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Editorial Págs. 4 e 5 Págs. 6 e 7 Pág. 8 Fechando a edição março/abril de 2010 Em recente passagem pelo Brasil, o re- nomado bioeticista espanhol, Diego Gracia, proferiu conferência sobre as manifestações prévias de vontade dos pacientes acerca, par- ticularmente, do que desejam e autorizam que seja feito com eles se vierem a se encontrar em situação que lhes dificulte ou impeça a expressão do próprio arbítrio. Exemplificando, alguns pacientes querem deixar estabelecido que, no caso de terem uma parada cardíaca, não gostariam de receber atendimento sob a forma de tentativas de reanimação; ou que, se forem submetidos a cirurgia, não aceitam transfusão de sangue. O tema tem frequentado alguns debates em nosso meio, nomeadamente quando são analisados os conflitos éticos rela- cionados com o tratamento dos pacientes em fase terminal de doença grave e incurável. O que o ilustre conferencista trouxe a mais na reflexão sobre a matéria foi a observação de que, ao longo da história da Medicina, desde os tempos de Hipócrates, os médicos foram trei- nados para a identificação dos sinais clínicos que caracterizam as diferentes enfermidades, porém não desenvolveram igual atenção no que se refere aos valores dos pacientes. Em outras palavras, os esculápios sempre se mos- traram empenhados na aquisição, da forma mais completa possível, do conhecimento das manifestações objetivas das afecções, enten- dendo ser este o caminho para a feitura precisa do diagnóstico e a prescrição da terapêutica. As manifestações subjetivas, caso se verificassem, deveriam ser decodificadas e identificadas em termos de correspondentes objetivos, isto é, sob a forma de sinais clínicos. Ocorre, no entanto, que nas últimas décadas esta concep- ção foi perdendo força diante da nova atitude dos doentes, os quais querem cada vez mais ter voz ativa nas decisões sobre as medidas propedêuticas ou terapêuticas propostas pelos médicos. Pleiteiam, ademais, que seu modo de ver a saúde, a doença e o tratamento seja devidamente considerado. De tal modo que as expectativas dos pacientes no caso, digamos, de uma doença grave, ou na iminência de morte, se incorporaram definitivamente à discussão dessas matérias. E possivelmente tenhamos que ir mais além. Já não é incomum encontrarmos um en- fermo que se arroga o direito de definir o que para ele é saúde e o que é doença. Invertendo, dessa maneira, toda uma concepção milenar segundo a qual era a Medicina que fazia tal definição. E enfatizando que consideram essa prerrogativa um direito fundamental. E é em tais situações que se nota, primei- ramente, certo desconforto e perplexidade dos médicos ante a demanda dos doentes por um diálogo mais aprofundado a respeito de aspectos vistos até então pelos profissio- nais da Medicina como sendo de caráter exclusivamente técnico, científico; portanto, da esfera de competência dos doutores. Em segundo lugar, fica mais ou menos patente o despreparo dos médicos para incorporar à sua prática clínica a avaliação dos valores dos pacientes. Até mesmo porque não receberam o necessário adestramento quanto a esta nova e surpreendente face do exercício profissional. Os médicos foram formados para conhecer os fatos clínicos. Necessitam agora dar a devida importância aos valores e crenças, desejos e emoções dos doentes, aspectos fun- damentais para que sejam tomadas decisões clínicas apropriadas. Neste contexto, entram as diretivas antecipadas de vontade, também chamadas de testamento vital. Que podem incluir a designação de um representante do enfermo, investido da prerrogativa de falar por ele, fazendo prevalecer o que expressa da forma mais fiel possível a tábua de valores do paciente. Naturalmente, sem que haja agressões ao ordenamento jurídico nem à arte médica. Dr. Ivan de Araújo Moura Fé Presidente do CREMEC DIRETIVAS ANTECIPADAS DE VONTADE INFORMATIVO DO CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DO CEARÁ - Nº 83 - SETEMBRO/OUTUBRO DE 2010 Impresso Especial 9912258304/2010-DR/CE CREMEC Pág. 2 Pág. 5 Pág. 7 Pág. 8 Recadastramento é Obrigatório Pág. 4 Greve Nacional dos Residentes - Entrevista Fernando Monte fala Sobre Medicina e Política Artigo: De qual faculdade saiu o CRM da Repórter do Fantástico? Fechando a edição setembro/outubro de 2010 Fórum e Julgameto Simulado na Unifor O que o ilustre conferencista trouxe a mais na reflexão sobre a matéria foi a observação de que, ao longo da história da Medicina, desde os tempos de Hipócrates, os médicos foram treinados para a identificação dos sinais clínicos que caracterizam as diferentes enfermidades, porém não desenvolveram igual atenção no que se refere aos valores dos pacientes.

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Editorial

Págs. 4 e 5Págs. 6 e 7

Pág. 8

Fechando a ediçãomarço/abrilde 2010

Em recente passagem pelo Brasil, o re-nomado bioeticista espanhol, Diego Gracia, proferiu conferência sobre as manifestações prévias de vontade dos pacientes acerca, par-ticularmente, do que desejam e autorizam que seja feito com eles se vierem a se encontrar em situação que lhes difi culte ou impeça a expressão do próprio arbítrio. Exemplifi cando, alguns pacientes querem deixar estabelecido que, no caso de terem uma parada cardíaca, não gostariam de receber atendimento sob a forma de tentativas de reanimação; ou que, se forem submetidos a cirurgia, não aceitam transfusão de sangue. O tema tem frequentado alguns debates em nosso meio, nomeadamente quando são analisados os confl itos éticos rela-cionados com o tratamento dos pacientes em fase terminal de doença grave e incurável. O que o ilustre conferencista trouxe a mais na refl exão sobre a matéria foi a observação de que, ao longo da história da Medicina, desde os tempos de Hipócrates, os médicos foram trei-nados para a identifi cação dos sinais clínicos que caracterizam as diferentes enfermidades, porém não desenvolveram igual atenção no que se refere aos valores dos pacientes. Em outras palavras, os esculápios sempre se mos-traram empenhados na aquisição, da forma mais completa possível, do conhecimento das manifestações objetivas das afecções, enten-dendo ser este o caminho para a feitura precisa do diagnóstico e a prescrição da terapêutica. As manifestações subjetivas, caso se verifi cassem, deveriam ser decodifi cadas e identifi cadas em termos de correspondentes objetivos, isto é, sob a forma de sinais clínicos. Ocorre, no

