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Historia3 surdos brasil_imperio

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Page 1: Historia3 surdos brasil_imperio

655

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE - UFS

Grupo de Pesquisa Educação a Distância e Práticas

Educativas Comunicacionais e Interculturais – EDaPECI

ANAIS DO II SEMINÁRIO EDUCAÇÃO, COMUNICAÇÃO, INCLUSÃO E INTERCULTURALIDADE

DE 12 A 14 DE AGOSTO DE 2009

A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NO BRASIL IMPÉRIO

Josilene Souza Lima Barbosa Mestranda em Educação/UFS

Membro do NUPIEDE Membro do GEIED

[email protected]

RESUMO

A educação no Brasil Império foi marcada pelo ensino elitista, iniciava-se nas casas dos aprendizes com aulas ministradas por profissionais escolhidos pelos pais, assim como os conteúdos a serem ensinados a educação na Casa era o costume da época, as pessoas acreditavam que mandar os filhos para colégios, estes poderiam ter más influências, já que nos colégios eram freqüentados por pessoas de classes menos favorecidos. Diante desta realidade, este estudo tem como objetivo fazer um breve recorte de como acontecia à educação no século XIX e apresentar os meios pelos quais as pessoas com surdez tinham acesso à educação neste período. Optamos por uma pesquisa bibliográfica apoiada nos estudos de Brugger (2007), Azevedo (1996), Vasconcelos (2005), Souza (2007) dentre outros. O estudo nos levou a refletir e reconhecer a colaboração de D.Pedro II ao apoiar a iniciativa de L’Épée ao fundar o Instituto dos Surdos –Mudos no Rio de Janeiro, a conhecer e valorizar o empenho do ilustre sergipano Tobias Leite como diretor deste Instituto, divulgando e lutando pela a educação dos surdos brasileiros.

Palavras-chave: Educação. Império. Instituto dos Surdos-Mudos.

LA EDUCACIÓN DE LOS SORDOS EN BRASIL IMPERIO

RESUMEN

La educación en Brasil Imperio fue marcada por lo ensenanza elitista, fue iniciada en las casas de los aprendizes con lecciones dadas por los profesionales elegidos para los padres, tan bien como el contenido para ser enseñado la educación en la casa que era el costumbre del tiempo, la gente creyó que pedir a los niños para los colegios, éstos podrían tener dañan influencias, puesto que en los colegios fueron frecuentadas por la gente de clases menos favorecida. Delante de esta realidad, este estudio tiene tan

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objetivo para hacer un informe que corta de como sucedió la educación en el siglo XIX y presentar las maneras para las cuales la gente con sordera tenía acceso a la educación en este período. Optamos a una investigación bibliográfica apoyada en los estudios de Brugger (2007), Azevedo (1996), Vasconcelos (2005), Souza (2007) entre otros. El estudio en él los tomó para reflejar y para reconocer la contribución de D.Pedro II al apoyar la iniciativa de L Épée al establecer al Instituto de los sordomudos en el Río de Janeiro.Para conocer y para valorar lo empeno del sergipano ilustre Tobias Leite como el director de este Instituto, y divulgación y lucha para la educación de los sordos brasileños.

Palabras-llave: Educación. Imperio. Instituto de los Sordomudos.

Educação no Brasil Imperial

A educação brasileira no período imperial era destinada às elites e sob a

responsabilidade das famílias, isto é, eram os pais que escolhiam se os filhos iriam ter

aulas com mestres e/ou preceptores, as disciplinas a serem ensinadas, assim como os

conteúdos. A escolha dava-se de acordo com os interesses das famílias e os filhos na

maioria das vezes não tinham o direito de opinar quanto às decisões do seu futuro. A

família era à base da sociedade e em torno dela giravam todos os interesses. Segundo

Brugger (2007) ser obediente aos pais não implicava na maioria das vezes, na anulação

ou na contrariedade dos desejos dos filhos, não se tratava das vontades pessoais de pais

e filhos, mas sim de objetivos familiares e para atingí-los todos deveriam contribuir. A

autora coloca que nem todos os projetos familiares eram bem sucedidos. Mas ainda

nestes casos, o apoio, a reestruturação e a adequação à nova realidade eram buscadas no

interior do seio familiar. Nem tudo acontecia de forma harmoniosa, houve muitas

circunstâncias de desavenças e rupturas, “mas, mesmo nelas, o agente social por

excelência era a família, ainda que se pudessem opor ramos de uma mesma parentela”.

