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A criação de um diploma que certifi- que os veterinários e regule as lojas de animais foi ontem assegurada pela presidente da comissão que discute na especialidade a Lei de Protecção, Kwan Tsui Hang. No en- tanto, o novo diploma só começará a ser elaborado depois da legislação de protecção estar concluída, algo que poderá eventualmente acontecer a meio de Agosto. A democracia não é o voto nem a sua caça A espera do doutor hojemacau VETERINÁRIOS | REGRAS SÓ DEPOIS DE LEI DE PROTECÇÃO DE ANIMAIS DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 QUINTA-FEIRA 29 DE JANEIRO DE 2015 ANO XIV Nº3262 PUB AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB ` GRANDE PLANO PÁGINA 3 USJ Os passos em volta do novo regime AL O desespero de quem espera IDOSOS Lei pronta para apreciação SOCIEDADE PÁGINA 7 CENTRAIS POLÍTICA PÁGINA 4 SOCIEDADE PÁGINA 9 URBANIDADES António Conceição Júnior

Hoje Macau 29 JAN 2015 #3262

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Hoje Macau N.º3262 de 29 de Janeiro de 2015

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Page 1: Hoje Macau 29 JAN 2015 #3262

A criação de um diploma que certifi-que os veterinários e regule as lojas de animais foi ontem assegurada pela presidente da comissão que discute na especialidade a Lei de Protecção, Kwan Tsui Hang. No en-tanto, o novo diploma só começará a ser elaborado depois da legislação de protecção estar concluída, algo que poderá eventualmente acontecer a meio de Agosto.

A democracia não é o voto

nem a sua caça

A esperado doutor

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acau VETERINÁRIOS | REGRAS SÓ DEPOIS DE LEI DE PROTECÇÃO DE ANIMAIS

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 Q U I N TA - F E I R A 2 9 D E J A N E I R O D E 2 0 1 5 • A N O X I V • N º 3 2 6 2PU

BAGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

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GRANDE PLANO PÁGINA 3

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SOCIEDADE PÁGINA 7

CENTRAIS

POLÍTICA PÁGINA 4

SOCIEDADE PÁGINA 9

URBANIDADES

António Conceição Júnior

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2 hoje macau quinta-feira 29.1.2015

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L I G U E - S E • PA R T I L H E • V I C I E - S E

POR CARLOS MORAIS JOSÉ

www.hojemacau.

com.mo

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Filipa Araújo; Flora Fong (estagiária); Leonor Sá Machado Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Simões Morais; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Tiago Quadros Colunistas Agnes Lam; Arnaldo Gonçalves; David Chan; Fernando Eloy; Fernando Vinhais Guedes; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau Pineda; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva ([email protected]) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail [email protected] Sítio www.hojemacau.com.mo

DIÁRIODE

BORDO

DEVO NO princípio fazer, pois claro, uma declaração de princípios. Que é também uma quase confissão. Sou um incondicional admira-dor/apaixonado da cultura dos povos que hoje se dizem islamizados. E não confundo persas com árabes, turcos com berberes ou afegãos com egípcios. E a verdade é que eles não se confundem, como o provam as longas guerras que mantiveram ao longo da História, mesmo depois de terem recebido a palavra do Profeta e de se curvarem perante Alá. Para mim, por exemplo, a caligrafia árabe, como para Char-les Baudelaire, representa um dos cumes da espiritualidade de um ponto de vista estético. Contudo, apesar de o ter lido em várias tradu-ções de qualidade irrepreensível (portuguesa, espanhola e francesa), o Corão não passa de um livro medíocre como muito bem o notou Schopenauer. É esta a minha opinião, sobretudo tendo em conta um ponto de vista literário. Pre-firo, por exemplo, a Bíblia. Isto não quer dizer que certos desenvolvimentos do islamismo, como o sufismo persa, que bebe nas raízes da religião de Zoroastro, e um certo esoterismo turco que prega uma ascensão para a luz, bem referido por Fritjof Schuon, não me fascine e interesse como objecto de estudo. Aliás, durante a minha formação académica em Antropologia dediquei grande parte do meu tempo a estes te-mas, bem como aos conceitos político-culturais dos beduínos, segundo um grande historiador do século XVI, o árabe Ibn-Khaldoun. Foi ele que me explicou a diferença entre a beduinidade como formação social marginal aos Estados autocráticos construídos pelos califas e como os beduínos eram, essencialmente, ateus (talvez os primeiros) e prezavam a liberdade – algo que mos fez estudar com maior denodo.

Confesso que as religiões me interessam sobretudo como objecto de estudo e como fábricas de conceitos, de modos singulares de avaliar o real. Nelas se reflecte muito da men-talidade e práticas dos povos, na medida em que regulamentam as relações com a morte e, eventualmente, com o transcendente. Mas nelas também se ocultam os preceitos filosóficos que presidem a uma determinada cultura. Entre os povos islâmicos agrada-me particularmente um conceito de Tempo relacionado com a vontade de Deus, tal qual o descreve Louis Massignon: o Tempo existe pela vontade de Alá e esta (insondável) manifesta-se instante a instante; logo, estamos perante um conceito de Tempo não-linear, não-circular, mas fragmentado em instantes, dependentes de uma vontade ininteligível (caos), o que também nos altera as dimensões da interpretação do movimento. Interessante, não é?

E exactamente porque também tenho a mi-nha religião – acredito que devemos explorar individualmente uma relação com a morte e o que nos transcende – sempre respeitei as alheias crenças desde que estas não se metam comigo, com a minha esfera individual e não me tentem fazer abraçar os seus ditames. Só que raramente é assim e sentem-se no direito de me ditar a mi-nha conduta. Que não devo fazer isto ou aquilo, que o meu comportamento amoroso deve ser assim ou assado, quando isso são questões nas

quais o meu comportamento não impõe nada a ninguém. Por isso, sinto-me no direito de não estar de acordo com o Papa (logo, pôr em questão a sua infalibilidade) quando este se refere ao preservativo, abominar a Igreja quando tomo o pulso à sua ostentação, execrar as seitas cristãs quando os seus líderes claramente exploram as crendices e extorquem dinheiro aos mais pobres dando-lhes em troca o que devia ser livre e de borla: a esperança.

Sinto-me, pois, no direito de escrever e publicar as minhas ideias, como por exemplo quando escrevi que João Paulo II teve um discurso assassino nas suas visitas a África. Nessa altura, um advogado de Macau entendeu responder-me. E foi óptimo: uma oportunidade para debater ideias, o que certamente esclareceu os leitores. Belo exemplo. Noutros tempos seria calmamente condenado a torturas inimagináveis e à fogueira pela Inquisição.

Mas nós não vivemos noutros tempos. Vi-vemos nestes. E vivemos nestes porque muitos homens e mulheres combateram e morreram pela liberdade de expressão. Contra a Inquisição e outros mecanismos da opressão. Em Portugal só a conquistámos verdadeiramente depois de Abril de 1974 e talvez por isso eu – que assisti ainda criança a alguns dos desmandos da PIDE – me sinta perturbado quando alguém nos quer limitar a liberdade de pensamento e expressão. E é em nome desses homens e dessas mulheres que eu não posso deixar de escrever este (hoje perigoso?) texto.

A liberdade tem limites. Mas os limites da liberdade de expressão prendem-se com os in-divíduos e com os seus direitos individuais, não é com os deuses, os conceitos, as instituições. Passam, isso sim, pelo direito do mais fraco à liberdade, isto pelo direito que todos temos de não sermos vítimas de violência, nomeadamente física. Se a nossa liberdade acaba onde começa a dos outros, isso está certo. Mas o facto de eu considerar e escrever que Maomé foi um cobarde por ter fugido de Meca para Medina (a famosa Hégira em 622) não implica com a liberdade de ninguém. É a minha opinião, pode estar errada, mas o facto de a exprimir não restringe a liberdade de ninguém. O respeitinho não é muito bonito, é medíocre como o sufixo indica.

É que estamos a chegar a um ponto com-pletamente inaceitável. Uma coisa é respeitar as crenças alheias, ou seja, admitir que alguém acredite no que muito bem lhe apetecer, desde que elas não interfiram com a esfera de direitos dos outros. Outra é não poder criticar ou mesmo gozar com essas crenças. O nosso José Vilhena, que tantas vezes representou Deus como um tarado sexual e Cristo em poses mais ou menos gay, deveria ser condenado à fogueira? Ou pre-so? Os Lusíadas deveriam ser queimados por se referirem perjorativamente a Maomé?

Um exemplo libertino: Se alguém quer seguir os delírios de um cameleiro casado por interesse com uma viúva rica e outrem segue os de um tipo crucificado que juram a pés juntos ter nascido de uma virgem, isso é lá com eles. Mas tenho o direito de me rir dessas crenças, como eles têm o direito de me achar uma besta com mau gosto e de me prever um infernal destino. E tenho o direito de com isto fazer rir ou escandalizar o meu público e os meus amigos, seja através de anedotas ou cartunes. O meu bom gosto não estará aqui em questão. Tenho o direito de assinar por baixo o conteúdo do “Tratado dos Três Impostores” (Moisés, Cristo e Maomé), sem para isso ter de escrever “Anónimo”, como aconteceu ao seu autor, um aluno de Espinosa, por volta do século XVII. Tenho o direito de tudo questionar, com tudo brincar ou criticar, quando isso me passar pela cabeça. E não sei se Deus – se existir – vai gostar mais de mim ou dos que andam a bater com a mão no peito, de joelhos ou de rabo para o ar. Quem sabe?

Ainda agora ouvi dizer a uma libanesa que a própria representação gráfica de Jesus é intolerável para os muçulmanos, na medida em que também o consideram um dos seus profetas. Portanto, podemos concluir que num mundo do futuro eventualmente islamizado a pintura europeia será destruída, as catedrais arrasadas e a maior parte dos livros queimados. Como fizeram os talibans aos Budas. E não nos esqueçamos que o ayatolah Khomeni proibiu a música.

Claro que esta situação não é simples. Nem se limita a uma guerra de valores e incêndios em embaixadas. Tem raízes históricas e económicas e, pois claro, o Ocidente tem pilhas de culpas no cartório. A nada disto é alheia a flagrante injustiça de décadas na Palestina e a política da actual administração americana. Curiosamente, os muçulmanos estão a fazer um favor à Eu-ropa: muito se tem falado de crise de valores, de desintegração, de velhice; ora esta situação servirá antes de mais para que os europeus se interroguem sobre os valores que partilham e que têm de defender.

O imã Abu Laban, responsável pelo acender do rastilho dos cartunes, é um criminoso perse-guido no seu país – os Emiratos Árabes Unidos –, a quem a Dinamarca concedeu asilo político. Certa direita entende isto como uma fraqueza, mas eu entendo-a como uma força bela e imensa, forjada na revolta contra a opressão, muito difícil de adquirir. Uma força que é preciso apoiar, acarinhar, proteger e, se necessário, esgotadas todas as soluções, por ela guerrear.

*texto escrito em 2006.

Que força é esta?A propósito de Charlie Hebdo*

“Esta medida quer mostrar uma transparênciaque não existe,é só para o exterior ver” RUI REISINHO• Auditor de contas, sobre a futura revisão do Código Comercial

“Estamos contentesde que eles aceitaram que através do sector de medicina tradicional chinesa, se faça um centro de estudos de medicina tradicional chinesa.Temos as universidadesde Macau e posteriormente será instalado um centro médico tradicionalem Macau”CHUI SAI ON• Sobre a visita a Pequim

“Por vezes falo com jogadores amigosde Portugal acerca de Macau mas sou sempre sincero em relação às condições de vir treinare jogar para cá. É preciso deixar isso muito bem explicado pois nem todos aceitam treinar em condições amadoras e em locais de fraca qualidade”JORGE TAVARES• Jogador do Sporting de Macau,sobre o futebol da RAEM

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hoje macau quinta-feira 29.1.2015 3GRANDE PLANOKwan Tsui Hang assegura que vai haver uma lei para regulamentar a actividade de lojas de animais e certificação de veterinários, mas não para já. De acordo com a presidente da 1ª Comissão Permanente da AL, esta só chegará depois da aprovação da Lei de Protecção dos Animais

LEONOR SÁ [email protected]

V AI passar a haver um diploma para regula-mentar o funcionamen-to e a certificação de

profissionais veterinários, mas este só vai chegar depois da aprovação da Lei de Protecção dos Animais, actualmente a ser discutida na especialidade pela 1ª Comissão Permanente da Assembleia Le-gislativa (AL). “O Governo já disse que está a legislar sobre esta matéria, mas só depois desta [legislação de protecção], porque não podem ser todas ao mesmo tempo”, esclareceu a presidente da comissão Kwan Tsui Hang. Porém, o debate ainda só abrangeu 15 dos 40 artigos constantes na proposta de Lei de Protecção dos Animais. Embora a intenção da comissão passe por aprovar o diploma de protecção animal “antes de 15 de Agosto [encerramento da presente sessão legislativa]”, as quatro reu-niões mensais do colectivo podem ser insuficientes. “Vamos fazer os possíveis para discutir a lei até ao final da sessão, mas neste momento não conseguimos responder” disse Kwan, acrescentando apenas que “é difícil que ainda seja no primeiro semestre” deste ano.

