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II SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA FESPSP
CRESCIMENTO POPULACIONAL PERIFERICO NO MUNICÍPIO DE
SÂO PAULO: O CASO DO DISTRITO ANHANGUERA
Ivan Luis Gomes1
Resumo : O presente texto analisa algumas tendências observadas nas dinâmicas demográficas ocorridas no município de São Paulo a partir da década de 1980 de redução das taxas de crescimento populacional de bairros centrais e aumento significativo dessas taxas em bairros periféricos, bem como os processos associados a tais tendências de expansão urbana e suas conseqüências, a partir da analise do caso do distrito Anhanguera – que foi o distrito que, dentre todos os demais, foi o que mais cresceu em termos populacionais do município de São Paulo.
Palavras chaves: cidade, crescimento populacional, crescimento urbano, periferia, São Paulo, Distrito anhanguera. Introdução
O presente artigo analisa algumas tendências observadas nas dinâmicas
demográficas ocorridas no município de São Paulo, sobretudo, a partir da
década de 1980 de redução das taxas de crescimento populacional de bairros
centrais e aumento significativo destas em bairros periféricos. Para tanto
analisamos o distrito Anhanguera e mais especificamente o bairro Morro Doce
situado nesse distrito, local onde realizamos observações de campo e
entrevistas qualitativas com os moradores.
A partir da década de 1990 o distrito, localizado na região noroeste
fazendo divisa com os municípios de Santana de Parnaíba e Cajamar a oeste e
noroeste respectivamente e Caieiras e a Nordeste, situado no que se
convencionou chamar de periferia urbana registrou a maior taxa de
crescimento populacional dentre todos os demais da metrópole paulistana
crescendo a taxas anuais superiores a 6,5% (IBGE /SEMPLA), acompanhado
por outros distritos também situados na periferia como é o caso Perús,
Parelheiros, Cidade Tiradentes, Grajaú e Iguatemi apresentando taxas anuais
superiores a 3% (IBGE /SEMPLA). Enquanto que outros distritos, situados em
1 Geógrafo e aluno do segundo ano de graduação do curso Sociologia e política da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo e bolsista do programa PIBIC da FESPSP.
2
áreas centrais da cidade vem apresentando taxas negativas de crescimento
populacional como é o caso de Pari, Brás e Sé registrando taxas anuais
inferiores a -1,5% (IBGE /SEMPLA).
O crescimento populacional em áreas periféricas da metrópole é
acompanhado de outros processos ligados a ocupação de novas áreas, que,
manifestando-se social e espacialmente com bastante intensidade em alguns
bairros2 de distritos periféricos, reforçam o chamado padrão periférico de
crescimento urbano, que por sua vez, contribui para a expansão
desmesuradamente horizontal da cidade gerando uma série de problemas para
o poder público e, principalmente, para a população.
O aumento exponencial da população no distrito Anhanguera – em
especial no bairro Morro Doce – é, em grande medida, produto desse padrão
de ocupação urbana e será analisado por nós a partir, tanto de processos
ligados a produção social do espaço urbano que se referem à urbanização –
com destaque para a habitação –, industrialização e as periferias – com
destaque para as fronteiras urbanas – do município de São Paulo, quanto de
atores sociais que atuam diretamente na produção imobiliária da região. Como
é o caso das chamadas Associações de moradores e Movimentos de moradia
que vendem lotes – em sua grande maioria irregulares –, a preços abaixo de
mercado e oferecendo condições de pagamento muito boas (numerosas e
pequenas parcelas). A atuação dessas associações, muito recorrentes no
distrito analisado por nós, contribuiu, sobremaneira, para o crescimento
populacional e, por conseguinte para o crescimento horizontal da cidade
trazendo uma série de dificuldades para a população que ali se estabelece
como carência de empregos, infra-estrutura, equipamentos urbanos, transporte
coletivo etc.
Dinâmicas demográficas na metrópole paulistana e pr odução do
espaço urbano
Ao analisarmos as dinâmicas demográficas no município de São Paulo a
partir da década de 1980, notamos duas grandes mudanças em seus padrões
em relação às décadas precedentes. A primeira refere-se às taxas de 2 Como é o caso do bairro situado no distrito Anhanguera e estudado por nós nesse trabalho chamado Morro Doce.
3
crescimento populacional que decaíram consideravelmente entre 1980 e 1990,
sobretudo se comparadas às do início do século XX até a década de 1970
(tabela 01). A segunda, que associada à primeira, refere-se às dinâmicas
demográficas intra-urbanas expressando o processo que nós estamos
chamando de “crescimento populacional periférico”. Acreditamos que uma
breve analise dessas mudanças de forma integrada em conjunto com as
formas de ocupação do território paulistano e a produção de suas formas
urbanas associada à questão da migração e a lógica do processo de
acumulação capitalista possa nos fornecer maiores subsídios para o estudo do
fenômeno que estamos empreendendo nessa pesquisa.
Tabela 01. Evolução da População por Componentes no município de São Paulo – 1900/ 2010
Anos População Taxa Anual de crescimento (%)
1900 239.820 4,51
1920 579.033 4,23
1940 1.326.261 5,18
1950 2.198.096 5,58
1960 3.781.446 4,52
1970 5.885.475 3,71
1980 8.475.380 1,15
1991 9.610.659 0,91
2000 10.426.384 0,60*
2004 10.679.760* 0,45*
2010 10.970.942* -
Fonte: IBGE – Censos Demográficos; Fundação Seade (2004). Movimento do registro Civil. * Valores estimados. Fundação Seade.
O crescimento da população paulistana ao longo do século XX,
sobretudo a partir da década de 1930, que, impulsionado pelo processo de
industrialização, foi acompanhado por um acelerado processo de crescimento
urbano do município de São Paulo e dos municípios de seu entorno formando
uma malha urbana que hoje abrange 213 dos 39 municípios que compõe a
Região metropolitana de São Paulo conformando um território extremamente
heterogêneo do ponto de vista espacial. Para Ântico (2000: 01):
3 “Esses 21 municípios correspondem a 91,4% da população total da região metropolitana de São Paulo, que atingiu 17,9 milhões em 2000” (TORRES: 2005, 101).
4
A heterogeneidade espacial da região metropolitana de São Paulo reflete diferentes épocas e suas formas de ocupação, expressando desigualdades sociais, num processo de diferenciação das áreas, através de distintas formas de integração às atividades econômicas metropolitanas. Expressa-se, assim, tanto em termos da estruturação urbana dos municípios, como de sua função na divisão do trabalho, refletindo-se também num processo de redistribuição espacial da população diferenciado.