(p.330)

Brugger cita que as famílias se preocupavam com a instrução de seus filhos e

que em seus testamentos elegiam tutores que pudessem se responsabilizar pela educação

dos filhos após a sua morte. Cabe salientar que os pais não confiam e/ou, julgavam as

mães incapazes de cuidar dos filhos e nomeavam tutores para essa função.

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“[...] os tutores não deveriam além do trabalho da criação, assumir nenhum tipo de despesa com ‘mestres, vestuários e enfermidade’. Estas deveriam ser descontadas da herança do próprio filho, o que estabelecia por entender que ‘lhe será mais útil a boa educação que, sem essa, o vulto da herança” (BRUGGER, 2007, p.154)

A educação “formal" iniciava-se nas casas dos aprendizes, geralmente por

mestres estrangeiros. Seus pais acreditavam que estes, eram melhores preparados para

se encarregar da educação dos seus filhos, já que a educação européia era famosa e tida

como a melhor. A educação na Casa era o costume da época, as pessoas acreditavam

que mandar os filhos para colégios, poderia ter más influências, já que nos colégios

eram freqüentados por pessoas de classes menos favorecidos. Os profissionais

interessados em candidatar-se a mestres, preceptores ou professores colocavam

anúncios nos jornais de acordo com as suas qualificações.

Vasconcelos fez um estudo detalhado sobre a educação na Casa e trouxe dados

importantes esclarecendo e informando como acontecia a educação nas Casas no século

XIX, o perfil dos “professores”, e quais as modalidades de ensino existentes na época.

Traz em sua obra conceitos importantes, dentre eles:

� Professores particulares- também chamados de mestres particulares ou mestres que davam lições ‘por casas’, eram mestres específicos de primeiras letras, gramática, línguas, música, piano, e outros conhecimentos. [...] Não habitam nas casas, mas compareciam para ministrar aulas, em dias e horários pré-estabelecidos.

� Preceptores- eram mestres ou mestras que moravam na residência das famílias, às vezes, estrangeiros, contratados para a educação das crianças e jovens da casa (filhos, sobrinhos, irmãos menores). Por vezes, encontram-se preceptores denominados de aios ou amos, aias ou amas. [...] sendo encontrados nas classes mais abastadas.

� Aulas domésticas- eram aulas ministradas no espaço da própria casa, por membros da família, mãe, pai, tios, avós, ou até pelo padre capelão, que não tinham custo algum e atendiam apenas às crianças daquela família ou parentela.

� Mestre–escola- eram mestres que ministravam aulas em sua própria casa para crianças e jovens de diversas famílias, na maioria das vezes de faixas etárias diferentes. Os alunos recebiam aulas na casa do mestre em dias e horários determinados. [...] Podiam ser contratadas as apenas as aulas que interessassem aos alunos. O pagamento era feito por pai de cada criança atendida.

De acordo com o estudo de Vasconcelos (2005) existiam três modalidades de ensino:

� Ensino público- refere-se àquele oferecido nas escolas mantidas pelo Estado ou por ‘associações subordinadas a este’.

� Ensino particular- refere-se àquele que era oferecido nos colégios particulares ou na casa dos mestres, que recebiam crianças e jovens para ensinar-lhes os conhecimentos estabelecidos.

