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1
Sumario
2
Capıtulo 1
Ideais
Iremos considerar aqui A um anel comutativo com unidade.
m Definicao 1 (Ideal). Um subconjunto I de A e um ideal de A sse
1. 0A ∈ I
2. Se a, b ∈ I entao a+ b ∈ I, isto e a adicao e fechada em I.
3. Se a ∈ A e b ∈ I entao a.b ∈ I. Chamaremos essa propriedade de absorcao.
Onde 0A e o elemento neutro da adicao do anel A.
b Propriedade 1. {0} e um ideal de A.
ê Demonstracao. Seja B = {0}, entao 0 ∈ B, Se a, b ∈ B, entao a = b = 0 e
0+0 = 0 ∈ B. Sendo a ∈ A e b ∈ B temos a.b ∈ B pois forcosamente b = 0 e a.0 = 0 ∈ B.
Logo satisfaz as tres propriedades, entao e um ideal de A.
$ Corolario 1. A e um ideal de A. Pois 0 ∈ A, a adicao no anel e fechada e para
todos elementos a, b ∈ A tem-se a.b ∈ A, o produto e fechado, logo vale a propriedade de
absorcao.
m Definicao 2 (Ideal gerado por a). Fixe a ∈ A. O conjunto
I(a) = {a.x | x ∈ A}
e chamado de ideal gerado por a.
3
CAPITULO 1. IDEAIS 4
b Propriedade 2. O ideal gerado por um elemento a ∈ A e um ideal de A.
ê Demonstracao. 0 ∈ I(a) pois 0 ∈ A e a.0 = 0 ∈ I(a). Sejam c e d elementos de
I(a) entao existem x1 e x2 em A, tais que c = ax1 e d = ax2, sua soma e
c+ d = ax1 + ax2 = a(x1 + x2︸ ︷︷ ︸=x3∈A
) = ax3 ∈ I(a).
Logo se c e d sao elementos de I(a) entao c+ d ∈ I(a). Por fim temos que mostrar que se
c ∈ A e b ∈ I(a) entao c.b ∈ I(a), temos b = ax1 para algum x1 ∈ A, multiplicando por c
segue cb = cax1 = acx1 pois o produto e comutativo, mas como c e x1 sao elementos de
A, segue que cx1 = x2 ∈ A logo cb = ax2 ∈ I(a) assim cb pertence ao ideal I(a).
m Definicao 3 (Ideal gerado por (ak)s1). Sejam os elementos (ak)
s1 ∈ A fixos e s natural.
O conjunto
I(ak)s1 = {
s∑k=1
ak.xk | (xk)s1 ∈ A}
e um ideal de A chamado de ideal gerado por (ak)s1.
ê Demonstracao. Se s = 0 a soma0∑
k=1
ak.xk = 0 e vazia, logo o conjunto contem
apenas o elemento 0 e vimos que {0} e um ideal de A. Seja entao s > 0 natural. Podemos
tomar cada xk = 0 e teremoss∑
k=1
ak.0 = 0
logo o zero pertence ao ideal. Suponha que a e b sejam elementos de I, vamos mostrar
que (a+ b) ∈ I. Se a ∈ I existem elementos (xk)s1 tal que
a =s∑
k=1
ak.xk
se b ∈ I existem elementos (yk)s1 tal que
b =s∑
k=1
ak.yk
, somando ambos, segue
a+ b =s∑
k=1
ak.xk +s∑
k=1
ak.yk =s∑
k=1
(ak.xk + ak.yk) =s∑
k=1
ak (xk + yk)︸ ︷︷ ︸=zk
=s∑
k=1
ak.zk
CAPITULO 1. IDEAIS 5
pois cada yk ∈ A e xk ∈ A implica (xk + yk) ∈ A pois a adicao e fechada em A, entao
tomamos xk + yk = zk. Seja c ∈ A e a ∈ I, vamos mostrar que c.a ∈ I, temos que a e da
forma
a =s∑
k=1
ak.yk
com os elementos yk ∈ A, multiplicando por c, segue
ca = cs∑
k=1
ak.yk =s∑
k=1
cak.yk =s∑
k=1
ak. cyk︸︷︷︸=zk∈A
=s∑
k=1
ak.zk
como o produto e fechado em A e temos c ∈ A e yk ∈ A logo c.yk ∈ A, assim ca ∈ I e
mostramos que I e um ideal.
m Definicao 4 (Ideal principal). Seja I ideal de um anel comutativo com unidade.
