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IDENTIFICAÇÃO E DELIMITAÇÃO DE ÁREAS PRIORITÁRIAS PARA CONTROLE DA LEPTOSPIROSE NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO Coordenação de Vigilância em Saúde – COVISA Secretaria Municipal de Saúde – SMS Prefeitura do Município de São Paulo – PMSP 2007

IDENTIFICAÇÃO E DELIMITAÇÃO DE ÁREAS PRIORITÁRIAS … · geoprocessamento e análise espacial. 03 técnicos de nível superior para coordenar as ... *GLOSSÁRIO DE TERMOS E

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IDENTIFICAÇÃO E DELIMITAÇÃO DE ÁREAS

PRIORITÁRIAS PARA CONTROLE DA LEPTOSPIROSE NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO

Coordenação de Vigilância em Saúde – COVISA

Secretaria Municipal de Saúde – SMS Prefeitura do Município de São Paulo – PMSP

2007

CONTEÚDO:

• Formulário de Inscrição • Glossário de termos e abreviaturas

• Relatório de Inscrição

FORMULÁRIO DE INSCRIÇÃO

FORMULÁRIO DE INSCRIÇÃO Prêmio São Paulo Cidade Escola de Formação do Servidor Público Municipal “Álvaro Liberato Alonso Guerra” Av. Zaki Narchi, 536 – Carandiru 02029-000 – São Paulo – SP [ 1. Caracterização da equipe de trabalho ] Os servidores da equipe pertencem a: [X] Administração direta [ ] Autarquia Identificação do responsável pela equipe: Nome: José Olímpio Moura de Albuquerque Cargo/função: Subgerente Registro funcional: 640949100 Órgão/unidade de trabalho: Coordenação de Vigilância em Saúde – Secretaria Municipal de Saúde Endereço completo: Rua Santa Isabel, 181 / 6º andar; Vila Buarque, São Paulo, SP. Telefones: 3350-6667 / 6621 / 6668 E-mail: [email protected] Identificação dos integrantes da equipe de trabalho: Pedro José Vilaça RF: 746332.400 Médico Epidemiologista Coordenação de Vigilância em Saúde – Secretaria Municipal de Saúde. Cleir Aparecido Santana RF: 590794201 Cirurgião Dentista. Coordenação de Vigilância em Saúde – Secretaria Municipal de Saúde. Maria das Graças Soares dos Santos Bióloga RF: 514359402 Coordenação de Vigilância em Saúde – Secretaria Municipal de Saúde. Paula Regina Glasser Médica Veterinária RF: 754617300 Coordenação de Vigilância em Saúde – Secretaria Municipal de Saúde.

Ludvig Genehr Engenheiro Agrônomo. RF: 750366100 Coordenação de Vigilância em Saúde – Secretaria Municipal de Saúde. [ 2. Caracterização da iniciativa ] 2.1. Título: “Identificação e delimitação de áreas prioritárias para controle da leptospirose no município de São Paulo”. Categoria: [x] Social [ ] Urbana e ambiental [ ] Econômica [ ] Administrativa e financeira Data de início/criação da iniciativa: Dia: 01 Mês: 06 Ano: 06 Período de execução: 01 ano 2.2. A iniciativa ocorre em [x] um único local de trabalho ou [ ] diversos locais de trabalho. Caso ocorra em diversos locais de trabalho, indique os locais onde são executadas as atividades. 2.3. Nome do órgão no qual a iniciativa é executada. Coordenação de Vigilância em Saúde – Secretaria Municipal de Saúde. 2.4. A iniciativa é inédita? [x] Sim [ ] Não [ ] Não sabe 2.5. Descreva e quantifique os principais usuários (internos e externos) da iniciativa, ou seu público-alvo. Usuários internos: gestores e executores locais (subprefeituras) das ações de vigilância em saúde. Usuários externos: população do município de São Paulo. Público-alvo: 1.234.864 munícipes que residem em áreas identificadas como sendo de maior ocorrência de leptospirose. 2.6. Descreva os objetivos da iniciativa, as metas estabelecidas e as principais ações implementadas. Objetivo principal: identificar áreas prioritárias para controle de leptospirose exeqüíveis de intervenção pelas equipes existentes. Meta: cadastrar as áreas prioritárias segundo as subprefeituras envolvidas. Principais ações implementadas: construção da metodologia, validação das áreas identificadas e cadastramento destas áreas segundo subprefeituras (em andamento).

