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IGEPRI Monografias Políticas Públicas nos anos 90: um Panorama sobre o Incentivo ao Setor Tecnológico no Brasil durante o Primeiro Mandato de FHC (1995-1998) Bárbara Regina Vieira Lopes Volume 3 | Ano 1 | 2011

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IGEPRIMonografias

Políticas Públicas nos anos 90: um Panorama sobre o Incentivo ao Setor Tecnológico no Brasil durante o Primeiro Mandato de

FHC (1995-1998)

Bárbara Regina Vieira Lopes

Volume 3 | Ano 1 | 2011

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Lopes, Bárbara Regina Vieira.L864p Políticas públicas dos anos 90: um panorama sobre o incentivo ao setor tecnológico no Brasil durante o primeiro mandato de FHC (1995-1998) / Bárbara Regina Vieira Lopes. – Marília, 2011. 124 f. ; 30 cm.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Relações Internacionais) – Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, 2011. Orientador: Francisco Luiz Corsi. 1. Globalização. 2. Neoliberalismo. 3. Políticas públicas. 4. Desenvolvimento tecnológico. 5. Tecnologia da informação. 6. Brasil – Política e governo. 7. Brasil. Presidente (1995-1998: Fernando Henrique Cardoso). I. Autor. II. Título. CDD 338.981

Nota: Todo conteúdo publicado pela Monografias Igepri é de total responsabilidade de seu(s) autor (es). As opiniões expressadas nesse caderno não repre-sentam as opiniões do periódico, nem do Conselho Editorial e nem dos órgãos filiados a este caderno.

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Monografias IGEPRI é uma publicação bimestral do Instituto

de Gestão Pública e Relações Internacionais (IGEPRI). Sua

missão é servir de espaço alternativo à publicação de pes-

quisas científicas elaboradas por jovens acadêmicos dedi-

cados ao estudo e ao debate de temas relativos à Gestão

Pública e às Relações Internacionais no Brasil e no mundo.

Com potencial de influenciar e intervir no processo decisório

governamental nas suas diversas esferas, contribuindo com

novas propostas para a elaboração de políticas públicas,

efetivação de controle social, suporte à advocacia de idéias

e a busca de transparência no trato dos assuntos públicos.

Luis Antônio Francisco de Souza (UNESP – Marília)

Luis Francisco Corsi (UNESP – Marília)

Marcelo Fernandes de Oliveira (UNESP – Marília) – Editor

Marcelo Passini Mariano (UNESP – Franca)

Miriam Cláudia Simoneti Lourenção (UNESP – Marília)

Tullo Vigevani (UNESP – Marília)

Cristina Soreanu Pecequilo (UNIFESP - Osasco)

Heloísa Pait (UNESP – Marília)

Janina Onuki (USP – Instituto de Relações Internacionais)

José Blanes Sala (UFABC)

Karina Lilia Pasquarielo Mariano (UNESP – Araraquara)

Lidia Maria Vianna Possas (UNESP – Marília)

Conselho Editorial

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UNESP - Universidade Estadual Paulista

Bárbara Regina Vieira Lopes

POLÍTICAS PÚBLICAS DOS ANOS 90: UM PANORAMA SOBRE O INCENTIVO AO SETOR TECNOLÓGICO NO BRASIL DURANTE O

PRIMEIRO MANDATO DE FHC (1995-1998)

MARÍLIA - SP

2011

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UNESP - Universidade Estadual Paulista

Bárbara Regina Vieira Lopes

POLÍTICAS PÚBLICAS DOS ANOS 90: UM PANORAMA SOBRE O INCENTIVO AO SETOR TECNOLÓGICO NO BRASIL DURANTE O

PRIMEIRO MANDATO DE FHC (1995-1998)

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Conselho de Curso de Relações Internacionais da Faculdade de Filosofia e Ciências, da Universidade Estadual Paulista- UNESP – como parte dos requisitos para a obtenção do título de bacharel em Relações Internacionais, sob orientação do Professor Doutor Francisco Luiz Corsi. Área de Concentração: Política Externa

BANCA EXAMINADORA

Orientador: ______________________________________________________ Prof. Dr. Francisco Luiz Corsi (Orientador)

Departamento de Ciências Políticas e Econômicas – FFC – UNESP/Marília 2º Examinador: ___________________________________________________

Prof. Dr. Marcelo Fernandes de Oliveira Departamento de Ciências Políticas e Econômicas – FFC – UNESP/Marília

3º Examinador: ___________________________________________________

Prof. Dr. Luis Antonio Paulino Departamento de Ciências Políticas e Econômicas – FFC – UNESP/Marília

Marília, 28 de junho de 2011

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Lopes, Bárbara Regina Vieira.

L864p Políticas públicas dos anos 90: um panorama sobre o incentivo ao setor tecnológico no Brasil durante o primeiro mandato de FHC (1995-1998) / Bárbara Regina Vieira Lopes. – Marília, 2011.

124 f. ; 30 cm.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Relações Internacionais) – Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, 2011.

Orientador: Francisco Luiz Corsi.

1. Globalização. 2. Neoliberalismo. 3. Políticas públicas. 4.

Desenvolvimento tecnológico. 5. Tecnologia da informação. 6. Brasil – Política e governo. 7. Brasil. Presidente (1995-1998: Fernando Henrique Cardoso). I. Autor. II. Título.

CDD 338.981

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Aos meus pais, Renato e Sylvia, pelo amor, por todo o esforço e pela apreciável compreensão em todos os caminhos e

escolhas, mesmo que difíceis e longos.

Barbara Regina Vieira Lopes

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AGRADECIMENTOS

Ao CNPq (agosto 2010/outubro 2010) e à FAPESP (novembro 2010/outubro

2011), pelo suporte financeiro e credibilidade confiada ao projeto de Iniciação

Científica, que permitiu meu desenvolvimento intelectual e, posteriormente, a

elaboração deste trabalho.

Agradeço especialmente ao professor Francisco Luiz Corsi, por ter aceitado a

orientação desta Iniciação Científica que originou esta monografia. Agradeço a coragem

ao orientar-me neste projeto. Sabíamos desde o início que seria um desafio, já que é

pouco estudado no país, contudo, com todo zelo e paciência orientou-me. Agradeço,

sobretudo, pelo incentivo ao desenvolvimento e finalização deste e dos demais projetos.

Ao professor Marcelo Fernandes de Oliveira. Para mim foi um grande

conselheiro sobre inúmeros temas, principalmente, sobre a área acadêmica e os desafios

e inflexões do futebol.

À professora Cristina Soreanu Pecequilo, por mostrar á seus alunos a

importância da pesquisa e do empenho. Agradeço pelo incentivo e liderança.

Ao professor Luis Antonio Paulino, por ser tão zeloso com seus alunos e por

dividir seu vasto conhecimento. Agradeço, sobretudo, sua participação em minha banca.

Aos professores Rafael Salatini de Almeida e Angelita Matos Souza que

dividiram seus respectivos conhecimentos e, desta forma, ajudaram-me a compreender a

“doce complexidade” das Ciências Sociais em nosso curso.

Ao meu pai-herói, Renato Vieira Lopes, que tanto se empenhou em me ajudar, e

torceu pela finalização de todos os meus projetos realizados até esta data. Por seus

ensinamentos cívicos, críticos e de boa fé para com o outro. Pelo batalhado esforço e

incentivo para que pudéssemos trazer o diploma de volta pra casa, juntamente, com

minha amada mãe, Sylvia Regina Valto Braz Lopes, quem me ensinou a não desistir.

Pelo amor, paciência e elegância que conduziu os momentos difíceis.

Á minha linda e divertida irmã, Maria Clara, por sempre acreditar em mim.

Aos meus amados avôs, Maria Vieira Lopes (que não pôde esperar), Arlindo e

Dirce Braz, exemplos de vida e de conduta que me esforço em seguir.

Á jovem e promissora internacionalista, Camilla Silva Geraldello, que tem sido

“uma irmã mais nova”, sua maturidade e liderança são apreciáveis. Agradeço pela

amizade, companheirismo e incentivo aos meus projetos.

Políticas Públicas nos anos 90: um Panorama sobre o Incentivo no Setor Tecnológico...

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À Jane Angélica Gulielmitti pela amizade e afetuoso companheirismo em todas

as horas e ocasiões. Uma irmã!Sempre compreensiva e zelosa. Tenho certeza que

estudos sobre a Palestina estarão muito bem representados.

Á Hevellyn Menezes Albres pela amizade e companheirismo. Estudiosa, é um

exemplo acadêmico a ser seguido, seu nome estampará grandes pesquisas.

Á Marina Camarinha, Vanessa Aparecida, Julia Figueiredo, Jéssica Rabelo,

Andressa Roberta, Irís Rabelo Nunes. Amigas muito queridas das Ciências Sociais e

Relações Internacionais que sempre estiveram dispostas a partilhar inúmeros momentos,

sobretudo, pela amizade sincera oferecida.

Aos demais amigos da V turma de Relações Internacionais da UNESP/Marília,

pelo agradável convívio e inúmeros momentos divertidos. Também, aos professores da

Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP/Marília pelos ensinamentos.

E por fim, á minha linda e pequena Camila Leal Scherer, por me ensinar á amar,

amando. Pela compreensão, dedicação imensurável á nós e, sobretudo, ao incentivo

carinhoso em todos os momentos difíceis e fáceis que atravessei até hoje.

Barbara Regina Vieira Lopes

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RESUMO

Considerada a real importância do fator tecnologia como uma das bases condutoras

de inserção mundial de um país, este projeto visa analisar as políticas públicas de

incentivo ao ramo de Ciência e Tecnologia de Informação (C&T.I) durante o

primeiro Governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-1998). Procuraremos

discutir em que medida o Governo FHC, ao buscar uma nova inserção da Economia

brasileira na Economia mundial, procurou implantar uma política de

desenvolvimento tecnológico por meio da produção nacional de C&T.I.

Discutiremos as políticas públicas para este setor e quais foram seus principais

obstáculos, nos anos 90.

PALAVRAS-CHAVE: Globalização. Neoliberalismo. Políticas Públicas.

Desenvolvimento. Tecnologia de Informação.

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ABSTRACT

Considered the real importance of technology as a factor of conductive bases worldwide

insertion of a country, this project aims to analyze public policies to encourage the

business of Information Science and Technology (S & T.I) during the first government

of Fernando Henrique Cardoso (1995-1998). We discuss to what extent the FHC

government, by seeking a new insertion of the Brazilian economy in the world

economy, sought to implement a policy of technological development by means of the

national S & T.I. Discuss public policy in this area and what were your main obstacles

in the 90s.

Key-words: Globalization. Neoliberalism. Public Policy. Development. Information

Technology.

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SUMÁRIO Introdução........................................................................................................................11

Primeiro Capítulo

A crise de Bretton Woods e seus efeitos (1970-1990)

1.1 Um panorama sobre a crise do sistema capitalista.................................................................14 1.2 A reorganização do sistema e a ascensão da agenda neoliberal nos anos 80........................18 1.3 O significado da Globalização tecnológica............................................................................22 1.4 A América Latina durante a década perdida (1980-1990).....................................................27

Segundo Capítulo PNDs, “autonomia nacional” e os fracassados planos de combate á inflação

(1973 -1992)

2.1 Linhas Gerais: O “Milagre econômico” (1973).....................................................................33 2.2 II PND: Intervenção estatal na questão tecnológica...............................................................36 2.3 A busca pela autonomia nacional na década de 70 e a lei da informática na década de 80...42 2.4 A Lei do Software (1987): Breve apresentação.....................................................................49 2.5 Anos 80-90: Década perdida para o Brasil – Estagnação político-econômica.......................52 2.6 O lacônico Governo Collor (1989-1992): Prelúdio Neoliberal..............................................56 2.7 A Nova lei de informática (1991)...........................................................................................59

Terceiro Capítulo Anos 90: Neoliberalismo e desenvolvimento tecnológico?(1992-1995)

3.1 Era Itamar Franco (1992-1994): O eficaz Plano Real de FHC..............................................66 3.2 Ruptura político Econômica nos Governos Collor e Itamar: O Brasil adere ao Neoliberalismo.............................................................................................................................73 3.3 Considerações sobre a continuidade e descontinuidades da Política de desenvolvimento tecnológico no Brasil (1980-1995)...............................................................................................79

Quarto Capítulo

Estratégias para o desenvolvimento de C&T.I (1995-1998)

4.1. Primeiro mandato de FHC (1995-1998)................................................................................90 4.2 Os ganhos e conseqüências do Plano: Um Balanço...............................................................94 4.3 Estratégias de Desenvolvimento de FHC e a questão tecnológica........................................98

Considerações Finais.....................................................................................................103 Referências....................................................................................................................110 Anexos...........................................................................................................................113

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Num tempo, página infeliz da nossa história. Passagem desbotada na memória das nossas novas gerações.

Dormia a nossa pátria mãe tão distraída, sem perceber que era subtraída em tenebrosas transações.

Seus filhos erravam cegos pelo continente. Levavam pedras feito penitentes, erguendo estranhas catedrais.

E um dia, afinal, tinham o direito a uma alegria fugaz, uma ofegante epidemia. Que se chamava Carnaval, o Carnaval, o Carnaval.

Chico Buarque, 1984

Barbara Regina Vieira Lopes

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INTRODUÇÃO

Esta monografia é resultado do relatório parcial apresentado à Fapesp1 em maio

deste ano. Em sua gênese, este trabalho procurou debater o mesmo tema, porém,

periodizado na “Era Cardoso” (1995-2002).

Ultrapassaríamos os limites da presente monografia se discutíssemos,

detalhadamente, seus dois mandatos, por isso, procuramos de uma maneira objetiva,

contudo, bem articulada e rica em seus principais números e análises, debatermos

apenas o período 1995-1998.

A razão acadêmica para focarmos o primeiro mandato e não a “Era Cardoso”

(1995-2002) como um todo, encontra-se na linearidade de FHC em manter uma

determinada estratégia tecnológica em seus dois mandatos. Uma das diferenças que

encontramos em relação aos dois períodos está concentrada em suas políticas

macroeconômicas, excluindo o meio tecnológico de seu Governo.

Além disso, as conjunturas externas (como a abertura dos mercados na periferia

do sistema e o otimismo gerado pelo fim da Guerra-Fria) e a estabilização da Economia

brasileira foram alguns dos pilares de sua política comercial e, consequentemente, do

aumento de nossa vulnerabilidade externa, por isso, o primeiro mandato para nós é de

fundamental importância.

Este corresponde apenas ao primeiro mandato; sua fundamentação teórica,

obrigatoriamente, necessitou: De uma discussão dos cenários da década de 80, uma

compreensão das políticas do início dos anos 90 e, entendermos, quais foram os seus

maiores obstáculos, para a afirmação das políticas de FHC.

Nossa metodologia buscou contextualizar os antecedentes (internacional e

nacional), para que pudéssemos compreender, em quais contextos foram tomadas

medidas que proporcionaram nosso debate. Dividimos essa monografia em quatro

partes.

A primeira parte nos remete à crise do sistema internacional nos anos de 1970.

Esta crise global afetou tanto os países centrais, como os periféricos. Nesta seção,

apresentamos algumas das origens do fim do Sistema Bretton Woods e seus efeitos nos

países centrais, principalmente, nos periféricos, com o foco na América Latina. Neste

contexto, discutimos a busca pela reorganização do Sistema Internacional com a

1 Processo 2010/12330-7.

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alternativa neoliberal que, juntamente, com a globalização tecnológica, tornou-se um

dos principais instrumentos para a reestruturação da economia capitalista.

A Segunda parte nos dá o cenário pelo qual passou a economia brasileira entre

1970-1993. Analisamos desde a época do “Milagre econômico” e o otimismo dos

anseios de “Brasil potência”, até o Governo Itamar Franco, quando a economia beirava

a hiperinflação (95% ao mês), antes da inserção do Plano Real na Economia. Neste

período, consideráveis tentativas de redefinição da política industrial brasileira foram

criadas, no que se refere ao âmbito tecnológico, porém, mantiveram seus insucessos por

diversos fatores, os quais foram, cuidadosamente, analisados.

A terceira parte retrata o Brasil, economicamente, estabilizado. As medidas

tomadas para essa conquista, as etapas, e por fim, um balanço de ganhos e perdas que

comprometeram ou impulsionaram a economia do país com a inserção do Plano Real na

Economia brasileira. Com FHC empossado, uma inflação de 3% a.m e uma moeda

estabilizada, nós apresentamos algumas considerações sobre a continuidade e

descontinuidades da Política de desenvolvimento tecnológico no Brasil (1980-1995).

A quarta parte discute qual foi a estratégia de Governo de FHC para a definição

de uma política industrial (de C&T.I) mais competitiva e agressiva, em relação á

inserção brasileira na arena internacional. Se havia alguma Política Tecnológica, como

esta foi elaborada? Quais foram seus obstáculos e seus resultados? E por fim,

apresentamos, ao término desta seção nossas conclusões acerca deste tema.

A quinta parte apresenta nossas conclusões, encerrando esta monografia.

Barbara Regina Vieira Lopes

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Primeiro Capítulo

A crise internacional e seus efeitos

(1970-1990)

A história dos vinte anos após 1973 é a de um mundo que perdeu suas referências e resvalou para a instabilidade e a crise. E, no entanto, até a década de 1980 não estava claro como as fundações da Era de Ouro haviam desmoronado irrecuperavelmente.2 (HOBSBAWM, 1994, p. 15-393).

2 HOBSBAWM, Eric. A Era dos extremos: O breve século XX 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

Políticas Públicas nos anos 90: um Panorama sobre o Incentivo no Setor Tecnológico...

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1.1 UM PANORAMA SOBRE A CRISE DO SISTEMA CAPITALISTA

Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a configuração da nova Ordem

político-econômica internacional, trouxe uma época de intensa prosperidade ás

economias capitalista. Muitos autores conceituados, como Hirst e Thompson (1998),

denominam o período de 1945-1973 de “boom do capitalismo”; Hobsbawn (1992), de

“idade de ouro do capitalismo”; e Chesnais (1996), dos “trinta anos gloriosos do

capitalismo”.

Este momento também foi marcado pela disputa de duas diferentes potências

globais: Estados Unidos (EUA) versus União das Repúblicas Socialistas Soviéticas

(URSS). Estas potências possuíam dois distintos projetos que pleiteavam entre si, a

hegemonia do sistema mundial, no conflito conhecido como Guerra Fria (1945 - 1989).

Tal duelo apresentava um mundo dividido entre duas ideologias: O capitalismo

e o socialismo, respectivamente. Esta disputa baseava-se em diferentes modos de

produção e comportamentos Estatais.

Em meio a este cenário, emergia no sistema global, outros atores, tais como, as

Organizações Multilaterais, que acirravam o debate destas duas forças. Um dos

objetivos centrais dessas Organizações era coordenar o diálogo internacional. Para esta

melhor coordenação (e regulamentação econômica) entre os países, criou-se o Sistema

Bretton Woods3, que pleiteava promover um melhor funcionamento das relações

econômicas entre os Estados do Bloco Ocidental.

Para seus autores, Bretton Woods tinha o propósito de reconstruir a Ordem

Econômica internacional, pois, temia-se que a desorganização econômica decorrente do

período de guerra levasse as nações a novos conflitos.

Desta forma, era de vital importância que fosse criada uma instituição que

contribuísse para a estabilidade econômica mundial. As reformas ali debatidas deveriam

promover a expansão do comércio entre as nações e colocar seu desenvolvimento a

salvo de agitações financeiras, ou seja:

3 A fim de reconstruir o sistema capitalista no Pós-segunda Guerra, os 55 países aliados reuniram-se nas Conferências de Bretton Woods (julho, 1944), em New Hampshire (EUA), onde foi definido o Sistema Bretton Woods de gerenciamento econômico internacional, propondo regras para as relações comerciais e financeiras entre os países capitalistas. O mundo acabava de sair de uma Grande Guerra, a Europa estava destruída, e os EUA ainda sentiam os efeitos da Grande Depressão (1929). Após muitas discussões na conferência, e posições de distintos projetos – de um lado o inglês Keynes e do outro, o americano White – as propostas de origem norte-americana prevaleceram, no final da Conferência, o clima de otimismo e esperança dominou as discussões acerca do assunto, e por trás de tais sentimentos, os resultados das disputas entre os diferentes projetos demonstraram, claramente, a hegemonia norte-americana na Nova Ordem ali estabelecida.

Barbara Regina Vieira Lopes

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Tratava-se, também, de erigir um ambiente econômico internacional destinado a propiciar um amplo raio de manobra para as políticas nacionais de desenvolvimento, industrialização e progresso social. (BELLUZZO, 2005, p. 226).

Contudo, a fase áurea do capitalismo, como todo ciclo econômico, não

permaneceu ascendente por muito tempo. Ao final dos anos 60, os múltiplos fatores que

colocariam em xeque a estabilidade do Sistema Internacional já poderiam ser sentidos.

Tais determinantes – a concorrência internacional, a crise energética, a industrialização

da periferia, os movimentos de contestação social, a perda dos lucros sob o modo de

regulação fordista, entre outros – originariam uma crise estrutural na Ordem vigente.

A concorrência Internacional japonesa e de um seleto grupo de países europeus,

principalmente, a produção alemã, afetou diretamente a Economia estadunidense.

Paralelamente, a URSS, nos campos político e militar faria frente ao modelo liderado

pela nação norte-americana.

Beluzzo (2005, p. 227, grifos nossos) ressalta que:

A rápida recuperação das economias européias e o espetacular crescimento do Japão foram causas importantes do progressivo desgaste das regras monetárias e cambiais concertadas em Bretton Woods. A concorrência comercial das renovadas economias industrializadas da Europa e do Japão e o fluxo continuado de investimentos americanos diretos para o resto do mundo, além dos gastos da Guerra Fria, determinaram desde o final dos anos 1950, a ampliação do déficit do balanço de pagamentos americano e a acumulação de dólares nos bancos centrais da Europa e do Japão.

A invasão de produtos japoneses e europeus (de boa qualidade e de baixos

custos) na economia americana demonstrou uma alta capacidade econômica e produtiva

destes países, acirrando o aumento da concorrência internacional.

Além de haver esta concorrência, no campo econômico; na esfera ideológica, os

EUA estavam no ápice do confronto da Guerra Fria quando se iniciou a Guerra do

Vietnã (1959-1975). Uma possível vitória sobre os vietnamitas provocaria sua máxima

expressão sobre os demais países no sistema internacional, principalmente, sobre a

URSS. Entretanto, a derrota estadunidense colocou em dúvida a posição hegemônica

norte americana.

Paralelamente, temos a crise energética manifestada pelas crises do petróleo de

1973 e 1979. Tais conjunturas fizeram com que seus patamares de preços aumentassem

de uma maneira significativa, colocando em risco o abastecimento da fonte primária de

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energia da produção capitalista. O impacto do aumento dos preços e da falta de

abastecimento atingiu todos os países, principalmente, os EUA.

Agravando a situação de desgaste político-econômico, eclodiam os

“movimentos de contestação social”, tais como: o de cunho sindical, que pleiteava o

aumento salarial, impedindo que os grandes capitalistas recompusessem a lucratividade

por meio do arrocho salarial; e os de cunho “anticapitalistas”, que por meio do cenário

de instabilidade e crises, abriram-se precedentes para diversos tipos de reivindicações.

Movimentos alternativos a esquerda tradicional floresciam nos países europeus; era um

momento de luta pelo interesse das minorias específicas4.

Como destaca Fiori (1999, p. 34-38 apud CORSI, 2002, p. 15):

Na periferia, os EUA foram derrotados no Vietnã e os movimentos nacionalistas e de esquerda pareciam tomar conta da região. Os produtores de petróleo, como desdobramento da Guerra do Yom Kippur, impuseram um choque nos preços do produto, eliminando um dos pilares que sustentaram a fase áurea de crescimento econômico capitalista.

A partir destas determinantes, podemos concluir que a década de 70 foi marcada pelo

esgotamento de um longo ciclo de prosperidade do capitalismo. Como enfatizou

Carneiro (2002, p. 48):

Os principais indicadores econômicos revelam a exaustão do dinamismo desse padrão pela desaceleração do crescimento do produto nos principais países industrializados, pela conseqüente perda de dinamismo do comércio mundial e pelo aumento da inflação, simultaneamente á elevação das taxas de juros.

Tabela 1 – Indicadores da Economia Mundial de 1950-1980 (% a.a)

Indicadores 1950-60 1960-70 1970-80

4 A década de 1960 foi marcada por grandes acontecimentos, que culminaram em movimentos de caráter revolucionário de contestação da Ordem social, econômica e política vigente. Neste contexto, podemos ressaltar: O assassinato de Martin Luther King, em 4 de abril de 1968, que reascendeu o debate étnico nos EUA; os protestos, sobretudo, estudantis, contra a Guerra do Vietnã e regimes autoritários; os movimentos nacionalistas e, por fim, feministas, que enfatizava a igualdade de gênero.Como citado por Corsi (2002, p. 15), “entre meados dos anos 1960 e meados dos anos 1970, aprofundou-se o conflito social na Europa, com o avanço das forças de esquerda. Os EUA também foram varridos por fortes movimentos de contestação social. Florescia uma cultura anticapitalista. Surgiram vários movimentos sociais setoriais, alternativos aos burocratizados movimentos da esquerda tradicional, que lutavam pelos interesses de minorias específicas”. Contudo, mesmo que alguns movimentos setoriais, como o movimento feminista, tivessem alcançado expressivas vitórias, Corsi (2002) ressalta que “no embate com os trabalhadores, dadas as circunstâncias sociais, políticas, culturais e econômicas do momento, os setores capitalistas acabaram levando a melhor e fizeram prevalecer os seus interesses. Os grandes capitalistas, associados principalmente aos governos conservadores dos EUA, da Grã-Bretanha e da Alemanha, buscaram reorganizar o sistema para enfrentar a contestação social, o avanço do socialismo soviético e a crise econômica”.

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PIB Total 4,2 5,3 3,6 Comércio mundial ¹ 6,5 8,3 5,2

Taxas de juros (Longo Prazo)² Nominais 3,7 5,1 8,2

Reais 1,2 2,4 0,3 Índice de Preços (IPC)² 2,5 2,7 7,9

Fontes: Maddison (1989), World Bank (1991) e Unctad (1993) apud Konzul Wright (1997) para PIB e Comécio; Homer & Sylla (1191), apud Ciocca & Nardozzi (1996) para Juros e Preços. (1) Exportações; (2) Medias ponderadas para Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e França Apud Carneiro 2002, p.48; A crise estrutural do capitalismo nos anos 70 foi fruto da sobreposição de várias

crises, a saber: A crise de produção, a crise energética, a crise do sistema financeiro

internacional e paralelamente a estas, houve em certos aspectos, uma crise de

hegemonia americana por conta da situação delicada por qual passava sua Economia e

moeda, além da surpreendente derrota na Guerra do Vietnã, como anteriormente

mencionado.

Todos estes elementos citados demonstraram que o fim da “Era de prosperidade

do capitalismo” havia chegado. É neste contexto que reascendia o debate sobre a ordem

econômica, e como ela deveria ser conduzida.

Dada as circunstâncias (políticas, econômicas, sociais e culturais), os setores

capitalistas necessitavam reorganizar o Sistema; os Estados de maior poder na arena

internacional, principalmente, os Estados Unidos, a Grã Bretanha e a Alemanha,

tentaram conter tanto o avanço do socialismo russo, como a crise econômica, por meio

da única alternativa passível de execução: A refundação da base do sistema produtivo

capitalista. O neoliberalismo era uma alternativa a ser aplicada.

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1.2 A REORGANIZAÇÃO DO SISTEMA E A ASCENSÃO DA AGENDA NEOLIBERAL

“A liberação financeira é algo como o fogo. É bom ter, mas você pode queimar toda a sua casa”.

Jagdish Bhagwaiti – Ex-diretor do Gatt

Para enfrentar o problemático cenário dos anos 70, houve uma mudança de

postura dos EUA. Para alguns autores, as transformações propostas pela nação

hegemônica para reestruturar o sistema acarretaram, entre muitos elementos, no início

ou na aceleração do processo de globalização. Segundo outros, a nova postura adotada

mudaria as estruturas política e econômica das economias nacionais, resultando em uma

nova concepção de economia internacional, causada pela Globalização.

Como explicou Corsi e Alves (2002, p. 8):

A globalização, como nova fase do capital, é resultado tanto da tendência à internacionalização do capitalismo, quanto da crise estrutural do capital, aberta no final dos anos 1960, marcada por intensa luta de classes. A resposta que o capital deu ao avanço do socialismo, à crítica da cultura burguesa, à redução das taxas de lucro, à crise da hegemonia norte-americana, e ao avanço das forças de esquerda no centro e na periferia do sistema, geraram as condições para um complexo de reestruturações em várias dimensões – produtivas, econômico-financeira, política e inclusive, cultural – que desembocaram na mundialização do capital.

O fenômeno da globalização nas últimas três décadas foi determinado pelas

políticas de liberalização e desregulamentação que foram incorporadas as Economias

centrais e periféricas, que teve como marco, a eleição de Margareth Thatcher em 1979

na Inglaterra e, posteriormente, coligada pelo republicano Ronald Reagan, nos Estados

Unidos, em 1981.

Como cita Pires (2010, p. 223):

As idéias que inspiraram os conservadores britânicos são aquelas das conhecidas escolas “Austríacas” e de “Chicago”, cujos maiores expoentes foram Friedrich A. Hayek e Milton Friedman. De forma geral, as idéias por eles preconizadas defendiam o extremo laissez-

faire. Friedman (1985), em Capitalismo e liberdade, defendia o completo afastamento do Estado da esfera econômica também da assistência social. Era contrário ao Imposto progressivo, ao imposto sobre as sociedades anônimas, a educação e a previdência pública, à regulamentação governamental, ás empresas públicas, aos parques nacionais etc. O Estado deveria preocupar-se apenas com a defesa nacional e em garantir o direito de propriedade e o cumprimento dos contratos.

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Para Chesnais (1996), a “Mundialização do Capital”, é uma forma de

organização da Economia Internacional, que tem como uma das principais

características, novas formas de atuação nas empresas industriais e dos grupos

financeiros. Estas transformações são, sobretudo, facilitadas ou resultantes de

mudanças no pensamento político, organização do Estado Nacional e de

reestruturação produtiva:

A expressão “mundialização do capital” é a que corresponde mais exatamente à substituição do termo inglês “globalização”, que se traduz a capacidade estratégica de todo grande grupo oligopolista, voltado para a produção manufatureira ou para as principais atividades de serviços, de adotar por conta própria, um enfoque de condutas “globais”. (CHESNAIS, 1996, p. 17).

A globalização econômica assume feições neoliberais, e de acordo com

Chesnais (1996, p. 29) ela inclui também a globalização financeira, “que não pode ser

abstraída da lista de forças às quais deve ser imposta a adaptação (ou ajuste estrutural)

dos mais fracos e desguarnecidos” Como citado por Chesnais (1996, p. 26)

A globalização mudou a importância relativa dos fatores causadores de interdependência. A internacionalização é dominada pelo investimento internacional do que pelo comércio exterior e, portanto molda as estruturas que predominam na produção e no intercâmbio de bens e serviços. Os fluxos de intercâmbio intracorporativo adquiriram importância cada vez maior.

Paul Singer (2002, apud GONÇALVES, 2003, p. 32) ressalta que o sistema

financeiro movimentaria bilhões de dólares, diariamente, e esta maior volatilidade dos

capitais internacionais aumentaria, substancialmente, os riscos de crises econômicas:

A liberalização e a desregulamentação representam maior liberdade para os fluxos internacionais de capitais. Isso, juntamente com os novos instrumentos financeiros e as inovações tecnológicas, tem significado maior volatilidade dos fluxos financeiros internacionais.

Não existe uma definição única deste processo que contenha toda a abrangência

do fenômeno. Há inúmeras tentativas de definições a partir de autores já citados. Ainda,

segundo outros, como Robert Solomon (2001, p. 11) diz que tal “conceito são apenas

transações internacionais crescentes de todos os tipos. Tal revolução da informação fez

do mundo um lugar menor”, ou até mesmo para Hirst e Thompson (1998, p. 20),

afirmam que “a Globalização é mito conveniente a um mundo sem ilusões, mas também

é um mundo que rouba a esperança”.

