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Revista Mensal • 2 Euros SÓ PARA PROFISSIONAIS Jan/Fev 2011 Associação Portuguesa de Adictologia já mexe World Bike Tour promove inclusão no Brasil IDT incrementa qualidade nas respostas: CRI Vila Real e NAT Coimbra estendem rota da certificação

IDT incrementa qualidade nas respostas: CRI Vila Real e NAT … · e contínuo, obrigando a um trabalho de equipa na procura de inovação e na busca de soluções adequadas a cada

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SÓ PARA PROFISSIONAISJan/Fev 2011

Associação Portuguesa de

Adictologia já mexe

World Bike Tour promove inclusão

no Brasil

IDT incrementa qualidade nas respostas: CRI Vila Real e NAT

Coimbra estendem rota da certificação

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3Índice

Editorial .................................... 3

NAT ............................................ 4

CRI Vila Real ............................ 5

Hospital de Joaquim Urbano e DRN do IDT renovam protocolo ................. 8

Hospital de Joaquim Urbano ...................................... 9

Investigação em Português, Cristina Ribeiro ..................... 12

Fórum Álcool e Saúde: membros fundadores........... 16

Associação Portuguesa de Adictologia ............................. 18

Agrupamento de Escuteiros de Silvares ......... 20

HSJD ....................................... 22

Opinião, Mireia Pascual ....... 28

Opinião, Godofredo Reinicke Borda ...................... 29

Bike Tour S. Paulo 2011........ 31

Um destes dias, infiltrei-me numa conversa entre dois UD’s. Curiosamente, um tinha vivido dez anos de depen-

dência de heroína e de cocaína, em Lisboa, encontrando-se actualmente em tratamento de substituição opiá-

cea, dizia… O outro, que ainda hoje, no alto dos seus 45 anos, partilha 16 da sua vida com a heroína, sempre

habitou no Porto e foi a partir das experiências vividas nos locais “mais emblemáticos” para os portuenses que

consomem drogas e têm que recorrer a canais de distribuição não legalizados para o fazer que o diálogo se

iniciou. Dizia o portuense para o lisboeta: “Ainda me lembro quando levávamos porrada a torto e a direito na

Banharia e no Tarrafal… A bófia aparecia e levava tudo à frente!”

Foi aí que me intrometi… “Então e hoje?”, questionei… “Ai hoje… Hoje parecemos betinhos, comparados com

o que era dantes”… O aceno de cabeça e o reparo do lisboeta significava concordância absoluta: “É verdade.

Não é que haja a liberdade que, se calhar, devia haver mas olhe, alguém imaginava, na minha altura, que

houvesse equipas nas ruas e nos bairros para tratarem de nós? Ou que não andássemos sempre a levar com

processos-crime por causa dos consumos? Tive muitos colegas que foram presos e olhe que nenhum enrique-

cia à custa da droga… Quando alguém nos falava em tratamento, pensávamos logo que, das duas uma: ou era

para ver se tínhamos família com pasta que lhes pudesse dar uns milhares ou então que era bófia…”

Infelizmente, esta é uma realidade que ainda impera em muitos países… Felizmente, Portugal não é um deles…

há uns anos. Embora, esporadicamente, se ouçam ainda relatos de alguns profissionais das forças de seguran-

ça que se tentam apropriar de um tipo de intervenção que não é propriamente o deles, esses registos são cada

vez mais pontuais. De ostracizados, maltratados, espezinhados e violentados, os toxicodependentes deste país

de brandos costumes passaram a constituir, para o Sistema Nacional de Saúde e até, em certo modo, para a

Segurança Social, uma espécie de betinhos que, no acesso, na qualidade assistencial e na proximidade de

estruturas de que beneficiam, acabam por ser positivamente descriminados relativamente aos portadores de

outras patologias ou desigualdades sociais.

Hoje, fala-se neste país, por tantos criticado, como um exemplo para o mundo ao nível deste tipo de políticas

que visam a diminuição de desigualdades sociais e a minimização do impacto que o fenómeno dependência

pode originar ao nível da saúde individual e pública. O que também é possível de ser constatado através do

relatório anual que Dependências publicou, na anterior edição.

Por estas e por outras, só nos resta esperar que, em época de crise, não surjam os tão indesejáveis cortes ce-

gos numa área tão importante, como é a da saúde. A nós, imprensa, resta-nos vigiar e cumprir, de igual modo,

com o papel que temos desempenhado: elogiar quando as coisas são bem feitas mas também alertar ou criticar

sempre que tal se afigure premente… Com a consciência que estes momentos menos abastados traduzem

oportunidades a não perder para uma, igualmente desejável, optimização e rentabilização de recursos e me-

lhor utilização dos fundos públicos. Nem coitadinhos nem betinhos: é assim que se deseja que os portugueses

não sejam encarados pelos seus decisores políticos e demais agentes interventivos, sejam esses portugueses

toxicodependentes ou não.

Sérgio Oliveira

Editorial

FICHA TÉCNICA:

Propriedade, Redacção e Direcção:

News-Coop - Informação e Comunicação, CRL

Rua António Ramalho, 600E 4460-240 Senhora da Hora

Matosinhos Publicação periódica mensal

registada no ICScom o nº 124 854.

Tiragem: 12 000 exemplares Contactos: 22 9537144

91 6899539 [email protected] www.dependencias.pt

Director: Sérgio Oliveira

Editor: António Sérgio Produção Gráfica: Ana Oliveira

Impressão: Ginocar Produções, S.A.

Nem coitadinhos nem betinhos

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Existe um interesse cada vez maior na certificação no sentido de um au-mento da qualidade dos serviços prestados.A implementação de um Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ) parte da-quilo que realmente o serviço faz, ou seja, orientar as acções e as decisões para os objectivos definidos com base na política da qualidade identificada para o serviço.A certificação implica a implementação de um (SGQ) e consequentemente mudanças que se pretendem que sejam uma mais-valia para o cliente final e que tem implicações no funcionamento e na gestão dos serviços, numa perspectiva de melhoria continua.O Núcleo de Apoio Técnico (NAT) da Delegação Regional do Centro é um órgão de assessoria técnica ao Delegado Regional, que em 2010 concluiu o seu processo de certificação.Desde o inicio que encarámos a certificação como um processo dinâmico e contínuo, obrigando a um trabalho de equipa na procura de inovação e na busca de soluções adequadas a cada situação. Este trabalho em equipa co-adjuvado com a supervisão e consultoria técnica foi um facilitador na revisão contínua e na implementação de uma abordagem por processos.O primeiro passo para a caminhada da qualidade foi o determinar o que fazemos e como fazemos. Identificar, conhecer e gerir processos contribui para que o serviço atinja os seus objectivos de forma eficiente e eficaz, possibilitando aferir a sua eficácia.Compreender a importância de cada técnico, identificar os factores que li-mitam a sua actuação, detectando pontos de melhoria, assumindo e par-tilhando responsabilidades, aspectos presentes em todo o processo de certificação. Isto levou-nos a uma avaliação do serviço e da” satisfação do cliente�, o que permitiu um conhecimento melhor do serviço, dos processos que cada um utiliza na execução das suas tarefas, da facilidade na tomada de decisões, no verificar de responsabilidades e pensar no futuro numa ló-gica de empreendedorismo. Hoje, podemos dizer que a primeira etapa está cumprida, o NAT da DRC está certificado. A partir daqui novos desafios serão lançados, sendo que a mais-valia que o serviço retirará do seu SGQ dependerá da efectividades que todos sou-berem reconhecer os seus princípios, tendo em conta os seus requisitos normativos ou linhas orientadoras internas, bem como a forma como se desenvolverá o cumprimento dos mesmos.

NAT

Porquê a certificação

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contributo muito importante, que foi prestado pela própria equipa técnica nacional da qualidade, com o Dr. Jesus Cartelle e a Dra. Paula Sobrinho, que foram excelentes e fundamentais nesse processo e que nos levaram a repensarmos a forma como trabalhávamos. Durante todo o tempo em que nos estiveram a fazer o acompanhamento - foram eles os responsáveis pela implementação deste processo – obrigaram-nos a pensar na forma como atendíamos, a estabelecermos indicadores precisos para podermos monitorizar a actividade que fazíamos e o que mudou, basicamente, foi aquela perspectiva que é comum nos serviços de saúde, em que tudo está centrado num médico e o resto, digamos que é uma espécie de acessório. Neste momento, trabalhamos verdadeiramente numa equipa multidisci-plinar, em que todas as valências são importantes, todas as áreas são importantes e, quando o utente entra aqui para fazer um acolhimento, à partida vai ser avaliado por todas as áreas. O diagnóstico é feito de uma forma transversal. Não nos limitamos a fazer um diagnóstico médico mas fazemos um diagnóstico de todas as áreas: médico, de enfermagem, de serviço social e psicologia. Perante este diagnóstico, é então proposto ao utente aquilo que designamos por plano individual personalizado, nada mais nada menos que um plano de intervenção terapêutica, contemplando todas estas áreas. Escusado será dizer que, sem a equipa fantástica que construímos nesta unidade, com características de grande dinamismo, profissionalismo e competência, nada disto teria sido possível. Como eu costumo dizer, e acredito mesmo nisso, “tenho a honra de dirigir a melhor equipa do IDT”.

Era preciso haver um processo de certificação para que as coisas começassem a ser feitas assim?AL – Se calhar não… Mas, às vezes, precisamos de pensar nas coisas e esta foi, claramente, uma boa oportunidade para o fazermos. Se ca-lhar, noutra situação normal, não havendo este processo de certificação a decorrer, não teríamos tido esta oportunidade ou entenderíamos que estaríamos a dar as respostas que se exigiam. Mas nada melhor do que monitorizar a nossa actividade e, para isto, este tipo de procedimento foi importante. Habituámo-nos a monitorizar a actividade que temos e este é um dos aspectos fundamentais que têm os sistemas de gestão da quali-dade. Não podemos fazer nada sem que esteja planeado, previsto, descri-to e, ao mesmo tempo, monitorizado. Só assim podemos adoptar aquela postura de melhoria contínua, que é o grande objectivo dos sistemas de gestão da qualidade.

E quanto à equipa técnica, foi fácil “vender” o processo?AL – Não. Mais uma vez, realço o papel determinante da equipa nacio-nal da qualidade. Fizeram um trabalho inicial de consolidação da maturi-dade da equipa, trabalharam connosco muitas questões que não tinham directamente a ver com o próprio atendimento ao público mas sim das relações entre os elementos da equipa… Digamos que fizeram uma su-pervisão da equipa. Esse trabalho, longo, realizado pelo Jesús Cartelle e pela Paula Sobrinho, foi fundamental. Só depois de atingirmos um grau de maturidade suficiente foi possível avançar para o resto. E esta maturidade permitiu-nos depois começar a absorver estas questões da certificação com outros olhos, percebendo as vantagens de usarmos um sistema de gestão da qualidade, as mais-valias que isto traduzia para o atendimento e

CRI Vila Real

CRI de Vila Real certificado no tratamento e reinserção

A exemplo do que tem vindo a suceder, fruto da adop-ção de uma política que privilegia a incrementação da qualidade ao nível da organização e dos serviços prestados, o IDT acaba de ver mais uma unidade cer-tificada. Desta feita, foi o CRI de Vila Real que, após um longo trabalho de implementação, que demorou quatro anos a ser concretizado sob a liderança da equipa nacional da qualidade, encabeçada por Jesus Cartelle e Paula Sobrinho, recebeu a distinção por parte de uma entidade externa, a Lloyd’s. Seguindo a norma ISO 9001:2008, o âmbito da certificação reside no tratamento e reinserção em regime ambulatório das dependências e patologias associadas.Dependências foi até Vila Real onde, em entrevista ao director do CRI local, Armindo Liberal, tentou perce-ber como decorreu o processo e que mais-valias po-derão resultar para a equipa técnica e utentes da uni-dade.

Era um desígnio do IDT começar por certificar determinadas unida-des em diferentes valências e, finalmente, está concluído o processo no CRI de Vila Real. Como surgiu a ideia e de que forma decorreu o processo?Armindo Liberal (AL) – Desde logo, isto surge fruto de uma política que tem vindo a ser seguida pelo IDT, quanto a mim de forma muito apropria-da, no sentido de aumentar consideravelmente a qualidade dos serviços e, para isso, incrementar sistemas de gestão de qualidade nos mesmos. Isto implica também a certificação da qualidade, enquanto forma de ope-racionalizar estes incrementos e, de facto, o IDT tem promovido este tipo de processo numa série de unidades. Começou por escolher uma unidade de cada valência e nós fomos contemplados, há quatro anos, ainda eu não era director, com a possibilidade de sermos a primeira unidade deste género certificada dentro do IDT, mas nesta lógica de que o IDT pretende implementar esse sistema de gestão pela qualidade em todos os serviços assistenciais e não assistenciais que possui.

Que tipo de alterações foram promovidas no serviço?AL – Obviamente, isto obrigou-nos a reestruturar inúmeras coisas e a re-formular o tipo de atendimento que fazemos, de forma a que pudéssemos dar essa resposta que o IDT pretendia e também para darmos esse con-tributo para a organização, de sermos a primeira unidade deste género a ser certificada. Mas fundamentalmente as alterações mais visíveis têm a ver com o modelo de atendimento adoptado, e com a dinâmica da própria equipa, que de facto está verdadeiramente implicada no processo, com todos os elementos a deterem uma cota parte de responsabilidade directa em cada um dos processos.

Mas o que mudou concretamente no vosso modus operandi?AL – Desde logo, é preciso realçar que esta política do IDT obrigou o serviço a repensar a forma como trabalhava e, para isso, tivemos um

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6 CRI Vila Real

para a própria relação com o utente, para a própria relação entre nós… A título de exemplo, o sistema prevê que existam instrumentos de correcção dos problemas que são identificados no dia-a-dia, como são os casos das acções correctivas e das acções preventivas. Neste momento, já temos isto quase que instituído entre nós. Se calhar, sem este sistema de gestão da qualidade, estaríamos aí a “berrar uns com os outros”… O registo, ago-ra, é outro. Em vez de adoptarmos aquele velho registo, comum noutros serviços públicos, de andarmos a recriminar as pessoas individualmente, o que não produz normalmente qualquer impacto em termos de melho-ria, já temos um procedimento instituído e que toda a gente sabe cumprir. Quando se detecta um erro, não é assim tão importante saber quem o cometeu mas antes rectificá-lo. Abre-se uma acção correctiva, propõe--se uma intervenção diferente e o director assume a obrigação de avaliar isso durante um determinado período de tempo, para saber se essa acção correctiva teve, de facto, impacto na melhoria daquele procedimento. É um registo diferente, muito mais fácil de implementar, que não causa tantos conflitos entre a equipa e que já traduz a nossa forma de trabalhar.Agora, devo realçar que com esta equipa que temos, todo este processo se tornou bem mais fácil de “vender” como diz, pois estamos a falar, não só de grande competência profissional, bem como de grande abertura para a mudança.

Qual é a norma que orientou o processo de certificação?AL – A norma é a ISO 9001:2008. O âmbito da certificação é tratamento e reinserção em regime ambulatório das dependências e patologias as-sociadas.

Em última instância, que benefícios representa todo este processo para o utente?AL – Desde logo, uma melhor organização do trabalho. A par, esta moni-torização permite-nos ter uma percepção da eficácia dos tratamentos que estão a ser implementados e do tal plano individual personalizado. A cer-tificação tem vários processos integrados; cada um tem um responsável na equipa, que monitoriza a actividade de cada um dos processos, o que nos obriga, nas nossas reuniões gerais, a falar do assunto. Os responsá-veis de cada processo vão dando o feedback da monitorização que têm feito, relatando se estamos ou não a atingir os objectivos, se tem havido impactos positivos ou negativos da forma como estamos a trabalhar… Isto permite-nos estarmos sempre em melhoria. O que é excelente para o utente porque, ao monitorizarmos a actividade e ao termos a percepção do impacto que a mesma está a ter, estamos a prestar melhor serviço. E o próprio utente acaba por sentir isso. No âmbito da certificação, no final de cada ano procedemos à aplicação de um questionário de satisfação, tanto aos colaboradores como aos utentes e não terá sido por acaso que tive-mos um grau de satisfação de 72 por cento junto dos utentes. Tínhamos uma meta de 65 por cento e conseguimos superá-la. E no próximo ano se-remos ainda mais ambiciosos e pretendemos propor uma meta acima dos 75 por cento. Este é mais um dado concreto que resulta do facto de ter-

mos todos estes instrumentos a funcionar. Em vez de termos a sensação de que os utentes estão satisfeitos, sabemos claramente a percepção de quem mais interessa relativamente à melhoria da qualidade assistencial.

Uma vez que o processo de certificação é feito de normas e de re-quisitos, obrigando a mais registos e a uma maior produção docu-mental, há ainda quem o entenda como uma forma de vigilância do trabalho de cada um… Foi essa a percepção inicial da equipa?AL – Desde sempre, o que teve muito a ver com a forma como o sistema foi aqui implementado – mais uma vez, um louvor ao trabalho realizado pela equipa nacional da qualidade – foi-nos transmitido que isto não era me-ramente uma passagem de um selo de certificação. Interessa-nos muito mais perceber que vantagens traria o processo para o serviço. De facto, há uma primeira fase em que é necessário muito trabalho documental, muito trabalho burocrático mas isso acontece em tudo o que se faz de novo. É preciso relembrar que este tipo de trabalho nunca tinha sido feito neste tipo de unidade e foi preciso restringirmo-nos muito à norma e elaborar toda a documentação de acordo com a mesma, que ainda por cima era nova e nunca tinha sido usada. Tínhamos já feito algum trabalho documental com a norma antiga, de 2003, tivemos que adaptar tudo para a de 2008… mas agora já não é assim tão exigente em termos burocráticos mas mais na implementação do sistema. E este, ao contrário do que possa parecer, tem o condão de facilitar o trabalho em vez de o complicar. Porque, ao termos procedimentos devidamente descritos, imagine-se que chega alguém de fora para integrar esta equipa, temos o trabalho todo facilitado. Consultan-do os manuais, sabe perfeitamente os procedimentos a adoptar em deter-minado tipo de tarefas. O que também é bom para nós porque, a qualquer momento, se surgir algum problema, sabemos exactamente onde está e o que falhou. E aqui não posso deixar de fazer uma referência especial ao comité da Qualidade, constituído pela Dra. Benedita Seixas e pelo Dr. Edu-ardo Fernandes, que, muitas vezes, prescindindo de tempo da sua própria vida pessoal, deram tudo o que tinham para que este processo seguisse no trilho certo, mostrando sempre grande disponibilidade e grande lealda-de com a organização. A eles se deve todo este trabalho de organização e elaboração altamente burocrática, que serviu de base para tudo o resto.

Qual foi a entidade responsável pela certificação?AL – Foi a Lloyd’s. As acreditações, internacional e nacional, foram da UKAS e do IPAC.

Um dos objectos de certificação foi a reinserção. Também aí a norma especifica procedimentos processuais, ao nível dos procedimentos, das parcerias com o exterior e dos outros instrumentos?AL – Sim, especifica. Nomeadamente, na questão do encaminhamento para unidades que é feito pela área da reinserção. Esta é uma questão antiga no IDT: onde acaba o tratamento e onde começa a reinserção… Nós temos uma perspectiva, como disse, multidisciplinar e faz todo o sentido, quando se trata de promover uma certificação da qualidade numa área

O Processo de Certificação da Qualidade da ETE de Vila Real só foi possível com a aposta que o IDT, I.P. fez nesta Equipa e no empenho, esforço e dedicação que todos os envolvidos tiveram neste percurso. Traduziu-se num processo crucial de crescimento, evolução e organização para a toda a Equipa/Serviço. Tratou-se de um processo bastante difícil e conflituoso, mas que no final (Certificação) foi de extrema importância para todos nós, no sentido da melhoria contínua do trabalho desenvolvido, tendo como âmbito de aplicação o “Tratamento e Reinserção, em regime de ambulatório, das dependências e patologias associadas”. O Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ) foi conduzido de raiz pelo Comité da Qualidade, representado por Dr. Eduardo Fernandes e Dr.ª Benedita Mocho. Com as orientações da Equipa de Trabalho para a Qualidade (ETQ) Dr.ª Paula Sobrinho e Dr. Jesus Cartelle e, do Director, Enf. Armindo Liberal, com o auxílio e conhecimento de todos os Colaboradores da ETE de Vila Real. Trata-se de um sistema organizado por Manuais que contém todas as tarefas, procedimentos e processos no que concerne ao âmbito de apli-cação, de acesso a toda a Equipa e em constante adaptação e mutação, no sentido da melhoria contínua do mesmo. Como Coordenadora do Comité da Qualidade vejo o SGQ como uma aposta diferenciada de melhoria e reorganização de um serviço, que oferece respostas cada vez mais assertivas e profissionais na especificidade de cada Utente.

Benedita Seixas Mocho

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7O Processo de Certificação do Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ) da ETE de Vila Real foi um objectivo cumprido com o esforço de uma equipa que não se finda pela ETE! O repto lançado pelo ID, I.P. e a colaboração da Equipa para a Qualidade do mesmo organismo, lide-rada pela Dr.ª Paula Sobrinho e Dr. Jesus Cartelle, foi a impulsão decisiva no decurso deste trabalho. O Director da unidade formou um grupo específico para trabalhar esta matéria, o Comité da Qualidade, onde dois profissionais, Dr.ª Benedita Mocho e Dr. Eduardo Fernandes, incremen-taram todo o processo e conduziram a restante equipa a desenvolver tarefas/procedimentos/processos adstritos. Foi com enorme esforço, dedicação e com sentido de responsabilidade que estes dois profissionais se entregaram à causa. A equipa foi constatando as vantagens do trabalho que estava a ser desenvolvido, nome-adamente na melhoria do funcionamento, a criação de uma cultura no sentido da melhoria contínua da qualidade, a definição clara de responsabilidades e no cuidado específico com o tratamento dos utentes. Os auditores parabenizaram e certificaram o SGQ da ETE de Vila Real em todos aos requisitos da norma ISO 9001:2008 e, desta forma, o orgulho de um SGQ com 100% de conformidades! Foi o reconhecimento merecido de um caminho realizado com muitas dificuldades pelos ele-mentos da ETE, mas que nunca perdeu a sua orientação: destacando-se a saída de alguns colaboradores, tarefas realizadas após as horas de expediente, poucos recursos financeiros e humanos, resistência de alguns elementos a integrar esta nova filosofia de trabalho e as dificuldades de comunicação sentidas. Por fim, deve-se assentar muito bem os pés na terra e ter consciência que este SGQ é como um bebé que acabou de nascer, precisa de ser cuidado, alimentado e todos os elementos da ETE são agora os progenitores e responsáveis pelo seu desenvolvimento.

