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Circo de palavras

MILLÔR FERNANDES

Uma boa dose de humor e muitas pitadas de críticasocial, temperadas por umalinguagem simples – são esses os ingredientes básicos daobra de Millôr Fernandes. Pormeio de sua atuação naimprensa, Millôr se tornou um escritor e desenhistaconhecido, publicando textosjornalísticos, literários eteatrais, além de desenhos e charges. Nesta antologia,fábulas, crônicas e poemasmostram sua contribuiçãocriativa e irreverente para acultura nacional. Retratandocom ironia a sociedade de seutempo, reinventando fábulas,mudando o significado daspalavras, Millôr busca reinventar a liberdade deexpressão e mudar a situaçãosocial do país – desejosonipresentes na sempre difícilrealidade brasileira.

histórias, poemas e pensamentos

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PARA GOSTAR DE LER 42

MILLÔR FERNANDES

histórias, poemas e pensamentos

Ilustrações

Millôr Fernandes

Seleção de textos

Rafael Lima


Circo de palavras

© Millôr Fernandes, 2007

Diretor editorial Fernando PaixãoEditora Gabriela DiasEditor assistente Emílio Satoshi HamayaAssessoria editorial Barbara HellerRedação Juliana de Souza TopanCoordenadora de revisão Ivany Picasso BatistaRevisoras Fernanda Almeida Umile

Luciene Lima

ARTE

Editora Cintia Maria da SilvaDiagramadora Thatiana KalaesEditoração eletrônica Studio 3

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

F41c

Fernandes, Millôr, 1924-Circo de palavras: histórias, poemas e pensamentos / texto e

ilustrações de Millôr Fernandes ; [seleção dos textos RafaelLima]. – São Paulo : Ática, 2007

120p. : il. – (Para Gostar de Ler ; 42)

Apêndice e suplemento de leitura Inclui bibliografia

ISBN 978-85-08-11247-0

1. Fernandes, Millôr, 1924 – Coletânea. 2. Literatura infan-tojuvenil. I. Lima, Rafael. II. Título. III. Série.

07-2228. CDD: 028.5CDU: 087.5

ISBN 978 85 08 11247-0 (aluno)

CAE: 213961CL: 736009

2019

1ª edição8ª impressãoImpressão e acabamento:

To dos os d i rei tos re ser va dos pela Edi to ra Ática, 2007Avenida das Nações Unidas, 7221, Pinheiros – CEP 05425-902 – São Pau lo, SP

Atendimento ao cliente: 4003-3061 – [email protected] www.coletivoleitor.com.br


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Sumário

Moderno e irreverente................................................................... 7

Velhas novas fábulasO tamanho do homem................................................................ 13A ambição superada .................................................................... 15Juízo final.................................................................................... 16O abridor de latas........................................................................ 18A verdade na mata....................................................................... 20O rei dos animais ........................................................................ 21O rato que tinha medo................................................................ 23A mensagem................................................................................ 24Cientificismo .............................................................................. 26Tudo é convenção!....................................................................... 29O arreglo..................................................................................... 30

Trapézio de letrasPoesia cinética I........................................................................... 37Poesia cinética II ......................................................................... 38Joãozinho, o monstro .................................................................. 39Poesia de litígio conjugal alienígena............................................. 40Poesia hirsuta .............................................................................. 41Poesia matemática ....................................................................... 42Ode (ou elegia?) a um quase calvo ............................................... 45Poesia exploratória....................................................................... 46Aos que não têm vez.................................................................... 47Poeminha do “tempo perdido” .................................................... 48Poeminha sobre o mistério do tempo .......................................... 49Maturidade ................................................................................. 50Teatro Corisco............................................................................. 51Retrato........................................................................................ 52Snooker....................................................................................... 54O Brasil....................................................................................... 56Profunda base histórica ............................................................... 58

Tempos e modosPoeminha maçante – Por que não ser também um chato?............ 63Mandrake.................................................................................... 65Poeminha incomparável .............................................................. 66

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Poeminha de louvor ao “strip-tease” secular ................................. 67Se................................................................................................ 69Hamlet 1954............................................................................... 70Poeminha edipiano diante do punho fechado de uma filha ......... 71O filho prodígio.......................................................................... 72O destino .................................................................................... 74O banheiro.................................................................................. 76Quem não anuncia se esconde..................................................... 79Falando ao invisível ..................................................................... 83

Palavras sobre palavras“Avant-garde” .............................................................................. 89O crítico teatral vai ao casamento................................................ 90Provérbios modernizados............................................................. 92Alfabeto concreto ........................................................................ 94A imprensa antes da imprensa ..................................................... 96Dicionário EtimoLÓGICO ........................................................ 100A vaguidão específica................................................................... 102Dicionovário ............................................................................... 103Biografia do constante leitor........................................................ 106Carta a um jovem leitor .............................................................. 108

Conhecendo o autorMulti-Millôr ............................................................................... 113

Obras do autor ............................................................................... 117

Referências bibliográficas ............................................................. 119

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Moderno e irreverente

Um mundo veloz, cheio de novidades. Você certamente se reconhece nele. As imagens e a internet trazem tanta informação... Pode atéparecer que Millôr Fernandes está muito distantedesse mundo, com seus livros, muitos delescriados numa máquina de escrever.

