26
IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE ESCOLARIDADE Pedro Abrantes Resumo Muitas vezes pensadas como temas independentes, as identidades juvenis e as dinâmicas de escolaridade desenvolvem-se em profunda articulação nas sociedades contemporâneas. É essa complexa relação que se procura equacionar, a partir de uma pesquisa de terreno realizada numa escola secundária e que teve como foco de observação as disposições dos jovens face à escola. A postura geracional de “adesão distanciada” à escola tende a multiplicar-se em práticas e representações, trajectos e projectos muito divergentes. Discutem-se as experiências, redes e estruturas sociais que produzem (e conferem sentidos) a essas diferentes disposições. Palavras-chave Identidade, escola, juventude. Inscrita nas engrenagens da modernidade, a escola está cada vez mais presente nos quotidianos juvenis. Todavia, os jovens não vão simplesmente à escola: apro- priam-se dela, atribuem-lhe sentidos e são transformados por ela. Se parte deles sente o processo de escolaridade como uma imposição, uma violência, a que se re- siste ou que se abandona, para outros esse processo é um suporte fundamental na construção do percurso de vida e do projecto identitário. Em qualquer dos casos, a escola constitui hoje uma das instituições fundamentais em torno das quais os jo- vens estruturam as suas práticas e discursos, os seus trajectos e projectos, as suas identidades e culturas. 1 Este fluxo está longe de ser unidireccional: a própria escola é, enquanto reali- dade social, construída pelas relações entre os diversos actores que a compõem (alunos, professores, funcionários), pelas suas acções e pelos sentidos que atri- buem a essas acções. Há sensivelmente um século, John Dewey (1964) lançou os fundamentos para uma análise social da educação baseada nos actores e nas relações informais que te- cem entre si. No entanto, a sociologia da educação clássica menosprezou durante muito tempo esse contributo, seguindo a via institucional e estrutural, marginali- zando por vezes os próprios protagonistas dos fenómenos. Por outro lado, a socio- logia da juventude tem conferido à escola uma importância muito reduzida, dei- xando-se enredar nos meandros do lazer e dos estilos de vida. 2 As referências, lin- guagens e descrições são tão divergentes que, por momentos, se chega a suspeitar que os alunos dos estudos sobre educação e os jovens dos estudos culturais não são os mesmos actores. Este hiato criado entre campos teóricos é tão mais estranho se considerarmos, como têm notado diversos autores (Finkielkraut, 1988; Melucci, 2001; Dubet e Martuccelli, 1996), que a generalização da juventude como condição social SOCIOLOGIA, PROBLEMAS E PRÁTICAS, n.º 41, 2003, pp. 93-115

IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE …sociologiapp.iscte-iul.pt/pdfs/41/454.pdf · IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE ESCOLARIDADE Pedro Abrantes Resumo Muitas vezes pensadas como

  • Upload
    ngocong

  • View
    237

  • Download
    2

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE …sociologiapp.iscte-iul.pt/pdfs/41/454.pdf · IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE ESCOLARIDADE Pedro Abrantes Resumo Muitas vezes pensadas como

IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE ESCOLARIDADE

Pedro Abrantes

Resumo Muitas vezes pensadas como temas independentes, as identidadesjuvenis e as dinâmicas de escolaridade desenvolvem-se em profunda articulaçãonas sociedades contemporâneas. É essa complexa relação que se procuraequacionar, a partir de uma pesquisa de terreno realizada numa escola secundáriae que teve como foco de observação as disposições dos jovens face à escola. Apostura geracional de “adesão distanciada” à escola tende a multiplicar-se empráticas e representações, trajectos e projectos muito divergentes. Discutem-se asexperiências, redes e estruturas sociais que produzem (e conferem sentidos) a essas diferentes disposições.

Palavras-chave Identidade, escola, juventude.

Inscri ta nas en gre na gens da mo der ni da de, a es co la está cada vez mais pre sen te nosquo ti di a nos ju ve nis. To da via, os jo vens não vão sim ples men te à es co la: apro -priam-se dela, atri bu em-lhe sen ti dos e são trans for ma dos por ela. Se par te de lessen te o pro ces so de es co la ri da de como uma im po si ção, uma vi o lên cia, a que se re -sis te ou que se aban do na, para ou tros esse pro ces so é um su por te fun da men tal nacons tru ção do per cur so de vida e do pro jec to iden ti tá rio. Em qual quer dos ca sos, aes co la cons ti tui hoje uma das ins ti tu i ções fun da men ta is em tor no das qua is os jo -vens es tru tu ram as suas prá ti cas e dis cur sos, os seus tra jec tos e pro jec tos, as suasiden ti da des e cul tu ras.1

Este flu xo está lon ge de ser uni di rec ci o nal: a pró pria es co la é, en quan to re a li -da de so ci al, cons tru í da pe las re la ções en tre os di ver sos ac to res que a com põem(alu nos, pro fes so res, fun ci o ná ri os), pe las suas ac ções e pe los sen ti dos que atri -buem a es sas ac ções.

Há sen si vel men te um sé cu lo, John De wey (1964) lan çou os fun da men tos para uma aná li se so ci al da edu ca ção ba se a da nos ac to res e nas re la ções in for ma is que te -cem en tre si. No en tan to, a so ci o lo gia da edu ca ção clás si ca me nos pre zou du ran temu i to tem po esse con tri bu to, se guin do a via ins ti tu ci o nal e es tru tu ral, mar gi na li -zan do por ve zes os pró pri os pro ta go nis tas dos fe nó me nos. Por ou tro lado, a so ci o -lo gia da ju ven tu de tem con fe ri do à es co la uma im por tân cia mu i to re du zi da, de i -xan do-se en re dar nos me an dros do la zer e dos es ti los de vida.2 As re fe rên ci as, lin -gua gens e des cri ções são tão di ver gen tes que, por mo men tos, se che ga a sus pe i tarque os alu nos dos es tu dos so bre edu ca ção e os jo vens dos es tu dos cul tu ra is não sãoos mes mos ac to res.

Este hi a to cri a do en tre cam pos teó ri cos é tão mais es tra nho se con si de rar mos,como têm no ta do di ver sos au to res (Fin ki elk ra ut, 1988; Me luc ci, 2001; Du bet e Martuccelli, 1996), que a ge ne ra li za ção da ju ven tu de como con di ção so ci al

SOCIOLOGIA, PROBLEMAS E PRÁTICAS, n.º 41, 2003, pp. 93-115

Page 2: IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE …sociologiapp.iscte-iul.pt/pdfs/41/454.pdf · IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE ESCOLARIDADE Pedro Abrantes Resumo Muitas vezes pensadas como

de ri vou, em gran de me di da, da mas si fi ca ção da es co la ri da de se cun dá ria.3 Ou sepen sar mos que, nas so ci e da des in dus tri a li za das, os jo vens são, aci ma de tudo, alu -nos, essa é a sua prin ci pal ocu pa ção, o seu ofí cio, a ac ti vi da de em vol ta da qual or -ga ni zam os seus quo ti di a nos (Per re noud, 1995; Duru-Bel lat e Van Zan ten, 1999).4

Assim sen do, pre ten deu-se com esta in ves ti ga ção ex plo rar o fac to de as iden -ti da des ju ve nis e as di nâ mi cas de es co la ri da de não se rem fe nó me nos in de pen den -tes, ge ra dos em cam pos so ci a is dis tan tes, mas sim duas fa ces de uma mes ma re a li -da de, fe nó me nos in ter de pen den tes e ana li ti ca men te in dis so ciá ve is, que se cons -tro em um ao ou tro num pro ces so di a léc ti co. Duas pre mis sas con du zi ram a pes qui -sa (uma ba se a da na tra di ção her me nêu ti ca, ou tra ins pi ra da na te o ria mar xis ta):

— a aná li se da es co la in clui a com pre en são das ac ções dos ac to res que a pro du -zem di a ri a men te e dos sen ti dos atri bu í dos a es sas ac ções;

— vis to que as iden ti da des são cons tru í das em in te rac ção con tí nua com as con -di ções e ex pe riên ci as pro por ci o na das pelo meio en vol ven te, as iden ti da desju ve nis são, em par te, pro du zi das na (e pela) es co la.

O foco da ob ser va ção foi pre ci sa men te a re la ção que os jo vens es ta be le cem com aes co la. Pro cu rou-se es tu dar as po si ções e dis po si ções dos jo vens face à es co la ou,numa fór mu la mais ope ra ci o na li zá vel, ana li sar de que for ma os con tex tos so ci a isde ori gem, as re des de so ci a bi li da de, as cul tu ras ju ve nis e a pró pria es co la in te ra -gem de modo a pro du zir de ter mi na das dis po si ções face à es co la, as so ci a das a di fe -ren tes iden ti da des ju ve nis e di nâ mi cas de es co la ri da de.

Jus ti fi cam-se al guns es cla re ci men tos pré vi os do foro ter mi no ló gi co. A ex -pres são di nâ mi cas de es co la ri da de pre ten de en glo bar as ex pe riên ci as, cul tu ras,con tex tos e es tra té gi as que ro de i am, con fe rem sen ti dos e es tru tu ram o per cur so es -co lar dos jo vens.5 A ex pres são dis po si ções face à es co la, ins pi ra da na te o ria deBour di eu (1972, 1979, e 1997), diz res pe i to aos sis te mas de me ca nis mos in cor po ra -dos pe los ac to res no de cor rer da vida quo ti di a na e ge ra do res de prá ti cas e dis cur -sos na (e em re la ção à) es co la.

A op ção por es tu dar as iden ti da des ju ve nis, ao in vés das (sub)cul tu ras, pre -ten de en fa ti zar o pro ces so re fle xi vo atra vés do qual os in di ví du os se cons tro em a sipró pri os en quan to ac to res so ci a is, no de cor rer da vida quo ti di a na (Gid dens, 1994).Ain da as sim, não se es que ce que esse pro ces so é emi nen te men te pra xi o ló gi co e re -la ci o nal — as iden ti da des são pro du zi das pe las e para as in te rac ções — me di an tefe nó me nos de iden ti fi ca ção e de mar ca ção re la ti va men te a re des, gru pos, clas ses,cul tu ras, etc. (Ca mil le ri, 1990; Pe re i ra, 2002).

Numa pers pec ti va cons tru ti vis ta, con si de ra-se que, no de cor rer das prá ti casquo ti di a nas, os in di ví du os vão in cor po ran do lin gua gens e dis po si ções que lhesper mi tem ad qui rir uma iden ti da de e in te grar-se numa co mu ni da de ou gru po so -cial. Nes te sen ti do, o per cur so es co lar (pro ces so de so ci a li za ção por ex ce lên cia) émar ca do não por uma in te ri o ri za ção pas si va de nor mas e va lo res, mas pela par ti ci -pa ção cul tu ral e con se quen te cons tru ção de iden ti da des e es tra té gi as (a sub jec ti va -ção), atra vés de pro ces sos de in te gra ção, ex clu são e dis tin ção (Lave, 1991; Perrenoud, 1995; Du bet e Mar tuc cel li, 1996; Wen ger, 1998).

94 Pedro Abrantes

Page 3: IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE …sociologiapp.iscte-iul.pt/pdfs/41/454.pdf · IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE ESCOLARIDADE Pedro Abrantes Resumo Muitas vezes pensadas como

Os sentidos da investigação

No cru za men to de vá ri os cam pos da so ci o lo gia têm sur gi do, ao lon go das úl ti masdé ca das, es tu dos de di ca dos à ca rac te ri za ção das di fe ren tes dis po si ções ju ve nisface à es co la (e a sua re la ção com as po si ções no es pa ço so ci al), se gun do dis tin tospres su pos tos e me to do lo gi as mu i to di ver sas.

Ge ral men te as so ci a da a pes qui sas et no grá fi cas, a li nha cul tu ra lis ta (que teveo seu apo geu em Bir ming ham nos anos 70/80) de fen de que os jo vens das clas sesdes fa vo re ci das, de sa dap ta dos e mar gi na li za dos na es co la, de sen vol vem uma cul -tu ra de re sis tên cia face à cul tu ra es co lar, con si de ra da eru di ta, au to ri tá ria e des li ga -da das re a li da des lo ca is. Assim, cri am um uni ver so sim bó li co de opo si ção, que su -bli ma a vida das ruas, a for ça fí si ca ou o mun do ope rá rio e des pre za as ins ti tu i çõeses co la res, os pro fes so res e os alu nos “con for mis tas”. A pro du ção de uma cul tu ra de re sis tên cia, ba se a da em dis po si ti vos de di fe ren ci a ção e in ver são sim bó li ca de sen -vol vi dos no seio dos gru pos in for ma is, con fe re-lhes um enor me po der na vida quo -ti di a na, ain da que, a lon go pra zo, ve nha re for çar e le gi ti mar o seu aban do no es co -lar e in gres so nos sec to res des qua li fi ca dos do mer ca do de tra ba lho (Clark e ou tros,1977; Wil lis, 1977; Apple, 1989).

Ape sar do seu enor me im pac to, es tas te o ri as têm sido alvo de inú me ras crí ti -cas. Uma pri me i ra li mi ta ção apon ta da pren de-se com o de ter mi nis mo cul tu ral quesub jaz a es tes es tu dos e que me nos pre za as pró pri as di nâ mi cas es co la res. Tra ba -lhos como o de Van Zan ten (2000) mos tram como as di nâ mi cas es co la res po dem ser fun da men ta is na de li mi ta ção da fron te i ra en tre (sub)cul tu ras “pró-es co la” e“anti-es co la”, bem como na po la ri za ção (ou não) des tas for mas cul tu ra is.

Ou tros au to res têm mos tra do como o mo de lo cul tu ra lis ta não se ajus ta às cul -tu ras e dis po si ções fe mi ni nas. Nas úl ti mas dé ca das, em com pa ra ção com os seusco le gas ra pa zes, as ra pa ri gas têm-se dis tin gui do por va lo ri zar mais a es co la, ma ni -fes tan do-se mais in te gra das e sa tis fe i tas, de di can do-se mais ao tra ba lho es co lar eob ten do me lho res clas si fi ca ções. Duas cor ren tes se opõem na ex pli ca ção des tefe nó me no:

— uma en fa ti za o fac to de a so ci a li za ção das ra pa ri gas de sen vol ver dis po si çõesmais fa vo rá ve is à es co la (Stan ley, 1986; Duru-Bel lat, 1990; Ba u de lot e Establet, 1992; Lo pes, 1996; Marry, 2000);

— a ou tra (uti li ta ris ta) con si de ra que, face à es tig ma ti za ção a que es tão vo ta dasnou tras es fe ras so ci a is, as ra pa ri gas ten dem a in te grar a es co la no seu pro jec to de vida, en quan to ga ran tia de va lo ri za ção e in de pen dên cia (Grá cio, 1997;Amân cio, 1999).

