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História Secreta do Brasil 4 - Gustavo Barroso.pdf

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  • GUSTAVO BARROSO

    HISTRIA SECRETA

    DO BRASIL VOLUME 4

    l REEDIO 1993

    Reviso Editora Ltda. Conferindo e Divulgando a Histria

    Caixa Postal 10466 90001 Porto Alegre-RS

  • NDICE Volume 4

    I. A mo oculta 1 II. A epopia dos centauros 25

    III. A repblica que nasceu morta 43 IV. O reino encantado do diabo 53 V. O imperador dos bentevis 77 VI. A restaurao da autoridade 89

    Apndice 95

  • Captulo I

    A MO OCULTA

    Na vastido dos pampas da antiga Vacaria, que constituram a provncia de So Pedro do Rio Grande do Sul, nascera uma raa de centauros, cujo "patriotismo se criara e acrisolara nas lutas contra as misses guaranis e contra a ousadia dos invasores castelhanos de Vertiz e de Zeballos. No seio das matas e serras do norte ou dos vastos pampas do sul, varridos de minuanos, ensopados de sol ou de luar, o homem, a p e a cavalo, de espingarda ou de lana, acostuma-ra-se a esperar o inimigo espanhol. Largava o machado de lenhador, a enxada de roceiro ou o ferro ainda quente de marcar o gado para correr s armas e repelir o vizinho que disputava expanso brasileira o caminho forado at seus limites naturais" (1). "As povoaes da fronteira diz um historiador local eram simples guarnies milita-res, que as contnuas incurses espanholas mantinham vigilantes e alertas. Tinham mais o aspecto de acampamentos que, propriamente, de centros de populao civil (2)."

    As foras secretas, aproveitando a oportunidade magnfica que a Regncia oferecia para o esfacelamento do Brasil, lanaram suas vistas para essa gente brava, desprendida, honesta, idealista, fcil de enganar, a fim de fomentar um movimento que trouxesse nos seus torvelinhos as sementes da repblica, capazes de brotar em arbustos de separao, produzindo flores de anarquia. A posio geogrfica da regio, marca ou frontaria meridional do Imprio, como diriam os clssicos, ajudava a esse desideratum. Atacado fortemente o extremo Norte pela revolta cabana, assoprada do fundo das lojas da maonaria e do iluminismo, era o plano atacar o extremo Sul ao influxo das sugestes e da ao da maonaria e do carbonarismo.

    Se fssemos ns que afirmssemos isto, era lcito duvidar; mas a prpria maonaria quem o afirma mais de uma vez e categoricamen-te, em documento pblico. A 19 de abril de 1936, na Seo Livre do "Correio do Povo" de Porto Alegre, o Oriente desta cidade fez estam-

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  • par a seguinte proclamao, na qual grifamos os pontos mais impor-tantes*

    "AD UNIVERSI TERRARUM ORBIS SUMMI ARCHITECTI GLO-RIAM! Ao Governo, ao Povo, aos Maons de todo o Brasil e a quem mais a presente vier a conhecer. Ns, representantes legtimos de todos os Maons Antigos, Livres e Aceitos regulares, residentes no Oriente de Porto Alegre, sob as inspiraes do mais intenso jbilo, aqui reafirmamos a mais soberana f que todos depositamos no destino glorioso de nossa Raa (?!). E, na celebrao do primeiro centenrio de um dos trs maiores feitos manicos do Brasil (1822, 1835-45, 1889), queremos abraar fraternalmente a todos os nossos irmos de raa (?!), na firme compenetrao de todos os deveres cvicos e humanos, subscrevendo na presente os propsitos que animam aos Maons de todo o globo terrqueo de lutar sem esmorecimento em favor da Paz, da Ordem e da Prosperidade da Ptria, para que ela seja forte, grande, feliz e amiga das outras Ptrias, concorrendo aureamente para o bem-estar geral da Famlia Humana.

    Quer do ponto de vista ideolgico e quer na feio prtica, j no pode caber a mnima dvida sobre o fato de haver sido a Grande Revoluo um movimento visceralmente manico, DE JURE ET DE FACTO.

    E, nesta hora em que tudo esplendente vibrao na alma do Rio Grande do Sul, entendemos devido e necessrio concitar os Maons e os profanos brasileiros a que tenham f nos propsitos ordeiros, progressistas e fraternos de todos os Maons regulares riograndenses os defensores dos mesmos ideais pacficos e frater-nais de Bento Gonalves, Onofre Pires, Garibaldi, Padre Caldas, Padre Santa Brbara e de tantos outros, que fizeram realidade o sonho farroupilha, j anterior a 1835 (?!).

    AS INSGNIAS DO ESTADO, as proclamaes da poca, tudo quanto existe de autntico sobre a Grande Revoluo serve para atestar a estruturao GENUINAMENTE MANICA do movimen-to.

    E, por tudo isso, o regozijo dos Maons Antigos, Livres e Aceitos do Oriente de Porto Alegre, no instante em que todo o Brasil, pelo Poder Pblico, pelo Povo e por todas as expresses de sua cultura e de sua vida, est sagrando o feito herico dos nossos Irmos Maons do decnio glorioso, daqueles que souberam render, du-rante dez anos, um culto de sangue (?!) Liberdade, Justia e Moral.

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  • Reafirmamos, nesta hora de esplendentes comemoraes, a jnquebrantvel f que tributamos liberal-democracia filha primo-gnita da Grande Revoluo Francesa de 1789 e, conseqente-mente, da BENEMRITA, HUMANA, GLORIOSA E REAL ARTE DA FRANCO-MAONARIA, conforme seria mesmo fcil constatar no pr-prio livro "As foras secretas da Revoluo", de Lon de Poncins.

    E, ao fazermos to solene proclamao, concitamos todos os patrcios e todos os Irmos ao cum-primento estrito dos deveres assu-midos para com a Ptria e a Huma-nidade, constituindo-se defensores da Paz e do Progresso, para per-feita e produtiva colaborao de quantos se dedicam glorificao da Raa (?!) e felicidade da P-tria.

    Deus d ao Rio Grande do Sul, nesta hora que nos sagrada, tudo quanto pode e deve aspirar uma terra que encerra as mais al-tas virtudes no corao de seu povo!... Deus d ao povo gacho a ntida compreenso de seus deve-res pelo bem comum da Ptria! Deus d a todos ns o poder de nos elevarmos acima de todas as questinculas partidrias, pessoais ou escolsticas, permitindo-se, as-sim, um congraamento real e total dos filhos do Pampa, econmica, poltica e socialmente, para juntos podermos tributar a devida reve-rncia aos Maiores (?!) e cumprir-mos nosso dever de gachos, AD MAJOREM DEI GLORIAM.

    Que, assim, o Grande Arquiteto do Universo nos ajude, pelo bem geral da brasilidade!...

    As duas colunas manicas, Jakin e Booz, Boaz ou Bohaz, segundo a fig. 4 do t. VI da obra "Biblioteca Manica ou Instruo Completa do Franco-Maon", dedicada aos Orientes Lusitano e Brasileiro por um Cavalheiro Rosa-Cruz, Aillaud, Guillard &Cia., Paris, 1864. Compa-re-se o smbolo com o braso do Rio Grande do Sul. A maonaria tem toda a razo, quando afirma oficial-mente que so manicas as insg-nias do Estado. E ns, apoiados na documentao insofismvel que apresentamos, temos toda a razo em dizer que o glorioso e herico povo gacho deve substituir esse escudo, que no dele, mas de uma sociedade secreta, por um seu, que simbolize seu nobre e tradicional pa-pel de guarda vigilante e muitas ve-zes sacrificado das fronteiras meri-

    dionais do Brasil.

  • Oriente de Porto Alegre, aos 24 dias do ms de setembro de 1935 da Era Crist, Centenrio da Revoluo Farroupilha e Oitavo da fundao de nossa Grande Loja Simblica. Conde Cagliostro, Mes-tre Maon; Aulon, Mestre Maon; Scrates, Mestre Maon; Wilson, Mestre Maon."

    Como se v, em 1936, reproduzia-se essa proclamao de 1935. O jornal referido a publicou com todos os carimbos e selos da Grande Loja, a fim de autentic-la, porque est firmada por pseudnimos. A maonaria at hoje no desmentiu esse papel. Devemos aceit-lo como prova. Por ele se verifica que os feitos do povo gacho so feitos dos Irmos Maons e que as grandes datas de nossa histria so simplesmente datas manicas. Se a maonaria fala a verdade, tempo de nos libertarmos desse Estado secreto que tudo manobra dentro do pas, segundo confessa, o que pode ser muito agradvel para os Maons Aceitos ou no Aceitos, porm muito desagradvel para os profanos, que so a maioria. Se a maonaria mente e se pavoneia com glrias alheias, ento acabemos com essa tropilha ridcula que est lanando o desprestgio sobre os fatos da histria nacional, fazendo-os todos passarem como forjados no seu cadinho secreto. Os documentos e a lgica infelizmente demonstram que a ao manica verdadeira.

    De brao dado com a maonaria se encontram por toda a parte outras sociedades secretas, trabalhando em prol da RAA, eufemis-mo com que os annimos autores do manifesto retro escondem seu preito de vassalagem vil, abjeta e infame Raa Judaica, ao povo maldito de Israel. Em So Paulo, a Burschenchaft age de concerto com as lojas; no Par, o iluminismo; no Rio Grande do Sul, o carbonarismo, em cujos sete primeiros graus muito se fala no cristia-nismo para embair os papalvos; mas em cujos trs ltimos se declara guerra a toda religio e sociedade. No grau de mestre, o ritual carbo-nrio acusa Nosso Senhor Jesus Cristo por ter atentado contra a igualdade original dos homens, dizendo-se Filho de Deus. No stimo grau, o carbonrio jura guerrear toda religio e todo governo positivo (3).

    O carbonarismo nasceu e se desenvolveu no reino de Npoles, onde tomou grande impulso quando da ocupao austraca com a queda de Murat. Ligou-se maonaria atravs da loja francesa Amis de Ia Verit, no dia 1 de maio de 1821. Chamamos a ateno para essa data simblica, sempre escolhida pelas foras secretas e pelo judasmo por ser uma data pag, anti-crist por excelncia. a data da chegada a Paris, com a mensagem comunista, como demonstra

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  • Salluste, do judeu Caim Buckeburg, que se convertera e tomara o nome de Henri Heine, e que, segundo o testemunho de J. Santo em "Les mfaits d'lsrael", "adotara a armadura e a bandeira do inimigo para poder feri-lo com mais segurana".

    A ligao da carbonria maonaria foi resolvida, conta Joo de Witt, o grande unificador das sociedades secretas, numa reunio de onze chefes carbonrios em Cpua (4). Dali partiram para a Frana, munidos de credenciais para agir em nome da Alta-Venda Carbonria o duque de Garatula, siciliano, e Cario Chiricone Klerckon, filho do duque de Framarino, napolitano. Os franceses dessa poca conhe-ciam os carbonrios como Adelfos e Filadelfos, achando seus pri-meiros graus demasiadamente cheios de cristianismo, o que os outros explicavam pela necessidade de usar dessa isca numa terra profunda-mente catlica como a Itlia. Ainda de acordo com a insuspeitssima opinio de Joo de Witt: "O pensamento dominante da associao nada tinha de preciso, mas os consideranda se resumiram a decretar a soberania nacional sem a definir... Porm, quanto mais vaga fosse a frmula, melhor servia diversidade dos ressentimentos e dos dios. Ia-se, pois, conspirar em vasta escala e isso sem idia de futuro, sem estudos preparatrios, ao sabor de todas as paixes e caprichos." Uma beleza!... O famoso Lafayette, maon de quatro costados, foi um dos primeiros a se fazer carbonrio, quando se realizou a unio da Alta-Venda com o Grande-Oriente, que a Venda oficialmente denominava o Alto Firmamento.

