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IDENTIFICAÇÃO E AVALIAÇÃO DOS CANAIS LOGÍSTICOS REVERSOS: UM ESTUDO SOBRE A REVALORIZAÇÃO DE GARRAFAS PET Marcus Vinícius Ferreira Batista (UFCG) [email protected] Eliane Ferreira Martins (UFCG) [email protected] O aumento da conscientização ecológica e as crescentes preocupações estratégicas das empresas que buscam um diferencial competitivo ao agregar valor a seus produtos e serviços fortalecem a importância do estudo da logística reversa. Essa noova área da logística empresarial atua de forma a gerenciar e operacionalizar o retorno de bens e matérias após sua venda e consumo, agregando valor ao mesmo. O trabalho em questão propõe analisar o processo de reciclagem das garrafas PET - Politereftalato de Etileno em uma empresa recicladora localizada na cidade de Campina grande (PB), a Depet, pela lógica da cadeia reversa. Para tanto, foi descrito o processo de transformação das garrafas em matéria-prima secundária, caracterizando os canais de distribuição diretos e reversos, considerando, além disso, os fatores de influência da logística reversa. Como fundamentos teórico- conceitual, recorreu-se à discussão dos principais fundamentos da logística reversa. A pesquisa tem caráter descritivo e exploratório e adotou diferentes métodos para a coleta de dados, tais como observação não participante e uma entrevista não estruturada. Os principais resultados apontam para uma descrição detalhada da cadeia na qual a empresa atua como um dos agentes, tendo sido feita uma avaliação da atividade de revalorização do PET sob o ponto de vista dos aspectos econômicos, ecológicos e tecnológicos, e algumas peculiaridades envolvendo os fatores legais e logísticos. Pode-se dizer que existem muitas dificuldades e entraves quanto a essa atividade, dada a complexidade da cadeia e da falta de estrutura técnica de alguns agentes constituintes. Mas, no geral, o trabalho foi enriquecedor e aponta diversas sugestões para estudos futuros. Palavras-chaves: Logística Reversa, PET, Meio-ambiente XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão. Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009

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IDENTIFICAÇÃO E AVALIAÇÃO DOS

CANAIS LOGÍSTICOS REVERSOS: UM

ESTUDO SOBRE A REVALORIZAÇÃO

DE GARRAFAS PET

Marcus Vinícius Ferreira Batista (UFCG)

[email protected]

Eliane Ferreira Martins (UFCG)

[email protected]

O aumento da conscientização ecológica e as crescentes preocupações

estratégicas das empresas que buscam um diferencial competitivo ao

agregar valor a seus produtos e serviços fortalecem a importância do

estudo da logística reversa. Essa noova área da logística empresarial

atua de forma a gerenciar e operacionalizar o retorno de bens e

matérias após sua venda e consumo, agregando valor ao mesmo. O

trabalho em questão propõe analisar o processo de reciclagem das

garrafas PET - Politereftalato de Etileno em uma empresa recicladora

localizada na cidade de Campina grande (PB), a Depet, pela lógica da

cadeia reversa. Para tanto, foi descrito o processo de transformação

das garrafas em matéria-prima secundária, caracterizando os canais

de distribuição diretos e reversos, considerando, além disso, os fatores

de influência da logística reversa. Como fundamentos teórico-

conceitual, recorreu-se à discussão dos principais fundamentos da

logística reversa. A pesquisa tem caráter descritivo e exploratório e

adotou diferentes métodos para a coleta de dados, tais como

observação não participante e uma entrevista não estruturada. Os

principais resultados apontam para uma descrição detalhada da

cadeia na qual a empresa atua como um dos agentes, tendo sido feita

uma avaliação da atividade de revalorização do PET sob o ponto de

vista dos aspectos econômicos, ecológicos e tecnológicos, e algumas

peculiaridades envolvendo os fatores legais e logísticos. Pode-se dizer

que existem muitas dificuldades e entraves quanto a essa atividade,

dada a complexidade da cadeia e da falta de estrutura técnica de

alguns agentes constituintes. Mas, no geral, o trabalho foi

enriquecedor e aponta diversas sugestões para estudos futuros.

Palavras-chaves: Logística Reversa, PET, Meio-ambiente

XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão.

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1. Introdução

Um dos grandes problemas enfrentados pelas empresas e pela sociedade atualmente diz

respeito aos impactos causados pelo descarte dos produtos e materiais ao meio ambiente. Esse

fato desperta o interesse da sociedade, que se faz cada vez mais consciente e traz implicações

éticas e de responsabilidade socioambiental para as empresas.