� Educação doméstica- era aquela que ocorria na Casa do aprendiz, na esfera privada, na qual os pais contratavam, mediante sua livre escolha, os mestres, os conteúdos e as habilidades a serem ensinados a seus filhos, no tempo e disposição exclusivamente determinados pela Casa. Essa modalidade de ensino tinha como agentes, os professores particulares, os preceptores, os parentes ou agregados e, ainda, os padres que ministravam aulas domésticas. (VASCONCELOS, 2005 p.12-17)

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Cabe salientar que nesta época a educação de meninos e meninas dava-se em

espaços separados. Os meninos iniciavam a educação no ambiente doméstico e

posteriormente eram mandados para as instituições existentes para concluir a educação

secundária: particulares, oficiais e religiosas. Para as meninas as famílias traçavam

outros objetivos aprendiam a ler, escrever, noções de matemática, mas deveriam estar

incluídos nos “programas” de ensino as prendas do lar, música, tocar piano e artes para

prepará-las para o casamento e agradar aos futuros esposos.

Segundo Azevedo (1996) com a chegada da família real foram criadas as

escolas de preparação profissional por D. João VI. No primeiro Império, dois cursos de

ciências jurídicas e sociais criados pela lei 11 de agosto de 1827, nas cidades de São

Paulo no dia 1º de março no convento de São Francisco e o de Olinda no dia 15 de maio

de 1828, no Mosteiro de São Bento. As duas faculdades de medicina surgem na

primeira metade do século XIX sendo uma na Bahia e a outra no Rio de Janeiro. Cabe

ressaltar que a elite da época é que tinha acesso a estas faculdades.

O trabalho da terra, como a atividade mecânica e industrial, parecia reservado aos ignorantes e incapazes e mal se acomodava com essa espécie de enobrecimento que confere a passagem pela escola – pelos liceus e faculdades, destinadas à preparação para as profissões liberais. Os estudantes do Brasil, como, aliás, em toda a parte, vinham da elite da sociedade – do patriarcado rural ou daquela pequena burguesia que procurava ascender às camadas superiores -, dirigiam-se às aulas e aos ginásios, e daí, às escolas de profissões liberais, especialmente às duas faculdades de direito. (AZEVEDO, 1996, p.562)

Como observado à educação no Brasil imperial era marcada pela valorização da cultura, instrução e dos interesses familiares. E como era a educação das pessoas com deficiência nesta época?

Tentaremos na próxima seção trazer alguns dados sobre a educação dos surdos no Brasil Império.

A importância do Instituto dos Surdos-Mudos1 para a educação brasileira

As pessoas com deficiência sempre enfrentaram muitos preconceitos ao longo

dos séculos em busca de formação e acesso ao conhecimento. Muitos acreditavam que

eram incapazes, de aprender, de produzir e de dar a sua contribuição à sociedade. Como

vimos anteriormente o modelo educacional da época era baseados no modelo europeu,

tendo os preceptores, mestres, professores, na educação das casas oriundos em sua

1 Termo utilizado na época

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maioria da Europa, assim como os professores que atuavam nos colégios. A educação

das pessoas com deficiência no Brasil não fugiu a essa regra. Nas fontes consultadas

não encontramos como se dava a educação destas pessoas nas Casas, encontramos

apenas a criação de institutos que viabilizaram o acesso ao conhecimento fundado por

estrangeiros. A educação dos surdos no Brasil e, em outros países, teve seu inicio

marcado pelos estudos de médicos e religiosos. Apesar da época delimitada não

podemos deixar de destacar alguns fatos que antecederam o século destacado para este

estudo.

