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IGUAL DISTRIBUIÇÃO GRATUITA fevereiro 2009 IONADOR * EDIÇAO DE COLECCIONADOR * EDIÇÃO #01 IGUAL POPCULT + WEB2.0 PINGO TINTO // CINEMA SAMURAI // GANA Web3.0 + Net Tools + YouTube Niches

IGUAL #01 - parte um

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popcult+web2.0

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IGUALDISTRIBUIÇÃO GRATUITA

fevereiro 2009

POPCULT+WEB2.0

EDIÇÃO DE COLECCIONADOR * EDIÇAO DE COLECCIONADOR * EDIÇÃO DE

#01

IGUALPOPCULT+WEB2.0

PINGO TINTO // CINEMA SAMURAI // GANAWeb3.0 + Net Tools + YouTube Niches

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FICHATÉCNICA

Director Vitalício & Editor: Miguel Carvalho Colaboradores: Pedro Ricardo, Ricardo Alves,

Daniel Sylvester, Luís LagoConteúdo: todos os textos, fotografias e ilustrações são da

autoria de Miguel Carvalho excepto se creditadosPaginação & Design: Miguel Carvalho

Contacto: [email protected]/Edição: Eufaçooquequero PRESS

Tiragem: só para os amigos/onlinePeriodicidade: errática (distribuição gratuita)Assinaturas: [email protected]

Site: http://issuu.com/miguelc

Disclaimer: Esta revista é um trabalho académico. As imagens e fotografias que não são da autoria do DirectorVitalício, Miguel Carvalho, além de estarem devidamente creditadas, estão aqui presentes sem qualquer fim lucrativo e são contempladas pelo uso justo, ou seja, de total boa fé no contexto académico/não-lucrativo inerente à IGUAL.

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EditorialIgnição: podem largar os fogos

Alô,

este é o primeiro número da IGUAL – sejam bem-vindos. Depois de um bem sucedido e recebido número experimental estamos de volta em Fevereiro para a primeira edição na era Barry Obammy (daí a capa). O meu sentido obrigado a todos quantos mostraram entusiasmo pelo projecto expresso na edição #00, bem como a todos aqueles que colaboraram na feitura da mesma. Lembrem-se, a IGUAL está sempre aberta às vossas colaborações, basta entrar em contacto. A mesma coisa em relação ao feedback. Espaço ainda para uma pequena errata: no último mês vem anunciado na capa “YouTube Niches”, mas por falta de espaço o artigo acabou por não ser incluído.

Este mês o cardápio é igualmente forte: duas entrevistas exclusivas, a primeira com o músico português Pingo Tinto, a segunda com João Pombeiro, membro dos GANA e artista plástico e o Daniel Sylvester a escrever sobre o cinema de samurais. Talvez no próximo número se escreva um artigo Piratas VS Ninjas VS Vikings VS Samurais. Por mero completismo.

Nesta edição há ainda a colaboração 2.0 do Ricardo Alves, dicas (que coisa mais revista mulherzinha) sobre algumas ferramentas online a explorar e uma lista pouco exaustiva de niches (este mês sai mesmo) e canais portugueses no YouTube. O Centrão de Fevereiro é composto por fotografias do Pedro Ricardo.Este mês não publicamos cartoon, crónica e artigo na secção Culto.

Assim é a edição número um – está feita. E está bem bonita. Podem largar os fogos.

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Miguel Carvalho

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ÍNDICE:FOTO DA CAPA

Hawaii PacificUniversity

ENTREVISTA: Pingo Tinto

O inventor do género PunkTradicional Português naprimeira pessoa.

#18 #20 #24ENTREVISTA: João Pombeiro dos GANA

Entrevista com o não-alinhado João Pombeiro,um dos autores do Aleixo.

REPORTAGEM: Cinema de Samurais

Cinema de espadas no país do Sol nascente.

Snikt!

E AINDA: | Na primeira pessoa 08 |

| Comentário 09 | Broohaha 10 | | Críticas 26 | Centrão 16 |

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Pedro RicardoNasceu em Lisboa, ondereside até aos dias dehoje, e passou osprimeiros anos da vida atirar fotografias ao seubairro na esperança queanos depois pudesse usaressas fotos no seu perfildo MySpace como uma cápsula temporal semidade. Depois, quis conhecer os punks da suacidade, mas anos depoispercebeu que provavel-mente não era a sua ondae começou a interessar-sepor música electrónicaaté se tornar DJ. Passeoupor Viseu onde se enamorou por uma moça defaces rosadas e personalidade cativante.Quase sem dar por issofoi convidado para colab-orar na revista Rua deBaixo. Está a escreverguiões para uma série emformato “mockumentary” epara uma curta-metragemem nome próprio. Tambémtoca guitarra.

