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III ème Colloque franco-latino-américain de recherche sur le handicap Proposta de sessão temática Título: Acessibilidade estética para pessoas com deficiência visual em museus de artes e de ciências imagens táteis e estratégias multissensoriais Coordenador: Virgínia Kastrup Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro [email protected] Diversas estratégias para a acessibilidade de pessoas com deficiência visual vem sendo desenvolvidas e experimentadas em museus e centros culturais de todo o mundo. Num primeiro sentido, a noção de acessibilidade remete a dispositivos técnicos que facilitem o acesso aos prédios públicos e assegurem o conforto das pessoas com deficiência visual. Num sentido mais amplo, a noção possui uma dimensão não apenas técnica, mas também política, na medida em que indica o reconhecimento da existência dessas pessoas e o valor de sua participação na vida da cidade. No campo cultural, um dos grandes desafios é desenvolver dispositivos e estratégias para que pessoas cegas e com baixa visão tenham acesso ao patrimônio dos museus. Neste domínio, há que se distinguir a acessibilidade física, a acessibilidade à informação e a acessibilidade estética. A acessibilidade física diz respeito ao acesso e deslocamento no espaço do museu, incluindo desde os meios de transporte, até a sinalização sonora e pisos táteis. O acesso à informação é oferecido por placas e textos em Braille e pela descrição das obras pelo áudio-guia. Já a acessibilidade estética coloca um maior número de problemas, pois passa pela apreciação tátil das obras. Além da resistência por parte de curadores ao toque em obras como esculturas e objetos, um dos grandes desafios da acessibilidade estética é a criação de estratégias e dispositivos capazes de traduzir obras bidimensionais como pinturas, desenhos, gravuras e fotografias. Nos últimos anos, tem havido um investimento crescente na produção de imagens táteis por museus para a acessibilidade de pessoas com deficiência visual, como na Cité des Sciences & de l'Industrie em Paris, na França. Estes dispositivos visam o acesso de pessoas cegas a

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III ème Colloque franco-latino-américain de recherche sur le handicap

Proposta de sessão temática

Título: Acessibilidade estética para pessoas com deficiência visual em museus de

artes e de ciências –imagens táteis e estratégias multissensoriais

Coordenador:

Virgínia Kastrup –Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal

do Rio de Janeiro

[email protected]

Diversas estratégias para a acessibilidade de pessoas com deficiência visual vem sendo

desenvolvidas e experimentadas em museus e centros culturais de todo o mundo. Num

primeiro sentido, a noção de acessibilidade remete a dispositivos técnicos que facilitem

o acesso aos prédios públicos e assegurem o conforto das pessoas com deficiência

visual. Num sentido mais amplo, a noção possui uma dimensão não apenas técnica, mas

também política, na medida em que indica o reconhecimento da existência dessas

pessoas e o valor de sua participação na vida da cidade. No campo cultural, um dos

grandes desafios é desenvolver dispositivos e estratégias para que pessoas cegas e com

baixa visão tenham acesso ao patrimônio dos museus. Neste domínio, há que se

distinguir a acessibilidade física, a acessibilidade à informação e a acessibilidade

estética. A acessibilidade física diz respeito ao acesso e deslocamento no espaço do

museu, incluindo desde os meios de transporte, até a sinalização sonora e pisos táteis. O

acesso à informação é oferecido por placas e textos em Braille e pela descrição das

obras pelo áudio-guia. Já a acessibilidade estética coloca um maior número de

problemas, pois passa pela apreciação tátil das obras. Além da resistência por parte de

curadores ao toque em obras como esculturas e objetos, um dos grandes desafios da

acessibilidade estética é a criação de estratégias e dispositivos capazes de traduzir obras

bidimensionais como pinturas, desenhos, gravuras e fotografias. Nos últimos anos, tem

havido um investimento crescente na produção de imagens táteis por museus para a

acessibilidade de pessoas com deficiência visual, como na Cité des Sciences & de

l'Industrie em Paris, na França. Estes dispositivos visam o acesso de pessoas cegas a

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conteúdos informacionais, artísticos e figurativos da cultura visual, traduzidos em

imagens para tocar. Contudo, a utilização de imagens táteis para o acesso à experiência

estética de obras de arte bidimensionais ainda coloca grandes desafios e requer uma

ampla discussão, que leve em conta a heterogeneidade e a singularidade dos modos de

perceber das pessoas com deficiência visual. Por sua vez, o Centro Cultural do Banco

do Brasil do Rio de Janeiro começou seu programa de acessibilidadecom uma ampla

utilização de placas táteis. Posteriormente, passou a experimentar atividades e

dispositivos multissensoriais que trabalhavam os conceitos das obras e proposições

corporais diversas, obtendo resultados mais significativos. O objetivo da seção temática

Acessibilidade estética para pessoas com deficiência visual em museus de artes e de

ciências é realizar uma discussão crítica acerca da utilização de imagens táteis como

dispositivos para o acesso à experiência estética de pessoas com deficiência visual no

encontro com obras de arte bidimensional. É também apontar dispositivos e estratégias

multissensoriais capazes de criar condições para uma experiência que ultrapassa o nível

da informação e identificação de formas, gerando o desejo de aprender e ir além do

mero reconhecimento. A discussão toma como base conhecimentos da psicologia

cognitiva da deficiência visual e experiências realizadas em museus de artes e de

ciências, no Rio de Janeiro e em Paris. Perceber uma imagem tátil pode ser uma

tarefamuito difícil, principalmente nas primeiras vezes. Por outro lado, proposições de

exploração corporal, conceitual e multissensorial de obras de arte têm se mostrado um

caminho fértil para a acessibilidade estética, gerando o desejo nas pessoas com

deficiência visual de frequentar instituições culturais. Para tratar deste tema,

apresentaremos os trabalhos Questões teóricas e políticas acerca da acessibilidade

estética, de Virgínia Kastrup, Para além das placas táteis: experiências em

acessibilidade no CCBB-RJ, de Raquel Guerreiro, Adapter des expositions de

science: La Cité des sciences 30 ans d’accessibilité, de Nathalie Joncour e

Illustration avec un projet précis: La Carte du Ciel em braile et en relief, de

Barbara Chauvin. O primeiro trabalho apresenta as questões teóricas e políticas acerca

da acessibilidade estética para pessoas com deficiência visual enquanto que os outros

três trabalhos apresentam experiências em acessibilidade, no Centro Cultural do Banco

do Brasil, no Rio de Janeiro, e na Cité des Sciences et de l’Industrie Universcience

(Palais de la découverte), em Paris, na França.

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Palavras-chave: acessibilidade estética; museus acessíveis, deficiência visual;

imagens táteis

Línguas de comunicação: Português e Francês

Comunicações que compõem a sessão temática:

1) Questões teóricas e políticas acerca da acessibilidade estética

Virginia Kastrup

Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro

O conceito de acessibilidade estética voltada para pessoas com deficiência

visual, que dá título à sessão temática e à minha própria comunicação, merece ser

definido logo de saída. Quando falamos em acessibilidade, normalmente nos vem à

cabeça a acessibilidade física. Tal acessibilidade é necessária, mas não é suficiente para

que pessoas cegas e com baixa visão tenham acesso aos museus de artes e de ciências.

A acessibilidade física diz respeito ao acesso e deslocamento no espaço do museu,

incluindo desde os meios de transporte, até a sinalização sonora e pisos táteis. Há um

segundo tipo de acessibilidade que remete ao acesso à informação. A acessibilidade

informacional é oferecida por placas e textos em Braille e pela descrição das obras pelo

áudio-guia. Já a acessibilidade estética coloca um maior número de problemas, pois

passa pela apreciação tátil das obras.