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Como se vê, há diversas opiniões que contribuem para grandes debates sobre o

tema. Uma das poucas semelhanças vista nos autores citados por este trabalho está na

concepção de mudanças em todas as esferas da economia e da política mundial. Tais

transformações são encontradas nas relações comerciais, políticas, interpessoais e

financeiras entre as diversas nações e sociedades.

Torna-se claro que a partir destas modificações, foi reestruturada a imagem

clássica do Estado-Nação. Sua principal função era de ser o único detentor do controle

das relações econômicas, políticas e interpessoais da sociedade dentro de seu território.

Com o processo de globalização essas funções foram transferidas, em parte, para

diversos atores, como agências reguladoras, Organizações e Associações Institucionais.

Podemos indicar quatro fatores fundamentais que influenciaram, fortemente, a

expansão ou o crescimento do fenômeno globalização. O primeiro: A crise do Estado de

bem-estar nas nações capitalista centrais e a ascensão do expoente político neoliberal

traduzido pelos governos de Margareth Thatcher, a “dama de ferro”, na Inglaterra em

1979 e de Ronald Reagan nos EUA durante a “Era Reagan” (1981-1989).

Segundo: Na dissociação da União Soviética (URSS), o fim do Regime

socialista promoveu uma grande expansão da alternativa Liberal. Muitos autores, entre

eles, Francis Fukuyama (1992) apontavam o “Fim da História”5, ou seja, os

acontecimentos políticos indicavam que o Capitalismo havia vencido e, desta forma,

seria o único sistema econômico vigente da nova Ordem mundial.

Os Terceiro e Quarto fatores estão coligados, são eles a “Revolução Científica

Tecnológica” (RCT) e processo de reestruturação produtiva. Estes dois fatores

foram relevantes para o fim da União Soviética, já que a corrida tecnológica (espacial e

armamentista) e a promoção da vanguarda de produtos de alto nível industrial

estadunidenses fizeram com que a URSS não conseguisse acompanhar tal corrida. Desta

forma, seu nível competitivo foi se enfraquecendo no sistema bipolar.

A queda do Socialismo foi, simbolicamente, a expressão máxima do fim de tal

sistema. Os EUA passaram a ocupar o topo da liderança do Sistema Internacional. Tal

5 Francis Fukuyama (1952 - ) é um célebre cientista político americano que, com enorme convicção, anunciou o fim da história em um ensaio publicado pela revista National Interest,em 1989.Com o fim da URSS e dos regimes comunistas da União Soviética e do Leste Europeu, o autor comemorava a suposta vitória final da ordem liberal do ocidente, desta forma, era o fim do embate ideológico da Guerra Fria.Com o fim do debate ideológico, só haveria espaço para a expansão dos mercados sob as regras da livre-concorrência.Para mais detalhes acerca desta questão, ver FUKUYAMA, Francis.O fim da história e o último homem.Rio de Janeiro: Rocco, 1992.

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vitória seria vista como uma prova do sucesso do sistema capitalista, cuja influência as

economias do terceiro mundo seria imensurável.

Como veremos na sessão seguinte, a revolução tecnológica (principalmente, na

área da informática), permitiria o acesso rápido, fácil e de baixo custo a qualquer tipo de

informação. Tal informação, associada à cultura norte-americana seria um dos triunfos

do “poder brando6” dos EUA.

E por fim, as reestruturações produtivas, organizacionais e empresariais

aplicadas em inúmeras empresas espalhadas pelo mundo mudariam a lógica da

produção, tornando-a menos custosa (inclusive, com menos gastos sociais), e com altos

índices de produtividade (por meio da eficiência da robotização e modernização dos

insumos).

Baseada nesta conjuntura, a intensificação do processo de globalização,

juntamente, com as inovações tecnológicas seriam reguladas pela agenda neoliberal,

que surgia com força na segunda metade dos anos 80.

Esta agenda surgia como uma opção política palpável, principalmente, para os

países subdesenvolvidos, interessados em alianças econômicas e militares, por meio da

“política de salvaguarda”, para suas respectivas economias em crise. A fim de diminuir

seus altos déficits internos e externos, os países periféricos foram levados pela “onda

liberal” ao reformarem seus sistemas político e econômico.

6 De acordo com o renomado autor estadunidense Joseph S. Nye Jr. o poder de uma potência é entendido como a capacidade de obter os resultados desejados freqüentemente vem associada à posse de quantidades relativamente grandes de elementos tais como: população, território, recursos naturais, vigor econômico, força militar e estabilidade política. O poder brando é um meio indireto para se induzir o poder. Na política mundial, é possível que o país obtenha os resultados que quer porque os outros desejam acompanhá-lo, admirando os seus valores, imitando-lhe o exemplo, aspirando ao seu nível de prosperidade e liberdade. Desta forma o uso da tecnologia seria usado para a difusão da cultura de valores e comportamento norte-americano Ver, NYE JR. O Paradoxo do poder Americano. São Paulo: Unesp, 2002.

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1.3 O SIGNIFICADO DA GLOBALIZAÇÃO TECNOLÓGICA

“A globalização opera em benefício dos que comandam a vanguarda tecnológica e exploram os desníveis de desenvolvimento entre os países”.

Celso Furtado, 20027.

Alguns autores, como Reinaldo Gonçalves (2003), explicam que a Globalização

econômica é sustentada por quatro pilares: Comercial, Produtiva, Tecnológica e

Financeira:

A dimensão comercial expressa o comércio internacional de bens e serviços. A dimensão produtiva refere-se às operações de empresas transacionais que controlam subsidiarias e filiais em outros países. A dimensão tecnológica envolve, em grande medida, a transparência de know how ou diretos de propriedade por intermédio de relações contratuais. A dimensão financeira abrange os fluxos internacionais de capital de empréstimos, financiamento e investimento externo indireto [ou de portfólio]. (GONÇALVES, 2003, p. 25, grifos nossos).

Para Gonçalves, a esfera tecnológica é uma das principais determinantes da

globalização. Nessa nova fase do capital, cada vez que a produção supera a absorção de

bens e serviços por parte dos consumidores, a saída escolhida pelos capitalistas é, em

geral, norteada pela chamada “saída shumpeteriana8”.

De acordo com Schumpeter (1961), criador da teoria, os produtores promovem

uma “Nova onda tecnológica”, que destrói a estrutura antiga e introduz novas formas de

montagem e produtos, com o intuito de promover a expansão da empresa. Desta forma,

a empresa capitalista sempre teria lucros, e sobreviveria á competitividade da livre

concorrência. Tal fenômeno é intitulado “destruição criadora”9.

7 Celso Furtado, Em busca de um novo modelo: reflexões sobre a crise contemporânea. São Paulo: Paz e Terra, 2002, p. 42. 8 Joseph Schumpeter nos diz que a introdução de uma inovação no sistema econômico é chamada por ele de “ato empreendedor”, realizada pelo “empresário empreendedor”, visando a obtenção de um lucro. O lucro é o motor de toda a atividade empreendedora, segundo o autor, o qual, trata o lucro não como a simples remuneração do capital investido, mas como o “lucro extraordinário”, isto é, o lucro acima da média exigida pelo mercado para que haja novos investimentos e transferências de capitais entre diferentes setores. 9 Como citado por Schumpeter (1984, p. 112-113), “o processo de mutação industrial – se me permite o uso do termo biológico - que incessantemente revoluciona a estrutura econômica a partir de dentro, destruindo a velha, incessantemente criando uma nova. Esse processo de Destruição Criativa é o fato essencial a cerca do capitalismo. É nisso que consiste o capitalismo e é aí que têm de viver todas as empresas capitalistas”.

Para mais detalhes acerca desta questão, ver SCHUMPETER, Joseph. Capitalismo, Socialismo e Democracia. Rio de Janeiro: Ed. Zahar, 1984, Cap.7, p. 112-113.

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Esta “destruição” tem como objetivo atualizar e modernizar bens e serviço. Com

esta modernização haverá tanto o escoamento da produção, a fim de satisfazer os novos

desejos dos consumidores; como, por outro lado, os empreendedores obterão um lucro

acima da média para novos investimentos. Alguns autores ressaltam que uma das

principais razões que contribuíram diretamente para a crise internacional, teria sido a

falta de inovações tecnológicas. Como citado por Carneiro (2002, p. 49, grifos nossos):

Para Fajnzylber (1983) e Teixeira (1993), o período marcado pelo fim de Bretton Woods, está fortemente ligado pelo esgotamento de onda de inovações, em cujo dinamismo assentou-se o crescimento das economias capitalista no pós-guerra.

Desta maneira, a partir das transformações propostas pelos EUA para a

reestruturação do Sistema Capitalista nas décadas de 70 e 80, os países centrais10

comandaram o processo da vanguarda tecnológica.

Houve um investimento de centenas de bilhões de dólares11 por parte das

potências capitalistas para que elas pudessem estar à frente das inovações tecnológicas.

Em linhas gerais, a RCT transformou-se em peça chave para que estes países se

mantivessem no núcleo da esfera produtiva do Sistema.

Como ressalta Chesnais (1996, p. 141):

Os grandes grupos industriais mundiais têm, invariavelmente, despesas muito elevadas de P&D. A tecnologia é uma dimensão central de sua atuação internacional. É também um dos campos determinantes onde se entrelaçam as relações de cooperação e concorrência entre rivais.

Com as reformas (neo) liberalizantes a partir do projeto “Guerra nas Estrelas”12

ou Iniciativa de Defesa Estratégica (IDE) da Era Reagan, as transformações

tecnológicas – principalmente, das áreas de microeletrônica, informática e

telecomunicações – passaram a ter uma importância crucial na busca pela liderança

mundial.

10 Chamamos atenção para alguns países periféricos, como: Índia, China e Coréia do Sul, que por meio de políticas de incentivos, em diversos setores estratégicos de suas respectivas economias, assim como os países do Centro, estes também tiveram uma inserção expressiva no Sistema Internacional (CANUTO, 1994). 11 Em 1988, os países da OCDE gastaram um total de cerca de 285 bilhões de dólares, (225 bilhões em 1985) em P&D.Desse total, os EUA corresponderam por quase metade (138 bilhões de dólares, ou seja, 48,$%), os países da CEE por pouco mais de um quarto (27,7%), o Japão por 17,9% (51 bilhões de dólares) e o conjunto dos demais países, apenas 6%. 12 O projeto Guerra nas Estrelas, criado pelo governo do presidente Ronald Reagan em 1984, – consumiu quase 100 bilhões de dólares –, e previa criar um escudo para identificar e destruir (no ar) mísseis nucleares que viessem a serem lançados pela União Soviética (SCHELP, 2005).

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De acordo com Chesnais (1996), a liderança produtiva estaria sob a égide das

inovações:

As transformações advindas, desde fins da década de 70, nas relações entre a ciência, a tecnologia e a atividade industrial fizeram da tecnologia um fator de competitividade, muitas vezes decisivo, cujas características afetam praticamente todo o sistema industrial (entendido em sentido amplo, e portanto abrangendo parte dos serviços). (...) Paralelamente, todas as tecnologias críticas contemporâneas caracterizam-se por sua alta capacidade de difusão intersetorial. Elas oferecem a oportunidade de renovar a concepção de muitos produtos e de inventar novos. Mais importante ainda: exigem a transformação dos processos dominantes de fabricação, bem como das técnicas de gestão, em todo o sistema industrial. (CHESNAIS, 1996, p. 142, grifos nossos).

A preocupação com o desenvolvimento econômico associado ao progresso

tecnológico tornou-se um dos principais instrumentos de inserção ativa de um país nas

relações político-econômicas contemporâneas.

Com o aumento da competitividade entre os países, à medida que estes se

equiparam com modernos aparatos produtivos, o meio técnico-científico passa a atuar

em todas as esferas da Economia, principalmente, o setor produtivo-comercial, sendo

este um fator vital para a manutenção do crescimento. Desta forma, a importância do

meio científico-tecnológico tomará proporções imensuráveis.

Como resume Moreira (1997), sob o contexto da onda neoliberal, os países que

almejassem um crescimento expressivo nas relações internacionais, teriam que

introduzir em suas respectivas políticas domésticas tal agenda. Para tanto, os esforços de

alguns Estados, para esta aplicação foram ousados e intensos:

[...] Os pontos de mudanças foram: reorganização da divisão do

trabalho, fator imprescindível para a compreensão do capitalismo em

escala mundial, o que manifestaria, sobretudo, a crescente

concorrência internacional, pois, para retomar o crescimento é

preciso competir e vencer, assim a competitividade passa a ser o

motor da globalização, assim como foi o “progresso” no início do

século XX, e o “desenvolvimento” no pós-segunda [...].(apud

VIZENTINI, 1998, p. 38, grifos nossos)

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É neste contexto de competitividade e inovações tecnológicas que, devemos

enfatizar que no ano de 2010, a Millward Brown13 – empresa líder mundial em

consultoria e pesquisa de mercado – realizou um estudo que continha as 100 empresas

mais valiosas do mundo. Nesta lista encontramos mais de 10 multinacionais no meio de

eletrônico/informática14, e das cinco primeiras do ranking, quatro, são do setor de

tecnologia (C&T.I):

Tabela 2 – As cinco maiores empresas do mundo (2010)

# Marcas Valor de Mercado

2010 ($M) 1 Google 114.260

2 IBM 83.383

3 Apple 83.153

4 Microsoft 76.344

5 Coca-Cola 64.963

Fonte: institutos de pesquisa Brand Analytics / Millward Brown (2010)

Certa vez, o criador e, atual presidente de uma das empresas que mais

revolucionou o setor tecnológico na área da informática, a Microsoft Corporation15

, Bill

Gates, disse em uma conferência na cidade de Chicago, nos anos 90: “As únicas

grandes companhias que conseguirão ter êxito são aquelas que considerarão os

seus produtos obsoletos antes que os outros o façam”.

Esta frase resume de uma maneira clara o meio competitivo da Economia

Liberal, cuja busca pela modernização, sobretudo, a constante atualização de seus

produtos, será o segredo para o sucesso de uma empresa.

13 MILLWARD BROWN. As 100 maiores empresas do mundo do ano de 2010. Estados Unidos, 2010. Disponível em:< http://www.brandz.com/output/brandz-top-100.aspx>. Acesso em: 17 fev. 2011. 14 Entre elas, estão: Sony, Samsung, Nokia, Nintendo, Amazon.com, Black Berry, Intel, Dell, Siemens, SAP e GE. 15 A Microsoft Corporation é uma empresa americana, focada na indústria de Distribuição Digital, Eletrônicos de Consumo, Hardware, Software e Vídeo Games. Fundada por Bill Gates e Paul Allen nos anos 70, emprega atualmente cerca de 89.000 pessoas, e em 2010 apresentou os seguintes números: Seu valor de mercado é de US$ 227.03 bilhões, cujo lucro apresentado foi de US$ 18.760 bilhões, tendo um faturamento de US$46.175 bilhões.

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Na esfera estatal, uma alta taxa de crescimento e uma relativa autonomia no

setor tecnológico, são alguns dos pilares que o promovem de uma maneira ativa no

sistema internacional.

Os países do Centro mantiveram-se no núcleo da esfera produtiva e, desta forma,

até hoje, são as principais potências do setor de Tecnologia. Isto se deve, entre diversos

fatores, a massivos investimentos na produção nacional de C&T.I nos anos 70-80.

Neste mesmo período, a América Latina passava por uma grave situação

político-econômica. Os ajustes econômicos, ou como Chesnais (1996) escreveu “as

adaptações” das diversas economias periféricas às premissas neoliberais, promoveu um

grande choque nas economias subdesenvolvidas.

Ao inserirem as práticas neoliberais em suas políticas domésticas, os países

localizados na América Latina passaram por uma forte crise econômica, o que

comprometeu o desenvolvimento da região.

Ao contrário do que era defendido pelos países centrais, ao estimularem os

Estados periféricos á adotarem as políticas de caráter neoliberal, como veremos nas

seções seguintes, a inserção expressiva na esfera internacional, por parte destes países

subdesenvolvidos não ocorreu.

Um significativo endividamento estatal, uma alta vulnerabilidade externa

associada a uma clara dependência tecnológica foram alguns dos resultados obtidos

pelos Estados Latino-Americanos que procuraram adotar as políticas neoliberais nos

anos 80 e 90.

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1.4 A AMÉRICA LATINA DURANTE A DÉCADA PERDIDA (1980-1990)

Os desempregados, os sem-teto, os abandonados os excluídos são a expressão dramática dos sacrifícios exigidos (...) pela escolha puramente ideológica fundada no rigor orçamentário, na competitividade, na produtividade, etc. As pessoas não querem mais isso. Elas não aceitam que se chame de “reforma” o que só é, em sentido próprio, uma contra reforma um retorno á antiga Ordem.

Le monde, 1966.16

A reestruturação econômica nos países desenvolvidos e os ajustes

macroeconômicos impostos à periferia, de acordo com alguns autores, como Ayerbe

(2002) e Cano (1999), fizeram com que a década de 80 fosse para a América latina

sinônimos de estagnação econômica, crises em todos os setores da Economia, altos

níveis de desemprego e endividamento estatal, agitações populares e golpes militares.

As crises internacionais, seguidas de substanciais aumentos dos preços do

petróleo em 1973 e 1979, promoveram grandes desequilíbrios nas contas externas

latino-americanas. De acordo com Cano (1999, p. 25):

No cômputo geral da década de 1970, os principais países da América Latina (...) aproveitaram as brechas que as duas crises internacionais (a produtiva e a financeira) lhes proporcionavam pela vinda de investimentos diretos ou, principalmente, pela via dos financiamentos. Logo no início da década de 1970, a América Latina usou a via do endividamento (...). O recrudescimento inflacionário, o déficit estrutural do balanço de pagamentos e o alto comprometimento do débito externo (juros e amortizações) em relação ás reservas ou às exportações significaram um enorme saque contra o futuro, e a vinda, a qualquer momento, de uma crise de enormes proporções.

Neste contexto, José Luís Fiori (1999, p. 13), assinala que:

Até o fim dos anos 70, três países da América Latina mantiveram o crescimento de sua renda per capita: Brasil, Colômbia e México. No entanto, a partir do início dos anos 80, o crescimento destes países despencou e eles perderam as promissoras posições que haviam conquistado em termos de participação na renda mundial.

Um dos principais fatores que contribuíram para a estagnação econômica da

região foi o aumento de juros nos EUA entre 1978 e 1982. Essa elevação resultou na

crise das dívidas externas na periferia, que levou inúmeros países a uma situação de

insolvência, entre eles: Polônia, México, Brasil e Argentina.

16 PRAGA, São Paulo, n. 1, p. 45-53, 1966. Apud FIORI, 1998, p79.

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Os índices sócio-econômicos da década de 80 para a América Latina foram

“catastróficos”. Como citado por Fiori (1999), houve uma impressionante queda da taxa

média anual de crescimento do PIB. Em sua fase de “recessão” (1980-1985), a taxa

anual do PIB desta região crescia em média 0,6%, já em sua fase de “recuperação”

(1985-1990), ela subiu não mais que 1,9%.

As importações se reduziram à média anual de 8,1%, contudo, o fraco

desempenho das exportações (0,8%) era reflexo da queda dos índices dos preços médios

de nosso principal produto de exportações da região as commodities, as quais caíram

20% em termos nominais (30% se excluirmos o petróleo).

Entre 1985 e 1990, o quadro parecia melhorar, pois, estimuladas por alguns

programas específicos de liberalização comercial e de renegociações da dívida externa

que se iniciariam neste período, as importações voltariam a subir (9,7% anual).

Contudo, não havia motivo para otimismo, mesmo havendo uma melhora na

pauta de exportações, resultado da diversificação da pauta, como: novas commodities

industriais, autopeças, veículos e produtos químicos dos principais países exportadores,

nossa participação nas exportações mundiais continuava baixa, com um índice ainda

menor na década seguinte, 5,5% em 1980 e, posteriormente, 3,9% em 199017, mantendo

estes números baixos no ano de 2000 (Anexo A).

Em relação à dívida externa, transferência de recursos, taxas de inflação,

desemprego, arrochos salariais e distribuição de renda da América Latina, os dados são

alarmantes, como citados por Abramo (1997) e Cepal (1997), mostrando-nos porque o

termo “década perdida” faz luz à uma das piores crises econômicas para a região:

Entre 1980 e 1990 a transferência líquida de recursos da America Latina somou US$198, 3 bilhões, ao passo que o montante da dívida salta de US$ 166, 6 bilhões em 1979, para 443,0 em 1990. (...) As políticas de combate à inflação não só foram inócuas, como os resultados pioraram sensivelmente: A taxa média anual dos preços, que fora de 84,4% entre 1980 e 1984 sobe para 229,8% entre 1984 e 1989, com alguns países ingressando num processo de hiperinflação.(...) O desemprego aberto urbano subiu de 6,7% em 1980 para 8,3% em 1985, e sua queda em 1990 para 6,2% se deve muito mais á informalização do emprego (cuja taxa passa de 40% para 52%) do que á geração líquida de empregos formais.As políticas salariais encarregaram-se de reduzir os salários, em 33% para o

17 Ver, CANO, Wilson. Soberania e Política Econômica na América Latina. São Paulo: Editora Unesp, 1999, p. 25-34.

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salário mínimo, 13% para o industrial, 14% para a construção civil e 28% para o rural.Com isso, a distribuição de renda piorou muito: o número de pobres, no mesmo período passou de 136 milhões para 197 milhões e o de indigentes de 62 milhões para 92 milhões. (ABRAMO, 1997; CEPAL, 1997 apud CANO, 1999, p. 35-36).

Se pudéssemos analisar os países latino-americanos, iríamos ver que cada um

deles carrega inúmeras especificidades: suas origens étnicas, seus passados coloniais,

suas diversificadas dimensões geográficas e econômicas, estruturas políticas, seus

credos, os comportamentos das diferentes classes sociais e etc.

Todavia, a partir da década de 1970, desde o momento em que cada um deles,

aplicou em suas agendas econômicas e políticas, as principais pautas das práticas

liberalizantes, os resultados para todos estes Estados, foram os mesmos: desordem

econômica, desarranjo político e descontentamento social, acirrando as tensões sócio-

políticas em todos os segmentos da população.

Como citado por Paulo Nogueira Batista Júnior (2000, p. 100):

A América Latina acabou se convertendo, com a anuência de suas elites, em laboratório onde a burocracia internacional baseada em Washington – integrada por economistas descompromissados com a realidade política, econômica e social da região – pôs em prática, em nome de uma pretensa modernidade, doutrinas temerárias e contrárias a nossos interesses fundamentais.

Como veremos nas próximas seções, o caso brasileiro é um exemplo de alta

vulnerabilidade externa e dependência tecnológica Latino-Americana. Esta situação

poderia ser revertida, caso houvesse uma mudança na orientação da política de

desenvolvimento tecnológico brasileiro.

Como supõe Simiqueli18(2008, p. 11), esta posição de subdesenvolvimento, no

contexto mundial, pode se perpetuar, caso não seja tomada alguma medida:

[...] tal dependência atingiria níveis crônicos, se levada adiante. Conforme os meios de produção evoluem, maior torna-se a desigualdade entre os países centrais [fornecedores de tecnologia] e os periféricos [usuários/consumidores, sem o domínio das técnicas de produção].

Como ressaltou o autor, uma tentativa de mudança na política industrial

brasileira foi elaborada nos anos 70. Um de seus objetivos era reduzir esses altos níveis

de dependência tecnológica e de inserção passiva19.

18 SIMIQUELI, Revistas de Estudos Estratégicos E-premissa, Campinas, n. 3 p.10–44, jan./jun. 2008. Disponível em:< http://www.unicamp.br/nee/epremissas/pdfs/3/ArtigoRobertorevistaPremissascorrigido.pdf>. Acesso em: 19 dez. 2010.

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Havia no país, no que se refere à fabricação de produtos do setor da informática,

uma capacidade produtiva altamente inexperiente (no que se refere á mão-de-obra

qualificada), um pequeno e seleto número de consumidores e um mercado nacional

ocupado por centrais de montagem das grandes transnacionais20.

O Governo optou por tomar medidas que revertesse o estágio de

subdesenvolvimento, entre outras políticas, a elaboração da Política Nacional de

Informática (PNI) no início dos anos 80, representou sob diversos aspectos, uma

tentativa de redefinição da política industrial brasileira, a qual, de acordo com Roselino

e Garcia (2004, p. 2) é um instrumento importante para redefinir os rumos da Economia

de um país:

Desde logo é importante destacar que a política industrial exerce efeitos muito importantes sobre a economia como um todo, ao promover a competitividade da indústria doméstica e contribuir na geração de emprego e renda, além dos efeitos positivos sobre a balança comercial.

Primeiramente, no contexto da RCT, as intervenções militares em políticas públicas

de informática – como as que ocorreram no Brasil nos anos 70 – já ficam claras no

início dos anos 60, principalmente, se formos contextualizar o delicado momento

político por qual passava as relações políticas no período de Guerra Fria (1945-

1989), como escreveu Simiqueli (2008):

[...] Por fim, a preocupação com aspectos como segurança, auditabilidade, formação de uma base local de conhecimento e tecnologia, e independência evidenciam que, de certa forma, por trás do interesse das Forças Armadas em informática estaria a importância dada à tecnologia enquanto variável estratégica, como definida pelo Ministério da Defesa: “É essencial o fortalecimento equilibrado da capacitação nacional no campo da defesa, com o envolvimento dos setores industrial, universitário e técnico-científico. O desenvolvimento científico e tecnológico é fundamental para a obtenção de maior autonomia estratégica e de melhor capacitação

19“A inserção passiva no sistema mundial de comércio significa, então, que a trajetória de crescimento econômico endógeno dos países em desenvolvimento torna-se dependente da evolução dos preços dos produtos primários e da evolução da demanda internacional. As perspectivas são pouco favoráveis para os países dependentes da exportação de commodities, tendo em vista a concorrência no mercado internacional, a instabilidade dos preços das commodities, o baixo dinamismo da demanda por produtos primários e o progresso técnico que substitui matérias-primas por produtos manufaturados”. (GONÇALVES, 2003, p. 99). 20 De acordo com Piragibe (1985, p. 109) a IBM, iniciou suas operações no Brasil em 1917 e a Burroughs, em 1924. Outras grandes empresas do setor, paulatinamente, instalar-se-iam em território nacional, como: Olivetti (1952 - Itália), NCR (1957 – EUA), Honeywell (1960 – EUA), Hewlett-Packard (1967 – EUA), Fujitsu (ex-Facom) (1972 – Japão), Control Data (1974 – EUA), Digital Equipment (DEC) (1974 – EUA), Data General (1975 – EUA) e Datapoint (1975 – EUA). Acarretando em sérias preocupações ao Governo militar.

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operacional das Forças Armadas[...]. (SIMIQUELI, 2008, p. 13, grifos nossos).

Desta maneira, veremos no capítulo seguinte como seguiu o objetivo nacional

durante a década de 1970. Os Planos Nacionais de Desenvolvimento (PNDs) podem ser

compreendidos como uma tentativa objetiva do Governo brasileiro de sairmos de nossa

condição de subdesenvolvimento.

A Crise internacional dos anos 70 atingiu diretamente os setores estratégicos de

nossa Economia, principalmente, o setor de energia. Com a aplicação destes Planos em

nível nacional, previa-se a superação da dependência desses setores que foram afetados

pela crise mundial.

Desta forma, a busca por uma maior capacitação tecnológica nacional em CT&I

será tratada pelo Governo como uma das prioridades do Plano. Como veremos na seção

seguinte, o fator “tecnologia” será entendido pelo Governo como um instrumento que

poderá nos dar a possibilidade de termos uma inserção ativa no Sistema Internacional,

visto a importância que a RCT estava ganhando como fenômeno da reestruturação

produtiva, associada á aceleração do processo de globalização.

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Segundo Capítulo

PNDs, “autonomia nacional” e os fracassados planos de combate á

inflação (1973 - 1992)

As transformações advindas, desde o fim da década de 70, nas relações entre a ciência, a tecnologia e a atividade industrial fizeram da tecnologia um fator de competitividade, muitas vezes decisivo, cujas características afetam praticamente todo o sistema industrial21. (CHESNAIS, 1996, p. 141).

Nos anos 70, quando as economias dos países desenvolvidos se encontravam em crise e, em alguns casos, já em processo de reestruturação produtiva, o Brasil passava pela experiência do “milagre” (68/73) e, posteriormente, pela implementação do II PND (74/76), que deu uma sobrevida ao ciclo expansivo até o final da década, à custa da aceleração do endividamento externo22. (CASTRO; SOUZA, 1985 apud FILGUEIRAS, 2006, p. 71).

21 CHESNAIS, François. A mundialização do capital. São Paulo: Xamã, 1996. 22 FILGUEIRAS, Luiz. História do Plano Real. São Paulo: Boitempo, 2006.

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2.1 LINHAS GERAIS: O “MILAGRE ECONÔMICO" (1973)

O Brasil passou por um forte período de desaceleração do crescimento,

acompanhado de elevação da taxa de inflação a partir de 1961 com a renúncia de Jânio

Quadros23, cuja situação estendeu-se durante o mandato de João Goulart (1961-1964).

Com o início do Governo Militar, as primeiras medidas econômicas foram tomadas com

ênfase à estabilização e às reformas estruturais24.

O Plano de Ação Econômica do Governo25 (Paeg) implantado pelos ministros da

época controlou a inflação e contribuiu para a criação das bases do crescimento

econômico, era o surgimento do “Milagre Econômico”, mostrando a decidida

recuperação do país.

Como expõe Resende (1991, p. 213):

O programa de estabilização, implementado entre 1964 e 1968 logrou reduzir a taxa média de inflação anual de algo próximo de 100% no primeiro trimestre de 1964 para algo em torno de em 20% em 1969, simultaneamente, o crescimento do produto, que em 1963 fora apenas 0,6%, se recuperou após 1966, e já em 1968 atingia a taxa de 9,8%.

O Crescimento real do PIB que no período de 1962-67 “atingia uma média de

somente 3,7%, alcançou médias anuais de 11,3% nos anos de 1968-74” (BAER, 1995,

p. 91). Contudo, o “Milagre” que estava acompanhado de altos índices de crescimento

neste período26, á longo prazo, implicou em elevados cortes sociais. O arrocho salarial

foi severo, resultando em forte concentração da renda.

23 Neste período tivemos um espetacular crescimento do PIB de 10,3%, contudo, ele declinou para 5,3%, 1,5% e 2,4%, respectivamente, em 1962, 1963 e 1964. O que explica tal declínio, de acordo com Baer (2003) foi a “contínua crise política, vivenciada pelo país, após a renúncia de Jânio Quadros á presidência, em agosto daquele ano”. 24 Para tanto, foram realizadas algumas reformas estruturais, tais como a reforma tributária, com substituição dos impostos em cascata pelos de valor adicionado; a reforma trabalhista, substituindo o regime de estabilidade pelo Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), com ônus ao empresário; a reforma do sistema monetário, com a criação do Sistema Financeiro Brasileiro (SFB), com a criação do Conselho Monetário Nacional (CMN), responsável pela política monetária, em substituição à Superintendência para a Moeda e Crédito (SUMOC), subordinada ao Ministério da Fazenda, do Banco Central do Brasil (BACEN) responsável pela execução da política monetária elaborada pelo CMN, e regulador do funcionamento dos bancos; do Banco Nacional de Habitação (BNH) para gerenciar os recursos oriundos do FGTS, e distribuí-los por intermédio do Sistema Financeiro de Habitação (SFH) e, finalmente, da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para administrar os mercados, primário e secundário, de ações. (GIAMBIAGI, 2005, p. 6) 25 Em linhas gerais, o Plano foi apresentado em 13 de agosto daquele mesmo ano, como estratégica econômica, seus objetivos eram: Acelerar o ritmo de crescimento econômico; Conter, progressivamente, o processo inflacionário; Atenuar os desníveis econômicos e regionais, assim como as tensões causadas pelos desequilíbrios sociais, mediante melhoria das condições de vida; Assegurar pela política de investimentos, oportunidades de emprego produtivo à mão de obra [...]; Corrigir a tendência de déficits descontrolados do balanço de pagamentos [...] Governo do Brasil, 1965a, p.5 apud SOUZA, 2010, p. 170; 26 De acordo com Baer (1995, p. 92): A produção de aço aumentou de 2,8 milhões de toneladas de 1964 para 9,2 milhões de toneladas em 1976; a capacidade instalada de produção de energia elétrica aumentou

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Em um levantamento realizado em 1972 Baer (1995, p. 95), aponta que 20% da

população haviam recebido 63% da renda do país, ou seja, 22 milhões tinham uma

renda per capita de aproximadamente US$ 1,2 mil, enquanto, 65 milhões (80% da

população) tinham receitas inferiores a US$ 300.

