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Rui Medeiros INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO (2007/2008) Parte I: Programa CAPÍTULO I A IDEIA DE DIREITO § 1º Considerações preliminares A ambiguidade da palavra direito e as suas diversas acepções. Principais questões que a discussão em torno da ideia de Direito traz à colação:

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  • Rui Medeiros

    INTRODUO AO ESTUDO DO DIREITO

    (2007/2008)

    Parte I: Programa

    CAPTULO I A IDEIA DE DIREITO

    1 Consideraes preliminares A ambiguidade da palavra direito e as suas diversas acepes.

    Principais questes que a discusso em torno da ideia de Direito traz colao:

  • Introduo ao estudo do Direito

    Como difere o Direito de ordens baseadas em ameaas e qual o papel que nele assume a coercibilidade?

    O direito um conjunto de ordens jurdicas dotadas de susceptveis sanes institucionalmente organizadas pelo Estado para fazer valer a imperatividade da norma, porventura, violada.

    O Estado possui meios de sano previstos juridicamente.

    Qual a relao entre Direito e Justia?

    Como se distingue o Direito da Moral?

    Critrio teleolgico (finalista): a regra moral visa a perfeio do prprio agente as normas jurdicas visam que a vida em sociedade seja justamente

    ordenada.

    Critrio do objecto: a moral tem por objecto todas as condutas do homem o Direito tem por objecto as condutas sociais. Os valores cuja a

    prossecuo visa so a justia e a segurana.

    Critrio de aco (formal)/sano: o Direito dotado de coercibilidade susceptvel.

    Contudo o Direito pode incorporar normas morais, mas este no se rege por um mnimo tico (impem normas que no so morais). O Direito apenas consagra/regulariza juridicamente ordens morais quando estas no se fecham no valor individual mas quando se aplicam num valor social. Mesmo que a maioritariamente a lei moral prevalea na sociedade, numa sociedade democrtica, livre e laica no havendo consenso no pode haver consagrao de normas morais como normas jurdicas.

    A moral intra-individual, dirige-se ao aperfeioamento do indivduo e no da organizao social. Todavia, esta acaba por se repercutir sobre a ordem social onde surge uma moral positiva, que representa um conjunto de regras morais que vigoram em cada indivduo e por relao na sociedade em geral, poiso aperfeioamento individual s pleno quando se realiza na participao social. Compem uma ordem moral social.

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  • Introduo ao estudo do Direito

    Quais as fronteiras entre o Direito e a Ordem do Trato Social?

    A ordem do trato social tem o mesmo sentido objectivo dum ser devido e por isso verdadeiramente uma ordem normativa. Difere da ordem jurdica pelo carcter necessariamente inorganizado da sua gnese, pela ausncia de coercibilidade organizada. As ordens do trato social bastam-se pela sua conformidade exterior e assim no se podem considerar como imperativas em contraposio s normas jurdicas que regem-se pelo princpio de imperatividade, onde a coercibilidade corolrio desta.

    2 Direito e Justia

    Donde vem o Direito? Porque que o direito obrigatrio?Resposta: duas posies filosficas tradicionalmente opostas: positivismo e

    naturalismo.

    2.1. PreliminaresDa caracterizao do Direito fundada exclusivamente num dever ser com

    efectiva vigncia ou eficcia social pretenso de um Direito Justo.

    A ordem jurdica integrada na ordem social, uma realidade normativa mas historicamente condicionada, em permanente evoluo.

    Justia do Direito e normas axiologicamente indiferentes.

    As pr-compreenses na definio da conexo entre Direito e Justia e a importncia, em especial numa poca, como a actual, caracterizada pelo pluralismo e marcada pela inexistncia de um consenso em matria de concepes filosficas, morais e religiosas, de a discusso em torno da definio do Direito ser feita de acordo com critrios cientficos e em termos que permitam controlar racionalmente as concluses alcanadas.

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  • Introduo ao estudo do Direito

    2.2. A controvrsia histrica e actual em torno da definio do Direito e do problema do Direito Injusto

    2.2.1. A afirmao da conexo essencial entre Direito e JustiaO pensamento filosfico grego e a viso dos juristas romanos clssicos. O

    problema da relao entre Direito e Justia na Idade Mdia. A viso do Direito Natural nesta perspectiva clssica (a universalidade, a imutabilidade e a cognoscibilidade).

    O Direito Natural moderno enquanto direito imanente ao homem e produto da razo humana. A expanso do contedo do Direito Natural abstracto e a-histrico. Do jusracionalismo ao iluminismo.

    2.2.2. A reivindicao da separao entre Direito e JustiaA gnese do positivismo factores que contriburam para o positivismo

    jurdico. O positivismo no releva apenas no campo do Direito. Sentido comum do positivismo jurdico: aplicado ao Direito, o positivismo

    ou, em rigor, os diferentes positivismos no nega que o sistema jurdico reflecte muitas vezes os valores e as aspiraes morais de uma determinada comunidade. O que no aceitam que exista uma conexo intrnseca entre o Direito e a Justia (SANTIAGO NINO, Introduccin, 16-18) ou, pelo menos, que se possa negar a validade do Direito Positivo por referncia a sua pretensa injustia. Da que a lei deva ser obedecida mesmo quando seja injusta (BIGOTTE CHORO, Introduo, I, 166).

    Mesmo no ps-guerra, as correntes positivistas subsistem, apresentando configuraes muito diversas. Algumas das respostas mais significativas, embora surjam no contexto anterior, perduram aps o final da segunda guerra mundial. Concretamente, neste momento, duas merecem ser destacadas: a teoria pura do Direito (de HANS KELSEN) e a viso marxista do Direito (ou o Direito como sinnimo de Injustia).

    2.2.3. O renascimento, sobretudo a partir dos finais da Segunda Guerra Mundial, do jusnaturalismo clssico

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  • Introduo ao estudo do Direito

    2.2.4. As terceiras via entre o Direito Natural e o PositivismoO constitucionalismo contemporneo como pretensa sntese moderna entre

    o positivismo legal e o jusnaturalismo. O perigo da criao de um neo-positivismo constitucional que, com base nessa concepo, acabe por reduzir todos os problemas da teoria constitucional a problemas ps-constitucionais.

    A universalizao dos direitos do homem, a sua integrao ao menos parcial no ius cogens e o reforo dos instrumentos de reaco internacionais como outras snteses felizes ainda que incompletas - entre o positivismo legal e o jusnaturalismo.

    O advento de novas concepes do Direito Natural e a apologia de uma terceira via entre o Direito Natural e o Positivismo. As teorias processuais da verdade ou da justia. O debate entre JOHN RAWLS e JRGEN HABERMAS. A tentativa de CASTANHEIRA NEVES de alicerar os fundamentos do direito e os decisivos critrios normativos num sistema de valores histrico e sociologicamente concreto ou no fundo tico da nossa cultura, neste nosso momento histrico.

