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LUSA O Verão acabou e os que sonham com democracia em Hong Kong, embora assegurem que continuarão a lutar, sabem que não tarda em chegar o Inverno do seu descontentamento. Sonho de uma noite de Verão DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 TERÇA-FEIRA 30 DE SETEMBRO DE 2014 ANO XIV Nº 3185 hojemacau PÁGINAS 4 - 6 PUB AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB DIA DA CHINA FESTEJAR AS FÉRIAS Vício do Jogo As mulheres e o Mahjong ARRENDAMENTO À ESPERA QUE SAIA A proposta da Lei das Rendas continua sem data marcada para ser apresentada à Assembleia Legislativa. “Pode ser hoje, pode ser daqui a uns meses”, diz o deputado Gabriel Tong. POLÍTICA PÁGINA 7 SOCIEDADE PÁGINA 9 INQUÉRITO PÁGINA S 2-3

Hoje Macau 30 SET 2014 #3185

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Hoje Macau N.º3185 de 30 de Setembro de 2014

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Page 1: Hoje Macau 30 SET 2014 #3185

LUSA

O Verão acabou e os que sonham com democracia em Hong Kong,embora assegurem que continuarão a lutar, sabem que não tarda

em chegar o Inverno do seu descontentamento.

Sonho de umanoite de Verão

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 T E R Ç A - F E I R A 3 0 D E S E T E M B R O D E 2 0 1 4 • A N O X I V • N º 3 1 8 5

hojemacau

PÁGINAS 4 - 6

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AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

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DIA DA CHINAFESTEJARAS FÉRIAS

Vício do JogoAs mulherese o Mahjong

ARRENDAMENTOÀ ESPERA QUE SAIAA proposta da Lei das Rendas continua sem data marcada para ser apresentada à Assembleia Legislativa. “Pode ser hoje, pode ser daqui a uns meses”, diz o deputado Gabriel Tong.

POLÍTICA PÁGINA 7 SOCIEDADE PÁGINA 9 INQUÉRITO PÁGINAS 2-3

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hoje macau terça-feira 30.9.20142 DIA DA CHINA

FLORA [email protected]

N A véspera da celebração dos 65 anos do Dia Na-cional da República Po-pular da China (RPC),

o HM saiu à rua para inquirir a população de Macau a propósito desta festividade e saber qual o significado que este dia tem para os locais.

De um total de 73 inquiridos, 41% das pessoas entrevistadas consideraram que não é neces-sário celebrar a fundação da RPC, porque é algo que “não tem utilidade”, porque simboliza “a fundação de um país de bandidos” ou porque “um grande número de turistas invade as ruas de Macau” durante os feriados.

Mais de metade, 59%, disse ser importante a celebração, mas não propriamente por patriotis-mo. Se oito pessoas afirmaram que vale a pena assinalar a data por ser marcar a fundação e o aniversário da RPC, cinco pes-

41% DIZ QUE NÃO VALE A PENA CELEBRAR O DIA NACIONAL

Uma data para ter férias

soas referiram que, com esta celebração, podem ter férias. Duas pessoas responderam ain-da de forma errada que o dia 1 de Outubro marca o aniversário da transferência de soberania, enquanto que uma pessoa disse que o Dia Nacional é sinónimo de uma “tripla remuneração”.

Enquanto isso, 65% dos in-

quiridos, afirmaram nunca ter assistido à cerimónia do hastear da bandeira no dia 1 de Outubro, principalmente porque “não têm interesse”, “têm outras activida-des de celebração” ou ainda por “outras razões”.

34% afirma tê-lo feito por já ter compromissos com amigos, escolas, familiares ou institui-

ções. Apenas duas pessoas dis-seram ter assistido à cerimónia por terem verdadeiro interesse. Já quatro pessoas dizem sentir-se “uma parte da RPC”.

Apenas 16 residentes falha-ram nos anos de existência da RPC, tendo apontado como datas 63, 62 ou 60 anos (a RPC come-mora 65 anos de existência). Os

entrevistados pertencem à faixa etária dos 18-25 anos, 26-30 anos ou ainda 41-45 anos.

NA PONTA DA LÍNGUANa hora de responder ao nome do primeiro Presidente da RPC, há 65 anos atrás, 74% deu a resposta correcta, Mao Zedong. 26%, um total de 19 residentes, respondeu que o primeiro Presidente da RPC foi Deng Xiaoping, que seria o responsável pela implementação da grande reforma económica do país anos mais tarde, na década de 80.

Em relação aos actuais líderes chineses, apenas 11 disseram os nomes errados, tendo apontado o actual primeiro-ministro, Li Ke-qiang, como o presidente. Outros sete afirmaram que Hu Jintao era o Presidente do país e do Conse-lho de Estado, quando na verdade é Xi Jinping. De frisar que, das 11 pessoas que responderam de forma errada, quatro têm idades compreendidas entre os 18 e 25 anos, sendo um de idade superior.

Um inquérito promovido pelo HM a 73 pessoas mostra que quase metade dos inquiridos acha que não é necessário celebrar a fundação da República Popular da China por ser uma efeméride “sem utilidade”. “Ter férias” foi um dos motivos apresentado por 59% dos que apoiam a sua celebração

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3 dia da chinahoje macau terça-feira 30.9.2014

NOVOS ROTEIROS DIVULGADOSA DST vai ainda, nos dias 1 a 5 de Outubro, manter os cinco “Embaixadores do Turismo de Macau” em dez locais turísticos, os quais vão “fornecer informações sobre as atracções turísticas, e realizarão distribuição de brochuras dos roteiros turísticos “Sentir Macau passo-a-passo”, para divulgar entre os residentes e visitantes os itinerários”.

PSP GARANTE CONTROLO DOS TURISTAS

Em declarações ao Jornal do Cidadão, a Polícia de Segurança Pública (PSP) garantiu que irá controlar o elevado número de turistas que chegarão a Macau já a partir do dia 1. Para além da tentativa de manter a ordem junto às fronteiras e nas ruas, a PSP promete consolidar a inspecção nos balcões e reforçar o controlo nas Portas do Cerco. “Vamos ter um aumento de 5 a 7% do número de turistas e residentes que passarão nos postos transfronteiriços, em comparação ao ano passado”, disse a PSP ao jornal de língua chinesa. Quanto à saturação de pessoas no centro histórico, a PSP disse que vai enviar mais pessoal para controlar a multidão, implementando uma única passagem junto à sede dos correios e IACM. Também a Direcção dos Serviços para os Assuntos Marítimos e da Água prevê o pico na passagem dos postos transfronteiriços por via marítima.

DST LANÇA INFORMAÇÕES SOBRE PREÇOS DOS HOTÉIS

AGENDA DAS COMEMORAÇÕES

8: 00 Cerimónia do içar da bandeira Nacional na Praça Flor de Lótus

com a presença do Chefe do Executivo e membros do Governo. A seguir

à cerimónia, corrida em Comemoração do Dia Nacional e do Dia Mundial

da Marcha, com entrega de prémios presididas também pelo Chefe do

Executivo.

14:00 Sarau Desportivo e Cultural na Nave Desportiva dos Jogos da Ásia

Oriental

20:00 Grupo Acrobático da província de Shandong, do interior da China,

apresenta duas sessões do teatro de balé “Lenda da Montanha” no dia 30

de Setembro e outra no dia 1 de Outubro, ambos no Fórum I de Macau

21:00 , 21:40 Concurso Internacional de fogo-de- artíficio, a encerrar

com a exibição das equipas da Itália e da Espanha respectivamente, em

frente à Torre de Macau

9:00-17:30 Venda de produtos filatélicos e carimbos alusivos à

“Celebração do 65º Aniversário da Implantação da República Popular da

China” arranjados pelos Correios de Macau, ao preço unitário de 2,50

patacas.

Até dia 31 de Outubro Exposição de revisão de antigos arcos de celebração

do Dia Nacional da China em Macau, das 10:00 às 19:00 na Galeria Tap Seac

com entrada gratuita.

Numa altura em que Macau se prepara para receber um elevado número de visitantes, os Serviços de Turismo (DST) prometem publicar um guia de restaurantes e cafés disponíveis, apenas na língua chinesa, bem como a cooperação com a província de Guangdong no que diz respeito à partilha de informações. Mas o Governo promete ainda estar atento aos preços cobrados pelas unidades hoteleiras. Segundo um comunicado ontem emitido, a DST promete “aumentar a fiscalização e manter o sistema de informação na internet que disponibiliza, de forma regular, os preços de quartos de hotel e pensões”. “A DST já disponibiliza de forma permanente a tabela de preços de diferentes categorias de quartos de hotel e pensões em Macau, fornecidos pelas operadoras. Mas introduziu um sistema de informações sobre os preços dos quartos, o que permite aos operadores a actualização dos valores

disponibilizados, para melhorar a eficácia do sistema e permitir aos visitantes a obtenção de informações actualizadas”. A DST pretende, assim, “melhorar a qualidade dos serviços de turismo prestados”. A DST promete ainda enviar mensagens, através da aplicação WeChat ou outras via telemóvel, com avisos para a reserva de quartos com antecedência. É ainda prometido o reforço “das inspecções nos principais pontos de atracção turística, nos postos fronteiriços e diferentes zonas da cidade”. Foram também enviadas “cartas aos operadores turísticos a alertar para os cuidados com a higiene, segurança dos alimentos, prevenção de incêndios, horários de funcionamento, respeito pelos regulamentos na recepção de excursões turísticas e requisitos para o fornecimento de informações sobre os preços dos estabelecimentos hoteleiros, entre outras medidas a ter em atenção”.

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LUSA

NOTAS

hoje macau terça-feira 30.9.20144 HONG KONGLutam pelo que querem, mesmo que não acreditem que venha a acontecer. São velhos e novos, chineses e não só e pedem que CY Leung, o Chefe do Executivo da RAEHK, deixe o cargo por faltar à promessa que, tanto ele, como o Governo Central fizeram: impedir que a população escolha de forma livre o próximo líder do Governo

JOANA FREITAS, EM HONG [email protected]

U MA extensa mancha hu-mana inundou ontem as ruas de Hong Kong pelo terceiro dia consecutivo.

Centenas de milhares de mani-festantes encheram os distritos de Central, Admiralty e Wan Chai, como foi possível ao HM testemu-nhar, numa luta pela democracia que promete não acabar tão cedo.

U M dia depois de cenas de violência entre ma-nifestantes e polícia

terem inundado as televi-sões e os jornais, o ambiente aparentava estar bem mais calmo. Nem a presença de milhares de pessoas nas ruas obrigou à intervenção das autoridades, pelo menos até à hora do fecho desta edição (22h30).

As marcas de gás la-crimogénio e bastões dos

* Ao que foi possível ao HM apurar, os protestos estenderam-se

por outras áreas, além de Central, Admiralty e Wan Chai.

Mong Kok, Causeway Bay e Kowloon foram alvo de pequenas

manifestações

* O número de manifestantes ao certo é desconhecido, mas

fala-se em cerca de 60 mil no domingo e cerca de cem mil ontem

CENTENAS DE MILHARES NAS RUAS PEDEM DEMISSÃO DE CY LEUNG

“Estes são os dias mais negros de Hong Kong”

MANIFESTAÇÃO SEM CONFLITOS DURANTE A TARDE E ATÉ ÀS 23H00

Pacíficos e organizados

“Estamos aqui pelo nosso futu-ro”, diz-nos Ashley, uma estudante de 19 anos que encontrámos em Admiralty. “O sufrágio universal é importante, claro que é importante.”

E é por isso que Ashley, Cola e Joey, três estudantes universi-

tárias, se juntaram aos cerca de cem mil manifestantes que ontem ocupavam as ruas de Hong Kong. O número não é certo, porque nem as autoridades, nem a organização conseguiram perceber quantos foram aqueles que quiseram lutar

pelo direito a votar no próximo líder do Governo da RAEHK, em 2017.

Apesar de não terem aderido ao boicote às aulas – que, na semana passada, centenas de estudantes fizeram -, as alunas não falharam no que diz respeito à vestimenta a

rigor: t-shirts pretas, algumas com mensagens, eram um dos símbolos imediatamente reconhecíveis no mar de gente com que nos deparámos.

O preto, cor de luto, foi sugeri-do através da rede social Facebook e tem um significado especial, conforme nos conta Joey. “Estes são os dias mais escuros de Hong Kong. O período mais negro.”

POR TI, HONG KONGCartazes por todo o lado indicavam que o amor destes manifestantes por Hong Kong é ilimitado. Ao vaguearmos pelo meios dos mi-lhares que se sentavam no chão em Admiralty, pisámos um cartaz no chão que dizia que hoje “era um bom dia para morrer por Hong Kong”.

E, se a morte é algo muito forte, a vontade destes manifestantes em fazer com que CY Leung e o Gover-no Central cumpram a promessa que fizeram – sufrágio universal para o Chefe do Executivo – também o é.

“Sou de cá e discordo comple-tamente com o que o Governo nos fez, fez a estas pessoas. É ridículo e não vou sair daqui”, começa por nos dizer Shirley, uma assistente social que se junta aos protestos pelo terceiro dia consecutivo. “Só estamos a pedir democracia verdadeira, não fizemos nada de mal, somos pacíficos e estamos aqui a pedir pacificamente o que queremos.”

Contudo, nem sempre as vonta-des são satisfeitas e, apesar de todo o esforço, nenhuma das pessoas com quem o HM falou acredita que vai sair vencedor deste braço de ferro com o Governo (ver caixa abaixo).

NOVOS E VELHOS, DE TODAS AS RAÇASSe o dia parecia normal quando chegámos ao terminal marítimo

conflitos de domingo, con-tudo, ainda persistiam nos manifestantes. Ao HM, foi possível testemunhar cen-tenas de pessoas protegidas com máscaras anti-gás, lenços, película aderente e óculos, que disseram mesmo

ainda sentir comichões na face e braços.

“Estive ontem aqui e nem estava perto dos polícias, mas as bombas [de gás] que eles lançaram queimaram--me. Hoje [ontem] vim preparado porque quase de certeza que eles [Governo] vão mandar mais militares”, conta-nos Leo, um estudante de 23 anos.

Apesar dos receios, con-tudo, o HM não testemunhou qualquer conflito, sendo que o número de polícias na zona de Admiralty, onde ficámos a maior parte do tempo, era em muito inferior ao número de manifestantes.

Ao HM, não foi possível também confirmar a presen-ça do Exército de Libertação

Popular chinês em nenhum dos locais onde os manifes-tantes se reuniam (Central, Admiralty, Wai Chai), o que parece confirmar as declara-ções de CY Leung, que no domingo assegurou que o Governo de Hong Kong não pediu a ajuda destes milita-res, como alguns rumores ditavam.

Desde as 17h00 às 22h30 não houve também a presen-ça da polícia militar de Hong Kong, tal como aconteceu na noite anterior.

Jornalistas presentes no local na noite de domingo asseguraram ao HM que a polícia lançou gás lacrimo-géneo aos manifestantes sem qualquer aviso, apanhando inclusive membros da im-

prensa. “Foi pior [do o que se viu na televisão]. É só imaginar como é lançar uma daquelas bombas no meio de uma multidão como esta”, explica-nos um jornalista de uma agência de notícias francesa.

Ontem, no entanto, e até à hora do fecho desta edição nenhum militar se avistava nas ruas onde a manifestação decorreu.

COMIDA E ÁGUA GRATUITASSe a pacificidade é uma das características que mais marca a manifestação pela democracia, a organização é outra delas. Manifestantes e apoiantes uniram esforços e distribuíam comida e água gratuitas, bem como másca-

ras, guarda-chuvas, toalhas, capas anti-chuva e chapéus. A ideia, conta-nos Josie, uma professora universitária, é fazer com que as pessoas fiquem por uma boa causa.

“Eles precisam de apoio, para lutar pelo que acredi-tam”, diz-nos a académica, que encontrámos a passar um saco de comida a um dos manifestantes. “Eu não faço parte da manifestação, mas quis vir aqui para os apoiar, pelo menos nisto.”

A organização chega inclusive ao lixo: há equipas preparadas para a distribui-ção de comida, mas também para apanhar todo o lixo que pudesse vir a ser deitado ao chão. “Nós amamos Hong Kong”, diz-nos um dos encarregados de recolher o lixo. No dia seguinte, muitos dos manifestantes voltam às ruas para recolher o que ainda sobrou, conforme pu-demos apurar. - J.F.

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HOJE

MAC

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HOJE

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OS OUTROS SÍMBOLOS

5 hong konghoje macau terça-feira 30.9.2014

Guarda-chuva, o símbolo da lutaO guarda-chuva tornou-se o símbolo da luta pela

democracia em Hong Kong, devido a esta ser a única protecção dos manifestantes contra as bombas de gás lacrimogéneo atiradas pela polícia militar no domingo.

Desde essa noite que o objecto se tornou, então, o símbolo dos manifestantes, que têm já criado designs com figuras de guarda-chuvas.

Ontem, a “arma” escolhida pelos manifestantes não foi, obviamente, deixada de lado e era possível ver centenas de guarda-chuvas partidos num dos cantos da praça em frente ao Conselho Legislativo de Hong Kong, mas não só: guarda-chuvas novos estavam a ser distribuídos aos manifestantes para que estes pintassem mensagens. Foram, depois, deixados abertos, podendo ler-se frases como “não precisam de nos atirar gás lacrimogéneo, nós já estamos a chorar” e “liberdade”.

