IHUOnlineEdicao424 Diáspora Das Relig Brasileiras No Mundo

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    O

    N-LINE

    Alberto GroismanSanto Daime:

    amazonizao doCristianismo e sntese dareligiosidade e subjetividadecontemporneas

    Roger Lenaers:A despedida da religio ea dedicao ao amor que

    sustenta tudo e todas ascoisas

    Brenda Carranza eCeclia Mariz:Cano nova: catolicismo

    tipo exportao e missoreversa

    Carmen RialO ovo do Diabo

    e os jogadores defutebol como pastorneopentecostais

    AlejandroFrigerioA Umbanda e o Batuqueno Cone Sul e aestigmatizao social deseus praticantes

    Haroldo Gomes:Festas Juninas: umaexpresso que ultrapas

    os limites do campo esobrevive nas cidades

    IHURevista do Instuto Humanitas Unisinos

    N 4 2 4 - A n o X I I I - 2 4 / 0 6 / 2 0 1 3 - I S S N 1 9 8 1 - 8 7 6 9

    Sementes ao vento: a dispora dareligies brasileiras no mundo

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    E

    ditorial

    www.i

    hu.unisinos.br

    Sementes ao vento: a dispora dasreligies brasileiras no mundo

    IHUIHU On-Line a revistam IHumanitas Unisinos IHUISSN 1981-8769.

    IHU On-Linepode seracessada s segundas-feiras, www....

    Sua verso impressa circula s-f, 8,na Unisinos.

    Apoio: Comunidade dos Jesutas Residncia Conceio.

    REDAO

    Diretor de redao:Incio

    Neutzling ([email protected]).

    E xv: Graziela

    Wolfart MTB 13159

    ([email protected]).

    Redao:Mrcia Junges MTB

    9447 ([email protected]),

    Patricia Fachin MTB 13062

    ([email protected]) e

    Ricardo Machado MTB 15.598

    ([email protected]).

    Reviso: Isaque Correa

    ([email protected]).

    Colaborao:Csar Sanson,Andr Langer e Darli Sampaio,

    do Centro de Pesquisa e Apoio

    aos Trabalhadores CEPAT, de

    C-PR.

    Pj :Agncia

    Experimental de Comunicao

    da Unisinos Agexcom.

    Editorao:Rafael Tarcsio

    Forneck

    A :

    Incio Neutzling, Patricia Fachin,

    Luana Nyland, Natlia Scholz,

    Wagner Altes e Mariana Staudt

    Instuto Humanitas

    Unisinos

    Endereo:Av.Unisinos, 950,So Leopoldo/RS.CEP: 93022-000

    Telefone:51 3591 1122 ramal 4128.

    E-mail:[email protected].

    Diretor: Prof. Dr. Incio Neutzling.G Amv:JacintoSchneider ( [email protected]).

    Apublicao da coletneaThe Diaspora of Brazilian

    Religions (Leiden: Brill,2013), organizada pela

    pesquisadora Cristina Rocha, daUniversidade do Oeste de Sidnei,na Austrlia, e pelo pesquisadorManuel Vsquez, da Universidadeda Flrida, nos EUA, propiciaramedio, desta semana, da revistaIHU On-Line.

    Como podemos compreendero fenmeno da transnacionaliza-o de credos brasileiros? Quaisso os contextos em que se inse-rem? Como a sociedade receptoradessas formas diferentes de f serelaciona com seus praticantes?Essas e muitas outras questespermeiam o debate do qual bro-tam respostas apontam para a ne-cessidade de ulteriores pesquisas,anlises e reexes.

    Alberto Groisman, da Univer-sidade Federal de Santa Catarina UFSC, examina o Santo Daimecomo uma amazonizao do Cris-

    tianismo e sntese da religiosidadee subjetividade contemporneas.

    A Umbanda e o Batuque noCone Sul e a estigmatizao socialde seus praticantes o assunto deAlejandro Frigerio, da FacultadLatinoamericana de Ciencias So-ciales Argentina e da UniversidadeCatlica Argentina.

    Os jogadores de futebol comopastores neopentecostais e a cos-mologia da prosperidade so de-batidos pela antroploga CarmenRial, da UFSC.

    Ushi Arakaki fala sobre a Umban-da no Japo e a busca pela ressigni-cao da vida dos nipo-brasileiros.

    Brenda Carranza (PUC-Cam-pinas) e Ceclia Mariz (Universi-dade do Estado do Rio de Janeiro- UERJ) dissecam o catolicismo

    tipo exportao e a misso re-versa atribudos Cano Nova.

    Dario Paulo Barrera Rivera,da Universidade Metodista deSo Paulo UMESP, discorre so-bre o pentecostalismo brasileiro

    no Peru, representado pela IgrejaPentecostal Deus Amor.

    O socilogo Jos Cludio Sou-za Alves, da Universidade FederalRural do Rio de Janeiro UFRRJ,recupera a gnese do Vale doAmanhecer, surgido em Braslia, eagora ativo em Atlanta, nos Esta-dos Unidos.

    Uma entrevista com Sara De-lamont e Neil Stephens, da Uni-versidade de Cardiff, no Pas deGales, debate tanto a seculari-zao gradativa dessa nao, atas referncias religiosas do Can-dombl e da Umbanda oriundas dacapoeira.

    A criao como auto-expres-so do Esprito e as ideias que de-senvolve em Glubiger Abschiedvon der Religion (Kleve: Ander-swo, 2012) so a temtica do jesu-ta belga Roger Lenaers, telogo,proco de dois vilarejos nas mon-tanhas do Tirol, na ustria.

    A todas e a todos uma timasemana e uma excelente leitura!

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    LEIANESTA EDIO

    TEMA DE CAPA | Entrevistas

    5 BA DA IHU ON-LINE6 Crisna Rocha e Manuel A. Vsquez: A dispora das religies brasileiras

    9 Alberto Groisman: S Dm: m m jv m

    14 Alejandro Frigerio:A m C S m

    19 Carmen Slvia Rial:O ovo do Diabo e os jogadores de futebol como pastoresneopentecostais

    23 Ushi Arakaki: A m J v -brasileiros

    27 Brenda Carranza e Ceclia Mariz:C v: m x mreversa

    32 Dario Paulo Barrera Rivera: Pentecostalismo brasileiro no Peru

    33 Jos Cludio Souza Alves: O m V Am m A

    39 Sara Delamont e Neil Stephens: A v P G

    DESTAQUES DA SEMANA43 Reportagem da Semana:O pulso ainda pulsa

    45 Teologia Pblica: Roger Lenaers: A despedida da religio e a dedicao ao amor que

    sustenta tudo e todas as coisas48 Entrevista da Semana:Haroldo Gomes: Festas Juninas: uma expresso que ultrapassa

    os limites do campo e sobrevive nas cidades

    51 Destaques On-Line

    IHU EM REVISTA54 Agenda de eventos

    55 Ciclo de debates do primeiro semestre encerra com 22 palestras

    57 Publicao em destaque

    58 Retrovisor59 Sala de leitura

    w.m/

    bit.ly/ihufacebook

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    Destaques

    da Semana

    IHU emRevista

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    Ba da IHU On-Line

    Conra algumas das edies da revista IHU On-Lineque trataram sobre

    temticas ligadas ao fenmeno religioso contemporneo: Religies e religiosidades, hoje. Signicados e especicidades. Edio 407, de 05-11-2012, disponvel em

    http://bit.ly/UdTV2r

    Congresso Continental de Teologia. Conclio Vaticano II e Teologia da Libertao em debate. Edio 404,de 05-10-2012, disponvel em http://bit.ly/SSYVTO

    Igreja, Cultura e Sociedade. Edio 403, de 24-09-2012, disponvel em http://bit.ly/OXjCNd

    Conclio Vaticano II. 50 anos depois.Edio 401, de 03-09-2012, disponvel em http://bit.ly/REokjn

    A grande transformao do campo religioso brasileiro. Edio 400, de 27-08-2012, disponvel emhttp://bit.ly/MVywqU

    J. B. Libnio. A trajetria de um telogo brasileiro. Testemunhos. Edio 394, de 28-05-2012, disponvelem http://bit.ly/KAJFd7

    O feminino e o Mistrio. A contribuio das mulheres para a Mstica. Edio 385, de 19-12-2011, disponvelem http://bit.ly/xaDua2

    O ecumenismo hoje. Uma reexo teoecolgica. Edio 370, de 22-08-2011, disponvel em http://bit.ly/oUhThI

    Mater et Magistra, 50 anos: Os desaos do Ensino Social da Igreja hoje. Edio 360, de 069-05-2011, dis-ponvel em http://bit.ly/kTYBUr

    Espiritismo: um fenmeno social e religioso. Edio 349, de 01-11-2010, disponvel em http://bit.ly/NrMrGF

    Matteo Ricci no Imprio do Meio. Sob o signo da amizade. Edio 347, de 18-10-2010, disponvel emhttp://bit.ly/eEhwCq

    Pentecostalismo no Brasil. Cem anos. Edio 329, de 17-05-2010, disponvel em http://bit.ly/lHJZuB

    Para onde vai a Igreja, hoje? Edio 320, de 21,21-2009, disponvel em http://bit.ly/ehaGmn

    Narrar Deus numa sociedade ps-metafsica. Possibilidades e impossibilidades. Edio 308, de 14-09-2009,disponvel em http://bit.ly/13U7lRV

    Novas comunidades catlicas: a busca de espao.Edio 307, de 08-069-2009, disponvel em http://bit.ly/jMVNKL

    O futuro que advm. A evoluo e a f crist segundo Teilhard de Chardin.Edio 304, de 17-08-2009,disponvel em http://bit.ly/158DVnm

    As religies da profecia: Judasmo, Cristianismo e Islamismo. Edio 302, de 03-08-2009, disponvel emhttp://bit.ly/fL3FjF

    Karl Rahner e a ruptura do Vaticano II. Edio 297, de 15-06-2009, disponvel em http://bit.ly/o2e8cX

    Lutero. Reformador da Teologia, da Igreja e criador da lngua alem. Edio 280, de 03-11-2008, disponvelem http://bit.ly/126sgyj

    Jesus e o abrao universal.Edio 248, de 17-12-2007, disponvel em http://bit.ly/16z6Pv7

    O novo atesmo em discusso. Edio 245, de 26-11-2007, disponvel em http://bit.ly/13NLugg

    Projeto de tica Mundial. Um debate. Edio 240, de 22-10-2007, disponvel em http://bit.ly/fcYPFM

    Francisco. O santo. Edio 238, de 01-10-2007, disponvel em http://bit.ly/oXPcGB

    Os rumos da Igreja na Amrica Latina a partir de Aparecida.Uma anlise do Documento Final da V Confe-rncia. Edio 224, de 20-06-2007, disponvel em http://bit.ly/gGMpe4

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    A dispora das religies brasileirasDiferentes credos oriundos do Brasil se disseminam como sementes espalhadas pelom, vm C R M V, TheDiasporaofBrazilianReligions

    Por Cristina Rocha e Manuel A. Vsquez

    OBrasil imaginado como um lu-gar onde a conexo com o sagra-do no foi erradicada pela mo-

    dernidade. Assim, o turismo espiritual temum papel importante na construo de umimaginrio transnacional do Brasil no exte-. A C R M-

    V x , mexclusividade IHU On-Line apresentando aobra The Diaspora of Brazilian Religions (Lei-den: Brill, 2013), da qual so organizadores.S , mv m B v -giosa global so diversos e complexos.

