franceses sob a direçãode André Marty. Tudo isto contribuiu para que, depois de esmagado Kolchak, a Ententeconcentrasse a atenção no general Denikin, companheiro de armas de Kornilov eorganizador do “exército voluntário”. Denikin operava contra o Poder Soviético,

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naquele momento, no Sul, na região do Kuban. A Entente o municiou com grandesquantidades de armas e o fez marchar para o Norte contra o poder dos Soviets.

Portanto, à frente Sul passava a ser a frente principal da guerra civil.Denikin começou a sua grande campanha contra o Poder Soviético no verão de

1919. Trotsky lançou por terra o trabalho realizado na frente sul, e as tropas soviéticassofreram derrotas, uma atrás da outra. Em meados de outubro, os brancos eramdonos de toda a Ucrânia, tomaram Orel e se aproximavam de Tula, que era o centroque abastecia o Exército Vermelho de cartuchos, fuzis e metralhadoras. Os brancos seaproximavam de Moscou. A situação da República Soviética era muito grave. O Partidodeu o grito de alarme e chamou o povo para a resistência. Lênin lançou a palavra deordem de “Todos à luta contra Denikin!” Os operários e os camponeses, respondendoao chamado dos Bolcheviques, puseram em jogo todas as suas forças para esmagar oinimigo.

Com o objetivo de organizar o esmagamento de Denikin, o Comitê Central doPartido enviou à frente Sul os camaradas Stalin, Voroshilov, Ordzhonikidse e Budieny.Trotsky foi afastado da direção das operações do Exército Vermelho no Sul. Antes dachegada do camarada Stalin, o comando da frente Sul, de acordo com Trotsky, haviapreparado um plano, segundo o qual o ataque principal contra Denikin se faria desdeTsaritsin sobre Novorossisk, através das estepes do Don, onde o Exército Vermelhoteria que marchar por um terreno completamente impraticável e atravessar regiõespovoadas por cossacos, uma parte considerável dos quais se achava então sob ainfluência dos guardas brancos. O camarada Stalin submeteu este plano a uma critica

demolidora e propôs ao Comitê Central outro, concebido por ele, para esmagarDenikin, em que o ataque principal seguiria a linha Kharkov-Bacia do Donetz-Rostov.Este plano assegurava uma marcha rápida das tropas do Exército Vermelho contraDenikin, pois nele se previa a passagem do Exército Vermelho por regiões operárias ecamponesas, isto é, por territórios em que a população simpatizava abertamente comas tropas soviéticas. Além disso, a rica rede ferroviária com que esta região contavapermitia abastecer o Exército Vermelho com regularidade, de todos os elementosnecessários. Finalmente, este plano oferecia a possibilidade de libertar a Bacia doDonetz, assegurando o aprovisionamento do país em combustível.

O Comitê Central aprovou o plano do camarada Stalin. Na segunda quinzena deoutubro de 1919, depois de encarniçada resistência, Denikin foi derrotado pelo ExércitoVermelho nos combates decisivos que se travaram perto de Orel e de Voronezh.Denikin começou a recuar com toda a pressa, dirigindo-se, precipitadamente, para o

Sul, perseguidos pelas tropas soviéticas. No começo de 1920, a Ucrânia e o CáucasoNorte tinham sido libertados do poder dos brancos.

Enquanto se travavam aqueles combates decisivos na frente Sul, osimperialistas voltaram a lançar o corpo de exército de Yudenich contra Petrogrado,com o fim de distrair da frente Sul forças do Exército Vermelho e de aliviar a situaçãodas tropas de Denikin. Os brancos chegaram até as portas de Petrogrado. O heróicoproletariado da capital formou com seus peitos uma muralha para defender a primeiracidade da revolução. Os comunistas lutaram, como sempre, na primeira linha. Depoisde furiosos combates, os brancos foram derrotados e lançados de novo para outro ladodas fronteiras da Rússia, para a Estônia.

Também Denikin foi, pois liquidado.Depois de esmagados Kolchak e Denikin, a trégua que sobreveio foi de curta

duração.Quando os imperialistas viram que as tropas dos guardas brancos eramdestroçadas, que a intervenção armada fracassava, que o Poder Soviético se fortaleciaem todo o país e que na Europa ocidental aumentava a indignação dos operários emface da guerra dos intervencionistas contra a República dos Soviets, começaram amudar de atitude para com o Estado Soviético. Em janeiro de 1920, a Inglaterra, aFrança e a Itália decidiram levantar o bloqueio da Rússia Soviética.

Era esta uma brecha importantíssima, que se abria no muro da intervenção.Isto não queria dizer, naturalmente, que o Estado Soviético pudesse dar já por

terminadas a intervenção e a guerra civil. Havia ainda o perigo de que a Polôniaimperialista se lançasse a um ataque. Os intervencionistas não haviam sido expulsosainda definitivamente do Extremo Oriente, da Transcaucásia nem da Crimeia. Não

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obstante, o país dos Soviets obtinha uma trégua passageira, da qual se podiaaproveitar para concentrar maiores forças na obra da edificação econômica. O Partidopôde ocupar-se dos problemas relacionados com a Economia nacional.

Durante a guerra civil, abandonaram a produção muitos operários qualificados,pela paralisação de fábricas e oficinas. Agora, o Partido reintegrava na produção estesoperários qualificados para que trabalhassem em suas especialidades. Forammobilizados alguns milhares de comunistas para a restauração dos transportes, cujasituação era muito difícil. Sem restaurar os transportes, não se podia pensarseriamente em restaurar os ramos fundamentais da indústria. Reforçou-se e melhorou-se também o abastecimento. Começou-se a traçar um plano de eletrificação do país.Achavam-se de armas nas mãos 5 milhões de combatentes do Exército Vermelho, quenão era possível licenciar, pois subsistia o perigo de guerra. Por isso, algumasunidades do Exército Vermelho foram convertidas num Exército de Trabalho,utilizando-as no terreno da edificação econômica. O conselho da Defesa operária ecamponesa se transformou no Conselho do Trabalho e da Defesa (S.T.O). Para auxiliá-lo, criou-se a Comissão do Plano de Estado (Gosplan).

Tal era a situação existente em fins de março de 1920 ao se reunir o IXCongresso do Partido.

Tomaram parte neste Congresso 554 delegados com direito de palavra e voto,representando 611.978 filiados ao Partido. Assistiram a ele, além disso, 162 delegadoscom palavra, porém sem voto.

O Congresso determinou as tarefas econômicas mais urgentes do país em

matéria de transportes e indústria, assinalando especialmente a necessidade de que ossindicatos tomassem parte na edificação econômica.Este Congresso consagrou atenção especial ao problema da formação dum

plano econômico de conjunto, destinado a pôr de novo em marcha, em primeiro lugar,o transporte, o combustível e a metalurgia. O eixo deste plano era o problema daeletrificação de toda a Economia Nacional, que Lênin destaca como “um grandeprograma para 10 ou 20 anos”. Sobre estas bases traçar-se-ia mais tarde o celebreplano GOELRO (plano de eletrificação do país), que hoje se acha ultrapassado.

 O Congresso combateu o grupo do “centralismo democrático”, grupo contrárioao Partido, que se manifestava contra o princípio da direção e da responsabilidadeindividuais nas empresas industriais e defendia o sistema da direção “coletiva” ilimitada e da irresponsabilidade na indústria. Os porta-vozes deste grupo anti-bolchevique eram Sapronov, Osinski e V. Smirnov. No Congresso, eram secundados

por Rykov e Tomski.    4 – Agressão dos “panis” polacos contra o País Soviético – Aparecimentodo general Wrangel – Fracasso do plano dos polacos – Esmagamento deWrangel – Fim da intervenção armada.  

 Apesar do esmagamento de Kolchak e Denikin, apesar do país soviético

aumentar cada vez mais seu território, libertando do poder dos brancos e dosintervencionistas a região do Norte, o Turquestão, Sibéria, o Don, Ucrânia etc., e

apesar da Entente se ver obrigada a levantar o bloqueio da Rússia, os Estados daEntente não se queriam resignar à idéia de que o Poder Soviético fosse inexpugnável eficasse vencedor. Decidiram, portanto, empreender uma nova tentativa de intervençãocontra o país soviético. Desta vez, os intervencionistas mobilizaram para a empresa,de uma parte, Pilsudski, nacionalista contra-revolucionário burguês, que era, de fato, ochefe do Estado polaco, e de outra parte o general Wrangel, que havia reunido naCrimeia os restos do exército de Denikin, ameaçando de lá a bacia do Donetz e aUcrânia.

 A Polônia dos “panis” (a nobreza latifundiária polaca) e Wrangel eram, segundoa expressão de Lênin, os dois braços do imperialismo internacional que tentavamestrangular o país soviético.

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O plano dos polacos era: ocupar a parte da Ucrânia Soviética situada à direitado Dnieper, anexar o território Soviético da Bielorússia, instaurar nessas regiões oPoder dos “panis” polacos, estender as fronteiras do Estado Polaco “de mar a mar”,isto é, de Dantzig a Odessa, e, em pagamento pela ajuda que lhes prestaria Wrangel,ajudar este a destruir o Exército Vermelho e restaurar na Rússia Soviética o poder doslatifundiários e capitalistas.

Este plano foi aprovado pelos Estados da Entente.As tentativas do Governo Soviético de entrar em negociações com a Polônia

para manter a paz e impedir a guerra não deram resultado nenhum. Pilsudski nãoqueria falar em paz. Pilsudski queria a guerra. Especulava com a idéia de que oscombatentes do Exército Vermelho, cansados das campanhas de Kolchak e Denikin,seriam esmagados pelas tropas polacas.

A breve trégua terminou.Em abril de 1920, as tropas polacas lançaram-se sobre a fronteira da Ucrânia

Soviética e ocuparam a cidade de Kiev. Ao mesmo tempo, Wrangel passou à ofensiva ecomeçou a ameaçar a bacia de Donetz.

Como réplica ao ataque das tropas polacas, as tropas do Exército Vermelholançaram uma contra-ofensiva em toda à frente. Depois de libertar a cidade de Kiev, ede expulsar os “panis” polacos da Ucrânia e da Bielorússia, os combatentes vermelhosda frente Sul chegaram, em impetuoso avanço, até as portas de Lemberg, na Galitzia,enquanto que as tropas da frente ocidental se aproximaram de Varsóvia. A derrotatotal do exército dos “panis” polacos era iminente.  

Mas os manejos suspeitos de Trotsky e seus adeptos do Estado Maior Centraldo Exército Vermelho frustraram os êxitos deste. A ofensiva das tropas vermelhas dafrente ocidental em direção a Varsóvia se desenvolveu – por culpa de Trotsky e deTukachevski – sem organização alguma: não se fez com que as tropas fortificassem asposições conquistadas; as unidades que marchavam na frente se afastaram demasiadodo resto das forças; as reservas e as munições ficaram atrasadas na retaguarda com oque as unidades da vanguarda se viam abandonadas, sem munições e sem reservas: alinha de frente era interminavelmente longa, podendo, portanto, romper-se a frentecom grande facilidade. Assim se explica que, quando um pequeno grupo de tropaspolacas rompeu a frente ocidental do Exército Vermelho num de seus pontos, as tropasvermelhas, que estavam sem munições, se viram em má situação, obrigadas a seretirar. Quanto às tropas da frente Sul, que se achavam às portas de Lemberg, ondemantinham os polacos em má situação, o triste “presidente do Conselho

Revolucionário de Guerra”, Trotsky, lhes proibiu que tomassem a cidade e ordenou queo exército de cavalaria, isto é, a principal força da frente Sul, se dirigisse a um pontolonge da frente Noroeste, sob pretexto de que se tratava de acudir em socorro dafrente ocidental, ainda que não fosse difícil compreender que a única e a melhor ajudaque se podia prestar a esta frente era a tomada da cidade de Lemberg. Ao contrário,retirar da frente Sul o exército de cavalaria, afastando-o de Lemberg, equivalia, defato, a fazer extensiva à frente meridional a retirada das tropas do Exército Vermelho.Assim foi como a ordem sabotadora de Trotsky impôs às tropas do Exército Vermelhoda frente Sul, com alegria dos “panis” polacos, uma retirada inconcebível eabsolutamente injustificável.

Com esta manobra, se ia efetivamente, em socorro, não de nossa frenteocidental, mas dos “panis” polacos e da Entente. 

Alguns dias depois, conteve-se a ofensiva das tropas polacas, e o ExércitoVermelho começou a se preparar para um novo ataque contra os polacos. A Polônia,porém, que carecia de forças para prosseguir a guerra e que, alarmada, esperava ocontra-ataque dos vermelhos, foi obrigada a renunciar às suas ambições a respeito daocupação do território ucraniano situado à margem direita do Dnieper e da Bielorússia,propondo ao Governo Soviético a paz. Em 20 de Outubro de 1920, assinou-se em Rigao tratado de paz com a Polônia, em virtude do qual esta conservava o território daGalitzia e uma parte da Bielorússia.

Depois de estabelecer a paz com a Polônia, a República Soviética decidiuterminar com Wrangel. Este recebera dos ingleses e dos franceses novas remessas dearmas moderníssimas: carros blindados, tanques, aviões e munições em abundância.Dispunha de unidades brancas de choque, formadas, principalmente, por oficiais. Não

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logrou, porém mobilizar um contingente mais ou menos considerável de camponeses ede cossacos em torno dos desembarques efetuados por ele no Kuban e no Don. Nãoobstante, aproximou-se da própria bacia do Donetz, ameaçando os centroscarboníferos do país dos Soviets. A situação do Poder Soviético se complicava, alémdisso, porque o Exército Vermelho estava já, então, bastante cansado. As tropasvermelhas foram obrigadas a avançar em condições extremamente difíceis, atacandoas tropas de Wrangel e lutando, ao mesmo tempo, com os bandos dos anarquistas deMajno, que ajudavam o general branco. Porém apesar de Wrangel ter em seu favor asuperioridade da técnica, apesar de carecerem as tropas soviéticas de tanques, oExército Vermelho expulsou Wrangel para península da Crimeia. Em novembro de1920, as tropas vermelhas tomaram as posições fortificadas de Perekop, irromperamna Crimeia, esmagaram as tropas de Wrangel e libertaram essa península das mãosdos guardas brancos e dos intervencionistas. A Crimeia passou a formar parte doterritório soviético.

Com o fracasso dos planos megalômanos dos polacos e a derrota de Wrangelterminou o período da intervenção.

Para o fim de 1920 a Transcaucásia começou a se ver livre do jugo dosnacionalistas burgueses: musavatistas no Azerbaijão, nacional mencheviques naGeórgia e dashnakes na Armênia. O Poder Soviético triunfou em Azerbaijão, Armênia eGeórgia.

Com isto, porém, não terminou completamente a intervenção. A intervençãoarmada dos japoneses no Extremo Oriente continuou até 1922. Houve, além disso,

várias tentativas destinadas a organizar outra intervenção (tais como as do atamanSeminov e do barão Ungern, no Oriente, e a intervenção branco-finlandesa na Carélia,em 1921). Porém os principais inimigos do país do soviético, as forças fundamentaisda intervenção, ficaram destruídas em fins de 1920.

A guerra dos intervencionistas estrangeiros e dos guardas brancos russoscontra o País Soviético terminou com o triunfo dos Soviets.

A República Soviética soube defender sua liberdade e sua independência comoEstado.

Assim terminaram a intervenção armada estrangeira e guerra civil.Foi este um triunfo histórico do Poder Soviético.

 5 – Como e porque o país soviético venceu as forças coligadas da

intervenção anglo-franco-nipo-polaca e da contra-revolução dosburgueses, latifundiários e guardas brancos dentro da Rússia. 

Se se procurar em qualquer dos grandes jornais europeus, ou americanos daépoca da intervenção, comprovar-se-á facilmente que nenhum escritor militar ou civilde mais destaque, nenhum conhecedor das coisas da guerra, acreditava no triunfo doPoder Soviético. Ao contrário, todos os escritores de prestígio, todos os conhecedoresdos assuntos da guerra, todos os historiadores das revoluções de todos os países epovos, todos as chamados homens de ciência gritavam em coro que os dias do PoderSoviético estavam contados, que a derrota do Poder Soviético era inevitável.

Inspirava-lhe esta confiança no triunfo dos intervencionistas o fato do paíssoviético não contar ainda com um Exército Vermelho organizado, de ter que criá-loem plena marcha, por assim dizer, ao passo que os intervencionistas e os guardas

brancos dispunham de um exército mais ou menos preparado.Essa confiança era também inspirada no fato de que o Exército Vermelho não

contava com quadros militares habilitados, já que a maioria dos comandos se passarapara o campo da contra-revolução, enquanto que os intervencionistas e os guardasbrancos possuíram bons quadros militares.

Era inspirada, além disso, no fato de que o Exército Vermelho dispunha dearmas e munições em pequeno número e de má qualidade, em conseqüência do atrasoda indústria de guerra da Rússia e da impossibilidade de recebê-las de outros países,posto que o bloqueio a mantinha isolada, enquanto que o exército dosintervencionistas e dos guardas brancos era abundantemente abastecido e ocontinuaria sendo com armas, munições e equipamentos de primeira classe.

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Era inspirada, finalmente, no fato de que o exército dos intervencionistas e dosguardas brancos ocupava, então, as regiões mais ricas em víveres da Rússia, enquantoque o Exército Vermelho carecia destas bases e se achava mal abastecido.

E é verdade que nas unidades do Exército Vermelho notavam-se todas estasdeficiências e penúrias.

Nisso, e somente nisso, tinham absoluta razão os senhores intervencionistas.Como, então, se pode explicar que o Exército Vermelho, sobre o qual pesavam

desvantagens tão consideráveis, derrotasse o exército dos intervencionistas e dosguardas brancos, que não contavam com elas?

1) O Exército Vermelho venceu, porque a política do poder Soviético, em nomeda qual combatia, era uma política que correspondia aos interesses do povo; porque opovo sentia e compreendia esta política como justa como a sua política própria, e aapoiava até o fim.

Os bolcheviques sabiam que um exército, que luta em nome de uma políticafalsa, de uma política que não conta com o apoio do povo, não pode vencer. Era isto oque ocorria ao exército dos intervencionistas e dos guardas brancos. Este exércitocontava com tudo: com comandos antigos e hábeis, com armamentos de primeiraclasse, com munições, com equipamentos, com provisões. Só lhe faltava uma coisa: oapoio e a simpatia dos povos da Rússia que não queriam, nem podiam apoiar a políticados intervencionistas e dos guardas brancos erigidos em “governantes”, política estacontrária ao povo. Por isto, o exército dos intervencionistas e dos guardas brancos foiderrotado.

2) O Exército Vermelho venceu, porque era um exército abnegado e fiel semreservas ao seu povo, por cuja razão este o queria e o apoiava, como um exército deseu próprio sangue. O Exército Vermelho é filho do povo, e um exército como este, fielao seu povo como o filho fiel o é a sua mãe, conta sempre com o apoio do povo e temnecessariamente que vencer. Pelo contrário, o exército que vai contra o povo,forçosamente tem que sair derrotado.

3) O Exército Vermelho venceu, porque o Poder Soviético soube por em pé todaa retaguarda todo o país ao serviço dos interesses da frente. Um exército sem umaretaguarda forte, que apóie por todos os meios a frente, está condenado à derrota. Osbolcheviques sabiam disto; portanto, converteram todo o país em um acampamentode guerra, que abastecia a frente de armas, munições, equipamentos, provisões ereservas.

4) O Exército Vermelho venceu: a) porque os seus combatentes compreendiam

os fins e as tarefas da guerra e tinham consciência da sua justeza; b) porque estaconsciência da justeza dos fins e das tarefas da guerra fortalecia neles o espírito dedisciplina e combatividade; c) porque isto fazia com que as massas de combatentes doExército Vermelho dessem a cada passo, na luta contra o inimigo, provas deabnegação maravilhosa e de heroísmo de massas nunca visto.

5) O Exército Vermelho venceu, porque o núcleo dirigente da frente e daretaguarda do Exército Vermelho era o Partido bolchevique, unido por sua coesão esua disciplina, forte por seu espírito revolucionário e por sua decisão de afrontarqualquer sacrifício, contanto que triunfasse a causa comum, não superado porninguém quanto à capacidade para organizar as massas de milhões de homens edirigi-las acertadamente nas situações mais complicadas.

 “Graças a que o Partido – disse Lênin – estava alerta, graças a que o Partido

tinha uma disciplina severa, e a que a autoridade do Partido servia de traço de uniãoentre todos os departamentos e organismos, e as palavras de ordem que o CC davaeram seguidas como por um só homem por dezenas, centenas, milhares, e em últimainstância, por milhões; graças a que se afrontavam os sacrifícios mais inauditos: sógraças a tudo isto, pôde realizar-se o milagre que se realizou. Só graças a isto, apesarda dupla, da tríplice, da quádrupla campanha dos imperialistas da Entente e dosimperialistas do mundo inteiro, pudemos sair vencedores” (Lênin, t. XXV pág. 96, ed.russa).

6) O Exército Vermelho venceu: a) porque soube forjar nas suas fileiras chefesmilitares de novo tipo como Frunze, Voroshilov, Budiony e outros; b) porque nas suasfileiras lutavam heróis natos como Kotovski, Chapaiev, Lasó, Schors, Parkhomenko etanto outros; c) porque a educação política do Exército Vermelho estava a cargo de

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militantes como Lênin, Stalin, Molotov, Kalinin, Sverdlov, Kaganovich, Ordzhonikidse,Kirov, Kuibyshev, Mikoian, Zhdanov, Andreev, Petrovski, Iaroslavski, Ezhov,Dzerzhinski, Schadienko, Meilis, Iruschev, Shvernik, Shkiriatov e outros; d) porque oExército Vermelho tinha no seu seio, organizadores e agitadores tão destacados comoos comissários de guerra, que com a sua atuação souberam cimentar as fileiras doscombatentes vermelhos, inculcaram-lhes o espírito de disciplina e de intrepidezguerreira, cortavam energicamente – de modo rápido e implacável – os atos de traiçãode alguns comandos, e pelo contrário, fortaleciam audaz e resolutamente a autoridadee o prestígio daqueles comandos que pertencessem ou não ao Partido, demonstravama sua lealdade abnegada ao Poder Soviético e revelavam sua capacidade para dirigircom mão firme as unidades do Exército Vermelho.

 “Sem os comissários de guerra, não teríamos Exército Vermelho”, dizia Lênin. 7) O Exército Vermelho venceu, porque na retaguarda dos exércitos dos

guardas brancos, na retaguarda de Kolchak, Denikin, Krasnov e Wrangel, trabalhavamna clandestinidade uma série de excelentes bolcheviques, com e sem caderneta, quepunham em pé os operários e camponeses e os sublevavam contra osintervencionistas e os guardas brancos, que solapavam a retaguarda dos inimigos doPoder Soviético, facilitando com isso os avanços do Exército Vermelho. É sabido portodos como os guerrilheiros da Ucrânia, da Sibéria, do Extremo Oriente, do Ural, daBielorússia e da região do Volga minavam a retaguarda dos guardas brancos e dosintervencionistas, prestando assim ao Exército Vermelho uma ajuda inestimável.

8) O Exército Vermelho venceu, porque o país soviético não estava só na luta

contra a contra-revolução dos guardas brancos e a intervenção estrangeira, porque aluta do Poder Soviético e os seus êxitos despertaram a simpatia e atraíram a ajuda dosproletários do mundo inteiro. Enquanto que os imperialistas tentavam estrangular aRepública Soviética com a intervenção e o bloqueio, os operários destes mesmospaíses imperialistas estavam ao lado dos Soviets e os ajudavam. Sua luta contra oscapitalistas dos países inimigos da República Soviética contribuiu para que osimperialistas fossem obrigados a desistir da intervenção. Os operários da Inglaterra, daFrança e de outros países intervencionistas organizaram greves, negavam-se aembarcar armas e munições para os intervencionistas e os generais brancos e criavam“Comitês de ação” sob a palavra de ordem de “Fora às mãos da Rússia”. 

 “Tão rápido como a burguesia internacional – dizia Lênin – levanta a mãocontra nós, os seus próprios operários lhe seguram o braço”. (Obra citada, pág. 405). 

 

       

RESUMO 

 Os latifundiários e capitalistas, derrotados pela Revolução de Outubro, em uniãocom os generais brancos se mancomunaram, às custas dos interesses de sua pátria,

com os governos dos países da Entente para desencadear uma agressão militar conjunta contra o país dos Soviets e derrotar o Poder Soviético. Sobre estas bases seorganizou a intervenção armada da Entente e a sublevação dos guardas brancos naperiferia da Rússia, em conseqüência das quais o País Soviético ficou isolado de seuscentros de aprovisionamento e de suas bases de matérias primas.

A derrota militar da Alemanha e a liquidação da guerra das duas coalizõesimperialistas da Europa conduziram ao fortalecimento da Entente e ao recrudescimentoda intervenção, criando novas dificuldades ao país dos Soviets.

Ao contrário, a revolução na Alemanha e o movimento revolucionário iniciadonos países europeus criaram uma situação internacional favorável para o Poder Soviético e aliviaram a situação do país dos Soviets.

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O Partido Bolchevique pôs em pé os operários e os camponeses para a guerrade salvação da Pátria, contra os anexionistas estrangeiros e os guardas brancosburgueses e latifundiários. A República Soviética e o seu Exército Vermelho foramesmagando uma após outra todas as criaturas da Entente: Kolchak, Yudenich, Denikin,Krasnov e Wrangel, e expulsaram da Ucrânia e da Bielorússia mais outra criatura,Pilsudski, rechaçando assim a intervenção armada estrangeira e limpando todo oterritório soviético das tropas intervencionistas.

Portanto, a primeira agressão armada do capital internacional contra o país dosocialismo terminou com uma bancarrota completa daquele.

Os partidos derrotados pela revolução, os social-revolucionários, osmencheviques, os anarquistas, os nacionalistas, apoiaram durante o período daintervenção armada os generais brancos e os intervencionistas, organizaram “complôs” contra-revolucionários contra a República dos Soviets e atos de terrorismo contra osmilitantes soviéticos. Estes partidos, que antes da Revolução de Outubro tinhamconseguido uma certa influência entre a classe operária, durante o período da guerracivil ficaram completamente desmascarados aos olhos das massas do povo comopartidos contra-revolucionários.

O período da guerra civil e da intervenção armada marca o aniquilamentopolítico destes partidos e o triunfo definitivo do Partido Comunista no País Soviético.

     

          

         

CAPÍTULO IX 

O Partido Bolchevique Durante o Período de Transição aoTrabalho Pacífico de Restauração da Economia Nacional 1 – O País Soviético depois da liquidação da intervenção armada e daguerra civil – As dificuldades do período de restauração da economia. 

 Depois de pôr fim à guerra, o País Soviético começou a encaminhar a obra deedificação pacífica da Economia nacional. Era necessário restaurar a Economia nacionaldestruída, pôr em ordem a indústria, o transporte e a agricultura.

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Esta obra de edificação pacífica se empreendeu em condiçõesextraordinariamente difíceis. O triunfo na guerra civil não se arrancou facilmente. Opaís estava arruinado pelos quatro anos de guerra imperialista e os três anos de lutacontra a intervenção armada.

Em 1920, a produção global da agricultura, comparada com a de antes daguerra, era somente a metade. E tenha-se em conta que o nível da produção agrícolade antes da guerra era o mísero nível próprio da aldeia russa dos tempos do czarismo.O ano de 1920 foi, além disso, em muitas províncias, um ano de má colheita. Aeconomia camponesa atravessava uma situação difícil.

Mais desastrosa ainda era a situação da indústria. A produção da grandeindústria, em 1920, era quase sete vezes menor que a de antes da guerra. A maioriadas fábricas estava parada e os poços mineiros destruídos e inundados. A metalurgiase encontrava em situação especialmente difícil. Durante todo ano de 1921, a fundiçãode ferro não passou de 116.300 toneladas, o que representava aproximadamente, 3%da produção de ferro fundido de antes da guerra. Havia grande escassez decombustível. O transporte estava desfeito. As reservas de metal e de artigosmanufaturados, com que contava o país, estavam quase totalmente esgotadas.Escasseavam de modo alarmante os artigos de primeira necessidade: o pão, asgorduras, a carne, o calçado, as peças de roupa, os fósforos, o sal, o petróleo, osabão.

Enquanto durou a guerra, o povo se resignava a suportar esta escassez, e àsvezes, nem se quer se apercebia dela. Ao cessar a guerra, porém, começou a sentir

que esta situação era insuportável e a exigir que fosse remediada imediatamente.Os camponeses davam mostras de descontentamento. Sob o fogo da guerracivil, se formara e se consolidara a aliança político-militar entre os camponeses e aclasse operária. Esta aliança se apoiava numa base concreta: o Poder Soviético deraaos camponeses a terra e os defendia contra os latifundiários e os kulaks; oscamponeses forneciam aos operários os artigos alimentícios segundo o sistema decotas.

Agora, porém, esta base era já insuficiente.O Estado Soviético se via obrigado a apoderar-se, com o regime da quotização,

de toda a sobra da produção dos camponeses, por exigirem assim as necessidades dadefesa do país. Sem o regime da quotização, sem a política do comunismo de guerra,não teria sido possível triunfar na guerra civil. A política do comunismo de guerra foiimposta pela própria guerra, pela intervenção armada. Enquanto durou a guerra, os

camponeses se submeteram à quotização e não se apercebiam da escassez demercadorias, porém ao terminar a guerra e desaparecer a ameaça da volta doslatifundiários, começaram a manifestar seu descontentamento pela requisição dassobras dos produtos, do sistema da quotização, e a exigir que lhes fornecessemmercadorias em quantidade suficiente.

Todo o sistema do comunismo de guerra chocou-se, como dizia Lênin, com osinteresses dos camponeses.

O descontentamento começava a repercutir também na classe operária. Oproletariado suportou o peso principal da guerra civil, lutando heróica eabnegadamente contra as regiões dos guardas brancos e dos intervencionistas, contrao desastre econômico e a fome. Os melhores operários, os mais conscientes, os maisabnegados e disciplinados, eram os mais entusiasmados na luta pelo socialismo. Porém

a desastrosa situação de desmoronamento da Economia repercutia também sobre aclasse operária. As poucas fábricas e empresas industriais que ainda trabalhavamdiminuíram consideravelmente o seu ritmo de trabalho. Os operários foram obrigadosa fazer toda a classe de ofícios, fabricar isqueiros, e, com um saco no ombro, irprocurar comida nas aldeias. Começava a vacilar o fundamento de classe da ditadurado proletariado; a classe operária ia se disseminando, parte dos operários emigravapara a aldeia, deixavam de ser operários, perdiam sua condição de classe. A fome e ocansaço engendravam o descontentamento de uma parte dos operários.

Ante o Partido, apresentava-se a tarefa de traçar uma nova orientação arespeito de todos os problemas da vida econômica do país, em consonância com anova situação.

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O Partido enfrentou a tarefa de traçar esta nova orientação a respeito dosproblemas da edificação econômica do país.

O inimigo de classe não dormia, porém. Procurava aproveitar-se da difícilsituação que atravessava a economia, procurava aproveitar-se do descontentamentodos camponeses. Estalaram sublevações de kulaks, organizadas pelos guardas brancose os social-revolucionários, na Sibéria, na Ucrânia, na província de Tambov (a rebeliãode Antonov).  Começaram a se mover os elementos contra-revolucionários, de todosos matizes: mencheviques, social-revolucionários, anarquistas, guardas brancos enacionalistas burgueses. O inimigo mudou os métodos táticos de luta contra o PoderSoviético. Começou a se disfarçar com as cores soviéticas e sua palavra de ordem jánão era o velho grito fracassado de “Abaixo os Soviets!”, e sim o novo grito de “PelosSoviets, porém sem os comunistas!”. 

Uma manifestação flagrante da nova tática do inimigo de classe foi àsublevação contra-revolucionária de Kronstadt, que estalou em Março de 1921, umasemana antes de começar o X Congresso do Partido. Esta sublevação foi dirigida pelosguardas brancos, em contato com os social-revolucionários, os mencheviques erepresentantes de Estados estrangeiros. Nos primeiros momentos, os sublevados seesforçaram em encobrir com a cortina “soviética” sua aspiração de restaurar o Poder ea propriedade dos capitalistas e dos latifundiários. A sua palavra de ordem era:“Soviets sem comunistas!”. 

A contra-revolução pretendia aproveitar-se do descontentamento das massaspequeno-burguesas para derrubar o Poder dos Soviets, sob uma palavra de ordem

aparentemente soviética.Duas circunstâncias contribuíram para facilitar a sublevação produzida emKronstadt: o fato de haver piorado a contextura de classe dos marinheiros dasguarnições dos navios de guerra e a débil organização bolchevique existente naquelabase naval. Os velhos marinheiros que haviam tomado parte na Revolução de Outubromarcharam quase em bloco para a frente, onde se bateram heroicamente nas fileirasdo Exército Vermelho. Entraram a servir na esquadra novas classes de marinheiros,não temperados na revolução. Estas novas classes se compunham de camponesestípicos que vinham diretamente da aldeia e nos quais se refletia o descontentamentoda população do campo com o sistema da quotização. Além disso, a organizaçãobolchevique de Kronstadt se encontrava então, muito enfraquecida por toda uma sériede mobilizações para a frente. Estas circunstâncias permitiram aos social-revolucionários, aos mencheviques e aos guardas brancos penetrar sub-repticiamente

em Kronstadt e ganhar esta base.Os sublevados fizeram-se donos da magnífica fortaleza, da frota e de uma

enorme quantidade de armas e munições. A contra-revolução internacional cantavavitória. Era prematuro, porém, o júbilo dos inimigos do Poder Soviético. As tropassoviéticas dominaram rapidamente os sediciosos. O Partido enviou contra ossublevados de Kronstadt os seus melhores filhos, os delegados do X Congresso, com ocamarada Voroshilov à frente. Os combatentes do Exército Vermelho marcharamcontra Kronstadt, pisando sobre uma delgada camada de gelo. O gelo se rompeu emuitos deles pereceram afogados. Foi necessário lançar-se ao assalto contra os fortesquase inexpugnáveis de Kronstadt. Mas a bravura e a abnegação revolucionária, oentusiasmo daqueles homens, dispostos a dar sua vida pelo Poder Soviético,venceram. As tropas vermelhas tomaram de assalto a fortaleza de Kronstadt e sua

sublevação foi liquidada. 2 – Discussão no Partido acerca dos Sindicatos – O X Congresso doPartido – E derrotada a oposição – Passa-se à Nova Política Econômica(NEP). 

 Para o Comitê Central do Partido, para a sua maioria leninista, era evidenteque, depois de se terminar a guerra e de entrar no período de edificação pacífica daEconomia, não havia já razão para manter em pé o severo regime do comunismo deguerra, imposto pelas circunstâncias da guerra e do bloqueio.

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O CC compreendia que desaparecera a necessidade da quotização, que eranecessário substituir este sistema pelo imposto em espécie, para dar ao camponês apossibilidade de empregar como bem entendesse uma grande parte da sobra da suaprodução. Compreendia que esta medida permitiria levantar a agricultura, incrementara produção de cereais e os cultivos técnicos necessários para o desenvolvimento daindústria, ativar a circulação de mercadorias dentro do país, melhorar o abastecimentodas cidades e assentar uma nova base econômica para a aliança entre os operários ecamponeses.

O CC notava também que a reanimação da indústria constituía uma tarefa deprimeiríssima ordem, porém entendia que não era possível conseguir isto seminteressar a classe operária e os seus sindicatos, que para ganhar os operários paraesta causa era necessário convencê-los de que o desastre econômico era um inimigotão perigoso para o povo como a intervenção armada e o bloqueio, e que o Partido eos sindicatos conseguiriam, indubitavelmente, sair vitoriosos desta tarefa, sempre equando não atuassem sobre a classe operária por meio de ordens militares, seguindoos métodos aplicados na frente, onde era realmente necessário proceder deste modo,mas por meio da persuasão, por meio do convencimento.

Não pensavam, porém, todos os membros do Partido como o CC. Grupos daoposição – os trotskistas, a “oposição operária”, os “comunistas de esquerda”, os“centralistas democráticos”, etc. – achavam-se em um estado de confusão e devacilação diante da passagem para a senda da edificação pacífica da economia. NoPartido havia não poucos antigos mencheviques, social-revolucionários, bundistas,

“borotbistas” [1] e toda a sorte de seminacionalistas da periferia da Rússia. Em grandeparte estes elementos aderiram a uns ou a outros grupos da oposição. Como não eramverdadeiros marxistas, nem conheciam as leis que regem o desenvolvimentoeconômico, nem tinham a têmpera dos militantes leninistas do Partido, esta gente nãofazia mais que acentuar a dispersão e as vacilações dos grupos da oposição. Algunsdeles entendiam que não era necessário afrouxar o severo regime do comunismo deguerra, mas pelo contrário, o que faltava era “continuar apertando os parafusos”.Outros opinavam que o Partido e o Estado deviam desinteressar-se do problema darestauração da Economia nacional, deixando-o totalmente nas mãos dos sindicatos.

Era evidente que ante esta confusão apareceriam, em certos setores do Partido,pessoas dadas a discutir, diversos “lideres” da oposição, que pugnariam para arrastaro Partido a um debate.

E, com efeito, assim ocorreu.

A discussão começou pelo problema do papel dos sindicatos, apesar de não sereste, então, o problema mais importante na política do Partido.

O paladino da discussão e da luta contra Lênin e contra a maioria leninista doCC era Trotsky. Com o objetivo de agravar a situação, interveio na reunião dosdelegados comunistas à V Conferência dos Sindicatos de toda a Rússia, celebrada emcomeços de novembro de 1920, sustentando a duvidosa palavra de ordem de “apertaros parafusos” e “sacudir os sindicatos”. Exigia, além disso, que se procedesse àimediata “estatificação dos sindicatos”. Trotsky era contrário ao método da persuasãodas massas operárias e advogava transplantar aos sindicatos os métodos militares. Eracontrário ao desenvolvimento da democracia dentro dos sindicatos e a provisão doscargos sindicais por eleições.

Em vez do método da persuasão, sem o que seria inconcebível a atuação das

organizações operárias, os trotskistas preconizavam o método da coação pura esimples, de mandar, sem admitir ponderações. Onde se apoderavam da direçãosindical, os trotskistas, com sua política, não faziam mais que provocar nos sindicatosconflitos, divisões e discórdias. Com a sua política, os trotskistas faziam com que amassa sem partido se colocasse contra este e semeavam a desunião da classeoperária.

A discussão acerca dos sindicatos tinha, na realidade, uma importância quetranscendia em muito os limites do problema sindical. Como mais tarde assinalou aresolução do pleno do CC do Partido Comunista (b) da Rússia (17 de janeiro de 1925),de fato a polêmica girava em torno da atitude que se devia tomar com os camponesesque se rebelavam contra o comunismo de guerra, em torno da atitude que se deviatomar com a massa de operários sem partido, e em geral, em torno do método de

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como o Partido devia abordar as massas, num período em que a guerra civil já haviaterminado (Resoluções do PC (b) da URSS, parte I, pág. 651).