entanto, que nas últimas décadas esta concep-ção foi perdendo força diante da nova atitude dos doentes, os quais querem cada vez mais ter voz ativa nas decisões sobre as medidas propedêuticas ou terapêuticas propostas pelos médicos. Pleiteiam, ademais, que seu modo de ver a saúde, a doença e o tratamento seja devidamente considerado. De tal modo que as expectativas dos pacientes no caso, digamos, de

uma doença grave, ou na iminência de morte, se incorporaram defi nitivamente à discussão dessas matérias.

E possivelmente tenhamos que ir mais além. Já não é incomum encontrarmos um en-fermo que se arroga o direito de defi nir o que para ele é saúde e o que é doença. Invertendo,

dessa maneira, toda uma concepção milenar segundo a qual era a Medicina que fazia tal defi nição. E enfatizando que consideram essa prerrogativa um direito fundamental.

E é em tais situações que se nota, primei-ramente, certo desconforto e perplexidade dos médicos ante a demanda dos doentes por um diálogo mais aprofundado a respeito de aspectos vistos até então pelos profi ssio-nais da Medicina como sendo de caráter exclusivamente técnico, científi co; portanto, da esfera de competência dos doutores. Em segundo lugar, fi ca mais ou menos patente o despreparo dos médicos para incorporar à sua prática clínica a avaliação dos valores dos pacientes. Até mesmo porque não receberam o necessário adestramento quanto a esta nova e surpreendente face do exercício profi ssional. Os médicos foram formados para conhecer os fatos clínicos. Necessitam agora dar a devida importância aos valores e crenças, desejos e emoções dos doentes, aspectos fun-damentais para que sejam tomadas decisões clínicas apropriadas. Neste contexto, entram as diretivas antecipadas de vontade, também chamadas de testamento vital. Que podem incluir a designação de um representante do enfermo, investido da prerrogativa de falar por ele, fazendo prevalecer o que expressa da forma mais fi el possível a tábua de valores do paciente. Naturalmente, sem que haja agressões ao ordenamento jurídico nem à arte médica.

Dr. Ivan de Araújo Moura FéPresidente do CREMEC

DIRETIVAS ANTECIPADAS DE VONTADE

INFORMATIVO DO CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DO CEARÁ - Nº 83 - SETEMBRO/OUTUBRO DE 2010

ImpressoEspecial

9912258304/2010-DR/CECREMEC

Pág. 2 Pág. 5 Pág. 7 Pág. 8

Recadastramentoé Obrigatório

Pág. 4

Greve Nacional dos Residentes - Entrevista

Fernando Monte fala Sobre Medicina e Política

Artigo: De qual faculdade saiu o CRM da Repórter do Fantástico?

Fechando a ediçãosetembro/outubro de 2010Fórum e Julgameto Simulado na Unifor

O que o ilustre conferencista

trouxe a mais na refl exão sobre a

matéria foi a observação de que,

ao longo da história da Medicina,

desde os tempos de Hipócrates, os

médicos foram treinados para a

identifi cação dos sinais clínicos

que caracterizam as diferentes

enfermidades, porém não

desenvolveram igual atenção no

que se refere aos valores dos

pacientes.

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Antes de iniciar o seu reca-dastramento, leia atentamente as seguintes instruções:

- Apenas as inscrições PRI-MÁRIAS deverão sofrer o reca-dastramento.

- 1º passo: O recadastramen-to poderá ser feito atráves do site www.cremec.com.br ou na sede do CREMEC (Rua Floriano Peixoto, 2021 - José Bonifácio)

- 2º passo: Dirija-se ao CREMEC, de posse dos ori-ginais e cópias dos seguintes documentos:

• Carteira de identidade

(RG);• Título de eleitor;• CPF;

• Comprovante de residên-cia (recente);

• Diploma;• Títulos de especialista

(Caso não tenha registro da especialidade no CREMEC, trazer cópia autênticada da Residência Médica ou título da AMB);

• Carteira profi ssional (Li-vro verde);

• Comprovante de socie-dade em empresa de serviços médicos, se for o caso;

• Se médico estrangeiro, apresentar, também, compro-vante de legalidade de perma-nência no país;

Obs.: Não é necessário o agendamento do dia e de horário para execução destes serviços no CREMEC.

- Foto: colorida, atual e sem data, 3x4cm, fundo branco ou cinza-claro, sem qualquer tipo de mancha, alteração, retoque, perfuração, deformação ou cor-reção. Não serão aceitas foto-grafi as em que o portador esteja sorrindo, utilizando óculos, bo-nés, gorros, chapéus ou qualquer item de vestuário ou acessório que cubra parte do rosto ou da cabeça.

- Você receberá um aviso por e-mail para retirar a sua nova carteira, assim que estiver dis-ponível no CREMEC.

DATA FINAL DO RECADASTRAMENTO: 11 DE NOVEMBRO DE 2010

RECADASTRAMENTO CHAMADA FINAL

O RECADASTRAMENTO É OBRIGATÓRIO

[email protected] Jornal Conselho

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Jornal Conselho [email protected]

ARTIGO

O dicionário Aulete defi ne psicotrópico como qualquer substância, medicamento ou planta capaz de alterar o estado psíquico, a percepção ou o comportamen-to de um indivíduo.

