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1 SUM`RIO INTRODU˙ˆO................................................................................. 4 Colocaªo do problema................................................................. 4 Objetivos..........................................................................................5 Referencial Terico.........................................................................7 Fases da Pesquisa........................................................................13 CAP˝TULO I A proposta etnomatemÆtica e a dimensªo cultural na escola..............................................................................................20 1.1- A proposta etnomatemÆtica..........................................20 1.2-A cultural parental e sua relaªo com a cultura de massas.............................................................................................31 1.3- A cultura escolar e a cultura dos professores............ 42 1.4-A cultura matemÆtica...................................................... 46 CAP˝TULO II Percebendo-se como Sujeito: Conhecendo o prprio corpo, aprendendo a cuidar de si e de seu corpo................................. 50 2.1-Propostas do Material DidÆtico-Projeto Presente ......................................................................................................59 2.2- Livro DidÆtico..................................................................... 71 2.3- Avaliando os resultados................................................... 81 CAP˝TULO III Percebendo-se como cidadªo, aprendendo a pensar sobre o planeta e a cuidar do meio ambiente....................................... 85 4.1- Muro das lamentaıes.............................................. 96 4.2- `rvore das expectativas........................................... 100 Conclusªo.................................................................................. 106 ReferŒncias BibliogrÆficas........................................................114

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1

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................. 4

Colocação do problema................................................................. 4

Objetivos..........................................................................................5

Referencial Teórico.........................................................................7

Fases da Pesquisa........................................................................13

CAPÍTULO I

A proposta etnomatemática e a dimensão cultural na

escola..............................................................................................20

1.1- A proposta etnomatemática..........................................20

1.2-A cultural parental e sua relação com a cultura de

massas.............................................................................................31

1.3- A cultura escolar e a cultura dos professores............ 42

1.4-A cultura matemática...................................................... 46

CAPÍTULO II

Percebendo-se como Sujeito: Conhecendo o próprio corpo,

aprendendo a cuidar de si e de seu corpo................................. 50

2.1-Propostas do Material Didático-�Projeto Presente�

......................................................................................................59

2.2- Livro Didático..................................................................... 71

2.3- Avaliando os resultados................................................... 81

CAPÍTULO III

Percebendo-se como cidadão, aprendendo a pensar sobre o

planeta e a cuidar do meio ambiente....................................... 85

4.1- Muro das lamentações.............................................. 96

4.2- Árvore das expectativas........................................... 100

Conclusão.................................................................................. 106

Referências Bibliográficas........................................................114

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Resumo

A pesquisa consistiu em uma intervenção em sala de aula, junto a

crianças de 9 e 10 anos, cursando a 4ª série do Ensino Fundamental, com

o objetivo de investigar a Educação Matemática numa dimensão cultural e

da constituição da subjetividade na relação do aluno com o conhecimento

de si, de seu próprio corpo, do outro e do meio ambiente, através de uma

perspectiva ética e cidadã.

Em função das observações foi possível constatar que para estas

crianças as dificuldades com a construção do conhecimento matemático

começavam desde cedo, pois não havia relação entre a matemática

apreendida na escola e as maneiras de pensar e agir que utilizavam no

dia-a-dia.

A intenção foi procurar entender a ligação entre a constituição do

sujeito, a cultura, a construção do conhecimento e da cidadania,

fundamentando-se na idéia de que todas estas dimensões configuram-see

articulam-se em uma realidade complexa.

Cabe ao aluno construir o seu próprio conhecimento matemático,

fazendo explorações, articulando representações que facilitem a

investigação e as descobertas.Buscou-se, no Programa de Pesquisa

Etnomatemática, a possibilidade de oferecer ao aluno um contato com

uma educação matemática mais próxima as suas experiências de vida.

Para fundamentar a pesquisa foram utilizadas as obras de Ubiratan

D`Ambrósio e Edgar Morin, que foram trabalhadas a partir das categorias:

etnomatemática, educação, conhecimento, transdisciplinaridade, cultura,

subjetividade e cidadania.

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Abstract

The research consisted in a intervention in class room, with children

of 9 and 10 years, attending the 4th series of Fundamental Teaching, with

the goal of investigating the Mathematical Education in a cultural

dimension and of the subjectivity constitution in the student's relation with

the knowledge of himself, of your own body, from others and of the

environment, through an ethical perspective and citizeness.

With the observations were possible to verify that for these children

the difficulties with the construction of the mathematical knowledge had

started early, because there was no relation between mathematics at

school and the ways to think and to act that they used everyday.

The purpose was found undestand the relation between the subject

constitution, the culture, the knowledge construction and the citizenship,

thinking that the main idea was that all dimensions configure and articulate

in the complex reality.

The research found to integrate itself to the Research

Ethnomathematics Program, once the same offers tracks to help to

comprehend as the know/do happens; The intention was to try understand

the connection between subject constitution, the culture, the knowledge

construction and of the citizenship, because we leave of the idea that both

are intimately linked.

It is responsability of the student construct yourself knowledge

matematic, articulating representations that help the investigation and the

discoveries. It sought in the Research Ethnomathematics Program the

possibility to supply the student a contact with a nearer mathematical

education his life experiences.

To base the research was used the works of Ubiratan D`Ambrósio

and Edgar Morin, who were worked from the categories:

Ethnomathematics, education, knowledge, culture, subjectivity and

citizenship.

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INTRODUÇÃO

Colocação do Problema

A pesquisa consistiu em uma intervenção em sala de aula,

junto a crianças entre 9 e 10 anos, cursando a 4ª série do Ensino

Fundamental, durante o ano de 2005, com o objetivo de investigar

como a Educação Matemática pode adquirir uma dimensão da

cultura e da constituição da subjetividade na relação do aluno com o

conhecimento de si, de seu próprio corpo, do outro e do meio

ambiente, a partir de uma perspectiva ética e cidadã.

Através de observações feitas em grupos de alunos da 4ª

Série do Ensino Fundamental, foi possível constatar que as

dificuldades com a construção do conhecimento matemático

começavam desde cedo pois estes demonstravam perceber que não

havia relação entre a matemática apreendida na escola e as formas

de pensar e agir que utilizavam no seu cotidiano.

Por essa razão, buscou-se pesquisar de que maneira

esses alunos reagiriam se tivessem contato com uma educação

matemática que proporcionasse essa experiência, partindo do

princípio de que cabe ao aluno construir o seu próprio conhecimento

matemático, fazendo explorações, articulando representações que

facilitem a investigação e as descobertas.

Esta perspectiva fundamenta-se no Programa de Pesquisa

em Etnomatemática definido por D�Ambrósio, segundo o qual a

educação deve ser compreendida �como uma estratégia mais

importante para levar o indivíduo a estar em paz consigo mesmo e

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com o entorno social, cultural e natural e a se localizar numa

realidade cósmica� (2000, p. 14).

Objetivos

A pesquisa integra-se em um projeto mais amplo,

denominado �Ética, subjetividade e cultura no processo de

construção do conhecimento�, desenvolvido pelos participantes da

Linha de Pesquisa: Epistemologia, Cultura e Construção do

Conhecimento, do Programa de Mestrado em Ensino de Ciências e

Matemática.

Segundo Guazzelli (2005 a, p. 01):

O objetivo do projeto da linha de pesquisa é contribuir

para o pleno desenvolvimento dos sujeitos da educação,

alunos e professores, resgatando sua dimensão ética e

cidadã. Para tanto, define os seguintes objetivos

específicos:

1. Investiga o processo de construção do conhecimento

na perspectiva do pensamento complexo e da

transdisciplinaridade, estabelecendo relações entre eles

e a constituição da subjetividade, com a mediação da

cultura, na educação matemática, ambiental e cidadã.

2. Estuda a relação existente na escola entre a

construção do conhecimento e a cultura,

compreendendo esta última como uma realidade de

múltiplas dimensões, um universo no qual se cruzam

diferentes subculturas: a cultura de massas, a cultura

parental, a cultura juvenil, a cultura ilustrada, a cultura

dos educadores, a cultura institucional, entre outras.

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3. Estimula o diálogo entre a reflexão teórica e a prática

desenvolvida pelo docente pesquisador junto aos alunos.

4.Valoriza a dimensão ética, emancipadora e cidadã do

ensino e da pesquisa, a serviço da construção de uma

sociedade mais justa, democrática e humana.

Através de uma perspectiva etnomatemática, propõe-se oferecer

condições para o desenvolvimento de cada um enquanto sujeito, na

relação com o seu corpo para conhecê-lo, valorizá-lo e compreendê-

lo, bem como em sua relação com o outro e com meio ambiente,

tendo em vista uma educação matemática integrada em uma

abordagem transdisciplinar. Pretende-se, nesta perspectiva, estudar

técnicas, habilidades de explicar, entender, lidar e de conviver com a

matemática que estejam integradas ao contexto cultural da realidade

dos alunos.

Por perspectiva etnomatemática entende-se uma busca

para compreender o saber/ fazer matemático que está inserido no

universo cultural de determinado grupo; a expressão saber/fazer foi

criada por D�Ambrósio (2002) para mostrar a relação entre o

conhecimento e a vida do dia-a-dia, inserida na cultura. A

etnomatemática valoriza o sujeito, a relação com o outro e com o

meio ambiente, percebendo a importância que essas dimensões tem

para a sua constituição e para a construção da cidadania.

A partir deste ponto de vista para que a construção do

conhecimento ocorra de forma plena, torna-se necessário trazê-la

para a realidade do aluno e isso só será possível na medida em que

ele perceba como os conteúdos matemáticos estão relacionados

com o seu dia a dia e com sua cultura. Uma das maneiras muito

interessante de se fazer essa relação é integrá-la à percepção e ao

conhecimento de si mesmo e de seu corpo. A pesquisa procurou

desenvolver uma educação matemática e uma proposta metodológi-

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ca que contemplasse esses princípios analisando seus

desdobramentos em sala de aula.

Levando em consideração a proposta acima enunciada, a

presente pesquisa pauta-se pelos seguintes objetivos específicos:

Desenvolver a percepção da relação entre os ângulos e o

próprio corpo em movimento; desenvolver a percepção de que

o próprio corpo pode criar várias aberturas ao movimentar-se e

que a partir delas o aluno poderá perceber os graus,

relacionando-os aos diversos tipos de ângulos;

desenvolver a percepção da relação entre os gráficos e a

singularidade do próprio corpo; perceber de que maneira a sua

condição de vida interfere no seu desenvolvimento corpóreo

(peso, altura, condição física);

estabelecer comparações entre os diversos tipos físicos,

aprendendo a respeitar e valorizar a diversidade corporal,

psíquica e cultural;

perceber a relação entre a alimentação, o corpo, a saúde e as

diferentes unidades de medidas, quais os reflexos de uma

nutrição adequada para o seu desenvolvimento físico, de que

maneira o meio interfere na sua qualidade de vida;

perceber-se como sujeito e cidadão participante da

comunidade escolar e da sociedade, co-responsável pela

defesa e preservação do meio ambiente.

Referencial Teórico

Para fundamentar-se, essa pesquisa utiliza-se das obras de

Ubiratan D´Ambrósio e Edgar Morin, que são trabalhadas a partir das

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categorias: etnomatemática, educação, conhecimento,

transdisciplinaridade, cultura, sujeito e cidadania.

Apóia-se igualmente nos trabalhos teóricos e propostas

metodológicas de Genebaldo Freire Dias sobre educação ambiental.

Apresernta-se , a seguir, aspectos centrais das categorias

estudadas.

1- A etnomatemática

A etnomatemática, para D�Ambrósio, é um programa de

pesquisa aberto, pois estabelece uma relação com a prática e a

cultura; dessa maneira ela preocupa-se com a construção do

conhecimento partindo do processo cultural em que o indivíduo está

inserido. Na perspectiva etnomatemática, busca-se desenvolver uma

proposta de conhecimento mais ampla e aberta.

Segundo D´Ambrósio:

A etnomatemática privilegia o raciocínio qualitativo. Um

enfoque etnomatemático sempre está ligado a uma

questão maior, de natureza ambiental ou de produção, e

a etnomatemática raramente se apresenta desvinculada

de outras manifestações culturais, tais como a arte e

religião. (2002, p.44).

Para este autor, pode-se definir a etnomatemática a partir da

etimologia do termo, para chegar mais perto de seu significado, tão

polêmico. Em primeiro lugar o prefixo �etno� se refere a etnia, isto é,

a um grupo de pessoas de mesma cultura, língua própria, ritos

próprios, etc., características culturais bem delimitadas que o define

como um grupo diferenciado.

Cada etnia constrói o seu etnosaber no processo de leitura do

mundo: é a construção do conhecimento para a explicação do

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fenômeno, e, logicamente, cada uma dessas leituras é feita de forma

bem diferente. Atualmente, o termo �etnosaber� propõe a

redescoberta dos saberes de outras etnias que não aquelas

integradas à cultura ocidental. Etno, então, se refere ao sistema de

conhecimento e cognições típicas de uma dada cultura.

Segundo D´Ambrósio (2002), o Programa Etnomatemática

tem como referências categorias próprias de cada cultura, pois é

próprio da espécie humana a satisfação e o impulso pela

sobrevivência, o que a leva a uma relação de uma vida em comum

com o outro da qual brota a vida cultural.

2- O Conhecimento

Tanto na perspectiva etnomatemática como no pensamento de

Morin o conhecimento é central para se compreender a cultura, pois

ambos estão interligados. Segundo D´Ambrósio, o conhecimento do

indivíduo resulta da sua capacidade de receber informações da

realidade e transformá-las para colocá-las em prática na forma de

uma ação. Essa ação é que irá gerar um novo conhecimento, que

será compartilhado com o grupo.

A perspectiva da Linha de Pesquisa �Ética, Subjetividade e

Cultura no Processo de Construção do Conhecimento� busca

compreender um contexto urbano, a partir da idéia de escola como

um lugar onde se cruzam e se confrontam diversas perspectivas

culturais.

Não se está desconsiderando a matemática acadêmica,

entretanto o olhar é para uma Educação Matemática fundamentada

na prática e no entendimento do saber/fazer, ligado à cultura e ao

ambiente. Não podemos deixar que a matemática continue sendo

analisada como algo que cause temor; é necessário que o professor

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proporcione aos seus alunos experiências enriquecedoras, para

tanto os futuros professores terão de repensar sua proposta com

relação à Educação Matemática, para que a matemática seja algo

vivo, desenvolvendo-se em conexão com situações reais no tempo e

no espaço, pois com essa visão irão adequar o conhecimento

matemático à realidade e, conseqüentemente, sentirão mais prazer

em ensiná-la.

3- A transdisciplinaridade

Considerando a maneira como os conhecimentos disciplinares

estão sendo desenvolvidos mostrando-se insuficientes para resolver

os problemas que são enfrentados pela sociedade e pelo planeta,

uma possibilidade é desenvolver um conhecimento que vá além da

perspectiva micro de cada disciplina, ou seja, que proporcione um

desenvolvimento holístico, para que o sujeito perceba que seu

avanço ocorre num enfoque amplo, sem se restringir apenas às par-

tes.A transdisciplinaridade favorece essa percepção do todo, levando

à compreensão do mundo na sua integralidade.

Segundo D´Ambrósio:

A transdisciplinaridade é uma atitude aberta, de respeito

mútuo e humildade em relação a mitos, religiões,

sistema de explicações e conhecimentos, rejeitando

qualquer tipo de arrogância ou prepotência. Na sua

essência, a transdisciplinaridade é transcultural (2001,

p.9).

Para Morin não é possível entender os fatos de forma isolada,

pois para ele o conhecimento é algo que progride das partes para

todo e do todo para partes.

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Segundo Morin:

�Uma vez que todas as coisas são causadas e

causadoras, ajudadas e ajudantes, mediatas e

imediatas, e todas estão presas por um elo natural e

imperceptível, que liga as mais distantes e as mais

diferentes, considero impossível conhecer as partes sem

conhecer o todo, tanto quanto conhecer o todo sem

conhecer, particularmente, as partes.� (2001,p.116)

4- A cultura

Guazzelli define sua concepção de cultura a partir dos

trabalhos desenvolvidos por Morin em �A Cultura de Massas no

século XX�, volumes 1 e 2.:

Para Morin (1977:75-89), a cultura é uma realidade

complexa que se organiza pela interação entre quatro

pólos constitutivos da realidade humana: a experiência

existencial, o saber, o código e os padrões de conduta

(patterns) e se constrói através de uma intricada rede de

relações na qual cada um destes pólos se desenvolve

pela mediação dos demais. A cultura está em constante

transformação: é dinâmica e favorece uma releitura em

vários momentos da vida dos indivíduos (GUAZZELLI,

2004,p.4-5).

Na perspectiva de D�Ambrósio:

Cultura é o conjunto de conhecimentos compartilhados e

comportamentos compatibilizados, inclui valores. Numa

mesma cultura, os indivíduos dão as mesmas

explicações e utilizam os mesmos instrumentos materiais

e intelectuais no seu dia-a-dia. (2002, p.35).

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Dessa forma a cultura está intimamente ligada as atitudes e

ações do sujeito e do grupo ao qual está inserido, possibilitando uma

nova organização dos valores , e uma releitura dos aspectos que

compõe a sociedade.

5- Sujeito

Segundo Morin para constituir-se como sujeito é necessário

uma organização biológica junto a uma dimensão cognitiva, pois a

relação entre estes aspectos não podem dar-se separadamente,

uma vez que o sujeito interage com o ambiente necessitando da

cognição para compreender as informações.

