37
DQ-FCT-UNL 2 2 0 0 1 1 2 2 Q Q U U Í Í M M I I C C A A I I I I R R E E S S U U M M O O S S D D E E Q Q U U Í Í M M I I C C A A O O R R G G Â Â N N I I C C A A CAPÍTULO VII JOÃO PAULO NORONHA

IIII EESSUUMMOOSS DDEE QQUUÍÍMMIICCAA …

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QQUUÍÍMMIICCAA IIII

RREESSUUMMOOSS DDEE QQUUÍÍMMIICCAA OORRGGÂÂNNIICCAA CCAAPPÍÍTTUULLOO VVIIII JJOOÃÃOO PPAAUULLOO NNOORROONNHHAA

Química II.2012

Doutor João Paulo Noronha, FCT-UNL.2012 2

CCaappííttuulloo 77 –– AALLCCEENNOOSS EE AALLCCIINNOOSS II.. PPRROOPPRRIIEEDDAADDEESS EE SSÍÍNNTTEESSEESS

7.1 INTRODUÇÃO

1. Os alcenos são hidrocarbonetos cujas moléculas contêm a ligação dupla C=C.

1) Olefinas:

i) O etileno foi chamado gás olefiante (América: oleum, óleo + facere, para fazer) porque o

etano gasoso (C2H4) reage com cloro para formar C2H4Cl2, um líquido (óleo).

2. Os alcinos são hidrocarbonetos cujas moléculas contêm a ligação tripla C≡C.

1) Acetilenos:

7.1A PROPRIEDADES FÍSICAS DE ALCENOS E ALCINOS

1. Os alcenos e alcinos têm propriedades físicas semelhantes às dos alcanos correspondentes.

1) Os alcenos e alcinos até quatro carbonos (excepto o 2-butino) são gases à temperatura

ambiente.

2) Os alcenos e alcinos dissolvem-se em solventes não polares ou em solventes de polaridade

baixa.

i) Os alcenos e alcinos são apenas muito ligeiramente solúveis em água (com os alcinos sendo

ligeiramente mais solúveis do que alcenos).

ii) Os alcenos e alcinos têm densidades mais baixas que a da água.

7.2 NOMENCLATURA DE ALCENOS E CICLOALCENOS

1. Determinar o nome de base, selecionando a cadeia mais longa que contém a ligação dupla e

mudar o sufixo (final do nome) do alcano de comprimento idêntico de -ano para -eno.

2. Numerar a cadeia de modo a incluir ambos os átomos de carbono da ligação dupla, e começar a

numeração na extremidade da cadeia mais perto da ligação dupla. Designar o local da ligação

dupla, usando o número do primeiro átomo da ligação dupla como um prefixo:

3. Indicar a localização dos grupos substituintes por numeração dos átomos de carbono aos quais

estão ligados.

4. Numerar cicloalcenos substituídos da mesma maneira que dá aos átomos de carbono da ligação

dupla as posições 1 e 2 e que também dá aos grupos substituintes os números mais baixos, no

primeiro ponto de diferença.

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5. Nomear os compostos contendo uma ligação dupla e um grupo álcool como alcenol (ou

cicloalcenol) e dar ao carbono álcool o menor número.

6. Dois grupos alcenilo frequentemente encontrados são o grupo de vinilo e o grupo alilo.

7. Se dois grupos idênticos estão no mesmo lado da ligação dupla, o composto pode ser designado

cis-; se eles estão em lados opostos pode ser designado trans-.

7.2A O SISTEMA (E) - (Z) PARA DESIGNAÇÃO DE DIASTEREÓMEROS DE ALCENOS

1. As designações cis- e trans- da estereoquímica dos diastereómeros de alcenos são inequívocas

apenas quando aplicadas a alcenos dissubstituídos.

2. O Sistema (E) - (Z):

1) O grupo de prioridade mais alta num átomo de carbono é comparado com o grupo de prioridade

mais elevada no outro átomo de carbono:

i) (Z)-alceno: Se os dois grupos de maior prioridade estão do mesmo lado da ligação dupla (alemão:

zusammen, significando juntos).

ii) (E)-alceno: Se os dois grupos de maior prioridade estão do lado oposto da ligação dupla (alemão:

entgegen, significando opostos).