Na prática clínica do nosso meio o termo se refere particularmente aos três grupos de medicamentos, a saber:

1) Tranquilizantes menores ou ansiolíticos (os benzodiazepínicos – tais como alprazolam, clonazepam, cloxazolam, diazepam, lorazepam etc; não benzodiaze-pínico – a buspirona etc);

2) Tranquilizantes maiores ou neurolépticos ( v.g. clor-promazina, haloperidol, lítio, olanzapina, periciazina, que-tiapina, risperidona, sulpirida, ziprazidona etc); e

3) Antidepressivos (v.g. amitriptilina, bupropiona, ci-talopram, clomipramina, fl uo-xetina, milnaciprano, mirtaza-pina, nortriptilina, paroxetina, sertralina etc).

Essas substâncias e simila-res representam, sem dúvida, o avanço mais que oportuno da farmacopeia que se desenvolve desde os primórdios da Me-dicina e que certamente se aprimorará ad aeternum, seguindo os preceitos da ciência e da Medicina cujo objetivo é a cura das doenças ou ao menos o alívio do sofrimento do corpo e da alma. Não se devem des-conhecer os maravilhosos e inquestionáveis proveitos que esses medicamentos costumam propiciar.

Recentemente a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) refez, sem o devido comunicado à maioria dos médicos, normas e regras para a pres-crição dos psicotrópicos. Estabeleceu exigências novas nos receituários, fez constar dados e informações que

visam ao melhor controle e dispensação desses medi-camentos. Tais providências certamente estão sendo louvadas e aprovadas pela maioria do colégio de mé-dicos que pelo País afora recorre a tais prescrições, já que o mau uso deles ou a sua destinação para o vício e tráfi co devem ser por todos abominados e reprovados.

Reconheçamos que de longe tem havido certa leviandade por parte de médicos quanto a essas pres-crições. Isso tem permitido que o público, de modo geral, tenha prevenções para com esses produtos, seja por ouvir dizer que viciam, seja por indicação médica

inadequada, seja por eventuais efeitos colaterais. E não esque-çamos os preconceitos da socie-dade quanto aos portadores de distúrbios mentais e particular-mente aos colegas psiquiatras e psicólogos, que tanto se empe-nham por minorar os infernos que povoam muitas mentes.

Tal postura não pode con-dizer com a seriedade que deve prevalecer no lidar com um capítulo tão sensível da Medi-cina, ou seja, o tratamento dos transtornos mentais e psíqui-cos que por todas as gerações seguirão acompanhando as so-ciedades, já que os avanços da

tecnologia, das novas descobertas, das teologias e fi lo-sofi as não alcançarão o Éden ou o Eldorado, conquan-to sejamos apenas terráqueos padecentes da nossa hu-manidade tão complexa e tão frágil, todos prisioneiros do Desconhecido e subjugados pela noção da fi nitude sem prévio aviso.

José Cláudio Bezerra de Menezes

Cremec 1766

TRANQUILIZANTES,

PRESCRIÇÕES E PRECONCEITOS

Essas substâncias e similares representam, sem dúvida,

o avanço mais que oportuno da farmacopeia que se desenvolve

desde os primórdios da Medicina e que certamente se aprimorará

ad aeternum, seguindo os preceitos da ciência e da Medicina

cujo objetivo é a cura das doenças ou ao menos o alívio do sofrimento do corpo e da alma.

Não se devem desconhecer os maravilhosos e inquestionáveis

proveitos que esses medicamentos costumam propiciar.

Aldaíza Marcos RibeiroAlessandro Ernani Oliveira Lima

Dagoberto César da SilvaDalgimar Beserra de Menezes

Erika Ferreira GomesEugênio de Moura CamposFernando Queiroz Monte

Francisco Alequy de Vasconcelos FilhoFrancisco das Chagas Dias Monteiro

Francisco de Assis ClementeFrancisco Dias de Paiva

Francisco Flávio Leitão de Carvalho FilhoHelena Serra Azul Monteiro

Helly Pinheiro ElleryHelvécio Neves Feitosa

Ivan de Araújo Moura FéJosé Ajax Nogueira Queiroz

José Albertino SouzaJosé Fernandes Dantas

José Gerardo Araújo PaivaJosé Málbio Oliveira Rolim

José Roosevelt Norões LunaLino Antonio Cavalcanti Holanda

Lucio Flávio Gonzaga SilvaLuiz Gonzaga Porto Pinheiro

Maria Neodan Tavares RodriguesOrmando Rodrigues Campos Junior

Rafael Dias Marques NogueiraRegina Lúcia Portela Diniz

Régis Moreira ConradoRenato Evando Moreira Filho

Roberto César Pontes IbiapinaRoberto da Justa Pires Neto

Roberto Wagner Bezerra de AraújoRômulo César Costa BarbosaSylvio Ideburque Leal Filho

Tales Coelho SampaioUrico Gadelha de Oliveira NetoValéria Góes Ferreira Pinheiro

REPRESENTANTES DO CREMEC NO INTERIOR DO ESTADO

SECCIONAL DA ZONA NORTEARTHUR GUIMARÃES FILHO

FRANCISCO CARLOS NOGUEIRA ARCANJOFRANCISCO JOSÉ FONTENELE DE AZEVEDO

FRANCISCO JOSÉ MONT´ALVERNE SILVAJOSÉ RICARDO CUNHA NEVES

RAIMUNDO TADEU DIAS XEREZEndereço:

Rua Oriano Mendes - 113 - CentroCEP: 62.010-370 - Sobral - Ceará

SECCIONAL DO CARIRICLÁUDIO GLEIDISTON LIMA DA SILVAGERALDO WELILVAN LUCENA LANDIM

JOÃO ANANIAS MACHADO FILHOJOÃO BOSCO SOARES SAMPAIOJOSÉ FLÁVIO PINHEIRO VIEIRAJOSÉ MARCOS ALVES NUNES

Endereço: Rua da Conceição - 536, Sala 309Ed. Shopping Alvorada - Centro

Fone: 511.3648 - Cep.: 63010-220Juazeiro do Norte - Ceará

LIMOEIRO DO NORTEEfetivo: Dr. Michayllon Franklin BezerraSuplente: Dr. Ricardo Hélio Chaves Maia

