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1 II SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA FESPSP CRESCIMENTO POPULACIONAL PERIFERICO NO MUNICÍPIO DE SÂO PAULO: O CASO DO DISTRITO ANHANGUERA Ivan Luis Gomes 1 Resumo: O presente texto analisa algumas tendências observadas nas dinâmicas demográficas ocorridas no município de São Paulo a partir da década de 1980 de redução das taxas de crescimento populacional de bairros centrais e aumento significativo dessas taxas em bairros periféricos, bem como os processos associados a tais tendências de expansão urbana e suas conseqüências, a partir da analise do caso do distrito Anhanguera – que foi o distrito que, dentre todos os demais, foi o que mais cresceu em termos populacionais do município de São Paulo. Palavras chaves: cidade, crescimento populacional, crescimento urbano, periferia, São Paulo, Distrito anhanguera. Introdução O presente artigo analisa algumas tendências observadas nas dinâmicas demográficas ocorridas no município de São Paulo, sobretudo, a partir da década de 1980 de redução das taxas de crescimento populacional de bairros centrais e aumento significativo destas em bairros periféricos. Para tanto analisamos o distrito Anhanguera e mais especificamente o bairro Morro Doce situado nesse distrito, local onde realizamos observações de campo e entrevistas qualitativas com os moradores. A partir da década de 1990 o distrito, localizado na região noroeste fazendo divisa com os municípios de Santana de Parnaíba e Cajamar a oeste e noroeste respectivamente e Caieiras e a Nordeste, situado no que se convencionou chamar de periferia urbana registrou a maior taxa de crescimento populacional dentre todos os demais da metrópole paulistana crescendo a taxas anuais superiores a 6,5% (IBGE /SEMPLA), acompanhado por outros distritos também situados na periferia como é o caso Perús, Parelheiros, Cidade Tiradentes, Grajaú e Iguatemi apresentando taxas anuais superiores a 3% (IBGE /SEMPLA). Enquanto que outros distritos, situados em 1 Geógrafo e aluno do segundo ano de graduação do curso Sociologia e política da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo e bolsista do programa PIBIC da FESPSP.

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II SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA FESPSP

CRESCIMENTO POPULACIONAL PERIFERICO NO MUNICÍPIO DE

SÂO PAULO: O CASO DO DISTRITO ANHANGUERA

Ivan Luis Gomes1

Resumo : O presente texto analisa algumas tendências observadas nas dinâmicas demográficas ocorridas no município de São Paulo a partir da década de 1980 de redução das taxas de crescimento populacional de bairros centrais e aumento significativo dessas taxas em bairros periféricos, bem como os processos associados a tais tendências de expansão urbana e suas conseqüências, a partir da analise do caso do distrito Anhanguera – que foi o distrito que, dentre todos os demais, foi o que mais cresceu em termos populacionais do município de São Paulo.

Palavras chaves: cidade, crescimento populacional, crescimento urbano, periferia, São Paulo, Distrito anhanguera. Introdução

O presente artigo analisa algumas tendências observadas nas dinâmicas

demográficas ocorridas no município de São Paulo, sobretudo, a partir da

década de 1980 de redução das taxas de crescimento populacional de bairros

centrais e aumento significativo destas em bairros periféricos. Para tanto

analisamos o distrito Anhanguera e mais especificamente o bairro Morro Doce

situado nesse distrito, local onde realizamos observações de campo e

entrevistas qualitativas com os moradores.

A partir da década de 1990 o distrito, localizado na região noroeste

fazendo divisa com os municípios de Santana de Parnaíba e Cajamar a oeste e

noroeste respectivamente e Caieiras e a Nordeste, situado no que se

convencionou chamar de periferia urbana registrou a maior taxa de

crescimento populacional dentre todos os demais da metrópole paulistana

crescendo a taxas anuais superiores a 6,5% (IBGE /SEMPLA), acompanhado

por outros distritos também situados na periferia como é o caso Perús,

Parelheiros, Cidade Tiradentes, Grajaú e Iguatemi apresentando taxas anuais

superiores a 3% (IBGE /SEMPLA). Enquanto que outros distritos, situados em

1 Geógrafo e aluno do segundo ano de graduação do curso Sociologia e política da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo e bolsista do programa PIBIC da FESPSP.

2

áreas centrais da cidade vem apresentando taxas negativas de crescimento

populacional como é o caso de Pari, Brás e Sé registrando taxas anuais

inferiores a -1,5% (IBGE /SEMPLA).

O crescimento populacional em áreas periféricas da metrópole é

acompanhado de outros processos ligados a ocupação de novas áreas, que,

manifestando-se social e espacialmente com bastante intensidade em alguns

bairros2 de distritos periféricos, reforçam o chamado padrão periférico de

crescimento urbano, que por sua vez, contribui para a expansão

desmesuradamente horizontal da cidade gerando uma série de problemas para

o poder público e, principalmente, para a população.

O aumento exponencial da população no distrito Anhanguera – em

especial no bairro Morro Doce – é, em grande medida, produto desse padrão

de ocupação urbana e será analisado por nós a partir, tanto de processos

ligados a produção social do espaço urbano que se referem à urbanização –

com destaque para a habitação –, industrialização e as periferias – com

destaque para as fronteiras urbanas – do município de São Paulo, quanto de

atores sociais que atuam diretamente na produção imobiliária da região. Como

é o caso das chamadas Associações de moradores e Movimentos de moradia

que vendem lotes – em sua grande maioria irregulares –, a preços abaixo de

mercado e oferecendo condições de pagamento muito boas (numerosas e

pequenas parcelas). A atuação dessas associações, muito recorrentes no

distrito analisado por nós, contribuiu, sobremaneira, para o crescimento

populacional e, por conseguinte para o crescimento horizontal da cidade

trazendo uma série de dificuldades para a população que ali se estabelece

como carência de empregos, infra-estrutura, equipamentos urbanos, transporte

coletivo etc.

Dinâmicas demográficas na metrópole paulistana e pr odução do

espaço urbano

Ao analisarmos as dinâmicas demográficas no município de São Paulo a

partir da década de 1980, notamos duas grandes mudanças em seus padrões

em relação às décadas precedentes. A primeira refere-se às taxas de 2 Como é o caso do bairro situado no distrito Anhanguera e estudado por nós nesse trabalho chamado Morro Doce.

3

crescimento populacional que decaíram consideravelmente entre 1980 e 1990,

sobretudo se comparadas às do início do século XX até a década de 1970

(tabela 01). A segunda, que associada à primeira, refere-se às dinâmicas

demográficas intra-urbanas expressando o processo que nós estamos

chamando de “crescimento populacional periférico”. Acreditamos que uma

breve analise dessas mudanças de forma integrada em conjunto com as

formas de ocupação do território paulistano e a produção de suas formas

urbanas associada à questão da migração e a lógica do processo de

acumulação capitalista possa nos fornecer maiores subsídios para o estudo do

fenômeno que estamos empreendendo nessa pesquisa.