Mensagens em várias línguas – português, inglês, russo, espanhol, francês – foram também deixadas em cartazes ao longo das ruas onde os manifestantes se juntavam. Todas elas, como foi possível ao HM apu-rar, continham as mesmas mensagens: “não usem gás pimenta, só temos guarda-chuvas”, “somos pacifistas, não nos batam” e “não somos o inimigo”. - J.F.

Consulado norte-americano apela à calma O Consulado Geral dos Estados Unidos em Hong Kong apelou ontem à moderação nos protestos em Hong Kong, onde “todas as partes” devem abster-se de “acções que possam fazer escalar ainda mais a tensão” na cidade. Numa curta nota enviada à imprensa, o consulado norte-americano recordou que em Hong Kong existe, e é apoiada pelos Estados Unidos, a tradição e a protecção legal - pela Lei Básica - das liberdades fundamentais internacionalmente reconhecidas como a “liberdade de reunião pacífica e a liberdade de expressão e liberdade de imprensa”. Segundo a mesma nota, a representação consular “não vai tomar partido na discussão do desenvolvimento político de Hong Kong, nem apoiar quaisquer indivíduos ou grupos particulares envolvidos”.

Londres apela a diálogo construtivo O Reino Unido expressou ontem a sua preocupação relativamente à escalada dos protestos em Hong Kong e apelou a conversações construtivas, afirmando esperar que possam conduzir a um “avanço significativo para a democracia” na antiga colónia britânica. “Nós esperamos que o período de consulta que se aproxima venha a produzir acordos que permitam um significativo avanço para a democracia em Hong Kong e apelamos a todas as partes para que realizem um debate construtivo neste sentido”, disse um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico, em comunicado citado pela agência AFP.

Governo Pequim não reverte decisão A Secretária chefe de Hong Kong, ‘número dois’ na hierarquia do Executivo da antiga colónia britânica, considerou ontem ser irrealista esperar que Pequim reverta a sua decisão sobre a reforma política no território. Em declarações citadas pela Rádio e Televisão Pública de Hong Kong (RTHK), Carrie Lam reiterou a sua preocupação relativamente aos protestos em curso em várias zonas da Região Administrativa Especial chinesa, onde milhares de pessoas reivindicam nas ruas um sufrágio universal “genuíno”. Carrie Lam desmentiu ainda rumores de que estaria prestes a renunciar ao cargo devido à recente onda de manifestações.

China adverte sobre possível ingerência estrangeiraA China advertiu ontem sobre possíveis ingerências estrangeiras nos protestos de Hong Kong e sublinhou que a cidade é chinesa e os seus assuntos recaem dentro da soberania nacional deste país. “Hong Kong é China”, por isso que os assuntos desse território “são de soberania chinesa”, afirmou uma porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Hua Chunying. “Por isso, opomo-nos à interferência estrangeira, por parte de qualquer país, nos assuntos internos da China”, acrescentou, em referência às reacções de várias nações aos protestos na cidade. A porta-voz destacou, além disso, que o governo chinês rejeita “formalmente” qualquer tipo de apoio a “actividades ilegais como o movimento Occupy Central”. Hua qualificou de “assembleia ilegal” os protestos que acontecem em Hong Kong desde o fim de semana passado e que “debilitam a ordem social e o estado de direito” no território, que é uma região administrativa especial da China.

Líderes de Tiananmen manifestam apoio Os dissidentes chineses no exílio Wang Dan e Wu’er Kaixi, líderes do movimento pró-democrático estudantil de Tiananmen em 1989, manifestaram apoio aos protestos de Hong Kong por eleições democráticas para o chefe do Executivo. “Apesar de termos histórias diferentes, a defesa da liberdade e da democracia une-nos aos nossos amigos de Hong Kong”, afirmou Wu’er Kaixi, numa concentração que teve lugar na madrugada de ontem na Praça da Liberdade em Taipé, citado pela agência Efe. Já os principais dirigentes do movimento estudantil de Março de 2014, que ocupou o parlamento de Taiwan em protesto contra a falta de transparência em acordos entre Pequim e Taipé, Lin Fei-fan, Chen Wei-ting e Huang Kuo-chang sustentaram que a fórmula “um País, dois sistemas” fracassou em Hong Kong. Huang Kuo-chang fez um apelo a Taiwan e à comunidade internacional para enviar uma mensagem clara a Pequim para “não esmagar a democracia em Hong Kong”. “Se houver qualquer tipo de derramamento de sangue em Hong Kong devido à repressão policial não ficaremos parados. Sairemos para as ruas”, disse Huang Kuo-chang, também citado pela agência noticiosa espanhola Efe.

• T-Shirt preta

• Luzes de telemóvel e lanternas

• Música “A brighter future” da banda de

Hong Kong Beyond cantada pelos manifestantes

(utilizada nas manifestações em Macau)

• Laços amarelos

de Hong Kong, o caso mudou de figura mal nos encontrámos na estação de metro de Admiralty. Aí, deparamo-nos imediatamente com dezenas de pessoas, estudantes na sua maioria, carregando caixas. Os laços amarelos nos pulsos e camisolas – um dos símbolos da

luta - davam-nos a justificação para os questionarmos.

Ao HM, os alunos de uma es-cola secundária explicaram estar a caminho da reunião que se fazia já ouvir lá fora, para distribuir comida e bebida. Ao seu lado, estudantes universitários seguiam em filas,

“CY LEUNG QUEBROU A PROMESSA”Todos com quem falámos concordam que CY Leung quebrou a promessa, mas todos concordam num outro ponto: no braço de ferro contra o Governo, é este quem sairá vencedor. “O Governo vai ganhar”, dizem-nos quase em uníssono Ma e Danny, de 23 anos. Durante toda a tarde, o que mais se ouviu desde Central a Wan Chai foram pedidos dirigidos directamente ao Chefe do Executivo: “CY renuncia ao cargo”. A cara de Leung percorreu o extenso caminho de Admiralty a Wan Chai: uma fotografia do líder do Governo, em tamanho gigante e com dois dentes de vampiro, seguia de um lado para o outro. “CY Leung é um fantoche. Não é que ele não tenha poder, mas só ouve Pequim. Não tem integridade, perdi o respeito por ele”, atira-nos Shirley. “Não acreditamos que vamos ganhar. Mas temos de continuar a lutar.”

directos ao que rapidamente per-cebemos que era um dos maiores protestos de sempre na RAEHK.

À saída da estação de metro de Admiralty, onde na noite anterior tinham chovido bombas de gás pimenta, a multidão estendia-se muito para além do que era possível vislumbrar.

No caminho já nos tinha sido possível perceber que muitos foram os que aderiram à causa sem, necessariamente, se juntar às manifestações. Foi o caso de Jeffrey B. “Fico chateado com a confusão, mas compreendo-os. Querem um futuro que possam escolher e apoio-os”, disse ao HM.

Como Jeffrey, muitos outros empresários, enfermeiros, profes-sores e cidadãos normais levavam ao peito um laço amarelo. Como Jeffrey, muitos deles nem concor-davam plenamente com os pedidos dos manifestantes.

“Estou aqui a apoiar. Sou um cidadão normal”, diz-nos Billy, um residente com 50 anos. “Por mim, preferia que tivéssemos mais tempo [para o sufrágio], mas Hong Kong tem de ser um local onde o respeito é mútuo entre as pessoas, seja qual for o nosso ponto de vista político.”

Para provar que nem só de estudantes se faz a manifestação, ainda que estes sejam a maioria, estão pessoas como Shirley, com 40 anos. E para provar que não são só chineses que lutam pela democracia, está Ahmed, de 30 anos, entre muitas outras caras ocidentais.

“Vivo cá há muitos anos. Tenho cá a minha mulher e a minha filha. E estou aqui porque quero um futuro melhor para ela”, disse ao HM. “Não vou sair daqui toda a noite, durmo aqui. Isto é minha casa.”

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6 hong kong hoje macau terça-feira 30.9.2014

COMISSÃO MISTA APOIA “OCCUPY CENTRAL”A Comissão Mista para o Desenvolvimento da Democracia em Macau, liderada pelos deputados Au Kam San e Ng Kuok Cheong, da Associação Novo Macau (ANM), emitiu ontem um comunicado onde refere apoiar a luta dos residentes de Hong Kong para a implementação de um verdadeiro sufrágio universal e acusa o combate aos protestos através da violência ministrado pela polícia e Executivo de CY Leung. A ANM também apela a uma luta entre Macau e Hong Kong por um verdadeiro sufrágio universal.

CECÍLIA L [email protected]

C HAMA-SE “Macau apoia a luta de Hong Kong para o sufrágio universal” e é o nome da mais recente

página de Facebook criada para apoiar o movimento que tem aba-lado a região vizinha. Segundo as informações disponibilizadas na rede social, o protesto deverá acon-tecer amanhã, dia 1 de Outubro, junto ao edifício da Assembleia Legislativa (AL).

O HM tentou confirmar o nome por detrás da organização deste evento, mas até ao fecho da edição não foi possível. Contudo, a iniciativa terá origem num grupo de alunos do ensino secundário. Jason Chao, presidente da So-ciedade Aberta de Macau e ex--presidente da Associação Novo Macau (ANM), confirmou ao HM que também vai participar nesta actividade, tendo ainda confirmado que muitos residentes de Macau aderiram ao movimento “Occupy Central”. Contudo, garantiu não poder revelar nomes. Entretanto, também o activista Lei Kin Ion partiu ontem para Hong Kong para se juntar aos residentes da RAEM que apoiam o movimento a favor da eleição directa do Chefe do Executivo de Hong Kong.

Jason Chao confirmou ainda que não existe qualquer ligação entre a ida de residentes para

JASON CHAO NEGA INFLUÊNCIAS ESTRANGEIRASNos últimos dias surgiu um texto na imprensa de Hong Kong citando um rumo de que Joshua Wong, um dos líderes mais jovens do movimento “Occupy Central”, terá recebido dinheiro de grupos norte-americanos para a organização dos protestos. “Não me parece”, disse Jason Chao. “A posição de Hong Kong em relação ao mundo não é assim tão fundamental, uma confusão na sociedade não irá causar confusão lá fora. O conteúdo do texto é exagerado, e segundo as minhas informações, nenhuma associação ou grupo de Hong Kong irá receber dinheiro de estrangeiros para organizar movimentos políticos”, disse o ex-presidente da ANM.

Depois da vigília junto à igreja de São Domingos, já existe uma página no Facebookque visa a organização de uma iniciativa de apoio aos protestos do grupo “Occupy Central”, a qual decorre já amanhã

ACÇÃO DE APOIO AO MOVIMENTO “OCCUPY CENTRAL”

Manifestação no Dia Nacional junto à Assembleia Legislativa

Hong Kong e as associações pró--democratas de Macau, uma vez que no inicio do movimento alguns líderes foram detidos.

“O movimento já não é apenas a

“O movimentojá não é apenasa participação de alguma associação ou grupo, mas sim uma participação voluntáriados residentes”JASON CHAO Presidenteda Sociedade Aberta de Macau

ALUNOS UNIVERSITÁRIOS APOIAM MOVIMENTONa rede social Facebook têm vindo a surgir diversas fotografias de alunos do ensino superior local que apoiam o “Occupy Central”. Os cacifos do Instituto Politécnico de Macau (IPM) foram ontem cobertos com fitas amarelas, sendo que o jornal da Universidade de Macau, o Hengqin Post, publicou fotografias da biblioteca com as mesmas fitas. As instalações da Universidade de São José também tinham, em algumas zonas, fitas amarelas.

DEBATE SOBRE SUFRÁGIO UNIVERSALEM OUTUBROO deputado Au Kam San confirmou ainda ao HM que a AL vai debater a implementação do sufrágio universal em Macau aquando do arranque de mais uma sessão legislativa. O deputado disse que entregou a proposta à presidência do hemiciclo em Agosto, mas a mesma só poderá ser debatida depois do dia 15. “Provavelmente vai ser aprovada e discutida pelos colegas no inicio da nova sessão legislativa”, referiu.

participação de alguma associação ou grupo, mas sim uma partici-pação voluntária dos residentes”, disse Jason Chao.

PROFESSORES CONFIRMAMAPOIO AO “OCCUPY CENTRAL”Outro membro da ANM e antigo deputado, Paul Chan Wai Chi, também professor no Colégio Diocesano de São José, confirmou ao HM que na sua escola existem actividades de apoio ao movimento “Occupy Central”. “Hoje na escola houve alunos que voluntariamente usaram fitas amarelas como forma de apoio aos estudantes de Hong Kong. Se em Macau acontecesse um movimento do género, os pro-fessores também iriam participar, porque é uma questão de educação cívica. É uma boa oportunidade para ensinar aos alunos o que é correcto, e para que eles dêem mais atenção às questões sociais”,

apontou Chan Wai Chi. Paul Chan Wai Chi garantiu que vai apoiar o protesto às portas da AL, podendo vir a estar presente.

Au Kam San, deputado à AL e membro da direcção da ANM, sendo também docente na Escola São João de Brito, lembrou que a actividade do dia 1 de Outubro não representa a opinião de todos os resi-dentes, embora o “Occupy Central” seja “um elemento importante para o sufrágio universal em Macau”.

O deputado explicou ainda que a escolha do dia 1 de Outubro não foi por ser o Dia Nacional da RPC, mas porque a permissão para a organização da actividade só aconteceu ontem. “São precisos dois dias úteis para o Governo dar permissão a estas actividades. Teo-ricamente o Governo consegue dar essa permissão, não há mais razões para obstruir as actividades fora da AL”, disse ao HM.

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7POLÍTICAhoje macau terça-feira 30.9.2014

O projecto sobre o arrendamento continua a ser “cozinhado” sem que até hoje se saiba quando é que a proposta de lei será entregue na Assembleia Legislativa

FIL IPA ARAÚ[email protected]

M UITA tinta tem cor-rido sobre tema das rendas no território. Tanta que durante o

ano passado o deputado Pereira Coutinho entregou um projecto de lei sobre o arrendamento de imobiliário privado destinado à habitação. O deputado considerou ser urgente travar o aumento exa-gerado das rendas e impedir que os senhorios possam aumentar os valores nos dois primeiros anos de contrato. Já este ano, em Fevereiro, o deputado nomeado Gabriel Tong, falou ao HM e explicou que um grupo de deputados iria levar um projecto de lei sobre a questão das rendas, mas que antes de o fazer o grupo iria levar a cabo uma “in-vestigação” antes da redacção da proposta de lei. Na altura, Gabriel Tong, um dos participantes do pro-jecto, não quis nomear os restantes colaboradores.

“Estamos a fazer uma investi-gação sobre as questões existentes

RENDAS PROPOSTA DE LEI CONTINUA A SER UMA INCÓGNITA

No segredo dos deuses“Não lhe posso dizer quando será apresentada, (proposta de Lei das Rendas) pode ser hoje, pode ser daqui a uns meses”GABRIEL TONG

e depois vamos ver qual a situação jurídica. Já estamos a reunir um conjunto de pessoas para esse projecto de investigação, mas ainda não temos resultados. Vamos analisar a possibilidade de alterar a lei do arrendamento e só depois é que vão surgir as conclusões”, afirmou o deputado.

À ESPERA DO MOMENTO CERTOA verdade é que até à data pouco ou nada de soube da investigação e da própria elaboração da proposta. Questionado pelo HM, Gabriel Tong afirmou agora que apesar de estar a participar na iniciativa são os seus colegas de grupo que “mais estão empenhados na elaboração”.

“Há uns dias foi-me apre-sentado um projecto, os colegas solicitaram a minha opinião”, explicou o deputado. Depois de ler toda proposta, o deputado consi-dera que “ainda não é a altura de apresentar o projecto, porque há questões técnicas a que os colegas e a sua equipa de trabalho devem dar mais atenção, e por isso, devem ser mais trabalhadas”. Para Gabriel

Tong a proposta não deve ser para já apresentada. “Se dependesse da minha opinião eu não poderia concordar que fosse apresentada assim”, explica.

O deputado nomeado não sabe se o grupo irá apresentar ou não à Assembleia Legislativa (AL) a proposta, porque segundo o mesmo, este não é o seu projecto, pelo menos neste momento. “Eu dou as minhas opiniões e espero colaborar com o grupo de trabalho em alguns pontos, mas a decisão fica sempre nas mãos dos meus colegas”, conta. Por isso mesmo, Gabriel Tong é incapaz de apre-sentar uma data para a possível apresentação da proposta Lei das Rendas, pois tal como defende só depende dos grupos de deputados. “Não lhe posso dizer quando será

apresentada, pode ser hoje, pode ser daqui a uns meses. Não sei”, explica.

PONTOS A ACERTARNas reuniões que teve com o grupo de trabalho, o deputado nomeado afirma-se satisfeito com o trabalho, apesar de considerar que existem pontos que devem ser melhorados.

“Concordo com toda a propos-ta, com as suas orientações e pontos a tratar”, afirma, explicando que é apenas à perspectiva técnica jurídi-ca que se refere – área que pode dar a sua opinião como profissional.

Segundo o também vice--director da Faculdade de Direito, o grupo de trabalho está a ter em consideração aspectos de muito “interesse para o cidadão”, tais como, o constante aumento das rendas, a relação entre o arrenda-mento e a gestão do condomínio, mas “no sistema com este rigor” a aplicação de todas estas questões “é difícil” e por isso deve a proposta “deve ser feita com calma”.

