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36 www.backstage.com.br INSTRUMENTOS Luciano Freitas é profissional de áudio, fez curso de piano erudito, Full Mastering no Füller Studios (Miami). É técnico em áudio na Pro Studio Americana e foi professor de teclado no Conservatório Musical Joelson Vieira. IMAGEM Originalmente, os microfones e instrumentos eram conectados diretamente no console de mixagem (era basicamente um equipamento “tudo em um”). Nos primórdios da gravação elétrica, entre as décadas de 20 e 70 do século passado, a maioria dos consoles era customizado, construído manualmente por seus criadores que neles colocavam toda sua experiência nos ângulos de mixagem tecnológica: pré- amplificadores, compressores, equalizadores, roteadores de sinal, etc. niciava-se em 1960 uma nova catego- ria de designers do áudio (entre eles dois notáveis, a lenda viva Rupert Neve e Joemeek) que colocavam seu foco em componentes individuais da mixagem criando uma espécie de “bou- tique” de equipamentos capazes de tra- balhar em conjunto com outros consoles. Alguns engenheiros notaram rapida- mente a qualidade sônica desses equipa- mentos individuais. Atualmente é fácil encontrar, princi- palmente em estúdios comerciais, uma grande variedade desses equipamentos, geralmente de diferentes fabricantes. Alguns ainda perguntam o porquê de se terem vários pré-amplificadores se todos servem para o mesmo propósito. Em uma determinada faixa de preço não dá para classificar qual equipamento é melhor que o outro (todos com carac- terísticas sônicas, porém cada um com sua assinatura sonora). Creio que o cor- reto seja trabalhar com essa paleta de co- res em conjunto com bons microfones, o que proporcionará a sua assinatura sono- ra (a sonoridade que fará seu público- alvo lhe procurar). Infelizmente, ainda no Brasil, encon- tramos uma grande quantidade de pesso- as dotadas de falta de cultura tecnológica que costuma julgar a qualidade de um estúdio pelo tamanho de seu console de mixagem (a vulgar “mesa”). Essas pessoas que se importam em “ver luzes piscando” e não conseguem compreender que, mui- tas vezes, com o preço de um equipa- mento decente dá quase para comprar uma dúzia de mesas “made in Paraguai”, para não citar outras localidades. Se o seu poder aquisitivo possibilita que você com- pre realmente um console de mixagem (aí sim, falando em Neve, Api, SSL, Trident, Quad 8 entre poucas) e tenha uma clien- tela em que você possa dissolver esse in- vestimento, tudo bem, caso contrário, vale a pena olhar atentamente para uma categoria de channel strips (equipamento que agrega em um único produto diferen- tes ferramentas de áudio) que vem cres- cendo nos últimos anos: a dos channel strips baseados em consoles. No mundo tecnológico, faça seus cli- entes confiarem em você pela sonorida- de que a eles é entregue e não apenas pelo visual de seu estúdio. Se o investi- mento é pequeno, compre pouco, mas compre certo. Acompanhe uma lista com alguns equi- pamentos dessa categoria (apenas channel strips baseados em consoles serão citados, ciente de que existem vários que não se enquadram nessa categoria e são simples- mente maravilhosos como os da Manley, GML, Avalon, entre outros). Todos os mo- delos trazem a indicação do console em que é baseado e a indicação de um plug-in que simula cada equipamento. SSL E Signature Channel Console: SSL 4000E Plug-in: Waves - SSL E-Channel (SSL 4000 Collection) Considerado o console mais utilizado na produção de hits nas últimas duas décadas, o SSL 4000 empresta todas as suas caracte- rísticas presentes em cada um de seus ca- I não é tudo não é tudo

IMAGEM - backstage.com.br · mixagem TG utilizado no estúdio Abbey Road nas décadas de 60 e 70 (o qual foi usado em gravações históricas como o ál-bum “Dark Side Of The Moon”

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INSTRUMENTOS

Luciano Freitas é profissional de áudio, fez

curso de piano erudito, Full Mastering no Füller

Studios (Miami). É técnico em áudio na Pro

Studio Americana e foi professor de teclado no

Conservatório Musical Joelson Vieira.

