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Após conflitos indígenas, invasões europeias e o cultivo de cana em Villa Bella, chegamos ao aniversário de 210 anos de emancipação de nossa querida cidade, que também já foi chamada de Formosa e, hoje este lugar abençoado é mundialmente conhecido como Ilhabela. Uma pequena parte dessas 21 Décadas estão retratadas nas próximas páginas, com personalidades e fatos que fizeram e fazem deste arquipélago uma terra próspera e de oportunidades. Durante o levantamento histórico, contamos com a colaboração de muitos filhos da terra - alguns nascidos - e outros tantos que escolheram Ilhabela para viver, que nos contaram histórias nunca antes registradas, além de um acervo fotográfico sem igual. De fato, nosso objetivo foi alcançado. Ilhabela comemora 210 anos de Emancipação e nós, a oportunidade de colocar em suas mãos um material preparado com muito carinho e dedicação, com a certeza que será muito apreciado.
1Ilhabela 21DCADAS Tribuna do Povo de Ilhabela | Setembro/2015
histrias e conquistas de um povo trabalhador e guerreiro
ILHABELA
21DCADASTRIBUNA DO POVO
especial
Ilhabela 21DCADAS2 Tribuna do Povo de Ilhabela | Setembro/2015
3Ilhabela 21DCADAS Tribuna do Povo de Ilhabela | Setembro/2015
Parabens Ilhabela!
SUPERMERCADO
Parabens Ilhabela!
210 anos
Para nos e um orgu
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fazer parte dessa
historia desde 197
1.
Ilhabela 21DCADAS4 Tribuna do Povo de Ilhabela | Setembro/2015
5Ilhabela 21DCADAS Tribuna do Povo de Ilhabela | Setembro/2015
Aps conflitos indgenas, invases europeias e o cultivo de cana em Villa Bella, chegamos ao aniversrio de 210 anos de emancipao de nos-sa querida cidade, que tambm j foi chamada de Formosa e, hoje este lugar abenoado mundial-mente conhecido como Ilhabela.
Uma pequena parte dessas 21 Dcadas esto retratadas nas prximas pginas, com personalida-des e fatos que fizeram e fazem deste arquiplago uma terra prspe-ra e de oportunidades.
Durante o levantamento histrico, contamos com a colabora-o de muitos filhos da terra - alguns nascidos - e outros tantos que escolheram Ilhabela para viver, que nos contaram histrias nunca antes registradas, alm de um acervo fotogrfico sem igual.
O surgimento do Campo de Aviao, entre o Saco Grande e o Engenho D'gua uma das histrias menos difundidas sobre o arquiplago, mas sem dvida conta um dos episdios mais impor-tantes de Ilhabela com relao a poltica brasileira, quando a pista de Villa Bella foi fundamental para as operaes da Marinha do Brasil durante a Revoluo de 1932.
De fato, nosso objetivo foi alcanado. Ilhabela comemora 210 anos de Emancipao e ns, a oportunidade de colocar em suas mos um material preparado com muito carinho e dedicao, com a certeza que ser muito apreciado.
Parabns Ilhabela!Caio Gomes
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Ilhabela 21DCADAS6 Tribuna do Povo de Ilhabela | Setembro/2015
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09 VILLA BELLA DA PRINCESAA emancipao da ilha da Vila de So Sebastio da Terra Firme
15 F E DEVOOA tradio da Congada de So Benedito em Ilhabela
18 UM VERO MUITO LOUCOQuando as latas de maconha chegaram s praias da Ilha
21 JOSE RIBEIRO DOS SANTOSZ de Alcio: caiara por devoo
26 A ARTE DA CANOA CAIARASmbolo da sobrevivncia de um povo
28 JOO SANTANAO memorvel benzedeiro das bandas do Perequ
29 A ARTE DA PESCAA pesca artesanal pela mo de obra familiar
30 O PAI DOS ROYALTIESA histria de vida do prefeito Roberto Fazzini
34 PRATA DA CASAGilmar Pinna, o caiara que esculpe sentimentos
36 SUPERMERCADO SILVAComo seu Joaquim iniciou um imprio no Perequ
38 DA CANA CAPITAL DA VELADas visitas indgenas criao da Capital Nacional da Vela
40 CAMPO DE AVIAOA participao de "Vila Bela" na Revoluo de 1932
ILHABELAParabns
www.edmirchedid.com.br
7Ilhabela 21DCADAS Tribuna do Povo de Ilhabela | Setembro/2015
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43 DONA CYBELE RAMOSA anfitri de Jnio Quadros no casaro da Ponta das Canas
46 "FERRY BOAT"A histria da ligao de Ilhabela ao progresso do continente
50 STELLA FRANAE o legado da leitura com a Biblioteca de Ilhabela
52 JEAN BERNARDA histria de vida de um legtimo caiara belga
54 PATRIMNIO CAIARAA histria da Fazenda Engenho D'gua
73 TONINHO MARQUESNo meio do caminho tinha um mineiro
75 NILCE SIGNORINIUma histria de honestidade e pulso firme
79 O DONO DA CHAVEA misso e o estilo de vida de Solidonio Narciso Dos Reis Neto
81 LUIZINHO FARIAO caiara pioneiro no garimpo da riqueza do Litoral Norte
82 GENTE DA GENTEDe Venceslau Guimares presidncia da Cmara de Ilhabela, conhea a trajetria do baiano Adilton Ribeiro
Diretor ExecutivoCaio Gomes (MTB/SP 65.601)
Capafoto Marco Yaminarte Silas Azocar
Projeto Grfico e DiagramaoComunica Propaganda & Marketing
PublicidadeAlexandre Baptista | Caio Gomes
ColaboraoMarco Yamin | Silas Azocar | Roberto Fazzini Jr | Nuno Gallo Ivone Granado | Edson Souza | Ronald Kraag | Paulo StanichAdriano Perna | Clarissa Marioti | Rosa Alves | Natlia MouraAssessoria de Imprensa da Cmara e Prefeitura de Ilhabela
Impressomeltingcolor grfica e editora
Tiragem5.000 exemplares
Bibliografia de ApoioMaria Jos Gomes e Martin Ramos, "Ilhabela"
Caio Camargo, "Memrias de uma Ilha"Luiz Nicodemo Chemin, "O Senhor da Ilha"
Edson Souza, "Estrias e Histria de Ilhabela"50 anos do Yacht Club de Ilhabela
"Ilhabela 21Dcadas" uma publicao de Comunica P&MCNPJ: 05.572.108/0001-72, Av. Pedro de Paula Moraes, 1027 - Sobreloja - Ilhabela.
Ilhabela 21DCADAS8 Tribuna do Povo de Ilhabela | Setembro/2015
Chegada Vila Em 1920, essa era a paisagem encontrada por quem chegava a Vila. O registro feito em frente a Igreja de Nossa Senhora D'juda e Bom Sucesso mostra a esquina da Rua da Padroeira com a Praa Professor Alfredo Oliani (Praa do Cruzeiro).
Vila Uma das raras imagens areas existentes da Vila no final da Dcada de 1960 mostra a Vila j toda ocupada. Na parte superior, direita possvel observar do alto o Cemitrio de Ilhabela.
Defesa J como item histrico, a imagem abaixo mostra um dos canhes utilizados para a defesa de Villa Bella no bero de madeira na Vila. Ao fundo o imvel que foi residncia da famlia do ex-vereador Luiz Carlos Ribeiro.
Praia da Vila No centro de Villa Bella, a imagem acima retrata a praia da Vila na Dcada de 30, ainda sem a Barraca do Samba embaixo do Chapu de Sol.
Foto: Acervo Amigos da Biblioteca
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Foto: Reproduo/memrias de uma ilha
9Ilhabela 21DCADAS Tribuna do Povo de Ilhabela | Setembro/2015
Ainda que a Ilha de So Sebastio possusse fazendas e terras cultiva-das, no tinha ncleo de povoao, apenas capelas. A principal delas, a de Nossa Senhora da Ajuda e Bom Sucesso, foi cons-truda no final do sculo XVIII e, na condi-o de Capela, os seus habitantes eram, em tudo, sujeitos s autoridades civis e eclesis-ticas da Vila de So Sebastio da Terra Fir-me, no continente. Tinham que atravessar o canal para pagar impostos, prestar servios causa pblica, receber os sacramentos, ouvir missa, enterrar os mortos, etc.
Alm deste grande incmodo causado pela necessidade constante da travessia do canal de Toque-Toque, a prosperidade das lavouras e a grande produo dos engenhos resultavam num aumento constante, e cada vez mais significativo, da populao na Ilha
de So Sebastio, principalmente a partir da segunda metade do sculo XVIII. No incio do sculo XIX a ilha j possua uma popu-lao de mais de trs mil pessoas espalhadas por todo seu territrio. No somente pelo aumento populacional, mas tambm para atender aos interesses polticos e econmicos dos importantes senhores de engenho da ilha ocorreu, no incio do sculo XIX, a emanci-pao poltica da Vila de So Sebastio da Terra Firme.
O ncleo de povoao se deu em tor-no da capela de Nossa Senhora da Ajuda e, como fato raro na histria, ela foi elevada a categoria de vila antes mesmo de se tornar freguesia. Esse movimento de emancipao foi liderado pelo capito Julio de Moura Negro, o neto, que reuniu importantes mo-radores e senhores de engenho da ilha que,
com seus apelos, sensibilizaram o Capito General da Capitania de So Paulo Antnio Jos da Franca e Horta.
Finalmente em 3 de setembro de 1805, Franca e Horta baixou uma portaria deter-minando a elevao da Capela condio de Vila, que passaria a chamar-se Vila Bela da Princesa. O nome na nova vila escolhido pelo prprio Franca e Horta foi uma ho-menagem Princesa da Beira, Dona Maria Teresa Francisca de Assis Antonia Carlota Joana Josefa Xavier de Paula Micaela Rafaela Isabel Gonzaga de Bragana, filha mais velha dos reis portugueses D. Joo VI e D. Carlota Joaquina; irm, portanto, de D. Pedro I. Vila Bela da Serenssima Princesa Nossa Senhora como tambm era chamada foi oficial-mente instalada com solenidades em 23 de janeiro de 1806.
Vila Bela da PrincesaA emancipao da ilha da Vila de So Sebastio da Terra Firme
Rua da Padroeira A imagem do incio do sculo XIX retrata crianas brincando no cho de terra, na esquina da Rua da Padroeira com a Rua So Benedito (Rua do Meio) na Vila de 1920. Ao fundo, o recm-construdo prdio da Cadeia e Frum de Villa Bella, que comeou a ser erguido em 1913.
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Ilhabela 21DCADAS10 Tribuna do Povo de Ilhabela | Setembro/2015
A nova vila recebeu Casa de Cmara e Cadeia e pelourinho e criou parquia com vigrio colado j em 1809, tornando-se ad-ministrativa e religiosamente independente de So Sebastio. O antigo prdio da Casa de Cmara e Cadeia, que posteriormen-te passaria a abrigar tambm o Frum, foi construdo em madeira, pedra e cal condi-zente com a arquitetura colonial, possuindo portas e janelas de folha cega e telhas capa e canal. O prdio da antiga Cadeia, retratado por Debret em sua feio original em 1827, no possua torres ou escadarias, anexadas
construo numa reforma ocorrida no in-cio do sculo XX. Ao lado dele existia um sino de alerta que era tocado para convocar a populao avisando da chegada de mer-cadorias ou alertando sobre a presena de corsrios nas imediaes da pequena vila.
