21

Click here to load reader

Homilia sobre o Bom Samaritano, 15º Dom. Comum, Ano C, 11.07.10

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Homilia sobre a Parábola do Bom Samaritano

Citation preview

Page 1: Homilia sobre o Bom Samaritano, 15º Dom. Comum, Ano C, 11.07.10

150 Domingo Comum, Ano C, 11.07.2010

Paróquia do Redentor, Porto Cónego Doutor Francisco Carlos Zanger

Que as palavras da minha boca e a meditação

dos nossos corações, sejam agradáveis

perante Ti, Senhor, nossa Rocha e nosso

Redentor; em nome do Pai, e do Filho, e do

Espírito Santo. Ámen.

Infelizmente, os nossos modernos “doutores da Lei”, que escolhem as lições que ouvimos cada Domingo no Culto, deixaram de lado umas partes privando delas as pessoas que só ouvem as leituras nos Cultos e não lêem a Bíblia em casa. No Evangelho da semana passada, Jesus mandou 72 discípulos como uma guarda-avançada, com instruções para visitar todas as povoações e aldeias entre a Galileia e a Judeia, da província chamada Samaria, porque Nosso Senhor precisava saber, antes de começar, quais as aldeias em que teria um bom acolhimento ou uma má recepção. Ouvímos, no fim do Evangelho, que quando os setenta e dois voltaram

1

Page 2: Homilia sobre o Bom Samaritano, 15º Dom. Comum, Ano C, 11.07.10

animados, dizendo “Senhor, até os demónios se nos submetem em teu nome!”, Jesus os censurou e disse “Não se alegrem porque os espíritos maus vos obedecem: alegrai-vos porque os vossos nomes estão escritos nos céus.”1 E a leitura do Evangelho terminou, sem ficarmos a saber se Jesus tinha a intenção de passar pela Samaria ou não.

Para entender o que é que estava a acontecer, é preciso lembrarmo-nos de duas coisas. Primeiro, agora tinha um prazo a cumprir: como ouvimos no último Domingo em que estive aqui, Jesus sabia que estava a chegar a altura em que devia ser arrebatado deste mundo2. O Sacrifício Puríssimo, o Cordeiro sem Mácula, tinha de chegar a Jerusalém, e antes da Páscoa dos Judeus. Jesus e todos os seus discípulos e seguidores estavam ainda na Galileia, a sul do Lago da Galileia. O caminho mais direito da Galileia para Jerusalém passava pela Samaria, e normalmente levar-se-ia três dias a pé para chegar à fronteira com a

2

Page 3: Homilia sobre o Bom Samaritano, 15º Dom. Comum, Ano C, 11.07.10

Judeia, mas com tantas pessoas demoraria mais.

Nós nem sabemos quantos discípulos estavam com Jesus no seu caminho para Jerusalém. Muito mais do que os doze do primeiro círculo, claro, e mais do que os setenta e dois discípulos que ele escolheu da multidão e mandou pelas aldeias e povoações da Samaria, e até mais do que os cento e vinte discípulos, de ambos os sexos, eles que tiveram a coragem de esperar no cenáculo depois da Crucificaxão e morte do seu Senhor, a fé para esperar a vinda do Espírito Santo depois da Ascensão.3 Sabemos que entre a multidão se encontravam mulheres, mulheres que, na cultura do Primeiro Século, normalmente não podiam seguir um homem que não fosse o seu marido ou pai, nem que fosse um profeta milagroso. Mas seguiram Jesus.

A primeira discípula, a primeira Cristã, estava com o seu Filho, e outras mulheres também: as outras duas Marias, Maria4 que

3

Page 4: Homilia sobre o Bom Samaritano, 15º Dom. Comum, Ano C, 11.07.10

era irmã da Virgem Maria e esposa de Cléofas5 e Maria Madalena, Salomé, Joana e outras com nomes agora desconhecidos.6

Uma das coisas que as autoridades judaicas achavam terrível foi a forma como Jesus tratou as mulheres: como se elas fossem inteligentes, e pudessem até pensar e tomar decisões sem a ajuda dum homem! Os fariseus nem podiam falar com uma mulher num lugar público sem um pau-de-cabeleira7, e Jesus não só falou com elas, mas até falou com uma mulher samaritana, á beira do Poço de Jacob!