IMAGEMOriginalmente, osmicrofones einstrumentos eramconectados diretamenteno console de mixagem(era basicamente umequipamento “tudo emum”). Nos primórdiosda gravação elétrica,entre as décadas de 20e 70 do século passado,a maioria dos consolesera customizado,construídomanualmente por seuscriadores que nelescolocavam toda suaexperiência nosângulos de mixagemtecnológica: pré-amplificadores,compressores,equalizadores,roteadores de sinal, etc.

niciava-se em 1960 uma nova catego-ria de designers do áudio (entre elesdois notáveis, a lenda viva Rupert

Neve e Joemeek) que colocavam seufoco em componentes individuais damixagem criando uma espécie de “bou-tique” de equipamentos capazes de tra-balhar em conjunto com outros consoles.Alguns engenheiros notaram rapida-mente a qualidade sônica desses equipa-mentos individuais.

Atualmente é fácil encontrar, princi-palmente em estúdios comerciais, umagrande variedade desses equipamentos,geralmente de diferentes fabricantes.Alguns ainda perguntam o porquê de seterem vários pré-amplificadores se todosservem para o mesmo propósito.

Em uma determinada faixa de preçonão dá para classificar qual equipamentoé melhor que o outro (todos com carac-terísticas sônicas, porém cada um comsua assinatura sonora). Creio que o cor-reto seja trabalhar com essa paleta de co-res em conjunto com bons microfones, oque proporcionará a sua assinatura sono-ra (a sonoridade que fará seu público-alvo lhe procurar).

Infelizmente, ainda no Brasil, encon-tramos uma grande quantidade de pesso-as dotadas de falta de cultura tecnológicaque costuma julgar a qualidade de umestúdio pelo tamanho de seu console de

mixagem (a vulgar “mesa”). Essas pessoasque se importam em “ver luzes piscando”e não conseguem compreender que, mui-tas vezes, com o preço de um equipa-mento decente dá quase para compraruma dúzia de mesas “made in Paraguai”,para não citar outras localidades. Se o seupoder aquisitivo possibilita que você com-pre realmente um console de mixagem (aísim, falando em Neve, Api, SSL, Trident,Quad 8 entre poucas) e tenha uma clien-tela em que você possa dissolver esse in-vestimento, tudo bem, caso contrário,vale a pena olhar atentamente para umacategoria de channel strips (equipamentoque agrega em um único produto diferen-tes ferramentas de áudio) que vem cres-cendo nos últimos anos: a dos channelstrips baseados em consoles.

No mundo tecnológico, faça seus cli-entes confiarem em você pela sonorida-de que a eles é entregue e não apenaspelo visual de seu estúdio. Se o investi-mento é pequeno, compre pouco, mascompre certo.

Acompanhe uma lista com alguns equi-pamentos dessa categoria (apenas channelstrips baseados em consoles serão citados,ciente de que existem vários que não seenquadram nessa categoria e são simples-mente maravilhosos como os da Manley,GML, Avalon, entre outros). Todos os mo-delos trazem a indicação do console emque é baseado e a indicação de um plug-inque simula cada equipamento.

SSL E Signature Channel

Console: SSL 4000EPlug-in: Waves - SSL E-Channel

(SSL 4000 Collection)Considerado o console mais utilizado na

produção de hits nas últimas duas décadas,o SSL 4000 empresta todas as suas caracte-rísticas presentes em cada um de seus ca-

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não é tudonão é tudo

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INSTRUMENTOS

nais ao módulo E Signature Channel quetraz, além do pré-amplificador original(com os clássicos transformadores daJensen), a opção do novo pré-amplificadorVHD (Variable Harmonic Drive), presen-te na linha Alpha e console Duality, capazde geração controlada de harmônicos desegundo grau (simulando a saturação deválvulas) e de terceiro grau (simulando asaturação de transistores).

