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  1 IMAGENS E ESPAÇOS: LEITURA DE UMA RELAÇÃO CIDADE/RESERVA INDÍGENA/CAMPO EM DOURADOS (MS) 1  Jones Dari Goettert  Alexandre Bergamin Vieira  Cláudia Marques Roma 1. Introdução  As relações campo/cidade podem ser analisadas a partir de objetos e ações que transitam de um para outro espaço, em um movimento dialético (mas também, certamente, rizomático 2 ) no qual objetos da cidade” são ressignificados por ações do campo e vice-versa. Assim como, ainda, ações no campo são ressignificadas na cidade,  biunivocamente . Ao duo objetos e ações é imprescindível a conjugaçã o dos sujeitos que  produzem, reproduzem e usam objetos, em ações muito pouco coincidentes na cidade e no campo. Tais processos redefinem a condição dos objetos e das ações, que,  participantes de um “conjunto indissociável”, dependem e são condicionados pelas elaborações materiais e simbólicas que os sujeitos (grupos, comunidades, classes, sociedades ) constroem e empreendem espacialmente. Essas deambulaç ões definem, em alguma medida, a produção de “espaços híbridos”, mas que não deve provocar uma indolência acrítica ao simplesmente afirmar que a hibridização é a explicação de todas as relações socioespaciais    toda hibridização (como a não-hibridização) está relacionada a relações de poder, a disputas entre hegemonias e contra-hegemonias. Para além das representações e imagens dicotômicas e dicotomizantes, é necessário apreender relações que as ultrapassem manifestando-se em hibridizações profundas, como sínteses (inconclusas) de processos conjugados entre identidades e diferenças (toda identidade se constrói em dicotomias, enquanto toda alteridade se propõe como manifestação contraditória da própria diferença). 1  Este texto foi elaborado e apresentado junto ao III Fórum de Programas de Pós-Graduação em Geografia do Centro-Oeste e Triângulo Mineiro , realizado em 26, 27 e 28 de setembro de 2012, em Três Lagoas (MS), e é também decorrência das atividades desenvolvidas junto ao Grupo de Pesquisa Linguagens Geográficas, integrando o Projeto Imagens, Geografias e Educação     Processo CNPq 477376/2011-8. 2  O movimento rizomático é proposto por Gilles Deleuze e Félix Guattari a partir da ideia de rizoma, em contraposição às relações “arbóreas” nas quais tudo e todos devem seguir uma condição p reviamente delimitada, ensejando, por isso, relações sempre dispostas por uma fixidez estrutural correspondente. A condição rizomática, ao contrário, pressupõe que “Um rizoma não começa nem conclui, ele se encontra sempre no meio, entre as coisas, inter-ser, intermezzo. A árvore é filiação, mas o rizoma é aliança, unicamente aliança. A árvore impõe o verbo “ser”, mas o rizoma tem como tecido a conjunção “e... e... e...” (DELEUZE & GUATTARI, 1995, p. 37).  

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    IMAGENS E ESPAOS: LEITURA DE UMA RELAO

    CIDADE/RESERVA INDGENA/CAMPO EM DOURADOS (MS)1

    Jones Dari Goettert

    Alexandre Bergamin Vieira

    Cludia Marques Roma

    1. Introduo

    As relaes campo/cidade podem ser analisadas a partir de objetos e aes que

    transitam de um para outro espao, em um movimento dialtico (mas tambm,

    certamente, rizomtico2) no qual objetos da cidade so ressignificados por aes do

    campo e vice-versa. Assim como, ainda, aes no campo so ressignificadas na cidade,

    biunivocamente. Ao duo objetos e aes imprescindvel a conjugao dos sujeitos que

    produzem, reproduzem e usam objetos, em aes muito pouco coincidentes na cidade e

    no campo. Tais processos redefinem a condio dos objetos e das aes, que,

    participantes de um conjunto indissocivel, dependem e so condicionados pelas

    elaboraes materiais e simblicas que os sujeitos (grupos, comunidades, classes,

    sociedades) constroem e empreendem espacialmente. Essas deambulaes definem, em

    alguma medida, a produo de espaos hbridos, mas que no deve provocar uma

    indolncia acrtica ao simplesmente afirmar que a hibridizao a explicao de todas

    as relaes socioespaciais toda hibridizao (como a no-hibridizao) est

    relacionada a relaes de poder, a disputas entre hegemonias e contra-hegemonias. Para

    alm das representaes e imagens dicotmicas e dicotomizantes, necessrio

    apreender relaes que as ultrapassem manifestando-se em hibridizaes profundas,

    como snteses (inconclusas) de processos conjugados entre identidades e diferenas

    (toda identidade se constri em dicotomias, enquanto toda alteridade se prope como

    manifestao contraditria da prpria diferena).

    1 Este texto foi elaborado e apresentado junto ao III Frum de Programas de Ps-Graduao em

    Geografia do Centro-Oeste e Tringulo Mineiro, realizado em 26, 27 e 28 de setembro de 2012, em

    Trs Lagoas (MS), e tambm decorrncia das atividades desenvolvidas junto ao Grupo de Pesquisa

    Linguagens Geogrficas, integrando o Projeto Imagens, Geografias e Educao Processo CNPq 477376/2011-8. 2 O movimento rizomtico proposto por Gilles Deleuze e Flix Guattari a partir da ideia de rizoma, em

    contraposio s relaes arbreas nas quais tudo e todos devem seguir uma condio previamente delimitada, ensejando, por isso, relaes sempre dispostas por uma fixidez estrutural correspondente. A

    condio rizomtica, ao contrrio, pressupe que Um rizoma no comea nem conclui, ele se encontra sempre no meio, entre as coisas, inter-ser, intermezzo. A rvore filiao, mas o rizoma aliana,

    unicamente aliana. A rvore impe o verbo ser, mas o rizoma tem como tecido a conjuno e... e... e... (DELEUZE & GUATTARI, 1995, p. 37).

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    Cidade e campo, assim como os objetos, as aes e os sujeitos que os compem

    (ou que so institudos como definidores de suas relaes), so espaos continuamente

    representados em suas condies de formas, funes, processos e estruturas, em que

    O Ser a sociedade total; o tempo so os processos, e as funes, assim como as

    formas so a existncia (cf. SANTOS, 2004, p. 218). Hegemonicamente a cidade

    instituda como o urbano, o movimento, a velocidade, a esquizofrenia, enquanto o

    campo o rural, que pensado geralmente como anttese da cidade, o espao esttico,

    lento, buclico. evidente que, especialmente no perodo tcnico-cientfico e

    informacional, o campo tambm representado cada vez mais incorporado a espaos

    rpidos, luminosos e que mandam (cf. SANTOS; SILVEIRA, 2003).