    Alexandre Dumas conta que o carbonarismo se espalhara na Itlia em 1820, sobretudo nos Estados da Igreja, unindo-se aos restos da antiga seita ou partido dos Guelfos e aos elementos bonapartistas. A GRANDE LUZ dessas sociedades era Luciano Bonaparte, irmo do Imperador, o qual combatia violentamente o clero e preparava os espritos para a repblica. No reino das Duas Siclias, chegou a haver seiscentos e quarenta e dois mil carbonrios (5)! La Farina, apavora-do, computava-os em mais de oitocentos mil (6)!

    A carbonria, embora sob formas diferentes, tem as mesmas doutrinas do rito manico de Misraim. Sai diretamente da chamada cbala egpcia. "Devendo o carbonarismo operar sobretudo na Itlia, terra toda impregnada de catolicismo, precisava at certo ponto tomar emprestados as suas crenas, mistrios e linguagem, palavras e usos prprios, para enganar os povos, destruindo com mais segurana toda a f nos seus adeptos e conduzindo-os pelo mais obscuro fanatismo ao ltimo limiar do pantesmo e da anarquia moral (7)." Seus membros no se tratam por irmos, mas por bons primos. Na sua impiedade,

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  • Jesus o primeiro dos bons primos. Nada mais. Nos dois primeiros graus, falam muito da Santssima Trindade, da Santa Virgem, de So Jos e dos Apstolos, empregando termos como "batismo", "pecado original e mortal", referindo-se sempre F, Esperana e Carida-de, chegando a recitar Padres-Nossos e Ave-Marias, e afirmando que o fundador da Ordem foi So Teobaldo (8).

    Assim, a maonaria carbonria designa seu fundador, Teobaldo, a que alude Larmening de Alexandria, o restaurador da Ordem dos Templrios depois de esmagada pelo Rei Filipe e Belo e abolida pelo Papa Clemente, tendo sido o primeiro Gro-Mestre em seguida a Jacques Molay (9).

    Todos os nomes a que aludimos so invocados sem o menor respeito pela verdadeira f. Pouco a pouco, conforme se vo elevando os graus, as impiedades se tornam tambm mais visveis e grosseiras at se chegar, ritualmente, aos Deus-Fogo, ao Pantesmo, a todos os mistrios da santa religio carbonria. O ltimo grau a proclama-o do iniciado como FILHO DE DEUS E REI, isto , a ltima palavra do lluminismo, do Martinismo e do Pantesmo. Tal rito destri a base do cristianismo, pois, se todos ns somos deuses e reis, Jesus Cristo no poderia ser mais do que somos. A divindade e a realeza do iniciado completam-se na liturgia da vingana contra os tiranos. A constituio carbonria preceitua textualmente o seguinte: "Um conci-lio de todos os bispos reeleitos ou confirmados pelo povo restabelece-r a religio crist na sua pureza primitiva (10)." Essa reconstituio desse pseudo cristianismo antigo e puro equivale destruio da verdadeira Igreja. Tanto que, segundo o testemunho irrefutvel do grande carbonrio Joo de Witt, alm dos graus de todos conhecidos, havia um inteiramente desconhecido, anlogo ao HOMO REX dos iluminados, no qual se revelava que o fim supremo da Ordem era, em verdade, a destruio de toda religio (11).

    Esta seria a seita manica escolhida para atuar na primeira linha no Rio Grande do Sul, atravs de um enviado culto e inteligente, o conde Tito Livio Zambeccari, atravs de um condottiere de poucas letras e grande bravura, pianto uomo viosa, Giuseppe Garibaldi, e atravs de outros, como veremos com tempo e vagar. Na opinio de Pietro Borelli, Garibaldi era uma nulidade intelectual (12). Revolucio-nrio indisciplinado e talvez um tanto inconsciente do que fazia. -Mais fora instintiva do que reflexo. Por isso, Cavour servia-se dele (13). Pela carbonria, estava ligado a Mazzini, que fundara em Marselha, no ano de 1831, a famosa sociedade Jovem Itlia, que se refugiara em Londres, onde, sombra da proteo das lojas e do Kahal, nada mais

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  • fizera do que organizar conjuras entre 1833 e 1834. Naturalmente, Garibaldi devia ter alto posto nas Vendas carbonrias, porque fra elevado a Gro-Mestre Geral do Rito de Mnfis e de Misraim, do qual elas emanavam (14). O maon arrependido Domenico Margiotta, que foi uma das figuras primaciais da Ordem, afirma que Garibaldi no passava de um instrumento da poltica judaica da Inglaterra, ento dirigida por lord Palmerston (15). "Na histria acrescenta sabe-se o que se v no teatro, ignora-se o que se passa nos bastidores (16)." Lord Palmerston era amigo ntimo do tirano Rosas, visitava-o no seu desterro da Inglaterra freqentemente e herdou-lhe o arquivo, por testamento...

    Notemos de passagem estas coincidncias acidentais: Gari-baldi, Gro-Mestre Geral do Rito de Mnfis e de Misraim; o carbona-rismo originrio das Duas Siclias e saindo do Rito de Misraim e da cbala egpcia; Cagliostro, o aventureiro siciliano misterioso, enviado manico s lojas francesas, Gro-Copta da cbala egpcia, fundador do Rito de Misraim; a assinatura do Mestre Maon que vem em primeiro lugar no documento anteriormente publicado neste mesmo captulo, no qual o Oriente de Porto Alegre reivindica de pblico para a maonaria a autoria da revoluo dos Farrapos e at a do prprio braso do Estado, , simplesmente, este: CONDE CAGLIOSTRO! A identificao dos criminosos secretos exige uma ateno e uma pa-cincia de Sherlock Holmes; mas, quando se apanha uma pista ou se consegue apontar o rastro marcado na areia, os maons gritam que mentira, mentira, mentira!... Deixemo-los gritando e vamos tratando de os desmascarar.

    fato inegvel que, segundo a afirmao de Canabarro Rei-chardt, "idealistas tericos da revoluo", vieram juntar-se aos Farra-pos e trazer-lhes "o seu contingente de idias" (17). O principal desses tericos foi justamente Zambeccari, "o famoso carbonrio e intemerato adepto da unificao italiana", grande conspirador, tcnico no assunto, cuja influncia sobre o esprito de Bento Gonalves, o chefe dos Farrapos, no se pode negar (18). Bento Gonalves foi, nos sucessos do Rio Grande, o "organizador e coordenador dos nimos descontentes" (19). Como tantos outros caudilhos daquela regio fronteiria, era um homem de pouca instruo, criado na vida rude dos campos, cheio de pundonor, veterano de todas as lutas platinas, tendo-se alistado no Exrcito Pacificador de D. Diogo de Souza, em 1811, aos vinte e trs anos de idade. Aliava grande e natural bravura gacha, uma honestidade sem par, todo eriado de pontos de honra e de escrpulos morais (20).

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  • Na seo livre do "Correio do Povo" de Porto Alegre n de 24 de setembro de 1935, em artigo 2ob o ttulo "Maonaria versus Integralismo", a maonaria riograndense declarou oficialmente o seguinte: "As insgnias do Estado, as proclamaes da poca, tudo quanto existe de autntico sobre a grande revoluo servem para atestar a estruturao genuinamente manica do movimento." Refere-se revoluo dos Farrapos, de 1835 a 1815. Estudemos essas insgnias manicas no seu painel oficial do tempo da revoluo, aqui estampado. No meio de um trofu de armas e bandeiras, um escudo oval, tendo duas colunas plantadas sobre rochedos, e, no meio delas, um losango com rosceas s pontas e um quadro, em que o barrete frgio republicano repousa sobre uma haste, entre dois ramos. Analisemos documentadamente os smbolos a contidos. O barrete frgio se encontra entre rosceas simblicas, que, mais tarde, se transformaro em estrelas. Essas rosceas so as do Sephiroth da Cbala, como se pode facilmente verificar na gravura colorida que abre o cap. XXI da grande obra de Manly P. Hall. "Encyclopedia

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  • of masonic, hermetic and rosicrucian symbolical philosophy", So Francisco, 1928, que pode ser consultada na Biblioteca Nacional, na Seo de Gravuras, sob os ns 31 - 3 - 8 . Isso mostra que nenhuma mincia deve ser desprezada no estudo, interpreta-o e leitura de qualquer sinal manico. O losango nada mais do que a represen-tao dos dois tringulos que formam a chamada Estrela de David. Esto unidos pela base e significam o dualismo maniqueu, a igualdade do Bem e do Mal, em luta constante. Os rochedos so o que se chama em linguagem manica a Pedra Bruta: o homem tal qual o fez a natureza e a sociedade, ensina Henri Durville em "Os mistrios da maonaria e das sociedades secretas", pg. 45. O maon Dario Veloso, em "O templo manico", considera a Pedra Bruta o "estado primitivo, ignorncia, paixes, egos-mo" e acrescenta: "Trabalha com ardor na Pedra Bruta e vers brilhar a Estrela Flamejante", pg. 221. As duas colunas so as que esto em todas as lojas. "As Colunas do Templo simbolizam declara Dario Veloso, op. cit., pg. 178 dois princpios de equilbrio social: Tolerncia e Solidariedade. Na famlia, representam o Homem e a Mulher, cujo antagonismo se resolve pelo Amor. Analogicamente, representam ainda: a Razo e a F; a Cincia e a Religio; o Bem e o Mal; a Luz e a Treva." pg. 220, ainda escreve que uma delas, Jakin, o Esprito, e a outra, Boaz, a Matria: o Ativo e o Passivo; a Liberdade e a Necessidade. "As duas colunas, Boaz e Jakin define D. Jos M. Caro, pg. 57 de seu livro "Mistrio!", representam os dois princpios que, segundo os gnsticos e maniqueus, produziram o mundo, o Bem e o Mal, a Luz e as Trevas, Osris e Tfon, Ormuz e Arimano, Satans e Jesus Cristo, a Forma e a Matria, o Fogo e a gua, o Macho e a Fmea. A coluna branca o emblema do sexo feminino, a negra do masculino. Lendo-se as letras ao inverso, tem-se o segredo da natureza formulado em hebreu." Afinal, o gro-mestre do Paladismo manico, das lojas de retaguarda, d a ltima revelao para uso somente dos altos graus, no seu "Sepher H'debarim", pg. 46, que citamos em ingls para evitar torpezas em vernculo: "Jakin thus while symbolized the state of erection of the Membrum virite, when prepared for begetting or creating in the womb: Bohaz symbolized the potency, vigor and fierce, and even cruel desire of the same member" O povo gacho, sentinela de nossas fronteiras, coberto de glria, devia ter um braso que simbolizasse sua coragem, seu denodo, seu sacrifcio, seu cavalheirismo sem par, que merecem o respeito e a gratido de todos os brasileiros. A maonaria judaica e infame, iludindo seu heroismo magnfico de 1835 a 1845, desrespeitando o sangue de tantos heris tombados por um ideal, imps-lhe subrepticiamente essas armas, cuja autoria ela prpria confessa e cuja indecente e satnica significao seu gro-mestre, o general Albert Pike, revela aos iniciados. Que os bravos riograndenses, compreendendo nosso amor pela sua glria e nossa estima pelas suas belas tradies, recusem a herldica manica-carbonria-judaica e adotem um novo braso, cristo, nacional, expressivo de seus altos feitos, histrico. mocidade dos pampas, que deve ser brasileira e no manica internacional, cabe de pleno direito essa necessria, imprescindvel reivindicao. Como se v, nada inventamos sobre o assunto e nada mais fizemos do que esclare-cer definitivamente o caso com as palavras da maonaria e dos maons, capazes de, sob o vu de seus mistrios, impor a um povo admirvel e generoso os seus smbolos imorais e bafomticos.