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Ricardo AlvesNascido no Alto Minho,acontece com frequênciaver o seu determinismoideológico ser associadoà proveniência geográfica(terra de bom comer ebeber). No Porto divide oseu tempo entre os estudos e a inactividadetotal, traço de perfilque origina as mais diversas chalaças. Noprimeiro curso em que sematriculou aprendeu agostar de misturar cartascom álcool, mas os professores insistiam emchumbá-lo, portanto agoraquer jornalista. Anda àprocura da sua continuidade conceptual –até agora tem procuradonos sítios errados. Temuma paixão irracionalpelo Godzilla e tambémgosta de cinema, sendovisto a deslizar pelosecrãs dos plasmas dasfaculdades da cidade. Jáfoi reconhecido na ruagraças a isso.

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Daniel SylvesterNasceu em Hamburgo e cedocausou polémica ao dizerque era tão conhecidocomo os Beatles. Comonunca lhe perdoaram aafronta voou até aosAçores onde estudou atéconcluir o liceu. Mesmo atempo de conhecer oRonaldo, colega que umavez desenhou uma profes-sora a parir um bezerro.Quis contar-nos essa estória e então veio parao Porto onde aprendeu aodiar o seu curso. Mascomo fez bons amigosdeixou-se ficar. Tem doisgatos (um casal de irmãos) e é frequente-mente gozado no círculode amigos pelas posiçõeshumanistas e razoáveisque teima em defender.Não se separa da sua Nintendo DS e a sua tar-taruga ninja preferida éo Rafael. Se fosse ele amandar o Presidente doMundo era Sonic, o ouriçoradical.

Luís LagoNasceu numa vila remotado Minho vinhateiro ondepassou a sua infância efez os seus estudos. Angustiado pelos amigosinvariavelmente dispen-sáveis veio estudar parao Porto onde continuou oseu historial de fazeramigos e inimigos emigual dose. Fez parte deuma banda punk lo-fichamada Doença Terminalgraças ao Windows 95. Temvindo a cultivar um amorincondicional por temascomo política, humor,teatro revisteiro e EUA.Não percebe as pessoasque se levam a sério. As suas expressõespreferidas são "toma!","e tu, e tu?", "a tuaprima!" e "és?". Gosta deadmitir que não percebenada de música. Todos osaspectos trágico-comicoslhe parecem típicos dasua terra natal. É famosaa sua imunidade ao frio.

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Na primeira pessoaO programa do Aleixo

Admito: quando ouviu falar pela primeira vez de Bruno Aleixo, torci o nariz. Um ewok a falarportuguês, que engraçado. Enfim, mais um meme para pobres, mais uma referência pop-cultural do mais básico que existe. Mal sabia eu o quão errado estava. “O Show Do Aleixo” é facilmente a melhor produção nacional nos ecrãs televisivos de hoje, uma adaptação da escola de humor Adult Swim (tão fácil criar o paralelismo entre a dupla Bruno/Busto e a equipa Space Ghost/Zorak que inaugurou essa estética na Cartoon Network) para um contexto bem português. Após anos de mostrardesdém pelas pessoas que citam rábulas do Gato Fedorento, damos por nós a entoar em refrão o “ai cá burro!” como os vis hipócritas que somos – é assim tão viciante o humor de Bruno Aleixo. A equipado Aleixo domina como mais ninguém a capacidade de escrever na voz do sujeito mais irritante na aldeia, com o seu vernáculo (os filmes são “de rir” ou “de porrada”) e os seus passatempos (os clássicosjogos de possibilidades envolvendo cocó e “ninjers”.) Mas ao mesmo tempo, o programa é profundamentecosmopolita, largando referências a pérolas tão obscuras da cultura pop internacional como Sonny Chiba e o Lone Ranger. Mas atenção: os Não Alinhados são mais do que só o ewok-tornado-cãoque todos conhecemos. Acedendo ao canal de vídeos da Cena no Vímeo, encontramos por exemplo omagnífico “Humor de Salão”. Aqui, o fetish oitocentista já bastante patente na apresentação gráfica do“Show do Aleixo” reina por completo: trata-se duma série de pequenos vídeos em que um maroto empregado d’”A Brasileira” delicia o seu cliente com piadas, às quais este responde quase invariavelmente“você é um ponto!! Um ponto!!”; o conceito simplista permite que o “Humor de Salão” seja talvez a melhor demonstração do talento dos Não Alinhados na área de guião e voz. Há pontos fracos, é certo,notoriamente nas “Legendas”, um conceito um tanto batido que explora de forma demasiado óbvia acombinação de humor típico e lixo pop-cultural que define a estética dos Não Alinhados. Mas mesmonos exemplos mais primitivos – as rábulas feitas para Fernando Alvim, por exemplo – está presente umamor profundo pela história, tão cinzenta e desajeitada, da cultura Pop portuguesa. Três vivas para osNão Alinhados, verdadeiros patriotas!