Os referidos diplomas comple-mentares vêm validar a certificação de veterinários - cuja legislação é actualmente inexistente - e das lojas que vendem animais. Para o presidente da Associação Protecto-ra dos Animais (ANIMA), Albano Martins, o diploma de certificação de veterinários é “mais do que essencial” para a execução da Lei de Protecção dos Animais. “Em Macau não há nenhuma lei que regulamente isso e é um perigo.

ANIMAIS REGULAMENTAÇÃO DE LOJAS E VETERINÁRIOS, SÓ DEPOIS DA LEI DE PROTECÇÃO

Um diploma de cada vez

“Em Macau não há nenhuma lei que regulamente isso e é um perigo. Veja-se o exemplo dos matadouros: como é que sabemos que aquilo que estamos a consumir foi devidamente inspeccionado? E quais são as habilitações dos veterinários para trabalharem aqui? Qualquer um pode abrir um animal”ALBANO MARTINS Presidente da ANIMA

Veja-se o exemplo dos matadouros: como é que sabemos que aquilo que estamos a consumir foi devi-damente inspeccionado? E quais são as habilitações dos veterinários para trabalharem aqui? Qualquer um pode abrir um animal”, começa Albano Martins por dizer.

MAR DE CONTRARIEDADESNeste momento, o debate recai sobre uma questão alegadamente contraditória que foi ontem discuti-da. Um dos artigos, que diz respeito aos animais selvagens, aponta para a proibição de captura dos mesmos. Não há, no entanto, qualquer res-trição à criação de animais deste género, como é o caso dos pássaros selvagens domesticados.

Outra das contrariedades pren-de-se com a vontade do Governo para que haja uma limitação no espaço dado aos animais domésti-cos. Para a presidente da comissão, tal poderá pôr em risco a vida de um animal que, pela severidade das normas, tenha que ir para um

canil onde será eventualmente abatido. “A comissão entende que isto é um problema”, esclareceu ontem. É que, segundo Kwan, esta medida pode potenciar a protecção animal, mas o controlo excessivo e impossibilidade de seguir a lei pode ter o efeito inverso.

O QUE NÃO ESTÁ E FAZ MUITA FALTAPara Albano Martins, a aprovação tardia dos diplomas complementa-res de certificação de profissionais vai fazer com que, ao entrar em

vigor, a Lei de Protecção dos Ani-mais seja “violada” por faltarem normas essenciais. Como exemplo, o também economista refere a falta de documentação publicamente visível das lojas de animais ou a existência de regras que impeçam animais de climas frios a virem para a região, conhecida por ter um clima tropical. “A maior parte do articulado vai deixar de ser válido” se tal acontecer, aponta o presiden-te da ANIMA. Ao HM, disse ainda que o diploma presentemente em

discussão chega inexplicavelmente tarde, já que se trata de uma propos-ta de lei “muito semelhante” a uma que havia circulado anteriormente, há já oito anos. “O documento elaborado pelo IACM não foi anun-ciado publicamente, mas passou pelas mãos de várias associações e responsáveis e a proposta que está agora a ser debatida apenas difere em coisas mínimas”, esclarece. Na opinião de Albano Martins, faltam ainda vários outros pormenores, como a elaboração de uma lista de animais proibidos em Macau, de um grupo de peritos do Governo e de associações que possa tratar de todas as questões relacionadas com a credenciação de profissio-nais, algo actualmente inexisten-te. O presidente da ANIMA vê, contudo, a criação dos referidos diplomas – pelo Governo – como algo “positivo”, embora considere que tenha já havido “mais do que tempo para os elaborar” para que a sua entrada em vigor coincidisse com a da lei de protecção.

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GCS

4 hoje macau quinta-feira 29.1.2015POLÍTICA

Que o Governo demora a responder às interpelações já não é novidade, o pior é que nem sempre respondem às perguntas feitas. Questionados, os deputados mostram--se saturados de uma situação que se arrasta há anos, mas que esperam ver alterada com o novo Executivo

FIL IPA ARAÚJO*[email protected]

N ÃO são novidade as queixas – constantes – dos deputados sobre a demora e o desrespeito

pelo tempo regulamentado das respostas às interpelações. Vários têm sido os membros da Assem-bleia Legislativa (AL) que por via oral ou escrita acusam o Governo de algum desleixo na elaboração das respostas às suas perguntas.

Na semana passada foi a vez de Mak Soi Kun apresentar a sua contestação. O deputado, numa interpelação escrita, criticou o Executivo por não responder atempadamente às interpelações dos deputados, apresentando ainda os números do ano de 2014.

Conforme noticiou o HM,

AL RESPOSTAS DEMORADAS E SEM QUALIDADE INCOMODAM

Tarde e a más horasna passada sessão legislativa, o Executivo respondeu com atraso a 63% das interpelações recebidas, ou seja, a resposta não surgiu nos 30 dias após a recepção da inter-pelação, período regulamentado.

Inquirido sobre a problemática, o deputado Gabriel Tong explica que “há de facto um atraso nas respostas, algumas demoram muito tempo, outras menos”, diferença justificada pelo “importância do tema”. Para o deputado esta ques-tão já um “problema muito antigo em Macau”, mas a sua experiência diz-lhe que com o passar do tempo, o “Governo tem vindo a melhorar”.

Para Pereira Coutinho este tema nem se discute, “todos nós sabemos que o Governo demora demasiado tempo para elaborar as respostas”, algo que não é suposto acontecer, diz.

Em esclarecimento a deputada Kwan Tsui Hang explicou que apesar de estar regulamentado que o Governo deve responder em 30 dias, esse mesmo período não é obrigatório, dando assim abertura a que o próprio Executivo não cumpra o prazo. “Não está escrito na lei”, confirma. A deputada defende ainda que esta problemática só piora as si-tuações. “Os deputados apresentam interpelações de acordo com a si-tuação da sociedade e condições do que se vive no momento, portanto é necessário que o Governo responda dentro de 30 dias, caso contrário, os assunto perdem a importância, e a resposta poderá ficar descon-textualizada”, argumenta. Kwan Tsui Hang defende ainda que “às vezes depende dos departamentos

tardia, mas que viesse uma resposta directa, uma resposta clara, precisa e coerente, do que uma resposta rápida mas sem sentido nem senso”, come-ça por argumentar Pereira Coutinho.

Também Gabriel Tong defen-de que as respostas por parte do Executivo carência de precisão e qualidade, assim como Mak Soi Kun que muitas respostas que chegam “não respondem, na realidade às perguntas feitas”.

“Obviamente, a Administração não satisfaz as solicitações nem de deputados, nem de residentes, nem em tempo oportuno, nem [com respostas] que correspondam [ao tema],” ataca o deputado na sua interpelação.

Na visão de Gabriel Tong, exis-tem ainda interpelações que são “mal respondidas”, e que por isso, não trazem qualquer esclarecimen-to à questão colocada. “O Governo deve melhorar a sua prestação, e responder ponto a ponto às nossas questões”, argumenta.

Para Kwan Tsui Hang “nem to-das as respostas não correspondem ao que se pergunta”, mas confessa que isso acontece amiúde. Ás vezes, diz, alguns deputados ela-boram interpelações subordinadas ao mesmo tema, e as respostas que chegam são cópias uma das outras, ou seja, a mesma resposta é dada a diferentes deputados, sobre o mesmo tema, mas com pontos diferentes.

“Acredito que em algumas situações em que as questões são transversais, se exija mais tempo na resposta, não fico preocupado com isso, mas sim com a qua-lidade da resposta”, reforça o deputado Pereira Coutinho. Nas sua opinião o Governo deve ser mais participativo e claro. “Fico muito preocupado com o facto dos deputados não terem acesso a alguns relatórios que o Gover-no encomenda às empresas de consultadoria, – nomeadamente o relatório feito pelo juíz Ip Son Sang aquando das eleições da As-sembleia Legislativa como forma de modernizar e combater a fraude eleitoral – ou seja, são documen-tos altamente importantes que o Governo não disponibiliza aos deputados. Isto sim é muito grave”, argumenta o deputado.

Em uníssono os legisladores acreditam que as coisas vão melho-rar com o novo Governo. “Estou a acreditar que sim, pelo menos tenho esperança nisso”, diz Gabriel Tong. Kwan Tsui Hang espera que “as situações actuais sejam brevemente melhoradas”. - *com Flora Fong

“Os deputados apresentam interpelações de acordo com a situação da sociedade e condições do que se vive no momento, portanto é necessário que o Governo responda dentro de 30 dias, caso contrário, os assunto perdem a importância, e a resposta poderá ficar descontextualizada”KWAN TSUI HANG Deputada

“Eu preferia ter uma resposta tardia, mas que viesse uma resposta directa, uma resposta clara, precisa e coerente, do que uma resposta rápida mas sem sentido nem senso”JOSÉ PEREIRA COUTINHO Deputado

de trabalho, que uma vezes são mais rápidos que outras”.

Na sua análise, Mak Soi Kun defendia que os resultados de 2014 “mostram que o nível de resposta das interpelações não só é ilegal, como é baixo”, querendo por isso mesmo saber quando é que o Go-verno vai implementar medidas concretas para que os departamen-tos respondam às interpelações de deputados conforme o tempo regulamentado, de forma a que estas possam ser fornecidas ao público.

O MAIOR PROBLEMAMas o atraso da resposta não é o maior problema, afirmam os depu-tados. “Eu preferia ter uma resposta

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5 políticahoje macau quinta-feira 29.1.2015

ANDREIA SOFIA [email protected]

F OI em 2013 que o Executi-vo arrancou com o Plano de Apoio a Jovens Empreen-dedores, que prevê o finan-

ciamento de negócios para jovens entre os 25 e 44 anos. Contudo, dois anos após a sua criação, os objectivos não estão a ser cum-pridos. É o que defende Alvis Lo, presidente da Associação Nova Juventude Chinesa (ANJC), que pede ao novo Governo mais apoio para o arranque das Pequenas e Médias Empresas (PME) dos mais jovens.

“O Governo já lançou um programa para apoiar os jovens financeiramente no começo do seu próprio negócio, mas sugerimos que o Governo crie um pacote com-pleto de apoio, incluindo recursos humanos, ajuda técnica e mais sugestões. Em Macau as pessoas não têm muitas orientações para começar o seu próprio negócio, especialmente os jovens. Penso que o Governo não devia apenas dar dinheiro mas também algum apoio. Se só der dinheiro podem estar a perder tempo ou dinheiro”, disse ao HM.

“Contactamos com muitos jovens e a maioria quer começar o seu próprio negócio, mas queixam--se dos preços elevados das rendas e que não têm recursos humanos suficientes. Não têm uma ideia muito clara de como começar o negócio, avaliar a procura do

Lau Si Io nomeado curador para fundo de desenvolvimento das ciências O antigo secretário para os Transportes e Obras Públicas de Macau, Lau Si Io, passa, desde ontem, a integrar o Conselho de Curadores do Fundo para o Desenvolvimento das Ciências e da Tecnologia. A informação consta de um despacho do Chefe do Executivo publicado em Boletim Oficial (BO). Em Dezembro do ano passado foi anunciado que outro antigo secretário, Cheong U, que detinha a pasta dos Assuntos Sociais e Cultura, ia assumir funções como vice-presidente do Conselho de Administração da Fundação Macau.

Material escolar Subsídio continua nas três mil patacas O Governo anunciou ontem que vai manter os mesmos valores de apoio para o “Subsídio para aquisição de material escolar a estudantes do ensino superior”, para o ano lectivo de 2014\2015. Cada aluno terá direito a três mil patacas, um apoio que, segundo o Executivo, deverá atingir entre 30 a 40 mil alunos e custará aos cofres públicos cerca de 100 milhões de patacas. As candidaturas têm lugar até ao dia 31 de Março e podem inscrever-se alunos de licenciatura, mestrado ou doutoramento que possuam BIR, tanto em universidades locais como estrangeiras. Em comunicado, o Executivo afirma que “o aumento do investimento dos recursos no âmbito do ensino superior e a implementação contínua das medidas que estimulem a frequência de cursos superiores, para formar mais quadros profissionais de alta qualidade para a sociedade, são políticas do Governo”.

“Em Macau as pessoas não têm muitas orientações para começar o seu próprio negócio, especialmente os jovens. Penso que o Governo não devia apenas dar dinheiro mas também algum apoio. Se só der dinheiro podem estar a perder tempo ou dinheiro”ALVIS LO Presidente da Associação Nova Juventude Chinesa

Alvis Lo, presidente da Associação Nova Juventude Chinesa de Macau, defende que o Executivo deve apoiar mais os jovens que querem começar o seu negócio e oferecer mais ajuda com o já existente Plano de Apoio a Jovens Empreendedores

NOVA JUVENTUDE CHINESA CRITICA MODELO DE APOIO FINANCEIRO DO GOVERNO

Quando o dinheiro não é tudo

mercado e como ganhar dinheiro”, disse ainda o responsável.

Alvis Lo garantiu ainda ao HM que a chegada a Hengqin pode também ser uma solução para os jovens empresários locais.

“Já contactámos com alguns departamentos na ilha de Hengqin e os seus responsáveis gostariam de providenciar alguns terrenos

para os jovens de Macau para começarem os seus negócios”, acrescentou.

DAR IDEIASAs mesmas ideias foram trans-mitidas esta terça-feira pela asso-ciação ao novo Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura. Alexis Tam defendeu mesmo que a ANJC

poderá ser o “think thank” para a elaboração de futuras políticas para a juventude.