Ambas as cor ren tes con ver gem na ide ia de que a cons tru ção da iden ti da de fe mi ni -na se pro ces sa não em con fli to de cla ra do com a es co la, mas sim numa re la ção am bi -va len te de “du pla iden ti da de” (McRob bie e Gar ber, 1977; Amân cio, 1994).

Além dos fac to res es co la e gé ne ro, a ide ia se gun do a qual os jo vens se di vi -dem em duas cul tu ras — uma de con for mis mo, ou tra de re sis tên cia (as so ci a das

IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE ESCOLARIDADE 95

Page 4: IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE …sociologiapp.iscte-iul.pt/pdfs/41/454.pdf · IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE ESCOLARIDADE Pedro Abrantes Resumo Muitas vezes pensadas como

res pec ti va men te à clas se mé dia e à clas se ope rá ria) — tem sido con si de ra da sim -plis ta ou até ide o ló gi ca. Di ver sos es tu dos têm mos tra do que, so bre tu do nas es co las in ter mé di as (11-15 anos), ocor rem po de ro sos me ca nis mos de di fe ren ci a ção e po la -ri za ção, re sul ta do da in te rac ção en tre as es tru tu ras es co la res e as (sub)cul tu ras ju -ve nis (Barr ère e Mar tuc cel li, 2000). Con tu do, es ses me ca nis mos pa re cem dar ori -gem não a dois uni ver sos opos tos, mas a um mo sa i co de gru pos, cul tu ras, dis po si -ções e iden ti da des (De la mont, 1987).

A pró pria po si ção “con for mis ta” não re sis te a um olhar mais apro fun da do:na ver da de, es tes alu nos re ve lam-se tão crí ti cos e in sa tis fe i tos como os ou tros(Ham mers ley e Tur ner, 1984). Cer tas mar cas de re sis tên cia iden ti fi ca das nos es tu -dos cul tu ra lis tas pa re cem mes mo ge ne ra li zar-se a qua se to dos os gru pos ju ve nis. Énes te sen ti do que al guns au to res têm anun ci a do o de sin te res se glo bal dos jo vensface ao tra ba lho es co lar. Para Lo pes (1996) ou Barr ère e Mar tuc cel li (2000), ape sarda mul ti pli ci da de de sub cul tu ras e per fis iden ti tá ri os, a cons tru ção das iden ti da -des ju ve nis ca rac te ri za-se, hoje, por uma de mar ca ção face à es co la, na qual os jo -vens não vêem qual quer sen ti do ou in te res se. Assim sen do, va lo ri zam ape nas asua ver ten te con vi vi al, ma ni fes tan do um “de sin ves ti men to for tís si mo face às vá -rias di men sões do es pa ço-tem po es co lar” (Lo pes, 1996: 113). A este pro pó si to,tem-se mes mo avan ça do com o con ce i to mar xis ta de ali e na ção.6

Te o ri as mais pru den tes as si na lam, con tu do, que o de sin te res se é con tra ri a do,so bre tu do nas clas ses mais fa vo re ci das, pela cri a ção de uma re la ção “uti li ta ris ta”com a es co la. Nes te sen ti do, de sen vol ve-se um mun do ado les cen te, de lin gua gens,va lo res e hi e rar qui as, que es ca pa e mu i tas ve zes se opõe às ló gi cas es co la res. Po -rém, os jo vens ad qui rem tam bém uma “fa cha da iden ti tá ria”, que lhes per mi te in te -gra rem-se par ci al men te na es co la e ob terem qua li fi ca ções. Esta du pla so ci a li za çãoan ta go nis ta dá, pois, ori gem a ten sões en tre duas hi e ra qui as: a es co lar e a ju ve nil(Per re noud, 1995; Du bet e Mar tuc cel li, 1996; Duru-Bel lat e Van Zan ten, 1999).

Alguns au to res têm, por isso, pre fe ri do es tu dar as es tra té gi as dos ac to res, re -cor ren do ge ral men te à fa mo sa ti po lo gia de Mer ton (1968), re la ti va a mo dos deadap ta ção in di vi du al e fon tes es tru tu ra is da con du ta.7 Aliás, já nos anos 70, Pe terWo ods (1979) de fi ni ra as ati tu des dos alu nos em cin co ti pos: con for mi da de, in tran -si gên cia, co lo ni za ção, re tra i men to e re be lião. Ape sar das suas po ten ci a li da des,este mo de lo en cer ra duas fra gi li da des: di vi de me tas cul tu ra is e me i os ins ti tu ci o na -li za dos, não sen do cer to que os jo vens o fa çam; não con si de ra a im por tân cia dosgru pos/re des de so ci a bi li da de, das sub cul tu ras ju ve nis ou das clas ses so ci a is nacons tru ção das dis po si ções e es tra té gi as face à es co la (Ham mers ley e Tur ner, 1984).

Nos anos 90, au to res como Pais (1993) ou Per re noud (1995) pro cu ra ram par tir da ob ser va ção das dis po si ções e re pre sen ta ções dos alu nos na es co la, de fi nin doper fis mais prá ti cos e am bi va len tes, com al gu ma cor re la ção com as clas ses so ci a is eas cul tu ras ju ve nis. Mais ar ro ja das, es tas ti po lo gi as re flec tem tal vez uma co la gemexa ge ra da aos ró tu los e lu ga res-co muns que os jo vens uti li zam para clas si fi car osou tros, mas nos qua is têm re lu tân cia em se re ver. É ine gá vel a im por tân cia des sasclas si fi ca ções e es te reó ti pos nos quo ti di a nos ju ve nis, to da via, dado o seu ca rác tersu per fi ci al e ge ne ra li za dor, é dis cu tí vel que cons ti tu am for tes mo de los de re fe rên -cia iden ti tá ria.8

96 Pedro Abrantes

Page 5: IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE …sociologiapp.iscte-iul.pt/pdfs/41/454.pdf · IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE ESCOLARIDADE Pedro Abrantes Resumo Muitas vezes pensadas como

Por fim, Du bet e Mar tuc cel li (1996) su ge rem que a ten são en tre car re i ra es co -lar e vida ju ve nil vai dan do lu gar, no en si no se cun dá rio, aos se guin tes per fis-tipo:

— os ver da de i ros alu nos, pro ve ni en tes das clas ses qua li fi ca das, com so ci a bi li da -des se lec ti vas, pro jec tos am bi ci o sos e for te en vol vi men to/iden ti fi ca ção naes co la;

— os bons alu nos, que pre ten dem ob ter um cur so sem um gran de en vol vi men tona cul tu ra es co lar;

— os no vos alu nos, ori gi ná ri os de fa mí li as pou co es co la ri za das, mas de ter mi na -dos em ob ter qua li fi ca ções;

— os alu nos em fila de es pe ra, pro ve ni en tes de me i os po pu la res, ex pe ri men tamum for te sen ti men to de ali e na ção.

Re cor ren do a vá ri as das te o ri as aci ma dis cu ti das, este mo de lo pa re ce mais equi li -bra do, na me di da em que in clui, de for ma con sis ten te, es tra té gi as de adap ta ção,dis po si ções cul tu ra is (ju ve nis) e clas ses so ci a is. Des te modo, ar ti cu la, na mes ma ti -po lo gia, as pec tos sub jec ti vos e in te rac ci o na is com ten dên ci as mais ob jec ti vas ees tru tu ra is.

Impor ta sa li en tar que a re la ção dos jo vens com a es co la é sem pre en for ma dapor di nâ mi cas es tru tu ra is mais vas tas (eco nó mi cas, cul tu ra is, po lí ti cas) que atra -ves sam a so ci e da de. Não cabe aqui enu me rá-las, mas re fi ra-se, a tí tu lo re pre sen ta -ti vo, o fac to de os jo vens, face a um mer ca do de tra ba lho cada vez mais exi gen te ecom pe ti ti vo (en som bra do pelo cres ci men to das ta xas de de sem pre go), ten de rem aalon gar os seus per cur sos es co la res e a mos trar-se mais sa tis fe i tos com a es co la, re -ve lan do uma as pi ra ção cres cen te em ob ter qua li fi ca ções, so bre tu do atra vés doaces so ao en si no su pe ri or (Fur long e Cart mel, 1997; Alves, 1998).

A pesquisa de terreno

Vis to que o foco cen tral da in ves ti ga ção é a aná li se das ex pe riên ci as (es co la res) dosac to res, bem como das iden ti da des, dis po si ções e sen ti dos en vol vi dos nes sas ex pe -riên ci as, de sen vol veu-se uma pes qui sa de ter re no, de fi ni da ge ne ri ca men te comoum con jun to de téc ni cas e es tra té gi as em que o in ves ti ga dor cons ti tui o prin ci palins tru men to de apro pri a ção da re a li da de, es ta be le cen do um con tac to di rec to, in -for mal e pro lon ga do com as pes so as e si tu a ções que cons ti tu em o con tex to de es tu -do (Bur gess, 1984; Cos ta, 1986).

A es co la se cun dá ria Bra am camp Fre i re (com 3.º ci clo) fun ci o nou como pla ta -for ma de ob ser va ção. Ao lon go de três me ses, pro cu rou-se par ti ci par na vida quo ti -di a na da es co la, si tu a da numa zona pe ri fé ri ca de Lis boa (Pon ti nha), em que a ma i o -ria da po pu la ção pos sui fra cos re cur sos eco nó mi cos e cul tu ra is e tra ba lha em sec to -res des qua li fi ca dos e/ou pre cá ri os. A pes qui sa ba se ou-se no con tac to con ti nu a docom al guns in for man tes pri vi le gi a dos (2 pro fes so res, 1 ani ma do ra e 7 alu nos), o

IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE ESCOLARIDADE 97

Page 6: IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE …sociologiapp.iscte-iul.pt/pdfs/41/454.pdf · IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE ESCOLARIDADE Pedro Abrantes Resumo Muitas vezes pensadas como

que per mi tiu uma re co lha de in for ma ções mais apro fun da das so bre a re a li da de es -co lar e cons ti tu iu uma “pon te” para ou tros ac to res e si tu a ções.

Além dis so, re a li za ram-se al gu mas en tre vis tas a gru pos de jo vens com ori -gens, iden ti da des e per cur sos bem di fe ren ci a dos. Se a ob ser va ção di rec ta e as con -ver sas in for ma is per mi ti ram cap tar po si ções e dis po si ções dos jo vens face à es co la,os mo men tos de con ver sa mais for mal fo ram úte is na iden ti fi ca ção de pa drões, re -pre sen ta ções e sen ti dos que re gu lam es sas po si ções e dis po si ções.

Inclu í ram-se ain da ou tras téc ni cas de pes qui sa como: aná li se do cu men tal dos re la tó ri os da es co la; con ver sas in for ma is com di ver sos ac to res; ob ser va ção dosgru pos, es pa ços, au las, ac ti vi da des com ple men ta res, even tos es pe ci a is; in cur sõesnos ba ir ros cir cun dan tes.

O ar que se respira: da adesão distanciada à pluralidade das formas

A pes qui sa em pí ri ca re a li za da su por ta a ide ia de que, de um modo mu i to ge ral, osjo vens se ca rac te ri zam por uma ade são dis tan ci a da à es co la. Enfa da dos com o tra -ba lho es co lar, pres si o na dos pe los pais para per ma ne cerem na es co la, sem vis lum -bra rem gran des al ter na ti vas no seu ex te ri or, vão man ten do uma re la ção fle xí vel eam bí gua, que lhes per mi te, em cer tas si tu a ções, re sis tir e in frin gir as re gras, nou -tras par ti ci par com al gum en tu si as mo.

Em vez de a in cor po ra rem ac ti va men te ou lhe re sis ti rem de for ma as su mi da,a dis po si ção mais fre quen te pa re ce hoje ser a de um cer to dis tan ci a men to face à cul -tu ra es co lar e, em ge ral, à so ci e da de en vol ven te (con ce bi da como o “uni ver so dosadul tos”). Cép ti cos ou de sin te res sa dos em re la ção ao fu tu ro, afas ta dos da es fe ra da pro du ção, cons tro em quo ti di a na men te a sua pró pria cul tu ra (o uni ver so ado les -cen te), cada vez mais le gí ti ma e co mer ci a li za da, na qual os so nhos da so ci e da de docon su mo e da in for ma ção se cru zam mu i tas ve zes com re a li da des bem mais pre cá -ri as e va zi as (Lo pes, 1996).

Da boca de mu i tos dos jo vens que abor dei, mes mo da que les que se en con -tram em si tu a ções de in su ces so re pe ti do e são pro ve ni en tes de fa mí li as pou co es co -la ri za das, foi pos sí vel ou vir afir ma ções como “que ro fa zer a es co la toda”, “quemde sis te da es co la não pen sa”, “sem o 12.º não se é nin guém”. Num ce ná rio de“eman ci pa ção blo que a da” (Pais, 2001), pe ran te um mer ca do tra ba lho cada vezmais com pe ti ti vo e exi gen te, os jo vens con si de ram as qua li fi ca ções es co la res im -por tan tes para o seu fu tu ro pro fis si o nal e, por isso, pro cu ram ir tran si tan do de ano,de for ma a con clu ir o en si no bá si co, fre quen tar o se cun dá rio, tal vez che gar ao su -pe ri or. Con tu do, fa zem-no sem gran de con vic ção, até com um cer to dis tan ci a men -to ou prag ma tis mo, dis tin guin do a es co la do “ver da de i ro mun do”, onde a vidatem lu gar.