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7.3 ESTABILIDADES RELATIVAS DE ALCENOS

7.3A CALORES DE HIDROGENAÇÃO

1. A reação de um alceno com hidrogénio é uma reação exotérmica, a variação de entalpia

envolvida é chamada de calor de hidrogenação.

1) A maioria dos alcenos tem calores de hidrogenação próximos de -120 kJ mol-1.

H° ≈ – 120 kJ mol–1

2) Alcenos individuais têm calores de hidrogenação que podem ser diferentes deste valor por

mais de 8 kJ mol-1.

3) As diferenças permitem a medição das estabilidades relativas de isómeros de alcenos

quando a hidrogenação converte-os no mesmo produto.

3. Em cada reação:

1) O produto (butano) é o mesmo.

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2) Um dos reagentes (hidrogénio) é o mesmo.

3) A diferente quantidade de calor desenvolvida está relacionada com as diferentes

estabilidades (diferentes conteúdos de calor) dos butenos individuais.

Figura 7.1 Um diagrama de energia para os três isómeros do buteno. A ordem de estabilidade é trans-2-buteno > cis-2-buteno > 1-buteno.

4) O 1-buteno quando hidrogenado desenvolve maior quantidade de calor, e o trans-2-buteno

desenvolve a mínima quantidade de calor.

i) O 1-buteno deve ter a maior energia (entalpia) e é o isómero menos estável.

ii) O trans-2-buteno deve ter a menor energia (entalpia) e é o isómero mais estável.

3. Tendência de estabilidades: isómero trans > isómero cis

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4. A maior a entalpia dos isómeros cis pode ser atribuída à tensão causada pela proximidade dos

dois grupos alquilo no mesmo lado da ligação dupla.

Figura 7.2 Isómeros cis- e trans-alceno. O isómero cis menos estável tem uma maior tensão.

7.3B ESTABILIDADES RELATIVAS DOS CALORES DE COMBUSTÃO

1. Quando a hidrogenação de alcenos isoméricos não produz o mesmo alcano, os calores de

combustão pode ser usados para medir as suas estabilidades relativas.

1) O 2-metilpropeno não pode ser comparado diretamente com outros isómeros do buteno.

2) O isobutano e o butano não possuem a mesma entalpia assim não é possível uma

comparação direta dos calores de hidrogenação.

2. O 2-metilpropeno é o mais estável dos quatro isómeros C4H8:

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3. A estabilidade dos isómeros do buteno:

7.3C RESUMO DAS ESTABILIDADES RELATIVAS DE ALCENOS

1. Quanto maior for o número de grupos alquilo ligados (isto é, mais substituídos os átomos de

carbono da ligação dupla), maior é a estabilidade do alceno.

7.4 CICLOALCENOS

1. Os anéis de cicloalcenos contendo cinco átomos de carbono ou menos existem apenas na forma

cis.

Ciclopropeno Ciclobuteno Ciclopenteno Ciclo-hexeno

Figura 7.3 cis-Cicloalcanos.

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2. Há evidências de que o trans-ciclo-hexeno pode ser formado em algumas reações químicas como

um intermediário muito reativo de curta duração.

Figura 7.4 Hipotético trans-ciclo-hexeno. Esta molécula é aparentemente demasiado tensa para existir à temperatura ambiente.

3. O trans-Ciclo-hepteno tem sido observado espectroscopicamente, mas é uma substância com

tempo de vida muito curto e não foi isolado.

4. O trans-cicloocteno foi isolado.

1) O anel do trans-cicloocteno é suficientemente grande para acomodar a geometria exigida pela

ligação dupla trans e ainda ser estável à temperatura ambiente.

2) O trans-cicloocteno é quiral e existe como um par de enantiómeros.

cis-Cicloocteno trans-Cicloocteno

Figura 7.5 As formas cis- e trans- do cicloocteno.

