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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO DE CIÊNCIAS RURAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA
IDENTIFICAÇÃO DE ESPÉCIES DE HELIOTHINAE E
CONTROLE DE Helicoverpa armigera (LEPIDOPTERA:
NOCTUIDAE) NA CULTURA DA SOJA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Clérison Régis Perini
Santa Maria, RS, Brasil
2015
IDENTIFICAÇÃO DE ESPÉCIES DE HELIOTHINAE E
CONTROLE DE Helicoverpa armigera (LEPIDOPTERA:
NOCTUIDAE) NA CULTURA DA SOJA
Clérison Régis Perini
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Pós-graduação
em Agronomia, área de concentração em Produção Vegetal, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como
requisito parcial para obtenção do grau de
Mestre em Agronomia
Orientador: Prof. Dr. Jerson Vanderlei Carús Guedes
Santa Maria, RS, Brasil
2015
© 2015 Todos os direitos autorais reservados a Clérison Régis Perini. A reprodução de partes ou do todo deste trabalho só poderá ser feita com autorização por escrito do autor Endereço: Linha Primeiro de Março, Interior do Município de Porto Lucena, RS, Brasil CEP: 98.980-000 Fone (55) 9921 2070; E-mail: [email protected]
68
Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Ciências Rurais
Programa de Pós-Graduação em Agronomia
A Comissão Examinadora, abaixo assinada,
aprova a Dissertação de Mestrado
IDENTIFICAÇÃO DE ESPÉCIES DE HELIOTHINAE E CONTROLE
DE Helicoverpa armigera (LEPIDOPTERA: NOCTUIDAE) NA CULTURA
DA SOJA
elaborada por
Clérison Régis Perini
como requisito parcial para a obtenção do grau de
Mestre em Agronomia
COMISSÃO EXAMINADORA:
Jerson Vanderlei Carús Guedes
(Presidente/Orientador)
Enrique Ariel Castiglioni Rosales
(Universidad de la República Oriental del Uruguay)
Altemir José Mossi
(Universidade Federal da Fronteira Sul)
Santa Maria, 27 de fevereiro de 2015.
AGRADECIMENTOS
A DEUS por todas as realizações conquistadas.
À UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIAUFSM pelo auxílio estudantil e
pela oportunidade de estudar em uma das melhores instituições do país.
À COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL
SUPERIOR (CAPES), pela concessão da bolsa.
Ao Professor JERSON VANDERLEI CARÚS GUEDES pela orientação,
ensinamentos, paciência, confiança e amizade dedicada durante estes anos de trabalho.
Ao Dr. ANDRÉS ORDONEZ ÂNGULO pela ajuda e orientação no desenvolvimento
da chave de identificação de Heliothinae.
Aos funcionários do Departamento de Defesa Fitossanitária ANGELITA MARTINS,
MARIZETE POZZOBON, FIORAVANTE AMARAL, FERNANDO GNOCATTO, JORGE
ANTONIO SILVEIRA FRANÇA e GUSTAVO UGALDE pelo apoio em prol deste trabalho.
Aos grandes amigos e colegas JONAS ANDRÉ ARNEMANN e ADRIANO ARRUÉ
MELO pelos seus ensinamentos, camaradagem e colaboração através de suas experiências e
conhecimentos.
Aos colegas de pós-graduação AFFONSO HERMETO JUNG, FÁBIO LUCAS
IZAGUIRRE MARTINS, GLAUBER RENATO STURMER, JANINE PALMA, JULIO
CESAR LENGLER BARBOSA, LUIS EDUARDO CUTIOLETTI, DEIVID ARAUJO
MAGANO, MAIQUEL PIZZUTI PES, REGIS FELIPE STACKE, RODRIGO TASCHETO
MACHADO, pela amizade e auxílio.
Aos colegas do Laboratório de Manejo Integrado de Pragas (LabMIP),
ALESSANDRO FIORENTINI, BRUNO RUVIARO TOMAZI, BRUNO GIACOMINI
SARI, CRISTIANO DE CARLI, CLEITON WARTHA, DANIELE AGUIAR, DARLEI
MÜNCHEN BAMBERG, EDUARDO BORTOLUZI, ERICMAR AVILA DOS SANTOS,
FREDERICO HICKMANN, GREISSI GIRALDI, GUSTAVO ENGEL, IVAIR
VALMORBIDA, IURI STRAGLIOTTO, LEONARDO MOREIRA BURTET, LUCAS DA
SILVA STEFANELO, LUIS EDUARDO CURIOLETTI, MAICON MACHADO, MIRIAN
BARBIERI, MOISÉS BOSCHETTI, NATALIE FELTRIN, REGINA STACKE, REGIS
FELIPE STACKE, THAÍSA BASSO e THIAGO STRAHL, que de alguma forma auxiliaram
na realização desse trabalho.
Aos produtores TARCÍSIO TONIASSO, e JOSÉ FLORES proprietários das lavouras
de soja de Restinga Seca e Santa Maria, onde foram conduzidos os experimentos.
Sincero e especial agradecimento a minha namorada e companheira DAYANNA do
NASCIMENTO MACHADO, pelo apoio durante a construção deste trabalho.
Agradeço aos meus pais, NERCI JOSÉ PERINI e SELMIRA DEUSCHLER PERINI,
pela motivação, compreensão, apoio incondicional, educação, ensinamentos, carinho e
oportunidade proporcionada.
Agradeço às minhas irmãs CARLA ADRIANE PERINI e GLÁDIS ANDRÉIA
PERINI MONTINI, pelo incentivo, apoio, e toda ajuda e carinho proporcionada ao longo dos
anos.
Um muito obrigado aos meus Avôs EDUARDO PERINI (in memoriam) e LAURO
DEUSCHLER pelos exemplos de vida, educação e força transmitida.
DEDICO
Dedico essa obra ao
Meu querido avô (“Lauro”)
LAURO DEUSCHLE
OFEREÇO
Aos Meus amados pais, NERCI e SELMIRA,
Minhas irmãs CARLA, GLADIS, Meu padrinho CLÉU e Minha madrinha
CLAUDETE.
“Experiência não é o que acontece com um homem; é o que um homem faz com o
que lhe acontece.”
Aldous Huxley
LISTA DE FIGURAS
Figura 1– Pernas de H. gelotopoeon (A), H. zea (B) e H. armigera (C) com escamas e pêlos
(aumento de 25 X). ........................................................................................................................ 29
Figura 2– Pernas de H. gelotopoeon (A), H. zea (B) e H. armigera (C) com medições. ......... 29
Figura 3– Perna direita de H. armigera (A); Perna direita de H. zea (B). ................................. 31
Figura 4– Vesica do edeago evertida com detalhe dos divertículos na base da vesica de (A) H.
gelotopoeon, (B) H. zea e (C) H. armigera. ................................................................................ 34
Figura 5‒ Mortalidade de lagartas de H. armigera após aplicação dos inseticidas químicos na
cultura da soja. Brasil. Safra 2013/14. ......................................................................................... 51
Figura 6 ‒ Mortalidade de lagartas de H. armigera após aplicação dos inseticidas biológicos
na cultura da soja. Brasil. Safra 2013/14. .................................................................................... 55
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Chave pictórica de espécies de Heliothinae de interesse agrícola no Brasil. ......... 30
Tabela 2 – Número de lagartas de H. armigera e eficiência agronômica nos tratamentos
com inseticidas químicos na cultura da soja. Brasil. Safra 2013/14. ......................................... 44
Tabela 3 – Número de lagartas grandes e pequenas de H. armigera e eficiência agronômica
nos tratamentos com inseticidas biológicos na cultura da soja. Brasil. Safra 2013/14............. 46
Tabela 4 – Rendimento da soja e retorno econômico nos tratamentos com inseticidas
químicos no controle de H. armigera. Brasil. Safra 2013/14. .................................................... 49
Tabela 5 – Rendimento da soja e retorno econômico nos tratamentos com inseticidas
biológicos no controle de H. armigera. Brasil. Safra 2013/14................................................... 50
Tabela 6 – Nível de Controle para cada inseticida químico e biológico. Brasil. Safra
2013/14. ......................................................................................................................................... 57
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 13
1.1 Taxonomia da subfamília Heliothinae ................................................................................... 15
1.2 Manejo de Helicoverpa armigera .......................................................................................... 17
2 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 19
3 ARTIGO 1 .................................................................................................................................. 23
Chave pictórica de espécies de Heliothinae (Lepidoptera: Noctuidae) de interesse agrícola no
Brasil, com ênfase em novos caracteres morfológicos .............................................................. 23
RESUMO ....................................................................................................................................... 23
ABSTRACT .................................................................................................................................. 24
3.1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 25
3.2 MATERIAL E MÉTODOS.................................................................................................... 26
3.3 RESULTADOS ....................................................................................................................... 27
3.1.1 Caracterização das espécies de Heliothinae de interesse agrícola no Brasil .................... 27
3.4 DISCUSSÃO ........................................................................................................................... 31
3.5 CONCLUSÃO ........................................................................................................................ 35
3.6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 35
4 ARTIGO 2 .................................................................................................................................. 38
Controle químico e biológico de Helicoverpa armigera na cultura da soja no Brasil ............. 38
RESUMO ....................................................................................................................................... 38
ABSTRACT .................................................................................................................................. 39
4.1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 40
4.2 MATERIAL E MÉTODOS.................................................................................................... 41
4.3 RESULTADOS ....................................................................................................................... 43
4.3.1 Experimento de controle químico ....................................................................................... 43
4.3.2 Experimento de controle biológico ..................................................................................... 45
4.3.3 Rendimento da soja nos tratamentos químicos e biológicos ............................................. 47
4.4 DISCUSSÃO ........................................................................................................................... 51
4.4.1 Experimento de controle químico ....................................................................................... 51
4.4.2 Experimento de controle biológico ..................................................................................... 54
4.4.3 Nível de Controle por tratamento químico e biológico ..................................................... 56
4.5 CONCLUSÃO ........................................................................................................................ 58
4.6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 59
5 DISCUSSÃO .............................................................................................................................. 64
6 CONCLUSÃO ........................................................................................................................... 65
7 ANEXOS .................................................................................................................................... 66
1 INTRODUÇÃO
A soja (Glycine max L.) atualmente é a cultura agrícola mais importante e mais
cultivada no Brasil com 30,17 milhões de hectares na safra 2013/14, chegando muito próximo
da área cultivada nos Estados Unidos, que foi de 31,03 milhões de hectares (CONAB, 2014;
USDA, 2014). A expectativa de semeadura na safra 2014/15, no Brasil é de um aumento em
2,3 a 5,1%, em relação a safra passada. A produtividade também vem aumentando e espera-se
um incremento de 1,4% para a próxima safra, que juntamente com aumento da área plantada
deverá possibilitar produções recordes anuais (CONAB, 2014).
Uma das limitações ao aumento da produtividade da soja são as pragas, tais como,
insetos de solo, besouros, percevejos, lagartas e ácaros. O estabelecimento destas pragas está
essencialmente relacionado à grande disponibilidade de soja de norte a sul do Brasil. Insetos
da ordem Lepidoptera são favorecidos por este ambiente de cultivo no Brasil e podem ser
consideradas às principais pragas na cultura da soja, podendo atacar as plântulas, hastes,
folhas, flores e legumes.
No Brasil ocorrem 71 espécies de lepidópteros, divididas em 22 subfamílias de nove
famílias e seis superfamílias (FORMENTINI, 2009). A família Noctuidae possui algumas das
pragas mais importantes da soja no Brasil, entre elas, a lagarta-da-soja, Anticarsia gemmatalis
(Hübner, 1818), a lagarta-falsa-medideira, Chrysodeixis includens (Walker, 1858), a lagarta-
das-maçãs, Heliothis virescens (Fabricius, 1781), a lagarta helicoverpa, Helicoverpa armigera
(Hübner, 1808), e as lagartas do gênero Spodoptera, tais como S. frugiperda (Smith, 1797), S.
cosmioides (Walker, 1858) e S. eridania (Cramer, 1782).
As espécies de Heliothinae, H. armigera, H. zea (Boddie, 1850) e H. virescens,
atingiram o status de pragas mais importantes na agricultura mundial, embora outras 80
espécies sejam reconhecidas nestes gêneros (FITT, 1989). As espécies de H. armigera e H.
assulta (Guenée, 1852) são importantes no velho mundo, H. zea e H. virescens na América do
Sul e América do Norte (HARDWICK, 1965; FITT, 1989), e Helicoverpa gelotopoeon (Dyar,
1921) na América do Sul (TODD, 1955).
H. virescens e H. zea têm sido reportadas, respectivamente, em 27 e 29 famílias,
incluindo Fabaceae, Malvaceae, Asteraceae, Solanaceae, Convolvulaceae, Scrophulariaceae,
Rosaceae e Poaceae, e 179 e 123 espécies de plantas, respectivamente (KOGAN et al., 1989,
BLANCO et al., 2007). Segundo Cunningham e Zalucki (2014), em revisão do número de
plantas hospedeiras de H. armigera nos países da Austrália, China, Índia, Uganda, Sudão,
14
Espanha e França, esta lagarta já foi relatada em 35 famílias e 130 espécies de plantas,
predominantemente em culturas agrícolas, incluindo as famílias Asteraceae, Fabaceae,
Malvaceae, Poaceae, Solanaceae e Brassicaceae.