Tabela 01. Evolução da População por Componentes no município de São Paulo – 1900/ 2010

Anos População Taxa Anual de crescimento (%)

1900 239.820 4,51

1920 579.033 4,23

1940 1.326.261 5,18

1950 2.198.096 5,58

1960 3.781.446 4,52

1970 5.885.475 3,71

1980 8.475.380 1,15

1991 9.610.659 0,91

2000 10.426.384 0,60*

2004 10.679.760* 0,45*

2010 10.970.942* -

Fonte: IBGE – Censos Demográficos; Fundação Seade (2004). Movimento do registro Civil. * Valores estimados. Fundação Seade.

O crescimento da população paulistana ao longo do século XX,

sobretudo a partir da década de 1930, que, impulsionado pelo processo de

industrialização, foi acompanhado por um acelerado processo de crescimento

urbano do município de São Paulo e dos municípios de seu entorno formando

uma malha urbana que hoje abrange 213 dos 39 municípios que compõe a

Região metropolitana de São Paulo conformando um território extremamente

heterogêneo do ponto de vista espacial. Para Ântico (2000: 01):

3 “Esses 21 municípios correspondem a 91,4% da população total da região metropolitana de São Paulo, que atingiu 17,9 milhões em 2000” (TORRES: 2005, 101).

4

A heterogeneidade espacial da região metropolitana de São Paulo reflete diferentes épocas e suas formas de ocupação, expressando desigualdades sociais, num processo de diferenciação das áreas, através de distintas formas de integração às atividades econômicas metropolitanas. Expressa-se, assim, tanto em termos da estruturação urbana dos municípios, como de sua função na divisão do trabalho, refletindo-se também num processo de redistribuição espacial da população diferenciado.

A forma de ocupação de vastos contingentes populacionais e produção

do espaço urbano no município de São Paulo que faz referência à nossa área

de estudo, é aquela que se inicia a partir da década de 1950 e que na literatura

sobre estudos urbanos costuma ser chamada por diversos nomes: padrão

periférico de crescimento urbano, urbanização dispersa, horizontal ou

espraiada, urbanização por produção ou expansão de periferias etc. Vale

salientar que esses processos são mais visíveis na Região Metropolitana de

São Paulo por se tratar de uma região muito superior em área em relação ao

município de São Paulo apresentando, por conseguinte, uma maior diversidade

quanto aos aspetos físico-territoriais, sócio-espaciais e econômico-urbanos.

A forma de ocupação do espaço metropolitano, desde os anos 50, através do padrão expansão das periferias, é indicativa de desigualdades internas nos processos de formação e transformação sociais e urbanas, e pode ser observada através das taxas de crescimento populacional mais elevadas dos municípios que compõe o entorno metropolitano do que o município central e do movimento migratório intrametropolitano na mesma direção. Tais processos, associados à existência de áreas concentradoras de empregos e de áreas que se integram à divisão no espaço metropolitano desempenhando a função de dormitório, resultam no distanciamento entre os locais de residência e de trabalho. Caracterizando-se, assim, como um espaço extremamente heterogêneo e desigual, a metrópole vem se configurando num espaço em que grande parcela da população precisa percorrer longos trajetos diários para chegar ao local de trabalho ou para satisfazer suas necessidades de consumo e lazer. Esse aspecto pode ser observado, não só pelos deslocamentos inter-municipais metropolitanos, mas também pela grande movimentação interna aos municípios, principalmente no município de São Paulo (Ibidem: 02).

O quadro acima apresentado pela autora sobre as formas de ocupação

do espaço metropolitano enfatiza a questão das grandes distâncias nos

deslocamentos entre o local de moradia, geralmente em bairros periféricos, e o

local de trabalho, consumo e lazer. Diante desse quadro poderíamos indagar:

5

por que a metrópole vem se configurando num espaço extremamente

heterogêneo e desigual com relação à oferta de empregos e do ponto de vista

urbanístico (condições de moradia, acesso a serviços, infra-estrutura etc.)?

Em primeiro lugar, é necessário mencionar que tal tendência não é

observada apenas na metrópole paulistana. Sobre o processo de urbanização

das cidades brasileiras4 discorrendo sobre a organização interna e caótica das

cidades, Milton Santos (2009: 105) coloca que:

Com diferença de grau e de intensidade, todas as cidades brasileiras exibem problemáticas parecidas. Seu tamanho, tipo de atividade, região em que se inserem etc. são elementos de diferenciação, mas, em todas elas, problemas como os do emprego, da habitação, dos transportes, do lazer, da água, dos esgotos, da educação e saúde são genéricos e revelam enormes carências. Quanto maior a cidade, mais visíveis se tornam essas mazelas. Mas essas chagas estão em toda parte. Isso era menos verdade na primeira metade deste século, mas a urbanização corporativa, isto é, empreendida sob o comando dos interesses das grandes firmas, constitui um receptáculo das conseqüências de uma expansão capitalista devorante dos recursos públicos, uma vez que esses são orientados para os investimentos econômicos, em detrimento dos gastos sociais

De fato, a produção do espaço urbano e seu ordenamento se dão

prioritariamente conforme as necessidades do modo de produção de capitalista

e de forma corporativa como argumenta Milton Santos. E em menor escala no

plano que se refere à reprodução do espaço da vida social. Trata-se, na

realidade, de uma contradição

entre a produção de um espaço em função das necessidades econômicas e políticas e ao mesmo tempo a reprodução do espaço da vida social. No primeiro caso a reprodução do espaço se dá pela imposição de uma racionalidade técnica assentada nas necessidades impostas pelo desenvolvimento da acumulação que produz o espaço como condição / produto da produção, revelando as contradições que o capitalismo suscita em seu desenvolvimento, o que impõe limites e barreiras a sua reprodução (caso do mercado imobiliário de terras a partir da escassez de terrenos). No segundo caso a reprodução da vida na metrópole se realiza na relação contraditória entre a necessidade e o desejo, uso e troca, identidade e não-identidade, estranhamento e reconhecimento que permeiam a prática sócioespacial (CARLOS: 2001, 18).

4 É importante salientar que os problemas decorrentes do processo de urbanização das cidades brasileiras também podem, em menor ou maior escala, ser observados em cidades de outros países.

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Portanto o espaço e em especial o espaço urbano, é pensado por essa

racionalidade técnica da qual fala a autora e concebido como o lócus da

produção (tanto de bens materiais quanto imateriais) e do consumo por

excelência, o que requer pensar no espaço a localização das diferentes etapas

dos processos produtivos – produção, distribuição, circulação, troca e consumo

– permitindo que o ciclo do capital se desenvolva e possibilite a continuidade

de sua (re)produção de forma ampliada (Ibidem: 15). Por outro lado, os

arranjos espaciais que correspondem ao ordenamento de todas as atividades

produtivas e improdutivas que viabilizam os processos produtivos na metrópole

geram a valorização ou desvalorização do espaço urbano. Somado a esse

fator, o espaço na dinâmica do modo de produção capitalista é passível de ser

mercantilizado, parcelado, de se obter renda fundiária ou ainda, “como tem

ocorrido mais recentemente, pela sua crescente inclusão nos circuitos de

circulação do capital financeiro, tornando-se cada vez mais capital fictício”

(BOTELHO: 2007, 21). Nesse sentido, o espaço também passa a ser

comercializado como qualquer outra mercadoria embora com características

que o distingam de todas as demais por se tratar de ser “uma condição geral

de existência e reprodução da sociedade” (Ibidem: 22). Ou como afirma Carlos

(2001: 11) quando coloca que “o espaço é condição, meio e produto da

realização da sociedade humana em toda sua multiplicidade”.

