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Largo Fonte da Chácara, nº 239, Água Limpa, Ouro Preto/MG – CEP 35400-000 [email protected] - (31) 9991 0297 (vivo) / 8951 3281 (oi) Igreja Matriz de Nossa Senhora da Piedade Distrito de Piedade do Paraopeba Brumadinho/MG Subsídios Históricos para o Projeto de Restauração Vista geral da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Piedade de Piedade do Paraopeba em abril de 2014. Fonte: Bernardo Andrade Bernardo Alves de Brito Andrade Historiador e Especialista em História da Cultura e da Arte Ouro Preto, junho de 2014.

Igreja Matriz de Nossa Senhora da Piedade Distrito de ... · invasão da Colônia por outras nações e os piratas que infestavam o litoral exigem uma atitude da Coroa Portuguesa,

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Largo Fonte da Chácara, nº 239, Água Limpa, Ouro Preto/MG – CEP 35400-000 [email protected] - (31) 9991 0297 (vivo) / 8951 3281 (oi)

Igreja Matriz de Nossa Senhora da Piedade Distrito de Piedade do Paraopeba

Brumadinho/MG

Subsídios Históricos para o Projeto de Restauração

Vista geral da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Piedade de Piedade do Paraopeba em

abril de 2014. Fonte: Bernardo Andrade

Bernardo Alves de Brito Andrade

Historiador e Especialista em História da Cultura e da Arte

Ouro Preto, junho de 2014.

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SUMÁRIO

1 – APRESENTAÇÃO................................................................................................... .....3

2 – CONTEXTO HISTÓRICO DAS MINAS GERAIS...............................................................4

3 – A SERRA DA MOEDA, PIEDADE DO PARAOPEBA E BRUMADINHO............................14

4 - A MATRIZ DE NOSSA SENHORA DA PIEDADE............................................................26

4.1 – Linha do tempo: Construção e Intervenções..................................................39

5 – DOCUMENTAÇÃO FOTOGRÁFICA............................................................................40

6 – REFERÊNCIAS..........................................................................................................47

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1- APRESENTAÇÃO

O trabalho aqui apresentado aparece como parte do processo de elaboração da

proposta de restauração da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Piedade, localizada em

Piedade do Paraopeba, distrito de Brumadinho/MG, região relacionada ao chamado Ciclo do

Ouro. Nesse sentido, o levantamento histórico realizado visa fornecer subsídios para a

reinterpretação e recuperação física da Matriz, levando em consideração sua relação com a

comunidade onde está inserida e sua importância histórica no contexto mineiro.

As pesquisas foram realizadas entre os meses de abril e maio de 2014 e tiveram como

foco a contextualização histórica do edifício, suas transformações ao longo do tempo, sua

relação com o entorno e sua importância para a comunidade de Piedade do Paraopeba.

A metodologia aplicada se baseou nos preceitos da história cultural e consistiu das

seguintes etapas: levantamento das referências bibliográficas e documentais, especialmente

nos arquivos eclesiásticos das arquidioceses de Belo Horizonte e Mariana e no Arquivo

Público Mineiro; entrevistas com o pároco local, pesquisadores e moradores de Piedade do

Paraopeba1; análise e sistematização das informações coletadas; e produção deste relatório.

O relatório se divide em seis partes. O capítulo “CONTEXTO HISTÓRICO DAS MINAS

GERAIS”, como o próprio nome sugere, visa oferecer um panorama sobre a história mineira.

“A SERRA DA MOEDA, PIEDADE DO PARAOPEBA E BRUMADINHO”, discorre sobre a

ocupação da região, com especial atenção no desenvolvimento do distrito e na formação do

município. O capítulo “A MATRIZ DE NOSSA SENHORA DE PIEDADE” trata do edifício

propriamente dito, possuindo um subcapítulo específico para obras e intervenções

realizadas ao longo dos anos. Seguem a “DOCUMENTAÇÃO FOTOGRÁFICA” e as

“REFERÊNCIAS”.

Todo o processo foi realizado de maneira idônea e buscando-se a máxima neutralidade

possível no tratamento das informações coletadas.

Bernardo Alves de Brito Andrade

Historiador e Especialista em História da Cultura e da Arte 1 Aproveito esse espaço para agradecer à equipe do projeto, à Prefeitura de Brumadinho e aos moradores de

Piedade do Paraopeba, especialmente os entrevistados - Padre Paulo Eustáquio Cerceau Ibraim, Nivaldo Caldeira e Euler de Carvalho Cruz - cujas fontes e considerações, gentilmente cedidas, foram de grande valia na elaboração do presente trabalho.

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2- O CONTEXTO HISTÓRICO DAS MINAS GERAIS

A chegada dos europeus ao continente americano no final do século XV representa um

dos grandes acontecimentos da História Mundial. Além do brutal choque entre civilizações

tão diferentes, esse episódio alimentou uma efetiva globalização, promovendo um trânsito

cada vez mais intenso de culturas, pessoas, gêneros, ideias, crenças, dentre outros, numa

escala verdadeiramente mundial. E o reflexo disso será o incremento da atividade humana

em todos os campos.

Nesse contexto, o desembarque da esquadra de Cabral no que viria ser o Brasil, em abril

de 1500, marca o início da ocupação portuguesa do território brasileiro. Porém,

diferentemente do ocorrido nas conquistas espanholas, aqui não foram encontrados

“grandes civilizações” como os impérios Inca e Asteca, muito menos riquezas e tesouros

fabulosos de imediato - exceto o pau-brasil, abundante em nosso litoral e que seria muito

utilizado na Europa no tingimento de tecidos.

Por isso mesmo, a ocupação do território ainda seria extremamente precária até

meados dos anos 1530. Por essa época, os ataques das tribos inimigas, as ameaças de

invasão da Colônia por outras nações e os piratas que infestavam o litoral exigem uma

atitude da Coroa Portuguesa, que então busca iniciar uma efetiva colonização dessas terras

através das Capitanias Hereditárias – grandes faixas de terra cedidas pela Coroa a

particulares, principalmente nobres destacados nas praças da África e da Ásia.

Teoricamente, caberia a essa iniciativa privada a tarefa de ocupar e colonizar as terras

brasileiras.

Porém, das doze cedidas “apenas Pernambuco, no Nordeste, e São Vicente, na

extremidade setentrional, conseguiram vencer os ‘problemas de dentição’ dos primeiros

tempos, e tornaram-se centros de crescimento populacional e econômicos relativamente

importantes. As demais, ou foram abandonadas em consequência de ataques indígenas ou

vegetaram numa obscuridade total, com pequeno número de colonos que mantinham uma

posição precária em locais isolados da faixa litorânea”. 2

2 Boxer, 2002.

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Nas capitanias que lograram êxito floresceria uma próspera indústria açucareira, com

sua economia dominada pelos grandes engenhos e potentados locais. Os lucros gerados pelo

Ciclo do Açúcar e pelo pau-brasil atrairiam a cobiça de outras nacionalidades, especialmente

holandeses e franceses, o que ocasionaria inúmeras disputas e combates até o final do

século seguinte, em diferentes pontos do litoral da Colônia.

Em 1548, Tomé de Souza assumiu o cargo de Governador Geral, centralizando a

administração colonial em Salvador, na Bahia. A partir daí o processo de ocupação do

território brasileiro se intensifica, avançando gradativamente as fronteiras internas da

Colônia. A necessidade de braços para os engenhos do litoral e a crença de que o sertão

colonial escondesse um eldorado3 semelhante ao encontrado pela Espanha em suas

conquistas americanas motivaram a coroa portuguesa a incentivar a exploração do interior,

apoiada nos potentados locais.

As famosas entradas e bandeiras, expedições exploratórias que esquadrinhavam o

imenso interior da Colônia4, teriam papel fundamental no processo de colonização do

território, assim como os missionários católicos, especialmente os jesuítas5, claro que por

razões opostas às dos primeiros. Esses últimos buscavam catequizar os povos indígenas e

3 Essa expressão era muito comum no período colonial americano e englobava várias lendas sobre riquezas

fabulosas ora em reinos míticos ora em montanhas e acidentes geográficos. A mais famosa delas provinha das conquistas espanholas, no qual o soberano de um dos povos nativos tinha o hábito de se banhar nas águas de uma lagoa sagrada coberto com ouro em pó (el dorado), enquanto seus súditos despejavam ali objetos do precioso metal em louvor a suas divindades. Variações da lenda falavam de uma cidade de ouro maciço que nuca foi encontrada. No Brasil também existiam histórias desse tipo, propagadas pelos indígenas e que motivaram muitas das expedições exploratórias aos sertões da Colônia. Uma das mais famosas era a do sabarabuçu, a montanha resplandecente de ouro e esmeraldas. A cidade de Sabará deve seu nome a essa lenda. Maiores informações são encontradas em FIGUEIREDO, 2011. 4 As entradas são mais identificadas com as provindas das capitanias do norte, enquanto que as bandeiras se

referem em sua maioria às oriundas de São Vicente (São Paulo). Os armadores dessas expedições recebiam benesses do Governo Geral e da Coroa, além de angariar os lucros da empreitada. Os objetivos principais eram a captura de gentios e a busca por riquezas da terra, em especial os metais e pedras preciosas. Heterogêneas, em sua maioria eram compostas por brancos, negros, índios, mulatos, cafuzos, dentre outras variações. Diferentemente da visão romântica sobre esses desbravadores, essas expedições eram bastante miscigenadas, misturando elementos culturais europeus, africanos e indígenas. Os conhecimentos sobre o território, bem como os caminhos e as técnicas de sobrevivência dos nativos na dura realidade do sertão foram apreendidos e adaptados à realidade “mercantilista” europeia por essas empresas. Mais informações em VASCONCELLOS, 1944. 5 Fundada pelo padre Inácio de Loyola em 1534, a Companhia de Jesus chegou ao Brasil em 1549, onde teve

enorme importância na difusão do cristianismo e na conversão dos indígenas. A obra realizada em suas Missões, aldeamentos de indígenas padronizados e extremamente organizados, e sua influência na formação sociocultural colonial são impressionantes. Isso provocaria apreensão na Corte portuguesa no século XVIII. Por isso mesmo, os jesuítas foram expulsos do Império Ultramarino Português em 1759, por ordem do Marquês de Pombal. Informações em VAINFAS, 2000.

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Figura 1 – Rotas prováveis de algumas das expedições que

percorreram o território mineiro nos séculos XVI e

XVII Fonte: FIGUEIREDO,

2011, pag. 21.

difundir o cristianismo pelo Novo Mundo – uma das incumbências do católico Império

Ultramarino Português.