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  • Os dois aventureiros italianos e carbonrios, vindos para a Am-rica do Sul a insuflar revolues, a sugestionar os seus chefes ou a procurar imprimir-lhes rumos, nada tinham de superior, quer em va-lentia, quer em cultura, aos brasileiros que se lanavam por idealismo, inconscientes de estarem servindo a desgnios ocultos, na voragem da guerra civil. Somos neste ponto da opinio de Souza Docca: "A ningum lcito negar que Jos Garibaldi pelejou com bravura ao lado dos hericos farroupilhas e que a estes prestou servios relevantes. Mas a verdade histrica no pode consentir que se coloque o heri italiano acima dos heris rio-grandenses, usurpando o lugar destes nas comemoraes pblicas, na recomendao de seus nomes posteridade, como se tem feito e como acontece no momento a Bento Gonalves na cidade do Rio Grande. No so de hoje essas idias, as expressamos h quatorze anos, na conferncia que proferimos ao ser inaugurada a herma de Gomes Jardim, em Pedras Brancas. Garibaldi foi grande pelo herosmo e pelo arrojo, embora nesse particular no sobrepujasse os farroupilhas. Foi, entretanto, menor que estes, na tenacidade em defesa do ideal que deu vida e movimento Revolu-o. Combateu como aventureiro para o que tinha disposio, se-gundo ele mesmo confessou em suas "Memrias". Entrou para o servio da Repblica Riograndense com desaire, quando esta ascen-dia gloriosamente para o fastgio a que chegou, e a abandonou, tambm com desaire, em suas horas amargas para o declnio e foi, em seguida, legao brasileira em Montevidu, anular, renegar o seu passado de lutas, em troca de uma anistia, conforme documento existente no arquivo do Itamarati" (21).

    ainda o mesmo Souza Docca que assegura: "Zambeccari no foi desterrado, no foi deportado, nem seguiu para a Europa com pressa de abandonar os seus amigos, foi por seu desejo, em virtude de uma anistia que lhe foi concedida, por humanidade, no dia do aniversrio natalcio do Imperador, com a clusula de sair para fora do Imprio e de no poder voltar jamais a ele, sob pena de ficar sem nenhum efeito a presente graa. Zambeccari aceitou isso como um presente do cu e foi embora, sem um adeus aos seus amigos, e se manteve em mutismo absoluto, l no velho mundo (22)."

    Perdida a partida nos pampas, o Poder Oculto salvava seus agentes, necessrios noutro setor da luta anti-crist internacional. Os que iludiram que suportassem as conseqncias. Tanto Garibaldi como Zambeccari iriam servir na cruzada pela unificao italiana, grande e formoso ideal que escondia nas suas dobras tricolores a obra virtualmente manica da destruio do poder temporal do Papa-

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  • do e de destruio, se possvel, do prprio Papado. Tanto assim que o dia 20 de setembro de 1870 marca a supresso desse poder e, concomitantemente, o estabelecimento em Roma, conforme docu-menta Margiotta, do rito satnico-paldico da maonaria, decorrente do sistema de Herodom ou Rito Escocs de Perfeio, que o judeu Stephen Morin, desde 1761, tivera por misso, como delegado dos Soberanos Prncipes Maons, propagar na Amrica, ajudado pelos judeus Francken e Moiss Hayes (23).

    O conde Tito Livio Zambeccari viera para o Uruguai em 1826, quando Lavalleja lutava contra o Imprio e apresentou-se a esse general em Durazno. Convidado a assumir o comando geral da arti-lharia, arma em que havia carncia de oficiais preparados, "no es-condeu a sua inexperincia da guerra e preferiu recusar o posto a investir-se de funes para que se no julgava apto ainda (24)." Em 1829, quando da luta entre federais e portenhos, recusou o comando de uma companhia da Legio Italiana tambm por incapacidade mili-tar. Baseando-se nesses fatos, Souza Docca nega tivesse ele sido o mentor guerreiro, o estratego dos Farrapos. De acordo. Alis, no viera Amrica do Sul para bater-se, mas para sugestionar, intrigar, inspirar e fazer os outros se baterem, retirando-se de mansinho, quando as coisas ficassem pretas. Ento, os idealistas farroupilhas, lanados atroz fogueira, derramariam seu sangue, enquanto os aventureiros carbonrios mendigavam a anistia para pregar noutras paragens. Os Farrapos traziam n'alma um ideal, que no queremos saber se era justo ou injusto, ideal que se alicerava no amor ao cho e ao povo do Rio Grande. Os carbonrios obedeciam s ordens misteriosas da Alta-Venda ou do Supremo Conselho do Rito de Mis-raim. Todavia, como que zombando do sangue dos heris gachos tombados "do vasto pampa no funreo cho", o Oriente de Porto Alegre reclama de pblico, de jure et de facto, para as foras secre-tas, a completa autoria da Grande Revoluo e at as insgnias do Estado! Isto um verdadeiro escrnio s legtimas glrias dos rio-grandenses. O Rio Grande se apaga no seu papel histrico para deixar brilhar unicamente a maonaria.

    Souza Docca no admite uma preponderncia marcada de Zam-beccari sobre Bento Gonalves, de quem era verdadeira "sombra" (25). Nega que ele tivesse sido secretrio e chefe de estado-maior do caudilho Farrapo. Na verdade, no h nenhum documento de sua nomeao para o primeiro cargo e j se conhece sua incapacidade para o segundo. Os secretrios de Bento Gonalves foram Francisco de Paula do Amaral Sarmento Mena, brao direito do chefe, morto

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  • em conseqncia de ferimentos recebidos no ataque s trincheiras de Porto Alegre, e Jos da Silva Brando, que lhe sucedeu, "espritos cultos e dotados de grande inteligncia" (26).

    O carbonrio s esteve na revoluo farroupilha at 1836. So-mente uma das proclamaes revolucionrias, a de 24 de maro de 1836, reconhecidamente sua. Naturalmente, seu papel era dar unicamente impulso ao movimento que se desenvolveria ao sopro das idias-foras despertas e postas em ao. Ele agia simplesmente "como propagandista internacional do credo poltico-social explana-do nas lojas secretas a que pertencia na Europa" (27). E longo preparo antecedera a sua ao. Vrias redes de sociedades e influn-cias secretas cobriram com suas malhas a provncia, antes que a revoluo se desencadeasse. Houve a Cruzada da Liberdade, "com sede no Rio de Janeiro e filiais em Pernambuco, So Paulo e Rio Grande do Sul, correspondendo-se com suas congneres existentes em Paris. Tinha por fim instituir o regime republicano, segundo uma carta, datada de Washington, de 5 de novembro de 1839, de Ernesto Ferreira Frana ao ministro da Justia do Brasil" (28). Demais, a chamada Sociedade Continentina, que era simples ante-cmara da loja Filantropia e Liberdade, fundada, diz Fernando Osrio, sob a "aparncia enganosa" de fomentar o progresso... (29)

    Zambeccari o tipo completo do agente revolucionrio interna-cional, judaico-manico, do Intelligence Service das trevas. Preso na fortaleza de Santa Cruz, a oposio ao governo logo tratou de ampar-lo com o fito de restituir-lhe a liberdade. A comparar, moder-namente, com a campanha liberdade pro Genny! e com as ligaes de oposicionistas e comunistas. O Conselho de Estado ops-se termi-nantemente a qualquer tentativa de libertao. Passou trs anos dentro do forte. Em 1839, por ocasio do aniversrio natalcio do jovem Imperador, a priso foi convertida em desterro, o que valia por uma anistia, sendo ele estrangeiro. Seguiu para a Europa. Em 1841, seus amigos abriram-lhe as portas de Bolonha. Conspirou, mas a polcia papal no o perdera de vista. Tramou a revoluo da Siclia, que gorou. Em 1843, participou dos tumultos de Ancona e Rimini; em 1848, dos de Mdena. Exilaram-no em Corfu, nesse mesmo ano. Velho, alquebrado e doente, ps-se ainda ao lado de Garibaldi, em 1860. Morreu em 1868.

    Desde a adolescncia se entregara s mos diablicas das sociedades secretas, que lhe haviam amoldado o esprito a seu bel prazer. Filiara-se s lojas conspiradoras italianas aos dezenove anos e j nos bancos acadmicos teve "comisses reservadas" (30). Trazia

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  • constantemente o anel de ferro dos carbonrios, smbolo de sua escravizao. Depois de ser ajudante de ordens do maon Riego, na revoluo da Espanha, fra mandado ao Prata em luta com o Imprio, onde as foras ocultas grandemente atuavam, aproveitando-se da anarquia caudilhesca e fomentando-a (31). Passou para o Rio Gran-de, quando se assopravam as brasas da revoluo ainda sob as cinzas dos mistrios. "La rivoluzzione bateva alla porte anche di quelle provinde brasiliana, e Io Zambeccari lavor a tutto uomo, per afetarne lo scoppio(32)."

    Que importa, pois, no tivesse sido nomeado isto ou aquilo? Que importa no tivesse assinado esta ou aquela proclamao? No eram esses os papis que lhe haviam sido destinados na tragdia nascente. Sua obra tinha de ser, pela prpria natureza, feita anonimamente e deixando o menor nmero de vestgios possvel. Os que acham que Zambeccari foi o "pai espiritual da revoluo", como diz Alfredo Vare-la, sentem, como que inconscientemente, a verdade oculta por aque-les anarquistas que se mascaravam no movimento maquiavelicamen-te preparado e provocado, denominando-o "a nossa revoluo".

    As tramas carbonrias sempre se distinguiram pelo mais absolu-to segredo. Quando a polcia de Sua Santidade Gregorio XVI apanhou o arquivo da Alta-Venda, cujas peas principais foram publicadas por Crtineau-Joly, houve grande pasmo diante das revelaes do que urdia e estava urdindo. Assim se fez no Rio Grande, desde as primei-ras agitaes do perodo regencial. Vimos as organizaes mancas precursoras. J em 1832, Zambeccari aparecia em Porto Alegre como naturalista... Convidara-o a vir seu amigo, o maon Modesto Franco (33). Comeou a atuar. Os iniciados no plano fundamental da revolu-o guardavam o mistrio. O centro propulsor e irradiador dos traba-lhos subversivos era a loja ou sociedade Maribondina, onde o conde carbonrio pontificava. De onde vinham as ordens e diretivas, nin-gum sabia. "Este sistema no constitui uma novidade: na organiza-o carbonria que floresceu em Frana (34), alm dos membros de uma Venda desconhecerem os das outras, todas elas eram maneja-das pelas que tinham a categoria de Vendas-Grandes, sem lhes comunicar o segredo de suas deliberaes, simplesmente transmiti-das s primeiras, para observncia geral, quando isto convinha aos interesses da Ordem (35)."

    Agindo atravs desses compartimentos estanques, a intriga ma-nica naturalmente criaria no Rio Grande do Sul um ambiente de fogo. Os aventureiros estrangeiros corvejavam na capital gacha, esperando a hora da exploso do movimento, cujas idias as foras

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  • ocultas, sobretudo desde 1832, vinham esparzindo na sociedade rio-grandense. Luiz Rossetti fazia-se eco dessas idias, numa carta escri-ta em 1840: queria a passagem de um "regime funesto a outro melhor". Poder algum de boa f e em s razo crer no amor desse agente internacional pelo Rio Grande do Sul? Outro estrangeiro, Manuel Ruedas, pregava doutrinas manicas no "Recopilador", de-clarando-se, numa revoluo toda ela de idias gachas, "entusiasta da causa da liberdade universal" (36). A consumada boa f do coronel Bento Gonalves e de seus companheiros estava longe de poder compreender o que se ocultava sob esses manejos. De olhos fitos no ideal da liberdade, cegos pela irradiao dessa estrela flamgera com que a maonaria hipnotiza os povos, aceitavam as decididas simpa-tias do governo uruguaio e esperavam at seu socorro (37), certos de que a aproximao provinha da semelhana de idias, sem a menor suspeita, talvez, do tenebroso plano judaico-manico internacional a que eram arrastados...

    Alfredo Varela declara haver quem pense ter sido Zambeccari o pai espiritual da revoluo farroupilha. Assis Brasil acredita que ele pode ser considerado seu "verdadeiro e real diretor mental" (38). Souza Docca nega-lhe essa primazia nos acontecimentos, achando, porm, que "colaborou na propaganda das idias republicanas, mas no exerceu o predomnio que se lhe empresta". O brilhante e docu-mentado historiador esquece a dificuldade de provar documentada-mente uma influncia sinuosa, subreptcia e insinuante, filtrada atra-vs de segredos carbonrios.

