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1 História Política e Econômica e Geografia de Mato Grosso PROF. JUANIL BARROS – CURSO PREPARATÓRIO PEDRO GOMES 1. Antecedentes históricos da fundação de Cuiabá; O BANDEIRANTISMO NO BRASIL DO SÉCULO XVII O desejo de explorar o território brasileiro, a busca de pedras e metais preciosos, a preocupação do colonizador português em consolidar seu domínio e a vontade de arrebanhar mão-de-obra indígena para trabalhar nas lavouras resultaram em incursões pelo interior do país, feitas muitas vezes por milhares de homens, em viagens que duravam meses e até anos. Nestas incursões era evidente a preocupação do europeu em escravizar o índio, e não foi pequeno o morticínio nas verdadeiras caçadas humanas que então ocorreram, como observa o historiador João Ribeiro. As bandeiras, fenômeno tipicamente paulista que data do início do século XVII, não extinguiram as entradas e também não foram iniciativa exclusiva dos mamelucos - filhos de portugueses com índias - do planalto de São Paulo. Elas marcam o início de uma consciência nativista e antiportuguesa. Calcula-se que 300.000 índios foram escravizados até 1641, quando o bandeirantismo de aprisionamento declinou e deu lugar a expedições cada vez maiores em busca de ouro, prata e pedras preciosas. A caça ao índio foi implacável. Os que não se submetiam, eram exterminados se não fugissem. Os bandeirantes paulistas atacavam seguidamente as missões religiosas jesuítas, uma vez que o índio catequizado, vivendo nessas aldeias, era presa fácil. Em 1580, o capitão-mor Jerônimo Leitão trouxe de Guairá, a maior dessas missões, um grande contingente de índios escravizados, a que se seguiram outros. Todas ou quase todas essas aldeias foram destruídas, a começar pela de Guairá, em 1629, numa expedição que teve entre seus chefes Antônio Raposo Tavares. A destruição sistemática das missões prosseguiu a sudoeste de Mato Grosso (Itatim) e ao sul, na direção do Rio Grande, à proporção que os missionários recuavam para as regiões próximas aos rios Uruguai e Paraná, onde conseguiram organizar a resistência, auxiliados pelo governador do Paraguai, D. Pedro de Lugo y Navarra. Os paulistas foram derrotados em Mbororé em 1641 e com isso o avanço sobre as missões arrefeceu durante algum tempo Portanto, a história de MT, no período "colonial" esta intimamente ligada ao ciclo das bandeiras. Houve quatro tipos de bandeiras: as de tipo apresador, para a captura de índios (chamado indistintamente o gentio) para vender como escravos; as de tipo prospector, voltadas para a busca de pedras ou metais preciosos as de sertanismo de contrato, para combater índios e negros (quilombos) as monções (expedições com finalidade de abastecer com suprimentos as regiões mineradoras). Através dos bandeirantes, Portugal consolidou a sua propriedade e posse até os limites do rio Guaporé e Mamoré. Os Bandeirantes em Mato Grosso O estado de Mato Grosso foi ocupado durante o período de colonização do Brasil por meio das expedições dos Bandeirantes, sendo reconhecido como brasileiro pelo Tratado de Madri de 1751. O que hoje conhecemos como Mato Grosso já foi território espanhol, levando-se em conta os limites estabelecidos pelo Tratado de Tordesilhas - pelo qual o Brasil teria menos que 30% de seu atual território. Entre 1673 e 1682, os bandeirantes paulistas Manoel de Campos Bicudo e Bartolomeu Bueno da Silva subiram o rio Cuiabá até a sua confluência com o rio Coxipó-Mirim, onde acamparam, denominando o local de São Gonçalo. No final de 1717, seguindo o mesmo caminho do seu pai, António Pires de Campos chegou ao mesmo local, rebatizando-o de São Gonçalo Velho. Nessa região, onde hoje vivem ribeirinhos e ceramistas, encontraram uma aldeia de índios Bororó. Muitos foram aprisionados em combate e levados para São Paulo como escravos. Fonte: Silva & Freitas (2000). As primeiras informações sobre os primórdios mato-grossenses indicam que o primeiro europeu a desbravar a área que viria a constituir o estado do Mato Grosso foi o português Aleixo Garcia (há quem lhe atribua, sem provas decisivas, a nacionalidade espanhola), náufrago da esquadra de Juan Diaz de Solís. Em 1525, ele atravessou a Mesopotâmia formada pelos rios Paraná e Paraguai e, à frente de uma expedição que chegou a contar com dois mil homens, avançaram até a Bolívia. De volta, com grande quantidade de prata e cobre, Garcia foi morto por índios paiaguá Sebastião Caboto também penetrou na região em 1526 e subiu o Paraguai até alcançar o domínio dos guaranis, com os quais travou relações de amizade e de quem recebeu, como presente, peças de metais preciosos.

História Política e Econômica de Mato Grosso

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História Política e Econômica e Geografia de Mato Grosso PROF. JUANIL BARROS – CURSO PREPARATÓRIO PEDRO GOMES

1. Antecedentes históricos da fundação de Cuiabá; O BANDEIRANTISMO NO BRASIL DO SÉCULO XVII

O desejo de explorar o território brasileiro, a busca de pedras e metais preciosos, a preocupação do colonizador português em consolidar seu domínio e a vontade de arrebanhar mão-de-obra indígena para trabalhar nas lavouras resultaram em incursões pelo interior do país, feitas muitas vezes por milhares de homens, em viagens que duravam meses e até anos. Nestas incursões era evidente a preocupação do europeu em escravizar o índio, e não foi pequeno o morticínio nas verdadeiras caçadas humanas que então ocorreram, como observa o historiador João Ribeiro. As bandeiras, fenômeno tipicamente paulista que data do início do século XVII, não extinguiram as entradas e também não foram iniciativa exclusiva dos mamelucos - filhos de portugueses com índias - do planalto de São Paulo. Elas marcam o início de uma consciência nativista e antiportuguesa.

Calcula-se que 300.000 índios foram escravizados até 1641, quando o bandeirantismo de aprisionamento declinou e deu lugar a expedições cada vez maiores em busca de ouro, prata e pedras preciosas. A caça ao índio foi implacável. Os que não se submetiam, eram exterminados se não fugissem.

Os bandeirantes paulistas atacavam seguidamente as missões religiosas jesuítas, uma vez que o índio catequizado, vivendo nessas aldeias, era presa fácil. Em 1580, o capitão-mor Jerônimo Leitão trouxe de Guairá, a maior dessas missões, um grande contingente de índios escravizados, a que se seguiram outros. Todas ou quase todas essas aldeias foram destruídas, a começar pela de Guairá, em 1629, numa expedição que teve entre seus chefes Antônio Raposo Tavares.

A destruição sistemática das missões prosseguiu a sudoeste de Mato Grosso (Itatim) e ao sul, na direção do Rio Grande, à proporção que os missionários recuavam para as regiões próximas aos rios Uruguai e Paraná, onde conseguiram organizar a resistência, auxiliados pelo governador do Paraguai, D. Pedro de Lugo y Navarra. Os paulistas foram derrotados em Mbororé em 1641 e com isso o avanço sobre as missões arrefeceu durante algum tempo

Portanto, a história de MT, no período "colonial" esta intimamente ligada ao ciclo das bandeiras. Houve quatro tipos de bandeiras:

• as de tipo apresador, para a captura de índios (chamado indistintamente o gentio) para vender como escravos;

• as de tipo prospector, voltadas para a busca de pedras ou metais preciosos

• as de sertanismo de contrato, para combater índios e negros (quilombos)

• as monções (expedições com finalidade de abastecer com suprimentos as regiões mineradoras). Através dos bandeirantes, Portugal consolidou a sua propriedade e posse até os limites do rio Guaporé e Mamoré.

Os Bandeirantes em Mato Grosso

O estado de Mato Grosso foi ocupado durante o período de colonização do Brasil por meio das expedições dos Bandeirantes, sendo reconhecido como brasileiro pelo Tratado de Madri de 1751.

O que hoje conhecemos como Mato Grosso já foi território espanhol, levando-se em conta os limites estabelecidos pelo Tratado de Tordesilhas - pelo qual o Brasil teria menos que 30% de seu atual território.

Entre 1673 e 1682, os bandeirantes paulistas Manoel de Campos Bicudo e Bartolomeu Bueno da Silva subiram o rio Cuiabá até a sua confluência com o rio Coxipó-Mirim, onde acamparam, denominando o local de São Gonçalo.

No final de 1717, seguindo o mesmo caminho do seu pai, António Pires de Campos chegou ao mesmo local, rebatizando-o de São Gonçalo Velho. Nessa região, onde hoje vivem ribeirinhos e ceramistas, encontraram uma aldeia de índios Bororó. Muitos foram aprisionados em combate e levados para São Paulo como escravos.

Fonte: Silva & Freitas (2000). As primeiras informações sobre os primórdios

mato-grossenses indicam que o primeiro europeu a desbravar a área que viria a constituir o estado do Mato Grosso foi o português Aleixo Garcia (há quem lhe atribua, sem provas decisivas, a nacionalidade espanhola), náufrago da esquadra de Juan Diaz de Solís.

Em 1525, ele atravessou a Mesopotâmia formada pelos rios Paraná e Paraguai e, à frente de uma expedição que chegou a contar com dois mil homens, avançaram até a Bolívia. De volta, com grande quantidade de prata e cobre, Garcia foi morto por índios paiaguá Sebastião Caboto também penetrou na região em 1526 e subiu o Paraguai até alcançar o domínio dos guaranis, com os quais travou relações de amizade e de quem recebeu, como presente, peças de metais preciosos.

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Em 1543 o espanhol Domingos Martinez de Irala foi incumbido pelo governador do Estuário do Prata, D. Alvar Nuñes Cabeza

de Vaca (sede em Assunção), chegou até a região das lagoas que hoje divide os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e as denominou de “Puerto de los Reys”. O próprio Cabeza de Vaca retornaria para Puerto de Los Reys e a transformou em sua base na busca de encontrar o grande rei branco e uma serra inteirinha de prata.

Em 1560 Nuflo Chaves sob o comando de Irala percorreu a cabeceira do Rio Paraguai, fundou Santa Cruz de La Sierra, percorreu terras dos atuais municípios de Vila Bela da Santíssima Trindade e Cáceres, sendo morto pelo cacique Parrilha.

Em função de questões comerciais e a falta de estímulo por não terem encontrado nenhum grande veio mineral, a região do Rio Paraguai permaneceu a margem dos interesses dos governos coloniais com exceção da fundação de Jerez, na região de Miranda e das Missões jesuíticas desenvolvidas na margem esquerda do Rio Paraguai. A missão de Camapuã que surgiu em função da penetração de jesuítas pelo Rio Paraná.

Desde 1632, os bandeirantes conheciam, de passagem e de lutas, a região onde os jesuítas haviam localizado as suas reduções e que os espanhóis percorriam como terra sua. Antônio Pires de Campos chegou criança, em 1672, com a bandeira paterna, às depois famosas minas dos Martírios.

Já adulto, retornou o caminho da serra misteriosa e navegou, de contracorrente, o rio Paraguai e o rio São Lourenço, embicando Cuiabá acima, até o atual porto de São Gonçalo Velho, onde travou uma batalha com os índios coxiponeses, que retiraram derrotado, foram aprisionados e levados à São Paulo como escravos.

A BANDEIRA DE PASCOAL MOREIRA CABRAL E A FUNDAÇÃO DE CUIABÁ A notícia de índios pouco ariscos e descuidados logo se espalhou entre os sertanistas. Em 1718, um bandeirante de

Sorocaba, Pascoal Moreira Cabral Leme, descendente de índios, realizou uma incursão ao Centro-Oeste, no caminho encontra-se com Antônio Pires de Campos que retornava à São Paulo depois de um bem sucedido confronto com os coxiponeses. Pascoal Moreira Cabral recebe um esboço de um mapa com a localização dos índios coxiponeses subiu o rio Coxipó até atingir a aldeia destruída dos coxiponeses, onde depois de uma resistência inicial dos nativos, solicitou reforço início à rancharia de uma base de operações, às margens do Coxipó e do Cuiabá.

Os bandeirantes recuaram, mas não desistiram de seus objetivos de tal forma que em 1718 na confluência do Rio Coxipó com o Rio Cuiabá os homens de Pascoal Moreira Cabral encontraram o maior veio aurífero da época, o local começou a atrair moradores das mais distintas partes do país e surgia assim primeiro arraial mato-grossense que recebeu o nome de São Gonçalo Velho, situado nas margens do rio Coxipó.

A bandeira de Cabral descobriu abundantes jazidas de ouro. A caça ao índio cedeu vez, então, às atividades mineradoras. Em oito de abril de 1719, foi lavrado o termo de fundação do Arraial de Cuyabá, e aclamou-se Pascoal Moreira, guarda-mor regente com a função de "guardar todos os ribeiros de ouro, socavar, examinar, fazer composições com os mineiros e colocar bandeiras, tanto aurinas, como ao inimigo bárbaro".

Atendendo a que Pascoal Moreira Cabral tem feito entradas nos sertões à diligência de descobrir ouro, em que gastou alguns anos, com muita despesa de sua fazenda, morte de escravos e com grande risco da própria vida, pelo dilatado e agreste sertão, e multidão do gentio bárbaro, conseguindo com a sua diligência o descobrimento de ouro, que hoje se acha com grande estabelecimento no sertão do Cuiabá, e ter sido eleito pelo povo, que se achava naquelas minas, e ter sido confirmado pelo meu antecessor, o Conde D. Pedro de Almeida, hei por bem fazer-lhe mercê do cargo de Guarda-mor das ditas minas [...]. Rodrigo Moreira César de Menezes

(LEITE-1982).

Neste período a Colônia brasileira passava por um momento de forte opressão portuguesa objetivando a maior extração possível de minerais em nome da Coroa Portuguesa. Convém destacar que os paulistas tinham sofrido uma derrota avassaladora na Guerra dos Emboabas em Minas Gerais e isto certamente estimulou Moreira Cabral a permanecer em MT mesmo depois de uma tentativa frustrada de aprisionar os índios coxiponeses.

Os rios eram os caminhos naturais de penetração do sertão. O principal trajeto seguia o seguinte itinerário: Rio Tietê, Rio grande, Rio Pardo, Rio Camapuã, Rio Coxim, Rio Taquari, Rio Paraguai, Rio São Lourenço e Finalmente Rio Cuiabá.

Nesta época Mato Grosso pertencia a Capitania de São Paulo e o surgimento de novas lavras começava a despertar o interesse dos representantes da Coroa Portuguesa no território mato-grossense, entre eles destacamos:

• O arraial da Forquilha localizava-se na confluência de dois ribeirões (Mutuca e Coxipó), que, ao juntar-se, davam continuidade ao rio Coxipó. Daí a origem do nome. Supõe-se que o fundador do arraial tenha sido o bandeirante António de Almeida Lara, que, em 1720, estava explorando o rio Coxipó. Forquilha teve vida efêmera. Manteve-se como principal arraial das minas cuiabanas por apenas um ano e meio, até a descoberta das Lavras do Sutil, quando entrou em plena decadência. Em 1722 são descobertas as lavras do Sutil, dando início a um povoamento desordenado. Em 1723 surgia o Arraial do Senhor Bom Jesus de Cuiabá e em 1726 era elevado a categoria de Vila Real do Bom Jesus de Cuiabá.

SILVA & FREITAS (2000). A notícia da descoberta de ouro não tardou em transpor os sertões, dando motivo a uma corrida sem precedentes para o

oeste. A viagem até Cuiabá, distante mais de 500 léguas do litoral atlântico, exigia de quatro a seis meses, e era arriscada e difícil em consequência do desconforto, das febres e dos ataques indígenas.

Rodrigo César de Meneses, capitão-general da capitania de São Paulo, chegou a Cuiabá no fim de 1726 e ali permaneceu cerca de um ano e meio. A localidade recebeu o título de Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá. Constituiu-se a câmara e nomeou-se um corpo de funcionários encarregados de dar cumprimento ao rigoroso regulamento fiscal da coroa. Em 1729 foi criado o lugar de ouvidor.

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Leitura Complementar Pascoal Moreira Cabral Leme é, desde ontem, o detentor dos direitos de exploração das minas de ouro ORLANDO MORAIS Da Reportagem Cuiabá, 9 de abril de 1719 - Depois de errar por mais de um ano na caça ao índio da região do Cuiabá, o bandeirante paulista Pascoal Moreira Cabral Leme resolveu enfim levantar acampamento definitivo e se apossar, perante a Coroa Portuguesa, do imenso território hoje ocupado em sua maior parte pelos Bororos. Ainda ontem, em São Gonçalo Velho, pouco abaixo da foz do rio Coxipó no Cuiabá, o bandeirante determinou que se lavrasse um “Termo de Certidão”,

com o qual visa assegurar os seus direitos de descobridor e, principalmente, de explorador das minas de ouro encontradas na região por seus homens. Ao território dentro do qual se diz agora “Capitão-Mor”, Pascoal Moreira Cabral deu o nome fundador de “Arraial de Cuiabá”. O Termo — que foi escrito por outra alheia mão, posto que Pascoal Moreira Cabral, apesar de exímio caçador de índios e conhecedor de ouro experiente, não lê ou escreve palavra —, foi despachado ontem mesmo para o Conde de Assumar e Capitão General Governador da Capitania de São Paulo, D. Pedro de Almeida Portugal. O encarregado de levar o Termo é o Capitão Antônio Antunes Maciel, que ainda leva consigo boas amostras do ouro encontrado. O que os bandeirantes esperam é que da Vila de São Paulo, sede da Capitania desde 1711, sejam enviadas tropas regulares, tanto para lhes ajudar na cata do ouro, quanto para lhes proteger dos índios, já que estes não se conformam com a presença de gente estranha em suas terras. De acordo com Pascoal Moreira Cabral, sua bandeira está a correr grandes riscos na região. “Em serviço de sua Real Majestade, já perdemos até agora oito homens brancos, fora negros”, disse ele. De fato, não é de boa memória para o bandeirante o combate que travou contra os invencíveis guerreiros Bororo, assim que chegou às margens do rio Coxipó. Pascoal Moreira Cabral só não voltou fugido para o Planalto do Piratininga porque encontrou, no caminho, Antônio Pires de Campos, chefe de outra e melhor-sucedida bandeira. No ano passado, depois de intensa luta contra uma tribo ainda não identificada, na confluência entre o Coxipó e o Cuiabá, Antônio Pires de Campos conseguiu capturar dezenas de índios para trabalhar como escravos nas lavouras do litoral. Pires de Campos mostrou o caminho a Moreira Cabral que, se não deu sorte na captura de índios, ao menos encontrou o metal tão apreciado mundo afora. Curiosamente, o local onde os rios Coxipó e Cuiabá se encontram já havia sido visitado por Pires de Campos ainda quando menino. Entre 1673 e 1680 (não se sabe ao certo), ele esteve lá com o seu pai, o bandeirante Manoel de Campos Bicudo, considerado o primeiro homem branco a pisar nestas bandas ocidentais da Colônia. Neste momento, Pires de campos - também conhecido como PayPirá — está acampado no trecho do rio Cuiabá denominado Bananal. Ali, seus homens, incluindo os índios prisioneiros, cultivam roças para se reabastecerem antes seguir a longa viagem rumo ao Planalto do Piratininga. TENTATIVA DE ACORDO - Depois de quase uma vida inteira a guerrear contra os índios, Pascoal Moreira Cabral tenta agora fazer um acordo com os Bororos, a quem os paulistas chamam de Coxiponés. O bandeirante sabe que a região onde ele está a pisar é alvo de disputas constantes entre as mais diversas tribos indígenas: Bororos, Caiapós, Guaicurus, Xavantes, Parecis, Bakairis, etc. Ora as tribos se ajuntam, ora se separam nas lutas por territórios, por rios mais piscosos e por terras mais férteis. Como nenhuma guerra interessa a quem vai se dedicar agora à paciente cata do ouro, Moreira Cabral pretende convencer os Bororos a ajuda-lo em troca de não mais importuna-los. Não será nada fácil (veja reportagem nesta página). O bandeirante quer que os índios o ajude a coletar o ouro, a remar as canoas e a carregar as bagagens. Ao mesmo tempo, ele sabe que ninguém melhor do que o índio pode lhe dizer onde estão as melhores caças, frutas e ervas medicinais e lhe avisar sobre os perigos da mata. O Planalto do Piratininga foi a principal região agrícola da Capitania de São Paulo. Para lá era levada a maioria dos índios escravizados. É onde fica hoje o ABC Paulista.

A ORIGEM DO TERMO CUIABÁ Há várias versões para a origem do nome "Cuiabá". Uma delas diz que o nome tem origem na palavra Bororo ikuiapá, que

significa "lugar da ikuia" (ikuia: flecha-arpão, flecha para pescar, feita de uma espécie de cana brava; pá: lugar). O nome designa uma localidade onde os bororos costumavam caçar e pescar com essa flecha, no córrego da Prainha, afluente da esquerda do rio Cuiabá. Outra explicação possível é a de que Cuiabá seria uma aglutinação de kyyaverá (que em guarani significa "rio da lontra brilhante") em cuyaverá, depois cuiavá e finalmente cuiabá.

Uma terceira hipótese diz que a origem da palavra está no fato de existirem árvores produtoras de cuia à beira do rio, e que "Cuiabá" seria "rio criador de vasilha" (cuia: vasilha e abá: criador). Martius traduz o vocábulo como "fabricante ou fazedor de cuias". Teodoro Sampaio interpreta, duvidando da origem tupi, como "homem da farinha", o farinheiro. De cuy: farinha e abá: homem.

SILVA, 1994 p. 20 aponta outra versão: Observe:

• O nome Cuiabá, segundo carta relatório de 16 de setembro de 1741 do padre jesuíta Agostinho Castañares, ao adelantado paraguaio Don Rafael de la Moneda, adveio do nome ‘CUYAVERÁ”, toponímio guarani pelo qual era conhecido o rio Cuiabá. Por sua vez o termo Cuyaverá, é uma corruptela semântica da palavra também de origem guarani “KIIAVERÁ”, que significa Lontra brilhante, isso certamente, em virtude da grande quantidade de lontras e ariranhas que habitavam por todo o rio Cuiabá, com suas sedosas peles molhadas, brilhando ao reflexo dos raios do sol, daí, lontra brilhante ou KYYAVERÁ, assim batizado provavelmente pelos índios Paiaguás que falavam a língua guarani.

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Há ainda outras versões menos embasadas historicamente, que mais se aproximam de lenda do que de fatos. O certo é que até hoje não se sabe com certeza a origem do nome.

1.2- IDÉIAS DE ADMINISTRADORES E PRIMEIROS DESENTENDIMENTOS A ADMINISTRAÇÃO COLONIAL

A colonização do Brasil foi estabelecida seguindo as diretrizes da política mercantilista, que privilegiava a produção do gênero agrícola de exportação e a atividade extrativista. A empresa açucareira foi montada a partir de 1530, visando atender os interesses da coroa portuguesa. No entanto, na segunda metade do século XVII, após a invasão holandesa na região nordeste, a produção açucareira entrou em decadência.

Diante da nova conjuntura, a coroa portuguesa passou a incentivar os bandeirantes com a intenção de buscar uma nova atividade econômica que mantivesse a sua balança comercial favorável. As primeiras bandeiras que avançaram para o interior tinham como principal objetivo o aprisionamento de índios; outras eram contratadas para aprisionar negros que fugiam da escravidão e também para destruir os quilombos, os quais representavam a resistência dos negros à sua condição de escravo.

Em 1693, adentrando o interior, os bandeirantes descobriram ouro em Minas Gerais, atraindo a atenção da coroa portuguesa.

Antônio Pires de Campos, em 1718, atingiu o rio Coxipó e um ano depois a bandeira de Pascoal Moreira Cabral encontrou ouro nas barrancas do mesmo rio. Surgia assim os primeiros núcleos populacionais em Mato Grosso - o Arraial de São Gonçalo e o Arraial da Forquilha.

Com a tarefa de promover a organização jurídica, política e administrativa do arraial da Forquilha, a população escolheu Pascoal Moreira Cabral para ser seu primeiro administrador.

No entanto, a coroa portuguesa não confirmou o nome de Pascoal Moreira Cabral e nomeou, para o cargo de Capitão-mor regente, Fernando Dias Falcão.

Em 1722, Miguel Sutil encontrou ouro próximo ao Córrego da Prainha, aumentando assim mais ainda o interesse do governo pela região. A grande produção aurífera despertou em Rodrigo César de Menezes (capitão governador da capitania de São Paulo) o interesse em residir em Cuiabá, pois Mato Grosso pertencia à capitania de São Paulo. O objetivo do governador era o de fiscalizar de perto as minas de Cuiabá. Para tanto, Rodrigo César de Menezes teve que combater o poder local, representado pelos irmãos Lemes (João e Lourenço Lemes).

Ao mudar-se para Cuiabá, Rodrigo César de Menezes fez dessa cidade a sede da capitania de São Paulo, elevando-a, em 1727, à categoria de Vila Real de Bom Jesus de Cuiabá.

A SOCIEDADE MINERADORA Era formada por homens livres e escravos. Os livres estavam subdivididos em Primeira Classe; Ricos (fazendeiros, grandes

comerciantes, e altos funcionários do Estado Português), Classe média (formada por profissionais liberais, professores, pequenos comerciantes, militares de média patente e etc.), a Terceira Classe os Pobres, era formada por homens livres pobres, soldados, mineiros e pequenos agricultores. Os desclassificados, os escravos eram formados por negros africanos e índios que trabalhavam nos serviços urbanos e rurais.

Os negro fugidos se refugiam nos quilombos, como o quilombo do Piolho ou Quariterê no Guaporé no Século XVIII, composto por negros, índios Cabixis e pelos cafuzos caburés. Nos quilombos a forma de governo era a monarquia, em particular no Guaporé, o poder pertencia à rainha Teresa de Benguela.

A economia do quilombo era voltada para a subsistência, com o plantio do milho, mandioca e de animais domésticos. Além desses quilombos, podemos citar o do Rio Manso, o Mutuca, Pindaituba e o do Rio Seputuba, o Mata-cavalo e outros.

1.3- OS IRMÃOS LEMES As minas de Cuiabá distanciavam-se da sede da Capitania, o Povoado, como era chamada a Vila de São Paulo de Piratininga. O acesso à legislação régia, a fiscalização na extração aurífera, a entrada de mercadorias e, sobretudo, a saída do ouro

ficavam, praticamente, sob o controle dos próprios descobridores. Foi pensando em estender a administração portuguesa até as minas cuiabanas que o governador da Capitania de São Paulo, Rodrigo Moreira César de Menezes, resolveu, em meados do ano de 1726, deixar o conforto da capital paulista e ir morar, por algum tempo, em Cuiabá. Desde antes, pressentia o governante que o controle político dessa região se encontrava em mãos de antigos sertanistas, enriquecidos com os lucros auríferos. Era o caso dos irmãos Leme, João e Lourenço, que, como opulentos comerciantes e mineradores, exerciam um extremo controle na região das minas de Cuiabá. Necessário se fazia acabar com o mando desses poderosos locais ou aliciá-los como representantes da Coroa portuguesa.

A estratégia montada por Rodrigo César foi, num primeiro momento, chamar para si um dos Leme, oferecendo-lhe o cargo de Provedor dos Quintos, o que foi recusado. Respondeu que, se o governador não desse a seu irmão o cargo de Mestre de Campo Regente, eles se recusariam a trabalhar para a Coroa, continuando a exercer seu poder independente dela. O governador paulista, fazendo valer sua autoridade, confirmou apenas o primeiro cargo, para o quê obteve todo o apoio da Câmara Municipal da Vila de São Paulo.

Inconformados, os Leme romperam com o governador e prepararam viagem de volta para as minas cuiabanas. Nesse momento, no entanto, Rodrigo César, decidindo acabar definitivamente com o poder dos Leme, armou uma emboscada para prendê-los. Contando com forças arregimentadas em Santos, o governador paulista mandou que fossem destruídas todas as embarcações que compunham a frota dos Leme, as quais estavam estacionadas à beira do rio Tietê.

As canoas, com todas as mercadorias, foram desbaratadas e os irmãos e seus exércitos de índios e negros africanos foram cercados, encurralados e presos.

Para evidenciar a força da Coroa portuguesa, um dos irmãos Leme, depois de preso, foi remetido para a Bahia, então capital da Colônia, e ali decapitado; teve seu corpo esquartejado, salgado e exposto pelas ruas de São Salvador. O outro foi morto durante

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o cerco. Não satisfeito em punir os dois irmãos, o castigo recaiu, também, sobre a família Leme, que teve seus bens confiscados e os descendentes diretos considerados banidos das benesses e consideração da Coroa, por muitos anos.

Uma vez desimpedido o caminho, Rodrigo de Menezes decide embarcar, em monção, para Cuiabá, em expedição composta de 308 embarcações e uma tripulação de 3.000 pessoas. A viagem demorou, aproximadamente, 5 meses, desembarcando no porto de Cuiabá, em novembro de 1726.

Em 15 de janeiro de 1727, elevou Cuiabá à categoria de vila, intitulando-a Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá. Com esse ato, Rodrigo César de Menezes deu início ao controle administrativo-fiscal dessa longínqua zona mineira. Uma de

suas primeiras providências foi aumentar os impostos, medida que afugentou muitos moradores de Cuiabá. Mediante o arrocho fiscal, resolveram, alguns, ir para Goiás; outros, saíram em busca de novas minas, sendo que alguns poucos retornaram à Vila de São Paulo. Em sua permanência em Cuiabá, Rodrigo César tratou de garantir a reprodução do modelo colonial, com as seguintes medidas:

• Determinou que os impostos sobre o ouro não mais fossem cobrados por capitação, isto é, por cabeça, instituindo, em seu lugar, o quinto;

• Ordenou que todo o ouro retirado das minas de Cuiabá deveria ser quintado junto à Casa de Fundição de São Paulo, ocasião em que, de pó, seria transformado em barra, da qual se extrairia 20%, a ser enviado para Lisboa;

• Criou os postos de Provedor da Fazenda Real e Provedor dos Quintos, para cuidar das finanças;

• Criou o cargo de Ouvidor Geral das minas de Cuiabá, para cuidar da Justiça. Rodrigo César de Menezes estava cansado das arruaças que os irmãos Lemes estavam aprontando em Cuiabá, já havia lhes oferecido cargos, convocado para reuniões amigáveis, nem mesmo a nomeação de Fernando Falcão Dias em substituição a Pascoal Moreira Cabral, motivada pela influência dos mesmos lhes havia deixado satisfeitos, o Governador, determinou ordem de prisão a ambos, e os mesmos acabaram sendo mortos pela força policial.

Depois de estender o poder metropolitano às minas sertanejas, Rodrigo Moreira César de Menezes deixou a Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá no primeiro semestre de 1728, rumo à Vila de São Paulo, utilizando-se do segundo roteiro monçoeiro. Estavam timbrados, em pleno sertão Oeste da Colônia, os símbolos administrativos e fiscais da Coroa portuguesa.

1.4- O ABASTECIMENTO DAS MINAS A descoberta de ouro em Mato Grosso, nas margens do Rio Coxipó por Pascoal Moreira Cabral em 1719 marcou o início das

monções, expedições fluviais regulares que faziam a comunicação entre São Paulo e Cuiabá. A palavra monção era usada pelos portugueses para denominar os ventos periódicos que ocorriam na costa da Ásia Meridional. Esses ventos, que durante seis meses sopram do continente para o Oceano Índico e nos seis meses seguintes em sentido contrário, determinavam a saída das expedições marítimas de Lisboa para o Oriente.

Na Colônia, as expedições que utilizavam as vias fluviais foram chamadas de monções, não por causa dos ventos, mas por se submeterem ao regime dos rios, partindo sempre na época das cheias (março e abril), quando os rios eram facilmente navegáveis, tornando a viagem menos difícil e arriscada.

As monções partiam das atuais cidades de Porto Feliz e Itu, às margens do rio Tietê, levando em média cinco meses até alcançar as minas de Cuiabá.

No início as monções transportavam paulistas para as minas cuiabanas, mas logo se tornaram expedições de abastecimento, isto é, bandeiras de comércio, levando mercadorias para as zonas mineradoras. A população das minas necessitava adquirir tudo que precisava, pois só estava interessada em achar ouro e enriquecer rapidamente.

A viagem era difícil devido às inúmeras corredeiras, febres, insetos venenosos, piranhas e, principalmente, ataques de índios. As canoas eram construídas à maneira indígena, cavadas em um só tronco e muito rasas. As maiores chegavam a transportar até 300 arrobas de carga, e com o tempo receberam toldos para evitar que as provisões se estragassem. A tripulação era formada pelo piloto, pelo proeiro e por cinco ou seis remadores que remavam em pé como os índios. A carga ficava no centro da canoa, os tripulantes na proa e os passageiros na pôpa. Navegavam entre 8 horas da manhã e 5 da tarde, quando embicavam as canoas nos barrancos dos rios, armando acampamentos. Alimentavam-se de feijão, farinha de mandioca ou de milho e recorriam à pesca, aos palmitos, frutos e caça.

Com o tempo, por medida de segurança, as viagens passaram a ser feitas em grandes comboios. O número de canoas e pessoas num comboio variava , mas sabe-se que um dos maiores, o do governador de São Paulo, D. Rodrigo César de Menezes, partiu de Porto Feliz com mais de 300 canoas e cerca de 3.000 pessoas.

Na região de Mato Grosso os índios Caiapós, Paiaguás e Guaicurus lutaram e resistiram para preservarem suas terras. No entanto, a violência do homem branco levou ao quase total desaparecimento dessas nações. Os custos dos transportes, somados a outras dificuldades, elevavam os preços das mercadorias, agravando ainda mais as condições de vida da população mineira.

Em meados de 1727, as minas cuiabanas já se encontravam em decadência de exploração, forçando a população a buscar outras regiões. É nesse contexto que irá se dar a descoberta das minas do Guaporé (Mato Grosso). O abastecimento do Guaporé foi feito através dos rios Guaporé, Madeira e Amazonas. No período de 1755 a 1778 o roteiro fluvial Madeira Guaporé ficou atrelado às determinações da Companhia de Comércio do Grão Pará e Maranhão, responsável por abastecer o mercado local de escravos, instrumentos de trabalho, comestíveis e manufaturas em geral.

1.5- A CRIAÇÃO DA CAPITANIA DE MT Portugal precisava empenhar-se na defesa do território conquistado. A preocupação com a fronteira, a extensa linha que ia

do Paraguai ao Acre, continha um aspecto estratégico: ocupar o máximo de território possível na margem esquerda do Rio Guaporé e na direita do Rio Paraguai. O rio e as estradas eram questões de importância fundamental, pois apenas se podia contar com animais e barcos.

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Antes de chegar ao Brasil, o primeiro governador da Capitania de Mato Grosso recebeu das mãos da rainha Mariana da Áustria, esposa do adoentado rei português, D. João V, uma série de instruções, que lhe serviram de orientação no encaminhamento das questões regionais.

Constituída de 26 artigos, podem ser destacados os seguintes pontos:

• Fundar a capital da nova Capitania no vale do rio Guaporé.

• Fundar uma aldeia jesuítica para os índios mansos.

• Incentivar a criação de gado (vacum e cavalar).

• Conceder privilégios e isenções de impostos àqueles que desejassem residir nas imediações da nova capital.

• Construir, na nova capital, residência para os capitães-generais.

• Agir com muita diplomacia nas questões de fronteira, evitando entrar em confronto aberto com os espanhóis.

• Tomar cuidado com os ataques dos índios bravios, especialmente os Paiaguá e Guaicuru.

• Fornecer informações mais precisas sobre a capitania recém-criada, seus limites e potencialidades.

• Proibir a extração e comercialização de diamantes.

• Criar uma Companhia de Ordenanças.

• Incentivar a pesca no rio Guaporé.

• Informar sobre a viabilidade de comunicação fluvial com a Capitania do Grão-Pará. Em 1748, as minas de Mato Grosso são desmembradas das minas de São Paulo, sendo nomeado como Capitão-General

Antônio Rolim de Moura. A capital da nova capitania foi instalada oficialmente em 1752, nas margens do Guaporé, passando a ser denominada Vila Bela da Santíssima Trindade. A necessidade de povoamento da região do Guaporé se deu em virtude do imperativo de vigilância da fronteira. Por esse motivo, o governo português deu carta branca a Rolim de Moura para que escolhesse o local onde deveria ser instalada a sede da capitania. No entanto, foi recomendado ao capitão-general que o local escolhido não deveria ser insalubre, ainda que próximo ao rio Guaporé ou a um de seus afluentes navegáveis.