2.7. Especifique os recursos (materiais, humanos e financeiros) empregados na implementação da iniciativa. Recurso materiais: Softwares de geoprocessamento (Maptitude, CrimeStat, Terraview), bases digitais da cidade fornecidas pela PRODAM (bases geolog), impressão de 19 mapas em tamanho A0. Recurso Humanos: 03 técnicos com formação superior e dotados de conhecimentos em geoprocessamento e análise espacial. 03 técnicos de nível superior para coordenar as ações de validação no trabalho de campo. Indique, se for o caso, a composição dos recursos financeiros. [x] % municipais [ ] % estaduais [ ] % federais [ ] % privados [ ] % outros 2.8. Descreva os benefícios gerados e os resultados obtidos pela iniciativa. Construção de uma metodologia apropriada para a identificação de áreas prioritárias para controle de leptospirose. Seleção de áreas prioritárias para controle da leptospirose no município de São Paulo. Capacitação das equipes locais para operacionalização das ações. 2.9. Identifique quais são os aspectos mais inovadores da iniciativa. Apesar da leptospirose ser endêmica na cidade há mais de 20 anos com média de 280 casos/ano e alta letalidade, inexistia um modelo de identificação de áreas e de estratificação de risco que norteasse as ações de controle. Este trabalho preencheu esta lacuna. Em conseguinte, foi validado e adotado pelo Ministério da Saúde enquanto modelo a ser adotado no restante do país. Através das modernas técnicas de geoprocessamento e análise espacial foi possível racionalizar o programa e superar as restrições espaciais. Assinatura do responsável pela equipe: Data: Identificação e assinatura do superior imediato: Nome: Cargo: Registro funcional: Assinatura: Data:

GLOSSÁRIO DE TERMOS E

ABREVIATURAS

*GLOSSÁRIO DE TERMOS E ABREVIATURAS

Análise espacial – Técnicas estatísticas para se estudas a relação entre elementos que

estão dispostos no espaço.

Análise exploratória – conjunto de ferramentas estatísticas e de relacionamento

espacial na qual se procura descrever o comportamento geral de um conjunto de

dados.

Buffers – área de abrangência. Representa uma área circunscrita ao redor de alguma

feição do ambiente.

CDC – Centers for Disease Control and Prevention – Órgão responsável pela Vigilância

Epidemiológica dos Estados Unidos da América, com sede em Atlanta. Constitui-se no

principal órgão mundial em termos de Vigilância Epidemiológica.

Cluster – Aglomeração de casos de certo evento em um local particular do espaço.

Controle químico – Aplicação de produtos químicos (como raticidas) para controlar

determinada praga.

CRS – Coordenadorias Regionais de Saúde – divisão da Secretaria Municipal de Saúde

em 05 grandes regiões de saúde: norte, leste, centro-oeste, sudeste e sul.

Estimação de densidade de Kernel – técnica de análise espacial na qual, a partir de um

conjunto de pontos, cria-se uma superfície descrevendo as áreas onde estes pontos

exibem diferentes concentrações. Utilizada para se identificar aglomerados espaciais de

pontos (casos) e áreas de maior ou menor densidade.

Georreferenciamento – etapa do geoprocessamento na qual se atribui uma localização

geográfica (como latitude e longitude) a partir de um endereço fornecido.

Geoprocessamento – Conjunto de ferramentas para se trabalhar com informações

referenciadas espacialmente. Envolve o uso de mapas cartográficos na análise de

problemas específicos.

Hot spot – termo utilizado para se descrever a área que, na estimação de densidade de

Kernel, apresenta a maior densidade. Representa a área onde os casos estão mais

aglomerados. Literalmente é o “ponto quente” de determinado agravo.

INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.

Kernel Prismático – forma de apresentação e visualização da estimação de densidade

de Kernel na qual as áreas densas se elevam proporcionalmente à densidade

encontrada.

Letalidade – Total de óbitos decorrente de uma doença. Calculado dividindo-se o total

de óbitos pelo total de casos de certa doença.

MS – Ministério da Saúde do Brasil.

Ordenamento ambiental – conjunto de ações e/ou modificações feitas em certo meio-

ambiente visando reduzir as condições propícias para a existência de certa praga.

Padronização de endereços: operações necessárias para que o nome do endereço

constante na notificação de Leptospirose exiba a mesma grafia do endereço constante

no mapa de ruas da cidade.

SINAN – Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Sistema nacional que

agrega todos os dados referentes às doenças consideradas como de notificação

compulsória.