CANINDÉEfetivo: Dr. Francisco Thadeu Lima Chaves

Suplente: Dr. Antônio Valdeci Gomes FreireARACATI

Efetivo: Dr. Francisco Frota Pinto JúniorSuplente: Dr. Abelardo Cavalcante Porto

CRATEÚSEfetivo: Dr. José Wellington Rodrigues

Suplente: Dr. Antônio Newton Soares TimbóQUIXADÁ

Efetivo: Dr. Maximiliano LudemannSuplente: Dr. Marcos Antônio de Oliveira

IGUATUEfetivo: Dr. Antônio Nogueira VieiraSuplente: Dr. Ariosto Bezerra Vale

ITAPIPOCAEfetivo: Dr. Francisco Deoclécio Pinheiro

Suplente: Dr. Nilton Pinheiro GuerraTAUÁ

Efetivo: Dr. João Antônio da LuzSuplente: Waltersá Coelho Lima

COMISSÃO EDITORIALDalgimar Beserra de Menezes

Urico GadelhaFrancisco Alequy de Vasconcelos Filho

(Suplente)CREMEC

Rua Floriano Peixoto, 2021 - José BonifácioCEP: 60.025-131

Telefone: (85) 3230.3080 Fax: (85) 3221.6929www.cremec.com.br

E-mail: [email protected] responsável: Fred Miranda

Projeto Gráfi co: WironEditoração Eletrônica: Júlio Amadeu

Impressão: Gráfi ca Íris

CONSELHEIROS

Este é o novo número do telefone do CREMEC

Fique Ligado! (85) 3230.3080

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4 Jornal Conselho [email protected]

FERNANDO MONTE FALA SOBRE

MEDICINA E POLÍTICA

Pergunta: Que demandas ensejaram a criação do livro A Política e a Medicina. Resposta: A leitura do livro do Berlinguer que era senador italiano do partido comunista e que escreveu a Medi-

cina e a Política. Único livro editado no Brasil sobre o assunto. A obra frustra por falta de uma visão sistemática então eu li para aprender e vi que teria que estudar o assunto para compreender melhor essa relação. Eu li o livro na década de oitenta e trabalhei nessa obra ora lançada, entre os anos de 2000 e 2006.

Pergunta: Como foi transpor a experiência européia para a cultura latinoamericana? Resposta: A política é universal não faz essa distinção porque a origem da política vem da Grécia antiga e permanece

com esse sentido. A escrita aqui na América Latina, tem que levar em conta também como a política é feita em todos os cantos do mundo. A política aqui tem os parâmetros semelhantes a dos países de uma cultura urbana tradicional, fazendo a ressalva que a nossa cultura ainda é muito ligada às origens campesinas. Quanto ainda as demandas, a gente observa que o médico de uma maneira geral vê com muita desconfi ança a política eu procurei atraves do livro, mostrar a falta de sensibilidade social de quem pensa assim, dando o recado de que as nossas atividades profi ssionais estão diretamente ligadas ao que é determinado politicamente pela sociedade.

Pergunta: O livro A política e a Medicina teve ou tem a preocupação de formar e informar as novas gerações de profi ssionais médicos?

Resposta: O ensino em outras décadas era mais dirigido a formação e hoje o médico recebe menos formação po-rém, recebe um universo muito maior de informação do que recebia antes e isso é refl exo do contexto social na qual o indivíduo está inserido. Essa mudança fez com que a Medicina passasse a ser mais tecnológica e esquecesse o lado mais humano. Hoje, a tecnologia é a panacéia de tudo. Que ela, a tecnologia, responde a todos os problemas humanos. E nesse contexto foi excluído da prática médica, a solidariedade e certos valores humanos, para uma dedicação exclusiva ao tecnicismo. Esse comportamento fi ca mais patente depois da onda neoliberal, que tira a representatividade da sociedade para um mercado que trás a deplorável atitude de transformar o usuário do sistema de saúde em um consumidor de produto de saúde. Foi aí que aconteceu a virada de formação dos profi ssionais medicos.

Pergunta: Partindo do princípio de que houve uma virada na formação das novas gerações de médicos, quais seus desdobramentos?

Resposta: Isso é coerente com o tipo de médico que está saindo atualmente, mais informado e menos formado. Nesse confl ito de interesses entre o paciente e o médico, o médico acha que está agindo muito bem porque tem atrás de si a tecnologia que ele pode usar e está disponível. Ele acha que a maioria das informações do paciente são desnecesárias e que a tecnologia irá arrancar mais informações sobre a doença do usuário do que as informações que ele dá. As pessoas são humanas como eram as pessoas do tempo de Aristóteles e Platão e querem ter uma atenção pessoal para se sentir também gente e não um número estatístico ou um manipulado pela tecnologia.

Pergunta: E a net, o livro faz algum exercício nesse sentido? Resposta: Não. No momento neoliberal em a gente vive o paciente é um consumidor dos serviços de saúde. Vi

de uma maneira mais ampla que essa falha, atual, vai ser superada e o meu interesse como humanista é ver a sociedade antes agora e mais na frente, o que existe atualmente é um momento na história e procurei centrar a maior parte da obra no sistema de saúde que é o que permeia toda a relação médico paciente e o momento principal. É o caso do paciente que vai ao médico com milhões de informações e é o refl exo da medicina privada, em que ele vai ao médico checar se ele tem conhecimento da tecnologia que ele quer ter acesso. É diferente do relacionamento mais humano e pessoal e que ainda não partilha desse modelo.