Figuras 2, 3 e 4 – Ao lado vemos a cena de um aldeamento jesuíta pintado por Rugendas nos anos de 1820. Abaixo imagens de guerra contra os indígenas e de sua escravização, ambas pintadas por Debret nos

anos 1830. Apesar de não serem contemporâneas aos eventos que culminaram no Ciclo do Ouro, essas

imagens dão uma boa ideia daquele contexto – apesar de um tanto quanto “romantizadas”. Fonte: Fundação Biblioteca Nacional

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No final do século XVII seriam descobertos ricos depósitos de ouro na região conhecida

genericamente como Sertão dos Cataguases6, mais tarde denominada Minas Gerais. Inicia-

se então um período de intensas transformações não somente na Colônia, mas em todo o

Império Português. As fabulosas jazidas encontradas ao longo dos rios São Francisco,

Paraopeba, das Velhas, das Mortes, dentre outros, atraíram milhares de pessoas de todos os

tipos, ávidas pelas promessas de enriquecimento e prosperidade.7

Uma leva de povoados e arraiais logo despontou pelo território, muitos surgidos da

mineração, mas muitos outros em decorrência da agropecuária, do comércio e do

abastecimento destas áreas.8 Um deles será o de Piedade do Paraopeba, como será melhor

exposto no capítulo seguinte deste trabalho.

Nesse contexto, a relação que a Coroa portuguesa mantinha com a sua maior colônia

sofreu profundas alterações. Antes um tanto quanto negligenciado e pouco rentável, o Brasil

passa agora a ser o centro das atenções do Império Português. A ocupação “branca”, que

nos duzentos anos anteriores se concentrara no litoral, passa a avançar cada vez mais

rapidamente sobre o sertão, dilatando também os antigos limites do Tratado de Tordesilhas.

De fato, durante o Ciclo do Ouro a Colônia assistiria a um rápido processo de

urbanização, fundamental para a efetiva ocupação do território. Nesse cenário é

interessante notar que nas áreas de mineração, pela própria natureza e intensidade do

processo, o meio urbano surgiu antes do rural, o que geraria alguns problemas. O comércio e

o abastecimento de gêneros de primeira necessidade eram precários e a vida um tanto rude

e insalubre. As crises de abastecimento por vezes forçaram o abandono de ricas áreas de

exploração durante os anos iniciais do Setecentos.9

Porém, as oportunidades oferecidas pelo mercado de abastecimento das áreas de

mineração logo seriam aproveitadas pelos comerciantes do litoral, formando caminhos e

entrepostos comerciais. Fazendas e estâncias agropecuárias foram criadas para dar suporte

6 Essa expressão, que aparece em mapas antigos do Brasil, faz referência às tribos dos Cataguases que

abundavam na região nessa época. Porém, muitos outros povos indígenas habitavam essas plagas, como os Puri, Arardez, Araraos e Taboyaras – esses últimos encontrados com maior frequência na região dos rios das Velhas e Paraopeba. A maior parte das tribos indígenas que ocupavam essas regiões foi escravizada ou exterminada por guerras e doenças trazidas pelos colonizadores. O restante ou foi sendo integrado à vida colonial ou “empurrado” para o interior da Colônia à medida que a ocupação “branca” avançava. BAETA, 2012. 7 PAIVA, 2002.

8 CUNHA, 2011.

9 VASCONCELOS, 1999.

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ao sistema. O movimento de expansão das fronteiras e ocupação do território mineiro

começa a se organizar, estruturado pelos caminhos e tropas.

A riqueza das jazidas encontradas, o aumento constante do comércio e da quantidade e

diversidade cultural dos habitantes somados à inexpressiva presença do Estado Português

acarretariam diversos conflitos.

O primeiro foi a Guerra dos Emboabas, conflito que opôs paulistas e forasteiros pelo

direito de exploração das lavras e das licenças de comércio e produção de gêneros. Cheia de

reveses, intrigas e emboscadas, essa guerra teve fortes razões políticas e comerciais,

relacionadas principalmente ao poder adquirido pelos paulistas e sua “total arrogância e

despotismo em relação ao Governador Geral”. Liderados pelo Superintendente das Minas do

Ouro, Manuel da Borba Gato, os paulistas foram derrotados pelas tropas emboabas,

comandadas pelo português Manuel Nunes Viana, em 1709.10

Esse conflito forçou a Coroa a mudar sua postura em relação às regiões auríferas. Uma

das primeiras medidas foi a criação da Capitania da Coroa de São Paulo e Minas do Ouro,

separada da gigantesca Repartição Sul, com sede no Rio de Janeiro, ainda em 1709. São

Paulo é elevada à condição de cidade e sede da nova capitania nesse mesmo ano e as

primeiras vilas em território mineiro foram criadas em 1711 – Vila do Carmo, Vila Rica e a

Vila do Sabará, respectivamente. Dois anos depois, em 1714, foram definidas as primeiras

comarcas mineiras: de Vila Rica, do Rio das Velhas (Sabará) e do Rio das Mortes (São João

Del Rei).11

O acesso às regiões mineradoras se torna mais restrito e tem início o processo de

aparelhamento administrativo e a efetiva organização administrativa da região. A concessão

de sesmarias e datas minerais – como eram chamadas as áreas de exploração agropecuária e

mineral, respectivamente – agora se torna mais criteriosa.

A dificuldade de fiscalização do território e da produção aurífera forçou a Corte a

estabelecer uma cota anual de ouro que deveria ser paga ao rei – ao invés do tradicional

10

Após a derrota, muitos paulistas se voltaram mais para o interior, desbravando grandes regiões do Triângulo Mineiro e dos estados de Goiás e Mato Grosso. As descobertas de ouro nessas regiões a partir de 1718 deram origem a centros urbanos importantes como Cuiabá, Goiás Velho e Paracatu, interligadas às Minas pela famosa Picada de Goiás. ROMEIRO, 2008. 11

A Comarca do Serro Frio seria criada em 1720, e a de Paracatu em 1815, conformando a Capitania de Minas durante o Período Colonial. Mais informações em: http://ftp.tjmg.jus.br/ (acesso em 20/05/2014)

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quinto, como rezava a legislação. Por essa época, essas remessas giravam entorno de

quatrocentos quilos anuais. Esse sistema permitia a arrecadação de grandes quantidades do

metal sem a necessidade de se instalar uma onerosa máquina administrativa.12

Com o passar dos anos e a descoberta crescente de novas jazidas esse sistema passou a

ser deficitário para a Coroa. Assim, em 1720, a política administrativa e fiscal das Minas seria

revista. A cobrança do quinto é retomada, passando a ser recolhida pelas Casas de Fundição.

Circular com ouro em pó ou em pepitas – formas como ele era mais comumente encontrado

na natureza e utilizado comercialmente na Colônia – foi proibido, além de inúmeras outras

restrições e impostos comerciais.

O descontentamento com essas medidas deu origem a uma nova luta armada: a Revolta

de Vila Rica, ou Revolta de Felipe dos Santos13, como ficou conhecido o movimento ocorrido

nesse mesmo ano. Apesar de terminada sem maiores contratempos para a Coroa, essa

rebelião mostrou que muitos dos problemas na administração das Minas do Ouro ainda se

mantinham, forçando novas mudanças.

Dessa maneira, ainda em 1720, foi criada a Capitania das Minas Gerais, desmembrada

da de São Paulo, e Vila Rica passa a ser sua capital. A fronteira do sertão continua a se

mover, agora mais rapidamente, criando novos arraiais e vilas enquanto o território mineiro

se consolida.

Por essa época foram descobertas as jazidas de diamante na região que ficou conhecida

como Tejuco, origem da cidade de Diamantina. Nova leva de ocupação, dessa vez em

direção ao norte da capitania, no que hoje compreende o Vale do Jequitinhonha.

Ao longo da primeira metade do século XVIII, a exploração mineral e o comércio se

intensificam a cada dia e as minas gerais se tornam uma das “esquinas do mundo” de então,

atraindo pessoas e mercadorias de todos os cantos da Terra.

Na conjuntura das Minas Gerais o escravismo colonial seria bastante incrementado

frente à urgente e crescente necessidade de braços para as lavras e fazendas. Os cativos

12

FIGUEIREDO, 2011. 13

Liderados pelo potentado Paschoal da Silva Guimarães e pelo português Felipe dos Santos os revoltosos chegaram a tomar a Vila Rica, mas depuseram as armas pouco depois sob a promessa do Conde de Assumar, governador da capitania, de cancelar as medidas – o que era só um blefe. Todos foram presos e tiveram seus bens sequestrados. Felipe dos Santos foi enforcado e esquartejado como exemplo máximo, assim como o seria o Tiradentes no final desse século. ROMEIRO, 2008.

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africanos chegavam aos milhares todos os anos, chegando a representar quase dois terços

da população em alguns momentos do Período Colonial. No entanto, o dinamismo da

sociedade mineira e a volatilidade da riqueza proporcionaram uma mobilidade social inédita

na Colônia e muito mais complexa do que julga o “senso comum”.14

É nesse ambiente dinâmico, sincrético e miscigenado que florescerão as associações

religiosas leigas, fundamentais no desenvolvimento sociocultural e na urbanização das vilas

e arraiais do Setecentos. As irmandades, ordens terceiras, confrarias e outras entidades de

ajuda mútua seriam importantíssimas formas de organização social.15 Nesse ponto, cabe

ressaltar a profunda religiosidade que envolvia o colonialismo ibérico e os fortes laços que

interligavam o Estado português e a Igreja Católica.

Mais tarde, em dezembro de 1745, foi criada a Diocese de Mariana, primeira de Minas,

com o objetivo de aprimorar a administração eclesiástica do crescente número de capelas e

paróquias erigidas na capitania - o planejamento da Vila do Carmo e sua elevação a Cidade

de Mariana aparecem como reflexo disso, tendo sido promovidas pela Câmara e pelo

Governo.

14

Aqui, no entanto, é preciso salientar que havia grandes diferenças entre o escravismo nas regiões mineradoras e o praticado nos grandes engenhos. Neste, os senhores normalmente possuíam grandes planteis de escravos e funcionavam no típico esquema apresentado por Gilberto Freire no clássico Casa Grande e Senzala. Já nas minas, os grandes plantéis eram bem menos comuns. Os donos muitas vezes garimpavam com seus poucos escravos, que também tinha direito a explorar o ouro por conta própria aos domingos. Além disso, quando não estavam nas jazidas, perambulavam pelas movimentadas urbis dessas regiões vendendo seus serviços cotidianamente. Esse contexto favorecia a coartação, instrumento legal que permitia ao escravo negociar sua alforria e que foi bastante utilizado durante todo o período escravista, como demostram os inúmeros exemplos documentados. Interessante notar que muitos desses alforriados adquiriam seus próprios cativos quando a situação financeira permitia – ter um ou mais escravos funcionava como uma distinção social. No cenário sociocultural brasileiro, as heranças africanas são parte importante de nossa formação e desenvolvimento, guardando fortes reflexos na atualidade. PAIVA, 2002. 15

A maior parte das igrejas e capelas construída no período colonial foi erigida por elas com recursos advindos da doação de dízimos dos irmãos. Funcionavam como entidades de ajuda mútua e socorro, além de ter importante papel na representação social dos grupos envolvidos. Assim, havia irmandades de brancos, de negros e de mulatos e, em muitos casos, a própria devoção era associada à cor da pele. Essas associações também favoreceriam o sincretismo religioso e a mistura cultural, especialmente as irmandades “dos pretos”. Os antigos elementos de devoções africanas são ressignificados dentro catolicismo colonial, tanto como estratégia de resistência, por parte dos cativos, quanto como forma de cristianização, do lado do clero e dos senhores. As congadas, por exemplo, têm aí sua origem. De forma geral, as associações religiosas leigas ganhariam força durante o século XVIII, estendendo sua influência até a primeira metade do século XIX, quando tem início seu prolongado processo de declínio. Cerceadas após a Independência do Brasil, essas associações viram seu poder ser gradativamente diminuído e suas funções esvaziadas em prol de um Estado nacional cada vez mais forte e agregador, que culminaria com a Proclamação da República em 1889. Porém, ainda hoje muitas delas continuam ativas, mesmo que aos “trancos e barrancos”. Mais informações sobre essa temática podem ser encontradas em BOSCHI, 1986.

