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HISTORIAS DE NOVOS CAMINHOS novacapa.indd 3 05/12/12 23:24

Histórias de Novos Caminhos

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Este livro é o resultado de histórias, passagens marcantes da vida dos educandos do Centro Social Caminho Novo, acolhidos no Arsenal da Esperança

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Page 1: Histórias de Novos Caminhos

HISTORIASDE NOVOS CAMINHOS

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Historias de novos caminHos

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1o edição

São Paulo - 2012

realização execução

AÇÃO& CONTEXTO

Historias de novos caminHos

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Histórias de novos caminhos. -- 1. ed. -- São Paulo : Associação pela Família : Ação e Contexto, 2012.

Vários autores. Vários ilustradores. ISBN 978-85-63805-02-7

1. Ação social 2. Centro Social Caminho Novo - História 3. Cidadania 4. Educação inclusiva 5. Histórias de vida 6. Moradores de rua - Educação 7. Moradores de rua - Escritos 8. Moradores de rua - Memórias autobiográficas.

12-15315 CDD-306.432

Índices para catálogo sistemático:

1. Cidadania e educação : Sociologia educacional 306.432

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CréditosIdealização e Concepção: Associação Pela Família - Centro Social Caminho Novo

ExecuçãoAção & Contexto

Coordenação e Edição: Gustavo Ribeiro Sanchez

Redação:Beatriz LipskisGustavo Ribeiro SanchezSônia Maria de Freitas Altomar

Organização: Alessandra BatistaAnna Thereza Guolo dos SantosBeatriz LipskisLeandro André de SouzaSônia Maria de Freitas Altomar

Revisão:Agnaldo Alves de Oliveira Fernanda Palo Prado

Pesquisa Histórica e IconográficaBerenice Farina da RosaGustavo Ribeiro Sanchez

FotografiasRaoni Maddalena

Projeto Gráfico e Diagramação:Renato Neves

Autoria e Ilustrações: Todas as ilustrações e textos editados são originais elaborados peloseducandos do Centro Social Caminho Novo

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Mãe,Estou bem, estou estudando, a escola tem sido boa.

Eu estou em São Paulo procurando uma vida melhor,

cheguei tem uma semana. Não se preocupe que eu es-

tou com saúde, ainda não estou trabalhando, mas

com fé vou conseguir um serviço aqui.

Faz uma semana que cheguei vim para conhecer

a cidade, sempre te disse isso, que queria conhecer a

cidade. Achei São Paulo muito bonita e a rodoviária

linda, grande. Estou aqui no Arsenal da Esperança e

tenho sido muito bem tratado, fiz boas amizades.

Sinto muita saudade de você, saudades de Goiâ-

nia, fico emocionado só de pensar, também sinto sau-

dade dos meus irmãos, das brincadeiras de infância

de peão, de bola, de bandeirinha, e tudo mais. Mãe,

São Paulo não tem o seu bife acebolado, também sin-

to saudades da comida daí.

Mãe,

Estou bem, estou estudando, a escola tem sido boa. Eu estou em São Paulo procurando uma vida melhor, cheguei tem uma semana. Não se preocupe que eu estou com saúde, ainda não estou trabalhando, mas com fé vou conseguir um serviço aqui.

Faz uma semana que cheguei, vim para conhecer a cidade, sempre te disse isso, que queria conhecer a cidade. Achei São Paulo muito bonita e a rodoviária linda, grande. Estou aqui no Arsenal da Esperança e tenho sido muito bem tratado, fiz boas amizades.

Sinto muita saudade de você, saudades de Goiânia, fico emocionado só de pensar, também sinto saudade dos meus irmãos, das brincadeiras de infância de peão, de bola, de bandeirinha, e tudo mais. Mãe, São Paulo não tem o seu bife acebolado, também sinto saudades da comida daí.

Te desejo tudo de bom, não se preocupe estou em se-gurança, diga a minha ex-mulher que eu estou bem. Não estarei aí no Natal...

Seu filho,

E.M.M.

Dona Creuza, minha tia.

Eu queria dizer que estou em São Paulo aqui no Arsenal, eu estou feliz, estou bem, sou muito bem tratado aqui. Eu sinto muita saudade de você, minha família morreu toda e só tenho você. Dona Creuza, eu preciso da senhora, eu quero ser feliz. Sonho ter minha casa e arrumar um emprego...

Deixo um abraço pra senhora, um aperto de mão e muito carinho.

J.C.

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J.C.

Lucy,

Desde 1995 não te encontro, lembro de você loira, com um metro e sessenta e cinco, cabelos encaracolados, sinto muita saudade de você. Cheguei ao Arsenal da Esperança faz um mês e por incrível que pareça, depois que entrei aqui minha vida melhorou muito, hoje comecei um emprego fixo de pintor, estou trabalhando aqui na Mooca.

Lucy, nunca esqueci você, lembro seu jeito carinhoso, seu jeito de falar, sua simplicidade, o errado fui eu, mas se eu voltasse no passado não seria a mesma pessoa.

Os momentos que tive com você foram incrí-veis, lembro do Mappin da Praça Ramos quando eu ia te buscar depois do serviço, sinto saudade até mesmo de nossas brigas. Sonho construir a minha casa, ter o meu lar e ter condições para um dia te encontrar e quem sabe ficarmos juntos.

Mesmo não estando por perto eu queria te desejar muita felicidade e uma vida boa, que tenho certeza seria melhor ainda se um dia você estivesse comigo. Te quero muito bem.

Saudades,

O.J.P

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Desencontros 26Rupturas 34Acolhida 44Sonhadores 54

Infância 18

Mãe,

Estou bem, estou estudando, a escola tem sido boa.

Eu estou em São Paulo procurando uma vida melhor,

cheguei tem uma semana. Não se preocupe que eu es-

tou com saúde, ainda não estou trabalhando, mas

com fé vou conseguir um serviço aqui.

Faz uma semana que cheguei vim para conhecer

a cidade, sempre te disse isso, que queria conhecer a

cidade. Achei São Paulo muito bonita e a rodoviária

linda, grande. Estou aqui no Arsenal da Esperança

e tenho sido muito bem tratado, fiz boas amizades.

Sinto muita saudade de você, saudades de Goi-

ânia, fico emocionado só de pensar, também sinto

saudade dos meus irmãos, das brincadeiras de in-

fância de peão, de bola, de bandeirinha, e tudo mais.

Mãe, São Paulo não tem o seu bife acebolado, tam-

bém sinto saudades da comida daí.

Apresentação 14

Sumário

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VIDAS TECIDAS DE SONHOS“...porque é mais espessa A vida que se luta Cada dia O dia que se adquire cada dia (como uma ave Que vai cada segundo Conquistando seu voo).

(João Cabral de Melo Neto, poeta e diplomata brasileiro)

Este livro revela algumas histórias de vida tecidas de sonhos, de-sejos, tropeços, fracassos, conquistas, decepções e esperanças daqueles que, sentindo-se acolhidos, nos confiaram pedaços de vida, escritos com a lingua-gem do coração.

Na grande metrópole feita de vidro, aço e concreto, visível pelo brilho e movimento de suas máquinas, há uma multidão solitária e anônima pe-rambulando pelas ruas. As rupturas trágicas ocorridas em suas vidas, os laços familiares deteriorados, a perda dos meios de sobrevivência, a falta de escolaridade, o vício das drogas e do álcool, doenças psíquicas e problemas emocionais de todo o tipo tecem a cor-tina de invisibilidade que os envolve.

Dentre tantos homens invisíveis estão os educandos do Centro Social Cami-nho Novo, cuja tentativa de alçar voo

acompanhamos, sempre com um novo olhar, exercendo, a cada momento, a arte da sedução pedagógica.

Os textos revelam um desejo de recu-perar o que foi perdido na infância e na juventude, um impulso para retomar a caminhada no ponto em que foi inter-rompida.

Por meio da educação, buscamos so-nhar e possibilitar que eles também sonhem, pois “ A vida, ela toda, é um extenso nascimento.“ (Mia Couto - es-critor e jornalista moçambicano)

Associação Pela Família

A Associação Pela Família é uma instituição sem fins lucrativos,

que tem como missão promover a efe-tivação do direito das pessoas à educa-ção de qualidade, por meio de ações educativas e culturais, visando à forma-ção do espírito crítico e à transforma-ção pessoal e social.