Dizemos que I e principal sse existe a ∈ A tal que I = I(a).
$ Corolario 2. O ideal I gerado por um elemento a e um ideal principal, pois pela
definicao existe a tal que I = I(a).
b Propriedade 3. Seja I um ideal. Se a ∈ I entao −a ∈ I.
ê Demonstracao. Se a ∈ I por propriedade de absorcao temos que ca ∈ I para
todo c ∈ A, tomamos entao c = −1, onde 1 e a unidade do anel. logo −a ∈ I.
$ Corolario 3. Se (a, b) ∈ I entao a− b ∈ I pois b ∈ I implica −b ∈ I pela propriedade
anterior e pela propriedade de de fechamento pela adicao segue que (a− b) ∈ I
$ Corolario 4. I = 0 e um ideal principal. Pois I = I(0), no caso
I(0) = {0.x = 0 | x ∈ A} = {0}.
b Propriedade 4. Sejam I um ideal de A e (ck)|nk=1 elementos de I entao
n∑k=1
ck ∈ I.
ê Demonstracao. Por inducao sobre n, se n = 0 a soma e vazia e 0 ∈ I, se n = 1
temos c1 ∈ I. Suponha a validade para n
n∑k=1
ck = d ∈ I
CAPITULO 1. IDEAIS 6
entao vamos provar quen+1∑k=1
ck ∈ I
temos quen+1∑k=1
ck =n∑
k=1
ck + cn+1 = d+ cn+1
como ambos elementos sao de I pela propriedade de fechamento pela adicao segue quen+1∑k=1
ck ∈ I, logo por inducaon∑
k=1
ck ∈ I para todo n natural.
b Propriedade 5. Seja I um ideal de A e d um elemento desse ideal entao I(d) ⊂ I.
ê Demonstracao. I(d) = {dx | x ∈ A}, pela propriedade absorcao do ideal I,
como d ∈ I temos que dx ∈ I, logo todo elemento de I(d) que e da forma dx tambem e
elemento de I, logo I(d) ⊂ I.
Generalizamos o resultado anterior
b Propriedade 6. Seja I um ideal de A e os elementos (dk)|nk=1 pertencentes ao ideal,
entao
I(dk)|nk=1 ⊂ I.
ê Demonstracao.
I(dk)|nk=1 = {n∑
k=1
dkxk | xk ∈ A ∀k ∈ In}
como cada dk ∈ I e xk ∈ A, por absorcao vale dkxk = ck ∈ I e por adicaon∑
k=1
ck ∈ I.
Logo vale a propriedade. Obsersamos que se a soma e vazia tambem vale a propriedade.
⋆ Teorema 1 (Todo ideal I de Z e principal. ).
ê Demonstracao. Se I = {0} entao I e principal. Suponha entao que I = {0},entao existe a = 0 ∈ I e −a ∈ I , com a ou −a positivo, entao o conjunto
S = {x ∈ I | x > 0}
e nao vazio.
CAPITULO 1. IDEAIS 7
Pelo principio da boa ordenacao S tem mınimo, tomaremos d = minS. Temos que
I(d) ⊂ I pela propriedade que ja provamos, agora vamos provar que I ⊂ I(d). Seja entao
a ∈ I, pela divisao euclidiana por d tem-se que a = qd + r com 0 ≤ r ≤ d − 1, como
a ∈ I e qd ∈ I segue que a − qd = r ∈ I , r nao pode ser nenhum valor positivo menor
que d pois d e o menor positivo de I entao segue que r = 0 implicando que a = qd, isto
e a ∈ I(a) logo todo elemento de I tambem e elemento de I(d), mostrando a inclusao
I ⊂ I(d). Como I ⊂ I(d) e I(d) ⊂ I segue que I = I(d).
1.0.1 Domınio principal
m Definicao 5 (Domınio principal). Seja A um domınio, A e um domınio principal sse
todo ideal de A e um ideal principal.
$ Corolario 5. Z e um Domınio principal.
b Propriedade 7. Sejam a ∈ A e I(a) um ideal de A, entao a ∈ I(a).