    2.3. Princpios enformadores da Justia

    2.3.1. A natureza das coisas, a natureza do homem e a dignidade da pessoa humana enquanto base e critrio delimitador da lei natural

    Insuficincia de um genrico e vago apelo justia e necessidade de densificar o conceito de justia e os princpios de um Direito Justo que a lei positiva no pode contrariar e de esclarecer a forma como se articula nesse plano a justia com outros valores do Direito usualmente referidos.

    Dificuldade em fundar um Direito Natural na natureza das coisas ou na natureza humana.

    Importncia central enquanto base e critrio delimitador da lei natural - do princpio do respeito pela dignidade da pessoa humana.

    2.3.2. Introduo ao significado do princpio do respeito pela dignidade da pessoa humana

    2.3.3. O problema da historicidade dos princpios e das disposies que densificam o significado do princpio do respeito pela dignidade da pessoa humana

    Inadmissibilidade da compreenso do alcance da dignidade da pessoa humana em cada comunidade poltica historicamente situada de uma forma a-histrica.

    Possvel existncia de um contedo mnimo de concretizaes do princpio do respeito pela dignidade da pessoa humana que se mantm inalterado ao longo da histria ou que, uma vez reconhecidos pelos homens, se tornam definitivamente adquiridos.

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  • Introduo ao estudo do Direito

    2.3.4. A dignidade da pessoa humana entre o Direito e a MoralRelaes de interferncia entre Direito e a Moral.Limites absoro pelas regras jurdicas do contedo das regras morais

    numa sociedade aberta e laica em que se reconhece a liberdade de conscincia e a separao entre a Igreja e o Estado.

    2.3.5. Corolrios do respeito pela dignidade da pessoa humanaPrncipio da Dignidade Humana. (respeitado num tempo e espao)E um principio enformador do Direito e onde a prossecuo da Justia

    assenta.Este prncipio tem como pressupostos outros princpios que postula so

    eles a Igualdade (que subentende a Imparcialidade), a Liberdade (onde o homem tem direito a esta e a defender-se de agreses a este direito por defesa/resistncia, desde que no incorra em desobedincia lei), a Individualidade da pessoa humana, a Solidariedade/Alteridade, Segurana/Estabilidade.

    Em suma a inviolabilidade da vida/pessoa humana em respeito da sua Dignidade, estes prncipios devem refrear o direito positivo para que este no exceda os meios para alcanar a prossecuo da Justia, so os pilares do direito justo.

    Leituras Essenciais:OLIVEIRA ASCENSO, Introduo, 195-216; BIGOTTE CHORO, Introduo, I, 7-118 e

    137-179; GERMANO MARQUES DA SILVA, Introduo, 51-83 e 279-296.

    3 Direito, Sociedade e Estado

    3.1. A sociabilidade e a necessidade do Direito

    Direito como fenmeno humano e, mais concretamente, como fenmeno respeitante vida do homem em sociedade (ubi ius ibi societas).

    Direito como ordem necessria vida dos homens em sociedade (ubi societas ibi ius).

    3.2. O problema das funes do Direito

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  • Introduo ao estudo do Direito

    3.3. Direito, Estado e pluralismo jurdico

    O Estado como sociedade poltica por excelncia.

    As concepes que identificam o Direito com o Estado.

    Diferentes sentidos da afirmao da estadualidade do Direito: a ideia de que todo o Direito se caracteriza pela sua provenincia

    estadual;

    a ideia de que todo o Direito carece de ser reconhecido pelo Estado e de ser ele garantido atravs dos seus rgos de coaco.

    Rejeio da afirmao da estadualidade do Direito.

    Leituras Essenciais:OLIVEIRA ASCENSO, Introduo, 23-42 e 56-62; BAPTISTA MACHADO, Introduo, 50-

    54; INOCNCIO GALVO TELES, Introduo, I, 23-29, 32-49 e 55-58.

    4 Direito, Imperatividade, Coercibilidade e Tutela Jurdica

    4.1. Imperatividade A imperatividade da ordem jurdica.O artigo 6 do Cdigo Civil. A possvel relevncia, apesar do teor deste

    preceito legal, da ignorncia ou da m interpretao da lei.

    Art. 6 (ignorncia ou m interpretao das lei) A ignorncia ou m interpretao da lei no justifica a falta do seu cumprimento nem isenta as pessoas das sanes nela estabelecidas.

    A expresso imperatividade traduz a exigncia incondicionada ou categrica de aplicao, exprimindo assim a essncia dessa ordem. Imperatividade assenta num sentido de dever. A norma jurdica contm um comando, uma ordem, caracterstica da sua imperatividade. As normas jurdicas

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    so imperativas, comandam comportamentos humanos, mas so dirigidas a pessoas livres com faculdade de escolha, podem desobedecer. As normas, assim, so susceptvelmente violveis, e esta violabilidade uma caracterstica essencial da norma jurdica.

    4.2. CoercibilidadeConceito de coercibilidade e distino entre coercibilidade (coaco

    potencial) e coaco (coaco actual).

    Caracterstica essencial das normas jurdicas a sua violabilidade, ento se a norma no pode impedir a sua violao impem o seu cumprimento, ela estabelece sanes para quem as viola atravs de mecanismos para quem as viola e mecanismos que visam impedir a violao (coaco actual). Mas nem todas as normas jurdicas so susceptveis de coercibilidade (coaco potencial) por exemplo art. 402 ou 1895 do CC, estas normas no podem ser impostas pela fora ou aplicar sanes pelo seu incumprimento. Em geral a coercibilidade caracteriza a ordem jurdica mas nem todas as ordens so susceptveis de coercibilidade no sendo uma caracterstica essencialmente absoluta da norma jurdica.

    As concepes que consideram que constitui elemento determinante do conceito de Direito a existncia de uma instncia ainda que no jurisdicional - de coercibilidade.

    Posio adoptada. A importncia da vigncia ou eficcia social do Direito. A coercibilidade no , apesar de tudo, essencial ao Direito.

    A coercibilidade tem pertinncia por que os homens esto inclinados, por serem homens, violao do direito. O direito um fenmeno necessrio ordenao da sociedade mas no basta restringir-se a um dever ser, mas tem de ser, um dever ser efectivo, real e relevante para a ordenao efectiva da sociedade. aqui que reside a pertinncia fundamental da coercibilidade. O direito tem de ser um dever ser vigente e efectivo.

    A coercibilidade um mecanismo institucionalmente organizado de coaco, mas mais do que coercivo o direito tem de ser efectivo, o primado reside neste ltimo e esta efectividade alcanada no exclusivamente pela coercibilidade (exemplo da Constituio da RP).

    Essencial a efectividade do direito ou a sua plena vigncia social que pode ser obtida pela coercibilidade, no exclusivamente, pois h efectividade ou

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    plena vigncia sem coercibilidade desde que a sociedade ou a conscincia colectiva desta esteja enraizada na efectividade do Direito.

    4.3. Distino entre tutela pblica ou heterotutela e tutela privada ou autotutela

    O sistema de coercibilidade est organizado em: Tutela pblica Tutela privada: Acco directa (art. 336. Cc.); resistncia; legtima

    defesa (art. 337. Cc. 32. CP); estado de necessidade (art. 339. Cc.); direito de reteno.