Como nota Per re noud (1995), a ma i or par te dos jo vens ace i ta a es co la comoum “ofí cio”, mas vê pou co sen ti do no tra ba lho es co lar. Po dia-se acres cen tar: mu i -tos dos jo vens atri bu em um sen ti do pro jec ti vo à es co la, uma ne ces si da de ou

98 Pedro Abrantes

Page 7: IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE …sociologiapp.iscte-iul.pt/pdfs/41/454.pdf · IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE ESCOLARIDADE Pedro Abrantes Resumo Muitas vezes pensadas como

ga ran tia para a vida pro fis si o nal fu tu ra, mas não um sen ti do in trín se co, um in te -res se por si pró prio. Pro cu ram ob ter o má xi mo de clas si fi ca ções e qua li fi ca ções,com o mí ni mo de in ves ti men to. Esta apro pri a ção ins tru men tal do sa ber es co lar éuma cons tru ção so ci al bas tan te se di men ta da, sen do in cen ti va da quer pelo sis te made en si no, quer por gran de par te das fa mí li as.

Isso ex pli ca, em par te, por que o de sin te res se do mi nan te não en con tra cor res -pon dên cia em for mas or ga ni za das de re sis tên cia ou ino va ção. Como co men tou,de si lu di do, um ac ti vis ta da as so ci a ção de es tu dan tes da es co la, a pre fe rên cia peloes ca pis mo in di vi du al, em de tri men to dos mo vi men tos co lec ti vos, leva os es tu dan -tes a nem apro ve i ta rem os (pou cos) di re i tos que pos su em. Eis um fe nó me no in con -tes tá vel e que nem se quer é ex clu si vo da re a li da de es co lar. Mas a ati tu de uti li ta ris -ta, a fal ta de há bi tos de ci da da nia, o des cré di to das as so ci a ções es tu dan tis e o re co -nhe ci men to pelo tra ba lho de al guns pro fes so res são tam bém fac to res que contri -buem para este fe nó me no.

Nas mar gens da es co la, pro cu ran do man ter o seu uni ver so au tó no mo mas irtran si tan do de ano, os jo vens adop tam dis po si ções e es tra té gi as fle xí ve is e ins tru -men ta is, de ne go ci a ção e ace i ta ção par ci al de cer tas ins ti tu i ções da cul tu ra es co lar,de fuga ou re sis tên cia a ou tras. Sub sis tem, até cer to pon to, duas hi e rar qui as opos -tas — a ju ve nil e a es co lar — em que os ca pi ta is numa se con ver tem em han di caps naou tra. To da via, uma con di ção cada vez mais va lo ri za da, apa ná gio dos alu nos maisin te gra dos e bem su ce di dos no es pa ço es co lar, pa re ce ser a de de ter re cur sos emam bos os uni ver sos, ac ci o nan do-os à vez, trans fi gu ran do-se con so an te a si tu a çãoem que se en con tram. Aliás, esta cons ta ta ção pa re ce con fir mar os mais re cen tes es -tu dos so bre iden ti da des, que apon tam pre ci sa men te para o seu ca rác ter plás ti co,fle xí vel e mul ticom pos to nas so ci e da des con tem po râ ne as (Ca mil le ri, 1990; Pe re i ra, 2002).

Esta ati tu de de ade são dis tan ci a da deve ser en ten di da em ar ti cu la ção com aaná li se da es co la, uma or ga ni za ção que re sis te à mu dan ça, es tru tu ra da por ins ti tu i -ções, nor mas, pa péis rí gi dos e re i fi ca dos (Wo ods, 1979; Du bet e Mar tuc cel li, 1996),pou co per meá vel à in te gra ção de no vos ac to res, abor da gens, te mas, que a apro xi -mem das re a li da des lo ca is e ju ve nis. Po rém, a mas si fi ca ção da es co la ri da de se cun -dá ria e as po lí ti cas edu ca ti vas dos anos 90 têm for ça do uma re la ti va aber tu ra da es -co la, cons ti tu in do esta, cada vez mais, uma ins ti tu i ção he te ro gé nea e plu ral, emque no vos mo de los, es pa ços, ac to res e di nâ mi cas são en sa i a dos, co e xis tin do comos bas tiões mais tra di ci o na is (Pa yet, 1997). Se o re fe ri do imo bi lis mo con tri bui paraque, um pou co por toda a par te, os jo vens con si de rem os con te ú dos es co la res, nasua ge ne ra li da de, abor re ci dos e de sin te res san tes (Lo pes, 1996; Barr ère e Martuccelli, 2000), a cres cen te he te ro ge ne i da de da ins ti tu i ção es co lar per mi te queas dis po si ções dos jo vens face à es co la se jam mais fle xí ve is e con tex tu a is, va ri an dode si tu a ção para si tu a ção.

Ape sar de este ser o “es pí ri to ge ral”, deve-se acres cen tar que a ins ti tu ci o na li -za ção de um uni ver so ju ve nil re la ti va men te au tó no mo não in va li da a co e xis tên ciade di ver sas dis po si ções face à es co la, as so ci a das a di fe ren tes pro jec tos e tra jec tos,iden ti da des e cul tu ras. No cru za men to de di nâ mi cas di ver gen tes (ou até opos tas),o en si no se cun dá rio ten de a apre sen tar-se como uma no man’s land, onde uns

IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE ESCOLARIDADE 99

Page 8: IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE …sociologiapp.iscte-iul.pt/pdfs/41/454.pdf · IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE ESCOLARIDADE Pedro Abrantes Resumo Muitas vezes pensadas como

co me çam a es tru tu rar car re i ras aca dé mi cas e pro fis si o na is de su ces so, en quan toou tros “vi vem o mo men to”, es pe ran do pelo fu tu ro, sem gran des so nhos e pers pec -ti vas. Aliás, no ac tu al con tex to de mas si fi ca ção, aqui lo que dis tin gue os alu nos deuma es co la se cun dá ria é bem mais do que aqui lo que os une, o que, por ou tro lado,não de i xa de le van tar sé ri os pro ble mas, trans for man do a es co la num es pa ço so ci alfrá gil e ex plo si vo, pal co de di nâ mi cas an ta gó ni cas e con fli tos per ma nen tes.

Um as pec to im por tan te de su bli nhar é que es sas dis po si ções di ver gen tes nãose di vi dem, de fac to, em dois per fis cla ros: con for mis mo ou re sis tên cia. Ape sar deal gu mas pres sões po la ri zan tes — que vão pres si o nan do os jo vens para es pi ra is dein su ces so, in dis ci pli na e aban do no ou para cír cu los de in ves ti men to, in te gra ção epros se gui men to dos es tu dos — a tal ade são dis tan ci a da pa re ce, numa ob ser va çãomais mi nu ci o sa, mul ti pli car-se numa plu ra li da de de prá ti cas e re pre sen ta ções, dis -po si ções e iden ti da des.

É ver da de que, en cur ra la dos en tre um en si no no qual vêem pou co sen ti do,uma fa mí lia que os quer na es co la e um ce ná rio la bo ral com pe ti ti vo e so bre lo ta do,mu i tos jo vens de i xam-se an dar pe los pá ti os da es co la, fal tan do a al gu mas au las, es -tan do dis tra í dos nas ou tras, es for çan do-se pou co, num mis to de apa tia e in di fe ren -ça, re ve lan do di fi cul da des em es tru tu rar pro jec tos de vida.

To da via, re gis tam-se en tre os jo vens ou tras for mas de vi ver a es co la. Algunsem pe nham-se ar du a men te no tra ba lho es co lar, como ve í cu lo de mo bi li da de so ci al, meio de al can çar um em pre go qua li fi ca do e uma vida mais de sa fo ga da. Ou tros in -cor po ram a es co la como for ma de va lo ri za ção ou re a li za ção pes so al (o sen ti do in -trín se co), man ten do uma re la ção amis to sa ou mes mo pró xi ma com cer tos pro fes -so res e fun ci o ná ri os da es co la e par ti ci pan do com en tu si as mo nas ac ti vi da des e nos pro jec tos de sen vol vi dos fora do es pa ço-tem po das au las. Ou tros ain da, por ne ces -si da de ou op ção, ar ti cu lam a vida es tu dan til com ocu pa ções pro fis si o na is, en car -gos fa mi li a res e/ou ac ti vi da des des por ti vas, cí vi cas, ar tís ti cas.

A este qua dro con vém acres cen tar os alu nos, pro ve ni en tes so bre tu do de con -tex tos des fa vo re ci dos, que não se che gam a adap tar, per ma ne cen do des de o iní cioà mar gem da ins ti tu i ção e das ló gi cas es co la res, sen tin do-se sem pre es tra nhos, acu -mu lan do in su ces sos e re pro va ções, às ve zes ca sos de in dis ci pli na. Va gue i am pe lospá ti os, ex pe ri men tan do um for te sen ti men to de ali e na ção e mu i tos aca bam por de -i xar a es co la sem ter con clu í do se quer o en si no bá si co, como se ob ser va pe las al tasta xas de aban do no es co lar que se ve ri fi cam, quer a ní vel na ci o nal (Se bas tião, 1998),quer na es co la em que se re a li zou a pes qui sa (1/5 dos alu nos aban do na a es co lasem com ple tar o en si no bá si co).

Cu ri o sa men te, mu i tos des tes alu nos re co nhe cem (como foi atrás re fe ri do) aim por tân cia das qua li fi ca ções es co la res, mes mo que, em se gui da, es bo cem dis cur -sos so bre o de sin te res se e a sua in ca pa ci da de de te rem su ces so nes ta es co la, con ver -ti dos em prá ti cas de apa tia, aban do no ou vi o lên cia. A ên fa se, co lo ca da pelo pró -prio sis te ma de en si no, no sen ti do pro jec ti vo da es co la aca ba por acen tu ar a mar gi -na li za ção des tes gru pos, dado que ra ra men te con se guem ace der a al tos ní ve is dequa li fi ca ções.

100 Pedro Abrantes

Page 9: IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE …sociologiapp.iscte-iul.pt/pdfs/41/454.pdf · IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE ESCOLARIDADE Pedro Abrantes Resumo Muitas vezes pensadas como

Dinâmicas de estruturação das disposições juvenis face à escola

A exis tên cia de for mas mu i to dis tin tas de vi ver a es co la — as so ci a das a iden ti da des ju ve nis di fe ren ci a das e com re fle xos evi den tes nos tra jec tos e pro jec tos es co la res —con duz-nos a uma ques tão ana lí ti ca mais com ple xa: que di nâ mi cas so ci a is sub ja -zem a es sas for mas dis tin tas de es tar e sen tir a es co la?

Em vez de uma di co to mia en tre dois per fis an ta gó ni cos, as dis po si ções face àes co la e a sua re la ção com o es pa ço so ci al ou com os uni ver sos cul tu ra is pa re cemme lhor re pre sen tadas atra vés da ar ti cu la ção de três ei xos — es tru tu ral, lon gi tu di -nal e in te rac ci o nal — em cons tan te mo vi men to e com bi na ção e que, em cada mo -men to, pro du zem di fe ren tes co or de na das, tra du zí ve is em prá ti cas e re pre sen ta -ções di fe ren ci a das.

Eixo estrutural

Este eixo é de fi ni do pe las po si ções e dis po si ções que os jo vens ad qui rem no seucon tex to de ori gem, em ge ral no meio fa mi li ar. A so ci a li za ção pri má ria de sem pe -nha um pa pel fun da men tal, pro por ci o nan do ex pe riên ci as, re fe ren ci a is, com pe tên -ci as, lin gua gens, va lo res es tru tu ran tes do pro ces so de es co la ri da de dos jo vens. Aob ser va ção em pí ri ca con fir mou a ide ia de que os jo vens das clas ses com qua li fi ca -ções aca dé mi cas (cu jos pais são, em ge ral, di ri gen tes, pro fis si o na is li be ra is ou qua -dros téc ni cos) se sen tem mais à von ta de na es co la, do mi nan do os có di gos e ló gi casins ti tu ci o na is, ma ni fes tan do dis po si ções mais pró xi mas e fa vo rá ve is face à cul tu raes co lar, in cor po ran do a es co la no seu pro jec to iden ti tá rio (en quan to ofí cio e “tram -po lim” para um fu tu ro aca dé mi co e pro fis si o nal), o que se re per cu te em me lho resde sem pe nhos e clas si fi ca ções. Pelo con trá rio, os jo vens das clas ses des fa vo re ci das(em pre ga dos exe cu tan tes, ope rá ri os ou con di ções mais mar gi na is) con ti nu am, emgran de me di da, a fa zer da rua o seu es pa ço de vi vên cia e so ci a li za ção e a sen tir-sees tra nhos na es co la. Não do mi nan do e re sis tin do a có di gos e ló gi cas que não são osdos seus gru pos de ori gem, ten dem a con si de rar a es co la como pou co mais queuma “obri ga ção tem po rá ria” (o sí tio onde se es pe ra que a vida co me ce) e acu mu -lam, mu i tas ve zes, si tu a ções de in su ces so, in dis ci pli na e aban do no (Bour di eu ePas se ron, 1970; Wil lis, 1977).

Po rém, em vez de dois gru pos opos tos, esta re a li da de pa re ce dar ori gem aum con ti nu um de dis po si ções. Além dis so, a cor res pon dên cia com as clas ses so -ci a is está lon ge de ser uma de ter mi na ção: ob ser va ram-se di ver sos ca sos de jo vens pro ve ni en tes de fa mí li as com par cos re cur sos eco nó mi cos e cul tu ra is que não sóvão per ma ne cen do na es co la (im pul si o na dos por am bi ções e so nhos, mas tam -bém pelo fe cha men to do mer ca do de tra ba lho), como se re ve lam per fe i ta men tein te gra dos no es pa ço es co lar e ob têm boas clas si fi ca ções. Esta si tu a ção está, emgran de me di da, as so ci a da ao sec tor ter ciá rio pou co qua li fi ca do (os em pre ga dosexe cu tan tes e os pe que nos co mer ci an tes), não sen do tão fre quen te no caso dos jo -vens das clas ses ope rá ri as ou das un der clas ses. Por ou tro lado, al guns jo vens das

IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE ESCOLARIDADE 101

Page 10: IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE …sociologiapp.iscte-iul.pt/pdfs/41/454.pdf · IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE ESCOLARIDADE Pedro Abrantes Resumo Muitas vezes pensadas como

clas ses qua li fi ca das, de sen can ta dos com a es co la, pre fe rem in ves tir em ac ti vi da des fora do es pa ço es co lar, ob ten do re sul ta dos es co la res su fi ci en tes ou me dío cres.