ê Demonstracao. Temos que 1.a = a ∈ I por propriedade de absorcao.
b Propriedade 8. Sejam a e b nao nulos de A entao
I(a) = I(b)
sse a|b e b|a.
ê Demonstracao. Com a e b nao nulos e I(a) = I(b) temos que a ∈ I(a) logo
a ∈ I(b), como I(b) e conjunto com elementos do tipo b.x com x ∈ A, entao existira
s ∈ A tal que bs = a logo b|a, da mesma maneira como b ∈ I(b) segue b ∈ I(a) como os
elementos de I(a) sao da forma a.x com x ∈ A segue que existe t ∈ A tal que at = b daı
a|b.Agora supondo que a|b e b|a. Como a|b temos que b = as para algum s = 0 em A
e como b|a tem-se que a = bt para algum t = 0 ∈ A. Tomemos entao I(a) e I(b), os
elementos de I(a) sao da forma ax com x ∈ A e os elementos de I(b) sao da forma by com
y ∈ A. Como a = bt segue que os elementos de I(a) sao ax = btx = by logo pertencem
a I(b) e como b = as segue que os elementos de I(b) sao da forma by = a(sy) = ax logo
pertencem a I(a). Tem-se entao que I(a) ⊂ I(b) e I(b) ⊂ I(a) logo I(a) = I(B).
CAPITULO 1. IDEAIS 8
$ Corolario 6. Com a e b nao nulos, temos que I(a) = I(b) sse a e b sao associados.
$ Corolario 7. Em Z temos que I(a) = I(b) sse a = ±b.
b Propriedade 9. Sejam (ak)|sk=1 ∈ A e o ideal I(ak)|sk=1 entao cada ak ∈ I(ak)|sk=1.
ê Demonstracao. Um elemento x do ideal I(ak)|sk=1 e da forma
x =s∑
k=1
xkak
para xk ∈ A. Seja t um indice arbitrario em Is entao abrimos o somatorio
z =t−1∑k=1
xkak + xtat +s∑
k=t+1
xkak
tomamos todos valores 0 apra xk no primeiro somatorio e o mesmo para o ultimo so-
matorio, tomamos tambem xt = 1 logo z = xt ∈ I(ak)|sk=1 provando que esse elemento
arbitrario pertence ao ideal.
b Propriedade 10. Sejam A um domınio principal e (ak)|sk=1 ∈ A com pelo menos
um elemento nao nulo. Existe d ∈ A um maximo divisor comum de (ak)|sk=1 e vale
d ∈ I(ak)|sk=1, isto e , existem xk ∈ A tal que
d =s∑
k=1
xkak.
ê Demonstracao. Como o domınio e principal tomando o ideal I(ak)|sk=1 segue que
existe d ∈ A tal que I(ak)|sk=1 = I(d). Alem disso d = 0, pois temos um gerador do ideal
nao nulo e ele esta no ideal, assim d tem que ser diferente de zero, pois caso contrario o
ideal seria o ideal {0} e nao o e.
Como cada ak ∈ I(ak)|sk=1 = I(d) seque que existe yk ∈ A tal que ak = ykd, logo d|akcom k ∈ In. Seja agora c ∈ A tal que c|ak para todo k ∈ In entao existem (uk)|sk=1 tal
que ak = uk.c, como d pertence ao ideal I(ak)|sk=1, existem (xk)|sk=1 ∈ A tal que
d =s∑
k=1
xkak =s∑
k=1
xkuk.c = c (s∑
k=1
xkuk)︸ ︷︷ ︸=p∈A.
logo c|d implicando que c|d, assim d e um mdc de (ak)|sk=1.
CAPITULO 1. IDEAIS 9
$ Corolario 8 (Existencia de MDC). Dados (ak)|sk=1 ∈ Z com pelo menos um nao nulo,
existe o MDC(ak)|sk=1.
b Propriedade 11. Sejam I e J ideais de A. Entao I ∩ J e um ideal de A.
ê Demonstracao. 0 ∈ I ∩ J pois 0 ∈ I e 0 ∈ J logo pertence a interseccao. Sejam
a e b ∈ I ∩ J entao a e b ∈ I e a e b ∈ J , daı a + b ∈ I e a + b ∈ J de onde segue que
a+ b ∈ I ∩ J.