É preciso entender que os israelitas e os samaritanos não eram amigos: não tenho tempo para elencar todas as razões, tereis de ler a minha nota8. Basta dizer que cada um achava que o outro era herege cismático, pior do que pagão. Os pagãos eram somente ignorantes, mas os hereges profanavam a verdadeira Fé! Sim, quando Jesus falou com a mulher samaritana à beira do Poço de Jacob (perto do Santuário

4

Page 5: Homilia sobre o Bom Samaritano, 15º Dom. Comum, Ano C, 11.07.10

samaritano: eles recusavam a ideia de que o verdadeiro Templo de Deus fosse em Jerusalém), ela foi convertida, e converteu o povo de Sicar, a sua povoação samaritana.9 Mas a excepção prova a regra: quando Jesus mandou os doze discípulos pregar a Boa Nova do Reino de Deus às aldeias e povoações perto da fronteira entre a Galileia e a Samaria, uma povoação samaritana recusou-se a receber o Senhor quando souberam que ele ia para Jerusalém. Jesus até precisou de repreender S. Tiago e S. João: eles queriam consumir a povoação com fogo do céu! A semana passada, ouvíamos tão só que os setenta e dois discípulos voltaram cheios de alegria porque tinham poder sobre os demónios, mas nada soubemos sobre quantas aldeias estavam prontas a oferecer alojamento e comida para tanta gente!

Mas não é falta do leccionário… S. Lucas, como grego, não tinha muito interesse nos problemas entre os israelitas

5

Page 6: Homilia sobre o Bom Samaritano, 15º Dom. Comum, Ano C, 11.07.10

e os samaritanos. É no Evangelho de S. Mateus que ficamos a saber que quando Jesus e os seus discípulos partiram da Galileia e vieram para a parte da Judeia que se chamava Perea, além do Rio Jordão10, só o atravessaram junto a Jericó: o caminho era mais longo, mas o povo eram mais agradável.

Bem: a maioria do povo. Ainda havia os fariseus, os doutores da Lei, sempre prontos para pôr Jesus à prova. Nos Evangelhos de SS. Mateus e Marcos, as perguntas foram sobre casamento e divórcio; no nosso Evangelho, Jesus é abordado por um Doutor da Lei com uma pergunta discutível sobre a vida eterna.11

Outra razão para passar pela Perea, além do Jordão: lá o povo era Israelita, bem como os povos da Galileia e da Judeia. Jesus tinha a oportunidade de ensinar o povo, de pregar a Boa Nova do Reino de Deus no seu caminho para Jerusalém, lá na Perea, e também antes de chegar a Jericó: é bem

6

Page 7: Homilia sobre o Bom Samaritano, 15º Dom. Comum, Ano C, 11.07.10

possível que não houvesse tantas oportunidades na Samaria.

Mas no nosso Evangelho hoje, Jesus e os seus discípulos e seguidores já estão no lado oeste do Jordão, perto de Jericó. De Jericó a Jerusalém são 37 quilómetros, e mais ou menos vinte e cinco quilómetros à povoação de Betânia, onde moravam Lázaro, Maria e Marta. O caminho entre Jericó e Jerusalém é montanhoso, poeirento, e serpenteia através de abruptos precipícios entre mil e duzentos metros de altura, quase sem vegetação, mas com cavernas escondidas… que e na altura estavam infestadas de bandidos. Das cavernas, estes bandidos podiam atacar viajantes no caminho e depois desaparecer da vista sem medo das autoridades.

