9
Meio: Imprensa País: Portugal Period.: Mensal Âmbito: Femininas e Moda Pág: 86 Cores: Cor Área: 20,00 x 26,50 cm² Corte: 1 de 9 ID: 83611233 01-12-2019 AA wl A 400, , ..110 •• 7.'1 , 4, •••,~ ..11; .44 4irn , —•-•••••- 4t ,1 11101 -••• •••• ' ••• ...... 4 tl C , 4 ffl=rffi r3U,

ID: 83611233 01-12-2019 Corte: 1 de 9 Âmbito: Femininas e Moda · Mas 11111(1 coisa é ceria. quer se recriem imdicões. S(' iiireniein noras ou se rira a época deforma aliernaí

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: ID: 83611233 01-12-2019 Corte: 1 de 9 Âmbito: Femininas e Moda · Mas 11111(1 coisa é ceria. quer se recriem imdicões. S(' iiireniein noras ou se rira a época deforma aliernaí

Meio: Imprensa

País: Portugal

Period.: Mensal

Âmbito: Femininas e Moda

Pág: 86

Cores: Cor

Área: 20,00 x 26,50 cm²

Corte: 1 de 9ID: 83611233 01-12-2019

• AA wl

A • 400, , ..110

•• 7.'1

, • 4, •••,~

..11;

• •

.44 • 4irn

, •

—•-•••••-

4t

,111101 -••••••• '

••• ......

4 tl C

• ,4

ffl=

rffir3

U,

Page 2: ID: 83611233 01-12-2019 Corte: 1 de 9 Âmbito: Femininas e Moda · Mas 11111(1 coisa é ceria. quer se recriem imdicões. S(' iiireniein noras ou se rira a época deforma aliernaí

Meio: Imprensa

País: Portugal

Period.: Mensal

Âmbito: Femininas e Moda

Pág: 87

Cores: Cor

Área: 20,00 x 26,16 cm²

Corte: 2 de 9ID: 83611233 01-12-2019

oúo ca Cneca, no \ata , é costume comer cama, mas a regra é com orar duas cartas vivas: uma é cozinnada e a outra é cevo vida viva ao rio. Isto causou u autêntico desastre eco óg co e Draga!

a Re

m

t N1 para tocos Diz o rifão que "o Natal é quando o Homem

quiser". Na reulude. seria mais correio diLel -

'llaulis.. 1ul é (1 dirersidade (I(' maneiras de rirei -

a quadra. Mas 11111(1 coisa é ceria. quer se recriem imdicões. S(' iiireniein noras ou se rira a época deforma aliernaí ira. é sempre 11111 dia único.

reunida, bacalhau, couves, filhós, arroz-doce, missa do

por Susana Torrão

\lratal é sinónimo de família

galo à meia-noite e regresso a casa para a ceia. Será assim? Numa época marcada pela globalização, pelo apareci-mento de novas formas de viver em família e também por uma cada vez maior pro-

cura da espiritualidade, as formas de vi-ver o Natal estão muitas vezes bem longe do imaginário tradicional português. Há quem teime em manter tradições, quem parta para longe ou opte por trabalhar nesse dia e quem leve o espírito da quadra para a rua, num espírito de partilha com os mais desfavorecidos.

Natais sem fronteiras Os preparativos para o Natal de Krasimira Petrova começam cerca de dois meses antes, quando compra o bilhete de avião Lisboa-Sófia. Em Portugal há 17 anos, foram poucas as vezes que a investigadora auxiliar do Departamento de Química da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa passou o Natal em Almada, onde vive. Por norma, regressa à Bulgária poucos dias antes da consoada, para passar a quadra com o resto da família que, por estes dias se encontra dispersa pela Europa: o pai e a sogra vivem em Sófia, bem como o ma-rido, que regressou a casa quando, sem trabalho em Portugal, conseguiu um posto na universidade; e o filho partiu em no-

vembro para a Holanda, onde está a fazer doutoramento. Mas mesmo quando passa o Natal em Portugal, a investigadora, de 47 anos, esforça-se por manter os rituais.