A forma de ocupação de vastos contingentes populacionais e produção
do espaço urbano no município de São Paulo que faz referência à nossa área
de estudo, é aquela que se inicia a partir da década de 1950 e que na literatura
sobre estudos urbanos costuma ser chamada por diversos nomes: padrão
periférico de crescimento urbano, urbanização dispersa, horizontal ou
espraiada, urbanização por produção ou expansão de periferias etc. Vale
salientar que esses processos são mais visíveis na Região Metropolitana de
São Paulo por se tratar de uma região muito superior em área em relação ao
município de São Paulo apresentando, por conseguinte, uma maior diversidade
quanto aos aspetos físico-territoriais, sócio-espaciais e econômico-urbanos.
A forma de ocupação do espaço metropolitano, desde os anos 50, através do padrão expansão das periferias, é indicativa de desigualdades internas nos processos de formação e transformação sociais e urbanas, e pode ser observada através das taxas de crescimento populacional mais elevadas dos municípios que compõe o entorno metropolitano do que o município central e do movimento migratório intrametropolitano na mesma direção. Tais processos, associados à existência de áreas concentradoras de empregos e de áreas que se integram à divisão no espaço metropolitano desempenhando a função de dormitório, resultam no distanciamento entre os locais de residência e de trabalho. Caracterizando-se, assim, como um espaço extremamente heterogêneo e desigual, a metrópole vem se configurando num espaço em que grande parcela da população precisa percorrer longos trajetos diários para chegar ao local de trabalho ou para satisfazer suas necessidades de consumo e lazer. Esse aspecto pode ser observado, não só pelos deslocamentos inter-municipais metropolitanos, mas também pela grande movimentação interna aos municípios, principalmente no município de São Paulo (Ibidem: 02).
O quadro acima apresentado pela autora sobre as formas de ocupação
do espaço metropolitano enfatiza a questão das grandes distâncias nos
deslocamentos entre o local de moradia, geralmente em bairros periféricos, e o
local de trabalho, consumo e lazer. Diante desse quadro poderíamos indagar:
5
por que a metrópole vem se configurando num espaço extremamente
heterogêneo e desigual com relação à oferta de empregos e do ponto de vista
urbanístico (condições de moradia, acesso a serviços, infra-estrutura etc.)?
Em primeiro lugar, é necessário mencionar que tal tendência não é
observada apenas na metrópole paulistana. Sobre o processo de urbanização
das cidades brasileiras4 discorrendo sobre a organização interna e caótica das
cidades, Milton Santos (2009: 105) coloca que:
Com diferença de grau e de intensidade, todas as cidades brasileiras exibem problemáticas parecidas. Seu tamanho, tipo de atividade, região em que se inserem etc. são elementos de diferenciação, mas, em todas elas, problemas como os do emprego, da habitação, dos transportes, do lazer, da água, dos esgotos, da educação e saúde são genéricos e revelam enormes carências. Quanto maior a cidade, mais visíveis se tornam essas mazelas. Mas essas chagas estão em toda parte. Isso era menos verdade na primeira metade deste século, mas a urbanização corporativa, isto é, empreendida sob o comando dos interesses das grandes firmas, constitui um receptáculo das conseqüências de uma expansão capitalista devorante dos recursos públicos, uma vez que esses são orientados para os investimentos econômicos, em detrimento dos gastos sociais
De fato, a produção do espaço urbano e seu ordenamento se dão
prioritariamente conforme as necessidades do modo de produção de capitalista
e de forma corporativa como argumenta Milton Santos. E em menor escala no
plano que se refere à reprodução do espaço da vida social. Trata-se, na
realidade, de uma contradição
entre a produção de um espaço em função das necessidades econômicas e políticas e ao mesmo tempo a reprodução do espaço da vida social. No primeiro caso a reprodução do espaço se dá pela imposição de uma racionalidade técnica assentada nas necessidades impostas pelo desenvolvimento da acumulação que produz o espaço como condição / produto da produção, revelando as contradições que o capitalismo suscita em seu desenvolvimento, o que impõe limites e barreiras a sua reprodução (caso do mercado imobiliário de terras a partir da escassez de terrenos). No segundo caso a reprodução da vida na metrópole se realiza na relação contraditória entre a necessidade e o desejo, uso e troca, identidade e não-identidade, estranhamento e reconhecimento que permeiam a prática sócioespacial (CARLOS: 2001, 18).
4 É importante salientar que os problemas decorrentes do processo de urbanização das cidades brasileiras também podem, em menor ou maior escala, ser observados em cidades de outros países.
6
Portanto o espaço e em especial o espaço urbano, é pensado por essa
racionalidade técnica da qual fala a autora e concebido como o lócus da
produção (tanto de bens materiais quanto imateriais) e do consumo por
excelência, o que requer pensar no espaço a localização das diferentes etapas
dos processos produtivos – produção, distribuição, circulação, troca e consumo
– permitindo que o ciclo do capital se desenvolva e possibilite a continuidade
de sua (re)produção de forma ampliada (Ibidem: 15). Por outro lado, os
arranjos espaciais que correspondem ao ordenamento de todas as atividades
produtivas e improdutivas que viabilizam os processos produtivos na metrópole
geram a valorização ou desvalorização do espaço urbano. Somado a esse
fator, o espaço na dinâmica do modo de produção capitalista é passível de ser
mercantilizado, parcelado, de se obter renda fundiária ou ainda, “como tem
ocorrido mais recentemente, pela sua crescente inclusão nos circuitos de
circulação do capital financeiro, tornando-se cada vez mais capital fictício”
(BOTELHO: 2007, 21). Nesse sentido, o espaço também passa a ser
comercializado como qualquer outra mercadoria embora com características
que o distingam de todas as demais por se tratar de ser “uma condição geral
de existência e reprodução da sociedade” (Ibidem: 22). Ou como afirma Carlos
(2001: 11) quando coloca que “o espaço é condição, meio e produto da
realização da sociedade humana em toda sua multiplicidade”.
Pensar esses processos de forma articulada significa pensar a cidade
em que haveria
Uma lógica que tende a se impor como “ordem estabelecida” que define o modo como a cidade vai-se reproduzindo (...) pela ação dos promotores imobiliários, das estratégias do sistema financeiro e da gestão política, às vezes de modo conflitante, em outros momentos de forma convergente (...) mas em todos os casos orientando e reorganizando o processo de produção espacial por meio da realização da divisão socioespacial do trabalho, da hierarquização dos lugares e da fragmentação dos espaços vendidos e comprados no mercado. A ação do Estado – por intermédio do poder local – ao intervir no processo de produção da cidade reforça a hierarquia de lugares, criando novas centralidades e expulsando para a periferia os antigos habitantes (...) (CARLOS: 2001, 15).
A cidade, dentro dessa lógica, é regida, portanto, muito mais pelo capital
e pelos grupos sociais de maior influência econômica e política e residualmente
7
pela maior parte da população, que, ainda de forma muito incipiente5,
participam dos processos decisórios de transformação e produção das cidades,
na busca de se fazer valer o direito a cidade. Isto é, de se fazer valer o direito
de transformar a cidade em algo radicalmente diferente a partir da possibilidade
de participação de todos almejando a satisfação das necessidades também de
todos como argumentou David Harvey em sua palestra inaugural no Fórum
Social Mundial de 2009 sobre Reforma Urbana.