Depois de Trotsky, intervieram também outros grupos contrários aoPartido: a “oposição operária” (Shliapnikov, Medvediev, Kolontai e outros), os“centralistas democráticos” (Sapronov, Drobin, Boguslavski, Osinski, V. Smirnov, etc.),e os “comunistas de esquerda” (Bukharin e Preobrazhenski).  

 A “oposição operária” formulava a palavra de ordem de entregar a direção detoda a Economia nacional ao “Congresso de produtores de toda a Rússia”. Reduzia azero o papel do Partido e tirava toda a significação à ditadura do proletariado noterreno da edificação econômica. Contrapunha os sindicatos ao Estado Soviético e aoPartido Comunista. Segundo ela, a forma mais alta de organização da classe operárianão era o Partido, e sim os sindicatos. No fundo, a “oposição operária” era um grupode tipo anarco-sindicalista, contrário ao Partido.

 O grupo do “centralismo democrático” (os deistas) reivindicava a liberdademais completa para a formação de frações e grupos dentro do Partido. Como ostrotskistas, os “centralistas democráticos” se esforçavam em solapar o papel dirigentedo Partido dentro dos Soviets e dos Sindicatos. Lênin dizia deles que eram a fração“dos que gritavam mais forte”, e que a sua plataforma era social-revolucionária-menchevique.

Na luta contra Lênin e o Partido, Trotsky foi ajudado por Bukharin. Foieste quem, em união com Preobrazhenski, Serebriakov, e Sokolnikov, criou um grupo“pára-choque”. Este grupo defendia e encobria os divisionistas mais perniciosos: os

trotskistas. Lênin qualificou a conduta de Bukharin como “o cúmulo da decomposiçãoideológica”. Pouco depois os bukharinistas se uniram abertamente aos trotskistascontra Lênin.

Lênin e os leninistas dirigiam, principalmente, os seus tiros contra ostrotskistas, nos quais viam a força principal dos grupos anti-bolcheviques. Acusavamos trotskistas de confundir os sindicatos com organizações de tipo militar, fazendo-lhesver que não era possível transplantar aos sindicatos os métodos próprios daquelasorganizações. Em face da plataforma dos grupos de oposição, Lênin e os leninistasformularam a sua própria. Nesta se sustentava que os sindicatos eram uma escola degoverno, uma escola de administração econômica e uma escola de comunismo. Ossindicatos deviam organizar todo o trabalho na base do método da persuasão. Sóassim poderiam levantar todos os operários para a luta contra o desastre econômico econseguiriam interessa-los pela obra da edificação socialista da Economia nacional.

Na luta contra os grupos da oposição, as organizações do Partido cerraram assuas fileiras em torno de Lênin. A luta adquiriu um caráter especialmente agudo emMoscou. Era aí onde a oposição concentrava suas principais forças, ambicionandoapoderar-se da organização do Partido nessa capital. Porém os bolcheviques deMoscou combateram devidamente as manobras dos divisionistas. A luta nasorganizações do Partido na Ucrânia também se revestiu de caracteres agudos. Sob adireção do camarada Molotov que era então secretário do CC do Partido Comunista (b)da Ucrânia, os bolcheviques ucranianos esmagaram os sequazes de Trotsky eShliapnikov. O Partido Comunista da Ucrânia continuou sendo um baluarte fiel doPartido Leninista. Em Baku, o esmagamento da oposição se organizou sob a direção docamarada Ordzhonikidse. Na Ásia Central, foi o camarada Lázaro Kaganovich quemdirigiu a luta contra os grupos contrários ao Partido.

Todas as organizações fundamentais de base do Partido aderiram à plataformaleninista.Em 8 de março de 1921, o X Congresso do Partido inaugurou suas tarefas.

Assistiram a ele 694 delegados com direito de palavra e voto, representando 732.521filiados, e 296 delegados com palavra, porém sem voto.

O Congresso fez o balanço da discussão sobre os sindicatos e aprovou por umamaioria esmagadora a plataforma leninista.

No seu discurso de abertura do Congresso, Lênin declarou que esta discussãorepresentava um luxo intolerável. Assinalou que o inimigo fazia seu jogo com a lutaintestina e a discórdia dentro do Partido Comunista.

Notando o enorme perigo que representava para o Partido bolchevique e para aditadura do proletariado a existência de grupos divisionistas, o X Congresso consagrou

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atenção especial ao problema da unidade do Partido. Acerca deste ponto Lênin deu oinforme. O Congresso condenou todos os grupos da oposição e destacou que estesgrupos “de fato, ajudam os inimigos de classe da revolução proletária”. 

O Congresso ordenou a imediata dissolução de todos os grupos divisionistas eencarregou todas as organizações para que velassem rigorosamente pela execuçãodesta resolução; bem entendido que o não cumprimento das decisões do Congressoacarretaria a expulsão indiscutível e imediata do Partido. O Congresso deu plenospoderes ao Comitê Central para que este, em caso de infração da disciplina por partede qualquer dos seus membros e em caso de que ressuscitasse ou se permitissequalquer fração, aplicasse quantas sanções de Partido fossem necessárias, chegandoinclusive a expulsar do Comitê Central e do Partido quem infringisse suas resoluções.

Todas estas decisões figuravam em uma resolução especial “Sobre a unidade doPartido”, redigida por Lênin e aprovada pelo Congresso. 

Nesta resolução, o Congresso chamava a atenção de todos os filiados ao Partidopara o fato de que a unidade e a coesão dentro das suas fileiras, a unidade de vontadeda vanguarda do proletariado era especialmente necessária num momento comoaquele em que se celebrava o X Congresso do Partido, em que uma série decircunstâncias contribuíram para acentuar as vacilações existentes entre a populaçãopequeno-burguesa.

 “Entretanto – dizia-se na resolução do Congresso, - no Partido se tinhamrevelado, já antes da discussão entabulada em todas as suas organizações acerca dossindicatos, alguns sintomas de divisionismo, isto é, de formação de grupos com uma

plataforma especial e com a tendência a constituir até certo ponto grupos à parte comsua disciplina própria. É necessário que todo operário consciente compreendaclaramente o caráter pernicioso e inadmissível de todo divisionismo, o qual conduzinevitavelmente, na prática, ao esfacelamento do trabalho fraternal e às tentativasacentuadas e repetidas dos inimigos, que se infiltram sempre nas fileiras de um Partidogovernamental, com o objetivo de aprofundar as dissensões dentro deste e servir-sedelas para os fins da contra-revolução”. Em outro lugar desta mesma resolução, dizia oCongresso:

 “De que forma os inimigos do proletariado se aproveitam de todos os desviosda linha comunista, rigorosamente traçada, revelou-o de modo bem claro o exemploda sublevação de Kronstadt, na qual a contra-revolução burguesa e os guardasbrancos de todos os países do mundo se mostraram imediatamente dispostos a acatarinclusive a palavra de ordem do regime soviético, na medida em que pudessem

derrubar a ditadura do proletariado na Rússia, no que os social-revolucionários e acontra-revolução burguesa, em geral, deram acolhidas, em Kronstadt, à palavra deordem da insurreição simulando fazê-lo em nome do Poder Soviético contra o GovernoSoviético da Rússia. Estes fatos demonstram plenamente que os guardas brancosaspiram a disfarçar-se e sabem disfarçar-se de comunistas e até de gente ainda “maisesquerdista” que eles, com o fim de enfraquecer e derrubar o baluarte da revoluçãoproletária na Rússia.

Os folhetos mencheviques que circularam em Petrogrado nas vésperas dasublevação de Kronstadt revelam ao mesmo tempo como os mencheviques seaproveitavam das discrepâncias existentes dentro do Partido Comunista da Rússia,para estimular e apoiar de fato os sediciosos de Kronstadt, os social-revolucionários eguardas brancos, embora de palavra se fizessem passar por adversários dos sediciosos

e partidários do Poder Soviético, do qual segundo eles, só os separavam algumasdiferenças de pouca monta”. A resolução indicava que a propaganda do Partido devia explicar

minuciosamente quão pernicioso era o divisionismo do ponto de vista da unidade doPartido e da consecução da unidade de vontade da vanguarda do proletariado, comocondição fundamental para o triunfo da ditadura proletária.

De outra parte, a propaganda do Partido – dizia a citada resolução doCongresso – devia explicar a peculiaridade dos novíssimos métodos táticos postos emprática pelos inimigos do Poder Soviético.

 “Estes inimigos – destacava a resolução, – convencidos do fracassoirremediável da contra-revolução sob a bandeira descarada dos guardas brancos,encaminham agora todos os seus esforços, aproveitando-se das dissensões existentes

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dentro do Partido Comunista da Rússia, para passar de contrabando a contra-revolução por meio da entrega do Poder aos grupos políticos mais dispostos, emaparência, ao reconhecimento do Poder Soviético”. (Resoluções do PC (b) da URSS”,parte I, págs. 373-374).

 Esta resolução indicava, ao mesmo tempo, que a propaganda do Partido “deviaexplicar também a experiência das anteriores revoluções, em que a contra-revoluçãoapoiava os grupos pequeno-burgueses mais próximos do partido revolucionário maisavançado, para fazer vacilar e derrubar a ditadura revolucionária, abrindo assim ocaminho para dar, a seguir, o triunfo completo à contra-revolução, aos capitalistas eaos latifundiários”. 

 Intimamente unida à resolução “Sobre a unidade do Partido” se achava outraresolução “Sobre o desvio sindicalista e anarquista dentro do nosso Partido”, tambémigualmente aprovada pelo Congresso por proposta de Lênin. Nesta resolução, o XCongresso condenava a chamada “oposição operária”. O Congresso considerou que apropaganda das idéias do desvio anarco-sindicalista era incompatível com o fato demilitar no Partido Comunista e exortava o Partido a lutar resolutamente contra estedesvio.

O X Congresso tomou a importantíssima resolução de passar do sistema daquotização ao do imposto em espécie, de passar à nova política econômica (“NEP”). 

 Esta mudança do comunismo de guerra para a “nova política econômica” revelatoda a sabedoria e a profundidade de visão da política leninista.

Na resolução do Congresso, tratava-se da substituição do regime das quotas

pelo do imposto em espécie. Este imposto era menor que o da quotização. O tipo deimposto se devia tornar público antes da semeadura da primavera, os prazos deentrega do imposto se assinalavam com toda a precisão. Tudo que excedesse doimposto se deixava à livre e plena disposição do camponês, a quem se concedialiberdade de vender esses produtos. A principio, a liberdade de venda se traduzia – dizia Lênin no seu informe – em uma certa reanimação do capitalismo dentro do país.Será necessário consentir o comércio privado e autorizar aos particulares dedicados àindústria a abertura de pequenas empresas. Não havia, porém motivo para ter medo aisto. Lênin entendia que uma certa liberdade de circulação de mercadorias estimulariao interesse econômico do camponês, incrementaria a produtividade do seu trabalho eelevaria rapidamente o rendimento da agricultura; que sobre esta base se restaurariaa indústria do Estado e se desalojaria o capital privado; que depois de acumular forçase recursos, se poderia criar uma potente indústria, base econômica para o socialismo,

e logo depois passar decididamente à ofensiva, para destruir os restos do capitalismodentro do país.

O comunismo de guerra foi a tentativa de tomar de assalto, atacando de frentea fortaleza dos elementos capitalistas da cidade e do campo. Neste ataque, o Partidoavançou demasiado, expondo-se ao perigo de perder o contato com sua base. Agora,Lênin propunha efetuar um pequeno recuo, retroceder provisoriamente para seaproximar da retaguarda, passar da luta por assalto ao método mais lento de cercar afortaleza, para acumular forças, e logo depois se lançar de novo ao ataque.

Os trotskistas e outros elementos da oposição entendiam que a NEP era,exclusivamente, uma retirada. Esta interpretação favorecia os seus interesses, já que alinha que eles seguiam era a de restaurar o capitalismo. Esta, porém era umainterpretação da NEP, profundamente perniciosa e antileninista. Com efeito, um ano

depois de se implantar a NEP, no XI Congresso do Partido, Lênin declarava que o recuohavia terminado e lançou a seguinte palavra de ordem: “Preparação da ofensiva contrao capital privado” (Lênin t. XXVII pág. 213, ed. russa).

Os elementos da oposição, que eram maus marxistas e supinamente ignorantesem matéria de política bolchevique, não compreendiam nem a essência da NEP, nem ocaráter do recuo empreendido ao se iniciar esta. Da essência da NEP já falamos. Comrelação ao caráter do recuo, diremos que há várias classes de recuo. Há momentos emque os partidos ou os exércitos se vêm obrigados a recuar por terem sofrido umaderrota, e nestes casos o exército ou o partido recua para se salvar e salvar seusquadros com vistas a novos combates. Não era esta a classe de recuo que Lêninpropusera ao se implantar a NEP, já que o Partido, não só não havia sofrido umaderrota, nem estava vencido, senão que, pelo contrário, era ele quem havia derrotado

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os intervencionistas e os guardas brancos na guerra civil. Mas há também momentos,em que um partido ou um exército vitorioso, em seu ataque, avança demasiado, semdeixar assegurada uma base na retaguarda. E isto constitui um perigo grave. Em taiscasos, um partido ou um exército experimentado sente em geral, para não perder ocontato com sua base, a necessidade de retroceder um pouco, aproximando-se daretaguarda, para estabelecer um contato mais forte com sua base nela, assegurando-se de tudo aquilo que necessita, e poder logo depois lançar-se de novo ao ataque, commaior segurança e garantia de êxito. Esta classe de recuo temporário era precisamentea que Lênin aplicara com a NEP. Informando perante o IV Congresso da InternacionalComunista acerca das causas que obedecera a implantação da NEP, Lênin declaroupublicamente que “com a nossa ofensiva econômica tínhamos avançado demasiado enão tínhamos assegurado uma base suficiente”, razão por que foi necessário efetuarum recuo passageiro para a retaguarda consolidada.

A desgraça da oposição estava em que não compreendia, na sua ignorância,nem compreendeu até o fim dos seus dias, esta característica peculiar que o recuo daNEP representava.

A resolução do X Congresso acerca da NEP assegurava uma sólida aliançaeconômica entre a classe operária e os camponeses para a edificação do socialismo.

Outra das resoluções do Congresso que perseguia também esta finalidadefundamental, era a referente ao problema nacional.

O informe acerca deste ponto ficou a cargo do camarada Stalin. Acabamos – disse o camarada Stalin – com a opressão nacional, porém isto não basta. O problema

consiste em acabar com a onerosa herança do passado, com o atraso econômico,político e cultural dos antigos povos oprimidos. É necessário ajudá-los a se colocar, aeste respeito, no nível da Rússia Central.

O camarada Stalin destacava, além disso, dois desvios contrários ao Partido notocante ao problema nacional: o chauvinismo grão russo, e o do nacionalismo localista.O Congresso condenou ambos os desvios como perniciosos e perigosos para ocomunismo e o internacionalismo proletário. Ao mesmo tempo, porém, dirigiu seusataques, principalmente, já que representava o perigo fundamental, contra ochauvinismo grão-russo, isto é, contra os vestígios e as sobrevivências da atitude queos chauvinistas grão-russos adotavam ante as nacionalidades não russas, sob oczarismo. 3 – Primeiros resultados da “NEP” – O XI Congresso do Partido – Fundação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – Enfermidadede Lênin – O Plano Cooperativo de Lênin – O XII Congresso do Partido. 

 A implantação da NEP chocou com a resistência dos elementos instáveis doPartido. Esta resistência vinha de dois lados. De uma parte, atuavam os tagarelas de“esquerda”, abortos políticos no estilo de Lominadse, Shatskin e outros, os quais“demonstravam” que a NEP era a renúncia às conquistas da Revolução de Outubro, avolta ao capitalismo, o afastamento do Poder Soviético. Sua ignorância em matéria depolítica e seu desconhecimento das leis do desenvolvimento econômico incapacitavamestes indivíduos para compreender a política do Partido e faziam-nos cair no pânico efomentar em torno de si um ambiente de desmoralização, de decadência. De outraparte, atuavam os capituladores declarados, da estirpe de Trotsky, Radek, Zinoviev,

Sokolnikov, Kamenev, Shliapnikov, Bukharin, Rykov e outros que não tinham fé napossibilidade de desenvolvimento socialista do país soviético, prosternavam-se ante a“potência” do capitalismo e, aspirando a fortalecer as posições dele no país dosSoviets, exigiam que se fizessem grandes concessões ao capital privado, tanto dentrodo país como fora dele, e que se lhe desse uma série de postos importantes do PoderSoviético na Economia nacional, à base de concessões ou de sociedades por açõesmixtas com participação do capital privado.

Nem uns nem outros tinham nada a ver com o marxismo, com o leninismo.O Partido desmascarou e isolou uns e outros elementos, dando uma réplica

contundente aos semeadores de pânico e aos capituladores.

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Esta resistência que se opunha à política do Partido mostrava uma vez mais anecessidade de depurar este dos elementos pouco firmes. Com relação a isso, o CCdesenvolveu um grande trabalho de fortalecimento do Partido, organizando em 1921 adepuração de suas fileiras. A depuração foi feita nas assembléias públicas, comintervenção dos sem partido. Lênin aconselhava que se depurasse conscienciosamenteo Partido “dos malandros, dos elementos burocratizados, dos indivíduos poucohonrados, dos comunistas vacilantes e dos mencheviques que, embora tivessemrebocado sua „fachada‟, em espírito continuavam sendo mencheviques” (Lênin, t.XXVII, pág. 13 ed. russa).

Como conseqüência desta depuração, foram expulsas do Partido, em conjunto,170.000 pessoas, ou seja, cerca de 25% do total de filiados.

Esta depuração fortaleceu consideravelmente o Partido, melhorou a suacontextura social, reforçou a confiança das massas no Partido e fez com queaumentasse a sua autoridade. A coesão e o grau de disciplina do Partido cresceram.

O primeiro ano de aplicação da nova política econômica evidenciou a justezadesta política. A mudança para a NEP fortaleceu consideravelmente a aliança entre osoperários e os camponeses, sobre uma nova base. Aumentaram a potência e afortaleza da ditadura do proletariado. Liquidou-se quase totalmente o banditismo doskulaks. Depois da abolição do sistema de quotas, os camponeses médios ajudaram oPoder Soviético a lutar contra aqueles bandos. O Poder Soviético conservava nas suasmãos todas as posições de direção da Economia nacional: a grande indústria, ostransportes, os bancos, a terra, o comércio interno e externo. O Partido conseguiu

mudar decisivamente a frente econômica. Manifestaram-se os primeiros êxitos nocampo da indústria e dos transportes. Iniciou-se um avanço, lento no começo, éverdade, porém indubitável, no terreno da Economia. Os operários e os camponesessentiam e viam que o Partido estava em bom caminho.

Em março de 1922, se reuniu o XI Congresso do Partido. Assistiram a ele 522delegados com direito de palavra e voto, representando 532.000 filiados; isto é,menos que no Congresso anterior. Os delegados com palavra, porém sem voto, eram165. A diminuição da cifra dos filiados se explica pela depuração das fileiras do Partido,que já tinha começado.

Neste Congresso, foi feito o balanço do primeiro ano da nova políticaeconômica. Os resultados obtidos permitiram a Lênin declarar perante o Congresso:

 “Durante um ano, retrocedemos. Agora, devemos declarar em nome do Partido:Basta! O objetivo que perseguíamos com o nosso recuo foi alcançado. Este período

chega ao seu fim ou já finalizou. Agora, passa ao primeiro plano outro objetivo:reagrupar as forças.” (Lênin, t. XXVIII, pág. 238, ed. russa).

Lênin destacou que a NEP era uma luta desesperada, uma luta de vida ou demorte, entre o capitalismo e o socialismo. “Quem vencerá a quem?”, assim estavaproposto o problema. Para vencer, era necessário assegurar os laços entre a classeoperária e os camponeses, entre a indústria socialista e a economia camponesa,desenvolvendo por todos os meios o intercâmbio de mercadorias entre a cidade e ocampo. Para isto era preciso aprender a administrar, era preciso aprender acomercializar de um modo inteligente.

Neste período, o elo fundamental da cadeia de tarefas que se apresentavam aoPartido era o comércio. Sem resolver este problema, era impossível desenvolver ointercâmbio de mercadorias entre a cidade e o campo, era impossível fortalecer a

aliança econômica entre os operários e os camponeses, era impossível levantar aeconomia rural e tirar do marasmo a indústria.Naquele momento, o comércio soviético era ainda muito débil. O aparelho

comercial era muito fraco, os comunistas não tinham hábitos comerciais, ainda nãoconheciam a fundo o inimigo – “nepman” (7) - nem tinham aprendido a lutar contraele. Os comerciantes privados, os nepman, aproveitando-se da debilidade do comérciosoviético, se apoderaram do comércio dos artigos manufaturados e de outrasmercadorias de fácil colocação. O problema da organização de um comércio de Estadoe de um comércio cooperativo adquiria uma imensa importância.

Depois do XI Congresso, tomou novas forças o trabalho de tipo econômico.Foram liquidadas com êxito as conseqüências acarretadas pela má colheita. AEconomia camponesa ia-se refazendo rapidamente. O funcionamento das estradas de

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ferro se aperfeiçoava. Aumentava sem cessar o número de fábricas e empresasindustriais que trabalhavam.

Em outubro de 1922, a República Soviética festejou um grande triunfo: OExército Vermelho e os guerrilheiros do extremo-oriente limparam a cidade deVladivostok dos intervencionistas japoneses, que era o único setor do territóriosoviético ocupado ainda pelos invasores. Agora que todo o território soviético estavalimpo de intervencionistas, que as tarefas da edificação do socialismo e da defesa dopaís exigiam que se fortalecesse ainda mais a união dos povos soviéticos, pôs-se naordem do dia o problema de aglutinar mais estreitamente ainda as RepúblicasSoviéticas dentro de uma União de Estados. Era necessário unificar todas as forçaspopulares para a construção do socialismo. Era necessário organizar energicamente adefesa do país. Era necessário assegurar o pleno desenvolvimento de todas asnacionalidades da Pátria socialista. Para conseguir isto, compunha-se a necessidade deagrupar mais estreitamente ainda todos os povos do país soviético.

Em Dezembro de 1922, celebrou-se o primeiro Congresso dos Soviets de toda aUnião. Neste Congresso fundou-se por proposta de Lênin e Stalin a união voluntária elivre formada pelos Estados dos povos soviéticos: a União das Repúblicas SocialistasSoviéticas (URSS). Faziam parte da URSS, no inicio, a República Socialista FederativaSoviética da Rússia (RSFSR), a República Socialista Federativa Soviética daTranscaucásia (RSFST), a República Socialista Soviética da Ucrânia, (USSU) e aRepública Socialista Soviética da Bielorússia (RSSB). Pouco tempo depois, seconstituíram na Ásia Central três Repúblicas Soviéticas independentes dentro da

União: as Repúblicas do Uzbequistão, Turcomenistão e Tadzikistão. Todas estasRepúblicas se agruparam na União dos Estados Soviéticos, a URSS, sobre a base desua livre vontade, com direitos iguais, e conservando cada uma delas a faculdade deabandonar livremente a União Soviética.

A fundação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas representava ofortalecimento do Poder Soviético e um grande triunfo da política leninista-stalinista doPartido Bolchevique a respeito do problema nacional.

Em novembro de 1922, Lênin interveio na sessão plenária do Soviet de Moscou.Fazendo o balanço dos cinco anos de existência do Poder Soviético, expressou a suafirme convicção de que “da Rússia da NEP sairia a Rússia socialista”. Foi o últimodiscurso que pronunciou ante o país. No outono de 1922, o Partido experimentou umagrande desgraça: Lênin caiu gravemente enfermo. Todo o Partido, todos ostrabalhadores, seguiam profundamente penalizados, a enfermidade de Lênin. Todo o

país estava dependente, com angústia, daquela vida tão preciosa. Lênin, porém nãointerrompeu seu trabalho, apesar da enfermidade. Estando já gravemente doente,ainda escreveu uma série de artigos importantíssimos. Nestes artigos que foram osúltimos, fazia o balanço do trabalho realizado e traçava o plano da construção dosocialismo no país Soviético, mediante a incorporação dos camponeses à obra daedificação socialista. Neste projeto, Lênin destacava o seu plano cooperativo, destinadoa trazer os camponeses á causa da edificação do socialismo.

Lênin via na cooperação em geral, e na cooperação agrária em particular, ocaminho exeqüível e lógico para milhões de camponeses, pelo qual se podia passar dapequena exploração individual para as grandes agrupações cooperativas da produção:kolkhoses. Destacava que o caminho pelo qual devia seguir o desenvolvimento daeconomia agrícola no País Soviético era de incorporar os camponeses à edificação

socialista por meio da cooperação, ir infundindo gradualmente na agricultura osprincípios do coletivismo, começando pela esfera da venda, para passar depois para aesfera da produção agrícola. Salienta que o regime da ditadura do proletariado e daaliança da classe operária com os camponeses, assegurada a direção dos camponesespelo proletariado e com a existência de uma indústria socialista, a cooperação para aprodução, da cooperação bem organizada que abarcasse milhões de camponeses, erao caminho pelo qual se poderia construir no país Soviético uma sociedade socialistacompleta.

Em abril de 1923, celebrou-se o XII Congresso do Partido. Era o primeiroCongresso que se reunia, depois da tomada do Poder pelos bolcheviques, sem apresença pessoal de Lênin. Tomaram parte nele 408 delegados com direito de palavrae voto, representando 386.000 filiados, isto é menos que no Congresso anterior. Era o

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resultado da persistente depuração das fileiras do Partido, em conseqüência da qualtinham sido expulsos dele uma percentagem considerável de filiados. A esteCongresso, assistiram, além disso, 417 delegados com palavra, porém sem voto.

Nas resoluções tomadas pelo XII Congresso foram levadas na devida contatodas as indicações feitas por Lênin nos seus últimos artigos e cartas.

O Congresso combateu energicamente todos os que interpretavam a NEP comoum abandono das posições socialistas, como uma rendição destas posições aocapitalismo, todos os que se propunham entregar às garras deste. Foi isto o quepreconizaram no Congresso os adeptos de Trotsky, Radek e Krasin. Estes sepropunham entregar à mercê dos capitalistas estrangeiros, pôr nas suas mãos, a títulode concessões, os ramos industriais de interesse vital para o Estado Soviético.Propunham pagar as dívidas do governo czarista, anuladas pela Revolução de Outubro.O Partido estigmatizou como traidoras estas propostas de capitulação. Não renunciavaa empregar a política de concessões, porém só naqueles ramos e dentro daqueleslimites que se tornassem vantajosos para o Estado Soviético.

Antes do Congresso, Bukharin e Sokolnikov tinham proposto pôr fim aomonopólio do comércio exterior. Esta proposta era também o resultado dainterpretação da NEP como a entrega das posições soviéticas ao capitalismo. Lêninestigmatizou então Bukharin como defensor dos especuladores, dos nepman e doskulaks. O XII Congresso rechaçou decididamente o atentado que se queria perpetrarcontra a firmeza do monopólio do comércio exterior.

O Congresso combateu também a tentativa de Trotsky de impor ao Partido uma

política funesta em relação aos camponeses. Destacou que não era lícito perder devista o fato do predomínio que a pequena Economia camponesa tinha dentro do país.Salientou que o desenvolvimento da indústria, incluindo a indústria pesada, não sedevia chocar com os interesses das massas camponesas, porém se harmonizar comeles no interesse de toda a população trabalhadora. Estas resoluções eram dirigidascontra Trotsky, que preconizava a edificação da indústria por meio da exploração doscamponeses e que não reconhecia, de fato, a política da aliança entre o proletariado eos camponeses.

Trotsky propunha também o fechamento de grandes fábricas como as de“Putilov”, “Briansk” e outras, que interessavam à defesa do país, porém que, segundoele, não eram rendosas. O Congresso rechaçou indignado, a proposta de Trotsky.

Por proposta de Lênin, formulada por meio de uma carta, o XII Congressocriou um órgão de fusão da Comissão Central de Controle e da Inspeção Operária e

Camponesa. A este órgão deu-se uma missão de responsabilidade: velar pela unidadedo Partido, fortalecer a disciplina do Partido e do Estado e aperfeiçoar por todos osmeios o aparelho do Estado Soviético.

O Congresso consagrou atenção especial ao problema nacional. Informouacerca deste ponto o camarada Stalin, que salientou a significação internacional dapolítica soviética sobre o problema nacional.

Os povos oprimidos do Ocidente e do Oriente vêem na União Soviética oexemplo de como se deve resolver o problema nacional e de como se deve acabar coma opressão nacional. Destacou a necessidade de trabalhar energicamente para liquidara desigualdade econômica e cultural entre os povos da União Soviética. E incitou todoo Partido para lutar decididamente contra os desvios referentes ao problema nacional:contra o chauvinismo grão-russo e contra o nacionalismo regionalista burguês.

No Congresso foram desmascarados os porta-vozes do desvio nacionalista e asua política absorcionista a respeito das minorias nacionais. Atuavam, naquelemomento, contra o Partido os porta-vozes do desvio nacionalista georgiano: Mdivani eoutros. Estes elementos eram contrários à criação da federação transcaucásia e aofortalecimento da amizade entre os povos da Transcaucásia. A sua atitude frente àsoutras nacionalidades da Geórgia era a de autênticos chauvinistas. Expulsavam deTiflis a todos os não georgianos, principalmente os armênios, e decretaram uma lei,segundo a qual toda georgiana que contraísse matrimônio com um homem de outranacionalidade perderia a sua cidadania georgiana. Contavam com o apoio de Trotsky,Radek, Bukharin, Serypnik e Rakovski.

Imediatamente depois do congresso, foi convocada uma conferência especialdos militantes das Repúblicas nacionais para tratar do problema nacional. Nela, foram

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desmascarados o grupo dos nacionalistas burgueses tártaros, Sultão-Galiev e outros, eo grupo dos porta-vozes do desvio nacionalista no Uzbequistão, constituído por FaisulaIodzhaiev e outros.

O XII Congresso fez o balanço dos resultados obtidos nos dois anos da novapolítica econômica. Estes resultados infundiam ao espírito vigor e segurança no triunfofinal.

 “Nosso Partido continua sendo um Partido coerente, monolítico, resistente àsmaiores viradas e que marcha para a frente com as bandeiras desfraldadas”, -declarou no congresso o camarada Stalin. 

4 – A luta contra as dificuldades da restauração da economia nacional – Recrudesce a atividade dos trotskistas, em razão da enfermidade deLênin – Nova discussão dentro do Partido – Derrota dos trotskistas – Morte de Lênin – A promoção leninista – O XIII Congresso do Partido. 

Os primeiros anos de luta pela restauração da Economia nacional se traduziramem êxitos consideráveis. Em 1924, se percebia o progresso em todos os ramos daEconomia. A superfície semeada aumentou consideravelmente a partir de 1921; aEconomia camponesa se fortalecia cada vez mais. A indústria socialista crescia e sedesenvolvia. Registrava-se um aumento numérico considerável da classe operária. Ossalários se elevavam. Os operários e os camponeses começavam a viver melhor e commais comodidade que em 1920 e 1921.

Apesar de tudo, porém, notavam-se os resultados de uma situação de desastreeconômico ainda não liquidada. A indústria não tinha ainda atingido o nível de antes daguerra e o seu desenvolvimento se achava consideravelmente atrasado, emcomparação com o aumento das necessidades do país. Em fins de 1923, registrava-secerca de um milhão de operários sem trabalho; o lento desenvolvimento da Economianacional não permitia absorver e liquidar o desemprego. O comércio se desenvolviacom intermitências, em razão dos preços extraordinariamente elevados dos artigosindustriais, preços que os especuladores e os nepman emboscados nas organizaçõescomerciais soviéticas, impunham ao país.

Em relação com isto, o rublo soviético começou a experimentar fortesoscilações e a baixar de valor. Tudo isto contribuía para dificultar a melhora dasituação dos operários e dos camponeses.

No outono de 1923, aumentaram as dificuldades econômicas, em conseqüênciadas infrações cometidas contra a política soviética de preços pelos organismosindustriais e comerciais. Entre os preços das mercadorias industriais e dos produtosagrícolas existia grande desarmonia. Enquanto que o preço do trigo era baixo, ospreços das mercadorias industriais eram desproporcionadamente elevados. Sobre aindústria pesavam, então, muitos gastos improdutivos e isto encarecia as mercadorias.O dinheiro que os camponeses obtinham pela venda do trigo se depreciavarapidamente. Achando que isto era pouco, o trotskista Piatakov, que ocupava entãoum posto no Conselho Supremo da Economia Nacional traçou aos militantes dasorganizações econômicas a norma criminosa de extrair maiores lucros da venda dosartigos industriais, elevando desregradamente os preços, com o pretexto de fomentara indústria. Na realidade, esta palavra de ordem própria de um nepman, só podiaconduzir a um resultado: reduzir a base da produção industrial e solapar a indústria.Nestas condições, os camponeses não podiam pensar em adquirir artigos industriais edeixavam de comprá-los. Deste modo, se iniciou uma crise do mercado, que repercutiusobre a indústria. Surgiram dificuldades, para o pagamento dos salários, o queprovocou o descontentamento dos operários. Em algumas fábricas, os operários menosconscientes abandonaram o trabalho.

O Comitê Central do Partido mostrou o caminho para superar todas estasdificuldades e deficiências. Foram tomadas medidas para acabar com a crise domercado. Foram barateados os preços dos artigos, de consumo popular. Foiimplantada uma reforma monetária adotando-se um padrão firme e estável: ochervonetz. Foi normalizado o pagamento dos salários. Esboçaram-se as medidas

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convenientes para desenvolver o comércio por intermédio dos organismos soviéticos ecooperativos, expulsando deles toda a classe de mercadores e especuladores.

Era preciso pôr mãos à obra com denodo, e todos unidos.Assim era como pensavam e atuavam os homens fiéis ao Partido. Os

trotskistas, porém, procediam de outro modo. Aproveitando-se da ausência de Lênin,que estava afastado da frente de batalha, devido à sua grave enfermidade, iniciaramuma nova agressão contra o Partido e contra sua direção. Decidiram que o momentoindicado havia chegado para derrotar o Partido e derrubar sua direção. Na luta contrao Partido, se aproveitavam de tudo; da derrota sofrida pela revolução na Alemanha ena Bulgária no outono de 1923, das dificuldades econômicas existentes dentro do país,e da enfermidade de Lênin. Foi justamente neste momento difícil para o EstadoSoviético, em que o chefe do Partido estava de cama, que Trotsky desencadeou o seuataque contra o Partido bolchevique. Agrupando em torno de si todos os elementosantileninistas do Partido, arranjou uma plataforma oposicionista, plataforma que eradirigida contra o Partido, contra a sua direção e contra sua política. A esta plataformase deu o nome de “declaração dos 46 oposicionistas”. Na luta contra o Partidoleninista, se uniram todos os grupos da oposição: os trotskistas, os “centralistasdemocráticos”, os restos dos “comunistas de esquerda” e da “oposição operária”. Nasua declaração, estes elementos profetizavam uma terrível crise econômica e oafundamento do Poder Soviético e exigiam, como única solução, a liberdade para aexistência de frações e grupos.

Era uma luta destinada a restabelecer as frações, que foram proibidas pelo X

Congresso do Partido, por proposta de Lênin.Os trotskistas não apresentavam nenhum problema concreto sobre odesenvolvimento da indústria ou da agricultura, sobre o aperfeiçoamento do regime decirculação das mercadorias dentro do país ou o melhoramento da situação dostrabalhadores. Além do mais, isso não lhes interessava. A única coisa que lhesinteressava era aproveitarem-se da ausência de Lênin para restabelecer as fraçõesdentro do Partido e solapar deste modo seus alicerces, minar seu Comitê Central.

Imediatamente depois da plataforma dos 46, foi publicada uma carta deTrotsky, na qual cobria de lama os quadros do Partido e dirigia uma série de novascalúnias contra este. Nesta carta Trotsky repetia as velhas cantilenas mencheviques,que o Partido estava cansado de ouvir dele.

Os trotskistas dirigiam sua agressão, principalmente, contra o aparelho doPartido, pois sabiam que o Partido não pode viver nem atuar sem um aparelho forte. A

oposição se esforçava em solapar, em derrubar este aparelho, em enfrentar os filiadosdo Partido com o aparelho deste, e a juventude com os velhos quadros do Partido. Nacarta, Trotsky especulava com a juventude estudantil, com os jovens filiados aoPartido, que ignoravam a história da luta deste contra o trotskismo. Para conquistaresta juventude estudantil, Trotsky a adulava, dizendo que ela era “o barômetro maisfiel do Partido”, ao mesmo tempo em que falava da degeneração da velha guardaleninista. Apontando os chefes degenerados da Segunda Internacional, sugeria,ignominiosamente, que a velha guarda bolchevique seguia pelo mesmo caminho. Comseus gritos sobre a degeneração do Partido, Trotsky tentava encobrir sua própriadegeneração e os seus desígnios anti-bolcheviques.

Os dois documentos da oposição, a plataforma dos 46 e a carta de Trotskyforam distribuídos pelos trotskistas nos setores e nas células e postos para discussão

entre os filiados ao Partido.O Partido foi desafiado pelos trotskistas a uma contenda.Repetia-se, pois, o que ocorrera antes do X Congresso do Partido, em virtude

da discussão sobre a questão sindical: o Partido via-se arrastado pelos trotskistas auma discussão, extensiva a todos os filiados.

Apesar de se achar ocupado em problemas de caráter econômico maisimportantes, o Partido aceitou o repto e abriu a discussão.

A discussão foi extensiva a todo o Partido. Era uma luta inflamada. A contendaadquiriu caracteres especialmente agudos em Moscou. Os trotskistas aspiravam, depreferência, a se apoderar da organização da capital. A discussão, porém de nadaserviu aos trotskistas, a não ser para evidenciar sua infâmia. Foram derrotados em

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toda a União Soviética. Só votou por eles um número reduzido de células pertencentesàs Escolas Superiores e a organismos administrativos.

Em janeiro de 1924, se reuniu a XIII Conferência do Partido. Nela o camaradaStalin pronunciou um informe, fazendo o balanço da discussão sustentada no Partido.A Conferência condenou a oposição trotskista, declarando que se tratava de um desviopequeno burguês do marxismo. As resoluções desta Conferência foram referendadasposteriormente pelo XIII Congresso do Partido e pelo V Congresso da InternacionalComunista. O proletariado comunista internacional apoiava o Partido bolchevique nasua luta contra o trotskismo.

Os trotskistas não cessaram, porém seu trabalho de sapa. No outono de 1924,Trotsky publicou um artigo intitulado “Os ensinamentos de Outubro”, no qual tentavasubstituir o leninismo pelo trotskismo. Todo este artigo era uma calúnia contra oPartido bolchevique e seu chefe, Lênin. Todos os inimigos do comunismo e do PaísSoviético se aferravam a este livreco calunioso.

O Partido rechaçou com indignação estas calúnias de Trotsky contra a históriaheróica do bolchevismo. O camarada Stalin desmascarou a tentativa de Trotsky desubstituir o leninismo pelo trotskismo, destacando, em suas intervenções, que “amissão do Partido consiste em enterrar o trotskismo, como corrente ideológica”. 

