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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA 111 FACULDADE METROPOLITANA DE MARINGÁ FAMMA I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA 22 a 24 de outubro de 2014 2014

I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA · ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA 8 1APRESENTAÇÃO O I Seminário de Pesquisa e Extensão da FAMMA apresenta-se

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

111

FACULDADE METROPOLITANA DE MARINGÁ – FAMMA

I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

22 a 24 de outubro de 2014

2014

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

2

I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

Comissão Organizadora

Profa Dra Adriana dos Santos Souza Crevelin Prof. Me. Izabeth Aparecida Perin da Silveira

Profa Dra Juliana Orsini da Silva Profa Esp. Marilsa do Carmo Rodrigues de Léon

Maringá 2014

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

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Mantenedor Evandro de Freitas Oliveira

Diretora Geral Maria da Conceição B. Freitas de Oliveira

Diretora de Ensino Prof.ª Dra Adriana dos Santos Souza Crevelin

Diretora de Pesquisa e Extensão Prof.ª Dra. Juliana Orsini da Silva

Coordenadores de Cursos Alessandra Regina Carnelozzi Prati

Araceles Frasson de Oliveira Eliane Amarilha de Souza Dantas

Fernanda Martins Valotta Izabeth Aparecida Perin Silveira

Jéferson Soares Damascena Juliana Orsini Da Silva

Marco Antonio Sena de Souza Nilson Facci

Prisicla Kutne Armelin Tiago Roberto Ramos

Normalização Patrícia da S. Marjotto Tavares

Revisão Linguística Aline Almeida Inhoti Raquel Fregadolli

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) (Biblioteca UNIFAMMA, Maringá – PR - Brasil)

Seminário de Pesquisa e Extensão da FAMMA,(1: 2014:

Maringá –Pr)

S471a Anais / I Seminário de Pesquisa e Extensão (22 a 24

de outubro de 2014).-- Maringá : FAMMA, 2014.

1 CD-ROM.

Anual

ISSN: 2359-7046

Conteúdo: Palestras. Mesas-redondas.

1. Educação. 2. Direito. 3. Publicidade e

Propaganda. 4. Administração. 5. Marketing. 6.

Secretariado Executivo Trilíngue. 7. Serviço Social.

8. Psicologia. 9. Educação Física 10. Pedagogia I.

SILVEIRA, Izabeth Aparecida Perin, Org. II.

Faculdade Metropolitana de Maringá - FAMMA. III.

Título.

CDD 21. ed. -378

Carmen Torresan CRB 9/629

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

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I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO

Comissão Organizadora Profa Dra Adriana dos Santos Souza Crevelin Prof. Me. Izabeth Aparecida Perin da Silveira

Profa Dra Juliana Orsini da Silva Profa Esp. Marilsa do Carmo Rodrigues de Léon

Coordenação de Eventos

Marilsa do Carmo Rodrigues de León

Equipe de apoio

Daiane Letícia Boiago Elton Sadao Tada

Elza Marques da Silva Mariucci Fernanda Amorim Accorsi Fernanda Martins Valotta

Jair Moreira Jefferson Gustavo dos Santos Campos

José Adalberto Mourão Dantas Kelly Cristina Pereira Puertas

Marina Miotto Negrão Renata dos Santos Oliveira

Viviane de Oliveira Berloffa Caraçato

Comissão Científica Aline Almeida Inhoti

Beatriz Pazini Ferreira Jair Moreira

Jefferson Gustavo dos Santos Juliana Orsini da Silva

Maria de Lourdes Bacicheti Gonçalves Marina Miotto Negrão

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

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SUMÁRIO

1 APRESENTAÇÃO..............................................................................08 2 PROGRAMAÇÃO...............................................................................09 3 TRABALHOS PUBLICADOS.............................................................14 3.1 ARTIGOS............................................................................................14 3.1.1 A GARANTIA DO AUXÍLIO DOENÇA PARA O TRABALHADOR.

Roseli Alves de Faria Franciele (G. FAMMA), Jaqueline Gregório (O. FAMMA)..............................................................................................14

3.1.2 A INFLUÊNCIA DOS CONTOS INFANTIS NA PRODUÇÃO TEXTUAL DE CAMPANHAS PUBLICITÁRIAS – LINHA DISNEY PRINCESAS. Nathália Borges Silva (G. FAMMA), Jair Moreira (O. FAMMA)..............................................................................................27

3.1.3 A MÚSICA NA PROPAGANDA TELEVISIVA COMO FATOR

EMOCIONAL DE APROXIMAÇÃO E PERSUASÃO DO CONSUMIDOR. Franciele S Santos (G. FAMMA), Jair Moreira (O. FAMMA)..............................................................................................65

3.1.4 A POLÍTICA NEOLIBERAL, A REFORMA DO APARELHO ESTADO E A POLÍTICA EDUCACIONAL BRASILEIRA. Kethlen Leite de Moura (FAMMA)................................................................................104

3.1.5 JOHN DEWEY NO CINEMA: OS PRINCÍPIOS EDUCATIVOS NO

FILME ALÉM DA SALA DE AULA. Fernanda Amorim Accorsi (FAMMA)...........................................................................................127

3.1.6 O PAPEL DO TUTOR PRESENCIAL NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE. Letícia Cristina Garcia Félix de Castro (UNICESUMAR), João Paulo Bittencourt (UNICESUMAR), Nayara de Oliveira (UNICESUMAR)..141

3.1.7 O PERFIL DOS IDOSOS ASILADOS NA CIDADE DE MARINGÁ. Ana Claudia Marassi Spineli.............................................................155

3.1.8 PEDAGOGIAS CULTURAIS E IDENTIDADE NA PUBLICIDADE. Fernanda Amorim Accorsi (FAMMA)................................................172

3.2 RESUMOS EXPANDIDOS................................................................189 3.2.2 AVALIANDO A CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA DO CONSUMIDOR DA

CIDADE DE MARINGÁ – PR. Vitor Vinicius Ribeiro Schmitt (G. FAMMA), Renata Oliveira (O. FAMMA)............................................195

3.2.3 BACHAREL EM PUBLICIDADE E PROPAGANDA: UM ESTUDO DE CASO NA FAMMA. Calíli Alves Cavalheiro (G. FAMMA), Renata Oliveira dos Santos (O. FAMMA).....................................................199

3.2.4 A GESTÃO AMBIENTAL NO CONTEXTO DAS ORGANIZAÇÕES: RUMO AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. Aparecida do Nascimento Silva (G. FAMMA), Maria Gabriela Monteiro (O. FAMMA)............................................................................................205

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

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3.2.5 A UTILIZAÇÃO DO FACEBOOK POR JOVENS UNIVERSITÁRIOS: PARTICIPAÇÃO POLÍTICA E MOBILIZAÇÃO SOCIAL. Railon Batista dos Santos, Tiago Roberto Ramos.......................................211

3.2.6 COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR EM RELAÇÃO AO CONSUMO DE PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL. Calíli Alves Cavalheiro (G. FAMMA)...................................................................216

3.2.7 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: ASPECTOS HISTÓRICOS. Maria Lucia Lopes Barroso, Taissa Vieira Lozano, Maria Luisa Furlan Costa..222

3.2.8 A INCLUSÃO DOS SURDOS NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA. Camila Técla Mortean Mendonça (UNICESUMAR), Renata Simões de Brito Cardoso (UNICESUMAR), Angela Sampaio de Deus Lima (UNICESUMAR)..............................................................................227

3.2.9 ROMPENDO BARREIRAS: A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA A DISTÂNCIA (PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES). Daniel da Silva Maciel (G. FAMMA), Kethlen Leite de Moura (O. FAMMA)...........................................................................................233

3.2.10 QUEM ESSE FILME PENSA QUE VOCÊ É? O MODO DE ENDEREÇAMENTO COMO METODOLOGIA ANALÍTICA. Priscilla Silva de Oliveira (G. FAMMA), Fernanda Amorim Accorsi (O. FAMMA)...........................................................................................239

3.2.11 NEGLIGÊNCIA CONTRA O IDOSO NO TRANSPORTE PÚBLICO COLETIVO DA CIDADE DE MARINGÁ-PR: VIOLÊNCIA VELADA PELA SOCIEDADE. Igor Lobianchi Soares de Alencar (G. FAMMA), Rodrigo Eder Felício........................................................................243

3.2.12 NOVOS ARRANJOS FAMILIARES: NOVOS PARADIGMAS. Andréia Loureiro (G. FAMMA), Letícia Carla Baptista Rosa (O. FAMMA)...248

3.2.13 VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA CONTRA O IDOSO EM MARINGÁ. Ana Paula da Silva Siqueira...................................................................251

3.2.14 O CORPO COMO FONTE DE DISCURSO: DESENVOLVIMENTO

TECNOLÓGICO, SUAS IMPLICAÇÕES NA SOCIEDADE E NA FORMAÇÃO DO PENSAMENTO. Géssica Aline Caruzo, Guilherme Arnaldo dos Anjos Gobbo, Ana Luiza Barbosa Anversa.................255

3.2.15 UMA BREVE REFLEXÃO SOBRE A EAD NO BRASIL E SUAS

IMPLICAÇÕES. Angela Sampaio de Deus Lima (UNICESUMAR), Renata Simões de Brito Cardoso, Camila Técla Mortean Mendonça..........................................................................................260

3.3 RESUMOS........................................................................................266 3.3.1 CONFLUÊNCIAS ENTRE MITO E LITERATURA: ARTICULAÇÃO

PSICANALÍTICA COM O CONCEITO DE FANTASIA. Raphael Edson Dutra (G. FAMMA), Eliane Kiyomi Tabuti (G. FAMMA), Kelly Cristina Pereira Puertas (O. FAMMA)……………………………………….....266

3.3.2 O DESEJO DE MORTE. Eliane Kiyomi Tabuti (G. FAMMA), João Jova Gonzales (G. FAMMA), Kelly Cristina Pereira Puertas (O. FAMMA)............................................................................................

3.3.3 O CUIDADO COM O PACIENTE TERMINAL: UM OLHAR PSICANALÍTICO. João Jova Santos Gonzales (G. FAMMA), Eliane Kiyomi Tabuti (G. FAMMA), Kelly Cristina Pereira Puertas (O. FAMMA)..................................................................................................

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

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3.3.4 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: O ESTATUTO JURÍDICO DE PROTEÇÃO À MULHER VÍTIMA DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. Débora Regina de Moraes Ramos (G. FAMMA), Aracéles Frasson de Oliveira (O. FAMMA)...............................................................................

3.3.5 GÊNERO, TRANSEXUALIDADE E TRAVESTISMO - A IDENTIDADE PSICOSSOCIAL E A APLICABILIDADE DA LEI MARIA DA PENHA Raphael Edson Dutra (G. FAMMA), Vivian Madeira Farias (G. FAMMA), Aracéles Frasson de Oliveira (O. FAMMA).............................

3.3.6 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DAS ESCOLAS NORMAIS NO BRASIL: REFLEXÕES SOBRE O PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO E EXPANSÃO (1835-1946). Andressa Lariani Paiva Gonçalves (UEM)...

3.3.7 CONCILIAÇÃO ENTRE TRABALHO E FAMÍLIA: A DIVISÃO DO ESPAÇO PÚBLICO E PRIVADO. Pâmela Suelen M. Guedes (G. FAMMA), Aline Cristina Alves.................................................................

3.3.8 O REI TROVADOR E AS CANTIGAS D’AMIGO E D’AMOR. Mariana Vieira Sarache (UEM), Terezinha Oliveira (UEM)...................................

3.3.9 3.3.10 3.3.11

FAMÍLIA E PUBLICIDADE: UMA ANÁLISE DAS PROPAGANDAS TELEVISIVAS. Bruno Ricardo Dias Sposito (G. FAMMA), Tânia Maria Gomes da Silva (O. FAMMA).................................................................. O PROCESSO DE CRIAÇÃO E FORMAÇÃO DO MUNICÍPIO DE CIANORTE-PR: CONTINGENTES MIGRATÓRIOS E ESCOLARIZAÇÃO (1953-1963). Andressa Lariani Paiva Gonçalves (UEM)...................................................................................................... ESTATUTO DO IDOSO: UMA RESPOSTA DO ESTADO CONTRA A VIOLÊNCIA AOS IDOSOS. Rodrigo Eder Felicio (O. FAMMA), Daiany Martins Fiorotto (G. FAMMA)..................................................................

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

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1APRESENTAÇÃO

O I Seminário de Pesquisa e Extensão da FAMMA apresenta-se com um

formato novo, diferente do “Ciclo de Estudos”, evento que vinha acontecendo

anualmente na Instituição.

O Seminário tem como objetivo divulgar, socializar e avaliar, tanto a

produção extensionista quanto aquela oriunda da pesquisa científica e

também os trabalhos de conclusão de curso, desenvolvidos pela Instituição,

por alunos e os respectivos docentes orientadores e colaboradores. Por ser

aberto ao público em geral, os professores e alunos de outras Instituições

também participam, sejam como ouvintes, ou ainda apresentando para a

comunidade acadêmica e para a sociedade os resultados das pesquisas e

dos projetos de extensão. Assim, com o evento pretende-se incentivar a

produção científica de alunos e professores da Instituição e de outras

Instituições.

Em sua I edição, o seminário envolveu uma sequência composta de

atividades com a finalidade específica de desenvolver conhecimento,

capacidades e aprendizagem por meio do trabalho. A ideia foi somar

informações e experiências. Foi um evento científico multi e interdisciplinar, já

que abrangeu várias áreas de conhecimento, englobando todos os cursos de

graduação desta Instituição.

A Faculdade Metropolitana de Maringá tem incentivado a pesquisa como

forma de produção de novos conhecimentos e a considera como um recurso

educativo destinado ao desenvolvimento da atitude científica indispensável à

formação em grau superior. É oportuno destacar que esse tipo de evento está

previsto no Plano de Desenvolvimento Institucional, apresentando-se no

sentido de garantir aos alunos, professores e egressos da Faculdade

Metropolitana de Maringá condições objetivas para a socialização dos

trabalhos investigativos que vêm sendo realizados nos âmbitos do ensino, da

pesquisa e da extensão.

A Coordenação

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2PROGRAMAÇÃO

2.1PALESTRAS

2.1.1Pesquisa e produção científica. Palestrante: Profa. Dra. Wânia

Resende da Silva.

Mesas-redondas simultâneas

2.2 MESA-REDONDA

2.2.1 A (in)dignidade da pessoa humana na sociedade tecnológica: os caminhos para a emancipação. Debatedores: Prof. Me. Claudio Rogério Teodoro de Oliveira (FAMMA) e Prof. Me. Guilherme Arnaldo dos Anjos Gobbo (FAMMA) 2.2.2.Educação a Distância: aspectos legais, práticas pedagógicas e a democratização do Ensino Superior. Debatedores: Profa. Me. Fernanda Martins Valotta (FAMMA), Profa. Me. Daiane Letícia Boiago (FAMMA) e Profa. Me. Kethlen Leite de Moura (FAMMA). 2.2.3 Mobilização Social e Redes Sociais Debatedores: Profa. Me. Fernanda Amorim Accorsi (FAMMA) e Profa. Me. Renata Oliveira dos Santos (FAMMA). Mediador: Prof. Me. Tiago Roberto Ramos 2.2.4Gênero e sexualidade no espaço escolar: contribuições Debatedores: Profa. Dra. Eliane Rose Maio (UEM), Profa. Me. Ariane Camila Tagliacolo Miranda (UNICESUMAR) e Profa. Me. Izabete Aparecida Perin da Silveira (FAMMA). 2.2.5 A Violência como desafio na sociedade atual Debatedores: Profa. Me. Elza Marques da Silva Mariucci (FAMMA), Profa. Me. Aracelis Frasson de Oliveira (FAMMA) e Profa. Me. Letícia Carla Baptista Rosa (FAMMA)

2.3 APRESENTAÇÃO DE TRABALHOS CIENTÍFICOS

2.3.1CONFLUÊNCIAS ENTRE MITO E LITERATURA: ARTICULAÇÃO PSICANALÍTICA COM O CONCEITO DE FANTASIARAPHAEL EDSON DUTRA, ELIANE KIYOMI TABUTI e KELLY C7RISTINA PEREIRA PUERTAS 2.3.2O DESEJO DE MORTEJOÃO JOVA SANTOS GONZALES, ELIANE KIYOMI TABUTI e KELLY CRISTINA PEREIRA PUERTAS

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

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2.3.3CUIDADO COM O PACIENTE TERMINAL: UM OLHAR PSICANALÍTICOJOÃO JOVA SANTOS GONZALES, ELIANE KIYOMI TABUTI e KELLY CRISTINA PEREIRA PUERTAS 2.3.4O CONCEITO DE DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA POR MEIO DE UMA CONSTRUÇÃO DIALÉTICATALITA RIBEIRO DOS SANTOSe CLÁUDIO ROGÉRIO TEODORO DE OLIVEIRA 2.3.5VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: O ESTATUTO JURÍDICO DE PROTEÇÃO À MULHER VÍTIMA DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICADÉBORA REGINA DE MORAES RAMOS e ARACÉLES FRASSON DE OLIVEIRA 2.3.6GÊNERO, RANSEXUALIDADE E TRAVESTISMO - A IDENTIDADE PSICOSSOCIAL E A APLICABILIDADE DA LEI MARIA DA PENHAVIVIAN MADEIRA FARIAS, RAPHAEL EDSON DUTRA e ARACÉLES FRASSON DE OLIVEIRA 2.3.7PRÁTICAS DE SOLUÇÕES ALTERNATIVAS DE CONFLITOS NO ENFRENTAMENTO ÀS VIOLÊNCIAS ELZA MARQUES DA SILVA MARIUCCI, MARCIA VIEIRA DE SOUZA MARTINS e SONIA MARIA MENDES QUEIROZ DO VALE 2.3.8O DIAGNÓSTICO DE TDAH E A MEDICALIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO: uma compreensão por meio da Psicologia Histórico-CulturalELOISA ATSUE TANAKA BEPPU e ISABELLA VAINI ALVES 2.3.9A GARANTIA DO AUXÍLIO DOENÇA PARA O TRABALHADORROSELI ALVES DE FARIA e FRANCIELE JAQUELINE GREGÓRIO 2.3.10VIOLÊNCIA FÍSICA CONTRA O IDOSO EM MARINGÁ 2012-2013 QUELI CUNHA DE LIMA e JOSÉ ADALBERTO MOURÃO DANTAS 2.3.11A VIOLÊNCIA FÍSICA CONTRA A PESSOA IDOSA NO MUNICÍPIO DE MARINGÁSIMONE FIORINI VENTURA e FRANCIELI JAQUELINE GREGÓRIO 2.3.12A MÚSICA NA PROPAGANDA TELEVISIVA COMO FATOR EMOCIONAL DE APROXIMAÇÃO E PERSUASÃO DO CONSUMIDORFRANCIELE S SANTO e JAIR MOREIRA 2.3.13A INFLUÊNCIA DOS CONTOS INFANTIS NA PRODUÇÃO TEXTUAL DE CAMPANHAS PUBLICITÁRIAS – LINHA DISNEY PRINCESASNATHÁLIA BORGES SILVA e JAIR MOREIRA 2.3.14AVALIANDO A CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA DO CONSUMIDOR DA CIDADE DE MARINGÁ – PRVITOR VINICIUS RIBEIRO SCHMITT e RENATA OLIVEIRA

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

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2.3.15A GESTÃO AMBIENTAL NO CONTEXTO DAS ORGANIZAÇÕES: RUMO AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL APARECIDA DO NASCIMENTO SILVA (G) e MARIA GABRIELA MONTEIRO 2.3.16BACHAREL EM PUBLICIDADE E PROPAGANDA: UM ESTUDO DE CASO NA FAMMACALÍLI ALVES CAVALHEIRO e RENATA OLIVEIRA DOS SANTOS 2.3.17A UTILIZAÇÃO DO FACEBOOK POR JOVENS UNIVERSITÁRIOS; PARTICIPAÇÃO POLÍTICA E MOBILIZAÇÃO SOCIALRAILON BATISTA DOS SANTOS e IAGO ROBERTO RAMOS 2.3.18COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR EM RELAÇÃO AO CONSUMO DE PRODUTOS DE ORIGEM ANIMALCALÍLI ALVES CAVALHEIRO 2.3.19POLÍTICAS PÚBLICAS E A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIAADRIANA DOS SANTOS SOUZA CREVELIN, FERNANDA MARTINS VALOTTA 2.3.20EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: ASPECTOS HISTÓRICOSMARIA LUCIA LOPES BARROSO, TAISSA VIEIRA LOZANO e MARIA LUISA FURLAN COSTA 2.3.21A INCLUSÃO DOS SURDOS NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIARENATA SIMÕES DE BRITO CARDOSO, ANGELA SAMPAIO DE DEUS LIMA e CAMILA TÉCLA MORTEAN MENDONÇA 2.3.22A POLÍTICA NEOLIBERAL, A REFORMA DO APARELHO ESTADO E A POLÍTICA EDUCACIONAL BRASILEIRAKETHLEN LEITE DE MOURA 2.3.23ROMPENDO BARREIRAS: A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA A DISTÂNCIA (PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES) DANIEL DA SILVA MACIEL e KETHLEN LEITE DE MOURA 2.3.24A INSTITUCIONALIZAÇÃO DAS ESCOLAS NORMAIS NO BRASIL: REFLEXÕES SOBRE O PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO E EXPANSÃO (1835-1946)ANDRESSA LARIANI PAIVA GONÇALVES 2.3.25PEDAGOGIAS CULTURAIS E IDENTIDADE NA PUBLICIDADE FERNANDA AMORIM ACCORSI 2.3.26QUEM ESSE FILME PENSA QUE VOCÊ É? O MODO DE ENDEREÇAMENTO COMO METODOLOGIA ANALÍTICAFERNANDA AMORIM ACCORSI e PRISCILLA SILVA DE OLIVEIRA 2.3.27JOHN DEWEY NO CINEMA: OS PRINCÍPIOS EDUCATIVOS NO FILME ALÉM DA SALA DE AULAFERNANDA AMORIM ACCORSI

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

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2.3.28CONCILIAÇÃO ENTRE TRABALHO E FAMÍLIA: A DIVISÃO DO ESPAÇO PÚBLICO E PRIVADOPÂMELA SUELEN DE M. GUEDES e ALINE CRISTINA ALVES 2.3.29ESTATUTO DO IDOSO- UMA RESPOSTA DO ESTADO CONTRA A VIOLÊNCIA AOS IDOSOSRODRIGO EDER FELICIO e DAIANY MARTINS FIOROTTO 2.3.30NEGLIGÊNCIA CONTRA O IDOSO NO TRANSPORTE PÚBLICO COLETIVO DA CIDADE DE MARINGÁ-PR: VIOLÊNCIA VELADA PELA SOCIEDADE IGOR LOBIANCHI SOARES DE ALENCAR e RODRIGO EDER FELÍCIO 2.3.31O PERFIL DOS IDOSOS ASILADOS NA CIDADE DE MARINGÁANA CLAUDIA MARASSI SPINELI 2.3.32NOVOS ARRANJOS FAMILIARES: NOVOS PARADIGMASANDRÉIA LOUREIRO e LETÍCIA CARLA BAPTISTA ROSA 2.3.33VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA CONTRA O IDOSO EM MARINGÁANA PAULA DA SILVA SIQUEIRA 2.3.34A FAMÍLIA E A SÍNDROME DE DOWN: CONSEQUÊNCIAS VISÍVEIS NO MEIO SOCIALELIANE DA COSTA LIMA e ALINE NUNES MARQUES DA SILVA FERNANDES 2.3.35SÍNDROME DE DOWN ALINE NUNES MARQUES DA SILVA FERNANDES e ELIANE DA COSTA LIMA 2.3.36O REI TROVADOR E AS CANTIGAS D’AMIGO E D’AMORMARINA VIEIRA SARACHE e TEREZINHA OLIVEIRA 2.3.37FAMÍLIA E PUBLICIDADE: UMA ANÁLISE DAS PROPAGANDAS TELEVISIVASTÂNIA MARIA GOMES DA SILVA e BRUNO RICARDO DIAS SPOSITO 2.3.38O PROCESSO DE CRIAÇÃO E FORMAÇÃO DO MUNICÍPIO DE CIANORTE-PR: CONTINGENTES MIGRATÓRIOS E ESCOLARIZAÇÃO (1953-1963)ANDRESSA LARIANI PAIVA GONÇALVES 2.3.39PUBLICIDADE NO MEIO JURÍDICO: DISCUSSÕES E DESAFIOS EDUARDO MELO e VINICÍUS SECAFEN MINGATI 2.3.40A INSERÇÃO DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA NA ARENA POLÍTICA DO PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃOVALDILENE WAGER e FERNANDO AUGUSTO STAREPRAVO 2.3.41O CORPO COMO FONTE DE DISCURSO: DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO, SUAS IMPLICAÇÕES NA SOCIEDADE E NA FORMAÇÃO

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

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DO PENSAMENTOGÉSSICA ALINE CARUZO, GUILHERME DOS ANJOS GOBBO e ANA LUIZA BARBOSA ANVERSA 2.3.42O TEMPO LIVRE NO MUNDO DO TRABALHO PÓS - REVOLUÇÃO INDUSTRIALGUILHERME ARNALDO DOS ANJOS GOBBO e JAQUELINE DE BARROS TONETTO 2.3.43PREGÃO ELETRÔNICO: UM ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUIÇÃO CONSORCIADA PELA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICARENAN CARLOS KLICHOWSKI e THIAGO OLIVEIRA DA SILVA 2.3.44O PAPEL DO TUTOR PRESENCIAL NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADELETÍCIA CRISTINA GARCIA FÉLIX DE CASTRO, JOÃO PAULO BITTENCOURT e NAYARA DE OLIVEIRA 2.3.45PERFIL COMPORTAMENTAL:UM ESTUDO DAS GERAÇÕES PROFISSIONAIS DO ALUNO DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO EM UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR A DISTÂNCIARENAN CARLOS KLICHOWSKI e ISABELA QUAGLIA 2.3.46UMA BREVE REFLEXÃO SOBRE A EAD NO BRASIL E SUAS IMPLICAÇÕES ANGELA SAMPAIO DE DEUS LIMA, RENATA SIMÕES DE BRITO CARDOSO e CAMILA TÉCLA MORTEAN MENDONÇA

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

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3TRABALHOS PUBLICADOS 3.1 ARTIGOS 3.1.1A GARANTIA DO AUXÍLIO DOENÇA PARA O TRABALHADOR

Roseli Alves de Faria

Franciele Jaqueline Gregório RESUMO Este artigo tem por objetivo conceituar o benefício auxílio-doença e analisar em que condições o segurado pode usufruir, amparado pela Constituição Brasileira. Abordará, ainda, o conceito de Previdência Social e como a Constituição Federal regulamenta sua criação e as Emendas adicionadas na Constituição de 1988. O estudo também pesquisou sobre o benefício aposentadoria por invalidez e a reabilitação para o trabalho (ainda que, muitas vezes, desempenhando outras funções) o que equivale dizer, a reinserção do segurado ao mercado de trabalho. Palavras-chave: Constituição Federal de 1988. Auxílio-doença.

Aposentadoria por invalidez. Reabilitação. INTRODUÇÃO

A Previdência Social tem seu marco inicial, no Brasil, com a Lei n.

3.397, de 1888. Segundo Simões (2011, p. 149, grifo do autor), esta Lei

autorizava o governo brasileiro a “abrir uma caixa de socorro para os

trabalhadores das estradas de Ferro”, porém foi a Lei Eloy Chaves, de 1923,

que inaugurou a previdência social brasileira ao instituir nas empresas

ferroviárias uma Caixa de Aposentadorias e Pensões para seus funcionários.

A Constituição Brasileira de 1988, art. 194, alterado pela Emenda

Constitucional n. 20 de 1998 diz:

A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade destinado a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social (BRASIL, 1988, p. 50).

Acadêmica do 5º semestre do Curso de Serviço social. FAMMA E-mail: [email protected] Professora, Mestre. Orientadora. FAMMA. E-mail: [email protected]

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

15

Grande parte dos segurados brasileiros desconhece seus direitos,

entre eles o direito à assistência médica, haja vista que a própria

nomenclatura refere-se a tais direitos como ‘benefícios’.

A rede de atendimento ao público da Previdência Social é composta

por unidades de atendimento fixas e móveis. Atualmente, segundo o site do

INSS, são 1209 Agencias da Previdência Social. As Agencias da Previdência

Social (APS) são responsáveis pela inscrição do contribuinte, para fins de

recolhimento, bem como pelo reconhecimento inicial, manutenção e revisão

de direitos ao recebimento de benefícios previdenciários e ampliação do

controle social.

DESENVOLVIMENTO

Com muita frequência, a mídia noticia casos de trabalhadores que

recorrem ao INSS em busca de auxílio doença e, para fazer valer seus

direitos, necessitam recorrer ao judiciário. Muitos desses trabalhadores

desconhecem seus direitos e buscam ao profissional de Serviço Social para

que os orientem sobre a quem recorrer nesse momento de fragilidade física e

emocional. Observa-se que grande parte desses indivíduos é de classe social

menos favorecida financeira e culturalmente. Entre esses benefícios encontra-

se o auxílio-doença que, sem dúvida, é o que sobre maior número de críticas

e reclamações por parte dos usuários.

O auxílio doença é um benefício concedido ao segurado impedido de

trabalhar por doença ou acidente por mais de quinze dias consecutivos. No

caso de trabalhadores com carteira assinada, os primeiros quinze dias são

pagos pelo empregador, exceto o doméstico, e a Previdência Social paga a

partir do décimo sexto dia de afastamento do trabalho. Para os demais

segurados inclusive o doméstico, a Previdência paga o auxílio desde o início

da incapacidade e enquanto a mesma perdurar. Em ambos os casos, deverá

ter ocorrido o requerimento do benéfico (BRASIL, 2013e).

Para concessão de auxílio-doença é necessária a comprovação da

incapacidade em exame realizado pela perícia médica da Previdência Social,

e o trabalhador tem de contribuir para Previdência Social por, no mínimo,

doze meses (carecia). Esse prazo não será exigido em caso de acidente de

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qualquer natureza (por acidente de trabalho ou fora do trabalho) ou doença

profissional ou do trabalho (BRASIL, 2013e).

Segundo Brasil (2013e), há dois tipos de auxílio-doença: o

previdenciário – decorrente de doença ou acidente comum– e o acidentário –

decorrente de doença ocupacional ou acidente do trabalho.

A Lei 8.213/91, no artigo 20, define doença do trabalho como “doença

adquirida ou doença desencadeada em função de condições especiais em

que o trabalho é realizado [...]” (BRASIL, 1991).

INSS – O que é:

O Instituto Nacional do Seguro Social – INSS – é uma autarquia do

Governo Federal do Brasil que recebe as contribuições para a manutenção do

Regime Geral da Previdência Social, sendo responsável pelo pagamento da

aposentadoria, pensão por morte, auxílio-doença, auxílio acidente, entre

outros benefícios previstos em lei. De acordo com a Lei 8.212/1991, Art. 3o:

A Previdência Social tem por fim assegurar aos seus beneficiários meios indispensáveis de manutenção, por motivo de incapacidade, idade avançada, desemprego involuntário, encargos de família e reclusão ou morte daqueles de quem dependiam economicamente (BRASIL, 2013b).

Sendo assim, pode-se afirmar que todos os brasileiros contribuintes do

INSS estão amparados no caso de doença e protegidos por lei em sua

velhice.

Em um país de dimensões como o Brasil, para que haja um controle, o

INSS trabalha junto com a DATAPREV, empresa de tecnologia que faz o

processamento de todos os dados da previdência. Este órgão está

subordinado ao Ministério da Previdência Social.

Porém, para poder usufruir dos benefícios previstos em lei, faz-se

necessário cumprir alguns requisitos, como já discutidos anteriormente. Terá

direito ao benefício sem a necessidade de cumprir o prazo mínimo de

contribuição e desde que tenha qualidade de segurado quando do início da

incapacidade, o trabalhador acometido por algumas doenças, entre elas a

tuberculose ativa, hanseníase, alienação mental, neoplasia maligna, cegueira,

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paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, doença de Parkinson,

entre outras (BRASIL, 2013b).

Os filiados ou segurados da previdência social adquirem direito a

determinados benefícios e seus dependentes também ficam protegidos,

basicamente pelo direito à pensão e ao auxílio-reclusão.

Segundo a Lei 8.213/1991, considera dependente o/a cônjuge,

companheiro ou companheira, filhos menores de 21 anos ou inválidos.

Também estão amparados os companheiros na condição de união estável

homoafetiva (BRASIL, 2013d).

O tempo de contribuição do segurado é comprovado pelos registros na

Carteira de Trabalho, no caso dos empregados e os autônomos podem

comprovar a contribuição por meio do comprovante de pagamento em guias

próprias.

O valor do benefício é calculado com base na média dos salários de

contribuição. Desta forma, o salário benefício será a média aritmética simples

dos maiores salários de contribuição, correspondendo a 80% de todo período

de contribuição, multiplicado pelo fator previdenciário. O valor do benefício

não poderá ser inferior ao salário mínimo e superior ao teto de contribuição.

Tal cálculo não se aplica nos casos de aposentadoria por idade, invalidez e

aposentadoria especial e auxílio-doença (BRASIL, 2013d).

A cobertura do INSS abrange um leque de benefícios que vão da

aposentadoria aos trabalhadores de idade avançada, ao auxílio à

maternidade, passando por trabalhadores com enfermidades crônicas e

acidentes de trabalhos que ocasionem invalidez ou morte do segurado. Os

trabalhadores demitidos sem justa causa e os indivíduos reclusos também

estão amparados pelo INSS.

As modalidades de benefícios são: aposentadoria por idade,

aposentadoria por invalidez, aposentadoria por tempo de contribuição,

aposentadoria especial, auxílio-doença, auxílio acidente, auxílio reclusão,

pensão por morte, salário maternidade, salário família e benefício de

prestação continuada (BPC) para idosos e pessoas com deficiência (BRASIL,

2013d).

Terá direito à aposentadoria por invalidez quando o indivíduo, ao ser

submetido pela perícia médica, seja comprovado que sua incapacidade para

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o trabalho é total e definitiva e sem possibilidade de reabilitação para exercer

outra atividade. Se a incapacidade exigir acompanhante, receberá, ainda, um

adicional de vinte e cinco por cento do valor do benefício. Nessa categoria

estão incluídos os indivíduos acometidos por cegueira total, perda de nove

dedos das mãos, paralisia dos dois membros superiores ou inferiores, perda

dos membros inferiores (sem possibilidade de prótese) perda de uma das

mãos ou dos dois pés (mesmo que seja possível o uso de prótese), entre

outros (BRASIL, 2013d).

Se o segurado, aposentado por invalidez, desenvolver alguma

atividade remunerada, terá o benefício anulado e terá, ainda, que devolver ao

INSS todas as parcelas mensais recebidas.

O que é previdência Social?

A saúde é, pela Constituição Brasileira, garantida a todos os cidadãos,

independentemente de contribuição. É, portanto, dever do Estado garantir a

todos o acesso a serviços básicos de saúde, seja no tratamento, na

recuperação ou na prevenção de doenças. O preceito constitucional que

assegura saúde pública, universal e gratuita, visa colaborar na garantia da

realização da dignidade da pessoa humana (BRASIL, 2013b).

De acordo com o site da Previdência, a definição de Previdência Social

é “um seguro que garante a renda do contribuinte e de sua família, em casos

de doença, acidente, gravidez, prisão, morte e velhice”. O site esclarece que a

Previdência Social oferece vários benefícios que juntos garantem

tranquilidade quanto ao presente e em relação ao futuro assegurado um

rendimento seguro (BRASIL, 2013b).

Para ter essa proteção, é necessário se inscrever e contribuir todos os

meses ou como autônomo ou como trabalhador assalariado.

No entanto, Castro e Lazzari (2003, p. 88 apud FIORIN, 2010, p. 14)

ressaltam:

Tal afirmação não significa, contudo, que o segurado obrigatório que, porventura, não venha recolhendo as contribuições devidas não esteja abrangido pelo sistema. Partindo-se dessa premissa, o segurado que viesse a sofrer acidente de trabalho no primeiro dia do seu primeiro emprego, sem ter, portanto, feito qualquer contribuição até então, não

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estaria protegido. Uma vez exercendo atividade que o enquadre como segurado, ou, ainda, filiando-se facultativamente, terá direito a benefícios, obedecida a carência, quando exista. As prestações previdenciárias, todavia, guardam estreita relação com as contribuições que, uma vez não recolhidas, podem acarretar o indeferimento, pelo INSS, de requerimentos de benefícios, quando a responsabilidade de realizar os recolhimentos caiba ao próprio segurado.

Isto se justifica porque a receita da Previdência Social é proveniente

das contribuições de todos os filiados e é com essa receita que o INSS realiza

o pagamento de benefícios de todos, por isso pode-se dizer, em última

análise, que é um regime solidário. Ensina Fiorin (2010, p. 14):

[...] não existe vínculo direto entre o valor ou o número de contribuições realizadas ao longo da vida e o respectivo valor do benefício que possa vir a receber, pois em muitos casos o segurado ou seus dependentes poderão receber muito mais do que efetivamente contribuíram.

A assistência social é outra garantia dos cidadãos brasileiros que

independe de contribuição. A sua política é de amparo aos necessitados, a

aquelas pessoas que não possuem renda mínima capaz de garantir a própria

sobrevivência e de sua família.

O AUXÍLIO-DOENÇA NO REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL

O auxílio-doença está inserido no Regime Geral de Previdência Social

que, como dito anteriormente, se destina a amparar financeiramente o

trabalhador que dele necessite em caso de doença, invalidez permanente ou

temporária, acidente ou idade avançada.

O trabalhador sobrevive, mantém a subsistência da sua família, a partir

dos frutos obtidos do seu trabalho; dessa forma, caso o trabalhador fique

incapacitado para o trabalho, a sua renda estará comprometida e,

consequentemente, a sua manutenção com dignidade. O benefício

previdenciário de auxílio-doença visa justamente garantir renda para o

trabalhador nos momentos de incapacidade para desenvolver suas atividades

habituais no mercado de trabalho. Deste modo, a Previdência Social garante

aos seus segurados renda necessária para que o mesmo sobreviva e

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mantenha o sustento de sua família até a recuperação de sua saúde, pois

ninguém está livre de ficar doente. Esse benefício é o auxílio-doença.

Segundo Fortes e Paulsen (2005, p. 128 apud FIORIN, 2010, p. 24),

“o auxílio-doença é benefício devido em caso de ocorrência de incapacidade

laborativa total, pertinente às atividades do segurado, porém com projeção de

recuperação”.

A Lei 8.213, de 24 de julho de 1991, a qual dispõe sobre os planos de

benefícios da Previdência Social e dá outras providências, disciplina o

benefício previdenciário de auxílio-doença nos artigos 59 a 64. O artigo 59

expõe que:

Art. 59. O auxílio doença será devido ao segurado que, havendo cumprido, quando for o caso, o período de carência exigido nesta Lei, ficar incapacitado para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual por mais de 15 (quinze) dias consecutivos. Parágrafo único. Não será devido auxílio-doença ao segurado que se filiar ao Regime Geral de Previdência Social já portador da doença ou da lesão invocada como causa para o benefício, salvo quando a incapacidade sobrevier por motivo de progressão ou agravamento dessa doença ou lesão (BRASIL, 1991, p.?).

Portanto, cabe ao empregador pagar o salário integral do trabalhador

nos 15 (quinze) primeiros dias de afastamento do serviço por motivo de

doença, ou seja, por motivo de incapacidade para seu trabalho ou para a sua

atividade habitual. Somente após esse período, o segurado terá direito ao

benefício previdenciário.

Saúde e segurança ocupacional

Até o mês de abril de 2007 algumas medidas foram incluídas nos

procedimentos do INSS com vista a modernizar o atendimento dos

segurados. Uma destas medidas diz respeito à perícia médica.

Antes de abril de 2007, para que a perícia médica do INSS

caracterizasse um evento de incapacidade, como um acidente ou doença do

trabalho, era obrigatória a existência de uma Comunicação de Acidente do

trabalho – CAT protocolada junto ao INSS. Agora, com a desburocratização, a

rotina de concessão de benefícios de natureza acidentaria foi alterada junto

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ao Sistema de Administração dos Benefícios por incapacidade (SABI),

permitindo a caracterização do evento como de natureza acidentária ainda

que não houvesse uma CAT vinculada ao benefício requerido (BRASIL,

2013a).

O conjunto das medidas vigentes a partir de abril de 2007, além de

promoverem uma mudança no perfil da concessão de benefícios

previdenciários e acidentários, mostrou-se como um efetivo elemento na

busca pela redução da subnotificação de acidentes e doença do trabalho.

Em 2007, além dos casos de notificação destes eventos contabilizados

mediante CAT (518.415 acidentes e doenças do trabalho), a Previdência

Social reconheceu mais 141.108 casos (aplicação de nexos Técnicos

Previdenciários a benefícios que não tinham uma CAT vinculada) (BRASIL,

2013a).

O registro de indivíduos que sofrem acidentes de trabalho ou são

acometidos por doenças do trabalho, no Brasil, é muito alto. Só no ano de

2009 foram registrados 723.452 acidentes e doenças do trabalho e, neste

número, não estão incluídos os trabalhadores autônomos e os empregados

domésticos (babás, motoristas particulares, cozinheiras e diaristas) (BRASIL,

2013a).

Este número elevado de trabalhadores que se afastam do serviço por

problemas oriundos de acidentes ou doenças do trabalho traz como

consequência forte impacto social e econômico para o país e aumenta os

gastos da saúde pública. Muitos desses trabalhadores vêm a óbito e um alto

percentual não retornam ao mercado de trabalho devido à invalidez

permanente.

A partir do exposto, entende-se por auxílio-doença o benefício pago ao

trabalhador quando este se torna incapaz para o trabalho, por motivo de

doença ou acidente desde que o trabalhador tenha contribuído para a

Previdência, pelo menos doze meses. Já a aposentadoria por invalidez é o

benefício pago ao trabalhador quando a perícia médica previdenciária, por

meio de laudo, constata que a incapacidade para o trabalho é irreversível.

Caso o segurado venha a manter uma atividade remunerada, terá o benefício

anulado e, se condenado, deverá devolver todo o benefício recebido

(BRASIL, 2013a).

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Fiorin (2010, p. 28) atenta para o fato de ser

necessário trazer um conceito de incapacidade, pois não é a doença em si o fato gerador do benefício previdenciário de auxílio-doença, mas sim a incapacidade que essa doença acarreta ao indivíduo.

e acrescenta que:

[...] incapacidade é a impossibilidade temporária ou definitiva do desempenho das funções específicas de uma atividade ou ocupação, em consequência de alterações provocadas por doença ou acidente, para o qual o examinado estava previamente habilitado. Está implícito no conceito de incapacidade que a permanência do segurado do INSS na atividade poderá acarretar agravamento ou, até mesmo, risco de vida para o segurado (RIBEIRO, 2008, p. 182 apud FIORIN, 2010, p. 28).

A incapacidade que dá lugar ao benefício de auxílio-doença deve ser

verificada pelo médico perito do INSS, contudo, caso o segurado não

concorde com o resultado da perícia, cabe à interposição de ação judicial,

quando então a existência ou não de incapacidade deverá ser apurada por

perícia médica judicial.

Somente de posse de um laudo pericial conclusivo, que ateste a

incapacidade para o trabalho por período superior a 15 dias é que autorizará

a implantação do benefício de auxílio-doença, seja diretamente na via

administrativa ou mediante cumprimento de decisão judicial (BRASIL, 2013a).

A incapacidade pode ser configurada de diversas maneiras, tais como:

impossibilidade física, mental, psicológica ou social. É muito comum os

peritos do INSS diagnosticarem apenas as incapacidades físicas e, muitas

vezes, deixam de avaliar as incapacidades mentais ou psicológicas. Tais

incapacidades, algumas vezes, são muito graves e seus efeitos impedem o

indivíduo de conviver socialmente, como em casos severos de depressão

(BRASIL, 2013a). Nesse caso, o segurado deverá buscar seus direitos por

meio da via judicial para requerer a realização de perícia médica

especializada.

Perícia médica

A perícia médica tem por objetivo avaliar o grau de incapacidade do

indivíduo para o trabalho. Não é dever de o perito fazer o diagnóstico da

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doença, mas sim perceber o grau de incapacidade que o segurado apresenta,

isto de acordo com a atividade laboral que o mesmo desempenha. Tal perícia

deve ser realizada preferencialmente por médicos especializados em perícias

para avaliação de incapacidades, pois estarão elaborando pareceres técnicos

conclusivos a respeito da doença e da incapacidade e deve-se levar em

consideração que o destino de uma vida está sendo decidido nas mãos do

perito (BRASIL, 2013a).

Infelizmente, inúmeros benefícios são negados por falha dos

profissionais peritos ou até mesmo dos segurados. A perícia do INSS não

gera prova plena, ao contrário, ela pode ser derrubada e ser provado o

oposto, porém somente por meio de ação judicial.

A avaliação médico-pericial judicial pode substituir totalmente a

avaliação médico-pericial administrativa. O procurador (advogado

devidamente constituído) do segurado no processo judicial deverá analisar

qual a especialidade médica do perito que realizou o laudo negativo à

concessão do benefício pleiteado, pois pode haver um equívoco até mesmo

na interpretação de exames laboratoriais, se esta não for à área de atuação

de estima do médico, explica Fiorin (2010).

Da cessação do benefício, da transformação em aposentadoria por invalidez ou auxílio-acidente

Conforme pontua o artigo 101 da Lei nº 8.213/91 (BRASIL, 1991), o

segurado é obrigado, sob pena de suspensão de seu benefício, a submeter-

se a processo de reabilitação profissional, prescrito e custeado pela

Previdência Social e que tem o intuito de inserir esse trabalhador novamente

no mercado de trabalho. De acordo com Tsutiya (2007, p. 300 apud FIORIN,

2010, p. 28)

[...] o processo de reabilitação consiste na recuperação do indivíduo para outra atividade na mesma função. Por exemplo, um repórter de rua que ficou paraplégico após ser atingido por uma bala perdida pode ser reabilitado para exercer atividade na redação do jornal. No caso de habilitação profissional, para o desempenho de nova função diversa da anterior. Um trabalhador braçal, se ficar paraplégico, poderá ser habilitado para a função de operador de telemarketing, que não exige movimentação. O benefício será mantido até que o empregado seja dado como habilitado ou reabilitado

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

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profissionalmente para as novas atividades que lhe garantam a subsistência

Quando o processo de reabilitação profissional não obter êxito e o

segurado for considerado irrecuperável, sendo, portanto, incapaz para

qualquer trabalho, a este segurado será concedido aposentadoria por

invalidez. Cessa, assim, a concessão do auxílio-doença e transformando-o

em novo benefício previdenciário – aposentadoria por invalidez.

É muito comum ouvir-se relato de beneficiários que alguns peritos

empregam ‘A alta programada’. Trata-se de uma prática descabida e injusta

para com o segurado, pois como o próprio nome diz, programa-se uma data

por meio do computador da Previdência Social para a ‘alta do segurado’ e o

recebimento do benefício é cancelado. As decisões judiciais têm julgado que

essa prática é ilegal e afronta o princípio da dignidade humana, mas mesmo

assim ela ocorre e para o segurado restabelecer seu benefício o trabalhador

necessita ingressar com ação judicial. Tal fato gera custos e alto desgaste

emocional para o indivíduo que se encontra já bastante fragilizado.

Pode-se concluir, assim, que o benefício de auxílio-doença é uma

importante ferramenta de proteção aos segurados, uma vez que garante

renda ao segurado e sua família nos momentos de não-trabalho, face à

incapacidade laboral instalada

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O auxílio-doença tem como objetivo principal proporcionar segurança

ao trabalhador segurado em situações inesperadas de risco social, ou seja,

quando este for acometido por alguma doença ou sofrer acidente que o

impeça de desenvolver suas atividades laborais.

O estudo, de cunho bibliográfico, esclarece que basta o trabalhador

possuir a qualidade de segurado, ou seja, contribuir junto ao Regime Geral de

Previdência Social, que a partir do primeiro mês já goza de algumas

coberturas desse seguro. Esclarece-se, também, que o seguro é obrigatório

para aqueles que desempenham atividade remunerada, mas há também a

figura do segurado facultativo que, como o próprio nome revela, não é

obrigado a contribuir, porém o faz para se enquadrar como segurado e

consequentemente gozar dos benefícios previdenciários.

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O auxílio-doença é um dos vários benefícios inseridos no Regime Geral

de Previdência Social, e para o segurado usufruí-lo é necessário que o

mesmo passe pela perícia médica do INSS, a qual avalia o grau de

incapacidade do indivíduo para o seu trabalho, bem como cumpra a carência

exigida, quando for o caso.

Outro aspecto abordado no presente estudo esclarece que a

incapacidade é para o trabalho do próprio segurado (exemplo: um motorista

de ônibus que está incapacitado para dirigir) e não para qualquer trabalho

(desempenhar outra função, como a de cobrador). Uma vez atestada a

incapacidade, o contrato de trabalho (se for segurado empregado) fica

suspenso e o mesmo passa a receber auxílio-doença. O benefício em

questão tem caráter temporário, por isso cessa com a recuperação da saúde

do segurado; com a sua transformação em auxílio-acidente, quando o

segurado apresentar sequelas irreversíveis em decorrência de acidente

sofrido; ou cessará também com a sua transformação em aposentadoria por

invalidez, quando o segurado não tenha perspectiva de recuperação integral e

nem mesmo reabilitação ou readaptação em outra função, o mesmo torna-se

totalmente inválido para o desempenho de qualquer atividade laboral.

Observa-se que grande parte dos indivíduos que recorrem ao INSS em

busca do auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez são oriundos das

classes menos favorecidas financeiramente de baixa escolaridade e que

desconhecem seus direitos assegurados pela Constituição. Estes indivíduos

têm mais dificuldade para recorrer ao Poder Judiciário para a concessão dos

benefícios.

Conclui-se que o benefício pesquisado é de relevante importância para

toda a classe trabalhadora, pois é por meio dele que se garante renda e

tranquilidade para o segurado e sua família nos momentos de incapacidade

para o trabalho.

REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Previdência Social. Instituto Nacional do Seguro Social. Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social. Anuário Estatístico da Previdência Social. Brasília, DF, 2009.

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

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BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 25 jul. 1991. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988. Brasília, DF,1988. BRASIL. Previdência social: saúde e segurança ocupacional. Disponível em: <www.previdencia.gov.br/conteudodinamico.php?id=59>. Acesso em: 12 maio 2013a. BRASIL. Previdência social: o que é previdência social. Disponível em: <www.previdencia.gov.br/conteuododinamico.php?id=59>. Acesso em 12 maio 2013b. BRASIL. Previdência social: histórico da previdência social. Disponível em: <www.previdencia.gov.br/conteudodinamico.php?id=59>. Acesso em:12 maio 2013c. BRASIL. Previdência social: legislação. Disponível em: <www.previdencia.gov.br/conteudodinamico.php?id=59>. Acesso em:12 maio 2013d. BRASIL. Previdência social: a garantia do auxílio-doença. Disponível em: <www.previdencia.gov.br/conteudodinamico.php?id=59>. Acesso em 12 maio 2013e. FIORIN, Denise Bandeira. Benefício previdenciário de auxílio-doença do regime geral da previdência social. 2010. Disponível em: <http://bibliodigital.unijui.edu.br:8080/xmlui/bitstream/handle/123456789/587/DENISE%20BANDEIRA%20FIORIN%20MONOGRAFIA.pdf?sequence=1>. Acesso em:27maio2014. SIMÕES, Carlos. Curso de direito do serviço social. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2011.

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3.1.2 A INFLUÊNCIA DOS CONTOS INFANTIS NA PRODUÇÃO TEXTUAL

DE CAMPANHAS PUBLICITÁRIAS – LINHA DISNEY PRINCESAS1

Nathália Borges Silva

Jair Moreira

RESUMO A linguagem é um processo que se inicia na infância, bem como a interpretação e memorização de códigos da comunicação que são desencadeados por meio dessa. Neste contexto, acredita-se que pode existir certa influência na produção textual de materiais criados para as campanhas publicitárias; logo será estudada uma das formas de persuasão ao consumo infantil: a presença dos contos infantis na redação, tendo como objeto de estudo o produto da marca Princesas Disney, com foco para a personagem “Branca de Neve”. A escolha deve-se ao fato do universo criado por Walter Elias Disney ser, generalizadamente, considerado como um mundo mágico, onde personagens ganham vida e encantam crianças. Por meio das histórias fictícias, existentes em desenhos e filmes da corporação de entretenimento Walt Disney Company, a marca fortaleceu seu posicionamento na mente das crianças, estando à frente na preferência de muitas delas e se tornando referência no mercado de brinquedos infantis. O objetivo do presente trabalho é analisar a influência dos contos infantis nas campanhas publicitárias, como elemento influenciador do consumo. Para a realização deste trabalho, optou-se por adotar a Pesquisa Conclusiva Descritiva, sendo utilizada a técnica empírica e natureza qualitativa; os dados foram coletados por meio do método de entrevista. E após uma análise discursiva, chegou-se às considerações finais, apresentando a influência dos pais, ampliando o já influenciável dos filhos que é o desejo em possuir o que é amplamente mostrado e valorizado pela sociedade. Palavras-chave: Linguagem. Publicidade. Disney. Criança. Público infantil. 1 INTRODUÇÃO

A produção textual pode se apresentar enquanto elemento

influenciador de opinião, em se falando de Publicidade e Propaganda. Desse

modo, uma campanha publicitária deve absorver todos os elementos de um

texto, ou seja, uma introdução que leve o interlocutor a contextualizar o

material apresentado, um desenvolvimento que traga os elementos

1 Título do Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, que deu origem a este artigo.

Bacharel em Publicidade e Propaganda, pela Faculdade Metropolitana de Maringá – FAMMA, Turma 1 de 2014. Professor de graduação da FAMMA. Orientador do Artigo científico, bem como do TCC da egressa.

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

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suficientes para a absorção e uma conclusão que venha responder ao

desejado, e trabalhar com o público infantil pode ser gratificante no tocante às

visões deste mundo, destacando a observação de que a criança consegue

ver o mundo por uma ótica diferenciada.

Abordando conceitos de linguagem utilizados na comunicação, o

presente projeto tematiza um estudo em torno da influência dos contos

infantis na produção textual de campanhas publicitárias e a contribuição

dessa linguagem no que diz respeito ao consumidor infantil, bem como seus

efeitos neste público-alvo específico.

Para comprovação do discurso trabalhado, foi analisado o seguinte

objeto de estudo: Uma campanha publicitária da linha ‘Princesas Disney’, a

qual tem como modelo a denominação ‘Princesas Brilhantes’. Sendo

comercializado pela marca Mattel2, o produto a ser estudado será a boneca

da personagem “Branca de Neve”, cuja análise da peça publicitária contribuirá

para a definição de sua ligação com o público infantil feminino. Além disso,

será realizada uma pesquisa qualitativa, a qual terá como objetivo apresentar

os principais reflexos das campanhas publicitárias, que utilizam os contos

infantis, para o público infantil.

Este estudo científico tem como finalidade responder ao seguinte

problema de pesquisa: É possível entender a produção textual como

elemento influenciador das campanhas publicitárias?

Enquanto objetivo geral, a busca se concentrou em analisar a

influência dos contos infantis nas campanhas publicitárias, como elemento

influenciador do consumo. Os específicos por sua vez são: Apresentar os

contos infantis enquanto produção textual; analisar a existência das

campanhas publicitárias no universo infantil; relacionar a produção textual

infantil com as campanhas publicitárias, voltadas para este público específico

e investigar o consumidor infantil e a influência das campanhas publicitárias,

tendo como elemento os contos infantis.

A redação publicitária tem sido uma ferramenta importante, tendo em

vista que a mesma contextualiza não somente a construção de uma

mensagem direcionada ao público-alvo, como também pode contribuir para o

2Atuando no mercado brasileiro há mais de 15 anos, a Mattel é uma companhia

estadunidense de brinquedos, considerada uma das maiores fabricantes do mundo.

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posicionamento e fortalecimento da marca, almejando assim trabalhar com

uma linha de comunicação que corresponda com os criteriosos objetivos

esperados pelas marcas.

O presente trabalho visa estudar e discutir a importância de conhecer,

pesquisar e estudar mais profundamente a linguagem da publicidade e sua

relação com os contos infantis, abordando o modo como esse pode

influenciar na decisão de compra do consumidor infantil.

A escolha deste tema deve-se à influência que, pressupõem-se, as

marcas de brinquedos exercem sobre o público infantil. Assim, há interesse

em se averiguar um dos fatores que está por trás disso: a produção textual e

suas preliminares. Talvez o encantamento com o universo estudado tenha

tido suas primeiras manifestações ainda na infância, na convivência com uma

Mãe pedagoga que lecionava com amor e trazia consigo a experiência de

dividir seu dom: fazer uma criança apreciar a leitura. Suas histórias com os

alunos do Pré, contos em sala de aula, preparação de atividades recreativas e

rodas de leitura sempre fizeram parte da minha história e passaram a compor

meu leque de interesses. Do texto publicitário ao meu imaginário surgiram as

primeiras perguntas na decisão do assunto que seria abordado no presente

trabalho: Porque não atrelar a infância à publicidade, sendo eu uma prova do

discurso?

Ao produzir um texto, uma das primeiras preocupações é dar uma

resposta a um questionamento. Sendo assim, uma campanha publicitária

procura responder ao desejo do consumidor, e não seria diferente o material

apresentado, uma vez que este texto independente do seu formato influenciar

o receptor.

2 PUBLICIDADE E PROPAGANDA NA HISTÓRIA

A propaganda já faz parte do conjunto geral da comunicação e seus

meios, todavia, além de sua função principal, é importante ressaltar que o

termo ‘comunicação’ envolve uma esfera mais ampla.

A comunicação também está relacionada com o contexto social, tendo

em vista que ela também pode proporcionar a transmissão de mensagens

interpessoais, isto é, recurso emitido por meio de signos e símbolos que

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30

podem ser utilizados pelo emissor.

Em suas formas mais simples, o processo de comunicação consiste em um transmissor, uma mensagem e um receptor. Devemos lembrar que um dos princípios básicos da Teoria Geral da Comunicação é que os sinais emitidos só têm significados se o receptor souber interpretá-los (SANT'ANNA, 1999, p. 1-2).

Ao trabalhar as técnicas usadas na propaganda, Sant’Anna (1999)

destaca a importância de considerar alguns conceitos de psicologia que são

fundamentais para o bom encaminhamento de uma campanha publicitária.

São eles: atenção, inibição, interesse, memória, percepção, imagem,

imaginação, emoção, vontade, ato voluntário, conduta, necessidades

biológicas, desejo, emoção, associação de ideias e motivação.

Em relação à origem da propaganda, Sampaio (2003) descreve que na

Roma antiga já era possível avistar as primeiras aparições dessa.

Empregando metáforas, o autor menciona a importância da mesma para o

Império, argumenta que as paredes de casas, localizadas em regiões de

maior movimento, eram muito almejadas para as pinturas e destaca que,

embora artesanais, já era possível observar a técnica presente nas pinturas.

[...] Eram disputadíssimas. Alguma coisa como o intervalo comercial dos programas de maior audiência da televisão, hoje em dia. Ou as páginas de uma grande revista. […] pintava-se a parede de branco e, sobre esse fundo, a mensagem publicitária. De preferência em vermelho ou preto, cores que chamavam ‘mais atenção’ sobre o branco (SAMPAIO, 2003, p. 22).

Era um período em que Roma era considerada como centro do poder

temporal e espiritual do Ocidente. Nesta fase, foi criada uma congregação

religiosa com a finalidade de propagar a fé, cenário em que foi originado o

termo ‘propaganda’. “[…] essa propagação da fé foi feita com muito empenho

e, hoje, em absoluta maioria, o Ocidente é cristão. Propaganda funciona, não

é?” (SAMPAIO, 2003, p. 22).

Quanto à publicidade, Beatrice e Laurindo (2009) defendem que essa é

a maneira de comunicação que detém uma linguagem específica e que

condiz diretamente com o contexto econômico e social no qual está inserida.

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

31

“Podemos considerar como publicidade toda a mensagem destinada à venda

ou divulgação de um produto, serviço ou marca, sempre que existir interesse

econômico e comercial” (BEATRICE; LAURINDO, 2009, p. 29).

As aparições da publicidade existem desde os tempos remotos, todavia

sua força maior foi a partir da Revolução Industrial, no século XVII, quando foi

permitido produzir mais produtos em escalas crescentes.

Analisando um pouco mais profundamente o que à primeira vista pode parecer apenas um curioso aspecto do folclore brasileiro, vamos descobrir que estamos diante do mesmo fenômeno – em essência – que acontece todas as noites no horário nobre de televisão, com as diversas empresas (barcos de pescadores) lutando pela atenção (e dinheiro) dos consumidores, através dos melhores comerciais (a pintura dos barcos) criados e executados pelos melhores talentos em propaganda, que são os Queridos de nossa sociedade tecnológica e consumista (SAMPAIO, 2003, p. 23).

Os primeiros passos da mensagem publicitária no Brasil manifestou-se

de modos diversificados, iniciando-se no século XVI, por meio da publicidade

oral, a qual era praticada por meio do contato direto entre vendedor e

consumidor, sendo conhecida na época por ‘pregão’.

Segundo Pinho (1998, p. 3 apud BEATRICE; LAURINDO, 2009, p. 29),

os pregões anunciavam produtos vendidos pelos próprios comerciantes em

“[…] feiras ambulantes”, expressão denominada pelo autor. "Sorvetinho,

sorvetão,/sorvetinho de limão,/quem não tem 200 réis,/não toma sorvete não".

Sendo em sua maioria frases rimadas e anunciadas em cornetas e matracas,

as mensagens anunciadas pelos pregões caiam no gosto popular.

Na trajetória da publicidade, Schroder (2004 apud FERREGUETT,

2009) traz em pauta um importante fato do século XVIII: o surgimento de uma

classe média alfabetizada. No entanto, com o passar dos anos, o

desenvolvimento das técnicas de industrialização proporcionou que a

produção começasse a superar a demanda, processo pelo qual refletiu

diretamente no campo da propaganda, que foi necessária passar por uma

fase de maturidade. Ferreguett (2009, p. 30) afirma que: “Surgia a

necessidade de uma técnica publicitária persuasiva e não simplesmente

proclamativa, conforme costume da época”. Segundo a autora, esse período

de expansão da propaganda ocorreu no século XIX.

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32

Muitos âmbitos foram privilegiados com o progresso repentino, ocorrido

com a chegada da família real no Brasil, e na área do presente estudo não foi

diferente. De acordo com Ferreguett (2009), essa vinda favoreceu a fundação

do primeiro jornal brasileiro – Gazeta do Rio de Janeiro e, segundo Ramos

(1985, p. 9 apud BEATRICE; LAURINDO, 2009, p. 29) “Há evidência que este

jornal tenha sido veículo de comunicação responsável pela publicação do

anúncio pioneiro na publicidade, cuja propaganda foi de móveis”.

