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Identidades culturais: do global ao local Veneza Mayora Ronsini 1 Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas / E o falso inglês relapso dos surfistas / Sejamos imperialistas / Vamos na velô da dicção choo choo de Carmem Miranda / E que o Chico Buarque de Holanda nos resgate (...) Ouçamos com atenção os deles e os delas da TV Globo / Sejamos o lobo do lobo do Homem (...). Caetano Veloso, Língua, LP Velô,1985 Introdução Propomos discutir algumas premissas teórico-metodológicas que amparem o es- tudo das identidades culturais juvenis – constituídas com os recursos provenientes de esferas transnacionais, nacionais e lo- cais –, tendo como base a relação entre estilos, classes sociais e mídia. O problema de pesquisa 2 indaga sobre as transformações da experiência e dos modos de representação dos jovens, devido à fragilidade do referente de Nação, bem como da força dos mercados em nivelar todas as distinções sob a égide do consumo. 3 A metodologia que estamos desenvolven- do combina a etnografia com o método das configurações exposto por Elias, na tentativa de apreender o caráter processual (histórico), político, contrastivo e circunstancial das identidades, visto que o entendimento delas depende do exame: das macroestruturas a partir das quais sujeitos e grupos se movem e da particularidade dos fenômenos sociais. A metodologia de Elias está em sintonia com uma teoria sociológica comprometida em superar o dogma herdado das Ciências Fí- sicas, segundo o qual “o conjunto das uni- dades de observação deve explicar-se com a ajuda de medições, a partir do comporta- mento dos componentes individuais do con- junto” e, ainda, em superar a visão do conjunto sem indivíduos. 4 Parece-nos também que o método das configurações, ao enfatizar as relações entre os agentes, adapta-se ao exame do campo ou espaço social, conforme o conceito de Bourdieu 5 , no qual os agentes e grupos de agentes são definidos pelas posições ocupa- das (classes) neste espaço, constituídas, por sua vez, pelo conjunto de forças ou campos nele atuantes. Os campos são agregados de acordo com a distribuição de espécies de capital ou de poderes, sejam eles econômico, cultural, social e simbólico (geralmente chamado de prestígio, reputação, fama). As posições dos agentes não estão res- tritas ao lugar ocupado nas relações de produção, de modo que as diferenças sociais dependem de uma articulação entre as es- pécies de capital. Se o que existe é um espaço de relações, existem classes prováveis, um conjunto de agentes que, potencialmente, poderão se mobilizar politicamente pelas compatibilidades, proximidades e interesses comuns. 6 Conseqüentemente, o que buscamos relacionar no estudo das identidades é a re- presentação que os agentes têm do mundo social, a visão de sua própria posição nesse mundo e a forma como esses dois tipos de representações interferem na constituição de estilos ou movimentos culturais. A ênfase deste texto é indagar de que forma a amplitude conceitual e contextual exigida pelo tema das identidades contemporâneas pode ser estruturada na pesquisa empírica. Em primeiro lugar, apresentamos uma problematização da noção de identidade e dos desafios que o contexto da globalização coloca para estudá-la; em segundo lugar, elaboramos um esboço de uma proposta teórico- metodológica que tenta lidar com as conexões culturais e políticas entre o global e o local. Cultura e identidades O conceito de identidade coletiva é pouco desenvolvido nas Ciências Sociais e bastante

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121TEORIAS DA COMUNICAÇÃO

Identidades culturais: do global ao localVeneza Mayora Ronsini1

Vamos atentar para a sintaxe dospaulistas / E o falso inglês relapsodos surfistas / Sejamos imperialistas/ Vamos na velô da dicção choo choode Carmem Miranda / E que o ChicoBuarque de Holanda nos resgate (...)Ouçamos com atenção os deles e osdelas da TV Globo / Sejamos o lobodo lobo do Homem (...).Caetano Veloso, Língua, LP Velô,1985

Introdução

Propomos discutir algumas premissasteórico-metodológicas que amparem o es-tudo das identidades culturais juvenis –constituídas com os recursos provenientesde esferas transnacionais, nacionais e lo-cais –, tendo como base a relação entreestilos, classes sociais e mídia. O problemade pesquisa2 indaga sobre as transformaçõesda experiência e dos modos de representaçãodos jovens, devido à fragilidade do referentede Nação, bem como da força dos mercadosem nivelar todas as distinções sob a égidedo consumo.3