O antigo mercado de escravos ficava si-tuado bem de frente ao canal, em local de fcil embarque e desembarque de mercado-rias e de pessoas. Nesse perodo ainda no existiam per ou atracadouros na vila e as mercadorias e pessoas eram desembarcados diretamente na areia. No mercado os escra-
vos eram selecionados e escolhidos para venda e distribuio nas principais fazendas da regio. O antigo prdio do mercado de escravos atualmente ocupado por Sergio Hette, onde funciona sua imobiliria, mas as feies originais permanecem preserva-das sendo possvel observar as colunas em pedras e arcos de passagem preservados at os dias de hoje na parte interna do imvel.
J o pelourinho, colocado no meio da praa, ao lado do mercado, e de frente Cadeia, era local de castigos aos escravos. O pelourinho no existe mais, seu lugar
Vila Bela da PrincesaOutra descoberta que retrata a vida cotidiana de Villa Bella da Princesa foi feita pela arqueloga Cintia Bendazzoli. A localizao e entendimento dos locais retratados numa pintura em aquarela feita em 1827 que mostra a Vila com uma feio ainda no conhecida, na qual so retratados a antiga igreja matriz, o prdio da cadeia e frum e a rea da atual praa Cel. Julio de Moura Negro. Ainda possvel ver o mercado de escravos e o pelourinho, at ento desconhecidos. Essa pintura em aquarela foi feita pelo ilustrssimo pintor Jean Baptiste Debret durante uma viagem que fez ilha datada de 1827, organizada a pedido do Rei de Portugal D. Joo VI Fo
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11Ilhabela 21DCADAS Tribuna do Povo de Ilhabela | Setembro/2015
um monumento construdo no incio do sculo XX manteve vivo esse marco de re-sistncia e luta pela liberdade dos cativos. Ainda no Centro Histrico da Vila a pe-quena capela da Nossa Senhora da Ajuda e Bom Sucesso, originalmente constru-da no final do sculo XVIII, resistiu at os dias de hoje. Construda inicialmente em madeira, barro e folhas de palmeiras, passou por reforma no incio do sculo XIX levantando-se paredes de pedras e cal de conchas. Suas formas modestas foram ampliadas em nova reforma, anexando-se a pequena torre lateral bem como a esca-daria e ampliaes das reas comuns.
O centro histrico de Ilhabela foi palco das principais decises polticas e administrativas da primeira vila, assistiu a chegada de estrangeiros e a defesa aos corsrios, abrigando uma Bataria com muitos canhes. A regio da Capela cedeu espao a um povoado que prosperou com base na mo de obra escrava, responsvel pela construo da maior parte dos exem-plares arquitetnicos, que permanecem at os dias de hoje nesse bairro agora cha-mado Vila.
Vila Bela cresceu e prosperou base-ada na economia agrcola e mo de obra escrava, e seu crescimento foi favorecido pela proliferao dos engenhos de cana de acar que aproveitavam as volumosas e numerosas cachoeiras para mover suas rodas d'gua. Dentre os muitos engenhos que funcionaram na ilha, alguns ainda exibem suas moendas e outros maquin-rios que produziram cachaa e melao, como o Engenho D'gua.
No sculo XIX, a monocultura au-careira deu espao s lavouras de caf
que, em meados de 1850, tornou-se uma cultura extremamente importante no Li-toral Norte do Estado de So Paulo. Vila Bela da Princesa experimentou 80 anos de opulncia e grande poder econmico, graas agricultura e, principalmente, ao caf, plantado em fazendas espalhadas pelas Ilhas de So Sebastio e dos Bzios. A populao rapidamente cresceu, os fa-zendeiros enriqueceram e o comrcio tor-nou-se cada vez mais prspero.
A Ilha de So Sebastio destacava-se tambm como entreposto de comrcio de escravos, o que provavelmente possibilitou
a formao de quilombos na regio de Vila Bela e a presena de escravos refugiados em suas montanhas e florestas. Mas a in-tensa explorao do solo com a produo extensiva de acar e de caf provocou no somente uma grande devastao da Mata Atlntica, como tambm acarretou o desa-parecimento de espcies animais e vegetais.
Engenhos de CanaDurante todo o perodo colonial o solo extremamente frtil, e a abundncia de
cachoeiras para mover rodas d'gua, fizeram da Ilha um excelente local para o plantio
de cana de acar e para a construo de engenhos de cachaa.
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Ilhabela 21DCADAS12 Tribuna do Povo de Ilhabela | Setembro/2015
VilaNo final dos anos 60 os Chevrolet Opala eram o sonho de consumo de qualquer um. A imagem ao lado, registrada na Praa Coronel Julio - Vila, foi feita para estampar um calendrio no incio dos anos 70.
A praa nossaRegistros fotogrficos de 1937 revelam que naquela poca j existia na praa principal da cidade a bica.
Ao longo dos anos a fonte de gua fresca foi mudada de lugar algumas vezes, mas nunca deixou de ser um
simbolo da Praa Coronel Julio de Moura Negro
Recanto do Samba O incio da Barraca nos remete Dcada de 1940, quando Joo Paratiano a construiu com restos de madeira que encostavam na praia da Vila. Depois, Chico Reis e Antnio Venncio assumiram o comando em sociedade e numa partida de bocha, Venncio ganhou a parte de Chico Reis se tornando o nico dono. Mas pra frente, Dona Rosa assumiria o lugar do pai e por sua vez deixou o comercio para o filho Carlito. Bomio toda vida, Carlito transformou o local no famoso "Recando do Samba".
Carnaval J aps o perodo de Formosa, os homens da cidade com vestes femininas
seguravam a faixa do Momo saudando Ilhabela.
Foto: Acervo Amigos da BibliotecaFoto: Acervo / Secretaria de Cultura
Foto: Acervo / Secretaria de Cultura Foto: Acervo / Secretaria de Cultura
13Ilhabela 21DCADAS Tribuna do Povo de Ilhabela | Setembro/2015
POLCIA Um jipe willys era a viatura da Polcia nos anos dourados de Ilhabe-la . Ao fundo o prdio que abrigava a Delegacia, Cadeia, Frum e a Cmara.
Viana esquerda, a casa de artesanato dos "Schoof" na Dcada de 1940 na praia do Viana, aonde hoje se encontra o restaurante da famlia. Sentados porta, Leo Schoof, sua irm Baby Aranha e o caiara Baico.
Pau a pique Esta era a tcnica utilizada para construo. Tambm conhecida como taipa de mo, uma tcnica construtiva antiga que consistia no entrelaamento de madeiras verticais fixadas no solo, com vigas horizontais, geralmente de bambu, amarradas entre si por cips, dando origem a um grande painel perfurado que, aps ter os vos preenchidos com barro, transformava-se em parede.
Praia da Vila Em meados de 1950, Ilhabela j contava com um Per, onde as embarcaes da companhia Santense operavam o transporte de passageiros pela orla, ligando o arquiplago ao municpio de So Sebastio. O prdio existente ainda hoje era conhecido como Arco do Triunfo.
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Ilhabela 21DCADAS14 Tribuna do Povo de Ilhabela | Setembro/2015
So Joo acima, os preparativos para a Congada de Ilhabela na dcada de 30 em frente a Igreja de So Joo Batista no Perequ. O pai de Dona Izanil, Paulino Manoel da Silva, foi um dos que ajudou a erguer a igreja.
Congada de So Benedito acima, apresentao da Congada de So Benedito em 1940, na Vila. Na poca, o Rei do Congo era Manoel Ciriaco (Neco) ao lado do embaixador Pedro.
Dcada de 70 a imagem esquerda retrata o ex-prefeito de Ilhabela Roberto Fazzini acompanhando de perto o reinado de Neco, um dos reis mais queridos da Congada de Ilhabela.
Ucharia acima, com as mos na cintura, D. Guiomar, irm de Izanil, que comandou a Ucharia de So Benedito durante muitos anos
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Quando os primeiros navios negreiros desembarcaram no Brasil, trouxeram da frica no apenas os escravos para trabalhar como mo de obra nas fazendas e ca-sas de colonos, mas tambm elementos que fa-ziam parte de sua cultura, como crenas e gosto pela msica e dana. A Congada faz parte dessas tradies trazidas com os escravos. Em Ilhabela, o ritual mantido h mais de dois sculos, sen-do fiel s msicas, s fardas, s representaes, aos toques de marimba e atabaques.
O cenrio acontece nas ruas da Vila e trata-se de uma apresentao teatral em que o enredo representa uma desavena entre dois grupos que desejam festejar em honra de So Benedito. Os congos dividem-se em dois grupos: os con-gos de cima que so os fidalgos do rei vestidos de azul [cristos] e os congos de baixo tambm
denominados de congueiros do embaixador, vestidos de rosa, considerados pagos.
Acontecem trs bailes ao som de atabaques e marimbas de madeira. O primeiro chama-se Roldo ou Macamba e trata-se de uma can-tiga dos congos de baixo no momento em que vo guerrear. O segundo Alvoroo, Jardim das flores ou Baile Grande, onde ocorre uma guerra bastante violenta. O terceiro baile o So Matheus, onde o embaixador preso duas vezes. A guerra acontece porque os congueiros do embaixador lutam para que ele, filho bastar-do do rei, conquiste o trono.
Em tempos remotos, a representao tinha data certa para acontecer: 3 de abril. Posterior-mente, passou a acontecer em maio, poca de lua cheia, quando os pescadores no saiam para pescar, podendo ento participar da festa. A
apresentao acontece nas ruas da Vila e a pro-gramao comea sempre em uma sexta-feira, com o levantamento do Mastro, em frente Igreja Matriz, seguido pela realizao de uma missa em homenagem a So Benedito. No s-bado e no domingo, acontecem os bailes de congos e, por volta do meio-dia, realizada a Ucharia, palavra que significa despensa da casa real e designa o lugar onde servido o almoo dos congueiros e seus convidados.
Por trs do canto e das danas dramticas, esconde-se um cunho social que remete s lutas dos negros contra os brancos que invadiram a frica em busca de escravos. No caso ilhabe-lense, a Congada considerada uma das mais antigas do Brasil, mantendo uma fidelidade que resistiu aos sculos de opresso, inclusive por parte da Igreja.
f e devoo NA CONGADA DE SO BENEDITO
UCHARIA Dona Ana, D. Doquinha, D. Deodete, D. Amlia, D. Nilce, D. Licinha, D. Isabel, D. Roslia, D. Paula, D. Dita, Digenes, Paulo Cezar Molinari e seu Elias Romo faziam parte da Ucharia no incio do Sculo XXI.
Programao abaixo, a reproduo de um cartaz com a programao da Festa de So Benedito de 1990. Destaque para Ciranda e a Quebra Chiquinha, danas tpicas da cultura caiara que naquele ano ainda faziam parte da programao da festa.
Foto: Acervo / Secretaria de Cultura
Ilhabela 21DCADAS16 Tribuna do Povo de Ilhabela | Setembro/2015
Rogrio Ribeiro de S, o Professor Ca-tol, como conhecido, natural de Catol do Rocha (Paraba). Filho da pro-fessora Adeildes e do telegrafista dos Correios Otoniel de S, Catol foi alfabetizado por freiras da Alemanha.
Em sua adolescncia, foi lder estudantil e presidente do Grmio Central dos Estudantes de Catol do Rocha Grecesc, onde ainda partici-pou da luta contra a ditadura militar.
Migrou para So Paulo, onde se formou ba-charel em Histria pela USP. L, Catol foi di-retor cultural do Centro de Estudos Histricos Afonso de Taunay CEHAT, da Faculdade de Histria e um dos editores da Revista Maria.