A Associação originou-se do trabalho social iniciado há 56 anos por um gru-po de operárias e professoras que cria-ram pequenos núcleos assistenciais, nos quais funcionavam grupos de es-tudo e de catequese para crianças e adolescentes e um clube de mães, com oficina de corte e costura, bordado e culinária.

Atualmente beneficia crianças, jovens e adultos em situação de vulnerabili-dade por meio da concessão de bolsas de estudo em suas três unidades esco-lares e do trabalho social realizado em suas 3 unidades socioassistenciais.

O Centro Social Caminho Novo, uma das três unidades socioassistenciais, é desenvolvido em parceria com a AS-SINDES- SERMIG, e atende anualmente cerca de 590 homens em situação de abrigamento no Arsenal da Esperança, promovendo cursos de alfabetização, encadernação e restauro, artes plásti-cas, telecurso e inclusão digital.

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Arsenal da Esperança

O Arsenal da Esperança é uma casa ha-bitada por uma comunidade denominada SER-MIG - Fraternidade da Esperança. Todos os dias, o Arsenal oferece uma acolhida digna para 1.200 pessoas em dificuldades.

Fundado em 1996, como um dos frutos da amizade de Ernesto Olivero com Dom Lu-ciano Pedro Mendes de Almeida, o Arsenal se propõe a ser uma casa de oração e de trabalho, um lugar de fraternidade, aberto a quem queira procurar o sentido de sua vida.

Alimentado pelo sonho de erradicar a fome e as injustiças sociais no mundo, Ernesto Olivero fundou, também, o Arsenal da Paz na Itália e o Arsenal do Encontro na Jordânia.

CENTRO SOCIAL CAMINHO NOVO

“ Não, não tenho caminho novo. O que tenho de novo é o jeito de caminhar. “ (Thiago de Mello)

A aproximação da Associação Pela Família com o Arsenal da Esperança deu-se por meio do Correio Solidário, projeto desenvolvido por um grupo de voluntárias que atuavam dentro do Arsenal da Espe-rança, realizando a escrita de cartas para aqueles que não o conseguiam por serem analfabetos. Isto mostrou a necessidade da retomada de um projeto voltado à alfabetização dos abrigados.

O Centro Social Caminho Novo, iniciado em 2004, busca, por meio de ações educativas, despertar em cada pessoa a necessidade de sonhar e de empenhar-se para transformar este sonho em projeto de vida.

O projeto oferece oportunidade de aprendizado contínuo e inclu-são social, estimulando nos educandos o hábito da leitura e a sensibi-lidade artística, tornando possível trabalhar questões como a autoesti-ma, o respeito ao próximo e valores sociais e familiares.

A parceria da Associação Pela Família com a ASSINDES-SERMIG - Arsenal da Esperança é a assistência necessária para que o indivíduo troque a escola da rua pela educação, sem deixar de aprender com a vida, compartilhando experiências e se desenvolvendo para que possa assumir, de forma digna e honesta, sua vida na sociedade e no mercado de trabalho.

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“JEITO DE SER DO CAMINHO NOVO”

O Centro Social Caminho Novo busca uma educa-

ção inclusiva e de qualidade, criando oportunidades que estimulem jovens e adultos a assumir seu aprendizado no letramento e em todo processo de seu desenvolvimento.

O ensino oferecido reflete a po-sição dialógica entre a teoria e a prá-tica, na compreensão do educando enquanto sujeito do conhecimento, tendo como ponto de partida os seus saberes e promovendo a construção e a reconstrução de conceitos. As garan-tias básicas do aprendizado estão vol-tadas intencionalmente para o desen-volvimento da competência e domínio da leitura, da escrita e do cálculo. Os educadores promovem situações de rodas de conversa ou debates em que todos têm a oportunidade de expres-

sar a riqueza e originalidade de sua lin-guagem e de sua cultura própria, que pode ser bastante explorada, visto que os homens abrigados no Arsenal da Esperança vêm de diversas regiões do país e do mundo.

A oralidade é fundamental e básica porque é uma atitude diante da vida, já que a palavra tem o poder misterioso de combinar e adaptar tra-dições antigas, criando novas mensa-gens. É a partir do reconhecimento do valor de suas experiências de vida que cada um pode apropriar-se das apren-dizagens de modo crítico e original.

A proposta pedagógica considera as diferenças individuais, valoriza os co-nhecimentos informais adquiridos pelos educandos, acredita em sua capacidade de aprender, descobrir, criar soluções, desafiar, enfrentar, propor, escolher e as-

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sumir as consequências de sua escolha. A proposta se viabiliza pela apropriação de conhecimentos socialmente elabo-rados e pelas mudanças qualitativas no processo de construção da cidadania, da identidade e do projeto de vida.

Ao longo dos oito anos de exis-tência, o trabalho nas salas de alfabeti-zação procura trazer à tona conteúdos e experiências de vida e a partir daí criar estratégias particularizadas, ten-do como ponto de partida as motiva-ções e expectativas dos educandos. Os conteúdos, atuais ou atualizados, rela-cionam-se com a sua vida e realidade, despertando interesse, curiosidade e integrando conhecimentos.

A abordagem se dá através da sensibilização sobre o tema a ser desen-volvido. Os conteúdos são apresenta-dos de forma clara, objetiva, respeitan-

do o ritmo dos educandos, que partici-pam da elaboração e programação de oficinas e projetos culturais, tais como: semana literária, gincanas culturais in-terdisciplinares, saraus e assembleias. A assembleia, em especial, é o espaço onde todos podem dialogar a respeito dos assuntos que interessam e que se-jam pertinentes ao trabalho desenvol-vido e à convivência do grupo.

Todo esse conjunto de práticas e aprendizagens resulta numa concepção de educação que não é mera transmis-são de saberes, mas sim o despertar do saber existente em cada um dos educa-dores e educandos.

O programa desenvolvido vem possibilitando a aprovação em exa-mes supletivos do Ensino Fundamen-tal e do ENEM e abrindo caminhos para o acesso a cursos profissionali-

zantes, visando a reinserção no mer-cado de trabalho. Com esse projeto, a Associação Pela Família espera contri-buir para a criação de alternativas de inclusão, condição necessária na bus-ca de uma sociedade mais justa.

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Quando tinha dois anos, ainda estava com minha mãe. Infelizmente, ela era doente e não tinha condições de me criar. Minha tia, que morava aqui em São Paulo, me pegou e internou a minha mãe no asilo em Frutal. Quando cheguei aqui, estava muito doente, com anemia profunda de tanto comer terra, pois não tinha nenhuma alimentação. Daí minha tia, para se manter, vendia roupas e teve que pagar uma transfusão de sangue para que eu vivesse. Com o passar do tempo, fui crescendo, sendo bem tratado. Foi esta a época que mais marcou minha vida.

S.A.B

InfânciaAs primeiras memórias são aquelas guarda-das com mais cuidado por estes homens. Lá, eles estão abrigados, suspensos em um tempo limite entre o medo e alegria. Infância, esse lugar especial onde eles buscam forças para seguir sua vida pelo asfalto frio.

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Nasci de seis meses, perdi minha mãe, brigava com meu pai. Fui criado no orfanato, onde fui maltratado. Quando

grande, fui transferido para a antiga Febem, agora Fundação Casa. Meu pai me visitava desde garoto nos colégios. Eu só aprendi a escrever meu nome que é Espedito e o a.b.c.d.

E.N.S.C.

Esta é a minha infância: tinha que acordar cedo pra ir para aula e depois vender manga e abacate de

porta em porta para ajudar a minha mãe a pagar o aluguel. Enfim, nada de infância...

Mas o tempo foi passando e aquele moleque de 7 anos virou um adolescente de 15. Então, vieram as loucuras como as gangues, envolvendo-me em roubos e no tráfico, já que minha mãe estava debilitada, em uma cama. Atropelada!

Já aos 20, entediante, só guerra no sentido do trabalho que, por sinal, escravo. Obrigado a ter hora pra tudo, menos para o lazer. E nos tempos atuais, não está diferente.

F.R.P.

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Nasci no dia 27 de novembro de 1982, em Suzano. Viajávamos sempre

com famílias evangélicas para chácaras e rios, mas meu pai começou a ter ciúmes de minha mãe. Foi onde tudo ficou triste porque ele começou a bater nela e a discutir, foi quando eles se separaram.