A metodologia que estamos desenvolven-do combina a etnografia com o método dasconfigurações exposto por Elias, na tentativade apreender o caráter processual (histórico),político, contrastivo e circunstancial dasidentidades, visto que o entendimento delasdepende do exame: das macroestruturas apartir das quais sujeitos e grupos se moveme da particularidade dos fenômenos sociais.A metodologia de Elias está em sintonia comuma teoria sociológica comprometida emsuperar o dogma herdado das Ciências Fí-sicas, segundo o qual “o conjunto das uni-dades de observação deve explicar-se coma ajuda de medições, a partir do comporta-mento dos componentes individuais do con-junto” e, ainda, em superar a visão doconjunto sem indivíduos.4

Parece-nos também que o método dasconfigurações, ao enfatizar as relações entreos agentes, adapta-se ao exame do campoou espaço social, conforme o conceito deBourdieu5, no qual os agentes e grupos deagentes são definidos pelas posições ocupa-das (classes) neste espaço, constituídas, porsua vez, pelo conjunto de forças ou camposnele atuantes. Os campos são agregados deacordo com a distribuição de espécies decapital ou de poderes, sejam eles econômico,cultural, social e simbólico (geralmentechamado de prestígio, reputação, fama).

As posições dos agentes não estão res-tritas ao lugar ocupado nas relações deprodução, de modo que as diferenças sociaisdependem de uma articulação entre as es-pécies de capital. Se o que existe é um espaçode relações, existem classes prováveis, umconjunto de agentes que, potencialmente,poderão se mobilizar politicamente pelascompatibilidades, proximidades e interessescomuns.6 Conseqüentemente, o que buscamosrelacionar no estudo das identidades é a re-presentação que os agentes têm do mundosocial, a visão de sua própria posição nessemundo e a forma como esses dois tipos derepresentações interferem na constituição deestilos ou movimentos culturais.

A ênfase deste texto é indagar de que formaa amplitude conceitual e contextual exigidapelo tema das identidades contemporâneaspode ser estruturada na pesquisa empírica. Emprimeiro lugar, apresentamos umaproblematização da noção de identidade e dosdesafios que o contexto da globalização colocapara estudá-la; em segundo lugar, elaboramosum esboço de uma proposta teórico-metodológica que tenta lidar com as conexõesculturais e políticas entre o global e o local.

Cultura e identidades

O conceito de identidade coletiva é poucodesenvolvido nas Ciências Sociais e bastante

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complexo para ser trabalhado na pesquisaempírica. Há entre ou autores uma oscilaçãoentre falar de identidades sociais7 e de iden-tidades culturais8 ou simplesmente usar asnoções gerais de cultura9 e de identidade.Uma relação provisória entre as noções sugereque a cultura organiza as identidades e asidentidades organizam os significados. Usa-remos, então, o vocábulo identidade paranomear os processos simbólicos depertencimento a referentes variados comocultura, nação, classe, grupo étnico ou gê-nero. Tais referentes dizem respeito a aspec-tos objetivos como posição do sujeito naestrutura social e a aspectos subjetivos oudiscursivos que os atores utilizam para in-cluírem-se/excluírem-se na estrutura social.Vale dizer, a categoria identidade deve res-ponder às seguintes perguntas: quem os atoressão? quem eles crêem que são? que imagemtêm socialmente? quem eles querem ser?10

Assim, a identidade é um processo defazer-se, individualmente e coletivamente, naexperiência social com os repertórios dispo-níveis ou desejados que são confrontados ouabandonados de acordo com a circunstânciae a conveniência. As quatro característicasda concepção – política, contrastiva, circuns-tancial e discursiva – dão conta do seu modode operar. Em primeiro lugar, entende-se queos processos sociais envolvidos na formaçãoe manutenção da identidade são determina-dos pela estrutura social11, de forma quequanto mais subalterno é o grupo, maior adificuldade em legitimar ou expressar suaidentidade. Em segundo lugar, a identidadenão pode ser definida em termos absolutos,mas pela relação constrastiva com outrosgrupos, a definição de um “nós” implica ocontraste com “outros”. Em terceiro lugar,ela é utilizada pelo grupo ou pelo indivíduonas relações sociais de modo a preservarcertos interesses em jogo. Em quarto lugar,ela envolve um conjunto de representaçõescoletivas12, ideologias13 e estigmas que sãonarrados e imaginados.