Na militncia universitria, Catol atuou no movimento pela Anistia aos presos polti-cos ps-1964 e depois participou ativamente do movimento Diretas J, em 1984.
Chegou a Ilhabela em 16 de fevereiro de 1987 como professor concursado de Histria na rede estadual, atuou na Escola Anna Leite Julio e depois na Escola Dr. Gabriel Ribeiro dos San-tos, onde ainda leciona no ensino mdio.
Participante ativo da vida de Ilhabela, um dos expoentes da poltica local, onde sempre se destacou por sua atuao, fala fcil e retrica im-pressionante, envolvente, mas, principalmente, por seu carter e tica exemplares.
Foi candidato a prefeito nas eleies de 1992 e Vereador por trs mandatos (1997-2000), (2001-2004) e (2009-2012), afastando-se nes-te ltimo para assumir o cargo de Secretrio Municipal de Cultura, por dois anos e meio e
de Meio Ambiente, por sete meses, na primeira gesto do prefeito, Antonio Luiz Colucci. Atu-almente trabalha com Educao Ambiental e Formao Educacional na Secretaria Municipal de Educao de Ilhabela.
Como Vereador lutou incansavelmente por seus ideais e enfrentou com coragem as ques-tes sociais. Combativo, sempre defendeu suas ideias diante de todos, sem receios, com ineg-
vel altivez, mas sempre respeitando os advers-rios, que viram nele um exemplo a ser seguido.
Admirador da cultura tradicional, o pai de Naya e Julia, foi autor da lei que criou a Semana da Cultura Caiara e, nos 210 anos de Ilhabela, recebe da Cmara Municipal o ttulo de Cida-do Honorrio de Ilhabela, por sua histria na cidade e pelos relevantes servios prestados comunidade e ao Municpio de Ilhabela.
Rogrio Ribeiro de S
Cidado Honorrio de Ilhabela
Confederao dos Tamoios Bomio, Catol sempre
foi um admirador da noite e, consequentemente, do
samba. Na imagem ao lado, o professor ajudando na
elaborao do enredo da Escola de Samba Unidos
do Garrafo, com o poeta Joozinho, Dona Helena, Jos
Antonio e Maria Del Carmen
FOLCLORE acima, Catol, Wladimir e o saudoso professor Luiz cantando o Boi.
Fotos: Acervo Pessoal
17Ilhabela 21DCADAS Tribuna do Povo de Ilhabela | Setembro/2015
O SENHOR DA ILHALuiz Nicodemo Chemin
So 97 anos de uma vitalidade de fazer inveja aos jovens da atual gerao. Luiz Nicodemo Chemin, o Senhor da Ilha, um exemplo de vida no sentido literal da pa-lavra. Quem v seu imprio hoje no imagina o tamanho das dificuldades enfrentadas por esse simptico velhinho de sorriso fcil e bo-nacho, desde a infncia pauprrima em San-tana, na Capital, at sua vinda para Ilhabela, seu porto seguro.
No se sofre por aquilo que no se co-nhece. Com esse lema, Luiz Chemin cresceu sem conhecer o mundo de desigualdades, mesmo com a pobreza tamanha vivida por sua famlia, tanto que aos 16 anos j era o te-celo mais jovem do Brasil. Homem de viso pioneira, trabalhava na fbrica de tecelagem com um tio e nas horas livres se dedicava microtecelagem criada por sua iniciativa nos fundos de sua residncia, junto com o irmo mais velho, Otvio.
Vendia, de porta em porta, a produo de toalhas para barbearias, enfrentando dias bons e ruins, sempre tendo em mente que era melhor trabalhar para si do que ser emprega-do. Mais tarde, ajudado por um tio, a micro-tecelagem tomou corpo, e com a ajuda dos ir-mos deu origem s Lojas Sngia, que chegou a ter 18 filiais no Estado, vendendo ternos e roupas.
Enganado por um scio, Luiz Chemin e seus irmos quase foram falncia, mas ele no desistiu e comeou novamente do zero. Criou a Chemin Administradora de Bens e posteriormente a Construtora Chemin, ne-gcio familiar que rendeu o sustento de seus filhos e dos filhos dos seus irmos. J estabe-lecido no ramo empresarial, amante do mar, correu o mundo praticando mergulho e pesca submarina, apaixonando-se por um lugar que
para ele o paraso na Terra: Ilhabela.Residente no arquiplago, Luiz Chemin
passou a dedicar seu tempo tambm s cau-sas sociais. Ajudou a resgatar o Conselho de Segurana, que presidiu entre 1997 e 2000 e foi scio-fundador do Lions Clube Ilhabela, em 1995. Com desprendimento de servir ao prximo, Chemin atuou e ainda participa de diversas campanhas solidrias, distribuindo alm de bens materiais, carinho e ateno para quem precisa.
Amante da msica, herdou do pai, que to-cava violino, o gosto pela arte. Encanta a todos com seu cavaquinho, que faz questo de prati-
car diariamente como se fosse um ritual, todas as manhs. Falando em ritual, talvez esteja em sua rotina diria de levantar-se antes das sete da manh, realizar suas oraes, exercitar-se por 40 minutos e tomar banho gelado de ca-choeira, o segredo de tanta jovialidade.
Luiz Nicodemo Chemin dessas pessoas que valem a pena pelo simples fato de existir. E o povo de Ilhabela com certeza se sente pri-vilegiado por poder conviver com esse grande ser humano, que comprova, com sua histria de vida, a veracidade da mxima de Albert Einstein: O nico lugar onde o sucesso vem antes do trabalho no dicionrio.
Histrias de Pescador Seu Luiz Chemin sempre foi um apaixonado pelo mar. Na foto acima, Luiz pescando lulas junto com o amigo
Dr. Oswaldo Gomes e o filho Oswaldinho.
Mergulhador esquerda, seu Luiz Chemin se prepara para o mergulho com a neta Las na Baa dos Castelhanos (Reproduo/O Senhor da Ilha).
Fotos: Acervo Pessoal
Ilhabela 21DCADAS18 Tribuna do Povo de Ilhabela | Setembro/2015
Se voc nunca ouviu falar, certamente no dessa poca. Um caso fantstico, muito doido, completamente improvvel. O Vero da Lata comeou num belo
dia de setembro de 1987, portanto ainda na primavera, quando as primeiras delas comearam a aparecer. Logo quando fo-ram achadas e abertas, a notcia se espa-lhou como fumaa. Latas e latas de ma-conha, centenas, milhares, surgiram do nada numa grande faixa do nosso litoral. Dezenas de policiais e incontveis inte-ressados se mobilizaram. As latas foram capturadas por repressores e consumido-res e todos os lados trataram de espalhar sua fama. A marofa que surgiu repenti-namente em nossas praias era de um teor bastante alto de THC, ou seja, alm de apa-recer em grande quantidade, devidamente enlatada e do nada, a danada no era s da boa era da tima! Quando tudo passou, sobrou a lembrana daquilo que ficou co-nhecido como o Vero da Lata. As latas ti-nham virado gria, msica, moda. Tinham virado lenda.
Tudo teve incio quando o navio Solana Star, vindo de Singapura ao Brasil com um carregamento de mais de 20 toneladas de maconha acondicionadas em milhares de latas, ao perceber que estava sendo perse-guido pela polcia, descarregou sua precio-sa carga no mar, abarrotando nosso litoral com a mercadoria.
As latas no paravam de surgir em v-rios lugares e de produzir manchetes. No incio, a ordem das autoridades era apre-ender a mercadoria e, depois, remet-la para a Polcia Federal. Mas a quantidade era tanta que foi dada a ordem de incinerar as latas nos locais onde fossem apreendi-das. A polcia apertava o cerco e acendia
Houve uma vez...
Baseado* em fatos reaisUm vero muito louco!
The Cook A tripulao fugiu, sobrando apenas o cozinheiro americano Stephen Skelton. Julgado e condenado a 20 anos por sua participao no narcotrfico internacional. Akelton ficou preso por pouco mais de um ano, sendo libertado aps um segundo julgamento, que anulou a condenao.
Pega lata Informaes oficiais contabilizaram a apreenso de 2.563, das cerca de 15mil latas de maconha lanadas ao mar. Em cada lata havia cerca de 1,5kg de maconha prensada e no navio teriam sido armazenadas pouco mais de 20 toneladas da erva.
D.E.A. Acima, o delegado da Polcia Federal Carlos Landim, que trabalhava na Delegacia de Represso a Entorpecentes (DRE), quando chefiou a operao Cisne Branco e tambm presidiu o inqurito do caso do Solana Star. Segundo Landim, o alerta s autoridades brasileiras sobre a carga do navio foi feito pelo Drug Enforcement Administration (DEA), agncia de combate s drogas dos Estados Unidos.
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SOLANA STAR O navio ingls che-gou ao Brasil em 1987, supostamente
com uma carga de 20 toneladas de maconha enlatada. Aps denncia,
a tripulao dispensou a carga e atracou o navio no porto da cidade
do Rio de Janeiro completamente vazio onde seus tripulantes conse-
guiram driblar a alfndega alegando problemas nos motores.
na hora.Em Ilhabela, a maior incidncia de
aparecimento das latas ocorreu na regio nordeste do arquiplago. Na Baa dos Cas-telhanos foram avistadas as primeiras latas, muitas delas apanhadas por pescadores das comunidades entre o Saco do Sombrio e a Ponta da Cabeuda. Nas semanas seguintes o veneno da lata se espalhou tambm pela frente do arquiplago, fato que trouxe mui-tos paulistanos para Ilhabela em busca das famosas latas.
J no Rio de Janeiro, a tripulao do na-vio conseguiu fugir, sobrando apenas para
pagar o pato o cozinheiro do navio, o ame-ricano Stephen Skelton. Julgado e condena-do a 20 anos por sua participao no nar-cotrfico internacional, o cozinheiro foi conhecer as delcias do Presdio Ary Fran-co, onde ficou preso por pouco mais de um ano, sendo libertado aps um segundo jul-gamento, que anulou o primeiro. O Solana Star acabou sendo leiloado e transformado no atuneiro Tunamar. Em sua primeira via-gem com a nova identidade e funo, nau-fragou perto de Arraial do Cabo, caso que chegou a ser tratado como maldio.
Fiel aos versos da famosa msica de
Bezerra da Silva (No sou agricultor, des-conheo a semente), o cozinheiro sempre sustentou que nada sabia sobre a carga do navio. Para Carlos Landim, 63 anos, delega-do aposentado da Polcia Federal, a histria era uma piada e no convenceu ningum. O cozinheiro garante que ningum nunca contou a verdadeira histria e que apenas ele conhece a verdadeira histria das latas.
Quando algum estiver disposto a pa-gar pela verdade e pelo meu tempo gasto em seu belssimo sistema prisional, conta-te-me. Assinado: The Cook.
Naquela poca no tinha esse movimento todo. Tinha gente que no andava na rua
e de repente arrumou um cachorro pra sair puxando na praia do Perequ atrs das latas [sic]. Era muita coisa, a caiarada de trs da
ilha enterrava tudo com medo da polcia e nisso mais da metade se perdeu...
Martin Julio Ramos, produtor cinematogrfico
Maconha Moradores que tiveram contato com as latas de maconha prensada, que chegaram boiando a Ilhabela, contam que em cada uma havia cerca de 1,5kg da erva.
