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1 Histórico Pankararu A referência histórica mais antiga e mais precisa sobre os Pankararu data do surgimento da antiga Vila de Tacaratu, por volta do século XVII, onde estes indígenas foram aldeados por missão de catequização. Nestes primeiros séculos de colônia, as missões religiosas foram a única forma de “proteção” que dispunham os índios. Entretanto, o trabalho desempenhado pelas Juntas de Missões e pelos Governadores de Índios e as atenções dispensadas aos primitivos habitantes do nordeste durante o Império em nada contribuíram para impedir as explorações e injustiças de que continuaram sendo alvo as sociedades indígenas que conseguiram alcançar o século XIX. Os Pankararu, por volta do século XVIII, foram aldeados em uma região conhecido por Brejo dos Padres, onde ali foi organizada uma missão dirigido por padres da congregação de São Felipe Nery. Já no século XIX, era percebido uma redução da população Pankararu, sendo nesta mesma época é constatada a presença de posseiros brancos nas terras doadas aos índios por carta Régia de data ainda

Historico Pankararu

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Esse documento cont a historia do povo Pankararu, desde eu surgimento.

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HistóricoPankararu

A referência histórica mais antiga e mais precisa sobre os Pankararu data do surgimento da antiga Vila de Tacaratu, por volta do século XVII, onde estes indígenas foram aldeados por missão de catequização. Nestes primeiros séculos de colônia, as missões religiosas foram a única forma de “proteção” que dispunham os índios. Entretanto, o trabalho desempenhado pelas Juntas de Missões e pelos Governadores de Índios e as atenções dispensadas aos primitivos habitantes do nordeste durante o Império em nada contribuíram para impedir as explorações e injustiças de que continuaram sendo alvo as sociedades indígenas que conseguiram alcançar o século XIX.

Os Pankararu, por volta do século XVIII, foram aldeados em uma região conhecido por Brejo dos Padres, onde ali foi organizada uma missão dirigido por padres da congregação de São Felipe Nery. Já no século XIX, era percebido uma redução da população Pankararu, sendo nesta mesma época é constatada a presença de posseiros brancos nas terras doadas aos índios por carta Régia de data ainda imprecisa. A extensão das terras na época é também desconhecida, supondo-se duas léguas em quadro que nunca chegaram a ser demarcadas.

Somente em 1942, segundo depoimentos dos Pankararu, foi feita uma demarcação por iniciativa do antigo SPI. Esta demarcação foi realizada em terra na qual os Pankararu se aldearam, na região do Brejos dos Padre, onde no centro da aldeia um marco de alvenaria indicava., nas quartas direções, o quadrado de 9 Km de lado em que se constitui a T.I. atual.

A presença de civilizados na T.I. não é fato recente. Algumas famílias estão instaladas no local há gerações, tendo convivido praticamente durante décadas com os Pankararu e compartilhado com eles a terra sabiamente de domínio indígena. Mas

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recentemente, e em particular desde 1979, o aumento da população branca fez com que as relações entre os posseiros e indígenas se deteriorassem de maneira dramática. Atualmente, segundo os Pankararu, a hostilidade é marcada por atos de violência dos “civilizados”, nos quais estão envolvidos não só os antigos posseiros como novas famílias que, tendo perdido suas terras por força da construção da hidroelétrica de Itaparica, instalaram-se na T.I.

Os Pankararu fazem parte de um grupo mais amplo de “índios do sertão”  conhecidos como Tapuia, assim designados pelos Tupi das costa brasileira a todo grupo não - Tupi. Eles ocupariam  uma faixa de terra entre os Jê do cerrado e os Tupi que habitavam o litoral tendo se estabelecido no médio São Francisco, antes da chegada dos colonizadores.

Os primeiros contatos sistemáticos com esse grupo foi realizado por missionários  que estabeleceram um aldeamento à beira do São Francisco reunindo principalmente os Pankararu que se deslocaram das ilhas de Surubabel, Acará, Várzea e da localidade de Cana-brava, atual núcleo urbano de Tacaratu, até o local hoje conhecido como “Brejo dos Padres”.   “São desse período registros que informam sobre a territorialidade do grupo compreendida por dois marcos geográficos tomados como sagrados: a cachoeira de Paulo Afonso, local onde seus ancestrais teriam sucumbido à um dilúvio e a cachoeira de Itaparica, tradicional local de sepultamento de seus mortos, logo transformado em cemitério cristão pelos missionários” (cf. 1993:38)A área homologada para os Pankararu em Pernambuco é de 8.100 ha, oriundos da demarcação de 1940. Segundo estudos realizados pelo PETI/Museu Nacional foi identificada uma área de 14.294 ha  faltando, portanto, 6.194 ha. da terra tradicional identificada para o esse povo. 

“A tradição oral do grupo, ratificada por citações também tradicionais nos relatórios do órgão indigenista oficial, a cessão de quatro “léguas - em - quadra” de terra  pelo imperador Pedro II ao grupo, cuja demarcação toma a igreja do aldeamento como centro, e dela projeta uma em cruz quatro linhas de légua de sesmaria (6600m), o que resulta em 14.294 ha. No entanto, ao se estabelecer pela primeira vez no local (1937) com o reconhecimento do grupo, e a implantação de um posto indígena e a demarcação das terras (1941), o SPI não respeitou a pretensão do grupo às tradicionais quatro léguas quadradas e reduziu o quadrado, assim delimitado 3 km a leste e 3 km a norte,  trazendo a área total à 8100 ha”  (1993:38).