Políticas habitacionais, produção da periferia e cr escimento urbano
Partindo da idéia já esboçada por nós, de que o ordenamento espacial
urbano e sua produção se dão conforme as necessidades do modo de
produção capitalista e de que essas necessidades prevaleceriam sobre as
chamadas “sociais”, tem-se que, historicamente, as áreas de investimentos
escolhidas pelo Estado dentro da cidade bem como as políticas de provisão
habitacional seguiam, quase que invariavelmente, critérios de mercado.
Mautner (2004: 249) coloca que
No Brasil a garantia da reprodução da força de trabalho por meio da intervenção do Estado jamais foi colocada como necessidade imediata para a acumulação de capital. O investimento sistemático em áreas da economia consideradas estratégicas para o desenvolvimento econômico e o descaso para com a reprodução da força de trabalho impediu uma leitura mais sutil de formas de provisão habitacional dirigidas aos setores estratégicos da força de trabalho para a consolidação do desenvolvimento econômico.
“As análises sobre política habitacional no Brasil”, continua a autora,
por muito tempo apontaram, não sem razão, para o papel meramente simbólico da intervenção no setor da habitação popular; o que é compreensível, dado o resultado limitado da provisão de unidades habitacionais pelo estado e, mais, do limitado alcance dessas políticas para as camadas mais pobres da população. No entanto, as políticas habitacionais atingiram, por meio de sistemas de crédito, outros objetivos, como a organização e o fortalecimento da indústria da construção no setor habitacional e também a geração de emprego.
A solução para o déficit habitacional para moradias de baixa renda no país
haveria, portanto, de ser dada pela própria população que integrava esse
5 Como a partir de experiências de Planos Diretores Participativos e Orçamentos Participativos.
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quociente. Para tal, a solução encontrada recorrentemente era a de procurar
pela forma menos oneroso de habitação (favela, cortiço, auto-construção etc.).
A partir do fim da Segunda Guerra Mundial, a extensão do assalariamento, o acesso por ônibus a terra distante e barata na periferia, a industrialização dos materiais básicos de construção, somados à crise do aluguel e às frágeis políticas habitacionais do Estado, tornaram o trinômio loteamento popular /casa própria /autoconstrução a forma predominante de assentamento residencial da classe trabalhadora (Ibidem, 248).
Outro fator que contribuiu ainda mais para o processo de periferização,
fazendo com que o local de moradia da parcela da população de baixa renda
não atendida pelas políticas habitacionais, distasse ainda mais das áreas
urbanisticamente consolidadas foi o livre arbítrio dado ao mercado imobiliário
na especulação do solo urbano. A omissão do poder público frente à maioria
dos problemas de áreas empobrecidas, como é o caso de muitas das regiões
situadas na periferia das cidades, abriu espaço para a atuação do setor privado
da economia, que segundo seus próprios interesses, orientaram e organizaram
o desenvolvimento da metrópole.
O parcelamento do solo testemunhou, desde as primeiras décadas do século, a força dessa tese. A ausência de instrumento de controle do crescimento urbano elaborados pelo poder público, no seu período mais dinâmico, tornou-se uma marca da metropolização paulistana (MEYER, GROSTEIN e BIDERMAN, 2004: 49).
O processo pelo qual se realizou a dinâmica especulativa do solo urbano
pelo mercado imobiliário associado à produção da periferia, pode ser descrito
da seguinte forma:
A especulação imobiliária [...] adotou um método, próprio, para parcelar a terra da cidade. Tal método consistia (e consiste) no seguinte: o novo loteamento nunca era feito em contigüidade imediata ao anterior, já provido de serviços públicos. Ao contrário, entre o novo loteamento e o último já equipado, deixava-se uma área de terra vazia, sem lotear. Completado o novo loteamento, a linha de ônibus que o serviria seria, necessariamente, um prolongamento a partir do último centro equipado. Quando estendida, a linha de ônibus passa pela área não loteada, trazendo-lhe imediata valorização. O mesmo ocorreria (e ocorre) com os demais serviços públicos: para servir o ponto extremo loteado, passariam por áreas vazias, beneficiárias imediatas de melhoramento público. Dessa forma, transferia-se para o valor da terra, de modo indireto e geralmente
9
antecipado, a benfeitoria pública (Kowarick, apud Cardoso, Camargo e Kowarick: 1993, 36 e 37).
Trata-se do que alguns autores denominam de “vazios urbanos” e de sua
funcionalidade no processo de acumulação capitalista e de estruturação da
metrópole. Nesse sentido, as chamadas periferias urbanas são concebidas
como uma das condições para a realização para esse mesmo processo de
acumulação, que em grande medida se traduziu (e se traduz) na valorização do
solo urbano (sobretudo dos vazios) por meio da atuação do mercado imobiliário
e de políticas públicas habitacionais6.
Conceitualmente, as chamadas periferias urbanas costumam ser
definidas como áreas onde se estabelecem grandes aglomerados humanos de
baixo poder aquisitivo em que as carências sociais e urbanísticas se
sobressaem, tais como: elevadas taxas de ocupação de construções e famílias
por lote, casas construídas com materiais precários ou faltando reboque, laje
etc., falta de infra-estrutura viária (asfaltamento, calçadas etc.), social (creches,
escolas, universidades, hospitais etc.), de lazer (espaços públicos – praças,
parques etc.) cultural (teatros, cinemas, museus etc.) etc. Contando muitas
vezes, apenas com a existência de estabelecimentos para a satisfação de
necessidades básicas (“mercadinho”, padaria, farmácia etc.). Deve-se
assinalar, no entanto, que as periferias, como formas urbanas, não apresentam
conteúdos – sociais, econômicos, culturais, políticos e urbanísticos –
homogêneos.
Marques e Bichir (2001: 10) argumentam que com base na literatura
sociológica e urbana dos anos 1970 e 1980 as periferias metropolitanas das
cidades brasileiras eram caracterizadas de forma bastante precisa.
Estas representariam territórios sem Estado totalmente intocados pelas políticas públicas, exceto pelos empreendimentos habitacionais massificados implantados a partir do final dos anos 1960, o que teria levado à constituição de espaços de vida bastante precária.
Já para Bonduki (2001: 93 e 94) o conceito de periferia estava atrelado à
questão do loteamento periférico e o processo de favelização ocorrendo dentro
6 Basta atentar para a localização da maior parte de COHAB’S e de CDHU’S no município.
10
destes loteamentos que se caracterizavam pelo seu caráter de precariedade e
de falta de infra-estrutura. Também mencionava que
dos anos 1940 até aos anos 1970, o padrão periférico foi o elemento fundamental de expansão da cidade. (...) A lógica do padrão periférico é a lógica da extensão ilimitada da cidade: loteamentos muito baratos, para onde vai à população que precisa da terra como bucha de canhão, sofrendo durante anos as dificuldades relativas à falta de infra-estrutura, mas que também pressiona o Estado pela chegada de investimentos.