Manda a tradição búlgara que a meio de novembro os católicos iniciem o jejum. "Teoricamente, durante esse período, a alimentação não deve incluir carne ou peixe... seria o que hoje chamamos uma alimentação vegan. Tem a ver com a puri-ficação do corpo antes do Natal", explica Krasimira Petrova, para logo a seguir reco-nhecer que poucos cumprem o costume à risca. O jejum só deverá ser quebrado a 6 de dezembro, dia de São Nicolau. "Nessa altura, faz-se uma celebração com peixe e a carpa é o mais tradicional — o mais comum é servir-se recheada com cebola e nozes. Em Portugal, nunca encontrei car-pa, mas tento sempre jantar um prato de peixe nesse dia", explica a investigadora que, tendo feito o programa Erasmus na República Checa, recor-da um episódio caricato a propósito de uma tra-dição semelhante. "Pelo Natal costumam comer carpa, mas a regra é que comprem duas carpas vivas: uma é morta e cozinhada e a outra é devolvida viva ao rio. E isto causou um autên-tico desastre ecológico em Praga! Quando lá estive, a prática tinha sido proibida, mas as

Page 3: ID: 83611233 01-12-2019 Corte: 1 de 9 Âmbito: Femininas e Moda · Mas 11111(1 coisa é ceria. quer se recriem imdicões. S(' iiireniein noras ou se rira a época deforma aliernaí

Meio: Imprensa

País: Portugal

Period.: Mensal

Âmbito: Femininas e Moda

Pág: 88

Cores: Cor

Área: 20,00 x 26,32 cm²

Corte: 3 de 9ID: 83611233 01-12-2019

e suíça, São Nicolau recompensa as crianças bem--comportadas com presentes enquanto Krampus, odemónio que oacompanha, pune as malcomportadas. Na Áustria, a 5 de dezembro (véspera do dia de São Nicolau), os homens novos disfarçam-se de Krampus e vão para a rua assustar as crianças.

ISLÂNDIA

13 noites ce Q JrnreSaS Nos 13 dias que antecedem o Natal, 13 personagens travessas semelhantes a trens saem para a rua na Islândia. Os jólasveinar vestem-se com fatos tradicionais islandeses e visitam as crianças durante 13 noites: as bem-comportadas recebem presentes... as outras, uma batata podre.

COLÔMBIA

Dia cas ve inhas O dia 8 de dezembro, dia da Imaculada Conceição, é conhecido na Colômbia como Dia das Velinhas' e, um pouco por todo opaís, é costume colocarem-se velas nas janelas, varandas e jardins.

Natal pelo Mundo .1s celebrações imortais iodo O mês de dezembro. inisinrando a tradição amiba! COM antigas práticas pagãs.

NORUEGA

_sconcam ns \Pssn' Jmc' Na época medieval, acreditava-se que, a 24 de dezembro, bruxas e espíritos malignos entravam nas casas em busca de vassouras para poderem voar. Ainda hoje muitos noruegueses escondem as vassouras durante esta época para evitar que tal aconteça. E, pelo sim, pelo não, há até quem dispare tiros para o ar, para afastar espíritos.

IRLANDA

Aecomsensa sara o sai

ata Generosos, na véspera de Natal, alguns irlandeses deixam uma empada de carne e uma garrafa de cerveja para o Pai Natal.

ÁUSTRIA

Fujam, vem aí o,Krampus De acordo com as tradições austríaca

pessoas mais velhas continuavam a deitar os peixes no rio", conta, divertida.

Nos lares búlgaros, as celebrações con-tinuam com a decoração das casas. Não se faz o presépio, e a árvore de Natal é decorada durante o mês de dezembro, não havendo um dia estipulado para o fazer.

Tal como cá, na Bulgária, o Natal é uma festa de família, com reunião garantida a 24 e 25 de dezembro. Com uma diferença: até à meia-noite de dia 24 só são permi-tidas refeições sem produtos de origem animal e em cima da mesa deve estar um número ímpar de pratos, num mínimo de sete. "Podem ser sete, nove, 11 ou 15 pratos vegan. Mas também contam as en-tradas, saladas, acompanhamentos, etc.", explica Krasimira, que ainda lembra os pimentos recheados com feijão assados no forno, feitos pela avó. Outros pratos típicos da Badni vecher (a véspera de Na-tal) são o sarmi (folhas de couve ou, em alternativa, de videira, recheadas com ar-roz, cebola e cogumelos), os trieshia (picles de vegetais fermentados), vários pratos com abóbora, vinho e rakia, a aguardente búlgara. "Mas o mais importante é o pão típi-

co desta altura, que é feito em casa e no interior do qual é colocada uma moeda. Algumas famílias até têm uma moeda que usam especificamente nesta altura", expli-ca Krasimira. Na realidade, o pão assume o papel de protagonista ao longo de toda a noite: assim que a família está reunida, acende-se uma vela que é colocada em cima do pão. "Depois, no início do jantar, o mais velho da casa parte o pão: deixa um pedaço para Nossa Senhora, outro para a casa e distribui o resto por todas as pessoas à mesa. Acredita-se que a pessoa a quem calhar a moeda vai ter muita sor-te no ano seguinte", conta Krasimira. Os rituais associados à prosperidade são vários nesta noite, já que debaixo da mesa deve estar uma cesta com trigo, alho, cebola e milho seco como forma de desejar fartura para os 12 meses seguintes, uma tradição que

tanto o pai como a sogra de Krasimira ainda seguem.