    C R m mCincias Sociais pela Universidade de SoPaulo USP com a dissertao A cerimniado ch no Japo e sua apropriao no Brasil:

    uma metfora da idendade cultural japone-sa. Ph.D pelo Centro de Pesquisas Culturais

    da Universidade do Oeste de Sidnei, na Aus-

    trlia, onde leciona atualmente. autora deZen in Brazil: The Quest for Cosmopolitan Mo-

    dernity(Honolulu: University of Hawaii Press,2006) e Seeking Healing in Brazil: John of Godand the Globalisaon of Spirism(no prelo).

    M A. V m CBiolgicas pela Universidade de Georgetown,

    EUA, mestre em Religio pela UniversidadeMcGill e pela Universidade Temple, tambmnos EUA, com a dissertao The Brazilian Po-pular Church in Crisis: Local Religion and Glo-

    bal Capitalism. D ,destacamos: More than Belief: A MaterialistTheory of Religion(Oxford: Oxford UniversityPress, 2011) e The Brazilian Popular Churchand the Crisis of Modernity(Cambridge: Cam-bridge University Press, 1998). Leciona naUniversidade da Flrida, nos EUA, no Depar-tamento de Religio.

    C x.

    Em junho de 2009 organizamosm m L

    Am S A C-ference LASA que naquele anoaconteceu no Rio. Queramos trazer tona um fenmeno recente que ha-

    via sido at ento pouco estudado:

    a disseminao das religies brasi-leiras no mundo. A mesa foi um su-cesso de pblico e assim resolvemos

    f m m m -vessem trabalhando com o assunto.O resultado apareceu em maro de

    2013 com a publicao pela editoraholandesa Brill de um livro em ingls . Cm

    The Diaspora of Brazilian Religions(ADispora das Religies Brasileiras), o

    livro tem quinze captulos e dividi-do em trs partes.

    A primeira parte trata da disse-m m na forma de novas comunidades ca-tlicas (como a Cano Nova1) e dasigrejas pentecostais na frica, Peru,Inglaterra e Europa. A segunda par-te discute a expanso das religies

    afro-brasileiras no Cone Sul, Japo,C, P I. A -ma parte trata de novos movimentosreligiosos brasileiros na Austrlia, EUAe Europa. As questes que nos orien-vm m

    1 Cano Nova: comunidade catlicabrasileira fundada pelo Monsenhor JonasAbib no ano de 1978, seguindo as linhasda Renovao Carismtica Catlica. Comsede na cidade de Cachoeira Paulista(SP), conta com sistema de rdio e tele-viso de longo alcance, estendendo-se aoutros pases como Portugal, Itlia, Israel,ndia, Estados Unidos, Grcia, Frana,Paraguai e Chipre. (Nota da IHU On-Line)

    do congresso at a publicao do livroforam por que as religies brasileiras

    esto crescendo no exterior e a ma-neira como elas se disseminam.

    Nesta pequena introduo ten-taremos responder a estas duas ques-

    . O mv m

    B v global so diversos e complexos. En- m -

    , passada reinseriram o Brasil em umaposio favorvel no sistema global,operando em conjunto com um cam-

    po religioso nacional historicamentem m m.N , xm v -cveis que contriburam para a cons-

    truo, difuso e consumo global de

    , v m- v .

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    Imaginrio sobre o BrasilPrimeiramente, temos os imi-

    grantes brasileiros que deixaram opas em grande nmero durante asdcadas de 1980 e 1990, um perodode grande instabilidade econmica . E mtrouxeram consigo suas religies para mm m v

    j, uma nova vida no exterior e manterrelaes transnacionais com o Brasil.

    Em segundo lugar, podemosapontar para a criao, circulao econsumo de um imaginrio global doBrasil, de sua cultura e religies comox, xy, , m-v , m m , m, m- v -diana nos pases desenvolvidos. Este

    imaginrio muitas vezes construdopor peregrinos ou turistas religiososque viajam ao Brasil em busca de curaou como parte de uma busca espiritu-al ou existencial.

    Em terceiro lugar, h os meios decomunicao e internet, que globalizam , ideias sobre o Brasil. Finalmente, temosos missionrios brasileiros que, usandoa sociognese pluralista e fusionistado Brasil (SIQUEIRA, 2003, p. 151), ru-

    mm x m jv x-to de propagao de suas religies.

    Jogadores missionriosEstes vetores se encaixam apro-

    xmm -plogo Thomas Csordas (2009, p. 5-6)que v quatro meios de se estabele-cer uma transcendncia transnacio-nal: misso, migrao, mobilidade em. E m - , m estes vetores frequentemente intera-

    gem uns com os outros, muitas vezesse reforam mutuamente e outrasvezes geram zonas de atrito (TSING,2005). Por exemplo, em seu captulosobre a circulao global de jogadoresde futebol brasileiros que atuam tam-bm como missionrios pentecostais,a antroploga Carmen Rial demonstraque os migrantes tambm podem serempresrios religiosos bem sucedi-dos. Alm disso, esses jogadores defutebol exploram uma dimenso cha-

    ve do imaginrio global sobre o Bra-sil o Brasil como o pas do futebol

    por excelncia, o pas do jogo bonito para avanar o seu trabalho mis-sionrio transnacional. Finalmente, amdia global e o espetculo global que o futebol so centrais para a suas f, , xm, Kk m de fazer um gol para revelar a messa-gem Eu amo Jesus.

    Sementes espalhadasPara caracterizar o impacto glo-

    bal destes vetores perante a propa-gao global das religies brasileiras,escolhemos o termo dispora. Estetermo tem sido objeto de um cor-po de literatura crescente (BOYARIN;BOYARIN, 2002; COHEN, 2008; SA-FRAN, 2004). Uma preocupao fun-damental nessa literatura tem sido a do termo alm do seu referente ini-

    cial: o deslocamento forado de umapopulao de sua terra natal. Embo-ra incapazes de retornar sua terranatal, estas populaes permanecemconectadas a ela atravs da memriae o desejo intenso de retorno (CLI-FFORD, 1994; SHUVAL, 2000).

    A saudade e a incapacidade de m v m m f v,que envolve muitas vezes a religiocomo seu principal ingrediente. O uso

    do termo alm desta conotao ori- mm disperso de povos, lnguas e culturaslevou alguns estudiosos a se preocu-par com a perda de rigor do termo.

    Enquanto estamos atentos a esteproblema, usamos a palavra dispo- m: m diaspeirein, um termo grego que sig- m m-tes, mas que designa a disseminao v -quista, colonizao, imigrao e redesm M(REIS, 2004). As religies brasileirasesto se espalhando precisamentepor meio de dois destes vetores: mis-sionrios e imigrantes. Alm disso,m v -res de brasilidadeviajam juntamentecom religies brasileiras, e emborano integradas a uma lngua francacoerente e abrangente como era o he-lenismo, envolvem memria, nostal-, v , m

    e a transposio de uma ptria imagi-nada para o exterior.

    Dispora policntricaO crescimento da economia bra-

    sileira como parte dos pases do grupoBRIC (Brasil, Rssia, ndia, China), ter-mo usado para denominar giganteseconmicos emergentes, e sua novaf vm mconsequncia uma grande visibilidadedo Brasil no exterior e um entusias-mo com o futuro do pas. Na mdiainternacional h muitas reportagenssobre o Brasil, complementado poruma crescente mdia brasileira queincluem empresas transnacionais,como a Rede Globo, importantes naconstruo e venda de uma imagemdo Brasil no exterior.

    Im j, -vistas e alguns livros (ROETT, 2010;ROHTER, 2010) tratam do tema. Porxm, v Vy F -

    ziu uma edio especial sobre o Bra-sil em 2007, enquanto em 2010 a re-v W, ,arquitetos e designers da moda, de-dicou todo um nmero para cobrir oque chamou de o pas mais emocio-nante do mundo. Este entusiasmoculminou em 2010, quando o Brasilfoi escolhido para sediar a Copa doMundo de 2014 e os Jogos Olmpicosde 2016.

    No entanto, este novo lugar do

    Brasil na ordem mundial no inter-rompeu a emigrao. Enormes de-sigualdades sociais persistem. Porexemplo, de acordo com o IBGE, em2007 enquanto os 10% mais ricos da m 43,2%de toda a renda individual, os 10%m m 1,1%(LAGE; MACHADO, 2008). Apesar de m manos, o Brasil ainda est entre os pa-ses com maior desigualdade social

    (ocupando a 17 pior posio) deacordo com o ndice de Gini. Emboramuitos brasileiros tenham voltado aoBrasil fugindo da crise econmica quetem afetado especialmente aos EUA eEuropa, as comunidades de brasilei-ros no exterior permanecem grandes.As maiores delas esto nos EUA (1,4milhes), Paraguai (200.000), Japo(230.000) e no Reino Unido (180.000)(MRE 2011). Esta dispora policntri-ca tem facilitado a circulao global

    da cultura brasileira, incluindo smbo-, .

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    Brasil, um Outro excoNotadamente a dispora das

    religies brasileiras no apenas oproduto de brasileiros imigrantes emissionrios deixando o Brasil e le-vando suas religies com eles. Atra-dos pelas religies e tradies es-pirituais do Sul Global, buscadoresespirituais tambm desempenham

    um papel importante neste proces-so. Frequentemente eles encontramreligies brasileiras no seu prpriopas e posteriormente vo ao Brasilcomo turistas espirituais. Para Cohen(1992, p. 52-54) e MacCanell (1976),o advento da modernidade tevecomo consequncia maior alienaoe um crescente desejo de escaparpara as periferias, onde habitantesdo primeiro mundo acreditam queas pessoas vivem vidas mais autn-

    , mm e espiritualidade. O Brasil imagina-do como um lugar onde a conexocom o sagrado no foi erradicadapela modernidade. Assim, o turismoespiritual tem um papel importan-te na construo de um imaginriotransnacional do Brasil no exterior.

    Com efeito, atravs da mdia, ci-nema, livros e internet, bem como dachegada de imigrantes brasileiros queestrategicamente adotam maneiras

    essencializadas de ser brasileiro (taiscomo dar aulas de dana e capoei-ra ou como lderes espirituais) paraconquistar um lugar no Norte Global,vm , m v Ocidente, o Brasil se torna um Outrox, mv . O est associado por um lado com sen-sualidade, paixo, beleza, vivacidade,liberdade sexual, e por outro com umpassado perdido pelos pases indus-trializados no qual a espiritualidade v .