Fru to de di nâ mi cas so ci a is cru za das, é mes mo pos sí vel ob ser var al guns fe nó -me nos de in ver são sim bó li ca: à me di da que cada vez mais jo vens das clas ses des fa -vo re ci das se in te gram e têm su ces so na es co la, os alu nos pro ve ni en tes de con tex tosqua li fi ca dos pa re cem mais crí ti cos ou cép ti cos, de sen vol ven do um tipo de nos tal -gia por con tá gio, pro va vel men te her da da do meio fa mi li ar. A rua (suas ló gi cas, cul -tu ras e hi e rar qui as) trans fe re-se para a es co la, as sim como a es co la, a mu i to cus to,vai ten tan do abrir-se para a rua. Entre tan to, mu i tos dos “an ti gos alu nos”, in co mo -da dos com as “más com pa nhi as”, trans fe rem-se para cer tas es co las pú bli cas ou co -lé gi os, ni chos de ex ce lên cia ou eli tis mo den tro de um sis te ma mas si fi ca do.

Eixo longitudinal

Diz res pe i to à pró pria di nâ mi ca evo lu ti va dos pro ces sos de es co la ri da de e de cons -tru ção das iden ti da des. À me di da que a ida de avan ça e que se sobe nos ní ve is de es -co la ri da de, as dis po si ções face à es co la al te ram-se sig ni fi ca ti va men te, no sen ti dode um ma i or prag ma tis mo. Mu i tas ve zes con si de ra-se que, como re sul ta do de per -cur sos e di nâ mi cas con ti nu a das (de su ces so ou de in su ces so), as dis po si ções se vãoso li di fi can do, ge ran do es pi ra is de iden ti fi ca ção ou de re sis tên cia. No en tan to, apes qui sa re ve lou tam bém ca sos em que se ge ram no vos fo cos de in te res se e in ves ti -men to ou, pelo con trá rio, se des va ne cem tra jec tos até aí bem su ce di dos.

Numa es co la se cun dá ria com 3.º ci clo (que in clui alu nos com 12 anos, a fre -quen tar o 7.º ano, até alu nos com 20 anos, no 12.º ano) é pos sí vel cons ta tar que, ten -den ci al men te, o en tu si as mo ou re sis tên cia com que se re ce bem as ini ci a ti vas es co -la res vai-se trans for man do na tal ade são dis tan ci a da, de ca rác ter prag má ti co, ba -seada na ló gi ca dos ob jec ti vos e in ves ti men tos. Como me dis se uma alu na do 9.ºano acer ca dos seus co le gas do se cun dá rio, “não é se rem mais ve lhos mas… já nãoso nham tan to”.

No en si no bá si co exis te uma re la ção mais ime di a ta com a es co la, os ci lan doen tre a ade são en tu si as ma da e os com por ta men tos apá ti cos, in dis ci pli na dos ou atévi o len tos. Em al guns ca sos, es sas prá ti cas de opo si ção dão ori gem a en cla ves de ex -clu são e de sin ves ti men to. Em cla ra rup tu ra com o sis te ma de en si no, pro ta go nis tas de ce nas de in dis ci pli na ou vi o lên cia, ocu pan do es pa ços es pe cí fi cos na es co la, es tes gru pos fa zem da opo si ção às re gras es co la res e da os ten ta ção de um es ti lo de vidades re gra do, sím bo los de afir ma ção gru pal e iden ti tá ria. O seu ha bi tu al aban do no,an tes se quer de ter ter mi na do a es co la ri da de bá si ca, é re ce bi do por mu i tos dosagen tes es co la res com um alí vio mal dis far ça do (Se bas tião, 1998).

Assim sen do, o en si no se cun dá rio cons ti tui já uma re a li da de bem di fe ren te — mais es tá vel, re gi da por prin cí pi os uti li ta ris tas, por es tra té gi as e pro jec tos de vidaque vão ga nhan do for ma — em bo ra (como la men ta ram al guns pro fes so res e alu -nos) a sua mas si fi ca ção se te nha re per cu ti do numa di fe ren ci a ção das dis po si çõesdos alu nos.

Entre tan to, não só mu i tos dos jo vens das clas ses des fa vo re ci dos já fi ca ram

102 Pedro Abrantes

Page 11: IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE …sociologiapp.iscte-iul.pt/pdfs/41/454.pdf · IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE ESCOLARIDADE Pedro Abrantes Resumo Muitas vezes pensadas como

pelo ca mi nho, como ou tros se adap tam com mu i ta di fi cul da de e pou co su ces so aesta ló gi ca ra ci o na lis ta e com pe ti ti va, em que os exa mes re gem os quo ti di a nos.Alguns au to res têm su bli nha do o fac to de o pró prio sis te ma de en si no (so bre tu donos úl ti mos anos) in du zir os jo vens a uma re la ção pas si va, in di vi du a lis ta e ins tru -men tal com o tra ba lho es co lar, e a ex clu ir aque les que in sis tem em sen tir a es co laatra vés de ou tras ló gi cas ou re fe ren ci a is, me nos pro jec ti vos (Per re noud, 1995;Duru-Bel lat e Van Zan ten, 1999).

Eixo interaccional

Ge ral men te pou co con si de ra da nos es tu dos cul tu ra lis tas, a pró pria re la ção dos jo -vens com a es co la (a in te gra ção e par ti ci pa ção na vida es co lar, as ex pe riên ci as pro -por ci o na das pe los es ta be le ci men tos de en si no) con di ci o na em gran de me di da assuas dis po si ções, de sem pe nhos e clas si fi ca ções. Esta re la ção in clui:

— um ní vel for mal, com pos to pela or ga ni za ção, as tur mas, os mé to dos, as ini ci a -ti vas, os ho rá ri os, os es pa ços;

— um ní vel in for mal, com pos to pe los gru pos, re des de so ci a bi li da des e sis te masde in te rac ção.

A re la ção dis tan te e bu ro crá ti ca com os jo vens e suas fa mí li as, os cri té ri os pou cocla ros de se lec ção dos alu nos e de or ga ni za ção das tur mas e dos ho rá ri os, os es pa -ços im pes so a is e de gra da dos, a pou ca au to no mia dos jo vens no seu pró prio per cur -so es co lar ou na pro du ção le gí ti ma da re a li da de es co lar, en tre ou tros as pec tos, con -tri bu em, de for ma efec ti va, para o seu dis tan ci a men to e de sin te res se face à es co la.

Con tu do, a ob ser va ção re gis tou tam bém a exis tên cia de pro ces sos que po -dem ate nu ar ou sub ver ter esse dis tan ci a men to. As ini ci a ti vas com ple men ta res(clu bes te má ti cos, ac ti vi da des des por ti vas, es pa ços de acom pa nha men to, la zer ein ves ti ga ção, ani ma ção cul tu ral, vi si tas, fes tas e even tos, etc.), por exem plo, ten -dem a pro du zir uma ou tra re pre sen ta ção da es co la, mais di nâ mi ca, en quan to lo calonde algo acon te ce, onde os alu nos se po dem di ver tir, mas tam bém par ti ci par emac ti vi da des e pro jec tos não ro ti ne i ros. Explo ran do nos la bo ra tó ri os, na ve gan do nain ter net, jo gan do no pa vi lhão, en sa i an do num pal co ou len do na bi bli o te ca, mu i tosjo vens pas sam, de for ma cri a ti va e vo lun tá ria, par te dos seus tem pos li vres naes co la.

Sem dú vi da que esta di na mi za ção do es pa ço es co lar não é in de pen den te daca pa ci da de de alo ca ção de equi pa men tos e re cur sos hu ma nos por par te das es co -las. Sem dú vi da que os jo vens que par ti ci pam de for ma con ti nu a da nes tas ac ti vi da -des são ain da uma mi no ria, face àque les para quem a es co la con ti nua a cin gir-se aau las, tes tes e no tas. Sem dú vi da que as ac ti vi da des sur gem des li ga das dos pro gra -mas dis ci pli na res e a par ti ci pa ção dos alu nos é já re gi da por cri té ri os de se lec ti vi da -de so ci al. Con tu do, não é de me nos pre zar o im pac to des tas ac ti vi da des, quer no“am bi en te da es co la”, quer nos jo vens par ti ci pan tes, so bre tu do na que les que pro -vêm de me i os mais des fa vo re ci dos e não pos su em opor tu ni da des cul tu ra is

IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE ESCOLARIDADE 103

Page 12: IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE …sociologiapp.iscte-iul.pt/pdfs/41/454.pdf · IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE ESCOLARIDADE Pedro Abrantes Resumo Muitas vezes pensadas como

sig ni fi ca ti vas fora da es co la. Ao ofe re cer uma vi são di fe ren te da es co la, não en -quan to obri ga ção ou cons tran gi men to, mas como es pa ço de cons tru ção e ex plo ra -ção, di ver são e au to no mia, per mi te-se apro fun dar in te res ses an te ri o res em de ter -mi na das áre as e, tam bém, de sen vol ver dis po si ções de iden ti fi ca ção e in te gra ção.Esta vi vên cia par ti cu lar da es co la per mi te, pois, uma trans fi gu ra ção sig ni fi ca ti vadas dis po si ções, da apa tia e de sin te res se ao en vol vi men to e par ti ci pa ção.

A si tu a ção ac tu al nas es co las re flec te esta plu ra li da de de po lí ti cas, estraté -gias, mo de los, ex pe riên ci as. Não é pois de es tra nhar que se ob ser ve, en tre os es tu -dan tes, o de sen vol vi men to de iden ti da des múl ti plas, como res pos ta a uma insti -tuição tam bém de múl ti plas fa ces: gran de in te gra ção em cer tas ac ti vi da des; re sis -tên cia e opo si ção ao pa pel pas si vo que de sem pe nham no en si no tra di ci o nal.

Em ter mos in for ma is, note-se a im por tân cia fun da men tal das re des de in -te rac ção nas dis po si ções dos jo vens, na cons tru ção dos seus pro jec tos iden ti tá ri -os e es co la res, nos seus de sem pe nhos e re sul ta dos es co la res. O con jun to des sasre des com põe um de ter mi na do “am bi en te” in for mal e di fu so, que se en con tracris ta li za do na “iden ti da de da es co la” (Abran tes, no pre lo) e que cons ti tui o te -ci do so ci al no qual os jo vens ins cre vem os seus per cur sos e iden ti da des. Estaques tão será abor da da em pro fun di da de quan do tra tar mos das re des eiden ti da des.

Por fim, o cru za men to dos três ei xos pode dar ori gem a si tu a ções, fe nó me nose per fis par ti cu la res. De ten do al gu ma au to no mia re la ti va, a di men são in te rac ci o -nal pode re for çar as pres sões es tru tu ra is ou, pelo con trá rio, ate nuá-las.

No pri me i ro caso, re gis tar-se-á um fe nó me no de po la ri za ção: num ex tre mo,os “her de i ros” da cul tu ra es co lar, jo vens das clas ses qua li fi ca das, com ex ce len tesre sul ta dos, em que a es co la está per fe i ta men te in te gra da e ocu pa até um lu gar cen -tral no seu pro jec to iden ti tá rio; no ou tro ex tre mo, os jo vens de me i os des fa vo re ci -dos, que se sen tem es tra nhos na es co la, com clas si fi ca ções mu i to fra cas e com por ta -men tos que os ci lam en tre a apa tia e a in dis ci pli na, en qua dra dos em gru pos e cul tu -ras de opo si ção e re sis tên cia à es co la, de sen vol vem a sua iden ti da de em opo si ção àes co la e ten dem a aban do ná-la pre ma tu ra men te.

No se gun do caso, a es co la pode dar ori gem a fe nó me nos de hi bri di za çãoiden ti tá ria ou de “in con sis tên cia de po si ções”. Com a mas si fi ca ção da es co la ri da de se cun dá ria (e su pe ri or), par te dos jo vens pro ve ni en tes das clas ses qua li fi ca das de i -xou de atri bu ir qual quer sen ti do ao tra ba lho es co lar e pas sou a des pre zar a “cul tu -ra es co lar”, pro ta go ni zan do per cur sos es co la res mar ca dos pela ir re gu la ri da de, de -sin te res se e clas si fi ca ções mo des tas. Alguns pos su em pó los al ter na ti vos de in te -gra ção, in ves ti men to e va lo ri za ção. Mas mu i tos ou tros, ali men ta dos por dis cur sosfa mi li a res nos tál gi cos face à es co la e pela re cen te con trac ção do mer ca do de tra ba -lho, de sen vol vem for mas avan ça das de cep ti cis mo e de sin te gra ção so ci al que po -dem dar ori gem a tra jec tó ri as de iso la men to, ex clu são e/ou mar gi na li da de. Pelocon trá rio, mu i tos jo vens das clas ses des fa vo re ci das de sen vol vem es for ços sig ni fi -ca ti vos para ul tra pas sar as dis tân ci as cul tu ra is que os se pa ram do uni ver so es co lare, as sim, en ce tar tra jec tó ri as de mo bi li da de so ci al. Além da im por tân cia das pres -sões fa mi li a res, da am bi ção pes so al e dos gru pos de re fe rên cia, a in ves ti ga ção mos -trou que es tes per cur sos são tam bém im pul si o na dos pela pró pria es co la e,

104 Pedro Abrantes

Page 13: IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE …sociologiapp.iscte-iul.pt/pdfs/41/454.pdf · IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE ESCOLARIDADE Pedro Abrantes Resumo Muitas vezes pensadas como

no me a da men te, pela exis tên cia de ac to res, es pa ços, ac ti vi da des que fa ci li tam ospro ces sos de in te gra ção e iden ti fi ca ção.

A escola no masculino e no feminino

Os três ei xos re fe ri dos são, por sua vez, in ter cep ta dos pe las fron te i ras de gé ne ro,tam bém elas for tes con di ci o nan tes nas for mas de sen tir, en ten der e agir na es co la.Lado a lado, pro ve ni en tes dos mes mos con tex tos fa mi li a res e so ci a is, fre quen tan do os mes mos es ta be le ci men tos de en si no, é até cu ri o so no tar como per sis tem di fe ren -ças as si na lá ve is nos quo ti di a nos de ra pa zes e ra pa ri gas, nos uni ver sos sim bó li cosque atri bu em sig ni fi ca do a es sas vi vên ci as, nas ex pe riên ci as e re sul ta dos es co la res.