As instruções que se seguem são datadas de 19 de janeiro de 1749 e se referem às medidas que Antônio Rolim de Moura deveria tomar para administrar a nova capitania:

• Fundação da capitania de Mato Grosso,

• criação da Companhia de Dragões,

• eleição de Juiz de Foral e/ou de Ouvidor,

• privilégios e isenções para os moradores da capital,

• prevenções e cuidados com vizinhos dos domínios espanhóis e jesuítas,

• informações à coroa para decidir se as comunicações fluviais com o Pará seriam permitidas,

• os ataques dos índios Paiaguás, os Caiapós, proteção aos Parecis,

• fundação de Aldeias para os mansos,

• proibição da extração de Diamantes. (Moura, C. E, 1982:21)

A Capitania de Mato Grosso faltava povo e recursos financeiros para manter a política de conquista. Favorecimentos especiais foram prometidos para os que morassem em Vila Bela, visando o aumento da povoação. Como o Rio Paraguai era vedado à navegação até o Oceano Atlântico, os governadores da Capitania agilizaram o domínio dos caminhos para o leste e a navegação para o norte, pelos rios Madeira, Arinos e Tapajós.

Ocorreram avanços de ambas as partes, Portugal e Espanha, para território de domínio oposto. Antes da criação da Capitania de Mato Grosso, os missionários jesuítas espanhóis ocuparam a margem direita do Rio Guaporé, como medida preventiva de defesa. Para desalojar os missionários, Rolim de Moura não duvidou em empregar recursos bélicos.

No governo do Capitão General João Carlos Augusto D’Oeynhausen, Dom João VI instituiu o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, a 16 de dezembro de 1815. A proximidade do governo supremo situado no Rio de Janeiro favoreceu a solução mais rápida das questões de governo. A independência de comércio trouxe novos alentos à vida mato-grossense.

Com a aproximação do fim da Capitania, Cuiabá assumiu aos poucos a liderança política. Vila Bela da Santíssima Trindade funcionou eficazmente como centro político da defesa da fronteira. Não podia ostentar o brilho comercial de Cuiabá e Diamantino. O último governador da Capitania, Francisco de Paula Magessi Tavares de Carvalho já governou todo o tempo em Cuiabá.

Em Mato Grosso, precisamente nos anos de maturação da Independência, acirraram-se as lutas pelo poder supremo da Capitania. A nobreza, o clero e o povo depuseram o último governador Magessi. Em seu lugar se elegeu uma Junta Governativa. Enquanto uma Junta se elegia em Cuiabá, outra se elegeu em Mato Grosso, topônimo que passou a ser conhecido Vila Bela da Santíssima Trindade, a partir de 17 de setembro de 1818. Sob o regime de Juntas Governativas entrou Mato Grosso no período do Brasil Independente, tornando-se Província. ADMINISRADORES - PERÍODO EM QUE PERTENCIA A CAPITANIA DE SÃO PAULO Capitão General Capitania Início Término

Pedro Miguel de Almeida Portugal e Vasconcelos SP/MG 1717 1721

Rodrigo César de Meneses SP 1721 1727

Antônio da Silva Caldeira Pimentel SP 1727 1732

Antônio Luís de Távora SP 1732 1732

Gomes Freire de Andrade SP 1737 1739

Luís de Mascarenhas, conde d'Alva SP 1739 1748

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A PARTIR DA CRIAÇÃO DA CAPITANIA – 1748 - CAPITÃES GENERAIS – CAPITANIA AO IMPÉRIO Gomes Freire de Andrade 1748 1751

Antônio Rolim de Moura Tavares 1751 1765

João Pedro da Câmara 1765 1769

Luís Pinto de Sousa Coutinho 1769 1772

Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres 1772 1789

João de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres 1789 1796

1a. Junta Governativa 1796 1796

Caetano Pinto de Miranda Montenegro 1796 1803

2a. Junta Governativa 1803 1804

Manuel Carlos de Abreu e Meneses 1804 1805

3a. Junta Governativa 1805 1807

Gravenberg 1807 1819

Francisco de Paula Magessi Tavares de Carvalho 1819 1821

1.6- OS ÍNDIOS PAIAGUÁS - AMERÍNDIOS NO PERÍODO COLONIAL Nas instruções régias que Antônio Rolim de Moura recebeu da rainha de Portugal para governar o Mato Grosso, estão

meticulosas orientações sobre o tratamento às nações indígenas; uma política clara de preservação e incorporação enquanto vassalos do rei, com os mesmos direitos e prerrogativas, como se brancos fossem. Ou seja, a política indigenista posta como componente do conjunto de ações destinadas ao objetivo final, a ocupação do território e a demarcação das fronteiras, que deveriam assegurar dos mais próximos conquistadores da América, os espanhóis. Para explicitar essa ideia, vemos que, em 19 de janeiro de 1749, Antônio Rolim de Moura, depois de nomeado primeiro governador e capitão-general da Capitania de Mato Grosso, viaja para cumprir sua missão no Mato Grosso. Além da responsabilidade de definir as fronteiras da Capitania do Mato Grosso, foi-lhe incumbido a instrução de proteger os índios mansos. Sobre esse assunto, assim orientou a Majestade portuguesa:

(...) Pelo que toca aos índios das nações mansas, que se acham dispersos servindo aos moradores título de administração, escolhereis sítios nas mesmas terras donde foram tirados, nas quais se possam conservar aldeiados e os fareis recolher todos ás aldeias, tirando-os aos chamados administradores, e pedireis ao provincial da Companhia de Jesus do Brazil vos mande missionários para lhes administrarem a doutrina e sacramento. Igualmente lhes pedireis para se descubra, não consentindo que se dissipem os Índios ou se tirem das suas naturalidades, ou se lhes faça dano ou violência alguma, antes se apliquem todos os meios de suavidade e indústria para civilizá-los, doutrina em tudo como pede a caridade cristão

Ao seguir as orientações ditadas pela rainha, Antônio Rolim de Moura fazia conhecida sua “desaprovação” à escravidão dos índios mansos. Desde o início de seu governo, em bandos publicados em locais públicos, “proibiu” a escravidão que continuava pelos sertanistas aos índios de modo geral. No documento que segue, vemos claramente a persistência dos preadores de índios em manter as práticas escravistas. Da parte do governo, vale ressaltar as ameaças de punição àqueles que insistiam em levar para fora da Capitania de Mato Grosso os escravos sem sua autorização. Entretanto, percebe-se com nitidez uma política de proteção traiçoeira e, acima de tudo, pérfida, uma vez que nas palavras do capitão há um discurso concessivo à saída de índios da então Capitania:

(...) Por quanto me consta que muitas pessoas desta capitania saiem em bandeiras a buscar gentio ao mato ainda daquelas nações que sua majestade não tem mandado dar guerra, e trazendo-os violentamente das suas aldeias, com morte e ferimentos de muitos, o que he tanto contra as ordens de S. M., que proibe expressamente e acontem a mesma lei divina: ordeno e mando que daqui em diante pessoa nenhuma vá a tal diligência sob pena de ser castigado. Conforme as ordens de sua Majestade e de lhe serem tirados não somente os índios que trouxer, mas também o que eles tiverem de baixo de sua administração: outro sim ordeno também que pessoa alguma possa levar para fora da capitania. Índios nenhum de qualidade que sejam mos apresentar primeiro a tirar licença minha por escrito, e o que ao contrário fizer serão tomados os ditos índios e prezo e castigado aos meus arbítrios e para que venha a notícia de todos se lançará este bando a som de caixas, e se fixara na parte pública desta vila (...).10

A política de proteção e conservação dos índios precede a publicação das leis que constituiriam, posteriormente, o Diretório11, tendo como objetivo fundamental a civilização dos índios, transformando-os em vassalos da Coroa portuguesa, com os mesmos “direitos e prerrogativas” que os brancos. Sobre esse tema, ilustra Perrone- Moisés:

A catequese e a civilização são os princípios centrais de todo esse projeto, reafirmados ao longo de toda a colonização: justificam o próprio aldeamento, a localização das aldeias, as regras da repartição da mão-de-obra aldeada, tanto a administração jesuítica quanto a secular, escravização e o uso da força em alguns casos.

Em conjunto com outros poderes administrativos, a Igreja trabalhava seu espaço de conquista religiosa e formava dupla importante no contexto de formação de uma história ocidental marcada pela conquista do europeu sobre as múltiplas sociedades americanas. Aldear índios, ensinar-lhes a língua portuguesa e mantê-los sob a orientação de missionários jesuítas asseguraria o domínio lusitano destas partes da América. Subtrair as distâncias e estabelecer procedimentos que identificassem o poder de Portugal em terras da América eram os objetivos a serem alcançados. As instruções da Coroa determinavam a fundação de aldeias para os índios. Em se tratando da história da Capitania de Mato Grosso, lugares, aldeias e vilas tiveram acentuada presença da população nativa.

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Perrone-Moisés afirma que aos “índios aldeados e aliados é garantida a liberdade ao longo em toda a colonização” e significava a “realização do projeto colonial”. No entanto, a liberdade não era respeitada. A legislação prescrevia que os índios deveriam, quando requisitados, trabalhar mediante o pagamento de salários e deveriam ser bem tratados; porque deles dependia, também, a defesa do território.

A situação era insustentável para os nativos, do litoral brasileiro partiam os bandeirantes paulistas, do interior do continente partiam os espanhóis, todos com o mesmo objetivos, subjugar os nativos e leva-los cativos às áreas agrícolas e descobrir metais preciosos para encher os cofres das coroas européias, contra isso se insurgiram diversas nações ameríndias, mas duas tribos, destacaram-se como guerreiras e por mais de três séculos lutaram bravamente para defender o solo que lhes pertenciam. Eram os Paiaguás nas suas canoas e os Guaicurus nos seus cavalos. Não se sabe ao certo de onde vieram. Parece que ocupavam o território do Chaco, expandindo-se depois pela margem oriental dos rios Paraguai e Miranda, onde viviam da caça, da pesca e do saque aos semelhantes. Índios indomáveis e valentes dominavam as outras tribos com as quais mantiveram posição de superioridade, escravizando-as, tornando-as prisioneiras.

Eram índios de língua “guaicuru” e reuniam-se na mesma família linguística dos Mbayá , subdivididas em vários troncos, entre os quais os Mbayá Paiaguá e Mbayá Guaicuru.

Os Paiaguás, também conhecidos por índios canoeiros, viviam errantes em cima de canoas velozes, conduzindo filhos e mulheres pelos rios, remando com espantosa habilidade, pilhando as tribos vizinhas quando necessário, conhecendo todos os caminhos das águas, desde a confluência do Paraguai-Paraná, ate para além das grandes lagoas. Unidos aos Guaicurus, os índios cavaleiros, com os quais cruzavam indiscriminadamente, formaram a grande resistência contra as expedições espanholas e luso-brasileiras que os atacavam sem trégua e sem piedade.

Os Guaicurus, com tamanha habilidade guerreira, tornaram-se força política, cujo apoio Portugal e Espanha disputavam para melhor dominar toda a Bacia do Paraguai. Em 1791, no dia 1º de agosto, em Vila Bela, foi assinado um tratado de paz entre essa poderosa nação indígena e a Coroa portuguesa, a amizade se fez por longos anos até o extermínio desses índios. Defenderam o forte de Coimbra na Guerra do Paraguai ao lado dos brasileiros e, aos poucos, foram perdendo o antigo ardor combativo, enfraqueceram-se e caíram em decadência, até o total desaparecimento. Hoje existem apenas os seus descendentes: os Kadiwéu, internacionalmente famosos pelas suas cerâmicas e pela sua expressiva mitologia.

Observem outros povos que habitavam a zona de influência portuguesa e espanhola em território mato-grossense:

• Os Bororo - Na região do Paraguai superior, do rio Cabaçal até as grandes lagoas, também espalhando-se ao longo dos rios Cuiabá e São Lourenço viviam os Bororo. Numerosa tribo, que se dividia em dois grupos com características étnicas e linguísticas semelhantes: os Bororo Ocidentais e os Orientais. Os Bororo Orientais, desde 1895, vêm sendo objeto de estudos dos padres salesianos, que mantiveram a direção da colônia Teresa Cristina. Memórias bem fundamentadas vieram à lume através das notáveis publicações: “Os Bororos Orientais”, dos padres Antônio Colbachini e César Albisseti e “Enciclopédia Bororo”, dos padres César Albisseti e Jayme Venturelli. O Museu Regional Dom Bosco, em Campo Grande, guarda um rico acervo da cultura Bororo.

• Os Guatós - Habitavam as cercanias das Lagoas Uberaba e Gaíva. Eram também conhecidos como índios canoeiros. Valentes caçadores de onça. Utilizavam as zagaias para as caçadas dos felinos, atacando-os nos esconderijos. Cada exemplar abatido dava direito à posse de uma companheira. Havia chefes que chegavam a possuir dezenas de mulheres. Usavam arcos de dimensões amplas e flechas com pontas de osso. Construíam canoas com troncos de árvores escavadas a fogo e aparadas com instrumentos rudimentares. Utilizavam a zinga nos lugares mais rasos. Deles o homem do Pantanal herdou vários costumes até hoje presentes. Eram agricultores, pacíficos, nada hostis aos colonizadores, por esta razão entraram em decadência logo no início do século XIX. Atualmente existe a aldeia dos Guató nas proximidades da Ilha da Insua, em Mato Grosso do Sul fronteira com a Bolívia. A arte Guató é bastante rica, representa-se nas cestarias feitas de salsaparrilha (cestas, leques, etc.) aguapé (tapetes, bolsas e outros artefatos), e de palha de acuri e carandá.

• Os Quinquinau - Fixaram-se às margens do rio Paraguai, desde os maciços calcários até as montanhas do Urucum, nas circunvizinhanças de Albuquerque (MS). Viveram em contato amistoso com os Xamacoco e Guaná. Não foram hostis aos colonizadores, prevalecendo neles a índole pacífica.

• Os Terenas - Ao longo do rio Aquidauana e Miranda, chegando às alturas da Serra de Maracaju, estavam os Terena. Tribo pacífica, deixavam que os espanhóis e portugueses viajassem à vontade em seus domínios. Em 1580 fundaram a cidade de Santiago de Xerez. Atualmente os seus remanescentes estão agrupados nas aldeias de Cachoeirinha e Bananal, nos municípios de Miranda e Aquidauana. Podem ser vistos frequentemente nas rodoviárias vendendo suas famosas cerâmicas.

• Os Xamacocos - Eram índios descendentes dos Samucos, habitantes da parte mais setentrional do Chaco.Viviam também pelas cercanias de Albuquerque, município de Corumbá, e se uniram aos Guaná e Quiniquanau com os quais mantiveram uma relação íntima, a ponto de seus componentes serem com eles confundidos.Os cientistas do século XIX, que visitaram o Brasil, percorrendo-lhe várias regiões, inclusive o Pantanal, deixaram-nos informações valiosas sobre os hábitos e costumes dos índios da região.

• Os Guanás- Na bacia do rio Paraguai e pelas imediações de Albuquerque (MS), localizavam-se os Guaná. Agricultores e pacíficos. Ao lado das outras tribos do município de Corumbá foram aculturados e aldeados nas Missões de Nossa Senhora da Misericórdia e do Bom Conselho. Pertenciam à família Aruaque, que se fixaram no Brasil Central.

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1.7- AUMENTO DO TERRITÓRIO - PROBLEMAS COM AS FRONTEIRAS A formação do atual território do Brasil remonta ao século XIV, ao início da chamada Era dos Descobrimentos quando se

impôs a partilha das terras descobertas e a descobrir entre as monarquias ibéricas, pioneiras nas grandes navegações. Sucedem-se, a partir de então, uma série de iniciativas e questões, que culminam no início do século XX, com a definição das fronteiras terrestres, e prosseguem em nossos dias, no tocante à fixação das fronteiras marítimas, na questão denominada pela Marinha do Brasil como "Amazônia Azul".

O Brasil limita-se ao norte com a Guiana Francesa, o Suriname, a Guiana e a Venezuela; a noroeste, com a Colômbia; a oeste, com o Peru e a Bolívia; a sudoeste, com o Paraguai e a Argentina; ao sul, com o Uruguai e a leste com o Oceano Atlântico. Os pontos extremos do território brasileiro são:

• Ao norte, a nascente do Rio Ailã, no Monte Caburaí, Estado de Roraima (5º 16' de latitude norte), na fronteira com a Guiana;

• Ao sul, o Arroio Chuí no Rio Grande do Sul (33º 45' de latitude sul), fronteira com o Uruguai;

• O extremo leste da parte continental do Brasil é a Ponta do Seixas, em João Pessoa, na Paraíba (34º 47' de longitude oeste); porém, as ilhas oceânicas de Fernando de Noronha, Atol das Rocas, arquipélago de São Pedro e São Paulo, Trindade e Martim Vaz ficam ainda mais a leste, sendo o extremo leste absoluto do território brasileiro uma ponta sem nome na Ilha do Sul do arquipélago de Martim Vaz, a cerca de 28° 50' de longitude oeste;

• A oeste, a serra da Contamana ou do Divisor, no Acre (73º 59' de longitude oeste), na fronteira com o Peru.

Consolidação do Território - Período de Capitania No período de Capitania, Portugal se empenhou na defesa do território conquistado. A preocupação com a fronteira, a

extensa linha que ia do Paraguai ao Acre, continha um aspecto estratégico: ocupar o máximo de território possível na margem esquerda do Rio Guaporé e na direita do Rio Paraguai. O rio e as estradas eram questões de importância fundamental, pois apenas se podia contar com animais e barcos.

À Capitania de Mato Grosso faltava povo e recursos financeiros para manter a política de conquista. Favorecimentos especiais foram prometidos para os que morassem em Vila Bela, visando o aumento da povoação. Como o Rio Paraguai era vedado à navegação até o Oceano Atlântico, os governadores da Capitania agilizaram o domínio dos caminhos para o leste e a navegação para o norte, pelos rios Madeira, Arinos e Tapajós.

Ocorreram avanços de ambas as partes, Portugal e Espanha, para território de domínio oposto. Antes da criação da Capitania de Mato Grosso, os missionários jesuítas espanhóis ocuparam a margem direita do Rio Guaporé, como medida preventiva de defesa. Para desalojar os missionários, Rolim de Moura não duvidou em empregar recursos bélicos.

No governo do Capitão General João Carlos Augusto D’Oeynhausen, Dom João VI instituiu o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, a 16 de dezembro de 1815. A proximidade do governo supremo situado no Rio de Janeiro favoreceu a solução mais rápida das questões de governo. A independência de comércio trouxe novos alentos à vida mato-grossense.

TRATADOS LIMITES � Bula "Inter Coetera" do Papa Alexandre VI -1493. Concedeu à Espanha as terras descobertas ou que se descobrissem a

partir de um meridiano distante 100 (Cem) léguas a Ocidente de qualquer das ilhas de Açores e Cabo Verde.

� Tratado de Tordesilhas - 1494. Anulando a Bula Alexandrina, estabeleceu a divisão do globo terrestre em dois hemisférios por um meridiano localizado 370 (Trezentos e Setenta) léguas a Oeste das ilhas de Cabo Verde. (A localização correta das Linhas de Tordesilhas revelou-se impraticável, na época, pela impossibilidade da determinação de longitudes, o que só foi possível cerca de dois séculos após).

� Convenção de Saragoça - 1529. Escritura da venda feita pelo Rei da Espanha ao de Portugal da região onde se encontravam as ilhas Molucas. (Estabelecido também na base de um meridiano localizado à Leste dessas ilhas, passando pelas ilhas denominadas "las Velas e de Santo Thome").

� Primeiro Tratado de Utrecht - 1713. Firmado entre Portugal e a França para estabelecer os limites entre os dois países na costa norte do Brasil. Estas disposições serviram, quase dois séculos após, para defender a posição brasileira na questão do Amapá.

� Segundo Tratado de Utrecht - 1715. Firmado entre Portugal e a Espanha, restabelecendo a posse da Colônia de Sacramento para Portugal.

� Tratado de Madri - 1750. Também entre Portugal e a Espanha, estabeleceu os limites entre as colônias dos dois, na América do Sul, respeitando a ocupação realmente exercida nos territórios e abandonando inteiramente a "linha de Tordesilhas". (A Colônia de Sacramento passaria para o domínio da Espanha). Com esse Tratado o Brasil ganhou já um perfil próximo ao de que dispõe hoje, no entanto O território dos Sete Povos das Missões não pode ser ocupado pacificamente pelos portugueses. Isso porque havia nele grandes aldeamentos indígenas organizados por jesuítas espanhóis; e os índios guaranis, guardando antigos rancores dos bandeirantes, protestaram contra a transferência dessa região para os domínios portugueses. Por outro lado, Marquês de Pombal e os colonos portugueses não queriam entregar a Colônia do Sacramento aos espanhóis.

� Tratado do Pardo - 1761. Tornaram nulas todas as disposições e feitos, decorrentes do Tratado de Madri.

� Tratado do Pardo – 1778 - Foi assinado em 11 de Março de 1778 entre a Rainha Maria I de Portugal e o Rei Carlos III de Espanha. Com base nos termos do tratado, a rainha Maria cedeu as ilhas de Annobon e Bioko (Formosa) para o Rei Carlos, assim como a costa do Golfo da Guiné entre o rio Níger e o rio Ogooué. Em troca de um desses territórios, Portugal adquiria território para o Brasil na América do Sul. A ilha de Formosa (chamada Fernão do Pó durante o Estado Português) foi oficialmente reconhecida e rebatizada como Fernando Poo.

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� Tratado de Santo Ildefonso - 1777. Ainda entre Portugal e Espanha. Seguiu em linhas gerais os limites estabelecidos pelo Tratado de Madri, embora com prejuízo para Portugal no extremo sul do Brasil. Pelo Tratado de Santo Idelfonso, assinado em 1777, retomavam-se os princípios de Madri, com exceção do extremo sul da América do Sul. Ali, o arroio Chuí passou a servir de limite entre as possessões ibéricas, ao mesmo tempo em que os Sete Povos das Missões e a Colônia do Sacramento passaram para o domínio espanhol.

Apenas no primeiro ano do século seguinte, por ocasião da assinatura do Tratado de Badajós, a região dos Sete Povos passou a fazer parte de modo definitivo do império português na América.

� Convenção (ou Paz) de Badajoz - 1801. Estabelece as condições de paz na Península Ibérica (sem fazer menção aos limites das colônias de Portugal e da Espanha na América do Sul). Com isto tornaram nulas, na prática, todas as disposições a respeito - entre estes dois países, permitindo a expansão da ocupação gaúcha até o rio Uruguai, foi celebrado na cidade espanhola de Badajoz, em 6 de Junho de 1801, entre Portugal, por uma parte, e a Espanha e a França coligadas, pela outra.

O Tratado colocava fim à chamada Guerra das Laranjas, embora tenha sido assinado por Portugal sob coação, já que o país encontrava-se ameaçado pela invasão de tropas francesas estacionadas na fronteira, em Ciudad Rodrigo. Por meio desse tratado, cujos termos eram bastante severos para Portugal, estabelecia-se:

� Portugal fecharia os portos de todos os seus domínios às embarcações da Grã-Bretanha (art.II);

� A Espanha restituía a Portugal as fortificações e territórios conquistados de Juromenha, Arronches, Portalegre, Castelo de Vide, Barbacena, Campo Maior e Ouguela, com artilharia, espingardas e munições de guerra (art. III);

� A Espanha conservava, na qualidade de conquista, a praça-forte, território e população de Olivença, mantendo o rio Guadiana como linde daquele território com Portugal;

� Eram indemnizados, de imediato, todos os danos e prejuízos causados durante o conflito pelas embarcações da Grã-Bretanha ou pelos súbditos de Portugal, assim como dadas as justas satisfações pelas presas feitas ilegalmente pela Espanha antes do conflito, com infracções do território ou debaixo do tiro de canhão das fortalezas dos domínios portugueses (art. V).

Os termos do tratado foram ratificados pelo Príncipe-Regente de Portugal, D. João, no dia 14, e por Carlos IV de Espanha, a 21 do mesmo mês, mas foram rejeitados pelo primeiro cônsul da França, Napoleão Bonaparte. A manutenção das suas tropas em território espanhol, forçou Portugal a aceitar alterações à redacção do Tratado. Desse modo, a 29 de Setembro desse mesmo ano, era assinado um novo diploma, o chamado Tratado de Madrid (1801) que, se por um lado formulou imposições mais severas a Portugal, por outro, evitou uma nova violação do seu território. Por ele, eram mantidos os termos de Badajoz, mas Portugal, adicionalmente, obrigava-se a pagar à França um montante de 20 milhões de francos.

Com relação aos domínios coloniais na América do Sul, por este novo diploma Portugal cedia ainda metade do território do Amapá à França, comprometendo-se a aceitar como fronteira entre o Brasil e a Guiana Francesa, o rio Arawani [Araguari] até à foz. Estas condições adicionais foram estabelecidas e ditadas por Napoleão.

Após a batalha de Trafalgar (1805), na qual a Royal Navy derrotou as Marinhas da França e da Espanha, Napoleão fracassou na tentativa de invadir a Grã-Bretanha e decretou o Bloqueio Continental (1806). Diante da recusa Portuguesa em acatar os seus termos, foi assinado o Tratado de Fontainebleau (27 de Outubro de 1807), ocorrendo a subsequente invasão franco-espanhola de Portugal, o que deflagrou a chamada Guerra Peninsular. O Princípe-Regente, retirando-se para o Brasil (1807), declarou nulo o tratado de Badajoz em 1 de Maio de 1808, deixando por conseguinte de reconhecer a ocupação espanhola de Olivença que, no entanto, se mantém até aos dias de hoje.

� O Tratado de Petrópilis – 1903: O atual estado brasileiro do Acre era, no início do século XX, uma região pertencente à Bolívia, que vinha sendo ocupada por seringueiros brasileiros em plena época de expansão da economia de extração da borracha. Para resolver a tensão que se agravava, o Barão do Rio Branco dirigiu as negociações que resultaram no Tratado de Petrópolis, firmado em 17 de novembro de 1903 na cidade brasileira homônima, que formalizou a incorporação do Acre ao território brasileiro. Com esse acordo, o Brasil pagou à Bolívia a quantia de 2 milhões de libras esterlinas e indenizou o Bolivian Syndicate em 110 mil libras esterlinas pela rescisão do contrato de arrendamento, firmado em 1901 com o governo boliviano. Em contrapartida, cedia algumas terras no Mato Grosso e comprometia-se a construir a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré para escoar a produção boliviana pelo rio Amazonas

MARCO JAURU O Marco do Jauru é um monumento histórico, localizado no

município de Cáceres, em Mato Grosso. Feito em Lisboa, de pedra de lioz, o marco foi trazido desmontado ao Brasil, sendo montado e plantado à margem do rio Jauru, em 18 de janeiro de 1754 pelo 1º Governador e Capitão-General da Capitania de Mato Grosso, Dom Antônio Rolim de Moura Tavares.

A peça arquitetônica, seccionada em duas partes, portuguesa e espanhola, foi erguida com a finalidade de demarcar a fronteira territorial, estabelecida pelo Tratado de Madri, entre os domínios espanhóis e portugueses na América do Sul, e selou o fim das disputas territoriais entre os dois países na América.

Em 2 de fevereiro de 1883, pela iniciativa do então Tenente-Coronel Antônio Maria Coelho, o marco foi levado para o Largo da Matriz, hoje Praça Barão do Rio Branco, em frente à Catedral de São Luís, em Cáceres.[1] Em Maio 2009, após oito anos de investigações de uma equipe multidisciplinar, liderado pelo historiador Sandro Miguel da Silva Paula, sargento do Exército,

com a participação de geógrafos, historiadores, cartógrafos do Exército, engenheiros e professores da área de pesquisa, foi achado o sítio original do marco, situado a 544m da boca do rio Jauru, seguindo as indicações do matemático Francisco José Lacerda e Almeida e do astrônomo Antonio Pires da Silva Pontes Leme, que entre 1.780 e 1.790 realizaram uma expedição de Vila Bela da Santíssima Trindade (MT) a Capitania de São Paulo.

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O Marco do Jauru é conhecido como o símbolo da soberania brasileira na fronteira oeste. É justamente dessa região que vem a maior parte do 6º contingente do batalhão do Exército Brasileiro presente na Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti, apelidado de "Força Jauru", em homenagem ao marco.

1.8 - A ORIGEM DO NOME MATO GROSSO A denominação Mato Grosso é originária de uma grande extensão de sete léguas de mato alto, espesso, quase

impenetrável, localizado nas margens do rio Galera, percorrido pela primeira vez em 1734 pelos irmãos Fernão e Arthur Paes de Barros. Acostumados a andar pelos cerrados do Chapadão dos Parecis, onde apenas havia algumas ilhas de arbustos agrestes, os irmãos aventureiros, impressionados com a altura e porte das árvores, o emaranhado da vegetação secundária que dificultava a penetração, com a exuberância da floresta e a corpulência dos arvoredos na planície oposta ao Chapadão dos Parecis, a denominaram de Mato Grosso. Perto desse mato fundaram as Minas de São Francisco Xavier e toda a região adjacente, pontilhada de arraiais de mineradores, ficou conhecida na história como as Minas do Mato Grosso. Posteriormente, ao se criar a Capitania por Carta Régia de 9 de maio de 1748, o governo português assim se manifestou:

• Dom João, por Graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, [...] Faço saber a vós, Gomes Freire de Andrade, Governador e Capitão General do Rio de Janeiro, que por resoluto se criem de novo dois governos, um nas Minas de Goiás, outro nas de Cuiabá [...].

Dessa forma, ao se criar a Capitania, como meio de consolidação e institucionalização da posse portuguesa na fronteira com o reino de Espanha, Lisboa resolveu denominá-las tão somente de Cuiabá. Mas no fim do texto da referida Carta Régia, assim se ex prime o Rei de Portugal [...] por onde parte o mesmo governo de São Paulo com os de Pernambuco e Maranhão e os confins do Governo de Mato Grosso e Cuiabá [...].

Apesar de não denominar a Capitania expressamente com o nome de Mato Grosso, somente referindo-se às minas de Cuiabá, no fim do texto da Carta Régia, é denominado plenamente o novo governo como sendo de ambas as minas, Mato Grosso e Cuiabá. Isso ressalva, na realidade, a intenção portuguesa de dar à Capitania o mesmo nome posto anos antes pelos irmãos Paes de Barros. Entende-se perfeitamente essa intenção.

Todavia, a consolidação do nome Mato Grosso veio rápido. A Rainha D. Mariana de Áustria, ao nomear Dom Antonio Rolim de Moura como Capitão General, na Carta Patente de 25 de setembro de 1748, assim se expressa:

• [...]; Hei por bem de o nomear como pela presente o nomeio no cargo de Governador e Capitão General da Capitania de Mato Grosso, por tempo de três anos [...].

A mesma Rainha, no ano seguinte, a 19 de janeiro, entrega a Dom Rolim a suas famosas Instruções, que determinariam as orientações para a administração da Capitania, em especial os tratos com a fronteira do reino espanhol. Assim nos diz o documento:

• [...] fui servido criar uma Capitania Geral com o nome de Mato Grosso [...] § 1o - [...] atendendo que no Mato Grosso se requer maior vigilância por causa da vizinhança que tem, houve por bem determinar que a cabeça do governo se pusesse no mesmo distrito do Mato Grosso [...]; § 2o -

Por se ter entendido que Mato Grosso é a chave e o propugnáculo do sertão do Brasil [...]. A partir da Carta Patente e das Instruções da Rainha, o governo colonial mais longínquo,

1.9 FUNDAÇÃO DE VILA BELA DA SANTÍSSIMA TRINDADE A PRIMEIRA CAPITAL DE MATO GROSSO

Conhecida como a cidade do ouro, das ruínas e das negras finas, Vila Bela da Santíssima Trindade, é fruto do sonho do Capitão General Dom Antônio Rolim de Moura, que em 19 de março de 1752, fundou a primeira capital de Mato Grosso, antes denominada Pouso Alegre.

Antes desse período, ainda estava em vigor o Tratado de Tordesilhas, e toda conquista empreendida pelos bandeirantes poderia passar a pertencer, legalmente, à Espanha. Assim, tornava-se urgente a fixação de um novo Tratado que o substituísse: o Tratado de Madri, firmado entre Portugal e Espanha, no ano de 1750, o qual veio demarcar novas fronteiras. Diante desse cenário, tratou Portugal de garantir o povoamento daquela região, especialmente na parte relativa à zona do rio Guaporé. Assim em 1748, foi criada uma nova capitania, a de Mato Grosso, desmembrada da capitania paulista.

Dom Antônio Rolim de Moura, de posse com a Carta Régia de D. João V, enviada de Lisboa, para fundar a sede administrativa da nova província de Mato Grosso, veio ao Brasil para desempenhar tal incumbência e Vila Bela, no extremo oeste do Estado, foi escolhida para ser a capital.

Levou-se em conta o seu ponto estratégico, seu relevo plano era apropriado para uma boa defesa militar, novas jazidas auríferas eram descobertas, o rio Guaporé, favorecia o acesso fluvial com diferentes países pelo Oceano Pacífico. Próxima do Paraguai e do Peru, Vila Bela, despertava cobiça tanto dos Espanhóis como dos Portugueses.

Essa negra cidade serviria para estabelecer divisas e garantir a retirado do ouro que ali era encontrado em abundância. Mas o grande problema era como abastecer a nova capital, já que os produtos vindos da Capitania de São Paulo ficariam muito caros, tendo em vista o percurso a ser percorrido. A solução foi a criação da Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, que com sede em Belém, atingiria a região guaporeana navegando pelos rios componentes da Bacia Amazônica - Amazonas, Madeira e Guaporé. Por ali entravam, alimentos, roupas, instrumentos de trabalho e escravos africanos.

Viu-se que todo o Plano de Villa Bella de Mato Grosso, veio de Portugal, com suas linhas bem traçadas, onde fora planejado a construção da Igreja Matriz, dos jardins suspensos, do Palácio dos Capitães Generais, onde hoje se localiza a Prefeitura Municipal; a Provedoria da Fazenda, responsável pela parte financeira e fiscal; a Ouvidoria, a quem cabia tratar da Justiça; os seus fortes,

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fortalezas e prisões, que serviriam de pontos estratégicos de defesa do território; a Casa de Fundição, o quartel, a câmara, o cemitério, os oratórios e santos em madeira, datados do século XVIII, também de lá foram trazidos.

Como pano de fundo, lá está ela, a Serra Ricardo Franco, chapadões, montanhas, cortadas por diversas cachoeiras, algumas com até 218 metros, como a do Jatobá, considerada a maior do Mato Grosso. Por trilhas estreitas, chega-se à Cascata dos Namorados, uma cachoeira com cerca de 80 metros, onde o seu véu cria verdadeira caverna, cuja entrada se abre diante de um lago de águas claras. Mais adiante, podemos encontrar uma outra cachoeira, bem menor, a Cascatinha, entre altas copas de árvores.

Entre a Serra e a Vila, atravessa sinuosamente o Rio Guaporé, com suas águas límpidas, seus aguapés lentos e vegetação exuberante, correndo bondoso para o Norte. Nele convivem botos, matrinchãs, cacharas, pintados, pacus, tucunarés... Com o correr do tempo, observou-se que toda a beleza do Guaporé, o qual encantara Dom Antônio Rolim de Moura, era também motivo de desesperança. No seu período de cheia, grandes plantações eram destruídas, as doenças tropicais da Amazônia, como a malária e o maculo dizimava a população, e quem mais sofriam com tudo isso eram os negros escravos, trazidos para atender a cobiça dos europeus. Morriam sem qualquer assistência e os que resistiam, curta era sua longevidade. Mas, Vila Bela da Santíssima Trindade, foi resistente, foi desbravada, edificada, cultivada. Suas grandes construções em pedra canga foram frutos da saga e tenacidade de um povo que não esmoreceu que lutou e luta até hoje para sobrevier e expressar o seu direito de ser negro.

1.10 - FORTE DE COIMBRA; O quarto governador e capitão-general da capitania de Mato Grosso, Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres (1772-

1789), visando dar suporte à ocupação portuguesa diante da crescente presença espanhola, bem como controlar as razias dos Paiaguás que interrompiam as comunicações fluviais com os distritos auríferos de Cuiabá, determinou a construção de uma fortificação no médio curso do rio Paraguai.