    Sagrado sem intermediaesSejam seguidores da umbanda

    no Canad (captulos de Meintel eHernandez), de Joo de Deus na Aus-trlia (Rocha), adeptos de religiesafro-brasileiras em Portugal (Saraiva),usurios de ayahuasca na Holanda(Gm) -ra no Reino Unido (Stephens e Dela-mont), muitos nos chamados pasesavanados, que so supostamente

    secularizados, adotam religies bra-sileiras como parte de uma busca de

    desenvolvimento pessoal, cura de m, problemas sociais que vo do desem-prego ao divrcio e solido e de umatransformao radical de si mesmos.Alm disso, so atrados pelo desejode estar em um lugar sagrado, ondelderes espirituais e espritos habitam,e onde eles podem experienciar o sa-

    grado sem intermedirios. importante notar que o es-

    tudo da dispora das religies bra-sileiras quebra com os modelossimplistas que conceptualizam aglobalizao como principalmenteum processo de McDonaldizao,isto , de difuso unidirecional dareligio a partir dos EUA em conjun-o com a hegemonia geopoltica,financeira e da mdia norte-america-nas (RITZER, 1996). verdade que os

    EUA continuam sendo um n se-minal das chamadas indstrias glo-bais do esprito (ENDRESS, 2010).Contudo, o reconhecimento do Bra-sil como uma das maiores potnciasna nova geografia global do sagradoaponta para a proliferao de fluxosreligiosos e redes multidirecionaise multiescalares que vo no s doNorte para o Sul, mas tambmna direo oposta.

    Potncia religiosaFrequentemente, imigrantes e

    empresrios religiosos brasileirose de outros pases do Sul Globalmissionizam em reverso (JENKINS2011), exorcizando demnios, con-vocando espritos ancestrais ou lim-pando resduos crmicos em naesque durante o perodo colonial in-trepretaram a converso religiosa naperiferia como parte da sua missocivilizadora. Nesse processo, imi-

    grantes e missionrios brasileiros ebuscadores espirituais estrangeiroscontribuem para a diversidade e vi-talidade religiosa em lugares comoLondres, Lisboa, Atlanta, Sydney ouMontreal, apesar das presses se-cularizadoras da modernidade tar-dia. Com um campo religioso enor-mm vf, me aberto mistura, o Brasil est seposicionando como uma potnciareligiosa global ao lado de pases

    como Nigria, Gana, Coreia do Sul,China, e ndia.

    RefernciasBOYARIN, J. and D. BOYARIN. 2002. The Powersof Diaspora: Two Essays on the Relevance of

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    Santo Daime: amazonizaodo crisanismo e sntese dareligiosidade e subjevidadecontemporneasIj m m m m m y, m jv m, v A Gm

    Por Mrcia Junges

    Nmm, m vno so categorias associadas reli-gio e ao rito, que pressupe serieda-

    de, gravidade e silncio. o que autores cha-mam de carter apolneo em contraposioa uma forma dionisaca de expresso. Estecarter apolneo em geral conferido gran- m. B, m silncio se tornam um dos lados da dicotomia m m, v m

    escolhas morais e hegemonias. destas dico-tomias que sobrevivem muitos sistemas reli-giosos, frisa o antroplogo Alberto Groismanna entrevista que concedeu por e-mail IHUOn-Line. E acrescenta: No se pode descon- m ritual daimista: alm de tomar o daime, can-tar e prestar ateno ao contedo de hinos,, , beleza e a harmonia. Groisman chama aten-o, tambm, para o fato de que os daimistasholandeses manifestavam preocupao coma reparao das ignomnias e verdadeiras

    barbaridades do colonialismo civilizatrio, e S Dm

    na Holanda, compreendida como uma esp- m m, m retorno Europa.

    Alberto Groisman graduado, mestre edoutor em Cincias Sociais pela UniversidadeFederal de Santa Catarina UFSC. Na Univer-sidade de Londres cursou doutorado em An-tropologia Social com a tese Santo Daime inthe Netherlands: An Anthropological Study of

    a New World Religion in a European Seng.

    ps-doutor pela Universidade do Estado doArizona, Estados Unidos, e pela Universidadede Kent. Leciona do Departamento de Antro- UFSC Trans-cultural keys: Humor, Creavity and otherRelaonal Arfacts in the transposion of aBrazilian Ayahuasca Religion to the Nether-

    lands, The diaspora ofBrazilian religions (Leiden: Brill, 2013) e queinspirou as questes a seguir. Escreveu a obraEu venho da oresta: Um estudo do contextosimblico do uso do Santo Daime (Florianpo-lis: EdUFSC, 2000).

    C v.

    IHU On-Line Qual a peculia-ridade da transposio da religiobrasileira do Santo Daime para aHolanda?

    Alberto Groisman A transposi-o de qualquer objeto ou pessoa dem , m

    quando esta transposio comotenho chamado transfronteiria,

    implica sempre em alguma peculia-ridade que caracteriza o evento. Estapeculiaridade estabelecida pela sin-gularidade das experincias vividas ese desdobra em como a situao de -gura. O que posso destacar como uma

    v , msociolgica, da realocao do Santo

    Daime1para as chamadas Terras Bai-

    1 Santo Daime: segundo a explicaodada no prprio site do Santo Daime(www.santodaime.org), o movimentoreligioso comeou no interior da ores-ta amaznica, nas primeiras dcadas dosculo XX, com o neto de escravos Rai-mundo Irineu Serra. Foi ele que recebeua revelao de uma doutrina, a partirda bebida Ayahuasca (vinho das almas),

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    xas da Europa Ocidental, que se dis- m -sileiras se deslocaram pelo planeta.Neste caso, as igrejas daimistas atra-ram em sua grande maioria par- mlocais. Isso uma peculiaridade,mesmo que transitria, em relao,por exemplo, presena de religies

    protestantes que tm sede no Brasil e que em outros pases atraem po-pulao imigrante, em geral da Am- L.

    Congurao apolneaEsta peculiaridade se desdobra

    mm que tem estes europeus. Outra dife-rena que, em geral, as religiesayahuasqueiras no buscam visibili-dade e no precisam de grande in-

    fraestrutura para poder realizar seusencontros rituais. Isso a diferenciatambm de outras vertentes religio-sas que precisam de prdios grandese locais de grande visibilidade parafuncionar.

    Outra peculiaridade, que estou m , m v, mmm, j,mas eventualmente reconhecidosm m x ,que a situao que encontrei empelo menos um grupo na Holanda.Devo dizer que isso no se d emqualquer igreja daimista.

    denominada, depois, de Santo Daime. Abebida, de uso bastante difundido pe-los povos indgenas da regio, obtidapela coco de duas plantas, o cip Ja-gube (banesteriopsis caapi) e a folhaRainha (psicotrya viridis) ambas nativasda oresta tropical. Ela tem proprieda-des entegenas, isto , produz uma ex-panso de conscincia responsvel pela

    experincia de contato com a divindadeinterior, presente no prprio homem. Se-gundo o Mestre Irineu, ele recebeu essaDoutrina por meio de uma apario deNossa Senhora da Conceio, em uma dasprimeiras vezes que tomou a bebida, naregio de Basilia, Acre. Os hinos do Mes-tre, que ele comeou a receber a partirdo comeo da dcada de 1930, trouxe-ram uma forte nfase nos ensinos cristose outra leitura dos Evangelhos luz doSanto Daime. A bebida permite que osmembros do movimento recebam hinosinspirados. A doutrina do Santo Daime foiapresentada dia 01-09-2004, no eventoEstudando as Religies, promovido peloPrograma Gestando o Dilogo Inter-Reli-gioso e o Ecumenismo (Gdirec), do IHU.(Nota da IHU On-Line)

    No se pode desconsiderar a, m, do ritual daimista: alm de tomar o

    daime, cantar e prestar ateno aocontedo de hinos, bailar, ou se, e a harmonia. No h de fato grande m v,pelo menos na visibilidade ritual ge-ral. Por isso saliento que se trata desituao encontrada em pesquisa decampo na Holanda, que no pode sergeneralizada.

    IHU On-Line Como se relacio-

    nam o humor e a criavidades nessaexperincia do uso da ayahuasca naEuropa?

    Alberto Groisman Eu arriscariaconsiderar que se trata de uma situa-o singular de vnculo com o vegeta-lismo amaznico. Os especialistas nouso da ayahuasca na Amaznia so v- , m nas prprias experincias e insightsque especialmente do uso ritual dabebida proporciona. Por outro lado,

    m v vque, em geral, no so associadas religio e ao rito. O senso comum in-dica que assuntos que envolvem a fe o divino devem ser tratados comseriedade, gravidade e silncio. oque autores chamam de carter apo-lneo em contraposio a uma for-ma dionisaca de expresso. Este ca-rter apolneo em geral conferido m. B,harmonia e silncio se tornam um dos

    lados da dicotomia entre bem e mal, v m

    morais e hegemonias. destas dicoto-mias que sobrevivem muitos sistemasreligiosos.

    A alegria na experincia dodivino

    A, , ,eu evoco a interessante hiptese deUmberto Eco2 em O nome da rosa,

    sobre a provvel razo para o desa-parecimento do livro da comdia deAristteles3. Presume-se que o livrox Tra-gdia. Mas o livro da Comdianuncafoi encontrado. Eco se refere, numa v, m v mentre faces da Igreja Catlica, fran- , - Ev, massociadas vida e ao carter de Je- C. N , v m

    tese que parece ter predominado nom. O m J f, -ve e triste que ocupa o cho sagradopregado numa cruz, ensanguentado m m. Nmambiente assim, no h muito espa-o para a alegria. E, claro, humor e,m , de autotransformao no so formasm x .

    Entretanto, conforme depoi-mentos, para a tradio estabelecidaprincipalmente por Raimundo IrineuSerra4, fundador do primeiro centro

    2 Umberto Eco (1932): autor italianomundialmente reputado por diversosensaios universitrios sobre semitica,esttica medieval, comunicao de mas-sa, lingustica e losoa, dentre os quaisdestacam-se Apocalpticos e Integrados,A estrutura ausente e Kant e o ornitorrin-co. Tornou-se famoso pelos seus roman-ces, sobretudo O nome da rosa, adaptadopara o cinema. A ilha do dia anterior;Baudolino e A misteriosa chama da Rai-nha Loana so outras de suas obras. (Notada IHU On-Line)

    3 Aristteles de Estagira (384 a C. 322a. C.): lsofo nascido na Calcdica, Esta-gira, um dos maiores pensadores de todosos tempos. Suas reexes loscas porum lado originais e por outro reformula-doras da tradio grega acabaram porcongurar um modo de pensar que se es-tenderia por sculos. Prestou inigualveiscontribuies para o pensamento huma-no, destacando-se nos campos da tica,poltica, fsica, metafsica, lgica, psico-logia, poesia, retrica, zoologia, biologia,histria natural e outras reas de conhe-cimento. considerado, por muitos, o -lsofo que mais inuenciou o pensamentoocidental. (Nota da IHU On-Line)4 Raimundo Irineu Serra: conhecidocomo Mestre Irineu, era um negroseringueiro de dois metros de altura,

    A Holanda umpas reconhecido

    pela, emboramm v,

    maior consistnciaao tratar doassunto dos

    v

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    daimista no estado do Acre, ainda emtorno dos anos 1920 e 1930, a alegriaera parte fundamental da vida reli-giosa e deveria se expressar no rituale fora dele, juntamente com outrasmf m pessoas diante de sua experincia dodivino.

    IHU On-Line Que chaves trans-culturais podem nos ajudar a com-preender essa experincia?