Pensar esses processos de forma articulada significa pensar a cidade

em que haveria

Uma lógica que tende a se impor como “ordem estabelecida” que define o modo como a cidade vai-se reproduzindo (...) pela ação dos promotores imobiliários, das estratégias do sistema financeiro e da gestão política, às vezes de modo conflitante, em outros momentos de forma convergente (...) mas em todos os casos orientando e reorganizando o processo de produção espacial por meio da realização da divisão socioespacial do trabalho, da hierarquização dos lugares e da fragmentação dos espaços vendidos e comprados no mercado. A ação do Estado – por intermédio do poder local – ao intervir no processo de produção da cidade reforça a hierarquia de lugares, criando novas centralidades e expulsando para a periferia os antigos habitantes (...) (CARLOS: 2001, 15).

A cidade, dentro dessa lógica, é regida, portanto, muito mais pelo capital

e pelos grupos sociais de maior influência econômica e política e residualmente

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pela maior parte da população, que, ainda de forma muito incipiente5,

participam dos processos decisórios de transformação e produção das cidades,

na busca de se fazer valer o direito a cidade. Isto é, de se fazer valer o direito

de transformar a cidade em algo radicalmente diferente a partir da possibilidade

de participação de todos almejando a satisfação das necessidades também de

todos como argumentou David Harvey em sua palestra inaugural no Fórum

Social Mundial de 2009 sobre Reforma Urbana.

Políticas habitacionais, produção da periferia e cr escimento urbano

Partindo da idéia já esboçada por nós, de que o ordenamento espacial

urbano e sua produção se dão conforme as necessidades do modo de

produção capitalista e de que essas necessidades prevaleceriam sobre as

chamadas “sociais”, tem-se que, historicamente, as áreas de investimentos

escolhidas pelo Estado dentro da cidade bem como as políticas de provisão

habitacional seguiam, quase que invariavelmente, critérios de mercado.

Mautner (2004: 249) coloca que

No Brasil a garantia da reprodução da força de trabalho por meio da intervenção do Estado jamais foi colocada como necessidade imediata para a acumulação de capital. O investimento sistemático em áreas da economia consideradas estratégicas para o desenvolvimento econômico e o descaso para com a reprodução da força de trabalho impediu uma leitura mais sutil de formas de provisão habitacional dirigidas aos setores estratégicos da força de trabalho para a consolidação do desenvolvimento econômico.

“As análises sobre política habitacional no Brasil”, continua a autora,

por muito tempo apontaram, não sem razão, para o papel meramente simbólico da intervenção no setor da habitação popular; o que é compreensível, dado o resultado limitado da provisão de unidades habitacionais pelo estado e, mais, do limitado alcance dessas políticas para as camadas mais pobres da população. No entanto, as políticas habitacionais atingiram, por meio de sistemas de crédito, outros objetivos, como a organização e o fortalecimento da indústria da construção no setor habitacional e também a geração de emprego.

A solução para o déficit habitacional para moradias de baixa renda no país

haveria, portanto, de ser dada pela própria população que integrava esse

5 Como a partir de experiências de Planos Diretores Participativos e Orçamentos Participativos.

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quociente. Para tal, a solução encontrada recorrentemente era a de procurar

pela forma menos oneroso de habitação (favela, cortiço, auto-construção etc.).

A partir do fim da Segunda Guerra Mundial, a extensão do assalariamento, o acesso por ônibus a terra distante e barata na periferia, a industrialização dos materiais básicos de construção, somados à crise do aluguel e às frágeis políticas habitacionais do Estado, tornaram o trinômio loteamento popular /casa própria /autoconstrução a forma predominante de assentamento residencial da classe trabalhadora (Ibidem, 248).

Outro fator que contribuiu ainda mais para o processo de periferização,

fazendo com que o local de moradia da parcela da população de baixa renda

não atendida pelas políticas habitacionais, distasse ainda mais das áreas

urbanisticamente consolidadas foi o livre arbítrio dado ao mercado imobiliário

na especulação do solo urbano. A omissão do poder público frente à maioria

dos problemas de áreas empobrecidas, como é o caso de muitas das regiões

situadas na periferia das cidades, abriu espaço para a atuação do setor privado

da economia, que segundo seus próprios interesses, orientaram e organizaram

o desenvolvimento da metrópole.

O parcelamento do solo testemunhou, desde as primeiras décadas do século, a força dessa tese. A ausência de instrumento de controle do crescimento urbano elaborados pelo poder público, no seu período mais dinâmico, tornou-se uma marca da metropolização paulistana (MEYER, GROSTEIN e BIDERMAN, 2004: 49).

O processo pelo qual se realizou a dinâmica especulativa do solo urbano

pelo mercado imobiliário associado à produção da periferia, pode ser descrito

da seguinte forma:

A especulação imobiliária [...] adotou um método, próprio, para parcelar a terra da cidade. Tal método consistia (e consiste) no seguinte: o novo loteamento nunca era feito em contigüidade imediata ao anterior, já provido de serviços públicos. Ao contrário, entre o novo loteamento e o último já equipado, deixava-se uma área de terra vazia, sem lotear. Completado o novo loteamento, a linha de ônibus que o serviria seria, necessariamente, um prolongamento a partir do último centro equipado. Quando estendida, a linha de ônibus passa pela área não loteada, trazendo-lhe imediata valorização. O mesmo ocorreria (e ocorre) com os demais serviços públicos: para servir o ponto extremo loteado, passariam por áreas vazias, beneficiárias imediatas de melhoramento público. Dessa forma, transferia-se para o valor da terra, de modo indireto e geralmente

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antecipado, a benfeitoria pública (Kowarick, apud Cardoso, Camargo e Kowarick: 1993, 36 e 37).

Trata-se do que alguns autores denominam de “vazios urbanos” e de sua

funcionalidade no processo de acumulação capitalista e de estruturação da

metrópole. Nesse sentido, as chamadas periferias urbanas são concebidas

como uma das condições para a realização para esse mesmo processo de

acumulação, que em grande medida se traduziu (e se traduz) na valorização do

solo urbano (sobretudo dos vazios) por meio da atuação do mercado imobiliário

e de políticas públicas habitacionais6.

Conceitualmente, as chamadas periferias urbanas costumam ser

definidas como áreas onde se estabelecem grandes aglomerados humanos de

baixo poder aquisitivo em que as carências sociais e urbanísticas se

sobressaem, tais como: elevadas taxas de ocupação de construções e famílias

por lote, casas construídas com materiais precários ou faltando reboque, laje

etc., falta de infra-estrutura viária (asfaltamento, calçadas etc.), social (creches,

escolas, universidades, hospitais etc.), de lazer (espaços públicos – praças,

parques etc.) cultural (teatros, cinemas, museus etc.) etc. Contando muitas

vezes, apenas com a existência de estabelecimentos para a satisfação de

necessidades básicas (“mercadinho”, padaria, farmácia etc.). Deve-se

assinalar, no entanto, que as periferias, como formas urbanas, não apresentam

conteúdos – sociais, econômicos, culturais, políticos e urbanísticos –

homogêneos.