Um grupo grande não tinha de ter medo: com tanta gente, e muitos deles com armas brancas (pelo menos um dos doze discípulos de Jesus, S. Pedro, tinha uma espada12), os bandidos preferiam esperar

7

Page 8: Homilia sobre o Bom Samaritano, 15º Dom. Comum, Ano C, 11.07.10

pelas presas fáceis. Parece que Jesus parou neste caminho para ensinar a multidão: o doutor da Lei estava sentado, como os discípulos e a multidão ficavam sentados no chão quando o Mestre ensinava. Levantou-se este doutor da Lei, para o pôr à prova, e perguntou: “Mestre, que devo fazer para possuir a vida eterna?”. Jesus respondeu à pergunta com uma pergunta (uma tradição judaica até agora!13), mas Jesus, tal como o filósofo grego, Sócrates, usou as perguntas para ensinar e não provar. “O que está escrito na Lei?”

“‘Ama o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a alma, com todas as tuas forças, e com todo teu entendimento.’ E, ‘Ama o teu próximo como ti mesmo.’”14 O doutor da Lei mostrou assim que era mesmo um sábio sobre as Leis da Tora: escolheu a primeira lei do livro de Deuteronómio (6,5), e a segunda do Levítico (19, 18). E Jesus respondeu-lhe: “Respondeste bem: faz isto, e viverás”.

8

Page 9: Homilia sobre o Bom Samaritano, 15º Dom. Comum, Ano C, 11.07.10

Teria sido melhor para o doutor se tivesse desistido nesta altura, mas teve necessidade de continuar: queria justificar-se, queria saber o menos que era preciso para cumprir com a Lei. “E quem é o meu próximo?” ele disse.

Ora: a pergunta era mais pertinente, mas mais difícil do que parece. Na época de Jesus, os mestres de Israel discutiam, precisamente, quem era o “próximo”, porque a Lei foi dada por Deus ao seu Povo Escolhido, e as únicas vezes em que a Lei fala sobre pessoas fora da comunidade faz sempre uma distinção entre eles e o Povo de Deus. Sim, a Lei diz, “Se um estrangeiro vier habitar convosco na vossa terra, não o oprimireis, mas esteja ele entre vós como companheiro, e tu amá-lo-ás como a ti mesmo, porque vós fostes já estrangeiros no Egipto”15, mas não há nada na Lei sobre nem os estrangeiros que habitam noutros lugares (como os samaritanos, cercados pelos israelitas), nem sobre invasores como

9

Page 10: Homilia sobre o Bom Samaritano, 15º Dom. Comum, Ano C, 11.07.10

os Romanos. O doutor da Lei queria ouvir a resposta de Jesus, mas qualquer resposta poderia ser discutível.

Mas em vez de responder, Jesus contou uma história: a parábola bem-conhecida do Bom Samaritano. “Um homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos bandidos, que lhe roubaram a roupa e tudo, e depois de o terem maltratado com tantos feridas que estava meio-morto, retiraram-se.” Bem, temos este coitado, coberto com sangue, provavelmente desmaiado, na berma da estrada. Por acaso, passou pelo mesmo caminho um sacerdote do Templo, mas quando viu o homem, afastou-se para o outro lado. Igualmente, um levita, membro do grupo que trabalhava no Templo, passou, viu-o, e passou também adiante. Finalmente, um samaritano que viajava passou, viu-o e moveu-se de compaixão.

O samaritano parou, e aproximou-se, tratou-lhe os ferimentos com vinho (o único

10

Page 11: Homilia sobre o Bom Samaritano, 15º Dom. Comum, Ano C, 11.07.10

anti-séptico na altura) e azeite para diminuir as dores… ainda não existiam os recursos médicos do INEM. Ele colocou o homem sobre a sua própria montada e levou-o para uma hospedaria e tratou dele. No dia seguinte, deu dois denários16 ao hospedeiro, dizendo-lhe, ‘Cuida deste homem, e quando voltar pago-te tudo o que gastares a mais com ele’.