A sociedade tem sido cobrada por consumir de maneira consciente os produtos, ou seja, a

consumir de modo responsável. Por outro lado, as empresas devem ampliar o ciclo de vida do

produto até seu destino final, o que se exige do fabricante que ele seja responsável pelo produto

vendido ao mercado não apenas até o momento da venda, mas deve estender-se até seu destino

final. O que se pretende é evitar, a descartabilidade dos bens e o conseqüente prejuízo ao meio

ambiente e à sociedade atual e futura.

No entanto, apesar dessas preocupações, o que se percebe é que há um incentivo ao consumo

quando o mercado lança velozmente uma grande e diversificada quantidade de produtos com

ciclo de vida cada vez mais reduzido, sugerindo ao consumidor um produto sempre

descartável.

O grande questionamento volta-se para o fato de se definir o caminho pelo qual esses

produtos seguirão quando terminar a sua utilidade. Como e se poderão ser reutilizados ou

simplesmente descartados, ou seja, qual a destinação desses bens? Na verdade poucas

empresas apresentam uma postura séria com relação a isso. Na maioria das vezes, o que se

percebe é que são adotadas medidas paliativas de reaproveitamento dos produtos descartados.

Essas medidas adotadas pelas empresas não acompanharam o aumento da distribuição dos

produtos na velocidade que seria necessária. Há algumas exceções, como é o caso da

reciclagem de embalagens de alumínio e sucatas de automóveis que são reintegrados ao

processo produtivo.

A forma como uma parcela desses e outros produtos, com pouco uso após a venda ou extinta

a vida útil, readquirem valores em mercados secundários e retornam ao ciclo de negócios por

meio do reuso, reciclagem entre outras técnicas, ainda é pouco estudado. Uma das

justificativas é a escassez de informações na literatura especializada. Na maioria das vezes

esse assunto é tratado como uma “visão do ambiente” ou novas direções e responsabilidades

da administração logística, porém sem ser dada a importância devida.

Essa nova perspectiva de negócios referente ao retorno de produtos, reciclagem, substituição

de materiais, reuso, reparação, reforma, entre outros, são algumas das atribuições que podem

ser analisadas pela implementação do conceito de Logística Reversa e seus diversos canais de

distribuição reversos. Como conseqüência, há uma prolongação dos canais de distribuição,

antes considerados apenas os fluxos diretos.

De forma sucinta a logística reversa pode ser entendida como o estudo do fluxo inverso, ao

possibilitar o retorno de materiais e produtos aos centros produtivos, após sua venda e/ou

consumo, agregando valores a esses.

Esse trabalho tem justamente essa perspectiva de avaliar, primordialmente, como se dá o

processo de logística reversa do PET em uma empresa de reciclagem em Campina Grande na

Paraíba, a DEPET. Para alcançar tal objetivo foi feita a descrição do processo de

transformação das garrafas PET em matéria-prima secundária; a caracterização dos canais de

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distribuição locais das garrafas a partir do modelo da logística reversa e análise dos fatores de

influência da logística reversa presentes na empresa.

2 Logística Reversa – conceitos fundamentais

É comum pensar em logística como os fluxos que vão desde o ponto de aquisição até a

entrega de um produto a um cliente. No entanto, a logística trata também dos fluxos reversos

que se dispõem a colocar de volta aos negócios um produto que, ora estava fora do mercado.

O termo usualmente utilizado para designar esse processo é Logística Reversa que pode ser

melhor entendido, de acorde com autores como Rogers & Tibben-Lembke (1999) e Leite

(2006) como sendo o processo de planejamento, implementação e controle do fluxo de matérias-

primas, estoque em processamento e produtos acabados (e seu fluxo de informação) do ponto de

consumo até o ponto de origem, com o objetivo de revalorização desses bens que anteriormente

não apresentavam nenhum beneficio ou ainda que seja realizar um descarte adequado do mesmo

quando já não apresentam condições recapturação do se valor.

A Council of Supply Chain Management Profissional (CSCMP, 2008) afirma que a logística

reversa é um segmento especializado na logística, focado na movimentação e gestão dos

produtos após sua venda e entrega ao cliente, envolvendo aspectos como embalagens, reparos,

devoluções, entre outros.

Por ser um tema ainda pouco abordado, tanto na literatura em geral como em pesquisas

acadêmicas, há uma grande dificuldade em encontrar uma base teórica concreta e bem

estabelecida. Uma das justificadas é a pouca importância econômica em relação aos canais de

distribuição diretos visto que a relação entre o volume de materiais produzidos pelos canais

convencionais é bem superior se comparados àquele reaproveitados pelos canais reversos.

(LEITE, 2006).

Existem diversas diferenças entre a cadeia logística convencional e a logística reversa. Uma

das principais, apontada por Sinnecker (2007), é que na primeira os produtos são puxados

pelo sistema, enquanto que na segunda há uma combinação entre puxar e empurrar os

produtos pela cadeia de suprimentos. Em muitos casos isso ocorre porque há uma legislação

que aumenta a responsabilidade do produtor.