Os estudos médicos sobre a deficiência e a linguagem, e a influência da medicina com a aplicação de normas higiênicas e disciplinares nas escolas, estiveram relacionadas às iniciativas de religiosos em criar e desenvolver institutos específicos para a educação dos surdos. Muitos médicos passaram a desenvolver seus trabalhos com surdos nos recém‐criados estabelecimentos, como exemplo o trabalho de Itard (1775‐1838) no Instituto Nacional de Surdos‐Mudos de Paris, o qual foi criado pelo Abade Charles Michel de L’Epée em 1760.(www.cultura- sorda.eu/resources/Bouth_vendo_vozes.pdf)

Segundo as fontes consultadas Jean Itard foi o primeiro médico a interessar-se

pelo estudo da surdez e das deficiências auditivas. Quanto aos religiosos que deram a

sua contribuição na educação dos surdos encontramos:

Pedro Ponce de Leon (1520-1584) era espanhol e foi um monge beneditino

considerado o primeiro professor de surdos. Seus alunos eram filhos de aristocratas ricos

que tinham recursos, tornando- se tutor destas crianças surdas. O trabalho de Leon era

focado em ensinar as crianças a aprender a escrever através de gestos simples e

desenvolveu o alfabeto manual que permitia aos estudantes a aprender a soletrar toda a

palavra. O seu trabalho foi considerado de grande importância por seus

contemporâneos. Os europeus no século XVI acreditavam que os surdos não podiam ser

educados. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_Ponce_de_Le%C3%B3n)

Juan Pablo Bonet foi um padre espanhol, e educador de surdos. Em 1620

publicou em Madri, o livro Redução das Letras e Arte de Ensinar a Falar os Mudos. Foi

professor de Luís Velasco, Condestável de Castela, para quem Bonet era secretário

particular. Nesta família havia muitos surdos, já que existiam muitos casamentos entre

parentes, afim de, manter o patrimônio vinculado a família. O seu método consistia no

alfabeto manual (dactilologia), por acreditar que seria mais fácil ensinar o surdo a ler se

utilizasse este método. Conforme as fontes o seu livro atraiu as atenções de muitos

intelectuais europeus para a causa dos surdos, dentre eles: Jacob Rodrigues Pereira,

Amman e Wallis. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Juan_Pablo_Bonet)

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Charles-Michel de L’Épée (1712-1789), francês, foi um educador filantrópico

do século XVIII, ficou conhecido como o ‘Pai dos Surdos’. O método utilizado era

centrado no uso de gestos e sinais, acreditava no princípio de que o ‘surdo-mudo deve ser

ensinado através da visão. O seu diferencial em relação aos seus antecessores foi ter

permitido que os seus métodos e o acesso às suas aulas fossem abertas ao público e a

outros educadores. Estabeleceu programas de ensino/treinamento para estrangeiros que

pretendiam levar os métodos de ensino para o seu país, e acabou contribuindo para a

abertura de muitas escolas pelo mundo. Um exemplo foi Laurent Clerc, surdo francês,

aluno da escola de L’Épée que juntamente com Thomas HopKins Gallaudet, educador

ouvinte, fundaram a primeira escola de surdos da America do Norte aplicando os

conhecimentos adquiridos com o mestre. Dentre as suas principais contribuições estão:

Criação do Instituto Nacional de Surdos Mudos, em Paris. Esta foi a primeira escola de

surdos do mundo; Passagem da educação individual para a coletiva; Divulgação da língua

gestual entre nobre, filósofos e educadores da época, mostrando a importância e a riqueza

da mesma.(http://pt.wikipedia.org/wiki/Charles- Michel_de_1%C3%89%p%C3%A9)

Segundo Gugel no Brasil o Imperador D. Pedro II motivado pelo movimento

europeu cria duas instituições para as pessoas com deficiência: O Imperial Instituto dos

Meninos Cegos (atualmente Instituto Benjamim Constant), através do Decreto Imperial

nº 1.428, de 12 de setembro de 1854. E o Instituto de Surdos Mudos fundado em 26 de

setembro de 1857 (atualmente Instituto Nacional de Educação dos Surdos –INES). A

criação deste último instituto teve como objetivo apoiar as idéias do professor francês

Ernest Huet.