Foi designado para a missão o Capitão Matias Ribeiro da Costa, que partiu de Cuiabá à testa de uma expedição de 245 homens, distribuídos em 15 canoas, divididas em três grupamentos, guiada por um indígena idoso (22 de julho de 1775). Apesar das instruções para se dirigir a um local conhecido como "Fecho dos Morros", a 20 dias de canoa de Cuiabá, próximo à atual cidade de Porto Murtinho, 292 quilômetros ao sul da atual posição do forte, Ribeiro da Costa se fixou no estreito de São Francisco Xavier, à margem esquerda do rio Paraguai (13 de setembro de 1775), incorreção que lhe custou o posto, e sobre a qual nasceriam algumas lendas locais: uma delas reza que São Tomé passou por Fecho

dos Morros em direção ao Peru, tendo por isso o local sido considerado como solo sagrado, e lhe sido vedada qualquer intenção bélica; outra, conta que o Capitão foi inspirado pela santa padroeira do forte, Nossa Senhora do Carmo (comemorada a 16 de julho), que lhe iluminou o local do estabelecimento.

A primitiva estrutura, uma estacada de faxina e terra com planta no formato de um polígono retangular com cerca de 40 braças pelo lado maior, foi erigida sob a invocação de Nossa Senhora do Carmo (Forte de Nossa Senhora do Carmo), sendo inaugurada em 17 de setembro. Nos vértices erguiam-se quatro pequenos baluartes sob a invocação de São Gonçalo (norte), São Tiago (leste), Sant'Ana (sul) e Nossa Senhora da Conceição (oeste). No interior, erguiam-se as edificações de serviço (Casa de Comando, Quartel da Tropa, Casa da Palamenta, Armazéns). A artilharia foi recebida por via fluvial desde Belém do Pará, uma vez que a Coroa espanhola não permitia a passagem de material bélico português pela bacia do rio da Prata à época. Após a inauguração, o comando foi entregue ao Sargento-mor Marcelino Rodrigues de Campos (GARRIDO, 1940:159-160).

Também conhecido como Presídio de Coimbra, em poucos meses sofreu um incêndio que o danificou sériamente. Mais tarde, foi atacado pelos Guaicurus (1777). O novo governador e Capitão-general da capitania de Mato Grosso, João de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres (1789-1796), incumbiu o Sargento-mor Joaquim José Ferreira, comandante da praça de Coimbra, de pacificar os indígenas, o que foi alcançado ainda em 1789, junto aos chefes João Queima e Paulo Ferreira (SOUZA, 1885:134).

Após um novo ataque dos Guaicurus (1791), que dizimou 54 homens da guarnição (GARRIDO, 1940:160), a estrutura foi sucedida pelo Forte Novo de Coimbra.

O Forte de Nossa Senhora do Carmo de Coimbra, localizava-se na margem esquerda do rio Paraguai, em posição dominante sobre o estreito de São Francisco Xavier, no atual distrito de Forte Coimbra, município de Corumbá, estado de Mato Grosso do Sul, no Brasil.

1.11 – CUIABÁ Os primeiros indícios de bandeirantes paulistas na região onde hoje fica a

cidade se situam entre 1673 e 1682, quando da passagem de Manoel de Campos Bicudo pela região. Ele fundou o primeiro povoado da região, onde o rio Coxipó deságua no Cuiabá, batizado de São Gonçalo.

Em 1718, chegou ao local, já abandonado, a bandeira do sorocabano Pascoal Moreira Cabral. Em busca de indígenas, Moreira Cabral subiu pelo Coxipó, onde travou uma batalha, perdida, com os índios coxiponés. Com o ocorrido, voltaram e, no caminho, encontraram ouro, deixando, então, a captura de índios para se dedicar ao garimpo.

Em 1719, Pascoal Moreira foi eleito, em uma eleição direta em plena selva, comandante da região de Cuiabá. Em 8 de abril de 1719, Pascoal assinou a

ata da fundação de Cuiabá no local conhecido como Forquilha, às margens do Coxipó, de forma a garantir os direitos pela descoberta à Capitania de São Paulo. A notícia da descoberta se espalhou e a imigração para a região tornou-se intensa.

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Em outubro de 1722, índios escravos de Miguel Sutil, também bandeirante sorocabano, descobriram às margens do córrego da Prainha grande quantidade de ouro, maior que a encontrada anteriormente na Forquilha. O afluxo de pessoas tornou-se grande e até a população da Forquilha se mudou para perto desse novo achado. Em 1723, já estava erguida a igreja matriz dedicada ao Senhor Bom Jesus de Cuiabá, onde hoje é a basílica.

Já em 1726, chegou o capitão-general governador da Capitania de São Paulo, Rodrigo César de Menezes, como representante do Reino de Portugal. No 1º de janeiro de 1727, Cuiabá foi elevada à categoria de vila, com o nome de Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá.

Tem-se confundido muito a fundação do arraial da Forquilha por questões ideológicas. Estudos historiográficos há muito já traçaram a diferença entre uma e outra fundação, alegando-se que o 1° de janeiro seria a data de elevação do arraial da Forquilha à categoria de vila, o que é um contrassenso, pois não se pode fundar um município num lugar que só viria a ser descoberto anos depois. Porém, a data de 8 de abril se firmou como data do município, desejosa de ser a primeira do oeste brasileiro.

Logo, contudo, as lavras se mostraram menores que o esperado, o que acarretou um abandono de parte da população. Cuiabá foi elevada à condição de cidade em 17 de setembro de 1818, tornando-se a capital da então província de Mato

Grosso em 28 de agosto de 1835 (antes a capital era Vila Bela da Santíssima Trindade). Mas, mesmo a mudança da capital para o município não foi suficiente para impulsionar o desenvolvimento. Com a Guerra do Paraguai, Mato Grosso foi invadido. Várias cidades foram atacadas, mas as batalhas não chegaram à capital. A maior baixa se deu com uma epidemia de varíola trazida pelos soldados que retomaram dos paraguaios o município de Corumbá. Metade dos cerca de 12 mil habitantes morreu infectada.[10]

Somente após a Guerra do Paraguai e o retorno da navegação pelas bacias dos rios Paraguai, Cuiabá e Paraná é que o município se desenvolveu economicamente. A economia esteve, nesse período, baseada na produção da cana-de-açúcar e no extrativismo. Esse momento produtivo não duraria muito e o município voltou a ficar estagnado, desta vez até 1930. A partir desta época, o isolamento foi quebrado com as ligações rodoviárias com Goiás e São Paulo e a aviação comercial. A explosão no crescimento deu-se depois da década de 1950, com a transferência da Capital Federal e o programa de povoamento do interior do país.

Nas décadas de 1970 e 1980, o município cresceu muito, mas os serviços e a infraestrutura não se expandiram com a mesma rapidez. O agronegócio expandiu-se pelo estado e o município começou a modernizar-se e a industrializar-se. Depois de 1990, a taxa de crescimento populacional diminuiu e o turismo começou a ser visto como fonte de rendimentos.

Deposição de Magessi Com a aproximação do fim da Capitania, Cuiabá assumiu aos poucos a liderança política. Vila Bela da Santíssima

Trindade funcionou eficazmente como centro político da defesa da fronteira. Não podia ostentar o brilho comercial de Cuiabá e Diamantino. O último governador da Capitania, Francisco de Paula Magessi Tavares de Carvalho já governou todo o tempo em Cuiabá. Em Mato Grosso, precisamente nos anos de maturação da Independência, acirraram-se as lutas pelo poder supremo da Capitania. A nobreza, o clero e o povo depuseram o último governador Magessi. Em seu lugar se elegeu uma Junta Governativa. Enquanto uma Junta se elegia em Cuiabá, outra se elegeu em Mato Grosso, topônimo que passou a ser conhecido Vila Bela da Santíssima Trindade, a partir de 17 de setembro de 1818. Sob o regime de Juntas Governativas entrou Mato Grosso no período do Brasil Independente, tornando-se Província

Povoamento Setecentista e seus desdobramentos Antes da abordagem do povoamento no século XIX, referenciamos a ocupação de povoados que se revestiram de

grande importância no quadro geral da expansão desenvolvimentista. Neste particular não podem ser esquecidas as áreas hoje constituídas pelos municípios de Barra do Garças, Rosário Oeste, Nossa Senhora do Livramento e Santo Antônio de Leverger. Os primeiros sinais de povoamento na região onde hoje se localiza o município de Barra do Garças, e consequentemente da margem esquerda do Rio Araguaia, foi o Arraial dos Araés, mais tarde denominado Santo Antônio do Amarante, por volta de 1752.

Na área do atual município de Nossa Senhora do Livramento, a mineração aurífera se constituiu na célula mater de sua ocupação. Adversamente à ocupação de grande porção da Capitania de Mato Grosso, a das áreas onde atualmente se localizam os municípios de Santo Antônio de Leverger e Barão de Melgaço não se fez embasada na mineração, mas sim na fertilidade das terras, denotada pela exuberância das matas que margeavam toda a vasta orla ribeirinha, no baixo Cuiabá. O início do povoamento remonta aos primeiros anos do século XVIII, e seus primeiros habitantes constituiram-se não só de pessoas desgarradas das bandeiras que aportavam em Cuiabá, mas também daquelas que buscavam fugir da penúria que por longo tempo reinou no povoado.

Em 1825, a população da região de Diamantino era de cerca de 6.077 pessoas, das quais 3.550 escravos. Cuiabá era o principal centro comercial de borracha, e além da Casa Almeida, trabalhavam neste ramo as empresas, Casa Orlando, fundada em 1873, Alexandre Addor, fundada em 1865 e com sede na Rua Conde D’Eu (hoje Avenida 15 de novembro), ainda as empresas Firmo & Ponce, Figueiredo Oliveira, Lucas Borges & Cia., Fernando Leite e Filhos, João Celestino Cardoso, Eduardo A. de Campos, Francisco Lucas de Barros, Arthur de Campos Borges, Dr. João Carlos Pereira Leite e outros. Foi a época do esplendor da borracha, com Diamantino sendo o grande centro produtor e Cuiabá convergindo a comercialização.

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Província de Mato Grosso - Primeiro Império Em 25 de março de 1824, entrou em vigor a Constituição do Império do Brasil. As Capitanias passaram à denominação

de Províncias, sendo os presidentes nomeados pelo Imperador. Mas o Governo Provisório Constitucional regeu Mato Grosso até 1825. A 10 de setembro de 1825, José Saturnino da Costa Pereira assumiu o governo, em Cuiabá, como primeiro governador da Província de Mato Grosso, após a gestão do Governo Provisório Constitucional. No governo de Costa Pereira passou por Mato Grosso a célebre expedição russa, chefiada pelo Barão de Langsdorff, quando se registrou fatos e imagens da época.

Também Costa Pereira, por arranjos de negociação, paralisou o avanço de 600 soldados chiquiteanos contra a região do Rio Guaporé, em fins de 1825. Costa Pereira criou o Arsenal da Marinha no porto de Cuiabá e o Jardim Botânico da cidade, entregando-o à direção do paulista Antônio Luís Patrício da Silva Manso. No governo do presidente Antônio Corrêa da Costa, ocorreu a criação do município de Poconé, por Decreto Regencial de 25 de outubro de 1831, o quarto de Mato Grosso e o primeiro no período Províncial - “Villa do Poconé”.

Revolta da Rusga A 28 de maio de 1834, o também tenente coronel João Poupino Caldas, assume a presidência da Província. Em seu

governo eclodiu a Rusga, revolta nativista que transformou a pacata comunidade cuiabana em feras à cata de portugueses, a quem chamavam bicudos. Em Cuiabá a “Sociedade dos Zelosos da Independência” organizou a baderna, visando a invasão das casas e comércios de portuguêses.

Antônio Pedro de Alencastro assume o governo da Província a 29 de setembro de 1834 e promove processo contra os criminosos da sedição mato-grossense. Poupino, em troca da confiança do Presidente da Província, programa o enfraquecimento dos amotinados pela dissolução da Guarda Municipal e reorganização da Guarda Nacional. A Assembléia Provincial, pela Lei nº. 19, transfere a Capital da Província de Mato Grosso da cidade de Matto Grosso (Vila Bela) para a de Cuiabá.

A 14 de agosto de 1839 circulou pela primeira vez um jornal em Cuiabá - Themis Mato-Grossense. A primeira tipografia foi adquirida por subscrição pública organizada pelo Presidente da Província José Antônio Pimenta Bueno, que era ferrenho defensor dos direitos provinciais. A educação contou com seu irrestrito apoio, sob sua direção, foi promulgado o Regulamento da Instrução Primária, através da Lei nº. 08, de 05 de março de 1837. Esse regulamento, disciplinador da matéria, estabelecia a criação de escolas em todas as povoações da Província e o preenchimento dos cargos de professor mediante concurso. Multava os pais que não mandassem seus filhos ás escolas, o que fez com que o ensino fosse obrigatório. Pimenta Bueno passou seu cargo ao cônego José da Silva Guimarães, seu vice.

Província de Mato Grosso - Segundo Império O primeiro presidente da Província de Mato Grosso, nomeado por Dom Pedro II, foi o cuiabano cônego José da Silva

Magalhães, que assumiu a 28 de outubro de 1840. Em 1844, chega a Cuiabá o médico Dr. Sabino da Rocha Vieira para cumprir pena no Forte Príncipe da Beira. Fora o chefe da famosa Sabinada, pretendendo implantar uma República no Brasil. Neste mesmo ano de 1844, o francês Francis Castelnau visitou Mato Grosso em viagem de estudos. Tornou-se célebre pelos legados naturalistas.

O cel. João José da Costa Pimentel foi nomeado para a presidência da Província a 11 de junho de 1849. Augusto Leverger, nomeado a 07 de outubro de 1850, assumiu o governo Provincial a 11 de fevereiro de 1851. Exerceu a presidência cinco vezes. Além de providências notáveis no tempo da Guerra do Paraguai, notabilizou-se pela pena de historiador de Mato Grosso.

Importante Tratado abriu as portas do comércio de Mato Grosso para o progresso: o de 06 de abril de 1856. Graças à habilidade diplomática do Conselheiro Paranhos, Brasil e Paraguai celebraram o Tratado da Amizade, Navegação e Comércio.

O primeiro vapor a sulcar as águas da Província de Mato Grosso foi o Water Witch, da marinha dos Estados Unidos, sob o comando do Comodoro Thomaz Jefferson Page, em 1853, incumbido pelo seu governo da exploração da navegação dos afluentes do Prata. Em 1859, ao tomar posse o presidente Antônio Pedro de Alencastro (o 2º Alencastro), chegou a Mato Grosso o Ajudante de Ordens, o capitão Manoel Deodoro da Fonseca, o futuro proclamador da República.

No ano de 1862, o célebre pintor Bartolomé Bossi, italiano, visitou a Província de Mato Grosso, deixando um livro de memórias. Imortalizou em tela acontecimentos da época. Sobressai na História de Mato Grosso o episódio da Guerra do Paraguai. Solano Lopes aprisionou a 12 de novembro de 1864 o navio brasileiro Marquês de Olinda, que havia acabado de deixar o porto de Assunção, conduzindo o presidente eleito da Província de Mato Grosso, Frederico Carneiro de Campos. Começara ali a Guerra do Paraguai, de funestas lembranças para Mato Grosso. Os mato-grossenses foram quase dizimados pela varíola. Um efeito cascata se produziu atingindo povoações distantes. Metade dos moradores de Cuiabá pereceu. No entanto, o povo de Mato Grosso sente-se orgulhoso dos feitos da Guerra do Paraguai onde lutaram em minoria de gente e de material bélico, mas tomando por aliado o conhecimento da natureza e sempre produzindo elementos surpresa. Ruas e praças imortalizaram nomes e datas dos feitos dessa guerra.

A notícia do fim da Guerra do Paraguai chegou a Cuiabá no dia 23 de março de 1870, com informações oficiais. O vapor Corumbá chegou embandeirado ao porto de Cuiabá, às cinco da tarde, dando salvas de tiros de canhão. Movimento notável ocorrido nesse período do Segundo Império foi o da abolição da escravatura. O símbolo do movimento aconteceu a 23 de março de 1872: O presidente da Província, Dr. Francisco José Cardoso Júnior, libertou 62 escravos, ao comemorar o aniversário da Constituição do Império. Em dezembro do mesmo ano, foi fundada a “Sociedade Emancipadora Mato-Grossense”, sendo presidente o Barão de Aguapeí.

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A 12 de agosto de 1888, nasceu o Partido Republicano. Nomeiam-se líderes; José da Silva Rondon, José Barnabé de Mesquita, Vital de Araújo, Henrique José Vieira Filho, Guilherme Ferreira Garcêz, Frutuoso Paes de Campos, Manoel Figueiredo Ferreira Mendes. A notícia da Proclamação da República tomou os cuiabanos de surpresa a 09 de dezembro de 1889, trazida pelo comandante do Paquetinho Coxipó, pois vinte e um dias antes, a 18 de novembro felicitaram Dom Pedro II por ter saído ileso do atentado de 15 de junho. A 02 de setembro a Assembléia Provincial aprovara unânime a moção congratulatória pelo aniversário do Imperador. Ao findar o Império, a Província de Mato Grosso abrigava 80.000 habitantes.

Mato Grosso na guerra do Paraguai A Guerra do Paraguai foi o maior conflito armado internacional

ocorrido na América do Sul. Ela foi travada entre o Paraguai e a Tríplice Aliança, composta por Brasil, Argentina e Uruguai. A guerra estendeu-se de dezembro de 1864 a março de 1870. É também chamada Guerra da Tríplice Aliança (Guerra de la Triple Alianza), na Argentina e Uruguai, e de Guerra Grande, no Paraguai.

O conflito iniciou-se com a invasão da província brasileira de Mato Grosso pelo exército do Paraguai, sob ordens do presidente Francisco Solano López. O ataque paraguaio ocorreu após uma intervenção armada do Brasil no Uruguai, em 1863, que pôs fim à guerra civil uruguaia ao depor o presidente Atanasio Aguirre, do Partido Blanco, e empossar seu rival colorado, Venancio Flores. Solano López temia que o Império brasileiro e a República Argentina viessem a desmantelar os países menores do Cone Sul. Para confrontar essa suposta ameaça,

Solano López esperava contar com o apoio dos blancos, no Uruguai, e dos caudilhos do norte da Argentina. O temor do presidente paraguaio levou-o a aprisionar, em 11 de novembro de 1864, o vapor brasileiro Marquês de Olinda, que transportava o presidente da província de Mato Grosso, mas que o governo paraguaio suspeitava que contivesse armas. Seis semanas depois, o Paraguai invadiu o Mato Grosso. Antes da intervenção brasileira no Uruguai, Solano López já vinha comprando material bélico moderno, em preparação para um futuro conflito[carece de fontes?].

O Brasil, Argentina e Uruguai, aliados, derrotaram o Paraguai após mais de cinco anos de lutas durante os quais o Brasil enviou em torno de 150 mil homens à guerra. Cerca de 50 mil não voltaram — alguns autores asseveram que as mortes no caso do Brasil podem ter alcançado 60 mil se forem incluídos civis, principalmente nas então províncias do Rio Grande do Sul e de Mato Grosso. Argentina e Uruguai sofreram perdas proporcionalmente pesadas — mais de 50% de suas tropas faleceram durante a guerra — apesar de, em números absolutos, serem menos significativas. Já as perdas humanas sofridas pelo Paraguai são calculadas em até 300 mil pessoas, entre civis e militares, mortos em decorrência dos combates, das epidemias que se alastraram durante a guerra e da fome.

A derrota marcou uma reviravolta decisiva na história do Paraguai, tornando-o um dos países mais atrasados da América do Sul, devido ao seu decréscimo populacional, ocupação militar por quase dez anos, pagamento de pesada indenização de guerra, no caso do Brasil até a Segunda Guerra Mundial, e perda de praticamente 40% de seu território para o Brasil e Argentina. Após a Guerra, por décadas, o Paraguai manteve-se sob a hegemonia brasileira.

Foi o último de quatro conflitos armados internacionais, na chamada Questão do Prata, em que o Brasil lutou, no século XIX, pela supremacia sul-americana, tendo o primeiro sido a Guerra da Cisplatina, o segundo a Guerra do Prata, e o terceiro a Guerra do Uruguai.

1.12 MATO GROSSO NA PRIMEIRA REPUBLICA Em 09 de dezembro de 1889, Antônio Maria Coelho assumiu as rédeas do governo republicano em Mato Grosso. A 15 de

agosto de 1891 se promulgava a Primeira Constituição do Estado de Mato Grosso. O termo Província deu lugar a Estado. O chefe do executivo mantinha a denominação de presidente. Eleito pela Assembléia Legislativa, o jurista Dr. Manoel José Murtinho assumiu o cargo de primeiro presidente do Estado de Mato Grosso, a 16 de agosto de 1891.

Em 1894, os salesianos chegaram a Mato Grosso, a pedido do bispo Dom Carlos Luís D’Amour ao fundador Dom Bosco. Os salesianos deixaram histórico rastro cultural em Mato Grosso, notabilizaram-se pelas Missões entre povos indígenas. O conturbado período político de 1889 a 1906 assinalou progressos econômicos. Usinas açucareiras da beira do Rio Cuiabá desenvolveram-se, tornando-se potências econômicas no Estado. Notabilizaram-se as usinas Conceição, Aricá, Itaici - além de outras.

Também a produção de borracha tomou notável impulso. Outra fonte de riqueza em crescimento foram os ervais da região fronteiriça com o Paraguai.

Em 1905 tiveram início as obras da estrada de ferro, que cortou o sul do Estado. Os chefes do Partido Republicano, além de se reunirem em pontos de difícil acesso, como nos seringais, também obtiveram

asilo político no Paraguai, ali editaram o jornal “A Reação”, que entrava clandestinamente em Mato Grosso. Em 1906, Generoso Ponce retorna a Mato Grosso e em Corumbá se encontra com Manoel José Murtinho, então adversário político. Fazem as pazes e nasce o movimento denominado “Coligação”.

O Partido Republicano ordena as forças para a retomada do poder presidencial de Cuiabá, pressionando do sul e do norte. Ponce sobe de Corumbá e o cel. Pedro Celestino desce de Alto Paraguai Diamantino. Ponce agia às pressas, porque o presidente

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Antônio Paes de Barros pedira socorro à União. Do Rio de Janeiro o gal. Dantas Barreto partiu em auxílio ao presidente do Estado de Mato Grosso. As duas tenazes, do norte e do sul, à medida que progrediam o avanço, recebiam adesões de patriotas. Cerca de 4.000 homens cercaram Cuiabá.

O presidente Antônio Paes de Barros, vendo-se impotente, furou o cerco, tomando disfarce, mas foi descoberto nas imediações da fábrica de pólvora do Coxipó, onde foi assassinado, a 06 de julho de 1906.

A 15 de agosto de 1907, o cel. Generoso Paes Leme de Souza Ponce assumiu o governo do Estado de Mato Grosso. Seus substitutos legais eram o cel. Pedro Celestino Corrêa da Costa, dr. Joaquim Augusto da Costa Marques e o cel. João Batista de Almeida Filho. O cel. Pedro Celestino foi substituído pelo Dr. Joaquim Augusto da Costa Marques, que tomou posse a 15 de agosto de 1911, tendo como vice o cel. Joaquim Caraciolo Peixoto de Azevedo, dr. José Carmo da Silva Pereira e o Dr. Eduardo Olímpio Machado. O presidente Costa Marques conseguiu a proeza de governar ininterruptamente, fato inédito naqueles tempos de política turbulenta. A Costa Marques sucedeu em 15 de agosto de 1915, o gal. Caetano Manoel de Faria e Albuquerque.

Eram difíceis os tempos de I Grande Guerra Mundial, sendo que a 22 de janeiro de 1918, tomou posse D. Francisco de Aquino Corrêa, Bispo de Prusíade, eleito para o quadriênio 1918-1922, governando por todo seu mandato. Posteriormente foi eleito, por voto direto o cel. Pedro Celestino Corrêa da Costa, que assumiu o governo em 22 de janeiro de 1922, cujo mandato se expiraria em 1926. No entanto, não chegou a completá-lo, deixando o comando do governo, por motivos de saúde, a 1º de novembro de 1924. Nesta ocasião o 1º vice-presidente, Dr. Estevão Alves Corrêa, assumiu a presidência, governando até o fim do mandato.

Neste período cruzou o chão mato-grossense a épica “Coluna Prestes”, que passou por diversas localidades do Estado, deixando um rastro de admiração e tristeza.

O 10º presidente constitucional do Estado de Mato Grosso foi o Dr. Mário Corrêa da Costa, que governou de 1926 até 1930. O Dr. Anibal Benício de Toledo, 11º presidente constitucional, assumiu o governo estadual a 22 de janeiro, para o quadriênio 1930-1934. Esteve à frente da governadoria apenas por 9 meses e 8 dias, em função dos resultados práticos da Revolução de 30. Na sequência assumiu o governo o major Sebastião Rabelo Leite - Comandante da Guarnição Militar de Cuiabá.

Estado de Mato Grosso - Segunda República Os anos de 1930-1945 foram marcados por forte influência européia. A política centralizadora de Getúlio Vargas se fez

sentir em Mato Grosso: interventores federais foram nomeados por entre exercícios de curto governo. A 16 de julho de 1934, o Congresso Nacional promulgou uma nova Constituição Federal, que foi seguida pela estadual mato-grossense, a 07 de setembro de 1935. O título de presidente foi substituído pelo de governador. Os constituintes estaduais elegeram o Dr. Mário Corrêa da Costa para governador, que tomou posse como o 12º governo constitucional. Foi este um governo marcado por agitações políticas. A normalidade voltou com a eleição do bel. Júlio Strubing Müller pela Assembléia Legislativa para governador, que assumiu o cargo em 04 de outubro de 1937.

Ocorrendo o golpe do “Estado Novo” de Getúlio Dornelles Vargas a 10 de novembro de 1937, o Estado de Mato Grosso passou ao regime de interventoria novamente. Nesse período registraram-se progressos econômicos e notável participação de Mato Grosso na Segunda Guerra Mundial. Em 15 de outubro de 1939, instalou-se em Cuiabá a Rádio Voz do Oeste, sob a direção de seu criador, Jercy Jacob: professor, poeta, músico, compositor e técnico em radieletricidade. Marcou época o programa “Domingo Festivo na Cidade Verde”, apresentado por Rabello Leite e Alves de Oliveira, ao vivo, no anfiteatro do Liceu Cuiabano. Mais tarde, Alves de Oliveira e Adelino Praeiro deram seqüência ao programa no Cine Teatro Cuiabá.

Por efeito da Constituição Federal de 1946, um novo período de normalidade se instituiu. A Assembléia Constituinte de Mato Grosso elegeu o primeiro governador do período, Dr. Arnaldo Estevão de Figueiredo. A 03 de outubro de 1950 houve eleições para governador, concorrendo Filinto Müller, pelo Partido Social Democrata e Fernando Corrêa da Costa pela União Democrática Nacional. Venceu Fernando Corrêa, que tomou posse a 31 de janeiro de 1951, governando até 31 de janeiro de 1956. Fernando Corrêa da Costa instalou a Faculdade de Direito de Mato Grosso, núcleo inicial da futura Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT.

O engenheiro civil João Ponce de Arruda recebeu das mãos de Fernando Corrêa o governo de Mato Grosso, administrando o Estado por cinco anos, de 31 de janeiro de 1956 até 31 de janeiro de 1961. A 19 de janeiro de 1958, faleceu no Rio de Janeiro Cândido Mariano da Silva Rondon ou simplesmente o Marechal Rondon, como ficou mundialmente conhecido.

Em 31 de janeiro de 1961, pela segunda vez, o médico Fernando Corrêa da Costa tomou posse como governador. Em seu segundo mandato ocorreu a Revolução de 31 de março de 1964, o que serviu para “esticar” o período de governo, permanecendo à frente do executivo até 15 de março de 1966. Governou nesta segunda vez por 5 anos, 1 mês e 15 dias.

Em 1964 Mato Grosso tornou-se um dos focos do movimento revolucionário. Declarada a Revolução em Minas Gerais, a tropa do 16º Batalhão de Caçadores de Cuiabá avançou para Brasília, sendo a primeira unidade militar a ocupar a capital da República.

O governo militar instituiu o voto indireto para governador. O nome era proposto pela Presidência da República, homologado pela Assembléia Legislativa. Apenas em 1982, voltariam as eleições diretas. No primeiro governo revolucionário, o Dr. Roberto de Oliveira Campos, mato-grossense de largo passado de serviços públicos, foi escolhido para Ministro de Planejamento. No governo do general Castelo Branco, o mato-grossense general Dilermando Gomes Monteiro exerceu a função de Subchefe da Casa Militar, passando a Chefe da Casa Militar no governo do gal. Ernesto Geisel, posteriormente a Comandante do II Exército e a Ministro do Superior Tribunal Militar.

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Filinto Müller se projetou como senador, nacionalmente. Líder do governo no Senado Federal, Presidente do Senado e Presidente da ARENA. Faleceu em desastre aéreo nas proximidades de Paris, em 1972, na chamada “Tragédia de Orly”, quando exercia a função de Presidente do Congresso Nacional.

Ao par do progresso material, o Estado desenvolveu-se culturalmente. No governo de Pedro Pedrossian, que governou por cinco anos, surgiram as universidades de Cuiabá e Campo Grande. Verificou-se a inauguração da primeira emissora de televisão, a TV Centro América, em 1969. Logo a seguir Mato Grosso se ligaria ao resto do Brasil por microondas, pela EMBRATEL, e logo pelo sistema de Discagem Direta a Distância - DDI. Mato Grosso tornou-se ponto de apoio ao governo federal para o projeto de integração da Amazônia, desfraldado o slogan “integrar para não entregar”.

Uma das conseqüências do desenvolvimento foi o desmembramento do território, formando o Estado de Mato Grosso do Sul, a 11 de outubro de 1977, através da Lei Complementar nº. 31. O novo Estado foi instalado a 1º de janeiro de 1979. No período pós Estado Novo, dois mato-grossenses subiram à Presidência da República: Eurico Gaspar Dutra e Jânio da Silva Quadros.

A crise econômica brasileira se tornou aguda nesse período com a desvalorização acelerada da moeda nacional. Sem os suportes de projetos federais especiais para a fronteira agrícola, os migrantes em parte se retiraram de Mato Grosso. No entanto, um projeto de maior monta é o conjunto de infraestrutura de transporte. O projeto de estrada de ferro ligando São Paulo a Cuiabá entra em fase de efetivação, a fim de resolver parte dos problemas de transporte de grãos. O projeto de uma zona de Processamento de Exportação entra em fase de implantação. Visa-se exportar os produtos mato-grossenses por via fluvial.

O povo migrado para Mato Grosso tem, com a crise brasileira, a ocasião de uma pausa no desenfreado trabalho de progresso, ocupando-se com o aprofundamento da cultura mato-grossense. Mato Grosso ingressa definitivamente na idade da cultura, completando o desenvolvimento material, comercial e industrial. PRESIDENTES E GOVERNADORES DE MATO GROSSO

Nome início do mandato fim do mandato

01 Antônio Maria Coelho 9 de dezembro de 1889 15 de fevereiro de 1891

02 Frederico Solon de Sampaio Ribeiro 16 de fevereiro de 1891 31 de março de 1891

03 José da Silva Rondon 1 de abril de 1891 5 de junho de 1891

04 João Nepomuceno de Medeiros Mallet 6 de junho de 1891 16 de agosto de 1891

05 Manuel José Murtinho 16 de agosto de 1891 15 de agosto de 1895

06 Antônio Correia da Costa 15 de agosto de 1895 26 de janeiro de 1898

07 Antônio Cesário de Figueiredo 26 de janeiro de 1898 10 de abril de 1899

08 João Pedro Xavier Câmara 10 de abril de 1899 6 de julho de 1899

09 Antônio Leite de Figueiredo 6 de julho de 1899 15 de agosto de 1899

10 Antônio Pedro Alves de Barros 15 de agosto de 1899 15 de agosto de 1903

11 Antônio Pais de Barros 15 de agosto de 1903 2 de julho de 1906

12 Pedro Leite Osório 2 de julho de 1906 15 de agosto de 1907

13 Generoso Pais Leme de Sousa Ponce 15 de agosto de 1907 12 de outubro de 1908

14 Pedro Celestino Correia da Costa 12 de outubro de 1908 15 de agosto de 1911

15 Joaquim Augusto da Costa Marques 15 de agosto de 1911 15 de agosto de 1915

16 Caetano Manuel de Faria e Albuquerque 15 de agosto de 1915 8 de fevereiro de 1917

17 Camilo Soares de Moura 9 de fevereiro de 1917 22 de agosto de 1917

18 Cipriano da Costa Ferreira 23 de agosto de 1917 21 de janeiro de 1918

19 Francisco de Aquino Correia 22 de janeiro de 1918 21 de janeiro de 1922

20 Pedro Celestino Correia da Costa 22 de janeiro de 1922 24 de outubro de 1924

21 Estêvão Alves Correia 25 de outubro de 1924 22 de janeiro de 1926

22 Mário Correia da Costa 22 de janeiro de 1926 21 de janeiro de 1930

23 Aníbal Benício de Toledo 22 de janeiro de 1930 30 de outubro de 1930

24 Sebastião Rabelo Leite 30 de outubro de 1930 3 de novembro de 1930

25 Antônio Mena Gonçalves 3 de novembro de 1930 24 de abril de 1931

26 Artur Antunes Maciel 24 de abril de 1931 15 de junho de 1932

27 Leônidas Antero de Matos 15 de junho de 1932 12 de outubro de 1934

28 César de Mesquita Serva 12 de outubro de 1934 8 de março de 1935

29 Fenelon Müller 8 de março de 1935 28 de agosto de 1935

30 Newton Deschamps Cavalcanti 28 de agosto de 1935 7 de setembro de 1935

31 Mário Correia da Costa 7 de setembro de 1935 8 de março de 1937

32 Manuel Ari da Silva Pires 9 de março de 1937 13 de setembro de 1937

33 Júlio Strübing Müller 13 de setembro de 1937 30 de outubro de 1945

34 Olegário Moreira de Barros 30 de outubro de 1945 19 de agosto de 1946

35 José Marcelo Moreira 19 de agosto de 1946 8 de abril de 1947

36 Arnaldo Estêvão de Figueiredo 8 de abril de 1947 1 de julho de 1950

37 Jari Gomes 1 de julho de 1950 31 de janeiro de 1951

38 Fernando Corrêa da Costa 31 de janeiro de 1951 31 de janeiro de 1956

39 João Ponce de Arruda 31 de janeiro de 1956 31 de janeiro de 1961

40 Fernando Corrêa da Costa 31 de janeiro de 1961 31 de janeiro de 1966

41 Pedro Pedrossian 31 de janeiro de 1966 15 de março de 1971

42 José Manuel Fontanillas Fragelli 15 de março de 1971 15 de março de 1975

42 José Garcia Neto 15 de março de 1975 15 de agosto de 1978

43 Cássio Leite de Barros 15 de agosto de 1978 15 de março de 1979

44 Frederico Carlos Soares Campos 15 de março de 1979 15 de março de 1983

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45 Júlio José de Campos 15 de março de 1983 15 de maio de 1986

46 Wilmar Peres de Faria 15 de maio de 1986 15 de março de 1987

47 Carlos Gomes Bezerra 15 de março de 1987 2 de abril de 1990

48 Edison Freitas de Oliveira 2 de abril de 1990 15 de março de 1991

49 Jaime Veríssimo de Campos 15 de março de 1991 1 de janeiro de 1995

50 Dante Martins de Oliveira 1 de janeiro de 1995 6 de abril de 2002

51 José Rogério Salles 6 de abril de 2002 1 de janeiro de 2003

52 Blairo Borges Maggi 1 de janeiro de 2003 31 de dezembro de 2010

53 Silval da Cunha Barbosa 1 de janeiro de 2011

Economia Mato-grossense na primeira Republica DA HIDROVIA À FERROVIA: A DIVERSIFICAÇÃO DA PRODUÇÃO (SÉC. XIX-XX)

No transcorrer de todo o século XIX, o modelo primário exportador tradicional, que forjou a economia brasileira, tinha nas exportações (variável exógena) a maior responsável pela geração da renda nacional e pelo crescimento da mesma. O desenvolvimento do setor exportador deu lugar a um processo de urbanização mais ou menos intenso - embora restrito aos centros de exportação - quando foram se estabelecendo as chamadas indústrias tradicionais de bens de consumo interno, tais como as de tecidos, calçados, vestuário, móveis, alimentos, etc.

A interioridade do vasto território mato-grossense, acrescida do fato da ocupação inicial ter se baseado no extrativismo mineral, impediu o crescimento dos núcleos urbanos em maiores dimensões, como também o florescimento de uma indústria local. O processo de ocupação, conforme visto anteriormente, ocorreu apenas no eixo das atividades mineradoras e teve sua expansão estritamente determinada pelo dinamismo desta atividade. Com a decadência da mineração, os núcleos populacionais então existentes passam por um longo período de estagnação, revigorando-se apenas na segunda metade do século XIX, com a abertura da navegação pelo Rio Paraguai (1856), via estuário do Prata, que faz surgir uma nova rota comercial.