Seja agora a ∈ I ∩ J e c ∈ A, entao vamos mostrar que c.a ∈ I ∩ J , primeiro, se
a ∈ I ∩ J entao a ∈ I e a ∈ J daı ca ∈ I e ca ∈ J por absorcao que implica ca ∈ I ∩ J.
b Propriedade 12. Sejam (Ik)|nk=1 ideais de A entao
B =n∩
k=1
Ik
e um ideal de A.
ê Demonstracao. 0 ∈ B pois (0 ∈ Ik)|nk=1 . Seja a ∈ B entao (a ∈ Ik)|nk=1 e
seja b ∈ B entao (b ∈ Ik)|nk=1, logo (a + b ∈ Ik)|nk=1 por propriedade de fechamento, logo
a+ b ∈ B.
Seja a ∈ B entao (a ∈ Ik)|nk=1 , temos tambem que (ca ∈ Ik)|nk=1 por absorcao logo
c ∈ B.
b Propriedade 13. Sendo I e J ideais de A e definido
I + J = {x+ y | x ∈ I, y ∈ J}
entao I + J e um ideal.
ê Demonstracao. 0 ∈ I e 0 ∈ J daı fazendo x = y = 0 segue 0 ∈ I + J. Seja
a ∈ I + J = e b ∈ I + J , temos que mostrar que a + b ∈ I + J . Se a ∈ I + J = entao
a = x1 + y1 com x1 ∈ I e x2 ∈ J e com b ∈ I + J temos b = x2 + y2 com x2 ∈ I e y2 ∈ J ,
somando tem-se
a+ b = (x1 + y1) + (x2 + y2) = (x1 + x2)︸ ︷︷ ︸=x3∈I
+(y1 + y2)︸ ︷︷ ︸=y3∈J
= x3 + y3 ∈ I + J.
Seja a ∈ I + J e c ∈ A vamos mostrar que ca ∈ I + J , a = x1 + y1 para x1 ∈ I e
y1 ∈ J , logo
ca = cx1 + cy1
onde por absorcao cx1 ∈ I e cy1 ∈ J logo ca ∈ I + J.
CAPITULO 1. IDEAIS 10
b Propriedade 14. Sejam Ik ideias de A para k ∈ [1, n]N e o conjunto
n∑k=1
Ik = {n∑
k=1
xk | xk ∈ Ik}
entaon∑
k=1
Ik e um ideal de A.
ê Demonstracao. 0 ∈n∑
k=1
Ik pois 0 ∈ Ik para cada k daı podemos tomar xk = 0
e temosn∑
k=1
0 = 0. Seja a ∈n∑
k=1
Ik e b ∈n∑
k=1
Ik, vamos mostrar que a + b ∈n∑
k=1
Ik. Se
a ∈n∑
k=1
Ik existe uma sequencia (xk ∈ Ik)|nk=1 tal que
a =n∑
k=1
xk
e b ∈n∑
k=1
Ik implica que existem (yk ∈ Ik)|nk=1 tal que
b =n∑
k=1
yk
, somando ambas segue
a+ b =n∑
k=1
(yk + xk)︸ ︷︷ ︸=zk∈Ik
=n∑
k=1
zk︸︷︷︸∈Ik
∈n∑
k=1
Ik
logo vale a propriedade.
Seja agora a ∈n∑
k=1
Ik e c ∈ A, vamos mostrar que ca ∈n∑
k=1
Ik. Como a ∈n∑
k=1
Ik existe
(xk ∈ Ik)|nk=1, tal que
a =n∑
k=1
xk
multiplicando por c
ca =n∑
k=1
cxk︸︷︷︸=yk∈Ik
=n∑
k=1
yk ∈n∑
k=1
Ik
logon∑
k=1
Ik e ideal de A.
CAPITULO 1. IDEAIS 11
m Definicao 6 (Ideal primo). Seja A um anel comutativo com unidade. Um ideal P
de A, P = A, e um ideal primo sse, se a, b ∈ A e a.b ∈ P , entao a ∈ P ou b ∈ P .
m Definicao 7 (Ideal maximal). Um ideal M de A, M = A, e um ideal maximal, sse
para qualquer ideal I de A, tal que M ⊂ I ⊂ A e M = I tem-se I = A.
