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_______________________ A IDENTIDADE DO JOGADOR DE PÓLO AQUÁTICO E O MITO DA MASCULINIDADE por Silvio de Cassio Costa Telles

Identidade do jogador de pólo aquático e o mito da masculinidade · Aladar Szabo e o Pólo Aquático no Brasil 27 3.1.2. Aladar Szabo e o Mito da Masculinidade 32 3.1.3. A Trajetória

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A IDENTIDADE DO JOGADOR DE PÓLO AQUÁTICO

E O MITO DA MASCULINIDADE

por

Silvio de Cassio Costa Telles

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A IDENTIDADE DO JOGADOR DE PÓLO AQUÁTICO

E O MITO DA MASCULINIDADE

Dissertação Apresentada ao Programa de Pós-Graduação em

Educação Física da Universidade Gama Filho

Como Requisito Parcial à Obtenção do

Título de Mestre em Educação Física

Fevereiro, 2002

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A IDENTIDADE DO JOGADOR DE PÓLO AQUÁTICO

E O MITO DA MASCULINIDADE

Silvio de Cassio Costa Telles

Apresenta a Dissertação

Banca Examinadora:

Prof. Dr . Antonio Jorge Gonçalves Soares Orientador

Profa. Dra. Vera Lúcia de Menezes Costa

Prof. Dr. Roberto Ferreira dos Santos

Fevereiro, 2002

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Dedico esse trabalho ao meu filho Gabriel Möller Telles, por ter me possibilitado a alegria incomensurável de ser pai.

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AGRADECIMENTOS

À Deus, por tudo e por todos.

Aos meus pais Rosa e Silvio e à memória de Teresinha Guimarães que me

conduziram até aqui e me guiarão até onde eu possa ir.

À minha esposa Patrícia pela dedicação, ajuda e compreensão .

À Universidade Gama Filho que, na figura de seus professores, ajudou a construir

um educador melhor para a sociedade.

À CAPES por ter investido em minha qualificação profissional.

Ao meu orientador Prof. Dr. Antônio Jorge por ter acreditado na minha

capacidade e principalmente pelo companheirismo demonstrado ao longo de todo o curso.

Aos muitos entrevistados, amigos , colegas que tornaram possível esse trabalho.

Em especial à Isabela Szabo, Mario Eduardo Souto, Ricardo Cabral, Carlos

Carvalho , Cristiana Rosado, Ângelo Coelho, André Malina, Renato Maggioli e

Solon dos Santos que enriqueceram e possibilitaram a criação da pesquisa .

Às Profªs. Doutoras Vera Costa e Ludmila Mourão que souberam indicar o

norte no momento da qualificação.

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TELLES, Silvio de Cassio Costa. (2002) A identidade do jogador de pólo aquático e o mito da masculinidade. (Dissertação de Mestrado). Rio de Janeiro: PPGEF / UGF.

Orientador:

RESUMO

Este trabalho investiga por que, apesar de não haver conseguido um lugar de

destaque entre os esportes mais populares em nosso país, o Pólo Aquático aqui se

institucionalizou e, com poucos incentivos e participantes, vem atuando regularmente por

uma centena de anos. Quais foram os mecanismos que possibilitaram aos seus praticantes

construir uma identidade, estabelecer um elo entre gerações e manter vivo esse esporte

durante tanto tempo? Acompanhando a evolução do Pólo Aquático no Brasil e

entrevistando jogadores, ex-jogadores, técnicos e dirigentes, pôde-se detectar que ser forte,

ser másculo, ser “homem”, foram as características que permitiram a este grupo construir

sua identidade e atingir aqueles objetivos. Isso nos permitiu inferir que existe uma

intrínseca relação entre estes atributos físicos que se espera que os jogadores de Pólo

Aquático possuam e os atributos que compõem o mito da masculinidade. Os estudos de

Sócrates Nolasco forneceram o suporte teórico necessário para a apresentação da figura de

Aladar Szabo, lembrado pela unanimidade de nossos entrevistados, como uma encarnação

do mito da masculinidade e, sob a perspectiva de Joseph Campbell, como um herói do Pólo

Aquático brasileiro.

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TELLES, Silvio de Cassio Costa. (2002) The identity of the waterpolo player and the masculinity myth . (Master’s Dissertation). Rio de Janeiro: PPGEF / UGF.

Advisor: Antonio Jorge Soares

ABSTRACT

This dissertation investigates the reasons why waterpolo, in spite of not being a

very popular sport in Brazil, was institutionalized in this country and, with very few

incentives and practitioners, has existed in Brazil for about a hundred years.What were the

mechanisms that enabled its practitioners to create an identity, establish links among

generations and keep this sport alive for such a long time?After observing the evolution of

waterpolo in Brazil and interviewing players, ex-players, coaches and managers, one can

notice that being strong, masculine, being a “man”, were the characteristics that allowed

this group to construct its identity and achieve those goals.This allowed us to infer that

there is an intrinsic relationship between these physical attributes, which are expected to be

found in a waterpolo player, and the masculinity myth.The studies of Socrates Nolasco

provided the necessary technical support for the presentation of Aladar Szabo,

unanimously remembered by the interviewees, as an incarnation of the myth of masculinity

and, under Joseph Campebell’s perspective,as a hero of Brazilian waterpolo.

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ÍNDICE

Página

LISTA DE ANEXOS .............................................................................................. viii

Capítulo

I. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 1

II. A IDENTIDADE DO JOGADOR DE PÓLO AQUÁTICO ........................... 7

2.1. O Funcionamento de Pequenos Grupos 8 2.2. Características do Jogador de Pólo Aquático no Brasil 12

III. O MITO DA MASCULINIDADE .................................................................. 17

3.1. Aladar Szabo 21 3.1.1. Aladar Szabo e o Pólo Aquático no Brasil 27 3.1.2. Aladar Szabo e o Mito da Masculinidade 32 3.1.3. A Trajetória do Herói 44

3.2. Racionalizar é Preciso 50

IV. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 60

BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................... 65

ANEXOS ................................................................................................................. 68

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LISTA DE ANEXOS

Anexo Página 1.Primórdios do Pólo Aquático Brasileiro ......................................................... 69 2. Resultados de Competições de Pólo Aquático................................................ 73 3. Reportagens..................................................................................................... 82

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CAPÍTULO I

Equipe do Fluminense de 1960. Clube que mais títulos no pólo aquático conquistou.

INTRODUÇÃO

O fato de o Pólo Aquático no Brasil já haver completado cem anos de história

poderia ser erroneamente interpretado por algum estrangeiro, como um indício de que ele

é parte da tradição esportiva de nosso país, ou um elemento cultural altamente

disseminado. No entanto, apesar de haver conquistado títulos sul-americanos e um pan­

americano, de ter participado de sete edições dos Jogos Olímpicos (mesmo sem obter

colocações expressivas) e de cumprir um calendário regular de competições regionais,

nacionais e internacionais, o Pólo Aquático brasileiro não se tornou um esporte de massa,

nem ganhou uma significativa adesão de participantes ou de espectadores.

São bastante conhecidas as racionalizações ou justificativas sobre a “estatura” de

esportes de baixa adesão: falta de apoio do governo e/ou da iniciativa privada, falta de

patrocínio financeiro, falta de uma administração profissional, falta de divulgação... No

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outro extremo, temos esportes como o futebol, onde as explicações sobre o seu alto grau de

impacto assumem um caráter quase que esotérico: populares, jornalistas e até pessoas do

meio acadêmico justificam a grande adesão ao futebol em função de delegarem ao povo

brasileiro um gingado, uma tendência natural que possivelmente facilitaria a pratica e com

isso uma maior identificação com o futebol. Respostas desta natureza sempre lançam mais

escuridão do que luz sobre o entendimento do fenômeno esportivo e suas implicações

sócio-históricas.

Além de todas as prédicas do movimento higienista e dos elogios sobre o papel

educativo do esporte, a difusão e a incorporação de um estilo de vida esportivo na

sociedade moderna só podem ser pensadas considerando-se o papel da mídia nesse

processo. Antes limitado ao lazer e praticado por poucos aficionados pertencentes às

classes mais favorecidas, a partir da segunda metade do século XIX, com a uniformização

e internacionalização das regras de diferentes modalidades, o esporte tornou-se uma

atividade popular, e por vezes altamente remunerada, à qual a mídia, em todo o mundo,

dedica grande espaço.

A permanência de uma modalidade no cenário esportivo de um país não se dá sem

o apoio de suas entidades competentes, como as confederações e federações; porém, além

desse apoio, a intervenção da mídia é extremamente importante para o aumento do número

de praticantes, de espectadores e, consequentemente, de pessoas interessadas em patrocinar

um esporte. Resultados expressivos e o aparecimento de ídolos também contribuem

sobremaneira para elevar o interesse na modalidade. É comum, ainda, discutir-se a

permanência de um esporte através da construção de identidade. A construção de uma

identidade, que é crucial para a coesão de um grupo, ocorre em um jogo social onde os

atores envolvidos inventam ou descobrem laços comuns que os diferenciam dos demais.

Para tornar-se popular, uma modalidade esportiva deve ter atores sociais interessados em

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divulgá-la, envolvendo outras pessoas e grupos, e investindo em seu crescimento.

Dentre os elementos que foram acima citados como contribuindo para o processo

de difusão, adesão e popularização dos esportes, já vimos que os resultados do Pólo

Aquático brasileiro no cenário internacional são modestos, se comparados aos de outras

modalidades esportivas. Por outro lado, quando pensamos em ídolos, heróis ou narrativas

míticas, sempre imaginamos figuras lendárias e bem populares, que aparecem na mídia ou

estão nos anais da história de um país, da civilização. Todavia, se nos lembrarmos da

socialização que experienciamos em nossa família, em nosso bairro, na escola básica,

verificamos que nos pequenos grupos também se constróem narrativas sobre “ídolos”,

“heróis” e “mitos” locais. Assim, em um nível microssocial, com suas semelhanças,

diferenças e particularidades, podemos observar parte do processo que visualizamos no

nível macrossocial.

É importante ressaltar que a memória dos pequenos grupos, além de ser

fragmentada, por carecer de registros, e ter como meio mais freqüente de divulgação a

oralidade, está o tempo inteiro sendo reelaborada no sentido de manter a estabilidade e a

coesão social.

“Se a estabilidade emocional de caráter depende de uma noção coerente do passado de cada um – de uma narrativa que relata os episódios formativos que deram origem à identidade própria – então talvez as ameaças à coesão desencadeadas pelas forças de fragmentação da vida moderna possam ser neutralizadas pela atenção às histórias que as pessoas contam sobre suas vidas e às comunidades em que adquirem um significado.” (Levine, 1997, p.21)

De fato, o processo de estruturação da personalidade individual ou coletiva depende

do significado que os atores sociais dão ao passado, no processo de projeção do futuro.

Não estamos falando aqui de histórias construídas por historiadores profissionais, mas nos

reportando ao sentido existencial da história ou memória para a vida dos indivíduos e

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grupos. Neste sentido, a memória coletiva é fundamental. Ela age recortando e

reelaborando os eventos passados no presente, produzindo significados existenciais para

indivíduos e grupos.1

A partir dessas considerações, pode-se concluir que respostas mais plausíveis sobre

o processo de difusão ou permanência de modalidades esportivas – sejam elas de grande ou

de baixo impacto – podem ser elaboradas a partir de diferentes perspectivas históricas e

sociológicas.

No presente trabalho, interessa-nos investigar por que, apesar de não haver

conseguido um lugar de destaque entre os esportes mais populares em nosso país, o Pólo

Aquático aqui se institucionalizou e, com poucos incentivos e participantes, vem atuando

regularmente por quase cem anos. Que mecanismos institucionais, que elos comunitários

ou sociais possibilitaram a um pequeno grupo de praticantes manter viva essa modalidade

esportiva durante tanto tempo?

Do ponto de vista teórico, essas questões são relevantes na medida em que a

sociologia do esporte no Brasil não dá muita atenção aos esportes de baixa adesão.

Poderíamos mesmo dizer que, no contexto latino-americano, o estudo histórico e

sociológico do esporte, depois de sair do ostracismo acadêmico, a partir dos anos 80

centrou seu foco de análise basicamente na relação futebol / sociedade (Alabarces, 1999).

Por esta razão, estudos de esportes considerados periféricos ou de pequenos grupos (elites)

podem trazer novos elementos para a análise do estilo de vida esportiva e, por extensão, da

própria dinâmica social e cultural de nossa sociedade.

Aqui é importante fazermos uma digressão, no sentido de refletir sobre o papel do pesquisador, que no presente estudo não pôde evitar o envolvimento da sua própria memória individual e coletiva. Na medida em que pertencemos à comunidade do Pólo Aquático brasileiro, a memória que estamos tomando como objeto de análise faz parte de nosso próprio processo de construção de identidade, como indivíduo e também como membro do grupo de Pólo Aquático. Assim, foi preciso redobrarmos os cuidados para não inventarmos um passado com as cores de que precisamos no presente.

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Não temos a intenção, neste estudo, de aprofundar todos os temas até aqui

abordados. Delimitando o foco de análise, o objetivo deste trabalho é identificar os

sentidos e representações que possibilitaram ao pequeno grupo de praticantes do Pólo

Aquático nacional construir uma identidade, estabelecer um elo entre gerações e manter

vivo este esporte durante mais de cem anos.

Para atingir este objetivo, procuramos, através da literatura da área e de jornais e

revistas de época, voltar às origens do Pólo Aquático no Brasil e acompanhar sua evolução,

para apontar características específicas que estão ligadas à prática desse esporte desde que

aqui foi implantado. Além dessas fontes documentais, e abrindo uma segunda linha de

pesquisa, entrevistamos jogadores, ex-jogadores, técnicos e dirigentes, buscando, a partir

dos dados oferecidos pela memória desses atores sociais envolvidos com a prática do Pólo

Aquático nacional, destacar os elementos que teriam contribuído para a construção e

manutenção da sua identidade enquanto grupo. Paralelamente, ampliamos a leitura de

autores que fornecessem o referencial teórico com base no qual os sentidos e

representações que foram sendo levantados durante o desenvolvimento das duas linhas de

pesquisa acima mencionadas pudessem ser interpretados.

Assim, a organização do estudo foi determinada pela interpenetração dos elementos

que iam sendo levantados e que, no decurso da pesquisa, se reencontravam. A história do

Pólo Aquático brasileiro e as entrevistas que realizamos traziam dados sócio-históricos e

teóricos que mereciam ser aprofundados e, simultaneamente, o referencial sócio-histórico e

teórico que íamos coligindo possibilitava a análise e interpretação daqueles dados.

No Capítulo II – A Identidade do Jogador de Pólo Aquático –, procuramos entender

os mecanismos de funcionamento interno dos pequenos grupos através do estudo

desenvolvido por Theodore M. Mills (1970) e delineamos as origens do Pólo Aquático no

Brasil e as características, reais ou imaginárias, que foram compondo a identidade de seus

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praticantes.

O Capítulo III – O Mito da Masculinidade – estabelece a relação entre as

características que construíram a identidade do praticante de Pólo Aquático e aquelas que

compõem o mito da masculinidade. Os trabalhos de Sócrates Nolasco (1995a, 1995b,

2001), ao abordarem a subjetividade masculina sustentando-se no conceito de virilidade,

bem como a conexão da virilidade com o mundo do trabalho e da violência, fornecem o

suporte teórico para apresentarmos e analisarmos a figura de Aladar Szabo, que a literatura

da área e as entrevistas realizadas apontam como ícone do jogador de Pólo Aquático no

Brasil. Seria ele um herói local? Sob a perspectiva de Joseph Campbell (1999),

esmiuçamos as etapas percorridas por um herói que podem ser entrelaçadas com diversos

momentos da vida de Szabo, e que podem caracterizá-lo, pela forma como estão

construídas as narrativas sobre ele, como um herói do Pólo Aquático brasileiro.

As considerações finais da pesquisa são apresentadas no Capítulo IV.

