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Gaspar Micolo A História da Descolonização está cheia de mitos e equí- vocos, sobretudo aqueles ali- mentados pelo colonizador. Pedro de Pezarat Correia, ofi- cial português reformado des- de 1986, que fez seis comis- sões de serviço durante a guer- ra colonial, na Índia, em Mo- çambique, em Angola e na Gui- né-Bissau, dedicou-se a des- fazer equívocos e mitos que ainda “povoam” a historio- grafia portuguesa. Participante na movimen- tação militar que desembocou no 25 de Abril de 1974, e inte- grante do Conselho da Revo- lução, Pedro Pezarat Correia, que nasceu no Porto, em 1932, concluiu, em 2017, aos 85 anos, o seu doutoramento na Universidade de Coimbra, com a tese “Descolonização: do protonacionalismo ao pós- colonialismo”. O trabalho agora em livro, que é lançado hoje, em Luanda, numa edição da editora Mayamba e prefá- cio de Pepetela, é, em grande parte, fruto da tese e de algu- mas das ideias já expostas na longa bibliografia do autor, nomeadamente, no livro “Descolonização de Angola. A jóia da coroa do império português”, de 1992. Trata-se do texto da tese “ampliado”, com o propósito de “contribuir para a clarifi- cação epistemológica e his- tórico-política da problemá- tica da descolonização em geral e das colónias portu- guesas em África em parti- cular”, já que o referido tema, apesar de já contar com abun- dante bibliografia, continua a merecer “um tratamento nos media, nos meios polí- ticos, militares e mesmo aca- démicos, que evidencia vícios e equívocos de base que dis- torcem o seu contexto”. Foram três anos de traba- lho para redigir a tese, mas, acima de tudo, “um percurso completo de vida” que passou por uma carreira militar e duas comissões em Angola. Foi, aliás, a partir de Luanda que Pezarat Correia participou no plano de operações do 25 de Abril. Assim, “para clarificar o entendimento do contexto”, o historiador reitera catego- ricamente que em Portugal predomina ainda uma pers- pectiva viciada do colonizador, colocando-o como protago- nista da descolonização. “(… ) Portugal colonizou. Portugal foi agente do processo histó- rico. De igual forma, os povos dessas paragens resistiram, tomaram consciência da sua condição, organizaram-se, insurgiram-se, combateram, puseram fim à sujeição exter- na, descolonizaram”. Para combater uma certa mentalidade preconceituosa que bloqueia esse entendi- mento, Pedro de Pezarat Cor- reia defende, ao longo do tra- balho de mais de 700 páginas, que Portugal entra no processo de descolonização, não inicia o processo de descolonização, embora a tendência que ainda exista seja a de considerar que a descolonização se seguiu à guerra colonial, ao 25 de Abril, à transferência do poder. O que considera um erro, já que a transferência do poder foi uma fase já muito avançada do processo de descolonização. “Portugal colonizou; os colonizados descolonizaram- se e conquistaram a inde- pendência; na descolonização, Portugal participou na trans- ferência do poder, mas é um equívoco, recorrente, con- fundir transferência do poder com descolonização”. O historiador cita obras como “A História de Angola”, de Elias Alexandre da Silva Corrêa, crónica dos feitos dos 58 governadores que estive- ram à frente da “conquista de Angola” até à publicação do livro em 1792; e o trabalho homónimo de René Pelissier, que faz o mesmo relato dos governadores entre 1879 e 1926, para mostrar como os actuais territórios que cons- tituem Angola se transfor- maram desde muito cedo num “teatro de resistência sis- temática e persistente dos seus povos”, aliás, como sublinha o historiador francês, citado na obra, “nunca na África negra os povos combateram e se su- blevaram com tal frequência e de maneira tão maciça para recusar a colonização europeia ou para a repelir”. Pelo que, reafirma Pezarat Correia, fica assim desfeito o equívoco de interpretar a independência como uma dádiva que o domi- nador concedeu ao antigo dominado. No seu estudo, Pezarat Cor- reia elenca então 21 questões HISTORIADOR DESFAZ MITOS E ESCLARECE EQUÍVOCOS EM LIVRO a tratar, de que se destacam desde logo a perspectiva do colonizador, investindo nu- ma visão redutora, condi- cionada, distorcida, sempre no sentido de confundir o processo de descolonização; a guerra colonial no patamar A Descolonização no testemunho de Pezarat Correia A Descolonização em África é um feito dos colonizados, que resulta de um longo processo de resistência permanente dos povos e que Portugal apenas colabora devido ao 25 de Abril. Eis, em resumo, a tese do historiador Pedro de Pezarat Correia, militar com experiência nas ex-colónias, que defendeu o doutoramento em 2017, aos 85 anos, e cuja publicação é apresentada em Luanda pela Mayamba. 4 DESTAQUE Quarta-feira 7 de Agosto de 2019