Na obra de esmagamento ideológico do trotskismo e de defesa do leninismo,teve uma importância extraordinária o trabalho teórico do camarada Stalin intitulado:“Sobre os fundamentos do leninismo” e que viu a luz em 1924. Esta obra é umaexposição magistral e um fundamento teórico muito sério do leninismo, que então

armou e continua armando hoje os bolcheviques do mundo inteiro com a arma afiadada teoria marxista-leninista.Na luta contra o trotskismo, o camarada Stalin cerrou as fileiras do Partido em

torno do seu Comitê Central e o mobilizou para continuar combatendo pelo triunfo dosocialismo no país Soviético. O camarada Stalin soube demonstrar que o esmagamentoideológico do trotskismo era condição imprescindível para assegurar o prosseguimentoda marcha vitoriosa para o socialismo.

Fazendo o balanço deste período de luta contra o trotskismo, dizia o camaradaStalin:

 “Sem esmagar o trotskismo; não é possível triunfar dentro das condições daNEP, não é possível conseguir a transformação da Rússia atual em uma RússiaSocialista”. 

Porém, os êxitos, da política leninista do Partido foram cobertos de tristeza pela

enorme desgraça que o próprio Partido e a classe operária experimentaram. Em 21 dejaneiro de 1924, morreu em Gorki, perto de Moscou, o nosso chefe e mestre, ofundador do Partido bolchevique, Lênin. A notícia da morte de Lênin afetou a classeoperária do mundo inteiro com a perda mais cruel. No dia do enterro de Lênin, oproletariado internacional suspendeu o trabalho durante cinco minutos. Pararam ostrens, interromperam-se os trabalhos nas fábricas e oficinas. Os trabalhadores de todoo mundo acompanharam ao túmulo, com a mais profunda dor, seu pai e mestre seumelhor amigo e defensor, Lênin.

A classe operária da União Soviética respondeu à morte de Lênin cerrandoainda mais suas fileiras em torno do Partido leninista. Naqueles dias lutuosos, todooperário consciente meditou acerca da sua atitude ante o Partido Comunista, o Partidoque punha em prática os mandamentos de Lênin. Ao Comitê Central do Partido

chegaram milhares e milhares de declarações de operários sem partido, pedindoingresso no Partido bolchevique. O Comitê Central, fazendo-se eco deste movimentodos operários de vanguarda, admitiu o ingresso em massa no Partido e abriu as portasdeste à promoção leninista. Ingressaram no Partido novas dezenas de milhares deoperários. Ingressaram nele os que estavam dispostos a dar a vida pela causa doPartido, pela causa de Lênin. Em pouco tempo, engrossaram as fileiras do Partido maisde 240.000 operários. Aderiu ao Partido a parte mais avançada da classe operária, amais consciente e revolucionária, a mais audaciosa e disciplinada. Esta foi à promoçãoleninista de novos filiados ao Partido.

A morte de Lênin mostrou quanto as massas operárias estavam unidas aoPartido bolchevique e quanto o queriam como filho de suas entranhas.

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No II Congresso dos Soviets da URSS, celebrado nos dias de luto pela morte deLênin, o camarada Stalin pronunciou, em nome do Partido, um solene juramento, noqual disse:

 “Nós, os comunistas, somos homens de uma têmpera especial. Somos feitosde fibra especial. Somos os que formamos o exército do grande estrategista proletário,o exército do camarada Lênin. Não há nada mais alto que a honra de pertencer a esteexército. Não há nada superior ao título de membro do Partido cujo fundador e chefe éo camarada Lênin.

Ao nos deixar, o camarada Lênin nos legou o dever de manter bem alto econservar em toda a sua pureza o grande título de membro do Partido. Nós tejuramos, camarada Lênin, que executaremos com honra este mandato!...

Ao nos deixar, o camarada Lênin nos legou o dever de conservar e fortalecer aditadura do proletariado. Nós te juramos, camarada Lênin, que não pouparemosesforço para executar com honra também este mandato!

Ao nos deixar, o camarada Lênin nos legou o dever de assegurar com todas asnossas forças, a aliança dos operários e camponeses. Nós te juramos, camarada Lênin,que executaremos com honra igualmente este mandato!

O camarada Lênin nos falava insistentemente da necessidade de uma aliançavoluntária e livre entre os povos do nosso país, da necessidade da sua colaboraçãofraternal dentro dos limites da União Soviética da necessidade da sua colaboraçãofraternal dentro dos limites da União Soviética. Aos nos deixar, o camarada Lênin, noslegou o dever de reforçar e estender a União das Repúblicas. Nós te juramos,

camarada Lênin, que executaremos com honra também este mandato!...Lênin nos indicou repetidas vezes que o fortalecimento do Exército Vermelho eo seu aperfeiçoamento constituem uma das mais importantes tarefas do nosso Partido.Juremos, pois, camaradas, que não pouparemos esforço para fortalecer o nossoExército Vermelho e a nossa Frota Vermelha!

Ao nos deixar, o camarada Lênin nos legou o dever de permanecermos fiéis aosprincípios da Internacional Comunista. Nós te juramos, camarada Lênin, que nãoregatearemos nossa vida para fortalecer e estender a união dos trabalhadores de todoo mundo, a Internacional Comunista!“. 

Tal foi o juramento do Partido bolchevique a seu chefe, Lênin, cuja obraperdurará através dos séculos.

Em maio de 1924, celebrou-se o XIII Congresso do Partido. Assistiram a ele748 delegados com direito de palavra e voto, representando 735.881 filiados. O

enorme aumento do número de filiados ao Partido, em comparação com o doCongresso anterior, tem sua explicação nos 250.000 ingressantes, aproximadamente,da promoção leninista. Os delegados com palavra, porém sem voto, eram 416.

O Congresso condenou unanimemente a plataforma da posição trotskista,definindo-a como um desvio pequeno-burguês do marxismo, como uma revisão doleninismo e ratificou as resoluções votadas pela XIII Conferência do Partido “Sobre aobra do desenvolvimento do Partido” e “Sobre os resultados da discussão”.  

Partindo da tarefa de reforçar a coesão entre a cidade e o campo, o Congressoindicou a necessidade de continuar desenvolvendo a indústria, e em primeiro lugar, aindustria leve, salientando, ao mesmo tempo, a necessidade de imprimir um rápidodesenvolvimento à indústria metalúrgica.

O Congresso ratificou a criação do Comissariado do povo para o Comércio

Interior e propôs a todos os organismos comerciais a tarefa de dominar o mercado edesalojar da órbita comercial o capital privado.O Congresso propôs a tarefa de desenvolver o crédito do Estado a favor dos

camponeses com juros baixos, desalojando da aldeia o agiota.Como tarefa fundamental para a atuação no campo, o Congresso destacou a

palavra de ordem de desenvolver por todos os meios a cooperação entre as massascamponesas.

Finalmente, o Congresso assinalou a enorme importância da promoção leninistae chamou a atenção do Partido para a necessidade de reforçar o trabalho de educaçãodos novos filiados ao Partido, e, sobretudo da promoção leninista, instruindo-os nosfundamentos do leninismo.

 

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   5 – A União Soviética no final do período de restauração da economianacional – O problema da edificação socialista e do triunfo do socialismono país soviético – A “nova oposição” de Zinoviev-Kamenev – O XIVCongresso do Partido – Para a industrialização socialista do país.  

 O Partido bolchevique e a classe operária estavam já com quatro anos de luta

tenaz pela rota da nova política econômica. O heróico trabalho de restauração daEconomia nacional chegava a seu fim. A potência econômica e política da UniãoSoviética crescia sem cessar.

A situação internacional, naquele momento, havia mudado. O capitalismo fezfrente ao primeiro assalto revolucionário das massas depois da guerra imperialista. Foisufocado o movimento revolucionário na Alemanha, na Itália, na Bulgária, Polônia enoutra série de países. Os chefes dos partidos social-democrátas oportunistasajudaram a burguesia a conseguir isto. Iniciou-se um refluxo passageiro da revolução.Iniciou-se uma estabilização parcial e passageira do capitalismo na Europa Ocidental,de um fortalecimento temporário das suas posições. Porém a estabilização docapitalismo não suprimiu as contradições fundamentais que desagregam a sociedadecapitalista. Pelo contrário: a estabilização parcial do capitalismo vinha acentuar ascontradições entre os operários e os capitalistas, entre o imperialismo e os paísescoloniais, entre os grupos imperialistas dos diversos países. A estabilização docapitalismo preparava a nova explosão dessas contradições, gerava novas crises nospaíses capitalistas.

Paralelamente à estabilização do capitalismo, devolvia-se a estabilização daUnião Soviética. Entretanto, entre estes dois processos de estabilização mediava umadiferença radical. A estabilização capitalista pressagiava a nova crise do capitalismo. Aestabilização da União Soviética representava um novo desenvolvimento da potênciaeconômica e política do país do Socialismo.

Apesar da derrota sofrida pela revolução nos países ocidentais, a situaçãointernacional da União Soviética continuava se fortalecendo, embora com ritmo maislento.

Em 1922, a União Soviética foi convidada para a Conferência econômica

internacional que se celebrou na cidade italiana de Gênova. Na Conferência de Gênova,os governos imperialistas, animados pela derrota da revolução nos países docapitalismo, tentaram fazer uma nova pressão sobre a República dos Soviets, agora,sob uma forma diplomática. Os imperialistas formularam ao país dos Sovietsreivindicações insolentes. Exigiam que fossem devolvidas aos capitalistas estrangeirosas fábricas e as empresas industriais nacionalizadas pela Revolução de Outubro e quese pagassem todas as dívidas contraídas pelo governo czarista. Em compensação, osestados imperialistas prometiam fazer ao Estado soviético alguns empréstimos.

A União Soviética rechaçou estas exigências.A Conferência de Gênova foi infrutífera.Também obteve a réplica adequada a ameaça de uma nova intervenção que o

ultimato formulado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros da Inglaterra, Curzon, em1923, representava.

Tendo sondado bem a firmeza do Poder Soviético, os Estados capitalistas,convencidos da própria debilidade, foram reatando um a um, as relações diplomáticascom o país dos Soviets. No transcurso do ano de 1924, se restabeleceram as relaçõesdiplomáticas com a Inglaterra, a França, o Japão e a Itália.

Era evidente que o Poder Soviético soube conquistar um período de tréguapacífica.

Tinha mudado também a situação dentro do país. O trabalho abnegado dosoperários e dos camponeses, dirigidos pelo Partido bolchevique, dava seus frutos. AEconomia nacional se desenvolvia rapidamente. No ano econômico de 1924-1925, aprodução agrícola se aproximava já do nível de antes da guerra, pois tinha alcançado87% deste nível. A grande indústria da URSS produzia, já em 1925, cerca de três

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quartas partes da produção industrial de antes da guerra. Em 1924-1925, o PaísSoviético já pôde investit, em obras básicas, 385 milhões de rublos. O plano deeletrificação do país se realizava com êxito. As posições chaves do socialismo, naEconomia nacional, se firmavam. Foram obtidos importantes êxitos na luta contra ocapital privado na indústria e no comércio.

O auge econômico se traduzia em um novo melhoramento da situação dosoperários e dos camponeses. A classe operária crescia com ritmo acelerado. Ossalários aumentavam. Aumentava também a produtividade do trabalho. A situaçãomaterial dos camponeses melhorava consideravelmente. Em 1924-1925, o Estadooperário e camponês pôde consignar 290 milhões de rublos para ajudar oscamponeses pobres. O melhoramento da situação dos operários e camponesescontribuiu para incrementar em proporções consideráveis a atividade política dasmassas. A ditadura do proletariado se fortalecia: A autoridade e a influência do Partidobolchevique estavam aumentando.

A restauração da economia nacional chegava a seu fim. Porém o país dosSoviets, o país em que se constituía o socialismo, não podia dar-se por satisfeito com arestauração pura e simples da economia, com alcançar simplesmente o nível de antesda guerra. Este nível era o de um país atrasado. Era preciso continuar avançando. Alonga trégua conquistada pelo Estado Soviético garantia a possibilidade de prosseguira obra de edificação.

Ao chegar aqui, porém, surgia em toda a sua envergadura o problema dasperspectivas, do caráter do nosso desenvolvimento e da nossa edificação, o problema

da sorte do socialismo na União Soviética. Em que direção se devia orientar aedificação econômica da União Soviética, em direção do Socialismo ou numa outradireção? Devia e podia o país soviético construir uma Economia socialista, ou estavacondenado a preparar o terreno para outra classe de Economia, para uma economiacapitalista? Era possível, em linhas gerais, construir uma Economia socialista da URSS,e caso assim fosse, era possível construí-la ante a demora da revolução nos paísescapitalistas e a estabilização do capitalismo? Era possível construir uma economiasocialista pela senda da nova política econômica, que ao mesmo tempo em quefortalecia e desenvolvia por todos os meios as forças do socialismo dentro do país,dava também, no momento, um certo incremento ao capitalismo? Como construir umaEconomia nacional de tipo socialista? Por onde começar esta obra de edificação?

Todas estas perguntas se levantavam ante o Partido, ao terminar o período derestauração da Economia nacional, não já como problemas teóricos, e sim como

problemas práticos, como problemas que afetavam o trabalho quotidiano da edificaçãoeconômica.

Eram todas estas perguntas que exigiam respostas claras e simples, para queos militantes do Partido e os dirigentes das organizações econômicas, os queconstituíam a indústria e a agricultura, e todo o povo, soubessem para onde se deviamorientar, se para o socialismo ou para o capitalismo.

Sem responder claramente a estas perguntas, toda a atuação prática do Partidono terreno construtivo seria trabalho com falta de perspectivas, trabalho às cegas,estéril.

E, com efeito, o Partido deu a todas estas perguntas uma resposta clara edefinida.

Sim – respondia o Partido – o país soviético pode e deve edificar uma economia

socialista, pois existem nele todos os elementos necessários para isto, para construiruma economia socialista e para edificar uma sociedade socialista completa. Emoutubro de 1917 a classe operária venceu o capitalismo no terreno político,instaurando sua ditadura política. De então para cá, o Poder Soviético tomou todas asmedidas necessárias para destruir a potência econômica do capitalismo e criar ascondições indispensáveis para edificar uma economia nacional de tipo socialista. Aexpropriação dos capitalistas e latifundiários, a conversão das terras, fábricas eempresas industriais, bancos e vias de comunicação, em propriedade de todo o povo;a implantação da nova política econômica; a organização de uma indústria socialista doEstado; a aplicação do plano cooperativo de Lênin: eis aí as medidas adotadas peloPoder Soviético. A tarefa fundamental, agora, consiste em desenvolver por todo o paísa obra de edificação de uma nova economia, da economia socialista, dando também

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assim o tiro de misericórdia no capitalismo no terreno econômico. Todo o trabalhoprático, toda a atuação do Partido bolchevique devem subordinar-se ao cumprimentodesta tarefa fundamental. A classe operária pode fazer isto e o fará.  A execução destatarefa grandiosa deve começar pela industrialização do país. A industrializaçãosocialista do país é o elo fundamental pelo qual há de começar a magna obra daedificação de uma Economia Nacional de tipo socialista. Nem a demora da revoluçãona Europa ocidental, nem a estabilização parcial do capitalismo nos países nãosoviéticos, poderão conter a marcha vitoriosa da URSS para o socialismo. A novapolítica econômica só pode facilitar esta obra, pois foi implantada pelo Partidoprecisamente para isto, para facilitar a edificação dos alicerces socialistas da economianacional do país Soviético.

Esta era a resposta que dava o Partido à pergunta acerca do triunfo daedificação socialista na União Soviética.

O Partido sabia, porém, que o problema do triunfo do socialismo em um só paísnão se reduzia a isto. A construção do socialismo na URSS representava umagrandiosa mudança na história da Humanidade e um triunfo de alcance históricouniversal para a classe operária e os camponeses da URSS. Mas é, porém, apesar detudo, uma incumbência interior da URSS e representa somente uma parte do problemado triunfo do socialismo. A outra parte do problema constitui seu aspecto internacional.Fundamentando as teses do triunfo do socialismo em um só país, o camarada Stalinassinalou mais de uma vez que é necessário distinguir entre os dois aspectos desteproblema: O aspecto interior e o aspecto internacional. Pelo que se refere ao aspecto

interior do problema, ou seja, a correlação de classes dentro do país, a classe operáriae os camponeses da URSS poderão vencer plenamente no terreno econômico a suaprópria burguesia e construir uma sociedade socialista completa. Fica, porém, oaspecto internacional do assunto, isto é, a órbita das relações exteriores, a órbita dasrelações entre o País Soviético e os países capitalistas, entre o Povo Soviético e aburguesia internacional, que odeia o regime soviético e procurará a ocasião paradesencadear uma nova intervenção armada contra o país dos Soviets, fazendo novastentativas destinadas a restaurar o capitalismo na URSS. E como este é, no momento,o único país do socialismo e os demais países continuam sendo capitalistas, continuaráexistindo em torno da URSS um cerco capitalista, fonte de perigo de uma novaintervenção armada do capitalismo. Claro está que enquanto existir o cerco capitalistacontinuará também existindo o perigo de uma intervenção capitalista. Pode o povosoviético só com suas forças, destruir este perigo exterior, o perigo de uma

intervenção armada do capitalismo contra a URSS? Não, não pode. E não pode, porquepara acabar com o perigo de uma intervenção do capitalismo é necessário acabar como cerco capitalista, e isto só é possível conseguir como resultado de uma revoluçãoproletária vitoriosa, pelo menos, em alguns países. De onde se deduz que o triunfo dosocialismo na URSS, triunfo que se revela na liquidação do sistema da economiacapitalista e na construção do sistema da Economia socialista, não pode, apesar detudo, considerar-se como um triunfo definitivo, enquanto não desaparecer o perigo deuma intervenção armada estrangeira e das tentativas de restauração do capitalismo,enquanto o país do socialismo não estiver garantido contra este perigo. Para acabarcom o perigo de uma intervenção armada estrangeira, é necessário acabar com ocerco capitalista.

É verdade que o povo soviético e o seu Exército Vermelho, mediante a política

acertada do Poder Soviético, saberão dar uma resposta mais adequada a uma novaintervenção capitalista estrangeira, tal como deram à primeira intervenção capitalistados anos de 1918 e 1920. Mas isto, por si só, não quer dizer que vai desaparecer operigo de novas intervenções capitalistas. A derrota sofrida pela primeira intervençãonão acabou com o perigo de uma outra nova, como o demonstra o fato de que a fonteda qual emana o perigo de novas intervenções – o cerco capitalista – continuaexistindo. O fracasso de uma intervenção também não fará desaparecer o perigo deque se produzam outras, enquanto estiver de pé o cerco capitalista.

Conclui-se daí que o triunfo da revolução proletária nos países capitalistas é deinteresse vital para os trabalhadores da URSS

Era essa a posição do Partido ante o problema do triunfo do socialismo no PaísSoviético.

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O Comitê Central exigiu que esta posição fosse submetida à consideração daXIV Conferência do Partido, prestes a se celebrar, para que fosse aprovada esancionada como posição do Partido, como lei do Partido, obrigatória para todos osmembros.

Esta posição do Partido produziu um efeito desconcertante nos elementos daoposição. Desconcertou-os, sobretudo, o fato de que o Partido desse a essa posiçãoum caráter prático concreto, a ligasse ao plano prático da industrialização socialista dopaís e exigisse que tivesse a forma de uma lei do Partido, a forma de uma resolução daXIV Conferência do Partido, obrigatória para todos os filiados.

Os trotskistas se levantaram contra esta posição do Partido, opondo-lhe a“teoria da revolução permanente”, teoria menchevique, que, só para escarnecer domarxismo, se podia apresentar como uma teoria marxista, e que negava apossibilidade do triunfo do socialismo na URSS.

Os bukharinistas não se decidiram a enfrentar abertamente a posição doPartido. Sorrateiramente, porém, começaram a lhe opor a sua própria “teoria” daevolução pacífica da burguesia para o socialismo, completando-a com a “nova” palavrade ordem “enriquecei-vos!”. Isto é, segundo os bukharinistas, o triunfo do socialismonão representava a liquidação da burguesia, mas, pelo contrário, vinha para fomentá-la e enriquece-la.

Zinoviev e Kamenev se precipitaram, mantendo durante algum tempo, aafirmação de que na URSS era impossível que triunfasse o socialismo, devido ao atrasotécnico-econômico deste país: porém viram-se obrigados mais tarde a bater em

retirada.A XIV Conferência do Partido (celebrada em abril de 1925) condenou todasestas “teorias” capituladoras dos sequazes descarados e encobertos da oposição e afirmou a posição do Partido sobre o triunfo do socialismo na URSS, votando umaresolução conseqüente com isto.

Zinoviev e Kamenev, vendo-se acossados, optaram por votar a favor destaresolução. Mas não se podia ocultar ao Partido que isto não era mais que um ardil pararetardar sua luta contra ele e para “dar a batalha ao Partido” no seu XIV Congresso.Entretanto, reuniram os adeptos com que contavam em Leningrado e formaram achamada “nova oposição”. 

Em dezembro de 1925, celebrou-se o XIV Congresso do Partido.Este Congresso decorreu numa atmosfera de grande tensão dentro do Partido.

Em todo o tempo que este tinha de existência não se havia dado ainda o caso de que a

delegação de um centro importantíssimo do Partido como Leningrado confabulassepara atuar toda ela contra o Comitê Central.

Participaram deste Congresso 665 delegados com direito de palavra e voto e641 sem direito a voto, representando 643.000 filiados e 445.000 aspirantes, isto é,um número algo menor que no Congresso anterior. Este declínio era o resultado dadepuração parcial levada a cabo nas células das Escolas superiores e dos organismosadministrativos que se revelaram infestados de elementos inimigos do Partido.

O informe político do Comitê Central coube ao camarada Stalin. Este traçou umquadro nítido do desenvolvimento da potência política e econômica da União Soviética.Graças à superioridade do sistema da Economia soviética, tanto a indústria como aagricultura foram restauradas em um prazo relativamente curto e se aproximavam denovo do nível de antes da guerra. Apesar destes êxitos, porém, o camarada Stalin

preconizava a necessidade de não se contentar com o conseguido, já que os êxitosobtidos não podiam destruir o fato de que o País Soviético continuava sendo um paísagrário. As duas terças partes da produção eram agrícolas e só uma terça parteprocedia da indústria. Ante o Partido se apresentava em toda a sua plenitude – dizia ocamarada Stalin – o problema de transformar o País Soviético num país industrial,economicamente independente dos países capitalistas. E isto se podia e se devia fazer.A tarefa central do Partido era lutar pela industrialização socialista do país, lutar pelotriunfo do socialismo.

“Transformar o nosso país de um país agrário em um país industrial, capaz deproduzir com seus próprios meios as máquinas e as ferramentas necessárias: nistoconsiste a essência, o fundamento da nossa linha geral”, - dizia o camarada Stalin.

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A industrialização do país garantiria sua independência econômica, reforçariasua capacidade defensiva e criaria as condições necessárias para o triunfo dosocialismo na URSS

Contra a linha geral do Partido se levantaram os zinovievistas. O zinovievistaSokolnikov opôs ao plano de industrialização socialista de Stalin o plano burguês quetinha aceitação entre os tubarões do capitalismo. Este plano consistia em que a URSScontinuasse sendo um país agrário que produzisse, fundamentalmente, matériasprimas e artigos alimentícios, exportando estes artigos e importando a maquinaria quenão produzia nem devia, segundo eles, produzir. Dentro das condições existentes em1925, este plano tinha todo o caráter de um plano de escravização econômica da URSSpelos países estrangeiros industrialmente desenvolvidos, de um plano destinado amanter o atraso industrial da URSS em proveito dos tubarões imperialistas dos paísesdo capitalismo.

Aceitar este plano equivalia a converter o País Soviético em um país agrárioimpotente, em um apêndice agrícola do mundo capitalista, entregá-lo como um paísdébil e enorme à mercê do cerco capitalista e, em última instância, sepultar a causa dosocialismo na URSS

O Congresso estigmatizou o “plano” econômico dos zinovievistas, como umplano de escravidão da URSS.

De nada serviram à “nova oposição” saídas como a de afirmar (deturpandoLênin) que a indústria do Estado Soviético não era, segundo ela, uma indústriasocialista, nem declarar (deturpando também Lênin) que o camponês não podia,

segundo ela, ser aliado da classe operária na edificação do socialismo.O Congresso estigmatizou, como anti-leninista, estas saídas da “novaoposição”. 

O camarada Stalin desmascarou o fundo trotskista-menchevique da “novaoposição”. Mostrou que Zinoviev e Kamenev não faziam mais que repetir as cantilenasdos inimigos do Partido, contra os quais Lênin em seu tempo tinha lutadoimplacavelmente.

Não havia a menor dúvida que os zinovievistas não eram mais que trotskistasmal disfarçados.

O camarada Stalin destacou que a tarefa mais importante do Partido consistiaem estabelecer uma aliança sólida entre a classe operária e os camponeses médiospara a obra da edificação do socialismo. E assinalou dois desvios que existiam então,no Partido, a respeito do problema camponês e que representavam um perigo para

esta aliança. O primeiro desvio consistia em menosprezar e diminuir a importância doperigo dos kulaks; o segundo era o pânico, o terror aos kulaks, e o menosprezo daimportância dos camponeses médios. Respondendo à pergunta de qual dos doisdesvios era o pior, o camarada Stalin dizia: “Ambos, o primeiro e o segundo desvios,são piores. E si estes desvios ganhassem terreno, seriam capazes de desorganizar ejogar no monturo o nosso Partido. Dentro do nosso Partido há, felizmente, forçassuficientes para cortar pela raiz o primeiro e o segundo desvios”. 

Com efeito, o Partido esmagou e cortou pela raiz o desvio de esquerda e o dedireita.

Fazendo o balanço dos debates mantidos em torno da edificação econômica, oXIV Congresso do Partido rechaçou unanimemente os planos capituladores doselementos da oposição e estampou na sua memorável resolução estas palavras:

“No terreno da edificação econômica, o Congresso parte do critério de que onosso país, o país da ditadura do proletariado, conta “com todos os elementosnecessários para construir uma sociedade socialista completa” (Lênin). O Congressoentende que a luta pelo triunfo da edificação do socialismo na URSS, é missãofundamental do nosso Partido”. 

O XIV Congresso aprovou os novos estatutos do Partido.A partir do XIV Congresso, o Partido bolchevique começou a se chamar Partido

Comunista (bolchevique) da URSS – PC (b) da URSSOs zinovievistas, derrotados no Congresso, não se submeteram à disciplina do

Partido. Começaram a lutar contra as resoluções do XIV Congresso. Imediatamentedepois de celebrar este, Zinoviev organizou uma assembléia do Comitê provincial dasJuventudes Comunistas de Leningrado, em cujos dirigentes ele, Salutski, Bakaiev,

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Evdokimov, Kuklin, Safarov e outros salafrários, tinham inculcado o ódio contra oComitê Central Leninista do Partido.

Nesta assembléia, o Comitê provincial das Juventudes Comunistas deLeningrado tomou a resolução, inaudita na história das Juventudes ComunistasLeninistas da URSS, de se rebelar contra as resoluções do XIV Congresso do Partido.

Os dirigentes zinovievistas das Juventudes Comunistas de Leningrado nãorefletiam, porém, de nenhum modo, o estado de espírito das massas de jovenscomunistas dessa capital. Não deu, pois, grande trabalho esmagá-los, e rapidamente aorganização juvenil de Leningrado voltou a ocupar o lugar que lhe correspondia dentrodas Juventudes Comunistas.

Ao terminar o XIV Congresso, saíram para Leningrado um grupo de delegados,composto pelos camaradas Molotov, Kirov, Voroshilov, Kalinin, Andreev e outros. Eranecessário explicar aos membros da organização do Partido naquela capital o carátercriminoso, anti-bolchevique da oposição mantida no Congresso pela delegação deLeningrado, que tinha obtido as suas atas por meio de fraude. As assembléias em quese informou sobre o Congresso foram bastante agitadas. Convocou-se urgentementeuma nova Conferência da organização do Partido de Leningrado. A esmagadoramaioria dos filiados ao Partido em Leningrado (mais de 97 por cento) referendouplenamente as resoluções do XIV Congresso do Partido e condenou a “nova oposição” zinovievista anti-bolchevique. A “nova oposição” era já um grupo de generais semexército.

Os bolcheviques de Leningrado continuaram militando nas primeiras fileiras do

Partido de Lênin – Stalin.Resumindo os resultados do trabalho do XIV Congresso do Partido, o camaradaStalin escrevia:

“A significação histórica do XIV Congresso do PC (b) da URSS consiste em quesoube pôr a descoberto até em sua raiz os erros da “nova oposição”, em que lançoupor terra sua falta de fé e suas lamentações, em que traçou clara e nitidamente ocaminho para continuar lutando pelo socialismo, deu ao Partido uma perspectiva detriunfo e com isso infundiu no proletariado a fé inquebrantável no triunfo da edificaçãosocialista” (Stalin, “Problemas do Leninismo”, ed.russa, pág. 150).

  

RESUMO 

Os anos de transição ao trabalho pacífico de restauração da Economia nacional são um dos períodos de maior responsabilidade na história do Partido bolchevique. Emuma tensa situação, o Partido soube levar a cabo a difícil mudança da política docomunismo de guerra à nova política econômica(NEP). O Partido fortaleceu a aliançaentre os operários e os camponeses numa base econômica. Foi fundada a União dasRepúblicas Socialistas Soviéticas.

Pelo caminho da nova política econômica, conquistaram-se êxitos decisivos noque se refere à restauração da Economia nacional. O país dos Soviets atravessou comêxito a etapa de restauração no desenvolvimento da Economia nacional e começou apassar para a nova etapa, da industrialização do país.

A passagem da guerra civil para o trabalho de edificação pacífica do socialismo,foi acompanhada, principalmente nos primeiros tempos, por grandes dificuldades. Os

inimigos do bolchevismo, os elementos contrários ao Partido bolchevique emboscadosdentro das suas fileiras, mantiveram durante todo este período, uma luta desesperadacontra o Partido Leninista.

A frente dos elementos contrários ao Partido figurava Trotsky, secundado nestaluta por Kamenev, Zinoviev e Bukharin. Os elementos da oposição pretenderamdesarticular as fileiras do Partido bolchevique depois da morte de Lênin, dividir oPartido e contagiá-lo com sua falta de fé no triunfo do socialismo na URSS No fundo,os trotskistas tentavam criar na URSS uma organização política da nova burguesia,outro partido, o partido da restauração capitalista.

O Partido cerrou fileiras, sob a bandeira de Lênin, em torno do seu ComitêCentral leninista, em torno do camarada Stalin, e infligiu uma derrota, tanto aos

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trotskistas como a seus novos amigos de Leningrado, a nova oposição de Zinoviev eKamenev.

Depois de acumular forças e recursos, o Partido bolchevique conduziu o paíspara uma etapa histórica, a etapa da industrialização socialista.

  

  

CAPÍTULO X

 O Partido Bolchevique Luta pela Industrialização Socialista doPaís (1926-1929)

 1 – As dificuldades do período da industrialização socialista e a lutacontra elas – Formação do bloco anti-bolchevique trotskista-zinovievista– Atuação anti-soviética deste bloco – Sua derrota. 

Depois do XIV Congresso, o Partido desenvolveu a luta para pôr em prática alinha geral do Poder Soviético a respeito da industrialização socialista do país.

No período de restauração da Economia, o problema consistia em tirar da sua

prostração, antes de tudo, a agricultura, em obter desta matérias primas e artigosalimentícios e pôr em movimento e restaurar a indústria, as fábricas e empresasindustriais existentes.

O Poder Soviético resolveu com relativa facilidade estes problemas.O período de restauração da Economia apresentava três grandes falhas.Em primeiro lugar, só existiam as velhas fábricas e empresas industriais, com

sua técnica velha e atrasada, que podiam ficar imprestáveis dentro de pouco tempo.Apresentava-se o problema de equipar de novo estas fábricas e empresas industriaisnos moldes da técnica moderna.

Em segundo lugar, o período de restauração da Economia se encontrou comuma indústria cuja base era muito reduzida, pois entre as fábricas e empresasindustriais existentes faziam falta dezenas e centenas de fábricas de construção de

maquinaria, absolutamente necessárias para o país, fábricas que não existiam então eque era indispensável construir, já que sem elas não pode existir uma verdadeiraindústria. Apresentava-se, portanto, o problema de criar estas fábricas e de equipá-lascom uma técnica nova.

Em terceiro lugar, o período de restauração da Economia se preocupava,principalmente, com a indústria leve que desenvolveu e pôs a funcionar. Porém estedesenvolvimento da indústria leve continuava se apoiando numa indústria pesadapobre, além de outras exigências do país reclamarem também, para sua satisfação,uma indústria pesada progressista. Apresentava-se, pois, o problema do passar para oprimeiro plano, de agora por diante, a indústria pesada.

Todos estes novos problemas eram os que a política da industrializaçãosocialista tinha que resolver.

Era necessário construir de novo toda uma série de ramos industriais,

desconhecidos da Rússia czarista: construir novas máquinas e ferramentas, deautomóveis, de produtos químicos, metalúrgicas; organizar uma produção própria demotores e de material para a instalação de centrais elétricas; incrementar a extraçãode metais e de carvão, pois assim o exigia a causa do triunfo do socialismo na URSS

Era necessário criar uma nova indústria de guerra, construir novas fábricas deartilharia, de munições, de aviação, de tanques e de metralhadoras, pois assim oexigiam os interesses da defesa da URSS, sob as condições de cerco capitalista.

Era necessário construir fábricas de tratores, fábricas de maquinaria agrícolamoderna, abastecendo com elas a agricultura, para dar aos milhões de pequenoscamponeses individuais a possibilidade de passar para a grande produção kolkhosiana,pois assim o exigiam os interesses do triunfo do socialismo no campo.

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Tudo isto era o que tinha que resolver a política da industrialização, pois nissoconsistia, precisamente, a industrialização socialista do país.

É fora de dúvida que a construção de obras básicas tão gigantescas não sepodia realizar sem uma inversão de milhares de milhões. Para isto não se podia contarcom empréstimos estrangeiros, pois os países capitalistas se negavam a concedê-los.Era necessário realizar esta empresa com os próprios recursos do país, sem a ajuda defora. O País Soviético não era ainda, então, uma nação rica.

Nisto consistia uma das principais dificuldades deste período.Os países capitalistas costumavam criar sua indústria pesada a expensas dos

recursos que afluíam para eles de fora: à custa do saque das colônias, dascontribuições impostas aos povos vencidos e dos empréstimos estrangeiros. O País dosSoviets não podia recorrer, por princípio, para financiar a industrialização, a essassujas fontes de renda que o saque dos povos coloniais ou dos povos vencidosproporciona. Quanto aos empréstimos estrangeiros, a negativa dos países capitalistasem concedê-los fechava à URSS este caminho. Era preciso encontrar os recursosnecessários dentro do país.

E na URSS se encontraram estes recursos. A URSS descobriu fontes deacumulação desconhecidas em todos os Estados capitalistas. O Estado Soviéticodispunha de todas as fábricas e empresas industriais, de todas as terras, confiscadaspela Revolução Socialista de Outubro aos capitalistas e latifundiários, dos transportes,dos bancos, do comércio exterior e interior. Os lucros obtidos pelas fábricas eempresas industriais do Estado, pelos transportes, pelo comércio, pelos bancos já não

eram consumidos pela classe parasitária dos capitalistas, porém eram investidos paracontinuar desenvolvendo a indústria.O Poder Soviético tinha anulado as dívidas czaristas, pelas quais o povo tinha

que pagar todos os anos centenas de milhões de rublos ouro, somente no que serefere a juros. Ao abolir a propriedade dos latifundiários sobre a terra, o PoderSoviético libertou os camponeses da obrigação de pagar todos os anos aoslatifundiários cerca de 500 milhões de rublos-ouro, a que montavam as rendas daterra. Os camponeses, livres desta carga, podiam ajudar o Estado a construir umanova e poderosa indústria. Para isto, estavam vitalmente interessados em dispor detratores e de maquinaria agrícola.

O estado Soviético dispunha de todas estas fontes de renda. Delas podiam saircentenas e milhares de milhões de rublos para construir a indústria pesada. A únicacoisa que faltava era abordar o problema de um modo rendoso e implantar um

severíssimo regime de economia em matéria de despesas, racionalizar a produção,reduzir os preços de custo desta, acabar com os gastos improdutivos, etc.

E assim foi, com efeito, como procedeu o Poder Soviético.Graças ao regime de economia que se seguiu, cada ano eram mais

consideráveis os recursos que se acumulavam para investir em obras básicas. E assim,foi possível atacar a construção de empresas tão gigantescas como a Central elétricado Dnieper, a estrada de ferro do Turquestão à Sibéria, a fábrica de tratores deStalingrado, as fábricas de automóveis “AMO” (hoje fábrica Stalin), etc. Em 1926-1927, se investiram na indústria cerca de mil milhões de rublos; três anos depois, sepuderam investir nelas já uns 5.000 milhões.

A obra da industrialização continuava avançando.Os países capitalistas viam no fortalecimento da Economia socialista da URSS

uma ameaça para a existência do sistema capitalista. Em vista disto, os governosimperialistas tomaram todas as medidas imagináveis para exercer uma nova pressãosobre a URSS, para impedir, frustrar, ou pelo menos, enfraquecer, a marcha daindustrialização na União Soviética.

Em Maio de 1927, os conservadores ingleses, os reacionários que estavam noPoder, organizaram um assalto de provocação contra a Sociedade Soviética para oComércio com a Inglaterra (“Arkos”). Em Maio de 1927, o governo conservador inglêsrompeu as relações diplomáticas e comerciais com a URSS

Em 7 de Julho de 1927, um guarda branco russo, súdito polaco, assassinou emVarsóvia o Embaixador da URSS, camarada Voikov.

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Ao mesmo tempo, os espiões e agentes diversionistas ingleses emboscados noterritório da URSS lançaram várias bombas contra um clube do Partido em Leningrado,ferindo 30 pessoas, várias delas gravemente.

No verão de 1927, produziram-se quase simultaneamente assaltos contra asembaixadas e delegações comerciais da URSS em Berlim, Pequim, Xangai e Tientsin.

Veio isto aumentar as dificuldades com que tinha que lutar o Poder Soviético.A URSS, porém, não se rendeu à pressão e rechaçou facilmente os assaltos

provocadores dos imperialistas e dos seus agentes.Não foram menores as dificuldades que originaram ao Partido e ao Estado

Soviético os trotskistas e demais elementos da oposição, com seu trabalho de sapa.Não em vão, dizia o camarada Stalin, naquele tempo, que contra o Poder Soviético “seformava uma espécie de frente única, que ia desde Chamberlain até Trotsky”. Apesardas resoluções do XIV Congresso do Partido e das promessas de lealdade feitas pelaoposição, seus sequazes não depunham as armas. Longe disso, intensificavam cadavez mais seu trabalho divisionista e de sapa.