Furtado (1976) destacou que 50% da população viviam basicamente ao nível da

subsistência, com uma renda per capita de 130 dólares. Esses mesmos 50% da

população têm uma participação na renda equivalente ao 1 % mais rico da população.

Tabela 3 - Perfil da Demanda Global no Brasil

Grupos % da

população População

1000

Renda per capita

(em dólares)

Renda Total (em dólares)

Renda em %

1° 50% 45.000 130 5.850 18,6

2° 40% 36.000 350 12.600 40,1

3° 9% 8.100 880 7.128 22,7

4° 1% 900 6.500 5.850 18,6

100% 9.000 350 31.428 100 Fonte: Celso Furtado, Um Projeto para o Brasil, op. cit. p.8. Baseado em dados da CEPAL,Estudios sobre

la Distribución del Ingresso em America Latina, Santiago, 1967. A partir desses dados, Furtado (1974 apud BAER, 1995, p. 102) observou:

A concentração na distribuição no Brasil ocasionou um perfil de demanda no qual os bens de indústria tecnologicamente avançados estão fortemente representados, fato que também se reflete na estrutura produtiva do país. Assim, o contínuo dinamismo desse tipo de indústria depende da manutenção ou mesmo de um aumento na concentração de renda.

Além desse panorama social, entre 1967-72 a dívida externa também deu um

salto de quase US$11,1 bilhão. De acordo com Singer (1977), essa elevação da dívida

externa foi possível devido a um excesso de liquidez nos mercados internacionais, com

taxas de juros baixas e com prazos de pagamentos longos, o que tornou o

endividamento externo atrativo.

de 6.840 milhões de megawatts para 21.796 milhões no mesmo período; o cimento, de 5,6 para 19,1 milhões de toneladas; veículos motorizados, de 184 mil para 986 mil e automóveis de passeio, de 98 mil para 527 mil; papel de 0,6 para 1,9 milhão de toneladas; em 1976 produção de televisores tinha atingido 1.872 milhão de aparelhos e a produção de geladeira 1.276 milhão. A taxa média de crescimento anual de construção de estradas aumentou de 12% no período de 1964-67 para 25% em 1968-72 d z taxa de crescimento de pavimentação de 6% para 33%. Dados que caracterizam o termo “milagre econômico”.

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Com o choque em 1973, o preço da commodity quadruplicou, causando sérios

déficits27 na balança comercial brasileira, já que o país importava 80% do petróleo

consumido.

Neste cenário, o Governo poderia reduzir substancialmente o crescimento, deste

modo, haveria uma alta diminuição de importações, ou, poderia elevar nossas taxas

contínuas de crescimento, o que, certamente, implicaria em um declínio das reservas

cambiais e um aumento da dívida externa. O que de fato, este último ocorreu.

Podemos definir, em linhas gerais, que o II PND tornar-se-ia uma resposta para

os pontos de estrangulamento da economia brasileira, principalmente, no setor

energético, a idéia principal do Plano seria a superação da dependência desses setores.

27 De acordo com Baer (2002 p. 108) a conta total de importações do pais passou de US$ 6,2 bilhões em 1973 para US$ 12,6 bilhões em 1974, o saldo da balança comercial passou de um leve superávit em 1973 para um déficit de US$ 4,7 bilhões em 1974 e a conta corrente de um déficit de US$ 1,7 bilhão para US$ 7,1 bilhões.

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2.2 O II PND – INTERVENÇÃO ESTATAL NA QUESTÃO TECNOLÓGICA

Com o choque do petróleo, em novembro de 1973, o Brasil deu início a uma

nova fase de desenvolvimento, ao invés do Governo implementar medidas que

amortecessem os efeitos da crise internacional, o governo optou por realizar um

programa contendo sérias políticas econômicas de crescimento, que resultou em

importantes mudanças estruturais no país.

A partir de 1974, os efeitos de tal crise começam a ser sentidos no país, quando

o Brasil passou por uma desaceleração econômica até 1980, fazendo o PIB crescer em

média 7,1% ao ano, bem diferente dos anos anteriores, o qual superava os 10%.

Naquele mesmo ano, a inflação tinha alcançado 34%, passando para mais de

40% entre 1976-1978, atingindo incríveis 79% em 1979. Tais indicadores

demonstravam, claramente, que a fase do “milagre econômico” tinha acabado.

Quando Geisel (1974-1979) assumiu, seu Governo tinha dois objetivos: O

primeiro, combater a inflação, juntamente, com os desequilíbrios das contas externas; e

o segundo, assegurar a retomada do crescimento econômico, mediante um audacioso

plano de desenvolvimento econômico, o chamado II PND (Plano de Nacional de

Desenvolvimento).

É importante ressaltar que o Governo faria estas importantes mudanças por meio

do financiamento externo. Sem os empréstimos seria impossível a viabilização do

pagamento das importações de produtos fundamentais: o petróleo e os insumos

necessários à produção de bens industrializados que deveriam acompanhar o II PND, o

qual consistia em um vasto programa de investimento, cujas metas eram:

(I) Substituição das importações de produtos industriais básicos (como aço, alumínio, cobre, fertilizantes, produtos petroquímicos) e bens de capitais; (II) Rápida expansão da infra-estrutura econômica (energia hidráulica e nuclear, produção de álcool, transporte e comunicações). (BAER, 2003, p. 110).

Muitos desses investimentos foram realizados por empresas estatais (em setores

como: energia, aço e infra-estrutura econômica), enquanto outros (principalmente, bens

de capital) foram executados pelo setor privado, com apoio maciço do Banco de

Desenvolvimento (BNDE).

De acordo com Carneiro (2002, p. 55), os objetivos principais do Plano eram

“transformar a estrutura produtiva e superar os desequilíbrios externos, conduzindo o

Brasil a uma posição de potência intermediária no cenário internacional”.

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Sua estratégia poderia ser sintetizada em quatro eixos centrais, de acordo com

Baer (2003): Modificações na matriz industrial, ampliando a participação da indústria

pesada; mudanças na organização industrial acentuando a importância da empresa

privada nacional; desconcentração regional da atividade produtiva, visando reduzir a

concentração espacial da produção; e, finalmente, melhoria na distribuição de renda.

Seus objetivos eram bem definidos, e consistiam em:

(1) Agir como uma fonte política contra cíclica diante o impacto causado pela crise do petróleo e manter uma razoável taxa de crescimento, um nível de emprego e de consumo; (2) Mudar a estrutura da economia através da substituição de importações e diversificação e expansão. (BAER, 2003, p. 110)

Alguns estudiosos acreditam que o PND II tenha sido criado para aumentar a

auto- suficiência do Brasil nos setores estratégicos como energia, e desenvolver

novos tipos de vantagens comparativas, visto a deterioração dos preços dos produtos

primários. Além disso, o Plano legitimava o regime, como ressalta Carneiro (2002, p.

56):

[...] A opção pela segunda alternativa [expandir a demanda doméstica à custa de um endividamento externo maior], apesar de atrasar o ajustamento, atendia á estratégia de legitimação do regime militar, pois, de fato, constituía a possibilidade de preservar ao máximo os interesses domésticos que lhes davam sustentação.

Carneiro (2002, p. 57), ainda nos diz que Fishlow (1986) analisa o período a partir de

uma pergunta fundamental:

Por que o Brasil não se ajustou melhor à deterioração da situação externa? Isto é, quais fragilidades de uma estratégia de política econômica, cuja orientação geral era a substituição de importações nos setores de bens intermediários e bens de capital e a manutenção do esforço exportador? O autor destaca três contradições importantes do Plano: A subestimação da crise do petróleo quanto sua magnitude e desdobramentos; o agravamento no curto prazo da situação do balanço de pagamentos; e a ênfase excessiva do papel do Estado como protagonista do projeto.

Muitos autores chamam a atenção para o endividamento causado pelo II PND.

Serra (1982) atesta que houve uma grande expansão da dívida externa brasileira, por

conta do Plano ter recorrido, fundamentalmente, ao financiamento externo; ele ainda

ressalta que o momento de execução do mesmo era impróprio, já que, estávamos

passando pela desaceleração da economia doméstica após os anos do “Milagre” e a

conjuntura internacional era recessiva, por conta da crise internacional.

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Para o Governo, o crescimento da dívida externa era justificado pela

possibilidade de futuras economias, resultantes dos programas de investimento – devido

à substituição de importações e o desenvolvimento de uma nova pauta de exportações –

poderiam criar oportunidades para o Brasil produzir superávits comerciais que

cobririam os juros e, em longo prazo, debitar a dívida internacional.

No entanto, com ressaltou Fishlow (1986), o governo Geisel, além de lidar com

uma expansão da dívida, herdou os mesmos problemas do período anterior, tais como:

uma indústria com pouca capacidade ociosa a exigir elevados investimentos para a

hipótese da manutenção do crescimento, a deterioração das relações de troca, a inflação

em alta e uma matriz energética, excessivamente, dependente do petróleo.

Castro & Souza (1985) têm um posicionamento oposto ao de Fishlow (1986),

eles acreditam que a resposta brasileira à crise de 1974, foi de fundamental relevância

para a Economia, pois o Plano atingiu diretamente sobre a formação do capital. Com o

II PND buscou-se superar a crise e o subdesenvolvimento.

O ajustamento estrutural de 74-79 constituiu, segundo os autores, um ponto de

ruptura, ao direcionar a industrialização para as indústrias capital-itensivas e

tecnológico-intensivas, integrando o parque industrial e dando-lhe competitividade

internacional.

Após a compilação de opiniões de diversos autores como: Fishlow (1986), Lessa

(1978), Tavares&Lessa (1983) e Serra (1982), à exceção de Castro&Souza, Carneiro

assim descreveu:

Em síntese, do conjunto de autores que analisam o período, à exceção de Castro&Souza (1985), pode-se extrair os seguintes pontos relevantes: O momento de realização do programa foi inadequado em razão da conjuntura internacional recessiva e da desaceleração cíclica interna; o programa carecia de maior articulação entre os

investimentos, havendo um visível sobredimensionamento em particular no que se referia aos bens de capital sob encomenda; recorreu-se excessivamente ao financiamento externo, ao mesmo tempo em que se descuidava da questão energética, vulnerabilizando a economia a novos choques externos; a manutenção do crescimento

acelerado a qualquer preço teve como justificativa última o atendimento ao conjunto de interesses que sustentavam o regime autoritário, convertendo o Estado no principal instrumento desse desiderato. (CARNEIRO, 2002, p. 59, grifos do autor).

De acordo com Camargo (2010, p. 214), o II PND não foi consistente na

previsão e geração de tecnologia, pois no setor de bens intermediários, o qual estava a

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cargo do Estado, o padrão tecnológico evoluía lentamente, o que possivelmente, inibiu

maiores investimentos nessa área.

Para o desenvolvimento e, posteriormente, ampliação do setor tecnológico, a

implantação da indústria de bens de capital deve ter variáveis solucionadas em sua base,

tais como: o financiamento, a escala de produção, o tamanho do seu mercado e o acesso

á tecnologia, fatores, que eram fortes obstáculos ao desenvolvimento deste setor nas

Economias subdesenvolvidas.

Em síntese, o II PND não conseguiu resolver essas questões, já que, não previa

os necessários investimentos em pesquisa, desenvolvimento e educação. Não havia

um maciço investimento à inovação, acarretando na diversificação do setor, quando na

verdade, o Governo deveria ter estimulado a especialização.

Muitos fatores contribuíram com isso, como o restritivo mercado nacional que

não possuía escala suficiente para comportar especializadas indústrias do ramo; a

presença de inúmeras empresas estrangeiras, dificultando o crescimento autônomo da

tecnologia nacional, pois estas já importavam a tecnologia, não a transferindo,

desestimulando a produção interna.

Em comparação com economias periféricas, como a Coréia em 1980, que estava

desenvolvendo um setor de bens de capital, este era bem menor que o setor brasileiro,

porém, este ramo era dominado pelas próprias empresas nacionais, desta forma, os

investimentos em pesquisa e desenvolvimento e em educação seriam bem maiores

(CARNEIRO, 2002, apud CAMARGO, 2010, p. 214).

Resumindo, podemos afirmar que o II PND não significou grandes alterações na

estrutura industrial, como se esperava. Pois os investimentos nos setores estratégicos,

principalmente em bens de capital e intermediário, ficaram abaixo do esperado. Entre

1974 e 1980, enquanto os bens de capital cresceram 7,4%, em média, ao ano, o setor de

bens intermediários expandiu 8,3%. O setor que mais cresceu, foi o de bens duráveis,

com impressionantes 9,3% anuais, e o de não duráveis, apenas, 4,4%.

Como podemos ver na tabela abaixo, a distribuição setorial de investimentos

esboça os baixos resultados do Plano.

Tabela 4 – Distribuição Setorial do Investimento (%)

Setores 1970-74 1975-79 Projeções II PND

Energia 8,4 10,1 19,4

Petróleo 1,1 1,7 2,0

Carvão e Gás 0,0 0,0 2,4

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Eletricidade 7,3 8,4 15,0

Indústria 18,6 17,8 22,8

Indústria básica 10,5 10,7 19,3

Metalurgia 2,4 2,7 6,8

Mat. de transporte 1,8 1,5 2,3

Mecânica e elétrica 2,0 2,5 2,7

Química 2,4 2,2 4,5

Não metal e papel/celulose 2,0 1,8 2,0

Outros 8,1 7,2 3,5

Transporte 11,6 9,4 10,2

Comunicações 3,1 3,5 3,8

Investimento/PIB (%) 22,5 14,1 --- Fonte: Carneiro, 2002 apud CAMARGO, 2010, p. 214.

O PIB sofreu forte desaceleração, caiu de 10,3% em 1976, para algo aproximado

de 5%, nos três anos seguintes. Em março de 1979, assume Figueiredo (1979-1985),

que, inicialmente, não alterou a política econômica do país.

Com o segundo choque do petróleo, naquele mesmo ano, houve um acirramento

da deterioração das relações de troca, que vinha caindo desde a segunda metade dos

anos 1970, e para piorar o quadro econômico, é neste contexto que há o aumento das

taxas de juros mundiais em reação às políticas monetárias internas dos Estados Unidos.

A inflação disparou em 1979, passou de 79,4% para 100,6% em 1980. A soma

dos déficits da balança de pagamento e da conta corrente chegou a cifras superiores a 15

bilhões de dólares. A dívida externa (bruta) ultrapassou as cifras de 32 bilhões de

dólares.

O balanço do II PND (1975-1980) não é positivo, já que, ele deixou um rastro de

endividamento externo, não conseguindo corrigir os maiores desequilíbrios das contas

nacionais, ocasionando, principalmente, em significativos aumentos inflacionários.

Os acontecimentos e os números apontavam que a atual conjuntura econômica

nacional estava nos levando á uma grande crise, algo que os governantes não

imaginavam, já que, o objetivo central do II PND era a retomada do crescimento,

juntamente, com a mudança produtiva, a qual acarretou em uma grande guinada no

desenvolvimento do país, a fim de sairmos da posição de subdesenvolvimento, ainda

que esta fosse baseada em massivos financiamentos externos. Na década seguinte, tal

endividamento, somado aos altos níveis de inflação no final da década de 70, fará o

Brasil dos anos 80 atravessar sua própria “década perdida”.

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Neste mesmo contexto, no campo tecnológico, teremos a Lei de Informática (1984),

que dará continuidade à intervenção estatal neste setor. Esta medida, de acordo com

alguns autores, entre eles Vigevani (1995), pode ser considerada como um

importante passo para a busca da autonomia nacional durante o período de

estagnação econômica latino-americano.

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2.3 A BUSCA PELA AUTONOMIA NACIONAL NA DÉCADA DE 70 E A LEI DA INFORMÁTICA NA DÉCADA DE 8028

“Subdesenvolvimento não se improvisa. É obra de muitos séculos. ”29

Nelson Rodrigues

O início dos anos 70 é marcado pelos primeiros esforços concretos do Governo

brasileiro no sentido da busca pela autonomia tecnológica em eletrônica digital.

Preocupados com os atuais acontecimentos, como: A instabilidade internacional, pelos

sinais de desgaste do áureo ciclo de prosperidade gerados pelas regras de Bretton

Woods; com o início anunciado da deterioração das relações de trocas e da presença

significativa de empresas multinacionais do setor de informática, o Estado brasileiro

optou por realizar planos e projetos que objetivassem a autonomia tecnológica nacional.

As diretrizes mais amplas deste processo são encontradas no I Plano Nacional de

Desenvolvimento e no I Plano Básico de Desenvolvimento Científico Tecnológico

(1973/1974)

Assim eram algumas diretrizes do documento elaborado:

A revolução tecnológica, principalmente nas últimas décadas, repercute profundamente sobre o desenvolvimento industrial e o comércio internacional, passando o crescimento econômico a ser cada vez mais determinado pelo progresso tecnológico (…). Deve-se dar prioridade à articulação do sistema de ciência e tecnologia com o setor produtivo, com a programação governamental e com as realidades da sociedade brasileira atual. A integração entre aquele sistema e as diferentes dimensões da sociedade em mudança permitirá a conseqüente e fecunda interação (…). A interação indústria-pesquisa-universidade [será] impulsionada mediante realização de programas conjuntos de pesquisa, em setores prioritários e, em grande dimensão, com participação de instituições governamentais de pesquisa, universidades e setor privado (...). A fim de possibilitar a coordenação das unidades componentes, deverão ser constituídos sistemas setoriais basicamente com os seguintes objetivos: (I) Formulação de diretrizes gerais de política de pesquisa em

cada área correspondente; (II) Elaboração dos programas setoriais de pesquisas; (III) Acompanhamento de programas e projetos setoriais

específicos. (CNPq30, Itamaraty, 1979, p. 01-11 apud SALLES FILHO, 2002, p.

397).

28 Para entendermos a criação do II PND, é preciso contextualizar suas origens e, posteriormente, seu desenvolvimento no âmbito da questão de C&T.I, por isto, nesta sessão, serão abordados: o I PND (1973/1974), a reserva de mercado (1976), e, em linhas gerais, o desenvolvimento da PNI em 1984 com a Lei de informática. 29 Apud BATISTA JR., Paulo N. - A economia como ela é. São Paulo: Boitempo, 2000.

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O I PND indicava que a execução da política industrial consistiria, entre outros

pontos:

Desenvolver setores novos, ainda com possibilidade de substituir importações e com alta densidade tecnológica, como indústria química, de metais não-ferrosos, eletrônica, aeronáutica [de forma seletiva] a construção naval [setor de supergraneleiros]. (PIRAGIBE, 1985, p. 117).

O I PBDCT fazia menção clara á criação de uma indústria de minicomputadores:

Através da associação do Governo com empresa nacional e fabricante estrangeiro [e ao desenvolvimento de tecnologia de computadores, pelo] projeto e construção de minicomputador digital para fins civis e militares [por equipes universitárias]. (PIRAGIBE, 1985, p. 117).

O conceito de capacitação tecnológica está fortemente relacionado com os dois

Planos, onde é possível identificar as ideias Schumpeterianas, traduzidas por Lewis

(1978), ao indicar que o comércio internacional, não é mais o motor do

desenvolvimento, como fora no século XIX, para o autor, como expresso por Vigevani

(1995, p. 72), “o motor do desenvolvimento deveria ser o progresso técnico, enquanto o

comércio internacional deveria servir como óleo lubrificante e não como combustível”.

Desta forma, nossa posição de subdesenvolvimento poderia ser revertida a partir

da execução dos planos tecnológicos, pois, já era percebido que o progresso técnico

seria o diferencial da balança de poder entre os Estados, tanto no comércio quanto na

política internacional, principalmente em países periféricos, como os situados na

América Latina, cuja região já era tomada por debates e discussões desde os anos 40

acerca da questão tecnológica, reverenciando as ideias Cepalinas.

Cardoso (1980, p. 23, grifos nossos) mostra que a questão da inovação é um

elemento essencial para o desenvolvimento:

Opondo-se as ideias que prevaleceram nos meios liberais-ortodoxos que aceitavam a premissa fundamental da teoria de mercado relativo às vantagens comparativas da divisão internacional do trabalho, Prebish afirma que as relações econômicas entre o Centro e a Periferia tendem a reproduzir as condições de subdesenvolvimento. A mão invisível do mercado aparecia, para Pebrish, como madrasta: em vez de corrigir as distorções, acentuava-as. Por que isso? Porque os países centrais se apropriam da maior parte dos frutos do progresso técnico.

30 CNPq. Documento Nacional Brasileiro, Itamaraty, 1979. In: CONFERÊNCIA MUNDIAL SOBRE APLICAÇÃO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA AO DESENVOLVIMENTO – ONU, 1979, Nova Iorque. Anais. Nova Iorque: ONU, 1979. p. 1-11.

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No Brasil, além da busca pela capacitação nacional, a motivação inicial de criar

uma indústria nacional de computadores estava concentrada na convergência de

interesses do Ministério da Marinha, especificamente, a Diretoria de Comunicações e

Eletrônica (DCEM) e o Ministério do planejamento, através do BNDE, ambas

preocupavam-se com a modernização de seus aparelhamentos de processamento de

dados e o incentivo à autonomia tecnológica da indústria brasileira, respectivamente.

Com o objetivo de promover o “projetamento, desenvolvimento e construção de

protótipo de computador eletrônico para operações navais31”, o chamado projeto

Guaranys, pode ser considerado o marco pioneiro da intervenção estatal no setor. Este

seria financiado por duas agências, FNDCT/Finep e Funtec/BNDE, estas, traduzidas na

forma organizacional no recém-criado Grupo de Trabalho Especial32 (GTE).

Em 1972 criou-se a CAPRE33 (Comissão de Atividades de Processamentos

Eletrônicos), que ficou responsável tanto pela racionalização de computadores na

administração pública federal, como, na aquisição de aparelhagens e treinamento

pessoal.

A criação desta comissão representou a institucionalização do Estado no setor

de informática, contudo, como aborda Piragibe (1985, p. 118), mesmo com a criação

destes Planos, comissões e grupos, ainda não havia diretrizes explícitas no sentido da

formulação de uma política industrial no novo setor, mesmo que o Governo, já naquela

época, tivesse à disposição uma pequena mão de obra qualificada34, permitindo os

primeiros protótipos de equipamentos de processamento de dados35.

Outro momento relevante era a sensibilidade dessas universidades de

perceberem a real necessidade estratégica de uma capacidade tecnológica nacional,

desta maneira, a migração de alguns profissionais para organismos institucionais,

principalmente na CAPRE, teve enorme influência na formulação da política industrial

para o setor.

31 Ver, VIANNA, D.M.M. Processo decisório no Setor de informática nos últimos dez anos. Tese de mestrado. IUPERJ, 1981. 32 Criado pelo Decreto N° 68.287, de dezoito de fevereiro de mil novecentos e setenta e um. 33 Criado pelo Decreto N° 70.370, de cinco de abril de mil novecentos e setenta e dois. 34 Para o setor de C&TI, havia estudantes de pós-graduação no exterior que eram financiados por agências governamentais como CNPq e CAPES, e muitos deles reuniam-se em alguns centros universitários. 35 Como exemplificou Piragibe (1985 p. 119): No Instituto Tecnológico da Aeronáutica foi desenvolvido o primeiro computador digital, o Zezinho, ainda em 1961; na Escola Politécnica da USP, O Patinho feio. Outros projetos também foram projetados, principalmente, no Núcleo de Computação eletrônica da UFRJ (O terminal inteligente), PUC-Rio e nas Universidades federais do Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Paralelamente no Sepro (Serviço de processamento de Dados do Ministério da Fazenda) desenvolveu-se o concentrador de teclados, com o intuito de facilitar processamento do Imposto de Renda.

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As conclusões parciais do GTE indicavam que o segmento de mini-sistemas,

seria o mais adequado para a objetivação do interesse nacional, além de atenderem as

demandas da marinha, as variáveis envolvidas eram vantajosas, já que, este tipo de

segmento demandava uma tecnologia mais acessível, as exigências de investimentos

iniciais eram de menos porte, bem como, era esperado altas taxas de expansão desses

produtos.

No entanto, havia divergências entre as agências estatais envolvidas, em relação

ao desenvolvimento de computadores, para uns, deveria destinar-se a fins militares, para

outros, orientar-se a fins comerciais.

Em 1973, a produção destes mini-computadores, ficou sob responsabilidade da

USP (Projetos de equipamentos – hardware) e da PUC-RJ (desenvolvimento do

software), dando origem ao minicomputador G-10.

Outra divergência referia-se a qual empresa fabricaria o equipamento, já que

havia a participação dos capitais privado nacional, estrangeiro e do Estado. Os membros

da GTE ficaram divididos, a marinha queria a associação inglesa (com a empresa

Ferranti) que já era conhecida por eles, por fabricarem seus equipamentos navais; já o

BNDE, com a (Fujitsu) japonesa.

Em 1974 foi criada a primeira empresa nacional de computadores, a COBRA36

(Computadores e Sistemas Brasileiros S/A), que tinha um acordo com sua parceira

estrangeira de transferência de tecnologia para a fabricação do minicomputador Angus

700, de uso militar. Porém, administrada pela DIGIBRÁS, que não conseguiu

concretizar seus objetivos, a COBRA ficaria então como caso único em sua história.

Em 1975, a crise do petróleo dificultou o objetivo e estratégia nacional, o

Conselho de Comércio Exterior (CONCEX) incluiu os computadores e seus respectivos

equipamentos, nas medidas adotadas para o controle das importações. Ao mesmo

tempo, o Conselho ampliou os poderes37 da CAPRE, que estabeleceu a necessidade de

anuência prévia do organismo para a emissão de guias de importação para estes

produtos, tanto para empresas do setor público como privado.

36 Era uma empresa que tinha em sua formação a associação de empresas privada nacional (Equipamentos Eletrõnicos – EE), o Estado (Digibrás) e uma empresa estrangeira (a Ferranti Ltda). A digibrás (Empresa Digital brasileira) também criada em 1974, tinha como objetivo apoiar a criação de empresas nacionais de minicomputadores e equipamentos, ela era uma holding estatal que deveria planejar e administrar as atividades de implementação e, posteriormente, controlar as subsidiárias. 37 Resolução n° 104, de três de dezembro de mil novecentos e setenta e cinco.

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Em 1976 a CAPRE ficou responsável por estudar e propor as diretrizes da

política nacional de informática38, tornando-se responsável pelo planejamento e

coordenação dessas atividades no país.

No II PND, a política de informática focava “o desenvolvimento dos setores de

base e, como novas ênfases, particularmente indústrias de bens de capital, a indústria

eletrônica de base e a área de insumos básicos. Dada a importância dos sistemas

integrados de comunicação e informática, base tecnológica da moderna indústria e

administração deverá ser desenvolvida no País a eletrônica digital39”

Em consonância com o II PND, neste mesmo ano, o Conselho Plenário da

CAPRE definiu as diretrizes para o setor, cinco objetivos foram especificados pela

política governamental:

I) Obter capacidade tecnológica que possibilite projetar, desenvolver e produzir equipamentos eletrônicos e software no país;

II) Assegurar que as empresas nacionais tenham uma posição predominante no mercado nacional;

III) Criar empregos em geral e oportunidades de empregos, mais aprimorados para os técnicos e engenheiros brasileiros;

IV) Obter balanço de pagamentos favorável em produtos e serviços de informática;

V) Criar oportunidades para o desenvolvimento de uma indústria de partes e componentes em informática. (CAPRE, 1975 apud SEI, 1983a, p. 60).

Em 1977, a COBRA recebeu, substancialmente, reforços técnicos e financeiros,

além disso, formava-se um pool de 11 bancos privados, que assumiria 39% do capital da

empresa, enquanto o Estado ficava com 56% e o restante (5%), entre os antigos

acionistas (EE e Ferranti).

Isso fez com que a ela pudesse anunciar o lançamento e um mini computador de

maior capacidade, o modelo 530 – uma versão aprimorada do antigo G-10 –, o primeiro

produto que havia sido desenvolvido com tecnologia nacional.

Sobre a “reserva de mercado” do período, Piragibe (1985, p. 127) assim

escreveu:

A decisão de excluir as firmas estrangeiras do mercado de pequenos sistemas, entretanto não eliminou a ofensiva das grandes empresas multinacionais de computadores em concorrer neste mercado. Em 1979 o Conselho Plenário da CAPRE depois de uma série de contramarchas, rejeitou os projetos da IBM e da Burroughs para computadores médios-pequenos. Observe-se que este segmento era

38 Decreto n° 77.118 de nove de fevereiro de mil novecentos e setenta e seis. 39 II PND (1975/1979) Rio de Janeiro, FIBGE, p.30.

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único ainda não ocupado, e apresentava uma fronteira de expansão para as empresas nacionais de minicomputadores.

Ao final de 1978, o Ministério das Relações Exteriores e o Serviço Nacional de

Informática, além do CNPq se envolveram na criação de um grupo – Comissão Cotrin –

com o objetivo de melhorar a situação geral da área de informática no país.

Esta Comissão alegava que a CAPRE não possuía os instrumentos adequados

para uma atuação mais abrangente e integrada. Ela propunha a reestruturação dos

órgãos envolvidos e a formulação de uma política global para o setor, desta forma,

consolidava-se a intervenção estatal na área de informática pelo decreto 84.06740:

Artigo 1º - É criada como órgão complementar do Conselho de Segurança Nacional, a Secretaria Especial de Informática, SEI, com a finalidade de assessorar na formação da Política Nacional de informática (PNI) e coordenar sua execução, como órgão superior de orientação, planejamento, supervisão e fiscalização, tendo em vista, especialmente, o desenvolvimento científico e tecnológico do setor. (SEI, Boletim informativo, 1983, p. 13-17, grifos nossos).

As atividades da SEI era bem mais abrangentes do que a da CAPRE, as decisões

da Secretaria englobariam equipamentos de processamento de dados, as atividades de

microeletrônica, teleinformática, controle de processos, instrumentação eletrônica,

softwares e serviços.

Outras agências governamentais que afetariam a política de informática eram:

CNPq, Finep, Subin, vinculadas à SEPLAN e o INPI (instituto Nacional), para assuntos

relacionados à contratos de transferência tecnológica e propriedade industrial, além do

ministério da Educação e Cultura e o Banco do Brasil (CACEX e FIPEC).

Como destaca Roselino (2006), as medidas tomadas entre o I PND (1972) e a

formulação da PNI (1979) apontavam que ainda era preciso uma política mais

consistente para a capacitação da tecnológica nacional, e esta viria sob forma de lei, a

chamada Lei de informática41 de 1984, a lei “foi a conclusão de uma trajetória em que

pareceu vitorioso, perante o país, o conceito de capacitação tecnológica” (Vigevani,

1995, p. 83).

Esta lei estabelecia princípios, objetivos e diretrizes da PNI. Desta forma a

legitimidade à intervenção estatal nessa área estaria assegurada. Estava prescrito na Lei:

40 Decreto aprovado em oito de outubro de mil novecentos e setenta e nove. 41 Lei N°7.232/84, aprovada pelo Congresso Nacional em três de outubro de mil novecentos e oitenta e quatro e sancionada pelo presidente João Baptista Figueiredo.

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1. A criação da Conin (Conselho Nacional de Informática) com o intuito de debater e adotar resoluções sobre a orientação que a PNI deveria seguir;

2. Propor o PLANIN (Plano Nacional de informática) a cada três anos;

3. Criava o fundo Especial de Informática e Automação; 4. Extinguia a Digibrás, deixando a responsabilidade comercial para

a SEI e o BNDES e parte de fomento para a CTI, que fora criado em 1982 e era transformado em fundação. (ZUKOWSKI, 1994, p. 19).

O artigo 43 apontava que o software deveria ser tratado em legislação específica

– tema que será abordado na seção seguinte. O artigo 15 fazia referência aos incentivos

fiscais que este produto deveria receber em relação ao seu desenvolvimento na indústria

nacional. Além de contar com diversos incentivos (Anexo B).