    Os aventureiros aliengenas vieram comanditados ao feito que visava enfraquecer o Imprio degradado pela Regncia, arrancando-Ihe a provncia de So Pedro, depois de amputado da da Cisplatina. Uma coisa era o seguimento lgico da outra. "O conde Tito Livio Zambeccari era bolonhs, descendente de um dos ramos da nobreza italiana. Liberal extremista, era filiado ao carbonarismo, associao vastamente ramificada por todos os ngulos da pennsula", depe Eduardo Duarte (39). O antigo condenado morte na Itlia, em 1821, o agitador da Espanha de Fernando VII, o intrigante da poltica interna do Prata, veio, em 1831, comear seu trabalho em Porto Alegre, sempre oculto. J ali havia um jornal de tendncias republicanas, o "Continentino" (40). no qual colaborou. Em 1834, redigia "O Republi-cano". Foi ele quem desenhou a bandeira manica da revoluo, segundo o depoimento de Manuel Lobo Ferreira Barreto, a qual fra preparada em Buenos Aires, antes de estourar o movimento, por

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  • seu amigo do peito, Francisco Modesto Franco, de acordo com o que declarou o espanhol Carlos Maria Huerga (41).

    O agente carbonrio vinha habilmente aproveitar o demagogis-mo da poltica local, casado ao provincialismo, para o lanar no senti-do de uma revoluo susceptvel de se desenvolver de etapa em etapa at a repblica e secesso. O ambiente era propcio sua atividade. Desde 1828, na retaguarda das fronteiras invadidas pelo inimigo externo e das tropas imperiais desmoralizadas, troavam re-voltas, como o reconhecia o visconde de So Leopoldo. Em 1829, por toda a parte, foram espalhados boletins, concitando os rio-grandenses a seguirem o exemplo dos orientais, separando-se e proclamando a repblica. A polcia no conseguiu achar seus autores. Em 1830, segundo um ofcio minucioso de Arajo Barreto ao Governo Imperial, esboavam-se na provncia dois movimentos antinmicos: o da rein-corporao da Cisplatina ao Imprio, reacionrio, nacionalista, impe-rialista; e o da separao do Rio Grande, passando a constituir com ela um Estado Independente, manico, internacional (42). Essa idia de reincorporao da Cisplatina parece que era agitada de propsito, unicamente para provocar reao, porque os polticos do Rio Grande, embora se hostilizassem nos dois partidos provinciais, eram acordes quanto separao da antiga provncia (43). Ao prprio Bento Gonal-ves se acusava de aliado oculto de Lavalleja (44).

    Alm disso, "as sociedades polticas, ou secretas ou pblicas, estabelecidas na provncia do Rio Grande do Sul, so tambm acusa-das de haverem concorrido para os acontecimentos de 20 de setem-bro de 1835. Houve na cidade de Pelotas uma Sociedade Defensora semelhana da sociedade que debaixo do mesmo ttulo se fez to notvel, como sabido, na capital do Imprio. A Sociedade Defensora de Pelotas foi pelo menos um foco de liberalismo exagerado. Houve sociedades secretas no Rio Grande e no'Rio Pardo. Naquela, o faanhudo Francisco Xavier Ferreira e, nesta, o sagacssimo Jos Mariano de Matos procuravam fanatizar os seus adeptos com os sonorosos vocbulos liberdade, igualdade, fraternidade. Na socie-dade secreta do Rio Pardo se decretavam homicdios; e um se perpe-trou com circunstncias horrorosas na pessoa do digno juiz de paz Antonio Casemiro Cirne: mas de todas as sociedades estabelecidas na provncia de So Pedro nenhuma adquiriu celebridade como a que se denominava do Continentino, estabelecida na cidade de Porto Alegre. Esta sociedade tinha no exterior o aspecto de um Gabinete de Leitura (45) e tomava o nome de um peridico intitulado "Continenti-no", publicado a expensas dela, e redigido por alguns de seus mem-

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  • bros, mas o Gabinete de Leitura na realidade era uma loja de pedrei-ros-livres: o que depois se fez patente. Atribua-se a esta loja o trabalho para a federao da provncia do Rio Grande com a Cisplati-na, proclamando o sistema republicano (46)."

    V-se deste documento que o trabalho pela separao com a repblica estava sendo feito pela maonaria. disso que ela se orgulha na proclamao que estampamos: de um crime contra a unidade da ptria. O nome do jornal aludido tpico: nem brasileiro, nem rio-grandense, mas continentino, do continente. Meio caminho para internacional... O "Continentino", fundado por Joo Manuel de Lima e Silva, circulou de 1831 a 1833 (47). Nessa poca, Zambeccari estava oculto em Porto Alegre e, naturalmente, trouxera para o grupo que o mantinha credenciais manico-carbonrias. Souza Docca acha que no colaborou nesse jornal, o que no quer dizer que no inspirasse da sombra onde se escondia aos que nele escreviam o separatismo republicano, incentivando-os a perseverarem nesse ideal. De 1835 a 1836, publicou-se em Porto Alegre o "Continentista", que Lobo Barreto declara veculo dos aturdidos republicanos. Para ambos os peridicos, o continente estava acima do Brasil e a brasili-dade abaixo da continentalidade... Etapa manica para o internacio-nalismo judaico fantasiado de humanidade...

    Um dos agentes de ligao com os orientais era um agitador maon contumaz, excomungado pelo Direito Cannico e pelas conde-naes pontifcias, o padre Jos Antnio Caldas, que os orientais chamavam El Cometa, natural de Alagoas. "Tendo sido partidista da Confederao do Equador em 1824, apareceu em Buenos Aires na ocasio da insurreio da Cisplatina e, na qualidade de capelo dos exrcitos da Repblica Argentina, passou a servir no quartel general de Lavalleja, proclamando aos rio-grandenses para que se revoltas-sem e promovendo a desero das tropas brasileiras, por intermdio de seus amigos de Montevidu. Chegou a Porto Alegre em 1832, onde teve "atuao formidvel", como "veiculador de todo o revolucio-narismo nacional". Constituinte de 1823, pertenceu ao Apostolado e participou da Confederao do Equador (48). Disse bem quem disse que a maonaria transforma o cristo em judeu artificial. O padre um exemplo disso. Rebelde disciplina da Igreja, apstata de seus dog-mas, como brasileiro enfraquece o seu exrcito para dar a vitria aos inimigos da ptria. difcil ser mais infame.

    Em 1829, o padre pretendeu revoltar a Cisplatina, ento para voltar ao Brasil, do que se infere que no tinha patriotismo como no tinha lealdade para com aqueles a quem servia contra sua ptria.

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  • Joguete das foras secretas internacionais e anti-crists, fomentava quaisquer agitaes que lhe encomendassem.

    Somente depois de proclamada a repblica pelos farroupilhas, apareceram os outros dois enviados do carbonarismo. " velha Pirati-ni, ainda capital da Repblica, chegaram dois forasteiros, oriundos de longnquas terras, traindo no linguajar o seu pas de origem, il bel paese che l'Appennin parte, il mar circonda e l'Alpi: Garibaldi e Rossetti. Agitadores na sua ptria, arautos da idia nova, membros da

    Bento Gonalves da Silva

    famosa sociedade "Giovine Itlia", apresentaram-se ao governo da revoluo. No era a sua ptria, mas o ideal era o mesmo (49)."

    Vinham dar a ltima demo obra iniciada por Zambeccari. O ideal era o mesmo, porque era o da maonaria internacional. Rossetti fundou o jornal "O Povo", no qual escreveu artigos significativos, como, por exemplo: "Repblica" e "Agonia do Imprio". Vinha deitar o azeite carbonrio na imprensa dessa poca, que j de si "semelhava um vulco em chamas" (50).

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  • Sebastio Ferreira Soares, no seu trabalho "Breves considera-es sobre a revoluo de 1835", viu bem os interessados no incndio do Rio Grande, os interessados sem ptria, visando o enfraquecimen-to do Grande Imprio. Escreve: "Aqueles que s tm por princpio e lei o ouro vil, os quais, em todas as lutas que tem atravessado o Brasil, tm lucrado com as nossas desgraas; porquanto, no sendo segui-dores de nenhuma idia poltica, s se ocupam em traficar e intrigar, com o fim de nos enfraquecerem para dominar... No Rio Grande do Sul, ns e muitos brasileiros observamos que os maiores contraban-distas e os que forneciam os punhais, a plvora e as balas aos dissidentes, no eram nascidos no Brasil; assim como os que mais perseguidores se mostravam dos mseros que a sorte das armas nos entregava prisioneiros, tambm no eram brasileiros, mas sim do nmero daqueles que, s nossas plagas aportando, ns os acolhe-mos como irmos e amigos, e alguns dos quais nesta terra de prod-gios hoje figuram tanto... Sabemos que, assim falando, no podemos agradar, porm somos brasileiros e jamais prostituiremos nossa cons-cincia. A febre urea ainda no nos contaminou, e em Deus espera-mos que nunca nos infeccione (51)." Este homem viu claramente a ao judaico-manica na revoluo a que assistiu: o ouro, os aventu-reiros, as intrigas, os negcios de contrabando e teve a coragem de denunciar a vileza com veemncia, sentindo como bom brasileiro que tudo tendia a nos enfraquecer para nos dominar... Bem haja a sua memria pelo desassombro!

    No seu famoso discurso, pronunciado em Aylesbury, no dia 20 de setembro de 1876, dizia textualmente Iord Beaconsfield, o judeu Ben-jamin d'sraeli, corri absoluto conhecimento de causa, porque era israelita e estadista ingls, ao mesmo tempo: "Os governos deste sculo no tm somente que lutar com governos, imperadores ou reis e ministros, mas tambm com as sociedades secretas, que, no ltimo momento, podem reduzir a nada os acordos, as quais possuem agen-tes em toda a parte, agentes sem escrpulos, que pregam o assass-nio e podem, se for preciso, provocar uma matana." A matana entre imperiais e Farrapos no Rio Grande do Sul, promovida por essas sociedades, duraria dez longos anos, de 1835 a 1845! De lado a lado, verteu-se, quase em proveito somente de contrabandistas de armas, de adoradores do ouro vil e de maons ou carbonarios, o sangue de nobres brasileiros iludidos pelas palavras sonoras das lojas: Liberda-de, Igualdade e Fraternidade ou Humanidade.

    Note-se a curiosa coincidncia entre as datas da exploso do movimento revolucionrio dos Farrapos, da entrada de Garibaldi na

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  • Roma Papal pela brecha da Porta Pia e do discurso judaico e memo-rvel de Aylesbury, espcie de advertncia aos governos sobre a fora do Poder Oculto de que o lord-israelita era o delegado frente do Imprio Britnico: 20 de setembro! Os desavisados diro que mero efeito do acaso. Ns no acreditamos no acaso.

    Foi nesse dia, em 1835, que se deu o rompimento em Porto Alegre. Desde a vspera, 19 de setembro, os revolucionrios estavam reunidos, sabendo que as foras do governo eram diminutas e mina-das pela desero. Na impossibilidade de resistir, o presidente da provncia embarcou para a cidade do Rio Grande. No dia 21, Bento Gonalves entrava na capital frente de seus partidrios. No dia 25, lanava um manifesto, justificando a rebelio: declarava, como todos os rebeldes da Regncia, respeito "ao nosso cdigo sagrado, ao trono constitucional e conservao da integridade do Imprio". A procla-mao de Marciano Pereira Ribeiro, em 1836, ainda terminava com um viva a D. Pedro II (52). Toda revoluo manica comea com essas juras hipcritas e s Deus sabe at aonde pode ir, de etapa em etapa. A Revoluo Francesa comeou querendo constituio e rei. Acabou querendo cada vez mais terror e guilhotina. A russa principiou na repblica liberal-burguesa de Kerenski e terminou no marxismo de Lenine. A verdade que, dentro de pouco mais de ano, se proclamaria a Independncia e a Repblica Rio-grandense em Piratini, a 6 de novembro de 1836, tornando-se a revoluo "francamente separatis-ta" (53). Ora, que novidade! Ela no saiu das lojas com outra finalida-de. A repblica se instalou quando Bento Gonalves estava prisioneiro do Imprio. De volta ao Rio Grande, libertado pela maonaria baiana, ele aceitou os fatos consumados e diz textualmente Rio Branco "combateu contra a Unio Brasileira" (54).