A partir daí, eu tive outro tipo de vida, triste, uma vida difícil para uma criança. Foi onde eu passei a não ter prazer de viver, minha mãe sumiu, passou muito tempo sem mim.

Fiquei com minha tia e meu tio. Meu pai estava atrapalhado com a vida, porque tudo começou a dar errado, e meu avô também deu um pouco de sustento para nós. Meu pai pagou o terreno em Ferraz de Vasconcelos, foi lá onde tudo ficou melhor para ele e também para mim, mas tudo era meu pensamento. Quando teve uma mentira de vizinho, eu fui embora, eu apanhei a noite toda e fui para a casa do meu tio Valter. Minha tia me levou para minha mãe e eu passei a ser feliz de novo porque eu estava com ela, mas o meu padrasto morreu – é a vida. Deu tudo errado de novo.

D.S.S.

Minha vida é o seguinte: eu nasci na roça, não tive chance de estudar, trabalhava para ajudar meu pai e minha mãe. Quando meu pai faleceu eu tinha quinze anos, depois eu fui crescendo e vim para São Paulo, eu quis vim pra cá para melhorar de vida, levava minha vida bem respeitando todo mundo, fazendo amizade, eu sou assim não tenho vício de nada. Gosto mesmo é de jogar bola, joguei muita bola de meia.

S.C.B.

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O ano era 1984 e eu, meu irmão e meus pais morávamos no estado da Paraíba. Meu pai

era alcoólatra e judiava muito de minha mãe, tanto física como emocionalmente.

Não aguentando mais essa situação, ela pegou nós dois e fomos para São Paulo, para a casa de minha avó paterna. Chegamos e nos hospedamos em uma casa no bairro da Casa Verde. Passamos alguns meses muito bem, felizes de verdade.

Certo dia, bateram à nossa porta, mas minha mãe nos deixava trancados dentro de casa. Quando fui atender a porta, tive uma grande surpresa ao ver meu pai diante de mim, em carne e osso.

Quando lhe disse que a porta estava trancada, ele se enfureceu e, com um pontapé, pôs a porta abaixo, dizendo que nós íamos sair para almoçar no restaurante. Ficamos muito contentes por ver nosso pai e rapidamente nos arrumamos e corremos para passear.

Na volta, ele passou na lojinha do bairro e comprou um lápis de cor e caderno de desenho para mim e para meu irmão e nos levou para casa da minha avó e saiu novamente.

Não sabíamos, mas seus planos não eram nada bons. Ele saiu determinado a dar cabo na vida da minha mãe e foi isso mesmo o que ele fez. Chocando a todos nós, ele chegou à casa de minha avó dizendo o que acabara de acontecer. Foi muito triste e me deixou com uma revolta muito grande.

Passei por muitas coisas na vida, mas sempre me lembro daquela época.

Gostaria que, quem quer que seja, ao ler essa história, possa de alguma maneira contribuir para diminuir a violência contra as mulheres e o sofrimento dos órfãos do Brasil e do mundo.

E.C.C.

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Em 1990, eu fui apresentado ao mundo, depois de um parto de risco, onde eu e minha

mãe, Neide, corríamos risco de vida. Minha mãe foi desenganada pelos médicos e familiares que achavam que podíamos até mesmo morrer.

Passei dois meses sob cuidados especiais dos médicos numa incubadora. Voltei para casa, onde morava minha avó, primos, tias, meu pai e meus irmãos. Nessa época, meus pais já eram separados e minha mãe morava com meus avós e tios no mesmo município de Santo André, só que em bairros diferentes.

Fui criado pela minha avó paterna, minha “mãe”. Aos 10 anos, soube da notícia que ela faleceu. Dali em diante, virei homem mais cedo. Foi muito dolorosa a perda da minha vó!

Lembro que, nas últimas vezes que a vi, já sem fala, porque o derrame afetou a fala e ela só chorava e olhava com seus olhos fixos para mim, como se quisesse me aconselhar, como sempre fez, ela só chorava e eu também. Um dos últimos conselhos dela: obedecer a minha madrasta.

No começo, até que eu queria seguir o conselho da vó, mas a atenção e o afeto que a minha madrasta tinha por mim não era o mesmo que o dos filhos dela. Queria ter minha família unida como éramos... Bom, eu fui crescendo, criando a malícia do mundo.

Na rua, eu quebrava o vidro da janela da casa dos vizinhos, roubava as moedinhas do altar da igreja... Só queria me aventurar, até o carro do filho da minha madrasta eu danifiquei. Ela me via como um monstro e não me deixava ficar em casa. Queria que eu fosse para a rua, onde eu conheci e experimentei maconha.

Uma das pessoas mais especiais da minha vida é a minha irmã Eliane, 32 anos, que mesmo sabendo que eu sou usuário nunca me desamparou. Entre trancos e barrancos, hoje eu procuro me esquivar das drogas depois de passar pela Fundação Casa. Eu criei dentro de mim a vontade de vencer na vida e de lutar pelos meus objetivos.

E.S.N.

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Os costumes da minha família boliviana sempre foram de reuniões em aniversários e casamentos. Quando criança, eu gostava de brincar nas árvores com meus irmãos e amigos, também brincava com bolinhas de gude, peões e com pipa. A lembrança que sempre levo em minha mente é quando fui pela primeira vez à escola, aos 6 anos.

Eu comecei a trabalhar com 11 anos como vendedor de balas e bolachas. A razão primeira para vir a São Paulo foi para estudar e ter uma profissão e, logo, ficar num trabalho honesto que ajudasse na minha faculdade, que parei ainda em meu país.

Minha primeira dificuldade na vida foi quando meu pai nos deixou e veio a falta de dinheiro. Minha mãe que nos cuidou.

R.U.C.

Eu, quando criança, brincava de jogar bola, andava de carrinho de rolimã e o tempo

foi passando. Com 7 anos, comecei a estudar, mas não era um bom aluno, só gostava de brincar.

Foi assim que acabei saindo da escola e fui trabalhar na feira, fazendo carreto: levava as compras das pessoas até o carro ou até a casa delas e ganhava dinheiro. Foi quando eu comecei a ajudar meus pais e o tempo passou. Voltei a estudar, estava com 14 anos. Terminei a quarta série e saí de novo da escola para sobreviver.

M.O.J.

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Nascido em Curitiba, no dia 13 de

dezembro de 1977, Douglas foi abandonado pela família legítima, foi adotado pela família Martins e achava que a felicidade estava próxima ao sorriso de uma criança, mas a tristeza chegou primeiro.

D.M.M.

Vim de uma realidade pobre. Quando criança, meus pais ainda tinham uma condição

razoável, mas meu pai foi se perdendo por causa da bebida, era alcoólatra e, também, mulherengo. Ele era violento com os filhos homens - eu e outro irmão. Ele só não batia na minha mãe e na minha irmã.

Meu pai teve uma educação dura, ele era muito brigão, tanto na sua família quanto na rua. Com isso, dentro de casa, ele nos batia muito mesmo. Era essa a maneira dele nos educar. Eu cresci vendo um ambiente de brigas, desilusões dele com minha mãe e também me tornei violento com meus irmãos a ponto de agredi-los física e verbalmente.

Depois, veio a separação dos meus pais e assim fui crescendo, com meus pais separados. De vez em quando, via meu pai que não nos dava nada, não ajudava financeiramente e morreu devido ao álcool.

Começamos a ser sustentados pela minha avó que morava conosco. Quando ela morreu, eu era o único que já trabalhava. Fui militar por quatro anos, meu primeiro emprego. E assim fui levando... Nem sempre eu tinha as coisas dentro de casa e eu sempre discutia com a minha mãe. A gente brigava à toa por coisas bobas. Brigava com ela, com meus irmãos e ficou insuportável. Já pensei em me matar. Já não aguentava mais, cobrava da minha mãe algo que ela não sabia dar: atenção, carinho, diálogo.

C.R.

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Desencontros

Registrando as minhas memórias ao som de músicas românticas, saxofone e melodias:

Eu me lembro que saí de Salvador na Bahia em 1998 rumo a Minas Gerais. Trabalhar e conhecer muita gente. Foram momentos felizes que não esqueço, ganhei muito dinheiro. Comprei muitas roupas, gastava com festas todos os finais de semana. Dormia no alojamento do trabalho. O trabalho acabou. Eu vim para São Paulo e isso é o que eu lembro.

