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Poemas para ler e ilustrar
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[Escrever texto]
AAAA paixãopaixãopaixãopaixão dodododo
Ai, o amor quando nos toca
é como se tocasse um sino
um hino, um trino
de um alegre passarinho
Vou voar para o teu ninho
vou tentar fazer o pino
vou ser bailarino
argentino, desatino
Mas que hei-de eu fazer?
O amor é um furacão
desgovernando
a minha embarcação
Sérgio Godinho
dodododo velhovelhovelhovelho Pires,Pires,Pires,Pires, oooo marinheiromarinheiromarinheiromarinheiro
Ai, o amor quando nos toca
é como se tocasse um sino
um hino, um trino
de um alegre passarinho
Vou voar para o teu ninho
vou tentar fazer o pino
vou ser bailarino
argentino, desatino
de eu fazer?
O amor é um furacão
desgovernando
a minha embarcação
Godinho
marinheiromarinheiromarinheiromarinheiro
[Escrever texto]
AAAA rosarosarosarosa dededede
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada
dededede HiroximaHiroximaHiroximaHiroxima
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada
Vinicius de Moraes
Antologia Poética
[Escrever texto]
AmigoAmigoAmigoAmigo
Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra amigo!
"Amigo" é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
"Amigo" (recordam
Escrupulosos detritos?)
"Amigo" é o contrário de inimigo!
"Amigo" é o erro corrigido
Não o erro perseguido, explorado,
É a verdade partilhada, praticada!
"Amigo" é a solidão derrotada!
"Amigo" é uma grande tarefa,
É um trabalho sem fim,
Um espaço sem
Um espaço útil, um tempo fértil,
"Amigo" vai ser, é já uma grande festa!
Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra amigo!
"Amigo" é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
"Amigo" (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
"Amigo" é o contrário de inimigo!
"Amigo" é o erro corrigido
Não o erro perseguido, explorado,
É a verdade partilhada, praticada!
"Amigo" é a solidão derrotada!
"Amigo" é uma grande tarefa,
É um trabalho sem fim,
Um espaço sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
"Amigo" vai ser, é já uma grande festa!
Alexandre O'Neill, No Reino da Dinamarca
No Reino da Dinamarca
[Escrever texto]
BarcaBarcaBarcaBarca BelaBelaBelaBela
Pescador da barca bela,
Onde vais pescar com ela.
Que é tão bela,
Ó pescador?
Não vês que a última estrela
No céu nublado se vela?
Colhe a vela,
Ó pescador!
Deita o lanço com cautela,
Que a sereia canta bela...
Mas cautela,
Ó pescador!
Não se enrede a rede nela,
Que perdido é remo e vela,
Só de vê-la,
Ó pescador.
Pescador da barca bela,
Inda é tempo, foge dela
Foge dela
Ó pescador!
BelaBelaBelaBela
Pescador da barca bela,
Onde vais pescar com ela.
Que é tão bela,
pescador?
Não vês que a última estrela
No céu nublado se vela?
Colhe a vela,
Ó pescador!
Deita o lanço com cautela,
canta bela...
Mas cautela,
Ó pescador!
Não se enrede a rede nela,
Que perdido é remo e vela,
la,
pescador.
Pescador da barca bela,
Inda é tempo, foge dela
pescador!
Almeida Garrett, Folhas Caídas
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BolhasBolhasBolhasBolhas
Olha a bolha d'água
No galho!
Olha o orvalho!
Olha a bolha de vinho
Na rolha!
Olha a bolha!
Olha a bolha na mão
Que trabalha!
Olha a bolha de sabão
Na ponta da
Brilha, espelha
E se espalha.
Olha a bolha!
Olha a bolha
Que molha
A mão do menino:
A bolha da chuva da calha!
Olha a bolha d'água
No galho!
Olha o orvalho!
Olha a bolha de vinho
Na rolha!
Olha a bolha!
Olha a bolha na mão
Que trabalha!
Olha a bolha de sabão
Na ponta da palha:
Brilha, espelha
E se espalha.
Olha a bolha!
Olha a bolha
Que molha
A mão do menino:
A bolha da chuva da calha!
Cecília Meireles
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CantigaCantigaCantigaCantiga aaaa
quequequeque diziamdiziamdiziamdiziam
MOTE
Não sei se me engana Helena,
se Maria, se Joana,
não sei qual delas me engana.