"O modo como é seguida a tradição dife-re de família para família. Antes de 1990, era tudo feito só com a família chegada e de forma discreta, mas atualmente há um renascer das tradições", explica a in-vestigadora, que tenta seguir as regras, mesmo quando está em Portugal. "Há dois anos, fui à loja russa comprar as folhas de couve para fazer o sarmi e a senhora que foi atendida antes de mim levou o último frasco! Tive de fazer com folhas de videi-ra", recorda, entre o irritado e o divertido.

Em Almada ou em Sófia, os presentes são trocados à meia-noite de dia 24, "ou quando as crianças começam a adorme-cer". No sul da Bulgária, a tradição manda que não se levante a mesa e que todos os presentes deixem em cima da toalha as moedas que tenham nos bolsos. "Quem lava a loiça é o primeiro que se levanta no dia 25, que também tem direito a fi-car com o dinheiro. Quase sempre são as crianças, o que aumenta ainda mais a confusão!", conta Krasimira, cuja família, originária do norte do país, não segue esta tradição.

Por norma, a investigadora passa a noite de 24 em casa da sogra e almoça com o pai no dia de Natal, o Koleda. Com o fim do jejum, os pratos com ingredientes de origem animal voltam à mesa: banitsa -massa folhada com queijo fera, sarmi, mas desta vez recheado com carne e kapama, um prato de forno em que são colocados em camadas, num recipiente de barro, couve e diferentes tipos de carne e enchi-dos. "Fica muito bom!", garante Krasimira.

Saudades da neve "Não há palavras que descrevam o Natal numa aldeia romena: é lindo, lindo, lindo!".

Ana Tallian não es-conde o entusias-mo - e as saudades - quando recorda o Natal passado em casa. Nos 14 anos em que vive em Portugal, nunca conseguiu voltar à Roménia para cele-brar a quadra: "Eu, na Roménia, era

a -Románla, manda a regra que L-1 arvore

de NEt.tal natural, nunca de 'Plástico soa enteL-Ida

24, ao som dos edifício .romanestri, Os cânticos

Nisto romenos

Page 4: ID: 83611233 01-12-2019 Corte: 1 de 9 Âmbito: Femininas e Moda · Mas 11111(1 coisa é ceria. quer se recriem imdicões. S(' iiireniein noras ou se rira a época deforma aliernaí

Meio: Imprensa

País: Portugal

Period.: Mensal

Âmbito: Femininas e Moda

Pág: 89

Cores: Cor

Área: 20,00 x 26,29 cm²

Corte: 4 de 9ID: 83611233 01-12-2019

MÉXICO

As nosacas Entre 16 e 24 de dezembro, decorrem as chamadas posadas, uma espécie de procissões em que a vida de São José e Nossa Senhora é contada ao pormenor. Nestas festas é obrigatória a existência de uma piiíata, um jogo em que crianças e adultos tentam quebrar com um pau um pote de barro cheio de guloseimas suspenso no teto.

FILIPINAS

Festival das nternas

É no sábado anterior à véspera de Natal que decorre, na cidade de São Fernando, o Ligligan Paru! Sampernandu (Festival das Lanternas Gigante), no qual 11 aldeias competem pelo título de lanterna mais elaborada. Originalmente, as lanternas eram feitas em papel de origami, iluminadas por velas e com cerca de 60 centímetros, mas atualmente chegam a ter seis metros e são iluminadas por lâmpadas elétricas.

FRANÇA

iecu parar amizaces O dia de Natal é, para muitos franceses, o dia de visitar um inimigo e fazer as pazes.

SUÉCIA

fiem orar Santa Luzia Na Suécia, mas também na Noruega e na Finlândia, as celebrações natalícias têm início a 13 de dezembro, no dia de Santa Luzia. Manda a regra que a filha mais velha se vista de branco e, com uma coroa de velas, vá acordar os pais com canções.

,4%.

educadora infantil e cheguei a trabalhar como assistente social numa escola, mas cá sou empregada doméstica e trabalho com pessoas idosas que precisam sempre de mim nesta altura do ano", explica a romena, de 51 anos.