R.N.B.S.

É momento de partir, de ir sem saber para onde. Eles pegam suas malas, suas poucas coisas e partem. Vêm não sei de onde e vão não sei por quê, eles partem. Os desencontros são muitos, é uma falta, um vazio, uma solidão...

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Page 28: Histórias de Novos Caminhos

É engraçado, a história é que eu não gosto de ser da minha cidade, por conta do sofrimento. Toda a vez que eu vou pra minha cidade eu

pego uma cadeia, por conta de coisas ruins que minha família fazia, aí eu passei a não gostar da cidade pela falta de apoio da família.

Eu vim pra São Paulo pelo sofrimento pela falta de apoio da família, eles não respondem as minhas cartas. Eu em São Paulo passei muito tempo na rua, depois passei no São Lázaro e de lá eu vim para cá, esta já é a terceira vez no Arsenal. Eu estou aqui porque preciso muito.

Eu, se eu pudesse viver em São Paulo o resto da minha vida eu vivia, São Paulo foi uma cidade que me tocou muito, eu fui recebido de braços abertos e aqui não passo o aperto que eu passei nas outras cidades. A primeira coisa que me marcou foi eu chegar no terminal Tietê e ter que atravessar o metrô. Eu tentei pular para o outro lado para tentar pegar o trem no outro sentido porque eu treinava salto em distância, eu fazia atletismo. Eu sempre gostei de ver as apresentações em espaços culturais as pessoas mostrando o corpo, nosso corpo precisa ser trabalhado os músculos precisam de espaço, isso é saúde.

R.B.S

Aprendia gostar

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Page 29: Histórias de Novos Caminhos

Nasci no Paraná em 1961, onde vivi até meus nove anos.

Tenho muita saudade daqueles lugares onde passei a primeira parte da minha infância. Foi nessa altura da vida que meus pais se separaram.

Tenho saudade de meu pai que faleceu com noventa anos. Quando eu nasci, ele tinha sessenta anos. Minha mãe hoje mora em Goiânia e está com oitenta anos. Tenho mais três irmãos.

Quando houve a separação, eu vim com a minha mãe para o sul de Minas Gerais. Fiquei morando com a minha avó materna, onde passei a outra metade da infância. Quando viemos do Paraná, viajamos de trem até a estação da Luz. Lembro bem quando chegamos: era madrugada e esperamos bastante para o dia clarear. Depois fomos para o terminal rodoviário da Luz. Sinto muita saudade daquele tempo. Que viagem!

Lembro que embarcamos para Minas Gerais em um ônibus da empresa Pássaro Marrom. Sentei do lado da janela e apreciava a paisagem na via Dutra, depois a Serra da Mantiqueira, até que chegamos em Minas. Fui um artesão viajante e parei diversas vezes por São Paulo, cidade que aprendi a gostar, lugar de muitas oportunidades, de um “Arsenal de Esperança” para todos.

Agradeço a São Paulo que sempre foi tudo de bom para mim.

D.A.F.D.

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O outro lado. O submundo das pessoas financeiramente pobres que em seus

olhares carregam olhares de injustiças, de tristezas, sofrimentos, lutas e esperança. A quem a única alternativa é a luta pela sobrevivência, sendo a única maneira que encontram para seguir em frente por causa do esquecimento da sociedade.

Anônimo

Eu vim para o Estado de São Paulo, venho da cidade de Cachoeirinha, PE. Vim para

trabalhar e para procurar uma vida melhor. Eu cheguei em 1985. Vivo na cidade de São Paulo há 26 anos. O lugar que morava era em Cumbica. Trabalhava numa firma grande, daí fiquei desempregado. Morava numa pensão em Cumbica, daí não tinha dinheiro para pagar. Eu saí de Cumbica para trabalhar com parentes, mas não deu certo. Daí eu fui vender sorvete. Daí entrou o frio e não dava para pagar nada. As coisas pioraram de novo. Para sair dessa situação de rua a pessoa precisa arrumar um emprego. Minha história, nossa história: nesta situação, desempregado.

J.S.

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Dese

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De repente, ele que era uma pessoa que tinha uma família, um emprego para pôr o pão

na mesa, modo de dizer para sustentar o filho e a mulher, ficou doente e a empresa faliu. Ele foi para a rua para não brigar com a mulher e aconteceu uma tragédia: ele a deixou e foi morar em qualquer lugar, ficou vagando uns quatro dias pelas ruas até encontrar um amigo que o trouxe para o abrigo onde está. Não fuma, não bebe nem usa drogas, mas quer mudar de vida: voltar para a família e trabalhar novamente.

M.

Aqui inicia uma parte da minha vida quando saí de casa e fui para as ruas, passei fome, frio, fiquei sem minhas poucas coisas que tinha levado de casa. Fui para Minas Gerais a pé, passei fome pelas estradas ao ponto de ter que comer casca de banana, que achava pelas estradas, tive que comer lixo para não ficar com fome. Em São Paulo achei oportunidade de me tornar cidadão. Essa é só uma parte minha, pois não gosto de lembrar certas partes da vida.

U.S.

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Esta é a minha história. Não tive estudo, mas me casei com 20 anos tive dois filhos maravilhosos. Com o passar do tempo tive problemas familiares e me separei da minha família, saí de casa sem destino e comecei a usar muitas drogas. Fiquei vagando nas ruas até que resolvi fazer um tratamento de drogas, e hoje estou livre, mas estou me esforçando bastante para voltar a ver minha família, assim que possível e com bastante autoestima e condições diferentes dessas em que me encontro. Sem medo de ser feliz...

J.F.

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Dese

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A vida de muitos reflete como um circo, para viver no dia a dia. Às vezes, como um palhaço que brinca com seus sentimentos e se esquece da realidade ou como um malabarista que vive na corda bamba ou como um domador de leões que vive enfrentando as feras e seus preconceitos. O mais importante é que ele é o apresentador que sempre tem que levar seu espetáculo, todos os dias. Muitas pessoas pensam que essa não é uma história, mas é a história de todos nós. Observação: está sem data para não virar passado.

Alguém que vai mudar o mundo

Meu nome é Marcos, nasci em 12 de dezembro de

1973, eu vou contar um pouco da minha história. Em 2005, eu me separei da minha esposa e saí. Conheci várias capitais do Brasil: Recife, Fortaleza, Brasília; além do interior de São Paulo: São Carlos, Campinas, Ribeirão Preto e Limeira. Foi daí que eu me dei conta de que não estava fazendo a coisa certa. Eu estava com muita saudade da minha família e pensei: “Onde vou parar?”.

M.A.L.

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Bom, eu sou de São Borja, RS. Sou de uma família pobre, meus pais tinham uma chácara no interior. Eu, com oito anos de idade, já ajudava os meus pais na roça. Logo o meu pai morreu num acidente de carro. Ficamos eu, minha mãe e as minhas duas irmãs, na chácara trabalhando.

A minha mãe me deu para outras pessoas. Sofri muito nas mãos dos outros. Quando chegou o tempo para eu me alistar, minha tia me trouxe para Porto Alegre, fiquei morando com ela.

Conheci uma moça com quem me casei. Fiquei casado 12 anos com ela. Sou pai de uma menina e um menino. Eu tinha tudo. Coloquei tudo fora, as minhas duas irmãs, cada uma tem uma loja em Canoas, na grande Porto Alegre. Eu me separei faz um ano e vim para São Paulo para trabalhar.

V.R.T.

Tudo quebrado, só ficam os cacos, os pedaços. Nada mais faz sentido, a dor, a solidão, o vício, o esquecimento. São invisíveis ao mundo, ao outro e a suas próprias famílias. O trauma é profundo e a vida parece deixar de ser possível.

Rupturas

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Rupt

uras

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Eu conheci uma mulher que fez esquecer o passado e me deu um

filho que é o Diogo. Depois veio a menina que se chama Giovana. Aí me separei da minha mulher, voltei para São Paulo. Caí na droga de novo. Fiquei numa situação muito difícil. Minha família não me quis mais. Fui parar na rua. Dois caras me bateram e eu fui parar no hospital. Quando uma enfermeira me informou do Arsenal...