No verão de 1926, os trotskistas e os zinovievistas se uniram num bloco anti-bolchevique, agruparam em torno deste bloco os restos de todos os grupos daoposição derrotados e assentaram as bases para um partido clandestino anti-leninista,infringindo deste modo gravemente os estatutos do Partido e as resoluções dos seusCongressos, que proibiam a formação de toda a classe de frações. O Comitê Central doPartido advertiu que se este bloco anti-bolchevique, formado à imagem e semelhançado célebre Bloco menchevique de agosto, não fosse dissolvido, os seus componentes

podiam acabar mal. Os elementos que formavam o bloco não cederam, porém.No outono do mesmo ano, nas vésperas da XV Conferência do Partido,procuraram uma saída nas assembléias do Partido organizadas nas fábricas de Moscou,Leningrado e outras cidades, tentando impor ao Partido uma nova discussão. Aomesmo tempo, submeteram à apreciação dos filiados do Partido uma plataforma quenão era mais que uma cópia da conhecida plataforma trotskista-menchevique, anti-leninista. Os filiados do Partido combateram energicamente os elementos da oposiçãoe em alguns lugares os expulsaram das assembléias, sem rodeios. O Comitê Centraladvertiu novamente aos componentes do bloco que o Partido não podia continuartolerando seu trabalho de sapa.

Os elementos da oposição apresentaram ao Comitê Central uma declaraçãosubscrita por Trotsky, Zinoviev, Kamenev, Sokolnikov, na qual condenavam seutrabalho divisionista e prometiam manter daí por diante uma atitude leal para com o

Partido. Não obstante, o bloco continuou existindo de fato e os seus componentes nãocessaram sua atuação clandestina contra o Partido. Continuaram juntando os pedaçosde seu partido anti-leninista, montaram uma imprensa clandestina, angariavam quotasentre seus sequazes e difundiam sua plataforma.

Em relação com esta conduta dos trotskistas e zinovievistas, a XV Conferênciado Partido (novembro de 1926) e o pleno ampliado do Comitê Executivo daInternacional comunista (dezembro de 1926) puseram em discussão as questões dobloco trotskista-zinovievista e nas suas resoluções estigmatizaram os componentesdeste bloco, como elementos divisionistas que em sua plataforma desceram até àsposições mencheviques.

Os componentes do bloco, porém, não aproveitaram esta lição. Em 1927, nomomento em que os conservadores ingleses rompiam as relações diplomáticas e

comerciais com a URSS, aqueles elementos voltaram a intensificar seus ataques contrao Partido. Arranjaram uma nova plataforma anti-leninista, a chamada “plataforma dos83”, e começaram a difundi-la entre os filiados do Partido, exigindo que o ComitêCentral se prestasse a abrir uma nova discussão com caráter geral. Esta plataformaera, talvez, a mais hipócrita e farisaica de todas as plataformas apresentadas pelaoposição.

De palavra, isto é, na sua plataforma, os trotskistas e zinovievistas não faziamnenhuma restrição à observância das resoluções do Partido e se pronunciavam a favorda lealdade a este, porém de fato infringiram da forma mais grave as resoluções doPartido, zombando de tudo o que significasse lealdade a ele e ao Comitê Central.

De palavra, isto é, na sua plataforma, não opunha a menor restrição à unidadedo Partido, e se pronunciavam contrários à divisão, porém, de fato, infringiram da

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forma mais grave a linha do Partido, seguiam uma linha divisionista, e contavam jácom seu próprio partido clandestino, anti-leninista, maduro para se converter em umpartido anti-soviético, contra-revolucionário.

De palavra, isto é, na sua plataforma se pronunciavam a favor da política daindustrialização e chegavam inclusive a acusar o Comitê Central de dirigi-la com umritmo que não era suficientemente rápido, porém de fato denegriam a resolução doPartido sobre o triunfo do socialismo na URSS, zombavam da política daindustrialização socialista, exigiam que se entregassem aos estrangeiros, a titulo deconcessões, toda uma série de fábricas e empresas industriais e depositavam suasprincipais esperanças nas concessões capitalistas estrangeiras na URSS.

De palavra, isto é, na sua plataforma, se manifestavam a favor do movimentokolkhosiano, chegavam inclusive a acusar o Comitê Central de dirigir a coletivizaçãocom um ritmo que não era suficientemente rápido, porém de fato zombavam dapolítica de incorporação dos camponeses à edificação socialista, pregavam quesurgiriam inevitavelmente “conflitos insolúveis”, entre a classe operária e oscamponeses e depositavam suas esperanças nos “arrendatários civilizados” no campo,isto é, nas explorações dos kulaks.

Era esta a plataforma mais hipócrita de todas as plataformas hipócritas daoposição. A sua única finalidade era enganar o Partido.

O Comitê Central se negou a abrir imediatamente a discussão, declarando aossequazes da oposição que essa só podia abrir-se como preceituavam os estatutos doPartido, isto é, com dois meses de antecedência a um Congresso.

Em outubro de 1927, dois meses antes de se celebrar o XV Congresso doPartido, o Comitê Central declarou aberta à discussão geral. Começou a batalha. Osresultados da discussão foram desastrosos para o bloco trotskista e zinovievista.Votaram a favor da política do Comitê Central 724.000 filiados e a favor do blocotrotskista-zinovievista 4.000, isto é, menos de um por cento. O bloco anti-bolcheviquesofreu uma verdadeira derrota. O Partido, animado por um só espírito, rechaçou poresmagadora maioria a plataforma do bloco.

O Partido, para cuja opinião os componentes do bloco tinham apelado poriniciativa própria, expressava assim sua vontade de um modo inequívoco.

Os componentes do bloco, porém, não aproveitaram esta lição. Em vez de sesubmeterem à vontade do Partido, decidiram miná-la. Antes mesmo de terminar adiscussão, vendo-se inevitável e ignominiosamente fracassados, resolveram recorrer aformas mais agudas de luta contra o Partido e o Governo Soviético. Decidiram

organizar uma manifestação aberta de protesto em Moscou e em Leningrado.Escolheram para isto a data de 7 de Novembro, aniversário da Revolução de Outubro,em que os trabalhadores da URSS desfilam em manifestações revolucionárias comtodo o povo. Os trotskistas e os zinovievistas se propunham, portanto, a organizaruma manifestação paralela a esta. Como era de esperar, os sequazes do bloco sóconseguiram congregar na rua um punhado ridículo de comparsas que foram varridose repelidos com seus corifeus, pela manifestação de todo o povo.

Agora, já não se podia duvidar que os trotskistas e os zinovievistas  tinham seafundado no charco anti-soviético. Se na discussão geral do Partido apelavam paraeste contra o Comitê Central, agora, ao organizarem sua lamentável manifestação,lançavam-se pelo caminho de apelar para as classes inimigas contra o Partido e oEstado Soviético. Ao traçarem como objetivo a destruição do Partido bolchevique,

tinham inevitavelmente que descer até o caminho da luta contra o Estado Soviético,pois no país dos Soviets, o Partido bolchevique e o Estado são inseparáveis. Com isso,os corifeus do bloco trotskista-zinovievista se colocavam fora do Partido, pois eraimpossível continuar tolerando nas fileiras do Partido bolchevique pessoas que tinhamrolado até o charco anti-soviético.

Em 14 de novembro de 1927, em uma reunião conjunta do Comitê Central e daComissão Central de Controle, Trotsky e Zinoviev foram expulsos do Partido. 2 – Êxitos da industrialização socialista – Retraso da agricultura – O XVCongresso do Partido – Esmagamento do bloco trotskista-zinovievista – A política de duas caras.

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 Em fins de 1927, começaram a se destacar êxitos decisivos na política da

industrialização socialista. A industrialização, dentro das condições da NEP, realizouimportantes avanços em pouco tempo. A indústria e a agricultura em conjunto(incluindo a exploração florestal e a pesca), não só alcançaram o nível de produçãoglobal de antes da guerra, senão que o ultrapassaram. O peso especifico da indústriadentro da Economia nacional aumentou até 42 por cento, alcançando o nívelproporcional de antes da guerra.

O setor socialista da indústria crescia rapidamente a expensas do setor privado,aumentando de 81 por cento em 1924-1925, até 86 por cento em 1926-1927, aomesmo tempo em que o peso específico do setor privado decrescia, durante esteperíodo, de 19 a 14 por cento.

Isto significava que a industrialização na URSS tinha um caráter socialista quese ia acentuando rapidamente, que a indústria da URSS se desenvolvia pela via dotriunfo do sistema socialista de produção, que no terreno da indústria o problema de“Quem vencerá?” estava já resolvido a favor do socialismo. 

Com a mesma rapidez os comerciantes privados iam sendo desalojados docomércio; sua participação no comércio varejista decresceu de 42 por cento, em 1924-1925, a 32 por cento em 1926-1927, e não falemos no comércio atacadista, onde aparticipação dos particulares desceu, nesse mesmo período, de 9 a 5 por cento.

Era, porém, mais rápido ainda o ritmo com que se desenvolvia a grandeindústria socialista, que em 1927, isto é, no primeiro ano depois do período de

restauração da Economia, viu aumentar sua produção em 18 por cento, emcomparação com a do ano precedente. Era este um recorde de desenvolvimento daprodução, inesquecível até para a grande indústria dos países capitalistas maisadiantados.

A agricultura, principalmente a cultura de cereais, apresentava, ao contrário,um quadro muito diverso. Ainda que, em conjunto, a agricultura houvesseultrapassado o nível de antes da guerra, a produção global de seu ramo maisimportante, o de cultivo de cereais, só produzia 91 por cento do nível de antes daguerra, e a parte mercantil da produção de cereais, a parte que se destinava a servendida para o aprovisionamento das cidades representava apenas 37 por cento donível de antes da guerra; além disso todos os indícios anunciavam o perigo de que aprodução de trigo para o mercado continuaria decrescendo.

Isto significava que a divisão das grandes fazendas produtoras de mercadorias

no campo em pequenas explorações e destas em outras ainda menores, processo quecomeçou em 1918, prosseguia sempre; que as pequenas e diminutas exploraçõescamponesas se convertiam em economias de tipo semi-natural, capazes de produzirsomente uma quantidade mínima de trigo para o mercado, que o cultivo de cereais em1927, apesar de ser somente a produção um pouco menor que a de antes da guerra,só deixava margem para vender para as cidades um pouco mais da terça parte daquantidade de trigo que os cultivadores de cereais podiam vender antes da guerra.

Não havia dúvida de que, se não acabasse com tal estado de coisas no cultivode cereais, o exército e as cidades da URSS seriam levados a uma situação de fomecrônica.

Tratava-se de uma crise do cultivo de cereais, à qual seguiria necessariamenteuma crise de pecuária.

Para sair dessa situação, era necessário passar, na agricultura, ao sistema agrande produção, capaz de utilizar os serviços de tratores e máquinas agrícolas e demultiplicar o rendimento do cultivo de cereais para o mercado. Duas possibilidades seabriam ante o país: passar à grande produção de tipo capitalista, o que equivalia aarruinar as massas camponesas, romper a aliança, entre a classe operária e oscamponeses, fortalecer os kulaks e acabar com o socialismo no campo, ou marcharpelo caminho da agrupação das pequenas explorações camponesas em grandesexplorações de tipo socialista, em kolkhoses, capazes de utilizar tratores e outrasmáquinas agrícolas modernas para desenvolver rapidamente o cultivo de cereais e suaprodução para o mercado.

É evidente que o Partido bolchevique e o Estado Soviético só podiam marcharpelo segundo caminho, pelo caminho kolkhosiano de desenvolvimento da agricultura.

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Para isso o Partido se baseava nas seguintes indicações de Lênin a respeito danecessidade de passar das pequenas explorações camponesas às grandes exploraçõesagrícolas coletivas, de artel:

a) “Com a pequena exploração não se pode sair da miséria” (Lênin, t. XXIV pág.540, ed. russa).

b) “Se continuarmos aferrados rotineiramente às pequenas explorações, aindaque sejamos cidadãos livres sobre a terra livre, nos ameaçará, apesar de tudo, odesmoronamento inevitável” (t. XX pág. 417, ed. russa). 

c) “Se a economia camponesa tem de continuar desenvolvendo-se, é necessárioassegurar também solidamente a sua evolução ulterior, e esta evolução ulteriorconsistirá, inevitavelmente, em que, unificando-se gradualmente, as pequenasexplorações camponesas isoladas, as menos proveitosas e as mais atrasadas,organizem conjuntamente a exploração agrícola coletiva em grande escala” (t. XXVI,pág. 299, ed. russa).

d) “Só mostrando praticamente aos camponeses as vantagens do cultivoagrícola social, coletivo, em forma de cooperativas, de artéis; só auxiliando ocamponês, com a ajuda do regime cooperativo, do artel, poderá a classe operária, quetem em suas mãos o Poder do Estado, demonstrar realmente ao camponês suajusteza, atraindo firmemente para seu lado a massa de milhões e milhões decamponeses” (t. XXIV, pág. 579 ed. russa). 

Tal era a situação nas vésperas do XV Congresso do Partido.O XV Congresso se abriu em 2 de dezembro de 1927. Tomaram parte nele 898

delegados com palavra e voto e 771 com palavra somente, representando 887.233filiados e 348.957 aspirantes.Assinalando no seu informe os êxitos da industrialização e o rápido

desenvolvimento da indústria socialista, o camarada Stalin apresentava ao Partido estatarefa: “Desenvolver e fortalecer nossos postos de comando socialistas em todos osramos da Economia nacional, tanto na cidade como no campo, com o fim de liquidar oselementos capitalistas na Economia nacional”. 

Fazendo um paralelo entre a agricultura e a indústria e assinalando o atrasodaquela, principalmente no cultivo de cereais, atraso que se explicava pelodesmembramento da agricultura, incompatível com a aplicação da técnica moderna, ocamarada Stalin destacava que este estado pouco satisfatório da agriculturarepresentava um perigo para toda a Economia nacional.

“Onde está a solução?” – perguntava o camarada Stalin.

“A solução – respondia – está na passagem das pequenas exploraçõescamponesas espalhadas para as grandes explorações unificadas na base do cultivo emcomum da terra, na passagem ao cultivo coletivo da terra na base de uma nova e maiselevada técnica. A solução está em que as pequenas e diminutas exploraçõescamponesas se agrupem paulatina, porém infalivelmente, não por meio da coação,mas por meio do exemplo e da persuasão, em grandes explorações, sobre a base docultivo em comum, do cultivo cooperativo, coletivo da terra, mediante o emprego demaquinaria agrícola e de tratores e a aplicação de métodos científicos destinados aintensificar a agricultura. Não há outra solução”. 

O XV Congresso tomou a resolução de desenvolver por todos os meios a obrade coletivização da agricultura. Traçou um plano para desenvolver e consolidar umarede de kolkhoses e sovkhoses e deu instruções claras e precisas sobre os métodos de

luta em prol da coletivização da agricultura.Ao mesmo tempo, o Congresso traçou a norma de: ”continuar desenvolvendo aofensiva contra os kulaks e tomar um série de medidas novas que restringiam odesenvolvimento do capitalismo no campo e encaminhem a Economia camponesa parasocialismo”. (Resoluções do PC (b) da URSS, parte II pág. 260). 

Finalmente, partindo do fortalecimento do princípio da planificação na Economianacional e visando a organização, segundo um plano, da ofensiva do socialismo contraos elementos capitalistas em toda a frente da Economia nacional, o Congresso deu aosorganismos competentes a norma de estabelecer o primeiro Plano qüinqüenal daEconomia nacional soviética.

Depois de examinar os problemas da edificação do socialismo, o XV Congressodo Partido passou o problema da liquidação do Bloco trotskista-zinovievista.

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O Congresso reconheceu que “a oposição rompeu ideologicamente com oleninismo, degenerou em um grupo menchevique, abraçou o caminho da capitulaçãoante as forças da burguesia internacional e interior e se converteu, objetivamente,numa arma da terceira força contra o regime da ditadura proletária” (“Resoluções doPC (b) da URSS” parte II. Pág. 232). 

O Congresso comprovou que as discrepâncias existentes entre o Partido e aoposição tinham-se agravado, convertendo-se em divergências de caráterprogramático, e que a oposição trotskista marchava pelo caminho da luta anti-soviética. Por isso o XV Congresso declarou que pertencer à oposição trotskista epropagar suas idéias era incompatível com a permanência dentro das fileiras do Partidobolchevique.

O Congresso referendou a resolução de expulsão do Partido de Trotsky eZinoviev tomada na reunião conjunta do Comitê Central e da Comissão de Controle, eresolveu expulsar todos os elementos ativos do bloco trotskista-zinovievista, tais comoRadek, Preobrazhenski, Rakovski, Piatakov, Serebriakov, I. Smirnov, Kamenev, Sarkis,Safarov, Lifshitz, Mdivani, Smilga e de todo o grupo dos “centralistas democráticos” (Sapronov, V. Smirnov, Boguslavski, Drokhnis e outros).

Os sequazes do bloco trotskista-zinovievista, derrotados ideologicamente edesmantelados no terreno da organização, perderam os últimos vestígios de suainfluência no povo.

Algum tempo depois do XV Congresso, os anti-leninistas, expulsos do Partido,começaram a formular declarações de ruptura com o trotskismo, implorando sua

readmissão. Naturalmente, o Partido não podia saber ainda, naquela época, queTrotsky, Rakovski, Radek, Kretinski, Sokolnikov e outros eram, há muito tempo,inimigos do povo e espiões arrolados nos serviços de espionagem estrangeira; queKamenev, Zinoviev, Piatakov e outros já mantinham contato com os inimigos da URSSnos países capitalistas para “colaborar” com eles contra o Povo Soviético. Estava,porém, bastante adestrado pela experiência para esperar todas as vilanias imagináveisdestes indivíduos, que se tinham levantado repetidas vezes contra Lênin e o Partidoleninista nos momentos mais difíceis. Por isso, o Partido recebeu com desconfiança asdeclarações dos expulsos, e como primeira prova da sinceridade dos assinantesdaquelas declarações submeteu a sua readmissão às seguintes condições:

a) Condenação aberta do trotskismo, como ideologia anti-bolchevique e anti-soviética.

b) Reconhecimento aberto da política do Partido, como a única política certa.

c) Submissão incondicional às resoluções do Partido e de seus órgãos.d) Fixação de um prazo de prova, durante o qual o Partido observaria a conduta

dos assinantes das declarações e a cuja terminação, em vista dos resultados da prova,examinaria a conveniência de readmitir ou não em separado cada um dos indivíduosexpulsos.

Ao proceder assim, o Partido entendia que o reconhecimento aberto destespontos pelos indivíduos expulsos seria, em todo caso, favorável para o Partido, já queromperia a unidade das fileiras trotskista-zinovievistas, levando a elas a discórdia,ressaltaria uma vez mais a justeza e a pujança do Partido e daria a este no caso deque as declarações assinadas fossem sinceras, a possibilidade de readmitir em seu seioos antigos militantes, e no caso de que fossem falsas, a de desmascará-los aos olhosde todos, não já como pessoas equivocadas, porém como arrivistas sem princípios,

como mistificadores da classe operária e falsários intransigentes.A maioria dos expulsos aceitou as condições impostas pelo Partido para seureingresso e publicou na imprensa as correspondentes declarações.

O Partido, com pena deles e não querendo privá-los da possibilidade de voltar amilitar nas fileiras do Partido da classe operária, restituiu-lhes o direito de filiados aoPartido.

Entretanto, com o correr do tempo, se tornou evidente que as declaraçõesassinadas pelos “militantes ativos” do bloco trotskista-zinovievista eram, salvocontadas exceções, mentirosas e falsas, dos pés à cabeça.

Comprovou-se que, mesmo antes de formular suas declarações, estescavalheiros tinham deixado de representar uma corrente política capaz de defendersuas idéias perante o povo, para se converterem numa camarilha de arrivistas em

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princípios, capazes de espezinhar publicamente o que lhes restava de suas idéias,capazes de elogiar publicamente as idéias do Partido, estranhas a eles, capazes deadotar, como os camaleões, qualquer cor, contanto que se mantivessem dentro doPartido, dentro da classe operária, para poder enlamear a classe operária e o seuPartido.

Os “militantes ativos” trotskista-zinovievistas não eram mais que chantagistaspolíticos, falsários políticos.

Os falsários políticos costumam começar pela fraude, visando com seusmanejos tenebrosos mistificar o povo, a classe operária e seu Partido. Porém não sedeve considerá-los como simples mistificadores. Os falsários políticos são umacamarilha de ativistas políticos sem princípios que, tendo perdido há muito tempo aconfiança do povo, se esforçam em conquistá-la de novo mediante a fraude, mediantemétodos camaleônicos, mediante a chantagem por qualquer procedimento que seja,contanto que não percam o título de militantes políticos. Os falsários políticos são umacamarilha de arrivistas sem princípios, capazes de se apoiarem em qualquer coisa,ainda que seja em delinqüentes, ainda que seja nos rebotalhos da sociedade, aindaque seja nos inimigos mais tenebrosos do povo, contanto que possam aparecernovamente no cenário político no “momento oportuno” e se lançar ao pescoço do povocomo seus “governantes”. 

A esta espécie de falsários políticos pertenciam, como se demonstrou, os“militantes ativos” trotskistas-zinovievistas.

 

3 – A ofensiva contra os kulaks – O grupo de Bukharin – Rykov contra oPartido – Aprovação do primeiro Plano Qüinqüenal – A emulaçãosocialista – Começa o movimento Kolkhosiano de massa. 

A agitação do bloco trotskista-zinovievista contra a política do Partido, contra aedificação do socialismo, e contra a coletivização, assim como a dos bukharinistas,sustentando que os kolkhoses fracassariam, que não se devia tocar nos kulaks, queeles mesmos “se incorporariam” ao socialismo, e que o enriquecimento da burguesianão representava nenhum perigo para o regime socialista: toda esta agitaçãorepercutia consideravelmente entre os elementos capitalistas do país e,principalmente, entre os kulaks. Estes sabiam agora, pelo que transparecia através daimprensa, que não estavam sós, que contavam com defensores e advogados como

Trotsky, Zinoviev, Kamenev, Bukharin, Rykov e outros. Naturalmente este fato nãopodia deixar de fortalecer o espírito de resistência dos kulaks contra a política doGoverno Soviético. E, com efeito, os kulaks começaram a oferecer uma resistênciacada vez mais severa. Começaram a se negar em massa a vender ao Estado Soviéticoa sobra de trigo, que se acumulava em grandes quantidades nos seus celeiros.Começaram a empregar o terror contra os kolkhosianos e contra os ativistas do Partidoe dos Soviets na aldeia, começaram a tocar fogo nos kolkhoses e nos centros deaprovisionamento de cereais do Estado.

O Partido via claramente que, enquanto não se esmagasse a resistência doskulaks, enquanto estes não fossem derrotados em campo aberto à vista doscamponeses, a classe operária e o Exército Vermelho não teriam pão em quantidadesuficiente, e o movimento kolkhosiano não adquiriria um caráter de massa.

Seguindo as normas traçadas pelo XV Congresso, o Partido passou à ofensiva

franca contra os kulaks. Nesta ofensiva, o Partido punha em prática a palavra deordem de lutar decididamente contra os kulaks, apoiando-se firmemente noscamponeses pobres e reforçando a aliança com os camponeses médios. Como respostaà negativa dos kulaks em vender ao Estado a sobra do trigo pelo preço da tabela, oPartido e o Governo aplicaram uma série de medidas extraordinárias contra os kulakse puseram em prática no artigo 107 do Código penal, no qual se estabelecia aconfiscação judicial da sobra do trigo aos kulaks e especuladores que se negassem avendê-la ao Estado pelo preço da tabela, e concederam aos camponeses pobres umasérie de franquias, em virtude das quais se punha à sua disposição 25 por cento dotrigo confiscado aos kulaks.

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Estas medidas extraordinárias surtiram seu efeito: os camponeses pobres emédios se engajaram na luta aberta contra os kulaks, estes ficaram isolados, e aresistência dos kulaks especuladores foi esmagada. Em fins de 1928, o EstadoSoviético dispunha já de reservas suficientes de trigo e o movimento kolkhosianoavançava com mais firmeza.

Neste mesmo ano, se descobriu uma grande organização de sabotagemformada por técnicos burgueses, no setor de Shajti, na bacia do Donetz. Estessabotadores mantinham estreitas relações com os antigos proprietários das empresas– capitalistas russos e de outros países – e com a espionagem militar estrangeira.Tinham-se proposto como objetivo fazer fracassar o desenvolvimento da indústriasocialista e facilitar a restauração do capitalismo na URSS. Dirigiam mal os trabalhosde exploração nas minas, com o objetivo de diminuir a extração de hulha.Destroçavam as máquinas e os aparelhos de ventilação, provocavamdesmoronamentos, destruíam e incendiavam as minas, as fábricas e as centraiselétricas. Ao mesmo tempo dificultavam o melhoramento da situação material dosoperários e infringiam as leis soviéticas sobre a proteção do trabalho.

Estes sabotadores foram levados ante os Tribunais, onde receberam o quemereciam.

O Comitê Central chamou a atenção de todas as organizações do Partido para oprocesso dos sabotadores e as convidou a deduzir os ensinamentos que encerrava. Ocamarada Stalin assinalou que os bolcheviques que trabalhavam no setor da Economiadeviam familiarizar-se pessoalmente com a técnica da produção, para que daí por

diante nenhum sabotador saído das fileiras dos técnicos burgueses pudesse enganá-los, e destacou que era necessário acelerar a preparação de novos quadros técnicossaídos da classe operária.

Por resolução do Comitê Central, aperfeiçoou-se a preparação de novosespecialistas nas escolas técnicas superiores: milhares de homens filiados ao Partido eàs Juventudes Comunistas, e homens sem partido, fiéis à causa da classe operária,foram mobilizados para cursar estas escolas.

Antes que o Partido passasse à ofensiva contra os kulaks, enquanto estavaocupado na liquidação do bloco trotskista-zinovievista, o grupo de Bukharin-Rykov semanteve relativamente tranqüilo, permanecendo à margem como reserva das forçascontrárias ao Partido, sem se decidir a apoiar abertamente os trotskistas, e às vezeschegando inclusive a intervir contra eles em união com o Partido. Porém, logo que estepassou à ofensiva contra os kulaks e tomou as medidas extraordinárias contra eles, o

grupo Bukharin-Rykov tirou a máscara e começou a atuar abertamente contra apolítica do Partido. A alma de kulak dos componentes deste grupo não pôde agüentarmais, e estes começaram a intervir, abertamente, em defesa dos kulaks. Exigiam quefossem abolidas as medidas extraordinárias, assustando os bobos com a ameaça deque, em caso contrário, sobreviria uma “regressão” da agricultura e afirmando queesta regressão já havia começado. Não percebendo o desenvolvimento dos kolkhoses edos sovkhoses, isto é, das formas mais elevadas da agricultura, vendo o retrocessodas fazendas dos kulaks, apresentavam tendenciosamente a regressão destasfazendas como a regressão da agricultura. Com o fim de reforçar suas posiçõesteoricamente, arranjaram a divertida “teoria da extensão da luta de classes”,afirmando, baseados nesta teoria, que quanto mais êxito lograsse o socialismo em sualuta contra os elementos capitalistas, mais se iria enfraquecendo a luta de classes, que

esta não tardaria a se extinguir totalmente e o inimigo de classe entregaria todas assuas posições sem luta, razão pela qual não havia porque empreender a ofensivacontra os kulaks. Com isso, ressuscitavam sua desacreditada teoria burguesa sobre aincorporação pacífica dos kulaks ao socialismo e achincalhavam a conhecida teseleninista, segundo a qual a resistência do inimigo de classe revestirá formas tanto maisagudas, quanto mais sentir o terreno vacilar sob meus pés, quanto maiores êxitosobtiver o socialismo, por cuja razão a luta de classes só poderá “extinguir-se” quandoo inimigo de classe for aniquilado.

Não era difícil compreender que o Partido tinha diante de si, no grupo Bukharin-Rykov, um grupo oportunista de direita, que só se diferenciava do bloco trotskista-zinovievista pela forma: os trotskistas e zinovievistas contavam com certaspossibilidades para disfarçar seu fundo capitulador com frases esquerdistas, com frases

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retumbantemente revolucionárias sobre a “revolução permanente”, enquanto que ogrupo Bukharin-Rykov, que se tinha levantado contra o Partido ao passar este àofensiva contra os kulaks, já não tinha a possibilidade de cobrir com uma máscara suaface capituladora e se via obrigado a defender as forças reacionárias do País Soviéticoe, sobretudo, os kulaks, abertamente, sem retóricas nem disfarces.

O Partido compreendeu que mais tarde ou mais cedo, o grupo Bukharin-Rykovacabaria estendendo a mão aos restos do bloco trotskista-zinovievista, para lutarconjuntamente contra o Partido.

Ao mesmo tempo em que atuavam politicamente, o grupo Bukharin-Rykov“trabalhava” no terreno da organização para reunir seus adeptos. Através de Bukharin,ia agrupando a juventude burguesa. Indivíduos do tipo de Slepkov, Marietki,Aijenwald, Goldenberg e outros; através de Tomski, os dirigentes burocratizados dossindicatos (Melnichanski, Dogadov, etc.); através de Rykov, um punhado de dirigentesdegenerados dos Soviets (A. Smirnov, Eismont, V. Schmidt, etc). Juntavam-se a estegrupo, de boa vontade, os elementos politicamente degenerados e que não escondiamsuas idéias capituladoras.

Naquele tempo, o grupo Bukharin-Rykov viu-se reforçado por um punhado dedirigentes da organização do Partido em Moscou (Uglanov, Kotov, Ujanov, Riutin,Yagoda, Polonski e outros). É preciso advertir que uma parte dos elementos direitistasse mantinha resguardada, sem atuar abertamente contra a linha do Partido. Nascolunas da imprensa do Partido e nas reuniões do Partido, pregavam a necessidade defazer concessões aos kulaks, a conveniência de não os sobrecarregar de impostos,

expunham a carga esgotadora que a industrialização trazia para o povo e o caráterprematuro da organização de uma indústria pesada. Uglanov se manifestou contraconstrução da Central elétrica do Dnieper, exigindo que os recursos destinados àindústria pesada se investissem na indústria leve. Este e outros capituladores dedireita afirmavam que Moscou era e continuaria sendo a Moscou das fábricas de percal,que não havia necessidade de lá construir fábricas de construção de maquinaria.

A organização do Partido em Moscou desmascarou Uglanov e seus adeptos,ameaçou-os pela última vez e cerrou ainda mais as fileiras em torno do Comitê Centraldo Partido. No Pleno do Comitê de Moscou do PC (b) da URSS, celebrado em 1928, ocamarada Stalin assinalou a necessidade de lutar em duas frentes, concentrando ofogo contra o desvio direitista. Os direitistas são, disse o camarada Stalin, os agentesdos kulaks dentro Partido.

 “O triunfo do desvio direitista dentro de nosso Partido libertaria as forças do

capitalismo, solaparia as posições revolucionárias do proletariado e aumentaria aspossibilidades de restauração do capitalismo em nosso país” – disse o camarada Stalin(“Problemas do leninismo”, ed. russa, pág. 234). 

No começo de 1929, se tornou claro que Bukharin, por mandato do grupo doscapituladores de direita havia estabelecido ligação com os trotskistas, através deKamenev, e preparava um acordo com eles para lutar conjuntamente contra o Partido.O Comitê Central desmascarou esta situação criminosa dos capituladores de direita eos advertiu de que o assunto podia terminar mal para Bukharin, Rykov, Tomski, etc.Porém os capituladores de direita não cederam. Levantaram-se dentro do ComitêCentral com uma nova plataforma anti-bolchevique, com uma declaração que foicondenada pelo Comitê Central. Este lhes fez uma nova advertência, lembrando-lhes asorte que teve o bloco trotskista-zinovievista. Apesar disso, o grupo Bukharin-Rykov,

prosseguiu no seu trabalho contra o Partido. Rykov, Tomski e Bukharin apresentaramao Comitê Central a demissão de seus cargos, acreditando que com isto assustariam oPartido. O Comitê Central condenou esta política de sabotagem dos demissionários.Por fim, o Pleno celebrado em novembro de 1929 pelo Comitê Central declarou que apropaganda das idéias dos oportunistas de direita era incompatível com a permanênciano Partido e dispôs que Bukharin, paladino dirigente dos capituladores de direita, fossedestituído de seu posto no Bureau Político do Comitê Central, e que se chamasseseriamente à atenção de Rykov, Tomski e demais adeptos desta oposição.

Os corifeus dos capituladores de direita, vendo que a coisa tomava mal aspecto,subscreveram uma declaração reconhecendo seus erros e a justeza da linha política doPartido.

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Os capituladores de direita tinham decidido recuar provisoriamente, para evitarque seus quadros fossem esmagados.

Assim terminou a primeira etapa da luta do Partido contra os capituladores dedireita.

As novas discrepâncias existentes dentro do Partido não passaramdesapercebidas para os inimigos exteriores da URSS Interpretando as “novasdiscórdias” produzidas dentro do Partido como um sinal de enfraquecimento deste,fizeram uma nova tentativa para arrastar a URSS para a guerra e fazer fracassar aobra da industrialização do país que não estava consolidada. No verão de 1929, osimperialistas provocaram o conflito da China contra a URSS, a ocupação pelosmilitaristas chineses da Estrada de Ferro do Leste da China (que pertencia à URSS) e aagressão das tropas brancas chinesas contra as fronteiras da Pátria Soviética noExtremo-Oriente. Porém o assalto dos militaristas chineses foi liquidado rapidamente;os militaristas se retiraram, derrotados pelo Exército Vermelho, e o conflito terminoumediante um convênio de paz com as autoridades da Manchúria.

A política de paz da URSS triunfava uma vez mais, apesar de tudo, apesar dosmanejos dos inimigos exteriores e das “discórdias” intestinas do Partido. 

Não tardaram em se reatar as relações comerciais e diplomáticas da URSS coma Inglaterra, que foram rompidas pelos conservadores ingleses.

Ao mesmo tempo em que rechaçava com êxito os ataques dos inimigosexteriores e interiores, o Partido desenvolveu um grande trabalho destinado a acelerara edificação da indústria pesada, organizar a emulação socialista, organizar sovkhoses

e kolkhoses e, finalmente, preparar as condições necessárias para aprovar e pôr emprática o primeiro, Plano qüinqüenal da Economia nacional soviética.Em abril de 1929, se reuniu a XVI Conferência do Partido. O problema principal

examinado nesta Conferência foi o do primeiro Plano qüinqüenal. A Conferênciarechaçou a variante “mínima” do Plano qüinqüenal, que os capituladores de direitadefendiam, e aprovou como obrigatória, sob quaisquer condições, a variante“máxima”. 

Foi aprovado, pois, pelo Partido, o célebre primeiro Plano qüinqüenal deedificação do socialismo.

Segundo o Plano qüinqüenal, o volume das inversões de capital na economianacional durante os anos de 1928 a 1933, seria de 64 bilhões de rublos. Destes, 19bilhões se investiriam na indústria, incluindo a eletrificação, 10 bilhões nos transportese 23 bilhões na agricultura.

Era um plano grandioso, destinado a equipar a indústria e a agricultura daURSS com a técnica moderna.

“A missão fundamental do Plano qüinqüenal – assinalava o camarada Stalin – consistia em criar em nosso país uma indústria, capaz de equipar de novo ereorganizar, não só a indústria em sua totalidade, mas também os transportes e aagricultura, na base do socialismo”. (Stalin, “Problemas do Leninismo”, pág. 485, ed.russa).

Apesar da grandiosidade, este Plano não era, para os bolcheviques, nadainesperado nem surpreendente. Era o que vinha preparando toda a marcha dodesenvolvimento da industrialização e da coletivização. Vinha-o preparando aqueleentusiasmo do trabalho que se apoderou dos operários e camponeses antes mesmo doPlano qüinqüenal e que encontrou a sua expressão na emulação socialista.

A XVI Conferência do Partido aprovou um apelo a todos os trabalhadores sobreo desenvolvimento da emulação socialista.A emulação socialista revelou exemplos maravilhosos de trabalho e da nova

atitude ante ele. Em muitas empresas e nos kolkhoses e sovkhoses, os operários ekolkhosianos apresentaram contra-planos. Realizaram maravilhas de heroísmo notrabalho. Não só executavam, mas ultrapassavam os planos de edificação socialista,traçados pelo Partido e pelo governo. Mudaram as idéias do homem a respeito dotrabalho. O trabalho deixou de ser uma carga forçada e esgotadora, como era sob ocapitalismo, para se converter “numa questão de honra, de glória, de valentia e deheroísmo” (Stalin).

Por todo o país se desenvolvia a nova e gigantesca edificação industrial.Empreendeu-se a construção da Central elétrica do Dnieper (o “Dnieprogués”). Na

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bacia do Donetz se empreendeu a construção das fábricas de Kramatorsk e Gorlovka ea reconstrução da fábrica de locomotivas e Lugansk. Surgiram novas minas e altosfornos. Nos Urais, se construíram a fábrica de maquinaria do Ural e os combinadosquímicos de Berenski e Solikanisk. Começou-se a construção da fábrica metalúrgica deMagnitogorsk. Empreendeu-se a construção de grandes fábricas de automóveis emMoscou e Gorki. Construíram-se gigantescas fábricas de tratores, de ceifadoras-trilhadoras, e em Rostov sobre o Don se levantou uma fábrica formidável demaquinaria agrícola. Desenvolveu-se a segunda base carbonífera da União Soviética: abacia do Kuznietsk. Em 11 meses se levantou na estepe, em Stalingrado, umaformidável fábrica de tratores. Na construção da central elétrica do Dnieper e dafábrica de tratores de Stalingrado, os operários bateram os recordes mundiais daprodutividade do trabalho.

A história não tinha conhecido jamais uma nova edificação industrial de tãogigantesca envergadura, um entusiasmo tal pela nova edificação, tanto heroísmo notrabalho das massas de milhões de homens da classe operária.

Era uma verdadeira onda de entusiasmo de trabalho da classe operária,desenvolvida na base da emulação socialista.

Esta vez, os camponeses não ficaram atrás em relação aos operários. Tambémno campo começou a se desenvolver o entusiasmo de trabalho das massascamponesas, na organização dos kolkhoses. As massas camponesas começaram amarchar resolutamente pelo caminho kolkhosiano. Para isto contribuíramconsideravelmente os sovkhoses e as estações de máquinas e tratores dotadas de

tratores e de outras máquinas agrícolas. As massas camponesas fluíam aos sovkhosese às estações de máquinas e tratores, viam como trabalhavam estes e as máquinasagrícolas, manifestavam seu entusiasmo e decidiam ali mesmo ingressar noskolkhoses”. Os camponeses, espalhados em pequenas e diminutas exploraçõesindividuais, carentes de apetrechos e de força de tração mais ou menos regulares,privados da possibilidade de arar as grandes terras baldias, em uma perspectiva demelhoramento de suas explorações, mergulhados na miséria e no isolamento,entregues as suas próprias forças, encontraram por fim uma saída, o caminho parauma vida melhor: com a agrupação de suas pequenas explorações coletivas, emkolkhoses, com os tratores, capazes de arar todas as terras, por “duras” que fossem,todos os terrenos baldios; com a ajuda do Estado em forma de maquinaria, dedinheiro, de homens e de conselhos; com a possibilidade de se livrar das garras doskulaks, aos quais o Governo Soviético tinha feito morder o pó recentemente, fazendo-

os curvar a cabeça para satisfação das massas de milhões de camponeses.Eis a base sobre a qual começou e se desenvolveu depois o movimento

kolkhosiano de massas, movimento que se intensificou especialmente em fins de 1929,imprimindo aos kolkhoses um ritmo de desenvolvimento sem precedente nem se querna própria indústria socialista.