Para Morin:

� Da mesma maneira, o ser vivo, seja ele dotado ou não

de um sistema neuro-cerebral , retira informações de seu

ambiente e exerce uma atividade cognitiva inseparável

de sua prática de ser vivo. Ou seja, a dimensão gognitiva

é indispensável à vida.(2001, p.119)

6-A Cidadania

Quando pensamos em cidadania, uma das primeiras

idéias que temos é que para exercer � la, precisamos oficializar o

voto; ser cidadão é muito mais que simplesmente votar, é trazer para

si a responsabilidade de discernir os direitos e deveres que lhe foram

atribuídos através das leis e das regras impostas pela sociedade.

Segundo Manzini-Covre:

Só existe cidadania se houver a prática da reivindicação,

da apropriação de espaços, da pugna para fazer valer os

direitos do cidadão. (2005, p.10)

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O exercício da cidadania requer uma tomada de consciência no

sentido de entender que nossos atos também são responsáveis

pelas mudanças na sociedade.

Metodologia adotada para a pesquisa de campo

Em 2005, uma pesquisa-intervenção foi desenvolvida com 21

alunos da 4ª série do Ensino Fundamental, na faixa etária entre 09 e

10 anos, em uma escola particular da Região Leste do Município de

São Paulo de classe média.

Esta pesquisa se fundamentou em estudos e em experiências

concretas acumuladas pela pesquisadora, em 12 anos de trabalho

em Educação Matemática, na 4ª série do Ensino Fundamental,

visando à interação da escola com a vivência dos alunos e a

construção do conhecimento. Nesse período, foi possível observar

que, freqüentemente, a Matemática não é vivenciada, nem faz parte

do cotidiano do aluno.

Buscou-se desenvolver uma educação de caráter

transdisciplinar, que envolvesse o saber matemático, ou seja, o que

foi aprendido na escola relacionado às experiências cotidianas, o

conhecimento de si e do próprio corpo, o desenvolvimento do aluno

enquanto sujeito, a valorização do outro e de sua cultura, a

valorização do meio ambiente em uma abordagem ecológica, e

voltada para a construção da cidadania. Através de rodas de

conversa, criou-se um espaço de diálogo e de discussão; foram

realizadas atividades que proporcionaram ao aluno perceber a

relação entre o seu mundo e o conhecimento matemático.

Observando as elocuções dos alunos, foi possível verificar se

percebiam a matemática como algo inserido no seu dia-a-dia ou se

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ela era somente mais um conhecimento a ser adquirido para aquele

momento e nada mais.

Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa, na

perspectiva adotada por Lüdke e André (1986).

Segundo as autoras, referindo-se a Bogdan e Biklen:

A pesquisa qualitativa [...] envolve a obtenção de dados

descritivos, obtidos no contato direto do pesquisador

com a situação estudada; enfatiza mais o processo do

que o produto e se preocupa em retratar a perspectiva

dos participantes (LÜDKE ; ANDRÉ, 1986, p.13).

A pesquisa qualitativa (Ibid., p. 11-13), possui como principais

características:

- o meio ambiente natural como sendo a fonte principal de

dados;

-a predominância de dados descritivos;

- a preocupação central com o processo e não com o produto;

- a atenção aos significados que as pessoas atribuem à

realidade.

Por outro lado, a pesquisa possui uma dimensão etnográfica

uma vez que ela trabalha fundamentalmente com a cultura. Segundo

Lüdke e André, a pesquisa etnográfica é a descrição de um sistema

de significados culturais de um determinado grupo (Ibid.,p.14).

Referindo-se a Wilson (1977), as autoras apontam para duas

hipóteses fundamentais da pesquisa etnográfica:

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A hipótese naturalista-ecológica, que afirma ser o

comportamento humano é influenciado pelo contexto em

que se situa [...] - A hipótese qualitativo- fenomenológica

que determina ser quase impossível entender o

comportamento humano sem tentar entender o quadro

referencial dentro do qual os indivíduos interpretam seus

pensamentos, sentimentos e ações (Ibid., p15).

Fundamentando-se na perspectiva metodológica apontada

pelas autoras acima citadas, definiu-se os seguintes instrumentos

para a presente pesquisa �intervenção:

1) a observação planejada, sistemática e controlada do

processo desencadeado junto aos alunos, em sala de aula e, no que

diz respeito à construção da cidadania, no espaço escolar;

2) a análise de depoimentos orais dos sujeitos da pesquisa,

colhidos em certos momentos significativos da pesquisa-intervenção,

tanto individualmente como em grupo.

3) a análise de materiais escritos produzidos pelos sujeitos da

pesquisa em certos momentos significativos da pesquisa-

intervenção, tanto individualmente como em grupo.

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Síntese dos capítulos esboçados no texto a ser apresentado

para o Exame de Qualificação:

Capítulo I - A Proposta Etnomatemática e a Dimensão Cultural na

Escola.

Este capítulo discute, inicialmente, a proposta Etnomatemática

fundamentando-se em D�Ambrósio (2002, 1999, 1996), Knijnik (2004)

e Ferreira (2004).

Em seguida, procura analisar como a cultura de massa, da

escola, dos professores, dos adolescentes e da família exercem

papel fundamental na construção do conhecimento, partindo do

princípio de que os alunos estão procurando entender como se

constituem sujeitos tendo um universo a ser incorporado em sua

trajetória de vida.

Finalmente, foram apresentados resultados da observação

realizada em 2005, nas aulas de matemática. Embora os conteúdos

como as quatro operações, noções de geometria, sistema de

numeração decimal entre outros, tivessem sido desenvolvidos na

série anterior, não haviam sido interiorizados pelos alunos, talvez

porque não houvesse acontecido a relação entre o conteúdo e a

construção do conhecimento, levando em consideração as

experiências já vividas por eles.

Foi possível perceber também quais eram as exigências que as

famílias faziam com relação a conteúdos e as cobranças advindas da

sociedade as quais, esperava-se, deveriam ser respondidas

positivamente pela escola.

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Capítulo II- Percebendo-se como Sujeito, Conhecendo o Próprio

Corpo, Aprendendo a Cuidar de Si e de Seu Corpo.

Como a matemática está presente em, praticamente, todos os

momentos de nossas vidas, procurou-se analisar de que forma os

alunos relacionavam as informações recebidas através dos

conteúdos matemáticos com o seu cotidiano e como se utilizavam

dessas informações. Através de observações realizadas, pôde-se

constatar que não faziam relações utilizando seu corpo como parte

do processo de construção do conhecimento.

Em rodas de conversa, foram questionados a respeito dos

movimentos que faziam e se estes movimentos traziam alguma

relação com a matemática. Embora já tivessem tido contato com a

noção de ângulos, não tinham percebido com as aberturas dos

mesmos podiam ser percebidas nos movimentos que seus corpos

realizavam. Foram estimulados a perceber, então, como podiam

conhecer melhor a si mesmos e a seu corpo partindo de atividades

que permitiam perceber como as articulações proporcionavam

movimentos e que os mesmos, podiam ser estudados em conexão

com a educação matemática.

Esse capítulo retrata, também, como a pesquisa-intervenção

buscou despertar uma reflexão nos alunos sobre como seus hábitos

alimentares interferem no desenvolvimento físico, possibilitando uma

análise crítica a respeito de sua alimentação. A cada dia que passa,

tomamos conhecimento do aumento do número de crianças e

adolescentes com problemas de obesidade e sabemos que a

alimentação inadequada é um dos maiores causadores deste

problema; acreditou-se ser necessário discutir esse assunto com os

alunos, uma vez que na turma tínhamos alunos obesos e alunos que

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estavam abaixo da altura e peso, levando em consideração sua faixa

etária.

Partiu-se dos resultados da avaliação médica realizada na

escola nos quais são registrados o peso e altura de cada um;

analisando esses dados, iniciou-se um longo diálogo sobre quais

alimentos eram ingeridos, em quais quantidades e qual sua relação

com saúde, peso e altura. Observou-se que não havia uma

preocupação com o cardápio e sim em satisfazer os desejos, mesmo

que trouxessem danos ao desenvolvimento físico. Em uma

perspectiva transdisciplinar, os conhecimentos matemáticos foram

incorporados à educação para a saúde.

Capítulo III- Percebendo-se como Cidadão, Aprendendo a

Pensar sobre o Planeta e a Cuidar do Meio Ambiente.

Esse capítulo relata como a pesquisa-intervenção procurou

discutir as causas e conseqüências da degradação ambiental,

refletindo sobre a atuação de cada um na construção de uma

consciência ecológica, integrando estas discussões à educação

matemática.

Analisou-se como os alunos estabeleceram a relação entre as

ações humanas e as condições de vida em nosso planeta,

ressaltando a importância da apreensão matemática dos fenômenos

ambientais. Os alunos foram estimulados a tomar consciência da

importância de preservar e respeitar o ambiente, aprendendo a

interpretar informações de conteúdo matemático tanto nos livros

didáticos como na mídia, percebendo de que maneira a matemática

está ligada aos dados colhidos para análise e interpretação dos

problemas relacionados ao meio ambiente.

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Tendo como objetivo a constituição de sujeitos que valorizem a

ética e a cidadania, buscou-se uma tomada de consciência dos

problemas ambientais utilizando as informações colhidas por

pesquisadores que demonstram os sérios riscos que estamos

correndo em decorrência da degradação ambiental; estamos vivendo

em um momento marcado por grandes problemas relacionadas ao

meio ambiente. Estudou-se o processo de aquecimento do planeta,

como é medida a temperatura; quais os fenômenos climáticos

envolvidos e a relação entre temperatura e números.

Com o objetivo de formar para a cidadania e para a

responsabilidade com relação ao meio ambiente, foram

desenvolvidas atividades no espaço escolar, envolvendo os alunos

da 4ª série em um projeto mais amplo, assumido por várias turmas

da escola na qual ocorreu a pesquisa-intervenção.

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CAPÍTULO I

A Proposta Etnomatemática e a Dimensão Cultural na Escola

1-A proposta etnomatemática

Fundamenta-se no Programa de pesquisa em Etnomatemática o

presente trabalho propõe uma Educação Matemática que discuta o

saber/fazer matemático e o aluno como sujeito e como participante

dessa cultura, em uma perspectiva epistemológica e antropológica.

O ensino de matemática da maneira com que vinha sendo realizado

não proporcionava ao aluno perceber como aquele conhecimento

seria utilizado em sua vida levando-o a considerá-lo obsoleto e inútil.

Segundo D´Ambrósio: �Não é de se estranhar que o rendimento

esteja cada vez mais baixo, em todos os níveis. Os alunos não

podem agüentar coisas obsoletas inúteis, além de desinteressantes

para muitos� (2002,p.59).

A partir dos anos 80 novas experiências em educação

matemática foram surgindo como, por exemplo, a de Nunes e

Caraher (1982), em seu livro �Na vida dez, na escola zero�, que

descrevem as experiências de meninos vendedores de rua no Recife

, demonstrando que a cultura está presente em suas experiências e

juntamente com ela o uso da matemática, só que desta vez

relacionada a seu cotidiano, conforme observa Gerdes(2004).

Este autor mostrou que essas relações tornariam a

matemática algo mais que cálculos e conceitos, pois levariam o

aluno a construir um novo conhecimento agora nutrido de valores

enraizados em seu universo cultural.

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Surgiram novas formas de designar essa matemática a fim de

diferenciá-la da estudada no contexto escolar.

Gerdes (2004, p.11), comenta na sua introdução do livro

�Estudos Etnomatemáticos�, como os pesquisadores tentaram

delimitar o campo da etnomatemática utilizando termos diversos que

apontaram para várias vertentes:

Zaslawsky em 1973- chama de Sociomatemática as aplicações

da matemática na vida dos povos africanos e inversamente o

estudo da influência que instituições africanas exerciam e

ainda exercem sobre a evolução da matemática.

D`Ambrósio,em 1982- denomina de Matemática espontânea os

métodos matemáticos desenvolvidos por povos na luta pela

sobrevivência.

Posner, em 1982- refere-se à Matemática informal como

aquela que se transmite e se aprende fora do sistema de

educação formal, levando em conta também o processo

cognitivo.

Caraher (1982), Gerdes (1982) e Harris (1987) - trabalham com

a idéia de uma Matemática Não Estandartizada.

Mellin-Oslen, em 1986- denomina de Matemática Popular,

aquela desenvolvida no dia a dia e que é o ponto de partida

para se chegar a matemática acadêmica.

Ferreira, 1987- chama de Matemática Codificada no saber

/fazer.

Gerdes mostra como a perspectiva etnomatemática traz consigo

um novo modo de ver a realidade como um todo, ao salientar e

analisar as influências dos fatores sócio-culturais sobre o ensino, a

aprendizagem e o desenvolvimento da Matemática.

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Segundo Ferreira (2004,p.78), a etnomatemática apresenta-se

como um paradigma para a Educação Matemática, no sentido

definido por Khun; na ciência, um paradigma é estabelecido através

de normas e padrões, e indica algo mais fechado e sistematizado.

No entanto, esta não é a perspectiva de D�Ambrósio. A

etnomatemática, na perspectiva deste último, é um programa de

pesquisa aberto, pois estabelece uma relação com a prática e a

cultura; dessa maneira a etnomatemática preocupa-se com a

construção do conhecimento partindo do processo cultural em que o

indivíduo está inserido. Na perspectiva etnomatemática busca-se

desenvolver uma proposta de conhecimento mais ampla e aberta.

Segundo D´Ambrósio:

A etnomatemática privilegia o raciocínio qualitativo. Um

enfoque etnomatemático sempre está ligado a uma

questão maior, de natureza ambiental ou de produção, e

a etnomatemática raramente se apresenta desvinculada

de outras manifestações culturais, tais como a arte e

religião. (2002, p.44).

O que leva o ser humano a desenvolver modos, maneiras de

aprender e ensinar, lidar com a realidade, tem a ver com a forma

através da qual ele procura satisfazer as necessidades de sua

existência e a maneira pela qual ele procura não só sobreviver

como ir além dessa sobrevivência. Esse indivíduo está imbuindo de

conhecimentos e experiências que são geradas através da sua

cultura e o que ele absorve do mundo.

Segundo D�Ambrósio (2002), desde que os seres humanos

descobriram a Matemática como saber específico, dois itens

estiveram sempre presentes: os números e as formas geométricas. A

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geometria [geo=terra, metria =medida] orientou os povos antigos

tanto na divisão das terras como na construção de objetos e

utensílios para facilitar o trabalho do homem. A dimensão

matemática presente na vida humana, no entanto é mais ampla do

que apenas números e formas geométricas.

O cotidiano está impregnado dos saberes e fazeres

próprios da cultura. A todo instante, os indivíduos estão

comparando, classificando, quantificando, medindo,

explicando, generalizando, inferindo e, de algum modo,

avaliando, usando os instrumentos materiais e

intelectuais que são próprios à sua cultura (D�Ambrósio,

2002, p.22).

Em síntese, cada etnia, no seu processo de compreensão e

intervenção no mundo, constrói sua cultura, pois o conhecimento é

construído a partir das experiências vividas e trocadas pelo grupo.

Nessa perspectiva a Etnomatemática coloca a matemática

formal e informal numa mesma escala de valor e abre a discussão

sobre o modo como uma pode completar a outra.

Etnomatemática para D´Ambrosio é a arte ou técnica de

explicar, de entender, e de agir sobre a realidade dentro de um

contexto cultural próprio. O autor afirma:

Indivíduos e povos têm, ao longo de suas existências e

ao longo da história, criado e desenvolvido instrumentos

de reflexão, de observação, instrumentos teóricos e,

associados a esses, técnicas, habilidades (teorias,

techné, ticas) para explicar, entender, conhecer,

aprender (matema), para saber e fazer como resposta a

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necessidade de sobrevivência e de transcendência, em

ambientes naturais, sociais, e culturais (etnos) os mais

diversos. Daí chamarmos o exposto acima de programa

etnomatemática.(2002, p.60)

Como estamos inseridos em uma cultura, todos os hábitos e

costumes se traduzem em conhecimento, fazendo com que o sujeito

interiorize as experiências vividas e recebidas da cultura à qual

pertence.

A Etnomatemática tem como objetivo integrar a matemática

escolar à cultura de um grupo, pois pretende valorizar o

conhecimento matemático dos diferentes grupos sociais a partir do

seu processo histórico e social.

Partindo desse pressuposto a etnomatemática procura

problematizar a dicotomia entre o conhecimento reconhecido

oficialmente como matemático e aqueles vividos pelos grupos

sociais. Por muitos anos não se levou em consideração as maneiras

pelas quais os indivíduos construíam seu conhecimento, impondo

uma maneira de pensar e praticar a matemática como sendo a única

adequada e científica.

Knijnik (2000, p.51) afirma:

Neste sentido é que dizemos que a Etnomatemática

procura contar, ensinar, lidar com a história não oficial do

presente e do passado. Ao dar visibilidade a este

presente e a este passado, a Etnomatemática vai

entender a Matemática como uma produção cultural,

entendida não como consenso, não como a supremacia

do que se tornou legítimo por ser superior do ponto de

vista epistemológico.

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Há também dimensões políticas e sociais dentro dessa

perspectiva, como afirma Knijnik :

A Etnomatemática encontra sua expressão mais

relevante quando expõe seu engajamento social, quando

não trata de questões culturais como elementos exóticos

e desenraizados, descomprometidos da luta política

(1999, p.282-283).

Se procuramos uma educação matemática voltada para a

experiência humana, não podemos deixar de vê-la a partir da cultura

na qual o grupo de alunos está inserido; neste contexto é preciso

levar em consideração a sua história e não apenas utilizar

conhecimentos dentro de uma visão dominante, ou seja, somente um

conjunto de técnicas e conceitos que expressem o que a classe

dominante acredita ser o ideal.