Marques e Bichir (2001: 10) argumentam que com base na literatura

sociológica e urbana dos anos 1970 e 1980 as periferias metropolitanas das

cidades brasileiras eram caracterizadas de forma bastante precisa.

Estas representariam territórios sem Estado totalmente intocados pelas políticas públicas, exceto pelos empreendimentos habitacionais massificados implantados a partir do final dos anos 1960, o que teria levado à constituição de espaços de vida bastante precária.

Já para Bonduki (2001: 93 e 94) o conceito de periferia estava atrelado à

questão do loteamento periférico e o processo de favelização ocorrendo dentro

6 Basta atentar para a localização da maior parte de COHAB’S e de CDHU’S no município.

10

destes loteamentos que se caracterizavam pelo seu caráter de precariedade e

de falta de infra-estrutura. Também mencionava que

dos anos 1940 até aos anos 1970, o padrão periférico foi o elemento fundamental de expansão da cidade. (...) A lógica do padrão periférico é a lógica da extensão ilimitada da cidade: loteamentos muito baratos, para onde vai à população que precisa da terra como bucha de canhão, sofrendo durante anos as dificuldades relativas à falta de infra-estrutura, mas que também pressiona o Estado pela chegada de investimentos.

Todas as definições de periferia colocadas até aqui apontam para um

processo de

exclusão urbanística, representada pela gigantesca ocupação ilegal do solo, sendo ignorado na representação da “cidade oficial”. Ela não cabe nas categorias do planejamento modernista/funcionalista, pois mostra semelhança com as formas urbanas pré-modernas (fazendo-se analogia aos burgos-medievais). (...) Ela não cabe também no contexto do mercado imobiliário formal/legal, que corresponde ao urbanismo modernista (MARICATO, 2002: 122).

A representação da periferia como cidade ilegal pelo Estado, dificulta

sua intervenção seja em função de questões burocráticas (leis de zoneamento,

leis de parcelamento do solo etc.) ou pelo próprio desconhecimento de seu

universo (“Ela não cabe ainda, de modo rigoroso, nos procedimentos dos

levantamentos elaborados pela nossa maior agência de dados, o IBGE”

[Ibidem: 122]). Os urbanistas, analisando a ocupação do solo urbano na cidade

de São Paulo, alertam para existência de uma cidade ilegal onde viveriam

cerca de mais de 50% da população, se estendendo por áreas protegidas por

leis ambientais. Para Maricato (Ibidem: 123):

A ilegalidade é (...) funcional – para as relações políticas arcaicas, para um mercado imobiliário restrito e especulativo, para a aplicação arbitrária da lei, de acordo com a relação de favor. Dependendo do ponto de vista, no entanto, ele é muito disfuncional: para a sustentabilidade ambiental, para as relações democráticas e mais igualitárias, para a qualidade de vida urbana, para a ampliação da cidadania. A segregação territorial e todos os corolários que a acompanham – falta de saneamento ambiental, riscos de desmoronamento, riscos de enchentes, violência – estão a ele vinculados.

11

Portanto o crescimento urbano das periferias paulistanas – se

estendendo muitas vezes para além dos limites do município – ocorreu de

forma distinta

daquele pautado pelas teorias urbanísticas tradicionais. Apesar de não planejadas, ou até mesmo por isso, essas áreas viabilizaram-se pelos investimentos públicos feitos de modo assistemático, fora do contexto de qualquer plano diretor ou viário. Apenas na década de 1970 a prática do planejamento urbano encontrou o seu espaço institucional no âmbito dos organismos públicos do município de São Paulo, o que também significou a implementação de políticas integradas de desenvolvimento urbano. Representou a intenção – ainda que formal – de impor alguma racionalidade à organização dos espaços na cidade (MEYER, GROSTEIN e BIDERMAN, 2004: 48).

O padrão de crescimento urbano por expansão das periferias faz com

que a cidade cresça horizontalmente de forma ilimitada. Mautner (2004, 256 e

257, grifos da autora) escreve que, embora esse padrão seja fragmentado e

descontínuo no tempo e no espaço, ele pode ser apresentado a partir de

uma seqüência de três camadas, as duas primeiras consistindo em trabalho, cobrindo e preparando a terra a terceira, o capital. Para ser coberta pela primeira camada de trabalho, a terra tem que ser transformada em propriedade. Lotes são colocados à venda, e sua somatória é um loteamento irregular. Prestações são calculadas de acordo com os salários vigentes, baixos, e lucros auferidos por meio de especulação, retenção de lotes. Para possibilitar a construção, as imobiliárias fazem a subdivisão dos lotes e abertura de ruas. Algumas casas são construídas pelos moradores usando quantidade de trabalho remunerado variável em uma escala que se inicia com a autoconstrução e termina na contratação de trabalho remunerado para a casa toda: construção por encomenda. (...). A segunda camada de trabalho, agora remunerada, corresponde à resposta do governo local a (...) pressões pela extensão de infra-estrutura aos loteamentos. Para isso é desejável a “legalização” dessas áreas. O processo de legalização envolve, em princípio, a adequação do loteamento à legislação urbana vigente (infra-estrutura, dimensão dos lotes, áreas institucionais, áreas verdes etc.). Como dificilmente a legislação é seguida – pois essa ausência é a condição dos preços acessíveis às pessoas de baixa renda -, outros procedimentos são instaurados, como os perdões públicos ou anistias que acabam por “legalizar” bairros inteiros da periferia urbana. A extensão de infra-estrutura na periferia (basicamente água, luz, pavimentação, drenagem) abre o caminho para a entrada de capital – a terceira camada – em um processo que pode levar cinco, dez, quinze anos, dependendo da posição do bairro na

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estrutura urbana, para que essas áreas se transformem propriamente em “espaço urbano”.

Somado a todos esses fatores relacionados não podemos desprezar a

funcionalidade das dinâmicas migratórias para o município e para a Região

metropolitana de São Paulo no processo de acumulação de capital e para

produção da periferia que historicamente foi, e, continua sendo, um importante

elemento de estruturação da metrópole em termos culturais7, sociais,

econômicos, políticos, e espaciais.

A primeira grande leva de migrantes que chegaram a cidade de São

Paulo e aos municípios de seu entorno ocorreu no final do século XIX e nas

primeiras décadas do século XX. Originários de outros países como Itália,

Japão, Alemanha, Portugal etc., constituíam a maior parte das pessoas que

chegavam a São Paulo até o início da década de 1940. A partir dessa década

os fluxos migratórios

constituíam-se em maior parte por pessoas vindas de regiões do próprio país, principalmente do Nordeste e de Minas Gerais. Entre 1970 e 1980, esse componente respondeu por 45% do incremento populacional do município, com a taxa anual de crescimento chegando a 3,7%. Após 1980, a migração perdeu força e os saldos migratórios foram negativos (tabela 02) nos períodos 1980/91 e 1991/2000 (62 mil e 50 mil pessoas ao ano, respectivamente) (SEADE 2004).