    Alberto Groisman Primeira-mente, e isto importante, a noode chave transcultural foi elabora- m m mf. E o aspecto, digamos, instrumental quem m - mvm, m f v no processo de alocao de uma con-

    m H-landa. E, no menos importante, sem mm de um idioma, que era o caso do lderbrasileiro de uma igreja daimista naH m , sua grande maioria cidads e cidadosholandeses. Em suma, os eventos que m, menos, duas dimenses das formasde comunicao e relao que se es-tabelecem nos processos de desloca-

    mento planetrio. Estes deslocamen-tos exigem esforos extraordinrios m m m ,m, m m, v -cursos condicionados e condiciona- m m m.Am, m v, primeiro caso expressando uma bemm m m , , uma situao na qual uma, digamos,

    m f, m mm v vm m v m mv -lacionais importantes, que eu procuro . Em m,

    que, em 1930, em Rio Branco, no Acre,aps uma intensa iniciao com um Xamna oresta, com a bebida SacramentalAyauasca fundou a Doutrina Santo Daime.Foi tomando essa bebida que MestreIrineu teve a viso (mirao) de NossaSenhora da Conceio, que foi passandopara ele os fundamentos da Doutrina.(Nota da IHU On-Line)

    a estas situaes o carter de chavetranscultural no necessariamentelevantar intencionalidades, mas apon- v mv , m de uma comunicao indireta, mas.

    IHU On-Line Qual o contextodessa transposio religiosa para aHolanda?

    Alberto Groisman Conside-rando que os daimistas holandesesexpressavam uma preocupao coma reparao das ignomnias e verda-deiras barbaridades do colonialismocivilizatrio, penso que uma impli-cao contextual que, depois de500 anos, a presena do Santo Daime

    (uma forma de crisanismo amaz-nico), m -torno para a Europa. Mas este no um retorno puro e simples. Talvezse possam ver princpios doutrin-rios semelhantes, claro que com 500anos de desdobramentos, releituras , m m m m com o que alguns daimistas se referi-ram como o verdadeiro El Dorado, a m mv

    dos conquistadores brbaros de cin-co sculos atrs que aportaram nas

    Amricas. interessante que a cor dealgumas preparaes da ayahuasca parecida com dourado. H pesquisa-dores que defendem que RaimundoI S y-ca, que teria conhecido entre popula-es indgenas e ribeirinhas, nas fron-teiras do Brasil com a Bolvia e o Peru.Entretanto, uma pesquisa que estou

    concluindo est me sugerindo, e con- -mo chegaram nas Amricas h mais 500 , fm -rados pela adio de um sacramentov, m, um componente importante de ama-zonizao do crisanismo, -m xcom a ayahuasca pelos primeirosm, m m v m xm-

    , v j vmm m m -qussima tradio-conhecimento deuso da bebida.

    IHU On-Line O que a apro-priao dos ritos do Santo Daime naHolanda aponta sobre a religiosida-de e subjevidade das pessoas nacontemporaneidade?

    Alberto Groisman Em primeiro, v - dos ritos e da cosmoideologia daimis-ta nas Terras Baixas da Europa, comoa sugerir que h algum processo no m.Primeiro, porque tudo no mundo sed por formas de apropriao de bensmateriais ou simblicos. Para os inte-ressados, incluindo pesquisadores, etalvez somente para estes, algumas m, no. Eu diria que h uma ampla redede reciprocidade que, a meu ver, est

    associada ao que chamei tambm cr-culo-rede de ressonncia experiencial.E este um dos aspectos centrais doque voc menciona como religiosi- jv contemporaneidade.

    Digamos que vivemos hoje emdia num mundo muito mais inten-samente ressonante. Informaes epessoas se deslocam com muito maissimplicidade e rapidez do que h nom 20 . I -

    larmente no Brasil e sua bem peculiarprosperidade atual. Confesso que

    H pesquisadoresque defendem que

    Raimundo IrineuS

    a ayahuasca, queteria conhecido

    entre populaes

    indgenas eribeirinhas, nas

    fronteiras do

    Brasil com aBolvia e o Peru

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    no gosto muito de usar termos daeconomia, como oferta e demanda, m m que ocorrem hoje em dia. Mas se fos-se recorrer ao jargo, eu chamaria oque a cada dia mais vivemos como apoca da economia dos desejos, queenvolve os movimentos que fazemos

    para realizar o que queremos, e incluif f. D f, uma crescente facilitao dos acessose dos processos, e assim uma certax m -j. E mvm m,porosos, e ao mesmo tempo tornam m .

    Sacramento lquido interessante pensar aqui o dai-

    me um sacramento lquido , m-

    vando e amalgamando as experinciasde milhares de pessoas pelo planeta,especialmente ao vincul-las a umsistema religioso. Esta imagem temum poder metafrico extraordinrio.Assim como o daime, a ayahuasca uma sntese das demandas (lamento v) jv -m. A - , vmuitos expertsque se autoatribuem osaber sobre como preparar a bebida e-, m ( - m ) mfm v comerciais, por exemplo, patentean- m vda bebida, oriundos das duas plantasmais usadas para sua preparao. Ouseja, diferentemente das bebidas dafamlia da cola, que surgiram comomedicinais e foram logo industriali-zadas para comercializao, a formam j -

    trica da ayahuasca como uma subs- v m m mtranscultural da humanidade, no in- m v.

    Graas a movimentos visveis einvisveis, sociais, ou talvez de outra, m mm m,e a grande profuso de informaesna internet, qualquer um que consigaas plantas, a rigor, pode produzir suaprpria ayahuasca.

    IHU On-Line Como a socieda-de holandesa recebe essa prca re-

    ligiosa tendo em vista suas origensindgenas e o uso de uma bebida pro-duzida de plantas amaznicas?

    Alberto Groisman -ponder, j que no h como reduzira diversidade e a singularidade comque as pessoas, com as quais con-vivi na Holanda, expressavam suav S Dm.

    A Holanda um pas reconhecido, m mm v, mconsistncia ao tratar do assunto v. P m m -: . P ? P H subsidiadas sobretudo pelo jogo daargumentao, principalmente jur-dica, mas fundamentada em achados. Am, m m -

    sos do estado para sustentar estasnormas. Os agrupamentos do SantoDaime so autorizados a funcionarna Holanda, o que no sinnimo de. Am, m v v m cannabis, que na Holanda tem o uso m, E m-tora tudo para avaliar constantemen- . P , vm m mais o dano a terceiros, preservandode certa forma o direito individual de,digamos, se autoexplorar, claro que m , como poderamos considerar um dosaspectos associados a por que razo,, m v.

    Resumindo, se o regimento dodireito e da lei numa sociedade re-v m aceitabilidades correntes, e conside-rando que as religies daimistas sohoje autorizadas legalmente a funcio-nar na Holanda, ento eu diria que os

    holandeses encontraram uma formade conviver com a existncia das re-ligies daimistas, e com a ideia queaceitam e que tm direito de desejar . P m,destaco o fato de que a presena dasreligies daimistas na Holanda tevecomo repercusso muito interessante m que agora querem aprender portu-gus. interessantemente uma esp-cie de idioma sagrado, que comunica

    m m experincia com o daime.

    IHU On-Line Quais so os efei-tos e implicaes do uso religioso daayahuasca? Que sintomas sicos eestados de conscincia se produzema parr de seu consumo?

    Alberto Groisman Como osprocessos de transposio espacialque mencionei antes, tambm efei-tos e implicaes do uso religioso da

    ayahuasca so muito diversos e sin-gulares. Assim, penso que todas asv um modelo para abordar este temano so bem sucedidas. Como Thi-mothy Leary5, v m m-co scholarque expandiu e divulgou oconhecimento sobre o cido lisrgico,levantou ainda nos anos 1960, e queNorman Zinberg6 m fm mm ,para se pensar efeitos e implicaes

    do uso de qualquer droga, preciso v m. P-m m m m-m -do, o contexto sociocultural do uso,incluindo em que ambiente simblico m m , , v m m, . Oseja, este modelo muito diferente m , m , -zado, o qual analisa os efeitos tericos m m

    . E m f -, m v acabou por se desdobrar na proble-m -. D , me ao cabo, a guerra s drogas temapenas servido ao controle do merca-do de drogas ilegais.

    Considerando os depoimentos v, m, m -tes dos grupos religiosos, as pessoas

    haviam por alguma razo abandona-do vnculos com os sistemas de reli-giosidade nos quais foram educadas.Depois, retomavam estes vnculos ereconstruam uma nova ideia de vn-culo com o divino e/ou com uma di-

    5 Timothy Francis Leary (1920-1996):professor de Harvard, psiclogo, neuro-cientista, escritor, futurista, libertrio,cone maior dos anos 60 e do hedonismo.Ficou famoso como um proponente dosbenefcios teraputicos e espirituais doLSD. (Nota da IHU On-Line)6 Norman E. Zinberg (1922-1989): psi-canalista e psiquiatra norte-americano.(Nota da IHU On-Line)

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    menso espiritual. Muitos tambmmm -me lhes trouxe melhor qualidade dev m m .Em, m m f m -rem o daime.

    IHU On-Line A parr das reli-

    gies ayahuasqueiras, qual o nexoentre religio, perturbao e sade?

    Alberto Groisman Estes temasesto associados a um projeto queest em fase de divulgao de resul-. N , m m-, m -das s tradies estabelecidas pelasv Rm I Se de Daniel Pereira de Matos7, a meu

    7 Daniel Pereira de Mattos(1888): nasci-do no Maranho dois meses aps a aboli-o da escravatura, na antiga Vila de SoSebastio de Vargem Grande, foi conter-rneo de Raimundo Irineu Serra, funda-dor da doutrina do Santo Daime. Danielparticipou de diversos trabalhos na Igrejade Irineu Serra, onde ajudou a musicaros primeiros hinos do amigo. Durante ostrabalhos de concentrao realizados nocentro, tocava seu violo, com composi-es prprias que preenchiam o trabalhoem lindas canes. Em uma certa oca-sio, tomou o daime e sozinho teve umaviso em que as portas do cu se abriame dois anjos desciam com um livro azulnas mos contendo sua misso espiritual,

    a de fundar uma doutrina crist alicera-da na caridade. Esta revelao j haviase dado em outra oportunidade quandocansado e sob o efeito do lcool, adorme-ceu as margens de um igarap onde teveum sonho em que do cu desciam anjosque lhe entregavam um livro de cor azule lhe falavam do cumprimento de umamisso. (Nota da IHU On-Line)

    ver as duas vertentes que lidam con-

    sistentemente com o tema da pertur-

    , -

    vm m

    j. N , v

    para fazer um agradecimento pblico

    a todos os daimistas que colaboraram

    com o projeto.