A área demarcada pelo SPI sofre intrusão de trabalhadores rurais encabeçados por Miguel G. Maurício que, em 1949, contesta judicialmente a demarcação. Esse processo dura até 1955 e em 1960, o mesmo litigante abre novo processo agora de uso-capião, o SPI recorre e em  1967  a justiça dá ganho de causa ao SPI mas responde negativamente ao pedido de “restrição de posse”.(cf. Carneiro 1968 e Dantas, 1968). A área portanto permanece intrusada sendo a situação agravada em 1979 com a construção da barragem de Itaparica, quando as famílias camponeses desalojadas pela barragem, vem se somar aos intrusos já existentes na área Pankararu.  Sem resolver essa situação o órgão indigenista implantou na década de 60  e 80 projetos de infra-estrutura e desenvolvimento agrícola e “cultural” para a área. Em 1969 implanta a Guarda Rural Indígena que se multiplicou na década de 80 com recursos do Programa de Integração Nacional. Em 1984 um Grupo Técnico de trabalho (GT) da FUNAI é enviado a área

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para realizar levantamento fundiário e da situação social. Constatam a  existência de 540 posseiros aproximadamente. O GT propõe, em 1987, demarcar a área total de 14.294 ha.O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Petrolina  propõe uma negociação com o GT para que deixe fora da Terra Pankararu as áreas de Caldeirão, Bem-querer, Caxeado, Brejinho, Camaratú, Logrador, Novo Mundo, Alagoinha, Barriguda e Salão  densamente povoadas por posseiros  em troca de outras também férteis e de baixa densidade populacional.  Não há indicação no documento do PETI sobre qual o local onde haveria terra nas condições acima descritas.

Em 1987, depois de muitos conflitos e o posicionamento firme dos Pankararu, respondendo a proposta dos Sindicato, de que suas terras não seriam mais diminuídas, a terra acabou sendo demarcada pelo  governo Federal (dec. 88.118/83) que  homologou apenas os 8.100 ha sem realizar o “desentrusamento”.   Segundo documento produzido pelo PETI teria havido uma reunião entre FUNAI e lideranças Pankararu e Kariri que teria gerado o Parecer nº 165/87  onde o GT reconhecia o direito dos Pankararu as 4 léguas –em –quadra mas resolvia pelos 8.100 ha a partir de um acordo com as próprias lideranças, na qual a FUNAI garantia a imediata retirada dos posseiros, o que não ocorreu. (cf. PETI 1993:39)

Aspectos sócio-culturais 

Os Pankararu, remanescentes dos “Jê”, possuem traços das sociedades pertencentes a esse troncos lingüístico, devido suas proximidades culturais com tais sociedades, entre os quais: o avental de tufo de ervas, a palheta de arremessar, a lança, o forno subterrâneo, a tonsura em forno de prato, etc. Sendo as festas e danças, um dos traços culturais mais interessantes. Estas festas e danças tomam vários aspectos, com denominações especiais, tais como, o “toré”, o “flechamento do imbu”, a “corrida do imbu”, a “ajucá”, o puxamento do cipó” e o “menino do rancho”.

Os Pankararu, hoje em dia, têm a sua língua mesclada com muitos tipos filiados a Grupos cultural-lingüísticos diferentes (tupis, negros, etc.), portanto o Grupo não tem uma língua como cultura. Os indígenas do Brejo dos Padres vivem em regime acentuadamente democrático. O “tuxauá” não é hereditário, mas eleito pela sociedade. Quando o chefe atinge a decrepitude, escolhe-se um substituto: sua palavra, todavia, ainda continua a ser acatada, sobretudo ao tratar-se de assuntos religiosos. As mulheres exercem também o papel dos “pajé”. 

A carne de cabra, que criam, é um dos seus principais alimentos. O angu, a pipoca, o fubá de farinha, o milho e certas frutas (pinha, imbu, etc.), no qual, os Pankararu são excelentes coletadores, uma vez que não são grandes agricultores. Porém, praticam a agricultura destinada ao consumo interno, com comercialização de pequenos excedentes nas feiras livres das cidades próximas, especialmente farinha.

Os Pankararu são caçadores, nos quais fazem acompanhados de cães e armados de arco e flecha. Alguns pesquisadores indicam também como características dos “Jê”, a ausência de bebidas fermentadas, a inferioridade da arte plumária e a ausência de arte cerâmica. Atualmente, os Pankararu empregam o oricuri e o caroá na fabricação das máscaras rituais, dos chapéus, dos cestos, dos balaios, dos urupemas, das vassouras, das bolsas e das destinadas a misteres vários. Algumas mulheres produzem em tera, redes e

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tapetes usando fios de algodão industrializado, constituindo fonte de renda para as famílias.

 Bibliografia:

CONDEPE, Instituto de Desenvolvimento de Pernambuco. As comunidades indígenas de Pernambuco. Governo do Estado de Pernambuco. Recife, 1981.

NORDESTE INDÍGENA. Revista do Serviço de Ação Cultural da 3.ª SUER-FUNAI. Série Etnohistória, n.º 02, Recife, 1991.

Documentos:

JUCA FILHO,  Romero (Pres. FUNAI).PP 932/87), de 12 de Maio de 1987Designa servidores para proceder levantamento preliminar da situação atual das áreas indígenas sob a influência direta e indireta da Uhe – Itaparica (Tuxá . Truká, Pankararé e Pankararu) visando assegurar o amparo e a garantia dos direitos dessas populações, através do Programa de Apoio a ser conveniado com a CHESF. Recursos sede central (BA 05/87 p.265) (FNA870932)

ARRUTI, José Maurício1996 - O reencantamento do mundo: trama. Dissertação de Mestrado em |Antropologia Social. PPGAS- Museu Nacional/ UFRJ.