A pes qui sa de ter re no per mi tiu con fir mar es tu dos in ter na ci o na is que apon -tam para uma re la ção du pla men te pri vi le gi a da das ra pa ri gas com o sis te ma de en -si no — em mé dia, ob têm me lho res re sul ta dos e al can çam ní ve is de es co la ri da demais ele va dos (Ba u de lot e Esta blet, 1992; Grá cio, 1997). Um fac to não ne gli gen ciá -vel para a aná li se des ta ques tão é o de as ra pa ri gas es ta rem, na ge ne ra li da de, me -lhor in te gra das e mais sa tis fe i tas no es pa ço es co lar. No de cor rer das en tre vis tas econ ver sas in for ma is, foi no tó rio que as ra pa ri gas pos su em uma pro xi mi da de eiden ti fi ca ção ma i or com a es co la (so bre tu do com al gu mas pro fes so ras), ao pas soque a ma i o ria dos ra pa zes per ma ne ce nas mar gens da es co la, ma ni fes tan do-se bas -tan te dis tan te ou crí ti ca face à ins ti tu i ção, aos seus es pa ços, ac ti vi da des epro ta go nis tas.

A ên fa se co lo ca da pe las ra pa ri gas no pa pel con vi ven ci al da es co la (Lo pes,1996) in ter li ga-se com as prá ti cas e de sem pe nhos es co la res. A re la ção mais pró xi -ma com co le gas, pro fes so res e ou tros pro ta go nis tas faz com que mu i tas ra pa ri gasse in te grem na es co la, va lo ri zan do-a como es pa ço de cons tru ção das iden ti da des eso ci a bi li da des, das vi vên ci as quo ti di a nas e dos pro jec tos de fu tu ro. A pre do mi nân -cia do gé ne ro fe mi ni no no cor po do cen te e ou tros fun ci o ná ri os de nun cia uma es co -la que se es cre ve so bre tu do no fe mi ni no. To da via, isso é ape nas a face mais vi sí velda ques tão. Na ver da de, as ra pa ri gas pa re cem mo vi men tar-se mais à von ta de den -tro da es co la, do mi nan do o có di go de in te rac ção va lo ri za do, pos su in do um “sen ti -do do jogo”, sus ten ta do por me lho res re cur sos cul tu ra is e re la ci o na is, re for ça dopela ide o lo gia da ma tu ri da de.9

A in cor po ra ção — atra vés da so ci a li za ção pri má ria — de dis po si ções va lo ri -za das pela cul tu ra es co lar (a per se ve ran ça e a sim pa tia, a obe diên cia e a or ga ni za -ção), o ma i or con tro lo fa mi li ar (que as faz mer gu lhar numa “cul tu ra de quar to”, naex pres são de McRob bie e Gar ber, 1977), a me nor in te gra ção nou tras ins ti tu i ções,re des e cul tu ras ju ve nis e a re la ção que es ta be le cem en tre a ob ten ção de qua li fi ca -ções es co la res e in de pen dên cia em di ver sas es fe ras da vida adul ta in ter cep tam-seas sim na pro du ção de iden ti da des ju ve nis fe mi ni nas mais pre dis pos tas para o tra -ba lho es co lar. A es co la tor na-se, nes te con tex to, um es pa ço de re la ti va li ber da de eeman ci pa ção.

IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE ESCOLARIDADE 105

Page 14: IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE …sociologiapp.iscte-iul.pt/pdfs/41/454.pdf · IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE ESCOLARIDADE Pedro Abrantes Resumo Muitas vezes pensadas como

Já os ra pa zes re ve lam, ge ral men te, vi vên ci as es co la res mais dis tan ci a das ecép ti cas. Fal tam tes te mu nhos de ac ti vi da des sig ni fi ca ti vas ou de li ga ções afec ti vasaos pro ta go nis tas, so bram de sa ba fos so bre pro fes so res in jus tos, es pa ços de gra da -dos, ac ti vi da des abor re ci das. Pode-se, en tão, pon de rar se o pro ces so de cons tru çãodas iden ti da des mas cu li nas não se de sen vol ve em rup tu ra com os va lo res e insti -tuições es co la res, ba se a do nou tras re des e cul tu ras, se di a das nou tros pó los, como arua ou os ca fés. A es co la é, nes te uni ver so cul tu ral, per cep ci o na da como uma ins ti -tu i ção opres so ra.

Con vém não es que cer que fa la mos de ten dên ci as so ci a is. Exis tem mu i tas ra -pa ri gas que man têm uma re la ção de dis tân cia ou con fli to com a es co la, en con tran -do-se, en tão, numa si tu a ção de “du pla des van ta gem”: não cor res pon dem nem aosva lo res es co la res, nem às ex pec ta ti vas de gé ne ro (Duru-Bel lat, 1990). Pelo con trá -rio, par te dos ra pa zes — so bre tu do das clas ses qua li fi ca das — in te gra-se na es co la,con ce ben do-a como es pa ço de so ci a bi li da des e meio de al can çar car re i ras am bi ci o -na das. Mais, as re fe ri das as si me tri as não são in de pen den tes das ex pe riên ci as es co -la res pro por ci o na das: em ac ti vi da des de ca riz mais ac ti vo e ex pe ri men tal, onde seac ci o nam ou tros ti pos de re cur sos, os ra pa zes pa re cem en vol ver-se mais fa cil men -te e ob ter mes mo al gum pro ta go nis mo.

As as si me tri as de gé ne ro pa re cem, as sim, in ten si fi car-se em con tex tos demúl ti pla des van ta gem: en si no bá si co, me i os des fa vo re ci dos, má re la ção com a es -co la. À me di da que se sobe nos ei xos men ci o na dos (es tru tu ral, lon gi tu di nal e in -teraccional), as di ver gên ci as en tre gé ne ros de i xam de ter um pa pel pre pon de ran tena es tru tu ra ção das dis po si ções ju ve nis, pas san do es tas a re ger-se por ou tras ló gi -cas, des de o ge nu í no in te res se e en tu si as mo pelo tra ba lho es co lar, às es tra té gi asuti li tá ri as da es co la como meio de aces so às clas ses so ci a is mais fa vo re ci das.

Grupos e redes: a realidade enquanto construção colectiva

Em cer tos mo men tos des te ar ti go, pri vi le gi ou-se uma ca rac te ri za ção in di vi du a li -za da das dis po si ções dos jo vens face à es co la. Pre ten deu-se, des ta for ma, en fa ti zaros me ca nis mos as so ci a dos ao pro ces so de cons tru ção iden ti tá ria. To da via, é im por -tan te nun ca es que cer que, en quan to cons tru ções so ci a is, os sen ti dos e as dis po si -ções (tal como as pró pri as iden ti da des) são pro du zi dos em in te rac ção, en for ma dospor re des e cul tu ras, só ad qui rin do to tal sig ni fi ca do quan do li dos num con tex to co -lec ti vo (Wil lis, 1977; Wo ods, 1979; Wen ger, 1998).

A re la ção en tre os jo vens e a es co la é, pois, me di a da por todo um uni ver so dein te rac ções quo ti di a nas e in for ma is que (re)pro du zem prá ti cas, có di gos, ins ti tu i -ções, pa péis. Na tro ca de ex pe riên ci as e com pe tên ci as, fa vo res e afec tos, es tru tu -ram-se (tam bém) iden ti da des e dis po si ções, re des e cul tu ras.

Os “es tu dos cul tu ra lis tas” têm de di ca do mu i ta aten ção às so ci a bi li da des nocon tex to es co lar e ju ve nil, mos tran do como os jo vens se opõem à es co la atra vés dacons tru ção de gru pos e cul tu ras de re sis tên cia (Wil lis, 1977; Apple, 1989). Como

106 Pedro Abrantes

Page 15: IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE …sociologiapp.iscte-iul.pt/pdfs/41/454.pdf · IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE ESCOLARIDADE Pedro Abrantes Resumo Muitas vezes pensadas como

con clui Pais (1993: 243), “as for mas de re sis tên cia à es co la não são in di vi du a is masco lec ti vas”. A mi nha pre sen ça pro lon ga da numa es co la con fir mou que o fe cha -men to iden ti tá rio e gru pal está, so bre tu do, as so ci a do aos jo vens mais des fa vo re ci -dos e de sin te gra dos no es pa ço es co lar, dan do ori gem a en cla ves de re sis tên cia e ex -clu são, gru pos que se afir mam pela trans gres são dos va lo res es co la res.

Num ce ná rio em que a es co la con ti nua a ser pen sa da e or ga ni za da pe los prin -cí pi os mo der nis tas da ra ci o na li da de e do in di vi du a lis mo, da bu ro cra cia e do ano -ni ma to, dos sa be res for ma is e abs trac tos (Per re noud, 1995), as re des de so ci a bi li da -de ge ra das na es co la são, mu i tas ve zes, vis tas como con se quên ci as ines pe ra das daac ção ou mes mo como en tra ves ao pro ces so de apren di za gem: dis tra em os ac to rese con fe rem-lhes uma for ça co lec ti va para con tor nar ou in frin gir as nor mas im pos -tas. To da via, é tem po de re co nhe cer que, como qual quer pro ces so de cons tru ção desen ti do, o pró prio en vol vi men to e in te res se na es co la, ain da que ge ra do nou tras es -fe ras e di nâ mi cas, é tam bém um pro ces so in ten sa men te so ci al.

É ver da de que, numa re a li da de mar ca da pela va ri e da de e até opo si ção cul tu -ral (como a que se ve ri fi ca em mu i tas es co las), as si tu a ções de afi ni da de ou de mar -ca ção con du zem a que as re des de so ci a bi li da de ten dam a obe de cer às fron te i rasclas sis tas e ét ni cas (re for çan do-as des ta for ma), con tri bu in do para a po la ri za çãodas iden ti da des. Con tu do, a um pa drão con sis ten te de ami za des endogru pa is,opõem-se di ver sos ca sos que rom pem com es sas di vi sões, ge ran do pro xi mi da desen tre jo vens com po si ções e dis po si ções mu i to dis tin tas.

Mais, es tas re des não de pen dem es tri ta men te da von ta de dos ac to res ou daale a to ri eda de das cir cuns tân ci as: são con di ci o na das pelo con tex to em que têm lu -gar. Numa es co la em que cer tos gru pos es tão es tru tu ral men te mar gi na li za dos, ca -rac te ri zan do-se pelo de sin te res se, de sin te gra ção e re sis tên cia, é mais pro vá velemer gir aqui lo que Wil lis (1977) des cre ve como “them and us si tu a ti ons”. Pelo con -trá rio, em es co las em que a gran de ma i o ria dos jo vens, de vá ri as ori gens so ci a is,está efec ti va men te in te gra da, po den do de sen vol ver ac ti vi da des que con si de ra significativas, par ti ci par le gi ti ma men te na cons tru ção da re a li da de, as ten sões edis tân ci as cul tu ra is es ba tem-se e as ines pe ra das cir cuns tân ci as da in te rac ção quo -ti di a na ten dem a ge rar as tais pro xi mi da des afec ti vas en tre jo vens de di fe ren tesori gens, com pon do re des de so ci a bi li da de in terclas sis tas e in terét ni cas, ge ra do rasde dis po si ções e iden ti da des hí bri das e pas sí ve is de des blo que ar ou ate nu ar si tu a -ções com ple xas e li mi ta ções es tru tu ra is.

Exis tem as sim ló gi cas, es tra té gi as, po lí ti cas, cul tu ras que fa vo re cem o es ta be -le ci men to de re des múl ti plas e in te gra do ras, en quan to ou tras con tri bu em para adi vi são sis te má ti ca dos ac to res em gru pos, pri vi le gi an do uns, ex clu in do os ou tros,ge ran do fe cha men tos e po la ri za ções, opo si ções e con fli tos. Não cabe aqui des cre -ver es sas es tra té gi as, so men te enun ci ar al guns dos pon tos que a pes qui sa iden ti fi -cou como de ci si vos para esta ques tão.

Uni da de or ga ni za do ra dos tem pos, es pa ços e ac to res, a tur ma cons ti tui o nú -cleo em tor no do qual se co me çam a es tru tu rar os gru pos e re des de ami gos, de vi doàs “opor tu ni da des es tru tu ra is” (re cor ren do ao con ce i to de San tos, 1989) que en cer -ra. Os cri té ri os in for ma is de “fa bri ca ção das tur mas” — que ten dem a di vi dir os jo -vens com base nas clas si fi ca ções es co la res ou na ori gem so ci al — têm sido

IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE ESCOLARIDADE 107

Page 16: IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE …sociologiapp.iscte-iul.pt/pdfs/41/454.pdf · IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE ESCOLARIDADE Pedro Abrantes Resumo Muitas vezes pensadas como

am pla men te de nun ci a dos pela so ci o lo gia, como po de ro sas for mas de se gre ga çãoso ci al e po la ri za ção das dis po si ções dos alu nos (Pa yet, 1997; Cam pos e Ma te us,2002).

A pes qui sa de ter re no mos trou como, pelo con trá rio, os es pa ços, tem pos, gru -pos e ac ti vi da des que com ple men tem as au las (des de que or ga ni za dos numa ló gi -ca não seg men tá ria ou eli tis ta) po dem ser po de ro sos ca ta li sa do res para a for ma çãode re des de so ci a bi li da de for tes e den sas, ge ra do ras de sis te mas alar ga dos de tro -cas de fa vo res e afec tos, co nhe ci men tos e iden ti da des, que ul tra pas sam em mu i to oâm bi to es co lar. Estas re la ções têm um pa pel de ter mi nan te nos sen ti dos que os jo -vens par ti ci pan tes atri bu em à es co la, re for çan do as sim o pa pel in te gra dor aci mare fe ri do (eixo in te rac ci o nal).