Em 1928, a superfície semeada dos kolkhoses era de 1.390.000 hectares; em1929, tinha passado a ser de 4.262.000 hectares, e em 1930, os kolkhoses contavamjá com a possibilidade de planificar o cultivo de 15 milhões de hectares.

“É preciso reconhecer – dizia o camarada Stalin em seu artigo intitulado “O anoda grande transformação” (1929), referindo-se ao ritmo de desenvolvimento doskolkhoses – que este ritmo impetuoso de desenvolvimento não tem precedente nemmesmo em nossa indústria socialista, cujo ritmo de desenvolvimento se caracteriza por

sua grande envergadura”. Era uma virada no desenvolvimento do movimento kolkhosiano.Era o começo do movimento kolkhosiano de massas.“Que é que há de novo no atual movimento kolkhosiano?” perguntava o

camarada Stalin em seu citado artigo. E respondia: “O que há de novo e decisivo noatual movimento kolkhosiano é que agora os camponeses não ingressam noskolkhoses por grupos isolados, como ocorria antes, senão por aldeias inteiras, pormunicípios, por distritos e até por departamentos. Que significa isto? Significa que aoskolkhoses começaram a afluir em massa os camponeses médios. Tal é a base sobre aqual repousa essa transformação radical no desenvolvimento da agricultura, queconstitui a conquista mais importante do Poder Soviético...”  

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Isto significava que a tarefa de liquidação dos kulaks como base dacoletivização total, ia amadurecendo ou já estava madura.  

 RESUMO

 Na luta pela industrialização socialista do país, o Partido teve de vencer, nos

anos de 1926 a 1929, enormes dificuldades de ordem interna e internacional. Os

esforços do Partido e das classes operárias conduziram ao triunfo da política daindustrialização socialista do País Soviético.Foi resolvido, no fundamental, um dos problemas mais difíceis que a

industrialização apresentava: o problema da acumulação dos recursos necessários paraa construção da indústria pesada. Lançaram-se os alicerces duma indústria pesada,capaz de equipar de novo toda a Economia nacional.

Foi aprovado o primeiro Plano qüinqüenal de edificação do socialismo,desenvolveu-se em proporções gigantescas, a construção de novas fábricas, sovkhosese kolkhoses.

Estes avanços no caminho do socialismo foram acompanhados por umaacentuação da luta de classes dentro do país e por um recrudescimento da luta no seiodo Partido. Os resultados mais importantes desta luta foram: o esmagamento daresistência dos kulaks, o desmascaramento do bloco dos capituladores trotskistas-

zinovievistas como um bloco anti-soviético, o desmascaramento dos capituladores dedireita como agentes dos kulaks, a expulsão dos trotskistas do Partido, oreconhecimento de que as idéias destes e as dos oportunistas de direita eramincompatíveis com a permanência dentro do PC (b) da URSS.

Derrotados ideologicamente pelo Partido bolchevique e tendo perdido toda basede atuação entre a classe operária, os trotskistas deixaram de ser uma correntepolítica para se converterem em uma camarilha de arrivistas sem princípios echantagistas políticos, em um bando de falsários políticos.

Lançados os alicerces da indústria pesada, o Partido mobilizou a classe operáriae os camponeses para a execução do primeiro Plano qüinqüenal de reconstruçãosocialista da URSS; estendeu-se por todo o país a emulação socialista de milhões detrabalhadores; levantou-se uma potente onda de entusiasmo no trabalho e surgiu uma

nova disciplina do trabalho.Este período termina com o ano da grande transformação, que registrou êxitosgigantescos do socialismo na indústria e os primeiros êxitos importantes logrados noterreno da agricultura, a passagem dos camponeses médios para os kolkhoses e ocomeço do movimento kolkhosiano de massas.

        

           

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CAPÍTULO XI 

O Partido Bolchevique na Luta pela Coletivização daAgricultura (1930-1934)

 1 – A Situação internacional durante os anos de 1930 a 1934 – A criseeconômica nos países capitalistas – Ocupação da Manchúria pelo Japão

– A subida dos fascistas ao poder na Alemanha – Dois focos de guerra. 

Enquanto a URSS conseguia êxitos importantes na industrialização socialista dopaís e desenvolvia num ritmo rápido sua indústria, desencadeava-se nos paisescapitalistas, em fins de 1929, recrudescendo nos três anos seguintes, uma criseeconômica mundial sem precedentes por sua força destruidora. A crise industrialentrelaçava-se com a crise da agricultura, com a crise agrária, piorando ainda mais asituação dos países capitalistas.

Enquanto a indústria da URSS, durante os três anos de crise (1930-1933),cresceu de mais do dobro, atingindo em 1933 a 201% em relação ao seu nível de1929, a indústria dos Estados Unidos decresceu, em fins de 1933, 65% em relação aonível de 1929, a da Inglaterra 86%, a da Alemanha 66% e a da França 77%.

Esta circunstância vinha demonstrar mais uma vez a superioridade do sistemada Economia socialista. Evidenciava que o país do socialismo é o único país do mundoque está livre de crises econômicas.

Como resultado da crise econômica mundial, foram lançados à fome, à misériae ao suplício, 24 milhões de operários desempregados. A crise agrária condenava aosofrimento, dezenas de milhões de camponeses.

A crise econômica mundial veio agravar ainda mais as contradições entre osEstados imperialistas, entre os países vencedores e os países vencidos, entre osEstados imperialistas e os países coloniais e dependentes, entre os operários e oscapitalistas, entre os camponeses e os latifundiários.

No informe prestado perante o XVI Congresso do Partido o camarada Stalinassinalou que a burguesia procuraria a solução para a crise econômica, de um lado na

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não se deve ver somente um sinal da debilidade da classe operária e o fruto da traiçãoà classe operária da social-democracia, que abriu o caminho do fascismo. Nele épreciso ver também um sinal da fraqueza da burguesia, um indício de que esta já nãoestá mais em condições de governar com os velhos métodos do parlamentarismo e dademocracia burguesa, razão pela qual se vê obrigada a recorrer, em política interior,aos métodos terroristas de governo...” (Stalin, “Problemas do Leninismo”, pág. 545,ed. russa).

Os fascistas alemães caracterizaram sua política interior pelo incêndio doReichstag, por uma repressão brutal contra a classe operária, pela destruição dasorganizações do proletariado e supressão das liberdades democrático-burguesas. Suapolítica exterior, pela retirada da Sociedade das Nações e pela preparação aberta deuma guerra destinada a rever pela força as fronteiras dos Estados europeus, emproveito da Alemanha.

Graças aos fascistas alemães, portanto, criou-se no centro da Europa o segundofoco de guerra.

Como é lógico, a URSS não podia passar por cima de um fato tão importante. Ecomeçou a acompanhar a marcha dos acontecimentos na Europa ocidental, reforçandoa capacidade defensiva do país nas suas fronteiras ocidentais. 2 – Da política de restrições contra os elementos kulaks à política deliquidação dos kulaks como classe – Luta contra as deformações dapolítica do Partido no movimento kolkosiano – A ofensiva contra oselementos capitalistas em toda à frente – O XVI Congresso do Partido. 

A afluência em massa dos camponeses para os kolkhoses, ocorrida nos anos de1929 a 1930, era o resultado de todo o trabalho anterior do Partido e do Governo. Odesenvolvimento da indústria socialista, que começou a fabricar em massa tratores emáquinas para a agricultura; a luta decidida contra os kulaks durante as campanhasde acumulação de cereais dos anos de 1928 e 1929; o desenvolvimento da cooperaçãoagrícola, que foi, pouco a pouco, habituando o camponês ao regime coletivo; aexperiência positiva dos primeiros kolkhoses e sovkhoses: tudo contribuiu parapreparar a passagem para a coletivização total, para a afluência dos camponeses aoskolkhoses por aldeias, distritos e departamentos inteiros.

A passagem para a coletivização não se operou mediante a simples afluência

pacífica das grandes massas camponesas aos kolkhoses, mas através de uma luta demassas dos camponeses contra os kulaks. A coletivização total significava a passagempara as mãos dos kolkhoses de todas as terras situadas nos limites de uma aldeia, euma parte considerável dessas terras se achava nas mãos dos kulaks. Por essa razãoos camponeses tinham que alijar os kulaks das terras, expropriá-las, arrebatar-lhes ogado e as máquinas, exigindo que o Poder Soviético detivesse os kulaks e osexpulsasse da aldeia.

A coletivização total significava, pois, a liquidação dos kulaks.Era a política de liquidação dos kulaks como classe, sobre a base da

coletivização total.Naquela época a URSS contava já com uma base material suficientemente forte

para acabar com os kulaks, vencer sua resistência, liquidá-los como classe e substituirsua produção pela dos kolkhoses e sovkhoses.

Em 1927, os kulaks ainda produziam mais de 9.828.000 toneladas de trigo, dasquais lançavam ao mercado cerca de dois milhões de toneladas. Os kolkhoses esovkhoses, em troca, só conseguiram produzir, em 1927, 573.300 toneladas para omercado. Em 1929, graças ao rumo firme empreendido pelo Partido bolchevique nosentido do desenvolvimento dos kolkhoses e sovkhoses e graças aos êxitos daindústria socialista que tinham dotado a aldeia de tratores e máquinas agrícolas, oskolkhoses e sovkhoses se converteram em uma força considerável. Já nesse ano oskolkhoses e sovkhoses produziram mais de 6 milhões de toneladas de trigo, das quaislançaram ao mercado mais de 2 milhões de toneladas, isto é, mais do que os kulaksem 1927. Em 1930 os kolkhoses e sovkhoses tinham que lançar ao mercado, e

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efetivamente lançaram, mais de 6 milhões e meio de toneladas de trigo, ou seja,incomparavelmente mais que os kulaks em 1927.

O desalojamento, portanto, das forças de classe na Economia do país e aexistência da base material necessária para substituir a produção de trigo dos kulakspela produção de trigo dos kolkhoses e sovkhoses, permitiam ao Partido bolcheviquepassar da política de restrições contra os kulaks, para a nova política de liquidação doskulaks como classe, na base da coletivização total.

Até 1929 o Poder Soviético seguiu a política de restrições contra os kulaks. OPoder Soviético submetia os kulaks a impostos elevados, obrigava-os a vender o trigoao Estado a preços de tabela, restringia até certo ponto o usufruto da terra peloskulaks, apoiado na lei sobre os arrendamentos de terras, limitava as proporções dasexplorações dos kulaks mediante a lei sobre o emprego do trabalho assalariado peloscamponeses individuais. Mas o Poder não seguia ainda a política de liquidação doskulaks, pois as leis sobre os arrendamentos de terras e o emprego de trabalhoassalariado permitiam a existência dos kulaks, e a proibição de expropriar os kulaksdava uma certa garantia nesse sentido. Essa política servia para conter odesenvolvimento dos kulaks, para desalojar e arruinar certas camadas isoladas dekulaks que não podiam fazer frente a essas restrições. Mas não destruía as baseseconômicas dos kulaks como classe, nem conduzia à sua liquidação. Era uma políticade restrição, mas não de liquidação dos kulaks. Essa política foi necessária até chegara um determinado momento, enquanto os kolkhoses e os sovkhoses eram ainda débeise não podiam substituir a produção de trigo dos kulaks pela sua.

Em fins de 1929, quando já os kolkhoses e sovkhoses foram se desenvolvendo,o Poder Soviético fez uma mudança rápida, abandonando aquela política, para passarà política de destruição dos kulaks como classe. Revogou as leis sobre osarrendamentos de terras e emprego do trabalho assalariado, privando com isso oskulaks de terras e de assalariados. Aboliu a proibição de expropriar os kulaks. Permitiuque os camponeses se apoderassem do gado, das máquinas e instrumentos agrícolasdos kulaks. Procedeu-se à expropriação dos kulaks. Estes foram expropriadosexatamente como o foram os capitalistas em 1918, no terreno industrial, com adiferença apenas de que os meios de produção dos kulaks não passaram para as mãosdo Estado e sim para as mãos dos camponeses, associados, para as mãos doskolkhoses.

Foi uma profunda transformação revolucionária, um salto do velho estadoqualitativo da sociedade para um novo estado qualitativo, equivalente, por suas

conseqüências, à transformação revolucionária operada em outubro de 1917.O traço característico dessa transformação consistia em que ela se tinha

operado de cima, por iniciativa do Poder do Estado, com a ajuda direta de baixo, damassa de milhões de camponeses que lutavam contra a vassalagem dos kulaks e poruma vida kolkhosiana livre.

Esta revolução vinha resolver de golpe três problemas fundamentais daedificação socialista:

a) Acabava com a classe exploradora mais numerosa do País Soviético, com aclasse dos kulaks, que era o baluarte para a restauração do capitalismo;

b) Afastava a classe trabalhadora mais numerosa do País Soviético, a classecamponesa, do caminho das explorações individuais, fonte do capitalismo, para levá-lapela senda da Economia coletiva, kolkhosiana, socialista;

c) Dava ao País Soviético uma base socialista na esfera mais vasta e maisvitalmente necessária, que era também a mais atrasada da Economia nacional: aagricultura.

Deste modo secavam as últimas fontes de restauração o capitalismo dentro dopaís, ao mesmo tempo que se criavam as novas e decisivas condições necessárias paraa edificação de uma Economia nacional de tipo socialista.

Fundamentando a política de liquidação dos kulaks como classe e registrando osresultados do movimento de massas dos camponeses pela coletivização total, ocamarada Stalin escrevia, em 1929:

“Naufraga e se esfacela a última esperança dos capitalistas de todos os paí ses,que sonham com a restauração do capitalismo na URSS: o “sacrossanto princípio dapropriedade privada”. Os camponeses, a quem eles consideram como um material que

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aduba o terreno para o capitalismo, abandonam em massa a tão exaltada bandeira da“propriedade privada” e passam para o caminho do coletivismo, para o caminho dosocialismo.

“Naufraga a última esperança de restauração do capitalismo” (Stalin,“Problemas do Leninismo”, pág. 296, ed. russa). 

A política de liquidação dos kulaks como classe foi assegurada pela históricaresolução do Comitê do PC (b) da URSS de 5 de janeiro de 1930, “Sobre o ritmo dacoletivização e as medidas do Estado para ajudar o movimento kolkhosiano”. Nestaresolução levaram-se perfeitamente em conta as diversas condições existentes nasdiferentes regiões da URSS, e o nível desigual de preparação para a coletivização queexistia nas diversas regiões da União Soviética.

Estabeleceram-se diversos ritmos de coletivização. O Comitê Central dividiu asregiões da URSS, do ponto de vista dos ritmos de coletivização, em três grupos.

No primeiro grupo foram incluídas as regiões cerealistas mais importantes, asque melhor estavam preparadas para a coletivização, as que dispunham de maistratores e contavam com maior número de sovkhoses e maior experiência na lutacontra os kulaks durante as anteriores campanhas de aprovisionamento de cereais; oCáucaso Norte (o Kuban, o Don e Terek), a região central do Volga e a região do baixoVolga. O Comitê Central determinou que neste grupo de regiões cerealistas acoletivização deveria estar terminada, no fundamental, na primavera de 1931. Osegundo grupo de regiões cerealistas, do qual faziam parte a Ucrânia, a região centraldas Terras Negras, a Sibéria, o Ural, o Cazaquistão e outras regiões produtoras de

cereais, poderia terminar a coletivização, no fundamental, na primavera de 1932. Asrestantes regiões, territórios e repúblicas (a região de Moscou, Transcaucásia, asRepúblicas da Ásia Central, etc.) poderiam prolongar o prazo para a coletivização atéfins do Plano Qüinqüenal, isto é até o ano de 1933. O Comitê Central do Partidoreconhecia, em relação ao ritmo crescente da coletivização, a necessidade de acelerarmais ainda a construção de fábricas de tratores, de máquinas combinadas, e engatespara tratores, etc.

Ao mesmo tempo, exigia que se combatesse “energicamente a tendência desubestimar a importância da tração animal na fase atual do movimento kolkhosiano,tendência que conduz ao sacrifício e à venda dos animais de tração”. 

Os créditos abertos aos kolkhoses no ano de 1929-1930 excediam duas vezesos concedidos anteriormente (chegando até 500 milhões de rublos).

Ficou estabelecido que se garantisse aos kolkhoses a aplicação das leis agrárias

por conta do Estado.Nesta resolução traçava-se a norma importantíssima de que a forma

fundamental do movimento kolkhosiano naquela etapa concreta era o artel agrícola, noqual só se coletivizavam os meios básicos de produção. 

O Comitê Central prevenia muito seriamente as organizações do Partido “contratoda pretensão de impor” por decreto “, de cima, o movimento kolkhosiano, quepudesse implicar num perigo de substituir a verdadeira emulação socialista naorganização dos kolkhoses pela tentativa de obrigar a coletivização”. (Resoluções doPC (b) da URSS, parte II, pág. 662).

Essa recomendação do Comitê Central veio infundir clareza na aplicação danova política do Partido no campo.

Na base da política de liquidação dos kulaks e da aplicação da coletivização

total, desenvolveu-se um potente movimento kolkhosiano. Os camponeses de aldeias edistritos inteiros afluíam aos kolkhoses, varrendo de seu caminho os kulaks e livrando-se de suas garras.

Mas, ao lado dos formidáveis êxitos conseguidos na coletivização, começaramlogo a aparecer deficiências na situação prática dos ativistas do Partido, deformaçõesda política do Partido em relação ao movimento kolkhosiano.

Apesar de ter o Comitê Central prevenido seus militantes para não perderem acabeça diante dos êxitos da coletivização, muitos ativistas do Partido começaram aformar artificialmente este movimento, sem levar em conta as condições de lugar etempo, sem levar em conta o grau de preparação dos camponeses para entrar noskolkhoses.

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Ficou comprovado que se violava o principio do voluntariado na organização doskolkhoses. Numa série de comarcas, obrigavam-se os camponeses a entrar noskolkhoses, sob a ameaça de “expropriá-los”, de privá-los dos direitos eleitorais, etc.

Numa série de comarcas, o trabalho de preparação e de esclarecimentopaciente dos fundamentos da política do Partido em matéria de coletivização erasubstituído pelo procedimento burocrático, curialesco, de decretar de cima cifrasenormes de kolkhoses que se aparentava criar, aumentando artificialmente aporcentagem da coletivização.

Desobedecendo as normas do Comitê Central, segundo as quais o elofundamental do movimento kolkhosiano era o artel agrícola, no qual somente secoletivizavam os meios básicos de produção, havia uma série de localidades nas quaissaltavá-se apressadamente, por cima do artel para a comuna, e se implantava acoletivização das residências, dos animais de criação não destinados ao mercado, e dogado leiteiro, das aves, etc.

Os militantes dirigentes de algumas comarcas, animados pelos primeiros êxitosda coletivização, desobedeciam às normas diretas do Comitê Central sobre os ritmos eprazos aos quais a coletivização devia sujeitar-se. A região de Moscou, no afã deconseguir cifras elevadas, começou a orientar seus ativistas para a terminação dacampanha da coletivização na primavera de 1930, apesar de dispor ainda de cerca detrês anos (até fins de 1932). E mais graves ainda eram as infrações que se cometiamna Transcaucásia e na Ásia Central.

Os kulaks e seus porta-vozes aproveitavam-se desses excessos para fins

provocativos, formulavam propostas no sentido de se organizar comunas em vez deartels, de se passar diretamente à coletivização das residências, dos animais decriação e das aves. Ao mesmo tempo, os kulaks faziam agitação para que se matasseo gado antes de entrar nos kolkhoses, convencendo os camponeses de que no kolkhos“eles o tomariam de qualquer maneira”. O inimigo de classe especulava com a idéia deque os excessos e os erros cometidos pelas organizações locais quanto aos problemasda coletivização, irritariam os camponeses e provocariam sublevações contra o PoderSoviético.

O resultado dos erros cometidos pelas organizações do Partido, e dos atos defranca provocação dos inimigos de classe, foi que, na segunda quinzena de fevereirode 1930, sobre o fundo dos êxitos gerais e indiscutíveis conseguidos pela coletivização,se manifestasse, em algumas comarcas, perigosos sintomas de um sériodescontentamento por parte dos camponeses. Em alguns lugares os kulaks e seus

agentes conseguiram fazer, inclusive, com que os camponeses fossem levados amanifestar-se diretamente contra o Poder Soviético.

O Comitê Central, ao que chegavam uma série de sinais alarmantes sobre asdeformações da linha do Partido, que ameaçavam fazer fracassar a coletivização, pôsimediatamente mãos à obra para resolver a situação e começou a fazer com que osquadros do Partido corrigissem sem perda de tempo os erros cometidos. Em 2 demarço de 1930 publicou-se, por decisão do Comitê Central, o artigo do camaradaStalin intitulado: “Os êxitos nos sobem à cabeça”. Neste artigo admoestavam-se todosos que, deixando-se arrastar pelos êxitos da coletivização, incorriam em erros graves ese desviavam da linha do Partido; admoestavam-se todos os que tentavam levar oscamponeses pelo caminho kolkhosiano mediante medidas de coação administrativa.Nesse artigo foi vigorosamente salientado o princípio do voluntariado na organização

de kolkhoses e indicava-se a necessidade de levar em conta a diversidade decondições existentes nas diferentes regiões da URSS, ao determinar os ritmos emétodos de coletivização. O camarada Stalin recordava que o elo fundamental domovimento kolkhosiano era o artel agrícola, no qual somente se coletivizam os meiosbásicos de produção, principalmente na produção de cereais, deixando de lado a horta,a vivenda, uma parte do gado leiteiro, os animais de criação, as aves, etc.

O artigo do camarada Stalin teve uma enorme importância. Esse artigo ajudouas organizações do Partido a corrigirem seus erros e desfechou o mais violento golpenos inimigos do Poder Soviético, que confiavam que aqueles excessos lhes serviriamde base para a sublevação dos camponeses contra o Poder Soviético. As grandesmassas camponesas puderam convencer-se de que a linha do Partido bolchevique não

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tinha a menor relação com os excessos “esquerdistas” e imprudentes que se tinhacometido em alguns lugares. Este artigo tranqüilizou as massas camponesas.

Com o fim de levar a cabo a obra de correção dos excessos e erros, iniciadacom o artigo do camarada Stalin, o Comitê Central do PC (b) da URSS, em 15 demarço de 1930, decidiu atacar novamente esses erros, publicando uma resolução“Sobre a luta contra as deformações da linha do Partido no movimento kolkhosiano”. 

Nessa resolução analisava-se minuciosamente os erros cometidos e que eram oresultado do abandono da linha leninista-stalinista do Partido, o resultado da infraçãodireta das normas traçadas pelo Partido.

O Comitê Central assinalava que a atuação prática dos que incorriam naquelesexcessos “esquerdistas” significava uma ajuda direta ao inimigo de classe.

“Os ativistas que não souberem ou não quiserem manter uma luta decisivacontra as deformações da linha do Partido – dispunha o Comitê Central – serãoafastados de seus postos e substituídos por outros”. (Resoluções do PC (b) da URSS,parte II, pág. 663).

O Comitê Central trocou a direção de algumas organizações regionais eterritoriais do Partido (a da região de Moscou e da Transcaucásia), que tinhamcometido erros políticos e não souberam corrigi-los.

Em 3 de abril de 1930 foi publicado o artigo do camarada Stalin intitulado“Resposta aos camaradas kolkhosianos”. 

Nele punha-se a nu a origem dos erros cometidos no problema camponês e osprincipais erros cometidos no movimento kolkhosiano: a falsa maneira de abordar os

camponeses médios, a infração do princípio leninista do voluntariado na organizaçãodos kolkhoses, a infração do princípio leninista que obrigava a levar em conta adiversidade de condições existentes nas diferentes regiões da URSS e a passagemdireta á comuna, saltando por cima do artel.

Como resultado de todas essas medidas o Partido conseguiu acabar com osexcessos cometidos numa série de distritos pelos ativistas locais.

Sem a formidável firmeza do Comitê Central e sua capacidade de marchar contra a corrente, não se teria conseguido trazer para o bom caminho, no seu devidotempo, a parte considerável de quadros do Partido que, seduzidos pelos êxitos, iamrolando para baixo e se desviando da linha do Partido.

O Partido conseguiu acabar com as deformações de sua linha no movimentokolkhosiano.

Esta foi à base sobre a qual se firmaram os êxitos do movimento kolkhosiano.

Antes do Partido passar à política de liquidação dos kulaks como classe, aofensiva mais importante contra os elementos capitalistas, destinada à sua liquidação,era a que se desenvolvia, fundamentalmente, na cidade, no terreno da indústria. Atéesse momento a agricultura, o campo, marchavam a reboque da indústria, da cidade;por isso a ofensiva apresentava um caráter desigual, e não um caráter geral,completo. Mas agora, que o atraso da aldeia começava a passar à história, mostrou-secom toda a evidência a luta dos camponeses pela liquidação dos kulaks, e o Partidopassou à política de liquidação desses elementos – a ofensiva contra os elementoscapitalistas adquiriu um caráter geral e a ofensiva parcial converteu-se numa ofensivaem toda a frente. No momento da convocação do XVI Congresso do Partido, a ofensivageral contra os elementos capitalistas já tinha sido desencadeada em toda linha.

O XVI Congresso do Partido reuniu-se a 26 de junho de 1930. Compareceram

1.268 delegados com palavra e voto e 891 com palavra somente, representando1.260.874 filiados e 711.609 aspirantes.O XVI Congresso passou à história como sendo “O Congresso da of ensiva do

Socialismo desencadeada em toda a frente, da liquidação dos kulaks como classe e darealização da coletivização total”. (Stalin). 

No informe político do Comitê Central, o camarada Stalin pôs em relevo osgrandes triunfos conseguidos pelo Partido bolchevique mediante o desenvolvimento daofensiva socialista.

No terreno da industrialização socialista tinha-se conseguido que o pesoespecífico da indústria, dentro do volume global da produção da Economia Nacional,superasse o peso específico da agricultura. No ano econômico de 1929-1930, a

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produção da indústria chegava já a 53% do volume global da produção de toda aEconomia nacional, e a da agricultura só era de 47%, aproximadamente.

Na época do XV Congresso, no ano de 1926-1927, o volume global da produçãode toda a indústria era só de 102,5% do nível de antes da guerra; na época do XVICongresso, ou seja, em 1929-1930, era já de 180%, aproximadamente, do nível deantes da guerra.

A indústria pesada – a produção de meios de produção, a construção demaquinarias – ia-se fortalecendo cada vez mais.

“Encontramo-nos nas vésperas da transformação de um país agrário em umpaís industrial – declarou o camarada Stalin entre os aplausos entusiásticos doCongresso.

Entretanto, explicava o camarada Stalin, é necessário não confundir o ritmointensivo de desenvolvimento da indústria, com o nível desse desenvolvimento. Apesarda indústria socialista se desenvolver com um ritmo sem precedente, o País Soviéticoia muito à retaguarda, quanto ao nível do desenvolvimento industrial, dos paísescapitalistas mais adiantados. Assim acontecia com a produção de energia elétrica,apesar dos êxitos gigantescos conseguidos pela URSS no terreno da eletrificação.Assim acontecia com a produção de metais. Em fins de 1929-1930, a URSS deviaproduzir, segundo o plano, 5 milhões e meio de toneladas de fundição de ferro,enquanto que a Alemanha tinha produzido, em 1929, 13,4 milhões de toneladas e aFrança, 10,45 milhões. Para poder liquidar em pouco tempo esse atraso técnico-econômico, era necessário continuar acelerando o ritmo de desenvolvimento da

indústria soviética, era necessário lutar de modo mais resoluto contra os oportunistas,que aspiravam enfraquecer o ritmo de desenvolvimento da indústria socialista.“Os charlatões que falam da necessidade de enfraquecer o ritmo de

desenvolvimento de nossa indústria são inimigos do socialismo, agentes de nossosinimigos de classe” – assinalava o camarada Stalin. (“Problemas do Leninismo”, pág.369, ed, russa).

Depois de cumprir com êxito e ultrapassar o plano do primeiro ano do primeiroplano qüinqüenal, surgiu entre as massas à palavra de ordem de “executar o Planoqüinqüenal em quatro anos”. Numa série de ramos adiantados da indústria (petróleo,turba, construção de maquinarias geral agrícola, indústria eletro técnica), a execuçãodo plano se desenvolvia com tal êxito que nesses ramos pode-se chegar inclusive acumprir o programa traçado pelo Plano qüinqüenal em dois e meio a três anos. Issoconfirmava a plena realidade da palavra de ordem “Plano qüinqüenal em quatro anos” 

e desmascarava o oportunismo dos incrédulos que duvidavam da possibilidade de suarealização.

O XVI Congresso encarregou o Comitê Central do Partido que “assegurassetambém, para o futuro, os impetuosos ritmos bolcheviques na edificação socialistapara conseguir realmente executar o Plano qüinqüenal em quatro anos”. 

Na época do XVI Congresso operou-se uma transformação no desenvolvimentoda agricultura da URSS. As grandes massas camponesas se orientaram para osocialismo. Em 1º de Maio de 1930, nas regiões cerealistas mais importantes, o setorcoletivizado abarcava já 40 a 50 por cento das explorações camponesas (na primaverade 1928 só atingia a 2 ou 3 por cento). A superfície cultivada dos kolkhoses englobava36 milhões de hectares.

Tinha-se, portanto, ultrapassado o ambicioso programa traçado na resolução do

Comitê Central de 5 de janeiro de 1930 (30 milhões de hectares). Quanto ao planoqüinqüenal de organização de kolkhoses, seu programa para dois anos foi cumpridoem mais de 15%.

Em três anos a produção dos kolkhoses para o mercado cresceu mais de 40vezes. Em 1930 os kolkhoses, sem contar os sovkhoses, forneciam já ao Estado maisda metade de toda a produção de trigo produzido pelo país para o mercado.

Isto significava que daí por diante os destinos da agricultura do País Soviético jánão seriam traçados pelas explorações camponesas individuais, mas sim peloskolkhoses e sovkhoses.

Se até o momento em que os camponeses começaram a afluir em massa paraos kolkhoses o Poder Soviético se apoiava, fundamentalmente, na indústria socialista,

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de agora em diante começou a apoiar-se também no setor socialista da agricultura,que se estendia rapidamente, nos kolkhoses e nos sovkhoses.

Os camponeses kolkhosianos se converteram, como assinalava o XVI Congressonuma de suas resoluções, “num verdadeiro e firme alicerce do Poder Soviético”.  3 – O Partido se orienta para a reconstrução de todos os ramos daeconomia nacional – O papel da técnica – Continua a se desenvolver omovimento kolkhosiano – As seções políticas das estações de máquinase tratores – Balanço da execução do Plano Qüinqüenal em 4 anos – O

triunfo do socialismo em toda a frente – O XVII Congresso do Partido. 

Depois de comprovar que a indústria pesada, e, sobretudo a de reconstrução demáquinas, não só tinham sido criadas e asseguradas, mas também continuavam a sedesenvolver num ritmo bastante rápido, apresentou-se perante o Partido a tarefaimediata de reconstruir todos os ramos da Economia nacional sobre a base da novatécnica moderna. Era necessário prover de técnica nova, moderna, de novasferramentas e nova maquinaria, a indústria do combustível, a metalúrgica, a indústrialeve, a indústria de alimentação, a indústria florestal, a indústria de guerra, otransporte e a agricultura. Dado o aumento gigantesco da procura de produtosagrícolas e artigos industriais, tornava-se necessário duplicar ou triplicar a produçãoem todos os ramos da Economia nacional. Mas isso só se podia conseguir dotando as

fábricas e empresas: industriais, os sovkhoses e kolkhoses, de máquinas eferramentas modernas em quantidade suficiente, pois seu velho instrumental nãoestava em condições de fazer face a semelhante desenvolvimento da produção.

Sem reconstruir os ramos básicos da Economia nacional era impossívelsatisfazer as novas e cada vez maiores exigências do país e de sua Economia.

Sem esta obra de reconstrução era impossível levar a cabo a ofensiva dosocialismo em toda à frente, pois era preciso dar batalha e pôr fora de combate oselementos capitalistas da cidade e do campo, não só com uma nova organização dotrabalho e da propriedade, mas também em uma nova técnica, com a superioridade datécnica própria.

Sem esta obra de reconstrução era impossível atingir ultrapassar, no terrenotécnico-econômico, os países capitalistas mais adiantados, pois se bem que, do pontode vista do ritmo do desenvolvimento de sua indústria, a URSS superasse os países

capitalistas, do ponto de vista do volume da produção a URSS ficava ainda muito atrásdeles.

Para poder acabar com esse atraso, era necessário armar toda a economianacional soviética de uma nova técnica, era necessário reconstruir todos os ramos daeconomia nacional sobre a base de uma nova técnica, da técnica moderna.

A técnica tinha adquirido, portanto, uma importância decisiva.O obstáculo com que se tropeçava neste terreno não era tanto a escassez de

novas máquinas e ferramentas – pois a indústria de construção de máquinas estavaem condições de poder produzir novo instrumental – como a atitude errada quemantinham, perante a técnica, os militantes destacados no setor da economia, seumenosprezo pela importância da técnica no período de reconstrução, sua atitudedesdenhosa para com a técnica. Os administradores das empresas soviéticas

entendiam que a técnica era incumbência dos “especialistas”, uma questão secundária,a cargo dos “técnicos burgueses”, que os comunistas que trabalhavam no setoreconômico não tinham porque imiscuir-se na técnica da produção, que sua missão nãoconsistia em se ocupar de problemas técnicos, mas sim de questões mais importantes,como seja a da direção da produção “em geral”. 

Deixava-se, pois que os “especialistas” burgueses manejassem a seu arbítrio osassuntos da produção, enquanto os comunistas que trabalhavam nas organizaçõeseconômicas se encarregavam de dirigir a produção “em geral”, isto é, de assinarpapéis.

Não é preciso demonstrar que, com esta atitude que se adotava perante oproblema, o que se chamava dirigir a produção “em geral” tinha que degenerar em

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charlatanismo sobre a direção “em geral”, assinatura estéril de papéis, em puropapelório.

É evidente que, com aquela atitude desdenhosa para com a técnica, queadotavam os comunistas responsáveis pelas organizações econômicas, o País Soviéticojamais teria podido ultrapassar, nem mesmo sequer alcançar os países capitalistasmais adiantados. Semelhante atitude em relação à técnica, sobretudo no período dareconstrução, condenava o país soviético ao atraso, a que enfraquecesse o ritmo dedesenvolvimento de sua economia. No fundo, esta atitude perante a técnica ocultava,encobria o desejo secreto de uma parte de comunistas destacados nas organizaçõeseconômicas, de moderarem o ritmo de desenvolvimento da indústria, de fazê-lodecrescer e de desfrutarem uma “posição tranqüila”, descarregando sobre os“especialistas” a responsabilidade da produção. 

Era necessário conseguir que os comunistas que trabalhavam nas organizaçõeseconômicas se preocupassem com a técnica, que tomassem gosto por ela, mostrar-lheque os bolcheviques destacados no setor econômico tinham o dever fundamental dedominar a nova técnica, que sem dominar a nova técnica corria-se o risco de condenara Pátria Soviética ao atraso e à estagnação.

Sem resolver este problema, não era possível continuar avançando.Neste terreno teve uma importância muito grande o discurso do camarada

Stalin na primeira conferência de ativistas da indústria, celebrada em Fevereiro de1931.

“Pergunta-se, às vezes, – disse o camarada Stalin neste discurso – se não se

deverá moderar um pouco o ritmo, conter o movimento. Não; não é possível,camaradas! Não se deve diminuir o ritmo! Moderar o ritmo significa ficar atrasado. Eos que se atrasam são derrotados. E nós não queremos ser derrotados. Não, nãoqueremos!.

A história da velha Rússia consistia, entre outras coisas, em que eraconstantemente derrotada devido ao seu atraso. Foi derrotada pelos Khans mongóis.Foi derrotara pelos Beys turcos. Foi derrotada pelos senhores feudais da Suécia. Foiderrotada pelos “panis” da Polônia e da Lituânia. Foi derrotada pelos capitalistas daInglaterra e da França. Foi derrotada pelos barões do Japão. Foi derrotada por todos,devido ao seu atraso...

Marchamos com 50 ou 100 anos de atraso, em relação aos países maisadiantados. Temos que ganhar esse terreno em dez anos. Ou o fazemos, ou nosesmagam.

Num máximo de dez anos devemos ganhar o terreno que nos separa dos paísescapitalistas mais adiantados. Existem, em nosso país, todas as possibilidades“objetivas” para isso. A única coisa que nos falta é saber aproveitar verdadeiramenteessas condições. E isto depende de nós e somente de nós. Já é hora de aprendermos aaproveitar estas possibilidades. Já é hora de acabar com esse ponto de vista podre denão imiscuir-se na produção. Já é hora de adotar outro ponto de vista, novo, emharmonia com o período atual: o de imiscuir-se em tudo. O diretor de uma fábricadeve intervir em todos os assuntos, ouvir tudo, – não perder de vista nada, aprender eaprender sempre. Os bolcheviques devem dominar a técnica. Já é hora dosbolcheviques se converterem, eles próprios, em técnicos. A técnica, no período dareconstrução, decide tudo”. (Stalin, “Problemas do Leninismo”, págs. 444-446, ed.russa).

A importância histórica deste discurso do camarada Stalin consistiu em terposto fim à atitude depreciativa dos comunistas destacados nas organizaçõeseconômicas, em ter feito com que enfrentassem a técnica e em ter aberto uma novaetapa pelo domínio da técnica com as forças dos próprios bolcheviques, facilitando comisso o desenvolvimento da reconstrução da Economia nacional.

Desde então a técnica deixou de ser monopólio dos “especialistas” burguesespara converter-se num interesse vital dos próprios bolcheviques destacados no setoreconômico, e o nome depreciativo de “especialistas” se converteu num título de honrabolchevique familiarizado com a técnica.

No futuro haveriam de revelar-se – como de fato se revelaram – destacamentosinteiros, milhares e dezenas de milhares de especialistas vermelhos, familiarizadoscom a técnica e capacitados para dirigir a produção.

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Era uma nova geração, uma geração soviética de intelectuais, técnicos daprodução, saídos da classe operária e do campesinato, que constituem hoje a forçafundamental da direção da Economia soviética.

Tudo isso teria necessariamente que facilitar, como de fato facilitou, odesenvolvimento da obra de reconstrução da Economia nacional.

O desenvolvimento da obra de reconstrução não afetava somente a indústria eo transporte. Seu ritmo era mais intenso ainda no terreno da agricultura. E é lógicoque assim fosse, pois a agricultura dispunha de menos máquinas que os demais ramosda Economia nacional e estava, portanto, mais necessitada de novas maquinarias. Edotar intensivamente de novas maquinarias a agricultura, correspondida a umanecessidade especialmente grande, ante o desenvolvimento que adquiria aorganização dos kolkhoses em meses e em semanas, o que representava uma procurade novos milhares de tratores e de novas maquinarias agrícolas.

O ano de 1931 imprimiu um novo impulso ao movimento kolkhosiano. Nasregiões cerealistas mais importantes agrupavam-se já, nos kolkhoses, mais de 80% detodas as explorações camponesas. Aí, a coletivização total já estava conseguida, nofundamental. Nas regiões cerealistas menos importantes e nas regiões de cultivosindustriais, a coletivização afetava mais de 50% das explorações. Os dois terços dasuperfície total semeada eram cultivados já por 200.000 kolkhoses e 4.000 sovkhoses,ficando para os camponeses individuais só um terço.