Portanto, para pensar a identidade desegmentos juvenis, que fazem parte de es-tilos como punk e hip-hop e vivem emsituação de subalternidade, é necessária acomparação com outros jovens que têm umacondição socioeconômica favorável na estru-tura social. A constituição dos estilos obe-

dece a algumas demandas e interesses espe-cíficos de classe e são incorporações dereferentes internacionalizados que se adap-tam à experiência própria de uma geraçãoque os mescla com uma tradição culturalbrasileira (no campo da música, dos valores,etc.). O que significa situar esses jovens emuma cultura-mundo que se realiza “localmen-te”. Veremos, então, como articular os pro-cessos identitários que envolvemcoletividades nacionais, a estrutura social ea produção e o consumo midiáticos.

Se, por um lado, o Estado-Nação temdificuldades para preservar as identidadesnacionais e para unificar hierarquicamente asdiferenças de classe, pois no mundoglobalizado as matrizes locais, nacionais eglobais se articulariam pelo alto;14 por outro,o papel das classes pode justamente adquirirmaior importância na conformação das iden-tidades, sobretudo na América Latina comuma sociedade civil pouco organizada e comlimites entre as classes muito demarcados.

Dos debates teóricos latino-americanosem torno da cultura contemporânea, especi-ficamente aqueles que têm como foco aremodelagem das identidades pelos proces-sos comunicacionais, interessa-nos reter delesdois aspectos para a elaboração dos métodosde investigação: o da heterogeneidade pro-movida pela globalização e o caráter híbridodas culturas.

Em primeiro lugar, os prognósticos dasubordinação cultural a culturas internacio-nalizadas não se efetivaram. Durante os anos1980, as séries norte-americanas, que antesdominavam a programação dos canais lati-no-americanos de tevê, passam a disputarespaço com a telenovela nacional em paísescomo México, Venezuela, Colômbia, Brasile Argentina e, na década seguinte, tambémno Chile e Peru.15 Além da nacionalização,especialmente no Brasil, México e Venezuela,os meios de comunicação passaram da de-fesa do nacional-popular para a exportaçãode um modo de produção midiático que Ortizdenomina de internacional-popular, que temcomo correlato, no campo do consumo, amemória internacional-popular:

“Afirmar a existência de uma memó-ria internacional-popular é reconhecerque no interior da sociedade de consu-

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mo são forjadas referências culturaismundializadas. Os personagens, situ-ações, veiculadas pela publicidade,histórias em quadrinhos, televisão,cinema constituem-se em substratosdesta memória. Nela se inscrevem aslembranças de todos”.16

No caso da produção de um dos gênerosmais rentáveis do mercado midiático brasi-leiro, a telenovela, vemos que ela absorveas referências internacionalizadas na própriatrama, introjetando o marketing na narrativa,de forma que atores ou cenários estrangeirospossam colaborar na venda e na circulaçãoda dramaturgia televisiva no exterior. Nestenovo século, em que se discute no Brasil aentrada de capital estrangeiro nas empresasde jornalismo e de mídia eletrônica, umapreocupação constante é manter o índice atualde nacionalização da produção que gira emtorno de 65%. Nacionalização antropofágicaque devora capitais simbólicos originários deoutros territórios para narrar e exportar a“identidade brasileira”.

No campo do consumo, observa-se queos repertórios locais em grandes cidades comoSão Paulo, Buenos Aires e Cidade do México,provenientes das artes cultas ou das popu-lares, hibridizam-se cada vez mais comrepertórios internacionalizados, ao mesmotempo que a informação e o entretenimentoprocedem de um sistema internacional deprodução cultural.17

Quanto ao caráter híbrido das culturas,ele se refere tanto à mescla – no campo daprodução e do consumo cultural – entreelementos de diferentes procedências geográ-ficas, quanto ao intercâmbio entrehegemônico e subalterno ou culto, populare massivo. Neste sentido, García Canclini18

afirma que o híbrido pode surgir da incor-poração do dominante, da negociação ou daresistência frente ao dominante.

Deste modo, qualquer investigação sobreas relações entre identidades e mídia neces-sita articular a experiência vivida (local) emdiferentes classes sociais com esferas dacultura provenientes de valores, estilos devida, ideologias transnacionais, nacionais eregionais ou, em outras palavras, com ohibridismo cultural contemporâneo. Já sabe-mos que hibridismo é uma forma de sobre-

vivência das culturas no estágio atual docapitalismo, mas sobreviver na AméricaLatina pode significar não só o triunfo dasmesclas que somos capazes como tambémdas transformações ditadas pelo poder, dadoque as escolhas no campo da cultura sãoefetuadas sob condições que a maioria doshomens não podem escolher.19

Segundo Darci Ribeiro20 estaria havendouma deculturação das populações urbanas noBrasil tão dramática a ponto das instituiçõestradicionais estarem perdendo seu poder decontrole. A escola não ensina, a igreja nãocatequiza, os partidos não politizam. Enquan-to isso, os meios de comunicação impõe-lhespadrões de consumo inatingíveis e elas,eventualmente, se associam no Carnaval ecerimônias de candomblé ou nas paixões pelotime de futebol. Vale dizer que poucas re-ferências de brasilidade ainda são capazes dereuni-las.