Segundo a autora acima citada, procuramos uma

educação que valorize as experiências trazidas pelo grupo, pautando

a construção do conhecimento a partir de algo que seja relevante

para sua vida e agregando os conteúdos matemáticos de maneira

que sejam relacionados às necessidades dessa cultura.

Para D´Ambrósio:

Os conteúdos e métodos de educação precisam ser

desenvolvidos para servir às necessidades básicas de

aprendizagem dos indivíduos e das sociedades,

proporcionando-lhes o poder de enfrentar seus

problemas mais urgentes- combate à pobreza, aumen

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to da produtividades, melhora das condições de vida e

proteção ao meio ambiente- permitindo que assumam

seu papel por direito na construção de sociedades

democráticas e no enriquecimento de sua herança

cultural (2002, p. 62).

Não se pretende excluir a matemática considerada oficial, mas

sim dar a oportunidade de incluir no currículo, uma matemática que

contemple os grupos com distintas perspectivas culturais e que a

partir daí passe a valorizar os conhecimentos expressados nas

brincadeiras, nos jogos, nas atividades relacionadas a grupos rurais,

urbanos, bem como aos povos indígenas.

Conforme afirma Knijnik:

A Matemática, precisamente por ser produzida pelo

grupo social legitimado como o que pode /deve/é capaz

de produzir �ciência� é a que, do ponto de vista social

vale mais. Portanto, não se trata de falar, ingenuamente,

em diferentes Matemáticas, mas sim considerar que tais

Matemáticas são, em termos de poder, desigualmente

diferentes (2004, p.259).

Acredito que seja necessário desvincular a seleção dos

conteúdos matemáticos da relação de poder, pois o que acontece é

que a preocupação é �ensinar� segundo pressupostos de quem

�manda�; se buscamos uma educação que proporcione a formação

crítica do cidadão, precisamos nos preocupar em que expresse,

resgate, valorize e principalmente problematize os saberes dos mais

variados grupos sociais. Por essa razão, acredito que a

Etnomatemática possa tornar possível esse resgate, uma vez que

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fornece subsídios que possibilitam uma nova compreensão de vida,

a fim de diminuir as injustiças às quais estão submetidos os grupos

menos favorecidos, criando alternativas de análise e mudanças em

suas condições de vida.

Contudo, para que a Etnomatemática seja inserida no contexto

escolar tornar-se necessária mudança tanto na escola como na

formação dos professores, pois hoje a escola passa por uma

transformação na qual não está definido o seu papel. Em alguns

momentos é solicitado que ela �produza� conhecimentos a serem

utilizados pela classe dominante e em outros que ela desenvolva o

senso crítico, a criatividade e principalmente que os saberes

escolares estejam relacionados aos saberes do cotidiano; para

definir qual procedimento será escolhido, tem que estar claro o que

se pretende com a construção do conhecimento pelos alunos.

Nos Parâmetros Curriculares Nacionais, a conexão entre os

saberes e o cotidiano aparece em vários textos; afirma-se, inclusive:

�Assim, tanto a História da Matemática como os estudos da

Etnomatemática são importantes para explicitar a dinâmica da

produção desse conhecimento, histórica e socialmente�

(MEC/SEF,p.80 a 82 ).

A pesquisa �intervenção mostrou que para que essa educação

se modifique, é importante mudar o enfoque dado à escola e, por

conseguinte à formação dos professores, pois a escola precisa se

tornar um espaço onde a diversidade e a ética sejam respeitadas;

exige-se compromisso tanto com os valores e desejos individuais

como com os coletivos, resgatando assim os deveres e direitos para

a efetivação da democracia.

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Nessa perspectiva a Etnomatemática procura uma escola que

se volte para o processo de construção de conhecimento presente

no cotidiano, e na cultura com o intuito de aprender e enriquecer o

seu verdadeiro papel social.

Outro aspecto importante para que a escola se torne um

espaço de mudança é a participação da comunidade, na qual ela

está inserida, pois somente assim oferecerá condições de atender à

diversidade cultural preservando a integridade intelectual de seus

membros.

Segundo Monteiro (2004, p.440) a ligação entre os saberes do

cotidiano e da cultura também foi pensada por autores importantes

da sociologia e antropologia como: Mafessoli, Balandier e De

Certeau;para estes autores,o cotidiano é um lugar privilegiado, onde

emerge o próprio sentido da existência.

Segundo Balandier:

O estudo da vida cotidiana se centra no sujeito, naquilo

que o rodeia diretamente: os familiares, os vizinhos, os

amigos, os companheiros...e em todas aquelas práticas,

representações, simbolizações por meio das quais o

sujeito se organiza e se relaciona com a sociedade, com

a cultura e com os acontecimentos (BALANDIER, 1984,

p. 104, apud Monteiro, 2004, p. 440).

Percebe-se a partir desses autores, a importância de se levar

em conta a história que acompanha o sujeito, uma vez que através

dela conseguimos fazer uma análise sobre a sua vivência e como ela

poderá auxiliar na construção do conhecimento.

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O processo educacional, nessa perspectiva, necessita

reorganizar a escola, suas relações no que se refere ao

tempo/espaço, à possibilidade de viver as diversidades, para

compreender o currículo como um conjunto envolvendo valores que

possibilite a escolha das identidades e principalmente que permita

aos professores e alunos fazerem parte desse processo.

O sujeito se constitui através da herança cultural, assim sua

formação está imbuída de valores que lhe são atribuídos pela cultura

parental, e que por sua vez recebe através da experiência de vida,

uma série de novas informações que serão transformadas através da

sua subjetividade.

A presente pesquisa buscou mostrar como a cultura de massa,

a cultura parental, a cultura dos professores, a cultura da instituição e

a cultura adolescente estão presentes no cenário escolar.

Para Morin, a cultura nos possibilita perceber quem somos, pois

é através dela que nos caracterizamos como sujeito.

A pesquisa intervenção apontou para diversas culturas

presentes no ambiente escolar,o que gera uma série de conflitos: de

um lado temos a cultura adolescente que está preocupada em

preservar o que é passado pela cultura de massa e por outro

encontramos a cultura da escola e a dos professores que estão

preocupados em mostrar aos alunos a importância de se adquirir

conhecimento e de fazê-los perceber que a construção do

conhecimento é necessária. Observamos um enorme confronto entre

essas culturas uma vez que o que é importante para uma não é para

a outra.

A pesquisa mostrou como é necessário proporcionar no

ambiente escolar condições que favorecessem aos alunos um maior

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contato com a cultura da escola e a cultura dos professores através

de um diálogo crítico e amistoso, proporcionando assim condições

para que se efetivasse a construção do conhecimento.

Morin define a cultura como sendo �Um corpo complexo de

normas, símbolos, mitos e imagens que penetram em sua intimidade,

estruturam os instintos, orientam as emoções. (1981:15)�.

Para ele recebemos as informações e as transformamos,

tornando-as mais próximas daquilo que acreditamos e levando em

consideração a nossa subjetividade. Através da cultura, estamos em

contato com o real e o imaginário, pois ambos estão intrinsecamente

ligados.

Morin compreende a cultura como sendo um sistema simbiótico-

antagônico de múltiplas culturas, pois nenhuma cultura se isenta das

informações e influências recebidas de outras culturas.

Através da análise das múltiplas culturas presentes na escola,

foi possível perceber como predomina a cultura de massa, que é a

cultura dominante, uma vez que as posturas adotadas retratam

exatamente o que é imposto por ela, desconsiderando os valores e

principalmente a justiça, deixando em um segundo plano o que seria

necessário para termos uma sociedade justa e emancipada.

Como o sujeito está inserido numa cultura, todos os elementos

que fazem parte da mesma são instrumentos que possibilitam a

construção do conhecimento, da cidadania e do sujeito, dando-lhe

significado.

A pesquisa foi desenvolvida em uma escola particular situada

na região da Penha, com 11 anos de funcionamento, oferecendo as

seguintes modalidades de ensino: Educação Infantil, Ensino

Fundamental e Ensino Médio; este ano conta com 500 alunos, com

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aproximadamente 80 profissionais da educação, atendendo alunos

de vários bairros da Penha, de classe média.

As classes são organizadas na Educação Infantil com 15

alunos, Ensino Fundamental I, com 25 alunos e Ensino Fundamental

II e Médio com 30 alunos. Por possuir uma visão sócio -construtivista

desenvolve uma proposta pedagógica que tem como pressuposto

tratar o conhecimento a partir das experiências e história de vida dos

alunos.

A escola se preocupa em dar um atendimento de qualidade

aos seus alunos, o que favorece sua permanência da Educação

Infantil ao Ensino Médio e o fortalecimento da relação entre a escola

e os mesmos.

2- A cultura parental e sua relação com a cultura de

massas

Com relação aos pais é possível observar que estão buscando

uma escola que se diferencie das outras, principalmente na questão

do vínculo com o aluno. Entretanto, é fácil perceber que eles

confundem o papel que a escola deve exercer sobre a formação de

seus filhos, com o papel da família, pois acabam passando àquela

toda responsabilidade da formação, tanto no que se refere ao

conhecimento, como o dos valores.

Por sua vez a escola procura conscientizar os pais sobre qual

deve ser efetivamente a sua participação na formação desse

cidadão, porém encontra uma certa dificuldade na parceria, pois os

mesmos não tem definido quais são as prioridades na formação de

seus filhos, deixando-os confusos sobre a real importância que a

escola têm em suas vidas. Se os pais tivessem clareza sobre a

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importância da instituição escolar na construção do conhecimento e

da formação do sujeito como cidadão, seria possível que seus filhos

sentissem a importância da escola na vida. Se estamos procurando

uma escola que proporcione a construção do conhecimento, da

subjetividade e da cidadania, precisamos antes de qualquer coisa

definir as relações entre família e escola, o papel de cada uma e a

interação entre diferentes perspectivas culturais.

Essa análise sobre a realidade dos pais é muito importante

porque mostra a influência da cultura na vida dos alunos, uma vez

que os mesmos percebem como os pais estão sendo profundamente

influenciados pela cultura de massas, principalmente pela mídia.

A cultura de massa caracteriza-se por padrões, modelos, saber

fragmentado, códigos, uma vez que o sujeito vive muito no

imaginário e pouco na realidade, sendo assim não está preparado

para o sofrimento e procura um referencial para viver.(Morin, 1981)

Como é uma cultura transmitida pela mídia e pelos outros

meios de comunicação exerce grande influência na vida das

pessoas, fazendo com que haja uma constante renovação e

alteração nas experiências vividas, modificando-se e sendo

apropriadas pelas novas gerações.

A cultura de massa se pauta por um imaginário, mas esse

imaginário influencia o seu dia-a-dia, embora pareçam contraditórias,

estão intimamente ligadas.

Para Morin:

A cultura extrai da existência a experiência que permite

assimilar e eventualmente estocar; de outra parte,

fornece à existência os quadros e estruturas que

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assegurarão, dissociando ou misturando a prática e o

imaginário (1997, p.77-78).

Essa cultura de certa maneira possibilita ao sujeito retornar ao

egocentrismo, pois tem o �poder� de torná-lo cada vez mais o centro

do universo, em função de que a mídia e os outros meios de

comunicação exercem muita influência na mudança de

comportamento, alterando assim os princípios existentes inicialmente

na formação desse indivíduo.

�(...) Concebemos a cultura como um sistema

metabolizante, isto é, que assegura mudanças (variáveis

e diferenciadas segundo as culturas) entre os indivíduos,

entre o indivíduo e a sociedade, entre a sociedade e o

cosmos, etc.� (...) �Este sistema deve ser articulado ao

sistema social em seu conjunto� (MORIN, 1977,p.79).

A Cultura de Massa não se preocupa em educar para

atividades produtivas, para o trabalho, pois não é essa a sua

tônica.(MORIN,1981)

Percebe-se que os pais destes alunos perderam certas

características que normalmente se atribui à cultura parental como,

por exemplo, a preocupação com a educação, são pais jovens que

aparentemente não tem mais a compreensão do que seria educar os

filhos, delegando essa função para escola, pois já foram criados e

educados na cultura de massa; como é uma cultura que não ensina

como educar os filhos, eles se vêm com o direito de pagar e delegar

essa função à escola, perdendo a ligação importantíssima entre a

família, educação e cultura.

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Para compreender a cultura parental é preciso entender como

esse processo ocorreu ao longo da história.

Segundo Guazzelli, na Idade Média a educação dos filhos não

era função dos pais; esses delegavam essa educação a outras

famílias, com a intenção de prepará-los para uma profissão.

Segundo a mesma autora, foi a partir do século XVII que se

iniciou o processo de escolarização de forma muito lenta e somente

no final do século XIX as instituições escolares começaram a crescer

e a maioria das crianças passou a freqüentá-las, fazendo com que o

sistema de aprendiz desaparecesse e se iniciasse a escolarização

(GUAZZELLI; MACIEL;CARVALHO, 2005 ).

A idéia das famílias cuidarem dos filhos é muito recente; por

outro lado, a influência da cultura de massa é muito forte uma vez

que a cultura parental foi perdendo seus valores.

Guazzelli trabalha a idéia de uma cultura parental a partir de

uma definição apresentada por Feixa:

Pode-se trabalhar com a idéia de uma cultura parental,

tal como tem sido discutida por carlos Feixa (FEIXA,

1999), isto é, a cultura da família, que se insere, por sua

vez, em contextos culturais mais amplos, organizados

em torno de uma certa identidade, seja esta étnica, de

classe social ou de uma comunidade de origem. A

cultura parental se organiza em torno de normas de

conduta, valores, padrões, percepções e experiências,

estilos de vida, vivências, mediados e transmitidos pela

família, mas que se inserem em universos culturais mais

amplos (GUAZZELLI, 2004, p.9).

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O importante para os pais dos alunos com os quais se

desenvolveu a pesquisa é proporcionar aos seus filhos um bom nível

econômico, satisfazer as necessidades materiais e garanti-las, mas

não se vêem como educadores.

Percebe-se um conflito entre a visão da escola, que enxerga a

realidade e a educação de forma mais abrangente e mais reflexiva, e

a visão dos pais, que por estarem inseridos na cultura de massa, não

valorizam a construção do conhecimento, da subjetividade e da

cidadania, fazendo com que os alunos também tenham dificuldades

de lidar com essa construção.

Por este motivo é tão importante analisar a cultura de massas,

cultura parental, cultura dos professores e a cultura dos

adolescentes, no contexto escolar, numa perspectiva

etnomatemática.

Ao analisarmos os comportamentos dos alunos não podemos

deixar de observar o contexto cultural no qual estão inseridos, pois é

a partir das experiências vividas pelos pais que a criança inicia o seu

processo de construção, referente aos valores, gostos, atitudes e,

principalmente, as escolhas que farão no seu caminho; se o seu

cotidiano estiver associado a exemplos que não valorizam o papel da

escola, dificilmente conseguiremos conscientizá-los da sua

importância sobre a construção do conhecimento.

Como se sabe a cultura de massa procura convencer as

pessoas da necessidade de se ter ou fazer, o que na visão de quem

esta dominando é o mais importante.

Na escola tanto a cultura de massa, como a cultura parental é

observada nos pais, no momento em que passam aos seus filhos os

valores formadores de suas condutas.

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Como é possível uma criança construir seu conhecimento se

para a família isso de fato não é importante? Se fosse, os mesmos

achariam tempo e forma de participar; entretanto parece que eles

estão convencidos de que não é importante, que é uma exigência da

escola, na tentativa de fugir das suas responsabilidades, tendo uma

visão da escola como algo totalmente desvinculado das suas vidas,

embora o discurso seja outro, uma vez que sabem que

posteriormente serão cobrados. Uma preocupação forte que eles tem

é com relação à promoção; o conhecimento não é priorizado e sim o

status de se estar na série seguinte, para manter uma imagem

perante os outros.

A cultura de massa propõe o individualismo, a competição e a

superioridade, está vinculada a aspectos considerados positivos

como, por exemplo, o sucesso, o bem estar material, o poder e o

prestígio. Na verdade, essa é a cultura dos pais, e influência

profundamente os filhos, pois ao desenvolver esse processo de

construção de conhecimento estão sempre sendo solicitados a fazer

alguma coisa diferente do que o professor propõe, porque aquilo que

a família de fato quer é que ele acerte o máximo de respostas, que

seu rendimento seja o melhor, não dando valor à construção do

conhecimento. Como a família demonstra esse sentimento, aos

poucos a criança também vai perdendo o interesse em construir o

seu conhecimento, entrando em conflito, sem saber o que é

realmente importante para sua vida ou se o importante é competir

para naquele momento ter um resultado que satisfaça à família e por

alguns instantes a si próprio. A maior dificuldade é fazê-los entender

que o resultado faz parte de um processo que facilitará a constituição

do sujeito.

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Na perspectiva da cultura parental, os alunos estariam

preocupados em cumprir os créditos para obter um status perante a

sociedade não valorizando a construção do conhecimento.

Como parte do processo passo a analisar o resultado de

algumas observações que são importantes para mostrar como essa

cultura influencia diretamente as famílias e os alunos da escola onde

a pesquisa está sendo desenvolvida.

Observação 1

Na escola onde a pesquisa está sendo desenvolvida, cada

aluno possui um prontuário para acompanhamento do processo

pedagógico.