Além da resistência por parte de curadores ao toque em esculturas e objetos, um

dos grandes desafios da acessibilidade estética é a criação de estratégias e dispositivos

capazes de traduzir obras bidimensionais como pinturas, desenhos, gravuras e

fotografias. O objetivo desta comunicação é, partindo dessa distinção entre a

acessibilidade física, a acessibilidade à informação e a acessibilidade estética, discutir

alguns problemas teóricos e políticos que cercam o acolhimento de pessoas cegas em

museus de arte. Para isso, vamos abordar algumas propriedades cognitivas do tato e

analisar sua capacidade estética, bem como discutir os problemas que rondam a

autorização do toque nas obras nos museus, cujas razões por vezes são estritamente

técnicas, mas muitas vezes também são políticas. Os museus são tradicionalmente

instituições voltadas para a apreciação eminentemente visual das obras, onde o toque é

proibido. Por outro lado, a história da filosofia é plena de considerações sobre uma

suposta superioridade da visão para a experiência estética, chegando a ser questionada a

própria possibilidade de uma experiência estética tátil (Revesz, 1950). Sendo assim, do

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ponto de vista dos museus, a acessibilidade para pessoas cegas é quase sempre

considerada complicada, suscitando resistências e polêmicas, pois ela problematiza

tanto a lógica da conservação quanto crenças estéticas, ambas muito arraigadas

(Candlin, 2004).

Constance Classen (2005) analisa a história da proibição do tato nos museus,

apontando que no século XVIII os museus da Europa não apenas autorizavam o toque,

mas o consideravam como um importante adjunto da apreciação visual, possibilitando

um encontro mais íntimo com os objetos antigos, raros e curiosos que faziam parte do

patrimônio dos museus. A situação muda no século XIX quando, com o capitalismo

industrial, aumenta fortemente o número dos visitantes dos museus, que não se

restringem mais às elites, mas incluem as classes trabalhadoras. A preocupação com a

proteção dos objetos não é a única causa da proibição do toque nos museus. Há diversos

outros obstáculos teóricos, atitudinais e políticos que precisam ser problematizados e

analisados à luz de estudos científicos.

Do ponto de vista museológico propriamente dito, a questão do toque nos

museus e outras instituições de patrimônio tem sido amplamente discutida e sua

importância vem sendo defendida por diversos autores que destacam seu papel na

produção de interesse, prazer e inspiração para a aprendizagem. Fiona Candlin (2004;

2006) é uma das autoras que mais tem apontado a importância da manipulação de

objetos e outras formas de engajamento sensorial para que os museus cumpram seu

papel como espaços de aprendizagem informal e inclusão social. Diversos estudos (Pye,

2007; Chatterjee, 2008) buscam a reavaliar a proibição do tato e mesmo encorajá-lo.

Além de apontar que o maior número de danos sofridos pelos objetos dos museus

ocorre durante o transporte entre instituições, há estudos que sugerem o

desenvolvimento de pesquisas sobre os reais danos que podem ser causados pelo toque.

Levantam também a possibilidade do treinamento das habilidades de manuseio pelas

pessoas cegas, tal como ocorre na formação de conservadores e curadores.

Tato e experiência estética

Segundo John Dewey (2005) a experiência estética possui uma unidade,

incluindo de modo indistinto as dimensões emocional, prática e intelectual. É a

dimensão emocional que responde pelo caráter de totalidade da experiência. A emoção

é uma qualidade da experiência, ou seja, a experiência estética é emocional. Mas não

existem nela coisas separadas chamadas emoções. A experiência estética é distinta da

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experiência de reconhecimento, que é uma percepção interrompida, no sentido em que

ela é rebatida sobre a experiência passada, fazendo com que o novo perca seu estatuto

de surpresa e novidade. Já a experiência estética consiste em se deixar impregnar, em

mergulhar no objeto ou situação com atenção, evitando a interrupção precipitada e o

acionamento imediato da ação que está a serviço da vida prática.

No caso do toque em obras de arte, é preciso que a dimensão funcional do tato

ceda lugar à dimensão estética. As pessoas com deficiência visual podem encontrar

dificuldades para a suspensão da dimensão funcional do tato e torná-lo receptivo à

experiência estética. Em função de problemas que enfrentam no dia a dia, sobretudo o

deslocamento espacial na cidade, a atenção funcional funciona aí como um poderoso

dispositivo de autocontrole. Pela ausência da visão, da percepção global à distância e

pela reduzida capacidade de previsão, essas pessoas desenvolvem uma atenção

permanentemente alerta aos obstáculos que podem surgir de modo inesperado,

tornando-as vulneráveis a acidentes. Por esta razão, a atenção aos signos táteis, e

também aos auditivos, possui uma forte tendência para a identificação de objetos. A

mobilização constante e sistemática dessa atenção sempre alerta traduz-se numa

disposição perceptiva para a função de reconhecimento. Por exemplo, ao caminhar pela

rua a percepção é absorvida pela busca de informação, ficando quase nada ou às vezes

nada disponível para a apreciação estética.

A cognição se organiza com uma tensão de fundo, diversas vezes traduzida

numa postura corporal rígida. A experiência estética, por seu caráter de mergulho no

objeto, produz uma redução da atenção aos estímulos circundantes e cria uma condição

de vulnerabilidade. Por outro lado, quando realizada, pode produzir momentos de

distensão, exercitando uma outra disposição cognitiva.

Para Rudolf Arnheim (1986) a educação artística e a aprendizagem com base na

experiência estética são baseadas em desafios perceptivos, que mobilizam a capacidade

de aprender, interpretar, elucidar e aperfeiçoar-se. Os desafios perceptivos de caráter

estético são diferentes dos estímulos sensoriais que produzem apenas a intensificação da

percepção, como o excesso de informação do mundo atual e as drogas de enhacement

cognitivo. No caso da pessoa com deficiência visual, é importante sublinhar que não

estamos nos referindo ao um suposto desafio perceptivo que seria colocado pela

deficiência própria visual. A experiência estética tátil diz respeito ao caráter

surpreendente ou enigmático da percepção, que puxa para além da dimensão objetiva e

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material do objeto. Os museus devem cultivar a experiência estética e desencadear, a

partir dela, processos de aprendizagem.

Num texto sobre arte com pessoas cegas Arnheim (1990) discute longamente os

aspectos perceptuais e artísticos da questão. Ele parte da ideia de que a arte envolve

sobretudo o caráter dinâmico e expressivo da forma e afirma, contra Revesz (1950), a

legitimidade da experiência estética tátil. O tato permite às pessoas cegas a apreensão

das formas, aí compreendida também sua dimensão dinâmica. Afirma que a ideia de que

os cegos seriam desprovidos de uma percepção gestáltica, tão indispensável na

apreciação estética quanto dominante na visão, é derivada uma interpretação equivocada

tanto do tato quanto da visão. A percepção tátil exploratória, também chamada

percepção háptica, é capaz de criar a imagem do todo através de sucessivos atos de

fixação. Os estudos de Hatwell (2003) e de Hatwell, Streri e Gentaz (2000) confirmam

amplamente tais ideias e constituem hoje referências nos estudos do tato. É certo que,

no caso da visão, a presença constante do campo perceptivo facilita em muito a síntese

das fixações e a percepção da totalidade. Mas a síntese em nível perceptivo é

característica de todas as modalidades perceptivas. A visão também não processa todos

os seus componentes num único ato. Por outro lado, a exploração tátil com as duas

mãos funciona como uma espécie de orquestra de estímulos táteis, produzindo uma

simultaneidade sem equivalente na visão. Uma pessoa cega pode apreender a frente e as

costas de um objeto, ou o côncavo e o convexo, os movimentos graduais ou súbitos de

uma forma e forças de expansão e constrição numa única apreensão, integrados num

único percepto.

Após nosso estudo, concluímos que quando se trata da acessibilidade estética,

não há regras pré-definidas para serem aplicadas pelos programas de acessibilidade para

HV em museus, mas há algumas recomendações a serem seguidas.

Num balanço geral das estratégias e dispositivos, pode-se dizer que a existência

de peças disponíveis ao toque facilita a visita individual e de grupos autônomos,

permitindo o acesso às obras em seu próprio ritmo. Por outro lado, exige o

conhecimento do Braille para a leitura das etiquetas e, para um melhor resultado, um

acompanhante ou um bom áudio-guia. As visitas em grupo são muito potentes,

sobretudo com grupos heterogêneos de cegos e videntes que tem espeço para a troca de

experiências. A presença do mediador tem um papel importante na condução da

exploração tátil na direção da descoberta, sobretudo nas obras de arte.

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A seleção dos objetos deve obedecer a critérios táteis e estéticos, e não apenas

critérios de preservação e à concessão dos curadores. Nesta medida, parece

imprescindível a participação de pessoas com deficiência visual na equipe de

acessibilidade, bem como a proximidade, o trabalho conjunto e a negociação com

curadores e diretores de coleção. As pessoas com deficiência visual devem participar de

todas as etapas dos programas de acessibilidade, e não apenas na avaliação final. Pode-

se pensar também na formação de pessoas cegas ou de grupos especializados para o

trabalho junto a museus, dotados de capacidade crítica e bom nível de exigência em

relação à qualidade dos dispositivos e estratégias oferecidas.