É PRECISO REGULAR Recorde-se que também o ano passado, o deputado Ho Ion Sang

mostrou a sua opinião defenden-do que o Governo deveria retirar o regime do arrendamento do Código Civil e criar uma Lei do Arrendamento. “Tem de se regular, especificamente, o mercado de arrendamento e, ainda, a adequada margem de aumento das rendas, tendo como objectivo o desenvol-vimento saudável do mercado de arrendamento de imóveis, o apoio às PME e o aumento da qualidade de vida da população”, afirmou na altura, relembrando que já existiu em Macau um Regime do Arren-damento Urbano que regulava que a actualização das rendas ou era acordada entre senhorio e arrenda-tário ou em função de coeficientes aprovados pelo então Governador. O regime foi revogado. “Podemos ver que, com vista a garantir que o aumento das rendas fosse justo para o arrendatário, o poder público impunha-se.”

Na altura, o deputado fez uso de exemplos de algumas lojas que fecharam na zona do Leal Senado e da San Ma Lou, devido ao aumento das rendas, para justificar o pedido, acrescentando até que o Governo quer apostar nas indústrias criati-vas e culturais, mas permite que as lojas destas áreas fechem devido aos preços. “Se nem estas con-seguem sobreviver no ‘mercado livre’, como podem as PME em geral conseguir, perante a pressão das rendas elevadas?”, questionou em sessão plenária da AL.

SEM SINAL DE VIDAContactado pelo HM, Tomé Qua-dros, um dos responsáveis pela iniciativa “Por uma renda justa”, petição entregue ao Chefe do Executivo em 2012, confirmou que, dois anos depois, ainda não há “qualquer resposta”.

“Ainda não é a altura de apresentaro projecto, porque há questões técnicas a queos colegas e a sua equipa de trabalho devem dar mais atenção, e por isso, devem sermais trabalhadas”GABRIEL TONG Deputado

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hoje macau terça-feira 30.9.20148 política

A ideia passa por facilitar a entrada de produtos oriundos dos países de língua portuguesa na China

FLORA FONG [email protected]

“U MA plataforma, três centros” é o conceito do Fórum para a Coo-peração Económica e

Comercial entre a China e os Paí-ses de Língua Portuguesa (Fórum Macau), que projecta a criação de um Centro de União e Distribuição de Alimentos dos países da Língua Portuguesa. Ontem foi proposto o primeiro local para um dos centros: a porta número um da Rua de S. Domingos.

Numa reunião extraordinária que decorreu ontem foi apresen-tada a ideia “Uma plataforma, três centros”, que inclui a criação de uma plataforma de mão-de-obra dos países envolvidos, da China e dos países de língua portuguesa, assim como de cooperação de empresas e intercâmbio e ainda a partilha de mensagens. Pretende-

FÓRUM MACAU CENTROS DOS PLP EM SÃO DOMINGOS

Uma porta para o continente

“A RAEM desempenha um papel muito singular e não é comparável a outras regiões, e atrás de Macau temos um vasto mercado doméstico na China”WANG YANG Vice primeiro-ministro chinês

AMBIENTE ANGELA LEONG PEDE REFORÇO DE POLÍTICAS

Dizer não aos resíduosCECÍLIA L [email protected]

A NGELA Leong tor-nou pública mais uma carta dirigida

ao Executivo, desta vez para pedir que o Governo implemente mais medidas de controlo aos resíduos que surgem nas ruas a seguir às festividades tradicionais.

A deputada e administra-dora da Sociedade de Jogos de Macau (SJM) referiu que durante o festival do ano novo lunar foram recolhidas quatro toneladas de lixo dos locais onde os residentes estiveram a observar a lua, pelo que exige medidas para reduzir a utilização de embalagens.

A deputada e empresária apresentou o exemplo da utilização dos sacos de plás-

tico, citando um estudo feito pela Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), que revela que fo-ram utilizados 450 milhões de sacos o ano passado, o que dá uma média de 2,2 sacos utilizados diariamente por cada residente.

“Uma grande quantida-de de resíduos vão causar a poluição do ambiente”, escreveu Angela Leong, que pediu ainda mais publicida-de por forma a sensibilizar a população. A deputada frisou ainda que a maioria das políticas não passam de actos de voluntariado ou encorajamento dos locais, não tendo efeitos práticos.

“A medida mais eficaz seria o pagamento dos sacos de plástico usados. O exem-plo mais clássico seria im-plementar um imposto sobre

a sua utilização”, escreveu a deputada na carta, expli-cando que muitos países já o implementaram, como é o caso de Hong Kong em 2007, a China em 2008 ou o Canadá em 2009.

Esses casos “podem servir de referência a Macau. Até o director da DSPA, Cheong Sio Kei, disse que o Governo iria fazer uma consulta pública sobre a utilização de sacos plásticos no próximo ano”, escreveu.

DSPA É LENTAUma vez que cada saco de plástico demora entre 50 a

100 anos para ser eliminado pela natureza, Angela Leong defende que as medidas am-bientais não podem esperar mais.

“A DSPA começou os estudos há dois anos, mas depois do relatório do ano passado não houve mais avanços. A eficácia desta direcção de serviços é preo-cupante. Espero que as au-toridades façam os trabalhos o mais depressa possível, como a recolha dos dados e a publicação das informações. Não pode fazer um trabalho lento”, apontou a deputada e empresária.

Defendendo que a cons-ciência ambiental dos resi-dentes aumentou, Angela Leong diz que, na prática, ainda é difícil ter uma vida sem poluição. “Espero que o Governo possa fortalecer a execução das medidas relacionadas com a protec-ção ambiental, por forma a criar um estilo de vida mais amigo do ambiente”, concluiu.

450milhões de sacos de

plástico utilizados em 2013

-se também criar um Centro de Serviços Comerciais de Pequenas e Médias Empresas, um Centro de União e Distribuição de Alimentos dos Países da Língua Portuguesa e Centro de Exposições de Coope-ração Comercial.

A PRIMEIRAJackson Chang, presidente do Ins-tituto de Promoção do Comércio e do Investimento (IPIM), anunciou a porta número um da Rua de S. Domingos, como a possível futura casa do Centro de União e Distri-buição de Alimentos dos Países de

Língua Portuguesa. O presidente esclareceu que os participantes da reunião reagiram “positivamente” à proposta apresentada, adiantando que o IPIM não tem descurado a comunicação próxima com os departamentos de comércio e de

exame de qualidade da China, para que o papel da plataforma apresen-tada seja desenvolvida, fazendo com que, no futuro, os alimentos dos países de língua portuguesa possam entrar de forma mais rápida no interior do continente.

Um dos vogais executivos do Conselho de Administração do IPIM, Chan Keng Hong, também presente na reunião, afirmou ainda que já foi criado um grupo que tem como responsabilidade, juntamente com outros departa-mentos, elaborar e impulsionar a proposta da plataforma, criar o site electrónico, bem como tratar de todas as questões relacionadas com o momento de recolha de alimentos apontada para acontecer durante a Feira Internacional de Macau (MIF).

RECONHECIMENTO DE PEQUIMRecorde-se que, em Novem-bro passado, Wang Yang, vice primeiro-ministro chinês, tinha confirmado a ideia de ser criado um centro de serviços de comér-cio para as Pequenas e Médias Empresas (PME) e um centro de distribuição de produtos ali-mentares, agora mencionado. Foi ainda equacionada a hipótese de se criar um centro de exposições e convenções dos PALOP, sem esquecer outro mecanismo focado no bilinguismo.

“A RAEM desempenha um papel muito singular e não é com-parável a outras regiões, e atrás de Macau temos um vasto mercado doméstico na China. Concordamos por unanimidade que Macau é insubstituível e estamos a pensar criar um centro de apoios às PME e um centro de apoio a convenções e exposições”, afirmou na altura, adiantando que existia um consen-so dos países e todas as entidades estavam a trabalhar para a concre-tização desses consensos.

Jackson Chang, Presidente do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento (IPIM)

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O IAS divulgou também os dados mais

recentes que compõem o “sistema de registo central dos indivíduos afectados pela pro-blemática do jogo”, referentes ao ano pas-sado. Conclui-se que um em cada quatro pessoas que pedem

ajuda trabalham como croupiers, sendo que 40% realiza trabalho por turnos.

No geral, o sistema de registos teve, entre Janeiro e Dezembro de 2013, um total de 98 casos. Mais de 60% dos casos de pedidos de apoio correspon-dem a indivíduos ca-

sados, sendo que dois terços dos pedidos de ajuda foram feitos por homens. Em 90% dos casos os indivíduos são portadores de BIR, sendo apenas 10% dos indivíduos desempregados.

Em mais de 50% dos casos os indiví-duos ganham mais de

14 mil patacas, sendo que 20% não possui dívidas de jogo. No caso dos devedores, 60% devem montan-tes superiores a 100 mil patacas. O IAS calcula ainda que 70% dos indivíduos que pedem apoio são con-siderados jogadores patológicos. - A.S.S.

ANDREIA SOFIA [email protected]

N UM território onde o jogo é rei e senhor, qual a análise que se pode fazer ao comportamento

feminino na hora de jogar a dinhei-ro? Um inquérito encomendado pelo Instituto de Acção Social (IAS) à Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Macau (UM) revela que 57,6% das mulhe-res residentes inquiridas preferem jogar com amigos ou família, como, por exemplo, em sessões de mahjong ou apostas na lotaria Mark Six de Hong Kong, sendo que estes jogos representam 53,50% do total de inquiridos. Apostar em casinos surge em segundo lugar, com 17,28%, enquanto que o jogo em espaços de slot-machines surge na terceira posição, com 15,60%.

INQUÉRITO MULHERES JOGAM MAIS NAS LOTARIAS E NO MAHJONG

Muito lá de casa

MAIORIA NÃO PROCURA AJUDA O estudo pedido pelo IAS revela ainda que apenas 30% das mulheres inquiridas conhece os centros de tratamento e apoio no combate ao vício do jogo, enquanto que “90% das jogadoras problemáticas não pretendem procurar ajuda. Metade das inquiridas não se vêem com problemas nem estão informadas sobre as instituições de aconselhamento e tratamento”. O inquérito mostra mesmo que “apesar de conscientes da influência negativa do jogo, são poucas as jogadoras que procuram ajuda”. Por isso, o IAS considera que deve-se “diminuir a participação feminina nas actividades de jogo e procurar apoio específico quanto antes”. Tal trabalho deve ser feito através de campanhas de sensibilização, afirma o organismo.

UM EM CADA QUATRO QUE PEDEM AJUDA SÃO CROUPIERS

O trabalho e o vício

médio de apostas com familiares e amigos é de 200 patacas, nas slot-machines é de 160 patacas e nos casinos é de 300 patacas. “Em comparação com as outras três actividades, a aposta em casinos

regista grandes variações de gastos. Em termos de gastos mensais, a média das actividades mais prati-cadas de jogo não excede as 500 patacas”, revela ainda o documento publicado no website do IAS.

Um inquérito promovido pelo Instituto de Acção Social revela que mais de 50% das mulheres jogadoras em Macau não vão aos casinos jogar. Preferem apostar em lotarias como o Mark Six ou jogar Mahjong, com os amigos. Os dados mostram ainda que a maioria não procura ajuda para se libertar do vício

Apesar de 20% das mulheres entrevistadas afirmarem jogar sozinhas, 26% afirma não excluir jogar na companhia de amigos e familiares (22%). “Elas participam no jogo por o considerarem uma actividade de relacionamento so-cial e outras vezes jogam por serem convencidas pelos amigos ou à força do relacionamento no circulo de amigos”, revela o inquérito.

PORQUE JOGAM AS MULHERES DE MACAU?Quais são então os motivos pelos quais as residentes optam por gas-tar o seu tempo livre a jogar? As apostas são, sobretudo, motivadas “pelo relacionamento social, o alívio do aborrecimento, a procura da excitação ou eventualmente pelo ganho de dinheiro, como a inveja dos outros por ganharem dinheiro rápido”.

Contudo, as mulheres não buscam apenas lucros financeiros, mas também “entradas, comida e bebida e até o facto de poderem desfrutar do ar condicionado” nos espaços de jogo. As mulheres que têm maior relacionamento social “são capazes de começar a jogar mais cedo”.

As apostas são motivadas “pelo relacionamento social, o alívio do aborrecimento, a procura da excitação ou eventualmente pelo ganho de dinheiro, como a inveja dos outros por ganharem dinheiro rápido”

200patacas é o valor médio das apostas nas mesas de mahjong

O estudo encomendado à UM estabelece ainda a relação entre o tempo dedicado pelas mulheres ao trabalho doméstico e o jogo. “As inquiridas que levam menos tempo a fazer o trabalho domestico têm valores mais elevados do motivo de relacionamento social, valorização pessoal e alívio do aborrecimento que as levam a ter mais tempo”, o que significa que há uma ligeira tendência para jogarem mais.

IAS PEDE ESTUDO MAIS APROFUNDADODepois de tornar público o inquérito, o IAS considera que são necessários dados mais concretos sobre esta faceta do jogo. “Embora a amostra do inquérito seja representativa das jogadoras adultas de Macau, contem apenas uma proporção pequena de jogadoras problemáticas e patológi-cas. Daí um estudo futuro com dados de uma amostra clínica mais vasta, a fim de avaliar com mais eficácia os factores de risco e prevenção, bem como o resultado de diferentes tratamentos da adição do jogo.”

O inquérito, referente a dados de 2013 e que resulta de inquéritos feitos por telefone a 1013 entre-vistadas, mostra ainda que o valor

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FIL IPA ARAÚ[email protected]

N A cerimónia oficial da tomada de posse para o cargo de vice-reitora da Universidade de São José

(USJ), Maria Antónia Espadinha afir-mou que esta nomeação, para além de ter sido uma surpresa, representa “um desafio muito grande”.

Sem levantar muito o véu quan-to ao futuro, a nova vice-reitora, explica que os primeiros tempos servirão para a mesma se inteirar “de tudo o que há para fazer”, assim como, apresentar as suas ideias à equipa com quem irá trabalhar.

Questionada pela imprensa local, Maria Antónia Espadinha não conta que ideias são essas, mas garante que, tal como afirmou o reitor da USJ, Pe-ter Stilwell, “há um interesse grande em desenvolver uma componente de língua portuguesa”.

Sem esconder o grande interes-se que tem pela área, a vice-reitora afirma ainda que acredita que se possa “melhorar as condições da língua portuguesa” no estabeleci-mento de ensino superior.

“Penso que talvez possamos melhorar as condições da língua portuguesa aqui, onde ela já é en-sinada”, afirmou à imprensa, adian-tando que a aposta na formação de professores, aspecto que, segundo a mesma, “muito falta em Macau”, seja o primeiro caminho a seguir.

DISCURSANDONo seu discurso de boas-vindas aos novos membros, Peter Stilwell mencionou, por várias vezes, a ligação com Portugal e o interesse dos dois Governos nesta ligação. Aproveitando o tempo de antena, o reitor fez ainda referência ao momento polémico pelo qual atravessou a USJ em 2012, ano em que o próprio assumiu o cargo. Na altura a universidade foram lançadas algumas suspeitas, nos meios de comunica, sobre o modo de financiamento da USJ.

“Em 2012, quando fui no-meado, tinha havido um grande escândalo nos media, e também nos

Eric Sautedé “Forma distorcida de lusotropicalismo” em Macau

USJ MARIA ANTÓNIA ESPADINHA TOMOU POSSE

Novas caras, novo rumonão media, sobre a Universidade de São José. Fundos que tinham sido dedicados pelo Governo para a construção do novo campus, dizia-se que não tinham sido bem geridos. Foi nesse contexto que a Fundação Católica sentiu que era necessário fazer uma ruptura em termos de direcção, introduzir uma nova equipa que pudesse esclarecer o assunto. E foi isso que fizemos ao longo dos últimos dois anos e o que referi no meu discurso”, explicou.

Para o actual reitor as relações com a Fundação Macau, com o Governo e outras entidades “já estão totalmente esclarecidas e claras”, garantindo ainda que as entradas dos fundos depois da sua entrada, e toda

a gestão dos até então recebidos, são “totalmente transparentes”.

CALEM-SE PARA SEMPRE“Sobre esse assunto eu não tenho comentários”, disse o reitor da USJ quando, à margem da cerimónia, a imprensa o questionou sobre o des-pedimento do professor de Ciência Política, Eric Sautedé. Tentando perceber se o caso polémico tinha de alguma forma influenciado o número de inscrições do presente ano de aluno, Peter Stilwell voltou a frisar que não iria fazer qualquer tipo de comentário sobre o tema.

Assumindo a mesma posição estive também o vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa,

José Tolentino Mendonça, que em declarações à imprensa disse que não mais comentava esse assunto. “Já foi dito, da minha parte, tudo o

que havia a dizer, não tenho mais nada a dizer”, frisou.

CARA LIMPAA Portugal nada chega, isto é, se-gundo José Tolentino Mendonça, as polémicas que têm envolvido a entidade de educação não passam as fronteiras. “A imagem que nós temos é que a USJ está a crescer com muita consistência e a fazer um caminho, construindo a sua identidade e a sua presença. A ideia que temos não é de uma universidade polémica, pelo contrário, é de uma universidade onde a normalidade da vida acadé-mica se respira e é uma universidade que transmite muita confiança den-tro – para quem trabalha - e para o exterior”, afirmou.

A tomada de posse aconteceu ontem, nas instalações da USJ. Os académicos Maria Antónia Espadinha, Susana Mieiro e Cheng Yang assumiram os seus cargos de vice-reitora, Administradora e Pró--reitor, respectivamente.

“EU estou no topo da lista das licenciatu-ras na história de Sorbonne, tenho um

diploma e um mestrado em ciências políti-cas....”, assim reage Eric Saudeté, às declara-ções do vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa, José Tolentino Mendonça, que afirmou publicamente estar o despedimento do académico directamente relacionado com o “seu percurso académico e os graus que são necessários para ensinar a longo prazo numa universidade”.