Sendo assim, para a logística reversa as empresas devem responsabilizar-se pelo produto

desde o seu projeto até o seu descarte final, passando pela concepção, seja através do uso de

matéria-prima que cause menor impacto ao meio-ambiente, até um projeto de retorno do

produto de pós-consumo ao ciclo produtivo. Ou seja, “a sua operacionalização e

principalmente o seu ônus, deve ser considerada quando da concepção do produto, pois esta é

parte integrante da estratégia logística. Além disso, custos e operações complexas necessitam

de planejamento e controle”. (BOWERSOX, 2001 apud MORO, RIGONI & TABUADA,

2007, p. 3).

3 Canais de Distribuição Reversos

O estudo dos canais reversos veio adicionar novos objetivos à logística empresarial ao

proporcionar um prolongamento do fluxo direto. É interessante enfatizar que existe uma

grande diferença entre os canais comuns de distribuição (canais diretos), que tratam das

diversas etapas pelas quais os bens produzidos são comercializados até chegar ao consumidor

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final, e os canais reversos. Estes, ao contrário, preocupam-se com o retorno de uma parcela

dos produtos comercializados, seja devido a defeitos de fabricação, prazo de validade

vencido, ciclo de vida útil encerrado ou reaproveitamento de embalagens ao ciclo produtivo

da empresa.

Leite (2006) considera dois canais reversos distintos: o Canal Reverso de Pós-Consumo

(CRPC) e o Canal Reverso de Pós-Venda (CRPV). A figura 1 representa os fluxos logísticos

reversos a partir dessas duas categorias de retorno dos materiais:

Fonte: LEITE (2006, p. 5)

Figura 1: Canais de distribuição diretos e reversos

3.1 Canais de Distribuição Reverso de Pós-Venda (CDR-PV) - são constituídos pelas

diferentes formas e possibilidades de retorno de uma parcela de produtos, com pouco ou

nenhum uso, que voltam aos diferentes elos da cadeia de distribuição motivados por

problemas relacionados à qualidade em geral ou a processos comerciais entre empresas.

3.2 Canais de Distribuição Reversos de Bens de Pós-Consumo (CDR-PC) - são

constituídos pelo fluxo reverso de uma parcela de produtos e de materiais constituintes que

foram descartados após terminado o seu uso original. Esses produtos, quando retornados,

podem seguir fluxos distintos seja pelos canais reversos de reuso, de desmanche ou de

reciclagem. Existe também a possibilidade de uma parcela deles ser dirigida a sistemas de

destinação final seguros ou controlados (que não provocam poluição), ou não seguros (que

causam impactos maiores sobre o meio ambiente) (LEITE, 2006, p. 06).

O reuso ocorre quando há uma extensão do uso de um produto com a mesma função

original e sem nenhum tipo de remanufatura.

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O desmanche é caracterizado pela revalorização de um bem durável após um processo

de “desmontagem” de seus componentes, separando aqueles em condição de uso ou de

remanufatura, daqueles que não existem condição de revalorização.

Na reciclagem os materiais constituintes dos produtos descartados são extraídos

industrialmente, transformando-se em matérias-primas secundárias ou recicladas que

serão reincorporadas à fabricação de novos produtos (LEITE, 2006).

O objetivo da logística reversa de pós-consumo é agregar valor aos produtos que ainda estão

em condições de uso e se tornaram inservíveis ao proprietário original por terem atingido o

fim de vida útil ou por terem sido descartados.

Vale salientar que o fluxo reverso de pós-consumo absorve apenas uma parcela do total de

produtos retornados. A outra parte é destinada a centros de disposição seguros, como por

exemplo, aterros sanitários tecnicamente estruturados que não provocam poluição. Ou o que é

considerado grave, pode ser enviada a um canal não controlado constituindo acúmulo e,

conseqüentemente, gerando problemas ambientais.

Os produtos logísticos de pós-consumo, de acordo com o conceito de vida útil, podem ser

classificados conforme levantou Leite (2006) como: a) bens descartáveis, que têm uma vida

útil média de algumas semanas, raramente superiores a seis meses; b) bens duráveis que têm

uma vida média útil variando de alguns anos a algumas décadas, geralmente bens de capital; e

c) bens semiduráveis que se incluem numa categoria intermediaria entre os descartáveis e

duráveis, cuja vida útil corresponderá a alguns meses, raramente superior a dois anos.

Existem diversas possibilidades de comercialização e de tratamento dos bens e materiais de

pós-consumo nos canais de distribuições reversos. A figura 2 mostra essas diversas

possibilidades, porém, é importante sublinhar que ela não apresenta todas as possibilidades, e

sim uma aproximação da realidade mais comum.