No que tange a esculturas, o toque depende em grande medida da sensibilidade e

da autorização dos curadores e diretores de coleção. É preciso reconhecer que boa parte

da descoberta estética depende da qualidade tátil dos objetos selecionados, ou seja, do

tamanho, peso, textura e temperatura dos objetos. Simples réplicas em resina podem

reduzir drasticamente o impacto da percepção háptica de uma escultura cujo original é

em mármore ou bronze. Nesta medida, há necessidade de estudos científicos que

possam fundamentar a elaboração de réplicas.

Um dos maiores desafios dos programas de acessibilidade parece vir justamente

do campo das artes visuais como a pintura, a gravura e a fotografia. O desafio é a

tradução da visão para o tato, sem a perda da força expressiva da obra e da possibilidade

da experiência estética. Não há um código pré-existente comum, mas certas qualidades

estruturais e uma dinâmica das formas que deve ser preservada. Por outro lado, limitar a

acessibilidade a estratégias verbais seria muito limitado, como de resto seria para um

vidente. Como veremos, as imagens táteis definitivamente não são o melhor caminho.

O primeiro benefício dos programas de acessibilidade para pessoas com

deficiência visual é estimulá-las a sair de casa, ativar ou reativar conexões, participar da

vida da cidade. Sair de casa para conhecer uma exposição que as pessoas estão

comentando, ou para aprender sobre um determinado assunto, seja um tema científico,

um movimento na história da arte ou a obra de determinado artista é participar da cidade

e partilhar o conhecimento circulante, aprendendo de modo vivo e agradável. Além

disso, frequentar museus pode, por meio de experiências estéticas, abrir brechas e

transformar uma cognição sobrecarregada pelo funcionamento utilitário. O desafio do

museu é produzir momentos de distensão, de apreciação do que passa, convocando o

desejo e levando mais longe, para além dos da gestão utilitária do dia a dia. Durante a

experiência estética tátil ocorrem associações, ressonâncias e reverberações. Sua

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espessura temporal instaura uma descontinuidade e produz um ritmo, onde se alternam a

tensão e a distensão. Ir a um museu pode ser cansativo para uma pessoa cega, como

também pode ser para qualquer vidente, pois requer uma atitude pouco habitual, que no

início deve ser acionada de modo voluntário. Mas com a continuidade, pode ter um

efeito de pausa e descanso, concorrendo para a formação de uma maior abertura para a

aprendizagem.

Por esses motivos o museu deve trabalhar com uma política de formação de

público. Desse ponto de vista, a distinção entre os museus que oferecem uma agenda

com programação regular e os trabalham sob a demanda é um marco diferencial.

Apenas os primeiros possuem um projeto consistente de aprendizagem. Encontros

mensais regulares concorrem para a formação deste tipo de público. É preciso também

levar em conta que o grupo de pessoas com deficiência visual é bastante heterogêneo.

Há pessoas cegas e com baixa visão, pessoas que nunca viram e outras que perderam a

visão, algumas na infância e outras quando jovens ou adultos. Elas possuem

funcionamentos cognitivos bastante diversos, em função da existência ou não da

memória visual e outras referências cognitivas, e requerem por isso diferentes tipos de

dispositivos e estratégias de acessibilidade. É preciso lembrar também que algumas

dessas pessoas jamais foram a um museu, enquanto outras gostavam e tinham a pratica

de frequentá-los quando eram videntes. No primeiro caso, o primeiro desafio é a

produção do interesse, do desejo e do gosto. No segundo, trata-se de resgatar um

território existencial, refazendo conexões sociais e culturais previamente existentes.

Enfim, o grupo das chamadas pessoas com deficiência visual possui uma grande

heterogeneidade do ponto de vista cognitivo e também de sua relação com os museus, e

isso deve ser levado em consideração.

A visita de uma pessoa com deficiência visual a um museu não pode ser

entendida como uma experiência individual e isolada do contexto social. Ela começa no

trajeto percorrido na cidade, tem no acolhimento um momento muito importante e

culmina no encontro com as obras. Uma boa recepção depende de um ou mais guias

disponíveis, dependendo do grupo. É também muito importante a sensibilização e ao

menos uma pequena formação de todas as pessoas que trabalham no museu, incluindo o

pessoal da recepção e vigilância. A visita de uma pessoa a um museu pode ficar

marcada na memória tanto pelo caráter positivo da experiência estética como pela

experiência desagradável de uma abordagem inadequada. A experiência estética e a

mobilização subjetiva que a ela se segue continua após a visita e a ideia é que fique o

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desejo de voltar. Nesta medida, não se sustenta o argumento de que basta disponibilizar

poucas peças para as pessoas cegas, pois a exploração tátil é cansativa. Ora, dependendo

do museu, o vidente também não consegue ver tudo numa só visita. Quase sempre

precisa voltar e a ideia é que volte mesmo. É este mesmo raciocínio que deve ser

utilizado quando pensamos em criar museus acessíveis para pessoas com deficiência

visual.

Referências bibliográficas

Arnheim, R (1986) New essays on the psychology of art. Brekeley: University of.

California Press.

Arnheim, R (1990) Visual aspects of of art of the blind.Journal of Aesthetic Education,

v.24, 1990, p.57-65.

Candlin, F. Don’t touch! Hands off! Art, blindness and the conservation of expertise.Body

& Society, v.10 (1), 2004, p.71-90.

Candlin, F., F. Dubious inheritance of touch: art history and museum access. Journal of

Visual Culture, v.5 (2), 2006, p.137-154.

Classen, C (Ed) (2005) The book of touch. Oxford: Berg.

Chatterjee, H. J. (Ed) (2008) Touch in museums. Policy and practice in object handling.

Oxford-New York: Berg.

Dewey, J. (2005) Art as experience.London: Perigee.

Hatwell, Y, Streri, A. & Gentaz, E. (Orgs) (2000) Toucher pour connaître. Paris: PUF.

Hatwell, Y. (2003) Psychologie Cognitive de la cécité precoce. Paris: Dunod.

Pye, E. (Ed) (2007) The power of touch. Handling objects in museum and heritage

contexts. California: Left Coast Press, Inc.

Revesz, G. (1950) Psychology and art of the blind.London: Longmans Green

2) Para além das placas táteis: experiências em acessibilidade no CCBB-RJ

Raquel Guerreiro

Mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro

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Esta apresentação tem como base meu trabalho de mestrado1 no projeto de

pesquisa Experiência estética e transmodalidade: fundamentos cognitivos para museus

acessíveis a pessoas com deficiência visual, coordenado pela Professora Virgínia

Kastrup do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio

de Janeiro e Núcleo de Cognição e Coletivos, e tem parceria com o Instituto Benjamim

Constant, que é a instituição de referência para pessoas com deficiência visual no Rio.

No projeto, buscávamos iniciativas de acessibilidade a pessoas com deficiência visual

em museus e centros culturais da cidade. Acompanhávamos visitas de grupos de

pessoas cegas e com baixa visão às exposições acessíveis, experimentando com elas os

dispositivos e atividades. Avaliávamos, em seguida, a eficácia das estratégias na criação

de condições de possibilidade para o acesso uma experiência estética no encontro com a

arte.

Vimos que o Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB) era a única instituição

cultural na cidade que possuía um projeto regular de acessibilidade a pessoas com

deficiência visual. O setor responsável pela acessibilidade é o CCBB Educativo,que na

busca pela inclusão e diversidade, é composto por mediadores com formações diferentes,

uma mediadora intérprete de LIBRAS e uma mediadora com deficiência visual. Esta,

atualmente, trabalha também na formação de mediadores para o trabalho em

acessibilidade.

Acompanhamos o projeto de acessibilidade a pessoas com deficiência visual no

CCBB ao longo de três anos, de 2012 a 2015. Como praticamos o Método da

Cartografia de pesquisa, que abarca a pesquisa-intervenção eo acompanhamento de

processos2, experimentávamos junto às pessoas cegas e com baixa visão os dispositivos

de acessibilidade oferecidos no centro cultural. Além disto, realizávamos reuniões de

devolução do trabalho ao Educativo, onde contribuíamos com análises baseadas em

conhecimentos da cognição da deficiência visual.