    As representaes dominantes ensejam a produo de imagens que reproduzem

    a dicotomia cidade/campo. Para a cidade, imagens com a aglomerao de vias, prdios,

    casas, comrcio, servios, os congestionamentos, os calades com transeuntes

    indiferentes uns aos outros, o asfalto e as caladas... Para o campo, imagens com

    colheitadeiras enfileiradas a colher a soja para exportao, rodovias para o escoamento,

    chiqueiros de porcos e aves, o trabalho manual... As representaes e imagens da cidade

    e do campo eternizam modos de trabalhar, modos de ser, de vida e de viver,

    reafirmando nelas e por elas identidades territoriais definidoras a priori do que

    pertence a um e a outro espao. Tais representaes e imagens emolduram a nossa

    psicoesfera, ao mesmo tempo em que redefinem o lcus das tecnoesferas

    correspondentes (em aproximao a SANTOS, 2004, p. 255). Aqui, a cidade; l, o

    campo!

    Em Dourados como em todo o Mato Grosso do Sul, mas com mais nfase em

    sua poro centro-sul , a cidade, de alguma forma, se uniu3 a um tipo de campo (o

    agronegcio) em contraposio a um espao, digamos, intermezzo: o das reservas e/ou

    terras indgenas. A representao e imagem que melhor define essa relao antittica

    aquela construda em contraposio, nos ltimos anos, aos processos de identificao e

    demarcao das terras indgenas: Produo Sim. Demarcao No. No entanto,

    justamente o caso de se perguntar se no haveria uma disputa entre representaes e

    3 Tanto Elias (2006) como Santos (1996 [1993]) apontam que a reestruturao da agropecuria culmina

    com a racionalizao do espao agrcola, baseado na cincia e na tcnica, fazendo com que a cidade

    torna-se tambm lcus do que se faz no campo e um dos principais vetores dessa reorganizao a difuso da agricultura cientfica e do agronegcio (ELIAS, 2005). Emergem, a partir da, as cidades do campo (SANTOS, 1996 [1993]), que, no momento atual, segundo Elias (2007), podem ser chamadas de cidades do agronegcio, relacionadas diretamente consecuo do agronegcio globalizado e s demandas das produes agrcolas e agroindustriais modernas (cf. ELIAS, 2005, 2006b; 2007b).

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    imagens da dicotomia e prticas indgenas hbridas rompedoras de todo dualismo: nas

    primeiras, o interesse na afirmao do moderno em oposio ao primitivo; e, nas

    segundas, a manifestao de relaes de existncia em trnsito efetivo entre cidade,

    espao de intermezzo (a Reserva) e o campo (como no corte de cana, por exemplo).

    Partindo desses pressupostos e no sentido de problematizar questes da

    dicotomia cidade/campo em Dourados, junto a esse espao de intermezzo,

    desenvolveremos aqui a leitura de um conjunto de imagens que, parece-nos, possibilita

    entender como certos objetos e certas aes sempre dependem das relaes

    socioespaciais especficas para a sua realizao. A problemtica ter como ponto de

    partida a leitura das prprias imagens, em uma tentativa tambm de anlise didtico-

    pedaggica, isto , de como toda imagem (sua produo, apresentao, divulgao e

    publicidade) sempre um recorte escalar e socioespacial relativo, em um movimento

    no qual a mudana locacional da imagem redefine a compreenso de pedaos do

    mundo.

    2. De relaes entre objetos, aes, sujeitos e hibridizaes a imagens cidade/campo

    2.1. Objetos, aes, sujeitos e hibridizaes

    Conexes normais e normativas ou inslitas e inusuais entre objetos, aes e

    sujeitos constituem condies produtoras de um dado espao. Na perspectiva de

    compreenso do espao [...] como um conjunto indissocivel de sistemas de objetos e

    de sistemas de aes, apontado por Milton Santos (1996b, p. 90), ambos, objetos e

    aes produzem-se reciprocamente mediados pela animao material e imaterial

    humana. Nem objetos e nem aes se divisam, no que a intencionalidade condio

    indispensvel na promoo das formas, funes, processos e estruturas espaciais (sobre

    a intencionalidade ver SANTOS, 2004, p. 89 e seguintes). Objetos e aes, por isso,

    coexistem reciprocamente embalados por relaes envolvidas em cosmologias,

    cosmografias e cosmofonias especficas, hegemnicas e contra-hegemnicas.

    Pensemos, ento, sobre os objetos:

    Os objetos no so as coisas, dados naturais; eles so fabricados pelo

    homem para serem a fbrica da ao. Hoje, esses sistemas de objetos

    tendem, em primeiro lugar, a ser um sistema de objetos concretos, isto

    , objetos que se aproximam cada vez mais da natureza e buscam

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    imitar a natureza. So, tambm, objetos cujo valor vem de sua

    eficcia, de sua contribuio para a produtividade da ao econmica

    e das outras aes. So objetos que tendem unicidade, um sistema de

    objetos que, pela primeira vez na histria do homem, tende a ser o

    mesmo em toda parte. Refiro-me, sobretudo, aos objetos novos,

    queles que formam os sistemas hegemnicos, surgidos para atender

    s necessidades das aes hegemnicas (SANTOS, 1996b, p. 90-91).

    Os objetos como a fbrica da ao definem e so definidos por e para um

    objetivo. Concretos, todos os objetos tambm portam dimenses simblicas, pois

    participam de relaes de poder que atravessam desde corpos isolados a situaes

    globais (uma pulseira de ouro ou de sementes de urucum; uma garrafa de Coca-Cola ou

    calas jeans...). Articulados, um conjunto de objetos se presta a determinadas aes,

    desenvolvidas por determinados sujeitos. Hodiernamente, as grandes articulaes

    socioespaciais de sistemas de objetos e sistemas de aes so acumulaes para a

    reproduo ampliada de Capital: acumulaes para acumulaes (a lgica K-M-K

    podendo ser reescrita em Acumulaes de Objetos-Aes-Acumulaes). A

    articulao global de sistemas de objetos e de sistemas de aes define a hegemonia de

    um modo de produo de objetos e de um modo de agir para a acumulao.

    Pensemos, tambm, sobre as aes:

    As aes, por sua vez, aparecem como aes racionais, movidas por

    uma racionalidade conforme aos fins ou aos meios, obedientes razo

    do instrumento, razo formalizada, ao deliberada por outros,

    informada por outros. uma ao insuflada, e por isso mesmo

    recusando o debate; e, ao mesmo tempo, uma ao no explicada a

    todos e apenas ensinada aos agentes. uma ao pragmtica na qual a

    inteligncia prtica substitui a meditao, espantando toda forma de

    espontaneidade e, tambm, ao no isolada e que arrasta, que se d

    tambm ela em sistemas (SANTOS, 1996b, p. 91).

    uma abstrao, obviamente, a separao radical entre aes e objetos; ambos

    se fazem, se produzem e, no extremo, se esvaiam. Em sentido aproximado, parece-nos

    demasiado determinante a ideia de que toda ao obedece (apenas) razo do

    instrumento, pois, como apontou o prprio Milton Santos (2004, p. 309, 317 e 319),

    toda relao pode e talvez deva pressupor o papel das contra-racionalidades, da

    transindividualidade (a partir de Simondon) e da emorazo (com base em

    Laflamme), em trocas simblicas que unem emoo e razo. A ao pragmtica

    pode, ela mesma, de repetio em repetio, tornar-se espontaneidade, em processos

    tanto de alienao mas tambm de tradio que se perpetua em cotidiano.