Embo ra a sua com po si ção pos sa ser mu i to di ver sa, as re des que in clu em alu -nos e pro fes so res ad qui rem, nes te con tex to, es pe ci al im por tân cia. Tra di ci o nal men -te, a re a li da de es co lar ba se ia-se na di vi são rí gi da e dis tan ci a men to en tre dois gru -pos — alu nos e pro fes so res — com prá ti cas e in te res ses di ver gen tes (Wo ods, 1979).Ao lon go da pes qui sa, iden ti fi quei que, a par de re la ções anó ni mas e ri tu a li za das,exis ti am tam bém re des de gran de den si da de, nas qua is se par ti lham ex pe riên ci as e emo ções e se in ves te in ten sa men te. Sem ig no rar que cons ti tu em ca sos mi no ri tá ri os e que se re gem tam bém por cri té ri os de se lec ti vi da de so ci al (Go mes, 1987), es ses la -ços são fun da men ta is, não só para os ac to res que os com põem, pro por ci o nan -do-lhes ex pe riên ci as re com pen sa do ras e ca pi ta is sig ni fi ca ti vos, mas tam bém paraa pró pria con so li da ção do te ci do so ci al. So bre tu do para os jo vens das clas ses des fa -vo re ci das, face à ver ti gem sem pre pre sen te do in su ces so e do aban do no, di ta da por inú me ras di nâ mi cas es co la res, es tru tu ra is e cul tu ra is, es sas re la ções pri vi le gi a dascom pro fes so res ou fun ci o ná ri os es ta be le cem um elo de li ga ção efec ti vo e afec ti voao ha bi tu al men te es tra nho e dis tan te mun do da es co la, ten do mu i tas ve zes um pa -pel de ci si vo como su por te-base de pro jec tos e tra jec tos es co la res.

A pes qui sa iden ti fi cou as sim aqui lo a que, re cu pe ran do o con ce i to clás si co daan tro po lo gia, po día mos de sig nar por re la ções de pa tro ci na to en tre pro fes so res e alu -nos. Os fac to res e con tex tos da sua emer gên cia, bem como as suas con se quên ci asnas dis po si ções e iden ti da des ou, mais ge ne ri ca men te, na re a li da de es co lar são umtema com ple xo, que me re cia uma in ves ti ga ção mais apro fun da da.

Identidades juvenis e dinâmicas de escolaridade

Na pré-mo der ni da de, a cons tru ção das iden ti da des pro ces sa va-se, qua se ex clu si -va men te, a par tir do con tex to fa mi li ar de ori gem e, mais tar de, da ocu pa ção pro fis -si o nal que se de sem pe nha va. A pró pria ju ven tu de cons ti tu ía um pri vi lé gio re ser -va do às eli tes bur gue sas. Pro gres si va men te, com o ad ven to da mo der ni da de in -dus tri al, o en si no se cun dá rio (pós-pri má rio) ex pan diu-se, abran gen do uma par tedos jo vens (em ge ral, pro ve ni en tes das clas ses pro pri e tá ri as ou das “clas ses mé di -as”), que era as sim pou pa da às ta re fas pro du ti vas e pre pa ra da para car re i ras

108 Pedro Abrantes

Page 17: IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE …sociologiapp.iscte-iul.pt/pdfs/41/454.pdf · IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE ESCOLARIDADE Pedro Abrantes Resumo Muitas vezes pensadas como

qua li fi ca das. Nes te con tex to, a es co la con fe ria, por si pró pria, uma iden ti da de aosseus es tu dan tes: eram “os jo vens”, os fu tu ros téc ni cos e di ri gen tes. Este pro ces so,abriu todo um am plo cam po de opor tu ni da des para o de sen vol vi men to de no vasfor mas de con su mo, la zer, con tes ta ção po lí ti ca, etc. — no vos es ti los de vida —, so -bre o qual as sen ta ram as de sig na das “cul tu ras ju ve nis” (Clark e ou tros, 1977). Pelocon trá rio, na mo der ni da de tar dia, a mas si fi ca ção do en si no se cun dá rio e su pe ri or,a par das con vul sões no mer ca do de tra ba lho, le vou a que a sim ples in te gra ção nosis te ma de en si no de i xas se de con fe rir iden ti da des bem de mar ca das.

Este fe nó me no tem le va do al guns au to res a anun ci ar a “cri se da es co la” e aten dên cia para as iden ti da des ju ve nis se de fi ni rem con tra a mas si fi ca ção es co lar,atra vés da es fe ra do la zer e do con su mo, num pro ces so de es te ti za ção (ou co mer ci a -li za ção?) dos quo ti di a nos (Lo pes, 1996). É ver da de que se re gis ta hoje um des fa sa -men to: a au to no mia e le gi ti mi da de que os jo vens con quis ta ram nas es fe ras do con -su mo e do la zer não cor res pon dem ao pa pel pe ri fé ri co que con ti nu am a desem -penhar na cons tru ção le gí ti ma da re a li da de es co lar. Nas so ci e da des con tem po râ -ne as, o uni ver so ju ve nil (os gos tos, as prá ti cas, as iden ti da des) não goza ape nas deam pla ace i ta ção; cons ti tui uma re fe rên cia cul tu ral na arte, no con su mo, nos es ti losde vida. Mais, o de sen vol vi men to de uma “cul tu ra do mo men to” — su por ta dapela in ten si fi ca ção e im pre vi si bi li da de das mu dan ças, as ló gi cas me diá ti cas e pu -bli ci tá ri as (afo i tas em cri ar mi tos ins tan tâ ne os e ne ces si da des de con su mo) e umaéti ca di fu sa de ca riz he do nis ta (Pais, 1993) — acres cen ta uma aura ime di a tis ta aostem pos ac tu a is. Con si de ran do to dos es tes fac to res, não ad mi ra que os jo vens es te -jam hoje mais en vol vi dos nas es fe ras do con su mo e dos es ti los de vida, des va lo ri -zan do a im por tân cia da es co la.

No en tan to, este ar ti go pre ten de de mar car-se de con cep ções pós-mo der nas que,ao va lo ri za rem es ses cam pos na cons tru ção de iden ti da des e cul tu ras, con ce dempou co ou ne nhum es pa ço a ins ti tu i ções de so ci a li za ção que per ma ne cem fun da -men ta is nas so ci e da des con tem po râ ne as, ca sos da fa mí lia, do tra ba lho e, em par ti -cu lar, da es co la. Pelo con trá rio, ad vo ga-se que as iden ti da des e cul tu ras ju ve nis são(e sem pre fo ram) mu i to di ver sas, ge ra do ras de dis po si ções mu i to di fe ren ci a daspe ran te a es co la. Aliás, se pos su í rem al gum tra ço co mum po de rá bem ser a suacons ti tu i ção flui da e am bi va len te — ca paz de se in te grar em di ver sas ins ti tu i çõesmas man ter uma po si ção au tó no ma, de de mar ca ção —, as so ci a da à con di ção es tru -tu ral de “semide pen dên cia”.

Além dis so, di ver sos au to res têm mos tra do como, a par da tal aura ime di a tis -ta, as nos sas so ci e da des são, cada vez mais, re gi das por um sis te ma cre den ci a lis ta,em que o co nhe ci men to e a in for ma ção de sem pe nham um pa pel cada vez mais es -tru tu ran te e as qua li fi ca ções es co la res se con ver tem em ca pi ta is e opor tu ni da des,não só no mer ca do de tra ba lho, mas em to das as es fe ras da vida so ci al.

Inver ten do a si tu a ção, é o afas ta men to pre ma tu ro do sis te ma de en si no queten de a pro du zir con di ções iden ti tá ri as mais bem de fi ni das. A ex clu são do aces so àin for ma ção e às com pe tên ci as con ver te-se, as sim, em ex clu são em to das as ou trases fe ras so ci a is, con du zin do em ge ral a si tu a ções mar ca das por pri va ções e cons -tran gi men tos vá ri os (Gar cia e ou tros, 2000). É este fe nó me no que Go mes (2003) de -sig na por li te rex clu são. O aban do no pre co ce do pro ces so de es co la ri da de (que em

IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE ESCOLARIDADE 109

Page 18: IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE …sociologiapp.iscte-iul.pt/pdfs/41/454.pdf · IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE ESCOLARIDADE Pedro Abrantes Resumo Muitas vezes pensadas como

Por tu gal abran ge ain da uma per cen ta gem enor me de jo vens — ver Be na ven te e ou -tros, 1994) dá, pois, ori gem a um pri me i ro tipo de iden ti da des ju ve nis, com pro jec -tos e tra jec tos mar ca dos pela pre ca ri e da de.

É ób vio que nem to dos os jo vens que de i xam a es co la se guem per cur sos de ex -clu são so ci al. Nos in ters tí ci os da so ci e da de da in for ma ção, mu i tos jo vens in ves temem pro jec tos cul tu ra is e pro fis si o na is mu i to es pe cí fi cos, en ce tan do (al guns) tra jec -tos bem su ce di dos. O caso me diá ti co dos des por tis tas ou das ma ne quins ser ve deexem plo (até pela in fluên cia que exer ce en tre os jo vens) para di ver sas ou tras áre asem que o pro ces so de apren di za gem se de sen vol ve, cada vez mais cedo, em pa ra le -lo ou mes mo em al ter na ti va à via es co lar. As re des fa mi li a res e de so ci a bi li da de ten -dem a as su mir, nes tes ca sos, uma enor me im por tân cia.

Entre os jo vens que não ob têm qua li fi ca ções es co la res sub sis te, pois, umaenor me di ver si da de de con di ções e si tu a ções, per fis iden ti tá ri os mu i to dis tin tos,que me re ci am uma in ves ti ga ção mais apro fun da da. Aqui re si de uma das li mi ta -ções des ta pes qui sa: o fac to de se ter cen tra do no es pa ço es co lar não per mi tiu ex -plo rar os pro ces sos de cons tru ção iden ti tá ria dos jo vens que aban do nam a es co la.Os da dos re co lhi dos de ram, as sim, ori gem à ela bo ra ção de uma ti po lo gia de iden ti -da des dos jo vens que per ma ne cem na es co la (apre sen ta da de se gui da), mas li mi -tam-se a in di car al gu mas pis tas so bre os jo vens que de i xa ram cedo o sis te ma deen si no.

Pa ra do xal men te, os jo vens que aban do nam a es co la dis põem, mu i tas ve zes,de mais re cur sos iden ti tá ri os, a cur to pra zo, as so ci a dos à con quis ta de au to no mia fi -nan ce i ra e, por con se guin te, de in de pen dên cia re la ti va em to das as ou tras es fe rasda vida so ci al. Esta re a li da de é ex tre ma men te es tru tu ran te dos quo ti di a nos ju ve -nis, so bre tu do en tre os gru pos com me nos ca pi ta is eco nó mi cos e cul tu ra is, em queas ne ces si da des de hoje se so bre põem aos so nhos do ama nhã.10

To da via — como re co nhe cem qua se to dos os jo vens — num ce ná rio de con -trac ção e ins ta bi li da de do mer ca do la bo ral, exis te uma ten dên cia para que a fal ta de qua li fi ca ções es co la res se con ver ta, mais cedo ou mais tar de, em li mi ta ções a vá ri osní ve is. Isto é vi sí vel mes mo em áre as mu i to es pe cí fi cas, em que as dis po si ções cul -tu ra is e as com pe tên ci as pro fis si o na is se de sen vol vem tra di ci o nal men te no exte -rior da es co la. Em ter mos es tru tu ra is, este fe nó me no con du ziu à ex pan são dos cur -sos pro fis si o na is, que pro cu ram, pre ci sa men te, in te grar di ver sas apren di za genspro fis si o na is no sis te ma de en si no. Em ter mos in di vi du a is, esse fac to re per cu tiu-senuma re con fi gu ra ção ten den ci al dos tra jec tos dos jo vens, de um mo de lo li ne ar (es -co la-tra ba lho-fa mí lia) para um mo de lo yo-yo, de cir cu la ção pe los vá ri os sis te mas(Pais, 2001). Nes te sen ti do, mu i tos jo vens que, por ne ces si da de ou vo ca ção, se in te -gra ram cedo no mun do pro fis si o nal, in ves tem es for ços sig ni fi ca ti vos para, em mo -da li da des e tem pos di ver sos, per ma ne cerem no (ou vol tar ao) sis te ma edu ca ti vo,po den do des ta for ma ob ter qua li fi ca ções.

Estas re a li da des con du zem (quer no pla no teó ri co, quer no pla no prá ti co) acon cep ções uti li ta ris tas, em que es co la é en ten di da me nos como um es pa ço de es tru -tu ra ção iden ti tá ria, mais como um bem de con su mo que se ad qui re como “pon tode par ti da” do pro jec to iden ti tá rio e meio de va lo ri za ção no mer ca do la bo ral( Perrenoud, 1995; Fur long e Cart mel, 1997). Isso ex pli ca, por sua vez, a ati tu de

110 Pedro Abrantes

Page 19: IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE …sociologiapp.iscte-iul.pt/pdfs/41/454.pdf · IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE ESCOLARIDADE Pedro Abrantes Resumo Muitas vezes pensadas como

ten den ci al men te uti li ta ris ta, de “ade são dis tan ci a da”, que foi atrás iden ti fi ca dacomo dis po si ção do mi nan te dos jo vens face à es co la.

Ape sar das po ten ci a li da des des tas con cep ções, con si de ra-se que o pa pel con -ce di do à es co la per ma ne ce re du tor. Se a sim ples pre sen ça no sis te ma de en si no se -cun dá rio não con fe re iden ti da des for tes, por ou tro lado, a di fe ren ci a ção das for mas de vi ver, lo cal e quo ti di a na men te, a es co la, pa re ce con du zir a si tu a ções, tra jec tos epro jec tos bem dis tin tos. Ao lon go das sec ções an te ri o res pro cu rou-se mos trarcomo a es co la en quan to co mu ni da de lo cal, re gi da por di ver sas di nâ mi cas so ci a is,se man tém como um pólo fun da men tal de es tru tu ra ção iden ti tá ria nas so ci e da descon tem po râ ne as.

As pró pri as es tru tu ras so ci a is, como a clas se ou o gé ne ro, per ma ne cem comocom po nen tes cen tra is do pro ces so de pro du ção das iden ti da des — cri an do uni ver -sos de opor tu ni da des para uns, uni ver sos de cons tran gi men tos para ou tros( Bourdieu, 1984; Fur long e Cart mel, 1997) —, mas são trans por ta das para o in te ri ordo cam po es co lar, onde se re con fi gu ram se gun do a sua ló gi ca es pe cí fi ca, po den doser re for ça das ou par ci al men te sub ver ti das. Aliás, como sa li en tam os re cen tes es -tu dos so bre iden ti da des, nas so ci e da des con tem po râ ne as, as con di ções es tru tu ra iscru zam-se com ex pe riên ci as, es tra té gi as, in te rac ções par ti cu la res no com ple xopro ces so de cons tru ção iden ti tá ria. Os atri bu tos pes so a is ten dem, as sim, a man -ter-se aber tos, per ma nen te men te em cons tru ção, re flec tin do múl ti plos per cur sos eper ten ças (Gid dens, 1994).