Pergunta: Dr. Fernando fale da editoração do livro. Resposta: O primeiro capítulo é uma introdução do que poderá ser encontrado ao longo do livro, depois vem a

história de como a política entrou na medicina. Os dois tiveram nascimento na mesma época e se encontraram no século dezenove já muito próximo de nós, quando a medicina começou a ter visibilidade econômica. Depois são mostrada as relações; a forma como a medicina se relaciona com a política e a política com a medicina. Outro capítulo fala sobre a resistência que os médicos têm sobre a política. O capítulo maior descreve o sistema de saúde, que é a prática da vida médica do dia a dia e que tem a intervençao direta da política. Em seguida tem o que eu não considero política mas eu trato que é a política médica, e por fi m a ação dos médicos na política. Nesse capítulo eu discorro como eles se posicio-nam: se ele é um político médico ou um médico político.

Pergunta: Estamos em outubro de 2010 às vésperas da eleição para a presidência da República. Algo a falar sobre? Resposta: O que se pode dizer numa eleição como essa é a postura que tem os candidatos. Enquanto que um lado

se propôe a manter e aperfeiçoar a medicina pública tornar mais acessível e tornar mais amplo o acesso, do outro lado, a restrição dessa política pública e o aumento de interesses da medicina privada.

Pergunta: Mais alguma consideração, Dr. Fernando? Resposta: Que haja uma refl exão médica sobre a política, a posição da medicina sobre os fatos políticos e que seja

vista menos preconceituosamente a postura política. Que se lute também por uma medicina menos tecnológica evitando o deslumbramento tecnológico. Tecnologia é excelente mas deve ser dominada pelo indivíduo e não o contrário.

Entrevista

O livro a Política e a Medicina foi apresentado pelo

presidente Ivan Moura Fé na livraria Cultura, em 24 de setembro de

2010.

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[email protected] Jornal Conselho 5

Pergunta: Ana Cecília que demandas fi zeram com que os medicos residentes entrassem em greve? Resposta: O principal ponto de reinvidicação que uniu o Brasil inteiro foi a questão da remuneração, o valor

da bolsa auxílio que já estava congelado há quatro anos. No entanto, além dessa reinvidicação principal havia e há uma série de questionamentos, do ponto de vista ético e do ponto de vista de responsabilidade de médico residente, e principalmente sobre a carga horária que ultrapassa as sessenta horas semanais preconizada pela lei e a questão dos plantões dos residentes não supervisionados.

Pergunta: Ana Cecília, fale sobre a pauta do movimento grevista.Resposta: Com relação à bolsa auxílio o aumento que houve entre 2006 e 2007 foi fruto também de uma greve e

a lei que nos rege não contempla uma data base anual de aumento, então a categoria fi ca à mercê de soluções políticas para que haja o reajuste da bolsa. O que acontece é que, com o passar dos anos, tudo aumentou, menos os valores da nossa bolsa. Então a greve foi o nosso último e derradeiro esforço para tentar negociar mesmo sabendo, que essa de-cisão é extremamente confl ituosa no que diz respeito ao atendimento aos usuários do sistema de saúde do nosso País.

Pergunta: Ana Cecília, dentro do movimento sindical é comum a máxima de que usam mão de obra de estagiários cobrando deles funcionalidade de profi ssional mas que na hora da remuneração eles voltam à condição de estagiários. Haveria ulguma interseção com a realidade dos médicos residentes?

Resposta: O que acontece é que historicamente, a especialização médica para a residência surgiu com um médico mais jovem acompanhando um médico mais experiente no seu trabalho e muitas vezes aquele médico mais velho morava no hospital para fazer esse acompanhamento, por isso o nome residência médica. Com o passar do tempo e o surgimento de novas realidades foi necessária uma regulamentação nacional para unifi car o conteúdo programático da residência médica, em todo o Brasil, para que todos saíssem com o mesmo nível de conhecimento e mesma carga horá-ria. Com isso surgiu a lei da residência médica. Acontece é que em muitos programas de residência o médico residente fi ca com a responsabilidade de tomar decisões como especialista que ele ainda não é e aí é que está o problema: você tem que tomar uma decisão que exige uma complexidadede de conhecimento e de habilidades que você não adquiriu ainda e pior, sem o respaldo de um profi ssional experiente para ajudar. Você fi ca exposto e propenso a cometer um erro médico ou seja, o programa de residência te deixa vulnerável. Existe essa real questão ética. Tanto isso é verdade que no momento em que eu me formo, tenho a minha inscrição no CREMEC, e sou responsável por todas as minhas atitudes.

Pergunta: Ana Cecília, e a realidade pós greve? Resposta: Apesar de não termos conseguido o aumento que foi postulado ela foi muito positiva para a categoria

porque ela fez com que as associações dos médicos residentes, que estavam sem muita atuação, reoganizassem as entida-des; o que acabou ensejando a criação de uma entidade nacional e o que é melhor, com representatividade. Então como categoria eu avalio que a greve nos deixou fortalecidos. Recentemente aconteceu em Belo Horizonte o Congresso dos Médicos Residentes e desse evento foi tirada uma chapa para a Associação Nacional dos Médicos Residentes, na qual eu faço parte da diretoria executiva. O outro ganho, foi que a gente pôde comparar as realidades e discutir as diferenças dos programas de residência em cada estado da federação. Constatamos ainda que existem experiências exitosas em alguns estados, que devem ser utilizadas.

Pergunta: E os desdobramentos da greve param por aí?: Resposta: Não: O preceptor tem que ter uma remuneração diferenciada porque ele não está na condição de

médico e sim de professor e é bom que fi que claro. Nós não estamos contra o preceptor. Ele, o preceptor, precisa ser valorizado porque está lá ensinando. Nós residentes queremos ter uma relação de ajuda recíproca e de complementação de tarefas. Não como está occorrendo: um clima de retaliação e disse que disse nos hospitais após a grave nacional. Isso afeta aos residentes, preceptores e usuários do sistema de saúde.