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    Os objetos criados, produzidos e reproduzidos, formam, de(s)formam e

    informam os sujeitos atravs das aes. Atualmente, a relao entre objetos e sujeitos se

    d como interao (ou ao) prtica, mas no profunda, diferentemente da relao

    construda em outros tempos, quela da relao em comunho com os objetos. Em um e

    em outro caso, contudo, podemos inferir, ainda com Milton Santos, que os objetos so

    eles prprios informao (cf. SANTOS, 2004, p. 214-215). Mas a informao em um

    modo de produo para a acumulao tende a ser sempre uma informao para a

    acumulao, que, simplificadamente, aquela produzida e reproduzida para a

    completude do ciclo do Capital (produo-circulao-distribuio-consumo),

    representada pelo progresso, modernizao e desenvolvimento. No meio tcnico-

    cientfico e informacional, em que o consumo se sobrepe produo, a informao

    para a compra/venda se espalha por praticamente todo o ecmeno.

    Vejamos:

    Em nenhuma outra fase da histria do mundo, os objetos foram

    criados como hoje, para exercer uma precisa funo predeterminada,

    um objeto claramente estabelecido de antemo, mediante uma

    intencionalidade cientfica e tecnicamente produzida, que o

    fundamento de sua eficcia. Da mesma forma, cada objeto tambm

    localizado de forma adequada a que produza os resultados que dele se

    esperam. [...] Os objetos preexistentes veem-se envelhecidos pela

    apario dos objetos tecnicamente mais avanados, dotados de

    qualidade operacional superior. Desse modo, cria-se uma tenso nos

    objetos do conjunto, paralela tenso que se levanta, dentro da

    sociedade, entre aes hegemnicas e aes no-hegemnicas. A

    situao diferente daquela do passado, onde as aes de um nvel

    inferior no eram obrigatoriamente hegemonizadas. Agora h uma

    clara hierarquia daquelas aes que se instalam em objetos igualmente

    hierarquizados. Mas esse processo no tcnico; ele histrico

    (SANTOS, 2004, p. 217 e 222).

    Objetos, aes e sujeitos devem ser, hoje e cada vez mais, eficazes, para as

    compras e vendas, para a reproduo dos objetos, das aes e dos sujeitos em seus

    valores de troca. O uso apenas uma mediao cada vez mais curta, cada vez mais

    rpida entre os valores de troca dos objetos, das aes e dos sujeitos, exercendo, por

    isso, precisas funes predeterminadas. Da mesma forma, os objetos, as aes e os

    sujeitos, aqueles dotados de qualidade operacional superior, chocam-se com os objetos,

    as aes e os sujeitos no-hegemnicos. O choque se estabelece a partir de uma

    hierarquia cada vez mais acentuada entre objetos cada vez mais novos, novssimos,

    aes cada vez mais rpidas, aceleradssimas, e sujeitos cada vez mais (des)conectados

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    (cf. CANCLINI, 2009), como fluxos em rede, em contraposio a objetos praticamente

    parados, lentos, de aes para a reproduo simples, ainda no passado, e de sujeitos

    des-locados, quase sem lugar, porque imveis demais.

    Esses dois espaos (muitas vezes podendo ser pensados a partir da dicotomia

    cidade/campo, mas nem sempre) praticamente so incomunicveis, ou, de outra forma,

    participam de uma intercomunicao hierarquizada, entre espaos que comandam e

    espaos que devem obedecer. No entanto, mesmo que a-comunicantes, tais espaos

    informam, mas sem, muitas vezes, a construo de um esforo de compreenso. Um

    espetculo se estabelece. Representaes e imagens dos espaos hegemnicos se auto-

    espetacularizam, enquanto representaes e imagens dos espaos subalternos parecem

    apenas ser sempre a ltima amostra dos ltimos resqucios da barbrie. Cada conjunto

    de representaes e de imagens representa e imagina a si e ao outro, definindo rigorosa

    e cabalmente o lugar de cada conjunto de objetos, de aes e de sujeitos.

    No entanto, seria demasiado simplista pensar na existncia de espaos puros,

    fechados ou isolados, em seus conjuntos de objetos, aes e sujeitos. o caso, nesse

    sentido, de pensar tambm a cidade e o campo como conceitos e relaes hbridas, em

    que objetos, aes e sujeitos se interpenetram sem, necessariamente, o desmanche cabal

    de um ou de outro espao. Como aponta Milton Santos (2004, p. 102) em reflexo sobre

    a condio hbrida do espao:

    Esses objetos [os mistos como um conjunto de objetos e de normas,

    em referncia a G. Balandier] no tm por si mesmos uma histria,

    nem uma geografia. Tomados isoladamente em sua realidade

    corprea, aparecem como portadores de diversas histrias individuais,

    a comear pela histria de sua produo intelectual, fruto da

    imaginao cientfica do laboratrio ou da imaginao intuitiva da

    experincia. Mas sua existncia histrica depende de sua insero

    numa srie de eventos uma ordem vertical e sua existncia geogrfica dada pelas relaes sociais a que o objeto se subordina, e

    que determinam as relaes tcnicas ou de vizinhana mantidas com

    outros objetos uma ordem horizontal. Sua significao sempre relativa.

    As coisas se tornam objetos quando objetificados pela dialtica entre histrias

    individuais e histria total, isto , a partir das aes temporais-espaciais (material e

    imaterialmente produzidas) e dos sujeitos que os inventam, animam, usam, imaginam,

    fabulam, sonham, vivem. Contudo, marcados por relaes de poder, por hegemonias e

    contra-hegemonias, os objetos, as aes e os sujeitos sempre superam uma condio

  • 7

    neutra de objetos, aes e sujeitos em si e se instauram ou so instaurados como

    objetos, aes e sujeitos para si. Ou seja, toda existncia geogrfica de objetos, aes e

    sujeitos depende da insero em uma srie de eventos dada por relaes sociais

    subordinantes. por isso que objetos, aes e sujeitos tm sua significao sempre

    relativa.