Como destacou Roselino e Garcia (2004, p. 178):

(...) Essas medidas representaram o prenúncio de uma política mais abrangente (a “Política Nacional de Informática”) que seria aprovada pelo Congresso Nacional em 1984, [Com a aprovação da Lei, foi garantida] a reserva de mercado para os próximos oito anos para a quase totalidade dos produtos e serviços relacionados às atividades de informática. Naquele contexto, o desenvolvimento de componentes apoiava-se em uma política de proteção ao "similar nacional" para os segmentos voltados aos equipamentos de pequeno e médio porte.

Apesar da entrada e criação de órgãos governamentais na política de

informática, o que observamos no período da “reserva de mercado” em meados de 1976

até o fim dos anos 1980, é o caráter passivo em relação a importantes aspectos dessas

indústrias, já que, as atividades de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), eram

financiadas quase que em sua totalidade por recursos das próprias empresas.

Ao contrário deste caráter passivo, se analisarmos o setor de C&T.I de alguns

países centrais, como Estados Unidos e Japão, cuja área de informática estava à época,

bem sucedida, podemos ver, claramente, que a execução direta e o financiamento de

P&D por estes Estados revelaram-se decisivos para o desenvolvimento e,

posteriormente, expansão de suas indústria nacionais.

O que também foi motivo de preocupação, de acordo com Piragibe (1983, p. 44)

é que no país, não se promoveu de forma ativa a criação de uma infra-estrutura

tecnológica no setor, a qual incluiria a capacitação de recursos humanos altamente

especializados para o desenvolvimento de tecnologias avançadas relativas à informática.

Tais leituras demonstravam claramente, que a reserva de mercado e a criação de

secretárias e grupos associados, eram medidas insuficientes, haja vista, a necessidade de

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um alto financiamento de P&D, além de medidas voltadas para a educação e,

posteriormente, capacitação profissional, para o desenvolvimento da tecnologia

nacional.

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2.4 A LEI DO SOFTWARE (1987): BREVE APRESENTAÇÃO

Como explicitado acima, desde o início dos anos 80, delineava-se o surgimento

de uma indústria de software. Tal aparecimento estava inserido em um ambiente

propício para seu desenvolvimento, por conta de algumas condições favoráveis.

Podemos citar alguns fatores que contribuíram para um clima conveniente de

desenvolvimento do software, tais como:

1. A capacidade tecnológica que vinha sendo adquiria desde a década de 70;

2. A atuação limitada das multinacionais no mercado local de software para a microinformática, havendo amplos espaços sem concorrência externa e;

3. A expectativa de uma política setorial de fomento que criasse mecanismos de proteção para a concorrência externa e de estímulo a produção local de software, alimentada por diversas iniciativas de intenção do Governo. (ZUKOWSKI, 1994, p. R-2).

Essas condições estimulavam o empreendimento local no setor, bem como a

realização de investimentos em P&D relativamente elevados, da ordem de 40%, sendo

esse último um fator vital para que as empresas nacionais pudessem eliminar as

possíveis barreiras de entrada, e manterem-se no mercado.

Em meados dos anos 80, mesmo que a indústria mundial de software fosse

jovem, esta vinha experimentado um intenso dinamismo, passando por um processo de

constantes transformações, desde sua Engenharia até sua estrutura de mercado.

Em 1987 havia no país um mercado deste produto bem expressivo, com cerca de

1500 empresas que comercializavam mais de 8.000 produtos quase de todos os tipos e

de variados portes de equipamentos. O Mercado brasileiro era o 10º no ranking

mundial, conforme os dados da OECD, e almejava um grande potencial de crescimento,

dada a informatização incipiente e um potencial mercado, dadas as dimensões do país.

Contudo, não havia regulamentações para a comercialização deste produto,

muito menos uma política setorial para o desenvolvimento desta indústria. Ainda que as

universidades promovessem bons cursos, e houvesse um mercado de trabalho promissor

como as empresas da Assespro, que geravam cerca de 18.000 empregos diretos e, na

amostra da SEI, 73% do pessoal empregado era de nível superior, sendo 8% pós-

graduados (ZUKOWSKI, p. R-3).

Em suma, havia um mercado promissor para os recursos humanos qualificados,

que pressionava o Governo a implantar uma indústria de softwares no país, pois havia

no Brasil uma base mínima para seu início.

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Dadas estas condições e potencialidades do setor, Zukowski (1994), chama

nossa atenção para o interesse das multinacionais do setor. Bastava o estabelecimento

de uma proteção eficaz do Governo contra a pirataria em um ambiente de livre

concorrência que certamente as empresas nacionais perderiam seu domínio em seu

próprio território.

Desta forma, o mercado nacional dependia do Estado para implantar uma

política setorial de fomento que tratasse de questões básicas, tais como:

1. Regras para a comercialização e internamento (envolvendo até mesmo o regime de tributário do software, que não estava definido;

2. Proteção de propriedade intelectual; 3. Criação de fontes de recursos e mecanismos para financiamento; 4. Criação de mecanismos de geração e canalização de demanda

para indústria local, pelo menos no que se refere ao aproveitamento do poder de compra do Estado; e

5. Coordenação de projetos de P&D, envolvendo universidades e empresas, articulados em estratégias com definição de prioridades. (ZUKOWSKI, 1994, R-4).

Em 1987 foi promulgada a chamada “Lei do Software”42. Este projeto de lei do

Executivo tratava-se da proteção dos direitos do autor, e da regulamentação do

internamento, cadastramento e comercialização de software. De acordo com Roselino

(2006, p. 115-116, grifos do autor):

No caso do software, um instrumento protecionista específico foi criado em 1987, exigindo-se a inexistência de similar nacional para o registro e comercialização de software estrangeiro voltado aos equipamentos de pequeno e médio porte no país. Como isso, o desenvolvimento de software passou a contar com uma política de proteção ao similar nacional.

Como ressalta Zukowski (1994, p. R-8) “É inegável o papel que a

regulamentação trazida pela Lei de Software, principalmente a proteção jurídica,

desempenhou em termos de amadurecimento e impulso ao desenvolvimento do

mercado”.

Por outro lado, ressalta o autor, que a lei criou uma série de instrumentos que

não tiveram efeito, ou que não chegaram a ser aplicados, em parte, por problemas de

formulação. O governo estabeleceu uma política de não interferência estatal no

funcionamento do mercado43.Orientando a Lei para o sentido das forças do mercado.

42 Lei 7646/87, aprovada em três de outubro de mil novecentos e oitenta e sete. 43 Não se pode confundir com “abertura da concorrência externa” porque o mercado de softwares nunca esteve fechado.

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As conseqüências deste afastamento do Governo perante as demandas do setor,

em um primeiro momento, acarretaram: No crescimento do mercado, como era

esperado; na ampliação e consolidação do domínio das multinacionais neste setor e no

aumento de preços.

Ainda sobre a aplicabilidade da Lei, Roselino (2006, p. 115-116, grifos do

autor) enfatiza que:

Esse instrumento visava impor um rígido controle das importações de software estrangeiro, a exemplo das restrições existentes para os equipamentos. No entanto, em razão da natureza específica desse bem imaterial, os efeitos foram menos significativos. Essa proibição resultava na generalização das cópias ilegais. A natureza não-material e reprodutível do software dificulta enormemente o controle protecionista, uma vez que uma única cópia de um programa introduzida no território nacional poderia dar origem a incontáveis cópias irregulares. Zukowski (1994) argumenta ainda que, além da ineficiência das barreiras à importação, a exigência de comprovação de similaridade era bastante complicada, e o ônus do processo recaía sobre a empresa nacional.

Como já citado acima, empresas que tinham capacidade para desenvolver

softwares voltaram-se para a comercialização de produtos estrangeiros, abandonando

seus projetos de desenvolvimento de produtos nacionais.

Mesmo com esses problemas, muitas empresas continuaram investindo em

desenvolvimento de softwares e ampliaram o volume de vendas, mesmo com a

constante concorrência estrangeira.

Em síntese, cabe ressaltar que as empresas locais eram relativamente pequenas,

estando muito distante das grandes multinacionais de software no que se refere a

indicadores como faturamento, valor absoluto nos dispêndios com P&D e marketing.

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2.5 OS ANOS 80-90: DÉCADA PERDIDA PARA O BRASIL – A ESTAGNAÇÃO POLÍTICO-ECONÔMICA44

“Mas, o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta. É pirueta para cavar o ganha

pão”.

Chico Buarque

Até os anos de 1980 a taxa de crescimento do Brasil era considerada estável,

porém, à medida que a inflação vinha apresentar níveis bem elevados, a economia,

praticamente, estagnou45. A razão do processo inflacionário no Brasil pode ser

considerada uma questão ampla e complexa46.

De acordo com Baer (1995), um dos principais fatores que contribuíram para seu

crescimento pode estar ligado tanto à estrutura institucional brasileira como ao

comportamento de seus componentes.

Estes dois fatores, em tese, explicariam a explosão inflacionária desde 1973. A

década de 80 seria um período de inflação crescente e políticas macroeconômicas

caóticas.

44 É importante destacarmos que durante a Década de 1980-1990, nós tivemos, somente, a “Lei de informática” de 1984, como única medida norteada para a o desenvolvimento de C&T.I nacional.Esta década está inserida em uma profunda estagnação econômica, onde as políticas públicas para o setor, não estarão nos planos do governo. Os projetos para o desenvolvimento do setor serão retomados em 1991 com o fim da vigência da lei de 1984. Esta ausente intervenção estatal será abordada nas próximas seções. 45 Esta década foi marcada por um desempenho econômico tão desfavorável, que suscitou interpretações divergentes sobre as razões desta performance. Entre tantas, podemos destacar a interpretação que contempla os economistas críticos do ajuste externo da economia brasileira. Como cita Carneiro (2002), uma síntese de suas posições encontra-se em Brasil (1987), no qual se conclui que as tentativas de retomar o crescimento econômico e melhorar a distribuição da renda, realizadas em meados da década de 1980, esbarraram na restrição externa, ou seja, na imperiosidade de gerar elevados superávits comerciais para fazer face ao serviço da dívida. Observando esta questão em uma perspectiva ampla, Cardoso de Mello (1984) assinala a inconsistência temporal entre o crescimento das exportações, o principal fator para a geração e sustentação de superávits, e a transferência de recursos ao exterior.Isso porque o bom desempenho das primeiras dependeria da renovação tecnológica do parque produtivo nacional, num contexto internacional de aceleração do progresso técnico.Tal período de ajustamento recessivo comprometeu o crescimento sustentado do país em uma perspectiva à longo prazo.Para mais detalhes acerca deste assunto ver, CARNEIRO, 2002, p. 141-145. 46 A origem da inflação no país é uma questão que envolve inúmeros fatores. Além de não ser consensual entre os estudiosos, ela é repleta de conjunturas que contribuíram para seu agravamento ao longo dos anos. Podemos destacar a visão de Baer (1995 p. 136-140), que escreveu que a natureza da inflação brasileira tem dois pontos de vistas. De um lado, há a tradição clássica ortodoxa e, do outro, os “neoestrturalistas”. Enquanto a primeira “escola” apontava as políticas monetárias e fiscais (como as políticas de stop and go), os choques agrícolas e uma taxa de crescimento baixa e inconstante como algumas das principais causas do processo inflacionário brasileiro; os “neoestrturalistas” apontavam a inflação inercial (aquela em que a inflação presente é uma função da inflação passada. Deve-se à inércia inflacionária, que é a resistência que os preços de uma economia oferecem às políticas de estabilização que atacam as causa primárias da inflação. Seu grande vilão é a "indexação", que é o reajuste do valor das parcelas de contratos pela inflação do período passado). Tal inflação era aprofundada pelo período de recessão, desta forma, tal “escola” a indicava como maior causa da explosão inflacionaria no país.

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O segundo choque do petróleo (1979) duplicou seu preço, houve um substancial

aumento dos juros nos Estados Unidos, somado à contínua queda nas relações de trocas

comerciais mundiais, tornaram a década de 80, uma década custosa aos cofres públicos,

além de gerar tensões sociais que agravavam a relação Regime-Sociedade.

O desempenho da economia nacional durante o Governo Figueiredo (1979-

1985) foi bastante irregular. Entre 1979-84 a renda per capita declinou 25%, o

percentual das pessoas com renda domiciliar per capita inferior a linha de pobreza

aumentou de 38,78% em 1979, para 48,39% em 1984.

Entre os anos 1970-90 já haveríamos desembolsado quase 276 bilhões de dólares

em juros e amortizações. Ainda assim, a dívida bruta externa do país situava-se em 123

bilhões de dólares. Do total desembolsado, 236 bilhões de dólares foram pagos entre

1980-90 (PIRES, 2010, p. 246).

Em 1982 o Brasil pediu socorro ao FMI, porém o fechamento das linhas de

crédito dificultou os ajustes dos juros internos, os quais poderiam ter sido minimizados

com os empréstimos.

A situação cambial “beirava a insolvência”, como dito por Pires (2010), o autor

ainda ressalta que o país teve que honrar aproximadamente 20 bilhões de dólares entre

amortizações e juros, ante um superavit comercial de apenas 780 milhões dólares.

Como ressaltou Filgueiras (2000) o resultado desse processo de exportação de

capitais foi avassalador para o Brasil. Nossa capacidade produtiva já estava muito

aquém do seu potencial pleno quando os primeiro índices indicando o aparecimento da

“crise da dívida”.

Portanto, “a redução da demanda interna preconizada no FMI, e adotada pelo

Governo brasileiro como recursos para diminuição das importações teve efeito

avassalador sobre a atividade econômica, o emprego e a renda” – Como explicitado na

Tabela 5 –. Adicionalmente, assistíamos o arrocho salarial, o desemprego, o corte de

crédito para a produção agrícola e à ampliação do atraso tecnológico no setor industrial.

Tabela 5 – Inflação, PIB e Taxa de investimento nos Governos Figueiredo e Sarney

Ano Inflação

(%)

Taxa de Crescimento

do PIB (em %)

Investimento Interno Bruto (em relação ao

PIB)

Governo

1980 100,2 9,3 22,9

Figueiredo 1981 109,9 -4,3 24,3

1982 95,4 0,8 23,0

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1983 154,5 -2,9 19,9

1984 220,6 5,4 18,9

1985 225,5 7,8 18,0

Sarney

1986 142,3 7,5 20,0

1987 224,8 3,5 23,2

1988 684,5 -0,1 24,3

1989 1320,0 3,2 26,9 Fonte: Conjuntura Econômica – FGV (abril/99) apud FILGUEIRAS, 2000, p.75;

Os resultados desta nova fase de desenvolvimento brasileiro pós-choque do

petróleo (1973), e a repercussão das avassaladoras crises, externa e interna, do início

da década de 80, provocaram uma enorme insatisfação em todos os segmentos da

sociedade, acirrando as tensões sociais existentes no país, como expôs Filgueiras

(2006, p. 181), tal descontentamento se expressou entre outros eventos: [...] Na constituição do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra

(MST), criação da Central única dos Trabalhadores (CUT), fundação

do Partido dos Trabalhadores (PT) e na realização de cinco greves

gerais entre 1983 e 1989 [...].

A partir deste cenário, na esfera político-econômica, a nova fase democrática

brasileira trouxe consigo grandes desafios, os principais eram: a dívida externa, o déficit

público e a inflação.

Para o novo governo o ato emergencial a ser executado, sem dúvidas, era a

procura por uma estabilização econômica durável. Todavia, durante a administração do

presidente José Sarney (1986 – 1990), não havia de fato um projeto estratégico de longo

prazo, além disso, a falta de coesão sociopolítica dificultou a implementação e o

desenvolvimento de reformas de curto prazo, predominaram os planos de estabilização

econômica – Plano Cruzado (1986/87)47, Plano Bresser (1987)48 e Plano Verão (1989)49

–, cujos resultados foram pífios.

47 A estratégia era combater a inflação por meio do crescimento de mercado interno. Lançado em 28/02/1986. Obteve sucesso à curto prazo somente.Com o plano não deu certo, um de seus formuladores, o Ministro da Fazenda, Dílson Furnalo renunciou em 1987.Em abril deste mesmo ano Luis Carlos Pereira-Bresser é empossado em seu lugar, com o desafio de montar um projeto a longo prazo. 48 A estratégia era estimular as exportações, realinhar os preços relativos e pagar os juros da dívida externa. Seu objetivo era deter o processo inflacionário e evitar a hiperinflação. O plano entrou em vigor a partir de junho de 1987, e assim como o plano anterior, teve sucesso apenas à curto prazo, desta forma, em dezembro daquele mesmo ano, Bresser-Pereira renunciou. 49 Sob o comando de Maílson de Nóbrega, houve uma reforma monetária, conhecida como “plano verão”, e foi instituída em 14 de janeiro de 1989. A crítica ao plano verão baseava-se no argumento de

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Sarney saiu do governo e no final dos anos 80 observam-se projetos distintos em

disputa na corrida presidencial, em um contexto no qual o país beirava hiperinflação e o

tom de desesperança era dominante.

De um lado, começou a ganhar força, refletindo a ascensão dos movimentos

sociais nas cidades e no campo, um projeto reformista, cujas principais bandeiras eram a

reforma agrária, a suspensão do pagamento da dívida externa, a retomada do

crescimento econômico, o aumento do emprego e expansão dos direitos sociais.

A candidatura de Luis Inácio Lula da Silva, pelo Partido dos Trabalhadores

(PT), as eleições de 1989 expressam esse projeto, que pode ser sintetizado pelo slogan

da campanha: “Terra, Trabalho e Liberdade”.

De outro lado, Fernando Collor de Mello, com enorme apoio da imprensa,

ganhou crescente espaço a partir de seu programa calcado na moralização da política e

dos serviços públicos, e de alinhamento às propostas Liberais de abertura e

desregulamentação das Economias nacionais, que ganhavam rápido terreno em escala

mundial, naquele momento. Os setores conservadores viram em Collor, a “tábua de

salvação” contra o avanço da esquerda, embora, nem todos estivessem convictos do

caminho a trilhar.

A resolução do impasse, como sabemos, foi a vitória de Collor nas eleições de

1989.

que ele tornava as expectativas inflacionárias dependentes do sucesso das políticas fiscal e monetária no dia a dia constituindo-se em passo atrás com a relação á experiência heterodoxa já acumulada em erros anteriores, de fato o plano fracassou rapidamente (PIRES, 2010, p. 260)

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2.6 O LACÔNICO GOVERNO COLLOR (1989-1992): PRELÚDIO

NEOLIBERAL

Em março de 1990, Fernando Collor de Melo assume a presidência, e

diferentemente de Sarney, apresentou um plano político-econômico bem definido, as

metas eram reduzir os altos índices inflacionários e modernizar a economia através de

medidas drásticas de liberalização.

Desta forma, assistiu-se o começo de uma ruptura político-econômica que

mudaria a trajetória de desenvolvimento do País. Seu planejamento econômico pautava-

se na mistura do “choque heterodoxo” com as premissas das organizações multilaterais

(FMI, Bird, Federal Reserve e etc.), o chamado “Consenso de Washington”50.

Para acabar com uma inflação que passava de 84% ao mês, o Plano Collor

institui:

a) Ajuste Fiscal de 10% do PIB b) Programa de privatizações c) Abertura Econômica d) Controle severo da movimentação financeira; e e) Congelamento de preços, com prefixação em seguida. (PIRES, 2010, p. 264).

Pode-se dizer que o início dos anos 90 seria marcado pela adoção de um novo

conjunto de políticas macroeconômicas e implementação de reformas favoráveis ao

mercado, demonstrando ser uma clara tentativa de retomar seu antigo dinamismo

econômico. Como ressalvam Pinheiro, Giambiagi, e Moreira (1997, p. 8):

Essas reformas compreenderam uma série de iniciativas que

objetivavam aumentar a produtividade por meio da minimização da

50 Expressão Consenso de Washington nasceu em 1989, criada pelo economista inglês John Williamson, ex-funcionário do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI). Numa conferência do Institute for Intemational Economics (IIE), em Washington, Williamson listou políticas que o governo dos Estados Unidos preconizava para a crise econômica dos países da América Latina. Por decisão do Congresso norte-americano, as medidas do Consenso de Washington foram adotadas como imposições na negociação das dívidas externas dos países latino-americanos. Acabaram se tornando o modelo do FMI e do Banco Mundial para todo o planeta. De outro lado, movimentos nacionalistas e de esquerda criticam essa política e protestam contra sua aplicação. O neoliberalismo prega que o funcionamento da economia deve ser entregue às leis de mercado. Segundo seus defensores, a presença estatal na economia inibe o setor privado e freia o desenvolvimento. Algumas de suas características são: a)Abertura da economia por meio da liberalização financeira e comercial e da eliminação de barreiras aos investimentos estrangeiros; b)Amplas privatizações; c)Redução de subsídios e gastos sociais por parte dos governos; d)Desregulamentação do mercado de trabalho, para permitir novas formas de contratação que reduzam os custos das empresas (Ed. Abril, 2004).

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interferência governamental no mercado e da maximização da

competitividade na economia. Dentre essas iniciativas, as mais

importantes foram: A liberalização do comércio, a privatização e a

desregulamentação. O impacto da liberalização do comércio foi

imenso, tanto se consideramos a integração do país à economia

mundial como o incentivo que isso representou para a modernização

tecnológica e o incremento da produtividade.

Nesta direção, eles avaliam que a partir de 1990/91, o Brasil da década de 90

passaria por três reformas de cunho político-econômico, cabe aqui ressaltar a primeira: Nesta primeira (1991/94), o Brasil abandonou o tradicional regime de substituição de importações, abrindo a economia e privatizando firmas industriais. A economia reagiu positivamente, mas a alta inflação barrou os ganhos de eficiência e o crescimento; (PINHEIRO; GIAMBIAGI; MOREIRA, 2001, p. 29, grifos nossos).

Quanto ao aspecto externo, ainda no Governo Collor, deu-se efetivamente início

ao processo de liberalização, foi criado o PND (Plano Nacional de Desestatização) que

englobava empresas de grande porte.

Como se sabe, as políticas industriais a favor de medidas à curto prazo, o

fracasso de seus Planos Econômicos – “Collor 1”, “Collor 2” –, e as acusações de

corrupção e de tráfico de influências em seu mandato, paralisaram o Governo e

aceleraram o processo de impeachment, e destituição do cargo. Collor deixou a

presidência em setembro de 1992. E sobre este último, assim descreveu Chossudovsky

(1999, p. 170-171 apud PIRES, 2010, p. 268):

Nos “bastidores”, longe dos olhos do público uma transição multibilionária estava sendo negociada pelo ministro da Economia de Collor, Maurício Marques Moreira, e pelos credores internacionais do Brasil, de junho a setembro de 1992, coincidindo cronologicamente com o processo de impeachment do presidente. Os ministros do governo renunciaram e declararam publicamente que não apoiavam Collor. Marques Moreira, “internacionalmente respeitado”, permaneceu em seu cargo, assegurando a necessária ligação com o FMI e os credores comerciais. [...] Um acordo preliminar sobre a fórmula da “reestruturação” (segundo o plano Brady) dos US$ 44 bilhões devidos aos bancos internacionais foi divulgado pouco antes do impeachment de Collor pelo Congresso em 29 de setembro de 1992. Era uma liquidação: o ônus do serviço da dívida do Brasil aumentaria substancialmente em decorrência da transação.

Desta maneira, o Governo brasileiro se comprometeria a condicionar sua política

econômica ás premissas impostas pelos credores internacionais, “coincidentemente”,

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é neste contexto que as barreiras não tarifárias vão cair drasticamente, até que muitas

sejam abolidas por completo, como citado por Pinheiro, Giambiagi e Moreira (2001,

p. 9):

No período 1988/93, o governo reduziu drasticamente a proteção aos produtores nacionais. Duas reformas, em 1988 e 1989, promoveram a queda da tarifa média sobre as importações, que baixou de 51% para 35%. A maioria das barreiras não-tarifárias foi eliminada em 1990, culminando com o fim da reserva de informática em outubro de 1992.

Como enfatizado por Carneiro (2002, p. 313, grifos do autor):

[Conforme assinalados per Holanda (1997) e Hay (1997),] a

estrutura herdada de meados dos anos 50 foi inteiramente

reformulada no início dos anos 90. Desde logo, as barreiras não tarifárias – consideradas por muito como o principal instrumento de proteção – foram inteiramente eliminadas. Foi abolido o Anexo C, uma lista da qual faziam parte cerca de 1.300 produtos de importação proibida em razão da produção similar nacional. Os regimes especiais de importação foram reduzidos ao drawback, à Zona Franca de Manaus e ao setor de tecnologia de informação.

Como Roselino (2006) sintetizou, após a vitória de Collor, essa nova

configuração institucional em consonância com a postura mais geral da política

governamental de orientação liberal provocou mudanças significativas na indústria

nacional.

Com o regime mais aberto e desregulamentado, com quebra de barreiras, nós

temos durante o breve Governo Collor que uma nova lei de informática foi aprovada

pelo Congresso em 1991, mesmo que a definição de novas regras para o setor tenha

ocorrido com a aprovação da Lei 8.248/9151, sua vigência inicia-se apenas com a

remoção dos mecanismos de regulamentação em 1993.

51 Lei aprovada dia vinte e três de outubro de mil novecentos e noventa um.

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2.7 A NOVA LEI DE INFORMÁTICA (1991)

Em 1998, o Ministério da Ciência e Tecnologia divulgou um balanço sobre os

resultados da Lei criada em 1991, e neste, consta quais eram as premissas e objetivos

de tal legislação:

Esta política tem como objetivo promover a inserção competitiva da indústria brasileira de tecnologia de informação no mercado globalizado, através de ações aplicadas nas áreas tecnologia e industrial voltadas para geração de tecnologias e maior agregação de valor nas cadeias produtivas; domínio das inovações tecnológicas de produtos e de processos em áreas-chave do setor; maior participação do setor produtivo privado nos dispêndios de C&T no País: Maior interação entre os setores produtivos e acadêmico; expansão do parque industrial de informática; geração de mais empregos qualificados associados a esse setor; e estimular a difusão do uso da informática como meio de modernização de outros setores industriais e de serviços. (BRASIL, 1998, p. 1).

A chamada “Nova Lei de Informática” eliminou as restrições anteriores ao

capital estrangeiro e definiu uma nova política de estímulos, por meio de incentivos

fiscais, relacionados às atividades de Tecnologia de Informação, centradas na

obrigatoriedade de esforços mínimos em P&D. De acordo com Garcia e Roselino

(2005, p. 5):

Esta legislação ocupou [desde então, parte do chamado] “vazio institucional” deixado pelo desmonte do aparato da política de informática. A definição deste novo regime deu-se ainda com o lançamento de programas governamentais, com enfoques mais restritos no início dos anos 90, como parte integrante de um projeto maior denominado DESI (Desenvolvimento Estratégico em Informática).

A preocupação com o desenvolvimento tecnológico do Governo parecia ser

grande, já que, foi percebido pelo Estado que o investimento neste setor na esfera

mundial alcançou níveis surpreendentes, pois, somente em 1992, “a produção eletrônica

mundial ultrapassou as cifras de U$800 bilhões e tinha a previsão de dobrar e alcançar

U$1,7 trilhão na década seguinte (2002), tornando-se a maior indústria no mundo”

(BRASIL, 1998, p. 35).

A Política aprovada na Lei nº 8248/91 enfatizou o atendimento dos requisitos de

inovação, seletividade e qualidade como instrumentos de estímulos, juntamente, com

exigências de contrapartidas. Entre os estímulos, destacam-se:

(a) Imposto sobre Produto Industrializado – IPI. Este incentivo aplica-se às empresas que industrializam produtos de informática.

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Estão isentos do IPI, até outubro de 1999, os produtos fabricados no País de acordo com as regras do Processo Produtivo Básico, propiciando uma redução média em torno de 15% do custo final do produto; (b) Imposto de Renda – IR. As empresas que produzem bens e produtos de informática puderam reduzir em até 50% do Imposto de Renda devido em cada ano fiscal, as despesas em atividades de P&D. Este incentivo teve validade até dezembro de 1997; (c) Capitalização – Qualquer empresa pôde deduzir 1% do Imposto de Renda devido em cada ano fiscal, na compra de ações novas de empresas brasileiras de capital nacional que tinham como atividade principal a produção de bens e serviços de informática. Este incentivo foi válido até o ano fiscal de 1997; (d) Preferência nas compras governamentais. Em condições equivalentes de técnica e preço, o governo dá preferência à aquisição de bens e serviços de informática desenvolvidos e produzidos no País. (BRASIL, 1998, p. 8-9, grifos nossos).

Em contrapartida, era exigido das empresas:

I) Investimentos em P&D. Aplicação de pelo menos 5% do faturamento das empresas em atividades de P&D, sendo 2% em convênio com universidades, institutos de pesquisa ou Programas Prioritários em Informática;

II) Industrialização: atendimento às regras do Processo Produtivo Básico – PPB. Constitui-se no critério mínimo de industrialização para cada classe de produto, em substituição ao conceito anterior de índice de nacionalização, permitindo focalizar em nichos da cadeia produtiva e a conseqüente seletividade de produtos, partes e peças a serem fabricados localmente;

III) Qualidade. Obtenção de certificação ISO 9000 dos Sistemas da Qualidade das empresas, em prazo não superior a dois anos. (BRASIL, 1998, p. 8-9, grifos nossos).

Tal projeto incorporava:

a) Rede Nacional de Pesquisa – RNP, com a missão de desenvolver e implementar a infra-estrutura para a internet com fins acadêmicos;

b) Programa Temático Multiinstitucional em Ciência da Computação – ProTeM-CC, articulando projetos de pesquisa consorciados entre a comunidade acadêmica e setor privado;

c) Programa Nacional de Software para Exportação – SOFTEX, que tinha como objetivo ampliar a presença do software nacional no mercado internacional; e

d) Sistema Nacional de Processamento de Alto Desempenho, SINAPAD, que visava criar centros de prestadores de serviços de supercomputação no País. (BRASIL, 1998, p. 8-9, grifos nossos).

Como citado por Amsden (2001, apud ROSELINO, 2006, p. 138, grifos do

autor):

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Esse tipo de política, não-restritiva, é considerado adequado a essa

nova configuração política de orientação liberal, sendo inclusive

aceita por organismos multilaterais de comércio. A intervenção

estatal para a promoção de ciência e tecnologia em geral, incluindo

P&D, é legal sob as leis da Organização Mundial do Comércio.

Em relatório oficial do Governo, foi constatado que em 1980 havia menos de 200

doutores especializados no setor da informática (Engenharia e análise de sistemas) no

Brasil; com o incentivo da Lei, em 1998 esse número alcançou mais de 700 doutores na

área. A partir da aplicação dos instrumentos previstos na Lei, os investimentos totais das

empresas em implantação, modernização e ampliação industrial no ano de 1997, foi

investido, pelas empresas, já instaladas cerca de R$1,3 bilhão em treinamento,

modernização, ampliação e P&D.

Em comparação com os demais países da América Latina, o mercado de Tecnologia

da Informação brasileiro mostra-se bastante significativo quando comparado aos demais

países da região. Com crescimento superior a 10% ao ano, este mercado atingiu a casa

dos R$ 17 bilhões anuais no final da década de 90 e com maior taxa de investimento em

P&D, entre os demais setores industriais brasileiros.

Com o sucesso dos resultados obtidos52 (Anexo H), em relação ao fim de sua

vigência, os principais aspectos da legislação original (Lei 8.248/91) seriam renovados

em leis posteriores, em 2001 e 200453, com algumas alterações, demonstrando sua

parcial efetividade.

Como analisado por Roselino (2006), além da obrigatoriedade dos investimentos

tecnológicos, a lei também impõe a necessidade de observância das diretrizes do

Processo Produtivo Básico (PPB), com etapas mínimas do processo produtivo a serem

realizadas no Brasil. Desta forma, o processo tecnológico pode estar concentrado em

território nacional, mesmo que este seja apenas o processo inicial da produção do

produto. 52 Tivemos resultados positivos em relação aos Impactos sobre:

a) As atividades de pesquisa e desenvolvimento - P&D; b) Relacionados ao Processo Produtivo Básico – PPB; c) Intra/extra-firma dos investimentos em P&D; d) Qualidade e treinamento; e) Competitividade internacional; e, f) Da suspensão ou extinção dos benefícios da Lei.