Os danos que estas espécies ocasionam na agricultura ultrapassam dois bilhões de
dólares por ano, especialmente em função de H. armigera (QUEIROZ et al., 2013). Porém, há
autores que estimam perdas globais muito maiores, chegando a cinco bilhões de dólares
anualmente apenas com H. armigera (SHARMA, 2001). Na região dos trópicos do semi-
áridos da Europa a perda anual causada por H. armigera supera 2 bilhões de dólares
(SHARMA et al., 2008). No Paquistão, esta lagarta provoca perdas entre 32% a 35% em
culturas frutíferas (LATIF et al., 1997) e 53% na cultura do tomate (INAYATULLAH, 2007).
A H. armigera, desde que teve seu primeiro registro de ocorrência no continente
Americano, mais especificamente no Brasil (CZEPAK et al., 2013), tem ocasionado perdas
significativas em diversas culturas. A polifagia desta praga é uma característica
comportamental que põe em risco e alerta a agricultura brasileira; estando esta capacidade
polífaga relacionada à quantidade e à diversidade de proteinases presentes no aparelho
digestivo do inseto para degradar os alimentos ingeridos (PATANKAR et al., 2001).
Outra característica de um inseto-praga é a sua capacidade migratória, que está
atrelada às condições do local, seja para reprodução com fonte de alimento para os adultos e
para as larvas, pelas condições meteorológicas propícias ou pela disponibilidade de culturas
vizinhas alternativas e hospedeiros silvestres (FITT, 1989). Segundo os autores Farrow e Daly
(1987) o ranking decrescente de atividade migratória destas espécies é H. punctigera
(Wallengren, 1860) > H. zea > H. virescens > H. armigera.
A facilidade das mariposas de H. armigera migrarem em longas distâncias favoreceu a
rápida dispersão na América do Sul, após o seu primeiro registro de ocorrência no Brasil na
safra 2012/2013. Os países vizinhos do Brasil, Paraguai (SENAVE, 2013), Argentina
(MURÚA et al., 2014) e Uruguai (CASTIGLIONI et al., 2015) (em preparação), registraram a
ocorrência de H. armigera nas culturas da soja, algodão, milho, trigo, canola, e grão-de-bico.
Isso indica que essa praga ultrapassou as divisas entre países pondo em risco mais de 50
milhões de hectares da agricultura brasileira (GUEDES et al., 2014).
15
1.1 Taxonomia da subfamília Heliothinae
Em todo o mundo ocorrem ao redor de 365 espécies de Heliothinae, sendo que as
lagartas alimentam-se predominantemente de estruturas reprodutivas das plantas, tais como
flores e frutos (ZALUCKI et al., 1986; CHO et al., 2008). Dentre estas, H. zea e H. armigera
eram consideradas coespecíficas como Heliothis armigera (GROTE, 1863) e eram incluídas
em Heliothis oschenheimer (POGUE, 2004).
Um dos primeiros estudos de taxonomia de Heliothinae foi realizado por Common
(1953), em que descreveu o gênero Heliothis com os caracteres do aparelho genital do macho
e da fêmea, e separou a espécie endêmica da Austrália a H. punctigera, de H. armigera, além
de descrever a genitália de H. assulta. Este autor reconheceu que a espécie de Heliothis do
Novo Mundo era diferente da H. armigera do Velho Mundo e sugeriu que H. umbrosus,
citado por Grote (1863), poderia ser a espécie do Novo Mundo. Posteriormente, Todd (1955),
determinou também por caracteres da genitália que haviam duas espécies importantes na
América do Sul, H. gelotopoeon e H. zea. Este mesmo autor relatou que a espécie H. zea já
havia sido citada como H. umbrosus, por autores anteriores.
Nos Estados Unidos Zimmerman e Fletecher (1956) identificaram H. hawaiiensis e H.
zea presentes no Hawaii. Assim, até então, tinha-se seis espécies identificadas no grupo da
lagarta-da-espiga: a lagarta do Novo Mundo, H. zea, a lagarta da América do Sul, H.
gelotopoeon, as lagartas do Velho Mundo, H. armigera e H. assulta, a lagarta australiana, H.
punctigera e a lagarta do Hawaii, H. hawaiiensis (HARDWICK, 1965).
Após as citações de espécies coespecíficas e homônimas, os nomes das espécies H.
armigera, H. obsoleta, e H. umbrosus, na literatura antiga, podem ser referidas como H. zea,
se a origem é do Novo Mundo, e H. armigera ou H. obsoleta, se a origem é do Velho Mundo
(POGUE, 2004). Hardwick (1965) publicou uma chave de identificação detalhada de larvas e
de adultos, descrevendo 11 novas espécies e duas novas subespécies do gênero Helicoverpa,
em que estabeleceu Helicoverpa como um novo gênero, distinto de Heliothis. Esse autor
utilizou os caracteres morfológicos das asas, pernas e dos órgão genitais masculino e feminino
das mariposas, para caracterização de novas e já descritas espécies.
Nesta mesma obra, Hardwick separou as espécies e subespécies de Helicoverpa em
grupos com caracteres morfológicos semelhantes, principalmente da genitália masculina. O
grupo Punctigera com a espécie H. punctigera; o grupo Gelotopoeon com as espécies H.
bracteae (Hardwick, 1965), H. titicacae (Hardwick, 1965), H. gelotopoeon, H. atacamae
(Hardwick, 1965); o grupo Hawaiiensis com as espécies H. hawaiiensis (Quaintance e Brues,
16
1905) e H. pallida (Hardwick, 1965); o grupo Armigera com as espécies H. armigera e H.
helenae (Hardwick, 1965), e as subespécies H. armigera armigera, H. armigera conferta
(Walker, 1857) e H. armigera commoni (Hardwick, 1965), e por fim, o grupo Zea com as
espécies H. zea, H. confusa (Hardwick, 1965), H. minuta (Hardwick, 1965), H. pacifica
(Hardwick, 1965), H. assulta, H. toddi (Hardwick, 1965), H. fletcheri (Hardwick, 1965) e H.
tibetensis (Hardwick, 1965), e as subespécies H. assulta assulta e H. assulta afra (Hardwick,
1965).
Um dos principais caracteres de identificação das espécies de Helicoverpa é a forma e
o número de divertículos na base da vesica do edeago. Este caractere foi identificado após
Hardwick (1965) utilizar-se da metodologia de everter a vesica, a qual não foi empregada
pelos autores anteriores, que publicaram as descrições e desenhos do edeago em sua forma
natural. Esse foi um marco importante na taxonomia de Heliothinae sanando as dúvidas
taxonômicas históricas dos autores anteriores.
O primeiro registro de ocorrência da espécie H. armigera no Brasil foi com base na
identificação morfológica do órgão genital masculino dos insetos adultos (CZEPAK et al.,
2013). Além da identificação morfológica, a identificação molecular, pela análise da
sequência dos genes mitocondriais, também é utilizada para confirmação da espécie,
conforme Specht et al (2013).
Entre essas espécies do gênero Helicoverpa há poucas características morfológicas que
permitem separá-las e que são significantes, porém geralmente possuem frequência variável
(PASSOA, 2007). H. armigera e H. zea são muito próximas genética e morfologicamente
(BEHERE et al., 2007), compartilhando muitas características biológicas (SPECHT, 2014). A
separação entre estas duas espécies é realizada até o momento, apenas com a morfologia
interna do órgão genital do macho.
A identificação dos imaturos é difícil e incerta e a identificação dos adultos de
Helicoverpa é onerosa, com mão-de-obra e tempo despendido. Dessa maneira, é importante
que se encontre outros caracteres de identificação, além dos da genitália, levando em
consideração todos os tagmas (cabeça, tórax e abdome), incluindo os órgãos e apêndices, tais
como, antenas, palpos, pernas e asas (SPECHT, 2014).
17
1.2 Manejo de Helicoverpa armigera
A H. armigera está amplamente distribuída na Europa, África, Ásia e Austrália e mais
recentemente na América do Sul, onde ocasiona severos danos em várias espécies de plantas
cultivadas. Além das perdas que esta lagarta acarreta nas culturas, o custo para o seu controle
é elevado, sendo que grande parte dos inseticidas são aplicados para o controle de H.
armigera.
Segundo Sharma et al (2008), o custo da aplicação de inseticidas para o controle de H.
armigera na região dos trópicos do semi-áridos da Europa, é de 500 milhões de dólares.
Porém, há alguns países que esta realidade é ainda mais grave, como no Paquistão, onde 80%
do total de inseticidas são usados para controlar esta praga (SHAHEEN, 2008). A gravidade
da ocorrência de H. armigera no Brasil pode ser avaliada segundo o levantamento da
Secretaria da Defesa Agropecuária/Departamento de Sanidade Vegetal (SDA/DSV), do
Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), o qual a lagarta H. armigera
provocou mais de 10 bilhões de reais em danos, principalmente em soja, milho e algodão, nos
últimos dois anos no Brasil, e aumentou o custo de produção com os defensivos em 30%,
chegando ao custo de R$ 374,00 por hectare (DIÁRIO DO COMÉRCIO, 2015).
A composição das espécies de lepidópteros-praga que atacam a cultura da soja se
alterou com a entrada da H. armigera, o que resultou em modificações no manejo realizado na
cultura, por ser uma praga que ocasiona danos significativamente maiores do que as demais
lagartas desfolhadoras que ocorrem em soja. Para combater a H. armigera no Brasil, o
MAPA, juntamente com a EMBRAPA, posicionaram ações emergenciais para o manejo
integrado de Helicoverpa spp. em áreas agrícolas. Entre as ações estão os inseticidas químicos
e biológicos, devendo ser utilizados na seguinte ordem de preferência para o menor impacto
aos inimigos naturais e polinizadores: 1) inseticidas biológicos ou liberação de inimigos
naturais devidamente registrados; 2) inseticidas do grupo dos reguladores de crescimento de
insetos; 3) inseticidas dos grupos das diamidas ou espinosinas; 4) inseticidas bloqueadores de
Na; 5) inseticidas do grupo das evermectinas; 6) inseticidas do grupo dos carbamatos (MAPA,
2015).
Dentre os inseticidas biológicos estão os produtos à base de Bacillus thuringiensis e
Baculovirus, o qual pertence a família Baculoviridae e o gênero Alphabaculovirus (Vírus de
Poliedrose Nuclear - NPV). Ambos inseticidas, após a ingestão causam patogenicidade em
lepidópteros, porém, os baculovírus possuem ação específica na espécie ou gênero. Estes
18
produtos possuem algumas limitações, desde a fabricação, distribuição e aplicação pelo
produtor, necessitando que sejam realizados estudos detalhados para avaliar o efeito destes
inseticidas sobre as populações de H. armigera do Brasil.
Por outro lado, a aplicação com os inseticidas químicos é a forma de controle mais
utilizada e disponível para o produtor no Brasil. Em outros países, como China, Índia,
Paquistão e Austrália, há inúmeras informações com relação aos inseticidas químicos usados
no controle de H. armigera, que servem de base para a utilização nas condições brasileiras,
segundo revisão realizada por Guedes et al (2013). A falta de informações sobre o controle
dos inseticidas com liberação emergencial e demais inseticidas, também é um dos principais
desafios da pesquisa no Brasil, visto que os estudos ainda se encontram em fase de
desenvolvimento e com dificuldades de serem conduzidos.
2 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BEHERE, G. T.; TAY, W. T.; RUSSEL, D. A.; HECKEL, D. G.; APPLETON, B. R.;
KRANTHI, K. R.; BATTERHAM, P. Mitochondrial DNA analysis of field populations of
Helicoverpa armigera (Lepidoptera: Noctuidae) and of its relationship to H. zea. BMC
Evolutionary Biology, v. 7, p. 1‑ 10, 2007.
BLANCO, C. A.; TERÁN-VARGAS, A. P.; LÓPEZ JR., J. D.; KAUFFMAN, J. V.; WEI, X.
Densities of Heliothis virescens and Helicoverpa zea (Lepidoptera: Noctuidae) in three plant
hosts. Florida Entomologist, v. 90, n. 4, p. 742-750, 2007.
CHO, S.; A. MITCHELL, C. MITTER, J. REGIER, M. MATTHEWS; R. ROBERTSON.
Molecular phylogenetics of heliothine moths (Lepidoptera: Noctuidae: Heliothinae), with
comments on the evolution of host range and pest status. Systematic Entomology, n. 33, p.
581-594, 2008.
COMMON, I. F. B. The Australian species of Heliothis (Lepidoptera: Noctuidae) and their
pest status. Australian Journal of Zoology, v. 1, n. 3, p.319-344, 1953.
CONAB. Acompanhamento da safra brasileira de grãos: Segundo Levantamento,
novembro/2014, v. 1, n. 1, Companhia Nacional de Abastecimento. Brasília: Conab, 2014.