Todas as definições de periferia colocadas até aqui apontam para um
processo de
exclusão urbanística, representada pela gigantesca ocupação ilegal do solo, sendo ignorado na representação da “cidade oficial”. Ela não cabe nas categorias do planejamento modernista/funcionalista, pois mostra semelhança com as formas urbanas pré-modernas (fazendo-se analogia aos burgos-medievais). (...) Ela não cabe também no contexto do mercado imobiliário formal/legal, que corresponde ao urbanismo modernista (MARICATO, 2002: 122).
A representação da periferia como cidade ilegal pelo Estado, dificulta
sua intervenção seja em função de questões burocráticas (leis de zoneamento,
leis de parcelamento do solo etc.) ou pelo próprio desconhecimento de seu
universo (“Ela não cabe ainda, de modo rigoroso, nos procedimentos dos
levantamentos elaborados pela nossa maior agência de dados, o IBGE”
[Ibidem: 122]). Os urbanistas, analisando a ocupação do solo urbano na cidade
de São Paulo, alertam para existência de uma cidade ilegal onde viveriam
cerca de mais de 50% da população, se estendendo por áreas protegidas por
leis ambientais. Para Maricato (Ibidem: 123):
A ilegalidade é (...) funcional – para as relações políticas arcaicas, para um mercado imobiliário restrito e especulativo, para a aplicação arbitrária da lei, de acordo com a relação de favor. Dependendo do ponto de vista, no entanto, ele é muito disfuncional: para a sustentabilidade ambiental, para as relações democráticas e mais igualitárias, para a qualidade de vida urbana, para a ampliação da cidadania. A segregação territorial e todos os corolários que a acompanham – falta de saneamento ambiental, riscos de desmoronamento, riscos de enchentes, violência – estão a ele vinculados.
11
Portanto o crescimento urbano das periferias paulistanas – se
estendendo muitas vezes para além dos limites do município – ocorreu de
forma distinta
daquele pautado pelas teorias urbanísticas tradicionais. Apesar de não planejadas, ou até mesmo por isso, essas áreas viabilizaram-se pelos investimentos públicos feitos de modo assistemático, fora do contexto de qualquer plano diretor ou viário. Apenas na década de 1970 a prática do planejamento urbano encontrou o seu espaço institucional no âmbito dos organismos públicos do município de São Paulo, o que também significou a implementação de políticas integradas de desenvolvimento urbano. Representou a intenção – ainda que formal – de impor alguma racionalidade à organização dos espaços na cidade (MEYER, GROSTEIN e BIDERMAN, 2004: 48).
O padrão de crescimento urbano por expansão das periferias faz com
que a cidade cresça horizontalmente de forma ilimitada. Mautner (2004, 256 e
257, grifos da autora) escreve que, embora esse padrão seja fragmentado e
descontínuo no tempo e no espaço, ele pode ser apresentado a partir de
uma seqüência de três camadas, as duas primeiras consistindo em trabalho, cobrindo e preparando a terra a terceira, o capital. Para ser coberta pela primeira camada de trabalho, a terra tem que ser transformada em propriedade. Lotes são colocados à venda, e sua somatória é um loteamento irregular. Prestações são calculadas de acordo com os salários vigentes, baixos, e lucros auferidos por meio de especulação, retenção de lotes. Para possibilitar a construção, as imobiliárias fazem a subdivisão dos lotes e abertura de ruas. Algumas casas são construídas pelos moradores usando quantidade de trabalho remunerado variável em uma escala que se inicia com a autoconstrução e termina na contratação de trabalho remunerado para a casa toda: construção por encomenda. (...). A segunda camada de trabalho, agora remunerada, corresponde à resposta do governo local a (...) pressões pela extensão de infra-estrutura aos loteamentos. Para isso é desejável a “legalização” dessas áreas. O processo de legalização envolve, em princípio, a adequação do loteamento à legislação urbana vigente (infra-estrutura, dimensão dos lotes, áreas institucionais, áreas verdes etc.). Como dificilmente a legislação é seguida – pois essa ausência é a condição dos preços acessíveis às pessoas de baixa renda -, outros procedimentos são instaurados, como os perdões públicos ou anistias que acabam por “legalizar” bairros inteiros da periferia urbana. A extensão de infra-estrutura na periferia (basicamente água, luz, pavimentação, drenagem) abre o caminho para a entrada de capital – a terceira camada – em um processo que pode levar cinco, dez, quinze anos, dependendo da posição do bairro na
12
estrutura urbana, para que essas áreas se transformem propriamente em “espaço urbano”.
Somado a todos esses fatores relacionados não podemos desprezar a
funcionalidade das dinâmicas migratórias para o município e para a Região
metropolitana de São Paulo no processo de acumulação de capital e para
produção da periferia que historicamente foi, e, continua sendo, um importante
elemento de estruturação da metrópole em termos culturais7, sociais,
econômicos, políticos, e espaciais.
A primeira grande leva de migrantes que chegaram a cidade de São
Paulo e aos municípios de seu entorno ocorreu no final do século XIX e nas
primeiras décadas do século XX. Originários de outros países como Itália,
Japão, Alemanha, Portugal etc., constituíam a maior parte das pessoas que
chegavam a São Paulo até o início da década de 1940. A partir dessa década
os fluxos migratórios
constituíam-se em maior parte por pessoas vindas de regiões do próprio país, principalmente do Nordeste e de Minas Gerais. Entre 1970 e 1980, esse componente respondeu por 45% do incremento populacional do município, com a taxa anual de crescimento chegando a 3,7%. Após 1980, a migração perdeu força e os saldos migratórios foram negativos (tabela 02) nos períodos 1980/91 e 1991/2000 (62 mil e 50 mil pessoas ao ano, respectivamente) (SEADE 2004).
É importante destacar que um dos fatores mais importante pela atração
de elevados contingentes populacionais para São Paulo foi o surto industrial
observado a partir da década de 1930. Tal surto, ao longo do século XX
transformou a cidade no maior pólo receptor de mão-de-obra no Brasil.