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CAPÍTULO II

Time do Fluminense na década de 50 Detalhe: em pé ‘a direita, João Havelange

A IDENTIDADE DO JOGADOR DE PÓLO AQUÁTICO

Como ocorre também em outros esportes de pouca adesão, o jogador de Pólo

Aquático no Brasil vive a experiência de pertencer a um pequeno grupo cujos assuntos não

fazem parte do universo mais comumente conhecido do esporte. Quando escolhe essa

modalidade, o praticante percebe ter despertado a curiosidade de seus amigos e colegas,

que às vezes nem sabem do que se trata; a maioria deles prefere jogar futebol, basquete ou

voleibol, e alguns traduzem o Pólo Aquático pela lógica do futebol e o descrevem como

um “futebol na água”. Somente quando chega ao local dos treinos o praticante de Pólo

Aquático encontra outras pessoas que falam a mesma linguagem que ele, e com quem pode

partilhar o seu interesse pelo esporte. Assim, a criação de uma identidade é fundamental

para a sobrevivência social do praticante de Pólo Aquático e do seu pequeno grupo. Neste

capítulo procuraremos acompanhar o surgimento desse mecanismo. Para tanto, na

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primeira seção é descrito o funcionamento de pequenos grupos, de acordo com o estudo

empreendido por Theodore M. Mills (1970); a seguir, a partir dos dados levantados na

literatura da área e nas entrevistas realizadas com praticantes e ex-praticantes, técnicos e

dirigentes ligados ao esporte2, são apontados traços específicos que vêm caracterizando o

Pólo Aquático desde o seu surgimento em nosso país.

2.1 – O Funcionamento de Pequenos Grupos

Seleção Brasileira década de 50 Detalhe: ‘a esquerda sentado, o técnico Paolo Costoli

Segundo Mills (1970), pequenos grupos seriam unidades compostas de duas ou

mais pessoas que entram em contato para atingir determinado objetivo, e que consideram

significativo tal contato. Um pequeno grupo apresenta em nível micro aspectos societários

que são vislumbrados em diversos setores do sistema social mais amplo – por exemplo,

códigos de ética, meios de troca, postos de prestígio, ideologias e mitos. Entender os

mecanismos de funcionamento interno de pequenos grupos pode ajudar a compreender o

pensamento do indivíduo que a eles pertence, já que as pressões sociais provenientes da

relação dos “de dentro” pode gerar modificações no contexto geral do grupo.

2 Foram entrevistados para essa dissertação: Aluísio Marsili, André Raposo, Armando Caetano, CarlosCarvalho, Edson Perri, Eduardo Abla, Everardo Cruz Filho, Ítalo Costa, João Gonçalves, João Havelange, José Roberto Haddock Lobo, Luís Silva, Mário Souto, Reinaldo Nunes e Solon dos Santos.

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Para ser aceito como membro, o indivíduo percebe que deverá se enquadrar dentro

das peculiaridades evidenciadas pelo grupo. Em seu livro Sociologia dos Pequenos

Grupos, Mills (1970) propõe uma divisão em cinco níveis de processos interpessoais

complexos, diferentes e distintos, que envolvem: comportamentos, emoções, normas,

objetivos e valores. Estes níveis são organizados em sistemas e subsistemas, e os

elementos de cada um deles têm seus próprios aspectos e seus princípios de organização.

Ao entrar no grupo, o indivíduo passa por estágios progressivos, e pode operar em um

nível e depois em outro, até assumir a responsabilidade pelo grupo como um todo, e nessa

função atuar simultaneamente nos cinco níveis.

A organização dos cinco níveis de processos interpessoais dentro de um pequeno

grupo é a seguinte:

Comportamento: As pessoas agem abertamente diante de outros. O subsistema

deste nível seria a interação, que é a organização, no tempo, de ação explícita entre

pessoas.

Emoções: Impulsos que as pessoas experimentam e sentimentos que têm entre si e

com relação ao que ocorre. O subsistema deste nível é a emoção do grupo, isto é, a

configuração de sentimentos entre participantes do grupo e de suas respostas emocionais

aos acontecimentos.

Normas: Idéias a respeito da maneira como as pessoas devem agir, sentir e

exprimir seus sentimentos. No nível das normas, o subsistema seria o sistema normativo,

que é formado pelas idéias organizadas, e em grande parte comuns, a respeito do que os

membros do grupo devem fazer e sentir sobre a maneira de regular tais idéias, bem como

quanto às sanções que devem ser aplicadas quando o comportamento não coincidir com as

normas.

Objetivos: Idéias a respeito do que é mais desejável que os grupos façam como

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unidades. O subsistema deste nível seria o sistema técnico, que é o conjunto de idéias a

respeito do que o grupo realiza, bem como planos quanto à maneira de realizar.

Valores: Idéias a respeito do que é mais desejável que os grupos, como unidades,

sejam e venham a ser. O subsistema seria o sistema de direção, que consiste em

interpretações quanto ao que o grupo é, as idéias do que seria desejável que viesse a ser,

bem como idéias quanto à maneira de se chegar a isso.

Os cinco sistemas são ligados empiricamente, pois nossos sentimentos sofrem

influências do que os outros fazem, nossas ações são influenciadas pelas nossas idéias e

nossas regras mudam muitas vezes por causa dos nossos objetivos.

Exemplificando: quando entra em um grupo, o indivíduo começa a interagir com

ele e a participar das emoções do grupo. Depois, participa do sistema normativo,

descobrindo o que deve ser feito e o que deve ser sentido. Em um terceiro estágio,

identifica-se com os objetivos do grupo, e também com os membros e com o grupo como

um todo, tentando entender, contribuir e/ou facilitar quanto ao que o grupo pode vir a ser.

Com base nos dados acima, podemos entender como se dá a entrada de um

indivíduo em um pequeno grupo e como a incorporação dos objetivos, normas, valores,

comportamento, são cruciais para que ele seja aceito e/ou não sofra sanções.

Quando analisamos a entrada de pessoas dentro do grupo de Pólo Aquático, uma

relação muito próxima da divisão proposta por Mills (1970) sobre os pequenos grupos

torna-se clara. Percebemos que, após o indivíduo ser aceito, com o passar do tempo a ele

vão sendo atribuídas funções para que a unidade do grupo seja mantida.

Inicialmente ele entra na escolinha de Pólo Aquático, e se defronta com meninos

que praticam o esporte há um pouco mais de tempo. Se souber nadar bem e for grande, ele

terá boas possibilidades de ser aceito de imediato. Sendo o Pólo Aquático um esporte de

muito contato, técnicas de desvencilhar-se do adversário podem parecer aos “de fora” um

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tanto violentas. Isso imediatamente gera no novato uma angústia, por estar sendo

“atacado” e não saber se defender de maneira correta. Para facilitar o entendimento sobre

este caso, descreveremos uma escapada em um contra-ataque. Quando um time perde a

posse de bola e um jogador parte em disparada em direção ao gol adversário, com uma

vantagem sobre os jogadores do time oponente, dizemos que está ocorrendo um contra-

ataque. Ao receber a bola, o jogador que escapou é perseguido por um adversário, que

possivelmente estava próximo. O atacante, ao perceber que está sendo perseguido, sai

nadando para ficar exatamente à frente do oponente; com o peito do pé e com a perna

empurra o adversário para um lado, e por ação e reação vai para o outro lado, tendo mais

espaço para a conclusão do ataque. Para um novato, isso pode caracterizar um chute, uma

agressão. Mas, para quem pratica, seria um lance normal de jogo. Outro exemplo claro

seria o momento da falta. Salvo em caso de agressão, o árbitro só marca falta se o jogador

largar a bola no momento em que é abordado por um adversário. Ao ser afundado pelo

oponente, o jogador deve largar a bola e sofrer a falta, porém muitas vezes o novato não

larga a bola, por não saber se o árbitro dará ou não falta, ou por desconhecer a regra.

Enquanto isso, ele é afundado ou pressionado para que perca o controle da bola para o

oponente. Mais uma vez, ser afundado e mantido debaixo d’água pode parecer uma

agressão para o principiante. No entanto, com o tempo, ele perceberá que esses

comportamentos fazem parte do esporte, e que para incorporar-se a ele terá que aceitar

suas regras e normas.

Depois de passar pela escolinha, o praticante caminha para as equipes de base do

clube, até chegar à equipe principal. Com isso, começa a disputar jogos e a sofrer emoções

pertinentes às situações do jogo, emoções que são compartilhadas por todos os jogadores.

Muitas vezes, por estar perdendo, sendo atacado, e por se achar forte, talvez mais forte do

que o adversário, uma agressão por baixo d’água pode ser considerada pelo praticante

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como uma saída viável. Então, sofrer em um jogo, agredir o adversário sem que o árbitro

veja e estar ciente de que o revide pode ocorrer nessas mesmas condições torna o jogo

tenso, propício a atitudes intempestivas: por se achar mais forte que o oponente e por não

conseguir um revide, o praticante perde a cabeça e briga. Como isso ocorrem inúmeras

vezes, principalmente no passado, e nada aconteceu com os agressores, tornou-se quase

que uma norma bater e apanhar em um jogo de Pólo Aquático.

Quando pára de jogar, o praticante pode ser conduzido a um cargo de chefe de

delegação ou de técnico, principalmente porque não existem no mercado pessoas que não

tenham jogado Pólo Aquático e que estejam habilitadas a exercer funções como essas.

Como técnico, o ex-praticante atua em todos os níveis propostos por Mills (1970) para os

pequenos grupos.

2.2 – Características do Jogador de Pólo Aquático no Brasil

Aladar Szabo

O Pólo Aquático começou a ser jogado em nosso país, no início do século XX, por

remadores do Clube de Regatas do Flamengo, do Clube de Regatas Guanabara, do Clube

de Regatas Vasco da Gama, dentre outros, que a princípio o praticavam apenas por

diversão. Nessa época era comum as pessoas que se dedicavam à atividade esportiva

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participarem de várias modalidades, pois a especialização esportiva ainda não era um

imperativo.

Como os remadores eram bastante corpulentos e a natação não era o seu principal

esporte, eles utilizavam-se da força para desvencilhar-se de seus adversários, o que gerava

um certo grau de agressividade. As regras, até então quase que inexistentes, permitiam

quase tudo para que se chegasse ao objetivo – o gol –, o que era alcançado quando os

jogadores conseguiam colocar a bola dentro de um dos barcos (provavelmente os que eram

utilizados nas regatas); o goleiro podia ficar em cima dos barcos e saltar sobre o atacante,

tentando roubar-lhe a bola. A força e a resistência eram essenciais para o sucesso da

equipe, e quem assistia aos jogos logo percebia que tratava-se de homens extremamente

preparados e de força superior à maioria dos espectadores. Deve-se ressaltar que os danos

causados em nada podiam ser comparados às lesões, fraturas e torções que ocorriam e

ocorrem em esportes de alto contato físico, como por exemplo no futebol. Mas a imagem

que ficou do Pólo Aquático praticado por aqueles corpulentos e agressivos remadores é

que jogar Pólo Aquático significava ser viril, forte, valentão, brigão, atributos relacionados

à força física.

Não podemos determinar se tal estereótipo foi construído pelos “de dentro” ou

pelos “de fora” do grupo de praticantes de Pólo Aquático. O fato é que histórias que

enfatizam o perfil agressivo, violento e fanfarrão do jogador de Pólo Aquático continuam

até hoje sendo narradas. Em suas entrevistas, ex-jogadores como Solon dos Santos,

Eduardo Abla, Mário Souto, Carlos Carvalho, José Roberto Haddock Lobo, Hiltom de

Almeida, Edson Perri, Ricardo Perrone, Reinaldo Nunes e Aluísio Marsili contam que

participaram, viram ou ouviram falar de grandes problemas disciplinares ocorridos em

jogos ou viagens. O interessante é que essas histórias de agressões, brigas e violência são

contadas com um toque de orgulho, prazer e humor.

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Isso provavelmente ocorre para que seja mantida a unidade do grupo de praticantes

de Pólo Aquático. Como vimos na seção anterior, diante de pressões contrárias o grupo

precisa ser capaz de manter seus processos padronizados, reforçar as relações afetivas e os

sentimentos dos seus membros, impor suas regras, confirmar suas crenças e afirmar seus

valores (Mills, 1970). Assim, os iniciantes viam os mais antigos contarem histórias de

brigas, agressões, jogos sangrentos, e acabavam por internalizar essas condutas.

Um fato marcante na história do Pólo Aquático brasileiro ocorreu em 1932, durante

os Jogos Olímpicos de Los Angeles. Era a nossa segunda participação nos Jogos (a

primeira foi na Antuérpia, em 1920, como o primeiro esporte coletivo brasileiro a

participar de uma Olimpíada) e, tratando-se de uma competição de expressão mundial, não

se pode negar que foi um ato no mínimo incomum. Após perder o jogo para a Alemanha, a

equipe de Pólo Aquático saiu da piscina e agrediu o árbitro da partida, Bela Conjadi, sendo

então desclassificado (Comitê Olímpico Internacional, 1932). Este episódio causou

problemas, pois o Pólo Aquático caiu em descrédito junto à Confederação Brasileira de

Desportos (CBD), entidade que controla todos os esportes brasileiros. Com isso, como

relata José Roberto Haddock Lobo (ex-jogador e ex-técnico da seleção brasileira de Pólo

Aquático), diminuíram os incentivos. Sem o apoio da CBD, o Pólo Aquático ficou longo

tempo afastado das competições internacionais. Nesse período, somente as competições

internas, sob responsabilidade das federações, continuaram a ocorrer.

Como vemos, o Pólo Aquático fazia por onde ser visto como um esporte de pessoas

violentas. Nas entrevistas realizadas, os ex-jogadores confirmaram que pancadas e socos

são atitudes comuns dentro da piscina, e muitas vezes são encarados como fazendo parte

das peculiaridades do jogo. Apesar de ser um esporte de contato, as regras do Pólo

Aquático não prevêem nenhum tipo de violência, por cima da água ou sob ela. O que

acontece (provavelmente também em outros esportes) é a consciência de que ser agredido

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sem que o árbitro perceba gera a possibilidade de um revide sob as mesmas condições. Ao

final da partida, contar o que aconteceu, se apanhou ou se bateu, torna-se uma atração a

mais, tanto para os companheiros do time quanto para os que estão a ouvir a narração do

acontecido.

O interesse por competições onde as agressões são um atrativo à parte é

comprovado, tanto na antiguidade, em Roma pela construção do Coliseu, que dentre suas

atrações os gladiadores eram um grande espetáculo , chegando a reunir 50.000 pessoas e

atualmente pelo advento do Vale-tudo, que cresce de forma significativa. Não que exista

relação entre estas modalidades e o Pólo Aquático no tocante à violência, mas a analogia

torna-se pertinente quando percebemos que a agressividade é atraente tanto para quem a

pratica como para quem a assiste.

Talvez de maneira inconsciente, por disseminar histórias violentas e por se

vangloriar de fazer parte de um grupo onde ser forte e brigão é uma marca registrada, o

grupo de Pólo Aquático tenha criado a necessidade de o indivíduo representar essas

características do “jogador de Pólo Aquático” para ser aceito. Ter um comportamento

agressivo; deixar-se levar por emoções intempestivas que podem chegar a agressões e

brigas, e aceitar isso como uma norma; ser másculo em atitudes onde nem sempre esta

seria a melhor saída; ter objetivos comuns quanto ao esporte (como, por exemplo, torná-lo

popular); ter valores semelhantes, que indicam a direção que todos no grupo devem seguir;

tomar atitudes para que os objetivos do grupo sejam alcançados podem ser exemplos das

características que o membro do grupo de Pólo Aquático tem de desenvolver para ser

considerado um “de dentro”.

Como foi apontado por Mills (1970), atitudes individuais muitas vezes podem ser

oriundas de atitudes comuns para os membros de um grupo. Assim, os “de dentro” podem

chegar até a validar como normais atitudes repudiadas pela sociedade como um todo. Para

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manter a coesão de um grupo são necessários muitos esforços, sem os quais sua dissolução

torna-se inevitável. No caso do Pólo Aquático, ser forte, ser másculo, ser “homem” para

agüentar as agruras com as quais se defrontará no jogo tornam-se características

valorizadas para que o grupo atinja seus objetivos. As pessoas que evidenciam possuir tais

características são transformadas em ícones, em heróis, figuras importantes para que tanto

os “de dentro” quanto os “de fora” reconheçam a imagem idealizada com a qual o grupo se

identifica. No próximo capítulo, introduzimos a figura de um jogador que representa essa

imagem para o grupo de Pólo Aquático, analisamos as relações que foram estabelecidas

entre suas características pessoais e o mito da masculinidade, e acompanhamos as

similitudes de sua trajetória com as etapas a serem cumpridas por um herói até atingir seus

objetivos.