53 Lei 10.176/01, sancionada em janeiro de 2001 e Lei 11.077/04, sancionada em dezembro de 2004.

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A importância da Nova Lei manteve consigo altos recursos envolvidos54, como

também seu papel era determinante na criação e manutenção de departamentos,

laboratórios e institutos e grupos de pesquisa. De acordo com alguns atores como Galina

(2003) e Roselino (2006), isso ocorreu especialmente após a liberalização dos mercados

no início dos anos 1990, e após a privatização do sistema estatal de telecomunicações

(Sistema Telebrás).

Diferentemente do período de “reserva de mercado” a “Lei de Informática” tem

o papel de preservar e estimular esse novo ambiente institucional, desta maneira, tal

legislação será um importante instrumento de política, é especialmente adequada para

atrair atividades tecnológicas de empresas e instituições multinacionais, no âmbito do

processo de internacionalização das funções produtivas do país.

O ambiente criado aos fabricantes brasileiros era de otimismo, pois tais leis

aferiam, aparentemente, a possibilidade do desenvolvimento de uma tecnologia nacional

e, com ajuda do Estado, nossas indústrias estariam plenamente aptas para competirem

em termos igualitários com as concorrentes estrangeiras quando a reserva de mercado

terminasse, como ocorrido no Japão e nos Estados Unidos:

A aplicação desta legislação, e a aceitação desta pelas empresas, resultou em significativos valores investidos em P&D durante sua vigência. Estima-se que no período 1993-2000 o montante acumulado destes investimentos tenha atingido R$3 bilhões, provenientes das empresas que operam em todo o território nacional (com exceção da Zona Franca de Manaus) (MCT, 2000, p. 145). O Gráfico 1 apresenta a distribuição destes investimentos dentre as Unidades da Federação, evidenciando a concentração de cerca de 2/3 do valor total no estado de São Paulo.(ROSELINO, 2006, p. 6).

54 O montante de recurso envolvido sob a forma de renuncia fiscal e de suas contrapartidas, segundo os últimos dados consolidados disponíveis, a renúncia fiscal realizada entre 1993 e 2000 somou R$ 4,4 bilhões, contra uma arrecadação em tributos de R$ 8,1 bilhões no período, referentes à produção das empresas incentivadas, frente a investimentos (de 1993 a 2002) de P&D da ordem de R$ 3,3 bilhões.

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Gráfico 1 – Distribuição por UFs dos Investimentos em P&D das empresas beneficiárias de incentivos da Lei de Informática (1993-97)

Fonte: BRASIL, 1999.

Este valor investido foi distribuído entre esforços de pesquisa na própria

empresa (cerca de R$2 bilhões), em instituições de ensino e pesquisa (que ficaram com

aproximadamente, a metade, R$1 bilhão) e ainda recursos direcionados aos programas

prioritários do MCT (SOFTEX, RNP e ProTeM-CC com R$128 milhões).

Ainda conforme informações do MCT (2000), estes benefícios foram

concentrados em poucas empresas com elevados faturamentos. Do volume total de

benefícios concedidos, 83% relacionaram-se com as atividades de apenas 30 empresas,

sendo que as dez empresas com maiores valores receberam o equivalente a 61% dos

benefícios totais.

A Tabela 6 demonstra que os investimentos em P&D é uma tendência geral,

como comprovado pelos vastos montantes de recursos:

Tabela 6 - Gastos com P&D de subsidiárias de Empresas estadunidenses realizados

fora dos EUA, segundo país (US$ milhões)

País 1982 1989 1994 1995 1996

Total 3.851 7.922 11.877 12.582 14.181

Alemanha 1.079 1.726 2.849 3.068 3.061

Reino Unido 824 1.718 2.158 1.935 2.133

Canadá 505 975 836 1.068 1.582

Japão 112 1.000 1.130 1.286 1.337

França 332 521 1.372 1.271 1.321

Itália 150 393 365 346 553

Holanda 65 367 415 495 545

Brasil 97 92 238 249 489

Série1; São Paulo; 64%;

64%

Série1; Rio de

Janeiro; 16%; 16%

Série1; Minas Gerais; 2%; 2%

Série1; Paraná;

12%; 12%

Série1; Rio Grande do Sul; 3%; 3%

Série1; Outros

Estados; 3%; 3%

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Suécia 28 31 72 691 439

Austrália 114 190 230 287 406

Bélgica 223 313 469 292 369

Espanha 40 58 ND 288 317

Irlanda 9 156 396 171 193

Suíça 60 59 191 242 189

Israel 11 29 96 97 166

México 30 37 183 58 119

Cingapura 0 24 167 63 88

África do Sul 23 9 14 17 18 Fonte: U.S. Bureau of Economic Analysis, 2000, extraído de MCT (2000, p. 130)

O que podemos concluir parcialmente sobre os dados apresentados, é que seus

incentivos fiscais impulsionaram a modernização e crescimento das empresas ligadas ao

ramo de tecnologia (da informação).

Porém, o volume inserido no setor pelo Estado, mesmo sendo alto, se comparado

aos países da América Latina, o valor ainda é visto como baixo por alguns autores, já

que o objetivo inicial era o desenvolvimento da tecnologia nacional, o que não ocorreu.

Com a execução da lei, vimos muito mais a qualificação da mão de obra, a

modernização do aparato produtivo e do consumo. A tecnologia inovadora e atual,

naquela época, estaria longe de acontecer, perante o momento delicado que a Economia

atravessava desde a estagnação econômica dos anos de 1980 até o início da década

seguinte.

Com o fim do Governo Collor, e tendo a aplicabilidade da lei iniciado em

meados de 1993, esperava-se que o quadro de incipiente indústria nacional pudesse

mudar com a estabilização da Economia no final do Governo Itamar, e, por conseguinte,

no primeiro Governo FHC.

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Terceiro Capítulo

Anos 90: Neoliberalismo e desenvolvimento

tecnológico? (1992 - 1994)

[Em relação aos grandes grupos industriais privados e estatais], a tecnologia é uma dimensão central de sua atuação internacional. É também um dos campos mais determinantes onde se entrelaçam as relações de cooperação e de concorrência entre rivais55. (CHESNAIS, 1996, p. 141).

A difundida crença de que as reformas voltadas para a abertura das economias e a liberalização dos mercados produzirá uma dramática aceleração no crescimento dos países em desenvolvimento representa um salto no escuro e um ato de fé56. (PAUL KRUGMAN, apud

FIORI, 1998, p. 74).

55 CHESNAIS, François. A mundialização do capital. Xamã, São Paulo 56 FIORI, José Luis. Os moedeiros falsos. 4. Ed.Petrópolis: Ed. Vozes, 1998.

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3.1 A ERA ITAMAR FRANCO (1992-1994): O EFICAZ PLANO REAL DE FHC

“Tá na sua mão, na minha mão na mão da gente Fazer de Fernando Henrique nosso presidente.”

Campanha publicitária de FHC/1994

Em 1992, após o impeachment de Collor, Itamar Franco assume e,

diferentemente, do presidente anterior que estava seriamente associado á uma política

econômica lastreada no viés Liberal – que levou o país à maior recessão de sua história

–, Itamar mostra-se, de acordo com Baer (1995) e Moreira (1997), reticente em relação

às reformas previstas no Governo Collor, além de estar acompanhado de uma

sustentação política frágil.

A crise econômica latino-americana dos anos 80 causada, entre diversos fatores,

pelos ajustes econômicos de orientação neoliberal, acarretou em um grande repúdio a

este projeto por uma parcela expressiva da população brasileira. Esta descontente

parcela indicava um massivo apoio ao candidato de esquerda á corrida presidencial de

1994 – Luiz Inácio Lula da Silva.

Durante a elaboração do Plano Real, a mídia enfatizava que este era um projeto

econômico ainda não testado, fazendo com que a desconfiança de alguns e expectativas

positivas de outros, pressionasse seus formuladores por medidas de estabilização

econômicas eficazes, já que os índices inflacionários apontavam para a hiperinflação.

Para solucionar este problema, no dia 7 de dezembro de 1993, foi então

anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, a nova proposta para

a estabilização econômica, “era uma complexa arquitetura político-econômico-eleitoral,

que [possibilitaria] a derrota, mais uma vez, das forças de esquerda, recolocando na

ordem do dia o projeto liberal urdido desde os tempos do Governo Collor”

(FILGUEIRAS, 2006, p. 92).

O Plano Real foi amplamente discutido no Congresso e implementado

gradualmente. Ele possuía dois fatores fortes: O ajuste fiscal e um novo sistema de

indexação que levaria progressivamente a uma nova moeda. O diagnóstico apresentado

pelo Governo era de que a inflação se originava, em parte, do descontrole de gastos

públicos, desta forma, era preciso cortá-los, reduzindo o tamanho do Estado.

Em quase 10 anos de luta contra a inflação, o Plano Real foi a primeira política

bem-sucedida. Como podemos ver na tabela abaixo.

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Tabela 7 – Brasil: os formuladores de política econômica e suas estratégias de estabilização- (1985-93)

Ano Presidente Ministro da Economia

Principal Política Econômica

Principal evento político

1985

José Sarney

F. Dornelles Ortodoxia Eleição de Governadores e

Assembléia Constituinte (Nov/86)

1986 D. Funaro Plano Cruzado

1987 Bresser Pereira

Plano Bresser Assembléia Constituinte

1988 Maílson da Nóbrega

Arroz e feijão Eleições Presidenciais (Nov/89) 1989 Plano Verão

1990

Collor

Zélia Cardoso

Marcílio M.

Moreira

Plano Collor I Processo de

Impeachment

1991 Collor II

1992 Ortodoxia

1993

Itamar Franco

G. Krause

Indeterminada P. Haddad

E. Rezende

FHC Plano Real Fonte: BAER, 1995, p. 192. [com alterações nossas]

Alguns autores como Pires (2010, p. 293), acreditam que a inflação brasileira, na

década de 80, esteve associada aos desequilíbrios externos, originários dos choques do

petróleo (em 1973 e 1979) e no choque de juros nos Estados Unidos57, que tiveram um

57 A questão sobre os desequilíbrios nas contas brasileiras e o aumento da inflação é ampla e complexa. De acordo com Neves e Oliva Júnior (2004), “o Milagre Econômico, que se estendeu de 1968 até 1973, representou o contexto de grande desenvolvimento industrial e econômico. Nesta época, o PIB brasileiro cresceu, em média, 11,3% com base em bens duráveis e construção civil, com a inflação controlada

e balança comercial equilibrada até 1973. Entretanto, este quadro otimista mostrou-se insustentável a partir de 1973, tendo como causa a ocorrência de fatores endógenos e exógenos à economia brasileira. Quanto aos fatores internos, observa-se o esgotamento da capacidade ociosa e os efeitos da inflação reprimida decorrente do surgimento de pontos de estrangulamento e a limitação de se usar as importações para solucioná-lo, como explica Singer (1973, p. 64): “O defasamento no tempo entre o aumento do preço do produto escasso e o aumento de sua oferta, com a eliminação da escassez, faz com que os demais ramos afetados pela escassez também tenham que reduzir sua produção e, portanto, criam-se condições para a elevação de seus preços. (...) Essa generalização dos aumentos dos preços chama-se inflação e ela tende a mascarar os pontos de estrangulamento”. Complementando, o autor expõe ainda que: “A possibilidade de abrir pontos de estrangulamentos mediante importações tem naturalmente seus limites. Em primeiro, nem todas mercadorias são importáveis. Em geral não se importam serviços de comunicações nem de transporte interno, nem de energia. (...) Em segundo lugar, nem sempre as mercadorias que se necessita importar se encontram disponíveis no mercado mundial (p. 72)”. Quanto aos fatores externos, verificou-se o desequilíbrio no sistema monetário internacional, com a crise do dólar e o fim do sistema de Bretton Woods, e o 1º choque do petróleo em 1973, resultando em recessão mundial e elevado aumento das importações brasileiras em valor monetário e não em volume, o que tornou o saldo da balança comercial negativo em 1974. Nas palavras de Sandroni (1981, p. 41): “Em 1974 acontece o desastre. “A balança comercial sofre um enorme desequilíbrio, isto é, apresenta vultoso déficit”. Arrastado pela elevação dos preços do petróleo e de outras matérias primas, o valor das importações da um salto de canguru: mais do que dobra em apenas 12 meses, passando de 6,1 bilhões em 1973 para 12,6 bilhões no ano seguinte. O

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significativo aumento na década seguinte, precipitando a crise da dívida externa

brasileira que, juntamente, com a depreciação do câmbio, desencadeou um aumento

impressionante dos preços, ocasionando uma espiral inflacionária.

A fonte de sua elaboração se constituiu de, pelo menos, duas vertentes, como

ressaltou Filgueiras (2006):

A primeira foi, sem dúvida, o chamado “Consenso de Washington”, que se expressou para a América Latina os novos caminhos – segundo ele, da estabilização e do desenvolvimento – que deveriam ser trilhados por suas sociedades economias, a partir das transformações mundiais impulsionadas pelos três fenômenos abordados anteriormente: O Liberalismo, a Reestruturação Produtiva e a Globalização (...). A segunda referência importante do Plano Real foi a experiência do Cruzado, com todas as discussões que ocorreram em seu entorno, em particular no que se refere à natureza da “inflação inercial”. Com destaque para o debate e a conseqüente disputa entre as propostas de uma “moeda indexada” versus a de um “choque heterodoxo” e a própria condução prática da política de estabilização do Cruzado que indicou os procedimentos que não

58 deveriam ser repetidos. FILGUEIRAS, 2006, p. 93-94 [grifos do autor e nossos];

valor das exportações se eleva para 7,9 bilhões”. Diante deste quadro de deterioração da economia brasileira, o governo tinha duas alternativas: ajustamento ou financiamento. A escolha se fez pelo financiamento, pois, segundo Castro (1985, p. 29), “o governo brasileiro (...), recusou o caminho do ajustamento, e reiterou sua opção, datada de meados dos anos 60, pelo crescimento com endividamento”, sob o comando do governo do General Geisel, empossado em março de 1974. No entanto, em um primeiro momento, o ministro Simonsen buscou o ajustamento via controle da demanda por meio da compressão do crédito, mas a crise financeira desencadeada pela quebra do Banco Halles levou a uma grande procura por liquidez, inviabilizando essa opção. Como resultado de todos esses acontecimentos, é implementada, em 1974, uma nova política econômica: o Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento – II PND. Podemos concluir de acordo com Singer, que a crise brasileira decorre de problemas estruturais decorrentes do próprio Milagre.Os setores cresceram de uma maneira desorganizada, cuja tentativa de equilibrá-los veio em forma do II PND, como expresso acima”. Para mais detalhes acerca deste assunto ver, NEVES; OLIVA JÚNIOR. II PND, O Plano Real e as possibilidades de crescimento econômico: Uma análise sob a ótica das contas externas.Revista Eletrônica de Economia. N 3, 2004. Disponível em: <http://www.viannajr.edu.br/site/menu/publicacoes/revista_economia/artigos/edicao3/artigo_30002.pdf> Acesso em: 06 abr. 2011. SINGER, P. As contradições do Milagre. Estudos Cebrap. out./dez. 2003 58Entre outras questões, aprenderam que:

a) A inflação brasileira não era apenas inercial e a fragilidade financeira do Estado se constituía num dos seus componentes fundamentais;

b) A passagem abrupta de todos os preços e salários para a nova moeda num determinado dia “D” traz consigo as pressões inflacionárias já presentes na velha moeda – ao sancionar o desalinhamento de preços relativos previamente existentes e detonar a retomada do conflito distributivo na nova moeda;

c) A remonetização da economia e o consumo se aceleraram com a queda da inflação nos primeiros meses da nova moeda – implicando a necessidade de uma política monetária que estabeleça taxas de juros mais elevadas; e

d) O salário real médio do conjunto da economia, em relação àquele que prevalecia anteriormente, pode crescer e pressionar o consumo a curto prazo e etc; (FILGUEIRAS, 2006, p. 100).

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De acordo com seu diagnóstico, o Real iria atuar em três setores: O equilíbrio

orçamentário, a reforma do Estado e a reforma monetária. O caminho escolhido para tal

objetivo passaria por três fases distintas, e sucessivas, ao longo do tempo: o ajuste

fiscal, a criação da Unidade de Referência do Valor (URV) e a instituição de uma nova

moeda (o Real).

Filgueiras (2006, p. 101) ainda ressalta um elemento essencial para o sucesso do

plano:

A chamada revisão constitucional, em andamento naquele período, tendo por objetivo, sobretudo, a efetivação de reformas de caráter liberal, na organização do Estado – em particular, a quebra dos monopólios estatais –, constituiu, segundo os autores do Plano, em elemento essencial para seu resultado final fosse positivo. No entanto, posteriormente, com o fracasso daquele processo revisor naquela direção, essas reformas passarem a fazer arte do discurso do candidato FHC, na qualidade de quarta etapa do Plano.

Em julho de 1993, foi elaborado o Plano de Ação Imediata (P.A.I), que

posteriormente, foi um instrumento importante para a primeira fase do Real, o Ajuste

Fiscal (de 1/12/93 a 28/02/94).

Como destaca Pires (2002), o foco do P.A.I era a austeridade nos gastos

públicos, o programa previa cortes orçamentários em todos os níveis de poder, de

acordo com o Governo, era preciso reorganizar o setor público e suas relações com a

economia provada, para tanto o Governo diagnosticou as seguintes necessidades:

Filgueiras (2000, p. 117-184, grifos nossos) apontou suas diretrizes:

1. Corte de gastos públicos – de aproximadamente seis bilhões de dólares no orçamento de 1993, em todos os ministérios.

2. Recuperação da Receita – através do combate a evasão fiscal, inclusive das grandes empresas.

3. Austeridade no relacionamento com Estados e Municípios – através do corte de repasses inconstitucionais, forçando Estados e Municípios a equilibrarem seus gastos através de cortes.

4. Ajustes nos Bancos Estaduais – em alguns casos, através da intervenção do Banco Central, buscando cortes de gastos e punindo irregularidades com a Lei do Colarinho Branco.

5. Redefinição das funções dos Bancos Federais – buscando o enxugamento da estrutura, evitar a concorrência recíproca e predatória, e punir irregularidades através da Lei do Colarinho Branco.

6. Privatizações – De empresas dos setores siderúrgico, petroquímico e de fertilizantes, por entender que as empresas públicas estarem reféns de interesses corporativos, políticos e econômicos.

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Como ressaltou Baer (1995, p. 380), as principais medidas de ajuste fiscal

consistiam em:

1. Um aumento geral de impostos de 5%59; 2. 15% de todos os impostos arrecadados iriam para um recém-

criado Fundo Social de Emergência; e 3. Corte nos investimentos, no pessoal e nos orçamentos das

empresas estatais, cerca de US$ 7 bilhões.

O Fundo era uma medida temporária, por isso, o governo anunciou planos de

longo prazo para emendas constitucionais, que transfeririam responsabilidades em

diversas áreas (saúde, serviços sociais, habitação, saneamento básico, irrigação,

educação) aos estados e municípios.

A segunda parte do Plano foi introduzida no final de fevereiro, com a criação da

Unidade de Referência de Valor (URV), a qual estava vinculada ao dólar em uma base

de um por um. O Brasil passaria a ter duas moedas em circulação: O Cruzeiro Real,

faria o papel de meio de troca; e a URV, funcionando como unidade de valor, cujo valor

desta unidade era definido a partir de três índices de inflação60.

Os preços oficiais, assim como os contratos e impostos foram convertidos em

URV e gradualmente os preços eram expressos desta forma. Idealmente, este processo

deveria possibilitar a transação paulatina de todos os valores de Cruzeiro Real para

URV. Quando quase toda a Economia tivesse operado sob esta base, haveria a transição

para nova moeda.

Com o passar das semanas, todos os valores estavam relativamente alinhados,

não haveria qualquer pressão para modificações de posições dos agentes econômicos,

desta maneira, estaria garantido que a inflação que contaminava o Cruzeiro Real, não

fosse contaminar a nova moeda. O componente inercial da inflação estaria eliminado

com o papel indexador do URV.

No início do mês de julho, foi introduzida na Economia a nova moeda. A

conversão foi feita na proporção de CR$ 2.750,00 = 1 URV = R$ 1,00. Com a confusão

inicial dos consumidores em relação aos preços relativos na nova moeda, muitos

estabelecimentos tiraram vantagem dessa confusão e aumentaram seus preços.

59 Foi criado também o Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira (IPMF), que posteriormente transformou-se na Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). Esse tributo, inicialmente previsto para vigorar um ano, cobrava 0,25% sobre os cheques descontados e transações financeiras realizadas eletronicamente, por meio do sistema bancário, este imposto foi sendo prorrogado, mediante medida provisória até 2007. 60 O IGP-M da fundação Getúlio Vargas, o IPCA do IBGE e o IPC da FIPE-USP.

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Os empresários esperavam um congelamento de preços, porém, usando as

relações públicas, o Governo sugeriu ao público que diminuíssem suas compras, para

que houvesse uma queda dos preços. Nas primeiras semanas, os preços caíram,

juntamente com os índices inflacionários.

Deve-se mencionar que a inflação também caiu em virtude do aumento das

importações, que foi possibilitado pela valorização do câmbio. A inflação baixou de

uma taxa mensal de cerca de 47% em junho, para 1,5% em setembro. Em outubro e

novembro, ela foi de 2,6% e 2,5%, respectivamente, já em dezembro, esse índice era

apenas de 0,6%.

Desta maneira, a taxa média de crescimento também parecia animadora, dois

trimestres anteriores à introdução do Plano Real, ela atingiu uma média de 4,3%, na

primeira metade de 1994, subiu para 5,1%, e na segunda metade de 1994, estava em

impressionantes 8,8% ao ano no primeiro trimestre de 1995.

Não podemos esquecer que uma das dimensões essencial do Plano Real foi a

Reforma do Estado – em suas vertentes tributária, administrativa e previdenciária61 –

aliadas a privatizações, abertura comercial e financeira O Ministro Cardoso (1993)

explicitou o tipo de reformas que o Estado deveria passar, as quais seriam levadas à

cabo em seu primeiro Governo (1995-1998):

As grandes Reformas que ajudarão o Brasil a crescer se, permitir a volta da inflação. Uma reforma tributária, com menos impostos e uma estrutura mais simples, com mecanismos mais eficientes de combate á sonegação e um sistema de arrecadação mais justo. Uma reforma administrativa que torne o Governo mais eficiente, mais racional, menos gastador e que descentralize a administração, com o fim também, de alguns privilégios de funcionários públicos. Uma reforma da previdência que ter o sistema da falência elimine as aposentadorias especiais, garantidas as atuais, e permita a convivência de um sistema público com o privado.(FILGUEIRAS, 2006, p. 110).

Em síntese, o Plano resultou numa impressionante queda da inflação, fato que,

como previsto, elevou os níveis de eficiência, estimulou a competitividade e atraiu o

investimento estrangeiro. Contudo, houve um nítido aumento dos déficits fiscal e em

conta corrente.

A proposta apresentada por FHC fugiu de armadilhas como congelamento de

preços e salários, sua engenhosa estratégia pautava-se na moeda virtual (URV) atrelada

61 E da ordem econômica, como quebra dos monopólios estatais, tratamento isonômico entre a empresa nacional e a estrangeira, e desregulamentação das atividades e mercados considerados, até então, estratégicos e/ou de segurança nacional.

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ao dólar, além disso, o Governo estipulou um prazo de quatro meses para que os agentes

econômicos se adaptassem a tal unidade. Inicialmente.

O Plano Real teve um balanço positivo em sua aplicação, já que a inflação foi

combatida e os indicadores econômicos sinalizaram nos períodos posteriores á

introdução da nova moeda, que o Brasil voltaria a trilhar o caminho do crescimento.

As privatizações e a abertura comercial ajudaram na execução e no sucesso do

Plano Real, e por esta “proposta” ter conseguido com êxito baixar para menos de 5% a

taxa média da inflação – que no início dos anos 90 beirava a hiperinflação –, seu

formulador, Fernando Henrique Cardoso, pôde colher os frutos desta política, com a

vitória nas eleições presidenciais de 1994.

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3.2 RUPTURA POLÍTICO ECONÔMICA NOS GOVERNOS COLLOR E ITAMAR: O BRASIL ADERE AO NEOLIBERALISMO

“Eu os convoco para mudar o Brasil”. Discurso de posse de FHC/1995

Como dito em seções anteriores, a Nova Ordem Mundial indicava que as

políticas neoliberais seriam o único meio para um país sair de sua condição de

subdesenvolvimento.Caso um Estado almejasse inserir-se neste Novo Contexto pós-

1989 a implementação destas políticas deveriam ser feitas em todas as esferas de sua

Economia.

Como citado por Amado Cervo (2002, p. 2, grifos nossos):

O triunfo do capitalismo sobre o socialismo soviético em 1989 deu impulso à globalização em sua dimensão horizontal e vertical. Três fatores influíram sobre o reordenamento das relações internacionais: A ideologia neoliberal, a supremacia dos mercados e a superioridade militar dos Estados Unidos. A globalização engendrou nova realidade econômica, caracterizada pelo aumento de volume e da velocidade dos fluxos financeiros internacionais, pelo nivelamento comercial em termos de oferta e demanda, pela convergência de processos produtivos e, enfim pela convergência de regulações nos Estados. Essa tendência história deparou-se, entretanto, com duas outras que a continha e outra que a embalava: a formações de blocos econômicos, e a nova assimetria entre o centro do capitalismo e sua periferia.

Como enfatiza Solomon (2001), para a América Latina foram elaboradas algumas

diretrizes bem definidas em direção às políticas favorecidas por instituições como:

FMI, Banco Mundial, Federal Reserve e a elite de executivos dos Estados Unidos:

O Consenso [de Washington] relacionava-se a dez instrumentos políticos: déficits fiscais, prioridades de gastos públicos (reprovavam os subsídios, mas aprovavam a educação e a saúde assim como a infra-estrutura pública), reforma fiscal, taxas de juros, taxas de divisas (ou cambiais, que deviam estimular o crescimento das exportações), política comercial, investimento direto estrangeiro, privatização, desregulamentação e direitos e direitos de propriedade.(SOLOMON, 2001, p. 82).

Deve ser mencionado que desde o início dos anos 90, o Brasil aceitou o

receituário do estudo realizado pelo Banco Mundial Trade Policy in Brazil: The case for

reform. Como ressaltou Batista (1994), as postulações destes estudos prescreviam que a

“inserção internacional de nosso país fosse feita pela revalorização da agricultura de

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exportação”62. Como sublinhado por Sodré (1998) tal estudo tratava-se de impor uma

volta ao passado “ao famigerado refrão do ‘essencialmente agrícola’, tabuleta que foi

pregada à América Latina e em particular ao Brasil durante os séculos ao longo de todo

o sentido de nossa formação63”.

Para Batista (1994, p. 124):

A presunção do Consenso de Washington parecia ser a de que os países latino-americanos teriam condições de competir na exportação de produtos primários para os quais possuíssem uma vocação natural e/ou em produtos manufaturados sobre a base de mão-de-obra não qualificada de baixos salários. Como se fosse possível ou desejável perpetuar vantagens comparativas baseadas numa situação socialmente injusta e economicamente retrógrada e, ao mesmo tempo, enfrentar as visíveis nuvens negras do protecionismo que começam a se esboçar no horizonte dos mercados desenvolvidos.

Houve repúdio de muitos setores intelectuais latino-americanos, que trataram de

relutar as postulações ali estabelecidas, e tentar desencadear a construção de um modelo

alternativo64.

Contudo, a força que as medidas neoliberais avançavam pela América Latina,

principalmente no Brasil, pelo discurso da modernização do consumo e da produção

abafava as discussões acerca desta questão.

Vale destacar que a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP –

logo no início de 1990, divulgou uma publicação intitulada Livre para crescer:

proposta para um Brasil Moderno em que aceita as postulações do Banco Mundial.

Nela a FIESP apoiava o estudo com propostas e medidas de curto e longo prazo ao

predomínio agrícola.

Desta forma, a política comercial brasileira teria seu tradicional perfil

desenvolvimentista de substituição de importações, totalmente mudado de direção,

estávamos caminhando rumo à abertura comercial no Governo FHC. Tal abertura foi iniciada por Sarney; desenvolvida por Collor; em um primeiro

momento, contidas por Itamar Franco, que se mostrou em um primeiro momento avesso

a tal plano político; e por fim, tal processo foi expandido, decididamente, por FHC,

62 Para mais detalhes, ver BATISTA, Paulo Nogueira. O Consenso de Washington: a visão neoliberal dos problemas latino-americanos. 2 ed. In: Caderno Dívida Externa. São Paulo; n.6, 1994. 63 Sobre isto ver SODRÉ, Nelson Werneck. A Farsa do Neoliberalismo. 5 ed. Rio de janeiro: Ed. Graphia, 1998. 64 Como dito por Zornetta (2003), a idéia parecia consistir no questionamento de antigos dogmas e “radicalismos” na propositura de uma concepção nova do mundo que se encaixe perfeitamente e explique “coerentemente” os atuais dilemas da humanidade. Um exemplo típico desta “nova esquerda” na América Latina é o Partido dos Trabalhadores no Brasil, o PT. Para mais detalhes ver, ZORNETTA, 2003, p. 47.

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cujas medidas marcam definitivamente a mudança estrutural e produtiva da Economia

Brasileira.

Amado Cervo (1997) divide a questão da abertura comercial brasileira em três

fases distintas: a primeira fase, iniciada, timidamente, por Sarney, que ordenou a

redução de tarifas de proteção à indústria nacional, provocando um grande e desleal

choque de competitividade dos produtos.

A segunda fase, iniciada, claramente, por Collor, tanto na retórica quanto na

prática, que as medidas adotadas por Sarney seriam expandidas, tais como seu abandono

do projeto “desenvolvimentista” de substituição de importações, promovendo a abertura

da Economia Brasileira.

A terceira fase teve seu início em 1994, no final do breve governo Itamar, antes

da posse de FHC. A abertura do mercado interno e a liberalização comercial são,

nitidamente, adotadas.

A vitória de Collor, como sinalizou Francisco de Oliveira65 (199-, p.55-56)

representava a adequação nacional às atuais demandas das formas produtivas do capital

nos países centrais e às alternativas criadas para a superação das crises dos anos 90

(endividamento externo e hiperinflação, e falta de coesão social).

A eleição foi o momento inicial que anunciava medidas de inegável inclinação

neoconservadora66.

Nesta direção, Amado Cervo (1997, p. 15) concluiu:

Durante o Governo de Fernando Collor de Mello, entre 1990 e 1992, procedeu-se à demolição instantâneas dos conceitos que haviam alimentado há décadas os impulsos da Diplomacia: o Nacional-Desenvolvimentismo e sua carga política e ideológica cederam à vontade de abrir a economia e o mercado de forma irracional e reativa à onda de globalização e neoliberalismo que penetravam de fora. Ao substituí-lo na Presidência, Itamar Franco recuou momentaneamente aos parâmetros anteriores do Estado desenvolvimentista, sem contudo bloquear a consciência da necessidade de se prosseguir com as adaptações aos novos tempos.

65 Para mais detalhes ver, OLIVEIRA, Francisco de. Collor: A falsificação da ira. Rio de Janeiro: Ed. Imago, [199-]. 66 Entre elas, podemos destacar o combate a inflação; a política inicial de flexibilização das relações de trabalho, a reformulações dos mercados cambiais, incluindo a criação do “dólar livre”, para as operações de exportação e importação e demais transações comerciais; o programa de privatização de empresas estatais, a política de total abertura ao capital externo, a instituições dos certificados de privatização, mecanismo através do qual o setor privado poderia comprar empresas estatais; o programa de reforma administrativa, no bojo da reforma do Estado; etc

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Por mais que haja divergências na literatura referente ao período e às práticas

neoliberais e seus respectivos resultados, a grande maioria de estudiosos concorda sobre

as três fases protagonizadas pelos três presidentes citados, as quais foram,

sinteticamente, explicitadas por Cervo.

Com Sarney, as tarifas foram reduzidas, desta forma, já podia ser sentido nestas

reduções o teor neoliberalizante.

Tabela 8 – Taxa Nominal de importações brasileiras

Ano 1985 1986 1987 1988 1989 1990

Média 51,3 51,3 51,0 41,0 35,5 32,2

Moda 30,0 30,0 30,0 40,0 40,0 40,0

Desv. Padrão 26,0 26,0 26,3 17,6 20,8 19,6 Fonte: MTC e SECEX. Disponível em: AZEVEDO; PORTUGAL, 1997a, p.02.