    A causa aparente da exploso revolucionria era, segundo di-ziam, o fato do presidente Fernandes Braga se entregar no governo da provncia a influncias reacionrias. motivo muito mido para justificar dez anos de sangue derramado nas coxilhas! Alis, lendo-se a Representao contra ele, publicada no volume XXIX do Arquivo Nacional, no se encontra um argumento de peso. A eterna acusao de reacionarismo que se costumava fazer, durante a Regncia, s autoridades que se queria depor. Bento Gonalves era o chefe dos liberais, que desejavam conquistar a autonomia provincial, idia do federalismo com que as foras secretas envenenavam o pas para dividi-lo e anemi-lo. Calgeras chama-lhe "corrente de pensamento poltico". O Par estava em franca ebulio revolucionria, Era preciso agitar o outro extremo da Nao, o mais perigoso, o da fronteira

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  • castelhana, alm da qual grulhava, como eterna ameaa da ordem, o caudilhismo maonizado. Sem grandes recursos no Sul, o governo regencial receou, em vista do que ocorria no Norte, a generalizao do movimento. Compactuou com o fato consumado, embora isso mais o enfraquecesse, no repondo fora, como devia, Fernandes Braga refugiado na cidade do Rio Grande. Fez o que fazia em todas as provncias conflagradas. Procurou um tertius gaudet. Mandou subs-titu-lo por Arajo Ribeiro, futuro visconde do Rio Grande, que tinha a vantagem de trazer para seu lado o velho e prestigioso guerrilheiro das coxilhas, Bento Manuel Ribeiro, seu parente e amigo. Era homem patriota, humanitrio, esmoler, viajado e culto (55).

    Feij fra eleito Regente do Imprio a 7 de abril de 1835. Tomou posse a 12 de outubro. Descrente, enfermo e abatido, no tinha mais aquela prontido de resolues e aquela frrea energia do tempo em que, como ministro da Justia, esmagara a hidra da anarquia. Mas Evaristo da Veiga, perfilava-se por trs dele, sustendo-o, apoiando-o, dando-lhe foras (56). Depois da morte de Evaristo, se tornaria o caco velho que a maonaria e a bucha lanariam aos azares da triste revoluo de 1842, diverso favorvel aos Farrapos, como a Sabina-da, para que acabasse no ridculo de ser preso por aquele que fra seu brao direito na manuteno da ordem pblica.

    A Assemblia Provincial, obediente aos ditames de Bento Gon-alves, criou dificuldades posse de Arajo Ribeiro, que teve de realizar-se na cidade do Rio Grande, de modo pouco legal, o que teria ms conseqncias futuras. Em 1836, baseando-se nisso, a assem-blia votaria uma lei suspendendo-o de suas funes. Nesse ano, a 10 de setembro, o coronel Silva Tavares, depois visconde de Serro Alegre, frente das tropas imperiais, foi derrotado no Seival pelo caudilho Farrapo Antonio de Souza Neto, que tinha de seu lado os soldados orientais do cabecilha uruguaio Calengo, mandado por Ma-nuel Oribe, o Corta-Cabeas, ajudar revoluo (57). Fizera-se a ligao com o estrangeiro, realizara-se o continentismo contra a verdadeira brasilidade. Por trs de Oribe estava Rosas, apoiado na Argentina Federal e Vermelha, em cujo escudo oficial se encruzam at hoje as duas mos manicas apertadas. O estrangeiro vizinho e interessado intervinha no pleito. O soldado estrangeiro ajudava a derramar sangue brasileiro. Os imperiais tambm lanaram mo des-se odioso recurso ao mercenrio.

    O ouro vil a que se referia Sebastio Ferreira Soares, ouro internacional, corria nos bastidores da contenda. Alfredo Varela, um grande historiador gacho, quem o diz nestas palavras: "A Repblica

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  • Farroupilha era alimentada pela MO OCULTA de Mau (58)." preciso, em homenagem verdade, dizer que Irineu Evangelista de Souza era pessoa ligada intimamente a negcios de carter interna-cional, que se tornaram vultosos e se entrosaram com o Prata. Alberto Faria, seu panegirista, reconhece suas relaes com os farroupilhas, dando razo a Varela: "Rezam as crnicas que na ponta do Curvelo, em Santa Teresa, residncia de Mau, encontravam abrigo revoltosos foragidos. Certo que nessa casa se trabalhava em favor deles; e veremos pela confisso de um, que, para a fortaleza de Santa Cruz (59), o negociante Irineu fazia transportar, ocultamente e sua custa, a alimentao de trinta prisioneiros (60). A dormiu vrias noites o emissrio que David Canabarro mandou a Minas consultar o libera-lssimo Tefilo Ottoni (61) sobre as condies da Capitalizao (1844) e a se tramou a evaso de Onofre Pires da Silveira, da fortaleza de Santa Cruz (62)." No preciso acrescentar mais uma linha para ficar cabalmente demonstrada a ao da MO OCULTA de Mau nos graves acontecimentos da revoluo republicana & separatista. Quan-do D. Pedro II tinha pouca simpatia pelo visconde que sabia mais do que ns o que tinha feito e poderia fazer. Alberto Faria naturalmente ensaia uma explicao inocente dessa dedicao ampla causa da revoluo: "Riograndense de nascimento e filntropo de alma (sic!), fora de dvida que, ou tivesse o esprito de revolucionrio ou no, o morador da chcara de Santa Teresa fez jus denominao que sua casa ganhou, quilombo riograndense."

    A filantropia do negociante levou-o a gastos excessivos (63) e at a "fazer sustos ao Imperador" (64), isto j depois da maioridade, no ltimo e desesperado quartel da luta fratricida de dez anos. Seria tambm por filantropia que a MO OCULTA se estendera com ouro aos Treinta y Tres da cruzada libertadora da Cisplatina, depois de 1825 (65)? Da Cisplatina, que, independente, iria ser por longos anos o feudo dos negcios da casa bancria de Mau? No pode ser invocada seriamente a desculpa do bairrismo para este caso: Irineu Evangelista de Souza no era uruguaio de nascimento. De fato, o que sempre teve foi grandes interesses na Banda Oriental. O dinheiro no tem cheiro e os negcios no tm ptria...

    O enviado de Canabarro, que vinha consultar o ouro, a MO OCULTA, isto , Mau, e a fora secreta do judasmo-manico representada por Tefilo Ottoni, se se devia ou no aceitar como ltimo e nico recurso a paz com o Imprio, conforme a propunha o baro de Caxias, foi o tenente Martins, que chegou ao Rio de Janeiro

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  • sob o nome de Jos Simeo, se ocultou na residncia de Mau, partiu para o Serro a conferenciar com Tefilo Ottoni, recebeu suas "instru-es secretas", voltou, de novo esteve na casa de Santa Teresa e levou a Canabarro a palavra de ordem definitiva (66).

    Mau chegara muito moo posio de gerente do negociante judeu-ingls Carruthers, o qual gozava de tal prestgio na Corte que influenciava as medidas governamentais e influa no nimo de estadistas como Paran, Uruguai, Euzbio, Monte Alegre, Itabo-ra (67). Era quem mandava! Por que artes? Por que segredo, sendo um comerciante e um estrangeiro se tornara manda-chuva poltico? Pelo dinheiro, j que se lhe no conhece talento ou outra qualquer virtude. No h outra explicao, doa em quem doer. Ricardo Carru-thers era scio, por sua vez, do judeu anglo-luso Jos Henrique Reydell de Castro. Ambos tinham estreitas e muito antigas ligaes de famlia, que datavam do tempo em que o pai de Jos Henrique, enobrecido com um Dom e usando um velho e nobre nome peninsu-lar, para maior disfarce, D. Miguel Caetano de Castro, fra fsico-mr isto , mdico-chefe da casa de D. Joo VI. A firma dos descendentes entrelaados era Carruthers, de Castro & Cia., de Manchester, cujo chefe, unha e carne com Mau, Ricardo Carruthers, era um socialista sansimoniano, viajado e de temperamento messinico (68)...

    Encontramos a MO OCULTA dando ouro aos farroupilhas para a guerra. Seguramo-la. Era a mo de Mau. Este o vimos ligado a um judeu ingls socialista e messinico, naturalmente pessoa de impor-tncia no Kahal. Outros historiadores nos deram as deixas. Nada mais fizemos do que estabelecer as ligaes lgicas entre os fatos que eles documentaram. Ser possvel que nos possam taxar de vesnicos, de fantasistas ou de caluniadores?

    "Les hommes d'aujordhui sont semblables un voyageur qui a parcouru beaucoup de chemin, march pendant des lieues, et qui s'aperoit qu'il a tourn sur lui-mme, qu'il est revenu son point de dpart. Aprs bien des circuits, nous nous retrouvons en face du juif tel qu'il tait au Moyen-Age. S'il n'a plus Ia rouelle jaune, il a le mme visage, le mme sourire, les mmes proceds, Ia mme haine de Ia societ chrtienne, et surtout le mme systme conomique (68)."

    Esse sistema econmico que nos depaupera e se exerce por todos os meios o que, no mais alto sentido da palavra, a Igreja denomina USURA, que a Doutrina Social Catlica qualifica provento sem causa. So Boaventura chama-lhe "aambarcamento do alheio sob o vu do contrato", o que equivale a beneficiar-se ilicitamente sob

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  • as frmulas legais. a ars nequissima ex ipso aurum nascitur de Santo Ambrsio. o que mereceu a imprecao de So Baslio: Tu vero fenerator... Sine terra plantas, sine statione metis. o que So Crisstomo considera: pestiferam agriculturam... Como no recua diante dos maiores crimes, na torpe avidez do lucro, fomentan-do revolues de irmos contra irmos, dando a mo ao estrangeiro contra a prpria ptria, So Gregorio de Nyssa equipara a usara ao parricdio. Chamamos hoje ao que os antigos denominavam singela-mente USURA capitalismo.

    "Nenhum cristo pode confundir capitalismo e propriedade. O capitalismo parece com a propriedade como a obra de um falsificador com o documento autntico. Um dos pergaminhos a verdade e outro, a mentira. No so somente diferentes, mas fundamentalmente opostos. So o contrrio e a negao um do outro. O capitalismo parece com a propriedade como o sofisma parece com o raciocnio, como Caim talvez parecia com Abel (70)." O cristianismo representa, na vida econmica, a defesa da propriedade atacada por Israel, pelo capitalismo e pelo comunismo. Essa luta que, assim, vemos no plano material, conseqncia da que se trava no plano espiritual; o Cristo e o Anti-cristo. Para chegar a seus fins, o judasmo mascara-se com todas as mscaras e manobra todas as maonarias por meio de sua MO OCULTA. muito difcil apanh-la em flagrante como no caso da revoluo farroupilha.

    Nessa luta dos Farrapos contra o Imprio, apanhamos o judas-mo e a maonaria: esta, preparando o terreno, criando o clima, defla-grando o movimento (71); aquele MO OCULTA de Mau ligada ao brao de Carruthers, de Castro & Cia., de Manchester, distribuindo o ouro judaico que alimentava o derramamento de sangue brasileiro. Muito sangue de heri iria custar a Repblica Riograndense, "Estado efmero diz Assis Brasil erguido na extrema meridional do territrio brasileiro e cuja tumultuosa existncia, constantemente hos-tilizada pelas armas do Imprio, no conseguiu transpor o seu perodo de formao. Nunca a bravura, a constncia e as virtudes cvicas, servidas por homens de minguada educao, deram de si mais sur-preendente espetculo do que nessa luta de cerca de dez anos, que ao esprito do historiador evoca a tradicional tenacidade dos povos antigos (72)."

