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Hugo da Costa, Entrevista

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Entrevista ao designer de moda Hugo da Costa para a revista Traço #3

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Diz que desenha “para estar na rua, para viver na rua e partindosempre da rua”. A sua última colecção – para o Inverno de 2012, assenta no tema da religião e na crítica à educação judaico-cristã.

A Traço entrevistou Hugo Costa, um jovem Designer de Moda sedeado em São João da Madeira que colocou o sedentarismo

na gaveta e responde às dificuldade com atitude

Texto: Ana Rita Sevilha | Fotos: Carmo Amorim

HugoCosta

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Éjovem, designer de moda e portu-guês. Diz que este é um mercado

difícil mas nem por isso atira a toalha aochão. De São João da Madeira para a Traço:Hugo Costa

Como corre a vida de um designer demoda jovem, em Portugal?

Apesar de ser uma pessoa positiva, tenhoque dizer que ser designer de moda em Por-tugal não é fácil. Não vivemos num Paíscom mercado de Moda, o que dificulta asustentação dos nossos projectos, e nos ob-riga a procurar outras actividades para sub-sistirmos e até financiarmos as nossascolecções.

No meu caso, tenho a sorte de ainda de-senvolver um trabalho associado à minhaformação, desenvolver colecções para em-presas têxteis e empresas de calçado, masem contrapartida,a minha energia nãoestá tão focada no meu projecto o quetorna as coisas bem mais complicadas eesforçadas.

O facto de estar em São João da Ma-deira – fora dos grandes centros, é umacondicionante ou uma mais-valia?

A minha opinião é que é uma mais valia,desde que a atitude não seja sedentária. Onível de vida é muito mais barato que noPorto! Estou numa cidade "industrial" (in-dustria do calçado), mas o facto de estar emSão João da Madeira não me impede de tra-balhar com empresas de Guimarães, daTrofa ou até de Lisboa, se assim tiver que ser.

Importante não é onde estamos mas simcomo trabalhamos.

Considera que tem uma linha/estilopróprio? Como o definiria?

Durante algum tempo procurei esse "estilopróprio"… procurei a minha identidadecomo criador. A minha identidade é a rua!Desenho para estar na rua, para viver na ruae partindo sempre da rua, independente-mente do tema da colecção.

Só desenha roupa de homem...Por al-guma razão em especial?

Durante esta procura do tal "estilo pró-prio" desenhei muita coisa para senhora!!Não é o caso de não gostar de desenharroupa de senhora, mas também descobrique é desenhar roupa de homem que me fazsentir mais completo. Não excluo a possibi-

lidade de no futuro acrescentar uma colec-ção de senhora.

Há quem defenda que a crise, naModa, potenciou um regresso aos bási-cos, deixando para trás colecções maisteatrais e pouco práticas ou usáveis nodia-a-dia. Concorda?

Acredito nisso. Algo que também já acon-teceu com as grandes guerras mundiais nopassado… com o racionamento dos tecidos.Desta vez não é um racionamento impostomas sim consciente. Não é um racionamentode tecidos mas um racionamento de recur-sos, além de que se nós olharmos para a ruaidentificamos o que as pessoas querem, bá-sicos e mais básicos.

Este contexto económico transformoualguma coisa no seu modo de pensar, de-

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“A colecção tempor base os vestuários escolares e semi-naristas, mas usados de formadesconstruida edescontraída...”

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senhar e desenvolver uma colecção?Não.

Que conceito/ideia está por detrás dacolecção para o Inverno de 2012?

O tema não é muito simpático, porquemexe com algo que não aprendemos aquestionar, e que nos é imposto, a reli-gião.

De certa forma é uma critica à educaçãojudaico-cristã a que também fui subme-tido, mas sem o objectivo de chocar ouferir os ideais das pessoas, apenas querotentar mostrar que se usarmos os "ensina-mentos" que nos foram impostos de formadescontraída e nada radical, nos tornare-mos mais tolerantes. Claro que para issotive que encontrar elementos que ligassema colecção "à história e à estoria" que nósconhecemos.

O que propõe ao nível do corte, tex-tura e cor?

A colecção tem por base os vestuários es-colares e seminaristas, mas usados de formadesconstruida e descontraída, com materiaisque se descolam da rigidez imposta pelos en-sinamentos radicais, e do vestuário em ques-tão. tecidos fluidos, leves e poucoestruturados.

A ilustração é outra das suas área deactividade. De que forma a ilustração deo design de moda se influenciam?

Uso a ilustração como meio de apresenta-ção da minha colecção. Normalmente apre-sento sempre uma Ilustração como teaser dacolecção para apresentação do conceito.

Mas sem dúvida, que como formas de ex-pressão se podem influenciar e inspirar mu-tuamente, tal como outras formas deexpressão, como a música, a pintura, a litera-tura, a arquitectura,… A Ilustração muitasvezes é a única forma que tenho para transmi-tir a imagem da colecção que tenho na cabeça.

Diariamente, eu uso a ilustração para es-tamparia, para empresas com quem trabalhona área têxtil.

Acha que a Moda podia ou deveriacriar sinergias com outras áreas de acti-vidade? Quais?

Eu sinto que já estão a ser criadas essas si-nergias. Repare-se que ao longo de mais deum século de industria de moda, sempre ti-vemos uma relação estreita entre a moda e afotografia… e sinto que cada vez mais fazsentido este relacionamento multidisciplinar.Exemplo disso são as Creative Factory quevão estabelecer ligações entre as várias árease industrias criativas.

Partindo do princípio que tanto a Ar-quitectura como o Design de Modacriam “volumes” para proteger as pes-soas, acha exequível uma sinergia a estenível? Em que pontos estas duas áreas sepoderiam contaminar?

A arquitectura e o design de moda produ-zem produtos muito diferentes… mas no en-tanto podem estar relacionados, podem-seinspirar, podem existir um no outro. Temos al-guns exemplos disso na história da moda, comcriações super estruturadas e arquitectónicas.

A arquitectura serve de ponto de partidapara muitos designers, e acredito que o de-sign, incluindo o design de moda sirva de ins-piração para muitos arquitectos.

Alguma vez um arquitecto ou um edi-fício serviram de inspiração para algumtrabalho/peça/colecção sua?

Até ao dia de hoje não… quando me refiroà rua, refiro-me ás pessoas. Mas não o excluose assim fizer sentido.

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“A Ilustração muitas vezes é a única formaque tenho paratransmitir a imagem da colecção quetenho na cabeça.”

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