Do ponto de vista dos migrantes oriundos de outras regiões do Brasil,
que em geral corresponde àquela parcela da população proveniente de
ambiente rural empobrecida e desempregada, que estão à procura de outras
regiões, a busca por grandes centros urbanos – como é caso de São Paulo –, é
motivada pela idéia de que nesses locais irão conseguir emprego e melhores
condições de vida (tanto para o migrante quanto para a família). O que de fato
muitas vezes acontece, “já que, (...) as atividades urbanas, particularmente a
7 Para Spozati (2001: 162), “São Paulo com sua grande multiplicidade cultural, é cidade de mil povos. (...) São Paulo é conhecida como a maior cidade italiana fora da Itália, a maior cidade japonesa fora do Japão, a maior cidade baiana ou mineira fora da Bahia ou de Minas. São Paulo registra as ruas dos Ingleses, Franceses, Italianos, Portugueses”.
13
indústria, paga salários mais altos que os rendimentos auferidos no campo”
(OLIVEIRA, 2003:41). No entanto, pela lógica do processo de acumulação
capitalista nunca houve oferta de emprego para todos aqueles que estavam à
procura. Fato que na realidade era funcional para um novo modo de
acumulação que estava se instaurando com a passagem da economia de base
agro-exportadora para urbano-industrial a partir da década de 1930. Para esse
novo modo de acumulação, a legislação trabalhista cumpriria um papel
decisivo, como através da criação do salário mínimo.
Tabela 02. Evolução da População por Componentes no município de São Paulo – 1900/ 1991 Anos População Crescimento
médio anual Saldo vegetativo médio anual
Saldo migratório médio anual
1900 239.820 16.961 6.195 10.766
1920 579.033 37.361 12.353 25.008
1940 1.326.261 87.184 24.554 62.630
1950 2.198.096 158.335 65.272 93.063
1960 3.781.446 210.403 97.046 113.357
1970 5.885.475 258.991 141.544 117.447
1980 8.475.380 103.207 165.440 -62.233
1991 9.610.659 90.636 141.049 -50.413
2000 10.426.384 - - -
Fonte: IBGE – Censos Demográficos; Fundação Seade (2004). Movimento do registro Civil
Importa não esquecer que a legislação (trabalhista) interpretou o salário mínimo rigorosamente como “salário de subsistência”, isto é, de reprodução; os critérios de fixação do primeiro salário mínimo levaram em conta as necessidades alimentares (em termos de calorias, proteínas etc.) para um padrão de trabalhador que devia enfrentar um certo tipo de produção, com um certo tipo de uso de força mecânica, comprometimento psíquico etc. Está-se pensando rigorosamente, em termos de salário mínimo, como a quantidade de força de trabalho que o trabalhador poderia vender. Não há nenhum outro parâmetro para o cálculo das necessidades do trabalhador; não existe na legislação, nem nos critérios, nenhuma incorporação dos ganhos de produtividade do trabalho (Ibidem: 37 e 38).
Na realidade, Oliveira não considera esses aspectos ainda como
decisivos, mas sim que as leis trabalhistas incluindo a questão do salário
mínimo, propiciariam a transformação de grande parte da população que
afluíam as cidades em “exército de reserva” disponível. Fato que possibilitou a
prática sistemática de rebaixamento dos salários dos trabalhadores, que do
14
ponto de vista da reprodução de sua força de trabalho os obrigava a procurar
pela forma mais barata (geralmente favela, cortiço ou autoconstrução) de
moradia nas cidades.
Ao pesquisarmos a história recente (desde 1930) da cidade de São
Paulo é comum encontrarmos na literatura a expressão: “São Paulo foi (é) a
locomotiva do Brasil” para designar o papel dessa cidade como o centro
industrial, financeiro, a que mais produziu (produz) riquezas no país. Para
atestarmos a veracidade dessa expressão basta procurar por indicadores como
PIB do município (gráfico 01), renda per capta ou qualquer outro de pujança
econômica. No entanto, quando nos debruçamos sobre estudos relacionados à
qualidade de vida de parte da população que ajudou a produzir “tais índices”
(riquezas), os indicadores apontam para outra direção.
Gráfico 01: Comparação do PIB do município de São Paulo com o de alguns Estados selecionados
Fonte: http://sempla.prefeitura.sp.gov.br/olhar/
No início da década de 1970 (até a crise do petróleo em 1973), os
indicadores econômicos mostravam que o crescimento no Brasil era superior a
10%, período em que se convencionou chamar de milagre econômico. Apesar
do crescimento econômico do país ter refletido no desenvolvimento econômico
de grandes metrópoles como foi o caso de São Paulo, ele se deu através da
maximização da exploração da mais valia culminando com a “pauperização de
vastas parcelas das classes trabalhadoras” (KOWARICK: 1993, 33). O gráfico
15
02 mostra a relação entre a evolução do crescimento do PIB per Capita e a
evolução do salário mínimo no Brasil no período de 1940 até 1998. Após 1962
nota-se uma gradativa, com suaves variações, diminuição do salário mínimo,
enquanto que o PIB per capita com crescimento gradativo até o inicio da
década de 1970, registrando um crescimento abrupto nessa década se
estabelecendo em patamares, com algumas variações, cada vez mais
elevados em relação ao salário mínimo.
Gráfico 02: Evolução do salário mínimo e do PIB per capita.
Fonte: DIEESE; IBGE. Elaboração: DIEESE. Disponível em http://www.dieese.org.br/esp/salmin/ salmin00.xml acessado em 22/06/2008.
Esse “modelo” de urbanização e industrialização com baixos salários, se
por um lado impulsionou o crescimento econômico do país, por outro, era
sustentado pela manutenção da pobreza8. Nas palavras de Rolnik (2009: 8):
Em menos de 40 anos, entre as décadas de 1940 e 1980, a população brasileira passou de predominantemente rural para majoritariamente urbana. Impulsionado pela migração de um vasto contingente de pobres, esse movimento sócio-territorial, um dos mais rápidos e intensos de que se tem notícia, ocorreu sob a égide de um modelo de desenvolvimento urbano que privou as faixas de menor renda de condições básicas de urbanidade e de inserção efetiva à cidade.
8 Este “modelo” foi objeto de estudo e descrito em São Paulo 1975 Crescimento e Pobreza, que tinha como intuito, analisar as condições de vida na cidade de São Paulo. Esse estudo, de grande relevância para a época, demonstrava as disparidades existentes entre o pujante crescimento econômico da cidade de São Paulo promovida pelas políticas do regime militar e as condições salariais, de moradia e de trabalho para a grande maioria dos trabalhadores (MARQUES e TORRES, 2005: 9).
16
Crescimento populacional periférico
A partir da década de 1980, e mais intensamente na década de 1990,
nota-se um recrudescimento da taxa de crescimento populacional no município
de São Paulo, passando de 3,71% da década de 1970 à década de 1980 para
1,15% até a 1991 e de 0,91% até 2000 (SEADE: 2004), ao mesmo tempo em
se observa em algumas áreas periféricas, geralmente caracterizadas pelo
“discurso da ausência” (de infra-estrutura, empregos, estado etc.), dentro do
município um rápido e elevado crescimento de sua população como é o caso
dos distritos Anhanguera, Perus, Parelheiros, Grajaú, Iguatemi e Cidade
Tiradentes e outros situados em áreas centrais mais consolidados e servidos
de melhor infra-estrutura com maior cobertura de serviços e equipamentos
urbanos, que, curiosamente, estão “perdendo” população como é o caso de
Penha, Vila Matilde, Lapa, Tucuruvi, Santo Amaro, Brás, Pari, Sé etc. (mapa
01).