“Sabemos também que o Go-verno pondera levar a cabo uma espécie de consulta pública. Se não ouvirmos de forma activa os jovens não sabemos as suas necessidades e estes não podem transmitir as suas opiniões. Penso

que como associação temos esse papel. Esperamos poder disponi-bilizar mais as opiniões dos jovens junto do Governo, para que este saiba quais são as necessidades”, concluiu Alvis Lo.

Cada jovem empresário tem direito a receber 300 mil patacas para arrancar com o seu negócio, sendo o dinheiro pago pelo Fundo de Desenvolvimento Industrial e de Comercialização (FDIC). O dinheiro, a ser investido no espaço, materiais e recursos humanos, terá de ser depois devolvido ao Gover-no em prestações mensais.

No encontro com Alexis Tam, os representantes da ANJC pe-diram ainda a criação de mais orientações para os jovens que querem começar uma carreira profissional após a conclusão do curso superior.

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HOJE

MAC

AU

FACE

BOOK

hoje macau quinta-feira 29.1.20156 política

FLORA [email protected]

A deputada Wong Kit Cheng pediu ao Gover-no que seja criado um grupo com competên-

cias especializadas para lidar com a ainda existente discriminação do sexo feminino na sociedade local. Isto porque, de acordo com interpelação escrita enviada ao Executivo, considera que ainda existe discriminação ou casos de tratamento desigual das mulheres na vida quotidiana e ambientes profissionais. “Falta em Macau uma entidade com competência funcional especializada contra a discriminação, que acompanhe todos os tipos de diferenciação, tais como a de género, de posições de família, de deficiência e de etnia, e em termos de igualdade, promoção e educação no emprego”, referiu.

No documento, a deputada explica que tal tendência tem ori-gem em problemas de violência doméstica e destruição de harmonia familiar. “Existem mulheres que foram tratadas injustamente, como é o caso de mulheres grávidas que foram obrigadas a pedir licença sem

LEONOR SÁ [email protected]

O deputado Leong Veng Chai mostrou-se preo-cupado com o regime

de doação de órgãos actual-mente em vigor na RAEM, justificando que se encontra “gravemente desactualizado”. De acordo com a legislação em vigor, os doentes locais são obrigados a deslocar-se até ao continente ou Hong Kong para receber transplantes, sendo que a região vizinha apenas permite aos seus residentes receber órgãos de falecidos. Às pessoas estrangeiras, apenas é possibilitado o transplante de órgãos entre pessoas vivas. “Na verdade, é difícil encontrar doadores vivos com vontade de assumir riscos e, em consequência, as dificuldades de realização de um transplante deste tipo são enormes”, co-meça o deputado por lamentar.

Na cerimónia de inauguração da União de Estudantes da Universidade de Macau (UM), duas estudantes levantaram um cartaz que pedia uma “posição firme na União de Estudantes, investigando a pressão política”. Segundo a All About Macau, uma das estudantes afirmou esperar chamar a atenção dos presentes, para o assunto da demissão e pressão política exercida ao ex-académico, Bill Chou, defendendo, por isso, a necessidade de investigação por parte da União

de Estudantes. Recorde-se que na cerimónia de graduação do ano passado, também um estudante levantou um cartaz tendo sido afastado do local. O novo director da união, Kiang Haochi, referiu durante o discurso que “desta vez não vai haver seguranças a tirar pessoas para fora”, agradecendo ainda a opinião das colegas. Kiang acrescentou, também que não acha que levantar um cartaz seja um problema, justificando que a “universidade é um lugar para expressar opiniões com liberdade”.

WONG KIT CHENG QUER DEPARTAMENTO PARA RESOLVER DISCRIMINAÇÃO

Uma porta onde se pode bater

“Falta em Macau uma entidade com competência funcional especializada contra a discriminação, que acompanhe todos os tipos de diferenciação, tais como a de género, de posições de família, de deficiência e de etnia”

DOAÇÃO DE ÓRGÃOS LEONG VENG CHAI PEDE REVISÃO DE REGIME

A salvação ali tão longe

vencimento sem causa justa. Existe até quem considere que a gravidez pode ter influência negativa a nível profissional”, refere a deputada.

PROBLEMA DE MENTALIDADEEmbora a Convenção sobre a Eli-minação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres tenha já sido aceite em Macau desde a década de 80, Wong Kit Cheng considera que muitas pessoas ainda mantêm o pensamento de que os homens são superiores às mulheres. Enquanto porta-voz das mulheres discriminadas, Wong referiu que falta legislação para proteger as mulheres desamparadas. “Sendo uma das poucas deputadas da Assembleia Legislativa, discordo obviamente de uma sociedade cheia ainda de conceitos tradicio-nais, o que demonstra que ainda há insuficiências no tratamento igual entre sexos, bem como quanto à discriminação familiar interna”, continua a deputada.

Quanto às queixas de tratamento injusto, a deputada apontou que, em-bora as vítimas possam pedir ajuda a departamentos administrativos, é frequente estes referirem que “a impugnação não está no âmbito da competência funcional”. Tal pode fazer com que os queixosos sintam falta de apoio. Na interpelação, Wong Kit Cheng pergunta ainda ao Governo se pretende criar uma legislação especializada relativa a actos e discursos discriminatórios, beneficiando as vítimas.

UM Cartaz na cerimónia da União de Estudantes pede investigação à pressão política

Assim, o deputado pede ao Governo que o regime relativo à doação de órgãos seja revis-to, de forma a coincidir com a legislação praticada em outros países.

O PREÇO DA VIDAOutra das questões colocadas por Leong Veng Chai numa interpelação escrita prende-se com as dificuldades em fazer um transplante no interior da China.

No documento, explica que a ida até a um hospital do continente, juntamente com a operação e o recobro, custará ao doente entre 400 e 500 mil patacas, valor que muitos não podem pagar. O deputado questiona o Governo quanto à eventual colaboração com as “regiões vizinhas” no sentido de facilitar o transporte dos doentes para os respectivos locais de tratamento. “Quando é que o Governo vai concretizar o regime de doação de órgãos, a fim de os indivíduos com ne-cessidades poderem prolongar a sua vida?”, questionou.

Recorde-se que este é um problema que tem vindo a ser discutido, nomeadamente no que diz respeito à inexistência de uma lista de doentes que precisam de ser transplanta-dos. “Isso é uma das coisas que tem de se fazer o levanta-

mento”, chegou mesmo a dizer um médico

do território ao HM, há quase

dois anos.

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7SOCIEDADEhoje macau quinta-feira 29.1.2015

ANDREIA SOFIA [email protected]

O reitor da Universidade de São José (USJ), Peter Stilwell, afirma que a entidade está

a preparar-se para o processo de avaliação à qual vai ser submetida com a chegada do novo Regime do Ensino Superior, mas aponta que ainda há muito a fazer.

“Acompanhamos de perto o processo desencadeado pelo Gabi-nete de Apoio ao Ensino Superior (GAES) para garantir e acreditar o ensino superior em Macau. Julgo que a USJ tem ainda um longo e desafiante caminho a percorrer, se queremos alcançar os melhores níveis internacionais. Mas vamos dando os passos possíveis, tentan-do introduzir qualidade humana e académica em cada passo que é dado”, disse o reitor ao HM.

Convidado a analisar mais aspectos do novo regime jurídico, que inclui o financiamento de insti-tuições públicas e privadas através da criação do Fundo do Ensino Superior, Peter Stiwell considera que o dinheiro é bem-vindo, mas que tem de ser bem aplicado.

“Macau tem condições privile-giadas para investir neste sector, que é tão importante para aumentar a quali-ficação da população e também para projectar no mundo uma imagem mais diferenciada do território. Mas não basta ter fundos. É preciso saber aplicá-los de forma a que promovam de facto um aumento na qualidade do ensino superior”, apontou.

Recorde-se que a USJ tem sido uma das universidades privadas a receber apoio governamental. Em declarações ao jornal Ou Mun, Yang Cheng, assistente de Peter Stilwell, disse em Dezembro que a instituição necessitava de mais 200 milhões de patacas para concluir a construção do seu novo campus na Ilha Verde. No caso do Governo não conceder essa verba, Yang Cheng disse mesmo que as obras poderiam ser suspensas.

TEMPO DE ADAPTAÇÃOUma das principais alterações introduzidas com o novo Regime do Ensino Superior prende-se com a introdução de novas modalidades de licenciaturas, em que o aluno po-derá, por exemplo, frequentar um Major numa área e um Minor numa área diferente, mas complementar. Mantém-se as licenciaturas de quatro anos, mas com alternativas.

Para Peter Stilwell, será sempre necessário um período de adapta-ção curricular. “Entre a publicação da lei e a sua implementação nas universidades irá, necessariamente, decorrer um período de reflexão e adaptação. Mesmo que uma univer-sidade quisesse adaptar logo um dos seus programas aos novos modelos, teria de percorrer várias etapas de aprovação interna e depois submeter a proposta para reconhecimento pelo Governo. Mesmo assim, as altera-

CPU Críticas à falta de comunicação interna O deputado Si Ka Lon acusou o Conselho de Planeamento Urbanístico (CPU) de falta de comunicação interna entre os vários membros, acrescentando que carece de sentido de direcção. Numa interpelação escrita, Si Ka Lon mostrou-se preocupado quanto ao prazo de entrega, por parte do Governo, da proposta de planeamento urbanístico geral, de modo a que esta possa ser discutida pelo CPU. Uma vez que este conselho é de natureza interdepartamental, o deputado referiu que vários são os departamentos com opiniões divergentes, algo que pode dar aso a falta de consenso geral. Além disso, Si Ka Lon considera que tal não ajuda a melhorar a coordenação interna deste colectivo. No documento, o deputado pede ainda ao Executivo que seja publicada uma lista de todos os edifícios patrimoniais protegidos, de modo a assegurar o direito de participação e conhecimento da população relativamente a este assunto. A publicação desta lista poderá ainda fomentar a promoção e construção do planeamento urbanístico do território.

Numa altura em que a Universidade de São José promove actividades para atrair novos alunos, o reitor comenta a nova lei do ensino superior e defende que a entidade “dá os passos possíveis” para responder ao futuro processo de avaliação

“Não bastater fundos. É preciso saber aplicá-los de forma a que promovam de facto um aumento na qualidade do ensino superior”PETER STILWELLReitor da USJ

USJ REITOR DIZ HAVER LONGO PERCURSO ATÉ À INTERNACIONALIZAÇÃO

O caminho faz-se passo a passo

ções só produziriam efeito sobre novos candidatos ao curso. Há um compromisso tácito com os alunos, quando se inscrevem num programa, de que poderão completar aquilo que lhes foi proposto na altura da inscrição”, considerou.

NOVAS OPORTUNIDADESO reitor da USJ vê ainda com bons olhos o facto de pessoas com mais de 23 anos se poderem candidatar à frequência de um curso superior. “Trata-se de dar oportunidades às pessoas para que possam inflectir o caminho das suas vidas; encontrar em

qualquer momento outros horizontes de crescimento humano, académico e intelectual. Os efeitos na sociedade far-se-ão sentir em inúmeras dimen-sões. Restringir o desenvolvimento ao “mercado de trabalho” é uma visão triste da vida humana, que não subscrevo”, concluiu.

O HM tentou ainda contactar outros dirigentes de universidades públicas e privadas, mas até ao fecho da edição não foi possível obter um comentário sobre o novo Regime do Ensino Superior. Em declarações à imprensa chinesa, o presidente do Instituto Politécnico

de Macau (IPM), Lei Heong Iok, já referiu que a nova lei poderá dar a possibilidade da entidade recrutar professores com mais qualidade.

Ao HM, Choi Wai Hao, director da escola de línguas e tradução, disse que a entidade estava “expec-tante” face à nova lei, “para saber se será concedida ao IPM a possibi-lidade de criar cursos de mestrado. Muitas particulares têm mestrados e doutoramentos. O IPM tem de ser tratado em pé de igualdade com as instituições privadas e públicas de ensino superior. O IPM não tem. E isso não é justo”, disse em 2012.

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8 sociedade hoje macau quinta-feira 29.1.2015

FLORA [email protected]

O S centros de apoio da Federação das Asso-ciações dos Operários de Macau (FAOM) na

zona norte e na zona de Ponte e Horta divulgaram ontem um rela-tório de acompanhamento de 1600 casos laborais referentes a 2014, em que 40% das situações dizem respeito a assuntos de trabalho e o restante são queixas sobre regalias.

Um dos casos diz respeito a cerca de 50 Trabalhadores Não Residentes (TNR) ligados ao subempreiteiro da construtora do Metro Ligeiro, que, apesar de se-rem portadores do visto de trabalho (Blue Card), não estariam, de facto, a trabalhar.

“Depois desses TNR obterem o blue card, esperaram em Zhuhai vários meses, até um ano, sem trabalharem em Macau. Até foram obrigados a pedir licenças sem vencimento ou assinar documentos para atrasar a data de validade da relação laboral”, disse Ella Lei, deputada indirecta e chefe do de-partamento dos direitos do trabalho da FAOM, citada no relatório.

“Quando a empresa precisou de TNR, significa que o projecto de construção precisava de mão-de--obra exterior, por não consegui-rem recrutar trabalhadores locais. Então existe a necessidade, mas na realidade não arranjaram tra-balho para esses trabalhadores?”, questionou.