Aos poucos, foram ampliando a quantidade de anúncios e os espaços

por eles ocupados, uma das justificativas que levaram os jornais a cobrar as

inserções, o que também contribuiu para a conservação da publicação. O

desenvolvimento econômico estava a todo vapor e teve seus reflexos no

crescimento urbano, com a inclusão de novos negócios e ampliação do

mercado consumidor. Essa transformação econômica ecoou também na

comunicação, com o aumento dos veículos e aberturas de novos jornais,

afirma Beatrice e Laurindo (2009).

2.1 PROPAGANDA E REDAÇÃO PUBLICITÁRIA

Para que o produto possa dar certo, é necessária a existência de

quatro fatores – qualidade, preço, distribuição e propaganda, sendo este

último considerado a ‘alma do sucesso’, afirma Sampaio (2003). O autor

denomina os substantivos citados como ‘corpo do sucesso’.

A sociedade está em constante bombardeio de informações e a cada

dia mudam-se muitas dinâmicas no mercado. Nesta diversidade

contemporânea é de suma importância que as marcas, embora conhecidas,

comuniquem sua existência aos consumidores, “[…] principalmente quando

disputam mercados em que a concorrência é acirrada e as diferenças entre

os diversos competidores são pequenas” (SAMPAIO, 2003, p. 21).

E mesmo que a marca seja conhecida, a mesma carece ser lembrada

para o consumidor; é de grande valia estar sempre presente aos olhos desse,

uma vez que o papel da propaganda tem relevância imprescindível para que

aquela seja conhecida e tenha um lugar garantido na mente do consumidor.

Segundo Martins (2008), a evolução do trabalho das agências é

classificada em três etapas: reclames, intelectuais e profissionais. A primeira

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se refere às mensagens artísticas e objetivas conforme o gosto da época,

citada anteriormente também pelas autoras Beatrice e Laurindo (2009), ao

dizerem que esses anúncios em formatos de classificados predominaram no

Brasil, no século XVIII. A segunda etapa se trata da fase em que as agências

contavam com a contribuição de escritores, poetas, jornalistas e artistas para

a criação de anúncios, havendo grande contribuição desses na redação de

jingles, escolha de cores e ilustrações, spots, meio cinematográfico, cartazes

e comerciais televisivos. A última etapa, denominada por ‘profissionais’,

contorna o período em que as pessoas já passaram a ter contrato e vínculo

com as agências em que executam suas funções, isso, pois, ainda que

existam sujeitos ‘autodidatas’, conforme cita o autor, o conhecimento dessas

teve uma ampliação, devido à possibilidade de preparação em escolas de

comunicação, passando a existir anúncios criados a partir de uma técnica e

arte singular da época, pensando no perfil do público-alvo a que a mensagem

seria emitida e exercendo uma ação psicológica sobre ele.

3 DISCURSO DO TEXTO PUBLICITÁRIO E A REDAÇÃO INFANTIL

Propaganda vai além do que se pode ver ou ouvir. “O conjunto

completo da propaganda é formado por sons, imagens e texto linguístico”

(SANDMANN, 2003, p. 11). Para o autor, o texto falado ou escrito é apenas

uma fatia desse meio como um todo.

A função da linguagem da propaganda é de convencer e persuadir a

ação, por meio da palavra, acompanhada do artifício de linguagem que tem

os textos da propaganda como campo de aplicação: a retórica.

Sua diferença encontra-se na criatividade de encontrar recursos

expressivos que despertem a curiosidade do leitor, para que esse concentre

sua atenção à mensagem que lhe é dirigida, mesmo que seja necessário

poupar algumas normas linguísticas e gramaticais.

A linguagem da propaganda se distingue, por outro lado, como a literária, pela criatividade […] nem que para isso se infrinjam as normas da linguagem padrão ou se passe por cima das convenções da gramática normativa tradicional e, em certo sentido, da competência linguística abstrata

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

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geralmente aceita. (BUSSMANN, 1983 apud SANDMANN, 2003, p. 12).

Tomando por princípio o que foi falado acima, entende-se que estar em

meio às informações é parte do cotidiano das pessoas, e ainda que se

disponha a dar atenção a todas elas, não seria possível assimilar

corretamente as mensagens de propagandas que são veiculadas diariamente.

Com isso, Sandmann (2010) interpreta que o ato de prender a atenção do

público a quem se destina a mensagem é o maior desafio que a linguagem

publicitária enfrenta.

Ainda, Sadmann (2010) acredita que não é somente a metáfora que

causa impacto no leitor. Para ele, as outras figuras de linguagem também

fazem parte dos principais recursos utilizados no texto publicitário, porém

esse apresenta como principais os seguintes aspectos: ortográficos,

fonéticos, morfológicos, sintáticos, semânticos e desvios linguísticos. “Embora

haja, numa formação social, tantas visões de mundo quantas forem as

classes sociais, a ideologia dominante é a ideologia da classe dominante”

(FIORIN, 1988, p. 29 apud SANDMANN, 2010, p. 34). O autor acredita que a

ideologia dominante mantém seus reflexos na expressão na linguagem da

propaganda, trazendo ao seu ponto de vista a opinião de que alguns textos de

propaganda incorporam mensagens que são expressões de ideologias,

valores ou ideais de vida dominante.

Carvalho (2010) acrescenta que o poder da palavra não está somente

em vender a marca, mas de integrar o receptor à sociedade de consumo. E,

nesse contexto, a autora comenta sobre a importância de utilizar os verbos no

modo imperativo, contribuindo para que o leitor atenda o objetivo da

mensagem que lhe é digerida, convidando-o para a aquisição por meio de

uma ordem.

Assim como é abordado por Sandmann (2010) sobre a importância dos

recursos de linguagem na sua totalidade, Carvalho (2010) também concorda

que, ao elaborar um texto publicitário, soma-se indispensável o conhecimento

do receptor da mensagem. Neste rico e importante ponto, a autora menciona:

Tomando por base o interior de cada ser humano, a mensagem faz ver o que falta algo para completar a pessoa:

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prestígio, amor, sucesso, lazer, vitória. Para completar esse vazio, utiliza palavras adequadas, que despertam o desejo de ser feliz, natural de cada ser. Por meio das palavras, o receptor ‘descobre’ o que lhe faltava (CARVALHO, 2010, p. 19).

Esse princípio contribui com a busca por um vocabulário que explore o

ego do consumidor, que seja mais adequado para comunicar-se com esse

público, acompanhado de palavras que o ajudem a perceber que está

faltando aquele determinado produto para preencher o que lhe faltava.

3.1 CONTOS INFANTIS E A PRODUÇÃO TEXTUAL

Por meio da linguagem são comunicados sentimentos, pensamentos,

experiências e conhecimentos e, por meio dessa transmissão, o homem

aprende a sentir, pensar e julgar. Neste embasamento, Gade (1998),

classifica que a linguagem pode ser encarada por dois aspectos: verbal e não

verbal, e suas formas podem ser ampla ou restrita.

Também considerada uma forma de comportamento interpessoal, a

linguagem é a essência da comunicação e para o funcionamento completo

dessa é preciso que os indivíduos que dela participam tenham necessidades,

atitudes e raciocínio que correspondam a um código. Aprende-se a linguagem

na infância e essa está unida aos processos cognitivos que auxiliam a criança

a detectar o mundo que a envolve.

Através da percepção sensorial, a criança relaciona os signos linguísticos que ouve com os referentes, formando imagens mentais, formando seu sentido conotativo e denotativo. O significado é uma representação interna de uma experiência, e é adquirido através da linguagem (GADE, 1998, p. 151).

As palavras que compõem a linguagem executam funções sobre o

produto anunciado, as quais podem ser vistas como símbolos que remetem a

associações ao mesmo, atributos alienáveis e também podem passar a

influenciar o comportamento do receptor, uma vez que essas palavras fazem

parte do mundo real desse.

As narrativas conquistam e seduzem o ser humano desde a época das

antigas civilizações, quando os homens pré-históricos se uniam para escutar

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36

e contar histórias de como foi o dia, principalmente das caçadas. Embora

sejam inúmeras as funções que a narrativa exerce, Beatrice e Laurindo (2009)

mencionam: ensino e transmissão do conhecimento, enriquecimento

emocional e operacional, além de incentivar o diálogo coletivo e o registro

escrito.

De acordo com Lopes e Reis (1998, p. 272 apud BEATRICE;

LAURINDO, 2009, p. 9), dois principais aspectos são necessários para se

compreender o que é uma narrativa, são eles:

A narrativa não é apenas texto ou fala. Ela se concretiza através de suportes expressivos diversos, da manifestação verbal à imagem […]. Não existe apenas a narrativa literária, ela pode estar presente em outros contextos de comunicação, de um relatório a uma mensagem publicitária, geralmente adaptando-se às funções socioculturais da época em que se manifesta.

Desde modo, torna-se evidente que a narrativa é formada pelo enredo

– ações e personagens – e discurso – narração, considerando que essa

última varia conforme a situação e costumes da época e do narrador. Beatrice

e Laurindo (2009) defendem que as narrativas contribuíram de forma

significativa na cultura dos povos antigos, tendo a transmissão oral das

tradições e, além disso, fortalecendo afetivos laços entre os membros das

antigas sociedades, e, assim, a sobrevivência da história, tornando-a

universal.

3.1.1 Contos e o universo infantil, voltado para campanhas publicitárias

Segundo Gade (1998, p. 188), "[...] percebe os anúncios fazendo parte

da programação e aceita como verdade o que se passa no mundo da

fantasia." E no espaço que a propaganda participa da construção da formação

das crianças, a autora ressalta a importância de respeitar a ingenuidade e

sentimentos desses pequenos consumidores.

Para despertar a atenção e persuadir a criança no processo de

consumo, é necessário que exista qualidade na mensagem publicitária, cujos

elementos linguísticos e visuais se enquadrem, pois, para Ceccato (2001, p.

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37

17),

Cabe ao texto e imagem a função de suporte da mensagem, lançando mão de figuras de linguagem, de argumentos sutis, de sugestões incitantes, figurando sempre o fator psicológico como ponto de partida da sua ação.

De acordo com Ceccato (2001), a imagem visual procura dar

significados à informação, memorização e impacto visual, principalmente por

meio da escolha das cores que serão utilizadas. Já o registro verbal possui a

função de sustentar a mensagem, orientando para um único fim.

Não existem regras para a criação de uma propaganda eficiente. É

necessário mesmo muita criatividade para que o receptor se emocione, dê

risada, acredite e, consequentemente, adquira o produto anunciado, pois a

propaganda também possui um caráter lúdico, visto que,

[...] não raro, é possível encontrar algumas adaptadas a jogos e brincadeiras comuns às crianças e jovens, como, por exemplo, mensagens em forma de histórias em quadrinhos, [...], contos de fadas [...] (CECCATO, 2001, p. 17).

Contextualizando o ponto citado, a autora menciona que não existe um

método ou fórmula que garanta uma propaganda eficiente, segundo ela é

necessária muita criatividade para emocionar o consumidor, fazer com que

este dê risada, acredite nos benefícios do produto anunciado e,

consequentemente, compre o mesmo.

Ao trabalhar as formas de intertextualidade, percebe-se que a estrutura

narrativa dos contos de fadas está presente na mente das pessoas desde a

infância e "[...] os contos de fadas servem como exemplo de como sua

estrutura facilita o reconhecimento por parte do receptor, especialmente a

criança [...]”; considerando que "[...] de início, a expressão "Era uma vez [...]"

já reporta o receptor ao mundo encantado tão explorado na literatura infantil

onde há, na sequência, um drama e, posteriormente, um final feliz"

(CECCATO, 2001, p. 42). Com base nesses pressupostos, a autora concluiu

que a interpretação de uma mensagem é embasada em vivências e leituras

do receptor, sendo esses demonstrados por meio do domínio do código

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linguístico, bem como o domínio das intenções do produtor e convenções

socioculturais manifestadas no texto.

O conto de fadas é uma forma de narrativa que, segundo Beatrice e

Laurindo (2009) teve o mythoi como primeira referência – conjunto de

histórias simbólicas que as mulheres da Grécia contavam às crianças. As

primeiras histórias sobrenaturais, conhecidas por fadas, surgiram na

antiguidade, na literatura do povo celta, especificamente na conjunção poética

céltico-bretã. Os celtas estenderam a influência pelos anos seguintes,

originando na sequência a literatura cortesã-cavaleiresca e as novelas de

cavalaria ligadas ao Rei Artur, que era símbolo da luta do herói por seu ideal.

A literatura celta propagou-se com duas fontes diferenciadas: a

popular, “[…] em que se destacava a vida cotidiana, com lições advindas da

sabedoria prática” e a culta, “[…] cujo maior exemplo foi as novelas de

cavalaria, realçadas pelo idealismo e pela magia”, afirmam Beatrice e

Laurindo (2009, p. 12). As narrativas marchavam no sentido dos contos de

fadas universalmente conhecidos hoje em dia, todavia foi um longo processo

para se constituir esse conjunto de narrativas.

De acordo com Beatrice Laurindo (2009), Perrault preocupava-se em

resgatar as fantásticas narrativas, tendo suas obras conhecidas desde a

primeira infância, como os populares contos de: A Bela Adormecida,

Chapeuzinho Vermelho, O Barba Azul, O Gato de Botas, A Gata Borralheira e

o Pequeno Polegar. Seus contos abordavam questões sociais, expressando

valores que contribuíam para a estruturação familiar e social, sustentada por

base moral e burguesa, voltadas a conceitos de obediência e respeito.

Percebe-se segundo a fala dos autores a importância em diferenciar a

trajetória dos contos de fadas, uma vez que existe diferença entre aqueles

que foram coletados e os mais modernos, sendo os primeiros caracterizados

por seu conteúdo cultural coletivo e, os últimos, uma representação de

criação individual.

3.2 O CONSUMIDOR NA INFÂNCIA

Ao tratar sobre o tema relacionado ao consumidor, pode ser destacado

que, além da necessidade de conhecer o público a qual se destina a

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39

campanha a ser criada, também é essencial conhecer seus hábitos e

costumes.

O público não é mais um agente passivo, mas sim definido segundo certos parâmetros socioeconômicos. Não é mais suficiente o conhecimento de sua categoria social, idade, sexo, lugar de residência, mas também seus hábitos (usos e costumes), seus anseios, motivações e interesses (SANT’ANNA, 1999, p. 101).

Esses conhecimentos específicos podem contribuir com o trabalhado,

voltado para uma linha de comunicação correta na campanha, a qual é

direcionada ao público-alvo de forma coesa e que agregue fatores que

influenciem na escolha pela marca de integrantes desse público. Para

Sant’Anna (1999, p. 101) “é evidente que, para tanto, tem um papel essencial,

uma escolha criteriosa do produto e sua qualidade intrínseca, sobre os quais

atuam fatores ligados à situação do mercado naquele momento”. Ou seja,

saber escolher também implica em conhecimento prévio do produto ou

serviço.

Um dos fatores de maior relevância, que influenciam o consumidor é o

contato com outras pessoas, pois, de acordo com Gade (1998, p. 175): “[…] o

consumo é fortemente norteado pelas forças sociais, pelo grupo social”. Os

indivíduos de um grupo compartilham o mesmo status, ideologia, crenças,

valores e desejos diante o consumo, características essas que tendem a

reforçar a prática mútua do consumo.

Ao se falar de grupos sociais, sendo esses divididos em primários e

secundários, o grupo familiar merece destaque, devido à sua importância

perante o consumo. No processo decisório, os indivíduos pertencentes à

família podem desempenhar um ou mais papéis, denominados por: iniciador,

influenciador, decisor, comprador e usuário/consumidor.

Gade (1998) esclarece que a relação entre pais e filhos passou a ser

de confiança, argumentando que aqueles reconhecem que as crianças

conhecem melhor alguns produtos e esses enxergam seus responsáveis

como provedores, conselheiros, esforçados e ‘chatos’.

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A criança brasileira atualmente é bastante independente, tem ideias próprias a respeito de consumo e é conhecedora de produtos, marcas, grifes, sabendo exatamente o que deseja comprar. A criança, brasileira, que constitui cerca de um terço da população, representa um mercado de consumo respeitável, sendo as crianças decisoras para grande parte das compras e influenciadoras para outro tanto (GADE, 1998, p. 185).

Em fase de formação de opinião, as crianças ainda não possuem

maturidade ideal para desenvolverem uma contra-argumentação crítica em

relação às propagandas que lhes são transmitidas, sendo caracterizadas

assim pelo público o qual é influenciado livre e indefesamente pela

propaganda. “Em suma, as crianças constituiriam presa fácil e ideal para as

empresas” (KARSAKLIAN, 2011, p. 242). Nesse cenário a autora define a

criança como trainee do consumo, argumentando que essa será o

consumidor de amanhã.

4 O TEXTO INFANTIL UTILIZADO NAS CAMPANHAS PUBLICITÁRIAS DA

MARCA “PRINCESAS DISNEY”

Há anos Branca de Neve, acompanhada de Cinderela, Aurora, Bela,

Ariel, Jasmin, Mulan e Tiana compõem o time das ‘Princesas Disney’.

“Inspirando produtos mundialmente consumidos, as ‘Princesas’ entram no

cotidiano infantil e se tornam presentes entre os referenciais para a

construção da feminilidade entre as crianças”, afirma Bueno (2012, p. 10).

Durante o período de doze meses, Michele Escoura Bueno conviveu

com crianças de diferentes camadas econômicas, de escolas do interior do

estado de São Paulo. Entre os objetivos almejados, sua tese buscava

compreender como as narrativas das personagens Disney eram lidas –

interpretadas – pelo público estudado.

Mais do que um príncipe ao seu lado, para as crianças, a princesa precisava era de um belo vestido, uma coroa e muita elegância. Assim, se podemos dizer que as ‘Princesas’ são uma importante fonte para o repertório de gênero entre as crianças, é justamente pela associação entre beleza e glamour que elas se constituem como ícones da feminilidade (BUENO, 2012, p. 10).

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41

Em seu artigo, a autora cita pontos relevantes que chamaram sua

atenção durante o desenvolvimento da pesquisa, entre eles o fato das

crianças aprenderem muitos conceitos brincando, o que inclui o recebimento

de brechas para construções e ressignificações de contornos de

masculinidade e feminilidade. A autora descreve o relato em relação aos

diversos objetos levados pelas crianças, sendo esses estampados com as

personagens conhecidas na TV e cinema. ‘Entre mochilas, etiquetas, ovos de

páscoa, gira-giras, gangorras e tanques de areia, as personagens midiáticas

eram inseridas no dia a dia […]’, os quais eram utilizados como instrumentos

de demarcação das identificações dos alunos, evidenciando fronteiras de

gênero entre meninos e meninas.

Retomando o dito no início deste capítulo, ao falar da ‘Branca de Neve’,

Laurindo (2009, p. 62) exemplifica alguns anúncios que foram trabalhados

esse conto de fadas na produção textual, sendo esses observados nas

imagens abaixo.

Figura 1 – Anúncio da marca Esbelt.

Fonte: Os autores.

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4.1 A MARCA ENQUANTO ORGANIZAÇÃO

Segundo Bueno (2012), a marca comercial Princesas Disney foi criada

em 2000, pela Companhia Disney. Pouco tempo depois, a linha de negócios

já conseguiu atingir a meta de 1,3 milhões de dólares em vendas varejistas,

imagem que a consolidou como uma das mais importantes marcas de

produtos infantis.

De acordo com o blog Mundo das Marcas, a coleção Princesas Disney

foi criada no ano 2000, sendo inicialmente formada pelas personagens mais

conhecidas da companhia Disney: Branca de Neve, Cinderela, Aurora, Ariel,

Bela, Jasmine, Pocahontas e Mulan. Mais tarde, novas personagens foram

adaptadas para a coleção: Tiana - primeira princesa negra da Disney,

Rapunzel, Mérida – boneca de cabelos ruivos que teve lançamento no ano de

2013 e Sofia - primeira personagem adaptada para temas mais infantis. São

diversificadas características que compõem o perfil de cada personagem

criada para a coleção, com variações de personalidades, talentos, etnias e

contextos de cultura e nação, compartilhando a diferença de estrelar seu

próprio filme de animação da Walt Disney Pictures, interpretando uma

característica de enredo similiar, contornado por: conto de fadas, fantasia,

romance, realeza e transformação. Cada ‘princesa’ da coleção Disney

apresenta um perfil, trazendo consigo mensagens não-verbais que

caracterizam generosidade, bondade, lealdade, modéstia, beleza interna e

externa, honestidade e justiça, o que as tornam atraentes em todo mundo,

sendo classificadas como exemplos de personagens queridas.

Atualmente, segundo o Blog Mundo das Marcas, a franquia ‘Princesas

Disney’ tem mais de 25.000 produtos licenciados, sendo itens de consumo,

peças teatrais, vídeos, televisão, parques temáticos, um website, rádio,

entretenimento e exclusiva coleção de vestidos e joias para casamentos. A

marca está privilegiada entre os cinco temas de mais procurados para festas

de crianças. É considerada uma das marcas referências da Disney, com

inúmeras vendas. Filmes da Disney Princess, livros, adesivos, revistas estão

entre os seis melhores lançamentos, com recordes de vendas todos os anos.

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4.1.1 A influência da marca enquanto nicho de mercado tendo como

plateia o público infantil

No processo decisório de compra, os indivíduos pertencentes à família

podem desempenhar papéis diferentes nas etapas. Quanto aos papéis

exercidos no seio familiar, Karsaklian (2011, p. 186) diz:

Ocorre que, com a diferenciação crescente dos papéis e das condutas familiares, a criança deixa de ser um espectador passivo para converter-se em pequeno protagonista e alvo ideal para os publicitários, que manipulam sua figura habilmente.

O apelo à compra de produtos infantis não está direcionado apenas

aos pais, em sua maioria a mãe, como também aos filhos.

Contudo, visando à solução do problema e o alcance dos objetivos,

verificando qual a influência dos contos na linguagem publicitária e realizando

uma análise do objeto de estudo - comercial da linha Princesas Disney, a

presente pesquisa adotará métodos específicos, descritos a seguir.

5 METODOLOGIA DE PESQUISA

A classificação da pesquisa é conclusiva descritiva, visto que ela

descreve características do mercado e de determinado grupo, no caso, a

amostra a ser utilizada. Logo, por meio dela, buscou-se estimar a proporção

do público-alvo que está relacionado com os objetivos do presente trabalho.

Para Bertucci (2008, p. 50), “pesquisas descritivas têm como objetivo

principal estabelecer relações entre as variáveis analisadas e levantar

hipóteses ou possibilidades para explicar essas relações”. Dessa forma, a

pesquisa apresentada, preocupa-se com as variáveis, uma vez que foram

entrevistados pais de crianças, público-alvo do estudo proposto.

Definir a técnica que foi utilizada na pesquisa foi elemento norteador,

tendo em vista que a pesquisa apresenta vantagens e limitações, trazendo

em tese a clareza de uma série de questões ao leitor.

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Quanto à técnica, a pesquisa foi de campo. Bertucci (2008, p. 57), ao

falar de pesquisa de campo, relata que mesmo na elaboração de Trabalho de

Conclusão de Curso,

[…] essencialmente teóricos […] […] recomenda a inclusão da pesquisa empírica para esse tipo de trabalho. Isso se justifica plenamente pelas especificidades […] […] e pela estrutura empregada para a produção de trabalhos científicos.

O Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, ao utilizar a pesquisa de

campo, preocupou-se em contemplar a realidade vivenciada pelo público

estudado.

Para a coleta de dados trabalhou-se a entrevista. Para a realização da

observação direta, foi realizada entrevistas com mães ou responsáveis de

crianças do ensino fundamental, meninas numa faixa etária entre 4 a 10 anos.

Sabe-se que nas pesquisas utiliza-se de maneira recorrente a

entrevista, que se da com o intuito de conhecer melhor o entrevistado, uma

vez que ela é realizada sempre entre duas pessoas, não esquecendo que sua

forma é subjetiva. A entrevista aplicada teve por finalidade a análise do

público-alvo da pesquisa, ou seja, como é vista pela mãe, a criança

consumidora.

Para a realização da pesquisa, optou-se por adotar a natureza

qualitativa que “[...] proporciona melhor visão e compreensão do contexto do

problema, enquanto a pesquisa quantitativa procura quantificar os dados, e

normalmente, aplica alguma forma de análise estatística” (MALHOTRA, 2006,

p. 154). Ou seja, buscar uma análise questionadora, a fim de alcançar as

razões e motivações subjacentes do contexto do problema.

6 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS

Após o embasamento em referencial teórico, conforme já mencionado

na metodologia, para a realização da coleta de dados do Trabalho de

Conclusão de Curso, de natureza qualitativa, utilizou-se o método de

entrevista, obtendo um resultado de treze entrevistados, sendo onze mães e

dois pais de crianças entre 04 a 10 anos de idade. A execução da pesquisa

ocorreu de duas formas, pessoalmente e online, sendo a primeira na

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residência de cada entrevistado, de acordo com o horário agendado

antecipadamente, e a segunda por meio da internet, porém depois de uma

explicação feita pessoalmente. A pesquisa foi realizada no segundo semestre

de 2014, junto a pessoas voluntárias, porém que não quiseram se identificar.

Em sua maioria, os entrevistados estavam na faixa etária entre trinta e

um e trinta e cinco anos e o grau de escolaridade gira em torno da pós-

graduação. Entretanto, observa-se que há uma equiparação entre os níveis

de escolaridade: segundo grau completo, ensino superior incompleto e

graduados, conforme o gráfico número 2.

Gráfico 1 – Idade dos entrevistados.

Fonte: Os autores.

Gráfico 2 – Grau de instrução dos entrevistados.

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46

Fonte: Os autores.

Ao questionar a respeito do trabalho e renda familiar, observou-se que

nove entre treze pais entrevistados trabalham fora, e a renda familiar está

entre três a cinco salários mínimos mensais.

Gráfico 3 – Percentual de entrevistados que trabalham fora.

Fonte: Os autores.

Gráfico 4 – Renda familiar.

Fonte Os autores.

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47

Iniciando a análise discursiva das questões que

envolveram o público infantil e sua relação com as mensagens publicitárias

discutidas na presente pesquisa, observou-se que entre os entrevistados a

maioria possui somente uma filha numa faixa etária entre quatro e sete anos

de idade. Ao questionar a respeito da compra de presentes para as crianças,

apenas três mães disseram não levar a(s) filha(s) para que escolher o bem

desejado, haja vista o horário da compra coincidir com o intervalo do

expediente de trabalho, e dois entrevistados deixaram claro a preferência pela

´surpresa’. Nota-se que grande parte daquelas que têm o costume de levar as

filhas para comprar um presente são mães de filhas únicas, o que

consequentemente torna a relação entre eles com maior cumplicidade, devido

a preocupação e apego ser direcionado a apenas este único filho. Com isso é

possível perceber que a fala dos entrevistados vai ao encontro do

pensamento de Ferreguett (2009, p. 72), quando discorre a respeito da

relação de sentidos:

Aqui compreendemos que não há discurso que não se relacione a outros. Um discurso aponta para outros que o sustentam e também para dizeres futuros; assim, não há um começo absoluto, nem um final para o discurso.

Gráfico 5 – Quantidade de filhas dos entrevistados.

Fonte: Os autores.

Gráfico 6 – Idade da(s) filha(s), entre as idades da faixa etária estudada.

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Fonte: Os autores.

Gráfico 7 – Entrevistados que levam a(s) filha(s) às compras.

Fonte: Os autores.

Quando questionado sobre o presente o tipo de presente que a(s)

filha(s) tem maior preferência, nota-se a forte presença da marca como

sinônimo da categoria do produto, tendo por referência a fala das

entrevistadas 05 e 10, as quais citam a categoria de brinquedos em geral

(25%) e exemplificam os termos: ‘bonecas’ (produto) e a marca ‘Barbie’

(marca):

Geralmente, bonecas, barbie e, agora no caso, brinquedo eletrônico. (ENTREVISTADA 5)

Barbie e bonecas em geral. (ENTREVISTADA 10)

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

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Argumentando que uma marca bem posicionada no mercado pode

criar laços emocionais com o consumidor, trazendo uma confiança maior em

relação aos produtos produzidos por essa e, em específico, o público infantil,

associando os atributos citados a valores humanos, como o cuidado e carinho

com as crianças, conforme mencionado no artigo.

Brougère (2006) exemplifica a marca de ursos de pelúcia ‘Ursinhos

Carinhosos’, que, embora seja antiga, produzem uma série de personagens

com características muito bem definidas, visuais novos e coerentes que

fortalecem a marca e mantém a imagem tradicional da mesma. Relacionando

a essa marca, temos o presente objeto de estudo, denominado ‘Princesas

Disney’, as quais constantemente passam por atualizações, para adaptação

ao perfil da criança do mundo moderno, porém é conservada a imagem

tradicional, criada desde o início por Walter Walt Disney, que “transformou a

literatura infantil em desenhos animados, filmes, parques e produtos,

influenciando crianças no mundo inteiro” (BEATRICE; LAURINDO, 2009,

p.15).

Gráfico 8 – Preferência de presentes da(s) filha(s).

Fonte: Os autores.

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Gráfico 9 –Aumento de gasto na companhia da(s) criança(s).

Fonte: Os autores.

Gráfico 10 – Itens que influenciam as crianças na escolha de um presente.

Fonte: Os autores.

Brougère (2006, p. 20) afirma que:

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As pressões da propaganda na televisão, a publicidade, assim como os desenhos animados que dão origem aos personagens de brinquedos, levam a aumentar, ainda mais, a dimensão expressiva e simbólica do brinquedo, pela qual ele vai se diferenciar de todos os outros.

Partindo desse mote, podemos perceber que mais de 50% dos

entrevistados visualizam a televisão por meio de canais fechados, percentual

esse que pode ser um auxílio na compreensão da justificativa que leva ao fato

da marca Disney Princesas ser tão posicionada no mercado, tendo em vista

os elementos textuais, verbais e não-verbais utilizados para expressar as

mensagens de dois comerciais veiculados em canais pagos (anexos A e B).

Na minha opinião, a televisão, os meios de comunicação, televisão, internet […] essas coisas influenciam muito. Eles já vão com a cabeça pronta, porque é assim, eles vêem as propagandas […] (ENTREVISTADA 3). Em casa temos só a tv aberta, então eu percebo assim: quando a gente sai de casa para comprar um brinquedo elas já tem em mente o que elas querem, elas vão na loja e compram o que elas estão pensando. Mas quando elas assistem a tv a cabo na casa de um parente ou amigo, nos intervalos dos canais próprios para crianças, o apelo da propaganda é muito grande. Porque assim, no meu caso que não tenho tv a cabo, elas não tem acesso a essas propagandas, já as crianças que tem acesso a essa programação, a influência é maior. Por exemplo, às vezes a gente chega na loja e fala: ‘ah que legal […]’ e aí a vendedora diz que o brinquedo já foi lançado há alguns meses atrás. Eu quero dizer que às vezes as crianças que tem acesso a essas propagandas são mais influenciadas e as que não tem compram mais por vontade própria da personalidade da criança, compram mais pelo que elas querem e não pelo que a mídia fica martelando. (ENTREVISTADA 5) A mídia influência muito, canais de TV fechada, especializados em desenhos animados fazem toda diferença, projetos como o DVD da Galinha Pintadinha. Enfim, a mídia. Esse mercado infantil vem crescendo muito, crianças nascem a todo instante e o marketing em cima dessas cabecinhas é muito agressivo, o que leva ao comércio dos produtos apresentados na TV e em DVDs. (ENTREVISTADO 12)

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Figura 2 – Cena do comercial promocional da marca Disney Princesas.

Fonte: Os autores.

Figura 3 – Cena do comercial institucional da marca de brinquedos Mattel.

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Fonte: Os autores.

Figura 04 – Cena do comercial institucional da marca de brinquedos Mattel

Fonte: Os autores. Figura 05 – Cena do comercial institucional da marca de brinquedos Mattel

Fonte: Os autores

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Gráfico 11 – Acesso a canais pagos.

Fonte: Os autores.

Na questão doze foi abordado o fato da propaganda influenciar a

criança de modo geral. Dos entrevistados, todos acreditam que a publicidade

contribui para o fortalecimento da marca na mente do público infantil.

Também foi observado o fator Mecanismo de Antecipação, citado por

Orlandi (2000, p. 39 apud FERREGUETT, 2009, p. 74) ao abordar sobre as

condições de produção que constituem a Análise de Discurso:

Trata-se da capacidade que temos de nos colocar no lugar do outro, do nosso interlocutor. Nós podemos antecipar o sentido que as palavras podem produzir e, assim, escolhemos um modo ou outro de dizer, segundo o efeito que pensamos ser possível produzir no nosso ouvinte.

Esse mecanismo pode ser observado nas falas dos entrevistados

abaixo, quando questionados a respeito da influência de propagandas

veiculadas e do produto anunciado. Nota-se que os mesmos se colocam no

lugar das filhas para encontrarem uma resposta ao que foi perguntado.

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Nossa, menina e como. Meu Deus do Céu, como influencia. É uma coisa assim que a gente fica até […] porque, há alguns anos atrás, era bem diferente […] hoje já é muito assim […] as crianças já dizem: “é essa boneca que eu quero”, “é essa roupa que eu quero” […] então assim, é muita influência na cabeça das crianças. (ENTREVISTADA 3)

No geral, seria a propaganda. Mas, para as minhas, falando delas, é mais assim […] o que mais chama atenção sabe, as vezes a embalagem, a cor, as vezes […] uma roupa toda cheia de brilho, uma boneca que parece uma princesinha toda enfeitada, esses personagens conhecidos. (ENTREVISTADA 5) Sim, ajuda. A embalagem é uma coisa assim, é como se fosse […] a criança vê aquela embalagem e ela dá um destaque no presente, no brinquedo. (ENTREVISTADO 12)

Gráfico 12 – Quantidade de entrevistados que acreditam na influência da propaganda junto às crianças.

Gráfico 13 – Influência da embalagem na escolha da criança.

Fonte: Os autores.

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Quando questionados os entrevistados a respeito da influência das

cores no momento da compra de um brinquedo (pergunta número 14), mais

de 90% dos entrevistados concordaram com a influência das cores no

momento da compra, e ao questionar sobre os tons que chamam mais a

atenção das crianças, os maiores índices, em ordem decrescente, foram para

as cores: rosa, vermelho, azul e verde.

É considerável que a cor rosa, além do público-alvo da pesquisa ser

voltado para as meninas, há grande parte das marcas infantis produzirem

produtos voltados ao público feminino com essa cor, o que não é

coincidência, segundo Ferreguett (2009, p. 88):

“[...] o predomínio dessas cores não é por acaso. Certamente foram escolhidas após pesquisas, pelas sensações e vibrações que incitam no consumidor, estimulando a venda do produto.

Geralmente, a colorida é a que mais chama atenção. Na semana passada fui comprar um tênis para a Nataly e ela dizia que precisava ser vermelho ou rosa […] então a cor influencia sim. (ENTREVISTADA 03)

O tom vermelho ocupou o posto de segundo lugar, de acordo com a

opinião dos entrevistados. Pedrosa (1989, p. 107 apud FERREGUETT, 2009,

p. 88) explica que: “O vermelho é a cor que mais se destaca e a que é mais

rapidamente distinguida pelos olhos”. Ferreguett (2009) argumenta que essa

cor incentiva o aumento de tensão muscular e pressão sanguínea, devido a

motivação que provoca no olhar, chamando a atenção e motivando o receptor

para aderir o que lhe é comunicado.

Gráfico 14 – Influência das cores na escolha da criança.

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Fonte: Os autores.

Gráfico 15 – Cores que atraem as crianças.

Fonte: Os autores.

Na questão dezesseis percebe-se a relação das respostas com o fator

de mecanismo de antecipação, trabalhado por Orlandi (2000, p. 39 apud

FERREGUETT, 2009, p. 73), ao discorrer que:

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Trata da capacidade que temos de nos colocar no lugar do outro, do nosso interlocutor. Nós podemos antecipar o sentido que as palavras podem produzir e, assim, escolhemos um modo ou outro de dizer, segundo o efeito que pensamos ser possível produzir no nosso ouvinte.

A postura dos entrevistados ao responder esta questão vai ao encontro

da explicação de Orlandi (2001), quando se perece que esses se colocam no

lugar de suas filhas para pensar em uma resposta coerente.

Todos eles acrescentaram mais justificativas que, peculiarmente,

contribuem para chamar a atenção da criança no ato da compra. Os itens

mais citados foram cenários em que os brinquedos são situados

propositalmente à altura da criança, banners instalados em ambientes de fácil

visualização, propagandas que demonstraram a mecânica de funcionamento

do brinquedo e a utilização de personagens infantis conhecidos no universo

infantil.

[…] fazer a propaganda de forma que mostre como que o brinquedo funciona, é a dinâmica de funcionamento do brinquedo, acho que a ajuda é essencial para que ela goste daquilo, se só mostrasse o estático não teria tanto efeito, mas como as propagandas de hoje mostram o brinquedo em funcionamento, principalmente utilizando desenhos, dando vida aos personagens. Eu acho que isso ajuda, porque você faz a coisa funcionar na frente da criança. Outro aspecto que ajuda é o brinquedo ao alcance da criança, ela pode pegar, ela pode tocar, tirar da prateleira, se estivesse atrás do balcão e ela fosse precisar de alguém, que algum vendedor pegasse para ela, seria mais difícil. Hoje o ponto de venda, né, onde os brinquedos estão, deixam os brinquedos ao alcance da mão da criança, então ela não precisa nem dos pais, ela já pega por conta própria e […]. Seria mais difícil se estivesse atrás de um balcão, como está ao alcance dela, na altura dela, ela tem toda essa liberdade. (Entrevistado 2)

[…] o que influencia mais ela são esses de personagens das chictitas, barbie, princesas, porque essa é a sandália de não sei de quem, esse é o sapatinho de não sei de quem […]. (Entrevistado 3)

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Observa-se que no desfecho da entrevista foram questionados os

entrevistados a respeito dos artifícios influenciadores, junto à criança no

momento da compra, obtendo como respostas a presença de amigos como

exemplos no dia a dia, os produtos que estão no auge, a propaganda que

trabalha com os atributos do produto, como a aparência positiva, envolvendo

a beleza do personagem de desenho animado, embalagem atraente, cores

que se destacam e efeitos sonoros ou ainda influência das amiguinhas, a

política do “Ela tem, eu quero também.” (Entrevistado 12).

Com efeito, a imagem do brinquedo não é qualquer imagem: ela deve ser manipulável no interior da atividade lúdica da criança e corresponder à lógica da brincadeira e da expectativa daquele que orienta na compra em termos de imagem. Convém, em consequência, distinguir o brinquedo cuja compra foi orientada pelos pais (para crianças menores) daquele que é pedida pela própria criança; No primeiro caso, a imagem deve, acima de tudo, seduzir o adulto e representar sua relação com a infância (BROUGÈRE 2006, p.19- 20).

Nota-se que as características voltadas ao visual e sonoridade foi

argumentada por um pai (entrevistado 12) e uma mãe (entrevistada 13), cujas

filhas têm idades entre 04 e 07 anos, concluindo que a faixas etárias menores

do público estudado são influenciadas principalmente por marcas que

trabalham, além dos personagens infantis, cores vibrantes, visual atrativo e

sons agradáveis, que causam as mais variadas sensações.

Gráfico 16 – Demais artifícios que podem influenciar a escolha das crianças.

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Fonte: Os autores.

Ainda de acordo com o gráfico acima, tem-se a fala da entrevistada 5 e

duas fotografias realizadas na residência dessa, ao observar que sua filha

integra o público-alvo da marca Disney Princesas, focando-se

especificamente na presença da personagem ‘Branca de Neve’, que integra a

coleção das bonecas:

Eu percebo assim, por exemplo, tem várias bonecas que parecem serem as primas da barbie, mas elas não tem o mesmo acabamento e nem a mesma qualidade e isso a gente como adulto percebe e as crianças também. E aí está o apelo visual chama mais atenção delas e daí elas vão para aquelas quem tem um melhor acabamento, que, geralmente, é a que possui um valor maior, devido a qualidade do produto. Acontece da Barbie com as primas dela né, que são as bonecas parecidas, mas não são a Barbie e da Disney também, as princesas tem uma qualidade e um diferencial das outras princesas que são parecidas, mas não são da Disney. As crianças sabem certinho quando é e quando não é, devido a isso, ao acabamento, a qualidade do produto, que é melhor, e o preço também, tem um preço agregado.

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

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Porém, eu acredito que, mesmo pagando mais caro, compensa porque você tem um brinquedo com uma qualidade melhor e os personagens fazem parte do imaginário das crianças. É difícil você pegar uma criança nessa idade que nunca sonhou em ser uma princesa, viver em um mundo encantado. Teve uma vez que eu comprei um kit com quatro princesas da Disney, delas pequenininhas, e eu não comprei o castelo original, devido ao alto valor agregado […] comprei um castelo genérico (risos), digamos assim, que para efeito da brincadeira funciona a mesma coisa que o castelo da Disney, só que daí eu paguei um valor bem abaixo. Elas gostaram, pois para elas o que importa é ter as princesas originais da disney e o castelo tanto faz.

Ilustração 06 – Castelo da marca Disney Princesas

Fonte: Os autores.

Ilustração 7 – Personagens da coleção Disney Princesas.

Fonte: Os autores.

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62

Para tanto é possível comprovar estas falas dos entrevistados,

seguindo o pensamento de Ferreguett (2009, p. 74) quando diz que

“O lugar a partir do qual fala o sujeito, é constitutível do que ele diz. Assim, quando falamos a partir do lugar de professor, nossas palavras significam diferente do que quando falamos do lugar do aluno, do diretor, etc”.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegando ao final do presente Trabalho de Conclusão de Curso,

observa-se que os contos infantis estão presentes em muitos materiais

publicitários, podendo ser considerados como um dos elementos

influenciadores do consumo infantil, devido a forte presença na mensagem

publicitária dirigida ao público estudado.

Observou-se que a presença dos contos no discurso publicitário é

muito utilizada por marcas de produtos infantis, tanto para recurso criativo

quanto para persuadir o público-alvo para o qual a campanha é direcionada. A

relação entre a publicidade e a mensagem contextualizada aos contos de

fadas é muito comum e tem enorme contribuição em textos de campanhas,

principalmente aquelas que possuem as crianças como público-alvo.

Após o embasamento teórico, também pode-se considerar que esse

‘casamento’ entre propaganda e público infantil, ao ser explorado na

mensagem publicitária, instiga o consumo da criança. Em suma, as

justificativas estão focadas no que pode parecer óbvio: toda pessoa busca a

felicidade plena. E essa sensação foi analisada na marca Disney Princesas,

especificamente na personagem “Branca de Neve”, que traz o lúdico a tona. A

marca ‘conversa’ com o consumidor por meio de elementos textuais verbais e

não-verbais, atrelados a valores da realidade em que a mesma vivencia,

indicando caminhos para a auto-realização.

Cada vez mais a publicidade encaminha-se em realçar valores

subjetivos e argumentos que emocionam o consumidor, desse modo acredita-

se que os contos de fadas exercem uma colaboração no envolvimento entre

marca e público-alvo, mantendo um diálogo agradável entre ambos.

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REFERÊNCIAS BEATRICE, Lorreine; LAURINDO, Roseméri. Contos de fadas na publicidade: magia e persuasão. Blumenau: Edifurb, 2009. BERTUCCI, Janete Lara de Oliveira. Metodologia básica para elaboração de trabalhos de conclusão de cursos: enfase na elaboração de TCC de Pós-Graduação Lato Sensu. São Paulo: Atlas, 2008. BROUGÈRE, Guilles. Brinquedo e cultura. São Paulo: Cortez, 2006. BUENO, Michele Escoura. Girando entre princesas: performances e contornos de gênero em uma etnografia com crianças. 2012. 165f. Dissertação (Mestrado)–Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. CARVALHO, Nelly de. Publicidade: a linguagem da sedução. São Paulo: Ática, 2010. CECATTO, Ivone. A construção da linguagem publicitária dirigida ao público infanto-juvenil. Ivaiporã: Midiograf, 2001. DISNEY (parte 1). Blog mundo das marcas. Disponível em: <http://mundodasmarcas.blogspot.com.br/2008/12/disney-novo-perfil-parte-1.html>. Acesso em: 5 jun. 2014. FERREGUETT, Cristhiane. Criança e propaganda: os artifícios linguísticos e imagináticos utilizados pela publicidade. São Paulo: Baraúna, 2009. GADE, Christiane. Psicologia do consumidor e da propaganda. São Paulo: EPU, 1998. KARSAKLIAN, Eliane. Comportamento do consumidor. São Paulo: Atlas, 2011. MALHOTRA, Naresh K. Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. MARTINS, Jorge Silva. Redação publicitária: teoria e prática. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2008. ORLANDI, Eni. ANÁLISE DO DISCURSO: princípios e procedimentos. Campinas, SP: Pontes, 2001. SAMPAIO, Rafael. Propaganda de A a Z. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. SANDMANN, Antonio. A linguagem da propaganda. São Paulo: Contexto, 2003.

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SANDMANN, Antonio. A linguagem da propaganda. 9. ed. São Paulo: Contexto, 2010. SANT'ANNA, Armando. Propaganda, teoria, técnica e prática. 7. ed. São Paulo: Pioneira, 1999. 3.1.3 A MÚSICA NA PROPAGANDA TELEVISIVA COMO FATOR EMOCIONAL DE APROXIMAÇÃO E PERSUASÃO DO CONSUMIDOR3

Franciele S Santos

Jair Moreira RESUMO A presente pesquisa buscou identificar como a música na propaganda televisiva, sendo usada como meio principal de transmissão do discurso publicitário, se constitui como um fator emocional de aproximação e persuasão do consumidor, em se falando em linguagem semiológica. Para realizar o embasamento teórico da análise, pesquisou-se o conceito de música, como ela se constitui como linguagem para a comunicação e como influencia o comportamento do consumidor. Ademais, foram pesquisados os conceitos semióticos de Peirce e os recursos do discurso publicitário. Quanto à metodologia, a pesquisa empregada foi do tipo conclusiva causal; aplicada por meio de grupo focal, obtendo resultados positivos em relação à influência da música na propaganda televisiva sobre o comportamento do consumidor. A análise dos resultados obtidos por meio da pesquisa, por sua vez, permitiu que se constatasse a hipótese de que a música reforça o discurso publicitário e o torna mais eficaz, despertando as emoções dos consumidores, em que a linguagem semiológica musical é dita como elemento complementar da persuasão, que auxilia no convencimento do consumidor.

Palavras-chave: Música. Semiótica. Comunicação. Emoção.

1 INTRODUÇÃO

Ao falar em tecnologia é preciso pensar que antes de ocorrer à

revolução tecnológica advinda do século XXI, os meios de comunicação eram

limitados em transmitir informações, sua capacidade de atingir determinados

3 Título do Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, que deu origem a este artigo.

Bacharel em Publicidade e Propaganda, pela Faculdade Metropolitana de Maringá – FAMMA, Turma 1 de 2014. Professor de graduação da FAMMA. Orientador do Artigo científico, bem como do TCC da egressa.

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públicos não era ampla como se pode observar no período contemporâneo,

por questões diversas.

Assim, a partir da revolução tecnológica e as inovações digitais dela

decorrentes, a comunicação passou a enfrentar novos e maiores desafios

para atingir as pessoas, principalmente em se tratar da publicidade e

propaganda de produtos, sendo um de seus principais desafios a absorção e

retenção das mensagens transmitidas, bem como a obtenção de resposta por

parte do público-alvo.

Com isso, surgiu a necessidade de buscar novas reflexões sobre o

público-alvo, visto que as pessoas deixaram de ser facilmente influenciadas e

se tornaram mais críticas em relação às informações que recebem; logo, os

profissionais de publicidade e propaganda passaram a desenvolver novas

estratégias para atingir os consumidores efetivamente, com o intuito de

despertar seu interesse e influenciar diretamente sua tomada de decisão,

favorecendo a compra do produto ou serviço anunciado. Entre essas

estratégias, está a utilização da música nas propagandas televisivas, como

meio principal de transmissão do discurso publicitário e não apenas como um

acompanhamento dele, bem como, das imagens, o que é mais comum nas

produções audiovisuais, música esta que favorece a aproximação do

consumidor com a marca anunciada.

Falar em discurso publicitário, e transmiti-lo em forma de música, é

uma maneira de torná-lo mais eficaz, tendo em vista esta capacidade de

despertar inúmeras emoções, estimulando os consumidores de diversas

maneiras, conforme sua melodia, ritmo e letra, sendo esta última um

componente essencial, juntamente com a melodia, para que as táticas

persuasivas desencadeiem os sentimentos desejados nos consumidores.

Para a realização desta pesquisa, foi tomado como objeto de estudo o

comercial da campanha da Unimed Maringá, intitulada: ‘Unimed de toda

gente’, o qual teve sua linguagem tanto musical quanto textual analisada, bem

como, o efeito que provoca sobre as emoções dos consumidores, com o

intuito de responder ao seguinte problema de pesquisa: ‘Em que a música na

propaganda televisiva, em se falando de linguagem semiológica, contribui

para a persuasão do consumidor?’.

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Os objetivos do trabalho foram: o geral buscou analisar a música como

elemento persuasivo e a importância desta linguagem na resposta emocional

do consumidor, perante a propaganda televisiva; enquanto que os específicos

procuraram conceituar a música e sua função enquanto linguagem; verificar a

relação existente entre discurso publicitário e música; analisar a persuasão do

consumidor e seu comportamento advindos do discurso publicitário,

decorrente da linguagem semiológica musical e identificar a música como

veículo de propaganda e sua influência na resposta emocional do

consumidor.

A opção pelo objeto de estudo, o comercial da Unimed Maringá,

intitulado: ‘Unimed de toda gente’, se deu pelo fato de que utiliza o som como

elemento principal da propaganda, transmitindo seu discurso textual

inteiramente em forma de música. Então, levando-se em consideração o tema

da presente pesquisa, a escolha pelo comercial estudado se justifica, ainda,

pela contribuição que dará para uma maior elucidação e exemplificação do

tema, mostrando os resultados obtidos ao adotar esta tática publicitária. Para

obter os resultados, trabalhou-se com grupo focal e verificou-se o efeito desse

comercial sobre as emoções dos consumidores.

A música pode reforçar o discurso publicitário e torná-lo mais eficaz,

despertando as emoções dos consumidores e, assim, permitindo que esse

discurso se apresente mais convincente; por sua vez, a linguagem

semiológica musical é dita como elemento complementar da persuasão, que

auxilia no convencimento do consumidor.

2 MÚSICA E SEU CONCEITO

A palavra som veio do latim sonus e “[...] significa a vibração de um

corpo percebida pelos ouvidos, ou energia sob a forma de vibrações

chamadas ondas sonoras” (ARTAXO; MONTEIRO, 2013, p. 15). O som é,

ainda, “[...] omnidirecional, sem bordas, transparente e capaz de atingir

grandes latitudes. Não tropeçamos no som. Ao contrário, ele nos atravessa”

(SANTAELLA, 2005, p. 105).

A música é um conjunto de vibrações rítmicas, “[...] presença pura,

movente e fugidia, tão pura que chega a permitir sua liberdade de qualquer

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comparação com algo que lhe seja semelhante [...]” (SANTAELLA, 2005, p.

105).

A música é, ainda, “[...] a manifestação de crenças, de identidades, é

universal quanto à sua existência e importância em qualquer que seja a

sociedade” (PINTO, 2001, apud ARTAXO; MONTEIRO, 2013, p. 23), sendo

que “[...] também conta histórias, uma história de sons” (SANTAELLA, 2005,

p. 115).

2.1 MÚSICA E SEMIÓTICA

O estudo semiológico da música vai ao encontro dos anseios da

presente pesquisa, visto que se objetiva averiguar como a música transmite

um discurso e, por meio deste discurso, consegue se constituir como um fator

emocional de aproximação do consumidor. Isso porque a semiótica,

considerada como teoria do sentido, estuda a compreensão da comunicação,

bem como a construção de ideias. (SAMPAIO, 2012). Ou seja, por intermédio

da semiótica, é possível fazer novas interpretações do já existente, a fim de

que o interlocutor possa se identificar com o discurso perpassado pela

música, levando-o a se comprometer com o já dito ou tomando parte do que

será veiculado, uma vez que este universo lhe pertence, ou é dito que lhe

pertence.

A ‘Semiótica’4é definida como “[...] a ciência de toda e qualquer

linguagem” (SANTAELLA, 1999, p. 10), logo, a semiótica pode ser entendida

como a ciência que se dedica a investigar todos os sistemas de produção de

sentido difundidos, propiciados pelo desenvolvimento dos meios de produção

de linguagem.

Tendo em vista que nas décadas de 60 e 70 os conceitos linguísticos

foram aplicados em vários sistemas de linguagem, entre eles a música, o

cinema e a televisão; verificou-se que os códigos da comunicação humana

“[...] abrangem todos os tipos de sinais e signos que operam no seio da vida

social, tornando possíveis a comunicação e a cultura” (SANTAELLA, 2005, p.

97) e não apenas os signos linguísticos, foram tomados por base os conceitos

de Peirce para verificar os aspectos semiológicos da música.

4 Os grifos pretendem dar destaque às palavras consideradas relevantes.

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2.2 A MÚSICA ENQUANTO LINGUAGEM PARA COMUNICAÇÃO

Falou-se em música e, segundo estudos, ela está presente na

sociedade desde os primórdios da humanidade, desempenhando papéis

diferentes em cada período histórico.

Para Schurmann (1989), a comunicação teria originado a linguagem

verbal e a música no período do pleistoceno, que antecede a era paleolítica

(INFOESCOLA, [c.2006-2015]), onde música se refere a todas as

manifestações sonoras praticadas pelo homem com os mais diversos fins,

excluindo-se a fala.

De acordo com Schurmann (1989), as funções da música nessa época

primitiva – chamada por ele de estado selvagem – seriam a religiosa e a

mágica, sendo que a função mágica dominava as manifestações musicais.

Diante disso, infere-se que, nesse período, a música não estava adequada ao

conceito de comunicação social, pois não tinha função de estabelecer

relações comunicativas.

O homem foi evoluindo e entrou em um novo período histórico: a

barbárie. E a sociedade passou da barbárie para a civilização, passagem que

se deu pelo fato de a sociedade já não encontrar mais apoio na antiga

estrutura gentílica5, pois passava por um período de evolução, onde as forças

produtivas se desenvolveram, favorecendo a dominação da natureza e a

sobrevivência do homem. Isso contribuiu para um crescimento considerável

dos núcleos sociais existentes e a tendência foi substituir as aldeias por

cidades, além de que a evolução das forças produtivas acarretou na divisão

do trabalho e na acumulação de riqueza e poder nas mãos de algumas

camadas, fazendo surgir as classes sociais (SCHURMANN, 1989). Nesse

contexto, a música passou a ser destinada mais à nobreza do que as

comunidades gentílicas, fazendo com que a mesma adquirisse função de

entretenimento.

Música, então, conforme suas características rítmicas, assemelha-se

aos ritmos biológicos dos seres humanos, responsáveis por cada tipo de

5Conforme o portal Templo de Apolo, as comunidades gentílicas eram unidades agrícolas

autossuficientes, onde os bens econômicos estavam sob o controle do chefe comunitário, chamado pater, que exercia funções religiosas, administrativas e judiciárias, sendo essa sua estrutura (KAGAN, 2014).

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sentimento. Assim, os sentimentos que atribuímos a música não são de todo

arbitrários, visto que os mesmos “[...] têm seus vínculos de motivação nas

similaridades entre a música e as pulsações biológicas” (SANTAELLA, 2005,

p. 83).

Ademais, pelo fato da música se constituir como um discurso musical,

que visa comunicar algo, o objeto de estudo da presente pesquisa foi

investigado, com o intuito de verificar o que é esse ‘algo’ a ser comunicado,

além dos efeitos dessa comunicação sobre o emocional do consumidor.

3 DA RETÓRICA À PERSUASÃO: O SABER ARGUMENTAR

O capítulo anterior abordou a música como linguagem do discurso

musical, discurso que, ao ser incorporado ao discurso publicitário, contribui

para a persuasão.

Diante disso, para abordar os conceitos de persuasão e auxiliar na

elucidação da maneira como ela se apresenta no discurso publicitário, se faz

necessária uma abordagem do domínio da expressão verbal, para que se

compreenda como surgiu a habilidade de manejar as formas de

argumentação, buscando construir um discurso bem articulado, convincente

e, ao mesmo tempo, elegante.

Parafraseando Abreu (2009, p. 25), a argumentação é a arte da

convicção e persuasão, sendo que “convencer é saber gerenciar informações,

é falar à razão do outro, demonstrando, provando” e “persuadir é saber

gerenciar relação, é falar à emoção do outro”.

Essa habilidade de manejar as formas de argumentação, por sua vez,

surgiu em Atenas, na Grécia antiga, quando os atenienses passavam por sua

primeira experiência de democracia, sendo denominada como ‘retórica’ –

chamada, também, de arte de convencer e persuadir (ABREU, 2009).

Aristóteles6, indo ao encontro desse conceito, definiu a retórica como

sendo a “[...] arte de extrair de todo assunto o grau de persuasão que ele

comporta, ou, ainda, como a faculdade de descobrir especulativamente aquilo

que, em cada caso pode ser próprio para persuadir”.

6 Criador das estruturas do discurso retórico.

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Assim, o surgimento da retórica em Atenas se deu pelo fato dos

atenienses terem de expor publicamente suas ideias, sendo que “[...] era

muito importante que os cidadãos conseguissem dominar a arte de bem falar

e argumentar com as pessoas, nas assembleias populares e nos tribunais”

(ABREU, 2009, p. 27).

Por ser vista como a arte do bem falar, a retórica, no final do século

XIX, passou a ser tida como um recurso para embelezamento do discurso,

mas, com o advento da retórica moderna nos últimos anos, a mesma sofreu

uma renovação.

Todavia, ao se falar de retórica deve-se ter o cuidado para não

confundi-la com persuasão. Citelli (1999, p. 10) aborda alguns pensamentos

de Aristóteles, evidenciando que a retórica é “[...] um método verificativo dos

passos seguidos para se produzir a persuasão”, cabendo a ela “[...] verificar

quais os mecanismos utilizados para se fazer algo ganhar a dimensão de

verdade”. Portanto, a retórica se constitui como um passo a passo para se

criar a persuasão, contendo códigos específicos, que são aplicados ao

discurso, tornando-o, assim, mais convincente.

Falou-se em retórica, ou seja, o bem falar e sua importância nos mais

diversos discursos, o que não difere da persuasão e sua influência junto ao

consumidor. Para Citelli (1999, p. 13), o ato de persuadir é “[...] sinônimo de

submeter [...] Quem persuade leva o outro à aceitação de uma dada ideia.” O

enunciador de um discurso, que se configura como ‘o persuasor’, por ter uma

intenção ao pronunciar esse discurso, faz uso de um arranjo discursivo na

medida de sua intenção (SANTAELLA, 2005). Logo, infere-se que a

persuasão é um processo por meio do qual o persuasor realiza um discurso

bem construído, que auxilia a sustentar as ideias por ele defendidas e,

portanto, leva as pessoas a aceitarem-nas, tendo-as como verídicas.

Para Fiorin (2011, p. 75), “a finalidade última de todo ato de

comunicação não é informar, mas persuadir o outro a aceitar o que está

sendo comunicado.” Logo, a comunicação seria um jogo de manipulação, que

tem em vista fazer o enunciatário acreditar naquilo que está sendo

transmitido, assim, ela é sempre persuasiva (FIORIN, 2011).

Já Abreu (2009, p. 75) adota um caráter mais poético em sua definição,

entendendo que o ato de persuadir uma pessoa é sensibilizá-la para que ela

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realize algo que o persuasor deseja, é construir no terreno das emoções e

“[...] conseguir que as pessoas façam alguma coisa que queremos”. O autor

ressalta ainda que a persuasão só se torna possível quando há gerência do

relacionamento com o outro de maneira positiva, procurando saber o que ele

tem a ganhar, fazendo o que se deseja que ele faça, portanto, a primeira lição

da persuasão é “[...] educar nossa sensibilidade para os valores do outro. Se

não formos capazes de saber quais são esses valores, de nos tornarmos

sensíveis a eles, seremos incapazes de persuadir” (ABREU, 2009, p. 76).

Porém, esses valores precisam ser valores éticos, como enfatiza Abreu

(2009).

3.1 ARGUMENTAÇÃO E DISCURSO PUBLICITÁRIO

O termo propaganda foi “[...] extraído do nome Congregation de

propaganda fide, congregação criada em 1622, em Roma, e que tinha como

tarefa cuidar da propagação da fé” (SANDMANN, 2010, p. 9). Ao traduzir o

nome da congregação, temos “Congregação da fé que deve ser propagada”

(SANDMANN, 2010, p. 9), logo a ideia de propagar, nesse contexto, sugere o

dever de se difundir a fé.

Contudo, esse termo recebeu outras denotações. Nos Estados Unidos,

por exemplo, o termo

[...] propaganda é usado exclusivamente para a propagação de ideias, especialmente políticas, [...] sendo que, para a propaganda comercial ou de serviços se usa o termo

advertising7 (SANDMANN, 2010, p. 10, grifo do autor).

Já no Brasil, o termo ‘propaganda’, assim como o termo ‘publicidade’, é

utilizado tanto no sentido de promover a venda de produtos, significado que

caberia à publicidade, bem como no sentido de propagar ideias, conceito

próprio de propaganda (SANDMANN, 2010). Tal definição se afasta da ideia

de que a propaganda está somente “[...] destinada a divulgar informações

com vistas à promoção de vendas de bens e serviços negociáveis” (HARRIS;

SELDON, 1962 apud VESTERGAARD; SCHRODER, 2004, p. 3).

7Significa publicidade.

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A propaganda do Brasil possui um discurso próprio, fazendo uso de

uma linguagem diferenciada, repleto de efeitos estilísticos, a linguagem da

propaganda. Essa linguagem reúne argumentos e elementos capazes de

favorecer o alcance do objetivo último da propaganda, que é “[...] conseguir

que as pessoas façam alguma coisa que queremos”. (ABREU, 2009, p. 75),

no caso, que adquiram o produto e/ou serviço anunciado. Isso pelo fato de

que “[...] o elemento persuasivo está colado ao discurso como a pele ao

corpo” (CITELLI, 1999, p. 6).

A adoção de um discurso diferenciado pela publicidade se dá pelo fato

de que, a cada uma das práticas sociais existentes, está associado um tipo de

discurso (SANTAELLA, 2005). Além disso, o discurso está associado a um

estado comunicativo, portanto, segundo Rastier (1997), os argumentos

utilizados devem se adequar ao tipo de discurso a ser utilizado, bem como

nas condições e situações da comunicação que se pretende estabelecer

(SANTAELLA, 2005).