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CAPÍTULO III

Aladar Szabo aos 20 anos

O MITO DA MASCULINIDADE

O esporte mundial sempre foi marcado pela supremacia masculina. Como são hoje

conhecidos, os esportes datam em sua maioria no quarto final do século XIX e início do

século XX. Um bom marco para facilitar a visualização do advento do esporte na era

moderna é o reaparecimento dos Jogos Olímpicos, que, graças ao incentivo e dedicação do

Barão de Coubertin, vieram a se tornar o maior evento esportivo do mundo.

Mesmo com as idéias de vanguarda de Coubertin, idealizando uma competição

mundial com preceitos de paz e de igualdade, a mulher só chegou a 20% de participação

em relação ao homem em 1972, nas Olimpíadas de Montreal, e até 1992 não chegava a

30%; nos primeiros Jogos Olímpicos da era moderna, que aconteceram em 1896,

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em Atenas, não foi permitida a participação de mulheres, o que só ocorreu na segunda

edição, em Paris, onde compareceram apenas seis atletas.

Percebe-se assim que a prática de esportes foi, durante muito tempo, um privilégio

dos homens, o que possivelmente explica a continuação do domínio masculino, mesmo

após a entrada das mulheres. Alguns esportes conseguiram quebrar tal barreira, sendo

praticados por ambos os sexos sem qualquer tipo de preconceito: é o caso do vôlei, do

basquete, da natação etc. No Brasil, certos esportes continuam bem atrelados ao

masculino. Ainda se observa uma resistência ao fato de mulheres praticarem determinadas

modalidades, como futebol e Pólo Aquático. Não é socialmente corriqueiro ver uma

menina jogando futebol, ao invés de brincar de boneca. Os estereótipos e preconceitos,

mesmo que atenuados, ainda se mantêm vivos em nossos pensamentos.

No Pólo Aquático brasileiro, a supremacia masculina ainda é avassaladora. Prova

disso é o fato de no Rio de Janeiro, atualmente tetra-campeão brasileiro de Pólo Aquático

masculino com o Fluminense F. C., não ser realizado um campeonato carioca feminino há

pelo menos oito anos. Outro exemplo é a composição de sócios do Clube Tatuí, que faz

parte da história do Pólo Aquático no Brasil e merece uma atenção especial.

O Clube Tatuí, cujo principal objetivo é congregar ex-jogadores, jogadores,

técnicos, ex-técnicos, enfim, qualquer pessoa que tenha afinidade com o Pólo Aquático, foi

criado em agosto de 1948, quando atletas do Botafogo, que se reuniam em sua sede,

conhecida como Mourisco, foram convidados pelo professor Varady, da Escola Naval,

para treinarem junto com a equipe da mesma. Para muitos, o treino não era importante; a

atração era o lanche oferecido aos atletas após o exercício. O ônibus da Escola Naval que

levava e trazia esses atletas fazia ponto na Avenida Beira-Mar, e nesse local surgiu o nome

do clube, devido a abundância de tal crustáceo na areia. A primeira reunião do Clube, que

não tem sede própria, aconteceu no extinto Bar Alpino, no Leme, em 12 de agosto de 1952.

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Até hoje as reuniões se realizam anualmente. Na última, no dia 25 de agosto de 2001, pela

primeira vez foi abordada a questão da entrada de jogadoras de Pólo Aquático, pois até

então as reuniões eram restritas aos homens.

De fato, o Pólo Aquático feminino começou a ser praticado tardiamente no Brasil:

em 1986, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, e no mesmo ano, em São Paulo, no

Clube Atlético Paulistano. E os sócios do Clube Tatuí levaram mais 15 anos para colocar

em pauta a discussão sobre a entrada de mulheres! Além disso, o que foi deliberado é que

somente entrariam no Clube as jogadoras que constassem em uma lista previamente

enviada à presidência, que autorizaria a entrada no dia da reunião. A decisão de aceitar tal

mudança pode ter sido provocada pelo constrangimento, já que a votação foi aberta,

devendo levantar o braço aqueles que eram contrários. Ora, quem iria, no meio de dezenas

de homens, dizer que não queria o ingresso de mulheres? Tal pessoa poderia correr o risco

de ser atacada com piadas! Talvez, se a votação fosse secreta, surgissem mais votos

contrários à presença de mulheres.

Muitas vezes, por causa do forte estereótipo social imposto aos homens, eles se

vêem coagidos a tomar atitudes que vão de encontro aos seus desejos, agindo de acordo

com uma improvável compreensão biológica de sua existência (Nolasco, 1995a). Mas o

sentimento de identidade masculina não é adquirido exclusivamente de forma espontânea,

através da maturação biológica. Além deste fator, ele é um estado artificial que o menino

deve conquistar. Para tal, deve seguir o caminho já percorrido por seu pai, e demonstrar

sua passagem para o mundo dos homens. Testes lhe são apresentados a todo momento,

para que, ao vencê-los, consiga atingir seu objetivo. Dentre as expectativas masculinas

tradicionais, destaca-se a capacidade de usar a força física, o que naturalmente leva à

demonstração de virilidade. A aquisição da masculinidade se faz necessária para que os

meninos consigam adentrar no grupo, muitas vezes passando por situações de humilhação,

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dor, injúria. Com isso, atitudes violentas podem tornar-se inerentes ao contexto,

transformando o sentimento em ação.

Segundo Nolasco (2001), a masculinidade pode ser buscada de diversas formas.

Nas sociedades guerreiras, o vigor estava sempre relacionado à força física; o seu uso

contínuo, excesso e dano eram tidos como referências do valor de um homem. A esses

atributos foram atreladas a disciplina e a coragem. Os níveis de tensão experimentados por

um homem são convertidos, em seu cotidiano, em exigências que, sem controle, poderão

levá-lo a buscar cada vez mais formas de escoá-las. Aos meninos é sempre pedido que

demonstrem força física, que sejam líderes e preparados para viverem sozinhos. Porém,

quando crescem, acabam por acreditar que a tensão é inerente ao estilo de vida de um

homem, e que a agressividade e a violência são a melhor maneira de expressá-la.

Portanto, de acordo com Nolasco (1995a), o mito da masculinidade vem sendo

construído em cada indivíduo desde o seu nascimento. Quando uma mulher vai dar à luz,

ou mesmo antes disso, nas ultra-sonografias realizadas por ocasião dos exames pré-natais,

uma das preocupações (senão a maior) é a do sexo do bebê. Durante a evolução da

criança, os meninos são instigados a falar sobre sexo, na maioria dos casos como maneira

de certificar-se de que reproduzirão o modelo de comportamento para eles determinado.

Os padrões tradicionais consolidados pelo modelo patriarcal exigem sempre uma relação

de confronto: um ataca, outro defende; alguém ganha, outro perde. Com essa perspectiva

de relação, estabelece-se uma intrínseca aproximação com a competitividade, criando a

crença de que atitudes combativas e agressivas são adjetivos próprios dos homens.

No capítulo anterior, vimos que ser forte, ser másculo, ser “homem” são

características valorizadas para que o grupo de Pólo Aquático construa sua identidade e

atinja seus objetivos. Nesse sentido, podemos inferir que existe uma intrínseca relação

desse esporte com o mito da masculinidade, definido por Nolasco (1995a) como uma

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representação social que é construída desde a infância, tornando-se quase uma regra a ser

obedecida pelos homens. Talvez (ou também) por esse motivo, aquelas características do

“jogador de Pólo Aquático” tenham se tornado o “norte” a ser seguido pelo pequeno grupo

de praticantes desse esporte, e figuras como a de Aladar Szabo sejam vistas como a

encarnação dessa projeção.

3.1 – Aladar Szabo

É normal e compreensível encontrar divergências quando se procura listar os

melhores jogadores do Pólo Aquático brasileiro, em seus cem anos de existência. Nomes

como os de Márvio Kelly, Pinduca, João Gonçalves, Castelo Branco, João Daniel, dentre

outros, ocupam lugar de destaque e são sempre lembrados. No entanto, um jogador foi

apontado pela unanimidade de nossos entrevistados: Aladar Szabo. Na memória dos que

o viram jogar, seu arremesso muito forte e de técnica superior aos outros jogadores

brasileiros da época marcou de forma indelével o Pólo Aquático nacional. Para aqueles,

como nós, que apenas ouviram o relato de suas façanhas, sua figura era a de um herói

inatingível, principalmente para aqueles que estavam se iniciando no esporte. As fantasias

aumentavam na medida em que não tínhamos registro em vídeo ou filme desse atleta;

assim, o que existia em nossas cabeças eram imagens quase gigantescas que construíamos

a partir do relato dos mais velhos.

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A memória, portanto, foi crucial para a construção desta seção do estudo, já que um

percentual significativo dos dados levantados foi obtido através de entrevistas, das quais o

pesquisador recortou traços que terminaram por compor a figura do biografado3. E

sabemos que, muitas vezes, selecionamos em nossa mente apenas o que nós interessa

lembrar, ou algo que serviu de alicerce para a construção de algum conceito ou atitude.

“Um pai carinhoso”, assim disse Isabela

Como ensina Le Goff (1996),

“A memória, como propriedade de conservar certas informações, remete-nos em primeiro lugar a um conjunto de funções psíquicas, graças às quais o homem pode atualizar impressões ou informações passadas, ou que ele representa como passadas.” (p. 423)

Assim, convém ressaltar que os dados que a seguir serão apresentados sobre a vida

de Aladar Szabo não têm a menor pretensão de chegar à verdade no sentido positivista.

Estaremos lidando principalmente com memórias, sentidos e representações construídos

pelos membros do grupo de Pólo Aquático, que vêem em Szabo um forte símbolo de sua

Para tanto, além das entrevistas realizadas com jogadores, ex-jogadores, técnicos e dirigentes ligados ao Pólo Aquático brasileiro, foi muito relevante o contato do pesquisador com a filha de Aladar Szabo do seu segundo casamento com Isabel. Além do depoimento que nos concedeu, Isabela Szabo colocou à nossa disposição uma consider ável quantidade de recortes de jornais com matérias sobre a carreira de Szabo, especialmente no período em que esteve no Brasil, e entrevistas por ele concedidas à imprensa, que podem ser vistas no anexo 3.

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identidade. O próprio pesquisador, por ser “de dentro”, internalizou essa memória

coletiva, e a adoção de um posicionamento distanciado e o menos tendencioso

possível foi uma tarefa que exigiu sua vigilância constante durante o desenvolvimento da

pesquisa.

Aladar Szabo nasceu na Hungria, em 15 de março de 1933, na cidade de Eger. Seu

pai, que tinha o mesmo nome, era militar; sua mãe, Petheo Irene, dona-de-casa. O pai

queria que ele fosse padre; a mãe, que ele fosse pianista. Porém nenhuma dessas

intenções foi acatada por Szabo. Quando saía do seminário não ia para a casa da

professora de piano; fugia e ficava nadando por seis horas no clube. Aos 17 anos

abandonou o seminário, e logo depois as aulas de piano, mas da piscina nunca mais

conseguiu se afastar. Já era então campeão europeu de natação, recordista juvenil com

57.8s nos 100 metros nado livre. E integrava a equipe húngara de sênior, no revezamento

4 x 100.

Os pais de Aladar Szabo: Primeiras braçadas O lutador Aladar e a mãe Petheo Irene

Jogando Pólo Aquático em seu time, o Vasas, desde os 15 anos começou a se

apaixonar pelo esporte. Em 1952, devido aos seus potentes chutes, foi convocado como

reserva da seleção húngara, que se sagrou campeã olímpica, e integrou o revezamento

4x200 livre. Logo ele iria firmar-se na equipe húngara, onde atuou de 1952 a 1956, ainda

na categoria júnior que corresponde ao jogador ter entre 18 e 19 anos.

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O começo de sua carreira

Ao deixar a Hungria, devido a problemas políticos que aconteciam naquele país

Szabo fugiu para a Itália, onde encontrou uma equipe de Pólo Aquático em ascendência,

tanto que havia sido Medalha de Ouro em Londres (em 1948) e iria sagrar-se campeã

olímpica também em Roma (em 1960). Outro fator que o levou a escolher a Itália teria

sido a peculiar alegria de seu povo, como afirma Eduardo Abla (ex-jogador de Pólo

Aquático e amigo de Szabo), em sua entrevista.

Em reportagem publicada no Jornal da Tarde de 20 de abril de 1972, o próprio

Szabo relata o momento da fuga: “estava no saguão do Hotel Parker, em Nápoles, corri

para a porta giratória e pulei na cabine de um caminhão que já me aguardava”.

Na Itália, atuou no Rari Nantes, de Nápoles, e tornou-se atração do Pólo Aquático

local. Jogou as temporadas de 1957 e 1958, e por seu desempenho recebeu convites de

diversos outros países para neles atuar como jogador. Também a CBD (Confederação

Brasileira de Desportos) o convidou, por intermédio de João Havelange, ex-jogador do

Fluminense e integrante da seleção brasileira nos Jogos Olímpicos de Helsinque, em 1952.

Havelange, por nós entrevistado, relatou que ouvira falar de um excelente jogador húngaro

que estava atuando na Itália; ele nunca havia assistido Szabo jogar, mas tinha interesse em

trazer alguém que pudesse enriquecer o Pólo Aquático do Fluminense.

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Time em que Szabo atuou na Itália

De acordo com Eduardo Abla, Szabo teria vindo para o Brasil por ter se envolvido

em uma briga de trânsito com o delegado da cidade de Nápoles . Vendo a possibilidade de

ser preso, preferiu sair da Itália. A escolha de nosso país se deu em função de ter ouvido

falar dos predicados do povo brasileiro (um povo alegre, belas mulheres, carnaval) e por

ter visto Garrincha atuar, na Hungria. E, realmente, o Botafogo realizou muitas excursões

pela Europa na década de 50. Ruy Castro, em seu livro Estrela Solitária: um brasileiro

chamado Garrincha (1995), confirma que o Botafogo jogou na Hungria, no dia 22 de abril

de 1956, contra um time local chamado Honved-Kimitz – que, curiosamente, venceu de

goleada o time da “Estrela Solitária”, com Mané Garrincha e tudo, por 6 a 2.

No jornal O Globo de 30 de maio 1959, Szabo declarou que, além do Brasil, havia

recebido convites para dirigir equipes de Pólo Aquático na Grécia, na Índia e na Tunísia;

mas dois amigos seus, Vinícios e Del Vecchio, jogadores de futebol da equipe do Nápole,

falavam tantas maravilhas sobre as belezas do Brasil que Szabo optou por aceitar seu

conselho e vir para cá.

Nessa mesma entrevista a O Globo, Szabo explica por que resolveu sair da Itália:

uma lei italiana impedia que jogadores estrangeiros atuassem nas equipes esportivas locais;

como tirar outro visto demoraria alguns meses, e obter uma naturalização levaria cinco

anos, preferiu ir para outro país.

Observe-se as discordâncias entre as narrativas de Eduardo Abla e de Szabo. Os

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motivos da preferência de Szabo pelo Brasil, como descritos por Abla, talvez

demonstrem a tentativa de mostrar a atração de um europeu por traços da cultura brasileira,

que no caso estaria representada pela alegria, pelo carnaval e pelas belas mulheres. Tais

peculiaridades na personalidade de Szabo vão ser narradas por muitos dos nossos

entrevistados; se não são verdadeiras, possivelmente ajudaram a criar a imagem de um

homem estrangeiro com “espírito brasileiro”, tornando-o simpático mesmo para aqueles

que não o conheceram.

Aladar Szabo chegou ao Rio de Janeiro em 1959, pelo navio “Conte Grande”,

sendo recebido por Edson Perri, que futuramente seria seu técnico na seleção brasileira e

no Botafogo. Na entrevista que nos concedeu, Perri revelou que acreditava que Szabo veio

com a intenção de não voltar, devido à quantidade de malas que trouxe. Perri foi obrigado

a chamar um táxi, pois as malas todas não couberam em seu carro.4

Mais tarde Szabo foi apresentado ao Fluminense, que detinha a melhor equipe de

Pólo Aquático da época. Szabo deveria apenas dirigi-la; porém, devido à sua exemplar

forma física, acabou por integrá-la como jogador, permanecendo em Laranjeiras( sede do

Fluminense) de 1959 a 1961.