SUVIS – Superintendência de Vigilância em Saúde – Geralmente composta por uma ou

mais subprfeituras, totalizando 26 SUVIS.

Tabela de contingência – método estatístico para se aferir o risco ou a chance de um

evento acontecer entre dois grupos de comparação.

RELATÓRIO DE INSCRIÇÃO

1. CIDADÃOS E SOCIEDADE:

1.1 Conhecimento das necessidades dos usuários, dos cidadãos e da

sociedade.

A Leptospirose é uma doença infecciosa aguda causada por uma bactéria, a

Leptospira interrogans e veiculada ao ser humano principalmente por meio do contato

com a urina de roedores infectados. Nos países em desenvolvimento está relacionada

às precárias condições de infra-estrutura sanitária e a alta infestação de roedores

infectados, constituindo-se numa zoonose de grande importância social e econômica

por apresentar elevada incidência em determinadas áreas, alto custo hospitalar e

perdas de dias de trabalho, bem como por sua letalidade, que pode chegar em até 40%

nos casos mais graves. As enchentes e inundações desempenham papel

potencializador na ocorrência da leptospirose, uma vez que colocam o homem em

contato com a água contaminada pela urina de roedores infectados (1).

No município de São Paulo a Leptospirose tornou-se uma doença endêmica há mais de

20 anos, sendo que no período de 1998 a 2006 foram notificados no banco de dados do

Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN)* um total de 2.958 casos de

Leptospirose que resultaram em 413 óbitos (letalidade* de 13,9%). Somente em 2006

foram notificados 364 casos e 63 óbitos o que se traduziu num aumento da letalidade

para 17,0%. A média brasileira de letalidade por Leptospirose é de 10%. Nos últimos 10

anos, 83% dos casos de Leptospirose notificados necessitaram de internação

hospitalar, geralmente envolvendo procedimentos considerados como de alto custo

como leitos de UTI, ventilação mecânica e hemodiálise. Ademais, não existe até o

momento vacina no Brasil contra a Leptospirose humana.

O impacto da Leptospirose para as populações humanas faz-se sentir principalmente

nas faixas etárias entre os 20 e 50 anos, portanto consideradas como população

economicamente ativa. Por sua vez, a população adulta do sexo masculino é a principal

acometida, tanto em termos de adoecimento, quanto de mortalidade. Este conjunto de

características coloca a Leptospirose como a 6ª principal causa de óbito por doenças

infecciosas no município de São Paulo.

As atividades voltadas ao controle da Leptospirose englobam um rol de ações que vão

desde o monitoramento dos casos, a capacitação de profissionais de vigilância e de

atendimento médico, o controle dos ratos, produção e distribuição de materiais

educativos e informativos, até ações focadas no manejo ambiental e controle químico

no sentido de diminuir as condições propícias à infestação por roedores. Tais atividades

são desempenhadas sistematicamente pelas equipes locais de controle de zoonoses e

envolvem o controle químico*, cabendo às subprefeituras conduzir as atividades de

ordenamento ambiental*, com limpeza de córregos, manejo de lixo e constituem-se nas

principais atividades de saneamento. Contudo, grandes quantidades de lixo disponível

servindo de alimento aos ratos e extensas margens de córregos muito próximos as

moradias tornam os ambientes urbanos muito complexos e resultam em elevada

infestação por roedores o que, por sua vez, tornam o trabalho de campo realizado pelas

equipes de zoonoses um desafio hercúleo.

Com quase 4.000 Km de córregos, uma população superior a 11 milhões de pessoas,

mais de 3 milhões de domicílios, muitos erguidos em áreas irregulares e de precárias

condições higiênico-sanitárias, o município de São Paulo não possuía ferramentas que

norteassem ou delimitassem espacialmente as áreas de maior risco para ocorrência de

Leptospirose tendo como referência o acúmulo histórico de casos.

Neste sentido os servidores municipais que integram as equipes gestoras das

Supervisões de Vigilância (SUVIS)* locais constituem-se nos usuários internos, a

população beneficiada é a residente nas áreas selecionadas, composta por cerca de

1,3 milhões, sendo o público-alvo deste projeto.