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Ele comeou a trabalhar na Companhia Santense, que era responsvel por uma lancha que fazia a travessia de Ilhabela
para So Sebastio. Trabalhou nas lanchas, S.7, S.8 e S.2. Depois de um tempo, Z de Alicio comeou a trabalhar na Petrobras e foi seu l-timo servio, conta o irmo Toninho. Z ficou na estatal at se aposentar em 1995. Na Con-gada de Ilhabela, era devoto de So Benedito e no havia uma Congada que ele no saa de forma impecvel, com seu chapu bem alinha-
F e Devoo Acima, o secretrio do Rei do Congo, Z de Alicio em seu ltimo baile na Congada de So Benedito em maio de 2005. Z danava como ningum e proclamava seus versos sempre amparados na famlia Oliveira.
Jos Ribeiro dos Santos
Z de Aliciodo e a espada reluzente, refletindo o bri-lho do sol das manhs e tardes de maio. Um dos congueiros mais importantes na histria de Ilhabela, Z de Alicio at hoje um sinnimo da Festa de So Bene-dito. Para muitos, Z era o maioral.
Antes de se tornar servo do Rei do Congo, Z de Alicio atuou muito na vida social da cidade. Foi fundador da Esco-la de Samba Unidos de Padre Anchieta e um dos fundadores do Esporte Clube Ilhabela, onde era scio remido e fan-tico por futebol, palmeirense roxo mes-mo, Z faleceu aps um jogo do antigo Palestra Itlia. Toninho conta que aps a derrota do Palmeiras para o So Paulo o secretrio de So Benedito se sentiu mal e naquele mesmo dia faleceu. Vitima de um ataque cardaco no dia 25 de maio de 2005, Z de Alicio se tornou no decorrer da vida um dos caiaras mais queridos de Ilhabela. Certamente, seu Z deixou muitas saudades, alm da esposa Euni-ce, dos filhos Carlos Jos (Zez), Stella, a nora Regina e os netos Carlos Jos Jr e Ju-lia Regina e um legado de muito trabalho e honestidade.
travessiaJunto com o amigo Dcio Cardeal, Z de Alicio cuidando da lancha S.8 que fazia a travessia entre Ilhabela e So Sebastio na Dcada de 1950, antes da chegada dos Ferry Boats a Ilhabela.Fo
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O pescador que vive no mar, mas no sabe nadar
Osmar de Jesus, Mazinho
Pescador h mais de meio sculo, "Seu Mazinho" como carinhosamen-te conhecido do lado de c da ilha, vem de famlia tradicional caiara e desde os 14 anos de idade trabalhou como pesca-dor, mesmo sem saber nadar - como conta a lenda. Conhecido pelos caiaras como um exemplo de homem trabalhador, Mazinho patriarca de uma famlia que mantm as origens caiaras.
Mazinho aprendeu a pescar com seu pai, e conta que tambm aprendeu mui-to com seus amigos antigos e seu irmo. "Quem pescador aprendeu com os anti-gos". Com 15 anos Mazinho j ia pro mar. Pegava frias da escola e j saa para pes-car. "Saa da escola, no ficava na baguna
como a molecada de hoje fica. Nas frias ia pro mar. Hoje no acontece isso. A moleca-da fica na farra, na bebida, mas no adianta falar. o "projeto baguna". Naquele tem-po, no. Ns saamos pra pescar mesmo, trabalhava tudo alegre. Contente. Fizesse pescaria no fizesse", lembra o caiara.
O pescador que atuou por muitos anos como marinheiro profissional, prestando servio em lanchas at se aposentar, nunca deixou de pescar. Seu Mazinho lembra que a atividade pesqueira no como as outras e relata as dificuldades que a categoria en-frenta nos dias de hoje. "Nas outras ativida-des tem um monte de gente por conta, mas na pesca no, principalmente, em um lugar como Ilhabela. Precisa tirar carteirinha se-
no no pode pescar. Precisa ser habilitado em tudo. Que hoje j viu, n? O cara no pode nem pescar".
Com 83 anos recm comemorados e muita sade e lucidez, seu Mazinho ficou vivo em 2014 quando sua esposa faleceu aps 61 anos de casados. Dona Dirce foi a mulher que o acompanhou durante toda a vida.
Ao longo do tempo, com seu jeito paca-to e trabalhador, o pescador se tornou uma lenda do mar. Na proa do Drago, seu Ma-zinho fez misria com grandes pescarias.
Pai de seis filhos: Ftima, Mrio Sergio, Fernando, Beto, Paulo e Nilton Czar, seu Mazinho ainda tem 20 netos, 14 bisnetos e muita histria pra contar.
Histria de PescadorMarinheiro profissional, Mazinho aprendeu a pescar com seu pai, seu irmo e seus amigos antigos.Como proeiro de traineiras como o DRAGO, seu Mazinho fez muitas pescarias marcantes e no negava um peixe pra ningum. "Fosse manequinho ou tainha no importa, todo mundo levava peixe pra casa", conta o caiara.
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Ilhabela um lugar de muitas histrias e per-sonagens como Iracema Frana Lopes Corra, a dona Ded. Com sua vitalidade, Ded era conhecida por seu dinamismo. Fazia, organizava e prepara inmeros eventos, alm de atividades culturais e folclricas pela ilha. Foi organizadora e patrocinadora da biblioteca municipal, junto com a irm Estela Frana. A me era caiara de Ilha-bela, o pai delegado de polcia, originrio do vale do Paraba. Ded cresceu e viveu no interior mas sempre que podia, nas frias, vinha para Ilhabela. Em 72 finalmente mudou-se com o marido para a ilha, onde permaneceu at 2009, quando deixou a saudade tomar conta de vez no corao de todos.
De ndole agitada, logo se interessou pelo fol-clore da ilha. Pesquisou os caiaras, andou por todo lado visitando famlias, conversando e anotando o que podia durante dez anos. Depois, comeou a colocar no papel o resultado de sua pesquisa de campo. Com isso produziu um livro e colaborou com outro. Sua principal paixo a respeito do fol-
Iracema Frana Lopes Corra
clore local era a Congada, festa que estava sendo esquecida e que, graas a ela, foi restabelecida na cidade: Ded buscou ajuda e conseguiu verba para reorganizar a Congada, festa que cresce a cada ano em Ilhabela.
Outra festa tpica que dona Ded redescobriu e resgatou foi o caiap, originalmente elaborado pe-los negros escravos, e que deu origem a um bloco carnavalesco da cidade. Com o apoio e a presena dela, o grupo faz apresentaes em outras cida-des e participou durante um perodo do carnaval da ilha. Alm de danas e festas folclricas, dona Ded resgatou lendas e mitos da ilha, e os publicou periodicamente no extinto Jornal da Ilha.
Um dos seus maiores sonhos era criar um Mu-seu do Folclore regional em Ilhabela, um sonho que no pode ser concludo, aos 90 anos de idade, Dona Ded teve falncia mltipla dos rgos, falecendo em 30 de setembro no ano de 2009. Ela ainda rece-beu a homenagem de ter seu nome como o de batis-mo de uma escola localizada na gua Branca.
A dedicao de DedIracema Frana Lopes Corra, ou dona Ded, como a chamavam, graas ao apelido que sua irm mais nova a colocou, nasceu em 1919. Me de dois filhos (Ana Maria e Luiz Octvio), teve seis netos e dez bisnetos. A professora que se apaixonou pelo folclore de Ilhabela acabou se tornando a maior pesquisadora da cultura caiara no arquiplago e realizou grandes feitos na cidade, marcando seu nome na histria de um povo.
FolcloreDed ficou marcada na histria de Ilhabela por sua dedicao valorizao da cultura caiara. Em seu livro "a congada de ilhabela na festa de so benedito" Iracema retratou muitos detalhes desta festa que passou a mais valorizada e vem crescendo a cada ano.
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Ilhabela 21DCADAS26 Tribuna do Povo de Ilhabela | Setembro/2015
Canoa de Voga Esta bela imagem de
Adriano Perna mostra o feitio de uma Canoa Caiara
no Bonete. Os caiaras aproveitam uma rvore tombada pelo vento no
meio da mata, para produzir a embarcao, que termina cortando as ondas na sada
no Rio Nema
A arte da Canoa Caiarasmbolo da sobrevivncia de um povo
Construdas atravs das mesmas tc-nicas e princpios pautados pelas "25 linhas", que orientam o feitio das Canoas Caiaras desde o litoral sul flu-minense, paulista at o norte paranaense, as Canoas Caiaras da praia do Bonete, em Ilhabela possuem caractersticas de design prprias. Estas ligeiras adaptaes permi-tem uma maior sintonia entre a embarca-o e as condies ambientais locais de mar, vento e porto. Assim tornaram-se estas ca-noas "alteiras" de proa para enfrentar ondas grandes, e acrescidas de uma sobreborda aberta em ngulo para que as marolas no
entrem pelos bordos. Ficaram esguias, de modo que sua proporo Comprimento / Boca de coeficiente maior que 7, o que as fazem rpidas na gua. Com o passar dos tempos acabaram ganhando motores de centro, eixo, hlice e consequentemente um leme para governo. Isso fez surgir mais uma peculiaridade nestas flechas do mar, seu uso como um veculo seguro, rpido, confivel e o meio de transporte dirio de dezenas de famlias caiaras tradicionais que vivem por geraes em praias e costes afastados.
Essas comunidades desenvolveram um modo de vida integrado ao ambiente na-
tural em perfeita simbiose, sendo a Canoa Caiara o principal smbolo de resistncia dessa populao mpar, frente os avanos da especulao imobiliria, do turismo ir-responsvel e de um ambientalismo radical que exclui o homem da natureza.
Aps a puxada, a canoa vai passar pelo acabamento grosso, onde com o enx o Mestre Canoeiro redefine as linhas da ca-noa imprimindo sua marca pessoal. Logo depois feito o acabamento fino onde a so-breproa e a sobrepopa colada e a canoa toda lixada.
A tcnica de colocar sobreproa e so-brepopa, permite que a rvore seja melhor aproveitada em todo seu comprimento. Uma soluo tcnica genial que resulta na Canoa Caiara do Bonete sem a "bordadu-ra", mais utilizada na pesca a remo.
Caso for necessrio maior capacidade de carga pode ser acrescida a "bordadura" ou sobreborda, o que proporciona mais efi-cincia para enfrentar as ondas na sada da praia. Estas bordas tornam-se a principal ca-racterstica das Canoas Caiaras Boneteiras.
por Peter Santos Nmeth - canoadepau
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Jundu Pescadores puxavam suas canoas na praia do Perequ at em cima do jundu, vegetao litornea que cresce em reas no alagadas nem salinas, onde o mar no alcanava.
CARIDADE Acima, homens bem vestidos com trajes sociais, muito utilizados na poca, em cima e em volta da famosa Canoa Caridade, em meados de 1919.
Tecnologia A foto do argentino Martin Julio Ramos mostra a tecnologia utilizada pelos caiaras no final da Dcada de 1970 para subir uma grande Canoa de Voga. O registro foi feito na comunidade tradicional da Praia Vermelha, na Baa dos Castelhanos.
Arte Acima, dois homens dentro de uma rvore cada na mata. Com ferramentas coloniais, eles esculpem uma canoa de
voga ainda no meio da mata .
Bonete Muito famosa e utilizada pelos caiaras da comunida-de tradicional da praia do Bonete e seus convidados, a Praa
da Conversa Mole um local onde realmente se encontram Pescadores, Caadores e muitos, muitos mentirosos.Fo
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o memorvel Joo Santana
Benzedeiro renomado das bandas do Pere-qu antigo, Joo Santana de Oliveira, tam-bm conhecido como Joo Lontra filho de Pedrina Santana de Oliveira, que segundo ele tambm benzia. Morador do lugar onde hoje se encontra instalado o centro comercial de Ilhabela, Joo do tempo em que Ilhabela era s mato. "Eu sempre morei aqui no Perequ. Antigamente no tinha nada aqui. Depois de uns tempos pra c que Jnio Quadros entrou, botou luz e a estrada. Aqui era s mato".