Ainda assim, tenta manter no Cacém as tradições que aprendeu na aldeia da Transilvânia, junto da fronteira com a Ucrânia e a Hungria, onde vivia antes. "Para nós, quem dá os presentes no Natal é o Menino Jesus. O mais próximo que temos do pai Natal é o São Nicolau, fes-tejado a 6 de dezembro. No dia 5 à noite reunimo-nos com amigos e há alguém que se veste de São Nicolau, para trazer os presentes - normalmente é o meu filho. E o engraçado é que a pessoa também recebe uma lista com os vários pontos em que cada criança tem de melhorar o comportamento", conta. Na aldeia onde vivia, havia uma pessoa que era paga para se vestir de São Nicolau e fazia a distri-buição por todas as crianças.

Manda a regra que a árvore de Natal -natural, nunca de plástico - seja enfeitada no dia 24, ao som dos colinde romanesti, os cânticos de Natal romenos. "Diz-se que é o Menino Jesus quem traz e enfeita a ár-vore. Nas aldeias romenas, normalmente opadre vai a cada casa buscar as crianças e fica com elas uma a duas horas. Nesse tempo, os pais têm de ir buscar a árvore que têm escondida e fazer toda a deco-ração!", conta Ana Taillin, a quem a conversa desperta as memórias de infância. "Lem-bro-me de ser criança e de passar na rua e ver as luzes das árvores dentro das casas e de dizermos uns aos outros: 'Olha, Ele já passou por aqui! E por aqui também!!', o que ainda fazia aumentar mais a ansiedade para chegarmos a casa", recorda.

Na Roménia, o Natal não é uma festa de família, mas das famílias e é assim que é fes-tejado pela comunidade que vive na zona de Lisboa. "Na noite de dia 24, reunimo-nos na igreja - há uma igreja or-todoxa romena em Cascais e duas em Lisboa - e, no fim, se

por exemplo estiverem cinco famílias na igreja, vamos até casa de uma; antes de entrarmos cantamos colinde, comemos e bebemos um pouco e passamos à casa da outra família, até as cinco terem sido visitadas", explica Ana.

Entre uma visita e outra, comem-se os pratos típicos da quadra, na maioria à base de carne de porco, e que incluem o searmale (couve recheada com carne), chouriço fumado cozido e costeletas de porco fumadas, servidos com mamaliga, uma papa de farinha de milho bastante grossa, com uma consistência semelhante à polenta italiana, e bolo de nozes.

"Os jovens por vezes também vão de casa em casa, a cantar os colinde. O meu filho costuma fazer isso com os amigos romenos", diz Ana. Uma tradição que gera

algumas situações caricatas, já que as canções devem ser entoadas no exterior, antes de se entrar em casa da pessoa visitada. "Eu vivo num prédio, e eles ficam na escada a cantar, mas acho que os vizinhos per-cebem do que se trata, porque nunca disseram nada", conta Ana.

Para Ana, por muito que tente manter vivas as tradi-ções, nada bate um Natal na Transilvânia. "Falta-me a neve e o cheiro do pinheiro e da la-reira quando chego em casa", lamenta. No primeiro ano, o choque foi grande. "Pensei: isto assim não é Natal! Eu gosto muito de Portugal, mas sou romena", diz, garantindo que

1

1,1 •••,

^)11 • -"ft

Inén .\"ant I Ii{jo

é lona / ('sia de /ali; n1115 (I( Is

fininha .S (' é assim (

pela ('01111I11

que riv idade

(1

(I(' LIS! Ana Tallian

GE

TT

Y I

MA

GE

S

Page 5: ID: 83611233 01-12-2019 Corte: 1 de 9 Âmbito: Femininas e Moda · Mas 11111(1 coisa é ceria. quer se recriem imdicões. S(' iiireniein noras ou se rira a época deforma aliernaí

Meio: Imprensa

País: Portugal

Period.: Mensal

Âmbito: Femininas e Moda

Pág: 90

Cores: Cor

Área: 20,00 x 25,96 cm²

Corte: 5 de 9ID: 83611233 01-12-2019

Natal do outro mundo Conheça 11111 pOlICO mais da íradição natalick«dém-fromeiras através desias referências culturais.

Literatura Alnirilutque

.\'orril Guerra e Paz 14,40€ Compilação de factos, curiosidades e tradições.

Filme 7otiluiarina .(2007) O realizador finlandês Juha Wuolijoki transforma uma fantasia natalícia numa história real sobre oPai Natal.