1.2 Identificação dos serviços prestados:

O trabalho de se identificar e delimitar áreas prioritárias para controle da leptospirose

envolveu dois objetivos principais:

1 – conhecer a distribuição espacial dos casos de leptospirose na cidade de São Paulo

no período de 1998 a 2006, aplicando de forma pioneira técnicas de

geoprocessamento*(2,3) e de análise espacial* para identificar a formação de

aglomerados espaciais de casos (cluster*), evidenciando as áreas de maior risco para

ocorrência da doença.

2 – Identificar e delimitar as áreas prioritárias de modo que as intervenções fossem

exeqüíveis pelas equipes locais em termos de área total, população abrangida, número

de domicílios envolvidos e metros lineares de córregos a serem trabalhos.

1.3 Canais de relacionamento com os usuários, os cidadãos e a sociedade.

Durante a construção da metodologia, reuniões periódicas com o os usuários internos

foram realizadas para familiariza-los com as ferramentas de geoprocessamento e

análise espacial para reconhecimento do seu território de ação. Onze projetos-piloto

foram conduzidos nas seguintes subprefeituras: Tremembé/Jaçanã, Cachoeirinha e Vila

Maria/Vila Guilherme (Zona Norte), Itaquera, São Miguel Paulista e Itaim Paulista (Zona

Leste), Campo Limpo, Jabaquara e Cidade Ademar (Zona Sul), Butantã e Lapa (Zona

Oeste) no sentido de reforçar a abordagem da vigilância georreferenciada. Dois

profissionais da Coordenadoria de Vigilância em Saúde (COVISA) ficaram à disposição

dos usuários internos para confecção de mapas, modelagem de dados, estudos

dirigidos e esclarecimentos sobre a metodologia. Recursos de comunicação ágil como

telefone, e-mail e um grupo virtual foram disponibilizados de forma que as dúvidas

fossem prontamente discutidas, dirimidas e socializadas para garantir a

homogeneidade na execução dos trabalhos.

1.4 Métodos de avaliar a satisfação dos usuários, dos cidadãos e da

sociedade.

A satisfação dos usuários internos foi avaliada mediante o confronto entre os resultados

obtidos pelo geoprocessamento e análise espacial e a realidade vivenciada pelos

profissionais de campo diante das condições identificadas no ambiente como propícias

a ocorrência de Leptospirose.

Esta avaliação permitiu a validação das áreas identificadas como prioritárias e a

delimitação da área para intervenção de acordo com sua capacidade operacional.

1.5 Promoção da transparência e do controle social.

Os resultados obtidos foram intensamente divulgados para todas as SUVIS e

Coordenadorias Regionais de Saúde (CRS) por meio de reuniões expositivas

sistemáticas.

Os encontros propiciaram o reconhecimento de seu próprio território e o

estabelecimento de ajustes locais em respeito as particularidades de cada território.

2. PESSOAS

Do ponto de vista organizacional, a estrutura do projeto baseou-se na integração de

profissionais das várias áreas técnicas do órgão central (COVISA) e locais

(CRS/SUVIS) da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo.

Na COVISA participaram profissionais das seguintes gerências:

Gerência de Apoio Técnico (GAT):

• Sub-gerência de Informação: 01 médico Sanitarista, 01 médico

Epidemiologista e 01 dentista com atribuição de desenvolverem a

metodologia de seleção de áreas de risco homogêneas para transmissão

de Leptospirose.

Gerência de Vigilância Ambiental (GVISAM): 01 biólogo, 01 engenheiro agrônomo e 01

médico veterinário com a atribuição de desenvolver, planejar, coordenar e supervisionar

a execução do projeto em campo, além da validação das áreas identificadas.

Gerência Centro de Controle de Zoonoses (GCCZ): 01 Médico veterinário com a

atribuição de apoiar tecnicamente as etapas de desenvolvimento e execução do

projeto.

Nas Coordenadorias Regionais de Saúde (CRS*) participaram os seguintes

profissionais:

05 profissionais sendo 04 médicos e 01 enfermeiro com atribuição de estabelecer a

interlocução entre o nível central e os gestores locais.

Nas SUVIS, participaram:

40 técnicos com formação em biologia ou medicina veterinária, com a atribuição de

planejar, coordenar e supervisionar as atividades de campo.

2.1 Formas de avaliação do desempenho, reconhecimento e incentivo para

atingir resultados.

Pelo próprio caráter inédito da iniciativa, não houve uma forma de avaliação de

desempenho pré-estabelecida. O resultado foi alcançado pela dedicação, empenho e

persistência dos profissionais envolvidos na Vigilância em Saúde.

