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HOJE EM DIA - DISTRITO FEDERAL, SÁBADO, 12/3/2011 - [email protected] 6 Brasília CAMILLA SHINODA REPÓRTER O ser humano produz, em média, pouco mais de 1kg de lixo por dia. No Brasil, o gasto de água diário por pessoa é de 200 litros. Multi- plicados pelo total de habi- tantes, esses números che- gam a resultados preocupan- tes. Preocupação que não to- ma conta apenas de gover- nantes, autoridades e estu- diosos, mas também de pes- soas comuns, que já estão mudando os seus hábitos do dia a dia para tentar dimi- nuir o impacto negativo no meio ambiente. A ecologista Beatriz Agos- tini, mais conhecida como Shakty, sempre tentou levar uma vida em harmonia com a natureza. “Tenho muito res- peito por todo o ser vivo e pe- lo planeta. Acho que o ser hu- mano invade demais as coi- sas”, diz. Para aliar esse pen- samento com o seu cotidia- no, há quatro anos, Shakty re- solveu implementar esses preceitos na construção de sua casa. “Escolhi a técnica da tai- pa de pilão, ou seja, minhas paredes são construídas ape- nas com terra e água. O teto é feito de restos de madeira prensados com cola. Além disso, plantei cem árvores no condomínio para devol- ver o que usei na constru- ção”, comenta. Para não ter que passar o trator, alterando ainda mais o terreno, Shakty construiu sua casa em níveis. As janelas grandes e algumas telhas substituídas por vidro aju- dam a aproveitar a luz natu- ral. A preocupação com o meio ambiente foi além da es- trutura da casa. A ecologista também instalou um siste- ma de captação de água de chuva, banheiros secos, com- posteiras e aquecedores sola- res. Isso significa que da pro- priedade não sai lixo orgâni- co e pouco esgoto. “Reapro- veito tudo. O lixo orgânico e a água vão para a vegetação e para a horta. Com a captação da água da chuva, acabo pa- gando apenas a taxa mínima da Caesb”, explica. Sérgio Pamplona, arqui- teto responsável pelo projeto da ecologista, faz uma ressal- va importante. “Uma casa ecológica obriga que as pes- soas tenham uma mentalida- de ecológica. Não adianta ter um sistema de captação da água da chuva, se não fizer um uso consciente desse re- curso. Se você faz um siste- ma para reaproveitar o esgo- to, tem que saber que não po- de usar muito detergente na hora de lavar o prato”, adver- te o arquiteto. Pamplona, que já fez cer- ca de 35 projetos de casas eco- lógicas, incluindo a sua, diz que existem várias técnicas sustentáveis. “Estrutura de madeira, bambu, paredes de taipa de pilão, tijolo ecológi- co, e plastocimento são algu- mas delas. Tudo depende do terreno e do que a pessoa quer. Mas procuro usar o ma- terial que existe em abundân- cia na região”, conta. A velocidade da obra de- pende não só da técnica, mas do seu próprio projeto de vi- da. “Eu estava com pressa pa- ra mudar. Minha casa ficou pronta em seis meses. Mas já acompanhei um projeto em Santa Catarina, em que o mo- rador construiu sua casa aos poucos, reaproveitando tu- do. Ele levou quatro anos”, comenta. Os custos também são va- riáveis. “Tudo depende do projeto do cliente, mas é difí- cil que ela custe mais do que uma casa convencional. Na época em que construí a mi- nha casa, a média era gastar R$ 450,00 por metro quadra- do. Eu gastei R$ 280,00”, lem- bra. Para Shakty, as vanta- gens de se morar em uma ca- sa ecológica vão bem além da economia financeira. “Já não conseguiria morar em um local onde não pudesse manter esses hábitos. Sem contar que aqui, a temperatu- ra é mais agradável, vivo no meio das árvores, das plan- tas e dos passarinhos”, finali- za. A ecologista abre a casa para visita de interessados. Pequenos passos para a sustentabilidade Construir uma casa total- mente ecológica é uma atitu- de importante, mas nem sempre viável. Afinal, se vo- cê já tem uma casa pronta, se- ria mais danoso ao meio am- biente derrubá-la para cons- truir outra do que mantê-la e adequá-la. Sem contar que, em Brasília, boa parte da po- pulação mora em aparta- mentos. Mas nada disso impede que você tenha uma rotina Preocupação com o meio ambiente faz com que pessoas mudem hábitos Cotidiano verde e sustentável Shakty utiliza composteira para transformar lixo orgânico em adubo