Disponível em:
<http://www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/14_11_13_09_19_35_boletim_graos_
novembro_2014.pdf>. Acesso em: 19 nov 2014.
CUNNINGHAM, J. P.; ZALUCKI, M. P. Understanding heliothine (Lepidoptera:
Heliothinae) pests: What is a host plant? Journal of Economic Entomology, v. 107, n. 3, p.
881-896, 2014.
CZEPAK, C.; ALBERNAZ, K. C.; VIVAN, L. M.; GUIMARÃES, H. O.; CARVALHAIS,T.
Primeiro registro de ocorrência de Helicoverpa armigera (Hübner) (Lepidoptera: Noctuidae)
no Brasil. Pesquisa Agropecuária Tropical, Goiânia, v. 43, n. 1, p. 110-113, 2013.
DIÁRIO DO COMÉRCIO. Ministério da agricultura avalia impactos de pragas nas
lavouras. Minas Gerais, 2015. Disponível em:
<http://www.diariodocomercio.com.br/noticia.php?tit=ministerio_da_agricultura_avalia_impa
ctos_de_pragas_nas_lavouras&id=147140>. Acesso em: 10 jan. 2015.
20
FARROW, R. A.; DALY, J. C. Long-range movements as an adaptive strategy in the genus
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FITT, G. P. The ecology of Heliothis species in relation to agroecosystems. Annual Review
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FORMENTINI, A. C. 2009. Lepidópteros associados à cultura da soja: diversidade e
parasitismo natural por insetos e fungos entomopatogênicos. 69 f. Dissertação (Mestrado em
Biotecnologia) – Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, 2009.
GUEDES, J. V. C.; ARNEMANN, J. A.; PERINI, C. R.; MELO, A. A.; RÖHRIG, A.;
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3 ARTIGO 1
Chave pictórica de espécies de Heliothinae (Lepidoptera: Noctuidae) de interesse
agrícola no Brasil, com ênfase em novos caracteres morfológicos
RESUMO
Foram utilizados 15 exemplares adultos de Helicoverpa zea (Boddie), H. armigera
(Hübner), H. gelotopoeon (Dyar) e Heliothis virescens (Fabricius). Nestes exemplares se
examinou as asas anteriores e posteriores e o primeiro par de pernas, com ênfase na tíbia e na
epífise. Foi agregado caracteres da genitália masculina próprios de cada espécie e ainda se
apresenta complementos com imagens. Se apresenta uma chave pictórica com caracteres
visíveis a uma lupa de mão, com pelo menos 10 vezes de aumento. A tíbia foi um caractere
que resultou ser útil para separar os machos das espécies morfologicamente muito próximas.
A chave pode ser utilizada para por técnicos em campo ou laboratório para identificar
mariposas macho capturadas em armadilhas de feromônio sexual, visando o manejo precoce
na lavoura.
Palavras-chave: Helicoverpa armigera, Helicoverpa zea, tíbia, epífise, identificação,
taxonomia de Heliothinae.
24
Pictorial key of Heliothinae (Lepidoptera: Noctuidae) species of agricultural interest in
Brazil, with emphasis on new morphological characters
ABSTRACT
Were used adult samples of Helicoverpa zea (Boddie), H. armigera (Hübner), H.
gelotopoeon (Dyar) and Heliothis virescens (Fabricius) from Brazil. On these samples were
considered the front and rear wings and the first pair of legs with emphasis on the tibia and
epiphysis. Were aggregate characters of male genitalia own of each species and another part
of the key appears supplemented with images. A pictorial key with characters visible with
hand lens with at least 10 times increase is presented. The tibia was a character that turned out
to be useful to separate males of closely related species morphologically. Also examined the
genitalia of male and female. The key can be used to crop or laboratory technician to identify
male moths caught in pheromone trap, aiming for an early crop management.
Palavras-chave: Helicoverpa armigera, Helicoverpa zea, tibia, epifise, identification,
taxonomy.
25
3.1 INTRODUÇÃO
Entre as espécies da subfamília Heliothinae de importância agrícola no Brasil se
destacam Helicoverpa armigera (Hübner, 1808), H. zea (Boddie, 1850), H. gelotopoeon
(Dyar, 1921) e Heliothis virescens (Fabricius, 1781), que estão incluídas dentro dos gêneros
mais numerosos desta subfamília (FITT, 1989; CHO et al., 2008). H. armigera era
considerada uma praga quarentenária quando houve a confirmação da ocorrência do Brasil
nas culturas da soja e algodão (CZEPAK et al., 2013).
Atualmente, esta espécie já foi encontrada nas culturas do milho, feijão, tomate, sorgo,
milheto, guandu, trigo, crotalária, girassol, frutíferas e hortaliças (ÁVILA et al., 2013) e nabo
(ARNEMANN et al., 2014). Link e Tarragó (1974) constataram a presença de H. zea na
cultura da soja no Brasil, porém esta espécie é praga-chave na cultura do milho. A ocorrência
de H. gelotopoeon foi citada por Pastrana (2004), Specht et al (2004) e Formentini (2009) em
soja. Na Argentina esta é uma praga importante e de ocorrência esporádica no Brasil. H.
virescens é uma importante praga do algodão e da soja (TOMQUELSKI; MARUYAMA,
2009).
A separação dos gêneros Helicoverpa e Heliothis é um passo fundamental para o
manejo de pragas da soja, principalmente em função da variação da tolerância das espécies
destes gêneros aos inseticidas, bem como diferentes intensidades de danos que ocasionam em
soja. A separação entre estes gêneros é possível tanto na fase de larva quanto adulta. Contudo,
a morfologia externa de todas as fases do ciclo biológico (ovo, larva, pupa e adulto) do gênero
Helicoverpa, são muito semelhantes, o que dificulta a identificação precisa a olho nu
(QUEIROZ et al., 2013), principalmente a separação entre H. zea e H. armigera que são
morfológica e geneticamente próximas (BEHERE et al., 2007; TAY et al., 2013).
As pernas destas mariposas possuem diferenças entre as espécies, sendo que algumas
características já foram detalhadas, como por exemplo, os espinhos na tíbia do primeiro par de
pernas, em número, tamanho e localização. As espécies da subfamília Heliothinae
caracterizam-se por apresentar marcadamente espinhos apicais assimétricos na parte anterior
da tíbia, e um dos espinhos frequentemente apresenta uma vez e meia, ou mais, o
comprimento do espinho lateral (FAUSKE, 2007). Todd (1955) descreveu a localização e o
número de espinhos na porção anterior da tíbia de H. gelotopoeon e H. zea, no entanto, não
houve a representação com imagens ou desenhos. Hardwick (1965) descreveu algumas
espécies de Helicoverpa utilizando a morfologia externa para caracterizar as asas e pernas, e a
morfologia interna para a descrição das genitálias dos adultos.
26
A identificação considerada precisa é realizada por meio da análise da morfologia dos
órgãos genitais das mariposas (HARDWICK, 1965; POGUE, 2004), ou por meio de métodos
de biologia molecular e eletroforese com marcadores moleculares (SPECHT et al., 2013),
que são realizadas exclusivamente em laboratório. Ambas metodologias possuem um custo
elevado de equipamentos e reagentes, e requerem tempo e treinamento não sendo acessíveis
para utilização em campo. O trabalho dos técnicos nas vistorias em lavouras necessita de
identificação rápida, prática e com equipamentos de mão, como lupas e pequenos manuais
ilustrados.
O objetivo do trabalho é apresentar uma chave pictórica para a identificação de
espécies de Heliothinae de importância agrícola no Brasil, H. zea e H. armigera, utilizando
novos caracteres morfológicos.
3.2 MATERIAL E MÉTODOS
Os insetos adultos de H. armigera e H. gelotopoeon foram obtidos da criação do
Laboratório de Manejo Integrado de Pragas (LabMIP) da Universidade Federal de Santa
Maria. Os exemplares adultos de H. virescens foram cedidos pela empresa Dupont de
Paulínea - SP. Para a obtenção dos exemplares de H. zea, foram coletadas lagartas na cultura
do milho e criadas em laboratório (LabMIP) até a emergência dos adultos.
Foram utilizados 15 insetos adultos (machos e fêmeas) de H. zea, H. armigera, H.
gelotopoeon e H. virescens, para a caracterização das espécies. Os aspectos morfológicos das
asas anteriores e posteriores, do primeiro par de pernas e das genitálias dos machos e das
fêmeas foram analisados.
Para a confirmação da espécie, foi empregada a metodologia de identificação descrita
por Hardwick (1965) e Pogue (2004). Foi realizada a análise da morfologia da genitália de
machos pela remoção do abdome e dissecação das genitálias das mariposas. Assim, os
abdomens removidos foram mantidos em frascos de eppendorf (1,5 mL) com solução aquosa
de KOH (10%) por 60 minutos sob temperatura controlada de 65°C - Thermomixer (adaptado
de BRAMBILLA, 2009). Logo após, a genitália foi dissecada, o edeago removido e a vesica
evertida utilizando seringa de insulina (agulha de 6 mm de comprimento e 0,25 mm de
diâmetro) com álcool 70%.
Diante da confirmação das espécies, para descrever os caracteres da tíbia e da epífise
propodial, foi removido o primeiro par de pernas das mariposas, que contém a epífise. Em
seguida, realizou-se a captura de imagens das pernas, sem tratamento, com um
27
estereomicroscópio com 25 vezes de aumento e câmera fotográfica digital. Nestas imagens
foram analisados o tamanho dos espinhos da tíbia e o comprimento e largura da tíbia, com
pêlos e em sua forma natural.
A outra perna foi colocada em solução de KOH (10%) durante 24 horas em
temperatura ambiente para limpar as escamas e pêlos, para permitir visualização da epífise; e
do local de inserção da epífise na tíbia, além do tamanho, forma e ornamentação da tíbia.
Posteriormente, as pernas foram montadas em lâminas para a captura de imagens e medição
com o microscópio invertido Axio Vert Zeizz A1 (aumento de 50 vezes). Com o auxílio do
programa ZEN®
foram aferidos o comprimento da epífise e da tíbia, distância do local de
inserção da epífise na tíbia a partir da margem posterior da mesma e por fim, a largura da
tíbia.
3.3 RESULTADOS
Os caracteres das asas foram úteis para separar as espécies do gênero Heliothis e
Helicoverpa. Entre as espécies do gênero Helicoverpa foi constatado que a tíbia e a epífise
(utilizada pelas mariposas para limpar as antenas e a probóscide), possuem diferentes formas,
comprimento relativo e ornamentação, o que tornou possível a construção da chave pictórica.
Além disso, de posse da análise dos caracteres específicos das genitálias dos machos de cada
uma das espécies, foi possível também a sua separação.
3.1.1 Caracterização das espécies de Heliothinae de interesse agrícola no Brasil
Helicoverpa gelotopoeon (Dyar, 1921) (Figuras 1A e 2A)
Epífise: apresenta comprimento que varia entre 0,66 a 0,67 mm. A margem anterior da
epífise apresenta terminação em forma pontiaguda com ornamentação franjada. O local de
inserção da epífise para a margem posterior da tíbia, foi entre 0,48 e 0,51 mm.
Tíbia: o comprimento variou de 1,23 a 1,24 mm, e a largura apresentou pouca
variação, ficando entre 0,36 a 0,38 mm. É pequena, com o menor tamanho entre as espécies
descritas neste trabalho, e relativamente larga. A característica marcante são os espinhos
espessos e compridos na lateral da tíbia, assemelhando-se e sendo ainda mais espessos que o
maior espinho apical da tíbia de H. zea e H. armigera.
28
Espinhos: são visíveis para fora das escamas, com o tamanho crescente da margem
posterior para a anterior da tíbia. O número de espinhos varia de quatro a seis, além do
espinho terminal, possuindo um a dois espinhos antes da região de inserção da epífise na tíbia.
Vesica: estrutura com pequenos cornutis (espinhos) contínuos, em uma única linha a
partir da segunda volta para o ápice e possui entre seis a sete voltas. Um divertículo cônico na
base da vesica, dois divertículos intermediários pequenos e um divertículo anterior largo e
arredondado.
Helicoverpa zea (Boddie, 1850) (Figuras 1B e 2B)
Epífise: apresenta comprimento que varia entre 0,83 a 0,92 mm. A margem anterior da
epífise apresenta terminação em forma de bizel com ornamentação lisa. O local de inserção da
epífise para a margem posterior da tíbia ficou entre 0,60 e 0,76 mm.
Tíbia: tem comprimento maior que H. gelotopoeon e menor que H. armigera,
variando entre 1,49 a 1,73 mm e a largura apresentou pouca variação entre 0,40 a 0,47 mm.
Espinhos: o número varia de dois a três, além do espinho terminal, sendo que, é
possível visualizar apenas os dois espinhos apicais na tíbia com escamas.
Vesica: possui entre 15 e 17 cornutis largos e de coloração escura espaçados em 11 a
12 voltas da vesica.
