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vitrine cultura e variedades vitrine cultura e variedades 4 JORNAL VALE DO AÇO l Quinta-feira, 25 de novembro de 2010 5 JORNAL VALE DO AÇO l Quinta-feira, 25 de novembro de 2010 IBTH Atualmente, o arquiteto é o presidente do Instituto Brasileiro de Tecnologia do Habitat (IBTH), com sede em Salvador. O Instituto atua como uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) e pode trabalhar junto ao poder público. O Instituto atua em várias áreas: pesquisa, projeto, fabricação e educação. "Queremos criar um centro de pesquisas. "A ideia é trabalhar com as experiências anteriores, sempre voltadas ao interesse social, e com pesquisas já realizadas, principalmente com pré-fabri- cados de argamassa armada. Por Vinícius Ferreira Entre os principais nomes da arquitetura moderna brasileira figura como ícone maior Oscar Niemayer, idealizador de Brasília, conhecido pelas curvas de suas obras. E, entre os quatro principais expoentes da arquitetura brasileira atual está o "Lelé", apelido que João Filgueiras Lima conquistou ainda na juventude, quando joga- va futebol. Lelé era um recém formado arquiteto quando foi convidado pelo próprio Niemayer e por Nauro Esteves, outro grande arquiteto, para participar da construção da Capital Federal, no ano de 1957, logo após o término do curso de arquitetura na Universidade do Brasil (atualmente a Universidade Federal do Rio de Janeiro, a UFRJ). Uma parte da sua obra está ao alcance dos olhos do público do Vale do Aço em uma exposição na Galeria Hideo Kobayashi, no Centro Cultural Usiminas, até o mês de fevereiro. Coincidência ou não, a fase da obra de Lelé na exposição é relativa com traba- lhos mais industrializados, no qual ele trabalhou muito com o aço, material que ele defende ser a matéria prima do futuro, por várias de suas características. Este material é encontrado em abun- dância em nossa região, e princi- pal produto da Usiminas. Atualmente com 78 anos, João Filgueiras é um dos principais expoentes da arquitetura moderna brasileira. Um dos seus trabalhos de maior destaque está na Rede Sarah de Hospitais, porém, a maioria de suas obras não está no eixo Rio- São Paulo. Carioca de nascimento, morou a maior parte de sua vida na Bahia, onde reside atualmente, e pra onde voltaria logo após a pales- tra realizada nesta quarta (24), no foyer do Teatro do Centro Cultural Usiminas, para quase 200 pessoas, muitos destes alunos ou envolvidos com arquitetura na região. HISTÓRIA Em 1957, recém formado no Rio de Janeiro, mudou-se para Brasília, onde construiu, projetou e colaborou com Niemayer na cons- trução de uma das maiores obras arquitetônica da nação. Dizem que os projetos chegavam do Rio de Janeiro praticamente sem detalhes construtivos, e o seu papel, dele- gado por Oscar Niemeyer, era "ir resolvendo as coisas" na obra. Trabalhou na Universidade de Brasília entre 1962 e 1965, mas pediu demissão por causa de repressão. A partir daí, começou a voltar seu trabalho para a necessi- dade de racionalização na constru- ção, com grande interesse para a tecnologia de racionalização do uso de concreto armado. Lúcio da Costa, o arquiteto responsável pelo Plano Piloto de Brasília, afir- mou que Lelé preencheria uma lacuna existente no desenvolvi- mento da arquitetura brasileira, com base no seu interesse por modificar o uso dos materiais, pre- zando economia, funcionalidade, e não só a forma. Ele também foi um dos primeiros arquitetos a levantar a questão de uma responsabilida- de social da arquitetura. Segundo entendidos da área, ele foi o pri- meiro grande arquiteto brasileiro a atentar para a sustentabilidade em seus projetos. SUSTENTABILIDADE O arquiteto disse que existe a moda da sustentabilidade atual- mente, onde todos falam sobre agir de forma sustentável, mas são poucos que agem realmente de forma necessária. "A verdade é que toda obra de arquitetura deveria observar as questões de sustentabilidade, de forma que isto não fosse um mérito, mas uma necessidade. A boa arquite- tura em que ser assim. Temos que usar bem as características climáticas de nossa região. Em um país que tem mais dia do que noite, a iluminação natural tem que ser melhor aproveitada" conta Lelé. O arquiteto refletiu sobre os excessos de consumo na construção, e sobre as maio- res dificuldades em relação à infra estrutura das cidades. "Eu moro na Bahia, lá só estão cons- truindo apartamentos com quatro suítes. Agora eu pergunto: pra que quatro banheiros? Só se der diarréia em todo mundo ao mesmo tempo. Para que uma casa com quatro banheiros? É desnecessário. Outro problema são os carros. Descobri recente- mente que na Bahia estão paran- do os carros com mais de quatro passageiros, com a intenção de coibir o trabalho das lotações. Isto é andar contra a corrente, temos que priorizar mais o transporte público. Os carros são os grandes demônios das cidades, e é caro fazer uma malha viária eficiente", explica. AÇO Lelé comentou também sobre o aço, matéria prima abundante na região. "O aço consome tanta energia para ser produzido como o cimento. Ele já é usado na construção civil, sendo impres- cindível no concreto armado. Porém, ele tem outras caracterís- ticas que podem ser melhor aproveitadas. O Aço é reciclável, enquanto que o cimento não. Ele também é mais leve, e mais barato. O que é necessário é um uso diferente do material, de forma a potencializar suas carac- terísticas. É uma complicado, pois é muito técnico. Mas na minha opinião, o aço é o material do futuro, e o casamento do plás- tico com o aço é o futuro da arquitetura. A Usiminas é impor- tantíssima neste quesito, uma pioneira no uso das chapas de aço", conclui o arquiteto. Fotos: Divulgação Arquiteto que trabalhou na construção de Brasília ministra palestra para estudantes em Ipatinga Ícone da boa arquitetura A EXPOSIÇÃO DE LELÉ mostra uma área mais industrializada de sua obra, com muitos trabalhos com aço O ARQUITETO falou para uma platéia de quase 200 pessoas Fotos: Lairto Martins