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No campo das artes e da arquitetura, eminentemente ligados à Igreja e aos temas

religiosos, essa circularidade cultural criaria um ambiente propício para a reinterpretação

das influências, sobretudo do Velho Mundo, dentro do contexto das Minas Coloniais. Dessa

maneira, o Maneirismo, o Barroco e o Rococó, encontrariam terreno fértil nos grandes

centros mineradores como Vila Rica, Mariana, Sabará, São João Del Rei, Diamantina, dentre

tantas outras vilas mineiras do Setecentos. A arquitetura, a escultura, a pintura e a música

aqui produzidas durante o Ciclo do Ouro se baseiam numa matriz cultural ocidental, mas

realizadas de maneira mais flexível e permeável aos gostos e elementos locais – inclusive

oriundos de outras culturas, como no caso dos povos africanos.16

No entanto, é interessante notar que o período de maior vigor artístico em Minas

coincide justamente com o aprofundamento da crise na produção aurífera – que já dava

sinais desde os anos 1740 em alguns locais, como Vila Rica. As arcaicas técnicas utilizadas na

exploração mineral nas Minas Coloniais não foram muito além dos aluviões, e parte

considerável da produção era perdida durante o tratamento do ouro.17

A agropecuária e o comércio, tão ou até mais rentáveis do que o ouro desde o começo

da ocupação mineira, gradativamente assumem o papel de motor econômico da capitania,

provocando a ocupação de novas áreas para plantação e pasto.

A mudança da capital da Colônia de Salvador para o Rio de Janeiro em 1763 teria

importância capital nessa conjuntura, dinamizando o desenvolvimento da região Sul de

Minas, terras da Comarca do Rio das Mortes, através do comércio e abastecimento da Corte.

As regiões do Triângulo Mineiro, seguindo a Picada de Goiás, e do Leste da Capitania, em

direção ao Espírito Santo, também passam a ser colonizadas de forma mais consistente e

sistemática, visando o abastecimento dos novos mercados.18

16

A interessante questão do desenvolvimento artístico e arquitetônico nas Minas Coloniais e sua relação com os modelos europeus é uma temática bastante debatida. As influencias da “cultura arquitetônica” trazida pelos mestres de ofício europeus e sua reinterpretação e circulação no contexto mineiro, bem como as discussões historiográficas mais recentes sobre o assunto, são tratadas de forma aprofundada em D’ANGELO, 2006. 17

As experiências realizadas pelo Barão de Eschwege, diretor de minas da Coroa Portuguesa, em Passagem de Mariana e sua proposta de industrialização da exploração aurífera mostraram que muito ouro ainda poderia ser tirado do solo mineiro. Realizada de forma mais efetiva a partir da segunda metade do Oitocentos, e contando com capital estrangeiro, essa industrialização provocou o ressurgimento de antigos arraiais, como Nova Lima, Morro Velho, Passagem dentre outros, e se desenvolveria até a atualidade. Coube ao Barão também a criação da “Patriótica”, em 1812, primeira fábrica de ferro em solo brasileiro, cujas ruínas ficam em Congonhas do Campo. 18

CARRARA, 2007.

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Ainda no final do século

XVIII, a crise na exploração

aurífera e os “gargalos”

impostos pela Coroa ao

desenvolvimento da capitania,

dentre outras motivações,

culminariam na Inconfidência

Mineira, último movimento

revoltoso de Minas no Período

Colonial. Frustrada antes de

ocorrer e duramente punida, a

Inconfidência mais tarde seria

reinterpretada pela ideologia

republicana, que conferiria ao

movimento uma aura mística

como berço do nacionalismo

brasileiro.19

No início do século XIX, a

decadência de muitos dos

grandes centros mineradores é relatada pela maioria dos viajantes estrangeiros que

percorreram o solo mineiro. A imagem de casas arruinadas e lavras abandonadas, além de

uma pobreza geral, são comuns nesses depoimentos. A vida se “ruraliza”, acompanhando as

mudanças econômicas da Província de Minas Gerais. 20

Acompanhando as modas e modelos europeus que desembarcam na Corte, os gostos e

estilos mineiros gradativamente se modificam. No campo artístico e arquitetônico, o

romantismo, o neoclassicismo e o ecletismo são exemplos de modernidade, dando o tom da

aristocracia, das reformas urbanas e do estilo das grandes fazendas.

A chegada da ferrovia no final dos anos 1870, incentivada por fazendeiros e

empresários, e a industrialização de algumas regiões, em especial voltadas para os setores 19

MAXWELL, 2001. 20

Após a Independência as Capitanias passam ao status de Províncias sendo assim tratadas até o fim do Império. Na República, são transformadas em Estados da Federação.

Figura 5 - Mapa da Capitania de Minas Gerais. A pequena seta amarela marca

o arraial de Piedade do Paraopeba. Vila Rica está um pouco à sua esquerda nesse mapa. José Joaquim da Rocha, 1778; marcação: Bernardo Andrade

Fonte: Arquivo Público Mineiro

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têxtil e de exploração mineral, marcam mudanças importantes no contexto mineiro. Novas

áreas se desenvolvem e a economia se diversifica. Uma leva de imigrantes acompanharia

esse processo, tanto de operários e engenheiros, como de camponeses, refugiados e

pessoas diversas em busca de oportunidades.

Além disso, mudanças importantes a nível nacional têm reflexos profundos em Minas,

como a Abolição da Escravidão, em 1888, e a Proclamação da República no ano seguinte.

Nesta última, talvez o episódio mais emblemático tenha sido a transferência da capital do

Estado para Belo Horizonte, em 1897. Influenciada pelas reformas promovidas pelo Barão de

Haussmann em Paris21, a nova capital buscava também se distanciar do “barroquismo” da

velha Ouro Preto, que remetia à dominação portuguesa e ao recém-deposto Império. Um

dos motes para essa mudança foi ainda a ideia de se buscar um maior desenvolvimento para

a região central do Estado.

Nesse cenário, a ferrovia teria importância capital na integração de diferentes pontos do

estado, especialmente as próximas à nova capital. Assim, da mesma forma como em grande

parte do país, além de dinamizar o transporte de mercadorias, insumos e passageiros, o

desenvolvimento da malha ferroviária será responsável pelo surgimento de várias cidades e

entrepostos comerciais/industriais ao

longo de seus caminhos. Um desses

locais será o município de Brumadinho,

nascido de uma estação construída para

o Ramal do Paraopeba.

Porém, a ocupação das terras que

passaram a compor Brumadinho

começara muitos anos antes, em

Piedade do Paraopeba e nas ricas jazidas

da Serra da Moeda.

21

Iniciada nos anos 1830, a reformulação da Cidade Luz influenciaria profundamente o conceito de cidade na era moderna, definindo parte considerável da ideia de urbanização que conhecemos hoje. Terrenos mais planos, avenidas largas e retas (que facilitavam o controle de manifestações populares), praças e parques urbanos e o crescimento planejado da urbis foram alguns dos conceitos que seriam adotados em várias grandes cidades mundo afora, inclusive no Brasil.

Figura 6 – Detalhe do Mapa da “Viação Férrea dos Estados de

Minas Gerais e Espírito Santo”, mostrando o Ramal do Paraopeba (em preto). S/a, 1931.

Fonte: http://www.estacoesferroviarias.com.br/efcb_mg_paraopeba/f

otos/mapa-linha9311.jpg

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3- A SERRA DA MOEDA, PIEDADE DO PARAOPEBA E BRUMADINHO

Como mencionado anteriormente, um dos acessos ao Sertão dos Cataguases utilizados

pelas bandeiras paulistas nos séculos XVI e XVII eram os caminhos indígenas que subiam o

Rio Paraopeba (ver figura 1) – principalmente porque um dos objetivos dessas expedições

era justamente a captura e escravização de tribos inimigas.

As terras a oeste do Paraopeba eram habitadas pelos carijós, povo considerado mais

“dócil” e que mantinha boas relações com os “brancos”, em especial os paulistas – exemplo

disso está na origem do antigo Arraial do Campo Alegre dos Carijós, hoje Conselheiro

Lafayette. O outro lado da Serra da Moeda, no sentido de Ouro Preto, era dominado pelos

bravos e indolentes aimorés, que ofereceram grande resistência no início da ocupação.

Isso leva a supor que as rotas utilizadas tenha sido as do lado dos Carijós, através do

Fecho do Funil ou das Serras dos Três Irmãos e Rola Moça. A antiga estrada que liga Piedade

do Paraopeba a Casa Branca, e depois ao Curral Del Rey, parece seguir essa rota primitiva.22

A famosa expedição de Fernão Dias Paes Leme teria passado pela região ainda em

167423, criando ali pontos de apoio para a exploração do território. A inovação de

estabelecer roças e criações nos locais onde a expedição passaria permitiu a efetiva

conquista da região.

De acordo com Diogo Vasconcelos, esses pontos de apoio podem ser considerados os

primeiros povoados mineiros, sendo o mais antigo o de Ibituruna, criado ainda em 1674,

hoje município. No ano seguinte foi a vez de São Pedro do Paraopeba – cujo nome foi

mudado em 1681 para Santana do Paraopeba, em alusão à capelinha erguida por ocasião do

falecimento do sertanista. Santana hoje é um distrito do município de Moeda. O terceiro

teria sido justamente Piedade do Paraopeba, nas fraldas do que viria a ser a Serra da

Moeda.24

22

CRUZ, 2007. 23

Essa bandeira atendia a uma carta de D. Afonso VI, rei português, que lhe recomendava maior empenho na busca pelas lendárias minas de esmeraldas, ouro e prata. A determinação e as descobertas renderam a Fernão Dias a alcunha de “Governador das Esmeraldas” – mesmo que estas propriamente ditas não tenham sido encontradas por ele. 24

VASCONCELOS, 1999.

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Esses povoados, assim como outros do Paraopeba, passaram a se desenvolveriam em

função das descobertas auríferas em Ouro Preto, Mariana e Sabará no final do séc. XVII.