E.A.P.

Meu nome é Marcelo, nascido em 17 de março de 1981, na cidade de Franco da Rocha. Filho de Sebastião e Maria. Vou começar logo pela parte ruim. Sou filho de uma família desestruturada. Meus pais brigavam muito em decorrência do vício, isso me gerou traumas. Contudo, tive uma infância até certo ponto feliz.

Já a minha adolescência foi tomada pelo vício. Aos 12 anos conheci o álcool e as portas se abriram para outros vícios. Aos 16 anos a coisa começou a ficar realmente estranha porque eu conheci o crack.

Tenho uma filha de 8 anos com quem não pude conviver porque a mãe não permite a minha presença, devido a minha dependência e uso abusivo de drogas e álcool. Eu não tenho lembranças de boa parte da minha vida. Hoje estou com 30 anos e só me lembro de perdas e confusões. Gostaria de falar mais só que no momento estou numa fase muito ruim e não consigo pensar direito sobre o que escrever.

M.R.Rupt

uras

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Eu nasci em Cuiabá, MT, em 1979, no dia 11 de novembro. Quando eu saí de Cuiabá, ja tinha 11 anos, foi quando eu cheguei em São Paulo. Logo

que eu cheguei conheci as más companhias. Meu pai tinha boa condição e ele não me negava nada e eu podia fazer o que eu queria. Comecei a usar drogas e a beber. Quando eu tinha 19 anos, eu estava no fundo do poço e fui para pela primeira vez em uma internação, foi quando conheci a Sônia, uma mulher maravilhosa que eu traí, depois de estar com ela 15 anos, e foi com uma menina com aids. Ela descobriu e terminou comigo. Eu queria me matar de arrependido de ter machucado ela porque ela não merecia.

Depois que eu me separei eu piorei a minha vida completamente e acabei indo morar na rua pela primeira vez.

S.C.

Eu estou passando por uma fase muito difícil. Sou de uma família totalmente alcoólatra e essa droga levou à morte da minha tia, meu pai, meu irmão, minha mãe e está tentando me levar também. A minha luta contra o álcool é diária.

Comecei com o álcool aos 15 anos e hoje, com 32, a vontade de beber só vem aumentando, está sendo muito difícil pra mim. O sonho de minha mãe era ter uma casa mas infelizmente ela não conseguiu. Este é o meu sonho também, mas eu sei que vai ser impossível se eu continuar bebendo. Hoje é dia 24 de agosto de 2011 e depois de muito tempo eu consegui, felizmente, ficar um dia sem beber. Eu, graças a Deus, não tenho filho nem filha e por que eu digo graças a Deus? Porque eu vivo numa situação muito complicada.

Se um dia Deus me abençoar com um filho, eu pretendo estar trabalhando, ter uma casinha para que eles nunca passem o que eu estou passando. Seria tão bonito se não houvesse miséria e que todos tivessem seu cantinho para morar, mas, infelizmente, a vida é assim mesmo. Obrigado pela oportunidade, continuo sonhando com um futuro melhor.

L.A.L

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O que posso escrever? Tenho 36 anos, embora aparente uns 50. Não

me orgulho de minha vida a não ser de ter conhecido e casado com minha esposa e ter gerado minha filha, que é a razão de eu ter fé e esperança para viver. Destruí todos os sonhos que um dia sonhei junto com minha pequena, minha esposa, por causa do uso de drogas.

Estou vivendo um dia de cada vez me mantendo sóbrio, porém, às vezes ainda dou umas tropeçadas, perdi tudo que conquistei, tanto no sentido material como espiritual, por conta de um prazer ilusório, não sabia onde estava me metendo. Morei quase um ano na rua, comi restos de alimentos do chão, passei frio, fome, dor e muita solidão. Mas tudo isto por escolha própria. E só agora me dou conta do quanto perdi na vida em busca de um falso prazer.

P.A.C.

Em Ilhéus Bahia em 2005 perdi minha identidade junto com a minha família por causa da bebida. Em 2009 parei de beber. Graças a Deus fiquei um homem muito acreditado pela minha família. Mas não posso morar com ela, porque não dá mais certo. Hoje estou morando aqui no Arsenal da Esperança.

R.F.A.

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Rupt

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Quando eu era adolescente o meu sonho era trabalhar, porque meu pai morreu e me deixou com doze para treze anos, e minha mãe se acidentou junto com ele, teve traumatismo craniano e quebrou as duas pernas. Daí por diante eu comecei a lutar para sob reviver.

Eu vivi pouco com minha mãe, me adotaram, um senhor chamado seu Pedrinho do ferro-velho, ele me adotou, me educou, me ensinou profissões: ferreiro, maçariqueiro, soldador, me ensinou várias profissões.

Quando eu tomei noção da vida eu passei pelo Exército e comecei a trabalhar para mim mesmo, diarista, vendedor ambulante, fiz concurso público na prefeitura, fui trabalhar e fui esmagado, a mão e o pé, por um compactador de lixo e bati com a cabeça no chão. Fui afastado com o INSS me aposentaram por invalidez.

Eu recebi uma carteira de passe interestadual e comecei a viajar o Brasil, fui para vários lugares do Brasil, até chegar a São Paulo, ficava em Brasília-São Paulo, São Paulo-Brasília, onde eu morava em uma entidade não governamental que me abrigava por conta das minhas dificuldades, e lá eles me cuidavam, tinha remédio, roupa limpa, comida.

Quando eu cheguei a São Paulo eu fui roubado, foi quando eu vim para o Arsenal na aventura de tirar um pernoite e cheguei um dia cedinho e me botaram aqui, estou indo bem, estou estudando, mas tenho vontade de ir pra Bahia de novo, sinto saudade das pessoas, da amizade, do custo, a vida é muito melhor, o salário é baixo, mas é mais fácil viver.

E.C.P.

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Nasci aos 16 dias do mês de junho do ano de 1975, em

São Paulo, no bairro de Santo Amaro. Tive uma ótima infância e meus pais e irmãos foram ótimos também. Aos 14 anos, passei na seleção do Senai aonde aos 16 conclui o mesmo, estava eu, torneiro mecânico.

Entrei no mundo das ilusões e passei a conhecer as drogas: cigarro, álcool, cocaína e me afundei. Fui preso aos 19 anos e saí com 21. Quando voltei à sociedade, conheci uma garota e com ela me casei no mesmo ano. Foi ótimo enquanto durou. Sete anos.

Voltei para o mundo das ilusões, mas deu errado de novo. Passados dois anos me casei novamente e este casamento durou cinco anos. De repente, um choque. Meu pai estava doente e se contaminou com o vírus HIV e minha mãe também.

No ano de 2005, meu pai se desencarnou e foi muito dolorido, depois sabíamos que logo seria minha mãe. Continuei no mundo da ilusão e um emprego que arrumei me ajudou muito.

Comecei como motoboy e quatro anos depois já estava como coordenador geral de implantação e treinamento de funcionários onde cobrava o que fazia, viajava pelo Brasil, pena que com alguns deslizes, fui demitido.

No ano de 2010, veio o que esperávamos: o falecimento da minha mãe. Nossa! Caí de vez na ilusão por consequência de tal episódio. Fiquei sem eira nem beira, fui para a rua, pois meus irmãos não podiam ficar comigo.

Resolvi me tratar. Eu mesmo procurei a clínica de tratamento para dependentes químicos. Fiquei lá por seis meses, depois mais três meses em outra. Concluí meu tratamento e lá fiquei conhecendo o Arsenal, onde me encontro hoje.

“Admito ser impotente perante minha doença e que minha vida estava incontrolável."

M.F.

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Rupt

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Page 41: Histórias de Novos Caminhos

Nasci em 1980 na cidade de São Vicente, pois na minha cidade nesta época não havia maternidade. É lá em Praia Grande que mantenho guardado na memória o quanto foi bom até meados de 1996, quando me droguei pela primeira vez.

Minha vida nunca mais foi a mesma. Dona Neildes, minha mãe, aliás mãe de doze filhos, sempre me encontrava quando sumia por vários dias, ela me segue em qualquer lugar, até mesmo locais onde a polícia não chegava, mãe é mãe, né?