O “Show Do Aleixo” é transmitido todos os Domingos às 20:30 na Sic Radical.

Os outros vídeos dos Não-Alinhados podem ser consultados em http://www.vimeo.com/cena

por Daniel Sylvester

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ComentárioFado do Emigrante

“Não emigres!” é o lema frouxo da nova grelha da SIC Radical. É claro que a SIC já nos habitou hámuito tempo ao mau gosto e ao egocentrismo na sua publicidade (oh, boas memórias das gargalhadasque demos no Fantasporto cada vez que a sua propaganda azeiteira iluminou o ecrã); o que dói é quea SIC Radical – apesar de todas as suas falhas, um dos canais que mais tem valido a pena ver a nívelnacional – escolheu um mote tão pomposo num momento em que a sua programação é tão patética.

Convenhamos: a SIC Radical sempre foi o lar de muitas séries más, dos utensílios de masturbaçãomais deprimentes (ah, “Girls Gone Wild”, as erecções que tu não nos deste!) e da nostalgia barata (eipessoal, lembram-se do “Knight Rider”????) Mas ao longo da sua existência, deu-nos também algumada programação mais tolerável da televisão portuguesa: “Twin Peaks”, “Freaks & Geeks”, “Buffy”,“Dr.Who”, a ficção científica clássica da “Twilight Zone” e dos “Outer Limits” e até mesmo os GatoFedorento na sua fase mais semi-decente a isso atestam. Exceptuando o venerável Bruno Aleixo nãoesperamos grande programação original da SIC Radical, mas esta tem nos habituado, ao menos, a umacerta percentagem de bom gosto nas séries redinfundidas. De momento, no entanto, a estação encontra-se num ponto baixo tremendo e as novidades que são vendidas com o estridente lema do“não emigres!” (acompanhado pelos sons dos Arcade Fire – SIC Radical, a 2004 está ao telefone e dizque quer a sua música de volta) pouco irão ajudar para que esta situação mude. Mas a SIC Radicalnão é burra por completo; na verdade, sabe que por muito maus que sejam os seus novos programas,têm um trunfo: não são o “Comedy Inc”.

E quando uma estação conseguiu transmitir aquilo que não só é um dos piores programas de todos ostempos mas uma das maiores atrocidades cometidas pela humanidade nos últimos séculos, tudo o restovai sempre aparecer bom em comparação.

por Daniel Sylvester

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mãos por completo e vamos buscar a componente sonora a este site, ondetodos os ficheiros são livres de direitosautorais. Depois é só cumprir os outros requisitos impostos e gozar osprivilégios dos users feitos Partners.Resta dizer que os ficheiros estão ordenados por estilo, por data e porranking. Se usarem alguma das músicas não se esqueçam de o dizer nainformação do vídeo – a netiqueta ésempre bem-vinda.

poladroid.net

Que milagre de marketing é este emque um produto e uma marca produtora se fundem numa única identidade. Poucas coisas são maisautênticas do que fotos polaroid.Agora que as clássicas imagens estãoenterradas a internet salva os mais nostálgicos. O Poladroid é uma aplicação para download gratuito quepermite emular as famosas fotos instantâneas. O Poladroid é já umsucesso global, contando até comgrupo no Flickr. A aplicação é muitofácil de usar e emula o mais que podeo feeling das originais polaroids. Parautilizadores de Windows e Macintoshe só ocupa uns poucos MB.