Eduardo Fernandes

assistencial, tratamento e reinserção estão de mãos dadas, integradas. Não é possível fazer uma coisa sem a outra. A área da reinserção teve avanços notáveis nos últimos anos. A área da reinserção, no CRI de Vila Real, está a trabalhar de forma organizada, que facilitou muito até a pró-pria integração de toda a actividade da reinserção neste sistema de gestão de qualidade. Mas há que salientar que estão a trabalhar sob um modelo de organização muito bom e eficaz. E essa melhoria de procedimentos, além de facilitador na entrada deste processo de gestão pela qualidade, veio trazer mais-valias para o próprio processo de certificação. Neste mo-mento, dentro do nosso sistema de gestão da qualidade, temos a possibili-dade de monitorizar aquilo que é essencial quando se pratica a actividade assistencial: o utente, quando entra num serviço para tratar um problema de saúde, já está a ser, ao mesmo tempo, encaminhado de forma a que os seus problemas que têm a ver com as áreas sociais possam também estar a ser resolvidos. Daí o diagnóstico multidisciplinar que fazemos. Ao mesmo tempo que entra num programa farmacológico, o utente está a ser acompanhado do ponto de vista psicológico e, ao mesmo tempo, está a ser tratada a sua vertente social e a projectar-se a sua possível reinte-gração, caso seja necessária. Mas isto só foi possível porque mudámos o nosso paradigma de atendimento, a nossa forma de trabalhar. Identificá-mos todas as necessidades logo no início e começamos imediatamente a trabalhar nas mesmas.

O que implicará todo este processo em termos futuros?AL – Como disse no início, considero esta aposta do IDT brilhante na for-ma de reorganizar e até de valorizar os próprios serviços. Como tal, tendo sido escolhidos para sermos a primeira unidade do género a ser certifica-da, temos um papel a cumprir para a própria organização: testar o sistema e, caso outras unidades pretendam certificar-se, seremos uma espécie de referencial, sendo certo que cada equipa que se queira certificar seguirá o seu próprio caminho, apoiada e orientada pela equipa nacional da qualida-de da mesma forma que fizeram connosco, procurando o sistema de qua-lidade que mais se adeqúe à sua realidade. Falando em termos de CRI, gostaríamos muito de avançar com o processo para Chaves, até porque já temos actualmente algum know-how que nos permite implementá-lo nas unidades do próprio CRI, não obstante a necessidade do acompanhamen-to por parte da equipa nacional da qualidade para trabalhar aquela equipa e fazer a supervisão, a exemplo do que sucedeu aqui, para que possam absorver estes conceitos. Mas temos alguma coisa facilitada, até porque a equipa do CRI é uma só e existem elementos que podem dar um apoio que, inicialmente, não tínhamos.

CRI Vila Real

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No passado dia 29 de Dezembro, foi assinado o proto-colo que garante a continuidade da parceria entre a Delegação Regional do Norte do IDT e o Hospital Joa-quim Urbano, que resulta no acompanhamento cada vez mais especializado de utentes toxicodependentes numa lógica de terapêutica combinada. O acordo ce-lebrado visa a renovação da consulta descentralizada do CRI Porto Oriental/Hospital Joaquim Urbano – Cen-tro de Terapêutica Combinada. Esta unidade, pioneira no país, tem vindo a dar resposta, ao longo das últimas duas décadas, a indivíduos toxicodependentes com pa-tologias como o VIH, tuberculose ou hepatites e cons-titui já uma referência mundial, acompanhando cerca de 350 utentes, num só espaço físico, com valências como a substituição opiácea, clínicas e enfermagem, internamento ou ambulatório, psicologia ou serviços sociais. Face a uma população problemática e tantas vezes estigmatizada, os casos de sucesso que resultam numa melhoria substancial da qualidade de vida ou no simples acesso a direitos universais são bem significa-tivos. E já não são assim tão raros os casos de reintegra-ção socioprofissional…Dependências esteve presente no acto de oficialização do compromisso e entrevistou o Delegado Regional do Norte do IDT, Adelino Vale Fer-reira.

O Programa de Terapêutica Combinada do Hospital de Joaquim Ur-bano é já uma referência, cada vem mais evidenciada pelos indicado-res… O que muda ou poderá ser melhorada a partir desta renovação do protocolo?Adelino Vale Ferreira (AVF) – Há aqui algumas melhorias… A primeira tem a ver com aquilo que consideramos mais importante neste momento, ou seja, a avaliação da evolução dos nossos utentes. Trata-se de uma ava-liação não só empírica ou clínica mas também alicerçada em instrumentos que nos permitam medir claramente, numa lógica de investigação acção, a evolução dos nossos utentes, quer em indicadores de qualidade de vida, quer em indicadores de gravidade da doença. E isto, quer no âmbito da saú-de mental, quer no âmbito da dependência. Ao mesmo tempo, permite apro-ximarmo-nos do lado do Hospital de Joaquim Urbano que, para a avaliação, utiliza indicadores infecciosos, não só dos marcadores mais específicos das doenças. Já a um nível mais interno, conseguimos ter técnicos colocados sob a responsabilidade do CRI Oriental, dedicados a esta resposta, que nos garantam uma continuidade e presença mais sistemática, de acordo com as necessidades do serviço. Há ainda outro ganho, que tem a ver com o facto de nós próprios podermos dar uma ajuda ao Hospital Joaquim Urbano nas problemáticas afectas às hepatites, nomeadamente à Hepatite C, uma patologia que, como os números indicam, está em crescendo, sendo impor-

tante que o IDT possa dar apoio a estes doentes. Por fim, a renovação deste protocolo traduz o reconhecimento de uma resposta muito válida. Afinal, o valor que está aqui em questão é a vida das pessoas e, associada à mesma, a qualidade.

Sendo este um modelo cuja eficácia e eficiência não precisarão de muitos mais argumentos, face aos incrementos que o mesmo po-tenciou na população abrangida pela área geográfica da Delegação Regional do Norte do IDT, não lhe parece que, numa óptica de renta-bilização dos recursos existentes na comunidade e dos saberes ad-quiridos, o mesmo deveria já estar replicado noutras zonas do país?AVF – Sim, e conseguem-se ganhos de eficiência que são imensos. Não só em termos de custo benefício mas conseguem-se ganhos em termos de execução, do acompanhamento dos utentes e na própria especialização. Esta replicação é desejável, até porque atravessamos uma altura em que estamos muito constrangidos em termos de recursos financeiros e é a partir das parcerias, como aqui constatamos, que conseguimos rentabilizar esfor-ços e ir mais longe com menor custo. De qualquer forma, este é um modelo aberto e também já é conhecido em várias partes do país e, não sendo propriamente um conhecedor de todas as realidades do país, parece-me evidente que eventuais replicações corresponderiam a ganhos. E mesmo em termos de custos para o IDT, o facto de os nossos técnicos estarem a atender os utentes na sua unidade ou deslocarem-se aqui acaba por ser igual. E com o cruzamento de pessoal conseguimos obter uma rentabilidade muito maior.

Hospital Joaquim Urbano e DRN do IDT renovam protocolo

A excelência da terapêutica combinada, parte 2

O futuro da ET de Gaia

À margem deste evento, já existe alguma solução preconizada para a ET de Gaia?AVF – A resposta mantém-se. A consulta funcionará, tal como tem acontecido, diariamente, com uma capacidade que rondará aproxi-madamente os 500 utentes…

Recordo que, actualmente, estão inscritos cerca de 900 uten-tes… Os restantes serão encaminhados para outras estruturas?AVF – Pois, mas desses 900, quantos iriam apenas uma ou duas vezes por ano a uma consulta? De qualquer forma, os restantes serão encaminhados para uma solução à escolha deles próprios: temos a ET da Feira, a consulta de Espinho e as ETs do Porto, portanto, serão encaminhados em função das suas residência mas também dos seus interesses pessoais. Aliás, nós já tínhamos alguns utentes de Gaia que preferiam vir ao Porto porque consideravam que se deslocavam melhor. O mês de Janeiro servirá para prepararmos as instalações e a mudança ocorrerá em Fevereiro. Estamos a negociar com a Admi-nistração Regional de Saúde, no sentido da cedência de um espaço das suas instalações em Gaia, provavelmente mais central.

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O Hospital de Joaquim Urbano (HJU) é um hospi-tal central especializado, que elege como missão a prestação de cuidados especializados no domínio das doenças infecciosas e pulmonares. A unidade, conta já com 125 anos de história mas com uma es-trutura totalmente renovada, assegura padrões ele-vados de desempenho técnico-científicos, num am-biente acolhedor e humanizado, com total respeito pela individualidade dos doentes, fundamental para quem elege a excelência como meta para atingir os melhores resultados no tratamento. O compromis-so da unidade, garante Jorge Mourão, Presidente do Conselho de Administração do Hospital de Joaquim Urbano, em entrevista a Dependências, consiste em envolver todos os profissionais numa política de pro-ximidade com a comunidade, com elevada diferen-ciação técnica e humanização no contacto com os do-entes. Reconhecido internacionalmente face às boas práticas implementadas, onde a inovação é já um lugar comum, o Joaquim Urbano dispõe de progra-mas diferenciadores como o Centro de Terapêutica Combinada (CTC), bem conhecido pelos profissio-nais que intervêm em dependências face à excelên-cia evidenciada e à total inovação e ruptura com o modelo então vigente que, na altura em que foi dese-nhado, projectou.

Em entrevista Jorge Mourão, o gestor hospitalar que preside ao C.A. da unidade, abre as portas aos leitores de Dependências.

Há anos que esta unidade tem vivido de incertezas relativamente ao seu futuro. Já se falou em encerramento, em integração noutro centro… O que terá esta unidade de especial para logo se insurgi-rem vozes contra e se levantarem preocupações?

Jorge Mourão (JM) – Nos últimos 15 anos, esta unidade tornou-se muito especializada na área da infecciologia, com apoio da pneumologia, tratando principalmente patologias como o VIH, as hepatites e a tuber-culose. A diferenciação técnica dos profissionais permitiu que se poten-ciasse esta especialização e a capacidade de se orientar para o utente, de o atender e de o acolher de forma humana e personalizada. A nossa expectativa em relação ao futuro, é que seja possível preservar a identi-dade daquilo que o HJU tem, reconhecidamente, feito bem ao longo dos anos e que tão útil tem sido para os nossos utentes e prestigiante para o Porto e para a região Norte. É uma unidade que está na vanguarda da te-rapêutica do VIH, com resultados que têm sido demonstrados um pouco por todo o lado e que apresenta uma dimensão que nos agrada bastante,

que se prende com a satisfação evidenciada pelos nossos utentes. O facto de a unidade tratar de uma forma personalizada e multidisciplinar faz com que os doentes que seguimos se sintam bem acolhidos, fre-quentem o programa terapêutico e sintam bem nesta unidade. Creio que estas variáveis são distintivas do tratamento relativamente a hospitais gerais de elevada dimensão, com outro perfil e motivação.

Numa altura em que tanto se fala em contenção de custos, convi-rá salientar que esta unidade sempre terá pensado nisso, na óptica do utente, particularmente quando, através do Programa de Tera-pêutica Combinada, o utente deixou de ter que recorrer a três ou quatro unidades, como sucedia antes para passar a dispor aqui de um serviço que lhe garante tudo aquilo que precisa…

JM – Sim, são duas dimensões que se unem. A gestão, não só num pas-sado recente mas já há 15 anos, fez sempre um esforço para conseguir provi-denciar a melhor solução terapêutica com custos aceitáveis. Eu próprio estou

Hospital de Joaquim Urbano

“ Hospital ao Serviço da Comunidade”

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no Hospital há menos de quatro anos e encontrei uma estrutura de aquisição vocacionada para as melhores terapêuticas, que estão em determinado mo-mento no topo, constituindo as mais recentes guidelines do tratamento, sendo os produtos negociados de forma a conseguir-se a situação mais vantajosa possível para o Hospital, que é um grande comprador, na medida em que tem muitos casos, logo, tem um poder negocial significativo. Portanto, o esforço de gestão é enorme e realizado da melhor forma que sabemos, com o Pro-fessor Rui Sarmento e Castro a conduzir há muito tempo o processo neste sentido. Do ponto de vista do utente, há sinergias, com o seu perfil de pessoa que precisa de ser apoiada porque, frequentemente, está socialmente desin-serida. O facto de o Hospital conciliar alguns meios, dar apoio psicológico, o apoio em termos de ocupação de tempos livres, o facilitar a deslocação dos utentes ao Hospital, tudo isto é pensado e oferecido aos utentes no Centro de Terapêutica Combinada, associado à toma assistida. O doente chega aqui de manhã, quando vem tomar a metadona é-lhe providenciada a sua medica-ção, é acompanhado, tem um conjunto de actividades que o fazem sentir-se inserido, e é monitorizado. Portanto, há também uma sinergia que não é fácil de contabilizar mas que representa tudo o que ganhamos ao não deixarmos esse doente piorar, ao não perder a sua adesão ou ao evitar que faleça. Não sendo facilmente mensurável, podemos afirmar que a razão do sucesso tem a ver com o facto de termos doentes aderentes e satisfeitos, que ao longo dos anos têm a doença activa mas mantêm níveis controlados e até, pontualmen-te, atendendo às circunstâncias, com algum grau de integração na sociedade. Como imagina, isto é motivo de orgulho para os profissionais.

Tudo isso justificará, muito provavelmente, outro indicador em que o HJU se diferencia, a baixa taxa de abandonos, o que é muito pouco comum nesta área…

JM – Exactamente! Penso que mesmo no tipo de paciente que tratamos e de que aqui estamos a falar, essa é uma marca distintiva. Esse doente está frequentemente associado à toxicodependência e, como tal, tem que ser mui-to bem acompanhado. Esta capacidade evidenciada pelo projecto de van-guarda, o CTC, de manter o doente envolvido permite que se consiga que ele não abandone a medicação e se sinta inserido. A título de exemplo, numa das salas que temos no CTC podem realizar diversas actividades, jogam às cartas, convivem, com o apoio do animador cultural e da equipa de enfer-magem, produzem um pequeno jornal… as pessoas sentem-se envolvidas e percebem que estão a fazer o melhor para elas e que alguém se preocupa com elas. De facto, esta unidade teve essa capacidade de se dedicar a estes doentes, conseguindo resultados de sucesso, como tem sido frequentemente demonstrado em congressos. A dimensão satisfação ultrapassa os padrões normais de que hoje se fala, orgulhando-nos bastante. Pelo segundo ano consecutivo, uma entidade externa, mais concretamente uma Universidade Nova de Lisboa fez uma avaliação totalmente anónima com a base de dados da ACSS e, apesar das situações de doença crónica ou prolongada terem normalmente um maior envolvimento, o HJU aparece sempre nos lugares ci-meiros das várias dimensões de análise. O que significa que os doentes reco-

nhecem o empenho, a capacidade de trabalho, o esforço de constantemente tentarmos melhorar as condições, não obstante os constrangimentos finan-ceiros, para lhes proporcionarmos este apoio que é vital. O que é gratificante para os profissionais no terreno é verem, de facto, as pessoas recuperarem dentro do possível a sua saúde, inserem-se, fazem parte de uma comunidade e todos sabemos o quão difícil isto é…

Recordo-me de, num congresso da especialidade, o HJU ter apresen-tado o CTC como um exemplo de boas práticas ao nível da facilitação do acesso dos utentes ao tratamento e da promoção das parcerias e do envolvimento da comunidade local. No caso, tratava-se de uma parce-ria com o Serviço de Transportes Colectivos do Porto, que resultava no transporte gratuito para os utentes…

JM – Existem vários níveis e formas de entendimento, seja através de protocolos com instituições, seja através de parcerias que nos possibilitam a colocação de pessoas na vida activa com tarefas adequadas à sua formação e condição. O exemplo que citou é emblemático, em que, de acordo com as orientações que existem da Coordenação Nacional para a Infecção VIH/sida no que concerne à promoção dos direitos de acesso, entendemos que as dificuldades económicas e de mobilidade que normalmente caracterizam o perfil destes doentes não deveriam constituir barreiras. A forma encontrada foi o estabelecimento de um protocolo, no âmbito do qual um conjunto de utentes se pode dirigir ao Hospital usando os transportes públicos sem encar-gos. Penso que isso constitui um incentivo à responsabilização e à parceria. Cada vez é mais difícil conseguir estabelecer este tipo de parcerias na área do social, embora isso seja vital para o trabalho que o HJU faz.

Qual é o universo de utentes que o CTC do HJU serve actualmente?JM – Temos cerca de 230 doentes neste momento, existindo um histórico

de mais de 2 mil doentes com VIH. De qualquer forma, o programa tem pou-cas perdas, as pessoas vão sendo monitorizadas ao longo do tempo e penso que aquilo que prova o sucesso do processo tem a ver com o que perguntou anteriormente: há, de facto, uma baixa taxa de perdas de pessoas e temos casos bastante interessantes de pessoas que recuperam as suas condições de vida.

Porém, como é sabido, o HJU não se resume ao CTC…JM – Apesar da pequena dimensão e do reduzido número de profissionais

que tem, o Hospital faz anualmente perto de 30 mil consultas. Tem, nos últi-mos anos, uma tradição de seguir o HIV, hepatite e tuberculose com o apoio da Pneumologia. Dentro da área da Pneumologia, existe também um conjun-to de práticas, como as provas funcionais respiratórias, broncofibroscopias, que são realizadas aqui no Hospital. Muito em complementaridade, o corpo profissional é relativamente pequeno mas temos cerca 650 doentes saídos do internamento no último ano, cerca de 30 mil consultas e 80 mil sessões do Hospital de Dia. Muito do nosso trabalho está concentrado em formas de am-bulatório, sejam na realização de consultas, sejam em pessoas que precisam

Hospital de Joaquim Urbano

Temos cerca de 230 doentes neste momento, existindo um histórico de mais de 2 mil doentes com VIH. De qualquer forma, o programa tem poucas per-

das, as pessoas vão sendo monitorizadas ao longo do tempo e penso que aquilo que prova o sucesso do processo tem a ver com o que perguntou ante-riormente: há, de facto, uma baixa taxa de perdas de pessoas e temos casos

bastante interessantes de pessoas que recuperam as suas condições de vida.

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de cuidados médicos e de enfermagem que são tratados em hospital de dia. Portanto, penso até que para o quadro profissional que temos, apresentamos uma produção bastante interessante porque são realizados muitos actos em comparação com outras unidades que têm quadros mais dotados, embora não estejam tão especializados. Penso que fazemos um trabalho bastante positivo de racionalização dos meios, conseguindo, com aquilo que temos, chegar o mais longe possível.

Voltando ao CTC, existe lista de espera?JM – Não. Neste momento, as pessoas que são seleccionadas e que en-

tram no CTC estão de acordo com a nossa capacidade. O Programa é gerido directamente pela área clínica, com total autonomia.

E quanto ao método de referenciação, os utentes apenas entram no Programa através de uma primeira consulta no IDT?

JM – Não, eles têm acesso ao Programa através de um acompanhamento também nosso, que passa pela Dra. Ana Horta, a pessoa responsável por toda a área da consulta e por uma equipa clínica. Outros factores que dis-tinguem muito a nossa prática têm a ver com o grau de empenho e a pre-sença do Prof. Rui Sarmento e Castro, que acompanha o processo muito de perto, com a dimensão do quadro clínico, em que o número de médicos é relativamente reduzida, as guidelines sobre terapêutica, a própria discus-são de casos numa lógica multidisciplinar com reuniões semanais – os casos acabam por ser tratados de uma forma muito casuística e em função das necessidades. É aferido em concreto, quando existem duas ou três situações que podem justificar um determinado grau de tratamento, qual é o de primeira linha. Não é uma questão de ordem de chegada mas que é gerida de acordo com as melhores práticas clínicas. De qualquer forma, temos várias formas de referenciação: o hospital ou os centros de saúde referencia uma primeira consulta, nós pegamos no doente, havendo uma triagem quanto ao grau de necessidade realizada por nós. Em função dos dados que encontramos, são feitas análises ao utente, observados parâmetros essenciais e se se justifica internamento ou se é seguido em consulta. O nosso utente tipo provem so-

bretudo da zona Oriental do Porto e também de alguns concelhos limítrofes, nalguns casos reclusos, havendo inclusive um protocolo com Bragança, em que temos um médico que presta assistência na região Norte, proporcionan-do cuidados especializados de Infecciologia numa zona que não é de fácil acesso.

Para a equipa que gere, numa área em que não é particularmente fácil gerir emoções, até porque são normalmente maiores as derrotas do que as vitórias, como caracteriza a tarefa de motivar estes profissio-nais?

JM – É mais fácil do que a pergunta encerra. O que encontrei aqui, do ponto de vista da afeição ao doente, foi um grupo de profissionais altamente moti-vado e envolvido. Sabemos o tipo de utentes que estamos a tratar mas que é tratado exactamente com toda a atenção e carinho que qualquer outro utente. Nesse sentido, não é feita qualquer diferenciação. Há um histórico de fazer bem e de envolvimento. Não tenho conhecimento de haver algum tipo de in-satisfação, no sentido de algum profissional dizer que preferia trabalhar noutro hospital para tratar outro tipo de utentes. Os profissionais, sejam de que áreas forem, estão altamente comprometidos. As limitações que temos ao nível da motivação não serão provavelmente específicas do HJU, que está muito sa-tisfeito com aquilo que faz, mas traduzem questões que penso estarem para além da gestão de motivações. São problemas da sociedade, de carreiras, de vínculos, de sermos um Hospital que tem estatuto jurídico, até ao momento, do sector público administrativo, em que é difícil recrutar novos elementos, em que há dificuldades e limitações ao nível da progressão dos profissionais. Agora, nada disto tem sido transportado, tanto quanto eu consigo perceber, para o utente, o que é provado pelo estudo independente que inicialmente referi. Esta interacção só pode ser verdadeira: os profissionais, para estarem satisfeitos, tratam bem, os utentes sentem-se bem tratados e penso que a parte motivacional pré-existe nesta equipa que, quando vem para aqui, sabe a missão que tem, integra-se e as coisas têm corrido bem.

O HJU já uma referência também a nível internacional, tendo sido convidado, pelo que conheço, para apresentarem modelos e boas prá-ticas em congressos realizados fora do país…

JM – Sim, e por outro lado, ainda no final do ano passado, tivemos uma visita de uma delegação da OMS e a indicação que tivemos foi que ficaram bastante agradados com o modelo do CTC e do acompanhamento que faze-mos, considerando-o o caminho a seguir quando se pretende envolver, tratar e curar na medida do possível. Nesse sentido, foi-nos dito na altura que este seria um modelo a replicar. E eram peritos da Organização Mundial de Saúde. Mesmo internamente, é frequente termos visitas de outras instituições devido a outro factor muito distintivo, que tem a ver com o trabalho de motivação e envolvimento que fazemos junto do doente. Entendo que este exemplo não é fácil de replicar mas é preciso haver, do ponto de vista do decisor político e da sociedade em geral, uma preocupação em saber se quer apoiar este tipo de soluções.

Hospital de Joaquim Urbano

O que encontrei aqui, do ponto de vista da afeição ao doente, foi um grupo de profissionais altamente motivado e envolvido. Sabemos o tipo de utentes que estamos a tratar mas que é tratado exactamente com toda a atenção e

carinho que qualquer outro utente. Nesse sentido, não é feita qualquer dife-renciação. Há um histórico de fazer bem e de envolvimento. Não tenho co-

nhecimento de haver algum tipo de insatisfação, no sentido de algum profis-sional dizer que preferia trabalhar noutro hospital para tratar outro tipo de

utentes.

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A defesa da tese decorreu na Aula Magna da Faculdade de Medici-na de Lisboa a 17 de Dezembro de 2011 e o júri esteve representado com doutorados de MGF, nomeadamente os Professores Doutores Augusto Alberto Pinto Hespanhol, da Universidade do Porto, Vasco António Jesus Maria e Luis Miguel Henriques da Silva Rebelo, da Universidade de Lisboa; Os outros elementos foram os Professores Doutores José Miguel de Barros Caldas de Almeida, da Universidade Nova de Lisboa e ainda os Professores Doutores José Manuel Pereira Miguel, Helena Maria Ramos Marques Coelho Cortez Pinto e Nuno Maria Félix da Costa, da Universidade de Lisboa. O Presidente do Júri foi o Professor Doutor Rui Vitorino. A defesa foi aprovada com distinção e louvor.