O conhecimento acerca da gravidade da Leptospirose e da inexistência de modelos de

seleção de áreas prioritárias para intervenção foi o maior incentivo para o

desenvolvimento deste projeto.

Face a todos os desafios transpostos a equipe sentiu-se plenamente reconhecida com

os resultados alcançados que possibilitaram direcionar recursos disponíveis para ações

voltadas para o público-alvo deste projeto. Ademais, houve um transbordamento da

aplicação desta metodologia para outros problemas de saúde por iniciativa dos níveis

locais, superando todas as expectativas e se traduzindo na externalidade positiva deste

trabalho.

2.2 Capacitação e desenvolvimento dos servidores para executar os serviços.

Durante a construção da metodologia os usuários internos participaram de reuniões

periódicas sobre as técnicas de geoprocessamento e de análise espacial as quais

foram incorporadas na abordagem de outros problemas de saúde existentes na região.

Desde então esta prática tem sido aplicada em suas rotinas diárias de trabalho com a

perspectiva da análise do território ao invés da simples análise do problema de saúde.

2.3 Organização dos trabalhos e da equipe para estimular o melhor desempenho.

O trabalho foi organizado e desenvolvido por equipe multidisciplinar (médicos, médicos

veterinários, biólogos, engenheiro agrônomo) que se reuniu periodicamente e cuja

principal característica foi a incorporação das atribuições específicas na construção do

modelo e o respeito aos recortes particulares de cada campo do conhecimento.

Ademais, os usuários internos foram estimulados a participar da delimitação das áreas

a partir de sua experiência acumulada no trabalho de campo.

2.4 Fatores que afetam a motivação, a satisfação, a valorização e o bem-estar dos

servidores.

Alguns fatores inerentes à construção desta metodologia motivaram os profissionais

envolvidos, especialmente a pronta disponibilidade de recursos de informática,

profissionais capacitados nas técnicas de geoprocessamento e análise espacial e o

vislumbre das inúmeras possibilidades encerradas no contexto da utilização desta

tecnologia em benefício da Saúde Pública.

2.5 Mecanismos para incentivar a participação e o desenvolvimento dos

servidores.

A participação dos servidores foi estimulada a partir da oferta das técnicas de

geoprocessamento e análise espacial para o emprego no problema da Leptospirose e

culminar na análise de outros problemas ou situações de saúde consideradas

relevantes para o território de atuação de cada um. Assim, embora o foco inicial fosse a

Leptospirose, vários servidores se engajaram em trabalhos envolvendo a análise

espacial de outras questões de interesse da comunidade. A aproximação destes

servidores com estas novas tecnologias possibilitou abordar demandas até então

reprimidas, tais como análise espacial de poluentes e doenças respiratórias, dengue e

favelas, demanda e atendimento anti-rábico, etc.

3. PROCESSOS

3.1 Identificação dos principais processos e de seus objetivos

Para se chegar à delimitação de áreas prioritárias para controle da Leptospirose as

seguintes etapas de trabalhos foram seguidas:

1 – Padronização manual dos endereços* de residência dos casos de Leptospirose

constantes no banco de dados do SINAN-W, após seleção de casos cujo município de

infecção foi São Paulo.

2 – Georreferenciamento* destes casos na malha de ruas do município.

3 – Análise exploratória* da dispersão e concentração espacial de casos ano a ano.

4 – Realização da estimação de densidade de Kernel*(4), com identificação das áreas

que exibiam maior densidade de casos (hot spot*).

5 – Validação do modelo com visita de campo às áreas identificadas e observação das

condições locais sabidamente envolvidas no risco de Leptospirose.

6 – Realização de análise estatística para se identificar a relevância da proximidade de

córregos no risco de ocorrência de Leptospirose, a partir da sobreposição do mapa dos

casos sobre o mapa geográfico dos córregos do município.

7 – Seleção de áreas que, dentro da zona de maior densidade, estendiam-se até 100

metros a partir dos córregos contidos nestas zonas.

8 – Recorte de cada área densa (hot spot) segundo a divisão de subprefeituras.

9 – Cálculo dos parâmetros operacionais (número de imóveis, população contemplada,

área geográfica e metros lineares de córregos) envolvidos em cada área selecionada.

10 – Ajustes no modelo, atendendo a situações específicas de cada subprefeitura e

abosrvendo questões de relevância local.

3.2 – Mecanismos de controle e medição do desempenho dos resultados dos

processos.