HISTORIADOR DESFAZ MITOS E ESCLARECE EQUÍVOCOS EM …imgs.sapo.pt/jornaldeangola/img/1612216137_destaque.pdf · 2019-08-07 · Alvor, fazer de Cabinda parte integrante de Angola”,

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Gaspar Micolo

A Históriada Descolonizaçãoestá cheia de mitos e equí-vocos, sobretudo aqueles ali-mentados pelo colonizador.Pedro de Pezarat Correia, ofi-cial português reformado des-de 1986, que fez seis comis-sões de serviço durante a guer-ra colonial, na Índia, em Mo-çambique, em Angola e na Gui-né-Bissau, dedicou-se a des-fazer equívocos e mitos queainda “povoam” a historio-grafia portuguesa.Participante na movimen-

tação militar que desembocouno 25 de Abril de 1974, e inte-grante do Conselho da Revo-lução, Pedro Pezarat Correia,que nasceu no Porto, em 1932,concluiu, em 2017, aos 85anos, o seu doutoramento naUniversidade de Coimbra,com a tese “Descolonização:do protonacionalismo ao pós-colonialismo”. O trabalhoagora em livro, que é lançadohoje, em Luanda, numa ediçãoda editora Mayamba e prefá-cio de Pepetela, é, em grandeparte, fruto da tese e de algu-

mas das ideias já expostas nalonga bibliografia do autor,nomeadamente, no livro“Descolonização de Angola.A jóia da coroa do impérioportuguês”, de 1992.Trata-se do texto da tese

“ampliado”, com o propósitode “contribuir para a clarifi-cação epistemológica e his-tórico-política da problemá-tica da descolonização emgeral e das colónias portu-guesas em África em parti-cular”, já que o referido tema,apesar de já contar com abun-dante bibliografia, continuaa merecer “um tratamentonos media, nos meios polí-ticos, militares e mesmo aca-démicos, que evidencia víciose equívocos de base que dis-torcem o seu contexto”.Foram três anos de traba-

lho para redigir a tese, mas,acima de tudo, “um percursocompleto de vida” que passoupor uma carreira militar eduas comissões em Angola.Foi, aliás, a partir de Luandaque Pezarat Correia participouno plano de operações do 25de Abril.Assim, “para clarificar o

entendimento do contexto”,o historiador reitera catego-ricamente que em Portugalpredomina ainda uma pers-pectiva viciada do colonizador,colocando-o como protago-nista da descolonização. “(…) Portugal colonizou. Portugalfoi agente do processo histó-rico. De igual forma, os povosdessas paragens resistiram,tomaram consciência da suacondição, organizaram-se,insurgiram-se, combateram,puseram fim à sujeição exter-na, descolonizaram”. Para combater uma certa

mentalidade preconceituosaque bloqueia esse entendi-mento, Pedro de Pezarat Cor-reia defende, ao longo do tra-balho de mais de 700 páginas,que Portugal entra no processode descolonização, não iniciao processo de descolonização,embora a tendência que aindaexista seja a de considerar quea descolonização se seguiu àguerra colonial, ao 25 de Abril,à transferência do poder. Oque considera um erro, já quea transferência do poder foiuma fase já muito avançadado processo de descolonização.

“Portugal colonizou; oscolonizados descolonizaram-se e conquistaram a inde-pendência; na descolonização,Portugal participou na trans-ferência do poder, mas é umequívoco, recorrente, con-fundir transferência do podercom descolonização”.O historiador cita obras

como “A História de Angola”,de Elias Alexandre da SilvaCorrêa, crónica dos feitos dos58 governadores que estive-ram à frente da “conquistade Angola” até à publicaçãodo livro em 1792; e o trabalhohomónimo de René Pelissier,que faz o mesmo relato dosgovernadores entre 1879 e1926, para mostrar como osactuais territórios que cons-tituem Angola se transfor-maram desde muito cedonum “teatro de resistência sis-temática e persistente dos seuspovos”, aliás, como sublinhao historiador francês, citadona obra, “nunca na África negraos povos combateram e se su-blevaram com tal frequênciae de maneira tão maciça pararecusar a colonização europeiaou para a repelir”. Pelo que,

reafirma Pezarat Correia, ficaassim desfeito o equívoco deinterpretar a independênciacomo uma dádiva que o domi-nador concedeu ao antigodominado.No seu estudo, Pezarat Cor-

reia elenca então 21 questões

HISTORIADOR DESFAZ MITOS E ESCLARECE EQUÍVOCOS EM LIVRO

a tratar, de que se destacamdesde logo a perspectiva docolonizador, investindo nu-ma visão redutora, condi-cionada, distorcida, sempreno sentido de confundir oprocesso de descolonização;a guerra colonial no patamar