Música (Ja caloisfim,,

15€ Compilação das melhores músicas de Natal.

',141

•>, ardil

entre os imigrantes o apego às tradições do país de origem acaba por ser ainda maior.

Ao contrário do que acontece atual-mente em Portugal, de acordo com Ana, na Roménia a maioria das pessoas vai à igreja na noite de Natal. "À saída, juntam--se todos e vão de casa em casa a cantar. Com tudo branco, numa noite de inverno com os colinde que se ouvem por toda a aldeia... Não há palavras! É lindo!".

Uma noite passada na rua, a dar e receber carinho Também para Maria da Luz, Natal é sinónimo de sair para a rua, embora os cânticos que a rodeiam nem sempre sejam os mais felizes. Filha e neta única, desde que a mãe morreu, há 34 anos, optou por passar a noite de Natal na rua, junto dos mais desvalidos. "Quando comecei a fazer isto, nem sequer existiam as organizações que há hoje, que vão distribuir comida e bebidas quentes pelas pessoas da rua -não gosto de dizer sem-abrigo, são meus irmãos, pessoas com o mesmo coração e a mesma carne que eu. No início, comprava bolas de Berlim numa pastelaria e levava--lhes outras coisas que algumas pessoas me davam. Mas levo-lhes sobretudo um abraço, um carinho, digo-lhes que, afinal, tudo começou naquela noite", afirma Ma-ria da Luz, que muitas vezes comeu no chão, sentada na rua, o jantar que uma vizinha lhe deixava feito. "Ela nunca soube que era ali que eu o comia", admite.

Discreta, Maria da Luz gosta de fazer voluntariado sem alarde e de forma indivi-dual. Apanha um táxi que a leva a Lisboa e chega por volta das 22h30, passa parte do serão com os sem-abrigo e assiste à missa do galo na igreja dos Anjos onde, por vezes, é olhada de lado. "Pelas pessoas de rua sempre fui bem-recebida. Nestes dias, há quem lhes deixe bolo-rei e, mui-tas vezes, quando chegava ao pé deles, tinham guardado um bocado para mim. Têm sempre algum mimo", garante. No último ano, um problema de saúde impe-diu-a de passar o Natal como mais gosta e, este ano, a convalescença prolongada também não a deixa voltar à rua. "Mas, assim que a saúde permita, irei. Já fui na Páscoa, que faz menos frio. Há dois anos, passei a consoada com amigos, fui à missa

o

do galo, cheguei a casa, troquei de roupa, apanhei um táxi e fui ter com as pessoas de rua", conta.

"A minha maior pobreza é não ter filhos, não ter família, mas, com esta experiência, sinto que fico muito enriquecida. Quando fazemos estas coisas, recebemos muito mais do que damos, qualquer pessoa que experimente vai sentir isso", garan-te Maria da Luz, cujo apoio às pessoas da rua se estendeu sempre para além da quadra natalícia. "Por vezes, levava-os ao cabeleireiro, outras vezes, comprava-lhes sacos-camas e, quando algum tinha febre, cheguei a ir comprar medicação e ficar ali ao lado durante a noite", diz.

Sendo o Natal uma época de troca de presentes, Maria da Luz levou muitas ve-zes, além da comida, vinho - "muitos são alcoólicos, o que é que lhes vou levar, um chazinho?!" -, agasalho, e sabão. Em troca recebeu carinho e a satisfação que por vezes pode vir de uma frase tão simples como "Sinto-me mais leve!", dita por uma mulher a quem tinha acabado de ensinar a lavar as mãos e a cara com sabonete num chafariz de rua. É assim que gosta de sentir o Natal e é assim que planeia continuar a vivê-lo logo que a saúde lho permita.

É Natal? Se é verdade que a quadra desperta o que há de melhor em cada um, também é verdade que o cada vez maior espírito consumista e o frenesim a ele associado, G

ET

TY

IMA

GE

S

Page 6: ID: 83611233 01-12-2019 Corte: 1 de 9 Âmbito: Femininas e Moda · Mas 11111(1 coisa é ceria. quer se recriem imdicões. S(' iiireniein noras ou se rira a época deforma aliernaí

Meio: Imprensa

País: Portugal

Period.: Mensal

Âmbito: Femininas e Moda

Pág: 91

Cores: Cor

Área: 20,00 x 26,34 cm²

Corte: 6 de 9ID: 83611233 01-12-2019

44444l41411OO4##o

f4#4# 014444#40###

#,44.4414.4444444014,,-,

11 111111 t 4 #1

llot

Oo

*##O#

11111141

1111 11

1 11

04,4

1

1

lo

Se é vercace cue a c uadra desperta o que há de melhor em caca

um, também é verdac e que o cada vez maior

espírito consumista e o frenesim a ele

.10á associado faz com que muitos ganhem uma

i~ quase aversão à data

io 1111, lloo

loo 11 ! 11 111 #4,i 4ot 14,1#

1 Ilitti

44# 1 1 # #

# 14#44 ####

1 14## #

11 tt f t 1111

''Httof f o

1 t 1 ft 4tio# tt

Ito 4/H f tft .Ott

o

a•

faz com que muitos ganhem uma quase aversão à data.