    H primazia da tutela pblica sobre a tutela privada tendo em conta que esta s pode ser aplicada nos termos previstos na lei.

    A tutela coactiva do Direito como prerrogativa quase exclusiva dos rgos estaduais nos Estados Modernos.

    A tutela pblica atravs da Administrao: a chamada autotutela declarativa e, em especial, executiva (ou privilgio de execuo prvia).

    A tutela pblica atravs dos tribunais: a chamada tutela ou garantia judiciria. O artigo 2 do CPC. Os tribunais enquanto rgos de soberania a quem compete administrar a justia. A reserva de jurisdio.

    Processo declarativo e processo executivo.

    A organizao judiciria portuguesa.

    Excepes proibio de autodefesa: no plano constitucional (v.g. direito de resistncia a qualquer ordem que ofenda direitos, liberdades e garantias - artigo 21-, direito a no pagar impostos que no hajam sido criados nos termos da Constituio, que tenham natureza retroactiva ou cuja liquidao e cobrana se no faam nos termos da lei - n 3 do artigo 103-, cessao do dever de obedincia sempre que o cumprimento das ordens ou instrues implique a prtica de

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    qualquer crime - n 3 do artigo 271); no plano da legislao ordinria civil e penal (v.g. legtima defesa, estado de necessidade, aco directa).

    4.4. Meios de tutela jurdica Meios de tutela jurdica e sanes.

    As distines, grosso modo, essenciais a observar so duas quanto aos meios de tutela do Direito: heterotutela e autotutela, e tutela preventiva, repressiva e compulsiva.

    A tutela autotutela e heterotutela podem tambm designar-se tutela particular e tutela pblica, respectivamente.

    Mas nem sempre os termos correlacionam-se uniformemente, isto , tanto a tutela pblica pode ser autotutela como a tutela privada ser heterotutela.

    So casos raros, mas existem no primeiro caso quando um orgo do Estado impe sem recorrer aos tribunais um direito seu ( o caso do privilgio de execuo prvia da Administrao Pblica), no segundo caso quando um particular age em proteco de direitos de terceiros ( o caso de legtima defesa alheia).

    A Tutela preventiva ocorre sempre que o Estado se socorre de meios e orgos para prevenir a susceptibilidade de violao da norma ( o caso de autoridades pblicas), medidas de tutela preventiva so as penas acessrias que probem o exerccio de determinada profisso depois de condenado por determinado crime, as medidas de segurana aplicadas a inimputveis perigosos de potencial reincidncia criminal, tambm os procedimentos cautelares como a providncia cautelar de modo a assegurar a efectividade do direito em ameaa.

    Tutela compulsiva a medida empenhada em evitar que a violao da norma se prolongue e a correcta conduta omitida ou violada seja adoptada.( o caso do direito de reteno).

    A sano surge da previso de violao da norma que estatui uma regra sancionatria normativamente prevista.

    As sanes podem ser organizadas segundo um critrio de finalidade. Deste modo podemos classificar as sanes em cinco classificaes:

    Compulsria esta sano intenta a reposio da correcta conduta inobservada, sujeitando o violador a adoptar a conduta a observar. exemplo deste tipo de sano no domnio da auto-tutela o Direito de Reteno cf. Art. 754. Cc.

    Punitiva sano que instaura uma pena com o fim de repor a justia e penalizar o violador da conduta em reforo da imperatividade da norma/preceito violado.

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    Reconstitutiva restabeecimento do estado de coisas que se verificaria se no tivesse havido violao da norma cf. Art. 562. Cc. reparao in natura

    Compensatria indemnizao que compreende os bens infungveis e os lucros cessantes. Cf. art. 564. Cc.

    Preventiva sano que visa o impedimento da inobservncia da norma ou a sua reincidncia.

    Normas primrias ou ordenadoras versus normas secundrias ou sancionatrias. Sanes negativas e sanes positivas ou premiais. A classificao romanstica tradicional das normas com base no critrio da sano.

    A insatisfatria distino entre sanes subjectivas e objectivas.

    Sanes jurdicas: consequncia desfavorvel normativamente prevista em resposta a uma violao da norma, que confirma a imperatividade da lei.

    Sanes objectivas aco sobre o prprio acto; valor jurdico negativo do acto jurdico, quando este viola a lei e juridicamente desvalorizado: (sempre que um acto desconforme norma, traduzindo uma ineficcia em latu sensu)

    Inexistncia jurdica Invalidade: anulabilidade ex nunc; nulidade

    ex tunc negcio jurdico que est ferido por um vcio

    Ineficcia jurdica (strictu sensu) o negcio no ferido no seu efeito por um vcio, mas o efeito jurdico previsto no atingido

    Irregularidade: nesta sano no existe uma ineficcia em latu sensu, mas o negcio apesar de produzir efeito foi desconforme norma jurdica, o acto vlido mas necessita de ser sanado por uma sano subjectiva.

    Nas sanes objectivas ns analisamos o valor jurdico do acto final, o resultado do comportamento.

    Nas sanes subjectivos a relevncia dirigida para o modo do comportamento humano, a aco da sano dirige-se para o sujeito do acto. O sujeito responsabilizado por tipologias de tutela jurdica.

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    Tipologia dos meios de tutela jurdica: (em particular) a responsabilidade civil, a responsabilidade penal, a responsabilidade disciplinar a responsabilidade contra-ordenacional

    Bem como os valores jurdicos negativos dos actos jurdicos ilegtimos inexistncia

    invalidade nulidade e anulabilidade

    ineficcia dos actos jurdicos

    Leituras Essenciais:OLIVEIRA ASCENSO, Introduo, 43-48 e 62- 96; BAPTISTA MACHADO, Introduo,

    31-49 e 125-151; GERMANO MARQUES DA SILVA, Introduo, 216-243; INOCNCIO GALVO TELES, Introduo, I, 145-149, II, 27-65.

    5 Direito como realidade cultural: historicidade do Direito e sistemas jurdicos actuais

    Carcter cultural e histrico do Direito (remisso).Classificao dos sistemas jurdicos em grandes grupos ou famlias

    jurdicas. A contraposio fundamental - se bem que hoje atenuada - no mbito do sistema ocidental - entre os sistemas de civil law e os sistemas de common law.

    Leituras Essenciais:OLIVEIRA ASCENSO, Introduo, 152-160; BIGOTTE CHORO, Introduo, I, 179-181,

    183-184 e 186-195; INOCNCIO GALVO TELES, Introduo, II, 227-245.

    6 Consideraes conclusivas

    6.1. A tridimensionalidade do Direito

    O Direito assenta em trs pilares: Ordem normativa exprime dever ser, possuidor de uma dimenso

    normativa

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    Dever ser efectivo/vigente dimenso de efectividade e vigncia da norma jurdica em primazia coercibilidade testemunha da imperatividade da norma

    Dever ser axiologicamente comprometido a prossecuo do Direito visa a Justia, possuidor de uma dimenso valorativa.