Orlandi (1983)8, assim como Citelli (1999), afirma haver três tipos de

discurso: o lúdico, o polêmico e o autoritário; sendo que esta divisão se

originou da conjectura de que a polissemia e a paráfrase são os dois

processos fundamentais da linguagem, em que polissemia se define como

“[...] multiplicidade de sentidos e a paráfrase como sendo formulações

diferentes para o mesmo sentido” (ORLANDI, 1983 apud SANTAELLA, 2005,

p. 285).

Sendo assim, o discurso lúdico apresentaria um jogo de discurso que

brinca com a polissemia; o discurso polêmico jogaria, além da polissemia,

com a paráfrase; e o discurso autoritário faria uso do jogo com a paráfrase

(SANTAELLA, 2005).

O discurso publicitário é uma mescla desses vários tipos de discurso,

sendo que nele se concretiza algumas das relações existentes entre retórica,

argumentação e persuasão.

O texto publicitário nasce na conjunção de vários fatores, quer psico-sociais-econômicos, quer do uso daquele enorme

8Eni Orlandi é mestre em Linguística pela Universidade de São Paulo (1970) e doutora (1976) no

tema pela mesma instituição e também pela Universidade de Paris/Vincennes, pioneira em análise do discurso no Brasil (ORLANDI, 2012).

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conjunto de efeitos retóricos aos quais não faltam as figuras de linguagem, as técnicas argumentativas, os raciocínios (CITELLI, 1999, p. 43).

Logo, para se que construa um texto publicitário, que possui natureza

persuasiva, é necessário ter domínio das técnicas argumentativas.

Argumentar é, em primeiro lugar, convencer, ou seja, vencer junto com o outro, caminhando ao seu lado, utilizando, com ética, as técnicas argumentativas, para remover os obstáculos que impedem o consenso. [...] o indivíduo que procura pensar no outro, investir em sua autoestima, praticamente não enfrenta concorrência (ABREU, 2009, p. 97).

Diante disso, argumentar seria convencer o outro e levá-lo à ação por

meio de uma motivação dada a ele, apelando para o seu emocional. Por isso,

as palavras que se utiliza na argumentação têm grande influência no

resultado obtido pela mesma, devendo ser pensadas antes de serem

integradas ao discurso (ABEU, 2009).

3.2 ELEMENTOS PERSUASIVOS DO DISCURSO PUBLICITÁRIO

Os recursos utilizados na linguagem publicitária têm por objetivo

conquistar a atenção do receptor da mensagem, de modo que o faça “[...]

parar e ler ou escutar a mensagem que lhe é dirigida, nem que para isso se

infrinjam as normas da linguagem padrão [...]” (SANDMANN, 2010, p. 12).

Entre esses recursos estão as várias técnicas argumentativas e, dentro

delas, diversas tipos de argumentos. Entre eles está o argumentum ad

populum, considerado uma falácia, ou seja, um argumento que tem poder de

nos atingir psicologicamente. Esse argumento é mais conhecido como

demagogia e “[...] acontece quando alguém dirige um apelo emocional ao

povo com o propósito de ganhar aprovação para uma conclusão que não se

sustenta por um raciocínio válido” (ABREU, 2009, p. 68).

A escolha lexical também é uma técnica de argumentação, que se

configura como elemento persuasivo do discurso publicitário, visto que, por

meio dela, são escolhidas palavras para serem colocadas estrategicamente

no discurso (KOCH, 1999).

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Ainda em se tratando de elementos persuasivos que auxiliam na

criação do discurso publicitário, Abreu (2009, p. 109) cita como recurso as

figuras retóricas, que “[...] são recursos linguísticos utilizados especialmente a

serviço da persuasão”.

4 A MÚSICA COMO FATOR EMOCIONAL NA PROPAGANDA TELEVISIVA

Partindo da constatação de que a música é uma linguagem das

emoções, buscou-se identificar como e porque a mesma é utilizada na

propaganda televisiva.

Nesse sentido, sabe-se que as pessoas, principalmente as que moram

nos grandes centros urbanos, são saturadas de informações e estímulos

provenientes da publicidade, o que dificulta a assimilação desses conteúdos

ao qual são expostas. Assim, como modo de administrar essa multiplicidade

de informações que recebem, “[...] os clientes tornam-se ‘seletivos’. Ignoram

alguns estímulos e algumas possíveis interpretações de estímulos, filtrando

assim as percepções das informações que recebem”’ (SHETH; MITTAL;

NEWMAN, 2001, p. 290).

Diante disso, tem-se o maior desafio da comunicação, bem como da

linguagem da propaganda: conseguir prender a atenção do destinatário

(SANDMANN, 2010).

Além de seletivos, os consumidores têm, tornado-se cada vez mais

críticos em relação às informações que recebem.

Os avanços tecnológicos da comunicação de massa, da indústria cultural, da cultura de massa e das mídias eletrônicas trouxeram a necessidade de buscar novas reflexões sobre o sujeito alvo – que não deve ser encarado como objeto fácil de ser moldado, e sim como resultado dessa rede de relações amorfas, não tangíveis, que possui elementos específicos em que o sujeito também se reconhece porque os elementos significativos são construídos para ter consumidores potencializados que participam e refletem sobre nosso mundo atual (DUARTE; BARROS apud CODATO; LOPES, 2012, p. 213, grifo do autor).

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Tomando por base as novas características dos consumidores, sabe-

se que há necessidade dos profissionais de publicidade e propaganda

desenvolverem novas estratégias para atingi-los efetivamente, e assim se

consiga despertar o interesse desses consumidores, reter sua atenção e

influenciar diretamente sua tomada de decisão, favorecendo, desta forma, a

compra do produto ou serviço anunciado. Portanto, é necessário que se faça

uso infatigável da criatividade (SANDMANN, 2010).

À medida que se amplia a quantidade de marcas com produtos e/ou

serviços em uma mesma categoria, sendo suas características muito

parecidas, se faz necessária a utilização de anúncios voltados para a emoção

dos consumidores, de modo que, se crie uma relação de afetividade para com

a marca (THORSON, 2002).

Segundo Sheth; Mittall e Newman (2001, p. 347) todas as pessoas

possuem uma autoimagem de quem elas são; sendo essa autoimagem

chamada de autoconceito. Consequentemente, “[...] os autoconceitos

influenciam profundamente o consumo das pessoas; as pessoas vivem seus

autoconceitos em grande medida por meio do que consomem”.

Pensado assim, o uso das emoções na propaganda pode fazer com

que os produtos ou marcas se vinculem aos seus benefícios, influenciando as

atitudes dos consumidores através da suscitação de emoções, decorrente dos

próprios elementos emocionais da propaganda. Além disso, auxilia na

comunicação e informação dos produtos e marcas, o que gera uma atenção,

percepção e memorização maiores dos mesmos (GADE, 1998).

No entanto, para que as intenções dessa estratégia de marketing

sensorial sejam mantidas e alcançadas, se faz necessária a escolha correta

do meio que a irá veicular. (SANTAELLA, 2005). Nesse sentindo, entende-se

que a escolha por determinado meio de comunicação – um canal físico no

qual as linguagens se corporificam e transitam – é feita adequando-se a

mensagem que se pretende transmitir, no que diz respeito ao seu conteúdo,

ao impacto o mesmo pretende causar nos receptores da mensagem.

Assim, verifica-se que a televisão é comumente escolhida para veicular

esse tipo de propaganda, devido ao fato dela ser capaz de reunir e incorporar

quaisquer outras linguagens.

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Paolone (apud CHAVES, 1987, p. 237) arrola quais os pontos positivos

da televisão:

A televisão alcança o cliente potencial dentro das paredes domésticas, em família: mais acessível porque menos crítico e menos agressivo daquilo que seria numa sala de cinema. Com efeito, a mesma possibilidade de mudar de canal, ou até mesmo interromper a transmissão fá-lo sentir-se livre às mensagens publicitárias e, portanto, mais disponível, em princípio, de prestar a sua atenção [...].

Dessa perspectiva, as características da televisão favorecem a

utilização da música como fator emocional, utilização que é diferenciada, para

ir ao encontro das estratégias do marketing sensorial.

Em decorrência da carga emocional evocada e transmitida pela

música, a propaganda que a torna seu meio principal de transmissão do

discurso publicitário consegue influenciar o comportamento do consumidor.

4.1 MÚSICA E COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR

“A voz do senso comum diz que o homem é um ser racional. Pesquisas

recentes têm demonstrado que isso não é verdade! Nós somos seres

principalmente emocionais!” (ABREU, 2009, p. 77).

A razão é considerada “[...] uma parte da natureza humana que, em si

mesma, não é estática, mas dinâmica, além de que incorpora o domínio

afetivo e o domínio da ação nas respostas em relação ao mundo”.

(SANTAELLA, 2005, p. 38). Assim, a maior “[...] parte do consumo e do uso

de produtos e serviços é orientada para as emoções e fica imersa nelas”.

(SHETH; MITTAL; NEWMAN, 2001, p. 338). Isso, tendo em vista que a

propaganda tem por objetivo estimular as motivações do consumidor e reduzir

os freios do consumo, freios impostos pela razão. Por motivo, entende-se

como sendo “[...] uma condição interna relativamente duradoura que leva o

indivíduo ou que o predispõe a persistir num comportamento orientado para

um objetivo [...]” (SAWREY; TELFORD, 1976 apud KARSAKLIAN, 2011).

Portanto, se faz necessário compreender como as emoções explicam o

comportamento do consumidor, que abrange tanto atividades mentais quanto

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77

físicas, por isso, se define como sendo “[...] as atividades físicas, mentais e

emocionais realizadas na seleção, compra e uso dos produtos e serviços para

satisfação de necessidades e desejos” (GADE, 1998, p. 1).

As atividades mentais, por sua vez, consistem em avaliar um

produto/serviço tendo por base as informações veiculadas pela propaganda,

além de avaliá-lo por meio de experiências efetivas com o mesmo. Já as

atividades físicas estão relacionadas com o ato de visitar lojas, conversar com

vendedores, expedir um pedido de compra, entre outros (SHETH; MITTAL;

NEWMAN, 2001).

4.1.1 Os efeitos da música no comportamento do consumidor

Para falar dos efeitos da música, é importante ter claro o

comportamento do consumidor e seu grau, enquanto influenciável. Damásio

(1996, p. 150) afirma que existem “[...] poções em nossos organismos e

cérebros capazes de impor comportamentos que podemos ser capazes ou

não de eliminar por meio da chamada força de vontade”.

Devido às características do discurso publicitário, torna-se mais difícil

se manter indiferente às propagandas que fazem uso da música como fator

emocional. Isso, porque “as figuras retóricas possuem um poder persuasivo

subliminar, ativando nosso sistema límbico, região do cérebro responsável

pelas emoções” (ABREU, 2009, p. 109), entendendo-se por subliminar aquilo

que atinge nosso subconsciente (CALAZANS, 2006).

As respostas emocionais dadas aos anúncios, por sua vez, podem ser

uma resposta ao produto, que implica em “[...] efeitos que permanecem

bastante tempo após a exposição ao anúncio, como ‘gostar’ ou ‘confiar’ no

produto” (GADE, 1998, p. 93); ou uma resposta ao anúncio, que “[...] implica

reações emocionais ao assistir ao anúncio, como prazer, irritação etc.”

(GADE, 1998, p. 93).

Para Karsaklian (2011), as propagandas que fazem uso de elementos

emocionais podem causar ansiedade, surpresa ou nostalgia no consumidor. A

ansiedade acontece quando se retrata uma situação de medo, a qual pode

ficar subtendida, ser permanente ou passageira, sendo demonstrado que o

uso da marca anunciada ou a adoção de determinada postura, irá eliminar

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78

essa sensação, como é o caso das campanhas de conscientização

(KARSAKLIAN, 2011). Nesse tipo de propaganda, as músicas que

conseguem criar um clima de tensão, são grandes contribuintes para provocar

tal efeito, ou seja, a ansiedade.

O efeito de surpresa acontece quando todos os elementos da

propaganda, em especial seu discurso, levam o consumidor a ficar em estado

de fascínio, tendo grande impacto sobre ele (KARSAKLIAN, 2011).

Já a nostalgia, considerada uma emoção ambígua, é ocasionada

quando a propaganda faz o consumidor relembrar ‘os bons velhos tempos’,

que é comum o uso de músicas que arremetem a situações passadas, as

chamadas músicas de época, as quais marcaram toda uma geração

(KARSAKLIAN, 2011).

Esses efeitos provocados pelo uso da música como fator emocional na

propaganda televisiva – efeitos que se constituem como respostas

emocionais dos consumidores a esse tipo de propaganda – se diferem. Isso

porque as emoções que as pessoas têm diante de determinadas situações

são semelhantes, porém, cada indivíduo tem, através de suas emoções, uma

experiência pessoal e única (DAMÁSIO, 1996).

5 METODOLOGIA DA PESQUISA

Quanto ao tipo, tendo em vista o alcance do objetivo geral, que é

analisar a música como elemento persuasivo e a importância desta linguagem

na resposta emocional do consumidor, em se falando de propaganda

televisiva, o estudo é uma pesquisa de comportamento do consumidor –

termo adotado por Karsaklian (2011). Logo, pode-se inferir que a adoção

desse tipo de pesquisa contribui para o embasamento das campanhas

publicitárias e, também, se torna a mais adequada para verificar quais as

reações dos consumidores perante a campanha da Unimed, intitulada:

‘Unimed de toda gente’.

Ainda quanto ao tipo, a pesquisa é conclusiva causal. Para Malhotra

(2008), a pesquisa conclusiva causal tem como principal objetivo obter

evidências relativas sobre as relações de causa e efeito. Em se tratando da

problemática de pesquisa, a relação de causa e efeito evidenciada foi o efeito

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da propaganda da Unimed sobre o emocional dos consumidores, em que a

causa foi o discurso publicitário transmitido em forma de música.

A pesquisa deu-se por meio de pesquisa de laboratório, que se

configura como um ambiente artificial, criado para a experimentação, de

acordo com as condições desejadas pelo pesquisador (MALHOTRA, 2008).

O grupo focal, também chamado de grupo de pesquisa, tem o intuito de

reunir pessoas para debater sobre o que se quer pesquisar, sendo o “[...]

recurso técnico mais amplamente utilizado, tanto pela praticidade de

recrutamento quanto pela economia de tempo [...]” (WELLAUSEN, 1995, p.

43). O grupo focal auxilia na identificação de tendências e foco da mesma,

além de desvendar problemas e buscar a agenda oculta desse problema.

O estudo em tela trabalhou dados primários, originados por meio da

presente pesquisa, objetivando a resolução do problema de pesquisa. Ainda,

foram utilizados dados secundários para auxiliar na elaboração do referencial

teórico e no delineamento da pesquisa, ou seja, o planejamento da pesquisa

em sua dimensão mais ampla, conforme descreve Gil (2010). Os dados

secundários, por sua vez, foram obtidos a partir de pesquisa bibliográfica, cuja

principal vantagem “[...] reside no fato de permitir ao investigador a cobertura

de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia

pesquisar diretamente” (GIL, 2010, p. 30).

Para levantar as informações necessárias, foi utilizado um roteiro de

perguntas, com perguntas desestruturadas, que se definem como sendo

aquelas que “[...] permitem aos entrevistados se referir a qualquer aspecto

dos estímulos apresentados na questão” (DUARTE; BARROS apud COSTA,

2012, p. 184).

Segundo Wellausen (1995), esse tipo de entrevista, a qual ele chama

de entrevista psicológica grupal semidirigida, permite que os entrevistados

configurem o campo da entrevista de acordo com seus caracteres e com as

relações que comecem a se instalar, o que dá a sensação de que é o grupo

que conduz a entrevista, porém, é semidirigida, visto que é iniciada a partir de

um estímulo padronizado, escolhido em função da tática de abordagem que

parece mais adequada ao tema e os objetivos, no caso, a exposição à música

da propaganda da Unimed, primeiramente, e, após, ao comercial em si.

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A presente pesquisa teve natureza qualitativa que, segundo Malhotra

(2008, p. 66), é “[...] uma metodologia de pesquisa exploratória e não-

estruturada que se baseia em pequenas amostras com o objetivo de

promover percepções e compreensão do problema”. Logo, a adoção de tal

natureza de pesquisa se deu com o intuito de obter informações que

proporcionem percepções e uma maior compreensão do contexto do

problema, além de propiciar o destaque de certas nuances da eficiência do

comercial da campanha da Unimed Maringá, bem como a obtenção de

resultados relativos e respostas espontâneas, que variam conforme a

percepção de cada indivíduo sobre a problemática da pesquisa.

5.5 POPULAÇÃO E AMOSTRA

O estudo proposto teve como preocupação fazer uma apresentação

representativa do público-alvo, ou seja, adultos de 20 a 35 anos, moradores

de Maringá (PR) e região, que utilizam os serviços da Unimed Maringá ou que

tenham propensão a utilizá-los, favorecendo, então, a elucidação advinda dos

efeitos do comercial sobre as emoções dos consumidores, porém sem

identificação. Diante disso, foi trabalhado um roteiro de perguntas, com cinco

pessoas, de acordo com o público-alvo definido, no dia vinte e um de maio de

dois mil e quatorze (21 de maio de 2014).

A seleção da amostragem, por sua vez, se deu de maneira não

probabilística, ou seja, os componentes do grupo focal foram pré-

estabelecidos, sendo escolhidos por conveniência, logo, por terem o perfil de

público que se deseja pesquisar e que responda aos objetivos propostos

(MALHOTRA, 2008).

Pensando no caráter subjetivo das respostas passíveis de serem

obtidas no grupo focal e como maneira de enriquecer a pesquisa, a

pesquisadora convidou a acadêmica Dirce, do 9º semestre do curso de

Psicologia da Faculdade Metropolitana de Maringá (FAMMA), para mediar o

grupo focal. Isso, tendo em vista a facilidade para elaborar perguntas fora do

roteiro e estimular as pessoas a falarem sobre seus sentimentos, que a

acadêmica possui.

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6 UNIMED: A EMPRESA DE TODA A GENTE

A Unimed Maringá é uma cooperativa médica, que foi fundada em 5 de

agosto de 1982, sendo inicialmente formada pela cooperação de 40 médicos.

Atualmente, segundo o site da empresa, a mesma conta com mais de 175 mil

clientes, 895 cooperados e 581 colaboradores (UNIMED, 2014).

Com o objetivo de passar alguns de seus valores aos consumidores, a

empresa lançou em 2010 a campanha institucional ‘Unimed de toda gente’, a

qual se constituiu como objeto de estudo da pesquisa em tela. Isso, devido ao

fato de que a mesma faz uso da música como recurso para transmitir esses

valores da empresa.

A pesquisa em tela limitou-se a analisar o comercial da campanha, pelo

fato de o mesmo conceder os subsídios necessários para a análise da música

como fator emocional de aproximação e persuasão do consumidor, fator que

desencadeou a pesquisa em tela.

A propaganda se inicia com uma melodia suave e, enquanto não inicia

o canto da música, são mostrados alguns dos personagens que fazem parte

da propaganda, dando a impressão que eles estão se preparando para o

momento em que se começa a cantar a letra da música, ou seja, o momento

em que inicia a transmissão da mensagem da Unimed.

A música é cantada por uma mulher, que possui uma voz bem suave,

se adequando às características da melodia da música, bem como ao ritmo

em que ela se desenrola. Assim, enquanto a música é cantada, são

mostrados vários tipos de pessoas, com estilos e profissões diversas, sendo

retratadas em variadas situações, personagens que representam os clientes

da Unimed.

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Figura 1: Representação dos clientes Unimed

Fonte: UNIMED. Regional Maringá. Unimed de toda gente. Disponível em: <http://www.unimed.coop.br/pct/index.jsp?cd_canal=56110&cd_secao=56093>.

Todos os personagens e situações vividas por eles se passam em um

palco, que tem como plano de fundo uma bandeira com a imagem do cartão

da Unimed Maringá. Assim, a narrativa do comercial passa uma mensagem

que visa transmitir a importância de se ter qualidade de vida e bem-estar, o

que se verifica a partir dessa composição dos planos do VT, ou seja, os

personagens em primeiro plano9 e o ícone da Unimed, representado pela

bandeira, no plano de fundo.

Isso, pelo fato de que essa relação entre os planos evidencia uma

relação de proximidade entre a empresa e seus clientes, visto que o cenário

não muda, mudam-se apenas os personagens e as situações, a Unimed

continua lá, presente em todos os momentos e para todos os tipos de

pessoas.

9 Este enquadramento é utilizado para evidenciar expressões, semblantes, gestos,

fisionomias e emoções (INFOESCOLA, [c.2006-2015b]).

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Figura 2: Cartão Unimed como plano de fundo

Fonte: UNIMED. Regional Maringá. Unimed de toda gente. Disponível em: <http://www.unimed.coop.br/pct/index.jsp?cd_canal=56110&cd_secao=56093>.

Ao final do vídeo, por sua vez, é dado total destaque ao símbolo da

Unimed Maringá, que é mostrado por inteiro e em primeiro plano. Como

assinatura do vídeo, é mostrado o telefone e o site para entrar em contato

com a empresa. Assim, abordando os tipos de signo de Peirce (2010), sabe-

se que o símbolo se constitui como uma a associação entre um nome e o

caráter significativo de determinado objeto, logo, a simbologia se deu através

do cartão do plano de saúde da Unimed Maringá, representado por uma

bandeira.

6.2 O DISCURSO MUSICAL

Unimed de toda a gente

Como é bom se sentir assim / Tudo é tão mágico, tudo é tão bom / Respiro só

o amor / Pra dentro de mim / Como é bom viver desse jeito / De comemorar,

mais um dia chegar / A vida é tão simples assim / Sou mais feliz! / Quero

dançar qualquer música à toa / Quero correr para um abraço sem fim / Quero

dizer pra todos que a vida é boa / Esse é o momento que eu sempre quis /

Como é bom se sentir assim / Tudo é tão belo, tudo é ideal / Sim, tua paz que

não cabe em mim / Como é bom cantar com você / Sentir seu carinho e sua

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atenção / Tudo é só amor / Estou tão feliz! / Estou tão feliz! / Larararara,

lararara / Parapa-pa / Quero dançar qualquer música à toa / Quero correr para

um abraço sem fim / Quero dizer pra todos que a vida é boa / Esse é o

momento que eu sempre quis / Como é bom se sentir assim / Tudo é tão belo,

tudo é ideal / Tudo é só amor / Estou tão feliz! / Estou tão feliz! / Estou tão

feliz! / Feliz / Estou tão feliz!

Ao analisar o discurso musical do comercial ‘Unimed de toda gente’

segundo a ótica de Abreu (2009), em relação à hierarquia dos valores do

público-alvo, verifica-se que a técnica argumentativa empregada é o da re-

hierarquização dos valores do público-alvo, colocando argumentos de

qualidade no início da música. Assim, são focados os sentimentos de amor e

felicidade como condições primordiais para que as pessoas se sintam bem,

como pode ser observado nos versos “Como é bom se sentir assim / Tudo é

tão mágico, tudo é tão bom / Respiro só o amor” e “A vida é tão simples assim

/ Sou mais feliz”.

Ao se tratar do tipo de discurso utilizado, diante dos argumentos

empregados, constata-se que é feito uso do discurso lúdico, pois possui um

menor grau de persuasão e não faz uso do imperativo, algo característico da

música, como relata Citelli (1999). Tal fato se constata através dos versos:

“Tudo é tão belo, tudo é ideal / Sim, tua paz que não cabe em mim”.

Além do discurso musical, pode-se caracterizar o discurso empregado

nessa música como um discurso descritivo, visto que traduz a apreensão dos

personagens do vídeo, que falam na voz da cantora, sobre como é se sentir

bem e de quais situações levam-nos a nos sentir felizes, segundo o conceito

de discurso de Santaella (2005). Os versos “Como é bom viver desse jeito /

De comemorar, mais um dia chegar / A vida é tão simples assim / Sou mais

feliz!” mostram o emprego desse discurso.

Logo, o discurso publicitário presente na música – que se torna

perceptível como tal por meio das imagens do vídeo – assim como os demais

discursos publicitários, como relata Citelli (1999), é uma mescla desses dois

tipos de discurso.

Quando se trata da função linguística utilizada nesse discurso,

percebe-se que há a presença de função emotiva, porque a comunicação

está voltada para transmitir sentimentos do emissor da mensagem, tendo

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como marca o uso de pronome na 1ª pessoa e frases exclamativas, bem

como a presença de poesia lírica (SANDMANN, 2010). Tal função pode ser

observada nos versos: “Tudo é só amor / Estou tão feliz!”.

Há, ainda, a presença da função poética, pois são utilizados recursos

como ritmo, rima, aliteração e paronomásia, que auxiliam a despertar prazer

poético e na memorização na mensagem transmitida, no caso, a letra da

música (SANDMANN, 2010). Essa função se verifica nos versos “Quero

dançar qualquer música à toa / Quero correr para um abraço sem fim / Quero

dizer pra todos que a vida é boa / Esse é o momento que eu sempre quis”.

Os versos citados acima também servem para que se constate a

presença de uma figura de construção do discurso, a anáfora, que é a

repetição de palavras no início das frases sucessivas ou em uma mesma

frase (ABREU, 2009).

A letra da música também faz uso do prefixo de intensidade ‘tão’, que

auxilia na intensificação dos sentimentos descritos na música, como se pode

ver nos versos “Tudo é tão mágico, tudo é tão bom”, “Tudo é tão belo, tudo é

ideal” e “Estou tão feliz!”.

6.3 RESULTADO DA RELAÇÃO MÚSICA E VÍDEO

A música no comercial da Unimed Maringá está diretamente conectada

às imagens do mesmo, de forma que, constituem uma unidade em que a

mensagem transmitida arremete a um só aspecto: a felicidade e o bem estar.

Percebe-se que a música “[...] cantada se constitui no fio condutor do

conjunto, sendo acompanhada por imagens ilustrativas [...] mesmo quando as

imagens alargam o campo denotativo das letras das canções em cenários ou

situações metafóricas, paródicas, imaginárias” (SANTAELLA, 2005, p. 386).

Assim, ao utilizar esse recurso (música), tem-se um efeito emocional

persuasivo mais eficiente. Ademais, a unidade na comunicação, pois a

música exige que haja imagens para ilustrar o que ela relata e, por sua vez,

as imagens não conseguiriam transmitir a mensagem sem a música, que as

descreve, reforça esse efeito.

7 ANÁLISE DA PESQUISA

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Como já citado na metodologia de pesquisa, trabalhou-se com um

grupo focal, composto por cinco pessoas (jovens entre 20 a 35 anos), com o

intuito de debater sobre as reações dos consumidores quando se fala do

comercial pertencente à campanha da Unimed, intitulada: “Unimed de toda

gente”, componente chave deste estudo científico.

Primeiramente, os integrantes do grupo focal foram expostos ao tema

da propaganda, ou seja, apenas à música da mesma, sem as imagens do

vídeo. Em seguida, foram submetidos a alguns questionamentos.

A pesquisa foi realizada no segundo semestre do de 2014, junto a

alunos estudantes do curso de Publicidade e Propaganda.

7.1.1 Sentimentos evocados pela música

1) Qual foi a sensação que vocês tiveram? E essas sensações trouxeram

algum tipo de imagem ao ouvir a música?

Me lembra muito a sensação...assim, quando você entra de férias. Tudo é leve, você pode aproveitar tudo aquilo que você não tem tempo no dia-a-dia, ir no parque, sentar numa rede, deitar numa rede (PARTICIPANTE 1). Me veio uma vontade de dançar, assim, solta, tipo: eu não tenho nada para fazer, é de manhã e a gente tem tempo para tudo. Então, é aquela música que dá vontade de você...ah, de liberdade. Estou livre, então, hoje eu tenho tempo, parece, parece que a música te traz uma ou que não tem aquela correria do dia-a-dia. Então, eu estou solta, estou livre, uma liberdade para você se expressar, ter mais tempo para fazer tudo aquilo que você gosta, acho que é essa a sensação que eu tenho (PARTICIPANTE 2). Também o toque dela me lembra muito quando você está indo viajar, quando você está com aquela ansiedade, assim, para ir viajar (PARTICIPANTE 1).

2) Se vocês tivessem que resumir essa sensação, essas percepções em

alguma palavra, vocês teriam essa palavra?

(Silêncio).

Bem estar, seria? Para mim, acho que é o bem estar. Uma sensação que.... (PARTICIPANTE 2). Felicidade, uma certa felicidade (PARTICIPANTE 3).

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...é, e é tão tão raro assim...esse tempo que a gente tem, tão precioso, que é o tempo para você ficar sem fazer nada ou, simplesmente, para você ficar só ouvindo, então, acho que é aquela sensação de bem estar, que dá vontade de ter sempre (PARTICIPANTE 2). Alguém falou também tranquilidade?! Acho que é bem esse o termo. Porque a gente vive nessa correria, nessa agitação toda... (PARTICIPANTE 4). Uma paz interior (PARTICIPANTE 1). É...a tranquilidade é bem evidente, eu acho que se eu fosse definir em uma palavra eu colocaria família, porque não sei, do começo ao fim me lembrou família, veio a imagem família (PARTICIPANTE 5).

3) E o que vem junto com essa família?

É...tranquilidade, leveza, paz, união, aquele clima de festa, da família estar reunida, de estar bem, de bem estar, também. Isso que me traz (PARTICIPANTE 5).

Tomando por base as respostas dos participantes do grupo focal,

percebe-se que a música do comercial da Unimed Maringá ocasionou a

sensação de leveza, despreocupação e liberdade, sensações que seriam as

mesmas que se têm ao sair de férias e ir viajar. (DAMÁSIO, 1996) relata que

a emoção é constituída de sentimento e exemplifica seu pensamento fazendo

algumas observações:

É-me muito difícil, se não mesmo impossível, pensar que espécie de emoção de medo restaria se não se verificasse a sensação de aceleração do ritmo cardíaco, de respiração suspensa, de tremura dos lábios e das pernas enfraquecidas, de pele arrepiada e de aperto no estômago (DAMÁSIO, 1996, p. 158).

Logo, ao despertar sentimentos nos participantes, a música também

despertou suas emoções, sendo elas felicidade, alegria e animação, dados os

sentimentos relatados.

A música, por sua vez, se constitui como um signo, pois, representou

algo para as participantes; as situações abordadas pela música são seu

objeto, ou seja, o objeto do signo; as sensações e sentimentos que a música

desencadeou são o interpretante da mesma; por fim, a compreensão que os

participantes tiveram da música se configura como sendo a significação, ou

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seja, é o que a música significou para eles (bem estar, família, felicidade, paz

interior, entre outros), conforme a relação triádica do signo instituída por

Peirce (2010).

Outro aspecto que pode ser notado é que, no processo de percepção

da música, ela foi traduzida como um sentimento e sua interpretação pararam

no nível da primeiridade, em que prevalecem as “[...] qualidades de

sentimento, pois esse nível já é suficiente para que a semiose ou ação do

signo se instaure” (SANTAELLA, 2005, p. 109-110).

Quando a participante 2 (questão 1, letra b) relata que sentiu vontade

de dançar, nota-se que ela ouviu a música com o corpo, o que remete as

modalidades de audição abordadas por Santaella (2005). Isso se caracterizou

como uma contiguidade entre a música e o corpo, em que o corpo reagiu à

música no instante em que ela começou a tocar.

Essa reação à música também foi verificada pela pesquisadora, no

participante 3, que fazia movimentos com o pé, acompanhando o ritmo da

música, caracterizando uma dança coreografada, em que se traduz o ritmo

pelo corpo – os movimentos são elaborados de acordo com esse ritmo

(SANTAELLA, 2005).

7.1.2 Símbolo musical

4) A música te lembra algumas situações né?

É, lembrei de uma imagem: o sol nascendo, eu indo viajar e aproveitar tudo o que eu estava esperando (PARTICIPANTE 1).

4.1 Você se viu nessa viagem? Você estava nesse caminho?

É, me lembra assim...sabe quando a estrada é tranquila daí você... (PARTICIPANTE 1). Vai olhando a paisagem, numa excursão (PARTICIPANTE 3). É, estou livre, leve e solta, indo viajar, porque eu estou de férias, vou aproveitar os meus dias (PARTICIPANTE 1).

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5) É, eu achei interessante o que você (participante 4) falou alguma

coisa de arremeter à questão da infância, né? Alguma imagem,

alguma situação que ela te trouxe?

É, isso que ela fala (participante 1) de férias, ir para a casa dos avós né?! fazer um passeio diferente, ela...a música chama isso assim né?! Me lembra isso (PARTICIPANTE 4).

Conforme Calazans (2006), a música dá estímulos à imaginação e faz

com que recordações sejam evocadas. De acordo com as respostas dos

participantes do grupo focal, é possível constatar isso, pois nota-se que a

música produziu imagens sonoras na mente deles, ou seja, um símbolo

musical, visto que as imagens produzidas estavam diretamente relacionadas

com o sentido da música, conforme definição de símbolo musical abordada

por Schurmann (1989).

É possível notar que a música estimulou os participantes a ouvirem-na

de acordo com seus sentimentos e emoções, sendo essa a segunda forma de

se ouvir a música, conforme Moraes (1983). Devido a isso, os participantes

tiveram despertadas suas emoções e sentimentos e houve um reforço dos

mesmos, por meio das recordações que a música evocou, de acordo com as

imagens sonoras criadas.

Ao falar dos tipos de signo abordados por Peirce (2010), verifica-se que

a música se constituiu como um signo dramático (ou ícone), pois houve uma

relação de semelhança entre seu objeto, no caso as situações abordadas por

ela e o interpretante originado na mente dos participantes, ou seja, seus

sentimentos e emoções. Ademais, o signo dramático criou uma relação de

paralelismo com a imagem mental do signo (imagem sonora). Contudo, essa

iconicidade no processo de interpretação sígnica da música não foi perfeita, e

não é, conforme Nöth (1992 apud SANTAELLA, 2005). Isso se deve ao fato

de que nem todas as imagens evocadas correspondem às que aparecem no

vídeo, como se verificará no segundo momento do grupo focal.

Na fala da participante 4 (questão 5, letra a), pode-se observar um dos

efeitos da música: a nostalgia. Como já citado, Karsaklian (2011) afirma que

essa emoção é ocasionada quando a propaganda faz o consumidor relembrar

‘os bons velhos tempos’, sendo comum o uso de músicas de época, as quais

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marcaram toda uma geração. Porém, a música do comercial foge do conceito

‘música de época’, mas consegue evocar uma lembrança dos ‘bons velhos

tempos’ da participante, que é a de quando ela saia de férias e ia para a casa

dos avós.

7.2 PERCEPÇÕES ACERCA DO COMERCIAL

No segundo momento da pesquisa, o grupo focal foi exposto ao

comercial juntamente com o tema musical ouvido anteriormente. Na

sequência foram questionados sobre alguns aspectos do mesmo, porém os

questionamentos dispostos a seguir se encontram fora da ordem em que

foram feitos e agrupados segundo os aspectos analisados.

7.2.1 O que mudou?

6) Vocês acham que mudou alguma coisa quando vocês ouviram só a

música e depois que vocês ouviram a música com as imagens?

Sim (PARTICIPANTE 5). Para mim mudou, porque no primeiro momento, quando eu ouvi a música eu até associei ela a um comercial de margarina, que eu já tinha visto, com aquela mesma imagem que a Érica falou, da manhã, família tudo junto, tomando café na mesa, então, eu associava a música a um outro comercial, outra situação, mas, junto, aí já mudou um pouco, mudou até a percepção, aquela música tem tudo a ver, mas, de uma outra maneira. A música sozinha eu associo a uma situação e ela junto já é outra coisa, uma associação diferente (PARTICIPANTE 2). E tem a questão assim que, pelo menos eu, eu utilizo muito essa frase ‘minha vida é uma trilha sonora’, então, quando eu ouço uma música eu associo a música é...para a minha imagem pessoal, para mim, no meu cotidiano, o que é importante para mim, por isso, que eu associei muito com família, porque para mim é muito importante família, então, eu associei muito esse conceito de tranquilidade da música com isso e a partir do momento que você passa a ver as cenas, juntamente, você já começa a associar com outras coisas, são vários momentos, são vários momentos de outras pessoas e que daí, você associa também com você, como eu citei a nossa colação de grau, mas, é de uma forma diferente né?! Não do início, você associa do começo ao fim a música com a sua vida pessoal (PARTICIPANTE 5).

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7) Quando você trouxe aí a questão da música e associou com a

imagem, te trouxe alguma outra coisa? Foi diferente para você?

Como foi?

Eu também achei que era meio que um comercial de...meio que pela manhã, assim (PARTICIPANTE 3).

8) No primeiro momento, quando você falou em felicidade, você viu

alguma cena? Você chegou a ver alguma cena?

É... quando eu escutei a música é...eu associei bem com aquelas famílias dos Estados Unidos, que vão no parque, tipo...dia de domingo, de manhã, que nem antigamente, que usava cesta e ia todo mundo para o parque (PARTICIPANTE 3). Com um cachorro labrador. Lembrei até do cachorro correndo! (risos) (PARTICIPANTE )1

O ícone é um signo que tem alguma semelhança com o objeto

representado, podendo ser apresentado à mente ou constituir um paralelo

com a imagem mental do signo, se tornando um ícone da mesma. Em se

tratar do comercial, as imagens mostradas se constituíram como um ícone do

discurso musical, que se tornou seu objeto, devido este ser representado por

aquela.

No terceiro nível do ícone, este estabelece um paralelismo entre a

imagem do receptor e do emissor da mensagem, o que se verifica através das

imagens sonoras originadas pelos participantes, que se tornaram um ícone

das imagens do comercial. Todavia, esse processo de interpretação sígnica

do discurso musical é imperfeito, já que se pode interpretar o mesmo signo de

várias formas, conforme Santaella (2005). Por isso, as imagens evocadas

pela música não corresponderam às do comercial, contudo, a significação

permaneceu a mesma, pois a conclusão sobre a mensagem que estava

sendo transmitida foi igual a que os participantes chegaram ao ouvir apenas a

música.

Quanto ao raciocínio utilizado no processo de construção da

significação, nota-se que ele foi indutivo, pois, por meio da experiência que os

participantes tiveram com o signo (música), eles concluíram que o signo fazia

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referência a outros comerciais, conforme conceitos abordados por Peirce

(2010).

Como afirmado por Sheth; Mittall e Newman (2001), as pessoas

possuem um autoconceito de quem são, autoconceito que influencia seu

consumo. Na fala c da participante 5 (na questão 6), fica evidente que há uma

associação da música ao seu autoconceito, sendo ele o de uma ‘pessoa-

família’. Logo, a tranquilidade advinda da música e associada à família se

configura como um fator de aproximação com a participante, criando um

vínculo emocional com a mesma.

O discurso musical foi apreendido em nível de primeiridade, o qual

corresponde à qualidade de sentimento, sendo a primeira apreensão das

coisas que aparecem à mente (SANTAELLA, 1999). As imagens, por sua vez,

se instituem como a materialização desses sentimentos, uma tradução dos

mesmos com base no cotidiano, logo, pertencem ao nível da secundidade – a

corporificação material da qualidade de um fenômeno, que pertence à

primeiridade (SANTAELLA, 1999). Assim, a mensagem absorvida do

comercial e as associações feitas a partir do mesmo estão em nível de

terceiridade, que como coloca Santaella (1999), é a camada de

inteligibilidade, através da qual se representa e interpreta o mundo.

Conforme Santaella (2005), a forma como a música é ouvida influencia

diretamente o modo como ela é interpretada. Nesse segundo momento do

grupo focal, percebe-se que há a predominância da escuta intelectual da

música, citada por Moraes (1983), visto que os participantes estavam atentos

ao discurso musical, relacionando-o com as imagens do VT. Dessa forma, o

nível de interpretação diz respeito ao interpretante dinâmico de natureza

lógica, já quase chegou a conclusões lógicas sobre o signo (música).

7.2.2 Sentimentos e reações advindas do comercial

9) E quanto aos sentimentos que vocês trataram no primeiro

momento?

Para mim mudou (PARTICIPANTE 4).

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10) Fizeram (as imagens) lembrar do que vocês sentiram quando

ouviram só a música? E os sentimentos, as percepções, as

imagens que vocês falaram antes, por exemplo, você falou que te

arremete à família, à questão da tranquilidade, retomando o que

vocês já me disseram antes. Com as imagens, que sentimentos

que vocês trouxeram?

Acho que é as fases da vida né?! Do ser humano né?! Você vê ali criança, o menininho no ventilador com o vento né?! Aparece o pai, gradativamente vai né?! Depois tem o namoro ali, o casamento né?! A gravidez, acho que são as várias fases da vida do ser humano né?!. Depois o casal de idosos dançando, achei muito interessante o pessoal de moto, já é mais juventude, então...achei muito interessante (PARTICIPANTE 4). Eu vi ali, acho que tudo, para mim né?! Tudo o que passou é uma realização da pessoa, ela se sente realizada com aquilo, nas várias fases da vida. Que nem passou ali desde o vestibular, é...desde o nascimento, daí é...que nem ela (participante 1) falou do ventilador, que é uma coisa tão simples, mas que a criança está realizada ali na frente. E o...daí passou também o vestibular, passou no vestibular, vibrando de alegria, daí a universidade, o primeiro dia de emprego, passou a moça chegando. Então, são várias fases da vida que ela se sentiu realizada (PARTICIPANTE 1). Em várias, várias partes da música diz “como é bom me sentir, se sentir assim” né?! Então, no caso, coloca um momento de felicidade da pessoa né?! Como é bom me sentir assim, igual para, para nós é...nossa é colação de grau (risos). Como é bom me sentir assim (PARTICIPANTE 5). É, eu ainda pensei assim: é...essa música traduz o que a gente vai sentir daqui um mês (risos) (PARTICIPANTE 1). Exatamente! (PARTICIPANTE 5). É, e ali mostra muito assim, independente da pessoa, do sexo, de tudo, então, é muito bom é...se sentir bem, então, ali mostrou todas as fases da vida e todos os tipos de pessoa, independente do que elas estejam fazendo, do que elas são, criança, jovem, idosos, adultos, então, é sempre bom ter essa sensação de bem estar, de se sentir bem, independente da pessoa (PARTICIPANTE 2). E...explicitamente ali, a gente viu que cada coisa daquelas, se você para para pensar, foi bastante esforço está por trás de tudo isso, para você conseguir chegar lá. E essa música traduz toda essa sensação de alívio...conseguiu chegar lá (PARTICIPANTE 1).

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(RISOS) E, também, a questão do plano de fundo ali, com a Unimed, que para você se sentir bem assim, você tem que estar saudável, então, isso liga diretamente né?! com a Unimed, com o plano. Então, assim, você cuida da sua família, você cuida do seu filho, da sua gravidez, então, para você ter esses momentos felizes, você precisa estar bem, estar saudável (PARTICIPANTE 5).

11) E o que chamou mais a atenção de vocês. A música ou a

imagem?

(SILÊNCIO) Para mim, na minha percepção, para mim, agora, a imagem né?! Porque parece que a gente vive numa correria tão grande e parece que eles estão vivendo cada momento ali tão bem vivido, tão intenso né?! você ter cada fase ali tão bem vivida e, às vezes, você nem terminou de viver uma coisa e já está buscando outra né?! Então, ali acho que focou bem isso, viver cada momento né?! cada situação da sua vida (PARTICIPANTE 4). Aproveitar né? (PARTICIPANTE 2) Isso! De cada vez, viver todas as coisas (PARTICIPANTE 4). Mas, eu também vi pelo lado que...é aquilo, aquelas imagens são lindas e tudo mais, mas, você pode criar a sua para completar o que já está ali, porque...o que você está vivendo, que pode ser relacionado com uma daquelas imagens? Particularmente (PARTICIPANTE 1).

12) Você criou mais as imagens quando você ouviu ou, agora, com

as imagens? Quando estava só a música ou quando você estava

com as imagens?

Ah, com as imagens (PARTICIPANTE 1).

13) Você conseguiu criar mais imagens em cima do comercial?

É, daí aconteceu o que eu estou dizendo, eu olho aquilo, daí eu vejo para a minha vida mesmo, o que que eu estou me sentindo realizada no momento, não só tendo o exemplo, mas, para mim, não seguindo o que está ali (PARTICIPANTE 1).

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14) E em relação à felicidade, com a questão da imagem e com isso

você... como que você percebeu? Quando você ouviu só a música

e depois, quando ela apresentou a imagem?

Pouco... é... mais quando... é... quando eu estava escutando a música já era tipo, uma certa felicidade, daí a partir do momento em que vi as imagens de cada um sendo feliz com alguém, também, a sensação é a mesma, nas duas coisas (PARTICIPANTE 3).

Os participantes não se ativeram a pergunta de número 10, feita pela

mediadora, deixando de relatar seus sentimentos para relatar as cenas que

mais chamaram sua atenção, bem como suas percepções acerca delas.

Contudo, a descrição das cenas se caracteriza como uma das reações

emocionais dadas à propaganda, em que os espectadores abordam emoções

que os personagens do VT estariam sentindo nas cenas do mesmo, conforme

Jones (apud THORSON, 2002). Essa reação se constata nas respostas

correspondentes às letras ‘b’, ‘c’, ‘f’ e ‘g’, em que os participantes associam as

expressões dos personagens do VT e as situações em que eles se encontram

com os sentimentos de realização, alegria, felicidade, bem estar e alívio.

Outra reação observada se dá no modo empático, que acontece

quando os telespectadores têm as mesmas emoções que os personagens do

comercial, segundo Jones (apud THORSON, 2002). As falas das participantes

1 e 5 (questão 10, letras ‘c’ e ‘d’) caracterizam essa reação, pois, mencionam

uma situação abordada pelo comercial (colação de grau) e transferem esse

sentimento para si mesmas, ao se verem naquela situação.

Falando ainda das respostas emocionais dadas à propaganda, sabe-se

que é passível que se haja uma indução de emoção, em que

[...] um humor ou estado de espírito (um sentimento transitório que é difuso, mas que influencia sutilmente os pensamentos e ações e os dirige) ou uma emoção são criados por um evento

que precede o anúncio [...] ou pelo próprio anúncio (JONES apud THORSON, 2002, p. 227).

Em função disso, a indução de emoção ou estado de espírito pode

afetar a interpretação do consumidor, interferir em sua percepção e conexão

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com a marca, bem como sua intenção de comprá-la (JONES apud

THORSON, 2002).

Tal indução pode ser verificada por meio das falas da participante 1

(questão 11, letra ‘e’; e questão 13, letra ‘a’), em que há o sentimento de

realização originado pelo comercial e que afeta sua percepção, pois as

emoções esboçadas pelos personagens do VT são tidas como decorrentes de

uma realização pessoal, sem relacionar com a marca Unimed Maringá.

Como já mencionado, para Abreu (2009, p. 10) saber argumentar é

“[...] saber integrar-se ao universo do outro [...] traduzindo nossa verdade

dentro da verdade do outro”. Assim, ao tratar da argumentação empregada no

discurso musical, ela buscou traduzir os conceitos de saúde e bem estar da

Unimed Maringá e representá-los através das características de seus clientes,

representados pelos personagens do VT. Os argumentos empregados, por

sua vez, passaram convicção, fazendo com que a participante 5 associasse

os serviços da Unimed Maringá à sensação de bem estar trazida pelo

comercial, como se verifica na resposta i da questão 10. Ademais, verifica-se

que a participante 2 (questão 10, letra ‘f’)e a participante 4 (questão 11, letra

‘b’) também são influenciadas pelo conceito de bem estar, que é visto como

sinônimo de saber aproveitar cada fase da vida, independente de quem seja a

pessoa, percepções delas dada às imagens do VT.

Gade (1998) menciona que as respostas emocionais dadas aos

anúncios podem ser dadas ao produto/serviço ou ao anúncio. A resposta ao

produto/serviço implica em efeitos duradouros, após a exposição do receptor

ao anúncio; a resposta ao anúncio, por sua vez, implica em respostas

emocionais dadas à propaganda, no momento em que se é exposto a ela.

Através da fala do participante 3 (questão 14, letra ‘a’), nota-se que foi dada

uma resposta ao serviço, pois, mesmo com a exposição ao comercial,

perdurou o interpretante do signo (música) originado quando o participante foi

exposto apenas à música, sendo que, as imagens reforçaram a emoção

sentida.

7.2.3 Relação música e imagem

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15) Vocês conseguem fazer uma associação entre a música e as

imagens?

Sim (PARTICIPANTE 5).

16) Vocês acham que teve essa associação? Vocês falaram da

questão da felicidade, da questão da família, dessa tranqüilidade.

Vocês conseguiram fazer essa associação?

TODOS: Sim. Ah sim, esse efeito sonoro da música, o áudio né?! Ele te faz é...projeta tudo que é mostrado no vídeo mesmo (PARTICIPANTE 4).

17) Vocês viram um pouquinho daquilo que vocês falaram, através

das imagens?

Brevemente, tem um pouquinho de tudo né?! De companhia, de alegria, de família... (PARTICIPANTE 5). Bem estar, tranquilidade (PARTICIPANTE 2) É.. tem tudo (PARTICIPANTE 5).

Damásio (1996, p. 193) afirma que

[...] ao associar emoções positivas com pessoas, objetos ou lugares, de forma indiscriminada e frequente, acabamos por nos sentir mais tranquilos do que deveríamos em relação a muitas situações [...].

Logo, os participantes ao fazerem a associação da relação existente

entre a música e as imagens do comercial, associando também com suas

imagens mentais acerca do discurso musical, notadamente, apresentaram um

abrandamento em seu estado de espírito, percebido pelos sentimentos

relatados ao ouvir a música e traduzidos em suas falas, nas questões acima.

7.2.4 Visão sobre a empresa

18) Que imagem o comercial passou da empresa, no caso, da Unimed?

Que imagem que vocês têm da empresa Unimed, com esse comercial?

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Que a empresa, ela é preocupada com o bem estar das pessoas, não importa a idade, que momento está da vida, mas ela é preocupada em proporcionar esses momentos felizes para as pessoas, através, é claro, dos benefícios oferecidos pelo plano de saúde (PARTICIPANTE 5). Uma certa proteção, que o plano vai oferecer para cada determinado...na gravidez, para grávida, para os amigos andando de moto, as crianças treinando jiu-jitsu ou judô, o comercial dá essa certa segurança (PARTICIPANTE 3). Ela acredita que para você ser feliz, estar bem, você precisa se sentir assim, como diz a música e para você se sentir dessa maneira você precisa de saúde e para isso ter o cartão da Unimed (PARTICIPANTE 1). O plano te dá essa segurança (PARTICIPANTE 2).

Voltando-se para os tipos de raciocínio utilizados no processo de

interpretação do signo, instituídos por Peirce (2010), observa-se o uso da

dedução para chegar à definição da imagem da Unimed, por parte dos

participantes, já que esse raciocínio toma por base hipóteses para se chegar

a uma conclusão. No caso, as hipóteses foram originadas a partir da

interpretação e significação do comercial.

É perceptível que os participantes tiveram da Unimed Maringá, após

ver o comercial e se aterem ao discurso musical empregado, uma visão em

relação à imagem da empresa pela emoção.

Essa interpretação é possível, haja vista em nenhum momento o

comercial mencionar, diretamente, benefícios palpáveis do plano de saúde da

Unimed, porém, de acordo com os argumentos de caráter emocional

empregados no discurso musical e reafirmados pelas imagens do VT, os

participantes criaram uma imagem positiva da marca, voltada, em sua

maioria, para aspectos subjetivos. Assim sendo, nota-se que os recursos

utilizados pela propaganda da empresa se instituíram como um fator

emocional de aproximação e persuasão do consumidor.

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

É inegável a forte presença e influência da música na sociedade, desde

os primórdios da humanidade até os dias atuais. Influência que se dá por

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meio da capacidade de modificar o comportamento das pessoas, advinda do

poder de despertar emoções e transformar estados de espírito que a música

possui.

Assim sendo, a problematização desta pesquisa partiu dos anseios da

pesquisadora em verificar como a música, dada sua capacidade de despertar

emoções, ao ser aliada ao discurso publicitário – por natureza, persuasivo –

poderia criar uma relação de proximidade entre consumidor e marca,

influenciando seu comportamento em relação a ela.

A pesquisa tomou por base a premissa de que a música pode reforçar

o discurso publicitário e torná-lo mais eficaz, despertando as emoções dos

consumidores e assim permitindo que esse discurso se apresente mais

convincente; por sua vez, a linguagem semiológica musical é dita como

elemento complementar da persuasão, que auxilia no convencimento do

consumidor.

Objetivando investigar a comprovação dessa premissa e responder a

problemática proposta, optou-se por realizar um grupo focal, no qual foi

trabalhada a pesquisa conclusiva causal. Isso para verificar a relação de

causa e efeito entre o comercial da Unimed e o emocional dos participantes

do grupo, em que a causa foi o discurso publicitário transmitido em forma de

música e os efeitos, as emoções e sentimentos advindos dessa exposição.

Os autores trabalhados na pesquisa, cujas obras a embasaram, foram

de total relevância para analisar não só a linguagem semiológica do discurso

musical, presente no objeto de estudo, como para identificar os recursos

persuasivos e as técnicas argumentativas empregados nesse discurso

musical, e, principalmente, para ponderar as respostar obtidas no grupo focal.

Assim, verificou-se que a linguagem empregada no discurso musical do

comercial da Unimed Maringá faz uso, sobretudo, de discurso lúdico e

recursos poéticos, buscando descrever as sensações de felicidade e bem

estar dos clientes da empresa. Tudo isso com o intuito de atrair, envolver e

aproximar o espectador do discurso musical, causando certa comoção nesse

espectador, cujos efeitos foram interpretados com base na Teoria Semiótica

de PEIRCE.

Quanto aos efeitos provocados por esse discurso nos participantes do

grupo focal, observou-se o poder de disparar gatilhos emocionais da música,

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

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fazendo com que os participantes fossem afetados tanto fisicamente, por

meio de movimentos espontâneos realizados para acompanhar o ritmo da

música, quanto psicologicamente, no que concerne à produção de imagens

mentais e evocação de boas lembranças.

Assim sendo, a hipótese da pesquisa em tela, que supunha a música

ser capaz de reforçar o discurso publicitário e o tornar mais eficaz, se

constituindo como um fator emocional de aproximação e de persuasão do

consumidor, pôde ser comprovada, segundo a interpretação semiótica

realizada das respostas dos participantes.

Ao trabalhar a problemática da pesquisa, observou-se que a música na

propaganda televisiva, falando-se me linguagem semiológica, contribui para a

persuasão do consumidor no âmbito provocar uma abstração no nível do

interpretante dinâmico, tendo em vista que cada participante foi atingido

imediatamente e emocionalmente pela música. Ademais, o caráter pessoal da

experiência que se faz com a música propicia uma emoção única com a

propaganda que faz uso desse recurso.

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SCHURMANN, Ernst. A música como linguagem: uma abordagem histórica. São Paulo: Brasiliense, 1989. SHETH, Jagdish; MITALL, Banwari; NEWMAN, Bruce. Comportamento do cliente: indo além do comportamento do consumidor. Tradução de Lenita M. R. Esteves; revisão técnica Rubens da Costa Santos. São Paulo: Atlas, 2001. THORSON, Esther. Emoção e publicidade. In: JONES, John Philip (Org.). A publicidade como negócio. Tradução de Lúcia Helena Sant’ Agostino, Dinah de Abreu Azevedo e Arlete Simille Marques. São Paulo: Nobel, 2002. UNIMED. Regional Maringá. Unimed de toda gente. 2014. Disponível em: <http://www.unimed.coop.br/pct/index.jsp?cd_canal=56110&cd_secao=56093>. Acesso em: 4 set. 2013. VESTERGAARD, Torben; SCHRODER, Kim. A linguagem da propaganda. Tradução de João Alves dos Santos e Gilson Cesar Cardoso de Souza. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004. WELLAUSEN, Araré. Pesquisa psicológica mercadológica. Porto Alegre: Ed. A. P. Wellausen, 1995. 3.1.4 A POLÍTICA NEOLIBERAL, A REFORMA DO APARELHO ESTADO E A POLÍTICA EDUCACIONAL BRASILEIRA

Kethlen Leite de Moura.

Resumo O presente trabalho visa analisar as influências da Reforma do Aparelho do Estado, o neoliberalismo e a política educacional brasileira pós 1990. Tendo em vista que as políticas direcionadas à educação brasileira são de cunho compensatório, apreciamos que as orientações destinadas à educação seguem o mesmo ditame internacional, ascender socialmente à camada mais pobre do país. A metodologia dessa pesquisa centrou-se na pesquisa de cunho bibliográfico, permeando políticas voltadas ao processo educacional. Deste modo, este trabalho buscou analisar as políticas e planejamentos educacionais, as medidas tomadas pelo Estado em relação aos rumos que a educação irá seguir, ou seja, como o Estado e o Governo se articularam para desencadear essas políticas. Palavras-chave: Educação. Políticas Públicas. Reforma do Aparelho do Estado. Introdução

Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual de Maringá, Mestra em Educação pelo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu da UEM, professora da Faculdade Metropolitana de Maringá – FAMMA. Residente na cidade de Maringá – PR. E-mail: [email protected]

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O objetivo deste trabalho é analisar as configurações da Reforma do

Aparelho do Estado, a política neoliberal e a política educacional brasileira

pós 1990. Para tanto, a realização deste se pautou na apreciação de

processos e contradições que ocorreram nos anos de 1990 inseridos num

cenário econômico, político e educacional apreendido em autores que

contribuem para essa temática. É importante destacar que os fenômenos

educacionais não podem ser estudados de forma fragmentada, para Lüdke e

André (1986) na educação as coisas acontecem de forma tão articulada que

não é possível isolar os fatos envolvidos.

Diante de todo arcabouço histórico, que a política educacional passou

ao longo do tempo, é necessário apontar que as políticas voltadas para a

educação são caracterizadas como compensatórias impulsionadas pelo

Estado e orientadas pelas agências internacionais com a finalidade de

diminuir as desigualdades sociais dos países considerados em

desenvolvimento. No entanto, a educação assume o papel de ascender

socialmente os sujeitos que se encontram em situação de desigualdade no

Brasil.

O projeto neoliberal consolidado através da vertente das escolas

marginalistas, desde o final da década de 1930, torna-se um projeto

hegemônico no mundo. A constituição de um processo que fortaleceu a

mundialização do capital, alterando e interferindo na realização de políticas

econômicas e educacionais, o neoliberalismo responde a essas políticas

como uma ideologia hegemonizante.

Destarte, nos anos de 1990 ocorreram grandes transformações no

cenário brasileiro tanto no social, como no político e econômico decorrentes

da influência que o capitalismo exercia no país desde os anos de 1970. Essas

transformações oportunizaram uma organização capitalista que se tornava

hegemônica, de acordo com Hidalgo e Silva (2001) foi no final dos anos de

1980 que essa supremacia neoliberal começa a sofrer severas mudanças e

reformas, que incidiram, sobretudo, no padrão de financiamento das políticas

educacionais públicas.

A metodologia utilizada para a elaboração deste trabalho foi à análise e

pesquisa bibliográfica que permeiam as políticas educacionais sob a

perspectiva da discussão teórica e histórica com o intuito de compreender

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toda a estrutura doutrinária neoliberal e sua influência nas políticas

educativas.

Para cumprir o proposto, dividiu-se o texto em dois momentos. No

primeiro aborda-se o contexto das políticas neoliberais e a reforma do Estado

nas obras analisadas. No segundo momento são enfocadas as políticas

educativas públicas.

As políticas neoliberais

A crise estrutural do capital inicia-se a partir dos anos de 1970,

perpassando por décadas até chegar à atualidade, atingiu diversos países

com a mesma política econômica. O contexto apresentado buscou

desenvolver considerações quanto à lógica do neoliberalismo e as reformas

estatais e educacionais. As questões exprimidas não se esgotam mediante a

sua complexidade, os pontos discutidos baseados em autores neoliberais e

críticos a esse vertente retratam os fundamentos teóricos. Contudo, é

necessário traçar paralelos entre a reforma do Estado à luz da produção

capitalista, suas críticas e estruturas, principalmente nas políticas

educacionais.

Decorrente da crise de 192910, alguns experimentos econômicos

indicavam um Estado interventor no pós-guerra, se configurou estabelecendo

uma conjunção do taylorismo-fordismo, legitimado pelas ideias keynesianas.

Ressaltamos que as políticas keynesianas não satisfaziam mais a produção

capitalista contemporânea. Conforme Antunes (2011), o keynesianismo está

sepultado desde 1970, quando a saturação dos mercados começam à

acontecer, considerado um dos elementos mais prejudiciais as crises

10

A mais séria crise econômica mundial foi a de 1929-1933, chamada Grande Depressão. Na teoria marxista, a noção de crise está associada ao conceito de mais-valia devido à tendência de o capital concentrar-se mais e mais em poucas mãos e também à pauperização relativa da classe trabalhadora; por isso, as crises tornam-se mais frequentes e mais fortes, o que levaria o sistema a uma ruptura. As teorias mais modernas de conjuntura denominam a fase de crise de depressão. O desenvolvimento econômico é entendido como um processo cíclico, dividido em várias fases, com pontos de mudanças nas partes inferior e superior do ciclo. A partir de um ponto abaixo de sua linha de equilíbrio, o processo de desenvolvimento econômico sairia de uma fase de recuperação para uma fase de expansão, com aumento da taxa de investimento, aumento relativo da soma de salários, acréscimo do consumo. Segue-se a fase de prosperidade (boom), na qual os fatores de produção estariam plenamente ocupados e, em consequência, não poderiam mais fazer crescer a renda nacional e o lucro (SANDRONI, 1999, p. 142).

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anteriores do capitalismo, pois foi “[...] a sujeição da humanidade aos

desígnios da lógica destrutiva do capitalismo e, em particular, de seu pólo

hegemônico financeiro” (ANTUNES, 2011, p. 9).

Harvey (2008) apresenta que o capitalismo contemporâneo configurou-

se no século XX, constituindo sua terceira fase. Paulo Netto e Braz (2011)

retratam que essas transições liquidaram os ‘anos dourados’ do capitalismo,

levando a sérias consequências aos Estados, consumando-se a

mundialização do capital. A essência da mundialização do capital consiste na

ampliação de investimentos, de empresas que regulam seus mercados em

escala mundial, portanto, “a mundialização é, primeiramente, um formidável

desenvolvimento da internacionalização e um movimento de concentração do

capital e das trocas” (HUSSON, 2006, p. 3).

Os anos 1970 foi o processo em que todas as grandes potências

passaram por um período de recessão, o esgotamento do período de

acumulação capitalista. Nessa conjuntura, o capitalismo torna-se desfavorável

e “as mobilizações anticapitalistas registram então seu auge [...]” (PAULO

NETTO; BRAZ, 2011, p. 224).

Os acontecimentos da recessão conduziram ao capital monopolista,

com a implementação de estratégias políticas com a intenção de reverter o

quadro negativo daquele momento. A análise conjuntural mostra os

acontecimentos daquele momento, o sistema de regulação social, os gastos

públicos, as quedas das taxas de lucro, as medidas legais são afetadas,

reduzindo o poder das frentes sindicais (PAULO NETTO; BRAZ, 2011).