Pinto traz dados importantes sobre a criação do Instituto dos Surdos- Mudos do

Rio de Janeiro. Segundo a autora começou na Europa através do Instituto Nacional de

Paris, cabe exaltar que Huet era surdo e professor deste instituto e já tinha sido diretor

do Instituto de Surdos-Mudos de Bourges. A criação desta escola começou com uma

carta de apresentação do Ministro da Instrução Pública da França entregue ao Governo

brasileiro. D. Pedro II determinou que fosse organizada uma comissão com figuras

importantes do Império para promover a fundação da escola para surdos. Em 1856 o

professor Huet apresenta o seu programa de ensino, cujas disciplinas eram:

Língua Portuguesa, Aritmética, Geografia, História do Brasil, Escrituração Mercantil, Linguagem Articulada, Leitura sobre os Lábios e Doutrina Cristã. No que se refere à disciplina “Leitura sobre os Lábios”, esta só seria oferecida aos que tivessem aptidão, reconhecendo‐se que quem tivesse resíduo auditivo teria muito mais chance de desenvolver a Linguagem Oral. Esta questão sempre foi tomada como objeto de polêmica ao longo da

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história do Instituto, uma vez que a orientação educacional era diferenciada, ou seja, os que não tinham aptidão para a linguagem oral, segundo o entendimento da época, não freqüentavam as aulas de Leitura sobre os Lábios. (www.cultura- sorda.eu/resources/Bouth_vendo_vozes.pdf)

Em 1856 embora não oficializado o Instituto já funcionava e Huet e teve duas

meninas surdas como alunas eram: Umbelina Cabrita e Carolina Bastos. Segundo Pinto

eram do Rio de Janeiro e foram admitidas em 1º de janeiro de 1856, recebiam pensão

anual paga por sua Majestade Imperial. O instituto era mantido através de pensões de

diversos órgãos. Pinto embasado na matrícula de 1858 apresenta os seguintes dados:

havia dezenove alunos cujas pensões equivaliam 500 réis cada uma; dois alunos

recebiam pensão de Vossa Majestade Imperial, um recebia do Convento do Carmo, um

do Mosteiro de São Bento, seis eram mantidos pelo Tesouro Nacional, cinco pelo

Tesouro Provincial e quatro por pensões particulares, sendo que dois alunos mantidos

por particulares saíram do instituto.

De acordo com Souza (2007) a escola de surdos funcionava no Colégio

Vassinon. No ano de 1856, segundo a autora, Huet apresentou o resultado do seu

trabalho e ganhou a admiração do imperador. O professor passou por inúmeras

dificuldades econômicas, disciplinares e morais que tumultuaram o Instituto. Em 1861,

reconheceu que não tinha condições de dirigir à instituição, propôs ao Marques de

Olinda que lhe pagasse indenização e uma pensão anual para entregar a escola ao

Império, no final deste mesmo ano, “mediante acordo financeiro, desligou-se das suas

funções e mudou-se para o México, para ensinar aos surdos de um instituto fundado por

seu irmão também surdo, Adolphe Huet” (SOUZA, 2007, p. 85)

Até a chegada do novo Professor que estava sendo habilitado no Instituto de Surdos de Paris, o Instituto do Rio de Janeiro foi dirigido por Frei João do Monte do Carmo e por Ernesto do Prado Seixas. Em Julho de 1862, chegou ao Brasil o professor contratado Dr. Manoel de Magalhães Couto, que ficou na Direção até 1868. Ele foi exonerado pela constatação da inspeção de que não havia trabalho algum no Instituto, simplesmente um grande depósito asilar de surdos‐mudos. (www.cultura- sorda.eu/resources/Bouth_vendo_vozes.pdf

Conforme Souza (2007, p.86) em agosto de 1868 Tobias Leite, médico

sergipano, nascido na cidade de Riachuelo assume o cargo de diretor interino e em 1872

foi nomeado diretor efetivo, ocupando o cargo até 1896, ano de sua morte. A autora

coloca que desde que Tobias assumiu o instituto a educação dos surdos passou a ser

sistematizada e divulgada. Embasada em Bastos elenca as obras de Leite que tiveram

distribuição gratuita e de grande contribuição para a educação brasileira, são elas:

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Notícia do Instituto dos Surdos-Mudos (1871) reeditada em 1876, 1877e 1887, tendo

como objetivo divulgar o instituto; Compêndio para o ensino dos Surdos-Mudos (1881);

Lições de Metrologia (1875); Salvaguarda do surdo-mudo brasileiro (1876); Noções de

língua portuguesa para surdos-mudos (1871), Contos morais para surdos-mudos

(tradução, 18770) e Regimento Interno dos Surdos-Mudos (1877).