O facto de haver doutorados em MGF como elementos do júri per-mitiu enquadrar de um modo apropriado o contexto da análise e da discussão desta tese no âmbito da Medicina Geral e Familiar assim como redimensionar em termos de futuro a aplicação prática deste objecto de investigação e integrá-lo na prática organizacional dos Cuidados de Saúde Primários.

Este trabalho de Doutoramento pretendeu dar um contributo à re-solução de um problema pertinente no domínio da Saúde Pública que é o dos Problemas Ligados ao consumo de Álcool (PLA) e à forma como intervir em termos preventivos, no âmbito dos Cuidados de Saú-de Primários, mais concretamente da Medicina Geral e Familiar.

Para além da importância da detecção precoce, o Plano Europeu destacava o modelo de Intervenção Breve de base motivacional como forma de aconselhamento que a medicina baseada na evidência de-monstra ser eficaz nas mudanças de comportamento de risco em re-lação ao consumo de bebidas alcoólicas.

A Organização Mundial de Saúde tem feito um investimento na for-mação e treino de profissionais dos Cuidados de Saúde Primários, nomeadamente dos médicos, com a implementação de um programa formativo estruturado.

Pretendeu-se, em Portugal, e tendo em conta os resultados da im-plementação e da avaliação do Programa a nível da OMS, promover a formação dos médicos dos Cuidados de Saúde Primários de modo a aumentar as aptidões e competências na gestão dos consumos de ál-cool no que se refere à detecção precoce e Intervenção Breve. Antes disso, pretendeu-se ainda analisar quais são as atitudes dos médicos de família em relação à problemática ligada ao álcool. Pretendeu-se ainda determinar a efectividade das Intervenções Breves realizada por Médicos de Família após identificação de consumidores de risco e nocivo.

Os médicos dos Cuidados de Saúde Primários, encontrando-se no primeiro nível da abordagem em termos de saúde, poderão identificar os seus doentes com Problemas Ligados ao consumo de Álcool e ainda decidir quem necessita de ser referenciado e quem poderá be-neficiar de uma Intervenção Breve.

EnquadramentoA União Europeia é das regiões do mundo com a proporção mais alta de

consumidores de álcool e com mais altos níveis de consumo de álcool per capita. A Europa é a região com maior consumo de álcool do mundo.

No que diz respeito à saúde, o álcool é um determinante de saúde res-ponsável por 7,4% de todas as incapacidades e mortes prematuras na União Europeia. Ao medir o impacto do álcool através dos Anos de Vida Ajustados à Incapacidade (DALYs – Disability Adjusted Life Years), este corresponde ao terceiro entre vinte e seis factores de risco de doença na União Europeia. O ál-cool é responsável por cerca de 60 tipos diferentes de doenças e problemas, incluindo perturbações mentais e comportamentais, problemas gastrointesti-nais, neoplasias, doenças cardiovasculares, perturbações imunológicas, do-enças pulmonares, doenças ósseas e musculares, perturbações reprodutivas e danos pré-natais, incluindo um aumento do risco de prematuridade e baixo peso à nascença.

No que se refere à mortalidade, o álcool é responsável por cerca de 195.000 mortes por ano na UE. A percentagem de mortes atribuíveis ao álco-ol é maior nas idades compreendidas entre os 15-29 anos e é mais elevado no sexo masculino (cerca de 25 a 30% do número total de mortes) que no sexo feminino (10 a 15.

Cerca de 23 milhões de cidadãos europeus são dependentes de álcool e o risco da dependência de álcool aumenta com o acréscimo do consumo; os jovens adultos estão particularmente em risco e metade das pessoas que se tornam dependentes tiveram o seu primeiro consumo há aproximadamente dez anos.

No que se refere aos jovens, cerca de 90% dos estudantes de 15-16 anos beberam álcool em algum momento da sua vida, começando em média aos 12 ½ anos de idade e embriagando-se pela primeira vez aos 14 anos. Mais de 1 em 8 (13%) dos jovens entre 15-16 anos embriagaram-se mais de 20 vezes e mais de 1 em 6 (18%) tiveram consumo tipo binge drinking (5 ou mais bebi-das numa única ocasião três ou mais vezes no último mês). A maior parte dos países europeus apresentam uma subida no binge drinking para os rapazes e também para as raparigas desde 1995/9 a 2003.

Tendo em conta estes indicadores globais, a Comissão Europeia desenvol-veu um conjunto de acções no sentido de reduzir os danos relacionados com o álcool que incluem a definição de estratégias perante os Problemas Ligados ao consumo de Álcool com uma rede de políticas integradas a nível Europeu e a apresentação de um relatório de Saúde Pública que faz uma análise dos efeitos do álcool na sociedade.

Após a detecção dos consumos, as Intervenções Breves correspondem, em termos de evidência, ao tipo de abordagem mais eficaz para evitar consu-mo de risco e nocivo a nível dos Cuidados de Saúde Primários. Outras medi-das são também essenciais, como sejam a restrição da publicidade dirigida ao álcool ou a aplicação do teste de ar expirado na condução sobre o efeito do álcool.

Os Cuidados de Saúde Primários oferecem oportunidades para avaliar os hábitos de consumo de álcool dos doentes, tendo em conta que todos

Investigação em Português

A Medicina Geral e Familiar e a Abordagem do Consumo de ÁlcoolDetecção e Intervenções Breves no âmbito dos Cuidados de Saúde Primários* Cristina Ribeiro, IDT IP

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os anos cerca de 70% da população visita o seu médico de família e 90% consulta pelo menos uma vez em cinco anos. Vários estudos europeus suge-rem que cerca de 20% dos doentes que utilizam os cuidados primários serão consumidores excessivos. Na rotina diária, a maioria destes consumidores excessivos não são diagnosticados. Habitualmente apresentam-se com sin-tomas ou problemas que aparentemente não estão associados directamente ao consumo de álcool e os Médicos de Família tem por vezes dificuldade em identificar esses consumidores excessivos.

Estes doentes consultam os seus Médicos de Família duas vezes mais que um doente médio, com queixas de hipertensão, gastrointestinais, psiquiátri-cas e, por vezes, acidentes ou traumatismos, não se estabelecendo de forma oportuna a relação entre os consumos e as referidas queixas. O potencial de detecção e intervenção para reduzir os Problemas Ligados ao consumo de Álcool foi também demonstrado em vários países, nomeadamente através da utilização de questionários de detecção e com Intervenções Breves.

Como já foi referido, o álcool está implicado numa variedade de doenças e problemas de natureza legal e social. Apesar de muitos destes problemas de saúde estarem relacionados com um contexto de dependência severa, consumos de bebidas alcoólicas em quantidades de cerca de 20g a 40g de álcool por dia já constituem um factor de risco para acidentes, traumatismos e problemas sociais.

Muitos factores contribuem para o desenvolvimento dos problemas relacio-nados com o álcool, como sejam o desconhecimento dos limites aceitáveis quando se consome e dos riscos associados ao consumo excessivo. Influên-cias sociais e ambientais, tais como aspectos culturais, usos e costumes que são favoráveis aos consumos excessivos, também desempenham um factor

importante. Um dos benefícios de fazer a detecção é o facto de os doentes que não são dependentes poderem parar ou reduzir os seus consumos de álcool com adequada intervenção. Se forem dependentes alcoólicos, a absti-nência torna-se indispensável, o que requer tratamento especializado.

Entre os projectos que decorrem com a participação de vários Estados--membros da UE, o Projecto PHEPA – Primary Health European Project on Alcohol teve como objectivo integrar todas as intervenções nos consumos de risco e nocivo a nível dos Cuidados de Saúde Primários, elaborando reco-mendações europeias e guidelines clínicas, um programa de formação em Intervenções Breves para profissionais dos Cuidados de Saúde Primários e um site abrangente na Internet com divulgação de boas práticas e estratégias de disseminação em cada país. A Organização Mundial de Saúde desenvol-veu também um questionário de detecção designado AUDIT (Alcohol Use Disorders Identification Test) e um manual sobre Intervenções Breves, de maneira a facilitar não só a detecção como a intervenção junto da população consumidora nos Cuidados Saúde Primários.

Etapas do doutoramento Uma primeira etapa do trabalho de Doutoramento consistiu na aferição do

questionário sobre atitudes (SAAPPQ – Short Alcohol and Alcohol Problems Perception Questionnaire) e caracterização das atitudes dos médicos perante os Problemas Ligados ao consumo de Álcool, cujo resultado mais premente foi a necessidade de formação nesta área. A segunda etapa consistiu na pre-paração dos materiais da formação dos médicos de acordo com o modelo do Projecto Europeu PHEPA.

Durante todo este processo há que valorizar a importância do Projecto Eu-

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ropeu PHEPA que, pela especificidade e oportunidade do mesmo, permitiu que este trabalho de doutoramento fosse enriquecido e viabilizado, através da produção de todo um conjunto de materiais facilitadores.

A terceira etapa consistiu na formação de médicos e no trabalho de cam-po, com a colaboração desses médicos na detecção e intervenção junto de consumidores excessivos de álcool das suas listas de doentes e ainda na análise, após a intervenção, sobre se houve redução dos consumos e dimi-nuição do nível de risco inerentes a esses consumos por parte dos doentes dos médicos formados e, também, se houve alguma mudança de atitudes desses médicos.

Da formação para a prática clínica no contexto dos Problemas ligados ao álcool

Ao nível dos efeitos, a avaliação deste impacto formativo pretende averi-guar em que medida foram alcançados os objectivos da formação, em termos de aprendizagem por parte dos formandos, ou seja, em que medida o facto de se ter verificado essa aprendizagem resulta numa mudança ou melhoria do desempenho profissional dos formandos no contexto onde vão aplicar os conteúdos da formação.Para a formação dos médicos no contexto do douto-ramento, afigurou-se necessário conceber um programa de formação com conteúdos que fossem adequados e com uma metodologia de formação apropriada ao objectivo a que se destinava. Tendo em conta que o Projecto PHEPA Europeu preparou materiais e um programa de formação, em técni-cas de intervenção para redução dos consumos de álcool, destinado a profis-sionais de saúde dos cuidados primários de saúde foi necessário proceder--se à tradução e adequação desses materiais formativos considerando as realidades da cultura de cada país envolvido no projecto. Foi valorizado que o processo de aprendizagem decorrente da formação facilitasse a transferên-cia para a prática clínica.

Os métodos de aprendizagem corresponderam à aprendizagem activa para adultos, de modo a proporcionar a aplicação do apreendido na práti-ca diária, integrando de preferência métodos que recorressem a normas de orientação clínicas baseadas em evidência científica e incluindo estratégias de capacitação e de reforço da prática.O modo como os materiais de forma-ção foram adaptados, com conteúdos que foram ao encontro do programa de formação, permitiu preparar um pacote formativo na qual constam todos os conteúdos e o modo como pode ser utilizado pelo técnico de saúde que recebe a formação. Existe também um outro pacote, a ser utilizado pelo futuro formador, com exercícios de treino, slides replicáveis e casos para discussão em videograma para utilização no processo formativo.

Conseguiu demonstrar-se que os Médicos de Família que receberam formação relacionada com esta temática e tinham um contexto de suporte adequado se sentiam mais seguros e tinham maior empenho na intervenção, conseguindo por isso intervir com melhores resultados junto de doentes com Problemas Ligados ao consumo de Álcool. Educação e treino estavam ainda associados a maior segurança e/ou confiança e compromisso para intervir junto destes utentes consumidores.

Os dados do presente trabalho corroboram outros en-contrados na literatura

Existem vários estudos relatados na literatura, bem como de meta-análi-ses, que confirmam a eficácia das Intervenções Breves para doentes com consumo de risco e nocivo de álcool em diferentes contextos clínicos.

Uma das revisões mais recentes concluiu que a Intervenção Breve permitiu a redução do consumo entre homens e mulheres durante seis a doze meses que se seguem à intervenção, o que também aconteceu no nosso estudo. Esta revisão foi confinada a estudos levados a cabo em condições mais natu-rais dos cuidados primários de saúde sendo, portanto, mais relevante para as condições do mundo real da prática clínica.

Um aspecto positivo de um teste de detecção é a identificação de doentes que possuam risco de desenvolver um problema ou que estejam nos estágios iniciais do mesmo, possibilitando uma maior eficácia/efectividade do trata-mento e evitando a mortalidade associada ao problema.

Das meta-análises existentes destaca-se a de Eileen Kanner , que analisou 28 estudos de vários países em CSP (23 estudos) e Serviços de Emergência (5 estudos) sobre esta temática. Cerca de 7.000 participantes, com uma mé-dia de idade de 42 anos, foram considerados nestes estudos e receberam In-tervenções Breves. Estes resultados foram similares tanto em vários serviços no contexto clínico de cariz mais naturalista, assim como em contextos mais rigorosos em termos de investigação com maiores recursos. Intervenções mais longas não surtiram efeitos acrescidos. E estes resultados são também similares aos obtidos aos apresentados nesta tese em termos da redução dos consumos, nomeadamente a nível semanal.

No presente estudo, a ocorrência de casos positivos detectados pelo AU-DIT suporta a ideia da relevância da detecção precoce dos problemas asso-ciados ao uso de risco e nocivo de álcool nos Cuidados de Saúde Primários.

Os problemas do uso excessivo de álcool já estão bem demonstrados, evi-denciando ainda a relação positiva benefício/custo do procedimento.

Existem benefícios decorrentes da redução ou paragem do consumo de álcool. Parte do prejuízo provocado pelo álcool é imediatamente reversível; todos os riscos associados podem ser completamente revertidos se o álcool for removido. As pessoas jovens que cessam o consumo, como estão no iní-cio da idade adulta reduzem significativamente o risco de danos relacionados com o álcool.

Os estudos demonstraram que as intervenções baseadas nos cuidados de saúde para tratar o consumo de álcool de risco e nocivo reduzem o consumo de álcool, os problemas relacionados, bem como a mortalidade associada.

Diante destas evidências pode propor-se a aplicação do AUDIT seguida por Intervenção Breve como uma ferramenta para reduzir o consumo do ál-cool e os problemas relacionados com o seu uso em contextos de Cuidados de Saúde Primários. Os profissionais de saúde deveriam usar rotineiramente um procedimento de avaliação que permita determinar se os doentes têm consumos de álcool que podem condicionar a sua saúde (se o doente está sob baixo ou elevado risco ou com problemas decorrentes do uso ou até de dependência). Por outro lado, a formação dirigida nesta área permitiu que os

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Cerca de 23 milhões de cidadãos europeus são dependentes de álcool e o risco da dependência de álcool aumenta com o acréscimo do consumo; os

jovens adultos estão particularmente em risco e metade das pessoas que se tornam dependentes tiveram o seu primeiro consumo há aproximadamente

dez anos.

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profissionais de saúde melhorassem algumas dimensões da sua percepção de atitudes em relação ao consumo de bebidas alcoólicas dos doentes que assistem nos Cuidados de Saúde Primários, quando comparado com os mé-dicos do grupo de controlo que não teve formação dirigida e que foi somente esclarecido sobre os objectivos e metodologia do estudo e tiveram conheci-mento dos instrumentos/questionários de aplicação.

SínteseEm síntese, a maioria dos PLA é provocada por consumos que ultrapas-

sam os níveis considerados de risco e não necessariamente por dependen-tes. Uma das formas de reduzir os níveis de consumo na comunidade e nas populações é, portanto, providenciar a detecção e Intervenções Breves nos CSP, sendo esta actividade garantida por profissionais de saúde. Em CSP, os doentes deveriam ser rotineiramente questionados em relação aos seus consumos aquando de uma nova inscrição. Estes doentes podem não ter pro-curado necessariamente o serviço de saúde no sentido de abordar esta pro-blemática mas, de uma forma tipo case-finding, iria permitir detectar precoce-mente problemas associados ao consumo excessivo de BA e, de um modo pró-activo, prevenir possíveis complicações associadas a níveis de consumo de álcool elevados. Assim, as fases desta intervenção incluem identificação, feed-back sobre o nível dos consumos junto do doente, com estratégias re-lacionais de coping, aumento da motivação e desenvolvimento de um plano pessoal de redução dos consumos, será possível contribuir para um possível controlo dos danos associados a esta matéria.

O futuroA detecção de consumos de álcool e de PLA nos CSP e outras estratégias

de aumento de identificação de casos complementadas por uma intervenção adequada permitirão, de acordo com a evidência, reduzir os consumos na população e os danos associados aos consumos excessivos.

Assim, são viáveis objectivos estratégicos para a gestão dos PLA nos CSP, eventualmente complementares, que deverão ser alvo de opção na definição de protocolos entre instituições de cuidados primários e secundários:

1) O de melhorar a qualidade da abordagem dos doentes sobre esta pro-blemática; e/ou 2) Melhorar o acesso de todos os doentes com PLA e a qua-lidade da abordagem dos PLA em qualquer ponto da sua evolução numa perspectiva de Saúde Pública.

O conteúdo pedagógico destes programas de formação de formadores de-verá percorrer as mesmas linhas acima definidas, se bem que de um modo mais desenvolvido e numa perspectiva de empowerment e capacitação, com envolvimento destes médicos em projectos de investigação e reconhecimen-to organizacional do seu papel. A formação de outros técnicos – psicólogos clínicos, assistentes sociais e enfermeiros – pode permitir adequar o trabalho em equipa com administração de instrumentos de detecção e de resultados com retorno de informação aos Médicos de Família, facilitando deste modo uma intervenção o mais proactiva possível no sentido da prevenção dos Pro-blemas Ligados ao consumo de Álcool.

A importância da detecção precoce e da rede de articu-lação entre serviços

Um programa com o objectivo de diminuir o peso dos PLA poderia assentar em pilares fundamentais:

1) Melhoria dos papéis dos profissionais de saúde mediante o aumento de competências no sentido de detectar e intervir numa população de risco, no que se refere ao consumo de álcool, o mais precocemente possível.

2) A introdução de sistemas baseados na prática, incluindo os instrumentos e protocolos, e suporte no sentido de aumentar os níveis de identificação e de intervenção.

3) Adopção de um modelo de ligação através de uma rede de referencia-ção para os PLA com uma correcta abordagem centrada no doente, tendo os profissionais a capacidade de estratificar o risco e de referenciar em função de protocolos pré-definidos com critérios de gravidade clínica.

4) Os programas de formação e suporte devem ser adaptados às necessi-dades e atitudes dos profissionais.

5) A possibilidade de suporte, por parte de profissionais dos CS, poder aju-dar a aumentar a actividade destes profissionais neste âmbito.

Uma das revisões mais recentes concluiu que a Intervenção Breve permitiu a redução do consumo entre homens e mulheres durante seis a doze meses

que se seguem à intervenção, o que também aconteceu no nosso estudo. Esta revisão foi confinada a estudos levados a cabo em condições mais natu-rais dos cuidados primários de saúde sendo, portanto, mais relevante para

as condições do mundo real da prática clínica.

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Depois de ter acompanhado todos os passos que le-varam à constituição do Fórum Álcool e Saúde, e numa altura em que todos os parceiros já selaram o seu compromisso, através da assinatura da Carta de Compromisso, Dependências levará a cabo um périplo pelas instituições que compõem esta diver-sificada representação da sociedade civil, a quem cumprirá desenvolver projectos, dos quais se espe-ra, resulte uma melhoria da situação portuguesa em matéria de consumos.Combinando a participação no Fórum enquanto membro fundador e uma distinção atribuída ao IDT, a medalha de mérito, visitámos a ANASP, a Associa-ção Nacional de Agentes de Segurança Privada, uma instituição que, apenas com um ano de existência, congrega já perto de 3 mil associados, num universo de mais de 50 mil profissionais, cujo (bom) desem-penho poderá ser vital para os desígnios comuns do Fórum. Fomos tentar perceber porquê, em entrevista com Ricardo Vieira, o presidente da ANASP.

Que motivos originaram a criação da ANASP?Ricardo Vieira (RV) - Diria que a ANASP nasceu quase de forma natural, dada a falta de capacidade evidenciada pelas organizações sindicais para representarem uma actividade tão vasta e com uma importância tão relevante na sociedade. Nós somos actualmente re-presentados por dois sindicatos e nenhum deles é exclusivamente do sector, diversificando-se em actividades como a limpeza, porteiros, contínuos, etc. E, como por favor, incluíram também a segurança pri-vada neste leque. O certo é que apenas se ouve falar nestes sindica-tos aquando da revisão do contrato colectivo de trabalho, enquanto que o trabalho realizado em prol da dignificação da actividade, das empresas e dos profissionais é nulo. Então, eu, conjuntamente com alguns profissionais, decidi que o caminho seria fundarmos uma as-sociação socioprofissional representativa da actividade, afastada do controlo político-económico e que funcionasse de forma transparente em prol dos interesses do sector no seu todo. E, nessa linha, ten-tar fazer com que o sector pudesse prestar serventia à sociedade e não apenas servir-se desta. Rapidamente, num espaço inferior a dois anos de actividade, atingimos cerca de 2500 associados e so-mos membros da Federação Mundial de Segurança, o que evidencia a qualidade do trabalho que temos vindo a desenvolver. Temos como parceiras todas as empresas do sector, entre as quais destacamos a importância daquelas que se assumem como motores da activida-de, as seis maiores empresas do sector, com as quais trabalhamos de uma forma muito próxima. E friso isto porque a ANASP não se revê na velha prática da guerra de trincheiras que os sindicatos tanto apregoam, que é a divisão entre classes, desde os trabalhadores ao patronato. Assumimos uma política de convergência e de harmonia no sentido em que o sector seja, efectivamente, voltado e válido para a sociedade e um exemplo de cidadania.

Foi nessa óptica que aceitaram o desafio de aderir ao Fórum Nacional Álcool e Saúde?RV - Exactamente! Quando fomos convidados pelo IDT para ser-mos membros fundadores do Fórum, para além do reconhecimento inequívoco face ao trabalho que vínhamos a desenvolver em prol da sociedade, o que tanto nos apraz, tratou-se de um desafio que fizemos questão de abraçar. Temos acompanhado e vivenciado, desde a nossa criação, este tipo de problemáticas existentes na so-ciedade e todas as outras associadas às dependências e sabíamos que um sector tão vasto, com 42 mil profissionais, também tinha um elevadíssimo número de pessoas que, não sendo necessariamen-te alcoólicos, recorrem muitas vezes ao álcool como último reduto. Nós temos casos de suicídio bem significativos no sector, tal como têm as forças de segurança públicas, com a diferença de aí serem muito mais mediatizados do que aqui, o que se justifica com turnos e condições de trabalho precárias, aos contratos precários, à falta de fiscalização e de um plano efectivo no seio das próprias empresas e do sector, que vá sinalizando e acompanhando estes casos. Temos a consciência de que a toxicodependência e o consumo excessivo ou abusivo de álcool traduzem problemas reais do sector.