Helicoverpa armigera (Hübner, 1805) (Figuras 1C e 2C)
Epífise: o tamanho variou entre 0,95 a 1,06 mm e a margem anterior da epífise
termina em forma pontiaguda com ornamentação franjada. O local de inserção da epífise para
a margem posterior da tíbia foi de 0,77 a 0,83 mm.
Tíbia: tem comprimento maior que H. gelotopoeon e H. zea, e não apresentou
variação significativa ficando entre 1,82 a 1,88 mm. Por outro lado, a largura da tíbia variou
entre 0,35 a 0,41 mm.
Espinhos: o número variou de dois a quatro, com tamanho semelhante ao de H. zea.
Na tíbia com pêlos é possível visualizar apenas os espinhos apicais.
Vesica: possui menos de 15 cornutis largos e de coloração escura espaçados entre uma
volta e outra da vesica.
29
A. B. C.
Figura 1– Pernas de H. gelotopoeon (A), H. zea (B) e H. armigera (C) com escamas e pêlos
(aumento de 25 X).
A. B.
C.
Figura 2– Pernas de H. gelotopoeon (A), H. zea (B) e H. armigera (C) com medições.
30
Tabela 1 – Chave pictórica de espécies de Heliothinae de interesse agrícola no Brasil.
___________________________________________________________________________
1.- Asa anterior com três linhas transversais……………………...........…………………….. 2
1’.- Asa anterior com pontuação escura no centro e sem três linhas transversais
…………………...........……………….................................................................................… 3
___________________________________________________________________________
2 (1).- A linha transversal mais externa da asa anterior finaliza antes do ápice da asa
…………………………….…………………………………........... Heliothis virescens (F.)
2__ A linha transversal mais externa da asa anterior finaliza do ápice da
asa.................................................................................................... Heliothis subflexa (Guenée)
________________________________________________________________________
3 (1’).- Asa posterior com uma borda castanho-escura que continua bruscamente com a cor
castanho-claro do resto da asa; face externa da tíbia anterior com 4 a 5 espinhos (além dos
espinhos apicais) tíbia anterior com tamanho pequeno, entre 1,23 ± 0,01 mm de espessura e
espinhos grandes. Fig. 1A e 2A; macho: presença de um amplo e cônico divertículo na base
da vesica em direção ao ápice, dois divertículos intermediários pequenos e um divertículo
anterior largo e arredondado; vesica com 7,7 ± 0.6 voltas
helicoidais....................................................................……… Helicoverpa gelotopoeon Dyar
3’ (1’).- Asa posterior com uma borda de cor castanho-clara que continua suavemente em
degrade no resto da asa de cor castanho-claro de fundo e as vezes impossível separar a borda
castanho-escura de uma borda castanho-claro; face externa da tíbia anterior sem espinhos
(somente os dois espinhos apicais), somente com algumas
setas;....................................................................................................................... ...............…. 4
___________________________________________________________________________
4’ (3’).- MACHO: tíbia de tamanho médio, maior que H. gelopoeon e menor que H.
armigera, com 1,61 ± 0,12 mm e aparentemente mais larga, com inserção da epífise mais
próxima a parte posterior da tíbia Fig. 1B e 2B; macho: presença de três divertículos
agrupados na base da vesica sendo o intermediário menor que os demais; vesica com 10,5 ±
0,5 voltas helicoidais …........................................................................ Helicoverpa zea Boddie
4’’ (3’).- MACHO: tíbia de tamanho grande, maior que H. gelopoeon e H. zea, com 1,84 ±
0,02 mm e aparentemente mais fina com inserção da epífise mais distante da parte posterior
da tíbia Fig. 1C e 2C ; macho: apresenta dois divertículos simples na base da vesica em lados
opostos, sendo um deles aproximadamente três vezes maior que o outro; vesica com 7 a 8 ±
0,5 voltas helicoidais……...................…………..........…….....……...... Helicoverpa armigera
___________________________________________________________________________
31
3.4 DISCUSSÃO
A chave taxonômica foi elaborada visando a identificação de adultos das espécies de
Heliothinae de interesse agrícola no Brasil utilizando os principais caracteres morfológicos
internos e externos. As características das pernas foram úteis para a separação das espécies do
gênero Helicoverpa, sendo as diferenças mais destacadas nos machos, e assim, esta chave
poderá auxiliar na identificação das mariposas capturadas em armadilhas de feromônio
sexual. Com auxílio de lupa de mão com no mínimo 10 vezes de aumento, será possível
identificar os caracteres morfológicos presentes nas pernas, permitindo assim, a diferenciação
entre as espécies de H. armigera, H. zea e H. gelotopoeon, observando o tamanho da tíbia e
os espinhos contidos nas laterais da mesma.
A ordem crescente de tamanho da tíbia foi de H. gelotopoeon < H. zea < H. armigera,
sendo o caractere externo mais seguro para a identificação dos machos de Helicoverpa em
condições de campo, de interesse agrícola no Brasil. A diferença do tamanho da tíbia entre H.
armigera e H. zea é de aproximadamente 0,5 mm, que com uma análise rigorosa no campo
pode ser visualizada.
Para confirmar a espécie, por este caractere, é importante ter um treinamento prático
com amostras de tíbias de cada espécie, ou uma coleção de referência para comparar a
morfologia das espécies conhecidas com os espécimes de amostras a serem identificados. As
figuras 3 (A) e 3 (B), em mesma escala, representam as diferenças entre as duas espécies mais
próximas morfologicamente, H. armigera e H. zea.
A. B.
Figura 3– Perna direita de H. armigera (A); Perna direita de H. zea (B).
32
Uma das maiores dúvidas na hora da identificação é entre as espécies de H. armigera e
H. zea, que possuem caracteres morfológicos externos semelhantes, inclusive nas pernas,
como foi descrito nesse trabalho [Figuras 3 (A) e 3 (B)]. A identificação deste caractere por
técnicos, se torna útil no monitoramento de adultos nas lavouras, resultando em maior
celeridade e redução dos custos com envio dos espécimes até um laboratório especializado. A
posse imediata do resultado da identificação permite a orientação ao produtor e a adoção de
medidas para o manejo da espécie praga que está ocorrendo.
Nas mariposas fêmeas o tamanho da tíbia é bastante variável, principalmente em H.
zea, que possui a tíbia de tamanho similar ao de H. armigera, resultando em dúvidas na hora
da identificação e confirmação da espécie. Sendo assim, tendo capturado mariposas fêmeas,
com armadilha luminosa ou atrativo alimentar, é necessário a remoção do abdômen e
dissecação da genitália, seguindo a metodologia descrita anteriormente, para se obter a
confirmação da espécie.
Com relação a epífise, H. gelotopoeon apresentou o menor comprimento com
aproximadamente 0,6 mm, seguida da espécie H. zea com 0,86 mm, que é muito semelhante a
epífise de H. armigera, que possui comprimento aproximado de 1,0 mm. A diferença do
tamanho da epífise foi difícil de ser observada com lupa após imersão das pernas em solução
de KOH e remoção dos pêlos, necessitando medição de precisão, como realizado neste
trabalho. No entanto, quando associada com outro caractere morfológico, como o formato da
margem anterior da epífise, auxilia na identificação de adultos da espécie de Helicoverpa.
Porém, para obter uma identificação precisa deve-se ainda levar em consideração outros
caracteres, tais como o tamanho e formato da tíbia.
Na região de inserção da epífise, em direção à margem posterior da tíbia em H. zea, há
um "tufo" de pêlos que proporcionam a falsa impressão da sua continuidade até a região
posterior da tíbia (figura 1B). Esta impressão da epífise ser maior é mais evidente em H. zea
do que em H. armigera, e também está relacionada ao menor tamanho da tíbia e menor
distância no local de inserção da epífise na tíbia em H. zea.
Em uma análise geral das pernas das mariposas, foi possível visualizar a presença de
pêlos espessos em forma de escova na superfície inferior do fêmur. Estes pêlos quando
removidos deixam o local de origem com perfurações, [Figuras 2 (B) 2 (C)] determinando ser
espécies do gênero Helicoverpa, ou sem perfurações, para espécie do gênero Heliothis
(HARDWICK, 1965). No entanto, na espécie H. gelotopoeon, as marcas deixadas pela
remoção dos pêlos são pouco visíveis [Figura 2 (A)].
33
Outro caractere analisado foi o número de espinhos na região interna da tíbia do
primeiro par de pernas, que variou entre os espécimes da mesma espécie. Todd (1955)
descreveu que a espécie de H. gelotopoeon pode ser seguramente identificada pela presença
de três ou mais espinhos na região externa da tíbia, embora para esta espécie a característica
considerada marcante seja o tamanho dos espinhos na tíbia. Neste trabalho se encontrou uma
variação entre quatro a seis espinhos em H. gelotopoeon. Nos espécimes de H. zea analisados,
o número de espinhos variou de dois a três, de acordo com o que foi descrito por Hardwick
(1965) que obteve média de 3,7 ± 0,8 espinhos. Nos adultos da espécie de H. armigera o
número de espinhos ficou entre dois a quatro, diferente do encontrado por Hardwick (1965)
que obteve média de 3,7 ± 0,8 espinhos. Ainda se observou maior variação do número de
espinhos na região interna da tíbia, comparativamente às descrições de Hardwick (1965) e
Todd (1955). Dessa maneira, o número de espinhos pode não ser seguro para análise e
identificação, o que diverge, em parte dos resultados encontrados por Todd (1955), que
separou as espécies H. gelotopoeon e H. zea por esta estrutura.
Por fim, se a identificação através das pernas das mariposas for difícil, em campo, será
necessário dissecar a genitália dos machos e separar pelo número e forma do divertículos na
base da vesica (HARDWICK, 1965; POGUE, 2004; SPECHT et al., 2013) (Figuras 4 A, B e
C). Estes caracteres descritos e detalhados pelos autores acima, no caso de H. armigera,
discorda quanto ao número de divertículos na base da vesica diferindo da descrição proposta
por Hardwick (1965) e detalhado por Pogue (2004), em que estes citam apenas um
divertículo.
Em análise destes caracteres de H. armigera verificou-se na base da vesica a
existência e dois divertículos em lados opostos, um ao outro. O maior divertículo que
caracteriza a espécie e já foi descrito e detalhado pelos autores acima, porém, no lado oposto
há outra estrutura menos evidente (divertículo) em torno de três vezes menor (Figura 4B).
Esta observação demanda uma análise e re-descrição mais rigorosa.
34
(A)
(B)
(C)
Figura 4 – Vesica do edeago evertida com detalhe dos divertículos na base da vesica de (A)
H. gelotopoeon, (B) H. zea e (C) H. armigera.
35
3.5 CONCLUSÃO
A chave permite identificar machos das espécies de Heliothinae de interesse agrícola
no Brasil por caracteres morfológicos externos, o tamanho e forma da tíbia do primeiro par de
pernas, principalmente entre os machos de H. armigera de H. zea.
A chave pode ser utilizada por técnicos em campo ou em laboratório na identificação
de machos capturados em armadilha de feromônio sexual, visando o manejo precoce da praga
na lavoura.
3.6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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4 ARTIGO 2
Controle químico e biológico de Helicoverpa armigera na cultura da soja no Brasil
RESUMO
A falta de informações sobre inseticidas e doses eficientes no controle de H. armigera
no Brasil, motivou o presente trabalho. Os tratamentos químicos testados foram:
Chlorantraniliprole 10,0 g i.a. ha-1
, Flubendiamide 33,6 g i.a. ha-1
, Indoxacarbe 60,0 g i.a. ha-1
,
Chlorphenapyr 240,0 g i.a. ha-1
, Spinosad 33,6 g i.a. ha-1
, Clorfluazuron + Metomil 25,0 +
215,0 g i.a. ha-1
, Metoxifenozide 96,0 g i.a. ha-1
, Lambda-cyhalothrin + Chlorantraniliprole
3,7 + 7,5 g i.a. ha-1
, Acephate 750,0 g i.a. ha-1
. Os tratamentos biológicos testados foram:
Bacillus thuringiensis var. kurstaki 4,5 x 1011
esporos ha-1
, Bacillus thuringiensis var. kurstaki
2,5 x 1013
esporos ha-1
, Helicoverpa zea nucleopolyhedrovirus 4 x 1011
corpos de oclusão
(OBs) ha-1
e Helicoverpa zea nucleopolyhedrovirus 1,5 x 1012
OBs ha-1
. Após a aplicação dos
tratamentos foi avaliado a mortalidade das lagartas aos 3, 7, 10 e 14 dias. Foi avaliado o
rendimento da cultura da soja e o retorno econômico da aplicação dos tratamentos. Os
inseticidas Chlorantraniliprole, Flubendiamide, Chlorphenapyr, Spinosad e Acephate,
reduziram a população larval em 85, 86, 94, 85 e 86%, respectivamente. Acephate,
Chlorantraniliprole e Flubendiamide apresentaram alto retorno econômico, 1:10,0, 1:6,6 e
1:5,3. Entre os inseticidas biológicos o BtControl foi mais eficiente do que Dipel na
mortalidade de lagartas grandes e pequenas de H. armigera. Gemstar e HzNPV CCAB
causaram mortalidade semelhante, com maior eficiência para as lagartas pequenas. O maior
retorno econômico foi do inseticida BtControl de 1:6,6. É pertinente a continuidade dos
estudos de eficiência dos inseticidas no controle desta praga no Brasil visando o
monitoramento da resistência.