Joo conta que antes disso faziam lampio com canudo de taquara e querosene. Segundo Joo, a vida em Ilhabela desconsiderava a regio baixa do Perequ e no bairro s existia a casa de sua famlia e a Igreja de So Joo. O benzedeiro conta que quan-do a igreja foi construda ele tinha apenas 8 anos. "Eu tinha amigo, tinha Joozinho, Bigi, seu Jacinto morreu, Nelinha morreu, Alicinho morreu, agora no tem mais, cabou-se tudo. Ns fomos no Pico do Baepi quando no tinha nada ali. Subimos e co-locamos uma bandeira de nylon l", lembra o antigo morador de Ilhabela. "Meu pai, minha me, minha av, meu av, cabou-se tudo"
Joo Lontra lembra que em sua mocidade Ilha-bela vivia em festa. "Por toda parte tinha festa, agora no. Tinha salo de baile ali na igreja, vinha muita gente de Santos para a Festa de So Joo. Aqueles tempos antigos era melhor que hoje em dia. Muito peixe, muito feijo, muito arroz, hoje o que voc ga-nha no d nem para comer", lamenta.
"Tinha roda de farinha, fazia farinha e uma por-o de coisa. Agora no tem mais nada. Cabou-se".
Em Ilhabela, assim como em todo lito-ral sudeste do Brasil, a pesca artesanal caracterizada principalmente pela mo de obra familiar. Com embarcaes de pequeno porte, como as canoas, os caiaras atuam normalmente na proximidade da cos-ta com equipamentos que variam de acordo com a espcie a se capturar.
O cerco flutuante, modalidade muito uti-lizada pelas comunidades caiaras de Ilhabe-la, foi introduzido pelos imigrantes japoneses.
No incio, essa engenhosa forma de pes-car nas encostas do arquiplago gerou muita curiosidade e desconfiana, mas depois que o cerco "pescou bem" e provou que funciona-va, se tornou um dos petrechos de pesca mais eficientes de captura de peixes.
No entanto, os japoneses trouxeram para o Brasil consigo, apenas a ideia. Foi em 1919 que o primeiro armador de cercos chegou ao Saco do Sombrio. Sem materiais para a pro-duo do "cerco japnes", muita coisa pre-
a arte da
PESCA
cisou ser adaptada e registros apontam para uma frustante primeira tentativa.
Naquela poca, um cerco armado com um "pano bom", ou seja, uma rede de fios fortes e bem tranados, poderia pescar cerca de um ano e meio sem grandes avarias.
Os caiaras tambm utilizavam redes de espera e de arrasto como o picar. A pesca de linha tambm sempre foi muito utilizada para a captura de peixes de passagem como anchovas, cavalas e sororocas.
Para conservar o pescado capturado em grande quantidade, os caiaras tambm aprenderam com os europeus e asiticos a arte de secar o pescado. Depois de escala-do, o peixe recebia uma boa quantidade de sal para ajudar a retirar toda a gua da car-ne. Logo depois os peixes eram pendurados numa espcie de varal ao sol por vrios dias. Ainda hoje, a tcnica do peixe seco muito utilizada pelas comunidade caiaras tradicio-nais da Ilha.
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Pescaria A pesca sempre foi um dos pilares da alimentao do povo caiara. Em Ilhabela no era diferente e desde o Brasil-Colonial a subsistncia j exigia que os homens sassem para o mar em busca do alimento.
Pesca da Baleia A captura de baleias na costa brasileira teve incio por volta de 1700 e se manteve essencialmente rudimentar at meados de 1950. Arpes manuais eram utilizados e o animal arpoado levava muitas horas at sucumbir. O leo, extrado das espessas camadas de gordura que envolviam o animal, por suas inmeras funes, era o produto
Tecnologia O cerco flutuante, modalidade muito utilizada pela comunidades caiaras de Ilhabela, foi introduzida pelos imigrantes japoneses. No incio, essa engenhosa forma de pescar nas encostas do arquiplago gerou muita curiosidade e desconfiana, mas depois que o cerco "pescou bem" e provou que funcionava, se tornou um dos petrechos de pesca mais eficientes de captura de peixes.
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ca mais cobiado. Chamado de azeite ou graxa, servia para a iluminao dos engenhos, casas e fortalezas, para a calafetagem de barcos (vedao com estopa), para a fabricao de sabes e velas, e ainda podia ser usado na lubrificao de engrenagens. Em Ilhabela a pesca tambm acontecia e o leo dos grandes mamferos era removido na praia da Armao.
Ilhabela 21DCADAS30 Tribuna do Povo de Ilhabela | Setembro/2015
Frequentadora de Ilhabela desde 1974, quando ainda namorava seu marido, Paulo, e vinham acampar no antigo camping do Badito, Sandra Regina Rost Stani-ch nasceu em 1962 e mudou-se para Ilhabela em 1988.
Esposa carinhosa e me extremosa, San-dra participou ativamente da Associao de Pais e Mestres da Escola Anna Leite, na Praia Grande, onde seus filhos Paulo e Vanessa es-tudaram at completar o ensino mdio.
Entretanto, no foi apenas como esposa e me exemplar que se destacou, mas, prin-cipalmente, por sua efetiva participao nos projetos sociais e por sua contribuio rele-vante comunidade.
Como era uma das nicas que possua au-tomvel no bairro, era comum levar as pesso-as da comunidade Santa Casa. Muitas vezes, durante a madrugada e com chuva, enfrentou a estrada do sul, que ainda era de terra, com seu Buggy vermelho para ajudar o prximo, sendo, inclusive, alvo de brincadeira entre os vizinhos que diziam que deveria colocar uma cruz branca em seu carro, onde at mesmo v-rias crianas quase nasceram.
Em 1992, seu marido ingressou no Rotary
Club de Ilhabela, numa poca onde somente eram admitidos membros do sexo masculino, porm Sandra participava ativamente como membro da Casa da Amizade.
Com a abertura do Rotary para as mulhe-res, Sandra ingressou nas fileiras da institui-o, onde alcanou o cargo de Presidente em trs mandatos, sendo a primeira mulher de Ilhabela a ocupar o posto.
J no seu primeiro mandato, junto com seus companheiros de clube, entregou em parceria com a Marinha do Brasil, 5mil peas de roupas, brinquedos e colches para as co-munidades tradicionais do arquiplago.
Atravs do Rotary contribuiu nas campa-nhas da Plio Plus, na poca em que os pr-prios rotarianos aplicavam a vacinao atra-vs das gotinhas.
Por muitos anos Sandra participou da Campanha Antirrbica, bem como em vrias outras como: Campanha de Combate AIDS, Doao de Sangue, Campanha da Boa Viso, Combate Hipertenso, Banco de Cadeira de Rodas, Acesso ao Livro, dentre outras, sempre de forma voluntria.
Pelos relevantes servios prestados ao Ro-tary Club recebeu em 2015 o Prmio Viriato
Correia. Sandra tambm recebeu do Rotary Internacional, o Prmio Paul Harris.
Em 2013, foi representante do Rotary Club do Brasil em Intercmbio da Amizade realizado nos pases da frica do Sul, Austr-lia e Nova Zelndia, onde divulgou Ilhabela.
Ao lado de Dona Ded, atuou na Socie-dade So Vicente de Paula por vrios anos, fornecendo material escolar e brinquedos em datas especiais para as crianas carentes.
Durante quatro anos foi vice-presidente da Sociedade Amigos da Criana de Ilhabela SACI, que cuida de crianas com desnutri-o avanada, em parceria com as irms que administram esta obra social.
Na Pastoral da Criana, durante mui-tos anos, participou da pesagem de crianas da localidade do Buraco Fundo, onde para atrair as crianas distribua lanches e refrige-rantes, recebendo por seu trabalho, em 2002, o Prmio Amigo da Criana.
Desde 1990, Sandra proprietrios da Tapearia Colonial e por suas aes que tan-tos benefcios trazem comunidade, teve seu trabalho reconhecido e por meio de uma in-dicao da vereadora Dr. Rita, hoje ela uma Cidad Honorria de Ilhabela.
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Sandra Stanich
Cidad de Ilhabela
31Ilhabela 21DCADAS Tribuna do Povo de Ilhabela | Setembro/2015
o pai dos royalties
Roberto Fazzini
Caiara da terra, nascido em 12 de ou-tubro de 1929, Roberto Fazzini veio ao mundo para fazer a diferena. Se hoje Ilhabela a cidade que atualmente recebe o maior percentual de royalties do petrleo no Litoral Norte, devemos agradecer ao esforo desse grande homem, que em sua segunda gesto como prefeito de nossa cidade, lutou diuturnamente para conquistar esse direito, j que o municpio at ento arcava apenas com os prejuzos dos vazamentos de leo no Canal de So Sebastio.
Muito antes dessa grande conquista, Ro-berto Fazzini j contribua para escrever a trajetria ilhu, ao pilotar a lancha que fazia o transporte de passageiros entre o arquiplago e o continente. Como scio fundador bene-mrito do Esporte Clube de Ilhabela, traba-lhou para a conquista e construo da sede e ajudou a realizar festas memorveis como os tradicionais Bailes de Carnaval e as primeiras
edies do Banho da Doroteia, tambm cha-mado Banho Fantasia.
Vereador atuante em duas legislaturas, tambm governou o municpio entre 1973 e 1977, poca em que o municpio rece-beu as primeiras obras de infraestrutura, como a construo de prdios escolares no So Pedro, Curral e Veloso, no sul da ilha e abertura da estrada So Pedro-Borrifos, Ponta das Canas-Jabaquara e a reabertura do trecho Perequ-Castelhanos, que estava paralisado havia 18 anos.
Com Fazzini, Ilhabela viu chegar a comu-nicao via telefone pblico, cujo primeiro aparelho foi instalado na Praia Grande e a chegada da energia eltrica, por meio da ins-talao dos cabos submarinos que traziam a energia de Furnas. Preocupado com a ocupa-o do municpio, trouxe para o arquiplago o primeiro Seminrio do Litoral Norte com objetivo de elaborar projeto de Lei de Uso do
Solo. Na Sade, conquistou a abertura da San-ta Casa de Misericrdia de Ilhabela, em par-ceria com a extinta Superintendncia do De-senvolvimento do Litoral Paulista (Sudelpa).
Formou-se em Direito, implantou o Con-selho Tutelar na cidade e deu incio infor-matizao do servio pblico. Incansvel, buscava recursos e parcerias com esferas Esta-dual e Federal para garantir o funcionamento da Santa Casa, Associao Creche e Apae de Ilhabela.
Poltico de vanguarda, homem de famlia, Roberto Fazzini com certeza um exemplo a ser seguido, pois suas aes sempre primaram pela transparncia e gesto pblica. Nos 210 anos de emancipao poltico-administrativa de Ilhabela, nossa justa homenagem a esse caiara que veio ao mundo para fazer a dife-rena e contribuir com o desenvolvimento de sua cidade.