    Aplaudimos de todo corao estas palavras!

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  • Captulo I!

    A EPOPIA DOS CENTAUROS

    Os centauros estavam largados nas coxilhas, de ponchos ao vento, espadas nuas, lanas em riste, seus bravos caudilhos frente: Bento Gonalves da Silva, Antnio de Souza Neto, Lima e Silva, Onofre Pires, Joo Antnio da Silveira, Crte Real, Gomes Jardim, Crescncio, Manuel Lucas de Oliveira, Antnio Joaquim da Silva, o Menino-Diabo. Nem todos eram filhos dos pampas e o ltimo era portugus. Vestiam fardas vermelhas, quando tinham fardas. Sobre a cabea, gorros, chapeires ou os pequeninos qupis francesa, com as argelinas de pano branco protegendo a nuca. Farrapos? Por qu?

    O nome comeou sendo farroupilha, esfarrapado, e representa uma tradio revolucionria manica-judaica, como o de jaques e jacobino, vindos de Jaques ou Jacob Molay, gro-mestre dos Templ-rios. Designaram-se com o apelido de esfarrapados, farrapos, farrou-pilhas, maltrapilhos, gueux, os confederados da Holanda, da Guel-dria, da Zelndia do Brabante, revoltados contra a tirania espanhola. No estamos aqui para fazer a histria dos Pases-Baixos e, por isso, nos limitamos a simplesmente dizer que, no fundo dessa revolta, estavam os judeus dos ricos e populosos guetos que haviam tornado, na poca, a Holanda a "Judia do Norte". Eram eles que incitavam contra Filipe II, o grande Rei cristo odiado e caluniado, os calvinistas enleados em sociedades secretas. Quando os fidalgos protestantes postos frente do movimento foram a Bruxelas apresentar regente Margarida de Parma suas reivindicaes, um dos conselheiros da princesa no quis que ela os tomasse a srio e disse-lhe: Senhora, no passam de maltrapilhos! Da por diante, o grito de guerra dos rebeldes foi: Vivam os maltrapilhos! Vivam os farroupilhas! Vivam os farrapos! como se queira traduzir. E houve os farrapos do mar, armados em corsrios, e os farrapos dos bosques, guerreando em terra.

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  • Talvez porque a luta riograndense tivesse de ser disputada, como o foi, no mar e em terra, haja acudido aos seus fomentadores ocultos a idia de batiz-los com o apelido j tradicional nos movimen-tos provocados contra a religio e a monarquia. Na verdade, o nome de farroupilha comea a aparecer nas agitaes liberais de 1830. Em 1832, j existe o Partido Farroupilha. O nome vinha de fora da provn-cia. Traziam-no do Rio de Janeiro, onde j existia um grupo manico tramando a sublevao do Rio Grande e com essa alcunha, alguns liberais-farroupilhas, entre os quais se destacavam pela sua ativida-de e entusiasmo o major Joo Manuel de Matos e o tenente Jos dos Reis Alpoim (1). Depois de farroupilha, com o tempo, veio a palavra farrapo.

    O chefe supremo dos Farrapos era Bento Gonalves da Silva, veterano de Sarandi e Ituzaing, comandante superior da Guarda Nacional e da fronteira do Jaguaro. O comandante das armas, mare-chal Sebastio Barreto Pereira Pinto, fez-lhe acusaes quanto a negcios na raia do Uruguai. Foi chamado ao Rio para justificar-se. Ali chegou em maio de 1835 e a cada aperto de mo que trocava sentia os toques rituais da maonaria. Quase toda a gente, os pr-homens da govemao frente, pertenciam irmandade da Accia. Evaristo da Veiga, seu amigo. Diogo Antnio Feij, seu amigo. Voltou triunfan-te, trazendo o compromisso de providncias formais contra os retr-gados, que embaraavam os planos dos liberais e da nomeao presidncia do gacho Antnio Rodrigues Fernandes Braga, homem honesto e de carter moderado. Os retrgados eram os adversrios polticos dos farroupilhas. Estes os denominavam: galegos, caramu-rus, absolutistas, camelos, carimbotos e escravos do duque de Bra-gana. Eram por sua vez mimoseados com os apelidos de farrapos, anarquistas e ps de cabra.

    "Afirmam alguns contemporneos que a idia da revoluo se assentara definitivamente no nimo de Bento Gonalves durante sua permanncia na capital; que um plano existia ali, concebido por ho-mens como Evaristo da Veiga, de sublevar ao mesmo tempo o pas inteiro para estabelecer-se a federao, que, pelos meios legais, j se afigurava impossvel; que, no Clube Federal, secretamente se tramara a runa completa do partido retrgrado, como condio de vida para a nacionalidade brasileira (2)."

    Antes de Fernandes Braga, veio para o governo da provncia aquele mesmo Jos Mariani, que vimos impedido de governar o Par. Tomou posse a 22 de outubro de 1833, numa capital agitada pelos retrgados, chefiados por Sebastio Barreto, e os liberais, alarmados

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  • com o estabelecimento da Sociedade Militar, ninho de absolutistas. Fernandes Braga, nomeado a 14 de fevereiro de 1834, empossou-se a 2 de maio, no meio de "festas ruidosas". De nimo brando e conciliador, o presidente no poderia agradar nessa poca de ebuli-o e de dios. Nem Jesus Cristo poderia servir a gente que estava inflamada para brigar pelo menor motivo, que no queria outra coisa.

    Bento Manuel Ribeiro

    Qualquer um ali seria, como diz o povo, preso por ter co ou por no ter co. Mesmo aquele que se resolvesse a abdicar de toda persona-lidade, entregando-se completamente s mos dos mutinos mani-cos, acabaria desgostando-os pela prpria moleza. Fernandes Braga fra levado ao governo por influncia dos exaltados, mas estes se irritavam com a sua mansido, isto , j que conhecemos as molas secretas da histria, eram impelidos pelas mos ocultas a se irritarem.

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  • Tanto fizeram que o obrigaram a se apoiar nos inimigos da vspera. Estava declarada a guerra.

    Quando se fizeram passeatas populares por causa da reforma liberal da Constituio, em outubro de 1834, o irmo do presidente, que se achava na cidade do Rio Grande, Pedro Chaves, armou tropas e tomou providncias contra essas manifestaes, as quais quase degeneraram em conflito. Braga foi avisado e apelou para Bento Gonalves, a fim de impor ordem, o que este, no caso, conseguiu (3). Mas no havia providncias possveis contra uma agitao que vinha do fundo do mar. O presidente no podia conhecer, naquela poca, a ao das foras ocultas como a conhecemos hoje. Via somente as ondas, fervendo na superfcie. Algumas traziam vegetaes l das profundidades. Denunciou ao poder central a existncia de um parti-do separatista, tramando de combinao com influentes caudi-lhos das repblicas do Uruguai e Argentina, s quais cogitava de anexar o Rio Grande. A Regncia negou-lhe recursos para manter a ordem. No os tinha, mas, se os tivesse, negaria. No estavam seus pro-homens maons de acordo com Bento Gonalves? No partiam de seus clubes e lojas os militares farroupilhas que iam tocar fogo no sul?

    Os tumultos comearam pela vila do Rio Pardo vieram por Via-mo e Cachoeira; acabaram em Porto Alegre. No havia prudncia capaz de conter os excessos. Sentia-se o roncar de um motor escon-dido, impelindo todos para a catstrofe. Quando se processavam os mutinos, homens mascarados, seguindo o exemplo clssico dos car-bonrios italianos, penetravam nas casas dos juizes e os assassina-vam (4). Em abril, com a abertura da Assemblia Provincial, para ela se transportou, na inflamada palavra dos oradores demaggicos, a agitao que andava matroca pelas ruas, tomando expresso legal e to soberana como o executivo. Encontrara seu centro de polariza-o.

    Fernandes Braga sentia-se tonto em face dos efeitos de uma obra secreta que percebia, porm mal. Mas teve, assim mesmo, a coragem de desmascar-la: "Na sua fala de abertura, denunciou Assemblia a existncia de um plano oculto, formado por grande nmero de indivduos, com o fim de revolucionar a provncia e de separ-la da comunho brasileira (5)." Isso nada adiantava, porque a maioria da assemblia, obediente voz de Bento Gonalves, partici-pava das lojas, das Vendas e dos conluios. Os deputados, ao invs de o auxiliarem, azedaram-se com a revelao. O presidente procurou organizar um corpo de polcia para sua defesa e garantia. Janza-

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  • ros! gritaram os maons. Enquanto um berrando, nas tramas anda-vam de parceria os irmos da Accia: Bento Gonalves, o famigerado padre Caldas, "El Cometa", e o caudilho Lavalleja, que pertencia loja manica de Jaguaro (6). E Rosas "afagava j a idia de aular a revoluo no Rio Grande, para impedir que a influncia do Brasil se atravessasse diante dos seus projetos de exclusivo domnio do Prata (7)." O oriental Ruedas, que agredia violentamente o governo da provncia e do Imprio nos peridicos, no passava de um espio e agente provocador da Argentina rosista e rubra. Ao mesmo tempo, os comandantes das fronteiras, Bento Manuel Ribeiro e Bento Gonalves da Silva, os dois Bentos, como diziam no Prata, desavindos, ofere-ciam o triste exemplo da indisciplina por causa da poltica de campa-nrio. O maon Sebastio Barreto ajudava a embrulhar tudo. Ameaa-do de priso, Bento Manuel ocultou-se.

    A publicao pela presidncia de um manifesto em que aludia ao plano secreto dos farroupilhas lavallejistas (8), determinou o rom-pimento definitivo de hostilidades. A revoluo estourou na curiosa data carbonria de 20 de setembro. Houve ligeiro combate na ponte da Azenha, na noite de 19. Na manh seguinte, os revolucionrios entravam como faca em manteiga na capital, "to bem combinadas estavam as coisas", declara um historiador gacho. O presidente tomou a escuna "Riograndense" e, seguido da "Dezenove de Dezem-bro", rumou pela lagoa dos Patos para a cidade do Rio Grande. Sobre as tropas revolucionrias ainda palpitava ao vento a bandeira auri-ver-de do Imprio... A verde, amarela e vermelha viria depois...

    Bento Gonalves, vindo de Jaguaro, entrou em Porto Alegre a 21, no mesmo dia em que a Assemblia dava posse ao quarto vice-presidente Marciano Pereira Ribeiro, sob o pretexto de ausncia dos outros trs. Fernandes Braga respondeu, mudando a sede do governo para o Rio Grande, onde se achava. Tentava a luta, porque "no conhecia o alcance do poder que o derrubara", escreve Assis Brasil, naturalmente conhecedor pessoal desse poder por muitos e muitos motivos...

    O governo semi-revolucionrio, pois se aterrava ainda a uma substituio vice-presidencial, nomeou Bento Manuel comandante das armas, em lugar do marechal Sebastio Barreto. A derrota dos imperiais no Seival abrira aos Farrapos o caminho do Rio Grande, obrigando Fernandes Braga a retirar-se para a Corte. Bento Gonal-ves entrou vitorioso na segunda capital, a 21 de outubro. Avisado no seu esconderijo do que se passava, Bento Manuel procurou evitar a responsabilidade da atitude que, talvez, fosse obrigado a tomar, con-

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  • seguindo da Cmara Municipal de Alegrete um ofcio em que lhe pedia se pusesse frente de foras capazes de evitar o derramamento do sangue gacho. Dirigiu-se, depois, para So Gabriel, com duzentos homens, que ali viu grandemente aumentados. O marechal Barreto quis se lhe opor, porm suas tropas estavam minadas pela indisciplina e se esfarinhavam em suas mos. Passou a fronteira uruguaia com alguns oficiais fiis e desistiu do intento. Somente no Rio Pardo os rebeldes encontraram alguma resistncia. A revoluo mal acabava de comear; no entanto, Bento Gonalves anunciava a sua extino, como se se tratasse unicamente da expulso de Fernandes Braga (9). Estaria iludido ou estaria iludindo? Por escrito, como Libertador da Provncia, protestava fidelidade ao Governo Imperial. Qual a revolu-o manica no Brasil que no comeou com protestos de fidelidade ao trono e religio? Desde a Guerra dos Mascates. Deveriam, no Recife, correr para as ruas, gritando: VIVA EL REI!...