Sem meias medidas, Eric enviou um email aos meios de comunicação onde, para além de apresentar uma lista de formação superior, em diversos países, relembra as suas várias competências profissionais, tais como a de autor de diversas publicações

e ter ocupado o cargo de director de uma publicação bilingue.

O académico, depois do resumo, questiona José Tolentino Mendonça: “O que faz, na sua opinião, alguém ser um bom académico? A relevância e profundidade dos conhecimen-tos académicos, partilhados em publicações académicas, não é um dos principais critérios da escolha? E as suas capacidades de ensino? É a obrigação de aceitar a diversidade dos pontos de vistas e perspectivas?”. Questões que Eric não deverá ver respondidas porque, tal como hoje afirmou o vice-reitor, não mais irá comentar o assunto.

Referindo-se ao segundo ponto apresen-tado pelo vice-reitor, em que afirma que não é apropriado um académico comentar sobre

a política local, caso coloque a universidade numa “situação delicada”, e isso pode de facto ser um motivo de despedimento, Eric reage: “Obviamente em Portugal, democracia e a justiça social não entram em contradição com a doutrina social da igreja – ambas são universais. Em Coimbra, o professor Ming K. Chan dando a sua opinião sobre o meu assunto, caracterizou-o de ‘nova inquisição’. Eu, claro, não concordei com a perspectiva, embora na minha opinião a direcção da diocese de Macau tenha de alguma forma sido alterada com toda esta confusão, mas acredito que exista uma forma distorcida do ‘lusotropicalismo’ aqui [Macau]. Felizmente, parece que só afecta os mais fracos e possuidores de mentes obscuras. Eu nunca esperei apoio do Sr. Stilwell e do Sr. Mendonça”.

Maria Antónia Espadinha

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ANÚNCIO DE ESCLARECIMENTO

ACADEMIA DE TALENTO DE MACAU, LIMITADA, deseja publicar o presente anúncio para esclarecer que certas acusações lan-çadas contra ANA MARIA MANHÃO SOU e LUÍS MIGUEL MA-NHÃO SOU, desde o ano de 2013 até à presente data, pela nossa so-ciedade, pelo Centro de Educação de Talentos de Macau, que explora-mos, pelos nossos sócios e/ou pelos nossos administradores, quer em jornais quer noutros meios de comunicação electrónicos, se deveram a um mal-entendido entre a nossa sociedade e as pessoas envolvidas. A sociedade pretende esclarecer que tais imputações não são verdadeiras.

ACADEMIA DE TALENTO DE MACAU, LIMITADA

CONVOCATÓRIA PARA REUNIÃO

Ao abrigo do disposto no artigo 14.º dos Estatutos da Sociedade de Investimento Imobiliário Fong Keng Van, S.A., com sede em Macau, na Avenida da Praia Grande, n.º 409, Edifício China Law, 25.º , matriculada na Conservatória dos Registos Comercial e de Bens Móveis sob o nº 7623 (SO), a sócia Jade Desenvolvimento Hoteleiro, Lda. convoca para uma Assembleia Geral extraordinária, a realizar no próximo dia 15 de Outubro de 2014, pelas 9:00 horas na Avenida da Praia Grande, nº 759, 3º andar, em Macau, com a seguinte ordem de trabalhos:

1. Alteração dos estatutos da sociedade;

2. Alteração da sede social;

3. Nomeação de representante, procurador ou advogado para intervir em acções judiciais;

4. Designação e exoneração dos membros do conselho de administração.

Macau, 30 de Setembro de 2014

Jade Desenvolvimento Hoteleiro, Lda

É já no início da próxima semana, dia 6 de Outubro, que será implementada a proibição total do fumo

nos casinos, mas há cada vez mais críticas e suspeitas sobre eventuais violações à nova disposição legal. Desta vez três presidentes de asso-ciações ligadas à protecção do am-biente e diversões de jogo lançaram críticas ao Governo, acusando-o de não ter determinação na implemen-tação da nova regra, além de “jogar com as palavras”.

No programa de televisão “Fórum Macau”, transmitido este domingo no canal chinês da TDM, participaram Chan Weng Un, pre-sidente da Associação da Defesa de Ambiente de Macau, Wu Kin Wai, presidente da Associação de Proprietários e Profissionais dos Recintos de Diversões de Macau, bem como Choi Kam Fu, da As-sociação de Empregados de Mesa.

POUCO RIGOROs três convidados considera-ram que, embora a Lei de Pre-

Ung Choi Kun Casas em Zhuhai são “salvação”

Trabalhadores ilegais21 em AgostoDurante o mês de Agosto foram fiscalizados pelas autoridades políciais 484 locais onde foram encontrados 19 trabalhadores ilegais. Dos seis locais fiscalizados pela Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais, foram encontrados dois trabalhadores ilegais. As operações de fiscalização decorreram em algumas obras de construção civil, residências, estabelecimentos comerciais e industriais.

CCAC PSP acusadode burla e falsificação Um agente da PSP foi acusado pelo Comissariado contra a Corrupção (CCAC) de burla e de falsificação de documento. Segundo a autoridade o suspeito “suspeito aproveitou-se, por várias vezes, dos seus regimes de assiduidade falsificados para receber de forma fraudulenta o vencimento”. Os crimes ocorreram entre 2012 e 2014, em que o suspeito para além de chegar continuamente atrasado, e sair mais cedo, faltava muitas vezes ao trabalho. “O arguido utilizou por aproximadamente 100 vezes os registos de assiduidade falsificados para encobrir as suas faltas injustificadas de forma a defraudar o serviço de que depende, recebendo de forma fraudulenta o vencimento num montante superior a 50 mil patacas”, lê-se no comunicado. O agente poderá enfrentar agora uma pena de prisão até seis anos.

DSEC Trabalhadorescom uniformeOs entrevistadores da Direcção dos Serviços de Estatísticas e Censos (DSEC) irão passar a usar uniforme que permitirá “salvaguardar a segurança dos dados e estimular a cooperação”, segundo informa a direcção. A DSEC “acredita que a implementação desta medida vai ao encontro do interesse dos inquiridos, que desta forma facilmente identificam os entrevistadores, ficando salvaguardada a segurança dos dados pessoais e dos estabelecimentos. Ao mesmo tempo é reforçada a confiança do público nas estatísticas oficiais, o que contribui para estimular a vontade de colaboração dos inquiridos, assim como beneficia a qualidade dos dados recolhidos”, pode ler-se na nota à imprensa.

“O Governo não tem determinaçãonos trabalhos de proibição do fumo do tabaco nos casinos, e tem falta de umplano completo”CHAN WENG UN Presidente da Associação da Defesa do Ambiente de Macau

A interdição total de tabaco nos casinos está prestes a entrar em vigor. No entanto, várias associações continuam a desconfiar da real implementação desta medida

FUMO NOS CASINOS ASSOCIAÇÕES ACUSAM GOVERNO DE CONDESCENDÊNCIA

Executivo “joga com as palavras”

venção e Controlo do Tabagis-mo tenha sido implementada há dois anos, a experiência revelou que o Governo é condescenden-

te face às operadoras de jogo. “Ultimamente têm havido casi-nos que transformam uma parte da sala do jogo de massas em

O ex-deputado e presidente da Associação dos Empresários do Sector Imobiliário

de Macau, Ung Choi Kun, considera que o facto do Governo de Zhuhai ter, nos últimos anos, mudado a política de compra de casa e flexibilizado as regras, que acabou por beneficiar os residentes de Macau.

“O preço do imobiliário em Zhuhai é inferior em cerca de 10%, por isso é um mercado atraente para alguns residentes de Macau”, disse o deputado à TDM, que considerou que as casas na região vizinha

podem servir de “salvação” a quem quer comprar casa. Contudo, Ung Choi Kun frisou que, como ainda há muita procura por habitação, os preços não deverão descer antes de 2016.

Já o académico Larry So defende que a compra de casa em Zhuhai fica dependente da futura abertura de fronteiras, tendo defendido que esta é uma “questão chave”.

A agência Centaline Property realizou uma conferência de imprensa onde disse que o negócio da compra e venda de casas caiu 20% no terceiro trimestre deste ano, mas que estes números representam um ajustamento do mercado, e não uma quebra. Na mesma conferência foi dito que o desenvolvimento de Hengqin pode ajudar o mercado imobiliário em Macau. - C.L.

espaços VIP para evitar a nova lei. Isso é apenas uma maneira de dividir, e demonstra que o Governo não tem determinação nos trabalhos de proibição do fumo do tabaco nos casinos, e tem falta de um plano completo. Está a brincar com as palavras e não está atento à saúde dos funcionários do jogo”, disse Chan Weng Un, presidente da Associação da Defesa do Am-biente de Macau.

Chan Weng Un disse ainda que alguns edifícios foram construídos em edifícios de matriz comercial, pelo que o sistema de ventilação não consegue eliminar totalmente o fumo dos casinos. O presidente da associação considera que deveria ser implementada a proibição em todos os espaços dos casinos. Tendo como base as experiências já obtidas nos restaurantes, Chan Weng Un acredita que o fim do fumo não vai influenciar gravemente as receitas das operadoras. - F.F.

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16 hoje macau terça-feira 30.9.2014EVENTOS

O GRANDE LIVRO DAS TRADIÇÕES POPULARES PORTUGUESAS •João Viale MoutinhoCada dia do ano é uma entrada onde se apresentam algumas das mais importantes tradições populares portuguesas. Um reencontro quotidiano com adivinhas, lengalengas, rimas, pensamentos, lendas, pequenas histórias e outras tradições escritas e orais que povoam o nosso universo desde a mais tenra idade.

O SEU SIGNO ASTROLÓGICO LUNAR•David WellsÉ possível que você se tenha considerado um Escorpião a vida inteira; quão surpreendido ficaria se soubesse que, do ponto de vista emocional, o seu signo é Gémeos? Talvez vários amigos e familiares apontem o seu gosto pela ordem e organização, tão típicos do signo Virgem… mas agora você pode responder-lhes que, na verdade, você também possui a impetuosidade típica de um Aquário! Muitos de nós conhecem o seu signo solar, mas desconhecem que também têm um signo lunar. O Seu Signo Astrológico Lunar combina os seus signos lunar e solar para lhe apresentar um perfil único da sua personalidade, a partir da sua data e hora de nascimento. Um guia útil, acessível e prático que lhe permitirá encarar-se a si mesmo e às pessoas mais importantes da sua vida a partir de uma perspectiva completamente nova, de forma a viver relacionamentos mais autênticos e satisfatórios.

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Conrad é 21º na lista dos melhores para conferências

EXPOSIÇÃO DE SEBASTIÃO SALGADO CHEGA A HONG KONG DIA 15

O povo a preto e branco

Ópera “Norma de Bellini” quinta-feirana Fundação Rui Cunha

Instituto Cultural Subsídios paraBárbara Barreto Ian e Ana Cardoso

Os leitores da revista online SmartTravelAsia.com elegeram o hotel Conrad, no Sands Cotai Central, como um dos melhores no top 25 para a realização e organização de conferências. No total de 25 empreendimentos hoteleiros, o Conrad

Macau ficou em 21º lugar. De frisar que, na mesma votação realizada o ano passado, o espaço hoteleiro do Sands Cotai Central tinha ficado em ultimo lugar. 70% dos votantes neste inquérito são da Ásia e Austrália, 15% da Europa e outros 15% dos Estados Unidos.

As estilistas locais Bárbara Barreto Ian e Ana Cardoso, juntamente com a irmã Nair Cardoso, são três das 12 pessoas e três grupos seleccionados pelo Instituto Cultural (IC) para usufruírem do Programa de Subsídios à Criação de Amostras de Design de Moda, lançado em Junho. No grupo das pessoas escolhidas na fase inicial constam ainda os nomes de Andrea Prado Marques, Patrícia Alexandra Ferreira Soares, Carmen Leng ou Leong Man Teng, entre outros. Estes seleccionados irão receber no máximo até 10 mil

patacas, que servirão de “compensação para a execução e apresentação das amostras”. A segunda fase de análise terá lugar no dia 8 de Novembro, sendo que os oito vencedores receberão um subsídio no valor de 150 mil patacas, já para a realização de vários modelos de roupa. O IC garante que das 23 inscrições recebidas, foram aceites 21, tendo duas sido desqualificadas por falta de informações apresentadas. 40% dos candidatos são “novos e mais de metade dos candidatos têm as suas marcas já registadas”.

A Fundação Rui Cunha apresenta esta quinta-feira, dia 2 de Outubro, por volta das 18h30, a ópera “Norma de Bellini”, feita por Raul Pissara no âmbito do Festival Internacional de Música de Macau. Segundo um comunicado, a apresentação “irá

situar a referida ópera na história do melodrama italiano, com especial referência ao seu autor e ao libreto. As partes musicais mais importantes serão focadas, nomeadamente a área Casta Diva, assim como a vocalidade das personagens”.

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17 eventoshoje macau terça-feira 30.9.2014

S ÃO fotografias a preto e branco feitas no Brasil, na Índia, no Equador. Dentro

delas, a natureza em estado puro e a humanidade. Estas imagens compõem a expo-sição do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado em Hong Kong, a qual terá inauguração no próximo dia 15 de Outubro às 18h30, estando patente na galeria de arte Sundaram Ta-gore até ao dia 7 de Dezembro deste ano.

Segundo um comunicado de imprensa, a exposição celebra os 35 anos de carreira daquele que é considerado um dos mais importantes fotógra-fos da actualidade. No total, estarão presentes 35 imagens de cinco séries de trabalhos desenvolvidos por Sebastião Salgado. As séries “Génesis”, “Workers” (trabalhadores, e “Migrants” (migrantes) tam-bém estarão representadas.

O mesmo comunicado en-

viado às redacções lembra que Sebastião Salgado já teve o seu trabalho patente em luga-res importantes da arte, tendo exposto a série “Génesis”, que demorou oito anos a ser con-cretizada, no Museu Nacional de Singapura, bem como no novo Centro Internacional de Fotografia de Nova Iorque. O trabalho de Sebastião Salgado também está presente no Mu-seu de Arte Moderna em Nova Iorque, o Instituto de Arte de Chicago ou ainda o Museu de Arte em Los Angeles, entre outros lugares.

Criada em 2000, a gale-ria de arte Sundaram Tagore apresenta-se no catálogo desta exposição como tendo o objectivo de estabelecer uma ponte entre a cultura oriental e ocidental. Em Hong Kong, a galeria está situada na zona de Central, na Hollywood Road, tendo também presença em Nova Iorque e Singapura. - A.S.S.

Paula BichoNaturopata e Fitoterapeuta • [email protected]

HOJE NA CHÁVENA

Nome botânico: Gentiana lutea L.Família: Gentianaceae.Nomes populares: Argençana; Argençana--dos-pastores; Genciana-amarela; Gencia-na-das-boticas; Genciana-das-farmácias; Genciana-maior; Grande-genciana.

Com cerca de 60 anos de longevidade, a Genciana é uma planta de crescimento lento que pode atingir mais de um metro de altura. Apresenta caule ereto, simples e folhas grandes ovaladas, opostas e com nervuras convergentes; as flores são grandes e vistosas, de um amarelo vivo, e nascem aos cachos, a primeira surgindo apenas aos 10 anos de vida; a raiz é volu-mosa, chegando aos 6 kg de peso. Habita os prados e encostas soalheiras das regiões montanhosas da Europa, encontrando-se em risco de extinção em alguns locais em virtude de colheitas desordenadas.O seu nome provém de Gentius, filho de Pleuratos III, Rei da Ilíria (atual Albânia) que, segundo a lenda, no século II a.C., teria revelado as suas virtudes medicinais. A ela também se referia Dioscórides, no século I, quando dizia que a sua raiz bebida com água, socorre os doentes do fígado e do es-tômago. Atualmente é uma das plantas mais apreciadas como aperitivo e digestivo. Em fitoterapia são usados as raízes e rizomas.

COMPOSIÇÃOCompostos amargos (genciopicrósido, amarogencina), pigmentos amarelos, glú-cidos, lípidos, fitosteróis, pectinas, ácidos orgânicos, sais minerais, vitamina C e óleo essencial em quantidades vestigiais. Cheiro acre característico, sabor muito amargo e persistente.A amarogencina é uma das substâncias mais amargos que se conhecem, conser-vando o seu sabor amargo numa diluição de uma parte em 50 milhões.

AÇÃO TERAPÊUTICAConsiderada um tónico amargo de exce-lência, a Genciana é uma das melhores plantas para fortalecer o organismo, uma vez que estimula e tonifica todo o sistema digestivo: aumenta a secreção dos sucos digestivos (salivares, gástricos, pancreá-ticos e bílis) abrindo o apetite e facilitando

a digestão, fortalece o funcionamento do estômago e o peristaltismo, e melhora as funções do fígado e vesícula; combate ainda os parasitas intestinais. É especialmente recomendada na falta de apetite e anore-xia, vómitos, digestões lentas, escassez de sucos gástricos, estômago descaído, flatulência e vesícula preguiçosa; podem igualmente beneficiar com a sua toma os anémicos, asténicos e convalescentes, bem como em caso de debilidade ou exaustão. Ajuda a controlar os níveis de açúcar no sangue dos diabéticos.Depurativa, a Genciana estimula ainda a capacidade de defesa do organismo e com-bate a febre, sendo igualmente antioxidante e anti-inflamatória. Tem sido usada na febre e para aumentar a resistência às infeções.