Dois mecanismos principais foram utilizados como indicadores de desempenho deste

processo: epidemiológico e operacional. O desempenho epidemiológico foi alcançado

ao se delimitar áreas pequenas que concentraram a maioria dos casos de Leptospirose

ocorridos no período de 1998 a 2006 juntamente com a identificação e incorporação da

proximidade de córregos ao projeto, ou seja, foi captada a estrutura epidemiológica da

Leptospirose na cidade de São Paulo. Por outro lado, o desempenho operacional foi

obtido a partir do cálculo dos indicadores destas áreas (número de imóveis, população

contemplada, área geográfica e metros lineares de córregos), propiciando a seleção de

áreas que estavam dentro da capacidade de trabalho de cada subprefeitura.

3.3 Desenvolvimento de parcerias.

Não existia descrito um modelo de seleção de áreas prioritárias para controle de

Leptospirose. O Programa Nacional de Controle de Leptospirose do Ministério da

Saúde (MS*) não abordava a questão de seleção de áreas de maior risco a partir dos

casos ocorridos. O Centers for Desease Control and Prevention* (CDC/EUA) havia

desenvolvido um método de levantamento de infestação por roedores que deve ser

utilizado no controle da leptospirose, mas nenhuma menção é feita a seleção de áreas

prioritárias. Assim, estabeleceram-se duas parcerias iniciais, envolvendo o MS e o

CDC. Em encontro realizado em junho de 2007, na cidade de São Paulo e envolvendo

mais 5 capitais brasileiras (Salvador, Belém, Recife, Curitiba e Manaus), o método de

seleção de áreas aqui descrito foi validado pelo CDC e preconizado pelo Ministério da

Saúde como modelo a ser utilizado nas demais cidades brasileiras com situação

semelhante. A seguir o município de São Paulo, através desta iniciativa, tornou-se

parceiro do MS na capacitação das demais cidades. Está previsto para setembro de

2007 um segundo grande encontro envolvendo o MS, o município de São Paulo e

demais cidades brasileiras para se consolidar as recomendações para o controle da

Leptospirose em grandes centros urbanos brasileiros.

A terceira parceria foi com a Secretaria Municipal de Educação (SME) na incorporação

das escolas municipais e conveniadas que se encontravam a uma distância de até 1 km

das áreas prioritárias para realização de atividades conjuntas visando disponibilizar

informações para população sobre as formas de prevenção da Leptospirose.

Atualmente encontra-se em fase de negociação uma parceria com a Universidade de

Berkeley (EUA) para participação nos testes de um novo exame para diagnóstico rápido

de Leptospirose.

3.4 Uso eficiente de recursos disponíveis, incluindo orçamento.

O presente trabalho utilizou-se basicamente da capacidade já instalada na Sub-

gerência de Informação da Coordenação de Vigilância em Saúde, não demandando um

orçamento específico. Os seguintes profissionais e insumos foram necessários:

a) Recursos Humanos:

• 01 Epidemiologista com domínio de geoprocessamento, análise espacial e

língua Inglesa.

• Equipe de vigilância ambiental para coordenação das atividades de campo

composta de 08 profissionais, sendo 05 de nível superior e 03 de nível

operacional.

b) Recursos Tecnológicos:

• 06 bases digitais da cidade (ruas, córregos, favelas, subprefeituras, distritos e

setores censitários), fornecidas pela Companhia de Processamento de Dados do

Município (PRODAM).

• 03 softwares de geoprocessamento: Maptitude(5) (software pago, com licença

adquirida pela COVISA), Terraview(6) (software livre, desenvolvido pelo Instituto

Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE*), Crimestat(7) (software livre,

desenvolvido pelo National Institute of Justice – EUA).

• 01 impressora “plotter” para impressão de mapas em tamanho A0 (19 mapas).

• 114 mapas impressos em tamanho A4 para trabalho de campo.

4. RESULTADOS

4.1 Resultados dos principais indicadores de desempenho e uso de informações

comparativas.

4.1.1 Georreferenciamento e análise espacial

A padronização manual de endereços permitiu a localização de 2.202 casos de

Leptospirose que correspondem a 81,95% dos casos ocorridos no período de 1998 a

2006 no município de São Paulo. Este constituiu-se no universo para as análises

realizadas.

A figura 1 representa a distribuição pontual dos casos localizados segundo seu

endereço de residência, colocados sobre o mapa das Subprefeituras da cidade.