    Na Corte, Fernandes Braga no encontrou mais a antiga Regn-cia Trina e sim a Regncia Una, exercida por Feij, com Evaristo por trs. Vinha apavorado, porque sentira de perto o "alcance daquele poder que o derrubara". Feij entendeu de reagir, ou tinha interesse oculto em reagir, ou recebera ordem secreta para reagir, a fim de que l nos pampas os nimos asserenados se esquentassem de novo e os acontecimentos se precipitassem.

    Nomeou Arajo Ribeiro, homem probo, austero, firme, autorit-rio; mas no lhe deu foras. L se arranjasse como pudesse. Vimos que a Regncia procedia assim, indefectivelmente, com os presiden-tes que nomeava para o Gro-Par devorado pelos cabanos. A mes-ma coisa em relao ao Rio Grande dos Farrapos. Que conivncia essa do governo regencial, disfarada, mas constante, com todos os fautores de desordem! O novo presidente demorou um ms na cidade do Rio Grande e foi a Pelotas conferenciar com Bento Gonalves, que lhe disse esperar somente fosse o procedimento do governo justo e razovel, e que sua demora e ligao com certos elementos do Rio Grande j o estavam tornando suspeito...

    Arajo Ribeiro chegou a Porto Alegre, onde Bento Gonalves j o esperava, no dia 5 de dezembro de 1835. A anistia prometida por Feij tardava. A maonaria urdia a tessitura impondervel das suspei-tas. Bento Manuel era o nico chefe militar que privava com o novo presidente. A Assemblia comeou a negacear para dar-lhe posse. Os juizes de paz, naturalmente industriados, fizeram uma representa-o em nome do povo, pedindo que a mesma posse fosse adiada.

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  • Excelente e bem arranjado pretexto para a Assemblia consultar antes de mais nada a Esfinge do poder central.

    A essas manhas, Arajo Ribeiro revidou com outras. Voltou ao Rio Grande, a fim de aguardar a soluo do caso, disse; porm, de fato, para combinar com Bento Manuel meios e modos de esmagar os contrrios. O velho soldado reuniu as foras que pde na fronteira e proclamou Arajo Ribeiro presidente, na sua qualidade de comandan-te das armas. O presidente, por esse tempo, se ia apercebendo para a luta, organizando depsitos e tropas. Quando se julgou forte, tomou posse do cargo perante a Cmara Municipal do Rio Grande, a 15 de janeiro de 1836 (10). A Assemblia convidou-o a ir ratificar o juramen-to em sua presena, "sem o que no o poderia reconhecer." Ele no caiu na armadilha. Recusou. A Assemblia mandou que o vice-presi-dente continuasse na administrao e ningum obedecesse ao presi-dente ilegal e intruso. Quase os mesmos processos se puseram em prtica na Repblica para depor oligarcas e fabricar coronis interven-tores e governadores. Dos coronis baixou-se para os tenentes. Com o comunismo, iremos para os comissionados e sargentos. O sargento Batista no se apoderou de Cuba? O nivelamento moderno comea por baixo...

    Todos os fatos que sumariamos, em que se no encontra um ato de verdadeira opresso, uma exao odiosa, uma execuo injusta, uma tirania caracterizada, absolutamente no justificam a guerra cruel de dez anos entre irmos, com saques e crueldades de lado a lado. Agitaes estreis, aproveitando inimizades individuais, personalis-mos, regionalismos, intrigas polticas locais, pouco e pouco levaram uma provncia inteira aos campos ensangentados das batalhas civis, porque MO OCULTA se encarregou de baralhar todos os fios, de estabelecer a confuso, de criar o clima revolucionrio, de atiar e de aular a rebeldia, que s trouxe dor, sacrifcio, dio e prejuzos aos riograndenses dos dois lados e ao Rio Grande, aos brasileiros e ao Brasil. Os nicos a lucrar foram os elementos internacionais, destrui-dores das ptrias, que lucram com todas as confuses. E a confuso era a melhor atmosfera para o contrabando...

    No ms de janeiro de 1836, a guerra civil est virtualmente ateada. Os grupos se entreveram pelas coxilhas. As lminas das espadas e as choupas das lanas se empurpuram no sangue dos bravos annimos, sangue de heris brasileiros que o vasto cho verde dos pampas bebe em holocausto aos agitadores sem ptria. A 17 de maro, no Rosrio, os legalistas batem os rebeldes. De um e de outro lado, os estrangeiros mercenrios, pagos a dois pataces dirios,

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  • derramavam o sangue dos nossos centauros. Se os Farrapos se ajudavam com um Calengo, os legalistas estipendiavam um Albano Bueno. Havia alemes em armas. Os reides de cavalaria percorrem a provncia, sobre Pelotas, sobre Porto Alegre, para aqui, para ali, para acol, rodopiando nos entreveros. Ora, um tiroteio, ora um combate, ora uma carnificina. As cargas de Onofre Pires, de Crescncio, de Manuel Lucas tamboreavam no solo fronteirio a marcha pica dos herosmos riograndenses. No fundo daquele mar, revolto e encapela-do, holotria que devora lama ftida, arrastava-se lesmaticamente a maonaria. As ondulaes do seu dorso infecto e submerso transmi-tiam-se a toda a gua, de camada em camada; mas, quando chega-vam, na pureza do ar, sob o cu azul, os cavalos netunianos das vagas se empinavam, sacudindo no espao as crinas de espumas brancas. Esqueamos a miservel holotria rastejante nas trevas diante da clara e leal cavalgada das ondas. Esqueamos o judasmo e o maonismo escondidos no lameiro para somente admirarmos as linhas de cavaleiros audazes e bravos, que galopam ao sol, embatem, chocam as armas retumbantes e caem, cobertos de sangue, num derradeiro grito de incitamento pelo seu Ideal... Brava gente! Brava gente! que o teu esprito hoje iluminado na luz da Eterna Aurora inspire aos gachos de nossos dias evitar a intriga babosa da holotria manica, que continua a arrastar-se no fundo do mar social e vem tona vomitar a imodstia de tudo ter feito por nossa ptria!

    Logo, comeam reveses para a revoluo. A Assemblia Provin-cial continua a manter correspondncia com a Regncia, protestando obedincia e pedindo autoridades que sancionem com a legalidade os fatos consumados. preciso acabar com os processos que se esto fazendo. Mas o governo aprova os atos de Arajo Ribeiro e transfere as reparties pblicas para o Rio Grande. A esquadrilha imperial incomoda as operaes dos rebeldes, cuja cavalaria chega brava-mente a tirotear com ela (11). Os legais apoderam-se de Pelotas e, auxiliados pela conspirao de seus prisioneiros na capital, restauram sua autoridade em Porto Alegre, para onde o presidente se transporta e que jamais seria retomada. Depois de muitas correrias, marchas e contra-marchas, Bento Gonalves disps-se a assaltar a cidade, mas foi obrigado a retirar para Viamo. E os imperiais, atacando e tomando o forte de Itapu, acabaram com "o ltimo domnio que a revoluo exercia nas guas".

    Os revolucionrios sentiam-se abatidos; mas a Regncia achou que devia confiar a um general o governo da provncia, a fim de esmag-los de vez. Foi mal aconselhada... Demitiu Arajo Ribeiro e

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  • nomeou o marechal Elisirio de Miranda Brito. A medida trazia a justificativa acima mencionada. Verificando suas lastimveis conse-qncias, quem, como ns, conhece a ao solerte das foras ocultas levado a crer que fosse proposital para produzir aqueles mesmos efeitos ou sugestionada com esse fito. Os legalistas cindiram-se logo em duas faces: ribeirinhas e elisiaristas. O novo presidente tomou posse a 14 de julho de 1836. O povo fez uma representao contra a desnecessria mudana e Arajo Ribeiro voltou ao poder, por ordem da Regncia, a 24 do mesmo ms. Que fora ou que prestgio pode-riam ter autoridades assim malferidas no seu princpio vital a cada passo?

    A 10 de setembro, Neto batera os imperiais de Silva Tavares no Seival; depois, foram repelidos na sua tentativa sobre Viamo. Os guerrilheiros Farrapos tomaram alento. A bravura de David Canabarro comeou a brilhar nos entreveros das coxilhas (12). Renasceram as esperanas de triunfo. O fato de militarem nas fileiras do governo muitos portugueses, bem explorado e exagerado pela propaganda manica, despertara o patriotismo gacho para a epopia. "S havia dois caminhos a seguir nas atuais circunstncias: a submisso, com prejuzo da liberdade, ou a separao da provncia, com a vitria dos princpios (?), bem como com enormes sacrifcios; que este ltimo era o nico compatvel com a honra e patriotismo; que, pela sua parte, estava ( o general Antnio Neto quem fala) disposto a sacrificar tudo por este sentimento; que o Rio Grande do Sul, desligando-se do Brasil, formaria um Estado livre e independente sob a forma republica-na (13)." Por fs ou por nefas, a verdade que se chegava finalida-de visada da sombra pelo judasmo-manico: separao e repblica. E "esse pensamento havia j insensivelmente penetrado o partido revolucionrio inteiro (14)." Antes de tomar a grave resoluo de proclamar a repblica, Antnio Neto mandara seu irmo Jos pedir auxlio a Manuel Oribe, no Uruguai (15). Assis Brasil tem razo, pois, quando diz: "Os homens so instrumentos das idias: trabalham por elas sem saberem o conjunto dos fatos a que se dirigem..." Acrescen-tamos por nossa conta e risco: porque o Poder Oculto o nico que sabe a verdadeira meta que deve ser atingida pelas idias que instila.

    No dia 20 de setembro, aniversrio da revoluo a tal data coincidente , a repblica foi proclamada pela Cmara Municipal da vila de Jaguaro. Muitas adeses. Bento Gonalves recebeu o ttulo, de estilo manico desde Cromwell, de Chefe e Protetor da Repblica e da Liberdade Riograndense (16). Na balaiada do partido Bemtevi, no Maranho, o negro Cosme se intitularia Tutor e Imperador da Liberda-

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  • de. Coincidncia acidental? Liberdade, de quantos tutores e prote-tores tens tido necessidade na tua ensangentada histria?

    A posio de Bento Gonalves em Viamo era, contudo, crtica. Ps-se em marcha para o Jacu. A cavalaria de Bento Manuel vigiava-lhe os movimentos. O chefe imperial tomou-lhe a dianteira nos barcos da flotilha de Grenfell e surpreendeu-o na passagem do rio. A indeci-so de Bento Gonalves fez com que se metesse na ilha do Fanfa, onde foi batido a 4 de outubro. Depois de mortfero combate a fogo e arma branca, capitulou, sendo enviado para Porto Alegre, com Onofre Pires, Zambeccari e outros chefes (17). O agente carbonrio foi meti-do a ferros. Mais tarde, seguiram todos para o Rio de janeiro, onde os encarceraram na fortaleza de Santa Cruz. Os civis conseguiram ha-beas-corpus e voltaram s escondidas ao Rio Grande do Sul. Zam-beccari e Bento Gonalves estiveram tambm algum tempo na forta-leza da Lage. O segundo foi transferido posteriormente para a Bahia, onde os irmos lhe deram escpula.

    Antnio Neto no se deixou abater pelo grave revs do Fanfa e se tornou o mentor decidido do movimento, do ponto de vista militar. Diz Carlos von Koseritz que o "crebro da revoluo" era o culto e nobre Domingos Jos de Almeida. Neto reuniu um congresso de Piratini, o qual oficializou a Repblica. Foram eleitos presidente Bento Gonalves, vice-presidentes Antnio Paulino da Fontoura, Jos Ma-riano de Matos, Domingos Jos de Almeida e Incio Jos de Oliveira Guimares. Jos Gomes de Vasconcelos Jardim foi escolhido substi-tuto efetivo do presidente prisioneiro. A Neto coube, por aclamao, o comando geral do pequeno e aguerrido exrcito farroupilha. Todas as autoridades prestaram juramento. Escolheram-se ministros. Copiou-se no que se pde a organizao administrativa do Imprio. Era no dia 6 de novembro de 1836. Estava inaugurada a Repblica Riogranden-se que o Oriente de Porto Alegre, em documento pblico e notrio, declara obra exclusiva e totalmente sua, at nas insgnias, um sculo depois.