    6.2. Direito e ordem do trato social

    6.3. Direito e ordem moral

    Leituras Essenciais:OLIVEIRA ASCENSO, Introduo, 29-31, 39-42 e 96-104; BIGOTTE CHORO,

    Introduo, I, 195-206; GERMANO MARQUES DA SILVA, Introduo, 35-51.

    CAPTULO II O DIREITO COMO CINCIA E AS DIFERENTES PERSPECTIVAS DE

    ABORDAGEM DO DIREITO

    1 Cincias que estudam o DireitoA pluralidade das cincias que estudam o Direito.

    Cincias que estudam o Direito e cincias auxiliares do Direito.

    A cincia que estuda o Direito s relevante quando emprega o mtodo jurdico, a abordagem segundo o mtodo jurdico a essncia do Direito. O que faz o Direito como cincia no o objecto mas o mtodo.

    2 A Cincia do Direito (em sentido estrito)Caracterizao da Cincia do Direito.A questo da admissibilidade ou no da qualificao da Cincia do Direito

    como verdadeira cincia.

    O Direito em funo da ordenao da vida humana em sociedade atravs de regras de conduta normativamente previstas uma cincia de dever ser, uma cincia normativa em virtude de um fim ou objectivo: a Justia.

    A cincia jurdica no realiza o Direito, mas descreve este sempre aos fins que lhe so prprios. Esta cincia do Direito pode denominar-se por Dogmtica Jurdica porque se trata de cincia das normas estabelecidas pelo legislador e que

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  • Introduo ao estudo do Direito

    constituem o dado primrio fundamental. Trata-se de cincia do dever ser, cujo objecto constitudo por normas que estabelecem um preceito e uma consequncia jurdica para a violao do preceito.

    Podemos estabelecer o Direito como cincia terica que visa conhecer os seus fins destinados por si mesma, mas numa outra abordagem como cincia prtica, no sentido de fornecer ao agente o conhecimento necessrio interpretao e aplicao das leis vida na sociedade.

    Leituras Essenciais:OLIVEIRA ASCENSO, O Direito, 105-114; BAPTISTA MACHADO, Introduo, 359-375;

    GERMANO MARQUES DA SILVA, Introduo, 16-21.

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  • Introduo ao estudo do Direito

    CAPTULO III O SISTEMA JURDICO

    1 Consideraes preliminaresSoluo do caso por vias normativas e por vias no normativas.

    O Direito confrontado por um caso procura lhe responder por intermdio de dois critrios ou vias: a via no-normativa e a via normativa.

    Como o Direito tem pretenso de racionalidade e objectividade a primeira a via a enveredar para a resoluo do caso a via normativa que pressupem um critrio material, isto , um critrio que extrado da lei, do preceito jurdico.

    O porqu do primeiro passo face resposta dever ser a via normativa encontra-se na dimenso que esta via incorpora e que dela se extrai: a via normativa sendo uma reposta que consensual, em termos gerais e abstractos, reflecte a sua dimenso democrtica; tambm proporciona ao agente que deambula na sua alada uma segurana jurdica graas sua objectividade, e possibilitando o prvio conhecimento da norma em resposta a um caso pela sua publicidade acessvel; e tambm pelo princpio de igualdade que ela tem dever de cumprir e d direito a quem por ela se rege.

    A via no-normativa pode ser enveredada ou justifica-se quando a teleologia que ela prossegue justamente a mesma que a via normativa, quando corresponde a um dever de Justia no caso concreto.

    Normas e fontes: As diferentes acepes de fontes do Direito e, em especial, o seu

    sentido tcnico-jurdico ou dogmtico

    Falando de Fontes do Direito podemos conotar vrios sentidos que so pertinentes quando correctamente contextualizados e interpretados:

    Sentido histrico: verbaliza os antecedentes histricos das normas jurdicas, as influncias histricas onde se enraza o Direito de um povo;

    Sentido instrumental: documentos que contm os preceitos;

    Sentido sociolgico/material: circunstancialismo social que provocou determinada norma. Acepo pouco aconselhvel, j que no h

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  • Introduo ao estudo do Direito

    derivao directa da norma a partir da circunstncia social, para este sentido podemos recorrer s expresses causas, antecedentes e occasio legis, reduzindo-se assim a equivocidade de fonte do direito;

    Sentido orgnico: so os rgos competentes para a produo de regras jurdicas;

    Sentido tcnico-jurdico ou dogmtico: modos de formao e revelao das regras jurdicas.

    Em sentido tcnico-jurdico as fontes do Direito so modos de formao e revelao de regras jurdicas.

    Fontes do Direito enquanto modos de formao e revelao das normas jurdicas

    Relao entre fontes do Direito e normas jurdicas.

    Leituras Essenciais:OLIVEIRA ASCENSO, O Direito, 50-56 e 243-254.

    2 Fontes do Direito

    2.1. Pluralidade das fontes e unidade do sistema normativoEvoluo das fontes. Actual pluralidade de fontes e multiplicao de

    centros de produo normativa.A unidade do sistema normativo e o papel da Constituio na converso da

    pluralidade de fontes num sistema jurdico unitrio, no s atravs do afastamento das contradies normativas (unidade formal), mas tambm mediante a reconduo do conjunto das fontes a alguns princpios fundamentais (unidade material).

    Critrios de superao das antinomias normativas: O princpio evolutivo (princpio lex posterior derogat priori)

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  • Introduo ao estudo do Direito

    O princpio da especialidade (concretizado, entre outros aspectos, no princpio lex posterior generalis non derogat priori speciali)

    A posio sistemtica (v.g. princpio da hierarquia, princpio da competncia e princpio da funo directiva)

    2.2. Modalidades das fontes do direito2.2.1. PreliminaresAs concepes que advogam que constitui fonte do Direito, tanto a lei ou o

    costume, como a deciso do tribunal, o acto administrativo ou o negcio jurdico. Posio adoptada.

    2.2.2. Introduo ao sistema das fontes do Direito no ordenamento jurdico portugus

    O princpio da relatividade das fontes do Direito. Os artigos 1 a 4 do Cdigo Civil e a necessidade da sua interpretao

    correctiva.

    Papel da equidade, da doutrina e da jurisprudncia na teoria das fontes do Direito.

    2.2.3. CostumeO costume enquanto fonte no intencional do Direito.

    Outra fonte do Direito o costume que se costuma definir como prtica social constante, acompanhada do sentimento ou convico da obrigatoriedade ou juridicidade desse comportamento por corresponder a uma norma jurdica.

    Elementos constitutivos do costume: uso ou prtica social reiterada e convico da obrigatoriedade ou, melhor, da juridicidade.

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  • Introduo ao estudo do Direito

    Rejeio de outros pretensos requisitos do costume: a exigncia do reconhecimento legal da relevncia do costume como fonte de Direito; a imposio da racionalidade do costume.

    Fundamento da relevncia do costume e controvrsia em torno da existncia ou no de uma exigncia de compatibilidade do costume com a lei.

    2.2.4. Fontes intencionais do Direito (unilaterais e convencionais)Fontes intencionais do Direito unilaterais (leis em sentido amplo) e

    convencionais. Enumerao das principais fontes intencionais do Direito no ordenamento

    jurdico portugus.