Para os jovens brasileiros, entretanto, aspráticas e representações que o Brasil pro-duziu como comunidade imaginada (samba,carnaval e futebol) perdem a força e elestendem a compor uma “cultura sem memóriaterritorial”21 – que agrega o gosto por músicasinternacionalizadas, festas e eventos tipica-mente juvenis, modalidades esportivas comoo skate, etc. –, convertida em moeda sim-bólica nas relações sociais.

Diante da corrosão do espaço público, dodesinteresse na participação política em sin-dicatos ou partidos e da crescente dificul-dade das trocas comunicativas, é precisoinvestigar se as nossas redes de sociabilidadedireta ainda contam muito como afirmamSantos22 e Ford23, pois a ordem do poder seexerce hoje pela corrosão dos laços que uniamgrupos e classes às formas associativasinstitucionalizadas, convertendo a todos emconsumidores.

Os métodos e as categorias

O método das configurações, preocupa-ção constante na obra do sociólogo NorbertElias, comporta dois níveis articulados deestruturas de poder (aquelas situadas nasrelações entre os Estados e aquelas quemodelam o interior das sociedades nacionais),os quais formam uma configuração socialcompleta.24 Está baseado na negação do

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pressuposto de que os fenômenos sociaisseriam combinações de variáveis, pois lhe éestranha a idéia de que os indivíduos devemprimeiro serem estudados isoladamente e deque as configurações que compõem entre siderivam do que eles são sem elas. Em outraspalavras, seus elementos só podem ser des-critos em suas propriedades pela posição efunção que têm em uma configuração dada.Nas pesquisas sociológicas, o modelo pos-sibilita a construção de modelos de grandee pequena escala, a criação, desenvolvimen-to e revisão de hipóteses e teorias.25 Nestesentido, o modelo de Elias pode ser útil naspesquisas dos usos sociais dos meios decomunicação que enfrentam o desafio dearticular o global e local dos processoscomunicacionais, bem como de superaraspectos já tão criticados do funcionalismoque enfatiza a atividade dos receptores foradas estruturas de poder e do estruturalismoque trata as estruturas como esquemas semindivíduos.

Outro aspecto do modelo a ser ressaltadoé que as explicações mais amplas que po-demos obter são decorrentes do estudo dosobjetos como partes de um movimento tem-poral, o que permite trabalhar com sociedadee cultura – que para ele são fenômenosdiferenciáveis, mas inseparáveis–– comocategorias processuais. As vantagens dessaabordagem são óbvias: ela impede que oconceito de estrutura social seja percebidocomo algo fixo, como uma estrutura perma-nente pois incorpora o movimento das es-truturas no tempo.

Retomando a questão de que os proces-sos midiáticos são hoje determinados porrelações transnacionais, pretendemos abarcaros usos sociais das velhas e novas tecnolo-gias da informação/comunicação por inter-médio da combinação de dois níveis deprocessos: o nível relativo a processos quepossuem um elevado grau de autonomia ecapacidade de auto-regulação (organização docampo social, político, econômico e culturalem termos globais); aquele relativo a pro-cessos parciais intimamente entrelaçados ecujas partes constituintes são tãointerdependentes que não podem ser sepa-radas do conjunto (organização espacial etemporal do cotidiano das classes). Significatomar grupos de indivíduos no interior das

classes sociais como unidades parciais daunidade total que é o Estado-Nação – comoentidade política que determina parcialmentea constituição de sua estrutura interna emfunção da sua dependência dos processoscapitalistas globalizados.