Durante quase uma década, a ligação com o mercado platino tem um efeito dinamizador sobre a base econômica, a qual ganha um novo impulso pela diversificação da produção com a extração da erva-mate, na porção sul do Estado (Mato Grosso do Sul), do látex e da poaia, na porção norte.

Mas o desenvolvimento de um setor produtivo regional foi novamente interrompido em 1864, com o início da Guerra do Paraguai, a qual impossibilitou a navegação fluvial, causando sérios problemas de comunicação e abastecimento para Mato Grosso. Terminada a Guerra (1870), foi retomada a rota de comércio pelo Rio Paraguai, ocorrendo a abertura do porto de Corumbá ao comércio internacional. Fruto da diversificação econômica ocorrida na segunda metade do século XIX, a cidade de Corumbá, hoje localizada no Mato Grosso do Sul, exerceu o papel de grande empório comercial, centro importador de produtos manufaturados e exportador de matérias-primas regionais. Através do Porto de Corumbá, Mato Grosso recebeu a maquinaria para implantar as primeiras indústrias:

• a indústria açucareira (produção e refinação do açúcar e destilação da aguardente e do álcool), na baixada cuiabana

• indústria de carne bovina para exportação (charqueadas) na área do Pantanal, ambas com a presença do capital estrangeiro.

• O incremento da navegação, encurtando distâncias e ligando mercados, possibilitou a Mato Grosso não só o rápido escoamento de sua produção como também a importação e consumo dos mais variados produtos estrangeiros, desde sal para o gado até artigos de luxo dos mais sofisticados.

Ao final do século XIX, a integração entre o setor produtivo de Mato Grosso e os centros do capital industrial e financeiro, se não estava consolidada, ao menos já se constituía num processo irreversível. O Estado firma-se como exportador de matérias-primas, importador de capital e de produtos manufaturados, ocorrendo um desenvolvimento generalizado dos principais centros urbanos, a partir de Corumbá. Os antigos núcleos portuários, como Cáceres e Cuiabá, convivem com uma

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intensa atividade econômica-comercial:

• Cáceres firma-se como centro exportador da poaia, cuja extração e comercialização gerou grande movimento agrícola e comercial nas cidades de Barra do Bugres, Vila Bela e Cuiabá, e também através da exportação da seringa (látex), extraída na Bacia Amazônica.

• Cuiabá, centro político administrativo desde 1835, (CAPITAL desde 1835) vive seu apogeu com a instalação das muitas usinas de cana-de-açúcar na região, e sofre intenso processo de urbanização recebendo infraestrutura urbana, como praças, escolas, melhorias de ruas, serviços de transporte urbano etc..

• Também os pequenos núcleos, como Santo Antônio do Leverger e Barão de Melgaço, pela proximidade das usinas de cana, crescem e desenvolvem-se enquanto espaço urbano. No entanto, excetuando-se essa concentração populacional do entorno cuiabano, o povoamento do atual território de Mato Grosso permanecia extremamente rarefeito. (população reduzida e concentrada). Além disso, todo o processo de ocupação das terras ocorreu de forma extremamente desordenada, demandando do Estado regional, então motivado pela Constituição Republicana, a edição da primeira Lei de Terras (1892). Através desta lei, criava-se o aparato jurídico-institucional para mediar e legitimar os diferentes interesses das classes envolvidas no processo de apropriação da terra e, ao mesmo tempo, gerava-se a sustentação à política fundiária de regularização e venda de terras a nível do estado.

O Estado Nacional, por sua vez, num claro objetivo de promover a integração da região Centro-Oeste ao sistema de comunicação nacional e ao processo de circularidade do capital emergente, executa dois projetos específicos na área: a instalação de linhas telegráficas e a construção de ligações ferroviárias. A instalação de linhas telegráficas, realizada pela Missão RONDON (1900-1906), acabou de interligar a região Centro-Oeste ao resto do País, além de determinar a criação de novos eixos de ocupação.

A implantação de postos avançados para comunicação e suprimentos, fez surgir alguns embriões de povoados, os quais resultaram nas atuais cidades de Rondonópolis, General Carneiro, Acorizal e Porto Esperidião.

A construção das ferrovias Noroeste do Brasil e Madeira-Mamoré, particularmente a primeira, possibilitaram a integração de Mato Grosso ao sistema ferroviário brasileiro, facilitando o escoamento da produção para outras regiões e incentivando o desenvolvimento da produção regional. Por outro lado, e paralelamente aos avanços dos trilhos da ferrovia sobre territórios indígenas, ocorria a abertura de extensas fazendas de criação na região sul do estado, hoje Mato Grosso do Sul.

As novas rotas de penetração, agora constituídas por caminhos terrestres, desenvolveram eixos de circulação de pessoas e mercadorias, tanto no sentido leste-oeste, desde o Araguaia até o Guaporé, quanto no sentido sul-norte, interligando a porção sul do Estado, hoje Mato Grosso do Sul, com a região de Diamantino. A par do desenvolvimento das atividades agropecuárias, extrativistas vegetais e do surgimento de uma indústria tradicional, a primeira metade do século XX foi marcada também pela descoberta de jazidas diamantíferas na porção Sudeste do Estado, notadamente nos vales dos rios Araguaia, Garças e São Lourenço,

atraindo novos fluxos migratórios.

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Divisão do estado; (pensamento sulista) OS CONFLITOS POLÍTICO-MILITARES ENTRE AS OLIGARQUIAS MATO-GROSSENSES NO INÍCIO DO SÉCULO XX GÊNESE DO MOVIMENTO DIVISIONISTA A LUTA PELA AUTONOMIA A insatisfação do sul com a administração do estado de Mato Grosso e seu isolamento com relação a Cuiabá motivaram movimentos separatistas desde o final do século XIX. Nesse momento, com o aumento da população e o maior desenvolvimento econômico da região que hoje corresponde ao nosso estado,(Mato Grosso do Sul) a luta pela divisão ganhou força. O município de Nioaque foi o local pioneiro do movimento pela emancipação do sul. NIOAQUE – O BERÇO DA DIVISÃO Foi dentro do contexto histórico da passagem da monarquia para a república que aconteceu o primeiro movimento separatista importante no sul de Mato Grosso. Após a Guerra do Paraguai (1864-1870), muitos ex-combatentes brasileiros e paraguaios acabaram se fixando em terras do Mato Grosso do Sul, dedicando-se à agricultura e á extração da erva-mate. Também como consequência do final da guerra, muitos pecuaristas que haviam se refugiado em Cuiabá voltaram para o sul do estado. Contribuiu ainda para o desenvolvimento da região a importante corrente migratória de gaúchos, vitimas de perseguições políticas ocorridas durante a Revolução Federalista do Rio Grande do Sul. Esses migrantes gaúchos dirigiram-se principalmente para as áreas de campos limpos do sul de nosso estado, semelhantes aos de sua terra natal e bons para a pecuária. Porém, o povoamento do sul do estado de Mato Grosso foi bastante dificultado pela atuação abusiva da empresa Matte Laranjeira, instalada no começo da década de 1880 na região. A empresa monopolizava a extração da erva-mate e gozava de grande apoio por parte do governo do estado. Sua influência chegava ao ponto de dificultar a legalização das terras a serem ocupadas pelos criadores de gado, a fim de garantir para si a maior quantidade possível de áreas para a exploração da erva-mate. Eram vários os motivos de insatisfação dos sulistas com a administração do estado de mato Grosso, sediada em Cuiabá. Reclamavam da falta de atenção e de pouca verba destinada ao sul, principalmente por ocasião do final da Guerra do Paraguai, quando a região teve várias cidades destruídas. Além disso, era necessário criar as condições para melhorar a comunicação do sul com o norte do estado. Com exceção de Corumbá, outros importantes municípios sulinos como Paranaíba, Miranda, Nioaque e Coxim, permaneciam numa situação de grande isolamento em relação à Cuiabá. Todo esse descontentamento dos sulistas fez surgir o primeiro movimento separatista em 1900, na cidade de Nioaque, considerada o berço da divisão do estado. Foi liderado pelo gaúcho João Ferreira Mascarenhas, coronel, fazendeiro e importante líder político local. Esse movimento armado, chamado “Revolução de Jango Mascarenhas” , terminou derrotado, e seu líder foi morto em combate no ano de 1901, ás margens do rio Taquarussu, em Nioaque. Pouco depois da “Revolução de Jango”, um outro movimento pela emancipação explodiu no sul. Em 1907, na cidade de bela Vista, o fazendeiro Bento Xavier comandou uma insurreição contra o governo do estado de Mato Grosso, que só foi derrotado em 1911, após quatro anos de luta armada. Na década de 1910, o controle do movimento separatista passaria a ser liderado por Campo Grande. Esta cidade, pouco a pouco, viria a se tornar o principal polo econômico e político do então estado de Mato Grosso, graças ao impulso recebido com a implantação da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, que lá chegou em 1914. No entanto, apesar das derrotas sofridas, a ideia de independência do sul permaneceu viva. Durante o governo de Getúlio Vargas (1930-1945), ela se tornou realidade em dois momentos: no início da década de 1930 – ainda que por poucos meses - , com a formação do estado de Maracaju (1932), e entre 1943 e 1946, com a fundação do território federal de Ponta Porã.

FONTE: História e Geografia do Mato Grosso do Sul de autoria de Gressler, Vasconcelos e de Souza, 2005.

PROCESSO DE DIVISÃO DO ESTADO DE MATO GROSSO ANTECEDENTES

A primeira tentativa de se criar um novo estado ocorreu, de forma esdrúxula, em 1892, por iniciativa de alguns revolucionários sob a ordem do Cel. Barbosa; anos depois, o líder da Vacaria, João Caetano Teixeira Muzzi, inspirado na ideia do advogado separatista Barros Cassal (radicado em Nioaque), criava o Partido Autonomista, para propaga-las; Jango Mascarenhas e bento Xavier também defenderam, a seu modo, a autonomia do sul, principalmente depois de se convencerem de que estavam sendo usados por líderes do norte.

Em 1932 , com a Revolução Constitucionalista, foi criado o Estado de Maracaju, abrangendo quase todo o sul do Mato Grosso, que teve como primeiro governador, nomeado pelas forças revolucionárias, Vespasiano Martins, que se apressou em esclarecer que o movimento armado não era contra os do norte do estado e sim “pela volta do país ao regime da lei”, conclamando-os ao apoiar a Revolução.

No mesmo ano, foi criada a Liga Sul-Mato-Grossense, propugnando pela autonomia do sul; em 1934 e 1946, foram encaminhados, abaixo-assinados aos constituintes federais, solicitando a criação do novo estado.

Na década de 40, O Campo-grandense (jornal dirigido, na época, por Paulo Coelho Machado) desencadeou uma campanha ostensiva pela divisão do Estado; foi fechado, sem maiores explicações, pelo interventor federal Júlio Muller.

Em 1974, o governo federal, pela Lei Complementar nº 20, estabeleceu a legislação básica para a criação de novos estados e territórios; reacendeu-se a campanha divisionista; A ideia do desmembramento tomou contornos definidos em 1975, com a tese Divisão político-administrativa do Mato Grosso, elaborada pela Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG), cujos dados serviram de base para a intensificação da campanha pela separação; em 1976, a Liga Sul-Mato-Grossense, presidida por Paulo Coelho Machado, liderou campanha, contando com a oposição do então governador de Mato Grosso, José Garcia Neto.

FONTE: História de Mato Grosso do Sul de autoria de Campestrini e Guimarães, 1991.

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POR QUE CRIAR O ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL O estado de Mato Grosso sempre se apresentou de forma dual: norte e sul – por diferenças geográficas, históricas,

administrativas e culturais. O sul é formado basicamente pelo planalto da serra de Maracaju (de terras, topografia e clima propícios à agricultura) e

pelas planícies da Vacaria e do rio Paraguai (principalmente o Pantanal), excelentes para a pecuária. O norte é mais planalto e mais bacia amazônica, bem diferente do sul, principalmente no clima.

O norte foi povoado, durante os primeiros séculos de ocupação, por aventureiros em busca de riquezas, sem maior interesse no povoamento, tanto que, com o decréscimo da produção do ouro, a população diminuiu. O sul baseou-se na pecuária extensiva, que fixou o homem a terra, beneficiado ainda pela chegada de numerosas levas de imigrantes determinados a fazer riqueza com a pecuária e com a agricultura.

O sul está, por razões históricas e econômicas, ligado a São Paulo e ao Paraná; o norte, à Amazônia, a Goiás e a Brasília. Por fim e em resumo, quando acelerou a criação de Mato Grosso do Sul, o presidente Geisel considerava o desmembramento o meio mais adequado para acelerar o desenvolvimento econômico e social de ambos os estados; o sul, com excelentes condições para tornar-se grande produtor de grãos e de carne; o norte, com condições para o rápido povoamento e ocupação dos grandes vazios territoriais ( o que se verificou).

FONTE: História de Mato Grosso do Sul de autoria de Campestrini e Guimarães, 1991.

CRIAÇÃO A decisão do governo federal sobre a criação do novo estado foi comunicada pelo presidente Ernesto Geisel ao governador

José Garcia Neto em 4 de maio de 1977. Conforme o primeiro projeto de lei, o novo estado se chamaria Campo Grande. Ao ser aprovada a lei pelo Congresso Nacional e sancionada pelo presidente da república, em 11 de outubro do mesmo ano, mudou-se o nome do estado para Mato Grosso do Sul. Decidiu-se que a capital seria a cidade de Campo Grande.

Em 11 de outubro de 1977, o presidente Geisel assinava, em solenidade histórica, a lei Complementar nº 31, criando o Estado de Mato Grosso do Sul pelo desmembramento de área do Estado de Mato Grosso, com capital em Campo Grande.

Em 31 de março de 1978, era nomeado governador o engenheiro Harry Amorim Costa. O presidente viu-se obrigado a nomear um técnico gaúcho, porque os políticos sul-mato-grossenses não conseguiram um acordo sobre um nome da terra de confiança do presidente. Em 15 de novembro foram eleitos o senador, os deputados federais e os deputados estaduais (constituintes).

A 1º de janeiro de 1979, foi instalado oficialmente o governo de Mato Grosso do Sul, com a posse do governador Harry Amorim Costa, em sessão solene no Teatro Glauce Rocha e a presença do Presidente Ernesto Geisel e seus Ministros. Duas razões essenciais foram invocadas pelo governo federal para justificar o desmembramento:

1. o fato de ter o estado do Mato Grosso uma área demasiado grande para comportar uma administração eficaz; 2. a diferenciação ecológica entre as duas áreas, sendo Mato Grosso do Sul uma região de campos, particularmente indicada

para a agricultura e a pecuária, e Mato Grosso, na entrada da Amazônia, uma região bastante menos habitada e explorada, e em grande parte coberta de florestas.

A lei constitutiva de Mato Grosso do Sul afirmava que, nos seus quatro primeiros anos de existência, a partir de 1º de janeiro de 1979, o novo estado seria governado por um interventor nomeado pelo presidente da república. Na ocasião, o presidente Ernesto Geisel acentuou que a criação do Mato Grosso do Sul significava "o reconhecimento de uma realidade econômica e social" e destacou no novo estado -- 22ª unidade da federação brasileira -- a "extraordinária vocação para o desenvolvimento agropecuário e agroindustrial", em função sobretudo da fertilidade dos solos da região de Dourados e do grande potencial agrícola do cerrado.

FONTE: http://pt.wikipedia.org/wiki/Mato_Grosso_do_Sul LEITURA COMPLEMENTAR Divisão do Estado de Mato Grosso completa 33 anos Presidente Geisel decidiu dividir o Estado, mesmo com posicionamento contrário do então governador Garcia Neto.

Dia 11 de outubro de 1977. Foi naquele dia, 33 anos atrás, que o então presidente do Brasil, Ernesto Geisel, assinou a Lei Complementar número 31 que dividia Mato Grosso e criava o Estado de Mato Grosso do Sul.

O engenheiro civil sergipano José Garcia Neto era o governador do Estado na época. Garcia Neto morreu no ano passado. Dois anos antes, ele concedeu uma entrevista ao site da TV Centro América para falar sobre o processo de divisão de Mato Grosso, que ele classificava como "uma barbaridade". O político defendera, até os últimos instantes, a manutenção do Estado uno.

José Garcia Neto, quando veio a Mato Grosso para trabalhar muitas décadas atrás, não imaginava que se tornaria um personagem importante na história do Estado. Aos 85 anos, munido de documentos, livros e de uma memória prodigiosa, Garcia Neto recebeu a reportagem do site da TV Centro América no escritório dele, em 2007, para lembrar o processo que levou à divisão do Estado.

Sentado à cabeceira de uma mesa de reuniões, o ex-governador fez um alerta logo no início da entrevista, que acabaria em um bate-papo de mais de duas horas. "Sempre fui contrário à divisão". Ele fez questão de ressaltar os aspectos que o levaram a se posicionar contra o presidente Geisel e questionava se a decisão do general foi acertada.

Garcia Neto foi prefeito de Cuiabá e também eleito deputado federal por duas vezes. Quando cumpria o segundo mandato na Câmara dos Deputados, foi convidado por Geisel para ser o vice-líder de governo. O presidente demonstrava que pretendia fazer, aos poucos, a abertura política. Para isso, precisava de aliados. Essa proximidade com o presidente fez com que Garcia Neto conquistasse a simpatia e confiança de Geisel.

O então deputado federal foi indicado pelo partido dele, a Arena, para ser candidato dentro da sigla ao governo do Estado. Garcia Neto não queria ser candidato, mas os correligionários o apontavam como o melhor nome para governar Mato Grosso. Até o próprio governador José Fragelli apoiou a candidatura de Garcia. "Eu não era candidato. Fragelli fez uma lista tríplice e colocou o

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meu nome. Meu candidato era Ênio Vieira, presidente da Arena em Mato Grosso. Acabei aceitando na última hora", lembra. E foi escolhido pelo presidente para governar o Estado.

Garcia Neto disse que estava pré-disposto a governar "contra a divisão e a favor de um governo democrático". Para tanto, dividiu as secretarias entre pessoas do norte e sul do Estado. "Fiz um entrosamento. O vice era Cássio Leite de Barros, de Corumbá, escolhido por mim", frisou. Processo de divisão

Garcia Neto explicou que um processo de disputa política e econômica resultou na divisão de Mato Grosso e na criação de Mato Grosso do Sul. Ele afirmou que o povo cuiabano era contra a divisão e que ele tinha a intenção de desenvolver o Estado unindo as forças do sul e do norte.

O governador contou que a grande 'desculpa' para justificar a divisão do Estado era que Mato Grosso era muito grande e difícil de governar. Logo depois da posse, em 1975, Garcia Neto se reuniu com o presidente Geisel para externar a preocupação sobre a possível divisão. "Disse ao presidente sobre o que os jornais e a população comentavam referente à divisão. Disse também que eu era contra e que queria saber a opinião dele. O presidente disse que não havia pensado ainda no assunto mas, quando fosse pensar, que eu seria o primeiro a saber. Desta forma, não toquei mais no assunto".

Para Geisel voltar a 'pensar' no assunto demorou dois anos. Foi em abril de 1977 que o general chamou Garcia Neto para tratar da divisão. "Ele disse que queria começar a pensar na divisão de Mato Grosso. Pedi para dar minhas razões contrárias e as encaminhei em forma de um documento".

Garcia Neto elaborou um documento chamado "Exposição de motivos apresentada ao Exmo. senhor Presidente da República Ernesto Geisel pelo Governador de Mato Grosso José Garcia Neto", datado de 27 de abril de 1977. Apresentou 13 itens para justificar a necessidade do Estado uno e contra a divisão. "Mato Grosso, a despeito de suas dimensões (...) é hoje um Estado consolidado e satisfatoriamente integrado pelos meios modernos de transporte e comunicação. (...) Suas receitas correntes são maiores que as despesas correntes, o que não ocorre com algumas unidades da federação", esclareceu.

O governador também ressaltou que "dividir Mato Grosso seria transformar um Estado financeira e economicamente consolidado em duas unidades inviáveis". Ele argumentou que a divisão contrariava a tese das fusões que visam a diminuir despesas administrativas. Garcia disse que "a divisão do Estado, com o consequente enfraquecimento de sua capital, iria atrasar o processo de integração dessa rica e cobiçada região".

Outra preocupação do governador era sobre o que fazer com os 5.318 funcionários públicos do Estado. Com a divisão, avaliou Garcia Neto, os órgãos sediados em Cuiabá teriam suas atribuições diminuídas, restando duas opções: demitir servidores ou continuar com eles recebendo recursos de outras fontes 'para cobrir onerosa folha de ociosos'. Custo alto da divisão

Garcia Neto, na justificativa ao presidente Geisel contra a divisão do Estado, disse que o desequilíbrio financeiro que a divisão provocaria geraria problemas diversos. "O governo federal teria, para solucioná-los, que carrear grandes recursos para custeio de administração dos dois estados, os quais somariam, no primeiro ano, cerca de Cr$ 380 milhões, a preços de 1977, quando neste mesmo ano o orçamento de Mato Grosso apresenta um superávit de Cr$ 70 milhões".

O então governador disse que, com a divisão, não haveria recursos para manter duas máquinas administrativas, pois seria preciso construir mais uma Assembleia Legislativa, mais um Tribunal de Justiça, Tribunal de Contas e criar mais 15 ou 20 secretarias de governo. Para exemplificar o problema, Garcia Neto recorreu, ironicamente, a uma comparação. Disse que é semelhante a um homem casado que tem uma 'filial', uma amante. "A despesa dobra. Ter uma filial aumenta os gastos. Se Mato Grosso tivesse unido, só perderíamos em receita para os estados do sul". Geisel decide dividir MT

De 15 a 20 dias após receber o documento, Geisel convocou uma audiência com Garcia Neto e anunciou que, mesmo com toda a justificativa, optara pela divisão de Mato Grosso. "Ele disse que leu bem as minhas razões, mas que Mato Grosso com tantas potencialidades, e quando se igualasse a São Paulo, poderia abalar o conjunto da federação brasileira. Era uma visão muito militarista", disse. O medo de Geisel era de que Mato Grosso crescesse e decidisse brigar pela independência com relação ao restante do país, qual tentara estados do sul do Brasil. A decisão de dividir o Estado foi tomada em abril de 1977, seis meses antes da assinatura da lei. A divisão efetivamente aconteceu em janeiro de 1979.

"Mato Grosso não morreu porque os patrícios do sul do país, os patrícios de São Paulo, do Rio, do Espírito Santo, nordestinos aqui chegaram. Fizeram uma bela invasão às terras nossas e Mato Grosso é o que é. Porque Mato Grosso, quando foi dividido, era um terço do Estado [em arrecadação]. Hoje Mato Grosso é maior do que Mato Grosso do Sul. Porque esses nossos patrícios vieram aqui e foram recebidos por um pessoal sui generis, que é o cuiabano. O cuiabano sabe receber. Posso falar assim porque sou de fora. Todos que chegam aqui são bem recebidos como se fossem irmãos que não se viam há algum tempo. E isso tornou essa grandeza que hoje é Mato Grosso", frisou o ex-governador. Novos projetos de divisão

No Congresso Nacional tramitam outros projetos de lei que propõe novas divisões ao Estado, como um que trata da criação do Estado do Araguaia e outro sobre a criação do Estado de Mato Grosso do Norte.

Garcia Neto também reclamou dos novos projetos. "Estão perpetrando um crime contra Mato Grosso. Dividir novamente Mato Grosso é crime. Só pode servir para políticos que fazem política com 'p' minúsculo. Para o Estado não serve, pelo contrário. Se estão querendo isso, não são amigos de Mato Grosso", concluiu.

Fonte: http://www.expressomt.com.br/noticia.asp?cod=96675&codDep=3

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Divisão do estado de Mato Grosso completa 30 anos Geisel assinou lei no dia 11 de outubro de 1977 para criar Mato Grosso do Sul. Decisão foi tomada por causa de disputa político-econômica na região. Do G1, em São Paulo, com informações da TV Centro América Foto: Reprodução/TV Centro América Reprodução/TV Centro América Separação de Mato Grosso completa 30 anos (Foto: Reprodução/TV Centro América)

A data é pouco lembrada em Mato Grosso. No estado vizinho, é feriado. Foi no dia 11 de outubro de 1977 que o presidente Ernesto Geisel assinou a Lei Complementar nº 31 dividindo Mato Grosso e criando o estado de Mato Grosso do Sul. A data virou marco de independência da Região Sul em relação à capital Cuiabá. Enquanto alguns ainda condenam as forças divisionistas, outros argumentam que a divisão serviu para impulsionar o desenvolvimento em ambos os estados.

A divisão de Mato Grosso em dois estados aconteceu devido a um processo demorado em que foram levados em consideração aspectos socioeconômicos, políticos e culturais. Enquanto o Sul do estado tentava a divisão, o norte endurecia e barrava as intenções sulistas.

De acordo com Alisolete Weingärtner, professora de história de Mato Grosso do Sul, o movimento divisionista no eixo Sul foi originado por volta de 1889, quando alguns políticos corumbaenses divulgaram um manifesto propondo a transferência da capital de Mato Grosso para Corumbá. A atitude não teve resultados na época, mas mostrou que a tímida ação política poderia retornar com mais força. Ferrovias

O movimento divisionista ganhou força com a regularização das viagens ferroviárias. O crescimento socioeconômico do Sul do estado com a pecuária e a exploração da erva-mate marcaram o movimento. Mesmo com a prosperidade do Sul, Cuiabá ainda mantinha o poder político e administrativo, mesmo que as grandes distâncias a deixassem isolada das cidades do Sul e da capital federal, Rio de Janeiro.

Em 1921, Campo Grande passou a ser sede da Circunscrição Militar, hoje Comando Militar do Oeste. Em seguida, a cidade foi considerada a capital econômica de Mato Grosso devido à exportação na estação ferroviária. Anos mais tarde, em 1946, Eurico Gaspar Dutra assumiu a presidência da República após a deposição de Getúlio Vargas. Novamente a tentativa de transferir a capital de Cuiabá para Campo Grande foi frustrada. Dutra reforçava a política de integração nacional, que incentivava a manutenção da unidade estadual. Lei pró-divisão

O governo federal estabeleceu, em 1974, a legislação básica para a criação de novos estados e territórios. No ano seguinte, renasceram as ideias divisionistas devido à discussão dos limites de Mato Grosso com Goiás. O movimento tomou fôlego e, em 1976, a Liga Sul-Mato-Grossense, presidida por Paulo Coelho Machado, liderou a campanha. Do outro lado a oposição era do governador de Mato Grosso, José Garcia Neto.

Trabalhando com rapidez e sigilo, os integrantes da Liga forneceram ao governo federal subsídios necessários para viabilizar a divisão do Estado. A lei foi assinada pelo presidente Ernesto Geisel no dia 11 de outubro de 1977 e publicada no Diário Oficial do dia seguinte.

Mato Grosso tinha à época 93 municípios e 1.231.549 quilômetros quadrados. A lei dividiu o Estado e deixou Mato Grosso com 38 municípios e Mato Grosso do Sul com 55. Apesar de ter menos municípios, Mato Grosso ficou com a maior área: 901.420 quilômetros quadrados.

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GEOGRAFIA DE MATO GROSSO Não se pode compreender o Mato Grosso atual

sem considerar duas variáveis: a construção de Brasília, nos anos 1960, e os reflexos da filosofia do presidente Juscelino Kubitscheck de interiorizar o Brasil, expandindo o desenvolvimento e a nacionalidade, confinados, historicamente, no litoral. De Brasília partiram os grandes eixos rodoviários e os conceitos políticos concebidos para interiorizar o Centro-Oeste e a Amazônia.

A segunda variável foi, na década de 1970, a filosofia estratégica dos governos militares de integrar o Centro-Oeste à Amazônia, complementando a expansão de Brasília.

Na retaguarda desse novo avanço havia algumas circunstâncias especiais. Uma delas, os problemas sociais, no Rio Grande do Sul,

O Desafio que atingiam descendentes dos imigrantes europeus, que vieram para o Brasil no final do século XIX e começo do século XX. O minifúndio, de 25 hectares, recebido na chegada, foi dividido, sucessivamente, entre os descendentes e, já na década de 30 do século XX, os filhos migravam para Santa Catarina, Paraná e para o Sul de Mato Grosso. Mas a segunda geração remanescente no Rio Grande tornara-se um problema social, acampada na entrada de Porto Alegre, expulsa de terras indígenas, que invadiram

alguns anos antes. Esses descendentes, ao lado dos cafeicultores atingidos pelas geadas de 1974/75 no Paraná, aumentavam a crise social no

Sul do Brasil, cuja economia era a referência nacional. Esses dois fatos, somados à visão estratégica de ocupar a Amazônia, levaram o governo do presidente Emílio Garrastazu

Médici (1971- 1975) a criar programas especiais de desenvolvimento, destinados a criar infraestrutura nas regiões Sul e Norte de Mato Grosso. A ideia era preparar Mato Grosso para ser o “Portal da Amazônia”, e, a partir dele, ocupar o norte amazônico. A doutrina manteve-se nos dois governos seguintes, até 1985.

A política federal investiu nesses programas de desenvolvimento e, num segundo gesto, atraiu os descendentes dos imigrantes, os cafeicultores e brasileiros de todas as regiões para Mato Grosso, Rondônia e Sul do Pará. Mas Mato Grosso foi, realmente, o “Portal da Amazônia”.

Para apoiar a ocupação, o governo federal, através do Programa de Integração Nacional – PIN, pavimentou as rodovias BR-163 e 364, ligando Cuiabá a Goiânia e a Campo Grande, com extensão à malha rodoviária nacional. Criou a Universidade Federal de Mato Grosso e estendeu linhões de energia elétrica a partir de Cachoeira Dourada, em Goiás. Como último gesto para fortalecer o “Portal da Amazônia”, o governo federal dividiu Mato Grosso em 1977, separando Mato Grosso do Sul, desmembrado em 1° de janeiro de 1979, já que a região Sul tinha melhor infraestrutura e melhor posição geográfica em relação ao Sul e Sudeste.

Nos anos 1970, a população de Mato Grosso se elevou de 599 mil para 1.038 milhão em 1980, 2.027 milhões em 1991, 2.235 milhões em 1996, 2,504 milhões em 2000 e 2.803 milhões de habitantes em 2005.

Na esteira da evolução demográfica, os 38 municípios de 1979 multiplicaram-se para 141 em 2006. Multiplicaram-se também as fontes da economia, com ampliação da pecuária, da agricultura, da madeira, da indústria, do comércio e dos serviços, na inevitável cascata do desenvolvimento econômico.

A pecuária, antes restrita ao Pantanal, ganhou as terras altas cultivadas dos cerrados e avizinhou-se da agricultura. Desenvolveram-se ambas em escala surpreendente. Por fim, Mato Grosso fez severa frente ao Centro-Oeste. O PIB da agropecuária saltou de menos de 1% em relação ao PIB nacional em 1970, para 2,45% em 1998 e 4,9% em 2003.

Evidente que o crescimento econômico gerou demandas a serem superadas. Entre elas, a infraestrutura viária para suportar a logística das novas exigências produtivas.

Na esteira social, questões como saúde, educação, IDH, emprego e renda, habitação, segurança, tomaram vulto em escala geométrica.

O estágio atual indica, para o futuro de curto, médio e longo prazos, o desafio da construção de um novo ciclo, que agregue todas as variáveis econômicas e sociais construídas nesses 36 anos, contados a partir de 1970. Os números de Mato Grosso são mais desafiadores do que consoladores. A visão do mundo globalizado pede inserções muito sólidas e pragmáticas da produção econômica. Barreiras fiscais, sanitárias, ambientais, qualidade e competitividade, desafiam subsídios dos países ricos, requerem novas visões estratégicas.

No lugar do pioneirismo surgido com Brasília e já consolidado, os tempos atuais exigem gestão globalizada de produção e de produtos e a construção de tecnologias específicas, capazes de atender à competitividade cruel dos mercados internacionais.

Onofre Ribeiro Jornalista

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ASPECTOS GERAIS

1. Mato Grosso e a região Centro-Oeste;

• Mato Grosso é o terceiro maior Estado em área do Brasil, com área total de 906.807 km². Encontra-se na região Centro-Oeste do país, centro do continente Sul-Americano.

• Sua localização privilegiada –território fronteiriço-internacional e que faz parte da Amazônia brasileira –confere-lhe a condição de espaço estratégico, ao qual tem sido atribuído relevante papel nos planos de desenvolvimento nacional e de integração sul-americana. Fuso Horário: -4 horas em relação a hora mundial GMT.

• Números de Municípios: 142

• Fronteiras: Mato Grosso do Sul( ao Sul), Tocantins (ao Nordeste), Goiás(a leste), Pará(ao Norte), Amazonas (ao Norte/Noroeste) e Rondônia (Noroeste) e um país, a Bolívia(a oeste) .

• População: 2.857.642 hab. (2007)

• População Urbana: 76,6%

• Densidade demográfica: 3,2 hab/km2(2007)

PRINCIPAIS CIDADES (POPULAÇÃO 2007) Cuiabá, Várzea Grande, Rondonópolis e Sinop

Localização Mato Grosso localiza-se na região Centro-oeste do território brasileiro. Limita-se ao norte com os Estados do Pará e

Amazonas, ao sul com Mato Grosso do Sul, a leste com Goiás e Tocantins e a oeste com Rondônia e Bolívia. O Estado ocupa uma área de 903.357km², sendo o terceiro maior em extensão territorial do país. É o único a possuir características dos três biomas: Pantanal, Cerrado e Amazônia.

Mato Grosso possui um clima caracteristicamente continental, com duas estações bem-definidas, uma chuvosa e outra seca. A estação chuvosa ocorre entre os meses de outubro a março, e a estação seca começa em abril e termina somente em setembro. O ponto culminante fica a 1.118m de altitude e se localiza na Serra de Santa Bárbara., entre os municípios de Pontes e Lacerda e Porto Esperidião.

Fuso Horário Devido à grande extensão leste-oeste brasileiro abrange quatro fusos horários situados a oeste de Greenwich. O Estado de Mato Grosso abrange um fuso horário (o fuso quatro negativo), correspondendo ao quarto fuso horário. Apresenta, portanto, 4 horas a menos, tendo como referência Londres, o horário GMT (Greenwich Meridian Time).

Divisão Político-administrativa – Mato Grosso

Mato Grosso possui 141 municípios, agrupados em 22 microrregiões político-administrativas, que fazem parte de 5 mesorregiões definidas pelo IBGE.

Atualmente Mato Grosso possui 68 terras indígenas e 23 unidades de conservação federais, 44 estaduais e 38 municipais distribuídas entre reservas, parques, bosques, estações ecológicas e RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Nacional).

As Regiões de Planejamento do Estado de Mato Grosso Em 2001, através de estudos produzidos pela SEPLAN-MT, definiu-se uma nova regionalização do Estado de Mato Grosso.

Essa regionalização foi composta por 12 regiões denominadas de Regiões de Planejamento do Estado de Mato Grosso. Ela tem sua origem a partir dos dados do Diagnóstico do Meio Físico-Biótico e Socioeconômico do Projeto Zoneamento

Sócio-Econômico-Ecológico a partir das análises temáticas e dos mapeamentos de vários temas que compuseram esse estudo.

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MATO GROSSO: PROCESSO DE OCUPAÇÃO / FORMAÇÃO DO TERRITÓRIO 2- CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO INICIAL:

• Território explorado pelos bandeirantes - atraídos pelos índios e pelo ouro.

• Território explorado pela Coroa Portuguesa.

• A ocupação efetiva do espaço brasileiro no séc.XVI tem início com o estabelecimento das Capitanias Hereditárias, cujo principal objetivo era assegurara Portugal a soberania da porção costeira.

• Bandeirismo Apresador–aprisionamento de índios.

• Bandeirismo prospector–descobrimento de ouro e pedras preciosas 2.1 - Início do século XVIII–Paisagem natural de Mato Grosso intocada e inalterada.

• Em1718, Antônio Pires de Campos a porta as margens do Rio Coxipó.

• Descoberta dos primeiros veios auríferos junto ao rio Coxipó pela bandeira de Pascoal Moreira Cabral Leme(1719)–Rio Mutuca e Coxipó.(Arraial da Forquilha).

• Em 1722, Miguel Sutil descobriu um dos mais importantes novos veios auríferos do Estado: As Lavras do Sutil, onde hoje situa-se a Igreja do Rosário em Cuiabá.

• Em 1748, é criada a Capitania de Mato Grosso, que é desmembrada da Capitania de São Paulo.

• Vila Bela da Santíssima Trindade é elevada a sede administrativa da nova província (para proteção de interesses geopolíticos), assim permanecendo até 1835, quando a capital é transferida para Cuiabá.