    Respondendo pergunta, eudiria que, nos meus mais de 20 anosde pesquisa sobre o uso ritual de v, v, agora tentando registrar, o extraordi-nrio cabedal de conhecimento queos daimistas acumularam, e que in-m m na forma com que estabelecem suas

    relaes sociais e csmicas, sobre oque chamamos sade mental. Soinmeros procedimentos, ideias, re-comendaes e outros elementos ex-tremamente interessantes e relevan-tes. Estes se desdobram da vivnciadiria, das trocas pessoais e da explo-rao de suas prprias experincias,e contrastam sobremaneira com osprocedimentos que tenho levantado.E -turbaes em geral, ou o sofrimento

    m , m m Brasil. No estou propondo que estesprocedimentos sejam apropriadospelo Estado, mas que se considere v m fm m -nhecimento, que no pode ser trata-da, como tem sido feito em geral, deforma inconsistente e preconceituosa v -v. Cm , m

    que, de um lado, o uso religioso dodaime uma forma de buscar e pro-duzir conhecimento e que proporcio- fvm m estruturao para a experincia, con-dio importante para que esta ocorrafm xv.

    interessantepensar aqui o

    daime umsacramento

    lquido ,mv

    amalgamando

    as experinciasde milhares

    de pessoas

    pelo planeta,especialmente ao

    vincul-las a umsistema religioso

    LEIA OS CADERNOS IHU

    NO SITE DO IHU

    WWW.IHU.UNISINOS.BR

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    hu.unisinos.br

    A umbanda e o batuque noCone Sul e a esgmazaosocial de seus pracantesS m m matriz africana, e a umbanda passou a ser considerada ameaadora em funo m, m m m,relata Alejandro Frigerio

    Por Mrcia Junges / Traduo de Moiss Sbardelotto

    Um v m A -tude de sua populao, em detri-

    m mm outras culturas para sua formao nacional.E v m - m , ,moderna, racional e catlica. Para isso,ela invisibiliza presenas e contribuies t-nicas e raciais, e, quando elas aparecem, assitua no distanciamento temporal ou geogr- m da nao. Ela se caracteriza por uma notvel

    m m-m , m Aj-dro Frigerio na entrevista que concedeu pore-mail IHU On-Line.

    dentro desse contexto que deve ser com- m- m . Sm- f m f aquilo que se passou a chamar de seitas,que deterioraram gravemente a imagem dasreligies no catlicas e, especialmente, dasde origem afro-brasileira, pontua Frigerio. O

    m, , umbanda, da quimbanda e do batuque ga- v-nha. E conclui: Apesar da atrao que essasreligies tm para os indivduos que frequen-tam os seus templos em busca de soluo m v , -

    mental e de trabalho, a umbanda e o batuque m m.Alejandro Frigerio doutor em Antropo-

    logia pela Universidade da Califrnia, em LosAngeles, Estados Unidos, com a tese Con laBandera de Oxal: Construccin Social y Man-

    tenimiento de la Realidad en las Religiones

    Afro-Brasileas en Argenna. Cursou mestra- mm m La Bsqueda de frica: Nostalgia Prousanaen los Estudios Afrobrasileos. De sua produ- , m Ciencias Sociales yReligin en el Cono Sur. Introduccin y com-

    pilacin de textos (Buenos Aires: CEAL. 1993),Cultura negra en el Cono Sur: Representacio-

    nes en conito (Buenos Aires: EDUCA, 2000) eArgennos e Brasileiros: Encontros, imagens,esterepos (con Gustavo Lins Ribeiro comosegundo compilador) (P: V,2002). N The Diaspora of BrazilianReligions (Netherlands: Brill, 2013) colaboram Umbanda and Batuque in theSouthern Cone: Transnaonalizaon as cross-border religious ow and as social eld.

    L F L-Am

    C S A FLACSO Uv C A UCA. -quisador do CONICET. Para maiores informa-es sobre sua trajetria acadmica, consulte://www.jf.m..

    C v.

    IHU On-Line Qual o contextode insero da umbanda e do batu-que no Cone Sul?

    Alejandro Frigerio A vm , contrrio das vigentes em outros pa-

    -m, mesagem, mas sim a branquidadeda sua populao. Essa imagem ide-

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    m A m vv mpor meio da educao formal, mastambm de maneira informal atravs m m v . E f mm -nos (principalmente dos portenhos) fm m

    m m m diversos indivduos e grupos queencontram.

    E v m - mbranca, europeia, moderna,racional e catlica. Para isso, elainvisibiliza presenas e contribuiestnicas e raciais, e, quando elas apa-recem, as situa no distanciamentom m .

    Ela se caracteriza por uma notvel ce-gueira com relao aos processos demm .T v de raas atravs de uma espciede alquimia social teria fundido to-das as contribuies tnicas originais m m v ,diferente de todos os seus elementosv. A , j xm m-dades diferenciadas cultural ou racial-

    mente como parte do corpo da nao com exceo de remanescentes depopulaes indgenas em territriosafastados da capital branca.

    No que diz respeito aos afro--argentinos especificamente, elaenfatiza o seu desaparecimentoprecoce (no fim do sculo XIX) e v -es para a cultura (e at para agentica) local. Embora eles j noconstituam os 30% da populao

    de Buenos Aires como em 1810,ainda existem muitos argentinosafrodescendentes. Alguns con-tam entre os seus ancestrais osescravizados e os libertos daque-la poca; outros so como frutode movimentos migratrios emdiversos momentos histricos. Onmero superaria muito os magros149.493 que o ltimo censo captou(2010), em que, pela primeira vez,fez-se uma pergunta sobre afro-

    descendncia, embora depois de

    uma campanha de sensibilizao

    muito defeituosa e limitada, que

    nunca chegou a explicar o que

    ser afrodescendente.

    Conjuno entre batuque eumbanda

    As religies trazidas pelos escra-

    vizados africanos sobreviveram na

    A pelo menos m

    sculo XIX. Sabemos disso pelo tes-

    temunho de um conhecido psiquiatra

    e ensasta, Jos Ingenieros1, que, em

    um de seus livros, descreve um ritual

    v m 1893. A

    m,

    criana levado por uma mulher negra,

    denominada de danar o santo e

    bastante semelhante s que se ob-

    vm j m

    americano.

    1 Jos Ingenieros (1877-1925): mdico,psiquiatra, psiclogo, farmacutico, es-critor, docente, lsofo e socilogo talo-argentino. Seu livro Evoluo das ideiasargentinas marcou rumos no entendi-mento do desenvolvimento histrico daArgentina como nao. Se destacou porsua inuncia entre os estudantes queprotagonizaram a Reforma Universitria

    de 1918. (Nota da IHU On-Line)

    A presena atual no pas de reli-gies derivadas das africanas expli- do Sul do Brasil e do Uruguai, a par- m 1960. No comeo da dcada de 1970,havia aproximadamente uma dezenade templos, a maior parte dos quaisv m m.

    Embora vrios templos possussempermisso para funcionar legalmen-, m mfrequentes com a polcia, que, sob aacusao de exerccio ilegal da medi-cina, os prendia, chegando s vezesa interromper cerimnias e a destruir m jde culto.

    Durante a dcada de 1970, hou-ve um crescimento lento e silencioso , m

    j havia vrios templos em funciona-mento. Muitos lhos de santo, quepertenciam aos primeiros templos,aps discusses com seus lderes re-ligiosos (pais e mes de santo), viaja-ram ao Brasil especialmente para acidade de Porto Alegre, no Sul embusca de novos mentores sob os quaism -gem religiosa. Ali eles foram iniciadosno batuque, uma variante mais afri-cana de religiosidade afro-brasileira

    originria do Rio Grande do Sul, consi-derada por eles mais poderosa do quea umbanda.

    Aumentaram tambm as visitas A pais brasileiros (ga-) m f -guraes de templos de seuslhos desanto e que, ento, iniciavam novos v.

    Concomitantemente, chegarampais de santo uruguaios para se radi-carem na grande Buenos Aires e for-

    maram uma tradio religiosa comm mrelao brasileira embora deladerive, j que o batuque e a umban-da gachas chegaram a Monteviduuma dcada antes que a Buenos Ai-res. A umbanda no foi deixada delado pelo desenvolvimento do batu-que pelo contrrio, as sesses decaridade semanais realizadas dentro v m v , m -

    da de 1970, a religio A

    Instalou-sea suspeita de

    de animais

    podia levar aoassassinato de

    seres humanos,

    e a umbanda foise transformado,

    cada vez mais,

    em uma religioconsiderada

    ameaadora

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    - conjunta de am-bas as variantes.

    Crescente nmero de templosO retorno democracia, em

    1983, provocou um boom nas ins-cries de templos de umbanda noR N C, de 1984. Muitos templos que funcio-

    navam privadamente abriram suasportas ao pblico; outros, que no ha-vm , m; vtemplos foram abertos com maior as-siduidade do que no perodo anterior.Atualmente, como poca, a maioriados templos est localizada na grandeBuenos Aires. O seu nmero exato , m m-v seriam cerca de trs mil casas de reli-gio podem no ser exageradas. Tam-

    bm existe um nmero crescente detemplos em diversos lugares do inte-rior do pas geralmente nas capitaisprovinciais.

    Alm da umbanda e do batuque, m mm m quimbanda, a variante de religiosida-de afro-brasileira que se caracterizapor render culto aos exs e a pomba--giras. Considerada no comeo parteda umbanda, essa variante adquiriucada vez mais protagonismo at se in-

    dependizar dela e quase ofusc-la nam .

    IHU On-Line Que traos essasreligies mantm de sua matriz brasi-leira e africana? Quais so as maioresdiferenas da prca dessas religiesno Cone Sul em relao ao modelobrasileiro?

    Alejandro Frigerio O batuque2gacho no to conhecido como de-veria ser no prprio Brasil, mas temuma importante presena na parteS que o diferenciam do candombl, avariante mais conhecida e difundidadas religies de matriz africana. A pr- A jprincipalmente ao modelo da umban-da, quimbanda e batuque gachos. v f, j

    2 Sobre o tema, conra a entrevista OBatuque e o negro Rio-Grandense, comNorton F. Corra, publicada no stio doIHU em 26 de novembro de 2012, dispo-nvel em http://bit.ly/URNLle (Nota daIHU On-Line)

    prprio Brasil no h um nico mo-delo, mas sim vrios, de acordo com

    a variante regional (candombl, batu-que, xang, tambor das minas) e asnaes dentro de cada variante. At

    mesmo os templos que pertencem mesma nao dentro da mesma va-riante tm diferenas portanto, no

    devemos superdimensionar a homo- -. A v -as entre templos se translada para

    essas religies se expandem.

    No novo contexto, as diferenasse desenvolvem principalmente emMontevidu (provavelmente por par-te de uma das pioneiras brasileiras da

    religio l, a Me Teta, com casa emLivramento). A principal a existn-cia da chamada umbanda cruzada,

    m .Tmm espirituais chamadas africanos, que

    so espritos dos escravizados jovensque fugiram da escravido e forma-

    ram os quilombos (portanto, diferen-ciam-se dos pretos velhos em idade e

    m ). Em vm Livramento da Me Teta, eles rapi-damente ganharam popularidade noU , m , A-, mou nada conhecidos na umbanda dePorto Alegre.

    VariantesN A, m

    que reivindicam uma linhagem ex-vm m umbanda seguindo os padres dePorto Alegre. Aqueles que reivindi-cam uma linhagem mais uruguaia ou seja, que aprenderam com lde-res uruguaios que reconhecem suadescendncia da Me Teta so mais mcruzada.

    N , mdcada, produziram-se outros de-senvolvimentos inovadores. Princi-palmente a crescente expanso doque se conhece como Religio Afri-cana Tradicionale de variantes afro--cubanas (como a Regla de Ocha e oPalo Mayombe). Em ambos os casos,como parte de um processo de rea-fricanizao, de busca de conheci-mentos considerados mais puros,mais prximos da raiz africana e com

    um melhor conhecimento da tradi-o original e, portanto, tambmcom mais ax ou fora espiritual. Em, - m-banda, de quimbanda, de batuqueque, desconformes com o nvel deconhecimento religioso dessas va-riantes, buscam aprofund-lo inician-- m . O Religio Africana Tradicional buscamna tradio africana divinatria de Ifae no seu vasto corpusm -

    valente a um livro sagrado ociden-tal. Para isso, conseguem mentoresnigerianos, geralmente de Il If, ouse tornam discpulos dos pioneiroslocais que foram iniciados h (uru-, , m m ,um brasileiro que h muito tempose radicou no pas). Outros buscam amesma coisa, mas nas tradies afro--cubanas. Em ambos os casos aindaso desenvolvimentos minoritrios,mas com muita visibilidade den-

    tro do mundo religioso e em francocrescimento.