Aps 18 anos, Fazzini retomou a manuteno da estrada de Castelhanos
Roberto Fazzini tambm investiu nos bairros do So Pedro e Veloso
O prefeito Fazzini tambm construiu a quadra de esportes do Perequ
Sade Junto com a esposa Mariazinha, Roberto Fazzini conseguiu manter aberto o pronto-socorro da Santa Casa de Ilhabela 24h por dia enquanto prefeito
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Ilhabela 21DCADAS32 Tribuna do Povo de Ilhabela | Setembro/2015
Filho de Alzira Siqueira e do migrante ita-liano Leonardo Reale, "Seu Hlio" nasceu na Vila, em 1924. Eram cinco irmos, sendo quatro homens: Vitor Reale, Humberto, Helio e talo. A quinta era Ophlia, a nica mu-lher.
Aos oito anos de idade foi com sua famlia para a praia de Castelhanos, na mesma poca em que estourava a Revoluo de 32. Sua me havia pego Tifo [doena bacteriana] e o mdi-co dela, doutor Ernesto Rezende, que era talvez o nico mdico em Ilhabela disse: "Leva a Al-zira pra um lugar sossegado". Hlio conta que do lado de c da ilha era um barulho danado. "Qualquer aviozinho que passava aqui era um tiroteio dos infernos. Ento, ns fomos morar em Castelhanos, em 1932, e ficamos l at 1940, moramos oito anos l", conta.
o filho do italiano Leonardo,
HLIO REALENaquela poca cerca de 80 famlias viviam
nos Castelhanos. "Tinha de tudo l, s se com-prava roupa e querosene. Se plantava, todo mundo trabalhava, tnhamos uma cooperativa de um barco grande e todo fim de ms tava l pra pegar carga, pegar banana, pinga e levar para Santos", lembra.
Na poca os maiores cultivos eram de cana de acar e Banana. A famlia possua um enge-nho, muito comum naquele tempo. A Favorita, cachaa produzida artesanalmente no Engenho dos Reale ficou famosa atingindo a marca de produo mensal de 18 mil litros.
"Nossa pinga era vendida pra Santos e dis-tribua no litoral todo. Ubatuba, Caraguatatu-ba... Santos comprava e distribua, no s do nosso, como de todos os engenhos. Ns ramos todos moleques, tudo criana, ns ajudvamos
s de fim de semana, que os empregados no iam trabalhar. Punha gua, pnhamos para moer, enchia as cocha de garapa que tinha que destilar e fazia a pinga. Sbado e domingo era por nossa conta, durante os dias da semana eram os empregados que tocavam. O engenho funcionou at 1967.
Na mocidade, Helio Reale foi para So Pau-lo, onde trabalhava na SKF, enquanto Santina - sua futura esposa - era da cidade de Descalvado, distante 260km da capital, mas o destino j havia traado o caminho do casal. O sogro de Helio acabou alugando o piso trreo de um sobrado para Santina, s que em cima morava o gerente da empresa SKF e Hlio ia muito casa de seu chefe. "A gente se conheceu assim. Ento a foi... em 2009 fizemos 50 anos de casados", conta.
Ilhabela naquele tempo tinha vida prpria.
EngenhoImagem da dcada de 30 retrata o engenho em Castelhanos onde os irmos Reale produziam 18mil litros de pura aguardente de cana por ms
Hlio Reale com os irmos Vitor e Ophlia e mais dois amigos, no crrego Nossa Senhora D'juda, que corta a Vila e desgua ao lado do Esporte Clube IlhabelaFo
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33Ilhabela 21DCADAS Tribuna do Povo de Ilhabela | Setembro/2015
Tudo que se fazia aqui se vendia. A gente planta-va, colhia, vendia, tudo aqui. Na Ilha de Bzios todo mundo plantava muito feijo. A Ilha tinha vida prpria. Hoje voc precisa comprar tudo de fora, desde a banana. Nos armazns aqui, bem na frente tinha uma fileira de oito arma-zns de secos e molhados. Armazm de secos e molhados, era do pingo, tinha do meu pai, tinha do Celestino, tinha uma poro deles a. Um do 'lado do outro, todo mundo vendia. Tudo na frente a, na rua da frente. tudo na rua, da praia. Era uma poca acho que muito melhor do que hoje, vendia desde ferramenta at roupa, vendia sabo, vendia de tudo, carne-seca, feijo, de tudo. S comprava querosene, a roupa e o sal.
Naquela poca todos plantavam e produ-ziam, mas os filhos da ilha no quiseram mais nada. Hlio conta que quando regressou para Ilhabela alertou os amigos: "Do jeito que vai indo aqui vocs vo ficar tudo sendo caseiro de turista".
Com a abertura da Tamoios e a facilidade de se chegar mais fcil ao arquiplago, os turis-tas foram chegando e querendo se instalar. "Os caiaras eram os donos de Ilhabela, mas cres-ceu dinheiro no olho de todo mundo que cada turista que aparecia ele vendia um pedacinho de terra. Eles ficaram sem nada. No soube-ram dar valor para aquilo que eles tinham, se iludiram de vender pro turista, que deu aquele dinheirinho e ficaram sem nada e foram em-bora. A maioria foi embora pra Santos", contou a Caio Camargo, em "memrias de uma ilha".
Irmos RealeRtulo da cachaa Favorita,
produzida na Baa dos Castelhanos pela famlia de
Helio Reale. Acima do nome o slogan: "Finssima Aguardente
de Pura Cana"
Um casamento de 56 anosDe volta Vila, Helio passou a ajudar seus pais com a criao de gado. No final da dcada de 50 foi para So Paulo, onde se casou com dona Santina Heidorn e a trouxe para morar consigo em Ilhabela, onde tiveram quatro filhas. esquerda dona Santina, Helio Reale e as duas primeiras filhas Lcia e Snia.
Quartetoda esquerda para direitaAlzira, Snia, Lcia e Clia,filhas de Hlio e Santina Reale
Meu pai era um italiano bravo pra burro. Era muito bom. Sempre educou a gente muito bem educado. Ele era
agricultor. Tinha uma fazenda em Castelhanos, um engenho de pinga, plantao de banana, foi comerciante por muito
tempo. Casou e ficou aqui at morrer com 87 anos".Hlio Reale, "Memrias de uma Ilha"
Foto: Acervo Pessoal
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Ilhabela 21DCADAS34 Tribuna do Povo de Ilhabela | Setembro/2015
Os guerreiros medievais, cavalos ram-pantes, donzelas e sereias, enormes peixes metlicos, alm de sua coleo de arte sacra e bustos de personalidades, entre outros temas, compem o conjunto de obras elaboradas pelo escultor Gilmar Pinna, nascido em Ilhabela, litoral norte de So Paulo, e reve-lam uma nova forma de interpretao da figura,
Prata da Casao caiara que esculpe sentimentos
tanto humana como animal, atravs da singular expresso de um artista que rompe os limites da escultura acadmica e tradicional.
Em sua apresentao, o crtico de arte Luiz Ernesto Kawall assim define a obra do artista: Sua arte escultrea repleta de formas e estru-turas diferentes, cuja elaborao necessita de ou-sadia dinmica e muita fora interior. uma arte
feita com alma, corao e muito esforo fsico.Autodidata, Gilmar Pinna iniciou sua carrei-
ra artstica aos 10 anos realizando esculturas em areia, e aos 12 anos conquistaria o Primeiro Pr-mio de Escultura em Areia do Litoral Norte Pau-lista. O passo seguinte seria a escultura em metal.No incio dos anos 70, incentivado pelo pintor e desenhista basco Fernando Odriozola, de quem se tornara amigo e admirador, comeou a parti-cipar de concursos e salo de artes, conquistando vrios prmios.
Em 1976 realizou sua primeira mostra indi-vidual, na Galeria Vanguarda, em So Paulo. Se-guiram-se outras individuais e participaes em exposies coletivas. Ao mesmo tempo, passou a elaborar trabalhos de encomenda para diversos colecionadores e empresrios, no Brasil e no ex-terior, contando atualmente com diversas obras expostas em praas pblicas na Itlia, Sua e Es-panha e Portugal, onde em Julho de 2005 esteve restaurando uma obra sua j instalada, e recebeu
CrucificaoEstudos apontam que a
escultura encrustada no meio
do Centro Histrico de Ilhabela,
seria o nico Cristo crucificado
em praa pblica em todo
mundo. A obra de Gilmar Pinna
foi instalada em 2001 e um
dos pontos mais visitados e
fotografados pelos visitantes
que vm a Ilhabela.
35Ilhabela 21DCADAS Tribuna do Povo de Ilhabela | Setembro/2015
homenagem pela ocasio do Centenrio da cidade de Vila de Lousada.
Em julho de 2000 realizou no Espao Cultural do Con-junto Nacional, So Paulo, a convite da Secretaria Estadual da Cultura, sua exposio Coleo do Milnio, contan-do no evento com o patrocnio do BANCO DO BRASIL e apoio da Sanko Espumas, da Super-Inox, e do Estdio Tom Brasil.
Na cidade de So Paulo, Gilmar Pinna realizou em 2001, de 21 de abril a 20 de maio, a exposio que marcou a reabertura do Parque Villa Lobos, a convite da Secretaria de Recuperao de Bens Culturais do Governo do Estado de So Paulo e da Secretaria de Estado dos Negcios de Es-portes e Turismo, e Ministrio da Cultura.
Em 2002, a convite da Prefeitura Municipal de Chi-cago (E.U.A.), Gilmar Pinna realizou palestras em escolas pblicas, alm de executar obras para algumas entidades americanas (High School de Highland Park, Nature Pre-servancy (Ong americana de preservao da natureza), entre outros).
Em maio de 2005, na cidade de Santander, Espanha, foi instalada a escultura D. Quixote e Rossinante, em co-memorao ao quarto centenrio da obra legendria de Miguel de Cervantes.
Em 2006, o escultor realizou no Memorial da Amri-ca Latina, So Paulo, a exposio de sua maior coletnea de obras, o Projeto Retratos da Vida, com dez esculturas, sendo nove com aproximadamente 20 toneladas cada, ho-menageando personalidades que de alguma maneira se dedicaram paz em nossos tempos.
Atualmente a coletnea encontra-se instalada no par-que escultrico especialmente preparado para receb-las, na cidade de Praia Grande, litoral sul de So Paulo, deno-minado Parque dos Sonhos.
No ano de 2007, foi nomeado pela Cmara Municipal de Ilhabela, Embaixador Cultural de sua cidade natal, por relevantes trabalhos de divulgao e contatos culturais rea-lizados entre Ilhabela e outros Municpios.
Gilmar PinnaNascido em Ilhabela,
Gilmar Pinna revelou uma nova forma de interpreta-
o da figura, tanto huma-na como animal, atravs da
singular expresso de um artista que rompe com os
limites da escultura.
CavalosO artista ainda apresenta uma paixo platnica por cavalos, que esto sempre presentes nos diversos momentos da vida profissional do artista.
Fotos: Acervo Pessoal
Ilhabela 21DCADAS36 Tribuna do Povo de Ilhabela | Setembro/2015
Com mais de 40 anos de histria, o Supermercado do Frade se tornou um sinnimo de Ilhabela. Localiza-do no bairro do Perequ, o Frade cresceu junto com a cidade comandado at hoje por Edson Silva. Fundado no dia 05 de Maio de 1971 por seu pai, Joaquim Francisco da Silva, o supermercado referncia no s de compras, mas tambm ponto fundamental de localizao em Ilhabela.
Embora afamado pela rica diversida-de em produtos, para chegar aos alicerces dos tempos modernos, o Frade passou por muitas mudanas, enfrentando algu-mas dificuldades. A comear pelo espao de 80m na poca em que era conhecido como Cerealista Silva. O curto espao da loja era tomado por um imenso balco, pelo qual a clientela efetuava suas com-pras, apontando as mercadorias que eram embaladas por um dos seis funcionrios disposio, alm do operador de caixa que realizava as contas, logicamente base de papel e caneta.