• O abastecimento das Minas de Ouro –as Monções –expedições de viajantes seguindo os rios da Bacia Platina (Tietê) onde a província de Mato Grosso era abastecida de alimentos e transportava o ouro extraído.

DESCOBERTA DOS RICOS VEIOS NO VALE DO GUAPORÉ

• eixo de povoamento desloca-se para o Oeste

• ampliam-se as Terras portuguesas para além dos limites de Tordesilhas

• fundação de Vila Bela (1752) que passou a ser capital da recém criada capitania de Mato Grosso (1748), até o ano de 1835

• Introdução da pecuária em 1726. (Nos vales dos Rios Taquari e Coxim, na região de Camapuã atual Mato Grosso do Sul)

• Início da produção de cana de açúcar em Mato Grosso (1750) –Açúcar Mascavo –19 engenhos.

• Novas descobertas de ouro em 1805 na região leste do Estado –Barra do Garças –estimulando processos imigratórios de Goiás, Minas Gerais, Bahia e Maranhão.

• No final do séc. XIX, novo surto de povoamento orientado pela extração da borracha, poaia e erva-mate.

• Erva-Mate( 1856 a 1882) CIA MATE LARANJEIRA (Considerada uma Estado dentro do Estado em função do seu poder político e econômico)

• Poaia (1878 a 1890) – desenvolveu-se no vale do Rio Guaporé e na região de Barra do Bugres e Diamantino. O maior centro comercial da Poaia era Cáceres, de onde o produto era exportado para os países europeus. A poaia era utilizada na produção de medicamentos, pois seus principio ativo é a ipeca ou ipecacuanha

• Borracha (1880 a 1920) – Em Mato Grosso a borracha produzida era de melhor qualidade que aquela produzida nos seringais do Acre, pois era obtida a partir do corte da mangabeira. O maior produtor era o município de Diamantino e o

centro comercial de exportação era Cáceres.

PROCESSO DE OCUPAÇÃO – SÉCULO XX A “MARCHA PARA O OESTE”: COLÔNIAS NACIONAIS E COLONIZAÇÃO OFICIAL PÚBLICA E PRIVADA NO ESTADO (1930-70)

Desde a grande depressão da década de 1930 até o período pós-guerra, a retração do mercado externo levou a economia brasileira a voltar-se “para dentro”. A transição do modelo primário exportador para o de substituição de importações ocorreu pelo deslocamento das exportações (variável exógena), como determinante da renda nacional e do crescimento da economia, e sua substituição pela variável (endógena) investimento, cujo montante e composição passaram a ser decisivos para a continuação do processo de desenvolvimento. A função que adquire o setor externo neste período é a de ser responsável pela diversificação da estrutura produtiva, mediante importações de equipamentos e bens intermediários. Num primeiro momento (1930-45), as restrições do setor externo tiveram um peso “absoluto” na economia, reduzindo sua capacidade de importar. Assim, as transformações da estrutura produtiva (substituição de importações de bens não-duráveis de consumo final) circunscreveram-se, praticamente, ao setor industrial e atividades conexas, sem modificar de modo sensível a condição tradicional do setor primário, inclusive do segmento exportador.

No período pós-guerra (1945-55), quando incrementou-se o poder de compra das exportações, houve um considerável dinamismo da economia, havendo um real aproveitamento dessa situação favorável no sentido de intensificar o processo de industrialização nacional, agora, de bens de consumo duráveis e avançando nos setores de bens intermediários e de capital. No entanto, a partir desse período, as condições externas voltaram a ser francamente restritivas, repousando no setor público a capacidade e a vitalidade dos investimentos de capital. Esta capacidade foi obtida às custas de uma política governamental, cujas duas linhas mestras - política cambial e investimentos - orientaram-se quase exclusivamente no sentido da resultante histórica do processo, tanto em termos de sua natureza intrinsecamente industrial, quanto em termos de sua concentração espacial (eixo Rio-São Paulo) e setorial (energia e transportes).

Ao iniciar-se a década de sessenta, a despeito do enorme “déficit” fiscal e das dificuldades crescentes de financiamento externo (agravadas a partir da ruptura com o FMI e o BIRD em 1959), o setor público, orientado numa política de cunho “nacionalista”, constituía-se no componente autônomo fundamental dos investimentos no Brasil. Os gastos de capital do governo e das empresas públicas, em conjunto, foram responsáveis por mais de 50% do investimento total na economia em 1960/61 (material de transportes, material elétrico e metalomecânica) e pelo ritmo de crescimento acelerado da indústria (taxas médias superiores a 20%) e da economia brasileira. No entanto, já em 1963, corta-se violentamente os gastos do governo, inclusive os de capital sofrem

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uma queda importante. Decorre novo processo de desaceleração do crescimento econômico e os projetos de investimento público, como os da siderurgia e petroquímica, entram em compasso de espera por falta de financiamento interno e externo. A retomada do crescimento só irá ocorrer em 1968, na fase do “milagre brasileiro”. Assim é que o desenvolvimento industrial brasileiro se fez a partir do aumento crescente do déficit fiscal, com graves pressões inflacionárias, com um aumento do desequilíbrio externo e das desigualdades regionais. Pois é nesse contexto econômico, político e social do processo de industrialização brasileiro que podem ser entendidos o papel e os limites do Estado, no sentido da interiorização da economia e da incorporação das regiões (em especial, Centro-Oeste e norte) ao processo de reprodução do capital hegemônico nacional. Enquanto área de fronteira, a necessidade de legitimar os limites estabelecidos, através de uma ocupação efetiva do território, foi uma constante em toda a formação histórica do Mato Grosso.

A política nacionalista de Vargas, pós anos 1930, já incluía em suas linhas programáticas a colonização e a ocupação do espaço brasileiro considerado “vazio”. Atendendo a esta prioridade, foi criado o programa “Marcha para o Oeste”, que visava principalmente a criação de colônias agrícolas, denominadas “Colônias Nacionais”, nas terras a serem ocupadas.

Em 1940, através do decreto-lei nº 2009, define-se a organização dos núcleos-colônias e são estabelecidas as normas reguladoras das relações entre empresas de colonização e colonos. Os objetivos pretendidos, de “fomento da pequena propriedade”, deveriam ser perseguidos pelo Estado, através de ações como: auxílios governamentais e supervisão de órgãos técnicos até a emancipação dos núcleos; e assistência social às famílias. Neste mesmo ano, novo decreto dispunha sobre os projetos de colonização dos Estados e Municípios, submetendo-os à aprovação do governo central, por intermédio do Conselho de Imigração e Colonização.

Dentro desta política, em 1943, é criada a Colônia Agrícola Nacional de Dourados, no sul do Estado. Apesar de ter sido objeto de intensa propaganda pelo Estado Novo, que a apresentava como colônia-modelo, a implantação efetiva da colônia atrasou-se consideravelmente. Somente em 1948 é que o Governo Federal demarcou a área e os limites para sua instalação. Ainda assim, a forte propaganda realizada sobre esta colônia funcionou como grande atrativo a novos fluxos migratórios dirigidos à região.

Também em 1943, o governo federal promovia a Expedição Roncador/Xingu, que tinha como finalidade precípua alcançar Santarém, no Estado do Pará, penetrando pelo Brasil-Central e Amazônia, desbravando e colonizando regiões desconhecidas. A base inicial da expedição localizou-se em Barra do Garças e visava atingir a confluência dos rios Kuluene e Xingu, ultrapassando o Rio das Mortes. O primeiro posto-base da expedição, localizado às margens do Rio das Mortes, deu origem à atual cidade de Nova Xavantina, onde foi sediada a Fundação Brasil Central (FBC), criada no mesmo ano de 1943. A ideia era que a expedição Roncador-Xingu ocupasse vastas áreas do Araguaia e Xingu e atingisse Manaus. Os núcleos criados seriam ponta de lança para a colonização.

No “Vale do Sonhos”, tentou-se a colonização através de pequenos núcleos de colonos, o que fracassou pouco depois, como também fracassou o projeto global de colonização concebido então para a região. O principal motivo apontado refere-se aos litígios acerca do domínio das terras que, nessa parte do território, já se faziam manifestar: seja por estarem as terras ocupadas por garimpeiros - cerca de 30 mil concentravam-se na região; seja por constituírem-se de terras indígenas, como no caso das terras Xavantes, em que a tentativa de ocupação gerou vários conflitos e violências. Em efeito, essa primeira tentativa oficial de colonização das terras mato-grossenses não representou praticamente nenhuma alteração significativa no processo de ocupação populacional.

Em 1940, registrava-se 192.531 habitantes no estado de Mato Grosso, ou seja, 15,39% da região Centro-Oeste e 0,46% do total nacional. No período de 1940/1950, Mato Grosso apresentou a menor taxa de crescimento populacional da região, ou seja, 0,96% a.a.

A partir de 1950 houve uma importante redefinição da política governamental de ocupação e colonização de Mato Grosso e da região centro-oeste. Esta política, agora explicitamente, objetivava a absorção dos excedentes populacionais de outras regiões brasileiras, fazendo uso de uma nova estratégia na destinação das terras: parte à colonização pública e parte à colonização privada.

No decorrer das décadas de 50 e 60 foram parcialmente implantadas 29 colônias oficiais, ocupando um total de 400.668 ha., cerca de 0,32% da superfície do antigo Estado de Mato Grosso. Com exceção da colônia Rio Branco, com área de 200.000 ha., as demais constituíam-se de glebas inferiores a 500 ha. (75% destas) ou inferiores a 1.000 ha. (25% do total). Segundo os dados oficiais, foram retalhadas 8.739 parcelas, com lotes variando entre 10 e 15 ha., que acolheram 68.920 colonos.

Vários registros foram feitos sobre as dificuldades vivenciadas por estes colonos e suas precárias condições de vida e de trabalho. Provavelmente amparadas nestas constatações, a maior parte das avaliações feitas do processo de colonização oficial concluem pelo “insucesso” da mesma, já que o Estado não conseguiu atender sequer às exigências mínimas e promessas relativas à infraestrutura das “colônias”, tais como: a construção de estradas de acesso às áreas e vias de circulação interna nos projetos; a disponibilização de serviços de educação e de saúde; além de não proporcionar assistência técnica aos colonos e financiamento à produção.

No que se refere à colonização particular ou privada, foram celebrados contratos em áreas médias de 200.000 ha. Também nesse caso, as análises concluem que o processo de colonização não obteve êxito. Da mesma forma, alegam como principal motivo o fato de que as empresas concessionárias, embora tendo adquirido terras tituladas pelo Estado em condições especiais, não cumpriram os compromissos assumidos, notadamente quanto à implantação de infraestrutura social e econômica, como previam os contratos. Além disso, as irregularidades ocorridas nas transações de venda de terras a particulares, realizadas inclusive pelas próprias instituições do Estado, também são consideradas entraves ao êxito do projeto de colonização da época. Em ambos os casos, colonização pública ou privada, o fracasso dos projetos é avaliado por resultados (ou pela ausência deles) que pressupõem que a política de colonização dos anos 50-60 tivesse como objetivo precípuo a promoção do desenvolvimento dos projetos e dos colonos, da agricultura familiar e do mercado interno. No entanto, se esse objetivo de colonização era explicitado a nível do discurso, não expressava a finalidade prioritária da política governamental, nem poderia sustentar-se nas condições objetivas de desenvolvimento da sociedade e economia da época.

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Conforme descrito anteriormente, todo o esforço realizado a nível dos investimentos públicos dirigiu-se à sustentação do processo de industrialização concentrado no eixo urbano Rio-São Paulo, restando à agricultura uma dinamização específica, mas apenas derivada das demandas particulares do processo de industrialização emergente. Inicialmente, num contexto de desenvolvimento “fechado” e de urbanização crescente, é certo que a agricultura tradicional adquire um papel primordial, tanto pela sua atividade inerente de produção de alimentos, como pela contenção/redução do custo de reprodução da força de trabalho. Assim, a pressão pelo aumento da oferta de alimentos - agricultura de subsistência - vai repercutir prioritariamente na incorporação de novas áreas, dada a abundância de terras inexploradas no país.

Nos anos 1940/50, o chamado “esgotamento da fronteira agrícola”, nas áreas antigas de ocupação do país, referia-se sobretudo à questão da apropriação da terra, via instrumento jurídico da propriedade privada, e não a um pretenso esgotamento em termos de utilização produtiva e/ou de acréscimos de produtividade. Assim, a dimensão do processo de incorporação de novas terras ao processo produtivo foi tal, que a participação do número de estabelecimentos agropecuários na área total do território nacional mais do que duplicou, no período de 1940 a 1960 (21,5% e 43,5%, respectivamente). Mas o fato é que, a expansão da fronteira agropecuária nos anos 50 ocorreu em áreas próximas ao núcleo dinâmico da economia nacional, estendendo-se por terras do Paraná; em Minas Gerais, na região do chamado Triângulo Mineiro; no Oeste Paulista e no Rio Grande do Sul.

Na região Centro-Oeste esse avanço só viria a ocorrer, pelo menos, uma década mais tarde, concentrando-se predominantemente na porção sul dos estados de Goiás e Mato Grosso do Sul. Nessas áreas, a disponibilidade de terras baratas favoreceu a ocupação com pecuária, o que ocorreu através da implantação de projetos de colonização privada, promovidos pelos frigoríficos da região Sudeste. Espacialmente, verificava-se a ocorrência de algumas regiões ocupadas com pastagens, enquanto sua maior extensão territorial permanecia desocupada e à margem do processo produtivo.

A incorporação da região Centro-Oeste ao espaço econômico nacional, no período em questão, ocorreu sobretudo a partir da transferência da Capital Federal para o Planalto Central, quando reforçam-se também os investimentos governamentais em infraestrutura viária (rodovia Belém-Brasília, abertura das BR-364, BR-163) e implementaram-se programas de ocupação e colonização na região. Ainda assim, essa ocupação e expansão populacional, a nível da região, não se deu uniformemente no espaço e tempo: inicialmente, no estado de Goiás (até 1970, detinha 50% da população regional) e em Mato Grosso do Sul e, a partir da década de setenta, também no estado de Mato Grosso. Certamente, a contribuição da região Centro-Oeste ao processo de industrialização nacional do período 1950-70, não foi nem uma importante absorção de excedentes migratórios originados do Sul-Sudeste, nem uma significativa participação na oferta de alimentos para esses mercados.

A grande contribuição foi dada no sentido de que a abertura desses novos espaços, através da infraestrutura rodoviária disponibilizada pelo Estado, permitiu colocar no mercado nacional um grande volume de terras a preços baixos, refreando, assim, o processo em curso, de supervalorização nas áreas de ocupação antiga e o repasse disto aos preços dos produtos alimentares - basicamente no setor produtor de carnes.

Nestes termos, a colocação das terras mato-grossenses, dentre outras, no mercado nacional, quando o próprio Estado - regional e nacional - ainda desconhecia seus domínios, apenas contribuiu para agudizar o já tumultuado processo de ocupação do meio rural, dando ampla margem à especulação, à fraude e à violência. Nas décadas de 50 e 60, grandes fatias do território foram praticamente distribuídas a grupos locais e nacionais, através da expedição de falsos títulos de propriedade, emitidos inclusive pelo próprio Departamento de Terras do estado, burlando a própria lei que limitava a extensão das terras adquiridas.

O volume de irregularidades foi tal, que o Estado, em 1966, reconhecendo a fraude ostensiva nas transações imobiliárias e a perda total do controle da situação, foi obrigado a fechar o Departamento de Terras e Colonização, passando o controle das vendas para a guarda dos Cartórios de Fé Pública. A partir de então, os negócios ilícitos de terra se acentuam - generalizando-se as vendas de Títulos Provisórios, das posses lícitas e ilícitas - e a burla à lei fica facilitada, principalmente, através de procurações que estabelecem e substabelecem direitos para a venda de terras de terceiros. Note-se ainda que, no caso dos projetos de colonização oficial, houve uma grande permissividade, por parte do Estado, no sentido de facilitar a migração dos colonos para outros projetos ou para centros urbanos, favorecendo aos mesmos, tanto a aquisição de novos lotes em outros núcleos de colonização, como a devolução ao Estado das parcelas adquiridas. Assim, os primeiros colonos de Dourados foram os de Rondonópolis, sendo que parte deles também desbravou as glebas da região de Cáceres e parte seguiu para o Território de Rondônia e Estado do Acre.

Portanto, a lógica subjacente da política de ocupação dos anos 1940/50, via colonização, não era outra senão a de criar as condições materiais e não materiais - abertura de estradas, reserva de mão de obra, propriedade privada da terra como reserva de

valor etc. - para a apropriação do espaço pelo capital agrário, comercial e financeiro. Nestes termos, o projeto de colonização oficial foi bem sucedido, embora apresentasse tímidos resultados em termos de ocupação e promoção do desenvolvimento rural na região.

PLANEJAMENTO ESTATAL – REGIME MILITAR – DÉCADA DE 60 E 70 OS AGENTES DA FRONTEIRA: ESTADO E EMPRESARIADO PRIVADO

O projeto de integração nacional, que orientou a intervenção governamental pós anos 60, assumiu, na década de 70, sua forma mais elaborada, manifestando-se no esforço de dotar o Estado Nacional de uma máquina administrativa centralizada, bem como garantir mecanismos fiscais e financeiros que o capacitassem a abrir fronteiras de acumulação, a serem ocupadas através de ajustes negociados entre empresas estatais, multinacionais e nacionais (o “tripé” da economia nacional).

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O planejamento da intervenção estatal assume um papel estratégico na condução do processo, durante toda a década de setenta, desdobrando-se em múltiplos planos setoriais e regionais de desenvolvimento. A dinamização do setor industrial, induzida pelo Estado (pós reforma fiscal de 1966), conduziu a economia nacional a um novo ciclo de expansão, o qual revela-se através de dois períodos distintos: o primeiro representa o auge da fase iniciada no final da década (1968), quando se inicia um maciço bloco de investimentos na indústria de bens de capital; estende-se até 1973, quando ocorre o choque do petróleo. Esta fase é conhecida pela denominação ufanista de “milagre brasileiro”; o segundo, que vai até o final da década de setenta, procurou consolidar a indústria mecânica de bens de capital e a de insumos estratégicos, energia, química e metais não-ferrosos, principalmente alumínio.

Esse segundo período de expansão corresponde a uma redução gradativa do ritmo de produção corrente industrial e, concomitantemente, a uma expansão planejada e estimulada pelo Estado do setor de bens de produção, especialmente insumos industriais (II PND, 1974 - 1979).

A integração produtiva, que marca os anos 70, acelerou o processo de desenvolvimento da atividade industrial no território nacional. Com a consolidação do núcleo industrial pesado no Sudeste, foi possível às grandes empresas mobilizar recursos, com forte apoio do Estado, para a implantação de novas localizações na periferia, principalmente no que diz respeito a indústria de bens intermediários (siderurgia, metalurgia de não-ferrosos, química e petroquímica).

Nesse contexto, foram objeto de atenção especial pelo Estado tanto as obras de infraestrutura viária, integrando o Centro-Oeste e a Amazônia ao centro hegemônico do capital nacional, como a tomada de decisões estratégicas, muitas delas corporificadas no I e II PND, na forma de políticas de incentivo à ocupação de terras e de estímulos ao desenvolvimento regional, via legislação de incentivos fiscais, além da implementação de programas e projetos de desenvolvimento, especialmente formulados

para essas regiões. Logo em 1970 é criado o Programa de Integração Nacional (PIN), que

tinha como objetivo intensificar a ocupação da Amazônia Legal, a qual engloba parcela significativa do território do Centro-Oeste. Entre seus instrumentos estavam a promoção da colonização ao longo da Rodovia Transamazônica - recém aberta, a distribuição de terras públicas e a concessão de incentivos fiscais a investimentos e investidores na região. O referido programa teve rebatimento em Mato Grosso através da construção da BR-364, entre Cuiabá e Porto Velho, e da BR-163, entre Cuiabá e Santarém, que permitiram a expansão de frentes agropecuárias no norte do Centro-Oeste.

Até então, as políticas de desenvolvimento para a Amazônia direcionavam-se a projetos específicos de interesse de oligarquias locais, como o de recuperação da atividade extrativa da borracha, em total desacordo com os interesses do Centro-Sul, pois a indústria nacional importava a borracha a preços mais baixos do que os preços daquela produzida internamente. Numa época em que o êxodo rural era intenso, provocado pela industrialização da agricultura do Sul-Sudeste (modernização conservadora), além da forte pressão sobre a terra e sobre o incremento da oferta de alimentos, o Estado muda radicalmente a política de desenvolvimento para a Amazônia: propõe o povoamento racional da região, canalizando as correntes migratórias internas, oriundas do Nordeste e do

Centro-Sul, com o objetivo de ocupar os espaços “vazios” e garantindo a interligação da região com o resto do país. Ao mesmo tempo, reformula a legislação dos incentivos fiscais, facilitando sua obtenção por investidores nacionais e estrangeiros. Instituições criadas no contexto das políticas protecionistas anteriores – SUDAM, BASA, SUDECO – passaram a ser os organismos executores básicos deste propósito.

Explicita-se, assim, a extensão da associação entre o Estado e o capital nacional e estrangeiro, este último passando a receber os mesmos incentivos oferecidos ao primeiro. Com a abertura das estradas, a frente agrícola foi deslocada para os eixos Cuiabá/Santarém, Cuiabá/Porto Velho, Porto Velho/Manaus, o que foi facilitado pela liberação, por parte do Estado Nacional, da faixa de terra de cem quilômetros em ambas as margens das rodovias federais, recém incorporada aos seus domínios.

O instrumento principal para a ocupação foi o “Programa de Colonização Dirigida”, que se propunha a assentar, até 1980, um milhão de famílias na Amazônia. Ainda que os resultados não tenham atingido as metas propostas, este Programa abriu uma dimensão nova para a política de reordenamento da ocupação territorial no país, desta feita, absorvendo enormes contingentes populacionais expulsos do meio rural das regiões sul, sudeste e nordeste. Disto resultou, na década de 70, um crescimento populacional do Centro-Oeste (46%) muito mais elevado que o do país (26%). No entanto, a ação do Estado não acompanhou o volume e a pressão dos fluxos migratórios e, menos ainda, a demanda de terra imposta pela colonização não dirigida. Sua participação limitou-se, nesse primeiro momento, a abrir o espaço para a ocupação da Amazônia, através da aplicação na região de elevados montantes de capital, seja na implantação de infraestrutura, seja através de financiamento de projetos agropecuários e do setor mineral, beneficiando empresas com programas especiais de Crédito e Incentivos Fiscais.

Até 1977, quando ocorre a divisão político-administrativa e o desmembramento da porção sul do território, originando o estado de Mato Grosso do Sul, o INCRA apenas acompanhou os projetos de colonização privada, não tendo implantado nenhum projeto de colonização oficial no estado de Mato Grosso. O governo estadual, por sua vez, mantendo fechado o departamento de terras do Estado, de 1966 até 1979, não exerceu nenhum controle sobre a sua situação fundiária. Somente em 1978, começam a ser implantados os Projetos de Assentamento Conjunto (PAC’s), que pretendiam somar as experiências e recursos do órgão colonizador oficial (INCRA) e aquelas da iniciativa privada (Cooperativas). Os objetivos preconizados pelo INCRA para estes projetos eram:

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• Proporcionar ao colono acesso à propriedade de um lote rural através do crédito fundiário, integrando-o a um projeto de colonização que assegurasse as condições mínimas de infraestrutura física, social e econômica, necessárias para a exploração agrícola e para garantia de condições de subsistência da família, bem como sua promoção social e econômica;

• Aliviar as tensões sociais e políticas nos estados sulinos;

• Agilizar a desocupação de reservas indígenas no sul do país e em Mato Grosso;

• Promover e agilizar o processo de povoamento dos grandes “vazios demográficos” da Amazônia mato-grossense, com a ocupação do território através de programas de colonização, ordenando o fluxo migratório;

• Promover e acelerar o desenvolvimento social e econômico da Amazônia.

As transformações engendradas, nesta época, na estrutura socioeconômica do estado de Mato Grosso e que vão marcar o desenvolvimento da agricultura até os dias atuais, só puderam realizar-se pela conjunção de ações planejadas do Estado, onde se inclui o processo de colonização, que atraiu grandes fluxos migratórios e as políticas governamentais de desenvolvimento, que propiciaram o necessário aporte de capitais à região.

No contexto do Projeto de Integração Nacional, o II PND (l975/79) explicita de forma clara, através de seus Programas Especiais, como POLAMAZÔNIA e POLOCENTRO o projeto de desenvolvimento concebido para a Amazônia e região Centro-Oeste. Este projeto também se manifesta através do “Programa de Desenvolvimento dos Cerrados”, “Corredores de exportação” e pelo apoio a projetos de colonização privada. As empresas de colonização, para estimular a atração de agricultores do sul do país, recorriam a uma linha de crédito com recursos provenientes do Proterra, possibilitando a aquisição de áreas pelos agricultores e a sua utilização no cultivo da soja.

• O POLAMAZÔNIA (1974) teve como objetivo promover o aproveitamento integrado das potencialidades agropecuárias, agroindustriais, florestais e minerais, em áreas prioritárias da Amazônia. Cinco delas localizavam-se na área de atuação da Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste (SUDECO), envolvendo Mato Grosso, além de Rondônia e Goiás. Paralelamente, o Programa apresentava uma intenção de preservação dos recursos naturais, desde que esta fosse compatível com os objetivos imediatos de exploração intensiva.

• O POLOCENTRO (1975) visava propiciar a ocupação racional e ordenada de áreas selecionadas do cerrado para expandir a fronteira agrícola. De 1975 a 1979, pretendia-se incorporar à produção 3 milhões ha., dos quais 1,8 milhão com lavoura e mais 700 mil com reflorestamento. Particularmente este programa produziu um grande impacto no avanço da fronteira, não somente pela extensão de área atingida, mas porque orientou investimentos de maneira integrada. Promoveu diretamente a incorporação de cerca de 2,5 milhões de ha, especialmente soja e pastagens.

Pelas metas programadas, a região Centro-Oeste deveria participar com 5% do PI B nacional até o fim da década de 70, contra 3,7% em 1974, e expandir o nível de emprego, elevando o coeficiente médio de utilização da força de trabalho para 50%. Projetava-se ainda expandir os equipamentos urbanos e promover o progresso social e a distribuição de renda, a fim de que um mínimo de 6% da população alcançasse um nível de renda per capita igual ou superior à média regional. Uma avaliação rigorosa dos resultados destes programas revela-se difícil, uma vez que nem todos evidenciaram o mesmo ritmo de continuidade e de aporte de recursos. Os elementos contidos nos planos oficiais de desenvolvimento são extremamente genéricos, e as avaliações

efetuadas até hoje apenas permitem destacar os seguintes aspectos:

• A falta de critérios para a escolha de áreas beneficiadas e projetos aprovados. Embora estes se refiram a uma exploração “racional”, não existe definição clara do que isto vem a significar;

• A inexistência de um planejamento integrado para os projetos, seja no plano espacial, seja pela ausência de um planejamento plurianual. As aplicações realizadas acabaram por servir à suplementação dos orçamentos estaduais, orientados, na melhor das hipóteses, para realizações de médio prazo. O impacto gerado pelo conjunto dos investimentos realizados acabou sendo reduzido, justamente pela atomização dos projetos;

• A falta de coordenação entre os diversos ministérios que intervêm na execução dos projetos, provocando indefinições no relacionamento entre Governo Federal e Estados e entre organismos estaduais e federais; Essa falta de coordenação impede, ainda, a existência de parâmetros homogêneos de avaliação dos projetos por parte dos órgãos responsáveis. Neste sentido, uma das principais conclusões da análise de diversos relatórios oficiais é que os projetos perderam suas características enquanto programas de desenvolvimento regional, transformando-se em fundos de investimento para os Estados.

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Somente em outubro de 1985, a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia - SUDAM efetuou levantamento da situação destes projetos, para o período 1964/85, mesmo assim, por amostragem de 10% do total de 952 projetos. Deste total, 581 referiam-se a projetos agropecuários beneficiados com incentivos fiscais pelo Governo, envolvendo fazendas cujo tamanho variava de 3.000 a mais de 300.000 ha (área média de 15.600 ha), assim localizadas: 210 no Pará, 208 em Mato Grosso e 163 em outros estados da Amazônia Legal. Todos os projetos agropecuários cobriam uma área total de 9 milhões de hectares, dos quais 4 milhões eram destinados a pastagens, que deveriam abrigar um rebanho de 6,18 milhões de cabeças.

Até hoje, contudo, desconhecem-se os resultados logrados por estes investimentos em termos de emprego, geração de riquezas e melhoria da qualidade de vida da população deles participante. Estas informações não constam dos números compilados pelo governo nas suas diversas agências de desenvolvimento, nem pela iniciativa privada, que também os desconhece. Informações publicadas pela imprensa nesse período, estimava, a preços da época, em aproximadamente US$ 230 milhões os investimentos realizados e incentivos aprovados pela SUDAM, ressalvando-se que o número seria cinco vezes inferior ao valor nominal dos projetos, cuja maioria foi aprovada em meados da década de 70, quando os incentivos correspondiam a descontos de 50% do imposto de renda.

Os resultados verificados ficaram aquém das expectativas iniciais dos projetos, sendo o rebanho estimado em pouco mais de 2 milhões de cabeças (praticamente três vezes menor que o esperado), enquanto as pastagens atingiram metade dos 4 milhões de hectares previstos. Além disso, foi estimado que, do total de empresários que receberam estes recursos, pelo menos 20% agiram de má fé, enquanto outros 20% não conseguiram atingir as metas fixadas, seja por incompetência, seja por encontrar dificuldades maiores do que esperavam. Um bom número de empresários consideravam que estas perdas representavam o custo que o país devia pagar para desbravar uma região como a Amazônia.

Na verdade, concretizava-se o pacto estabelecido entre o Estado e o empresariado nacional e internacional: ao Estado, cabia facilitar a atuação do setor privado, promovendo o investimento em infraestrutura, pesquisa e planejamento e criando mecanismos de incentivo e subsídios. À iniciativa privada, cabia a condução concreta do processo de ocupação, o qual se fez através da implantação da grande empresa. A preferência por estes empresários na concessão de incentivos fiscais para o desenvolvimento da pecuária, na Amazônia, e para a produção de grãos, nos cerrados, definiu o processo de ocupação da região. As culturas "modernas" introduzidas no Centro-Oeste, aí incluídas a exploração da soja, milho e arroz, tiveram um rápido crescimento no período, amparadas por instrumentos da política agrícola que incentivavam a utilização dos "insumos modernos" e a motomecanizarão das atividades no manejo dessas culturas (a área cultivada da soja cresce 547%, no período 1970-1979). Dentre os instrumentos de política acionados pelo Estado, a partir de 1965, tem-se:

• a política dos preços mínimos, ligada a ajustes de curto prazo, no sentido de antecipações e à garantia do preço de equilíbrio oferta-demanda na época da safra, foi um instrumento importante para a região. O governo comprava os excedentes por meio de contratos de Aquisição do Governo Federal (AGF) ou financiava a comercialização via contratos de Empréstimo do Governo Federal (EGF). Particularmente no caso da soja, esta última modalidade foi utilizada como fonte alternativa de financiamentos de estoque de comercialização, principalmente no caso de grandes produtores e cooperativas.

• crédito agrícola (investimento, custeio e comercialização) que, por incorporar um subsídio implícito e extremamente concentrado espacial e empresarialmente, quase não foi utilizado para incentivar a produção agropecuária da região Centro-Oeste, nessa época.

• a pesquisa e extensão rural, cuja atuação era ainda frágil para contribuir efetivamente para o aumento dos níveis de produtividade, foram paulatinamente sendo adaptadas às novas circunstâncias do desenvolvimento agropecuário, no sentido da transferência da tecnologia “moderna” aos agricultores. De maneira associada, a industrialização de fertilizantes, defensivos e máquinas agrícolas acompanhou esse processo, recebendo incentivos fiscais e creditícios para instalação de novas unidades, ainda que direcionadas para o Sudeste.

Apesar dos grandiosos projetos implantados na Amazônia e na região dos cerrados, ou justamente a partir deles, a década de 1980 inicia-se sob condições econômicas fortemente desfavoráveis, a saber: recessão interna, interrupção dos financiamentos externos, agravamento do déficit público, queda dos preços internacionais das commodities e dos produtos agroindustriais exportados pelo país. Neste contexto de recessão econômica nacional, a intervenção do INCRA sobre o processo de ocupação do Mato Grosso só pode ser mais efetiva, graças aos recursos aportados pelo POLONOROESTE (PNO).

• Polonoroeste, Instituído em 1981, numa ação conjunta entre o Governo Brasileiro e o Banco Mundial, o PNO tinha como

objetivo maior promover o reordenamento da ocupação territorial, ocorrido de forma intensa durante toda a década de setenta, assim como estimular o desenvolvimento da região noroeste do Brasil, através do apoio às atividades produtivas e da ampliação da infraestrutura social e econômica. Sua área de atuação eram os estados de Rondônia e Mato Grosso, com uma duração prevista de execução para o período 1981/1986.

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No caso de Mato Grosso, os 14 municípios abrangidos pelo programa eram considerados área de influência direta da BR-364. O Banco Mundial participaria com 34% dos recursos totais, avaliados em US$ 1,55 bilhão (do restante, 43% eram financiados com recursos próprios das entidades executoras estaduais e nacionais e 23% com fundos especiais de desenvolvimento nacional). No transcorrer do programa, a composição alterou-se e o BIRD arcou com uma participação maior do que a prevista inicialmente, além de ter sido prolongada a execução do programa até 1989.

O POLONOROESTE foi concebido exatamente como uma tentativa de dar um caráter mais integrado às intervenções de planejamento na região. Nestes termos, seis intervenções inter-relacionadas foram previstas:

• Reconstrução e pavimentação da BR 364, construída desde o fim da década de 60, ligando Cuiabá a Porto Velho;

• Construção e consolidação da malha de estradas secundárias e alimentadoras;

• Implantação e consolidação de projetos integrados de colonização (PIC), em Mato Grosso e projetos de Assentamento Dirigido (PAD), em Rondônia;

• Execução de serviços de regularização fundiária no Estado de Mato Grosso;

• Apoio às atividades agrícolas, agroindustriais e florestais, além de fornecimento de serviços sociais e infraestrutura para comunidades de pequenos produtores; e

• Proteção ambiental (com metas de preservação de 2 milhões ha de parques naturais) e apoio às comunidades indígenas.

• O apoio ao setor produtivo (agricultura familiar) incluía desde linhas de crédito, infraestrutura de armazenamento e comercialização, até apoio à pesquisa e serviços de assistência técnica e extensão rural.

Com isso, esperava-se o fortalecimento da agricultura de alimentos, estruturando uma redistribuição fundiária com grande participação da pequena propriedade e com níveis de renda que viabilizassem sua reprodução; aumento de produtividade agrícola mediante utilização de técnicas conservacionistas; escoamento mais fácil e competitividade da produção, graças à implementação da malha viária. No entanto, as avaliações do POLONOROESTE constataram uma situação bastante diversa daquela esperada com a implementação de um projeto de desenvolvimento rural integrado para a região. Problemas Fundiários

O asfaltamento da BR-364 facilitou o acesso, para Mato Grosso e Rondônia, de novos contingentes populacionais, oriundos de vários estados brasileiros, mas principalmente daqueles onde o processo de “modernização” da agricultura era mais intenso (São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Bahia). O elevado número de migrantes superou em muito as previsões oficiais e tornou ainda mais insuficientes os recursos disponíveis para assentamento e fixação dos produtores beneficiários do projeto. As cidades absorveram parte do excedente migratório e, no campo, observou-se o crescimento de conflitos pela posse da terra, invasão de áreas indígenas e reservas florestais. Particularmente em Mato Grosso, onde instalara-se o caos na situação fundiária, pela produção de títulos de propriedade em condições ilegítimas e ilegais, as precárias ações de regularização fundiária, no contexto do PNO, implicaram no agravamento das situações de conflito e de falta de garantias nas transações imobiliárias, com repercussões diretas sobre médios e pequenos produtores, impossibilitados de ter acesso às linhas de crédito oficiais.

Por outro lado, a forte valorização fundiária provocada pelo asfaltamento da BR-364, contribuiu para que determinados segmentos sociais exercessem forte pressão sobre o Estado, no sentido de promover a regularização de suas terras. Neste período, a ação do Instituto de Terras centrou-se na regularização de grandes áreas, diluindo o já duvidoso patrimônio das terras devolutas do estado.

Mesmo em relação às obras de infraestrutura (escolas e serviços de saúde), observaram-se falhas evidentes, principalmente em termos do seu inadequado dimensionamento e/ou má localização. Neste caso incluem-se também algumas estradas vicinais, pela localização em benefício apenas de grandes fazendeiros, ou pela inviabilidade apresentada, nas épocas de chuva, em servir ao escoamento da produção agrícola.