4.1.2 Estimação de Densidade de Kernel e identificação dos Hot Spot.

Aplicando-se a técnica de análise espacial conhecida como Estimador de Densidade de

Kernel(4) foi possível identificar as áreas com diferentes densidades de casos (casos /

área). O resultado da estimativa é um mapa com diferentes tonalidades, refletindo as

diferentes densidades de casos observadas no período e, por conseguinte, diferentes

áreas de risco (figura 2).

Figura 1: Distribuição pontual dos casos de Leptospirose ocorridos no Município de São Paulo no período de 1998 a 2006 sobre o mapa das Subprefeituras. Fonte: SINAN-W / COVISA/SMS

A análise da localização dos casos revelou que 54% dos casos (1.189 casos)

encontrava-se na zona de maior densidade (0.045 a 1.00), constituindo-se na região

prioritária para intervenção, conhecida como hot spot.

Figura 2: Mapa da Estimação de Densidade de Kernel para os casos de Leptospirose delimitando as áreas de maior e menor densidade de casos. Município de São Paulo, 1998 a 2006. Fonte: SINAN-W

4.1.3 Validação das áreas identificadas

O trabalho de validação das áreas identificadas como Hot Spot envolveu a visita das

equipes de zoonoses a estas áreas e sua caracterização quanto a existência de fatores

de risco para Leptospirose identificáveis na vistoria de campo. Os profissionais das

SUVIS envolvidas nas áreas de maior densidade foram capacitados para identificação

dos fatores de riscos e foram supervisionadas pela Gerência de Vigilância Ambiental da

Coordenação de Vigilância em Saúde (GVISAM/COVISA). Cada equipe local recebeu

mapas com identificação da área abrangida pelo hot spot com delimitação de ruas,

córregos, quarteirões, favelas e demais feições ambientais de interesse. Tais áreas

foram catalogadas quanto ao risco de Leptospirose identificado e fotografias foram

feitas para melhorar sua caracterização. As regiões se mostraram semelhantes quanto

ao risco de transmissão de Leptospirose, constituindo-se em áreas cujo padrão de

ocupação do solo se caracterizava por moradias de baixo padrão, muitas erguidas em

áreas irregulares, com precárias condições higiênico-sanitárias, deficiente serviço de

água e esgoto, ocupação de córregos e existência de acesso, abrigo e alimentos,

fatores propícios à elevada infestação por roedores. A figura 3 representa um pequeno

retrato das áreas por detrás dos hot spot identificados, numa visão em três dimensões

da Estimação de Densidade de Kernel (Kernel Prismático*).

4.1.4 Delimitação da proximidade de córregos

Analisando-se a distância dos casos de Leptospirose dos córregos presentes nestas

áreas de maior densidade, foi possível identificar que 50% dos casos se concentravam

a uma distância menor que 100 metros de algum córrego. Por meio de uma tabela de

contingência* foi possível também aferir que tais casos exibiam uma chance de adquirir

Figura 3: Fotografias das áreas identificadas pela Estimação de Densidade de Kernel como hot spot de casos de Leptospirose. Estão ressaltadas as feições ambientais sabidamente envolvidas no risco de Leptospirose. Município de São Paulo, 2006. Fonte: GAT/GVISAM/COVISA/SMS

Leptospirose 4 vezes maior do que aqueles que se localizavam a mais de 100 metros.

Assim, foi possível refinar ainda mais o modelo construindo-se áreas de abrangência

(buffers*) de 100 metros ao redor destes córregos e selecionando-se os setores

censitários adstritos (figura 4).

Figura 4: Denominação das áreas prioritárias (AP) para controle da Leptospirose no Município de São Paulo, segundo Subprefeitura envolvida. Fonte: GAT/COVISA

Para subsidiar as decisões de intervenção, estes buffers foram recortados segundo as

subprefeituras a que pertenciam de forma a segmentar as áreas prioritárias. A figura 4

representa o modelo final, demonstrando os buffers gerados dentro dos hot spot e

tendo como limite a distância de 100 metros a partir dos córregos. As áreas foram

identificadas com a denominação genérica Área Prioritária (AP), no sentido horário.

4.1.5 Estimação dos parâmetros operacionais

O recorte e posterior análise dos setores censitários abrangidos pelas AP permitiu o

cálculo dos parâmetros operacionais relacionados às atividades de campo voltadas ao

controle da Leptospirose. Assim, pôde-se estimar quanto – tanto em valores absolutos,

quanto em percentagem – a área selecionada representava em termos de trabalho para

estas subprefeituras. Tais valores tiveram grandes variações, refletindo as diferentes

áreas de risco identificadas.