Ícone da boa arquitetura

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Matéria veiculada no dia 25 de novembro no Jornal Vale do Aço.

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Page 1: Ícone da boa arquitetura

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vitrinecultura e variedades44JORNAL VALE DO AÇO l Quinta-feira, 25 de novembro de 2010 55 JORNAL VALE DO AÇO l Quinta-feira, 25 de novembro de 2010

IBTHAtualmente, o arquiteto é o presidente doInstituto Brasileiro de Tecnologia doHabitat (IBTH), com sede em Salvador. OInstituto atua como uma Oscip(Organização da Sociedade Civil deInteresse Público) e pode trabalhar juntoao poder público. O Instituto atua emvárias áreas: pesquisa, projeto, fabricaçãoe educação. "Queremos criar um centrode pesquisas. "A ideia é trabalhar com asexperiências anteriores, sempre voltadasao interesse social, e com pesquisas járealizadas, principalmente com pré-fabri-cados de argamassa armada.

Por Vinícius Ferreira

Entre os principais nomes daarquitetura moderna brasileirafigura como ícone maior OscarNiemayer, idealizador de Brasília,conhecido pelas curvas de suasobras. E, entre os quatro principaisexpoentes da arquitetura brasileiraatual está o "Lelé", apelido queJoão Filgueiras Lima conquistouainda na juventude, quando joga-va futebol.

Lelé era um recém formadoarquiteto quando foi convidado pelopróprio Niemayer e por NauroEsteves, outro grande arquiteto,para participar da construção daCapital Federal, no ano de 1957,logo após o término do curso dearquitetura na Universidade doBrasil (atualmente a UniversidadeFederal do Rio de Janeiro, aUFRJ). Uma parte da sua obra estáao alcance dos olhos do público doVale do Aço em uma exposição naGaleria Hideo Kobayashi, noCentro Cultural Usiminas, até omês de fevereiro. Coincidência ounão, a fase da obra de Lelé naexposição é relativa com traba-lhos mais industrializados, no qualele trabalhou muito com o aço,material que ele defende ser amatéria prima do futuro, por váriasde suas características. Estematerial é encontrado em abun-dância em nossa região, e princi-pal produto da Usiminas.