Percebemos uma grande mudança no modo de fazer acessibilidade no CCBB ao

longo desse tempo, passando por diferentes momentos. Acompanhamos visitas a oito

exposições diferentes. No início, havia a utilização de placas táteis, passando para a

invenção de outros tipos de estratégias, que envolvem o trabalho com conceitos, com o

corpo, práticas coletivas e o compartilhamento de experiências. Notamos que

1 “CARTOGRAFIA, DEFICIÊNCIA VISUAL E ARTE: acompanhando o processo da acessibilidade no Centro

Cultural do Banco do Brasil do Rio de Janeiro” 2 PASSOS, KASTRUP, ESCÓSSIA, 2010

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estesoutros tipos de estratégias, que chamamos de multissensoriais3, abrem espaço para

a experiência estética com a obra, indo além da transmissão de informação e

reconhecimento de formas, que as placas táteis oferecem. O modo de mediar passou a ser

mais afetiva e experimental, destoando de uma mediação tradicional. As propostas para a

acessibilidade passaram a convidar à experimentação por meio de diferentes sentidos e à

troca entre as percepções de pessoas cegas e pessoas videntes. Cabe ressaltar que o grupo

Educativo enfrenta grandes dificuldades na negociação com os curadores das

exposições (por vezes, com os próprios artistas) para o toque em obras de arte4.

Deste modo, apresento neste trabalho uma crítica às placas táteis enquanto

dispositivos de acessibilidade estética com obras de arte. Cito e comento também outras

estratégias -multimodais, conceituais e estratégias multissensoriais – que marcaram este

processo, a fim de problematizare pensar outros modos de fazer a acessibilidade estética a

pessoas cegas e com baixa visão em museus de arte e centros culturais.

O processo da acessibilidade do CCBB

Os primeiros dispositivos para acessibilidade que experimentamos foramas

placas táteis5, na exposição de pinturas Tarsila do Amaral: um percurso afetivo. Estas

placas poderiam ser de dois tipos: em alto relevo ou com texturas. Ambas são feitas em

madeira e possuíam as mesmas dimensões, formas e disposição dos elementos das

pinturas originais. Nas placas em alto relevo, as formas da pintura eram diferenciadas

pelo relevo, que era mais elevado nas formas com maior valor pictórico e mais baixo

para as demais formas. Já nas placas com texturas, alguns objetos recebiam aplicação de

texturas semelhantes às dos objetos aos quais pretendiam se remeter. Por exemplo,

havia pelúcia para o macaco, papel rugoso para o tronco da árvore, feltro para as folhas

e papel lixa para os cactos.

Percebemos que ambas as placas apresentaram grandes dificuldades quanto à

compreensão do que era tocado, principalmente para as pessoas cegas congênitas. As

imagens das placas em alto relevo não pareciam fazer sentido e nem corresponder à

3 Segundo Kastrup e Vergara (2012, p.63), conceito de multissensorial esta “na base das passagens e das

rupturas que atingem o primado das artes visuais, [...] implicando em mudanças no sistema que rege as atitudes do percebedor e do próprio conceito de educação estética”, propondo o deslocamento da percepção visual da arte para o corpo todo, engajando os corpos de múltiplas sensações no contato com a arte, com o intuito de promover uma expansão perceptiva. 4 Para saber mais sobre a proibição do toque à obras de arte em museus, cf. CANDLIN 2003, 2004.

5 Para saber mais, cf. GUERREIRO, KASTRUP, 2015.

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audiodescrição da obra, que em geral acompanhava a exploração tátil. As placas em

texturas tampouco foram eficazes. As texturas, que se apresentavam em um mesmo

plano, lado a lado, deixavam a imagem a ser tocada confusa e complexa.

O tato e a visão possuem propriedades específicas diferentes mas, na elaboração

de dispositivos deste tipo, espera-se que os dedos dos cegos sejam correspondentes aos

olhos dos videntes (VALENTE & DARRAS, 2010). Além disto, a leitura de imagens,

tanto táteis quanto visuais, deve ser aprendida. Mas, por não haver uma grande difusão

de imagens táteis, poucas pessoas têm acesso a elas, não possibilitando o surgimento de

uma cultura da imagem tátil.

As imagens em alto relevo, por serem imagens em duas dimensões de objetos

conhecidos em sua tridimensionalidade e de maneira multissensorial na vida cotidiana,

são difíceis de serem identificadas por serem pouco específicas para quem não conhece

ou não domina as regras da linguagem gráfica bidimensional. Isto faz com que o

reconhecimento de formas pelo tato possa ser tão custoso que a experiência estética não

chega a acontecer.

Em uma das nossas visitas, uma moça cega congênita, ao ouvir da mediadora

que a árvore representada em uma placa em alto-relevo, era redonda, comentou que ela

deveria parecer um poste. A palavra “redonda”, pela qual a mediadora se referia à visão

da copa da árvore da artista, foi compreendida pela menina como referente a um poste,

que é circular. Em seguida, a mediadora convidou a moça a tocar na placa em alto

relevo, e ela então comentou que a forma daquela árvore se assemelhava a uma raquete

de ping-pong. A moça tocou algo redondo, achatado e plano, e logo pensou em uma

raquete, que é um objeto praticamente destituído de uma terceira dimensão e feito de

madeira, assim como a placa. A imagem que ela toca não é reconhecida como uma

árvore. Provavelmente o mais importante de sua imagem de árvore não seja a forma,

mas elementos multissensoriais: a textura do tronco, o som das folhas no vento, o

perfume das flores, o frescor da sombra que cobre o corpo. Para esta moça, foi tão

difícil reconhecer uma árvore em duas dimensões que não foi possível chegar a perceber

a novidade da árvore de Tarsila do Amaral, o que faria parte da experiência estética.

Nas placas com textura, que é uma propriedade muito importante para o tato,

encontramos novamente os problemas da forma e da bidimensionalidade da imagem,

que são atributos visuais. Voltando ao caso da moça cega: ao tocar a placa, ela

conseguiu identificar o macaco no galho da árvore. Mas não demonstrou nenhuma

surpresa, nenhum encantamento estético. Isto nos leva a pensar que a experiência com

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este tipo de placa ficou limitado ao reconhecimento dos elementos da pintura, fazendo

com que a exploração de texturas continuasse em sua dimensão funcional.Deste modo,

vimos que as placas táteis, dotadas ainda de elementos visuais, não pareciam o

dispositivo mais adequado para traduzir a expressividade estética de obras de arte.

Na segunda exposição que contava com estratégias de acessibilidade, Antony

Gormley: corpos presentes, houve a performance de uma das mediadoras do Educativo,

que é deficiente visual. Neste trabalho artístico, a moça, vestida e movendo-se de modo

semelhante às esculturas do artista, criou uma narrativa polifônica acerca da cegueira,

com elementos vindos de textos literários, teóricos, e outros, de sua própria história de

vida. Ela também fazia perguntas para a plateia, relacionadas com o tema da cegueira,

nos fazendo pensar. A performance pareceu um convite a uma acessibilidade ampliada,

por levar a problematização do lugar da deficiência visual também às pessoas videntes,

permitindo-nos repensar o conceito de deficiência e afirma-lo não como uma falta, mas

sim como outro modo de estar no mundo. Este trabalho mostrou também que as

medidas em acessibilidade não são somente para as pessoas com deficiência visual, mas

para todos.

Para a exposição Impressionismo: Paris e a modernidade, que era uma

exposição de pinturas vindas do acervo do Museu d’Orsay, na França, foi construída

uma Estação Sensorial, que é uma sala onde se dispõem diferentes dispositivos para

quem deseja sentir as obras de arte de outros modos. Além de algumas placas táteis em

alto-relevo de pinturas importantes, havia dispositivos tridimensionais, com objetos que

buscavam reproduzir a forma e a disposição exatas das pinturas originais. A novidade

da Estação Sensorial montada para esta exposição foi a inclusão de elementos olfativos

e sonoros para complementar a experiência tátil oferecida pelos dispositivos. Potinhos

contendo ervas como alecrim e erva doce, outro com fumo, um vidrinho com perfume,

fones de ouvido acoplados às placas táteis e um rádio que tocava músicas da época do

movimento impressionista na França foram algumas das novas estratégias utilizadas.