Gripe e enterovírus atingem escolasUma infecção colectiva por enterovírus atingiu sete crianças da creche “A Andorinha”, em Macau. As crianças apresentaram os primeiros sintomas no passado dia 18 de Janeiro, mas só na terça-feira foi dado o alerta. O estado clínico das crianças é considerado ligeiro, conforme informa os Serviços de saúde. Também num comunicado, os SS notificam que no mesmo dia, terça-feira, foram alertados para a ocorrência de casos de infecção colectiva de gripe numa turma do Jardim de Infância da Escola Madalena de Canossa, na zona de Fai Chi Kei. Do incidente resultaram oito alunos infectados, que apresentavam sintomas desde o dia 22, quinta-feira.

Turismo Restaurantes e alojamentos mais caros em 2014O Índice de Preços Turísticos de Macau – que reflecte a variação de preços dos bens e serviços adquiridos pelos visitantes – subiu 5,15% em 2014, em comparação com o ano anterior. De acordo com dados dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), ontem publicados, a maior subida sentiu-se no alojamento (mais 8,73%), seguido da restauração (mais 6,37%), do vestuário e do calçado (mais 5,73%) e da alimentação, bebidas alcoólicas e tabaco (mais 5,22%). Em tendência oposta, o preço dos transportes e comunicações desceu 0,82%. A DSEC destaca ainda os dados referentes ao último trimestre de 2014, registando-se uma subida de 7,82% nos preços em relação ao trimestre anterior, impulsionada pelos custos de alojamento, que aumentaram 24,43% devido aos feriados da implantação da República Popular da China, ao Grande Prémio de Macau e aos feriados do Natal.

“São raros os TNR que não vêm trabalhar para Macau depois de obterem o blue card, porque precisamos muito de mão-de-obra. Acredito que quando as obras arrancarem,a empresa vai precisar imediatamente deles”WONG CHUNG SENG Responsável pela Companhia de Engenharia TLS

Um relatório da Federação das Associações dos Operários de Macau mostraque cerca de 50 TNR com blue card, atribuídos através de uma empresa de construçãodo Metro Ligeiro, não estavam, de facto a trabalhar. Ella Lei volta a falar de abusosna importação, mas empresário do sector diz que não é bem assim

TNR FAOM SUSPEITA DE ABUSO DE QUOTAS NA OBRA DO METRO

Importar para não trabalhar

Mais uma vez a deputada volta a dizer que existem abusos na in-trodução de quotas de importação de TNR nas empresas e que isso afecta os trabalhadores locais.

“As empresas conseguem pedir quotas para a importação de TNR fa-cilmente, estes ficam desocupados, a empresa não precisa de lhes pagar e pode chamá-los quando quiser. Isso faz com que as empresas não tenham vontade em recrutar traba-lhadores locais”, apontou Ella Lei.

EMPRESÁRIO EXPLICAO HM contactou Wong Chung Seng, responsável pela Companhia de Engenharia TLS, que diz que o facto de existirem TNR sem trabalho em Macau pode ser uma das causas para o atraso do Metro Ligeiro.

“No inicio do projecto, as companhias pedem ao Governo as quotas para importarem trabalha-dores. No caso do Metro Ligeiro, como existe atraso nas obras, não faz sentido que os TNR venham para Macau, não podem trabalhar mas a empresa tem de lhes pagar. Isso acontece para não aumentar a pressão para as empresas”, es-clareceu.

Wong Chung Seng lembra que há falta de recursos humanos na área da construção civil e que é fácil para um não residente encontrar trabalho. “São raros os TNR que não vêm trabalhar para Macau de-pois de obterem o blue card, porque precisamos muito de mão-de-obra. Acredito que quando as obras ar-rancarem, a empresa vai precisar imediatamente deles”, frisou.

Confrontado com as suspeitas

“As empresas conseguem pedir quotas para a importação de TNR facilmente, estes ficam desocupados, a empresa não precisa de lhes pagar e pode chamá-los quando quiser. Isso faz com que as empresas não tenham vontade em recrutar trabalhadores locais”ELLA LEI Deputada

da deputada Ella Lei sobre a exis-tência de abusos na importação de trabalhadores, o empresário disse que os locais estão quase sempre em primeiro lugar.

“Poucas vezes as empresas recrutam TNR com o objectivo de não contratar locais, porque são necessários muitos trabalhadores, e os locais têm normalmente prio-ridade. Isso também é pedido pelo Gabinete dos Recursos Humanos e Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL)”, explicou.

O relatório da FAOM revela ainda que os principais motivos para a apresentação de queixas pe-los trabalhadores prendem-se com despedimentos sem justa causa e o pagamento de indemnizações em casos de acidentes de trabalho, incluindo os pedidos para legislar o salário mínimo.

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9 sociedadehoje macau quinta-feira 29.1.2015

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Anúncio

Faz-se saber que em relação ao concurso público n.o 28/P/14 para «Fornecimento de um sistema de angiografia por subtracção digital, incluindo o projecto de concepção e a respectiva empreitada de remodelação», publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau n.º 1, II Série, de 7 de Janeiro de 2015, foram prestados esclarecimentos, nos termos do artigo 2.º do programa do concurso público pela entidade que o realiza e que foram juntos ao respectivo processo.

Os referidos esclarecimentos encontram-se disponíveis para consulta durante o horário de expediente na Divisão de Aprovisionamento e Economato dos Serviços de Saúde, sita na Rua Nova à Guia, n.º 335, Edifício Administração dos Serviços de Saúde, 1.o andar.

Serviços de Saúde, aos 22 de Janeiro de 2015.

O Director dos Serviços

Lei Chin Ion

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Faz-se saber que em relação ao concurso público n.o 29/P/14 para «Empreitada de Concepção, Fornecimento e Instalação dos Sistemas de Chamada de Enfermeiras do Centro Hospitalar Conde de São Januário», publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau n.º 1, II Série, de 7 de Janeiro de 2015, foram prestados esclarecimentos, nos termos do artigo 2.º do programa do concurso público pela entidade que o realiza e que foram juntos ao respectivo processo.

Os referidos esclarecimentos encontram-se disponíveis para consulta durante o horário de expediente na Divisão de Aprovisionamento e Economato dos Serviços de Saúde, sita na Rua Nova à Guia, n.º 335, Edifício Administração dos Serviços de Saúde, 1.o andar.

Serviços de Saúde, aos 22 de Janeiro de 2015.

O Director dos Serviços

Lei Chin Ion

Depois de um longo tempo de espera a Lei de Bases dos Idosos está finalmente pronta e vai seguir para discussão na AL. A proposta promete mudanças que permitem facilitar a vida de quemmais precisa

FIL IPA ARAÚ[email protected]

M UITO se tem escrito sobre a Lei de Bases dos Direitos

e Garantias dos Idosos, principalmente sobre o atraso em todo o processo de elaboração da projecto de lei incumbido ao Insti-tuto de Acção Social (IAS). Mas agora é oficial. Numa resposta a uma interpelação escrita do deputado Si Ka Lon, o IAS confirma que o projecto de lei está pronto para ser apresentado para discussão a Assembleia Legislativa (AL).

“A respeito da legislação sobre a Lei de Bases dos Direitos e Garantias dos Idosos, o IAS concluiu já a revisão do texto do projecto de lei, estando a acompanhar

IDOSOS LEI PRONTA PARA DISCUSSÃO NA AL, COM MUDANÇAS

Finalmente há fumo branco

“A respeito da legislação sobre a Lei de Bases dos Direitos e Garantias dos Idosos, o IAS concluiu já a revisãodo texto do projecto de lei, estandoa acompanhar os preparativosdos procedimentos para a apresentação do projecto de leià entidade competente para efeitosde discussão e apreciação”

os preparativos dos procedi-mentos para a apresentação do projecto de lei à entidade competente para efeitos de discussão e apreciação”, pode ler-se no documento.

Para além de estar fina-lizado, o projecto de lei traz também algumas novidades. Segundo informa o IAS na resposta, de acordo com o estipulado no próprio pro-jecto, caberá ao instituto “coordenar e fiscalizar o mecanismo, bem como adoptar medidas concretas correspondentes, tais como a criação do sistema de gestão de casos”, informam.

O mesmo projecto de lei propõe ainda o aumento do número de representantes dos idosos na Comissão para os Assuntos do Cida-dão Sénior e a criação da respectiva base de dados dos idosos.

“Além disso, o IAS irá também desenvolver um programa de sensibilização e promoção comunitária, com vista a dar a conhecer aos idosos e ao público o con-teúdo concreto do projecto de lei para reforçar o respeito e garantia da sociedade com os idosos”, afirma o IAS.

O instituto informa ain-da que o Grupo de estudo interdepartamental sobre o mecanismo de garantia de vida para os idosos, criado em 2012, está a planear e de-senhar “um mecanismo sis-temático de garantia de vida na velhice, através de quatro vertentes, nomeadamente assistência médica, serviço social, direitos e garantias

e ambiente de vida”, bem como as medidas a serem colocadas em práticas nos próximos dez anos.

EM FILA DE ESPERARelativamente aos lares e va-gas disponíveis, até final de Novembro de 2014, informa o IAS, cerca de 380 idosos “estavam à espera de vagas para o seu internamento”, dois quais “230 receberam ou irão receber muito em breve a comunicação do IAS, a informar-lhes da dis-ponibilidade de vagas para o seu internamento”, podendo assim começar a tratar de todas as formalidades.

Fazendo as contas neste momento, informa o institu-to, estão 150 idosos à espera para entrar nos lares dispo-

níveis no território. Algo que poderá demorar até um ano, segundo as estaticistas do sistema centralizado da lista de espera de vagas em lar. “Actualmente, a duração média para conse-guir a colocação em lar de

idosos é cerca de 12 meses”, esclarecerem.

Para combater esta pro-blemática, e tal como o HM noticiou durante o mes passado, e agora reforçado em resposta ao deputado, o IAS “irá ainda construir

mais lares e alterar deter-minados lares existentes por mudança de instalações, nos próximos anos”. Alterações que segundo informa o IAS vão trazer mais 700 vagas, proporcionando assim até 2017, 2400 vagas em lares de idosos.

SEIS ANOS A ELABORARÉ de lembrar que o IAS co-meçou em 2009 a primeira fase de consulta pública para definir a respectiva orientação legislativa, ten-do em 2010 concluído a sua análise técnica. Em 2011, ficou terminada a consulta pública sobre o Enquadra-mento da Lei de Bases dos Idosos. Assim, ouvidas e analisadas as opiniões e sugestões recolhidas dos diversos sectores sociais, foi elaborado um texto da proposta da lei. Em 2012, concluiu-se a consulta pública sobre esse texto de proposta de lei, tendo sido auscultadas igualmente as opiniões e sugestões dos diversos sectores sociais. Terminando agora, em 2015 a revisão do documento.

Recorde-se que também o deputado Chan Meng Kam entregou uma interpelação escrita ao Governo, criti-cando o facto de a lei ainda não estar concluída. Chan relembrou ainda que o en-velhecimento em Macau vai atingir picos altos, sendo que a percentagem esperada em 2036 – 20,7% – supera o critério das Nações Unidas, que é de 7%. O deputado considera que os dados mos-tram que o envelhecimento da população em Macau tem acelerado e recorda que o Governo referiu que tentou entregar a proposta no fim de 2012 à Assembleia Legis-lativa, mas no entanto, essa entrega nunca aconteceu.

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10 hoje macau quinta-feira 29.1.2015EVENTOS

A MINHA HISTÓRIA DE PORTUGAL • Elisabete Jesus, Eliseu AlvesTextos claros e concisos narram os principais momentos da nossa História.- Imagens de época documentam as narrativas.- Reconsti-tuições panorâmicas recriam o passado e mostram cidades, castelos e mosteiros.- A arte portuguesa vista ao pormenor.- Curiosidades e lendas da nossa História.- As datas-chave da construção de Portugal.

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • [email protected]

AS VIAGENS DE GULLIVER COM ESCALA EM PORTUGAL • Luísa Ducla SoaresBaseada num clássico da literatura universal – As Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift –, esta peça é um desafio à imaginação e ao espírito crítico, levando os seus jovens leitores a encararem diversas perspectivas do mundo. Passando pelo reino dos anões, dos gigantes e dos cavalos, Gulliver visita finalmente a Lisboa do século XVIII, onde, a par da galanteria e da riqueza, impera a Inquisição.

Hoje pelas 18h15m decorre, no Auditório do Consulado de Portugal, o lançamento do livro, de António Conceição Júnior, “Escritos do Amor e Desafecto – Crónicas de Cidadania”, uma edição COD/Hoje Macau, segundo volume da colecção “cadernos hoje”. O Autor passa a colaborar regularmente com o nosso jornal, às quartas-feiras, num espaço que designou de “Urbanidades”. O artigo que inicia esta série inclui uma série de fotografias da cidade do Porto, Portugal, também da autoria de António Conceição Júnior

Cidade e ordemN ÃO sei o concei-to que os diversos poderes que se sen-taram em Macau ao longo das últimas décadas tinham sobre esta extre-ma complexidade chamada cidade. Em alguns vislum-

brei ideias claras, noutros algumas orientações e, noutros ainda, a ilegi-bilidade total.

Nunca será demais dizer que uma cidade não é apenas um aglomerado de ruas, casas, planos urbanos. A cidade é um organismo, uma teia holística onde se jogam esperanças e se edifica o palco para todos os sonhos.