COMO TOMAR• Uso internoMaceração: 1 colher de sopa por litro de água fria, 4 ou 5 horas de maceração. Tomar 3 chávenas por dia, como aperitivo, ½ hora antes das refeições, depois, como digestivo. Não adoçar. Se for desagradável o seu intenso sabor amargo pode-se aro-matizar com Erva-doce (acrescentar umas sementes durante a maceração).Na forma de ampolas, tintura, xarope, cáp-sulas ou comprimidos, a Genciana integra variadas fórmulas tónicas e depurativas, aperitivas e digestivas, para a diabetes e a saúde do estômago e intestinos, fígado e vesícula biliar.

RECEITA – VINHO MEDICINAL DE GENCIANADeixar a macerar durante 7 dias, 20 gramas de raiz de Genciana num litro de vinho branco de boa qualidade. Filtrar e guardar numa garrafa bem rolhada. Tomar um cáli-ce, um quarto de hora antes ou depois das refeições. Indicado na obesidade.

PRECAUÇÕESEm pessoas sensíveis pode ocasionar um aumento exagerado da secreção gástrica. Contraindicada em caso de gastrite e úlcera gastroduodenal, gravidez e lactação (os compostos amargos fazem rejeitar o leite materno). Em doses não terapêuticas pode provocar náuseas e vómitos. Em caso de dú-vida, consulte o seu profissional de saúde.

Genciana

José Mário Branco

distinguidoem Itália

O cantor, compositor e poeta José Mário

Branco, de 72 anos, rece-be em Outubro o Prémio Tenco 2014, atribuído pelo Clube Tenco, em Sanremo, Itália, que homenageia o cantor italiano Luigi Tenco, falecido em 1968.

Segundo a promotora de José Mário Bran-co, citada pela Lusa, “esta distinção pretende destacar a carreira do cantautor português e a contribuição que a sua obra e activismo tiveram no desenvolvimento das artes e da sociedade”.

O artista português fará uma participação no espectáculo musical que se realiza no Teatro Del Casinò, na cidade de Sanremo, que conta com a participação da cantora grega Maria Farantouri, do colectivo checo Plas-tic People od Universe e do índio norte-americano John Trudell.

O Prémio Tenco existe desde 1974 e já galardoou artistas como Vinicius de Moraes, Jacques Brel, Leonard Cohen, Tom Waits e Cae-tano Veloso, assim como os portugueses Sérgio Godinho e Dulce Pontes.

O prémio será atribuí-do no dia 02 de Outubro, numa cerimónia marcada para a cidade italiana de Sanremo.

EXPOSIÇÃO DE SEBASTIÃO SALGADO CHEGA A HONG KONG DIA 15

O povo a preto e brancoHong Kong recebe a segunda exposição a solo do fotógrafo brasileiro entre os dias 15 de Outubro e 7 de Dezembro, numa iniciativa da galeria de arte Sundaram Tagore

35imagens

5séries de trabalhos

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21CHINAhoje macau terça-feira 30.9.2014

O governo da China anunciou neste domingo a retira-

da das restrições a inves-timentos estrangeiros para vários sectores industriais – do chá verde a motores de aviação civil – numa zona de livre comércio especial no centro de Xangai.

As novas regras afectam 27 segmentos industriais,

A China e a Espanha assinaram acordos comerciais no valor

de cerca de 3,2 mil milhões de euros, durante visita do primeiro-ministro espa-nhol, Mariano Rajoy, na semana passada à potên-cia asiática, em busca de apoio à economia de seu país. Numa cerimónia em Pequim, empresas chinesas e espanholas assinaram 14 acordos envolvendo secto-res que vão das telecomu-nicações à energia nuclear passando pelas finanças.

Rajoy foi recebido na capital pelo primeiro-mi-

DOIS CONDENADOS À MORTE POR ASSASSÍNIO DE UIGUR

O imã que ficou no frio

RETIRADAS RESTRIÇÕES A INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS

Xangai, meu amorCHINA E ESPANHA ASSINAM ACORDOS COMERCIAIS

Um olé que vale milhões

Tribunal teve mão pesada para os extremistas que mataram imã moderado

D OIS homens foram condenados à morte e um outro a prisão per-pétua pelo assassínio de

um imã muçulmano da minoria uigur na província chinesa do Xinjiang, informa a imprensa oficial chinesa.

Jume Tahir, imã da maior mesquita da China – a de Id Kah, na cidade de Kashgar, principal centro histórico e cultural da etnia uigur, de religião muçulmana – foi assassinado no dia 20 de Julho.

Dois dos presumíveis autores do crime foram mortos a tiro pela polícia, enquanto um terceiro foi capturado. O detido, Nurmemet Abidilimit, foi condenado à morte

no domingo por um tribunal de Kashgar, tal como Gheni Hasan, considerado o responsável pelo grupo.

O imã Jume Tahir era conheci-do pela sua afinidade em relação à linha oficial do regime e por criticar a crescente violência em Xinjiang, onde os confrontos entre a etnia uigur e a han – maioritária na China – se têm intensificado e alastrado a outras regiões, resul-tando até em graves atentados.

Pequim tem atribuído os inci-dentes a grupos separatistas e ‘jiha-distas’ que, na sua opinião, actuam em Xinjiang em colaboração com células terroristas no estrangeiro.

TERRORISTAS CONDENADOSOutras três pessoas foram conde-nadas à morte no passado dia 12 de Setembro pela sua participação no ataque a uma estação de comboios no sul do país, ocorrido em Março, no qual morreram 33 pessoas, incluindo quatro dos atacantes.

No final de Agosto, a China executou oito pessoas conside-

radas culpadas pelos ataques “terroristas”, incluindo três indi-víduos que, segundo indicaram, planearam o atentando perpetrado em Outubro último na Praça de Tiananmen, que fez cinco mortos e 40 feridos.

Neste contexto de crescente tensão étnica e de violência, Pe-quim condenou, este mês, à pena de prisão perpétua, por separatis-mo, o intelectual Ilham Tohti, o activista uigur mais conhecido da China e uma das poucas vozes des-ta comunidade que criticou aber-tamente mas de forma moderada a política do regime comunista na região ocidental de Xinjiang.

A sentença contra Ilham Tohti, antigo professor de Economia numa das mais reputadas univer-sidades da capital, foi denunciada por grupos de direitos humanos e pela comunidade internacional que alertaram para a possibilidade de o castigo imposto à “voz mode-rada dos uigures” poder contribuir para elevar ainda mais a tensão naquela região da China.

incluindo automobilístico e construção, e representam uma mistura de concessões que se aplicam em outras partes do continente. Al-guns dos limites de inves-timentos de empresas es-trangeiras em joint venture com companhias chinesas subirão de 49% para 51% ou mais. Essa medida inclui o sector de transportes,

informou o Conselho de Estado da China.

Nalguns outros seg-mentos, como empresas de desenvolvimento de tecnologia para comboios de alta velocidade, com-boios de passageiros, iates e navios de luxo, a proprie-dade única de empresas estrangeiras será permitida somente na zona de Xan-gai. Noutras áreas do país a companhia precisará ter um parceiro local, informa o comunicado.

O governo chinês do presidente Xi Jinping re-conheceu a necessidade de implementar reformas de longo prazo na econo-mia em desaceleração do país, trocando o modelo de crescimento baseado no comércio para um foco em investimento no sector industrial.

As mudanças graduais até agora incluem o abran-damento de mecanismos de controlo sobre os em-préstimos bancários e o estabelecimento de zonas de livre comércio em Xangai.

nistro Li Keqiang, após uma reunião de executivos de empresas chinesas e espanholas em Xangai, onde Rajoy encorajou investimentos da China em Espanha, dizendo que a economia espanhola retomou o rumo após os problemas durante a crise da dívida na zona do euro.

“Poucos países ofe-recem oportunidades de investimento tão boas como a Espanha com o seu mercado aberto e compe-titivo”, disse Rajoy, acres-centando que as indústrias de alimentação e de bens

de consumo são áreas onde as empresas de ambos os países podem aumentar a cooperação.

Entre os 14 pactos estão um acordo entre a chinesa Huawei Techno-logies, maior fabricante de equipamentos de tele-comunicações do mundo, e a gigante espanhola de telecomunicações Telefó-nica; e um contrato de 150 megawatts na província de Hebei para a fabricante de turbinas eólicas Gamesa Corporation Tecnologia.

A Espanha é um dos poucos pontos económicos luminosos na zona do euro neste ano. O país cresceu ao ritmo mais rápido em seis anos no segundo trimestre, acelerando a sua recuperação de uma recessão que começou em 2008, depois do estouro da bolha imobiliária.

As empresas chinesas investiram US$ 90,2 mil milhões em 156 países no ano passado, segundo dados do governo, alta de 17% face ao ano anterior.

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22 china hoje macau terça-feira 30.9.2014

O principal órgão de acusação da China lançou uma campanha

de seis meses que tem os suspeitos de corrupção como alvo, especialmente aqueles que fugiram para o exterior, à medida que o governo de Xi Jinping reprime a corrup-ção, segundo reportagem da agência de notícias Xinhua.

O órgão pediu aos pro-motores que colaborem com outros departamentos, como a polícia e tribunais, para melhorar a eficiência do sistema. “A China nunca vai deixar autoridades corruptas escaparem da punição da lei”, disse Qiu Xueqiang, vice procurador-geral da Procuradoria, citado pela agência Xinhua. Qiu disse que os promotores devem aumentar os esforços para prevenir que tais autoridades deixem o país.

O Ministério de Segurança Pública anunciou sábado pas-

Alibaba anuncia nova aquisição Depois de conseguir 25 mil milhões de dólares com a sua oferta inicial de acções (IPO, na sigla em inglês), o grupo chinês de comércio on-line Alibaba realizou seu primeiro investimento. A companhia anunciou a aquisição de 15% do capital da Beijing Shiji Information Technology. O valor do negócio foi de 458 milhões de dólares. A empresa de tecnologia é voltada para o sector hoteleiro, distribuindo os seus produtos em hotéis de luxo na China. Alguns de seus principais clientes são o Grant Hyatt Hotels, Marriott International e Westin Hotels. A entrada na Bolsa de Nova Iorque do Alibaba tornou o seu fundador, Jack Ma, no homem mais rico da China. Na IPO, Jack Ma embolsou mais de 800 milhões de dólares com a venda de parte das suas acções da companhia. Ao mesmo tempo, a participação de 7,8% que mantém no grupo está avaliada em mais de 17 mil milhões de dólares. A revista chinesa Hurun calcula a fortuna total do empresário em 25 mil milhões de dólares, o que faz dele o homem mais rico do país.

Internet Contra extremistas e terroristasA China quer uma acção global contra o uso da Internet por extremistas religiosos e terroristas, para levantarem recursos e comunicarem. O ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi, fez o pedido na Assembleia Geral da ONU, em Nova York. “Conforme os novos desenvolvimentos na luta global contra o terrorismo, a comunidade internacional deveria tomar novas medidas para os abordar”, disse Wang. “Em particular, deveria concentrar-se no combate ao extremismo religioso e ciberterrorismo, eliminando as raízes e bloqueando os canais de difusão do terrorismo e extremismo”, disse. Wang acrescentou que os países deveriam “combater duramente e efectivamente o uso da Internet e outras novas formas de comunicação usadas por terroristas para instigar, recrutar, financiar ou planear ataques terroristas”.

Xi Jinping edita livroFoi publicado recentemente o livro de Xi Jinping “A Governança da China” em versões multilíngues, editado pelo Gabinete de Imprensa do Conselho de Estado, junto com o Gabinete de Pesquisa de Literatura do Comité Central do Partido Comunista e pelo Grupo Internacional de Publicação da China. O livro é dividido em 18 capítulos, contendo 79 artigos, discursos, palestras e cartas de congratulação feitos por Xi Jinping entre o dia 15 de Novembro de 2012 e 13 de Junho de 2014. Para ajudar os leitores a conhecerem melhor Xi Jinping, 45 fotografias foram incluídas no livro. A publicação tem versões em chinês, inglês, francês, russo, árabe, espanhol, português, alemão e japonês.

A SANTA CASADA MISERICÓRDIA FELICITA A REPÚBLICA

POPULAR DA CHINAPELA PASSAGEM DO SEU

65.º ANIVERSÁRIO

CAMPANHA PROCURA FUGITIVOS ECONÓMICOS

Ninguém está segurosado ter localizado 102 suspei-tos de crimes económicos que fugiram para o exterior, além de ter prendido 61, quatro dos quais escoltou da Tailândia para Pequim no mesmo dia.

Trazer fugitivos econó-micos de volta à China é visto como tarefa complicada, uma vez que não há tratado de extradição entre a China e os Estados Unidos e outros

governos estrangeiros têm expressado relutância em entregar esses suspeitos, por medo que sejam condenados à morte na China.

Em Agosto, uma au-toridade do Ministério de Segurança Pública foi citado pelos media estatais dizendo que 150 fugitivos económi-cos chineses estavam nos Estados Unidos.

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23REGIÃOhoje macau terça-feira 30.9.2014

O Japão continua à espera de esclarecimentos sobre o sequestro de vários cidadãos nipónicos, na Coreia do Norte, entre1977 e 1983

D IPLOMATAS do Japão e da Coreia do Norte reuniram-se ontem, na cidade chinesa de

Shenyang (noroeste) para discu-tir o atraso na investigação que Pyongyang encetou ao sequestro de japoneses desde a década de 1970.

A reunião de um dia, em terri-tório chinês, ocorre a pedido das autoridades nipónicas inquietas com os lentos progressos da in-vestigação iniciada em Julho pela Coreia do Norte que prometeu concluí-la até ao final do verão.

O próprio regime norte-coreano informou que um comité de investi-gação especial encetou, no passado dia 04 de Julho, uma exaustiva investigação sobre todos os resi-dentes japoneses no país.

AS autoridades japonesas informaram ontem que as

equipas de salvamento encon-traram mais cinco corpos perto do cume do monte Ontake, na região central do país, cujo vulcão entrou, este sábado, em erupção.

“Encontramos mais cinco pessoas em paragem cardíaca na montanha”, disse o porta--voz da polícia de Nagano, à agência AFP, usando o termo que os socorristas têm invocado para designar as vítimas que não apresentavam sinais vitais, mas cujo óbito não foi atestado por um médico.

Estas vítimas juntam-se a 27 outras identificadas como estando na mesma situação. Isto porque o mais recente balanço oficial continua a confirmar so-mente a morte de quatro pessoas – cujos corpos foram retirados no passado domingo pelas equipas de salvamento. Já o número de feridos ascende a 63.

A operação de resgate en-volve cerca de 540 pessoas, incluindo polícias, bombeiros e

A pequena empresa de solu-ções de telefonia móvel da

Coreia do Sul anunciou ontem em Seul que vai intentar uma acção contra a gigante norte--americana Apple por violação de patentes em tecnologia de serviços de mensagens.

A Infozone, que conta com sete funcionários, considera que o serviço iMessage da Apple – instalado em diversas versões do iPhone desde Julho de 2011 – infringe uma das patentes re-gistadas na Coreia do Sul, disse o presidente da empresa, Park Myeun-heum, à agência Efe.

A patente em causa diz respeito à tecnologia relativa à mudança automática entre diferentes redes de transmissão de dados aquando do envio de mensagens de texto dependen-do se o terminal que o recebe é Apple ou pertencente a outra marca.

A acção abarca todos os dispositivos da gigante norte--americana, incluindo os que funcionam com o novo sistema operativo iOS8, segundo indica a agência noticiosa espanhola.

Park Myeun-heum afirmou que vai decidir o montante a reivindicar à Apple depois de con-sultar um advogado, adiantando que vai solicitar uma ordem de suspensão das vendas dos pro-dutos da Apple na Coreia do Sul.

Os responsáveis da Apple em Seul não se pronunciaram sobre o assunto, segundo a Efe.

A nova denúncia chega quase dois meses depois de a maior empresa tecnológica do país – a Samsung Electronics – ter assinado um acordo com a Apple para colocar um ponto final nas disputas judiciais que ambas mantêm sobre patentes dos seus produtos fora dos Es-tados Unidos.

TÓQUIO E PYONGYANG DISCUTEM CASO DE SEQUESTROS

A eterna investigação

Em 2002, a Coreia do Norte admitiu 13 dos sequestros. Porém, depois de fazer regressar a casa cinco cidadãos sequestrados, Pyongyang assegurou que os restantes morreram ou nem sequer pisaram território norte-coreano

Patentes Empresa sul-coreana vai processar Apple

Japão Mais cinco vítimas junto ao vulcão Ontake

membros do exército, dos quais 60 estavam, esta manhã, no topo da montanha a tentar retirar os corpos, numa tarefa dificultada pela escassa visibilidade e pelos gases tóxicos emanados do vul-cão, informou a cadeia televisiva pública NHK.

O monte Ontake, o segundo mais alto vulcão do Japão, a seguir ao do Monte Fuji (3.776 metros), localizado a uma cen-tena de quilómetros da cidade de Nagoya, começou a expelir fumo, rochas incandescentes e cinzas no sábado, e continuou, desde então, a lançar resíduos, de acordo com a Agência Me-teorológica nipónica.

32mortos

63feridos

O anúncio de Pyongyang ocor-reu depois de o Governo japonês ter acordado levantar parte das sanções unilaterais impostas à Coreia do Norte como resposta a realização desta investigação.

PRIMEIRA ETAPAContudo, a Coreia do Norte in-dicou, a 18 de Setembro, que a investigação sobre o paradeiro dos cidadãos japoneses no país estava, todavia, na sua “fase inicial”, pelo que o resultado atrasar-se-ia pelo menos até ao próximo ano.