Isto indicou uma grande atenção para a promoção de experiências multimodais (que

estimulam os diferentes sentidos), o que contribuiu para tornar mais interessante a

exploração dos dispositivos táteis (bi e tridimensionais). Contudo, podemos ficar ainda

presos à experiência de reconhecimento de formas. Esse tipo de estratégia pode nos

fornecer mais informação acerca do movimento impressionista, mas não vamos além.

Para o trabalho na exposição Elles: mulheres artistas da coleção do Centre

Georges Pompidou, os mediadores do Educativo elegeram um conceito que pudesse

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guia-los pelas obras da exposição: o ser “mulher”. Este tema foi trabalhado juntamente

com a exploração de algumas obras, como o vídeo de Marina Abramovic “Art must be

beautiful; Artist must be beautiful”, em que se escuta o som de uma escova de cabelos

passando com força pelos fios, e frente a uma fotografia da série Manequins, de Valérie

Belin. Para esta obra houve a exploração tátil da réplica de uma cabeça feminina feita de

isopor e a continuação da exploração do tema da mulher. O grupo conversou sobre as

características de aparências estereotipadas, como é o caso das manequins, trocando

experiências.

A exposição Yayoi Kusama: obsessão infinita foi marcante no que diz respeito à

estratégias de acessibilidade estética de qualidade. Essa era uma exposição que continha

pinturas, vídeos das performances, instalações e esculturas da artista. Na direção de uma

mediação experimental6 e multissensorial, os mediadores lançaram mão de estratégias e

dispositivos que levaram à modulação de nossa atenção em direção à desaceleração

cognitiva e à abertura ao sentir, fazendo da experiência do corpo a protagonista da

visita.

Num momento inicial, os mediadores exploraram elementos arquitetônicos do

centro cultural em uma atividade em que misturavam pessoas cegas e pessoas

videntes.Juntos, as pessoas dos grupos deveriam encontrar a nona pilastra do saguão

que, mais tarde, descobrimos ser uma pilastra sonora. Não podendo ser nem vista e nem

tocada, a pilastra tomava corpo por meio da projeção do som de nossa voz em direção à

abóbada do prédio. O som retornava da abóboda ao chão, o que fazia do corpo uma

coluna de som. Essa chegada, além de nos permitir conhecer o espaço do centro

cultural, nos levou a uma mudança na qualidade da atenção, para operarmos um desvio

da atenção funcional, que é objetiva e virada para o exterior, para uma atenção mais

aberta e voltada para o interior, receptiva à experiência com a arte (KASTRUP, 2012).

Essa se caracteriza por uma abertura, qualidade mais próxima à percepção do artista,

que nos torna disponíveis para sermos tocados pelas forças de uma obra de arte.

Em um segundo momento, já na galeria, frente à obra Redes Infinitas (Infinity

Nets, 1953), uma série de pinturas na qual a artista transpunha os limites da moldura ao

expandir as redes para o próprio contorno da tela e, por vezes, também para as paredes.

Trabalhando o conceito de rede, os mediadores nos propuseram uma atividade com

bambolês. Segurando-os ao redor do corpo, amarramos com barbante os bambolês uns

6A mediação experimental leva em conta o caráter de imprevisibilidade da experiência na emergência

de afetos no encontro com a obra, oferecendo condições a uma experiência de qualidade estética

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nos outros, compondo uma espécie de rede. Pensando a relação da nossa rede com a

obra da artista, ensaiamos alguns movimentos e pudemos sentir os efeitos das ações de

nossos corpos para além deles, assim como as pinturas que ultrapassavam os limites das

molduras dos quadros. Assim, sentimos a rede como um grande corpo comum, amplo e

inclusivo, e que comporta a diferença. Frente àquela obra, pudemos partilhar a sensação

de sermos todos pontos, interconectados em um corpo-rede. Além disso, a infinitude da

rede pôde ser sentida pelos afetos emanados daquele grande corpo comum, que se

mexia em frente à obra. Seu movimento pareceu se expandir para toda a sala de

exposição, afetando e instigando quem passava por aquele espaço. Foi uma intervenção

na sala de exposição do CCBB, que foi transformada em um local não somente de

contemplação, mas também de afetação, criação e alegria.

Considerações Finais

O processo da acessibilidade para pessoas com deficiência visual no CCBB tem

realizado muitos avanços no sentido da promoção de condições para uma experiência

estética no encontro com a arte. No início, havia a utilização das placas táteis, que

reproduzem o conteúdo de obras por meio da transposição do sentido visual para o tátil.

Apesar dos estudos críticos que pontuam que talvez essa não seja a melhor opção para a

acessibilidade estética de pessoas com deficiência visual, as placas táteis ainda são

muito utilizadas em centros culturais e museus. Para a exposição Corpos Presentes, uma

performance artística que problematizava a questão da deficiência visual. Na exposição

de pinturas impressionistas, passou-se à exploração de recursos multimodais e, na

exposição das obras das mulheres artistas, o conceito “mulher” guiou o percurso da

visita. Na exposição de Yayoi Kusama, notamos o surgimento de uma mediação

experimental e inventiva, com propostas coletivas onde o corpo desempenhava o papel

central. Mobilizando nossas sensações, compartilhamos uma experiência coletiva de

encontro com a arte que abarcava a diferença. Estes exemplos mostram um pouco do

processo que partiu da reprodução de informação visual em direção à abertura aos

afetos, inaugurando novos meios de fazer acessibilidade.

Acreditamos que as propostas de acessibilidade estética devem ser para todos -

para as pessoas que veem e as que não veem - e podem aparecer como um convite a

perceber com o corpo todo. A experimentar sentir as forças das obras de arte de outras

formas, tocando e trocando com os outros nossas impressões, inventando novos sentidos

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para a arte e para a vida. A verdadeira acessibilidade está na mistura, na composição das

diferenças. Esperamos que a experiência no CCBB possa inspirar outras instituições de

arte a ousarem na criação de estratégias, que visem à inclusão e a formação de um

público com deficiência visual que frequente seus espaços e possa usufruir do prazer

estético do encontro com a arte.

Referencias Bibliográficas

ALMEIDA, M. C.; CARIJÓ, F. H.; KASTRUP, V. Por uma estética tátil: sobre a

adaptação de obras de artes plásticas para deficientes visuais. Fractal, Revista do

Departamento de Psicologia da UFF, Rio de Janeiro, v. 22, n. 1, jan./abr. 2010.

CANDLIN, F. Blindness, art and exclusion in museums and galleries. London:

Birkbeck ePrints, 2003. Disponível em: <http://eprints.bbk.ac.uk/745>. Acesso em: 10

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CANDLIN, F. Don’t Touch! Hands off! Art, blindness and the conservation of

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GUERREIRO, R. Cartografia, deficiência visual e arte: acompanhando o processo da

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Mestrado em Psicologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro,

2016.

GUERREIRO, R.; KASTRUP, V. Aesthetic accessibility and tactile images of works of

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KASTRUP,V. Atenção na experiência estética: cognição, arte e produção de

subjetividade.Revista Trama Interdisciplinar,v. 3, n. 1, 2012. Disponível em:

<http://editorarevistas.mackenzie.br/index.php/tint/article/view/5000>. Acesso em: 10

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KASTRUP, V; VERGARA, L. G. A potência do experimental nos programas de

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São Paulo, PUCSP, ano 9, n. 14, p. 62-77, 2012.

PASSOS, E.; KASTRUP, V.; ESCÓSSIA, L. (Orgs.). Pistas do método da

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VALENTE,D ; DARRAS, B. Images à toucher: réflexions sémiotiques sur les images

tactiles destinées au public aveugle. Terra Haptica, Dijon, v. 1, p. 7-21, 2010.

3) Adapter des expositions de science: La Cité des sciences 30 ans d’accessibilité -

Nathalie Joncour/Universcience (Palais de la découverte et Cité des sciences)

Présentation du cadre théorique : design universel.

Depuis 2009, le Palais de la Découverte (8ème arrondissement) et la Cité des sciences et

de l’industrie (19ème arrondissement) sont réunis en un même établissement :

Universcience. La Délégation à la Qualité d’Usage et à l’Accessibilité (DQUA)

regroupe une équipe composée d’experts par famille de handicap. Ils sont intégrés aux

équipes de conception des expositions, forment les médiateurs scientifiques et

accueillent le public, avec pour mission principale l’accès aux contenus.