Barbon (2004: 02), se referindo a Região Metropolitana de São Paulo,
coloca que
A partir da década de 80 a região metropolitana de São Paulo apresentou mudanças em seu perfil migratório, com aumento da importância dos movimentos internos que são atualmente tão importantes na estruturação da metrópole quanto o foram, em décadas passadas, os da migração inter-regional.
Torres (2004: 1), por sua vez, define a dinâmica demográfica intra
urbana de São Paulo na década de 1990 como “selvagem”, se referindo a
“perda” significativa de população de áreas centrais dos principais municípios
da região (São Paulo, Osasco, Guarulhos e ABC) e o crescimento da
população de outras áreas periféricas com taxas superiores a 5% as quais o
autor chama de fronteira urbana.
De fato, as áreas que denominamos aqui por fronteira urbana cresceram, em média, 6,3% ao ano, passando de 19 para 30% da população total da Mancha Urbana de São Paulo entre os anos de 1991 e 2000, atingindo um total de quase 5 milhões de habitantes. Sem esta região, a metrópole teria apresentado crescimento demográfico nulo.
17
Mapa 01: Taxas de crescimento anual da população: 1991/2005.
Fonte: Ibge/ sempla. Disponível em http://sempla.prefeitura.sp.gov.br/olhar/pdf/pag15.pdf
Ainda segundo o autor as áreas dentro das cidades as quais são
denominadas por ele fronteira urbana apresentariam as seguintes
características:
18
a) As fronteiras são regiões com altas taxas de crescimento demográfico e com substancial migração; b) As fronteiras apresentam infra-estrutura precária e em construção. De modo geral, o Estado está pouco presente, seja regulando o uso da terra, seja através da oferta de serviços públicos; c) A fronteira parece funcionar como uma “válvula de escape”, o lugar de concentração daqueles que não tem lugar nem em áreas urbanas consolidadas, nem em áreas rurais tradicionais d) A fronteira é objeto de importantes conflitos sobre a posse da terra urbana (loteamentos clandestinos, favelas) ou rural; e) A fronteira apresenta intensos conflitos ambientais relativos a ocupação de áreas florestais e de mananciais (Ibidem: 4 e 5).
Essa expressão, dentro da tipologia proposta pelo autor (da qual
falaremos mais adiante) que toma como critério principal a distribuição espacial
da taxa de crescimento demográfico para as áreas de ponderação dos 21
municípios que formam a mancha urbana de São Paulo, identifica áreas (em
sua maioria periféricas em termos geométricos) de ocupação recente ainda não
consolidadas em termos urbanísticos apresentando déficits no tocante a infra-
estrutura urbana (rede de serviços, equipamentos urbanos etc.). A distinção de
áreas com essas características nas chamadas periferias urbanas – que são
áreas heterogêneas, como mencionado anteriormente – é estratégica e pode
fornecer importantes subsídios para a formulação de políticas públicas para
estas áreas.
Além da fronteira urbana (que apresenta taxas de crescimento
populacional maiores que 3%), o autor em sua tipologia propõe duas outras
áreas que apresentariam diferenças em relação às taxas de crescimento
populacional e presença de infra-estrutura; a “periferia consolidada” e a “cidade
consolidada” que apresentariam respectivamente taxas de crescimento
populacional entre 0 e 3% ao ano e taxas negativas, conforme podemos
observar no mapa 02, que por sua vez, apresenta algumas semelhanças com o
mapa 01.
19
Mapa 02: Taxa de crescimento geométrica anual das áreas 2000 de ponderação (IBGE, censo 2000) da Região Metropolitana de São Paulo, 1991-2000.
Fonte: TORRES (2004: 6) modificado pelo autor
É importante salientar que o corte de 3% de crescimento demográfico
para caracterizar a fronteira urbana é arbitrário, mas, segundo o autor, de
grande interesse porque aponta para dinâmica de transformação do espaço
urbano ao longo do tempo (Ibidem: 8). Quantificando os dados referentes às
áreas de distribuição espacial das taxas de crescimento populacional da
mancha urbana da Região metropolitana de São Paulo entre 1991 a 2000 tem-
se:
Legenda Municípios selecionados
São Paulo
Taxa de crescimento 1991 – 2000 (%) - - 8 a 0
0 a 3 3 ou mais
20
Tabela 03: População e Taxa de Crescimento Demográfico da Mancha Urbana de São Paulo (1991 – 2000)
População Total Fronteira
urbana
Periferia
Consolidada
Cidade
Consolidada
1991 14.433.279 2.792.215 4.902.889 6.738.175
2000 16.346.908 4.860.477 5.494.694 5.991.737
Taxa de Crescimento
1991- 2000 (%)
1,39 6,35 1,27 -1,30
Fonte: TORRES (2004: 9) modificado pelo autor
Todos os dados apresentados referentes a “fronteira urbana” apontam
para uma tendência de espraiamento do tecido urbano, intensificando, embora
em outro contexto, o chamado padrão periférico de crescimento urbano que foi
elemento fundamental de crescimento da região metropolitana de São Paulo de
1940 a 1970, como mencionado anteriormente. O distrito Anhanguera, a partir
da década de 1990, pode ser considerado como um dos principais
“representantes” de processo recente de intensificação do padrão periférico de
crescimento urbano.
O debate em torno dessa questão também vem ganhando espaço na
mídia. Em fevereiro de 2008 o jornal Folha de São Paulo publicou uma matéria
com o título: “Centro expandido de São Paulo perde "uma Santos" em 11
anos”. Segundo a reportagem:
(O) Total de moradores que deixaram a região equivale à população da cidade litorânea. Já a periferia da cidade inchou e tem 1,23 milhão de moradores a mais do que tinha em 1996; tendência preocupa urbanistas. Levantamento da Folha com base em dados da Fundação Seade e do IBGE revelam duas tendências da cidade. Enquanto o centro expandido perde população suficiente para compor uma cidade do porte de Santos, a periferia incha o equivalente a Guarulhos. Segundo o Seade, entre 1996, (...), e 2007, o centro expandido, que abrange os bairros de alto poder aquisitivo, como Moema, perdeu 441 mil pessoas. Nesse mesmo período, os extremos de São Paulo, onde estão as regiões mais pobres, como o Grajaú, ganharam cerca de 1,23 milhão de moradores. Ao mesmo tempo, a população de cidades como Barueri, Vargem Grande Paulista e Santana de Parnaíba, que concentram condomínios de luxo na Grande São Paulo, quase dobrou no mesmo período. O fenômeno tem nomes: urbanização dispersa ou espraiamento da ocupação. (...). O tema gera preocupações em aspectos como a distribuição de água, a coleta de lixo e o transporte público - serviços mais difíceis (e caros) nesse ambiente mais fragmentado do que a cidade tradicional. Além disso, especialistas apontam implicações mais amplas e preocupantes,
21
como a ocupação de áreas de mananciais e o uso intensivo do carro.