A partir daí, quais as relações que es-tabelecemos com a mídia? O espaço tornadoúnico à medida que os lugares se globalizame o tempo do eterno presente (contrapostocom o passado sempre descartado como algoultrapassado), que se apresentam na mídiacomo coisas nas quais podemos nos inserir,choca-se com espaços e tempos vividos emsociedades fraturadas por barreiras de classe.Nossa tentativa é, então, relacionar sujeitoe estrutura social para o entendimento dopapel cultural dos meios de comunicação emreproduzir as relações sociais de poder ou,mesmo permitir que esses sujeitos imaginemnovas formas de articular essas relações. Ocaminho que escolhemos foi o de pensar asmediações no interior de classes distintas,delimitando o objeto empírico ao estudocomparativo do consumo cultural de gruposjuvenis, organizados em estilos baseados naprodução e no consumo musical.

Por cotidianidade entendemos a organi-zação espacial e temporal do cotidiano emdiferentes classes sociais, isto é, o locus dasociabilidade, onde a maior ou menor auto-nomia dos agentes nesta organização definemaior ou menor poder político; por compe-tência cultural, as formas de pensar, sentir,agir, valorar e representar a experiência socialque se conformam pela memória, etnia,gêneros, culturas regionais, nacionais,transnacionais.

O consumo cultural midiático participada organização da cotidianidade e da con-formação da competência cultural. Atemporalidade subalterna26 é aquela impos-sibilitada de usar plenamente o potencialoferecido pelos meios técnicos de informa-ção, assim como podemos afirmar que aespacialidade subalterna é aquela que nãoconsegue inserir-se ou deslocar-se nas redesdos fluxos informativos, por falta de acessoou de competência cultural.

Desse uso diferenciado do tempo e doespaço globalizado resulta, por um lado, oaumento das convergências entre classes depessoas mundializadas e divergências entre

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classes de pessoas não-mundializadas.Concomitantemente, há uma unificação dastemporalidades entre gerações pela apropri-ação de sistemas de objetos e de formas decomportamento considerados como sistemasmodernos. A mídia alimenta tanto a conver-gência como a divergência entre gruposdistintos, mas seu poder hegemônico resideem unificar segmentando ou, compor umrelato em que todas as segmentações podemser incluídas no fluxo do consumo.

Essa segmentação dos públicos e degerações pelas necessidades intrínsecas dosmercados poderá criar entre as pessoas umavisão de mundo compartimental ao reforçaruma idéia de incomunicabilidade entre dife-rentes segmentos sociais, sejam eles basea-dos em classes, idades, gênero, etnia, etc.Quando tomamos a classe como quadro dereferência segundo o qual o indivíduo repre-senta o mundo e a si mesmo, supõe-se queno fluxo unificado do espaço-tempo globalhaja maneiras diferenciadas de viver e re-presentar o espaço-tempo cotidianos. É as-sim, por exemplo, que a temporalidade socialé a forma que o indivíduo imprime ao ritmodas atividades diárias e seu modo de avaliaras mudanças no seu modo de pensar, de secomportar e de atribuir valor às experiênciasem relação ao modo de fazê-lo das geraçõesanteriores. Da avaliação destas mudançasdepende o nível de integração ou de iden-tificação dos indivíduos com as classes aosquais pertencem e com outros níveis deimaginários compartilhados.

A categoria de competência culturalexposta por Martín-Barbero27 é uma ampli-ação do conceito que aparece em Bourdieupara nomear o conhecimento de códigosespecíficos de uma dada forma cultural,adquirido na família e na escola, e que estáassociado a padrões de consumo cultural, istoé, à natureza dos bens consumidos e ao modode consumi-los.28 Ela reúne inúmeras medi-ações como educação formal, etnias, culturasregionais, locais, híbridos culturais, memóriae imaginários. Na teoria da reprodução deBourdieu, a competência cultural decorre ouestá relacionada com ohabitus,29 – encaradocomo a internalização das distinções objetivasde classe que se materializa em disposições

e atitudes atinentes à cultura e em habilida-des para utilizar objetos e práticas culturais.30

Como conseqüência, argumenta que osestilos de vida se constituem através dascompetências dadas pelo habitus, ou seja, dacapacidade de produzir práticas e produtosculturais e da capacidade de diferenciá-lase apreciá-las. Por ora, é importante reter quea competência exigida para campos menoslegitimados (que menos distância marcamentre as classes), como o são os meios decomunicação mais populares – rádio e tele-visão –, depende menos do capital escolare mais da trajetória social ou do capitaleconômico.31

O entendimento do papel das novas tec-nologias na constituição das identidades con-temporâneas é um desafio que só pode serempreendido no âmbito das relações sociaise culturais (ou das mediações). E se os meiosde comunicação configuram hoje, o disposi-tivo mais poderoso de dissolução de umhorizonte cultural nacional comum, passandoa constitui-se em mediadores da heterogêneatrama de imaginários,32 podemos indagar seas diferentes classes sociais, enclausuradas emcampos distantes uns dos outros, estão bus-cando no imaginário internacional uma formade integração com a Nação.