O Japão solicitou o encontro depois de considerar o regime norte-coreano era “incapaz” ou “não tinha interesse” em esclarecer o que aconteceu aos 17 japoneses que, entre 1977 e 1983, foram sequestrados pela Coreia do Norte para ministrarem aulas de línguas e cultura no âmbito dos seus pro-gramas de formação de espiões.

Em 2002, a Coreia do Norte admitiu 13 dos sequestros. Po-rém, depois de fazer regressar a casa cinco cidadãos sequestrados, Pyongyang assegurou que os res-tantes morreram ou nem sequer pisaram território norte-coreano, uma versão colocada em causa até hoje pelo Executivo nipónico.

Na sequência da última reunião oficial entre diplomatas de Tóquio e Pyongyang, a 01 de Julho, em Pe-

quim, o Japão levantou as sanções unilaterais que impôs à Coreia do Norte, país com o qual não mantém relações diplomáticas, em jeito de resposta à investigação.

Desde então tiveram lugar en-contros secretos na China e na Ma-lásia – entre Agosto e Setembro –, durante os quais Pyongyang exigiu a Tóquio que aliviasse ainda mais as sanções em troca da publicação de um primeiro relatório, informou a agência japonesa Kyodo.

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24 hoje macau terça-feira 30.9.2014

hARTE

S, L

ETRA

S E

IDEI

AS a revolta do emir Pedro Lystmann

N ÃO será a partir da leitura deste livro que a audição das Suites para Violonce-lo, de João Sebastião Bach,

sofrerá particular alteração. Mas para aqueles para quem elas constituem uma criação superior, uma colecção colori-da de apontamentos biográficos e al-gumas trivialidades, acompanhadas de muitas referências bibliográficas úteis, não poderá causar qualquer dano.

Confesso que este livrinho me ir-rita um pouco. Não tanto pelo que nele se encontra mas porque ele excita em mim uma propensão cos-cuvilheira que preferia não admitir quando o seu assunto são as Suites. Criar uma relação entre a vileza da coscuvilhice e estas peças sublimes é um exercício que eu desejaria não ter de fazer mas o livro de Eric Siblin enganou-me o suficiente para que o tenha feito.

O texto original destas peças para violoncelo, que até podem ter sido compostas para outro instrumento, perdeu-se. Isso eu sabia. Mas não sabia que as Suites tinham sido descobertas por Pablo Casals um pouco por aca-so, uma história de mistério com um final feliz. Este livro proporciona esse interesse suplementar. Sabê-lo não al-tera significativamente o modo como as ouço, e pode pensar-se que esta circunstância acrescenta até um ruído desnecessário a um conjunto de peças que não precisam de qualquer comple-mento.

Assim se introduz um outro tipo de irritação perante uma bisbilhotice des-necessária. Mas, infelizmente, apetece ler Cello Suites. Este reproduz em seis ca-pítulos os seis andamentos de cada uma das seis suites. 36 andamentos, 36 capí-tulos. Os dois ou três primeiros capítu-los dedicados a cada suite debruçam-se sobre Bach, as restantes até ao quinto andamento são dedicadas a Pablo Ca-sals e o último andamento a uma histó-ria bem mais recente, a do trabalho de Eric Siblin.

As Suites são também muito seme-lhantes na sua estrutura. Têm todas seis andamentos. Começam por um Prélude, seguidas de uma Allemande, uma Courante e uma Sarabande, respectivamente uma dança de origem alemã, uma de origem francesa (mesmo que Bach tivesse usa-do courantes de origem italiana) e uma de origem ibérica, mesmo que muito alterada. O quinto andamento é o úni-co que varia de suite para suite: duas

THE CELLO SUITES, ERIC SIBLINGavottes, duas Bourrées e dois Minuetes, tudo danças francesas na altura con-sideradas “modernas”, ao contrário do que acontece com as três primeiras. Fi-nalmente, o sexto andamento é sempre uma Gigue.

Como muita gente sabe, quem se começa a interessar pela Bachiana corre o risco de se tornar um pouco obses-sivo. Pouco culpado deste abandono o autor destas linhas sugere, contudo, que se ouçam os Préludes ou as Gigues,

ou qualquer outro dos andamentos, de seguida. O Prélude da primeira suite é rápido e suave, o quarto muito grave e insistente, o da quinta longo e severo, o da sexta extremamente moderno. To-dos eles são bastante diferentes e todos eles são uma introdução perfeita à suite que iniciam.

The Cello Suites pode igualmente ler--se deste modo, apenas os capítulos de-dicados à vida de Bach, os dedicados a Casals, ou os finais, em que se contam

as peripécias por que o autor passou para compor o livro. É giro. Não per-turba.

O livro denuncia um propósito de se exibir como uma obra de suspense e delicia-se na demonstração de vários episódios da vida de Bach, de Casals e da sua própria construção de uma ma-neira por vezes policial.

São muitos os assuntos tratados, uns com mais detalhe, outros com uma intensão de superfície: os retra-

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25 artes, letras e ideiashoje macau terça-feira 30.9.2014

SIBLIN EXIBE UM DELEITE JUVENIL POR ALGUNS DOS MISTÉRIOS QUE RODEIAM AS SUITES BWV 1007-1012. QUEM TERIA SIDO O MISTERIOSO SENHOR SCHOUSTER A QUEM É DEDICADA A SUITE PARA ALAÚDE, VERSÃO DA QUINTA SUITE PARA VIOLONCELO, A ÚNICA COM DUAS VERSÕES? QUAL A RAZÃO QUE ESTÁ POR TRÁS DAS INÚMERAS COINCIDÊNCIAS NUMEROLÓGICAS EM TANTAS OBRAS DE BACH?

tos existentes (apenas dois) do com-positor; queixas contra a indisposição do seu primeiro biógrafo em fornecer mais pormenores sobre o homem e sua vida; o nacionalismo catalão de Pablo Casals e de seu pai, Carlos, ou o modo como as interpretações de Casals fo-ram apreciadas pelos apologistas, mais ou menos radicais, da execução com instrumentos e interpretação da época – consideradas demasiado “românticas” e infiéis para os seus rigorosos padrões históricos.

É uma discussão que se tornou, pas-sados 40 anos, um pouco enfadonha. Não é descabido lembrar que morreu a semana passada, dia 24 de Setembro,

o fundador (em 1973) e principal rosto da Academy of Ancient Music, Chris-topher Hogwood, uma das figuras mais influentes da interpretação suposta-mente fiel à época. Um artigo inte-ressante, publicado a semana passada, complementa a intenção obituária lem-brando que é hoje igualmente intensa a propensão para rejeitar a inflexibili-dade que os adeptos da música anti-ga, “historicamente informada”, têm imposto nas últimas décadas. Que um autor tenha sugerido cortar Hogwood aos pedaços e usar os seus ossos para cozinhar caldo, é indicador suficiente de como esta questão tem excitado pai-xões.

Cabido será lembrar que em Macau dará em breve um concerto Jordi Sa-vall, presumo que com alguns elemen-tos do Hespèrion XXI (formado como Hespèrion XX em 1974), um conjunto que representa uma tendência interpre-tativa semelhante àquela que tornou Hogwood conhecido em todo o mun-do (mesmo que muito mais abrangente temporal e geograficamente que o gru-po do maestro inglês recém falecido).

É com propriedade que no volume aqui em apreciação se informa o leitor sobre vários tipos de interpretações diferentes deste conjunto de peças, desde as de Rostropovich às de Pieter Wispelwey, passando por nomes como os de Janos Starker, Misha Maisky, Ste-ven Isserlis, Pierre Fournier ou Anner Bylsma.

Voltemos a Casals. A história da descoberta das pautas das suites é co-movente. Apenas com 13 anos, Pablo e seu pai, Carlos Casals, encontraram, numa pequena loja de artigos de músi-ca em segunda mão, na Calle Ample, em Barcelona, junto de umas sonatas para violoncelo de Beethoven, uma cópia das pautas do conjunto que se viria a tornar um dos mais famosos e dos mais interpretados do reportório clássico. Foi no ano de 1890. A edição que os Casals descobriram mostrava, na capa, o seguinte título: Six Sonatas ou Suites pour Violoncelle Seul. Estudou-as diariamente, informa Siblin, durante 12 anos, até as apresentar pela primeira vez em público.

Igualmente excitante são as poucas páginas dedicadas à vulcânica relação que Pau Casals manteve com a violon-celista, certamente a mais famosa do seu tempo, Guilhermina Augusta Xa-vier de Medim Suggia mais tarde, por casamento, também Carteado Mena. Se nestas páginas surgirem no futuro umas linhas bisbilhoteiras sobre a bela violoncelista isso não deve causar sur-presa.

Num dos capítulos dedicados ao

contacto com a música de João Sebas-tião Bach por Eric Siblin, uma das Gi-gues do livro, este lembra um concerto em que se interpretou uma ária recen-temente descoberta numa caixa de sa-patos (em 2005).

Estas Gigues do livro tendem a mos-trar, mais do que as secções dedicadas a Bach ou Casals, um tom quase policial, e nelas o autor compraz-se a contar, com visível emoção, como alguns ma-nuscritos foram descobertos há pouco tempo, e como a todo o momento tal pode suceder de novo.

Nestes capítulos conta-se, em epi-sódios muito vivos, o trabalho de pes-quisa que informa o livro Siblin, um trabalho, por vezes, de perseguição de pistas que se revelam cada vez mais frias até desaparecerem ou de enredos que se adensam. Esta técnica cobre o livro de uma inegável originalidade.

Para além deste gosto pelo mistério,

insinua-se, deste modo, nas suas pági-nas, um impulso futuro, uma curiosida-de sobre que manuscritos poderão vir a ser descobertos assim como, a páginas tantas, uma curiosidade sobre a evolu-ção do hábito de assistência a concer-tos de musica clássica. Não é apenas a sua linguagem que permanece acessível mas também a inocência e a honestida-de da sua relativamente recente paixão por esta música.

Siblin exibe um deleite juvenil por alguns dos mistérios que rodeiam as suites BWV 1007-1012. Vários apli-cam-se à quinta suite. Quem teria sido o misterioso Senhor Schouster a quem é dedicada a suite para alaúde, ver-são da quinta suite para violoncelo, a única com duas versões? Qual a razão que está por trás das inúmeras coinci-dências numerológicas em tantas obras de Bach? Por que razão a quinta suite, BWV 1011, é a única que pede uma scordatura, um exercício comum no vio-lino mas raro no violoncelo?

Ainda mais misterioso, a BWV 1012 é feita para um instrumento de uso limitadíssimo, um violoncelo com 5 cordas. Terão estas peças sido com-postas a pensar no violoncelo piccolo, um instrumento de menor dimensão e sem espigão de que existiam exempla-res de 4 e 5 cordas? *

A revelação, feita em 2006 por um Professor de Darwin, Martin Jarvis, de que as suites (acerca das quais existe a suspeita de que foram escritas para ou-tro instrumento que não o violoncelo) podem ter sido escritas não por João Sebastião mas pela sua segunda mulher, Anna Magdalena Bach, é lembrada no livro com excitação.

O capítulo dedicado à fortuna bio-gráfica dos vários filhos e netos de João Sebastião é muito interessante.

Este é um livro útil. Esta utilidade descobre-se na descrição apaixonada que Siblin, um anterior articulista de música roque, faz das Suites para Vio-loncelo por que se deixou encantar numa primeira casual audição ao vivo. Também se descobre junto da vasta bi-bliografia e aturadas notas que o acom-panham. O livro lê-se bem uma ou duas vezes e as Suites para Violoncelo ouvem-se durante toda a vida.

* Podem ouvir-se, para acrescentar um pouco de confusão, em viola da gamba, nomeadamente na interpretação de Paolo Pandolfo. De qualquer maneira, os leitores mais íntimos com a música do período barroco sabem que era, na altura, trivial que uma peça fosse interpretada em instrumentos diferentes e que se fizessem adaptações ou, até, se utilizassem frases musicais de outros compositores. Saberá igualmente que eram na altura usados instrumentos cujo uso se descontinuou, como o violoncelo piccolo ou o violoncelo dalla spalla.

COMO MUITA GENTE SABE, QUEM SE COMEÇA A INTERESSAR PELA BACHIANA CORRE O RISCO DE SE TORNAR UM POUCO OBSESSIVO. POUCO CULPADO DESTE ABANDONO O AUTOR DESTAS LINHAS SUGERE, CONTUDO, QUE SE OUÇAM OS PRÉLUDES OU AS GIGUES, OU QUALQUER OUTRO DOS ANDAMENTOS, DE SEGUIDA

Page 26: Hoje Macau 30 SET 2014 #3185

26 hoje macau terça-feira 30.9.2014h

Do arquivo do jornal The Guardian, 17 de Setembro de 1977: “Callas a divina está morta”

“M ARIA Callas, a cantora de ópera que colocou tanta paixão na sua vida como na sua arte,

faleceu ontem de ataque cardíaco no seu apartamento em Paris. Tinha 53 anos. A ‘divina Callas’ era o símbolo internacional das prima donne, tanto pela sua voz incomparável como pelos seus acessos de mau humor e pelo seu lon-go caso de amor com o armador grego Aristotle Onassis.

Callas não actuou em palco nos úl-timos quatro anos. Amigos seus referi-ram que a sua obsessão com o seu peso e dietas rigorosas contribuíram para a sua morte repentina. Callas foi afligida por problemas de peso durante toda a vida. Aos 20 anos, pesava 95kg. Nos anos cinquenta teve que fazer uma die-ta rigorosa, perdendo mais de 25kg em algumas semanas, para poder represen-tar papéis principais românticos.

O seu amigo próximo Lord Ha-rewood, director executivo da English National Opera Company, conside-rou ontem ‘exageradas’ as histórias das suas explosões temperamentais. Mas, acrescentou, ‘a lenda irá perdurar. Ela era uma verdadeira grande artista. Du-vido que alguma vez surja outra como ela nos nossos tempos. Ela era única. Ela era muito melhor em pessoa do que nos discos. Os discos não lhe fazem justiça.’ Referiu ainda que Callas nunca cantava em privado – ‘ela era uma artis-ta para o grande palco.’

Em Barcelona, a soprano Victoria de los Angeles irrompeu num pranto com a notícia da morte de Callas. ‘Al-guém muito, muito importante desapa-receu, para o mundo da música, para a arte – apesar de tudo o que se tem dito sobre ela.’

Maria Callas era filha de um farma-cêutico greco-americano de Brooklyn de apelido Kalogeropoulos e iniciou as suas lições de canto aos 8 anos de idade. Tinha 15 anos quando os seus pais se divorciaram. Partiu então para a Grécia com a sua mãe e prosseguiu os seus estudos no Conservatório de Atenas.

Desde a sua estreia na Ópera Real de Atenas, parecia que apesar da sua

Michel Reis

LA DIVINA VAI TER MUSEUE ACADEMIA DE ÓPERA

EM ATENAS EM 2015

voz excepcional o seu peso iria impedi--la de desempenhar os melhores papéis operáticos.

O seu sucesso eventual deveu-se em parte ao encorajamento do seu marido, o industrial italiano Gian Battista Meneghi-ni, que ela deixaria em 1959 após 11 anos.

A sua voz, com um alcance de três oitavas, fascinava os apreciadores de música, para além de ser uma actriz dramática de talento excepcional, che-gando a representar mesmo no filme ‘Medea’ de Pasolini, em 1970.

Mas a sua fama cresceu também através de uma série de incidentes dramáticos no palco e no seu caso de amor com Onassis – ‘o grande amor da minha vida’. Callas perdeu a voz várias vezes e foi-se abaixo em palco em al-gumas ocasiões, uma delas perante o Presidente italiano.

Não casou com Onassis, referiu uma vez, porque ‘o amor é muito me-lhor quando não se é casado’. Referiu também que não desejava mal a Jackie Kennedy e não se deixou desmoralizar pelo casamento.

Mas Harold Rosenthal, editor da revista Opera, a principal publicação de ópera, disse ontem que o fim do ro-mance e o subsequente casamento com Jackie Kennedy afectou Callas ‘psico-logicamente’. ‘Teve um enorme efeito nela. Deu-se o caso da sua vida musical ser dominada pela sua vida pessoal. Foi uma grande tragédia porque na década de 1952-1962 ela revitalizou pratica-mente sozinha a ópera italiana.”

Não obstante, a cantora ruiva con-tinuou a ser notícia e manteve a sua po-pularidade durante o seu afastamento dos palcos ao longo de oito anos até 1973. A sua breve digressão europeia, durante a qual cantou pela última vez em público na Europa em Paris, foi um triunfo apesar de evidentes problemas de voz.

A última imagem de Maria Callas foi ontem descrita pelo seu director ar-tístico, Michel Glotz, que a viu pouco depois de ela ter tido um colapso na sua casa de banho e morrido no seu lei-to. ‘Era a imagem de La Traviata que ela representou em 1956 no La Scala,’ dis-se. ‘O seu rosto não tinha sequer uma ruga. Parecia que ela estava apenas a descansar.”

Foi assim que o jornal britânico The Guardian noticiou a morte de Maria

Callas, no dia 16 de Setembro de 1977. 37 anos após a morte daquela que é considerada uma das maiores cantoras do século XX, a Grécia, não obstante a enorme crise económica que atraves-sa, presta homenagem a uma das suas filhas dilectas, com a fundação de um Museu-Academia de Ópera dedicada à grande soprano e à sua obra. A Aca-demia deverá abrir as portas em 2015, segundo a Associação para a Casa de Maria Callas.