É importante destacar que um dos fatores mais importante pela atração

de elevados contingentes populacionais para São Paulo foi o surto industrial

observado a partir da década de 1930. Tal surto, ao longo do século XX

transformou a cidade no maior pólo receptor de mão-de-obra no Brasil.

Do ponto de vista dos migrantes oriundos de outras regiões do Brasil,

que em geral corresponde àquela parcela da população proveniente de

ambiente rural empobrecida e desempregada, que estão à procura de outras

regiões, a busca por grandes centros urbanos – como é caso de São Paulo –, é

motivada pela idéia de que nesses locais irão conseguir emprego e melhores

condições de vida (tanto para o migrante quanto para a família). O que de fato

muitas vezes acontece, “já que, (...) as atividades urbanas, particularmente a

7 Para Spozati (2001: 162), “São Paulo com sua grande multiplicidade cultural, é cidade de mil povos. (...) São Paulo é conhecida como a maior cidade italiana fora da Itália, a maior cidade japonesa fora do Japão, a maior cidade baiana ou mineira fora da Bahia ou de Minas. São Paulo registra as ruas dos Ingleses, Franceses, Italianos, Portugueses”.

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indústria, paga salários mais altos que os rendimentos auferidos no campo”

(OLIVEIRA, 2003:41). No entanto, pela lógica do processo de acumulação

capitalista nunca houve oferta de emprego para todos aqueles que estavam à

procura. Fato que na realidade era funcional para um novo modo de

acumulação que estava se instaurando com a passagem da economia de base

agro-exportadora para urbano-industrial a partir da década de 1930. Para esse

novo modo de acumulação, a legislação trabalhista cumpriria um papel

decisivo, como através da criação do salário mínimo.

Tabela 02. Evolução da População por Componentes no município de São Paulo – 1900/ 1991 Anos População Crescimento

médio anual Saldo vegetativo médio anual

Saldo migratório médio anual

1900 239.820 16.961 6.195 10.766

1920 579.033 37.361 12.353 25.008

1940 1.326.261 87.184 24.554 62.630

1950 2.198.096 158.335 65.272 93.063

1960 3.781.446 210.403 97.046 113.357

1970 5.885.475 258.991 141.544 117.447

1980 8.475.380 103.207 165.440 -62.233

1991 9.610.659 90.636 141.049 -50.413

2000 10.426.384 - - -

Fonte: IBGE – Censos Demográficos; Fundação Seade (2004). Movimento do registro Civil

Importa não esquecer que a legislação (trabalhista) interpretou o salário mínimo rigorosamente como “salário de subsistência”, isto é, de reprodução; os critérios de fixação do primeiro salário mínimo levaram em conta as necessidades alimentares (em termos de calorias, proteínas etc.) para um padrão de trabalhador que devia enfrentar um certo tipo de produção, com um certo tipo de uso de força mecânica, comprometimento psíquico etc. Está-se pensando rigorosamente, em termos de salário mínimo, como a quantidade de força de trabalho que o trabalhador poderia vender. Não há nenhum outro parâmetro para o cálculo das necessidades do trabalhador; não existe na legislação, nem nos critérios, nenhuma incorporação dos ganhos de produtividade do trabalho (Ibidem: 37 e 38).

Na realidade, Oliveira não considera esses aspectos ainda como

decisivos, mas sim que as leis trabalhistas incluindo a questão do salário

mínimo, propiciariam a transformação de grande parte da população que

afluíam as cidades em “exército de reserva” disponível. Fato que possibilitou a

prática sistemática de rebaixamento dos salários dos trabalhadores, que do

14

ponto de vista da reprodução de sua força de trabalho os obrigava a procurar

pela forma mais barata (geralmente favela, cortiço ou autoconstrução) de

moradia nas cidades.

Ao pesquisarmos a história recente (desde 1930) da cidade de São

Paulo é comum encontrarmos na literatura a expressão: “São Paulo foi (é) a

locomotiva do Brasil” para designar o papel dessa cidade como o centro

industrial, financeiro, a que mais produziu (produz) riquezas no país. Para

atestarmos a veracidade dessa expressão basta procurar por indicadores como

PIB do município (gráfico 01), renda per capta ou qualquer outro de pujança

econômica. No entanto, quando nos debruçamos sobre estudos relacionados à

qualidade de vida de parte da população que ajudou a produzir “tais índices”

(riquezas), os indicadores apontam para outra direção.

Gráfico 01: Comparação do PIB do município de São Paulo com o de alguns Estados selecionados

Fonte: http://sempla.prefeitura.sp.gov.br/olhar/

No início da década de 1970 (até a crise do petróleo em 1973), os

indicadores econômicos mostravam que o crescimento no Brasil era superior a

10%, período em que se convencionou chamar de milagre econômico. Apesar

do crescimento econômico do país ter refletido no desenvolvimento econômico

de grandes metrópoles como foi o caso de São Paulo, ele se deu através da

maximização da exploração da mais valia culminando com a “pauperização de

vastas parcelas das classes trabalhadoras” (KOWARICK: 1993, 33). O gráfico

15

02 mostra a relação entre a evolução do crescimento do PIB per Capita e a

evolução do salário mínimo no Brasil no período de 1940 até 1998. Após 1962

nota-se uma gradativa, com suaves variações, diminuição do salário mínimo,

enquanto que o PIB per capita com crescimento gradativo até o inicio da

década de 1970, registrando um crescimento abrupto nessa década se

estabelecendo em patamares, com algumas variações, cada vez mais

elevados em relação ao salário mínimo.

Gráfico 02: Evolução do salário mínimo e do PIB per capita.

Fonte: DIEESE; IBGE. Elaboração: DIEESE. Disponível em http://www.dieese.org.br/esp/salmin/ salmin00.xml acessado em 22/06/2008.

Esse “modelo” de urbanização e industrialização com baixos salários, se

por um lado impulsionou o crescimento econômico do país, por outro, era

sustentado pela manutenção da pobreza8. Nas palavras de Rolnik (2009: 8):

Em menos de 40 anos, entre as décadas de 1940 e 1980, a população brasileira passou de predominantemente rural para majoritariamente urbana. Impulsionado pela migração de um vasto contingente de pobres, esse movimento sócio-territorial, um dos mais rápidos e intensos de que se tem notícia, ocorreu sob a égide de um modelo de desenvolvimento urbano que privou as faixas de menor renda de condições básicas de urbanidade e de inserção efetiva à cidade.

8 Este “modelo” foi objeto de estudo e descrito em São Paulo 1975 Crescimento e Pobreza, que tinha como intuito, analisar as condições de vida na cidade de São Paulo. Esse estudo, de grande relevância para a época, demonstrava as disparidades existentes entre o pujante crescimento econômico da cidade de São Paulo promovida pelas políticas do regime militar e as condições salariais, de moradia e de trabalho para a grande maioria dos trabalhadores (MARQUES e TORRES, 2005: 9).