Não será bem o caso de Rita Joana Sousa, mas a técnica de audiovisual, de 42 anos, admite que esta é uma data que não lhe diz muito. "Não tenho paciên-cia! Parece que as pessoas ficam todas malucas nesta quadra", desabafa. Assim, quando no emprego surgiu a oportuni-dade de escolher trabalhar no Natal ou no Ano Novo, a opção foi fácil. "Há uns três anos que trabalho no Natal", assume Rita Joana. A trabalhar num canal de televisão, tem

um horário por turnos e só quando a data se aproxima é que fica a saber se consegui-rá jantar com os pais, se passa a meia-noi-te no trabalho ou onde é que almoça no dia de Natal. "Tenho conseguido chegar antes da meia-noite e o que acontece é que jantamos os três um pouco mais tarde. Mas há dois anos não consegui", conta. Por norma, quem fica a trabalhar até tarde no dia 24 tem direito almoçar em casa no dia de Natal e vice-versa.

Para facilitar um pouco a logística, os pais, que vivem em Sesimbra, ficam na casa de Rita Joana, em Lisboa, nestes dias. "De outra forma não ia mesmo con-seguir chegar a tempo", admite a técnica de audiovisual. São só os três e, embora a família não siga à risca as tradições, os pais gostam de a ter por perto. "Eles com-preendem, mas é claro que, ao mesmo tempo, ficam sempre um pouco aborre-cidos por eu não estar o tempo todo com eles nestes dias", diz.

Com Rita Joana a trabalhar, é à mãe que cabe a preparação do jantar e da ceia. "Normalmente, quando chegam, já trazem tudo feito ou quase", explica. À mesa estará o costumeiro bacalhau com couves e um ou outro doce da quadra. A missa do galo não faz parte do calendário das festividades, até porque a família não é particularmente religiosa.

No trabalho, Rita Joana e os colegas vi-vem um Natal adaptado às circunstâncias. "Geralmente não há muita gente, já que estamos em serviços mínimos. Há uma ou outra árvore de Natal e uma pequena ceia para quem está a trabalhar, mas não é propriamente divertido", admite a téc-nica de audiovisual. Nada que a preocupe sobremaneira. Afinal, uma semana depois,

Page 7: ID: 83611233 01-12-2019 Corte: 1 de 9 Âmbito: Femininas e Moda · Mas 11111(1 coisa é ceria. quer se recriem imdicões. S(' iiireniein noras ou se rira a época deforma aliernaí

Meio: Imprensa

País: Portugal

Period.: Mensal

Âmbito: Femininas e Moda

Pág: 92

Cores: Cor

Área: 20,00 x 26,50 cm²

Corte: 7 de 9ID: 83611233 01-12-2019

r•

)

estará de folga para celebrar uma data que lhe enche muito mais as medidas: a passagem de ano!

Férias na neve Já Margarida Viegas voltaria a partir para bem longe durante estes dias, tal como fez até há quatro anos. Margarida cresceu na vila de Côja, concelho de Arganil, com direito a Natais tradicionais com os pais e irmãos mais velhos e sempre viu o Natal como mais uma reunião de família. "Sou ateia, mas os meus anticorpos relativa-mente ao Natal surgiram no ano em que me casei", recorda a engenheira informá-tica, que vive e trabalha em Coimbra.

Nesse ano, Margarida e o marido foram jantar a Côja. "A casa da família do meu marido era a 60 quilómetros e deu-nos a pancada, depois de jantar, já perto da meia-noite, de nos pormos ao caminho para passar a meia-noite em casa da famí-lia dele. Correu bem, mas aquilo deu-me uma volta ao estômago e comecei a pensar que o Natal era uma grande seca - apesar de me dar bem com a família e de serem todos impecáveis comigo", conta, ainda com a viagem, à chuva, pelas muitas cur-vas da estrada da beira na memória.