Administrar o instituto por 28 anos não foi uma tarefa fácil, assim como foi

para L’Èpée e seus sucessores. Os recursos eram insuficientes para manter os alunos na

instituição. Souza (2007) relata que de acordo com o recenseamento da época apontasse

a existência de 209 surdos no Rio de Janeiro. Desde a fundação até 1873, o instituto

recebeu apenas 101 alunos. Segundo a autora Tobias Leite lamentava por estes

números, já que o instituto era a única escola de surdos existente. O instituto estava

preparado para receber e educar 100 alunos internos e número ilimitado para externos,

porém não ultrapassava de 33 alunos.

Em 1880, foi criado o Museu Escolar do Instituto dos Surdos-Mudos, através

do Decreto-Lei nº890, de 1880, com objetos oferecidos pelo imperador D. Pedro II.

Este museu era mais um recurso em prol da educação deste alunado na época, pois

facilitava a aprendizagem, porque os alunos visualizam e manuseavam objetos, aguçava

a curiosidade. Souza (2007) cita que o método utilizado no instituto era o método

intuitivo onde o professor utilizava materiais diversos (mapas, selos, gravuras, etc.) A

autora informa que no inicio Tobias adotou a língua de sinais como melhor meio de

ensinar os surdos, depois das polêmicas levantadas nos congressos internacionais

adotou o ensino da língua oral. Em 1875, Tobias Leite publicou o livro Iconografia dos

Sinais dos Surdos-Mudos, obra de Faustino José da Gama, aluno do instituto.

Além da organização do museu pedagógico, Tobias Leite interessou-se ativamente por exposições internacionais, seja contribuindo financeiramente, seja divulgando o Instituto dos Surdos-Mudos, através de livros e artefatos dos alunos (SOUZA, 2007, p.94)

Souza (2007) relata ainda, a existência do Colégio Menezes Vieira nesta fase

imperial, segundo a mesma o colégio teve uma curta duração de 1875 a 1887. Foi o

primeiro jardim de infância e era símbolo de modernismo no Império, cujo referencial

teórico era baseado em Frobel.

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Como pudemos observar o método mais adotado na educação dos surdos era o

gestualismo2 (método francês), porém existia outra corrente que defendia o oralismo (ou

método alemão). Os surdos optavam pelo gestualismo enquanto os ouvintes apoiavam o

oralismo. Em 1872, no Congresso de Veneza decidiu-se que o método que deveria ser

adotado era o oralismo, porque a língua oral tem vantagens para o desenvolvimento do

intelecto, da moral e da lingüística. O ano de 1880 no Congresso de Milão um grupo de

ouvintes, dentre eles Graham Bell, determinaram que a língua gestual fosse excluída e

substituída pela língua oral. Esta fase foi uma fase conturbada na educação dos surdos

de todo o mundo e o oralismo foi a técnica adotada nos anos finais do século XIX e

grande parte do século XX. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%B3ria_dos_surdos)

Finalizando essa discussão gostaríamos de trazer um questionamento feito por

Quadros para nos levar a refletir sobre o famoso e polêmico Congresso de Milão,

Para justificar a deliberação do Congresso, que foi determinante na história da educação de surdos, não podemos argumentar que o processo pedagógico estava com problemas e precisava ser modificado. Pelo contrário, a educação pública para surdos através das línguas de sinais, como vimos anteriormente, vinha alcançando seus objetivos e conquistando seu espaço nas mesmas condições dos ouvintes. Portanto, dentro desse quadro, pode-se levantar a seguinte questão: que razões foram engendradas ao longo da história da humanidade que autorizaram cento e sessenta e quatro pessoas ouvintes a decidirem o rumo da educação de surdos? (QUADROS, 2006, p.33)