⋆ Teorema 2. Seja k um corpo. K[x] e um domınio principal.
ê Demonstracao. Se I = {0}, temos que I e principal. Vamos considerar entao
que I = {0}. Vamos tomar o conjunto S = {δf(x), f(x) = 0 | f(x) ∈ I}, pelo principio
da boa ordenacao S tem menor elemento que vamos chamar de n, seja p(x) ∈ S com
δp(x) = n, note que p(x) ∈ I e p(x) = 0. Proposicao I{p(x)} = I, para demonstrar isso,
vamos demonstrar duas inclusoes, I{(p(x)} ⊂ I e I ⊂ I{(p(x)}.I{(p(x)} ⊂ I , I{(p(x)} e o ideal gerado por P (x), logo I(p(x)) = p(x).g(x) com
g(x) ∈ K[x], como p(x) ∈ k[x] pela propriedade de absorcao do ideal, temos p(x).g(x) ∈ I,
pois p(x) ∈ I.
Vamos mostrar agora que I ⊂ I{(p(x)}. Tome f(x) ∈ I e a divisao euclidiana de f(x)
por p(x), existindo assim g(x) e r(x) com δp(x) > r(x) tal que f(x) = p(x).g(x) + r(x),
assim r(x) = f(x) − p(x).g(x) ∈ I, pois p(x).g(x) ∈ I por propriedade do ideal e como
f(x) ∈ I a soma f(x) − p(x).g(x) ∈ I, assim r(x) ∈ I e r(x) = 0, pois se fosse diferente
de zero comprometeria a minimalidade do grau de p(x) que foi tomada a principio, com
isso temos f(x)−p(x).g(x) = 0 , f(x) = p(x).g(x), logo todo f(x) ∈ I e gerado pelo ideal
I[p(x)], assim I ⊂ I{(p(x)} e I = I[p(x)].
m Definicao 8 (Elemento primo). Seja A um domınio. Um elemento p ∈ A nao-
invertıvel e dito primo sse a, b ∈ A e p|a.b entao p|a ou p|b.
b Propriedade 15. p e primo, sse o ideal I(p) e primo.
b Propriedade 16. No domınio principal dos inteiros o ideal {0} e primo e nao e
maximal.
$ Corolario 9. No domınio principal R[x] os ideais maximais sao I(x− a) onde a ∈ R
ou I(x2 + bx+ c), tais que b, c ∈ R e b2 − 4ac < 0.
$ Corolario 10. No domınio principal C[x] os ideais maximais sao I(x−a) onde a ∈ C.
CAPITULO 1. IDEAIS 12
$ Corolario 11. Em K[x], onde K e corpo, os ideais I(x− a), com a ∈ K sao sempre
maximais.
b Propriedade 17. Seja A um anel comutativo com unidade 1A. Se M e um ideal
maximal, entao M e um ideal primo.
ê Demonstracao. SejaM um ideal maximal de A. Sejam a, b ∈ A, tais que a.b ∈ M
e a /∈ M. Vamos mostrar que b ∈ M . Consideremos o ideal I = M + I(a). Temos que
M ⊂ M + I(a) propriamente, como M e maximal entao A = M + I(a). Assim existem
m ∈ M e x ∈ A, tais que
1 = m+ x.a
, multiplicando por b tem-se
b = bm+ xa.b ∈ M
pois ambas parcelas na segunda igualdade sao elementos de M .
1.1 Domınios principais e fatoracao unica
Vamos considerar sempre A como um anel comutativo com unidade.
m Definicao 9 (Elemento irredutıvel). a e irredutıvel ⇔ b|a entao b ∈ A∗ ou b = ua
onde u ∈ A∗. Isto e, a e irredutıvel ⇔ os unicos elementos que dividem a sao os elementos
invertıveis ou associados.
$ Corolario 12. Em um corpo todos elementos nao nulos sao irredutıveis, pois dado a
nao nulo entao, todo elemento b = 0 divide a, porem b e invertıvel.
m Definicao 10 (Elemento redutıvel). a e redutıvel ⇔ existem b e c nao invertıveis
tais que a = b.c.
m Definicao 11 (Cadeia crescente). Uma cadeia crescente de conjunto e uma sequencia
de conjunto (An), tal que Ak ⊂ Ak+1.
m Definicao 12 (Sequencia estacionaria). Uma sequencia de conjunto (Ak) e dita
estacionaria, se existe m ∈ N , tal que n > m, vale An = Am.