16

Crescimento populacional periférico

A partir da década de 1980, e mais intensamente na década de 1990,

nota-se um recrudescimento da taxa de crescimento populacional no município

de São Paulo, passando de 3,71% da década de 1970 à década de 1980 para

1,15% até a 1991 e de 0,91% até 2000 (SEADE: 2004), ao mesmo tempo em

se observa em algumas áreas periféricas, geralmente caracterizadas pelo

“discurso da ausência” (de infra-estrutura, empregos, estado etc.), dentro do

município um rápido e elevado crescimento de sua população como é o caso

dos distritos Anhanguera, Perus, Parelheiros, Grajaú, Iguatemi e Cidade

Tiradentes e outros situados em áreas centrais mais consolidados e servidos

de melhor infra-estrutura com maior cobertura de serviços e equipamentos

urbanos, que, curiosamente, estão “perdendo” população como é o caso de

Penha, Vila Matilde, Lapa, Tucuruvi, Santo Amaro, Brás, Pari, Sé etc. (mapa

01).

Barbon (2004: 02), se referindo a Região Metropolitana de São Paulo,

coloca que

A partir da década de 80 a região metropolitana de São Paulo apresentou mudanças em seu perfil migratório, com aumento da importância dos movimentos internos que são atualmente tão importantes na estruturação da metrópole quanto o foram, em décadas passadas, os da migração inter-regional.

Torres (2004: 1), por sua vez, define a dinâmica demográfica intra

urbana de São Paulo na década de 1990 como “selvagem”, se referindo a

“perda” significativa de população de áreas centrais dos principais municípios

da região (São Paulo, Osasco, Guarulhos e ABC) e o crescimento da

população de outras áreas periféricas com taxas superiores a 5% as quais o

autor chama de fronteira urbana.

De fato, as áreas que denominamos aqui por fronteira urbana cresceram, em média, 6,3% ao ano, passando de 19 para 30% da população total da Mancha Urbana de São Paulo entre os anos de 1991 e 2000, atingindo um total de quase 5 milhões de habitantes. Sem esta região, a metrópole teria apresentado crescimento demográfico nulo.

17

Mapa 01: Taxas de crescimento anual da população: 1991/2005.

Fonte: Ibge/ sempla. Disponível em http://sempla.prefeitura.sp.gov.br/olhar/pdf/pag15.pdf

Ainda segundo o autor as áreas dentro das cidades as quais são

denominadas por ele fronteira urbana apresentariam as seguintes

características:

18

a) As fronteiras são regiões com altas taxas de crescimento demográfico e com substancial migração; b) As fronteiras apresentam infra-estrutura precária e em construção. De modo geral, o Estado está pouco presente, seja regulando o uso da terra, seja através da oferta de serviços públicos; c) A fronteira parece funcionar como uma “válvula de escape”, o lugar de concentração daqueles que não tem lugar nem em áreas urbanas consolidadas, nem em áreas rurais tradicionais d) A fronteira é objeto de importantes conflitos sobre a posse da terra urbana (loteamentos clandestinos, favelas) ou rural; e) A fronteira apresenta intensos conflitos ambientais relativos a ocupação de áreas florestais e de mananciais (Ibidem: 4 e 5).

Essa expressão, dentro da tipologia proposta pelo autor (da qual

falaremos mais adiante) que toma como critério principal a distribuição espacial

da taxa de crescimento demográfico para as áreas de ponderação dos 21

municípios que formam a mancha urbana de São Paulo, identifica áreas (em

sua maioria periféricas em termos geométricos) de ocupação recente ainda não

consolidadas em termos urbanísticos apresentando déficits no tocante a infra-

estrutura urbana (rede de serviços, equipamentos urbanos etc.). A distinção de

áreas com essas características nas chamadas periferias urbanas – que são

áreas heterogêneas, como mencionado anteriormente – é estratégica e pode

fornecer importantes subsídios para a formulação de políticas públicas para

estas áreas.

Além da fronteira urbana (que apresenta taxas de crescimento

populacional maiores que 3%), o autor em sua tipologia propõe duas outras

áreas que apresentariam diferenças em relação às taxas de crescimento

populacional e presença de infra-estrutura; a “periferia consolidada” e a “cidade

consolidada” que apresentariam respectivamente taxas de crescimento

populacional entre 0 e 3% ao ano e taxas negativas, conforme podemos

observar no mapa 02, que por sua vez, apresenta algumas semelhanças com o

mapa 01.

19

Mapa 02: Taxa de crescimento geométrica anual das áreas 2000 de ponderação (IBGE, censo 2000) da Região Metropolitana de São Paulo, 1991-2000.

Fonte: TORRES (2004: 6) modificado pelo autor

É importante salientar que o corte de 3% de crescimento demográfico

para caracterizar a fronteira urbana é arbitrário, mas, segundo o autor, de

grande interesse porque aponta para dinâmica de transformação do espaço

urbano ao longo do tempo (Ibidem: 8). Quantificando os dados referentes às

áreas de distribuição espacial das taxas de crescimento populacional da

mancha urbana da Região metropolitana de São Paulo entre 1991 a 2000 tem-

se:

Legenda Municípios selecionados

São Paulo

Taxa de crescimento 1991 – 2000 (%) - - 8 a 0

0 a 3 3 ou mais

20

Tabela 03: População e Taxa de Crescimento Demográfico da Mancha Urbana de São Paulo (1991 – 2000)

População Total Fronteira

urbana

Periferia

Consolidada

Cidade

Consolidada

1991 14.433.279 2.792.215 4.902.889 6.738.175

2000 16.346.908 4.860.477 5.494.694 5.991.737

Taxa de Crescimento

1991- 2000 (%)

1,39 6,35 1,27 -1,30

Fonte: TORRES (2004: 9) modificado pelo autor

Todos os dados apresentados referentes a “fronteira urbana” apontam

para uma tendência de espraiamento do tecido urbano, intensificando, embora

em outro contexto, o chamado padrão periférico de crescimento urbano que foi

elemento fundamental de crescimento da região metropolitana de São Paulo de

1940 a 1970, como mencionado anteriormente. O distrito Anhanguera, a partir

da década de 1990, pode ser considerado como um dos principais

“representantes” de processo recente de intensificação do padrão periférico de

crescimento urbano.