4 A chegada com malas é um interessante episódio, porque lembra a imagem de Charles Miller “fundando” o futebol brasileiro com suas malas e bolas, fato conhecido dentro da historiografia do futebol brasileiro.

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CAMPEÃO SUL-AMERICANO 1965 Esquerda/Direita (em pé): HILTOM, NEY, IVO, POLÉ, SZABO, PINCIROLI, OSVALDO (agachados): JOÃO, LIMINHA, LUIS DANIEL, MARVIO, ARNALDO

3.1.1 – Aladar Szabo e o Pólo Aquático no Brasil

Cabe registrar como se encontrava o panorama esportivo do Pólo Aquático no Rio

de Janeiro, no momento da chegada de Szabo ao Brasil. O Fluminense F. C. havia

montado um time que por diversos anos dominou a história do Pólo Aquático brasileiro:

de 3 de fevereiro de 1952, com a vitória sobre a Associação Desportiva Floresta, até o dia

21 de outubro de 1961, quando foi derrotado pelo Botafogo por 2 x 0.

Diversos jornais acompanharam a trajetória tricolor nesse período, principalmente

dando cobertura ao fatídico jogo de outubro de 1961 entre Fluminense e Botafogo,

encerrado prematuramente depois que a equipe do Fluminense deixou a piscina por

sentir-se prejudicada pelo árbitro da partida, Almerídio Brandão. Através de recortes de

jornais pertencentes aos acervos particulares da família Szabo e de alguns de nossos

entrevistados, foram levantadas as seguintes reportagens (alguns dos recortes não traziam o

nome do periódico ou a data da publicação):

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“Botafogo quebrou invencibilidade do Fluminense: jogo não acabou – Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 22 out. 1961.

“Water-Pólo: 2 x 0 Botafogo acabou com reinado do tricolor” – Última Hora, Rio de Janeiro, 23 out. 1961.

“Primeira derrota tricolor em nove anos” – O Globo, Rio de Janeiro, 23 out. 1961.

“Tempo quente no Guanabara” – [s.n., s.d].

“Vitória sensacional” – O Globo, Rio de Janeiro, [s.d.]

“Depois de nove anos, perde o Fluminense” – [s.n., s.d.].

Muitas outras reportagens encontradas pontuam algumas das 104 partidas em que o

Fluminense ficou sem perder, infelizmente sem trazer a data e/ou o nome do periódico:

“Flu é Hepta no Pólo Aquático” – [s.n., s.d].

“Campeão pela nona vez o Fluminense” – [s.n., s.d.].

“Flu conseguiu 86ª vitória e o Vice-campeonato” – [s.n., s.d.].

“Campeão invicto o Fluminense F. C. com 86 partidas” – [s.n., s.d.].

“87 partidas invictas” – [s.n., s.d].

“Flu completou 91 jogos invictos” – [s.n., s.d.].

“Fluminense tenta o penta-campeonato” – Jornal dos Sports, Rio de Janeiro, [s.d.].

“Tentará amanhã o Fluminense sua 100ª partida invicta” – [s.n., s.d.].

“Invicto em 101 jogos e penta-campeão do Rio São Paulo o Fluminense” – [s.n., s.d.].

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A gloriosa equipe de pólo aquático do Fluminense, bi-campeã carioca invicta de 1953-1954. De baixo para cima: Dr. Aarão Gordon, Diretor Geral de Esportes Aquáticos, jogadores Marvio, Grijó, Everardo, Sergio, Sylvio, Alijó e Amaury, e o técnico Paulo Costoli.

Como vemos, espaço na mídia o Pólo Aquático tinha, pois todas essas reportagens,

colhidas nos acervos particulares da família Szabo e de alguns de nossos entrevistados,

possivelmente não correspondem ao total de matérias que circularam sobre o assunto na

época.

Everardo Cruz Filho (ex-atleta de Pólo Aquático e integrante da seleção brasileira

de 1952) participou da equipe do Fluminense no período em questão, e comenta que um

outro fator importante para a hegemonia do time foi a influência do treinador italiano Paolo

Costoli, que trazia em sua bagagem uma enorme experiência em esportes aquáticos.

Graças a Costoli, os métodos de treinamento, a tática, a técnica, enfim, o estilo de jogo,

foram completamente alterados. Outros exemplos das novas formas de treinamento

introduzidas por Costoli foram os treinos com bola simulando situações de jogo, e a

aproximação do Pólo Aquático com a natação. Anteriormente, nada disso era feito; os

treinamentos eram praticamente reduzidos aos treinamentos em conjunto: “coletivos”.

Sob o comando de Costoli, o Fluminense era um time rápido, de muita

movimentação e arremessos. Antes dele, os arremessos eram em “gancho”, infinitamente

inferiores se comparados aos arremessos de hoje (semelhantes aos de handebol). Essas

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contribuições de Costoli foram de grande importância não apenas para o Fluminense;

posteriormente, outros clubes acabaram também por incorporá-las.

Além dos resultados dos campeonatos cariocas, alguns deles registrados nas

reportagens acima apresentadas, onde a equipe do Fluminense permaneceu invicta de 1952

a 1961, obtendo o primeiro lugar e sendo o time que mais títulos conquistou até hoje, outro

fato nos ajuda a evidenciar o destaque do Pólo Aquático do Fluminense naquela época: na

constituição da seleção brasileira, por volta de 1952, com a exceção de Hiltom de Almeida,

jogador do Vasco da Gama, todos os outros atletas eram do Fluminense.

Ao sair do Fluminense, Szabo transferiu-se para o Botafogo em 5 de outubro de

1961. É curioso ressaltar que no jogo de 21 de outubro de 1961, quando o Fluminense

perdeu sua invencibilidade e terminou por retirar-se da partida, Szabo marcou os dois gols

que deram a vitória ao Botafogo. E pelo clube da “Estrela Solitária” ele conquistou o

campeonato de 1965.

Ficha de cadastro do atleta Aladar Szabo no Botafogo F.R. Nesta ficha, todos os jogos em que Szabo participou pelo Botafogo. -na íntegra, no anexo 3.

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Assim, Szabo estava no Botafogo quando obteve sua convocação para integrar a

seleção brasileira que disputaria o Pan-americano de 1963 e os Jogos Olímpicos de 1964,

em Tóquio, já que tinha conseguido sua naturalização dois anos antes.

Desde a primeira edição dos Jogos Pan-americanos, em 1951, a Argentina e os

EUA obtinham os melhores resultados. Com a presença de Szabo, a expectativa era a de

que o Brasil em 1963 poderia chegar ao título. E, realmente, sendo responsável pela

maioria dos gols de nossa equipe (24 gols), Szabo ajudou a conquistar o tão sonhado

campeonato. A euforia se fez ainda maior porque no ano seguinte aconteceriam os Jogos

Olímpicos de Tóquio. Quatro anos antes, nas Olimpíadas de Roma, o Brasil não havia

conseguido a naturalização de Szabo para que o mesmo disputasse os Jogos de Roma.

Agora, a imprensa, incentivada pela conquista do Pan-americano, podia acreditar em uma

colocação melhor que a de Roma, onde fomos eliminados na primeira fase.

Após a conquista do Pan-Americano, atribuiu-se a Szabo a maior parte dos louros

pela vitória. Szabo já era então um ídolo do Pólo Aquático brasileiro, um atleta que,

segundo os relatos, dava motivos para lotar as arquibancadas das piscinas. No curto

período em que figurou na seleção brasileira, ajudou a conquistar dois títulos Sul-

americanos e o único Pan-americano conquistado por nós até hoje, em 1963, em São

Paulo. E assim sua história ficou eternizada na memória do Pólo Aquático nos arquivos

esportivos brasileiros.

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3.1.2 – Aladar Szabo e o Mito da Masculinidade

O seu porte físico e suas atitudes ajudaram a criar o mito.

As façanhas de Szabo que são comentadas pela mídia e pela comunidade do Pólo

Aquático brasileiro precedem, como será visto, a sua vinda para o Brasil. O curioso, do

ponto de vista acadêmico, é a intrínseca relação dessas histórias com as características

apontadas na Seção 2.2 deste trabalho, que ajudaram a criar o estereótipo do “jogador de

Pólo Aquático” (virilidade, força, agressividade, ser brigão, ser mulherengo...). Nesta

parte do estudo, veremos como essas representações vão se encaixando dentro do perfil

que Szabo possuía e/ou do perfil que lhe foi sendo atribuído, tornando-o um ícone do Pólo

Aquático nacional, uma encarnação do mito da masculinidade que durante décadas

construiu e consolidou a identidade do jogador de Pólo Aquático brasileiro.

Mas o que seria um mito? Segundo Campbell (1999), em todo o mundo habitado,

em todas as épocas e sob todas as circunstâncias, os mitos humanos têm florescido,

buscando viva inspiração em todos os demais produtos possíveis das atividades do corpo e

da mente humanos. Não seria demais considerar o mito a abertura secreta entre o cosmos e

as manifestações culturais humanas. As religiões, filosofias, artes, formas sociais do

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homem primitivo e histórico, descobertas fundamentais da ciência e da tecnologia, e os

próprios sonhos que nos povoam o sono, surgem do círculo básico e mágico do mito.

Muitas vezes, quando usamos a palavra mito, emprestamos a ela um significado de

mentira, de falácia: “isso não é verdade, é um mito”. Porém, o mito corresponde à crença

de um povo, do conjunto, da comunidade, da coletividade – por isso ele se torna verídico

para o povo que o reconhece. O mito sobrevive num povo não por ser a verdade, mas por

refletir um aspecto real desse mesmo povo, e até de todos nós (Feijó, 1985).

A pessoa que encarna um mito afasta-se do comum dos mortais; ela se mantém fiel

a ela mesma; ela tem a coragem de ser o que é. Podemos reconhecer algumas dessas

características na trajetória de Aladar Szabo? Este homem, que encarna o mito da

masculinidade e se apresenta como um modelo para aqueles que desejam tornar-se parte

integrante do grupo de Pólo Aquático, teria sido realmente violento? Agressivo? Brigão?

Para tentarmos responder a essas perguntas, temos que considerar, de um lado, que,

como foi visto na Seção 2.2, desde a chegada do Pólo Aquático ao Brasil era comum

atrelar esse esporte e seus jogadores a uma faceta agressiva e violenta. Isto pode ser

exemplificado pela reportagem de 22 de outubro de 1961 de O Globo. Nessa matéria,

onde fica evidente o imaginário dos “de fora” sobre o Pólo Aquático e seus praticantes, o

repórter comenta aquele conturbado jogo em que ocorreu uma briga entre os times do

Botafogo (onde Szabo começara a jogar) e do Fluminense, que vinha há nove anos sem

perder. O curioso é que o repórter, que se diz inveterado e irrecuperável torcedor de

futebol, tenta imaginar o que ocorreu na piscina do Guanabara, uma vez que não esteve lá;

para tanto, confiava na sua imaginação! A seguir apresentamos algumas passagens dessa

crônica, que vem apresentada na íntegra no Anexo 3 .

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Como vemos, embora de maneira sarcástica, o esporte é retratado pelo jornalista

como sendo extremamente violento:

“Water Pólo é um esporte engraçado: por cima d’água tudo é muito tranqüilo, mas por baixo os jogadores usam mais as pernas para darem sarrafadas com mais violência que o Joubert. [...] De vez em quando o juiz pára a partida para contar os jogadores, e sempre faltam alguns. Aí desce um escafandrista para recolher os corpos estraçalhado. [...] E sabe lá o que é levar uma ‘gravata’ dentro d’água? Glub! Glub! Glub! [...] E é um tal de rasgar calção que não acaba mais! Que vexame! As rouparias dos clubes fornecem durante um jogo uns oitenta, para cada craque. É por isso que o São Cristóvão não disputa o campeonato de Water Pólo.”

Por outro lado, a vida de Szabo tem passagens que expõem sua agressividade de

maneira muito clara. Ele mesmo comenta, em matéria publicada no Jornal da Tarde de 20

de abril de 1972: “Se eu tinha razão, discutia com calma; porém, se perdia a paciência,

batia e pronto.” E diversas outras reportagens estabelecem a relação de Szabo com uma

imagem de violência:

“Tempo quente no Guanabara” – Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 22 out. 1961.

“Water Pólo é fogo!” – O Globo, Rio de Janeiro, 22 out. 1961.

“Agressão e sangue na piscina” – Revista do Esporte, Rio de Janeiro, 27 jul. 1962.

“Fluminense saiu do torneio por medo de Szabo” – Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 9 nov. 1962.

“A violenta história de Szabo” – Jornal da Tarde, Rio de Janeiro, 20 abr. 1972.

“Era bom de bola e de briga” – Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 14 out. 1982.

Segundo Eduardo Abla, a entrada definitiva de Szabo na seleção húngara deu-se

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após o seguinte episódio, a ele narrado pelo próprio jogador. Durante um jogo-treino na

seleção, Szabo foi mantido submerso por um tempo exagerado. Para livrar-se, apoiou-se

no fundo da piscina e subiu violentamente contra seu opressor, mordendo-lhe a orelha, o

que ocasionou sangramento. O técnico, ao ver tal atitude de coragem, percebeu que, além

de seus dotes técnicos, Szabo demonstrava muita virilidade.

Ao recontar tal história, Eduardo Abla demonstra a preocupação de lembrar de um

motivo, para além das capacidades técnicas, para justificar a entrada de Szabo no

selecionado húngaro: sua virilidade e agressividade teriam sido fundamentais. Pode-se

observar que esta história está carregada de significados míticos sobre o personagem e

sobre o esporte. Um dos mitos do Pólo Aquático, e também do esporte em geral, são as

idéias de virilidade e agressividade, que se confundem com a imagem do masculino.

Szabo tem sua entrada triunfante na seleção húngara encarnando o mito de um esporte;

assim, o personagem apresenta sua façanha heróica ao personificar o mito da

masculinidade.

Esta passagem demonstra como o inconsciente dos homens procura atrelar atitudes

do “macho” ao seu cotidiano. De algum modo, um valor cultural é acionado, permitindo­

lhes envolver-se em situações de violência na esfera pública. Por outro lado, espera-se o

contrário de uma mulher!

Possivelmente a dentada de Szabo em seu adversário não foi o fator crucial para

incluí-lo no selecionado húngaro de Pólo Aquático. A Hungria possuía uma tradição de

boas equipes e de conquistas nesse esporte, seu escrete sempre esteve muito bem

representado.5 Então, é de se supor que a escolha de um jogador ainda júnior para integrar

5 Para evidenciar a importância de se jogar numa seleção de Pólo Aquático como a da Hungria, levantamos as participações húngaras em Jogos Olímpicos . *1932 - LOS ANGELES

Apesar de ter participado de algumas edições anteriores do Jogos, a Hungria conquistou sua primeira Medalha de Ouro apenas em 1932. As dificuldades de transporte dificultaram e reduziram a participação dos países: apenas cinco compareceram, sendo somente duas de nações européias

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a seleção indicava a existência de algum outro valor. O técnico deve ter optado por

convocar Szabo muito mais por ser uma jovem promessa e ter boa técnica, mas a narrativa

prioriza a virilidade como sendo crucial para a decisão.

O interessante nesse contexto é perceber que a atitude agressiva ficou marcada na

memória de Eduardo Abla. Tal fato pressupõe possíveis representações da realidade,

características peculiares da memória, que é seletiva, e talvez traduza o mito de

masculinidade que o jogador de Pólo Aquático encarna.

Nas entrevistas que realizamos com os ex-jogadores Eduardo Abla, Armando

Caetano, Ítalo Costa, Aluísio Marsili, José Roberto Haddock Lobo, João Gonçalves, Edson

Perri e João Havelange, quase todos narram episódios ou ajudam a corroborar a condição

de Szabo como o melhor jogador no Brasil que eles viram jogar. Carlos Carvalho, Solon

dos Santos, Mário Souto, Luís Silva, André Raposo e Reinaldo Nunes são jogadores e ex­

jogadores que também apontam Szabo como o melhor jogador de todos os tempos no

Brasil, embora nunca o tenham visto em ação. É fácil perceber que este último grupo de

entrevistados foi persuadido por histórias que outras pessoas viram e ouviram, e também

incorporaram a figura de Szabo como sendo o melhor. Onde estaria o parâmetro de

comparação? Provavelmente no imaginário de cada um!