Lomoistas, roam-se de inveja.

handmaps.org

Chegar aos sítios pode ser uma complicação. Mais vale mesmo irpreparado. Se acham que os guias LeCool são a última novidade desenganem-se. Na época do material user-generated até os mapassão criados e partilhados por anónimosentre anónimos. A Hand Drawn MapAssociation pretende ser um arquivoem construção de mapas desenhados àmão e submetidos, independentementedo local, pelos cibernautas. As contribuições já ultrapassaram a centena. Poético e útil, logo belo.

animoto.com

Existem imensos sites de partilha de vídeo e os softwares de edição sãovariados. E depois existem as ferramentas online. O Animoto é umadelas: útil, gratuita até um certo ponto,versátil, fácil de usar. O slogan é “ofim dos slideshows” e o que o Ani-moto permite é um híbrido entre oslideshow e o vídeo. A música está lá,depois seguem-se as fotografias. Não encadeadas sequencialmentecomo num slideshow, mas num

dipity.com ou timerime.com

Tem imensa utilidade para quem estána idade de fazer projectos de Área Escola. As cartolinas podem ser consensualmente uma coisa do passado, mas impressionem profes-sores e colegas usando estes sites paraconstruir timelines, ou linhascronológicas em português. Agorasim, a evolução do homem primitivo eas dinastias dos faraós no antigoEgipto parecem claras e compreen-síveis. Agora sim, a história dasdoenças mais assassinas está completa. Agora sim, podemos final-mente compreender a ordem de todosos jogos Final Fantasy nos EUA eJapão. Obrigado internet!

royaltyfreeinstrumentals.com

Se o objectivo é ser um YouTube Partner uma das condições é possuir os direitos das músicas que usamos nos nossos vídeos. Há trêssoluções: ou temos amigos em bandas de estilos variados, ou pedimos aos artistas cujas músicaspretendemos usar ou então lavamos as

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hiperformato em que as imagensaparecem a dançar no ecrã, quasecomo um pequeno promo ou a introdução de um telejornal. O Animoto analisa as fotos e adequa osom às transições, três vivas ao seu algoritmo! Depois é guardar, fazerupload no YouTube e ser gozado por

se ter feito um slideshow. Fica maisbonito, mas as fotos daquelas férias noEgipto em Agosto vão continuar a ser aborrecidíssimas.

youtomb.mit.edu

Ocasionalmente o YouTube é forçadoa retirar alguns vídeos por quebraremdireitos de autor. Normalmente a perdaé suportável, mas ainda assim criticável. O YouTomb é um projectode estudantes do MIT que formam ogrupo MIT Free Culture. O site pretende ser uma base de dados actualizada sobre os vídeos retiradosdo YouTube e as razões sucintas parao sucedido. Actualizada, mas nãoabrangente: só cobre os vídeos maisvistos. A razão é tão logística comológica, já que seria impraticávelabranger todos os vídeos. Os vídeosretirados são listados, mas não é possível visualizá-los (o que é realmente uma pena).

Web semântica:português premiado

Formado no ISEP e membro do GECAD(Grupo de Investigação em Engenharia doConhecimento e Apoio à Decisão) naquelainstituição desde 1995, Nuno Silva foi premiado com o Best Paper Award do Eurographics 2008. “O artigo tem comoobjectivo a redução do trabalho inerentede um utilizador da internet na visualiza-ção de informação, e nomeadamente de informação tabular”, explica o seu autor.

Para Nuno Silva os computadores são inúteis se não processarem informaçãopelo utilizador, ou seja, se não soubereminterpretar quem os usa. É aí que incide otrabalho de Nuno Silva, no estudo de apresentar “tabelas em termos gráficos,enfatizando determinadas dimensões decada tabela para que seja possívelinterrelacionar esses dados”, capturando osignificado de cada página. Quando alguém criar uma descrição da informaçãoda página estaremos a criar “meta-infor-mação, que é a semântica da informação –é isso a web semântica”.

O termo Web3.0 causa alguma polémica,de resto, como aconteceu e acontece como predecessor Web2.0, mas Nuno Silva dizestar à vontade com a terminologia: “istoé Web3.0, ou seja, retirar conhecimento defactos sintácticos, são algarismos epalavras, quando se extrai informação comsemântica para o interior da aplicaçãoaquilo passa a dizer alguma coisa ao computador, de tal forma que a informação começa a fazer sentido”.

Entre as várias teorias sobre o caminhoque a web semântica irá seguir há duasmais discutidas. Uma apoia-se na Web 2.0e nas bases de dados criadas pelas redessociais, e outra na criação de uma espéciede inteligência artificial, em que os computadores extraem automaticamenteconhecimento de um dado sintáctico. Para Nuno Silva as duas hipóteses parecem “perfeitamente conciliáveis e complementares. Acho mesmo fundamental que as duas se interliguem”.