    Iniciava-se a longa epopia dos centauros e das guerrilhas. Os Farrapos "apuravam pacincia e valor de seus adversrios por sua constante mobilidade. Possuam abundncia de cavalos, o elemento essencial para incurses e entreveros de cavalaria, quais os impunha tal gnero de campanha. Iam e vinham os soldados voluntrios a seu bel prazer. Batiam-se, perseguiam ou dispersavam-se, conforme exi-giam os acontecimentos e ordenavam os chefes. Reuniam-se, quan-do convidados por seus generais. Tais processos eram ideais no tocante rapidez das movimentaes. Nunca foram mais de seis mil

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  • homens, ao mximo. Quase no tinham artilharia, seno a que haviam conquistado s colunas imperiais, umas vinte peas, quando muito (19)."

    No comeo de 1837, Feij comete o erro grosseiro ou proposital de demitir Arajo Ribeiro, que quase tinha j toda a provncia sob sua autoridade. "Desesperado de dio e perdendo todo o senso da medi-da, Bento Manuel bandeia-se para os rebeldes. Em 23 de maro, o velho caudilho prende no passo do Tapevi o prprio presidente da provncia, brigadeiro Antero Jos Ferreira de Brito. Todos os porme-nores desse feito ele mesmo nos d nos seus ofcios de comunicao, publicados pelo Arquivo Nacional no seu volume XXXI. Em 8 de abril, Antnio Neto ocupa Caapava. a primeira conseqncia da defec-o de Bento Manuel, que, no dia 5 de junho, destroa seu inimigo pessoal, o marechal Sebastio Barreto, no combate de Santa Brba-ra. A 12 de agosto, no Triunfo, so batidos os legais de Gabriel Gomes Lisboa. Em outubro, a derrota da Vacaria (19). Os republicanos recon-quistam a palmo o territrio.

    No dia 10 de setembro, ajudado notoriamente pela maonaria, Bento Gonalves evade-se do forte do Mar, na Bahia, e volta ao Rio Grande do Sul, que mais se inflama de entusiasmo (20).

    No panorama poltico da Regncia, alteava-se ento a figura de Bernardo de Vasconcelos. A de Feij diminua, sobretudo aps a morte de Evaristo da Veiga, que o sustinha com todo o seu valor. O padre era maon, mas homem de vida limpa, pobre como Job. A vida do outro no ganharia muito em ser esmiuada. Os dois no se toleravam.

    O Regente no se podia conformar em v-lo no poder, como ministro do Imprio, o que queriam certas foras polticas e no sabemos se as foras de retaguarda daquelas... A 18 de setembro conferenciou com Arajo Lima, futuro marqus de Olinda, ficando resolvido que este seria nomeado ministro da Justia e, na forma da constituio, assumiria a Regncia pela renncia de Feij, que ia at a para no chamar Bernardo de Vasconcelos ao ministrio. A 19 de setembro, o padre resignou o cargo que vinha exercendo desde 12 de outubro de 1835. Arajo Lima o substituiu. Seria eleito definitivamente em abril do ano seguinte. Chamado ao poder, Bernardo de Vasconce-los constituiu seu gabinete com Miguel Calmon, futuro marqus de Abrantes, na pasta da fazenda; Maciel Monteiro, futuro baro de Itamarac, na de Estrangeiros; Sebastio do Rego Barros, na da Guerra; Rodrigues Torres, futuro visconde de Itabora, na da Marinha (21). Foi o chamado Ministrio das Capacidades, com o qual Bernardo

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  • de Vasconcelos, vendo, como ele prprio dizia, a Liberdade compro-metida pelos excessos dos facciosos, que brotavam como tortulhos por todo o pas, se tornava regressista ou retrgrado para salvar essa mesma Liberdade, sempre, desde que nasceu, carecida de defenso-res, tutores, protetores e salvadores...

    Nascia no maremagno de confuses da Regncia o Partido Conservador, da fuso dos liberais-moderados com os antigos restau-radores ou reacionrios. Criava-se um grande fator de equilbrio polti-co na vida at ento tumultuosa da Nao. O grande servio dessa criao foi o estabelecimento definitivo da ordem, mais tarde.

    A proclamao do novo Regente, em outubro, concitando os brasileiros concrdia, morreu sem repercusso prtica no entrecho-que dos motins. Riram-se naturalmente dela nos concilibulos das lojas, entre as duas colunas salomnicas. O sangue brasileiro conti-nuou a ser derramado nas imolaes da guerra civil. Derrotas e reveses estreis para ambos os lados. A 25 de fevereiro de 1838, os rebeldes so derrotados no combate de So Gonalo (22). Se os Farrapos contam com o prestgio de Bento Gonalves, o valor de Neto, a consumada mestria caudilhesca de Bento Manuel, "a eminn-cia moral de Joo Antnio e a bravura inexcedvel de Jacinto Gue-des", como diz Canabarro Reichardt, do lado do Imprio se altanam tambm grandes figuras e, entre elas, o famigerado Moringue, Fran-cisco Pedro de Abreu, baro de Jacu, em quem como que se encar-nara o esprito de Pinto Bandeira e de Chagas Santos. Era, ento, major. Bate os revoltosos onde os encontra: no arroio Pitim, a 1 de setembro; em Santo Amaro, a 19 de novembro. No dia 22, entrara na vila do Rio Pardo e a 24 vencera o prprio Bento Gonalves no passo do Vigrio. No combate, morreu o oficial de marinha e carbonrio Rossetti, amigo do peito de Garibaldi, enviado dos poderes ocultos internacionais (23).

    As revolues que se concentram morrem devoradas no prprio fogo. Toda revoluo precisa alastrar, expandir-se para viver. Os farroupilhas sentiram instintivamente essa necessidade em 1839. Ini-cia-se o ano pela transferncia da capital republicana, de Piratini para Caapava (24). Depois, procuram avanar para o corpo do Imprio, quer tentando a unio com outras provncias, como documenta Souza Docca em trabalho especial, quer transpondo em armas a fronteira de Santa Catarina.

    O poder central dera uma "prova de fraqueza", diz Calgeras, que muito contribuira para as tentativas de alastramento revolucion-rio, oferecendo anistia a 1 de janeiro de 1839. Repetia as promessas

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  • de 1835 e 1836. Em julho, os rebeldes se apresentam na velha cidade da Laguna, por mar e por terra. J existem os farroupilhas do mar, como na revoluo holandesa do sculo XVI. A bandeira revolucion-ria, diferente da tricolor gacha de Zambeccari, amarela e branca, fra levantada no dia 1 de maro, na vila de Lages, onde Aranha e Serafim Muniz haviam soltado o grito de Independncia e Federao

    Manuel Lucas de Oliveira

    ao Rio Grande do Sul. Os dois chefes comunicaram-se logo com David Canabarro, que sitiava Porto Alegre (25).

    A esquadrilha republicana que se mostrava na Laguna sob o comando de Garibaldi fugira por terra da Lagoa dos Patos, onde ficaria bloqueada pela Armada Imperial. Dois barcos de coberta, o "Farroupilha" e o "Seival", construdos s ocultas no rio Camaqu, foram arrastados mais de sete lguas por juntas de bois at flutuarem

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  • no Tramanda, pelo qual desceram para o oceano na tarde de 13 de julho de 1839 (26). No dia 22, Laguna foi conquistada. A Garibaldi conheceu e amou Anita, que haveria de ser a sua dedicada compa-nheira de toda a vida. No dia 24, proclamou-se solenemente a Rep-

    David Canabarro

    blica Catarinense, dando-se velha povoaao bandeirante o nome de Cidade Juliana (27). Repblica to efmera quanto aquelas que o maonismo da Revoluo Francesa semeou na Europa com nomes pomposos, do mesmo sabor clssico do que fra dado fundao dos Brito Peixoto: Btava, Partenopia, Transalpina. No correr do ano, porm, Soares de Andria, vencedor dos cabanos, limparia de rebel-

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  • des o interior da provncia e, em novembro, Frederico Mariath, seu companheiro naquela luta, restauraria a autoridade imperial na ex-Ci-dade Juliana. Mariath destroou completamente a esquadrilha garibal-dina com suas tripulaes italianas (28).

    Os combates no sul prosseguiram durante todo o ano. Um cru-zeiro de Garibaldi, feito corsrio, nas costas de So Paulo, no qual fez algumas presas, redundou, afinal, em lamentvel desastre. Persegui-do pela corveta "Regenerao" e, depois, por outros barcos de guer-ra, embora pequenos, abandonou ou queimou as presas para esca-par. Enquanto isso, a cavalaria do Moringue batia os revoltosos no arroio dos Ratos (29). Para compensar, a 14 de dezembro, os legais foram vencidos em Santa Vitria.

    Sem navios, Garibaldi comanda a infantaria das tropas que, em 1840, teimam em manter na regio fronteiria das provncias limtrofes a Repblica Catarinense. Recuam, desfeitas no combate de Curitiba-nos ou da Forquilha. O Moringue, ora ajudado pelo bravo Andrade Neves, futuro baro do Triunfo, ora sozinho, o heri do ano. Em janeiro, destroa os Farrapos na Sanga da Bananeira; em junho, na estncia do Salgado; em agosto, no Capivari; em setembro, na Roa Velha; em dezembro, hostiliza a retaguarda de Bento Gonalves, que retira de Viamo (30). Tudo isso, apesar da quase inrcia do governo provincial, dividido inbil ou propositalmente pela Regncia entre o presidente civil e o comandante das armas. Andam ambos s turras. A Regncia no queria o comando nico, mais capaz de agir.

    No dia 3 de maio, o marechal Manuel Jorge Rodrigues, que defendera no comeo do sculo, heroicamente, a Colnia do Sacra-mento, que estivera na cabanada do Gro-Par, derrotou o exrcito republicano, comandado em pessoa por Bento Gonalves, na batalha de Taquari, o que lhe deu mais tarde o ttulo de baro desse nome. Em julho, So Gabriel foi tomada pelos imperiais. Em outubro, os rebeldes de Portinho so varridos por Taborda no rio Canoas, em Santa Cata-rina. Em dezembro, o presidente Alvares Machado rompe as negocia-es de paz que se entabulavam, taivez envaidecido pelos triunfos, talvez em obedincia s insdias das lojas. Isto foi no dia sete. A 21, Jacintho Guedes esmagava uma fora legal na estncia de So Jos (31).

    Comea a desarticulao dos Farrapos. Estouram dissenses intimas. O vice-presidente Foutoura inimiza-se com Bento Gonalves, em 1841, segundo revela uma carta deste a Manuel Lucas de Oliveira (32). Apela-se, com mais anseio, oficialmente, para o auxlio estran-geiro. A 5 de julho, assina-se a Conveno de Auxlio Mtuo entre

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  • Bento Gonalves e Frutuoso Rivera, ento na presidncia do Uruguai. Quando, em 28 de outubro de 1841, o Moringue surpreende a vila de So Gabriel, ali encontra grande cpia de armamento e munies enviada pelo governo oriental. tomada de So Gabriel, segue-se a derrota do Capo Bonito, a 25 de novembro. Sempre o Moringue! Novo apelo mais desesperado ao Uruguai, do qual resulta a Conven-o Secreta de Bento Gonalves com Rivera, datada de 28 de dezem-bro (33).

    Desde julho de 1839, Bento Manuel se arredara da atividade militar. Metera-se nas encolhas. Em 1840, escrevia ao presidente da provncia, "propondo-se a abandonar as fileiras rebeldes a troco de anistia para si e para mais alguns amigos e parentes, ficando toda a negociao em segredo (34)." O genera