(Hungria e Alemanha). As outras equipes que participaram foram: Estados Unidos, Japão e Brasil. A Hungria se sagrou campeã.

* 1936 - BERLIM Participaram dezesseis equipes. A Hungria conquistou mais uma vez a Medalha de Ouro.

* 1948 - LONDRES Após a guerra, os Jogos Olímpicos foram retomados. A competição de Pólo Aquático contou com a participação de dezoito equipes, sagrando-se campeã a Itália.

* 1952 - HELSINKI Vinte e uma equipes participaram. A Hungria retomou a liderança e conquistou mais uma Medalha de Ouro.

* 1956 - MELBOURNE A Hungria levou novamente a Medalha de Ouro, após vencer a Iugoslávia.

Cabe ressaltar que atualmente a Hungria ainda ocupa um lugar de destaque, tendo conquistado diversas Medalhas de Ouro: 1964 – Tóquio, 1976 – Montreal, e duas de Medalhas de Prata: 1968 - México e 1972 ­Munique. Em 2000, sagrou-se campeã pela sétima vez.

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Não cabe a este estudo decidir se Szabo foi realmente o melhor, mas mostrar como

se manteve viva a memória desse ídolo, através de seus feitos – verídicos ou não.

Além de haver chegado ao Brasil com um nível técnico muito superior ao dos

brasileiros que então praticavam Pólo Aquático, a constituição física de Szabo em muito

contribuiu para criar a mítica em torno do seu nome. Conversando com pessoas que

tiveram uma ligação moderada com ele, verificamos que era comum que aumentassem a

sua estatura. Szabo tinha aproximadamente 1.86m e pesava entre 98 e 100 kg, mas, devido

aos seus feitos, sua estatura chegava aos 2.00m, na memória de alguns entrevistados.

Também registramos a fratura de costelas, dentes e narizes por ele quebrados, em

um número muito superior ao que possivelmente ocorreu. Dois fatos em que essas

manifestações de agressividade estão bastante patentes nas narrativas dos entrevistados. O

primeiro deles ocorreu quando Szabo, protegendo a bola durante uma jogada, acertou uma

cotovelada e quebrou uma costela de Everardo Cruz Filho (vulgo “Correnteza”, apelido

conquistado devido às muitas vezes em que Everardo se movimentava durante a

paralisação imposta por uma interrupção no jogo). O outro caso muito lembrado foi uma

cotovelada na boca do jogador Álvaro Pires, do Fluminense, que teve sua mandíbula

quebrada, uma grande hemorragia e a necessidade de uma plástica bucal. Acredita-se que

o primeiro episódio foi um lance casual, devido à maneira viril de se jogar Pólo Aquático.

O segundo, porém, teria sido um ato intencional, como afirma José Roberto Haddock Lobo

(ex-jogador e conselheiro da CBD), que presenciou o acontecido.

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- na íntegra, no anexo 3.

Diversas matérias de jornais também se referiram ao episódio:

“Szabo se defende: cotovelada em Álvaro foi acidente” – Jornal do Brasil, Rio de

Janeiro, 4 jan. 1962.

“Agressão e sangue na Piscina” – Revista do Esporte, Rio de Janeiro, 20 jan. 1962.

Nesta reportagem, Szabo diz que a cotovelada não foi por querer, teria sido um lance

casual de jogo. Alega ainda que tudo foi uma armação do Fluminense para eliminá-lo do

esporte, já que ele havia trocado o tricolor pelo alvinegro.

“Crise na seleção nacional: Técnico e jogadores recusaram” – Jornal dos Sports,

Rio de Janeiro, [s.d.]. Esta reportagem divulga que, devido à agressão de Szabo ao jogador

do Fluminense, o conselho técnico da CBD havia votado pela não-convocação de Szabo

para o Sul-americano de Antofogasta, no Chile; os jogadores e o técnico da seleção se

opunham a essa medida.

“Estúpido o que pretendem com Szabo” – Diário da Noite, Rio de Janeiro, [s.d.].

Reportagem sobre a pretensão de dirigentes de impor a Szabo um afastamento do esporte.

No texto, chega-se a comentar sobre uma expulsão do País.

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“Szabo será convocado pela CBD: maioria aprova, mas há reação” – Correio da

Manhã, Rio de Janeiro, [s.d.].

Outros dois episódios circulam até hoje no anedotário do Pólo Aquático nacional.

O primeiro foi a quebra do travessão de uma baliza de treino. Este acontecimento foi

relatado a Eduardo Abla pelo próprio Szabo, que o justifica dizendo que a bola de couro

estava demasiadamente encharcada e pesada (já que era de couro, e não emborrachada,

como atualmente), e a baliza não era tão nova. Mas não se tem notícia de alguém haver

quebrado uma trave semelhante sob as mesmas condições. O segundo acontecimento

é o mais famoso de todos e, segundo Abla, Szabo teria mostrado a ele recortes de jornal

que comprovavam o feito: no Rio de Janeiro, onde existem dois clubes (o Clube de

Regatas Guanabara e o Botafogo Futebol e Regatas), ambos no bairro de Botafogo e

separados por uma avenida de aproximadamente 50m de largura, Szabo, de dentro da

piscina, teria arremessado a bola de um clube para o outro. Somando-se aos 50m a

distância entre a avenida e a piscina no interior dos clubes, a bola teria sobrevoado

aproximadamente 100m!

É um exercício interessante relacionar a história de Szabo com o mito do Super-

Homem. Em uma sociedade onde o homem cada vez mais perde sua individualidade, onde

ele passa a ser apenas um número, onde organizações – políticas ou não – decidem por ele,

onde os complexos de inferioridade afloram em muitas pessoas, é comum se deixar a

imaginação deleitar-se com as proezas de alguém dotado de poderes inumanos. O Super-

Homem veio de fora, tinha força superior aos seres normais, defendia sua nova

comunidade contra o mal, e na maioria dos casos obtinha êxito. Outras semelhanças com

Szabo ainda podem ser identificadas: 1) Szabo era europeu, húngaro, e é notório que a

cultura brasileira valoriza os estrangeiros. E Szabo sabia disso, tanto que, quando Abla lhe

perguntou por que, após tantos anos de Brasil, ele ainda conservava um sotaque muito

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puxado e pronunciava errado algumas palavras de fácil pronúncia, Szabo respondeu que

parecendo estrangeiro as pessoas tinham mais respeito por ele. 2) A vontade dos

praticantes de Pólo Aquático de adquirirem suas habilidades e sua força, algo que não

havia por aqui. 3) Seus feitos de difícil realização, vistos por poucos mas comentados por

muitos, ajudaram a criar uma imagem de inigualável, que perdura até hoje. 4) Outra

semelhança seria o fato de Szabo se tornar muito diferente ao entrar na piscina; fora dela

vivia como um mero “mortal”, assim como o Super-Homem.

Vemos que a fama de violento e os episódios que realçam a força física e a

habilidade esportiva só fazem justificar a representação que o grupo do Pólo Aquático

brasileiro construiu de Szabo como um “homem de verdade”, que encarnaria o mito da

masculinidade.

Nolasco (2001) estudou a relação do homem com a imagem do “ homem de

verdade”. Das entrevistas que realizou, destaca aquela em que o entrevistado expôs o seu

conceito de homem, de verdade, calcado no padrão da masculinidade: “Só se é homem de

verdade ao tratar o próximo como menos homem...” (p.78). Para representar-se

socialmente, a subjetividade masculina sustenta-se no conceito de virilidade, de

competição, de violência. O ter que vencer define um padrão social calcado em interações

impessoais, restritas a encontros sociais e atitudes de competição. Como é construído e

introjetado esse padrão?

Embora o sistema patriarcal em nossa cultura esteja muito enraizado na relação pai-

filho, em nossa sociedade o envolvimento do pai com os filhos é de pouca intimidade.

Assim, essa relação é retirada da idealização da representação masculina a ser seguida

pelos meninos, e que corresponderia à do “homem de verdade”. Como exemplo, temos a

relação com Deus, que é pai e está no céu, e cobra dos filhos obediência e fidelidade.

Para o filho, este pai é alguém solitário e reservado quanto às suas experiências

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pessoais, ou então superficial e prático, orientando para a ação e para a realização das

tarefas.

Talvez as atitudes de Szabo, que serviram de espelho para um grupo, tenham sido

extraídas de sua relação com o pai, num sistema patriarcal onde os meninos crescem sob os

afagos da mãe e a competitividade e o distanciamento do pai. Em muitos dos casos, a

forma que a agressão masculina assume provém desse mal de amor, gerado pela percepção

de que entre os país existe pouco amor e cumplicidade. O pai de Szabo, militar e lutador

de luta greco-romana, embora quisesse que o filho fosse padre não lhe ensinava uma das

principais atitudes cristãs, de virar a outra face. Era adepto do não levar desaforo para

casa, e era isso o que ensinava a Szabo.

Não aceitar a derrota era outra das características de Szabo. Uma de suas frases

ficou gravada no informativo da FARJ (Federação Aquática do Rio de Janeiro, 1985) sobre

a II Copa Sears de Pólo Aquático, onde ele ratifica sua busca incessante pela vitória:

“O treino é uma batalha, o jogo uma guerra, e o título do campeonato a vida ou a morte.”6

Szabo comparou um jogo a uma guerra e, realmente, para o homem a relação com a

guerra está muito próxima da representação da masculinidade. O esporte e a guerra por

vezes se misturam, gerando uma relação de extrema violência e pouco apego aos princípios

olímpicos pregados por Coubertin. Exemplos claros dessa mistura são o boicote dos países

capitalistas aos Jogos Olímpicos de Moscou, em 1980, e o boicote dos países socialistas

aos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984.

6 Isso transparece na educação que deu à sua filha Isabela. Ela lembra que, durante as competições de natação das quais participava, o pai lhe dizia que não saísse da água sem o primeiro lugar, já que participar qualquer um poderia, mas ganhar, somente um. Mas Isabela comenta que sua relação com o pai era muito próxima, e que Szabo era um pai muito carinhoso, apesar de educá-la com padrões rígidos – como, por exemplo, ensinando-a a comer à mesa com livros colocados debaixo dos braços, para não abri-los durante as refeições.

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No Pólo Aquático, temos uma associação marcante entre o esporte e a guerra. Em

1956, na fase final dos Jogos Olímpicos de Melbourne, o jogo entre Hungria e URSS,

vencido com o placar de 4 x 0 pelo time húngaro, ficou conhecido como “o jogo da piscina

sangrenta”. Este jogo tornou-se extremamente agressivo devido à raiva revelada pelos

jogadores, pelo fato de o povo húngaro estar vendo seu país ser invadido pela antiga

URSS. Os que assistiram ao jogo disseram que a água da piscina ficou vermelha de

sangue.

Nolasco (1995b) também faz alusão à relação do homem com a guerra. Segundo

ele, para que o soldado dispare o fuzil é necessário que as justificativas para a guerra na

qual ele está inserido sejam convincentes. É preciso que ele delire para que mate, é preciso

que ele não ouça suas entranhas para que, desta agressão para consigo mesmo, ele possa

transformar-se em agressor. A guerra coloca os homens em contato com uma dimensão

irracional deles mesmos. Com essa postura, o homem coloca o inimigo em uma cena

imaginária que gere temor de aniquilamento. Acreditar nisso já é suficiente para a

existência de um exército. A fantasia do aniquilamento pode de fato tornar-se um

aniquilamento.

A guerra nos mostra que a irracionalidade masculina, travestida em juízo moral,

ganha espaço na consciência dos homens, fazendo-os desempenhar o papel mais radical de

sua identidade social. O compromisso individual com a agressão e a violência redunda no

investimento social em direção às guerras, o que nos leva a pensar em um tipo de pressão

que os homens exercem sobre suas próprias subjetividades.

Outro ponto inerente às guerras seria a obrigatoriedade de ganhar. Não existe outra

hipótese: ou se ganha, ou perde-se a vida. Ao se incorporar o mito da masculinidade,

atitudes agressivas ou violentas podem ser encobertas pelo pano de fundo desse

pensamento. Esse mito, que Szabo encarna, reflete uma íntima relação com a guerra: usar

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de subterfúgios para conseguir ganhar um partida, agredir o adversário para que o mesmo

saia do jogo e com isso assegurar o caminho para a vitória, é algo que aparentemente não

apresenta problema.

Segundo Nolasco (1995b), a agressividade que a guerra comporta é uma via de

expressão para as emoções. A agressividade que a guerra comporta viabiliza, com o

consentimento social, a possibilidade de os homens sentirem. Privados socialmente de

todos os afetos de Eros, eles crescem acumulando e investindo esta energia, devotando-se a

Thanatos. Deus grego associado à morte ou aos infernos, Thanatos era filho da noite e

irmão do sono, tinha coração de ferro e corpo de bronze. Ter um corpo perfeito e guerreiro

se apresenta como um indicador de masculinidade. As guerras levam os homens a

coletivamente dividirem com a realidade para, a partir daí, comporem uma visão de mundo

que faça parte de suas identidades e que absorva esse rompimento, não como loucura, mas

como razão. O dogma da transformação da identidade dos homens ainda faz com que eles,

em alguns aspectos, ajam como primatas.

Quando se referia ao esporte como uma guerra, Szabo possivelmente estava

incorporando algumas das questões que aqui foram levantadas por Nolasco, e apoiava-se

em tais referências quando lhe convinha utilizar-se da força para levar vantagem.

Dono de um corpo apolíneo, com uma forma física invejável, bonito, bom de briga,

espírito guerreiro, Szabo detinha todos os atributos que o faziam um perfeito receptáculo

para encarnar o mito da masculinidade. Somente a presença de Szabo bastava para causar

medo em seus oponentes, ou em quem tinha ouvido falar em seu nome. Talvez suas

atitudes se tornassem ainda mais exacerbadas quando se dispunha conscientemente a

encarnar tal mito. Não é objetivo deste estudo desvendar a real personalidade de Szabo,

porém é fato que essa fama lhe proporcionou inúmeras vantagens.

Essa imagem de Szabo foi sendo divulgada, até que tornou-se uma representação

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do Pólo Aquático, tanto para os “de dentro” como para os “de fora”. Tal imagem poderia

ser mudada? Acreditamos que esta nunca foi a intenção, nem de Szabo, nem dos que o

cercavam. Renunciar a uma representação carregada de qualidades extraordinárias, de

promessas grandiosas, que ao longo do tempo serviu de modelo e referência para os

homens construírem seus cotidianos, não se apresenta como uma tarefa das mais fáceis.

Além do que, ter um modelo a ser seguido, um mito que passa a mensagem desejada, é

algo muito importante para um grupo.

3.1.3 – A Trajetória do Herói

Reportagem realizada pelo “Jornal da Tarde” em 20/04/1972, onde Szabo relata passagens de sua vida desde sua infância na - na íntegra, no anexo 3.

A forma como são construídas as narrativas sobre Aladar Szabo fariam dele um

herói local, conforme definido na Introdução deste estudo? Joseph Campbell, em seu livro

O Herói de Mil Faces (1999), relata as passagens que o herói deve transpor para atingir

seus objetivos. Nesta seção, exploraremos diversos pontos da vida de Szabo que podem

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ser relacionados com a trajetória descrita por Campbell, e que o caracterizariam como

herói.

O herói passa por três etapas distintas para caracterizar a criação do monomito:

separação, iniciação e retorno. Este percurso padrão da aventura mitológica do herói é

uma magnificação da fórmula representada pelos rituais de passagem. Tais rituais podem

ser considerados como a unidade nuclear do monomito, onde o herói separa-se do que

entende por realidade, passa por terríveis dificuldades na iniciação e retorna à sua realidade

já com os poderes divinos.

