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IDEOLOGIA, POLÍTICA E EDUCAÇÃO - Ciências Sociais · PDF fileIDEOLOGIA, POLÍTICA E EDUCAÇÃO Valter Borges dos Santos 1 Em “Ideologia, Política e Educação”, o prof Cesar

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IDEOLOGIA, POLÍTICA E EDUCAÇÃO

Valter Borges dos Santos1

Em “Ideologia, Política e Educação”, o prof Cesar Mangolin procura estabelecer um diálogo entre as contribuições de Pierre Bourdieu e Louis Althusser.

Ao introduzir o texto o autor problematiza a questão dos “dilemas que a educação formal no Brasil e no mundo vive” (MANGOLIN), refletindo na articulação entre ideologia, política e educação.

Respondendo a questão “Por que a educação formal (escolar) e universal tornou-se fundamental para as sociedades capitalistas” (MANGOLIN), o autor fornece um rápido histórico da construção da universalidade da educação, cujo fundamento dos interesses burgueses, tinha a finalidade de libertar a burguesia do sistema feudal, onde num sistema de certificação haveria, supostamente, a igualdade de oportunidades a todos, diferenciando-se, somente, na construção e esforço individual do período pós-escolar.

Ocorre que a mobilidade social não foi possível, tendo em vista, no fundo, a manutenção e o aprofundamento das diferenças sociais, pois a escola não cumpria seu papel, onde ao invés de facilitar a mobilidade social, esta demonstrava apenas o seu “’lugar’ na sociedade” (MANGOLIN).

Assim, sucessivos pensadores fizeram reflexões importantes sobre o que, de fato, a escola fazia: reproduzia ou transformava? Para tanto é importante a definição de ideologia.

Assim, temos aqui, como ideologia, “um processo que se opera pelo chamado pensador conscientemente, mas com ma consciência falsa. As verdadeiras forças propulsoras que o movem permanecem ignoradas por ele.” (ENGELS, 1974, p. 523).

Assim “as próprias relações materiais que produzem as ideologias que, ocultando as contradições, auxiliam na reprodução de um modo de produção e, portanto, à classe dominante” (MANGOLIN).

Assim, no sistema capitalista, a ideologia dominante é a da burguesia, que procura manter, como identifica Gramsci, que “amplia a noção de ideologia no sentido de identificar determinados aparelhos de produção ou reprodução ideológica e a liga a questão da hegemonia” (MANGOLIN). A ideologia dominante, portanto, interfere na ideologia do proletariado, que, no fim das contas, quer perpetuar esse estado das coisas, que favorece a burguesia em detrimento do proletariado. Essa postura dominante demonstra como a supremacia da ideologia de uma classe sobre a outra, e, no caso capitalista, a dominação burguesa faz a manutenção do sistema.

1 Licenciando em Ciências Sociais pela UMESP. Pólo Mauá. Matrícula 190.964

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Foi a partir da identificação desse sistema que Pierre Bourdieu esclarece que a escola formal “exerce a função de reproduzir a sociedade burguesa, ou seja, de manter as mesmas relações sociais, legitimando inclusive as desigualdades sociais” (MANGOLIN).

Firmado num sistema de certificação escolar, a burguesia, através da educação formal, recebe a certificação necessária para reafirmar seu merecimento, e, ao proletariado, o certificado de incompetência, o que, na verdade, está-se legitimando as desigualdades sociais.

Esse fato é aprofundado quando a escola se torna a extensão da realidade de vida dos herdeiros da burguesia, isto é, um prolongamento formal que auxilia e complementa a formação informal herdada de conformidade com o contexto social burguês, o que, por sua vez, permite a estadia na escolarização formal por muito mais tempo. Ao passo, que, os herdeiros do proletariado, não vêem na escola o prolongamento de sua realidade, onde, na verdade, lhe é ensinado os valores burgueses, e, nisso, indiretamente, reside ali o fato do reconhecimento de que ele, proletário, nunca chegará a tal estado de condições de vida. Assim, sem um “capital cultural” à altura, os filhos do proletariado saem da escola prematuramente.

Assim, Bourdieu traça a trajetória escolar no sistema capitalista: “os filhos dos burgueses interessaria o aprendizado no trabalho do negócio familiar”, onde a continuação escolar mais prolongada seria, na verdade, a ampliação de uma teia de relações sociais entre iguais.

Os mais pobres, por não possuírem condições de permanecer mais tempo na educação formal, procuram uma formação que lhes permita uma ocupação “imediata para o auxílio na renda da família” (MANGOLIN).

Para a classe média, a educação formal, forneceria “a condição de manterem-se como trabalhadores não-manuais se dá por da obtenção da certificação escolar” (MANGOLIN).

Louis Althusser, diferentemente de Bourdieu, enxerga a educação formal como um dos principais aparelhos ideológicos do Estado (AIE), que, na sua visão, são “instrumentos de reprodução das relações sociais de produção, por meio da transmissão da ideologia da classe dominante” (MANGOLIN).

A educação formal, em todas as séries, favorece a ideologia burguesa, que é a dominante. A docência precisará, ao longo de sua atividade, procurar alterar esse quadro, através de uma educação que forneça condições a todos, filhos de burgueses e, principalmente, dos proletariados, de permitir, de fato, a mobilidade social. Para tanto será preciso que o Estado forneça condições estruturais para que os filhos do proletariado permaneçam mais tempo na escola, e, que a escola, não marginalize sua cultura, mas, ao contrário, dê condições de continuidade e prolongamento de sua realidade, sempre “puxando-o” para cima.

O referencial será sempre a qualidade de vida das pessoas, de fornecer condições de qualificação profissional que lhe permite granjear melhores salários. É fato que isso só será possível através da estruturação do Estado que, não poderá estar a serviço da burguesia. E contraditoriamente, a educação deverá permitir usar os mecanismos da burguesia para procurar diminuir o próprio domínio burguês, assim, como essa mesma

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burguesia fez o sistema feudal sucumbir. O processo não será fácil e as respostas práticas, mais difíceis ainda; mas, o processo histórico demonstra a possibilidade de transformação, ao longo da história, não por decreto, mas por perceber esse auso burguês sobre o proletariado.

SBCampo, maio de 2010.