7.5 SÍNTESES DE ALCENOS VIA REAÇÕES DE ELIMINAÇÃO

1. Desidrohalogenação de Halogenetos de Alquilo

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2. Desidratação de Álcoois

3. Desbromação de Dibrometos vicinais

7.6 DESIDROHALOGENAÇÃO DE HALOGENETOS DE ALQUILO

1. A síntese de um alceno por desidrohalogenação é quase sempre melhor conseguida por uma

reação de E2:

2. É utilizado um halogeneto de alquilo secundário ou terciário, se possível, a fim de provocar uma

reação E2.

3. É utilizada uma concentração elevada de uma base forte relativamente não polarizável, como o

ião alcóxido, para evitar a reação E1.

4. É empregue um solvente relativamente polar, como um álcool.

5. Para favorecer a eliminação geralmente é usada, uma temperatura relativamente elevada.

6. O etóxido de sódio em etanol e o terc-butóxido de potássio em álcool terc-butílico são

reagentes típicos.

7. Por vezes é usado hidróxido de potássio em etanol:

OH– + C2H5OH H2O + C2H5O–

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7.6A REAÇÕES E2: A ORIENTAÇÃO DA LIGAÇÃO DUPLA NA REGRA DE PRODUTO

ZAITSEV

1. Para algumas reações de desidrohalogenação, é possível um único produto de eliminação:

2. A desidrohalogenação de muitos halogenetos de alquilo produz mais que um produto:

1) Quando é usada uma pequena base tal como o ião etóxido ou iões de hidróxido, o produto

principal da reação será o alceno mais estável.

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i) O alceno mais estável tem a ligação dupla mais substituída.

3. O estado de transição para a reação:

1) O estado de transição para a reação levando ao 2-metil-2-buteno tem o carácter de

desenvolvimento de uma ligação dupla num alceno trissubstituído.

2) O estado de transição para a reação levando ao 2-metil-1-buteno tem o carácter de

desenvolvimento de uma ligação dupla num alceno dissubstituído.

3) Uma vez que o estado de transição levando ao 2-metil-2-buteno se assemelha a um alceno

mais estável, este estado de transição é mais estável.

Figura 7.6 A reação (2) que conduz ao alceno mais estável ocorre mais rapidamente do que a

reação (1) que conduz ao alceno menos estável; G‡(2) é menor do que G‡

(1).

i) Uma vez que este estado de transição é mais estável (ocorre a menor energia livre), a energia

livre de ativação para esta reação é menor e o 2-metil-2-buteno é formado mais rapidamente.

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4) Estas reações são conhecidas por estarem sob controlo cinético.

5. Regra de Zaitsev: uma eliminação ocorre para dar o alceno mais estável, mais altamente

substituído.

1) Químico russo A. N. Zaitsev (1841-1910).

2) O nome Zaitsev é também transcrito como Zaitzev, Saytzeff, ou Saytzev.

7.6B UMA EXCEÇÃO À REGRA DE ZAITSEV

1. Uma base volumosa, como o terc-butóxido de potássio em álcool terc-butílico favorece a

formação do alceno menos substituído em reações desidrohalgenação.

1) A razão para levar ao produto de Hofmann:

i) A base estereoquimicamente impedida.

ii) A associação da base com as moléculas de solvente torna-a ainda maior.

iii) O terc-butóxido remove um dos átomos de hidrogénio (1°) mais expostos em vez dos átomos

de hidrogénio internos (2°) devido à sua maior aglomeração no estado de transição.

7.6C A ESTEREOQUÍMICA DAS REAÇÕES E2: A ORIENTAÇÃO DOS GRUPOS NO

ESTADO DE TRANSIÇÃO

1. Periplanar: 1) O requisito para coplanaridade da unidade de H–C–C–L surge a partir de uma necessidade da

adequada sobreposição de orbitais no desenvolvimento da ligação do alceno que está a ser

formado.

2) Conformação Anti-periplanar:

i) O estado de transição anti-periplanar é em estrela (escalonado) (e, portanto, de menor

energia) e, portanto, é o preferido.

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3) Conformação Syn periplanar:

i) O estado de transição syn periplanar é eclipsado e só ocorre com as moléculas rígidas que são

incapazes de assumir o arranjo anti.