A construção de prédios, para o armazenamento de grãos, resultou em elevada capacidade ociosa, dada sua má localização, ou dadas as alterações ocorridas no perfil produtivo de determinadas regiões. Em algumas delas, como Tangará da Serra e Barra do Bugre, o avanço da soja e da cana-de-açúcar, com a instalação de usinas de álcool, provocou um êxodo rural importante; em outras, ocorreu uma clara substituição da agricultura pela pecuária de corte, enquanto a produção de gêneros alimentícios distanciava-se da infraestrutura implantada, onerando custos de transporte e propiciando o uso predatório dos recursos naturais.

A eletrificação rural evidenciou uma média de ligações muito baixa por quilômetro, já que a energia foi muito mais utilizada para iluminação de uso doméstico e raramente como insumo produtivo (irrigação, movimentação de máquinas). Na maioria dos projetos de colonização, usa-se ainda geradores de energia acionados por óleo diesel, por curtos espaços de tempo, dado o elevado custo do produto.

No tocante ao componente saúde, a mais eloquente constatação, segundo Informações do Banco mundial, diz respeito ao aumento da incidência de malária na região, na década de 80. Em 1987, o estado de Rondônia era responsável por 45% de todos os casos de malária registrados no Brasil, enquanto esse percentual era de 25% nos anos anteriores (4). Sem a contrapartida de instrumentos que viabilizassem a fixação dos produtores nos seus lotes (crédito, assistência técnica e comercialização), a tendência à concentração da propriedade da terra foi marcante. Embora legalmente impedidos de comercializar o lote, os produtores assim o faziam com o objetivo de obter renda, dada a dificuldade de gerar lucros, via produção. O crescimento da pecuária extensiva, como desdobramento natural desse processo, teve conseqüências visíveis sobre o meio ambiente e estrutura fundiária.

Ademais, todas essas formas de benfeitorias implantadas favoreceram aumentos nos preços da terra, estimulando surtos especulativos que pouca relação guardam com o real valor da produção econômica. Também o segmento de proteção ao meio ambiente apresentou resultados aquém dos esperados. Mais especificamente, não foi atingido o objetivo de harmonizar desenvolvimento rural e sistema ecológico. As culturas permanentes foram adotadas em menor escala que aquela prevista para preservação do solo. Além disso, a planejada cobertura verde da área não foi estabelecida, pois ocorreram invasões das reservas

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florestais, queimadas e desmatamentos ilegais. Os postos florestais, apesar de terem sido construídos em áreas estratégicas, apresentaram deficiência no provimento de pessoal e de serviços, necessários para a execução de atividades de vigilância.

Finalmente, em Mato Grosso como em Rondônia, foram constatadas dificuldades quanto à integração institucional que o programa exigia para a sua execução. Os interesses distintos das diversas esferas de competência (federal, estadual, municipal), bem como os atrasos na liberação de verbas, contribuíram sobremaneira para o descompasso entre os diversos segmentos e o não cumprimento das metas estabelecidas para cada um deles. Nestes termos, as avaliações realizadas ao final do programa apenas constataram o fato já esperado de que os investimentos em infraestrutura física (malha viária, edificações) absorveram a maior parte dos recursos e foram utilizados em tempo hábil. No caso do asfaltamento da BR-364, a conclusão da obra antecipou-se ao programado.

Os desequilíbrios gerados pelo insuficiente aporte de verbas para todos os demais componentes do projeto, tiveram conseqüências as mais diversas, no entanto, gerando um resultado comum, que foi o de internalizar no estado de Mato Grosso o modelo de desenvolvimento rural e o padrão concentrador do mesmo tipo que se verificava no setor agrícola, principalmente nas regiões Sul/Sudeste do país. No quadro de crise econômica e financeira, que persiste ao longo da década de oitenta, alteram-se os instrumentos de política oficial dotados na década anterior, resultando no incentivo às exportações (via política cambial), na restrição ao crédito e aos subsídios e na perda de eficácia da política de preços mínimos. Os rebatimentos destas mudanças sobre a agricultura induzem a adoção de uma nova estratégia para o seu desenvolvimento.

Tratava-se então de reorganizar a produção e o espaço rural, no sentido da implementação de complexos agroindustriais, integrando produtivamente esses setores e incentivando a verticalização da produção. Em outros termos, significava, principalmente, priorizar ganhos de produtividade no setor, ao invés da antiga fórmula de expansão da área plantada.

Em termos nacionais, o dinamismo na incorporação de novas áreas manteve-se apenas no Centro-Oeste, onde na mesma década foram incorporados mais 2,6 milhões de hectares, principalmente com a expansão da produção de grãos. Certamente para isto muito contribuiu a implantação da BR-163, no trecho que faz a ligação de Campo Grande com Cuiabá, seguindo em direção norte até a divisa com o Estado do Pará. Esta rodovia, gradativamente, teve um importante papel estruturador na agricultura regional, na medida em que acabou por propiciar a interiorização da produção agrícola para distâncias cada vez maiores, pois através duma combinação com terras baratas não deixou que os custos de transporte contribuíssem para reduzir significativamente a margem do produtor. No entorno desse eixo rodoviário, implantam-se as culturas de grãos, especialmente da soja, na segunda metade dos anos 80. Considerando-se apenas esta última, entre 1981/82 e 1988/89, sua produção quase que quadruplicou na região Centro-Oeste, passando de 2.495 mil para 8.019 mil toneladas, fazendo com que a região respondesse por 59% do incremento da área colhida de soja no País e por pouco mais da metade (52%) da expansão da produção nacional. Além disso, observou-se um aumento dos seus níveis de produtividade, passando de 1.820 para 2.095 kg/ha, superior à média nacional.

Esse processo trouxe como consequência uma forte diferenciação do espaço agrário regional. Nele convivem segmentos produtivos (lavoura temporária) com intenso processo de capitalização e acentuados investimentos em máquinas e insumos químicos, com segmentos voltados à pecuária extensiva, com reduzidas taxas de lotação do rebanho e inexpressivas parcelas de pastagens plantadas. Ao analisar a incorporação da região Centro-Oeste ao processo da produção nacional é que a avaliação da Fundação IBGE (6) conclui que as metas de ampliação do espaço produtivo, estabelecidas na década de 70, com os PNDs foram alcançadas.

Entre 1975 e 1980 foram anexados ao processo produtivo 21.375 mil hectares. Destes, 13.735 mil são de Mato Grosso, o Estado que passou por maiores transformações na região, pois, agora “dotado de infraestrutura rodoviária, cumpre suas funções atuais como área produtora de produtos primários para exportação, escoando seus produtos aos portos do Atlântico através de verdadeiros corredores de exportação”. Por isso, o Centro-Oeste deixou de ser, na década de 80, a região natural definida pelo IBGE em 1941. Não é mais, também, a região definida no fim da década de 60, como um espaço de transição entre o Sudeste e a Amazônia. Na década de 80 integrou-se ao sistema econômico nacional, com especialização regional e reivindicando uma redefinição de suas funções, na divisão inter-regional do trabalho do País.

Aspectos político-administrativos; As mesorregiões de Mato Grosso

• Mesorregião é uma subdivisão dos estados brasileiros que congrega diversos municípios de uma área geográfica com similaridades econômicas e sociais. Foi criada pelo IBGE e é utilizada para fins estatísticos e não constitui, portanto, uma entidade política ou administrativa.

• Microrregião é, de acordo com a Constituição brasileira de 1988, um agrupamento de municípios limítrofes. Sua finalidade é integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum, definidas por lei complementar estadual. O termo é muito mais conhecido em função de seu uso prático pelo IBGE que, para fins estatísticos e com base em similaridades econômicas e sociais,

• Atualmente Mato Grosso possui 141 (www.seplan.mt.gov.br) municípios distribuído em 22 microrregião homogêneas

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Mesorregião Norte Mato Grossense Características gerais:

• É formada por 8 microrregião, sendo a maior a de Aripuanã: Juína, Aripuanã, Brasnorte, Castanheira, Cotriguaçu, Juruena, Colniza e Rondolândia

• O Norte Mato Grossense é formado por 55 município agrupado em 8 microrregião.

• O maior polo urbano é o município de Sinop, 4º mais populoso de Mato Grosso

• Essa região sofreu um intenso processo de ocupação nas décadas de 70/80 efetivada através de programas de Colonização coordenados pelo INCRA e por empresas particulares.

• O modelo de desenvolvimento adotado foi o mesmo do sul do Brasil, em que a floresta é desmatada para dar lugar a agricultura e a pecuária.

• Nessa área predomina a exploração madeireira , onde se localizam os municípios com o maior número de indústria madeireira como é o caso de SINOP.

• Possuía uma população de 819.638 habitantes em 2005

Sudoeste Mato Grossense • Boa parte desta mesorregião está situada no

Vale do Guaporé, área de ocupação antiga, onde se encontra a primeira capital de Mato Grosso, que atraí turista devido ao valor histórico de suas ruinas e pelas belezas das cachoeiras e festejos populares.

• Nas bordas da Chapada dos Parecis desenvolve agricultura comercial (Cana-de-açúcar , arroz e algodão) e a pecuária de corte e leiteira, além da presença de frigoríficos e usinas de álcool.

• Tangará da Serra é o principal polo econômico da região.

• É formada pela união de 22 municípios agrupados em três microrregiões.

• Possuía uma população de 306.761 habitantes em 2005

Nordeste Mato Grossense • A maioria dos municípios desta mesorregião

foram criados após a década de 1970 , surgiram a partir de projetos de colonização em áreas de chapadões de topografia plana onde ocorre a transição entre os Cerrados e a floresta Amazônica

• As atividades mais importantes estão ligadas a agricultura diversificada (seringueira) e a pecuária de corte e leiteira

• Barra do Garça é o principal polo regional desta mesorregião onde se destacam a pecuária, o turismo e a indústria.

• A mesorregião do Nordeste Mato-Grossense é formada pela união de 25 municípios agrupados em três microrregiões: Canarana, Médio Araguaia e Norte Araguaia.

• Possuía uma população de 819.638 habitantes em 2005

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Sudeste Mato Grossense • Foi a região que passou que passou pelo mais

acelerado processo de ocupação entre as décadas de 60 e 70, em áreas de planalto onde predomina os cerrados

• Tem como centro polarizador da economia regional a cidade de Rondonópolis que abriga um distrito industrial de porte considerável.

• Na agropecuária, se destacam técnicas modernas na produção agrícola (soja , cana-de-açúcar e algodão) e na pecuária de corte e leiteira .

• A região é líder na produção de algodão no Estado de Mato Grosso.

• É formada pela união de 22 municípios agrupados em quatro microrregiões.

• As microrregiões são: Rondonópolis, Alto Araguaia, Tesouro e Primavera do Leste

• Possuía uma população de 405.186 habitantes em 2005

Centro- Sul Mato Grossense • Está situada na Depressão Cuiabana e do

Pantanal Mato Grossense, onde se encontram municípios cuja origem está ligada a exploração de ouro nos primórdios da ocupação do Estado, destacando-se a capital Cuiabá, que polariza as atividades econômicas através do seu setor terciário (comércio) e de atividades industriais.

• Muitos municípios ainda tem como atividade econômica o garimpo, porém a agricultura diversificada é cada vez maior.

• Os municípios pantaneiros destacam-se na pecuária extensiva , turismo e a pesca comercial.

• É formada pela união de dezessete municípios agrupados em quatro microrregiões.

• As microrregiões são: Alto Pantanal, Alto Paraguai, Rosário Oeste e Cuiabá

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4. Aspectos físicos e domínios naturais do espaço Mato-grossense; Relevo

Pela classificação de Ross (1996), descrita por Vasconcelos (2005), o relevo do Estado de Mato Grosso apresenta três tipos de unidades geomorfológicas que refletem suas gêneses:

• os planaltos, as depressões e as planícies, compartimentadas em subunidades; assim, os planaltos foram identificados em três grandes categorias: planaltos em bacias sedimentares, em intrusões e coberturas residuais de plataforma em cinturões orogênicos; as depressões e as planícies foram identificadas conforme denominações geográficas regionais. 1. Planaltos em bacias sedimentares – Os Planaltos em bacias sedimentares são quase inteiramente circundados por depressões marginais. Essas unidades também se caracterizam por apresentar nos contatos relevos escarpados em relação às depressões que os circundam, ou estão embutidas em seu interior. Em Mato Grosso, foram identificados o Planalto e Chapada dos Parecis, o Planalto e Chapada dos Guimarães e o Planalto dos Alcantilados-Alto Araguaia.

Esses planaltos integram o planalto central brasileiro, onde ocorreu extensiva substituição da cobertura vegetal original de cerrados pela agricultura tecnificada, com elevada especialização produtiva e predominância do cultivo de grãos nos chapadões. As bordas das Chapadas caracterizam-se pela beleza cênica da paisagem, com alto potencial para o turismo.

2. Planaltos em intrusões e coberturas residuais de plataforma – Estas unidades não se constituem exclusivamente por

coberturas sedimentares residuais de diversos ciclos erosivos, mas também por um pontilhado de serras e morros isolados, associados às intrusões graníticas, derrames vulcânicos antigos e de dobramentos com ou sem metamorfismo, todas formações datadas do Pré-Cambriano Inferior a Superior. Esta unidade em Mato Grosso foi subcompartimentada em Planaltos e Serras Residuais do Norte de Mato Grosso e Planaltos e Serras Residuais do Guaporé-Jauru.

3. Planaltos em cinturões Orogênicos – Os planaltos que ocorrem nas faixas de orogenia ou dobramentos antigos correspondem

aos relevos residuais sustentados por diversos tipos de rochas, quase sempre metamórficas associadas a intrusivas. Em Mato Grosso essas áreas correspondem às estruturas dobradas do cinturão Paraguai-Araguaia, que formam inúmeras serras associadas aos residuais de estruturas dobradas intensamente atacados por processos erosivos, sob a denominação de Província Serrana/Serras Residuais do Alto Paraguai, incluindo também o Planalto do Arruda-Mutum e o Planalto de São Vicente.

4. Depressões periféricas e marginais – As depressões no território brasileiro têm uma característica genética muito marcante

que é o fato de terem sido geradas por processos erosivos com atuação acentuada nos contatos das bordas das bacias sedimentares com maciços antigos. As atividades erosivas com alternâncias de ciclos úmidos e secos esculpiram, ao longo do Terciário e Quaternário, as depressões periféricas, as marginais e as monoclinais, que aparecem circundando as bordas das bacias e se interpondo entre estas e os maciços antigos do cristalino. Em Mato Grosso, foram identificadas as Depressões do Norte de Mato Grosso, do Guaporé, do Araguaia, do Alto Paraguai, a Cuiabana e a Depressão Inter planáltica de Paranatinga.

5. Planícies – Os relevos que se enquadram nas Planícies no Estado de Mato Grosso, correspondem às áreas essencialmente

planas, geradas por deposição fluvial de sedimentos recentes. São áreas, portanto, onde atualmente predominam os processos agradacionais associados aos depósitos recentes do Quaternário, principalmente do Holoceno. Em Mato Grosso foram identificadas três grandes unidades de planícies e pantanais:

� Planície e Pantanal do Rio Guaporé, � Planície e Pantanal do Rio Paraguai � Planície do Rio Araguaia.

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Solos

O Estado de Mato Grosso possui ambientes naturais diversificados, o que reflete a heterogeneidade de suas coberturas

pedológicas. Destacam- se, em extensão, as classes de:

• solos latossolo vermelho-amarelo e latossolo vermelho-escuro, com aproximadamente 366.389,81 km2,

• podzólicos vermelho–amarelos, em torno de 216.286,72km2

• areias quartzosas com 116.202,38 km2, todos em caráter de dominância. Os latossolos e podzólicos, em relevos plano e suave ondulados sob Cerrados e Florestas, são predominantemente ácidos e

de baixa fertilidade, necessitando correção com calcário e adubação química, para uso agropecuário. Os latossolos que se estendem na parte centro-sul do Estado sobre planaltos e chapadas, possuem condições físicas excelentes para agricultura mecanizada. Os podzólicos sob florestas, distribuídos na parte norte do Estado, merecem cuidados especiais, em função do regime climático (a maioria sob clima equatorial), menor profundidade efetiva, presença de cascalhos, pedregosidade e gradiente textural, que os tornam mais susceptíveis a processos erosivos.

Os solos de areias quartzosas, com baixa retenção de umidade e nutrientes aplicados, podem ser utilizados para preservação, culturas adaptadas, pastagens nativas e reflorestamentos.

Destacam-se, pela fertilidade mais elevada, os podzólicos vermelho-escuros e terras roxas estruturadas, em pequenas áreas no embasamento cristalino, ao norte do Estado. No sudeste, como dominantes, perfazem um total de 1.282,66km2, distribuídos em relevo suave ondulado a ondulado, o que os torna susceptíveis a processos erosivos. No Planalto de Tapirapuã destacam-se os latossolos roxos em 1.576,34km2.

Outras classes de solos ocorrem em menor extensão, dentre elas, cambissolos, solos litólicos, planossolos e solos concrecionários, todos com baixa fertilidade natural. Clima

O Estado de Mato Grosso possui clima tipicamente continental, com duas estações bem-definidas, uma chuvosa e outra seca. A variação das médias de temperaturas deve-se principalmente a dois fatores: ampla extensão do território no sentido norte-sul e o fato de sua localização no interior do continente, com reduzida influência marítima e baixa amplitude térmica. Assim, no extremo norte, a temperatura média anual é mais alta, em torno de 26º C, enquanto no extremo sul essa média é de 22ºC. As variações de temperatura ao longo de um dia podem ser grandes, apenas quando há penetração de massa de ar fria de origem polar,mdurante o inverno, principalmente nos meses de junho e julho.

O regime de chuvas é tipicamente tropical continental. A estação chuvosa vai de outubro a março (primavera e verão), e a estação seca começa em abril e termina em setembro (outono e inverno).

As médias anuais de chuva variam de 1.250 a 2.750mm. Na região norte do Estado chove mais de 2.000mm por ano e menos de 1.200mm no Pantanal.

Predominam dois tipos de clima: equatorial e tropical continental.

• O clima equatorial no norte do Estado caracteriza-se pela ocorrência de chuvas intensas, com temperaturas elevadas durante os doze meses do ano. Sofre influência da massa equatorial continental, com altas temperaturas, baixas pressões atmosféricas, forte evaporação e, conseqüentemente, intensas precipitações.

• O clima tropical continental, com duas estações bem-definidas, uma chuvosa e outra seca, também sofre influência da massa equatorial continental, mas apenas no verão. No inverno, essa massa permanece estacionária sobre a Região Norte do Brasil. Nessa estação, a massa tropical atlântica avança e se instala sobre o Centro-Oeste, quase sem umidade. Tendo altas pressões, impede a chegada de ventos úmidos, ocasionando a estiagem. Eventuais chuvas podem ocorrer, devido à penetração da massa polar atlântica.

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Hidrografia

O Estado de Mato Grosso destaca- se no cenário nacional, sendo o divisor de águas que abriga as nascentes de rios formadores das três grandes bacias hidrográficas do país:

• bacias Amazônica,

• do Paraná

• e Tocantins- Araguaia Os rios mato-grossenses que integram a Bacia Amazônica drenam a porção norte do Estado, onde o escoamento das águas

desses rios se faz com rapidez, à medida que se dirigem para a Planície Amazônica, onde destacam-se:

• os rios Juruena,

• Teles Pires,

• Arinos,

• Aripuanã,

• Roosevelt

• Xingu

Na Bacia do Tocantins destaca-se o rio Araguaia, com sua nascente no extremo sul do Estado correndo para o norte. A leste de Mato Grosso define o seu limite com o Estado de Goiás e Tocantins. Seus principais afluentes:

• rios das Mortes,

• das Garças,

• Cristalino e Xavante. Na Bacia do Paraná figura a rede de afluentes do rio Paraguai, drenando a porção sul e sudeste do Estado. Os rios

integrantes deste sistema caracterizam-se por possuir escoamento lento, correndo sobre aluviões recentes. O rio Paraguai é navegável na maior parte do seu curso, e seus principais afluentes são:

• rios Jauru,

• Cabaçal,

• Sepotuba

• Cuiabá O rio Cuiabá corta a cidade de Cuiabá, capital do Estado, sendo um dos principais rios tributários do Pantanal Mato-

Grossense. Várias cachoeiras são encontradas na rede hidrográfica do Estado, destacando-se as cachoeiras:

• do Véu de Noiva,

• da Fumaça,

• o Salto dos Dardanellos Também merece destaque a represa do Rio Manso, localizada a 60km de Cuiabá, onde se encontra a Usina Hidrelétrica do

Rio Manso, de grande potencial turístico para esportes náuticos, assim como as baías de Chacororé, Chá-Mariana, Uberaba e Guaiba.

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O Estado é rico em recursos hídricos, mas a navegabilidade dos seus rios é pouco utilizada. Destacam-se trechos dos rios Paraguai, Guaporé, Juruena, Araguaia e rio das Mortes, que apresentam potencialidade para o transporte fluvial de cargas.

Vegetação

A vegetação do Estado de Mato Grosso encontra-se inserida nos Biomas e/ou Domínios dos Cerrados e das Florestas, citados

pela SEPLAN/CNEC (2002), definidos por Ab’Saber (1977). A fisionomia vegetal predominante no bioma do Cerrado é constituída por bosques abertos, com árvores contorcidas e

grossas de pequena altura (entre 8 e 12m); um estrato arbustivo e outro herbáceo, onde predominam gramíneas e leguminosas. Em função de peculiaridades edáficas, topográficas e climáticas desse bioma, distinguem-se os tipos mais relevantes no

Estado, segundo os estudos desenvolvidos pela SEPLAN/CNEC (2002), a saber: 1. Campo Cerrado (Savana Parque) - Fisionomicamente prevalece o componente herbáceo e arbustivo, com indivíduos arbóreos

presentes de forma esparsa, compondo uma das expressões campestres da savana, denominada também “Campo Cerrado”. Apresenta uma composição florística diversificada. Os componentes arbustivo e arbóreo (com altura entre 1 a 2m) constituem-se de plantas características da Savana Arborizada.

2. Cerrado Propriamente Dito (Savana Arborizada) - É caracterizada por um tapete gramíneo lenhoso contínuo e pela presença de espécies arbóreas de troncos e galhos retorcidos, casca espessa (às vezes suberosa), folhas grandes (podendo ser grossas, coriáceas e ásperas). Variações fisionômicas e estruturais, decorrentes geralmente de características pedológicas diferenciadas e de perturbações antropogênicas, expressam-se pela distribuição espacial irregular de indivíduos, ora com adensamento do estrato arbustivo-arbóreo, ora com predomínio do componente herbáceo. A altura varia entre 2m e 7m.

3. Cerradão (Savana Florestada) - Fisionomicamente é descrito como a expressão florestal das formações savânicas. As árvores que constituem o dossel possuem troncos geralmente grossos, com espesso ritidoma, porém sem a marcante tortuosidade observada nas savanas. A estratificação é simples, e o componente arbóreo é perenifólio. Não há um estrato arbustivo nítido, e o estrato graminoso é entremeado de espécies lenhosas de pequeno porte. Atinge altura em torno de 15m, podendo chegar a 18m. A composição florística do Cerradão é geralmente diversificada, contendo espécies das expressões mais abertas das Savanas, que assumem hábito arbóreo, e da Floresta Estacional, raramente presente em outras fisionomias savânicas. Ainda como característica desse Bioma tem-se a presença das Florestas de Galeria (ou matas ciliares), que começam, em geral, nos pequenos pântanos dos nascedouros dos ribeirões, sob a forma de alamedas (veredas) de buritis (Mauritia sp). Estas florestas, ao longo dos cursos d’água, vão progressivamente adquirindo outras espécies arbóreas, encorpando e ocupando gradualmente as “rampas” dos interflúvios. Quando as matas ciliares se fundem no interflúvio, considera-se o fim da área nuclear do Domínio dos Cerrados.

O Bioma das Florestas caracteriza- se pelas florestas:

• Ombrófila e Estacional. Com relação à Floresta Ombrófila, sua maior expressão encontra-se no extremo Noroeste do Estado. Fisionomicamente representa uma formação florestal pluriestratificada, de grande porte, com dossel de 20 a 30m de altura e emergentes que atingem até 45m. Predominam espécies perenifólias. Epífitas são muito frequentes, assim como lianas e plantas escandentes.

A Floresta Estacional tem ocorrência associada à estacionalidade climática e a solos geralmente mais férteis do que aqueles observados nas Savanas.

Entre estes dois Biomas, encontra-se a faixa de contatos – as chamadas áreas de transição (ou de tensão ecológica) que se concentram, sobretudo, na faixa compreendida entre os paralelos 10º00’ e 14º00’S.

Constitui-se em comunidades indiferenciadas, entre dois ou mais tipos de vegetação, que podem interpenetrar-se ou confundir-se.

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O primeiro corresponde aos encraves (mosaico de áreas edáficas), onde a vegetação preserva sua identidade ecológica sem se misturar. O segundo caso é constituído pelos ecótonos (mosaico específico), onde os diferentes tipos de vegetação se misturam, e a identidade ecológica é dada pela composição específica resultante.

O Estado de Mato Grosso conta ainda com o Complexo do Pantanal, considerado como um caso particular de área ou faixa de transição entre os Domínios dos Cerrados e o do Chaco Central, também definido por Ab’Saber (1977). Fitogeograficamente, segundo Adámoli (1984), citado pela SEPLAN/CNEC (2002), a região do Pantanal foi considerada como “ [...] um Carrefour fitogeográfico de primeira linha, no qual convergem quatro das principais províncias fitogeográficas da América do Sul: Amazônia, Cerrados, Florestas Meridionais e Chaquenha [...]”. Os ciclos de cheias e vazantes criam condições e pressões peculiares, que resultam em uma alta complexidade biótica.

Pequenos desníveis de terreno ou pequenas diferenciações edáficas condicionam formações vegetais completamente distintas.

Demografia O Estado de Mato Grosso, situado na

Região Centro-Oeste, coloca-se, em termos de área, como a terceira maior unidade da Federação, correspondendo a aproximadamente10% do território nacional, contendo, em contrapartida, uma das mais baixas densidades demográficas do país: 2,8 hab./km2 em 2000.

Em 1980, o Estado de Mato Grosso ocupava a vigésima segunda posição no ranking nacional, concentrando 0,96% da população do País. Em 1991, essa participação galgou a décima nona posição, com 1,38% da população nacional, e no ano 2000 Mato Grosso passa para o décimo oitavo lugar, com uma participação de 1,48% da população brasileira.

Fatores da ocupação recente A transferência da capital para Brasília

e a implementação de rodovias ligando a nova cidade ao Centro- Sul e ao Norte, aliadas à execução de programas governamentais voltados à ocupação da região, vieram intensificar a formação de várias frentes de expansão, fazendo com que a população da região Centro-Oeste e a do Estado de Mato

Grosso tivessem crescimentos altíssimos. Diante disso, o Estado de Mato Grosso, além de apresentar a maior taxa de crescimento no último período (2000), em

relação aos demais estados da região Centro-Oeste, desde 1970 suplanta esses estados em crescimento. Vale salientar que as altas taxas de crescimento de Mato Grosso deveram-se, primordialmente, ao incremento de sua população urbana, já que as taxas de crescimento da população rural foram significativamente mais baixas. Tal tendência já era presente no Estado na década de 70, quando as taxas de crescimento da população urbana e rural foram, respectivamente 10,9% e 2,05% a.a.

No que se refere ao ritmo de crescimento, observa-se (Quadro 2) que este decresce drasticamente no período 1991/1996, mostrando uma diminuição significativa do forte fluxo migratório ocorrido nas décadas de 70 e 80.

Entre os censos demográficos de 1980 e 1991, o número de municípios existentes em Mato Grosso passou de 55 para 95. Em 1993, foram instalados mais 22 e em 1997, mais 9. No período de 1998 a 2000, instalaram-se mais 13 municípios e em 2004, mais 2, totalizando 141.

Nos últimos 20 anos, o Estado sofreu um acréscimo de 1.365.662 habitantes, tendo crescido a uma Taxa Geométrica Anual de 5,38% entre 1980/1991 e 2,81% entre 1996/2000.

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População rural e população urbana em Mato Grosso

Evolução da população Mato-grossense por sexo

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Visualizam-se, no Quadro 5, os 20 maiores municípios do Estado em 2000, com destaque para Cuiabá e Várzea Grande, conurbano que representa aproximadamente 26% da população de Mato Grosso. Outro município que ultrapassa o total de cem mil habitantes (150.227), é Rondonópolis, vindo em seguida Cáceres, com 81.565 habitantes; Sinop, Tangará da Serra e Barra do Garças, com respectivamente 74.831, 58.840 e 52.092 habitantes.

Com referência à população por sexo, conforme o censo 2000, havia um excedente de 70.021 homens na população do Estado em relação às mulheres, resultando em uma razão de sexo de 105,79%, a qual era estimada para a região Centro- Oeste, em 99,40% e, para o País, em 96,93%.

Em Mato Grosso, a razão de sexo na área rural era mais alta que na urbana: 125,33% e 101,21%, respectivamente, o que se explica pelo tipo de atividade e dificuldades que se apresentam na incorporação das terras do Estado ao processo produtivo e, consequentemente, pela maior presença de homens sem família na zona rural.

Quanto à localização da população, em 2000, conforme o censo demográfico, 79,38% da população do Estado residiam na zona urbana, contra 20,62% na rural; em termos absolutos, esses percentuais equivalem respectivamente a 1.987.726 e 516.627 habitantes.

Censo 2010 - Primeiros Resultados Total da população.......................................... 3.033.991 pessoas Total de homens ..............................................1.548.894 pessoas Total de mulheres ........................................... 1.485.097 pessoas Total da população urbana ..............................2.484.838 pessoas Total da população rural.....................................549.153 pessoas Taxa média de crescimento anual 1,94 % Fonte: IBGE, Primeiros Resultados do Censo 2010.

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Índice de Desenvolvimento Humano - IDH Para que seja possível avaliar a evolução da qualidade de vida de uma população, são necessárias informações quantitativas

que sirvam de referência ao planejamento das ações de governo. Essas informações são chamadas de índices. Os índices são compostos por indicadores que procuram descrever, quantificar e qualificar um determinado aspecto da

realidade, ou representam uma relação entre vários aspectos, ou, ainda, expressam uma relação entre duas grandezas. O Índice de Desenvolvimento Humano foi criado originalmente para Índice de Desenvolvimento Humano – IDH medir o nível

de desenvolvimento humano dos países, a partir de indicadores de educação, longevidade e renda. O índice varia de 0 a 1. O IDH de 0,00 até 0,499 representa o desenvolvimento humano considerado baixo, o IDH entre 0,500 e 0,799 é considerado como médio desenvolvimento humano, e o IDH maior que 0,800 é considerado como desenvolvimento alto.

Analisando-se o IDH do Brasil, conforme dados do Atlas do Desenvolvimento Humano-2000, verifica-se que a educação foi responsável por 60,78% do aumento entre 1991 e 2000. Já a renda contribuiu com 25,78% e a longevidade, com 13,44% no crescimento do índice.

Em todas as unidades da Federação, a educação foi o componente que mais influiu no aumento do IDH, e, em 21 delas, sua participação foi maior que 50% do crescimento.

O componente longevidade contribuiu positivamente para o crescimento do IDH em todos os estados, variando entre 15,15% e 39,02% do acréscimo do índice. Já o componente renda, apesar de sua contribuição para o acréscimo geral do IDH no Brasil, apresenta grandes variações quando são analisados os estados individualmente.

Quanto ao IDH dos municípios de Mato Grosso, Sorriso foi o que apresentou a melhor evolução, passando do 6º lugar em 1991 para o 1º lugar em 2000. Cuiabá também galgou uma posição melhor, passando do 3º para o 2º lugar; já Sinop retroagiu do 1º lugar em 1991, para o 7º lugar em 2000.

Aconteceu com os municípios de Mato Grosso o mesmo fato que ocorreu em todo o Brasil: o índice de educação foi o principal responsável pelo acréscimo do IDH do Estado. Em Sorriso, o Índice Educação passou de 0,797, em 1991, para 0,869, em 2000; já em Cuiabá, esse Índice passou de 0,860, em 1991, para 0,938, em 2000.

Analisando cada índice separadamente, o maior índice em educação foi alcançado em Cuiabá (0,938), o melhor índice em renda ficou com Sorriso (0,797) e o melhor em longevidade foi o de Sapezal (0,807). Quanto às políticas de governo para a melhoria da qualidade de vida da população no Estado, elas estão alicerçadas em políticas de segurança alimentar, saneamento básico e de conservação ambiental nas cidades e no campo, cujo objetivo é o de traçar medidas e ações concretas que proporcionarão ao cidadão sua inclusão na sociedade e a superação de desigualdades sociais e regionais.

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Trabalho e Renda

No que se refere à estrutura ocupacional da população do Estado, o contingente populacional de 10 anos e mais, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra e Domicílio do IBGE - PNAD 2004, era de 1.401.007 pessoas. Os dados referentes ao pessoal ocupado indicavam uma composição, por gênero, de ampla maioria masculina (60,41%).

As condições de trabalho do pessoal ocupado apontavam para uma situação precária em termos de seguridade social, na medida em que aproximadamente 61% não contribuíam para o INSS. Em termos de distribuição por sexo – da população ocupada por tipo de atividade – observava-se, no conjunto do Estado, forte concentração do trabalho feminino nas atividades ligadas à prestação de serviços na área social, ao comércio e às atividades de prestação de serviços em geral.

Na estrutura ocupacional em 2004, segundo a PNAD, a categoria agrícola apresentou a maior participação – 30,00%, vindo em seguida o comércio e reparação com 18,86%, a indústria com 9,78%, a educação, saúde e serviços pessoais com 7,82%, os serviços domésticos com 7,63%, a administração pública com 5,18%, o transporte e comunicação com 3,72%. No total, a população ocupada em atividades ligadas à economia urbana era de 1.023.526 pessoas, representando 73,2% do total de pessoas ocupadas de 10 anos e mais de idade.

Quanto à renda, de um total de 2.229.552 pessoas com 10 anos e mais de idade, salta à vista a estrutura de baixos níveis de renda e pessoas sem remuneração no Estado, quando se observa que 47,4% das pessoas encontravam-se na faixa de até 3 salários mínimos, 36,1% sem rendimento, 8,8% estão na faixa de 3 a 5 salários mínimos, 1,8%, na faixa de 10 a 20 salários mínimos e 0,9%, na faixa de mais de 20 salários mínimos.

Apesar do aumento relativo da participação das mulheres no período 1991-2004, pode-se verificar, ainda, os baixos níveis de rendimento, quando se considera que 48,6% encontram-se sem remuneração e 42,3% percebem a classe de até três salários mínimos.

Analisando a situação da renda da população do conjunto do Estado - a partir dos dados da PNAD - verifica-se que, no período de 1985/2004, houve um considerável aumento da renda média familiar percapita no Estado de Mato Grosso.

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Aspectos Econômicos

O meio econômico reúne um conjunto de dados sobre a realidade econômica do Estado de Mato Grosso, abrangendo uma série histórica de informações das atividades da agropecuária, indústria, comércio, balança comercial, agregados econômicos, transportes, energia e finanças públicas, constituindo, assim, os principais indicadores econômicos.

Essas informações, obtidas, principalmente, a partir dos resultados das Pesquisas Agropecuárias Municipais – PAM, Previsões de Safras dos Levantamentos Sistemáticos da Produção Agrícola - LSPA, Pesquisa Industrial Anual – PIA e Pesquisa Anual do Comércio – PAC, todas elaboradas pelo IBGE e também pelo Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio – MDIC, SINFRA, SEFAZ, REDE/CEMAT, estão apresentadas em quadros e gráficos, e os resultados de algumas atividades que foram possíveis estão disponíveis para o Brasil, Centro-Oeste e Mato Grosso.

A elaboração e a sistematização dessas informações atendem a recomendações internacionais, e a série histórica contida neste estudo contribuirá para a compreensão das modificações no perfil econômico do Estado. Vale frisar que essas informações são compostas fundamentalmente por dados secundários que são valiosos como subsídios aos administradores, no planejamento de suas ações.

Elas ainda fornecem elementos essenciais que permitem conhecer importantes aspectos socioeconômicos do Estado de Mato Grosso, possibilitando, assim, o monitoramento das ações através de indicadores e constituindo-se, portanto, numa importante ferramenta para o direcionamento das políticas econômicas.