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Fonte: Leite (2006 p. 47)

Figura 2: Canais de Distribuição de Pós-consumo: Diretos e Reversos.

Como é possível observar a partir da figura 2, a coleta é parte fundamental nos diversos tipos

de aprovisionamento, todavia ainda são inexistentes em diversas áreas do planeta seja por

razões culturais, políticas ou econômicas, a coleta seletiva considerada a mais produtiva. Esse

quadro tende a sofrer modificações devido ao crescente interesse de instituições públicas e

privadas na variável meio ambiente.

Crescente também tende a ser o interesse por reciclar os produtos. Fuller e Allen (1995 apud

LEITE, 2006) enfatizam alguns fatores “propulsores” ao desenvolvimento de produtos

reciclados, seriam eles: consumidor comprometido com o produto verde, um suporte legal e

político, avanço tecnológicos de reciclagem; utilizadores da fonte de reciclados próximo das

fontes de pós-consumo.

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Entretanto, é preciso que hajam algumas condições que favoreçam esse crescimento. Leite

(2006) propõe algumas delas, o que ele considera como sendo “fatores necessários” que são

as condições garantidoras dos interesses empresariais e fortalecedoras dos níveis de

organização das cadeias reversas e, os “fatores modificadores” capazes de alterar as condições

naturais do mercado e, consequentemente, permitir novas condições de equilíbrio. A figura 3

dá uma melhor visão dessa configuração descrita pelo autor.

Fonte: Leite (2006, p.90)

Figura 3: Modelo Relacional Entre os Fatores

Ele subdivide os fatores necessários em três: a) fatores econômicos, que dizem respeito à

realização de economias na reintegração de matérias-primas que proporcionem uma

remuneração adequada aos agentes da cadeia produtiva reversa, como remuneração das etapas

reversas, qualidade dos materiais reciclados, escala econômica, e a existência de um mercado

para os produtos com conteúdo de reciclados. b) fatores tecnológicos que são aqueles

disponíveis para o tratamento eficaz dos resíduos, relacionados à viabilidade do processo de

reciclagem. c) fatores logísticos que se referem às condições de organização, localização e

sistemas de transporte adequados à cadeia reversa.

Os fatores modificadores são classificados como: a) fatores ecológicos, que são aqueles

motivados pela consciência ecológica tanto de agentes do governo, sociedade ou empresas,

que aplicam pressões ao reivindicar intervenções e legislações específicas. B) fatores

legislativos, capazes de influenciar diretamente na organização dos canais reversos.

Muller (2005) enumera alguns das principais razões que levam uma empresa a atuarem em

logística reversa, fortalecendo fatores apresentados por Leite, a saber: legislação ambiental

que força as empresas a retornarem seus produtos e cuidar do tratamento necessário;

benefícios econômicos do uso de produtos que retornam ao processo de produção, ao invés

dos altos custos do correto descarte do lixo; a crescente conscientização ambiental dos

consumidores; razões competitivas e diferenciação por serviço; limpeza do canal de

distribuição; proteção de margem de lucro;

Reintegração

ao ciclo

produtivo

Fatores necessários

Fatores Econômicos

Fatores Tecnológicos

Fatores Logísticos

Fatores modificadores

Fatores Ecológicos

Fatores Legislativos

Novo Produto

Condições Essenciais

Remuneração em todas as etapas

reversas;

Qualidade dos materiais

reciclados;

Escala Econômica de atividade;

Mercado para os produtos com

conteúdo de reciclados;

Pós-Consumo

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A presença de tais fatores simultaneamente em uma empresa seria o estado ideal de

organização, entretanto tal feito não se consegue facilmente.

4 Metodologia adotada

A fim de se atingir os objetivos propostos na pesquisa foi feita uma pesquisa de campo do tipo

exploratória por possibilitar um melhor aprimoramento e entendimento do tema logística

reversa que ainda é um pouco abordado. Com isso, a proposta do trabalho, que se configura

como um estudo de caso em uma empresa de recicladora de garrafas PET localizada no

município de Campina Grande-PB, é configurar a cadeia logística reversa na qual a empresa

está inserida analisando os fatores de influência presentes na mesma.

O critério utilizado para escolha da empresa se deu ao fato da mesma desempenhar o processo

de reciclagem das garrafas PET e estar disponível e acessível à realização da pesquisa.

A coleta de dados foi realizada através da documentação indireta, abrangendo pesquisa

documental e a bibliografia a respeito do tema logística reversa e do perfil da indústria de

reciclagem de material plástico; e a documentação direta através do levantamento dos dados

do processo no local onde os fenômenos ocorreram, ou seja, através do estudo de caso.