CAPITULO 1. IDEAIS 13
b Propriedade 18. Dada uma cadeia crescente de ideais (In) entao I =∞∪k=1
Ik e um
ideal.
ê Demonstracao.
� 0 pertence a cada ideal, entao pertence a uniao.
� Sejam a, b ∈ I, entao existem n,m ∈ N tal que a ∈ In e b ∈ Im, tomando s > n+m
tem-se In e Im como subconjuntos de Is e daı a+ b ∈ Is implicando que a+ b ∈ I.
� Sendo a ∈ I e c ∈ A entao existe n tal que a ∈ In e daı ca ∈ In o que implica
c.a ∈ I.
m Definicao 13 (Anel noetheriano). Um anel A e dito notheriano, se toda cadeia
crescente de ideais em A e estacionaria.
b Propriedade 19. Em um domınio principal, toda cadeia crescente de ideais e esta-
cionaria.
ê Demonstracao. Seja I =∞∪k=1
Ik a cadeia crescente de ideais (que e um ideal pelo
que ja demonstramos). Como A e um domınio principal tem-se que I = I(d) para algum
d ∈ I, logo existe n ∈ N tal que d ∈ In, tem-se tambem que In = I(d), daı segue que
I(d) = In ⊂ Im∀m > n como nessas mesmas condicoes tem-se Im ⊂ I(d) entao Im = I(d)
para todo m > n.
b Propriedade 20. Todo elemento nao nulo e nao invertıvel de um domınio principal
possui um divisor irredutıvel.
ê Demonstracao. Seja a = 0 ∈ A nao invertıvel, se a e irredutıvel, ok! pois a|a.Se nao a e redutıvel logo tem um divisor a1 tal que a1 e nao invertıvel e nao associado de
a, assim a = a1.b1, onde b1 nao e invertıvel, logo
I(a) ( I(a1) ⊂ A
se a1 e irredutıvel terminamos, pois a1|a, se nao entao a1 tem divisor a2 em A daı
I(a) ( I(a1) ( I(a2) ⊂ A
CAPITULO 1. IDEAIS 14
podemos continuar o processo ate que para algum n, temos an irredutıvel e portanto an
e divisor irredutıvel de a, pois se nao obterıamos uma cadeia infinita crescente de ideais
nao estacionarios o que contradiz a propriedade ja demonstrada .
m Definicao 14 (Domınio de fatoracao unica). Um domınio A e dito domınio de
fatoracao unica ⇔ todo elemento nao nulo e e nao invertıvel se fatora como produto finito
de elementos irredutıveis.
m Definicao 15 (Elemento primo). Seja A um anel comutativo com unidade , a ∈ A
nao nulo e nao invertıvel e dito primo ⇔ se a|(b.c) entao a|b ou a|c.
$ Corolario 13. Corpos nao possuem elementos primos , pois todo elemento e invertıvel
ou nulo.
b Propriedade 21. Seja A um domınio. Se p ∈ A e primo entao p e irredutıvel.
ê Demonstracao. Suponha que a|p, entao p = a.c, como p|a.c por p ser primo
entao p|a ou p|c, supondo ser perda de generalidade que p|a entao a = p.t e daı p = p.t.c
por lei do corte segue t.c = 1 entao c e invertıvel, o que prova que p e irredutıvel.
b Propriedade 22. Sejam A um domınio principal, p ∈ A um elemento irredutıvel,
entao p e primo.
ê Demonstracao. Suponha que p|b.c e p |b vamos mostrar que p|c.Considere o ideal I(b, p) = I p e b pertencem ao ideal, entao ele e nao vazio e possui
elemento nao nulo . Como A e principal, existe d = 0 tal que I = I(d). Tem-se que d|be d|p, como p e irredutıvel os divisores dele sao invertıveis ou associados. Supondo que d
seja associado, entao existe u invertıvel tal que p = d.u, daı b ∈ I = I(d) = I(u.p) logo
existe t tal que b = tup, implicando que p|b o que contraria nossa hipotese, entao d tem
que ser invertıvel em A, daı I(d) = I(b, p) e 1 ∈ I(b, p) logo existem x e y em A tais que
1 = xb+ yp
multiplicando por c tem-se c = xcb + cyp, como p|p e p|cb entao p|c como querıamos
demonstrar .