    2.2. Imagens cidade/campo

    Como j destacado a partir de Milton Santos (2004, p. 217), cada objeto

    tambm localizado de forma adequada a que produza os resultados que dele se

    esperam. Cada objeto, com sua forma, desempenha uma funo como parte de um

    processo ao mesmo tempo estruturado e estruturante. Com aes, os objetos, no modo

    de produo capitalista, apenas tendem a ser levados a cumprir o que deles se espera:

    produzir e reproduzir relaes semelhana de tudo o que pode e deve ser trocado em

    sua forma de valor mercadoria-dinheiro, acumulativa e ampliadamente. O objeto,

    portanto, perde qualquer urea a no ser aquela que o institui e constitui como

    mercadoria, venda ou compra, em completo acordo condio de negcio e muito

    longe de uma contemplao que comunique, ou que, ao menos, se disponha como

    presena e abertura de comunicao a uma condio alternativa, alteridade.

    Nessa estrutura e nesse processo de hegemonia a cidade sempre foi e continua

    sendo o espao primordial do mercado. Nela, mais que nada se cria, nada se perde,

    tudo se transforma, tudo se vende e tudo se compra. As mdias e as publicidades

    acirram os nossos desejos com seus outdoors ou com suas vitrines, e mesmo em casa a

    televiso, e mais recentemente o computador, em conexes e redes locais a globais,

    tornam-se objetos de pura ao da funo de atiar o consumo. Anunciam-se

    mercadorias que cabem no bolso a mercadorias de cidades e regies inteiras, como

    celulares, Bariloches e as savanas africanas. O importante comprar e ser feliz!

  • 8

    Imagem 1 Placa publicitria da Imobiliria Terra Dourados (MS)

    Jones Dari Goettert (2011 trabalho de campo)

    A imagem 1 (como tambm as imagens 3, 8 e 9) um objeto ou um conjunto,

    mesmo que pequeno, de objetos (no caso, uma lata, tintas, prendedores...). Como

    objeto-imagem, aqui serve como ilustrao de publicidade de oferta de uma mercadoria

    (imveis) que pode ser comprada, vendida ou administrada. Um objeto-imagem com

    uma funo, podemos dizer a priori, tipicamente urbana, mesmo que a funo compra,

    venda e administrao de imveis tambm ocorra no campo. Presa parede, muro ou

    grade de frente de uma casa, de um prdio, ou em um poste em frente a um terreno, no

    importa, o objeto-placa publicitria deve atender a localizao de forma adequada a

    que produza os resultados que dela se esperam, quais sejam, a de que sujeitos se

    disponham a comprar, a vender ou a solicitar os servios de administrao de imveis.

    O chamamento central e primeiro no poderia ser mais explcito: Procurando

    Imvel? A Imobiliria Terra uma das aproximadamente trinta empresas do ramo de

    compra, venda e administrao de imveis de Dourados, a maioria delas localizada

    entre a rua Monte Alegre e avenida Marcelino Pires (sentido norte-sul) e entre as ruas

    Hayel Bon Faker e Firmino V. de Matos (sentido leste-oeste), em setor de comrcio e de

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    servios especializados central e nobre da cidade. No site da empresa so

    disponibilizadas informaes sobre a histria e a misso a que se dispe cumprir:

    Histria da empresa

    Fundada em 1984, a Imobiliria Terra movida por dinamismo e

    empreendedorismo [...] somos responsveis pelos empreendimentos

    que mais valorizam e embelezam a cidade [...] Sabemos que o sucesso

    resultado de muito trabalho [...] sempre motivados para trabalhar em

    harmonia. [...] A Terra Assessoria Imobiliria tem como misso

    promover a melhor negociao atravs de um atendimento

    personalizado, minimizando seus riscos e maximizando investimentos.

    [...] A regio do Mato Grosso do Sul cresceu e se modernizou [...] O

    nosso negocio [sic] de carter permanente e continuo [sic],

    fundamentado na dimenso do Estado e na certeza de

    desenvolvimento da regio Sul Matogrossence [sic]. [...] Seja cliente

    Imobiliria Terra e faa parte desta historia. (http://www.imobiliariaterradourados.com.br/empresa.php - acessado em

    11/09/2012)

    No mesmo site, em sua pgina de entrada, disponibilizado o acesso ao Google

    Maps com as localizaes de imveis (residenciais e comerciais) para compra, venda e

    administrao. Ou seja, instantaneamente visualizamos o imvel, seu preo e,

    principalmente, sua localizao, se em rea nobre e valorizada da cidade ou em local

    perifrico (no amplo sentido do termo), e ali, quase sempre, de pouca valorizao

    imobiliria.

    Imagem 2 Recorte de Imveis no mapa da Imobiliria Terra

    (http://www.imobiliariaterradourados.com.br/index.php - acessado em 11/09/2012)

    Dinamismo, empreendedorismo, valorizao, embelezamento, trabalho em

    harmonia, modernizao, transformaes e mudanas rpidas, desenvolvimento,

    investimento e colaborao so cones potentes a partir dos quais a empresa Imobiliria

    Terra se apresenta publicamente. A empresa, no entanto, mais que inovar a partir de

  • 10

    seu arsenal de signos do progresso e da modernidade, reproduz as representaes e

    imagens dominantes e hegemnicas em Dourados, de uma cidade e municpio que se

    pensa, se imagina e se vive, substancial e ideologicamente, como expresso do

    estribilho do Hino Municipal: Eis Dourados cintilante/De labor e anseios mil/No futuro

    confiante/Lindo Osis do Brasil./Eis Dourados cintilante/De labor e anseios mil/Joia

    brilhante do Brasil... (Um iderio, alis, bastante presente em relao propaganda,

    representaes e imagens das cidades mdias brasileiras, de qualidade de vida e do

    lcus, por excelncia, de moradia da classe mdia.)

    De fato, com o crescimento urbano verificado nas ltimas dcadas, em Dourados

    tem se constatado tanto o aumento importante da populao como tambm a acelerao

    da valorizao imobiliria, desdobramento da articulao entre proprietrios de terras

    urbanas e rurais e de uma forte atuao do poder imobilirio em aproximao com o

    poder pblico municipal. Batizada, por vezes, de Cidade Educadora e de Cidade

    Universitria, Dourados vem apresentando especulaes extraordinrias da terra

    urbana, e representado como um dos municpios centrais do agronegcio no Brasil, em

    relao direta com a demanda e a valorizao das commodities agrcolas, tambm os

    preos das terras rurais tem se acelerado.

    Nos ltimos anos, com momentos importantes de crescimento econmico do

    pas articulado ao boom imobilirio a partir de programas do Governo Federal (polticas

    de ampliao de emprstimos e prazos e reduo de juros para construo ou aquisio

    de imveis para amplos setores da classe mdia, e o projeto Minha Casa, Minha Vida,

    para atendimento demanda de setores de baixa renda, por exemplo), o setor

    imobilirio em Dourados cresceu vertiginosamente. Em alguns setores da cidade o

    aumento no preo dos imveis, nos ltimos seis anos, se aproximou de quinhentos por

    cento (no Parque Alvorada, considerado um bairro de classe mdia, terrenos, por

    exemplo, que em 2006 custavam vinte mil reais, atualmente so negociados a cento e

    vinte mil reais!). Alm de uma histrica demanda reprimida, a criao da Universidade

    Federal da Grande Dourados (2005) e a instalao de inmeras usinas de etanol e acar

    na regio, tambm tiveram papel importante para o crescimento e valorizao

    imobiliria, local e regionalmente. Por isso, os objetos-placa de publicidade imobiliria

    de compra, vende e administrao se imveis abundam nos mais diferentes setores da

    cidade, em qualquer lugar.