Fórum Álcool e Saúde: membros fundadores

Segurança privada: um parceiro fundamental na prevenção e sensibilização

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17Fórum Álcool e Saúde: membros fundadores

Terão então surgido duas janelas de oportunidades: para o vosso pú-blico interno, que também viverá a problemática directa e pessoalmen-te mas também para os públicos com quem lidam os vossos associa-dos e com quem eles intervém…RV - Sem dúvida. Existem as duas direcções, ambas extremamente úteis. Numa fase inicial, ainda tentámos criar um princípio de acordo com a As-sociação de Discotecas Nacional e, juntamente com eles, desenvolvermos projectos no âmbito da sensibilização e da formação, para que os profissio-nais que trabalham nessas áreas, sobretudo na diversão nocturna, fossem formados e informados relativamente a questões inerentes a essas proble-máticas. Não tanto por falta de vontade da Associação de Discotecas Nacio-nal mas mais por carências logísticas e estruturais, a proposta caiu por terra e tivemos que assumir sozinhos o ónus de tentarmos fazer alguma coisa nessa vertente. Quando surgiu o desafio, em reunião magna da ANASP, de-lineámos logo como uma das prioridades para 2011 a apresentação de um projecto credível e que fosse viável, no sentido de, não só no seio das empre-sas criar mecanismos de sinalização e acompanhamento desses casos mas também a ANASP, através de técnicos especializados – temos enfermeiros e psicólogos que trabalham em regime de voluntariado para a ANASP – ele-geu como meta, entretanto atingida, a criação de um gabinete dedicado em exclusivo a esta problemática. Através de um inquérito que realizaremos a nível nacional, no seio dos profissionais do sector, tentaremos compreender de que forma os mesmos lidam com o álcool e qual a consciencialização e nível de conhecimento que têm perante esta problemática. Depois de termos esse estudo concluído, apresentaremos propostas concretas às empresas. Em vez de terem que criar uma logística interna em cada empresa, poderão valer-se da logística da ANASP para a sinalização e o acompanhamento desses casos ligados ao álcool e à toxicodependência.

Por outro lado, temos a intervenção dos profissionais de segurança privada nos espaços de lazer e de diversão nocturna… Não será com-plicado pedir a estes profissionais que façam cumprir a lei, nomeada-mente que não permitam o consumo de bebidas alcoólicas a menores ou a indivíduos aparentemente alcoolizados quando existem interes-ses um pouco contraditórios por parte dos donos dos estabelecimen-tos onde trabalham? Como é que isto funciona? Eles são formados?...RV - Actualmente, infelizmente, um dos grandes problemas do sector da se-gurança privada é a falta de formação. Portugal deve encontrar-se na cauda da Europa a este nível. Já estão a ser despertadas consciências para essa realidade mas existe ainda muito trabalho a fazer. A relação entre a activida-de da segurança privada e os estabelecimentos de diversão nocturna não é pacífica. É uma relação bastante complicada porque os empresários do ramo da restauração nocturna, por motivos diversos, têm dificuldades para contratarem empresas credíveis para o exercício da actividade e preferem recorrer a empresas que, no seio do sector, apelidamos de vão de escada, em que, pura e simplesmente, o empresário da noite aluga o alvará à empre-sa de segurança mas os funcionários são pagos em dinheiro vivo ao final da noite pelo empresário. Por isso, não é muito fácil conseguir-se implementar um projecto desta natureza na área da consciencialização e da formação junto dos profissionais que trabalham na diversão nocturna. No entanto, a ANASP vai levar a cabo inúmeros workshops nesse âmbito, a nível nacional, como temos feito noutras áreas, para profissionais que trabalhem na área

A ANASP nasceu quase de forma natural, dada a falta de capacidade

evidenciada pelas organizações sin-dicais para representarem uma ac-

tividade tão vasta e com uma impor-tância tão relevante na sociedade.

da diversão nocturna, para que adquiram conhecimentos relacionados com esta problemática, saibam como agir e conheçam o que a lei determina no que concerne aos consumos de álcool. No entanto, temos que admitir que, efectivamente, os interesses económicos dos empresários da restauração nocturna vão sempre sobrepor-se a todo o trabalho que tentemos fazer em prol dessa realidade.

O que poderá a ANASP aportar a este Fórum?RV - A ANASP pode trazer uma grande consciencialização na área da se-gurança, não só pública como privada, para os problemas ligados ao álcool. Refiro-me a factos concretos como a alteração legislativa do sector, que urge concretizar e que deverá incluir formação ao nível do combate ao uso nocivo do álcool e à toxicodependência, nos seus módulos formativos. Problemáti-cas sociais como a toxicodependência, o uso nocivo do álcool ou a violên-cia doméstica, por exemplo, têm que ser incluídas na formação obrigatória para os módulos da segurança privada. A segurança para estabelecimentos de diversão nocturna tem já uma formação específica, muito embora não inclua estas temáticas. Junto dos grupos com assento parlamentar, iremos pressionar para que se promova uma alteração legislativa a este nível. Muito embora nos debatamos sempre com o problema da falta de uma fiscalização efectiva, até porque a formação, embora esteja contemplada, nem sempre é levada a cabo na prática. Pode lá estar tudo escrito e contemplado mas se não se fiscalizar… Mas acreditamos que o Ministério da Administração Inter-na tem um papel muito importante e o facto de o Sr. Ministro da Administra-ção Interna ter estado presente na assinatura da Carta de Compromisso do Fórum Nacional Álcool e Saúde foi, para nós, uma demonstração clara para o sector de uma atenção reforçada, o que poderá traduzir ainda a existência de uma porta aberta para a ANASP, no sentido de vermos facilitada a missão e o trabalho que pretendemos desenvolver nesta área.

Ainda é utópico pensar-se que o agente de segurança privada pode ser também um agente de prevenção?RV - Não! O agente de segurança privado é, acima de tudo, um agente de prevenção! É essa, acima de tudo, a função da segurança privada.

Refiro-me concretamente a estas problemáticas, como o consumo no-civo de álcool e de outras substâncias psicoactivas…RV - Em todas as áreas. O profissional de segurança privada não é um pro-fissional de segurança interventiva mas sim preventiva. Em todas as áreas, seja na protecção civil, na saúde ou em outra qualquer que possa abranger e a segurança privada, transversalmente, abrange quase todas as áreas… O operacional de segurança privada é hoje, e cada vez mais, um profissio-nal preventivo e é esse o papel que lhe compete. Nesta área, pelo número de profissionais, pela importância do sector e pelo local onde a actividade é desenvolvida, nomeadamente nos estabelecimentos de diversão nocturna, na hotelaria, nos hospitais ou em todos os edifícios públicos, o segurança privado é, cada vez mais, um relações públicas. E é nessa perspectiva que deve ser desenvolvida a actividade: de uma forma preventiva, informativa, cooperante e subsidiária relativamente aos restantes serviços e forças de segurança pública.

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acesso ao conhecimento, traduzido em novas evidências passíveis de replicar ou adaptar, com o intuito de melhorar a performance de todas as intervenções realizadas no seu domínio. Mas tal de pouco servirá se os conhecimentos obtidos não forem partilhados com toda a comunidade de profissionais portugueses que intervêm nesta área das dependências. E o que, em nosso entender, nunca se preten-

Associação Portuguesa de Adictologia

Associação Portuguesa de Adictologia já mexe…

Apresentada publicamente apenas há uma semana, a Associação Portuguesa de Adictologia, entidade dedicada ao estudo das drogas e das dependências, já começa a mostrar trabalho. O momento de apresentação pública foi promovido no passado dia 16 de Feverei-ro, em Coimbra, e a única sociedade de cariz científico existente em Portugal na área das dependências elegeu também a cidade do conhecimento para a realização do seu primeiro encontro científico, dois dias depois.

Fundada por profissionais da área ligados ao IDT, como são os casos do seu presidente, João Curto, Álvaro Pereira, Rocha Almeida e Graça Vilar, a instituição pretende representar os profissionais de várias áreas ligados à intervenção em dependências e promover e divulgar o conhecimento sobre estas matérias.

Como se pode ler em comunicado enviado à imprensa, são cinco os principais objectivos eleitos pela APEDD. O primeiro, focado na representatividade, obrigatoriamente assente na multidisciplinarida-de, e na dignificação da intervenção, refere a pretensão de a insti-tuição se afirmar como “verdadeiramente representativa dos profis-sionais que trabalham na área das dependências e contribuir para a dignificação do seu trabalho, independentemente da sua escola ou orientação”.

O segundo objectivo, que já adquiriu forma no passado dia 18, passa, pela promoção do desenvolvimento de actividades científicas relacionadas com os comportamentos aditivos. A par, a APEDD pre-tende “incentivar e facilitar as relações entre os cientistas dedica-dos ao estudo, investigação, formação, prevenção e tratamento das questões sobre as drogas de abuso, o álcool e as dependências”.

Como qualquer outra sociedade científica, a Associação Por-tuguesa de Adictologia será, à partida, uma fonte privilegiada de

Carlos Ramalheira, Delega-do Regional do Centro, IDT

Carlos Ramalheira atribui à aquisição de competências téc-nicas e à multidisciplinaridade que caracteriza a oferta de re-cursos e serviços na área das dependências uma justifica-ção óbvia para a constituição da APEDD: “Médicos de várias especialidades, psicólogos, enfermeiros, assistentes so-ciais e juristas são alguns dos

profissionais que operam na área das dependências. Estranho que, tendo sido adquirido e consolidado um conjunto de com-petências técnicas e saberes nesta área, ainda não houvesse uma agremiação profissional que juntasse todos os técnicos”. O delegado regional do IDT e dirigente da Ordem dos Médicos congratulou-se com o surgimento da associação que, para os primeiros marcos da sua história, elegeu um dos territórios de acção da Delegação Regional do Centro do IDT, a cidade de Coimbra.

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19Associação Portuguesa de Adictologia

derá é que o domínio elitista e corporativista colado a muitas das sociedades científicas espalhadas pelo país constitua uma barreira à partilha e difusão de conhecimentos… Há que definir canais de distribuição de informação, públicos-alvo e promover um bom aces-so. Por isso, promete a direcção da também designada Associação Portuguesa para o Estudo das Drogas e das Dependências “divulgar os conhecimentos que possam contribuir para melhores cuidados de saúde em relação aos consumidores de substâncias de abuso e outras dependências” e “promover contactos com os organismos dependentes da administração pública (central, regional, distrital ou municipal) e privada, pugnando para ser ouvida na planificação de intervenções nesta área, bem como na formação pré e pós graduada dos profissionais”.

Dependências marcou presença no primeiro grande momento da história da APEDD: a realização do I Encontro da Associação Portu-guesa de Adictologia, no passado dia 18, no Auditório do Conserva-tório de Música de Coimbra. Neurobiologia e Cognição nas Depen-dências, O Espaço das Associações Científicas e Intervenções em Dependências foram os temas que reuniram um vasto conjunto de especialistas na realização de três mesas, que antecederam a rea-lização da primeira assembleia-geral da APEDD, momento que os fundadores aproveitaram para começar a desenhar um futuro que se pretende cada vez mais eficaz e eficiente nesta matéria.

Em entrevista a Dependências, João Curto, presidente da APEDD referiu que “existe actualmente um esforço para aumentar o rigor

científico e a eficácia das abordagens em matéria de adições”. De acordo com o director da Unidade de Desabituação de Coimbra do Instituto da Droga e da Toxicodependência, “estamos numa época com grandes desafios, onde a problemática da adição põe à prova modelos até então existentes, em que o contributo das neurociên-cias vai alargando e aprofundando o nível de conhecimento sobre a acção e a influência das substâncias de abuso no comportamento humano”.

A propósito da constituição da APEDD, o psiquiatra salienta que “as complexidades da problemática das adições, que atravessa toda a sociedade e mobiliza recursos económicos e humanos nunca vis-tos noutras doenças, justifica a importância de uma organização científica que atraia e vá ao encontro das expectativas dos milhares de profissionais de todos os campos que trabalham directa ou indi-rectamente nesta área”.

Rocha Almeida, Membro da Comissão Fundadora da APEDD

Para um dos profissionais en-volvidos na realização do I Encontro da Associação Por-tuguesa de Adictologia, este “momento de partilha” não po-deria ter surgido em melhor al-tura. De acordo com o psiquia-tra Rocha Almeida, a APEDD terá dado um sinal de activismo logo à nascença, ao enfrentar o desafio de, num primeiro encontro, “debater estratégias futu-ras e alguns aspectos ligados ao problema das dependências”. O responsável clínico da Delegação Regional do Centro do IDT é membro da direcção e um dos fundadores da APEDD.Ao referir-se às novas adições, o presidente da APEDD lem-brou ainda que “já há pessoas em tratamento devido à depen-dência do telemóvel ou da Internet”.

Pelo reconhecimento da especialidade?

Em que medida poderá a cons-tituição desta Associação constituir um passo decisivo para o reconhecimento da es-pecialidade ou da competência Adictologia, nomeadamente pela Ordem dos Médicos?João Curto – Gostaríamos… Já se fala nisso há algum tempo no seio da Ordem dos Médicos mas ainda não se conseguiu… Há também algumas ideias di-

ferentes, o que até considero razoável, e nem sempre é fácil um processo de decisão como este. Mas, efectivamente, pre-tendemos que, no futuro, esta possa vir a ser uma valência no interior da própria Ordem, relativamente às adições. Vamos pugnar por isso mesmo, falando sobre o assunto, quer no inte-rior da Associação, quer no seio da Ordem dos Médicos, onde proporemos que se renove a discussão sobre o tema. E já te-mos algumas garantias de que a discussão será, pelo menos, reaberta. Existem corpos gerentes, no interior da Ordem, que estão dispostos a ouvir novamente essa reivindicação e a re-lançar o debate. No fundo, não será mais do que o reconheci-mento de uma área com uma história importante, de uma pato-logia cada vez mais alargada e muito transversal na sociedade. Além disso, existem cada vez mais fundamentos científicos que comprovam as alterações de circuitos e de problemáticas cerebrais. Como tal, justifica-se que a Ordem se interesse e, ainda que não se constitua já como uma especialidade, que seja pelo menos uma valência dentro da medicina.

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Porfírio Faria, chefe do Agrupamento de Escutei-ros de SilvaresA Ceia de Reis deste Agrupamento é invariavelmente preenchi-da por um simbolismo inerente à “figura” eleita. Este ano, foi a Madre Teresa de Calcutá…Porfírio Faria (PF) – Exactamente, Madre Teresa de Calcutá como um modelo de vida para todos e para os escuteiros em particular. A par, começámos o ano de 2011, eleito como o ano do voluntariado na Europa, daí que também a nossa escolha tivesse recaído sobre o voluntariado, que é precisamente aquilo que fazemos, por base. Nesse sentido, cada uma das secções do nosso Agrupamento esco-lheu uma rota que visava materializar esse esforço de voluntariado, optando cada uma por um meio de transporte, como aqui tivemos oportunidade de ilustrar, quer através dos posters desenhados, quer através das coreografias encenadas: desde os Lobitos, que foram de avião até Moçambique fazer a alfabetização das crianças locais; dos Exploradores, que foram de barco até ao Chile prestar assistência aos necessitados, como representantes da Cruz Vermelha; tivemos os Pioneiros, que foram de trotineta ao Lar de Santa Estefânia, em Guimarães, uma instituição que recebe crianças abandonadas; en-

Agrupamento de Escuteiros de Silvares

Escuteiros: uma herança que vale mesmo preservar

A Ceia de Reis serve anualmente de pano de fundo para o Agrupamento de Escuteiros de Silvares reunir os seus escuteiros, familiares e a população mais activa daquela freguesia vimaranense em torno de um ideal que privi-legia a intervenção social e a adesão a causas nobres. A instituição, sediada numa freguesia do concelho de Gui-marães, Silvares, que alberga pouco mais de 2500 resi-dentes, mobiliza mais de 300 jovens e familiares em tor-no de projectos sociais com o cunho ou a participação do Agrupamento de Escuteiros de Silvares.Há três anos que Dependências tem vindo a acompanhar a actividade des-te agrupamento de escuteiros e constatado mais-valias produzidas a partir de valores que são absorvidos e co-mungados por um grupo, que desde muitas tenras idades se afirma como uma espécie de líder de opinião junto da comunidade local onde interage. Como noutras edições afirmámos, parece-nos evidente a utilidade de entidades como esta enquanto veículos privilegiados de comuni-cação no que à transmissão de mensagens preventivas diz respeito. O papel de pares que desempenham junto da comunidade escolar em que intervêm, os ganhos que advêm da sua acção inclusiva - junto das suas famílias e a partir do efeito bola de neve potenciado por estas junto de outras famílias - e o perfil que adoptam os súbditos de Baden Powell, por natureza líderes de opinião nos grupos em que se inserem, poderia servir de argumento para uma escolha criteriosa quando se opta por grupos alvos a formar e sensibilizar numa estratégia de educação por pares. Fazer deles grupos estratégicos, fiéis a um movi-mento mundial, educacional, voluntariado, apartidário e sem fins lucrativos, cuja proposta é coincidente com o de-senvolvimento do jovem por meio de um sistema de valo-res que concede prioridade à honra, através da prática do trabalho em equipa e da vida ao ar livre, fazendo com que o jovem assuma o seu próprio crescimento, tornando-se um exemplo de fraternidade, lealdade, altruísmo, respon-sabilidade, respeito e disciplina… Princípios e valores muitas vezes esquecidos mas mais que suficientes para que Dependências marcasse, uma vez mais, presença num encontro anual de um dos agrupamentos nacionais mais míticos. Em Silvares, freguesia de Guimarães, par-ticipámos na Ceia de Reis, organizada pelo agrupamen-to local para servir a comunidade, e conversámos com Porfírio Faria, membro do Agrupamento de Escuteiros de Silvares desde lobito, chefiando-o há cinco anos. O Agru-pamento tem 35 anos de existência…

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21Agrupamento de Escuteiros de Silvares

quanto os mais velhos, os Caminheiros, acompanhados pelos Médi-cos de Nariz Vermelho, optaram pela bicicleta para prestar igualmente assistência a crianças carenciadas. O imaginário geral centrou-se nas rotas do voluntariado, daí a escolha do tema para este ano.

Como decorreu essa experiência, com crianças a viajarem e contactarem com outras culturas, num contexto envolto pela missão do voluntariado?PF – Nestes momentos, vivemos um imaginário de forma muito inten-sa. As crianças viveram esse imaginário de viajar de avião até Mo-çambique, o que se traduziu numa alegria para elas, num despertar para uma realidade diferente, em que, através de posters e de um conjunto de ilustrações, sensibilizámos essa faixa de crianças para esses valores. A par, e cumprindo um objectivo que hoje elegemos, sensibilizamos igualmente familiares e adultos amigos para a impor-tância do voluntariado.

Numa altura de crise, em que medida é que vocês, que elegem como meta minimizar os problemas originados por essa mesma crise, sentem também dificuldades financeiras e de recursos de outras índoles?PF – É óbvio que também nós a sentimos, seja a nível interno, seja nos recursos que conseguimos afectar e reunir para beneficiar as po-pulações mais carenciadas com quem trabalhamos. Mas também é verdade que temos que nos adaptar às diferentes realidades com que nos vamos deparando. Para esta grande festa que realizamos anual-mente, cativamos patrocinadores, que nos apoiam; para as activida-des que realizamos com os mais jovens, e para as quais é necessário algum dinheiro, recorremos a diversas actividades que visam a an-gariação de fundos e a apelação à solidariedade. É da realização de iniciativas como estas que, fruto da nossa imaginação e criatividade, nos vão permitindo viver e ajudar outros a viver melhor.

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Pregunta. ¿Por qué esta comunidad terapéutica? ¿Cómo nació?Respuesta. (Antonio Teran) Surge como un compromiso de la Orden de los hermanos de San Juan de Dios por dar respuesta a una necesidad que existía en nuestra comunidad autónoma hace ya años, no existían recursos acreditados o una comunidad terapéutica que cubriera las necesidades de una demanda creciente. Solamente existía Aldama y Espiral, que eran muy pequeña. Y entonces los her-manos ante una demandad de la sociedad, ante un problema que por aquel entonces ya estaba a la cabeza de la preocupación. En aquel momento los estudios de CIS reflejaban que el paro, el terrorismo y las drogas estaban a la cabeza en la preocupación de los ciudada-nos, eran los tres y se iban intercalando en el orden de frecuencia. Pues esa especie de clamor popular que existía y que no estaba atendido porque la psiquiatría clásica, es decir, los hospitales y sus servicios de psiquiatría y los servicios de las universidades, se situa-ban al margen y no atendían el problema de las drogodependencias. Atendían el alcohol pero no la demanda por drogas ilegales con una importante carga de marginalidad y estigmatización. Los dro-gadictos estaban en las calles, sin ser atendidos, o mal atendidos, o en centros de comunidades no acreditadas. En aquel momento la Orden de los hermanos, aceptó ese reto, tenían una larga trayec-toria en el tratamiento de enfermedades mentales, la adicción era una enfermedad mental más y aprovechó este espacio, un antiguo colegio seminario que había quedado vacío para prepararlo, orga-nizarlo, crear un equipo terapéutico humano, crear una estructura

HSJD

“Asi se hace la promoción de la vida humana”

20 Anos passados muita coisa mudou…A droga e os seus problemas, já não é o que era. Hoje face aos no-vos padrões de consumo o Centro Assistencial “ San Juan de Dios” está preparado para enfrentar os novos desafios. A sua missão é tratar as pessoas guiados por princípios de qualidade promovendo, defenden-do e respeitando os direitos dos doentes e a promoção da sua dignidade enquanto pessoas. A intervenção é feita segundo os critérios da OMS, e todos os progra-mas são baseados na evidência cientifica, apesar de reconhecer que em alguns casos possam ser analisa-dos ou até tidos em conta programas de intervenção de cariz mais voluntariosa, os mesmos devem de-monstrar eficácia no tratamento. Para além da meto-dologia clínica, a instituição tem programas de rein-serção social, formação e acima de tudo uma avalia-ção permanente e constante de todos os programas e gestão da comunidade.Num espaço livre, envolvido pelo mistério da nature-za, vimos os doentes a regressar do passeio matinal, com um ar de felicidade de quem sabe que o futuro está a uns metros de cada um.Carmen Muiño, António Teran e Manuel Martinez falaram para a revista dependências.

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arquitectónica muy avanzada en ese momento. Se cuidó mucho el trato humano, la intimidad, la confidencialidad, el espacio, etc. Y así fue como surgió la comunidad terapéutica, que en se llamó Doctor Pampuri. Pampuri. Este fue un hermano de San Juan de Dios, mé-dico, con una vocación tardía, que se dedicó a la asistencia de los enfermos y que llegó incluso a adquirir la santidad. Ahora ya no es Doctor Pampuri, sino San Ricardo Pampuri nombre que tiene la co-munidad terapéutica en este momento. Así comenzó, con un equipo profesional, que sigue estando formado por los mismo miembros, es decir, hay un médico, enfermería, hay psicólogos, trabajadores so-ciales, monitores. Al principio teníamos algunos monitores que eran ex adictos. Surgió con dos áreas, una de desintoxicación hospitala-ria y vecina la comunidad terapéutica, comparten el espacio físico al tiempo que están totalmente separados, porque los programas son distintos. En la unidad de desintoxicación los pacientes están entre 15 y 20 días y no tienen un contacto físico con comunidad terapéutica , en esta última los pacientes están entre 6 y 12 meses o incluso más.