Em 1997 ela me encontrou numa favela em São Vicente um barraco de madeira onde eu ripava e vendia drogas para um traficante que não tinha as duas pernas. Naquele dia eu estava lá nos fundos do quintal de palafitas quando escutei aquela voz ressoar: O J. esta aí? Logo percebi que era mamãe com um bebê nos braços. Quando ela me viu com uma das mãos, chorando, começou a me tocar dizendo “Graças a Deus, meu filho você está vivo”.

O amor da minha mãe mudou o rumo da minha história.

Anônimo

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Page 42: Histórias de Novos Caminhos

Meu nome é Paulo, nasci no Paraná, na cidade de Bandeirantes. Fui criado com meus avós,

gostava de brincar de bolinha de gude e jogar futebol, soltar pipa, de me banhar no tanque, até deixava de ir para escola para tomar banho no tanque.

Com o tempo perdi meus avôs e comecei a trabalhar onde conheci minha ex-esposa, onde comecei a construir minha família. Depois de dois anos ela engravidou, fizemos muitos planos compramos o enxoval e o carrinho do bebê. Quando penso que não vem a má notícia, ela perdeu a menina e a dor foi tão grande que comecei a beber e não tive mais controle, até que veio a separação e depois da separação eu vim a me embriagar mais e me drogar.

Fui vendendo tudo que possuía e acabei com tudo que tinha, quando um amigo me chamou para ir para Minas Gerais, chegando lá nós arrumamos serviço e então partimos para Campinas. Comecei a fazer bico ganhando quarenta reais por dia até que bebemos e rolou uma discussão e aí apareceu um bico aqui em São Paulo, fiquei com muita raiva dele vim para cá e não voltei para Campinas nunca mais.

O bico em São Paulo acabou e fiquei dormindo na rua por três dias, até que me falaram do albergue Arsenal da Esperança. Fiz novamente todos os meus documentos, vou trabalhar na casa e espero que este trabalho me abra outras portas para que eu possa alugar uma casa e tentar me reconstituir com uma nova família, porque venho sonhando com isso para que então eu possa ser feliz pelo resto da minha vida.

P.R.S.

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Page 43: Histórias de Novos Caminhos

Estou naquela rotina dos dias de aula e a professora pediu que eu escrevesse um pedacinho da minha história. Pois vou contar um pouquinho da minha vida porque eu acho que todo ser humano tem sua história de vida (...). Na minha, eu tive um erro ou vários erros, por mais que tenha passado de tudo nessa vida, eu sou feliz, sou mesmo, de coração. Tem pessoas que falam: “Poxa, você está no albergue”. E eu falo e até explico a situação da minha vida, paguei por um bom tempo, anos de sofrimento, angústia, tristeza e alguns fios da minha vida. Pois estou no Arsenal da Esperança, onde eu consegui um acolhimento e uma grande ajuda.

Por um grande obstáculo, ainda estou há quase três anos em liberdade. Fiquei quase quinze preso. Para eu voltar a ser um cidadão de bem eu preciso de um documento, de uma identidade. Estou no albergue e é difícil de conseguir emprego por não ter esses documentos, não devo nada à justiça. Já era para terem me entregue os documentos, mas a burocracia é tanta que até gente da nossa família mesmo é burocrata, como acontece na minha, onde alguns dos meus cinco irmãos me criticaram ou, aliás, me criticam por fazer a minha mãe sofrer.

J.F.S.

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Acolhida

Bom, meu nome é Gerlando, hoje é meu primeiro dia no Arsenal da Esperança. Minha história começa assim: eu nasci em Brasília DF, no ano de 1977, cresci e me criei lá, uma cidade muito bonita!

Eu vim para São Paulo em 1999, aqui conheci minha esposa Adriana e juntos tivemos quatro filhos lindos. Hoje estou aqui no Arsenal e eles na casa dos meus sogros, estou com saudade deles, mas a vida nos prega muitos altos e baixos.

Minha intenção é arrumar logo um emprego e alugar uma casa e viver tranquilo com meus filhos e minha esposa. Espero que seja breve.

O Arsenal me é como um lugar que na hora em que mais precisei me ajudou e nunca vou esquecer isso.

G.C.N

Quando mais ninguém os via, quando a vida parecia perdida, a acolhida. Um lugar para ser novamente, um lugar para tentar e talvez até sonhar. Agora a vida é possível, já não se sentem marginais à sociedade. Há uma vida por vir e só depende deles.

Acol

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Vivíamos bem há um bom tempo, pois viajávamos para o interior do Brasil, para o exterior. Tive um bom estudo, pois fui matriculado em bons colégios da capital.

Aos 16 anos, comecei a trabalhar na firma de meu pai como auxiliar administrativo. Nessa empresa, aprendi muitas coisas na área contábil, administrativa, financeira e o dia a dia de uma firma de grande porte.

Dois anos depois, fui promovido para gerenciar a regional de Fortaleza e aí, então, me mudei para o Ceará, terra do sol e mulheres bonitas. Fiquei hospedado na casa de outro gerente até achar uma residência.

Estava tudo bem, até o ex-presidente Fernando Collor de Mello, junto com sua ministra de Economia, Zelia Cardoso de Mello, confiscar as economias de poupança da nação. Pouco a pouco, as lojas foram se desfazendo e começou a demissão em massa.

Era o ano de 91 quando a firma pediu sua concordata. Como eu era jovem, me aventurei a trabalhar em restaurantes.

Trabalhei em alguns restaurantes para poder pagar uma passagem de volta para casa, que é São Paulo, capital. Voltei para casa, mas aí não era a mesma coisa, pois fiquei mais ou menos seis anos em Fortaleza e então quando voltei, tudo mudou em relação à minha família.

As brigas começaram, comecei a beber demais e as desavenças começaram. Então, me expulsaram de casa e fiquei perambulando pelas ruas de São Paulo. Ouvi dizer que tinha um Albergue na Mooca. Pensei comigo: por que não? Tentarei. Bati na porta e, por sorte, me acolheram.

Um dia eu vou olhar para trás e agradecer a acolhida, pois para mim é uma passagem que ficará marcada em minha memória, como um aprendizado em minha vida.

L.F.B.L.

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Page 47: Histórias de Novos Caminhos

Estava bebendo tanto que não me dei conta do que

estava fazendo. Resolvi mudar e uma pessoa me falou do Arsenal da Esperança e eu resolvi vim pra cá e minha vida começou a mudar: não bebo mais, estou trabalhando e já entrei em contato com a minha família e vou visitá-los logo. Estou muito feliz, mas esta caminhada tirou seis anos da minha vida de felicidade, dos meus filhos também, mas estou recuperado, outra vez. A coisa mais importante da minha vida é minha família. De um pai que os ama muito.

M.A.L.

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Page 48: Histórias de Novos Caminhos

Eu vim para São Paulo em 1996 tentar a vida, morei

na Raposo Tavares, no quilômetro 15, no Jardim Dracena. Morávamos eu, minha mãe, minha irmã e meu padrasto, era a minha família. Trabalhei e depois fiquei desempregado. Depois de muito tempo, minha mãe faleceu, venderam a casa dela e eu fiquei na rua.

Minha irmã foi para Cotia, nunca mais eu a vi, o meu padastro foi morar com a irmã e também não o vi mais. Em 1998 eu conheci o Arsenal da Esperança e achei muito bom, passei uns meses depois fui embora.

Agora em 2011 voltei, eu peguei um pernoite no Arsenal no outro dia e falei com o serviço social e peguei uma vaga leito 539 e estou feliz na minha cama. Gosto do refeitório, a área de lazer é ótima, a sala de jogos e o bazar, gosto da área de esportes e da lavanderia, de tudo eu gosto um pouco.

J.S.S.

Minha mãe se chama Ivonete e meu pai Ananias. O amor da minha vida é meu filho Seymon. Fui de classe média e acolhido. Hoje, eu me encontro em uma casa de acolhida e perdi o contato com minha família.

É uma temporada, porque busco as coisas, estou caminhando com o que a casa me oferece. Eu quero subir o mais alto que eu puder só para te olhar e chamar sua atenção, Seymon, meu filho, eu sou seu pai e te amo. Esse presente é seu, filho.

P.C.S.

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Page 49: Histórias de Novos Caminhos

Meu nome é Divonzier, tenho 44 anos, sou filho adotivo, saí de casa por não suportar os maus-tratos. Voltei para a rua, foi difícil segurar a barra e não entrar na vida do crime, pois foram muitas as oportunidades. Infelizmente com o tempo me tornei alcoólatra, hoje reconheço que sou impotente perante a bebida, pedi ajuda!