    2.3. Publicao, rectificao, entrada em vigor e cessao da vigncia das fontes do Direito

    Na feitura das leis processo legislativo podem distinguir-se quatro fases:

    a) Elaborao: o texto da lei elaborado desde a iniciativa legislativa, os competentes da iniciativa esto previstos no art. 167., n. 1, da CRP, so os Deputados, grupos parlamentares, Governo, grupos de cidados eleitores (35 000) e Assembleias Legislativas das regies autnomas. Nesta fase a iniciativa designa-se por projecto de lei ou proposta de lei quando a iniciativa parte do Governo ou Ass. Leg. reg, aut.. Esta ltima s pode estatuir sobre matrias concernentes s respectivas regies autnomas.A proposta ou projecto submetido a debate e votao e se aprovado nasce a lei (art. 168.), tradicionalmente denomina-se por decreto da Assembleia da Repblica, mas ainda no vincula os destinatrios, no norma jurdica.

    b) Promulgao: este o acto pelo qual o Presidente da Repblica atesta solenemente a existncia da lei e ordena que ela seja observada. a afirmao formal, categrica que o Presidente da Repblica faz de que a lei existe e tem valor jurdico. Vide arts. 134., al. B), e 136. CRP ordem presidencial para o cumprimento da lei.A falta de promulgao determina a inexistncia jurdica do acto (art. 137. CRP). necessria a referenda do Primeiro-Ministro (art. 140. CRP).

    c) Publicao: o meio de levar a lei ao conhecimento dos seus destinatrios, sob pena da lei no ser publicada sujeita-se perda da sua eficcia. O art. 119. disciplina os principais actos sujeitos a publicao no Jornal Oficial estatui no seu n. 2 que a falta de publicao desses actos e a de qualquer acto de contedo genrico dos rgos

    18

  • Introduo ao estudo do Direito

    de soberania, das regies autnomas e do poder local implica a sua ineficcia jurdica.Antes da sua publicao a lei, aps a promulgao, j existe juridicamente mas no tem valor prtico, ou seja, ainda no vigora, no tem vigncia ou efectividade.

    d) Entrada em vigor: aps a publicao, todos os requisitos para que a lei entre em vigor esto preenchidos, mas entre a publicao e a entrada em vigor h um lapso de tempo que se denomina de vacatio legis.A vigncia decorre segundo a Lei n. 42/2007, de 24 de Agosto, no seu art. 2., n. 1 e 2. Correlativamente direccionamos a questo da vigncia da lei para o art. 5. do Cc.No silncio da lei quanto ao dia da sua entrada em vigor, o art. 2. dispe supletivamente que entra em vigor no 5. dia aps a sua publicao.

    Publicao.

    Rectificaes.

    Entrada em vigor.

    Cessao ou termo de vigncia: significado.

    As leis so elaboradas para que tenham uma durao indefinida, e assim permanecem at que sejam suprimidas por outra lei.

    Todavia h leis que contm desde logo um fim temporal previsto, um limite sua vigncia e quando chega a esse termo a lei deixa de vigorar.

    Atenda-se que o desaparecimento dos motivos ou circunstncias que determinaram a sua criao (occasio legis) no afectam a vigncia da lei.

    As causas de cessao, em conformidade com o art. 7. do Cc, so a caducidade e revogao.

    a) Caducidade: neste termo de revogao a lei dita o limite temporal em que ela tem eficcia e vigncia jurdica. Este dito pode ser certo ou incerto, isto , o legislador pode fixar um prazo certo (um lapso

    19

  • Introduo ao estudo do Direito

    de tempo fixado na prpria lei) ou ento um prazo decorrente da extino de determinado facto ou acontecimento (so o caso de leis de emergncia [guerra, epidemia, crise]). Neste ltimo caso a lei cessar a sua vigncia quando se verificar, por quem de direito, autoridade administrativa, em regra, que a situao na lei como condio da sua vigncia cessou.

    b) Revogao: a revogao compreende no afastamento da lei em causa por outra lei de valor hierrquico igual ou superior.A revogao pode ser total ou parcial. revogao total chama-se abrogao, e revogao parcial da lei chama-se derrogao.H trs modalidades de revogao, o que dispe o n.2 do art. 7. do Cc:

    Revogao expressa: quando a prpria lei revogatria que identifica a lei revogada ou as disposies revogadas de determinada lei;

    Revogao tcita (por incompatibilidade): acontece quando as normas da lei posterior so incompatveis com as antecedentes. Neste caso prevalece a lei posterior, d-se preferncia que exprime a vontade mais recente do legislador;

    Revogao de sistema: ocorre quando a inteno do legislador a de que certo diploma passe a ser o nico e completo texto de regulamentao de certa matria.

    Modalidades de cessao da disposio legal: Declarao de inconstitucionalidade ou de ilegalidade com fora

    obrigatria geral - Costume contra legem quando o costume impe contra as

    disposies legais Caducidade decorre de um facto inerente prpria lei Revogao supe que h uma lei nova, uma lei posteriormente

    publicada, em situaes de dvida quanto ao critrio de publicao prevalece o critrio de aprovao mas s aplicado em situaes de fronteira.

    Leituras Essenciais:

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  • Introduo ao estudo do Direito

    OLIVEIRA ASCENSO, O Direito, 255-333 e 579-592; BAPTISTA MACHADO, Introduo, 153-171; GERMANO MARQUES DA SILVA, Introduo, 86-141; INOCNCIO GALVO TELES,

    Introduo, I, 61-145 e 149-152.

    3 Ramos do DireitoImportncia e relatividade do problema.

    A controvrsia tradicional em torno da distino entre Direito Pblico e Direito Privado.

    O Direito Pblico e o Direito Privado, podia ser distinguido segundo 3 grandes critrios:

    1. Critrio do interesse: que analisaria o Direito segundo um contedo, o Pblico visaria a satisfao de interesses pblicos e o Privado de interesses privados. obvio que este critrio insustentvel, porque no h uma fronteira ou limites que distingam, quase como que rupturalmente, estes interesses visados. Por este critrio a operao de distino ou determinao, que deve ser pragmtica para permitir o estudo em melhores condies do material jurdico, passa a estar dependente de difceis e arriscadas valoraes sobre o interesse de cada caso.

    2. Critrio da qualidade dos sujeitos: segundo este critrio o Pblico seria o direito que regulasse situaes em que interviesse o Estado ou outro qualquer agente pblico; Privado o que regulasse as situaes dos particulares. Todavia, sabemos que o Estado e demais agentes actuam muitas das vezes nos termos de como se privado se tratasse, o que nivela este critrio como insuficiente para determinar a categoria, se no mesmo insustentvel. A qualidade do sujeito actuante no satisfaz uma diviso ou distino de categoria.

    3. Critrio da posio dos sujeitos : derivado deste critrio o Direito Pblico o que constitui e organiza o Estado e outros agentes pblicos e regula a sua actividade como entidade dotada de ius imperii; Direito Privado o que regula as situaes em que os sujeitos esto em posio de paridade.