    Mas eis que o objeto-placa da imagem 1 no estava frente de um imvel para

    compra, para venda ou para administrao. Como mostra a imagem 3, o objeto-placa foi

  • 11

    fixado sobre uma parece de casa pobre feita de madeira, pedaos de compensados,

    alicerce de tijolos nus, sem massa e sem reboco. Uma casa que, obviamente, no est

    nem ali para ser comprada, nem vendida e muito menos administrada por uma empresa

    imobiliria.

    Imagem 3 Placa publicitria, parte de parede de barraco e parte de carroa Dourados (MS)

    Jones Dari Goettert (2011 trabalho de campo)

    Os crescimentos urbanos, os boons imobilirios, os financiamentos para

    aquisio ou construo de imveis e as possibilidades de moradia em Dourados so

    seletivos, assim como o so os objetos (terrenos, casas, apartamentos, prdios...), as

    aes (compra, venda, locao, administrao, financiamentos...) e os sujeitos. Os

    objetos-placas de publicidade de compra, venda ou locao de imveis tambm so

    afixadas seletivamente.

    De acordo com o site da Imobiliria Terra, os imveis disposio, com

    valores de aluguel entre 50 e 622 reais (que seria, entendemos, a possibilidade de

    cobrana de locao para uma casa construda com os materiais presentes na imagem;

    o preo mximo considerando o valor do salrio mnimo vigente), so apenas cinco,

    localizados um em rea central e quatro em reas mais perifrica da cidade (de acordo

    com imagem 4), e com imveis que apresentam caractersticas diferentes dos da

    imagem 3 (ver imagens 5 e 6).

  • 12

    Imagem 4 Recorte de Imveis no mapa da Imobiliria Terra para imveis com valor de aluguel entre 50 e 622 reais

    (http://www.imobiliariaterradourados.com.br/index.php - acessado em 11/09/2012)

    Imagens 5 e 6 Fotos de casas para aluguel entre 50 e 622 reais disponveis em site da Imobiliria Terra

    (http://www.imobiliariaterradourados.com.br/index.php - acessado em 11/09/2012)

    Fica evidenciado que o objeto-placa de publicidade na casa pobre, como objeto,

    no est localizado de forma adequada a que produza os resultados que dele se

    esperam. Poderia servir, talvez, como parede para casa ou barraco, de pobre e para

    pobres: os objetos migram, mudam de funo e participam de outras aes, com outros

    sujeitos.

    Junto com o boom imobilirio em Dourados nos ltimos anos, tambm um

    importante movimento de ocupaes urbanas, principalmente de terrenos pblicos, foi

    empreendido (o total de ocupaes, em 2010, chegava a 24, de acordo com QUEIROZ,

    2010). Uma das ocupaes ocorreu no Jardim dos Estados (bairro do setor nordeste da

    cidade), em terreno pblico anexo Escola Municipal Frei Eucrio Schmitt. A

    ocupao teve incio em 2005 de forma aleatria [...] e persistiu at 2011, quando os

    ocupantes tiveram o direito casa prpria assegurado com o processo de remoo para

    os conjuntos habitacionais populares Estrela Tovy I e II, no setor sudoeste da cidade

  • 13

    (cf. ANDRADE, 2011, p. 16). As paredes dos barracos da ocupao no diferiam muito

    daquela apresentado na imagem 3.

    Imagem 7 Recorte de interior de barraco de ocupao no Jardim dos Estados Dourados (MS)

    Adriana Brito de Andrade (2010 trabalho de campo)

    Assim, os objetos, ao mudarem de lugar, tm suas funes redefinidas por outras

    aes, por outros sujeitos. Vanda foi uma das moradoras da ocupao no Jardim dos

    Estados; ela viu Dourados crescer, em um processo que, mesmo com crescimento, a

    alijou da possibilidade de um imvel, de um terreno, de uma casa, de uma moradia:

    A gente era pobre, no tinha recurso pra nada, quando a gente mudou

    pra Dourados aqui no tinha quase nada, s a [avenida] Marcelino e a

    [avenida] Joaquim Teixeira Alves, com algumas casas s, era tudo de

    cho, eu catava guavira com a minha me onde a [avenida] Weimar

    Gonalves Torres, era s mato (apud ANDRADE, 2011, p. 99).

    A ocupao, inicialmente formada por vinte famlias (2005), foi gradualmente

    perdendo ocupantes, chegando, ao final (2011), com dez famlias. Ali se constituiu uma

    ocupao de pobres em bairro de pobre. A maioria dos ocupantes era migrante ou

    descendente de migrantes: 90% de fora de Dourados, sendo mais da metade deles

    oriundos de outros estados brasileiros (do Nordeste, do Sudeste e do Sul). Todas as

    famlias ou ocupantes apresentavam, pelo menos ascendentemente, uma condio

    escolar mnima, mas tambm uma relao grande com a terra, tendo sido trabalhadores

    rurais como posseiros, pees ou mesmo pequenos proprietrios (cf. ANDRADE, 2011,

    p. 89 e seguintes).

  • 14

    Mas, novamente, eis que o objeto-placa da imagem 1 no estava nem frente de

    um imvel para compra, venda ou administrao, e nem frente de um barraco de

    ocupao.

    Imagem 8 Placa publicitria, barraco, carroa e roados Dourados (MS)

    Jones Dari Goettert (2011 trabalho de campo)

    O objeto-placa de publicidade Procurando Imvel?, da empresa Imobiliria

    Terra, agora, deslocado de imveis para compra, venda ou administrao, para a

    no-cidade. O barraco-casa est no campo; o campo, ou parte dele. Mesmo que a

    imagem no permita observar com nitidez, possvel perceber plantaes tanto

    esquerda quanto direita, ao fundo do barraco-casa. esquerda, um bananal; direita,

    um mandiocal. O objeto-placa publicitria migra da cidade para o campo, talvez levada

    pela carroa...