Na observação das demandas dos estiloship-hop e punk, vê-se que reivindicam seusdireitos de cidadãos identificando-se comjovens na mesma condição subalterna, dequalquer outro país. De alguma forma, avalorização que procuram não está no Brasil,porque, afinal, o país que almejam lhes pareceum projeto que ninguém está disposto a pôrem prática. É, portanto, na imbricação entreespaço/tempo cotidianos e competência cul-tural que poderemos compreender o uso socialdos meios de comunicação na constituiçãodas identidades híbridas do mundoglobalizado.

Palavras finais

A pintura eletrônica da Nação realizadapela televisão brasileira é a reprodução damitologia verde-amarela, construída paraoferecer a ilusão do pertencimento a umacomunidade.

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126 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume II

“A mitologia verde-amarela foi ela-borada ao longo dos anos pela classedominante brasileira para servir-lhe desuporte e de auto-imagem celebrativa,enfatizando o lado ‘bom selvagemtropical’ que constituiria o caráternacional brasileiro na perspectiva dasoligarquias agrárias, embevecidas como mito do brasileiro cordial, ordeiroe pacífico. A essa mitologia veioincorporar-se, a partir dos anos 50, ado Desenvolvimentismo, (...)prevalencendo, agora, a auto-imagemda burguesia industrial (...). Dessamaneira, o ‘bom selvagem’ - definin-do a alma brasileira - e o progressoindustrial - definindo o trabalho das‘forças vivas da Nação’, como dizemos discursos oficiais - oferecem àsociedade uma mitologia bifronte queconserva o passado bondoso epaternalista e promete um futuro degrandezas sem igual”.33

Entretanto, grande parte dos grupos ouestão precariamente representados, em fun-ção dos interesses econômicos e políticos quesustentam e modelam este meio, ou estãoausentes da tela. Por outro lado, o sentimen-to de brasilidade não advirá somente com apermanência de uma produção televisiva na-cionalizada, com espaço para a diversidadecultural e, ainda, para alusões positivas àpopulação de baixa renda, de forma quepessoas e grupos possam se reconhecer comobrasileiros. Os jovens entrevistados, porexemplo, reclamam da persistente associaçãoda cultura popular com o mau gosto e dosatores subalternos com temas negativos comocriminalidade e drogas. Este sentimentodepende também de uma inclusão socialefetiva das classes menos favorecidas.

Se as contradições do modo de reprodu-ção dos segmentos dominantes não permi-tem que todos realizem seu destino naocupação de posições de poder,34 as contra-dições do modo de reprodução dos segmen-tos dominados são ainda mais dramáticas emfunção da insegurança total e da ausência deperspectivas a que estão submetidos. Osgrupos juvenis subalternos não consegueminserir-se satisfatoriamente no mercado detrabalho: vivem a constante ameaça do

desemprego, “optam” pelo trabalho informalou encontram dificuldade de seguir as car-reiras típicas de classe média baixa queexigem certo nível de instrução como, porexemplo, militares de baixa patente, traba-lhadores qualificados na indústria, etc. Numasituação como esta, dificilmente o dominadoacreditará na legitimidade do poder dodominante que se sustenta em estratégias quese estendem da utilização da pura força35 aoconsenso baseado nas representaçõesmidiáticas.

Para os jovens humildes a saída dessaatmosfera sufocante tem sido a reformulaçãode suas culturas, sejam elas tradicionais(como as de origem negra) ou não. O sambade raiz não é mais suficiente para os hip-hoppers que inventaram o–samba-rap, poisjá foi incorporado pelo Estado-Nação; o poprock é tido como lixo cultural para os punks,por sua submissão aos interessesmercadológicos da mídia. É no consumointernacionalizado que eles encontram amatriz para o discurso de combate ao “siste-ma opressor”.