No governo Collor houve a redução da legislação que impedia as importações de

produtos estrategicamente protegidos pela indústria nacional. Como destacou Azevedo e

Portugal (1997), as medidas de Collor, provocaram francas mudanças na política

comercial brasileira, o país estava caminhando rumo à abertura comercial.

Em eu governo houve a eliminação total das barreiras não-tarifárias, instrumento

de política comercial utilizado para a proteção do mercado interno. A estratégia do

presidente era provocar uma competitividade pela entrada das indústrias americanas e

européias, desta forma, haveria um aprimoramento e a modernização do parque

industrial, mesmo que este estivesse desprotegido.

Collor ainda promoveu reformas administrativas com o intuito de que estas

acelerassem os processos de transações comerciais internacionais, eliminando as

burocracias existentes das importações e exportações.

Em seu mandato houve as reduções graduais de alíquotas de importações.

Programadas baseadas no parque industrial interno. Com o Plano Real em vigor, a

continuidade pela abertura comercial era fundamental para o sucesso do Plano, desta

maneira, as reduções foram antecipadas no Governo FHC.

Tabela 9 – A evolução efetiva da Tarifa Legal de Importações x Cronograma

Tarifário (%).

Ano 1991 1992 1993 1994 1995

Tarifa Nominal Efetiva legal

Média 25,3 20,8 16,5 14,0 12,6

Moda 20,0 20,0 20,0 20,0 2,0

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Desv. Padrão 17,4 14,2 10,7 8,3 9,0

Cronograma Previsto de Redução de Tarifa

Média 25,3 21,2* 17,1* 14,2* 12,6

Moda 20,0 20,0 20,0 20,0 2,0

Desv. Padrão 17,4 14,2 10,7 7,9 9,0 Fonte: MCT – Secex Notas: (*) O Cronograma tarifário previsto em 1991, foi posteriormente antecipado em 01/10/93 e 01/10/94. Disponível em: AZEVEDO; PORTUGAL, 1997a, p.4 Quando Itamar Franco assumiu o Governo, ele demonstrou claramente que não

estava de acordo com o plano econômico de caráter neoliberal definido por Collor, por

essa razão, o presidente, que era adepto às reformas produtivas e estruturais por meio da

substituição de importações, interrompeu o processo de abertura comercial, esta

suspensão teria fim no ano que o Plano Real fosse inserido na Economia, antes mesmo

de FHC assumir a presidência.

Nas palavras de Amado Cervo e Clodoaldo Bueno (2002, p. 472):

Nas mãos das autoridades econômicas, o comércio exterior deixou de ser instrumento estratégico de desenvolvimento e converteu-se em variável dependente da estabilização monetária.

Como veremos nas seções seguintes, o Plano Real representou a decisiva

vinculação do país às determinações do “Consenso de Washington” e a sonegação de

qualquer alternativa dentro dos limites do capital, como explanado por Fiori (1998, p.

14, grifos do autor):

Poucos têm dúvida de que o Plano Real, a despeito de sua originalidade operacional, integre a da família dos planos de estabilização discutidos na reunião de Washington onde o Brasil esteve representado pelo ex-ministro Bresser Pereira. E aí se inscreve não por haver sido formulado por um grupo pragmático de technopols, mas por sua concepção estratégica de longo prazo; anunciadas por seus autores, desde a primeira hora, como condição inseparável de seu sucesso no curto prazo: ajuste fiscal, reforma monetária, reformas liberalizantes, desestatizações e etc., para que só depois de restaurada uma economia aberta de mercado [pudesse] se dar então a retomada do crescimento (...). Desde este ponto de vista, aliás, o Plano Real não foi concebido para eleger FHC, FHC é que foi concebido para viabilizar no Brasil a coalizão de poder capaz de dar ao FMI, e viabilidade política o que falta ser feito das reformas preconizadas pelo Banco Mundial.

Nas eleições de 1994, podia sentir-se o tom de otimismo do fim da Guerra-Fria,

o tom ideológico de “pensamento único”, da “única alternativa”, da “celebração das

novidades e modernidades”, da “reestruturação produtiva”.

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A alusão de um desenvolvimento sob as prescrições do Consenso de

Washington era presente em praticamente todos os setores do Governo, já que a

hiperinflação foi controlada, a busca por “novos caminhos”, “novas diretrizes” fizeram

com que o Brasil rompesse sua tradição desenvolvimentista.

Após a breve explanação sobre as mudanças de paradigmas político, econômico

e ideológico nos Governos Collor e Itamar, cuja transformação norteará as relações

político-econômicas brasileiras a partir do início dos anos 90. Na próxima seção iremos

aprofundarmos estas mudanças de paradigmas na questão tecnológica.Procuraremos

entender as continuidades e rupturas das medidas pensadas no setor tecnológico-

industrial do país até as eleições de 1994.

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3.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE A CONTINUIDADE E DESCONTINUIDADES DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO NO BRASIL (1980-1995)

Das 500 maiores empresas privadas existentes no Brasil, as multinacionais aumentaram: Em 1995, eram 143; em 1998, eram 209; e em 2000, eram 225.

Núcleo de Economia Industrial e Tecnologia da

Unicamp

Desde o início dos anos 60, a produção e o consumo de produtos ligados à

informática – principalmente na produção especializada de softwares – estiveram

concentrados em poucos países, sendo que os seis maiores67 eram responsáveis por

quase 70% do mercado global nos anos 80. Os Estados Unidos mantiveram a liderança

deste setor, e já no ano de 1987, somente este país era responsável por 70% do mercado

mundial.

Enquanto a América Latina passava por uma de suas piores crises econômicas

na chamada “década perdida”, em que dezenas de empresas pediram falência, os

empreendimentos americanos mantiveram um crescimento espetacular, principalmente

as que produziam tais componentes tecnológicos como ilustração temos as empresas

Ashton-Tate e a Microsoft Corporation que tiveram um crescimento de 496% e 983%,

respectivamente, de 1982 e 1985.

Este domínio é resultado de fatores ligados à grande dimensão do mercado

americano, do impulso gerado por fortes programas de P&D com fundos do Governo,

da disponibilidade de recursos humanos gerado pelo sistema universitário, e vem sendo

sustentado por pesados investimentos provados em P&D.

Porém, ainda que os Estados Unidos estivessem na liderança, empresas

européias e asiáticas (as japonesas)68, se fortaleciam em seus mercados locais, e

começavam a penetrar no mercado americano.

67 De acordo com Zukowski (1994), os seis países são Estados Unidos, Japão, França, Alemanha, Reino Unido e Itália. 68 De acordo com Zukowski (1994, p. 63), Tigre (1985) e Schware (1989), na Europa, os principais mercados domésticos de softwares era os da França, Alemanha, Reino Unido e Itália. O desenvolvimento local era bastante significativos, mas maior parte da demanda era atendida, basicamente, por produtos americanos.No Reino Unido, em 1985, o desenvolvimento local representava quase a metade do mercado e as receitas oriundas do exterior equivaliam a cerca de 11% do mercado interno e cerca de0,5% do mercado do resto do mundo.No entanto, o desenvolvimento local se concentrava em software sob medida e, conforme estudo do Advsory Council for Applied Research and Development, o mercado era dominado por fornecedores estrangeiros, principalmente dos Estados Unidos.A França,em 1985 apresentava um alto índice de utilização de software sob medida, cerca de 60%, o que possibilitava ás empresas locais

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No Brasil, o cenário era outro. Não havia uma indústria que englobasse a

produção de inúmeros componentes de informática, somente as empresas de softwares

desenvolviam-se rapidamente. Apesar do contrabando e da pirataria, em 1987 havia

cerca de 1500 empresas deste ramo. Algumas delas obtinham um rápido crescimento

em vendas, tornando-se relativamente grandes e dominando parcelas expressivas de

segmentos importantes do mercado.

Muitas destas conseguiam montar uma estrutura organizacional e atingir um

certo grau de profissionalização, ao tempo que fixavam suas marcas, consolidando-se

como importantes produtoras de softwares.

Apesar da difusão do uso de computadores no país só se verificar ao fim da

década de 60, foi neste exato contexto que o mercado brasileiro ainda era atendido

basicamente por importações dos produtos norte-americanos, agravando a dependência

nacional, a qual seria prejudicada á longo prazo, principalmente, quando o Brasil

buscasse implementar em suas políticas públicas, estratégias à fim de competir com

estas empresas.

Desta forma, afirmou Piragibe (1985, p. 110):

[...] Reproduzia-se no mercado brasileiro de computadores o mesmo perfil encontrado em escala internacional. Tal situação confirma a generalização dos padrões de produção e consumo nesse setor, decorrente da presença dominante das subsidiárias das empresas multinacionais de origem Americana nos diversos mercados nacionais.

No Brasil, ao final dos anos 80, havia cerca de oito mil programas cadastrados

na SEI, sendo mais da metade estrangeiros, abrangendo todas as áreas de software

básico, de suporte e aplicativos. Porém, ao que se refere ao setor de software como um

todo, Zukowski (1994) contempla as observações de Lucena (1988, p. 11-15 apud

ZUKOWSKI, 1994, p. 78-79, grifos nossos):

O país apenas não possuía experiência no desenvolvimento de sistemas muito grandes e havia soluções capazes de concorrer com pacotes importados em software aplicativo, básico e de suporte. As atividades de pesquisa das universidades e centros de pesquisa existentes cobriam todas as áreas e havia produtos que chegaram ao

deter uma larga participação no mercado interno. Conforme Schware (1989, p.34), a indústria francesa de software era a mais competitiva depois da americana, já que cerca de metade dos 20 maiores fornecedores para o mercado europeu eram franceses. A Alemanha tinha o maior mercado de pacotes de softwares, com mais de 3000 empresas, e com um crescimento real da ordem de 18% ao ano em 1987 (Schware, 1989, p.33). A Siemens e a Nixdorf estavam entre os dez maiores fornecedores mundiais de softwares e a Software AG estavam entre os dez maiores fornecedores independes. Por fim, na Itália, o desenvolvimento de softwares não era tão expressivo e, de acordo com NOMOS SISTEM, quase todo software usado no país era importado.

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mercado após desenvolvimentos iniciais em universidades. Em automação do desenvolvimento, havia 15 anos de experiência em universidades, em software para grande porte, que favoreciam empresas como IESA, Base e Staa Informática. Em computação gráfica e inteligência artificial, são citados pacotes sofisticados para modelamento geométrico, interpretador compilador PROLOG, ambiente de desenvolvimento para programação em lógica (SAFO0 etc. Em sistemas operacionais havia capacitação consolidada com o desenvolvimento de sistemas como Sisne, SOX, e PLURIX e seria possível acompanhar a evolução tecnológica dos mesmos e contribuir inovativamente para suas futuras gerações, o mesmo sendo válido para compiladores e bancos de dados. Os principais problemas eram a falta de experiência de gerenciar e desenvolver projetos de softwares verdadeiramente grandes e de especificar e projetar sistemas de softwares inovativos e um desnível técnico no Brasil, mais acentuado que nos países centrais, entre os grupos de elite das grandes indústrias e das universidades e a grande massa de analistas e programadores sem formação para entender os conceitos em que se baseiam as modernas ferramentas de produtividades.

Para agravar a situação no final da década de 80, as principais empresas

estrangeiras de softwares começaram a estabelecer no Brasil, apesar de não poderem

comercializar seus produtos por conta da proteção da indústria nacional, entre elas

estavam Lotus, Microsoft, Oracle, Wordperfect, Nantucket, Novell, seguidas de várias

outras.

O objetivo inicial dessas empresas estrangeiras era implementar estratégicas

mercadológicas e dar suporte á comercialização de seus produtos, porém, a

concorrência estrangeira dificultava o progresso da indústria nacional, já que nos

mercados de pacotes muito padronizados, em que as empresas estrangeiras

concentravam-se fortemente no poder financeiro, sobretudo, no marketing, as empresas

locais tiveram grandes dificuldades de sobrevivência.

Estas empresas nacionais que atuavam neste específico mercado adotaram novas

estratégias, a reação comum foi partir para a comercialização de software estrangeiro,

algumas abandonaram seus próprios produtos, outras já atuavam simultaneamente como

produtoras e distribuidoras e apenas canalizaram esforços para a comercialização de

produtos de origem estrangeira. Esta estratégia levou os sistemas importados a

rapidamente dominarem nosso mercado de redes de grande porte.

Com o processo de abertura comercial a indústria da informática tentou

sobreviver a este processo de transição, já que em 1991, acabou a vigência da reserva de

mercado, estipulada em 1984.

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Era claro que a abertura iria exigir uma total reestruturação do setor de

informática nacional, com o intuito de propiciar uma enorme captação de investimentos

externos e parcerias estratégicas com as empresas locais a fim de redesenhar o modelo

produtivo nacional.

Nesse contexto, como analisado por Piragibe (1985), e citado por Simiqueli

(2008) após esta massiva dominação de produtos estadunidenses nos anos 80, houve

mais uma iniciativa militar de tentar produzir sistemas nacionais de informação, a qual,

infelizmente, pode ser analisada como uma reação tardia à dominação em curso

realizada pelas empresas norte-americanas.

Tal dominação estrangeira criaria certas barreiras de difícil acesso aos produtos e

efetividade das políticas nacionais, os resultados insuficientes, seriam sentidos, em

longo prazo, nas décadas futuras, pelos seguintes fatores:

a) Ausência de políticas de transferência de tecnologia: a importação de equipamentos, além de pressionar a produção nacional, constituía uma alternativa extremamente desvantajosa para a nossa economia, atuando como agravante da série de fatores de dependência (financeira, econômica, social e tecnológica) que marcariam as crises experimentadas pela economia brasileira nas décadas seguintes; b) formação dos recursos humanos nacionais: especializados em atividades de caráter técnico (montagem, manutenção, supervisão) relacionadas aos sistemas importados, os especialistas nacionais sofreriam grave defasagem, quando comparados aos projetistas das matrizes estrangeiras. Dominando apenas o conhecimento suficiente à instalação/execução das rotinas fornecidas pelos fabricantes, não possuiriam autonomia suficiente para desenvolver sistemas nacionais; c) barreiras à entrada Além do comprometimento do pessoal especializado em funções que subutilizavam a capacidade da mão de obra nacional, o grande montande de recursos tecnológicos, comerciais e financeiros empregados realizados nas firmas estrangeiras constituía séria barreira à entrada de firmas nacionais no setor. As nascentes empresas brasileiras não teriam condições de competir livremente com gigantes como Burroughs, IBM e Fujitsu. (SIMIQUELI, 2008, p. 08-09, grifos nossos)

É importante sublinhar que apesar da difusão do uso de computadores no país só

se verificar ao fim da década de 1960, o mercado brasileiro era atendido basicamente

por importações dos produtos norte-americanos.

As primeiras empresas estrangeiras entraram no país no começo do século XX,

agravando a dependência nacional, a qual seria prejudicada, em longo prazo,

principalmente, quando o Brasil buscasse implementar em suas políticas públicas, uma

busca por estratégias à fim de competir com estas empresas

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As barreiras eram enormes, mesmo que já houvesse uma grande preocupação

com o setor, explicitado pelas intervenções militares no setor de informática:

1) 1930-1960: A entrada de transnacionais como IBM, Burroughs e Sperry (ex-Univac) e as primeiras iniciativas governamentais (lideradas pela Marinha e pelo BNDE);

2) 1968-1978: Criação e atuação do Grupo de Trabalho Especial e da Comissão de Atividades de Processamento Eletrônico; 3) 1978-1984: Criação e progressos obtidos pela Secretaria Especial de Informática; 4) 1984-1991: Trâmite da Lei de Informática no Congresso, sua aprovação e início da queda da PNI; 5) 1991- : Há o desmonte da PNI e do arcabouço institucional de suporte à informática, operada, principalmente, durante o governo Collor. (SIMIQUELI, 2008, p. 4-5).

Como diretrizes que davam uma “sustentação ideológica” à Política Nacional de

Informática até os anos 1990, segundo Rosenthal (1995) temos:

I) O desenvolvimento da capacidade tecnológica do país, que dependia da interação entre seu sistema produtivo e a comunidade responsável por P&D;

II) A informática, que era uma nova área de conhecimento tecnológico e em grande expansão, apresentando uma abertura potencial para a criação de um setor industrial;

III) O Surgimento dos microcomputadores, que tinha aberto uma janela de oportunidades para a criação, por ter reduzido as barreiras tecnológicas e financeiras à entrada, a nível mundial;

IV) A necessidade de proteção de mercado contra a concorrência de fabricantes já estabelecidos, que induzia empresários locais a investir nessa nova indústria;

V) A Necessidade das empresas terem acesso as fontes de tecnologia para poderem se engajar nas atividades de P&D, já que a indústria não assegurava o desenvolvimento da capacidade tecnológica nacional.

Em 1984, com a criação da chamada “lei de informática”, além de estabelecer

“princípios para a PNI, cria o conselho Nacional de Informática – CONIN, o Programa

de Apoio ao Desenvolvimento da Indústria de Informática – PRODESIN, e autoriza a

instituição da Fundação Centro Tecnológico para a Informática” (TÁVORA, 1985).

Desta forma, a estratégia do governo era assegurar um fortalecimento mais ativo

da proteção as empresas nacionais, por meio de inúmeros incentivos fiscais, já que, foi

observado pelo Estado as reais condições do mercado e da sociedade brasileira.

A Lei de informática dos anos 80 representou a efetivação da reserva de

mercado que, inicialmente, era considerada como uma ferramenta eficaz, que garantiria

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as empresas nacionais um espaço, proteção e incentivos para seu nascimento,

desenvolvimento e uma possível permanência de atividades no setor.

No entanto, com as restrições às empresas estrangeiras, as empresas nacionais

não aproveitaram a oportunidade de competição do mercado no mercado, o que

inviabilizou a criação de empresas brasileiras consolidadas, com um relativo domínio

tecnológico.

Os produtos aqui desenvolvidos tinham um alto custo, e um baixo padrão

tecnológico frente aos produtos estrangeiros, além disso, o mercado interno bem

definido, porém baixo. Tais fatores contribuíam para que o índice de informatização do

país caísse.

Como tentativa organizacional, a criação do Ministério da Ciência e Tecnologia

em 1985, teve como objetivo a competência de formular e executar a política de

desenvolvimento para o setor de informática e automação.

A mudança de cenário político no fim dos anos 80 introduziu no país uma nova

realidade para o setor tecnológico, principalmente, na área de informática, já que, para a

que o desenvolvimento da PNI obtivesse êxitos na Nova Ordem, a competitividade e a

busca por uma inserção internacional mais ativa no sistema teriam que ser consolidados

pela Política.

Nos anos 90, a realidade sócio-econômica (desequilíbrios macroeconômicos,

hiperinflação e endividamento da máquina estatal) colocou em xeque a manutenção dos

projetos nacionais.

Segundo o MCT (2002) a proteção de mercado, baseada na política de

substituição de importações adotadas nas décadas anteriores, gerou um considerável

parque industrial, e uma significativa mão de obra qualificada. Apesar desses avanços, a

indústria nacional não estava preparada para enfrentar as novas condições do mercado

mundial.

Além do fim da vigência da reserva de mercado que se aproximava, houve

também uma ampliação dos movimentos de liberalização do comércio e redução das

barreiras protecionistas flexibilizando as políticas de proteção.

Tal elasticidade ameaçava a indústria de informática brasileira. Essa abertura

exigira uma total reestruturação: na importação de insumos, na qualificação da mão-de-

obra, no apoio estatal com incentivos fiscais e investimentos em P&D, para que os

produtos brasileiros chegassem aos mercados com um preço relativo ao estrangeiro, e

com o mesmo padrão de qualidade

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Sobre a abertura ainda no Governo Collor, em junho de 1990, o presidente

anunciou para janeiro do ano seguinte a liberalização das importações de equipamentos

de informática ainda protegidos pela Reserva de Mercado. Era a primeira medida de

Collor visando adequar as empresas à completa liberalização das importações. Para o

diretor executivo da ABICOMP, Pereira Nunes (1990):

Há muitos pontos conflitantes na proposta. A proposta é forçar a competitividade da indústria nacional, mas não estão sendo explicitados os meios para isso. Abrindo somente, sem definição de metas, a industria fica sem condições de planejar e definir a evolução de produtos. (GAZETA MERCANTIL (RELATÓRIO), apud VIGEVANI, 1995, p. 334-335, grifos nossos).

Em 1990 A crise econômica repercutiu com grande peso no setor de informática,

e pela primeira vez registrou prejuízo e, portanto, demissões, particularmente entre os

profissionais qualificados. Além disso, os incentivos fiscais e os investimentos em

pesquisas foram reduzidos. Como ressalta Vigevani (1995, p. 338 -339):

Em 1991, assistiu-se à consolidação de uma nova fase no rápido processo de internacionalização do setor de informática. Em agosto de 1991, num encontro organizado pelo Instituto de Economia Industrial da Universidade Federal do Rio de Janeiro, coordenado por Peter Evans, Claudio Frischtak e Paulo Bastos Tigre, colocaram-se em evidência as perplexidades existentes entre inúmeros setores que haviam participado, e ainda participavam, como intelectuais, empresários ou políticos, dos destinos do setor de informática.

A política industrial neste setor foi objeto de grandes e polêmicas discussões no

segundo semestre de 1990, como escreveu Vigevani (1995), havia conflitos de

interesses entre as equipes econômicas, que eram favoráveis a eliminar rapidamente

quaisquer restrições às importações, embutindo nas discussões de projetos futuros

regulamentações e formulações de novas atividades às poucas agências nacionais de

tecnologia como secretárias e comissões que restavam.

Por outro lado, estava a Secretaria de Ciência e Tecnologia, sob gestão de José

Goldemberg, este defendia a manutenção de uma política de incentivos, que

favorecessem a capacitação tecnológica de um maior período, até 1995.

Em outro momento importante no Governo Collor, foi a retomada de métodos

que visassem o incentivo ao plano de CT&I, já que, uma nova lei de informática foi

aprovada pelo Congresso em 1991. Embora a definição de novas regras para o setor

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tenha ocorrido com a aprovação da Lei 8.248/9169, sua vigência inicia-se apenas com a

remoção dos mecanismos de regulamentação em 1993.

Com o fim da lei da reserva de mercado em 1992, outras instituições das décadas

anteriores foram se dissolvendo, como a ABICOMP. Para os que participavam daquele

encontro, organizado pelo Instituto de Economia Industrial da Universidade Federal do

Rio de Janeiro em 1991, ficou evidente que a incisiva atuação das empresas estrangeiras

levaria nossos programas estatais á obter resultados insuficientes, principalmente se

considerarmos que o novo projeto de lei sobre o software que foi anunciado em janeiro

do mesmo ano, teve um enorme apoio de William Gates, presidente da multinacional

americana Microsoft.

Com a aprovação da Nova Lei de Informática em 1991, o Governo passou a

administrar de forma flexível um ajuste do setor, visando permitir à indústria nacional

as condições mínimas de sobrevivência, já que, os investimentos estatais foram

reduzidos drasticamente, assim como as regulações estatais pelas Secretarias Especiais

da área de informática.

Desta maneira, podemos caracterizar boa parte dos anos 90, como afirmou

Simiqueli (2008, p.26-27), “pelo hiato de quase ausência da intervenção estatal no setor.

O arcabouço montado com a PNI é desarmado em prol das políticas de abertura

encampadas no início da década, e o setor só retornaria a receber incentivos estatais

concretos no começo do século seguinte”.

Com o Governo FHC as privatizações foram levadas á cabo, principalmente, em

setores estratégicos como Telecomunicações, energia e mineração. Os índices de

investimento e incentivos fiscais na área de C&T.I para empresas nacionais eram

baixos, além disso, havia o desinteresse estatal em assumir os ganhos e as perdas destes

setores.

A preocupação governamental de modernizar a indústria nacional de telemática

e, sobretudo, informática, estava fora de cogitação, visto a estrada massiva de empresas

estrangeiras nestas áreas, as quais poderiam, de acordo com o Governo, aplicar

melhorias por meio de altos investimentos e modernizações dos insumos e

gerenciamento pessoal, qualificando sua mão de obra, cujo resultado seria a ampliação

destes empreendimentos.

69 Lei aprovada dia vinte e três de outubro de mil novecentos e noventa e um.

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Como se sabe, as privatizações e a liberalização eram instrumentos de

sustentação do Plano Real e, desta forma, o Governo argumentaria que havia

dificuldades para a manutenção do gerenciamento estatal destas empresas: os altos

custos para a reestruturação destes empreendimentos, o endividamento dos órgãos

públicos eram altíssimos.

Além do orçamento curto por conta da dívida externa, o que podemos concluir é

que desinteresse na capacitação tecnológica nacional foi proposital, para que a venda

destas empresas, de acordo com o Governo, fossem caracterizadas como inevitáveis.

Nossas considerações sobre o desmonte da PNI durante o processo de abertura

apontam uma grande preocupação com a tecnologia nacional até o governo Sarney,

cujos Planos Nacional de Desenvolvimento foram as tentativas mais ousadas que o

Governo poderia tomar, referente ao período histórico que o país passava.

Contudo, como dito por especialistas, o momento e a forma como foram

conduzidas as medidas que propiciassem um crescimento e desenvolvimento do setor de

informática no Brasil, foram consideradas errôneas, já que as medidas centrais foram

traduzidas em incentivos fiscais.

No entanto, não se deve desmerecer a preocupação estatal pela busca da

capacitação nacional, as leis de informática e os incentivos fiscais foram medidas que

procuraram fazer com que o Brasil se adequasse á tendência mundial que indicava a

RCT como meio para o desenvolvimento econômico e Social.

Estas tentativas de autonomia, que na concepção dos governantes e formuladores

da PNI tirariam o país da condição de subdesenvolvimento, duraram até a abertura

econômica, iniciada quase que despercebidamente por Sarney, quando este eliminou

restrições de uma maneira clara às importações “proibidas”, eliminando o anexo C da

CACEX.

Collor, claramente abriu nossa Economia colocando em xeque as conquistas

feitas pela PNI durante a década anterior. Além de reduzir os investimentos na área, a

dissolução das comissões e secretarias demonstrou que o desmonte da indústria nacional

de Informática estava apenas começando, já que a liberalização exigiria mais de nossas

empresas.

Desta maneira, as privatizações foram expandindo-se, houve a venda de

pequenas e médias empresas, durante o Governo Collor e Itamar, no entanto, com o

sucesso do Plano Real, cujos resultados animadores que derrubaram uma hiperinflação

de quase 20 anos, levou à presidência seu formulador.

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Fernando Henrique Cardoso privatizou setores estratégicos da economia,

antecipando o desmonte das políticas de informática, promovendo de uma forma direta

a descontinuidade da PNI, já que o objetivo central desta era promover a autonomia

nacional.

Como política de continuidade os incentivos fiscais mínimos em P&D deram

seqüência em seu Governo, porém, com pouca eficácia, visto a idéia originária do PND:

“transformar a estrutura produtiva e superar os desequilíbrios externos, conduzindo o

Brasil a uma posição de potência intermediária no cenário internacional, saindo da

posição de subdesenvolvimento, provocando uma inserção ativa no comércio mundial”

(CARNEIRO, 2002, p. 55).

Nas próximas seções veremos os resultados da Nova lei de informática de 1991,

que teve seu prazo de vigência encerrado em 1998, coincidindo com o final do primeiro

mandato de FHC. Desta maneira, à medida que apresentaremos os resultados de tal

legislação, traremos análises concretas, com um balanço parcial das políticas públicas

de incentivo ao setor de C&T.I no referente período.

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Quarto Capítulo

Estratégias para o desenvolvimento de C&T.I

(1995 - 1998)

Vamos aposentar os velhos dilemas ideológicos e as velhas formas de confrontação, e enfrentar os temas que movem a cooperação e o conflito entre os países nos dias de hoje (...). Outros temas centrais são o acesso à tecnologia (...). Eu acredito que o Brasil tem um lugar reservado entre os países bem-sucedidos do planeta no próximo século, isto vai demandar uma ampla reorganização da máquina do governo. Por isso mesmo, a realização de um projeto nacional consistente de desenvolvimento deve nos fortalecer crescentemente no cenário internacional. O momento é favorável para que o Brasil busque urna participação mais ativa nesse contexto.70 (BRASIL, 1995).

70 Discurso de posse de Fernando Henrique Cardoso, para mais detalhes acerca deste, ver BRASIL (CONGRESSO NACIONAL), 1995, p. 1-9.

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4.1. PRIMEIRO MANDATO DE FHC (1995-1998) “Não se pode associar tudo ao Real e à estabilidade. O Real não pode, em si, ser a estratégia71”.

FHC

Com o sucesso do Plano Real, FHC tornou-se presidente, nas eleições de 1994.

Disputaram com ele: Luiz Inácio Lula da Silva (PT); Enéas Ferreira Carneiro (Prona);

Orestes Quércia (PMDB); Leonel de Moura Brizola (PDT); Espiridião Amin (PPR);

Carlos Antônio Gomes (PRN); e o pouquíssimo votado Brigadeiro Hernani Fortuna

(PSC). Cardoso venceu no primeiro turno com 54,27% dos votos válidos. Lula mais

uma vez posicionou-se na 2ª colocação, como em 1989.

Como citado por Luis Carlos Mendonça de Barros (2002, p. 108):

O grande mérito de Fernando Henrique como homem político, ao contrário do que se passou com o presidente Sarney em 1985, foi entender que a sociedade brasileira estava farta da inflação crônica que a acompanhava fazia mais de quinze anos. Quando aceitou o convite para ser ministro da Fazenda do cambaleante governo Itamar Franco, em 1993, ele já sabia o que iria fazer. Chamou imediatamente a equipe de Economistas da PUC para trabalhar consigo e apresentou à sociedade seu plano de estabilização. O sucesso imediato deu-lhe o cargo de presidente da República nas eleições de 1994.

No dia 1º de janeiro, FHC fez o tradicional discurso de posse72, e no mesmo já

explicitava algumas diretrizes neoliberais pelas quais iria direcionar o país. Neste

discurso, Cardoso fez menção ao Plano Real, projeto que demonstrou ser eficaz na luta

por uma estabilização econômica de longo prazo e pelas embrionárias reformas

estruturais que seriam levadas a cabo em seu governo como as privatizações:

Ao escolher a mim para sucedê-lo [Itamar Franco], a maioria absoluta dos brasileiros fez uma opção pela continuidade do Plano Real, e pelas reformas estruturais necessárias para afastar de uma vez por todas o fantasma da inflação. (BRASIL, 1995, p. 1-9).

O presidente explicitou a força da abertura comercial e do interesse externo em

nossos mercados, demonstrando que haveria apoio do Estado em tal interesse. Um dos

objetivos destas reformas era promover uma “nova” inserção do país na economia 71 FHC em entrevista á Revista Veja, 06/09/1995. Apud, FIORI 1998, p. 121-122. 72Discurso de Posse do Presidente da República Fernando Henrique Cardoso no Congresso Nacional. Brasília, 1 de janeiro de 1995 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/publi_04/colecao/discurs.htm> Acessado em novembro de 2010.

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global, tanto por meio da abertura de nossos mercados, quanto pelo o que esta ação

supostamente implicaria.

Acreditava-se que esta abertura proporcionaria um grande estímulo à produção

brasileira. Esta “estratégia” tornou-se política de governo de FHC, e como tal, era vista

com grande otimismo para a objetivação do interesse nacional:

Temos de volta a liberdade, portanto. E teremos desenvolvimento.(...) Também vemos com satisfação que aumenta o interesse de outros países pelo Brasil.(...) Rapidamente, no ritmo veloz das comunicações e da abertura da economia brasileira, estamos deixando para trás atitudes xenófobas, que foram mais efeito do que causa do nosso relativo fechamento no passado (...). Por isso mesmo, a realização de um projeto nacional consistente de desenvolvimento deve nos fortalecer crescentemente no cenário internacional. (BRASIL, 1995, p. 1-9, grifos nossos).