E Jesus olhou para o doutor da Lei, e perguntou; “Qual destes três parece ter sido o próximo do homem assaltado pelos ladrões?”. Só havia uma resposta possível, claro… e talvez fosse difícil para o doutor da Lei responder dum modo positivo sobre um samaritano. Se Jesus tivesse perguntado “Qual destes três cumpriu com a Lei”, seria uma coisa diferente. Todos os três foram obedientes à Lei… e é aqui que aprendemos o que Jesus queria ensinar.

Nem o sacerdote nem o Levita, que se afastaram do homem “meio-morto”, eram monstros. Mas eram trabalhadores no

11

Page 12: Homilia sobre o Bom Samaritano, 15º Dom. Comum, Ano C, 11.07.10

Templo, judeus bem-informados sobre a Lei, e a Lei diz “Quem tocar no cadáver duma pessoa fica impuro, durante sete dias”.17 Tocar num morto torná-los-ia impuros para o culto: nem poderiam entrar no Templo, onde trabalhavam. Mesmo se o homem meio-morto, coberto de sangue, não estava ainda morto, tanto o sacerdote como o Levita tinham medo de tocar no sangue: na Lei, as normas relativas ao sangue também eram rígidas18: tocar em sangue, quer animal quer humano, é proibido, ao ponto de se a mulher dum sacerdote tiver o seu período menstrual e ele tocar na cadeira onde ela se tiver sentado, ficará ritualmente impuro por todo aquele dia.

Esta parábola não é tão simples… a Lei exige compaixão, e a Lei exige que os sacerdotes não toquem nem em cadáveres nem em sangue. A primeira é nebulosa, vaga, mas a segunda é clara. O sacerdote e o Levita cumpriram com a Lei, fazendo uma

12

Page 13: Homilia sobre o Bom Samaritano, 15º Dom. Comum, Ano C, 11.07.10

só coisa: afastando-se. A coisa era mais complicada para o herege: para fazer por aquele coitado tudo o que podia, precisou de praticar seis actos de caridade diferentes: aproximou-se do homem ferido, tratou das suas lesões, levou-o para uma pensão no seu próprio burro, cuidou dele na pensão durante a noite, deixou quem o atendesse, e até pagou as despesas — e só uma das duas moedas de prata, um dos denarii, era o correspondente ao salário normal de um operário por dia.

O samaritano não era herói. Quando ele fez tudo que era necessário para salvar a vida do homem ferido, não foi heroísmo. Foi compaixão: foi o amor que Deus exige que nós sintamos pelos nossos próximos. O sacerdote e o Levita cumpriram com a Lei: ou talvez escolhessem quais das Leis era mais fácil de obedecer. Ele, como samaritano, aceitou as mesmas leis da Tora que os judeus aceitaram, mas ele

13

Page 14: Homilia sobre o Bom Samaritano, 15º Dom. Comum, Ano C, 11.07.10

entendeu, e mostrou, quais dos mandamentos são os mais importantes.

É muito mais fácil não fazer nada, e assim cumprir com a Lei, do que distinguir o quê é a acção compassiva, misericordiosa, que Deus exige.

Jesus sabia disso, sem dúvida: é por isso que primeiro perguntou ‘O que está escrito na Lei para possuir vida eterna?’. Dado que o doutor da Lei respondeu “Ama o teu próximo como ti mesmo”, não podia agora ser somente legalista: precisava pensar na sua própria vida, no seu próprio modo de ser. E Jesus, sem qualquer ensinamento mas só com as suas perguntas, usou a parábola do bom samaritano como uma espécie de espelho para que o jurista visse melhor a sua própria vida, as suas acções e a sua conduta. Assim, forçou o homem a admitir a si mesmo que já sabia o que é que Deus exige, o que o profeta Miqueias disse que o Senhor reclama dele: “que pratiques justiça, que ames a bondade, e

14

Page 15: Homilia sobre o Bom Samaritano, 15º Dom. Comum, Ano C, 11.07.10

que andes com humildade diante do teu Deus”.19

O doutor da Lei também precisou de reconhecer uma outra coisa: que um samaritano, um herege, pode fazer o que Deus exige de nós quando dois judeus, oficias do Templo, falharam. Não é suficiente ser membro do Povo Escolhido, não é suficiente conhecer a Lei. Temos de entender a Lei, de entender que o coração da Lei, quer judaica quer Cristã, é o amor: amor para com Deus e amor para com o próximo.