Graas a dedicao e aos esforos, o Ce-realista Silva em 1976 ampliou sua rea de vendas para 250m dobrando para 12 o n-mero de funcionrios e instalando 3 caixas equipados com as inovadoras calculadoras eltricas que chegaram para substituir de vez o mtodo de soma tradicional.
Assim, a clientela passou a desfrutar do setor de Frios que no existia nos cinco pri-meiros anos, tal como as pequenas pratelei-ras na loja, dando mais liberdade de escolha. A novidade ganhou as paredes e o Cerealis-ta transformou-se no Supermercado Silva.
Conforme crescia ganhando conheci-mento na praa, o Silva era alvo de exi-gncias por parte da clientela que sentia falta de alguns produtos nas prateleiras e a meta passou a ser a inovao, com muita dificul-dade em conseguir fornecedores devido a difcil travessia para a cidade. Naquela po-ca, no era comum empresas exportadoras de alimentos comercializarem abertamente no Litoral Norte, assim sendo, todos os for-necedores do Mercado Silva vinham direto do atacado e como todo, o sistema limitava os pedidos isso dificultava os empreendi-mentos que o Silva gostaria de aplicar loja para atender seus clientes.
Com o tempo, o Supermercado Silva progrediu. J em 1982, a loja contava com seis caixas e um total de 28 funcionrios, por sua vez, a clientela desfrutava de novos seto-res, como frios, laticnios e perfumaria, mas a grande novidade era o UIPI, uma espcie de bazar que fora organizado abaixo do es-critrio principal.
Em 1988, o bairro cuja empresa encon-tra-se situada at hoje, passou a somar no
nome, o que rendeu ao Supermercado Silva Perequ vasta ampliao 920m, oito cai-xas e 53 funcionrios alm de novos setores como o hortifrti e aougue.
J em 1994, uma grande mudana ocor-reu. Dessa vez passando a ser chamado de Supermercado do Frade, j com 1.400m e 72 funcionrios. No mesmo ano foi inaugu-rada a padaria na loja e o Frade ganhou seu 2 piso em prol do bazar UIPI foi criado o Magazine do Frade.
Em 1999 foram investidos mais 222m na ampliao dos setores de bebidas, raes e hortifrutti, at que em 2009 as inovaes chegaram a 2.100m de loja com 15 caixas e 215 funcionrios.
Hoje o Supermercado do Frade sem duvida um dos mais completos da cidade e da regio. Composto por uma dedicada equipe profissional em atendimento com corredores espaosos e uma grande varie-dades de produtos, o Frade vem ganhando ainda mais espao.
Com a formao de Gabriel Silva, neto de seu Joaquim, Edson passou a transferir grande parte da administrao para o jovem. Com muito empenho e determinao, Ga-briel se aperfeioou e vem tomando a frente do negcio da famlia, que segue em rtmo forte em Ilhabela, sempre atendendo muito bem moradores e turistas.
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MagazziniNa imagem a esquerda possvel ver o interior da loja no incio da dcada de 1990. Acima, uma imagem da frente da loja no fim dos anos 80.
Aougue do SilvaEm 1992, o aougue do Supermercado Silva j contava com uma estrutura ampla para atender os ilhabelenses e os exigentes veranistas, que passaram a fazer de Ilhabela, sua segunda residncia, como acontece at os dias de hoje.
Fotos: Acervo Particular/Supermercado do Frade
Ilhabela 21DCADAS38 Tribuna do Povo de Ilhabela | Setembro/2015
Ao longo de uma histria ainda pouco conhecida e que remonta a milhares de anos no passado, Ilhabela tem sido o cenrio de uma fascinante mistura de mis-trios, lendas, escravos, indgenas, povos pr--coloniais, corsrios, naufrgios, opulncia e estagnao, sempre em meio a uma natureza exuberante que tem resistido ao degra-dante do homem.
Graas dificuldade de acesso topogra-fia acidentada e a fatores histricos, o muni-cpio-arquiplago de Ilhabela apresenta um alto grau de preservao ambiental, apesar de estar localizado no centro do maior plo eco-nmico da Amrica Latina, formado pelo eixo So Paulo e Rio de Janeiro, e mesmo tendo atravessado dois grandes ciclos econmicos centrados na agricultura extensiva e que per-duraram por mais de 300 anos, quando proli-feraram dezenas de engenhos de acar e de aguardente, serrarias e mais de duas centenas de fazendas de caf.
Ilhabela um municpio-arquiplago, ou seja, seu territrio formado por vrias ilhas. A maior e a principal delas chama-se Ilha de So Sebastio, com uma rea de 337,5 Km2. Antes da chegada dos portugueses, essa ilha era chamada pelos indgenas de Maembipe ou Mayembipe, que na lngua tupi significa local de troca de mercadorias e resgate de prisio-neiros, ou seja, uma espcie de zona neutra utilizada pelas tribos para negociaes; um costume tribal.
Os integrantes da primeira expedio ex-ploradora enviada por Portugal Terra de Santa Cruz chegaram a Maembipe (maior ilha mar-tima encontrada pelos exploradores at ento), em 20 de janeiro de 1502, Dia de So Sebastio. A expedio, que batizou a ilha de Maembipe com o nome do santo do dia, era composta por trs caravelas, e dela fez parte Amrico Vesp-cio, conhecido navegante italiano.
Um dos primeiros colonizadores da Ilha de So Sebastio foi o portugus Francisco de
DA CANA CAPITAL DA VELA
Os tupis eram profundos conhecedores da natureza e viviam guerreando entre si. Os inimigos eram mortos e comidos pela
tribo, durante o chamado ritual antropofgico
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39Ilhabela 21DCADAS Tribuna do Povo de Ilhabela | Setembro/2015
Escobar Ortiz, responsvel pela construo do primeiro engenho de acar local.
Em 1805, a ilha de So Sebastio, que at ento pertencia ao municpio de So Sebastio, foi elevada condio de municpio pelo ca-pito-general Antnio Jos da Franca e Horta, quando recebeu o nome de Vila Bela da Prin-cesa, em homenagem filha mais velha do rei de Portugal, D. Joo VI. Os grandes artfices da emancipao foram o capito Julio de Moura Negro, o alferes Jos Garcia Veiga e o senhor de engenho Carlos Gomes Moreira.
Em 1940, por determinao do governo federal, Vila Bela mudou de nome e passou a chamar-se Formosa. Em 1945, o municpio incorporou outras ilhas, passando ento a chamar-se Ilhabela, evidenciando, em todos os nomes que recebeu, a beleza natural que domina a cidade.
Hoje, o arquiplago de Ilhabela, com rea total de 348 Km2, compreende as ilhas de So Sebastio, dos Bzios, da Vitria, mais as ilho-tas dos Pescadores, da Sumtica, da Serraria, das Cabras, da Figueira, dos Castelhanos, da Lagoa e das Enchovas. A rea urbana do mu-nicpio localiza-se integralmente na Ilha de So Sebastio, existindo 18 ncleos de comu-nidades caiaras tradicionais espalhadas pelo arquiplago, em locais de difcil acesso.
Ilhabela completa em trs de setembro deste ano, 210 anos de Emancipao Poltico-Admi-nistrativa, entre os seus ttulos de beleza infinita, detm a de Cidade Campe de Preservao da Mata Atlntica, sendo seu territrio preservado em 92% e a de Capital Nacional da Vela.
Apesar de sua vocao para os esportes nuticos, somente em 2011 o arquiplago foi oficialmente decretado como a Capital Na-cional da Vela. A chancela oficial garantiu o ttulo para o municpio que j tinha uma autodenominao por sua vocao. Desde ento, a cidade garantiu de forma inquestio-nvel esse ttulo to importante.
Capital da Vela Apesar de sua vocao para os esportes nuticos, somente em 2011 o arquiplago foi oficialmente decretado como a Capital Nacional da Vela.
Escravido Durante todo o perodo colonial, com cultivo nas fazendas de Ilhabela baseado
na mo de obra escrava, foi grande o fluxo de navios negreiros para o arquiplago. O
solo extremamente frtil, e a abundncia de cachoeiras para mover rodas d'gua, fizeram
da Ilha um excelente local para a construo de engenhos de cana de acar.
Devoo Durante a Festa de So Benedito realizada a Congada de Ilhabela, a maior manifestao folclrica cultural caiara, que atravessou o tempo at os dias de hoje.
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Ilhabela 21DCADAS40 Tribuna do Povo de Ilhabela | Setembro/2015
Campo de Aviaoe a participao de "Vila Bela" na Revoluo de 1932
Aps o golpe de Estado que levou Ge-tlio Vargas ao poder, a insatisfao no estado de So Paulo aumentou. Vargas concentrou poder e nomeou interven-tores nos estados. Os paulistas esperavam a convocao de eleies, mas dois anos se pas-saram e o governo provisrio se mantinha. Os fazendeiros paulistas, que tinham perdido o poder aps a revoluo de 1930, eram os mais insatisfeitos e encabearam uma forte oposio ao governo. Houve tambm grande participa-o de estudantes universitrios, comercirios e profissionais liberais.
Os paulistas exigiam do governo provis-rio uma nova Constituio e a convocao de eleies para presidentes. Exigiam tambm, de imediato, a sada do interventor pernambuca-no Joo Alberto e a nomeao de um interven-tor paulista.
Como Vargas no atendeu s reivindica-
es dos paulistas, em maio de 1932 comea-ram uma srie de manifestaes que culminou no conflito armado entre o governo Vargas e os paulistas.
Foi a que Ilhabela se tornou ponto cru-cial no combate. No dia 10 de julho partiu do porto do Rio de Janeiro o contratorpedeiro Mato Grosso e, no dia seguinte, o cruzador Rio Grande do Sul, escoltado por outros dois contratorpedeiros (Par e Sergipe). Para apoiar a esquadra, a Aviao Naval enviou trs Avies Savoia-Marchetti S-55A e dois Martim PM. Esses cinco avies partiram do Galeo e fica-ram provisoriamente baseados nas enseadas de Ilhabela, prximo ao vilarejo de Vila Bela. Com o clima tenso da Revoluo, a Marinha preparou avies Vought O2U-2A Corsair, que tambm viriam para Vila Bela, de onde parti-riam para o combate, mas a Aviao Naval no confiava muito nos flutuadores de suas aerona-
ves que pousavam e decolavam do mar nas en-seadas da ilha. Decidiu-se ento ampliar o des-campado prximo Ponta do Peque, criando uma pista de pouso prxima ao vilarejo para que os mesmos pudessem operar com trem de pouso. Criou-se ento em 1932, o Campo de Aviao de Vila Bela.
Inicialmente a aviao paulista com seus poucos recursos atuou na Frente Sul, deixando a capital livre para vrias investidas inimigas contra o Campo de Marte aes que visavam demonstrar fora e abalar a moral da popula-o paulistana. Alm desses ataques na Capital, a Aviao Naval operava livremente a partir de Vila Bela (Ilhabela) no Litoral Norte, engros-sando o bloqueio naval, bombardeando posi-es em Santos e apoiando a ofensiva terrestre dos Fuzileiros Navais em Cunha. Com o tempo, as foras federais fortaleceram os cus neste se-tor e no incio de setembro a luta se intensificou.
Aeroporto de IlhabelaOs Martim PM, juntamente com os Savoia Marchetti, eram as principais aeronaves de bombardeio da Marinha operando no conflito. Na foto abaixo, um dos Martim PM em Vila Bela, principal base dessas aeronaves durante a Revoluo Constitucionalista.