2. Cloreto de neomentilo e cloreto de mentilo:

1) O hidrogénio e o grupo de saída num anel de ciclo-hexano pode assumir uma conformação

anti-periplanar apenas quando eles são ambos axiais:

2) A conformação mais estável do cloreto de neomentilo:

i) Os grupos alquilo são ambos equatoriais e o cloro é axial.

ii) Há também átomos de hidrogénio axiais em ambos C1 e C3.

ii) A base pode atacar qualquer um destes átomos de hidrogénio e alcançar um estado de

transição anti-periplanar para uma reação E2.

ii) Os produtos correspondentes a cada um destes estados de transição (2-menteno e 1-

menteno) são formados rapidamente.

v) O 1-menteno (com a ligação dupla mais substituída) é o produto principal (regra de Zaitsev).

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Um Mecanismo para a Reação de Eliminação do Cloreto de Neomentilo

Eliminação E2 onde existem dois Hidrogénios Axiais do Ciclo-hexano

Um Mecanismo para a Reação de Eliminação do Cloreto de Mentilo

Eliminação E2 onde o único Hidrogénio Axial elegível do Ciclo-hexano é de um Confórmero Menos Estável

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3) A conformação mais estável do cloreto de mentilo:

i) Os grupos alquilo e o cloro estão equatoriais.

ii) Para o cloro se tornar axial, o cloreto de mentilo tem de assumir uma conformação em que o

grupo volumoso isopropilo e o grupo metilo estão também axiais.

ii) Esta conformação é de energia muito mais elevada, e a energia livre de ativação para a reação

é grande, porque inclui a energia necessária para a alteração conformacional.

ii) O cloreto de mentilo sofre uma reação E2 muito lentamente, e o produto é unicamente o 2-

menteno (produto Hofmann).

7.7 DESIDRATAÇÃO DE ÁLCOOIS

1. Desidratação de álcoois: 1) O aquecimento da maioria dos álcoois com um ácido forte faz com que eles percam uma

molécula de água e formem um alceno:

2. A reação é uma eliminação e é favorecida a temperaturas mais elevadas.

1) Os ácidos mais comumente utilizados em laboratório são os ácidos de Bronsted ––– dadores

de protões tal como ácido sulfúrico e ácido fosfórico.

2) Os ácidos de Lewis, tais como a alumina (Al2O3) são frequentemente utilizados em aplicações

industriais, desidratações em fase gasosa.

3. Características das reações de desidratação:

1) As condições experimentais ––– temperatura e concentração de ácido ––– que são

necessárias para provocar a desidratação estão intimamente relacionadas com a estrutura

individual do álcool.

i) Os álcoois primários são os mais difíceis de desidratar:

ii) Os álcoois secundários geralmente desidratam sob condições mais suaves:

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iii) Os álcoois terciários são geralmente desidratados sob condições extremamente suaves:

iv) A facilidade relativa da ordem de desidratação de álcoois:

2) Alguns álcoois primários e secundários também sofrem rearranjo do seu esqueleto

carbonado durante a desidratação.

i) A desidratação do 3,3-dimetil-2-butanol:

ii) O esqueleto carbonado do reagente é

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7.7A MECANISMO DE DESIDRATAÇÃO DE ÁLCOOIS: UMA REAÇÃO E1

1. O mecanismo é uma reação E1 em que o substrato é um álcool protonado (ou um ião

alquiloxónio).

Passo 1

1) No passo 2, o grupo de saída é uma molécula de água.

2) A ligação carbono-oxigénio quebra heteroliticamente.

3) É um passo altamente endergónico e, portanto, é o passo mais lento.

Passo 2

Passo 3

7.7B ESTABILIDADE DO CARBOCATIÃO E O ESTADO DE TRANSIÇÃO

1. A ordem de estabilidade de carbocatiões é 3° > 2° > 1° > metilo:

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Um Mecanismo para a Reação

Desidratação Catalisada por Ácido de Álcoois Secundários ou Terciários: Uma Reação E1

Passo 1

Passo 2

Passo 3

2. A ordem da energia livre de ativação para a desidratação de álcoois é 3 °> 2 °> 1 °> metilo:

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Figura 7.7 Diagramas de energia livre para a formação de carbocatiões de álcoois protonados terciários, secundários e primários. As energias livres de ativação relativas são terciário < secundário « primário.