En ce qui concerne les publics déficients visuels, diverses méthodes d’accessibillisation

du contenu scientifique sont mises en œuvre. Le graphisme des expositions est donné à

toucher dans le but de partager des images communes avec tous les publics. Les

panneaux comportant du contenu écrit sont enregistrés par des comédiens et proposés à

l’écoute dans l’exposition et sur le site internet. Pendant toute la durée de la conception

de l’exposition, une réflexion sur le design universel est engagée en partenariat avec les

équipes de la direction des expositions. Nous tentons de créer des manipulations

interactives et inclusives pour tous. En parallèle des expositions, la médiation humaine

est une offre importante d’Universcience. Les médiateurs sont formés par l’équipe

accessibilité.

Nous communiquons à nos publics via une newsletter ainsi qu’une page web dédiée aux

visiteurs déficients visuels

http://www.cite-sciences.fr/fr/ma-cite-accessible/deficients-visuels/

Genèse et panorama de 30 années d’accessibilité

A la Cité des sciences, on vous dira souvent "Veuillez toucher s’il vous plaît !".Vous

trouverez dans chaque exposition des présentations tactiles avec des schémas en relief et

des textes en braille pour mieux comprendre les concepts scientifiques.

Tous vos sens sont sollicités : vous pouvez écouter dans chaque exposition des films

audiodécrits, des murmurants, des maquettes et des livres sonores.

Vous pouvez également suivre des visites guidées et assister à des ateliers tactiles sur la

biodiversité, la mécanique, l'astronomie...

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Les abattoirs de Paris se trouvaient à l’emplacement actuel du Parc de la Villette.

Dans les années 70, ils ont fermé. Suite à un voyage aux Etats-Unis, Valéry Giscard

d’Estaing commença à évoquer l’idée d’un musée de sciences mais pas de sciences

dures, on voulait des sciences accessibles à tous, des sciences de la vie de tous les jours,

comme il avait pu en voir là-bas. C’est à dire créer non pas un musée classique,

historique, mais un lieu de découvertes et de manipulations interactives, un outil

pédagogique destiné à un large public.

On créa ensuite l’Etablissement Public du Parc de la Villette, présidé par Paul

DELOUVRIER, qui était un homme réputé pour avoir travaillé sur de grands projets et

était apprécié pour ses qualités visionnaires. C’est lui qui a, le premier, émis l’idée

d’intégrer les personnes handicapées, et ce dès le début : il voulait un musée ouvert à

tous et pour tous. Il embaucha donc le cabinet Grosbois qui était payé pour revoir tous

les plans des architectes et valider ou non leur accessibilité. C’était l’une des premières

fois que quelqu’un était payé pour cela. Peu de temps après, une Charte des Personnes

Handicapées a été rédigée, ce qui pour l’époque, était déjà novateur. Il s’agit cependant

de recommandations telles que « faire attention à », il n’y a donc pas vraiment de

données chiffrées et concrètes pour rendre accessible un bâtiment ou une exposition.

D’autant plus que le cadre législatif de l’accessibilité à l’époque était en pleine

édification : la loi d’orientation de 1975 avait engendré des premiers décrets mais était

incomplète. Le cadre normatif était donc très largement dépassé et il a fallu prendre des

voies nouvelles d’études et de propositions pour obtenir des aménagements novateurs,

aller au-delà de la législation : cette charte aboutira en 1984.

Marie-Laure LAS VERGNAS, qui est actuellement responsable du service accessibilité

fut embauchée à ce moment-là, dans le but de former les médiateurs au niveau de

l’ingénierie technique. Ses supérieurs lui ont demandé de se rendre à une réunion

accessibilité pour leur faire un compte rendu. Elle s’y est alors beaucoup intéressée et a

commencé naturellement à travailler sur quelques tests pour adapter certaines

manipulations de la Cité. Elle a ensuite mis en place une collaboration avec l’INJA

(Institut National des Jeunes Aveugles) afin de faire tester son travail sur des classes

d’enfants aveugles. L’architecture et la scénographie ne posaient plus de problème mais

l’accès aux contenus des expositions restait incomplet. Il n’était pas facile de les rendre

accessibles car personne ne s’y connaissait vraiment dans ce domaine. Marie-Laure

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LAS VERGNAS a alors eu l’idée d’embaucher des personnes elles-mêmes en situation

de handicap afin de connaître au mieux les moyens à mettre en œuvre. Sont alors arrivés

Guy BOUCHEVEAU et Hoëlle CORVEST en 1986. Marie-Laure LAS VERGNAS a

naturellement commencé à travailler avec eux puisque leur embauche était à son

initiative. « L’or » fut la première exposition temporaire qui a été adaptée pour les

sourds : la réputation de la Cité des sciences était alors en pleine expansion. Ils se sont

donc demandé comment adapter ces expositions également aux personnes déficientes

mentales ? Elle rencontra Jean Pierre FERRAGU qui travaillait à ce moment-là à la Cité

des enfants mais qui avait une solide expérience avec les publics déficients mentaux. Il

récupéra également le travail du cabinet Grosbois, qui était axé davantage sur le

handicap moteur et entra dans l’équipe accessibilité. Une fois le service accessibilité

constitué, ils fabriquèrent eux-mêmes le réel cahier des charges, qui est toujours utilisé

aujourd’hui en découpant les plans de Grosbois ainsi que des parties de la charte. Le

cahier des charges était alors prêt et était enfin un outil concret avec des indications

chiffrées et précises pour rendre accessible la Cité ainsi que ses contenus. Il s’agissait de

définir les règles pour organiser, aménager, meubler, identifier et signaliser des espaces

et des éléments d’exposition devant accueillir le plus grand nombre de visiteurs que l’on

souhaitait actifs. Les manipulations devaient donc être réalisables par tous, quelles que

soient les capacités de chacun. La Cité est alors devenue un établissement pilote,

d’autant plus que dans les années 2000 elle obtient le label tourisme et handicap

directement après sa création, et ce pour les 4 handicaps. Par ailleurs, en 2003, les

ministres commençaient à parler d’accessibilité et la RECA (Réunion des

Etablissements Culturels Accessibles) a été créée, pilotée par la Cité des Sciences joue

un rôle important.

Pour conclure cet historique, nous ne pouvons que mettre en avant les solides et

innovantes convictions du premier président Paul DELOUVRIER, ainsi que tout le

travail qui a été entrepris dans un second temps pour que ces efforts soient effectifs,

notamment le fait de mettre en place une cellule accessibilité avec des employés eux-

mêmes en situation de handicap.

Méthodologie d’accessibilité des éléments d’expositions

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L’équipe accessibilité fonctionne selon le principe suivant : pousser au maximum la

démarche d’accessibilité universelle dans la conception et ne recourir à des ajouts

spécifiques que lorsqu’il n’y a pas d’autre solution, intégrer les éléments spécifiques

dans les parcours pour tous. En effet, les visiteurs ont tous des besoins différents même

au sein d’un même groupe. Aller le plus loin possible dans ce sens, c’est faciliter

l’intégration de chacun et le confort de tous.

La Cité des sciences et de l’industrie, avec ses 3 hectares au sol (à peu près la place de

la Concorde) et sa hauteur équivalente à un immeuble de 14 étages est un bâtiment de

très grande taille dans lequel on pourrait mettre quatre Centre Pompidou, est un espace

dans lequel il est très difficile de se repérer pour une personne déficiente visuelle. Des

maquettes tactiles et des bandes de guidage au sol permettent de s’y repérer. La loi

française exige une accessibilité au cadre bâti mais la Cité des sciences dépasse cette

limite et propose un accès aux contenus scientifiques.

L’accompagnement humain est également une solution inclusive qui offre aux différents

publics un moment de partage et d’inclusion.

Partant de l'exemple réussi de "courir en duo" qui a su réunir des personnes

déficientes visuelles et des personnes voyantes autour de la passion de la course

à pied, le groupe Expoduo a été créé pour réunir des personnes qui aiment visiter des

expositions. Le principe est de poster un message dès qu’une personne souhaite visiter

une exposition, y compris et surtout si l’offre n’est pas dédiée aux personnes déficientes

visuelles. Ce groupe s'adresse aux personnes déficientes visuelles et voyantes qui

aiment visiter des musées, des expositions ou des centres culturels. Ce groupe doit

permettre de se rencontrer pour visiter une exposition à deux.