Resposta de Felipe Sydrião aos desdobramentos da greve: A gente conseguiu, de certa forma, pressionar para que os diretores e os governantes tenham um olhar mais responsável para os médicos residentes. A lei que nos ordena está cheia de falhas e lacunas, queremos que seja pelo menos cumprida. Nós residentes temos uma carga horária que ultrapassa em muito os desígnios das leis trabalhistas e por conta disso nos expomos a diversos riscos de vida e de saúde, por trabalharmos em diversos locais para complementação de renda. Resultado, nossa qualidade de vida fi ca irremediavelmente prejudicada. A greve teve ganhos importantes: deu visibilidade ao movimento, foi fundada a asso-ciação que agora congrega todos os médicos residentes do estado do Ceará. Esperamos fi nalmente, que o movimento grevista, além de dar visibilidade aos nossos problemas, melhore a qualidade dos serviços que as instituições de saúde dão ao usuário e essa é na nossa avaliação, o objetivo mais importante.

Pergunta: Felipe Sydrião, qual sua Avaliação do movimento pósgreve? Resposta: Avaliamos que o movimento grevista aqui no Ceará, em que eu estive à frente, tirou proveitos positivos.

Nacionalmente tivemos em pequena alíquota de reajuste e a promessa de uma mesa de negociação interministerial. É necessário lembrar que após a greve a residência médica tomou novo rumo. Antes do movimento grevista algumas ins-tituições acabaram abusando do médico residente em virtude do grande número de profi ssionais médicos no mercado, esquecendo que o médico residente é um profi ssional aditivo que está ali no hospital para ser treinado sob supervisão contínua. Algumas instituições jogam esse médico sozinho, para preencher lacunas e ao mesmo tempo abusam da mão de obra barata. O outro desdobramento da greve foi a contratação de novos plantonistas para que dêem uma assistência maior ao médico residente fazendo valer as sessenta horas semanais a que estamos obrigados a trabalhar, na forma da lei.

EntrevistaAna Cecília e Felipe Sydrião

GREVE NACIONAL DOS

MÉDICOS RESIDENTES

Registramos, com pe-sar, o falecimento do Dr. Felipe Távora Sydrião, CREMEC 9364, líder, no Ceará, da recente greve de residentes, movimento de âmbito nacional. Expressamos nossas condolências à família enlutada.

Denise P. Evangelis-ta nos envia esta con-tribuição para hon-rar o colega; Felipe T. Sydrião (31.08.1980 / 21.10.2010) em seu úl-timo e-mail para amigos: “A solução está em cada um de nós, em vivermos a vida não apenas por sobreviver, mas para que possamos deixar marcos de bondade e fi ncarmos a honestidade, a sobrieda-de, a decência, a moral e a honra aonde quer que estivermos!”

Page 6: Document

6 Jornal Conselho [email protected]

ARTIGO

É hilárico, cômico, mas é trágico...Estando eu sentado na minha poltrona no domingo do dia 29/08/2010, assistindo à estréia do novo programa “É bom pra quê?” do nosso colega Dr. Dráuzio Varela no Fantástico, (melhor seria se eu estivesse lendo a resenha das novelas no jornal), da metade para o fi nal do programa fi quei extasiado, obnubilado, praticamente comatoso (Glasgow 3!!!). O nosso colega, Dr.

Dráuzio Varela, resolveu analisar um caso clínico de uma repórter do fantástico.

Acontece que a jovem repórter há algumas semanas sentia dores no punho, principalmente relacionadas aos movimentos e sem histórico de trauma, provavelmente uma lesão por esforço repetitivo, patologia certamente devida à sua árdua função de digitação na redação da Rede Globo. O Dr. Dráuzio Varela analisou a radiografi a de punho da repórter, que à primeira vista parecia normal, mas com o “zoom” da câmera, pude observar pequenas calcifi cações na incidência de perfi l, calcifi cações estas ao nível do punho.

O nosso colega concluiu que tratava-se de um processo infl amatório na membrana sinovial, uma sinovite, e que as calcifi cações denunciavam o diagnóstico. A nossa repórter, sem ter outra matéria para editar e fugindo totalmente do escopo do programa, compareceu ao SUS. Cabe aqui um adendo: Será que o pagamento do plano de saúde de nossa repórter estava atrasado? O fato é que a mesma foi a três médicos em emergências e postos de saúde distintos e nos dois primeiros médicos recebeu um diagnóstico provisório de tendinite. Digo provisório, porque nas atuais condições do nosso “Universal Health System”, sem dispor de exames complementares e com uma infi nidade de pacientes para atender, sem a mínima infra-estrutura, o máximo que se pode chegar num caso desses é a um diagnóstico provisório com posterior encaminhamento para um especialista.

Acontece que os nobres colegas que a atenderam estavam sendo filmados sem terem conhecimento disso e foram ultrajados no programa, pois a repórter comentou na reportagem que os mesmos haviam errado o diagnóstico, já que o Dr. Dráuzio Varela afi rmou categoricamente que se tratava de uma sinovite e os nobres esculápios deram o diagnóstico de tendinite. Ora, que me ajudem os colegas Ortopedistas e Reumatologistas, mas até eu que não sou da especialidade fi co embasbacado. Em primeiro lugar, um diagnóstico de infl amação na sinóvia dado como certeza apenas pela análise da radiografi a? E estas calcifi cações não podem ser nos tendões? E ainda, que erro cometeram os nossos colegas de pronto-atendimento em colocar como diagnóstico uma tendinite? Não são entidades de um mesmo espectro e que

geralmente andam juntas e que fazem parte de um mesmo diagnóstico diferencial? E o Dr. Drauzio Varela solicitou uma ultrassonografi a para confi rmar o seu diagnóstico? O tratamento nesses dois casos seria diferenciado? Há algum desmérito nos nossos nobres colegas em afi rmar que se tratava provavelmente de uma tendinite, quando na verdade deve até mesmo ser este o diagnóstico? Mas não pára por aí.

A nossa repórter, que não se identifi cou, chegou a um terceiro médico e proferiu as seguintes palavras: “O terceiro médico também não me convidou para sentar, mas pelo menos acertou o diagnóstico: Cisto Sinovial!”. Cara repórter, afi nal de contas: o seu diagnóstico é uma sinovite, um cisto sinovial ou uma tendinite? Você pelo menos conhece o signifi cado desses termos? Vale ressaltar que sempre nutri profunda admiração pelo colega Dr. Dráuzio, tendo inclusive lido três de seus livros.