3. Postulado de Hammond-Leffler:

1) Há uma forte semelhança entre o estado de transição e o produto catião.

2) O estado de transição que leva ao carbocatião 3° é o de energia livre mais baixa porque se

assemelha ao produto mais estável.

3) O estado de transição que leva ao carbocatião 1° é o de energia livre mais elevada porque

se assemelha o produto menos estável.

4. A deslocalização de carga estabiliza o estado de transição e o carbocatião.

1) O carbono começa a desenvolver uma carga parcial positiva porque está a perder os eletrões

que o ligavam ao átomo de oxigénio.

2) Esta carga positiva em desenvolvimento é mais eficazmente deslocalizada no estado de

transição que conduz a um carbocatião 3° por causa da presença de três grupos alquilo

dadores de eletrões.

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3) Devido a este desenvolvimento carga positiva ser menos eficazmente deslocalizado no estado

de transição conduzindo a um carbocatião 1°, a desidratação de um álcool 1° ocorre através de

um mecanismo diferente ––– um mecanismo E2.

7.7C UM MECANISMO PARA A DESIDRATAÇÃO DE ÁLCOOIS PRIMÁRIOS: UMA REAÇÃO E2

Um Mecanismo para a Reação

Desidratação de um Álcool Primário: Uma Reação E2

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7.8 ESTABILIDADE DO CARBOCATIÃO E A OCORRÊNCIA DE REARRANJOS

MOLECULARES

7.8A REARRANJOS DURANTE A DESIDRATAÇÃO DE ÁLCOOIS SECUNDÁRIOS

Passo 1

Passo 2

1. O carbocatião 2°, menos estável, rearranja num carbocatião 3° mais estável.

Passo 3

2. O grupo metilo migra com o seu par de eletrões, tal como um anião metilo, -:CH3 (um ião

metanido).

3. Troca 1,2:

4. No estado de transição o metilo que troca fica ligado parcialmente a ambos os átomos de

carbono pelo par de eletrões com o qual ele migra. Nunca deixa o esqueleto carbonado.

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5. Há duas maneiras de remover um protão do carbocatião:

1) Via (b) conduz a um alceno altamente estável tetrassubstituido, e este é a via seguida pela

maioria dos carbocatiões.

2) Via (a) conduz a um alceno menos estável, dissubstituído e produz o produto minoritário da

reação.

3) A regra geral (regra de Zaitsev) é a formação do alceno mais estável nas reações de

desidratação de álcoois catalisadas por ácido.

Passo 4

6. Os rearranjos ocorrem quase invariavelmente quando a migração de iões alcanido ou de um

ião hidreto pode levar a um carbocatião mais estável.

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7.8B REARRANJOS APÓS DESIDRATAÇÃO DE UM ÁLCOOL PRIMÁRIO

1. O alceno que é formado inicialmente a partir de um álcool 1 ° surge por um mecanismo de

E2.

1) Um alceno pode aceitar um protão para gerar um carbocatião num processo que é

essencialmente o inverso do passo de desprotonação no mecanismo E1 para a

desidratação de um álcool.

2) Quando um alceno terminal se protona usando os seus eletrões para ligar um protão

no carbono terminal, forma-se um carbocatião no 2º carbono da cadeia (O carbocatião

também pode formar-se diretamente a partir do álcool 1° por uma troca de hidreto a partir

do seu carbono para o carbono terminal à medida que o grupo hidroxilo protonado se

afasta).

3) Vários processos podem ocorrer a partir deste carbocatião:

i) Pode ser removido um hidrogénio diferente, levando a um alceno mais estável do que

o alceno terminal inicialmente formado.

ii) Pode ocorrer um rearranjo hidreto ou alcanido levando a um carbocatião mais estável,

após o que pode ser concluída a eliminação.

iii) Um nucleófilo pode atacar qualquer um destes carbocatiões para formar um produto de

substituição.

v) A temperaturas elevadas os principais produtos da desidratação de álcoois serão alcenos

em vez de produtos de substituição.