Todos os momentos da história do herói, e sua relação com as fases propostas por

Campbell para a criação do monomito, são subjetivos e irão repetir-se diversas vezes na

vida do herói, mantendo-o em uma aventura sempre diferente e sem ter a promessa do final

feliz. E, como será visto, durante toda a história de Szabo a ele são apresentados diversos

problemas; a cada vez, ele deve transpor a unidade nuclear para fechar o ciclo.

Separação. Um erro aparente, ou o acaso, revela ao indivíduo o mundo, e ele entra

em uma relação de forças que não compreende plenamente. Campbell (1999) se utiliza de

Freud para comentar que os erros não são um mero acaso, mas o resultado de desejos e

conflitos reprimidos; são ondulações na superfície da vida produzidas por nascentes

inesperadas, e essas nascentes podem ser muito profundas, tão profundas quanto a própria

alma. O erro pode equivaler ao ato inicial do destino. O chamado para a aventura é feito

pelo arauto que anuncia o chamado para algum grande empreendimento histórico, assim

como pode marcar a alvorada da iluminação religiosa. Entende-se essa fase como o

despertar do “Eu”. Um sonho pode ser suficiente para caracterizar a figura do arauto.

Mito, sonho, há nessas aventuras um atmosfera de irresistível fascínio em torno da figura

que aparece subitamente como guia marcando um novo período.

Iniciação. Szabo começa uma de suas a suas aventuras ao deixar a Hungria

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( separação), devido à invasão de seu país natal pela antiga URSS. Talvez este fosse o

arauto que anuncia a ele o momento de sua partida. O arauto ou agente que anuncia a

aventura costuma ser aterrorizante ou considerado maléfico, porém ele é o início da

aventura no ciclo da criação do herói. Para Szabo, com certeza, a URSS era maléfica para

seu povo. Ou ainda, segundo Freud, sua vontade de deixar o país já estava latente e se

manifestou graças à invasão. Após a separação, a iniciação é o segundo passo, e aconteceu

quando ele enfrentou as radicais mudanças em um novo país, a Itália.

O retorno seria sua volta às piscinas, pois até então a fuga e os problemas que ele

enfrentou para conseguir fugir não garantiam que ele continuasse jogando. Para que isso

acontecesse bastaria não ser aceito o pedido de asilo político e ele ser extraditado para a

Hungria, onde provavelmente ele ficaria afastado das piscinas por um tempo

indeterminado.

Após se separar de seu país natal para ganhar sua liberdade, Szabo passa por

problemas e se vê obrigado a partir novamente, para o local onde iria se casar, ter filhos e

ajudar na conquista de títulos internacionais. Nesta fase da criação do monomito, o herói

pode encontra-se com uma mulher que poderá levá-lo ao matrimonio. Isso ocorre quando

todas as barreiras daquela aventura foram transpostas. O herói une sua alma à rainha-

deusa, que é o teste final do talento de que o herói é dotado para obter a bênção do amor –

que é a própria vida, aproveitada como invólucro de eternidade.

Quando Szabo fecha um de seus ciclos, ao chegar ao Brasil, após passar por

diversos problemas, casa-se com Margareth Angermann em março de 1960, com apenas

oito meses de estada no Rio de Janeiro e da início a uma nova aventura que juntamente

com muitas outras culminará na criação do herói do pólo Aquático Brasileiro.

“O encontro com a deusa é o segundo ponto. O herói, após vencer os ogros e vilões, casa-se com a Deusa do mundo. Pode ser representado como a entrada nas trevas da câmara mais profunda do coração A

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mulher, como tentação, é encarada, após o casamento, como se o herói tivesse dominado a vida, pois a mulher é o símbolo da vida e o herói seu conhecedor e mestre. A apoteose, a bênção final são estágios que o escolhido alcança, e a partir desse ponto o herói está um ser superior, um Rei nato.” (Campbell, 1999, p.111)

Com Margareth Angerman em Março de 1960, em seu 1º casamento. Reportagem sem data, sem jornal sobre o casamento de Szabo.

Ainda em sua cidade natal, Eger (que em português quer dizer sangue), Szabo

inicia outro percurso padrão quando vai a uma corrida de motocross em Budapeste. Sua

motocicleta é impedida de participar por seus pneus estarem extremamente gastos. No

caminho, correndo muito por estar com raiva de não ter conseguido realizar seu intento,

Szabo não vê um buraco no chão, o pneu não suporta o impacto e ele dá duas voltas no ar

antes de tocar o solo com sua motocicleta. Devido a esse acidente, ficou seis meses no

hospital, engessado. Ao sair, foi carregado para casa por seu pai, pois não conseguia

mexer os braços nem as pernas, e 22 placas de platina seguravam o seu crânio trincado.

Ao referir-se à fase da iniciação, Campbell (1999) explica que nela pode ocorrer o

encontro do herói com o pai, proporcionando-lhes uma sintonia. O herói vai ao encontro

do pai para abrir sua alma além do terror, num grau que o torne pronto a compreender de

que forma as repugnantes e insanas tragédias são completamente válidas na majestade do

ser. Por um instante o pai torna-se a fonte que irá possibilitar que o herói transcenda a

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vida, e assim compreenda melhor a sua existência.

Ainda na iniciação, o herói enfrenta os problemas, os obstáculos que deverão ser

vencidos para que o herói feche o seu ciclo. O médico que tratou Szabo disse que o

menino ficaria aleijado. Szabo, porém, não aceitou essa condição. Em casa, com uma

pequena mala carregada de chumbo, ele forçava o braço direito a ceder um pouco mais, dia

após dia. Certa vez, pediu que o levassem até a piscina. Esse pedido carateriza o seu

inconsciente, ou o arauto. Ele se recupera dos danos sofridos e talvez tente reagir ao mal a

que foi submetido utilizando forças divinas que ele possivelmente achava que poderiam vir

da piscina, local onde ele se tornava um fora do comum. Após seis meses com atividades

na água, Szabo, que no início desse trabalho somente conseguia boiar, já estava novamente

nadando.

Depois disso retorna ao seu clube, o Vasas, onde iria conquistar diversos títulos.

Com muita força de vontade e exercícios recupera o seu potente chute com o braço direito

(que também foi atingido na queda), conseguindo uma força além do comum, e é

convocado para integrar a seleção húngara nos jogos olímpicos de Helsinque, em 1952,

sagrando-se campeão olímpico. Nesta última etapa, percebemos que o retorno descrito por

Campbell acontece, e Szabo traz para o seu povo glórias e benfeitorias.

O efeito da aventura bem-sucedida do herói é a abertura e a liberação do fluxo de

vida no corpo do mundo. Diversas imagens podem servir para simbolicamente representar

tal sucesso, como por exemplo o resplandecer do ouro olímpico para o seu povo. O troféu

de campeão de seu clube para a população local. Essas variedades de imagens alternam-se

entre si com facilidade, e representam três graus de condensação de uma mesma força

vital. Uma colheita abundante é um sinal de graça, a vitória em um campeonato também

seria um sinal de graça divina. A graça de Deus é o alimento do espírito, o resplandecer da

vitória é o precursor da chuva fertilizante que traz benefícios para seu povo e, ao mesmo

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tempo, a manifestação de energia liberada por Deus, que garante a força ao herói e ao seu

semelhante. Graça, alimento e energia são os elementos que se precipitam sobre o mundo,

e sempre que falham a vida se transforma em morte.

Outra das trajetórias heróicas de Szabo tem início em 1963, no momento em que

ele sai de sua casa no Rio de Janeiro (separação), e viaja para São Paulo onde ajuda a

conquistar um título inédito para o Pólo Aquático brasileiro: o Campeonato Pan-

Americano. Estando no Rio de Janeiro desde 1959, Szabo começava a tornar-se uma lenda

dentro do Pólo Aquático, mas ainda faltava-lhe uma grande conquista de âmbito

internacional para ratificar sua condição de ídolo. Em São Paulo, enfrenta os adversários

poderosos (EUA) (iniciação) e volta com o título e como artilheiro da competição, com 24

gols (retorno). Após esta conquista, Szabo recebe a maioria dos louros da vitória. E seu

nome fica eternizado nos arquivos esportivos brasileiros.

Tribuna da Imprensa ratificando A importância de Szabo no Pan-americano em 1963.

De acordo com a obra de Campbell (1999), uma conquista microssomial

classificaria tipicamente Szabo como um herói de contos de fadas tribal ou local – isto é,

suas conquistas interferem diretamente apenas para o seu povo; já um herói universal,

como Jesus ou Maomé, trazem mensagens para todo mundo.

Szabo tornou-se o herói do Pólo Aquático brasileiro por suas façanhas, por sua

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força, por sua personalidade. Campbell (1999) explica que o herói consegue vencer suas

limitações históricas, pessoais e locais, e alcança formas normalmente válidas. Suas

visões, idéias e inspirações vêm diretamente das fontes primárias da vida e dos

pensamentos humanos. O herói morre como homem moderno, mas também como homem

eterno, aperfeiçoado e não específico.

Szabo morreu, mas sua história nasceu para todos que viram nele uma inspiração

para delinear um comportamento, uma forma de agir. A heróica trajetória de Szabo serviu

para nortear um padrão e erigir um herói local.

3.2 – Racionalizar é Preciso

Reportagem feita pela “A Gazeta Esportiva” sobre o

torneio individual em 27 de Novembro de 1962.

- na íntegra, no anexo 3.

Não é pretensão deste estudo tentar estabelecer o que é verídico ou não,

desmistificar, desmentir. O nosso intuito é investigar o mecanismo de formação de

identidade do pequeno grupo de Pólo Aquático, a partir da trajetória de Aladar Szabo,

fenômeno histórico que aglutina as características valorizadas pelo grupo, que mantém-se

vivo na memória dos atores sociais envolvidos com a prática do Pólo Aquático nacional e

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estabelece elos entre as gerações, nesse esporte de baixa adesão e popularidade em nosso

país.

Aladar Szabo era o melhor? Possivelmente sim, possivelmente não. Alguns pontos

poderão nos ajudar a elucidar o porquê dessa colocação ambivalente.

Se fizermos uma análise da situação do Pólo Aquático brasileiro antes da chegada

de Szabo, iremos concluir que ainda engatinhávamos no esporte. Para justificar esta

afirmação, basta ressaltar alguns pontos simples, como a forma do arremesso, que era em

“gancho” e extremamente inferior, tanto em precisão como em força, à forma atual, que

assemelha-se ao arremesso do handebol. Nosso sistema de jogo dividia-se ainda por três

atacantes e três defensores (e não como hoje, onde todos atacam e quando perdem a bola

todos defendem), esquema possivelmente copiado das equipes que vimos jogar em

Helsinque, nos Jogos Olímpicos de 1952, última participação do Pólo Aquático brasileiro

em olimpíadas antes da chegada de Szabo.

Embora tenhamos jogado em Roma (1960) com Szabo já no Brasil (como foi visto,

ele chegou em meados de 1959), ainda era muito cedo para acontecer qualquer mudança

significativa. Quatro anos mais tarde, nos Jogos de Tóquio, mesmo contando com Szabo

como jogador e tendo absorvido muito do seu aprendizado, o escrete brasileiro ainda não

conseguiria vencer a tradição de times como o da Iugoslávia e outros. Em Tóquio (1964) a

equipe brasileira integrou o Grupo C juntamente com a URSS, a Iugoslávia e a Holanda.

Nossa equipe foi formada por Luís Daniel, Osvaldo C. Filho, Rodiney Stuart Bell, Pedro

Pinciroli Júnior, Márvio Kelly dos Santos, João Gonçalves Filho, Aladar Szabo,

Adhemar Grijó Filho, Ivo Kisselring Carotine, Ney Borges Nogueira e Paulo Kisselring

Carotine; o técnico era José Roberto Haddock Lobo. Apesar de um bom começo, fomos

derrotados pela Holanda (3 x 2), e depois pela URSS (7 x 1) e pela Iugoslávia (8 x 0).

Na entrevista que nos concedeu, Haddock Lobo comenta que o Brasil não teve a

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menor chance contra a URSS e a Iugoslávia; contra a Holanda, jogo em que depositávamos

uma esperança maior de vitória, a parte física nos faltou. A participação de Szabo, mesmo

jogando melhor que os brasileiros, foi apagada, e nos momentos em que ele deveria

aparecer faltaram-lhe forças para decidir a situação.

Realmente, não se poderia esperar que, no pouco tempo em que se encontrava no

Brasil, Szabo conseguisse mudar o panorama do Pólo Aquático brasileiro e, além disso,

realizar isso praticamente sozinho, pois somente ele detinha o conhecimento prático de

muitos jogos internacionais, de contato com as melhores equipes do mundo e com

inúmeros jogadores de valores técnicos possivelmente similares aos dele.

Se no nível sul-americano conseguimos atingir o topo, em âmbito mundial nunca

obtivemos resultados expressivos. Depois de 1964, voltamos a participar dos Jogos

Olímpicos em 1968, e em 1984, em Los Angeles, só participamos devido ao boicote dos

países socialistas.

Por que, mesmo depois de termos tido contato com o que havia de mais moderno

no esporte, não conseguimos nos tornar competitivos? Os entrevistados Aluísio Marsili,

integrante da seleção olímpica nos Jogos de 1968, e Carlos Eduardo Carvalho, Mário

Eduardo Souto e Solon dos Santos, que participaram dos Jogos de 1984 nos apontaram o

mesmo problema: a falta de intercâmbio. Marsili narrou que, antes de viajar para

Helsinque, nunca havia jogado com equipes européias, e que só fez amistosos antes da

competição; passaram-se 16 anos, mas Souto, Carvalho e Santos relatam o mesmo

problema. Todos comentam que sentiram muita diferença na forma de atuar da

arbitragem e no sistema de jogo, que parecia bem mais rápido, pautado em uma melhor

preparação física ou um melhor aproveitamento do condicionamento em ações pertinentes

ao jogo, além da técnica dos adversários, que era bem mais apurada.

Deve ser ressaltado que a facilidade geográfica possibilita jogos de muita qualidade

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entre os europeus, e uma sucessão de jogos amistosos é parte importante do ciclo de

treinamento. Campeonatos europeus são sempre uma prévia das competições mais

importantes. Para confirmar a supremacia européia, listamos abaixo os campeões

olímpicos, os campeões da Copa F.I.N.A. (Federação Internacional de Natação Amadora)

e os campeões dos campeonatos mundiais de todos os tempos:

Jogos Olímpicos

* 1900 – Paris. Campeã: INGLATERRA

* 1904 – Saint Louis/ Estados Unidos

Somente os Estados Unidos, com três clubes, participaram desta

competição, em que o Pólo Aquático foi considerado como esporte de

demonstração.. Devido à distância da Europa, berço do Pólo Aquático, e às

precárias formas de transporte outras nações não compareceram.

* 1908 – Londres. Campeã: INGLATERRA

* 1912 – Estocolmo. Campeã: INGLATERRA

* 1920 – Antuérpia. Campeã: INGLATERRA

* 1924 – Paris. Campeã: FRANÇA

* 1928 – Amsterdam. Campeã: ALEMANHA

*1932 – Los Angeles. Campeã: HUNGRIA

* 1936 – Berlim. Campeã: HUNGRIA

* 1948 – Londres. Campeã: ITÁLIA

* 1952 – Helsinque. Campeã: HUNGRIA

* 1956 – Melbourne. Campeã: HUNGRIA

* 1960 – Roma. Campeã: ITÁLIA

* 1964 – Tóquio. Campeã: HUNGRIA

* 1968 – México. Campeã: IUGOSLÁVIA

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* 1972 – Munique. Campeã: URSS

* 1976 – Montreal. Campeã: HUNGRIA

* 1980 – Moscou. Campeã: URSS

* 1984 – Los Angeles. Campeã: IUGOSLÁVIA

* 1988 – Seoul. Campeã: IUGOSLÁVIA

* 1992 – Barcelona. Campeã: ITÁLIA

* 1996 – Atlanta. Campeã: ESPANHA

* 2000 – Sidney. Campeã: HUNGRIA

Copa F.I.N.A

* 1979 - Rijek / Iugoslávia. 1º lugar: HUNGRIA

* 1981 - Long Beach / Estados Unidos. 1º lugar: URSS

* 1983 - Malibu / Estados Unidos. 1º lugar: URSS

* 1985 - Duisburg / Alemanha. 1º lugar: ALEMANHA

* 1987 - Thessaloniki / Grécia. 1º lugar: IUGOSLÁVIA

* 1989 - Berlim / Alemanha. 1º lugar: IUGOSLÁVIA

* 1991 - Barcelona / Espanha. 1º lugar: ESTADOS UNIDOS

* 1993 - Athenas / Grécia. 1º lugar: ITÁLIA

* 1995 - Atlanta / Estados Unidos. 1º lugar: HUNGRIA

* 1997 - Athenas / Grécia. 1º lugar: ESTADOS UNIDOS

* 1999- Sdney/Austrália. 1º Lugar: HUNGRIA

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Mundiais

* 1973 - Belgrado / Iugoslávia. 1º lugar: HUNGRIA

* 1975 - Cali / Colômbia. 1º lugar: URSS

* 1978 - Berlim -/Alemanha. 1º lugar: ITÁLIA

* 1982 - Guayaquil / Equador. 1º lugar: URSS

* 1986 - Madrid / Espanha. 1º lugar: IUGOSLÁVIA

* 1990 - Perth / Austrália. 1º lugar: IUGOSLÁVIA

* 1994 - Roma / Itália. 1º lugar: ITÁLIA

* 1998 - Perth / Austrália. 1º lugar: ESPANHA

*2001-Fukuoka/Japão. 1º lugar: ESPANHA

Como vemos, a supremacia européia está patente na maioria dos primeiros lugares

em Pólo Aquático conquistados ao longo do tempo. Durante o período que assinalamos,

somente a antiga URSS – e os Estados Unidos, em uma edição da Copa F.I.N.A.,

quebraram essa hegemonia. Países de outros continentes jamais conquistaram qualquer

título em âmbito mundial.