Na seção de ajuste de freqüências, ousuário conta com quatro bandas, sendoduas paramétricas, com dois modos deoperação além de filtros de passagem dealtas e baixas freqüências. No modoBrown Knob, suas curvas são iguais as dosconsoles que sucederam a linha E, man-tendo simetricamente o mesmo intervaloda freqüência central. Já no modo BlackKnob, que foi desenvolvido em 1983 atra-vés da parceria com o produtor dos Beatles,Sir George Martin, é possível resgatar as

curvas presentes no primeiro console SSLdesenvolvido para o Air Studio.

No processamento de dinâmicas, além deum expander gate, o equipamento traz o fa-

moso Listen Mic Compressor, tido como se-gredo de muitos engenheiros de áudio paraadicionar “punch” nas linhas de bateria(ouça nas baterias dos discos do Phil Collins).

Complementando o equipamento háuma placa de conversão digital, opcio-nal, que roteia o sinal interno para saídaAES/EBU (em amostragem de 192kHz/24Bits).

Provando que realmente decidiuapostar nesse segmento de mercado(módulos baseados em consoles), a SSLainda oferece os desejados:

X Logic G Series Compressor:

compressor do buss principal da SSL4000G (conhecido pela capacidade dedar aquela cara de projeto finalizado aqualquer mixagem).

Super Analogue Channel: channelstrip com todos os processadores e pré-amplificador da SSL 9000K (console topda SSL para produção musical).

X Logic X Rack: rack que pode serconfigurado com até 8 módulos selecio-náveis da SSL 9000 K, permitindo totalrecall de todos os módulos instalados.

No mundo tecnológico,faça seus clientes

confiarem em você pelasonoridade que a eles éentregue e não apenas

pelo visual de seu estúdio.Se o investimento é

pequeno, compre pouco,mas compre certo

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INSTRUMENTOS

Ams-Neve 8801

Console: 88RPlug-in: Universal Audio - Neve

88RS Channel Strip (UAD Nevana X2)

No mundo do áudio, a marca Neve ésinônimo de excelência em qualidade (oRolls Royce do áudio).

Neste equipamento, o usuário poderáescolher como pré-amplificador entre oclássico 1081 (muito utilizado para gra-vações de bateria, graças a sua incrívelresposta de transientes), ou o modelo AirMontserat (pré-desenvolvido para oMontserat Studio, que é otimizado paragravações de salas, como ambientes ougrupos de instrumentos).

Possui equalizador de 4 bandas comtecnologia Spectrum Formant (que naposição neutra proporciona a sonoridadeNeve) e filtros (HPF e LPF) que podem serutilizados como side chain dos proces-sadores de dinâmica (Gate e Compressor),os quais assinam as características da 88R.

Possui conexão USB permitindo a tro-ca de informações com o editor (versõesMac/PC inclusas no pacote) em que épossível o armazenamento e total recallde todos os ajustes.

Traz ainda a possibilidade de utiliza-ção de uma placa adicional para con-versão de seu sinal interno para digital(192 kHz/24Bits) posicionada após seustransformadores.

Chandler TG Channel MK II

Console: TG Abbey RoadPlug-in: Digidesign - TG 12412 Mas-

tering Pack / TG 12413 Limiter PackMesmo não sendo especificamente

um channel strip, o usuário terá nesseequipamento um pré-amplificador base-

ado no módulo TG 12428 do console demixagem TG utilizado no estúdio AbbeyRoad nas décadas de 60 e 70 (o qual foiusado em gravações históricas como o ál-

bum “Dark Side Of The Moon” do PinkFloyd e “Abbey Road” dos Beatles).

Seu equalizador é uma versão rede-senhada do módulo TG 12410 presente

no console de masterização do AbbeyRoad (em utilização até hoje). Possui trêscontroles de acréscimo (graves, médios eagudos), um controle de cortes na região

dos médios, e um controle que trabalhacomo um filtro de passagem de altas fre-qüências (Low Cut), totalizando ajustesem 24 freqüências. Segundo o fabrican-te, sua sonoridade lembra os antigosequalizadores Pultech (antes de ser ad-quirida pela Manley) e Lang.