Os instrumentos de pesquisa utilizados foram distintos para cada uma das etapas: a fim de se

caracterizar o processo de reciclagem foi feita uma observação direta intensiva do processo

industrial, não de forma participante, mas que permitiu visualizar como se dá tal

procedimento. O tipo de observação foi sistemática, também chamada de controlada, pois já

havia conhecimento das etapas a serem analisadas.

As observações foram realizadas diretamente na área de produção da DEPET, onde ocorre o

processo de transformação das garrafas PET em flakes no dia 04 de março de 2008. Tais

observações foram de fundamental importância para se ter o conhecimento de como ocorre,

efetivamente o processo de reciclagem, apesar de algumas restrições impostas pelo Gerente,

devido ao fato de que parte dos mecanismos utilizados no processo foi desenvolvido e

implementado pela própria DEPET.

Além disso, foi realizada uma entrevista do tipo não-padronizada com o proprietário que

versou sobre as etapas do processo de reciclagem e sobre os fatores de influência referentes à

logística, fornecedores, ecologia, legislação, tecnologia implantada na reciclagem, entre

outros.

Todos os dados e informações coletados através da técnica de observação e da entrevista

foram transcritos e analisados a fim de permitir um confronto com a literatura levantada na

fundamentação teórica, de forma a atender aos objetivos propostos no trabalho.

A partir de todo esse conteúdo foi possível realizar um levantamento da configuração da

Cadeia de Distribuição Reverso, da qual a Depet faz parte. Essa configuração permite

identificar o processo de reciclagem por ela adotado e visualizar a diversidade de agentes que

intervêm no canal reverso, assim como permitiu a caracterização dos fatores necessários e

modificadores que interagem com maior ou menor intensidade na organização analisada.

5 Estudo de caso

Uma das primeiras preocupações quanto ao estudo é caracterizar o produto logístico reverso,

já que ele é o foco principal desse estudo.

5.1 Caracterização do Produto logístico reverso - O produto analisado são as garrafas PET,

não apenas as originadas de refrigerantes, mas também oriundas de embalagens de óleo,

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catchup, produtos de limpeza, higiene pessoal, entre outras. As garrafas apresentam vantagens

como transparência equivalente ao vidro, baixo peso e alta impermeabilidade ao gás

carbônico. Em contrapartida, o flake de PET, devido a restrições na legislação brasileira,

ainda não pode ser utilizado como matéria-prima para a constituição de novas garrafas cuja

finalidade seja armazenar produtos alimentícios.

São consideradas, a princípio, um produto descartável já que o período entre a compra do

produto e o desembaraço da embalagem, na maioria das vezes, não chega a um mês. Após o

seu desembaraço pelo consumidor e, portanto, finalizada sua utilidade original passa a ser

considerada um produto de pós-consumo.

5.2 Caracterização do processo de reciclagem das garrafas PET na DEPET – O processo

de reciclagem das garrafas PET na DEPET é totalmente mecânico e constitui-se basicamente

de: separação, prensagem, limpeza e moagem. O resultado da reciclagem mecânica é um

artefato ou grânulos denominado (flake).

As embalagens inicialmente são coletadas e selecionadas do lixo comum pelos catadores e em

seguida seguem as etapas seguintes:

Separação – inicialmente, as embalagens são separadas de acordo com o produto que

tenha sido envasado para, em seguida, serem separados pela cor que apresentam de

modo a evitar que a matéria-prima secundária perca em uniformidade de cor e seja de

difícil aplicação no mercado.

Prensagem – Após a separação, elas são prensadas com objetivo de diminuir o espaço

ocupado e facilitar o transporte das mesmas.

Limpeza – No primeiro instante, o material já selecionado segue para a esteira onde

ocorrem a separação do PET e a eliminação das eventuais contaminações e resíduos

não servíveis, como o PP (Polipropileno) presente nas tampas.

Moagem - As garrafas são moídas, lavadas e secas, ganhando valor no mercado. O

produto que resulta desta fase é o floco da garrafa, comumente denominado flake.

Essa etapa é conhecida como beneficiamento.

Finalizado o processo de reciclagem, há a formação de dois resíduos. Um deles são as tampas

das garrafas, cujo material constituinte é o PP, destinado à fabricação de tubos. O outro é um

resíduo mais fino que o flake, que não atinge as exigências impostas pelo mercado comprador.

5.3 Cadeias de Distribuição Direta e Reversa - Os fluxos de distribuição reversos presentes

na cadeia e apresentados a seguir foram configurados de acordo com as informações cedidas

pelo entrevistado, tomando como base os modelos de distribuição apresentados por Leite

(2006).

A figura tem como objetivo esquematizar as formas de retorno ao ciclo produtivo do flake

resultado da reciclagem das garrafas PET efetuada pela Depet. O esquema apresenta a cadeia

produtiva direta que inicia nos produtores de resina PET até a reintegração do flake na

fabricação de produtos duráveis e semiduráveis. As linhas tracejadas indicam as possíveis

reintegrações desse material no mercado secundário.