Citarei aqui Helder Pacheco sobre o seu, e também um pouco meu, Porto:

“O Porto, cidade, somos nós, as

pessoas, mais a nossa cultura (que a construiu e lhe deu sentido). A cidade somos nós, com a memória que dela mantemos e a asa de futuro que queremos para ela. A cidade é um grande, um vasto objecto das emoções, dos sonhos, ternuras e desperos que fazem a vida.

Lugar onde nascemos ou vive-mos, a cidade também nos constrói e nos dá sentido, e, por isso, deveria ser cuidada, reutilizada, construí-da (e renovada) quotidianamente, com amor.”

O mais interessante é que estes dois parágrafos foram retirados da parede de um café, na Baixa Portuense. Nesse lugar poético

bebe-se café e olha-se o pequeno texto escrito, a relembrar aquilo que cada um é. Cultura é isto tam-bém, distinta de erudição.

Não será pois, demais, repetir que a cidade é um corpo vivo, pulsante e cuja principal priori-dade é uma, os seus cidadãos. O poder deve ter apenas em mente uma coisa: servir, dialogar, ouvir, sobretudo aquelas outras vozes silentes.

O evoluir de uma cidade é o produto de uma reflexão, da existência de um corpo de ideias a que se poderia chamar - e por-que não - de uma ideologia para a cidadania.

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11 eventoshoje macau quinta-feira 29.1.2015

urbanidadesANTÓNIO CONCEIÇÃO JÚNIOR

A cidadania não precisa de recorrer à política mas sim à polis para que, conjuntamente com a ética e a moral, possa construir para a urbe um devir onde a qualidade de vida se paute, ela também, pelos ditos princípios universais

Uma cidade não é um vazadouro nem o empilhamento de diversos casos caóticos. De uma cidade digna desse nome espera-se capacidade de ordenar, isto é, pôr em ordem.

Em Macau, ordenar é preciso, porquanto as imensas moles huma-nas que invadem a cidade são um atentado contra os direitos mais elementares dos seus habitantes. Ordenar significa arrumar, dispor, organizar e exercer princípios de autoridade com vista à eficiência.

Uma cidade não é um campo de deferências, mas antes de diálogos transparentes e eficazes. Uma cida-de é, obrigatoriamente, um terreiro de igualdades convergindo para a excelência e para o bem dos seus habitantes.

Nos tempos que correm da sociedade da informação, não exis-tem mais os álibis etno-culturais. Todos sabem gostar dos melhores carros, de relógios fulgentes e, al-guns, da ostentação que substitui o que lhes falta em outros domínios.

E sob a luz desta ausência de álibis não pode existir a indiferen-ça, antes a imperativa exigência da solidariedade actuante, o exercício da ordem e do poder cívico contra todas as formas de discriminação, cárcere privado, extorsão, ameaça, contra o que à cidade e aos que a governam deve ser o bem mais pre-cioso: os cidadãos que a habitam.

As cidades transportam história e estórias. Possuem, detentoras dos vários compassos do tempo, a dignidade que é imperativo que seja respeitada, porque se se in-voca o patriotismo para algumas

situações, invocarei eu a cidadania para todas as realidades que dizem respeito à cidade.

E falando em cidades, ocorrem--me Lisboa e o Porto. Lisboa do céu azul, para onde desaguam gentes de tantos lados e canoas no Tejo, e o Porto, essa outra dignidade de cantaria, esse orgulho que os cidadãos dela têm, nas pontes, nesse “velho casario que se es-tende até ao mar, da Ribeira até à Foz”, e a todos os lugares onde, orgulhosas, se erguem igrejas, a torre dos Clérigos, a Câmara e a Praça da Liberdade. Mais além, subindo Santa Catarina, os cafés com esplanadas assegurando o pe-donal, onde se sente a cidadania no olhar franzido do cidadão que olha o transgressor que infringe as leis do civismo.

Há nisto tudo uma respiração que subsiste e persiste, apesar da crise, porque a cidadania é uma consciência, não uma conta bancária.

Porto, também classificada Pa-trimónio Mundial da Humanidade pela Unesco, assim como Lisboa, são modelos singulares de cultura citadina.

Hoje existem padrões tão co-muns de comportamentos culturais e cívicos, que os mesmos estão condenados a serem semelhantes em todo o mundo.

Isto é, um táxi é um táxi em qualquer lado, e tem de agir como mandam as normas. Uma Polícia deve ser igual em todo o lado. O seu princípio é o da protecção e não o de punição. Uma economia regulada é-o igualmente em todo o mundo. E a inflacção desregulada é-o universalmente, bem como as ilacções que daí se extraem. Uma transgressão é-o aqui como em toda a parte, tanto quanto um sorriso é universal. Nada distingue semelhanças senão a geografia.

Assim sendo, a qualidade de vida de uma cidade depende dos

seus planificadores, depende da qualidade do Ensino desde a in-fância, depende não de rituais, já mais ou menos despojados de sig-nificado, nem de mesuras, mas do contínuo exercício de igualdades e inteligências.

A democracia não é o voto nem a sua caça. A democracia é a distri-buição equitativa do conhecimen-to, do trabalho, da acessibilidade à habitação, do direito à saúde, ao ensino, ao transporte, à qualidade de vida, à inclusão por oposição à exclusão. A democracia não é uma feira nem um manifesto, mas uma maturidade.

A cidadania, por seu lado, não precisa de recorrer à polí-tica mas sim à polis para que, conjuntamente com a ética e a moral, possa construir para a urbe um devir onde a qualidade de vida se paute, ela também, pelos ditos princípios universais.

As fotografias que se juntam a estas palavras são do Porto en-quanto cidade, corpo de cultura, simultaneamente monumental e humilde, antiga e bela - geminada com Macau desde os anos 1990 - e servem para ilustrar o cenário de uma plenitude urbana, num país em crise económica. Porque a abundância traz riscos, como a constatação “pobres deles, só têm dinheiro!”.

A democracia não é o voto nem a sua caça. A democracia é a distribuição equitativa do conhecimento, do trabalho, da acessibilidade à habitação, do direito à saúde, ao ensino, ao transporte, à qualidade de vida, à inclusão por oposição à exclusão. A democracia não é uma feira nemum manifesto, mas uma maturidade

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hoje macau quinta-feira 29.1.201512 publicidade

DIRECÇÃO DOS SERVIÇOS DE FINANÇAS

E D I TA L

Contribuição Predial Urbana

São,porestemeio,avisadososcontribuintesquepretendambeneficiar,relativamente ao exercício de 2014, da dedução das despesas de conservação e manutenção, prevista nos artigos 13º e 16º do Regulamento da Contribuição Predial Urbana, em vigor, de que deverão apresentar, durante o mês de Janeiro, uma declaração de modelo M/7, em separado para cada prédio ou parte dele. Ficam dispensados da apresentação da referida declaração, relativamente aos prédios não arrendados no exercício de 2014.

O impresso da declaração será fornecido por estes Serviços, no Edifício “Finanças”, no Centro de Serviços da RAEM e no Centro de Atendimento Taipa, ou pode ser descarregado através do endereço electrónico www.dsf.gov.mo, podendo ainda a declaração acima referida ser apresentada através do serviço electrónico desta Direcção de Serviços.

Aos, 14 de Janeiro de 2015.

A Directora dos Serviços,Vitória da Conceição

Open Tender Notice

Request for Proposal –Construction of New Warehouse and Office Building at Main Fire Station at MIA (RFQ-210)1. Company: Macau International Airport Co. Ltd. (CAM)2. Tendering method: Open tendering3. Objective: To select a Contractor for the construction of a new warehouse

andofficebuildingatMainFireStationatMacauInternationalAirport.4. Request for tender documents:

Tender Notice and Tender Document can be downloaded from the website www.macau-airport.com and www.camacau.com until 7 days prior to the deadline for submission of Bidders’ tenders. Please regularly check the website for any clarification or changes/ modification/amendment in the Tender Document.

5. Location and deadline for submission of Bidders’ tenders:Macau International Airport Co. Ltd. (CAM)4thFloor,CAMOfficeBuilding,Av.WaiLong,Taipa,MacauBefore 12:00 noon on 18 March 2015 (Macau Time)The addressee of the tender shall be Mr. Deng Jun – Chairman of the Executive Committee.The tenders received after the stipulated date and time will not be accepted.

6. CAM reserves the right to reject any tender in full or in part without stating any reasons.

-END-

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13 eventoshoje macau quinta-feira 29.1.2015

A China viveu há 100 anos um dos momentos mais delicados da sua

história moderna com as “21 exigências” apresentadas por Tóquio após a ocupa-ção japonesa da província de Shandong, na primeira batalha asiática da Grande Guerra.

“Em Janeiro de 1915, apenas dois meses depois da tomada de Shandong, Tó-quio revelou toda a extensão do seu programa expansio-nista na China ao confrontar o governo chinês com um conjunto de exigências que, na prática, transformariam a jovem república num Estado vassalo”, revela o investiga-dor Luís Cunha no seu livro “China na Grande Guerra – À Conquista da Nova Identidade Internacional”.

Embora a China se tives-se declarado neutra, acabaria por entrar na Grande Guerra em 1917, enviando 140.000 homens trabalhadores para Europa onde dariam apoio aos exércitos britânico, francês e norte-americano.

Invocando a aliança anglo-nipónica de 1902,

Sinagoga Portuguesa nomeada para Museu do AnoO Fórum Europeu de Museus do Conselho da Europa anunciou esta semana a nomeação da Sinagoga Portuguesa, localizada em Amesterdão, Holanda, para o Prémio Museu do Ano 2015. O edifício está a concorrer entre 42 museus seleccionados entre centenas de candidaturas de 21 países. O vencedor será conhecido em Maio, no Reino Unido. A Sinagoga Portuguesa, inaugurada no século XVII, acolhia famílias judaicas fugidas de Portugal onde eram perseguidas pela Igreja Católica. O edifício, localizado no centro histórico de Amesterdão, resistiu à II Guerra Mundial. Para além da Sinagoga, a Biblioteca Ets Haim, construída pela Congregação Portuguesa Israelita de Amesterdão, também está nomeada para esta galardão.

HÁ 100 ANOS, CHINA ENFRENTOU AS “21 EXIGÊNCIAS” FEITAS PELOS JAPONESES

Recordar a I Grande Guerra

“Pressionada pelo Império do Sol Nascente, que ameaçava recorrer à força armada, e alienada pelos Aliados, a China apenas conseguiu mitigar algumas das exigências nipónicas, tendo aceitado o documento em Maio de 1915”

Tóquio colocou em campo uma das primeira acções militares dos Aliados no continente asiático ao cer-car as forças militares da concessão germânica em Shandong, com uma peque-na ajuda britânica composta por 1.500 homens.

No decurso da batalha os japoneses deram mostras de grande iniciativa táctica, lançando, por exemplo, o primeiro ataque aeronaval da história. Os 4.000 ale-mães da guarnição resisti-ram durante quatro meses, coadjuvados por cerca de 2.500 civis, mas a falta de munições obrigou-os à rendição incondicional em Novembro de 1914.

Passariam o resto da guerra em campos de prisio-neiros no Japão e o Império do Sol Nascente assumia o controlo de Shandong, numa altura em que as po-tências aliadas estavam com todas as atenções voltadas para o teatro de operações europeu.

XEQUE À CHINAAs “21 exigências” japo-nesas, designação comum-

mente dada ao documento nipónico, colocavam em causa a soberania chinesa em múltiplos aspectos, ao mesmo tempo que

nipónicas, tendo aceitado o documento em Maio de 1915”, refere Luís Cunha.

O Japão chamava a si os direitos extra-territoriais de que a Alemanha desfru-tara até ao início da Grande Guerra, “arrogando-se ain-da o direito de explorar os caminhos-de-ferro e abrir portos ao comércio, entre outras exigências”, lê-se no livro.

A questão de Shandong manteve-se em aberto durante toda a Grande Guerra, tendo sido um dos pontos mais polémicos das conversações de Paz em Versalhes, onde o Japão viu validado o seu estatuto de potência ocupante na Chi-na por parte dos Aliados.

Devido à polémica questão de Shandong o Senado norte-americano não ratificaria o Tratado de Paz de Versalhes, in-viabilizando desse modo a participação dos EUA na Sociedade das Nações, ar-quitectada pelo Presidente Woodrow Wilson. A ques-tão de Shandong só ficaria resolvida na Conferência de Washington de 1921-1922. - Lusa

Livro de Luís Cunha, intitulado “China na Grande Guerra – À Conquista da Nova Identidade Internacional”, revela que a China iria transforma-se num mero joguete dos nipónicos, caso aceitasse as suas regras

pretendiam neutralizar a expansão das esferas de influência por parte dos restantes Aliados, explica o investigador do Instituto do Oriente da Universidade de Lisboa no seu livro re-centemente editado, onde salienta que as autoridades japonesas tentaram, ainda assim, manter a iniciativa

em segredo, negando a existência do documento – apresentado directamente ao Presidente chinês.

“Pressionada pelo Im-pério do Sol Nascente, que ameaçava recorrer à força armada, e alienada pelos Aliados, a China apenas conseguiu mitigar algumas das exigências

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14 hoje macau quinta-feira 29.1.2015CHINA

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A ministra dos Ne-gócios Estran-geiros indiana, Sushma Swaraj,

inicia, este fim de semana, uma visita oficial à China, anunciou ontem Nova Deli.