Agropecuária O Estado de Mato Grosso, por possuir cerca de 39% de seu território em áreas de Cerrados (ZSEE-MT), contribui fortemente

para colocar-se como uma das mais promissoras áreas de fronteira agrícola do País. O vigoroso crescimento da produção, experimentado a partir da década de 80, sustentou-se, certamente, na expansão da área cultivada, mas, sobretudo, em ganhos de produtividade em relação à grande maioria dos produtos.

Essa produtividade está associada ao tipo de solos existentes e à modernização agrícola nas áreas dos Cerrados. A agricultura mato-grossense já se consolidou como o setor mais importante da economia estadual, dado seu papel motriz em relação às demais atividades econômicas, e está inserida no contexto da moderna agricultura nacional, considerando-se a significativa evolução da produtividade, área e produção das suas principais lavouras temporárias.

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A partir da década de 90 acontece a consolidação da agricultura empresarial em grande escala como modelo padrão para todo o Centro-Oeste e, para Mato Grosso, em particular. Na safra 1998/99, o Estado de Mato Grosso passa a ser o 3º maior produtor de grãos, oleaginosas e fibras do Brasil, sendo o 1º na produção de soja e algodão e 2º em arroz.

Na safra 2004/2005, estima-se, segundo os dados do levantamento sistemático da produção agrícola do IBGE, que Mato

Grosso passou a ser o 1º maior produtor de grãos, oleaginosas e fibras do Brasil. Os resultados favoráveis da produção agrícola do Estado, sobretudo os ganhos de produtividade, fizeram com que a sua

participação no PIB nacional se elevasse de 2,45% em 1998 para 4,9% em 2003. Segundo os dados da PAM/IBGE, para o ano de 2004 prevê-se que esta participação se eleve para 5,5%.

Caso os resultados se concretizem, Mato Grosso ocupará a 1º posição no ranking do PIB da atividade agropecuária do Centro-Oeste.

No conjunto dos principais produtos agrícolas, a produção de grãos, oleaginosas e fibras representou no período de 1990/2004 em torno de 95% do total da área colhida, cabendo ao cultivo da soja aproximadamente 63% desta área. Em 2004, esta taxa chegou a alcançar 68,6%. Isto indica a elevada especialização da agricultura mato-grossense e, em consequência, sua maior dependência e vulnerabilidade às oscilações do mercado destes produtos.

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Pecuária O rebanho bovino brasileiro cresceu 4,8% ao ano no período 2000- 2003, passando de 169,9 milhões para 195,5 milhões de

cabeças, enquanto Mato Grosso cresceu à taxa de 9,2% ao ano, passando de 18,9 milhões em 2000 para aproximadamente 26 milhões de cabeças em 2004.

A atividade pecuária, forte componente histórico da formação econômico-social, é amplamente predominante no espaço rural mato-grossense, sendo também a principal responsável pelo uso e ocupação dos territórios antropizados.

A produção de carne bovina em Mato Grosso passou de 453 mil toneladas (em equivalente carcaças), em 2000, para 814 mil toneladas, em 2004, ocupando a 3ª posição no ranking nacional. A bovinocultura de corte tem expressão no Estado como um todo, excetuando-se nas áreas já consolidadas com explorações essencialmente agrícolas, ou onde a atividade bovina já atingiu o potencial de expansão (áreas essencialmente remanescentes da divisão do Estado, particularmente nas regiões pantaneiras e sudeste).

O rebanho bovino tem grande expressão no Norte, Nordeste e Sudoeste do Estado. Em termos de microrregiões, a bovinocultura apresenta relativa pulverização, sendo que as maiores expressões do efetivo mato-grossense no ano de 2004, ou seja, acima de 400.000 cabeças (grandes e médios produtores com características empresariais) aparecem computados nos municípios de Cáceres , Juara, Vila Bela da Santíssima Trindade, Pontes e Lacerda, Santo Antônio do Leverger.

De acordo com os d ados do Ministério da Agricultura, dos 29 frigoríficos existentes em 2004 no Estado de Mato Grosso, 23 mostram-se habilitados para a exportação, dos quais 74%, ou seja, 17 são de grande porte (abate anual superior a 100.000 animais, com uma capacidade de abate de 80 a 120 bovinos/dia), cinco de porte intermediário (abate anual entre 50.000 e 100.000 animais e capacidade instalada de abate de 60 a 80 bovinos/dia) e cinco pequenos (abate anual entre 10.000 e 50.000 animais e capacidade instalada de 40 a 60 bovinos/dia).

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Quanto à bovinocultura de leite, os maiores municípios produtores de leite situam-se na chamada Bacia Leiteira de Jaciara, que engloba os municípios de Rondonópolis, Poxoréo, Juscimeira, Dom Aquino, além de Jaciara e numa área onde se destacam Araputanga, Jauru e São José dos Quatro Marcos, além dos municípios de Barra do Bugres e Tangará da Serra. No norte, apenas Colíder apresenta maior densidade (verifica-se aí a presença de frigoríficos e de laticínios).

Com relação aos principais produtores de ovos de galinha, têm-se os municípios de Campo Verde, Santo Antônio do

Leverger, Tangará da Serra, Alta Floresta, Juína, Itaúba e Mirassol D’Oeste que, juntos, contribuem com 43% da produção estadual. Na produção de mel de abelha, os municípios maiores produtores são Barra do Garças, Água Boa, Querência, Canarana e

Cáceres.

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Indústria Os resultados favoráveis de Mato Grosso na produção de grãos, oleaginosos e fibras, a partir dos anos 1990, têm estimulado

consideravelmente a expansão das atividades da agroindústria no Estado. Esmagadoras, algodoeiras, fiações e beneficiadoras de cereais são os segmentos que mais se destacam em termos de novos

investimentos efetuados, tanto por grandes empresas líderes, como também por capitais locais atuantes nos mercados regionais. De acordo com os dados da Secretaria de Estado da Fazenda - SEFAZ, publicado no Anuário Estatístico de Mato Grosso-2002,

a Indústria de Mato Grosso possuía em 2000 um total de 6.007 estabelecimentos industriais, passando em 2003 para 7.332, o que equivale a um crescimento em torno de 27% (Quadro 2). Segundo os resultados do IBGE da Pesquisa Industrial Anual-PIA1, apenas 2.287, ou seja, 25% deste total são unidades locais que possuem cinco ou mais pessoas ocupadas, demonstrando, com isto, que o perfil da maioria dos estabelecimentos industriais do Estado é de micro indústrias.

Segundo os resultados da PIA, é possível observar os investimentos industriais por unidades da federação. Estudos econômicos recentes vêm apontando uma importância crescente na atuação das pequenas empresas industriais. Elas apresentam maior flexibilidade e capacidade de adaptação às mudanças no mercado, de forma que, quando organizadas em arranjos produtivos locais, apresentam um elevado desempenho inovativo.

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O Quadro 1, a seguir, mostra a composição percentual dos investimentos, em 1996 e 2002, para o total das indústrias brasileiras. Assim, o maior ganho relativo, 1,52%, foi observado na Região Centro- Oeste, cuja participação sai de 2,04% para 3,11%, com as quatro unidades da federação apresentando o mesmo movimento positivo. Mato Grosso, com menos expressividade, sai de 0,49% em 1996 para 0,59% em 2002, demonstrando, ainda, que a indústria do Estado vem se modernizando ao longo do período. A configuração industrial da região e do Estado é fortemente marcada pela presença de segmentos articulados ao agronegócio (alimentos e fertilizantes, principalmente), que vem apresentando desempenho positivo nos últimos anos, ampliando sua inserção no mercado externo.

Em 2003 a indústria de transformação do Estado de Mato Grosso representava 98% contra apenas 0,2% da indústria extrativa. Os principais segmentos industriais do Estado, representados pelo faturamento médio anual nesse ano, foram por ordem de importância: indústrias de produtos alimentícios (67%), seguidas de fabricação de produtos da madeira (8,4%), fabricação de coques, combustíveis e produção do álcool (6,7%), fabricação de produtos químicos (5,9%), minerais não metálicos (2,7%), e outros (Quadro 3).

A indústria de transformação no Estado de Mato Grosso constitui-se na quarta atividade de maior índice de crescimento acumulado do valor adicionado (151%) no período de 1994 a 2002. Para este aumento, certamente contribuiu a relativa expansão da agroindústria, verificada no período.

Em que pese a indústria mato-grossense ainda ser considerada incipiente, ou seja, em 2003 ela representava 11,74% do PIB do Estado e 0,47% do PIB nacional, não se pode desconsiderar, entretanto, a efetividade das políticas públicas setoriais de estímulo à produção primária e de indução à agro industrialização.

Desde os programas federais, através de recursos do Fundo Constitucional do Centro- Oeste (FCO) e da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), até os programas locais como o de incentivo à cotonicultura (Proalmat - isenção de 75% do ICMS), de desenvolvimento industrial e comercial (Prodeic – adiamento em até 15 anos do pagamento de ICMS), têm sido, além do nato espírito empreendedor, os grandes responsáveis pela pujança da agricultura mato-grossense.

Os investimentos em infraestrutura (estradas, hidrovias, termoelétricas e hidroelétricas) permitem que obstáculos históricos sejam agora superados, permitindo que as bases para um ciclo de forte desenvolvimento agrícola e agroindustrial se intensifiquem. Rondonópolis, por exemplo, consolidou-se como polo têxtil e prepara-se para atrair outros ramos industriais, devendo esboçar ao longo dos próximos dez anos a trajetória que cidades como Uberlândia mostraram nos últimos dez anos.

Com as políticas públicas setoriais de estímulo à produção primária e de indução a agro industrialização, Mato Grosso tem atraído muitos investimentos através dos quais vem mudando a função de mero exportador de matérias-primas no cenário nacional e modernizando o parque industrial, conforme se pode observar no Quadro 1. As empresas de pequeno porte enfrentam maiores problemas para modernizar sua produção, uma vez que as condições de acesso ao crédito e à tecnologia são mais limitadas.

É com a agroindústria que o desenvolvimento econômico do Estado se fortalece, pois ela permite agregar valores ao produto, absorver excedentes de produção e, com isso, expandir a base tributária e, o mais importante, ampliar as oportunidades de investimentos, aumentando, consequentemente a renda e o estar da população em geral.

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Entretanto, a diversificação da agroindústria mato-grossense é relativamente recente. O complexo grãos/ carnes ainda é dominante e com diversificação restrita, inclusive no que se refere ao beneficiamento do gado bovino que se caracteriza pela produção de leite, carne e couro.

Principais setores da indústria em Mato Grosso

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Comércio A Pesquisa Anual de Comércio – PAC, realizada pelo IBGE, tem como objetivo levantar informações sobre a estrutura

produtiva e econômica do segmento empresarial do comércio brasileiro. A PAC estimou em 2003, para Mato Grosso, um total de 23.463 empresas com atividade principal em comércio. Essas

empresas auferiram R$ 14,6 bilhões em receita bruta de revenda, ocuparam cerca de 100 mil pessoas e pagaram R$ 533 milhões em remunerações, o que significa um salário médio mensal de R$ 409,11.

Os Quadros 2 e 3 apresentam, para o Estado de Mato Grosso, os dados comparativos das empresas comerciais, segundo as classes de atividades da CNAE (Classificação Nacional das Atividades Econômicas) dos anos de 2002 e 2003. Observa-se que a

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estrutura dos salários do setor comercial do Estado em 2003 permaneceu a mesma de 2002. Nos dois anos, o segmento do comércio varejista figura como o maior em termos de número de empresas, pessoal ocupado e número de estabelecimentos.

Entretanto, em termos de receita bruta de revenda e margem de comercialização, o atacado gerou a maior parcela do total estimado pela PAC.

As atividades do comércio varejista, aí incluídas as de comércio de combustíveis, foram em 2003 as que registraram a maior

parcela de pessoal ocupado do comércio em geral (68,24 %).

No ano de 2003 o varejo alcançou, no Estado de Mato Grosso, cerca de 80,03% dos estabelecimentos destinados à revenda

de mercadorias, que geraram um faturamento bruto no valor de R$ 4,39 bilhões, com margem de comercialização da ordem de R$ 1,0 bilhão, obtendo uma relação MC/RB de 18,4%. Tal resultado reflete o esforço líquido das vendas de mercadorias deduzido dos custos de aquisição das mercadorias pelas empresas.

Em 31/12/2003, estas empresas ocupavam 68,24% dos empregados no comércio e ao longo deste ano pagaram aproximadamente R$ 300 milhões na forma de salários, retiradas e outras remunerações, o que significa um salário médio mensal de R$ 337,30.

Por ser uma atividade desenvolvida principalmente por estabelecimentos de pequeno porte, o comércio varejista reuniu nesse ano 80,03% do total de empresas com atividade comercial no Estado.

O comércio por atacado, por sua vez, foi responsável por apenas 8,60% do total dos estabelecimentos e 18,34% do pessoal ocupado.

Mesmo com menor participação em termos de número de empresas e pessoal, esta categoria responde pela maior parcela de faturamento do comércio em geral, 59,49%, o que caracteriza o atacado como o segmento mais concentrado do setor comercial (Gráfico 1).

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“A concentração é um traço relevante da estrutura do comércio atacadista dominado por um conjunto relativamente pequeno de empresas de grande porte, em termos de receita operacional líquida e pessoal ocupado” (IBGE, 2003).

Em relação ao número de postos de trabalho, o comércio varejista foi responsável por 68,24% do total de pessoas ocupadas no segmento comercial, o comércio atacadista, por 18,34% e o comércio de veículos, peças e combustíveis, por 13,42%.

Quanto às remunerações pagas nas empresas comerciais, as empresas do comércio varejista participaram com 56,26% do total da massa salarial e outras remunerações pagas no período. As empresas do comércio atacadista atingiram 28,43% deste total e as empresas revendedoras de veículo, peças e combustíveis, 15,31% desse total.

Mercado Externo No final dos anos da década de 80, o Estado de Mato Grosso se firmou na 10ª posição entre os estados exportadores,

ocupando a primeira posição no contexto do Centro-Oeste. Em 1998 as exportações alcançaram cerca de US$ 653 milhões, com forte redução (-30%) em relação ao ano anterior, quando foi atingida uma posição de topo na década de US$ 927 milhões. Contudo, a partir de 1999, com uma trajetória pregressa de constantes incrementos, chegou a alcançar, em 2004, um montante de U$ 3.103 milhões, com variação de 42% em relação ao período anterior, o que equivale a aproximadamente 60% do total das exportações do Centro-Oeste (Quadro 1).

O principal produto das exportações, em 2004, foi a soja em grão, mesmo triturada, com 47,28%, seguindo-se o bagaço e outros resíduos sólidos da soja com 23,32%, o óleo de soja (8,34%), de forma que o complexo soja respondeu por 78,94%. O algodão (5,95%), as madeiras (5,95%), a carne (4,61), complementaram o quadro das exportações, sendo extremamente residuais as remessas de outras mercadorias.

Desse modo, Mato Grosso se caracterizou como um fornecedor de produtos primários e semielaborados, especializado em commodities e na produção de carnes e derivados. Como pode ser observado no Quadro 1, trata-se de uma tendência que parece estar em processo de consolidação.

A União Europeia é o principal cliente das exportações de Mato Grosso, respondendo por cerca de 51% do total, seguindo-se, em ordem de importância, a Ásia com 30,0%, o Oriente Médio e, muito abaixo, o MERCOSUL, como pode ser observado nos

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quadros 3 e 4, a seguir.

Trata-se também de uma tendência que parece consolidada. É importante assinalar que, malgrado seja crescente a participação das remessas para o MERCOSUL, a sua participação ainda

é incipiente. Tal fato parece demonstrar um baixo grau de complementaridade da economia do Estado de Mato Grosso em relação aos

parceiros do MERCOSUL, ressaltando, igualmente, o aspecto de competidores no mercado Europeu e do Oriente Médio. Os dados relativos aos anos de 2003 e 2004, das exportações de Mato Grosso, indicam uma tendência ascendente, quando

atingiram em 2004 US$ 3.103 milhões, contra US$ 418 milhões de importações, com saldo positivo de U$ 2.685. Estes dados vêm confirmar o grande êxito da balança comercial brasileira que, em 2005, alcançou mais uma vez valores

recordes no ano. As exportações brasileiras atingiram US$ 118,3 bilhões neste ano. Já as importações alcançaram US$ 73,5 bilhões, resultando um saldo positivo (exportação menos importação) de US$ 44,7 bilhões, valor nunca antes atingido.

Do total das exportações brasileiras, em 2005, aproximadamente 6,07% são provenientes das exportações do Centro-Oeste, ou seja, US$ 7,2 bilhões, correspondendo, deste total, 57,8% às exportações do Estado de Mato Grosso.

A economia de Mato Grosso em 2003 O Estado de Mato Grosso apresentou no ano de 2003 uma taxa de crescimento de aproximadamente 5,0%, superando a

média nacional que nesse ano foi de 0,54%. Assim, o Produto Interno Bruto a preços de mercado corrente, que é a soma de toda a produção gerada no Estado, foi da ordem de R$ 22,6 bilhões.

O PIB percapita, que é o resultado da divisão da riqueza produzida no Estado pelo número de habitantes, registrou em 2003 o valor de R$ 6.773,00, mantendo a posição de 12ª do ranking nacional.

Havendo crescimento no PIB per. capita, teoricamente isto significa dizer que cada habitante obteve acréscimo em sua renda média, comparada à do ano anterior.

Representa, também, que os habitantes, de uma forma geral, tiveram maior acesso aos produtos de bens e serviços. A boa performance do PIB Mato-Grossense nesse ano continuou sendo sustentada não só pela crescente evolução do setor

agropecuário, que obteve crescimentos em seu volume de 6%, no período 2002/2003, como também pelos preços que beneficiaram os agricultores.

Assim, a agropecuária neste ano, estimulada excepcionalmente pelos preços, foi responsável por 36,3% de toda a riqueza gerada do Estado, chegando a movimentar recursos da ordem de R$14,1 bilhões, acumulando no período de 1994-2003 a maior taxa de crescimento do País, com 190,92%. Isto fez com que o valor adicionado do setor passasse de R$ 4,9 bilhões para R$ 7,5 bilhões.

Mato Grosso foi o maior Estado exportador do Centro-Oeste, cuja região alcançou neste ano valores excepcionais, a maior cifra registrada nas exportações (US$ 3,8 bilhões), sendo que o montante das exportações mato-grossenses atingiu US$ 2,2 bilhões, representando 57,5% do total das exportações da região Centro-Oeste e aproximadamente 30% do PIB do Estado.

As culturas que mais influenciaram para que o setor agropecuário tivesse este acréscimo, foram: a soja, produto de maior importância no Estado, que registrou taxa de crescimento de 9,0%, seguida do milho 24%, feijão 33%. Na pecuária, foram registrados incrementos no efetivo bovino (11%), suínos (8%).

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Com relação à produção industrial, esta cresceu em 2003 à taxa de11,0%, contra 9,0% do ano anterior. Isso fez com que a atividade agregasse um montante da ordem de R$ 2,4 bilhões, cuja participação é de 11,74% no PIB

estadual, destacando-se, sobretudo, os segmentos vinculados à agroindústria. São elas: a indústria química (21%), alimentícia (16 %), madeireira (12%) e bebidas (12%).

No setor serviços, as atividades que mais agregaram valores foram: Administração Pública (13,53%), com valor adicionado da ordem de 2,8 bilhões, Comércio (10,12%) e valor adicionado de R$ 2,1 bilhões.

Com relação ao comércio, foi registrada taxa de crescimento da ordem de 5,2%, motivada, sobretudo, pelo comércio de veículos automotores que registrou incrementos de 23%, seguido de produtos agropecuários, com 6,0%. Os demais segmentos do setor serviços tiveram crescimentos inferiores à média da economia do Estado, refletindo bem a crise de desaquecimento atravessada pelo País.

Leitura complementar -Mato Grosso lidera crescimento brasileiro segundo IBGE

O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de Mato Grosso entre 1995 e 2007 foi o maior do país segundo pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Estado acumulou um acréscimo de 111,5% no seu PIB. No mesmo período, a renda per capita mato-grossense, ou seja, o poder de consumo da população, saltou no ranking nacional dos Estados da 15ª posição para a 7ª.

Para o secretário de Estado de Fazenda, Eder Moraes, estes são os resultados da política fiscal e de incentivos adotada por Mato Grosso. “Nós trouxemos várias indústrias e empresas para se instalar no Estado e agregarem valor a nossa produção. A economia está no caminho certo e demonstra que Mato Grosso possui uma grande capacidade de recuperação, já que mesmo com a crise do agronegócio em 2005 e 2006, nós já estamos com um crescimento anual acima de 11%”, ressaltou o secretário.

Eder Moraes detalhou que somente no governo Blairo Maggi o PIB mais que dobrou. “Em 2003 nós possuíamos um PIB de aproximadamente R$ 20 bilhões, sendo que em 2007 este número já era de cerca de R$ 42 bilhões. Nossa expectativa é que até o final de 2010 nosso PIB atinja R$ 55 bilhões”. O expressivo crescimento do Produto Interno Bruto seria resultado, além da política fiscal e de incentivos, dos constantes investimentos feitos na logística do Estado, principalmente na pavimentação de rodovias e energia elétrica.

Detalhando a pesquisa do IBGE, o assessor econômico da Sefaz, Vivaldo Lopes, explicou que o crescimento de 111,5% demonstrado foi fortemente puxado pela cadeia do agronegócio. A agricultura e as criações animais, incluindo a indústria de processamento, tiveram entre 1995 e 2007 o crescimento de 257%. O setor industrial cresceu 109%, seguido pelo setor de serviços, com alta de 71%. É a média ponderada destes três indicadores, conforme sua participação financeira no mercado, que formam o PIB de Mato Grosso.

O Estado ainda teve sua renda per capita destacada em R$ 14.954, a sétima do país e praticamente R$ 500 acima da média nacional, que é de R$ 14.464. “Alinhando esta renda com os dados da Fundação Getúlio Vargas, que apontam que Mato Grosso conseguiu reduzir em 23% o número de famílias pobres, temos que o poder de compra está maior no Estado. As famílias estão consumindo mais e tendo uma grande melhoria na qualidade de vida”, comentou Vivaldo Lopes.

Para se ter ideia da diferenciação entre as rendas per capita nos Estados, o Piauí, o pior na pesquisa do IBGE, obteve uma renda de R$ 4.662. Na ponta extrema da pesquisa está o Distrito Federal, com R$ 40.696 per capita, seguido por São Paulo, com renda de R$ 22.667.

O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de Mato Grosso entre 1995 e 2007 foi o maior do país segundo pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Estado acumulou um acréscimo de 111,5% no seu PIB. No mesmo período, a renda per capita mato-grossense, ou seja, o poder de consumo da população, saltou no ranking nacional dos Estados da 15ª posição para a 7ª.

Para o secretário de Estado de Fazenda, Eder Moraes, estes são os resultados da política fiscal e de incentivos adotada por Mato Grosso. “Nós trouxemos várias indústrias e empresas para se instalar no Estado e agregarem valor a nossa produção. A economia está no caminho certo e demonstra que Mato Grosso possui uma grande capacidade de recuperação, já que mesmo com a crise do agronegócio em 2005 e 2006, nós já estamos com um crescimento anual acima de 11%”, ressaltou o secretário.

Eder Moraes detalhou que somente no governo Blairo Maggi o PIB mais que dobrou. “Em 2003 nós possuíamos um PIB de aproximadamente R$ 20 bilhões, sendo que em 2007 este número já era de cerca de R$ 42 bilhões. Nossa expectativa é que até o final de 2010 nosso PIB atinja R$ 55 bilhões”. O expressivo crescimento do Produto Interno Bruto seria resultado, além da política fiscal e de incentivos, dos constantes investimentos feitos na logística do Estado, principalmente na pavimentação de rodovias e energia elétrica.

Detalhando a pesquisa do IBGE, o assessor econômico da Sefaz, Vivaldo Lopes, explicou que o crescimento de 111,5% demonstrado foi fortemente puxado pela cadeia do agronegócio. A agricultura e as criações animais, incluindo a indústria de processamento, tiveram

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entre 1995 e 2007 o crescimento de 257%. O setor industrial cresceu 109%, seguido pelo setor de serviços, com alta de 71%. É a média ponderada destes três indicadores, conforme sua participação financeira no mercado, que formam o PIB de Mato Grosso.

O Estado ainda teve sua renda per capita destacada em R$ 14.954, a sétima do país e praticamente R$ 500 acima da média nacional, que é de R$ 14.464. “Alinhando esta renda com os dados da Fundação Getúlio Vargas, que apontam que Mato Grosso conseguiu reduzir em 23% o número de famílias pobres, temos que o poder de compra está maior no Estado. As famílias estão consumindo mais e tendo uma grande melhoria na qualidade de vida”, comentou Vivaldo Lopes.

Para se ter ideia da diferenciação entre as rendas per capita nos Estados, o Piauí, o pior na pesquisa do IBGE, obteve uma renda de R$ 4.662. Na ponta extrema da pesquisa está o Distrito Federal, com R$ 40.696 per capita, seguido por São Paulo, com renda de R$ 22.667.

http://matogrossomais.com.br/?p=4931

Infra-estrutura Transportes

O exame dos dados disponíveis nesta publicação reafirma alguns fatos sobejamente conhecidos, tais como: da malha rodoviária do Estado de Mato Grosso em tráfego no ano de 2003, de 33.196km, apenas 5.193km, ou seja, 16% são pavimentados, o que significa dizer que 28.003km não são pavimentados; dessa mesma malha rodoviária, 4.962km (14%) são federais, o que também não surpreende, pois de longa data apresenta uma extensão estabilizada, sendo ela considerada relativamente baixa em face da dimensão territorial do Estado.

Do total da malha viária de Mato Grosso, aproximadamente 19% são constituídos de rodovias implantadas e em leito natural, ocasionando gravíssimos problemas nos períodos críticos das chuvas e, conseqüentemente, acarretando os mais elevados custos nas movimentações de cargas. É de crucial importância citar o processo de deterioração em que se encontram as rodovias federais, como a BR-163, BR-364, BR-174 e BR-070, que são as principais vias de escoamento da nossa produção.

Enquanto o PIB real acumulou no período de 2000 a 2003 a taxa anual de crescimento de 23%, a extensão da malha

rodoviária de Mato Grosso cresceu apenas 4%, permanecendo as pavimentadas federal e transitória inalteradas, crescendo apenas a pavimentada estadual em 15% no período de 2003 a 2004.

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Tal fato pode ser justificado pela política dos transportes adotada pelo atual governo, através dos consórcios de agricultores municipais.

Essa modalidade é baseada na Parceria Público-Privada (PPP), sendo um exemplo para todo o País. O acordo é firmado entre Governo do Estado e produtores rurais organizados, bem como as prefeituras. Vale ressaltar que é rateado tanto o valor do investimento como a responsabilidade sobre a qualidade da obra. No processo,

o Estado providencia as licenças ambientais, além de se responsabilizar pela imprimação, drenagem superficial e pavimento. As associações fazem a terraplenagem, base, sub-base e regularização do leito.

Um dos grandes problemas enfrentados nesta área é o tempo de vida útil das rodovias brasileiras, que tem se reduzido nos últimos Caminhões apreendidos com carga irregular, estão no Posto Flávio Gomes anos em decorrência, sobretudo, do excesso de peso dos caminhões.

A questão tem despertado a preocupação do governo federal e dos transportadores de carga de todo o País, que defendem maior rigor na adoção de medidas de controle do fluxo dos veículos de carga.

Transporte multimodal Mato Grosso, por sua situação central na América do Sul, sobretudo por ter acesso às três principais Bacias Hidrográficas, ou

seja, do Prata, Amazônica e Araguaia-Tocantins, e ter sua malha básica nas BR’s 163/364/070, encontra-se ao mesmo tempo distante dos portos de exportação em operação.

Assim, de acordo com informações da Secretaria de Estado de Infra- Estrutura de Mato Grosso – SINFRA, apresentamos um resumo dos principais corredores de transporte em utilização nas exportações da produção do Estado (Mapa 18): 1. Corredor Noroeste

A principal rota da produção da região noroeste se faz utilizando a BR-364/MT-235, BR-174 e a Hidrovia do Madeira-Amazonas, através dos municípios de Campo Novo dos Parecis-Sapezal-Porto Velho-Itacoatiara-Rotterdam. A situação ideal seria pela conclusão da pavimentação da BR-364 entre Comodoro e Sapezal, a pavimentação da MT-343 entre Cáceres e Barra do Bugres, permitindo, assim, o escoamento pela Hidrovia do Rio Paraguai. 2. Corredor Norte- (Centro-amazônico)

A principal rota é Sorriso-Alto Araguaia-Santos-Rotterdam, sendo também usada a rota Sorriso-Paranaguá- Rotterdam, utilizando a BR- 163/BR-364/BR-262 e a Ferronorte.

Neste corredor, a situação desejada seria pela conclusão da pavimentação da BR-163 até o Porto de Santarém. 3. Corredor Sudeste

A principal rota é Primavera do Leste–Alto Araguaia–Santos–Rotterdam, sendo também usada a rota Primavera do Leste-Paranaguá- Rotterdam pelas MT-130/BR- 070/BR-163/BR-364/BR-262 e a Ferronorte.

A situação desejada neste corredor seria a conclusão da implantação da Ferronorte até Rondonópolis e conclusão da pavimentação da MT-130 entre Primavera do Leste e Paranatinga. 4. Corredor Centro-Nordeste

A principal rota é Nova Xavantina- Alto Araguaia-Santos-Rotterdam, sendo também usada a rota Nova Xavantina-Paranaguá-Rotterdam pelas BR-163/BR-364/BR-158/BR- 262/MT-130 e a Ferronorte. O ideal neste corredor seria a conclusão da pavimentação da BR-158 entre Ribeirão Cascalheira e a divisa de MT/PA, para, através das rodovias BR-158/PA-150 e PA-257, chegar a Paraupebas-PA, daí até o Porto de Itaqui através da Ferrovia de Carajás, ou ainda pela Hidrovia Mortes-Araguaia, BR-242 ate São Félix do Araguaia para alcançar Xambioá-TO, seguindo pela rodovia BR-156/BR-226 até Estrito-MA e até o Porto de Itaqui pelas Ferrovias Norte-Sul e Carajás.

A Rede Ferroviária A integração de Mato Grosso à malha ferroviária nacional é recente, e coube à iniciativa privada, através do Grupo Itamarati,

a implantação do corredor ferroviário, constituído pela Ferronorte atual, BRASIL FERROVIAS, que liga Aparecida do Taboado (MS) a Cuiabá, totalizando 956km, passando por Alto Taquari, Alto Araguaia e Rondonópolis.

A Ferronorte/Brasil Ferrovias já opera os Terminais de Alto Araguaia e Alto Taquari, escoando soja, farelo de soja e açúcar e retornando com adubo, gasolina e óleo diesel.

A Rede Hidroviária Mato Grosso em 2004 tem no escoamento de sua produção duas importantes hidrovias, ou seja, a Hidrovia do Rio Madeira

e do Rio Paraguai. A Hidrovia Madeira/Amazonas integra a antiga MT-235, hoje federalizada, tendo seu traçado incorporado à BR-364 no

segmento do entroncamento da BR-163 (Posto Gil), passando por Novo Diamantino, Itanorte, Campo Novo do Parecis, Sapezal, Campos de Júlio e Comodoro até a BR-174, daí seguindo até o porto de Porto Velho em Rondônia e até o Terminal de Itacoatiara no Rio Amazonas.

A Hidrovia do Rio Paraguai, via de transporte fluvial de utilização tradicional, em condições naturais, é uma artéria para o Mercosul, com seus 3.442km de extensão, desde Cáceres até o seu final, no estuário do rio da Prata; proporciona acesso e serve de escoamento para grandes áreas no interior do continente.

As principais cargas transportadas no trecho mato-grossense são: soja, açúcar e madeira. Os fluxos de carga na hidrovia vêm crescendo nos últimos anos, sem, no entanto, corresponder à demanda gerada pelo

setor produtivo, pois não oferece as condições necessárias. Em território brasileiro, a hidrovia percorre 1.278km e tem como principais portos: Cáceres, Corumbá e Ladário.

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Energia

A produção de energia elétrica gerada no Estado no período de 1999 a 2004 apresentou um crescimento acumulado de 11,5%, sendo a maior elevação a de geração térmica com 5,73%, contra a geração hidráulica que ficou com 3,44%.

No que se refere à energia hidráulica, verifica-se que, no período de 1999 a 2004, houve um acréscimo de 24% na modalidade dessa fonte, proveniente, sobretudo, da implantação de várias usinas hidroelétricas que vêm sendo construídas no Estado, buscando atender às demandas reprimidas do setor industrial.

Enquanto o PIB real da atividade industrial do Estado cresceu no período de 1999 a 2003 índices acumulados de 145%, a atividade de energia elétrica cresceu apenas 130%. Contudo, ao analisar os dados disponíveis no Quadro 2, pode-se observar que o consumo industrial de energia elétrica foi o que mais cresceu, apresentando variação percentual de 95% no período de 1999 a 2003, influenciado tanto pelo número de consumidores industriais de 99%, quanto pelo consumo industrial do Estado que foi de 95% neste mesmo período.

Turismo A atividade turística constitui-se um dos principais segmentos econômicos do planeta, tendo movimentado, segundo

estimativas da WTTC – World Travel Tourism Council, um volume financeiro em torno de US$ 4,5 trilhões no ano 2000, devendo, para o ano de 2010, movimentar valores próximos de US$ 8,5 trilhões. Esses resultados relacionam-se com um poderoso efeito multiplicador que a atividade tem na economia, podendo fomentar não apenas o crescimento de setores econômicos como ainda de toda uma localidade ou região.

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Para implementar ações voltadas ao desenvolvimento do turismo e aproveitar seus extraordinários efeitos econômicos, o Governo Federal colocou em curso uma Política Nacional de Turismo que, em suas diretrizes e programas, contempla medidas objetivadas ao ecoturismo e ao turismo rural, de extrema importância para Mato Grosso. Com proposta inovadora de políticas públicas setoriais, definidas em conjunto com o Programa Nacional de Municipalização do Turismo, essa política descentraliza as ações de planejamento e gestão, levando-as para o âmbito local.

A atividade turística em Mato Grosso tem na diversidade de recursos naturais um potencial a ser explorado. Com três ecossistemas distintos: o pantanal, o cerrado e o amazônico, além das bacias hidrográficas do Paraguai, Amazonas e Araguaia-Tocantins, o território mato-grossense apresenta grande atrativo ecológico que, unido à riqueza cultural, representa uma extraordinária base para a constituição de uma oferta turística ampla e diversificada.

Entre os atrativos naturais, destaca- se a paisagem propiciada pela variedade de relevo, com seus morros, serras, cavernas, grutas e cascatas, compondo uma magnífica oferta de rara beleza. As águas termais, abundantes e cercadas de matas e cachoeiras, constituem mais um potencial que, somado aos demais recursos, pode atender às mais variadas demandas do mercado emergente do ecoturismo.

Os rios, com suas baías e praias que se formam no período da seca, constituem outra opção, tanto para banhos como para pesca, com foco principal na Bacia do Alto Paraguai onde chama a atenção o Pantanal. DESTINO PANTANAL

O turismo na região acontece o ano todo. De dezembro a março, período das inundações, as plantas aquáticas se reproduzem e os mamíferos (onça, cutia, capivara, porco-espinho, lontra, anta e outros), migram para os campos mais elevados, oferecendo aos turistas uma vegetação exuberante e a oportunidade de observar esse fantástico grupo de animais. De abril a junho é o período das águas vazantes, com formação de corixos e a presença de grande quantidade de pássaros. De julho a setembro, podem-se ver animais de todas as espécies, sendo o jacaré o centro das atenções.

Esse ambiente constituído por florestas, cerrados e campos sazonalmente inundados, com rios meandrantes, corixos e numerosos lagos de água doce e brejos, constitui-se uma verdadeira região de peixes e viveiros de aves. Nele se encontram os municípios de Poconé, Cáceres, Barão de Melgaço e Santo Antônio de Leverger. DESTINO CHAPADA DOS GUIMARÃES

No município de Chapada dos Guimarães, localizado a 60km de Cuiabá, encontra-se o Parque Nacional de Chapada dos Guimarães, criado em 1989, com uma área de 33 mil ha. Esse, com ecossistema do cerrado, conta com montanhas, serras, rios, cascatas, cavernas e grutas, atraindo o ecoturismo internacional. DESTINO ARAGUAIA

Na Bacia do Alto e Médio Araguaia, onde a cidade de Barra do Garças desempenha função centralizadora, desenvolve-se um significativo pólo turístico, essencialmente de caráter receptivo, sendo crescente a atração de fluxos regionais, principalmente em termos do Centro-Oeste. DESTINO AMAZÔNIA

A Bacia Amazônica constitui-se em potencial a ser explorado, pois o turismo ainda é embrionário. A exploração turística existente na Amazônia Mato-Grossense tem nas cidades de Alta Floresta e Aripuanã os principais pólos de desenvolvimento voltado ao ecoturismo.