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Um Mecanismo para a Reação

Formação de um Alceno com Rearranjo Durante a Desidratação de um Álcool Primário

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7.9 ALCENOS POR DESBROMAÇÃO DE DIBROMETOS VICINAIS

1. Dihalogenetos Vicinais (ou vic) e geminais (ou gem):

1) vic-Dibrometos sofrem desbromação:

Um Mecanismo para a Reação

Mecanismo: Passo 1

Passo 2

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1. A desbromação pelo zinco tem lugar na superfície do metal e o mecanismo é incerto.

1) Outros metais eletropositivos (por exemplo, Na, Ca e Mg) também causam desbromação de

vic-dibrometos.

2. A vic-desbromações são geralmente preparadas através da adição de bromo a um alceno.

3. A bromação seguida de desbromação é útil na purificação de alcenos e em "proteger" a ligação

dupla.

7.10 SÍNTESE DE ALCINOS VIA REAÇÕES DE ELIMINAÇÃO

1. Os alcinos podem ser sintetizados a partir de alcenos.

1) Um vic-dibrometo é desidrohalogenado através da sua reação com uma base forte.

2) Uma desidrohalogenação ocorre em dois passos. Dependendo das condições, estas duas

reações de desidrohalogenação podem ser efetuadas separadamente, ou podem ser realizadas

consecutivamente numa mistura única.

i) A base forte, NaNH2, é capaz de efetuar ambas as desidrohalogenações numa mistura reacional

única.

ii) Devem ser usados pelo menos dois equivalentes molares de NaNH2 por mole do di-

halogeneto, e se o produto é um alcino terminal, devem ser usados três equivalentes molares

porque o alcino terminal é desprotonado pelo NaNH2 à medida que é formado na mistura.

iii) As desidrohalogenações com NaNH2 são geralmente efetuadas em amoníaco líquido ou num

meio inerte tal como óleo mineral.

Um Mecanismo para a Reação

Desidrohalogenação de vic-Dibrometos para formar Alcinos Reação:

Mecanismo:

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Passo 1

Passo 2

2. Exemplos:

3. As cetonas podem ser convertidas em dicloretos geminais através da sua reação com

pentacloreto de fósforo que pode ser usado para sintetizar alcinos.

Química II.2012

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7.11 A ACIDEZ DOS ALCINOS TERMINAIS

1. Os átomos de hidrogénio do etino são consideravelmente mais ácidos do que os do eteno ou

etano:

1) A ordem de basicidade dos aniões é oposta à acidez relativa dos hidrocarbonetos.

Basicidade Relativa dos iões etanido, etenido, e etinido:

CH3CH2:– > CH2=CH:– > HC≡C:–

Acidez Relativa dos compostos de hidrogénio dos elementos do primeiro período da tabela periódica:

H–OH > H–OR > H–C≡CR > H–NH2 > H–CH=CH2 > H–CH2CH3

Basicidade Relativa dos compostos de hidrogénio dos elementos do primeiro

período da tabela periódica:

–:OH < –:OR < –:C≡CR < –:NH2 < –:CH=CH2 < –:CH2CH3

2) Em solução, os alcinos terminais são mais ácidos do que a amónia, no entanto, eles são

menos ácidos do que os álcoois e são menos ácidos do que a água.

3) Na fase gasosa, o ião hidróxido é uma base mais forte do que o ião acetileto.

i) Em solução, os iões mais pequenos (por exemplo, iões de hidróxido) são mais eficazmente

solvatados do que os maiores (por exemplo, iões etinido) e assim, eles são mais estáveis e,

portanto, menos básicos.

ii) Na fase gasosa, os iões grandes são estabilizados pela polarização dos seus eletrões

ligantes, e quanto maior for um grupo mais polarizável será e consequentemente os iões

maiores são menos básicos.

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7.12 A SUBSTITUIÇÃO DO ÁTOMO DE HIDROGÉNIO ACETILÉNICO DE ALCINO TERMINAL

1. Os alcinidos de sódio podem ser preparados por tratamento de alcinos terminais com NaNH2

em amoníaco líquido.

H–C≡C–H + NaNH2 H–C≡C:– Na+ + NH3

CH3C≡C–H + NaNH2 CH3C≡C:– Na+ + NH3

1) O ião amideto (amónia, pKa = 38) é capaz de remover completamente os protões acetilénicos do alcino terminal (pKa = 25).