Quando recebi a relação dos alunos que fariam parte da minha

turma, busquei esse documento para fazer uma análise pedagógica

e enumerar quais intervenções seriam necessárias para o

desenvolvimento pedagógico dos alunos, levando em consideração o

processo de construção do conhecimento.

No momento em que peguei a documentação de Paulo,

observei que foi matriculado a partir 2ª série e que foram realizadas

as triagens com a fonoaudióloga e psicóloga da Instituição, tendo

sido solicitada a intervenção de um especialista de fonoaudiologia ,

pois o mesmo apresentava várias trocas que não eram mais

pertinentes à série e suas produções ainda se apresentavam muito

confusas e sem nenhuma estruturação.

Outro aspecto que estava mencionado nesses documentos era

a falta de compromisso com as atividades enviadas para casa, que

freqüentemente vinham sem fazer ou quando feitas eram de maneira

inadequada, demonstrando a falta de acompanhamento pelos

responsáveis.

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Mesmo após várias solicitações da escola a família não havia

iniciado o tratamento.

Após ter lido essa documentação, aguardei o início do ano

letivo para poder conversar com os pais e verificar a possibilidade de

a partir desse ano dar início as intervenções necessárias.

Por volta do início de março de 2005, percebi que as

dificuldades que o aluno Paulo havia apresentado nos anos

anteriores continuavam, principalmente na elaboração de textos

diversos e no desenvolvimento das atividades que eram enviadas

para casa.

Após ter conversado várias vezes com o aluno, solicitei a

presença da família para podermos juntos buscar uma forma de

conseguirmos sanar as dificuldades apresentadas por Paulo.

Para iniciar a conversa com seu pai e responsável, relatei que

Paulo demonstrava em suas produções de textos dificuldades de

elaboração, estruturação, trocas ortográficas e principalmente uma

falta de compromisso com o desenvolvimento das atividades.

O pai afirmou participar com freqüência das atividades de seu

filho; entretanto, o material que foi mostrado pela professora

contrariava essa afirmação, uma vez que as atividades propostas ou

estavam sem fazer ou feitas de maneira inadequada, demonstrando

que esta participação não existia.

No momento em que percebeu que sua fala estava

contrariando o que estava sendo demonstrado pela professora, o pai

procurou subterfúgios para justificar o que a família havia deixado de

fazer, criando uma fantasia que demonstrava uma família perfeita e

delegando para a escola a responsabilidade pela dificuldade do

filho; foi possível perceber que a imagem que o pai tentava passar

na escola era totalmente diferente daquela que a criança

demonstrava no seu dia-a-dia em sala de aula.

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Observação 2-

O aluno de que se trata a observação 2, está conosco desde a

pré-escola, é uma criança que demonstra ter excelentes recursos de

análise e reflexão.

Entretanto apresenta uma dificuldade muito grande em

relacionar-se e principalmente em lidar com qualquer tipo de situação

que possa aparecer na resolução de situações problema.

Uma das maiores dificuldades com esse aluno era fazê-lo

entender que todos cometemos erros e que podemos nos utilizar

desses erros para aprimorarmos a construção do conhecimento sem

ter vergonha; que todas essas fases fazem parte do processo de

construção. Mesmo assim demonstrava insatisfação só de pensar na

possibilidade de em algum momento não ser o �melhor�.

Em um determinado momento esse aluno se viu diante da

situação que para ele parecia impossível de acontecer e seu

comportamento foi o descrito abaixo.

Durante a execução de uma atividade de matemática que

envolvia as quatro operações, através de situações problema, um

aluno que estava acostumado a receber os melhores conceitos, se

deparou com uma realidade diferente, pois lhe foi atribuído um

conceito que não estava habituado.

No momento que recebeu a atividade a professora percebeu

seu desapontamento e perguntou se havia algo que gostaria de

perguntar.

Ele respondeu que não, mas seu comportamento contrariava

sua resposta.

Tal não foi a surpresa, que em sua agenda no dia seguinte

havia a solicitação de seu responsável para conversar com a

professora.

No dia e hora marcada a mãe e responsável pelo Amauri

esteve na escola.

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Ela iniciou a conversa dizendo que só estava lá pela insistência

de seu filho, pois encontrava-se desolado com o conceito que lhe

fora atribuído, que para ela não fazia a menor diferença. Entretanto

demonstrava a insatisfação de ter que lidar com uma situação que

mais cedo ou mais tarde faria parte da vida do filho.

Em uma de suas falas mencionou:

�- A preocupação dele era manchar o boletim com um conceito�

B �, e o que os seus colegas iriam dizer!�

Comentário e análise:

Diante do relato percebemos como a família também tem

dificuldade em lidar com a situação de conflito vivida pelos seus

filhos, uma vez que está embutida na formação dos mesmos a

necessidade de mantermos um status, que muitas vezes é imposto

pela sociedade; não fazemos uma análise para sabermos se

queremos viver em função da competição e da mudança de valores

que descarta o respeito às diferenças e à individualidade.

A criança interioriza a necessidade de ser o melhor, pela

valorização que a família atribui a esta posição e pelo status perante

a escola e os colegas de classe.

Em alguns momentos pudemos perceber essa influência

também nos relatos dos alunos, pois para eles essa competição

também é importante para demonstrar a superioridade em relação ao

grupo.

Uma preocupação presente na escola relaciona-se com a

questão dos erros e dos acertos, o que gera um conflito entre a

escola, os alunos e os familiares.

No contexto escolar nos confrontamos com a quantidade e não

com a qualidade que a produção de cada um tem a oferecer,

estamos sempre em contato com a competição e não com análise do

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que produzimos, existe ainda uma grande busca em manter a

condição de superioridade.

Deparamos nos ainda com situações onde não se verifica o

processo e sim o resultado, esse fato aconteceu durante a pesquisa

como podemos observar a seguir.

Observação 3

Durante a devolução de uma atividade de matemática que

envolvia a questão de interpretação e cálculos, é comum os alunos

conversarem a respeito de seus acertos ou erros,contar quantos

erros e acertos, sem analisar as questões, pois a única preocupação

pelo menos naquele momento é a comparação e a competição com

relação aos conceitos atribuídos.

Foi exatamente o que ocorreu com a atividade em questão,

seguida da seguinte pergunta, por um aluno que tem dificuldade de

lidar com a possibilidade de sentir-se inferiorizado com relação aos

conceitos.

__Professora, porque eu tirei B se só errei duas questões,

sendo que o Carlos também errou duas e tirou �O�?

__Olha a minha resposta está parecida com a dele, porque

você não considerou do mesmo jeito?

A situação acima demonstra a necessidade de valorizar somente

o conceito e não o processo que esta inserido na construção individual

e posteriormente coletiva do conhecimento.

Ficou óbvio que o aluno em questão estava preocupado com o

status que não poderia assumir naquele momento, pois tinha a

necessidade de lidar com a possibilidade de estar em condição

inferior com relação ao conceito atribuído, o que lhe trouxe uma

�cegueira�, não o deixando ver e valorizar o que havia aprendido,

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importando somente o que tinha errado e o deixado em conflito com

o grupo classe.

3- A cultura escolar e a cultura dos professores.

Está presente neste contexto a cultura dos professores, que

valorizam o processo de construção do conhecimento e não seu

resultado; de certa maneira encontra-se em conflito com a cultura de

massa e a parental, pois para eles necessita-se resgatar a

importância da construção do conhecimento tanto com as famílias

como com os alunos.

Para Guazzelli, a cultura dos professores foi sendo construída

ao longo de sua história.

Segundo a mesma autora:

Muito do que se entende por �Educação� é fruto desta

cultura; seus projetos, suas práticas, suas experiências e

descobertas, seus mitos e seus heróis, construídos pelos

professores ao longo de sua história, suas perspectivas

com relação à importância da escola na sociedade,

constituem elementos de uma cultura que tem um papel

a desempenhar frente à realidade cultural de nosso

tempo,por sua riqueza e complexidade. (2005, p.6)

Os professores procuram nortear seu trabalho fundamentando-

se no que acreditam e buscando alternativas que os aproximem dos

alunos, procurando trazer à tona o interesse dos mesmos por esse

espaço de troca de experiências e aprendizagem que é a escola.

É importante esclarecer que os professores não devem

renunciar ao que acreditam; entretanto tornar-se-á necessário

encontrar uma estratégia que os aproxime dos alunos.

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Guazzelli afirma que:

Nem a instituição escolar nem tão pouco os professores

devem renunciar às suas especificidades culturais para

identificarem-se com as culturas adolescente-juvenis;

falta a estas últimas densidade antropológica e uma

perspectiva de vida mais abrangente e mais rica que só

a experiência e a maturidade oferecem ao ser humano.

(2005,p.8)

Entender essas interferências não é fácil, entretanto

necessitamos mergulhar nesse mundo cultural, social e econômico

dos jovens para podermos nos aproximar e a partir daí tentar

compartilhar um conhecimento que possibilite a relação entre esses

�mundos� os quais ao mesmo tempo que parece distantes estão tão

próximos.

Apesar dos jovens tentarem um afastamento do mundo adulto,

quando necessitam de ajuda e amparo buscam aconchego em

alguém que possa protegê-los e dar-lhes a segurança de que

precisam.

Neste contexto é difícil achar o meio termo, pois da mesma

maneira que os professores estão preocupados com o processo de

construção do conhecimento, eles sabem da cobrança que a

sociedade exerce na conquista de bons resultados, na realidade os

professores encontraram-se em conflito com o que precisam ensinar,

de um lado a perspectiva de se ter um sujeito consciente e crítico de

outro o que lhe é pedido pelos órgãos oficiais, com o interesse de se

obter resultados que nem sempre condizem com a realidade vivida

no cotidiano escolar.

Segundo Guazzelli (2005), historicamente a cultura dos

professores teve sua origem nos Estados Unidos em meados do

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século XIX e no Brasil, a partir do início do século XX, com a

implantação dos sistemas nacionais de ensino.

Trata-se de uma cultura que compreende seus projetos, suas

práticas, suas experiências e descobertas, seus mitos e seus heróis,

suas perspectivas com relação à importância da escola e da

educação na sociedade.

A cultura dos professores procura esclarecer a importância da

escola na vida e na formação do sujeito como ser e principalmente

como a interação desse sujeito com o mundo interfere na construção

da sociedade; por sua vez tem com o objetivo proporcionar uma

visão critica e emancipatória .

Através da observação, a visão cultural dos professores é

contra a visão da mídia, pois procura fazer uma análise crítica,

questionando os aspectos relevantes dessa cultura produzida pela

elite, a qual não demonstra nenhuma preocupação em informar e

formar aqueles que a recebem; é neste momento que a cultura dos

professores se confronta com a cultura de massas e parental, na

medida em que os coloca frente a frente e provoca uma discussão

que proporciona uma reflexão e por conseqüência as possibilidades

de discernimento, a fim de gerar um conhecimento representativo e

de qualidade.

A preocupação dos educadores da escola em que foi realizada

a pesquisa-intervenção é proporcionar aos seus alunos

possibilidades de análises críticas e fundamentadas para que os

mesmos tornem-se cidadãos atuantes, com condições de decisões

pautadas em fatos reais e sem disfarces.

Com relação à Cultura da Escola é importante mencionar o

papel desempenhado pela diretora pedagógica que organizou e

esteve à frente da proposta por 10 anos, preocupando-se em

desenvolver um trabalho muito próximo aos professores e aos

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alunos, possibilitando uma ampla discussão sobre a proposta na qual

a equipe estava inserida.

Demonstrou ser uma profissional que preocupava -se em

participar integralmente das atividades desenvolvidas na escola,

estando sempre disposta a compartilhar os momentos bons e os não

muito agradáveis.

Certamente a escola tem muito do seu jeito, na medida em que

sempre se preocupou em proporcionar aos alunos um ensino de

qualidade, buscando conciliar as exigências do sistema de ensino,

não deixando de lado a formação holística do cidadão. Acreditava

que o cidadão se constituía a partir da sua história, e a partir dela

seria capaz de ampliá-la através das experiências vividas em

sociedade, possibilitando a sua formação enquanto sujeito.

Dentro desta perspectiva, a direção procurou desenvolver

projetos que tivessem como foco a construção de um cidadão capaz

de refletir e analisar de maneira crítica, e mantendo o mesmo grupo

de professores, a fim de possibilitar interação dos docentes, pois um

grupo que desempenha um trabalho com seriedade estabelece um

vínculo com a instituição. Demonstrou ser uma direção transparente

sem postura ambígua, não descaracterizando sua funções e

finalidades dentro da proposta pedagógica.

Quando há envolvimento entre a equipe de professores, os

pais e os alunos, é possível perceber a concretização dos objetivos

essenciais na construção de uma escola que visa a construção do

conhecimento, da cidadania e do sujeito.

Esta escola, durante todos esses anos tem buscado

alternativas para inserir as famílias no processo educacional, mas

tem encontrado dificuldades, uma vez que as mesmas estão vivendo

uma crise de valores, e não sabem bem o que será melhor para os

seus filhos.

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A corrida pela sobrevivência e a manutenção do status tem

distanciado os pais da vida dos filhos, deixando-os cada vez mais

sob olhares de outras pessoas, sem uma participação efetiva na vida

escolar, assim as crianças tem perdido o laço de afetividade ficando

cada vez mais sozinhas e por conseqüência mais isoladas dos

valores mínimos de uma convivência saudável.

É comum observar nos alunos um comportamento hostil e de

poucos amigos; apresentam dificuldade de demonstrar os seus

sentimentos e de se relacionar.

Para que se tenha uma mudança de comportamento torna-se

necessário uma parceria entre a escola e a família, levando-se em

consideração a diversidade existente, tentando resgatar os valores

que foram aos poucos se distanciando da vida e do cotidiano das

pessoas, somente assim daremos início a uma retomada de

consciência para delinear as prioridades com relação à formação e

construção do sujeito aluno.

4- A cultura matemática

Finalmente, segundo Alves Dias, é importante pensar em uma

cultura matemática enquanto realidade cultural específica que está

presente no universo escolar, embora não se reduza apenas a esta

dimensão.

Menciona Alves Dias¹ : 1�Não se pode deixar de citar a Cultura Matemática,

uma vez que é através dela que se tenta, aqui,

compreender as mudanças ocorridas no processo de

ensino aprendizagem dessa disciplina, as diferentes

escolhas que podem ser efetuadas e procura-se, ainda,

1 Essa análise foi apresentada pela autora Profª Dra. Marlene Aves Dias em uma entrevista realizada em

Abril/2006.

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verificar se essas mudanças estão relacionadas a

mudanças culturais e sociais ao longo de sua história�.

Verifica-se, que no Brasil, é somente a partir da

metade da década de 80, que os pesquisadores iniciaram

um movimento para

compreender as dificuldades relacionadas ao ensino

aprendizagem de matemática. Pode-se considerar que as

pesquisas apresentadas a partir dessa época estão

baseadas em duas grandes vertentes, uma que tenta

compreender como os professores de matemática

manifestavam seus conhecimentos e suas idéias sobre o

processo de ensino aprendizagem, e a outra sobre como

os alunos apreendiam e compreendiam as diferentes

noções matemáticas.

É também a partir dos anos 80, que surge, no Brasil,

estudos que tentam estabelecer os conhecimentos

profissionais dos professores, partindo do pressuposto de

que os professores produzem, na prática, saberes práticos

sobre a Matemática escolar, currículo, atividade, ensino

aprendizagem. Esses estudos mostram que esses saberes

práticos se transformam, tornando-se uma prática reflexiva

ou investigativa. Pode-se considerar que seria uma forma

que os professores utilizam para tentar compreender as

dimensões que envolvem as culturas matemática e

matemática de massa.

Sendo assim, pode-se dizer que essa prática reflexiva

ou investigativa, muitas vezes implícita em seu trabalho,

seria uma das formas que os professores utilizam para

compreender as dimensões culturais dos diferentes

contextos em que estão inseridos. Deve-se lembrar que,

em geral, o professor se encontra em um determinado

contexto, no qual a cultura predominante lhe é totalmente

desconhecida e para realizar seu trabalho ele precisa

refletir sobre essa cultura para encontrar os meios que

possibilitem atingir o público com o qual está trabalhando.

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Além disso, é importante ressaltar que poderão existir

conflitos uma vez que o professor nem sempre escolhe o

grupo com o qual deseja trabalhar e poderá levar um certo

tempo para operar essa adaptação. É dessa forma que se

supõe que os professores estariam buscando

compreender as dimensões que envolvem a cultura

matemática e a cultura matemática de massa através de

uma prática reflexiva e interpretativa.

Sendo assim, segundo Alves Dias, utiliza-se o termo

�cultura matemática� para a formação especifica de

matemática do bacharel e licenciado nesta área e cultura

matemática de massa, a matemática que serve de

ferramenta para o indivíduo compreender e tomar

decisões nos diferentes contextos onde é obrigado a

aplicar os seus conhecimentos matemáticos.

Considerando essas duas culturas, pode-se observar

que o professor, não importa o nível de escolaridade em

que esteja trabalhando, deve ter acesso à cultura

matemática não podendo realizar seu trabalho centrado

apenas na cultura matemática de massa, pois seu objetivo

primeiro é fazer com que os alunos participem do processo

de ensino aprendizagem de matemática. Portanto, é a

cultura matemática que irá auxiliá-lo na tentativa de

encontrar o caminho que poderá ser seguido, pois é ela

que permitirá reconhecer os conhecimentos disponíveis de

seu grupo de alunos e a partir desses encontrar as

diferentes formas de ampliar esses conhecimentos na

tentativa de introduzir esses alunos nessa nova cultura

que é a cultura matemática, mesmo que essa seja

basicamente escolar, mas que poderá auxiliá-los a

resolver problemas reais para os quais a falta de

conhecimentos básicos de matemática não os permite

exercer seu papel de cidadão.