Um as pec to que ca rac te ri za os jo vens nas so ci e da des con tem po râ ne as é o dese en con tra rem numa si tu a ção em que têm que jo gar, si mul ta ne a men te, em dois ta -bu le i ros: o pre sen te e o fu tu ro (Bour di eu, 1984). Embo ra esta du a li da de seja co -mum a qual quer pro jec to iden ti tá rio, pa re ce par ti cu lar men te im por tan te nos me -ca nis mos de es tru tu ra ção das iden ti da des ju ve nis. O uni ver so das iden ti da des ju -ve nis re flec ti do na es co la é, pois, mar ca do por vi vên ci as em di fe ren tes tem pos. Seuns (mes mo man ten do-se na es co la) se de di cam so bre tu do ao pre sen te, às es fe rasdo la zer e do con su mo, dan do ori gem a iden ti da des tran si tó ri as, ou tros in ves tem es -for ços sig ni fi ca ti vos na cons tru ção de tra jec tos bem su ce di dos, qua se sem pre apoiados na es co la, ma ni fes tan do iden ti da des pro jec ti vas.

Ambas as for mas iden ti tá ri as de pen dem de um pa ta mar mí ni mo de re cur soseco nó mi cos e cul tu ra is, re gis tan do-se so bre tu do en tre os jo vens cu jos pais são em -pre ga dos exe cu tan tes, pro fis si o na is li be ra is, téc ni cos e de en qua dra men to ou em -pre sá ri os. No en tan to, cor res pon dem so bre tu do a es tra té gi as iden ti tá ri as dis tin tas.

Entre uma e ou tra, a ob ser va ção em pí ri ca per mi tiu, in clu si ve, cons ta tar umare la ti va in ver são de per fis: mu i tos jo vens das clas ses qua li fi ca das, ha bi tu a is pro ta -go nis tas das iden ti da des pro jec ti vas, ten dem a de mons trar um cer to de sen can topelo pro jec to es co lar, in ves tin do in ten sa men te nou tras es fe ras (con su mo e la zer àca be ça), pro cu ran do con ver ter os seus ca pi ta is eco nó mi cos e cul tu ra is numa po si -ção do mi nan te no uni ver so ju ve nil; pelo con trá rio, par te dos jo vens (e fa mí li as) das clas ses des qua li fi ca das in ves tem es for ços sig ni fi ca ti vos no tra ba lho es co lar, de po -si tan do nele as suas es pe ran ças de mo bi li da de so ci al. Note-se, con tu do, que o po -ten ci al sub ver si vo des te fe nó me no é li mi ta do, vis to que a fa mi li a ri da de cul tu ral e adis po ni bi li da de fi nan ce i ra dos pri me i ros lhes con fe re sem pre uma cer ta van ta gem

IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE ESCOLARIDADE 111

Page 20: IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE …sociologiapp.iscte-iul.pt/pdfs/41/454.pdf · IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE ESCOLARIDADE Pedro Abrantes Resumo Muitas vezes pensadas como

no per cur so de es co la ri da de, en quan to os se gun dos se con ti nu am a de ba ter comdis tân ci as e cons tran gi men tos que lhes di fi cul tam a pro gres são no sis te ma deen si no.

Além dis so, é im por tan te re fe rir que nem to das as iden ti da des ju ve nis sãomar ca das por uma ten são en tre va lo ri za ção pre sen te e in ves ti men to no fu tu ro. Cu -ri o sa men te, nas si tu a ções mais ex tre mas (clas ses com al tas qua li fi ca ções aca dé mi -cas ou, pelo con trá rio, com con di ções mu i to pre cá ri as) e, so bre tu do, en tre as ra pa ri -gas, a ac ção ori en ta da para os quo ti di a nos ten de a co in ci dir com a pro jec ção para ofu tu ro, in ten si fi can do os me ca nis mos de in te gra ção ou de ex clu são.

Alguns jo vens in te gram-se e dis põem de uma po si ção con for tá vel, quer naes co la, quer no uni ver so ju ve nil, de ten do re cur sos e do mi nan do os có di gos em am -bos os cam pos. Ma ni fes tam aqui lo que se pode de sig nar por iden ti da des cons tru ti -vas. Os jo vens nes ta si tu a ção são, em ge ral, pro ve ni en tes de con tex tos (fa mi li a res eso ci a is) mu i to qua li fi ca dos, onde pre do mi nam os pro fis si o na is téc ni cos, li be ra is edi ri gen tes. De sa li en tar que este tipo de iden ti da des é mais fre quen te nas ra pa ri -gas, pois, como vi mos atrás, a va lo ri za ção es co lar de sen vol ve-se qua se em os mo secom a cons tru ção das iden ti da des fe mi ni nas.

Além dis so, o de sen vol vi men to de iden ti da des cons tru ti vas de pen de tam bémdas ex pe riên ci as e opor tu ni da des pro por ci o na das pela es co la. Como mos trou apes qui sa em pí ri ca, o fac to de a es co la cri ar am bi en tes de in te gra ção, em que os jo -vens se en vol vem na cons tru ção le gí ti ma da re a li da de es co lar, pode fa ci li tar essetipo de iden ti da des, mar ca das por uma sim bi o se en tre a va lo ri za ção quo ti di a na e ava lo ri za ção no fu tu ro. Aliás, esta cons ti tui si mul ta ne a men te a for ça e a fra que zados “no vos mo de los pe da gó gi cos”. É que, ao con ce der mais po de res e opor tu ni da -des aos alu nos, pode-se pri vi le gi ar aque les que pos su em já re cur sos (cul tu ra is) que lhes per mi tam uti li zá-los (Per re noud, 1995).11

Do ou tro lado da es co la, mu i tos jo vens de sin te gra dos no es pa ço es co lar e com um lu gar pe ri fé ri co no “mun do ado les cen te”, ca rac te ri zam-se por iden ti da des des -va lo ri za das. A in ser ção no mer ca do de tra ba lho pre cá rio e des qua li fi ca do, ori gi na da pela de sin te gra ção es co lar e por ca rên ci as eco nó mi cas, vem, em mu i tos ca sos, in -ten si fi car este pro ces so. Apro xi mam-se as sim das iden ti da des pre cá ri as, em bo ra ama nu ten ção (mes mo que pe ri fé ri ca) nos cír cu los es co la res e ju ve nis lhes con fi ra al -guns re cur sos e opor tu ni da des. Esta si tu a ção é mais fre quen te nos jo vens pro ve ni -en tes das clas ses des fa vo re ci das, com pou cos ca pi ta is eco nó mi cos e cul tu ra is, e nasra pa ri gas que, não se in te gran do com su ces so na es co la, en con tram-se numa si tu a -ção de du pla des van ta gem.

Conclusões

A re la ção en tre iden ti da des ju ve nis e di nâ mi cas de es co la ri da de é ex tre ma men tecom ple xa. Num qua dro de mas si fi ca ção es co lar e con trac ção do mer ca do la bo ral,os jo vens de fi nem-se, cada vez mais, pe las es fe ras do la zer e do con su mo,

112 Pedro Abrantes

Page 21: IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE …sociologiapp.iscte-iul.pt/pdfs/41/454.pdf · IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE ESCOLARIDADE Pedro Abrantes Resumo Muitas vezes pensadas como

ma ni fes tan do uma dis po si ção de “ade são dis tan ci a da” à es co la. Si mul ta ne a men te, a pos se de qua li fi ca ções cons ti tui um re cur so iden ti tá rio cada vez mais po de ro so, de -ter mi nan te de con di ções e opor tu ni da des. Além dis so, a cres cen te di ver si da de de“ex pe riên ci as es co la res” (Du bet e Mar tuc cel li, 1996) ten de a ser es tru tu ra da pe lasiden ti da des ju ve nis, sen do si mul ta ne a men te es tru tu ran te des sas mes mas iden ti -da des. Pro cu rou-se, ao lon go des te ar ti go, mos trar como essa re la ção (em que secru zam con tex tos e dis po si ções, tra jec tos e pro jec tos) per ma ne ce en for ma da e con -di ci o na da por as pec tos es tru tu ra is.

Um fac to que as cor ren tes fe mi nis tas têm tido di fi cul da de em re co nhe cer éque, ape sar dos es te reó ti pos que trans mi te im pli ci ta men te, a es co la tem con tri bu í -do de for ma efec ti va para uma sub ver são par ci al da “do mi na ção mas cu li na”, cons -ti tu in do um po de ro so es pa ço de va lo ri za ção das iden ti da des fe mi ni nas. Tra ta-se,em gran de me di da, de uma sub ver são tem po rá ria, vis to que ou tras ló gi cas de do mi -na ção se so bre põem a este fac tor nos con tex tos do tra ba lho e da fa mí lia; ain da as -sim, tem tido efe i tos vi sí ve is na di mi nu i ção das as si me tri as.

Por ou tro lado, ao ní vel das clas ses so ci a is, a es co la tem con fir ma do e le gi ti -ma do as de si gual da des exis ten tes, mul ti pli can do as opor tu ni da des de uns, oscons tran gi men tos de ou tros. Num con tex to des fa vo re ci do, a pes qui sa iden ti fi coual guns jo vens (em ge ral, fi lhos de em pre ga dos exe cu tan tes, pe que nos co mer ci an -tes ou ope rá ri os es pe ci a li za dos) para quem a es co la fun ci o na como “tram po lim”de mo bi li da de so ci al, ca ta li sa dor de so nhos e am bi ções. To da via, para gru pos jámar ca dos por ex clu sões e pri va ções vá ri as, as ex pe riên ci as es co la res sis te má ti casde in su ces so e aban do no pre co ce ten dem a cons ti tu ir po de ro sos me ca nis mos dedes va lo ri za ção iden ti tá ria, agu di zan do os pro ces sos de ex clu são e mar gi na li za ção.

Por fim, a im por tân cia das con di ções não nos deve le var a des pre zar as si tu a -ções. Nes te sen ti do, a pes qui sa per mi tiu cons ta tar a re la ti va au to no mia que pos -suem, no meio es co lar, as di nâ mi cas in te rac ci o na is, face às con di ções es tru tu ra isim pos tas. Ain da que en for ma das por qua dros es tru tu ra is, são as in te rac ções lo ca ise in for ma is (ge ra do ras de re des, ins ti tu i ções e prá ti cas) que re gem a so ci e da de es -co lar e que, em gran de me di da, pro du zem as dis po si ções e iden ti da des dos jo vens.Mais, a aná li se de di ver sos es pa ços e ac ti vi da des es co la res mos tra como es sas di nâ -mi cas in te rac ci o na is, sen do em par te es pon tâ ne as, são tam bém con di ci o na das poropor tu ni da des e con tex tos es pe cí fi cos.

As po lí ti cas, es tra té gi as e prá ti cas das es co las e dos seus pro fes so res in ter fe -rem, sig ni fi ca ti va men te, na cons tru ção de am bi en tes es tru tu ran tes das iden ti da desju ve nis. Em mu i tos ca sos, con tri bu em para a pro du ção de am bi en tes de ex clu são ere sis tên cia, com con se quên ci as na po la ri za ção das iden ti da des ju ve nis e na re pro -du ção das de si gual da des so ci a is. Em di ver sos ou tros, pro mo vem am bi en tes de in -te gra ção e en vol vi men to, ge ra do res de fe nó me nos de va lo ri za ção e hi bri di za çãoiden t i tá r i as , l oc i de opor tu ni da des para ate nu ar de s i gual da des econs tran gi men tos.

IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE ESCOLARIDADE 113

Page 22: IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE …sociologiapp.iscte-iul.pt/pdfs/41/454.pdf · IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE ESCOLARIDADE Pedro Abrantes Resumo Muitas vezes pensadas como

Notas

1 Agra de ço ao pro fes sor Antó nio Fir mi no da Cos ta, por todo o apo io na ori en ta çãoda pes qui sa. Agra de ço tam bém a Inês Pe re i ra, Ma nu el Abran tes e Sara Lo pes, pela le i tu ra aten ta do ar ti go e pe las suas crí ti cas su ges ti vas. Por fim, o meu agra de ci -men to aos ava li a do res ci en tí fi cos da re vis ta, pe los seus co men tá ri os ere co men da ções.

2 A po si ção do mi nan te na so ci o lo gia da ju ven tu de pa re ce ser a de que “as cul tu rasju ve nis são, na sua es sên cia, cul tu ras de la zer: por mo ti vos de or dem prá ti cae ideológica” (Pais, 1993: 188). Nes te sen ti do, a es co la é mu i tas ve zes men ci o na dacomo es pa ço im por tan te quer de so ci a bi li da de quer de con di ci o na men to dos per -cur sos ju ve nis. No en tan to, ra ra men te é dis cu ti da a for ma como (cert)as di nâ mi casde es co la ri da de po dem im pul si o nar e es tru tu rar iden ti da des, cul tu ras e tra jec tó ri -as ju ve nis. Isso é cla ro quan do Lo pes (1996) es tu da o de sin te res se e afas ta men todas cul tu ras ju ve nis face à es co la, omi tin do (qua se por com ple to) di ver sas di nâ mi -cas e pro ces sos, in clu in do o (va li o so) pro jec to de ani ma ção cul tu ral em vá ri as es co -las se cun dá ri as do Por to, do qual, na al tu ra, foi co or de na dor.

3 Como as si na la Fin ki elk ra ut (1988: 136), “com a es co la ri za ção em mas sa, a ado -lescência de i xou de ser um pri vi lé gio bur guês para se tor nar uma con di ção uni ver -sal. E um modo de vida: pro te gi dos da in fluên cia pa ter nal pela ins ti tu i ção es co lar,e do as cen den te dos pro fes so res pelo ‘gru po de ami gos’, os jo vens pu de ram edi fi -car um mun do para eles, es pe lho in ver ti do dos va lo res cir cun dan tes”.

4 Note-se que, em Por tu gal, a es co la está lon ge de ocu par to dos os jo vens. Em 1991,54, 9% dos jo vens en tre os 15 e os 19 anos es ta vam in te gra dos no sis te ma de en si no (Fi gue i re do e ou tros, 1999).