Milhares de amigos e entusiastas de Callas juntaram-se no sopé da colina da Acrópole, no Odeon de Herodes Atti-cus (Herodeion), no dia 21 de Setembro, para uma gala de ópera organizada pela Associação e pela Ópera Nacional da Grécia. O concerto contou com a parti-cipação de solistas gregos e estrangeiros que cantaram as suas próprias versões das canções cantadas pela “Divina”.

O Museu Maria Callas deverá atrair visitantes de todo o mundo. Conside-rada uma das mais influentes cantoras de ópera do séc. XX, Callas permanece uma figura icónica e amada na Grécia hoje em dia. “Este Museu é o mínimo que podemos fazer para honrar a gran-de diva”, disse o Presidente da Câmara de Atenas, Yorgos Kaminis.

As receitas do concerto no Hero-deion reverterão para a renovação da casa neoclássica no centro de Atenas onde Callas viveu brevemente antes de regressar aos Estados Unidos, onde ficará instalada a Academia de Música. O custo do Museu, que se espera ex-ceder um milhão de euros, será subs-tancialmente coberto por fundos da União Europeia.

O museu irá proporcionar aos visi-tantes uma visão da expressão magistral de Callas e a oportunidade de desfru-tarem de excertos das suas actuações mais hipnotizantes – Norma e Tosca, por exemplo. Uma rica exposição audiovi-sual com fotografias emblemáticas e en-trevistas, para além de objectos pessoais da cantora, será apresentada em dois dos três andares do edifício. O museu irá também ter uma biblioteca dedicada à ópera e ainda uma sala para exposi-ções temporárias e pequenos concertos de ópera. No R/C será instalada uma loja temática do museu assim como um bistro chamado La Divina, onde os vi-sitantes terão a sorte de provar alguns dos pratos favoritos de Callas.

“A LENDA IRÁ PERDURAR. ELA ERA UMA VERDADEIRA GRANDE ARTISTA. DUVIDO QUE ALGUMA VEZ SURJA OUTRA COMO ELA NOS NOSSOS TEMPOS. ELA ERA ÚNICA. ELA ERA MUITO MELHOR EM PESSOA DO QUE NOS DISCOS. OS DISCOS NÃO LHE FAZEM JUSTIÇA”LORD HAREWOOD Director executivo da English National Opera Company

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27DESPORTOhoje macau terça-feira 30.9.2014

MARCO [email protected]

F OI chegar, ver e vencer de novo. A selecção de hóquei em patins de Macau conti-nua sem saber o que é um

rival à altura no mais vasto con-tinente do planeta. Os campeões asiáticos regressaram ao final da tarde de ontem a Macau com mais um título no palmarés, mas sem um troféu na bagagem. A organização do certame distribuiu medalhas por vencedores e vencidos, mas não atribui troféus colectivos e voltou a não distinguir nem o melhor mar-cador, nem o melhor guarda-redes. Hélder Ricardo, artilheiro-mor da prova com 28 golos, lamenta, mas diz ainda assim o importante é vencer. O avançado, de 30 anos, em breve entrevista ao Hoje Macau.

Mais um título continental e outra vez melhor marcador, não obstante as dificuldades na preparação da prova. Macau continua sem rival no âmbito do Campeonato Asiático de Hóquei em Patins?É verdade. Conseguimos trazer mais uma vez o título para Ma-cau. Foi difícil, ainda assim. Os resultados foram latos, as goleadas existiram, mas estes resultados exigiram de nós muito esforço e muita entrega. Todos os jogadores deram o seu melhor em todos os jogos, sem excepção.

Título à parte, a deslocação a Haining permitiu preparar de-vidamente o Mundial B que aí vem? Ou nem por isso?Sim, foi um bom ensaio. Não se pode comparar um Campeonato do Mundo, mesmo que um Mundial B a um Campeonato Asiático, mas esta ida à República Popular da China acabou por constituir uma boa oportunidade de preparar o de-safio que segue porque fazem-nos falta jogos e competitividade. Estas são as duas grandes lacunas com que Macau se depara e é o que falta

SÉRGIO [email protected]

S OB a batuta organiza-cional da Associação Automóvel de Hong

Kong (HKAA), o Circuito Internacional de Guang-dong recebeu o segundo evento da “Taça Corrida Chinesa”, competição que termina nas ruas da RAEM em Novembro. Macau fez--se novamente representar por cinco pilotos, mas desta vez Lei Kit Meng e Jerónimo Badaraco passa-ram o volante ao ex-piloto de F3 Michael Ho e ao macaense Hélder Assun-ção, sendo que este último acabou mesmo por “salvar

HÉLDER RICARDO SAGROU-SE MELHOR MARCADOR DO CAMPEONATO ASIÁTICO

“A taça que venha para a próxima,se a quiserem entregar”à nossa selecção para que possamos crescer mais e garantir uma maior projecção a título internacional.

Uma final inédita com Taiwan, um adversário que acabou por se revelar relativamente fácil de bater. O Japão acabou por ser a equipa que conseguiu resultados mais equilibrados, abaixo da de-zena. Frente a Taiwan, venceram por duas vezes com goleadas acima dos dez golos. Tendo em conta a participação no Mundial B, Taiwan era o adversário mais indicado para a final?A final, parece-me que acaba por ser um prémio justo para a selec-ção taiwanesa, porque Taiwan realmente fez por merecer marcar presença no encontro decisivo do torneio. Taiwan tinha perdido com a Índia na primeira fase e no sá-bado, dia em que se disputaram as meias-finais, todos estávamos à es-pera de disputar a final com a Índia, mas Taiwan deu-nos uma pequena lição sobre a imponderabilidade do desporto. Surpreendentemente ou não, Taiwan conseguiu ganhar à Índia e acaba por estar presente na final com mérito e por ser um justo segundo lugar.

Despediu-se uma vez mais do Campeonato Asiático de Hóquei em Patins com o estatuto de me-lhor marcador. Ainda assim, re-gressa a Macau sem o troféu com que habitualmente é distinguido o avançado mais eficaz. Desta vez, nem a própria selecção teve

AUTOMOBILISMO TAÇA CORRIDA CHINESA

Pódio para Macaua honra do convento” dos carros pintados de verde.

Numa pista que é do ple-no conhecimento dos pilotos

do território, ou não fosse o palco único das corridas de carros de Turismo de Macau, estes viram-se novamente

em dificuldades para se im-por face a uma concorrência munida com equipamento teoricamente igual.

Ao contrário do que é habitual em corridas de curta duração, esta foi dis-putada à noite, com as duas dezenas de BAIC Senova a rodarem com as luzes ligadas sob a iluminação artificial. Com o favorito David Zhu, vencedor da corrida disputada no mês passado na Ilha Formosa, a ficar cedo pelo caminho, foi Chan Xu, também ele a representar a associação automóvel da China Conti-nental, quem levou a melhor no sinuoso circuito da cida-de de Zhaoqing. Lo Sze Ho, piloto de Hong Kong que já subiu ao pódio na defunta “Corrida do Hotel Fortuna”, foi o segundo classificado.

Na sua estreia na com-petição patriota, Assunção foi o terceiro classificado, oferecendo à RAEM o pri-meiro pódio na disciplina. Jo Merszei obteve o sétimo lugar e Cheung Chi On, que tinha sido o melhor representante de Macau na prova inaugural, quedou-se pela nona posição.

Ainda com problemas de fiabilidade por resolver, ape-nas dez carros completaram as 21 voltas da corrida, sendo que Michael Ho e Ng Kin Veng não viram a bandeira de xadrez. A próxima etapa da “Taça Corrida Chinesa” será em Xangai, no circuito de Fórmula 1, organizado pela federação chinesa.

direito a troféu. É lamentável que tal aconteça?Sim, é verdade. De certa forma é lamentável. O Asiático realiza-se de dois em dois anos e não seria difícil diligenciar um troféu. São pequenas lembranças de valor simbólico que são importantes para a equipa e para os jogadores, sobre-tudo no que toca à motivação, mas o que importa verdadeiramente é que sejamos capazes de regressar com o título e não defraudámos nesse sentido. Voltámos com uma medalha e a taça que venha para a próxima, se a quiserem entregar...

Para além de ser uma pedra fun-damental da selecção de hóquei em patins, é responsável também pelo capítulo técnico da selecção de hóquei em linha. Uma vitória, a quinta posição ...O sexto lugar, o sexto lugar ...

O sexto lugar, sim. O balanço é um balanço positivo? A selecção de hóquei em linha de Macau é uma selecção com margem para evoluir?Sim. Temos uma equipa para evo-luir. Os atletas que integraram este grupo de trabalho que se deslocou a Haining é ainda relativamente jovem. O jogador mais velho tem trinta anos e os outros têm idades compreendidas entre os 20 e os 25 anos. Com um pouco mais de preparação e de competição, quem sabe se Macau não pode vir a ter também uma equipa campeã asiá-tica de hóquei em linha.

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28 publicidade hoje macau terça-feira 30.9.2014

O INSTITUTO PARA OS ASSUNTOS

CÍVICOS E MUNICIPAIS

FELICITA A REPÚBLICA POPULAR DA CHINA

PELA PASSAGEM DO SEU65.º ANIVERSÁRIO

ANÚNCIO【N.º 117/ 2014】

(N.º do processo: 02/CDH/2008)

No uso da competência delegada pela alínea 3) do n.º 19 do Despacho n.º 75/IH/2014, publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau n.º 35, II Série, de 27 de Agosto de 2014, e nos termos do n.º 2 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, vimos por este meio notificar SIO PUI LAN e LEONG FOK IP, promitentes-compradores da fracção do 8.º andar do Bloco II do Jardim Nam Ou, do seguinte:

Conforme as averiguações do Instituto de Habitação (IH), verificou-se que SIO PUI LAN e LEONG FOK IP, os promitentes-compradores da fracção do 8.º andar do Bloco II do Jardim Nam Ou, cederam a referida fracção para outro agregado familiar residir, com prova pelo auto de vistoria, fotografias e auto de inquirição e inspecção. Neste acto existe infracção, nos termos da alínea a) do n.º 1 do artigo 27.º do Decreto-Lei n.º 13/93/M , de 12 de Abril, “ O promitente-comprador que dê à fracção finalidade diversa da habitação própria fica sujeito às seguintes sanções: a) Rescisão do contrato-promessa de compra e venda, caso ceda, a título oneroso ou gratuito, a fracção para habitação exclusiva de outro agregado.”, de acordo com o Despacho do Vice-Presidente, exarado na proposta n.º 145/DAJ/2008, de 28 de Abril de 2008, decidiu rescindir o contrato-promessa de compra e venda da referida fracção.

Segundo os termos do artigo 28.º do decreto-lei acima referido, após a recepção da declaração de rescisão emitida pela empresa concessionária, de acordo com as respectivas disposições os promitentes-compradores devem entregar a fracção ao IH com vista a permitir a venda da fracção ao novo comprador. O montante integral resultante da nova venda, é gerido por este Instituto segundo as seguintes formas:

a) A diferença entre o preço inicial de venda e o preço actualizado reverte integralmente para o IH;

b) No caso de o promitente-comprador infractor não ter recorrido a empréstimo, 60% do valor inicial de venda é devolvido àquele, revertendo o remanescente para o IH;

c) No caso de o promitente-comprador ter recorrido a empréstimo, o montante em dívida é integralmente devolvido à entidade credora, 40% do preço inicial reverte para o IH e o remanescente, em relação àquele montante, é devolvido ao promitente-comprador infractor.

Nos termos do artigo 25.º do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 110/99/M, de 13 de Dezembro e do artigo 30.º da Lei n.º 9/1999, se não concordar com a referida decisão, poderão interpor recurso contencioso para o Tribunal Administrativo, no prazo de 30 (trinta) dias, a contar do dia da publicação do presente anúncio.

A Chefe da Divisão de Assuntos Jurídicos, Subst.a,

Wu Lai Fong26 de Setembro de 2014

Page 29: Hoje Macau 30 SET 2014 #3185

T E M P O A G U A C E I R O S M I N 2 6 M A X 3 1 H U M 6 5 - 9 5 % • E U R O 1 0 . 1 B A H T 0 . 2 Y U A N 1 . 3

ACONTECEU HOJE 30 DE SETEMBRO

Pu Yi

LÍNGUADE gATO

hoje macau terça-feira 30.9.2014 (F)UTILIDADES 29

João Corvo fonte da inveja

Se beberes do fel, compensa com mel.

C I N E M ACineteatro

SALA 1THE MAZE RUNNER [B]Um filme de: Wes BallCom: Dylan O’Brien, Kaya Scodelario14.00, 17.45, 19.45, 21.45

THE BOXTROLLS [A]FALADO EM CANTONÊSUm filme de: Graham Annable, Anthony Stacchi16.00

SALA 2THE EQUALIZER [C]Um filme de: Antoine Fuqua

Com: Denzel Washington, Cloe Grace Moretz, Melissa Leo14.30, 16.45, 19.15, 21.30

SALA 3A WALK AMONGTHE TOMBSTONES [C]Um filme de: Scott FrankCom: Liam Neeson14.00, 16.00, 18.00, 21.45

THE BOXTROLLS [A]FALADO EM CANTONÊSUm filme de: Graham Annable, Anthony Stacchi20.00

THE BOXTROLLS

H O J E H Á F I L M E

É impresso o primeiro livro do mundo: A Bíblia de Gutenberg• A era do papel começou a 30 de Setembro de 1452, com a impressão do primeiro livro do mundo. A Bíblia de Gutenberg é o incunábulo mais importante, uma vez que marca o início da produção em massa de livros no Ocidente. Neste dia, Fleming descobre a penicilina.A Bíblia de Gutenberg – cuja produção começou em 1450 – é o primeiro livro do mundo, criado nos primeiros tempos da imprensa com tipos móveis. Foi impressa da tradução em latim da Bíblia, por Johann Gutenberg, em Mainz, na Alemanha.Uma cópia completa desta Bíblia tem 1282 páginas, com texto em duas colunas, sendo que a maioria era encader-nada em dois volumes. Contém 73 livros e está dividida em Antigo Testamento e Novo Testamento. Acredita-se que foram produzidas 180 cópias, 45 em pergaminho e 135 em papel. Foram impressas, rubricadas e iluminadas à mão, ao longo de três anos.Outros factos históricos se assinalam neste dia 30 de Setembro. No ano de 1888, Jack o Estripador faz mais duas vítimas mortais e em 1915, em Nova Iorque, ocorre a primeira transmissão de rádio. Também neste dia, em 1928, Alexander Fleming descobre a Penicilina.Já em 1974, o general Costa Gomes assume a presidência da República, em Portugal, substituindo António de Spínola, e neste mesmo dia, em 1981, é abolida a pena de morte na França.Nasceram a 30 de setembro Jacques Necker, estadista francês (1732), Truman Capote, escritor e jornalista norte-americano (1924), Johann Deisenhofer, químico alemão (1943), Ehud Olmert, político israelita (1945), e Raúl Reyes, guerrilheiro colombiano (1948).

A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER(PHILIP KAUFMAN, 1988)

O filme baseado num dos mais importantes livros do escritor Milan Kundera conta a história de Thomas, um médico que vive na Checoslo-váquia dividido entre dois amores, interpretados pelas actrizes Juliette Binoche e Lena Olin. Até que os acontecimentos que deram lugar à “Primavera de Praga” rebentaram na capital do então país e acabariam por mudar a vida deste triângulo amoroso. Um filme de amor e erotismo, mas também de política e revolução. - Andreia Sofia Silva

Chegou a festaNão vou escrever que o centro histórico vai ficar paralisado com as celebrações dos 65 anos da criação da República Popular da China (RPC), mas o facto é que estas festas são o acontecimento mais esperado por quase toda a gente e para as quais todos estão a dar atenção. Se toda a gente tem uma opinião, aqui este gato também tem. Mas vamos falar de assuntos mais suaves, porque chegaram os feriados. Feriado. Esta é a palavra mais querida do mundo. Significa descanso e versões além do trabalho. Podemos aproveitar o tempo para ver o mundo de forma diferente para além da nossa secretária, que vemos todos os dias em que trabalhamos. Podemos aproveitar o sol para ler um livro, meditar durante a tarde ou tomar um café com os amigos. No geral, não precisamos de os preocupar com os assuntos que ficam de fora de nossa responsabilidade. O meu sonho é ter uma gata que fique comigo à janela a ver o lago Nam Van, a ver passar grupos de manifestantes que vão para a sede do Governo, a ouvirmos juntinhos os slogans que as pessoas gritam sobre o jogo. Podíamos discutir e trocar ideias. Essa seria a minha vida ideal, mas se calhar só podemos ter esse tipo de vida durante cinco dias ao longo do ano. De resto, não nos resta alternativa a não ser trabalhar. Miau!

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30 OPINIÃO hoje macau terça-feira 30.9.2014

H Á um enorme esforço di-plomático a decorrer nestes dias a propósito da quase guerra civil na Ucrânia. Mas os únicos actores que realmente interessam são a chanceler alemã Angela Merkel e o presidente da Rússia Vladimir Putin. São também os únicos actores

que estão a tentar efectivamente reduzi-la ao mínimo e chegar a algum tipo de acordo político.

Ambos são muito poderosos, muito focados nas questões essenciais, e ambos trabalham muito para cumprir esta difícil tarefa. São poderosos, mas não todo-po-derosos. Cada um deles tem de lidar com outros actores na Alemanha, na Rússia, na Ucrânia e noutros lugares, actores que não querem que se chegue a um acordo político; pretendem, pelo contrário, intensificar e ex-pandir o conflito, e por isso tentam sabotar quaisquer negociações entre Merkel e Putin.