Hoje faço tratamento, médico e espiritual, não quero mais beber, quero “vencer”. Nasci em Nova Iguaçu (RJ), estudei até a quarta série em escolas da região, a bebida atrasou meu progresso.

Hoje quero apagar esse passado de derrotas, concluir o segundo grau e sonhar com o curso de Engenharia Civil ou Arquitetura, me manter longe do vício e para isso peço a Deus que os profissionais desta casa me ajudem a elevar minha autoestima, confiança e espírito de luta.

D.R.

Eu vim para São Paulo procurando serviço, quando cheguei eu fui para Mogi das Cruzes tomar conta de cavalo, morei na casa de minha tia e depois eu vim para a rua, até que achei o Arsenal. Eu fumei meu fuminho de corda e fiquei esperando lá na porta o pessoal todo entrar.

Quando eu cheguei ao Arsenal fui aprendendo coisas na oficina de arte, fiz curso de encadernação, fiz curso de museu, eu estou atrás de uma melhora. Eu pretendo arrumar uma família, comecei a fazer amizade com todos, porque tem muita gente boa aqui, eu sou considerado como um filho e tento me comportar. Eu gosto da casa, eu gosto de fazer trabalhos de artes, eu aprendo muita coisa e vou em muitas oficinas.

Meu sonho é aprender a ler porque eu estou estudando e arrumar uma casa, um lugar para eu morar, fazer família e poder cuidar deles.

G.C.O.

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Page 50: Histórias de Novos Caminhos

Entrei no Arsenal em 27 de abril de 2011 e

tenho trilhado um longo caminho nesse lugar. Trabalhei como voluntário na Floresta que Cresce e fiz o curso de pedreiro e revestidor, hoje faço o curso da Comgás no Senai do Brás. Aqui a gente aprende a ter paciência e amor ao próximo, gosto muito de estudar e aqui no Caminho Novo estou aprendendo a dar valor ao que perdi lá atrás.

C.A.C.

A minha história: com 24 anos eu não sabia ler nem escrever, foi em 1980. A primeira escola foi em Moema, o nome da professora era Isabela, estudei um ano e seis meses à noite, aí fiquei doente e parei de estudar. Aqui no Arsenal eu vou estudando. Um ano e seis meses, já é minha terceira vez. A primeira vez foram dez meses, a segunda vez foram seis meses, agora estou estudando há dois meses.

F.A.P.

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Page 51: Histórias de Novos Caminhos

Eu, José, quando tinha 11 anos de idade, na minha memória, eu me recordo muito que a minha mãe Maria de Carvalho Rocha era muito enérgica. Eu

também fiquei muito magoado com a minha irmã de criação, mais eu perdoo ela por completo.

Sabe, eu sou muito feliz porque com a escola das letras, a escola de artes eu conheço mais, tenho novos amigos. E também frequento uma religião. Eu tive muita dificuldade de aprender a ler e escrever.

J.V.R.

Eu comecei a desenhar no dia que eu vim para cá, assim que eu comecei a aula, a professora me entregou um papel e eu falei: meu Deus nunca vi isso, ainda mais depois de velho, e eu pensava mas o que eu vou fazer aqui, aí eu fui fazendo um pedaço de pau, uns desenhos, e depois eu fui avançando. Eu fiz muita coisa, aprendi a escrever um pouco, aprendi a fazer muita coisa, eu via o desenho de um cachorrinho e copiava. Eu sempre procuro fazer as coisas caprichadas, vou desenhando aos poucos, porque eu tô aprendendo, letras então toda hora a gente conhece.

S.C.B.

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Page 52: Histórias de Novos Caminhos

É com muita alegria que eu venho através desta agradecer todo o auxílio

recebido no Caminho Novo. Graças a este projeto que traz a escola até onde nós estamos, eu tive a força de vontade e voltei a estudar.

Voltei a estudar após 25 anos. Já estou concluindo o ensino médio e hoje tenho uma nova perspectiva de vida.

Faz um ano que estou aqui e não posso deixar de parabenizar este projeto, já estou fazendo novos cursos e ingressei no mercado de trabalho. O que me deixa mais feliz é que hoje sinto que posso realizar meu sonho de uma vida inteira: Ingressar na Faculdade!

G.A.S.

Formado em Serviço Social pela Universidade Anhanguera

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Page 53: Histórias de Novos Caminhos

Desde que me lembro por gente, vejo muito sofrimento. Nasci em Uruburetama, no Ceará. Uma cidade bem pequena, onde vivi até os 6 anos. Foi quando meu pai morreu e fomos para Fortaleza. Minha mãe não teve força para cuidar de mim e de meus 4 irmãos. Vivíamos pelas ruas e tenho na lembrança uma bebedeira aos 7 anos de idade. Aos 11 anos comecei a usar drogas e minha vida era uma loucura. Escapei de tiros, facadas e numa noite cheguei a usar 25 g de cocaína.

Fui parar na rua, na cidade de Itu em São Paulo, onde fiquei até me envolver com os traficantes. Virei um deles e comecei a ganhar muito dinheiro. Aluguei uma casa e entrei num mundo de ilusão porque ao mesmo tempo que tinha tudo o que queria, tinha os confrontos com os inimigos, com a polícia. É terrível conviver com o medo. Fui pego com uma pequena quantidade de droga e solto como usuário, mas sabia que um dia não escaparia da morte ou da prisão. Lá em Itu ouvi falar do Arsenal da Esperança e vim para São Paulo, direto para cá, onde consegui uma vaga.

Fiquei interessado pelos cursos de Informática e de encadernação, me inscrevi nos dois.

No curso de encadernação, o que mais me chamou a atenção foi a restauração de livros. Você vê um livro destruído, com histórias tão bonitas e tem a chance de deixar ele novo, é uma alegria...

Esqueço do mundo, dos meus medos, durante as aulas. É uma verdadeira terapia para mim, sinto muito prazer, estou aprendendo a ser criativo. Quando faço um trabalho bonito fico muito contente .

Tenho recebido telefonemas dos meus antigos companheiros, pedindo para eu voltar a trabalhar com eles e eu espero ter forças para resistir, porque com eles eu conheci o inferno.

D.M.G.

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Page 54: Histórias de Novos Caminhos

Eu lembro que eu ia trabalhar de manhã, quando levantava minha mulher e minha filha ainda estavam dormindo, eu dava

um beijo nas duas e saía correndo. Quando voltava passava no mercado, comprava iogurte e levava para casa. Ela vinha correndo, falando: “Mãe o pai chegou e trouxe Danoninho pra mim” e falava “Pai, te amo”.

Acredito que um dia vou ter minha filha e minha mulher de volta como era antes. Os meus sonhos são difíceis, mas não impossíveis, o mais importante eu creio que um dia vou conseguir: ter uma casa e um trabalho bom para que eu possa manter minha família. Eu sonho com isso todos os dias da minha vida.

A.A.L.

SonhadoresHistórias ainda inacabadas, em construção, eles levantam aos poucos e uma vez mais sonham. Sonham com a escola, a família, o abraço materno, um emprego, uma casa, um lugar na sociedade. Os pesadelos não se fo-ram, mas ao menos agora voltam a sonhar com uma vida possível.

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Page 55: Histórias de Novos Caminhos

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Page 56: Histórias de Novos Caminhos

Meu nome é Carlos, tenho 27 anos e nasci em Taboão da Serra (SP) em 31 de janeiro de 1984. Tenho passado pela vida com muita tristeza e falta de amigos, a cada passo descubro que sou forte e posso vencer e conquistar o meu sonho de ter uma família. Tenho uma filha chamada Nathaly de 8 anos, minha vida. Já amei muito uma pessoa que hoje se encontra longe de mim, a Josefa, sei que um dia ela vai voltar.

C.A.C.

Eu, hoje, nesse século 21, busco meus objetivos. Ter uma chance com a minha família para

tirar essa má impressão. Meu trabalho é duro e amargo, mas eu gosto dele. Vivo correndo contra o tempo, mas o tempo sempre chega primeiro, passa de mim. Conheci uma pessoa e ela falou para mim que quer me ver dentro de uma faculdade, e eu falei para ela que vai chegar o dia, o mês da vitória...