Antunes (2011, p. 10) ressalta que depois de “[...] vivenciar a era dos ciclos,

adentrava-se em uma nova fase inédita, de crise estrutural, marcada por um

continuum depressivo que faria daquela fase cíclica anterior virar história”.

A doutrina neoliberal configurou-se como uma ideologia hegemônica,

durante os anos 1970 e 1980, de acordo com Moraes (2001, p. 10), o termo

neoliberalismo leva vários significados:

[...] uma corrente de pensamento e uma ideologia, isto é, uma forma de ver e julgar o mundo social. Um movimento intelectual organizado, que realiza reuniões, conferências e congressos, edita publicações, cria think-tanks, isto é, centros de geração de ideias e programas, de difusão e promoção de eventos. Um conjunto de políticas adotadas

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pelos governos neoconservadores, sobretudo a partir da segunda metade dos anos 70 [...].

O neoliberalismo retoma o discurso econômico burguês, estruturando a

preleção por meio de fatos históricos, as mudanças históricas acarretam em

“[...] uma contradição entre os princípios doutrinários gerais, que dominam a

superfície do discurso [...] propostas que não dispensam a intervenção do

Estado e preservam monopólios” (BOITO JUNIOR, 1999, p. 23).

Assim, o neoliberalismo contemporâneo, não tem um objetivo diferente

do liberalismo econômico11, “essa ideologia neoliberal de exaltação do

mercado se expressa através de um discurso essencialmente polêmico [...]

assumindo a forma de uma crítica agressiva à intervenção do Estado na

economia”. Portanto, as doutrinas do neoliberalismo mostram superioridade

frente à ação estatal, o neoliberalismo no momento da financeirização do

capital, objetiva adaptar princípios de liberalismo clássico ao liberalismo

contemporâneo (BOITO JUNIOR, 1999, p. 23).

De acordo com Chesnais (2005) a financeirização do capital foi

demarcada por diversas crises, cujos efeitos econômicos e sociais se

agravaram cada vez mais. Harvey (2008) explana que o neoliberalismo é uma

doutrina das práticas-políticas-econômicas, apresentando que efetivar o bem-

estar humano é promover as capacidades empreendedoras individuais. E o

Estado tem o papel de preservar a estrutura institucional garantindo a

qualidade e integridade dos planos monetários, estabelecendo coligações

com militares e arcabouços legais com a intenção de asseverar os direitos da

propriedade individual. Para o neoliberalismo:

[...] o Estado possivelmente não possui informações suficientes para atender devidamente os sinais de mercado (preços) e porque poderosos grupos de interesses vãos inevitavelmente distorcer e viciar as intervenções do Estado [...] (HARVEY, 2008, p. 12).

11

Assim, como o liberalismo econômico, o liberalismo político ganhou força no século XVIII, embora o início de suas ideias centrais remonte à transição do feudalismo para o capitalismo. O Estado liberal começa a se formar devido a um contínuo e progressivo desgaste do poder real e, por conseqüência do modelo político absolutista. Entende-se por liberalismo político os pressupostos de que os seres humanos têm por natureza certos direitos fundamentais, como o direito a vida, a liberdade e a felicidade. Cabe ao Estado respeitar e não invadir esses direitos, ou seja, o liberalismo limita tanto os poderes quanto as funções do Estado; os Estado teriam os poderes públicos regulados por normas gerais e seriam subordinados às leis.

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Harvey (2008) afirma que o neoliberalismo sustenta as ações humanas

regidas pelas leis de mercado. Para Alves (2004), a crise envolvendo a

estrutura do capital marca as relações que se efetivam na sociedade, não

atribui um desenvolvimento considerável para a humanidade, apenas

participam das “[...] forças destrutivas da sociabilidade moderna explicitando

múltiplas formas de irracionalidades [...] dissocializando o mundo do trabalho

e constituindo o sócio-metabolismo da barbárie” (ALVES, 2004, p. 32).

A crise profunda do capital torna-se cada vez mais rastejante, alastra-

se pelo mundo, consolidam efeitos permanentes. Essas fases mostram como

o capitalismo se estrutura com consequências universais, globais e

permanentes. Para Mazzucchelli (1985), as crises expressam as contradições

da produção de capital, mas não a suprimem, por não serem suprimíveis,

sempre se ‘resolvem’ nas próprias crises. A produção capitalista move-se em

meio a contradições sendo superadas em momentos determinados

historicamente, crises estruturais do capitalismo não impedem a expansão da

economia capitalista.

Matos (2008) aponta que as propostas da ideologia neoliberal com a

finalidade de combater crises, eram tidos como ‘remédios’ simples como:

manter um Estado forte que detivesse o controle monetário, propondo a

criação de um contingente de trabalhadores reservas, além das reformas

fiscais. Contando com medidas para melhoria do bem-estar social, a doutrina

neoliberal visa garantir as liberdades individuais sendo comandada através do

mercado e do comércio considerado “[...] um elemento vital do pensamento

neoliberal [...]” (HARVEY, 2008, p. 17).

Tonet (2007) evidencia que as desigualdades sociais são próprias do

capital e que faz parte dessa matriz geradora de capitalismo. Ressalta que o

capital não é algo ou uma coisa controlável que é “[...] impossível impor ao

capital uma outra lógica que não seja a da sua própria reprodução” (TONET,

2007, p. 25).

As atuações da ideologia neoliberal têm suas raízes nos anos de 1970,

com um fim determinado de superar a grande crise dos anos de 1930. É

visível que os governos social-democratas12 foram incapazes de impedir que

12

Corrente política de tendência socialista, que orienta a ação dos partidos trabalhistas (Inglaterra e Israel), socialistas (França, Itália, Bélgica, Espanha e Portugal) e

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o movimento do capital crescesse de forma a aumentar a exclusão social

(FRIGOTTO, 2000).

Os pressupostos individualistas metodológicos da doutrina neoliberal

apresentam os conceitos de homem e sociedade desvinculados das relações

sociais e da produção material da história, conjecturando ações subjetivas. A

expressão sintética de sociedade e homem postulado pelo neoliberalismo

consiste em um conjunto de pessoas de uma mesma esfera, constituída por

indivíduos que buscam a concorrência e a competitividade objetivando

maximizar o acúmulo de lucros e formalizar os interesses pessoais.

Para Correia (2008, p. 104), o controle social empregado pelos

mercados, disciplina a sociedade e submete aos indivíduos a padrões morais

e sociais, ou seja, “[...] assegura a conformidade de comportamento dos

indivíduos a um conjunto de regras e princípios prescritos e sancionados”.

Orientado pelo subjetivismo metodológico, as políticas públicas sociais e para

uma sociedade melhor organizada devem pautar-se nos fundamentos do

neoliberalismo, em que todas as funções do Estado, criem estruturas para

que o indivíduo tome suas próprias decisões.

Essas considerações demonstram que a educação deveria preparar

indivíduos para competirem entre si, para o exercício de determinada

profissão que auxiliaria na descoberta de aptidões e capacidades. Conforme

Tonet (2007, p. 9):

[...] é claro que a educação teria, necessariamente, um caráter predominantemente informativo e limitado, pois o conteúdo de que o trabalhador necessitava não exigia um

pensamento crítico e a capacidade inventiva.

De acordo com Deitos (2008), há dois pressupostos a respeito da

educação, a primeira a educação geral e a segunda uma educação

direcionada a profissão. O autor afirma que atender a educação geral mínima

socialdemocratas (Alemanha, Áustria e países escandinavos). Propõe a mudança da sociedade capitalista por meio de reformas graduais, obtidas dentro das normas constitucionais da democracia representativa. Nesse sentido, os socialdemocratas defendem uma política governamental voltada para a estatização de setores básicos da economia, elevada tributação sobre os lucros das grandes empresas, cogestão operária nas indústrias, assistência médica e educação gratuitas para toda a população, seguro-desemprego, amplas liberdades sindicais e livres negociações coletivas entre patrões e empregados, sem intervenção do Estado (SANDRONI, 1999, p. 566).

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para os cidadãos é a maneira de atender os preceitos da sociedade regulada

pelo capitalismo competitivo. Ou seja, a educação elementar contribuiria para

a efetivação de uma sociedade competitiva, o investimento em instrução

apenas para a formação de capital humano cooperaria para a reprodução do

capital e sua barbárie.

O conceito de capital humano, de acordo com Frigotto (2008), são

ações próprias do capital são de caráter funcionalista, fragmentado e

pragmático. E tais ações levam o indivíduo investir fortemente em si mesmo,

pois “[...] estes investimentos tinham significativa influência sobre o

crescimento econômico [...]”. Portanto, o investimento básico no próprio

indivíduo demandava capital humano e o que constituía basicamente este

investimento “[...] era o investimento em educação” (FRIGOTTO, 2008, p. 68).

Conforme Frigotto (1984), do ponto de vista macroeconômico, capital

humano é um complemento da teoria neoclássica de desenvolvimento

econômico, portanto “[...] para um país sair do estágio tradicional ou pré-

capitalista, necessita de crescentes taxas conseguidas, a médio prazo, pelo

aumento necessário da desigualdade” (FRIGOTTO, 1984, p. 39).

O pressuposto teórico metodológico do capital humano traz a

concepção de que a renda individual e a promoção iniciam-se pela educação,

pois o treinamento é fecundo da capacidade de trabalho, pois investir em

educação ou treinamento permite uma produtividade de trabalho maior, se o

indivíduo produzir mais ganhará mais. Ou seja, “[...] a definição da renda,

neste raciocínio, é uma decisão individual. Se passa fome, a decisão é dele

(indivíduo); se fica rico, também” (FRIGOTTO, 1984, p. 50). É perceptível,

nessa analogia, que a ideologia burguesa permanece intrínseca nas

desigualdades estruturais da sociedade capitalista, consequentemente

influenciando na reforma estatal e educacional.

As premissas do neoliberalismo são múltiplas, contraditórias e

heterogêneas, abrangem as relações sociais com discursos e ações no

âmbito governamental e educacional. A receita neoliberal argumenta que

essa nova maneira de organização social amenizaria os problemas

enfrentados pela humanidade.

Para Poulantzas (1977), o Estado tem a função geral de constituir o

fator de coesão social, pois é um lugar no qual reflete a dominância da classe

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burguesa. É nesse aparelho que se condensa as contradições entre instância

dominadoras e dominadas. Conforme Bruno (2001), o Estado é o conjunto de

todas as formas organizadas e institucionalizadas no poder da classe

capitalista. E o objetivo maior da reorganização econômica é a reforma do

aparelho do Estado, a educação seria o primeiro mecanismo, havendo a

redução de custos aos cofres públicos, para incentivar uma educação aliada à

produção de capital humano. Para Poulantzas (1977, p. 43), o Estado é o

espaço ocupado por representantes que acabam por refletir a dominância,

“por isso o Estado aparece como o lugar que permite a decifração da unidade

e da articulação das estruturas de uma formação”.

A reforma do Estado

Nos últimos anos, os países da América Latina e Caribe vêm passando

por reformas do aparelho do Estado, devido ao processo de reestruturação

das transformações econômicas13 regidas pelo neoliberalismo. Segundo

Cabral Neto e Rodriguez (2007), a educação não é deixada de fora desse

processo de mudanças no Estado, por ser considerado um setor importante

no país, sua dimensão nas políticas e programas de ajuste da reestruturação

do Estado, demanda perspectivas de que o desenvolvimento econômico,

proporcionado pelo desenvolvimento científico garantirá o auge do

desenvolvimento social.

No Brasil, aceitação dos princípios neoliberais ocorreu com a eleição à

presidente de Fernando Henrique Cardoso – FHC (1995–1998), a dimensão

mais significativa de seu governo foi à reforma do Estado. Segundo Melo e

Falleiros (2005, p. 175), a reforma foi a produtora de significativas mudanças

13

Era preciso: limitar o tamanho do Estado ao mínimo necessário para garantir as regras do jogo capitalista, evitando regulações desnecessárias; segurar com mão de ferro os gastos do Estado, aumentando seu controle e impedindo problemas inflacionários; privatizar todas as empresas estatais porventura exigentes, impedindo o Estado de desempenhar o papel de produtor, por mais que se considerasse essencial e/ou estratégico um determinado setor; e abrir completamente a economia, produzindo a concorrência necessária para que os produtores internos ganhassem em eficiência e competitividade. Com o passar do tempo, juntaram – se também a esse conjunto de prescrições regras de pilotagem de juros, câmbio e fianças públicas que, algo contraditoriamente, transformaram a política econômica neoliberal numa Bussiness Administration de Estado (PAULANI, 2006, p.71).

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na relação entre o Estado e a sociedade civil, assim “[...] a reforma

administrativo-gerencial da aparelhagem estatal, que se configurou em

importante instrumento difusor da nova pedagogia da hegemonia”. Os

projetos e propostas são pensados pelas agências internacionais para

descentralizar14 a ação do Estado, Poulantzas (1977, p. 44) afirma que:

[...] a função do Estado, fator de coesão da unidade de uma formação, que dele faz o lugar onde se condensam as contradições entre as instâncias, é aliás ainda mais nítida se repararmos que uma formação social historicamente determinada é caracterizada por uma superposição de vários modos de produção.

Por meio de uma suposta verificação de que a crise estrutural que o

capitalismo enfrentava, derivava da natureza burocrática e reguladora do

Estado, portanto, agências internacionais juntamente com a classe dominante

estabeleceram mecanismos para limitar a intervenção estatal. As apologias

constatadas procedem das políticas neoliberais deliberadas no início da

década de 1970.

Durante o século XX, a função do Estado foi descaracterizada, o

Estado se viu obrigado a atender as propostas advindas das agências

internacionais para conseguir financiamento, centralizando e descentralizando

suas ações atribuindo reformas e mudanças estabelecidas pelas agências

internacionais, de acordo com Scaff (2007, p. 334) “[...] esses órgãos foram

criados, fundamentalmente, com a finalidade de ‘ajudar’ os países mais

pobres a retornarem o pleno desenvolvimento do padrão de acumulação

capitalista [...].

Em suma, as agências internacionais colocam o sujeito no centro da

filosofia social, promovendo debates para políticas de bons sentimentos

14

A descentralização, por exemplo, segue uma lógica política que reduz a ação do Estado em relação à promoção de políticas sociais, ao mesmo tempo em que aumenta o seu poder para fragmentar a ação dos sindicatos e uma lógica econômica que reduz os gastos com a educação. As reformas não adotam uma perspectiva educativa que propicie a flexibilidade e adequação às condições locais, a relevância e a pertinência dos currículos, a autonomia das instituições e das equipes escolares, como seria o desejável. Paradoxalmente, junto com a descentralização reforça – se uma centralização por meio de três ações fundamentais: a fixação de objetivos e prioridades regionais; a avaliação dos resultados; e a compensação das diferenças resultantes do processo de descentralização. Quer dizer, por uma lado, cria-se uma aparente e relativa autonomia; por outro, adotam – se fortes mecanismos de controle. [...] a descentralização teve como foco aspectos administrativos e financeiros e não curriculares e pedagógicos (CABRAL NETO; RODRIGUEZ, 2007, p. 15).

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112

socializando o ser social, se refere ao processo de formação do homem

contemporâneo envolvendo a forma de pensar, viver e de se relacionar nos

marcos do sistema social vigente. A educação entra como determinante para

mediar às possibilidades de desenvolver as práticas humanas voltadas para o

trabalho.

Melo e Falleiros (2005) retratam que as políticas em favor da liberdade

de mercado e com a proposta de desenvolver habilidades humanas voltadas

para o trabalho, dilatam severas consequências como: o aumento da pobreza,

desemprego e a redução de proteção social construída nos anos de Estado

de bem-estar social. De fato, a minimização do Estado, mostra-se secundário

frente às leis de mercado que propõe a legitimação de um Estado novo

promovendo o crescimento econômico e desenvolvimento social por meio da

educação.

O bloco difusor das ideologias neoliberais, FHC, trouxe o consenso

para a sociedade brasileira aceitar a implementação da reforma estatal, esta

levaria o país considerado em desenvolvimento a se integrar a ‘era

globalizada’, confluindo com uma “[...] postura vigorosa de adequar o Brasil à

nova fase do capitalismo mundial” (MELO; FALLEIROS, 2005, p. 177).

[...] no Brasil, o Estado ‘social liberal’ defendido pelos informes do Banco Mundial, foi, de fato, preconizado no primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso. Apesar das resistências pontuais e muitas vezes histéricas das esquerdas, o desmonte da esfera pública estatal, executado sobre o signo da ‘reforma’ foi efetivamente realizado entre 1995 e 1998. Os fundamentos básicos desta reforma, nos parece, foram seguidos à risca: privatização, publicização e terceirização. Neste contexto, o Ministério da Administração e Reforma do Estado (MARE), instituído pela medida provisória nº 813 de 01 de janeiro de 1995 está situado no centro da análise, à medida em que foi colocada como principal agência do Estado responsável pela elaboração e

execução dos termos da tal reforma (BRITTO, 2010, p. 5).

A reforma do Estado, formulada pelo MARE e seu precursor Bresser

Pereira15 defendeu arduamente o fim da estabilidade do funcionário público, e

15

Luiz Carlos Gonçalves Bresser-Pereira (São Paulo, 30 de junho de 1934) é um advogado, administrador de empresas, economista, cientista político. Foi ministro da Fazenda do Brasil de 29 de abril de 1987 a 21 de dezembro do mesmo ano, durante o

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113

a reestruturação do novo modelo de Estado seguindo os ditames da política

neoliberal que se instaurava no país. Britto (2010) ressalta que a proposta de

um Estado mínimo não abarcava a modificação para um novo modelo de

Estado. Bresser Pereira direcionava as ações para que houvesse a

implementação da reestruturação do Estado, ou seja, a administração pública

com a vertente de um sistema de ideias gerador de resultados. Em síntese, a

reorganização do aparelho do Estado seguiu os ditames do Estado mínimo,

transferindo suas ações públicas para o setor não estatal. De acordo com

Martins et al. (2005, p. 144):

[...] o Estado necessário seria o regulador e coordenador de processos de desenvolvimento econômico e social capitalista. As ferramentas para implementação dessa estratégia são parcerias entre a esfera pública e a esfera privada, tendo como referência a criação da chamada ‘nova economia mista’. Nela, a aparelhagem do Estado e os empresários se juntariam para realizar projetos importantes demandados pelo ‘interesse público’ e comprometidos com o desenvolvimento.

Analisar toda a conjuntura que constitui o Estado brasileiro é salientar

as contradições encontradas nesse percurso histórico. De acordo com

Poulantzas (1977, p. 44), a função do Estado é:

governo José Sarney. Foi ministro da Administração Federal, em substituição ao general-de-brigada Romildo Canhim.E ministro de Reforma do Estado em todo o 1° mandato presidencial de Fernando Henrique Cardoso (1995–1998) e ministro da Ciência e Tecnologia nos 6 meses iniciais do 2° mandato, permanecendo nesse cargo até 19 de julho de 1999. Cursou a Faculdade de Direito da USP, é mestre em Administração de Empresas pela Michigan State University, doutor e livre docente em Economia pela USP. Ensinando na Fundação Getulio Vargas de São Paulo desde 1959, foi seu 1° professor a receber o título de professor emérito, em 2005. É presidente do Centro de Economia Política e editor da Revista de Economia Política desde 1981 quando a fundou. Lecionou, em nível de pós-graduação, Desenvolvimento Econômico na Universidade de Paris I (Panthéon-Sorbonne), e Teoria Política no Departamento de Ciência Política da USP, e desde 2003 ministra curso de um mês na École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris. Foi visitante do Instituto de Estudos Avançados da USP, e 2 vezes do Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Oxford (Nuffield College e St. Anthony’s College). Na administração pública, além dos cargos citados acima, foi presidente do Banco do Estado de São Paulo (1983-85) e secretário de Governo do estado de São Paulo (1985-87) na gestão Franco Montoro. Foi ainda presidente do Clad (Consejo Latinoamericano de Administración para el Desarrollo) (1995-97) e presidente do seu Conselho Científico (1998-2005). É membro do conselho diretor do CEBRAP, de cuja fundação participou em 1970, do conselho consultivo do Grupo Pão de Açúcar, do qual foi diretor administrativo entre 1965 e 1983, do conselho de administração da Le Lis Blanc desde 2008 e patrono da Associação Keynesiana Brasileira desde sua fundação, em abril de 2008 (BRESSER-PEREIRA, 1996, p.120).

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[...]fator de coesão da unidade de uma formação, que dele faz o lugar onde se condensam as contradições entre as instâncias, é aliás ainda mais nítida se repararmos que uma formação social historicamente determinada é caracterizada por uma superposição de vários modos de produção. O que vamos reter aqui é que, mesmo quando um destes modos de produção consegue estabelecer a sua dominância, marcando assim o início da fase de reprodução alargada de uma formação e o fim da fase propriamente transitória, assiste-a a uma verdadeira relação de forças entre os diversos modos de produção presentes, a permanentes defasagens entre as instâncias de uma formação.

O Estado deveria ser a base superior para a sociedade civil, dando-lhe

a racionalidade e a ordem, no entanto tem mostrado formas contraditórias em

suas relações de produção e são essas ações que determinam sua

manifestação na história. Segundo Silva (2003, p. 66), “[...] a ‘reforma’ do

Estado atingiu a dimensão de garantia da governabilidade16”. A reforma do

aparelho do Estado veio com o sentido do aumento da economia. O discurso

de posse da presidência feito por FHC (BRASIL, 1995b, p. 25) ressalta que:

“as condições internacionais são favoráveis. O peso da dívida externa já não

nos sufoca”. E, diante dessa exposição, deu-se a largada da hegemonia

neoliberal com a intenção de valorizar o mercado. Nesse sentido, “[...] a

reforma do Estado passou a ser instrumento indispensável para consolidar a

estabilização e assegurar o crescimento sustentado da economia” (BRASIL,

1995b, p. 25).

A finalidade do Plano de Reforma do Aparelho do Estado (1995),

desenvolvido por Bresser-Pereira ex-ministro e economista, era amenizar as

desigualdades sociais e impulsionar a economia de um país emergente. Cabe

salientar de acordo com o documento o Plano de Reforma do Aparelho do

Estado, a definição de Aparelho do Estado e suas funções.

O aparelho do Estado é constituído pelo governo, isto é, pela cúpula dirigente nos Três Poderes, por um corpo de funcionários, e pela força militar. O Estado, por sua vez, é mais abrangente que o aparelho, porque compreende adicionalmente o sistema condicional – legal, que regula a população nos limites de um território. O Estado é a

16

Governabilidade é o conjunto de condições necessárias ao exercício do poder. Compreende a forma de governo, as relações entre os poderes, o sistema partidário e o equilíbrio entre as forças políticas de oposição e situação. Diz respeito à capacidade política de decidir. A governabilidade expressa a possibilidade em abstrato de realizar política públicas (HÖFLING, 2010).

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organização burocrática que têm o monopólio da violência legal, é o aparelho que tem o poder de legislar e tributar a população de um determinado território (BRASIL, 1995a, p. 12).

A intenção de definir a Reforma do Estado e do Aparelho do Estado

caracterizava-se em distinguir que a reforma do Estado tinha a intenção de

mudar as áreas de governo enquanto a reforma do Aparelho do Estado visava

uma reforma voltada para a eficiência da administração pública. E esses

pontos defendidos por Bresser-Pereira ocasionaram uma instabilidade do

funcionalismo público, acarretando em confrontos com as centrais sindicais.

Para Brito (2010, p.23) “[...] o documento era o ponto de partida para a

discussão sobre a reestruturação do Estado brasileiro”.

Para Bresser-Pereira se fazia necessário a reforma do Aparelho do

Estado para que o país correspondesse aos novos desafios apontados pela

globalização. Conforme Silva (2003, p. 68):

[...] a ‘reforma’ do Estado foi impulsionada pelas instituições financeiras multilaterais que, mediante a utilização de seus instrumentos de poder, exigiram políticas de ajuste estrutural. Em 1989, na América Latina, no bojo da crise da dívida externa, o Consenso de Washington, arquitetado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial, BID e outras instituições, ‘aconselhou’ os países a realizar uma rigorosa disciplina fiscal, privatização, redução dos gastos públicos, reformas (tributária, previdência, etc.), liberalização comercial, desregulação da economia e flexibilização das relações trabalhistas, dentre outras.

Os impactos das políticas neoliberais afetaram decisivamente a

estrutura econômica dos países da América Latina. E a influência decisiva

das agências internacionais direcionou o decurso da história nas áreas do

social, político e econômico dos países da periferia. As recomendações

advindas das agências internacionais são agregadas as políticas brasileiras

pelos governantes e pelo terceiro setor em meados dos anos de 1980, mas

intensificou-se a partir dos anos de 1990 com o governo de FHC. Mesmo a

revelia de algumas pessoas a aderir à ideologia neoliberal, a imprensa

brasileira fez um brilhante marketing para que os críticos dessa nova ideologia

vissem a saída da crise e a inserção do país na economia mundialmente

globalizada.

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Vale ressaltar brevemente que a Força Sindical teve um papel

extremamente importante ao apoiar o governo Estatal para implantar as

políticas neoliberais. FHC inaugura o neoliberalismo no país, devido a sua

popularidade conquistada nas urnas, o projeto da Reforma do Aparelho do

Estado é implementado, colocando que a população seria privilegiada com as

reformas e que a economia teria um avanço considerável para o país, além

de aumentar os postos de trabalho, os gastos públicos seriam diminuídos e

revertidos para investir em outras áreas sociais, o mercado brasileiro teria

suas portas abertas para que as multinacionais investissem no país, além da

privatização das estatais angariando fundos aos cofres públicos (SILVA,

2003).

As privatizações tiveram grandes repercussões no país, ocorreu

privatização das telecomunicações, da Eletropaulo, tendo como licitante a

americana AES hoje CPFL, a Companhia Vale do Rio Doce a maior

exportadora de minério de ferro do mundo, a Companhia Siderúrgica

Nacional, bancos que eram comandados pelo Estado também foram vendidos

como o Banespa, Bamerindus, Banco Meridional, Banco do Amazonas e

Banco de Goiás.

Os polêmicos programas de privatizações não impediram que a dívida

externa do país continuasse a crescer. Os defensores das privatizações

alegavam que com a venda de empresas estatais, a dívida estaria paga e o

país poderia se inserir no mundo globalizado. Privatizações não ajudaram a

diminuir a alta taxa de juros que o Brasil tinha (e ainda têm), e não atraiu

capital produtivo que elevasse a economia brasileira, encantou apenas o

capital especulativo danificando e prejudicando a economia. Para Borón

(1996, p. 77), “o caminho neoliberal para o Primeiro Mundo [...] não é senão

um mito, habilmente manejado pelas classes e frações que atualmente detêm

a hegemonia no sistema capitalista internacional”. Conforme Effgen e Viriato

(2008, p. 2):

[...]a década de 90 tem sido marcada pelo súbito interesse do terceiro setor, que na verdade, é parte do conjunto de tendências e mudanças inter-relacionadas não apenas com as orientações dos organismos internacionais e com a ideologia do liberalismo, mas com o jogo de interesses que existe por parte das empresas privadas e do próprio Estado.

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É necessário esclarecer que as questões apresentadas pela reforma

do aparelho do Estado, não diz que o Estado deixará de intervir em questões

como governança17 e governabilidade, porém torna-se um Estado mínimo em

suas responsabilidades de bem estar social.

Bresser-Pereira (2008, p. 1) justifica que a reforma do aparelho estatal

era fundamental para reconstruir o Estado e a economia, além de indicar

quatro componentes essenciais para a reforma:

1) a delimitação do tamanho do Estado, reduzindo suas funções através da privatização, terceirização e publicização, como o consequente envolvimento de organizações sociais, principal parâmetro que fundamenta a proliferação do terceiro setor.2) a redefinição do papel regulador do Estado através da desregulamentação, que está diretamente relacionado com o maior ou menor grau de intervenção estatal no funcionamento do mercado. 3) aumento da governança, ou seja, recuperação da capacidade financeira e administrativa para superação da crise fiscal e diminuição da burocracia, além de existir uma redefinição das formas de intervenção no plano econômico-social; 4) o aumento da governabilidade ou capacidade política do governo de intermediar interesses, garantir legitimidade e governar (BRESSER-PEREIRA, 2008, p. 1).

Vê-se que a reforma do Estado e do aparelho do Estado, nos anos de

1990, assegurava o capitalismo e a legitimação do consenso na sociedade,

diminuindo as responsabilidades do Estado e abrindo espaço para o terceiro

setor atuar no papel do Estado. Para Effgen e Viriato (2008, p. 5):

[...] os conceitos de solidariedade e benevolência se proliferam para que a sociedade também esteja engajada no bem estar da população carente [...], a mesma deixa de lutar por melhorias que deveriam ser realizadas pelo Estado, e passa a colaborar com a proliferação de trabalho voluntário [...].

17

A governança tem um caráter mais amplo e engloba dimensões presentes na governabilidade. Não se restringe a aspectos gerenciais e administrativos do Estado. Refere-se aos aspectos articulação e cooperação entre atores sociais e políticos, que coordenam e regulam transações dentro das fronteiras econômicas. Enquanto a governabilidade opera numa dimensão essencial estatal, político-institucional, a governança opera num plano mais amplo, englobando a sociedade como um todo.

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As discussões a respeito da Reforma do Aparelho do Estado e das

Políticas Públicas para a Educação devem ser entendidas no contexto do

capitalismo e como as agendas das agências internacionais interferem e

influenciam nas nações secundárias a adequar suas leis e políticas. Conforme

Simionatto ([2011]) “[...] se expressa através de relações de poder coercitivas,

que vão desde à ameaça de retaliação e embargos em várias áreas, a

incentivos econômicos e financeiros”.

Políticas Educacionais Públicas

A partir dos anos de 1990, as recomendações das agências

internacionais e a reforma do Estado delimitaram a elaboração das políticas

públicas educacionais e “o conteúdo expresso na reforma está, portanto, em

articulação com o projeto de educação delineando para atender as novas

exigências emanadas das brumas do atual padrão de acumulação capitalista”

(CABRAL NETO; RODRIGUEZ, 2007, p. 14).

A reforma do Estado brasileiro ocorre num processo de privatizações

de empresas estatais, regulador do desenvolvimento econômico,

administração por resultados, flexibilização, diminuição dos gastos públicos,

abertura do mercado a investidores transnacionais, no Plano Mare a reforma

do Estado é compreendida na

[...] redefinição do papel do Estado, que deixa de ser o responsável direto pelo desenvolvimento econômico e social pela via da produção de bens e serviços, para fortalecer–se na função de promotor e regulador desse desenvolvimento (BRASIL, 1995a, p. 18).

Tais reformas estão fortemente vinculadas aos governos de Fernando

Collor de Mello (1990 – 1992) e enraizados no mandato de Fernando

Henrique Cardoso (1994 – 2002). Silva (s/d) explana que a década de 1990

foi um período de viabilização das políticas sociais recomendadas pelas

agências multilaterais.

No Brasil, para atender aos ‘conselhos’ advindos dos documentos, a

primeira concessão que ocorreu para acolher ao planejamento internacional

da educação foi a promulgação da LDB n.º 9394/96 (Lei de Diretrizes e Bases

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da Educação), prevendo a Educação Básica de qualidade para jovens e

crianças, preparando para o mercado de trabalho. Scaff (2007, p. 336)

esclarece que:

[...] a educação passa a ser considerada um rentável investimento, tanto em caráter individual quanto no plano do desenvolvimento das nações. O planejamento, sob esse enfoque, possui caráter socioeconômico, na medida em que contribui para o aumento da eficiência e da produtividade do sistema educacional.

Essa concepção norteia os projetos educacionais a serem

desenvolvidos no Brasil, sendo totalmente apoiados pelas agências

internacionais e valorizando cada vez mais o ensino técnico, moldando jovens

e adultos para ingressarem no mercado de trabalho e assim contribuírem para

a acumulação de recursos humanos.

Melo (2004) retrata que os elementos fundantes das reformas

educacionais foram fielmente impulsionados pelo projeto neoliberal. Ações

realizadas nos países latino-americanos, em destaque o Brasil, o

cumprimento de metas direcionava para a redução dos gastos públicos, além

de um progressivo desmonte das agências do estado-de-bem-estar-social.

Toda a virada ocorrida nos anos 90 deu-se devido à preocupação das

agências internacionais de reduzir a pobreza e principalmente a

governabilidade dos países periféricos, reduzindo toda e qualquer forma de

produção tecnológica e científica.

As reformas estão direcionadas para programas e políticas específicas

para a educação e saúde, paulatinamente, nos anos de 1990, essas políticas

transformam-se em projetos exclusivos visando à erradicação da pobreza. As

informações divulgadas pela reforma estatal não trazem dados que avisem a

população do impacto desses projetos nas políticas educacionais.

A reforma do Estado prevê que há uma extrema necessidade de

convencer a população de que não serão lesadas com a efetivação da

reforma, já que a mesma apresenta-se como uma necessidade de se adequar

ao novo molde neoliberal. As propostas mostram-se com uma face mais

humanizada: ‘a nova justiça social’, para Melo (2004, p. 216):

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[...] seria uma forma tanto de acionar ações compensatórias quanto de formação do consenso social, apoiado pelo fortalecimento das instituições democráticas representativas e da participação social nas ações e decisões do Estado.

As reformas educacionais realizaram diversas mudanças no arcabouço

normativo da educação escolar, seguimos com estes argumentos e uma

pequena exemplificação das mudanças que atingiram as políticas

educacionais brasileira, pós 1990. O financiamento do sistema educacional, a

gestão do sistema educacional, o conteúdo curricular de ensino, a parceria da

sociedade civil com as escolas com o propósito de fazer o ‘papel’ do Estado.

Diversas ações também se edificaram com a reforma, a criação de

planos, leis e diretrizes com o propósito de garantir uma educação que

envolvesse as entidades civis, como: o Conselho Nacional de Educação; Lei

de Diretrizes e Bases da Educação; Fundo de Manutenção e

Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério

(FUNDEF); ações coletivas como o Fórum Nacional em Defesa da Escola

Pública; os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e o Plano Nacional de

Educação (PNE).

O objetivo da reforma educacional segue o ditame propalado pelas

agências internacionais, implantando um projeto neoliberal de sociedade e

educação, direcionando principalmente para a integração internacional de

modo dependente, enraizando cada vez mais a exclusão social.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As temáticas analisadas neste artigo não se esgotam, pois o projeto

neoliberal não só se travestiu para ser aceito, mas passou por diversas

transformações que acarretaram em mudanças no direcionamento ideológico

do Brasil, nos anos de 1990, com o sentido de implantar o capitalismo com

uma face mais humanizada. O capitalismo com um discurso que valoriza a

democracia e diminui as tensões sociais, alimenta e expande as capacidades

do Estado de cumprir com o funcionamento do aparelho estatal e mantendo a

ordem social.

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Este trabalho buscou analisar as políticas e planejamentos

educacionais, as medidas tomadas pelo Estado em relação aos rumos que a

educação irá seguir, ou seja, como o Estado e o Governo estão se articulando

para desencadear essas políticas. Como o Estado em ação passa a se

relacionar com o comando político do modo de sistema capitalista, pois o

mesmo não é neutro, ligando-se a classes antagônicas.

O Estado é produto das relações sociais, assume a vontade das

classes dominantes, representando assim o capitalismo. Esse é

extremamente flexível, adapta-se as mudanças de reformas institucionais,

esse processo de reorganização põe em evidência a regulação social

buscando um equilíbrio global do sistema, onde o controle e as influências

exercidas detêm-se ao domínio das forças supranacionais (economia e

educação).

Entretanto, esta visão estatal de regulação é subjugada ao processo de

múltiplas relações dentro do sistema educativo, determinando o controle do

aparelho nas mãos do Estado, norteando com precisão e regularidade o

ajuste das ações da sociedade. Todavia, o sistema educativo não é um

processo único e isolado, constitui-se de recomendações e aplicações das

políticas educativas de agências internacionais, valorizando e legitimando os

processos escolares nos países periféricos.

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Fernanda Amorim Accorsi

RESUMO

O presente artigo problematiza o filme americano Além da Sala de Aula, de 2011, cuja história retrata uma escola de um abrigo temporário, em que estudam os filhos de sem teto. O filme evidencia o papel da professora Stacey Bess, interpretada pela atriz canadense Emily VanCamp. Nosso eixo de análise tem como base os princípios educativos discutidos no livro Vida e Educação (1997), de John Dewey. Objetivamos verificar, em especial, a prática docente, o comportamento dos/as alunos/as e os conceitos de educação e escola exibidos no filme e compará-los com os apresentados no livro de Dewey (1997). Constatamos que, embora o filme não anuncie as

Fernanda Amorim Accorsi: Doutoranda e mestre em Educação (PPE/UEM), especialista em Comunicação e Educação (FCV) e jornalista (Faculdade Maringá). Professora de Publicidade e Propaganda (FAMMA). [email protected]

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premissas educativas do autor, a prática pedagógica apresentada se assemelha àquela defendida por Dewey, bem como os conceitos de aluno/a, escola e educação também têm relação com as discussões realizadas por ele.

Palavras-chave: John Dewey. Filme Além da sala de aula. Educação.

INTRODUÇÃO

Este artigo discute o filme Além da Sala de Aula com base nos

pressupostos pedagógicos de John Dewey, elencados no livro Vida e

Educação (1997). Mas também está ancorado em autores como Freire

(2011), Skinner (1974), Behrens (2005) e Fabris (2001) a fim de problematizar

a história fílmica lançada em 2011, baseada em fatos reais de 1987 e dirigida

por Jeff Bleckner. A narrativa se passa em um abrigo temporário para sem

teto na cidade americana de Salt Lake City, no estado de Utah. Nele, há uma

sala de aula sucateada, cuja estrutura física é abalada toda vez que um trem

se aproxima. O local serve de escola para alunos/as em vulnerabilidade

social, são os/as filhos/as dos/as sem teto que moram temporariamente no

abrigo. Eis o cenário do filme Além da Sala de Aula, estrelado por Emily

VanCamp, atriz canadense conhecida por protagonizar seriados comerciais

americanos. No filme, a atriz atua como Stacey Bess, professora recém-

formada, que aceita a oportunidade de ministrar aulas para as crianças do

abrigo.

O filme apresenta o que Fabris (2001) discutiu como a pedagogia do herói

ou a pedagogia da heroína, visto que os/as professores/as dos filmes

americanos são sempre sujeitos indignados, líderes e costumam romper com

o que está instituído a fim de alcançar os objetivos traçados previamente.

Fabris (2001, p. 3) analisa que a pedagogia do herói, existente nos filmes

hollywoodianos, que tratam sobre educação, serve de “[...] padrão regulador e

colonizador das identidades para o magistério e das pedagogias”. O herói,

para a autora, possui características como bondade, valores e poderes

extraordinários, se comparados com outros sujeitos sociais. Essas são as

qualidades da professora Stacey visibilizadas no referido filme americano.

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Além da Sala de Aula não se distingue de outras produções

cinematográficas no sentido de apresentar a professora como a salvadora das

mazelas sociais, mas para escolhê-lo como objeto de estudo, levamos em

consideração que o filme é sugerido aos docentes por sites e blogs de

educação e pedagogia como fonte de inspiração para o trabalho docente e

tem como base uma história real da educação.

Desse modo, o filme nos serve de objeto para problematizarmos o

conceito de educação, escola, professor/a e aluno/a discutidos no livro Vida e

Educação (1997). Para tecer este artigo nos perguntamos: Quais princípios

educativos de John Dewey são vistos no filme Além da Sala de Aula?

Quando aliamos cinema e educação nos aproximamos das discussões de

Freire (2011) de que a educação só ocorre com comunicação. No mesmo

sentido, Dewey (1997, p. 19) analisa que “[...] comunicação é educação. Nada

se comunica sem que os dois agentes em comunicação [...] se mudem ou se

transformem de certo modo”.

Dewey (1997) é pragmático, valoriza a vivência do aluno/a e do

professor/a, a prática social em que eles estão envolvidos e considera que o

pensamento serve para resolver problemas. Refuta a filosofia tradicional da

educação ao propor o/a professor/a reflexivo como aquele que revê, repensa

e reorganiza constantemente sua prática pedagógica.

Nesse eixo explicativo, as discussões de Dewey (1997) se aproximam,

novamente, das problematizações de Freire (2011), em que este último

analisa que é pensando a prática de hoje que o/a professor/a pode

aperfeiçoar sua prática de amanhã. Para os autores, a educação não consiste

em uma prática inacabada, pronta e definitiva, pois consideram que a

experiência é fundamental para a construção do processo de ensino e

aprendizagem.

O saber precisa ser significativo para os/as alunos/as, precisa estar perto

do que eles/as vivenciam e conhecem, assim é papel do/a professor/a

construir caminhos para a ampliação de olhares, sentidos, significados e

experiências escolares. Os/as alunos/as, nesse viés, estão munidos de

desejos, de vontade de aprender e de ampliar seus pontos de vista. Não

podem ser considerados/as recebedores/as de conhecimento, nem parte

isolada do processo em que ocorre o aprendizado. Eles/as estão ativos/as em

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sala de aula, são participativos/as no local onde podem exibir suas vozes e

opiniões (DEWEY, 1997).

Os/as alunos/as são capazes de movimentar seus pensamentos do senso

comum para o reflexivo, por meio da mediação docente. Portanto, não há

como privilegiar um método apenas, uma fórmula geral sobre como ensinar e

aprender, uma vez que é indispensável observar e levar em conta as

predileções estudantis e as experiências sociais, culturais, políticas e

econômicas que trazem para sala de aula.

Quando o conhecimento é significativo desperta o interesse do/a aluno/a

pela aprendizagem, fazendo-o perceber que as informações trabalhadas em

sala de aula são importantes para sua construção enquanto ser humano, pois

tem relação com sua vida. Dewey (1997) defende que não existem verdades

absolutas, mas discute que certas ideias, ações e costumes são úteis em

determinado tempo e espaço, por isso podem ser reformulados para

atenderem às necessidades de outros momentos históricos. Esse movimento

de desconstrução e reconstrução de verdades são pressupostos

fundamentais para uma educação democrática.

A teoria de Dewey em Além da Sala de Aula

O filme Além da Sala de Aula tem 95 minutos de duração e é dividido em

duas fases: a primeira tem relação com a chegada da professora Stacey na

escola, em que o ambiente educacional apresenta problemas como

indisciplina dos/as alunos/as, falta de material escolar, direção e coordenação

escolar. Se nos primeiros minutos de filme, a professora está receosa sobre a

possibilidade de desenvolver seu trabalho, percebendo as inúmeras

dificuldades pedagógicas existentes no abrigo, a segunda fase é marcada

pela postura firme e decidida de Stacey. Nela, a professora inicia seu trabalho

de transformação da realidade dos/as alunos/as, das atitudes dos pais e da

prática de ensino e aprendizagem daquele lugar.

A primeira fase pode ser ilustrada com a seguinte afirmação proferida pela

professora da história fílmica: “Três minutos para terminarem o teste, para

saber em que nível escolar vocês estão, e depois vamos ver quem tem

piolho” (ALÉM DA SALA DE AULA, 2001, s/p). A segunda fase pode ser

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explicada com a seguinte afirmativa da professora: “Nós precisamos de tudo,

inclusive material didático” (ALÉM DA SALA DE AULA, 2001, s/p). Esta fala

ocorre quando a professora decide levantar fundos para a escola junto aos

políticos locais para equipar a sala de aula e oferecer recursos de

aprendizagem daquela turma.

No início do filme, professora Stacey afirma que não foi treinada para

lecionar em várias séries educacionais ao mesmo tempo, a preocupação se

deve à idade dos/as alunos/as da turma de Stacey, que possuem faixas

etárias distintas, ou seja, crianças dividem o espaço com adolescentes. Os

planos de Stacey são frustrados quando ela almeja exibir um filme na sala,

mas a TV fora roubada por ex-moradores/as do abrigo, que são usuários/as

de crack. Nesse cenário, é sugerido aos/às espectadores/as quão difícil será

o papel docente de reverter a realidade instalada na escola-abrigo.

Ainda no início do filme, há uma cena em que o marido de Stacey lhe

entrega um porta papel para que ela usasse no primeiro dia de aula, afinal

ser professora era o sonho da novata, que estava prestes a iniciar os

trabalhos. Neste dia, Stacey utiliza o presente do marido, mas não guarda

papéis e atividades dos/as alunos/as, como era o esperado, pois utiliza o

objeto para afastar um rato que amedronta as crianças na sala de aula.

Nesse âmbito, “[a]s escolas passam a constituir um mundo dentro do

mundo, uma sociedade dentro da sociedade” (DEWEY, 1997, p. 21). A escola

do filme se mostra um reflexo da sociedade em que o abrigo – e os/as

alunos/as que vivem nele – está inserido. A escola se apresenta como uma

extensão da sociedade, onde os problemas que nela existem são

desencadeados, primeiro, na esfera social.

Não podemos aceitar, simplesmente, que a escola se espelhe nos pontos

negativos da sociedade e os traga para dentro da sala de aula como objeto de

aceitação. Não podemos verificar a existência de imperfeições morais e

intelectuais e deixá-las como estão. O papel da escola não é de adequação à

sociedade, bem pode almejar a padronização dos/as alunos/as ao que é

solicitado pelos membros da sociedade, mas promover avanço democrático e

reflexão constantes sobre os problemas e as histórias produzidas fora - e

dentro – dela (DEWEY, 1997).

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Ainda no primeiro momento do filme, Stacey não visualiza a escola como

um espaço educacional, mas uma sala de aula com instalações precárias,

dividindo espaço com serviços de barbearia, em um abrigo. A professora se

motiva a transformar o lugar, a pintá-lo, organizá-lo para oferecer aos/às

alunos/às condições mínimas de aprendizagem.

Para atingir seu objetivo de transformar a educação de crianças e jovens

daquele local, Stacey trabalha nos fins de semana e conta com a ajuda de

uma aluna de origem mexicana e de um morador do abrigo. As cenas do filme

demonstram que a história está prestes a se transformar rumo ao final feliz. A

transformação do espaço escolar realizada por Stacey nos remete à citação

de Dewey (1997, p. 17) sobre o significado da educação.

E é nisso que consiste a educação. Educar-se é crescer, não já no sentido puramente fisiológico, mas no sentido espiritual, no sentido humano, no sentido de uma vida cada vez mais larga, mais rica e mais bela, em um mundo cada vez mais adaptado, mais propício, mais benfazejo para o homem.

Na perspectiva do autor, a educação precisa de reconstrução constante a

fim de ampliar a qualidade das experiências de alunos/as e professores/as. A

educação não é um fim por si só, mas um processo de vivência, de contato,

de transformação.

Com a reforma da sala de aula, as crianças do abrigo ficam

entusiasmadas em descobrir as novidades do espaço escolar. Na primeira

aula, a professora pergunta: ’quem está com fome?’ , demonstrando que

conhece a realidade dos alunos e entende as necessidades de cada um/a.

Todos/as dizem ‘sim’ à pergunta da professora e a aula só começa depois do

café da manhã.

Nesse trecho do filme, Stacey não tinha uma solução pronta para

incentivar os/as alunos/as à busca da aprendizagem, ela foi experimentando e

conhecendo seus/suas alunos/as e suas respectivas formas de ser e estar do

mundo até encontrar o que, para aquele lugar, seria o ideal, no que se refere

ao processo de ensino e aprendizagem.

A transformação da sala de aula, agora pintada e completamente diferente

do início do filme, cheia de materiais didáticos e quadros coloridos, invocou o

interesse da turma pela descoberta organizada por Stacey. Invocou o que

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Dewey (1997, p. 86) nomeou de interesse verdadeiro, ou seja, “[...] significa

que uma pessoa se identificou consigo mesma, ou que se encontrou a si

mesma, no curso de uma ação”.

Nesta perspectiva, a identificação dos/as alunos/as com a sala de aula - e

com a aprendizagem que ocorreria a partir dela - é uma atividade que pode

durar pouco ou muito tempo, conforme as circunstâncias e as experiências

vividas ali, dependendo dos impulsos e tendências criadas no local (DEWEY,

1997).

Para ampliar e estender o interesse verdadeiro pela escola e pelo

conhecimento, Stacey realiza atividades ouvindo as vivências de cada um/a.

Sentados em círculo, com a professora, os/as alunos/as relatam histórias já

vividas. Cada um à sua maneira. Os relatos permeiam temas como polícia,

despejo, desemprego, fome, frio e violência. Enquanto eles lembram o

passado, a professora conhece um pouco mais dos seus/suas alunos/as e,

ainda, aproveita a oportunidade para trabalhar significados de palavras

relacionadas com as experiências relatadas como, por exemplo, respeito e

coragem.

A sala de aula se torna um local de reflexão e o aprender tem sentido para

os/as alunos/as, pois o conhecimento e o significado das palavras têm relação

direta com suas vidas, com suas narrativas. As cenas podem ser relacionadas

com o pressuposto de Dewey (1997, p. 63), de que a disciplina imposta é um

equívoco. Em outras palavras, “[é] um absurdo supor que uma criança

conquiste mais disciplina mental ou intelectual ao fazer, sem querer, qualquer

coisa, do que ao fazê-la, desejando-a de todo o coração”.

Dewey (1997) defende que tornar interessante para a criança é,

sobretudo, excitá-la à atividade, é recorrer a algo que ela goste como ponto

de partida. Interesse é impulso, é estar entre, como afirma a própria

etimologia da palavra. Para o autor, o termo interesse pode ser visto, no

mínimo, por três pontos de vista. São eles: ‘Propulsivo’, em que há uma força

motriz para desencadear a ação; ‘Objetivo’, cujo termo é usado como

sinônimo de interesse; ‘Pessoal’, em que o sujeito faz o que é importante para

ele.

Stacey utiliza os três sentidos de interesse difundidos por Dewey (1997)

para alavancar a vontade de aprender dos/as alunos/as. A professora se

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apoia na realidade dos/as alunos/as para propor o saber, solicita que eles

narrem suas histórias e suas experiências vividas fora de sala, mas, também,

evidencia que os conhecimentos discutidos na escola sejam usados fora dela.

A professora promove o interesse por meio de exemplos e de situações que

ocorrem no dia a dia escolar.

Verificamos, sobretudo, que “[e]ducação é vida, não preparação para a

vida. – Muito antes que houvesse escolas houve educação” (DEWEY, 1997,

p. 37). Em outra cena do filme, Stacey convida um morador do abrigo, o qual

possui habilidades artísticas, para trabalhar as cores com as crianças. O

morador se torna ajudante da professora e, nesta cena, ilustra que misturar

amarelo com vermelho resulta na cor laranja. Os/as alunos/as se interessam

pela atividade e testam outras cores a fim de descobrir outros tons para além

das disponíveis na paleta.

O/a professor/a fica responsável pelo despertar do interesse, o que é

possível com um primeiro impulso, que pode ser de ordem emocional. Neste

sentido, é indispensável considerar o aspecto subjetivo do conhecimento,

vislumbrando quais sensações e significados ele pode ter para os/as

alunos/as e quantos despertares são possíveis por meio da informação

discutida em sala de aula.

Observamos a união entre interesse e esforço quando se unificaram nas

atividades propostas por Stacey: “Agir adequadamente na direção desses

impulsos, envolverá, naturalmente, da parte da criança, seriedade,

concentração, clareza de propósitos e de planos” (DEWEY, 1997, p. 70). Para

este autor, unir esforço e interesse é fundamental para a formação de hábitos

no processo de aprendizagem, visto que a educação ocorre, de fato, com a

persistência dos envolvidos.

A professora Stacey respeita a subjetividade dos/as alunos/as quando

desenvolve atividades de colagem em sala de aula. Os enquadramentos da

câmera em cena evidenciam que os recortes feitos por cada um/a - para

depois serem colados nos cadernos - são escolhidos conforme a vontade

deles/as, de acordo com as experiências que eles/as têm diante da vida e sob

a orientação da professora. É como se a professora oferecesse possibilidades

de criação, de imaginação, e cada um/a aproveitou da forma como achou

mais significativa e conveniente.

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Nesta cena observamos o intercâmbio de ideias entre professor/a e

aluno/a, bem como o diálogo e a liberdade como pressupostos de

aprendizagem em sala de aula. Portanto, Stacey não propõe uma

conformidade mecânica à atividade, lapidando os pontos de vista dos/as

alunos/as e considerando modos certos e errados de se fazer colagem. Pelo

contrário, a professora oferece uma educação “[...] para além dessa aquisição

de certos modos visíveis e externos de ação” (DEWEY, 1997, p. 23).

No entanto, ressaltamos que a educação libertária precisa, ainda, de

disciplina, em especial, aquela apreendida na infância. A disciplina, usada

com inteligência para formar hábitos, reforçar condutas e comportamentos

que, certa vez, obtiveram resultados positivos no que se refere ao

desenvolvimento dos sujeitos (DEWEY,1997).

Quando a professora motiva seus/suas alunos/as para aprender os

conteúdos científicos, ela utiliza, em mais de uma oportunidade, aquilo que

Skinner (1974) intitulou de reforço positivo. Em outras palavras, após o

desenvolvimento de atividades, Stacey comemora verbalmente, com a turma,

os acertos, aumentando, assim, a possibilidade futura da ação proceder

novamente. Neste eixo, o/a aluno/a modifica seu comportamento observando

as consequências geradas por ele, bem como desenvolve atitudes que

tenham como finalidade recompensas positivas.

A prática pedagógica de Stacey não ocorre exclusivamente na sala de

aula. Fora da escola, ela pratica uma pedagogia com os pais, com a direção

do abrigo e com membros da secretaria de Educação da cidade. Dewey

(1997) propõe cinco condições para ocorrer a aprendizagem, as quais

verificamos na prática de Stacey dentro e fora da escola. São elas: Só se

aprende o que pratica; Mas não basta praticar; Aprende-se por associação;

Não se aprende nunca uma coisa só; Toda aprendizagem deve ser integrada

à vida.

Na sala de aula, Stacey e os/as alunos/as possuem idades distintas uns

dos outros, por isso a professora leva em consideração as personalidades e

opiniões de cada um deles. Ela avalia a sala de aula como um meio social

vivo, e como qualquer ser vivo pode se transformar, alterar, modificar. Não

existem conteúdos programáticos de forma anual ou semestral. A cada aula,

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Stacey percebe as necessidades cognitivas dos/das alunos/as e oferece o

conteúdo científico pautado na prática e no diálogo.

A reconstrução consciente da experiência é recorrente para a turma de

Stacey, isto é, “[...] as experiências passadas afetam a experiência presente e

a reconstroem para que todas venham influir no futuro” (DEWEY, 1997, p.

34). O referido conceito discutido pelo autor pode ser visualizado no filme

quando Stacey trabalha matemática em sala. A cada novo acerto (prática), a

professora propõe paralelos com o que foi apreendido anteriormente. Nessa

cena do filme, também visualizamos a terceira condição proposta por Dewey

(1997), isto é, a aprendizagem ocorre por associação, ao evidenciar que a

descoberta do conhecimento é uma atividade divertida, a professora vincula a

matéria de matemática ao entusiasmo e ao prazer.

Nas palavras do autor: “Enquanto ensinamos aritmética, podemos estar

ensinando também uma atitude de desgosto pela matéria, que venha a

perdurar toda a vida” (DEWEY, 1997, p. 35). O modo como o/a professor/a

apresenta o conteúdo programado à turma será associado pelos/as alunos/as

e poderá se tornar sinônimo daquele assunto.

Stacey ilustra, em sala, que sol somado à clorofila e à fotossíntese dá

origem ao oxigênio. Com pequenas plantas nas mãos, estudando o processo

de fotossíntese, as crianças não apreendem apenas ciência, mas,

principalmente, “[...] atitudes para com a matéria, para com o mestre, para

com a escola, para com as coisas da inteligência, de certo modo para com a

vida toda” (DEWEY, 1997, p. 35).

A experiência com as plantas e o conhecimento sobre fotossíntese

demonstram que a professora Stacey trabalhou com a última condição de

Dewey (1997), a aprendizagem relacionada à vida. Ao manusearem as

plantas e entenderem como elas respiram e oferecem oxigênio aos outros

seres vivos, os/as alunos/as entenderam a importância do meio ambiente

para a sobrevivência humana. A didática de Stacey não se deu por meio de

exercícios isolados, sem coerência para as crianças e com conceitos

fragmentados. A aprendizagem ocorreu por meio de uma experiência

singular, mas muito próxima das experiências dos/as alunos/as.

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É preciso insistir: este saber necessário ao professor – de que ensinar não é transferir conhecimento – não apenas precisa ser apreendido por ele e pelos educandos nas suas razões de ser – ontológica, política, ética, epistemológica, pedagógica -, mas também precisa ser constantemente testemunhado, vivido (FREIRE, 2011, p. 47).

Neste ponto, as premissas de Freire (2011) se aproximam das de Skinner

(1974), quando este último discute a complexidade do ser humano. Para

Skinner (1974), o sujeito possui três características, são elas ‘filogenética’,

que têm relação com a história da sua espécie; ‘ontogenética’ – porque ele

em si possui uma história; peculiaridades ‘culturais’ as quais têm relação com

os aspectos culturais que os sujeitos têm vivenciado. Em ambos os autores, o

ser humano é múltiplo e suas histórias são passíveis de serem alteradas.

Para eles, a aprendizagem está ligada diretamente à mudança de

comportamento (FREIRE, 2011; SKINNER, 1974).

Nesse sentido, o/a professor/a não possui um trabalho finalizado,

concluído, pois interage com os/as alunos/as e compreende quais são suas

formas de ser e estar no mundo, conscientes de que estas formas se alteram

recorrentemente. O/a professor/a, sobretudo, age como um/a pesquisador/a,

como um/a cientista, que busca respostas para problemáticas cotidianas da

sala de aula.

Em Além da Sala de Aula, Stacey figura como cientista, visto que oferece

aos/às alunos/as a possibilidade de conhecerem música clássica e observa o

rendimento de cada um frente à experimentação de estudar ouvindo música.

Os sons de Johann Sebastian Bach e Ludwig van Beethoven se tornam

familiares para crianças, que desenvolvem atividades, ao mesmo tempo em

que cantarolam conforme a harmonia das músicas dos artistas.

A professora não deixa claro aos/às alunos/as, durante o filme, o porquê

de apresentar músicas de Bach e Beethoven, não estende o assunto, mas

corriqueiramente liga o aparelho de som para que a turma tenha acesso às

sinfonias. Assim, visualizamos as ações de Stacey como uma negação do

mundo inteligível, demonstrando que o mundo sensível, o da experiência

garante a educação musical das crianças. Mais uma vez percebemos que a

prática pedagógica da professora possui fragmentos dos pressupostos de

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Dewey (1997), bem como visualizamos que a escola do abrigo não é rígida,

concluída, mas progressista no sentido de pensar no futuro, de ampliar pontos

de vista e modos de realizar a educação, assim como defende o autor.

A escola-abrigo como progressista conforme Dewey (1997), mas também

conforme os pressupostos Behrens (2005, p. 71), que defende a educação

progressista como aquela “[...] que leva em consideração o indivíduo como

um ser que constrói sua própria história”

Analisamos, ainda, que as aulas de Stacey alteraram o comportamento e

ritmo de aprendizagem dos/as alunos/as, a professora ofereceu conhecimento

no sentido mais amplo, aquele que advém das relações interpessoais. Os

pais foram convidados pela professora para participarem das atividades

educativas. Em determinado momento do filme, Stacey solicita que a

televisão do abrigo seja desligada por, pelo menos, duas horas por dia e que

a sala de estar do local se torne um espaço adequado para que os/as

alunos/as possam realizar as tarefas com os pais.

A proposta foi aceita pelos familiares dos/as alunos/as que passaram a

acompanhar o desenvolvimento de atividades extraclasse. Neste eixo do

filme, verificamos que as relações da escola-abrigo não são fixas, nem

estáticas. Conferimos que o meio cultural dos/as alunos/as – e seus pais –

influenciou no processo de crescimento intelectual. Os pais alteraram suas

condutas em relação à professora, à aprendizagem mediada por ela, mas

também suas concepções de ensino e seus comportamentos a fim de

incentivar o estudo dos filhos.

A escola de Stacey possui os mesmos pressupostos da escola defendida

por Dewey (1997), ou seja, aquela permeada por liberdade, diálogo,

consensos, mas também contestação. A professora, assim como o autor, não

visualiza a prática educativa de modo dicotômico ou binário, mas ambos não

separam ordem de desordem, bem como teoria de prática, liberdade de

disciplina e conhecimento de interesse.

Por fim, anunciamos que, conforme a narração final do filme, a passagem

de Stacey pela escola sem nome do abrigo deu visibilidade para a

comunidade local, o que resultou na construção de uma nova sede escolar

para os moradores sem teto da cidade de Salt Lake City e a premiação da

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professora Stacey Bess pelo governo americano por fazer algo produtivo para

o país com idade de 25 anos ou menos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os filmes podem ser objetos de reflexão das teorias pedagógicas, visto

que a professora exibida em Além da Sala de Aula utiliza uma didática

passível de ser analisada e discutida pelo viés da Educação. Percebemos que

a história do filme Além da Sala de Aula não anunciou os princípios

educativos de autores da área da Educação, embora tenha trazido uma

metodologia docente semelhante ao que Dewey, entre outros pensadores,

propõe.

Em especial, ressaltamos que o papel dos/as alunos/as na construção

do saber baseou-se na disciplina, no interesse e no esforço, conceitos

discutidos por Dewey no livro Vida e Educação. Quando a turma descobre,

por meio da mediação docente de Stacey, que aprender pode ser prazeroso e

acima de tudo possível, o filme reforça a ideia de que os/as alunos/as são

ativos/as no processo de produção do conhecimento e não podem ser

considerados/as como meros/as recebedores/as das verdades difundidas em

sala de aula.

A experiência dos/as alunos/as na escola, somada à reflexão, foi

essencial para ocorrer à aprendizagem. O conhecimento propiciado pela

professora Stacey passou por diversas reconstruções ao longo do filme, uma

vez que ela experimentava práticas pedagógicas a fim de atingir seus

objetivos docentes em sala de aula, em meio às dificuldades apresentadas

pela realidade da escola-abrigo.

Stacey trabalhou o saber produzindo significados para os/as alunos/as,

o que colaborou com o despertar do interesse, bem como para a construção

do pensamento reflexivo de cada um/a deles/as. Na perspectiva de Dewey

(1997), Stacey Bess refutou a filosofia tradicional da educação, em que ocorre

a reprodução do conhecimento, uma vez que centralizou o processo de

ensino e aprendizagem no/a aluno/a e em nenhuma cena utilizou a

metodologia cartesiana, característica desse paradigma conservador da

educação.

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A escola constituiu-se no filme como instituição democrática, libertária

e crítica, espaço em que ocorre a integração do/a aluno/a, por meio de uma

relação horizontal com o/a professor/a. A busca de Stacey por transformação

social desencadeou um processo, o qual envolveu políticos – que ajudaram

na transformação da estrutura física da escola – e os familiares dos/as

alunos/as. Desse modo, identificamos que a educação exibida no filme é

aquela problematizada por John Dewey, no livro Vida e Educação.