Isto representava um formidável triunfo do socialismo do campo.Mas o movimento kolkhosiano não se desenvolvia ainda em profundidade, mas

sim em extensão, não no sentido de melhorar a qualidade do trabalho dos kolkhoses ede seus quadros, mas no sentido de aumentar a quantidade de kolkhoses e deestender o movimento kolkhosiano a novos e novos distritos. A explicação disso resideno fato de que os ativistas kolkhosianos, os quadros kolkhosianos, não aumentavamcom a mesma rapidez com que aumentava a quantidade de kolkhoses. Isso fazia comque os novos kolkhoses nem sempre trabalhassem satisfatoriamente e que os mesmoscontinuassem sendo, no momento, organismos débeis, não robustecidos. Contribuíamtambém para moderar o fortalecimento dos kolkhoses, fatos como a escassez nasaldeias de pessoas com um mínimo de cultura que os kolkhoses necessitavam paraseus trabalhos (para os postos de contadores, administradores e secretários), e ainexperiência completa dos camponeses quanto ao regime das grandes exploraçõescoletivas. Os kolkhosianos de hoje eram os camponeses individuais de ontem.Possuíam experiência quanto ao modo de explorar pequenas parcelas, mas ainda não

tinham aprendido a dirigir as grandes explorações kolkhosianas. Para que pudessemadquirir essa experiência, era necessário tempo.

Estas circunstâncias fizeram com que, durante os primeiros tempos, semanifestassem deficiências importantes no funcionamento dos kolkhoses. Verificou-seque nos mesmos o trabalho estava ainda mal organizado e que a disciplina no trabalhoera fraca. Em muitos kolkhoses os lucros não eram divididos de acordo com asjornadas de trabalho, mas por cabeça. E freqüentemente dava-se o caso de que ospreguiçosos obtinham maior quantidade de trigo que os kolkhosianos mais honrados elaboriosos. Estas deficiências de direção dos kolkhoses faziam com que os kolkhosianossentissem decrescer seu interesse pelo trabalho, com que deixassem a miúdo deatender os trabalhos até mesmo nas épocas de maior atividade, com que não sefizesse colheita numa parte das terras cultivadas dos kolkhoses, até que chegasse a

época das neves, ou com que os trabalhos da colheita fossem realizados de mávontade, perdendo-se enormes quantidades de trigo. A ausência de responsabilidadepessoal pelas máquinas e pelo gado de tração, bem como pelo trabalho em geral, faziacom que enfraquecesse a causa kolkhosiana e diminuíssem seus lucros.

Nos distritos em que os antigos kulaks e seus porta-vozes tinham conseguidogalgar postos de direção nos kolkhoses, a situação era particularmente má. Nãopoucas vezes os kulaks expropriados se transferiam para outros distritos, onde nãoeram conhecidos, e se infiltravam nos kolkhoses para sabotar e dificultar seufuncionamento. Às vezes os kulaks, aproveitando-se da falta de vigilância dos ativistasdo Partido e dos Soviets, infiltravam-se inclusive nos kolkhoses de seu próprio distrito.Contribuía para facilitar a entrada sub-reptícia dos antigos kulaks nos kolkhoses o fatode que, na luta contra os kolkhoses eles tinham trocado bruscamente de tática. Antes

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os kulaks lutavam abertamente contra os kolkhoses, mantinham uma luta encarniçadacontra os ativistas kolkhosianos e os kolkhosianos mais destacados, assassinando-osnuma esquina, ateando fogo às suas casas, celeiros, etc. Com isso os kulakspretendiam assustar os camponeses, não deixá-los entrar nos kolkhoses. Mas agora,vendo que a luta aberta contra os kolkhoses tinha fracassado, mudaram de tática.Agora já não atiravam com seus revolveres; faziam-se passar por gente tranqüila,dócil, pacífica, perfeitamente adaptada aos Soviets. Infiltravam-se nos kolkhoses,sabotavam com um trabalho de sapa, clandestinamente. Faziam esforços, em todas aspartes, para decompor os kolkhoses de dentro, para relaxar a disciplina do trabalhokolkhosiano, para embrulhar as contas da colheita e as do trabalho. Os kulaksespeculavam com o plano da exterminação do gado cavalar dos kolkhoses e chegarama ocasionar a morte de grande número de cavalos. Contagiavam-nospremeditadamente com o mormo, a sarna e outras enfermidades e os deixavammorrer sem defendê-los, etc. Ao mesmo tempo avariavam os tratores e a maquinariaagrícola.

Os kulaks conseguiam enganar os kolkhosianos e perpetuar impunemente seusatos de sabotagem porque os kolkhoses eram ainda muito fracos e inexperientes, e osquadros kolkhosianos ainda não tinham conseguido fortalecer-se.

Para pôr fim à sabotagem dos kulaks nos kolkhoses e acelerar o seufortalecimento, era necessário prestar uma ajuda rápida e séria aos kolkhoses pormeio de homens, de conselhos e de direção.

Esta ajuda foi prestada pelo Partido bolchevique. Em janeiro de 1933 o Comitê

Central do Partido tomou a resolução de organizar seções políticas nas estações demáquinas e tratores postas ao serviço dos kolkhoses. Foram enviados ao campo, paratrabalhar nessas seções políticas, como ajuda dos kolkhoses, 17.000 ativistas doPartido.

Era uma ajuda séria.Em dois anos (1933 e 1934), as seções políticas das estações de máquinas e

tratores conseguiram realizar um grande trabalho de eliminação das deficiências quese verificaram no funcionamento dos kolkhoses, de educação dos quadroskolkhosianos, de fortalecimento dos kolkhoses e em prol de sua depuração deelementos inimigos, kulaks e sabotadores.

As seções políticas cumpriram com honra a tarefa que lhes tinha sido traçada:fortaleceram os kolkhoses no terreno econômico e de organização, forjaram novosquadros kolkhosianos, organizaram a direção econômica dos kolkhoses e elevaram o

nível político das massas kolkhosianas.Na elevação da atividade das massas kolkhosianas para a luta pelo

fortalecimento dos kolkhoses, tiveram uma imensa importância o primeiro Congressokolkhosiano de choque de toda a URSS (celebrado em fevereiro de 1933) e o discursonele pronunciado pelo camarada Stalin.

Comparando, no seu discurso, o velho regime reinante na aldeia antes doskolkhoses com o novo regime kolkhosiano, o camarada Stalin disse:

“Sob o regime antigo, os camponeses trabalhavam individualmente,trabalhavam com os velhos métodos de seus avós e com as velhas ferramentas detrabalho, trabalhavam para os latifundiários e capitalistas, para os kulaks eespeculadores, trabalhavam sem conseguir nunca matar a fome e enriquecendooutros. Sob o novo regime, sob o regime kolkhosiano, os camponeses trabalham

unidos, coletivamente, em artel, trabalham com a ajuda de novos instrumentos, detratores e de máquinas agrícolas, trabalham para eles mesmos e para seus kolkhoses,vivem sem capitalistas e sem latifundiários, sem kulaks e sem especuladores,trabalham para melhorar dia a dia sua situação material e cultural”. (Stalin,“Problemas do Leninismo”, pág. 528, ed. russa). 

No seu discurso, o camarada Stalin pôs em relevo o que saía ganhandopraticamente o camponês, ao abraçar a causa kolkhosiana.

O Partido bolchevique ajudava as massas de milhões de camponeses pobres aentrarem nos kolkhoses, a se libertarem das garras dos kulaks. Entrando noskolkhoses, e neles desfrutando de melhor terra e de melhores instrumentos deprodução, as massas de milhões de camponeses pobres, que antes passavam fome,

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atingiam agora, dentro dos kolkhoses, o nível dos camponeses médios, convertiam-seem homens que gozavam de uma situação assegurada.

Este era o primeiro passo, a primeira conquista conseguida no caminho domovimento kolkhosiano.

O segundo passo, dizia o camarada Stalin, consistirá em elevar ainda mais onível dos kolkhosianos – tanto o dos antigos camponeses pobres como o dos antigoscamponeses médios – convertendo-se todos os kolkhosianos em homens acomodadose todos os kolkhoses em kolkhoses bolcheviques.

“Para ser kolkhosiano acomodado – dizia o camarada Stalin – só se requer umacoisa: trabalhar honradamente no kolkhos, utilizar bem os tratores e máquinas, sabercuidar do gado, trabalhar bem a terra e zelar pela propriedade kolkhosiana”. (Obracitada, págs. 532-533).

O discurso do camarada Stalin ficou fortemente gravado na consciência demilhões de kolkhosianos, converteu-se no programa prático, no programa de luta doskolkhoses.

Em fins de 1934 os kolkhoses tinham se convertido em uma força sólida einvencível. Por essa época já agrupavam cerca das três quartas partes de todas asexplorações camponesas da URSS e englobavam cerca de 90% de toda a superfíciesemeada.

Em 1934 trabalhavam já na agricultura da URSS 281.000 tratores e 32.000máquinas combinadas. A semeadura da primavera do ano de 1934 terminou 15 diasantes que em 1933 e 30 ou 40 dias antes que em 1932, e o plano de abastecimento

de trigo foi executado três meses antes que em 1932.Foi assim que num prazo de dois anos os kolkhoses se fortaleceram, graças àformidável ajuda prestada pelo Partido e pelo Estado operário e camponês.

O sólido triunfo do regime kolkhosiano e o florescimento da agricultura por eledeterminado, deram ao Poder Soviético a possibilidade de abolir o sistema deracionamento do pão e de outros artigos e implantar o sistema da venda livre para osprodutos alimentícios.

Uma vez que as estações de máquinas e tratores, criadas como órgãos políticosprovisórios, cumpriram sua missão, o Comitê Central tomou a resolução detransformá-las em órgãos normais do Partido, fundindo-as com os Comitês de distritosexistentes.

Todos esses êxitos, tanto os conseguidos no terreno da agricultura como osconseguidos na esfera da indústria, foram conquistados graças à execução vitoriosa do

Plano qüinqüenal.Em princípios de 1933, ficou evidente que o Plano qüinqüenal já estava

cumprido antes do prazo, ao cabo de quatro anos e três meses.Foi um triunfo grandioso, um triunfo de alcance histórico mundial da classe

operária e dos camponeses da URSS.No informe pronunciado pelo camarada Stalin no Pleno do Comitê Central e da

Comissão de Controle do Partido, celebrado em janeiro de 1933, fez ele balanço doprimeiro Plano qüinqüenal. Segundo foi destacado nesse informe, o Partido e o PoderSoviético tinham conseguido durante o período que acabava de transcorrer, durante operíodo do primeiro Plano qüinqüenal, os seguintes resultados fundamentais:

a) A URSS tinha se convertido de um país agrário em um país industrial, postoque o peso específico da produção de toda a Economia nacional tinha aumentado 70%.

b) O sistema socialista da Economia havia acabado com os elementoscapitalistas da indústria e se convertera no único sistema econômico imperante noterreno industrial.

c) O sistema socialista da Economia havia acabado com os kulaks como classena agricultura, e se convertera na força dominante da Economia agrária.

d) O regime kolkhosiano havia acabado com a miséria, com a pobreza nocampo, elevando dezenas de milhões de camponeses pobres ao nível de homens comuma vida garantida.

e) O sistema socialista da indústria havia acabado com o desemprego,mantendo a jornada de oito horas em uma série de ramos de produção, implantando ajornada de sete horas na imensa maioria das empresas nocivas à saúde.

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f) O triunfo do socialismo em todos os ramos da Economia nacional haviaacabado com a exploração do homem pelo homem.

A importância dessas conquistas conseguidas pelo primeiro Plano qüinqüenalconsistia, antes de tudo, em que tinham libertado definitivamente os operários ecamponeses do jugo da exploração, abrindo a todos os trabalhadores da URSS ocaminho para uma vida acomodada e culta.

Em janeiro de 1934 reuniu-se o XVII Congresso do Partido. Tomaram parte1.225 delegados com palavra e voto e 736 com palavra somente, representando1.874.488 filiados e 935.298 aspirantes.

O Congresso fez o balanço do trabalho do Partido durante o período queacabava de transcorrer, registrou os êxitos decisivos alcançados pelo socialismo emtodos os ramos da Economia e da cultura e comprovou que a linha geral do Partidotinha triunfado plenamente.

O XVII Congresso do Partido passou a historia com o nome de “Congresso dosvencedores”. 

No seu informe perante o Congresso o camarada Stalin assinalou astransformações radicais que se haviam operado na URSS durante o período referido.

“Durante esse período a URSS se transformou radicalmente, perdendo suafisionomia de atraso e de medievalismo. Converteu-se de um país agrário em um paísindustrial. Converteu-se de um país de pequenas explorações agrícolas individuais emum país de grandes explorações agrícolas coletivas e mecanizadas”. 

“Converteu-se – ou melhor, está se convertendo – de um país obscurantista,

analfabeto e inculto em um país instruído e culto, coberto por uma rede formidável deescolas superiores, médias e elementares, que ensinam nas línguas das diversasnacionalidades da URSS” (Stalin, “Problemas do Leninismo” pg. 533, ed. russa). 

Por essa época a indústria socialista constituía já 99% de toda a indústria dopaís. A agricultura socialista – os kolkhoses e os sovkhoses – englobavam cerca de90% da superfície total semeada do país. No que se refere à circulação demercadorias, os elementos capitalistas tinham sido desalojados totalmente docomércio.

Ao implantar a nova política econômica, Lênin dissera que no País Soviéticoexistiam elementos próprios de cinco formações econômico-sociais. A primeiraformação era a da Economia patriarcal, que é, num grau considerável, uma Economiade tipo natural, isto é, que apenas mantém relações comerciais. A segunda formaçãoera a da pequena produção de mercadorias, formada pela maioria dos proprietários

camponeses que se dedicavam à venda de produtos agrícolas, e pelos artesãos. Nosprimeiros anos da NEP essa formação econômica compreendia a maioria da população.A terceira formação era a do capitalismo privado, que começou a sair de suaprostração nos primeiros anos da NEP. A quarta formação era a do capitalismo deEstado, formado principalmente pelas concessões que não conseguiram adquirir umdesenvolvimento importante. A quinta formação era a do socialismo, a indústriasocialista, que naquela época era ainda fraca, os sovkhoses e kolkhoses, que nocomércio da NEP só ocupavam um lugar insignificante na Economia Nacional, e ocomércio do Estado e as cooperativas, que nos primeiros tempos da NEP erambastante fracos.

Lênin assinalava que era a formação socialista que haveria de predominar entretodas essas formações.

A nova política econômica se orientava para o triunfo completo das formassocialistas da Economia.Ao celebrar-se o XVII Congresso do Partido, esta aspiração era já uma

realidade.“Agora podemos dizer – manifestava a esse propósito o camarada Stalin – que

a primeira, a terceira e a quarta formação econômico-sociais já não existiam, que asegunda formação econômico-social foi relegada a segundo plano, e que a quintaformação econômico-social, a formação socialista, é a única dominante, a única forçade comando de toda a Economia nacional”. (Obra citada, pg. 555).

Ocupavam um lugar importante, no informe do camarada Stalin, os problemasde direção ideológico-politica. O camarada Stalin advertia o Partido que, se bem que osinimigos do Partido, os oportunistas de todos os calibres e os porta-vozes dos desvios

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nacionalistas de todos os matizes, tivessem sido derrotados, os vestígios de suaideologia ecoavam ainda nas cabeças de alguns membros do Partido e semanifestavam não poucas vezes. As sobrevivências do capitalismo na Economia esobretudo na consciência dos homens, eram o terreno propício que podia infundir novavida à ideologia dos grupos anti-leninistas derrotados. A consciência dos homens vai,no seu desenvolvimento, à retaguarda de sua situação econômica. Por isso, ainda queo capitalismo estivesse liquidado na Economia, nas cabeças dos homens se mantinhame continuavam se mantendo ainda sobrevivências das idéias burguesas. Além disso,era necessário não perder de vista que o cerco capitalista, contra o qual era precisoestar sempre alerta, se esforçava por acentuar e apoiar essas sobrevivências.

O camarada Stalin examinou demoradamente, entre outras coisas, assobrevivências do capitalismo na consciência dos homens no tocante ao problemanacional, onde conservavam uma vitalidade especialmente grande. O Partidobolchevique lutava em duas frentes, tanto contra o desvio do chauvinismo grão-russocomo contra o desvio do nacionalismo regionalista. Numa série de Repúblicas (Ucrânia,Bielorússia etc.), as organizações do Partido tinham recuado na luta contra onacionalismo regionalista, deixando-o desenvolver-se até fundir-se com as forçasinimigas, com os intervencionistas, até converter-se em um perigo para o Estado.Respondendo à pergunta de que desvio, no que se refere ao problema nacional,constituía o perigo mais importante, o camarada Stalin dizia:

“O perigo mais importante constitui o desvio contra o qual se deixou de lutar,permitindo, deste modo, que ele se desenvolvesse a ponto de se converter num perigo

para o Estado”. (Obra citada, pág. 587). O camarada Stalin incitava o Partido a reforçar seu trabalho ideológico-político,a desmascarar sistematicamente a ideologia e os vestígios ideológicos das classesinimigas e das correntes hostis ao Leninismo.

O camarada Stalin assinalava, também, no seu informe, que o fato de tomardecisões acertadas não bastava para garantir o êxito da causa. Para garantir o êxito dacausa era necessário localizar acertadamente os homens capazes de levar a pratica asdecisões dos órgãos dirigentes e organizar o controle da execução dessas decisões.Sem essas medidas de organização, as decisões corriam o risco de ficarem reduzidas adisposições no papel, desligadas da realidade. Nesse ponto o camarada Stalin sereferia à conhecida tese de Lênin, segundo a qual o fundamental no trabalho deorganização é a escolha dos homens e o controle da execução. Além disso, destacavaque a falta de continuidade entre as decisões adotadas e o trabalho de organização

para levá-las à prática e controlar sua execução, era o defeito fundamental de nossaatuação prática.

Com o fim de aperfeiçoar o controle de execução das decisões do Partido e doGoverno, o XVII Congresso criou – em substituição à Comissão Central de Controle ede Inspeção Operária e Camponesa, que já havia cumprido sua missão desde ostempos do XII Congresso do Partido, - a Comissão de Controle do Partido, adjunta aoComitê Central do PC (b) da URSS, e a Comissão de Controle Soviética adjunta aoConselho de Comissários do Povo da URSS.

O camarada Stalin assim formulava as tarefas de organização do Partido nanova etapa:

1) Ajustar o trabalho de organização às exigências da linha política do Partido;2) Elevar a direção organizativa ao nível da direção política;

3) Conseguir que a direção organizativa garanta plenamente a realização daspalavras de ordem políticas e das decisões do Partido.O camarada Stalin finalizou seu informe advertindo que, se bem que os êxitos

do socialismo fossemgrandes e produzissem um sentimento de legítimo orgulho, era necessário não

se deixar seduzir pelos êxitos alcançados, era necessário não “se vangloriar” nemadormecer sobre os louros.

“Não se deve adormecer o Partido, mas sim desenvolver nele o espírito devigilância; não se deve acalentá-lo, mas sim mantê-lo em pé de guerra; não se devedesarmá-lo, mas sim armá-lo; não se deve desmobilizá-lo, mas sim mantê-lo emestado de mobilização para a execução do segundo Plano qüinqüenal” – indicava ocamarada Stalin (Obra citada, pág. 596).

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Os camaradas Molotov e Kuibyshev informaram perante o XVII Congresso doPartido, sobre o segundo Plano qüinqüenal de desenvolvimento da Economia nacional.As tarefas do segundo Plano qüinqüenal eram mais grandiosas que as do primeiro. Nofinal do segundo Plano qüinqüenal, em 1937, a produção industrial deveria ser,aproximadamente, oito vezes maior que a de antes da guerra. O segundo Planoqüinqüenal previa, em toda a Economia nacional, obras básicas no valor de 133.000milhões de rublos destinados a esses empreendimentos no primeiro Plano qüinqüenal.

Este gigantesco volume de obras básicas garantia a total renovação doequipamento técnico de todos os ramos da Economia nacional.

O segundo Plano qüinqüenal deveria levar a cabo, no fundamental, amecanização da agricultura. A potência total dos tratores em todo o país aumentariade 2.250.000 cavalos de força em 1932, para mais de 8 milhões em 1937. E previa-sea vasta implantação de um sistema de medidas de técnica agrária (uma rotação decultivo acertada, semeio com sementes selecionadas, trabalhos no outono, etc.).

Projetava-se um grande trabalho para a reconstrução técnica dos transportes ecomunicações.

Traçava-se um vasto programa destinado a continuar revelando o nível materiale cultural dos operários e camponeses.

O XVII Congresso consagrou grande atenção aos problemas de organização etomou, sobre a base do informe do camarada Kaganovich, resoluções especiais sobreos problemas referentes à obra de desenvolvimento do Partido e dos organismossoviéticos. O problema de organização adquiria uma importância maior ainda ao

triunfar a linha geral do Partido, ao ser provada na própria vida, a política do partido,mediante a experiência de milhões de operários e camponeses. As novas e complexastarefas que o segundo Plano qüinqüenal traçava, exigiam que fosse elevada aqualidade de trabalho em todos os setores.

“As tarefas fundamentais do segundo Plano Qüinqüenal – a liquidação definitivados elementos capitalistas, a superação das sobrevivências do capitalismo naeconomia e na consciência dos homens, o remate da obra de reconstrução de toda aEconomia nacional sobre a base da técnica mais moderna, a assimilação da novatécnica e da direção das novas empresas, a mecanização da agricultura e a elevaçãode sua produtividade – criam com toda sua força o problema de elevar a qualidade dotrabalho em todos os setores e, em primeiro lugar, a qualidade da direção prática emmatéria de organização”, - diziam as resoluções do Congresso sobre os problemas deorganização. (“Resoluções do PC (b) da URSS”, parte II, pg. 591). 

No XVII Congresso foram aprovados os novos estatutos do Partido, que sediferenciavam dos antigos, antes de tudo pelo fato de conterem uma introdução. Nessaintrodução é dada uma breve definição do Partido Comunista, de sua significação naluta do Proletariado e do posto que ocupa dentro do sistema dos órgãos da ditaduraproletária. Os novos estatutos enumeram detalhadamente os deveres dos filiados.Contem normas mais severas para o ingresso no Partido e um ponto sobre os gruposde simpatizantes. Nesses estatutos se expõe com maiores detalhes o problema daestrutura orgânica do Partido e são formulados de um modo novo os pontos sobre asantigas células do Partido ou organizações primárias deste, como se vem chamandodesde o XVII Congresso. Também aparecem formulados de um modo novo, nestesestatutos, os pontos referentes à democracia interna e à disciplina do Partido.

 

4 – Os bukharinistas degeneram em falsários políticos – Os falsáriostrotskistas degeneram em um bando de assassinos e guardas brancosespiões – O infame assassinato de S. M. Kirov – Medidas do Partido parafortalecer a vigilância dos bolcheviques. 

Os êxitos do socialismo não enchiam de alegria somente o Partido, os operáriose os kolkhosianos. Enchiam de alegria também todos os intelectuais soviéticos, todosos cidadãos honrados da URSS.

Não compartilhavam desta alegria, mas, longe disso, sua irritação crescia cadavez mais, os restos das classes exploradoras derrotadas.

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Esses êxitos faziam estremecer de raiva os porta-vozes das classes derrotadas,os míseros restos dos bukharinistas e dos trotskistas.

Estes senhores não focalizavam as conquistas dos operários e kolkhosianos doponto de vista dos interesses do povo, que acolhia com entusiasmo cada um de seusêxitos, mas do ponto de vista dos interesses de seu mísero grupo divisionista, grupodesligado da realidade e pobre até a medula. Como os êxitos do socialismo no PaísSoviético significavam o triunfo da política do Partido e a bancarrota definitiva dapolítica daqueles senhores, estes, em vez de se renderem à evidência e de se juntaremà obra comum, começaram a vingar-se no Partido e no povo de seu próprio fracasso,de sua própria bancarrota, começaram a sabotar e dificultar a obra dos operários e doskolkhosianos, a inundar minas, a incendiar fábricas, a cometer atos de sabotagem noskolkhoses e nos sovkhoses, com o fim de solapar as conquistas dos operários ekolkhosianos e de provocar o descontentamento do povo contra o Poder Soviético.Mas, para preservar, neste trabalho, seu mísero grupo contra o perigo de serdesmascarado e esmagado, puseram a máscara de homens fiéis ao Partido,começaram a fazer cada vez maiores reverências a este, a glorificar o Partido e aajoelhar-se perante ele, enquanto na prática prosseguiam, clandestinamente, notrabalho de sapa contra os operários e camponeses.

No VXII Congresso, Bukharin, Rykov e Tomski pronunciaram discursos dearrependimento, enaltecendo o Partido e colocando nas nuvens os seus êxitos. Mas oCongresso percebeu o tom insincero e falso de seus discursos, pois o que o Partidopede a seus filiados não é que enalteçam e cantem loas a seus êxitos, mas que

trabalhem honradamente na frente do socialismo, que era exatamente o que não sevia nos bukharinistas havia muito tempo. O Partido compreendeu que na realidade, osfarisaicos discursos desses senhores eram senhas trocadas com seus adeptos nãopresentes no Congresso, ensinando-lhes o caminho de falsidade e incitando-os a nãodepor as armas.

No XVII Congresso, intervieram os trotskistas Zinoviev e Kamenev, flagelando-se até o exagero por seus erros e enaltecendo o Partido – também até o exagero – porseus êxitos. Mas o Congresso não pôde deixar de advertir que, tanto aquelanauseabunda flagelação como aquele nojento enaltecimento do Partido, não eram maisdo que o recurso da consciência suja e intranqüila desses senhores. Contudo, o Partidonão sabia ainda nem suspeitava sequer que, ao mesmo tempo que pronunciavam seusmelífluos discursos do Congresso, esses indivíduos ocupavam-se da preparação doinfame assassinato de S. M. Kirov.

Em 1º de dezembro de 1934, Sergio Mironovich Kirov foi assassinado emLeningrado, no Smolni, com um tiro de revólver.

O assassino, preso no local do crime, era membro do grupo contra-revolucionário clandestino que havia sido organizado por alguns dos componentes dogrupo zinovievista anti-soviético de Leningrado.

O assassinato de S. M. Kirov, figura queridíssima do Partido e da classeoperária, provocou a mais furiosa cólera e a mais profunda dor entre os trabalhadoresdo país Soviético.

No sumário aberto ficou comprovado que, no ano de 1933 a 1934, tinha sidoconstituído, em Leningrado, por alguns antigos componentes da oposição zinovievista,um grupo terrorista contra-revolucionário clandestino, à frente do qual figurava ochamado “centro de Leningrado”. Este grupo tinha se proposto, como objetivo,

assassinar os dirigentes do Partido Comunista. A primeira vítima que haveria de cairera S.M.Kirov. Pelas declarações dos envolvidos nesse grupo contra-revolucionário secomprovou que estavam em relação com representantes de Estados capitalistasestrangeiros, de quem haviam recebido dinheiro.

Convictos e confessos, os participantes dessa organização foram condenadospela Corte Militar do Tribunal Supremo da URSS à pena máxima do fuzilamento.

Pouco depois foi comprovada a existência da organização contra-revolucionáriaclandestina chamada “centro de Moscou”. O sumário e o exame do processoevidenciaram o infame papel desempenhado por Zinoviev, Kamenev, Ievdokinov eoutros dirigentes dessa organização, na obra de inculcar nos seus correligionários,idéias terroristas e de preparar o assassinato dos membros do Comitê Central e doGoverno Soviético.

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A dissimulação e a vileza desses indivíduos chegaram a tal ponto que Zinoviev – um dos organizadores e inspiradores do assassinato de S.M. Kirov, que tinhaapressado o assassinato para que perpetrasse quanto antes o crime – escreveu umnecrológico elogioso de Kirov, exigindo sua publicação.

Fingindo, à vista do processo, que se arrependiam de seus crimes, oszinovievistas continuaram dando provas de falsidade até nesse momento. Ocultaramsuas relações com Trotsky. Ocultaram que em união com os trotskistas, se tinhamvendido aos serviços de espionagem fascistas, ocultavam seus atos de espionagem esabotagem. Os zinovievistas silenciaram perante o Tribunal suas relações com osbukharinistas, a existência de um bando unificado trotskista-bukharinista de servidoresa soldo do fascismo.

O assassinato do camarada Kirov tinha sido perpetuado, como se demonstroumais tarde, por esse bando unificado de trotskista e bukharinistas.

Já então, em 1935, era evidente que o grupo zinovievista constituía umaorganização encoberta de guardas brancos, cujos componentes só mereciam sertratados como guardas brancos.

Um ano depois soube-se que os organizadores autênticos, diretos e efetivos doassassinato de Kirov e das medidas preparatórias destinadas ao assassinato dosmembros do Comitê Central, tinham sido Trotsky, Zinoviev, Kamenev, Bakaiev,Ievdokinov, Pikel, I. M. Smirnov, Mrachkovski, Vagarin, Reingold e outros. Oscriminosos, colhidos com a mão na massa, não tiveram outro remédio senãoreconhecer publicamente, perante seus juízes, que não só haviam organizado o

assassinato de Kirov, como também preparavam o de todos os demais dirigentes doPartido e pelo Governo. O sumário evidenciou, além disso, que esses desalmados sededicavam também à organização de atos diversionistas e de espionagem. Durante oprocesso, celebrado em Moscou em 1936, foi posta a nu toda a monstruosa abjeçãomoral e política desses indivíduos, toda a sua repugnante baixeza e traição que vinhamencobrindo com hipócritas declarações de lealdade ao Partido.

O principal inspirador e organizador de todos esses bandos de assassinos eespiões era o Judas Trotsky. Serviam-lhe de auxiliares e eram executores de suasordens contra-revolucionárias, Zinoviev, Kamenev e seus satélites trotskistas.Preparavam a derrota da URSS no caso em que ela fosse atacada pelos imperialistas,tinham tomado o caminho do derrotismo em relação ao Estado operário e camponês ese tinham convertido em servidores e agentes desprezíveis dos fascistas alemães ejaponeses.

O ensinamento fundamental que as organizações do Partido deviam tirar dosprocessos seguidos em conseqüência do aleivoso assassinato de S.M. Kirov consistiaem acabar com sua própria cegueira política, em acabar com sua despreocupaçãopolítica, em reforçar sua vigilância e a de todos os filiados ao Partido.

Na carta dirigida às organizações do Partido pelo Comitê Central, por motivo doinfame assassinato de S.M. Kirov se dizia:

a) “É necessário acabar com essa moleza oportunista que parte da suposiçãoerrônea de que, à medida que se desenvolvem nossas forças, o inimigo se torna maisdócil e mais inofensivo. Essa suposição é radicalmente falsa. É fruto do desvio direitistaconsistente em assegurar a todo mundo que os inimigos deslizarão suavemente para osocialismo e acabarão sendo, no fim das contas, verdadeiros socialistas. Não é própriode bolcheviques dormir sobre os louros e pensar nas nuvens. O que necessitamos não

é moleza, mas vigilância, uma verdadeira vigilância revolucionária, bolchevique. Épreciso não esquecer que quanto mais desesperada for a situação de nossos inimigos,de melhor grado recorrerão aos “meios extremos”, que são os únicos de que dispõemos que estão fatalmente condenados ao fracasso na sua luta contra o Poder Soviético.É preciso ter presente esse fato e permanecer vigilantes.

b) É necessário dar a devida importância ao ensino da história do Partido entreseus filiados, ao estudo de todos e de cada um dos grupos anti-bolcheviques de quefala a história de nosso Partido, de seus métodos de luta contra a linha do Partido, desua tática, e – mais ainda – ao estudo da tática e dos métodos de luta de nossoPartido contra os grupos anti-bolcheviques, tática e métodos de luta que permitiram aonosso Partido vencer e esmagar esses grupos. É necessário que os filiados ao Partidoconheçam não somente como nosso Partido combateu e derrotou os kadetes, os

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socialistas-revolucionários, os mencheviques, os anarquistas, mas também comocombateu e derrotou os trotskistas, os “centralistas democráticos”, a “oposiçãooperária”, os zinovievistas, os porta-vozes de desvios direitistas, os monstrosdireitistas, “esquerdistas”, etc. Não se deve esquecer que o conhecimento e acompreensão da história de nosso Partido constituem um meio importantíssimo,necessário para assegurar plenamente a vigilância revolucionária dos filiados aoPartido”.  

Nesse período tiveram uma imensa importância a depuração das fileiras doPartido de elementos mascarados e estranhos, depuração que começou em 1933 e,sobretudo a escrupulosa revisão das credenciais da condição de membro do Partido e asubstituição das antigas por outras novas, operação que foi empreendida depois doinfame assassinato de S.M. Kirov.

Até que se levasse a cabo essa revisão, reinavam em muitas organizações doPartido a arbitrariedade e o descuido a respeito dos “carnês” de filiados. Numa série deorganizações locais foi descoberto um estado absolutamente intolerável de caos, noque dizia respeito ao registro de filiados ao Partido, do que se aproveitavam osinimigos para seus sujos fins, utilizando o “carnê” do Partido como anteparo para atosde sabotagem e de espionagem, etc. Muitos dirigentes de organizações do Partidoconfiavam tudo o que se referia a ingressos no Partido e à entrega de “carnês” apessoas de terceira categoria, e, às vezes, a filiados sem garantia alguma.

Em uma carta especial dirigida a 13 de maio de 1935 a todas as organizações,acerca do registro de filiados e da entrega e guarda dos “carnês”, o Comitê Central

dispunha que em todas as organizações se procedesse à revisão escrupulosa dascredenciais da condição de comunista, “pondo uma ordem bolchevique em nossaprópria casa, no Partido”. 

A revisão dos documentos do Partido encerrava uma grande importânciapolítica. Na resolução votada pelo Pleno do Comitê Central do Partido em 25 dedezembro de 1935, na base do informe do Secretário do C.C., camarada Ezhov, sobreos resultados da revisão de documentos efetuada, dizia-se que esta revisão era umamedida política e de organização de enorme importância para o reforçamento dasfileiras do PC (b) da URSS.

Depois de se levar a cabo a revisão e a troca de credenciais da condição decomunista, foi restabelecido o ingresso de novos filiados. Mas o C.C. exigiu que asfileiras do Partido fossem completadas – não efetuando o ingresso em bloco, mas nabase do exame rigorosamente individual de cada caso – “com os homens realmente

avançados e realmente entregues à causa da classe operária, com os melhoreshomens de nosso país, sobretudo operários, mas também camponeses e intelectuaistrabalhadores, provados nos diversos setores da luta pelo socialismo”. 

Ao restabelecer-se a admissão de novos filiados, o Comitê Central assinalou àsorganizações do Partido o dever que tinham de não esquecer que também no futuro oselementos inimigos tentariam infiltrar-se nas fileiras do PC (b) da URSS. Portanto: “Édever de toda organização do Partido reforçar por todos os meios a vigilânciabolchevique, manter bem alta a bandeira do Partido leninista e garantir ao Partido quenas suas fileiras não se infiltrarão elementos estranhos, inimigos e fortuitos” (Resoluções do PC (b) da URSS de 29 de Setembro de 1936, publicadas na “Pravda”,n° 270, ano de 1936).

Depurando e fortalecendo suas fileiras, destruindo os inimigos do Partido e

lutando implacavelmente contra as deformações de sua linha, o Partido bolcheviquereforçou ainda mais sua coesão em torno do Comitê Central, sob cuja direção o Partidoe o País dos Soviets marchavam para a nova etapa, para a etapa em que se poria oremate à edificação da sociedade sem classes, da sociedade socialista.  

 RESUMO

 Nos anos de 1930 a 1934 o Partido bolchevique resolveu a tarefa histórica mais

difícil da revolução proletária depois da conquista do Poder; a de levar milhões de

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pequenos proprietários camponeses pelo caminho dos kolkhoses, pelo caminho dosocialismo.

A liquidação dos kulaks, como classe exploradora mais numerosa, e a conduçãodas grandes massas camponesas pelo caminho dos kolkhoses, levariam à destruiçãodas últimas raízes do capitalismo no país, ao triunfo total do socialismo na agriculturae à consolidação definitiva do Poder Soviético no campo.

Depois de vencer uma série de dificuldades de organização, os kolkhoses sefortaleceram definitivamente e começaram a marchar pelo caminho de uma vidapróspera.

Como resultado da execução do primeiro plano qüinqüenal, foram levantadas,no País Soviético, as bases irremovíveis da Economia Socialista: construiu-se umaindústria pesada socialista de primeira classe e uma agricultura coletiva mecanizada,acabou-se com o desemprego forçado e com a exploração do homem pelo homem, ecriaram-se as condições necessárias para o melhoramento ininterrupto da situaçãomaterial e cultural dos trabalhadores da Pátria Socialista.

Esses gigantescos êxitos foram conseguidos pela classe operária, peloskolkhosianos e por todos os trabalhadores do País Soviético, graças à política intrépida,revolucionária e sábia do Partido e do Governo.

O cerco capitalista, aspirando debilitar e minar a potência da União Soviéticareforçou seu “trabalho” destinado a organizar, dentro da URSS, bandos de assassinos,de sabotadores e de espiões. A atividade hostil do cerco capitalista contra a URSSrecrudesceu especialmente depois da subida ao Poder dos fascistas na Alemanha e no

Japão. Os trotskistas e os zinovievistas entraram ao serviço do fascismo, como criadosleais, dispostos a cometer atos de espionagem, de sabotagem, de terrorismo e dediversionismo, dispostos a trabalhar pela derrota da URSS, tudo em nome darestauração do capitalismo.

O Poder Soviético castigou com mão férrea esses abortos do gênero humano elhes deu implacavelmente o merecido castigo, como verdadeiros inimigos do povo etraidores da pátria.

      

            

   

CAPÍTULO XII 

O Partido Bolchevique na Luta pelo Coroamento da Edificaçãoda Sociedade Socialista e a Implantção da Nova Constituição

(1935-1937) 

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1 – A situação internacional nos anos de 1935 a 1937 – Enfraquecimento temporário da crise econômica – Principia uma novacrise econômica – Ocupação da Abissínia pela Itália – A intervençãogermano-italiana na Espanha – Invasão da China central pelosjaponeses – Começa a segunda guerra imperialista. 

A crise econômica, que se havia iniciado nos países capitalistas na segundametade do ano de 1929, prosseguiu até fins de 1933. A partir desta data, o descensoda indústria se conteve, a crise parou, e, algum tempo depois, a indústria começou areanimar-se um pouco, experimentou um certo apogeu. Mas não era o apogeu queprecede a um processo de florescimento industrial numa base nova e mais alta. Aindústria capitalista mundial não conseguiu sequer recobrar o nível do ano de 1929;até meados de 1937 só havia conseguido atingir 95 ou 96 por cento daquele nível. Ena segunda metade de 1937 se iniciava já uma nova crise econômica, que afetava,antes de tudo, os Estados Unidos. Em fins de 1937, a cifra de operários parados nosEstados Unidos tornava a elevar-se a 10 milhões de homens. Na Inglaterra principiavatambém a crescer rapidamente o número de operários parados.