2. Os alcinidos de sódio são intermediários úteis para a síntese de outros alcinos.

Alcinido de sódio Halogeneto de Alquilo 1° Acetileno mono- ou dissubstituído

3-Hexino (75%)

3. Uma reação SN2:

4. Esta síntese falha quando são utilizados halogenetos secundários ou terciários porque o ião

alcinido atua como uma base, em vez de nucleófilo, e o principal resultado é uma eliminação E2.

7.13 HIDROGENAÇÃO DE ALCENOS

1. Hidrogenação catalítica (uma reação de adição):

1) Adiciona um átomo de hidrogénio a cada carbono da ligação dupla.

2) Sem um catalisador a reação não ocorre a uma velocidade apreciável.

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CH2=CH2 + H2 CH3–CH3

CH3CH=CH2 + H2 CH3CH2–CH3

2. Compostos saturados:

3. Compostos insaturados:

4. O processo de adição de hidrogénio a um alceno é uma redução.

7.14 HIDROGENAÇÃO: A FUNÇÃO DO CATALISADOR

1. A hidrogenação de um alceno é uma reação exotérmica (° ≈ -120 kJ mol-1).

R–CH=CH–R + H2 R–CH2–CH2–R + calor

1) As reações de hidrogenação geralmente têm altas energias livres de ativação.

2) A reação de um alceno com hidrogénio molecular não tem lugar à temperatura ambiente na

ausência de um catalisador, mas muitas vezes tem lugar à temperatura ambiente quando

um catalisador de metal é adicionado.

Figura 7.8 Diagrama de energia livre para a hidrogenação de um alceno na presença de um

catalisador e a reação hipotética, na ausência de um catalisador. A energia livre de ativação [G‡(1)] é

muito maior que a maior energia livre de ativação para a reação catalisada [G‡(2)].

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2. Os catalisadores mais geralmente usados para hidrogenação (platina finamente dividida, níquel,

paládio, ródio e ruténio) aparentemente servem para adsorver as moléculas de hidrogénio na

sua superfície.

1) Os eletrões desemparelhados na superfície do metal emparelham com os eletrões do

hidrogénio e ligam o hidrogénio à superfície.

2) A colisão de um alceno com a superfície do catalisador com hidrogénio adsorvido faz com que

ocorra a adsorção do alceno.

3) Tem lugar uma transferência gradual de átomos de hidrogénio, e isto produz um alcano antes

da molécula orgânica deixar a superfície do catalisador.

4) Ambos os átomos de hidrogénio geralmente adicionam do mesmo lado da molécula (adição

syn).

Figura 7.9 O mecanismo para a hidrogenação de um alceno catalisada por metal de platina finamente dividida: (a) adsorção de hidrogénio, (b) adsorção do alceno, (c) e (d), transferência por passos de ambos os átomos de hidrogénio para a mesma face do alceno (adição syn).

7.14A ADIÇÕES SYN E ANTI

1. Adição Syn:

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2. Adição Anti:

7.15 HIDROGENAÇÃO DE ALCINOS

1. Dependendo das condições e do catalisador utilizados, um ou dois equivalentes molares de

hidrogénio irão adicionar a uma ligação tripla carbono-carbono.

1) Um catalisador de platina catalisa a reação de um alcino com dois equivalentes molares de

hidrogénio para dar um alcano.

CH3C≡CCH3 [CH3CH=CHCH3] CH3CH2CH2CH3

7.15A ADIÇÃO SYN DE HIDROGÉNIO: SÍNTESE DE CIS-ALCENOS

1. Um catalisador que permite a hidrogenação de um alcino a um alceno é o boreto de níquel

chamado catalisador P-2.

1) A hidrogenação de alcinos, na presença do catalisador P-2 faz com que tenha lugar a adição

syn de hidrogénio, e que é formado a partir de um alcino o alceno com uma ligação dupla

interna com configuração (Z) ou cis.

2) A reação tem lugar sobre a superfície do catalisador promovendo a adição syn.

2. O catalisador de Lindlar: paládio metálico depositado sobre carbonato de cálcio e é envenenado

com acetato de chumbo e quinolina.