Subsiste a dúvida se a construção daWeb3.0 estará nas mãos do utilizadorcomum ou se será necessário passar o controlo desta para entidades e corporações. Nuno Silva acredita quequalquer pessoa pode e deve continuar apoder dizer o que lhe apetece. “A internetsomos nós. Há conceitos a ser desenvolvidos, nomeadamente microformatos ou o “friend of a friend”, que éalgo utilizado nas redes sociais mas quepode ser formalizado de maneira a que ocomputador o compreenda. Calculando ograu de proximidade entre duas pessoas épossível extrapolar a veracidade ou não doque uma diz sobre a outra. Mas não achopossível as pessoas poderem ser retiradasdesta construção”.

É verdade, a internet somos nós.

por Ricardo Alves

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Paródia à publicidadedas Galerias JUP

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nichesTubers portugueses

É difícil sentir empatia peloYouTube "português". Canais ouusers não faz diferença, a relação équase sempre de distância. Pessoalmente, os únicos amigosportugueses que lá tenho são pessoas realmente minhas amigas –os não portugueses são só uma espécie de subscrição de segundograu ou simpatia cibernética. Seráassim tão difícil conhecer portugueses com gostos em comum(ainda que por memes)? É, sim.Para começar há a dificuldade dalíngua: pode ser complicado adivinhar a nacionalidade de umuser pelo nick ou pela língua queusa para escrever. Barreiras linguís-ticas à parte, sinto que o “meu”YouTube é outro, diferente do “na-cional”. O YouTube portuguêsparece limitado a sentimentos clubistas, falta de sentido dehumor, repetição de excertos televisivos e alguma (pouca) nostalgia. Depois há ainda as discussões mais ou menos acéfalasentre portugueses e brasileiros, sejapelo domínio da língua ou pelosimples insulto cultural vazio eoco. Há, felizmente, algumas excepções, raras mas felizes.Vamos a elas neste mini-tour por alguns canais que vale a pena conhecer.

a)EufaçooquequeroFilmsSão pouco mais de 20 vídeos queoscilam entre a curta-metragem, ovídeo amador, o anúncio da tele-

visão e o programa de notícias. Hápérolas que brilham mais intensamente como "Asno Selvagem" ou “Missão Altamente”,esta última dividida em duas partesmerece uma visualização livre de preconceitos.

b)Krana123O seu nome é João e é o reviewerportuguês de Transformers melhorsucedido. O grupo de fãs no Face-book comprova-o. O uso inventivodo inglês, as expressões faciais e aescolha das figuras são os aspectosque o justificam. Um monumentoaudiovisual a esse bonito pur-gatório que é o “mocking-celebrating”.

c)Ramada7Esta podia ser apenas uma daquelascontas que provam a futilidade doamadorismo no YouTube mas poralguma razão os vídeos do Hugo eseus amigos são óptimos. Elesfazem jornalismo ("Entrevista aosuper dragão"), eles inspiram-se naEnid Blyton ("Uma aventura") esão eternamente jovens ("O tombo do Carlão").

d)FranciscoCristoUm verdadeiro faz-tudo. O originaluso da voz feminina brasileira doMicrosoft Sam conquistou-me,

mas o que é digno de ver é a formadescomplexada como Franciscocontorna problemas logísticos eproduz vídeos bem-humorados. A mitologia vai longe ao ponto depodermos falar num Francisoverse– notável.

Como é possível perceber pelonúmero de exemplos, está é apenasuma amostra. Ainda assim a ideia étirar da relativa obscuridade talentos que o grande público deviaconhecer. Nem só de Anas Frees sefaz o nosso YouTube. Não há, queeu conheça, um utilizador português que faça produção dignadesse nome para o YouTube; ou é oamadorismo, ou a falta de talento,o certo é que a vocação principalparece continuar a ser a derepositório de filmes gravados comtelemóvel ou promoção de bandas.

YouTube Niches

Há muito que cheguei à conclusãoque adoro nichos no YouTube. Oque não é de estranhar já que osnichos per se são um factor person-alizante e o YouTube é bestial – asduas coisas juntas resultam muitobem, além de funcionarem mar-

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avilhosamente para mostrar aosamigos o net-seeker dentro de nós.