Este programa infelizmente trouxe minha decepção à tona. Será que o Dr. Dráuzio Varela não deveria refl etir sobre a responsabilidade dele para com toda esta batalhadora classe médica que ainda resiste a tudo para providenciar alívio ao sofrimento dos seres humanos e da qual o mesmo faz parte? Divulgar informações deturpadas e deixar a cargo de uma repórter a análise de fatos médicos e que a mesma faça juízo de valores do diagnóstico de nobres colegas que se sujeitam ao estapafúrdio que é esse nosso sistema público de saúde, e tudo isso em cadeia nacional no domingo à noite?

Fica aqui encarecidamente o meu mais terno pedido de perdão se vos pareço rude, mas neste exato momento em que escrevo esse texto estou praticamente a convulsionar. Em um país em que os atuais governantes dizem haver uma grande economia e grandes programas sociais, a porcentagem de recursos destinados à saúde é mínima, menor que a de países pequenos como o Chile, e a população como um todo é cega para o fato de que não existe um sistema público de saúde decente no Brasil e no fi nal das contas, algumas atitudes mal pensadas e mal revistas ainda fazem com que toda a sociedade ponha grande parte da culpa sobre os médicos, que são na verdade grandes vítimas de salários aviltantes e cargas horárias extenuantes.

Fica aqui o meu apelo ao Dr. Dráuzio Varela para que refl ita sobre esta atitude e se desculpe com seus colegas. À repórter, eu como perito do INSS, não posso deixar de orientar que a mesma solicite à Central Rede Globo uma Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), que vá à Previdência Social solicitar um benefício para se recuperar de sua tendinite e que se redima em público para com toda a categoria.

A proibição de censura é totalmente saudável em um país democrático. O jornalismo irresponsável não!!!

Dr. João Paulo Aguiar SampaioCirurgião Geral

Cremec 9054

DE QUAL FACULDADE SAIU O CRM DA

REPÓRTER DO FANTÁSTICO?

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[email protected] Jornal Conselho 7

PARECER CREMEC nº 19/2010ASSUNTO: Exigência de estudo de imagem

(Raios-X) para comprovar o uso de orteses, próteses, material especial e síntese (OPMES.)

RELATORES: Francisco Flavio Leitão de Carva-lho Filho, Dalgimar Beserra de Menezes

EMENTA: Todo e qualquer método complemen-tar deverá ser utilizado SOMENTE com o objetivo de esclarecer diagnóstico ou nortear conduta do MÉDICO ASSISTENTE

PARECER CREMEC nº 25/2010PARECERISTA – Conselheira Valeria Goes

Ferreira Pinheiro

EMENTA – É dever do médico preencher o prontuário médico bem como fornecer laudo ao paciente ou seu representante legal em caso de encaminhamento, transferência ou solicitação de alta.

PARECER CREMEC Nº 27/2010Assunto: Abuso Sexual de MenorRelatora: Dra. Patrícia Maria de Castro TeixeiraEMENTA: Lei N.º 8.069, de 13 de julho de 1990

- Estatuto da Criança e do Adolescente - Inteligência do Art. 13 – Artigo 74 da Resolução CFM N.º 1.931/2009 – Código de Ética Médica.

Era um fi nal de tarde quente, sem brilho, cheio de expectativas de visitas domiciliares em uma localidade às margens do rio Jaguaribe, distante da unidade de trabalho e, mais ainda, da sede do município, também distante...

Na ânsia de descobertas de pessoas acamadas, mais doentes do que sãs, dentro de camas e de redes tecidas perto dali, via morte se confundir com vida, olhos sem brilho e um muito de esperança. Casas escuras, sem luz natural, sem cheiro de vela...

Quando corre perto de mim um menino franzino, mulato, curioso e tentador a me chamar pra ver um morto que, ao que tudo indicava, estava vivo...

O susto que tive na hora me fez relutar a escolha profi ssional. E parti de casas sem cheiro de vela, adentrando noutra com cheiro de vela, calor humano, frio dos entes, tristezas opacas. Na sala

miúda, o morto, assim esperava-se, muitas pessoas, a localidade inteira no impasse da decisão. Seria o diagnóstico mais difícil de minha vida, ainda mais de uma morte bem morrida!

Ao meu lado, como companheiro de sessão clinica ou de necrópsia, um agente funerário, com luvas (e eu sem), bêbado, olhos vermelhos de álcool e de um pesar profundo laboral. Ele me interroga: “tá vivo ou morto, doutora?” E eu, sem titubear, retiro-o do caixão e da sala quente, com perfume fúnebre das fl ores típicas de velório misturado com parafi na quente.

Finalmente na cama, eu o Sr Antonio. Esforço-me bravamente nas lembranças de unidades de terapia de urgência dos passos para fechar diagnóstico de morte e assim o faço com critério. A família do morto, notadamente a pretensa viúva, cala-se e um silêncio magistral se faz ao meu redor.

No entorno, hálito do agente funerário, nas bordas de minhas calcas pedaços de pétalas e no ar a terrível dúvida de possibilidade de vida ali existente ao meu lado na cama imprópria...

Sigo os passos, penso, repenso, checo tudo e a palavra fi nal, afi nal o agente me cobrara a resposta defi nitiva! Digo: esta morto, voltemos à sala, ao caixão, as fl ores e ao calor terminal da parafi na quente.

O sol já esfriava quando sai dali, fria, duvidosa de minha escolha. Queria mesmo ser médica de vivos, nunca pensei em ser legista, nunca pensei de me encalacrar no leito de vida e de amor de um morto ainda quente para questionar tal situação!

E dali sai mais fria e hígida que o morto, certa de seu sepultamento na manhã seguinte!