P. ¿Es la drogadicción una enfermedad tan compleja que los en-fermos no se quieren tratar?R. (Antonio Teran) Es una enfermedad muy compleja en la que muchas veces los afectados no son conscientes de que están en-fermos. La drogadicción ha sido interpretada a lo largo de la histo-ria de múltiples formas, una de ellas era la de considerarla un cas-tigo o un pecado. El concepto de la drogadicción como enferme-dad es muy moderno y muy joven. Todavía algunos cuando recaen dicen: “Doctor he pecado”. Es decir, tiene una cierta carga moral. Digamos que en la medida en que ellos van entrando en el sistema sanitario y se les va haciendo ver que lo que tienen es una enfer-medad cerebral o mental, ellos pueden entender que necesitan un tratamiento. Luego está la propia lucha del sujeto contra : alcohol, la cocaína, etc ; para la que necesita una serie de compromisos para asumir su abandono.(Carmen Couceiro) Quisiera añadir algo. En nuestro sistema de gestión hubo un momento en que para responder bien a las nece-sidades de los que tenían una adicción, tuvimos que enmarcarlo y definirlo tal y como lo entendía el equipo de trabajo. Nos tuvimos que reunir para decidir cómo conceptualizábamos los servicios que presta el centro de San Juan de Dios de Palencia, a la enfermedad “drogodependencia” y lo definimos como: (lee)“Las drogodependencias es un fenómeno multicausal con impli-caciones medico-psiquiátricas, sociales, psicológicas, judiciales, etc, que requieren dentro de un marco de colaboración institucional la intervención multiprofesional que desde la actuación conjunta y coordinada, posibilite la atención integral del paciente orientada a su rehabilitación”.

P. Es decir, que lo considerabais una enfermedad más amplia de lo que lo consideraba la Organización Mundial de la Salud (OMS)R(Carmen Couceiro) Exacto. Nosotros desde ese punto de vista, por lo tanto, cuando hemos diseñado todos los protocolos de atención, hemos tenido en cuenta varios criterios. Uno el concepto de la OMS, entendido como la definición de salud, el bienestar biológico, psico-lógico, social y espiritual, y es el que reflejamos aquí. El concepto de salud. El segundo elemento que hemos definido, es el de que nuestros programas de tratamiento reúnen evidencia científica. Usamos una metodología clínica, es decir, el paciente es entendido como tal, está diagnosticado de una patología que se describe tanto CIE10 (Clasi-ficación Internacional de Enfermedades) como DSM IV (Diagnostic Stadistical Manual) , que tiene un marco con unas características de-finidas y por lo tanto le tratamos con una metodología clínica, desde lo interdisciplinar. Y así se configuran todos los mapas de procesos, se desarrollan en ese esquema, que dice que lo que hay que hacer es evaluar, diagnosticar, intervenir y valorar los efectos que un proceso terapéutico si han sido eficaces o no, y en función de eso evaluar o dar el alta del paciente.

P. ¿Es decir que esto es lo que diferencia vuestra comunidad de las otras, que siendo terapéuticas no tienen definido ese mode-lo?R. (Carmen Couceiro) Efectivamente. Y además , entendido como la recuperación y la autonomía del paciente. No un concepto abstrac-to. Antonio entiende que un paciente está rehabilitado, no solamente porque el paciente ha dejado de tomar drogas sino porque ha hecho una incorporación a la vida normalizada y sus niveles de autonomía han mejorado, etc. Por último hemos adoptado un modelo de gestión de procesos que se llama ISO 9001-2008, a través de la cual desar-rollamos todas nuestras políticas, todos nuestros procedimientos y los procesos de atención al paciente. Estos son los cuatro pilares en los que se asienta la organización.

P. ¿Qué patologías son tratadas en la comunidad terapéutica?R. (Carmen Couceiro) Todo. La mayoría de los pacientes drogode-pendientes no lo son de una sola sustancia, sino que son politoxicó-manos. Si que es verdad, que muchas veces se puede identificar una droga como la principal de la adicción, pero el consumo suele ser muy paralelo. En nuestra comunidad terapéutica la desintoxicación física ya se ha hecho, el proceso debe ser de deshabituación, es decir, de aprender a vivir de otra manera y con otros elementos fuera del mundo de la adicción. Y en el proceso de abordaje con esos cuatro pilares, es que el paciente aprenda a vivir sin la o las sustancias.(Antonio Teran) De todas formas, aquí no tenemos pacientes alcohó-licos puros. Ya hay comunidades terapéuticas específicas solo para ellos. Es decir la demanda principal es por heroína o cocaína, aunque

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dinámica de trabajo, incluso el tiempo libre y de ocio que tienen a lo largo del proceso de tratamiento.Hay programas de doce meses o un poquito más, pero como la poblaci-ón es ahora más reincidente hay programas mucho más cortos, lo que llamamos Programas de Recuerdo que pueden ser de seis meses o in-cluso de cuatro, cuando se ha tenido una recaída, se pueden hacer inclu-so intervenciones cortas porque se entiende que son personas que han hecho una estancia de comunidad terapéutica, incluso a lo mejor dos de doce meses y ya conocen los programas. Ya conocen la teoría y el trabajo y de lo que se trata es de hacer un programa corto, de reforzar, de estudiar porqué se ha producido esa recaída y qué elementos se pueden aplicar. Carmen, decía antes: “ la clave de cualquier intervención pro-fesional es valoración, evaluación, diagnóstico y tratamiento. Eso hace que lo que da realmente cuerpo e importancia a los programas no sea tanto el que tú tengas una estructura rígida que diga por aquí tienen que pasar todos los pacientes, sino que por aquí pasan todos lo procesos y en función del proceso se hace una valoración de cada caso”.Por poner un ejemplo, si tu vas a comprarte una traje, te lo hacen a medi-da, pues con los programas es lo mismo, con una base teórica y metodo-lógica perfectamente definida, luego cada paciente tiene una necesidad, y por tanto una serie de programas de los que se va a beneficiar. Es absurdo que un paciente esté 12 meses si lo que necesita son 3 porque los otros 9 no los aprovecha y además interrumpe a los demás.(Carmen Couceiro) Lo que te está comentando Antonio también tiene un marco de cómo se hacen las valoraciones. Lo que es un dato esencial, un organigrama, un plan de tratamiento. El proceso se llama Sistema de Gestión de Calidad por Procesos, porque cada proceso en el que se interviene con el paciente tiene unos protocolos de aplicación. Pero hay cuestiones generales que son el marco de actuación, el programa, los conceptos que he comentado, el tema de la evidencia científica, etc pero también hay un elemento importante y es como entendemos nosotros la evaluación, siempre a nivel individual. No hacemos “café para todos” sino en función de las necesidades, que a la hora de evaluar cada pa-ciente muestra. Además de evaluarlo, lo hacemos desde los siguientes conceptos: la evaluación es multidisciplinar, es decir, que cada profesio-nal del equipo evalúa las características del paciente, las habilidades, las competencias y los déficits para diseñar un programa de intervención, y este es interdisciplicar. Es decir, que está basado en objetivos comunes para dar respuesta a las necesidades… “ no del programa de la comuni-dad sino del individuo que está dentro de ella”.

P. ¿Como se compatibilizan en comunidad terapéutica los pacien-tes que están con programas libres de drogas, es decir que no tie-nen metadona, con los otros?R. (Manuel Martinez) Ahora mismo no tenemos pacientes con metado-na, están en la unidad de desintoxicación, donde vienen normalmente a bajar la dosis o a dejarla completamente

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todos consumen muchas cosas.(Carmen Couceiro) Las dos principales drogas son, como ha dicho Antonio, la heroína, la cocaína, y últimamente están viniendo algunos casos de benzodiacepinas

P. ¿Cómo se seleccionan los casos para entrar en la comunidad terapéutica?R. (Antonio Teran) Eso lo hace la Red Asistencia a las Drogodependen-cias de Castilla y León, es decir, nosotros no elegimos qué pacientes. Me explico. Un paciente de Castilla y León, que está siendo atendido en la Red de Drogas ambulatoria, Zamora, León, Salamanca, Palencia, Valladolid, etc; el equipo del CAD ( Centro Ambulatorio de Atención a Drogodependientes ) que está interviniendo, considera que ese paciente a nivel ambulatorio, no está siendo eficaz el tratamiento y que precisa sacarle de su núcleo, porque haya factores ambientales que no estén favoreciendo el tratamiento, para derivarle a la comunidad terapéutica, y entonces se hace una petición por escrito a la Junta de Castilla y León, que es donde hay una lista de admisión y ya hace la derivación. Puede ser que en otras ocasiones el propio paciente vaya a los equipos. Aquí directamente no puede venir nadie, pero a los equipos ambulatorios sí. Puede que sea el paciente quien pida ir, entonces se hace unas valora-ciones, una serie de procedimientos y protocolos, se envía la documen-tación a la Junta de Castilla y León e ingresa. Otra vía es la judicial. El juez de vigilancia penitenciaria puede determi-nar que un paciente que está en prisión y que llega a la última parte de la condena desarrolle un programa de rehabilitación en régimen cerrado sustituyéndolo por la estancia en prisión. Siempre mediante la Junta de Castilla y León, que es la que costea la estancia. Por tanto, podría ser, criterio profesional, demanda directa del paciente (siempre a través del plan regional) o bien a través de la vía judicial. No puede venir un pa-ciente, llamar a la puerta y decir: “yo quiero ingresar en esta comunidad” porque tiene que venir con una serie de estudios previos (hemonograma, pruebas de hepatitis, tuberculosis). Hay un protocolo que debe de cum-plirse antes de ingresar. La comunidad tiene también plazas privadas, una persona que cumpla todos los criterios puede solicitar una plaza privada y costeársela él de su bolsillo.

P. ¿Cuánto tiempo de tratamiento está estipulado?R. (Antonio Teran) Ha cambiado mucho. Cuando empezamos hace 20 años, el tiempo era de 12 meses. Pero como el tipo de pacientes ha cam-biado mucho también ha cambiado el tiempo de estancia. Antes venían pacientes más jóvenes con menos enfermedad mental, menos castiga-dos físicamente; sin embargo, la edad ha ido aumentando, los pacientes están mucho más castigados a nivel físico, casi todos tienen hepatitis C, VIH no, la prevalencia es baja, pero vienen muy deteriorados y con mucha patología mental, con mucha enfermedad psiquiátrica (PATOLO-GÍA DUAL ). Y por ese motivo ha tenido que ir cambiando también la

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P. Muchos de los problemas que hay en las comunidades terapéuti-cas son principalmente las recaídas, en el caso de que un paciente volviese a consumir, serviría el sistema de sustitución?R. (Antonio Teran) No. Eso es claramente una facultad del centro am-bulatorio.(Carmen) Eso es una pauta que se desarrolla en los CAD no en las co-munidades, al menos en la nuestra no.

P. ¿Y cómo se hace la prevención de recaída?R. (Antonio Teran) Desde el abordaje fundamentalmente psicológico(Carmen) Lo que comentaba antes, es un proceso de rehabilitación que lo que pretende es la deshabituación, por lo tanto la estructura tiene que ver con las competencias y déficits, refortalecimiento a la persona para abordar las situaciones que pongan en riesgo la abstinencia. Lo llama-mos así, además, situaciones de riesgo.(Antonio) Si analizamos con las evidencias científicas las causas que inducen a una persona a recaer, hay un listado que es perfectamente claro y que va desde el exceso de seguridad de que esté curado, hasta el estar habitualmente con personas que consumen, estados emocionales, situaciones de enfermedad o dolor, situaciones familiares... Es decir, que existen una serie de elementos que conocemos gracia a la evidencia científica y que son sobre los que se trabaja. Desde el primero que es la vulnerabilidad, un adicto es enfermo para siempre.

P. ¿La familia forma parte del programa siempre que se pueda?R. (Manuel Martinez) Sí porque hay veces que la familia o no quiere colaborar o no existe porque el paciente no tiene ninguna relación con la familia.(Carmen) Incluso una de las cosas que se hacen cuando se ingresa al paciente es preguntarle al mismo afectado si quiere que su familia cola-bore en su proceso terapéutico y muchos son los que te dicen que no, incluso no quieren que se informe a la familia de su proceso.

P. Esta comunidad es mixta, ¿hay alguna diferencia de tratamiento si se es mujer que si se es hombre?R. (Manuel Martinez) Las mujeres son más complicadas que los hom-bres y en su tratamiento se plantean problemas diferentes.(Antonio Teran) También vamos a basarnos en la evidencia. Lo primero es la representación, la prevalencia, siete hombres por cada mujer. La mujer tiene más cormobilidad en la esfera afectiva, es más emotiva, más emocional, la adicción que presenta suele ser mas intensa mas grave, está más enganchada, es más pasional, suele tener muchos más condi-cionamientos familiares porque a veces es madre y tiene que atender a los hijos; y por lo tanto el abordaje suele ser más complejo. En el resto de circunstancias, pues las propias de su género, porque hay patologías que no tienen los hombres . Los matices son sobre todo a nivel psico-

patológico.(Carmen) Yo diría en la carga psicoemocional en el contexto del inicio de la adicción.

P. ¿Qué herramientas usáis en le proceso terapéutico?R. (Manuel Martinez) Terapia individual que hacen con le psicólogo, luego terapia de grupo en el que ahora estamos abordando diferentes aspectos, una parte el de trabajar habilidades sociales, hay que tener en cuenta que tienen un déficit importante; trabajar la autoestima, trabajar habilidades cognitivas, resolución de problemas y la prevención de re-caídas.(Antonio) Y el tratamiento de estrés y la frustración que les generan mu-cha ansia y en muchas ocasiones el consumo por falta de tolerancia a la frustración, la asertividad, la impulsividad. Esos son otros elementos fundamentales de la terapia.(Carmen) Es decir, muchas veces el propio grupo ejerce una función de rehabilitación activa por la presión de grupo. Algo como la presión de grupo que es un factor tan importante para que la persona empiece a consumir, se usa al mismo tiempo para el proceso de rehabilitación.

P. ¿Dónde va a parar el usuario del equipo terapéutico?R. (Antonio Teran) Al CAD, de donde viene. Del CAD viene aquí y de aquí vuelve al CAD. Porque el alta significa volver a la normalidad, a la vida cotidiana y ahí van a tener lugar situaciones en que la comunidad no va intervenir, pero el paciente va a necesitar un seguimiento para ir matizando pequeñas o grandes cosas que puedan surgir, y por supuesto potenciar la reinserción social….Eso se dirige desde el CAD

P. ¿Siguen sin entrar en terapia de grupo?R. (Carmen Couceiro) Ambulatoriamente no, en nuestra organización , pero hay otros que sí lo hacen, siempre estamos hablando de la red que tiene San Juan de Dios y cómo lo tiene estructurado.

P. ¿Hay talleres de formación?R. (Carmen Couceiro) Los talleres son prelaborales, es decir, lo que intentan no es tanto aprender un oficio sino la disciplina que un paciente a nivel prelaboral requiere de continuidad, de cumplimiento de un horario, de responsabilidad, etc

P. Una de las perdidas más grandes que tienen los que alguna vez han consumido es el tema de los valores, ¿cómo se trabaja?R. (Antonio Teran) Es muy importante el tema de los valores. Antes Carmen te decía, lo biológico, lo psicológico, lo social, ecológico y lo espiritual. Esto se ve a lo largo de lo que significa “la casa” de San Juan de Dios, el tema de los valores es fundamental.(Carmen) Pero espiritual no en el sentido religioso sino en cuanto a la entidad espiritual de la persona.

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R. (Carmen Couceiro) Un sistema de calidad se basa en varios crite-rios y el fundamental es la mejora continua, la eficacia terapéutica y la seguridad del paciente. Por eso el Centro de San Juan de Dios se ha comprometido en uno de los pilares a montar un sistema que facilite y sea una herramienta que nos garantice la mejora, seguridad y la eficacia en el abordaje de los pacientes.Todos los dispositivos tienen tres evaluaciones anuales, una interna, otra de la dirección técnica y finalmente otra que hace una empresa externa, auditoria que nosotros promovemos con el objetivo de corregir posibles desviaciones. La empresa es DNV, que es una certificadora internacio-nal que verifica que todos nuestro procesos y la trazabilidad de los mis-mos responde al compromiso de la política de calidad del centro.

P. Desde vuestra perspectiva, ¿Cómo evaluáis estos veinte años?R. (Antonio Teran) Yo creo que en estos veinte años han cambiado mucho las cosas, han cambiado los pacientes y sus perfiles, hemos cambiado nosotros, los propios profesionales en tanto en cuanto he-mos aprendido y madurado. Uno de los cambios principales es que al principio había mucho de voluntarismo y pasión por ayudar, también por nuestra juventud, y ahora aunque no deja de haber pasión hay mucha experiencia. Hemos aprendido muchas cosas al igual que se ha aprendi-do mucho en adicciones. En adicciones lo que se sabía hace veinte años frente a los conocimientos que tenemos ahora es un mundo. También los conocimientos nos han hecho avanzar, ha avanzado la institución, en la medida en que esta ha creído que la misión hacia los drogodependientes y la “casa” ha ido cambiando, desde las comodidades, dotación, hemos ido adaptando todo a las nuevas realidades. Y eso es lo más importante y respondiendo siempre a los retos.

P. Manuel, ¿qué ha cambiado en ti?R. El cambio más grande que puedo decir que hemos experimentado es el perfil del , paciente, hemos tenido que ir haciendo una adaptación continua y grande a la hora de trabajar con ellos o diseñar programas. Si hace unos años era mucho menor la recuperación física, hoy en día eso no es así porque están limitados físicamente, mentalmente. Antes de cara a la reinserción se podía aprender un oficio, ahora no se puede hacer eso, sino que hay que mantener habilidades.(Antonio Teran) Ahora vienen de paseo. Hace veinte años a las ocho de la mañana estaban corriendo por el campo de fútbol. La primera activi-dad era la deportiva, luego se duchaban y se preparaban para desayu-nar, hoy al medio día vienen de paseo porque no se les puede plantear un ejercicio deportivo intenso.Otra diferencia importante en cuanto a las terapias, la terapia motivacio-nal. Antes los pacientes estaban mucho más motivados y eran mucho más proactivos para el tratamiento, ahora hay que estar constantemente tirando de ellos motivándoles para el tratamiento.(Carmen Couceiro) En nuestro mapa de procesos la primera cosa es la

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(Antonio) Bueno, en el sentido religioso también, hay algunos casos en las que hay una demanda de atención más religiosa.

P. Todo ser humano tenemos un pasado un presente y un futuro. ¿Cómo se estructura la perspectiva de una persona que se recupe-ra en conjunción con esas tres cosas?R. (Carmen Couceiro) Yo pondría dos elementos. Uno es la patología, que es de por vida. No podemos olvidar que los que son tratados por una patología de estas características, son enfermos crónicos. Y por otro lado, el proceso que dentro de esa cronicidad desarrolla el paciente en función de las competencias. Lo que está pasando sobre todo en los pacientes que llegan a la comunidad es que a parte de los deterioros sociales y de valores, tienen un deterioro somático muy importante y un deterioro de capacidades cognitivas, afectivas, etc que ya rondan no el concepto de valor espiritual sino el de patología. Entonces el compatibili-zar el concepto del valor en el sentido espiritual se ve muy afectado por todas las dificultades como entidad patológica. Son mayores, tienen una carga de su patología somática, tienen dificultades de recursos económi-cos y muy difícil integración social por todas estas cuestiones paralelas. Las necesidades de cada paciente vienen con él y tenemos que tener creatividad para darle una respuesta.

P. ¿El equipo técnico tienen una formación constante o se termina una vez creado el mismo?R. (Antonio Teran) Yo creo que ese es otro de los elementos muy claros, la necesidad de formación y de estar constantemente actualizándote es la norma.(Carmen) Incluso a través de la comisión de docencia e investigación se hacen jornadas, formación interna y externa, se hacen y promueven proyectos de investigación. Volvemos otra vez a lo mismo, nosotros pre-tendemos que nuestros dispositivos de atención a los drogodependien-tes tengan evidencia científica constatada y este es el concepto que mueve toda la gestión de los dispositivos.(Antonio Teran) Las cosas no se hacen por una ocurrencia, se hacen porque tienen una base científica, porque hay una hipótesis que tú inten-tas demostrar y a partir de ahí hay una metodología de trabajo que debe evaluarse. Es decir, que no es que de repente al médico o psicólogo se le ocurra hacer algo sino que tiene que tener un fundamento.(Carmen Couceiro) Además aquí somos un poco complicados, porque una iniciativa tiene que pasar a su vez por una serie de procedimientos, de filtros, se tiene que plantear como un plan de mejora que tiene que estar adecuadamente justificado en el sistema de revisión de la calidad, aprobado por el comité de dirección. La improvisación no existe, lo que existe es la planificación.

P. ¿En que se basa el sistema de calidad? ¿Valdría seguir siempre el mismo camino?

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motivación. Porque si no estableces motivación y alianza terapéutica, el trabajo se convierte en inútil

P. ¿Qué objetivos tenéis para el futuro?R. Desde el concepto de nuestra organización creemos que el modelo de comunidad terapéutica moderna no puede utilizar la presión de grupo como referente terapéutico, hoy con el perfil de pacientes es mucho más difícil. La línea de trabajo que nosotros vemos, no de forma inmediata pero si a medio plazo, serían programas de rehabilitación psicosocial más que como comunidades terapéuticas “clásicas”, porque el perfil de los pacientes requiere que el propio sujeto se implique como agente ac-tivo de su proceso de rehabilitación para el que cada vez está menos capacitado.

P. ¿Me estás diciendo una comunidad terapéutica preventiva?R. No, a nivel preventivo podría decir otras cosas. Yo pienso que donde tiene que estar la prevención es en la calle. Por ejemplo, en el siglo XVIII los niños no tenían que aprender a educación vial porque los coches no existía, más tarde tuvieron que aprender para nos ser arrollados. La dro-ga es algo que circula, igual que los coches, pero no se aprende en una clase a montar en bicicleta, sino que se aprende en el campo y afrontar el tema de la prevención en las drogas se aprende en las calles, con recursos para ser asertivos. Por lo tanto, yo pienso que hacer prevención en las comunidades terapéuticas es como meter en la cárcel al que su-ponemos que puede cometer un crimen. La prevención debe estar en la sociedad. La droga circula por la calle y tenemos que entrenar a nuestros hijos a que sean capaces de afrontar con competencia eso que está en la calle, porque lo que no vamos a ser capaces de quitar desde nuestros recursos es el tráfico.

(Antonio Teran) El modelo del Plan Nacional sobre Drogas, sitúa a la comunidad terapéutica en un nivel terciario, asistencial, mientras que la prevención es un nivel primario. El modelo que hay definido en la actua-lidad para las comunidades terapéuticas de nuestra comunidad autóno-ma es un modelo clínico asistencial.El futuro, por lo que preguntabas antes. Yo creo que este mundo hace veinte años el modelo estaba marcado por el miedo al SIDA, pero todo esto se ha minimizado. Ahora tenemos la patología dual, la patología psiquiátrica. El futuro debe ser un modelo clínico- asistencial, al menos en nuestro país, y reforzar todos estos aspectos, el motivacional y la asistencia a las patologías psiquiátricas, que están asociadas y que son crónicas y lo que realmente influye en la evolución y pronóstico de la adicción.

(Carmen Couceiro) Y en cuanto al concepto de comunidad, dar prota-gonismo al paciente que antes era referente por su nivel motivacional a la hora de acompañar en el proceso terapéutico a sus compañeros,

esos referentes cada vez son más difíciles de encontrar. Y el referente es menos el propio concepto de comunidad sin ahondar mucho más en el concepto de equipo terapéutico.