    Os critrios mais utilizados: Critrio da natureza (cogente ou dispositiva) das normas;

    21

  • Introduo ao estudo do Direito

    Critrio da natureza dos sujeitos da relao jurdica;

    Critrio teleolgico (do interesse ou do fim);

    Critrio da posio dos sujeitos na relao jurdica.

    Proposta de uma classificao mais complexa.

    Direito Pblico regula os interesses predominantes da sociedade, considerada como um todo. Nas relaes de Direito Pblico, o Estado participa como sujeito activo (titular do poder jurdico) ou como sujeito passivo (destinatrio do dever jurdico), mas sempre como rgo da sociedade e, portanto, sem perder a posio de supremacia ou poder de imprio. Exemplo: cobrana de impostos, aco criminal, matria constitucional etc.

    Direito Privado regula as relaes entre particulares. Nas relaes jurdicas de Direito Privado, o Estado pode participar como sujeito activo ou passivo, em regime de coordenao com os particulares, isto , dispensando sua supremacia ou poder de imprio. Exemplo: locao de bens, cobrana de dvidas, casamento etc.

    Na verdade, no existe uma diferena to rgida entre Direito Pblico e Privado. Entre os juristas que se dedicam ao tema h muita controvrsia sobre os critrios satisfatrios para se delimitar, com exactido as fronteiras entre esses dois ramos.

    De modo geral, podemos agrupar os principais ramos do Direito da seguinte maneira, com base na distino entre Direito Pblico e Privado:

    Noo geral dos ramos do Direito

    Direito Pblico

    Direito Constitucional - regula a estrutura bsica do Estado fixada na Constituio, que a Lei Suprema da Nao.

    Direito Administrativo - regula a organizao e funcionamento da Administrao Pblica e dos rgos que executam servios pblicos.

    Direito Penal - regula os crimes e contravenes, determinando as penas e medidas de segurana.

    Direito Tributrio ou Fiscal - o sector do Direito Financeiro que se ocupa dos tributos, como, por exemplo, os impostos e as taxas.

    Direito Processual - regula as actividades do Poder Judicirio e das partes em conflito no decorrer do processo judicial.

    22

  • Introduo ao estudo do Direito

    Direito Internacional Pblico - regula as relaes entre Estados, por meio de normas aceitas como obrigatrias pela comunidade internacional.

    Direito Privado

    Direito Civil - regula, de um modo geral, o Estado e a capacidade das pessoas e suas relaes no que se refere famlia, s coisas (bens), s obrigaes e sucesso patrimonial.

    Direito Comercial - regula a prtica de actos mercantis pelo comerciante e pelas sociedades comerciais.

    Direito do Trabalho - regula as relaes de trabalho entre empregado e empregador, preocupando-se, ainda, com a condio social dos trabalhadores.

    Direito do Consumidor - regula as relaes jurdicas de consumo entre fornecedor e consumidor.

    Direito Internacional Privado - regula os problemas particulares ocasionados pelo conflito de leis de diferentes pases.

    Leituras Essenciais:OLIVEIRA ASCENSO, O Direito, 333-362; BAPTISTA

    MACHADO, Introduo, 63-73; GERMANO MARQUES DA SILVA, Introduo, 143-157; INOCNCIO GALVO TELES,

    Introduo, I, 153-195.

    4 Codificao e tcnicas legislativasNoo e evoluo da Codificao.As diferentes tcnicas legislativas: em geral; conceitos indeterminados e

    clusulas gerais; princpios e disposies.

    Leituras Essenciais:OLIVEIRA ASCENSO, O Direito, 363-380; BAPTISTA

    MACHADO, Introduo, 99-120; GERMANO MARQUES DA SILVA, Introduo, 192-193; INOCNCIO GALVO TELES,

    Introduo, I, 197-233.

    5 A determinao da norma aplicvel e a sua aplicao ao caso concreto

    5.1. Preliminares

    Significado da interpretao.

    23

  • Introduo ao estudo do Direito

    A interpretao consiste na determinao do sentido e alcance da lei. Art. 9. Cc.

    Distino entre interpretao doutrinal e interpretao autntica.

    Interpretao Doutrinal: fixao do sentido e alcance da lei que corresponda ao pensamento legislativo por parte do intrprete.

    Interpretao Autntica: competncia do orgo de onde imana a lei para interpretar a mesma para lhe fixar o sentido e alcance atravs de uma nova lei (lei interpretativa).

    Relevncia dos preceitos legais sobre interpretao consagrados na parte introdutria do Cdigo Civil e, em especial, o problema da sua vinculatividade jurdica e a questo da sua aplicao em ramos do Direito em que a problemtica interpretativa assume contornos especficos.

    5.2. A questo metodolgica do DireitoImportncia do mtodo na Cincia do Direito e relevncia da questo

    metodolgica.A escola da exegese. A jurisprudncia dos conceitos.Da jurisprudncia dos conceitos jurisprudncia dos interesses e dos

    valores. As tendncias antilegalistas. Posio adoptada.

    5.3. A interpretao

    5.3.1. PreliminaresNa interpretao de um preceito legal ns temos como ponto de partida o

    sentido literal Letra da Lei procurando o que as palavras na correcta disposio significam.

    Mas a interpretao no fica fechada neste primeiro momento.No procedimento da interpretao avanamos para uma segundo momento

    de interpretao, a Ratio Legis, que traduz-se na razo da lei, a interpretao do pensamento legislativo, a razo de ser da lei.

    Na interpretao do pensamento legislativo vrios factores tm de ser considerados na interpretao: Art. 9. Cc.

    1. Contexto significativo da Lei2. Gnese e histria do preceito Ocassio Legis as

    teses historicistas so rejeitadas;

    24

  • Introduo ao estudo do Direito

    3. Sentido objectivo do preceito;4. Elemento sistemtico transcendente Lei lei

    integrada na unidade do sistema jurdico.

    Uma questo pertinente e sensvel, com vria divergncia doutrinria, que se levanta respeita ao modo no qual o sentido literal limite da interpretao, isto , quando a lei no s ponto de partida mas tambm fronteira limitadora de interpretao.

    Necessidade da interpretao.In claris non fit interpretatio, esta afirmao no verdade j que apesar de

    clara a lei pode representar num caso individual uma injustia que o intrprete deve evitar paraimpedir a contradio do Direito (ius contra ius).

    Ponto de partida da interpretao.A interpretao parte da norma mas tambm engloba o caso concreto

    individualizando a interpretao.Fonte e problema.Unidade da interpretao. Sentidos literais e pensamento legislativo. Os

    pseudo elementos da interpretao. As pr-compreenses do intrprete.

    Elementos de Interpretao5.3.2. Sentidos literais Letra da Lei Elemento gramatical

    5.3.3. Contexto significativo do preceito

    5.3.4. Gnese e histria do preceito Ocassio Legis (rejeio de teses historicistas)

    5.3.5. Teleologia objectiva do preceito

    5.3.6. Elemento sistemtico transcendente lei e, em especial, o princpio geral de interpretao conforme ao Direito superior

    5.3.7. Outras possveis regras interpretativas: o argumento de maioria de razo e o argumento a contrario

    5.3.8. Os resultados da interpretao.

    5.4. A integrao de lacunas

    25

  • Introduo ao estudo do Direito

    O art. 8. do Cc. Dispe que o tribunal no pode abster-se de julgar, invocando a falta ou obscuridade da lei.