A Descolonização no testemunho de Pezarat Correia

A Descolonização em África é um feito dos colonizados, que resulta de um longo processo de resistênciapermanente dos povos e que Portugal apenas colabora devido ao 25 de Abril. Eis, em resumo, a tese do

historiador Pedro de Pezarat Correia, militar com experiência nas ex-colónias, que defendeu o doutoramentoem 2017, aos 85 anos, e cuja publicação é apresentada em Luanda pela Mayamba.

4 DESTAQUE Quarta-feira7 de Agosto de 2019

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armado da luta de libertaçãoque o colonizador procuroumanter confinada ao pata-mar político; o contributopara despertar as consciên-cias dos portugueses para arealidade colonial, até aí alhe-ados do seu verdadeiro con-texto, maioritariamente in-diferentes ou mesmo favo-ráveis à manutenção do Impé-rio; o isolamento externo dePortugal; a inviabilidade daguerra e a inevitabilidade doseu termo.A experiência militar na

ex-colónia serve de base parao ‘estudo de caso’ que fun-damenta a tese. A descolo-nização angolana é apresen-tada como um exemplo para-digmático da forma comoPortugal participou do pro-cesso de independência dosterritórios ultramarinos, masa principal novidade é a inten-ção do autor de se colocar doponto de vista do colonizado,que é o verdadeiro protago-nista de todos os processosde descolonização, desde aluta pela libertação à inde-pendência, e até mesmo emtodas as contradições queadvêm da construção e afir-mação da identidade.“O colonizado descolo-

niza, o colonizador coloniza,nunca o contrário. Por isso,é necessário o colonizadofazer uma luta de libertaçãonacional, forçando o opressora aceitar o princípio da des-colonização”, sublinha Pepe-tela, no prefácio, para quema obra apresenta “um quadrogeral muito completo do quefoi esse processo de desco-lonização, ao arrepio da von-tade da elite governanteportuguesa”, na pena de umoficial do Movimento dasForças Armadas e pessoa“profundamente honesta ehumana”, que “teve papelde relevo em algumas situa-ções decisivas”.Na segunda parte da obra,

Pezarat Correia aborda pro-fundamente a transferênciado poder em Angola, a então“jóia do império”, que deveriaser paradigmática no processode descolonização de todasas colónias. Ora, de pioneirana luta pela libertação, Angolatornou-se no caso mais com-plexo de transferência dopoder, de independência eda consolidação da identidadenacional. Aqui, é dissecadoo Acordo de Alvor, desde asua construção até ao seufracasso, para o qual PezaratCorreia aponta três ordensde razões, nomeadamente,as cisões internas dos movi-mentos armados; a fragilidadeda parte portuguesa; e asintervenções externas, comincidência no singular com-portamento das Nações Uni-das (ONU). Uma guerra civilinfanda foi o que se seguiu.Ou, como reconheceu o his-toriador Jean-Michel MabekoTali, para os três movimentos,o Acordo de Alvor represen-tou apenas, além da legiti-mação internacional e doreconhecimento mútuo, aeliminação de outros inter-venientes na cena políticaangolana, já que, longe dealmejarem uma coexistênciademocrática, a FNLA, o MPLAe a UNITA visavam dar con-tinuidade às hostilidadesrecíprocas de longa data naconquista efectiva pelo poder.

Aderente, desde as suas ori-gens, ao Movimento dos Capi-tães, depois MFA, a que se deveo 25 de Abril, Pezarat Correiaestava em Angola onde assumiu,por escolha dos camaradas,funções de responsabilidadeno MFA. Ainda assim, emborativesse experiência que lhe per-mitisse embarcar para umatemática memorialista, o his-toriador socorre-se de obrasde referência para sustentar assuas teses.

O autor, por exemplo, qua-lifica como “fantasia” a ideiade N´Zau Puna segundo aqual “Portugal decidiu, emAlvor, fazer de Cabinda parteintegrante de Angola”, cons-tante na sua obra “Mal mequerem”, publicada em 2011e apresentada em Julho pas-sado, em Luanda. Lembrar doque Puna, natural de Cabinda,

lá fez o ensino primário e osecundário em Malanje, numseminário, “(…) sabia que,naquela altura, Cabinda eradistrito de Angola. A sua culturapodia não chegar ao ponto desaber que sempre o tinha sido,mas não podia deixar de teraprendido na escola a realidadegeográfica de Cabinda comoparte de Angola”.