P. ¿Es el consumo de drogas lo que produce la alteración psiquiátri-ca o esta la que incentiva el consumo de la sustancia?R. (Antonio Teran) Van en las dos direcciones. Sabemos que el alcohol, la cocaína, etc producen una patología psiquiátrica, lo primero ahí es “el huevo y luego es la gallina” y después es la patología psiquiátrica asocia-da a ellos, eso está científicamente demostrado. Pero también es verdad que hay enfermedades psiquiátricas que son primarias que son factores de vulnerabilidad claros a la hora del consumo de sustancias. El saber popular de Castilla y León dice: ‘Bebe para olvidar las penas’. El alcohol es culturalmente el ansiolítico que se ha usado para olvidar la pena, el dolor, la pérdida, la angustia. Eso establece un mecanismo de sinergia positiva que se convierte en un factor de vulnerabilidad, te hace alcohó-lico. Es un modelo bidireccional y que una y otra se van a ir influyendo y van a producir una patología mucho más complicada porque al final hay un sumatorio y que se fueran cada una por separado.

P. ¿El futuro de esta comunidad es tratar a los jóvenes que están empezando a consumir drogas muy peligrosas como el éxtasis? ¿Se está preparando la comunidad para este futuro?R. (Carmen Couceiro) Hay muchos factores que influyen. Como pasa con la Real Academia Española a veces somos las organizaciones o los parlantes lo que lo cambiamos y otras la organización la que tiene que cambiar las cosas. Los que transmiten esas necesidades de cambio son los equipos que tratan directamente a los jóvenes o no tan jóvenes que en un momento determinado requieren de un cambio de organización, un nuevo diseño de programas, influir más en la motivación o generar un taller de competencias. Son los equipos que trabajan directamente con ellos los que tienen que transmitir las nuevas necesidades que van surgiendo.

P. En muchas ocasiones los enfermos no tienen el apoyo de la fami-lia. ¿Se siente el padre que debería tener?R. (Manuel Martinez) No, ni creo que tenga que ser así. Nosotros siem-pre que haya una pequeña oportunidad para que el paciente recupere la relación con la familia, trabajamos eso para poder conseguirlo, para que él vaya resolviendo los problemas que tenga.(Antonio) Yo creo que el modelo paternalista está superado y que iría en contra de los principios que hemos explicado. Puedes tener un acer-camiento más humanista, un matiz más carismático, pero eso lo que no puede interferir en lo que es la intervención profesional. El objetivo para las personas que no tengan ese apoyo será: ‘¿Cómo puedes vivir sin ese modelo de referencia?’ o ‘¿De qué organizaciones puedes ayudarte para que desarrolles tu ‘yo’ sin tener esa referencia?’

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Aparentemente la ley antitabaco no ha causado más molestias que las de trasladar algunas mesas y sillas a los exteriores de los establecimientos para que los fumadores no dejen de ir a tomar un café. Leire Pajín, Ministra de Sanidad, Política Social e Igualdad, comentaba al poco tiempo de la puesta en marcha de la ley, que su aplicación no está teniendo complicaciones.

La ley va a facilitar las cosas a las personas que estén pensando en dejar de fumar. Por el momento los datos, antes de la aplicación de la norma, muestran que sólo el 27’5% de los fumadores han intentado dejar de fumar alguna vez, y sin embargo el 45% de los que lo intentan, no aguantan más de una semana y sólo una cuarta parte consiguen dejar el hábito más de tres meses. Por consiguiente solo un 4’3% consigue su objetivo. El hecho de que en los establecimientos públicos no se pueda encender un cigarrillo al tiempo que se habla con los amigos y se toma una cerveza o un buen café, va a tener consecuencias, sin duda, en aquellos bares y restaurantes que no tengan espacio suficiente para adaptar una zona en el exterior que esté destinada a dicho fin. Cabe destacar además el incremento de estufas para exterior desde la puesta en marcha de la ley antitabaco. Ahora más de uno se lo piensa antes de sentarse en la mesa en la intemperie con el frío del invierno y la incomodidad de no poderse quitar el abrigo. Tal vez de este modo, algunos deciden no fumarse el cigarrillo y entrar, a pesar de que sus ansias no pueda ser satisfechas. O posiblemente si deciden sentarse fuera, el café se lo tomen un poco más rápido.

Lo que esta claro es que para dejar cualquier hábito es imprescindible la fuerza de voluntad, las ganas de hacerlo y el ambiente en el que sueles moverte. No tendrá mucho sentido que en los bares, restaurantes, exteriores de hospitales y alrededores de parques infantiles no se pueda

encender un ‘pitillo’, si luego en tu casa los otros no facilitan que lo hagas, es decir, que fumen delante y que llenen el ambiente de ese humo que sin duda, será una gran tentación. Es decir, que la nicotina produce la adicción pero el entorno y el contexto social refuerzan el que se produzca ese comportamiento. Para que el nivel de nicotina se mantenga, los fumadores intentan ajustar el consumo de modo que alcancen la máxima estimulación posible para evitar la ansiedad y el

síndrome de abstinencia. Pero con la frecuencia del consumo se consigue regular la cantidad de nicotina y por lo tanto el número de cigarrillos que se fuman a lo largo del día.

Por eso, ahora es un buen momento para dejar el hábito. El contexto y las circunstancias lo facilitan mucho. Aunque es verdad que hay un punto que el Gobierno debería haber tenido en cuenta, la escasa financiación que hay para terapias que persiguen dicho fin. Sólo dos autonomías, La Rioja y Navarra pagan a través de la red sanitaria pública las terapias. Y pese a lo cierto de las molestias que causa el síndrome de abstinencia, irritabilidad, ganas irrefrenables de fumar, dificultad de concentración, disminución de la capacidad cotidiana, cefalea, cansancio, etc. A la larga el cuerpo agradecerá desprenderse de esta sustancia adictiva que produce 50.000 muertes anuales en España, por causas directas o relacionadas con el tabaco y las numerosas enfermedades que genera, sobre todo de carácter pulmonar.

Por eso, la medida me parece de lo más acertada, porque el humo debería ser solo para hacer señales, no para ser respirado por no fumadores ni tampoco para forzar a encender un ‘pitillo’. Así que, hagamos señales de humo y tiremos la colilla al suelo.Así todos respiraremos un aire libre de humo.

Señales de humo* Mireia Pascual, correspondente em Espanha

Opinião

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La Ley de preferencias arancelarias y erradicación de drogas “ATPDEA”, permite el ingreso libre de aranceles a Estados Unidos, de productos de los países beneficiarios.Bolivia se queda sin preferencias en los Estados Unidos, el congreso dejó en suspenso la renovación de las rebajas arancelarias del sistema generalizado de preferencias, informó el Instituto Boliviano de Comercio Exterior.La medida define que a partir de enero del 2011 los productos bolivianos deben pagar el arancel de importación para entrar a los EEUU, al cual Bolivia había exportado más de 120 millones de dólares libres de arancel hasta octubre de 2010.Bolivia está ahora en inferioridad de condiciones frente a otros países que, como Colombia, Ecuador, Perú y otros, tienen asegurado el libre acceso de sus productos al mercado estadounidense, a través de los tratados de libre comercio que negociaron con dicho país.Cerca al 25% de sus exportaciones se hacían bajo este sistema, mientras el congreso de EEUU no reponga el SGP, las ventas de manufacturas bolivianas deberán pagar aranceles para entrar a ese mercado, y si bien dicho pago podrá ser recuperado cuando el SGP se reponga, ello podría demandar meses, señala el reporte de esta entidad.Existe preocupación en la familia fabril y empresarial del país, el argumento clásico y repetitivo “no haber cooperado eficientemente en la lucha contra el narcotráfico”, todos en Bolivia son conscientes de que la medida obedece a las fricciones diplomáticas por la expulsión del embajador de los EEUU Philip S. Goldberg de Bolivia el 2008 y su inmediata reacción expulsando al embajador boliviano con sede en Washington.Según Evo Morales, no cabe duda que los EEUU al cerrar la puerta, en términos de apoyo y cooperación abrió las ventanas de la solidaridad y corresponsabilidad, para prueba los últimos acontecimientos en materia de cooperación internacional para afrontar el problema mundial de drogas.“Saludo las palabras del nuevo Ministro de Gobierno de Brasil que quiere ayudar, subvencionar a la lucha contra el narcotráfico. En lo que carece el pueblo boliviano; equipamiento con cierta tecnología”, dijo el primer mandatario.

De acuerdo con el convenio binacional el plan tiene por objeto ampliar la cooperación entre ambos países en temas como: formación policial en el centro de formación de Belém do Pará; fortalecer la cooperación en inteligencia policial; el Gobierno de Brasil está dispuesto a ceder su par de Bolivia la utilización de un laboratorio para combatir el lavado de activos y el fortalecimiento de la relaciones de frontera. El Mandatario reiteró su reflexión sobre la necesidad de que la lucha contra las drogas es de responsabilidad compartida y que en su criterio así lo deben asumir la comunidad internacional pero de

manera honesta, responsable y transparente. Asimismo, destacó que en materia de lucha contra las drogas entre los años 2000-2005 se incautaron 48 toneladas; en tanto que entre los años 2006-2010 fue de 117 toneladas. “Muchos dirán que ha crecido pero por la información que teníamos caso el 50 por ciento de estas toneladas de cocaína incautada son del Perú”.También sostuvo que la lucha contra el narcotráfico debe ser regionalizada y no pude ser de interés geopolítico. “So pretexto de lucha contra el narcotráfico dominio a los países de Latinoamérica, sometimiento o chantajes a países” y que no debe ser de carácter político, afirmó.

Nuevamente EEUU rechaza Ley Andina de Promoción al Comer-cio y Erradicación a la Drogas, “ATPDEA” para Bolivia* Dr. Godofredo Reinicke Borda, DIRECTOR P.I.E

Opinião

Unión Europea apoyará lucha antidrogas con 60 millones de euros hasta el 2013

El Consejero Delegado de la Unión Europea (UE) en Bolivia, Ivo Hoefkens, dijo que la cooperación del viejo continente a Bolivia para la lucha contra el narcotráfico, hasta el 2013, será de 60 millones de euros.

“En Bolivia vemos importantes avances, el Gobierno ha cambiado la política de lucha contra el narcotráfico, de desarrollo integral, de una visión totalmente diferente y estamos notando que en cinco años han logrado importantes avances”, dijo el consejero de la UE.

Lo que se espera es la de destinar recursos para una política sostenible desde la demanda, prevención, concientización, reducción de daños con visión holística, apoyados con nuevas propuestas legislativas sobre el tema y con participación sinérgica de las organizaciones de la sociedad civil.

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PRINCÍPIOS

1. Ser uma instituição verdadeiramente representativa dos profissionais que trabalham na área das dependências, e contribuir para a dignificação do seu trabalho, independen-temente da sua escola ou orientação.

2. Promover o desenvolvimento de actividades científicas relacionadas com os comportamentos aditivos.

3. Incentivar e facilitar as relações entre os cientistas dedi-cados ao estudo, investigação, formação, prevenção e tra-tamento das questões sobre as drogas de abuso, o álcool e as dependências.

4. Divulgar os conhecimentos que possam contribuir para melhores cuidados de saúde em relação aos consumidores de substâncias de abuso e outras dependências.

5. Promover contactos com os organismos dependentes da administração pública (central, regional, distrital ou munici-pal) e privada, pugnando para ser ouvida na planificação de intervenções nesta área, bem como na formação pré e pós graduada dos profissionais

Mais informações e inscrições…

[email protected]

www.adictologia.com

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A perfeita sinestesia em torno da inclusão

Pelo quarto ano consecutivo, o evento português World Bike Tour espalhou magia pela megacidade brasileira São Paulo. Foram quase 8 milhares de participantes a colorirem ainda mais a mítica mar-ginal paulista, onde o samba e outras vivências e sensações exóticas dispensavam o recurso a qual-quer outra fonte de energia “extra” para uma peda-lada de 12 quilómetros. Além dos cerca de 7 mil “fiéis” que, exactamente na passagem de ano, “se colaram” ao monitor do com-putador e esgotaram, num esfregar de olho, as ins-crições disponíveis no site do World Bike Tour, mais umas centenas de crianças participaram gratuita-mente no Kids Bike Tour, mais uns sortudos “arris-caram” e foram contemplados para uma semana no Brasil com participação incluída em todo programa especial do WBT, através do my bike tour card, ou foram convidados pela organizadora Sportis para umas “férias” em São Paulo. Outros, comprovando o desiderato inclusão inerente ao evento, ganharam o direito à participação e a sorte de serem contem-plados, também de forma gratuita, com uma bici-cleta adaptada à sua condição física, assim como um kit completo para a prática. Neste último caso, falamos de bicicletas adaptadas a pessoas com defi-ciências, como as handbikes, cujo preço excessivo impossibilita o acesso a determinadas práticas des-portivas a quem não possui poder de compra. Como a equipa de Dependências teve oportunidade de tes-temunhar, já existem atletas brasileiros olímpicos, que apenas começaram a praticar a partir da pri-meira edição do WBT São Paulo, quando receberam gratuitamente a sua bicicleta adaptada…O WBT tem na sua génese áreas de missão que vão muito além da mera adopção de estilos de vida sau-dáveis, potenciados através da aquisição, a custos muito reduzidos, de uma bicicleta, e da posterior fidelização a uma prática com vantagens inquestio-náveis em muitas índoles para além da saúde. A par, o WBT tem vindo a promover ideais em áreas como a acção social e o ambiente, focando as abordagens muitas outras índoles que se prendem paralelamen-te com a organização social e, por inerência, urba-nística. Por isso, e mesmo numa edição cujo tema forte era a inclusão, o Seminário Internacional que usualmente antecede a realização da prova foi su-bordinado ao tema Saúde, Desporto e Acção Social.

Antes e depois do Seminário, várias acções anima-ram a cidade de São Paulo, despertando consciên-cias para áreas cuja sensibilização mundial urge. Com o deleite de reforçar um paradigma, bem agra-dável e presente nos momentos informais e menos informais do WBT São Paulo: com mentes alegres, libertas e num ambiente informal e festivo, temas muito sérios, sensíveis e prementes suscitaram abordagens criativas, interessadas e informais quanto baste… o que, para uma organização de ca-riz privado, portuguesa e internacionalizada como o WBT, diz muito…Dependências esteve, uma vez mais, em São Paulo e testemunhou uma série de eventos que marcaram esta quarta edição do WBT na cidade que alberga mais habitantes que Portugal inteiro…

Bike Tour pela inclusão: Grupo percorreu São Pau-lo de cadeira de rodas e olhos vendadosJá lá vão mais de dois meses mas o evento continua bem presente mas memórias dos participantes. Ainda estávamos a 4 de Dezembro, em Por-tugal um frio de gelar mas, no Brasil, um clima mais que ameno para nós, um grupo sentiu na pele as dificuldades por que passam os deficientes físicos. O trajecto previa uma viagem de metro, comboio, autocarro e táxi, da Luz à Paulista… Tínhamos pessoas sem qualquer deficiência física a enfrentar uma cadeira de rodas… ou de olhos vendados. Foi o início do Bike Tour pela inclusão, em que participaram oito deficien-tes físicos, quatro cegos e quatro de cadeiras de rodas - e outras oito pessoas sem deficiência, mas que aceitaram o desafio de enfrentar as dificuldades que “cadeirantes” e cegos encontram no dia-a-dia da cidade grande.“Esse pessoal se supera fisicamente e mentalmente. É um exemplo para a gente se espelhar. Olha como eu estou esbaforido”, afirmava o advoga-do Adriano Stringhini.Para quem conhece, o grupo saiu do Parque da Luz, apanhou o metro na estação Tiradentes, até à estação Luz e de lá foi de comboio para o Brás. Depois, fez uma caminhada até o Largo da Concórdia para apanhar um autocarro para a Praça da Sé, de onde seguiu de táxi até a Avenida Paulista.No metro, Tayná, vencedora da última edição do Menina Fantástica, um programa televisivo bem expressivo no Brasil, sentiu as dificuldades de ser cega por um dia. “Foi um pouco difícil embarcar. Com o movimento, não sabia onde estava a cadeira. Foi bem difícil.” Vital Severino, que convive com a cegueira há 50 anos, reclama face aos problemas: “Pre-cisamos de ter um espaço adequado para a gente caminhar, calçadas sem obstáculos.”Depois do metro, o desafio do grupo foi fazer a conexão para a estação

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de comboios. Aí, amigos, não falamos apenas das deficitárias conexões ferroviárias ou das duas horas que demora percorrer um trajecto de carro de 10 quilómetros. A mobilidade, não só a proporcionada por transportes públicos como também, num sentido mais lato, a que resulta em acessi-bilidade encontra-se no nosso país léguas à frente relativamente a esta cidade que alberga, como referimos, mais habitantes que o nosso país. Adiante… Fábio precisou de ajuda para ultrapassar o vão entre o comboio e a plataforma. Na caminhada pela rua até o largo da Concórdia as dificul-dades foram ainda maiores. Na travessia, outro obstáculo. Um motorista parado em cima do passeio... Apanhar um autocarro com os equipamen-tos de acessibilidade foi um alívio para eles... Pelo menos, outros sentiram a experiência e a terão prolongado como tema de conversa…

IV Seminário InternacionalNesta quarta edição do Seminário Saúde, Desporto e Acção Social, foram vários os portugueses convidados a apresentar trabalhos nas áreas que o evento aborda. O ambiente é outra das áreas em que o WBT visa alcançar benefícios, e o ex-ministro português Carlos Borrego foi uma das atracções do seminário. Através da prelecção Qualidade do Ar e Saúde, o investiga-dor da Universidade de Aveiro dissertou da gritante urgência do recurso a práticas diárias de cidadania que visem a minimização das agressões am-bientais, à partilha de estudos que demonstram as atrocidades cometidas diariamente em prejuízo do meio ambiente e das próprias vidas que habitam a Terra. O investigador, que visou sensibilizar a plateia, integrava uma vas-ta representação da Universidade de Aveiro, que conquistou o mérito de ultrapassar fronteiras bem longínquas em termos territoriais, fruto de solu-ções engendradas que ajudaram a materializar e universalizar uma causa. Falamos, por exemplo, de Gonçalo Dias, autor da prelecção Tecnologia e Sustentabilidade de Eventos, que foi um dos responsáveis, a par de um con-junto de “cérebros” do nosso país, como Jorge Luís e Miguel Coutinho, autor da prelecção Sustentabilidade de Eventos, que preconizaram uma solução informática que resultou na realização da Volta ao Mundo em 26 Dias: um

palco com bicicletas fixas ligadas a um servidor localizado em Aveiro, que ia medindo as distâncias virtualmente percorridas pelas pessoas que pedala-vam na Feira do Bike Tour e apresentava as rotas e a localização geográfica do “pelotão” no globo terrestre, através de um ecrã.Tiago Teixeira, um jovem fisioterapeuta que, diariamente, promove a (re)inclusão de pessoas afectadas por determinado episódio numa unidade portuguesa cada vez mais reconhecida pela excelência, o Centro de Me-dicina de Reabilitação de Alcoitão, foi convidado para realizar uma pa-lestra no âmbito do IV Seminário Internacional Saúde, Deporto e Acção Social. O evento antecedeu a realização da quarta edição do World Bike Tour em São Paulo, para quem assiste, um autêntico milagre operado por uma organização portuguesa, de nome Sportis, que, a muito custo, vai expandindo um ideal em cada vez mais locais do globo.Se pensarmos que, a cada ano que passa, numa cidade como São Pau-lo, habitada por cerca de 11 milhões de pessoas – isto para não falar de um Estado que congrega mais de 22 milhões de habitantes – uma empresa portuguesa alia temas como a saúde, o desporto, o ambiente ou a acção social, num evento que, em menos de duas horas, esgota mais de 7 mil inscrições… Se adicionarmos o facto de o mesmo World Bike Tour ter sido responsável por mais de 100 mil bicicletas terem sido espalhadas pelo planeta, promovendo-se assim a continuidade de uma prática saudável… E se, a isso, somarmos o facto de o evento, quer para a sua realização, quer para a sua promoção, não representar um cêntimo que seja ao erário público português, antes pelo contrário…O WBT teve então uma das edições mais emotivas e energéticas, como não poderia deixar de ser, no Brasil… São Paulo, diga-se, é já um cliente fiel do World Bike Tour, cuja quarta edição reuniu mais de 8 mil pessoas, entre o Kids, o evento para os mais pequenos, o Bike Tour, e muitos ou-tros eventos que promovem ideais em áreas sensíveis, que deveriam ser objecto de reflexão premente na sociedade actual.Dependências esteve presente no WBT São Paulo e entrevistou alguns dos participantes.

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Tiago Teixeira, Centro de Medicina de Reabilita-ção de Alcoitão – Santa Casa da Misericórdia

Estamos num evento que versa e promove a inclusão, utilizando como pretexto a utilização da bicicleta… Se até este simples meio serve para incluir pessoas com deficiência, por que razão será as-sim tão difícil esta missão e por que persistem tantas barreiras?Tiago Teixeira (TT) – Desde logo, as barreiras existem a todos os níveis. Não só para as pessoas que utilizam bicicleta mas para todas aquelas que têm limitações na sua deambulação, sejam as que usam cadeira de rodas, canadianas ou outro tipo de auxiliar. Em virtude de estarmos aqui a falar da bicicleta, é lógico que as barreiras são diferentes porque implicam a adopção de pequenos gestos por parte das entudades res-ponsáveis, desde o rebaixamento de passeios à devida sinalização das passagens para peões ou à facilitação do acesso a um semáforo para pessoas que utilizem uma hand bike ou uma cadeira de rodas… O que existe é pouco planeamento a nível urbanístico, o que dificulta a deam-bulação e a superação das dificuldades sentidas por pessoas que têm limitações. E isso não contribui para que se sintam incluídas.

Mas se através de uma ferramenta tão simples como uma bicicle-ta se consegue, de certa forma, promover a inclusão fomentando a participação destas pessoas numa prova como esta, talvez não seja assim tão complicado encontrar outros tipos de soluções que promovam a participação de pessoas com deficiência em inúme-ras actividades cujo acesso lhes é habitualmente condicionado ou mesmo negado…TT – Sim, basta pensarmos que com um pequeno gesto – neste caso através da bicicleta – se conseguem mudar tantas coisas. E tudo co-meça exactamente por aí: muitas vezes, com organizações de eventos como esta, com pequenas populações – de que é exemplo a promoção da participação de pessoas com cadeiras de rodas – e pequenos ni-chos vão-se mudando mentalidades e vai-se contribuindo para que as

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pessoas que estão em redor também o consigam observar. Não é difícil. Basta querer e basta as pessoas estarem disponíveis para o realizarem. Se pensarmos em termos económicos, este tipo de população tem muita margem de investimento. Se pensarmos do ponto de vista da inclusão, então as coisas ainda assumem proporções muito maiores porque tradu-zem a diferença entre as pessoas ficarem em casa por não terem forma de, por exemplo, praticarem desporto ou uma actividade física como a que aqui se faz com recurso à bicicleta ou saírem de casa e poderem integrar-se de uma forma mais saudável na sociedade e serem observa-dos pelos outros.