Portanto, ainda não haviam tido tempo de se refazer dos golpes da recentecrise econômica, e já os países capitalistas se viam obrigados a enfrentar nova crise.

Esta circunstância acentuou ainda mais as contradições entre a burguesia e oproletariado. Em conseqüência, recrudesceram cada vez mais as tentativas dos

Estados agressores de se ressarcirem das perdas ocasionadas pela crise econômicadentro do país à custa de outros países mal defendidos. Nestas tentativas uniu-se aosdois conhecidos Estados agressores, Alemanha e Japão, um terceiro Estado – a Itália.

Em 1935, a Itália fascista se lançou sobre a Abissínia e a escravizou. Agrediu-a,sem o menor fundamento, nem o menor pretexto, do ponto de vista do “DireitoInternacional”, sem declaração de guerra, furtivamente, como agora é moda entre osfascistas. Este golpe não era dirigido somente contra a Abissínia, mas também contraa Inglaterra, contra suas comunicações marítimas entre a Europa e a Índia, com aÁsia. As tentativas da Inglaterra, de impedir que a Itália se apossasse da Abissínia nãoderam resultado. Para ter as mãos livres, a Itália saiu mais tarde da Sociedade dasNações e começou a armar-se intensivamente.

Formou-se, deste modo, um novo foco de guerra nas rotas marítimas maiscurtas entre a Europa e a Ásia.

A Alemanha fascista violou com um ato unilateral o tratado de paz de Versalhese se propôs executar o plano de revisão pela força das fronteiras dos Estadoseuropeus. Os fascistas alemães não escondiam que seu objetivo era submeter ao seuimpério os Estados vizinhos ou, pelo menos, se apoderar dos territórios destes Estadoshabitados por alemães. Segundo tal plano, se procederia primeiro à ocupação daÁustria, e logo depois se descarregaria o golpe contra a Tchecoslováquia, em seguidatalvez contra a Polônia, onde também existia um território povoado por alemães efronteiriço à Alemanha: mais adiante... mais adiante, “daqui a pouco se veria”. 

No verão de 1936 começou a intervenção armada da Alemanha e da Itáliacontra a República Espanhola. Sob o pretexto de ajudar os fascistas espanhóis, a Itáliae a Alemanha conseguiam ir localizando por debaixo do pano suas unidades militaresno território da Espanha, à retaguarda da França, e suas esquadras nas águas

espanholas, na zona das ilhas Baleares e de Gibraltar, no sul: na zona do OceanoAtlântico, no oeste; e na do golfo de Biscaia, ao norte. Em começos de 1938 osfascistas alemães ocuparam a Áustria, cravando suas garras na região central doDanúbio e estendendo-se pelo Sul da Europa até as proximidades do Mar Adriático.

Ao levar a cabo sua intervenção contra a Espanha, os fascistas ítalo-germanosasseguravam a todo o mundo que eles só lutavam contra os “vermelhos” espanhóis eque não tinham em vista nenhum outro objetivo. Isto, porém, não era mais que umgrosseiro e torpe subterfúgio, bom para enganar os tolos. Na realidade, o golpe eradirigido contra a Inglaterra e a França, pois os fascistas interceptavam ascomunicações marítimas destes países com suas formidáveis possessões coloniais daÁfrica e da Ásia.

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No que se refere à ocupação da Áustria, não havia o menor pretexto paraenquadrá-la no âmbito da luta contra o tratado de Versalhes, no âmbito da defesa dosinteresses “nacionais” da Alemanha e de sua aspiração de recuperar os territóriosperdidos em virtude da primeira guerra imperialista. A Áustria não fazia parte daAlemanha, nem antes da guerra, nem depois dela. A anexação pela força da Áustriapela Alemanha não é mais que um ato descaradamente imperialista de ocupação deum território estrangeiro. Este ato, revela, indubitavelmente, a aspiração da Alemanhafascista de conseguir uma posição dominante no continente da Europa ocidental.

Era um golpe assestado, em primeiro lugar, nos interesses da França e daInglaterra.

Formaram-se, assim, novos focos de guerra no sul da Europa, na zona daÁustria e do Adriático, e na extremidade do ocidente europeu, na zona da Espanha edos mares que banham a península ibérica.

Em 1937 os militaristas fascistas japoneses se apoderaram de Pequim,invadiram a China Central e ocuparam Xangai. A invasão da China Central pelas tropasjaponesas foi levada a cabo, da mesma sorte que a da Manchúria há uns anos atrás,segundo o método japonês, isto é, sub-repticiamente, por meio de trapaças de ladrão,pretextando diversos “incidentes locais” provocados pelos mesmos japoneses, violandode fato toda e cada uma das “normas” internacionais, tratados, convênios, etc.

A ocupação de Tientsin e de Xangai punha nas mãos dos japoneses a chave docomércio com a China, com seu imenso mercado. Quer isto dizer que, enquanto tiverem suas mãos Xangai e Tientsin, o Japão poderá em qualquer momento desalojar da

China central a Inglaterra e os Estados Unidos, que tem investimentos gigantescosnaquele território.Claro está que a heróica luta do povo chinês e de seu exército contra os

invasores japoneses, o formidável movimento nacional da China, as gigantescasreservas de homens e de território deste país, e, finalmente, a decisão do Governonacional chinês de manter a luta de libertação da China até o fim, até expulsar oúltimo invasor para o outro lado das fronteiras do país, são outros tantos testemunhosincontestáveis de que os imperialistas japoneses não puderam nem poderão haver-secom a China.

Mas tão pouco se pode desconhecer, de outra parte, que o Japão continuatendo em suas mãos as chaves do comércio com a China e que a guerra contra estepaís, é no fundo, um golpe muito sério assestado contra os interesses da Inglaterra edos Estados Unidos.

Deste modo formou-se no Oceano Pacífico, na zona da China, mais um foco deguerra.

Todos estes fatos provam que a segunda guerra imperialista já começou, narealidade. Começou furtivamente, sem declaração de guerra. Os Estados e os povosforam quase insensivelmente deslizando para dentro da órbita da segunda guerraimperialista. A guerra foi desencadeada nos diversos confins do mundo pelos trêsEstados agressores – os círculos governantes fascistas da Alemanha, Itália e Japão. Aguerra se estendeu ao longo de um imenso território, desde Gibraltar até Xangai.Conseguiu já arrastar para seu campo de ação mais de 500 milhões de seres. Estaguerra é dirigida, em última análise, contra os interesses capitalistas da Inglaterra, daFrança e dos Estados Unidos, já que tem por finalidade a partilha do mundo e daszonas de influencia, em proveito dos países agressores e à custa dos chamados

Estados democráticos.O traço característico da segunda guerra imperialista consiste, por enquanto,em que, à medida que as potências agressoras mantêm e desenvolvem as guerras, asoutras potências “democráticas”, contra as quais esta guerra é expressamente dirigida,fazem como se não fossem com elas a guerra, lavam as mãos, recuam, fazem protestode seu amor pela paz, invectivam os agressores fascistas e lhes vão cedendo pouco apouco suas posições, embora afirmando a cada nova concessão que estão dispostos aresistir.

Como se vê, esta guerra apresenta um caráter bastante estranho e unilateral.Mas isto não impede que seja uma guerra furiosa, uma guerra de descaradasanexações, que descarrega seus golpes sobre as costas dos povos da Abissínia,Espanha e China, francamente defendidos.

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Seria falso pretender explicar este caráter unilateral da guerra pela debilidademilitar ou econômica dos Estados “democráticos”. É evidente que estes Estados sãomais fortes que os Estados fascistas. O caráter singular da guerra mundialdesencadeada tem sua explicação na ausência de uma frente única dos Estados“democráticos” contra as potências fascistas. É certo que os chamados Estados“democráticos” não aprovam os “excessos” dos Estados fascistas e temem que estesse fortaleçam. Temem, porém ainda mais o movimento operário da Europa e omovimento de libertação nacional da Ásia, e entendem que o fascismo é um “bomantídoto” contra todos estes movimentos “perigosos”. Por isso, os círculos governantesdos Estados “democráticos” e, principalmente, os círculos conservadores governantesda Inglaterra se limitam à política de exortar os caudilhos fascistas desenfreados paraque “não vão muito longe”, dando-lhes ao mesmo tempo a entender que“compreendem perfeitamente” sua política reacionária e policial contra o movimentooperário e de libertação nacional e que, no fundo, simpatizavam com ela. Os círculosgovernantes da Inglaterra mantêm aqui, pouco mais ou menos, a mesma política que,sob o czarismo, a burguesia monarquista liberal russa mantinha, de modo que, emboratemendo os “excessos” da política czarista, temia ainda mais o povo, razão pela qualadotou a política de persuadir o czar, e, portanto, a política de confabulações com oczar contra o povo. Como é sabido, a burguesia monarquista liberal russa pagou muitocaro esta política de falsidade. É de esperar que os círculos governantes da Inglaterrae seus amigos da França e dos Estados Unidos venham a ter também o seu merecidocastigo histórico.

É evidente que, perante a mudança operada nos assuntos internacionais, aURSS não podia passar ao largo por acontecimentos tão graves. Toda guerra, porpequena que seja, iniciada pelos agressores, representa um perigo para os paísesamantes da paz; e a segunda guerra imperialista, que tão “insensivelmente” foi seabatendo sobre os povos e que já abarca mais de 500 milhões de seres, não podedeixar de representar um gravíssimo perigo para todos os povos, e, em primeiro lugar,para a URSS Testemunho eloqüente disto é o “bloco anti-comunista” estabelecidoentre a Alemanha, a Itália e o Japão. Por isso, a União Soviética, embora persistindoem sua política de paz, continuou reforçando a capacidade defensiva de suas fronteirase a combatividade do Exército Vermelho e da Marinha Vermelha. Em fins de 1934, aURSS entrou para a Sociedade das Nações, sabendo que, apesar de sua debilidade,este organismo podia servir de tribuna para desmascarar os agressores e deinstrumento de paz, ainda que débil, para frear o desencadeamento da guerra. A URSS

entendia que, nos tempos que corriam, não se devia desdenhar sequer umaorganização internacional tão fraca como a Sociedade das Nações. Em Maio de 1935concertou-se entre a França e a URSS um pacto de assistência mútua, contra umpossível ataque dos agressores. Simultaneamente se concertou um tratado análogocom a Tchecoslováquia. Em março de 1936 a URSS assinou um pacto de ajuda mútuacom a República Popular da Mongólia. Em agosto de 1937 foi assinado um pacto denão agressão entre a URSS e a República da China. 2 – Prossegue o desenvolvimento da indústria e da agricultura na URSS– O 2° Plano Qüinqüenal é cumprido antes do prazo – Reconstrução daagricultura e conclusão da coletivização – A importância dos quadros – O movimento stakanovista – Aumenta o bem estar do povo – Apogeu dacultura popular – A força da Revolução Soviética.

 Enquanto nos países capitalistas se desencadeava, três anos após a crise

econômica de 1930-1933, uma nova crise, na URSS a indústria prosseguiuimperturbável sua marcha ascendente durante todo este período. A indústriacapitalista mundial apenas havia alcançado, em meados de 1937, em conjunto, 95 ou96 por cento do nível do ano de 1929, e na segunda metade do ano de 1937 entravana etapa de uma nova crise econômica; em troca, a indústria da URSS, prosseguindosua marcha ascendente, chegou em fins do ano de 1937 a 428 por cento de seu nívelde 1929 e, em comparação com o nível de antes da guerra, seu aumento era de maisde 7 vezes.

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Estes êxitos eram a conseqüência direta da política de reconstrução mantidapelo Partido e pelo Governo com toda a tenacidade.

Como resultado destes êxitos, o segundo Plano Qüinqüenal, no que toca àindústria, cumpriu-se antes do prazo. O 2° Plano Qüinqüenal ficou cumprido a 1° deAbril de 1937, isto é, em quatro anos  e três meses.

Foi um triunfo formidável do socialismo.Quase o mesmo quadro de progresso apresentava a agricultura. A superfície de

colheita de todas as culturas aumentou de 105 milhões de hectares, em 1913 (períodode ante-guerra), para 135 milhões de hectares, em 1937. A produção de cereaisaumentou de 78.424.000 toneladas, em 1913, a 111.384.000, em 1937; a produçãode algodão em bruto aumentou de 720.000 para 2.522.520 toneladas; a produção delinho (fibra) aumentou de 311.220 para 507.780; a produção de beterraba paraaçúcar, de 10.712.520 para 21.474.180; a produção das culturas de plantasoleaginosas aumentou de 2.113.020 toneladas para 5.012.280.

Convém advertir que em 1937, somente os kolkoses (sem contar os sovkoses)lançaram ao mercado mais de 27 milhões e meio de toneladas de trigo, ou seja, 6milhões e meio de toneladas mais que os latifundiários, os kulaks e os camponesesjuntos, em 1913.

Só um ramo da economia rural, a criação de gado, se achava em um nívelinferior ao de antes da guerra e continuava avançando lentamente.

No que se refere à coletivização da agricultura, esta podia dar-se já porterminada. Em 1937 estavam incorporadas aos kolkoses 18 milhões e meio de terras

produtivas camponesas, o que representava 93 por cento das terras camponesasprodutivas de todo o país; e a superfície de colheita de cereais dos kolkosesrepresentava 99 por cento da superfície total de cereais semeados pelos camponeses.

Os frutos da reconstrução da agricultura e de sua dotação intensiva comtratores e maquinaria agrícola estavam à vista.

O coroamento da obra de reconstrução da indústria e da agricultura fez comque a Economia nacional se visse abundantemente dotada de uma técnica de 1.ªclasse. A indústria e a agricultura, o transporte e o exército receberam umaquantidade enorme de elementos técnicos novos, de novas máquinas e ferramentas,tratores e maquinaria agrícolas, locomotivas e navios, peças de artilharia e tanques,aviões e navios de guerra. Era necessário pôr em marcha dezenas e centenas demilhares de quadros instruídos, capazes de dominar toda esta técnica e tirar dela omáximo rendimento. Sem isto, sem dispor de uma quantidade suficiente de homens

que dominassem a técnica, esta corria o risco de converter-se em um montão demetais inerte e improdutivo. Era um perigo grave, fruto do fato de que os quadroscapazes de dominar a técnica não se desenvolviam com a mesma celeridade einclusive ficavam bastante atrasados no que diz respeito ao desenvolvimento datécnica. A coisa se complicava pela circunstância de que uma parte considerável dosativistas não compreendia este perigo e julgava que a técnica cumpriria sua tarefa “porsi só”. Assim como antes se havia menosprezado a técnica, adotando para com elauma atitude desdenhosa, agora se exagerava sua importância e ela era convertida emum fetiche. Não se compreendia que a técnica sem homens que a dominassem é umacoisa morta. Não se compreendia que, sem homens que dominassem a técnica estanão podia dar um alto rendimento.

O problema dos quadros capazes de dominar a técnica adquiria, portanto, uma

importância primordial.Era necessário desviar a atenção dos ativistas da exaltação desmedida datécnica, e do menosprezo da importância dos quadros, dirigindo-a para a assimilaçãoda técnica, o domínio da técnica, o esforço intensivo para forjar numerosos quadroscapazes de dominar a técnica, e de tirar dela o máximo rendimento.

E assim como antes, no período de reconstrução, quando o país padecia fomede técnica, o Partido havia lançado a palavra de ordem “A técnica no período dereconstrução decide tudo”, agora, quando a técnica abundava e o período dereconstrução estava terminado, no fundamental, e o país sofria uma aguda penúria dequadros, o Partido tinha que lançar uma nova palavra de ordem, destinada aconcentrar a atenção não já na técnica, mas nos homens, nos quadros capazes deaproveitar integralmente a técnica.

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A este respeito, teve grande importância o discurso pronunciado pelo camaradaStalin, em maio de 1935, quando da promoção dos oficiais comandantes saídos dasAcademias do Exército Vermelho:

“Antes – disse o camarada Stalin – dizíamos que a “técnica decide tudo”. Estapalavra de ordem nos ajudou no sentido de que liquidamos a fome de técnica ecriamos uma base técnica amplíssima em todos os ramos da atividade para fortalecernossos homens com uma técnica de primeira ordem. Está muito bem. Mas está muitolonge de ser suficiente. Para pôr em movimento a técnica e tirar dela todo orendimento, são necessários homens que a dominem, são necessários quadroscapazes de assimilar e aproveitar esta técnica de acordo com todas as regras da arte.A técnica sem homens que a dominem é uma coisa morta. A técnica tendo à frentehomens que a dominem pode e deve fazer milagres. Se nossas fábricas e empresasindustriais de primeira ordem, se nossos sovkhoses e kolkhoses, se o nosso ExércitoVermelho, se todos contassem com uma quantidade suficiente de quadros capazes dedominar a técnica, nosso país obteria um rendimento três ou quatro vezes maior que oque atualmente obtém. Por isso, atualmente, é preciso fazer fincar-pé na questão doshomens, dos quadros, do pessoal que domina a técnica. Por isso, a velha palavra deordem “A técnica decide tudo”, palavra de ordem que era o reflexo de um período jáultrapassado, em que padecíamos de fome de técnica, deve ser substituída atualmentepor uma nova palavra de ordem, pela palavra de ordem “Os quadros decidem tudo”.Isto é agora o fundamental...

É necessário que se acabe por compreender que de todos os valiosos capitais

que existem no mundo, o capital mais precioso e decisivo, é constituído pelos homens,os quadros. É necessário que se compreenda que, em nossas atuais condições, “ osquadros decidem tudo”. Se contarmos com bons e numerosos quadros na indústria, naagricultura, nos transportes, no Exército, nosso país será invencível. Se carecermosdeles, mancaremos dos dois pés”. 

Portanto, a rápida formação de quadros técnicos e a rápida assimilação da novatécnica, com objetivo de continuar desenvolvendo a produtividade do trabalho, haviapassado a ser uma tarefa de primeira ordem.

O mais esplêndido exemplo do desenvolvimento de novos quadros, daassimilação da nova técnica pelos homens soviéticos e da marcha ascendente daprodutividade do trabalho foi o movimento stakhanovista. Este movimento nasceu etomou força na bacia do Donetz, na indústria carbonífera, de onde se estendeu aoutros ramos industriais, ao transporte e, mais tarde, à agricultura. Este movimento

recebeu o nome de movimento stakhanovista por haver sido seu iniciador o mineiro dopoço “Irmino central” (bacia do Donetz) Alexei Stakhanov. Já antes de Stakhanov, omineiro Isotov havia batido todos os recordes estabelecidos na extração da hulha. Oexemplo de Stakhanov, que a 31 de agosto de 1935 arrancou em um só turno 102toneladas de carvão, ultrapassando 14 vezes as normas usuais, iniciou um movimentode massas dos operários e dos kolkhosianos pela elevação das normas de rendimento,por um novo apogeu da produtividade do trabalho. Busiguim, na indústriaautomobilística; Smetanin, na indústria de calçados; Krivonós, no transporte; Musinski,na indústria florestal; Iudóxia e Maria Vinogradova, na indústria têxtil; MariaBemchenko, Marina Knatenko, Pasha Angelina, Polagutin, Kolesov, Borin e Kovardak,na agricultura; tais são os nomes dos operários e kolkhosianos que romperam amarcha no movimento stakhanovista.

Depois deles apareceram outros destacamentos inteiros de stakhanovistas,ultrapassando a produtividade do trabalho de seus predecessores.No desenvolvimento do movimento stakhanovista, tiveram uma importância

imensa a 1.ª Conferência stakhanovista, de toda a URSS, celebrada no Kremlin emNovembro de 1935, e o discurso pronunciado nela pelo camarada Stalin.

“O movimento stakhanovista – disse o camarada Stalin em seu discurso – reflete o novo apogeu da emulação socialista, uma nova etapa mais alta da emulaçãosocialista....Antes, faz uns três anos, durante a sua primeira etapa, a emulaçãosocialista não implicava forçosamente uma técnica nova. Além disso, naquelemomento não tínhamos, propriamente falando, uma técnica nova. Em troca, a etapaatual da emulação socialista, o movimento stakhanovista, se acha forçosamentevinculado à nova técnica. O movimento stakhanovista não se conceberia sem uma

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técnica nova, superior. Tendes perante vós homens como os camaradas Stakhanov,Busiguim, Smetanin, Krivonós, as Vinogradovas e muitos outros, homens novos,operários e operárias, que se fizeram donos absolutos da técnica em seu ramo, que adominaram e impulsionaram. Faz três anos, não havia ou quase não havia entre nóshomens semelhantes. A importância do movimento stakhanovista está em que é ummovimento que destrói, por insuficientes, as antigas normas técnicas: está em que,em certo número de casos, ultrapassa a produtividade de trabalho nos paísescapitalistas mais avançados, franqueando deste modo a possibilidade de transformarnosso país no país mais próspero”. 

Caracterizando o método de trabalho dos stakhanovistas e ressaltando aenorme importância do movimento stakhanovista para o porvir do País Soviético, ocamarada Stalin comentava:

“Observai os camaradas stakhanovistas. Quem são estes homens? São,principalmente, operários e operárias jovens ou de meia idade, homens preparados, doponto de vista cultural e técnico, modelos de precisão e de exatidão no trabalho, quesabem apreciar o fator tempo no trabalho e aprenderam a contar, não somente porminutos, mas também por segundos. A maioria deles tem o mínimo de conhecimentostécnicos e continua completando sua instrução técnica. Estão isentos doconservadorismo e da rotina de alguns engenheiros, técnicos e dirigentes daEconomia. Marcham corajosamente para diante, destruindo as normas técnicasantiquadas e criando outras novas, mais avançadas. Introduzem emendas nasprevisões de capacidade das empresas ou nos planos econômicos estabelecidos pelos

dirigentes de nossa indústria. Amiúde completam e corrigem os engenheiros etécnicos. Freqüentemente os instruem e os empurram para diante, pois são homensque dominam plenamente a técnica de seu ramo e sabem fazer com que a técnicarenda o máximo que pode dar. Hoje os stakhanovistas são ainda pouco numerosos.Mas quem pode duvidar que amanhã serão dez vezes mais? Não é claro que osstakhanovistas são inovadores em nossa indústria, que o movimento stakhanovistarepresenta o porvir de nossa indústria, que encerra o gérmen do futuro apogeucultural e técnico da classe operária, que nos abre o único caminho pelo qual se podemobter índices superiores da produtividade do trabalho, necessários à passagem dosocialismo para o comunismo e para a supressão do antagonismo entre o trabalhointelectual e o trabalho físico?”  

A difusão esmagadora do movimento stakhanovista e a execução do 2° PlanoQüinqüenal antes do prazo assinalado criaram as condições necessárias para um novo

apogeu do bem estar e do desenvolvimento cultural dos trabalhadores.O salário real dos operários e empregados experimentou, durante o 2º Plano

Qüinqüenal, um aumento de mais de duas vezes. O fundo de salários cresceu de 34bilhões, em 1933, para 81 bilhões, em 1937. O fundo de seguros sociais do Estadoaumentou de 4 bilhões e 600 milhões de rublos, em 1933, para 5 bilhões, em 1937.Somente em um ano, em 1937, investiram-se em seguros sociais para os operários eempregados, em melhorias das condições de vida e das necessidades culturais dostrabalhadores, em sanatórios, balneários, casas de repouso e assistência médica, cercade 10 bilhões de rublos.

No campo, firmou-se definitivamente o regime kolkhosiano. Contribuíram paraisso consideravelmente o Estatuto do artel agrícola, aprovado no 2º Congresso dekolkhosianos de choque, celebrado em fevereiro de 1935, e a entrega aos kolkhoses,

em usufruto perpétuo, de todas as terras cultivadas por eles. Graças à consolidação doregime kolkhosiano, desapareceram do campo a pobreza e a insegurança. Enquantoque, três anos antes, cada kolkhosiano recebia dois quilos de trigo por jornada detrabalho, agora a maioria dos kolkhosianos, nas regiões produtoras de cereais, passoua receber de 5 a 12 quilos de trigo por jornada de trabalho, e muitos deles até 20,afora outros produtos e as receitas em dinheiro. Apareceram milhões de lareskolkhosianos que percebiam, nas regiões produtoras de cereais, de 8 mil a 24 milquilos de trigo, e dezenas de milhares de rublos por ano nas regiões hortícolas eprodutoras de algodão, linho, beterraba, gado, frutas, uva e vinho. Os kolkhosescomeçaram a ter uma vida próspera. Os kolkhosianos começaram a preocupar-sefundamentalmente em construir celeiros e armazéns, já que os velhos locaisdestinados a armazenar os produtos, em tempos em que se faziam as poucas reservas

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para um ano, não preenchiam nem a décima parte das novas necessidades doskolkhosianos.

Em 1936, ao crescer o bem-estar das massas populares, o Governo baixou umalei proibindo os abortos. Ao mesmo tempo se traçava um vasto plano de construção dematernidades, creches, cozinhas infantis e jardins de infância. Em 1936 se destinarampara estes fins 2,174 bilhões de rublos contra 875 milhões em 1935. Baixou-se uma leiespecial, proporcionando uma ajuda considerável às famílias numerosas. Em 1937 seinvestiram mais de 1 bilhão de rublos em subsídios concedidos segundo esta lei.

Como resultado da implantação do ensino obrigatório e da construção de novasescolas, surgiu um potente florescimento cultural entre as massas populares. Por todoo país se desenvolveu um grandioso plano de construção de escolas. O número dealunos das escolas primárias e médias aumentou de 8 milhões em 1914 para 28 em1936-37. O número de alunos das Escolas superiores aumentou de 112.000 em 1914,para 542.000 em 1936-37.

Foi uma verdadeira revolução cultural.No rápido melhoramento da situação material e no desenvolvimento cultural

das massas populares se revelaram a força, a potência e o caráter invencível daRevolução Soviética. As revoluções anteriores haviam fracassado sempre, porque,ainda que dando ao povo a liberdade, não tinham podido oferecer-lhe ao mesmotempo, uma melhora sensível de sua situação material e cultural. Era esta a sua falhamais importante. A Revolução soviética se distingue de todas as demais revoluçõespelo fato de que, além de livrar o povo do czarismo e do capitalismo, veio melhorar

radicalmente sua situação material e cultural. Nisto reside sua força invencível.“Nossa Revolução proletária – disse o camarada Stalin, em seu discurso perantea 1ª Conferencia de stakhanovistas de toda a URSS, - é a única revolução do mundoque pôde mostrar ao povo, não só seus resultados políticos, mas também resultadosmateriais. De todas as revoluções operárias, só conhecemos uma que hajaconquistado, mal ou bem, o Poder – é a Comuna de Paris. Mas não durou muitotempo. É certo que tentou romper as cadeias do capitalismo, mas não pôde consegui-lo, e muito menos logrou mostrar ao povo os resultados materiais da Revolução. Nossarevolução é a única que não só rompeu as cadeias do capitalismo e deu liberdade aopovo, mas também conseguiu, além disso, dar ao povo as condições materiais parauma vida desafogada. Nisso reside a força invencível de nossa Revolução”.  3 – O VIII Congresso dos Soviets – É aprovada a Nova Constituição daURSS.

 Em Fevereiro de 1935, o VII Congresso dos Soviets da União das Repúblicas

Socialistas Soviéticas tomou a resolução de mudar a Constituição da URSS que haviasido aprovada em 1924. A necessidade de mudar a Constituição da URSS correspondiaàs imensas mudanças operadas na vida do País dos Soviets desde 1924, isto é, desdea data em que havia sido aprovada a primeira Constituição da União Soviética até omomento atual. Durante estes anos havia mudado radicalmente a correlação dasforças de classe da URSS. Havia-se criado uma nova indústria socialista, haviam sidodestruídos os kulaks, havia triunfado o regime kolkhosiano, havia-se consolidado apropriedade socialista sobre os meios de produção em toda a Economia nacional, comobase da sociedade soviética. O triunfo do socialismo permitia acentuar a

democratização do sistema eleitoral, implantando o sufrágio universal, igual, direto esecreto.Uma comissão especial, presidida pelo camarada Stalin, foi encarregada de

elaborar o projeto de uma nova Constituinte da URSS. O projeto foi submetido àdiscussão de todo o povo, durante um prazo de cinco meses e meio. Este projeto deConstituição foi discutido no 8º Congresso extraordinário dos Soviets. O 8º Congressoda URSS se reuniu em novembro de 1936.

No informe pronunciado perante este Congresso dos Soviets sobre o projeto denova Constituição, o camarada Stalin expôs as mudanças fundamentais que se haviamoperado no País dos Soviets desde os tempos em que havia sido aprovada aConstituição de 1924.

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A Constituição de 1924 havia sido redigida no primeiro período da NEP. Naquelemomento, o Poder Soviético consentia ainda no desenvolvimento do capitalismoparalelamente ao do Socialismo. Naquele momento, o Poder Soviético esperava que,no curso da emulação entre os dois sistemas – o sistema capitalista e o sistemasocialista, - se organizasse e fosse garantido o triunfo do socialismo sobre ocapitalismo no terreno econômico. Naquele momento, não estava decidido ainda oproblema de “quem vencerá”. A indústria, baseada em uma técnica velha e pobre, nãotinha alcançado sequer o nível de antes da guerra. E ainda menos animador era oquadro que oferecia, naquela ocasião, a agricultura. Os sovkhoses e os kolkhoses eramcomo ilhotas isoladas no meio do imenso oceano das explorações camponesasindividuais. A luta contra os kulaks não visava ainda sua liquidação, mas apenas a sualimitação. No terreno da circulação de mercadorias, o setor socialista só representava,aproximadamente, uns 50 por cento.

Em 1936, a URSS apresentava já um panorama diferente. A economia da URSShavia mudado radicalmente. Por esta época, haviam sido totalmente liquidados oselementos capitalistas e o sistema socialista havia triunfado em todos os ramos daeconomia nacional. A potente indústria socialista ultrapassava sete vezes a produçãode antes da guerra e tinha desalojado completamente a indústria privada. Naagricultura, havia triunfado com os kolkhoses e os sovkhoses, a maior produçãosocialista do mundo, uma produção mecanizada e equipada como nenhuma outra,segundo a técnica. Os kulaks haviam sido totalmente liquidados como classe e o setorindividual já não desempenhava nenhum papel importante na economia do país. Toda

a circulação de mercadorias estava concentrada em mãos do Estado e dascooperativas. A exploração do homem pelo homem havia sido destruída para sempre.A propriedade social, socialista, sobre os meios de produção se havia consolidado comobase inquebrantável no novo regime socialista, em todos os ramos da Economianacional. Na nova sociedade, a sociedade socialista, havia desaparecido para sempreas crises, a miséria, o desemprego forçado e a ruína. Haviam-se criado as condiçõesnecessárias para uma vida desafogada e culta de todos os membros da sociedadesoviética.

Coerentemente com isto – dizia o camarada Stalin em seu informe – tinhamudado também a contextura de classe da população da URSS A classe doslatifundiários e a grande burguesia imperialista dos velhos tempos já tinham sidoliquidadas durante o período da guerra civil.

Durante os anos da edificação socialista, tinham sido suprimidos todos os

elementos exploradores – os capitalistas, os comerciantes, os kulaks e osespeculadores. Ficavam somente alguns vestígios insignificantes das classesexploradoras suprimidas, cuja liquidação total era coisa de muito pouco tempo.

Os trabalhadores da URSS – os operários, os camponeses, os intelectuais – haviam mudado profundamente durante os anos da edificação socialista.

A classe operária tinha deixado de ser uma classe explorada, privada dos meiosde produção, como acontece sob o jugo do capitalismo. Tinha destruído o capitalismo,arrebatado aos capitalistas os meios de produção para convertê-los em propriedadesocial. Tinha deixado de ser um proletariado, no sentido estrito e antigo desta palavra.O proletariado da URSS, em cujas mãos se acha o Poder do Estado, converteu-se emuma classe totalmente nova. Converteu-se em uma classe operária emancipada daexploração, que destruiu o sistema da Economia capitalista e instaurou a propriedade

socialista sobre os meios de produção. Isto é, converteu-se numa classe operária comonunca a história da Humanidade conheceu.Não menos profundas eram as mudanças que se tinham operado na situação

dos camponeses da URSS. Nos velhos tempos, mais de duas dezenas de milhões deexplorações camponesas pequenas e médias, soltas e disseminadas, trabalhavampreguiçosamente suas parcelas de terra. Cultivavam a terra, valendo-se de umatécnica atrasada. Eram explorados pelos latifundiários, kulaks, comerciantes,especuladores, usuários, etc. Agora surgiu na URSS um tipo completamente novo decamponês. Já não há latifundiários nem kulaks, comerciantes nem usurários quepossam explorá-lo. A imensa maioria das explorações camponesas entrou noskolkhoses, baseados, não na propriedade privada sobre os meios de produção, mas napropriedade coletiva e no regime de trabalho coletivo. Este é um novo tipo de

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camponês, livre de toda a exploração. Este novo tipo de camponês tão pouco a históriada Humanidade havia conhecido até agora.

Mudaram também os intelectuais da URSS São já, em massa, intelectuaistotalmente novos. Em sua maioria saíram do seio dos operários e camponeses. Já nãoservem, como os antigos intelectuais, ao capitalismo, mas ao socialismo. O intelectualpassou a ter plenitude de direitos como membro da sociedade socialista. Estesintelectuais constroem a nova sociedade, a sociedade socialista, pelo braço dosoperários e camponeses. São um novo tipo de intelectuais, postos a serviço do povo eemancipados de toda a exploração. Este tipo de intelectual tão pouco a história daHumanidade tinha conhecido.

Deste modo vão se apagando as fronteiras de classe entre os trabalhadores daURSS, vai desaparecendo o antigo exclusivismo de classe. Cedem e se apagam ascontradições econômicas e políticas entre os operários, os camponeses e osintelectuais. Criou-se a base para a unidade moral e política da sociedade.

Estas profundas mudanças operadas na vida da URSS, estes êxitos decisivos dosocialismo na URSS encontraram sua expressão na nova Constituição da UniãoSoviética.

Segundo esta Constituição, a sociedade soviética se compõe de duas classesirmãs, os operários e os camponeses, entre as quais ainda existem certas diferençasde classe. A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas é um Estado socialista deoperários e camponeses.

A base política da URSS é constituída pelos Soviets de deputados dos

trabalhadores, organismos que cresceram e se robusteceram em conseqüência daderrubada do Poder dos latifundiários e capitalistas da ditadura do proletariado.Na URSS todo o poder pertence aos trabalhadores da cidade e do campo,

representados pelos Soviets de deputados dos trabalhadores.O órgão superior do poder do Estado, na URSS, é o Soviet Supremo da URSS.O Soviet Supremo da URSS, formado por duas Câmaras iguais em direitos, o

Soviet da União e o Soviet das Nacionalidades, é eleito pelos cidadãos da URSS por umprazo de quatro anos, na base do sufrágio universal, igual, direto e secreto.

As eleições para a Soviet Supremo da URSS, bem como para todos os Sovietsde deputados dos trabalhadores, se fazem por sufrágio universal. Isto quer dizer quetodos os cidadãos da URSS que tenham 18 anos completos, sejam quais forem suaraça, nacionalidade, credo religioso, grau de instrução, residência, origem social,situação econômica e conduta no passado, tem direito de participar nas eleições para

deputados e de ser eleitos, com exceção dos alienados e das pessoas privadas de seusdireitos eleitorais por sentença judiciária.

As eleições para deputados se fazem por sufrágio igual. Isto quer dizer quecada cidadão tem um só voto e que todos os cidadãos tomam parte nas eleições emcondições iguais.

As eleições para deputados são diretas. Isto quer dizer que as eleições paratodos os Soviets de deputados dos trabalhadores, desde os Soviets rurais e urbanos,até o Soviet Supremo da URSS, se efetuam pelos cidadãos, por via direta, isto é,votando diretamente nos nomes dos deputados.

O Soviet Supremo da URSS elege, em sessão conjunta das duas Câmaras, aComissão Permanente do Soviet Supremo e o Conselho de Comissários do Povo daURSS.

A base econômica da União Soviética é constituída pelo sistema socialista deEconomia e pela propriedade socialista sobre os meios de produção. Na URSS se aplicao principio do Socialismo: “De cada um, segundo sua capacidade; a cada um, segundoseu trabalho”. 

Garanta-se a todos os cidadãos da URSS o direito ao trabalho, o direito aorepouso, o direito à instrução, o direito ao seguro material na velhice e em caso dedoença ou de inabilitação para o trabalho.

A mulher goza de direitos iguais ao homem em todos os domínios da vida.A igualdade de direitos de todos os cidadãos da URSS, independentemente de

sua nacionalidade e raça, é lei intangível.Reconhece-se a todos os cidadãos a liberdade de consciência e a liberdade de

propaganda anti-religiosa.

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A Constituição garante – no interesse da consolidação da sociedade socialista – a liberdade de palavra, de imprensa, de reunião e de comícios, o direito de agrupar-seem organizações sociais, a inviolabilidade da personalidade, a inviolabilidade dodomicílio e do segredo da correspondência e o direito de asilo para os cidadãosestrangeiros perseguidos por defenderem os interesses dos trabalhadores, por suasatividades científicas ou por sua luta em prol da libertação nacional.

Ao mesmo tempo, a nova Constituição impõe a todos os cidadãos da URSSsérios deveres: cumprir as leis, acatar a disciplina no trabalho, cumprir honradamenteseus deveres sociais, respeitar as regras de convivência da sociedade socialista,salvaguardar e fortalecer a propriedade social, socialista, e defender a pátria socialista.

“A defesa da Pátria é dever sagrado de todos os cidadãos da URSS”. Falando do direito dos cidadãos de se agruparem em diferentes organizações, a

Constituição grava em um de seus artigos as seguintes palavras:“Os cidadãos mais ativos e conscientes da classe operária e das outras camadas

de trabalhadores se agrupam no Partido Comunista (bolchevique) da URSS, que é odestacamento de vanguarda dos trabalhadores em sua luta pela garantia e pelodesenvolvimento do regime socialista, e o núcleo dirigente de todas as organizações detrabalhadores, tanto sociais como do Estado”. 

O 8º Congresso dos Soviets aprovou e sancionou por unanimidade o projeto denova Constituição da URSS.

O país dos Soviets obteve assim uma nova Constituição, a Constituição dotriunfo do socialismo e da democracia operária e camponesa.

Deste modo, a Constituição vem consagrar o seguinte fato de alcance históricoe universal: a URSS entrou em uma nova etapa de desenvolvimento, na etapa docoroamento da edificação da sociedade socialista e de transição gradual para asociedade comunista, na qual o princípio a que se subordinará a direção da vida socialserá o princípio comunista – “De cada um, segundo sua capacidade, a cada um,segundo suas necessidades”.  4 – Esmagamento dos restos de espiões, sabotadores e traidores daPátria, bukharinistas-trotskistas – Preparação das eleições para o SovietSupremo da URSS – O Partido traça o rumo para o desenvolvimento dademocracia interna – As eleições para o Soviet Supremo da URSS. 

O ano de 1937 trouxe dados sobre os monstros dos bandos bukharinistas-trotskistas. O processo judiciário contra Piatakov, Radek e outros, o processo contraTukachevski, Yakir e outros, e, finalmente o processo contra Bukharin, Rykov,Krestsinski, Rosengoltz e demais implicados, puseram a nu que os bukharinistas e ostrotskistas eram, fazia já muito tempo, um bando vulgar de inimigos do povo, sob aforma de “bloco direitista-trotskista”. 