    Verificando-se a falta da lei, o tribunal tem de julgar, ter de suprir a falta de norma, descobrir ou criar a norma aplicvel ao caso. Uma lacuna um caso jurdico a necessitar de disciplina jurdica e que no h norma que discipline o caso, um caso jurdico a necessitar de regulamentao jurdica.

    As razes que provocam a ocorrncia de lacuna so:

    a. Deficincia de previso impossvel prever todas as situaes vindouras, falhas de previso so frequentes;

    b. Inteno de no regular desde logo o legislador conscientemente opta por no regular certa matria, ou por se tratar de matria fluda/evoluo, ou por querer deixar aos rgos de aplicao do direito um espao livre para que estes contribuam pela integrao de lacunas, ou por falta de capacidade dos rgos legiferantes para um critrio de soluo adequada;

    c. Situaes novas/imperfectionis agnitio (agnio de imperfeio) o legislador apreende intelectualmente (toma conscincia) da incontinncia legislativa, face evoluo incessante quer dos destinatrios quer de novas matrias e a impossibilidade do casusmo da lei conduz o legislador a uma sempre inacabada ordem normativa.

    5.4.1. Integrao e interpretaoA superao actual de uma repartio rgida entre interpretao e

    integrao.

    A interpretao das fontes existentes como pressuposto da determinao de uma lacuna.

    Relevncia do princpio da igualdade, no apenas - a jusante (princpio/incio) - enquanto fundamento axiolgico-normativo da analogia, mas tambm - a montante (limite) - como critrio fundamental no prprio processo de determinao da lacuna.

    Importncia da interpretao no momento do preenchimento da lacuna.

    26

  • Introduo ao estudo do Direito

    5.4.2. Aproximao ao conceito de lacuna: lacuna como uma incompletude do sistema normativo que contraria (objectivamente) o plano deste

    5.4.3. Processos extra-sistemticos e intra-sistemticos de integrao de lacunas em geral

    O dever de integrao das lacunas (n 1 do artigo 8 do Cdigo Civil).Os processos extra-sistemticos de integrao (legislativos, discricionrios

    ou equitativos). Os processos intra-sistemticos de integrao.

    5.4.4. A analogia como processo intra-sistemtico de integrao de lacunas consagrado nos n 1 e 2 do artigo 10 do Cdigo Civil

    a) Preliminares. Fundamento da analogia. Pressupostos da analogia. Distino entre

    analogia da lei ou legis e analogia do direito ou iuris. b) Proibies do uso de analogia. Normas penais incriminadoras. Normas fiscais impositivas. Outras

    situaes bastante mais duvidosas: leis restritivas de direitos, liberdades e garantias; normas excepcionais (artigo 11 do Cdigo Civil).

    5.4.5. A integrao de lacunas, na falta de caso anlogo, com base na norma que o intrprete criaria se houvesse de legislar dentro do esprito do sistema (n 3 do artigo 10 do Cdigo Civil)

    5.5. A determinao do mbito espacial e temporal da norma5.5.1. Colocao do problema

    5.5.2. Breve referncia ao problema da aplicao da lei no espao

    5.5.3. A questo da aplicao da lei no tempoa) Soluo atravs do Direito Transitrio e soluo de acordo com os critrios

    gerais.b) O princpio da no retroactividade da lei. O princpio geral da no retroactividade enunciado no n 1 do artigo 12 do

    Cdigo Civil. As proibies constitucionais de retroactividade em matria penal (artigo

    29 da Constituio) e fiscal (n 3 do artigo 103 da Constituio), bem como no campo das leis restritivas de direitos, liberdades e garantias (n 3 do artigo 18 da Constituio).

    O princpio constitucional implcito de intangibilidade dos casos julgados. c) Concretizao do princpio da no retroactividade da lei.

    27

  • Introduo ao estudo do Direito

    As ambiguidades ou polissemias de retroactividade. Retroactividade e retrospectividade (eficcia imediata, quase-retroactividade ou simples retroactividade quanto a efeitos jurdicos).

    mbito de aplicao e sentido do n 2 do artigo 12 do Cdigo Civil.d) A admissibilidade de leis retroactivas: consideraes gerais; a retroactividade da

    lei interpretativa; a retroactividade da lei penal mais favorvel ao arguido.

    5.6. A aplicao da norma ao caso concreto

    Leituras Essenciais:OLIVEIRA ASCENSO, O Direito, 381-492, 545-578 e 593-6216;

    BAPTISTA MACHADO, Introduo, 173-272 e 307-332; CASTANHEIRA NEVES, Metodologia, 83-286; GERMANO

    MARQUES DA SILVA, Introduo, 159-176 e 246-278; INOCNCIO GALVO TELES, Introduo, I, 235-314, Introduo,

    II, 247-258.

    6 Conceito, estrutura, caracterizao e classificao das normas jurdicas

    6.1. PreliminaresA norma como critrio material de deciso de casos concretos.A distino, quanto estrutura da norma jurdica, entre previso

    (antecedente, factispcie, suposto de facto ou hiptese normativa) e estatuio (consequente, efeito ou consequncia jurdica). A funo essencialmente didctica ou explicativa desta partio.

    A dificuldade em considerar a generalidade e a abstraco como caractersticas essenciais das normas jurdicas.

    6.2. Principais classificaes das normas jurdicas

    Tipologia das normas: Imperativa (impem); cogente; injuntiva*: proibitiva, preceptiva

    - * So as que se aplicam haja ou no declarao de vontade dos sujeitos nesse sentido.

    Dispositiva* (dispem): interpretativa, permissiva, supletiva- * So as que s se aplicam se as partes suscitam ou no

    afastam a sua aplicao, tem como presuposto uma posio de vontade das partes

    28

  • Introduo ao estudo do Direito

    Multiplicidade de classificaes. Algumas classificaes importantes:

    - segundo o contedo da estatuio normativa, normas preceptivas ou impositivas, normas proibitivas e normas permissivas;

    normas preceptivas/impositivas so as que impem uma conduta.

    normas proibitivas so as que vedam condutas. normas permissivas so as que permitem certa conduta.

    - com base no critrio da relao da norma com a vontade dos destinatrios, normas injuntivas ou cogentes e normas dispositivas;

    - atendendo s relaes das normas entre si, normas gerais, normas especiais (em sentido estrito) e normas excepcionais;

    normas gerais normas especiais normas excepcionais (argumento a contrario)

    - em funo do seu carcter inovador, normas inovadoras e normas interpretativas

    normas inovadoras a que altera de algum modo a ordem jurdica preexistente: inova.

    normas interpretativas a que se limita a fixar o sentido juridicamente relevante de uma declarao preceptiva j produzida ou futura.

    - quanto funo das normas, normas primrias e normas secundrias de reconhecimento, alterao e julgamento.