Deve-se observar, ainda, que ao introduzir o aluno na

cultura matemática escolar o professor também deve se

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preocupar com os que desejam ultrapassar o nível de

conhecimentos básicos para sua sobrevivência, isto é, o

conhecimento associado apenas à cultura matemática de

massa, e levar também em conta aqueles que desejam

realmente compreender a evolução do mundo das

ciências, onde a matemática, em geral, é uma ferramenta

que auxilia a explicação do fenômeno que está sendo

estudado.

Um outro fato importante é a dificuldade de se desenvolver um

trabalho interdisciplinar, pois o grupo de professores precisa estar

preparado para as possíveis dificuldades que possam aparecer no

desenvolvimento do projeto.

Menciona Alves Dias:

Verifica-se, aqui, uma outra dificuldade associada ao

trabalho do educador matemático, pois é necessário um

trabalho interdisciplinar que só pode ser realizado

levando em conta as especificidades de cada membro

do grupo que deseja realizar esse trabalho, isto é, trata-

se de um trabalho em grupo onde cada integrante deve

dar conta da parte que lhe é mais adequada e ser capaz

de compreender seus limites.

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50

CAPÍTULO II

PERCEBENDO-SE COMO SUJEITO:

CONHECENDO O PRÓPRIO CORPO, APRENDENDO A CUIDAR DE SI e

DE SEU CORPO.

Uma segunda dimensão da pesquisa, apresentada e discutida

neste capítulo, procurou trabalhar a educação etnomatemática

integrada ao conhecimento do sujeito sobre si mesmo e sobre seu

corpo, bem como nas relações com os outros colegas dentro da

turma. Inicialmente, apresenta-se uma reflexão sobre os

fundamentos teóricos do conhecimento na perspectiva de Morin

para, em seguida, analisar o desenvolvimento da pesquisa-

intervenção.

Sujeito e conhecimento na perspectiva de Morin

Segundo Morin (2000, p.35) o conhecimento do mundo, como

mundo, é necessidade ao mesmo tempo intelectual e vital;

necessitamos articular e organizar o conhecimento para poder

entender, reconhecer e conhecer os problemas colocados pelo

mundo presente; para que isso aconteça, precisamos reformar o

pensamento. A educação deveria desenvolver a inteligência geral

como abertura para todos os conhecimentos.

Para Morin (2000, p.39) �... a educação deve ao mesmo tempo

utilizar os conhecimentos existentes e superar as antinomias

decorrentes do progresso nos conhecimentos especializados�, nesta

concepção, aproveita-se todas as informações trazidas pelos indiví-

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duos, ampliando e possibilitando a construção do conhecimento,

desenvolvendo-o nos sujeitos e nos grupos em conexão com a

vida.

Segundo Morin �cada um de nós é uma multiplicidade: somos

vários e somos um�, ou seja, estamos inseridos num contexto onde

as heranças fazem parte da construção do sujeito; ele as transforma

a partir de suas experiências de vida.

Essa afirmação de Morin foi confirmada pelas

observações realizadas durante a pesquisa-intervenção: a escola da

pesquisa é um ambiente repleto de múltiplas culturas; observamos

como elas se entrelaçam e dão origem à transformação do sujeito.

Para Morin, o sujeito move-se entre a liberdade e o

determinismo, entre o tudo e o nada, entre a autonomia e a

dependência (GUAZZELLI, 2003). Ser sujeito é estar em constante

mudanças e reflexões para poder nutrir a ação emancipatória e

cidadã; para compreender as mudanças pelas quais está passando,

precisa refletir e construir um novo pensamento acerca do seu

cotidiano.

Segundo Morin, é preciso colocar o sujeito em destaque,

pois a ele estão conectados os conhecimentos, as ciências e os

saberes.

Enquanto as ciências normais, inclusive cognitivas, se

fundam no princípio disjuntivo que exclui o sujeito

(cognoscente) do objeto (conhecimento), isto é exclui o

cognoscente do seu próprio conhecimento, o

conhecimento deve enfrentar o paradoxo de um

conhecimento que não é o seu próprio objeto senão

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porque emana de um sujeito. [...] Não se trata de

resvalar para o subjectivismo: trata-se muito pelo

contrário de enfrentar esse problema complexo em que o

sujeito cognoscente se torna objecto do seu

conhecimento ao mesmo tempo que permanece

sujeito.�(MORIN, l988, p. 25)�.

Entendo que para que essa relação aconteça precisamos

compreender a complexa relação que há entre sujeito e objeto, em

todos os âmbitos do conhecimento, pois essa relação só acontecerá

quando o sujeito entender que o objeto faz parte de si; condição

necessária para se perceber de forma plena.

Segundo Morin, a educação do futuro precisará situar-se na

condição humana, ou seja, deverá dar ao sujeito (indivíduo) a

importância que ele realmente tem para a construção de um mundo

melhor.

Morin menciona: Conhecer o humano é, antes de mais nada,

situá-lo no universo,e não separá-lo dele (2000, p.47).

Para que esse sujeito esteja inserido neste universo, será

preciso fazê-lo perceber a sua importância. Precisará refletir qual é o

seu papel neste mundo e de que maneira sua existência modifica e

interfere na condição humana bem como no planeta e no cosmos..

Se somos parte desse universo como podemos nos sentir

muitas vezes alheio a ele?

Morin comenta:

Somos originários do cosmos, da natureza, da vida, mas

devido à própria humanidade, à nossa cultura, à nossa

mente, à nossa consciência, tornamo-nos estranhos a

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este cosmo, que nos parece secretamente íntimo.(2000,

p.51)

Diante das circunstâncias, por muitas vezes parecemos

estranhos a nós mesmos, tomamos atitudes que sequer

reconhecemos, de certa maneira somos reflexos das ações

exercidas por outros, deixamos de discernir sobre o que é bom e o

que não o é.

Em segundo lugar, conhecer a condição humana é perceber

que compomos um circuito formado por indivíduo/sociedade/espécie,

que estão intimamente relacionados, conforme esquema abaixo:

Indivíduo

Espécie Sociedade(Morin, 2000, p.54)

Segundo Morin:

No sentido antropológico a sociedade vive para o

indivíduo, o qual vive para sociedade; a sociedade e o

indivíduo vivem para a espécie, que vive para o indivíduo

e para a sociedade.

Nesta perspectiva, cada termo é ao mesmo tempo meio e fim,

pois estão intrinsecamente ligados para organizar a vida e perpetuar

a cultura.

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54

Dessa forma para que a vida tenha continuidade precisaremos

estar seguros da nossa participação, na consciência que deveremos

ter para garantir a diversidade dos indivíduos, dos povos, das

culturas, enfim dar prosseguimento a construção de uma sociedade

mais justa e humana.

Morin menciona que para se chegar à noção de sujeito é

preciso pensar que toda organização biológica necessita de uma

dimensão cognitiva.(2001, p.119)

Segundo Guazzelli (2003), para Morin a dimensão cognitiva é

indispensável à vida, pois é através dela que o sujeito se estabelece

como tal. Segundo o autor essa dimensão cognitiva pode ser

denominada de computacional, ou seja, o tratamento que é dado aos

estímulos, aos dados, aos signos, aos símbolos, as mensagens que

possibilita agir dentro do universo exterior e interior. (sujeito

ação/reflexão).

Para Morin

Essa computação do ser individual é a computação que

cada uma faz de si mesmo, por si mesmo e para si

mesmo. É um cômputo. O cômputo é o ato pelo qual o

sujeito se constitui posicionando-se no centro de seu

mundo para lidar com ele, considerá-lo, realizar nele

todos os atos de preservação, proteção, defesa,

etc.(2001,p.120)

Morin conclui que: �O sujeito não é uma essência, não é

uma substância, mas também não é uma ilusão�.(2001, p.128)

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55

Para compreender como os alunos reagem frente às situações

em que são colocados, procurei ajuda também na teoria de Henri

Wallon , pois através da sua teoria é possível entender algumas das

situações que ocorrem na sala de aula.

Como a pesquisa foi desenvolvida com crianças entre 9 e 10

anos, com uma carga relevante de influências adquiridas através dos

valores da família e da mídia, busquei na Teoria de Henri Wallon os

estágios que norteariam melhor as atitudes do grupo pesquisado.

Henri Wallon propôs cinco estágios para o desenvolvimento,

são eles: Impulsivo: emocional; sensório-motor e projetivo;

personalismo; categorial e puberdade e adolescência.

Para Wallon ,o estágio categorial desenvolve entre os 6 e 11

anos; neste estágio ocorre a diferenciação entre o eu e o outro,

dando condições para a exploração mental do mundo físico, através

de atividades de agrupamento, classificação, seriação, possibilitando

ver-se através de si; no que se refere ao desenvolvimento motor , os

gestos estão mais precisos e localizados, de forma que ela pode

selecionar o gesto adequado à ação que deseja realizar, pode

planejar mentalmente o movimento e prever etapas e conseqüências

do deslocamento o que garante uma melhor desempenho na

exploração do ambinete e nas atividades de conquista do mundo

objetivo.(2000,p.52).

O Estágio da Puberdade e Adolescência, de 11anos em

diante, leva à exploração de si mesmo, como uma identidade

autônoma,mediante atividades de confronto, auto-afirmação,

questionamentos, ao mesmo tempo que se submete e se apóia nos

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grupos de pares, contrapondo-se aos valores tal como são

interpretados pelos adultos com quem vive (2000,p.13).

Através da análise desses estágios de desenvolvimento

segundo Wallon, pude perceber como as ações advindas dos grupos

nos quais os alunos estão inseridos são fatores preponderantes para

a formação de sua personalidade.

Segundo Wallon:

Os meios onde a criança vive e os que ambiciona são o

molde que dá cunho à sua pessoa. Não se trata de um

cunho passivamente suportado.

O meio de que depende começa certamente por dirigir

suas condutas, e o hábito precede a escolha, mas a

escolha pode impor-se, quer para resolver discordâncias,

quer por comparação de seus próprios meios com

outros.(2000, p.53)

Neste sentido, é após os 9/10 anos que a criança consegue

identificar, analisar, definir e classificar os objetos ou situações em

que está inserida e discernir que atitude a ser tomada.

Tornando-se capaz de resolver as situações, seu pensamento

se organiza em torno dos fatores que organizam os dados da

realidade; são eles: a noção de tempo, espaço e de causa.

Os conceitos necessários para definir as coisas, para dar

a nosso pensamento das coisas um conteúdo estável e

bem-definido devem interpor-se como uma tela sobre a

qual toda realidade teria um contorno invariável, entre

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dois oceanos móveis: o das coisas que se transformam,

o das idéias que se formam.(2000, p.57)

Dentro desta perspectiva percebemos como os alunos estão

cercados de situações que exigem um confronto constante entre o

que é coerente perante o grupo em que está inserido e o que para

ele parece ideal; a todo momento o aluno está em contato com essa

diversidade e lhe é cobrada uma atitude, que muitas vezes,não está

sendo compreendida por ele.

Portanto, torna-se necessário estabelecer uma relação

que possibilite perceber os valores que estão inseridos na sociedade

a fim de torná-la mais, justa e igualitária.

O desenvolvimento da pesquisa-intervenção

As atividades foram organizadas em duas Unidades que se

completam uma à outra. A 1ª. Unidade trabalhou a percepção de si

como sujeito integrada ao conhecimento do próprio corpo,

relacionando-a ao estudo dos ângulos e dos movimentos. A 2ª

unidade desenvolveu estratégias e conteúdos relativos à relação

entre a alimentação, o próprio corpo, o corpo dos colegas, pesos,

medidas e gráficos.

Esta abordagem, bem como os conteúdos de ensino e

aprendizagem explorados, fundamentam-se nos objetivos gerais

da Matemática para o Ensino Fundamental Matemática-

MEC/SEF, 1997, bem como nos objetivos específicos a cada ciclo.

Segundo os PCNs (páginas 80 a 82), os objetivos de Matemática

para o segundo ciclo (3ª e 4ª séries) são:

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Ampliar o significado do número natural pelo seu uso

em situações -problema e pelo reconhecimento de

relações e regularidades.

Interpretar e produzir escritas numéricas, considerando

as regras do sistema de numeração decimal e

estendendo-as para a representação dos números

racionais na forma decimal.

Resolver problemas, consolidando alguns significados

das operações fundamentais e construindo novos, em

situações que envolvam números naturais e, em alguns

casos, racionais.

Ampliar os procedimentos de cálculo-mental, escrito,

exato, aproximado -pelo conhecimento de regularidades

dos fatos fundamentais, de propriedades das operações

e pela antecipação, verificação de resultados.

Estabelecer pontos de referência para interpretar e

representar a localização e movimentação de pessoas

ou objetos, utilizando terminologia adequada para

descrever posições.

Recolher dados e informações, elaborar formas para

organizá-los e expressá-los, interpretar dados

apresentados sob formas de tabelas e gráficos e

valorizar essa linguagem como forma de comunicação.

Utilizar diferentes registros gráficos-desenhos,

esquemas, escritas numéricas como recurso para

expressar idéias, ajudar a descobrir formas de resolução

e comunicar estratégias e resultados.

Construir o significado das medidas, a partir de

situações-problema que expressem seu uso no contexto

social e em outras áreas do conhecimento e possibilitem

a comparação de grandezas de mesma natureza.

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Utilizar procedimentos e instrumentos de medida

usuais ou não, selecionando o mais adequado em

função da situação-problema e do grau de precisão do

resultado.

Demonstrar interesse para investigar, explorar e

interpretar, em diferentes contextos do cotidiano e de

outras áreas do conhecimento, os conceitos e

procedimentos matemáticos abordados neste ciclo.

Vivenciar processo de resolução de problemas,

percebendo que para resolvê-los é preciso compreender,

propor e executar um plano de solução, verificar e

comunicar a resposta.

Esses objetivos têm como finalidade proporcionar aos

professores e aos alunos a possibilidade de vivenciar a construção

do conhecimento partindo das experiências trazidas pelo grupo.

Considerando a necessidade de encontrar um material

didático que desse suporte a uma construção do conhecimento

pautada nos objetivos citados, estamos desenvolvendo na escola um

trabalho com uma coleção denominada �Projeto Presente� (Editora

Moderna, 2004) que demonstra a preocupação de elaborar um

material que possibilite a reflexão e a participação do aluno como

agente na construção do conhecimento.

Propostas do Material Didático - �Projeto Presente�

As autoras, Daniela Padovam, Isabel Cristina Guerra e

Ivonildes Milan, dentro do projeto curricular procuraram mostrar o

que e como ensinar, elaborando atividades que exijam mais do que

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simplesmente memorização, sabendo que os alunos de hoje

precisam de procedimentos de busca e de interpretação de

informações, precisam saber pesquisar e comunicar suas idéias,

conhecer técnicas e dominar estratégias.

Para elas, aprender fatos e conceitos significa ser capaz de

identificar, reconhecer, classificar, descrever e comparar objetos,

acontecimentos ou idéias, aprender um procedimento significa ser

capaz de utilizá-lo em diversas situações e de diferentes maneiras,

aprender um valor significa ser capaz de regular o próprio

comportamento de acordo com o princípio normativo estipulado por

esse valor, aprender uma norma significa ser capaz de comportar-se

de acordo com a mesma, aprender uma atitude significa mostrar uma

tendência consistente e perseverante e comportar-se de determinada

maneira perante situações, objetos, acontecimentos ou pessoas.

(PADOVAN, D. ; GUERRA, I. C. ; MILAN, I. 2004, p.08-10).

Para que o material didático esteja em consonância com

os Parâmetros Curriculares Nacionais, a proposta está estruturada

em quatro grandes blocos de conteúdos: números e operações;

espaço e forma; grandezas e medidas; tratamento da informação.

Números e operações - Apresenta o sistema de

numeração decimal esua complexidade, evitando simplificações e

fragmentações prejudiciais à compreensão pelos alunos; sendo

assim, propõe atividades com situações contextualizadas e de uso

dos números, com diferentes funções que eles assumem (quantificar,

medir, ordenar, codificar) e com números naturais e racionais

(representados na forma decimal e fracionária) e de diferentes

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ordens de grandezas. Tem como intenção que os alunos consigam

compará-los e estabelecer relações de semelhança e diferenças

entre eles, podendo observar as regularidades do sistema de

numeração decimal e se apropriar através de suas diferentes formas

de representação.

Prioriza neste ciclo as idéias da multiplicação e da

divisão, valorizando as estratégias próprias para a resolução de

problemas e o uso de algarismos não convencionais, uma vez que

os procedimentos pessoais podem ser mais facilmente entendidos

por aqueles que os criam (PADOVAN, D. ; GUERRA, I. C. ; MILAN,

I. 2004, p. 11).

Grandezas e medidas-Tem como objetivo levantar os

conhecimentos prévios dos alunos acerca do que é medir, o que se

pode medir e como.

Possibilita o contato com textos que contam a história das

medidas, para demonstrar a variedade de recursos que já foram

utilizados e a construção de instrumentos cada vez mais precisos

(Ibid., p.12).