Muitos deles, como Piedade do Paraopeba, se tornariam pontos de pouso para os que

vinham do sul, rumo às minas, e de abastecimento das regiões de exploração. Além disso,

“Em alguns pontos, na Serra da Moeda e próximo ao Rio Paraopeba,

descobriu-se ouro em boa quantidade. A primeira notícia que encontramos

sobre ouro nesta região vem de uma carta de José Vaz Pinto, datada de

09/11/1703 e dirigida a D. Pedro II, rei de Portugal, dando a notícia da

descoberta de mina no rio Paraopeba, pelo padre João de Faria Fialho.” 25

Em 1720, quando foram instaladas as Casas de Fundição, origem da Revolta de Vila Rica

citada no capítulo anterior, a Serra do Paraopeba e seus vários caminhos passaram a ser

utilizados para o contrabando da produção das minas. Mais do que isso, por essa época uma

fábrica de moedas falsas foi instalada na região, sendo comandada por Inácio de Souza

Ferreira. Os cunhos utilizados haviam sido roubados de casas de fundição do Rio de Janeiro e

era cobrado um “imposto” menor na

tributação do quinto dos clientes.

Segundo Augusto de Lima Jr.,

essa fábrica era uma verdadeira e

bem armada “fortaleza”, onde

trabalhavam cerca de cem homens

de todos os tipos, inclusive antigos

funcionários da administração lusa

na América. Sua localização

estratégica e protegia, permitia a

rápida comunicação com diversas

partes da Colônia. Além disso, o

estabelecimento era apoiado

clandestinamente pelo próprio

25

ATAÍDE e CRUZ, 2007, p. 12.

Figura 7 – Ruínas do Forte de Brumadinho ou Casa de Pedra, que ficam próximas à sede do distrito de Piedade do Paraopeba. Augusto de Lima

Junior menciona que essa estrutura seria a fábrica de moedas falsas. Porém, Xavier da Veiga sustenta que tal estabelecimento ficava no

antigo povoado de São Caetano do Paraopeba, na região de Conselheiro Lafaiete. A verdade ainda necessita de maiores estudos.

Fonte: http://www.leozinpelomundo.com.br/2014/03/serra-da-calcada-rumo-ao-forte-de.html (consultado em 21/05/2014)

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governador das Minas, D. Lourenço de Almeida (1721-1732). Isso permitiria seu

funcionamento por longos anos, azeitando também as redes de comerciantes e

contrabandistas capazes de fazer as barras e moedas chegarem à Europa.

A fábrica foi atacada e desbaratada pelo ouvidor geral Diogo Cotrim de Souza em 1731,

mas Dom Lourenço passou incólume pelo caso. Já Inácio, o chefe da fábrica, mofou na

cadeia. Desde então, a Serra do Paraopeba ganhou seu nome atual, Serra da Moeda.26

As ruínas existentes em abundancia na região atualmente sugerem que, naquela época,

algumas áreas da Serra da Moeda foram densamente povoadas e mineradas. Ainda podem

ser divisados vestígios dos antigos canais de água para lavagem do ouro, mundéus, galerias,

muros de arrimo, casas, fazendas, dentre outros diversos remanescentes do período

colonial.27

Em 1736 ou 37, João Ferreira Branco e seus sócios descobririam ouro na região que

ganharia o nome de Tutaméia, próximo a Piedade do Paraopeba e que ainda preserva seu

nome original. De acordo com registros da época, pouco depois seriam distribuídas várias

datas minerais e sesmarias em toda a região, incluindo as áreas próximas aos córregos das

Congonhas, do Brumado, do Itatiaiuçu, da Cachoeira da Paraopeba e da Casa Branca.28

Apesar da relativa fartura de ouro, a agropecuária, as rotas comerciais e o

abastecimento dos grandes centros mineradores permaneceriam como carro chefe da

economia local.

“A área dos atuais distritos de Piedade, Aranha e São José tornou-se um

atalho para os que partiam de Pitangui em direção a Vila Rica ou ao Rio de

Janeiro. A região era importante para o abastecimento de Vila Rica, não só

de gêneros agrícolas como também de gado em pé e muares. Situava-se nas

proximidades de arraiais mineradores importantes, como Congonhas do

Sabará (atual Nova Lima), Raposos, Rio Acima e Itabira do Campo (atual

Itabirito) e abastecia as diversas áreas de mineração espalhadas pela Serra

da Moeda, principalmente o grande complexo de mineração centralizado

pelo Forte de Brumadinho. Além do mais, tinha pastagens naturais,

26

GUIMARÃES, 2008. 27

Como bem sugere a pesquisadora Maria Verônica Campos, a região da Serra da Moeda constitui um dos “enigmas” de Minas Gerais, especialmente em relação a sua importância no contexto inicial da ocupação “branca” do território e de exploração mineral. O Forte de Brumadinho e a Casa da Moeda são testemunhos disso. CAMPOS, 2010. 28

ATAÍDE e CRUZ, 2007, p. 12.

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favoráveis à engorda do gado que vinha dos sertões de Pitangui e Piumhi,

castigado pela viagem e conduzido para venda na região central mineradora

de Minas Gerais.

No século XVIII, toda a área sob a influência de Piedade do Paraopeba, além

de zona de mineração, era uma região de engorda e criação de bovinos e

muares, suinocultura e de produção dos chamados mantimentos – feijão,

milho, farinha de milho e de mandioca, fubá, arroz e azeite de mamona. Na

segunda metade do século surgiram os teares, para a produção de tecidos

grosseiros. Na comarca do Rio das Velhas (Sabará), o primeiro moinho de

que se tem notícia estava situado na fazenda Boa Vista, atual fazenda dos

Martins, então no curato de Piedade do Paraopeba. Após esta data o

moinho difundiu-se por todo o estado.”29

29

ATAÍDE e CRUZ, 2007, p. 14.

Figuras 8 e 9 – A imagem ao lado mostra parte do Mapa da Capitania de Minas

Gerais (pormenor da figura 5 deste trabalho). Abaixo aparece um detalhe do Mapa da Comarca de Sabará. Ambos de autoria de José Joaquim da Rocha, 1778. A seta amarela nas duas imagens destaca

o Arraial de Piedade do Paraopeba. Como é possível visualizar, muitas rotas passavam por essa região no séc. XVIII. Curiosamente, apesar de ter pertencido à Comarca de Vila Rica até o começo do

século XX, Piedade do Paraopeba aparece no Mapa da de Sabará, e não no

daquela, também consultado.

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Nos arquivos da Cúria de Mariana há diversos documentos que registram devassas

eclesiásticas ocorridas em Piedade do Paraopeba em semtembro de 1748, com o objetivo de

restabelecer na região “a ordem, a moral e os bons constumes”. O motivo foram denúncias

de que moradores do povoado viviam em comcubinato e mancebia, por tanto, fora dos

padrões católicos. Realizadas pelo Reverendo Doutor e Visitador Miguel de Carvalho Almeida

Mattos e seu secretário, o Padre Francisco Álvares Barboza, essas devassas culminaram com

a condenção de muito moradores regularizar sua situação civil e pagar multas em ouro.30

Dois anos depois, e talvez como consequência dessas devassas, o primeiro Bispo de

Mariana, Dom Frei Manuel da Cruz, criou o Curato31 de Piedade do Paraopeba,

desmembrado da Paróquia do Curral Del Rey, bem como outros três na região das Minas.

Essa decição, no entanto, foi contestada pela Coroa e, em 1755, todos seriam cancelados,

voltando suas respectivas sedes à situação anterior.32

Esses fatos demonstram que, a essa altura, Piedade do Paraopeba era um povoado

relativamente próspero, apesar de pequeno e sem grandes opulências. Não há registro de

grandes proprietários de bens, escravos e animais.

Euler menciona um curioso documento datado de 21 de março de 1769, onde Manoel

Álvares Correia, que recebera uma sesmaria na região de Piedade do Paraopeba, solicita

autorização ao Rei de Portugal para abrir uma fábrica de ferro ali. Pouco antes ele havia

obtido do Governador uma licença para realizar experiência de “fazer ferro”, onde gastou

muitos cabedais. Manoel alegava ainda que tal fábrica serviria ao bem comum, uma vez que

o alto valor cobrado pelos utensílhos de ferro na Colônia prejudicava a exploração. O pedido,

no entanto, foi negado já que a Coroa não tinha interesse no desenvolvimento do Brasil.33

O declínio na exploração do ouro, que se tornara mais evidente a partir da segunda

metade do setecentos, mudaria o panorama da Serra da Moeda. As grandes lavras são

gradativamente abandonadas e a produção agropecuária se diversifica. A mudança do eixo

econômico para o sul da capitania ajudará a manter o papel de entreposto comercial e zona

de abastecimento que a região do Paraopeba acumulara durante o Ciclo do Ouro.

30

Arquivo da Cúria de Mariana, Devassas 1748-50. 31

Curato nessa época tinha a mesma conotação de Paróquia ou Freguesia, diferindo destes últimos por ser proposto diretamente pelo Bispo e não por uma petição local. 32

TRINDADE, 1945. 33

ATAÍDE e CRUZ, 2007.

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Em 1808, inicia-se a construção da capela de Nossa Senhora do Rosário, a segunda

localizada dentro do povoado. Como a devoção ao Rosário era normalmente associada aos

negros, é bem provável que a população de escravos e forros em Piedade do Paraopeba

fosse considerável – como em toda a Colônia.

No dia 14 de julho de 1832, um decreto regencial elevou o distrito de Piedade do

Paraopeba à categoria de Freguesia, equivalente na época ao título de Paróquia,

desmembrada do Curral Del Rey. Nessa ocasião, foram anexadas à Matriz de Piedade as

capelas de Jesus, Maria e José ou Boa Vista do Aranha (datada de 1753), Santa Luzia do Rio

Manso (1748), Nossa Senhora dos Prazeres do Brumado e São Joaquim de Bicas.34

Nessa época, de acordo com Raimundo José da Cunha Matos, Piedade do Paraopeba

contava com 169 fogos (casas) e 1.120 almas, Aranha tinha 138 fogos e 765 almas e

Brumado 107 fogos e 649 almas.35 Das outras povoações pertencentes à freguesia não há

registros do número de casas e habitantes.

Em 1850 seriam anexados à Freguesia de Piedade do Paraopeba os distritos de Moeda e

de São José do Paraopeba, então pertencentes à Freguesia de Itabira do Campo (atual

Itabirito).

A prosperidade da região parece ter atraído muitos imigrantes nessa época,

especialmente portugueses. De fato, muitos dos descendentes destes ainda são

proprietários de grandes extensões de terras do município de Brumadinho na atualidade. No

entanto, enquanto as fazendas prosperavam, a sede do distrito encontrava-se em

decadência.

De acordo com o “Almanak Administrativo, Civil e Industrial”, em 1864 a situação da

Freguesia de Piedade do Paraopeba era a seguinte:

“É exclusivamente agrícola e acha-se em decadência; tem dentro do

povoado 58 mal construídas casas e 106 espalhadas pela área da freguesia.

Dezoito são os fazendeiros que possuem terras e escravos, bem que seja

maior o número de agricultores que arrendam terras e as cultivam com

alugados. Existem também dois retiros de criar.