A estratégia de FHC esperava um incremento da produtividade, decorrente do

desenvolvimento tecnológico, por meio de maior competitividade e do aumento do

investimento externo. A conseqüência seria o crescimento da economia e do

emprego. Esperava-se também, que os aumentos da produtividade e

competitividade, levariam em médio prazo, ao aumento das exportações e, por

conseguinte, a redução da vulnerabilidade externa. Esses seriam os principais frutos

da política de abertura. No entanto, não era certo que o Plano Real levar-nos-ia a

estes resultados:

O momento é favorável para que o Brasil busque urna participação mais ativa nesse contexto (...). Numa fase de transformações radicais, marcada pela redefinição das regras de convivência política e econômica entre os países, não podemos, por mero saudosismo, dar as costas aos rumos da História. Temos, sim, que estar atentos a eles para influenciar o desenho da nova ordem (...). É tempo, portanto, de atualizar nosso discurso e nossa ação externa, levando em conta as mudanças no sistema internacional e o novo consenso interno em relação aos nossos objetivos (...). Vamos aposentar os velhos dilemas ideológicos e as velhas formas de confrontação, e enfrentar os temas que movem a cooperação e o conflito entre os países nos dias de hoje: as tarefas ampliadas do multilateralismo e os desafios da regionalização; a dinamizarão do comércio internacional e a superação das formas de protecionismo e unilateralismo. Outros temas centrais são o acesso à tecnologia (...). Eu os convoco para mudar o Brasil. Muito obrigado. (BRASIL, 1995, p. 1-9).

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As primeiras medidas tomadas por FHC caminhavam na mesma direção que as

mudanças que se processavam no mundo, rumo as políticas neoliberais. A Nova Ordem

as estabelecia como único meio para um país sair de sua condição de

subdesenvolvimento.

No primeiro Governo de Fernando Henrique, 80 empresas foram privatizadas

(Anexo C), gerando uma receita de US$ 73,3 bilhões. Estas vendas ocorreram por conta

do contexto de reformas do início dos anos 90.

Como ressaltou Filgueiras (2006, p. 115):

No Governo Collor, foram vendidas 18 empresas, num total de US$ 4 bilhões, enquanto no Governo Itamar foram privatizadas 16 empresas, num montante de US$ 4, 6 bilhões (Paulani, 1998).Como se pode observar, portanto, foi no Governo Cardoso que, de fato, as privatizações deslancharam, tornando-se, na prática, elemento essencial do novo projeto de desenvolvimento. Apenas com relação ao PND (US$28,9 bilhões), as privatizações no Governo Cardoso corresponderam a 70% do total; se incluirmos o setor de telecomunicações (mais de US$ 29,1 bilhões), essa participação chega a 85% do valor arrecadado pela União.

Nesta década, o país adotou uma abrangente pauta de reformas favoráveis ao

mercado, numa tentativa de recuperar o antigo dinamismo econômico. Como veremos

na seção seguinte, a ampliação do programa de privatização tornou-o um importante

pilar de sustentação do Plano Real, especialmente, no primeiro mandato de Cardoso.

Historicamente, de acordo com Pinheiro, Giambiagi e Moreira (2001, p. 29), as

reformas dos anos 90, podem ser divididas em três períodos como já citado no capítulo

2 (seção 2.6). A primeira fase periodiza de 1991-1994, já a segunda etapa associa-se ao

primeiro Governo de FHC, de acordo com estes três autores, este momento pode ser

assim descrito:

Na segundo fase (1995/98), a primeira administração de Cardoso avançou mais um passo ao levar o programa de privatização ao setor de infra-estrutura e ao conter a inflação, que caiu de 5.000% ao ano para aproximadamente 2% em 1998. Entretanto, a demora em adotar o regime de flutuação da taxa de câmbio e a falta de disciplina fiscal levaram ao aumento do deficit fiscal e em conta corrente, o que também comprometeu o crescimento.

Entre muitos fatores que permitiram o aumento das privatizações, podemos

destacar dois: A vontade do Estado em privatizar tais empresas e a revisão da

Constituição de 1988 que alterou o monopólio das empresas pelo Governo:

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O auge do programa de privatização brasileiro ocorreu durante o primeiro mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995/98). (...) Dois fatores permitiram essa significativa expansão do volume e da abrangência das privatizações: o primeiro foi a participação dos governos estaduais no esforço de privatização, o que possibilitou a venda de diversas companhias de distribuição de eletricidade; o segundo foi a decisão de alterar a Constituição para acabar com o monopólio do governo sobre certas áreas e eliminar a discriminação contra as subsidiárias de companhias estrangeiras, criando-se com isso a oportunidade de expandir o programa de privatização para setores como telecomunicações, eletricidade e mineração, que eram as principais áreas produtivas sob controle estatal no Brasil. Também nessa época, outras áreas que viviam sob a tutela do Estado há décadas, como as ferrovias e os portos, foram parcial ou totalmente transferidas ao setor privado. (PINHEIRO, GIAMBIAGI E MOREIRA, 2001, p.29).

Deve-se sublinhar que privatizar foi, para o Governo, a resposta encontrada para

evitar a explosão da dívida pública (anexo D), agravada pelo contínuo aumento do

déficit fiscal a partir de 1995.

Entretanto, como destacou Filgueiras (2006), a venda de tais empresas não

conseguiu conter o crescimento desta dívida. Mesmo que entrasse capitais estrangeiros,

por meio do investimento direto, dando um tempo a mais ao governo para a substituição

da “âncora cambial”, o Governo não obteve os resultados almejados.

Com as crises cambiais internacionais entre 1995-1998 (México, Ásia e Rússia,

respectivamente), a situação agravou-se. Como veremos no próximo tópico, a forte

dependência do Plano Real para com o capital externo de curto prazo, associado ao

momento de crise, promoveu uma fuga massiva de capitais estrangeiros, obrigando o

governo a inserir na Economia uma série de ajustes.

Nunca antes na história do país, a política econômica do Brasil havia sido tão

reflexa, determinada de fora para dentro, e de forma “imediata”, conforme o modelo

econômico construído a partir do Plano Real73, cujo balanço de sua aplicabilidade e

resultados será analisado a seguir.

73 O acordo do Governo brasileiro com o FMI (dezembro/98) apenas substituiu a ditadura informal dos “mercados” – mais propriamente a ditadura do capital financeiro -, personalizando a dependência externa, conforme evidencias a seguinte notícia ( na qual também é mencionada a recomendação do FMI para se elevar a taxas de juros no país): “Vai funcionar no prédio do Banco Central, em Brasília, a representação do FMI no Brasil.A abertura dessa representação foi outra exigência feita pela cúpula da instituição. O Governo resistia à idéia.(Folha de S. Paulo, 20/1/1999, 2º caderno, p.10) apud FILGUEIRAS, 2001, p. 117.

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4.2 OS GANHOS E CONSEQÜÊNCIAS DO PLANO: UM BALANÇO

“É mentira dizer que o Real depende das

reformas (...) [macroeconômicas] 74” FHC

Como mostrado pelos índices inflacionários, o Plano Real atingiu o seu objetivo

principal e emergencial: a derrubada da inflação75. Todavia, os custos (político,

econômicos e sociais) para esta almejada estabilização seriam altos, já que, ao longo da

vigência do Plano, houve tanto o aprofundamento dos desequilíbrios estruturais já

existentes, como também, a criação de novos problemas, desencadeando uma

imensurável instabilidade macroeconômica no país.

Essa instabilidade sistêmica, como assinalou Filgueiras (2006), é produto da

inconsistência interna do Plano e de sua condição, a qual ficou, claramente, exposta, a

partir das crises cambiais do México (dezembro de 1994), dos países asiáticos (junho de

1997) e da Russa (agosto de 1998).

“A abertura da Economia e a sobrevalorização do Real escancarou o país às

importações e tirou a competitividade das exportações, que cresceram num ritmo bem

inferior ao das importações” (FILGUEIRAS, 2006, p. 149).

Além da instabilidade macroeconômica, assistia-se no país a “um aumento

indiscutível, do descontentamento social brasileiro” (FIORI, 1998, p.103). Depois da

euforia do consumo, a sociedade obteve entre outros resultados: as perdas salariais, a

expansão do desemprego, a falta de crédito, uma piora progressiva dos serviços públicos

e decomposição explícita da infra-estrutura de energia, de transporte e de saúde.

Em uma análise detalhada sobre uma das fontes do problema, podemos ver que

a abertura econômica e a “âncora cambial”, necessitavam de elevados níveis de

reservas, as quais foram sustentadas por elevadas taxas de juros, o que acarretou,

diretamente, na deterioração de variáveis macroeconômicas, exceto a inflação.

Como um dos resultados, tivemos um crescimento medíocre do PIB (anexo E),

com períodos de estagnação e recessão aberta, elevando as taxas de desemprego76.

Tendo em vista o aumento de 2,7% ao ano da população economicamente ativa do país,

com a entrada de 1,5 milhão de novas pessoas, todo ano no mercado de trabalho, a sua

74 FHC em entrevista á Revista Veja. Apud, FIORI 1998, p. 100. 75 Em todos os índices (IGP-DI, IPA-DI, IPC-DI, IPC-FIPE, ICV), a inflação caiu de um patamar de quatro dígitos em 1994 (mais de 2.000%) ao ano, para dois dígitos (menos de 100%), com exceção do ICV-DIESE, que ficou apenas três pontos acima (102%), mostrando o indiscutível sucesso do Plano Real no combate a inflação. Para mais detalhes acerca do assunto ver FILGUEIRAS, 2006, p. 155-156 76 Ver anexo 6.

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absorção demandaria um crescimento do PIB a uma taxa meda entre 6% e 7% ao ano

(FILGUEIRAS, 2006, p. 150).

O momento de euforia que se seguiu após os primeiros meses do Plano Real,

com elevação da renda e do consumo, teve impacto direto sobre as atividades

econômicas e de geração de emprego, estes ganhos foram barrados pela crise Mexicana,

e, conseqüentemente, conforme o desencadeamento das outras crises cambiais, a

tendência da evolução da taxa de desemprego aberto (anexo F) foi ascendente.

Como citado por Fiori (1998, p. 102)

De um ponto de vista mais estrutural a atual política de estabilização já produziu alguns efeitos irreversíveis. Segundo dados do governo, a indústria nacional perdeu nos últimos três anos um mercado de 17,7 bilhões de dólares, jogou pela janela 450 mil postos de trabalho e acumulou um déficit comercial de mais de sete bilhões de dólares, E, o que e pior, segundo projeções do mesmo Ministério de Indústria, Comércio e Turismo “a correção do déficit na balança comercial, á médio prazo, dificilmente poderá depende exclusivamente das exportações”.

Cardoso estava convencido de que dois benefícios resultariam da abertura tanto

do mercado de consumo como dos sistemas produtivo e de serviços: libertar o Estado de

encargos de dívidas contraídas pelas empresas públicas e melhorar a competitividade

daqueles dois sistemas.

É fato que houve a modernização do parque industrial, bem como seu

desenvolvimento (no aparato produtivo) – como apresentado no anexo C –, contudo,

como ressaltou Cervo (2002, p. 11, grifos nossos):

[...] a privatização com alienação impediu a inserção internacional do país em condições de competitividade sistêmica, que demandava a expansão para fora de empresas de matriz nacional. Por efeito do Estado desenvolvimentista, o Brasil reunia as quatro condições para tanto – grandes empresas, capital, tecnologia e mercado – em nível muito superior às de pequenos Estados como Portugal e Espanha, que lograram uma inserção madura no mundo interdependente por haverem implementado políticas de padrão logístico.

Para Cervo (2002, p. 11) “a adoção acrítica e ideológico do neoliberalismo que

erigiu o Estado normal latino-americano”, cujo modelo econômico foi associado ao

Plano Real, nos trouxe, em linhas gerais:

(...) embora em menor escala [reproduziu-se no país] efeitos negativos que se generalizaram na região: aumento da transferência de renda ao exterior, inadimplência, repetidas corridas ao FMI, conversão do comércio exterior de instrumento estratégico de desenvolvimento em variável da estabilidade monetária, regressão do

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processo de desenvolvimento para dentro, aumento da desigualdade social, desemprego, desnacionalização e desindustrialização.

Faz se necessário ressaltar que após a crise Asiática, em junho de 1997, o

Governo anunciou o “Pacote 51”, um conjunto de 51 medidas fiscais destinadas a gerar

uma economia adicional nas contas públicas de 2,5% do PIB. Dentre estas medidas destacavam-se a demissão de 33 mil funcionários públicos

não estáveis, a suspensão do reajuste salarial do funcionalismo público e a elevação de

10% da alíquota do Imposto de Renda de Pessoa Física. (PAULINO, 2010, p. 302).

Com a crise Russa no segundo semestre de 1998, aprofundou-se a fuga de

capitais que já vinha ocorrendo desde a crise Asiática. Houve uma queda de mais de

50% das reservas, que caíram de 70 bilhões de dólares para 30 bilhões dólares, em um

prazo de três meses. Nossas contas nacionais e externas estavam, profundamente,

desgastadas (ver anexo G).

O Governo respondeu com os mesmos ajustes fiscais que promoveu entre 1995-

1997, ou seja, ele elevou novamente as taxas de juros (para 49%), criando facilidades

tributárias para o capital externo e editou um pacote fiscal de corte de gastos e elevação

de impostos.

Com tais medidas o Governo tentou estancar a fuga de capitais e impedir a

desvalorização da moeda, objetivo que se mostrou impossível de alcançar. Em

decorrência da fragilidade da situação o país fechou um novo acordo com o FMI, o

fundo garantiu empréstimos e créditos no valor de 41,5 bilhões de dólares, aliviando,

temporariamente, a situação.O momento de calmaria foi suficiente para garantir a

reeleição de FHC, para um segundo mandato (1999-2002).

Entretanto, o que podemos concluir do período de vigência do Real, durante seu

primeiro mandato, é de um cenário de desordem e instabilidade.

Seu objetivo principal, a queda da inflação, obteve, incontestavelmente, sucesso

absoluto. A estabilidade provida pela “âncora cambial” dos três primeiros anos do

Governo FHC foi totalmente abalada, pelas crises cambiais. Demonstrando a elevada

vulnerabilidade externa do país, a qual, de acordo com Batista Júnior (2002), a

vulnerabilidade da posição externa da economia brasileira decorre basicamente de

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três fatores: o elevado déficit em conta corrente, a excessiva abertura da conta de

capitais e a insuficiência das reservas internacionais do país77.

A forma com o Governo conduziu seus problemas macroeconômicos, originados

pela vulnerabilidade externa resultante do Plano Real, foram aprofundados pelas crises

cambiais internacionais, colocando o Brasil em uma trajetória de crises econômicas e

tensões sociais.

77 Como descreveu Batista Jr (2002). A vulnerabilidade da posição externa da economia brasileira decorre basicamente de três fatores: o elevado déficit em conta corrente, a excessiva abertura da conta de capitais e a insuficiência das reservas internacionais do país. Vejamos cada um deles separadamente. Embora tenha diminuído de forma considerável depois da depreciação do real, o déficit no balanço de pagamentos em conta corrente continuou alto demais em 1999-2001, situando-se na faixa de US$ 23 a 25 bilhões. A redução ocorrida desde meados de 2001 se deve, em boa medida, à acentuada desaceleração da economia brasileira. Dada a pesada carga de pagamentos ao capital estrangeiro, uma diminuição mais significativa do desequilíbrio em conta corrente passou a depender basicamente da geração de superávits expressivos na balança comercial.Em conseqüência do crescimento da dívida externa e do insuficiente controle sobre a distribuição temporal de seus vencimentos, as amortizações do principal vêm representando substancial carga adicional, alcançando US$ 32 bilhões em 2000 e US$ 35,2 bilhões em 2001. A necessidade bruta de capital externo, definida como a soma do déficit em conta corrente e das amortizações de médio e longo prazos, foi de US$ 56,2 bilhões em 2000 e US$ 58,4 bilhões em 2001. Note-se que esses números não consideram, de um lado, a necessidade de refinanciar a dívida externa de curto prazo e, de outro, a existência de um apreciável estoque de investimentos de portfólio, um tipo de capital eminentemente volátil. A dívida de curto prazo (prazo original inferior a um ano) era de US$ 27,6 bilhões em dezembro de 2001. O estoque de investimentos estrangeiros de portfólio (em ações, renda fixa, derivativos e outros) totalizava US$ 15,5 bilhões na mesma data.O segundo fator de vulnerabilidade é o exagerado grau de abertura da conta de capitais autônomos do balanço de pagamentos. Desde o governo Collor, o Brasil afrouxou os seus controles nessa área e ficou mais vulnerável a movimentos especulativos e às acentuadas oscilações dos fluxos internacionais de capital. O Banco Central descuidou de administrar de forma rigorosa o perfil da dívida externa. Aceitou a generalização de práticas e cláusulas contratuais que permitem a antecipação de pagamentos e conduzem, portanto, à perda de controle sobre a estrutura de vencimentos da dívida externa. A liberalização financeira externa facilitou, também, a saída de recursos de capital pertencentes a residentes no Brasil. Aumentou, assim, a fuga de capitais domésticos em momentos de turbulência e pânico, contribuindo para surtos de instabilidade cambial.Finalmente, o Brasil não tem mantido um nível adequado de reservas, que são a primeira linha de defesa em conjunturas de instabilidade. Depois da crise de 1999, as reservas internacionais nunca alcançaram um montante que possa ser considerado seguro, em face do potencial de instabilidade existente no Brasil e no resto do mundo. No conceito de caixa, as reservas brutas ficaram em torno de US$ 30 a 35 bilhões em 1999-2001, sempre abaixo dos níveis registrados no início das crises dos anos 90. Infelizmente, o Banco Central não aproveitou os períodos de relativa tranqüilidade que tivemos em 2000 e no início de 2001 para reforçar o seu estoque de ativos de liquidez internacional.Nada disso seria muito grave se pudéssemos contar com um ambiente benigno no plano internacional e um quadro interno estável nos próximos anos. Mas parece evidente que não é esse o cenário mais provável. Mais detalhes acerca deste assunto ver, BATISTA JR., Paulo Nogueira. Vulnerabilidade externa da economia brasileira. Estud. av. [online]. 2002, vol.16, n.45.Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ea/v16n45/v16n45a11.pdf> Acessado em: 06 de abril de 2011.

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4.3 ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO DE FHC E A QUESTÃO TECNOLÓGICA78

É no mínimo uma subestimação da minha capacidade analítica e de minha imaginação pensar que diante da “realidade contemporânea” eu optei por uma aliança oligárquica (...) capaz de sustentar o Consenso de Washington79.

FHC, 1994. Desde os tempos de Ministro da Fazenda da Era Itamar, até os últimos dias de

seu primeiro mandato em 1998, antes de se reeleger, FHC esteve debruçado sobre as

delicadas e difíceis questões econômicas que o país atravessava.

Tanto a execução do plano Real como o impacto das crises cambiais

internacionais na economia brasileira, demandaram total atenção do Governo, fazendo

com que o planejamento de C.&T.I fosse deixado para segundo plano.

A Lei da Informática, vigente desde 1991, trouxe resultados satisfatórios (anexo

H80), porém, insuficientes para que o país projetasse alguma amostra da competitividade

nacional do setor, no ambiente internacional.

Mesmo o Brasil detendo a maior indústria de informática e telecomunicações da

América Latina nos anos 90, com taxa histórica de crescimento anual superior a 10%, a

comercialização de produtos brasileiros do meio eletrônico no espaço internacional era

muito baixo, quando comparado a outros países.

Uma prova disto é o estudo realizado pela OMC (1996), confrontando 29 países

em relação às importações e exportações de produtos eletrônicos, o Brasil ocupou a 22º

posição (Anexo I).

Nesta pesquisa, podemos observar que o primeiro lugar é ocupado, sem sombra

de dúvidas, pelos EUA, entretanto, as próximas colocações são ocupadas por países

78 Neste tópico apresentaremos como a questão tecnológica foi tratada no primeiro mandato FHC, qual era sua estratégia para o setor e seus resultados, fazendo um balanço do período. O resultado desta avaliação será abordado, de uma maneira mais detalhada, no tópico seguinte, fechando o trabalho. 79 FIORI, José Luis. Os moedeiros falsos. Ed.Petrópolis: Ed. Vozes, 1998

80Em anexo serão apresentados os dados e análises feira pelo MCT (1998) referente aos resultados da Lei de informática de 1991 sobre:

I. Os impactos sobre as atividades de pesquisa e desenvolvimento - P&D II. Os impactos relacionados ao Processo Produtivo Básico - PPB

III. Os impactos intra/extra-firma dos investimentos em P&D, qualidade e treinamento IV. Os impactos sobre a competitividade internacional V. Os impactos da suspensão ou extinção dos benefícios da Lei

O balanço sobre os impactos será apresentado no capítulo seguinte, contemplando as considerações finais.

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localizados na Ásia. Isto se deve ao fato de que antes mesmo do contexto de RCT dos

anos 80, estes Estados procuraram reestruturar seus respectivos sistemas produtivos.

Historicamente, a partir da década dos anos 70, parte da capacidade de produção

japonesa e americana, à procura de custos reduzidos, foi transferida para os países do

Sudeste Asiático e, mais recentemente, esta produção está migrando para a fronteira no

México e países da América Central (MCT, 1998, p. 38).

Com a transferência tecnológica, os Tigres Asiáticos (Hong Kong, Cingapura,

Coréia do Sul e Taiwan) tiveram como meta, a produção e, futuramente, a exportação

de produtos nacionais de alto nível (anexo J). Para a objetivação destas metas, houve

sérias mudanças em seus respectivos sistemas produtivos e educacionais a fim de

reestruturar seus relativos parques industriais.

A partir dos anos 90, o Brasil deu início a um “efetivo” apoio ao setor. A revisão

da lei de informática de 1984 pode ser considerada como uma tentativa disto. Contudo,

mesmo o governo sabendo que era preciso decididas mudanças estruturais, a fim de

buscar uma competitividade expressiva no Sistema Internacional, alguns fatores

existentes fizeram com que o governo focasse seus incentivos no financiamento, isenção

fiscal e reserva de mercado, como principais medidas de CT&I.

Podemos concluir que as medidas adotadas pelo Governo Brasileiro, diante do

contexto da década de 90, foram, claramente, insuficientes. Podemos associar duas

razões que sustentaram a falta de postura Governamental neste setor: A primeira, o

Brasil basear-se na ideologia neoliberal, principalmente, no Governo FHC; e a segunda:

os problemas macroeconômicos dos anos 90, principalmente, pós-Plano Real.

“Nossos países aderiram às novas ideias políticas, em grande parte,

constrangidos por suas dívidas externas, e a partir daí pelas decorrências lógicas de seus

novos planos de estabilização desenhados em torno do modelo experimentado no

México, e sustentados na sobrevalorização cambial, nas altas taxas de juros e na

abertura comercial (FIORI, 1998, p.221)”.

Desta forma, fica evidente que a maior consequência desta adoção ideológica

está na ausência de qualquer possibilidade de exercício de políticas macroeconômica,

monetária e fiscal mais ativa, por parte de nossos Governos.

Como destaca Fiori (1998):

Em síntese, esta opção estratégica de corte neoliberal já nos retirou quase todo o espaço de exercício das políticas públicas. Se nós a dividíssemos em três grandes campos, o macroeconômico, o das políticas industriais e os da política sociais, poderíamos começar a

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dizer que o campo macroeconômico já está fora do jogo, não é mais um instrumento de nosso governo ele é Governado por outros fatores, outros poderes. Logo em seguida, a própria opção pela abertura comercial radical e pela sobrevalorização cambial eliminaram o outro espaço, o das políticas industriais e/ou cambiais, as políticas públicas voltadas para a produção. Na medida que estes governos não tem controle das tecnologias de ponta e fizeram precipitadamente sua abertura comercial, não lhes resta além disto, como forma de estimular suas exportações senão o instrumento de desoneração fiscal das exportações. Decisão que, tomada em nome do aumento de nossa competitividade, acaba diminuindo a receita fiscal. (FIORI, 1998, p. 221-222, grifos nossos).

De acordo com FHC, o Brasil não tem recursos. Estes poderiam ser repassados

para estes setores estratégicos, por conta das escolhas feitas no passado, como a

manutenção do modelo desenvolvimentista até o final da década de 80.

Devemos ressaltar que foi na vigência deste “velho” modelo econômico que

tivemos a única tentativa decidida e objetiva do Governo, em relação à busca de sua

capacitação, traduzida pelos PNDs e PNI.

A América Latina entrou na Era da Globalização, “porém, para nós, [esta] tem

sido só financeira” (FIORI, 1998, p. 120). Ficou evidente que o país, não tem uma

inserção ativa nos mercados internacionais por conta da falta de produção de elementos

de alto nível, por conta do Consenso, que limitou as políticas públicas neste setor.

Como dito pelo ex-presidente:

Estamos em um país que não possui moeda nem capacidade tecnológica autônoma, e que, ainda por cima, teve um passado de hiperinflação e que agora adotou uma política de estabilização ancorada nessa bolha financeira que, como eles dizem, faz gancho no processo de globalização, rigorosamente só pela porta financeira. Somos um país que não tem capacidade própria de determinar os rumos do acontecimento e, tampouco, portanto, de evitar as fontes últimas de uma crise eventual que pode vir de qualquer lugar desse mundo globalizado. (FIORI, 1998, p. 133, grifos nossos).

Considerando pela perspectiva de FHC, quem disse que “o neoliberalismo não

só triunfou como é hegemônico” (FIORI, 1998, p. 154). Nosso país está passivo aos

acontecimentos que seguiram na Globalização, nosso quadro é lamentável: sem

autonomia tecnológica, sem inserção ativa e com a questão da competitividade por meio

da RCT, visivelmente, descuidada.

Em seu relatório de 1998, o MCT deixou claro que as demandas globais, a

competitividade e o poder estariam submetidos á capacitação tecnológica, desta forma,

o Ministério reconheceu que quanto mais autonomia tecnológica, maior será sua

inserção:

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A globalização exige exposição à concorrência internacional e, em conseqüência, fomenta um processo permanente de alterações na estrutura da rede de produção industrial, sempre objetivando ganhos de competitividade. Os produtos são desenvolvidos para o mercado mundial e as unidades fabris são dimensionadas para atender o mercado global. Os grandes fabricantes se tornam global players com estrutura mundial de poder para definer qualidade e preços. Além disso, aspectos relacionados a planejamento, investimentos em P&D, propriedade intelectual (inputs e outputs tecnológicos), marketing, qualidade, apoio governamental e financiamento a exportações passaram a ser mandatórios. (BRASIL, 1998, p. 37, grifos nossos).

Neste sentido, as políticas públicas para com o setor são vitais:

Neste contexto, ações governamentais que visam articular aspectos relacionados com atividades científicas, tecnológicas e industrias em seus próprios países, passam necessariamente pela eficácia em criar fatores de atração e fixação de investimentos em alta tecnologia. Entre tais fatores, são mais freqüentemente citados os seguintes: disponibilidade de força de trabalho especializada; disponibilidade de fontes de suprimentos de partes, peças e componentes; concentração de indústrias similares na região; estabilidade política, econômica e social (normas tributárias, trabalhistas e ambientais atrativas); tamanho e grau de facilidade de acesso ao mercado local etc. (BRASIL, 1998, p. 37, grifos nossos).

Além da limitação do modelo neoliberal, que, como dito por Fiori (19998)

ausenta qualquer possibilidade de exercício de políticas macroeconômica, monetária e

fiscal mais ativa, por parte de nossos Governos, houve também, um elevado aumento da

dependência e da vulnerabilidade externa do país, no período pós-Plano Real.

Na frente externa, os crescimentos do montante de juros pagos e da remessa de

lucros, juntamente, com as viagens internacionais, agravaram o desequilíbrio histórico e

estrutural da balança de serviços. Desta forma o Brasil ficou depende do capital,

principalmente, o de curto prazo.

Para evitar fugas massivas de capitais e a desvalorização da moeda, após as duas

primeiras crises internacionais, houve uma queima de reservas e elevação das taxas de

juros, além de empréstimos feitos junto ao FMI e G-7. Os quais não foram repassados

para o setor de C&T.I. em nenhum momento do primeiro mandato de FHC.

De acordo com Filgueiras (2006), o alto grau de abertura comercial e a simples

desvalorização cambial do Real, não conseguiram resolver os problemas da exportação

e da balança comercial. Para o autor, o nível de subdesenvolvimento só será revertido

com uma postura mais ativa do Governo:

A obtenção de um desenvolvimento que possa ser sustentado dinamicamente, isto é, crescimento com estabilidade monetária e sem

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risco de crise cambial, exige a implementação de políticas ativas de comércio exterior, agrícola, industrial e tecnológica – implicando, obviamente, uma outra postura por parte do Estado, o que demandaria uma modificação importante na atual correlação de forças políticas e, no limite, a construção de um novo “contrato social”. (FILGUEIRAS, 2006, p. 212, grifos nossos).

Por fim, analisando as entrevistas de FHC, transcritas no livro de Fiori (1998),

pudemos perceber que, ao ser perguntado sobre temas como “inserção passiva”,

“submissão brasileiras às restrições neoliberais”, “competitividade internacional”, FHC

se esquivou em responder tais perguntas objetivamente. As respostas foram dadas

contendo argumentos relacionados à estabilização financeira e hegemonia neoliberal.

Nestas respostas FHC reconhecia a posição passiva e de subdesenvolvimento do

país. Ele soube em muitos momentos, dizer como o baixo crescimento de um país é

revertido, que de acordo com ele, entre outros fatores, com políticas públicas em setores

estratégicos, como a tecnologia. Entretanto, o ex-presidente evitou associar o Brasil às

tais temas, deixando a questão de C&T.I para segundo plano em seu Governo.

Na seção seguinte, iremos apresentar nossas conclusões parciais, buscando

relacionar este capítulo e os anteriores á questão central deste documento, “será que

FHC tinha alguma política ou estratégia para este setor?”.

Procuraremos refletir a questão, associando-a aos conceitos-chaves de Renato

Dagnino, que é especialista em C&T.I no Brasil. Acreditamos que, traçando este

paralelo, entenderemos como as políticas públicas em tecnologia contribuem para a

inserção ativa de um país na economia mundial, e se FHC estava certo em conduzir esta

questão do modo que a conduziu em seu primeiro mandato.

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Conclusões Finais

Gostaria que os adeptos de FHC, da nova ordem internacional do consenso de Washington, da qualidade total, que alguém, enfim, explicasse onde está o admirável mundo novo que eles anunciam81 (OTÁVIO FRIAS FILHO, FSP, 1994, apud FIORI, 1998, p. 45).

81 FIORI, José Luis. Os moedeiros falsos. 4. Ed.Petrópolis: Ed. Vozes, 1998.

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risco de crise cambial, exige a implementação de políticas ativas de comércio exterior, agrícola, industrial e tecnológica – implicando, obviamente, uma outra postura por parte do Estado, o que demandaria uma modificação importante na atual correlação de forças políticas e, no limite, a construção de um novo “contrato social”. (FILGUEIRAS, 2006, p. 212, grifos nossos).

Por fim, analisando as entrevistas de FHC, transcritas no livro de Fiori (1998),

pudemos perceber que, ao ser perguntado sobre temas como “inserção passiva”,

“submissão brasileiras às restrições neoliberais”, “competitividade internacional”, FHC

se esquivou em responder tais perguntas objetivamente. As respostas foram dadas

contendo argumentos relacionados à estabilização financeira e hegemonia neoliberal.

Nestas respostas FHC reconhecia a posição passiva e de subdesenvolvimento do

país. Ele soube em muitos momentos, dizer como o baixo crescimento de um país é

revertido, que de acordo com ele, entre outros fatores, com políticas públicas em setores

estratégicos, como a tecnologia. Entretanto, o ex-presidente evitou associar o Brasil às

tais temas, deixando a questão de C&T.I para segundo plano em seu Governo.

Na seção seguinte, iremos apresentar nossas conclusões parciais, buscando

relacionar este capítulo e os anteriores á questão central deste documento, “será que

FHC tinha alguma política ou estratégia para este setor?”.

Procuraremos refletir a questão, associando-a aos conceitos-chaves de Renato

Dagnino, que é especialista em C&T.I no Brasil. Acreditamos que, traçando este

paralelo, entenderemos como as políticas públicas em tecnologia contribuem para a

inserção ativa de um país na economia mundial, e se FHC estava certo em conduzir esta

questão do modo que a conduziu em seu primeiro mandato.

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5.1 CONCLUSÕES FINAIS Antes de FHC assumir o poder, vimos que desde o “Milagre econômico” até os

últimos dias do Governo Itamar, a única tentativa possível e eficaz de produção de

capacidade tecnológica nacional foi durante a década de 70, com os PNDs e a

formulação do PNI.