Para os que precisam de processado-res de dinâmica, há a necessidade de

adquirir outro equipamento da família.O módulo TG1, baseado no móduloTG12413 é uma réplica do Limiter/Compressor encontrado em cada canaldo console de mixagem e masterização doAbbey Road, o qual trabalha na mesmatopologia dos lendários Fairchild 660/670.Trabalha em modo estéreo ou mono duplo.

Focusrite ISA 430MK II

Console: Focusrite FortePlug-in: Digidesign – Forte SuiteA Focusrite, empresa fundada em

1985 por Rupert Neve, teve como seuprimeiro produto o módulo ISA 110(pré-amplificador/ equalizador) comsuas primeiras 16 unidades adicionadasao side-car do console Neve da sala 1 doAir Studio (onde encontram-se atéhoje), a pedido de George Martin. Essemódulo foi acrescido do processador dedinâmica ISA 130 (segundo equipa-mento da Focusrite) sendo a dupla con-siderada o coração do console FocusriteForte (em utilização no Eletric LadyStudio), que custava US$1.500.000,00.

Sempre buscando uma proposta deinovação, a Focusrite traz seu ISA430MK II (o channel strip analógico com

maior número de ferramentas atualmen-te), com versões atualizadas dos módulosISA 110 (agora com impedância variá-vel, controle Air que ativa um segundotransformador na entrada incrementan-do as freqüências altas, e mais duas fre-qüências nos controles Shelvings doequalizador) e ISA 130 (que além detrazer o transparente compressor comVCAs, traz um compressor óptico desen-volvido por Trevor Stride, com uma sono-ridade mais vintage), que somam-se ao

O módulo TG1,baseado no módulo

TG12413 é uma réplicado Limiter/Compressorencontrado em cadacanal do console de

mixagem e masterizaçãodo Abbey

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INSTRUMENTOS

e-mail para esta coluna:

[email protected]

de-esser e limitador multibandas, amboscom tecnologia óptica.

Seu equalizador e filtros podem serutilizados como side chain dos proces-sadores de dinâmica e graças aos seusinserts, o usuário poderá utilizar separa-damente seus módulos.

Possui como opcional uma placa de con-versão digital estéreo que no primeiro canalroteia o sinal interno (com processamentode todos os módulos) e aceita um sinal ex-terno para ser convertido no segundo ca-nal, que passará apenas pelo limitador.

API 7600

Console: Série LegacyPlug-in: Waves – Api 550A (Api

Collection)Com um pré-amplificador derivado

do módulo 512b (porém com agudosmais articulados), esse channel strip pro-porciona uma grande sonoridade, princi-

palmente nas gravações de instrumentospercussivos graças aos seus transforma-dores (RE115K na entrada e AP2623 nasaída) derivados do console API2488.

Seu compressor (módulo 225L) pro-porciona ajustes de soft e hard knee,dois modos diferentes de redução desinal (old e new), e recuperação auto-

mática do sinal reduzido. Possuindoconector link traseiro, gera possibilida-de de trabalhar com fontes em múlti-plos canais através de unidades iguaisou módulos da linha L200 acopladosem uma Lunchbox.

Seu equalizador, réplica do módulo550A desenvolvido por Saul Walker nadécada de 60, traz três bandas de ajus-tes de freqüências (sendo duas comu-táveis entre Peak ou Shelving) comapenas três botões (cada um com ajus-te de seleção de freqüências, ganho ouperda de sinal e controle bypass), pro-porcionando a típica sonoridade APIcom largura de banda proporcional eseus incomparáveis amplificadoresoperacionais 2520, marcos nas grava-ções de rock´n roll.

Possuindo conectorlink traseiro, o ISA

430MK II gerapossibilidade de

trabalhar com fontesem múltiplos canaisatravés de unidadesiguais ou módulos