Palavras-chave: Lagarta Helicoverpa, manejo de pragas, inseticida químico, inseticida
biológico.
39
Chemical and biological control of Helicoverpa armigera on soybean crop in Brazil
ABSTRACT
The lack of information about insecticides and doses effective to control H. armigera
in Brazil, motivated the present study. The chemical treatments sprayed were:
Chlorantraniliprole 10.0 g ai ha-1
, Flubendiamide 33.6 g ai ha-1
, Indoxacarb 60.0 g ai ha-1
,
240.0 g ai ha Chlorphenapyr-1
, Spinosad 33.6 g ai ha-1
, chlorfluazuron Methomyl + 25.0 +
215.0 g ai ha-1
, 96.0 g ai ha Methoxyfenozide-1
, Lambda-cyhalothrin + Chlorantraniliprole 3.7
+ 7.5 g ai ha-1
, Acephate 750.0 g ai ha-1
. The biological treatments sprayed were: Bacillus
thuringiensis var. kurstaki 4.5 x 1011
ha-1
spores of Bacillus thuringiensis var. kurstaki 2.5 x
1013
ha-1
spores, Helicoverpa zea nucleopolyhedrovirus 4 x 1011
occlusion bodies (OBs) ha-1
and Helicoverpa zea nucleopolyhedrovirus 1.5 x 1012
OBs ha-1
. After the spray was evaluated
mortality of larvae at 3, 7, 10 and 14 days. The yield of soybean and economic return of the
treatments was evaluated. Chlorantraniliprole, Flubendiamide, Chlorphenapyr, Spinosad and
Acephate reduced the larval population at 85, 86, 94, 85 and 86%, respectively. Acephate,
Chlorantraniliprole e Flubendiamide showed the highest economic return, 1:10,0, 1:6,6 and
1:5,3. BtControl®
was more effective on mortality of H. armigera than Dipel®
, over large and
small larvae. The Gemstar®
and HzNPV CCAB®
insecticides had similar mortality, with the
highest efficiency for small larvae. Among biological insecticides, BtControl®
showed the
highest economic return, was 1:6,6. It is pertinent to continue insecticides efficiency studies in
controlling this pest in Brazil aimed at monitoring of resistance.
Palavras-chave: Helicoverpa caterpillar, pest management, chemical insecticide, biological
insecticide.
40
4.1 INTRODUÇÃO
O manejo das populações de H. armigera apresenta grandes desafios ao sojicultor
brasileiro, especialmente com relação ao controle químico, às plantas de soja Bt e o controle
biológico dessa praga. A invasão de H. armigera associada à estas dificuldades fizeram com
que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) tomasse medidas
emergenciais, tais como o registro emergencial e uso de inseticidas químicos e biológicos
para o controle de H. armigera, além de outras medidas.
A autorização para o uso emergencial destes inseticidas sem informações locais, que
são utilizadas em outros países, bem como da ação dos novos inseticidas para H. armigera,
tornaram as recomendações de controle, passíveis de dúvidas e de erros. A falta de resultados
de controle deixaram a assistência técnica, a indústria, os produtores e pesquisadores sem
informações para orientar e decidir sobre o manejo da praga.
A revisão da literatura de outros países é importante para se conhecer, por exemplo, as
doses dos inseticidas que são utilizadas no controle de H. armigera nestes locais. Entre eles,
estão os trabalhos realizados no Paquistão por Tariq et al (2005) e Cheema et al (2004) na
cultura do algodão com o inseticida Spinosad nas doses de 47,5 e 71,2 g i.a. ha-1
e
Indoxacarbe na dose de 64,9 g i.a. ha-1
que controlaram mais de 80% a população. Também
nesse mesmo país, Ahmed et al (2004) avaliou os inseticidas Spinosad na dose de 35,6 g i.a.
ha-1
, Indoxacarbe na dose de 55,6 g i.a. ha-1
e Metomil na dose de 29,7 g i.a. ha-1
, que
apresentaram os melhores resultados de controle de H. armigera em grão-de-bico.
Brévault et al (2009) avaliaram o inseticida Indoxacarbe e Spinosad nas doses de 25 e
36 g i.a. ha-1
, na cultura do algodão, os quais apresentaram alta atividade tóxica inicial. Leven
et al (2011) mencionou os inseticidas e doses eficientes para o controle de H. armigera na
cultura do algodão, na Austrália. Dentre os inseticidas químicos, Metomil na dose de 112 a
225 g i.a. ha-1
, Metoxifenozide na dose de 408 a 600 g i.a. ha-1
, Chlorantraniliprole na dose de
31,5 a 52,5 g i.a. ha-1
e Spinosad, nas doses de 72 a 96 g i.a. ha-1
, e dentre os inseticidas
biológicos, HaNPV na dose de 10 x 1011
corpos de oclusão (OBs) ha-1
. Na Índia, Sandeep et
al (2014) trabalharam com os inseticidas Chlorantraniliprole e Flubendiamide nas doses de 15
e 24 g i.a. ha-1
, na cultura do grão-de-bico; e Shivanna et al (2014), testou Indoxacarbe,
HaNPV, Chlorpyriphos e Novaluron, que resultaram em controle de H. armigera acima de
80%, até os 7 dias após a aplicação, na cultura do tabaco.
41
Além disso, na safra 2013/2014, outros trabalhos foram conduzidos em diferentes
locais do Brasil. Morais et al (2014) avaliaram os inseticidas Clorfluazuron na dose de 20 g
i.a. ha-1
, em associação com Acephate nas doses de 600 e 750 g i.a. ha-1
e Beta-cipermetrina
na dose de 30 g i.a. ha-1
; e Chlorantraniliprole na dose de 10 g i.a. ha-1
, na cultura da soja.
Estes tratamentos controlaram acima de 80% a população de H. armigera. Silva et al (2014b)
avaliou a curva de dose resposta do inseticida Avatar®
(Indoxacarbe), concluindo que as doses
para ocasionar 50% e 99% de mortalidade foram 0,62 e 61,71 ppm, respectivamente.
Com o objetivo de avaliar inseticidas químicos e biológicos no controle de H.
armigera, em condições de campo, foram desenvolvidos dois experimentos em diferentes
condições ambientais.
4.2 MATERIAL E MÉTODOS
Foram conduzidos dois experimentos para avaliar a eficiência de inseticidas químicos
e biológicos no controle de H. armigera na safra agrícola 2013/14, nas cidades de Restinga
Seca (29° 45’ 29,65’’S / 53° 30’ 53,84’’O) e Santa Maria, (29° 42’ 56,02’’S / 53° 33’
54,97’’O), Rio Grande do Sul, Brasil.
Nesses locais foram instaladas armadilhas do tipo delta, iscadas com feromônio sexual
feminino Iscalure armigera®
((Z)-9-hexadecenal (Z90C16Ald; (Z)-9-tetradecenal (Z9-
C14Ald); (Z)-11-C16Ald). Os machos adultos coletados nas armadilhas e os machos obtidos
da criação de larvas coletadas nas áreas dos ensaios, foram identificados no Laboratório de
Manejo Integrado de Pragas (LabMIP) da UFSM, seguindo Brambila (2009), para o preparo
da amostra e a chave de identificação taxonômica elaborada por Hardwick (1965), pela
genitália do macho, e detalhada por Pogue (2004).
O delineamento experimental foi o de blocos ao acaso, com quatro repetições e o
tamanho das unidades experimentais foi de 4 x 6 m (24 m2), em ambos os experimentos. Os
tratamentos com os inseticidas químicos são listados a seguir, na ordem de Ingrediente ativo,
dose de ingrediente ativo por hectare (produto comercial, concentração e formulação):
Chlorantraniliprole 10,0 g i.a. ha-1
(Premio®
200 SC), Flubendiamide 33,6 g i.a. ha-1
(Belt®
480 SC), Indoxacarbe 60,0 g i.a. ha-1
(Avatar®
150 CE), Chlorphenapyr 240,0 g i.a. ha-1
(Pirate®
240 SC), Spinosad 33,6 g i.a. ha-1
(Tracer®
480 SC), Clorfluazuron + Metomil 25,0 +
215,0 g i.a. ha-1
(Atabron®
50 CE + Lannate®
215 SL), Metoxifenozide 96,0 g i.a. ha-1
(Intrepid®
240 SC), Lambda-cyhalothrin + Chlorantraniliprole 3,7 + 7,5 g i.a. ha-1
(Ampligo®
50 + 100 SC), Acephate 750,0 g i.a. ha-1
(Orthene®
750 PS). Os tratamentos com os
42
inseticidas biológicos foram: Bacillus thuringiensis var. kurstaki 4,5 x 1011
esporos ha-1
(Dipel®
2,75 x 1010
esporos g-1
SC), Bacillus thuringiensis var. kurstaki 2,5 x 1013
esporos ha-
1 (Bt Control SC
® 5,0 x 10
10 esporos mL
-1 SC), Helicoverpa zea nucleopolyhedrovirus 4 x
1011
corpos de oclusão (OBs) ha-1
(Gemstar®
2,0 x 109 OBs mL
-1 SC) e Helicoverpa zea
nucleopolyhedrovirus 1,5 x 1012
OBs ha-1
(Hz-NPV Bio CCAB®
7,5 x 109 OB mL
-1 SC).
As aplicações dos tratamentos foram realizadas com um pulverizador costal
pressurizado a CO2, dotado de quatro pontas do tipo teejet XR 110.015, com largura útil de
aplicação de dois metros. O volume de calda pulverizado foi de 150 L/ha. As pulverizações
foram realizadas após as 18 horas, visando reduzir o impacto do tempo sobre os tratamentos
biológicos.
No experimento de Restinga Seca a aplicação dos tratamentos foi realizada no dia
07/02/2014, com a cultura no estádio R4, a temperatura de 29,5°, a Umidade Relativa do ar
(URar) de 62% e a velocidade do vento de 3,3 m/s. A densidade média de lagartas pequenas e
grandes de H. armigera antes da aplicação foi de 1,2 e 3,7 lagartas m-2
, respectivamente. No
experimento de Santa Maria a aplicação foi realizada no dia 21/02/2014, a cultura encontrava-
se no estádio R5.1, a temperatura era de 30,6°, a URar de 65% e a velocidade do vento de 2,1
m/s. O número de lagartas pequenas e grandes de H. armigera antes da aplicação foi de 2,5 e
1,0 lagartas m-2
, respectivamente.
As avaliações da densidade populacional de lagartas de H. armigera nas parcelas
foram realizadas com um pano-de-batida vertical, com calha (GUEDES et al., 2006),
amostrando 1,0 m2 de área por parcela, aos 3, 7, 10 e 14 dias após a aplicação dos tratamentos
(DAA). No experimento de Restinga Seca foi possível avaliar o rendimento de grãos,
colhendo uma área útil de 2 m2 por parcela. De posse dos dados de rendimento se fez uma
análise do retorno econômico do controle, em que se considerou o custo do inseticida e o
custo operacional da aplicação (U$ 5,00). O preço da saca de soja (60 kg) utilizado foi de U$
21,07.
Os dados do número de lagartas foram transformados a raiz de x + 0,5 e analisados
conjuntamente utilizando o programa SISVAR, após verificar-se a não ocorrência da
interação entre os locais e os tratamentos utilizados (ANOVA). As médias foram agrupadas
utilizando o teste Scott-Knott, com 5% de significância. O percentual de mortalidade de
lagartas de H. armigera foi calculado com a equação de ABBOTT (1925).
43
4.3 RESULTADOS
4.3.1 Experimento de controle químico
A densidade média de lagartas grandes e pequenas de H. armigera no tratamento
testemunha, ao longo das avaliações variou de 3,8 lagartas m-2
aos 3 DAA e 2,8 lagartas m-2
aos 14 DAA (Tabela 2). A maioria dos tratamentos reduziu significativamente a densidade de
lagartas em comparação com à testemunha. Os tratamentos com Chlorantraniliprole,
Flubendiamide, Indoxacarb, Chlorphenapyr, Spinosad, e Acephate diferiram da testemunha,
em todas as datas avaliadas. Aos 3 DAA, os maiores percentuais de mortalidade foram
obtidos pelos inseticidas Chlorantraniliprole (83,3%), Chlorphenapyr (90,0%) e Acephate
(83,3%). Na avaliação de 7 DAA todos os tratamentos com inseticidas diferiram da
testemunha. Os tratamentos apresentaram mortalidade de larvas pequenas e grandes de H.
armigera, superior a 90%, dentre estes, Flubendiamide (93,1%), Indoxacarb (96,6%),
Chlorphenapyr (100,0%), Spinosad e Acephate (93,1%). Chlorantraniliprole reduziu em
82,8% a densidade populacional de H. armigera. Aos 10 DAA, Chlorantraniliprole,
Flubendiamide, Chlorphenapyr, Spinosad, Lambda-cyhalothrin + Chlorantraniliprole e
Acephate obtiveram eficiência de controle de larvas grandes e pequenas de H. armigera
superiores a 80%, diferindo da testemunha. O inseticida Indoxacarb apresentou uma redução
na mortalidade a partir da avaliação de 10 DAA. Na última avaliação, aos 14 DAA, todos os
tratamentos com inseticida diferiram da testemunha, exceto Indoxacarb e Clorfluazuron +
Metomil. Chlorantraniliprole, Flubendiamide, Chlorphenapyr e Acephate mantiveram o
percentual de mortalidade de larvas pequenas e grandes de H. armigera superior a 90% aos 14
DAA. Indoxacarb e Spinosad apresentaram o percentual de mortalidade reduzido nessa
avaliação em 45,5 e 72,7%, respectivamente.