Durante o governo Collor, a continuidade do descompromisso tecnológico se

estendeu até o governo FHC. Em meio à instabilidade econômica dos anos 90, os

problemas macroeconômicos demandaram total atenção do Governo. Os investimentos

e reservas estatais foram usados para saldar os elevados empréstimos e seus juros.

As políticas públicas para este setor foram barradas pelo modelo econômico

neoliberal, que limitava medidas orientadas para a capacitação tecnológica e autonomia

nacional.

Acerca deste modelo econômico, o especialista em Políticas Públicas de C&T.I

no Brasil, Renato Dagnino (2007, p. 41), assim descreveu:

Embora o processo recente de enxugamento do Estado Latino-americano tenha propositalmente reduzido sua capacidade de formulação, implementação e avaliação das políticas públicas (Oszlak, 1997), até o ponto de, em algumas áreas relacionadas è infra-estrutura, este fato ser considerado como uma ameaça ao crescimento econômico dos países da região (Evans, 2003), a deterioração da capacidade burocrática é um fenômeno que, no caso brasileiro, já se inicia no imediato pós-guerra. Para não falar na dificuldade, inerente á nossa condição periférica, de constituir uma burocracia com os atributos de competência técnica proporcionados por um processo de recrutamento idôneo, uma remuneração adequada e uma promoção baseada em capacitação contínua e num sistema de prêmios e castigos claro e rigorosamente aplicado, que caracterizam os países avançados (BRESSER PEREIRA, 1996 apud DAGNINO, 2007, p. 41).

Diferentemente do que ocorreu nos países avançados, no Brasil, o processo de

desenvolvimento da área conformada pelas relações sociais, econômicas e políticas que

dizem respeito mais diretamente á C&TI e o momento em que esse processo se encontra

tornam necessários a ampliação do conceito de comunidade de pesquisa82.

Dagnino nos diz que não está em curso no Brasil, ou na região latino-americana

um “processo de diferenciação” da produção de C&T. As burocracias, política e

acadêmica, existentes promovem a exclusão do Complexo Público de Ensino Superior e

82 Para Dagnino, tal conceito é entendido como um conjunto que abrange os profissionais que se dedicam ao ensino e á pesquisa em universidades públicas e aqueles que, tendo sido ali iniciados na prática da pesquisa, e socializados na sua cultura institucional, atuam em institutos públicos de pesquisa e, também, em agências dedicadas ao fomento e planejamento de C&T. (DAGNINO, 2007, p. 37).

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de Pesquisa (CPESP) tornando inviável a elaboração da Política Científica Tecnológica

(PCT) latino-americana.

Neste sentido, o autor (2007) apresenta um cenário, que tem como ator central o

“Estado Avaliador”. Ele aponta para a existência de uma coalizão que tem promovido

“uma crescente interferência do Estado, no sentido de atrelar as pesquisas aos interesses

do desenvolvimento tecnológico e da competitividade industrial de interesse das

empresas” (DAGNINO, 2007, p. 44).

Sobre este agente, Renato Dagnino ressalta as idéias de Neave e Vugh (1943).

Os dois autores dizem que a tendência existente na formulação da PCT pauta-se no

“Estado Avaliador”, que desde a década de 70, adotou uma postura genérica de

desregulação e autonomia institucional, combinada com medidas de regulação que

tendem a condicionar a ação das instituições de ensino superior:

Marcaria o atual cenário um alinhamento da universidade á guinada determinada pela Reforma Gerencial que se iniciou nos anos de 1970 nos países avançados e um abandono da universidade generosamente financiada pelo Estado do Bem-Estar. A universidade que a estaria substituindo se caracterizaria pelo condicionamento do financiamento à avaliação de desempenho (“Estado Avaliador”) e pela contratação para a realização de serviços que vão desde a formação de pessoal qualificado até o desenvolvimento de tecnologia para atender as demandas da burocracia e das empresas (“Estado Cliente”). (DAGNINO, 2007, p. 44-45).

Desta forma, conclui-se que as empresas nos países avançados, assumem o papel

mais ativo na elaboração destas políticas (No sentido amplo: de planejamento,

gerenciamento, organizacional e etc..). Tais empresas estão focadas no processo

decisório que origina a política universitária e a PCT, diferentemente, do que aconteceu

nos países periféricos, como o Brasil.

Sobre esta inserção nos países periféricos, Dagnino (2007, p. 46) concluiu:

Se bem é certo que a abertura econômica, e a inserção competitiva do país no mercado internacional que ela pretendia, atribuiu ao Estado e suas instituições (entre elas, as universidades públicas) a função de promover um ambiente favorável ou espaços adequados – para que os atores que supostamente participariam do processo de inovação que ela demandava (pesquisadores universitários e empresários inovadores ou de base tecnológica) interagissem –, isso não ocorreu.

O que não significou que as demandas por conhecimento científico e tecnológico

decorrentes da satisfação dos interesses de diversos grupos sociais e da consecução dos

objetivos nacionais, cuja satisfação caberia ao Estado promover tenham sido

abandonadas.

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O que se observa é que a promessa feita por aquela racionalização, de que, após

o período de destruição criadora, as empresas sobreviventes induziriam um circuito

virtuoso de competitividade e desenvolvimento econômico e social, ainda se está por

cumprir (DAGNINO, 2007, p. 47).

Não há no país uma interação efetiva de universidade-empresa, dos parques e

pólos tecnológicos e apoio aos projetos cooperativos, de mecanismos para facilitar a

absorção de pessoal pós-graduado pelas empresas.

No Brasil, em geral em toda a América Latina, a comunidade de pesquisa tem

um papel fundamental (e até dominante) na elaboração de PCT.

Ou seja, que ela, e em particular, os professores-pesquisadores com desempenho

profissional no âmbito da CPESP são praticamente os únicos responsáveis, não apenas

pela definição da agenda de pesquisa, mas pelas atividades de avaliação que delas

decorrem (e, além disso, obviamente, pela implementação da política) (DAGNINO,

2007, p. 161).

Por conta dos países latino-americanos apresentarem pouca relevância das

atividades de P&D privadas, ela se reduz, em boa medida, à política de pesquisa

elaborada no CPESP. Não importa o quão difusa e elaborada, a CPESP tornou-se “um

vetor essencial na orientação da Política de C&T desses países”.(DAGNINO, 2007, p.

162).

Desta forma, podemos compreender o comportamento estatal dos anos 70, com

a formulação dos PNDs e, da PNI na década seguinte. Os professores-pesquisadores da

USP e PUC-RJ foram fundamentais para o desenvolvimento do projeto nacional de

microcomputadores.

Contudo, o apoio estatal existente no Estado desenvolvimentista foi, em larga

escala, minimizado no contexto dos anos 90. No primeiro mandato de FHC, a

comunidade de pesquisa, compreendidas por centros de pesquisas (Fundações e

Núcleos), universidades e demais instituições, não tiveram a mesma atenção e

investimentos.

A formulação da PCT neste período esteve apagada. Já que o Governo não

promoveu alguma parceria-estratégica entre as instituições aqui citadas, pois,

investimentos mínimos foram orientados em torno da Lei de informática de 1991, para

que seu programa continuasse vigente.

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O Governo FHC deveria ter investido substancialmente em políticas

educacionais, principalmente, naquelas que contemplam os Centros de Estudos da

CPESP. Há inúmeras instituições que poderiam receber mais atenções, com o intuito do

Governo implementar uma PCT mais ativa, como o Núcleo de Economia Industrial e da

Tecnologia (NEIT), da UNICAMP, por exemplo.

Com a promoção da dialética de “Nova Ordem e Competitividade

internacional”, FHC deveria, no mínimo, ter investidos nos centros de pesquisa que

participaram do projeto nacional governamental dos anos 70, tal como USP e PUC-RJ,

já que estes centros demonstram uma histórica compreensão estrutural acerca da

montagem, planejamento e base organizacional de insumos tecnológicos.

Estes investimentos estatais em instituições de Ensino contemplam os

argumentos de Dagnino (2007, p. 192), de acordo com ele, nos países da América

Latina:

A influência do professor-pesquisador ocorre, então, desde o momento da formulação, por meio de suas opiniões relativas às grandes decisões (programas de fomento, aspectos organizacionais e legais etc.), de sua participação nos comitês, ad hoc, definindo, as prioridades (em geral, não explicitamente enunciadas) e alocação de recursos.

Desta forma, se ressalta que a condução dos investimentos de FHC no setor

educacional demonstrou ser insuficiente para que a CPESP pudesse produzir e/ou

expandir estudos que impactassem diretamente na inserção ativa do país, mesmo que

este último estivesse com sua inserção limitada pelo modelo econômico neoliberal,

restando a nós o instrumento de desoneração fiscal em diversos setores.

Como mostrou o professor Luiz Antônio Cunha83, sobre a questão da Educação

no Governo FHC (1995-2003):

A característica mais marcante da educação como meta prioritária da proposta

84[de FHC] é o destaque para o papel econômico da educação, como “base do novo estilo de desenvolvimento”, cujo dinamismo e sustentação provêm de fora dela mesma – do progresso científico e tecnológico. Essa indução atuaria no sistema educacional pelo topo, isto é, pela universidade, entendendo-se que a competência

83 Professor titular de Educação Brasileira, Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/es/v24n82/a03v24n82.pdf> Acessado em 14 de março de 2011. 84 A proposta de governo do candidato FHC para seu primeiro mandato (Cardoso, 1994) foi elaborada por uma equipe coordenada pelo economista Paulo Renato Souza, ex-secretário da Educação do Estado de São Paulo, ex-reitor da Universidade Estadual de Campinas, naquele momento, técnico do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Vitorioso o candidato e empossado FHC na Presidência da República, Paulo Renato Souza foi nomeado ministro da Educação, cargo que ocupou de 1995 a 2002, vale dizer, durante os dois mandatos do presidente. (CUNHA, 2003, p. 38).

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científica e tecnológica é fundamental para garantir a qualidade do ensino básico, secundário e técnico, assim como aumentar a qualificação geral da população. Para se conseguir isso, a proposta

afirmava a necessidade de se estabelecer uma “verdadeira parceria” entre setor privado e governo, entre universidade e indústria, tanto na gestão quanto no financiamento do sistema brasileiro de desenvolvimento científico e tecnológico85. (CUNHA, 2003, p. 38-39).

A proposta apresentada por FHC referia-se “negativamente” à rede federal de

ensino superior. Ela indicava que os investimentos em seu sistema precisariam ser

revistos, “silenciando-se quanto ao conjunto do ensino privado, que é majoritário e,

inegavelmente, de qualidade bem inferior”, de acordo com Cunha.

Desta forma, o parecer presidencial, dizia ser inaceitável que a rede federal

consumisse de 70% a 80% do orçamento do Ministério da Educação (uma estimativa,

aliás, bastante exagerada) para atender apenas a 22% dos estudantes de graduação. A

política para o ensino superior deveria promover uma “revolução administrativa”

(CUNHA, 2003, p. 39).

Em linhas gerais “Seu objetivo se concentraria em uma administração mais

racional dos recursos e a utilização da capacidade ociosa, visando a generalizar os

cursos noturnos e aumentar as matrículas, sem despesas adicionais” (CUNHA, 2003, p.

39).

De acordo com Cunha (2003), desde a década de 80 as propostas de reforma de

ensino superior no Brasil, seguem a mesma linearidade. Coincidentemente, é no mesmo

período, que temos no comando do país José Sarney, quem iniciou a aplicação de

medidas orientadas para o viés neoliberal como vimos em seções anteriores:

Na reconstrução da lógica intrínseca ao processo de reforma do ensino superior em curso no Brasil, os elementos apresentados revelam que há um modelo concebido em meados da década de 1980, cuja versão paradigmática foi expressa pelo Grupo Executivo para a Reformulação da Educação Superior (GERES). A continuidade das propostas apresentadas recorrentemente, desde então, deve ser entendida como produto, também, da permanência no governo de dirigentes e quadros técnicos, o que permite traçar um elemento de continuidade entre os governos José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, pelo menos no que se refere ao Ministério da Educação. (CUNHA, 2003, p. 41, grifos nossos).

85 De acordo com CUNHA (2003), esta era uma referência à política que o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pretendia desenvolver há anos, no sentido de aumentar os gastos em C&T com aportes das empresas. Em contrapartida, as instituições de pesquisa dedicar-seiam mais e mais à pesquisa aplicada.

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Desta maneira, podemos concluir que os problemas relativos à falta de

investimentos no setor que envolve a CPESP remontam a uma linha histórica. Tal

ausência de recursos por parte do Estado pode ser entendida como pilar da estrutura do

modelo econômico inserido na Economia na década de 90.

Além disso, os problemas macroeconômicos, traduzidos pelas crises

internacionais Pós-Real desviaram a atenção e os esforços estatais para solucionar estas

questões.

A abertura da Economia promoveu uma quebra generalizada das empresas

nacionais que produziam insumos tecnológicos. Desta forma, tais empresas pararam

suas produções e começaram a comercializar os artigos internacionais, atraindo os

consumidores que estavam a fim de modernizar seus insumos.

A partir das pesquisas realizadas, vimos que FHC não deu a devida atenção ao

setor, muito menos à formulação de uma nova PCT.

A estratégia do governo baseou-se na livre concorrência de mercados, tendo em

vista, o aumento da competitividade entre as empresas. Contudo, a falta de

investimentos nos setores estratégicos, principalmente, em políticas educacionais,

industriais e de P&D, fizeram com que a falência da maioria destas produtoras nacionais

fosse inevitável.

Os incentivos mínimos, caracterizados pelo financiamento e reserva de mercado,

podem ser consideradas medidas insuficientes para que a competitividade brasileira

experimentasse algum ganho internacional.

Como dito pelo relatório do MCT (1998):

A pesquisa efetuada constatou que para 58% das empresas, a Lei nº 8248/91, como está, não se constitui num instrumento suficiente para apoiar a inserção competitiva de empresas brasileiras no mercado internacional. Para 47% das empresas os investimentos incentivados favoreceram a exportação de produtos ou tecnologias. Entretanto, em apenas 22% dos casos estes foram considerados como significativos ou muito significativos. (...). A política para o setor não conseguiu ainda promover o adensamento da cadeia produtiva, nem se mostrar suficiente para atrair algum dos grandes fabricantes de semicondutores a vir estabelecer uma unidade no Brasil. (BRASIL, 1998, p. 31-33, grifos nossos).

Para que tivéssemos êxito em nossas políticas públicas no setor tecnológico, o

Governo FHC deveria ter investido em políticas educacionais, tecnológicas e de

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pesquisa e desenvolvimento (P&D), desta forma, o Brasil poderia alcançar ganhos

maiores, em suas esferas econômicas e sociais.

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ANEXOS

• Anexo A: Tabela 1 – Países em desenvolvimento da América Latina: Participação nas exportações mundiais por categoria de produto entre 1980 e 2002 (%)

Utilizando a mesma classificação de produtos desenvolvida pela UNCTADV (2002), os dados de comércio internacional foram agrupados em cinco categorias, de acordo com a intensidade de fatores e a intensidade tecnológica: CP = Commodities Primárias; PITRN = Manufaturas Intensivas em Trabalho e Recursos Naturais; BIT = Manufaturas de baixa Intensidade Tecnológica; MIT = Manufaturas de média intensidade tecnológica; AIT = Manufaturas de alta intensidade tecnológica.

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• Anexo B: Tabela 2 – Quadro de Incentivos fiscais para o Setor de Informática, previstos na Lei de 1984

PROGRAMA INCENTIVOS OBSERVAÇÕES

Pesquisa e Desenvolvimento (P&D)

Dedução de até 200% dos gastos em P&D para efeitos de imposto de renda; Isenção do imposto de importação, IPI, e IOF sobre bens do ativo fixo importado ou nacional;

A CONIN estabelece o percentual de dedução; Ênfase aos programas desenvolvidos em Centros de Pesquisa

Recursos humanos (RH) Dedução de até 200% dos gastos com formação de RH para efeitos de imposto de renda;

A todos os segmentos de informática. Abatimento limitado a 15% do imposto de renda;

Capitalização da empresa nacional

Dedução de até 1% do imposto de renda na aplicação direta em empresas nacionais do setor;

Investimentos não podem ser feito em empresas do mesmo grupo; CONUN aprova Plano de capitalização; Registro na Comissão de Valores Mobiliários;

Produção

Isenção do imposto de importação, IPI, e IOF sobre bens do ativo fixo; Depreciação acelerada (em 3 anos);

Destinado à produção, modernização e expansão industrial; CONIN autoriza a isenção;

Doação de bens Todos os benefícios Equiparado com P&D;

Exportação Isenção do Imposto de Exportação

Destinado ás empresas nacionais exportadoras

Softwares

Todos os benefícios; Redução do lucro tributável equivalente ao percentual da receita referente ao faturamento do produto;

Destinado aos projetos de P&D e formação de recursos humanos. Destinado ao software básico, de suporte e aplicativos de alto conteúdo tecnológico para equipamentos nacionais. CONIN autoriza os incentivos

Microeletrônica

Todos os benefícios. Redução do lucro tributável equivalente ao percentual da receita referente ao faturamento do produto; Isenção do imposto de importação para componentes, partes e peças. Dedução de até 200% dos gastos com componentes comprados nas indústrias nacionais de micro-eletrônica.

CONIN autoriza os incentivos; Destinado aos fabricantes de hardware;

Fonte: Fonte: Gomes (1996) in Revista Info, Jan. 1986;

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• Anexo C: Análise publicada pelo MCT (1998) sobre os resultados da lei de informática

Como publicado pelo relatório do MCT, em 1998, o qual apresentava o balanço

referente á Lei de informática de 1991, vimos que seu resultado foi positivo. Neste

relatório, o Governo mostra um estudo realizado pela Fundação Dom Cabral, a qual,

efetuou uma pesquisa, em 1997, intitulada “Estudo dos Impactos e Resultados dos

Incentivos Fiscais de que Tratam as Leis 8248/91 e 8661/93”.

No que diz respeito à Lei nº 8248/91, a pesquisa foi efetuada junto a 29

empresas de informática, com incentivos fiscais aprovados em 1996. Destas, 19

empresas foram analisadas e 9 entrevistadas. Todas as empresas analisadas usufruíram

tanto dos benefícios do IPI quanto do IR. Os principais resultados desta pesquisa estão

consolidados abaixo:

Para 100% das empresas, a isenção de IPI e a redução

do imposto de renda devido previstos na Lei são importantes ou muito importantes tanto para a competitividade empresarial como para o desenvolvimento tecnológico;

Para 95% das empresas, a extinção da Lei provocaria um impacto significativo ou muito significativo sobre sua atividade tecnológica;

84% das empresas declararam ter alterado sua trajetória tecnológica pelo fato de ter sido beneficiada com incentivos fiscais da Lei nº 8248/91, em termos de ampliação da produção local e desenvolvimento de novas linhas de produtos, ampliação e racionalização dos investimentos em P&D, ampliação dos investimentos em treinamentos técnicos e engenheiros, ampliação dos investimentos em qualidade e produtividade, estabelecimento de parcerias e acordos de cooperação tecnológica com institutos de pesquisa e implantação de certificação ISO 9000;

58% das empresas pesquisadas informaram que caso os benefícios fiscais instituídos pela Lei não sejam prorrogados, elas considerariam a hipótese de deslocar sua produção para a Zona Franca de Manaus ou países da América Latina;

74% das firmas declararam que o valor de seus gastos com tais atividades foram altamente beneficiados pelos incentivos fiscais;

Para 95% das empresas que participaram da pesquisa, as atividades de P&D são consideradas como um fator

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determinante ou extremamente determinante da competitividade da empresa;

O desenvolvimento tecnológico e os investimentos adicionais em P&D, qualidade e treinamento de mão-de-obra beneficiados com incentivos fiscais possibilitaram a 95% das empresas obter ganhos significativos de produtividade;

Para 94% das empresas, os incentivos contemplados na Lei foram considerados importantes ou muito importantes para a tomada de decisão no que diz respeito à realização de investimentos para ampliação da capacidade de produção ou instalação de unidade fabril no País;

Os critérios do PPB - Processo Produtivo Básico - foram considerados importantes para 68% das empresas tanto para aumentar substancialmente a produção como para promover a agregação de valor;

No que concerne à competitividade internacional, para 58% das firmas, a Lei não constitui um instrumento suficiente para apoiar sua inserção no mercado internacional em bases mais competitivas;

Para 47% das empresas houve favorecimento da exportação de produtos ou de tecnologia.

Como publicado pela pesquisa, os resultados se mostram bastante significativos. Em termos globais:

Verifica-se um crescimento médio de 52,4% no faturamento nominal anual das empresas pesquisadas, no período entre 1994 a 1996;

O número médio de empregados nas empresas analisadas situou-se em torno de 756 empregos diretos, neste período, com 36% destes, possuindo nível superior;

O nível de utilização da capacidade instalada aumentou de 69% em 1995 para 78% em 1996 e o percentual de novos investimentos realizados pelas empresas, em máquinas e equipamentos vis-à-vis o faturamento, atingiu uma média de 1,7% e, em instalações, uma média de 1,8%, no período 1994/96;

A compra de partes, peças e componentes no mercado interno atingiu uma média de 18,4% do faturamento neste período e a compra no exterior 13,1%.

Por fim, a compra de serviços tecnológicos de terceiros, internamente, situou-se em 2,8% do faturamento, no mesmo período.

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• Anexo D:

Gráfico 1 – Trajetória explosiva da dívida pública após o Plano Real

Fonte: CARNEIRO, 2002, p.395

• Anexo E:

Tabela 3 - Variação Real Anual do PIB: Brasil x Mundo – (%)a.a. – 1995/1999

Ano Brasil Mundo 1995 4,2 3,7 1996 2,7 4,0 1997 3,3 4,2 1998 0,1 2,8

Fonte: IBGE

0

10

20

30

40

50

60

1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Dívida líguida total

Dívida interna

Dívida mobiliária

Dívida externa

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• Anexo F:

Tabela 4 - Evolução da taxa de desemprego aberto (%) Médias anuais – 1990-1998

MESES BRASIL RMSP RMS 1989 3,35 3,44 4,37 1990 4,28 4,55 5,39 1991 4,83 5,52 5,91 1992 5,80 6,60 7,00 1993 5,32 5,74 6,61 1994 4,96 5,42 7,05 1995 4,64 5,17 6,72 1996 5,46 6,29 6,84 1997 5,66 6,60 7,73 1998 7,59 8,58 9,27

Fonte: IBGE – PME.Apud FILGUEIRAS, 2003, p.169 *Regiões Metropolitanas: SSA, SP, RJ PA, BH, E RE.

• Anexo G:

Tabela 5 – Déficit em Conta Corrente – 1994/2001 (Em US$ Milhões)

Fonte: Banco Central. Para 2001, previsão dos autores, com base nos resultados até a metade do ano.Apud PINHEIRO, GIAMBIAGI, e MOREIRA, 2001a, p. 24;

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• Anexo H:

I) Os impactos sobre as atividades de pesquisa e desenvolvimento - P&D.

De acordo com o relatório do MCT (1998), no período 1994 a 1996, 67% das

empresas ampliaram seus gastos com P&D em função dos incentivos fiscais

contemplados na Lei. A tabela abaixo mostra os valores de investimentos adicionais em

P&D e os percentuais destes investimentos adicionais sobre o total investido, pelas

empresas da amostra analisada.

Tabela 6 - Investimentos Adicionais entre 1994-1996 (em R$ Milhares)

Investimentos Adicionais 1994 1995 1996 Total Pesquisa e Desenvolvimento

Adicionais (A) 72,3 97,1 103,3 272,7 Totais (B) 112,2 169,1 196,3 477,6 (A/B) % 64,4% 57,4% 52,6% 57,1%

Qualidade e Produtividade Adicionais (C) 512 1.175 1.560 3.247

Totais (D) 5.575 8.364 11.071 25.010 (C/D) % 9,2% 14,0% 14,1% 13,0%

Treinamento Adicionais (E) 154 1.174 2.001 3.029

Totais (F) 2.622 8.366 7.143 18.131 (E/F) % 5,9% 14,0% 28,0% 16,7%

Fonte: Fundação Dom Cabral, 1997, apud, MCT 1998, p.28

De acordo com tal relatório, as principais alterações sofridas nos processos de

P&D das empresas devido à implantação da Lei nº 8248/91 foram:

I) Melhoria no planejamento e acompanhamento das atividades de P&D de médio e longo prazos;

II) Aumento do intercâmbio e da cooperação técnico-científica com universidades e centros de pesquisa;

III) Modernização de linhas de produção; IV) Criação de novas linhas de pesquisa e implantação de novos

produtos; V) Incremento do esforço de nacionalização de partes, peças e

componentes; VI) Ampliação e consolidação das equipes de engenharia de

produtos, processos e sistemas; (BRASIL, 1998, p. 28-29).

Os investimentos adicionais em P&D, qualidade e treinamento proporcionados

pela Lei permitiram a 95% das empresas obter ganhos de produtividade ou agregar

valor aos produtos e processos, através:

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I. Da otimização de processos produtivos e incremento de novas funcionalidades

II. Ofertadas aos clientes; III. Da agilização e aumento dos fluxos de produção; IV. Da diminuição do ciclo de desenvolvimento de novos

produtos; V. Da implantação de sistemas de verificação de produtos para o

aprimoramento da qualidade; VI. Do desenvolvimento de novas atividades e tecnologias de

fabricação; VII. Da diminuição dos índices de falhas e de retrabalho,

resultando em redução dos custos agregados e dos preços dos produtos aliado ao aumento da rentabilidade dos processos. (BRASIL, 1998, p. 28-29)

II) Impactos relacionados ao Processo Produtivo Básico - PPB

Como citado no relatório, os impactos foram visíveis quanto aos critérios do

PPB sobre a produção das empresas, tanto no plano intra como extra-firma.

Tendo sido estabelecido um grau de importância de 1 a 10 ao PPB quanto a

diversos impactos, tais como: Redução de custos, aumento da produtividade,

desenvolvimento tecnológico, melhoria da qualidade, emergência de novos

fornecedores de peças e componentes e melhoria da qualidade e produtividade de

antigos fornecedores.

Verifica-se que 76% das empresas se situaram entre o grau 5 a 7 no impacto

redução de custos, 82% no impacto de aumento da produtividade e 88% no

desenvolvimento tecnológico. Outros impactos com seus respectivos graus de

importância podem ser visualizados na tabela abaixo.

Tabela 7 – Impactos e Grau de importância Impactos Grau de importância

1 a 4 5 a 7 Média

Redução dos Custos 24% 76% 5,8 Aumento da produtividade 18% 82% 5,5

Desenvolvimento tecnológico 12% 88% 5,5

Melhoria da Qualidade 29% 71% 5,1 Emergência de novos fornecedores de peças e componentes 47% 53% 4,6

Melhoria da qualidade e produtividade de antigos fornecedores 47% 43% 4,6

Fonte: Fundação Dom Cabral, 1997.Apud, MCT, 1998a, p.30;

III) Impactos intra/extra-firma dos investimentos em P&D, qualidade e

treinamento

Barbara Regina Vieira Lopes

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A Lei nº 8248/91 possibilitou, do ponto de vista de fornecedores e outros

parceiros, a geração em 73% dos casos de ganhos externos às empresas, uma melhoria

na relação técno comercial com fornecedores e parceiros, uma maior objetividade na

definição das características técnicas dos produtos, partes e componentes adquiridos.

Com reflexos positivos nas análises críticas de contratos entre as empresas e os

fornecedores, uma melhoria no planejamento e controle de processos e estoques,

permitindo aos fornecedores e parceiros um planejamento mais adequado, um repasse

de tecnologia e incremento das atividades de suporte técnico para fornecedores e

participação nos programas de P&D, qualidade e treinamento dos fornecedores, para

atender às necessidades das empresas com os níveis de excelência desejados.

Do ponto de vista de universidades, centros tecnológicos e institutos de pesquisa,

os investimentos em P&D, qualidade e treinamento efetuados com recursos da Lei,

fizeram com que aumentasse substancialmente a interação entre o setor produtivo e

universidades/centros de pesquisa, o que se constata pelo crescimento expressivo do

volume de recursos efetivamente direcionado pelas empresas para estas instituições nos

últimos anos.

Em 89% dos casos de ganhos externos pôde-se constatar uma intensificação do

processo de difusão no meio empresarial e científico de tecnologias fruto de

desenvolvimento conjunto, um melhor acesso de empresas às facilidades e capacitações

do setor acadêmico nacional e um aumento do suporte financeiro aos centros de

pesquisa de universidades, favorecendo a modernização de laboratórios e a formação de

pessoal.

Do ponto de vista dos clientes ou do governo, em 93% dos casos de ganhos

externos às empresas, pôde-se constatar uma melhoria na qualidade dos produtos e

redução dos preços, levando ao aumento da competitividade, auxílio no equilíbrio da

balança

comercial e crescimento substancial do faturamento e, conseqüentemente, aumento no

volume de impostos pagos.

IV) Impactos sobre a competitividade internacional

A pesquisa efetuada constatou que para 58% das empresas, a Lei nº 8248/91,

como está, não se constitui num instrumento suficiente para apoiar a inserção

competitiva de empresas brasileiras no mercado internacional.

Políticas Públicas nos anos 90: um Panorama sobre o Incentivo no Setor Tecnológico...

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Para 47% das empresas os investimentos incentivados favoreceram a exportação

de produtos ou tecnologias. Entretanto, em apenas 22% dos casos estes foram

considerados como significativos ou muito significativos.

Um conjunto adicional de medidas se faz necessário, tais como, a ampliação dos

critérios do PPB com o objetivo de incluir as áreas de software e serviços, a agilização

do processo de análise de concessão de benefícios, principalmente junto ao Ministério

da Fazenda e a não consideração na base de cálculo das obrigações de investimentos em

P&D (5%) do faturamento com serviços e a revenda de produtos de terceiros.

Por outro lado, torna-se importante, com o objetivo de favorecer a inserção das

empresas no exterior, a redução do “Custo Brasil”, a criação de mecanismos de

estímulos às exportações, a desburocratização dos processos alfandegários, a ampliação

dos mecanismos de ex-tarifário para partes e peças sem similar nacional e,

principalmente, a intensificação do combate ao “mercado cinza”, considerado uma

prática desleal de comércio.

V) Impactos da suspensão ou extinção dos benefícios da Lei

Os resultados verificados na pesquisa indicam que, para 95% das empresas, a

extinção da Lei nº 8248/91 provocaria um impacto significativo ou muito significativo

sobre sua atividade tecnológica.

E, para 80% das empresas, a extinção dos incentivos, nos prazos atualmente

previstos na Lei, gerará mudanças significativas na estrutura produtiva da empresa, na

sua localização ou no esforço de competitividade.

Para a grande maioria seria necessários prorrogar os mesmos por pelo menos

mais cinco anos. Do total de empresas que responderam a pesquisa, 58% informaram

que caso os benefícios fiscais instituídos pela Lei não sejam prorrogados, elas

considerariam a hipótese de deslocar sua produção para a Zona Franca de Manaus ou

realizar novos investimentos na América Latina (particularmente na Argentina).

Entretanto, destas empresas, 68% atribuíram uma probabilidade pequena ou

muito pequena disto vir a acontecer enquanto 32% assinalaram uma probabilidade alta

ou extremamente alta.

Barbara Regina Vieira Lopes

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• Anexo 9:

Tabela 8 - Comércio Exterior de Produtos do Complexo Eletrônico – 1996 (Em milhões US$)

Fonte: Divisão de Estatística das Nações Unidas/OMC.Apud MCT(1998) Consolidação do trabalho realizada pelo MCT/SEPIN

Notas importantes: · Países não pertencentes ao ITA - Argentina, Brasil e México.

· Total de importações = US$ 484.554.000.000,00 · Total de exportações = US$ 460.751.000.000,00

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• Anexo J:

Tabela 9 – Estratégias de Desenvolvimento Industrial dos Tigres Asiáticos

Apud MCT, 1998, p.39

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Monografias IGEPRI é um produto do Instituto de Gestão Pública

e Relações Internacionais da Univerisidade Estadual Paulista “Júlio

de Mesquita Filho”. Nosso trabalho tem por objetivo promover e di-

fundir ideias e práticas transparentes de Gestão Pública nos âmbitos

das Relações Internacionais. Os trabalhos aqui presentes são de auto-

ria exclusiva de seus idealizadores e possuem o intuito de enriquecer

cada vez mais o conhecimento nessas áreas.