VOLTAS
Ua diz que me quer bem,
outra jura que mo quer;
mas, em jura de mulher
quem crerá, se elas não crêm?
Não posso, não crer a Helena,
a Maria, nem Joana,
mas não sei qual mais me engana.
Ua faz-me juramentos
que só meu amor estima;
a outra diz que se fina;
Joana, que bebe os ventos.
Se cuido que mente Helena,
também mentirá Joana;
mas quem mente, não me engana.
trêstrêstrêstrês damasdamasdamasdamas
diziamdiziamdiziamdiziam quequequeque oooo aaaamavammavammavammavam
Não sei se me engana Helena,
se Maria, se Joana,
não sei qual delas me engana.
Ua diz que me quer bem,
outra jura que mo quer;
mas, em jura de mulher
crerá, se elas não crêm?
Não posso, não crer a Helena,
a Maria, nem Joana,
mas não sei qual mais me engana.
me juramentos
que só meu amor estima;
a outra diz que se fina;
Joana, que bebe os ventos.
Se cuido que mente Helena,
também mentirá Joana;
mas quem mente, não me engana.
Luís de Camões
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NeologismoNeologismoNeologismoNeologismo
Beijo pouco,
falo menos ainda.
mas invento palavras
que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana.
Inventei, por exemplo,
o verbo teadorar.
Intransitivo
Teadoro, Teodora.
Manuel da Bandeira
NeologismoNeologismoNeologismoNeologismo
falo menos ainda.
as invento palavras
que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana.
Inventei, por exemplo,
o verbo teadorar.
Teadoro, Teodora.
Manuel da Bandeira
[Escrever texto]
OOOO pastorpastorpastorpastor
Pastor, pastorinho,
onde vais sozinho?
Vou àquela serra
buscar uma ovelha.
Porque vais sozinho,
pastor, pastorinho?
Não tenho ninguém
que me queira bem.
Não tens um amigo?
Deixa-me ir contigo.
Eugénio de
Pastor, pastorinho,
onde vais sozinho?
Vou àquela serra
buscar uma ovelha.
Porque vais sozinho,
pastor, pastorinho?
Não tenho ninguém
que me queira bem.
Não tens um amigo?
me ir contigo.
Eugénio de Andrade
[Escrever texto]
OOOO relógiorelógiorelógiorelógio
Passa, tempo, tic
Tic-tac, passa, hora
Chega logo, tic
Tic-tac, e vai-
Passa, tempo
Bem depressa
Não atrasa
Não demora
Que já estou
Muito cansado
Já perdi
Toda a alegria
De fazer
Meu tic-tac
Dia e noite
Noite e dia
Tic-tac
Tic-tac
Dia e noite
Noite e dia
relógiorelógiorelógiorelógio
Passa, tempo, tic-tac
tac, passa, hora
Chega logo, tic-tac
-te embora
Passa, tempo
Bem depressa
Muito cansado
Toda a alegria
Vinicius de Moraes
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OsOsOsOs gatosgatosgatosgatos
Gosto do gato
do gato gosto
que é animal irracional
de fino gosto.
Tem tanto trato
tanta finura
que mata o rato
com requintes de ternura.
Gosto do gato
do gato gosto
que é animal irracional
de fino gosto.
II
Lembro que um dia na sacada do meu prédio
havia um gato matulão com malapata
amava ele com paixão mas sem remédio
arisca gata porque aristrocata.
III
Fazia versos de sardinha
ramos de espinhas com cheirinho a maresia
e a gata persa com esmeraldas na mirada
nunca ligava ao carapau nem à poesia.
IV
Gato vadio animal da vida
gato com cio confessando
gato telhado esfomeado e sem guarid
e a gata persa que só come caviar.
V
Gatos da rua eriçados de verdade
lambendo os restos que há no fundo do desgosto
gato Cesário dos poemas da cidade
com olhos verdes que é a cor de que eu mais gosto.
que é animal irracional
com requintes de ternura.
é animal irracional
Lembro que um dia na sacada do meu prédio
havia um gato matulão com malapata
amava ele com paixão mas sem remédio
arisca gata porque aristrocata.
Fazia versos de sardinha prateada
ramos de espinhas com cheirinho a maresia
e a gata persa com esmeraldas na mirada
nunca ligava ao carapau nem à poesia.