Os inseticidas Clorfluazuron + Metomil, Metoxifenozide e Lambda-cyhalothrin +
Chlorantraniliprole apresentaram os menores percentuais de mortalidade de lagartas de H.
armigera ao longo das avaliações, de 64,0%, 55,7% e 74,5%. A baixa eficiência de Lambda-
cyhalothrin + Chlorantraniliprole, especialmente do segundo inseticida, deve-se à baixa dose
(7,5 g i.a. ha-1
), quando comparado com a dose de Chlorantraniliprole aplicado isoladamente
na dose de 10,0 g i.a. ha-1
.
44
Tabela 2 – Número de lagartas de H. armigera e eficiência agronômica nos tratamentos com inseticidas químicos na cultura da soja. Brasil.
Safra 2013/14.
Tratamentos Dose g de
a.i. ha-1
Número de lagartas m-2
3 DAA1 t
2 E% 7 DAA t E% 10 DAA t E% 14 DAA
* t E%
1. Chlorantraniliprole 10,0 0,6 a 83,3 0,6 a 82,8 0,4 a 88,9 0,3 a 90,9
2. Flubendiamide 33,6 1,0 a 73,3 0,3 a 93,1 0,3 a 92,6 0,3 a 90,9
3. Indoxacarb 60,0 0,9 a 76,7 0,1 a 96,6 1,0 a 70,4 1,5 b 45,5
4. Chlorphenapyr 240,0 0,4 a 90,0 0,0 a 100,0 0,1 a 96,3 0,3 a 90,9
5. Spinosad 33,6 0,9 a 76,7 0,3 a 93,1 0,4 a 88,9 0,8 a 72,7
6. Clorfluazuron + Metomil 25,0+215,0 1,8 b 53,3 0,8 a 79,3 0,8 a 77,8 1,5 b 45,5
7. Metoxifenozide 96,0 2,8 b 26,7 1,4 a 62,1 1,0 a 70,4 1,0 a 63,6
8. Lambda-cyhalothrin + Chlorantraniliprole 3,7+7,5 1,6 b 56,7 0,9 a 75,9 0,3 a 92,6 0,8 a 72,7
9. Acephate 750,0 0,6 a 83,3 0,3 a 93,1 0,5 a 85,2 0,3 a 90,9
10. Testemunha - 3,8 b - 3,6 b - 3,4 b - 2,8 b -
CV(%) 34,1
30,9
42,1
24,4
1 Dias após a aplicação dos tratamentos.
2 Valores seguidos da mesma letra não diferem estatisticamente com 5% de significância.
* Médias da avaliação somente de Santa Maria.
45
4.3.2 Experimento de controle biológico
Os resultados dos inseticidas biológicos serão apresentados para as lagartas pequenas e
grandes de H. armigera, pois houve diferença no percentual de mortalidade para o tamanho
da lagarta. Na primeira avaliação, aos 3 DAA, tanto para lagartas pequenas quanto para
lagartas grandes, os tratamentos não diferiram da testemunha (Tabela 3). Também, todos os
inseticidas biológicos obtiveram percentuais de mortalidade inferior a 70%, caracterizando o
efeito lento da patologia. A maior mortalidade de lagartas pequenas foi atingida pelos
inseticidas Bt - Dipel®
e Bt - Bt Control®
, ambos com 63,3%. O tratamento com HzSNPV -
Gemstar®
apresentou a maior mortalidade de lagartas grandes de H. armigera aos 3 DAA
(47,4%). A partir de 7 DAA alguns inseticidas biológicos começaram a ocasionar mortalidade
significativa nas lagartas pequenas e grandes de H. armigera, sem mostrar diferença
estatística significativa. Os tratamentos Bt - Bt Control®
e HzSNPV - HzNPV CCAB®
controlaram em 85,7 e 100,0%, respectivamente, as lagartas pequenas. Por outro lado, os
tratamentos Bt - Dipel®
e Bt - Bt Control®
resultaram na maior mortalidade de lagartas
grandes, 86,8 e 73,3%, respectivamente. Aos 10 DAA, o resultado foi semelhante aos 7 DAA
para as lagartas pequenas, Bt - Bt Control®
(100,0%), HzSNPV - HzNPV CCAB®
(100,0%),
juntamente com o HzSNPV - Gemstar®
(87,5%) apresentaram os maiores percentuais de
mortalidade. Porém, para lagartas grandes, os inseticidas Bt Control®
e HzSNPV - HzNPV
CCAB®
auferiram as maiores reduções da densidade populacional de H. armigera. Aos 14
DAA, os inseticidas Bt Control®
e HzSNPV HzNPV CCAB®
mantiveram 100% de
mortalidade e HzSNPV - Gemstar®
aumentou a mortalidade de larvas pequenas, chegando
também a 100%. Com relação a lagartas grandes, nenhum dos inseticidas a base de Bt ou
baculovírus atingiu mortalidade acima de 80%. Cabe destacar que HzSNPV - Gemstar®
atingiu a máxima mortalidade de 77,8% apenas aos 14 DAA.
46
Tabela 3 – Número de lagartas grandes e pequenas de H. armigera e eficiência agronômica nos tratamentos com inseticidas biológicos na
cultura da soja. Brasil. Safra 2013/14.
1 Dias após a aplicação dos tratamentos.
2 Valores seguidos da mesma letra não diferem estatisticamente com 5% de significância.
3 Dados transformados a raiz de X + 0,5.
4 Dose do produto comercial de 500 ml ha
-1.
5 Dose do produto comercial de 200 ml ha
-1.
* Médias da avaliação somente de Santa Maria.
Tratamento Dose
i.a. ha-1
Número de lagartas pequenas m-2
3 DAA1 t
2 E% 7 DAA t E% 10 DAA t E% 14 DAA
* t E%
1. B. thuringiensis - Dipel® 4
4,5 x 1011
0,5 a 63,6 0,6 a 64,3 0,5 a 50,0 0,3 a 50,0
2. B. thuringiensis - Bt Control® 4
2,5 x 1013
0,5 a 63,6 0,3 a 85,7 0,0 a 100,0 0,0 a 100,0
3. Helicoverpa zea nucleopolyhedrovirus - Gemstar® 5
4 x 1011
0,6 a 54,5 0,8 a 57,1 0,1 a 87,5 0,0 a 100,0
4. Helicoverpa zea nucleopolyhedrovirus - HzNPV CCAB® 5
1,5 x 1012
1,0 a 27,3 0,0 a 100,0 0,0 a 100,0 0,0 a 100,0
5. Testemunha - 1,4 a - 1,8 a - 1,0 a - 0,5 a -
CV(%)3 19,8
38,3
31,9
24,0
Número de lagartas grandes m-2
1. B. thuringiensis - Dipel® 4
4,5 x 1011
2,3 a 5,3 0,3 a 86,7 0,8 a 68,4 1,0 a 55,6
2. B. thuringiensis - Bt Control® 4
2,5 x 1013
1,6 a 31,6 0,5 a 73,3 0,4 a 84,2 0,8 a 66,7
3. Helicoverpa zea nucleopolyhedrovirus - Gemstar® 5
4 x 1011
1,3 a 47,4 1,4 a 26,7 1,4 a 42,1 0,5 a 77,8
4. Helicoverpa zea nucleopolyhedrovirus - HzNPV CCAB® 5
1,5 x 1012
2,0 a 15,8 1,0 a 46,7 0,5 a 78,9 0,8 a 66,7
5. Testemunha - 2,4 a - 1,9 a - 2,4 a - 2,3 a -
CV(%) 42,8
40,8
44,4
24,8
47
4.3.3 Rendimento da soja nos tratamentos químicos e biológicos
As maiores produtividades de soja foram obtidas pelos inseticidas Acephate (2.643 kg
ha-1
), Spinosad (2.594 kg ha-1
) e Chlorphenapyr (2.576 kg ha-1
), seguido de
Chlorantraniliprole (2.447 kg ha-1
) e Flubendiamide (2.497 kg ha-1
) (Tabela 4). Mesmo os
inseticidas que apresentaram baixa eficiência de controle de H. armigera, Clorfluazuron +
Metomil, Metoxifenozide e Lambda-cyhalothrin + Chlorantraniliprole, obtiveram
rendimentos maiores que a testemunha de 229, 103 e 244 kg ha-1
, respectivamente. Este
resultado confirma o elevado dano que H. armigera causa na soja, na qual, uma eficiência de
57%, evitou a perda de produtividade de 103 kg ha-1
.
O retorno econômico avaliou somente o investimento em dinheiro da aplicação com o
retorno em produtividade, porém, também deve ser levado em consideração outros fatores,
tais como a seletividade dos inseticidas aos inimigos naturais que estabelecem o equilíbrio
dinâmico entre as pragas e a toxicidade aos humanos. Assim como a produtividade, o retorno
econômico foi maior para os inseticidas Acephate (1:10,0), Chlorantraniliprole (1:6,6) e
Flubendiamide (1:5,3), pois o custo de controle foi baixo com alto rendimento. Embora
Acephate tenha apresentado maior retorno econômico, pode acarretar em desequilíbrio na
população de inimigos naturais, podendo induzir a sucessivas aplicações. O que pode reduzir
o retorno econômico do investimento.
Por outro lado, mesmo com excelente eficiência de controle e alta produtividade, o
retorno econômico foi de apenas 1:3,7 e 1:4,3 dos inseticidas Chlorphenapyr e Spinosad,
respectivamente, devido ao alto custo destes inseticidas. Clorfluazuron + Metomil,
Metoxifenozide apresentaram o menor retorno econômico entre os inseticidas químicos, pelo
alto custo de controle e baixo retorno em produtividade, resultando em nenhum ganho e
nenhuma perda econômica.
Com relação aos inseticidas biológicos, Bt Control®
, Gemstar®
e HzNPV CCAB®
,
diferiram quanto a produtividade da testemunha e do inseticida Dipel®
(Tabela 5). A maior
produtividade sobre a testemunha foi do inseticida HzNPV CCAB®
(301 kg ha-1
), seguido de
Gemstar®
(297 kg ha-1
) e Bt Control®
(286 kg ha-1
). Entre os baculovírus Gemstar®
e HzNPV
CCAB®
o retorno econômico foi semelhante de 1:5,0 e 1:5,7, respectivamente. Entre os
inseticidas biológicos, o inseticida Bt Control®
apresentou o maior retorno econômico de 1:
6,6.
48
Os inseticidas biológicos apresentaram um retorno econômico semelhante aos
inseticidas químicos Acephate, Chlorantraniliprole e Flubendiamide. Assim, é importante
ressaltar que a aplicação dos inseticidas biológicos resultam, além do retorno econômico, em
menor impacto às populações de organismos benéficos que são responsáveis pelo controle
biológico natural das pragas.
49
Tabela 4 – Rendimento da soja e retorno econômico nos tratamentos com inseticidas químicos no controle de H. armigera. Brasil. Safra
2013/14.
Tratamentos Dose
i.a.ha-1
Rendimento
(kg.ha-1
)
Ganho de
rendimento
(kg.ha-1
)
Ganho de
rendimento*
(U$.ha-1
)
Custo da
aplicação**
(U$.ha-1
)
Lucro
líquido
(U$.ha-1
)
Retorno
econômico
1. Chlorantraniliprole 10,0 2447 b 349 122,64 16,11 106,53 1:6,6
2. Flubendiamide 33,6 2497 b 399 140,20 22,28 117,92 1:5,3
3. Indoxacarb 60,0 2370 c 272 95,52 19,81 75,70 1:3,8
4. Chlorphenapyr 240,0 2576 a 478 167,95 35,86 132,08 1:3,7
5. Spinosad 33,6 2594 a 496 174,18 33,00 141,18 1:4,3
6. Clorfluazuron + Metomil 25,0+215,0 2326 c 229 80,24 41,70 38,54 1:0,9
7. Metoxifenozide 96,0 2200 d 103 36,08 20,31 15,77 1:0,8
8. Lambda-cyhalothrin + Chlorantraniliprole 3,7+7,5 2342 c 244 85,68 17,50 68,18 1:3,9
9. Acephate 750,0 2643 a 545 191,47 17,35 174,13 1:10,0
10. Testemunha - 2098 d - - - - -
CV(%) 3,3
* Para o cálculo do ganho de rendimento foi utilizado o valor da saca de soja (60 kg) de U$ 21,07.