34

BARBOSA, 1995. 35

MATOS, 1979 (1837).

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Sua população, que já foi de mais de 5.500 almas, hoje está reduzida a

4.111, das quais 3.246 são livres e 685 escravas.

Os nascimentos estão na proporção de 4% e a mortalidade na de 3,5%.

Sua lavoura ocupa-se do cultivo de milho, feijão, arroz, mandioca, algodão

etc. e a indústria não passa de tecido de pano de algodão grosso, do qual

exportam para mais de 8.000 varas anuais.

Importa gêneros de molhados, louça, ferragens, café, sal e exporta gêneros

alimentícios e algodão.

Tem mais três povoados de que nos ocuparemos em seguida e são: Aranha,

Moeda e S. José do Paraopeba.36

No final do século XIX a

atividade de mineração voltou

ao vale do Paraopeba, desta

vez privilegiando os minérios

de manganês e, depois, de

ferro. Além disso, a mudança

da capital da Belo Horizonte,

em 1897, deslocaria

novamente o eixo econômico

para a região central da

Província, favorecendo o

desenvolvimento das regiões

próximas à nova cabeça de

Minas.

O raiar do século XX marca mudanças importantes na vida de Piedade do Paraopeba. A

lei nº 319 de 16 de setembro de 1901, transferiu o distrito para o município de Nova Lima,

criado dez anos antes. No final dessa década, a chegada da ferrovia dinamizaria a economia

local e promoveria profundas mudanças na ocupação da região.

36

Almanaque: Almanak Administrativo, Civil e Industrial da Provincia de Minas Geraes para o Anno de 1864. Organizado e Redigido por A. de Assis Martins e J. Marques de Oliveira. 1º Anno. Rio de Janeiro: Typographia da Actualidade, 1864. 435p.. http://hemerotecadigital.bn.br/almanak-administrativo-civil-e-industrial-da-prov%C3%ADncia-de-minas-gerais/393428

Figura 10 – Detalhe do Mapa da Província de Minas Gerais. José Ribeiro da

Fonseca Silva, 1873. A seta amarela destaca a Freguesia de Piedade do Paraopeba.

Fonte: Arquivo Público Mineiro

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“A construção da ferrovia provocou uma verdadeira revolução no Médio

Paraopeba. Com a inauguração de Belo Horizonte e com a possibilidade real

da construção do ramal do Paraopeba muitas fazendas situadas na região

das jazidas, ou seja, com terras nas serras dos Três Irmãos, Rola Moça e

Moeda, foram vendidas a companhias mineradoras. [...]

Muitos dos que venderam as fazendas dirigiram-se à nova Capital, em busca

dos confortos da vida moderna, tal como a família Sampaio e a de Joaquim

Pinto, de Aranha, que tornou-se sócio da Serraria Souza Pinto. Embora

muitos tenham deixado sua terra natal, foi a

mineração que ditou o ritmo das aquisições e

levou ao despovoamento as áreas vizinhas às

serras.”37

37

ATAÍDE e CRUZ, 2007, p. 20.

Figuras 11 e 12 - Panoramas de Piedade do Paraopeba em meados do séc. XX. S/a, s/d.

Fonte: Acervo Euler Cruz

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22

Figura 15 – A Estação de Brumadinho em 1930 (Autor desconhecido).

Fonte: http://www.estacoesferroviarias.com.br/efcb_mg_paraopeba/brumadinho.ht

m (consultado em 20/05/2014)

Construído para aliviar o

tráfego de trens entre o Rio de

Janeiro e Belo Horizonte, a

linha do Paraopeba teve seu

trecho inaugural finalizado em

1914, ligando a Estação

Joaquim Murtinho à Estação

João Ribeiro. Em 1917 a linha

chegou a Belo Horizonte,

estabelecendo a ligação direta

sem baldeações entre o Rio e a

capital mineira. A Estação de

Brumadinho foi aberta como

parte desse último trecho,

tendo sido inaugurada no dia

10 de junho desse ano.

É nessa época que começa

a nascer o atual município de

Brumadinho, quando a

empresa de construção do

Ramal instalou nas

Figuras 13 e 14 – A imagem ao lado parece ser do começo do século XX. A foto abaixo é de 1965, e mostra uma

procissão do Jubileu daquele ano. Ambas s/a.

Fonte: Acervo Euler Cruz

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proximidades do povoado de Brumado do Paraopeba uma “cabeça de trecho”, ou seja, local

de reunião de trabalhadores e materiais para as obras. Muitos trabalhadores vieram para a

construção da linha, inclusive estrangeiros, e logo uma pequena aglomeração urbana

começou a ser formada. Os casebres começaram a aparecer na região ainda em 1914,

seguidos por comerciantes, agentes do Estado, dentre outros.

Pela Estação de Brumadinho passavam passageiros e cargas, mas, sobretudo, os

minérios explorados no entorno. Parte da produção agropecuária também era exportada

pelos trens de ferro. Com o rápido desenvolvimento da região, em pouco tempo a sede do

distrito foi transferida de Brumado para Brumadinho, tendo sido anexada ao município de

Bonfim ainda no final dos anos 1910.

A construção da primeira estrada de rodagem ligando Belo Horizonte a São Paulo,

iniciada em 192838, aumentou ainda mais a importância da região de Brumadinho, que

passou a ser o entroncamento de duas das principais estradas (ferrovia e rodagem) de

acesso da capital mineira ao sul do país.

No final dos anos 1930, durante o Estado Novo, o presidente Getúlio Vargas sancionaria

o Decreto-Lei n° 148, que criou, dentre outros, o Município de Brumadinho (17 de dezembro

de 1938), desmembrado de Bonfim. Seu primeiro interventor foi o engenheiro Civil e de

Minas Mário Albergaria dos Santos, empossado no dia 1° de janeiro de 1939.

Além da sede, o novo município passou a ser composto pelos seguintes distritos: Aranha

e São José do Paraopeba – ambos desmembrados de Itabirito - e Piedade do Paraopeba –

que pertencia a Nova Lima. Essa situação gerou um profundo mal-estar nos moradores de

Piedade do Paraopeba, que julgavam que a sede do novo município deveria a ser ali, seu

berço de origem.39

Cabe destacar que Belo Horizonte teve um importante papel polarizador no processo de

desenvolvimento industrial desta região, em especial a partir da criação da Cidade Industrial,

em 1941. Assim, a capital mineira afirmou sua liderança não somente como centro

administrativo do estado, mas também econômico.

38

Mais tarde, nos anos 1950, seria construída a Rodovia Fernão Dias, que também cortaria Brumadinho, mas num outro ponto do município. 39

Segundo alguns entrevistados, o ressentimento com esse fato se estenderia por gerações de piedadense, que também consideravam a assistência prestada pelo antigo município melhor do que a oferecida por Brumadinho. Atualmente essa “rixa” quase não encontra mais seguidores em Piedade do Paraopeba.

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24

Em 1953, o distrito de Brumado

do Paraopeba (atual Conceição do

Itaguá), que pertencia a Bonfim,

também foi anexado a Brumadinho.

Dois anos depois, em maio de 1955,

seria criada a Comarca Judiciária de

Brumadinho.

Com a criação da Região

Metropolitana de Belo Horizonte,

Lei Complementar Federal n.º

14/73, o município passou a integrá-

la, tendo grande importância no

abastecimento da metrópole –

atualmente, cerca de um quarto da

água que abastece a RMBH vem dos

mananciais de Brumadinho, através

dos sistemas Rio Manso e Catarina.

A partir dos anos 1970, a exploração mineral avança, com a instalação de grandes

mineradoras. O transporte de minérios pela ferrovia avança, mas o de passageiros, já

deficitário desde os anos 1950, seria paralisado em 1979 – houve algumas tentativas

posteriores de reativação dessas linhas, todas descontinuadas. O ramal hoje é administrado

por duas concessionárias: a MRS, até a Estação do Barreiro, e dali até a Estação General

Carneiro, pela FCA. A MRS mantém em Brumadinho uma equipe de manutenção de linha e

das instalações.

O município atualmente tem a quarta maior extensão territorial do estado, com uma

área de 639,434 km². Sua população é estimada em pouco mais de 36 mil habitantes de

acordo com o Censo 2012.40

A mineração permanece como motor econômico do município, que abrigado jazidas de

empresas como MBR, Mannesmann Vale/Ferteco e Ferrous. A agropecuária também

40

http://www.cidades.ibge.gov.br/painel/painel.php?lang=&codmun=310900&search=minas-gerais%7Cbrumadinho%7Cinfogr%E1ficos:-dados-gerais-do-munic%EDpio (consultado em 10/06/2014)

Figura 16 – Mapa da Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Fonte: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=537935&page=48

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mantém boa participação na economia, que nos últimos anos vem se diversificando,

especialmente no setor de prestação de serviços.

Quanto a Piedade do Paraopeba, o distrito permanece com seu caráter agrícola, embora

o turismo ecológico e setor de serviços apresentem bom potencial para o desenvolvimento

local. Desde o final dos anos 1990, vários condomínios residenciais foram instalados nessa

região, especialmente voltados

para uma população de alta renda

que trabalha em Belo Horizonte.

Isso tem reforçado a utilização do

distrito como dormitório para

trabalhadores da metrópole,

incluindo aí funcionários de

grandes mineradoras da região.

Aliás, grades áreas de Piedade do

Paraopeba hoje pertencem a essas

mineradoras e constituem

reservas para futuras explorações.

Figuras 17 e 18 – Acima aparece uma vista satélite do

distrito de Piedade do Paraopeba.

Fonte: Google Earth Ao lado é mostrado um mapa de Brumadinho, destacando

seus distritos e destaques culturais.

Fonte: http://descubraminas.com.br/Upload/Mapa/0000807_O.jpg

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4- A IGREJA MATRIZ DE NOSSA SENHORA DA PIEDADE

Levando-se em consideração a ideia de que Piedade do Paraopeba tem suas raízes na

bandeira de Fernão Dias, é bem provável que a primeira ermida dedicada a Nossa Senhora

da Piedade tenha sido erigida ainda nas décadas finais do séc. XVII. De uma maneira geral

essas capelinhas primitivas tinham grande importância na vida comunitária, especialmente

no conforto espiritual. Destacavam-se entre as primeiras construções de porte, mesmo que

acanhadas a princípio41.

“De acordo com o texto de Martiniano, os primeiros moradores de Piedade

edificaram uma capelinha na praça ao lado da atual igreja. A capela, erigida

de acordo com as possibilidades da época, era coberta de capim e tinha o

chão forrado de esteira de taquara, materiais estes que foram tirados no

Campo da Cruz, próximo à Serra do Tutaméia, por onde tinha uma estrada

de tropas que ia até o Curral d’El Rei, hoje Belo Horizonte.”42

Aliás, quando a freguesia de Nossa Senhora da Boa Viagem do Curral Del Rei foi criada,

em 1714, a capela de Piedade do Paraopeba passou a integrá-la.