Gato vadio animal da vida
gato com cio confessando-se ao luar
gato telhado esfomeado e sem guarida
e a gata persa que só come caviar.
Gatos da rua eriçados de verdade
lambendo os restos que há no fundo do desgosto
gato Cesário dos poemas da cidade
com olhos verdes que é a cor de que eu mais gosto.
José Carlos Ary dos SantosJosé Carlos Ary dos Santos
[Escrever texto]
SemanaSemanaSemanaSemana dadadada
Na segunda, me deito.
Na terça, me levanto.
Na quarta, é dia santo.
Na quinta, vou
Na sexta, venho
No sábado, vou
No domingo,
Diga-me, lá, ó comadre,
Quando hei-de
Alice Vieira, Eu bem vi nascer o sol: antologia da
poesia popular portuguesa
dadadada PreguiçosaPreguiçosaPreguiçosaPreguiçosa
Na segunda, me deito.
Na terça, me levanto.
Na quarta, é dia santo.
Na quinta, vou à feira.
venho da feira.
No sábado, vou-me confessar.
No domingo, comungar.
lá, ó comadre,
de trabalhar?
Eu bem vi nascer o sol: antologia da
poesia popular portuguesa
Eu bem vi nascer o sol: antologia da
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UmUmUmUm poemapoemapoemapoema
Não tenhas medo, ouve:
É um poema
Um misto de oração e de feitiço...
Sem qualquer compromisso,
Ouve-o atentamente,
De coração lavado.
Poderás decorá
E rezá-lo
Ao deitar
Ao levantar,
Ou nas restantes horas de tristeza.
Na segura certeza
De que mal não te faz.
E pode acontecer que te dê paz...
poemapoemapoemapoema
Não tenhas medo, ouve:
Um misto de oração e de feitiço...
Sem qualquer compromisso,
o atentamente,
De coração lavado.
Poderás decorá-lo
Ou nas restantes horas de tristeza.
certeza
De que mal não te faz.
E pode acontecer que te dê paz...
Miguel Torga, Diário XIII
[Escrever texto]
BaladaBaladaBaladaBalada dadadada
Batem leve, levemente,
como quem chama por mim
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.
É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...
Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.
Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
- Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...
dadadada neveneveneveneve
Batem leve, levemente,
como quem chama por mim
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.
É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...
Quem bate, assim, levemente,
estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.
Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
ssa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...
Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança ...
E descalcinhos, doridos ...
a neve deixa inda vê
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê
Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?! ...
Porque padecem assim?!...
E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
- e cai no meu coração.
Augusto Gil, Luar de Janeiro
Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança ...
E descalcinhos, doridos ...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los! ...
Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?! ...
decem assim?!...
E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração.
Luar de Janeiro (1909)
[Escrever texto]
ImpressãoImpressãoImpressãoImpressão
Os meus olhos são uns olhos.
E é com esses olhos uns
que eu vejo no mundo escolhos
onde outros, com outros olhos,
não vêem escolhos nenhuns.
Quem diz escolhos diz flores.
De tudo o mesmo se diz.
Onde uns vêem luto e dores
uns outros descobrem cores
do mais formoso matiz.
Nas ruas ou nas estradas
onde passa tanta gente,
uns vêem pedras pisadas,
mas outros, gnomos e fadas
num halo resplandecente.
Inútil seguir vizinhos,
querer ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos.
Onde Sancho vê moinhos
D. Quixote vê gigantes.
Vê moinhos? São moinhos.
Vê gigantes? São gigantes.
digitaldigitaldigitaldigital
Os meus olhos são uns olhos.
E é com esses olhos uns
que eu vejo no mundo escolhos
onde outros, com outros olhos,
não vêem escolhos nenhuns.
Quem diz escolhos diz flores.
De tudo o mesmo se diz.
Onde uns vêem luto e dores
uns outros descobrem cores
do mais formoso matiz.
Nas ruas ou nas estradas
tanta gente,
uns vêem pedras pisadas,
mas outros, gnomos e fadas
num halo resplandecente.
Inútil seguir vizinhos,
querer ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos.
Onde Sancho vê moinhos
D. Quixote vê gigantes.
Vê moinhos? São moinhos.
s? São gigantes.
António Gedeão,
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