A chefe da diplomacia da Índia parte no domingo para Pequim para “discutir ques-tões bilaterais, regionais e globais de interesse para ambos os lados” com o seu homólogo chinês, Wang Yi, informou o governo indiano em comunicado.

Segundo a mesma nota oficial, ambos participam ainda num encontro trilate-ral, com o ministro dos Ne-gócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov.

O anúncio surge um dia depois da conclusão da

Moçambique China “prontaa ajudar” no combate às cheias

Saúde Mais de 13 milhõesde abortos por ano

A visita de Sushma Swaraj à China deve incluir uma reunião trilateral onde se inclui o ministro russo dos negócios estrangeiros

MNE INDIANA CHEGA DOMINGO A PEQUIM EM VISITA OFICIAL

Movimentações diplomáticas

visita oficial de três dias do Presidente norte-americano, Barack Obama, a Nova Deli, com o objectivo de cimentar as relações entre os dois países, os quais partilham o interesse de travar a crescente influência da China na região.

Apesar de Pequim não ter sido citada directamen-te durante a deslocação de Obama, o Presidente norte-americano saudou o que designou de “um maior papel da Índia” na Ásia Pacífico, afirmando

também que o acesso livre à Internet deve ser acolhido na região.

As declarações foram pro-feridas após conversações que manteve, em Nova Deli, com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, que tem tido uma postura mais assertiva do que o seu antecessor relativa-mente à China.

REDE EM QUESTÃOUm jornal do Partido Comu-nista Chinês anunciou, na se-mana passada, que o controlo de Pequim sobre a Internet “se aperfeiçoou”, a propósito da “actualização” da chamada “Grande Firewall da China”, a qual interrompeu parcial-mente o serviço fornecido por servidores localizados no estrangeiro.

Especialistas dizem que Modi será, contudo, cuida-doso no sentido de não belis-car a relação com a vizinha China, de cujo investimento necessita na sua aspiração de impulsionar a economia indiana.

Obama e Modi tentaram demonstrar a sua relação pessoal durante a visita do líder norte-americano. Já a agência oficial chinesa Xinhua descreveu uma “aproximação superficial”, apontando para as persis-tentes diferenças em ma-térias como as mudanças climáticas.

O Presidente chinês, Xi Jinping, afirmou

que “a China está pronta a ajudar Moçambique” a combater os efeitos das cheias, que já causaram mais de cem mortos, anunciou ontem a agência noticiosa oficial Xinhua.

“Eu, em nome do go-verno e do povo chine-ses, apresento as minhas condolências a todas as vítimas das cheias. A China está pronta a ajudar Moçambique nas opera-ções de socorro”, disse Xi Jinping numa mensagem enviada ao homólogo mo-çambicano, Filipe Nyusi.

“Estou certo que o povo moçambicano ul-trapassará as catástrofes naturais e reconstruirá a

sua terra sob a liderança do Governo de Moçam-bique”, acrescentou o Presidente chinês.

No mais recente ba-lanço oficial das cheias, divulgado na terça-feira, o número de mortos subiu para 117, cerca de 80% dos quais (93) na província da Zambézia.

Segundo um relatório do Ministério da Admi-nistração e Função Pública enviado à agência Lusa, mais de 157 mil pessoas foram afectadas pelas cheias que atingiram as províncias da Zambézia (124,3 mil pessoas), Nam-pula (19,5 mil), Niassa (12,8 mil), Cabo Delgado (169), Sofala (145) e Tete (45).

MAIS de treze milhões de abortos são feitos

anualmente na China e em quase metade dos casos as mulheres que interrom-pem a gravidez têm menos de 25 anos de idade, disse ontem a imprensa oficial chinesa.

“Se tivermos em conta os abortos induzidos me-dicamente ou feitos em ‘clinícas de vão de escada’, o número é até maior”, refere o Diário do Povo, orgão central do Partido Comu-nista Chinês, a propósito das estatísticas da Comissão Nacional de Saúde e Planea-mento Familiar da China.

Entre as mulheres com menos de 25 anos que abor-tam, a maioria é constituída por estudantes universitárias e cerca de 91% das ado-lescentes que engravidam

acabam por interromper a gravidez, apurou a Comis-são. O aborto, na China, é legal.

Desde o início da década de 1980, o governo chinês proibiu os casais urbanos de terem mais do que um filho.

A política de controlo na natalidade foi aliviada no ano passado, para tentar con-trariar o envelhecimento da sociedade, no ano passado.

Casais em que um dos cônjuges seja filho único podem candidatar-se a um segundo filho, mas o aumento do número de nascimentos ficou aquém dos dois milhões espera-dos pelo governo.

Todos os anos nascem cerca de vinte milhões de pessoas na China, país cuja população atingiu 1.370 milhões no final de 2014.

A chefe da diplomaciada Índia parte no domingo para Pequim para “discutir questões bilaterais, regionaise globaisde interessepara ambosos lados”

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hoje macau quinta-feira 29.1.2015 15REGIÃO

R EPRESENTANTES do Japão, Coreia do Sul e Estados Unidos reuniram--se ontem, em Tóquio,

para discutir a situação em torno do programa nuclear norte-coreano e discutir a eventual retoma das conversações a seis.

O encontro trilateral ocorre numa altura em que as tensões entre os Estados Unidos e a Co-reia do Norte aumentaram devido à imposição de novas sanções económicas por parte de Washing-ton, depois de o FBI ter acusado Pyongyang de estar por detrás do ataque informático de que foi alvo a Sony Pictures.

Espera-se que as três partes analisem a proposta apresentada por Pyongyang, no passado dia 10, de cancelar um suposto novo ensaio nuclear se, em troca, Seul e Washington aceitarem não levar a cabo manobras militares conjuntas na península coreana.

Japão PM classificade “desprezíveis” novas ameaças do EIO primeiro-ministro do Japão considerou ontem “absolutamente desprezíveis” as ameaças do Estado Islâmico que prometeu, na terça-feira, executar em 24 horas um jornalista japonês e um piloto jordano caso Amã não liberte um iraquiano condenado à morte. “Estas ameaças são completamente desprezíveis”, disse Shinzo Abe aos jornalistas. O chefe do Governo nipónico acrescentou também sentir uma “profunda indignação”, pois a situação é difícil e apelou a todos os seus ministros para “actuarem juntos com vista à libertação de (Kenji) Goto”, o jornalista feito refém pelos jihadistas.

U M tribunal tailandês con-denou ontem um líder do movimento dos ‘camisas

vermelhas’, da oposição, a uma pena de dois anos de prisão por difamar um ex-governante, numa decisão vista como o mais recente ataque aos críticos do regime militar.

A decisão surge poucos dias depois de o parlamento tailandês, nomeado no ano passado pela junta militar no poder, ter votado a favor do afastamento da política, por cinco anos, de Yingluck Shinawatra, e do anúncio de que antiga primeira--ministra, cujo governo deposto era apoiado pelos ‘camisas vermelhas’ antes do golpe militar de Maio, vai ser acusada de corrupção.

O presidente dos ‘camisas vermelhas’, Jatuporn Prompan,

O encontro das três nações visa analisar a última proposta norte-coreana em que Pyongyang se propõe anular um próximo ensaio nuclear em troca do cancelamento das manobras conjuntas entre americanose e sul-coreanos

TÓQUIO, SEUL E WASHINGTON ANALISAM PROGRAMA NUCLEAR DA COREIA DO NORTE

Os dados estão lançadosO encontrotrilateral ocorre numa alturaem que as tensõesentre os Estados Unidos e a Coreiado Norte aumentaram devido à imposição de novas sanções económicaspor partede Washington

No fórum participam Junichi Ihara, director para a Ásia Pací-fico do Ministério dos Negócios Estrangeiros japonês, Hwang Joon Kook, o representante especial da Coreia do Sul para assuntos de segurança e paz na península, e Sung Kim, enviado dos Estados Unidos às negocia-ções a seis e antigo embaixador em Seul.

Também se espera que se definam formas de reactivar o diálogo a seis, em que participam as duas Coreias, Estados Unidos, Japão, China e Rússia, suspenso desde 2008.

BRAÇO-DE-FERROPyongyang instou, por várias vezes, à retoma das conversações sem condições prévias, mas os três

TAILÂNDIA LÍDER DOS ‘CAMISAS VERMELHAS” CONDENADO A DOIS ANOS DE PRISÃO

Palavras levam-no dentro

aliados recusaram aceder ao pedido enquanto o regime norte-coreano não der “passos concretos” com vista ao abandono do seu programa nuclear.

Paralelamente, no encontro, é também de esperar que Tóquio procure angariar o apoio da Coreia do Sul e dos Estados Unidos com vista a pressionar o regime de Kim Jong-un para que faculte informa-

ção sobre os cidadãos japoneses sequestrados pela Coreia do Norte nos anos de 1970 e 1980.

Pyongyang reconheceu, em 2002, que agentes tinham raptado 13 japoneses, numa operação des-tinada a formar espiões de língua e cultura nipónicas.

Cinco foram autorizados a regressar ao Japão, com os descen-dentes, mas Tóquio continua sem saber o que aconteceu aos outros japoneses que Pyongyang afirmou terem morrido ou cujo rapto negou.

Os dois países continuam sem la-ços diplomáticos e mantêm relações tensas, por vezes hostis, em parte porque Tóquio acusa Pyongyang de ainda deter reféns japoneses.

foi condenado a dois anos de prisão, sem pena suspensa, por dois crimes de difamação do antigo primeiro-ministro Abhisit

Vejjajiva durante discursos que proferiu em Outubro de 2009.

Wiyat Chatmontree, advoga-do de Jatuporn Prompan, o qual enfrentou, nos últimos anos, uma série de processos judiciais, confirmou o veredicto e indicou que o seu cliente vai pedir para ser libertado sob fiança.

O tribunal decide ainda se aceita o pagamento de fiança de 200 mil baht.

HISTÓRIA SANGRENTAOs ‘camisas vermelhos’ é a designação pela qual são co-nhecidos os membros da Frente Unida contra a Ditadura e para a Democracia.

Em 2010, os protestos dos “ca-misas vermelhas” para derrubar o Governo tomaram o centro de

Banguecoque duraram mais de dois meses, resultando em 92 mor-tos (entre os quais um jornalista italiano) e em aproximadamente 1.800 feridos.

A Tailândia vive uma grave crise política desde o golpe de estado de 2006 contra o antigo primeiro-ministro Thaksin Shi-nawatra, que vive exilado no Du-bai para evitar uma condenação à revelia de dois anos de prisão por corrupção.

Thaksin ou aliados ganharam todas as eleições na Tailândia nos últimos 13 anos, incluindo a vitória eleitoral em 2011 da irmã, Yingluck, destituída em maio pelo Tribunal Constitucional.

Ao todo, a Tailândia registou 12 golpes militares desde o fim da monarquia absoluta em 1932.

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16 hoje macau quinta-feira 29.1.2015

hARTE

S, L

ETRA

S E

IDEI

AS

É agora – quando estamos to-dos em estado de choque depois da carnificina na sede do  Charlie Hebdo –  o mo-

mento certo para encontrar coragem para pensar. Agora, e não depois, quan-do as coisas acalmarem, como tentam nos convencer os proponentes da sa-bedoria barata: o difícil é justamente combinar o calor do momento com o ato de pensar. Pensar quando o res-caldo dos eventos esfriar  não gera uma verdade mais balanceada, ela na verdade normaliza a situação de forma a nos permitir evitar as ver-dades mais afiadas.

Pensar significa ir adian-te do  pathos  da solidariedade universal que explodiu nos dias que sucederam o evento e culminaram no espectáculo de domingo, 11 de Janeiro de 2015, com grandes nomes políticos ao redor do globo de mãos dadas, de Cameron a Lavrov, de Netanyahu a Abbas – tal-vez a imagem mais bem acabada  da falsidade hipócrita. O verdadeiro ges-to  Charlie Hebdo  seria ter publicado na capa do semanário uma grande cari-catura brutal e grosseiramente tirando sarro desse evento, com cartuns de Ne-tanyahu e Abbas, Lavrov e Cameron, e outros casais se  abraçando e beijando intensamente enquanto afiam facas por trás de suas costas.

Devemos, é claro, condenar sem am-biguidade os homicídios como um ata-que contra a essência das nossas liberda-des, e condená-los sem nenhuma ressal-va oculta (como quem diria “mas Char-lie Hebdo  estava também provocando e humilhando os muçulmanos demais”). Devemos também rejeitar toda abor-dagem  calcada no  efeito mitigante do apelo ao “contexto mais amplo”: algo como, “os irmãos terroristas eram pro-fundamente afectados pelos horrores da ocupação estadunidense do Iraque” (OK, mas então por que não simples-mente atacaram alguma instalação mi-litar norte-americana ao invés de um semanário satírico francês?), ou como, “muçulmanos são de fato uma mino-ria explorada e escassamente tolerada” (OK, mas negros afro-descendentes são tudo isso e mais e no entanto não pra-ticam atentados a bomba ou chacinas), etc. etc. O problema com tal evocação da complexidade do pano de fundo

PENSAR O ATENTADOAO CHARLIE HEBDO

é que ele pode muito bem ser usado a propósito de Hitler: ele também coor-denou uma mobilização  diante da in-justiça do tratado de Versalhes, mas no entanto era completamente justificável combater o regime nazista com todos os meios à nossa disposição. A questão não é se os antecedentes, agravos e res-

sentimentos que condicionam atos terroristas são verdadeiros ou

não, o importante é o projec-to político-ideológico que emerge como reacção contra injustiças.