    Em um dos principais centros do agronegcio brasileiro, surpreendente, por

    exemplo, que o nmero de carroas extrapole mais de mil unidades. Misturadas a

    veculos bem mais rpidos, as carroas invadem as ruas da cidade como meio de

    transporte para mercadorias e pessoas tanto da cidade como do campo, como veculo

    para pequenos fretes. Mas, tambm, as carroas tem papel importante no cotidiano de

    indgenas da Reserva Indgena de Dourados, na Reserva e para a cidade, em inmeros

    trnsitos e atividades, como aquela, muito frequente, de venda de produtos agrcolas de

    porta em porta, como mandioca e milho, ou para a passagem (seno diria, pelo menos

    semanal) pedindo, especialmente com crianas que distncia so acompanhadas por

    pessoas mais velhas (mes ou irms, geralmente), tem uma coisa pra d? O

    expressivo nmero de carroas em Dourados ensejou, inclusive, a criao da

  • 15

    Associao dos Carroceiros, que tem participado de projetos importantes sobre trnsito

    e transporte com secretarias municipais, por exemplo. A existncia e persistncia de

    carroas e carroceiros em Dourados tem ensejado a busca de compreenso, tambm, da

    dinmica do circuito inferior da economia urbana com a produo de tempos e

    espaos lentos (cf. SILVA, 2009). Nesse nterim, tambm necessrio ultrapassar a

    ideia de que h uma relao direta entre circuito inferior da economia e espaos

    lentos, pois esse circuito tanto complementar como por vezes central ao

    desenvolvimento do prprio circuito superior da economia, em uma verdadeira

    dialtica entre ambos em nvel local (cf. SANTOS, 2004b, p. 360).

    No entanto, em observao anterior ao site da Imobiliria Terra, j havamos

    constatado a possibilidade de negociaes de imveis rurais (de acordo com

    disponibilizao no prprio site). Mas a consulta, agora, mostrou-se infrutfera: sobre

    imveis rurais casa/aluguel, com valor de locao entre 50 e 622 reais (repetindo os

    valores para a busca de imveis urbanos), o Resultado da busca foi a informao de

    que No h imvel para a consulta fornecida.

    O objeto-placa publicitria imobiliria ainda mais, por isso, um objeto des-

    locado. Ali, no campo, sem funo pelo menos quela originariamente definida, ou

    seja, anunciar um imvel para compra, venda e administrao. Des-locado de seu

    lugar, tem deslocada a sua funo, e as aes e os sujeitos em torno dela tendem a ser

    completamente estranhos intencionalidade primeira, condicionada para a

    comercializao e administrao de imveis. De um movimento estranho, ento,

    participou o objeto-placa, constituindo-se, ali, em elemento de anti-funo, de anti-aco

    e, no extremo, de contra-processo e contra-estrutura socioespacial hegemnica. Ou seja,

    o objeto-placa se perde como forma e funo e como parte de um processo de uma

    estrutura socioespacial que lhe daria guarida.

    Mas, vamos, ento, para a ltima imagem da qual o objeto-placa participa.

  • 16

    Imagem 9 Placa publicitria, barraco, carroa, roados e entrada/sada de Casa de Reza Reserva Indgena de Dourados

    Jones Dari Goettert (2011 trabalho de campo)

    O objeto-placa, agora mais do que nunca, parece, definitivamente, no estar

    localizado de forma adequada a que produza os resultados que dele se esperam! Nem

    em imvel urbano para compra, venda ou administrao; nem em barraco como resto

    encontrado para tapar buracos da parede meia-boca; nem em campo qualquer, nem do

    agronegcio e nem campons... O objeto-placa se mostra inteiro, agora, em seu novo

    arranjo que tanto espacial, temporal, econmico, poltico, social, cultural, simblico,

    mas tambm religioso. De frente Casa de Reza Kaiowa, do rezador Agemiro e da

    rezadora Antnia, na Reserva Indgena de Dourados, o objeto-placa de publicidade vira

    apenas parte de uma parede de casa indgena, um objeto completamente ressignificado e

    em outro modo de existncia. A cidade invade o campo no como objeto urbano

    claro, mas como resto perdido por entre lixo e entulhos em caambas e terrenos baldios

    da cidade. Agora, ali, em terra indgena, sua materialidade e simbolismo apontam

    apenas a persistncia de uma forma des-formada, porque destituda de seus signos

    mais caros o de ensejar a compra, a venda e a administrao de imveis, que so,

    sempre, aes de negociao da terra. E negociar a terra se configura, tambm ali, para

    os Kaiowa (mas tambm Guarani), a negociao mais prfida, mais brutal, mais

    violenta: a negociao da prpria existncia, da prpria vida.

    Como acentuou Juliana Grasili Bueno Mota (2011, p. 362), em Territrios e

    territorialidades Guarani e Kaiowa: da territorializao precria da Reserva Indgena

    de Dourados multiterritorialidade:

  • 17

    [Na] relao com os lugares, as gentes [Guarani e Kaiowa] no se

    fazem sem as referncias que os possibilitam explicar quem so e o

    porqu esto no mundo. Os laos com o passado se fazem presentes

    nestas representaes, fundamentalmente, porque pelo passado que

    h, tambm, a garantia de futuro. Os lugares-territrios vividos pelos

    Guarani e Kaiowa no esto fora da procura do Teko Por, mas esto

    imbricados nela, recriando no presente formas espaciais que os ligam

    ao passado, seja na condio de reserva e/ou em outras modalidades

    territoriais, muitas vezes colocando a condio de reserva como o

    modo mais cruel de ser e estar no mundo. Assim, muitas famlias

    buscaram no viver nas reservas criadas pelo SPI, e ainda, muitas

    delas esto lutando, seja a partir da reserva, fora da reserva, entre a

    reserva e outras modalidades territoriais, pelo retorno aos territrios

    tradicionalmente ocupados.

    O objeto-placa publicitria da cidade absorvido por um campo distante e

    destoante cosmolgico, cosmogrfico e cosmofonicamente. Praticamente grudada na

    cidade de Dourados, com seus aproximadamente quinze mil indgenas (Guarani,

    Kaiowa e Terena) espalhados em no mais de 3.600 hectares, a Reserva, alm de todos

    os objetos originrios de suas culturas (naturais e artificiais) participantes, mesmo que

    em condio precria, de aes orgnicas entre Teko e Tekoha (cultura e terra), ela

    mesma um espao denso e tenso de trocas com a cidade. No seu interior, entretanto,

    tudo tende a participar como produo no-monocultural, como a Casa de Reza, onde o

    alimento espiritual e muitas vezes tem o embalo da chicha feita de mandioca, de um

    mandiocal que logo ali (produes, especialmente a material, que j seriam suficientes

    para colocar em xeque a construo monocultural branca de Produo Sim.

    Demarcao No).

    No sistema de objetos disposto na imagem, a Casa de Reza, a carroa, a casa

    pequena e pobre, os cultivos de mandioca e banana e a terra vermelha entornam o

    objeto-placa publicitria a tal ponto de faz-lo perder completamente o exerccio de uma

    precisa funo predeterminada (coincidentemente, no h nenhum imvel no site da

    imobiliria, de qualquer tipo, para compra, venda ou administrao na Reserva Indgena

    de Dourados). Com isso, ao mesmo tempo, a ao pragmtica instituidora do objeto-

    placa esvanece, pois que sucumbido, no extremo, apenas como expresso decoradora.