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7.15B ADIÇÃO ANTI DE HIDROGÉNIO: SÍNTESE DE TRANS-ALCENOS

1. Ocorre uma adição anti de átomos de hidrogénio à ligação tripla quando os alcinos são reduzidos

com lítio ou sódio metálico em amoníaco ou etilamina a baixas temperaturas.

1) Esta reação, chamada uma redução de dissolução de metal, produz um (E)-, ou trans-alceno.

Um Mecanismo para a Reação de Redução

A Redução de Dissolução de Metal de um Alcino

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7.16 FÓRMULAS MOLECULARES DE HIDROCARBONETOS: O ÍNDICE DE DEFICIÊNCIA DE HIDROGÉNIO

1. O 1-hexeno e o ciclo-hexano têm a mesma fórmula molecular (C6H12):

CH2=CHCH2CH2CH2CH3

1-Hexeno Ciclo-hexano

1) O ciclo-hexano e o 1-hexeno são isómeros constitucionais.

2. Alcinos e alcenos com duas ligações duplas (alcadienos) têm a fórmula geral CnH2n-2.

1) Os hidrocarbonetos com uma ligação tripla e uma ligação dupla (alceninos) e alcenos com três

ligações duplas têm a fórmula geral CnH2n-4.

CH2=CH–CH=CH2 CH2=CH–CH=CH–CH=CH2

1,3-Butadieno (C4H6) 1,3,5-Hexatrieno (C6H8)

2. O Índice de Deficiência de Hidrogénio (grau de insaturação, o número de equivalência de

ligações duplas):

1) É uma informação importante sobre a sua estrutura de um composto desconhecido.

2) O índice de deficiência de hidrogénio é definido como o número de pares de átomos de

hidrogénio que deve ser subtraído à fórmula molecular do alcano correspondente para dar a

fórmula molecular do composto em causa.

3) O índice de deficiência de hidrogénio do 1-hexeno e ciclo-hexano:

C6H14 = fórmula do alcano correspondente (hexano)

C6H12 = fórmula do composto (1-hexeno e ciclo-hexano)

H2 = diferença = 1 par de átomos de hidrogénio

Índice de deficiência de hidrogénio = 1

4. Determinação do número de anéis:

1) Cada dupla ligação consome um equivalente molar de hidrogénio, cada ligação tripla consome

dois.

2) Os anéis não são afetados por hidrogenação à temperatura ambiente.

CH2=CH(CH2)3CH3 + H2 CH3(CH2)4CH3

+ H2 Não há reação

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+ H2

Ciclo-hexeno

CH2=CHCH=CHCH2CH3 + 2 H2 CH3(CH2)4CH3

1,3-Hexadieno

3. Cálculo do índice de deficiência de hidrogénio (IDH):

1) Para compostos contendo átomos de halogénio: basta contar os átomos de halogénio como

átomos de hidrogénio.

C4H6Cl2 = C4H8 IDH = 1

2) Para os compostos que contêm átomos de oxigénio: ignorar os átomos de oxigénio e calcular

a IDH da restante parte da fórmula.

C4H8O = C4H8 IDH = 1

CH2=CHCH2CH2OH CH3CH2=CHCH2OH

e assim por diante

3) Para os compostos contendo átomos de azoto: subtrair um hidrogénio por cada átomo de

azoto, e depois ignorar os átomos de azoto.

C4H9N = C4H8 IDH = 1

CH2=CHCH2CH2NH2 CH3CH2=CHCH2NH2

e assim por diante

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Resumo dos Métodos de Preparação de Alcenos e Alcinos

1. Desidrohalogenação de halogenetos de alquilo (Secção 7.6)

Reação Geral

Exemplos Específicos

2. Desidratação de álcoois (Secção 7.7 e 7.8) Reação Geral

Exemplos Específicos

CH3CH2OH CH2=CH2 + H2O

+ H2O

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Resumo dos Métodos de Preparação

de Alcenos e Alcinos

3. Desbromação de dibrometos vicinais (Secção 7.9) Reação Geral

4. Hidrogenação de alcinos (Secção 7.15) Reação Geral

5. Desidrohalogenação de dibrometos vicinais (Secção 7.15) Reação Geral