Nous accueillons également, depuis le début de l’année, trois volontaires en service

civique dont la mission est d’accompagner individuellement les personnes déficientes

visuelles dans nos espaces.

Nous essayons d’évaluer de manière empirique les pratiques de visite pour nous adapter

au mieux aux demandes des visiteurs.

Est-ce que l’image tactile scientifique peut être vectrice d’inclusion pour les personnes

DV ?

4) Illustration avec un projet précis: La Carte du Ciel em braile et en relief –

Barbara Chauvin/Universcience et étudiante de Master à l’INSHEA

Projet carte du ciel en relief et en braille

Tous les ans, le Parc de la Villette et la Cité des sciences et de l’industrie accueillent

début août l’événement national « La Nuit des Etoiles ». Pendant une soirée, et ce

jusqu’à minuit, il est proposé aux participants une série d’animations, d’observations au

télescope, de conférences, notamment par des membres de l’AFA (Association

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Française d’Astronomie), le tout est encadré et animé par des médiateurs scientifiques

de la Cité des sciences et de l’industrie. Chaque année, l’événement attire plusieurs

centaines de personnes, passionnées d’astronomie ou curieux. Cette année, l’équipe

accessibilité a décidé de rendre cet événement accessible aux personnes déficientes

visuelles. En effet, il est souvent difficile lorsque l’on est déficient visuel d’avoir une

représentation de l’espace, des étoiles, des planètes. Ce sont des notions très visuelles

qui séduisent le grand public en grande partie pour leurs compétences esthétiques. C’est

la raison pour laquelle nous avons décidé de pallier à cela en mettant en place un outil

afin que la Nuit des Etoiles soit accessible et qu’elle suscite l’intérêt des personnes

déficientes visuelles pour l’astronomie. Cet outil est une carte du ciel en relief et en

braille, car lors de l’animation de la Nuit des Etoiles, les médiateurs remettent une carte

du ciel à toutes les personnes présentes afin qu’elles puissent apprendre, par exemple, à

repérer les constellations. Il semblait donc nécessaire que cette carte soit adaptée. Elle

est en bigraphisme, c’est à dire qu’elle est visible et tactile à la fois, et un cercle

intérieur permet de situer ce que l’on peut voir du ciel en fonction de la date à laquelle

nous sommes pendant l’observation. Cela a déjà été fait quelques années auparavant,

mais la carte contenait de multiples erreurs, d’un point de vue scientifique et

accessibilité.

L’objectif en créant cette carte était de mettre en place un outil adapté afin de permettre

aux personnes déficientes visuelles de découvrir l’astronomie et susciter leur intérêt

pour cette science, tout en les faisant participer à un événement national réputé. Les

points forts de ce projet étaient l’expertise interne sur les questions d’astronomie et

d’accessibilité, le fait que la carte soit réalisée dans le cadre de la Cité des sciences et de

l’industrie, un cadre connu et reconnu en matière d’accessibilité, et également le fait que

les cartes ne soient pas uniquement faites pour la Nuit des Etoiles. En effet, elles

serviront aussi aux diverses animations qui ont lieu régulièrement dans le musée. Par

ailleurs, il y avait aussi la menace d’une météo incertaine ou d’événements pouvant

compromettre la sécurité de la manifestation. L’équipe en charge du projet et qui

composait le comité de pilotage était constituée de la responsable de l’accessibilité pour

les déficients visuels, la responsable du service accessibilité de la Cité des sciences et de

l’industrie, des scientifiques du musée spécialisés dans l’astronomie, comme par

exemple le responsable du planétarium, ainsi que moi-même, ce projet étant le cœur de

mon année d’alternance. En externe, nous avions la chance de bénéficier d’un partenaire

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important, un astrophysicien de l’école normale supérieure qui est également déficient

visuel. Son aide nous était donc précieuse car il était en mesure de lier les différents

points de vues : l’accessibilité et la précision du contenu scientifique. Enfin, nous avons

également fait appel à deux prestataires. Tout d’abord un graphiste, que nous avons

choisi car il est également astrophysicien, c’est donc lui qui a conçu toute la carte. Nous

avons aussi fait appel à un imprimeur spécialisé dans l’impression en relief, avec qui

nous avons l’habitude de travailler. Soulignons que notre travail s’attachait uniquement

à organiser l’accessibilité de cette soirée, et non la soirée dans son intégralité.

La mission première a été de prendre en main le projet, décrypter tout ce qui était

demandé, lister les phases d’actions ainsi que trouver les partenaires et prestataires. Une

fois ceci fait, nous avons rencontré le graphiste ainsi que l’imprimeur afin de leur

présenter le projet, notamment en leur montrant la précédente carte et en mettant en

avant ses forces et faiblesses. Notre mission principale était finalement la coordination

des différents prestataires/partenaires. En effet, la difficulté première a été la

confrontation entre ces différents acteurs et leur point de vue : le graphiste par exemple,

avait en tête ses contraintes de place et d’esthétique, l’astrophysicien déficient visuel

pensait davantage au tactile et donc au surplus d’informations difficilement lisible, alors

que les scientifiques avaient à cœur de mettre le plus d’informations possible de contenu

scientifique qui leur semblait essentiel mais qu’il a évidemment fallut réduire. Ces

étapes ont été des phases décisives du projet et nous ont amené à nous poser beaucoup

de questions, nous reviendrons donc particulièrement dessus plus tard.

Tout projet ne peut être complet que s’il a pu être évalué. Dans notre cas, le prototype

de la carte était passé dans de nombreuses mains avant d’être imprimé : l’astrophysicien

déficient visuel, la responsable du service accessibilité déficients visuels, elle-même

malvoyante, ou encore quelques personnes qui ont été interrogées dans le cadre

d’entretiens sur l’astronomie. De plus, elle a également été évaluée plusieurs fois par les

scientifiques de la Cité des sciences et de l’industrie qui ont pu donner leur validation

finale. La Nuit des Etoiles allait également être le moment idéal pour voir la carte entre

les mains des personnes déficientes visuelles, évaluer leur utilisation, leur ressenti, leur

compréhension… Cependant et malheureusement, suite aux nombreux événements qui

se sont produits partout en France au cours des derniers mois, la Nuit des Etoiles dans le

Parc de la Villette a été contrainte d’être annulée au début du mois d’août, pour des

raisons de sécurité, et ce en application du plan Vigipirate. Heureusement, la carte

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n’avait pas été conçue dans le seul but de rendre accessible cet événement, mais bien

pour être utilisée à tout moment dans le cadre d’animations au sein du musée, nous

avons donc eu d’autres occasions de voir la carte entre les mains des publics.

Cette soirée s’annonçait innovante, accessible et très riche, pour tous. En effet cela

pouvait également être un très bon moyen de sensibiliser d’autres visiteurs à ce qu’est la

déficience visuelle et comment réussir à répondre aux besoins de ces publics. De plus, la

plus belle récompense était avant tout de réconcilier les déficients visuels avec

l’astronomie et leur faire découvrir les merveilles de notre univers grâce à d’autres sens

que la vue. Par ailleurs, notons que le point à retravailler de notre carte serait le fait

qu’elle fasse passer un message très scientifique mais peu poétique « Je ne crois pas

que toucher une carte en relief pourrait me faire la même chose que ça fait de voir aux

voyants ». Cependant, nous espérons que cet aspect soit quelque peu comblé par le

partage avec les personnes présentes à l’événement, voyantes ou non. De plus, notons

que nous avons également mis d’autres projets en place afin de parler d’astronomie à

nos publics déficients visuels.