Espaço e forma: este eixo tem como objetivo que o aluno

aprenda a reconhecer, no espaço em que vive, figuras geométricas,

planas e não planas, realizando atividades de observação, análise,

construção, representação e comunicação, procura-se explorar

atividades que trabalham a lateralidade, deslocamento no espaço

(Ibid. p. 13)

De acordo com os Paramentos Curriculares Nacionais -

Matemática (MEC / SEF, 1997, páginas 55 e 56):

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A Geometria é um campo fértil para se trabalhar com

situações - problema e é um tema pelo qual os alunos

costumam se interessar naturalmente. O trabalho com

noções geométricas contribui para a aprendizagem dos

números e medidas, pois estimula a criança a observar,

perceber semelhanças e diferenças, identificar

regularidades e vice-versa.

Além disso, se esse trabalho for feito a partir da

exploração dos objetos do mundo físico, de obras de

arte, pinturas, desenhos, esculturas e artesanato, ele

permitirá ao aluno estabelecer conexões entre a

Matemática e outras áreas do conhecimento.

Outro eixo trabalhado pelas autoras é: Tratamento da

informação. - Tem como objetivo explorar diferentes formas de

organizar e comunicar informações numéricas, bem como iniciar um

trabalho de exploração de algumas noções estatísticas e de

frequência. O tratamento da informação é utilizado em todos os

conteúdos como ferramenta importante para que os alunos

procedam à análise, percebam regularidades (PADOVAN, D. ;

GUERRA, I. C. ; MILAN, I. 2004, p. 13).

A partir das orientações dos PCNs e das possibilidades abertas

pelos livro didático foram desenvolvidas as duas unidades acima

apresentadas, com os seguintes objetivos:

Desenvolver a percepção da relação entre os ângulos e o

próprio corpo em movimento; desenvolver a percepção de que

o próprio corpo pode criar várias aberturas ao movimentar-se e

que a partir delas o aluno poderá perceber os graus,

relacionando-os aos diversos tipos de ângulos;

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desenvolver a percepção da relação entre os gráficos e a

singularidade do próprio corpo; perceber de que maneira a sua

condição de vida interfere no seu desenvolvimento corpóreo

(peso, altura, condição física);

estabelecer comparações entre os diversos tipos físicos,

aprendendo a respeitar e valorizar a diversidade corporal,

psíquica e cultural;

perceber a relação entre a alimentação, o corpo, a saúde e as

diferentes unidades de medidas, quais os reflexos de uma

nutrição adequada para o seu desenvolvimento físico, de que

maneira o meio interfere na sua qualidade de vida;

Foram desenvolvidas estratégias e atividades que deram

suporte à construção do conhecimento partindo de uma análise e

reflexão dos movimentos executados por eles.

A partir de rodas de conversa e de atividades físicas centradas

em movimentos que provocavam aberturas com diversos ângulos, foi

possível perceber que os alunos não tinham consciência da

complexidade e espontaneidade oferecida pelo corpo; para eles o

corpo estava lá para ser �usado�, sem qualquer relação com a vida e

consigo mesmos; era como se os movimentos executados por eles

fossem uma mera função e que conhecer como aconteciam não

tinha a menor importância, pois era função dele e pronto. Não havia

a preocupação em se olhar e sim a convicção de que os movimentos

aconteciam porque eles queriam sem nenhuma relação entre o corpo

e o conhecimento de si.

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Segundo Morin, a consciência que o sujeito adquire a partir de si

próprio é uma consciência que está ligada com o corpo, ou seja, o

sujeito se reconhece a partir dessa relação.

Comecei a questioná-los e solicitei que fizessem alguns

movimentos tais como pular, abrir os braços, correr, abrir as pernas;

foram desenvolvidas várias atividades envolvendo movimentos

diversos das pernas e braços, para a percepção das articulações

existentes nestes membros; nesse momento solicitei que

observassem de que maneira os movimentos aconteciam e através

dos questionamentos como: qual perna abriu primeiro? Que partes

do corpo movimentaram para que acontecessem os movimentos?

Pude perceber que eles executavam os movimentos sem nenhuma

análise, como se aquilo fosse simplesmente um deslocamento, sem

interferência de quem estava executando; foi então, nesse momento,

que pedi a eles que fizessem o movimento observando

cuidadosamente as manifestações do corpo; o interessante é que a

partir dessa fase do trabalho houve uma tomada de consciência

sobre o movimento e sua relação consigo mesmo. Depois,

executamos uma atividade individualmente com a articulação do

quadril, para que eles percebessem que o corpo faz movimentos de

frente e trás, direita, esquerda, embaixo e para cima. Ao final da

atividade, tínhamos juntos descoberto vários movimentos que

fazíamos sem uma reflexão e sem a percepção do corpo; o

fascinante nesta atividade foi perceber que a partir desse processo

conseguimos �olhar� o corpo como algo mais do que uma estrutura

entendendo como, com ele e através dele nos constituímos como

sujeitos.

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Solicitei que abrissem o livro didático e perguntado se já haviam

tido contato com o conteúdo mostrado, disseram que no ano anterior

a professora havia comentado sobre ângulos e semi-retas, mas que

esse conteúdo seria desenvolvido na próxima série e que naquele

momento era somente para tomar conhecimento com as expressões.

Diante dos relatos solicitei que observassem a abertura que o

Lucas havia feito e que descrevessem de que maneira estava o

braço em relação ao corpo.

Thiago disse :

__ Como o braço dele, está esticado dá para visualizar duas

retas, sendo que uma está para baixo e a outra está para a

lateral e essas retas estão unidas pelo final do braço e início do

corpo.

Aproveitando essa observação expliquei que essa abertura

existente entre o braço e o início do corpo era conhecida em

matemática como ângulo e que ângulos são formados por duas

semi-retas; dependendo da abertura entre elas tínhamos diferentes

medidas; essas medidas eram chamadas de graus que

determinavam vários tipos de ângulos e esses ângulos eram

conhecidos com retos, obtusos, agudos e rasos.

Para perceber se o que tínhamos feito com o corpo, mais as

discussões em relação às aberturas e nomenclaturas haviam sido

interiorizadas, saímos para alguns espaços da escola como quadra,

pátio, corredores e sala de aula, para observarmos se nesses locais

conseguiríamos encontrar semelhanças com as atividades que

havíamos desenvolvido, deixei-os livremente por esses espaços e

aos poucos vinham buscar-me para ver o que tinham descoberto.

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Um dos alunos percorrendo a quadra esportiva observou que a

trave possuía uma emenda que se assemelhava com um ângulo

raso, pois em uma das partes havia uma solda que separava dois

segmentos, formando duas semi-retas opostas que é a característica

para se obter um ângulo com esse nome.

Continuando nossa exploração pelos espaços da escola,

pudemos encontrar nas paredes, nas portas, nas carteiras, nos

brinquedos da pré-escola, nos cadernos, aberturas que

possibilitaram associar as descobertas feitas inicialmente com o

corpo.

Certamente essa observação só foi possível, pois no

desenvolvimento anterior das atividades puderam explorar diversas

formas de construir o conhecimento a partir de si mesmos em

relação a seu corpo, processo necessário para contextualizar com o

que está a seu redor.

Em uma terceira etapa, solicitei que verificassem no material

didático se havia algo relacionado com o que tínhamos feito com o

corpo e com a realidade escolar.

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LIVRO DIDÁTICO

No material didático trabalhamos os conteúdos: o que são os

ângulos, as ligações dos ângulos com o corpo, como eles se

apresentam no cotidiano.

Em primeiro lugar o material didático classifica os ângulos

usando como recurso relógios. Para relacionar essa atividade com o

cotidiano dos alunos, inicialmente discutimos se eles tinham contato

com aquele tipo de relógio. Embora todos possuíssem esse objeto, o

contato com o relógio analógico era distante do seu dia-a-dia, uma

vez que todos utilizavam-se do relógio digital; aproveitando esse

momento, conversamos a respeito das leituras referente às horas e

de como elas se apresentam através de diversos instrumentos; a

partir daí, demos início as observações contidas nas propostas do

material didático relacionadas aos ângulos.

Um outro enfoque utilizado pelo material didático é com relação

ao giro dado pelos ponteiros, demonstrando giro completo, metade e

um quarto, para que os alunos tivessem contato com essa

experiência, solicitei a eles que fizessem os movimentos descritos no

material e dessem seus relatos.

No momento em que os alunos desenvolveram os movimentos,

um dos questionamentos presentes foi que, se déssemos um giro de

360º conforme mostrado, não sairíamos do lugar; nesse momento

aproveitei a oportunidade para comentar que é comum ouvirmos

dizer que um indivíduo deu uma mudança na vida de 360ºgraus e

que certamente se fala isso por não saber que infelizmente não há

mudança de espaço se fizermos esse movimento. Nota-se que isso

ocorre porque somente verbalizamos e não experimentamos para

saber se há mudança ou não. Mais uma vez, foi possível perceber

que utilizamos as expressões matemáticas, sem tê-las vivenciado.

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Embora o material didático seja muito interessante, percebe-se

que em alguns momentos os exemplos fornecidos não fazem parte

da vida dos alunos, como foi o caso dos relógios analógicos;

lembramos que é um material distribuído para todo o território

nacional, muitos alunos não tem contato com os objetos

mencionados, seria importante levar em consideração a diversidade

cultural e os diferentes contextos nos quais vivem os alunos.

Seria conveniente que os exemplos fossem tirados das

experiências vividas pelos mesmos, tornando a prática pedagógica

mais atraente.

Ao analisar o material didático foi possível perceber, também,

que as informações partem do pressuposto de que os alunos já

conhecem, neste caso os ângulos, o que é até provável; entretanto

como recebemos alunos de diversas regiões, de culturas diferentes,

temos que ter cuidado de perceber, se os mesmos já tiveram contato

com as várias leituras e se houve a integração dos conteúdos com a

sua vida prática.

Torna-se necessário, por parte do professor, estar atento a

essa diversidade de experiências anteriores para não cair novamente

em uma matemática que priorize somente o conteúdo, sem a

preocupação de que os conhecimentos sejam contextualizados com

a realidade do professor e a do aluno.

Um outro aspecto trabalhado na pesquisa-intervenção

procurou levar os alunos a compreender como a alimentação

interfere no desenvolvimento corpóreo e psíquico, comparando peso,

altura, condição física e relacionando estes diferentes indicadores

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com a qualidade de vida. Foram estabelecidas relações entre a

alimentação, o corpo, a saúde e as diferentes unidades de medida e

os gráficos.

Buscou-se estimulá-los a valorizar uma nutrição adequada

para o seu desenvolvimento físico discutindo a respeito de alimentos

ricos e pobres em nutrientes, relacionando com a leitura e

interpretação de rótulos em alimentos.

No início do ano letivo, os alunos passam por uma avaliação

médica para a liberação da prática esportiva; essa prática é

acompanhada pelos professores de Educação Física e os

professores responsáveis pelas turmas; também é feito um relatório

onde consta a idade, o peso e a altura; esse documento é entregue

aos professores. Quando recebi esse relatório observei que alguns

alunos estavam com a altura e o peso desfavoráveis em relação à

faixa etária.

Acreditei ser necessário estabelecer um diálogo a respeito da

conduta que tinha com relação a sua alimentação; para dar início

ao processo solicitei que um aluno fizesse o contorno do outro em

um papel no qual marcamos, depois, o nome, data, peso e altura, a

partir das informações obtidas pela avaliação médica.

Os alunos puderam comparar atentamente os valores

atribuídos e estabelecer relações entre altura e peso partindo do

princípio de que, apesar de terem idades aproximadas, cada um

era diferente.

Após essa atividade, demos início a uma grande discussão

sobre o que ingeriam durante o dia; houve um registro de cada um,

em forma de cardápio, e a partir desse registro foi possível

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perceber a quantidade de produtos industrializados que são

consumidos por eles; legumes e verduras parecia algo

desconhecido por muitos, entretanto o consumo em restaurantes e

estabelecimentos de Fast Food preenchiam quase que 70% do

cardápio semanal.

Para tentar conscientizar a respeito da importância da

alimentação para uma vida saudável, solicitei que trouxessem para

escola as embalagens dos produtos que eram consumidos por eles

durante uma semana. Fizemos, então, uma análise dos alimentos

observando os dados que constavam nas embalagens como peso,

calorias, vitaminas, gordura e outros nutrientes. Após essa análise,

construímos um cartaz colando todas as embalagens trazidas por

eles com o título: �Os produtos consumidos pelos alunos da 4ª

Série B�; também fizemos uma relação de como o consumo

acontece, constituição do alimento e de como esses alimentos são

escolhidos.

Discutimos, então, a importância de se ter uma alimentação

que fosse composta por nutrientes essenciais para o

desenvolvimento físico e mental, pois a alimentação é fator

primordial para um desenvolvimento saudável.

Entretanto, a mudança de hábito é algo que dependerá de uma

ação que muitas vezes exigirá um extremo �sacrifício� tanto da

família como da criança, uma vez que os alimentos são adquiridos

pela família e indiretamente determinam o padrão de alimentação

que terão; a tomada de consciência dependerá da alteração da

conduta dos responsáveis para se ter um sujeito no futuro mais

cuidadoso como o desenvolvimento do seu organismo.

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Através dessa unidade, foi possível conseguir algumas

alterações no comportamento no que se relaciona à alimentação,

pois a partir do momento em que perceberam que somos aquilo

que comemos e que o funcionamento do organismo está atrelado a

uma alimentação saudável, os alunos passaram a observar melhor

o que estavam comendo e trazendo para a escola. Uma outra

mudança que ocorreu foi o consumo de água durante o período da

aula; anteriormente, não tinham esse hábito e restringiam-se a

sucos e refrigerantes. Acredito que essa mudança ocorreu pelo fato

de observarem que a professora durante todo o período de aula

ingeria muita água; essa atitude os motivou, pois perceberam que

podiam trazer para a sala de aula suas garrafas e que teriam

acesso a essa prática sem restrições.

É importante relatar que quando eles puderam trazer esse

objeto para a prática diária, os pais manifestaram preocupações

com as possíveis saídas para encher as garrafas e de se utilizar o

banheiro mais vezes em decorrência de estarem ingerindo líquido

em maior quantidade. É possível notar que essas manifestações

estão relacionadas à possibilidade de estar ausente no momento

da explicação ou de se perder algo relacionado aos conteúdos.

Aparentemente não houve preocupação com a necessidade de se

ter o hábito de beber água, como sendo algo essencial para a

saúde e sobrevivência humana.

Sabemos que as mudanças são lentas, mas acontecem a partir

do momento em que tomam consciência da importância e da

necessidade de se ter hábitos que garantam um bem estar físico e

mental.

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Com uma Educação Matemática ligada ao corpo é possível

desenvolver habilidades tais como: interpretação e análise das

informações, fazendo a relação com o cotidiano, tendo uma leitura

crítica e a partir dessa reflexão são capazes de discernir embora de

maneira ainda restrita o que é bom ou ruim.

Para relacionar essa educação matemática com os conteúdos

matemáticos desenvolvemos atividades que envolvessem peso,

medidas de massa, noção de frações, que compõem o material

didático que está sendo utilizado durante esse ano da pesquisa,

confeccionamos e interpretamos gráficos e tabelas, o que

possibilitou uma reflexão acerca da forma como os conteúdos são

apresentados e como é possível torná-los acessíveis desde que se

tenha uma proposta metodológica que se preocupe em resgatar

inicialmente os conhecimentos adquiridos pelos alunos e a partir

disso possibilitar a construção do conhecimento para que o sujeito

se sinta valorizado e em condições de discernir o que é mais

aconselhável para sua vida.

Uma das propostas do material didático era de se trabalhar

com a preocupação de obter uma alimentação saudável fazendo as

trocas de alimentos e demonstrando como alguns alimentos são

extremamente calóricos e desprovidos dos principais nutrientes e

que é possível comer bem e não ter problemas com o aumento de

peso e, conseqüentemente, ter qualidade de vida.

Para relacionar o que tínhamos feito com os conteúdos

matemáticos utilizamos o material didático para observar a

contextualização. Seguem abaixo as atividades desenvolvidas

dentro da proposta desse material.

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O texto citado na página 68 e 69 possibilitou uma ampla

discussão com relação aos alimentos ingeridos por eles e suas

calorias; simulamos uma série de trocas de alimentos e os cálculos

para verificar se estavam comendo a mesma quantidade ou se com

as trocas estavam comendo mais e com mais variedade.

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Pegamos novamente o cartaz dos alimentos que são ingeridos

por eles e discutimos alguns critérios para melhorar o hábito

alimentar, demonstrando que podemos comer um pouco de tudo se

nos preocuparmos com a qualidade de vida.

Avaliando os resultados

Posteriormente fomos convidados para visitar uma empresa de

telefonia celular e tivemos a oportunidade de conhecer o sistema

operacional. Quando o engenheiro começou a fazer a exploração

sobre o procedimento de comunicação, havia alguns desenhos de

como acontecia o processo de transmissão.Foi quando nesse

momento Thiago perguntou se para haver transmissão seria

necessário se ter ângulos, o profissional responsável pela explicação

ficou surpreso e comentou:

__Por que você está dizendo isso?

Thiago disse:

__Observe o trajeto que as linhas de transmissão estão

fazendo para encontrar uma torre com a outra; aparece duas semi-

retas fazendo uma abertura que chamamos de ângulo. Foi quando

o profissional mencionou que não havia feito essa relação, e que a

partir daquele momento conseguia enxergar algo a mais do que

somente uma ligação entre uma torre e a outra.

Após essa observação feita pelo Thiago, outros alunos

comentaram que também estavam conseguindo enxergar o mesmo

que ele.

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Com isso pude notar que houve a internalização do

conhecimento, uma vez que puderam relacionar o que haviam feito

com o corpo, com o ambiente, e com o conteúdo oferecido pelo

material didático. Houve uma contextualização que possibilitou que

os conhecimentos construídos pudessem ser utilizados em diversas

situações cotidianas e não somente na aquisição de um conteúdo

exigido pelo currículo escolar.