E assim, Jesus mudou a pergunta. O doutor da Lei perguntou, “E quem é o meu próximo?” para saber o mínimo necessário para ganhar a vida eterna. Com esta parábola, em que o judeu, o membro do Povo Escolhido, foi salvo por um samaritano herético (e se alguém podia não ser o “próximo”, seria um samaritano!), Jesus alterou tudo. Ainda, para possuir a vida eterna, é preciso amar a Deus e amar o

15

Page 16: Homilia sobre o Bom Samaritano, 15º Dom. Comum, Ano C, 11.07.10

próximo. Mas nós não podemos mais perguntar “Quem é o meu próximo?”. Jesus perguntou ao doutor da Lei, “Qual foi o próximo do homem assaltado?”

O nosso “próximo” é qualquer pessoa que necessita de nós, qualquer pessoa feita à Imagem e semelhança de Deus, seja amigo ou inimigo, Anglicano ou Católico Romano ou Protestante, Muçulmano, animista ou ateu, Português ou estrangeiro, pobre ou rica, portista ou (até) benfiquista. Pode ser um ferido fisicamente, na rua; pode ser um tóxico-dependente pedindo moedas na rua. O “próximo” é uma pessoa qualquer, caída nos caminhos da vida, que necessita da nossa ajuda, que precisa do nosso amor.

O que Jesus exige não é só que nós amemos os nossos próximos, mas que sejamos os próximos de qualquer pessoa que necessite de nós. No fim, o doutor da Lei entendeu: e a mensagem é a mesma para cada um de nós.

16

Page 17: Homilia sobre o Bom Samaritano, 15º Dom. Comum, Ano C, 11.07.10

“Então vai, e faz o mesmo.”

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.Ámen.