    Se, como j apontado por Milton Santos, os objetos preexistentes veem-se envelhecidos

    pela apario dos objetos tecnicamente mais avanados, dotados de qualidade

    operacional superior, ali, na Reserva, ocorre justamente o contrrio: o objeto-placa v-

    se novssimo demais pela arrumao de objetos tecnicamente mais culturalizados,

    dotados de qualidade orgnica superior. Desse modo, sem dvida, a tenso se levanta

  • 18

    entre aes hegemnicas e aes no-hegemnicas, mas, agora, em espao de

    subalternidades e dos subalternos.

    3. Imagens que mostram, imagens que escondem (consideraes finais)

    Quatro imagens. Uma de dentro da outra...

    Imagem 10 Ilustrao dos recortes dispostos em imagens anteriores a partir de Casa de Reza Kaiowa Reserva Indgena de Dourados

    Jones Dari Goettert (2011 trabalho de campo)

    Imagens podem iludir, mas tambm podem desiludir. Podem, sim, fazer ruir as

    iluses hegemnicas, como aquela em Dourados que admite ser ali um espao de pleno

    progresso, desenvolvimento, harmonia e de oportunidades para todos4 pois que,

    tambm ali, por exemplo, nem todos podem comprar, vender ou administrar imveis.

    Imagens fazem silenciar, mas tambm fazem gritar um grito de contestao. Aqui, por

    exemplo, a imagem primeira (a do objeto-placa puro) se prope rapidez do olhar,

    interrogando o transeunte (Procurando Imvel?) aberta e descaradamente; qual a

    resposta? preciso responder sim, no, no sei... Nas imagens segunda e terceira

    a do objeto-placa grudado na parede de tbuas pobres e a do objeto-placa j quase

    indiferente casa pobre e roados em volta , o lugar de perguntar se inverte: u, como

    4 Ideologia preconizada, por exemplo, pela ideia de que as cidades mdias so terras de oportunidades e

    de melhor qualidade de vida, que abrigariam um nmero crescente de profissionais e empresrios do setor de comrcio e servios, principalmente os especializados, mas que, por outro lado, aqueles que no

    se beneficiam de tais condies so considerados incapazes ou mesmo culpados pela prpria condio em

    que se encontram, devendo, portanto, serem excludos dos benefcios do processo de urbanizao que

    essas cidades ofereceriam (cf. VIEIRA, 2009).

  • 19

    esta placa foi parar a? J na imagem quarta, mais que perguntas, se revela o espanto:

    nossa, uma Casa de Reza, uma terra indgena. Silncio...

    As imagens, como aponta Ral Antelo (2004, p. 9), nunca so um dado natural,

    mas carregadas de histria tambm diramos de geografia e, por isso, uma

    construo discursiva que obedece a duas condies de possibilidade: a repetio e o

    corte:

    Enquanto ativao de um procedimento de montagem, toda imagem

    um retorno, mas ela j no assinala o retorno do idntico. Aquilo que

    retorna na imagem a possibilidade do passado. Como procedimento

    de suspenso ou corte, a imagem aproxima-se, ento, da poesia, e no

    da prosa, na medida em que at mesmo o poema poderia ser reduzido

    ao simples efeito do enjambement [encavalgamento, ou ruptura de uma unidade sinttica]. Retorno e corte alimentam, portanto, uma

    certa indecibilidade ou indiferena, uma impossibilidade de

    discernimento entre julgamento verdadeiro e falso, que potencializa,

    entretanto, o artifcio da falsidade como a nica via possvel de acesso

    estrutura ficcional da verdade (ANTELO, 2004, p. 9).

    As imagens so invenes projetadas como repetio e corte. Repetimos e

    cortamos e, nesse movimento, imagens mostram e ocultam discursos, mas tambm

    prticas, tornando todo discurso uma prtica e toda prtica um discurso. Toda imagem

    diz e no diz: a imagem objeto-placa diz que compra, que vende e que administra, mas

    no diz que nem todos podem comprar ou vender o que anuncia; e assim tambm todas

    as outras imagens em dizeres e no dizeres que mostram e que ocultam. Em cada caso,

    as imagens impingem sentidos de orientao e de localizao, isto , sentidos de espao

    e tambm de tempo. Ordens e desordens nelas se manifestam a depender de como so

    construdas, onde esto dispostas e por quem so sentidas, repetidas e cortadas.

    Sobretudo, como aponta Cludio Benito O. Ferraz (2012, p. 6):

    [as] imagens so os elementos, objetos, relaes de distncia e localizao, vazios e cheios, movimentos, fluxos e fixos, presenas e

    ausncias, que os sentidos perceptivos, principalmente o olhar, so

    agenciados pela capacidade humana de experimentar, pensar e

    comunicar a paisagem observada. So os fenmenos, coisas, objetos e

    relaes que interferem no imaginrio e na formao do homem.

    As imagens, na sociedade moderno-contempornea, tem sido de tal forma

    construdas e institudas ao ponto de se tornarem, como que autonomamente, a prpria

    realidade. Em nossa sociedade do espetculo (cf. DEBORD, 1997) a imagem

  • 20

    principalmente aquilo que se mostra para o consumo, mas tambm, como aponta Guy

    Debord, o que se mantm por trs do espetculo. Por trs do espetculo ilustrado pelo

    objeto-placa publicidade de compra, venda e administrao de imveis, aqui

    reveladora a ocultao das aes e dos sujeitos completamente ausentes dos

    mecanismos de compra, venda e administrao, fundamentalmente, da prpria terra.

    Mas possvel trazer tona ainda trs imagens de certa forma correlatas s

    anteriores. As duas primeiras foram produzidas prximo aos objetos placa publicitria,

    parede de tbuas, casa com roado e Casa de Reza e adjacncias. Imagens de prticas

    manuais inversamente proporcionais quelas de comprar, vender e comercializar. Em

    uma (imagem 11), as mos de rezadora Antonia pintam de urucum a cabaa pequena;

    um objeto sobre outro objeto, ambos sendo incorporados relao orgnica, mtica e

    mitolgica Kaiowa como se, sendo mais vermelhas as coisas, mais prximas da terra.

    Em outra (imagem 12), mos da me indgena ajudando na pintura da filha pelo mesmo

    processo de passagem do vermelho da semente para a pela humana. Na primeira

    imagem o objeto cabaa-colorao-penas (agora, marac) incorporado como

    extenso de uma prtica e espiritualidade humanas; e, na segunda, a condio humana

    misturada essncia natural, da terra.

    Imagem 11 Mulher pinta cabaa com tinta de urucum na Reserva Indgena de Dourados

    Jones Dari Goettert (2011 trabalho de campo)

  • 21

    Imagem 12 Me auxilia filha em pinturas no corpo na Reserva Indgena de Dourados

    Jones Dari Goettert (2011 trabalho de campo)

    E a terceira imagem.