Nada disso é suficiente – temos que pensar adiante. E o pensar de que falo não tem absolutamente nada a ver com uma relativização fácil do crime (o mantra do “quem somos nós ociden-tais, que cometemos massacres terrí-veis no terceiro mundo, para condenar atos como estes?”). E tem menos ainda a ver com o medo patológico de tantos esquerdistas liberais ocidentais de sen-tirem-se culpados de islamofobia. Para estes falsos esquerdistas, qualquer crí-tica ao Islã é rechaçada como expres-são da islamofobia ocidental: Salman Rushdie foi acusado de ter provocado desnecessariamente os muçulmanos, e é portanto responsável (ao menos em parte) pelo  fatwa  que  o condenou à morte etc.

O resultado de tal postura só pode ser esse: o quanto mais os esquerdistas liberais ocidentais mergulham em seu sentimento de culpa, mais são acusa-dos por fundamentalistas muçulmanos de serem hipócritas tentando ocultar

seu ódio ao Islã. Esta constelação per-feitamente reproduz o paradoxo do su-perego: o quanto mais você obedece o que o outro exige de você, mais culpa sentirá. É como se o quanto mais você tolerar o Islã, tanto mais forte será sua pressão em você…

É por isso que também me parecem insuficientes os pedidos de moderação que surgiram na linha da alegação de Simon Jenkins (no The Guardian de 7

de janeiro) de que nossa tarefa seria a de  “não exagerar a reação, não sobre--publicizar o impacto do acontecimen-to. É tratar cada evento como um aci-dente passageiro do horror” – o atenta-do ao Charlie Hebdo não foi um mero “acidente passageiro do horror”. Ele seguiu uma agenda religiosa e política precisa e foi como tal claramente par-te de um padrão muito mais amplo. É claro que não devemos nos exaltar – se por isso compreendermos não sucum-bir à islamofobia cega – mas devemos implacavelmente analisar este padrão.

O que é muito mais necessário que a demonização dos terroristas como fanáticos suicidas heroicos é um des-mascaramento desse mito demoníaco. Muito tempo atrás, Friedrich Nietzsche percebeu como a civilização ocidental estava se movendo na direção do “últi-mo homem”, uma criatura apática com nenhuma grande paixão ou comprome-timento. Incapaz de sonhar, cansado da vida, ele não assume nenhum risco, bus-

cando apenas o conforto e a segurança, uma expressão de tolerância com os outros:  “Um pouquinho de veneno de tempos em tempos: que garante sonhos agradáveis. E muito veneno no final, para uma morte agradável. Eles têm seus pequenos prazeres de dia, e seus peque-nos prazeres de noite, mas têm um zelo pela saúde. ‘Descobrimos a felicidade,’ dizem os últimos homens, e piscam.”

Pode efetivamente parecer que a cisão entre o Primeiro Mundo per-missivo e a reação fundamentalista a ele passa mais ou menos nas linhas da oposição entre levar uma longa e grati-ficante vida cheia de riquezas materiais e culturais, e dedicar sua vida a algu-ma Causa transcendente. Não é esse o antagonismo entre o que Nietzsche denominava niilismo “passivo” e “ati-vo”? Nós no ocidente somos os “úl-timos homens” nietzschianos, imersos em prazeres coti-dianos banais, enquanto os radicais muçulmanos estão prontos a arriscar tudo, comprometidos com a luta até sua própria autodestruição. O poema “The Second Comming” [O segundo advento], de William Butler Yeats parece perfeitamente resumir nosso predicamento atual: “Os melhores carecem de toda con-vicção, enquanto os piores são cheios de intensidade apaixonada”. Esta é uma excelente descrição da atual cisão entre liberais anêmicos e fundamentalistas apaixonados. “Os melhores” não são mais capazes de se empenhar inteira-mente, enquanto “os piores” se empe-nham em fanatismo racista, religioso e machista.

No entanto, será que os terroristas

EM CONTRASTE COM OS VERDADEIROS FUNDAMENTALISTAS, OS PSEUDO- -FUNDAMENTALISTAS TERRORISTAS SÃO PROFUNDAMENTE INCOMODADOS, INTRIGADOS, FASCINADOS PELA VIDA PECAMINOSA DOS NÃO-CRENTES. TEM-SE A SENSAÇÃO DE QUE, AO LUTAR CONTRA O OUTRO PECADOR,ELES ESTÃO LUTANDO CONTRA SUA PRÓPRIA TENTAÇÃO

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17 artes, letras e ideiashoje macau quinta-feira 29.1.2015

Slavoj ZiZek

fundamentalistas  realmente se encai-xam nessa descrição? O que obvia-mente lhes carece é um elemento que é fácil identificar em todos os autênticos fundamentalistas, dos budistas tibeta-nos aos amistas nos EUA: a ausência de ressentimento e inveja, a profunda in-diferença perante o modo de vida dos não-crentes. Se os ditos fundamenta-listas de hoje realmente acreditam que encontraram seu caminho à Verdade, por que deveriam se sentir ameaçados por não-crentes, por que deveriam in-vejá-los? Quando um budista encontra um hedonista ocidental, ele dificilmen-te o condena. Ele só benevolentemen-te nota que a busca do hedonista pela felicidade é auto-derrotante. Em con-traste com os  verdadeiros fundamen-

talistas, os pseudo-fun-

damentalistas terroristas são

profundamente incomodados, in-

trigados, fascinados pela vida pecaminosa

dos não-crentes. Tem-se a sensação de que, ao lutar

contra o outro pecador, eles estão lutando contra sua própria

tentação.É aqui que o diagnóstico de Yeats

escapa ao atual predicamento: a in-tensidade apaixonada dos terroristas evidencia uma falta de verdadeira con-vicção. O quão frágil não tem de ser a crença de um muçulmano para que ele se sinta ameaçado por uma caricatura besta em um semanário satírico? O ter-ror islâmico fundamentalista não é fun-dado na convicção dos terroristas de sua superioridade e em seu desejo de salvaguardar sua identidade cultural--religiosa diante da investida da civili-zação global consumista.

PENSAR OS ASSASSINATOS DE PARIS SIGNIFICA ABRIR MÃO DA AUTO- -SATISFAÇÃO PRESUNÇOSA DE UM LIBERAL PERMISSIVO E ACEITAR QUEO CONFLITO ENTRE A PERMISSIVIDADE LIBERAL E O FUNDAMENTALISMOÉ ESSENCIALMENTE UM FALSO CONFLITO

O problema com fundamentalistas não é que consideramos eles inferiores a nós, mas sim que eles próprios secre-tamente se consideram inferiores. É por isso que nossas reafirmações politi-camente corretas condescendentes de que não sentimos superioridade algu-ma perante a eles só os fazem mais fu-riosos, alimentando seu ressentimento. O problema não é a diferença cultural (seu empenho em  preservar sua iden-tidade), mas o fato inverso de que os fundamentalistas já são como nós, que eles secretamente já internalizaram nossas normas e se medem a partir de-las.  Paradoxalmente, o que os funda-mentalistas verdadeiramente carecem é precisamente uma dose daquela con-vicção verdadeiramente “racista” de sua

própria su-perioridade.

As recentes vicissitudes do fundamentalis-mo muçulmano confirmam o ve-lhoinsight  benja-miniano de que “toda ascensão do fascismo evidencia uma revolução fracassada”: a ascensão do fascismo é a falência da esquerda, mas simultaneamente uma prova de que havia potencial revolucionário, des-contentamento, que a esquerda não foi capaz de mobilizar.

E o mesmo não vale para o dito “islamo-fascismo” de hoje? A ascensão

do islamismo radical não é exatamente correlativa à desaparição da esquerda secular nos países muçulmanos? Quan-do, lá na primavera de 2009, o Taliban tomou o vale do Swat no Paquistão, o  New York Times  publicou que eles arquitetaram uma “revolta de classe que explora profundas fissuras entre um pequeno grupo de proprietários abastados e seus inquilinos sem terra”. Se, no entanto, ao “tirar vantagem” da condição dos camponeses, o Taliban está “chamando atenção para os riscos ao Paquistão, que permanece em gran-de parte feudal”, o que garante que os democratas liberais no Paquistão, bem como os EUA,  também não “tirem vantagem” dessa condição e procurem ajudar os camponeses sem terra? A tris-te implicação deste fato é que as forças feudais no Paquistão são os “aliados na-turais” da democracia liberal…

Mas como ficam então os valores fundamentais do liberalismo  (liberda-

de, igual-dade, etc.)? O paradoxo é que o pró-prio liberalismo não é forte o suficiente para salvá-los contra a investida fundamentalista. O fun-damentalismo é uma reação – uma reação falsa, mistificadora, é claro – contra uma falha real do liberalis-

mo, e é por isso que ele é repetidamen-te gerado pelo liberalismo. Deixado à própria sorte, o liberalismo lentamen-te minará a si próprio – a única coisa que pode salvar seus valores originais é uma esquerda renovada. Para que esse legado fundamental sobreviva, o liberalismo precisa da ajuda fraterna da esquerda radical. Essa é a única forma de derrotar o fundamentalismo, varrer o chão sob seus pés.

Pensar os assassinatos de Paris

significa abrir mão da  auto-satisfa-ção presunçosa de um liberal per-missivo e aceitar que o conflito entre a permissividade liberal e o funda-mentalismo é essencialmente um fal-so  conflito – um círculo vicioso de dois polos gerando e pressupondo um ao outro. O que Max Horkhei-mer havia dito sobre o fascismo e o capitalismo já nos anos 1930 – que aqueles que não estiverem dispostos a falar criticamente sobre o capita-lismo devem se calar sobre o fascis-mo – deve ser aplicada também ao fundamentalismo de hoje: quem não estiver disposto a falar criticamente sobre a democracia liberal deve tam-bém se calar sobre o fundamentalis-mo religioso.

Artigo escrito em português do Brasil

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TEMPO MUITO NUBLADO MIN 15 MAX 20 HUM 60-90% • EURO 9 .0 BAHT 0 .2 YUAN 1 .3

João Corvo

O poder corrompe, dizem. A ausência dele fragiliza. E isto, aos pobres, ninguém diz!

ACONTECEU HOJE 29 DE JANEIRO

H O J E H Á F I L M E

O QUE FAZER ESTA SEMANA?

fonte da inveja

18 hoje macau quinta-feira 29.1.2015(F)UTILIDADES

• HojeLANÇAMENTO DO LIVRO “CRONOLOGIA DA HISTÓRIA DE MACAU”, DE BEATRIZ BASTO DA SILVAClube Militar, 18hEntrada livre

LANÇAMENTO DO LIVRO “ESCRITOS DE AMOR E DESAFECTO”, DE ANTÓNIO CONCEIÇÃO JÚNIOR Auditório do Consulado-Geral de Portugal em Macau, 18h15Entrada livre

CONVERSAS ILUSTRADAS COM MÚSICA: “O ORIENTE NA ÓPERA OCIDENTAL – LAKMÉ” Fundação Rui Cunha, 18h30Entrada livre

• Sexta-feiraBUFFET DE VINHO E CERVEJA E ESPECTÁCULOS AO VIVOSoho, City Of Dreams, a partir das 19hBilhetes a 150 patacas

SEMINÁRIO “MEMÓRIA COLECTIVA, MULTIDISCIPLINARIDADE, SOCIOLOGIA POLÍTICA: AS ILHAS DE CONTENÇÃO DA CHINA E DO JAPÃO”, POR TIM LIAO Universidade de Macau, 15h às 16h30Entrada livre

• DiariamenteEXPOSIÇÃO “PONTO DE PARTIDA: PINTURAS DE DENNIS MURREL E DOS SEUS ARTISTAS” (ATÉ 31/01)Fundação Rui Cunha, 18h30Entrada livre

EXPOSIÇÃO DE SÂNDALO VERMELHO (ATÉ 22/03)MGM ResortEntrada livre

EXPOSIÇÃO DE PINTURA “KOREAN ART”, COM OH YOUNG SOOK E KIM YEON OK (ATÉ 15/02)Galeria Iao HinEntrada livre

EXPOSIÇÃO DE DESIGN DE CARTAZES “V•X•XV:” (OBRAS DE 1999, 2004 E 2009) [ATÉ 15/03]Museu da Transferência da Soberania de Macau, 10h00 às 19h00Entrada livre

EXPOSIÇÃO “TRANSMUTATION” E “FOAM TIP” (PINTURA E PORCELANA, POR CAROL KWOK E ARLINDA FROTA) Signum Living Store, 18h30 (até 31/01)Entrada livre

“SELF/UNSELF” – EXPOSIÇÃO DE TRABALHOS DE ARTISTAS HOLANDESES (ATÉ 15/03)Centro de Design de MacauEntrada livre

ILUSTRAÇÕES PARA CALENDÁRIO, DE GUAN HUINONG (ATÉ 10/05)Museu de Arte de Macau, das 10h às 19hEntrada livre

C I N E M ACineteatro

SALA 1BLACKHAT [C]Um filme de: Michael MannCom: Chris Hemsworth, Viola Davis, Tang Wei, Wang Leehom14.15, 16.45, 19.15, 21.45