No início do século XVIII, com o avanço da ocupação da região, a capela possivelmente

passou por melhoramentos, tendo sido reconstruída ao menos uma vez. Pelo menos é isso

que sugere a escritura de formação do patrimônio da padroeira, lavrada em Sabará em 27

de fevereiro de 1729, onde é mencionado que o doador tratou de “novamente reedificar” a

capela existente naquelas terras. O doador em questão, Bento Rodrigues da Costa43,

comprara essas terras e capoeiras do Sargento-mor Leslico de Pontes Pinto.

41

Dentro do forte catolicismo da ocupação do território mineiro, o surgimento da capela normalmente marca a consolidação do núcleo primitivo do arraial, passando a agregar construções em seu entorno ao longo dos anos. Além dos casarões e mercados, as festas, cerimônias, comércios, enfim, a vida cotidiana local passa a se desenvolver nesse espaço – ou pelo menos próximo a ele. 42

CRUZ, 2007, p 1. 43

Anos mais tarde, em 1734, Bento Rodrigues seria notificado pelo reverendo Lourenço Queiroz Coimbra, visitador da Comarca de Sabará, por concubinato e condenado a se afastar da moça, além de pagar multa e as despesas do processo. ATAÍDE e CRUZ, 2007. Essa interessante publicação traz como anexos as transcrições tanto dessa devassa, como do documento de instituição do patrimônio da Capela de Piedade, além de outras fontes de relevo na história do distrito.

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Uma viga de madeira com a inscrição 1713 em algarismos romanos, encontrada junto a

uma das campas sob o arco-cruzeiro da Matriz atual, quando estas foram retiradas no final

dos anos 1950, possivelmente se refira à data da primeira reconstrução da capela. Porém,

não foram encontrados

registros sobre o que esses

números representam, muito

menos do porquê de essa viga

ter sido enterrada dentro da

nova igreja – na reforma

mencionada, a viga foi instalada

numa das paredes laterais do

arco-cruzeiro, voltada para a

capela-mor.

A capela construída por Bento Rodrigues certamente seguia o modelo comum ao das

capelas de outros povoados contemporâneos e próximos: nave e capela-mor dentro de um

grande retângulo, e a sacristia nos fundos, destacando-se numa das laterais posteriores –

ideia proposta pela arquiteta Deise Lustosa, integrante da equipe de elaboração do Projeto

de Restauro da Matriz para o qual esse histórico foi elaborado.

Euler menciona uma descrição dessa capela feita por Martiniano da Silveira. A

construção teria as paredes de tijolos de adobe e pau-a-pique. Os esteios eram de braúna e

a cobertura feita por telhas cerâmicas curvas, “fabricadas em uma olaria que existia à beira

do córrego do Carrapato”, sobre engradamento de madeira. O interior era decorado por um

altar-mor e dois colaterais, todos belamente entalhados em madeira, em estilo barroco, com

policromias e douramentos, mas não há informações sobre o artista que os produziu.

Da mesma maneira, também não foram encontradas informações sobre o piso e os

forros. O primeiro provavelmente era de taboas corridas sobre barrotes de madeira, e o

segundo de taboas de madeira, talvez policromadas. Sobre o sino – sempre presente nessas

capelas – também faltam referências, mas a sineira poderia ser instalada em uma das quinas

da fachada principal ou em um campanário isolado, ambas soluções comuns à época.

Segundo o Cônego Raimundo Trindade, os primeiros padres a atender essa capela foram

Joaquim de Serra Gomes e Mateus de Souza Teixeira, ambos capelães do Curral Del Rei em

Figura 19 – Viga de madeira encontrada junto a uma das campas sob o

arco-cruzeiro, hoje instalada numa das paredes laterais deste arco, voltada para a capela-mor. Bernardo Andrade, maio de 2014.

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1748.44 O edifício, no entanto, parece não ter sido alvo de grandes intervenções até o início

do século XIX.

Segundo a tradição oral, a imagem de Nossa Senhora da Piedade que ainda orna o altar-

mor da Matriz foi doada em 1790, por Bárbara Eliodora Guilhermina da Silveira, esposa do

ex-Juiz Ouvidor de São João Del Rei, Inácio José de Alvarenga Peixoto, mais tarde envolvido

na Inconfidência. O casal era proprietário da Fazenda Ponte Alta, no Córrego do Feijão, e

Piedade era caminho entre esta fazenda e sua residência, em S. João Del Rei. Após a prisão

de Alvarenga, Bárbara doou a imagem como voto para alcançar a graça da libertação do

marido, o que infelizmente não ocorreu. De fatura portuguesa, a peça é feita de madeira

entalhada e policromada, sem informações sobre o fabricante.

Martiniano, novamente citado por Euler, traz a informação de que durante as visitas

pastorais de Frei Dom José da Santíssima Trindade, Bispo de Mariana (1821-25), três padres

irmãos gêmeos teriam se mudado para Piedade do Paraopeba e iniciado a construção de

uma nova igreja ao lado da antiga, no local onde atualmente se encontra a Matriz. Em

pesquisa nos arquivos da Cúria de Mariana, Euler encontrou evidências de que os únicos três

padres irmãos que residiram em Piedade do Paraopeba, sendo dois gêmeos, foram:

Domingos Ferreira de Meneses, primeiro vigário da Paróquia de Piedade (colado em 1837),

José Ferreira da Costa Meneses e Joaquim Ferreira de Meneses.45 Isso sugere que a

construção provavelmente tenha começado ainda nos anos 1820-30.

Nessa ocasião, a antiga capela erguida por Bento Rodrigues começou a ser

gradativamente desmanchada para ceder material para o novo templo e para a construção

de uma casa de residência para os padres. Enquanto as obras corriam a capela antiga

continuou com sua rotina eclesiástica, pelo menos até a retirada dos altares. Estes parecem

ter sido aproveitados na nova construção, mas tiveram de ser rearranjados e

redimensionados já que os espaços eram sensivelmente maiores – opinião reforçada pelas

análises e considerações do restaurador Carlos Magno de Araújo, também integrante da

equipe do projeto de restauro da Matriz.

44

TRINDADE, 1945. 45

Eram descendentes de cristãos novos (judeus convertidos). O padre Domingos foi sepultado na Matriz de Piedade em 1866 e seus irmãos na Capela de Aranha, em 1850 e 1857 respectivamente.

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Partes do antigo arco-cruzeiro e de outros elementos de decoração interna também

parecem ter sido incluídas na nova construção. Um grande painel pintado com a imagem da

Virgem de Piedade ladeada por cenas do Céu, do Purgatório e do Inferno, com quase vinte

m² e que talvez pertencesse à antiga capela, foi instalada sob o forro da capela-mor.

O governo mineiro parece ter contribuiu bastante com essa empreitada, principalmente

porque era obrigado a manter as matrizes de Minas pela legislação vigente. Em 1846, foram

destinados 2:000$000 (dois contos de réis) para as obras na Matriz de Piedade do

Paraopeba. No Relatório de Despesas apresentado por Francisco Diogo Pereira de

Vasconcelos, Presidente da Província, ao passar a administração a seu primeiro secretário,

em 1856, consta que foram destinados 200$000 réis para despesas extras com a Matriz de

Piedade do Paraopeba entre 1836 e 1852. Em setembro de 1862 seriam destinados pelo

governo mais 500$000 réis.46

Essas despesas demonstram que as obras parecem ter demorado, impressão reforçada

pela referência feita no Almanak Administrativo, Civil e Industrial, em 1864:

“Sua matriz só tem acabada a capela-mor, faltando retelhar, forrar o corpo

da igreja e assoalhar os corredores; isto importará, segundo pensa o Revm.

Pároco, em 2:000$ Réis. Não tem fabriqueiro, e por isso nada rende a

fábrica, que não possue bens ou patrimônio algum.

Existem três capelas filiais: uma de Jesus Maria José do arraial do Aranha,

faltando forro e campamento do arco cruzeiro para baixo; outra de S. José,

no arraial do mesmo nome, a qual só tem concluída a capela-mor;

finalmente, a de S. Caetano da Moeda, que precisa de alguns reparos.”47

Após a demolição da capela antiga, em seu local foi plantada uma pitangueira que se

tornaria uma referência para a população por longos anos, tanto como ponto de encontro

como local de se colocar a “conversa em dia”. Essa árvore parece ter sido cortada ou caiu

46

Informações constantes nas fichas catalográficas de documentos originais incluídas na pasta sobre a Matriz de Piedade presente nos arquivos do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico-IEPHA/MG. 47

Almanaque: Almanak Administrativo, Civil e Industrial da Provincia de Minas Geraes para o Anno de 1864. Organizado e Redigido por A. de Assis Martins e J. Marques de Oliveira. 1º Anno. Rio de Janeiro: Typographia da Actualidade, 1864. 435p.. http://hemerotecadigital.bn.br/almanak-administrativo-civil-e-industrial-da-prov%C3%ADncia-de-minas-gerais/393428

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antes dos anos 1970, mas não foram encontradas maiores informações. Muitos dos

entrevistados pelo Euler, como Dona Argemira, Dona Raimunda e o Sr. Neneco, todos

antigos moradores de Piedade do Paraopeba, mencionam com saudades a querida

pitangueira.

Em 1872, o Presidente da província destina mais 1:000$000 réis para obras na Matriz de

Piedade. O Relatório de Despesas da administração provincial de 1883 registra a destinação

de mais 500$000 para novas obras na Matriz.48

Ao assumir a paróquia, em 1896, o Padre Ubaldo Anselmo da Silveira iniciou um

programa de reconstrução de alguns dos templos de Piedade do Paraopeba, em especial a

Matriz e a Capela do Rosário. A primeira começou a ser ampliada nesse mesmo ano, quando

o padre idealizou e contratou a construção das duas torres e dos corredores laterais –

formando uma tipologia barroca tardia, que remetia às velhas matrizes coloniais mas que

parecia fora dos padrões neoclássicos/ecléticos da época.

A obra custou 4:000$000 réis e foi realizada por Eduardo Frias, natural de Ouro Fino,

José Bernardes Rodrigues, português que passou a residir em Piedade, onde foi sepultado

anos mais tarde, e alguns conterrâneos deste que moravam em Itabira do Campo (hoje

Itabirito).

O relógio, instalado na torre esquerda, foi comprado por 800$000 réis e seu sino foi

fundido pelo Padre Francisco de Souza Machado, vigário de Itabira do Campo, que o instalou

em 1897. Tanto as obras como as peças adquiridas foram pagas pelo capitão Antônio

Gonçalves Maia e por seu irmão, o tenente Francisco Gonçalves Maia, proprietários das

fazendas Palhano e Ponte Alta.49

Estilisticamente falando, as obras realizadas pelo Padre Ubaldo na Matriz marcam o

término da construção do edifício, ou seja, quando ele adquire suas feições atuais. A partir

daí, as intervenções e obras de reconstrução pelas quais o templo passaria ao longo dos

anos buscariam seguir a tipologia inaugurada nessa ocasião. Como bem definiu a arquiteta

Deise Lustosa, desde então as intervenções se pautariam na “releitura” do próprio prédio,

com raros desvios de rota. 48

Informações constantes nas fichas catalográficas de documentos originais incluídas na pasta sobre a Matriz de Piedade presente nos arquivos do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico-IEPHA/MG. 49

CRUZ, 2007. Essas duas fazendas deram origem a povoados que hoje pertencem ao distrito de Piedade do Paraopeba, conservando seus nomes originais.