Os problemas decorrentes desse processo de urbanização que se
realiza pela (re)produção de novas periferias cada vez mais distantes dos
centros, já são amplamente conhecidos pelos gestores públicos dos municípios
e pela sociedade, que de uma forma geral, sobretudo os mais pobres, arcam
com o ônus de posturas e políticas permissivas que possibilitam a recorrência
desses processos.
Embora tais problemas afetem cada vez mais as coletividades, é
importante salientar que as afetam de forma desigual. Pois o espaço urbano,
embora seja produzido socialmente (coletivamente), é apropriado de forma
privada pelos diferentes grupos sociais que compõe a população. Trata-se de
uma disputa por “localizações” nas cidades em que aqueles que possuem
maior renda geralmente conseguem uma “melhor localização”, o que lhes
confere em termos de acesso a serviços, infra-estrutura e oferta de emprego
uma melhor inserção na cidade.
Por outro lado, parece que a questão sobre a procura por uma melhor
localização garantindo melhor inserção nas cidades deve ser rediscutida. Pois
o fato de uma “Santos” ter deixado o centro expandido do município de São
Paulo em 11 anos e ou os dados apresentados pelo mapa 01 sobre mobilidade
urbana, colocam novas questões acerca do que pode ser entendido como uma
“boa localização” para se morar na cidade.
Em uma concepção clássica de estudos empíricos sobre mobilidade
residencial, mobilidade intra-urbana e crescimento urbano, Januzzi e Januzzi
(2002: 116) colocam que,
o valor médio da terra urbana seria o fator determinante básico para a atratividade residencial: menor o preço dos terrenos e moradias ou aluguéis maior a propensão da área em receber novos residentes.
Ainda segundo os autores, diversos outros fatores poderiam atuar subsidiando
na atratividade residencial de áreas urbanas acentuando-a ou arrefecendo-a,
tais como:
a disponibilidade de crédito imobiliário, a existência de serviços urbanos (água, luz, coleta de lixo), a proximidade a equipamentos públicos (escolas, praças etc), do local de
22
trabalho, de locais de maior oferta de emprego, deseconomias de aglomeração (violência, qualidade de vida, poluição sonora, do ar e visual), legislação urbanística (uso do solo, avanço do comércio, grau de verticalização permitido etc.), as restrições de natureza ambiental ou geográfica (presença de áreas de proteção, áreas sujeitas a inundação etc.), a existência de vazios urbanos, as características do sistema viário, do transporte público, os interesses do capital imobiliário e os impactos de decorrentes das intervenções públicas.
No caso do distrito Anhanguera e em especial no bairro Morro Doce é
possível identificarmos alguns desses fatores de atratividade residencial tais
como: (baixo) valor do solo urbano, farta oferta de terrenos, transporte público
precário, falta de equipamentos urbanos, infra-estrutura urbana precária dentre
outros.
Distrito Anhanguera e formação urbana do bairro Mor ro Doce: o
papel das associações e movimentos de moradia nesse processo
O distrito Anhanguera, localizado na região noroeste do município de
São Paulo, está situado entre os distritos Perus e Jaraguá a leste e sudeste sul
respectivamente e fazendo divisa com os municípios de Caieiras ao Norte e
Cajamar a Noroeste. Dos 96 distritos que compõe o município de São Paulo,
Anhanguera está em 6º no ranking das áreas geográficas de abrangência de
todos os distritos, com uma área de 33,3Km² perdendo apenas para Marsilac
(200 Km²), Parelheiros (153,5 Km²), Grajaú (92 Km²), Tremembé (56,3 Km²) e
Jardim Ângela (37,4 Km²) (SPOZATI, 2001: 32). Ao longo de 50 anos a
população do distrito passou de 429 habitantes em 1950 para 38.427 (IBGE,
Censo 1950 e 2000) em 2000, com densidade demográfica em torno de 515
hab./km2 (EMPLASA, 2008). Em 2008 sua população estaria em torno 58.708
habitantes9. Com base nos dados extraídos dos censos e da contagem da
população (1996) realizados pelo IBGE e do site www.nossasaopaulo.org.br
(2008) desde a década de 1950 é possível representarmos graficamente
(gráfico 03) o aumento da população no distrito.
Spozati (2001: 119) em “Cidades aos Pedaços” com base nos dados do
censo demográfico de 1991 do IBGE e pela contagem populacional de 1996
9 Segundo dados extraídos do site www.nossasaopaulo.org.br. Disponível em < http://www.nossasaopaulo.org.br/observatorio/regioes.php?regiao=19&distrito=3>
23
realizada pelo mesmo instituto em mapa, mostra que de 1991 a 1996 houve um
incremente populacional de 100 a 129.96% apenas no distrito Anhanguera.
Analisando o mapa sobre a distribuição de renda na cidade de São
Paulo (mapa 03), percebemos que parte dos domicílios (30,01 a 45%) situados
no distrito Anhanguera possuem renda familiar de até 3 salários, enquanto que
apenas 10% dos domicílios possuem renda familiar de 20 ou mais salários
mínimos. Dados que evidenciam pequena presença de domicílios de renda
familiar elevada e predominância de domicílios com de baixa (e em menor
proporção, média) renda familiar.
Gráfico 3: Evolução do crescimento da população no distrito Anhanguera
Fontes: dados IBGE Censos 1950, 1960, 1970, 1980, 1991 e 2000, IBGE Contagem da população 1996 e www.nossasaopaulo.org.br 2008. Organizado pelo autor.
Do ponto de vista habitacional, Marques (2005a: 237) coloca que as
periferias mais extremas, locais onde nosso campo empírico está inserido,
seriam marcadas de forma geral por baixa ou nenhuma atividade imobiliária
organizada (construtoras, empreiteiras etc.) colocando como hipótese a grande
presença de auto-construção como importante fator de produção imobiliária no
distrito, já que o distrito testemunhou elevada atividade imobiliário diretamente
relacionada à alocação da população.
Após algumas idas a campo e realização de entrevistas com moradores
e funcionários de uma associação de moradores que atua no bairro, ficou nítida
a importância das chamadas associações de moradores e movimentos por
moradia na produção imobiliária da região. A formação urbana do bairro, com
base na fala de muitos entrevistados, que se inicia efetivamente a partir do
24
início da década de 1990, parece estar fortemente vinculada à atuação das
associações e movimentos por moradia, dos quais podemos destacar:
Associação dos Trabalhadores sem Terra (ATST) e Movimento Quero um Teto
Central que atuam no bairro desde 1993.