O Tiago Teixeira partilhou no IV Seminário Internacional Saúde, Desporto e Acção Social o modelo do Centro de Medicina de Rea-bilitação de Alcoitão. Também tivemos oportunidade de conhecer um modelo brasileiro, igualmente conceituado… Em que medida poderá esta partilha de experiências resultar num incremento de conhecimentos?TT – Resulta sempre desde que existe a partilha e a troca de ideias sobre aquilo que é efectivamente a reabilitação, no caso concreto na área da Fisioterapia. Mas a realidade brasileira é muito diferente da nossa. Des-de logo, em virtude do grande número de população que têm e a quem chegam. De qualquer forma, existem muitos pontos comuns; se calhar, a nível tecnológico, ao nível do investimento e do acompanhamento que fazemos às pessoas que temos internadas no Centro somos um pou-co mais eficazes porque, desde o momento em que a pessoa entra no Centro, até ao momento em que tem alta e até mesmo já em sua casa, existe um acompanhamento efectivo, conseguindo mesmo produzir-se alterações ou pequenas mudanças nas residências, devidamente acom-panhadas e apoiadas por toda a equipa desde os profissionais de saúde até ao serviço social. O que será provavelmente mais difícil de se realizar aqui porque, apesar de as estruturas sociais apresentarem valências e dimensões significativas, a população que têm que servir é mesmo mui-ta. Mas reitero que a partilha de ideias e de experiências é sempre muito útil a todos os níveis.

Um dos pontos salientados por alguns brasileiros que participaram no Seminário permite-nos concluir que Portugal se encontra bem mais desenvolvido em termos de infra-estruturas, nomeadamente em praias e noutros contextos, que promovam a mobilidade e a in-clusão de pessoas com deficiência…TT – Sem dúvida que estamos avançados nalguns aspectos mas exis-te ainda um trabalho muito grande a fazer. Em Portugal, a maioria das praias está adaptada e possui infra-estruturas para que pessoas com incapacidade, nomeadamente aquelas que andem em cadeiras de rodas, possam ir para dentro da água e tomar banho. Nós, no Centro, temos obviamente várias infra-estruturas que facilitam a circulação das pessoas mas também fomentamos vários grupos terapêuticos, no sentido de tra-

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balharmos as barreiras que as pessoas vão encarar no seu dia-a-dia, cá fora. Tudo isto se justifica porque existe ainda um trabalho muito grande a fazer, essencialmente a nível de infra-estruturas e de serviços que, apesar de estar consagrada na lei a obrigatoriedade de os mesmos ga-rantirem a acessibilidade, muitas vezes, na realidade, não o asseguram.

Diria que em Portugal existe Alcoitão e o resto do país?TT – Felizmente, não. Existem algumas infra-estruturas que estão de-vidamente adaptadas. Mas se observarmos à nossa volta, concluímos que, se calhar, são as unidades hospitalares que estão mais preparadas para receber este tipo de pessoas. E, mesmo assim, existem muitos ti-pos de serviços de saúde que não proporcionam o acesso mais indicado. E se daí extrapolarmos para outros tipos de serviços, desde uma pessoa que queira ir aos correios enviar uma carta ou aceder a um serviço das finanças, constatamos que nem todos estão acessíveis. Inclusive, exis-tem serviços no nosso país em que são os próprios profissionais que se deslocam ao exterior para poderem realizar aquilo que a pessoa porta-dora de alguma limitação ou incapacidade procura… E quando assim é, muita coisa há a mudar.

Esta é uma área cujo tratamento implica e envolve muitas especia-lidades. Como estamos a esse nível no país? Existe efectivamente multidisciplinaridade nos serviços que prestam cuidados ao uten-te?TT – Existe mas poderia existir mais… Efectivamente, as equipas traba-lham e fazem-no para o utente. Muitas vezes, o que falta é comunicação entre os vários sectores mas também tem que haver um trabalho mais efectivo para com a pessoa a quem prestamos cuidados. Mas isso de-pende de nós profissionais, de mudarmos um pouco o nosso discurso e irmos de encontro àquelas que são as verdadeiras necessidades do utente e trabalharmos em conjunto para ele. Se pensarmos, por exem-plo, que uma pessoa em Alcoitão tem tempos de internamento limitados, que naquele período standard temos que promover a maior independên-cia funcional da pessoa, é necessário que essa partilha e comunicação entre as várias equipas seja o mais precoce e eficaz possível.

Face ao conhecimento de diferentes realidades e modelos adopta-dos em diversos pontos do planeta, que motivos destacaria como factores de diferenciação e mais-valias que fazem do Centro de Me-dicina de Reabilitação de Alcoitão uma referência internacional?TT – Existem várias razões. Desde logo, sendo o primeiro centro de rea-bilitação, torna-o uma referência, mas essêncialmente pelos cuidados de saúde que são prestados e abordagem que temos para com os utentes. Depois, porque existe um efectivo investimento nas pessoas que traba-lham com os utentes, não só a nível tecnológico, área em que estamos verdadeiramente bem equipados, mas também no que concerne à nossa formação enquanto profissionais, nas áreas específicas da intervenção.

Falo, por exemplo, em algo que trabalho concretamente, que tem a ver com sistemas de marcha assistida, em que estamos muito bem equi-pados. Mas também ao nível da Fisioterapia Respiratória temos muito boas referências e trabalhamos de uma forma efectiva com os utentes, explorando as mais recentes soluções. E em tantas outras áreas, o mo-delo que utilizamos e a forma como trabalhamos também faz com que estejamos equiparados com outros países do mundo. Acima de tudo, trabalhamos para e com o utente.

Isso seria possível sem uma instituição como a Santa Casa da Mi-sericórdia por detrás?TT – Ajuda muito, afinal o lema da santa casa é “por boas causas”! Uma instituição como a Santa Casa permite muitas vezes que aquilo que é muito complicado se torne mais facilitado face ao carácter e ao tipo de abordagem que a instituição tem nos vários serviços de saúde, a par da vasta experiência que vai acumulando nos diversos sectores em que marca a sua presença, seja ao nível da solidariedade social, do trabalho com idosos ou com pessoas com incapacidade. Tudo isto torna mais fácil esse tipo de investimento e o chegar a determinados nichos da po-pulação. Noutro tipo de instituições, mais do foro privado, é um pouco mais difícil pelo investimento que isso implica e pelo retorno que as ins-tituições privadas pretendem obter de uma forma imediata. No nosso país existem actualmente várias instituições de reabilitação de Norte a Sul e, se formos comparar entre as mesmas o número de pessoas e a população a quem chegamos, o CMRA sobressai de uma forma muito significativa.

É possível medir e avaliar as taxas de sucesso que vão alcançando ao longo dos anos?TT – Depende da forma como o façamos porque o sucesso depende sempre de a pessoa que tratamos atingir ou não os seus objectivos. E é muito difícil atingir. Muitas vezes, em função da lesão e da patologia que a pessoa tem, conseguimos atingir os objectivos da pessoa e os nos-sos objectivos enquanto profissionais mas nem sempre isso é possível. Depende de uma série de factores mas acredito que a nossa taxa de sucesso seja bastante grande.

É inegável o papel fundamental que vocês, técnicos, desempenham na motivação do utente na adesão ao tratamento e na prossecução desses objectivos centrados no utente… Mas como é que vocês próprios se vão motivando no dia-a-dia numa área que enfrenta tantas dificuldades e barreiras?TT – Essencialmente, para quem trabalha nesta área, assim como em tantas outras, é necessário gostar daquilo que se faz. Aí, a nossa entre-ga para com a pessoa com quem estamos a trabalhar é muito mais fa-cilitada. É lógico que a motivação e a forma como nos superamos a nós próprios e fazemos com que o outro se supere depende muitas vezes de

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coisas tão simples como a criatividade: como observamos o outro, como o ouvirmos… às vezes não é necessário sermos “excelentes” do ponto de vista técnico para atingirmos determinada superação; basta irmos por caminhos diferentes…

…Também será fundamental o estabelecimento de relações de con-fiança…TT – Sem dúvida! A confiança, neste tipo de situação, é fundamental porque uma pessoa que vê o seu processo e projecto de vida alterado de uma forma tão radical e brusca, se não estabelecer um bom elo de confiança com quem se está a trabalhar, mais dificilmente atinge aquilo que pretende.

É comum ouvir-se que a prevenção é uma das melhores ferramen-tas na área em que trabalha. Como se trabalha em Portugal a esse nível? Haverá uma consciencialização colectiva ou programas que visem minimizar os riscos inerentes a este tipo de problemas?TT – Existem programas de prevenção e trabalhos feitos em Portugal nesta área. Inclusive, o CMRA promove junto das escolas e outras ins-tituições vários tipos de acções. Acho que o caminho é por aí… É ne-cessário que as pessoas, logo numa fase muito precoce, estejam alerta para determinadas situações, como um simples mergulho numa praia e as consequências que o mesmo poderá ter… às vezes, não é nas coisas mais complexas que as grandes lesões e problemas sucedem. Essen-cialmente, tem a ver com o facto de conseguirmos, individualmente, ser-mos um pouco mais conscientes. E quanto mais cedo essa consciência for trabalhada na nossa vida, maior será o nosso sentido de alerta e a nossa consciencialização para situações futuras. Mas é algo que está a ser feito. No entanto, a prevenção tem um efeito positivo mas também pode gerar um efeito perverso, como sucede em tantas acções que são realizadas. Temos que adaptar essas acções de uma forma muito clara, de acordo com a população que vamos ter. Talvez aí o sucesso seja superior.

Voltando ao Bike Tour, em que medida o orgulha o facto de este evento ser apoiado pela Santa Casa?TT – Claro que sim. Mostra a visão que a Santa Casa tem, não só das pessoas necessitam de uma com a inclusão adequada mas da popula-ção em geral. O facto de a Santa Casa e de outras instituições apoiarem o Bike Tour constitui um grande contributo para o desenvolvimento so-cial. Basta pensarmos que, se alguém que tem capacidade vai pedalar, necessita que, depois, quando regressa a casa, se reúnam condições e infra-estruturas ao nível da própria cidade, nomeadamente estruturas físicas, para que a pessoa possa regressar. E é através de acções como esta e do empenho de instituições como a Santa Casa que investem em eventos com este carácter que se torna a sociedade mais solidária e inclusiva.

E a verdade é que, mesmo numa cidade como São Paulo, só depois da primeira edição do Bike Tour é que se começaram a construir as ciclo vias… Quer dizer que vai mudando alguma coisa…TT – Sim, foi uma alavanca muito importante. É lógico que estamos a falar de uma grande cidade que, a exemplo do que sucede em Portugal com Porto e Lisboa, oferece ciclo vias mas não nos podemos esquecer do Interior… Não podemos esquecer que existem outros núcleos popula-cionais, uns maiores do que outros, uns com melhores condições do que outros para a existência de infra-estruturas, entre elas as ciclo vias em que, muitas vezes, não são realizadas. Se pensarmos que uma pessoa que tem incapacidade e necessita de uma casa de banho para fazer as suas necessidades fisiológicas se depara muitas vezes com dificuldades face ao tamanho da porta… Urge estimular e espicaçar consciências e aplicar efectivamente a lei.

Em momentos como o Seminário, sobretudo aquando de testemu-nhos de vida que suscitam emoções muito fortes a quem ouve es-ses relatos, é normal o cidadão comum afirmar que nunca tinha pensado em questões tão presentes na vida das pessoas com li-mitação… Quer dizer que é necessária mais informação e sensibi-lização?TT – Sem dúvida! Para nós, que vivemos diariamente com a situação, acaba por ser mais fácil estarmos alerta para situações muito simples. O tal investimento que tem que ser feito nesta área a nível da prevenção e da partilha de informação, quanto maior e de qualidade for, mais eficaz se revelará. Se pensarmos que, para alguém que anda de cadeira de ro-das sair de casa, ainda que tenha elevador no prédio, uma porta de casa acessível e mais uma série de infra-estruturas, se a cadeira de rodas não entrar no elevador, de nada lhe servirão essas infra-estruturas. Se o trabalho for feito de uma forma evolutiva e não cairmos nos mesmos erros que, sucessivamente, têm acontecido, creio que eventos como este podem efectivamente resultar em algo muito positivo. Mas eventos como este acontecem uma vez por ano… Muitas vezes, fico com essa sensação, tal como referiu em relação aos tais testemunhos de vida: é o momento em que a pessoa ouve mas depois…

O exemplo da criação da Secretaria de Estado da Reabilitação é algo que as autarquias deveriam seguir?TT – Ao nível das cidades, do seu papel e da sua responsabilidade, tal-vez fosse mais fácil, numa óptica de proximidade, resolver determinados problemas. Muitas vezes, pessoas que têm incapacidade e necessitam de algum acompanhamento mais próximo não têm correspondência nos serviços ou infra-estruturas a que recorrem. Por exemplo, uma pessoa com alguma deficiência que necessite de uma lugar para o estancionar o seu automóvel e faça essa requisição, de nada poderá servir se outras condições não estiverem reunidas. O que não pode suceder é que algu-

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mas leis e projectos destinados a promover a inclusão e a qualidade de vida dessas pessoas fiquem pelo papel. Tem que haver um investimento efectivo nessa área e as autarquias devem ser agentes preponderantes e activos nesse sentido.

O Tiago, enquanto técnico ao serviço do CMR de Alcoitão, já viu alguns dos seus utentes participar no WBT. É possível descrever o que sentem nesses momentos?TT – É sempre difícil tentarmos perceber o que lhes vai na alma. Por mais pessoas que trate, por um lado nem todas são iguais e, por outro, acabamos por não perceber de uma forma efectiva aquilo que estão a sentir… Claro que é para mim um orgulho poder fornecer-lhes ferramen-tas que lhes permita participar de uma forma independente, e aí realço o papel desempenhado pelo Bike Tour, ao fornecer bicicletas a pessoas que delas necessitam para fazerem o seu passeio de uma forma adap-tada… É difícil perceber, por um lado mas, ao mesmo tempo, é um mo-tivo de orgulho e satisfação porque constatamos que o nosso trabalho é atingido. Quando os observo, faço-o não apenas com aquele momento em perspectiva por si só mas na mudança produzida ou possível de o ser a partir daquele momento. E é exactamente isso que nós, que tra-balhamos com pessoas, temos que perceber. O nosso trabalho, a forma como transmitimos pequenos gestos e pequenas informações vai produ-zir alterações dali para a frente. E o Bike Tour, ao permitir que algumas pessoas consigam andar de bicicletas adaptadas, também pode servir de alavanca de mudança, porque lhes pode abrir novas perspectivas. Hoje, no Seminário, tivemos o testemunho de alguém que não andava de bicicleta há muitos anos porque não tinha forma de o fazer. Era al-guém que praticava desporto antes de sofrer um acidente e que, graças a iniciativas como esta, o pôde continuar a fazer. Alguém que sempre precisou de uma pessoa que o transportasse e agora o consegue fazer por si só… Existe uma panóplia de aspectos que as pessoas que não têm incapacidade ignoram mas que podem traduzir algo que produz mu-danças muito positivas nas vidas das pessoas com incapacidade.

Estas bicicletas são caras?TT – Pois, esse é outro dos grandes problemas. Efectivamente, estas bicicletas são muito caras. Têm que reunir determinadas características para que as pessoas que sofrem este tipo de problemas possam partici-par. Mas não são apenas as bicicletas que são caras. Se pensarmos que há muita gente que precisa de uma cadeira de rodas com degterminada caracteristica especifica e não possui poder de compra para a adqui-rir… jamais fará um investimento numa cadeira de rodas desportiva. E se alguém não pode investir numa cadeira de rodas da qual necessita, jamais investirá numa bicicleta… E se a isto acrescentarmos o facto de a pessoa que tem este tipo de problema ter imensas dúvidas face ao seu trabalho, ao seu rendimento, no fundo ao seu futuro.

Diamantino Nunes, Presidente da Sportis

Face à envolvência dos paulistas, pelo espírito comungado e pela qualidade desta mega organização será legítimo considerar-se esta a prova rainha do WBT?Diamantino Nunes (DN) – Pessoalmente, acho que não… Sou português, adoro os eventos que temos em Portugal, temos transmissões directas na RTP, existem actividades paralelas em Portugal… O que existe aqui é um espírito diferente, das pessoas do Brasil. Provavelmente, aquela história que diz que os santos da casa não fazerem milagres, adequa-se a esta situação. Acho que não fazemos melhor aqui o que fazemos bem em Portugal, o que é certo é que temos provavelmente um reconhecimento diferente pelo facto de sermos estrangeiros e também pelo espírito brasileiro.

Esta edição marcou uma diferença: falou-se muito em inclusão, houve iniciativas como o Seminário, houve mais participantes em cadeiras e hand bikes…DN – O projecto está a crescer. Hoje em dia, já não é só um passeio de bici-cletas. Tem um conjunto de eventos que fazem parte do mesmo e criámos, inclusive, a Volta ao Mundo em 26 Dias, que foi mais um momento especial. Cada vez mais, o WBT tem vindo a afirmar-se como um projecto que procura oferecer várias iniciativas ao longo do ano e que culminam com um grande passeio, neste caso de São Paulo, no dia 25 de Janeiro, aquando das come-morações do aniversário da cidade.

Como é que uma empresa portuguesa consegue chegar a São Paulo e parar mais do que uma das principais artérias da cidade, com uma logística verdadeiramente incrível?DN – Não é fácil! Primeiro, requer uma grande equipa de trabalho; depois, muito esforço e dedicação para tornar isto possível. Todo este esforço, que começou há três anos, começa a dar os seus frutos, estamos neste momento muito empenhados, quer no Rio de Janeiro, que já fechámos para o próximo ano, quer ainda para este ano em Paris. Conseguimos celebrar um acordo

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com a Câmara de Paris, para uma prova que decorrerá em Junho, no âmbito da qual conseguimos um dos melhores percursos do mundo: estamos a falar da partida dos Campos Elísios e da chegada à Torre Eiffel. Temos isto apro-vado, comercialmente não temos ainda o assunto resolvido e, se calhar, fica aqui um apelo: fala-se tanto de crise e de problemas em Portugal mas só se sai da crise ou se evitam problemas trabalhando e sendo-se ousado naquilo que se faz.

Tem sido mais fácil captar investidores no Brasil do que em Portugal ou Espanha, na prova de Madrid?DN – O projecto, no Brasil, ainda está longe daquilo que pretendemos. Con-tinua a haver um investimento da nossa parte e continuamos a investir em novos eventos porque, quanto mais abrangente for o projecto, mais seguro e consolidado estará no futuro.

Aqui constata-se o envolvimento de uma Prefeitura, de um Estado, de uma Secretaria do Desporto, de uma Secretaria para a Inclusão… Era isto que gostaria de ver replicado em Portugal?DN – Sem dúvida! A participação institucional no Brasil é diferente daquela que acontece em Portugal. Nós não criticamos o que se passa em Portugal porque também entendemos a situação do país, apenas reafirmamos que vale a pena olhar para o que de bom temos e não apenas para coisas que vêm de fora, até porque o que de bom temos também já é bom para outros de fora.

Como se sentiu perante tantos elogios dirigidos a si durante o Seminá-rio? Ouvimos muitos brasileiros de relevo afirmarem que o Diamantino e a Sportis contribuem, através desta organização, para um mundo me-lhor, despertam-se consciências para temas como o ambiente, a inclu-são, a saúde, a acção social…DN – Por um lado, envergonhado porque aquele tipo de palavras, quando nos são dirigidas, deixam-nos constrangidos e, por outro lado, com um grande sentido de responsabilidade. Já não chega fazer. É preciso fazer muito bem, a fasquia está muito alta e nós estamos a fazer tudo para correspondermos às expectativas das pessoas.

Walter Feldman, Secretário Estadual do Desporto

Este momento parece corresponder ao definitivo enraizamento e fidelização deste evento na cidade de São Paulo…Walter Feldman (WF) – Diria que traduz uma dimensão inacreditável! O World Bike Tour transformou-se, em pouco tempo, num evento insubsti-tuível e estratégico do ponto de vista do papel do desporto, da bicicleta e da cidade sustentável.

O facto de se tratar de uma parceira público privada, internacional e entre dois países com raízes históricas evidentes é especial?WF – Entre Brasil e Portugal, tudo tem que dar certo. Nós temos esse compromisso histórico que, diria, enfrenta agora uma nova dimensão, que encerra uma visão humanista da sociedade, de cidades modernas, saudáveis e sustentáveis. O World Bike Tour, hoje, mais do que um pas-seio, é um conceito e a produção de um modelo que pode suscitar o desenvolvimento de cidades tão complexas.

O que representa o envolvimento da Secretaria Federal do Despor-to, por si representada?WF – Diria que foi a porta de entrada… O Diamantino foi muito bem rece-bido aqui, a ideia encontra-se hoje consolidada mas, face às caracterís-ticas do evento, que tem uma dimensão transversal, áreas como o Meio Ambiente, Transportes, Secretaria de Participação e Parceria, Pessoas com Deficiência, Secretaria do Governo estão envolvidos.

O Walter é médico e político… A prática desportiva fomentada pelo WBT traz mais retorno ao médico ou ao político?WF – A vantagem consistiu em que, na minha condição profissional de médico, tive a oportunidade de entender o papel da actividade física do desporto, que é uma dimensão às vezes ignorada na esfera públi-ca. Hoje, sei que é possível, através de um Secretaria de Desportos, levar qualidade de vida e saúde pública à população, através de práticas quotidianas rotineiras e periódicas e de uma actividade física que seja

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incorporável à cultura, ao modo de vida e ao jeito de ser das pessoas. Aqui em São Paulo, desenvolvemos modelos de desporto e saúde para todos, com actividade física regular em qualquer faixa etária, em qual-quer condição.

Como é que se organizam programas que promovam a inclusão, a participação e o acesso de todos ao desporto numa mega cidade como São Paulo?WF – É uma tarefa que exige grande assertividade. O Governo tem tra-balhado muito ao longo dos últimos anos nessa área e diria que o avanço é incrível. Temos Secretários que levaram a cabo trabalhos incríveis e propostas de governo, originando uma transformação que precisa agora de ser consolidada e ampliada. São Paulo é uma cidade que ainda não é acessível mas que se começa a preocupar de forma estratégica com este tema.

Sabemos que existem aqui desigualdades sociais bem acentua-das… É fácil promover este tipo de eventos junto de populações mais carenciadas?WF – É possível apenas se houver um acompanhamento evolutivo por parte do sistema. Temos um milhão e 300 mil pessoas com deficiência, que não têm, na arquitectura da cidade, o acompanhamento devido. É um processo que tem o seu caminho, que demora, mas não pode existir hoje nenhuma obra pública em que as pessoas não estejam incorpora-das, independentemente da sua condição.

Linamara Battistella, Secretária Estadual de Di-reitos da Pessoa com Deficiência

Que importância assume a realização deste evento em São Paulo para a Secretaria de Estado que dirige?Linamara Battistella (LB) – A importância do evento é materializar e

trazer de forma concreta a inclusão. Estamos perante um passeio ci-clístico onde as pessoas com e sem deficiência, em igualdade de con-dições, desfrutam do momento, da proximidade entre pessoas, apoiam as questões que hoje envolvem a protecção ambiental e, acima de tudo, mostram que é possível criar um novo ciclo económico que garante a inclusão social e apoia a sustentabilidade. E esta é a verdadeira susten-tabilidade, aquela que traz a diversidade para dentro do negócio. Este evento tem um carácter lúdico, extremamente atraente para os jovens. E é com os jovens que temos que conversar sobre a transformação do planeta. E mostra, de uma maneira clara, o significado da inclusão so-cial, de se trabalhar o conceito da sustentabilidade. Para nós, a grande importância consiste em mostrarmos aos empresários que existe um novo ciclo económico que não está a ser protegido nem desenvolvido. Estamos a demonstrar que as pessoas com deficiência podem e devem exercer os seus direitos. E estamos a desfrutar daquele que é talvez o instrumento mais forte da democracia, que é a inclusão social.