    Leituras Essenciais:OLIVEIRA ASCENSO, O Direito, 493-538; BAPTISTA MACHADO, Introduo, 79-86, 93-

    98 e 113-120; GERMANO MARQUES DA SILVA, Introduo, 177-193; INOCNCIO GALVO TELES, Introduo, II, 131-148.

    CAPTULO IV AS PESSOAS E AS SITUAES JURDICAS

    1 As pessoas

    1.1. Preliminares

    29

  • Introduo ao estudo do Direito

    A centralidade do conceito de pessoa no mundo do Direito.

    Pessoa, personalidade jurdica, capacidade de gozo e capacidade de exerccio.

    Personalidade jurdica a susceptibilidade de ser titular de direitos e obrigaes.

    Pessoa jurdica todo o ente a quem o direito atribui personalidade jurdica, centro de imputao de efeitos jurdicos.

    Capacidade de gozo a medida de direitos e obrigaes de que pessoa per si susceptvel de ser titular.

    Capacidade de exerccio a medida de direitos e obrigaes que a pessoa pode exercer ou cumprir por si, pessoal e livremente.

    Pessoas singulares e pessoas colectivas.

    Pessoa Singular corresponde sempre a uma pessoa jurdica que tambm pessoa humana e Pessoa Colectiva organizao destinada prossecuo de interesses colectivos a qe a ordem jurdica atribui personalidade.

    1.2. Pessoas singularesRejeio de um conceito meramente formal de pessoa humana.Comeo da personalidade jurdica (art. 66. n. 1 Cc.) e a controvrsia em

    torno do estatuto jurdico dos nascituros.A extino da personalidade jurdica. (Art. 68. n. 1 Cc.)Capacidade de gozo e capacidade de exerccio das pessoas singulares. As

    situaes tpicas de incapacidade (menores, interditos e inabilitados, situaes de falncia, estrangeiros e aptridas).

    1.3. Pessoas colectivasFundamento e significado da personalidade jurdica colectiva e estrutura

    da pessoa colectivaAs pessoas colectivas so uma ampliao dos meios de actuao para

    potenciar o desenvolvimento humano na vida de relao, pelo que conveniente conceb-las como titulares de direitos e sujeitos a deveres, sem esquecer que no passam de mera tcnica de servir o prprio homem.

    Distino entre pessoas colectivas de Direito Pblico e pessoas colectivas de Direito Privado

    Principais espcies de pessoas colectivas de direito privado e de pessoas colectivas de direito pblico

    30

  • Introduo ao estudo do Direito

    Pessoas colectivas de Direito Privado: Associaes (sem fim lucrativo) Sociedades (com fim lucrativo) Fundaes (sem fim luvrativo [conforme o fundador])

    Pessoas colectivas de Direito Privado: Estado Regies Autnomas Autarquias:

    - Municpios- Freguesias

    Associaes pblicas Institutos Pblicos Empresas Pblicas

    2 Situaes jurdicas e relaes jurdicas

    2.1. PreliminaresA figura central da situao jurdica.A situao jurdica a posio (status) em que um sujeito jurdico se acha

    perante o direito (os seus direitos e deveres). Exemplo de uma situao jurdica a situao do estar casado que fruto de um facto jurdico o casamento.

    Um facto jurdico pode suscitar efeito jurdicos que constituam, modifiquem ou extinguam uma situao jurdica.

    Relao jurdica a relao da vida social disciplinada pelo Direito, ou melhor, o enlace normativo entre um direito e um dever.

    Relevncia, tanto no Direito Privado, como no prprio Direito Administrativo e Fiscal, da teoria da relao jurdica.

    2.2. Situaes jurdicas activas e passivasO direito subjectivo e outras situaes jurdicas activas.

    Numa relao jurdica h sempre duas partes que se denominam de sujeitos da relao. O Sujeito sujeito passivo quando titular do direito, sujeito activo quando est adstrito a um dever.

    Esa relao jurdica tem pertinncia porque tem um objecto imediato que a estrutura ou contedo da relao jurdica, e um objecto mediato que o bem de que a relao se ocupa. Por exemplo num arrendamento o objecto imediato o dever do senhorio arrendar a casa e do inquilino lhe exigir a casa, o objecto mediato a prpria casa.

    As situaes jurdicas passivas.

    31

  • Introduo ao estudo do Direito

    3 Os factos jurdicos enquanto fontes das situaes jurdicasA distino entre factos jurdicos stricto sensu e actos jurdicosOs actos jurdicos e, em especial, no Direito Privado, os negcios jurdicos

    e, no Direito Administrativo, os regulamentos, os actos administrativos e os contratos administrativos

    Leituras Essenciais:BIGOTTE CHORO, Introduo, II, 1-81; BAPTISTA MACHADO, Introduo, 80-90;

    GERMANO MARQUES DA SILVA, Introduo, 195-214; INOCNCIO GALVO TELES, Introduo, II, 149-226.

    32

  • Introduo ao estudo do Direito

    Parte II: Bibliografia portuguesa especialmente

    recomendada

    OLIVEIRA ASCENSO, O Direito. Introduo e Teoria Geral, 13 ed., Almedina,

    Coimbra, 2005.

    FERNANDO JOS BRONZE, Lies de Introduo ao Direito, 2 ed., Coimbra Editora,

    Coimbra, 2006.

    BIGOTTE CHORO, Introduo ao Direito - vol. I (O Conceito de Direito, Almedina,

    Coimbra, 1989); vol. II (A relao Jurdica, Lisboa, 1999); vol. III (A norma

    jurdica, Lisboa, 1999).

    BAPTISTA MACHADO, Introduo ao Direito e ao Discurso Legitimador, Almedina,

    Coimbra, 1983.

    CASTANHEIRA NEVES, Metodologia jurdica Problemas fundamentais, Coimbra

    Editora, Coimbra, 1993.

    GERMANO MARQUES DA SILVA, Introduo ao estudo do Direito, UCE, Lisboa, 2007.

    INOCNCIO GALVO TELLES, Introduo ao estudo do Direito, I, 11 ed., II, 10 ed.,

    Coimbra Editora, Coimbra, 1999 e 2000.

    33

  • Introduo ao estudo do Direito

    Parte III: Regime de Avaliao

    1. As aulas tericas so aulas participadas, sendo complementadas por aulas prticas.

    2. O ensino presencial, perdendo a frequncia os estudantes que faltem, nos termos gerais, a mais de um tero das aulas.

    3. A avaliao contnua exigente, dependendo uma classificao positiva no final do semestre de uma participao activa e com qualidade durante todo o semestre.

    4. A avaliao contnua toma fundamentalmente em linha de considerao a participao nas aulas, quer tericas quer prticas, designadamente atravs da resoluo de casos prticos, da anlise de acrdos ou da discusso oral de temas.

    5. No haver teste escrito (sem prejuzo da realizao de hipteses resolvidas).

    6. Nos exames finais admitida a consulta de legislao, bibliografia, apontamentos das aulas e jurisprudncia.

    34

    Leituras Essenciais:As diferentes tcnicas legislativas: em geral; conceitos indeterminados e clusulas gerais; princpios e disposies.