Nesse dia jurou que nunca mais faria o mesmo e o destino fez-lhe a vontade. No Natal seguinte, estava na maternidade, a dar à luz o filho mais velho, nascido a 24 de dezembro. "Esse Natal foi muito queri-do, porque tudo tinha corrido bem, o bebé estava bem, deram-me uma fatia de bolo e passei um serão descansado", lembra, bem-disposta. A partir daí, o aniversário do filho fazia com que a reunião da família mais próxima fosse sempre em sua casa. "À tarde, era a festinha do menino, mas como a família já estava toda, fazia-se a consoada a seguir. As coisas iam ficando da tarde para a noite. Corria tudo bem, embora me desse uma trabalheira", ad-mite Margarida, que, embora não aprecie particularmente o Natal, sempre gostou de reunir a família.

Foi quando os filhos chegaram à adoles-cência e começaram a pedir para passar férias na neve que surgiu aquela que foi, para Margarida, a solução para as cansei-ras natalícias. "Eu tive um rasgo e disse--lhes: vamos para a neve, mas com uma condição, vamos para lá no Natal!". Ainda

hoje se lembra da cara dos fi-lhos ao receberem a proposta. "A sério, mãe?!", perguntaram, espantados. Sabendo que tan-to a mãe - o pai falecera, entre-tanto -, como os sogros passa-riam a quadra acompanhados, e com o marido de acordo com a ideia, não tardou a passar das palavras à ação.

"A partir daí, fomos sempre, primeiro para Andorra e de-pois para os Alpes", conta. Em Andorra, ficavam num hotel onde acabava sempre por haver uma ceia ou um jantar especial. "E, como o João fazia anos, havia um bolo e toda a gente lhe cantava os parabéns", recorda. Nos Alpes, como a fa-mília ficava num apartamento, era sobretudo o aniversário de João, o filho mais velho, que era celebrado, ficando o Natal para segundo plano.

"Adorávamos! Ía-mos ainda na sema-na anterior ao Na-tal, quando havia pouquíssima gente, porque a maioria das pessoas só vai depois de dia 25. Estávamos só os quatro num sítio diferente e aproveitávamos para passar esses dias juntos", recorda, com saudade, Margarida.

À medida que os filhos foram crescendo e saindo de casa, as tradições familiares tiveram de ser adaptadas. O casal chegou a ir de viagem sozinho algumas vezes até que, há quatro anos, o marido de Mar-garida deu uma queda, o joelho ressen-tiu-se e puseram de lado as idas para a neve. "Voltámos ao tradicional. Vamos para Cambridge, onde está o meu filho mais velho, para Leiria, onde está o mais novo, ou para Coimbra, para casa da mãe da companheira do mais novo", conta. Em Inglaterra, a forma de celebrar continua a ser diferente: "A troca de presentes é a 26 e, a 24, celebramos os anos do João. A comida não é como a portuguesa e eu também não levo ingredientes especiais. Acaba por ser um jantar de aniversário", diz Margarida Viegas.

Este ano, vai de novo para casa do filho mais novo e antecipa um Natal tradicional. Se lhe perguntarem, admite que um dia gostava de voltar às viagens. "Claro que sim! Adorei aquilo! Tenho saudades desses natais, não por ser Natal, mas por ser uma semana em que estávamos todos juntos num sítio diferente. Mas o filme não anda para trás. Nesta altura, entre irmos só eu e o meu marido para algum lado ou ficar com um dos meus filhos, prefiro isso, por-que não tenho assim tantas oportunidades para estar com eles", afirma.

Afinal, é desses Natais que tem saudades, já que dos Natais da infância e juventude sente sobretudo falta das pessoas. "Des-ses Natais tenho saudades porque tenho saudades de estar com a minha mãe, que faleceu há três anos, e do tempo em que vivíamos todos juntos. Mas não do Natal em si. Para mim, o Natal nunca teve mais significado do que uma grande de famí-

c

ft=j

mas o G

ET

TY I

MA

GE

S

Page 8: ID: 83611233 01-12-2019 Corte: 1 de 9 Âmbito: Femininas e Moda · Mas 11111(1 coisa é ceria. quer se recriem imdicões. S(' iiireniein noras ou se rira a época deforma aliernaí

Meio: Imprensa

País: Portugal

Period.: Mensal

Âmbito: Femininas e Moda

Pág: 93

Cores: Cor

Área: 19,82 x 26,14 cm²

Corte: 8 de 9ID: 83611233 01-12-2019

Natal com sabores tropicais No Brasil. é comum comer se arroz à grega. farofa. salpicão. salada de maionese e tender de Nasal - uni pernil de porco feito no forno e servido com fios de ovos e cerejas em calda. Tome 1101(1 da receita.