Pezarat Correia lembraigualmente que Puna ingres-sou na UPA, que reivindicava,nas suas bases programáticas,a “integridade territorial deAngola”, incluindo Cabinda.Assim, Pezarat Correia chamaà colação a obra do historiadorangolano Alberto OliveiraPinto, “História de Angola –da Pré-História ao Início doSéculo XXI”, para fundamentara sua posição, lembrandoque essa obra “é fértil em

informação que demonstracomo as relações entre cabin-das e Portugal, mesmo antesde 1885, já passavam pelasautoridades de Luanda ecomo, depois disso, Cabindafez sempre parte de Angola”.

Pezarat Correia não desfazsomente o equívoco de Puna,como aproveita para refutarposições de dois livros publi-cados por autores portugue-ses. Trata-se dos livros deSilva Cardoso, alto-comissárionomeado na sequência doAcordo de Alvor, “Angola -Anatomia de uma tragédia”,que já vai na sua sétima edi-ção, e de Alexandra Marques,jornalista, em cuja obra“Segredos da descolonizaçãode Angola” nota-se influênciado primeiro. O autor consideraambos “saudosistas de um“épico e glorioso” passado

colonial, nunca conformadoscom o inevitável encerramentodo seu ciclo histórico; seg-mentos dos chamados retor-nados das colónias, que nuncaforam capazes de reconhecercomo e por que tinham sidoludibriados com as promessasde um futuro que assentavaem realidades conjunturaisinjustas e utópicas”.

Na sua obra, Silva Cardosochega mesmo a dizer que “(…) no Alvor, ia-se de forma hipó-crita tentar que o mundo acre-ditasse na «isenção» dosresponsáveis portuguesesquanto à transferência dopoder em Angola”, afirmaçõesque espera que sejam válidaspor ter integrado a delegaçãono Alvor e ter participado emmuitas acções preparatóriasda cimeira. Mas Pezarat Correianão desconta: “nunca se lhe

ouviu durante toda a cimeira,nas sessões formais ou nasinúmeras ocasiões em que,nos intervalos, nos momentosde convívio, conversou comos outros membros da dele-gação que integrava, qualquercrítica ou reserva em relaçãoao que, pela parte portuguesa,se estava a negociar”.

Quanto ao livro de Ale-xandra Marques, Pezarat Cor-reia considera que “fez umaproveitamento abusivo deum equívoco sobre o encon-tro de Argel, que nascera como livro de Silva Cardoso,empolou-o e distorceu o seuverdadeiro significado, ape-nas com a intenção de jus-tificar a conclusão prévia, epreconceituosa, que atra-vessa todo o livro: que o MFAbeneficiou o MPLA face aosoutros movimentos”.

Oficial de infantaria, PezaratCorreia dá assim com o seulivro “um mero contributode um observador que sesituava do lado do coloniza-dor”, como diz na obra, masque sempre se posicionouno lado certo da História. “Éuma personalidade com umpercurso fascinante. Das coi-sas que mais atrai nele e maisme encanta é esta energiainesgotável. É um caso muitoraro de longevidade física ede lucidez intelectual”, disserecentemente Maria ManuelaCruzeiro, autora do livro“Pezarat Correia, do ladocerto da História”, que é umalonga entrevista a PezaratCorreia que é - como refereRui Bebiano, no prefácio -“um livro de memórias indis-pensável para a compreensãoda nossa história recente edas escolhas que a foramcompondo”. Manuela Cruzeirolembra que sempre “quis ficardo lado certo da História” eque “não é um contestatário

de última hora”. “Preparou,sonhou longamente com o25 de Abril”.

Pedro de Pezarat Correianasceu no Porto, em 16 deNovembro de 1932. Fez ocurso liceal no Colégio Militare a licenciatura em CiênciasMilitares na então Escola doExército, em 1954. É oficialgeneral reformado desde1986. Na Faculdade de Eco-nomia da Universidade deCoimbra instalou e leccionoua cadeira de Geopolítica eGeoestratégia. Conferencistano IDN, UAL e outros insti-tutos superiores militares.É autor e co-autor de muitasdezenas de livros e trabalhossobre geopolítica e geoes-tratégia, estratégia e confli-tos , 25 de Abr i l , GuerraColonial e descolonização.Especificamente na áreamilitar é autor de Centuriõesou pretorianos e Manual deGeopolítica e Geoestratégia,este último várias vezes ree-ditado desde 2002.

Do lado do colonizador, mas do lado certo da História

Quarta-feira7 de Agosto de 2019 5DESTAQUE

DR

Pezarat Correia, militar de carreira, é um caso muito raro de longevidade física e de lucidez intelectual

O equívoco de N´Zau Puna