No entanto, apesar da máquina com queMillôr escreveu seus textos já estar totalmenteultrapassada, eles continuam muito atuais. Aolermos suas crônicas, em muitas delasreconhecemos os problemas sociais e nacionaisdo nosso dia a dia, ou algum comportamentohumano que presenciamos na nossa família, nanossa escola, enfim, na sociedade como um todo.

Muitas vezes escritos antes do advento dainternet, os textos de Millôr também combinamcom a velocidade desse meio de comunicação. Sãotextos curtos, ágeis, de linguagem simples. Mas asimplicidade não quer dizer falta de elaboração: sãotextos inteligentes, irônicos, que exigem raciocíniodo leitor e que combinam alguns traçosintemporais da arte de escrever com amodernidade. Pois ao mesmo tempo que Millôr émoderno, ele dialoga com textos muito antigos. Éum grande piadista, que aborda com humor arealidade e, simultaneamente, trata de coisas muito

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sérias. Você deve estar pensando: que autorestranho! Troquemos a palavra “estranho” por“irreverente”, e vamos pensar um pouco melhornessas aparentes contradições.

Uma vez que Millôr escreve e publica seustextos a partir dos anos 1940, podemos chamá-lode moderno, já que alguns autores, antes dele(mais ou menos nos anos 1920), se diziammodernos porque queriam transformar a literaturado seu tempo. Eles pensavam que a literaturadeveria ser ágil, para acompanhar o novo ritmodas cidades. Também achavam que a literaturanão deveria ser apenas feita com poesias difíceis,palavras raras e temas solenes – e sim com textosque fizessem as pessoas se divertirem e, ao mesmotempo, pensarem o mundo que estava à sua volta.

É claro que, se formos pesquisar o modernismona literatura brasileira, vamos achar muitas e maiscomplexas informações. Porém, isso basta paraentender um pouco mais este livro de MillôrFernandes. Podemos dizer que, como um autormoderno, ele mistura o texto jornalístico com otexto literário. Do jornalista, temos a linguagemsimples, o texto curto, o retrato do dia a dia. Do literato, temos o “brincar” com a palavra, com seus sons, seus diferentes significados; arenovação e, muitas vezes, a paródia de formasantigas e tradicionais de literatura, como a poesia,a fábula, o conto de fadas...

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E tudo isso revestido de muita ironia e humor.É dessa forma que Millôr se torna um autor muitosério, porque o riso é a forma que ele escolheupara retratar com mais leveza realidades às vezesmuito complexas ou difíceis: a falta de liberdadeem tempos de ditadura militar, a falta de ética e acorrupção que assolava (não seria melhor usar overbo no presente?) nosso país, a teorizaçãoexcessiva do conhecimento nas escolas, asdesencontradas relações humanas e sociais...

Enfim, além do sorriso, sempre temos umpensamento crítico por trás das palavras de Millôr.E, por isso, ler esse autor é um convite à diversão eao exercício da inteligência.

Boa reflexão e, claro, boas risadas!

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Fabulista é quem cria fábulas, ou é também aquele que asconta, e reconta, e assim sem querer as recria? Agora você

vai acompanhar algumas histórias, umas muito antigas,outras quase novas. Talvez até sinta, ao virar a página, umabrisa vinda da Europa, da Índia... mas também um cheirinho

de Brasil. Porque Millôr trouxe para cá estas histórias erecontou de um jeito todo próprio, todo brasileiro. Se quemconta um conto aumenta um ponto, quantos pontos Millôr

teria aumentado? Você decidirá, durante a leitura.

Velhas novas fábulas

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O tamanho do homem

Diz-se que o Sátrapa1 oriental ganhou, de outro po-tentado, um corte de maravilhosa seda, rara e transparente.Chamou imediatamente o alfaiate da corte e perguntou-lheo que podia fazer com tal fazenda. O alfaiate examinou bema fazenda, mediu a fazenda, mediu o tirano e disse-lhe, con-trafeito, que o pano não dava pra mais do que um colete. O Sá-trapa estranhou, mas não disse nada. Meses depois, viajandopor uma província distante, levou consigo a fazenda e con-sultou célebre alfaiate da região. O homem examinou a peçae disse que com ela poderia fazer uma toga. O tirano pegouentão a fazenda e, numa viagem que fez a um país vizinho,consultou outro alfaiate. Este lhe disse que a fazenda dava parauma toga e um colete. Já excitado em sua curiosidade o Sá-trapa esperou uma viagem que fez para o ponto mais distantea que jamais viajara, um país do ocidente que até então lheera completamente hostil e lá consultou também um famosoalfaiate. Este, depois de examinar rapidamente a seda, disse--lhe que com ela poderia fazer uma toga, uma túnica, umcolete, vários lenços e um turbante. O tirano então não seconteve e perguntou: “Como se explica, ó mestre, que vocêcom esse pano possa fazer tanto se o alfaiate da minha corte,destro e competente como é, declarou-me que com ele nãopodia fazer mais do que um colete?”.

“Ah” – respondeu então o alfaiate – “é que, na sua ter-

ra, o senhor é um grande homem”.

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1 Governador, na antiga Pérsia; indivíduo muito poderoso e tirano. (N. E.)


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