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O Padre Ubaldo se tornaria uma figura muito querida no distrito, tanto pelas obras

físicas de melhoria de Piedade encampadas por ele como por sua participação comunitária e

atuação eclesiástica50. Foi ainda durante sua época como vigário no distrito que seria

instituído o Jubileu de Nossa Senhora da Piedade, em 190751. Isso, no entanto, não impediu

que atritos com alguns moradores o levassem a abandonar a paróquia em 1912.

A Matriz não parece ter sido alvo de grades obras até os anos 1950, quando o Padre

Agostinho Bonifácio da Silva assumiu a Paróquia de Piedade. Nessa época, teve início um

grande plano de reforma e modernização das igrejas do distrito. Para realiza-lo o vigário

decidiu vender algumas peças, imagens e indumentárias do patrimônio da paróquia.

Segundo Euler, nessa época

“[...] houve a dilapidação de boa parte do patrimônio das igrejas de Piedade.

Muitas das imagens e objetos podem ter sido vendidos por ele e pela

Comissão da Igreja com o objetivo de angariar fundos para a ampla reforma

que promoveu na igreja matriz e na capela do Rosário. Em 1959, após ter

50

Em 1906, ele seria responsável pela reconstrução da Capela do Rosário. Nos anos 1930, ele publicaria a série

“Reminiscências”, com cerca de vinte fascículos na revista Santuário de Nossa Senhora das Dores, que tratava

da história de Piedade do Paraopeba. 51

Inspirado no Jubileu do Bom Jesus de Matozinhos de Congonhas, e “visualizado em sonho” pelo major Xisto José da Silveira, o Jubileu de Piedade nasceu através de uma petição direta do Padre Ubaldo encaminhada ao Bispo de Mariana e depois ao Papa. Pio X aceitou a solicitação e instituiu o Jubileu no dia 04 de setembro de 1906. Desde então essa comemoração se destaca entre as datas religiosas e populares comemoradas em Piedade do Paraopeba. ATAÍDE e CRUZ, 2007.

Figura 20 – Panorama de Piedade do Paraopeba em

meados do séc. XX, onde se destaca a Matriz. S/a, s/d. Fonte: Acervo Euler Cruz

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vendido o painel da capela mor da matriz (segundo depoimentos de alguns

moradores, o painel foi vendido para a atriz Eva Tudor), os lustres e diversas

imagens, quis vender a imagem de N. S. da Piedade [...] Diante da reação

popular, o padre desistiu de seu intento. Para vingar-se, solicitou e obteve a

transferência (a primeira e única transferência, desde que foi criada, em

1832) – por intermédio de D. Serafim – da paróquia de Piedade para o

Aranha.”52

Assim, durante os anos 1960, a Matriz seria praticamente reconstruída. As paredes

externas foram refeitas em alvenaria de tijolo, cimento e concreto. A sacristia e toda a parte

posterior do edifício foram ampliadas recebendo alguns anexos. O piso de taboas de

madeira sobre barrotes foi retirado, bem como as campas internas e os restos mortais que

elas guardavam – a tal viga com a data de 1713 foi encontrada nessa ocasião. Em seu lugar

foi instalado um piso de ladrilhos hidráulicos em todo o edifício. O arco-cruzeiro foi

ampliado, para melhorar a visibilidade da capela-mor a partir da nave. Dois novos sinos

foram comprados nessa época e também teriam sido fabricados em Itabirito – porém,

faltam maiores detalhes. Não foram encontradas referências também sobre intervenções

nos elementos artísticos nessa ocasião, mas elas provavelmente devem ter ocorrido.

Após a saída do Padre Agostinho vários vigários assumira a Paróquia de Piedade, muitos

por curtos períodos. Em diversas ocasiões a Paróquia ficou sem vigário, sendo as celebrações

realizadas por padres visitantes. A Matriz então parece ter recebido pouca manutenção

nesse período, o que leva a crer que o edifício se deteriorou em demasia. Segundo os

entrevistados, a parte da frente da Matriz, incluindo a nave, as torres, corredores laterais e o

telhado, apresentava graves problemas estruturais, e os elementos artísticos estavam

bastante carunchados.

52

ATAÍDE e CRUZ, 2007, p. 43-44. A reconstrução da Capela do Rosário ocorreu em 1968. A lista de bens supostamente vendidos pelo padre para angariar recursos incluí: imagem de São Miguel Arcanjo, com balança de ouro, que ficava na capela do Cemitério; imagem de N. Senhora das Dores, que ficava na capelinha que existia na varanda do sobradão, ao lado da igreja; imagem de N. S. das Mercês, que ficava na igreja matriz; o grande painel do teto da capela-mor; 3 lustres de cristal; 2 tocheiros; madeiras e o assoalho da igreja matriz e do Rosário. A sede paroquial retornou a Piedade do Paraopeba em 1972, por intermédio do vigário que sucedeu o Padre Agostinho, Padre Clóvis Sousa Silva.

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Assim, em 1976, uma nova reforma foi iniciada, dessa vez tocada pelos próprios

moradores, com recursos arrecadados junto à comunidade. Um dos responsáveis pela

empreitada foi o Nivaldo Caldeira, também entrevistado para o presente trabalho.

Nessa ocasião, o restante da alvenaria de adobe ainda existente foi substituído por

tijolos e concreto – atualmente não há vestígios das alvenarias antigas em toda a

construção. O engradamento de madeira dos telhados da nave e da capela-mor foi

substituído por lajes e vigas de concreto, onde as telhas cerâmicas foram chumbadas.

Segundo o Euler, os meninos do lugar gostavam de brincar em cima do telhado da Matriz,

cujo acesso era facilitado pelo muro dos fundos da Matriz, o que motivou o “chumbamento”

das telhas para que elas não escorregassem.

A fachada principal teve pequenas alterações, especialmente no frontão, mas nada

profundo. A sacristia e toda a parte posterior foram novamente ampliadas, recebendo

modificações internas e novas esquadrias. Os elementos artísticos internos foram

reformados, incluindo os altares e elementos de decoração. Os muros de pedra do adro

foram cobertos por terra, concreto e cimento.

Os bancos, bem como o antigo confessionário, parecem ter sido substituídos nessa

época. Os novos foram feitos por Quirino Silveira e seu filho Geraldo Silveira. Os bancos

antigos foram doados a escolas e entidades assistenciais da região. Mais tarde os bancos

foram novamente substituídos dessa vez por peças fabricadas em Brumadinho – cada

Figura 21 – Fotografia da Matriz de Piedade durante um Jubileu dos anos

1970. S/a, s/d. Fonte: Acervo Euler Cruz

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Novas intervenções foram

feitas em 1988, dessa vez

concentradas nos elementos

artísticos. Novamente temos o

Nivaldo à frente da empreitada. Os

alteres e elementos internos que

apresentavam partes estragadas

foram reconstituídos, sempre com a

preocupação de se manter os

Figuras 22, 23, 24 e 25 – Aspectos da Matriz durante as obras das reformas de 1976 (as três primeiras imagens) e 1988. O sujeito que aparece em todas

elas é o Nivaldo Caldeira, responsável pelas intervenções. Na imagem acima à direita é possível

ver a parte da frente da Matriz já terminada. Na foto ao lado aparecem os antigos tijolos de adobe

retirados durante essa ocasião. S/a. A imagem abaixo mostra a recuperação de elementos do altar-mor.

Fonte: Acervo Euler Cruz

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padrões e desenhos originais. Parte das peças

retiradas, assim como outras que se

encontravam sob o altar-mor, foram

depositadas na Casa Paroquial, onde

permanecem até hoje.

Apesar de bem intencionada essa intervenção deixou profundas sequelas para a

originalidade dos elementos artísticos. A principal foi a perda completa das policromias

originais, uma vez que a grande maioria das peças de madeira foi banhada em ácido para

prepara-las para a nova pintura acrílica. As poucas peças que ainda conservam seus

pigmentos originais são algumas das que foram retiradas e guardadas na Casa Paroquial. Os

três altares atuais da Matriz não conservam qualquer vestígio das pinturas antigas – como

demonstraram as prospecções realizadas pelo Carlos Magno e sua equipe.

Ainda na reforma de 1988, uma empresa foi contratada para repintar os elementos

artísticos e refazer o douramento dos altares – este feito com uma tinta “purpurinada” e

sem a aplicação de folhas de ouro. O nome da empresa responsável, bem como de seus

técnicos, não foram registrados. Da mesma maneira, o resultado também não agradou e, em

pouco tempo, partes do douramento foram cobertas por novas camadas de tinta acrílica.

Figuras 26, 27 e 28 – Peças retiradas durante as intervenções de 1988. A maior parte delas hoje se encontra guardada na

Casa Paroquial. S/a. Fonte: Acervo Euler Cruz

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Os tetos da nave e da capela-mor receberem uma nova pintura nessa ocasião. No

primeiro foram desenhadas imagens dos 12 Apóstolos, enquanto que o segundo foi ornado

com o desenho da Pomba da Paz. O arco-cruzeiro também recebeu uma pintura de Nossa

Senhora da Piedade no topo, à

imagem e semelhança da antiga

escultura de madeira que domina o

altar-mor. Assim como ocorreu com o

douramento, essas pinturas também

foram muito criticadas pela

população. No entanto, ainda

permanecem inalteradas.

Figuras 29, 30, 31 e 32 – A primeira imagem mostra uma das procissões do Jubileu de 1985. As duas fotos acima

mostram a festa do Divino Espírito Santo de 1981. A imagem ao lado, parece ser do

início dos anos 2000, e mostra a Matriz com uma pintura diferente.

Fonte: Acervo Euler Cruz

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No final dos anos 1990, a Praça da Matriz passaria por grandes reformas, onde os

antigos platôs laterais foram aterrados e elevados ao nível do adro – cobrindo as antigas

escadas de acesso a este e as bases da antiga Casa Paroquial. No início do século seguinte,

essa praça receberia seu paisagismo atual, com bancos, iluminação e caminhos de pedra. Ao

longo dos anos, vários dos casarões que circundavam esse espaço desabaram ou foram

demolidos, modificando a paisagem.

O Padre Rafael Gontijo assumiu a paróquia em 2002 e, já no ano seguinte, promoveu

novas reformas na Matriz. O piso de ladrilhos hidráulicos da nave, dos corredores e da

capela-mor foi coberto por placas cerâmicas com motivos marinhos; as pinturas externa e

interna foram refeitas; e foram construídos na lateral da Matriz um cômodo para servir de

loja de artigos religiosos e novos banheiros externos foram construídos para dar mais

conforto à população durante os eventos que ocorrem nesse espaço.