O debate em torno dessa questão também vem ganhando espaço na

mídia. Em fevereiro de 2008 o jornal Folha de São Paulo publicou uma matéria

com o título: “Centro expandido de São Paulo perde "uma Santos" em 11

anos”. Segundo a reportagem:

(O) Total de moradores que deixaram a região equivale à população da cidade litorânea. Já a periferia da cidade inchou e tem 1,23 milhão de moradores a mais do que tinha em 1996; tendência preocupa urbanistas. Levantamento da Folha com base em dados da Fundação Seade e do IBGE revelam duas tendências da cidade. Enquanto o centro expandido perde população suficiente para compor uma cidade do porte de Santos, a periferia incha o equivalente a Guarulhos. Segundo o Seade, entre 1996, (...), e 2007, o centro expandido, que abrange os bairros de alto poder aquisitivo, como Moema, perdeu 441 mil pessoas. Nesse mesmo período, os extremos de São Paulo, onde estão as regiões mais pobres, como o Grajaú, ganharam cerca de 1,23 milhão de moradores. Ao mesmo tempo, a população de cidades como Barueri, Vargem Grande Paulista e Santana de Parnaíba, que concentram condomínios de luxo na Grande São Paulo, quase dobrou no mesmo período. O fenômeno tem nomes: urbanização dispersa ou espraiamento da ocupação. (...). O tema gera preocupações em aspectos como a distribuição de água, a coleta de lixo e o transporte público - serviços mais difíceis (e caros) nesse ambiente mais fragmentado do que a cidade tradicional. Além disso, especialistas apontam implicações mais amplas e preocupantes,

21

como a ocupação de áreas de mananciais e o uso intensivo do carro.

Os problemas decorrentes desse processo de urbanização que se

realiza pela (re)produção de novas periferias cada vez mais distantes dos

centros, já são amplamente conhecidos pelos gestores públicos dos municípios

e pela sociedade, que de uma forma geral, sobretudo os mais pobres, arcam

com o ônus de posturas e políticas permissivas que possibilitam a recorrência

desses processos.

Embora tais problemas afetem cada vez mais as coletividades, é

importante salientar que as afetam de forma desigual. Pois o espaço urbano,

embora seja produzido socialmente (coletivamente), é apropriado de forma

privada pelos diferentes grupos sociais que compõe a população. Trata-se de

uma disputa por “localizações” nas cidades em que aqueles que possuem

maior renda geralmente conseguem uma “melhor localização”, o que lhes

confere em termos de acesso a serviços, infra-estrutura e oferta de emprego

uma melhor inserção na cidade.

Por outro lado, parece que a questão sobre a procura por uma melhor

localização garantindo melhor inserção nas cidades deve ser rediscutida. Pois

o fato de uma “Santos” ter deixado o centro expandido do município de São

Paulo em 11 anos e ou os dados apresentados pelo mapa 01 sobre mobilidade

urbana, colocam novas questões acerca do que pode ser entendido como uma

“boa localização” para se morar na cidade.

Em uma concepção clássica de estudos empíricos sobre mobilidade

residencial, mobilidade intra-urbana e crescimento urbano, Januzzi e Januzzi

(2002: 116) colocam que,

o valor médio da terra urbana seria o fator determinante básico para a atratividade residencial: menor o preço dos terrenos e moradias ou aluguéis maior a propensão da área em receber novos residentes.

Ainda segundo os autores, diversos outros fatores poderiam atuar subsidiando

na atratividade residencial de áreas urbanas acentuando-a ou arrefecendo-a,

tais como:

a disponibilidade de crédito imobiliário, a existência de serviços urbanos (água, luz, coleta de lixo), a proximidade a equipamentos públicos (escolas, praças etc), do local de

22

trabalho, de locais de maior oferta de emprego, deseconomias de aglomeração (violência, qualidade de vida, poluição sonora, do ar e visual), legislação urbanística (uso do solo, avanço do comércio, grau de verticalização permitido etc.), as restrições de natureza ambiental ou geográfica (presença de áreas de proteção, áreas sujeitas a inundação etc.), a existência de vazios urbanos, as características do sistema viário, do transporte público, os interesses do capital imobiliário e os impactos de decorrentes das intervenções públicas.

No caso do distrito Anhanguera e em especial no bairro Morro Doce é

possível identificarmos alguns desses fatores de atratividade residencial tais

como: (baixo) valor do solo urbano, farta oferta de terrenos, transporte público

precário, falta de equipamentos urbanos, infra-estrutura urbana precária dentre

outros.

Distrito Anhanguera e formação urbana do bairro Mor ro Doce: o

papel das associações e movimentos de moradia nesse processo

O distrito Anhanguera, localizado na região noroeste do município de

São Paulo, está situado entre os distritos Perus e Jaraguá a leste e sudeste sul

respectivamente e fazendo divisa com os municípios de Caieiras ao Norte e

Cajamar a Noroeste. Dos 96 distritos que compõe o município de São Paulo,

Anhanguera está em 6º no ranking das áreas geográficas de abrangência de

todos os distritos, com uma área de 33,3Km² perdendo apenas para Marsilac

(200 Km²), Parelheiros (153,5 Km²), Grajaú (92 Km²), Tremembé (56,3 Km²) e

Jardim Ângela (37,4 Km²) (SPOZATI, 2001: 32). Ao longo de 50 anos a

população do distrito passou de 429 habitantes em 1950 para 38.427 (IBGE,

Censo 1950 e 2000) em 2000, com densidade demográfica em torno de 515

hab./km2 (EMPLASA, 2008). Em 2008 sua população estaria em torno 58.708

habitantes9. Com base nos dados extraídos dos censos e da contagem da

população (1996) realizados pelo IBGE e do site www.nossasaopaulo.org.br

(2008) desde a década de 1950 é possível representarmos graficamente

(gráfico 03) o aumento da população no distrito.

Spozati (2001: 119) em “Cidades aos Pedaços” com base nos dados do

censo demográfico de 1991 do IBGE e pela contagem populacional de 1996

9 Segundo dados extraídos do site www.nossasaopaulo.org.br. Disponível em < http://www.nossasaopaulo.org.br/observatorio/regioes.php?regiao=19&distrito=3>

23

realizada pelo mesmo instituto em mapa, mostra que de 1991 a 1996 houve um

incremente populacional de 100 a 129.96% apenas no distrito Anhanguera.

Analisando o mapa sobre a distribuição de renda na cidade de São

Paulo (mapa 03), percebemos que parte dos domicílios (30,01 a 45%) situados

no distrito Anhanguera possuem renda familiar de até 3 salários, enquanto que

apenas 10% dos domicílios possuem renda familiar de 20 ou mais salários

mínimos. Dados que evidenciam pequena presença de domicílios de renda

familiar elevada e predominância de domicílios com de baixa (e em menor

proporção, média) renda familiar.

Gráfico 3: Evolução do crescimento da população no distrito Anhanguera

Fontes: dados IBGE Censos 1950, 1960, 1970, 1980, 1991 e 2000, IBGE Contagem da população 1996 e www.nossasaopaulo.org.br 2008. Organizado pelo autor.

Do ponto de vista habitacional, Marques (2005a: 237) coloca que as

periferias mais extremas, locais onde nosso campo empírico está inserido,

seriam marcadas de forma geral por baixa ou nenhuma atividade imobiliária

organizada (construtoras, empreiteiras etc.) colocando como hipótese a grande

presença de auto-construção como importante fator de produção imobiliária no

distrito, já que o distrito testemunhou elevada atividade imobiliário diretamente

relacionada à alocação da população.