5 Esta de fi ni ção de es co la ri da de en con tra cor res pon dên cia di rec ta no ter mo in glêsscho o ling. Em por tu guês, al guns au to res op tam pelo ter mo es co la ri za ção (veja-seGrá cio, 1997). Con tu do, con sul tan do vá ri os di ci o ná ri os, não en con trei esse ter mo.Além dis so, a de fi ni ção de es co la ri da de que en con trei sa tis fez os meus pro pó si tos:es co la ri da de, s. f., acto de se guir os cur sos de um es ta be le ci men to de en si no; pe río do de es tu dos es co la res; du ra ção de um cur so (Di ci o ná rio Uni ver sal Mi lé nio, Tex to Edi -to ra, 1999).

6 Esta ide ia foi de sen vol vi da por di ver sos au to res, en tre os qua is Ba sil Bern ste in(1975), que es tu dou a ali e na ção en quan to pro ces so que atra ves sa vá ri os es tá di os,des de o ins ti tu ci o nal ao com por ta men tal. Em Por tu gal, Alves-Pin to e For mo si nho(1985) par ti ram tam bém des te con ce i to e tes ta ram-no em pi ri ca men te (com base em três di men sões: sen ti do, en ra i za men to e po der), con clu in do que “a es co la de sen -vol ve sen ti men tos de ali e na ção até na que les que cer ti fi ca po si ti va men te” (p. 1046).Se gun do este tra ba lho, a ali e na ção va ria em fun ção da es co la e do ní vel de es co la -ri da de, mas não em ter mos da clas se de ori gem.

7 Nes te tra ba lho, Mer ton (1968) con si de ra cinco for mas de adap ta ção in di vi du alàs nor mas so ci a is: con for mi da de, ino va ção, ri tu a lis mo, re tra i men to, e re be lião.

8 Pais (1993) iden ti fi ca qua tro per fis-tipo de ati tu de face à es co la, com al gu ma cor re -la ção com as clas ses so ci a is: mar rões (pe que na bur gue sia de exe cu ção e

114 Pedro Abrantes

Page 23: IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE …sociologiapp.iscte-iul.pt/pdfs/41/454.pdf · IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE ESCOLARIDADE Pedro Abrantes Resumo Muitas vezes pensadas como

tra di ci o nal); ba ca nas (clas ses ele va das e pe que na bur gue sia in ter mé dia, téc ni cae de en qua dra men to); gra xas; e bal das (ope ra ri a do). Per re noud (1995) dis tin guecin co es tra té gi as-tipo face à es co la tra di ci o nal: con for mar-se e “be ber o cá li ce daamar gu ra”; li vrar-se ra pi da men te da ta re fa; des pa char-se len ta men te; ad vo gar a a -u to-in com pe tên cia; con tes tar aber ta men te. O re cur so a ti po lo gi as de ca rác ter et no -me to do ló gi co cons ti tui um ins tru men to pre ci o so da in ves ti ga ção so ci o ló gi ca, to da -via, o seu uso ex clu si vo pode con du zir à des va lo ri za ção (ou sim pli fi ca ção) de di -nâ mi cas es tru tu ra is.

9 Ba se a do em es tu dos da psi co lo gia, está mu i to di fun di do no meio es co lar o ar gu -men to se gun do o qual as ra pa ri gas ama du re cem mais cedo do que os ra pa zes. Não se pre ten de aqui dis cu tir es sas te o ri as, con tu do de ve mos en fa ti zar: a) a sua in ter li -ga ção com as ex pe riên ci as quo ti di a nas de so ci a li za ção e cons tru ção iden ti tá ria quedi tam que as ra pa ri gas te nham, des de cedo, res pon sa bi li da des fa mi li a res acres ci -das, par ti ci pa ções so ci a is li mi ta das, am bi ções es co la res efec ti vas; b) o seu efe i to es -tru tu ran te nas prá ti cas e re pre sen ta ções dos agen tes e, por con se guin te, nos quo ti -di a nos es co la res, no sen ti do de uma po la ri za ção das dis po si ções, con su ma do numma i or con tro lo e res pon sa bi li za ção das ra pa ri gas.

10 Iro ni ca men te, pelo seu ca rác ter mais de fi ni do, es sas iden ti da des (tan to as pre cá ri ascomo as pre co ces) têm cons ti tu í do mo de los de re fe rên cia para as “in dús tri as do la -zer”, pela aura de in de pen dên cia e re bel dia que ins pi ram, di tan do mo das e es ti losli ber tá ri os re a pro pri a dos pe los res tan tes gru pos ju ve nis.

11 É ób vio que a pos si bi li da de de es tes mo de los se con ver te rem na qui lo que pre ten -dem com ba ter não é uma fa ta li da de: exis tem me ca nis mos que po dem evi tar es sesde sen vol vi men tos, en quan to ou tros os po dem fa ci li tar. Uma aná li se sis te má ti cades tes fe nó me nos cons ti tu i rá tam bém um tema com ple xo que me re ce, só por si,uma in ves ti ga ção mais apro fun da da.

Re fe rên ci as bi bli o grá fi cas

Abrantes, Pedro (2003), “A construção social de identidades de escola”, Trajectos,ISCTE/Editorial Notícias, 2, pp. 13-22.

Alves, Natália (1998), “Escola e trabalho: atitudes, projectos e trajectórias”, em ManuelVilaverde Cabral e José Machado Pais (orgs.), Jovens Portugueses de Hoje, Oeiras,Celta Editora, cap. 2, pp. 53-133.

Alves-Pinto, Maria da Conceição, e Júlia Formosinho (1985), “Alienação na escola:conceito relevante para a compreensão da sociologia escolar”, Análise Social, XXI(87-88-89), pp. 1041-1051.

Amâncio, Lígia (1994), Masculino e Feminino: A Construção Social da Diferença, Porto,Edições Afrontamento.

Amâncio, Lígia (1999), “Género e educação em Portugal: mitos e realidades”, em FélixNeto, Teresa Joaquim, Rui Soares e Teresa Pinto (orgs.), Igualdade de Oportunidades:Género e Educação, Lisboa, Universidade Aberta, pp. 198-207.

IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE ESCOLARIDADE 115

Page 24: IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE …sociologiapp.iscte-iul.pt/pdfs/41/454.pdf · IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE ESCOLARIDADE Pedro Abrantes Resumo Muitas vezes pensadas como

Apple, Michael (1985, 1989), Educação e Poder, Porto Alegre, Artes Médicas.Barrère, Anne, e Danilo Martuccelli (2000), “La fabrication des individus à l’école”,

em Agnès Van Zanten (org.), L’École: L’État des Savoirs, Paris, Editions LaDécouverte, pp. 254-262.

Baudelot, Cristian, e Roger Establet (1992), Allez les Filles!, Paris, Éditions du Seuil.Benavente, Ana, Jean Campiche, Teresa Seabra, e João Sebastião (1994), Renunciar

à Escola: O Abandono Escolar no Ensino Básico, Lisboa, Fim-de-Século.Bernstein, Basil (1975), Class, Codes and Control, Londres, Routledge & Kegan Paul.Bourdieu, Pierre (1972), Esquisse d’une Théorie de la Pratique, Genebra, Droz.Bourdieu, Pierre (1979), La Distinction: Critique Sociale du Jugement, Paris, Éditions

de Minuit.Bourdieu, Pierre (1984), “La jeunesse n’est qu’un mot”, em Questions de Sociologie, Paris,

Éditions de Minuit.Bourdieu, Pierre (1994, 1997), A Razão Prática: Sobre a Teoria da Acção, Oeiras, Celta

Editora.Bourdieu, Pierre, e Jean-Claude Passeron (1970), A Reprodução: Elementos para uma Teoria

do Sistema de Ensino, Lisboa, Vega.Burgess, Robert (1984), In the Field: An Introduction to Field Research, Londres, Unwin

Hyman.Camilleri, Carmel (1990), “Identité et gestion de la disparité culturelle: essai d’une

typologie”, em Carmel Camilleri e outros, Stratégies Identitaires, Paris, PUF, cap. 3,pp. 85-109.

Campos, Joana, e Sandra Mateus (2002), “A nossa escola e o meu bairro”, em MagdaPinheiro, Luís Baptista e Maria João Vaz (orgs.), Cidade e Metrópole: Centralidadese Marginalidades, Oeiras, Celta Editora, cap. 19, pp. 253-259.

Clark, John, Stuart Hall, Tony Jefferson, e Brian Roberts (1977), “Subcultures, culturesand class”, em Stuart Hall e Tony Jeferson (orgs.), Resistance Through Rituals,Londres, Hutchinson e CCCS, pp. 9-74.

Costa, António Firmino da (1986), “A pesquisa de terreno em sociologia”, em AugustoSantos Silva e José Madureira Pinto (orgs.), Metodologia das Ciências Sociais, Porto,Edições Afrontamento, cap. 5, pp. 129-148.

Delamont, Sara (1983, 1987), Interacção na Sala de Aula, Lisboa, Livros Horizonte.Dewey, John (1899, 1964), “The school and society”, em Reginald Archambault (org.),

John Dewey: On Education, Selected Writings, Chicago, The University of ChicagoPress.

Dubet, François, e Danilo Martuccelli (1996), À l’École: Sociologie de l’Experience Scolaire,Paris, Seuil.

Duru-Bellat, Marie (1990), L’École des Filles: Quelle Formation pour Quels Rôles Sociaux,Paris, L’Harmattan.

Duru-Bellat, Marie, e Agnès Van Zanten (1999), Sociologie de l’École, Paris, ArmandColin.

Figueiredo, Alexandra Lemos, Catarina Lorga da Silva, e Vítor Sérgio Ferreira (1999),Jovens em Portugal: Análise Longitudinal de Fontes Estatísticas (1960-1997), Oeiras,Celta Editora.

Finkielkraut, Alain (1988), A Derrota do Pensamento, Lisboa, Dom Quixote.

116 Pedro Abrantes

Page 25: IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE …sociologiapp.iscte-iul.pt/pdfs/41/454.pdf · IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE ESCOLARIDADE Pedro Abrantes Resumo Muitas vezes pensadas como

Furlong, Andy, e Fred Cartmel (1997), Young People and Social Change: Individualizationand Risk in Late Modernity, Buckingham e Filadélfia, Open University Press.

Garcia, José Luís, Helena Mateus Jerónimo, Rui Norberto, e Maria Inês Amaro (2000),Estranhos: Juventude e Dinâmicas de Exclusão Social em Lisboa, Oeiras, Celta Editora.

Giddens, Anthony (1991, 1994), Modernidade e Identidade Pessoal, Oeiras, Celta Editora.Gomes, Carlos Alberto (1987), “A interacção selectiva na escola de massas”, Sociologia,

Problemas e Práticas, 3, pp. 35-50.Gomes, Maria do Carmo (2003), “Literexclusão na vida quotidiana”, Sociologia, Problemas

e Práticas, 41, pp. 63-92.Grácio, Sérgio (1997), Dinâmicas da Escolarização e das Oportunidades Individuais, Lisboa,

Educa.Hammersley, Martin, e G. Turner (1984), “Conformist pupils?”, em Martin Hammersley

e Peter Woods (orgs.), Life in School: The Sociology of Pupil Culture, Milton KeynesOpen University Press, cap. 10, pp. 161-175.

Lave, Jean (1991), “Acquisition des savoirs et pratiques de groupe”, Sociologie et Sociétés,XXIII (1), pp. 145-162.

Lopes, João Teixeira (1996), Tristes Escolas: Práticas Culturais Estudantis no Espaço EscolarUrbano, Porto, Edições Afrontamento.

Marry, Catherine (2000), “Filles et garçons à l’école”, em Agnès Van Zanten (org.),L’École: L’État des Savoirs, Paris, Editions La Découverte, pp. 283-292.

McRobbie, Angela, e Jenny Garber (1977), “Girls and subcultures”, em Stuart Hall e Tony Jeferson (orgs.), Resistance Through Rituals, Londres, Hutchinson e CCCS.

Melucci, Alberto (1982, 2001), A Invenção do Presente: Movimentos Sociais nas SociedadesComplexas, Petropólis, Editora Vozes.

Merton, Robert (1949, 1968), Sociologia: Teoria e Estrutura, São Paulo, Mestre Jou.Pais, José Machado (1993), Culturas Juvenis, Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda.Pais, José Machado (2001), Ganchos, Tachos e Biscates: Jovens, Trabalho e Futuro, Porto,

Ambar.Payet, Jean-Paul (1997), Collèges de Banlieue: Ethnographie d’un Monde Scolaire, Paris,

Armand Colin.Pereira, Inês (2002), “Identidades em rede: construção identitária e movimento

associativo”, Sociologia, Problemas e Práticas, 40, pp. 107-121.Perrenoud, Philippe (1994, 1995), Ofício de Aluno e Sentido do Trabalho Escolar, Porto, Porto

Editora.Santos, Félix Riquena (1989), Amigos y Redes Sociales: Elementos para una Sociología

de la Amistad, Colección Monografias, 139, Madrid, CIS/Siglo Veintiuno.Sebastião, João (1998), “Os dilemas da escolaridade”, em José Manuel Leite Viegas

e António Firmino da Costa (orgs.), Portugal, que Modernidade?, Oeiras, CeltaEditora, pp. 311-328.

Stanley, Julia (1986), “Sex and the quiet schoolgirl”, British Journal of Sociologyof Education, 7 (3), pp. 275-286.

Van Zanten, Agnès (2000), “Le quartier ou l’école? Déviance et sociabilité adolescentedans un collège de banlieue”, Déviance et Société, 24 (4), pp. 377-401.

Wenger, Etienne (1998), Communities of Practice: Learning, Meaning and Identity,Cambridge, Cambridge University Press.

IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE ESCOLARIDADE 117

Page 26: IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE …sociologiapp.iscte-iul.pt/pdfs/41/454.pdf · IDENTIDADES JUVENIS E DINÂMICAS DE ESCOLARIDADE Pedro Abrantes Resumo Muitas vezes pensadas como

Willis, Paul (1977), Learning to Labour: How Working Class Kids Get Working Class Jobs?,Ashgate, Aldershot.

Woods, Peter (1979), The Divided School, Londres, Routledge & Kegan Paul.

Pedro Abrantes. Investigador do CIES. E-mail: [email protected]

118 Pedro Abrantes