A tabela 1 apresenta o resumo do comportamento destas áreas, em termos de

parâmetros operacionais, em relação ao município de São Paulo. Assim, pode-se

observar que as áreas envolvidas historicamente na ocorrência de Leptospirose

correspondem a apenas 5.5% da área total do município, do mesmo modo que aqueles

córregos prioritários para intervenção correspondem a 9.1% do total de Km de córregos

da cidade.

Tabela 1: Resumo dos parâmetros operacionais das áreas prioritárias (AP) para

controle de Leptospirose em relação ao Município de São Paulo, expresso em termos

de percentagem.

Parâmetros Áreas Prioritárias Município de São Paulo %APÁrea total(KM2) 85 1528 5.56População total 1234864 10423826 11.85Domicílios 327334 3036641 10.78Km de córregos/rios 361 3959 9.12

Fonte: GAT/COVISA

4.2 Identificação de melhorias nas práticas de gestão e disseminação do

conhecimento.

O desenvolvimento da metodologia para seleção de áreas prioritárias representou um

avanço em termos de Vigilância em Saúde uma vez que permitiu a seleção de áreas a

partir de critérios epidemiológicos (casos incidentes) sob a ótica da capacidade

operacional e permitindo a incorporação das ferramentas de geoprocessamento e

análise espacial. O resultado de maior impacto encontra-se na aceitação e participação

das equipes locais na construção do processo e da concomitante utilização para a

abordagem de outras questões referentes ao território urbano. Desde o início das

atividades, vários técnicos passaram a incorporar a ferramenta do geoprocessamento

em seu trabalho diário, desenvolvendo novas metodologias de abordagem para

diferentes agravos, como a dengue, a poluição ambiental, a assistência anti-rábica, etc.

Fato marcante desta iniciativa é seu caráter inovador, uma vez que inexistia um modelo

de seleção de áreas para controle de Leptospirose que respeitasse a epidemiologia da

doença e que não perdesse de vista a capacidade de trabalho das equipes de controle

de zoonoses. Prova de seu caráter inovador é o fato de que tal metodologia foi

advogada pelo Ministério da Saúde como modelo a ser seguido pelas demais cidades

brasileiras com situação semelhante. Ademais, o Centers for Disease Control and

Prevention (CDC/EUA) órgão de máxima expressão em termos de Vigilância em Saúde,

aprovou tal metodologia e fez as mesmas recomendações preconizadas pelo Ministério

da Saúde.

A presente iniciativa procurou incorporar as modernas técnicas de geoprocessamento à

percepção do território urbano vivenciada pelas equipes locais de controle de zoonoses,

fornecendo a estas um norte em termos de áreas de risco para ocorrência de

leptospirose sem sobrepujar sua capacidade de trabalho. Foi possível delimitar uma

área que, embora corresponda a apenas 5,5% do território da cidade, albergou quase

60% dos casos de Leptospirose ocorridos nos últimos 10 anos. Ademais foi possível

mensurar os parâmetros operacionais nestas áreas.

O transbordamento deste olhar global do meio ambiente certamente será um

determinante nas ações de Vigilância em Saúde desenvolvidas com foco no

aprimoramento da prestação de serviços de saúde à população paulistana. Em termos

de gestão, representa o uso eficaz de tecnologia recente para o correto direcionamento

das ações e recursos.

REFERÊNCIAS

1 – MINISTÉRIO DA SAÚDE – SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE: Guia de Vigilância Epidemiológica – 6ª edição – 806p. – 2005.

2 - VINE, MF; DEGNAN, D; HANCHETTE, C. Geographic Information Systems: Their

Use in Environmental Epidemiologic Research. Environmental Health Perspectives,

105(06): 598-605, 1997.

3 - BAILEY, TC. Spatial statistical methods in health. Cadernos de Saúde Pública, Rio

de Janeiro, 17(5): 1093-1098, set-out, 2001.

4 - BAILEY, TC. Interactive Spatial Data Analysis. Reading Massachussets, 1995.

5 - MAPTITUDE. Disponível em http//www.caliper.com.br. Acesso em 20 de 2006.

6 - INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais: Terraview: programa e tutorial.

Disponível em http//:www.inpe.gov.Br/terraview. Acesso em 10 mar 2005.

7 - LEVINE, N. Crimestat 2 [manual]. National Institute of Justice, 2000.