Após algumas idas a campo e realização de entrevistas com moradores

e funcionários de uma associação de moradores que atua no bairro, ficou nítida

a importância das chamadas associações de moradores e movimentos por

moradia na produção imobiliária da região. A formação urbana do bairro, com

base na fala de muitos entrevistados, que se inicia efetivamente a partir do

24

início da década de 1990, parece estar fortemente vinculada à atuação das

associações e movimentos por moradia, dos quais podemos destacar:

Associação dos Trabalhadores sem Terra (ATST) e Movimento Quero um Teto

Central que atuam no bairro desde 1993.

Mapa 03 – Distribuição de renda na cidade de São Paulo

Fonte: http://sempla.prefeitura.sp.gov.br/olhar/

O processo de ocupação de áreas e urbanização no bairro é muito

similar ao descrito anteriormente por Mautner (2004). Estariam ali

materializadas de forma seqüencial as três camadas10 das quais fala autora,

com a diferença de que quem compra grandes áreas faz a divisão desta em

lotes e faz a abertura de ruas não são imobiliárias, mas sim, as associações e

movimentos de moradia. Esses lotes são então comercializados, de forma

clandestina e irregular, para os que se venham a definir como membros da 10 As duas primeiras consistindo em trabalho, cobrindo e preparando a terra a terceira, o capital. Ver páginas 10 e 11.

25

associação ou da entidade a partir de um contrato simples de compra e venda.

O que significa que o comprador do lote não obtém a escritura do terreno e

tampouco da casa a ser construída no terreno. Caso o “proprietário” daquele

terreno demonstre interesse em vendê-lo, desmembrá-lo ou tentar sua

regularização na prefeitura deve pagar uma taxa a associação. Não por acaso,

alguns entrevistados moradores do bairro e funcionários das associações

equiparam o trabalho realizado das associações a uma atividade econômica

como qualquer outra. Trabalhar na associação trata-se, nas palavras de um

entrevistado, de um “ramo /meio de vida”. Convêm salientar que, via de regra,

os loteamentos abertos pelas associações, desobedecem a legislação relativa

ao parcelamento e uso do solo, apresentando infra-estrutura urbana

insuficiente para as demandas dos moradores do bairro.

Analisando a atuação das associações e movimentos por moradia,

acreditamos, polemizando um pouco a discussão, poder comparar seus

trabalhos ao de imobiliárias que atuam tanto no mercado formal quanto

informal de terras. O público alvo, ou o segmento nesse mercado, são famílias

de baixa renda que buscam a aquisição de terrenos (seja para se libertar do

aluguel, realocar familiares, parentes, amigos, sair de situação de rua etc.),

perseguindo, assim, o sonho de tantos brasileiros do acesso à casa própria

(mesmo sem a obtenção da escritura). Portanto, as condições de pagamento

bem como o valor dos terrenos têm de ser de acordo com esse segmento de

mercado. Segundo um entrevistado, morador do bairro, muitos lotes poderiam

ser adquiridos por oito salários mínimos em média e pago em numerosas e

pequenas prestações. É importante destacar que a atuação das associações e

movimentos de moradia no bairro é possível, graças a algumas condições

especificas ao local das quais se destaca o valor do solo urbano (Mapa 04).

Por outro lado, as associações, com base no discurso de alguns

funcionários das associações e também em função de sua importância para

produção imobiliário no bairro, podem ser concebidas como agentes sociais

que ajudam a reduzir o déficit habitacional para parte da parcela da população

de baixa renda que vive na metrópole paulistana. É importante destacar,

contudo, que tal solução para a questão do déficit habitacional deve ser

problematizada. O que as associações “asseguram” na realidade, é o acesso a

propriedade privada mesmo que em condições irregulares e o provimento de

26

alguma infra-estrutura urbana que acaba se efetivando como um

desdobramento do processo de formação urbana do bairro. O chamado direito

a moradia adequada, tão preconizado por Raquel Rolnik pressupõe, além de

moradia, infra-estrutura e equipamentos urbanos, o acesso a oportunidades de

trabalho, oportunidades econômicas, garantia dos meios de sobrevivência etc.

“Ou seja, as oportunidades para o desenvolvimento humano em um patamar

digno. Importante dizer que esse conceito está baseado em legislações e

pactos internacionais, estabelecidos entre os países no âmbito da ONU”

(ROLNIK, 2010). Para colocar esse conceito em prática, é necessário que se

formulem políticas habitacionais articuladas ao planejamento urbano, dando

bastante ênfase para a questão da mobilidade urbana e que ao mesmo tempo

limitem a atuação do mercado de terras (especulação imobiliária). Na falta de

terrenos, outra possibilidade seria a de alocar famílias de baixa renda em

moradias verticalizadas no centro da metrópole.

Mapa 04: Valor do solo urbano na região de Perus e Anhanguera

Fonte: Sempla. Disponível em http://sempla.prefeitura.sp.gov.br/mm/panorama. Modificado pelo autor

Morro Doce

27

Considerações Finais

Por meio da análise das dinâmicas demográficas na metrópole

paulistana a partir da década de 1980, e em especial, do fenômeno

demográfico que nós denominamos de crescimento populacional periférico no

distrito Anhanguera em conjunto com as formas de ocupação áreas periféricas

decorrentes do fenômeno, foi possível constatar, tanto as soluções

encontradas pelo mercado imobiliário para reprodução do capital quanto o

apontamento de algumas tendências relativas ao processo de expansão

urbana do município de São Paulo a partir da reprodução do padrão periférico

de crescimento urbano.

Essas duas constatações na realidade devem ser interpretadas de forma

articulada como duas faces do mesmo processo de reprodução do capital. A

lógica nesse caso seria a seguinte: inicialmente, as áreas situadas na periferia

da metrópole sem qualquer existência de infra-estrutura, representam uma

fronteira para reprodução do capital. Por outro lado,

No momento atual do processo histórico, do ponto de vista da reprodução do capital, o processo de reprodução espacial, com a generalização da urbanização, produz uma nova contradição, que é a que se refere à diferença entre a antiga possibilidade de ocupar áreas como lugares de expansão da mancha urbana (como por exemplo, através do parcelamento de antigas chácaras ou fazendas que estão na origem de muitos bairros da metrópole paulista) e sua presente impossibilidade diante da escassez de áreas (CARLOS: 2007, 74).

Contradição está que também se coloca como fronteira a ser transposta para a

reprodução do capital. Dessa maneira, torna-se imperativo a criação de vetores

de expansão e valorização urbana, seja por parte tanto, do poder público cujo

exemplo mais bem acabado nesse sentido foi a construção do Rodoanel na

Região Metropolitana de São Paulo, quanto de agentes privados como é o

caso das associações por meio dos loteamentos. À medida que o bairro onde o

loteamento foi criado vai crescendo, aumentam-se as pressões sobre a

municipalidade para provimento de infra-estrutura urbana. Quando está chega,

o valor do solo urbano tende a aumentar fazendo com que a população mais

pobre procure por moradia em locais onde o valor do solo urbano é mais

barato.

28

Essa é uma das lógicas por de trás do processo de reprodução do

capital por meio do mercado de terras que nos ajuda a entender a razão pela

qual o padrão periférico de crescimento urbano tende a se reproduzir ad

infinitum.

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