Nessa região a demanda se dá através de pesquisadores, cientistas e turistas internacionais, atraídos pela diversidade biológica (518 das espécies de plantas tropicais estão aí situadas) e faunística, próprias da maior bacia hidrográfica do mundo. DESTINO CUIABA- (POLO EMISSOR)

A Grande Cuiabá/Várzea Grande possui, atualmente, uma população de cerca de 730 mil habitantes e, graças à disponibilidade de significativos atrativos a relativamente curtas distâncias, constitui-se no principal pólo emissor de âmbito local e regional. RONDONÓPOLIS

O segundo centro urbano do Estado, Rondonópolis, com quase 150 mil residentes, apresenta uma crescente demanda por recreação e lazer, originando fluxos intermunicipais em direção à Jaciara e Juscimeira, onde se localizam águas termais e cachoeiras de grande beleza. BARRA DO GARÇAS

Barra do Garças, com população pouco superior a 50 mil habitantes, centraliza os fluxos turísticos que se direcionam para o vale do Araguaia (cerca de 1.000km de praias fluviais) e que, entre os meses de maio e julho, chega a receber cerca de 100 mil turistas, em sua grande maioria do próprio Estado e de áreas próximas. CÁCERES

Cáceres, situada a 200Km de Cuiabá, tem como principal ponto de atração o Pantanal, que lhe permite ofertar a pesca turística. Essa cidade realiza no mês de junho o Festival Internacional de Pesca, que chega a atrair milhares de pessoas.

Esse festival, além de proporcionar turismo e lazer, mostra o grande potencial pesqueiro da região, enquanto atrativo turístico.

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TURISMO DE NEGÓCIOS OU COMERCIAL No tocante ao turismo relacionado com o comércio, indústria e agropecuária, destacam-se as exposições agropecuária,

industrial, comercial e feiras que têm como objetivo divulgar e comercializar os produtos, ampliando o potencial econômico do Estado e, conseqüentemente, o turismo regional. TURISMO CULTURAL

No campo das artes, cultura e folclore destacam-se as festas religiosas e as afro-brasileiras. Dentre os eventos oferecidos em vários municípios, destaca-se:

• a Festa do Congo de Vila Bela da Santíssima Trindade, que por sua tradição desperta a atenção de turistas internacionais.

• As festas carnavalescas englobam desde o Carnaval Pantaneiro em Cáceres a Carnavais fora de época, em Cuiabá. Outro aspecto a considerar é o turismo de negócios, principalmente em Cuiabá, Rondonópolis e Barra do Garças, onde se

concentram as grandes empresas do Estado. Deve-se ainda registrar o papel desempenhado por Cuiabá como centro receptor e redistribuidor dos fluxos turísticos

nacionais e internacionais que buscam a oferta turística de Mato Grosso, o que lhe permite promover o turismo local, incrementando principalmente a vida noturna. Folclore / Manifestações Populares

PRINCIPAIS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS EM MATO GROSSO VIOLA-DE-COCHO

Instrumento tipicamente mato-grossense, é utilizado nas tradicionais festas, onde há dança de Cururu e Siriri, tanto na capital como nas regiões ribeirinhas e pantaneiras. Confeccionada, artesanalmente, a partir de um tronco de madeira inteiriça, ainda verde, é esculpida no formato de uma viola que é escavada no corpo até que suas paredes fiquem bem finas, obtendo-se assim o cocho propriamente dito. As primeiras violas-de-cocho tinham suas cordas feitas de tripa de macaco, ouriço ou da película de folha de tucum, o que tornava o som diferente; hoje em dia, elas já são feitas de cordas de nylon por motivos ambientais. A cola usada era da bolsa respiratória pulmonar de peixes, como Pintado, Jaú e Piranha. Sua ressonância, que varia entre maiôs ou menor, de acordo coma música a ser tocada, depende da espessura das paredes do tampo. As violas geralmente medem 70 cm de comprimento. São usadas tanto no cururu quanto no siriri e até em qualquer outro tipo de música.

SIRIRI

O siriri é uma das danças mais populares do folclore mato-grossense. Praticada na cidade e na zona rural, tem presença indispensável em festas, batizados, casamentos e festejos religiosos. É uma dança que lembra celebrações indígenas. Dando por homens, mulheres e até crianças, numa coreografia bastante variada e sem um interpretação definida, acontece em sala de casas, varandas ou mesmo terreiros. A música é simples, falando de coisas da vida, desde o nascimento, família e a presença de amigos. Os tocadores são também os cantadores e quem dança também faz o coro. As vozes são estridentes, entoam tristeza e nostalgia nas melodias tristes, e alegria e descontração nas canções de festejo. Torna-se irresistível para quem vê; logo quer entrar na dança, que transmite respeito à vida e o culto à amizade.

Ainda é desconhecida a origem do nome; há duas versões: uma de ser originado de uma palavra portuguesa e outra do

nome de um cupim de asas que tem o mesmo nome e o voo parecido com os passos da dança.

CURURU O Cururu é um canto primordial do folclore mato-grossense. A cantoria do cururu

se classifica em sacra e profana. A sacra, também chamada de função ou porfia, tem função religiosa e foi criada

por fiéis. Geralmente acontece após as orações aos santos de devoção popular, na casa de amigos ou comunidade da igreja, e tem o objetivo de louvar ou homenagear aquele determinado santo.

A profana é aquela acompanhada pelos desafios e versos dos trovadores, por trovas de amor, declarações e desabafos ou desafio a alguém que roubou uma mulher amada e uma variada coreografia totalmente masculina.

Os cururueiros fazem roda caminhando no sentido horário, iniciam a dança com passo simples de pé esquerdo, pé direito, e vice-versa. “Fazem frô”, floreiam à vontade, que é o movimento de ajoelhar-se até dar rodopios completos, ou seja, embelezar a dança. Os instrumentos da cantoria são viola-de-cocho e um ganzá ou cracachá. A festança, onde estão presentes cururu e siriri, duram toda noite, até os primeiros raios de sol. Os foliões se divertem, expressando

essa pura riqueza cultural.

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RASQUEADO

A definição de rasqueado, segundo o dicionário, é: “arrastar as unhas ou um só polegar sobre as cordas sem as pontear.” Em Mato Grosso, o Rasqueado Cuiabano traz em sua história o final da Guerra do Paraguai quando prisioneiros e refugiados não retornaram ao seu país, integrando-se com as populações ribeirinhas, especialmente da margem direita do rio Cuiabá, onde hoje está a cidade de Várzea Grande. Esta integração influenciou costumes, linguajar e principalmente danças folclóricas, como por exemplo a polca paraguaia e o siriri mato-grossense. Da fusão das duas nasceu o pré-rasqueado, que se limitou aos acordes do siriri e cururu, devido ao seu desenvolvimento na viola-de-cocho, recebendo outros nomes como liso, crespo, rebuça-e-tchuça, para mais tarde participar de festas juninas, carnaval ou qualquer manifestação dos ribeirinhos. Com a proclamação da república os senhores de classe, precisando se aproximar do povo ribeirinho, tornaram o rasqueado um ritmo popular e de gosto geral, levando-o para praças e mais tarde para os salões de festa. Ainda foi discriminado nos saraus e rodas de poesia dos

intelectuais, até que a juventude dos anos 20 e 30 trouxe para esses ambientes.

DANÇA DO CONGO Dedicada a São benedito, a Dança do Congo ou Congada é de origem

autenticamente africana. Em Mato Grosso, é uma manifestação que ocorre tradicionalmente em duas cidades: Vila Bela da Santíssima Trindade e Nossa Senhora do Livramento.

Em Vila Bela, primeira capital de Mato Grosso, a Dança do Congo representa a resistência dos negros que continuaram na região, após a transferência da capital para Cuiabá, em 1835. Faz parte da festa de São benedito, que ocorre sempre no mês de julho, em uma segunda-feira, quando comemoram o dia do santo negro.

A Dança do Congo é a dramatização de uma luta simbólica travada entre dois reinados africanos. O Embaixador de um outro reino pede ao Rei do Congo a mão de sua filha em casamento; o Rei rejeita o pedido e, então, o Embaixador declara guerra ao Rei do Congo. O motivo da negativa teria sido que o Rei do Congo desconfiava que o

Embaixador queria fazer uma traição ao reinado: após o casamento, ele tomaria o poder, possivelmente, matando o Rei, o Secretário e o Príncipe, ficando com a coroa. Em uma outra versão, o Embaixador é o mensageiro do Rei de Bamba, que manda pedir a mão da Princesa em casamento.

Os personagens do reinado do Congo são o Rei, o Príncipe e o Secretário de guerra; do reino adversário aparecem o Embaixador e soldados. A nobreza usa mantos, coroas e bastões coloridos e ornamentados com flores, como instrumentos; o Príncipe e o Secretário de Guerra vestem também saiote com armação de arame e peitoral em forma de coração como escudo. Os soldados usam espadas, capacetes com pena de ema, flores e fitas, e o cantil que contém bebida chamada “Kanjinjim”, feita à base de cachaça, gengibre, canela, cravo e mel que serve para estimular os dançantes.

As flores na indumentária servem para reverenciar São Benedito; como os personagens não podem ficar próximos ao oratório do santo, durante a dança, onde colocariam suas flores para promessa, eles arrumam um lugar no capacete, e as fitas representam o próprio oratório.

A movimentação da Dança do Congo é a caracterização da marcha dos soldados; o pulso vertical dos corpos, os movimentos dos braços com as espadas e o ritmo dos pés, dançando ou caminhando, remetem à marcha. A dança ocorre pela cidade toda, onde os participantes cantam e marcham ao som do ganzá, bumbo e cavaquinho que são tocados pelos músicos-soldados. Os dançantes têm por função também proteger os festeiros, que são o Rei, a Rainha, o Juiz e a Juíza, que carregam objetos sagrados, e ainda as

promesseiras que acompanham o cortejo levando flores em homenagem a São Benedito.

DIVINO ESPÍRITO SANTO A festa do Divino é uma festividade folclórico-religiosa. Tem início no domingo da Ascensão com o “levantamento do

mastro” e termina na festa de Pentecostes, com a caracterização de uma Sala do Trono, onde o Imperador, a Imperatriz, e o Capitão do Mastro são os personagens centrais da festa. A festa do Divino remonta há séculos; trata-se de um paralelo entre o folclórico e o litúrgico, com um fundamento histórico trazido de Portugal durante a colonização.

Sendo uma festa originariamente portuguesa, ganhou nuances caboclas com a agregação de usos e costumes tipicamente regionais. Às cinco horas da manhã, há repique de sinos e espocar de fogos, ocasião em que as bandeiras do Divino percorrem as ruas centrais da cidade. Após a alvorada, é servido aos participantes iguarias típicas, cuja confecção nos foi legada pelos indígenas. Há cânticos e danças misturadas ao incessante bater dos pilões. Três personagens são encontrados na festa: a Imperatriz, o Imperador e o Capitão do Mastro.

A história da Imperatriz Isabel é contada com muita devoção pelos fiéis católicos. Era uma época conturbada no Brasil Português, quando a vida econômica agravava-se devido às lutas internas, políticas e bastidores, perturbando a administração e pondo em risco a segurança do trono. Foi então que a soberana teve a atitude insólita, abdicando a coroa em favor do Divino Espírito Santo. Profundamente religiosa e possuidora de uma fé inabalável, a soberana resolveu que, enquanto não fossem solucionados os graves problemas, reinaria sobre Portugal a terceira pessoa da Santíssima Trindade.

A Imperatriz recolheu-se a um convento e aguardou os acontecimentos. Atendendo aos apelos do povo, a Imperatriz resolveu retornar ao trono, realizando novo cortejo à Catedral, revestindo-se de sua realeza. A partir de então, a Imperatriz repetia

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todos os anos, no dia de Pentecostes, a cerimônia de consagração do reino do Divino Espírito Santo, em ação de graças pela felicidade e prosperidade.

Com músicas apropriadas, tanto as de rua como as sacras, na sua maioria criação dos músicos locais, a igreja ricamente ornamentada, com seus paramento de cores berrantes, portais, altares, púlpitos, realiza a festa, que é comemorada com grande alegria e respeito religioso.

O pão bento, a ser distribuído ao povo, é confeccionado pela fina flor mato-grossense, em casa escolhida para esse fim.

CAVALHADA A Cavalhada é uma das mais ricas manifestações da cultura popular da cidade de

Poconé, que rende homenagem a São Benedito. Uma festa organizada por famílias tradicionais da região, carrega o Pantanal para uma longínqua Idade Média. Trata-se de uma disputa entre mouros e cristãos. Nesta luta são utilizados dezenas de cavalos e cavaleiros que têm por objetivo salvar uma princesa presa em uma torre permanentemente vigiada.

Além do preparo dos cavaleiros, seus animais também revelam grande precisão de movimentos. A maior parte deles são cavalos pantaneiros, que souberam se adaptar às características do Pantanal.

Em dia de Cavalhada, a cidade de Poconé amanhece azul e vermelha, as cores que representam os cristãos e os mouros, um exemplo puro de cultura e paixão por suas raízes.

DANÇA DOS MASCARADOS

Típica do município de Poconé, é uma mistura de contradança européia, danças indígenas e ritmos negros. A maior peculiaridade desta dança é o fato de participarem apenas homens, aos pares, metade dos quais vestidos de mulher, com máscaras e roupas coloridas onde predominam o vermelho e o amarelo. Para participar é necessário ser bom dançarino. Os componentes escolhem o modo de se apresentar, seja no papel de homem ou de mulher, e sentem orgulho do que fazem. A dança tem expressão muito forte e chega a comover aos que estão assistindo.

A Dança dos Mascarados não encontra semelhanças com nenhuma outra manifestação no Brasil e sua origem ainda é um mistério, porém a origem pode estar ligada

aos índios que habitavam a região.

FESTA DE SÃO BENEDITO

Geralmente realizada entre a última semana de junho e a primeira de julho, movimenta milhares de fiéis, em procissão com bandeiras e mastros tão criativos quanto singelos. Ao final da procissão é levantado o mastro em homenagem ao santo de devolão. Reza a lenda que o mastro, ao sabor do vento, sempre aponta para a direção da morada de quem vai conduzir as rédeas dos festeiros posteriores. Dias antes do festejo há um ritual no qual os festeiros percorrem as ruas da cidade levando a bandeira do santo de casa em casa e recebendo donativos. Durante os dias de festa há fartura de comida e diversas iguarias, com distribuição

de alimentos, produzidos com muito capricho e carinho.

DANÇA DO CHORADO Dança afro, da região de Vila Bela da Santíssima Trindade, surgiu no período colonial, quando escravos fugitivos e

transgressores eram aprisionados e castigados pelos Senhores e seus entes solicitavam o perdão dançando o Chorado. Com o passar do tempo a dança foi introduzida nos últimos dias da Festa de São Benedito, pela mulheres que trabalhavam na cozinha. Com coreografia bem diferente da demais danças típicas, são equilibradas garrafas na cabeça das dançarinas que cantam e dançam um tema próprio. Procuram manter a garrafa na cabeça, para mostrar que estão sóbrias, isto é, que apesar da festança ninguém está embriagado. Este passou a ser o significado atual da Dança do Chorado.

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Artesanato O artesanato é um segmento da cultura mato-grossense de enorme importância,

não só para manter viva a cultura deste povo, mas principalmente, para divulgar a própria singularidade e o “modus

vivendi” do artesão. O artesanato de Mato Grosso reflete o dia-a-dia e os costumes de vida do próprio artista e da ancestralidade arraigada em vários pontos do Estado.

Sua origem está na praticidade com que o homem mato-grossense procurava suprir a falta de determinados objetos e utensílios domésticos, que a dificuldade de obtenção lhe afligia, seja pela distância de centros abastecedores, seja pela falta de recursos financeiros. Daí a criação. Daí o artesanato.

A cerâmica típica do artesanato mato-grossense, de barro cozido em forno próprio, pode ser de duas categorias. Aqueles destinados à ornamentação, como vasos, objetos de enfeite, cinzeiros, etc., e ainda aqueles utilizados como utensílios domésticos, como potes, panelas, pratos, etc. Existem características próprias de desenho, formato, adereços e enfeites, que diferenciam a cerâmica mato-grossense da de outros Estados.

Merecem destaque os ceramistas de São Gonçalo, local histórico na capital Cuiabá, que são especialistas na fabricação de utensílios domésticos, tanto os utilizados na cozinha a exemplo dos potes e panelas de barro, quanto aqueles destinados à ornamentação. São Gonçalo é o mais antigo núcleo populacional de Mato Grosso.

A tecelagem é talvez, dentro do nosso artesanato, a que detém maior representatividade no que tange a divulgação da arte, da cultura e da tradição do povo cuiabano e mato-grossense, principalmente pela sua beleza artística. Neste segmento destacam-se as rendeiras que, no princípio, fiavam e tingiam o próprio fio do qual teciam as redes lavradas (bordadas) com motivos diversos em toda a sua extensão.

A tecelagem é talvez, dentro do nosso artesanato, a que detém maior representatividade no que tange a divulgação da arte, da cultura e da tradição do povo cuiabano e mato-grossense, principalmente pela sua beleza artística. Neste segmento destacam-se as rendeiras que, no princípio, fiavam e tingiam o próprio fio do qual teciam

as redes lavradas (bordadas) com motivos diversos em toda a sua extensão. A habilidade com que as rendeiras tecem sua rede é a mesma das mulheres indígenas, de onde se origina esta tradição. As

guanás eram hábeis no manuseio do tear, e conseguiram passar esta tradição secular às mulheres cuiabanas e ribeirinhas. No entanto, além de fiarem e tingirem o fio, a exemplo das tecelãs cuiabanas, também plantavam o algodão e o colhiam.

Temos ainda o artesanato em madeira. Típico das localidades ribeirinhas do Rio Cuiabá, sendo um exemplo, o fabrico de canoas de pesca e remos. Antigamente, nos tempos mais remotos dos bandeirantes, era usado o sistema indígena de fazer canoa de casca de jatobá. Hoje a atividade canoeira, reduzida a poucos artesãos, está em franco desaparecimento. O canoeiro utiliza-se tão somente da madeira denominada ximbuva, ou o cambará, macia e fácil para escavar. Das sobras, são confeccionadas gamelas e tigelas de madeira.

Ainda no setor do artesanato de madeira, temos o artesão, geralmente cururueiro, que fabrica a Viola de Cocho, instrumento musical para acompanhamento do cururu e siriri. Trata-se de uma viola tosca, que produz um som típico, sem grande ressonância e ainda sem os trastes localizados no cabo do instrumento, responsáveis pela produção de uma boa escala musical. As cordas, antes elaboradas a partir de tripas de certos animais selvagens, como o quati, macaco e gambá, hoje são de nylon.

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A QUESTÃO AMBIENTAL EM MATO GROSSO E SEUS ECOSSISTEMAS Pantanal: Uma das maiores extensões úmidas contínuas do planeta

O Pantanal é uma planície periodicamente inundável, cujo fenômeno é regulado pelas cheias e vazantes da Bacia do Rio Paraguai. Nestes ciclos das águas, estas invadem os campos, tomando quase que todas as suas terras. Nesta estação, as plantas se reproduzem e criam toda vegetação exuberante que marca com beleza este oásis biológico, de água, luz e terra.

Na vazante do Pantanal suas terras ainda mais ricas e férteis, são invadidas pelos pássaros que buscam suas lagoas para pesca e alimentos necessários, este fato transforma a região num imenso viveiro natural.

Esta grande bacia hidrográfica tributária do Rio Paraná, na sua parte brasileira abrange parcialmente a região Centro Oeste. A bacia de drenagem do Paraguai Superior e do Alto Paraguai alcança a área total de 548 mil km², dos quais 63,1%

pertencem ao Brasil, o restante encontra-se em território paraguaio e boliviano. Cerca de 35% do Pantanal brasileiro se encontra em Mato Grosso.

Esta imensa região alagadiça está sob influência do próprio Rio Paraguai e de alguns tributários: Rio Jauru, Piquiri, São Lourenço, Taquari e Cuiabá. A Bacia Sedimentar do Pantanal é formada de água, ar, terra, fauna e flora, dentro de mais de 240 mil km² de superfície líquida a drenar em direção sudoeste. O lençol líquido é definido, não adquire a correnteza dos caudais, desliza.

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O clima é quente e úmido, no verão, e frio e seco, no inverno. Durante a seca, os campos se tornam amarelados e não sendo raro a temperatura descer a níveis abaixo de 0°C, e registrar geadas, influenciada pelos ventos que chegam do sul do continente. A maior parte dos solos do Pantanal são arenosos e suportam pastagens nativas utilizadas pelos herbívoros nativos e pelo gado bovino, introduzido pelos colonizadores da região.

A vegetação pantaneira é um mosaico de três regiões distintas: amazônica, cerrado e chaco (paraguaio e boliviano). Diferencia-se o aguapé, milhões de plantas flutuantes, o mais perfeito normalizador da integração sol-ar-água-poluição.

A grande característica da fauna pantaneira é o domínio populacional de espécies de vertebrados de médio e grande porte, que são favorecidos pelo regime hídrico da região. A região pantaneira possui uma das biodiversidades mais ricas do planeta, como mais de duas mil espécies de aves, peixes, mamíferos e répteis. Alguns animais, como o tuiuiú e o jacaré, tornaram-se verdadeiros símbolos da região.

A área é, também, bastante importante nas rotas de migração de várias espécies de aves não-residentes, proporcionando alimentação e refúgio sazonais.

João Carlos Vicente Ferreira

Impactos sobre o ecossistema Pantanal Conheça aqui as principais ações que degradam este bioma

• Pecuária Extensiva: Competição com a fauna nativa; desequilíbrios.

• Pesca e Caça Predatória: Diminuição dos estoques pesqueiros; desequilíbrios, risco de extinção de algumas espécies de jacarés e outras espécies.

• Garimpo de Ouro e Pedras Preciosas: Erosão, assoreamento e contaminação dos cursos d’água nas cabeceiras dos rios que formam a Bacia do Rio Paraguai, com impactos diretos no Pantanal.

• Turismo Desordenado e Predatório: Desequilíbrios; estresse e morte de aves devido a fogos usados para provocarem revoadas e a saquinhos - garrafas de plásticos jogados que, se ingeridos por um animal, podem matá-lo.

• Aproveitamento dos Cerrados: Manejo agrícola inadequado de lavouras resultando em erosão dos solos, o que aumentou significativamente o sedimento de vários rios que deságuam no Pantanal; contaminação dos rios com biocidas e fertilizantes.

• Lixo e Dejetos Urbanos: Esgotos de centros urbanos (especialmente Cuiabá) e hotéis de turismo que se estabelecem às suas margens.

Obs.: A grande quantidade de água do Pantanal origina-se de outras fontes e regiões: das chuvas e dos rios que nele deságuam, principalmente da bacia do Alto Paraguai. Daí a necessidade de uma política global de recuperação e preservação dos recursos hídricos que o abastecem.

Fonte: O Desafio do Desenvolvimento Sustentável.

Cerrado Paisagem típica do cerrado mato-grossense

O Cerrado é a segunda maior formação vegetal brasileira e originalmente ocupava uma área de quase dois milhões de km², sendo que hoje ocupa cerca apenas 20% do total. Em Mato Grosso a área ocupada por este bioma é de aproximadamente 300 mil km², o equivalente a 34% do território estadual.

Característico de regiões tropicais, o Cerrado apresenta duas estações bem definidas: verão chuvoso e inverno seco. Em pelo menos 2/3 da região o inverno é demarcado por um período de seca que prolonga-se por cinco a seis meses.

Por ter deficiente em nutrientes e rico em ferro e alumínio, típico solo de savana tropical, abriga plantas de aparência seca e árvores de troncos retorcidos e curvados com folhas grossas e esparsas. Estas árvores e plantas vivem em meio a uma vegetação rala e rasteira, misturando-se, às vezes, com campos limpos ou matas não muito altas. Entre as espécies vegetais que caracterizam o Cerrado estão o barbatimão, o pau-santo, a gabiroba, o pequizeiro, o araçá, a sucupira, o pau-terra, a catuaba e o indaiá. Debaixo dessas árvores crescem diferentes tipos de capim, como o capim-flecha, que pode atingir uma altura de 2,5m. Onde corre um rio ou córrego, encontram-se as matas ciliares, ou matas de galeria, que são densas florestas estreitas, de árvores maiores, que margeiam os cursos d’água. Nos brejos, próximos às nascentes de água, o buriti domina a paisagem e forma as veredas de buriti.

A flora do Cerrado é uma das mais diversas do mundo, possuindo alto grau de endemismo e riqueza de espécies. Estima-se que 10 mil espécies de vegetais, 837 de aves e 161 de mamíferos habitem o Cerrado.

Os Cerrados apresentam relevos variados, embora predominem os amplos planaltos. Metade do Cerrado situa-se entre 300 e 600m acima do nível do mar, e apenas 5,5% atingem uma altitude acima de 900m.

Seu solo esconde um grande manancial de água, que alimenta seus rios. A presença de três das maiores bacias hidrográficas da América do Sul (Tocantins-Araguaia, São Francisco e Prata) na região favorece sua biodiversidade.

Impactos sobre o ecossistema Cerrado Conheça aqui as principais ações que degradam este bioma

A ocupação humana dos Cerrados nos últimos quarenta anos acelerou os processos impactantes sobre a região, devido ao aumento da densidade demográfica. O crescimento não foi apenas vegetativo, mas resultante de intensa migração, dobrando sua participação relativa na população nacional. Entretanto, a população da região do Cerrado apresenta-se altamente agregada, com oitenta por cento vivendo em áreas urbanas.

As grandes pressões exercidas no momento sobre a fauna do cerrado são a destruição de habitat e a caça predatória. O Cerrado é visto como um ecossistema “menor” em termos de prioridade de conservação. Deste modo, não existem estimativas precisas de áreas convertidas à produção agropecuária neste bioma. No entanto, é certo que as taxas de destruição aumentaram consideravelmente, principalmente através da expansão da área cultivada com soja e o crescimento do rebanho bovino.

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A caça predatória é também importante como fator de rarefação de várias espécies de vertebrados de maior porte. Aproximadamente 33% das espécies de mamíferos que ocorrem no Cerrado são utilizadas como caça de subsistência, produção de peles ou mesmo como modelos experimentais. As espécies mais afetadas são a paca, a capivara, a anta, o veado-mateiro e os porcos-do-mato. Os cervídeos também são exaustivamente caçados no Cerrado.

A área do Cerrado (incluindo regiões de transição com o Pantanal) categorizada como Parque Nacional, reserva biológica e estação ecológica, não passa de 0,8% de sua superfície. A região amazônica, certamente menos afetada por atividades antrópicas, possui 2,8% de sua extensão representada por unidades de conservação. Estas estimativas indicam que a Amazônia possui 3,5 vezes mais área de superfície preservada que o Cerrado.

A forma mais utilizada de desmatamento do Cerrado é a dos “correntões” puxados por dois tratores, que vão derrubando toda a vegetação que estiver pela frente. Desta forma abre-se espaço para a agricultura moderna ou formação de pastagens. É a partir destas ações que a fauna e flora vão desaparecendo. Sabemos da riqueza que o ecossistema Cerrado abriga, sendo que seu desaparecimento seria uma tragédia. A expansão das atividades humanas no Cerrado (hidrelétricas, urbanização, agricultura, etc.) resulta em grandes impactos na região.

Para manter a riqueza biológica dos Cerrados, seria necessário destinar maiores recursos para preservar e criar novos Parques Nacionais que abrigam o pouco que resta intacto.

Além dos aspectos elencados acima vale a pena citar:

• Grandes Projetos Agropecuários: Desmatamento de áreas nativas e grandes queimadas; drenagens - erosão, alteração da vasão dos cursos d’água, assoreamento; monocultura extensiva - desequilíbrio ecológico; uso de grandes quantidades de agrotóxicos - poluição das águas; uso de mecanização intensiva - compactação dos solos; destruição de sítios arqueológicos.

• Expansão Urbana desordenada: Destruição de nascentes de cursos d’água que formam a bacia do Pantanal; destruição da paisagem; poluição por falta de saneamento básico; destruição da rede de drenagem; abertura de cascalheiras; áreas decapeadas, áreas de extração de areia, estradas, cortes de morros, aterros e drenagens, voçorocas; desmatamento para obtenção de lenha e escoras para construção e fornos; aumento da poluição das águas com esgoto e do solo com lixo; expansão do tráfego de veículos e consequente poluição atmosférica e sonora; intensificação da descaracterização da paisagem e biota nativas pela expansão de áreas ocupadas com plantas e animais exóticos.

• Invasão de Reservas Indígenas: Impacto cultural e social sobre populações indígenas; desmatamento.

• Olarias - Fábricas de Tijolos: Demanda de carvão vegetal; desmatamento do cerrado e floresta pré-amazônica.

• Garimpo de Ouro e Pedras Preciosas: Erosão, assoreamento e contaminação dos cursos d’água; impacto socioeconômico.

• Indústria de Transformação: Destruição de cavernas calcárias para a produção de cimento e calcário agrícola; desmatamento para a produção de carvão vegetal.

AMAZONIA

A Amazônia é o ecossistema de maior diversidade biológica do mundo, representando a mais extensa floresta tropical existente. É também o maior bioma brasileiro, sendo que de seus aproximadamente 5,5 milhões de km² de extensão, em torno de 3,3 milhões de km², estão em território brasileiro, e desses, pelo menos 550 mil km² estão dentro do estado de Mato Grosso.

Embora a região fosse, tradicionalmente, vista como um bioma relativamente homogêneo, reconhece-se hoje tratar-se de um mosaico de distintos ecossistemas que abrigam comunidades bastante heterogêneas, tanto em composição quanto em diversidade (Prance & Love Joy, 1985).

A fauna é caracterizada, em sua maioria, por formas florestais com adaptações típicas. Os primatas, aves, anfíbios e peixes atingem na Amazônia a sua maior diversificação taxonômica dentro do continente americano. Devido a sua grande área de superfície, a Amazônia ainda possui vastas extensões cobertas por floresta tropical úmida.

É uma floresta tropical fechada, formada em boa parte por árvores de grande porte, situando-se próximas uma das outras (floresta fechada). O solo desta floresta não é muito rico, pois possui apenas uma fina camada de nutrientes. Esta é formada pela decomposição de folhas, frutos e animais mortos. Este rico húmus é matéria essencial para as milhares de espécies de plantas e árvores que se desenvolvem nesta região. Outra característica importante da floresta amazônica é o perfeito equilíbrio do ecossistema. Tudo que ela produz é aproveitado de forma eficiente. A grande quantidade de chuvas na região também colabora para o seu perfeito desenvolvimento. Fonte: O Desafio do Desenvolvimento Sustentável.

Como as árvores crescem muito juntas uma das outras, as espécies de vegetação rasteira estão presentes em pouca quantidade na floresta. Isto ocorre, pois com a chegada de poucos raios solares ao solo, este tipo de vegetação não consegue se desenvolver. O mesmo vale para os animais. A grande maioria das espécies desta floresta vive nas árvores e são de pequeno e médio porte. Podemos citar como exemplos de animais típicos da floresta amazônica: macacos, cobras, marsupiais, tucanos, pica-paus, roedores, morcegos entre outros. Os rios que cortam a floresta amazônica (rio amazonas e seus afluentes) são repletos de diversas espécies de peixes.

O clima que encontramos na região desta floresta é o equatorial, pois ela está situada próxima à linha do equador. Neste tipo de clima, as temperaturas são elevadas e o índice pluviométrico (quantidade de chuvas) também. Num dia típico na floresta amazônica, podemos encontrar muito calor durante o dia com chuvas fortes no final da tarde.

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Impacto Ambiental sobre a Amazônia Conheça aqui as principais ações que degradam este bioma

Juntamente com o Cerrado, a Amazônia é o bioma que experimenta as maiores taxas de conversão de florestas em uso agropecuário. Na Amazônia, esta conversão se deu, principalmente, para o estabelecimento de pastagens, com florestas sendo derrubadas e queimadas anualmente.

A indústria de extração madeireira, embora possuindo menor importância em termos de impacto total sobre o ecossistema amazônico, tende a se constituir em sério problema em diversas regiões do Estado.

Outra pressão significativa sobre os ecossistemas amazônicos está representada pela construção de barragens para produção de energia elétrica. Embora o impacto esteja distribuído sobre um percentual relativamente pequeno da superfície da região, há que se preocupar com a diversidade faunística das áreas a serem inundadas.

As mudanças hidrológicas trazidas pelas barragens podem também afetar os tabuleiros de reprodução de tartarugas amazônicas. Este impacto poderá ter importantes reflexos na economia regional, porque os quelônios da região se constituem em recursos de subsistência significativos para populações locais, especialmente as próximas aos rios das Mortes e Araguaia. O impacto a ser produzido pelo barramento de rios amazônicos sobre a ictiofauna também não tem tido a devida apreciação. A mudança nos padrões de flutuação cíclica nos níveis dos rios, além das novas condições físico-químicas dos reservatórios, poderão também afetar negativamente os padrões naturais de diversidade de espécies da ictiofauna da Amazônia mato-grossense.

Para algumas espécies da fauna amazônica, a caça comercial e de subsistência se constituem em pressões capazes de levar populações locais à extinção, ou pelo menos à uma rarefação extrema das densidades naturais. As espécies exploradas se constituem em recursos tradicionalmente utilizados como fontes de proteína pelas populações indígenas (Gross, 1975). A caça de subsistência tem sido bastante eficiente na eliminação de várias populações de primatas. A experiência com projetos de colonização na Amazônia indica que as populações de primatas são as primeiras a serem extirpadas nas áreas circunvizinhas a núcleos urbanos.

Outro problema que causou e ainda causa tremendo impacto ambiental é o garimpo de ouro. O mercúrio utilizado no processamento do ouro tem o potencial de se incorporar nas cadeias alimentares das comunidades locais, expandindo grandemente a sua área de influência. Além dos aspectos elencados acima vale a pena citar:

• Garimpo de Ouro: Assoreamento, erosão e poluição dos cursos d’água; problemas sociais; degradação da paisagem e da vida aquática; contaminação por mercúrio com consequências sobre a pesca e a população.

• Grandes Projetos Agropecuários: Incêndios; destruição da fauna e da flora; erosão, assoreamento e contaminação dos cursos d’água por agrotóxicos; destruição de reservas extrativistas, destruição de sítios arqueológicos.

• Mineração Industrial: Degradação da paisagem; poluição e assoreamento dos cursos d’água; esterilização de grandes áreas e impactos socioeconômicos.

• Usinas Hidrelétricas: Impacto cultural e socioeconômico (povos indígenas) e sobre a fauna e a flora; inundação de áreas florestais, agrícolas, etc.; destruição de sítios arqueológicos.

• Indústrias de Ferro-Gusa: Demanda de carvão vegetal da floresta nativa - desmatamento; exportação de energia a baixo valor e alto custo ambiental; poluição das águas, ar e solo.

• Grandes Indústrias: Poluição do ar, água, solo; geração de resíduos tóxicos; conflitos com o meio urbano.

• Construção de Rodovias: Destruição de culturas indígenas; propagação do garimpo e de doenças endêmicas; grandes projetos agropecuários; explosão demográfica.

• Caça e Pesca Predatória: Extinção de mamíferos aquáticos; diminuição de populações de quelônios, peixes e animais de valor econômico-geológico.

• Crescimento Populacional: Problemas sociais graves; ocupação desordenada e vertiginosa do solo (migração interna) com sérias consequências sobre os recursos naturais.

Fonte: O Desafio do Desenvolvimento Sustentável.

REFERENCIAS ROSS, Jurandir. L. S. Relevo Brasileiro. In: Geografia.do.Brasil. São Paulo: Ed. EdUSP, 1996. ROSSETTI, Paulo. Contabilidade.Social. São Paulo: Ed. Atlas, 1993. SACHS, Felipe Larrain. Macroeconomia. São Paulo: Ed. Revisada, 1998. SOUZA, Nali. Desenvolvimento.Econômico. São Paulo: Ed. Atlas, 1995

VASCONCELOS, Tereza N. N. et al. Compartimentação Geomorfológica de Mato Grosso. In: MORENO, G. et al. Geografia. de.Mato.Grosso: Território, Sociedade, Ambiente. Cuiabá: Ed. Entrelinhas, 2005. IBGE. Atlas.Nacional.do.Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2000 ____. Anuário.Estatístico.do.Brasil. vol. 1. Rio de Janeiro: IBGE, 2001. ____. Pesquisa.Nacional.por.Amostra.de. Domicílios.. PNAD. 2002-2004.

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