CAPITULO 1. IDEAIS 15
$ Corolario 14. Entao em qualquer domınio elementos primos sao irredutıveis e em
domınios principais um elemento e primo ⇔ e irredutıvel, isto e, em domınios principais
ser primo e ser irredutıvel e equivalente.
b Propriedade 23. Nos domınios principais, todo ideal gerado por um elemento irre-
dutıvel e um ideal maximal.
ê Demonstracao. Seja M = pA onde p e irredutıvel, consideramos I ideal de A tal
que M = pA I , vamos mostrar que I = A. Como M = pA I, existe a ∈ I tal que
a M = pA, logo a nao e multiplo de p, como p e primo temos mdc(p, a) = 1, daı existem
x, y ∈ A tais que
1 = xp+ ya, xp ∈ M ⊂ I, ya ∈ I
daı 1 ∈ I e portanto I = A.
Seja A um anel comutativo com unidade
b Propriedade 24. P e um ideal primo de A ⇔ A/P e um domınio.
ê Demonstracao.
⇒). Seja P ideal primo de A, tem-se P = A, entao A/P e anel comutativo com
unidade. Sejam a, b ∈ A tais que a.b = 0 entao
a.b = a.b = 0
⇔ a.b ≡ 0 mod P ⇔ a.b ∈ P. Como P e um ideal primo vale a ∈ P ou b ∈ P de onde
segue a = 0 ou b = 0 logo A/P e domınio.
⇐). Seja A/P domınio. entao A/P e anel comutativo com unidade, logo P ⊂ A
propriamente. Sejam a, b ∈ A tais que a.b ∈ P entao 0 = ab = ab como A/P e domınio
tem-se a = 0 ou b = 0 implicando a ∈ P ou b ∈ P logo P e ideal primo.
b Propriedade 25. M e um ideal maximal de A ⇔ A/M e um corpo.
ê Demonstracao. ⇒). Seja M um ideal maximal de A assim M e ideal primo e
A/M e um domınio. Precisamos mostrar apenas que todo a = 0 em A/M tem inverso.
Como a = 0 segue a /∈ M e M ⊂ M + I(a) propriamente, logo A = M + I(a), assim
existe m ∈ M e x ∈ A tais que 1 = m+ xa, em classe modulo M segue
1 = m+ xa = xa
CAPITULO 1. IDEAIS 16
implicando que a e invertıvel em A/M com inverso x.
⇐). Seja A/M corpo, entao A/M e domınio e M e ideal primo, logo M = A. Seja I
ideal de A tal que M ⊂ I ⊂ A ,m propriamente, tome x ∈ I tal que x /∈ M entao x = 0
e existe y ∈ A/M tal que
1 = xy
logo existe m ∈ M tal que 1 − xy = m, 1 = m + xy ∈ I implicando I = A, assim M e
ideal maximal.
b Propriedade 26. Sejam p, (pk)n1 elementos primos do domınio A. Se p|(
n∏k=1
pk) entao
p e associado de pt para algum t.
ê Demonstracao. Por inducao sobre n. Para n = 1, p|p1 entao existe t tal que
p1 = t.p, como p1 e irredutıvel e p e nao invertıvel entao t e invertıvel. Supondo a validade
para n, vamos provar para n+1. Se p|(n+1∏k=1
pk) entao p|(n∏
k=1
pk) ou p|pn+1, no primeiro caso
algum pt com t ∈ In e associado de p, no segundo pn+1 e associado de p .
1.1.1 Fatoracao unica em domınios principais
⋆ Teorema 3 (Fatoracao unica em domınios principais). Todo domınio principal e um
domınio de fatoracao unica.
ê Demonstracao. Sejam A um domınio principal e a ∈ A um elemento nao nulo
e nao invertıvel. Pelo que ja demonstramos a possui pelo menos um divisor irredutıvel
p1 ∈ A, logo existe a1 ∈ A tal que
a = a1p1
vale que a1 = 0, se a1 e nao invertıvel tem-se novamente que
a1 = a2p2
e daı
a = a2p2p1.