Além da falta de intercâmbio com os países mais adiantados tecnicamente, outro

fator que dificulta a participação em tais competições é o sistema de ingresso. No futebol,

por exemplo, as competições seguem um caráter regional, ou seja, os melhores da Europa,

das Américas, da África, da Ásia e da Oceania conseguem vaga para as competições. Isso

garante experiência às equipes menos técnicas, com isso elevando o nível das equipes

inferiores. No Pólo Aquático não é assim. As competições classificatórias têm caráter

mundial e, para piorar a situação, para a Copa F.I.N.A. só são convidados os oito países

melhores classificados nos Jogos Olímpicos. Observando os dados apresentados acima,

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percebemos que a experiência de Szabo adquirida em inúmeras competições e jogos

amistosos internacionais defendendo a seu times o Vasas , a seleção Húngara ou o seu

time italiano o Rari Nantes, possibilitou um vantagem significativa em relação aos

brasileiros que pouco jogos de expressão realizaram, fora as competições.

Algumas das histórias contadas sobre Szabo merecem uma atenção especial, para

refletirmos a importância da criação de um herói. Racionalizar de uma maneira

distanciada ratifica ainda mais a necessidade que um grupo tem em atribuir fatos e atitudes

a uma pessoa que lhe serve de ponto de referência, para justificar as normas do grupo e os

objetivos dos que dele participam.

Quando analisamos alguns pontos dessas histórias, percebemos que a possibilidade

de alguns fatos terem acontecido da forma como nos foram narrados representaria

realmente uma façanha digna de um super-homem. Por exemplo, o arremesso que Szabo

teria feito, lançando uma bola do Botafogo Futebol e Regatas para o Clube de Regatas

Guanabara, seria um acontecimento épico. Como um “de dentro”, queremos acreditar que

o fato ocorreu; como pesquisador, no entanto, não encontramos nenhuma prova

documental que corroborasse o que nos foi contado por vários entrevistados. Nenhum

deles assistiu ao arremesso, outra pessoa é que teria visto e lhes contado, ou simplesmente

ouviram falar do caso e aceitaram como verdade.

Para entender o quanto teria sido difícil executar aquele arremesso, basta

acompanhar os seguintes dados: pelo cálculo a que nos referimos na Seção 3.1.2, a bola

teria transposto um percurso de aproximadamente 100 metros, o equivalente a duas

piscinas olímpicas; as narrativas dizem que ele arremessou a bola de dentro da piscina, ou

seja, sem uma base fixa; a base que ele teria utilizado seria o movimento de pernada

alternada (movimento circular realizado com as pernas, que mantém os jogadores sobre a

linha d’água, permitindo que sejam realizadas as manobras pertinentes ao jogo).

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Uma reportagem do dia 27 de novembro de 1962, publicada no jornal A Gazeta

Esportiva, registra um torneio individual que foi realizado para ver qual era o atleta do

Pólo Aquático brasileiro que detinha os melhores fundamentos. Participou do torneio um

grupo de 28 atletas, pertencentes a cinco clubes de expressão nacional: Pinheiros, Tietê,

Palmeiras, Paulistano e Botafogo. O evento foi idealizado pela Federação Paulista de

Natação e realizado no Clube Tietê, em São Paulo. Szabo saiu vencedor do torneio, que

teve os seguintes resultados:

1ª Prova – 50m Nado Livre com Condução de Bola

1º Szabo (Botafogo), com 30.5 seg.

2º Athos Procópio (Paulistano), com 31 seg.

2ª Prova – Arremesso de Potência

1º Szabo, com 31.90 m.

2º Farid Zablith (Paulistano), com 28.40m.

3ª Prova – Arremesso de Precisão

1º Fernando Sandoval (Botafogo), com 13 pontos.

2º Reid Jauhar (Paulistano), com 8 pontos.

3º Paulo dos Santos, Edson Torres e Szabo (Botafogo), Luis Lima Pinheiros

(Pinheiros), Abrahan Surmejan e Poerio Bernardine (Tietê), com 1.8

pontos.

4ª Prova – Arremesso de Penalidades Máximas

1º Szabo, com 5 tentos.

2º Farid Zablith, com 4 tentos.

5ª Prova – Revezamento 10 x 50 condução de bola

1º Botafogo, com 6.04 s.

2º Paulistano, com 6.11s.

Resultado final do torneio

1º Aladar Szabo, com 40.8 pontos.

2º Farid Zablith, com 16 pontos.

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Tais resultados não servem para avaliar quem seria o melhor atleta, ainda mais

porque não sabemos como se deu tal competição e se os outros participantes, apesar de

pertencerem a clubes de expressão nacional, como o Pinheiros e o Paulistano, tinham

técnica apurada. Mas, se prestarmos atenção ao resultado da segunda prova, de Arremesso

de Potência, vencida por Szabo com 31.9m (embora não saibamos qual era o peso da bola

nem quais os requisitos para tal arremesso), constatamos que o arremesso mais potente que

deu a Szabo o primeiro lugar está muito longe dos 100m que são propostos nas diversas

narrativas da proeza que teria ocorrido na piscina do Botafogo.

De qualquer modo, o importante é percebermos que o imaginário do grupo é tão

poderoso que histórias como essa circulam ainda hoje no meio, e são aceitas com alguma

naturalidade. Um certo grau de desconfiança seria indício de bom senso por parte de quem

ouvisse tal fato, principalmente se não fizesse parte do grupo. Porém, muitas vezes querer

acreditar no fato torna o narrador extremamente convincente em seus argumentos.

Outro conto versa sobre a quebra de balizas. Szabo teria quebrado sete traves:

algumas no Fluminense, outras no Botafogo, e outras ainda em lugares que ele não se

lembrava, como declarou em entrevista ao Jornal da Tarde, em 20 de abril de 1972.

Aluísio Marsili, ex-jogador do Fluminense, contemporâneo de Szabo, disse que ouviu falar

na quebra das traves, mas não viu, e acredita que poderia ser mesmo verdade, pela força

dos chutes do húngaro. Ricardo Perrone, o Kiko, atleta do Barcelona, da Espanha, e

jogador da seleção brasileira, narra que em uma de suas viagens à Itália conheceu um dos

integrantes do Rari Nantes (time em que Szabo jogou), que lhe disse que nunca viu

ninguém chutar com a força de Szabo. E Eduardo Abla conta que Szabo lhe confirmou

que realmente já havia quebrado traves, porém muitas eram de ripas de madeira, não tendo

a largura das usadas hoje em dia, de forma cúbica e com aproximadamente 10cm de

largura.

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Curiosa é a importância que se dá a fatos épicos que corroboram a força do herói.

Na mesma reportagem, em que um dos subtítulos é “Como partir costelas e traves”, são

narradas a cotovelada no jogador do Fluminense que levou a vítima a fazer cirurgia bucal,

e o pontapé que quebrou três costelas de Everardo Cruz7. É flagrante, na entrevista, a

tentativa de mostrar a força do herói, refletida em fatos de sua vida que ratificam o mito da

masculinidade incorporado na figura de Szabo.

Conta ainda a entrevista que ele foi esfaqueado, em Manaus, por um de seus

empregados em uma empresa que exportava madeira. Ele havia decidido apostar seu

futuro nesse tipo de trabalho; como não foi bem-sucedido, mais tarde ele foi para São

Paulo, onde trabalhou no Palmeiras como técnico. Uma frase registrada na entrevista

revela um pouco a idéia que ele tinha da vida:

“A vida é como um jogo de pôquer. No começo a gente perde muito dinheiro para aprender. Mas quando aprende é que vem o prazer: ganhar de quem ainda não sabe jogar.”

Querer acreditar é o primeiro passo para tornar algo possível, e a comunidade do

Pólo Aquático acredita no seu herói, tanto que, mesmo depois que ele parou de jogar, em

1965, e após sua morte, em 12 de outubro de 1985, suas histórias são mantidas e contadas

para quem faz parte do grupo como uma forma constante de construção de identidade.

7 Ambos os casos foram descritos na Seção 3.1.2 deste trabalho.

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CAPITULO IV

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando um esporte permanece durante uma centena de anos dentro do calendário

esportivo brasileiro, participando regularmente de competições regionais, nacionais e

internacionais, com um número pequeno mas relativamente constante de participantes,

pensa-se logo que ele atingiu alguma expressão dentro do contexto esportivo, seja em

número crescente de espectadores ou em uma presença significativa nos meios de

comunicação. Contudo, diferentemente de outros esportes, como o futsal ou até mesmo o

vôlei de praia, que não gozavam de prestígio mas hoje conseguiram destacar-se, o Pólo

Aquático brasileiro não ingressou no hall da fama dos esportes nacionais.

Aqui poderíamos discorrer sobre diversos pontos que nos levariam a possíveis

soluções, ou ainda apontar onde foi que erramos ao longo de todo esse período. Este é

também um dos papéis da análise histórica: possibilitar acertos onde no passado erros

foram cometidos. Mas não foi esta a pretensão do presente estudo. Do ponto de vista

acadêmico, o objetivo que nos norteou foi encontrar a razão para o fato de, mesmo sem o

sucesso de outras modalidades esportivas, com alternâncias discretas de assedio da mídia,

sem conquistar títulos relevantes, sendo encarado pela sociedade como violento, sem

ídolos que o projetassem, o Pólo Aquático continuar sendo praticado com calendário

nacional e participando de eventos mundiais importantes.

O que aconteceu para que este pequeno grupo tenha se mantido unido por tanto

tempo? Teria sido o amor ao esporte? Talvez. Para os “de dentro”, jogar Pólo Aquático é

extremamente gratificante. Mas, partindo do pressuposto de que não foi somente o amor

que manteve o Pólo Aquático vivo até os dias de hoje, fomos em busca de algo mais que

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tivesse contribuído para que sucessivas gerações conseguissem transpor tamanhos

problemas.

Do ponto de vista sociológico, o estudo de Mills (1970) nos explicou os processos

interpessoais que ocorrem em pequenos grupos, envolvendo comportamentos, emoções,

normas, objetivos e valores que devem ser assumidos / incorporados pelos indivíduos que

desejem ingressar / permanecer no grupo, e que mantêm a união dos membros desse

grupo.

Do ponto de vista histórico ressaltamos que, além de o esporte, de uma maneira

geral, ter sido marcado pela supremacia masculina – que ainda é visível, apesar dos

grandes avanços que vêm acontecendo em termos da participação feminina –, o Pólo

Aquático brasileiro, especificamente, ainda hoje é um esporte “de homens”.

Em nosso país, sua prática registra agressões e o uso excessivo da força. Isso por

causa de seus primeiros praticantes, musculosos remadores que o jogavam por diversão,

sem interessar-se pelas regras do esporte. A continuação dessa conduta, aliada ao

pouquíssimo intercâmbio com equipes de outros países, gerava sérias desavenças dentro

d’água. O caso mais divulgado talvez tenha sido a agressão ao árbitro do jogo contra a

Alemanha, nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1932. Para o árbitro, os brasileiros

julgaram-se prejudicados simplesmente porque desconheciam as regras do jogo. Ao

retornarmos, a CBD proibiu a participação do Pólo Aquático em competições

internacionais por um longo período.

Os dados colhidos nas entrevistas que realizamos atestam que, nas gerações

seguintes, problemas disciplinares, tanto nos jogos como nas concentrações, tornaram-se

comuns dentro das delegações de Pólo Aquático, e essas ocorrências são contadas com um

certo tom de pilhéria , e não com constrangimento.

Verificamos, portanto, que a construção da identidade do grupo deu-se a partir das

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representações que os atores sociais envolvidos criaram sobre as características de um

jogador de Pólo Aquático, ligadas às vivências e memórias de situações de agressividade,

de indisciplina, de violência, que permearam a prática desse esporte em nosso país.

Através da leitura de Nolasco (1995a, 1995b, 2001), procuramos estabelecer a

relação entre as características que compõem a identidade do praticante de Pólo Aquático e

aquelas que compõem o mito da masculinidade. Isto nos forneceu o suporte teórico de que

necessitávamos para apresentar a figura de Aladar Szabo, jogador húngaro naturalizado

brasileiro, como encarnação do mito da masculinidade e, sob a perspectiva de Campbell

(1999), como um herói do Pólo Aquático brasileiro.

Aladar Szabo parece ter aglutinado todas as características necessárias para

representar o ícone do “Jogador de Pólo Aquático”: forte, agressivo, violento, brigão.

Além desses atributos, a memória e a imagem que os relatos fornecem sobre Szabo estão

bem sintonizados com um tipo de construção tipicamente brasileira: os entrevistados

atribuem a ele traços que estariam associados ao “caráter brasileiro” (mulherengo, fã do

Carnaval e, acima de tudo, alegre), numa tentativa, mesmo que inconsciente, de

nacionalizá-lo. Em outras palavras, a memória do grupo de Pólo Aquático brasileiro

nacionalizou Szabo para poder transformá-lo em um herói local.

Szabo lutou pela vitória, e para isso se distanciava do comportamento dos homens

normais. Ele não é representativo do ser humano comum, está além, apresenta-se como

supra-humano, e por isso tornou-se um mito. Ele representa um ideal de virilidade, força

e poder, o que tem lhe assegurado a perenidade na memória e nos discursos dos membros

do grupo de Pólo Aquático brasileiro.

A permanência desses atributos no imaginário não só deste pequeno grupo, mas da

sociedade como um todo, pode ser verificada através de episódios da telenovela

“Malhação”, da Rede Globo de Televisão, exibidos durante o ano 2000, onde os jogadores

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da equipe de Pólo Aquático de um colégio são retratados como brigões e agressivos, uma

espécie de “bad boys”, termo muito utilizado para descrever os lutadores de jiu-jitsu que

arrumam brigas em boates do Rio de Janeiro somente para exibir suas habilidades de luta.

Mas é possível que esteja ocorrendo uma mudança no comportamento do grupo que

se dedica ao Pólo Aquático, e que o perfil dos jogadores não seja visto como tão

radicalmente agressivo, como anteriormente. No último mundial de esportes aquáticos,

realizado no Japão no ano de 2001, a delegação brasileira de Pólo Aquático foi muito

elogiada pela sua disciplina, como nos contou em entrevista o técnico da seleção, Carlos

Eduardo Carvalho – que, sendo também um ex-atleta, presenciou diversos problemas

disciplinares em outras delegações das quais participou como jogador. Tal mudança de

comportamento encontraria apoio na análise de Elias (1987), para quem a história do

Ocidente vem se mostrando menos tolerante com a violência física, com isso alterando os

costumes da sociedade como um todo.