Mapa 03 – Distribuição de renda na cidade de São Paulo
Fonte: http://sempla.prefeitura.sp.gov.br/olhar/
O processo de ocupação de áreas e urbanização no bairro é muito
similar ao descrito anteriormente por Mautner (2004). Estariam ali
materializadas de forma seqüencial as três camadas10 das quais fala autora,
com a diferença de que quem compra grandes áreas faz a divisão desta em
lotes e faz a abertura de ruas não são imobiliárias, mas sim, as associações e
movimentos de moradia. Esses lotes são então comercializados, de forma
clandestina e irregular, para os que se venham a definir como membros da 10 As duas primeiras consistindo em trabalho, cobrindo e preparando a terra a terceira, o capital. Ver páginas 10 e 11.
25
associação ou da entidade a partir de um contrato simples de compra e venda.
O que significa que o comprador do lote não obtém a escritura do terreno e
tampouco da casa a ser construída no terreno. Caso o “proprietário” daquele
terreno demonstre interesse em vendê-lo, desmembrá-lo ou tentar sua
regularização na prefeitura deve pagar uma taxa a associação. Não por acaso,
alguns entrevistados moradores do bairro e funcionários das associações
equiparam o trabalho realizado das associações a uma atividade econômica
como qualquer outra. Trabalhar na associação trata-se, nas palavras de um
entrevistado, de um “ramo /meio de vida”. Convêm salientar que, via de regra,
os loteamentos abertos pelas associações, desobedecem a legislação relativa
ao parcelamento e uso do solo, apresentando infra-estrutura urbana
insuficiente para as demandas dos moradores do bairro.
Analisando a atuação das associações e movimentos por moradia,
acreditamos, polemizando um pouco a discussão, poder comparar seus
trabalhos ao de imobiliárias que atuam tanto no mercado formal quanto
informal de terras. O público alvo, ou o segmento nesse mercado, são famílias
de baixa renda que buscam a aquisição de terrenos (seja para se libertar do
aluguel, realocar familiares, parentes, amigos, sair de situação de rua etc.),
perseguindo, assim, o sonho de tantos brasileiros do acesso à casa própria
(mesmo sem a obtenção da escritura). Portanto, as condições de pagamento
bem como o valor dos terrenos têm de ser de acordo com esse segmento de
mercado. Segundo um entrevistado, morador do bairro, muitos lotes poderiam
ser adquiridos por oito salários mínimos em média e pago em numerosas e
pequenas prestações. É importante destacar que a atuação das associações e
movimentos de moradia no bairro é possível, graças a algumas condições
especificas ao local das quais se destaca o valor do solo urbano (Mapa 04).
Por outro lado, as associações, com base no discurso de alguns
funcionários das associações e também em função de sua importância para
produção imobiliário no bairro, podem ser concebidas como agentes sociais
que ajudam a reduzir o déficit habitacional para parte da parcela da população
de baixa renda que vive na metrópole paulistana. É importante destacar,
contudo, que tal solução para a questão do déficit habitacional deve ser
problematizada. O que as associações “asseguram” na realidade, é o acesso a
propriedade privada mesmo que em condições irregulares e o provimento de
26
alguma infra-estrutura urbana que acaba se efetivando como um
desdobramento do processo de formação urbana do bairro. O chamado direito
a moradia adequada, tão preconizado por Raquel Rolnik pressupõe, além de
moradia, infra-estrutura e equipamentos urbanos, o acesso a oportunidades de
trabalho, oportunidades econômicas, garantia dos meios de sobrevivência etc.
“Ou seja, as oportunidades para o desenvolvimento humano em um patamar
digno. Importante dizer que esse conceito está baseado em legislações e
pactos internacionais, estabelecidos entre os países no âmbito da ONU”
(ROLNIK, 2010). Para colocar esse conceito em prática, é necessário que se
formulem políticas habitacionais articuladas ao planejamento urbano, dando
bastante ênfase para a questão da mobilidade urbana e que ao mesmo tempo
limitem a atuação do mercado de terras (especulação imobiliária). Na falta de
terrenos, outra possibilidade seria a de alocar famílias de baixa renda em
moradias verticalizadas no centro da metrópole.
Mapa 04: Valor do solo urbano na região de Perus e Anhanguera
Fonte: Sempla. Disponível em http://sempla.prefeitura.sp.gov.br/mm/panorama. Modificado pelo autor
Morro Doce
27
Considerações Finais
Por meio da análise das dinâmicas demográficas na metrópole
paulistana a partir da década de 1980, e em especial, do fenômeno
demográfico que nós denominamos de crescimento populacional periférico no
distrito Anhanguera em conjunto com as formas de ocupação áreas periféricas
decorrentes do fenômeno, foi possível constatar, tanto as soluções
encontradas pelo mercado imobiliário para reprodução do capital quanto o
apontamento de algumas tendências relativas ao processo de expansão
urbana do município de São Paulo a partir da reprodução do padrão periférico
de crescimento urbano.
Essas duas constatações na realidade devem ser interpretadas de forma
articulada como duas faces do mesmo processo de reprodução do capital. A
lógica nesse caso seria a seguinte: inicialmente, as áreas situadas na periferia
da metrópole sem qualquer existência de infra-estrutura, representam uma
fronteira para reprodução do capital. Por outro lado,
No momento atual do processo histórico, do ponto de vista da reprodução do capital, o processo de reprodução espacial, com a generalização da urbanização, produz uma nova contradição, que é a que se refere à diferença entre a antiga possibilidade de ocupar áreas como lugares de expansão da mancha urbana (como por exemplo, através do parcelamento de antigas chácaras ou fazendas que estão na origem de muitos bairros da metrópole paulista) e sua presente impossibilidade diante da escassez de áreas (CARLOS: 2007, 74).
Contradição está que também se coloca como fronteira a ser transposta para a
reprodução do capital. Dessa maneira, torna-se imperativo a criação de vetores
de expansão e valorização urbana, seja por parte tanto, do poder público cujo
exemplo mais bem acabado nesse sentido foi a construção do Rodoanel na
Região Metropolitana de São Paulo, quanto de agentes privados como é o
caso das associações por meio dos loteamentos. À medida que o bairro onde o
loteamento foi criado vai crescendo, aumentam-se as pressões sobre a
municipalidade para provimento de infra-estrutura urbana. Quando está chega,
o valor do solo urbano tende a aumentar fazendo com que a população mais
pobre procure por moradia em locais onde o valor do solo urbano é mais
barato.
28
Essa é uma das lógicas por de trás do processo de reprodução do
capital por meio do mercado de terras que nos ajuda a entender a razão pela
qual o padrão periférico de crescimento urbano tende a se reproduzir ad
infinitum.
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