Vamos mostrar que tal processo tem que parar apos um numero finito de passos, isto e,
existe n tal que an e invertıvel. Se (an) fossem nao invertıveis como an+1|an entao an e
an+1 nao seriam associados, terıamos entao uma cadeia crescente de ideais I(ak) I(ak+1)
CAPITULO 1. IDEAIS 17
nao estacionaria o que contradiz o que ja provamos. Portanto para algum n, an = u e
irredutıvel e
a = un∏
k=1
pk
com cada fator irredutıvel, logo primos.
Vamos demonstrar a unicidade da fatoracao por inducao sobre n. Para n = 1,
p1 =m∏k=1
qk com p1, (qk)m1 irredutıveis logo primos. Como p1|
m∏k=1
qk, entao (sem perda
de generalidade), p1 e associado de q1, logo p1 = wq1 com w invertıvel, entao wq1 =m∏k=1
qk
e por cancelamento terıamos w =m∏k=2
qk que e impossıvel para m ≥ 2, portanto m = 1 e
p1 = wq1. Supondo n ≥ 2 e a unicidade da fatoracao valida para n , vamos mostrar para
n+ 1. Suponhan+1∏k=1
pk =m∏k=1
qk
com (pk)n1 e (qk)
m1 irredutıveis, daı segue que pn+1|
m∏k=1
qk e (sem perda de generalidade)
pn+1|qm, isto e, pn+1 = wqm, como w e invertıvel, entao
(n∏
k=1
pk)wqm =m∏k=1
qk ⇔
(n∏
k=1
pk)w =m−1∏k=1
qk
por hipotese de inducao n = m − 1 e daı n + 1 = m. Repetindo procedimento podemos
concluir que cada pk e associado de qk .
$ Corolario 15. Todo numero inteiro e produto de uma quantidade finita de irredutıveis,
agrupamos os irredutıveis, que sao primos sobre o mesmo produtorio e chegamos que
z = un∏
k=1
pαkk
onde u = 1 ou −1.
CAPITULO 1. IDEAIS 18
1.2 Propriedades do domınio principal Z.
b Propriedade 27. Dados a = ur∏
k=1
pαkk e b = w
m∏k=1
pβk
k onde u e w sao invertıveis
podemos tomar n = max{r,m} e escrever a = u
n∏k=1
pαkk e b = w
n∏k=1
pβk
k , possivelmente
completando os produtorios com expoentes zero. Vale entao que
mdc(a, b) =n∏
k=1
pckk
onde ck = min{αk, βk} e
mmc(a, b) =n∏
k=1
pvkk
onde vk = max{αk, βk}.
ê Demonstracao.
m Definicao 16 (Primos entre si). Sejam A um domınio principal e a, b ∈ A com pelo
menos um deles nao nulo. Dizemos que a e b sao primos entre se sse mdc(a, b) = u onde
u e invertıvel. Em z tomamos u = 1.
m Definicao 17. Numeros inteiros n > 1 que nao sao primos sao chamados de com-
postos.
b Propriedade 28. Se n e composto entao existe p primo tal que p|n e n ≥ p2.
ê Demonstracao. Podemos escrever n = q.m onde q ≤ m e q e primo , daı
q2 ≤ qm = n.
1.2.1 Equacao diofantina ax+ by = n.
b Propriedade 29. Seja d = mdc(a, b). A equacao ax + by = n admite solucao em Z
sse d|n.
ê Demonstracao. ⇒. Sejam x0 e y0 ∈ Z tais que ax0 + by0 = n, como d|a e d|bentao d|(ax0 + by0) = n , d|n. ⇐ . Existem x0 e y0 tais que ax0 + by0 = d, com d|n entao
existe t tal que n = td, multiplicando por t tem-se atx0 + bty0 = td = n logo a equacao
tem solucao.
CAPITULO 1. IDEAIS 19
$ Corolario 16. Se mdc(a, b) |n entao ax+ by = n nao possui solucao.
b Propriedade 30. Sejam x0, y0 uma solucao da equacao ax+ by = n e d = mdc(a, b),
entao x, y e uma solucao da equacao ax + by = n sse x = x0 +bt
de y = y0 −
at
dpara
algum t ∈ Z.
ê Demonstracao.