** O custo da aplicação: valor do inseticida mais o custo operacional da aplicação de U$ 5,00.
50
Tabela 5 – Rendimento da soja e retorno econômico nos tratamentos com inseticidas biológicos no controle de H. armigera. Brasil. Safra
2013/14.
Tratamentos Dose
i.a.ha-1
Rendimento
(kg.ha-1
)
Ganho de
rendimento
(kg.ha-1
)
Ganho de
rendimento*
(U$.ha-1
)
Custo da
aplicação**
(U$.ha-1
)
Lucro líquido
(U$.ha-1
)
Retorno
econômico
1. B. thuringiensis - Dipel® 4
4,5 x 1011
2197 b 99 34,77 13,23 21,54 1:1,63
2. B. thuringiensis - Bt Control® 4
2,5 x 1013
2384 a 286 100,35 13,23 87,12 1:6,58
3. Helicoverpa zea nucleopolyhedrovirus - Gemstar® 5
4 x 1011
2395 a 297 104,38 17,35 87,04 1:5,02
4. Helicoverpa zea nucleopolyhedrovirus - HzNPV CCAB® 5
1,5 x 1012
2399 a 301 105,79 15,70 90,09 1:5,74
5. Testemunha - 2098 b - - - - -
CV(%) 3,4
* Para o cálculo do ganho de rendimento foi utilizado o valor da saca de soja (60 kg) de U$ 21,07.
** O custo da aplicação: valor do inseticida mais o custo operacional da aplicação de U$ 5,00.
51
4.4 DISCUSSÃO
4.4.1 Experimento de controle químico
No início da safra agrícola brasileira 2013/14, as dúvidas quanto aos inseticidas que
controlavam eficientemente H.armigera na cultura da soja eram frequentes, o que levou os
produtores a utilizarem produtos e doses sem o respaldo técnico e científico necessário. No
entanto, com a análise dos resultados destes experimentos, é possível verificar que há formas
eficazes de manejar H. armigera na cultura da soja, tanto pela eficiência quanto pelo custo.
A Figura 5 apresenta a média de mortalidade dos inseticidas químicos dos dois
experimentos. Verifica-se que os tratamentos que apresentaram eficiência superior a 80%, não
ocorreu variação maior que 15% no percentual de mortalidade de H. armigera, entre as duas
condições de campo avaliadas. A maior eficiência de controle foi obtida pelo inseticida
Chlorphenapyr, com 94%. Resultado semelhante ao obtido por Oliveira et al (2014), em que
avaliaram as doses de 192 e 240 g i.a. ha-1
, as quais controlaram acima de 83%, concluindo
que a dose a partir de 192 g i.a. ha-1
, pode ser recomendada para o controle de H. armigera em
soja.
85 86
76
94
85
6457
75
86
0
20
40
60
80
100
Mo
rta
lid
ad
e (%
)
Figura 5 – Mortalidade de lagartas de H. armigera após aplicação dos inseticidas químicos
na cultura da soja. Brasil. Safra 2013/14.
O inseticida Chlorphenapyr possui o modo de ação de desacoplador da fosforilação
oxidativa na mitocôndria, interrompendo a produção de ATP na célula e tendo como
52
consequência a morte do organismo (RAGHAVENDRA et al., 2011). Devido ao diferente
modo de ação do Chlorphenapyr, comparado com os demais inseticidas utilizados nesse
trabalho, esse inseticida torna-se uma alternativa para controlar e para rotacionar modos de
ação de inseticidas no manejo da resistência de H. armigera em soja.
Entre as diamidas antranílicas, os inseticidas Chlorantraniliprole e Flubendiamide nas
doses testadas, 10,0 e 33,6 g i.a. ha-1
respectivamente, apresentaram similaridade nos
resultados de mortalidade de H. armigera em soja, com 85 e 86% de controle nos dois
experimentos (Figura 1). Por ser um grupo químico novo que foi descoberto recentemente, os
resultados de controle destes inseticidas na literatura é recente. Para o controle de H.
armigera, há resultados na cultura do tabaco (SHIVANNA et al., 2014), algodão
(THILAGAM et al., 2010) e grão-de-bico (DESHMUKH et al., 2010; SANDEEP et al.,
2014), situações em que esses inseticidas se mostraram eficientes.
Na cultura do algodão, Thilagam et al (2010), conduziram dois experimentos, que
resultaram em uma redução da população larval de H. armigera, juntamente com redução do
dano em 96%, com o inseticida Flubendiamide na dose de 60 g i.a. ha-1
, dose esta quase duas
vezes maior que a utilizada neste estudo. A recomendação de Leven et al (2011), para a
cultura do algodão na Austrália, sugere doses do inseticida Chlorantraniliprole entre 31,5 a
52,5 g i.a. ha-1
, também muito acima da dose avaliada neste trabalho. Caso fossemos seguir as
doses recomendadas destes autores, sem antes realizar uma avaliação nas condições da soja
brasileira, se tornaria praticamente inviável a aplicação devido ao custo muito elevado do
inseticida. Shivanna et al (2014) encontrou baixo número de larvas por planta de tabaco nas
parcelas tratadas com Flubendiamide na dose de 0,25 ml/L, e também maior rendimento de
folhas verdes e curadas. Chankapue et al (2014) trabalharam na seleção de novas moléculas
de inseticidas em condições de laboratório onde a molécula Flubendiamide 39,35% SC na
dose de 0,01% controlou as larvas de H. armigera acima de 95% até 168 horas após
aplicação.
Comparando as diamidas antranílicas, Sandeep et al (2014), descreveu que
Chlorantraniliprole na dose de 15 g i.a. ha-1
foi mais efetivo na redução da população de H.
armigera e resultou em maior rendimento da cultura de grão-de-bico, comparado a
Flubendiamide na dose de 24 g i.a. ha-1
. No entanto, o autor concluiu que ambos os
inseticidas, Chlorantraniliprole e Flubendiamide, nas doses testadas, são eficientes e resultam
em retorno econômico no manejo da praga. Comparativamente ao presente trabalho, a dose de
Flubendiamide foi de 30% menor e mesmo assim auferiu eficiência suficiente para o controle
de H. armigera.
53
O inseticida Spinosad na dose de 33,6 g i.a. ha-1
foi eficiente controlando 85% das
lagartas de H. armigera na cultura da soja. Outros autores também citam eficiência desse
inseticida, porém em doses maiores, como por exemplo, Tariq et al (2005) e Cheema et al
(2004) que utilizaram 47,5 e 71,2 g i.a. ha-1
, respectivamente, e Leven et al (2011) que
recomendaram doses entre 72 a 96 g i.a. ha-1
, na cultura do algodão. Por outro lado, em
pesquisa realizada no Brasil por Müller et al (2014), o inseticida Spinosad foi eficiente a partir
de 24 g i.a. ha-1
, ou seja, até quatro vezes menor que as doses avaliadas pelos autores acima
citados.
O uso de maiores doses do inseticida Spinosad em outros países, pode estar
relacionado com o desenvolvimento de resistência das lagartas a este inseticida, que já foi
relatado no Paquistão (AHMAD et al., 2003), na China (KRANTHI et al., 2000) e na
Austrália (GUNNING et al., 2002). Mesmo possuindo um modo de ação único, com sítio
primário de ligação nos receptores nicotínicos de acetilconia (nAChR) e um sítio secundário
nos receptores de GABA (WATSON, 2001), segundo Young et al (2003) e Wang et al (2006)
os insetos possuem um potencial para desenvolver resistência a Spinosad em pouco tempo,
sugerindo que isto ocorre pela melhoria no metabolismo do citocromo P450 oxidase.
Indoxacarb, na dose de 60 g i.a. ha-1
, controlou H. armigera logo após a aplicação, aos
3 e 7 DAA. Vinaykumar et al (2013) testaram em soja, Shivanna et al (2012) em tabaco e
Babariya et al (2010) e Amar et al (2014) em grão-de-bico no controle de H. armigera, e
obtiveram as maiores reduções na densidade populacional até aos 7 dias após a aplicação.
Além disso, o estudo de Ahmed et al (2004), encontraram que duas aplicações de
Indoxacarbe, na dose de 55,6 g i.a. ha-1
, em intervalo de 15 dias, reduziu em apenas 60% a
percentagem de infestação de H. armigera na culura do grão-de-bico. Por outro lado, Cheema
et al (2004) citaram que Indoxacarbe na dose de 64,9 g i.a. ha-1
controlou a segunda geração
de lagartas de H. armigera na cultura do algodão, que ocorreu cinco semanas após a aplicação
realizada sobre a primeira geração.
O inseticida Indoxacarbe possui alta atividade tóxica logo após o contato das lagartas
com o produto, independente do estágio larval (BRÉVAULT et al., 2009), porém, apresenta
baixo efeito residual, devido a sua rápida fotodegradação, DT50 = 4,5 dias em pH = 5 a 25°C,
(FAO), resultando em uma menor eficiência de controle a partir de 7 DAA. Assim, são
necessárias pulverizações em intervalos de 7 dias, devido a sua alta eficácia e baixa
persistência, o que também mostra os resultados encontrados por TARIQ et al (2005), em que
Indoxacarbe na dose de 64,9 g i.a. ha-1
apresentou controle acima de 80% na média de duas
54
aplicações com intervalo de sete dias, e os resultados de bio-ensaio de Silva et al (2014a) em
que o inseticida Avatar®
foi eficiente no controle da H. armigera até 7 dias após a aplicação.
4.4.2 Experimento de controle biológico
Os inseticidas biológicos (B. thuringiensis e HzNPV), apresentaram comportamentos
diferentes entre os produtos comerciais formulados. A mortalidade das lagartas pequenas e
grandes de H. armigera, em ambos os experimentos, foi observada somente a partir de 7
DAA. Essa resposta é resultado do mecanismo de contaminação e ação destes inseticidas que,
precisam ser ingeridos pelas lagartas e após desenvolver a patologia no inseto. O tempo de
mortalidade dos inseticidas é importante para evitar os danos de H. armigera em soja. Desse
modo, as aplicações dos inseticidas biológicos com B. thuringiensis e Baculovírus devem ser
realizadas quando há presença de lagartas com tamanho pequeno e baixa densidade.
Nesse estudo foi observado que os inseticidas com isolados de B. thuringiensis, Dipel®
e Bt Control®
, apresentaram maior toxicidade para lagartas grandes quando comparados com
os Baculovírus, Gemstar®
e HzNPV CCAB®
, pois ocasionaram mortalidade mais rapidamente
e o percentual médio de mortalidade foi maior (Figure 6). Em geral, o Tempo Letal (TL50) de
Dipel®
, é de 6,3 horas para lagartas de 1º instar de H. zea (JUNIOR et al., 2009), ao passo que
o Baculovírus inicia a mortalidade a partir de 3 dias (CASTRO et al., 1999). O inseticida Bt
Control®
apresentou maior mortalidade, principalmente de lagartas pequenas de H. armigera,
comparado com o inseticida Dipel®
. Esse resultado está relacionado com a maior quantidade
de esporos de B. thuringiensis aplicados por hectare devido a maior concentração por mL no
produto formulado Bt Control®
.
Mane et al (2013) avaliaram a eficiência de inseticidas microbianos, HaNPV (2 x 108
OBs/ml) e Bt5 (2,5 g/L), comparando com os inseticidas químicos, Profenofos e Quinalfos, na
cultura do girassol. Esses autores concluíram que, apesar da menor eficiência do inseticida
biológico, HaNPV apresentou o maior rendimento líquido e, consequentemente, a melhor
relação custo/benefício, pois as parcelas tratadas com HaNPV apresentaram maior número de
abelhas polinizadoras, em comparação com as parcelas tratadas com inseticidas químicos.
Amar et al (2014) também encontraram que o inseticida a base de Baculovírus, HaNPV, foi
menos eficiente do que o inseticida químico Indoxacarbe, na dose de 60 g i.a. ha-1
.
55
62
88
7781
5863
49 50
0
20
40
60
80
100
Bt - Dipel® Bt - Bt Control® HzSNPV - Gemstar® HzSNPV - HzNPV CCAB®
Mo
rta
lid
ad
e (%
)
Lagarta grande Lagarta pequena
Figura 6 – Mortalidade de lagartas de H. armigera após aplicação dos inseticidas biológicos
na cultura da soja. Brasil. Safra 2013/14.
Com relação aos baculovírus a mortalidade média de lagartas pequenas e grandes foi
semelhante entre os produtos testados. HzNPV CCAB®
ocasionou 4% a mais de mortalidade
de lagartas pequenas do que Gemstar®
(Figure 6), o que pode estar relacionado com a maior
concentração de corpos de oclusão por ml do inseticida HzNPV CCAB®
. A mortalidade de
lagartas grandes de H. armigera, causada pelos inseticidas a base de Baculovírus, foi muito
semelhante entre si e inferior aos inseticidas a base de B. thuringiensis.
O tempo entre a ingestão dos OBs pela lagarta, o aparecimento dos sintomas e a morte
da mesma, leva em torno de 3 a 7 dias (CASTRO et al., 1999; GEORGIEVSKA et al., 2010).