Isto significa que o apagamento dasmarcas dos agentes da produção e do con-sumo cultural é um modo de exercer ahegemonia, tendo eles que procurar outrosmodos de diferenciação perante o dominan-te. Sabe-se que o modelo hegemônico ab-sorve as diferenças, explorando as semelhan-ças superficiais, para nos convencer quesomos parecidos.36 É justamente nesse con-texto, no qual esses modos de diferenciaçãoenvolvem imaginários nacionais, tradicionais,locais, que emergem “novos modos de re-presentação e participação política, quer dizer,novas modalidades de cidadania” que sub-vertem a rentabilização das narrativasidentitárias operada pelos meios de comuni-cação tecnológicos.37

Percebe-se que a recomposição das cul-turas juvenis não pode ser vista simplesmen-te como incorporação acrítica dotransnacional, porque no uso da língua in-glesa, das roupas, da música e das atitudespode estar embutido um modo de pensar oBrasil. Desde o final da década de 1950, astrajetórias e arranjos estéticos de movimen-tos culturais baseados na música como aBossa Nova (fusão do samba com o jazz)e o Tropicalismo (mistura de rock nacional,

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música pop e a canção brasileira anterior àBossa Nova) confirmam que a assimilação deestrangeirismos não é necessariamente danosa.No primeiro caso, com a vertente da cançãode protesto, a assimilação significou oengajamento nos debates nacionais; no segun-do caso, a crítica mordaz e irônica às desi-gualdades do país.38 Entendemos que o mo-vimento hip-hop ou as bandas de música punk,que circulam no underground, realizam, hoje,crítica semelhante, mesmo que com estéticascompletamente diversas das anteriores.

Paralelamente ao aprofundamento dasexclusões pela globalização, os grupos su-balternos mais organizados se utilizam doespaço público (remodelado pela mídia e

pelas novas tecnologias) para reclamar odireito de ter sua própria memória, uma vezque estão cientes de que as representaçõesdependem daqueles que as formulam e dosseus interesses. As táticas39 juvenis operamnos interstícios das ações calculadas pelamídia, utilizando, por um lado, ainvisibilidade das práticas do consumo; poroutro, a visibilidade da produção artísticapara manifestar publicamente anseios e rei-vindicações. Nelas reside a força das polí-ticas de representação. O argumento de quea rebeldia das minorias é facilmente absor-vida pela sociedade de consumo não invalidaa luta delas em se fazer ouvir, mesmo dianteda mudez da maioria conformista.

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128 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume II

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_______________________________1 Universidade Federal de Santa Maria/RS/

Brasil.2 A reflexão proposta neste texto é parte do

quadro teórico-metodológico de uma investigaçãoem andamento, financiada pela FAPERGS e CNPq,

intitulada O consumo da cultura: mídia, estilosjuvenis e classes sociais.

3 Terry Eagleton, As ilusões do pós-moder-nismo, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1998, p. 95.

4 Norbert Elias, Compromiso y distanciamiento,Barcelona, Península, 1990, p. 35.

5 Pierre Bourdieu, O poder simbólico, Lisboa,Difel, 1989, p. 133-136.

6 O conceito de classe tem sido atualizadopor diferentes autores. Ver, entre outros, MarceloRidenti, Classes sociais e representação, SãoPaulo, Cortez, 2001; Ricardo Antunes, Os sen-tidos do trabalho, São Paulo, Boitempo, 2001;Fredric Jameson, Pós-Modernismo, A lógicacultural do capitalismo tardio, São Paulo, Ática,1997; Ettiene Balibar & Immanuel Wallerstein,Race, Nation, Class, London, Verso, 1991.

7 Na acepção do antropólogo Roberto Cardo-so de Oliveira, Identidade, etnia e estrutura social,São Paulo, Pioneira, 1976.

8 Stuart Hall, A identidade cultural na pós--modernidade, Rio de Janeiro, DP&A, 1999.

9 Sobre a noção, ver Renato Ortiz,Mundialização e cultura, São Paulo, Brasiliense,1994 e Néstor García Canclini, Culturas Híbri-das. São Paulo, Edusp, 1997a.

10 Ver Luis Alberto Romero, Los sectorespopulares em las ciudades latinoamericanas aprincipios de siglo: una aproximación a su estudio.In: Eliane G. Dayrell; Zilda M. G. Iokoi (orgs.),América Latina Contemporânea: desafios e pers-pectivas, São Paulo, Edusp, 1996, p. 411-412.

11 Peter Berger, Thomas Luckmann, A cons-trução social da realidade, Petrópolis,Vozes, 1985,p. 228.

12 Roberto Cardoso de Oliveira, Identidade,etnia e estrutura social, op. cit., p. 40.

13 Entende-se por ideologia, o modo como osentido é mobilizado para atender aos interessesdos grupos dominantes, em consonância com ateorização desenvolvida por John B. Thompson,Ideologia e cultura moderna, Petrópolis, Vozes,1995, p. 19.