5.3.1 Cadeia de distribuição direta – é representada por diversos agentes que vão desde os

produtores da matéria-prima utilizada na fabricação das garrafas PET até os consumidores

finais. Os produtores de resina PET dispõem seus produtos diretamente no mercado primário

que é composto pelos fabricantes de produtos duráveis, semiduráveis e descartáveis.

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Após a transformação da resina de PET virgem em garrafa e seus respectivos processos de

“sopros”, as embalagens são destinadas às “envasadoras” que acondicionam o produto, sejam

eles refrigerantes e alimentos como catchup, óleo ou produtos de higiene pessoal e bens não

alimentícios que são enviados aos atacadistas e varejistas e estes ao consumidor final.

Fonte: Pesquisa de Campo (2008) – adaptado de Leite

Figura 4: Cadeia de Distribuição Direta e Reversa

A partir do instante em que esses consumidores desembaraçam as embalagens de PET, inicia-

se o ciclo logístico reverso. Esse ciclo envolve uma cadeia de distribuição reversa com

diversos outros agentes que atuam de maneira bastante particular, dada a importância do

retorno desses produtos.

5.3.2 Cadeia de Distribuição Reversa - após o consumo dos produtos, sejam eles refrigerantes,

alimentos, de higiene pessoal, entre outros, e o desembaraço das garrafas, estas passam a ser

Produtores de Resina PET

Mercado Primário

Fabricantes de Produtos Duráveis, semiduráveis e

descartáveis. (Fabricantes de Garrfas PET)

Fabricantes de Garrafas PET (produtos

Descartáveis) Fabricantes de Produtos Duráveis e Semiduráveis

Envasadoras

Consumidores Finais

Garrafas de Pós-Consumo

Coleta

Informal Coleta do Lixo

Lixões/ Aterros

Catadores

Seleção

Intermediário/ Sucateiros

DEPET

Mercado Secundário

Materiais Residuais

Comercias (PP)

Materiais Reciclados (Flake

do PET)

Fábricas de

Tubos

Tintas Coral e

Tintas Iquine

Atlati

Cordas

Outros

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consideradas produtos de pós-consumo. A próxima etapa na cadeia de distribuição reversa,

então é a coleta das garrafas descartadas pelos consumidores finais.

Os intermediários ou sucateiros são aqueles, na cadeia, que realizam a coleta das garrafas, seja

através de uma coleta informal, nos lixões, ou a seletiva. Como a seletiva ainda se apresenta

bastante incipiente em várias comunidades, as duas primeiras são aquelas que se fazem mais

presente. O estudo analisado constata essa realidade.

No caso da Depet, são poucos os indivíduos que procuram a empresa diretamente. Na maioria

das vezes há a presença de intermediários ou sucateiros que negociam diretamente com os

catadores. Constatou-se na pesquisa que não há um controle efetivo dos preços negociados

entre as partes. Segundo o entrevistado os percentuais dos valores tratados entre os

intermediários e catadores são inferiores aos preços correspondentes às negociações finais.

Além de Campina Grande, a Depet conta com fornecedores em outros estados do Nordeste.

São num total cerca de oitenta fornecedores, sendo quinze destes mais freqüentes e confiáveis.

Empresa Recicladora (Depet) – esse agente é o responsável por todo o processo de

transformação das garrafas PET no flake que assume a forma de matéria-prima secundária

resultante do ciclo reverso das garrafas. A Depet pode ser classificada como uma empresa

integrada em reciclagem, pois, adquire as garrafas PET diretamente junto às fontes primárias

de resíduos sólidos, e realizar a seleção de parte desses materiais, assim como o adensamento.

Por fim, efetua o processamento industrial de reciclagem para posterior reintegração ao ciclo

produtivo.

5.4 Classificação do Ciclo Reverso - como a legislação brasileira ainda não permite a

destinação do PET reciclado à fabricação de novas embalagens de bebidas e alimentos então

não é possível a reintegração do PET às embalagens de produtos alimentícios. Logo, o flake

resultante do processo de reciclagem na Depet é destinado ao mercado de tintas, cordas,

tecidos (poliéster), etc. Tendo em vista essa restrição o ciclo reverso no qual o produto da

Depet está inserido é do tipo aberto, pois, o material reciclado não retorna a fabricação de

novas garrafas PET.

5.5. Fatores de influência na Cadeia de Distribuição reversa

Os fatores de influência se conjugam em dois grandes grupos os necessários e os

modificadores. Os três primeiros são considerados os necessários e os outros dois

modificadores. Eles são críticos e influenciam diretamente a cadeia de Distribuição reversa.