    A religio na

    A j,principalmente,

    ao modeloda umbanda,quimbanda e

    batuque gachos. v

    diferenas, j que

    no prprio Brasilno h um nico

    modelo, mas simvrios

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    Exu Caveira e Gauchito GilO abandono do batuque (no

    v -na) ou o seu complemento com pr- v f m m m ,m m m causam fortes debates locais.

    Outro desenvolvimento re- v uma maior pureza, mas sim de umm v presena de devoes populares ar- m.Principalmente, de San La Muerte, m Ex Cv, m m m -veira e com o cemitrio como lugar demorada. Esse processo parece ocorrerjuntamente com a expanso da um-banda e da quimbanda (em menor

    medida, do batuque) entre setores m 15 m, -tes pertenciam majoritariamente classe mdia baixa. Timidamente (em), - , m templos, tambm aparece o Gauchi- G, maior devoo atual.

    IHU On-Line De matriz africa-na e indgena, como a umbanda re-

    percute entre essas etnias nos outrospases do Cone Sul?

    Alejandro Frigerio Em geral, A m U, mj-tariamente por indivduos que pode-ramos considerar como brancos.Em Montevidu, ocorrem alguns cru-zamentos de religio e raa, j quexm f- -cam e reivindicam a sua origem afroou africana.

    Um desenvolvimento interes- A ,para tentar melhorar a imagem ne-v ( detalho mais abaixo), os umbandistas, m m -v m lugar a expresses culturais negras na , m, vde congressos, publicaes ou inter-venes na mdia, apresentar umav ,

    f cultura nacional como uma forma

    de encontrar um lugar para suas pr- . O f,m, m m muito restritos e no massivos. Asacusaes vigentes desde a dcada 1980 m,principalmente, magia tambm osexcluem de uma nao que se consi-dera no s homognea e europeia,mas tambm moderna, e sobretudoracional, na qual no h espao algum

    e, portanto, nem direitos cidados m m.

    IHU On-Line Muitas vezes, noBrasil, essas religies so alvo depreconceito. Nesse sendo, qual asituao nos outros pases do ConeSul?

    Alejandro Frigerio Apesar daatrao que essas religies tm paraos indivduos que frequentam os seustemplos em busca de soluo para os

    m v , -mental e de trabalho, a umbanda e obatuque so religies socialmente es-m. D m-tade da dcada de 1980, a umbandaadquiriu certa visibilidade nos meiosde comunicao, como um dos novosgrupos religiosos presentes na Argen-. N , -siderada pelos meios de comunicaocomo uma das seitas mais preocu-, m -

    palmente por sociedades protetoras m

    ritual de animais. Se a manipulao da m -naturais (sua nfase na magia) des-pertava suspeitas, o fato de que fossem m mais irritante. Esse foi e ainda oaspecto menos compreendido e maiscontroverso da religio, m-v m f .

    Em meados de 1992, a umbanda v vv jm m m v mbase no assassinato de uma crianano Brasil. A acusao (infundada) deum sacerdote catlico de que umpaide santo muma menina em Buenos Aires ajudoua desencadear umpnico moral sobreas seitas, que deteriorou gravemen-te a imagem das religies no catli-cas e, especialmente, das de origem

    afro-brasileira. Instalou-se a suspeita m levar ao assassinato de seres huma-nos, e a umbanda foi se transformado,cada vez mais, em uma religio consi- m. S perderam totalmente a capacidadede gerenciar a imagem pblica da suareligio e, at hoje, a maior parte dasreferncias a essas religies que apa-recem nos meios de comunicao alu-dem a crimes realizados por supostos

    .

    Contribuio negraDesde meados da dcada de

    1980, os afroumbandistas idealizaramdiversas estratgias para divulgar asua religio e melhorar a sua imagem,m m . A m - f f -deram como aspectos culturais da , ma msica e a dana, e ressaltar a sua

    origem negra e africana em detri-mento da brasileira. Isso lhes permi- f m x m e o patrimnio cultural afro do pas em -sas se correspondem com um lega-do pouco reconhecido, mas valioso, . Rva presena negra no passado argen- - , m j . Cm

    argumento e atravs da realizao devrios congressos e eventos pblicos,

    Em geral, tanto A

    como no Uruguai,essas religies

    majoritariamente

    por indivduos

    que poderamosconsiderar como

    brancos

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    mafricana foram os primeiros a reivin-dicar, no incio dos anos 1990, com al-guma visibilidade social, o patrimnio- f- - afro-americana e antes da revisibi- f-.

    Religio de negrosNo entanto, pela falta de recur-

    sos, os seus esforos para apresentarm v f f-nas cultura nacional como umaforma de encontrar um lugar para as m-vm m .N m , m-sividade das festas para Iemanj nodia 2 de fevereiro (principalmente em

    Mar del Plata, mas tambm na costade Quilmes, na Grande Buenos Aires)se tornaram uma interessante formade ganhar visibilidade nos meios decomunicao fora das pginas poli-ciais. Em Montevidu, onde h maisde uma dcada essa festa representauma das maiores celebraes religio-sas no espao pblico, ela j a prin-cipal carta de apresentao perante asociedade local.

    IHU On-Line Em que medida sepode falar da umbanda e do batuquecomo religies de fronteira enquantocampo social?

    Alejandro Frigerio N A-na, elas no so religies de fronteira.A esmagadora maioria dos templosse encontra na grande Buenos Aires, x para outras cidades do pas.

    A m-pos sociais transnacionais, na medidaem que os pais e mes mantm con-, m m , m iniciadores em Porto Alegre ou emMv , mm, Hv-na ou Il If. Os membros dessas fa-mlias e linhagens religiosas formamuma comunidade transnacional de, m m mque um aspecto muito importantede suas vidas, tanto ritual como di-, fm pelo que acontece na casa de seu paiou av de santo, em outro pas, a cen-

    m .

    Os campos sociais transnacio-nais criados por linhagens religiosas f- A m mm , -nos e sobrepostos: um com seu vr- PA; m m m vapontando para Montevidu. Para

    algumas linhagens religiosas, Monte-vidu vista como a Meca e o pice ; -tras, Porto Alegre. Com o tempo, o Mv-du se tornou maior, igualando (outalvez ultrapassando) aquele voltado P A. T m-res, correspondendo a campos so-ciais criados por outras variantes dereligies afro-brasileiras presentes A, m B

    (Candombl), Cuba (Santeria) e agoratambm, depois do desenvolvimen-to do movimento de reafricanizao,para a Nigria. O nmero de indivdu- m transnacionais muito menor do queaquele correspondente ao batuque.No h mais do que uma dzia detemplos de Candombl em BuenosAires, talvez 20 ou 30 templos de San-, 20 mm -car, alm da venerao do orix, adivi-

    If. O m ,apesar de seu pequeno nmero, setornaram importantes simbolicamen- m .

    D m , f Atornou possvel a existncia de novosespaos sociais transnacionais onde m -, - .Atravs de internet, o conhecimento

    religioso circula de maneira nuncav; v e transnacionais so formadas e exibi-das; alianas so forjadas e rompidas;e novos entendimentos, alcanadossobre crenas, rituais e histria.

    IHU On-Line Como podemoscompreender a transnacionalizaodas religies, como no caso destasque so foco de seu estudo?

    Alejandro Frigerio Para enten-der como essas religies to poucoenraizadas na cultura local podem ter

    xito, necessrio compreender queelas possuem ao contrrio do quem m m - m x mm . A -m -sidade popular e a umbanda incluem: m m m (/)

    que podem ajudar as pessoas a resol-v m ; relaes que o indivduo mantm como mundo espiritual; e que estas rela-es e, consequentemente, a vida doindivduo podem ser favorecidas me-diante a entrega das oferendas ade-quadas; e o conceito de que os seresespirituais podem se comunicar dire-tamente com o homem comum.

    Grande parte dessas crenas e

    m so vistas com bons olhos pelos sa-cerdotes catlicos, que tentam incul-car que os santos so principalmentemodelos de vida e no dispensadoresde graas, e que no aprovam a rela- m costumam estabelecer com eles. Nostemplos de umbanda e batuque, aocontrrio, essas ideias no s encon-tram acolhida, mas tambm existe,alm disso, um formidvel arsenal

    m- , f-rendas e os seres espirituais passveis m m prprio. O sistema de crenas das f- m refora as ideias j presentes naque-les que se aproximam dos seus tem-plos sobre a causalidade dos seusproblemas.

    Os pais e mes locais realizaramgrandes esforos de traduo dos

    novos conceitos religiosos, levandom m crenas preexistentes na sociedade. A mcomo uma ponte ou etapa interme-diria entre o catolicismo popular eo batuque parece ser uma estratgiam . A -verso nova religio se d, assim, defm , mum deslocamento do indivduo pelosdiversos papis religiosos na medidaem que esteja preparado para com-preend-los e assumi-los.

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    O ovo do Diabo e os jogadoresde futebol como pastoresneopentecostaisTornar-se pastor evanglico a aspirao de muitos jovens brasileiros, e umacarreira plausvel para um ex-jogador de futebol, assinala Carmen Slvia Rial.O neopentecostalismo se difundiu entre atletas desse esporte e oferece umacosmologia da prosperidade

    Por Mrcia Junges

    Apresena do neopentecostalismo nofutebol o novo nexo entre futebol ereligio que a antroploga Carmen Sl-

    via Rial examina em seus recentes estudos. Ofenmeno, disse a pesquisadora na entrevistaque concedeu por e-mail IHU On-Line, coin-cide com o aumento meterico das igrejasevanglicas no Brasil.

    E complementa: o caso dos jogadores defutebol. A doutrina conhecida como Teologiada Prosperidade est na base das igrejas evan- vm m B.Assim, a Modernidade no apenas no acabou

    com a religio, como previam alguns, mas areforou, como o caso do neopentecostalis-mo. De acordo com Rial, o neopentecostalis-mo oferece uma cosmologia capaz de integraras novas experincias de vida destes jogadores(a experincia de viver no exterior, de solido)assim como possibilita, para os jogadores-ce-

    lebridades, viver como milionrios sem culpa.Ao contrrio do catolicismo que prega a simpli-cidade e concentra-se na vida aps a morte, oneopentecostalismo faz das riquezas materiaisprova de um bom dilogo com Deus.

    Carmen Slvia Rial graduada em CinciasSociais e Jornalismo pela Universidade Fe-deral do Rio Grande do Sul UFRGS. dou-tora em Antropologia e Sociologia pela Uni-v P V S. N E Hautes tudes en Sciences Sociales cursoups-doutorado. Leciona no departamento deAntropologia da Universidade Federal de San-

    ta Catarina UFSC. De sua vasta produo bi-, m The Devils Egg:The Football Players as New Missionaries of

    the Diaspora of Brazilian Religions, publicadona obra The Diaspora of Brazilian Religions(Netherlands: Brill, 2013).