HOJEEMDIA-DISTRITOFEDERAL,SÁBADO,12/3/2011-brasilia ... · nomizando na energia elétrica. Aí vai trocar as lâmpadas incandescen-tes por versões fluores-centes. Vai diminuir o

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HOJE EM DIA - DISTRITO FEDERAL, SÁBADO, 12/3/2011 - [email protected]

6Brasília

CAMILLA SHINODAREPÓRTER

O ser humano produz,em média, pouco mais de1kg de lixo por dia. No Brasil,o gasto de água diário porpessoa é de 200 litros. Multi-plicados pelo total de habi-tantes, esses números che-gam a resultados preocupan-tes. Preocupação que não to-ma conta apenas de gover-nantes, autoridades e estu-diosos, mas também de pes-soas comuns, que já estãomudando os seus hábitos dodia a dia para tentar dimi-nuir o impacto negativo nomeio ambiente.

A ecologista Beatriz Agos-tini, mais conhecida comoShakty, sempre tentou levaruma vida em harmonia comanatureza. “Tenho muitores-peito por todo o ser vivo e pe-lo planeta. Acho que o ser hu-mano invade demais as coi-sas”, diz. Para aliar esse pen-samento com o seu cotidia-

no, há quatroanos, Shakty re-solveu implementar essespreceitos na construção desua casa.

“Escolhi a técnica da tai-pa de pilão, ou seja, minhasparedes são construídas ape-nas com terra e água. O teto éfeito de restos de madeiraprensados com cola. Alémdisso, plantei cem árvoresno condomínio para devol-ver o que usei na constru-ção”, comenta.

Para não ter que passar otrator, alterando ainda maiso terreno, Shakty construiusua casa em níveis. As janelasgrandes e algumas telhassubstituídas por vidro aju-dam a aproveitar a luz natu-ral.

A preocupação com omeioambientefoi além da es-trutura da casa. A ecologistatambém instalou um siste-ma de captação de água dechuva, banheiros secos, com-posteiras e aquecedores sola-res. Isso significa que da pro-

priedade não sai lixo orgâni-co e pouco esgoto. “Reapro-veito tudo. O lixo orgânico ea água vão para a vegetação epara a horta. Com a captaçãoda água da chuva, acabo pa-gando apenas a taxa mínimada Caesb”, explica.

Sérgio Pamplona, arqui-teto responsável pelo projetoda ecologista, faz uma ressal-va importante. “Uma casaecológica obriga que as pes-soas tenham uma mentalida-de ecológica. Não adianta terum sistema de captação daágua da chuva, se não fizerum uso consciente desse re-curso. Se você faz um siste-ma para reaproveitar o esgo-to, tem que saber que não po-de usar muito detergente nahora de lavar o prato”, adver-te o arquiteto.

Pamplona, que já fez cer-cade 35projetos de casas eco-lógicas, incluindo a sua, dizque existem várias técnicassustentáveis. “Estrutura demadeira, bambu, paredes de

taipa de pilão, tijolo ecológi-co, e plastocimento são algu-mas delas. Tudo depende doterreno e do que a pessoaquer. Mas procuro usar o ma-terialque existe em abundân-cia na região”, conta.

A velocidade da obra de-pende não só da técnica, masdo seu próprio projeto de vi-da. “Eu estava com pressa pa-ra mudar. Minha casa ficoupronta em seis meses. Mas jáacompanhei um projeto emSanta Catarina, em que o mo-rador construiu sua casa aospoucos, reaproveitando tu-do. Ele levou quatro anos”,comenta.

Oscustos também sãova-riáveis. “Tudo depende doprojeto do cliente, mas é difí-cil que ela custe mais do queuma casa convencional. Naépoca em que construí a mi-nha casa, a média era gastarR$ 450,00 por metro quadra-do. Eu gastei R$ 280,00”, lem-bra.

Para Shakty, as vanta-

gens de se morar em uma ca-sa ecológica vão bem alémda economia financeira. “Jánão conseguiria morar emum local onde não pudessemanter esses hábitos. Semcontar que aqui, a temperatu-ra é mais agradável, vivo nomeio das árvores, das plan-tas e dos passarinhos”, finali-za. A ecologista abre a casapara visita de interessados.

Pequenos passos para asustentabilidade

Construir uma casa total-mente ecológica é uma atitu-de importante, mas nemsempre viável. Afinal, se vo-cê já tem uma casa pronta, se-ria mais danoso ao meio am-biente derrubá-la para cons-truir outra do que mantê-la eadequá-la. Sem contar que,em Brasília, boa parte da po-pulação mora em aparta-mentos.