REFERÊNCIAS

ALÉM da sala de aula. Direção: Jeff Bleckner. Produção: Andrew Gottlieb e Cameron Johann. Vinny Filmes: EUA, 2001. 1 DVD (95 min).

BEHRENS, Marilda Aparecida. O paradigma emergente e a prática pedagógica. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005. DEWEY, John. Vida e educação. São Paulo: Abril Cultural, 1997. FABRIS, Elí Terezinha Henn. As marcas culturais da pedagogia do herói. In: REUNIÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM EDUCAÇÃO (ANPEd), 24., 2001, Caxambu. Anais... Caxambu, [s.n.], 2001. Disponível em <http://www.anped.org.br/reunioes/24/T0859862556596.doc>. Acesso em: 20 fev. 2013. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2011. SKINNER, Burrhus Frederic. Ciência e comportamento humano. São Paulo: EDART, 1974.

3.1.6 O PAPEL DO TUTOR PRESENCIAL NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE

Letícia Cristina Garcia Félix de Castro

João Paulo Bittencourt

Nayara de Oliveira

Graduada em Pedagogia; Especialista em Atendimento Educacional Especializado e aluna do Programa de Pós-graduação lato sensu em EaD e as Tecnologias Educacionais pela UniCesumar – Centro Universitário Cesumar; Maringá – PR; UNICESUMAR. Graduado em Pedagogia pela Faculdade Integrado de Campo Mourão e aluno do Programa de Pós-graduação lato sensu em EaD e as Tecnologias Educacionais pela UniCesumar – Centro Universitário Cesumar;Maringá – PR; UNICESUMAR.

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RESUMO O presente trabalho pretende refletir acerca da atividade docente na Educação a Distância (EaD), tendo em vista que com o advento da era tecnológica esta modalidade passou de uma fase em que se valia de recursos precários para um momento em que dispõe dos mais avançados recursos tecnológicos para a mediar a relação entre o aluno e o conhecimento. Assim, as novas demandas surgidas com a utilização chamadas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), fizeram com que o papel tradicional do professor cedesse espaço para a categoria denominada tutor. O tutor tem como papel estar presente na trajetória da formação profissional do aluno e promover a interação entre este e o conhecimento. Deste modo, tendo como respaldo as considerações de estudiosos como Mattar (2011) e Machado (2011), discorreu-se acerca do papel do tutor presencial no processo de ensino-aprendizagem no ensino a distância. Palavras-chave: Educação a Distância. Tutor presencial. Ensino-

aprendizagem. INTRODUÇÃO

Muitos são os estudiosos que debatem a problemática da Educação a

Distância (EaD), buscando uma definição para tal termo que contemple as

complexidades implicadas nesta modalidade de ensino tanto no que tangem

os avanços tecnológicos quanto a atuação docente, tendo em vista que a

revolução ocorrida com o advento da internet que reconfigurou o panorama

educacional ao passo em que as tecnologias abrem margem para novas

práticas pedagógicas e assim uma nova forma desse conceber a relação

conhecimento-professor-aluno.

A EaD, embora hoje esteja bastante atrelada ao que há de mais

avançado em termos de tecnologia, teve sua gênese na utilização de

instrumentos hoje considerados como obsoletos, podendo citar como exemplo

os cursos por correspondência no século XIX ou até mesmo as videoaulas

bastante utilizadas nos anos 1990, mas que hoje foram substituídos pelas

chamadas mídias digitais.

Graduada em Letras pela Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão; Especialista em Estudos da Linguagem pela FECILCAM; Aluna do Programa de Pós-graduação stricto sensu em Letras pela UNICENTRO; Maringá – PR; UNICESUMAR. Correspondência: Rua Mandaguari, nº805 apto 01. Zona 07, CEP: 87020-230 Maringá – Paraná. E-mail: [email protected]

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Em um mundo cada vez mais globalizado e com as distâncias

geográficas cada vez mais estreitadas pelo uso dos meios de comunicação, a

EaD surge enquanto modalidade de ensino que possibilita que indivíduos

geograficamente dispersos estejam interligados ao processo de ensino-

aprendizagem por meio das tecnologias, dando novos significados ao papel

de todos envolvidos neste processo, ou seja, as novas configurações

atribuídas pela expansão do alcance da EaD propõe uma nova perspectiva

tanto sobre a função do discente quanto do papel docente, extrapolando os

limites da visão tradicional de educação que preconiza que os agentes do

processo educacional necessitam estar situados em um mesmo espaço, visto

que a tradicional sala de aula cada vez mais cede lugar para a utilização para

os chamados Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA).

De acordo com Belloni (2002), o panorama da EaD na sociedade

capitalista implica em diversas problemáticas, como a utilização das

inovações tecnológica como as Tecnologias de Informação e Comunicação

(TIC), o que faz deste processo de aproximação entre os indivíduos por meio

das tecnologias “um fenômeno social que transcende o campo da educação

propriamente dita, para situar-se no nível mais geral do papel da ciência e da

técnica nas sociedades industriais modernas” (BELLONI, 2002, p. 119).

Tendo em vista que a realidade brasileira ainda é marcada pelas

desigualdades sociais, a EaD surge enquanto uma opção na democratização

ao acesso ao ensino superior, visto que, mesmo nas comunidades mais

remotas, as tecnologias viabilizam que os alunos tenham acesso a uma

educação de qualidade.

Assim, se faz necessário discutir a função de cada agente envolvido no

processo de ensino-aprendizagem na modalidade de ensino a distância, visto

que, ao passo em que as tecnologias são entendidas como instrumento

facilitador do conhecimento, porém não substituem o papel do docente, que

passa a ser chamado de tutor, posto que a interação existente entre este

profissional seus alunos diverge da visão tradicional de professor. Deste

modo, o presente trabalho reflete acerca as transformações ocorridas ao

longo da implementação da EaD no Brasil, sobretudo com o advento da era

digital, preconizando o papel do tutor presencial enquanto um elemento

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fundamental para a formação discente, ao passo em que este é percebido

como facilitador do conhecimento.

2 PERCURSO HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO BRASIL

Mattar (2011) compreende que a história da evolução da EaD no Brasil

divide-se em três grandes gerações: (1) O curso por correspondência, (2)

Novas mídias e Universidades e (3) EaD online. Cada uma destas fases é

marcada pelas transformações ocorridas na sociedade com o advento de

tecnologias que contribuíram para que o ensino a distância fosse

gradualmente lapidado.

A 1ª geração foi classificada como ‘Curso por correspondência’,

surgindo por volta do século XIX, tendo como facilitador para o

desenvolvimento deste processo os avanços dos meios de transporte (trens)

e os meios de comunicação como o correio.

Ainda sobre a 1ª geração, Souza e Silva (2011) discorrem que esses

cursos eram direcionados a formação de profissionais de áreas como: a

datilografia, o corte e costura entre outros. Assim como a aprendizagem, a

avaliação também era feita totalmente à distância. Pela dificuldade desse

método depender de alguns fatores, principalmente por parte do trabalho dos

correios, não houve incentivo por parte do governo para que este sistema se

expandisse, como afirmam Maia e Mattar (2007, p. 24) ao dizerem que “o

ensino por correspondência recebeu reduzido incentivo por parte das

autoridades educacionais e órgãos governamentais”.

Sobre a 2ª fase, chamada ‘Novas mídias e Universidades abertas’,

Mattar (2011) diz que as novas mídias surgem para auxiliar na EaD no

processo de expansão da modalidade. Os meios encontrados foram o uso da

televisão, rádio, fitas de áudio, vídeo e telefone. Um momento que marca

essa fase é a abertura das Universidades abertas como coloca o autor:

[...] influenciadas pelo modelo da Open Universit, fundada em 1969. Essas universidades abertas utilizarão intensamente mídias como rádios, televisão, vídeos, fita cassetes e centros de estudo, realizando diversas experiências pedagógicas. Com essas experiências, cresce o interesse pela EaD.

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Surgem, então, as mega universidades abertas a distância (MATTAR, 2011, p. 5).

Apesar do crescimento da modalidade à distância, esta se mostrava

enquanto uma experiência inovadora para época o que provou certo receio

em sua aceitação por parte dos órgãos responsáveis pela educação, sendo

apenas na década de 1990 o governo, as universidades tradicionais e as

empresas privada assumem interesses e começam a investir nesse modelo.

Previato e Matos (2011) abordam a evolução em 1991, ano em que foi

criado o Jornal Educação, da Secretaria do Ministério da Educação, um canal

educativo disponível a todos que dispunham de um aparelho de televisão.

Depois disto, muitos outros programas surgem com objetivo de atingir a

massa como, por exemplo, o Telecurso 2000 idealizado pela rede Globo de

Televisão, que por muitos anos foi transmitido na TV aberta, o que

possibilitava o acesso para todas as camadas da sociedade.

A 3ª e última fase trata da ‘EaD online’, período que aproxima da nossa

realidade e das novas tecnologias. Mattar (2011) afirma que nesta fase já

podemos identificar o surgimento dos vídeos-texto, hipertexto e de redes de

computadores. Apesar das transformações tecnológicas existentes hoje,

muitas destas tecnologias ainda continuam sendo usado por instituições de

todo país. Em 1995, com a grande acessibilidade da internet ao público, uma

grande ferramenta no processo ensino-aprendizagem aparece o Ambiente

Virtual de Aprendizagem (AVA), um espaço que facilitaria a interação do

aluno com os professores, tutores e colegas, um ambiente prático e

totalmente flexível.

Atualmente, inúmeras instituições oferecem a modalidade a distância

por todo o país, preconizando o acesso ao conhecimento por meio das TIC e

que demanda uma significativa gama de profissionais dispostos a encarar os

desafios do ensino nesta modalidade. Algumas instituições conciliam a oferta

de cursos a distância com cursos presenciais.

Em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB)

aprova a lei do ensino a distância em várias modalidades. A partir deste

momento, as instituições de ensino superior passam a ter seu próprio capítulo

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dentro da LDB. É o que nos mostra essa passagem escrita no artigo de

Machado (2011, p. 1341), está

No Brasil, as bases legais para a modalidade de educação a distância foram estabelecidas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996), que foi regulamentada pelo Decreto n.º 5.622, publicado no D.O.U. de 20/12/05. Este revogou o Decreto n.º 2.494, de 10 de fevereiro de 1998, e o Decreto n.º 2.561, de 27 de abril de 1998 com a normatização definida na Portaria Ministerial n.º 4.361, de 2004 (que revogou a Portaria Ministerial n.º 301, de 07 de abril de 1998).

Deste modo, percebemos que nos últimos tempos houve a expansão

da modalidade EaD, surgindo a oferta de cursos a distância por todo o país,

escrevendo um novo capítulo para educação superior em diferentes áreas do

conhecimento e dando um novo panorama no que tangem as relações entre o

conhecimento na sociedade moderna e as formas de propagação da

informação.

A qualidade do ensino a Distância não deixa a desejar comparado com

o ensino presencial, da mesma forma exige dos alunos disciplina e

conhecimento. Esse modelo pedagógico desenvolve no aluno outras

propriedades, como exemplo habilidade com uso da tecnologia. É o que

mostra Machado (2011, p. 13411) quando afirma que

Essa normatização deixa claro a nós que a EaD não é uma modalidade de ensino de qualidade inferior às tradicionais. Não há dúvida que existem preconceitos, porém a EaD não carece de aparato legal. Por vezes falta conhecimento dos próprios profissionais que atuam na área sobre a legislação que ampara o trabalho que desempenham. O aspecto legal é um ponto fundamental para derrubar preconceitos com relação à EaD e deixar cada vez mais claro a seriedade dessa modalidade de ensino, bem como o fato de que se pode aprender tanto quanto num modelo tradicional (MACHADO, 2011, p. 13411). .

O preconceito sob essa modalidade ainda é grande, Machado (2011)

comenta que é necessário que os profissionais da educação devam agir de

modo a romper os paradigmas existentes com relação ao processo de ensino-

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

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aprendizagem, ao passo em que os velhos dogmas que por muito tempo

implicaram na noção de ensino entre quatro paredes deve ceder espaço para

a nova configuração social erigida em meio à era tecnológica. O EaD é um

sistema que apresenta claramente seus objetivos e a metodologia pela qual

pretende chegar aos resultados que se espera da formação profissional no

ensino superior.

3 A ORGANIZAÇÃO DOS PAPÉIS DOS DOCENTES NA EDUCAÇÃO A

DISTÂNCIA

Segundo Hack (2011), a EaD deve ser entendida como uma

modalidade de ensino capaz de realizar o processo de construção do

conhecimento de maneira crítica, contextualizada e criativa, no momento em

que o encontro presencial do educador/educando não ocorrer, promovendo-

se a comunicação educativa por meio de múltiplas tecnologias.

Neste sentido, o aluno não é isolado, pois a modalidade de ensino

deverá manter a interatividade constante entre os alunos e professores de

maneira dialógica, mas o papel do discente na EaD preconiza a ideia de

autonomia, posto que este será responsável pela organização de seu tempo,

exigindo deste uma postura de dedicação à sua formação profissional.

As instituições de Ensino Superior devem planejar e estruturar os

profissionais para atuarem na EaD de acordo com o chamado Referencial de

Qualidade para a Educação Superior a Distância concebidos pelo Ministério

da Educação (MEC). Com relação à organização do trabalho docente, o

Referencial do MEC preconiza o seguinte modelo:

Corpo Docente, Corpo de Tutores, Corpo Técnico-Administrativo e Discente; a) Corpo docente, vinculado à própria instituição, com formação e experiência na área de ensino e em educação a distância; b) Corpo de tutores com qualificação adequada ao projeto do curso; c) Corpo de técnico-administrativos integrado ao curso e que presta suporte adequado, tanto na sede como nos polos;

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

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d) Apoio à participação dos estudantes nas atividades pertinentes ao curso, bem como em eventos externos e internos (BRASIL, 2007, p. 18).

O professor na EaD é responsável pela mediação entre o

conhecimento científico e o aluno, atuando como motivador do processo de

interação. Sendo assim, o docente deve assumir novos papéis no processo

de ensino-aprendizagem posto que, diferentemente do ensino tradicional que

enfoca o professor como único detentor do conhecimento, a EaD compreende

que a função docente reside na ideia do professor enquanto facilitador do

processo de apreensão dos conhecimento.

Mattar (2011, p. 78), ao discutir a questão do docente na EaD, nos diz

que

[...] O docente online independente é aquele professor que planeja, desenvolve, divulga, implanta e oferece de forma autônoma os seus cursos, utilizando tecnologias da comunicação e da informação, especialmente a internet. Ou seja, ele não participa apenas da tutoria, mas também dos momentos pré-curso (concepção, desenvolvimento de conteúdo e atividades entre outros) e pós-curso (avaliação dos cursos etc.).

Percebemos na fala do estudioso a preocupação de contemplar na

descrição das funções do docente na EaD todo o processo que envolve sua

atuação enquanto tutor. Mattar (2011) compreende que o papel do tutor está

para além da transmissão de conteúdo, posto que seja este profissional quem

deverá selecionar, organizar e sistematizar sua didática sempre se

preocupando com a qualidade do ensino ofertado.

Assim, o professor assume diferentes papéis na educação, porém é

necessário que os conhecimentos didáticos sejam inseridos em sua formação

tanto quanto em sua prática pedagógica, pois a atuação docente será

influenciada por sua didática e este fator implica diretamente na

aprendizagem. Se o professor não tem o domínio dos conteúdos, não

relaciona os conhecimentos que transmite às experiências dos alunos e suas

realidades, sua prática pedagógica trará graves consequências para a

formação do discente, como afirmam Brito e Purificação (2008, p. 45) ao

dizerem que em termos de prática pedagógica “o professor é aquele que,

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

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tendo adquirido o nível de cultura necessário para o desempenho de sua

atividade, dá direção ao ensino e à aprendizagem”.

As tecnologias são ferramentas fundamentais para o desenvolvimento

deste trabalho, pois são os meios pelos quais o aluno terá acesso aos

conhecimentos necessários para sua formação, portando o domínio das

chamadas TIC são fundamentais para garantir que o aluno tenha êxito em

seus estudos. Os recursos multimídias atuam como princípio básico na EaD,

porém exigem certas mudanças que devem ser realizadas no trabalho dos

que atuam nesta modalidade, pois devido ao fato de as salas serem virtuais,

sem o professor presente fisicamente, oferece mais liberdade aos estudantes,

é preciso a realização de uma mediação, buscando meios para motivar e

estimular a vontade de obter conhecimento.

Dias (2011) afirma que o processo de ensino e aprendizagem na EaD

deve ser desenvolvido por diversos agentes articulados ao passo em que

para que os objetivos sejam alcançados é fundamental que cada um

reconheça sua função sendo um aspecto relevante a definição de papéis de

cada envolvido, como professores titulares, conteudistas, mediadores ou

tutores.

Em relação a esta divisão, Maia e Mattar (2007) destacam que a

educação neste modelo de ensino é referida não mais como uma única ação,

mas sim um conjunto que envolve desde a preparação do material para o

ensino até a aula ao vivo pelo professor mediador e tutor mediador, passando

ainda pela elaboração das atividades que tanto auxiliam o aluno a assimilar

os conhecimentos como deverão ser elaboradas de modo a avaliar o

progresso do aluno ao longo da aplicação dos conteúdos.

A estrutura docente da EaD pode ser dividida entre as seguintes

funções: professor formador, conteudista, mediador, tutor online e presencial.

Sobre este modelo de divisão de funções do docente no ensino a distância,

Belloni (2006, p. 63) afirma que:

[...] podemos agrupar as funções docentes em três grandes: o primeiro é responsável pela concepção e realização dos cursos e materiais; o segundo assegura o planejamento e organização da distribuição de materiais e da administração acadêmica (matrícula, avaliação); e o terceiro responsabiliza-se pelo

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

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acompanhando do estudante durante o processo de aprendizagem (tutoria, aconselhamento e avaliação).

O professor formador possui função definida, porém não limitada, pois

o mesmo atua como uma extensão da definição de docente, tendo como

papel transferir ao aluno o conhecimento adquirido, desenvolvendo no mesmo

um perfil reflexivo e crítico. Assim, a essência do trabalho do professor

formador consiste em orientar os estudos dos alunos, influenciando o discente

por meio de sua práxis a atividade de pesquisa, processamento de

informações, e a própria ação de aprender, ou seja, assimilar os conteúdos

ensinados de modo que estes sejam internalizados e depois refletidos em sua

atuação profissional.

Dias (2011) atribui ao professor formador a função de elaborar as aulas

e ministrá-las ao vivo uma vez por semana ou quinzenalmente, dependendo

da instituição. Na atuação docente, este professor deve ser dinâmico,

estimulador e conhecedor dos conteúdos.

O professor conteudista desenvolve os materiais que serão a base do

andamento das disciplinas, atua na organização pedagógica e também na

preparação dos conteúdos que serão apresentados para os alunos. Essas

funções do conteudista podem ser aplicadas ao formador, de acordo com os

critérios de cada instituição, ou seja, um mesmo profissional pode ser ao

mesmo tempo professor formador, aquele que ministrará a aula, e professor

conteudista, aquele que selecionou e sistematizou os conteúdos no material

didático da disciplina.

Para ressaltar a importância do professor conteudista, Fiorentini (2005,

p. 162) afirma que:

É relevante e significativo que as informações e os materiais de estudo sejam usados de modo intencional e orientados de acordo com os propósitos e as metas educativas nas atividades de ensino-aprendizagem, pois não possuem um valor por si só. Sua possível relevância e significação apresentam-se em função dos propósitos (intencionalidades), das concepções norteadoras das ações e da influência que possam exercer para logar a aprendizagem pretendida, na medida em que mediam os sujeitos (professor – alunos – comunidade) e o conhecimento, organizando-se em um dado

momento (FIORENTINI, 2005, p. 162).

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

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Neste sentido, se o material disponibilizado ao aluno não for adequado,

a aprendizagem será comprometida mesmo com a didática do professor

formador e com a atuação dos outros profissionais, pois o material tem como

função, além de facilitar a comunicação e o entendimento, ser o instrumento

de estimulação do aluno para buscar o conhecimento.

Apesar de toda a autonomia que o aluno EaD possui sobre o processo

de aprendizagem, é fundamental a atuação do tutor mediador, visto que este

é o educador que sugere novos caminhos, promove a interação entre os

conteúdos, induz o aluno a criar e repensar conceitos, acompanhando e

direcionando a vida acadêmica do aluno ao longo do curso.

Sobre a importância do tutor mediador, Azevedo (2008, p. 25) discorre

que

[...] nesse processo de construção do conhecimento, que envolve diferentes atores e tem no tutor um personagem fundamental, é necessário entender a aprendizagem como pessoal, potencializada pelo grupo, com interferência da ação dos orientadores acadêmicos, visando a obter objetivos bem marcados e definidos.

O trabalho docente de qualidade em EaD, segundo Mattar (2011),

necessita de incentivo à formação continuada e não apenas simples

treinamentos para o uso das tecnologias da informação e comunicação. Em

todos os aspectos na modalidade à distância, o professor tem um destaque e

uma nova função, integrando ferramentas e tendências que garantirão o

sucesso duradouro da modalidade e o ensino de qualidade para os alunos.

4 O TUTOR PRESENCIAL NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

As ações de orientação aos alunos devem ser pautadas no respeito e

na interação para que o educando compreenda a real função da

aprendizagem e assim possa reconhecer o tutor que o acompanhará como

motivador, orientando seus alunos quanto a compreensão dos conteúdos e

utilização de todos os recursos disponíveis para sua aprendizagem.

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

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Para destacar a função didática do tutor presencial, citaremos o modelo

adotado pelo Núcleo de Educação a Distância (NEaD) da

Unicesumar/Maringá (PR), problematizando as funções de seus tutores

presenciais. Nesta instituição, a tutoria está organizada em duas

modalidades: presencial e a distância, considerando-se então a atuação dos

tutores mediadores/ tutores online e dos tutores de polo. Os tutores

mediadores e online atuam a distância, mediando a construção do

conhecimento com os acadêmicos que se encontram geograficamente

dispersos, ou seja, tais tutores interagem com os alunos por meio do

Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). As diretrizes sobre a atuação do

tutor presencial aqui relatadas foram extraídas do Referencial de Qualidade

para a Educação Superior a Distância, documento este que regula a

modalidade EaD no Brasil.

A tutoria presencial ocorre nos polos ao passo em que o tutor

presencial auxilia o aluno a desenvolver a disciplina do estudo, sendo esta

necessária para o seu processo de formação. Dentre as funções do tutor

presencial, de acordo com o modelo adotado pela instituição, podemos

destacar as seguintes: (1) estimular os acadêmicos a adquirirem o hábito de

estudos; (2) auxiliá-los com o uso das tecnologias da informação e

comunicação, bem como o acesso ao ambiente virtual de aprendizagem; (3)

acompanhamento do aluno na aplicação de provas e também realização de

atividades presenciais obrigatórias; (4) promoção de projetos de ensino e

extensão, entre outras atividades.

A orientação do MEC sobre o sistema de tutoria na EaD diz que

[...] em um curso a distância o estudante deve ser o centro do processo educacional e a interação deve ser apoiada em um adequado sistema de tutoria e de um ambiente computacional, especialmente implementado para atendimento às necessidades do estudante. Como estratégia, a interação deve proporcionar a cooperação entre os estudantes, propiciando a formação de grupos de estudos e comunidades de aprendizagem (BRASIL, 2007, p. 12).

Na EaD, o tutor percorre a trajetória da formação discente ao lado do

aluno, propiciando uma troca mútua de conhecimentos. Assim, compete a

este profissional promover a autonomia dos alunos e o desenvolvimento de

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

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seu senso crítico, sendo sua função, embora seu trabalho não esteja

diretamente relacionado aos conteúdos como é o caso dos tutores

mediadores, professores formadores e/ou conteudistas, posto que o tutor

presencial deva estar atento às necessidades acadêmicas dos alunos, seja na

realização das atividades, seja na manipulação das TIC.

Tendo o papel de facilitador da aprendizagem, o tutor motiva, orienta,

dirige e avalia as situações de aprendizagem, conduzindo o aluno para o

desenvolvimento de sua curiosidade e ao aproveitamento do tempo e do

espaço educativo. Quando o aluno exerce seu ‘estado curioso’, como ele

cita, encontra sua ânsia pelo ato de conhecer e aprender, o que implica em

disponibilizar a ele diferentes estratégias de estudo.

O Núcleo de Educação a Distância (NEaD/Unicesumar) estabelece

como função da tutoria presencial: (1) a orientação e motivação dos alunos a

participarem das aulas via chat e atividades em geral; (2) acompanhar no

sistema da instituição o desenvolvimento do processo de aprendizagem do

acadêmico evitando a evasão; (3) realiza orientações frequentes sobre o

acesso ao ambiente virtual de aprendizagem; (4) esclarecimento de dúvidas

sobre a metodologia de ensino; (5) estabelecimento de vínculo entre o aluno

e a instituição de ensino; (6) além de realizar processos administrativos como

registro de presença entre outros.

Sendo assim, o papel do tutor presencial inicia-se no primeiro contato

com o aluno, no qual deve expressar atitudes de receptividade para que o

aluno sinta-se seguro e motivado para iniciar sua trajetória acadêmica na

EaD. O tutor presencial deve ainda ministrar treinamentos presenciais que

informarão aos estudantes sobre a estrutura e funcionamento do sistema de

EaD e a forma como lidar dos recursos didáticos disponíveis para a

aprendizagem. Para desempenhar seu papel de maneira satisfatória, o tutor

deve manter seu perfil profissional e almejar seu principal objetivo: a

aprendizagem satisfatória de seus alunos, auxiliando-os não só nos

conteúdos específicos, mas contribuindo na formação de profissionais éticos

e atuantes na sociedade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

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A modalidade de ensino a distância vem cada vez mais quebrando

paradigmas acerca da concepção de ensino, revelando-se enquanto um sério

e comprometido sistema de formação profissional, com vistas para a

formação de sujeitos aptos a atuarem na sociedade. Com o advento das

tecnologias, a EaD passou de um estágio no qual dispunha de recursos

limitados para se configurar enquanto uma modalidade de ensino

democrática, possibilitando a pessoas de áreas remotas o acesso ao ensino

superior por meio das TIC.

Ao compreender a complexidade em ofertar educação de qualidade na

modalidade à distância, é fundamental que a ação docente dos tutores tenha

sempre em vista o desenvolvimento de ações que possam contribuir para que

os alunos, ao finalizarem suas atividades acadêmicas, estejam preparados

para o mercado de trabalho.

Assim, a EaD se configura enquanto um interessante meio de

promoção do conhecimento, tendo acompanhado os avanços tecnológicos

com uma visão inovadora sobre a educação. O papel do tutor presencial se

revela de suma importância na EaD, posto que este é o profissional

responsável por acompanhar a vida acadêmica do aluno desde sua inserção

no curso de graduação, estreitando a relação entre o discente e a instituição e

realizando a promoção do conhecimento com vista para a formação de

profissionais cidadãos, conscientes de seus papéis na sociedade.

REFERÊNCIAS

AZEVEDO, Adriana Barroso de. Tutoria em EAD para além dos elementos técnicos e pedagógicos. Vitória, 2008. Palestra apresentada no III Seminário EAD – UFES – Formação de professores, tutores e coordenadores de polos para UAB. BELLONI, Maria Luiza. Ensaio sobre a educação a distância no Brasil. Educação & Sociedade, Campinas, SP, v. 23, n. 78, p.117-142, abr. 2002. BELLONI, Maria Luiza. Educação a distância. 4. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2006.

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

151

BRASIL. Referenciais de qualidade para educação superior a distância. Brasília, DF, 2007. Disponível em <http://portal.mec.gov.br/> Acesso em: 23 jun. 2014. BRITO, Gláucia da Silva; PURIFICAÇÃO, Ivonélia da. Educação e novas tecnologias um re-pensar. 2. ed. Curitiba: Ibpex, 2008. DIAS, Diego Figueiredo. Gestão, estrutura e funcionamento de cursos em EAD. Maringá: Cesumar, 2011. FIORENTINI, Leda Maria Rangearo . Materiais escritos nos processos formativos a distância: tecnologias na educação de professores a distância. In: ALMEIDA, Maria Elizabeth Bianconcini de; MORAN, José Manuel. Integração das tecnologias na educação. Brasília, DF: Ministério da Educação: SEED, 2005. p. 160-166. HACK, Josias Ricardo. Introdução à educação a distância. Florianópolis: LLV/CCE/UFSC, 2011. MACHADO, Diane Cristina de Almeida; LOPES, Luis Fernando. A importância de práticas tutorias nos cursos superiores na modalidade à distância. In: CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO – EDUCERE, 10., 2011, Curitiba. Anais... Curitiba: Pontifícia Universidade Católica do Paraná, 2011. p. 13408-13417. Disponível em: <http://educere.bruc.com.br/CD2011/pdf/5792_2694.pdf>. Acesso em: 24 jun. 2014. MAIA, Carmem; MATTAR, João. ABC da EaD: a educação a distância hoje. São Paulo: Pearson, 2007. Disponível em: <http://joaomattar.com/blog/1-abc-da-ead/>. Acesso em: 24 jun. 2014. MATTAR, João. Guia de educação a distância: portal da educação. São Paulo, 2011. Disponível em: < http://joaomattar.com/blog/guia-de-ead/>. Acesso em: 24 jun. 2014. SOUZA, Marcia Previato de; SILVA, Willian Victor Kendrick de Matos. Fundamentos históricos da educação a distância: políticas e práticas do EaD no Brasil. Maringá, 2011.

3.1.7 O PERFIL DOS IDOSOS ASILADOS NA CIDADE DE MARINGÁ

Ana Claudia Marassi Spineli RESUMO O presente trabalho tem por objetivo apresentar o perfil dos idosos asilados na cidade de Maringá, por meio de pesquisa realizada em algumas dessas

Mestre em Ciência Jurídica pelo CESUMAR. Advogada e professora de graduação e pós graduação.

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

152

casas. Consiste em questões objetivas respondidas por administradores dos asilos. Para isso, também faz uma verificação bibliográfica, definindo idoso e abordando o princípio da dignidade humana garantido pela legislação brasileira. A proteção dos idosos é determinação constitucional, visto que seus direitos estão garantidos no Estatuto do Idoso. O aumento de idosos na população do Brasil é uma realidade e cada vez mais estas pessoas precisarão de amparo social e familiar. O idoso deve ter vida digna e respeito por tudo que já contribuiu para a sociedade. Dessa forma, verifica-se que o idoso não vive com sua família, por vários motivos, passando seus últimos dias em asilos. Porém, em asilos ou no ambiente familiar, o idoso precisa viver com dignidade e respeito. Palavras-chave: Idoso. Vida digna. Asilo.

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como escopo apresentar o perfil dos idosos

asilados na cidade de Maringá, através de pesquisa com questões objetivas

respondidas por administradores de algumas dessas casas, realizada pela

bacharel em direito Tatiane de Souza Almeida.

Para melhor compreensão, verifica-se o conceito de idoso, inclusive,

pela legislação pátria, constatando que há um crescimento avançado da

população idosa no Brasil.

Em razão disso, o trabalho também aborda a necessidade de

tratamento digno ao idoso, além da proteção dada pela legislação pátria.

Para a compreensão dessa temática, inicia-se com a definição de idoso

e um panorama geral dos motivos que causaram o aumento na população

dessa faixa etária.

Analisa-se, então, se o idoso tem proteção legislativa e está amparado

pelo princípio da dignidade.

Diante da realidade do idoso asilado, pretende-se apresentar fatores

responsáveis por esse fato.

Por fim, apresenta o resultado da pesquisa realizada nos asilos da

cidade de Maringá, para identificar, por esta amostragem, o perfil do idoso

asilado.

2 DO IDOSO

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

153

Ao longo da existência da humanidade, a conceituação de idoso

passou por várias alterações decorrentes da sua importância para o grupo em

que vivia.

A velhice é determinada por mudanças fisiológicas que causam

desgaste físico produzido no decorrer dos anos (GUELFI, 2011).

O conceito de idoso pode ser apresentado na concepção temporal,

psicobiológico, econômico-financeiro, social e legal. Assim, “[...] a idade pode

ser biológica ou sociológica à medida que se focaliza o envelhecimento em

diferentes proporções das várias capacidades dos indivíduos” (DOURADO,

2002, p. 97).

Wladimir Novaes Martinez (2005) define idoso pela quantidade de anos

de idade da pessoa, comprovada por documento, como, por exemplo, a

certidão de nascimento.

Como expressão social, Eneida Gonçalves de Macedo Haddad (1986,

p. 134) define a velhice “na promoção e na reconstrução de sua identidade e

no resgate do vínculo com os familiares”.

A Lei nº 10.741/2003, denominada de Estatuto do Idoso (BRASIL,

2003), define-o como aquele que tem idade igual ou superior a 60 (sessenta)

anos, adotando a determinação da Organização Mundial da Saúde para os

países em desenvolvimento, já que para os países desenvolvidos indica a

idade base de 65 (sessenta e cinco) anos.

Merece observar que o “envelhecimento tem, sobretudo, uma

dimensão existencial e, como todas as situações humanas, modificam a

relação do homem com o tempo, com o mundo e com suas próprias histórias”

(BEAUVOIR, 1990).

As alterações variam de indivíduo para indivíduo e determinam, ao

longo do tempo, uma mudança no corpo de forma irreversível, aumentando as

suas condições de risco e possibilitando, assim, maior probabilidade de

morte.

É uma realidade mundial que a população idosa vem aumentando a

cada dia.

Um dos motivos do aumento de idosos, no século XX, é a diminuição

de óbitos, ou seja, com os avanços científicos na área da medicina, há mais

estimativa de vida da pessoa.

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

154

Rita de Cássia da Silva Oliveira (1999, p. 134) destaca que:

[...] a partir de 40, com o advento dos antibióticos, melhorias no saneamento básico e uma melhor consciência quanto às medidas de higiene ajudaram a evitar as doenças. Com a diminuição dessas causas de óbito, aumentou a sobrevivência entre os mais jovens, baixando a mortalidade infantil, beneficiando de certa forma a mortalidade proporcional aos grupos etários mais velhos.

Verifica-se que “na década de 60, apenas 5% da população tinham

mais de 60 anos, as previsões para 2020 são de 13% da população com essa

idade ou mais” (DOURADO, 2002, p. 97).

Segundo dados do IBGE, a ‘população brasileira envelhece em ritmo

acelerado’, diminuindo a proporção de jovens e aumentando a de idosos.

O Censo 2010 afirmou que:

A representatividade dos grupos etários no total da população em 2010 é menor que a observada em 2000 para todas as faixas com idade até 25 anos, ao passo que os demais grupos etários aumentaram suas participações na última década. [...] Simultaneamente, o alargamento do topo da pirâmide etária pode ser observado pelo crescimento da participação relativa da população com 65 anos ou mais, que era de 4,8% em 1991, passando a 5,9% em 2000 e chegando a 7,4% em 2010. Os grupos etários de menores de 20 anos já apresentam uma diminuição absoluta no seu contingente. O crescimento absoluto da população do Brasil nestes últimos dez anos se deu principalmente em função do crescimento da população adulta, com destaque também para o aumento da participação da população idosa (IBGE, 2012, p. 4).

Numa análise regional do país, o IBGE apresenta o seguinte

levantamento sobre o envelhecimento da população

A região Norte, apesar do contínuo envelhecimento observado nas duas últimas décadas, ainda apresenta uma estrutura bastante jovem, devido aos altos níveis de fecundidade no passado. [...]. Já a proporção de idosos de 65 anos ou mais passou de 3,0% em 1991 e 3,6% em 2000 para 4,6% em 2010. A região Nordeste [...]. Já a proporção de idosos passou de 5,1% em 1991 a 5,8% em 2000 e 7,2% em 2010. Sudeste e Sul apresentam evolução semelhante da estrutura etária, mantendo-se como as duas regiões mais envelhecidas do País. [...]. A região Centro-Oeste apresenta uma estrutura

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

155

etária e uma evolução semelhantes às do conjunto da população do Brasil [...]. A população de idosos teve um crescimento, passando de 3,3% em 1991, para 4,3% em 2000 e 5,8% em 2010 (IBGE, 2012, p. 4).

Apesar desses dados, “o Brasil ainda não equacionou satisfatoriamente

a situação do idoso” (OLIVEIRA, 1999, p. 127).

Vale ressaltar que o envelhecimento acarreta alterações nos papéis

sociais e, consequentemente, o idoso fica esquecido, porém a velhice merece

valorização social, inclusive com a sua inclusão no mercado de trabalho.

3 A DIGNIDADE DO IDOSO ASILADO

O processo de envelhecimento tem transformado, inclusive, o ambiente

familiar, trazendo grandes impactos sobre a família.

Neste aspecto, observa-se que

No passado, a família era patriarcal e, em seu bojo, viviam velhos, jovens e crianças, as gerações passavam o facho cultural de uma para outra, e o velho patriarca coordenava a estrutura familiar até o fim, sendo substituído pelo filho primogênito. A família nuclear trouxe uma nova realidade na qual o velho passa a ser excluído. E, quando o idoso dele participa, seu papel é subalterno (BULLA, 2009, p. 19).

O idoso, durante anos, foi considerado um símbolo de sabedoria,

porém, hodiernamente, não é tão respeitado, apesar do aumento da

população idosa.

O Brasil sempre foi considerado um país de jovens, mas, hoje, houve

uma alteração nessa situação e a preocupação efetiva com essa realidade

não acompanhou essa nova situação social.

As famílias, também, não se prepararam para o acolhimento do idoso

no seu ambiente familiar. A correria do dia a dia e a profissionalização da

mulher são algumas justificativas para a segregação do idoso em asilos, que,

por causa da debilitação física, necessita de mais cuidados.

Foram realizadas pesquisas com intuito de identificar os motivos que

levaram os idosos a viver em asilos. Cortelletti, Casara e Herédia (2004, p.

18) concluiu, então, que

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

156

[...] os principais motivos da admissão de idosos em asilos é a falta de respaldo familiar relacionado a dificuldades financeiras, distúrbios de comportamento e precariedade nas condições de saúde [...].

Além da ausência de parentes ou por abandono familiar. Segundo,

Cátia Andrade Silva (2007, p. 2).

O processo de asilamento conduz a um distanciamento progressivo entre os idosos e seus familiares, chegando às vezes ao abandono, embora este possa ocorrer desde o início do processo. Em consequência, o idoso desliga-se do mundo no qual vivia e de sua história, entregando-se à rotina da instituição.

O gerontologista, Papaléo Netto (2000, p. 92), afirma que

[...] mesmo dentro das instituições, para a vida do idoso o ambiente familiar é crucial, pois o contato com a família permite que os idosos se mantenham próximos ao seu meio natural de vida (própria família).

Ana Amélia Camarano (2007, p. 52) reitera

A convivência do idoso em família é algo que merece uma reflexão, por ser ela uma das instituições mais importantes e eficientes no tocante ao bem estar dos indivíduos e à distribuição de recursos. Em todas as fases da vida o núcleo familiar exerce uma importância fundamental no fortalecimento das relações interpessoais.

A partir de determinado momento da vida, o indivíduo vai se tornando

inútil tanto no papel social quanto no trabalho, logo isso também acontece, na

maioria das vezes, dentro do âmbito familiar, sendo a classe idosa rejeitada e

deixada no asilo.

O processo de envelhecimento já é doloroso, pois significa a última

etapa da vida do ser humano, onde acontecem mudanças provocadas pelo

envelhecimento, como a perda da audição, visão e várias outras debilitações.

Esse processo se torna mais doloroso com a falta da família.

Diante desta situação, deve-se observar a dignidade da pessoa idosa.

A Constituição Federal de 1988 determinou, como fundamento do

Estado, a dignidade da pessoa humana, em todas as dimensões.

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

157

Vale observar o que preceitua Marcelo Leonardo Tavares (2003, p. 49-50).

O respeito à dignidade não deve ser encarado somente como um dever de abstenção do Estado na invasão do espaço individual de autonomia. Isto é pouco, cabe à organização estatal criar mecanismos de proteção do homem para que este não seja tratado como mero instrumento econômico ou políticos pelos órgãos do poder público ou por seus semelhantes

A dignidade da pessoa humana inclui a pretensão de um respeito por

parte das demais pessoas.

Maria Helena Diniz (2007) conceitua o princípio constitucional da

dignidade da pessoa humana como sendo o principal e mais amplo princípio

constitucional, possibilitando realizar os anseios e interesses afetivos e

garantindo a assistência material, para manter a família duradoura e feliz.

A respeito da dignidade da pessoa humana, prescreve-se que

[...] nenhum outro princípio revela-se tão próximo à questão social. Ao Estado cabe a prerrogativa de atender a dignidade dos cidadãos para o seu bem-estar, para a possibilidade de se viver com felicidade (SANCHEZ, 2009, p. 97).

O idoso como ser humano possui status de cidadão, por efeito, deve-se

levar em consideração todos os instrumentos asseguradores da dignidade.

Diante do que se expôs é evidente que o Estado, por meio de sua

Constituição Federal, assegura ao idoso a dignidade.

O art. 2º, do Estatuto do Idoso, assim, dispõe:

Art. 2oO idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade (VADE MECUM, 2014, p. 1103).

Garante, então, ao idoso: o direito à saúde; à educação, cultura,

esporte, lazer, diversões, espetáculos, produtos e serviços que respeitem a

condição da idade como exercício de atividade profissional; a moradia digna;

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

158

a gratuidade dos transportes coletivos públicos urbanos e semiurbanos,

também elencados no Estatuto do Idoso.

A Constituição determina o bem de todos os cidadãos, sem que haja

preconceito ou discriminação em face da idade. A criação das leis para os

idosos tem por objetivo a proteção do indivíduo vulnerável perante a

sociedade, garantindo-lhe uma vida digna.

A política Nacional do Idoso, Lei nº 8.842/94 (BRASIL, 1994), em seu

artigo 1º, reconhece o idoso como portador de direitos, promovendo sua

autonomia, integração e participação efetiva na sociedade.

Diante disso, a proteção aos idosos não é ato de assistencialismo, mas

questão de solidariedade e de justiça social. Considera-se, ainda, um “retorno

da dívida social para com a sociedade mais ampla que se utilizou da

capacidade de trabalho de pessoas físicas as quais hoje são integrantes

dessa faixa etária” (OLIVEIRA, 2011, p. 3), os idosos.

É importante esclarecer que, os idosos asilados, mesmo quando

abandonados por seus familiares, não deixam de ter uma vida com um pouco

de dignidade, pois os asilos tentam de todas as formas ajudá-los a suprirem a

falta dos familiares.

4 PERFIL DOS IDOSOS ASILADOS EM MARINGÁ

Pretende-se, aqui, apresentar o perfil do idoso asilado em Maringá.

A pesquisa foi realizada através de questionário pré-elaborado,

respondido por representantes de asilos de Maringá.

Foram seis (6) instituições participantes da pesquisa, dentre as sete (7)

cadastradas na Secretaria de Assistência Social e Cidadania (SASC). As sete

(7) instituições foram convidadas, mas apenas seis (6) aceitaram o convite,

sendo estas não governamentais.

Portanto, o critério dos asilos foi a referida inscrição e a concordância

em fornecer os dados. Elas estão identificadas por numeração 1, 2, 3, 4, 5 e

6, devido a não autorização na identificação de duas delas.

O questionário apresentado para pesquisa foi direcionado aos

responsáveis, contendo oito (8) perguntas objetivas, não permitindo variações

nas respostas além das opções indicadas.

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

159

Segue abaixo como foi apresentado aos asilos.

Tabela 1 - Quadro de perguntas.

PERGUNTAS FEITAS

DADOS OBTIDOS RESULTADOS

Sexo Feminino Masculino

Idade

60-69 70-79 80-89 90-100

Estado civil Solteiro Viúvo Divorciado

Tempo de Permanência na

Instituição

1 ano 1-5 anos 5-10 anos Mais de 10 anos

Grau de Escolaridade

1º grau 2º grau 3º grau Não estudou

Parentes vivos Sim Não

Frequência de contato com a família

1 vez por semana 1 vez por mês 2 vezes ao ano Frequentemente Pouco/raramente

Porque está na Instituição?

Voluntária Opção Familiar Ausência de Parentes

Fonte: A autora.

A seguir, apresenta-se cada questão com os dados fornecidos e seu

respectivo gráfico demonstrativo.

Gráfico 1 - Sexo

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

160

Fonte: A autora.

O número de idosos referente ao sexo é, praticamente, semelhante nos

asilos. A exceção está no asilo nº 1 que possui quase o dobro de homens

com relação às mulheres.

Gráfico 2 - Idade

Fonte: A autora.

Nota-se que o maior número de asilados está entre setenta (70) a

oitenta e nove (89) anos.

Entende-se que, provavelmente, devido às transformações na vida das

pessoas e os avanços tecnológicos e, principalmente, na área médica,

0

10

20

30

40

50

60

70

1 2 3 4 5 6

feminino

masculino

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

1 2 3 4 5 6

60-69

70-79

80-89

90-100

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

161

inclusive, com relação aos medicamentos, é evidente o aumento da

expectativa de vida, refletindo também nesses dados.

Alguns anos atrás, a perspectiva de vida do brasileiro ficava na faixa de

60 anos. Hoje, a realidade é outra, pois a maioria atinge 80 anos ou mais.

Gráfico 3 – Estado civil

Fonte: A autora.

A terceira questão mostra o número de solteiros, viúvos e divorciados,

demonstrando que o número de viúvos nos asilos é o que prevalece.

Talvez, a vida sem companheiro ou companheira, provocada pela

morte do cônjuge, seja uma das causas do internamento no asilo. Pode ser

uma forma do idoso não ficar sozinho, podendo ter convívio com outras

pessoas ou, até, diante da ausência de outros parentes.

Gráfico 4 - Tempo de permanência na Instituição

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

1 2 3 4 5 6

solteiro

viúvo

divorciado

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

162

Fonte: A autora.

Com relação ao tempo de permanência no asilo, o maior número de

idosos está há 5 (cinco) anos.

Não se pode afirmar que os idosos deixam os asilos só com a morte,

pode ser para mudar para outro asilo ou até para retornar a família.

Analisando com os dados da resposta referente à idade dos asilados,

vê-se que, como a maioria tem entre 70 e 89 anos e, diante do que já foi dito

sobre a perspectiva de vida, o tempo de permanência no asilo é, realmente,

os últimos anos de vida. Apoia essa opinião o relato dos representantes dos

Asilos, de que, raramente, há o retorno do idoso a sua família, depois de

internado.

Gráfico 5 - Grau de escolaridade

Fonte: A autora.

0

5

10

15

20

25

30

35

40

1 2 3 4 5 6

1 ano

1-5 anos

5-10 anos

mais 10 anos

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

1 2 3 4 5 6

1o. Grau

2o. Grau

3o. Grau

não estudou

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

163

Segundo os dados obtidos, a maior parte concluiu apenas o 1º grau, ou

não estudou. Poucos idosos asilados fizeram o 2º e o 3º graus completos.

Merece destaque o Asilo nº 1 que tem a grande maioria sem estudo.

Isto reflete a clientela que atende.

O Asilo nº 3 não forneceu dados sobre esta questão, pois a direção não

tinha essas informações.

Gráfico 6 - Parentes vivos

Fonte: A autora.

Há uma pequena variação entre os idosos asilados que tem

parentes vivos e os que não possuem, sendo que o número de parentes vivos

chegou a cento e cinquenta e sete (157) e os que não possuem parentes

vivos, são cento e vinte e dois (122) idosos asilados.

Observa-se, ainda, que o Asilo nº 1 tem uma maioria

expressiva sem parentes vivos e o Asilo nº 2 só tem idosos asilados sem

parentes vivos.

O Asilo nº 3 tem todos os seus idosos com parentes vivos e

os Asilos 4 e 6 tem a maioria de idosos asilados com parentes vivos.

Gráfico 7 - Frequência de contato com a família

0

10

20

30

40

50

60

70

80

1 2 3 4 5 6

sim

não

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

164

Fonte: A autora.

Neste gráfico é possível verificar que raramente esses idosos são

visitados pelos familiares. Estes dados também refletem o levantamento feito

com relação à existência de parentes vivos, como exemplo, o Asilo nº 1.

Observa-se que nos Asilos 4 e 5 a visitação é rara, mesmo tendo, no

Asilo nº 4, a maioria dos idosos com parentes vivos.

Gráfico 8 - Por que está na instituição?

Fonte: A autora.

A última pergunta realizada mostra o motivo ao qual levaram os idosos

a viverem nos asilos.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

1 2 3 4 5 6

1 vez por semana

1 vez por mês

2 vezes por mês

frequentemente

raramente

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

1 2 3 4 5 6

voluntária

opção familiar

ausência de parentes

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

165

Nota-se que a falta de parentes é a principal causa da internação do

idoso no asilo. Raramente há a busca pelo asilo por vontade própria.

O levantamento de dados, aqui realizado, busca dar um panorama

sobre os idosos asilados na nossa região, embora as questões objetivas não

permitam uma análise ampla e subjetiva da matéria.

Como os Asilos não foram identificados, os endereços para verificação

da clientela não podem ser citados.

O principal resultado colhido é que os idosos asilados, na sua maioria,

não têm parentes e tem pouca escolaridade.

Com o aumento da população idosa, a tendência é o aumento de asilos

e, consequentemente, de idosos asilados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho demonstrou o perfil do idoso asilado na cidade de

Maringá, a partir de entrevista realizada com as instituições.

A definição de idoso passa por vários momentos históricos sendo

moldado pela sua importância na sociedade de cada época.

O Estatuto do Idoso, lei 10.741, de 1º de outubro de 2003, dispôs sobre

os direitos garantidos às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta)

anos (BRASIL, 2003).

A população idosa aumenta a cada dia, constituindo um grupo com

mais necessidades na área da saúde, pois com o envelhecimento aumentam

o risco de doenças. Faz-se necessário um cuidado especial com essas

pessoas, portanto, a família e a sociedade têm um importante papel no

suporte do idoso.

No entanto, há que se destacar que muitos idosos não moram com

seus familiares, seja por abandono ou por incompatibilidades econômicas ou

de convivência.

As leis pátrias, inclusive a Constituição Federal, garantem uma

proteção ao idoso.

O idoso é ser humano e, assim, possui status de cidadão, por

consequência deve ser amparado por todos os instrumentos asseguradores

da dignidade humana, sem distinção por faixa etária.

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

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Assim, o idoso sendo possuidor de direitos como qualquer ser humano,

cabe não somente ao Estado, como também à sociedade e à família a

responsabilidade pela proteção e garantia desses direitos.

O aumento no número de idosos ou o chamado envelhecimento

populacional resultam, entre outros motivos, do avanço científico na área

médica, melhorando a expectativa de vida das pessoas.

Diante disso, muitos idosos não estão vivendo seus últimos dias no

seio familiar, mas em asilos.

Na análise realizada em Maringá, verificou-se alguns aspectos desse

internamento. A principal causa do idoso asilado é a ausência de parentes e,

raramente, por vontade do próprio idoso.

As questões objetivas não permitem uma análise ampla e subjetiva da

matéria deixando suposições das causas, diante do resultado.

Ressalta-se que a pesquisa foi realizada apenas com instituições

cadastradas na Secretaria de Assistência Social e Cidadania (SASC), de

caráter não governamental.

Com o aumento da população idosa e da correria do dia a dia, a

tendência é o aumento de asilos e, consequentemente, de idosos asilados.

Espera-se que a dignidade dessas pessoas seja sempre verificada,

mesmo não tendo o afeto familiar.

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

168

CURIA, Luiz Roberto et al. Vade Mecum. 18. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2014.

3.1.7 PEDAGOGIAS CULTURAIS E IDENTIDADE NA PUBLICIDADE

Fernanda Amorim Accorsi

RESUMO

Este trabalho problematiza a publicidade como pedagogia cultural, pois quando anuncia um produto ou serviço veicula também valores concepções de mundo, estilos de vida e olhares sobre a realidade. Apoiamo-nos em autores como Kellner (2001), Sabat (2001), Wortmann (2005) e Costa, Silveira, Sommer (2003) para discutir as mensagens anunciadas, bem como a formação da identidade e da diferença na sociedade permeada pelo consumo e pelas mensagens das mídias. Propomos, sobretudo, a ressignificação da publicidade e da propaganda como um espaço plural, livre de qualquer forma pejorativa de ver o mundo e tratar os sujeitos culturais. Consideramos que a publicidade é um campo de discussão das práticas sociais e pode servir de espaço para mostrar a resistência frente às desigualdades. Palavras-chave: Publicidade. Pedagogia cultural. Identidade.

INTRODUÇÃO

Em meio a um emaranhado de informação e a rapidez de imagens e

acontecimentos, a sensação que temos na segunda década do século XXI é

aquela definida pelo antropólogo francês Augé (2006, p. 104), “[...] de que a

História se acelera”. O advento da Globalização trouxe consigo a abertura das

sociedades, esfera vista e tratada, agora, como estrutura, em que os sujeitos

se relacionam, conectam e se desconectam com significativa facilidade e

rapidez. A população, que se mostra cada vez mais frágil às pressões sociais,

abandona velhos hábitos na mesma proporção que adere ao processo de

desmemorização (BAUMAN, 2007).

Aos poucos, os sujeitos formam vidas individuais, fragmentadas,

deixando de viver em comunidade para buscarem suas próprias

necessidades e prioridades. Nas palavras de Bauman (2007, p. 9), “[...]

Fernanda Amorim Accorsi: Doutoranda e mestre em Educação (PPE/UEM), especialista em Comunicação e Educação (FCV) e jornalista (Faculdade Maringá). Professora de Publicidade e Propaganda (FAMMA). E-mail: [email protected]

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

169

sucessos passados não aumentam necessariamente a probabilidade de

vitórias futuras [...]”, o que demanda uma constante inspeção de processos e

sistemas civilizatórios, onde existem reinvenções corriqueiras a fim de atender

a acelerada vida pós-moderna.

Vivemos separados por fronteiras físicas e unidos por redes virtuais.

Cada passo dado pelo ser humano precisa ser permeado por habilidades e

vantagens, em que se troca a conformidade pela flexibilidade. Bauman (2007)

analisa que houve “[...] um desmembramento da história e das vidas

individuais numa série de projetos e episódios de curto prazo [...]”, que

costumam ocorrer de modo ‘lateral’ subsidiados por defasagens, trocas e

rupturas (BAUMAN, 2007, p. 9).

São tempos de incertezas e paradoxos, autores como Kellner (2001) e

Bauman (2007) analisam que ‘estamos’ e não mais ‘somos’. Deixamos de ser

fixos, sólidos e estáveis e nos tornamos líquidos, descentrados e desconexos.

Os modos de ser, pensar e agir no mundo estão atrelados, cada vez mais, às

mensagens midiáticas, que emitem papéis conflitantes responsáveis por

confundir os receptores, os quais já não sabem, exatamente, quem são – ou

quem querem ser.

É como se almejássemos uma originalidade já conhecida, uma vez que

“[...] muitos dos modelos de estilo e aparência provenham da cultura do

consumo” e já são antigos conhecidos da população, mas se mostram, em

uma roupagem, de atual, cosmopolita e moderno (KELLNER, 2001, p. 297). A

mídia tem se configurado como um espaço de fragmentação dos sujeitos, ou

seja, ‘o novo eu’ está disponível nas redes sociais, sites da internet, canais de

televisão e propagandas para quem quiser obtê-lo.

O ‘eu’ existe se narrado, se visível, para tanto, as mídias têm sido um

espaço onde o ‘eu’ é buscado, mas também divulgado, como um círculo

vicioso. Na sociedade da segunda década do século XXI, existe uma busca

incessante pela visibilidade. Debord (2003) intitulou de sociedade do

espetáculo a necessidade dos indivíduos se exibirem, enquanto Sibilia (2008,

p. 25) pontua que, nesse cenário, “[...] só é o que se vê”.

Na procura por quem se é, a cultura tem uma função determinante.

Portanto, ao tratarmos sobre ‘quem se é’ ou ‘quem são’, faz-se indispensável

pensar o ponto de partida e o lugar de chegada das visibilidades desse século

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

170

marcado pela imagem. A propaganda tem se configurado como uma das

fontes simbólicas para a obtenção de outras identidades que não aquelas que

já possuímos e adquirimos por meio de esferas como a família, a igreja e a

escola.

Kellner (2001, p. 324) analisa cartazes de marcas de cigarro e

considera que “[...] a propaganda está tão preocupada em vender estilos de

vida e identidades socialmente desejáveis, associados a seus produtos,

quanto em vender o próprio produto”. Isto é, as propagandas de cigarros

analisadas pelo autor não oferecem, simplesmente, imagens de mulheres e

homens considerados belos socialmente, mas também comercializam

sensações, sentimentos e posturas sociais, políticas, econômicas e culturais.

A propaganda é tida, sobretudo, como uma forma de educação.

Enquanto ela exibe valores e emoção transmite, ainda, concepções de

mundo, estilos de vida e pontos de vista sobre a realidade. Nesta conjuntura,

não há como afirmarmos que as instituições de ensino tradicionais como a

escola e a universidade são os únicos espaços de aprendizagem. Longe

disso, pois o contato com a mídia, mesmo sem qualquer mediação docente, é

capaz de propiciar o saber, o que pode ser um fator positivo ou negativo para

a formação das identidades e subjetividades humanas, ponto que

discutiremos mais adiante.

O consumo midiático é uma ação rotineira, encontramos dificuldades

em viver sem as máquinas e sem as mensagens que elas emitem. O contato

assíduo com os veículos de comunicação implica em aprendizagens e em

formação cultural. Para termos uma ideia do cenário que vivenciamos, “[...]

um jovem americano passa, em média, 900 horas por ano na escola e 1.023

horas vendo TV” (AUGÉ, 2006, p. 101), podemos dizer que no Brasil, sem

generalizações, a situação não é tão diferente. Evito generalizações, pois

nosso país possui uma desigualdade social, de gênero, raça, gerações e etnia

capaz de propiciar acesso aos bens culturais e materiais a alguns e isolar e

excluir ciberneticamente outros.

Visualizamos a publicidade como artefato cultural e pedagógico, pois

por meio dela é possível estabelecer o significado de mulher ideal, de criança

saudável, de pessoa de bem, de trabalhador responsável, de adolescente em

crise e de idoso modelo apenas para citar alguns exemplos. A publicidade

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ensina por meio de imagens, narrativas e símbolos e está atrelada ao que é

socialmente estabelecido (SABAT, 2001). Diante disso, este texto objetiva

problematizar a propaganda como pedagogia cultural, visualizando-a como

um dos artefatos responsáveis pela construção das identidades e das

subjetividades dos sujeitos.

Não há a intenção de esgotar o assunto, obter conclusões e respostas

definitivas, pois diante do eixo explicativo dos Estudos Culturais, “[...] a

verdade é sempre aproximada e provisória” (SANTOS, 2002, p. 81).

Tomamos como eixo a premissa de que a ciência é uma prática reflexiva,

para pensarmos a propaganda se fez indispensável suspender os objetos e

olhá-los conforme o aporte teórico escolhido.

Conforme Santos (2002, p. 88), a ‘reflexividade’ acerca do objeto de

investigação ocorre de acordo com a “personalidade do cientista social que a

empreende”. Para tanto, se faz indispensável ter a consciência do lugar onde

se encontra e em qual contexto sua análise se realiza, bem como

compreender que a mudança de “[...] condições científicas, políticas e sociais,

será sempre possível escrever um novo relatório sobre o que pensei [...]”

(SANTOS, 2002, p. 95).

A mídia promove ‘verdades’, produz sentidos para a sociedade e

dissemina ao público as atitudes que pode adotar. São técnicas modernas de

discursos que utilizam avaliações pessoais dos produtores e veiculam lições

de moral e de vida, artefatos culturais cujo objetivo é a identificação do

receptor.

Nas palavras de Kellner (2001, p. 317), “[...] as propagandas

frequentemente solucionam contradições sociais, fornecem modelos de

identidade e enaltecem a ordem social vigente”. Os produtores de

propaganda analisam o público alvo, conhecem seu gosto, preferência e

aptidão, não se contentam em informar e divulgar, trabalham para seduzir,

emocionar e propiciar identificação.

Pedagogias culturais, identidade e diferença

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

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Silva (2011, p. 139) analisa que

[s]ob a ótica dos Estudos Culturais, todo conhecimento, na medida em que se constitui num sistema de significação, é cultural que nos auxilia a pensar em outras formas de educação que não aquelas que ocorrem nas escolas.

Ajuda-nos, ainda, na compreensão de que toda forma de significação

tem em si um sistema de poder, ou seja, os significados ditam o que é certo,

normal, aceitável, valoroso, embora também forneçam o que é errado,

anormal, não aceitável e sem valor. Por isso, uma criança posicionada em

frente à TV e com acesso ao conteúdo da Galinha Pintadinha está em contato

com significados que vão, aos poucos, construindo suas formas de pensar o

mundo.

Não são apenas distrações ou entretenimento, mas modos culturais de

aprendizagem. Não pretendo tecer críticas ou apologias à referida

personagem, mas apenas ratificar que o aprender acontece também pela

sedução. Wortmann (2005) analisa que os discursos vão além dos

agrupamentos de ideias, práticas e imagens, também distinguem o adequado

do não adequado.

Na concepção da autora, os discursos estão ligados diretamente ao

poder e são responsáveis pela regulação de condutas e representação da

realidade. Sendo assim, as pedagogias culturais têm sido alvo de

pesquisadores da Educação e da Comunicação, visto que os meios de

comunicação têm se mostrado como lugares onde o poder é produzido e

disseminado.

Com base nesse entendimento, têm sido investigados tanto variados veículos da mídia jornalística impressa e televisiva, contemplando não só matérias ‘informativas’, mas também peças publicitárias, quanto produtos de entretenimento, tais como filmes, desenhos animados, seriados de TV; neles se têm buscado esquadrinhar seus ‘ensinamentos’, pertencentes a uma gama também muito variada, valendo-se daqueles referentes à própria educação (escola, ‘progresso’, professora, aluno etc.) e se espraiando para outros campos, como as lições sobre o bem e o mal, sobre o que é ser mulher, sobre o que é ser índio, sobre o que é a nação, sobre o que é natureza, sobre a tecnologia, sobre o nosso corpo, sobre a genética, sobre como nossa relação com os

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

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animais nos constitui ‘humanos’ etc. (COSTA; SILVEIRA; SOMMER, 2003, p. 56).

Consideramos a existência de uma pedagogia da mídia relativa à

cultura como artefato formativo que impõem entraves entre os sujeitos,

separando-os, estigmatizando-os e estruturando as relações sociais. Sob

essa perspectiva, a cultura é vista como uma arena onde o significado é

negociado, mas também fixado, nela, existe uma disputa pela hegemonia,

embora não existam opressores e oprimidos. Afinal, como campo de luta, a

cultura também oferece espaço para resistência, confronto e discussão, não

precisa ser objeto de aceitação e/ou adoção.