Fatores Necessários

a) Fatores econômicos - uma das grandes vantagens econômicas advindas com a reciclagem

do PET é relativo à diferença entre a matéria prima virgem do Pet e o reciclado que é bem

inferior, o que torna viável a comercialização do flake e traz grande vantagem a todos os

integrantes da cadeia reversa. Tal fato foi constatado na análise, tendo em vista que o quilo da

resina de PET é comercializado, em média, por R$ 4,00 e o valor cobrado pela Depet pelo seu

produto está abaixo deste, entre de R$ 2,00 e R$ 3,00.

As variações no preço do quilo da garrafa PET sofrem as seguintes variações durante as

etapas reversas. Em relação ao sucateiro o valor fica entre R$ 0,90 e R$ 1,20, dependendo das

configurações do mercado e da cor do item. Ao final do processo de reciclagem o quilo do

flake custa a Depet R$ 1,60 a R$ 1,90.

b) Fator tecnológico - alguns dos processos de reciclagem foram desenvolvidos pela própria

empresa o que torna capaz a reciclagem dos bens por ela propostos. Fato que comprova esta

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viabilidade é a sua capacidade de produção, a qual gira em torno de 800 a 1000 kg/h, com

uma produção mensal girando em torno de 200 toneladas.

Quanto à aptidão para a remanufatura as garrafas PET, a empresa apresenta um nível

satisfatório, pois após a separação delas de acordo com as cores e o material embalado, a

maior parte das embalagens apresentaram um nível de padronização e constância dos seus

componentes aptos ao processo de reciclagem.

Referente à facilidade de separação do PET dos demais itens presentes nas garrafas, o nível de

dificuldade é o aceitável segundo o entrevistado. As garrafas são entregue à Depet com

diversos produtos agregados devido ao meio no qual estavam expostas e ao produto

embalado. Por exemplo, as embalagens de óleo de uso culinário apresentam uma maior

quantidade de resíduos devido à facilidade do material em agregar impurezas.

O que se observou foi que há um desnivelamento das capacidades tecnológicas entre os níveis

técnicos dos catadores, da Depet e dos seus clientes finais. No entanto, não há um grande

comprometimento, pois tais distorções ainda são aceitáveis na cadeia de distribuição reversa.

c) Fator logístico - A organização dos diversos tipos de catadores em diferentes regiões, as

peculiaridades das consolidações de cada um deles e as diversidades de problemas referentes

ao transporte afetam a organização e estruturação da cadeia reversa.

Quanto aos fornecedores, a maior parte deles é oriunda de outras cidades e regiões,

principalmente de João Pessoa. Quanto às peculiaridades de consolidação dos fornecedores,

alguns ainda não dispõem de prensas, fazendo com que as garrafas sejam enviadas soltas.

Como conseqüência há dificuldade de deslocamento desse material.

Como há uma dispersão geográfica das garrafas PET, a coleta é realizada em pequenas

quantidades, para posterior consolidação, seleção e adensamento. Em seguida o transporte do

flake a maiores distância serão feitos, em particular às Tintas Coral, em Recife, e às Tintas

Iquine, em Jaboatão dos Guararapes. Altos custos com transporte não acontece com os

clientes locais, como é o caso da Atleti Cordas, situada em Campina Grande.

d) Fator Ecológico - a Depet, dentro do universo da reciclagem, apresenta uma participação

bastante insignificante, dado que o volume reciclado é muito pouco significativo. No entanto,

essa reciclagem contribui positiva para a sua imagem corporativa e de seus clientes.

A Depet agrega valor ecológico às garrafas PET por meio da logística reversa, ao viabilizar o

seu retorno ao ciclo de negócios, e, consequentemente, também agrega valor à empresa.

Toda a cadeia logística reversa apresentada anteriormente contribui para a redução do impacto

ambiental gerado pelas garrafas PET, desde os catadores das garrafas até as empresas que

integram o flake.

e) Fator Legal – o grande entrave aqui está no fato de que a legislação impede a reutilização

do material para produzir novas garrafas para produtos alimentícios.

No que refere estritamente ao mercado de reciclagem do PET, as empresas, tanto as indústrias

de resina, como as próprias envasadoras de bebidas e as recicladoras esperam uma decisão da

ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) referente à implementação no Brasil da

tecnologia de monocamadas de PET.

6 Considerações Finais

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A motivação principal desse trabalho foi avaliar o processo da Logística Reversa em uma

empresa de reciclagem de garrafas PET, tendo em vista todos os fatores que influência o

processo de reaproveitamento desse material.

Pra isso foi utilizado o estudo de caso como método de pesquisa que se utilizou de uma

observação direta e uma entrevista não estruturada em que foram priorizadas as informações

que melhor respondessem as indagações levantadas pelos objetivos propostos.