Os citados processos salientaram que estes detritos do gênero humano, juntocom os inimigos do povo – Trotski, Zinoviev e Kamenev – conspiravam já contra Lênin,contra o Partido e contra o Estado Soviético, desde os primeiros dias da RevoluçãoSocialista de Outubro. Os atos de provocação destinados à ruptura da paz de Brest-Litovski, em começos de 1918, o “complot” contra Lênin e a conspiração com os social-revolucionários de “esquerda” para prender e assassinar Lênin, Stalin e Sverdlov, naprimavera de 1918; o criminoso atentado contra Lênin, em conseqüência do qual elesaiu ferido, no verão de 1918; a sublevação dos social-revolucionários de “esquerda”,no verão do mesmo ano; o recrudescimento intencional das divergências dentro doPartido, em 1921, com o intuito de alquebrar e destroçar, a partir de dentro, a direçãode Lênin; as tentativas de derrubar a direção do Partido durante a enfermidade edepois da morte de Lênin; a delação de segredos de Estado e o fornecimento deinformações de espionagem aos serviços de espionagem estrangeiros; o infameassassinato de Kirov; atos de sabotagem e de diversionismo, explosões; os infamesassassinatos de Menzhinski, Kuybishev e Gorki. Estes e outros crimes semelhantesforam os que se perpetraram no transcurso de vinte anos, com a intervenção ou sob adireção de Trotsky, Zinoviev, Kamenev, Bukharin, Rykov e seus satélites, obedecendoa ordens dos serviços de espionagem da burguesia estrangeira.

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Os citados processos tornaram claro que os monstros trotskistas-bukharinistas,ao cumprirem as ordens de seus amos – os serviços de espionagem da burguesiaestrangeira – se propunham como objetivo destruir o Partido e o Estado Soviético,minar a defesa do país, facilitar a intervenção armada estrangeira, preparar a derrotado Exército Vermelho e o desmembramento da URSS, entregando a Província MarítimaSoviética aos japoneses, a Bielorússia soviética aos polacos e a Ucrânia soviética aosalemães, a destruição das conquistas dos operários e kolkhosianos e a restauração daescravidão capitalista na URSS.

Estes guardas brancos, pigmeus cuja força só se podia comparar à de uminsignificante mosquito, julgavam-se, ao que parece, – causa riso dizê-lo! – ossenhores do país e imaginavam que podiam, na realidade, esquartejar e vender aomelhor arrematante a Ucrânia, a Bielorússia e a Província Marítima.

Estes mosquitos contra-revolucionários se esqueceram de que o senhor do paísdos Soviets é o Povo Soviético e de que os senhores Rykov, Bukarin, Zinoviev eKamenev não eram mais que simples servidores temporários do Estado, aos quais estepodia em qualquer momento varrer de suas repartições como lixo inútil.

Estes insignificantes lacaios dos fascistas se esqueceram de que bastava o PovoSoviético mover um dedo para que não ficasse nem rastro deles.

O Tribunal Soviético condenou ao fuzilamento os monstros bukharinistas-trotskistas.

O Comissário do Povo para os Negócios Interiores se encarregou de executar asentença.

O povo Soviético aprovou o esmagamento da quadrilha bukharinista-trotskista epassou aos assuntos da ordem do dia.O assunto que figurava na ordem do dia era a preparação para celebrar de um

modo organizado as eleições para o Soviet Supremo da URSS.O Partido desenvolveu em toda a linha um trabalho preparatório visando as

eleições. O Partido entendia que a implantação da nova Constituição da URSS.significava uma transformação na vida política do país. E que esta transformaçãoconsistia em levar a cabo a democratização completa do sistema eleitoral, em passardas eleições restritas às eleições por sufrágio universal, das eleições não plenamenteiguais às eleições por sufrágio igual, das eleições de vários graus às eleições diretas,das eleições com voto aberto às eleições com voto secreto.

Antes de vigorar a nova Constituição, achavam-se sujeitos a restrições em seusdireitos eleitorais os servidores da religião, os antigos guardas brancos, os antigos

kulaks e todos os que não prestassem um trabalho útil à sociedade; A novaConstituição anulou todas as limitações impostas aos direitos eleitorais dessascategorias de cidadãos, decretando que as eleições para deputados se fariam porsufrágio universal.

Antes, as eleições para deputados tinham caráter desigual, pois vigoravamdiferentes normas eleitorais para a população urbana e para a rural; agora haviadesaparecido a necessidade de limitar a igualdade nas eleições, e todos os cidadãostinham direito a participar nas eleições num plano de igualdade.

Antes, as eleições para os órgãos médios e superiores do Poder Soviético erameleições de vários graus; agora, segundo a nova Constituição, as eleições para todosos Soviets, desde os Soviets rurais e urbanos até o Soviet Supremo, tinham deefetuar-se por via direta, isto é, cada cidadão elegia diretamente o deputado.

Antes, as eleições para deputados dos Soviets se efetuavam emitindo-seabertamente o voto e por listas; agora, a votação, nas eleições para deputados, tinhaque ser secreta, e não por listas, mas por candidaturas separadas, representadas emcada distrito eleitoral.

Isto representava, sem dúvida, uma transformação na vida política do país.O novo sistema eleitoral tinha necessariamente que conduzir, como de fato

conduziu, a intensificar a atividade política das massas, a reforçar o controle destassobre os órgãos do Poder Soviético, a acentuar a responsabilidade dos órgãos do PoderSoviético ante o povo.

Para poder sair bem armado ao encontro desta transformação, o Partido tinhaque se pôr à frente dela e assegurar plenamente seu papel dirigente nas próximaseleições. Mas para isto era necessário que as próprias organizações do Partido se

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convertessem, em sua atuação prática, em organizações plenamente democráticas,que implantassem integralmente, em sua vida interna, as bases do centralismodemocrático, como o exigem os Estatutos do Partido, que os órgãos do Partido fossemdesignados por eleição, que dentro do Partido se desenvolvesse em toda a suaextensão a crítica e a autocrítica, que a responsabilidade das organizações do Partidoperante a massa deste fosse completa e que a própria massa do Partido desenvolvessetoda a sua atividade.

Do informe que o camarada Zhdanov fez, em fins de Fevereiro de 1937, noPleno do Comitê Central sobre o problema da preparação das organizações do Partidopara as eleições do Soviet Supremo da URSS, resultou que havia uma série completade organizações que, em sua atuação prática, não correspondiam abertamente aosestatutos do Partido e às bases do centralismo democrático, que substituíam oprincípio eletivo pelo sistema da cooptação, a votação por candidaturas separadas pelavotação por listas, o sufrágio secreto pelo voto aberto, etc. era evidente queorganizações que atuavam assim não podiam cumprir com sua missão nas eleições doSoviet Supremo. Portanto, era necessário, antes de tudo, acabar com semelhantespráticas antidemocráticas nas organizações do Partido e reconstruir a atuação deste nabase da plena democracia.

A respeito disto, o Pleno do Comitê Central, depois de ouvir o informe docamarada Zhdanov, resolveu:

“a) Reconstruir o trabalho do Partido na base da aplicação plena e incondicionaldos princípios da democracia dentro do Partido segundo os seus estatutos.

b) Acabar com a prática do cooptação para designar os membros dos Comitêsdo Partido erestabelecer, de acordo com os seus estatutos, o caráter eletivo dos órgãos dirigentesdas organizações do Partido.

c) Proibir, nas eleições para designar os órgãos do Partido, o voto por listas eefetuar a eleição por candidatura separada, garantindo a todos os membros do Partidoo direito ilimitado de recusar os candidatos e criticá-los.

d) Implantar, nas eleições dos órgãos do Partido, o sistema de votação secretados candidatos.

e) Celebrar eleições para designar os órgãos do Partido em todas asorganizações deste, desde os Comitês de Partido das organizações de base até osComitês territoriais provinciais e os Comitês Centrais dos Partidos Comunistasnacionais, assinalando como prazo máximo para terminar estas eleições a data de 20

de maio.f) Obrigar todas as organizações do Partido a acatar fervorosamente, de acordo

com os estatutos, os prazos assinalados para as eleições de seus órgãos: nasorganizações de base, uma vez por ano; nas organizações de distrito e cidade, umavez por ano; nas organizações territoriais, provinciais e de Repúblicas, uma vez cadaano e meio.

g) Assegurar, nas organizações de base do Partido, a estrita observância doregime de eleições dos Comitês do Partido nas assembléias gerais de fábricas, sempermitir a substituição destas por conferencias.

h) Acabar com a prática, estabelecida em uma série de organizações de base doPartido, de prescindir de fato das assembléias gerais, substituindo-as pelas reuniõesnas seções das fábricas e por conferências”. 

Começou assim a preparação do Partido para as eleições que se avizinhavam.Esta resolução do Comitê Central teve uma importância política imensa. Suaimportância se baseia não somente no fato de que dava início à campanha eleitoral doPartido para as eleições do Soviet Supremo da URSS, mas principalmente no fato deque ajudava as organizações do Partido a se reorganizarem, traçarem rumo para ademocracia interna e marcharem, inteiramente armadas para as eleições do SovietSupremo.

Desenvolvendo a campanha eleitoral, o Partido decidiu tomar como idéiaprincipal de sua política eleitoral a idéia de um bloco eleitoral entre os comunistas e ossem partido. O Partido foi às eleições, formando um bloco com os sem Partido, aliadoaos sem Partido, decidindo apresentar candidaturas comuns com estes nos distritoseleitorais. Isto era algo sem precedentes e absolutamente irrealizável, na prática, nas

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campanhas eleitorais dos países burgueses. Em troca, o bloco dos comunistas com ossem partido constituía um fenômeno absolutamente lógico no País Soviético, onde jánão existem classes inimigas e onde a unidade política e moral de todas as camadasdo povo constituem um fato indiscutível.

A 7 de dezembro de 1937, o Comitê Central do Partido dirigiu uma proclamaçãoa todos os eleitores.

Nela se dizia:”A 12 de Setembro de 1937, os trabalhadores da União Soviética, segundo a

nossa Constituição Socialista, elegerão os deputados ao Soviet Supremo da URSS. OPartido bolchevique comparece às eleições formando um bloco, uma aliança com osoperários, camponeses, empregados e intelectuais sem partido. O Partido bolcheviquenão se isola dos sem Partido: pelo contrário, comparece às eleições em bloco, aliadocom eles, formando um bloco com os sindicatos de operários e empregados, com asJuventudes Comunistas e demais organizações e associações dos sem partido.Portanto, os candidatos a deputados serão comuns para os comunistas e para os sempartido; todo deputado sem partido será também deputado dos comunistas, da mesmasorte que todo deputado comunista será deputado dos sem partido”. 

A proclamação do Comitê Central terminava com o seguinte apelo aos eleitores:“O Comitê Central do Partido Comunista (bolchevique) da URSS convida todos

os comunistas e simpatizantes a votarem nos candidatos sem partido com a mesmaunanimidade com que devem votar nos candidatos comunistas”. 

O Comitê Central do Partido Comunista (bolchevique) da URSS chama todos os

eleitores sem partido para votarem nos candidatos comunistas com a mesmaunanimidade com que votaram nos candidatos sem partido.O Comitê Central do Partido Comunista (bolchevique da URSS) apela para todos

os eleitores no sentido de acudirem como um só homem às urnas, a 12 de dezembrode 1937, para elegerem os deputados ao Soviet da União e ao Soviet dasNacionalidades.

Não deve haver nem um só eleitor que não exerça seu honroso direito de elegerdeputados ao órgão supremo do Estado Soviético.

Não deve haver um só cidadão ativo que não considere como seu dever decidadão contribuir para que todos os eleitores, sem exceção, participem nas eleiçõesao Soviet Supremo.

“12 de dezembro de 1937 será um dia de festa grandioso, em que ostrabalhadores de todos os povos da URSS se unirão em torno da bandeira vitoriosa de

Lênin e Stalin”. A 11 de dezembro de 1937, véspera do dia das eleições, o camarada Stalin

falou em seu distrito eleitoral, tocando em seu discurso no problema das condições queos homens eleitos pelo povo para deputados do Soviet Supremo da URSS deviamreunir.

“Os eleitores, o povo – disse o camarada Stalin – devem exigir de seusdeputados que estejam à altura de sua missão; que, em seu trabalho, não desçam aonível dos filisteus políticos, que permaneçam em seus postos de homens políticos detipo leninista, que sejam homens políticos tão lúcidos e tão preciosos como o era opróprio Lênin. Que sejam tão intrépidos no combate, tão implacáveis com os inimigosdo povo, como o era o próprio Lênin. Que sejam refratários a todo pânico, a todasombra de pânico, quando as coisas começam a complicar-se e no horizonte se divisa

algum perigo. Que sejam como o era o próprio Lênin, refratários a toda sombra depânico. Que quando se tratar de resolver problemas complexos, que necessitam deorientação em todos os seus aspectos e de ter em conta todas as vantagens, e todasas desvantagens, se mostrem tão prudentes, tão ponderados e refletidos, como opróprio Lênin. Que sejam sempre tão amigos da verdade e tão honrados como eraLênin. Que amem seu povo como Lênin o amava”. 

A 12 de dezembro se celebraram as eleições para o Soviet Supremo da URSS.As eleições se desenvolveram em meio de imenso entusiasmo. Não eram simpleseleições, mas uma grande festa, o triunfo do povo soviético, uma afirmação daamizade fraternal dos povos da URSS.

Dos 94 milhões de eleitores que compõem o senso, tomaram parte nas eleiçõesmais de 91 milhões, ou seja, 95,8%. Destes, votaram pelo bloco dos comunistas e

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sem partido 89.884.000 eleitores, isto é, 98,6%. Somente 632 mil pessoas, ou seja,menos de 1%, votaram contra os candidatos do bloco, dos comunistas e sem partido.Foram eleitos todos os candidatos do bloco, sem exceção.

Deste modo, 90 milhões de homens retificaram com seu voto unânime o triunfodo socialismo na URSS.

Foi uma grande vitória do bloco dos comunistas e sem partido.Foi um triunfo do Partido bolchevique.A unidade política e moral do Povo Soviético, da qual falara o camarada Molotov

em seu histórico discurso do XX aniversário da Revolução de Outubro, obteve nestaseleições uma brilhante afirmação.

  

CONCLUSÃO Quais são os resultados fundamentais do caminho histórico percorrido pelo

Partido bolchevique?Que nos ensina a história do Partido Comunista (bolchevique) da URSS?1) A história do Partido bolchevique nos ensina, antes de tudo, que o triunfo da

revolução proletária, o triunfo da ditadura do proletariado é impossível sem um partidorevolucionário do proletariado, livre de oportunismo, e intransigente diante dosoportunistas e capitulacionistas, e revolucionário diante da burguesia e do Poder deseu Estado.

A história do Partido bolchevique nos ensina que deixar o proletariado sem umpartido assim equivale a deixá-lo sem direção revolucionária: e deixá-lo sem direçãorevolucionária equivale a fazer fracassar a causa da revolução proletária.

A história do Partido bolchevique nos ensina que esse partido só pode ser umpartido de novo tipo, um partido marxista-leninista, o Partido da revolução social,capaz de preparar o proletariado para os combates decisivos contra burguesia e deorganizar o triunfo da revolução proletária.

Tal é, na URSS, o Partido bolchevique.“No período pré-revolucionário – diz o camarada Stalin – no período de

evolução mais ou menos pacífica, em que os partidos da Segunda Internacionalrepresentavam a força predominante dentro do movimento operário, e as formasparlamentares de luta se consideravam como fundamentais, nestas condições, oPartido não tinha nem podia ter a grande e decisiva importância que adquiriu maistarde, sob as condições dos choques revolucionários abertos. Kautsky, defendendo aSegunda Internacional contra os que a atacavam, disse que os partidos da SegundaInternacional são instrumentos de paz e não de guerra, e que precisamente por istoacabaram impotentes para empreender qualquer coisa séria durante a guerra, noperíodo das ações revolucionárias do proletariado. E isto é totalmente exato. Mas quesignifica isto? Significa que os Partidos da Segunda Internacional são imprestáveis paraa luta revolucionária do proletariado, que não são Partidos combativos do proletariadoque conduzem este ao Poder”, mas, sim, aparelho eleitoral adaptado às eleições doparlamento e à luta parlamentar. Isto explica precisamente o fato de que, durante operíodo de predomínio dos oportunistas da Segunda Internacional, a organizaçãopolítica fundamental do proletariado não fosse o Partido, mas a fração parlamentar. Ésabido que neste período, o partido era, na realidade, um apêndice da fração

parlamentar e um elemento posto a serviço desta. Não é preciso demonstrar que, emtais condições e com semelhante partido à frente, não se podia nem falar de prepararo proletariado para a revolução.

Mas as coisas mudaram radicalmente ao entrar no novo período. Este novoperíodo é o período dos choques abertos entre as classes, o período das açõesrevolucionárias do proletariado, o período da revolução proletária, o período dapreparação direta das forças para a derrocada do imperialismo e a tomada do poderpelo proletariado. Este período coloca perante o proletariado novas tarefas dereorganização de todo o trabalho do Partido em um sentido novo, revolucionário, deeducação dos operários no espírito da luta revolucionária pelo Poder, de preparação econcentração das reservas, de aliança com os proletários dos países vizinhos, deestabelecimento de sólidos vínculos com o movimento de libertação das colônias e dos

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países dependentes, etc., etc. Pensar que estas tarefas podem resolver-se com asforças dos velhos partidos social-democrátas, educados sob as condições pacíficas doparlamentarismo, equivale a condenar-se a um desespero sem remédio, a uma derrotainevitável. Ter que enfrentar estas tarefas com os velhos partidos à frente equivale aencontrar-se completamente desarmado. É preciso, por acaso, demonstrar que oproletariado não podia resignar-se a semelhante situação?

Daí a necessidade de um novo partido, de um partido combativo, de um partidorevolucionário, suficientemente corajoso para conduzir os proletários à luta pelo Poder,suficientemente hábil para orientar-se nas condições complexas da situaçãorevolucionária e bastante flexível para vencer todos e cada um dos escolhos que seinterpõem no caminho até o final.

Sem um partido assim não se pode nem pensar na derrubada do imperialismo,na conquista da ditadura do proletariado.

Este novo Partido é o Partido do leninismo (Stalin, “Problemas do Leninismo”,págs. 62-63, ed. russa).

2) A história do Partido nos ensina, também, que o Partido da classe operárianão pode cumprir a missão de dirigente de sua classe, não pode cumprir sua missãode organizador e dirigente da revolução proletária, se não possui a teoria devanguarda do movimento operário, se não possui a teoria marxista-leninista.

A força da teoria marxista-leninista consiste em dar ao Partido a possibilidadede orientar-se dentro de uma situação qualquer, de compreender a trama interna dosacontecimentos que o rodeiam, de prever a marcha dos acontecimentos e discernir

não só como e para onde se desenvolvem os acontecimentos no presente, mastambém como e para onde terão de desenvolver-se no porvir.Só um partido que possui a teoria marxista-leninista pode avançar com passo

firme e conduzir para frente à classe operária.Pelo contrário, um partido que não possui a teoria marxista-leninista vê-se

obrigado a andar às tontas, perde a segurança em seus atos e não é capaz de conduzira classe operária para frente.

Poderia pensar-se que possuir a teoria marxista-leninista significa aprenderconscienciosamente as conclusões e as teses que se contêm nas obras de Marx, Engelse Lênin, aprender a citá-las oportunamente e contentar-se com isto, crendo que asconclusões e as teses aprendidas se adaptam a quaisquer situações, a todos os casosda realidade. Mas este modo de abordar a teoria marxista-leninista é completamentefalso. A teoria marxista-leninista não pode considerar-se como um conjunto de

dogmas, como um catecismo, como um símbolo da fé, nem os marxistas comoeruditos pedantes e exegetas. A teoria marxista-leninista é a ciência dodesenvolvimento da sociedade, a ciência do movimento operário, a ciência darevolução proletária, a ciência da edificação da sociedade comunista. E, como ciência,não esta nem pode estar parada, mas se desenvolve e se aperfeiçoa. É evidente que,em seu desenvolvimento, não pode deixar de enriquecer-se com a nova experiência,com os novos conhecimentos, e que algumas de suas teses e conclusões não podemdeixar de mudar ao longo do tempo, não podem deixar de ser substituídas por novasteses e conclusões, segundo as novas condições históricas.

Possuir a teoria marxista-leninista não significa, portanto aprender todas assuas fórmulas e conclusões e ficar aferrado à letra delas. Para possuir a teoriamarxista-leninista é preciso, antes de tudo, aprender a distinguir entre sua letra e sua

essência.Possuir a teoria marxista-leninista significa assimilar sua essência e aprender aaplicá-la para resolver os problemas práticos do movimento revolucionário nasdiversas condições da luta de classes do proletariado.

Possuir a teoria marxista-leninista significa saber enriquecer esta teoria com anova experiência do movimento revolucionário, saber enriquecê-la e impulsioná-la,sem retroceder ante a necessidade de substituir, partindo da essência da teoria,algumas de suas teses e conclusões, já caducas, por outras novas, segundo a novasituação histórica.

A teoria marxista-leninista não é um dogma, mas um guia para a ação.Até a segunda revolução russa (Fevereiro de 1917), os marxistas de todos os

países partiam do critério de que a república democrática parlamentar era a forma de

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organização política da sociedade mais conveniente para o período de transição docapitalismo ao socialismo. É certo que Marx havia assinalado já na década de 70 doséculo XIX que a forma mais conveniente da ditadura do proletariado não era arepública parlamentar, mas uma organização política do tipo da Comuna de Paris. Mas,desgraçadamente, esta indicação de Marx não foi desenvolvida em suas obras e caiuno esquecimento. Além disso, a autorizada declaração feita por Engels em sua críticado projeto de programa de Erfurt, em 1881, de que “a república democrática é a formaespecífica para a ditadura do proletariado”, não deixava dúvida quanto ao fato de queos marxistas continuavam considerando a república democrática como a forma políticada ditadura do proletariado. Esta tese de Engels serviu mais tarde de orientação atodos os marxistas, incluindo Lênin. Entretanto, a revolução russa de 1906 e,sobretudo, a de Fevereiro de 1917 destacaram uma nova forma de organização políticada sociedade: os Soviets de deputados operários e camponeses. Baseando-se noestudo da experiência das duas revoluções russas e partindo da teoria do marxismo,Lênin chegou à conclusão de que a forma política melhor para a ditadura doproletariado não é a República democrática parlamentar, mas a República dos Soviets.Em Abril de 1917, no período de transição da revolução burguesa para a revoluçãosocialista, Lênin lançou, baseando-se nisto, a palavra de ordem de organizar arepública dos Soviets, como a melhor forma política da ditadura do proletariado. Osoportunistas de todos os países se aferravam à república parlamentar, acusando Lêninde voltar às costas ao marxismo e afundar a democracia. Mas era Lênin, naturalmente,e não os oportunistas, quem representava o autêntico marxismo e dominava a teoria

marxista, já que, enquanto os oportunistas a arrastavam para trás e convertiam umade suas teses em um dogma, Lênin a impulsionava, enriquecendo-a com uma novaexperiência.

Que teria sido do Partido, da revolução proletária, do marxismo, se Lênin setivesse apegado à letra do marxismo, em vez de decidir-se a substituir uma de suasvelhas teses, formulada por Engels, pela nova tese da república dos Soviets, que era aque correspondia à nova situação histórica? O Partido teria vagado nas trevas, osSoviets teriam sido desorganizados, não teríamos hoje um Poder Soviético, e a teoriamarxista teria sofrido um sério desastre. Com isso, teria saído perdendo o proletariadoe teriam saído ganhando os seus inimigos.

Estudando o capitalismo pré-imperialista, Engels e Marx chegaram à conclusãode que a revolução socialista não podia triunfar em um só país separadamente, de quesó podia triunfar simultaneamente em todos ou na maioria dos países civilizados. Isto

ocorria em meados do século XIX. E esta conclusão serviu mais tarde de orientaçãopara todos os marxistas. Entretanto, em começos do século XX, o capitalismo pré-imperialista evoluiu para o capitalismo imperialista, o capitalismo em ascensão seconverteu no capitalismo agonizante. Baseando-se no estudo do capitalismoimperialista e partindo da teoria marxista, Lênin chegou à conclusão de que a velhafórmula de Engels e Marx não estava mais em consonância com a nova situaçãohistórica, de que a revolução socialista poderia perfeitamente triunfar em um só paísseparadamente. Os oportunistas de todos os países se aferravam à velha fórmula deEngels e Marx, acusando Lênin de voltar às costas ao marxismo. Mas era Lênin,naturalmente, e não os oportunistas, quem representava o autêntico marxismo edominava a teoria marxista, já que, enquanto os oportunistas a puxavam para trás e aconvertiam numa múmia, Lênin a impulsionou, enriquecendo-a com a nova

experiência.Que teria sido do Partido, da revolução proletária, do marxismo, se Lênin setivesse apegado á letra do marxismo, se não tivesse tido a valentia teórica necessáriapara jogar por terra uma das velhas conclusões do marxismo, substituindo-a pela novaconclusão sobre a possibilidade do triunfo do socialismo em um só paísseparadamente, em consonância com a nova situação histórica? O Partido teria vagadonas trevas, a revolução proletária teria ficado sem direção e a teoria marxista teriacomeçado a declinar. Com isso teria saído perdendo o proletariado e teriam saídoganhando os seus inimigos.

O oportunismo não consiste sempre em renegar abertamente a teoria marxistaou algumas de suas teses e conclusões. Às vezes o oportunismo se manifesta natentativa de se aferrar a determinadas teses marxistas isoladas, que já começaram a

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envelhecer, e a convertê-las em dogmas, para conter desta forma o desenvolvimentoulterior do marxismo e com ele, conseqüentemente, o desenvolvimento do movimentorevolucionário do proletariado.

Sem exagero se pode afirmar que, depois da morte de Engels, os únicosmarxistas que impulsionaram a teoria do marxismo e a enriquecem com a novaexperiência, sob as novas condições da luta de classes do proletariado, foram oformidável teórico Lênin e, depois dele, Stalin e os demais discípulos de Lênin.

Precisamente por isso, porque Lênin e os leninistas impulsionaram a teoriamarxista, o leninismo é o desenvolvimento ulterior do marxismo, o marxismo quecorresponde às novas condições da luta de classes do proletariado, o marxismo daépoca do imperialismo e das revoluções proletárias, o marxismo da época do triunfo dosocialismo na sexta parte do globo.

O Partido bolchevique não teria podido triunfar em outubro de 1917, se seusquadros de vanguarda não tivessem possuído a teoria do marxismo, se não tivessemsabido ver nesta teoria um guia para a ação, se não tivessem sabido impulsionar ateoria marxista, enriquecendo-a com a nova experiência da luta de classes doproletariado.

Criticando os marxistas alemães da América do Norte que tinham assumido adireção do movimento operário norte-americano, Engels escrevia:

“Os alemães não souberam fazer de sua teoria a alavanca que pusesse emmovimento as massas norte-americanas. Em sua maioria, nem eles mesmoscompreendem esta teoria e se comportam para com ela de um modo doutrinário e

dogmático, julgando que é preciso aprendê-la de memória, e que basta isto paraenfrentar todas as situações da realidade. Para eles, esta teoria é um dogma e não umguia para a ação”. (K.Marx e F. Engels, t. XXVII, pág. 606).

Criticando Kamenev e alguns velhos bolcheviques que, em Abril de 1917, seaferravam à velha fórmula da ditadura democrático-revolucionária do proletariado edos camponeses, num momento em que o movimento revolucionário tinhaultrapassado esta fórmula e exigia a passagem à revolução socialista, Lênin escrevia:

“Nossa doutrina não é um dogma, mas um guia para a ação, sempre disseramMarx e Engels, zombando com razão dos que aprendem de memória e repetemmecanicamente as fórmulas”, que, no melhor dos casos, só servem para assinalar astarefas gerais, que se modificam necessariamente com a situação econômica e políticaconcreta de cada fase especial do processo histórico. É necessário assinalar a verdadeindiscutível de que o marxismo deve levar em conta a vida real, os fatos precisos da

realidade e não continuar aferrando-se à teoria do dia anterior” (Lênin, t. págs. 100-101, ed. Russa).

3) A história do Partido nos ensina, além do mais, que o triunfo da revoluçãoproletária é impossível sem o esmagamento dos partidos pequeno-burgueses queatuam dentro das fileiras da classe operária e empurram os camaradas atrasadosdesta para os braços da burguesia, enfraquecendo com isto a unidade da classeoperária.

A história do Partido é a história da luta contra os partidos pequeno-burguesese de seu esmagamento contra os social-revolucionários, mencheviques, anarquistas enacionalistas. Sem vencer estes Partidos e expulsá-los das fileiras do proletariado, nãoteria sido possível conseguir a unidade da classe operária, e, sem a unidade da classeoperária, o triunfo da revolução proletária teria sido irrealizável.

Sem o esmagamento destes partidos, que no princípio trabalhavam pelamanutenção do capitalismo e, mais tarde, depois da Revolução de Outubro, pelarestauração dele, teria sido impossível manter a ditadura do proletariado, derrotar aintervenção armada estrangeira e edificar o socialismo.

Nada tem de casual o fato de que todos os partidos pequeno-burgueses, quepara enganar o povo se batizavam com o nome de partidos “revolucionários”, e“socialistas” – os social-revolucionários, os mencheviques, os anarquistas, osnacionalistas, – passassem a ser partidos contra-revolucionários já antes da RevoluçãoSocialista de Outubro, para se converterem mais tarde em agentes dos serviços deespionagem estrangeiros, em um bando de espiões, sabotadores, agentesdiversionistas, assassinos e traidores da pátria.

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“Na época da revolução social – disse Lênin – a unidade do proletariado só podeser realizada pelo Partido revolucionário avançado do marxismo, só pode ser realizadapor meio de uma luta implacável contra todos os demais partidos”. (Lênin, t. XXVI,pág. 50 ed. russa).

4) A história do Partido nos ensina, também, que o Partido da classe operárianão pode manter a unidade e a disciplina dentro de suas fileiras, não pode cumprir suamissão de organizador e dirigente da revolução proletária, não pode cumprir suamissão de construtor da nova sociedade socialista, sem uma luta intransigente contraos oportunistas dentro de suas próprias fileiras, sem o esmagamento dos capituladoresem seu próprio seio.

A história do desenvolvimento da vida interna do Partido bolchevique é ahistória da luta contra os grupos oportunistas dentro do Partido e de seuesmagamento: contra os “economistas”, mencheviques, trotskistas, bukharinistas eporta-vozes dos desvios nacionalistas.

A história do Partido bolchevique nos mostra que todos estes gruposcapituladores eram, no fundo, agentes do menchevismo dentro do Partido, seussatélites e continuadores. Da mesma sorte que os mencheviques, cumpriram a missãode servir de veículos da influência burguesa dentro da classe operária e do Partido. Porisso, a luta pela liquidação destes grupos dentro do Partido era a continuação da lutapela liquidação do menchevismo.

Sem esmagar os “economistas” e os mencheviques, jamais se teria conseguidoedificar o Partido e conduzir a classe operária à revolução proletária.

Sem esmagar os trotskistas e bukharinistas, jamais se teria conseguidopreparar as condições necessárias para a edificação do socialismo.Sem esmagar os porta-vozes dos desvios nacionalistas de todos os matizes,

jamais se teria conseguido educar o povo no espírito do internacionalismo, não se teriaconseguido defender a bandeira fraternal entre os povos da URSS, não se teriaconseguido edificar a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.

Poder-se-ia pensar que os bolcheviques consagraram demasiado tempo a lutarcontra os elementos oportunistas dentro do Partido, que exageraram a importânciadestes elementos. Mas é completamente falso. Não é possível tolerar no seio doPartido o oportunismo, como não é possível tolerar a existência de uma úlcera noorganismo são. O Partido é o destacamento dirigente da classe operária, sua fortalezade vanguarda, seu Estado Maior de combate. Não é possível permitir que no EstadoMaior dirigente da classe operária haja indivíduos pusilânimes, oportunistas,

capituladores e traidores. Travar contra a burguesia uma luta de vida ou morte, tendodentro do próprio Estado Maior, dentro da própria fortaleza, capituladores e traidores,é cair na situação de quem se vê atacado a tiros pela frente e pela retaguarda. É fácilcompreender que a luta, nestas condições, só pode levar à derrota. O modo mais fácilde tomar uma fortaleza é atacá-la de dentro. Para conseguir o triunfo, é precisoprimeiro limpar o Partido da classe operária, seu estado-maior dirigente, sua fortalezade vanguarda, de capituladores, desertores, rebotalhos e traidores.

Nada tem de casual o fato de que os trotskistas, os bukharinistas, os porta-vozes de desvios nacionalistas, lutando contra Lênin e contra o Partido, tenhamacabado como acabaram os partidos mencheviques e social-revolucionáriosconvertendo-se em agentes dos serviços de espionagem fascistas, convertendo-se emespiões, sabotadores, assassinos, agentes diversionistas, traidores da pátria.

“Não é possível triunfar na revolução proletária, não é possível defendê -la,tendo nas próprias fileiras, reformistas, mencheviques. Isto é evidente no terreno dosprincípios. A experiência da Rússia e Hungria confirma-o de modo palpável. Na Rússiaatravessamos muitas vezes situações difíceis em que o regime soviético teria sidoinfalivelmente derrotado, se tivessem ficado mencheviques, reformistas, democrataspequeno-burgueses dentro de nosso Partido” (Lênin, t. XXV, págs. 462-463, ed.russa).

“Se nosso partido – disse o camarada Stalin – conseguiu forjar dentro de suasfileiras uma unidade interior e uma coesão nunca vista, isso se deve, antes de tudo, aofato de que soube limpar-se a tempo da escória do oportunismo, jogar fora do Partidoos liquidacionistas e mencheviques. Para desenvolver e consolidar os partidosproletários, é preciso depurar suas fileiras de oportunistas e reformistas, de social-

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imperialistas e social-chauvinista, de social-patriotas e social-pacifistas. O Partido sefortalece depurando-se dos elementos oportunistas” (Stalin, “Problemas doLeninismo”, pág. 72, ed. russa). 

5) a história do Partido nos ensina, além disso, que o Partido não pode cumprirsua missão de dirigente da classe operária, perdendo a cabeça com os êxitos, secomeça a vangloriar-se, se deixa de notar as deficiências de seu trabalho, se temereconhecer seus erros, se teme corrigi-los no devido tempo aberta e honradamente.

O Partido é invencível se não teme a crítica nem a autocrítica, se não dissimulaos erros e deficiências de seu trabalho, se ensina e educa os quadros com o exemplodos erros do trabalho do Partido e sabe corrigir estes erros a tempo.

O Partido naufraga, se oculta seus erros, se dissimula seus lados fracos, seencobre seus defeitos com uma falsa exibição de prosperidade, se não tolera a crítica ea autocrítica, se, se deixa penetrar pelo sentimento da fatuidade, se, se deixa levarpelo narcisismo e começa a dormir sobre os louros.

“A atitude de um partido político diante de seus erros é – diz Lênin – um doscritérios mais importantes e mais fiéis da seriedade desse partido e do cumprimentoefetivo de seus deveres para com sua classe e para com as massas trabalhadoras.Reconhecer abertamente os erros, pôr a nu suas causas, analisar minuciosamente asituação que os gerou e examinar atentamente os meios de corrigi-los, isto é o quecaracteriza um partido sério, nisto consiste o cumprimento de seus deveres, isto é,educar e instruir a classe primeiro, e depois as massas” (Lênin, t. XXV pág. 200, ed.russa).

E mais adiante:“Todos os partidos revolucionários que se afundaram até agora, se afundarampor deixarem se levar pela fatuidade e não saberem ver em que consistia sua força epor temor de falarem de suas debilidades. Mas, nós não nos afundaremos, porque nãotemos medo de falar de nossas debilidades e aprenderemos a superá-las” (Lênin, t.XXVII págs. 260-261, ed. russa).

6) Finalmente, a história do Partido nos ensina que, sem manter amplosvínculos com as massas, sem fortalecer constantemente estes vínculos, sem saberescutar atentamente a voz das massas e compreender suas necessidades maisprementes, sem ser capaz, não só de ensinar às massas, mas também de aprenderdelas, o Partido da classe operária não pode ser um verdadeiro partido de massas,capaz de arrastar consigo as massas de milhões da classe operária e de todos ostrabalhadores.

O Partido é invencível, se – como diz Lênin – sabe “ligar-se, aproximar-se, porassim dizer, fundir-se, em certo grau, com as mais vastas massas trabalhadoras, emprimeiro termo, proletárias, mas também com a massa trabalhadora não proletária”.(Lênin, t. XXV pág. 174, ed. russa).

O Partido afundar-se-á, se se encerra em seu campo estreito de partido, se sedesliga das massas, se se cobre de mofo burocrático.

“Pode-se reconhecer como norma – diz o camarada Stalin –, que enquantoconservarem o contato com as grandes massas do povo, os bolcheviques serãoinvencíveis. E, ao contrário, se, se desligarem das massas e perderem o contato comelas, se, se deixarem cobrir pela ferrugem burocrática, perderão toda a sua força eficarão anulados.

Os gregos da antiguidade tinham em sua mitologia um herói famoso,

Anteu, que era, segundo a lenda, filho de Poseidon, deus dos mares e de Gea, deusada terra. Anteu queria muito à sua mãe, que o tinha dado à luz e o tinha criado eeducado. Não havia herói ao qual Anteu não tivesse vencido. Considerava-se como umherói invencível. Em que consistia sua força? Consistia em, sempre que se sentia aponto de ver-se vencido na luta contra um inimigo, tocar a terra, sua mãe, que o tinhadado à luz e criado, e esta lhe infundia novo vigor. Mas Anteu tinha seu ponto fraco:era o perigo de ver-se separado da terra. Seus inimigos conheciam esta debilidade e oespreitavam. E eis que um dia um inimigo se aproveitou desta debilidade, vencendo-o.Este inimigo era Hércules. Como o venceu? Separou-o da terra e o suspendeu, tirando-lhe a possibilidade de tocar a terra e sufocando-o, assim, no ar.

Creio que os bolcheviques se assemelham a Anteu, o herói da mitologiagrega. Da mesma forma que Anteu, são fortes, porque mantêm contato com sua mãe,

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8/7/2019 História Partido Comunista da URSS

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as massas, que os deram á luz, criaram e educaram. Enquanto mantiverem o contatocom sua mãe, o povo, contam com todas as possibilidades de serem invencíveis.

  “Nisto está a chave do porque é invencível a direção bolchevique” (Stalin, “Sobre as deficiências do trabalho do Partido”). 

Tais são os ensinamentos fundamentais do caminho histórico percorridopelo Partido bolchevique.

 NOTAS

 1)  OKRANA – Departamento da polícia política secreta, na Rússia czarista, criado

para combater o movimento revolucionário.2)  DEKABRISTAS – Revolucionários da nobreza que se sublevaram contra aautocracia e a servidão em dezembro de 1825.3)  ZEMSKIE NACHALNIKI – Funcionários destacados da nobreza e investidos dePoder judiciário e administrativo sobre os camponeses.4)  MANILOVIADA – Temperamento plácido, inativo, com imaginação ociosa.Manilov, um dos personagens de “Almas Mortas”, de Gogol.