Não é difícil entender o porquê de tal determinação, pelo que pudemos

constatar, ao longo do processo educacional como um todo, as imposições sempre são

colocadas por um número reduzido de pessoas, geralmente da elite. Acreditando que

sabem o que é melhor para a educação de uma nação, defendem uma tese sem procurar

conhecer os anseios dos maiores interessados, neste caso os surdos, e acabam

influenciando e prejudicando o desenvolvimento dos alunos ao longo de séculos. O pior

que em busca de imitar um modelo europeu de educação foi adotado um novo método

de ensino sem refletir sobre as suas conseqüências e sem considerar os pontos positivos

d o gestualismo ao longo do processo histórico na educação dos surdos.

Como o estudo nos aponta este século mesmo com todas as dificuldades e

polêmicas foi muito importante para esse alunado que pôde ter acesso ao conhecimento.

E foi constatado que tendo oportunidades são capazes de aprender, progredir e dar a sua

contribuição para com a sociedade, a exemplo dos surdos que foram apresentados neste

2 Conhecida na atualidade como Língua de Sinais

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estudo. Ficou uma incógnita como eram educados os surdos que não tiveram acesso ao

instituto, deduzimos que deveriam ter mestres ou preceptores incumbidos de tal tarefa,

como era o costume da elite da época, porém não podemos assegurar.

Contudo devemos reconhecer diante do que foi exposto a colaboração de

D.Pedro II ao apoiar a iniciativa de L’Épée ao fundar o Instituto dos Surdos –Mudos no

Rio de Janeiro.E principalmente nos orgulhar de ter o sergipano Tobias Leite a frente

deste Instituto, por vinte e oito anos, divulgando e lutando pela a educação dos surdos

brasileiros.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AZEVEDO, Fernando de. As origens das instituições escolares. In: A cultura brasileira. Parte III- A transmissão da cultura. 6ª Ed. Brasília: Editora UNB, 1996. P.545-601

BRUGGER, Silvia Maria Jardim. Minas Patriarcal: família e sociedade (São João Del Rei- séculos XVIII e XIX). São Paulo: Annablume, 2007 GUGEL, Maria Aparecida. A pessoa com deficiência e sua história com a humanidade.

Disponível em: <htt://juazeirodonorte. apaebrasil.org.br/arquivos.phtml?t=11601>Acesso

em 20 maio.2009 PINTO, Fernanda Bouth. Vendo Vozes: a história da educação dos surdos no Brasil oitocentista. Disponível em: < http://www.cultura- sorda.eu/resources/Bouth_vendo_vozes.pdf> Acesso em 20 maio.2009 QUADROS, Ronice Muller. Estudos Surdos I. Petrópolis: Arara Azul, 2006. SOUZA, Verônica dos Reis Mariano. Gênese da Educação dos Surdos em Aracaju. Tese ( Doutorado em Educação) Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2007. VASCONCELOS, Maria Celi Chaves. A casa e seus mestres: a Educação no Brasil de Oitocentos. Rio de Janeiro: Gryphus, 2005.

Outras fontes:

CHARLES-MICHEL DE L’ÉPÉE. Disponível em:

<http://pt. wikipedia.org/wiki/Charles- Michel_de_1%C3%89%p%C3%A9> Acesso

em:21maio.2009

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665

HISTÓRIA DOS SURDOS.

Disponível<http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%B3ria_dos_surdos> Acesso em: 22maio.

2009

JUAN PABLO BONET.

Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Juan_Pablo_Bonet> Acesso em: 22 maio.

2009.

PEDRO PONCE DE LEON.

Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_Ponce_de_Le%C3%B3n> Acesso

em 22 maio. 2009

.