Concordamos que os indivíduos possuem suas próprias maneiras

intelectuais de enfrentar as formas culturais hegemônicas e trazer à tona

outros movimentos e perspectivas de ser e estar no mundo. Vale ressaltar

que as mídias compactuam com a sociedade modos de apresentar os grupos

minoritários, tais como os homossexuais que são vistos, em telenovelas,

como personagens cômicos ou como vítimas de preconceito e violência.

Os índios são exibidos como selvagens e primitivos. São modos

pejorativos de representar povos, etnias e gêneros que deturpam os modos

de ser dos indivíduos e constroem estereótipos sociais e culturais. Nas

palavras de Skliar (2003, p. 39)

[n]ão temos, nunca, compreendido o outro. O temos, sim, massacrado, assimilado, ignorado, excluído e incluído, e, por isso, para negar a nossa invenção do outro, preferimos hoje afirmar que estamos frente a frente com um novo sujeito. Mas, é preciso dizer: com um novo sujeito da mesmice.

O que fazemos é escolher outras formas de ser para incluirmos, para

excluirmos e para tratar como nova. Na concepção do autor, é como se

houvesse uma banalização do outro, uma banalização do diferente que ora é

contemplado em uma data comemorativa do calendário, ora é esquecido e

substituído por outro (SKLIAR, 2003).

Costa (2002, p. 146) reverbera que

[d]iscriminações, nas suas formas mais variadas e perversas, espalham-se pelas páginas de revistas, de livros, pelas cenas

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

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de novelas e pelos enormes outdoors espalhados nas

metrópoles do século XXI.

E, nesta perspectiva, contribui para a formação da identidade

socialmente – e culturalmente - construída, fragmentada e conflituosa. É

como se a identidade se transformasse conforme as necessidades

vivenciadas, o que visualizamos como fragmentos da sociedade do século

XXI, intitulada ‘líquida’ (BAUMAN, 2007), ‘do consumo’ com essência de pós-

modernidade (KELLNER, 2001) e/ou ‘de cristal’ (FABRIS, 2007).

“A mídia encena uma ‘nova moralidade objetiva’, prescritiva, que cria

identidades culturais e negocia com o instituído ao reiterar o familiar e

tradicional, mas também ao propor mudanças” (COUTINHO; QUARTIERO,

2009, p. 55). Quando as transformações sugeridas e veiculadas pela mídia,

como o individualismo, o consumo exacerbado e os padrões de sucesso, não

são acatadas pelo público, os sentimentos de fracasso e inferioridade são

inevitáveis.

Pressupõe um olhar atento ao conteúdo midiático em que verdades,

certezas, conceitos e padrões precisam ser questionados para evitar que os

usuários se tornem reféns de suas próprias vidas. Quando esse mesmo

sujeito refuta uma vertente apresentada, discordando de seus preceitos, ele

vai mostrando sua diferença diante daquilo, o que pode ser ocasionado por

“[...] sentimentos de discriminação, de preconceitos, de crenças distorcidas e

de estereótipos, isto é, de imagens do outro que são fundamentalmente

errôneas” (SILVA, 2007, p. 98).

Acontece o que Silva (2007, p. 82) chamou de fronteira entre nós e

eles. “Dividir o mundo social entre ‘nós’ e ‘eles’ significa classificar”.

Compreender o porquê das classificações que fazemos é (re) pensar as

hierarquizações culturais, o normal, o diferente e a identidade de cada um/a.

Woodward (2007) analisa que os significados oriundos das representações

que temos do mundo dão sentido ao ser humano que somos.

O que vislumbramos – ou ocultamos - nas mensagens midiáticas é

capaz de nos sugerir o que podemos nos tornar, é como se pudéssemos nos

inspirar na mídia para nos realizarmos enquanto pessoas. A cultura midiática,

entre outras, colabora com a construção da identidade. “A mídia nos diz como

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

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devemos ocupar uma posição-de-sujeito particular – o adolescente ‘esperto’,

o trabalhador em ascensão ou a mãe sensível” (WOODWARD, 2007, p. 18).

A autora pontua a existência de conflitos identitários quando, por

exemplo, o tempo dedicado aos/às filhos/as é menor que o destinado ao

trabalho, do mesmo modo que o papel de mãe socialmente construído é de

uma pessoa heterossexual, uma vez que ela seja lésbica, sua identidade está

atrelada ao estranho e ao desviante (WOODWARD, 2007).

“[A] forma como vivemos nossas identidades sexuais é mediada pelos

significados culturais sobre a sexualidade que são produzidos por meio de

sistemas dominantes de representação” (WOODWARD, 2007, p. 32).

Portanto, as diferenças sociais, assim como as identidades humanas, estão

associadas às categorias de raça, gênero, etnia e não somente pelas divisões

de classes, uma vez que as identidades possuem marcas de diferenças, o

que é colocado à parte ou é incluído vai produzindo o sujeito, logo, a

identidade depende da diferença (WOODWARD, 2007).

Carvalho (2010, p. 107) discute que

[o] ponto de partida do flash cultural da própria mensagem publicitária é, na maioria das vezes, um estereótipo cultural, utilizado como referência pela coletividade (tema clássico), como uma espécie de consciente coletivo.

O que pode ser conferido nos modelos fotográficos que posam ao lado

de um maço de cigarros ampliados da marca Virgínia Slims com o slogan ‘o

caminho foi longo mocinha’. Kellner (2001) analisa o referido anúncio e

vincula a marca à mulher moderna, independente e progressista. Na mesma

perspectiva de discussão do autor, vemos que as propagandas de produtos

de limpeza ainda privilegiam as mulheres como protagonistas, visto que as

coloca para narrar os benefícios de tal marca em detrimento de outras. A

mulher moderna é aquela que conhece as qualidades do referido produto,

mas também trabalha, estuda, cuida dos filhos e do marido.

Esse tipo de leitura da propaganda não só ajuda a resistir à manipulação, mas também mostra que uma coisa tão aparentemente inócua quanto a propaganda pode revelar mudanças significativas nos modos e nos modelos de identidade (KELLNER, 2001, p. 324).

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

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São as mulheres as rainhas do lar, logo, são para elas que os anúncios

se voltam. Como forma de enfrentamento ou mesmo para causar identificação

nas feministas, os homens têm sido escolhidos por uma marca ou outra para

narrar a ‘incrível fórmula do detergente’, mas vemos que o tom do discurso

não é o mesmo.

Se, quando narrado por mulheres, o tom é de seriedade, quando

realizado por homens é de entusiasmo, de divertimento, prezando pelo senso

de humor. Não é apenas uma questão de gênero, mas de etnia, raça e

geração. Em peças que contemplam os anúncios de cola e limpadores de

prótese dentária, popularmente conhecida como dentadura, visualizamos

mulheres brancas e relativamente jovens. Sugerimos diante disso que a

marca objetiva se associar ao que está socialmente estabelecido, o que

podemos mencionar como a jovialidade em qualquer idade. Não existem

máximas ou constantes, mas são impressões que nos permitem (re)ler a

sociedade em que vivemos.

Brites (2000) realiza leituras acerca da infância e da higiene na

publicidade das décadas de 30, 40 e 50 e estabelece que o consumo estaria

atrelado à vida, à saúde e ao bem-estar.

As propagandas da Johnson & Johnson exploravam sentimentos de amor e dedicação da mãe em relação ao filho, num vínculo de perfeita harmonia, interrompido e abalado pelo choro da criança e restaurado pelo uso do produto. As imagens fotográficas utilizadas enfatizavam essa harmonia através de expressões faciais e corporais dos personagens, em situações de brincadeiras e carinho da mãe em relação ao filho. Essas publicidades lançaram mão de uma retórica da desmedida, onde o uso de determinados produtos era caracterizado como solução para grandes problemas (BRITES, 2000, p. 272).

Sob a ótica da autora, a propaganda produz modos de ser mãe, de

preocupar-se, zelar e cuidar do filho; o produto corresponde à expectativa

social sobre a maternidade como aquela que oferece, com carinho, formas de

bem-estar ao filho. São representações que, aos poucos, constroem o

imaginário coletivo. O que não se enquadra na representação social de boa

mãe é estigmatizado, isto é, ocorre a negação de qualquer outro modo de ser

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

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e pensar que não aquele aceito socialmente, o diferente é tido como

excepcional, incompletos, anormais.

O parâmetro para definir alguém como diferente seria a modernidade

europeia, cuja atuação é de uma pedagogia cultural capaz de separar o certo

do errado, por meio da organização e construção de verdades sociais.

Ambientes culturais como a escola, os meios de comunicação e os esportes

exercem o papel de correção dos indivíduos, de padronização das

identidades, “[...] espaços que educam, praticando pedagogias culturais que

moldam nossa conduta” (COSTA, 2002, p. 144).

A campanha a seguir nos permite visualizar algumas dessas

representações discutidas por Costa (2002).

Figura 1 - Anúncio PlayStation

Fonte: Temperini (2007).

Supomos, sob nosso eixo de análise, que um indivíduo detém poder

sobre o outro. Cogitamos a referida ideia, pelo modo como um toca o outro,

pelos semblantes, pela disposição das cores na fotografia e pelo slogan

Playstation Portable White is coming, em tradução para o português,

‘Playstation Portable o branco está chegando’. Ler o anúncio é também

verificar quais efeitos pode causar na sociedade, uma vez que a exposição

traz consigo o não dito.

Portanto, nos referimos a um apanhado de ideias, de possibilidades e

de percepções sobre a peça, uma delas é de que não podemos sintetizar a

análise sob a ótica binária, ou seja, o bem contra o mal, o branco contra o

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negro, o certo versus o errado. Entendemos que se o anúncio alerta para a

chegada do branco, mesmo que de uma forma pejorativa, pois o preto

(tratando do videogame Playstation) ocasiona/ocasionou algum desconforto

até então.

É preciso que os usuários sejam alertados que algo está por vir e pode

- ou não – superar o que já existe. Existirão outras possibilidades para os

consumidores e não somente as existentes. Trata-se, portanto, de um

pluralismo para o ato da compra. Por outro lado e sob o viés da cultura,

recorremos a Kellner (2001, p. 83) que problematiza a norma, cuja ligação

seria com “[...] branco masculino, ocidental, de classe média ou superior; são

posições que veem raças, classes, grupos e sexos diferentes dos seus como

secundários, derivativos, inferiores e subservientes”.

Embora a imagem traga a figura de uma mulher branca, existem

vestígios de superioridade em detrimento da inferioridade, visto que as

relações de poder se dão de modo hierarquizador, dicotomizando e

comparando um sujeito em relação ao outro. No caso específico do anúncio

do Playstation, percebemos que o anúncio se deu como uma forma de

construir e reforçar estereótipos, que se baseiam em formas preconceituosas

de ver as diferenças.

Nas palavras de Santomé (2011, p. 164),

[a]titudes de racismo e discriminação costumam ser dissimuladas também recorrendo a descrições dominadas por estereótipos e pelo silenciamento de acontecimentos históricos, socioeconômicos e culturais.

.

São maneiras de avigorar a mentalidade etnocêntrica, que oferecem

aos espectadores dos anúncios apenas duas formas de ver a situação, a

publicidade e a referida marca: boa ou má, superior ou inferior, melhor ou

pior.

É preciso enxergar as manifestações culturais observando também

aqueles que são oprimidos por sua classe, sexualidade, raça e gênero. Para

conseguir olhar a sociedade e a produção cultural desta forma é

imprescindível distanciar-se de pudores e tabus e compreender que ideias

opressivas também são capazes de influenciar pessoas.

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Os meios de comunicação colaboram para constituir a hegemonia,

promovem o consentimento às imposições hegemônicas, que privilegiam um

grupo em detrimento do outro. A cultura das imagens midiáticas corresponde

à forma como os sujeitos veem o mundo. Portanto, a mídia exibe e reforça

comportamentos e distingue o que ela considera próprio e impróprio

(KELLNER, 2001; SANTOMÉ, 2011; COSTA, 2002). A publicidade trabalha

como um instrumento ideológico para a reprodução da identidade racial de

branco ou negro.

Vemos que a publicidade apresenta uma das muitas versões da

realidade, fragmentada e repleta de mecanismos que ditam formas de pensar

o mundo. Retornando ao anúncio da marca Playstation, o modo como um

indivíduo toca o outro sugere uma estratégia de tratamento, de prática social,

cultural, política e econômica. Sugere, ainda, modelos de dominação nas

relações sociais e manutenção da ideologia.

Quando Giroux (2011) analisou ‘o mundo Disney’, o autor refletiu que

as imagens explicitavam apelos, os quais almejavam produzir diversas

identificações, através das quais é possível que os espectadores construam

suas relações com as outras pessoas e formas de entender seu lugar no

mundo.

Sob esse viés, existem, portanto, pedagogias do poder capazes de

moldar identidades, memórias, representações, do mesmo modo que

silenciam culturas e oprimem formas de ser e estar no mundo tidas como

diferentes.

As culturas ou vozes dos grupos sociais minoritários e/ou marginalizados que não dispõem de estruturas importantes de poder costumam ser silenciadas, quando não estereotipadas e deformadas, para anular suas possibilidades de reação (SANTOMÉ, 2011, p. 157).

Nesta perspectiva e em uma sociedade multifacetada, é preciso

recuperar a voz perdida de temas como a história da mulher, pessoas como

deficiência, homossexualidade, problematizando os motivos do silenciamento

desses grupos e dando vez às culturas negadas. Santomé (2011, p. 165)

ilustra como exemplo de negação cultural o povo cigano, pois não se

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redescobre sua história, nem o porquê do silenciamento, uma vez que “[s]uas

crenças, conhecimentos, destrezas e valores são ignorados”.

É como se não existissem contrassensos, os quais não merecem ser

mencionados e considerados sujeitos nas esferas sociais, políticas,

econômicas e culturais. A propaganda como artefato cultural precisa levar em

conta a existência de populações marginais e não pode servir de mecanismo

para reverberar ainda mais as desigualdades que perpassam a sociedade de

modo geral.

A propaganda veicula valores e ideologias que compõem a vida

cotidiana dos indivíduos, o imaginário coletivo e, por esse, entre outros

motivos, não pode servir à ordem hegemônica. A experiência está atrelada às

informações que se têm acesso, ao que é compartilhado entre os sujeitos,

visto que não há como separar de modo binário o que se é do que vê, do que

se sabe.

Há uma política da identidade, cuja defesa ocorre pela singularidade

cultural dos grupos silenciados ou oprimidos.

Os discursos e os sistemas de representação constroem os lugares a partir dos quais os indivíduos podem se posicionar e a partir dos quais podem falar. Por exemplo, a narrativa das telenovelas e a semiótica da publicidade ajudam a construir certas identidades de gênero. Em momentos particulares, as promoções de marketing podem construir novas identidades como, por exemplo, o ‘novo homem’ das décadas de 1980 e de 1990, identidades das quais podemos nos apropriar e que podemos reconstruir para nosso uso (WOODWARD, 2007, p. 17-18).

A propaganda oferece ao consumidor uma relação com o produto, mas

também articula uma relação com a ideia defendida. É como se cada produto

ou serviço tivesse sido pensado especialmente para cada um de nós,

individualmente. Com o propósito de causar a identificação do público com o

produto, a emoção é um artifício corriqueiro na propaganda, visto que

colabora para que o público transfira para o anúncio as aspirações da sua

vida.

Se determinado anúncio reverbera formas preconceituosas

transmitidas através da repetição, o público pode, aos poucos, familiarizar-se

com determinado conteúdo e fazer daquele ponto de vista o seu modo de

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pensar e agir. Tal afirmação não implica em uma máxima e/ou uma constante,

mas serve para que os publicitários (re)pensem suas formas de vender,

anunciar e informar os sujeitos, uma vez que o modo como fazem pode ser a

única referência de um assunto e/ou produto específico para o público

(CIDADE, 2006).

Afinal, sob a ótica de Cidade (2006), existem três mecanismos de

persuasão: os automáticos, que agem sobre a memória, como um reflexo

mental; a racionalização, cuja mistura corresponde à emoção somada da

razão; a sugestão, que desperta desejos e anseios. Tal ponto de vista

estabelece que, por meio da propaganda, conhecemos os benefícios e as

particularidades do produto, cria-se uma pedagogia, aprendemos com os

anúncios e os utilizamos como referências nas nossas concepções de mundo

(SABAT, 2001).

Grignon (2011) reflete que a produção publicitária precisa privilegiar as

mais distintas culturas, precisa dar voz e vez aos marginalizados, a fim de

evidenciar a sociedade que não há hierarquizações, mas sim a existência de

múltiplas vivências.

Ao rejeitar reconhecer que as culturas populares são culturas, isto é, ao negar-se a reconhecer-lhes uma autonomia simbólica, ao considerá-las unicamente de uma maneira negativa – em termo de faltas, defeitos, desvios em relação à cultura cultua e à norma -, a escola ‘meritocrático-legitimista’ se mostra ao mesmo tempo exigente e injusta para com as crianças procedentes das classes populares; desclassifica-as, ao não conferir valor algum à sua cultura de origem (GRIGNON, 2011, p. 181).

A injustiça mencionada pelo autor também pode ocorrer na esfera

publicitária se continuarmos privilegiando uma forma cultural de ser humano

em detrimento de outro, se continuarmos fazendo hierarquizações e

silenciamentos. Ao celebrar diferentes povos, origens, gêneros e gerações

nas peças publicitárias, podemos oferecer outras fontes para a construção da

identidade, da percepção de mundo do público, visibilizamos, desse modo,

outras culturas que não aquelas que já têm espaço social construído.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vimos a existência de uma publicidade que marginaliza, hierarquiza e

silencia culturas, formas de ser e estar no mundo. Ao mencionar anúncios de

produtos de limpeza, verificamos que eles expõem modelos de ser homem e

mulher e modos de pensar e agir na sociedade vigente. O anúncio analisado

da Playstation reforçou a necessidade de uma discussão acerca do conteúdo

da publicidade, que funciona como uma forma de educação do público acerca

de valores e verdades.

O referido anúncio apresentou a relação de poder existente na

sociedade e que difere, de modo pejorativo, os indivíduos. É como se

houvesse um ‘eu’ e um ‘outro’, este último capaz de ser ignorado,

estigmatizado porque não participa do que é socialmente pré-estabelecido.

Propomos, sobretudo, a ressignificação da publicidade e da

propaganda como um espaço plural, livre de qualquer forma pejorativa de ver

o mundo e tratar os sujeitos culturais. A preocupação se justifica porque em

uma era midiática como a nossa, crianças, jovens, adultos e idosos pautam

necessidades, pontos de vista e valores por meio do que a mídia apresenta.

Se legitimarmos algumas práticas e ignorarmos tantas outras,

contribuímos para o monoculturalismo, para a anulação da diversidade e

assim isolamos e/ou marginalizamos parte de nosso público. É indispensável

que tenhamos sensibilidade diante de nossas práticas para propor formas

humanas de divulgar produtos e serviços.

Pensamos que ao problematizar a publicidade como pedagogia

cultural, poderíamos contribuir com as linhas de pesquisa em Comunicação e

Educação, visto que a cultura perpassa ambas as esferas como objeto de

reflexão. Consideramos que a publicidade é um campo de discussão das

práticas sociais e pode servir de espaço para mostrar a resistência frente às

desigualdades. Desse modo, almejamos compreender um pouco mais a

sociedade em que vivemos e as práticas que aceitamos e/ou realizamos.

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KELLNER, Douglas. A cultura da mídia: estudos culturais: identidade e política entre o moderno e o pós-moderno. Bauru: EDUSC, 2001. SABAT, Ruth. Pedagogia cultural, gênero e sexualidade. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 9, n. 1, p. 4-21, 2001. SANTOMÉ, Furjo Torres. As culturas negadas e silenciadas no currículo. In: SILVA, Tomaz Tadeu da. Alienígenas na sala de aula: uma introdução aos estudos culturais em educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. p. 155-172. SANTOS, Boaventura de Sousa. Um discurso sobre as ciências. 13. ed. Porto: Afrontamento, 2002. SIBILIA, Paula. O show do eu: a intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008. SKLIAR, Carlos. A educação e a pergunta pelos Outros: diferença, alteridade, diversidade e os outros “outros”. Revista Ponto de Vista, Florianópolis, n. 5, p. 37-49, 2003. SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 2011. SILVA, Tomaz Tadeu da. A produção social da identidade e da diferença.In: SILVA, Tomaz Tadeu da. Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007. p. 73-102. TEMPERINI, Alessandro. Sony PSP [Playstation Portable] | White is coming, 2007. Disponível em: <http://aletp.com/2007/04/27/sony-psp-playstation-portable-white-is-coming/>. Acesso em: 13 jan. 2014. WOODWARD, Kathryn. Identidade e diferença: uma introdução teórica e conceitual. In: SILVA, Tomaz Tadeu da. Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007. p. 7-72. WORTMANN, Maria Lúcia Castagna. Dos riscos e dos ganhos de transitar nas fronteiras dos saberes. In: COSTA, Marisa Vorraber; BUJES, Maria Isabel. Caminhos investigativos: riscos e possibilidades de pesquisar nas fronteiras. Rio de Janeiro: DP&A, 2005. p. 45-65.

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3.2 RESUMOS EXPANDIDOS

3.2.1 VIOLÊNCIA FÍSICA CONTRA O IDOSO EM MARINGÁ 2012-2013

Queli Cunha de Lima (g)

José Adalberto Mourão Dantas (o)

RESUMO O presente artigo Violência Física contra o idoso em Maringá 2012-2013 vem demonstrar, por meio de pesquisa bibliográfica e empírica, os maus-tratos sofrido por idosos, buscando suas causas e apontando medidas tomadas pelo governo. Palavras-chave: Idoso. Violência. Física. Autoridades

INTRODUÇÃO

Ao longo da história, a longevidade e a expectativa de vida vêm sendo

ampliada em razão de diversos fatores, um deles pode ser decorrente da taxa

de fertilidade que vem diminuindo progressivamente e atinge números

expressivos. Veras e Almeida (2003) apontam que a redução crescente da

fertilidade é fruto do intenso processo de urbanização da população, gerando

limitação da família, nos grandes centros urbanos, principalmente do ponto de

vista econômica. Outro fato é o da progressiva incorporação da mulher

à força de trabalho. Ainda mencionam que avanços da medicina, diagnóstico

precoce e a prevenção de determinadas doenças, o acesso aos serviços de

saúde, a generalização dos serviços de saneamento básico, alteração nos

hábitos alimentares e de higiene, o aumento de prática de exercícios físicos,

vem contribuindo para o aumento da ‘esperança de vida’.

Para Castro (2012), o aumento dos anos de vida passa a ser um

problema, pois os anos que se ganha de vida podem trazer sofrimento para

os indivíduos e suas famílias, por meio de doenças, aumento da dependência,

perda de autonomia, declínio funcional, isolamento social e depressão,

consequentemente afetando a qualidade de vida.

Acadêmica do Curso de Administração de Empresas da Faculdade Metropolitana de Maringá - FAMMA, Maringá/PR. E-mail: [email protected] Prof. de Economia Política da Faculdade Metropolitana de Maringá - FAMMA, Maringá/PR. / Drº de História da Economia pela Universidade Estadual de Maringá/UEM. E-mail: [email protected]

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Segundo dados do Fundo de População das Nações Unidas, a

população de idosos no mundo cresce aceleradamente. Até 2020, a

população com mais de 60 anos será de 1 bilhão (WALTER, 2011, p. 9). Em

termos percentuais, esse número será 20% do total da população. Esse

crescimento está sendo possível graças ao avanço da medicina preventiva,

novos hábitos alimentares, descobertas de medicamentos modernos,

atividades físicas etc.

No Brasil, a expectativa de vida da população aumentou 25,4 anos

entre 1960 e 2010. Devendo, em 2040, chegar a 80 anos (Jornal Gazeta do

Povo, 2012, p. 9).

Em Maringá, de acordo com os dados do Censo de 2010, a realidade

não é diferente, 12% dos habitantes possui mais de 60 anos de idade

(ASSOCIAÇÃO COMERCIAL E INDUSTRIAL DE MARINGÁ, 2011).

O aumento da expectativa de vida tem levado os idosos sofrerem

violência física, que de acordo coma Organização Mundial da Saúde (OMS)

que a define como sendo o uso intencional da força física ou do poder, real ou

em ameaça, contra si mesmo, outra pessoa, ou contra um grupo ou

comunidade, que resulte ou tenha alta probabilidade de resultar em lesão,

morte, dano psicológico, mau desenvolvimento ou privação. Tal violência, em

grande parte, tem sido causada no âmbito familiar, o que se agrava mais, pelo

fato de possuir vínculos afetivos. O idoso, muitas vezes, tem sentimento de

vergonha, culpa e medo de represália por parte da família ao denunciar.

Segundo a pesquisa realizada Chavez (2002 apud SANTOS, 2007, p. 5):

[...] demonstrou, que 90% dos casos de maus-tratos e negligência contra pessoas com mais de 60 anos nos EUA ocorrem nos lares. No Brasil, pesquisa realizada pelo mesmo autor, na Delegacia Especializada de Proteção ao Idoso em Belo Horizonte, constatou que o maior índice de violência contra o idoso é causada pelos filhos, seguido pelo cônjuge ou companheiro e pelos vizinhos. Esses resultados apontam a importância de se dar enfoque, nas pesquisas sobre violência contra idosos, a questão da violência intrafamiliar.

No ano de 2013, houve um total de denúncias, no Centro de referência

especializada de Assistência Social - CREAS, de 298. Destes, 248 foram

contra idosos. Violência física patrimonial, negligência etc. O ano de 2014, até

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a data de hoje, 06 de junho de 2014, foi registrado 90 denúncias sendo 76

contra idosos. Em termos percentuais, 83,22 foram às violências contra os

idosos. De 2014 até agora 84,44%. Ainda não é possível concluir se até o

final do ano será maior do que 2013.

A violência contra o idoso encontra sua fase mais cruel na sociedade

atual, regida pelo sistema capitalista, que valoriza apenas a produtividade do

homem, caracterizando a velhice em seus aspectos negativos (PESTANA,

2008 apud CASTRO, 2012). O idoso que outrora era valorizado e respeitado

por sua sabedoria, representado pela figura do ‘ancião’, se torna marginal ao

sistema e passa a sofrer diversas formas de violência como a física,

psicológica, sexual, abandono, negligência, financeira entre outras. Nesse

contexto, atentam-se para as preocupações sociais decorrentes do

envelhecimento da população, como as várias formas de violência contra o

idoso.

Inúmeros são os fatores que levam a violência física contra o idoso,

pesquisas revelam a relação que se estabelece entre violência e uso de

drogas e álcool do agressor. Nessa premissa, Minayo (1994 apud SANTOS,

2007) cita que o abuso do álcool e de outras substâncias é o fator

fundamental associado aos homicídios, violência no trânsito e a violência

interpessoal e doméstica.

A situação de dependência do idoso o torna vulnerável, frágil,

agravando-se ainda mais estando ele com estado de saúde debilitado,

tornando o ambiente passivo de agressões intrafamiliar. Ao cuidar de um

idoso nessas condições, a família torna-se suscetível às dificuldades

financeiras, sobrecarga física e limitações sociais, visto que dispõem de um

intenso cuidado com o idoso, podendo levar a maus-tratos e até negligência

contra ele.

De acordo com Santos (2007), estudos apontados no estatuto,

relacionados à violência contra o idoso revelaram que a maioria era

independente financeiramente, residia em suas próprias casas, porém

fisicamente dependente para o desenvolvimento das atividades de vida diária,

com idades entre 62 e 82 anos, do sexo feminino.

Castro (2012, p. 20) afirma que:

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O envelhecimento, não é problema, e sim, vitória. Problema será se as nações desenvolvidas ou em desenvolvimento não elaborarem ou executarem políticas e programas para promoverem o envelhecimento digno e sustentável e que contemple as necessidades do grupo etário das pessoas com idade igual ou superior a 60 anos. As políticas e programas oficiais devem contemplar os direitos, as necessidades, as preferências e a capacidade dos idosos, reconhecendo a importância das experiências individuais dos sujeitos idosos. O desafio é e será incluir na agenda de desenvolvimento socioeconômico dos países políticas para promover o desenvolvimento ativo, possibilitando qualidade aos anos adicionais à vida. Criar condições para fortalecer as políticas e programas para promoção de uma sociedade inclusiva e coesa para todas as idades, reconhecendo o direito à vida, à dignidade e à longevidade deve ser objeto de preocupação dos governantes.

No dia primeiro de outubro de 2003, dia Internacional do Idoso, o

Estatuto do Idoso foi sancionado pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Nele, segundo Filho (2003), a Política Nacional do Idoso objetiva criar

condições para promover o prolongamento da vida do idoso, colocando em

prática ações voltadas, tanto para os que estão velhos, como também para

aqueles que vão envelhecer. Ele ainda acrescenta que, no que tange às

políticas públicas desenvolvidas pelo Estado e os direitos fundamentais

elencados pelo estatuto, temos o direito à vida garantida pela atenção integral

a saúde, por intermédio do Sistema Único de Saúde – SUS, que está

comprometida pelo atendimento prestado hoje.

Para Ceneviva (2001 apud ANDRADE FILHO, 2003, p. 8):

O Estatuto do Idoso estabelece prioridade absoluta às normas protetivas ao idoso, elencando novos direitos e estabelecendo vários mecanismos específicos de proteção os quais vão desde precedência no atendimento ao permanente aprimoramento de suas condições de vida, até a inviolabilidade física, psíquica e moral. Corroborando essa assertiva, Uvo e Zanatta (2005), ressaltam que o Estatuto constituiu um marco legal para a consciência idosa do país, já que a partir dele, os idosos conseguiram uma legislação que garanti os seus direitos.

Porém, os idosos atualmente querem ter espaço na vida profissional,

pessoal, amorosa, não querem ser tão somente dependentes. Goldenberg,

(2013) em seu livro A Bela Velhice, diz que os idosos nessa fase da vida,

querem ser produtivos, úteis e ativos, não apenas ocupar, passar, preencher

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o tempo. Ao contrário, o tempo, para eles, é algo extremamente valioso e não

pode ser desperdiçado. Não querem se aposentar de si mesmos.

Para tanto, faz-se necessário iniciarmos cedo o planejamento de vida,

com cuidados com a saúde, fisicamente, financeiramente. Goldenberg

(20013, p. 18) afirma que:

A ‘bela velhice’ é o resultado natural de um ‘belo projeto de vida’, que pode ser construído desde muito cedo, ou mesmo tardiamente, por cada um de nós. A beleza da velhice está, exatamente, na sua singularidade, nas pequenas e grandes escolhas de cada indivíduo faz ao buscar concretizar seu projeto de vida.

MATERIAIS E MÉTODO

O método de pesquisa utilizado na presente é o método histórico, que

vem resgatar a trajetória da população idosa no decorrer da história mundial,

segundo Veras e Almeida (2003), na pré-história, no Império Romano e na

Grécia Antiga, as pessoas chegavam a média de até os 25 anos deidade.

Isso era influenciado com as condições de vida que possuíam. A expectativa

de vida foi aumentando no decorrer da história, no século XVII elevou-se para

30 anos, já no século XIX aumentou mais cinco anos. De 1900 a 1950,

acresceu-se 10 anos e, a partir de 1950, nos países industrializados a

expectativa de vida era de 65 anos. Atualmente, a média de vida em países

desenvolvidos é de 76 anos. Tal resgate histórico possibilitará compreender a

dinâmica de tal processo, na construção de valores econômicos e sociais, tais

como: inclusão e exclusão social, produção e produtividade. Para

alcançarmos nosso objetivo, realizamos uma pesquisa bibliográfica e

empírica. Esta última encontra-se ainda em andamento. Até a data de

06/06/2014, é impossível, afirmar se até o final deste ano os dados

ultrapassará o ano de 2013.

REFERÊNCIAS

ANDRADE FILHO, Evaldo Solano de. A efetividade legal do estatuto do idoso constituído sob a lei 10.741/2003. Paraíba: Editora da Universidade Estadual de Paraíba, 2003.

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ASSOCIAÇÃO COMERCIAL E INDUSTRIAL DE MARINGÁ. Maringaenses são os mais ricos do interior do Paraná. O Diário do Norte do Paraná, Maringá, 17 de novembro de 2011. Disponível em: <http//www.odiariomaringa.com.br>. Acesso em: 20 fev. 2012. CASTRO, Vivian Carla de. Atitudes face ao lazer do idoso e suas implicações para a enfermagem: um estudo em instituições de longa permanência. 2012. Dissertação (Mestrado)-Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2012. GOLDENBERG, Miriam. A bela velhice.1. ed. Rio de Janeiro: Record, 2013. WALTER, Maestri Bruna. A terceira idade bate à porta do Brasil Jornal Gazeta do Povo, Curitiba, 21 agosto de 2011. SANTOS, Ana Carla Peterson de Oliveira de et al. A construção da violência contra os idosos. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Rio de Janeiro, v.10, n.1, 2007. VERAS, Renato; ALMEIDA, Vera Lúcia Valshi de. Velhice e envelhecimento. Serviço Social &Sociedade, São Paulo, 2003. 3.2.2 AVALIANDO A CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA DO CONSUMIDOR DA CIDADE DE MARINGÁ – PR

Vitor Vinicius Ribeiro Schmitt

Renata Oliveira RESUMO Atualmente, a qualidade de vida das pessoas está estritamente relacionada às conquistas materiais e consequentemente ao consumo dos recursos naturais. Preocupados com o excessivo consumo dos recursos naturais e consequentemente, com a degradação do meio ambiente, o presente projeto de pesquisa propõe analisar a relação entre a consciência ecológica dos consumidores e as atitudes dos mesmos em relação ao consumo sustentável na cidade de Maringá – PR. Dessa forma, a pesquisa consiste em apresentar levantamento bibliográfico acerca do conhecimento referente ao consumo, comportamentos e analisar seus perfis.

Renata Oliveira: docente da Faculdade Metropolitana de Maringá – FAMMA, Maringá – PR/ Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Maringá/UEM. E-mail: [email protected] Acadêmico do curso de Publicidade e Propaganda da Faculdade Metropolitana de Maringá – FAMMA. E-mail: [email protected] / / Rua Bandeirantes, n. 01 B, Vila Morangueira. CEP: 87030-500 – Maringá-PR.

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Palavras-chave: Consumo consciente. Atitudes ecológicas. Desenvolvimento sustentável.

As discussões no decorrer das últimas décadas sobre o meio ambiente

vêm se destacando na contemporaneidade, devido às transformações e às

consequências da forma com que a sociedade tem se relacionado com o

meio ambiente, tendo o consumo excessivo como um elemento fundamental

do desenvolvimento humano.

Dessa forma, os indivíduos inseridos na sociedade apresentam

comportamento onde são direcionados a consumir, seja o consumo por

necessidade ou impulsão, que propõe a eles que, para ser devidamente

considerado um cidadão ativo no meio em que vive, é preciso consumir, fazer

que com haja o movimento do capital “[...] o valor social das pessoas é aferido

pelo o que elas têm e não pelo o que elas são” (BARBOSA, 2004, p. 32).

Pode-se ressaltar que há uma diferença entre o que se chama de

sociedade do consumo e cultura do consumo:

[...] devemos ter claro a distinção entre sociedade e cultura porque, para muitos autores - Como Frederic Jameson, Zygmunt Bauman, Jean Baudrillard e outros – a cultura do consumo ou dos consumidores é a cultura da sociedade pós-moderna, e o conjunto de questões discutidas sob esse rótulo é bastante específico. Ele inclui a relação íntima e quase causal entre consumo, estilo de vida, reprodução social e identidade, a autonomia da esfera cultural, a estetização e comoditização da realidade [...] (BARBOSA, 2004, p.10).

Assim, ao apresentar essa definição de cultura do consumo, autora

permite discutir o que formaria a sociedade de Consumo. Entretanto, a autora

denomina que a sociedade do consumo pode ser interpretada como uma

ação que não pertence à sociedade na era moderna, ou seja, não são

discutidos na pós-modernidade. Dessa forma, buscam compreender,

investigar o consumo da sociedade questionando as razões que levam a

consumir.

Segundo Barbosa (2004), existem diferentes maneiras de pensar o

consumo ao longo da história. Ela cita, por exemplo, como ele acontecia na

sociedade da corte, tradicional que apresentava um consumo familiar.

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

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Entretanto, para que uma sociedade pudesse ser considerada de consumo,

chamado de pátina, era necessário modificar essa ação tradicional e torná-lo

uma forma de ‘moda’ ou ‘status’.

O consumo de pátina, por sua vez, refere-se aos produtos obtidos por

um longo período de vida, usados por muitas gerações. Por outro lado, o

consumo de moda traz a concepção e relação de que, assim como a moda

(roupas) devem ser substituídas em curtos períodos, também seria o

consumo de objetos. Considerando que a produção de objetos, na atualidade,

são produzidos com um curto período de vida para justamente serem

substituídos posteriormente em curto prazo (BARBOSA, 2004).

Assim, entende-se que a cultura do consumo pode ser refletida como

um comportamento imposto pela sociedade, porém a sociedade do consumo

apresenta-se como o fato de que o ato de consumir sempre esteve e está

presente para suprir necessidades básicas em determinados espaços.

Visto por uma ótica distinta a de Livia Barbosa (2004), as autoras Mary

Douglas e Baron Isherwood (1979) trazem a concepção de que as

mercadorias são boas para pensar, pois evidenciam o funcionamento da

cultura, traz que a ideia de que os objetos são importantes pelas relações que

estabelecem, ou seja, consomem porque precisam estabelecer relações

sociais para gerar as necessidades. Todavia, o consumo é de certa forma um

ciclo entre o consumo e o sentido, pois para garantir um, necessariamente

precisa-se do outro mantendo esse ciclo vicioso como tradição.

Pensar sobre consumo e meio ambiente é um desafio, algo que se faz

necessário, ao mesmo tempo em que se vislumbra como excessivo, pode

acarretar consequências irreversíveis para a humanidade. Porém, será que os

indivíduos envolvidos diretamente na questão do consumo possuem algum

tipo de consciência ecológica? Se possuem, suas atitudes estão apenas na

teoria ou já se fazem presentes na prática cotidiana?

Por isso, além de analisar o contexto histórico no qual o consumo se

envolve, faz parte também do nosso Programa de Iniciação Científica discutir

e refletir o comportamento da sociedade maringaense diante desta

problematização.

O objetivo é relacionar consciência ecológica com atitudes em relação

ao mesmo, de forma que possamos traçar perfis, por meio de pesquisas em

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formato de amostragem, como os consumidores da cidade de Maringá, tem

se relacionado com a questão do consumo consciente, possibilitando, assim,

pensar sobre suas ações tanto na teoria quanto na prática, ou seja, refletindo

de que maneira a consciência expressada se torna real nas atitudes do seu

cotidiano.

Sem a pretensão de traçar um perfil finito, mas apenas suscitar uma

reflexão pontual, a pesquisa está embasada na teoria existente sobre a

formação de um cidadão consciente ecologicamente, como também na busca

de dados quantitativos que possam revelar de fato o que acontece entre o

saber e o fazer ecológico, ou seja, como ser “ecologicamente correto”.

Assim, o processo da busca de dados por meio de entrevistas nos

proporcionará uma reflexão social, antropológica, capaz de nos apresentar e

desmistificar algumas falas e ações por trás do que muitos consumidores

consideram como ‘consumo consciente’ e suas práticas reais para manter

uma relação saudável entre consumo e meio ambiente.

REFERÊNCIAS

BARBOSA, Livia. Sociedade de consumo. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2004.

DOUGLAS, Mary; ISHERWOOD, Baron. O mundo dos bens. Rio de Janeiro: UFRJ, 1979.

3.2.3 BACHAREL EM PUBLICIDADE E PROPAGANDA: UM ESTUDO DE CASO NA FAMMA

Calíli Alves Cavalheiro - FAMMA

Renata Oliveira dos Santos - FAMMA

RESUMO

* Acadêmico do curso de Publicidade e Propaganda da Faculdade Metropolitana de Maringá – FAMMA. E-mail: [email protected]. * Professora da Faculdade Metropolitana de Maringá – FAMMA, Maringá – PR. Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Maringá/UEM. E-mail:[email protected] / Rua Barão do Rio Pardo, n.13, Jardim Tupinambá. CEP: 87040-070 – Maringá-PR.

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O presente estudo visa compreender como a formação no curso de publicidade e propaganda da Instituição de Ensino Superior FAMMA influencia a percepção dos alunos quanto ao seu papel de Bacharel em publicidade e propaganda na sociedade. Dessa forma, a investigação será dividida em três momentos: no primeiro, será efetuado um levantamento bibliográfico acerca dos seguintes temas: a institucionalização do ensino superior em Publicidade e Propaganda e o papel do bacharel em Publicidade e Propaganda para o fomento dessa sociedade em caráter crítico e mercadológico. No segundo, uma reflexão sobre a grade curricular do curso de Publicidade e Propaganda da FAMMA, desde sua implementação até o reconhecimento do MEC em 2013. Finalmente, no terceiro momento, será abordado, de maneira empírica, com os alunos iniciantes e concluintes do curso em 2014, identificando como em estágios diferentes de graduação eles percebem a importância da formação no curso para a sua atuação, futuramente, no mercado de trabalho.

Palavras-chave: Publicidade e Propaganda. Ensino. Formação Acadêmica.

INTRODUÇÃO

Os objetivos do presente estudo são compreender qual a percepção

dos alunos ingressantes e concluintes do curso de Publicidade e Propaganda

da FAMMA, no ano de 2014, acerca do papel do bacharel na sociedade,

analisando a matriz curricular do curso de proposto pela FAMMA e as

mudanças ocorridas entre sua implementação e o reconhecimento do curso

pelo MEC em 2013. A temática utilizada na investigação proposta é de um

trabalho de conclusão de curso em construção.

Segundo Azevedo (2007), educação é o principal campo de mediação

na construção do sujeito histórico e, a partir dessa formação, são articuladas

as potencialidades do ser humano em todas as dimensões, partindo do

pressuposto de que o ser humano em sua singularidade é essencialmente

plural nas suas relações com o mundo. Suas respostas são diversificadas a

partir de um mesmo estímulo, caracterizando-as por não serem padronizadas.

A literatura sobre ensino superior em Publicidade e Propaganda no

Brasil e construção da sociedade (ANDRADE, 2013; AUGUSTO, 2005;

AZEVEDO, 2007; BAUMAN, 2013; FULLERTON; PUNJ, 1998; PERUZZO,

2003; SLATER, 2002) prioriza discussões, acerca da formação profissional

por meio do ensino superior em Publicidade e Propaganda, questionando

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quais as percepções dos acadêmicos em relação ao conhecimento adquirido

na academia e sua atuação no mercado de trabalho.

DESENVOLVIMENTO

Compreender a percepção dos alunos ingressantes e concluintes do

curso de Bacharelado em Publicidade e Propaganda da FAMA 2014, torna-se

elementar para contribuir com novas metodologias de ensino e até mesmo

alterações curriculares, uma vez que a formação acadêmica inspira a

assertividade e o equilíbrio entre disciplinas teóricas e práticas.

Nesse sentido, evidenciamos a reflexão de Peruzzo (2003) acerca da

formação acadêmica do profissional em comunicação:

Uma formação que dê ênfase à profissionalização do estudante, segundo o nosso ponto de vista, não significa negar as necessidades da formação teórica do aluno, como por vezes parece estar implícito no discurso de alguns educadores. Consideramos que há que se ter um equilíbrio entre teoria e prática, um equilíbrio entre formação global e formação técnico profissional. Não é possível esquecer que a formação teórica é imprescindível à formação global do estudante, inclusive a profissional. Com ela o aluno poderá desenvolver melhor as habilidades e técnicas da área profissional. Sendo assim, parece-nos um pseudo-dilema, ou um falso problema, opor formação teórica e técnico-prática. Ambas são complementares e imprescindíveis à formação integral do profissional da comunicação (PERUZZO, 2003, p. 9).

Para cumprir com os objetivos propostos, o trabalho se apoiará em

pesquisa bibliográfica. Serão realizadas leituras, discussões e sistematização

de postulados, nas áreas da Educação e da Comunicação, que nortearão a

pesquisa empírica.

A porção empírica do estudo utilizará tanto dados primários quanto

secundários. Os dados primários serão obtidos via aplicação de questionários

aos alunos ingressantes e concluintes do curso de Publicidade e Propaganda

da FAMMA 2014. Os dados secundários serão obtidos por meio das

informações sobre o curso de Publicidade e Propaganda obtidas na matriz

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

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curricular desse curso da FAMMA. A análise dos dados ocorrerá de maneira

mista, isto é, tanto por meio de pesquisa quantitativa quanto quantitativa.

Para Diehl e Tatim (2004), a pesquisa quantitativa é caracterizada pela

quantificação tanto na coleta quanto no tratamento dos dados coletados por

meio de técnicas estatísticas, com o intuito de fornecer resultados sem

distorções na análise e na interpretação, proporcionando maior margem de

segurança.

No que se refere à pesquisa qualitativa, esta pode descrever um

problema e sua complexidade, bem como a relação de variáveis com o

objetivo de compreender e identificar grupos sociais, proporcionando maior

nível de imersão e a compreensão dos comportamentos e particularidades

dos indivíduos (DIEHL; TATIM, 2004).

Considerando a natureza da pesquisa, esta será exploratória, pois,

segundo Diehl e Tatim (2004), a pesquisa exploratória baseia-se no

levantamento bibliográfico e na realização de entrevistas com sujeitos que

tenham experiências com o tema objeto da pesquisa, juntamente com a

análise que estimule a compreensão da pesquisa proposta.

Com base na revisão de literatura realizada, pode-se constatar que a

bagagem intelectual adquirida no decorrer da realização do curso de

graduação em Publicidade e Propaganda dá ao bacharel em questão, no

arcabouço de suas atribuições, o conhecimento necessário para analisar fatos

sobre a realidade, apresentando condições de explanar e concatenar suas

ideias fora da esfera do senso comum, podendo assim contribuir de forma

social, política e intelectual com a organização social. Analisar, levantar

hipóteses e propor discussões para o desenvolvimento dos profissionais da

área de publicidade e propaganda é necessário, pois se pode compreender o

ensino superior como um agente transformador do pensamento e do

comportamento, de modo a contribuir positivamente com o desenvolvimento

da sociedade.

No universo da profissão de publicitário, partilhamos a visão da

Publicidade e Propaganda de acordo com Augusto (2005), na qual a

publicidade e a propaganda são vistas socialmente como uma profissão de

pessoas glamorosas que enriquecem com pouco esforço, a custo de diversão

própria e da diversão dos consumidores. Uma percepção errônea, pois a

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

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comunicação que é percebida pelos consumidores brasileiros nos dias atuais

é diferente da comunicação no início da atividade em meados dos anos 1960.

A forma criativa e festiva da comunicação não ecoa em nosso tempo do

mesmo modo como no passado, dado o amadurecimento do mercado

publicitário e o amadurecimento dos consumidores brasileiros, com a tomada

de consciência de cidadania e o consumo responsável, adquiridos com novas

tendências nos países desenvolvidos, tornando os consumidores cada vez

mais respeitados e elevando o nível de criticidade.

Para Kellner (2004), o conhecimento e o domínio de tecnologias de

informação e comunicação não são determinantes no processo de educação,

também é necessária a participação dos alunos em todos os processos de

ensino e aprendizagem, possibilitando torná-los ‘atores políticos’ capazes de

produzir e pulverizar informações em busca de seus ideais.

Entende-se que a criticidade é a capacidade de realização de uma

análise complexa da realidade apresentada ao indivíduo, que, por sua vez,

torna-se capaz de produzir alteração nesta mesma realidade. O pensamento

crítico pode ser exemplificado como o modo de pensar do indivíduo de forma

mais profunda (ABREU, 2011).

Entende-se que, diferentemente de outras profissões, para a

sustentação dos profissionais de Publicidade e Propaganda no mercado é

necessário um rico conhecimento nas mais variadas esferas do saber, não se

limitando ao conhecimento técnico-científico presente nas instituições de

ensino superior, legitimando a perpetuação do profissional no mercado.

Nesse sentido, para Bauman (2013), durante muitos anos, a ascensão

social foi conquistada pela educação, que se institucionalizou de modo a

tentar encobrir os anseios, as desigualdades e as mazelas da sociedade, ao

passo que os feitos acadêmicos correspondiam aos desejos sociais mais

atraentes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebem-se as tecnologias de produção e os seus aperfeiçoamentos

consecutivos no decorrer do século 20, como a sofisticação da comunicação

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

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de massa, da propaganda e do marketing para pulverizar os atributos da

sociedade moderna, em relação à sociedade tradicional (SLATER, 2002).

Para Kellner e Share (2008), os modos de vida na atualidade são em

grande parte condicionados pelos padrões e modelos fornecidos pela cultura

da mídia. Desse modo, pode-se ressaltar que o modelo de vida social na

contemporaneidade se constitui das relações entre a sociedade e a

Publicidade e Propaganda difundidos nos meios de comunicação. Disso,

compreende-se que os profissionais bacharéis em publicidade e propaganda

atuam no mercado de modo a perpetuar os modelos impostos pela indústria,

estabelecendo modismos, necessidades e comportamentos criados a pedido

de clientes, favorecendo assim o crescimento do consumo de bens e serviços

disponíveis no mercado. Desse modo, compreende-se o ensino superior

como agente transformador do pensamento e do comportamento não só dos

futuros bacharéis em publicidade e propaganda, mas também de toda uma

sociedade.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Dalvacir Xavier de Oliveira. Desafios do ensino de publicidade e propaganda. In: CONGRESSO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO NA REGIÃO NORDESTE, 15., 2013. Mossoró. Anais...Mossoró: [s.n.], 2013. 1 CDROM AUGUSTO, Cinara. Fragilidades estruturais da publicidade: direcionando o foco das discussões. In: ENCONTRO DOS NÚCLEOS DE PESQUISA DA INTERCOM, 5., 2005, Mossoró. Anais... Mossoró: Intercom, 2005. AZEVEDO, Jose Clovis de. Reconversão cultural da escola: mercoescola e escola cidadã. Porto Alegre: Sulina, 2007. BAUMAN, Zygmunt. Sobre educação e juventude: conversas com Riccardo Mazzeo. Tradução Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. ABREU, Belinha de. Literacia dos Media, Redes Sociais e Ambiente Web 2.0. In: CONGRESSO NACIONAL LITERACIA, MEDIA E CIDADANIA, 2011, Braga. Anais... Braga: Universidade do Minho: Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, 2011. p. 494-504. DIEHL, Astor Antônio; TATIM, Denise Carvalho. Pesquisa em ciências sociais aplicadas: métodos e técnicas. São Paulo: Prentice-Hall, 2004.

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FULLERTON, Ronald; PUNJ, Girish. The unintended consequences of the culture of consumption: an historical-theoretical analysis of consumer misbehavior. Consumption, Markets & Culture, London, v.1, no. 4, p. 393-423, 1998. KELLNER, Douglas. A globalização e os novos movimentos sociais: lições para a teoria e a pedagogia críticas. In: BURBULES, Nicholas C.; TORRES, Carlos Alberto. Globalização e educação: perspectivas críticas. Porto Alegre: Artmed, 2004. p. 195-208. KELLNER, Douglas; SHARE, Jeff. Educação para a leitura crítica da mídia, democracia radical e reconstrução da educação. Revista Educação e Sociedade, Campinas, SP, v. 29, n. 104, p. 687-715, out. 2008. PERUZZO, Cicilia Maria Krohling. Tópicos sobre o ensino de comunicação no Brasil. In: PERUZZO, Cicilia Maria Krohling; SILVA, Robson Bastos da (Org.). Retrato do ensino de comunicação no Brasil. São Paulo: Intercom, Taubaté, Unitau, 2003. p. 9. SLATER, Don. Cultura, consumo e modernidade. São Paulo: Nobel, 2002. 3.2.4 A GESTÃO AMBIENTAL NO CONTEXTO DAS ORGANIZAÇÕES: RUMO AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Aparecida do Nascimento Silva

Maria Gabriela Monteiro

RESUMO

A questão ambiental vem sendo debatida amplamente, no Brasil e no mundo, devido à crescente degradação ambiental existente atualmente, considerando o fato de que um ambiente em equilíbrio reflete na qualidade de vida do seu povo. A geração de resíduos sólidos tem sido uma das principais ameaças ao meio ambiente. Os impactos ambientais causados pela geração desses resíduos quando não gerenciados corretamente implicam danos irreversíveis ao meio ambiente. Por esse motivo, a gestão ambiental vem se tornando cada vez mais comum nas empresas que se orientam para a sustentabilidade. Sendo assim, o presente trabalho propõe-se a apresentar a proposta e os resultados preliminares do projeto de iniciação científica que vem sendo desenvolvido com o objetivo de analisar a gestão ambiental do setor da construção na cidade de Maringá, no Paraná, e sua contribuição para o desenvolvimento sustentável.

Acadêmico do curso de Publicidade e Propaganda da Faculdade Metropolitana de Maringá – FAMMA. E-mail: [email protected] Docente e coordenadora do Curso de Administração da Faculdade Metropolitana de Maringá – FAMMA.

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Palavras-chave: Gestão ambiental. Construção. Desenvolvimento sustentável.

INTRODUÇÃO

Há cerca de 250 anos, nascia a sociedade industrial, fruto da aplicação

dos conhecimentos científicos na resolução de questões práticas. Nesse curto

espaço de tempo, a sociedade industrial conseguiu dobrar a expectativa de

vida do ser humano, fazendo com que a população do planeta tenha sido

multiplicada por sete.

A questão ambiental, no Brasil e no mundo, tornou-se um tema

amplamente debatido em todos os meios, em vista da crescente degradação

ambiental existente atualmente e pelo fato de que um ambiente em equilíbrio

reflete na qualidade de vida do seu povo. Nesse contexto, surge a questão

dos resíduos sólidos (lixo) com uma das mais sérias ameaças ao planeta.

Nossa população cresce em níveis geométricos e, com ela, cresce a

produção do lixo. Estimando-se que cada ser humano produz em média 0,5kg

a 1,5kg (em função do poder aquisitivo de cada indivíduo) de lixo diariamente

e multiplicando pelo total da população do mundo (cerca de 7 bilhões),

teremos a espantosa cifra de 3,0 a 4,5 bilhões de quilos de lixo produzidos

diariamente.

Esses resíduos, em grande parte, são depositados em locais

inadequados dentro da malha urbana, a maior parte dos resíduos é lançada a

céu aberto (vazadouros), o que representa um enorme desperdício de

matéria-prima e de energia, resultando numa grave degradação ambiental.

Essa degradação ambiental ainda é agravada pela falta de planejamento

ambiental. Tal questão, embora conflitante, precisa ser tratada com a

seriedade que o caso merece, pois todos nós somos responsáveis pela

preservação do meio ambiente. A partir do momento que usamos os recursos

naturais com respeito ao próximo e ao meio ambiente, preservando os bens

naturais e à dignidade humana, estamos contribuindo para um

desenvolvimento sustentável.

Existem muitas definições para o desenvolvimento sustentável. Em

comum, todas elas apontam para o fato de que o desenvolvimento promovido

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nos últimos 250 anos pela humanidade, permitiu que enormes ganhos em

termos de qualidade e expectativa de vida para os seres humanos vem

alterando significativamente o equilíbrio do planeta e ameaça a sobrevivência

da espécie. O desenvolvimento, na perspectiva do desenvolvimento

sustentável, tem por objetivo “obter crescimento econômico por meio da

preservação do meio ambiente e pelo respeito aos anseios dos diversos

agentes sociais, contribuindo assim para a qualidade de vida da sociedade”

(TENÓRIO, 2004, p. 25).

A gestão ambiental vem se tornando cada vez mais comum nas

empresas que estão se orientando para a sustentabilidade. Políticas

ambientais são adotadas como forma de minimizar os impactos ambientais

causados pelas atividades econômicas desenvolvidas numa sociedade.

Esses impactos, quando não são gerenciados corretamente, implicam em

danos irreversíveis ao meio ambiente. Dentre os impactos ambientais a

geração de resíduos sólidos está presente, em maior ou menor escala, na

maioria das situações.

Entre os setores de atividades humanas, a indústria da construção é

considerada o setor que mais consome recursos naturais, além de ser

responsável pela geração da maior parte dos resíduos sólidos gerados pelo

conjunto das atividades humanas, causando assim consideráveis impactos

ambientais.

Nesse sentido, o presente trabalho faz parte de uma pesquisa maior

que pretende trazer um novo olhar sobre a gestão ambiental do setor

construção civil no município de Maringá, no Paraná. Nesse documento,

apresenta-se a proposta e os resultados preliminares do projeto de iniciação

científica que vem sendo desenvolvido com o objetivo de analisar a gestão

ambiental do setor da construção em Maringá e sua contribuição para o

desenvolvimento sustentável.

DESENVOLVIMENTO

Desde a Revolução Industrial o meio ambiente vem sofrendo

alterações e com a falta da preocupação com a preservação, o correto

descarte dos resíduos gerados a partir dos processos de

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transformação/produção dos materiais, o tema ‘gestão ambiental’ se faz

urgente em todos os segmentos de processos industriais. Há o consenso em

que a sobrevivência do planeta requer profundas transformações na

sociedade industrial, alterando padrões tecnológicos de produção, hábitos de

consumo e até raízes culturais. É também o consenso em que a

transformação da cadeia produtiva da construção é crucial neste processo.

A sustentabilidade já é o principal motor da inovação tecnológica em

todos os setores, inclusive o da construção civil. Aquelas empresas e

profissionais, que se posicionarem na vanguarda, colherão os principais

benefícios. No trabalho aqui apresentado, decidiu-se por analisar o setor da

construção civil. A opção por esse setor consiste no seu papel fundamental

para a realização dos objetivos globais do desenvolvimento sustentável.

Segundo Brasil ([2014]), o Conselho Internacional da Construção aponta a

indústria da construção como o setor de atividades humanas que mais

consome recursos naturais e utiliza energia de forma intensiva, gerando

consideráveis impactos ambientais. Além dos impactos relacionados a esses

recursos, há também aqueles associados à geração de resíduos sólidos,

líquidos e gasosos. Somente com relação aos resíduos sólidos, estima-se que

mais de 50% do total de resíduos gerados pelo conjunto das atividades

humanas sejam provenientes da construção.

Dentro desse setor, foi selecionada uma amostra não probabilística de

três empresas. O critério para seleção dessa amostra foi o tamanho da

empresa, classificadas de acordo com o número de colaboradores. Decidiu-se

por selecionar uma empresa de pequeno porte, uma de médio porte e uma de

grande porte. Definiu-se também que o método de pesquisa não seria apenas

descritivo, mas também exploratório. Pois, não somente se descreverão as

características das empresas estudadas com relação às práticas de gestão

ambiental como também se consideraram necessário realizar uma pesquisa

exploratória para identificar as empresas que priorizam a preservação

ambiental na cidade de Maringá-PR, bem como as relações entre empresa,

governo e sociedade, numa perspectiva de desenvolvimento sustentável.

A coleta dos dados primários será realizada por meio de um

levantamento através de entrevistas. Na empresa, será entrevistado, no

mínimo: um diretor; um técnico de meio ambiente; um funcionário. No

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203

governo, o secretário de meio ambiente. E na sociedade, um (1)

representante do Conselho Municipal de Meio Ambiente e quinze (15)

pessoas da sociedade que possam estar ligadas de alguma forma às

empresas estudadas (serão cinco pessoas por empresa). A pesquisa tem,

portanto, uma natureza qualitativa. Parte dos entrevistados já foi contatada

para as entrevistas e o roteiro de entrevista já foi elaborado. Para a coleta de

dados secundários estão sendo utilizadas Pesquisas Bibliográfica e

Documental.

Por questões de ética profissional, chamam-se as empresas

envolvidas no trabalho de ‘Empresa A’, ‘Empresa B’ e ‘Empresa C’. Através

de um primeiro contato com a ‘Empresa A’, observa-se que a empresa se

propôs a elaborar e implantar um programa de gestão ambiental, que

segundo informado ocorreu devido a sua preocupação com o gerenciamento

dos resíduos oriundos da execução de suas obras e pensando na

sustentabilidade. Trata-se de um programa, uma ferramenta de orientação

para ser aplicado nos canteiros, que informa aos responsáveis pela execução

da obra onde e como deve ser descartado cada resíduo gerado. Tal programa

consiste no documento chamado Programa de Gerenciamento de Resíduos

sólidos da Construção civil (PGRSCC). A elaboração desse documento tomou

como base a classificação dos resíduos de acordo com a Resolução

CONAMA Nº 307, de 05 de Julho de 2002 (BRASIL, 2002). Dentro do

PGRSCC da ‘Empresa A’, outros documentos estão sendo analisados, como,

por exemplo, a Planilha de Receptores de Resíduos disponíveis na cidade de

Maringá, o Termo de responsabilidade de receptação de resíduos sólidos, a

Ficha de Controle de Geração de Resíduos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pretende-se com a pesquisa de iniciação científica, apresentada neste

trabalho, compreender o processo de gestão ambiental do setor da

construção na cidade de Maringá, no Paraná, e verificar se esse processo

tem contribuído para promover o desenvolvimento sustentável da região.

Sabe-se que o setor de construção civil gera resíduo, assim como em

qualquer outro segmento industrial, e espera-se que as empresas estejam

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

204

preocupadas em descartar os resíduos de forma segura, responsável e

sustentável, implantando programas de gestão ambiental, para amenizar os

impactos ambientais e sociais, ainda que se saiba que a maioria das

empresas brasileiras está bem distante dessa realidade. Nesse sentido,

questiona-se: como o setor da construção na cidade de Maringá tem

gerenciado seus resíduos sólidos? As empresas analisadas estão realmente

preocupadas com os impactos ambientais e sociais ou cumprem apenas o

que obriga a legislação? A gestão ambiental dessas empresas tem

contribuído para o desenvolvimento sustentável? Essas e outras questões

fazem parte das inquietações que motivaram o desenvolvimento do projeto de

pesquisa e para as quais se pretende oferecer uma resposta. Assim, espera-

se que os conhecimentos construídos não se limitem ao meio acadêmico,

mas contribuam com a construção de uma sociedade melhor, ao alertar para

a importância da gestão ambiental no contexto das organizações.

REFERÊNCIAS

TENÓRIO, Fernando Guilherme (Org.). Responsabilidade social empresarial: teoria e prática. Rio de Janeiro: FGV, 2004. BRASIL. Ministério do Meio ambiente. Construção sustentável. Brasília, DF, [2014]. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/cidades-sustentaveis/urbanismo-sustentavel/constru%C3%A7%C3%A3o-sustent%C3%A1vel>. Acesso em: 25 ago. 2014.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Resolução nº 307, de 5 de julho de 2002. Estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17 julho 2002. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res02/res30702.html>. Acesso em: 25 ago. 2014.

3.2.5 A UTILIZAÇÃO DO FACEBOOK POR JOVENS UNIVERSITÁRIOS: PARTICIPAÇÃO POLÍTICA E MOBILIZAÇÃO SOCIAL

Railon Batista dos Santos

Tiago Roberto Ramos

Graduado em Publicidade e Propaganda pela Unifamma. Mestre em Ciências Sociais (UEM), graduado em Ciências Sociais (UEM), graduado em Publicidade e propaganda (UNICESUMAR). Professor universitário na Unifamma.