A partir da observação do Thiago, e das outras imagens

mostradas pela empresa que estávamos visitando,os demais alunos

começam a observar com mais atenção e puderam também

relacionar com o que haviam vivenciado na escola. Embora o

processo seja coletivo, há diferenças na maneira com que os

indivíduos reagem em relação a interiorização dos conhecimentos,

apresentando-se de forma mais ou menos intensa.

Um outro aspecto a ser analisado é que embora tenham

atividades esportivas não há relação dessa prática com a relação

dos movimentos que o corpo executa; para que tenha essa

consciência torna-se necessário que o mediador dessa prática

esportiva desenvolva e tome consciência de si próprio, construa a

sua subjetividade, a partir desse processo de autoconhecimento e

reconhecimento é possível demonstrar ao sujeito a importância que o

corpo exerce na sua formação enquanto ser.

Foi possível perceber essa distância, quando em 2001 estava

buscando uma maneira de ensinar um grupo de alunos da 4ª série

sobre a construção de ângulos de uma forma que os mesmos

pudessem observar, entender e construir a partir de algo que fosse

significativo para eles.

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Nesse momento tive a oportunidade de conversar com uma

professora de nado sincronizado que desenvolvia essa atividade na

mesma instituição por mais de 10 anos, e que tinha como

procedimento filmar os treinamentos e apresentações para depois

efetuar uma análise sobre os movimentos, cabe dizer que essa

análise tinha como finalidade somente observar as falhas dos

movimentos a fim de se chegar ao movimento perfeito.

Durante o encontro solicitei que me emprestasse a fita para

que pudesse desenvolver com os meus alunos um conteúdo

matemático, e foi nesse momento que ela me disse que com aquele

trabalho não havia possibilidade de desenvolver nada relacionado à

matemática, pedi que víssemos a fita juntas e fiz alguns

questionamentos sobre as aberturas efetuadas pelas atletas que

poderiam segundo minha perspectiva estar relacionada aos

conteúdos matemáticos, e o que ela me disse é que não conseguia

enxergar nenhuma relação, a partir dessa fala, solicitei que

mexessem seu corpo utilizando suas articulações e a partir daí fui

demonstrando como o corpo poderia ajudá-la a construir os

movimentos e chegar à perfeição que tanto queria, pois quando se

conhece e se percebe do que somos capazes de fazer a elaboração

da prática fica mais fácil.

Obviamente quando desenvolvi esse trabalho em 2001, não tinha

como finalidade desenvolver uma pesquisa intervenção, pois essa

possibilidade somente aconteceu em 2004, mas o importante é que

esse procedimento já estava acontecendo e que agora está

fortalecido pelo embasamento teórico / prático que dá suporte a essa

pesquisa, pois o conhecimento passa pelo autoconhecimento.

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Durante o desenvolvimento dessa unidade foi possível

perceber que de uma forma precoce há uma preocupação com o uso

do corpo para a reprodução do que a mídia passa como ser

importante, como por exemplo, o uso de maquilagem, para estar

dentro dos padrões estabelecidos de uma sociedade capitalista, sem

levar em consideração como o corpo se desenvolve e de como ele é

parte integrante da formação do sujeito.

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Capítulo III

PERCEBENDO-SE COMO CIDADÃO, APRENDENDO A

PENSAR SOBRE O PLANETA E A CUIDAR DO MEIO AMBIENTE.

Este capítulo apresenta reflexões sobre a educação

etnomatemática integrada à perspectiva da cidadania e do respeito

pela vida e pelo ambiente. Trata-se de uma 3ª Unidade da pesquisa-

intervenção que possibilitou uma análise reflexiva sobre os

problemas que o planeta está passando e de que forma uma atitude

consciente e ecológica pode oferecer mudanças no comportamento

do grupo e por conseqüência da comunidade em que estão

inseridos.

Ter uma atitude consciente é perceber como sua ação

interfere nas condições de vida do planeta.

Objetivos: �Perceber a relação entre as ações humanas e as condições

de vida em nosso planeta -> relacionar com a importância da

apreensão matemática dos fenômenos ambientais.

�Tomar consciência da importância de preservar e respeitar o

ambiente -> relacionar com aprender a interpretar informações de

conteúdo matemático na mídia.

�Perceber-se como sujeito agindo e modificando o ambiente -

> relacionar com atitudes cidadãs, como a análise interpretação

matemática da produção do próprio lixo.

Quando percebemos que somos parte integrante desse

planeta e que nossas ações estão intimamente ligadas às causas ou

soluções para resgatar a condição de vida humana, trazendo tanto

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para essa geração como para as gerações futuras condições de

sobrevivência, fica mais visível como o �cidadão� pode transformar

comportamentos anteriormente tidos como imutáveis.

Durante muito tempo ouvimos dizer que o que estava sendo

destruído não poderia ser resgatado, hoje sabemos que isso pode

sim ser alterado desde que tenhamos consciência do que é fazer

parte desse planeta.

A questão ecológica tem muito a ver com a cultura

tecnológica que se desenvolveu no decorrer do século XX; devido à

profunda crise econômica pela qual o mundo estava passando;

pouco se falava em preservar; o que mais importava era se obter

uma condição de sobrevivência, não se preocupando com os danos

que isso acarretaria ao longo dos anos.

No Brasil, a partir da Lei 6.983/81, começou-se a situar a

Educação Ambiental como um dos princípios que garantem a

preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental

propícia à vida, visando assegurar ao país condições de

desenvolvimento socioeconômico, relacionados aos interesses da

segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana.

Outra preocupação foi de incluir nos currículos escolares a

Educação Ambiental levando-se em consideração as

particularidades de cada região.

Na década de 90, mais precisamente em 1992, houve a

realização da Conferência �Rio 92�, que deu origem a um documento

denominado �Agenda 21�, que lançou bases importantes para se

tratar das questões ambientais como a biodiversidade, as mudanças

climáticas e, sobretudo o desenvolvimento sustentável.

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A partir desse momento houve uma divulgação mais

abrangente sobre os sérios problemas ambientais e a necessidade

de uma participação mais ativa da população.

Como uma preocupação da escola é desenvolver

projetos também com o objetivo de conscientizar os alunos da

importância de preservar e criar alternativas de sobrevivência no

Planeta Terra, conversamos sobre como estavam as condições

climáticas e de que maneira poderíamos colher essas informações;

uma das sugestões foi a de procurar em jornais. Pegamos esse

material e localizamos os dados; fizemos uma leitura a respeito das

informações escritas e desenhadas, recortamos e colamos no

caderno para fazer a interpretação da informação.

Com a finalidade de analisar de que forma os alunos

enxergavam os algarismos e de como a questão ecológica estava

inserida na vida, solicitei que lessem o texto: �Cada vez mais quente�

e marcassem todas as informações numéricas, pois estamos em

contato com várias informações que são colocadas de maneiras

diferentes como: porcentagens, frações, números naturais e

racionais, escritos por extenso ou com algarismos, levando a

conscientização de que a leitura não deve ser feita simplesmente de

forma mecânica sem análise e reflexão; para que se tenha mudança

no comportamento torna-se necessário sentir-se parte do processo.

Após a leitura iniciamos as discussões, primeiramente

solicitando que fizessem comentários sobre o que eles achavam que

as pessoas poderiam fazer para diminuir as ameaças ecológicas,

depois que observassem as informações e de que maneiras elas

estavam sendo apresentadas. As respostas foram os seguintes:

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-As pessoas precisam parar de jogar lixo em qualquer lugar;

-Se eles continuarem a destruir as florestas, ficaremos sem

ar, pois vimos que temos apenas 7% da Floresta Amazônia e mesmo

assim ela é considerada �um pulmão�;

-Aconselhar as pessoas sobre o que estão fazendo;

- Informar através da televisão sobre os problemas

ambientais, usando propagandas.

-Controlar a poluição dos rios;

-Diminuir as queimadas;

- Nossa como tem números no texto!

- Nem parece que o assunto é sobre o ambiente!

- Será que precisa de tantos números assim, para falar sobre

os problemas da Terra?

Através das observações ficou claro que os alunos num

primeiro momento não tinham percebido que as informações

contidas no texto eram dados numéricos, pois até o início da

discussão quando solicitei que observassem e buscassem no texto

palavras que se relacionavam com números ou com a Matemática,

eles ficaram confusos para colher essas informações; sublinharam

temperatura média; quando questionei por que tinham mencionado

essas palavras, me disseram que temperatura tem a ver com número

e que eu tinha solicitado que marcassem os números. Então disse a

eles que, embora para saber a temperatura usamos números, neste

caso a expressão �temperatura média�, não se reportava a um

número e sim a um conjunto de informações para se obter a

temperatura relativa a um período. Neste momento, ficou mais

evidente que para eles, Matemática precisa ter números e contas,

pois se não for assim, é tudo, menos matemática. Quando

estávamos concluindo a discussão surgiram as seguintes

observações:

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- �Olha como tem matemática nesse texto! e como ela

faz parte da vida das pessoas! Será que a gente iria conseguir

entender essas informações se não tivessem os números?�

- �Pro! A matemática está sempre na vida da gente não é?!�.

- �Sabe, eu não tinha percebido que usamos a matemática,

mesmo em textos que não falam só de matemática�.

A partir desses comentários, pude notar como é preciso

refletir sobre como os conteúdos de matemática são abordados, pois

se estamos discutindo com alunos de uma quarta série do Ensino

Fundamental, que em média já estão freqüentando a escola pelo

menos há 5 anos, e se depararam com várias informações utilizando

os números ou a matemática sem conseguir fazer essa relação,

como podemos querer que haja construção de conhecimento?

Levanta-se a possibilidade de que, anteriormente, não havia ligação

entre o que se aprendia e que se vivia.

D´Ambrósio (2000), acredita ser necessária uma

mudança na estrutura do Ensino de Matemática, em que a ênfase no

conteúdo e na quantidade de conhecimento que a criança adquire

deva ser substituída por uma metodologia que desenvolva atitude,

capacidade de problematizar situações reais, de criar teorias

adequadas para as situações mais diversas, uma metodologia que

permita identificar o tipo de informação adequada para uma certa

situação e condições para que sejam encontrados, em qualquer

nível, os conteúdos e métodos adequados.(1986,14-15).

Com a pesquisa pretendi mostrar que temos condições de

aproximar a realidade dos alunos dos conteúdos matemáticos

desafiando-os na busca de conhecimento que são interiorizados e

que podem auxiliá-los a compreender esse saber/fazer de uma

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maneira mais feliz, pois acredito em uma educação que prepare para

a vida.

O material didático que está sendo utilizado fornece a

possibilidade de discussão sobre os problemas que o

planeta vem enfrentando em razão da falta de conhecimento sobre

as questões ambientais, desafiando os alunos a perceberam quanto

a ação do homem tem danificado o planeta, mostrando através do

uso da matemática, as conseqüências da falta de cuidado, e de que

forma podemos procurar amenizar essa situação.

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A partir do mencionado na atividade 1, propus aos alunos que

procurassem situações que se assemelham às propostas pelas

autoras do material didático; após alguns minutos trouxeram

exemplos como:

- �Meu pai comentou que por causa da febre aftosa o

Brasil vai deixar de exportar milhares de cabeças de gado o que trará

um grande prejuízo para a nossa economia�.

- �No texto fala que se modificar os combustíveis vamos

ter uma economia bem grande. Olha! eu fiz a conta em reais seria

mais ou menos um trilhão de reais�.

Na atividade 2, discutimos quais são os fatores que

favorecem a elevação da temperatura e de como isso interfere em

nossas vidas.

Outro aspecto observado por eles foi com relação a forma de

se medir a temperatura; houve a curiosidade de saber se só se

media em Celsius ou se havia outra forma de expressar essa medida

em graus. Neste momento fomos até o laboratório de informática e

efetuamos uma pesquisa sobre as formas de medir as temperaturas

e como podíamos transformá-las seguindo uma tabela de conversão.

Pudemos perceber que temos possibilidade de desfrutar

de um conhecimento amplo e aberto se deixarmos as nossas

curiosidades aflorar e irmos a busca de saciar essas vontades.

Temos a oportunidade de ampliar os nossos conhecimentos

porque possuímos um leque de opções para satisfazer as nossas

curiosidades.

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Segundo Alves Dias

Deve-se ressaltar que o trabalho com a matemática

nos diferentes contextos e com situações variadas exige

uma flexibilidade do professor em relação ao

conhecimento matemático, pois esse deverá articular os

conhecimentos matemáticos dentro da própria matemática

e fora dela exigindo muitas vezes um trabalho

interdisciplinar ainda mais amplo e que parece ser mais

acentuado no ensino fundamental no 1º ciclo, onde o

professor das diferentes disciplinas é o mesmo.

Após essas discussões, percebi a necessidade de se

fazer um registro sobre o que pensavam ser importante a respeito

das questões ambientais e de que maneira os cidadãos poderiam

interferir na tomada de consciência para transformar o planeta em

lugar com possibilidades de sobrevivência.

Sugeri que construíssemos um �muro� e que a ele

déssemos o nome de �muro das lamentações�, e que neste registro

colocássemos tudo o que nos incomodava.

Conversamos também que só reclamar não adiantaria e que

era necessário pensar quais seriam nossos sonhos em relação ao

planeta e à sociedade. Foi quando pensamos em usar como símbolo

uma �árvore� que representaria o crescimento, a vida, e uma nova

possibilidade de mudança; então demos início à confecção desse

símbolo o qual denominamos da �árvore das expectativas�.

A seguir apresento o material coletado durante a

pesquisa intervenção, na realização destas duas atividades.

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�Muro das Lamentações�

-- �Enchentes alagando casas� (Bianca; Carla). -- �Que a camada de ozônio se dissolva� (Vinicius).

-- �Que as pessoas não respeitem o meio ambiente� (Paulo) . -- �Poluição� (Catherine). -- �Que ainda haja pessoas que não reciclam o lixo�. (João)

-- �Eu lamento que os homens estejam destruindo a natureza�. (Pedro) -- �Eu lamento que a Terra seja tão poluída� (Carmem; Ricardo) -- �Eu lamento o que aconteceu na atmosfera�. (Antonio) -- �Desmatamento� . (Rogério) -- �Saber que os homens estão acabando com as matas e animais�. ( Mariana) -- �Do mundo estar acabando pouco a pouco�. (Laura) -- �Que a mata Atlântica esteja destruída�. (Amauri) -- �Por termos uma cidade poluída�. ( Maira ) -- �Eu lamento o homem destruir o Planeta�. (Maria Carolina)

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-- �Que as pessoas não tenham conhecimentos sobre o mundo�. ( Raquel)

As lamentações mencionadas pelos alunos torna possível

perceber que os mesmos sabem dos problemas enfrentados pelo

mundo, só não sabem com agir perante essas situações.

Segundo Morin (2000, p.106) a ética está associada à antropo-

ética, ou seja, indivíduos/sociedade/espécie estão ligados

intimamente, emergindo assim a consciência e o espírito

humano,elementos essenciais para que se desenvolva a ética do

futuro.

O mesmo autor menciona que para que se caracterize a

antropo-ética é preciso assumir os três elementos citados, na

complexidade do ser, ter consciência pessoal e assumir o destino

humano em suas contradições e plenitude (2000,p.106).

Para torná-la possível Morin acredita que precisamos assumir a

missão antropológica do milênio que pressupõe:

-trabalhar para a humanização da humanidade;

-efetuar a dupla pilotagem do planeta:obedecer à vida ,

guiar a vida;

-respeitar o outro, ao mesmo tempo, a diferença e a

identidade quanto a si mesmo;

desenvolver a ética da solidariedade;

-desenvolver a ética da compreensão;

-ensinar a ética do gênero humano.(2000,p.106)

O muro das lamentações possibilitou análises sobre esses

aspectos mencionados por Morin, pois as citações estão intimamente

ligadas às reações dos alunos a respeito do que está sendo discutido

no cotidiano deles, lembrando que essas informações constam de

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suas vidas mas não são discutidas e colocadas como situações que

alteraram o desenvolvimento dos mesmos.

Quando Morin menciona que devemos desenvolver a ética da

solidariedade, da compreensão, nos faz refletirir como situações do

cotidiano escolar estão intrinsecamente relacionadas, pois embora

os alunos mencionem que não devemos poluir, não usam essa fala

para transformar as suas atitudes; mediante isso torná-los

conscientes de que também são membros dessa sociedade

poluidora, certamente favorecerá a tomada de consciência.

A pesquisa sobre suas lamentações trouxe à tona reflexões

sobre o fato de precisarmos sair do discurso e começarmos por em

prática as atitudes necessárias para a transformação do planeta.

O entendimento do que Morin classifica como antropoética é

permitir que se tenha a esperança da compreensão por parte da

humanidade, possibilitando a consciência e a cidadania.

Para Morin, compreender significa aprender junto, é nessa

perspectiva que acredito ser possível alterar esses comportamentos

que destroem a humanidade e tornar possível uma vida mais

harmônica com o planeta.

Segundo D´Ambrósio (1999) para entender as angústias que

os seres humanos tem com relação à sobrevivência no planeta, o

qual vem sendo destruído pela ganância, inveja, avareza,

prepotência, poder, arrogância e indiferença, é necessário termos

como ponto de partida o entendimento sobre o fenômeno da vida, o

qual esta imbuído de incertezas e contradições.