SALA 2NIGHTCRAWLER [C]Um filme de: Dan Gilroy

Com: Jake, Gyllenhaal, Rene Russo, Riz Ahmed, Bill Paxton14.30, 16.45, 19.15, 21.30

SALA 3AMERICAN SPINER [C]Um filme de: Clint EastwoodCom: Bradley Cooper, Sienna Miller14.15, 16.45, 19.15, 21.45

NIGHTCRAWLER

Karl Benz inventa o primeiro motor a gasolina• Hoje é dia 29 de Janeiro e assinala-se a criação do primeiro motor automóvel movido a gasolina. Em 1712, tem início a Conferência de Paz de Utrecht, que encerra a guerra de sucessão espanhola. E em 1948 Andrei Gromiko pede a destruição das bombas atómicas do mundo. Corria o ano de 1712 quando se dá o primeiro passo tendo em vista o fim da guerra de sucessão espanhola, graças à Conferência de Paz de Utrecht. Também a 29 de Janeiro, mas em 1948, Andrei Gromiko, delegado soviético do Conselho de Segurança da ONU, incita os países a acabar com todas as bombas atómicas do mundo.No dia em que o Kansas se torna o 34.º estado norte-americano (1861), o engenheiro alemão Karl Benz inventa o primeiro motor automóvel movido a gasolina (1886). Quatro anos mais tarde, Equador e EUA reconhecem a República do Brasil.No mesmo dia, mas muitos anos mais tarde, o político e cantor Gilberto Gil recebe um tremendo aplauso, num discurso em que defende a difusão de software livre, no Fórum Social Mundial. “A batalha do software livre e da Internet livre é a mais importante, a mais interessante e a mais actual das lutas políticas”, afirmou Gilberto Gil, a 29 de Janeiro de 2005.Nas artes, destaque para o início das comemorações de home-nagem a Veláquez, pintor espanhol, em 1999, quatro séculos após a sua morte. Diversos países do mundo associaram-se à iniciativa. Este efeméride ocorre exactamente 40 anos depois de os estúdios Disney lançarem a longa-metragem ‘A Bela Adormecida’, um clássico que se mantém actual.Nascem neste dia Thomas Paine (1737), revolucionário inglês com tarefa decisiva na fundação dos EUA, e também o dramaturgo russo Anton Tchekhov (1860). “Que o mundo ‘está infestado com a escória do género humano’ é perfeitamente verdade. A natureza humana é imperfeita. Mas pensar que a tarefa da literatura é separar o trigo do joio é rejeitar a própria literatura”, escreveu Tchekhov, nas suas célebres Cartas.

“BEETLEJUICE”(TIM BURTON,1988)

Considerada uma das obras-primas do realizador Tim Burton, ‘Bee-tlejuice’ conta a história de dois fantasmas que requisitam os serviços de uma espécie de exorcista para livrar a sua nova casa de outros monstros que se apropriaram da casa. Michael Keaton é ‘Beetlejuice’, a ajuda dois muito jovens e em ascensão Geena David e Alec Baldwin, como os proprietários da casa. Entre aventuras e desventuras, Burton consegue criar uma das mais alucinantes e assustadoras comédias da década de 80 que dura até aos dias de hoje. Fala-se até num novo filme do género, numa parceria entre o realizador original e um outro jovem produtor. Este é, certamente, um filme a não perder. É que mesmo para quem não gosta do género cinematográfico, trata-se de uma referência do mundo do cinema do século XX. - Leonor Sá Machado

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19OPINIÃOhoje macau quinta-feira 29.1.2015

cartoon por Stephff

Z HAO Gou (趙高) foi um eunuco chinês que viveu no final do sec. III AC, serviçal da corte durante a dinastia Qin, a quarta e a mais curta das dinastias imperiais chinesas – e muito por culpa sua, tam-bém. Ambicioso, intriguista, corrupto e sedento de poder, Zhao era próximo do rei Qin

Shi Huang (秦始皇), general que derrubou a já moribunda dinastia Zhou e subjugou os sete reinos combatentes, tornando-se o primeiro monarca a reinar sobre a tota-lidade do território chinês. Consciente da dificuldade que seria manter o seu reino unificado, procedeu a eliminação de tudo o que pudesse representar uma ameaça ao seu exercício absoluto do poder: retirou as terras aos grandes proprietários e regalias à alta burguesia, mandou queimar livros considerados subversivos e assassinar intelectuais, introduziu novas medidas de peso, volume e superfície, alterando outras já existentes, e fez uma reforma profun-da no sistema judicial, aplicando penas mais duras e mais severas, e dando carta branca aos militares para executar as leis.

E era por essa razão que o monarca depo-sitava a sua confiança em Zhao, entendido em leis e especialmente em castigos, sendo capaz de imaginar os mais cruéis e dolorosos, que fazia questão de aplicar a quem considerasse ser um obstáculo na sua escalada da hierarquia palacia-na. Os imperadores da antiga China confiavam nos eunucos para desempenhar cargos oficiais de grande responsabilidade, uma vez que não havia o risco de usurparem o trono e fundarem eles próprios uma dinastia. Contudo alguns académicos defendem que Zhao podia não ser realmente um eunuco, apesar dos seus irmãos terem sido castrados como castigo pelos crimes de seu pai, pena comummente aplicada naquele tempo. Pode-se mesmo dizer que Zhao “tinha eles no sítio” no sentido figurado, ao ponto de se fazer crer o mesmo de podia dizer no sentido literal. Apesar do empenho do primeiro rei Qin, a morte levava-o de surpresa após dez anos de reinado, apenas, e quem o devia suceder era o seu filho mais velho, Fuisi, que não morria de amores por Zhao. Temendo a retaliação dos que o odiavam e eram ao mesmo tempo próximos do herdeiro do trono, o eunuco encontrou forma de falsificar o testamento de Qin Shi Huang de modo a fazer o sucessor legítimo entrar em desespero e cometer suicídio.

Consciente de que apenas com o apoio incondicional dos militares poderia alargar a sua área de influência e eventualmente chegar ao trono, Zhao quis consolidar a sua posição dentro do exército, mas para tal necessitava de lealdade a toda a prova. Desta forma elaborou um plano genial: levou um veado até ao rei, que era então Qin Er Shi (秦二世) filho mais novo do primeiro, e que olhava para Zhao como um “mestre”, e apresentou o animal com sendo “um cavalo”. O rei duvidou de imediato, questionando a percepção do seu lacaio,

Em Macau o personagem desta história, o pérfido eunuco Zhao, não teria que sujar tanto as mãos de sangue, tal é a quantidade de lacaios do rei quevê um cavalo quandoolha para um veado,e nem é preciso submetê- -los a qualquer prova

Chamar a um veado de cavalobairro do or ienteLEOCARDO

dizendo-lhe que “estaria a ver mal, e que de facto aquele animal era um cavalo”. Zhao permaneceu firme, e sugeriu que se consultassem os oficiais presentes naquele momento na sala do trono, os mais influen-tes do reino. Alguns, ora por despeito, ora por ingenuidade, afirmaram que de facto o animal era um veado e não um cavalo. No entanto a maioria, ora por medo, ora porque entenderam o plano do maquiavélico eunuco, confirmaram ser de facto um cavalo. Perante isto o próprio ficou na dúvida, e no fim os que contrariaram Zhao foram eliminados, enquanto os restantes passaram no teste de lealdade. Daqui nasceu a expressão “Chamar

cavalo a um veado” (指鹿為馬), que ilustra a interpretação errada de um facto com um propósito sinistro, ou uma finalidade oculta.

Transportando este conceito para os nossos dias, não nos custa muito aceitar que por vezes mais vale concordar com algo que nos levanta dúvidas do que iniciar uma discussão fútil e contraproducente. Mas tratando-se de um líder, teria que ser alguém bastante carismático para que obtivesse o apoio unânime dos seus subordinados, mes-mo quando estivesse errado. Mas há erros e há erros, assim como existem mentiras que se podem contar ao serviço de uma causa maior e justa, e pequenas intrigas que

podem tornar um pequeno mal-entendido numa grande tragédia. Penso que em Ma-cau o personagem desta história, o pérfido eunuco Zhao, não teria que sujar tanto as mãos de sangue, tal é a quantidade de lacaios do rei que vê um cavalo quando olha para um veado, e nem é preciso submetê-los a qualquer prova. A sociedade harmoniosa que os nossos dirigentes tanto apregoam passa pelo estrito cumprimento das hierar-quias, que conforme se vai desenrolando o enredo desta intriga palaciana, deixará eventualmente o rei absoluto na soleira enquanto o resto fica com água pelo pes-coço – até ao dia em que podem também eles ser o rei, é lógico. A dinastia Qin durou apenas quinze anos, tantos quantos esta que governa actualmente a RAEM. Será que algum dos oficiais ou eunucos do reino tem a consciência disso?

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hoje macau quinta-feira 29.1.2015

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U M relatório que alerta para restrições à li-berdade de imprensa em Macau é elogiado

pela Associação de Jornalis-tas de Macau, que representa maioritariamente profissionais chineses, mas visto como “parcial e incompleto” pela Associação de Imprensa em Português e Inglês.

O sétimo relatório da organi-zação Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) refere que “a liberdade de imprensa não me-lhorou” e que há “uma tendência crescente para a autocensura” em Macau.

Intitulado “China’s Media War: Censorship, Corruption & Control”, o relatório apre-sentado na segunda-feira em Hong Kong afirma que “os jornalistas que se desviaram da prática normal foram deti-dos pela polícia”, em alusão à detenção no ano passado do director e de um estagiário da publicação de sátira política Macau Concealers.

O documento acrescenta que “o governo de Macau continuou a usar a ‘lei’ para barrar” a entrada no território de jorna-listas, académicos, políticos e activistas pró-democratas.

A FIJ refere também ataques à liberdade académica, ao referir os casos de dois professores – Bill Chou e Éric Sautedé, anti-gos quadros da Universidade de Macau e Universidade de São José – que foram despedidos “depois de terem exercido o direito de falar sobre políticas controversas”.

Macau Pass Cartão em funcionamento no continente em JunhoO Macau Pass – cartão de pagamento de transportes públicos e válidos para compras em algumas lojas – poderá ser usado no transporte e compras em mais de 50 cidades do continente a partir de Junho deste ano. Por enquanto, é ainda necessário resolver problemas relacionados com taxas de câmbio e actualização do sistema. A chefe do Centro de Serviço de cartões IC do departamento de construção de habitação do interior da China, Ma Hong, referiu ontem à Rádio Macau que espera que este cartão possa ser integrado no plano ‘smart card’, assim interligando mais de 50 cidades chinesas, incluindo Xangai, Tiajin e Kunming. Ma Hong acrescentou que esta integração é um factor positivo para a promoção da economia, mas alertou para a necessidade de resolução de problemas de câmbio e recursos materiais.

Tabaco City of Dreams multado em 100 mil patacasOs Serviços de Saúde multaram ontem em 100 mil patacas o casino City of Dreams por não ter afixado o sinal de proibição de fumar numa zona para a qual tinha sido notificado para o fazer. “Esta quarta-feira, os funcionários do Gabinete para a Prevenção e Controlo de Tabagismo dos Serviços de Saúde, conjuntamente com os trabalhadores da Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos realizaram uma fiscalização surpresa na referida zona e foi detectado que ainda não tinha sido afixado o sinal de proibição de fumar”, informam os SS.

Figo candidato à presidência da FIFAO antigo internacional português Luís Figo vai candidatar-se à presidência da FIFA, a instituição que gere o futebol internacional. Figo, de 42 anos, anunciou a intenção de destronar Joseph Blatter, em declarações à CNN. Figo fez ainda a confirmação de que está na corrida à liderança da organização na sua conta no Twitter: “Devo ao futebol o que sou e sinto que chegou a hora de retribuir. Sou candidato à presidência da FIFA.”

ASSOCIAÇÕES ELOGIOS E CRÍTICAS SOBRE LIBERDADE DE IMPRENSA EM MACAU

Perspectivas e complexidades

Para a Associação de Jor-nalistas de Macau, que não é membro da FIJ, o documento reflecte a realidade. “O relatório aponta quase todos os casos. Não ficámos surpreendidos (com as conclusões). A censura em Macau está cada vez pior, qualquer pessoa pode verificar isso”, disse à agência Lusa a presidente, Connie Peng.

“A situação é mais grave do que as pessoas pensam”, reforçou, ao explicar que a associação está actualmente a lidar com novos casos de

ataque à liberdade de imprensa em Macau.

TENDÊNCIAS E LACUNAS A Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM) tem uma opinião di-vergente sobre o documento. “Consideramos que o relatório agora tornado público é parcial e incompleto, não tendo em conta a complexidade da comunica-ção social em Macau”, referiu em comunicado.

“A direcção da AIPIM espe-ra que a Federação Internacional

de Jornalistas possa ser isenta, independente e imparcial nos relatórios que produz e que ouça todas as partes antes de concluir o que quer que seja sobre a liberdade de imprensa em Macau”, sublinhou.

Na base da contestação está o pedido de adesão à FIJ solici-tado pela AIPIM em 2012, ao qual não foi dado seguimento. “Até este momento, a direcção da AIPIM não voltou a ser contactada pela Federação In-ternacional de Jornalistas para qualquer efeito”, acrescentou.