Como já dissemos anteriormente, a história tem um papel fundamental para

perenizar um dado, assunto ou tema; sem os seus registros muito cai no esquecimento,

principalmente em nosso país, que nunca primou pela preocupação de preservar suas

memórias.

Através de documentos e entrevistas, procuramos transcrever passagens da vida de

Aladar Szabo e reorganizar os fatos para montar o quebra-cabeça que configurou a

proposta de desenvolvimento deste estudo.

Tentar interpretar as narrativas dos entrevistados, confrontá-las entre e si e com

outras evidências, e daí retirar conclusões é uma das tarefas do pesquisador, pois, de

acordo com Veyne (1998),

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“O narrar não deve ser o único objetivo da história o explicar deve ter um papel superior A explicação nada mais é do que a forma como se narra. É uma narrativa organizada e compreensível, porém é necessário a compreensão, pois sem ela a história não é mais história.” (p.92)

Além disso, como sabemos que com o passar do tempo a memória oral vai se

perdendo se não for transformada em história, podemos dizer que este foi também um dos

propósitos do presente estudo: manter viva a história do Pólo Aquático brasileiro.

Aladar Szabo: o ícone do pólo aquático brasileiro.

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ZÉ DE SÃO JANUÁRIO Water polo, Cadáver em decomposição. .JORNAL DOS SPORTS, Rio de Janeiro, ?/?/ 1968.

VEYNE, Paul Marie. Como se escreve a história e Foucault revoluciona a história. Brasília: UNB, 1998.

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ANEXOS

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ANEXO 1

Primórdios do Pólo Aquático Brasileiro

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8. Alguns clubes paulistas: o Espéria, o Tietê e o Paulistano. 9. Alguns clubes cariocas: o Clube de Regatas Vasco da Gama, o Clube de Regatas Botafogo e o Clube de Natação e Regatas, o Clube de Regatas Flamengo.

Anexo 1 Os Primórdios do Pólo Aquático no Brasil

Para falarmos do pólo aquático no Brasil, devemos nos reportar ao que parece ter

sido o esporte-mãe desse: o remo. Antes do futebol assumir o seu papel de esporte número

um do País, o remo era uma paixão nacional. Foram envolvidos com a prática do remo que

surgiram grande parte dos atuais clubes esportivos do eixo Rio-São Paulo.

Segundo a Enciclopédia Barsa (1964), foi Flávio Vieira que introduziu o pólo

aquático no Brasil, provavelmente nos clubes de remo. Os primeiros jogadores de pólo

aquático podem também ter sido de nadadores, até mesmo porque muitos atletas

disputavam tanto competições de remo quanto de natação

Em São Paulo8, as competições de remo eram disputadas no rio Tietê, o que hoje

infelizmente tornou-se impossível devido as más condições do mesmo. Já no Rio de

Janeiro9, as regatas aconteciam na Enseada de Botafogo, que foi sede do primeiro

campeonato brasileiro em 1902 (não oficial).

Quando um esporte está em fase de desenvolvimento, normalmente ele toma outro

mais avançado como modelo. Foi assim no caso do próprio remo, que copiou as

competições de turfe. E provavelmente as competições de pólo aquático obtiveram forte

inspiração no remo, na época o mais desenvolvido esporte que fazia uso do meio aquático.

Com o pólo aquático estando diretamente ligado ao remo, seus praticantes eram a

princípio homens fortes e corpulentos. Segundo José Roberto Haddock Lobo (ex-atleta e

técnico da seleção brasileira de pólo aquático), o fato do pólo aquático ser praticado por

remadores e não por nadadores, pode ter contribuído para tornar o jogo parado e violento.

As regras na época não limitavam o tempo de ataque e os jogadores não podiam se

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locomover quando houvesse uma interrupção (falta), o que tornava a partida extremamente

chata e pouco atrativa para o público.

Inicialmente, no Rio de Janeiro, o pólo aquático foi praticado na praia das Virtudes,

que hoje se encontra aterrada, sendo possível encontrar em seu lugar a Avenida Santa

Luzia (Centro). Segundo José Roberto, quando o pólo aquático lá começou ser praticado,

dividia espaço com o remo, o que também pode ter contribuído para os remadores se

interessarem pelo pólo. Neste local se situavam o Clube de Regatas Vasco da Gama, o

Boqueirão do Passeio, o Clube de Natação e Regatas e o Clube Internacional de Regatas.

De fato, o primeiro jogo de pólo aquático no Rio de Janeiro, disputado pelas

equipes do Clube de Natação e Regatas e do Clube de Regatas do Flamengo, foi realizado

nessas redondezas: na praia de Santa Luzia, por volta de 1908. Para a prática, foi utilizada

uma doca construída para abrigo de pequenos barcos (JORNAL DOS ESPORTES, 1968).

Cada equipe formou com 11 jogadores de cada lado, tal como um jogo de futebol e

provável influência do 'futebol aquático' europeu. Os jogadores usavam camisas com as

cores dos clubes e jogavam sem gorro.

Mais tarde os jogos passaram a ser realizados no varandim de remo na praia de

Botafogo. Os jogadores continuavam a utilizar camisas, por ser considerado inadequado,

falta de respeito e decoro para com as famílias, homens se exibindo de tronco nu.

Lembremos que somente no quartel final do século XIX os esportes aquáticos começaram

a se desenvolver exatamente devido a tal imposição estética. Para a época, tal indumentária

era um avanço significativo e ninguém pensava que futuramente mulheres e homens

desfilariam pelas praias ainda mais nus. Vale também ressaltar que em todos os jogos a

quantidade de camisas rasgadas era enorme, devido ao contato físico natural do jogo, ainda

mais naquele momento.

Relativamente rápido se desenvolveu o pólo aquático. Além dos clubes já citados,

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podemos lembrar do Clube Guanabara e do Botafogo Futebol e Regatas, da Zona Sul da

cidade, e do Icaraí, do Gragoatá e do Esporte Clube Fluminense, originários de Niteroí.

Logo os torneios seriam divididos em primeira e segunda divisão.

Durante muitos anos vigorou tal forma de torneio, no qual participaram: Clube de

Regatas Vasco da Gama, Clube Boqueirão do Passeio, Clube de Natação e Regatas, Clube

Internacional de Regatas, Clube São Cristovão e Regatas, Clube de Regatas do Flamengo,

Clube de Regatas Botafogo, Niterói, Gragoatá e Icaraí.

A competição permaneceu sendo realizada no mar até 1930, quando o Fluminense

filiou-se a Federação. Mesmo sem possuir um time de pólo aquático, este clube foi

obrigado a ceder sua piscina para as competições de pólo, que entrava então em uma nova

fase.

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ANEXO 2

Resultados de Competições: Jogos Olímpicos – Campeonatos Mundiais – Copa F.I.N.A –Pan-Americanos – Sul –Americanos – Campeonatos Cariocas

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Anexo 2

Competições de Pólo Aquático -Resultados

Jogos Olímpicos

* 1900 - PARIS

Apenas três nações participaram, embora no total seis times tenham disputado o

torneio. A Inglaterra conquistou a primeira medalha de ouro.Charles Smith foi a grende

revelação.

* 1904 - SANT-LOUIS

Somente os Estados Unidos participaram desta competição. Devido a distância da

Europa, berço do pólo aquático, e às precárias formas de transporte outras nações não

compareceram. Competiram três clubes e o pólo aquático foi considerado como esporte de

demonstração.

* 1908 - LONDRES

Seis nações participaram, todas da Europa: Áustria, Holanda, Hungria, Suécia,

Bélgica e Inglaterra, que mais uma vez levou a medalha de ouro.

* 1912 - ESTOCOLMO

Participaram seis times. Nesses Jogos, pela primeira vez a França participou. A

Inglaterra novamente leva a medalha de ouro.

* 1920 - ANTUÉRPIA

Recorde de participações olímpicas até então: doze times originários de dois

continentes (América e Europa). Foi a primeira participação do Brasil, que obteve o sexto

lugar. Foi a última medalha de ouro que a Inglaterra conquistou.

* 1924 - PARIS

Treze equipes participaram. Medalha de ouro para a França, prata para a Bélgica e

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bronze para os Estados Unidos.

* 1928 - AMSTERDAM

Catorze equipes participantes e medalha de ouro para a Alemanha.

*1932 - LOS ANGELES

Mais uma vez as dificuldades de transporte dificultam e reduzem a participação de

equipes: apenas cinco, sendo somente duas nações européias (Hungria e Alemanha). As

outras equipes que participaram foram Estados Unidos, Japão e Brasil. A Hungria se

sagrou campeã. A equipe brasileira foi desclassificada no segundo jogo, contra a

Alemanha, por agressão Árbitro Húngaro Bela Kamjadi.

* 1936 - BERLIM

Participaram dezesseis equipes. A Hungria conquista mais uma vez a medalha de

ouro.

* 1948 - LONDRES

Após a guerra, os Jogos retomam sua continuidade. A competição de pólo aquático

conta com a participação de dezoito equipes, sagrando-se campeã a Itália.

* 1952 - HELSINKI

Vinte e uma equipes participaram. Hungria retoma a liderança e conquista mais

uma medalha de ouro. Brasil participa novamente, mas não chega a se classificar para

segunda fase.

* 1956 - MELBOURNE

Hungria leva novamente a medalha de ouro, após vencer a Iugoslávia.

* 1960 - ROMA

Com dezesseis participantes, a Itália sagra-se campeã mais uma vez. Embora com

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destaque para o atleta para Marvio Kelly, o Brasil é novamente eliminado nos momentos

iniciais da competição.

* 1964 - TÓQUIO

Treze participantes e nova medalha de ouro para a Hungria é campeã. Outra

participação da equipe brasileira.

* 1968 - MÉXICO

Após perder a final para a Hungria em 1964, a Iugoslávia finalmente conquista sua

primeira medalha de ouro. Brasil é eliminado pela URSS, que ficou com a medalha de

prata.

* 1972 - MUNIQUE

Contando com a participação de seis equipes, a URSS leva sua primeira medalha de

ouro, numa disputada final com a premiada Hungria.

* 1976 - MONTREAL

Doze equipes e a Hungria volta a ser campeã.

* 1980 - MOSCOU

Boicote de alguns países do bloco capitalista. Doze equipes participaram, obtendo a

URSS sua segunda medalha de ouro.

* 1984 - LOS ANGELES

Como nos dois últimos Jogos, doze equipes participaram. Com o boicote dos países

do bloco socialista, o Brasil entra numa das vagas deixadas pela URSS, Hungria, Romênia

e Cuba.

* 1988 - SEOUL

Mais uma vez participaram 12 equipes. A Iugoslávia é novamente campeã.

* 1992 - BARCELONA

12 equipes participando e a Itália conquistou a medalha de ouro.

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* 1996 - ATLANTA

Após perder a competição em casa, a Espanha vence e se sagra pela primeira vez

campeã.

* 2000 - SIDNEY

A Hungria conquista sua sétima medalha de ouro.

Campeonato Mundial

* 1973 - Belgrado - Iugoslávia Primeiro- Hungria Segundo - URSS Terceiro - Iugoslávia

* 1975 - Cali - Colômbia Primeiro - URSS Segundo - Hungria Terceiro - Itália

* 1978 - Berlim - Alemanha Primeiro -Itália Segundo - Hungria Terceiro - Iugoslávia

* 1982 - Guayaquil - Equador Primeiro - URSS Segundo - Hungria Terceiro - Alemanha

* 1986 - Madrid - Espanha Primeiro- Iugoslávia Segundo-Itália Terceiro- URSS

* 1990 - Perth - Austrália Primeiro - Iugoslávia Segundo - Espanha Terceiro - Hungria

* 1994 - Roma - Itália Primeiro-Itália Segundo- Espanha Terceiro- Rússia

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* 1998 - Perth - Austrália Primeiro - Espanha Segundo - Hungria Terceiro – Iugoslávia

*2001- Fukuoka – Japão Primeiro - Espanha Segundo - Iugoslávia Terceiro –Russia

Copa F.I.N.A

* 1979 - Rijek - Iugoslávia Primeiro - Hungria Segundo - Estados Unidos Terceiro - Iugoslávia

* 1981 - Long Beach - Estados Unidos Primeiro - URSS Segundo - Iugoslávia Terceiro - Cuba

* 1983 - Malibu - Estados Unidos Primeiro - URSS Segundo - Alemanha Terceiro - Itália

* 1985 - Duisburg - Alemanha Primeiro - Alemanha Segundo - Estados Unidos Terceiro - Espanha

* 1987 - Thessaloniki - Grécia Primeiro - Iugoslávia Segundo - URSS Terceiro - Alemanha

* 1989 - Berlim - Alemanha Primeiro - Iugoslávia Segundo - Itália Terceiro - Hungria

* 1991 - Barcelona - Espanha Primeiro - Estados Unidos Segundo - Iugoslávia Terceiro - Espanha

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* 1993 - Athenas - Grécia Primeiro - Itália Segundo - Hungria Terceiro - Austrália

* 1995 - Atlanta - Estados Unidos Primeiro - Hungria Segundo - Itália Terceiro - Rússia

* 1997 - Athenas - Grécia Primeiro - Estados Unidos Segundo - Grécia Terceiro – Hungria

*1999 – Sidney Primeiro – Hungria Segundo – Itália Terceiro - Espanha

Campeonato Pan-Americano

* 1951 - Buenos Aires Primeiro - Argentina Segundo - Brasil Terceiro - Estados Unidos

* 1955 - Cidade do México Primeiro - Argentina Segundo - Estados Unidos Terceiro - Brasil

* 1959 - Chicago Primeiro - EUA Segundo - Argentina Terceiro - Brasil

* 1963 - São Paulo Primeiro - Brasil Segundo - Estados Unidos Terceiro - Argentina

* 1967 - Winnipeg Primeiro - Estados Unidos Segundo - Brasil Terceiro - México

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* 1971 -Cali Primeiro - Estados Unidos Segundo - Cuba Terceiro - México

* 1975 - Cidade do México Primeiro - México Segundo - Estados Unidos Terceiro - Cuba

* 1979 - San Juan Primeiro - Estados Unidos Segundo – Cuba Terceiro - Canada

* 1983 - Caracas Primeiro - Estados Unidos Segundo - Cuba Terceiro - Canada

* 1987 - Indianapolis Primeiro - Estados Unidos Segundo - Cuba Terceiro - Brasil

* 1991 - Havana Primeiro - Cuba Segundo - Estados Unidos Terceiro - Brasil

* 1995 - Buenos Aires-Primeiro - Estados Unidos Segundo - Brasil Terceiro – Cuba

*1999- Winnipeg Primeiro – EUA Segundo – Cuba Terceiro - Canada

Campeonato Sul-Americano

* 1929 - Uruguai * 1934 - Argentina * 1935 - Brasil * 1937/1938 - Uruguai * 1946 -Brasil * 1947 - Argentina * 1949 - Uruguai * 1952 - Argentina

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* 1954 - Brasil * 1956 - Argentina * 1958 - Brasil e Argentina * 1960 - Argentina * 1962/1963/1965/1972/1974/1976/1978/1980 - Brasil * 1982 - Colômbia * 1984/1986/1988 - Brasil * 1990 - Colômbia * 1992/1994/1996/1998/2000 - Brasil Observ. 1 - não conseguimos registros dos campeonatos de 1967, 1968 e 1970 Observ. 2 - Fontes: Ministério da Educação e Cultura, jornal O Globo, Jornal dos Sports

Campeonato Carioca - resultados (1953-2001)

* De 1953 até 1962 - Fluminense * 1963 - Botafogo * 1964 - Fluminense * 1965/ 1966 - Botafogo * 1967 - Fluminense * 1968 - Fluminense * de 1969/1970/1971 - Guanabara * De 1972 até 1978 - Fluminense * 1979 - Gama Filho * 1980- Botafogo * 1981 - Gama Filho * 1982/1983 - Botafogo * 1984 - Fluminense * De 1985 até 1993 - Flamengo * 1994 - Guanabara *1995/1996 - Botafogo * 1997/1998/1999 - Fluminense * 2000 – Vasco * 2001-Fluminense * 2002 – Guanabara * 2003 – Fluminense * 2004 -Fluminense Fontes: , Federação de Desportos Aquáticos do Rio de Janeiro, depoimento de ex-atletas e atletas.

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ANEXO 3

Reportagens

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