    C v.

    IHU On-Line Qual a relaoque podemos estabelecer entre fute-

    bol e religio?Carmen Rial Futebol e religio

    so fcil e interessantemente rela-cionveis no exclusivamente, masespecialmente na Amrica do Sul ena frica. O catolicismo popular e os f- m v-m m futebol. Sapos e galinhas enterradosnos estdios adversrios para que alino se faam gols, oferendas mgi-cas (despachos de macumba) nas es-

    quinas antes de jogos importantes, evisitas de jogadores a casas de cultos

    afro-brasileiros eram comuns no pas-sado e ainda so atos recorrentes que

    buscam uma proteo espiritual supe-rior. Mas todos estes atos eram e socercados de segredo, pois a religio -lica. H capelas catlicas em muitosestdios. O que aparece divulgado naimprensa, quando uma equipe pro- m vm-te, na maioria das vezes guiada pelotreinador, numa igreja catlica. Mas sabido que os jogadores procuramsuporte espiritual tambm em cultos

    afro-brasileiros. Historicamente, osm vm f

    mediao entre os jogadores de fute-bol e os cultos afro-brasileiros, o que

    talvez se deva por sua origem socialcomum.

    Embora no leiamos nada sobre m, m vv m -nue a acontecer, numa escala menor,envolvendo menos jogadores. Sabe-mos com certeza que outros gestosm m por um a cada dois jogadores brasilei-ros, como tocar a grama com a moantes de entrar no campo, entrar no

    gramado sempre com o p direito,chutar as traves do goleiro, etc.

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    San Diego MaradonaDurante minha pesquisa etnogr-

    , m v

    em mais de dez pases, encontrei mui- m m v

    de diferentes estdios pelo mundo:imagens de Cristo e especialmente daVm M, m m-

    te envolvidas com panos azuis (como Py

    em Belm), outras mostrando o ros-to de um Jesus sofredor ornado comuma coroa de espinhos ensanguenta-

    da (clube Seville, de Sevilha). Algunsjogadores ascendem a uma condio

    sagrada aparecendo em psteres, nasparedes de bares e nos quartos de jo-vens. Li manchetes como Deus vive na

    Catalunha no jornal francs LEquipe,o mais importante jornal de esportes

    francs, referindo-se a Messi. Semo Messias no h milagres, clamou

    outra manchete um dia depois que oBarcelona perdeu para o Bayern nam Champions League em

    2013. Este jogo de palavras encontreiem muitos jornais ao redor mundo.

    O j , M,recebeu esse nvel de consagrao eainda mais com a fundao da Igre-

    ja Maradonista. Encontrei templospara Maradona nas ruas de Npoles,

    com sua foto ao lado de Santo Expedi- , abaixo San Diego e Capello de Diego

    Miraculoso Maradona. Poderia ainda v m -

    lizado no tnel de acesso ao campo dejogo do Camp Nou, em Barcelona, ouainda mais surpreendente, um grande

    mm f A m m

    para sempre, suas cinzas mortais sen-do colocadas nas paredes do estdio

    Sanchez Pijun, num memorial que estah metros distante do campo. Agora,o que tenho procurado explorar na

    relao entre religio e futebol no exatamente isso. O que novo na re-lao entre futebol/religio e sobre

    o que tenho escrito a presena doneopentecostalismo no futebol. Isso

    coincide com o aumento metericodas igrejas evanglicas no Brasil.

    IHU On-Line Dentro da pers-

    pecva brasileira, como podemoscompreender esse nexo?

    Carmen Rial Como ia dizendo,

    o nexo atualmente tem como centro

    o neopentecostalismo. Esta presena

    coincide com a virada neopentecostal.

    D m I

    B G E,

    o IBGE, um em cada cinco brasileiros

    so agora evanglicos. Em outras

    palavras, 4,3 milhes de pessoas,

    ou 22,2% da populao brasileira. A

    maioria destes evanglicos formada

    por neopentecostais. Lembrando: o

    movimento pentecostal iniciado nos

    EUA f B

    1910, atravs da Congregao Crist

    e da Assembeia de Deus, que se ini-

    cia em 1911. Essas deram origem nos

    anos 1950 a outras igrejas, como a

    Igreja do Quadrangular, Brasil em Cris-

    to e Deus Amor, que de 1962. Estas

    m vm m m-to muito rpido, que coincidiu com o

    crescimento da populao urbana.

    Em meados dos anos 1970, pas-

    m

    reconhecido como as congregaes

    neopentecostais: Sara nossa Terra1,

    Igreja Universal do Reino de Deus2, de

    1977, Renascer em Cristo3, de 1986,

    1 A Comunidade Evanglica Sara NossaTerra uma Igreja Evanglica neopente-costal do Brasil. Foi fundada em feverei-ro de 1992, em Braslia, pelos bispos Ro-bson Rodovalho e Maria Lcia Rodovalho.(Nota da IHU On-Line)2 Igreja Universal do Reino de Deus(IURD): igreja crist protestante, de ten-dncia pentecostal, fundada no Brasil.Sobre o tema, conra a edio 36 dosCadernos IHU Ideias, intitulada IgrejaUniversal do Reino de Deus no contextodo emergente mercado religioso brasi-leiro: uma anlise antropolgica, dis-ponvel para download em http://bit.ly/15yhyCX. Conra, ainda, a entrevis-ta Neopentencostais e religies afro--brasileiras. Uma guerra instituda?, comVagner Gonalves da Silva, publicada em

    14-04-2009, nas Notcias do Dia do IHU,disponvel para download em http://bit.ly/11VNhvE. Leia, tambm, a entrevistacom Toni Andr Scharlau Vieira, A com-pra da Guaba e do Correio do Povo pelaIURD, publicada em 16-03-2007, dispon-vel em http://bit.ly/10fDTGK. (Nota daIHU On-Line)3 Igreja Apostlica Renascer em Cristo:denominao evanglica neopentecostalfundada em So Paulo, em 1986, por Es-tevam Hernandes e Snia Hernandes. AIgreja Renascer possui uma rede de TV,uma gravadora, rede de rdio, uma edi-tora e uma linha de confeces; no Brasilh cerca de 600 templos e mais de doismilhes de seguidores. A Renascer asegunda maior denominao neopente-costal brasileira. (Nota da IHU On-Line)

    Bola de Neve4, no ano 2000, etc. Comoexplicar esta expanso? Bem, o Bra-sil tem experimentado um prsperomomento de crescimento econmico m , m mgraas exportao das chamadasmm (m m -tao internacional, como minriosou produtos agrcolas) e ao seu bom

    preo no mercado global. Com uma -tentada por impostos, a economia do v x m 52 m pessoas da pobreza e em integr-lasnuma nova classe mdia baixa comdiferentes padres de consumo e ex-v v.

    Ainda assim, enormes desigual-dades econmicas permanecem. E aomesmo tempo observamos um fortemovimento de deslocamento em di-

    reo aos centros urbanos, para asgrandes capitais mas tambm desdeos anos 1980, para o exterior. Estesm fm v x, funcionam como um alvio num con-texto nem sempre cordial.

    Teologia da prosperidadeA maioria dos neopentecostais

    esto entre a baixa classe mdia. As m

    lhes dar suporte para enfrentar novasrealidades na sociedade, como a com- , mesmo tempo em que permitem quegozem seus novos status, seus novosbens de consumo, sem culpa.

    o caso dos jogadores de fute-bol. A doutrina conhecida como Te-ologia da Prosperidade est na base j v vmmaior sucesso no Brasil. Assim, a Mo-dernidade no apenas no acabou

    com a religio, como previam alguns,mas a reforou, como o caso doneopentecostalismo.

    IHU On-Line Como podemoscompreender o fenmeno dos joga-

    4 Bola de Neve Church ou Igreja Bolade Neve: denominao protestantepentecostal fundada no ano 2000 porRinaldo Lus de Seixas Pereira (ApstoloRina). O nome Bola de Neve vem daproposta dos fundadores que tinham porobjetivo propagar o trabalho como umabola de neve, aumentando de tamanhoe alcance ao longo do tempo. (Nota daIHU On-Line)

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    dores de futebol como novos mis-sionrios na dispora das religiesbrasileiras?

    Carmen Rial Tornar-se um pas-tor evanglico o sonho de muitos jo-vens pelo pas e uma possvel carreirapara um ex-jogador de futebol. Cursosintensivos so oferecidos por algumasdessas igrejas neopentecostais, por

    menos de R$900, e duram alguns diasapenas. Um pastor neopentecostal ta-lentoso pode fazer mais de R$20 milpor ms nessas igrejas.

    Todas as denominaes neopen-tecostais tm a misso de convertero mundo sua crena. Para alcanar jv, -ministradas como se fossem um ne-gcio e fazem extenso uso dos meiosde comunicao de massa. atravstambm destes meios que as religies

    neopentescostais brasileiras foramdisseminadas entre a dispora brasi-leira no exclusiva mas principalmen-te atravs dos canais de mdia.

    Durante meu trabalho de campo,notei que jogadores na Espanha, Ho-landa, Frana, Japo, Canad e Mar- m vbrasileira Record todos os dias. Tam-bm a Globo, mas a Record tem estapresena religiosa mais marcada. Elaest presente em mais de 80 pases,

    um poderoso canal de disseminaodos preceitos da Igreja Universal doReino de Deus.

    Na pesquisa, notei tambm queos jogadores faziam constantes refe-rncias a Deus e a Jesus, em suas en-trevistas com a mdia. Muitas frasesou comentrios que comeam ou ter-minam com a vontade de Deus ouobrigado, Deus, alm de gestos emcampo de agradecimento a Deus, ede inscries de palavras sagradas em

    suas camisetas (Deus minha fora,Obrigado Jesus). Isso faz com que,constantemente, os fs no estdio ea audincia da televiso sejam lem- m D.E m m -dincia global de televiso promovemmundialmente a f e se estabelecemm v v m m v mcampeonato.

    IHU On-Line Quais so ospases nos quais esse neopentecos-

    talismo tem sido professado pelos

    atletas?

    Carmen Rial As igrejas pen-

    tecostais esto presentes em cerca

    de 200 pases no mundo, e os fute-

    bolistas brasileiros, presencialmente

    ou via mdia, esto em todos. Minha

    pesquisa com os jogadores levou-me

    a 15 pases: Espanha (Sevilha, Madri,Barcelona), Canad (Toronto), Ho-

    landa (Almelo, Groningen, Alkmaar,

    Rm Amm), J (T-

    quio); Frana (Lyon, Le Mans, Nancy

    and Lille), Mnaco, Blgica (Charle-

    roi), Grcia (Athens), China (Honk-

    -Kong), ndia (Nova Delhi e Bombaim);

    Singapura, Austrlia (Perth, Adelaide,

    Melbourne, Sidnei), Coreia do Sul

    (Seul); Marrocos (Marrakesh); Uru-

    guai (Montevideo) e Brasil (Fortaleza,

    Salvador e Belm), e em todos havia j m

    na f uma aliada para a saudade, o

    m mv ,

    v , .

    IHU On-Line Em que medida a

    imigrao um fator importante para

    compreender a transnacionalizao?