Este período foi verificado nesse estudo, com pequena mortalidade de lagartas aos 3 DAA, e
já aos 7 DAA o baculovírus HzNPV CCAB®
ocasionou 100% de mortalidade (Tabela 3).
Porém, a velocidade da mortalidade não é somente dependente da virulência do inseticida
biológico, e sim também, do estágio das lagartas de H. armigera e da dose pulverizada.
Em menores doses de baculovírus, por eventos estocásticos no processo de infecção
no organismo, a resposta na mortalidade das lagartas é variada. Segundo Georgievska et al
(2010), quanto maior a dose de OBs aplicados por larva, maior é a mortalidade com menor
tempo de sobrevivência. Contudo, levando em consideração a transmissão natural do
baculovírus no campo, os mesmos autores citam que as doses maiores, que ocasionam
mortalidade rápida, resultam em menor produção de OBs por larva infectada. Assim, segundo
Muñoz e Caballero (2000) e Sun et al (2005), a menor produção de OBs resulta em reduzida
transmissão do baculovírus.
O manejo de H. armigera em soja, com Baculovírus e B. thuringiensis, combina
eficiência de controle com seletividade e segurança aos insetos benéficos e humanos. Porém,
56
devem ser tomadas algumas medidas levando em consideração o momento da aplicação, pois,
tanto os OBs dos Baculovírus, quanto os esporos de B. thuringiensis, sofrem ação dos raios
ultra violeta (UV) e da temperatura, que acabam por degradar essas estruturas pulverizadas
sobre o dossel da cultura (VALICENTE; CRUZ, 1992; MCLEOD et aI., 1977).
4.4.3 Nível de Controle por tratamento químico e biológico
Os estudos para definir o Nível de Dano Econômico (NDE) e em consequência os
Níveis de Controle (NCs) para H. armigera em soja encontram-se ainda em andamento, e
para serem estabelecidos no Brasil, estão sendo desenvolvidos trabalhos nas condições das
lavouras e cultivares brasileiras. Com base na experiência de outros países como a Austrália,
para H. armigera, e a Argentina, para H. gelotopoeon, é possível estimar que o NDE e os NCs
serão muito baixos (poucas lagartas/m2), devido a agressividade da praga (IGARZÁBAL,
2008; ROGERS e BRIER, 2010). Além disso, os NCs devem ser flexíveis, seja ao longo do
ciclo da soja, ou para os diversos locais e/ou regiões de cultivo, por considerar o custo dos
tratamentos e o valor da produção de soja, que é muito variável (GUEDES et al., 2012).
Determinada a densidade e a distribuição populacional de H. armigera na lavoura, o
passo seguinte é a tomada de decisão, com base no NDE e NC. O NDE refere-se à densidade
populacional de um inseto que causa perda econômica igual ao custo de controle. Já o NC é a
densidade populacional em que as medidas de controle devem ser tomadas, para evitar um
aumento da população da praga que poderá alcançar o nível de dano econômico (PEDIGO et
al., 1986).
O Nível de Dano Econômico (NDE) é um número variável, com base na fórmula
(NDE = [(C / VD) * %M]), em que “C” é o custo do controle (soma do valor do inseticida +
aplicação), “V” é o valor do Kg da soja, “D” é o dano (em kg) ocasionado pela praga e “%M”
é a eficiência do método/inseticida utilizado no controle. A eficiência de controle é utilizada
como um fator de correção para o NDE, ou seja, os inseticidas que apresentam baixo
percentual de mortalidade, por exemplo eficiência de controle de 60%, o valor final do NDE
deve multiplicado por 0,6, resultando em um valor menor para o NC, em comparação com um
inseticida que apresenta 100% de eficiência de controle.
Com base nos dados de controle de H armigera, o inseticida Dipel®
apresentou
eficiência média de 60%, com o custo de aplicação de U$ 13,20. O NC calculado para esse
inseticida foi bem inferior aos demais inseticidas, devido principalmente à baixa eficiência de
57
controle apresentada (Tabela 6), além do baixo Custo de Aplicação/ha (C). De forma geral, o
grupo dos inseticidas biológicos (Dipel®
, Bt Control®
, Gemstar®
e HzNPV CCAB®
)
apresentaram NCs menores que os inseticidas considerados “químicos”. Esses menores NCs
foram reflexo da baixa eficiência média de controle desses inseticidas, associado ao menor
Custo de Aplicação/ha (C) quando comparado aos inseticidas químicos. Assim, esse grupo de
inseticidas devem ser utilizados no início da infestação de H. armigera, ou seja, com baixos
valores de NDE e NC.
Tabela 6 – Nível de Controle para cada inseticida químico e biológico. Brasil. Safra 2013/14.
Tratamento % E.*
Custo aplicação
(U$ ha-1
)
Valor da saca de soja (U$/60 kg)
15,00 20,00 25,00 30,00 35,00 40,00
População larval de Helicoverpa armigera m-2 **
Premio® 85 16,1 1,0 0,8 0,6 0,5 0,4 0,4
Belt® 86 22,3 1,4 1,1 0,9 0,7 0,6 0,5
Avatar® 76 19,8 1,1 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4
Pirate® 94 35,9 2,5 1,9 1,5 1,3 1,1 0,9
Tracer®
85 33,0 2,1 1,6 1,2 1,0 0,9 0,8
Atabron®
+ Lannate®
64 41,7 2,0 1,5 1,2 1,0 0,8 0,7
Intrepid®
57 20,3 0,9 0,6 0,5 0,4 0,4 0,3
Ampligo®
75 17,5 1,0 0,7 0,6 0,5 0,4 0,4
Orthene®
86 17,3 1,1 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4
Dipel® 60 13,2 0,6 0,4 0,4 0,3 0,3 0,2
Bt Control® 76 13,2 0,7 0,6 0,4 0,4 0,3 0,3
Gemstar®
63 17,3 0,8 0,6 0,5 0,4 0,3 0,3
HzNPV CCAB® 65 15,7 0,8 0,6 0,5 0,4 0,3 0,3
* Percentual de eficiência média de controle.
** Consumo de uma lagarta de H. armigera.m
-2 é 54 kg. ha
-1 (Rogers e Brier, 2010).
Por outro lado, o inseticida Pirate®
apresentou a maior média de controle de H.
armigera entre os inseticidas testados. Sua eficiência de controle de 94%, mesmo com alto
Custo de Aplicação/ha (U$35,90), elevou o NDE e o NC para 2,5 lagartas de H. armigera m-
2, com o valor da saca de soja U$15,00, o mais elevado entre os tratamentos testados. Dentre
os inseticidas químicos, juntamente com Pirate®
, destacaram-se Tracer®
e a mistura Atabron®
+ Lannate®
, demonstrando que o produtor pode utilizá-los em condições de densidades
moderadas da praga. É importante ressaltar que em densidades altas de H. armigera, a
eficiência de controle dos inseticidas, em geral, tende a diminuir, assim, há um limite de
tolerância para a tomada de decisão e aplicação do controle em campo. Os demais inseticidas
químicos apresentam NDEs e NCs intermediários, variando de acordo com a eficiência média
de controle e com o valor da saca de soja (Tabela 6).
58
4.5 CONCLUSÃO
Nas condições em que foram realizados os experimentos, os inseticidas químicos
Chlorantraniliprole, Flubendiamide, Chlorphenapyr, Spinosad e Acephate, apresentaram o
melhor controle de H. armigera com 85, 86, 94, 85 e 86%, respectivamente. Entre os
inseticidas biológicos, BtControl®
foi eficiente no controle de lagartas grandes e pequenas de
H. armigera e Gemstar®
e HzNPV CCAB®
foram eficientes no controle de lagartas pequenas.
Chlorantraniliprole, Flubendiamide e Acephate apresentaram as maiores
produtividades e os maiores retornos econômicos entre os inseticidas químicos, os quais
foram semelhantes aos inseticidas biológicos BtControl®
, Gemstar®
e HzNPV CCAB®
.
Assim, a tomada de decisão do manejo de H. armigera em soja pode ser realizado com
eficiência e sem impacto aos organismos benéficos.
De posse destes resultados é imprescindível a continuidade da avaliação da eficiência
de controle de H. armigera com inseticidas químicos e biológicos, visando o melhor manejo
da praga com o menor impacto ambiental.
59
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5 DISCUSSÃO
Com base na chave pictórica, as espécies de Heliothinae de importância agrícola no
Brasil podem ser identificadas utilizando caracteres morfológicos externo dos adultos. As
pernas dos machos das mariposas do gênero Helicoverpa apresentam estruturas úteis para a
identificação da espécie por técnicos com auxílio de lupa de mão em condições de campo
aliado ao uso de armadilha com feromônio sexual da fêmea. A tíbia do primeiro par de pernas
foi útil para separar as espécies de H. armigera e H. zea, que são próximas morfologicamente.
A identificação específica pela tíbia do primeiro par de pernas, permite ao técnico
fazer uma indicação de manejo precisa e rápida, que no caso de Helicoverpa spp. é
fundamental para reduzir os riscos de seus danos, principalmente no estágio reprodutivo da
soja. A identificação da espécie-praga, no levantamento populacional da lavoura, é uma das
bases do Manejo Integrado de Pragas (MIP) para a tomada de decisão da melhor técnica de
manejo a ser adotada.
Dentre as técnicas de manejo para o controle de H. armigera em soja, a pulverização
de inseticidas é a mais adotada entre os produtores. Dessa maneira, o estudo da eficiência de
inseticidas no controle de H. armigera em soja, demonstrou que os tratamentos, sejam estes
químicos ou biológicos, mostraram-se eficientes no controle da lagarta Helicoverpa. Assim,
para a escolha do tratamento deve-se atentar ao nível de controle, as doses recomendadas, ao
tamanho das lagartas, a seletividade aos inimigos naturais e a toxicidade aos humanos.
A eficácia dos inseticidas usados para o manejo de H. armigera na cultura da soja é
fundamental para evitar perdas na cultura, principalmente devido a sua história de rápida
evolução da resistência a inseticidas, e a presença de cultivos hospedeiros durante todo o ano.
Além disso, é fundamental a continuidade dos estudos de eficiência de inseticidas no controle
de H. armigera, uma vez que já se tem casos de resistência para os inseticidas, Spinosad,
Acephate, Indoxacarb, Methomyl e piretróides em outros países.
6 CONCLUSÃO
As espécies de H. armigera de H. zea são identificadas com a chave pictórica pelo
caractere morfológico externo, a tíbia do primeiro par de pernas, com o tamanho e forma da
mesma, principalmente entre os machos. Essa chave pode ser utilizada por técnicos em campo
ou em laboratório.
Os inseticidas químicos Chlorantraniliprole, Flubendiamide e Acephate, controlam as
lagartas de H. armigera, com os maiores retornos econômicos. Os inseticidas BtControl®
,
Gemstar®
e HzNPV CCAB®
controlam lagartas pequenas de H. armigera, com os maiores
retornos econômicos entre os inseticidas biológicos, sendo semelhantes aos inseticidas
químicos.
67
Anexo 1. Descrição dos estádios de desenvolvimento da soja.
I Fase Vegetativa
VC Da emergência a cotilédones abertos.
V1 Primeiro nó; folhas unifoliolaDAA abertas.
V2 Segundo nó; primeiro trifólio aberto.
V3 Terceiro nó, segundo trifólio aberto.
Vn Enésimo (último) nó com trifólio aberto, antes da floração.
II Fase Reprodutiva (observação na haste principal)
R1 Início da floração até 50% DAA plantas com uma flor.
R2 Floração plena. Maioria dos racemos com flores abertas.
R3 Final da floração. Vagens com até 1,5 cm de comprimento.
R4 Maioria DAA vagens no terço superior com 2-4 cm, sem grãos perceptíveis.
R5.1 Grãos perceptíveis ao tato a 10% de granação.
R5.2 Maioria DAA vagens com granação de 10 a 25%.
R5.3 Maioria DAA vagens entre 25 e 50% de granação.
R5.4 Maioria DAA vagens entre 50 e 75% de granação.
R5.5 Maioria DAA vagens entre 75 e 100% de granação.
R6 Vagens com granação de 100% e folhas verdes.
R7.1 Início a 50% de amarelecimento de folhas e vagens.
R7.2 Entre 51 e 75% de folhas e vagens amarelas.
R7.3 Mais de 76% de folhas e vagens amarelas.
R8.1 Início a 50% de desfolha.
R8.2 Mais de 50% de desfolha pré-colheita.
R9 Ponto de maturação de colheita.
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Technology Cooperative Extension Service. SpecialReport, 53, mar. 1994. (Adaptadopor J. T. Yorinori (1996)).
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Precip
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tura
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)Chuva T°C UR%
Anexo 2. Flutuação diária da temperatura (Celsius), Umidade Relativa do Ar (URar %) e da Chuva (mm) no período de 6 de Fevereiro de 2014 a
8 de Março de 2014 em Santa Maria, RS. Dados obtidos na Estação Meteorológica da UFSM.