Atualmente com 78 anos, JoãoFilgueiras é um dos principaisexpoentes da arquitetura modernabrasileira. Um dos seus trabalhos demaior destaque está na Rede Sarahde Hospitais, porém, a maioria desuas obras não está no eixo Rio-São Paulo. Carioca de nascimento,morou a maior parte de sua vida naBahia, onde reside atualmente, epra onde voltaria logo após a pales-tra realizada nesta quarta (24), nofoyer do Teatro do Centro Cultural

Usiminas, para quase 200 pessoas,muitos destes alunos ou envolvidoscom arquitetura na região.

HISTÓRIAEm 1957, recém formado no Rio

de Janeiro, mudou-se para

Brasília, onde construiu, projetou ecolaborou com Niemayer na cons-trução de uma das maiores obrasarquitetônica da nação. Dizem queos projetos chegavam do Rio deJaneiro praticamente sem detalhesconstrutivos, e o seu papel, dele-

gado por Oscar Niemeyer, era "irresolvendo as coisas" na obra.Trabalhou na Universidade deBrasília entre 1962 e 1965, maspediu demissão por causa derepressão. A partir daí, começou avoltar seu trabalho para a necessi-

dade de racionalização na constru-ção, com grande interesse para atecnologia de racionalização douso de concreto armado. Lúcio daCosta, o arquiteto responsávelpelo Plano Piloto de Brasília, afir-mou que Lelé preencheria uma

lacuna existente no desenvolvi-mento da arquitetura brasileira,com base no seu interesse pormodificar o uso dos materiais, pre-zando economia, funcionalidade, enão só a forma. Ele também foi umdos primeiros arquitetos a levantara questão de uma responsabilida-de social da arquitetura. Segundoentendidos da área, ele foi o pri-meiro grande arquiteto brasileiro aatentar para a sustentabilidade emseus projetos.

SUSTENTABILIDADEO arquiteto disse que existe a

moda da sustentabilidade atual-mente, onde todos falam sobreagir de forma sustentável, massão poucos que agem realmentede forma necessária. "A verdadeé que toda obra de arquiteturadeveria observar as questões desustentabilidade, de forma queisto não fosse um mérito, masuma necessidade. A boa arquite-tura em que ser assim. Temosque usar bem as característicasclimáticas de nossa região. Emum país que tem mais dia do quenoite, a iluminação natural temque ser melhor aproveitada"conta Lelé. O arquiteto refletiusobre os excessos de consumona construção, e sobre as maio-res dificuldades em relação àinfra estrutura das cidades. "Eumoro na Bahia, lá só estão cons-truindo apartamentos com quatrosuítes. Agora eu pergunto: praque quatro banheiros? Só se derdiarréia em todo mundo aomesmo tempo. Para que umacasa com quatro banheiros? Édesnecessário. Outro problemasão os carros. Descobri recente-mente que na Bahia estão paran-do os carros com mais de quatro

passageiros, com a intenção decoibir o trabalho das lotações. Istoé andar contra a corrente, temosque priorizar mais o transportepúblico. Os carros são os grandesdemônios das cidades, e é carofazer uma malha viária eficiente",explica.

AÇO Lelé comentou também sobre

o aço, matéria prima abundantena região. "O aço consome tantaenergia para ser produzido comoo cimento. Ele já é usado naconstrução civil, sendo impres-cindível no concreto armado.

Porém, ele tem outras caracterís-ticas que podem ser melhoraproveitadas. O Aço é reciclável,enquanto que o cimento não. Eletambém é mais leve, e maisbarato. O que é necessário é umuso diferente do material, deforma a potencializar suas carac-terísticas. É uma complicado,pois é muito técnico. Mas naminha opinião, o aço é o materialdo futuro, e o casamento do plás-tico com o aço é o futuro daarquitetura. A Usiminas é impor-tantíssima neste quesito, umapioneira no uso das chapas deaço", conclui o arquiteto.

Fotos: Divulgação

Arquiteto que trabalhou na construção de Brasília ministra palestra para estudantes em Ipatinga

Ícone da boa arquitetura

A EXPOSIÇÃO DE LELÉ mostra uma área mais industrializada de sua obra, com muitos trabalhos com aço

O ARQUITETO falou para uma platéia de quase 200 pessoas

Fotos: Lairto Martins