A primeira coisa a notar é que cada um deles tem uma meta. A chanceler Merkel quer garantias de que a integridade territorial da Ucrânia seja completa e permanentemente honrada (com a excepção da Crimeia). O presidente Putin quer garantias de que a Ucrânia jamais será membro da NATO.

Quando se analisa a retórica de uma dis-puta pública, é importante observar não só o que é dito, mas também o que não é dito. Vamos relembrar as declarações públicas de Merkel, de Putin e de outros nos últimos dez dias de Agosto de 2014. A 3 de Agosto, a chanceler Merkel fez a sua primeira viagem a Kiev para se encontrar com o presidente ucraniano Petro Poroshenko e outros. Disse que iriam decorrer conversações de paz em Minsk entre Poroshenko e Putin a 26 de Agosto. Isto era positivo, observou, re-cordando porém a Poroshenko e ao mundo que as conversações não iriam produzir “um grande avanço”. Numa entrevista à televisão alemã ARD, observou: “Mas tem de haver conversações se se pretende encontrar uma solução”. E acrescentou: “Estou convencida de que só há uma conclusão política, para a qual a União Europeia e a Alemanha querem e devem contribuir.” Reparem na frase “só há uma conclusão política”.

A chanceler deu uma conferência de im-prensa com Poroshenko na qual sublinhou: “Não nos devemos concentrar num conflito militar”. E acrescentou estas palavras, que Poroshenko esperava não ouvir: “Tem de haver um cessar-fogo bilateral”. Poroshenko vinha defendendo um cessar-fogo unilateral, conseguido unicamente através da retirada de forças em Donetsk e Luhansk. Poro-shenko respondeu: “Infelizmente, sempre haverá uma ameaça militar à Ucrânia.

Houve outros jogos de palavras. Quando, depois de um atraso considerável, os camiões russos entregaram com sucesso o seu pacote humanitário em Luhansk e foram-se embora em seguida, Poroshenko chamou-lhe uma

Immanuel WalersteIn*in Esquerda.net

Merkel e Putin: diplomacia ucraniana

Será que o conflito na Ucrânia vai entrar numa escalada até chegar a um verdadeiro conflito militar baseado nos temasda Guerra Fria?

“invasão”. Merkel fez coro com o presidente dos EUA e afirmou que a ajuda russa era uma violação da soberania da Ucrânia, evitando cuidadosamente o termo “invasão”.

Quando Andriy Lysenko, o belicista porta-voz do conselho de Segurança Nacio-nal e Defesa da Ucrânia, acusou os russos de estarem a retirar equipamento militar para evitar exporem-se, Oleg Tsarev, presidente do Parlamento da Nova Rússia, que une as repúblicas do Donetsk e de Luhansk, disse que as acusações de Lysenko eram “estúpidas”, já que, argumentou, “se tivéssemos querido fazer isso, controlamos secções menos visíveis da fronteira e não o faríamos num “comboio humanitário sob os olhares do Mundo”.

Finalmente, reparem nisto: quando Putin respondeu a acusações de Obama de que a Rússia tinha enviado tropas para a Ucrânia e

estava a incentivar uma escalada do conflito, afirmou que russos e ucranianos “são pra-ticamente o mesmo povo”. O brinde, aqui, é o advérbio “praticamente”. Permite que Putin chegue um acordo negociado, o que não teria sido possível se estivesse ausente.

Nesta altura, começaram a ouvir-se outras vozes. Anders Fogh Rasmussen, o dinamarquês que é o secretário-geral ces-sante da NATO, um conhecido falcão, disse que a NATO iria decidir pela primeira vez o deslocamento das suas forças na Europa do Leste. É tão certo assim que é isto que a NATO vai decidir? Os membros da Europa ocidental têm-se oposto frontalmente a esta ideia, até o momento, considerando--a uma provocação directa à Rússia. Esta relutância cria particulares preocupações aos estados bálticos e à Polónia. Num artigo de opinião publicado no New York Times, Slawomir Sierakowski, conheci-do analista polaco, acusou esta política de transformar os estados da Europa do leste em “membros de segunda classe” da NATO e de ser “uma postura fraca, de joelhos, dos antigos membros da NATO, em particular da Alemanha”.

O impulso militar do governo ucraniano contra as regiões rebeladas titubeou forte-mente, expondo a sua fraca competência militar. Apesar de as movimentações russas

que se seguiram na área terem sido apontadas como uma nova grande ofensiva, é provável que Moscovo seja alvo apenas de mais algumas sanções. Não só os Estados Unidos, mas tam-bém a Grã-Bretanha, a França, e a Alemanha deixaram claro que não encaram a possibi-lidade de enviar tropas para a Ucrânia por alguma razão previsível. Sanções, sim, até certo ponto; tropas não. Mas o que o governo ucraniano está a pedir é tropas, assim como a entrada urgente na NATO.

A grande questão hoje é saber qual dos lados está a ser mais atingido pelas sanções e contra-sanções. Os Estados Unidos e a Europa ocidental esperam reduzir significati-vamente o rendimento real da Rússia reduzindo radicalmente a sua capacidade de exportar petróleo e gás. A Rússia, em resposta, cortou a compra de produtos agrícolas e outros da Europa ocidental. Isto não apenas afecta negativamente os produtores europeus, mas arrisca-se, a longo prazo, a privar os países europeus dos seus projectos de investimento na Rússia. A Rússia também aludiu a pôr fim à sua coope-ração na luta por reivindicar o direito ao petróleo do Ártico.

Provavelmente, ambas as partes serão crescentemente atingidas, em termos econó-micos, por estas sanções e contra-sanções. Entretanto, Obama terá de decidir até que ponto precisa da cooperação da Rússia para a sua nova prioridade de criar uma grande coligação para destruir as forças do Califado no Iraque e na Síria.

Será que o conflito na Ucrânia vai entrar numa escalada até chegar a um verdadeiro conflito militar baseado nos temas da Guerra Fria? Na esquerda, na direita e no centro do espectro político mundial há quem preveja que isto vai acontecer. Não acredito nisso – precisamente devido aos esforços de Merkel e de Putin, que vão-se manter, mesmo que a retórica se torne mais estridente.

Podem Merkel e Putin fazer um acor-do? Em teoria, é bastante possível. Como Henry Kissinger apontou enfaticamente no seu artigo de opinião no Washington Post, o elemento chave é a Finlandização. “[A Finlândia] não deixa dúvidas acerca da sua feroz independência e coopera com o Ocidente na maioria dos terrenos, mas evita cuidadosamente a hostilidade institucional em relação à Rússia”. A Finlândia é membro da União Europeia e da Eurozona, mas nunca pediu para entrar na NATO.

*Sociólogo e professor universitário norte-americano

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hoje macau terça-feira 30.9.2014

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NORMALMENTE, quan-do se fala da impossibilidade dos altos cargos, julgados pelo Tribunal de Última Instância (TUI), recorrerem das eventuais sentenças que lhes forem aplicadas, o público insurge-se contra o facto, pois entende-se (e bem) que todos devem ter direito a recorrer de uma decisão judicial. De facto, os juízes não são ser perfeitos e diversos condicionantes podem afectar ou infectar o seu julgamento. Deve ter sido por isso que os sistemas legais criaram a possibilida-de de recurso.Pois por aqui muito se la-menta, por exemplo, a sorte do pobre Ao Man Long, ali a definhar durante 28 anos em Coloane, sem ter tido a possibilidade de recorrer da pesada sentença que o TUI lhe aplicou. No entanto, a coisa deve igualmente ser interpretada no seu sentido exactamente contrário.Entendamo-nos: se os altos cargos não podem recorrer das decisões do TUI, o Mi-nistério Público encontra-se precisamente na mesma situação. E pode muito bem acontecer um caso em que o tribunal entenda que o acusado é inocente ou aplicar-lhe uma pena que o MP considere insuficiente. Se tal acontecer, o actual procedimento protegerá o titular do alto cargo.Ora olhando à volta, consi-derando a actual sociedade de Macau e a proximidade inevitável entre Poder e Justiça, parece-nos que a alteração desta lei se justifica mais pelo segundo caso do que pelo primeiro. No fun-do, a actual regra é injusta para os dois lados e não só para um. Claro que toda a gente deve ter direito a recurso, inde-pendentemente do cargo público que ocupa. Mas também é verdade que a acusação deve igualmente poder recorrer, sem que para isso conte a posição social do acusado. Resumindo: eis um procedimento legal que não serve gregos, nem troianos. Quem serão os persas nesta história?

O recurso e os persas

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“A ascensão de Lionel Leong é também explicada pelo facto de a família Ma estar hoje pouco representada na política.”BILL CHOU • ACTIVISTA

“O Governo, até agora, não deu grandes indicações em relação à questão da Lei da Sombra. Não devíamos simplesmente abandonar a lei. Deveria existir uma nova lei como alternativa.” AGNES LAM • ENERGIA CÍVICA

A grande mudança no nosso mundo é percebermos os limites dos discursos que se pretendem holísticos, que pretendem explicar tudo da realidade. Hoje percebemos os limites trágicos dessa perspectiva do mundo.JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA• POETA E SACERDOTE

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L I GUE - S E •PA R T I L H E •V I C I E - S E

Uma coisa que me era útil saber: finalmente, o que aconteceria se o movimento Occupy Central levasse a sua avante e o Chefe do Executivo de Hong Kong fosse escolhido por sufrágio universal? Será que no dia seguinte passaria a existir liberdade de expressão, de reunião e de associação? Será que a comunicação social passaria a escapar ao lápis azul da censura? Será que se passaria a viver num regime onde imperaria o estado de Direito (rule of law)? E, finalmente, Hong Kong garantiria a liberdade económica que lhe permitiria ser uma praça financeira mundial? Será isto que está em questão? Ou, nesse dia seguinte, começariam os procedimentos para declarar independência ou voltar ao domínio britânico? Pequim pede candidatos patrióticos. Pois, deve ser por isso...

POR CARLOS MORAIS JOSÉ

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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Cecília Lin; Flora Fong (estagiária); Leonor Sá Machado Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Hugo Pinto; José Simões Morais; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Tiago Quadros Colunistas Agnes Lam; Arnaldo Gonçalves; Correia Marques; David Chan; Fernando Eloy ; Fernando Vinhais Guedes; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau Pineda; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva ([email protected]) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail [email protected] Sítio www.hojemacau.com.mo

PRÉMIO TURNER Uma empregada da galeria vê um vídeo do artista nomeado Duncan Campbell, na Tate Britain, em Londres. O vencedor deste prémio, destinado a artistas britânicos com menos de 50 anos, será anunciado no dia 1 de Dezembro. Entretanto, a exposição está aberta desde ontem até 4 de Janeiro.

mauspensamen t o s

DIÁRIO 31DE BORDO

“ Acredito que exista uma forma distorcidado ‘lusotropicalismo’ aqui [Macau]. Felizmente, parece que só afecta

os mais fracos e possuidores de mentes obscuras”Eric Sautedé, académico, ex-docente da Universidade de São José | P.11

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hoje macau terça-feira 30.9.2014

OITO PESSOAS MORREM POR DIA EM FUGA DE PAÍSES POBRES E EM GUERRA

Tragédia sem fim à vistaSegundo os dados da Organização Internacional para as Migrações já morreram cerca de 40.000 pessoas, desde o ano 2000, em fuga da miséria e da guerra. Números que poderiam ser ainda muito mais dramáticos se fossem contabilizadas as mortes não reportadas

ALEXANDRE MARTINSin Público

P ELO menos oito pessoas morrem todos os dias ao tentarem encontrar refú-gio e melhores condições

de vida em países mais ricos, a maioria na travessia do Mediter-râneo entre o Norte de África e a Europa. Os números estão num relatório da Organização Interna-cional para as Migrações (OIM), que sugere uma realidade ainda mais dramática: por cada morte reportada, pelo menos outras duas podem estar a passar despercebi-das às autoridades.

O documento da OIM começou a ser trabalhado após a morte de quase 400 pessoas ao largo da ilha italiana de Lampedusa, no dia 3 de Outubro de 2013, e foi apresentado nesta segunda-feira, a quatro dias do primeiro aniversário do naufrágio.

VIAGENS FATÍDICASChama-se “Fatal Journeys: Tra-cking Lives Lost During Migra-tion” (viagens fatais: detectar as vidas perdidas durante as migra-ções) e inclui a informação que foi possível recolher sobre as mortes de migrantes nos últimos 14 anos, um pouco por todo o mundo – no Mediterrâneo, mas também na fronteira entre o México e os Es-tados Unidos, por exemplo.

O número de homens, mu-lheres e crianças que morreram a

António José Seguro renuncia ao Conselho de EstadoO pedido de renúncia de António José Seguro foi dirigido a Assunção Esteves por ter sido eleito para o Conselho de Estado pela Assembleia da República e a sua decisão decorreu do facto de o seu mandato neste órgão estar associado ao exercício das funções de secretário-geral do PS. «Em coerência com o seu pedido de demissão do cargo de secretário-geral do PS [na noite de domingo], António José Seguro entendeu também renunciar ao Conselho de Estado», acrescentou a mesma fonte. António José Seguro pediu a demissão da liderança do PS na sequência do resultado das eleições primárias socialistas, as quais perdeu para a candidatura do presidente da Câmara de Lisboa, António Costa.

Ténis de Mesa Portugal é campeão da EuropaPortugal sagrou-se este domingo campeão da Europa de ténis de mesa pela primeira vez, ao derrotar a Alemanha, por 3-1, na final por equipas que se disputou no Meo Arena, em Lisboa. No embate entre as duas melhores equipas continentais, Marcos Freitas, quarto do “ranking” europeu, conquistou o ponto decisivo, ao bater o número dois, Timo Boll, por 3-1 (12-10, 5-11, 11-6 e 11-9), negando à Alemanha o seu sétimo título consecutivo.

Taipa Pequena Miradouro vai custar 40 milhões Foi ontem publicado em Boletim Oficial (BO) o despacho que determina a assinatura do contrato com o consórcio de empresas composto pela Companhia de Construção e Engenharia Lei Fung e Sociedade de Construção e Engenharia — Grupo de Construção de Xangai — SCG (Macau) para a construção do miradouro na zona da Taipa Pequena. Os custo da obra ascendem a cerca de 39.839 milhões de patacas, sendo uma fatia de 22 milhões pagos este ano e mais de 17 milhões pagos em 2015. Recorde-se que a futura construção do miradouro da Taipa Pequena levou à demolição das instalações do antigo restaurante Vee Bee, localizado à entrada da Taipa. O projecto, tal como já foi confirmado pelo departamento de Obras Públicas, deverá estar concluído dentro de 17 meses.

“Os migrantes sem documentos não são criminosos, mas sim seres humanos necessitados de protecção e de assistência, com direito a assistência jurídica, e merecedores de respeito”WILLIAM LACY SWING Director-geral da OIM

fugir de países em guerra ou com graves problemas socioeconómi-cos é substancialmente superior nas viagens para a Europa. Desde o ano 2000, pelo menos 40.000 pessoas morreram nessas circuns-tâncias em todo o mundo, 22.000 das quais ao tentarem chegar ao continente europeu. Só neste ano morreram 4077 pessoas, de acordo com os números da OIM – 3072 na travessia do Mediterrâneo.

O director-geral da OIM, Wi-lliam Lacy Swing, chama a atenção para a realidade que pode estar escondida por trás dos números a que a sua organização teve acesso, e apela a uma melhor resposta por parte dos governos, da sociedade civil, das organizações internacio-nais e do mundo empresarial.

“Numa altura em que uma em cada sete pessoas em todo o mundo é migrante, é paradoxal que o mundo desenvolvido responda de forma dura às migrações. As oportunidades limitadas para uma migração segura leva os candidatos a migrantes a caírem nas mãos de contrabandis-tas, alimentando um comércio sem escrúpulos que ameaça a vida de pessoas desesperadas. Temos de pôr um fim a este ciclo. Os migrantes sem documentos não são criminosos, mas sim seres humanos necessita-dos de protecção e de assistência,

com direito a assistência jurídica, e merecedores de respeito”, escreve William Lacy Swing no relatório.

O responsável lembra os nau-frágios mais mortíferos em Lam-pedusa e em Malta, no último ano, para dizer que “chegou a hora” de enfrentar o problema.

“Há um ano, o mundo assistiu com horror quando cerca de 360 migrantes perderam a vida ao ten-tarem nadar até às costas da ilha italiana de Lampedusa. Infeliz-mente, o horror parece não ter fim: quase 500 migrantes morreram ao largo de Malta poucas semanas antes da publicação deste relató-rio. Dois sobreviventes contaram que os contrabandistas afundaram deliberadamente a sua embar-cação quando alguns migrantes se recusaram a passar para uma embarcação menos segura, depois de terem sido forçados a trocar de barco várias vezes desde o início

da sua viagem, no Egipto. Duas semanas depois, apenas foram identificados 11 sobreviventes; testemunhas dizem que seguiam a bordo pelo menos 100 crianças”, recorda William Lacy Swing.

ESCASSEZ DE DADOSCitado pelo jornal britânico The Guardian, o autor do relatório, Frank Laczko, salienta os poucos recursos destinados à recolha de informação sobre vítimas mortais, e afirma que “não há nenhuma organização mundial actualmente responsável pela monitorização sistemática do número de mortes”.

“Apesar de serem gastas avulta-das somas na recolha de informação sobre migrações e controlo de fronteiras, muito poucas agências recolhem e publicam informação sobre mortes de migrantes”, lamen-ta o responsável pelo departamento de investigação da OIM.