    Carmen Rial Imigrao/emigra-

    o e transnacionalismo so conceitos

    que devem ser usados com cuidado.

    Nem todo o deslocamento para o ex-

    m-

    o e nem toda a entrada num pas

    pode ser considerada imigrao. Os

    jogadores com que conversei moram

    no exterior, mas no se consideram

    e no so vistos como imigrantes

    nos pas de acolhimento. Imigrantes

    so os pobres, os que chegam semdocumento, os que fazem trabalhos

    manuais que os trabalhadores locais

    recusam ou aceitam, mas por salrios

    maiores. J transnacionalizao um

    fenmeno prprio dos processos de

    globalizao que aponta para o ultra-

    passar fronteiras nacionais (que con-

    m x, -

    m f, m m m

    nacional). Imigrantes transnacionais(tambm chamados de transmigran-

    tes) so pessoas que se deslocaram de

    m , m m

    mantendo fortes laos com a nao

    de origem. o caso de grande parte

    dos cerca de 3,5 milhes emigrantes

    brasileiros, hoje, que vivem no ex-

    m m

    dirio com o Brasil atravs das redes

    Globo e Record, do Skype, internet de

    modo geral, de restaurantes brasilei-

    ros e de igrejas brasileiras.

    IHU On-Line Qual o nexo que une

    esses atletas ao neopentecostalismo?

    Carmen Rial A religio (ou me-

    lhor, a f, como muitos me disseram,

    nem se trata de uma religio, mas de

    ter f) oferece ao jogador de futebol

    fora extra e habilidade de expandir

    os limites de seus corpos e resis-tncia, como o antroplogo Marcel

    Futebol ereligio so fcil e

    interessantementerelacionveis

    noexclusivamente,

    mas

    especialmentena Amrica do

    Sul e na frica.

    O catolicismopopular e os cultos

    afro-brasileirosm vm

    mpresentes no

    futebol

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    Tema

    deCapa

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    www.i

    hu.unisinos.br

    Mauss5 j nos ensinou em um textomuito famoso: As tcnicas corpo-rais. Para os que vivem no exterior, areligio fornece uma forte fundao j estar distante de um Brasil imagina-do, de suas famlias e amigos de in-f, m . A

    religiosos so como instrumentospara gerir a fama e a fortuna, que, semal gerenciados, podem levar tantopara uma carreira curta no futebolcomo para perda da alma. O neo-pentecostalismo oferece uma cos-mologia capaz de integrar as novasexperincias de vida destes jogado-res (experincia de viver no exterior,de solido) assim como possibilita,para os jogadores-celebridades, vi-ver como milionrios sem culpa. Ao

    contrrio do catolicismo que prega asimplicidade e concentra-se na vidaaps a morte, o neopentecostalismofaz das riquezas materiais prova deum bom dilogo com Deus.

    IHU On-Line Qual a relaoentre a autodisciplina e a Teologiada Prosperidade professada nessescredos?

    Carmen Rial A adeso de milio-nrios do futebol s igrejas neopente-costais coincide com a adoo da Teo-

    logia da Prosperidade nos anos 1970pelas igrejas pentecostais brasileiras.At ento, seguidores do pentecosta-lismo, autodeclarados crentes, eramconhecidos por sua adoo a certasnormas rgidas de conduta. Eles eramproibidos de desfrutarem prazer nes-ta vida, como beber lcool, escutarm, v f xantes do casamento. Esportes e apos- vm v -bidas. A Teologia da Prosperidade,

    , o direito de aproveitar sua felicidadena Terra, e que eles poderiam buscar

    5 Marcel Mauss (1872-1950): socilogoe antroplogo francs, reetiu sobre aarbitrariedade cultural de nossos com-portamentos mais casuais, denindo ocorpo como o primeiro e mais naturalobjeto tcnico e, ao mesmo tempo, meiotcnico do homem. Sobre Marcel Mauss,leia a entrevista de Alain Caill publicadana IHU On-Line, n. 96, de 12-04-2004, apropsito da publicao do livro HistriaArgumentada da Filosoa Moral e Polti-ca, disponvel para download em http://migre.me/s99D. (Nota da IHU On-Line)

    f . Anovas denominaes pentecostais, asneopentecostais, agregaram princ-pios de autoajuda e controle mental(m v) bblica. Os crentes estavam agora li-vres para expressar a si mesmos peloconsumo de bens, msica e esportes,integrando esses prazeres na sua vida

    .

    IHU On-Line Em que sendo ofutebol serve como um palco para apregao?

    Carmen Rial Levantar suasmos ao cu para celebrar um gol,ajoelhar-se aps fazer um gol ou pro-ferir alguma beno depois de errar o mm muito comuns. Por exemplo, depois C M

    Brasil 2002, vencida pelo Brasil, Kak m v outra onde se lia Eu perteno a Je-. E m mem Milo, em 2004, quando venceu S f Cm-pions League, em 2007. Ele tambmtem esta mesma frase, acompanha-da de Deu Fiel gravada nas suaschuteiras.

    Estas imagens so propagadaspelos canais da mdia (no que umantroplogo indiano, Arjun Appa-

    durai, chama de mediascape). Essesgestos simblicos promovem cren-as religiosas em escala global, comom posso pegar emprestado o termo denacionalismo banal cunhado porBillig (1995), para se referir cons- m m -cimento a uma nao, feito diaria-mente, atravs de representaes danao como bandeiras ou o cantarde hinos. Eles silenciosamente se in-

    m v m espectadores, como algo sem im-, m v m espectadores, do mesmo modo queo nacionalismo construdo por umabandeira pendurada e sem ser nota-da num prdio pblico.

    IHU On-Line Na perspecva deseus estudos, qual o sendo das ex-presses ovo do Diabo e religiosi-

    dade banal?

    Carmen Rial Ovo do Diaboera como os crentes fiis dasigrejas pentecostais clssicas, comoa Assembleia de Deus chamavama bola de futebol (ou de outro es-porte), j que os jogos e divertimen-tos em geral lhes eram proibidos.Religiosidade banal um modo declassificar estas prticas que tm um

    fundamento religioso, mas que sorealizadas fora dos templos, sem osrituais caractersticos das religies.So prticas que se infiltram na vidadas pessoas quando esto usufruin-do uma atividade que nada tem aver em princpio com a religio,como o caso do futebol. Por issobanal, no sentido que Arendt6deu ao termo, de algo silencioso,mas nem por isso menos eficiente.Esta banal religiosity transmite-se

    atravs da media e tem o potencialde fazer aumentar o contingentede crentes. Nesse sentido, os joga-dores de futebol so soldados daf, pastores globais que tambmsustentam financeiamente as igrejasneopentecostais, pagando o dzimo se no decidirem por eles mesmosabrirem uma Igreja, como foi o casode Jorginho, em Munique, e passama ser empresrios missionrios.

    6 Hannah Arendt(1906-1975): lsofa esociloga alem, de origem judaica. Foiinuenciada por Husserl, Heidegger eKarl Jaspers. Em consequncia das per-seguies nazistas, em 1941, partiu paraos EUA, onde escreveu grande parte dassuas obras. Lecionou nas principais uni-versidades deste pas. Sua losoa as-senta numa crtica sociedade de mas-sas e sua tendncia para atomizar osindivduos. Preconiza um regresso a umaconcepo poltica separada da esferaeconmica, tendo como modelo de ins-pirao a antiga cidade grega. Entre suasobras, citamos: Eichmann em Jerusalm- Uma reportagem sobre a banalidade do

    mal (Lisboa: Tenacitas. 2004) e O SistemaTotalitrio (Lisboa: Publicaes Dom Qui-xote.1978). Sobre Arendt, conra as edi-es 168 da IHU On-Line, de 12-12- 2005,sob o ttulo Hannah Arendt, Simone Weile Edith Stein. Trs mulheres que marca-ram o sculo XX, disponvel para down-load em http://bit.ly/qMjoc9 e a edio206, de 27-11-2006, intitulada O mundomoderno o mundo sem poltica. Han-nah Arendt 1906-1975, disponvel paradownload em http://bit.ly/rt6KMg. NasNotcias Dirias de 01-12-2006 voc con-fere a entrevista Um pensamento e umapresena provocativos, concedida comexclusividade por Michelle-Irne Brudnyem 01-12-2006, disponvel para down-load em http://bit.ly/o0pntA. (Nota daIHU On-Line)

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    A umbanda no Japo e a buscapela ressignicao da vida dosnipo-brasileirosPara Ushi Arakaki, o fenmeno da transnacionalizao das religies brasileiras noJapo est ligado a um contexto histrico e social peculiar em relao aos processosmigratrios internacionais. A busca por novas religies representa a procura por apoioemocional para lidar com situaes adversas

    Por Mrcia Junges

    Tratados no Brasil como japoneses, e noJapo como brasileiros, os imigrantesnipo-brasileiros experienciam uma rene-

    ma buscar elementos que reforcem sua noode pertencimento ao Brasil. A rejeio tnicasofrida pelos imigrantes faz com que eles seisolem dentro da comunidade transnacional.A explicao da antroploga Ushi Arakaki, naentrevista que concedeu por e-mail IHU On--Line. O -dade vivida pelos nipo-brasileiros gera umademanda por smbolos religiosos que possam

    f-, m. x deve ser compreendida a transnacionalizaoda umbanda no Japo. Os primeiros terreiros dem J m 1990, criados por imigrantes nipo-brasileiros m m v -trais, observa Arakaki. Desde ento a umban- vm , m exclusivamente por brasileiros. Os poucos japo-neses que frequentam os terreiros vo acom-panhados por amigos brasileiros e raramentem- f -

    duos. Eles buscam solues mgicas para seusproblemas.

    Ushi Arakaki graduada em Psicologia pelaUniversidade Federal do Paran UFPR. Cursoumestrado em Cooperao Internacional e Ges-

    Pj I Uv Oy Gasset, na Espanha e em Antropologia Cultu-ral pela Universidade de Osaka, no Japo, coma tese Deterritorialized Etho-cultural Noon ofBelonging The case of Brazilian Nikkeijin ado-lescents in Hamamatsu, Japan. PhD em Antro-pologia Cultural tambm pela Universidade deOsaka com a tese Umbanda and Ethno-CulturalIdenty in Japan: an ambivalent religion

    for an ambivalent people. E 2010 de 2012 coordenou a negociao de Acordos deCooperao Triangular para projetos de desen-volvimento atravs da Agncia de Cooperao

    I J (JICA), m Programa de Parceria Brasil Japo (JBPP) compases membros da CARICOM como Santa L-, S V G, G, Dm-, B H m f mMoambique e Angola. Atualmente, trabalhano Rio de Janeiro como assessora para implan-tao do Parque Olmpico, na Casa Civil da Pre-feitura do Rio de Janeiro e presta consultoriapara programas de desenvolvimento das comu-nidades que vivem na rea do Porto Maravilha. Japanese Brazilians among

    Pretos-Velhos, Caboclos, Buddhist Monks andSamurais: An Ethnographic Study of Umbandain Japan, The Diasporaof Brazilian Religions(Netherlands: Brill, 2013).

    C v.

    IHU On-Line Qual o contex-to histrico e social no qual se d atransnacionalizao das religies bra-sileiras no Japo?

    Ushi Arakaki O imaginrio detodos os trabalhadores imigrantes em

    qualquer par