Kelly Messias

A HISTÓRIA DO MORTO VIVO

JURÍDICO/PARECERES/EMENTAS

Crônica

Meio panglossiano, prof Beserra se entusiasma com o que o vê. Vai ao Auditório Waldir Arcover-de da Secretaria de Saúde, de noite, proferir uma palestra no II Curso de Neurologia e Neurologia; encontra ali mais de cem estudantes de medicina. Na mesma semana, e nas subseqüentes, vai ao Auditório do Colégio Ari de Sá, da Aldeota, nova-mente de noite, participar de duas sessões clínico--patológicas organizadas em parte por si (casos de sua prática cotidiana), e em cada uma dessas atividades, esbarra com duas centenas outras de estudantes de medicina. Tudo num mesmo mês.

Como diz o dramático e retórico Fulano de Tal: Pasmem! Paralelamente e ao mesmo tempo, mais de trezentos acadêmicos de medicina, ávidos de saber.

Eis que advêm os encontros universitários, des-ta vez, vai ele ao Pici, e se depara ele, prof Beserra, com centenas de trabalhos de estudantes; num dos trabalhos (painel) descobre que não é ele o agente da organização das sessões clínico-patológicas. Não se perturba, enfrenta o assunto com ironia, mas esmaece um tanto seu fervor panglossiano, pela vertente da ética.

Então, encaminha-se ao Auditório da Bibliote-ca da UNIFOR, para tomar parte num Julgamento Simulado. Está lá outra centena de estudantes.

Por si mesmo e ao colher opiniões de colegas, exclama:

- Eta! moçada estudiosa e vontadosa de aprender!

Acodem as refl exões: o currículo paralelo an-tigo está cada vez mais ativo. Os novos currículos mínimos suscitam o aparecimento dessas dezenas de atividades noturnas e diurnas, agora planejadas pelas diversas ligas, que são ofi ciais, e que pro-porcionam e promovem aquilo que tantas vezes planejou-se evitar, a formação do médico, que seria chamado há eons de necessário (médico necessário), pelo viés da especialização precoce.

Sem ilusões, prof Beserra, menos otimista, sentencia: se é assim, que seja, tiremos proveito e ajudemos os jovens ansiosos de conhecimentos na esteira dessa neopedagogia.

Porém, não faltam espíritos danados, a mirar a coisa de outro modo, como o padre Urbano, exorcista:

- Tu estás pensando que esses estudantes estão empenhados em estudar?

És uma besta. Na competição desenfreada em que acham metidos estão é interessados nos certifi cados que essas atividades conferem, tanto as didáticas quantos as ditas científi cas (de apresen-tação e escritura de trabalho e de livros), que irão os capacitar mais ou habilitar com vantagem nos próximos concursos e avaliações, principalmente as provas de residência.

Prof Beserra responde com a velha sentença do mestre de todos, na Metafísica: Acredito que “todos os homens, por natureza, desejam conhe-cer”, destinam-se ao conhecimento. De si para si, diz murmurante: O currículo não lhes provê de

grandes expectativas de aprendizagem, migram eles para o currículo paralelo ofi cializado, ou para o criptocurrículo, clandestino. E não há como en-dossar o que dizem os neopedagogos no que falam em ensino e aprendizagem doces, sem estresse. Esse corre-corre engendra cada vez mais estresse. É corre-corre frenético, numa cidade de trânsito cada vez mais cruel e louco.

Sucedem, entrementes, fatos bizarros. Os tempos são perversos. O estresse, paroxístico. No meio desse frenesi, uma estudante procura prof Beserra pleiteando um certifi cado de estágio vo-luntário. Ninguém no setor em que está o velho mestre-escola, (funcionários e médicos), a conhece, nem ele mesmo tem plena consciência de sua bela feição (dela) .

O telefone toca, prof Beserra atende, ouve voz jovem que se identifi ca como estudante de medicina

- Professor, aquele paciente da lesão da faringe, que o senhor suspeita de amiloidose, tem realmente amiloidose?

- Tem.- Oh beleza, vou já-já preparar um trabalho para

publicar, o senhor fotografa as lâminas para mim?Atalha prof. Beserra: - Olhe, senhor, que tal primeiramente ver

o que pode fazer para minorar o sofrimento do paciente?

FRENESI Artigo

Cons. Menezes

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8 Jornal Conselho [email protected]

Fechando a edição - setembro/outubro de 2010

XVIII FÓRUM DE ÉTICA MÉDICA DO CREMEC EM FORTALEZAI FÓRUM DE ÉTICA MÉDICA DO NAMI-UNIFOR / JULGAMENTO SIMULADO

21 de outubro de 2010 / Auditório da Biblioteca da UNIFOR

O Cons. José Albertino de Sousa em Lima e no Canadá, defendendo, como sempre, as boas causas.

Organização: Helvécio Neves Feitosa e Roberto Wagner Bezerra de Araújo; Presidente da Sessão de Julgamento: Helvécio Neves Feitosa;Relatora, Valéria Góes Ferreira Pinheiro; Revisor, Roberto Wagner Bezerra de Araújo; Advogado de Acusação, Renato Evando Moreira

Filho; Advogado de Defesa, José Mauro Mendes Gifoni; Julgadores: Dalgimar Beserra de Menezes, Urico Gadelha de Oliveira Neto, Siulmara Cristina Galera, Joaquim Luiz de Castro Moreira, Ricardo Maria Nobre Othon Sidou, Rafaela Vieira Corrêa, Alexandre Alcântara Holanda, Rivianny Arrais Nobre, Gentil Claudino de Galiza Neto e Magda Moura de Almeida. Tratava-se o caso julgado (simulação) de Apendici-te Aguda, presumivelmente negligenciada pelo médico acusado, resultando em falecimento do paciente. O julgamento ensejou brilhantes discursos de Gifoni (defesa), de Moreira Filho (acusação) e do julgador Oliveira Neto. O médico acusado acabou absolvido, porém não por unanimidade dos julgadores.