Durante o Seminário, referiu que há bem pouco tempo atrás, não havia sequer um plano que visasse a inclusão… Como foi desenhar uma estratégia para um estado como este?LB – Existe um movimento de luta pelos direitos das pessoas com defi-ciência que comemora este ano 30 anos de existência, um movimento social forte que foi trazendo a discussão para dentro da sociedade e incluindo-a nas políticas governamentais. Em 2008, o governador Serra entendeu que era necessário trazer essa discussão, de forma organi-zada, para dentro do Estado. Era preciso que todas as políticas efecti-vassem o seu compromisso com a inclusão da pessoa com deficiência. Então, era preciso trazer o assunto para o seio do Governo. Criar a Se-cretaria tinha este propósito e nenhuma acção mais poderia esquecer que existe um grupo de pessoas com deficiência, que tem que ser alcan-çado pela política pública. Mas havia um propósito maior: criar acções e políticas afirmativas para conferir o destaque que este grupo precisa para efectivar os seus direitos enquanto cidadãos. Seja no campo da saúde, na educação, no trabalho, na habitação, no lazer, na cultura ou no desporto. Então, em cada uma destas acções, a Secretaria teve que procurar uma forma de viabilizar a política para esse grupo de pessoas. O governador Serra é um homem sensível à questão da inclusão social e às questões que envolvem as minorias. E esse destaque concedido às pessoas com deficiência, na verdade, acaba por ajudar toda a socie-dade porque aquilo que se faz para as pessoas com deficiência serve, do ponto de vista do caminho da inclusão, para as questões étnicas, raciais, para as questões de género, enfim… para todos. E o tema inclu-são, quando se faz esse recorte pessoa com deficiência, não dá para maquilhar ou disfarçar. A rua, o passeio, a escada em frente à igreja ou a dificuldade de acesso ao trabalho são coisas facilmente perceptíveis. E quando quebramos a barreira à pessoa com deficiência estamos, na verdade, a escancarar a porta para todos.

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Pedro Sirgado, EDP Energias Brasil

Em que medida traduzirá o apoio da EDP Energias Brasil ao WBT uma política social de uma empresa também radicada aqui?Pedro Sirgado (PS) – A EDP Energias do Brasil é uma empresa bra-sileira mas a matriz é portuguesa. Portanto, seguimos as directivas da casa mãe. O nosso presidente é português e estamos totalmente alinhados com as políticas da EDP em Portugal. De qualquer forma, somos uma empresa brasileira e estamos pois atentos à realidade e ao contexto brasileiro. Então, o alinhamento é total, quer com a política da EDP Energias de Portugal, quer com a da EDP do Brasil. Temos uma política de desenvolvimento sustentável que, depois, tem alguns desdobramentos para políticas do meio ambiente, saúde e se-gurança e para políticas de investimentos sociais e de investimentos culturais. Para a EDP, um apoio social, desportivo ou cultural, sendo um desembolso, não é visto como um custo, exactamente porque temos critérios e tentamos medir o retorno. Então, temos uma política de investimentos culturais e desportivos, que é atenta à especificida-de do Brasil, quer ao contexto e às necessidades, quer à própria ori-gem dos fundos. A EDP, começando pelo nosso presidente mundial, Dr. António Mexia, e o nosso presidente do Brasil, o Engenheiro Pita de Abreu, deixou desde sempre claro a todos os seus funcionários que a sustentabilidade é, a par da inovação, um dos seus valores fun-damentais. E o desafio das áreas da sustentabilidade dos institutos da Fundação é traduzir isso para o papel e para a prática e para as outras áreas da empresa. Acredito que, dentro de 10 ou 15 anos, não haverá mais a directoria da sustentabilidade e que a mesma estará incorporada, como sucedeu com a qualidade, mas hoje isso ainda não é assim. Então, temos uma Fundação em Portugal, uma Funda-ção em Espanha e um Instituto no Brasil, temos directorias de meio ambiente, de sustentabilidade e tudo isto tem que estar alinhado. E o patrocínio ao Bike Tour em todas as geografias surge nesse contexto, nesse alinhamento.

World Bike Tour São Paulo 2011

O que é, afinal, preciso incluir? Estas pessoas com deficiência ou a sociedade?LB – É um movimento de dupla direcção. De um lado, a sociedade precisa de aprender a conviver com a diferença. A sociedade precisa de respeitar a pessoa humana. Por outro lado, precisamos de empoderar a pessoa com deficiência. Precisamos de a preparar para que faça valer os seus direitos. Trata-se de um movimento parecido com o que aconteceu com as mulhe-res, que não tinham acesso à escola, não tinham mercado de trabalho, não tinham direitos. É muito recente, na nossa sociedade, o direito de a mulher votar, o incentivo ao seu direito de escolha. Tudo isto é novo. Incluir agora as pessoas com deficiência, discutir a questão da inclusão a partir deste recorte pessoas com deficiência, ajuda-nos a pensar nesta trajectória e a entendermos que se não existirem acções afirmativas e acções dirigidas a este grupo, não concretizaremos a inclusão social.

Não sendo um fenómeno exclusivo do Brasil nem de São Paulo, exis-tem aqui muitos milhares de pessoas que vivem no limiar da miséria… É mais difícil ainda trabalhar perante este tipo de contexto?LB – Se tivesse que pensar no que será pior, entre a deficiência e a pobre-za, diria certamente que é a pobreza. Agora, quando as duas se somam, a situação é de extremo cuidado e é para essas pessoas que estamos a dirigir as nossas políticas.

Nesse sentido, o povo brasileiro é solidário?LB – Muito solidário! E é parecido com os nossos irmãos portugueses, onde as questões que envolvem pessoas com deficiência deram um enorme sal-to na última década. Eu entendo que o mundo inteiro, e particularmente a Europa, está cada vez mais consciente de que é necessária uma sociedade para todos, que garanta a sustentabilidade do planeta.

Falamos aqui numa parceria público privada e que envolve dois paí-ses, o que confere ao WBT uma dimensão internacional… É por aí o caminho?LB – É por aí o caminho: um mundo sem barreiras, sem fronteiras, um mun-do que soma solidariedade em direcção à construção de uma sociedade mais justa.

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A sustentabilidade é já um elemento corporativo da EDP?PS – Sim, a sustentabilidade é, claramente, um elemento corporativo, que está cada vez mais enraizado na cultura. E existem razões muito próprias para o ser. Pelo facto de termos sido estimulados a melhorar continuamente o nosso desempenho e a descobrirmos novas formas de fazermos as coisas, - sempre inspirados pelo nosso CEO mundial, que esteve na Clinton Global Initiative dois anos consecutivos, visitou um campo de refugiados no Quénia num projecto da Fundação EDP, pesso-almente envolve-se numa série de iniciativas, quis ser o presidente da Fundação EDP – claramente, vamos percebendo que quando incorpo-ramos as questões da sustentabilidade, criamos vantagens competitivas e diminuímos riscos operacionais. Claro que gastamos dinheiro no Bike Tour, claro que fazemos um pouco de marketing, o que também não é pecado nenhum, mas também trazemos educação através do desporto. Hoje, no Brasil, com o crescimento acelerado da economia e com as empresas a precisarem de técnicos, existem áreas carenciadas de re-cursos formados. Portanto, as empresas têm que se comprometer com a educação. Não há empresas prósperas em sociedades decadentes. Eu quero que os meus clientes sejam prósperos até porque, no limite, con-somem mais. E quero que consumam com mais qualidade. Isto não tem a ver com diminuir a receita da empresa, antes pelo contrário. E aí volto ao conceito do grande guru Michael Porter, onde ele fala em criação de valor compartilhado. Num MBA que realizei aprendi que a empresa exis-te para criar valor para o accionista; depois introduzimos criar valor de forma sustentável; e a evolução consiste em criar valor compartilhado. As empresas que desenvolveram competências para criarem valor para o accionista; usem-nas para criar valor para os clientes, para as ONG, para o Governo, por que não? Por outro lado, quando uma empresa faz um investimento de um real num activo qualquer, não é indiferente que o retorno seja de dois ou três reais… Quanto maior o retorno, mais os accionistas ficam satisfeitos, mais sobe o valor e a procura das acções. Tradicionalmente, era indiferente para as empresas, quando doavam um real a uma organização social, se a instituição ia comprar mesas, se desviava o dinheiro, se atendia 10 crianças, 15 ou 20… Nós não quere-mos isso. Queremos que as ONG a quem damos dinheiro tenham me-tas de execução. Hoje, o EDP Solidário, um programa através do qual apoiamos ONG, obriga-as a submeterem projectos, onde têm que cons-tar cronogramas de execução, metas temporárias, quantas pessoas vão ser atendidas ao fim do primeiro trimestre, do segundo, do terceiro e do primeiro ano. Têm que nos dar conta do que fazem. E já aconteceu cor-tarmos verbas ou desenharmos estratégias correctivas se não atingirem as metas. Claro que primeiro conversamos e tentamos perceber por que não cumpriram. Já aconteceu percebermos que não estavam a cumprir porque não tinham competências e, aí, tomámos uma decisão muito sim-ples: dar cursos de formação às ONG. É uma aprendizagem que tem a ver com a criação de valor.

Carlos Ribeiro, português contemplado no sorteio my bike tour card

Carlos, como é que isto começou?Carlos Ribeiro (CR) – Tudo começou com a minha participação no Por-to Bike Tour, em 2010. Participei porque precisava mesmo da bicicleta. O preço era acessível e, como não tenho muitas posses, mal soube da possibilidade, inscrevi-me.

Por que dizes que precisavas da bicicleta?CR – Precisava porque trabalho perto do local onde resido e, face aos sucessivos aumentos do preço da gasolina e à necessidade de praticar desporto, achei uma boa solução ir para o trabalho de bicicleta. Na al-tura, inscrevi-me nos correios, participei na prova, fiquei com o kit e a bicicleta e, passados cerca de dois meses, recebi um telefonema em que me disseram que tinha ganho uma viagem ao Brasil. Confesso que não acreditei, tive que pedir pormenores e, quando confirmei que tinha sido através do Bike Tour, fiquei super feliz.

Entretanto, vieste para São Paulo, com direito a companhia e com tudo pago pela Sportis…CR – Exacto. Vim acompanhado pela minha esposa e estamos a adorar. Tem sido uma loucura, um espectáculo, mesmo.

O que vais fazer com a bicicleta que vais ganhar aqui?CR – Vou entregar a quem de responsável para que a possam doar a quem mais precise.

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Willian Coelho, participante no Bike Tour numa hand bikeWillian, o que fica desta participação?Willian Coelho (WC) – Acho que é um dos maiores eventos, com uma proposta muito importante para uma grande cidade como São Paulo, através de um meio de transporte alternativo que, além de não poluir, é saudável. É óptimo porque também é um evento inclusivo, que envolve as pessoas com deficiência, com mobilidade reduzida, uma oferta linda. Fica a vontade de que o ano passe rapidamente para poder participar novamente.

Já costumava andar de bicicleta?WC – Não, é a primeira vez que tenho esta experiência. Nunca tive uma hand bike, é a primeira vez e adorei!

Agora que ganhou a hand bike, como será daqui para a frente?WC – Agora, é passear todas as semanas. Pelo menos uma vez por semana, é só fazer um acondicionamento físico, treinar e, quem sabe até, competir.

É mesmo complicado, para vocês, adquirirem uma bicicleta des-tas?WC – Sim, são caras e, ainda por cima, no Brasil a oferta é muito reduzi-da e de pouca qualidade. O facto de este evento possibilitar ganharmos uma hand bike e continuar a praticar é excelente.

Carlos Queiroz, ex-seleccionador nacional portu-guêsO que fica desta sua primeira participação no WBT?Carlos Queiroz (CQ) – Tive ali algumas dificuldades na subida mas me-ti-me atrás do melhor trepador e a coisa foi andando (risos). Foi fantásti-co! A ideia é excelente, a organização está de parabéns, por vezes é um lugar comum dizer isto mas, de facto, é um evento extraordinário, uma ideia brilhante e, depois, está aqui um bocadinho de tudo: desde a parte do desporto, da saúde, da integração social, do ambiente, a inclusão dos deficientes, dos invisuais, que também correm aqui, a municipalidade… O retorno interessante que um evento destes produz ao nível das alte-rações na própria cidade, criando espaços próprios para as bicicletas… É algo que deve orgulhar aqueles que tiveram a iniciativa e a brilhante ideia de fomentar e promover este evento. Creio que se deveria ajudar a expandir isto.

É sabido que não se considera muito bem tratado pela sua pátria nos últimos tempos mas orgulha-o o facto de esta ser uma organi-zação portuguesa?CQ – Não é pela pátria… Infelizmente, às vezes, a pátria é que é tomada por algumas pessoas que, na minha opinião, não merecem essa posi-ção. Felizmente, escapei ao controlo antidoping aqui e vamos é pensar nas coisas positivas e dizer que quando existem projectos que são inova-dores, positivos, criativos e eficientes, que têm sentido e uma visão não há cá essas histórias de divisões ou de pessoas vetadas ao ostracismo ou de menor valorização porque são portuguesas, amarelas, cristãs ou muçulmanas. Vi aqui uma ideia bem acolhida, uma ideia bem recebida e bem impulsionada e todos participando de um ideal comum. Ainda bem que a fonte originária deste projecto é portuguesa e mostra bem a todos que são portugueses que cá fora no estrangeiro, quando produzimos essas ideias inovadoras, eficientes e correctas somos bem recebidos. Não somos é, no final, maltratados ou enxovalhados por aqueles que não fazem nada e que, no nosso país, não têm mérito nem história nenhuma

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mas que se servem do poder e dos cargos que ocupam para ferir aque-les que vão produzindo alguma coisa. Veja, no caso do futebol, o que acontece a homens como o Jesualdo Ferreira, o Artur Jorge, Fernando Santos, Inácio, Pacheco, Toni… Onde está essa gente toda? São todos corridos… É lamentável que no nosso país esses senhores se apoderem do poder e se encontrem numa posição intocável e inatacável, como é o

caso do próprio Secretário de Estado do Desporto, que não me cansarei nunca de pôr em causa, especialmente o presidente do Instituto do Des-porto, o Dr. Luís Sardinha, um treinador, que deveriam ter pudor e ver-gonha de terem entregue a um homem todo o poder na área do doping, ao ponto de se servir desse poder para vendetas pessoais, o que não é digno de uma pessoa que ocupa o estatuto de presidente da ADOP.

World Bike Tour São Paulo 2011

Recortes de imprensa brasileira“Já são garantidos 8 mil novos amigos aqui no Brasil, sendo mil crianças que participaram do Bradesco Seguros Kids Bike Tour no dia 22 de Janeiro no Estádio do Pacaembu, e 7 mil adultos que pedalaram juntos no 3º World Bike Tour São Paulo no último dia 25 de Janeiro”. “A tartaruga laranja e verde encanta a todos por onde passa. Apaixonado por bicicleta e participante de todos os 15 pas-seios já organizados pelo World Bike Tour, o Biklas já p assou por vários lugares do mundo pedalando e sorrindo!”

Inclusão servida no Jantar Oficial do WBT São PauloCom a colaboração da empresa “Ateliê no Escuro”, de São Paulo, um dos momentos mais simbólicos da agenda deste WBT aconte-ceu no Restaurante “Capim Santo”.A chegada foi regada por um champanhe especialíssimo e cana-pés, no mínimo, inusitados.Os convidados especiais brindaram, não imaginando porém o que viria a seguir!Antes de entrar para o salão principal, foram vendados os olhos de todos os participantes com uma faixa preta e, daí para a frente, tudo passou a ser imaginação...Sons de instrumentos e vozes recitando poemas apuravam a au-dição em detrimento da visão, sentido que de nada serviu durante a refeição... Nalguns momentos, cheiros de perfumes da natureza misturavam-se num ambiente cuja adaptação não foi propriamen-te fácil... Pratos eram colocados à nossa frente... taças de vinhos eram trocadas a cada circunstância... e a ordem era: “degustar”... Tudo era permitido, desde comer com as mãos, entornar ou deixar cair fosse o que fosse. A ideia era experimentarmos a sensação de sermos cegos por uma hora e meia…Para os brasileiros... Acreditamos que tenha sido um pouco mais fácil sensibilizar os sabores... Já para os que vieram de longe (Portugal, Espanha e França)... Não imaginavam o que co-miam, pelo tamanho e quantidade de especiarias brasileiras que ali eram servidas... e pelos sabores, extremamente diferentes. Os convidados, que viram desde o início os seus grupos “desfei-tos”, foram distribuídos por mesas com pessoas completamente desconhecidas, abusando e curtindo verdadeiramente o momen-to...Vale a pena contar que as pessoas conversavam e de-batiam diversos assuntos... Inclusive, o que se ia co-mendo... qual seria a aparência... a cor, e até se havia algo que ainda pudesse estar vivo... nos nossos pratos! Mais ou menos às apalpadelas, lá se conseguiam encostar os co-pos para que nas diversas mesas se brindasse...Depois de um agradável jantar... A “autorização” para a retirada das faixas e o mais esperado: poder ver realmente o que se comeu! Todos foram realmente surpreendidos! Em suma, uma nova expe-riência, também ela com carácter inclusivo! Terá sido a cereja no topo do Bolo WBT!

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Buprenorfina Azevedos MGTERAPÊUTICA DESUBSTITUIÇÃO OPIÁCEA MAIS ECONÓMICA.

NOVO

MSRM. Especial. Escalão de comparticipação C. RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DO MEDICAMENTO 1. NOME DO MEDICAMENTO Buprenorfina Azevedos 2 mg comprimidos sublinguais, Buprenorfina Azevedos 8 mg comprimidos sublinguais COMPOSIÇÃO QUALITATIVA E QUANTI-TATIVA Cada comprimido de Buprenorfina Azevedos 2 mg contém 2,16 mg de Cloridrato de buprenorfina equivalente a 2 mg de buprenorfina base. Cada comprimido de Buprenorfina Azevedos 8 mg contém 8,64 mg de Cloridrato de bu-prenorfina equivalente a 8 mg de buprenorfina base. Excipientes: Lactose mono-hidratada, manitol, amido de milho, povidona (Plasdone K29/32), ácido cítrico anidro, citrato de sódio, ácido ascórbico, EDTA e estearato de magnésio. FORMA FARMACÊUTICA: Comprimidos sublinguais. INFORMAÇÕES CLÍNICAS: Indicações terapêuticas: Tratamento de substituição em caso de toxicodependência major de opiáceos, no âmbito de um programa detalhado de acompanhamento terapêutico do ponto de vista médico, social e psicológico. Posologia e modo de administração: O tratamento destina-se a adultos e crianças a partir dos 15 anos de idade que acederam ao tratamento da sua toxicodependência. Ao instituir o tratamento com buprenorfina, o médico deverá ter presente o perfil agonista parcial da molécula para os receptores μ dos opiáceos, que pode precipitar uma síndrome de privação em doentes dependentes de opiáceos. O resul-tado do tratamento depende da posologia prescrita assim como do conjunto de medidas médicas, psicológicas, sociais e educacionais tomadas na monitorização do doente. A via de administração é sublingual: Os médicos devem advertir os doentes de que a via sublingual é a única via de administração eficaz e bem tolerada para a administração do medicamento. O comprimido deve ser mantido debaixo da língua até se dissolver, o que ocorre normalmente entre 5 a 10 minutos. Terapêutica de iniciação: a dose inicial varia entre 0,8 e 4 mg, administrada numa dose diária única. Toxicodependentes de opiáceos não submetidos a uma fase de privação: quando se inicia o tratamento, a dose de buprenorfina deve ser tomada, pelo menos 4 horas após o último consumo de opiáceo ou quando surgem os primeiros sintomas de privação. Doentes medicados com metadona: antes de iniciar a terapêutica com buprenorfina, deve reduzir-se a dose de metadona até um máximo de 30 mg/dia; contudo a buprenorfina pode precipitar uma síndrome de privação. Ajuste da posologia e manutenção: a posologia deve ser progressivamente aumentada, dependendo da necessidade de cada doente; a dose diária máxima não deve ser superior a 16 mg. A posologia é titulada de acordo com a reavaliação do estado clínico e situação global do doente. Recomenda-se uma prescrição diária de buprenorfina, particularmente durante a fase de iniciação. Em seguida, após estabilização, pode dar-se ao doente um quantidade de medicamento suficiente para vários dias de tratamento. Contudo, recomenda-se que a quantidade de medicamento dispensada se limite, no máximo, a 7 dias. Redução da posologia e suspensão do tratamento: após um período satisfatório de estabilização e se o doente concordar, a posologia de buprenorfina pode ser gradualmente reduzida; em alguns casos favoráveis, o tratamento pode ser interrompido. A disponibilidade dos comprimidos sublinguais nas doses de 0,4 mg, 3mg e 8 mg, respectivamente, permite efectuar uma titulação decrescente da posologia.Os doentes devem ser mantidos sob vigilância após a suspensão do tratamento com buprenorfina devido ao potencial de recaídas. Contra-indicações: Hipersensibilidade à buprenorfina ou a qualquer dos excipientes. Crianças com idade inferior a 15 anos. Insuficiência respiratória grave. Insuficiência hepática grave. Alcoolismo agudo ou delirium tremens. Efeitos indesejáveis: O aparecimento de efeitos secundários depende do limiar de tolerância do doente, que é mais elevado nos toxicodependentes do que na população em geral. O quadro 1 inclui efeitos indesejáveis durante os ensaios clínicos. Quadro 1: Efeitos Indesejáveis Relacionados com o Tratamento Notificados por Sistema Orgânico Muito frequentes (>1/10); Frequentes (> 1/100, <1/10); Pouco frequentes (>1/1.000, <1/100); Raros (>1/10.000, <1/1.000); Muito Raros (<1/10.000) incluindo notificações isoladas (CIOMS III) Perturbações do foro psiquiátrico Raras Alucinações Doenças do sistema nervoso Frequentes Insónia, cefaleias, desmaio, tonturas Vasculopatias Frequentes Hipotensão ortostática Doenças respiratórias, torácicas e do mediastino Raras Depressão respiratória Doenças gastrointestinais Frequentes Obstipação, náuseas, vómitos Perturbações gerais e alterações no local de administração Frequentes Astenia, sonolência, sudorese Outros efeitos indesejáveis notificados durante o período de pós-comercialização: Doenças do sistema imunitário Reacções de hipersensibilidade tais como rash, urticária, prurido, broncoespasmo, edema angioneurótico, choque anafilático. Afecções hepatobiliares: Em condições normais de utilização: raros aumentos das transaminases e hepatite ictérica que geralmente se resolvem favoravelmente Em caso de utilização incorrecta por via IV, hepatite aguda potencialmente grave Afecções dos tecidos cutâneos e subcutâneos: Em caso de utilização incorrecta por via IV: reacções locais, por vezes sépticas Em doentes que apresentam toxicodependência marcada, a administração inicial de buprenorfina pode provocar em efeito de privação semelhante ao associado à naloxona. INFORMAÇÕES ADICIONAIS DISPONÍVEIS A PEDIDO

Tratamento de substituição em caso de dependência de opiáceos

Disponível nas dosagens de 2mg e 8mg

Laboratórios Azevedos - Indústria Farmacêutica, S.A.Sede: Estrada Nacional 117 - 2, Alfragide, 2614-503 Amadora Serviços centrais: Estrada da Quinta, 148, Manique de Baixo, 2645-436 AlcabidecheTel.: 21 472 59 00 | Fax: 21 472 59 95 | E-mail: [email protected] Matrícula na C.R.C. da Amadora Contribuinte nº 507474287

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