O YouTube está pejado de memes.Há quem se dedique apenas a monitorizar o surgimento detendências no portal. Mas pouconos interessam os vídeos semcamisa, ou em feedback, ou cincofactos que desconhecíamos sobreos autores, ou dobragens, ou propaganda anti-Cientologia, ou“how to draw”. É preciso escavarum pouco para descobrir contas,users e vídeos que exemplificam amais-valia fabulosa que é oYouTube: janela para a intimidadee talento alheios. Não estamos afalar necessariamente de nichosproto-secretos, apenas de vídeosque nunca seriam “featured” peloportal. Mas que, pela sua qualidade, merecem ser vistos.

a) SMW hackingVamos esclarecer uma coisa: oSuper Mario World (SMW) para aSNES é, provavelmente, o meuvideojogo preferido – de sempre. Ofacto de ser realmente bem desenhado e programado, factoresa que se associam uma banda-sonora tão ajustada comoicónica, ajuda-o a passar o teste dotempo. Mas fazer o hacking de cartuchos não é coisa nova, mesmono universo de Mario Mario. Em2002, Cory Arcangel ficou conhecido pelo seu trabalho na áreade Media Art, “Super MárioClouds”. Hoje em dia são vários osgamers/hackers/game-designersque dão nova vida ao SMW, umpouco à imagem do que acontececom outros jogos muito populares(o Classic Doom 3 é um exemplotão paradigmático como belo). Daenorme oferta disponível é possívelidentificar dois estilos: o primeiro,mais clássico, limita-se a construirníveis na óptica do prolongamento

do jogo a gosto. O outro, mais radical, é um teste de paciência euma competição quem-é-que-morre-mais-rápido já que os níveissão de uma enorme complexidade.Pessoalmente, não tenho favorito.É tão agradável ver novas roupagens para um jogo com quaseduas décadas, como assistir amanobras impossíveis só permitidas às mentes (e dedos)mais concentradas. Experimentemas seguintes tags:SMW+custom+lunar+magic+chamillionare64.

b) O vídeo randomNão há dia que passe em que nãolamente ter feito testes de orientação vocacional num mundosem YouTube. Este género é umdos motivos. Não sei se existe umadenominação comummente aceite,mas eu chamo-lhe o vídeo random.O vídeo random tem duração variável e não apresenta assuntoidentificável, tão pouco qualquerpropósito que não seja o de fazerrir. É mais um exemplo acabado docanibalismo da internet, alimentando-se de produções daweb, justapondo-as numa sucessãofrenética de quem sofre de ADD.Um dos seus grandes méritos é aviagem nostálgica porque geral-mente os autores recuperam imagens que são verdadeiros marcos na odisseia online. Consegue ter muita piada, mas épreciso estar na disposição certa.As tags: ZPYZ+zpiz+zpic+Ivan.

c) UpsidedownvideoSempre quiseram ver determinadovídeo de pernas para o ar? Se aindanão estiver online, podem sempreexperimentar pedir ao user Upside-downvideo. Pode ser que ele aceda.A alternativa é serem vocês a fazê-lo, assim como assim não é umprocesso muito exigente

tecnicamente. A ideia parece nãotrazer nada de novo ou divertido,mas é incrível ver como um simples truque de magia, jogada desnooker ou golo num jogo de futebol ganham uma vida novaquando estão ao contrário. Os meusvídeos preferidos são os que envolvem algum tipo de geometriacomo acontece nos desportivos. Édifícil saber se existe um culto noYT dedicado ao upsidedown-ismo,mas o certo é que a conta foifechada. Da última vez que conferihavia 25 vídeos e 15 subscritores.Não se riam da beleza do inútil, apreciem-na.

d) YouTube poopsOs YouTube Poops são um fenómeno online, um tipo de vídeoe uma maneira de estar na vida. Sãotambém, e de longe, o nicho mais“mainstream” desta lista por issoficaram para o fim. Os poops consistem em produções de vídeo-glitch, fazendo pouco ounenhum sentido (oh absurdismo!) emontados à base de jogos de vídeoou de antigos desenhos animados,filmes ou anúncios. As imagens sãodepois repetidas, aceleradas, desaceleradas, dobradas, retorci-das, violadas, saturadas cromatica-mente – enfim, a imaginação émesmo o limite com o bizarro totalpor objectivo. Resta dizer que épreciso escavar bem para encontrarbons poops, não sendo menos verdade que alguns se tornam clássicos (ao mesmo tempo queprovidenciam frases citáveis). Maspara perceber o conceito nada melhor do que ver poops. Aquiestão as tags para um muito bom,depois é só ir explorando:i+will+change+this+tag+in+a+minute+Deepercutt.

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