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

205

RESUMO

Esta pesquisa analisa a utilização do Facebook por jovens universitários da Faculdade Metropolitana de Maringá - FAMMA. Objetivamos compreender o emprego que os jovens fazem do Facebook para fins de mobilização política e social. Nosso interesse pelo tema foi despertado pela observação das dinâmicas de organização das jornadas de junho de 2013, onde foram empregados vários mecanismos das redes sociais. Problematizamos, assim, a apropriação do Facebook por jovens universitários como forma de participação social e mobilização política. Teoricamente, nos baseamos nas reflexões de Castells (2013), que aborda a utilização das redes sociais nas mobilizações políticas e a construção de um novo tipo de cidadania a partir desses movimentos. Metodologicamente, realizamos uma pesquisa quantitativa empregando a técnica de entrevista estruturada para o levantamento de dados. Palavras-chave: Facebook. Mobilização Social. Redes sociais.

INTRODUÇÃO

As relações sociais podem ser definidas como todas as interações e

ligações que são estabelecidas entre seres humanos, de maneira natural ou

através de interesses pessoais. Essas interações são fundamentais para a

vida em sociedade. Ocorrem tanto em espaços físicos como em ambientes

virtuais.

Recuero (2010) indica que as ciências sociais se dedicam ao estudo

dessas interações. As formas de comportamento e condutas individuais

interagem com os modelos das organizações coletivas. A partir dessa

interação, o formato das mobilizações surge e se estabelece.

Com o decorrer do tempo, o formato das mobilizações se modificou. O

surgimento das tecnologias da informação, como a internet, impactou

profundamente o formato dessas organizações e as dinâmicas dessas

mobilizações. Do espaço físico para o espaço virtual, da organização orgânica

e pessoal, para o universo fluido e impessoal.

O progresso tecnológico e o advento da internet transformaram

significativamente os meios tradicionais de comunicação. Socialmente

falando, o jornal, o rádio e a televisão passaram a se adequar as demandas

de um público que se acostumou a ter a liberdade de montar sua

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

206

programação e interagir com ela. São essas principais mudanças que

caracterizam esse novo cenário.

A possibilidade de transferir a interação virtual para o espaço físico é

uma das principais características das mobilizações sociais que se organizam

a partir do Facebook. Essa rede social:

Surgiu em 2004 como uma rede social apenas para os alunos da Universidade de Harvard. Devido ao seu sucesso, ainda no mesmo ano expandiu-se para outras universidades, e para escolas do ensino secundário no ano seguinte. Finalmente, em 2006, o Facebook tornou-se uma rede social aberta a todos (TEIXEIRA; AZEVEDO, 2011, p. 55).

Tematizamos, então, a apropriação juvenil das redes sociais e as

consequências dessa dinâmica nas mobilizações sociais.

Objetivamos observar a utilização do Facebook como plataforma de

mobilização política e participação social. Problematizamos sua apropriação

por jovens universitários. Para tanto, colocamos a seguinte questão: como os

jovens universitários se apropriam do Facebook para mobilização política e

participação social?

DESENVOLVIMENTO

Hoje as páginas das redes sociais tornaram-se um modelo de

interatividade. No caso dos jovens, o uso é indispensável, principalmente

quando precisam expressar suas opiniões, seus desejos, seu estado

emocional, criar eventos ou mesmo compartilhar seus melhores momentos.

Sendo assim, é possível pensar em uma rede que pode ser apropriada por

jovens insatisfeitos, que a utilizam para fins sociais. Como exemplo, citamos

as manifestações ocorridas em 2013 no Brasil, onde milhões de pessoas

saíram às ruas para protestar. Segundo Castells (2013, p. 10), “Os

movimentos espalharam-se por contágio num mundo ligado pela internet sem

fio e caracterizado pela difusão rápida, viral, de imagens e ideias”.

Tudo foi estruturado nas redes sociais da Internet, o Facebook foi um

dos grandes mediadores para a realização de cada protesto e mobilização.

Ainda, segundo Castells (2013, p. 19), “os indivíduos tornaram o Facebook

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

207

um canal de interação em tempo real, onde datas e horas foram marcadas, e

mobilizações em grande escala aconteceram”.

Como podem ser observadas, essas mobilizações empregaram as

redes sociais e foram fomentadas, em grande parte, por jovens. Por isso, para

alcançar nosso objetivo e solucionar o problema da pesquisa, realizamos um

levantamento de dados com 66 informantes. Os informantes são acadêmicos

de diferentes cursos de graduação da Faculdade Metropolitana de Maringá.

Aplicamos um questionário contendo 16 questões objetivas e discursivas.

Perguntamos sobre a utilização da rede social Facebook, buscando saber do

emprego dessa rede em atos de participação política e mobilização social. Os

questionários foram entregues em locais de presença ativa dos acadêmicos,

como cantina e salas de aula, e foram aplicados entre os dias 26 a 28 de

maio de 2014.

Esta pesquisa baseou-se em métodos quantitativos e qualitativos como

afirma Queiroz (2006, p. 88):

[...] pensar em pesquisa quantitativa e em pesquisa qualitativa significa, sobretudo, pensar em duas correntes paradigmáticas que têm norteado a pesquisa científica no decorrer de sua história. Tais correntes se caracterizam por duas visões centrais que alicerçam as definições metodológicas da pesquisa em ciências humanas nos últimos tempos. São elas: a visão realista/objetivista (quantitativa) e a visão idealista/subjetivista (qualitativa).

A etapa qualitativa da pesquisa, que se refere à análise profunda dos

dados, ainda está em andamento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dessa abordagem foi possível caracterizar a utilização das

redes sociais pelos acadêmicos da Faculdade Metropolitana de Maringá. Dos

66 entrevistados, 48% eram homens e 52% eram mulheres. Desse total, 70%

tem até 30 anos. O uso cotidiano do Facebook se faz presente em 64% dos

entrevistados, que empregam a rede, na sua maioria, para fins de

entretenimento e interação com amigos e conhecidos. Quando questionados

sobre a utilização da rede para fins de manifestação de indignações com as

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

208

injustiças sociais, como a corrupção, apenas 32% dos entrevistados afirmou

que utiliza a rede para esse fim. Índice semelhante, encontramos quando a

questão foi à adesão as manifestações ocorridas em 2013, apenas 27%

afirmou que participou das mobilizações. No entanto, a grande maioria dos

participantes – 70% – afirmou que souberam das manifestações por meio das

redes sociais. Quando questionados sobre o Facebook ser utilizado como um

canal de interações e ação dos movimentos sociais, 41% dos entrevistados

afirmou que essa é uma ótima ideia, outros 45% acreditam que essa é uma

boa ideia. No entanto, 29% foi o montante de informantes que afirmaram

conhecer movimentos sociais, sem aderir a eles. A grande maioria dos

entrevistados - 97% - afirma que não participa ativamente de movimentos

sociais pelo Facebook e apenas 20% curte ou segue páginas de movimentos

sociais.

Assim, os dados demonstram que o protagonismo das redes sociais

como forma de mobilização política, amplamente empregadas durante as

jornadas de junho de 2013, não se replicam no cenário dos acadêmicos

universitários da FAMMA. Os motivos que levam à baixa adesão dos

acadêmicos ao Facebook como ferramenta de participação social e

mobilização política ainda carecem de explicação. No entanto, podemos

afirmar que as redes sociais são amplamente utilizadas por esses jovens.

Essa utilização se concentra na questão do entretenimento e interação social,

é preciso avançar nas pesquisas no sentido de descobrir o teor desse

entretenimento, para averiguar se ele não está também carregado de

conteúdo político.

REFERÊCIAS

CASTELLS, Manuel. Movimentos sociais na era da internet: redes de indignação e esperança. Tradução: Carlos Alberto Medeiros. São Paulo: J. Zahar, 2013. Disponível em: <http://zerohora.clicrbs.com.br/pdf/15208452.pdf>. Acesso em: 26 mar. 2014 QUEIROZ, Luis Ricardo Silva. Pesquisa quantitativa e pesquisa qualitativa: Perspectivas para o campo da etnomusicologia. Claves, João Pessoa, v. 2, p. 87-98, 2006. Disponível em: <http://www.biblionline.ufpb.br/ojs/index.php/claves/article/view/2719>. Acesso em: 31 ago. 14.

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

209

RECUERO, Raquel. Redes sociais na internet. Porto Alegre: Sulina, 2010. Coleção Cibercultura). TEIXEIRA, Diego; AZEVEDO, Isabel. Análise de opiniões expressas nas redes sociais. Revista Ibérica de Sistema e Tecnologias de Informação – RISTI, Lousada, v. 8, p. 53-67, dez. 2011. Disponível em: <http://ojs.academypublisher.com/index.php/risti/article/view/risti085365>. Acesso em: 16 maio 2014

3.2.6 COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR EM RELAÇÃO AO CONSUMO DE PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL

Calíli Alves Cavalheiro - FAMMA

Resumo

O presente estudo visa compreender como se dá o entendimento da população maringaense quanto ao consumo de produtos vegetarianos, abordar quais os tipos existentes de classificação para um consumo não animal, verificar se a classe social interfere em sua opção alimentar, descobrir quais foram os fatores que influenciaram seus hábitos de consumo. A pesquisa também percebe se o mercado de Maringá está atendendo aos vegetarianos de forma satisfatória e se algo poderia ser melhorado para que essa conscientização seja espalhada na sociedade. A pesquisa foi elaborada por meio de questionário on-line com caráter quantitativo, além de pesquisas bibliográficas para entender o objeto de estudo. Pode-se constatar que o consumidor percebe falhas no processo de produção e comunicação de diversos produtos e serviços, o que configura uma condição problemática para o seu processo de compra e consumo em inúmeras situações.

Palavras-chave: Consumo. Produtos. Origem Animal. Vegetarianos.

O principal objetivo deste trabalho é compreender o comportamento do

consumidor maringaense em relação ao consumo de produtos de origem

animal, apoiando-se em três pontos chaves: refletir sobre o mercado de

alimentos de origem animal e as novas tendências de consumo; analisar o

comportamento do consumidor frente aos diversos tipos de grupos

caracterizados pelo consumo dos grupos alimentares; e, investigar qual a

preferência dos consumidores maringaenses em relação ao consumo de

produtos de origem animal.

Acadêmico do curso de Publicidade e Propaganda da Faculdade Metropolitana de Maringá – FAMMA. E-mail:[email protected]

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

210

A compreensão do consumo de alimentos na sociedade

contemporânea ultrapassa o estudo das opções e escolhas individuais e de

suas influências.

Assim, o consumo de alimentos exemplifica que, ao optar por um determinado

tipo de refeição, pode-se utilizar e interpretar como ‘marcas’ do status social

do consumidor.

Tomamos como exemplo o vegetarianismo, que por sua vez tem

origens diversificadas, sejam elas sociais, econômicas, éticas, religiosas,

políticas, cuidados com o meio ambiente e saúde entre outras. De acordo

com a União Vegetariana Internacional (UVI), ‘vegetariano’ é o indivíduo que

não ingere nenhum tipo de carne (boi, suínos, aves, peixe, frutos do mar etc.),

embora alguns consumam alguns produtos de origem animal, tais como ovos,

leite e seus derivados.

O grau de restrição a produtos de origem animal é o fator determinante

quanto ao tipo de vegetarianismo, podendo sofrer variações desde os ‘ovo-

lacto-vegetarianos’ que consomem ovos, leite e derivados, até os ‘veganos’

(vegans ou ‘vegetarianos puros’) que não consomem nenhum produto de

origem animal (NASCIMENTO; SAWYER, 2007). O vegano se apropria de

outra conduta que o diferencia dos outros grupos, pois, além restringir

alimentos, eles também não utilizam outros tipos de produtos de origem

animal, como o couro e cosméticos que em alguns casos são testados em

animais.

Porém, apesar das evidências da expansão do mercado vegetariano,

pouca relevância tem sido dada no contexto brasileiro e internacional para

esse tipo de consumidor, na qual suas motivações vão além da esfera

utilitária do consumo, podendo ser considerada uma das formas de expressão

e construção de identidade por meio da cultura material.

O presente estudo visa analisar e compreender a dinâmica do mercado

de produtos de origem animal e não animal na cidade de Maringá, bem como

as percepções dos consumidores em relação a estes produtos.

Tendo em vista a atual preocupação com os processos ambientais e de

conscientização da sociedade contemporânea, acerca da melhoria da

qualidade de vida por meio do consumo de uma alimentação saudável, a

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

211

sociedade de consumo impõe limitações às opções e alternativas para

aqueles que optam por não consumir produtos que contenham matéria prima

de origem animal. Desse modo, pode-se concluir que inibe, em sua grande

maioria, qualquer tipo de questionamento acerca dos processos industriais

que o próprio capitalismo a submete.

A criação e a veiculação de campanhas cada vez mais sedutoras

disfarçam os objetivos da indústria com foco na produção e no aumento das

vendas, expandindo o consumismo exacerbado de produtos que tenham

matéria-prima de origem animal em sua composição.

O motivo pelo qual se pretende desenvolver o trabalho proposto é analisar

o mercado de produtos naturais vegetarianos e apresentar aos consumidores

maringaenses novas opções de empresas que prezam pelo bem estar da

coletividade e dos animais.

Para Baudrillard (1995, p. 15),

[...] a nossa volta, existe hoje uma espécie de evidência fantástica do consumo e da abundância, criada pela multiplicação dos objetos, dos serviços, dos bens materiais, originando como que uma categoria de mutação fundamental na ecologia da espécie humana.

O consumo elabora mundos no qual os indivíduos ingressam e se

organizam para julgar ou serem julgados por meio dos produtos que utilizam.

Segundo Illouz (2010), a atividade primordial do consumo não está restrita à

escolha do produto ou a sua utilização, mas ao prazer que a imagem do

produto proporciona.

Belk (1988) salienta que não devemos compreender o comportamento

do consumidor antes de ter uma breve noção dos significados atribuídos

pelos consumidores às suas escolhas e aquisições. Também ressalta que os

indivíduos geralmente buscam definir os grupos e subgrupos a que

pertencem, bem como a cultura que fazem parte por meio dos hábitos de

consumo. Os consumidores definem personalidade, identidade e estilo de

vida de acordo com a intenção de compra. Assim, segundo Illouz (2010), os

produtos passam a ter significado social e simbólico.

Segundo Schlüter ([2003]), a alimentação permite, ao mesmo tempo, a

ascensão a uma classe social e a distinção cultural. Desse modo, o hábito

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

212

alimentar absorve as características físicas dos alimentos, mas também seus

valores simbólicos e imaginários, que, à semelhança das qualidades

nutritivas, passam a fazer parte do próprio indivíduo.

As forças sociais e culturais determinam o querer e o prazer e o

consumo passa a conter a ilusão da subjetividade autônoma e a procura da

autenticidade que estão incorporadas na cultura do consumo (ILLOUZ, 2010).

Para cumprir com os objetivos propostos, o trabalho se apoiou em

pesquisa bibliográfica, buscando a compreensão do tema proposto. Foram

realizadas leituras e discussões de postulados, nas áreas de Comportamento

do Consumidor e do Consumo de Alimentos, que nortearam o trabalho de

campo.

Sendo a investigação de caráter quantitativo, a pesquisa de campo

apoiou-se em questionário com questões estruturadas. Foram elaboradas 12

perguntas dirigidas aos entrevistados, sendo 30 indivíduos de ambos os

sexos, com faixa etária entre 13 anos e idades superiores a 60 anos, todos

respectivamente residentes no município de Maringá – Paraná.

O preenchimento dos questionários foi realizado entre os dias

04/05/2014 e 28/05/2014 em ambiente virtual na Internet, elaborado com o

auxílio do serviço Google Drive, com convite à participação por meio do

Facebook, cuja participação ocorreu de livre e espontânea vontade dos

entrevistados, visando à segurança, bem como o sigilo e a preservação da

identidade de todos.

Constatou-se que dentre os entrevistados, 76% consomem todos os

tipos de produtos e alimentos de origem animal inclusive carnes (bovinas,

aves, suínas, peixes, frutos do mar e outras); 7% a única carne que consome

é de peixes; 10% não consomem carnes bovinas, aves, suínas, peixes, frutos

do mar e outros, porém consomem alimentos e produtos de origem animal,

tais como ovos, leite e seus derivados; e, 7% não consomem produtos e

alimentos de origem animal, inclusive couro e peles.

Quanto ao sexo dos entrevistados, obteve-se 27% do sexo masculino e

73% do sexo feminino, 67% são solteiros, 23% casados, 3% divorciados e 7%

possuem união estável.

No que se refere à renda familiar, 3% pertence à classe A; 3% pertence

à classe B; 57% pertence à classe C; 27% pertence à classe D; e, 10%

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

213

pertence à classe E. Entre os entrevistados, 3% ensino fundamental

completo; 3% ensino médio incompleto; 10% ensino médio completo; 27%

ensino superior incompleto; 13% ensino superior completo; 10% pós-

graduação incompleto; e, 33% pós-graduação completo.

Quanto aos hábitos alimentares descritos pelos entrevistados, obteve-

se o seguinte resultado quanto ao fator influenciador, 51% responderam que a

família influenciou em seus hábitos alimentares; 11% foram influenciados

pelos amigos; 4% foram influenciados pela economia doméstica; 17% foram

influenciados por motivos de saúde; 6% foram influenciados por consciência

ambiental; e, 11% foram influenciados por posicionamento contrário à

exploração animal.

Ao questionarmos se havia alguma dificuldade em encontrar produtos

adequados aos hábitos alimentares, 20% dos entrevistados responderam que

sim; e, 80% responderam que não encontravam dificuldades para encontrar

produtos adequados aos seus hábitos alimentares, 24% realizam suas

compras em lojas especializadas; enquanto76% efetuam suas compras em

lojas comuns; 13% têm dificuldades para encontrar restaurantes adequados

aos hábitos alimentares; enquanto 87% não têm a mesma dificuldade.

Os hábitos alimentares são determinados predominantemente pela

cultura estabelecida que é aprendida e transmitida de geração para geração,

influenciando os futuros membros de uma sociedade. É um modo de vida e

inclui os objetos materiais de uma sociedade e também suas ideias e valores.

As maneiras de se vestir, pensar, comer e se divertir são componentes de

uma cultura (MOWEN; MINOR, 2003).

Pode-se constatar que o consumidor percebe falhas no processo de

produção e comunicação de diversos produtos e serviços, o que configura

uma condição problemática para o seu processo de compra e consumo em

inúmeras situações. O alinhamento do diálogo crítico do consumidor com o

mercado permite o reconhecimento das possibilidades operacionais e a

melhoria na infraestrutura dos meios de produção e distribuição de produtos

alimentícios ambientalmente corretos. Isto porque, para que aconteça uma

adaptação adequada dos mercados às necessidades dos consumidores, o

processo de adequação e conscientização alimentar deve ser discutido,

avaliado e possivelmente modificado.

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

214

REFERÊNCIAS

BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Lisboa: Edições 70, 1995. BELK, Russell. Possessions and extended self. Journal of Consumer Research, Chicago, v. 15, no. 2, p. 139-168, sept. 1988. FRANCO, Érica de Souza; REGO, Raul Amaral. Marketing estratégico para subculturas: um estudo sobre hospitalidade e gastronomia vegetariana em restaurantes da cidade de São Paulo. Turismo - Visão e Ação, Balneário Camburiú, v. 7, n. 3, p. 469-482, set./dez. 2005 ILLOUZ, Eva. Emotions, imagination and consumption: a new research agenda. Journal of Consumer Culture, New York, v. 9, no. 3, p. 377-413, 2010. MOWEN, John C.; MINOR, Michel S. Comportamento do consumidor. São Paulo: Prentice Hall, 2003. NASCIMENTO, I. S. SAWYER, D.A. Vegetarianos do Brasil: consumo x produção de carne. Universidade de Brasília, Centro de Desenvolvimento Sustentável. Brasília, DF, 2007. Disponível em: <http://www.unbcds.pro.br/conteudo_arquivo/090708_089C57.pdf>. Acesso em: 23 abr. 2011. SCHLÜTER, Regina G. Gastronomia e turismo. Traduzido por Roberto Sperling. São Paulo : Aleph, [2003].

3.2.7 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: ASPECTOS HISTÓRICOS

Maria Lucia Lopes Barroso

Taissa Vieira Lozano Burci

Maria Luisa Furlan Costa

Graduada em Geografia pela FAFIJAN (1994). Especialista em Educação Especial e Educação Inclusiva pela UNINTER, Especialista em Administração, Supervisão e Orientação Educacional pela UNOPAR, Especialista em Metodologia de Ensino/Aprendizagem da Geografia no Processo Educativo pela Faculdade de Educação São Luís, FESL. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá. Tutora Municipal do Programa do Formação pela Escola/FNDE/MEC do Município de Astorga. Graduada em Pedagogia (2009) e Especialista em Educação Especial (2012) pela Universidade Estadual de Maringá. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá. Professora de Apoio em Sala de Aula da Prefeitura Municipal de Maringá. Graduada em História pela Universidade de Maringá (1990), Mestrado em Educação pelo pela Universidade Estadual de Maringá (1997) e Doutorado em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar da Universidade Paulista Julio de Mesquita Filho – UNESP/Araraquara (2010). Professora a adjunta da Universidade Estadual de Maringá. Diretora do Núcleo de Educação a Distância da Universidade Estadual de Maringá. Coordenadora do Programa Universidade Aberta do Brasil no âmbito Universidade Estadual de Maringá. Presidente do Fórum Nacional de Coordenadores UAB na gestão 2012-2015.

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

215

RESUMO Este resumo trata de uma pesquisa bibliográfica a respeito do processo histórico da educação a distância. O objetivo principal é compreender quais foram os avanços que essa modalidade alcançou no campo educacional brasileiro a partir de suas principais características. Palavras-chave: Educação a distância. Expansão tecnológica.

INTRODUÇÃO

Este estudo originou-se de uma pesquisa realizada pelas autoras sobre

a educação a distância (EaD) na linha de História e Historiografia, do

Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade Estadual de

Maringá, em nível de Mestrado.

A pesquisa buscou compreender o processo histórico da EaD e de que

forma a mediação pedagógica é importante nessa modalidade de ensino.

Assim, nesse resumo, serão apresentados elementos relevantes do processo

histórico da EaD que permitem analisar as contribuições para o

desenvolvimento da educação a distância.

DESENVOLVIMENTO

O campo educacional brasileiro tem se fortalecido principalmente a

partir da expansão tecnológica que aconteceu a partir da década de 1990

com a criação do computador e da internet. Dessa forma, é necessário

reconhecer como a educação sofre influência das tecnologias de informação

e comunicação (TICs).

Quando se analisa a educação voltada para a modalidade a distância,

percebe-se que a escolha por essa modalidade vem de encontro com a

necessidade de suprir a formação superior do país. O Brasil é um país de

grande extensão territorial e a educação a distância se torna um meio de

acesso à educação de qualidade. De acordo com Costa (2010, p. 18):

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

216

[...] a educação a distância pode contribuir, de forma significativa, para o desenvolvimento educacional de um país, notadamente, de uma sociedade com as características brasileiras, em que o sistema educacional não consegue desenvolver as múltiplas ações que a cidadania requer.

Criada em 2005, a Universidade Aberta do Brasil (UAB) busca

melhorar a qualificação de profissionais nas mais diversas áreas. Mas foi

quase dez anos antes que a educação a distância foi reconhecida como uma

forma de ensino pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDBN, Lei nº

9.394/96 (BRASIL, 1996), na qual se entendia que a mediação acontecia por

meio de recursos didáticos e tecnológicos.

Alves, Zambalde e Figueiredo (2004) destacam que EaD é uma forma

de ensinar e de aprender em que professores e alunos estão separados

fisicamente, mas que utilizam recursos tecnológicos e didáticos para

aprenderem e ensinarem.

A educação a distância iniciou-se no século XX com a utilização dos

recursos disponíveis como televisão, rádio e até correspondência. De acordo

com Alves (2002), em 1923 foi fundada a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro

com o objetivo de difundir a educação.

No início, essa modalidade foi utilizada para difundir a educação de

técnicas de agricultura e pecuária (MARQUES, 2004). No entanto, o marco

histórico da educação a distância se deu na década de 1990 com a expansão

tecnológica, a criação do computador e da internet mudou a sociedade em

todos os aspectos, inclusive na educação.

As tecnologias de informação e de comunicação caracterizam a EaD,

permitindo que a democratização de acesso à educação de qualidade seja

possível em qualquer parte do território mundial vindo ao encontro com as

políticas públicas praticadas. Toda prática pedagógica acontece com a

utilização desses recursos, permitindo que alunos e professores se

comuniquem de forma síncrona ou assíncrona.

Diversos projetos surgiram no Brasil ao longo do século XX utilizando a

educação a distância, como Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, entre 1922 a

1925; Instituto Monitor em 1939; Instituto Universal Brasileiro em 1941;

Movimento de Educação de Base em 1961; Sistema Nacional de

Teleducação em 1976; entre outros.

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217

De acordo com Marques (2004), na década de 1970 o Brasil era

considerado um dos líderes na modalidade a distância, principalmente com o

projeto SACI e Minerva. A quantidade de fundações privadas e não

governamentais que ofereciam cursos a distância no país era bastante

significativa.

Um momento importante dessa modalidade se deu em 1990, com a

criação da Universidade Aberta de Brasília. Essa criação foi responsável por

ampliar o conhecimento cultural, promover a educação continuada e abranger

os cursos de graduação e pós-graduação.

Marques (2004) ilustra como a educação a distância estava ganhando

espaço e sendo reconhecida pela qualidade e possibilidades de acesso ao

ensino, quando em 1995 é criado o Centro Nacional de Educação a Distância

(CEAD).

Em 27 de maio de 1996, por meio do Decreto nº1.917, foi criada a

Secretaria de Educação a Distância, de acordo com Costa (2010, p. 17):

[...] representava a clara intenção do Governo Federal de investir na educação a distância e nas novas tecnologias como uma das estratégias para democratizar e elevar o padrão de qualidade da educação brasileira, de universalização e democratização da educação e do conhecimento, por meio de programas de formação inicial e continuada a distância e de infoinclusão, para todos os níveis e modalidades de ensino.

É de grande relevância destacar que a ampliação ao ensino superior

aconteceu com a aprovação da LDBN nº 9.394/96 (BRASIL, 1996),

quando a educação a distância foi reconhecida como uma modalidade

de ensino.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das informações analisadas, conclui-se que a educação a

distância está em grande expansão. Ao longo dos anos ela foi ganhando

reconhecimento pela sua qualidade e democratização de acesso ao ensino

superior.

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218

O período de grande destaque dessa modalidade foi na década de

1990, com a expansão tecnológica e a criação da internet, possibilitando que

todos tenham acesso a ela.

As tecnologias de informação e comunicação (TICs) são recursos

utilizados para que essa modalidade atenda seu alunado. O processo

educacional acontece de forma síncrona e assíncrona entre professores e

alunos mantendo a qualidade de ensino.

REFERÊNCIAS

ALVES, João Roberto Moreira. Educação a distância e as novas tecnologias de informação e aprendizagem. 2002. Disponível em: <http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos_teses/EAD/EDUCADIST.PDF>. Acesso em: 25 set. 2013. ALVES, Rêmulo Maia; ZAMBALDE, André Luiz; FIGUEIREDO, Cristhiane Xavier. Ensino a distância. Lavras: UFLA/FAEPE, 2004. BRASIL. Lei nº 9394/96, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 1996. Seção 1, p. 27833-27841. COSTA, Maria Luisa Furlan. Educação a distância no Brasil: perspectiva histórica. In: COSTA, Maria Luisa Furlan; ZANATTA, Regina Maria (Org.). Educação a distância no Brasil: aspectos históricos, legais, políticos e metodológicos. 2. ed. Maringá: Eduem, 2010. p.11-21. MARQUES, Camila. Ensino a distância começou com carta de agricultores. Folha de S. Paulo, São Paulo, SP, 29 set. 2004. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u16139.shtml>. Acesso em: 02 maio 2014.

3.2.8 A INCLUSÃO DOS SURDOS NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Camila Técla Mortean Mendonça

Renata Simões de Brito Cardoso

Angela Sampaio de Deus Lima

Mestranda em Educação pela Universidade Estadual de Maringá – UEM. Maringá-PR. Unicesumar – Centro Universitário Cesumar. [email protected] Mestre em Promoção da Saúde: Educação e Tecnologia na Promoção da Saúde pela Unicesumar – Centro Universitário Cesumar. Maringá-PR. Unicesumar – Centro Universitário Cesumar. [email protected]

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RESUMO

Este estudo que ora apresentamos tem o objetivo de abordar a inclusão dos surdos no Ensino Superior, modalidade a distância. Para o desenvolvimento da pesquisa, foi realizada uma reflexão histórica com relação à educação dos surdos, desde a idade média até os dias atuais, assim como pontuamos como vem ocorrendo a inclusão dos surdos nos cursos de graduação na modalidade a distância. Concluímos que há necessidade da inserção de novas ferramentas para a inclusão dos surdos no Ensino Superior, modalidade a distância, bem como é preciso o envolvimento de toda a sociedade, a fim de que o surdo possa ser incluído de fato.

Palavras-chave: Educação a Distância. Inclusão. Surdos.

1 INTRODUÇÃO

A inclusão das pessoas com deficiência no meio social e educacional é

de conhecimento de todos, assim como as lutas por direitos de igualdade e de

reconhecimento perante a sociedade, que atravessa séculos. Com a

finalidade de acolher essa população, criaram-se leis que asseguram o

cumprimento dos direitos, comum a todos, também a esses cidadãos.

Podemos citar a Constituição Federal de 1988, em seu art. 205 afirma que a

educação é direito social de todos e dever do Estado e da família, e a Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº. 9.394/96 (BRASIL, 1996),

elaborada com base nos art. 205, ao 214 da Constituição Federal (BRASIL,

1988).

O marco histórico para a educação dos surdos ocorreu com o

Congresso Internacional sobre a Instrução dos Surdos. O I Congresso foi

realizado em 1978, em Paris. Foi a partir deste Congresso que as pessoas

surdas adquiriram alguns direitos, dentre eles, podemos destacar o de assinar

documentos.

No mesmo congresso, houve muitas discussões a respeito dos

métodos para o ensino dos surdos, pois apesar de entenderem que os surdos

se comunicavam por sinais, alguns ainda acreditavam que a linguagem oral

facilitava a comunicação com as pessoas ouvintes. As discussões

Mestre em História pela Universidade Estadual de Maringá –UEM. Maringá-PR. Unicesumar – Centro Universitário Cesumar. [email protected]

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

220

continuaram e, em 1880, foi realizado o II Congresso Internacional sobre a

Instrução dos Surdos, em Milão. Segundo Nogueira e Carneiro (2010, p. 22):

Foi o II Congresso Internacional em Milão [...] que provocou uma grande reviravolta nas práticas pedagógicas para o ensino dos surdos. Organizado praticamente por apenas oralistas, o objetivo velado do Congresso de Milão era tornar o oralismo obrigatório na educação dos surdos. Neste Congresso, um dos inventores do telefone, Graham Bell, exerceu enorme influência a favor do oralismo.

Nesse congresso, estabeleceu-se que os surdos não poderiam mais

ser ensinados com sinais, ou seja, segundo os autores supracitados, houve

um retrocesso no ensino, pois as disciplinas curriculares foram deixadas de

lado e o foco se tornou o ensino da língua oral aos surdos.

Com o passar dos anos, os surdos foram ganhando, com muita luta, o

direito a uma educação diferente. O movimento ganhou proporção e os outros

países também começaram a oferecer escolas para a educação dos surdos.

Segundo Sander, M. e Sander, R. (2011), a primeira escola fundada no

Brasil, em 1857, foi o Instituto Nacional dos surdos-mudos, localizada no Rio

de Janeiro. Atualmente, a escola é chamada de Instituto Nacional de

Educação de Surdos – INES. O fundador desta escola, o professor francês

Ernest Huet, trouxe ao Brasil o ensino das disciplinas por meio dos sinais.

Somente após verificar que o oralismo não estava dando o retorno

esperado no aprendizado das crianças surdas, foram propostas novas formas

de comunicação com os surdos. De acordo com Sander, M. e Sander, R.

(2011), como alternativa ao oralismo, surge a comunicação total, onde todas

as formas de comunicação possíveis são utilizadas no processo de educação

do surdo.

Segundo os mesmo autores, somente entre as décadas de 1980 e

1990 que surgiu o bilinguismo na educação dos surdos, de acordo com

Goldfeld (1989 apud SANDER, M.; SANDER, R., 2011, p. 17),

Os surdos brasileiros conseguiram outros avanços a respeito de sua

educação. Segundo Nogueira, C., Nogueira, B. e Carneiro (2010), em 1987,

foi criada a Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos –

FENEIS. Esta é uma instituição que não busca fins lucrativos, mas tem o

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

221

intuito de incluir o surdo socialmente. Segundo as mesmas autoras, a Língua

Brasileira de Sinais foi oficializada por meio da Lei nº 10.436/2002 (BRASIL,

2002). Esta Lei reconhece a Libras e a pessoa surda como capaz e atuante

socialmente.

DESENVOLVIMENTO

Apesar dos grandes avanços alcançados pelos surdos, a inserção

destes no Ensino Superior, modalidade a distância, requer algumas medidas

específicas, conforme apontam Pacheco e Costa (2005, p. 5):

A inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais no ensino superior requer medidas que facilitem e auxiliem a concretização desse processo, como: formação continuada de professores, produção e adequação de recursos pedagógicos, assessoria psicopedagógica, adaptação do currículo, bem como reflexão de todos os envolvidos no processo educativo.

Ou seja, a inserção desses alunos no Ensino Superior vai além da

matrícula e da frequência. Viana e Santarosa (2013) ainda pontuam que esse

público possui dificuldade quanto à linguagem, tendo em vista que a língua

materna destes é a Libras, enquanto a língua materna dos ouvintes é a língua

falada. Para os surdos, a compreensão do mundo se dá pelo meio visual, o

que pode causar algumas limitações, tendo em vista que estes se encontram

inseridos em um meio social que possui a mediação social por meio da

linguagem falada.

Nesta lógica, a EAD vem se caracterizar como um desafio, no momento em que este ambiente não está adaptado às necessidades do surdo, sobrecarregando as informações em língua escrita e não oferecendo tradução em LIBRAS ou sequer possibilidade de interação e postagem de trabalhos nesta língua (VIANNA; SANTAROSA, 2013, p. 6).

Na Educação a Distância, a implementação de algumas ações poderia

contribuir para o desenvolvimento efetivo destes alunos nesta modalidade.

Vianna e Santarosa (2013, p. 6-7) apontam que:

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222

A utilização de ferramentas de comunicação com dispositivos de acessibilidade para o surdo poderia promover uma interação mais qualitativa, potencializando o seu processo de aprendizagem e desenvolvimento humano via curso de EAD. Em situações nas quais o surdo não consegue realizar uma comunicação adequada, ficando isolado, poderá ter o seu desenvolvimento cognitivo e socioafetivo prejudicado.

Outra ferramenta que poderia contribuir também neste processo seriam

os materiais didáticos, que de forma geral não atendem a esse público, pois

não são construídos levando em consideração a deficiência auditiva

(VIANNA; SATAROSA, 2013). Também é de extrema importância destacar o

trabalho do professor que realiza a mediação destes alunos, pois:

Trabalhar na modalidade EAD compreende um comprometimento maior, tanto por parte do aluno, quanto por parte do professor. Em sala de aula, a participação de alguns alunos passa despercebida. Em EAD, isto pode ser mais bem quantificado e qualificado, já que permite um acompanhamento em relação ao acesso do aluno ao ambiente e um tempo maior para análise das interações (VIANNA; SATAROSA, 2013, p. 8).

É preciso que o professor que acompanha os alunos surdos tenha um

comprometimento maior, pois necessita de uma constante reflexão da prática,

levando sempre em consideração às dificuldades e particularidades que estes

alunos apresentam. É preciso ainda que seja pontuada a importância que

essa mediação possui para o desenvolvimento dos alunos com deficiência

auditiva, assim como é preciso reconhecer que cada aluno possui as suas

características e que possuem formas diferentes de apreender o conteúdo.

“Um aluno surdo que fique isolado em um curso de EAD, por falta de

mediação adequada, bem como por dificuldade de interação com o grupo e

com o conteúdo, possivelmente, não construirá o conhecimento de forma

significativa (VIANNA; SANTAROSA, 2013, p. 8-9).

Apesar do grande avanço que a educação dos surdos, desde o início

das lutas e movimentos pelo reconhecimento da mesma como pessoa capaz,

ainda uma grande parte das pessoas surdas não estão incluídas socialmente.

Muito ainda se busca, agora com a ajuda das novas tecnologias. No entanto,

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223

essa inclusão ainda se faz presente em grande parte na Lei, na prática,

apesar do auxílio das tecnologias.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Atualmente, as instituições educacionais se veem diante do desafio da

inclusão, direito garantido às crianças com deficiência a ingressar no ensino

regular pela legislação educacional vigente. Essa garantia é resultado de

décadas de negociações e ações afirmativas em prol da pessoa com

deficiência.

Paralelamente à evolução da inclusão como direito da pessoa com

deficiência, o desenvolvimento tecnológico tem beneficiado os homens e a

sociedade, de modo que a vida ganha em qualidade e eficiência. Assim como

nas demais esferas da existência, os processos de ensino e de aprendizagem

das crianças surdas vêm sendo aprimorado com a incorporação de novas

ferramentas e recursos tecnológicos. Podemos concluir também que para que

as ferramentas sejam utilizadas, é preciso o envolvimento de professores,

alunos, pais, Estado e comunidade. O professor tem papel fundamental no

processo, pois é ele o elo entre a ferramenta, o aluno e o conhecimento.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a língua brasileira de sinais - libras e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 25 abr. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10436.htm>. Acesso em: 25 set. 2013. BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Lei nº. 9.394/96. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em: 25 set. 2013. BRASIL. Senado Federal. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Centro Gráfico, 1988. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 22 mar. 2014.

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

224

NOGUEIRA, Clélia Maria Ignatius; NOGUEIRA, Biatriz Ignatius; CARNEIRO, Marília, Ignatius. Nogueira. Língua brasileira de sinais. Maringá: Centro Universitário de Maringá, 2010. Núcleo de Educação a Distância.

PACHECO, Renata Vaz; COSTAS, Fabiane Adela Tonetto. O processo de inclusão de acadêmicos com necessidades educacionais especiais na Universidade Federal de Santa Maria. Revista Educação Especial, Santa Maria, n. 27, p. 1-11, 2005. Disponível em: <http://www.ufsm.br/ce/revista/ceesp/2006/01/a12.htm>. Acesso em: 30 jun. 2014. SANDER, Marieuza Endrissi; SANDER, Ricardo Ermani. Atendimento educacional especializado para pessoa surda. Maringá: Centro Universitário de Maringá. 2011. Núcleo de Educação a Distância. VIANNA, Patrícia Beatriz de Macedo; SANTAROSA, Lucila Maria Costi. Surdos na educação a distância: um estudo exploratório. Revista Cesuca Virtual: conhecimento sem fronteiras, Cachoeirinha, v.1, n. 1, p. 1-10, jul. 2013. Disponível em: <http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/cesucavirtual>. Acesso em: 21 jun. 2014.

3.2.9 ROMPENDO BARREIRAS: A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA A DISTÂNCIA (PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES)

Daniel da Silva Maciel

Kethlen Leite de Moura RESUMO O estudo apresenta como objetivo geral realizar um resgate histórico da Educação a Distância no Brasil, bem como do curso de Educação Física, expondo a interlocução da formação de educadores físicos na modalidade presencial e a distância, e quais as possibilidades da EAD atender de maneira concreta os componentes curriculares existentes na presencial. Esta pesquisa exploratória de cunho bibliográfico discute a implementação da educação a distância no Brasil, caracteriza a formação de educadores físicos na modalidade presencial e a distância e suas principais diferenças e ainda levanta possibilidades para que os cursos de Educação Física a Distância vençam as barreiras sem perder a qualidade. Enfoca a temática a respeito de como a cultura escolar auxilia na formação profissional dos futuros graduados em Educação Física. Palavras-chave: EAD. Formação de Professor. Educação Física.

Graduando do Curso de Educação Física da Faculdade Metropolitana de Maringá. Endereço: Avenida Mauá, 2854 _Maringá-PR. E-mail: [email protected] Professora Mestre lotada no curso de Pedagogia, da Faculdade Metropolitana de Maringá. Endereço: Avenida Mauá, 2854_Maringá-PR. E-mail: [email protected]

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

225

INTRODUÇÃO

A relevância de nossa pesquisa surge a partir da seguinte

problemática: como ocorre a formação de professores de educação física a

distância? Se a cultura escolar que permeia o curso de graduação é

reconhecida pelas práticas corporais, na modalidade a distância sua

identidade está relacionada com as tecnologias digitais?

Nesse sentido, devemos analisar que a educação apresenta duas

modalidades, a presencial e a distância. A modalidade presencial é utilizada

nos cursos regulares em que professores e alunos encontram-se

cotidianamente, em um mesmo local que denominamos sala de aula. Na

modalidade a distância, os professores e alunos estão separados no espaço

físico e no tempo de estudo. E essa modalidade educacional ocorre por meio

do uso das tecnologias.

Nunes (1994) retrata que a Educação a Distância tornou-se um recurso

importantíssimo para atender grandes demandas de alunos à procura da

formação de educador físico. Novas abordagens surgem com vistas à

utilização das crescentes ferramentas interativas, o avanço das mídias digitais

e a expansão da internet tornou possível o acesso às informações, “[...]

permitindo a interação e colaboração entre pessoas distantes

geograficamente ou inseridas em contextos diferenciados” (ALVES, 2011, p.

84).

Notavelmente, o avanço das tecnologias possibilitou a expansão do

fenômeno da globalização em um período mais intenso na sociedade. Com as

transformações econômicas decorrentes desse efeito, disseminou-se a

abertura de mercado mundial, a dívida pública, combate a inflação,

privatização, entre outros (SANTOS, 2003), determinando assim a atual

conjuntura social que nos deparamos.

O campo educacional inclui cada vez mais o debate sobre a formação

de professores de educação física no país, e essas mudanças incluem a

educação a distância. Desde a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional, LDB n.º9394/1996 (BRASIL, 1996) que a EAD passa a

ser desenvolvida no Brasil, com a finalidade de atender a uma demanda

específica, a falta de profissionais da educação.

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

226

Se no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) a

Educação a Distância era voltada para a formação continuada de

profissionais com vistas a garantir a sua empregabilidade. No governo de Luís

Inácio Lula da Silva (2003-2010), o novo ideário visava atender à demanda

reprimida de graduação, propondo diversas ações que concretizem a

universalização do ensino superior, quanto à valorização dos educadores

físicos.

Com políticas de ampliação de acesso ao Ensino Superior, de forma a

atender a demanda específica da população que já estava afastada dos

bancos escolares há algum tempo, o governo Lula agrega em seu projeto

político um mecanismo de facilitação para suprir o déficit, criando a

Universidade Aberta do Brasil (UAB) por meio do decreto n.º 5.800/2006, ou

seja, um marco regulatório para os cursos à distância (QUARANTA, 2011).

Após a implementação da UAB, observa-se a possibilidade da

população de ingressar no Ensino Superior, e a oferta desses cursos à

distância ocorrem por meio da utilização de tecnologias de informação (TICs),

que, para Mota (2009), é o sustentáculo da modalidade EAD. Ainda de acordo

com o autor supracitado, os polos presenciais são de grande importância para

a permanência do aluno no curso, por assim proporcionar um vínculo estreito

com a universidade.

Mesmo com todas essas mudanças ocorridas no âmbito do Ensino

Superior, devemos pensar a cultura escolar como espaço social dotado de

características particulares, como as relações sociais diversificadas, os

anseios e a constante disputa de poderes dos diversos sujeitos que neste

ambiente se relacionam (GERRTZ, 1989). Compreendendo que o âmbito

escolar possui essas características de ter uma dinâmica própria, a nossa

pesquisa procura apreender como a formação de professores de educação

física a distância irá suprir as demandas de mercado pensando e mediando

possíveis mudanças no cenário brasileiro. Nosso projeto de pesquisa se

justifica pelo entendimento da escola como produtora e reprodutora de

cultura, apresentando dinâmicas específicas para a formação de professores

de educação física. Nesse sentido, como forma de proceder relevância à

pesquisa, visamos a análise dos currículos dos cursos de Educação Física

presencial e a distância, bem como o confronto com as Diretrizes Curriculares

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227

Nacionais para o Curso de Educação Física, além da modalidade EAD e sua

expansão nos cursos de graduação.

A proposta não é um olhar maniqueísta, mas perceber a justaposição

entre teoria e prática, levando em consideração a questão do professor de

educação física reflexivo. O tema dessa pesquisa procurará um arcabouço

teórico que nos auxilie pensar na formação de professores, que permita a

compreensão da inserção do curso de Educação Física na modalidade EAD,

refletindo criticamente sobre a realidade contida no ambiente escolar, a fim de

evitarmos um olhar de educação idealizada.

Sem a pretensão de promovermos uma pesquisa sobre o estado da

arte, nossa intenção é tratar sobre a carência de estudos que abarcam sobre

a experiência de cursos presenciais que passam a fazer parte do rol de

cursos na modalidade a distância. E a formação inicial apresentada nos

cursos tem sua fundamentação prática no âmbito do estágio supervisionado,

realidade cada vez mais aguda quanto relacionada à EAD.

OBJETIVOS

Realizar um resgate histórico da Educação a Distância no Brasil bem

como do curso de Educação Física, expondo a interlocução da formação de

educadores físicos na modalidade presencial e a distância, e quais as

possibilidades da EAD atender de maneira concreta os componentes

curriculares existentes na presencial.

METODOLOGIA

Esta pesquisa é qualitativa de caráter bibliográfico, e com vistas a

responder aos objetivos propostos analisaremos o currículo de cursos de

Educação Física a Distância confrontando com as Diretrizes Curriculares

Nacionais para o Curso de Educação Física, a Lei de Diretrizes e Bases da

Educação 9394/1996 (BRASIL, 1996). Essa opção metodológica de pesquisa

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228

estará respaldada por uma ampla consulta bibliográfica pertinente ao tema a

ser pesquisado.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As vivências práticas são o método de ensino na área de Educação

Física, sendo estas ainda muito comuns no âmbito do curso de graduação,

necessidade essa de seus profissionais que precisam dominar a técnica de

conhecimentos práticos. Com o surgimento e expansão dos cursos na

modalidade EAD, começam surgir novos questionamentos com relação às

vivências necessárias ao curso de formação de professores em educação

física. Os resultados desse trabalho demonstram que os profissionais da área

de Educação Física não encontram dificuldades na aplicação de certos

métodos práticos, tendo em vista os estágios que auxiliam na produção dessa

cultura escolar. Os encontros presenciais realizados nos polos são essenciais

para que o currículo atinja o padrão de excelência vislumbrado nos cursos

presenciais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho em tela partiu do pressuposto de que a formação de

professores, no que tange aos profissionais de Educação Física na

modalidade EAD, está se tornando cada vez mais presente no cenário da

educação brasileira. A priori não estamos considerando que as licenciaturas

presenciais são melhores e que as realizadas na modalidade a distância não

atingem aos padrões necessários para serem boas. O nosso intuito é

salientar a busca pela excelência do currículo e da cultura escolar nos cursos,

formando profissionais da área com um compromisso político-pedagógico que

atenda ao proposto nas Diretrizes Curriculares Nacionais propaladas pelo

Ministério da Educação.

REFERÊNCIAS

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3.2.10 QUEM ESSE FILME PENSA QUE VOCÊ É? O MODO DE ENDEREÇAMENTO COMO METODOLOGIA ANALÍTICA

Priscilla Silva de Oliveira

Fernanda Amorim Accorsi RESUMO Pesquisar é encontrar outros possíveis, é estar insatisfeito com o já sabido. “Somente nessa condição de insatisfação com as significações e verdade vigente é que ousamos tomá-las pelo avesso, e nelas investigar e destacar outras redes de significações” (CORRAZA, 2002, p. 111). A fim de criar nossas próprias redes de significações, utilizamos o Modo de Endereçamento, de Elizabeth Ellsworth, como método de análise para podermos depositar olhares particulares sobre o objeto de pesquisa. Este trabalho está ancorado teoricamente nos Estudos Culturais e discute a metodologia de pesquisa do Projeto de Iniciação Científica intitulado Por um cinema consciente: meio ambiente e culturas no filme Erin Brokovich – uma mulher de talento. O referido método pergunta: ‘Quem esse filme pensa que você é?’ e colabora com a construção de análises midiáticas que levem em conta a subjetividade do/a pesquisador/a. Ao refletirmos acerca do destinatário do conteúdo midiático, visualizamos modos de ver o mundo, significados e sentidos criados pela mídia.

Palavras-chave: Análise. Modo de Endereçamento. Metodologia.

Bernadete Gatti (2005, p. 606) afirma que “o/a pesquisador/a precisa

colocar-se a possibilidade de surpreender-se, senão, por que pesquisar?”.

Inspiradas nas discussões da autora, posicionamo-nos para essa

possibilidade, utilizando a metodologia do Modo de Endereçamento, de

Elizabeth Ellsworth, para analisar obras cinematográficas. A referida

metodologia compõe a nossa pesquisa que está em desenvolvimento,

intitulada ‘Por um cinema consciente: meio ambiente e culturas no filme Erin

Brokovich – uma mulher de talento’, a qual faz parte do Programa de Iniciação

Científica da Faculdade Metropolitana de Maringá (FAMMA).

Priscilla Silva de Oliveira: discente do Programa de Iniciação Científica (FAMMA), acadêmica do curso de Publicidade e Propaganda (FAMMA) [email protected] Fernanda Amorim Accorsi: doutoranda em Educação (PPE/UEM), mestra em Educação (PPE/UEM), especialista em Comunicação e Educação (FCV), graduada em Comunicação Social - Jornalismo (Faculdade Maringá). Professora de Publicidade e Propaganda (FAMMA) [email protected]

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O nosso movimento de pesquisa é pautado na pesquisa qualitativa,

que tem como princípio não trabalhar com métodos pré-estabelecidos,

passos, rotinas, etapas e nem com verdades cristalizadas. Essa metodologia

permite que o/a pesquisador/a não fique imune à pesquisa, mas que faça

parte dela, depositando sua ótica sobre o objeto de pesquisa. Isso se faz

necessário para sair daquilo que já é sabido e de verdades formatadas social

e culturalmente. Para Corazza (2002, p. 113), é preciso que

os movimentos da investigação que negam as confortáveis totalidades teóricas, onde repousaram os já-sabidos, também neguem e desmantelem nossas mais belas crenças, princípios e práticas estabelecidas.

Desse modo, é preciso atirar flechas para zonas em que, ainda, habita

o desconhecido, o silencioso, o não rotineiro, o não trivial, além de que é

preciso rasurar os conceitos e os estereótipos pré-estabelecidos, pois,

conforme Wortmann (2005, p. 63), o estereótipo “é só a metade da história. A

outra metade – significado profundo – reside no que não é dito, mas é

fantasiado, no que está implícito, mas não pode ser mostrado”.

O Modo de Endereçamento como metodologia de análise fílmica nos

permite que a pesquisa seja traçada pelos caminhos onde habita o pouco

explorado, o surpreendente, pois podemos depositar na análise os nossos

conhecimentos adquiridos e aqueles que ainda estão por vir, já que cada

pesquisador/a poderá compreender o texto de um filme com redes de

significações diferentes.

O Modo de Endereçamento não é visível e/ou palpável, Ellsworth

(2001) defende que as narrativas fílmicas se relacionam com a experiência

do/a espectador/a, logo os filmes são capazes de mudar, sugerir e ensinar

modos de pensar, agir e ser aos sujeitos, conforme a relação que eles/as têm

com o filme. Ou seja, segundo Ellsworth (2001, p. 12),

essas questões têm a ver com a relação entre o ‘social’ e o ‘individual’ [...] em outras palavras, qual é a relação entre o lado de ‘fora’ da sociedade e o lado de ‘dentro’ da psique

humana?.

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A autora trabalha a partir da seguinte problemática: quem esse filme

pensa que você é? Isto é, os filmes são produzidos visando e imaginando

determinados públicos e, mesmo que ele não acerte seus reais e imaginados

telespectadores/as, os indivíduos que não foram os alvos imaginados “têm

que assumir as posições que lhes são oferecidas naqueles sistemas – ao

menos durante o tempo de duração do filme, ao menos na imaginação”

(ELLSWORTH, 2001, p. 16). É uma relação hegemônica, a mensagem

midiática é um campo de lutas entre emissor/a e receptor/a.

Ellsworth (2001, p. 20), ainda, afirma que “o espectador ou a

espectadora nunca é, apenas ou totalmente, quem o filme pensa que ele ou

ela é”, pois os indivíduos são feitos de peculiaridades, bagagens, histórias e

conhecimentos discrepantes e jamais serão iguais, no máximo, semelhantes.

Portanto:

[d]a mesma forma que o espectador ou a espectadora nunca é exatamente quem o filme pensa que ele ou ela é, assim também o filme não é, nunca, exatamente o que ele pensa que é. Não existe, nunca, um único e unificado modo de endereçamento em um filme (ELLSWORTH, 2001, p. 21).

Se os filmes são capazes de dialogar com o/a receptor/a,

vislumbramos a relevância de usarmos essa metodologia para analisarmos

quais narrativas estão sendo apresentadas pela mídia e levantar, quem sabe,

algumas formas de recepção das mensagens. Esse modo de ver os objetos

de pesquisa é indicado para aqueles que queiram se arriscar nas zonas

fronteiriças e intencionem refletir, de modo crítico, sobre o que é apresentado

ao público.

Como nosso objeto de estudo é o filme hollywoodiano Erin Brokovich –

uma mulher de talento, consideramos que o Modo de Endereçamento é uma

coisa de cinema e uma coisa de educação também18. Desse modo, avaliamos

que o filme educa ao exibir sua mensagem e ao sugerir formas de ser e/ou

ver o mundo aos/às espectadores/as. Wortmann (2005, p. 49) analisa que na

[...] relação entre educação e cinema, os textos convocam ou interpelam os (as) leitores(as), levando-os(as) a adotar, nem que seja apenas de forma imaginária e temporariamente, alguns

18

Título do capítulo que aqui nos respaldamos.

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interesses sociais, políticos e econômicos que funcionam como condições para que o conhecimento se processe.

É importante ressaltarmos que a ciência não possui espaços limitados,

mas é um macro de possibilidades e surpresas, pois pesquisar é descobrir um

novo labirinto de possibilidades, é fomentar a pesquisa de forma criativa, é

sair daquilo que se é. Dessa forma, a comunicação – entre outras áreas do

conhecimento – pode se apropriar desse olhar tão pertinente, cheios de

substâncias e conteúdos que o Modo de Endereçamento propõe e utilizar

essa metodologia para desmantelar, investigar, construir, refletir, descobrir

outros possíveis, novos horizontes, novas vertentes e novos caminhos

investigativos.

REFERÊNCIAS

CORAZZA, Sandra Mara. Labirintos da pesquisa, diante dos ferrolhos. In: COSTA, Marisa Vorraber (Org). Caminhos investigativos: novos olhares na pesquisa em educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. ELLSWORTH, Elizabeth. Modos de Endereçamento: uma coisa de cinema; uma coisa de educação também. In: SILVA, Tomaz Tadeu da (Org.). Nunca formos humanos: nos rastros do sujeito. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. p. 8-76. GATTI, Bernadete. Pesquisa, educação e pós-modernidade: confrontos e dilemas. In: Cadernos de Pesquisa, v. 35, n. 126, p. 595-608, set./dez. 2005 WORTMANN, Maria Lucia. Dos riscos e dos ganhos de transitar nas fronteiras dos saberes. In: COSTA, Marisa Vorraber; BUJES, Maria Isabel Edelweiss (Org.). Caminhos investigativos III: riscos e possibilidades de pesquisar nas fronteiras. Rio de Janeiro: DP&A, 2005. p. 45-67.

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3.2.11 NEGLIGÊNCIA CONTRA O IDOSO NO TRANSPORTE PÚBLICO COLETIVO DA CIDADE DE MARINGÁ-PR: VIOLÊNCIA VELADA PELA SOCIEDADE

Igor Lobianchi Soares de Alencar

Rodrigo Eder Felício

RESUMO

A negligência é uma das formas de violência mais habitual dos grandes centros urbanos. Muitas vezes, por ser tão comum, acaba se tornando institucionalizada, tanto por parte do Estado, como também, e principalmente, por parte da sociedade. Importa salientar que, para ambos (juntamente da família), foi dada a obrigação de assegurar condições dignas de vida aos idosos. É nesse contexto que a presente pesquisa se pautará, almejando apresentar situações cotidianas de negligência para com o idoso no transporte coletivo da cidade de Maringá-PR, revelando a omissão das pessoas que presenciam essas situações e, ainda, mostrando o quanto isso pode influenciar negativamente na qualidade de vida dos idosos. Palavras-chave: Idoso. Violência. Transporte Coletivo.

INTRODUÇÃO

Conforme o envelhecimento biológico vai ocorrendo, maiores vão se

tornando os desafios de locomoção dentro das grandes cidades, mesmo

tendo assegurado por lei um transporte gratuito para os maiores de 65 anos.

As situações de negligência vivenciadas pelos idosos das grandes

cidades passam com tanta naturalidade aos olhos da atual sociedade, em

específico da sociedade maringaense, que chega a haver uma redundância

quanto ao significado da palavra negligência diante da displicência da real

situação, ou seja, há o descuido, a desatenção, a omissão e a falta de

atitudes mais humanas e educadas para com os mais velhos. Isso, por sua

vez, contribui com que surjam lesões e traumas físicos, emocionais e sociais

nesses membros da sociedade, o que reflete em índices negativos para a

cidade no que tange à qualidade de vida na terceira idade.

Graduando do 6º Semestre do curso de Direito da Faculdade Metropolitana de Maringá – FAMMA, na cidade de Maringá – Pr. Residente na Av. Mauá, 1848, Apto 17 A, CEP: 87.050-020, E-mail: [email protected] Docente do Curso de graduação em Direito da Faculdade Metropolitana de Maringá.

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Não obstante, antes de se realizar uma pesquisa científica, é possível

se afirmar empiricamente que o transporte público coletivo maringaense ainda

está longe de ser um transporte de plena qualidade, sobretudo que atenda de

maneira adequada às necessidades e aos cuidados básicos dos indivíduos da

terceira idade.

Nesse mesmo sentido, é nítido o despreparo de grande parte dos

profissionais responsáveis pelo transporte coletivo (motoristas) da Cidade

Canção sobre as pessoas idosas, tendo sido inclusive presenciado pelo

pesquisador alguns casos de idosos que não conseguem embarcar no

coletivo em razão das mais variadas questões, o que implica em uma primeira

afirmação empírica de que eles têm menos chance de entrar no ônibus para

seguir seu destino. A própria pressa e a falta de atenção no desembarque do

passageiro idoso, o qual exige um esforço maior e por consequência um

tempo maior para o desembarque, acabam deixando lesões graves tanto

físicas quanto psicológica nos passageiros especiais.

Assim, a obrigação imposta no §3º, da Lei nº 10.741, de 1º de outubro

de 2003 (BRASIL, 2003), afirma ser “[...] dever de todos zelar pela dignidade

do idoso, colocando-o a salvo de qualquer tratamento desumano, violento,

aterrorizante, vexatório ou constrangedor”, merece aqui total destaque,

sobretudo para que essa comece a fazer parte da prática cotidiana.

Para Odália (2011), mesmo tendo consciência sobre a existência da

violência social, sendo esta a que decorre de fatores estruturais da sociedade,

não implica, nem significa tentar eliminar suas causas, pois para os

governantes os problemas prioritários para a sociedade, normalmente estão

relacionados com o desenvolvimento econômico.

A participação efetiva da população inibe a ineficiência do Estado, ou

seja, uma população crítica e participativa, que zela, exige e protesta pelos

seus direitos, faz com que o Estado pratique um número maior de ações de

fiscalização dos serviços públicos prestados por terceiros, no qual responde

solidariamente aos danos causados a população.

Segundo Franco (2012), sociedade é a comunidade e o Estado, o

Poder Público. As medidas serão aplicáveis aos seus representantes que por

ação ou omissão violarem qualquer medida de proteção ao idoso.

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MÉTODO E ESTRATÉGIAS DE PESQUISA

Trata-se de um estudo teórico, apoiado em pesquisas bibliográficas,

onde se fará uma análise crítica e sociológica do texto legislativo conhecido

como ‘Estatuto do Idoso’, Lei no 10.741/2003 (BRASIL, 2003), no que se

refere à algumas situações e formas de violência praticadas para com o idoso

e que são encontradas no âmbito do transporte público coletivo da cidade de

Maringá-Pr.

O tratamento a ser dado à pesquisa, diga-se teórico-empírica, além da

revisão bibliográfica, com base em autores como Franco (2012) e Odália

(2011), pautará no estudo da legislação pertinente ao tema, especialmente o

Estatuto do Idoso e Política Nacional do Idoso, com coleta de dados no Censo

Demográfico, no Conselho do Idoso, nas Secretarias de Assistência Social,

municipal e estadual, nos órgãos do Poder Judiciário e em Organizações Não

Governamentais - ONGS. Além do estudo bibliográfico e documental, serão

realizadas entrevistas semiestruturadas com usuários do transporte coletivo

maringaense, sobretudo de usuários da terceira idade que já sofreram ou

presenciaram casos de negligência no transporte público coletivo da cidade

de Maringá.

Mas, por qual razão a negligência em face do idoso nos transportes

públicos na cidade de Maringá ainda permanece latente? A sociedade

maringaense ainda não está preparada para atuar em defesa de seus idosos?

Se a resposta for negativa, quais seriam os caminhos a seguir de forma a

garantir uma efetiva atuação da população no que tange a violência contra o

idoso no transporte coletivo?

Esses são alguns questionamentos iniciais que orientam a presente

pesquisa, haja vista a multiplicidade de desdobramentos que poderá ocorrer

no desenvolver das investigações.

Deve-se considerar o alto índice de casos de violência contra o idoso

na Cidade Canção, conforme informações19 obtidas no CREAS (Centro de

Referência Especializado da Assistência Social) de Maringá, e que houve um

19

________ Coluna Não Fique Calado.Saiba onde denunciar casos de violência contra idosos Disponível em:<http://ricmais.com.br/pr/dia-a-dia/noticias/saiba-onde-denunciar-casos-de-violencia-contra-idosos//> Acesso em: 27 nov. 2013.

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aumento de 157% dos registros de denúncias de violência contra o idoso em

Maringá no ano de 2013, em comparação com o mesmo período do ano

anterior. De maio, quando a contagem começou a ser realizada na cidade, a

dezembro de 2012, foram registrados pelo CREAS 77 casos. Neste ano, de

janeiro a agosto (intervalo de oito meses - igual ao de 2012) foram registradas

198 situações.