14 Octávio Ianni, A sociedade global, Rio deJaneiro, Civilização Brasileira, 1999, p. 116.

15 Jesús Martín-Barbero, La globalización enclave cultural: una mirada latinoamericana.Animus, I (2), p.23-52, julho/dez. 2002, p.47-48.

16 O sociólogo Renato Ortiz apresenta acategoria de internacional-popular em A modernatradição brasileira, São Paulo, Brasiliense, 1991,e continua a refletir sobre ela em uma obraposterior intitulada Mundialização e cultura, SãoPaulo, Brasiliense, 1994, p. 126.

17 García Canclini, Cultura y Comunicación:entre lo global y lo local, Buenos Aires,Universidad Nacional de La Plata, 1997b, p. 110-112.

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130 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume II

18 García Canclini, Culturas Híbridas, op. cit.,p. 3-4.

19 Edward P. Thompson apud Ioan Davies,Cultural Studies and beyond, London, Routledge,1995, p. 94.

20 Darci Ribeiro, O povo brasileiro, São Paulo,Companhia das Letras, 1999, p. 205-207.

21 Conforme Jesús Martín-Barbero, Pre-tex-tos. Conversaciones sobre la comunicación y suscontextos, Cali, Universidad del Valle,1995, p. 139.

22 Milton Santos, Por uma outra globalização,Rio de Janeiro, Record, 2000.

23 Aníbal Ford, Navegações: Comunicação,cultura e crise, Rio de Janeiro, UFRJ, 1999, p.257.

24 Norbert Elias, Compromiso y distanciamiento,Barcelona, Península, 1990, p. 45-46.

25 Norbert Elias e John Scotson, Os estabe-lecidos e os outsiders. Rio de Janeiro, Jorge Zahar,2000, p. 56-57.

26Milton Santos, Técnica, espaço, tempo, SãoPaulo, Hucitec, 1994, p. 47.

27 Jesús Martín-Barbero, De los medios a lasmediaciones, Barcelona, Gustavo Gili, 1987, p.241.

28 Pierre Bourdieu, La distinción. Criterio ybases sociales del gusto, Madrid, Taurus, 1991,p. 11.

29 Bourdieu esclarece que habitus é o prin-cípio gerador das práticas específicas de classee o próprio sistema classificador delas. Ver O podersimbólico, Lisboa, Difel, 1989.

30 Bourdieu apud Nicholas Garnham eRaymond Williams. Pierre Bourdieu and thesociology of culture: an introduction. Media,Culture and Society, v. 2, n. 3, July 1980, p.217.

31 Pierre Bourdieu, La distinción. Criterio ybases sociales del gusto, op. cit., p. 169-170 ep. 84.

32 Jesús Martín-Barbero et. al., El miedo alos medios. Política, comunicación y nuevos modosde representación, Bogotá, IEPRI/FESCOL, 1997,p. 20.

33 Marilena Chauí, Conformismo e resistên-cia, São Paulo, Brasiliense, 1986, p. 96.

34 Pierre Bourdieu in Loïc Wacquant, Fromruling class to field of power: an interview withBourdieu. Theory, culture & society, v. 10, n.3,p.19-44, august 1993, p. 29.

35 A retirada do Estado econômico e social geraum conjunto de práticas, instituições e discursosrelacionados à punição da população pobre que cometefaltas ou crimes, tendo o sistema penal funçõesespecíficas a cumprir. Por exemplo, ele “comprimeartificialmente o nível de emprego ao subtrair à forçamilhões de homens em busca de um emprego”. VerLoïc Wacquant, As prisões da miséria, Rio de Ja-neiro, Jorge Zahar, 2001, p. 96-97.

36 Jesús Martín-Barbero, El miedo a losmedios. Política, comunicación y nuevos modosde representación, Bogotá, IEPRI/FESCOL, 1997,p. 196.

37 Jesús Martín-Barbero, La globalización enclave cultural: uma mirada latinoamericana, Animus,v.1, n. 2, p.23-52, julho/dez. 2002, p. 34-35.

38 Joaquim Alves de Aguiar, Panorama da músicapopular brasileira: da Bossa Nova ao rock dos anos80. In: Jorge Schwartz, Saúl Sosnowski (orgs.),Brasil: o trânsito da memória, São Paulo, Ed. daUniversidade de São Paulo, 1994, p. 146-147.

39 Conforme Michel de Certeau, A invençãodo cotidiano.Artes de fazer, Petrópolis, Vozes,1994, p. 97-102.