Para entender esses aspectos D`Ambrosio utiliza o que chama

de Triângulo da Vida:

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INDIVÍDUO NATUREZA

OUTRO(S) SOCIEDADE

Para ele os três componentes, o indivíduo, o outro e a natureza

são extremamente importantes para que a vida acontece e que

nenhum consegue sobreviver individualmente.

É importante lembrar que para que a vida continue são

necessários alguns valores e que a prática dos mesmos estejam

presentes em nossas ações diárias. São eles: cooperação, respeito e

solidariedade com o outro, pois como observamos no diagrama

elaborado por D´Ambrósio, não continuaremos existindo como ser,

caso não tenhamos consciência de que somente juntos somos

capazes de alterar as situações vividas pelo país e o mundo.

Outro aspecto discutido foi a necessidade de �enxergar� que

apesar da situação ser grave, precisaríamos ter expectativas e

mudanças comportamentais a fim de alterar os aspectos citados no

Muro das Lamentações. Após várias reflexões sobre os problemas

vividos pela nossa sociedade e o mundo, resolvermos construir um

símbolo ao qual demos o nome �Árvore das Expectativas�, onde

colocaríamos todos os nossos anseios para uma vida planetária

melhor.

Abaixo estão relacionados alguns dos desejos para uma vida

melhor.

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A Árvores das Expectativas

--- �Que limpem o rio Tietê�. (Thaís) --- �Que os animais sejam respeitados�. (Elaine) --- �Espero que todos colaborem com o meio ambiente�. ( Luana ,Saulo, Celso) --- �Espero que tenha menos poluição no mundo�.

(Silas,Felipe Augusto,Paulo César,Guilherme, Jaqueline) --- �Espero que o mundo melhore�. ( Claudia,Anne, Gustavo) --- �Espero que o mundo fique limpo, que não tenha mais lixo pra todos

os lados�. ( Nicole, Mariana) --- �Espero que os animais em extinção consigam ser respeitados�. (Jonas, Antonio) -- �Espero que as pessoas não matem animais�. ( Cibele) --- �Espero ter mais flores no mundo�. Stefani --- �Tenho a esperança de que um dia o mundo melhore�. Gisele --- �A conscientização das pessoas sobre a natureza�. (Daniela)

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--- �Cuidar da natureza�. (Vagner,Regis) --- �Melhorar o mundo�. (Mateus) --- �Do reflorestamento do mundo�. ( Priscila)

--- �Que não tenha mais pobreza no mundo�.

( Fernanda) --- �Que o homem tome consciência da importância da natureza�. ( Natacha) -- �Que a camada de ozônio não suma�. (Celso) --- �Que a água do mundo não acabe�. (Everton) --- �Que a Tailândia se recupere do Tsunami�. (César) --- �Que acabem as erosões�. (Vivian) --- �Que os rios sejam limpos, principalmente o Tietê e o Pinheiros�. ( Vanderley ) --- �Que não exista mais fenômenos naturais, como tsunami, furacões,

tornados, etc�. (Anderson) --- �Eu gostaria que a terra fosse purificada�. (Giovane) --- �Espero que um dia o mundo seja colorido, ou seja, não tenha coisas

ruins�. (Erick)

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--- �Não tenha mais desmatamento e animais em extinção�. ( Douglas, Mariana) --- �Não tenha mais enchentes�. (Clovis) --- �Espero que as plantas cresçam mais no mundo�. (Jonathan) --- �Que os cidadãos parem de gastar água�. Gustavo --- �Que as pessoas tomem consciência da questão ambiental�. Agatha --- �Que a população ajude a despoluir os rios e mares�. Lia --- �Que parem de cortar as árvores�. Thiago Expectativas relacionadas a outros aspectos sociais

-- �Que não haja mais fome no Brasil�. (João, Mayara) --- �Espero que crianças saiam das ruas�. (Bianca ) --- �Espero que pare de ter guerras�. ( Bruna, jamili, Pedro) --- �Espero que as pessoas não usem drogas�. (Beatriz) --- �Espero que a violência diminua bastante�. (Breno,George, Thamara)

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--- �Espero que as crianças e adultos tenham abrigo e não fiquem em

faróis�. ( Bárbara, Maria) --- �Tomara que esses vândalos parem de pichar muros, paredes de

casas, etc�. (Leonardo) --- �Espero que um dia tenha paz�. (Catherine, Rucardo, Carla) --- �E que todos um dia sejam felizes�. (Thereza) -- �Espero que não haja mais políticos corruptos�. ( José ) --- �Espero que o Brasil seja um país de primeiro mundo�. ( Rogério) --- �Direitos iguais para todos�. (Rita) --- �Harmonia entre os povos�. (Felipe) --- �Pessoas honestas�. Helton --- �Eu queria que não existisse armas e drogas�. (Jorge) --- �Que encontrem a cura para algumas doenças como o HIV�. (Thalita) -- �Que tenha muitos médicos, nos hospitais�. ( Mara) --- �Que não tenham idosos sendo mal tratados�. (Michelle) --- �Que as pessoas tenham mais conhecimento� (Rafaela)

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--- �Que as pessoas tenham informações sobre o mundo e etc�. (Antonieta) -- �Respeito a si e ao próximo�. (Sonia) --- �Que acabe a fome e a miséria no mundo�. (Lauro) --- �Que as pessoas sejam solidárias�. (Alexandre) --- �Espero que tenham mais solidariedade�. ( Igor) --- �Espero que a discriminação acabe�. (Karol) --- �Espero que o mundo seja melhor�. ( Jéssica ) --- �Espero que todos sejam cidadãos�. ( Mayra ) --- �Espero que todos tenham muito amor, carinho e respeito no

coração!� (Ana, Amanda) --- �Espero que o preconceito acabe�. ( Nicolas) --- �Espero que haja igualdade social�. ( Carolina, Sophia) --- �Melhoria na educação�. ( Maria Carolina) --- �Espero que a população pare de estragar tudo�. ( Renata) --- �Que o mundo fique melhor�. (Thales) --- �Cidadãos conscientes�.

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( Débora) --- �Educação para todos�. ( Doris)

As expectativas dos alunos passam por todas as situações

que estão sendo vividas pelo nosso país e pelo mundo, aspectos que

para nós e eles são relevantes para continuar a vida na Terra.

Segundo Morin :

A Humanidade deixou de constituir uma noção

abstrata: é realidade vital, pois está doravante, pela

primeira vez, ameaçada de morte; A humanidade deixou

de constituir uma noção somente de ideal, tornou-se

uma comunidade de destino e somente a consciência

desta comunidade pode conduzi-la a uma comunidade

de vida; A Humanidade é, daqui em diante, sobretudo,

uma noção ética: é o que deve ser realizado por todos e

em cada um. (2000,p.114)

De certa maneira está evidente que se não dermos a nossa

participação rumo a uma sociedade que veja e sinta o planeta como

o lugar que garanta a nossa sobrevivência, estamos descartando

qualquer possibilidade de vida e o que é pior sem a consciência de

fomos nós que o destruímos.

Para D´Ambrósio:

Só será atingido o exercício pleno da cidadania, num

regime democrático, quando a população exigir ação dos

seus representantes eleitos, no sentido de proporcionar

á população e à humanidade como um todo um padrão

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de qualidade de vida. Isto significa a satisfação, com

segurança e dignidade, das necessidades básicas

materiais e culturais. (2001, p.61).

Pudemos perceber que as questões ambientais estão

intimamente ligadas aos valores que são adquiridos pelos cidadãos,

pois anteriormente essas questões não eram tratadas como sendo

relevantes para a sobrevivência, hoje percebemos que sem uma

mudança de comportamento, não conseguiremos ter qualidade de

vida.

Um aspecto importante para a mudança de comportamento

foi perceber que as informações não ficam mais restritas a textos

exclusivos para essa finalidade, e sim tomamos conhecimento

através de várias literaturas, principalmente através do que

chamamos de textos matemáticos, atualmente temos facilidade de

encontrar materiais que priorizam a informação e a discussão que se

relacionam com a postura cidadã e o conhecimento a ser adquirido.

Felizmente a Matemática está se voltando para a necessidade

de relacionar os conteúdo a fatos que interferem na vida cotidiana.

Através da pesquisa intervenção foi possível observar o

processo de consciência que eles devem desenvolver sobre o

mundo e de como percebem os problemas; quais as possibilidades

de se enxergar um mundo melhor e de que maneira podem

transformar suas expectativas em ações.

Discutimos muito a necessidade da tomada de consciência,

pois é através dela que poderão visualizar um futuro diferente.

Durante o desenvolvimento da pesquisa-intervenção pude

perceber que em vários momentos os alunos se sentiam �à parte� da

situação, como se esses fatores não os afetassem; a impressão que

se tinha era que os problemas aconteciam em algum lugar que

nunca se aproximaria deles; quando começamos a relacionar os

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acontecimentos citados com as conseqüências, houve um certo

pânico, uma vez que começaram perceber que eram parte da

situação, mesmo que ela acontecesse em um lugar distante de onde

eles estavam. Puderam perceber que as questões ambientais,

sociais e culturais estão intrinsecamente relacionadas e que as

atitudes conscientes trazem resultados melhores. Perceberam

também que agir depende de uma postura cidadã, pois exige

consciência, discernimento e decisão.

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Considerações Finais

No capítulo I, a dissertação buscou entender quais os desafios

colocados pela escola, pelas famílias e pela sociedade que nos

tornam cada vez mais determinados em buscar possibilidades

para construirmos uma escola que valorize o sujeito e

principalmente o faça entender a sua importância na construção

da cidadania.

Por diversos momentos durante a realização da

pesquisa-intervenção, um aspecto esteve muito presente: a relação

do aluno e de sua família com a cultura de massa, cultura parental,

cultura adolescente e, por outro lado, a relação da cultura do

professor com a constituição do sujeito, a construção do

conhecimento e da cidadania, como esses segmentos encontravam-

se em conflito em relação ao que realmente queriam e o que seria

�cobrado� por essas culturas; havia uma insegurança sobre qual

atitude seria a mais adequada; relevante também foi observar como

a cultura de massa exerce influência na tomada de decisão e como

essa cultura está permeada de poder, poder esse que manipula e

�cega� o sujeito acerca das suas atitudes.

Analisando o contexto escolar, pude observar a necessidade

de aproximar a matemática escolar da matemática que está inserida

no cotidiano dos alunos, levando em consideração as experiências e

as representações trazidas da sua cultura, a partir da interação com

a cultura de massa, cultura adolescente, cultura juvenil e a cultura da

escola.

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Percebi o conflito vivido entre a perspectiva da escola e dos

professores, de um lado e, de outro, as expectativas das famílias a

respeito de uma escola que valorizasse as conquistas obtidas pelos

filhos e ao mesmo tempo desse ênfase aos conteúdos pois se

preocupavam com as cobranças que a sociedade faria no momento

de colocá-los no mercado de trabalho.

Outro aspecto importante que a pesquisa possibilitou

visualizar diz respeito da cultura dos professores que estão tentando

conscientizar pais e alunos da real importância da escola na

construção do conhecimento, fazendo-os compreender que não se

pode deixar de lado as experiências construídas por sua

subjetividade e que, a partir delas, somos capazes de entender as

mudanças sociais e culturais, possibilitando uma análise e reflexão

da necessidade de desenvolvimento do sujeito para a construção de

uma sociedade mais justa e igualitária.

Foi possível perceber a necessidade que a escola tem de

manter e concretizar seus objetivos, trazendo os alunos para perto

de si; do outro lado, a preocupação da família em criar um ambiente

que estimule a necessidade de ser o melhor e de competir. Os

professores sentem-se em meio a um �fogo cruzado�; como possuem

sua própria cultura, tentam, por sua vez, desenvolver uma educação

que consideram crítica e emancipadora.

A pesquisa ajudou a constatar como, na escola, estamos

em contato com a diversidade cultural e social, tornando a

construção do conhecimento algo mais que somente conteúdos que

devam ser apreendidos em um determinado momento. A escola está

envolvida num processo muito mais amplo que exige uma participa -

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ção intensiva de seus membros na construção de um espaço crítico,

criativo e principalmente emancipatório.

Proporcionou observar que tanto a escola como os pais

estão buscando situar-se frente a essa diversidade, e enquanto isso,

os alunos estão sendo cada vez mais engolidos por uma cultura de

massas que os manipula de forma grosseira, sem se preocupar com

os danos futuros.

Tanto D´Ambrosio como Morin compartilham da idéia de

que a cultura deva ser respeitada, pois é ela que dá suporte à

constituição do sujeito, à construção do conhecimento e da

cidadania.

A etnomatemática, enquanto proposta de investigação da

realidade sócio-cultural, torna possível aproximar os conteúdos

matemáticos da realidade dos alunos levando em consideração a

sua cultura e, a partir das experiências que ele tem, transformar o

conhecimento em algo que mais que absorção de conteúdos.

Através da pesquisa foi possível analisar como a etnomatemática

pode auxiliar na construção do conhecimento valorizando as

experiências vividas pelo grupo conforme analisado no Capítulo II e

III, com relação às atividades desenvolvidas pelos alunos da 4ª Série

do Ensino Fundamental, articuladas ao conhecimento de si próprio,

do outro, do meio ambiente e da cidadania.

Através das propostas de atividades e o uso do material

didático, foi possível perceber o sujeito como autor principal no

processo de construção do conhecimento e de como este

conhecimento deve estar articulado a atitudes e a possibilidades de

agir com relação a si mesmo, aos outros e ao meio ambiente. O

trabalho desenvolvido com o corpo e a alimentação auxiliou na

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reflexão de como somos pouco atentos com relação à qualidade de

vida, e que por muitas vezes fazemos exatamente o que nos pedem

sem levar em consideração o que é bom ou ruim para a nossa vida.

Em muitos momentos pude perceber que o comportamento

era gerado pela força que a mídia exercia, descartando os valores

sociais e culturais pelo simples fato de se estar em sintonia com o

que a maioria estava fazendo.

Um outro aspecto importante que a pesquisa pôde oferecer

foi a proposta de mudança nos hábitos dos alunos, principalmente no

que se refere à ingestão de líquidos, atitude que antes parecia

impossível de alterar uma vez que a maior preocupação dos pais era

com as possíveis perdas que os alunos teriam caso precisassem

ausentar-se da sala de aula. Com relação à alimentação foi possível

fazê-los perceber que para se ter um corpo saudável é necessário

adquirir hábitos alimentares que favoreçam essa condição, e que

somos aquilo que comemos, embora não tenha ocorrido, durante a

realização da pesquisa-intervenção, uma mudança significativa de

hábitos alimentares.

O capítulo III permitiu observar como foi possível qual era a

visão dos alunos com relação ao uso da matemática e quais eram as

relações possíveis com o seu cotidiano. Um momento muito

interessante vivido na pesquisa foi quando desenvolvemos algumas

leituras que tinham como foco a degradação ambiental, pois parecia

que até aquele momento essa questão não tinha nenhuma ligação

com os conteúdos matemáticos; quando começamos a discutir sobre

as questões ambientais através da análise dos dados, um dos

questionamentos foi que, anteriormente, não haviam percebido como

a matemática estava inserida em tudo que nos cerca.

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A pesquisa intervenção proporcionou observar como os

alunos encaram o mundo em que estão vivendo, pois durante as

discussões não se sentiam parte do meio; demonstravam em suas

atitudes que conheciam os problemas ambientais, sociais e culturais

que estavam ocorrendo, entretanto parecia que tudo estava muito

distante deles.

Quando discutimos as questões ambientais e de que

maneira seriam afetados, a reação foi de que jamais as

conseqüências da degradação e da injustiça social chegariam até

eles; a impressão que se tinha era de que todos esses problemas

estavam muito distantes, como se o planeta do qual estávamos

falando fosse outro e não aquele do qual faziam parte.

As reflexões feitas durante a pesquisa intervenção

propiciaram uma análise acerca desses comportamentos e a tomada

de consciência de como são parte integrante desse processo de

mudança também no que se refere à consciência ecológica e cidadã.

Quando decidimos fazer o levantamento das lamentações

e expectativas notamos como era ausente a consciência de que

fazíamos parte desse mundo e de que maneira as nossas ações

refletiriam nas conseqüências ambientais e sociais. O agradável

nessa pesquisa foi poder vivenciar as descobertas feitas por eles e

como as reações iam surgindo. No momento da exposição de suas

idéias para os demais alunos, notei o prazer que estavam sentindo

em demonstrar as mudanças já iniciadas com relação às atitudes

que tinham em relação ao espaço que ocupavam dentro do ambiente

escolar e como poderiam colaborar com o melhor desempenho da

escola.

Foi possível analisar também a crise de valores que

vivem os pais, os filhos, os professores, na tentativa de discernir

quais os aspectos que devam ser relevantes na formação do sujeito,

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113

que será inserido na sociedade para que tenha condições de se

tornar um cidadão com condições de pensar, agir, criar e construir

seu conhecimento nutrido de elementos que o façam perceber a sua

importância na construção de uma sociedade, capaz de valorizar a

sua cultura e através dela transformar o universo em um lugar

possível de se viver com qualidade de vida, estabelecendo uma

relação de harmonia entre ele, o outro e o meio ambiente.

De um lado estávamos em contato com reflexões sobre a

real importância da cidadania e de outro com as contradições vividas

por todos que faziam parte da pesquisa, pois tínhamos consciência

de que éramos um grão de areia neste imenso oceano de pessoas

que não estavam preocupadas com o planeta e muito menos com

esses cidadãos; a maior esperança após a realização da pesquisa

intervenção é de que esta semente que foi plantada floresça e que

os frutos sejam colhidos pelas novas gerações.

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