Visite et séance d’astronomie adaptées

Tout d’abord, nous avons mis en place une visite adaptée : nous avions à cœur de

redynamiser une ancienne exposition permanente de et de rester dans la même lignée de

travail que la carte du ciel : c’est donc l’exposition « Grand Récit de l’Univers » qui a

été choisie. Bien qu’elle soit une des premières expositions à avoir été mise en place

dans les années 80, elle dispose d’un grand nombre de techniques d’accessibilité

remarquables, comme par exemple des pierres qui parlent lorsque nous les touchons et

qui racontent leur création, ou encore des pièces phares à toucher comme une météorite,

ou enfin des petites maquettes représentant les constellations. Le travail n’a donc pas

consisté à créer l’accessibilité de l’exposition, mais davantage à partir de ce qui était

déjà mis en place afin de concevoir un parcours accessible. Il a donc pour cela fallut

passer beaucoup de temps dans l’exposition, afin de comprendre et tester les éléments

pour cerner l’idée principale et choisir ou non de l’intégrer dans le parcours. En effet, un

visiteur déficient visuel mettra plus de temps qu’un visiteur classique pour faire une

exposition dans la mesure où toucher un élément prend plus de temps que le regarder et

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comprendre ses spécificités d’un seul regard. De plus, déambuler dans l’exposition peut

prendre également plus de temps. Il faut donc choisir les éléments afin de faire en sorte

que la visite ne dure pas plus de 2h, pour ne pas fatiguer le visiteur. D’autre part, il a

également fallu prendre le temps de correctement s’imprégner du contenu scientifique

afin de pouvoir guider les personnes dans l’exposition, dans le but que la médiation soit

claire et accessible à tous.

Enfin, et toujours dans le même cadre, nous avons mis en place des séances

d’astronomie adaptée : en partenariat avec un astrophysicien, chercheur à l’école

normale supérieure, qui est lui-même déficient visuel. Ensemble, nous avons

longuement parlé du manque d’accès à l’astronomie et nous avons souhaité, en plus de

la carte du ciel, mettre en place des courtes séances afin de commencer à parler à nos

publics de notions simples, et surtout leur faire toucher du matériel : nous avons par

exemple utilisé des boules de polystyrène pour faire les planètes en 3D, et nous avons

également fait de nombreux dessins reliefs, notamment de la voie lactée. Ces séances

d’1h30 ont connu un succès considérable, elles étaient complètes et nous avons dû

mettre en place une liste d’attente. De plus, l’engouement qu’elles ont suscité nous a

amené à nous interroger sur le rapport des déficients visuels à l’astronomie. En effet,

même si c’est une science au premier abord difficilement accessible pour eux, de

nombreux déficients visuels auraient souhaités avoir plus de matériel adapté entre les

mains pour s’y intéresser. Nous avons par exemple était interviewés par une radio

spécialisée qui souhaitait avoir plus de précisions sur nos techniques permettant de

« faire toucher les étoiles aux aveugles ». Ces séances ont donc eu lieu et elles ont été

un l’occasion d’une observation très intéressante sur le savoir initial des personnes en

astronomie ainsi que leur intérêt pour cela, ce qui nous a permis de mieux cerner les

besoins et attentes pour notre carte du ciel.

Avec tous ces projets, nous pouvons donc nous questionner : culture scientifique et

accessibilité sont-elles compatibles ?

Culture scientifique et accessibilité : ces deux notions sont-elles compatibles ?

Pour chaque nouvelle exposition ou nouveau projet, le travail de l’accessibilité se fait en

lien avec les chefs de projet ainsi que les scientifiques de la Cité des sciences et de

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l’industrie. Environ un avant l’ouverture de l’exposition, et un an après que l’équipe ait

commencé à travailler dessus, le service accessibilité assiste à une réunion de

présentation de l’exposition où les chargés d’accessibilité donnent leurs préconisations.

Puis ont lieu différentes réunions où chacun des éléments sont décrits et analysés afin de

savoir s’ils sont accessibles tels quels. Si ce n’est pas le cas, nous réfléchissons

ensemble à d’éventuelles modifications afin qu’ils le deviennent. Ce moment est l’un

des plus important de la conception car il définira la qualité d’accessibilité d’une

exposition. Il peut être parfois très riche et intéressant dans la mesure où c’est la partie

créative du métier de chargé d’accessibilité, où nous devons chercher et trouver des

solutions, mais il peut également être compliqué lorsque nous devons faire des choix,

surtout du point de vue scientifique : quel contenu choisit-on de rendre accessible ? Y a-

t-il des éléments que l’on peut choisir de ne pas rendre accessible ? Comment concilier

sciences et déficience visuelle ?

Les chefs de projet d’exposition n’ont pas toutes les connaissances requises en matière

d’accessibilité et inversement, les chargés d’accessibilité n’ont pas toutes les

connaissances scientifiques sur le contenu des expositions. Le travail et les choix

doivent donc nécessairement se faire ensemble : certains éléments vont être modifiés, et

d’autres resteront en état. Toutefois, d’autres questions vont se poser en terme de

contenu : rendre accessible un élément n’engendre-t-il pas une modification contenu

scientifique ? Parce que nous sommes déficients visuels devons-nous nous contenter

d’un « minimum culturel » ?

Pour illustrer cela, reprenons l’exemple de notre carte du ciel en relief et en braille :

bien évidemment, la carte du ciel classique contient bien plus d’informations que celle

en relief. Comment peut-on donc choisir ce que l’on décide d’apprendre aux personnes

déficientes visuelles ou pas ? Dans notre cas, c’est le graphiste, qui est également

astrophysicien, qui est parti de la carte classique et a sélectionné les informations,

principalement en fonction de la place qui lui était accordée. Il a ensuite fait une

première proposition, qui a été soumise aux doigts de notre astrophysicien déficient

visuel, ainsi qu’à l’œil expert des scientifiques de la Cité des sciences et de l’industrie.

C’est à cette étape que les discussions se compliquent et que des choix doivent être

faits : les scientifiques ont évidemment du mal à mettre de côté certaines notions qui

leur semblent indispensables, l’astrophysicien déficient visuel défend quant à lui l’idée

qu’il faut sélectionner au maximum les informations afin de ne pas noyer notre public

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d’idées et de représentations qu’ils ne cerneront pas si elles sont trop nombreuses et

petites, et le graphiste défend quant à lui son manque de place ainsi que l’aspect

esthétique de la carte et des conditions graphiques à respecter. Le rôle du coordinateur

et chef de projet intervient alors, ce fut d’ailleurs la difficulté majeure de ce projet dans

la mesure où il était bien souvent délicat de défendre les points de vues des uns auprès

des autres ainsi que d’oser prendre des décisions. Par ailleurs il a bien fallu prendre des

décisions et concilier tous les aspects du projet afin de satisfaire tous les acteurs.

La démarche a été la suivante : en tant que chargée d’accessibilité pour les publics

déficients visuels, l’essence du projet était selon nous basé sur l’accessibilité et donc le

respect des normes pour que la carte soit adaptée mais aussi agréable à toucher et non

qu’elle soit simplement un condensé d’informations beaucoup trop important pour être

lisible tactilement. Cependant, la carte devant de toute façon être validée par le comité

scientifique du musée, il a également fallu faire des concessions dans leur sens et cela a

été possible en réunissant tous les points de vue, en prenant le temps de calmement les

expliquer auprès de chacun des acteurs, dans le but de pouvoir prendre les décisions

ensemble. Nous avons donc décidé de privilégier les éléments indispensables pour notre

carte du ciel, en axant notre travail sur les éléments classiques comme la grande ourse

ou encore l’étoile polaire. Par ailleurs, la carte va tout de même assez loin dans la

connaissance en parlant d’un grand nombre de constellations ou de nébuleuses peu

connues : nous avons donc dû faire des choix, en éliminant par exemple certaines

constellations astrologiques, principalement car elles n’étaient pas mentionnées dans

l’animation scientifique faite par un médiateur qui accompagne la carte. Cependant,

nous n’avons pas conservé uniquement les éléments classiques et basiques, et nous

estimons proposer une carte aboutie qui permet d’obtenir de nombreuses connaissances

qui sont, pour le grand public, sûrement inconnues.

Il semble donc évident qu’il faille faire des choix pour rendre accessibles des éléments

aux personnes déficientes visuelles, et cela dépend évidemment de beaucoup de critères

comme le budget, l’ouverture d’esprit de l’équipe projet, la volonté et l’esprit de

synthèse des scientifiques… Certains projets sont donc sûrement plus difficiles à mener

que d’autres, par ailleurs, on ce qui concerne la carte du ciel, nous estimons ne pas nous

être contenté d’un minimum culturel indispensable et basique, mais bien être allés au

bout du projet en tentant de faire preuve d’un esprit de synthèse pour proposer un outil

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accessible mais aussi riche de connaissances. Culture scientifique et déficience visuelle

serait alors compatible, mais ce après de longs débats et longues réflexions en commun.