R.A.S.

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Filho de mãe solteira, vindo do interior de Pernambuco, junto de seus pais, nascido aos 22 dias do mês de agosto de 1988, na cidade de São Paulo, no bairro da Saúde e recebendo o nome de Fábio.

Fui criado e educado por minha madrinha. Junto dela, tive boa educação e não passei por grandes necessidades até chegar à adolescência, onde optei por viver em caminhos tortuosos, deixando de lado toda “boa bagagem” que me havia sido dada. Em consequência dos caminhos escolhidos e das atitudes tomadas, abandonei os estudos e também tudo aquilo que verdadeiramente importava.

Hoje, mais maduro, mais responsável e consciente, venho em busca da retomada dos meus sonhos e propósitos. Partindo, assim, dos estudos.

F.A.S.

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Eu vim pra São Paulo quando criança. Cresci na capital, trabalhei muito, perdi metade da minha família numa tragédia e fiquei isolado das pessoas, não queria muito papo. Fui me recuperando aos poucos, em 2002 passei pelo Arsenal da Esperança, fiquei pouco tempo devido ao trabalho.

Sete anos depois de novo tive a sorte de entrar no Arsenal já trabalhando. Agradeço primeiro a Deus por me guardar. Estou muito feliz da vida, gostaria que vocês tenham a mesma sorte que eu, vou torcer muito por vocês, que Deus abençoe a todos. Estou indo para minha casa, trabalhei muito para que isso acontecesse e aconteceu, basta lutar, quem luta vence. Vocês alunos, acreditem, tenham fé.

J.R.L.

Não consegui terminar meus estudos, uma coisa que interrompeu foi a bebida. Fui obrigado a abandonar meus estudos por uns tempos e o tempo foi passando. Retornei a estudar novamente e só consegui concluir a oitava série. Ainda nesse tempo consegui estudar os últimos dois anos em 2009 e no primeiro semestre de 2010.

Hoje o estudo faz muita falta, até mesmo conseguir uma colocação no mercado, prestar um concurso público, mas nunca é tarde para estudar. Esse é meu objetivo: terminar o segundo colegial e fazer uma faculdade.

Hoje trabalho, mas não é a função que eu gostaria de trabalhar. Agora surgiu um curso ao meu alcance com início rápido para aprender informática e ser garçom. Quem sabe não é a hora?

J.B.S.

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Sonh

ador

es

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Eu sou Ademir, tenho 56 anos, quatro filhas e cinco netos. Casei há 30 anos com uma mulher muito especial. Com o tempo, aconteceram muitas coisas ruins na minha vida: comecei a beber, a fumar, a arrumar brigas com a família, me separei da minha família e fui para rua tentar a sorte. Viajei para algumas cidades, mas foi só sofrimento. A coisa mais importante para mim hoje é escrever este texto falando da minha vida.

A minha história eu contei no Arsenal da Esperança porque essa casa me acolheu e eu aprendi muitas coisas para minha vida e para minha recuperação, para voltar a ser o que eu era antes: uma pessoa boa, de família e trabalhador. Meu sonho é estar vivo para recuperar o que sempre tive: a minha família, um emprego com honestidade e confiança nas pessoas.

A.A.C.

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Acredito que existam muitos que passam pelas mesmas coisas que eu passei, e não podemos desistir de nossos sonhos. Por isso estou aqui, em busca da minha felicidade, acredito que aqui vou encontrar a chance que eu preciso, aqui no Arsenal da Esperança. Obrigado pela oportunidade e pelo voto de confiança.

U.S.

É com muito prazer que estou escrevendo uma história de carinho e de amor que faz parte

do nosso dia a dia, para levarem a sério a nossa comunidade. Nós temos direitos de viver de uma forma adequada, nós sonhamos com o nosso futuro e queremos ter o privilégio de ser cidadão poético, historiador. Para o povo, a história que ainda não tinha ouvido ninguém contar.

L.L.L.

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Sonh

ador

es

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Bom... Eu sou uma pessoa que não gosta muito de falar de mim

mesmo. Meu nome é A.F., tenho 62 km rodados e bem rodados de vivência. Vim para no Arsenal porque este ano de 2011 foi muito pesado para mim...

Minha estadia aqui é curta, mas, com certeza, levarei comigo um conhecimento maior de albergados e tudo o que vi de bom e de ruim. Sou uma pessoa que conhece as leis, trabalho com artes, em geral, principalmente as artes cênicas.

É preciso viver, pense nisso. Meus cabelos são brancos e, numa noite, estava eu no ponto do ônibus, esperando o mesmo para chegar a minha casa quando, por espanto, surge um “maluco beleza” gritando: “Nossa! Que coisa linda! É uma pena que minha geração não vai chegar a ter estes cabelos brancos. Posso pegar?”. E ele colocou sua mão nos meus cabelos dizendo: “Lindos!”. Eu fiquei estático e ao mesmo tempo, pasmo. Não estava entendendo aquela cena e continuou: “A minha geração, esta geração não passará dos 40 anos. Será extinta pela droga. Que Deus te abençoe. Que ainda viva por muito tempo”. E, com todo o respeito, beijou o meu cabelo e se despediu.

Meus queridos jovens: eu passei pela idade de vocês e espero que vocês atinjam a minha, de coração.

A.F.

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CENTRO SOCIAL CAMINHO NOVO

DiretoraSônia Maria de Freitas Altomar

Orientador PedagógicoLeandro André de Souza

InstrutoresBeatriz LipskisBerenice Farina da RosaCheila VargasDouglas Pazotto PiresHelena Soares de AssunçãoIzaura de Fátima Vieira Sônia Aparecida Cabral de Melo Barbosa Vilma Maria Araujo dos Santos

Auxiliar de EscritórioCarlos Augusto Fagundes Martins de Souza

Agradecimentos:Este livro celebra o trabalho de todos os educadores que passaram pelo Centro Social Caminho Novo, cada história, cada educando, cada funcionário deixou um pedaço seu para que existissem estes sonhadores.Agradecemos a toda a equipe que se dedicou para o projeto, agra-decemos ainda a Alexandre Gianechini de Araújo e Vera Lúcia Ra-mos Novack, que foram fundamentais ao trabalho do Centro Social Caminho Novo, aos parceiros que souberam ajudar em diversos mo-mentos e ao Arsenal da Esperança, essa casa de acolhida que tam-bém nos acolheu.Que estas histórias possam ficar registradas por muito tempo, para que cada um dos participantes deste trabalho saibam que existem vidas que agradecem diariamente pela chance de Novos Caminhos.

ASSOCIAÇÃO PELA FAMÍLIA

CONSELHO DIRETOR Presidente: Francisco Augusto Carmil Catão

Vice-presidente: Luiz Marcello Moreira de Azevedo Filho

Secretário: Magno José Vilela

Conselheiro: Marcelo de Oliveira M. Diniz Junqueira

CONSELHO FISCAL Diretor: Claudio Damasceno Junior Secretário: Paulo Brito Moreira de Azevedo Suplente: Guilhermina Paula Santos

CONSELHO CONSULTIVO Diretor: Alcino Junqueira BastosSecretária: Ana Lúcia Prado CatãoSuplente: Julita Maria Moreira de Azevedo

GESTÃONúcleo Administrativo Coordenadora de Administração Corporativa: Dulce Cristina Beserra Lima Coordenadora da Ação Social: Anna Thereza Guolo dos SantosCoordenador de Desenvolvimento Pedagógico Institucional: Antonio Barbosa Pacheco Junior

Para saber mais, acesse: www.aspf.org.br

Ficha Técnica

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Munidos de papel, caneta e uma infi nidade de cores, os educandos do Centro Social Caminho Novo, acolhidos da casa Arsenal da Esperança, contam e ilustram suas próprias histórias de vida. Homens que se encontravam em situação de rua, vindos de vários lugares, de dentro e de fora do país, que ti nham em comum a grande metrópole feita de vidro, aço e concreto, eles compunham a multi dão solitária e anônima que diariamente perambula pela cidade.

Este livro é o resultado da soma de algumas dessas histórias, são passagens marcantes da vida desses homens, com rupturas, desencontros e, enfi m, uma acolhida. Registros singelos, mas que juntos mostram uma realidade ignorada e desconhecida pela sociedade.

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