17

Page 18: Homilia sobre o Bom Samaritano, 15º Dom. Comum, Ano C, 11.07.10

1 S. Lucas 10, 202 S. Lucas 9:513 Actos 1, 12-164 S. João 19, 25 A irmã da Virgem Maria, também chamada Maria (a palavra “irmã” na língua aramaica também podia significar ‘cunhada’), era mãe de Tiago Menor e José, segundo S. Marcos 15,40 e S. Lucas 24, 10. Quando Escritura refere Tiago Menor e outros como “irmãos de Jesus” (como em S. Mateus 12, 46), a palavra “irmão” significa ‘parente’, como é usado em Levítico 10, 4 e é ainda comum nas culturas semíticas até agora. [Interpreter’s One-Volume Commentary on the Bible, ed. J. Laymon, Abingdon Press, Nashville, TN, 1981] 5 S. Lucas 24, 18; S. João 19, 256 S. Lucas 24, 107 Isso ainda não é muito diferente agora, entre muitos dos países Muçulmanos do Médio Oriente. 8 Para percebermos cabalmente o que está aqui em jogo, convém também ter presente o quadro da relação entre judeus e samaritanos. Trata-se de dois grupos que as vicissitudes históricas tinham separado e cujas relações eram, no tempo de Jesus, bastante conflituosas. Os Samaritanos eram um povo “misturado”: no 722 ou 721 a.C., o Rei Sargão II de Assíria conquistou a Samaria, e mandou vir gente da Babilónia, de Cuta, de Hamat, e dos outros países e instalou-os nas aldeias e povoações da Samaria, e exilou entre cinco e dez por cento dos Israelitas que moravam na Samaria, particularmente os líderes e sacerdotes, na Assíria. Mas tarde, deixou alguns Israelitas voltar, com os seus sacerdotes, mas a religião Samaritana foi misturada com a dos outros povos [II Reis 17, 1-41]. A relação entre as duas comunidades deteriorou-se ainda mais quando, após o regresso do exílio, os judeus recusaram a ajuda dos samaritanos (Esdras 4,1-5) para a reconstrução do templo de Jerusalém no ano 437 a.C. e denunciaram os casamentos mistos; tiveram, então, que enfrentar a oposição dos samaritanos na reconstrução da cidade (Neemias 3,33-4,17). Os Samaritanos na altura de Jesus louvavam o Senhor da sua própria maneira, tinham Escrituras um pouco diferentes da dos judeus e também esperavam pelo Messias, mas em vez do Templo em Jerusalém, o centro de louvor era primeiro um santuário construído em 333 a.C. no Monte Garizim no entanto, esse templo foi destruído em 128 a.C. por João Hircano. Durante os anos, as picardias continuaram: a mais famosa aconteceu já na época de Cristo (alguns anos depois do nascimento de Cristo), quando os samaritanos profanaram com ossos o templo de Jerusalém. O Poço de Jacob, aonde Jesus encontrou a mulher que converteu a povoação Samaritana de Sychar, era sacro para os Samaritanos por causa da sua conexão com Jacob, ficava 6 ou sete quilómetros para leste do Monte Garazim (S. João 4, 4-6, Génesis 29, 1-3). [A History of Israel, 3º Edição, John Bright, Westminster Press, Philadelphia, EUA, 1981; e The MacMillan Bible Atlas, Revised, Y. Aharoni e M. Avi-Yonah, MacMillan Publishing Co., New York, 1977]9 S. João 4, 510 S. Mateus 19, 1-211 S. Lucas 10, 25 É uma pergunta interessante: foi somente a partir do 2º ou 3º Séculos a.C. que a ideia duma vida depois da morte como um Paraíso começou a entrar no judaísmo: antes, os mortos iam para o “Sheol”, o “lugar dos mortos”, uma existência sem gozo nem sofrimento, porque era nem castigo nem galardão. Umas pessoas, chamados médios ou bruxas [I Samuel 28, 7], tinham a capacidade de comunicar com os mortos no Sheol, mas era proibido pela Lei [Deuteronómio 18, 10-11; Levítico 19, 31 e 20, 6, 27]. Na altura de Jesus, muitos dos Fariseus aceitaram a ideia nova da ressurreição, ao menos pelos “justos”, mas os Saduceus, que eram ao mesmo tempo mais conservadores (eles só aceitavam a Tora, os primeiro cinco livros da Escritura, como a palavra de Deus), rejeitaram qualquer ressurreição. O Messias dos judeus era um homem com dons de Deus, dados pelo Deus ao povo de Israel para fazer voltar Israel à glória do tempo de Rei David. Até agora, a maioria dos judeus não crêem numa ressurreição depois da morte: a ‘vida eterna’ é do Povo Escolhido, e não individual. Esta é talvez a diferença maior entre o judaísmo e a nossa Fé. [Ver “A History of Israel”, 3º Edição, John Bright, Westminster Press, Philadelphia, 1981]12 S. João 18, 1013 Uma piada antiga: “Porque os judeus sempre respondem às perguntas com perguntas?” “Porque não?”14 É interessante ver que nos Evangelhos dos S. Mateus (22, 34-40) e S. Marco (12, 28-34), é o fariseu que faz a pergunta, e Jesus que responde, e também que os fariseus, os doutores da Lei, perguntam sobre o maior dos mandamentos, e não sobre a vida eterna. Mateus e Marcos eram originalmente judeus, e escreveram os seus Evangelhos para comunidades de Cristãos que foram judeus. S. Lucas era grego, e escreveu para uma comunidade Cristã gentía, que não conhecia as Leis da Tora.15 Levítico 19, 33-3416 Aproximadamente €22 - €2517 Números 19, 11, também 6,6 e Levítico 21, 1-418 Levítico 17, 1-15; 15, 19-3319 Miqueias 6, 8