A logística reversa busca reintegrar os produtos e bens descartados pelos consumidores, seja

de pós-venda ou pós-consumo, integrando-os ao ciclo de produção ou de negócios.

Através da classificação das garrafas PET de acordo com os conceitos propostos pela

Logística Reversa, o aumento da descartabilidade das embalagens plásticas e o levantamento

das principais etapas envolvidas na reciclagem, é possível constatar a importância crescente

da revalorização dos materiais consumidos pela sociedade para a manutenção da qualidade do

meio ambiente. Além de promover uma alternativa aos bens, anteriormente destinados apenas

a aterros ou lixões a seu aberto, como é o caso de Campina Grande.

Ao adotar a reciclagem como principal atividade, a Depet agrega valor a sua imagem e

contribuir para a redução da poluição no meio ambiente, mesmo sendo um trabalho de âmbito

regional, o que fortalece a sua relevância como elemento atuante nos fluxos reversos.

O presente trabalho também permitiu um entendimento da configuração da cadeia de

distribuição reversa das garrafas PET e o nível de integração entre as empresas envolvidas. O

ideal seria que houvesse uma maior atenção com revalorização dos produtos desde a criação

das garrafas até o momento que os consumidores primários adquirem as embalagens. Isso

possibilitaria uma melhoria em todo o fluxo reverso, ao permitir maiores volumes na coleta do

material, aumento na quantidade de itens a serem reciclados e, consequentemente, diminuição

na agressão ao meio ambiente.

No que se refere aos fatores de influência observou-se a revalorização econômica e ecológica

dos materiais. Econômicos por permitir a reutilização do PET, agora na forma de flake, na

concepção de novos produtos e ainda possibilitar ganhos econômicos na substituição de uma

matéria-prima “virgem” por uma (matéria-prima secundária) de menor valor. Há

revalorização ecológica pela diminuição dos impactos negativos ao meio ambiente

ocasionado pelo reaproveitamento do material anteriormente destinado diretamente à agressão

do meio ambiente.

Em relação ao fator legal, há benefícios, mesmo que em menor escala, pois, a ausência de leis

regionais que coordenem com maior intensidade a disposição de lixo em locais inadequados,

que só contribuem para o aumento da poluição. Os benéficos se justificam pelo aumento da

pressão, de alguns setores do governo, por novas medidas legais que protejam ecologicamente

o país.

Pelos resultados obtidos, conclui-se que a Depet contribui para a revalorização das garrafas

PET através da relação estabelecida entre os diversos membros da cadeia de distribuição

reversa na qual a empresa esta inserida. Elemento que contribui com o desenvolvimento do

papel de destaque da empresa no fluxo reverso é o fator tecnológico, pois, grande parte da

tecnologia utilizada na reciclagem foi de desenvolvimento próprio.

Uma das limitações encontrada no desenvolvimento desse trabalho foi a escassez de uma

literatura específica sobre o tema Logística Reversa. Apesar da crescente atenção da

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sociedade e das empresas em relação ao meio ambiente, ainda são poucas as publicações

referentes á revalorização dos bens e matérias descartados pela sociedade.

No decorrer do desenvolvimento desse trabalho não foi possível a estudar com maiores

detalhes a Logística Reversa com foco nos clientes da Depet, ou seja, empresa que trabalham

diretamente com a reutilização de matéria-prima secundaria na constituição de seus produtos.

Dada as limitações do trabalho, sugere-se que os trabalhos futuros possam alcançar os

seguintes pontos: realizar um estudo das características dos fluxos logísticos e dos fatores de

influência da logística reversa centrado em uma organização onde a matéria-prima utilizada

na produção tenha sido originada da revalorização de um bem; Realizar um estudo da

Logística Reversa tendo como enfoque a configuração de Redes de Desenvolvimento Local,

tendo em vista o aumento de reciclagem do Brasil no cenário mundial; realizar um

“benchmarking” com outras empresas de reciclagem de PET na região; Estudo da cadeia de

distribuição reversa com enfoque em outro material, por exemplo, o papel reciclado, bateria

para celular;

Por fim é importante salientar que a adoção de medidas que apontem para a consolidação de

um canal reverso dos seus produtos, traz para as organizações uma vantagem competitiva

adicional dado que adiciona valor à imagem da empresa além, de possibilitar novas áreas de

negócios. Ademais, é preciso acrescentar que a sociedade tem sido chamada, mesmo que de

forma tímida, a exigir dessas empresas uma postura de comprometimento com aquilo que

fabricam. Produzir com qualidade não é, apenas um dos aspectos mais importantes, cada

fabricante deve preocupar-se o quanto esse produto irá impactar no meio ambiente, não

somente quando for descartado, mas desde o momento da sua concepção.

Referências

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