Mas nada disso impedeque você tenha uma rotina

Preocupação com o meio ambientefaz com que pessoas mudem hábitos

Cotidianoverde e

sustentávelShakty utiliza composteira para transformar lixo orgânico em adubo

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mais preocupada com o bem-estar do planeta, como ensi-na a página sustentavelna-pratica.net, criada por An-drea Zimmermann e FabioFrança.

O site é uma iniciativasem fins lucrativos que tem opropósito de tornaracessíveis a qualquerpessoa os meios paracontribuir para a prote-ção do meio ambiente emelhorar sua qualidadede vida. Lá é possível en-contrarcuriosidades, lis-ta de produtos e servi-çosecológicos e dicas fá-ceis para tornar o seudia a dia mais verde.

“É difícil fazer essatransição de modo de vi-da, por isso oferecemosdicas em níveis de sus-tentabilidade, algumasexigem uma pequenamudança de hábito, ou-tras são para quem já es-tá mais envolvido no as-sunto”, explica Andrea.

A coordenadora dosite também recomen-da definir metas a cadaseis meses. “Nesses pri-meiros seis meses vocêdecide, por exemplo,que quer começar eco-nomizando na energiaelétrica. Aí vai trocar aslâmpadas incandescen-tes por versões fluores-centes. Vai diminuir ouso do ar-condiciona-do, a duração do banho,e assim por diante”, en-sina.

Há também a seção“Faça você mesmo”com dicas que podem ser co-locadas em prática por qual-quer um. “Quem mora emapartamento pode fazerumaespiral de ervas e tempe-ros no térreo”, comenta An-drea. O site também ensina afazer composteiras, banhei-ros secos e tinta com pigmen-tos naturais.

Segundo ela, a sustenta-bilidade envolve a criativida-de das pessoas. Reaproveitargarrafas para a entrada deluz natural na casa, usar petspara fazer canteiros de plan-tas, colocar tijolos na caixad’água da descarga para eco-

nomizar água, ir de bicicletapara o trabalho, consumir ali-mentos de produtores locais,e parar de usar sacolas plásti-cas quando vai ao mercadosão atitudes que ajudam amanter a saúde do meio am-biente.

Criatividade foi o quenão faltou para os criadores

do projeto Minhocasa, queutiliza minhocas para reci-clar os resíduos orgânicosproduzidos na residência.

A ideia surgiu depois deuma viagem a Austrália, on-de há desconto no IPTU paraquem recicla o lixo orgânico

produzido em sua casa. “Láconhecemos esse sistemacom minhocas e o adapta-mos para a realidade brasilei-ra, em que as pessoas produ-zem bem mais lixo desse ti-po”, comenta Cesar Danna,fundador do Minhocasa, aolado de Kika Danna e Cristi-na Garcez.

Oprimeiro sistemade mi-nhocultura brasileiro foi cria-do há sete anos. SegundoDanna, cerca de seis mil uni-dades já foram vendidas pa-ra vários locais do país.

O sistema é simples, fácilde manusear e pode ser utili-

zado em apartamentos. Tra-ta-se de uma caixa plástica,dividida em três gavetas. Oandar mais alto vem vazio e éo local onde você colocará oseu lixo orgânico. A segundagaveta já possui minhocasque transformam o lixo emum rico adubo orgânico. A ga-veta mais baixa é para onde

vai o chorume produzido. Ne-la há uma torneira para reti-rá-lo. Esse chorume é umadubo líquido totalmentesem cheiro.

“O sistema de minhocul-tura aceita cascas de frutas everduras e alimentos que já

foram cozidos. Carnes ecítricosem grandequan-tidade não entram. To-da a matéria orgânica vi-ra adubo que pode serutilizado em canteirosde plantas.E é importan-te ressaltar que o siste-ma não produz nenhumtipo de mal cheiro”, con-ta Danna.

Kit suporta até umlitro de lixo por dia

Existem dois tama-nhos de kits de minho-cultura: o pequeno, quesuporta meio litro de li-xo por dia e é recomen-dado para residênciascom até duas pessoas; eo kit grande, que supor-ta 1 litro de lixo por dia eé recomendado para ca-sa com até quatro pes-soas. O pequeno custaR$ 215,00 e o grande R$305,00, fora o frete paraquem não é de Brasília.