    Imagem 12 Ps de menino indgena durante desfile de 7 de setembro na avenida Marcelino Pires centro de Dourados

    Jones Dari Goettert (2012)

    O indgena deixa a Reserva e se mostra na cidade. dia festivo: 190 anos de

    Independncia do Brasil. Tudo e todos, no Brasil varonil, independentes! O menino

    indgena transita da Reserva e pisa e anda no objeto-asfalto com seu objeto-sandlias. A

    pintura o trao destoante: o corpo pintado, o corpo marcado.

    Todo corpo humano tambm sua pele, esta no uma aparncia que

    oculta a verdade essencial de seu ser profundo, pois seu ser se

    manifesta pela forma com que os outros o percebem, e isso se d pela

    pele, pela superfcie, a qual a manifestao de toda a complexidade

  • 22

    do seu ser. Saber olhar a pele saber ler o mundo em seu acontecer

    diverso. A linguagem artstica da pintura apresenta o mundo por meio

    das formas ali manifestadas, ou seja, a superfcie das coisas e do

    mundo em sua diversidade perceptiva. Contudo, o que ali se apresenta

    no uma mentira, mas depende da capacidade de quem vai ler e

    projetar significados, e elaborar outras possibilidades de sentidos que

    daquela imagem derivam para alm das certezas (FERRAZ, 2012, p. 4).

    Na passagem do ndio menino junto com outros tantos seus, com seus objetos

    que por vezes se aproximavam da tradio-terra mas em outras do mundo mesmo do

    consumo (como outro menino indgena que, tambm pintado, levava consigo uma

    guitarra parecendo no fazer sentido aos nossos sentidos dominantes), foi possvel

    ouvir, ali ao lado, uma conversa ao mesmo tempo singela e estranha entre filha

    pequena e pai brancos, espectadores de todo aquele espetculo:

    Pai, so esses ndios que invadem as terras aqui em Dourados? No, minha filha, nem todos os ndios so malvados!

    Uma pergunta; uma exclamao. Um breve dilogo entre iguais se interpondo

    como dilogo impossvel com a diferena, com a possibilidade de hibridizao... Os

    sujeitos ndios da Reserva so sujeitos-sujeitados na cidade. Todo o campo, fora dos

    marcos do agronegcio, tambm no-campo, mas terra e relaes passveis de

    extermnio, pois que, tambm, espao de malvados [na perseverana de dicotomias

    em terras (sul)mato-grossenses como aquelas entre litoral e serto, entre civilizao e

    barbrie em consonncia com as anlises de GALLETI, 1995; 2000]. Mas, ainda,

    mais que sujeitos-sujeitados, na cidade os indgenas talvez percam completamente a

    condio de sujeitos para ali pairarem apenas como objetos completamente estranhos,

    como estranhamente invadem nossas terras, e, com isso, abrindo caminho para a

    destruio da harmonia do presente e do progresso mais intenso no futuro (o reforo das

    dicotomias).

    Sujeitos e aes indgenas, objetivados e participantes da condio dicotmica

    ns/eles, perdem a condio de humanidade outra, de outros saberes e de outras

    epistemologias (cf. LEFF, 2001; e SANTOS, 2010). O campo reserva-aldeia-cidade

    (hibridizante) alado condio irreconcilivel com a lgica hegemnica e

    dominante (dicotomizante) do urbano e seu correlato agrcola, o agronegcio. Em

    espaos praticamente desconexos (a no ser, por exemplo, aquele da sujeio indgena

    para o corte de cana em usinas de etanol e acar), os tempos tambm se encontram em

  • 23

    oposio profunda. Enquanto o espao urbano e do agronegcio miram pelo farol do

    futuro esmagando o passado (a dicotomia temporal), o espao campo-indgena resiste

    para um futuro que passa necessariamente pelo passado (a hibridizao no tempo)

    [como que imitando, mesmo sem o saber, a necessidade de renovao da cincia

    geogrfica a partir de seus clssicos, como apontado por Ruy Moreira (2006) com A

    volta para o futuro].

    O presente-passado-futuro indgena no Mato Grosso Sul, no entanto, no uma

    ao terica, mas uma resistncia em ao prtica. Os movimentos de ocupao de

    territrios tradicionais, principalmente pelas etnias Guarani e Kaiowa, tem aprofundado

    as tenses entre dois modos de pensar, imaginar e viver o mundo (ou, de um lado, a

    lgica do comprar, vender e administrar e, de outro, da relao orgnica entre terra e

    corpo, entre terra e gente). Por isso, preciso e urgente que toda imagem dominante e

    hegemnica seja pronta e duramente desconstruda, desde aquelas que se mostram em

    objetos-placas publicitrias s imagens mentais construdas desde a infncia,

    transformando sujeitos em meros objetos de espreita e dio [semelhantemente ao

    constatado por Frantz Fanon (2008), de como crianas brancas mas tambm negras

    so, desde pequenas, iniciadas em representaes e imagens depreciativas do negro].

    Pois que, sem esse enfrentamento, estaremos cada vez mais distantes de novas

    comunidades que vem, hbridas, daquelas que independem das identidades apriorsticas

    branca, indgena ou negra, dentre tantas outras, para a construo de relaes

    efetivamente livres e autnomas (cf. AGAMBEN, 1993). E de nada adianta que o

    objeto-placa publicitria seja de uma empresa que tenha em sua prpria denominao a

    palavra terra (Imobiliria Terra), se a terra, para ela, apenas objeto de compra,

    venda e administrao, em contradio extrema condio da terra Guarani e Kaiowa,

    uma condio de relaes orgnicas entre objetos naturais e artificiais, entre vida e

    morte, entre presente, passado e futuro. Ou seja, objetos-placa e objetos-mos e

    objetos-ps expressam a terra, mas, em um caso, uma terra de negcio, e, em outro,

    uma terra (de uma condio de intermezzo entre campo e cidade) como condio hbrida

    no apenas da reproduo da vida em si, mas sim de toda uma existncia Guarani e

    Kaiowa.

  • 24

    Referncias Bibliogrficas

    AGAMBEN, Giorgio. A comunidade que vem. Lisboa: Editora Presena, 1993.

    ANDRADE, Adriana Brito de. Movimentos de uma ocupao urbana: territrios,

    territorialidades e trajetrias socioespaciais de sem-tetos de ocupao no Jardim dos Estados (Dourados MS). Dissertao de Mestrado. Dourados: Programa de Ps-Graduao em Geografia UFGD, 2011. CANCLINI, Nstor Garca. Diferentes, desiguais e desconectados. 3 ed. Rio de Janeiro:

    EdUFRJ, 2009.

    DEBORD, Guy. A sociedade do espetculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.

    DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Flix. Mil Plats. Vol. 1. So Paulo: Editora 34, 1995.

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    tericas-metodolgicas. In: SPOSITO, M. E. B. (org.). Cidades Mdias: espaos em

    transio. So Paulo: Expresso Popular, 2007.

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    cidade do campo. Anais do X Encontro de Gegrafos da Amrica Latina. So Paulo:

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