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Do Campo de Aviao em Ilhabela, ainda partiram ataques a Cubato, So Vicente e a varias guarnies localizadas no Vale do Pa-raba, tornando Vila Bela ponto primordial na luta contra os revolucionrios paulistas. Na se-gunda quinzena de agosto, quando os ataques nas trs frentes terrestres se intensificaram, a Aviao Naval executou uma srie de voos de patrulha, de reconhecimento e de ataque ao longo do litoral paulista coincidindo com aquela ofensiva.
Em setembro do mesmo ano, diversas ci-dades do estado de So Paulo j haviam sido tomadas, e o governo mostrava mais uma vez a sua superioridade, forando os revolucionrios a se renderem, dando por encerrada a revolu-o em 28 de setembro de 1932.
Mesmo tendo sido derrotada, a Revoluo Constitucionalista pode ser definida como um marco da histria do Brasil, que impediu que o pas fosse governado de forma inconstitucio-nal. Graas a ela um novo texto da constituio foi elaborado dois anos depois, no qual inclua em suas entrelinhas que as mulheres possui-riam a partir de ento o direito ao voto. Ficou definido tambm que o cidado teria a partir daquele momento o direito de escolher seu candidato de forma secreta nas urnas.
Com o fim da Revoluo de 1932, o Campo de Aviao de Vila Bela permane-ceu ativo para a aviao civil at a Dcada de 80, quando passou a ser muito utilizado
por helicpteros e posteriormente se tornou um dos locais mais valorizados da cidade, com grandes residncias de turistas e pou-cos moradores.
Campo de AviaoAps o fim da Revoluo de 1932, a pista de pousos e decolagens de Vila Bela continuou sendo utilizada por aeronaves de pequeno porte at meados da Dcada de 1980.
Dcada de 1970A foto acima mostra a regio do
antigo Campo de Aviao com as primeiras residncias no entorno da
pista em meados da Dcada de 1970.
Campo de Aviao Ilhabela registrou o primeiro acidente areo do Campo de Aviao no dia 13 de janeiro de 1972. Relatos apontam que o piloto da aeronave tentou arremeter o pouso, mas teve problemas ainda desconhecidos. O piloto teria perdido o controle da aeronave , capotando em frente fazenda Engenho D'gua.
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Filha de Joo Baptista Ramos e Ruth Carvalho Ramos, Cybele Ramos Lemos nasceu em novembro de 1927 na ci-dade de Cambar Paran. Aos 10 anos, juntamente com suas irms, foi para Ribeiro Preto estudar, pois na poca, no Paran as escolas eram somente at o 4 ano primrio. At ento tiveram professores em casa e foi com sentimen-to de grande libertao que saiu para estudar fora.
Um ano depois, por influncia da me, as jovens foram levadas a estudar em um colgio interno, onde permanece-ram por dois anos. Mas graas a rebeldia da irm mais ve-lha, saram do internato e com toda famlia se transferiram para So Paulo, onde concluiu o ginsio e o colegial cien-tfico. Formou-se educadora social no instituto de Direito Social. Gostou do curso e lecionou para adultos na Fbrica Modys Figueiredo e ainda trabalhava na empresa Francesa que veio ao Brasil, com o instituto de plantas, o METRO, em So Paulo.
Em 1948 conheceu Geraldo Augusto Procpio, com quem casou. Em 1950 fez sua primeira visita ao arquip-lago, juntamente com seu marido. O casal estava no Rio de Janeiro e fizeram trechos da viagem de avio e carro. Em Ilhabela, os primeiros amigos foram Angelino Fazzini e Ary Frana. Cada vez que vinham para a cidade, o casal gostava mais, tanto que em meados de 1954 comprou uma propriedade prxima ao farol da Ponta das Canas. Teve um grande trabalho para tirar as canas que estavam no terreno e para limpar a casa, que ento era de pau a pique, toda furada e com os telhados cheios de goteiras. Graas as pes-soas que foram conhecendo e tambm aos seus vizinhos, refizeram a casa, mas no havia eletricidade, ento usavam lampies. Nessa poca chegou a trocar com os vizinhos e conhecidos coisas que encontrava na casa e que no que-ria, mas que servia para eles, da mesma forma que nessas trocas conseguia objetos que lhe interessavam.
Em 1956 seu marido Geraldo Junqueira foi eleito pre-
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feito de Ilhabela, com mandato at 1960. Nessa poca as propriedades como a Fa-zenda Siriba e Engenho Dgua eram sem-pre utilizadas para acolher os visitantes, e a Ponta das Canas, apesar de mais longe tornou-se pouso de muita gente, inclusive do poltico Jnio Quadros que em visita cidade, se hospedou na Ponta das Canas. Maravilhado com o local, o ento Gover-nador de So Paulo, ressaltou que Geraldo poderia pedir o que quisesse para a cidade, mas Geraldo queria conservar a Ilha da ma-neira que encontrou, linda, tranquila e dis-
se que gostaria de manter o mesmo estilo. No entanto, Jnio Quadros enfatizou que a cidade necessitava de mudanas, com a chegada do progresso, o local teria que ins-talar luz eltrica, postos de sade, balsa e diversos outros servios bsicos para a sus-tentabilidade do municpio.
Naquela poca, as escolas possuam caixas que reuniam alimentos e objetos para beneficiar os alunos carentes. Cybele trabalhou bastante e esteve to ocupada que nem percebeu as mudanas de vida que teve de enfrentar.
Quando voltou para So Paulo foi tra-balhar no Fundo de Crescimento, o pri-meiro fundo de investimento e depois foi convidada para trabalhar com Jean Man-zon, o francs dos documentrios. Casou pela segunda vez, com o senhor Jos Le-mos que era um dos diretores da Nestl no Brasil, com quem teve dois filhos. Foi uma unio feliz que s terminou com a morte dele em janeiro de 2005, provocada por um acidente vascular.
Nunca parou com sua tarefa social, por ser uma pessoa de corao bom, de modo que at hoje ajuda vrias famlias de Ilha-bela. Sempre empregou moradores locais para trabalhar para ela e nunca trouxe ne-nhum caseiro de fora, somente os prprios caiaras ilhabelenses, pois, como ela mes-ma diz, ama de corao esta cidade. Hoje, com 88 anos, ainda ajuda muitas pessoas e foras no lhe faltam.
A mulher de prefeitoGeraldo Junqueira se tornou prefeito de Ilhabela em 1956 e Cybele passou a atuar ainda mais em prol dos mais carentes.
Hspede de Ilhabela Jnio Quadros utilizava a charmosa fazenda do prefeito Junqueira como casa de veraneio. O ex-presidente Jnio Quadros adorava passear pelo canal e, principalmente, prosear com os caiaras em animados encontros regados com cachaa produzida pelos alambiques da regio. A nica coisa que aborrecia o hspede de Cybele eram os borrachudos, a tal ponto de ele ordenar um ataque macio promovido pelos funcionrios da Secretaria Estadual da Sade, com uso de BHC, pelas cachoeiras e crregos da cidade.
conta o escritor e pesquisador Jeannis Michael Platon
Primeira DamaComo primeira dama, Cybele contribuiu muito para o municpio, atuando com perseverana na execuo de tarefas sociais em favor das famlias locais. Tambm era uma grande colaboradora da caixa escolar do ento Grupo Escolar Dr. Gabriel Ribeiro dos Santos.
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Ilhabela 21DCADAS46 Tribuna do Povo de Ilhabela | Setembro/2015
Ferry Boata histria da ligao de Ilhabela ao progresso do continente
Em 1940, as canoas caiaras ainda eram a nica forma de entrada e sa-da da ilha, e foram o principal meio de transporte martimo utilizado no comr-cio dos alimentos produzidos nas fazendas e vendidos nos portos das cidades de Santos e Rio de Janeiro.
Em meados de 1942, alm das canoas, o sistema martimo passou a receber apoio no servio de travessia e locomoo de passagei-ros. Deu-se quando o Governo do Estado de So Paulo assinou contrato com a empresa AM Teixeira e Cia Ltda. Dez anos mais tar-de, em 1952, esse contrato foi alterado pelo Governador Lucas Nogueira Garcez, que de-cretou o novo nome da companhia, passan-do de AM Teixeira e Cia Ltda. para Compa-nhia de Navegao Santense Ltda., que, com o consentimento da Assembleia Legislativa
do Estado de So Paulo, providenciou nos termos da lei as lanchas grandes de madeira com motores a diesel, que foram atribudas ao sistema de navegao.
As lanchas tinham 25 metros de compri-mento, uma cabine branca de centro ladeada por inmeras janelas e alguns bancos para os passageiros. Contudo, no havia atracadou-ros nesta poca. As lanchas da Santense per-maneciam fundeadas nas guas prximas as praias do Perequ e Barra Velha. Deste pon-to, um caiara a bordo de uma canoa fina-lizava a viagem recolhendo os passageiros e suas bagagens e conduzindo-os em seguran-a at a margem. Isto se deu at serem esta-belecidos os chamados trapiches, ou ponto, pequenos peres de madeira. Um deles foi instalado no centro de Ilhabela, anos depois restaurado e atualmente o per turstico que
recebe os passageiros de cruzeiros que param na cidade.
Seis anos mais tarde, o Governador do Estado, Jnio Quadros, em fevereiro de 1958, autorizou a implantao de uma linha ni-ca e definitiva entre Ilhabela e So Sebastio. Assim foi construda neste mesmo ano a pri-meira balsa de madeira com motor de 160 HP no litoral norte, batizada de FB1 (FB de Ferry Boat) no estaleiro do DER (Departa-mento de Estrada e Rodagem), com sede no Guaruj. A FB1 levava at oito veculos, rea-lizando as travessias de duas em duas horas.
Os servios de travessia nesta poca fun-cionavam at a meia noite. Aps este hor-rio, as balsas que vinham de l para c, ou vice-versa, pernoitavam no terminal at dar incio rotina diria s cinco da manh. Na bacia do Porto de So Sebastio foi fixado o terminal de chegada. J do outro lado, em Ilhabela, o terminal foi fixado no atual Bairro da Barra Velha. O Farol de So Joo da Barra Velha, localizado na encosta rochosa acima do ponto de atracao utilizado at hoje como referncia na travessia, pois demarca o alinhamento do canal com o porto de So Sebastio.
Os servios de travessia pertenciam ao DER5 (Departamento de Estrada e Roda-gem). A FB1 foi construda e inaugurada sobre essa regional, sendo transferida para a DER6 Taubat, devido proximidade, pois na poca havia muita dificuldade em trafegar pela estrada do litoral sul para o litoral norte.
Travessia Em1948 a embarcao S8 da companhia Santense fazia a ligao entre Ilhabela e So Sebastio
Foto: Reproduo/memrias de uma ilha
47Ilhabela 21DCADAS Tribuna do Povo de Ilhabela | Setembro/2015
Ferry Boat 1Ela encostava de lado no atracadouro e os veculos viajavam atravessados no convs da primeira Balsa da histria de Ilhabela. No dia da inaugurao do servio da FB 1, muitos curiosos foram ver de perto a novidade
Ferry BoatRegistros fotogrficos mostram os veculos da poca durante a travessia do Canal de So Sebastio, que naquele tempo j levava entre 15 e 20 minutos por trecho.
Inaugurao do servio de travessia Em fevereiro de 1958, o prefeito de Ilhabela Geraldo Junqueira, junto o Governador Faria Lima, com dona Yolanda Faria Lima (cortando a fita) e Francis