Segundo o Nivaldo, nessa época, a parte dianteira da Matriz, incluindo as torres,

apresentava graves problemas estruturais, apresentando rachaduras e fendas consideráveis.

Para superá-las devidamente seriam necessárias grandes obras, para as quais não havia

recursos nem qualificação técnica. Assim, como um paliativo foram instaladas vigas de

madeira no batistério para escorar o coro e aliviar a carga das paredes externas e das torres

– solução que ainda permanece.

Durante os preparativos para as

cerimônias do Centenário do Jubileu

de Piedade, em 2007, o Padre Rafael

promoveu as últimas intervenções

de porte na Matriz. Nessa ocasião,

os muros de pedra ao redor do adro

foram reconstruídos e uma grade de

metal foi instalada no muro frontal.

Desde então, a Matriz tem recebido

apenas obras de manutenção, como

pintura externa e interna, além de

pequenos reparos.

Figura 33 – Repintura da Matriz como preparativo para as festas

do Centenário do Jubileu de Piedade. S/a, 2007. Fonte: Folder do Centenário do Jubileu.

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Em 2010, a Matriz foi alvo de um processo de tombamento municipal, efetivado nesse

mesmo ano pelo Conselho de Patrimônio de Brumadinho. No entanto, como sugeriu o prof.

Flávio Carsalade, coordenador do projeto de restauro da Matriz, essa iniciativa poderia ser

ampliada aos níveis estadual e federal devido à grande importância da construção para a

ocupação e desenvolvimento da região.

Porém, como o templo passou por muitas e profundas intervenções ao longo dos anos,

perdendo sua originalidade construtiva, seu tombamento por parte do IEPHA-MG e do

IPHAN exigirá novas abordagens. Nesse sentido, uma das saídas apontadas pelo prof. Flávio

seria tratamento da edificação enquanto um lugar de memória, enquadrado como um bem

cultural imaterial a ser registrado. A solução definitiva, entretanto, dependerá dos interesses

locais e das conversações com os órgãos responsáveis.

Atualmente, a Matriz permanece

como centro do distrito, abrigando

as principais cerimônias e

festividades ocorridas da região,

como o Jubileu e a Festa do Divino.

Ali também são celebradas as missas

dominicais e, durante a semana, o

espaço permanece aberto quase o

dia todo, sendo utilizado para

reuniões e encontros da população.

Figura 34 – Foto do Jubileu de Piedade. Vinícius Horta, 2010. Fonte:

http://descubraminas.com.br/Turismo/DestinoPagina.aspx?cod_destino=170&cod_pgi=2650 (consultado em 10/06/2004)

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4.1- Linha do Tempo: Construção e intervenções

Final do séc. XVII e início do XVIII – Provável construção da primeira ermida dedicada a

Nossa Senhora da Piedade na região;

1713 (?) – Número presente na viga encontrada sob uma das campas e que

possivelmente se refira à data da primeira reconstrução da capela primitiva;

1729 – Formação do Patrimônio da capela e segunda reconstrução da mesma, ambas

promovidas por Bento Rodrigues da Costa;

Anos 1820-30 – Provável início das obras da nova igreja, ao lado da antiga;

Final dos anos 1840 – Época provável da demolição da igreja antiga e aproveitamento

de suas peças na nova Matriz, especialmente dos elementos artísticos e de decoração;

1896-1907 – Construção das torres e das alas e corredores laterais, instalação dos sinos

e ampliação da sacristia. Essa intervenção marca a consolidação da tipologia “final” do

edifício;

Anos 1950-60 – Reconstrução completa do edifício, com substituição dos sistemas

construtivos antigos por alvenaria de tijolos e concreto. Modificação do frontão da

fachada principal. Retirada do forro e do engradamento de madeira do telhado e

instalação de coberturas de concreto armado com telhas chumbadas. Retirada das

campas internas e do piso em barrote e instalação do piso em ladrilhos hidráulicos.

Instalação das redes elétrica e hidráulica;

1976 – Obras estruturais e de recomposição das fachadas e esquadrias. Reconstrução

dos fundos do altar-mor em alvenaria, com instalação da sala de imagens sacras

embaixo, e dos altares dos corredores laterais da capela-mor em madeira. Construção

dos anexos dos banheiros e salas externas;

1988 – Intervenção nos elementos artísticos dos altares e da decoração interna.

Douramento e repintura desses elementos; Pintura dos tetos da nave e da capela-mor;

2003 - Repintura interna e externa. Instalação de um novo piso cerâmico sobre o

ladrilho hidráulico no corpo principal do edifício e do suporte de madeira sob o coro.

Construção dos anexos externos (banheiros e sala);

2007 – Repintura interna e externa. Reconstrução dos muros de pedra do adro e

instalação do gradil sobre o muro frontal.

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5- DOCUMENTAÇÃO FOTOGRÁFICA

Fotografias Relacionadas à Igreja Matriz de Nossa Senhora da Piedade, de Piedade do Paraopeba, realizadas durante a pesquisa de campo.

Fotógrafo: Bernardo A. B. Andrade Data: abril-maio de 2014 Equipamento: Câmera Sony DSC-WX 100 18.2 megapixels.

Fig. 1 – Panorama da chegada ao distrito pela estrada de

ligação com a BR-40.

Fig. 2 – Fachada principal da Matriz de Piedade

Fig. 3 – Vista da Praça da Matriz pelo lado da entrada do

distrito.

Fig. 4 – Vista oposta à mostrada na foto anterior da Praça.

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Fig. 5 – Fachada lateral direita da Matriz.

Fig. 6 – Fachada lateral esquerda da Matriz.

Fig. 7 – Fachada posterior da Matriz.

Fig. 8 – Vista da nave e da capela-mor a partir do coro.

Fig. 9 – Panorama do interior a partir do altar-mor.

Fig. 10 – Vista do conjunto de altares, arco-cruzeiro e

capela-mor.

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Fig. 11 – Altar-mor.

Fig. 12 – Detalhe do camarim com a imagem de Nossa

senhora da Piedade, atribuída ao século XVIII.

Fig. 13 – Altar do Evangelho, dedicado a Nossa Senhora do

Rosário.

Fig. 14 – Altar da Epístola, originalmente dedicado a São

João Batista (?).

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Fig. 15 – Altar nos fundos do corredor direito da capela-

mor.

Fig. 16 – Altar nos fundos do corredor esquerdo da capela-mor. A janela de vidro com grade que aparece à esquerda

na imagem é o depósito de imagens sacras da matriz.

Fig. 17 – Fundos do altar mostrado na fig. 15.

Fig. 18 – Arcaz provavelmente original da capela erguida no

séc. XVIII.

Fig. 19 – Antigos órgão da Matriz.

Fig. 20 – Placa alusiva ao Centenário do Jubileu de Nossa

Senhora da Piedade, fixada em pedestal localizado ao lado da escada principal de acesso à Matriz.

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Fig. 21 – Teto da capela-mor, mostrando a pomba da paz.

Fig. 22 – Teto da nave, representando os doze apóstolos (?).

Fig. 23 – Lápide do Monsenhor Candido Veloso(1854-1945),

localizada no batistério da Matriz.

Fig. 24 – Esta viga de madeira com a inscrição 1713 em

algarismos romanos foi encontrada em uma das campas do piso sob o arco-cruzeiro na reforma dos 1960.

Provavelmente pertenceu ou faz referência a uma das antigas capelas de Piedade, mas não há comprovação. Na

reforma citada a viga foi instalada numa das paredes laterais da capela-mor, junto ao arco-cruzeiro.

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Fotografias das peças antigas da Matriz hoje guardadas na Casa Paroquial

Fig. 25 – Vista da Praça da Matriz, com seta vermelha

indicando a Casa Paroquial

Fig. 26 – Salão onde está depositada a maior parte das peças

retiradas da Matriz e da indumentária não utilizada.

Fig. 27 – Panorama desse salão.

Fig. 28 – Outro panorama desse salão.

Fig. 29 – Mesa com lauças e tarjas antigas.

Fig. 30 – Imagens sacras.

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Fig. 31 – Sacrários e oratórios diversos.

Fig. 32 – Colunas torsas carunchadas, ex-votos enquadrados

ganchos e cravos.

Fig. 33 – Peças de acabamento, luminárias e arca.

Fig. 34 – Peças de acabamento.

Fig. 35 – Esquadria de uma janela.

Fig. 36 – Gradis de madeira, bandeiras de uma janela e

andor.

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Fig. 37 – Peça decorativa que provavelmente pertencia ao coroamento do altar-mor.

Fig. 38 – Tarja original que pertencia ao coroamento do altar-mor. Teve toda a

camada pictórica retirada. Foi substituida por uma peça nova seguindo o mesmo modelo. A peça original, assim todas as que aparecem

nesta página e na seguinte atualmente decoram as paredes do escritório e da

secretaria da casa Paroquial.

Fig. 39 – Peça semelhante à mostrada na fig. 36, mas que preserva partes da

policromia original.

Fig. 40 – Espelho de uma das

colunas de um dos altares primitivos.

Fig. 41 – outro espelho de uma das colunas

de um dos altares primitivos.

Fig. 42 – Detalhe que parece ter

pertencido a um dos altares primitivos. Há outra peça semelhante

a esta na mesma parede.

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Fig. 43 – espelho que provavelmente pertencia ao altar-mor

da capela primitiva.

Fig. 44 – imagem de Nossa Senhora da Conceição em

madeira, provavelmente do séc. XVIII.

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10/05/2014)

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Arquivo do Instituto Estatual do Patrimônio Histórico e Artístico – IEPHA-MG

o Pasta referente à Matriz de Piedade do Paraopeba

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id=257 (Consultado em 05/05/2014)

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query=piedade+do+paraopeba (Consultado em 05/05/2014)

Arquivo Público Mineiro

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Entrevistados

Euler de Carvalho Cruz (26/04/2014) – Engenheiro e Pesquisador, mudou-se para Piedade

do Paraopeba no início dos anos 1980, tendo participado de importantes movimentos

comunitários nesse distrito. Tem grande interesse pela história de Piedade do

Paraopeba e da Serra da Moeda, tendo acumulado vasto material documental,

bibliográfico, audiovisual e de memórias sobre o lugar. Atualmente reside em Belo

Horizonte, mas mantém casa em Piedade, onde sua esposa também possui uma

fazenda, a Ponte Alta, herdada da família e que pertenceu a Alvarenga Peixoto e

Barbara Eliodora.

Padre Paulo Eustáquio Cerceau Ibraim (18/04/2014) – Natural de Ouro Preto, mudou-se

para Piedade do Paraopeba a cerca de dois anos, quando assumiu a Paróquia local.

Desde então, tem reforçado a atuação sacerdotal na região e buscado apoiar o

desenvolvimento do distrito.

Nivaldo Caldeira (13/05/2014) – Natural de Piedade do Paraopeba, foi um dos principais

responsáveis pelas obras da Matriz desde os anos 1970 até o presente.