A negligência é uma forma de violência, mas que, por ser tão comum,

acaba passando por natural e a maioria dos casos não são apresentados aos

órgãos responsáveis pela proteção. As contribuições que podem advir dessa

pesquisa tanto para o acadêmico envolvido, como para o curso de Direito e os

profissionais da área, acreditamos que a investigação ora proposta assim se

justifica.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Assim, espera-se que ao final seja possível compreender por qual

razão a sociedade maringaense atua de forma omissa diante os casos de

negligência contra o idoso no transporte coletivo do município. Identificar os

tipos de violência contra o idoso que ocorrem com maior frequência no

transporte coletivo da cidade de Maringá – PR, bem como averiguar, em face

dos interesses sociais existentes, a razão da omissão da sociedade

maringaense nos casos de violência contra o idoso no transporte público.

Também elencar e discutir as implicações que esse tipo de violência pode

trazer para o idoso, para a sociedade e para o Município de Maringá.

REFERÊNCIAS BRASIL. Lei no 10.741, de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 3 out. 2003. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm>. Acesso em: 27 nov. 2013. FRANCO, Paulo Alves. Estatuto do Idoso Anotado. Campinas: Servanda, 2012.

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ODALIA, Nilo. O que é violência. 6. ed. São Paulo: Brasiliense, 2011. ________ Coluna Não Fique Calado.Saiba onde denunciar casos de violência contra idosos Disponível em:<http://ricmais.com.br/pr/dia-a-dia/noticias/saiba-onde-denunciar-casos-de-violencia-contra-idosos//> Acesso em: 27 nov. 2013.

3.2.12 NOVOS ARRANJOS FAMILIARES: NOVOS PARADIGMAS

Andréia Loureiro Letícia Carla Baptista Rosa**

RESUMO

A presente pesquisa tem como proposta discutir as implicações culturais, psicossociais e jurídicas da família pós-moderna na sociedade. A função precípua deste estudo será delinear e refletir acerca da evolução histórica da família, evidenciando que o princípio norteador do direito das famílias é o princípio da afetividade. Analisar-se-á, ainda, a importância do respeito à diversidade e, mais especificamente, examinará a pertinência da responsabilidade parental perante essas questões. Desse modo, a existência de especificidades, positivas ou negativas, relativas à responsabilidade parental exercida dentro dos novos arranjos familiares, é o questionamento que norteará toda a pesquisa.

Palavra-chave: Família. Responsabilidade parental. Reflexos jurídicos e psicossociais.

INTRODUÇÃO

A sociedade é plural, dinâmica, complexa, imprevisível e muito criativa

na renovação dos modelos familiares: casamento, divórcio, adoção, união

estável, união homoafetiva, fertilização e inseminação artificiais, mudanças de

sexo, de gênero, de papéis e principalmente de vidas.

Destarte, os indivíduos fazem parte de contextos sociais distintos,

atuando e respondendo em cada ambiente de maneira diferente. Nesse

sentido, as famílias estão submetidas a pressões internas, que provêm das

Psicóloga, acadêmica de Direito da FAMMA. Maringá-PR. E-mail: [email protected]. ** Mestre em Direito Programa de Mestrado em Direito com ênfase em Direitos da

Personalidade do Centro Universitário Cesumar – UNICESUMAR. Professora universitária da Faculdade Metropolitana de Maringá e do Centro Universitário Cesumar – UNICESUMAR. E-mail: [email protected].

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

241

mudanças provocadas pelo comportamento de cada um dos seus membros, e

também a pressões externas, originadas nos diferentes âmbitos da sociedade

à sua volta.

Os aspectos familiares transmitidos, desde que resguardadas as

devidas proporções, se aplicarão às escolhas, conscientes ou inconscientes,

que os indivíduos realizarão durante toda uma vida.

É inegável a influência da família no desenvolvimento da

personalidade, dos processos sociais, individuais, cognitivos e afetivos que

serão repassados por valores, crenças, julgamentos, comportamentos, dentre

outros às gerações futuras (MALUF, 2012).

Faz-se necessário deslindar por meio de pesquisas científicas as

variáveis neurobiológicas, os princípios básicos do comportamento, da

aprendizagem e do temperamento humano, para entender o reflexo jurídico

dos novos arranjos familiares no desenvolvimento da personalidade das

crianças e adolescentes.

MATERIAIS E MÉTODOS

O método que será utilizado neste trabalho é método teórico que

consiste na consulta da bibliografia existente acerca do tema/problema da

pesquisa e sua finalidade é colocar o pesquisador em contato com o que já foi

produzido e registrado acerca do assunto (tema/problema), de obras

doutrinárias, legislação, jurisprudência e documentos eletrônicos de vários

ordenamentos jurídicos.

Será empregado, também, o método comparativo, que consiste em

realizar comparações acerca do tema/problema, a fim de explicar

semelhanças e divergências entre a legislação brasileira e estrangeira acerca

do tema.

RESULTADOS ALCANÇADOS E DISCUSSÃO

Trata-se de um tema não pacificado, fato social pouco compreendido,

responsável por decisões judiciais inéditas e polêmicas que dividiram a

opinião da sociedade, como, por exemplo, o reconhecimento pelo STF da

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

242

união entre pessoas do mesmo sexo como uma entidade familiar, ensejando,

portanto, uma análise científica com viés sociológico, psicológico e

principalmente jurídico desses fenômenos.

Nesse sentido, é igualmente importante refletir acerca de quais valores

sobre a família estão sendo construídos ou mantidos, explícita ou

implicitamente, pela legislação infraconstitucional.

Em tempo, importa destacar que o ideal patriarcal e hierárquico nas

famílias, em tese, não existe mais. Assim, atualmente, a família tem um ideal

igualitário, ou seja, todos os membros têm a mesma importância,

independente de qualquer requisito ou característica (DIAS, 2013).

Por ser ainda o início da pesquisa, não se tem os resultados

alcançados de forma efetiva, mas, desde já, reconhece-se a importância em

investigar se o reconhecimento dos novos arranjos familiares ensejam

políticas públicas inéditas e qual será o papel do Direito e da Psicologia nesse

contexto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio da pesquisa e do ensino pode-se desenvolver uma

concepção menos estereotipada, preconceituosa e ingênua da instituição

familiar e das relações que nela se estabelecem.

Embora a temática ‘família’ seja objeto de estudo constante no meio

acadêmico, ela permanece atual, portanto, as reflexões e sistematizações

desta pesquisa pretendem contribuir para o enfrentamento de algumas

questões que atravessam o tema, com o fito de enriquecer a discussão e

desenvolver novos conhecimentos.

REFERÊNCIAS DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. MALUF, Adriana Caldas do Rego Freitas Dabus. Direito das famílias: amor e bioética. Rio de janeiro: Elsevier, 2012.

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

243

3.2.13 VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA CONTRA O IDOSO EM MARINGÁ

Ana Paula da Silva Siqueira RESUMO Os avanços conquistados pela ciência têm possibilitado cada vez mais o aumento na expectativa de vida. Sabe-se que hoje o envelhecimento é um fenômeno mundial. A violência praticada contra essa população tem crescido em demasia. O presente estudo buscou entender o porquê da vulnerabilidade do idoso às diversas formas de violência, principalmente a psicológica, buscando apreender o que vem a ser a violência psicológica contra o idoso, verificando como e em que condições essa violência acontece e analisando as possíveis implicações dessa violência na população em estudo. Para cumprir este propósito, foi realizada uma revisão bibliográfica e uma pesquisa de campo no CREAS (Centro de Referência Especializado em Assistência Social) no município de Maringá. Com base no material anteriormente referido, verificou-se que o conceito de velhice é fruto de uma construção social, determinada pela forma capitalista de produção, a qual caracteriza a força de trabalho do idoso como improdutiva, deixando-o assim à margem da sociedade. De acordo com os dados por nós encontrados, verificamos que a violência psicológica é uma das formas de violência que mais ocorreu contra o idoso no município de Maringá no período estudado. Palavras-chave: Capitalismo. Violência. Idoso.

INTRODUÇÃO

O aumento populacional é um fenômeno de escala mundial,

possibilitado pelo avanço da ciência e da tecnologia. Riit (2008) cita que o

envelhecimento da população é tão profundo que muitos os chamam de

‘revolução demográfica’. Segundo dados da Organização das Nações Unidas

(ONU), a expectativa de vida ao nascer aumentou de 46,5 anos em 1950-

1955, para 65 anos em 1995-2000 e o Brasil acompanhou essa evolução

mantendo-se acima da média mundial, de 50,9 anos para 67,2 dentro desse

mesmo período (RITT, 2008).

No Brasil, de acordo com o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE), realizado em 2010, cerca de 10% da população é formada

por pessoas com 60 anos ou mais, e em Maringá, esse número é ainda

maior, é de aproximadamente 12% (CASTRO, 2012).

Discente do quarto ano da graduação de Psicologia da Faculdade Metropolitana de Maringá. Endereço eletrônico: [email protected].

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

244

Nesse contexto, atenta-se para as preocupações sociais, decorrentes

do envelhecimento da população, que são relativamente recentes, como as

várias formas de violência contra o idoso, principalmente, a violência

psicológica.

DESENVOLVIMENTO

A violência contra o idoso encontra sua fase mais cruel na sociedade

atual que valoriza apenas a produtividade do homem, assim a velhice passa a

ter contornos puramente negativos (PESTANA, 2008 apud CASTRO, 2012).

O idoso que outrora era valorizado e respeitado por sua sabedoria,

representado pela figura do ‘ancião’, torna-se marginal ao sistema e passa

sofrer diversas formas de, como: física, psicológica, sexual, de abandono, de

negligência, financeira entre outras.

Com o intuito de assegurar os direitos da população idosa, o artigo 99

diz que é crime “expor a perigo a integridade e a saúde, física ou psíquica, do

idoso, submetendo-o a condições desumanas ou degradantes ou privando-o

de alimentos e cuidados indispensáveis” (SOARES; MARQUES; MACIEL,

2013).

De acordo com Soares; Marques, Maciel (2013), denúncias de crimes

contra idosos são cada vez mais comuns no Brasil. De janeiro a novembro de

2012, o Disque 100, telefone da Secretaria de Direitos Humanos da

Presidência, registrou mais de 21 mil denúncias e os crimes mais

denunciados são o de negligência e violência psicológica, em seguida, vem o

abuso financeiro. Em Maringá, de acordo com o levantamento de dados

realizado no CREAS, em 2012, foram 359 denúncias de violência contra o

idoso e a violência psicológica foi a forma de violência que mais ocorreu. Em

2013, foram realizadas 429 denúncias e a psicológica caracterizou-se como a

segunda forma de maior violência contra a pessoa idosa.

A violência psicológica é entendida enquanto agressão verbal ou

gestual que insulta, ameaça, humilha e que também se manifesta por meio da

privação de desejos e das intimidades. O idoso maltratado psicologicamente,

geralmente, sente medo, apatia, tem uma diminuição da autoestima que

acaba convergindo para o isolamento do convívio social. Segundo Rey 2007,

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

245

os pensamentos e as emoções são capazes de determinar as condições de

funcionamento da imunidade do corpo, o que consequentemente pode

determinar uma condição saudável ou enferma.

Ritt (2008) aponta para o fato de que, na maioria das vezes, a violência

contra o idoso ocorre na relação familiar e essa é a mais difícil de ser

controlada, pois está relacionada a vínculos afetivos. O idoso, muitas vezes,

tem sentimento de vergonha, culpa e medo de represálias por parte da família

quando efetua uma denúncia. Tal fato foi explicitado na entrevista realizada

com a assistente social Eliane de Souza Dantas, em que abordou que a

maioria das denúncias advém de terceiros.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os principais resultados alcançados, com base na bibliografia por nós

usada, são os seguintes:

1- O crescimento do número de idosos é um fenômeno global. No Brasil,

cerca de 10% da população é constituída por idosos e, em Maringá,

esse percentual é de 12%.

2- Com base na pesquisa de campo realizada, no Centro de Referência

Especializada de Assistência Social (CREAS), por meio do Programa

de Acompanhamento à Família e Indivíduo (PAEF), obtivemos os

seguintes dados: em 2012, foram atendidos 359 casos de violência

contra o idoso e, em 2013, foram 429. Percentualmente, distribuímos

tais atendimentos pelos tipos de violência sofridos. Segue tabela

abaixo:

Tabela 1 - Percentual de violência contra o idoso:

2012 2013

Violência Física 29% 30%

Violência Psicológica 38% 27%

Negligência/Abandono 18% 25%

Risco de Conduta Pessoal

15% 18%

Total 100% 100%

Fonte: A autora.

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3- Segundo a declaração da Assistente Social, diretora do CREAS, a

violência contra o idoso na sua grande maioria é praticada no próprio

lar, fato esse também observado por Ritt (2008), o que torna esse tipo

de violência difícil de ser controlada devido ao receio do idoso de sofrer

represálias.

4- De acordo com a bibliografia estudada, foi possível verificar que a

violência psicológica caracteriza-se como uma das formas de violência

que mais ocorre contra a população idosa e que esta causa

implicações na saúde de quem a sofre.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

À guisa de conclusão, como a pesquisa diz respeito à violência

psicológica, pode-se concluir que essa é uma forma de violência que ocorre

com alta frequência no Município de Maringá e que essa causa implicações

no estado de saúde e bem estar do idoso. Portanto, fazem-se necessárias

cada vez mais políticas públicas que promovam a seguridade dessa

população, bem como locais de assistência cada vez mais preparados e

capacitados para o atendimento e amparo aos idosos.

REFERÊNCIAS CASTRO, V. C. Atitudes face ao lazer do idoso e suas implicações para a Enfermagem: um estudo em instituições de longa permanência. 2012. Dissertação (Mestrado)-Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2012. REY, Carlos. Psiconeuroimunologia. 2007. Disponível em: <http://drcarlosrey.blogspot.com/2007/07/psiconeuroimunologia-leia-com-ateno.html>. Acesso em: 25 mar. 2013. RITT, Caroline Fockink; RITT, Eduardo. O estatuto do idoso: aspectos sociais, criminológicos e penais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008. SOARES, Paulo Renato; MARQUES Monica; MACIEL, André. Denúncias de crimes contra idosos crescem quase 200 % em um ano. 2013. Disponível em: <http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2013/01/denuncias-de-crimes-contra-idosos-crescem-quase-200-em-um-ano.html>. Acesso em: 26 abr. 2013.

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247

3.2.14 O CORPO COMO FONTE DE DISCURSO: DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO, SUAS IMPLICAÇÕES NA SOCIEDADE E NA FORMAÇÃO DO PENSAMENTO

Géssica Aline Caruzo

Guilherme Arnaldo dos Anjos Gobbo

Ana Luiza Barbosa Anversa

RESUMO A pesquisa se constitui a partir de investigação histórico-conceitual do termo estética corporal e suas possíveis implicações na sociedade. O propósito é compreender a relação entre a cultura corporal, principalmente correlacionada à estética corporal e avanços tecnológicos dentro do processo de formação e construção do estereótipo tido como arquétipo da felicidade, ou seja, ideal de beleza a ser seguido, é se situar no interior de um assunto amplamente debatido nas últimas décadas, com o desenvolvimento das novas tecnologias e as novas mudanças sociais. Para dar conta da complexidade dessa abordagem, é preciso entender os pressupostos teóricos que emergem com o ‘estado’ que culminou em uma violação ‘inconsciente’ da liberdade do corpo, projetando-o para seguir um padrão definido pelos meios de comunicação de massa. É, pois, por esses caminhos que a presente reflexão se articula, engendrando uma interconexão entre cultura corporal e mídia, sobre o cuidado do corpo como exigência na modernidade, transformado numa ditadura, pela qual o corpo deve ser moldado arduamente e sem vestígios de naturalidade - intimamente ligado à ideia de consumo – caracterizada por meio de um discurso impositivo que, em última instância, tolhe a liberdade e a autonomia do indivíduo em suas escolhas gerando influências diretas no pensamento autônomo e na identidade cultural do ser humano. Palavras-chave: Estética Corporal. Mídia. Estereótipo. INTRODUÇÃO

Dentre as mais variadas disciplinas que compõem a Filosofia, há uma

que surge na modernidade, cujo nome é exatamente ‘Estética’, a qual trata da

questão teórica acerca do ‘Belo’ e suas representações nas artes. Mas, a

preocupação com o conceito estética é extremamente antiga – os gregos já a

Acadêmica do oitavo semestre de Educação Física Bacharelado da Faculdade Metropolitana de Maringá. [email protected] Mestre em Educação Física pelo Programa de Pós-Graduação Associado em Educação Física UEM/UEL. Professor do Curso de Educação Física da Faculdade Metropolitana de Maringá. Orientador Programa de Iniciação Científica/FAMMA 2014. [email protected] Doutoranda do Programa de Pós-Graduação Associado em Educação Física UEM/UEL. Professora do Curso de Educação Física da Faculdade Metropolitana de Maringá, [email protected].

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

248

possuíam. A cultura helênica, de modo geral e de maneira um tanto

acentuada, preocupava-se com o belo, tanto no que diz respeito às ações –

nesse sentido, da perspectiva ética, buscava-se as ‘belas ações’ –, bem como

concernente à beleza da arquitetura ou, então, no que diz respeito à beleza

do corpo. Podemos pensar a estética a partir de várias perspectivas distintas.

Contudo, merece, aqui, examiná-la sob a perspectiva de determinada

configuração do corpo na atualidade, isto é, da veiculação da ‘estética

corporal’ e suas implicações na (im)possiblidade de um pensamento

autônomo, o qual partiria do pressuposto de considerar o corpo como espaço

pleno para o exercício da liberdade, escolhas e experiências humanizantes

(FOUCAULT, 1985).

Os gregos eram cultores do corpo e a prática de se exercitar era

comum, seja para a guerra, em pesados exercícios – como era muito próprio

à educação de algumas poleis (‘cidades-estados’) gregas, sobretudo a

espartana –, seja nas academias, visando à boa saúde, ou ainda com

finalidade estética (FOUCAULT, 1985).

A estética do corpo já merece análise cuidadosa quando se trata da

Grécia antiga. Contudo, não é apenas no período da cultura helênica e em

relação à pólis que a preocupação com a análise da estética corporal se fazia

necessária. Por diversos outros motivos, a preocupação com a estética

corporal é merecedora de estudos também recentes.

Nos dias atuais há uma crescente preocupação com o corpo. As

pessoas estão suscetíveis a todos os tipos de tabus e padrões/arquétipos¹

impostos pela sociedade, concebidos e configurados por meio de uma

perspectiva exterior e difundidos pela mídia (AMARAL et al., 2007 apud TONI

et al., 2012). A partir desse pressuposto, verifica-se um consumo exacerbado

em questões relacionadas ao corpo, com o intuito de alcançar a satisfação

não só pessoal, mas o reconhecimento e aceitação social, por meio de um

ideal físico perfeito imposto, rotulado e idealizado pelos meios de

comunicação de massa, porém, quase inatingíveis, o que descaracteriza a

identidade do ser humano e seu poder de autonomia, pelo fato da recusa de

seus corpos, evidenciando a insatisfação corporal (TONI et al., 2012).

DESENVOLVIMENTO

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

249

Na sociedade de consumo atual, o corpo tornou-se ‘o mais belo objeto

de desejo’, e a sua ‘redescoberta’, após uma era milenar de puritanismo, sob

o signo da liberdade física e sexual, “[...] na publicidade, na moda e na cultura

de massa – encabeçada pela Mídia” – testemunha que o mesmo passou a ser

compreendido como ‘objeto de salvação’, substituindo literalmente a alma

nessa função moral e ideológica (BAUDRILLARD, 1995).

Atualmente, o que faz toda a diferença são as imagens veiculadas pela

mídia eletrônica, portanto, o padrão estético está associado ao consumo e o

corpo, enquanto objeto explorado torna-se, portanto, mercadoria que é

consumida de modo irrefletido. Nesse contexto, na contemporaneidade, as

quais nos encontraram atualmente, a venda dos instrumentos tecnológicos e

serviços prestados relacionados à estética corporal, acontece em um novo

‘padrão’: não se vende apenas o produto, mas se vende, primeiramente, uma

ideia, um modelo. Em consequência disso, promove-se a formação de um

estereótipo a ser seguido, o que atinge com efetividade uma grande parcela

da população induzida por ‘belas’ propagandas que mostram corpos

‘sarados’, ‘torneados’, ‘perfeitos’ como sinônimo de saúde, pressuposto à

felicidade e adesão social.

Nesse contexto, salienta-se que a atualidade expressa o momento no

qual se constata uma inversão no termo estética corporal. Nas últimas

décadas, devido, sobretudo, às implicações da mídia eletrônica – como sites,

blogs e revistas virtuais – o termo expressa uma nova forma de conceber o

corpo, concepção esta intimamente ligada à ideia de consumo, onde tudo

aquilo que não opera a partir de simulacros rígidos e bem estabelecidos pela

indústria cultural é sinônimo de ‘anormalidade’ e deve, portanto, ser

descartado.

Não obstante, torna-se claro e compreensível que na Sociedade

Contemporânea, encontramos o ideal de beleza atrelado à

padrões/estereótipos estabelecidos e intimamente ligados à mídia, os quais

geram modismos acerca do corpo e criam reflexões por meio da gestação de

um novo arquétipo da felicidade, induzidos pela insatisfação com a

autoimagem.

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250

Pode-se dizer, portanto, que o culto ao corpo visando à estética se

mostra como característica da nossa época e encontra-se assentada na

busca diária por um corpo perfeito capaz de superar qualquer problema e

corresponder qualquer expectativa. Visto pelos meios de comunicação como

algo que pode ser manipulado ou modificado, o corpo vem se tornando pólo

dos mais profundos desejos e um grande objeto de investimento.

Salienta-se, então, que são várias as evidências que nos permitem

definir a sociedade contemporânea como uma ‘sociedade das imagens’ – e

sua estreita relação com as questões do corpo como produto de consumo –,

dentre as quais podemos destacar o capitalismo como seu principal eixo. A

concorrência desse princípio está baseada na diferenciação dos produtos

pelas imagens. Trata-se de uma sociedade na qual houve uma imbricação tal,

entre economia e cultura, a ponto da indústria cultural se tornar um paradigma

na atualidade; uma sociedade na qual se vive o tempo de modo acelerado e,

por consequência, de produção e de descarte de tudo o que é produzido. Isso

leva à implosão de todas as formas produzidas não só de produtos, mas

também dos valores e do poder das instituições, gerando uma sociedade

vazia e ‘sem forma’, sem formação. Baudrillard (1985, p.141 apud CASTRO,

2010, p. 156) considera “beleza corporal um signo com valor de troca”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Naquilo que tange às questões relacionadas ao corpo, por meio de

imagens corporais ‘bem elaboradas’ e valores veiculados na sociedade, é

notória a objetividade ideológica subjacente. Mais especificamente, podemos

afirmar aqui a percepção das incontáveis facetas que constituem uma

formação danificada, expressa em certos estereótipos, na lógica do sempre

igual, no fetiche, na produção de necessidades banais e coisificação da vida

humana, que comprometem o pensamento autônomo.

Possivelmente, neste processo engendra-se um importante canal na

formação de milhares de indivíduos que, de um modo ou de outro, direciona

uma concepção de subjetividade e educa uma compreensão de corpo

podendo impossibilitar o sujeito de se constituir como sujeito autônomo. O

indivíduo, vivendo numa sociedade de consumo, acaba nomeando na

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251

dimensão corpórea a dimensão do objeto (BAUDRILLARD, 1995). Adorno e

Horkheimer destacavam que a formação cultural torna-se o caminho para a

emancipação humana, contudo, pode converter-se num processo de

instauração da barbárie (1985).

Nesse contexto, a busca para alcançar o ideal de beleza instigado pela

Sociedade de Consumo pode levar os indivíduos a acreditarem que devem

atingir este padrão, que acabam considerando como algo indispensável para

sua realização e caso contrário continuar com os problemas que o separa da

possibilidade de obter sua felicidade, destituindo-os de sua detenção de uma

autonomia/pensamento autônoma e passando a ser norteado por um modelo

hegemônico.

REFERÊNCIAS BAUDRILLARD, J. Sociedade de consumo. Lisboa: Edições 70, 1995. CASTRO, Ana Lúcia de. Cultura contemporânea, identidades e sociabilidades: olhares sobre o corpo, mídia e novas tecnologias. São Paulo: UNESP, 2010. FOUCAULT, Michel. História da sexualidade 3: o cuidado de si. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1985. TONI, Vanderlei de et al. Insatisfação com a imagem corporal em adolescentes de escolas públicas de Caxias do Sul – RS. 2012. Revista Brasileira de Ciências da Saúde, São Caetano do Sul, v. 16, n. 2, p. 187-194, 2012.

3.2.15 UMA BREVE REFLEXÃO SOBRE A EAD NO BRASIL E SUAS IMPLICAÇÕES

Angela Sampaio de Deus Lima

Renata Simões de Brito Cardoso Camila Técla Mortean Mendonça***

RESUMO: Mestre em história pela Universidade Estadual de Maringá – UEM. Maringá-PR. Unicesumar – Centro Universitário Cesumar. [email protected] Mestre em Promoção da saúde: educação e tecnologia na promoção da saúde. Maringá – PR Unicesumar – Centro Universitário Cesumar. [email protected] ***

Mestranda em Educação pela Universidade Estadual de Maringá – UEM. Maringá-PR. Unicesumar – Centro Universitário Cesumar. [email protected]

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

252

O presente artigo tem como objetivo reflexão sobre o crescimento da EAD no Brasil, para discutir sobre o tema da explanação teórica desta temática será abordada dando ênfase em dois momentos, no primeiro, terá como objetivo descrever qual é a metodologia e tecnologia utilizada pela EAD. Em no segundo momento, terá o intuito de focar em qual a função do tutor mediador e do professor formador nesse processo de ensino, pois a EAD com todos os seus recursos tanto metodológicos quanto tecnológicos, deverá ter como objetivo uma educação de qualidade que possibilite que cada acadêmico desenvolva as suas capacidades sociais, emocionais, profissionais e éticas, a fim de, tentar sanar ou amenizar o acesso e a permanecia do educando no ensino superior, além de contribuir para o desenvolvimento das pessoas ao longo da vida. Palavras-chave: Tecnologia. EAD. Crescimento.

INTRODUÇÃO

Para descrever a educação na sociedade atual, não tem como deixar

de analisá-la sem nos remetermos à educação a distância, com todos os

avanços tecnológicos, proporcionando maior interatividade entre aluno e

professor. Com o apoio dos meios tecnológicos, a EAD começa uma nova era

em termos de educação. De início, quem opta por um curso na EAD pensa

primeiramente nas vantagens de não precisar se locomover todos os dias à

instituição presencial, na falta de tempo a destinar aos estudos, decorrentes

do trabalho, família e até mesmo a falsa ideia que cursar uma graduação na

EAD será mais fácil.

Paralelamente ao entusiasmo do crescimento, ocorre um fator que

preocupa quem trabalha no gerenciamento dos cursos voltados para a

educação a distância, a evasão. O desenvolvimento das novas tecnologias

deu dimensões imagináveis ao processo de aprendizagem nos ambientes

virtuais e por decorrência destes fatos.

2 QUAL É A METODOLOGIA E TECNOLOGIA UTILIZADA PELA EAD

PARA O DESENVOLVIMENTO DE SEUS ACADÊMICOS?

A EAD é resultado de avanços tecnológicos que colaboram para a

democratização do ensino, encurtando distâncias, ampliando horizontes e o

mais importante, proporcionando possibilidade àqueles que por posições

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

253

sociais, familiares ou financeiras não têm oportunidade de cursar o Ensino

Superior presencial e por intermédio da EAD, muitas pessoas, conseguem

conquistar este direito. O diploma é legalmente reconhecido, não se difere em

nada do oferecido no curso presencial, desde que seja de uma instituição

devidamente credenciada e reconhecida pelo MEC.

Art. 5º Os diplomas e certificados de cursos e programas a distância, expedidos por instituições credenciadas ser registrados na forma da lei, terão validade nacional. Parágrafo único. A emissão e registro de diplomas de cursos e programas a distância deverão ser realizados conforme legislação educacional pertinente (BRASIL, 1996, Art. V).

Moraes (2002) enfatiza alguns fatores que enfatizam o crescimento

da EAD no Brasil, um deles é o apoio dos ambientes virtuais. Um bom

software deve ser utilizado para orientar os acadêmicos. O tutor e o

professor formador devem usar uma linguagem de fácil entendimento. Os

fóruns e atividades devem ser criativos com a finalidade de incentivar os

alunos a pesquisar, além do material fornecido pela instituição, deve ter

qualidade e linguagem dialógica. Outro ponto positivo é o acesso do

acadêmico aos comentários postados pelos demais colegas, pois dessa

maneira ocorre uma reflexão e enriquecimento da discussão proposta,

gerando assim um grande processo de interação, entre os alunos.

[...] em qualquer situação de aprendizagem, a interação entre os participantes é de extrema importância. É por meio das interações que se torna possível a troca de experiências, o estabelecimento de parcerias e a cooperação (MORAES, 2002, p. 203).

Pereira (2003) por sua vez, afirma que a utilização das TIC’s na

educação pode ser considerada como uma forte ferramenta para mediar o

processo de ensino e aprendizagem do acadêmico. Entretanto, para que

tais tecnologias sejam aproveitadas de maneira correta e satisfatória,

surge a necessidade de um novo olhar das instituições perante essas

mudanças tecnológicas, pois as mesmas necessitam-se adaptar às

inovações que vêm surgindo, propiciando dessa maneira novas

metodologias e posturas dos professores frente ao ensino com a finalidade

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

254

de acompanhar o desenvolvimento tecnológico, visando formar um

profissional com habilidades tecnológicas capaz de fazer o uso correto em

prol do ensino.

Por meio da EAD, é possível se ter uma metodologia em que o aluno

é o detentor do seu horário de estudo, tal processo pode ser considerado um

dos fatores determinantes pela permanência ou evasão do acadêmico, pois

quando este não consegue se organizar e compreender que a EAD, mesmo

sendo uma modalidade de educação online, necessita de dedicação e de

organização e que quando ocorre a organização nesse processo, maior será

a motivação do aluno para permanecer e concluir o curso desejado.

3 A IMPORTÂNCIA DO TUTOR MEDIDOR E DO PROFESSOR FORMADOR PARA O CRESCIMENTO DA EAD.

Para que a metodologia utilizada pela EAD seja eficaz é necessário

que todos os materiais disponíveis na EAD devem ser trabalhados de

maneira articulada e eficaz, com a finalidade de possibilitar o

entendimento, a autonomia e a interação do aluno para a construção do

conhecimento. A principal atribuição do tutor nesse processo é dar suporte

tanto ao professor formador, quanto o esclarecimento de dúvidas dos

alunos, em relação aos materiais disponíveis e ao conteúdo que está

sendo ministrado, promovendo para o educando um ambiente virtual rico

de informações, possibilitando diferentes formas de interagir com o

conteúdo e com a tecnologia.

A interação entre aluno e tutor é de suma importância, pois o tutor

necessita instigar o acadêmico para interagir no ambiente online, criando

estratégias que permitam a troca de experiências e conhecimentos numa

perspectiva colaborativa, criando um elo de conhecimentos entre todos os

envolvidos e sempre motivando-o na busca de novos conhecimentos.

[...] a interação entre alunos gera motivação e também diminui a sensação de isolamento do estudo a distância. Essa interação também desenvolve o senso crítico e a capacidade de trabalhar em equipe e cria a sensação de pertencer a uma comunidade [...] (MATTAR, 2009, p. 116).

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

255

A interação entre aluno/tutor, aluno/professor formador e aluno/aluno,

mesmo sendo uma educação a distância pode ser considerado um processo

fácil. Para que tal fato ocorra com sucesso em uma modalidade a distância,

somente necessita da dedicação de todas as partes envolvidas, pois esta

interação interfere de forma ou positiva ou negativa no processo de

aprendizagem, podendo ser considerada como um importante fenômeno que

precisa ser bem compreendido, para o êxito na EAD, como ferramenta

motivacional para a promoção da interação entre aluno e tutor, contribuindo

para a qualidade do processo de ensino e aprendizagem.

Nesse sentido, é importante ressaltar novamente que para que todos

esses processos que foram abordados tenham êxitos. Cabe ao tutor a

responsabilidade de promover a integração com o aluno de forma eficaz, por

intermédio de momentos síncronos e assíncronos. O mesmo é

corresponsável pela aprendizagem do aluno, pois a sua função é dispor no

ambiente virtual, todas as informações necessárias e pertinentes ao curso e

atendê-lo por intermédio das mensagens virtuais, caso esta ligação não

ocorra de maneira eficaz pode acorrentar a desmotivação e evasão do

acadêmico.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse estudo teve como propósito refletir sobre a EAD no Brasil e suas

implicações. Para tanto, no decorrer desse trabalho, pode ser observado

que, com o crescimento da EAD, muitas discussões têm sido realizadas sobre

as melhorias, problemas e qualidades do ensino nessa modalidade. Porém,

os momentos de interação entre professor e aluno por meio do chat, fóruns e

mensagens virtuais não garantem a efetiva participação dos acadêmicos, pois

muitos destes se conectam com frequência, mas não se manifestam nos

debates e discussões.

Cabe ressaltar que as tecnologias destinadas a esses perfis de

acadêmicos não só podem diminuir a distância física na EAD, como ser

considerado também, que no ambiente virtual que ocorrem às aulas, por

intermédio da análise da quantidade das interações entre os alunos e o tutor,

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ANAIS I SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FAMMA

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observar a frequência dos comentários e participações nas atividades

postadas pelo acadêmico.

Portanto, a EAD com todos os seus recursos tanto metodológicos

quanto tecnológicos, deverá ter como objetivo uma educação de qualidade

que possibilite que cada acadêmico desenvolva as suas capacidades sociais,

emocionais, profissionais e éticas, a fim de tentar sanar ou amenizar o acesso

e a permanecia do educando no ensino superior, além de contribuir para o

desenvolvimento das pessoas ao longo da vida.

REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Lei nº. 9.394/96 de 20 de dez. de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em: 20 mar. 2014.

MATTAR, João. Interatividade e aprendizagem. In: LITTO, Fredric. M.; FORMIGA, Marcos. (Org.). Educação a distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson, 2009. p. 115-123.

MORAES, Maria Cândida (Org.). Educação à distância: fundamentos e práticas. Campinas, SP: Unicamp; Nied, 2002. PEREIRA, Fernanda Cristina Barbosa. Determinantes da evasão de alunos e os custos ocultos para as instituições de ensino superior: uma aplicação na universidade do extremo sul catarinense. 2003. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção)-Universidade Federal de Santa Catarina, Santa Catarina, 2003.

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3.3 RESUMOS

3.3.1 CONFLUÊNCIAS ENTRE MITO E LITERATURA: ARTICULAÇÃO PSICANALÍTICA COM O CONCEITO DE FANTASIA

Raphael Edson Dutra

Eliane Kiyomi Tabuti

Kelly Cristina Pereira Puertas

RESUMO O presente estudo procura convergir possíveis junturas entre os saberes dos mitos gregos e os arcabouços literários, propondo compreender os mesmos alicerçados no conceito de fantasia cunhado pelos pressupostos psicanalíticos freudianos. Assim, nos remetemos ao campo da pesquisa bibliográfica como método para nossa investigação. Esclarecemos que o texto compõe-se de breves observações do complexo tema supracitado. Assim, partiremos da definição de Mito e Literatura, sucinta, para articulá-lo ao conceito de fantasia amoedado na obra de Sigmund Freud. Nos mitos são encontradas estruturas fictícias que elucidam histórias decorrentes do campo social de determinada sociedade e época. A estrutura fictícia dos mitos está além das formulações lógicas do plano concreto, na mensagem subjacente dos mitos, decorrem do divino e possui uma lógica própria. Parece fantasioso exprimir a ideia de o mito ser composto de processos fantasísticos, demarcando também aspectos da estrutura inconsciente da psique. Literatura é um conjunto de obras literárias produzidas em determinada época, por uma sociedade específica que possuem valor estético, sendo necessário que tenham o aval de instituições competentes como a Academia Brasileira de Letras e até mesmo pela crítica especializada para serem consideradas em seu valor literário. O conteúdo dessas obras constitui-se em aspectos psíquicos inconscientes de seu criador. De acordo com as teses freudianas, as fantasias são satisfações parciais de desejos inconscientes, derivados de instintos sexuais e agressivos, que sofreram frustrações. Estas proporcionam o afastamento da realidade fazendo conciliação entre o princípio de realidade e o princípio de prazer. Assim, a noção de fantasia pode ser compreendida como realidade psíquica, o que possibilita que seja tomada como objeto de investigação de análise. Dessa forma, compreendemos que os conceitos supracitados de Mito e Literatura convergem num viés interpretativo, onde o

Acadêmico do curso de Psicologia da Faculdade Metropolitana de Maringá. FAMMA. Endereço: R. Rio Branco 457 Pq. Alvamar II, CEP: 87113-720- Sarandi – PR. E-mail: [email protected]. Acadêmica do curso de Psicologia da Faculdade Metropolitana de Maringá, FAMMA. Endereço: Rua Visconde de Nassau, nº 450, apto 501, CEP: 87020-030, Maringá- PR. E-mail: [email protected]. Graduada em Psicologia (UEM), Especialização em Psicanálise e Civilização (UEM), Mestre em Psicologia (UEM), Doutoranda em Psicologia UNESP/ Assis-SP, docente do curso de Psicologia da Faculdade Metropolitana de Maringá (FAMMA). Endereço: Avenida XV de novembro, 351, CEP: 87013-230. Maringá-PR. E-mail: [email protected].

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conteúdo desses dois saberes pode ser tomado como fruto da fantasia do inconsciente do seu criador. Palavras-chave: Psicanálise. Mito. Literatura.

3.3.2 O DESEJO DE MORTE

Eliane Kiyomi Tabuti

João Jova Gonzales

Kelly Cristina Pereira Puertas

RESUMO A meta do presente trabalho é inquirir, a partir da teoria psicanalítica freudiana, se a compulsão à repetição é uma manifestação da pulsão de morte. O tema proposto se restringe a uma breve reflexão da articulação dos conceitos de compulsão à repetição, desejo e pulsão de morte dessa maneira foi utilizado a pesquisa bibliográfica como método. O termo repetição nos endereça a ideia de fazer de novo, repetir uma atividade, não havendo espaço para o novo. O termo repetição postula a ideia de circulação de energia e que a mesma tende a percorrer o mesmo caminho, sendo este enleado ao fator dinâmico por meio das primeiras vivências de satisfação, onde se encontra a gênese do desejo, o qual respalda a repetição, pois toda tentativa de realizar um desejo é uma tentativa de reviver a experiência primária de satisfação, aquela na qual o bebê obtém satisfação por meio do aleitamento materno ou de seu substituto. Diante disso, pode-se afirmar que os neuróticos, impossibilitados de lembrar-se dos eventos traumáticos, tende à repetição, como forma de resistência e não como uma abdicação da satisfação do desejo. A compulsão à repetição está agregada ao princípio de prazer da mesma forma que o desejo. No entanto, com a evolução do pensamento freudiano, o conceito de pulsão de morte surge para explicar o destino da pulsão que busca sempre o esvaziamento da tensão, o nirvana. A pulsão de morte é intensidade e possui como meta a descarga e não a satisfação, essa não tem objeto como a pulsão sexual. Dessa forma, quando a pulsão de morte se entrelaça com a pulsão sexual, esta endereçará o destino pulsional. Concluiu-se que a compulsão à repetição é um dos mecanismos que o aparelho psíquico desenvolve no intuito de evitar a descarga quantitativa total, que é objetivo da pulsão de morte. Palavras-chave: Psicanálise. Pulsão de morte. Compulsão a repetição.

Acadêmica do curso de Psicologia da Faculdade Metropolitana de Maringá– FAMMA. Endereço: Rua Visconde de Nassau, nº 450, CEP: 87020-030, Maringá - PR E-mail: [email protected]. Acadêmico do curso de Psicologia da Faculdade Metropolitana de Maringá –FAMMA. Endereço: Rua: Mandaguari, 819 CEP 87020230. E-mail: [email protected]. Graduada em Psicologia (UEM), Especialização em Psicanálise e Civilização (UEM), Mestre em Psicologia (UEM), Doutoranda em Psicologia UNESP/ Assis-SP, docente do curso de Psicologia da Faculdade Metropolitana de Maringá (FAMMA). Endereço: Avenida XV de novembro, 351, CEP: 87013-230. Maringá-PR. E-mail: [email protected].

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3.3.3 O CUIDADO COM O PACIENTE TERMINAL: UM OLHAR PSICANALÍTICO

João Jova Santos Gonzales

Eliane Kiyomi Tabuti

Kelly Cristina Pereira Puertas RESUMO Este trabalho tem como objetivo investigar como o psicanalista pode contribuir no atendimento do paciente terminal. Por meio da pesquisa bibliográfica, e dos conceitos psicanalíticos que definem a prática da psicanálise. Observou-se que a partir do século XIX, com o surgimento da ciência médica moderna, assim como os novos métodos de tratamentos tecnológicos, o processo de morte perdeu sua característica natural. Em períodos anteriores, ao surgimento da medicina moderna, morria-se dentro de casa, cercado por familiares e amigos, atualmente as pessoas ao perceberem-se doentes, tendem a procurar as unidades hospitalares para o tratamento curativo e, por vezes, são encaminhadas para o tratamento paliativo. O tratamento paliativo surgiu na Inglaterra na década de 60, visando atender pacientes que não respondiam aos tratamentos curativos, pois estes pacientes são diagnosticados como fora de possibilidade terapêutica. Os cuidados paliativos tornaram-se um campo de estudo específico, com abertura para diversas áreas do conhecimento das ciências da saúde. Vários estudos apontam que esse campo é de interesse da psicanálise, que compreende que a psique humana está em constante desenvolvimento e o período de morte, é um ciclo que precisa de elaboração. Nesse sentido, o psicólogo pode trabalhar com as regras básicas da psicanálise dentro da unidade de cuidados paliativos. Freud descreveu algumas regras que definem a intervenção psicanalítica, são elas: associação livre, atenção flutuante, amor incondicional e abstinência. A utilização desses conceitos, na prática, possibilita ao profissional que atua na área hospitalar, desenvolver através da psicoterapia breve focal, um espaço onde o cliente possa elaborar o luto daquilo que ainda não foi realizado, aceitando sua condição de finitude preparando-se através dos rituais que são comuns nesse período da vida, como: pedir perdão aos que ficam, organizando-se financeiramente e emocionalmente através dos signos e significados adquiridos durante o seu desenvolvimento. Palavras-chave: Associação Livre. Cuidados Paliativos. Atenção Flutuante.

João Jova Santos Gonzales: acadêmico do curso de Psicologia da FAMMA – Faculdade Metropolitana de Maringá, Maringá-PR. Endereço: Rua: Mandaguari, 819 CEP 87020230.E-mail:[email protected]. Eliane Kiyomi Tabuti: acadêmica do curso de Psicologia da FAMMA – Faculdade Metropolitana de Maringá, Maringá-PR. Endereço: Rua Visconde de Nassau, nº 450, CEP: 87020-030, Maringá-PR. E-mail: [email protected]. Kelly Cristina Pereira Puertas: graduada em Psicologia (UEM), Especialização em Psicanálise e Civilização (UEM), Mestre em Psicologia (UEM), Doutoranda em Psicologia UNESP/ Assis-SP, docente do curso de Psicologia da Faculdade Metropolitana de Maringá (FAMMA). Endereço:Avenida XV de novembro, 351, CEP: 87013-230. Maringá-PR. E-mail: [email protected].

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3.3.4 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: O ESTATUTO JURÍDICO DE PROTEÇÃO À MULHER VÍTIMA DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Débora Regina de Moraes Ramos

Aracéles Frasson de Oliveira

RESUMO

A violência contra as mulheres possui várias definições, mas optou-se em falar da violência perpetrada no âmbito doméstico, ou seja, aquela em quem comete a violência é o parceiro, ou ainda ‘violência doméstica’ que ocorre no âmbito privado, perpetrada por um membro da família que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a vítima (COLETIVO FEMINISTA, 2008). Este trabalho é um recorte do estudo desenvolvido na pesquisa/estágio do curso de Psicologia da FAMMA, intitulado: VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES: Compreensão sobre o Estatuto Jurídico de Proteção à Mulher Vítima de Violência Doméstica – Avanços e conquistas no município de Maringá – PR, de 2006-2012. Que aborda avanços no atendimento da mulher vítima de violência doméstica no cenário nacional, mais específica dentro do município de Maringá. O objetivo é o de buscar compreender o fenômeno da violência contra as mulheres e resgatar os avanços e conquistas respaldados pelo Estatuto Jurídico de Proteção à Mulher Vítima de Violência. Também objetiva fomentar a discussão sobre o tema da violência doméstica, a partir da história, cultura, políticas públicas e em especial trazer contribuições da psicologia jurídica para essa temática. A violência doméstica e familiar constitui um preocupante problema bastante frequente no Brasil e, como artifício de suma importância no combate a esse problema, desponta a Lei Maria da Penha nº 11.340 que trata dos mecanismos de proteção dos direitos humanos da mulher. Constatou-se que após a publicação e vigência da lei para o efetivo enfrentamento dessa violência ainda são fundamentais as discussões acadêmicas e o debate público acerca da questão. Embora a lei seja uma conquista ou avanço que tem efeito de propagar valores éticos de respeito à dignidade da pessoa humana e à igualdade entre os sexos, buscando a consolidação da democracia nas relações de gênero, poucos têm conhecimento efetivo das razões, propósitos da lei e o que ela contempla. Muitas vezes, esse conhecimento fica vinculado ao corpo técnico jurídico ou dos operadores do direito, quando se trata de um conhecimento de ordem social que é necessário difundir. As áreas públicas de saúde coletiva onde o psicólogo atua ainda são um espaço em que pouco se debate sobre esse fenômeno. É o que constatou a pesquisa realizada por Oliveira (2006). Os profissionais, psicólogos e outros que atuam nos serviços de assistência à saúde coletiva precisam tem a desenvolver a compreensão do fenômeno e o promover estratégias de apoio à demanda de mulheres que sofrem a

Acadêmica do curso de Psicologia - 10 semestre- Faculdade Metropolitana de Maringá – FAMMA, Maringá – PR, Correspondências em: Rua Dr. Herbert Mayer 880 Conjunto Karina, CEP: 87.047-230, [email protected]. Psicóloga CRP 08/ 06197. Especialista em Psicanálise e em Psicologia Jurídica. Mestre em Ciências da Saúde – UEM. Docente e coordenadora de curso Faculdade Metropolitana de Maringá – FAMMA, Maringá – PR.

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violência, contribuindo com a organização da estrutura emocional dessas mulheres, necessária para que faça uso de seus direitos constituídos. As mulheres afetadas com a violência sofrem nos aspectos sociais, emocionais, psicológicos nem sempre visíveis e esse é um debate que precisa ser levantado cada vez mais. A Psicologia jurídica que através do seu papel científico e social obtém um vínculo com a Justiça, tem se debruçado sobre este objeto de estudo, mas em se tratando de uma questão de saúde pública, estende-se à Psicologia como um todo, sem cerceamento de área ou abordagem. É um tema que deve ser tomado nos espaços educativos, de trabalho e relações e de promoção à saúde integral.

Palavras-chave: Violência Doméstica. Estatuto Jurídico. Psicologia.

3.3.5 GÊNERO, TRANSEXUALIDADE E TRAVESTISMO - A IDENTIDADE PSICOSSOCIAL E A APLICABILIDADE DA LEI MARIA DA PENHA

Raphael Edson Dutra

Vivian Madeira Farias

Aracéles Frasson de Oliveira

RESUMO

A partir de estudo bibliográfico, este trabalho tem por objetivo discutir a identidade de gênero, descrita pelos manuais DSM IV e CID10, como um desejo inconvertível de viver e ser aceito como membro do sexo oposto, acompanhado de um profundo desconforto em relação ao próprio sexo biológico. Embora estejam dentro do estopo de transtornos de identidade podendo gerar sofrimento psíquico, são consideradas pela Psicologia parte da formação subjetiva da pessoa e constitutiva do ser. Em agosto/2014, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) lançou nota apoiando a aplicabilidade da lei Maria da Penha (Lei n° 11.340/2006) às causas violentas em indivíduos Transexuais e Travestis. Há muito a Psicologia discute dentro dos preceitos da ética e bioética o respeito à diversidade sexual. Sabe-se que, biologia e cultura apontam a tendência de uma orientação sexual binária, mas o que determina o desenvolvimento da identidade de gênero são as precondições psicológicas no desenvolvimento dessa identidade, o que exprime a ideia da formulação de identidade de gênero se opõe às funções anatômicas, assumindo também as funções constituídas socioculturalmente da percepção do sujeito. Assim, gênero refere-se ao processo e (re)construção de atividades nas relações sociais. É nesse ínterim que a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em conformidade com a Lei Federal, contestou, a partir de uma denúncia realizada em abril/2014 na cidade de Vitória – ES, quando dois

Graduando do curso de Psicologia, 8° Semestre, Faculdade Metropolitana de Maringá – FAMMA. Graduando do curso de Psicologia, 6° Semestre, Faculdade Metropolitana de Maringá – FAMMA.email: [email protected] Orientador, Psicóloga (UEM), Mestre em Psicologia (UEM), coordenadora do curso de Psicologia da Faculdade Metropolitana de Maringá – FAMMA, Docente.

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transexuais, um feminino e um masculino, não conseguiriam relatar em boletim a violência doméstica sofrida, na delegacia local. A OAB percebeu a necessidade da utilização da lei para transexuais e travestis, levando em consideração o gênero feminino. Embora essa transição traga divergências de opinião entre a população leiga, fez-se a aplicabilidade da lei a partir do conceito de gênero e não de sexo, posicionamento que se tornou um marco importante e histórico nas discussões sobre gênero no país. Palavra-chave: Identidade. Gênero. Lei Maria da Penha.

3.3.6 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DAS ESCOLAS NORMAIS NO BRASIL: REFLEXÕES SOBRE O PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO E EXPANSÃO (1835-1946)

Andressa Lariani Paiva Gonçalves RESUMO

Esta pesquisa teve como principal objetivo traçar um panorama da criação das Escolas Normais no Brasil, para tanto, iniciamos a discussão localizando o surgimento destas instituições no bojo da Revolução Francesa e posteriormente apresentamos os principais aspectos que nortearam a institucionalização e a expansão das Escolas Normais no Brasil, buscando compreender como as mesmas foram implantadas em cada Província ou Estado (a nomenclatura muda de acordo com a data que a instituição foi criada). Para atingir tal objetivo pautamo-nos nos autores Dermeval Saviani, Leonor Maria Tunari, Angela Souza Martins, Rosa Fátima de Souza e Marlene Schaffrath, que discutem e subsidiam a compreensão do tema proposto. As leituras realizadas demonstraram que a primeira instituição denominada Escola Normal foi criada no Rio de Janeiro no ano de 1835, e a partir desse momento tais instituiçõesse expandiram pelo território brasileiro de forma heterogênea, passando por várias fases de reforma até se unificarem por meio da Lei Orgânica para o Ensino Normal de 1946. Concluímos que os estudos realizados demonstraram que tais instituições apenas encontraram uma unificação nacional por meio dos dispositivos da Lei Orgânica do Ensino Normal de 1946 e que ao longo de sua existência não foram capazes de formar contingentes suficientes para atender a demanda por professores normalistas. Palavras-chave: Escola Normal. Institucionalização. Expansão.

Formada em Pedagogia pela Universidade Estadual de Maringá (2014), atualmente é discente do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá sob a orientação da professora Analete Regina Schelbauer. Endereço para correspondência: Rua Sabiá 321, Bairro Bela Vista, CEP 87206-200, e-mail: [email protected].

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3.3.7 CONCILIAÇÃO ENTRE TRABALHO E FAMÍLIA: A DIVISÃO DO ESPAÇO PÚBLICO E PRIVADO

Pâmela Suelen M. Guedes

Aline Cristina Alves

RESUMO

A família sempre foi o pilar fundamental da sociedade e sua transformação acompanhou as constantes mudanças ocorridas no meio social. Entretanto, existem situações que ficaram enraizadas, como o papel atribuído à mulher no âmbito familiar e sócio jurídico. O ambiente familiar era estruturado em torno do patriarca que tinha total dominação sob todos os membros do seu lar, principalmente em relação à figura feminina, que vivia sob dominância masculina, tendo seu papel restringido a somente cuidar da família e submeter-se ao homem, não havendo nenhuma, ou quase nenhuma liberdade. Com as várias mudanças que ocorreram na sociedade em geral, tanto no plano nacional quanto no internacional, como é o caso da Revolução Industrial e das Guerras Mundiais, elas começaram a se inserir e participar ativamente no ambiente público, principalmente no mercado de trabalho. Só que em uma sociedade predominantemente patriarcal, onde os papéis dos homens e mulheres já estão pré-definidos, isso não é visto favoravelmente, o que acarreta desigualdade entre homens e mulheres. As dificuldades devem ser superadas e, para que isso ocorra, existem tratados internacionais e diversos meios legais usados para a redução ou extinção da divisão sexual do trabalho. O objetivo deste estudo é refletir sobre a dicotomia entre o público e o privado, considerando o âmbito privado como o ambiente familiar e o público o ambiente do mundo do trabalho e político, bem como apresentar a visão social dos limites imposto para atuação da mulher nestes ambientes. Utilizou-se para pesquisa livros doutrinários, legislações e documentações eletrônicas, bem como documentos, como vídeos, relatórios, entre outros, que possibilitaram uma maior abrangência e profundidade sobre o tema. Conclui-se que o papel da mulher ao longo de toda a história vem sofrendo transformações significativas e estas devem continuar ocorrendo, para que cada vez mais torne a igualdade um fator imperante no meio social.

Palavras-chave: Família. Âmbito público e privado. Divisão sexual do

trabalho.

Cursando o 6º Período do Curso de Direito da Faculdade Metropolitana de Maringá-Paraná; Estagiária na PGE – Procuradoria Geral do Estado do Paraná; Endereço para contato: Rua Rosa Angeloni Zequim, nº 414, CEP: 87060-035, Maringá-PR, e-mail: [email protected]; Apresentadora: Pâmela Suelen de M. Guedes. Docente na Faculdade Metropolitana de Maringá.

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3.3.8 O REI TROVADOR E AS CANTIGAS D’AMIGO E D’AMOR

Mariana Vieira Sarache

Terezinha Oliveira

RESUMO O artigo que propomos para o evento tem como objetivo abordar uma breve análise do uso das cantigas d’amigo e d’amor pelo Rei D. Dinis (1261-1325), VI rei de Portugal que teve em seu período régio a reputação venerada pelo povo, respeitada pela Igreja e conservada pelos historiadores pelos feitos honrosos que cumpriu. Acreditamos que, além das ações que desenvolveu no reino, o Rei conseguiu ao menos no aspecto cultural, dar um caráter de unidade ao povo português. Essa ação se revela por meio da criação da primeira universidade de Portugal e por seu apreço em escrever cantigas. Essas ações do governante daquele território apresentam a importância da formação que recebeu, ainda quando infante, e que por meio desta centralizou e fortaleceu o desenvolvimento de Portugal em todos os aspectos. Nossa fundamentação teórica se baseia principalmente em Segismundo Spina para a análise literária e com Marc Bloch como base metodológica. Palavras-chave: D. Dinis; Cantigas Medievais; Cultura.

Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual de Maringá- Mestranda pela mesma instituição. Maringá-PR. Avenida Vereador Antônio Bortolotto, n° 18- Jardim Marajoara- CEP 87103002. Email: [email protected] ou [email protected] Professora e Doutora da Universidade Estadual de Maringá pelo Departamento de Fundamentos da Educação. Atua nas áreas de Filosofia e História da Educação na Graduação de Pedagogia e no Mestrado em História e Historiografia da Educação. Atualmente é coordenadora do GTSEAM- Grupo de Transformação Social e Estudos Antigos e Medievais. Universidade Estadual de Maringá, Centro de Ciências Humanas Letras e Artes, Departamento de Fundamentos da Educação. Avenida Colombo, 5790Jardim Universitário 87020900 - Maringá, PR – Brasil Telefone: (44) 30114839. Email: [email protected]

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3.3.9 FAMÍLIA E PUBLICIDADE: UMA ANÁLISE DAS PROPAGANDAS

TELEVISIVAS

Bruno Ricardo Dias Sposito (FAMMA)

Tânia Maria Gomes da Silva (FAMMA)

RESUMO A pesquisa trata das imagens da família brasileira na publicidade. Com base na análise de um corpus de propagandas apresentadas nas principais emissoras da TV aberta e através do estudo da produção teórica sobre o tema. O objetivo deste estudo é perceber a representação da família na mídia. O argumento central é que as imagens televisivas tentam mostrar um universo familiar que nem sempre é o real, pois estas são sempre representadas a partir do modelo heterossexual, branco, classe média ou média alta, comprometendo a aceitação e o respeito por outras formas de organização familiar que se encontram no mundo real. Considerando que a propaganda estimula a criação de tendências e modifica subliminarmente o pensamento da sociedade com suas técnicas de persuasão considera-se que é extremamente importante que se reconheçam outros modelos de organização familiar que fuja à padronização. Conclui-se que tal procedimento contribuiria para evitar o preconceito e a estigmatização daquelas composições familiares que não se encontram representadas dentro do modelo normativo. Teoricamente, a pesquisa foi embasada nas reflexões de Sant’Anna (1998) acerca da elaboração de campanhas publicitárias e nos estudos de Nayara Oliveira (2009) sobre a configuração da família contemporânea. Palavras-chave: Família. Propaganda. Publicidade. Televisão.

Dr

a Tânia Maria Gomes da Silva – Orientadora. Doutora em História pela UFPR. Professora

da FAMMA. Maringá, PR. [email protected] Bruno Ricardo Dias Sposito – Graduando em Publicidade e Propaganda pela FAMMA. Estagiário de marketing na Rede Massa. Maringá PR. [email protected]

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3.3.10 O PROCESSO DE CRIAÇÃO E FORMAÇÃO DO MUNICÍPIO DE CIANORTE-PR: CONTINGENTES MIGRATÓRIOS E ESCOLARIZAÇÃO (1953-1963)

Andressa Lariani Paiva Gonçalves

RESUMO

Esta investida teórica teve por objetivo compreender o processo de criação e formação do município de Cianorte/PR, enfatizando descobrir quais as origens dos contingentes migratórios que se instalaram no município e, por fim, quais as iniciativas tomadas para efetivar a escolarização primária para as crianças recém chegadas a cidade criada no ano de 1953. Mediante tal propósito tornou-se necessário compreender o processo de colonização estabelecido pela Companhia Melhoramentos Norte do Paraná (CMNP), empresa responsável pela fundação das cidades que compõem o Norte do Paraná. Em um segundo momento, realizamos as leituras das referências que elucidam a origem dos contingentes populacionais que compraram lotes de terras e se instalaram no município, assim como encontramos os relatos que demonstraram quais as principais iniciativas desta população para oferecer escolarização para seus filhos, para tanto, pautamo-nos no livro memorialístico Cianorte-Sua História Contada pelos Pioneiros das autoras Helena Cioffi, Irene Praxedes, Izaura Varella e Wilma Mesquita e na obra Colonização e desenvolvimento do norte do Paraná, publicação da própria Companhia Melhoramentos Norte do Paraná de 1975. Para a contextualização e análise das informações obtidas utilizamo-nos dos autores Lucinéia Cunha Steca, Dias Flores, Rosa Fátima de Souza, Diana Vidal e Maria Izabel Moura Nascimento, que possuem linhas de pesquisa que relacionam-se com o tema. Concluímos que a fundação do município de Cianorte-PR seguiu as prerrogativas que a CMNP estabeleceu para as demais cidades da região, a população que veio se instaurar em seu território era de origem étnica mista, e as iniciativas para a escolarização foram incipientes, com salas e materiais improvisados, atendendo apenas o ensino primário.

Palavras-chave: Cianorte-PR. Contingentes Migratórios. Escolarização.

Formada em Pedagogia pela Universidade Estadual de Maringá (2014), atualmente é discente do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá sob a orientação da professora Analete Regina Schelbauer. Endereço para correspondência: Rua Sabiá 321, Bairro Bela Vista, CEP 87206-200, e-mail: [email protected].

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3.3.11 ESTATUTO DO IDOSO: UMA RESPOSTA DO ESTADO CONTRA A VIOLÊNCIA AOS IDOSOS

Rodrigo Eder Felicio

Daiany Martins Fiorotto

RESUMO A presente pesquisa, de cunho bibliográfico, se utiliza da dialética para se desenvolver, tendo como objetivo pensar o alcance da Lei Federal no 10.741, de 1º de outubro de 2003, também conhecida como Estatuto do Idoso. Em face à violência sofrida pelos idosos de modo rotineiro, como se fosse comum e, consequentemente, despercebida aos olhares da sociedade. Essas podem ocorrer nos mais variados locais, sendo os agressores, muitas vezes, os próprios familiares. Em outras palavras, as agressões contra os idosos podem ocorrer até mesmo onde eles deveriam ter maior respeito, paz e tranquilidade. Os anciãos, na dita modernidade onde o culto à beleza física exerce gigantesca influência, são considerados como entraves, improdutivos (apesar de hoje se falar em desaposentadoria nos tribunais brasileiros), ultrapassados, ranzinzas e sabem-se mais quantos outros adjetivos negativos são a eles atribuídos. Nessa sociedade do imediatismo, onde bens materiais, status e aparência são valorizados, os idosos não são socialmente valorados em razão de seus conhecimentos adquiridos ao longo dos anos, mas (des)valorados em decorrência de questões estéticas, que saem do chamado ‘padrão’, e de possíveis limitações motoras, pois poderiam ser mais lentos que os mais jovens. Assim, nesta pesquisa, discutimos a partir da bibliografia jurídica da Caroline Ritt, que vem discutindo estes temas, o papel do Estado é visualizar os problemas sociais e resolvê-los e, acaso não o consiga, deve ao menos minimizar os impactos destes no cotidiano de cada um, (re)educando os agressores, podendo, para isso, utilizar-se do poder coercitivo estatal. Palavras-chave: Idoso. Estado. Violência.

Bacharel em Direito pela Universidade Estadual de Londrina, Especialista em Direito Ambiental e Desenvolvimento Sustentável pela Pontifícia Universidade Católica de Londrina e Mestre em Teoria do Direito e do Estado pela Fundação Eurípides Soares da Rocha. Professor de Direito e Pesquisador orientador na Faculdade Metropolitana de Maringá e professor de Direito na Faculdade Alvorada. Membro da Comissão da Educação Jurídica da OAB em Maringá – PR <[email protected]> Acadêmica em Direito pela Faculdade Metropolitana de Maringá. Rua Pioneiro Genir Galli, número 313 CEP 87035602, Loteamento Sumaré. <[email protected]>