0'

r a

. dg/. g

, • \Ag. `2„ .

, e 05'

f

A

Tender de Natal Pessoas 6 Preparação 1h

Ingredientes 1 lata de abacaxi

em calda c. de sopa de mel

1 cebola peque-na em pedaços

2 c. de sopa de vi-nagre de maçã

2 c. de sopa de mostarda amarela Sal e pimenta--preta a gosto

900 g de pernil de porco sem osso

6 cerejas em calda inteiras

para decorar Fios de ovos para decorar (opcional)

Modo de preparação 1. Pique uma fa-tia de abacaxi em calda no liquidi-ficador com uma chávena de chá da calda, o mel, a cebola, o vinagre, a mostarda, sal e pimenta a gosto, até ficar homo-géneo.

2. Deite este 'mo-lho' numa panela e leve ao lume dez minutos, mexendo de vez em quando. 3. Com uma faca afiada, faça cortes superfi-ciais na parte de cima do pernil. Coloque-o num pirex, regue com o molho coado e cubra com papel de alumínio. Coza no forno médio, pré-aque-

cido, 30 minutos. Retire o papel e deixe cozinhar 15 minutos ou até ficar dourado. 4. Para servir, coloque o pernil fatiado numa travessa, regue com o molho e decore com as fatias de abacaxi e as cerejas. Se gostar, decore também com fios de ovos. FONTE: RECEITA ADAPTADA DE GUIADACOZINHA£OM.BR

lia", explica Margarida que, aos 64 anos, conseguiu manter até hoje a jura que fez no primeiro Natal de casada. A viagem, à noite, pelas curvas da estrada da Beira - hoje seria o IP3 -, na consoada, nunca mais se repetiu.

Amigos e karaoke As tradições natalícias brasileiras não di-ferem muito das portuguesas, mas, por força das circunstâncias, os Natais de Mariana Fischer, nutricionista brasileira a viver em Portugal há quatro anos, depois de dois passados na Irlanda, a pouco e pouco tornam-se diferentes. "Costumamos reunir-nos com os ami-

gos. No ano passado, foi em minha casa e conseguimos reunir 16 pessoas. Como era só gurizada [jovens] acabou por ser muito pouco tradicional, com clericot, uma espécie de sangria, karaoke e baile funk", conta, divertida, assumindo que não é bem assim que são festejados os Natais em Porto Alegre, a cidade do sul do Brasil de onde é originária.

Contudo, sendo o marido de Mariana chef de cozinha, algumas das tradições gastronómicas foram mantidas. "Ele con-seguiu tirar folga nesse dia e fez a ceia: desta vez não tivemos peru, mas houve bacalhau, camarão e alguns pratos que são tradicionais no nosso Natal", conta. Entre eles contam-se arroz à grega, farofa, salpicão, salada de maionese e o tender de Natal - um pernil de porco feito no forno e servido com fios de ovos e cerejas em calda. "É muito bom!", garante Mariana.

Este ano, a consoada será passada em casa de outros amigos, mas, como haverá familiares de visita, Mariana conta com um Natal mais parecido com o que vivia em Porto Alegre. "Não sei ainda se haverá amigo secreto, que é o hábito no Brasil, é algo que temos de combinar mais perto da data, nem se o jantar será à meia-noite", diz. O jantar tardio é outra das tradições brasileiras do 24 de dezembro. "Normal-mente as pessoas reúnem-se por volta das sete da tarde e vão petiscando, mas o jantar só é servido à meia-noite. Na mi-nha família, como havia muitas crianças, acabávamos por jantar mais cedo e tro-cávamos os presentes antes de ir para a mesa", conta a nutricionista, ainda pouco habituada a passar o Natal no inverno.

Page 9: ID: 83611233 01-12-2019 Corte: 1 de 9 Âmbito: Femininas e Moda · Mas 11111(1 coisa é ceria. quer se recriem imdicões. S(' iiireniein noras ou se rira a época deforma aliernaí

Meio: Imprensa

País: Portugal

Period.: Mensal

Âmbito: Femininas e Moda

Pág: 8

Cores: Cor

Área: 6,29 x 11,34 cm²

Corte: 9 de 9ID: 83611233 01-12-2019

.301111 ."':'41111a

„,

Um Natal para iodos As tradições e os costumes desta época especial nos diferentes pontos do mundo.

)