As vantagens dessesistema vão desde a faci-litação da logística da co-leta de lixo até o aumen-to da vida útil dos ater-ros sanitários, que rece-berão bem menos mate-rial não reciclável.

O Minhocasa tam-bém oferece consultoria

para empresas e restauran-tes, outros tipos de kits parareaproveitar a matéria orgâ-nica, como as bombas decompostagem, e dicas de fa-bricação de biofertilizante.

Para mais informaçõessobre o projeto: www.minho-casa. com ou no telefone4141-2766.

Andrea tem água do chuveiroaquecida por energia solar;César ensina como usar o kit

de minhocultura; horta deAndrea Zimmermann; o

arquiteto Sérgio Pamplonaprojetou uma escada para

reaproveitar pneus.

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Mônica Passarinho apresenta duas opções de absorventes ecológicos: o Modser (pano) e o Mooncup (silicone)

Além de todas as dicasque já foram citadas para aju-dar a preservar o planeta, exis-te uma especial para as mu-lheres: os absorventes reutili-záveis. Ao longo do ano, umamulher utiliza em média 325absorventes descartáveis. Is-so por cerca de 35 anos de suavida. Por não ser biodegra-dável e, muito menos reci-clável, esse produto traz umgrande prejuízo ao meio am-biente.

Pensando nisso, as ami-gas Mônica Passarinho e Na-ra Gallina resolveram desen-volver absorventes reutili-záveis para elas e para as ami-gas. A curiosidade gerada pe-la nova alternativa fez comque ela ganhasse nome, Mod-ser, e passasse a ser comercia-lizada.

O Modser é um absorven-te de pano, que possui o mes-mo formato do descartável. Amaneira de usá-lo também ésemelhante, já que ele tam-

bém possui a mesma capaci-dade de absorção. A diferen-ça é que ele deve ser lavadoapós o uso. “O absorvente depano é o resgate do tempo davovó, mas com o design maiselaborado e com alguns deta-lhes mais femininos, como asestampas”, afirma Mônica.

Economia e preservaçãoambiental

O Modser é vendido emtrês tamanhos: o noturno (R$15,00), o tradicional (R$12,50) e o diário (R$ 10,00). Orecomendado para mulherescom um fluxo menstrual re-gular é a aquisição de 5 absor-ventes ecológicos, que du-ram de três a cinco anos.

Considerando que umamulher gasta em média R$156,00 anualmente para ad-quirir o modelo descartável, eo kit com cinco Modser custano máximo R$ 65,70, a econo-mia chega a mais de 80% em

três anos.O interesse pelo tema fez

com que Mônica e Nara des-cobrissem novas opções, co-mo o copo menstrual reutili-zável. Trata-se de um peque-no funil maleável feito de sili-cone, que, ao ser inserido nocolo do útero, recolhe o fluxomenstrual. “Os copinhos sãoa modernidade associada àsustentabilidade”, afirmaMônica. Os copos são da mar-ca inglesa Mooncup. Eles exis-tem em dois tamanhos, cus-tam R$ 80,00, e duram dezanos.

Mônica recomenda quecada mulher analise a relaçãoque possui com o seu ciclomenstrual antes de escolher omodelo de absorvente ecoló-gico que vai utilizar.

“Para usar o Modser, é ne-cessário ter um comprometi-mento maior com o ciclo, afi-nal você vai ter que lavá-lo edeixar de molho. O Mooncupé mais prático, mas tem mu-lheres que não gostam de op-ções internas”, explica.

Alternativas saudáveis ebiodegradáveis

O importante é que asduas opções, além de serembiodegradáveis, também sãomais saudáveis. “Tanto o Mo-dser como o Mooncup sãohipoalergênicos, ao contráriodo absorvente descartável,que causa alergia em muitasmulheres. Eles também nãopossuem uma série de produ-tos químicos, como o cloroque é utilizado para bran-quear o plástico do modelotradicional”, comenta Môni-ca.

Segundo ela, o cheiro for-te de menstruação é propor-cionado por essas substân-cias. “Assim que você começaa usar as alternativas ecológi-cas, percebe que a primeiracoisa que muda é o cheiro.Além disso, o sangue do flu-xo, que é muito rico em nu-trientes, pode ser utilizado co-mo adubo para plantas”,acrescenta.

Cerca de 300 Mooncups emil Modser já foram vendi-dos pela dupla. As encomen-das podem ser feitas peloe-mail [email protected].

As meninas garantemque a próxima empreitada se-rá a confecção de fraldas depanos para bebês. O princí-pio será o mesmo do Modser.