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1 IMAGENS ESPORTIVAS DE UM TEMPO NEM TÃO DISTANTE ASSIM Victor Andrade de Melo (UFRJ) Victor Andrade de Melo é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde coordena o Sport: Laboratório de História do Esporte e do Lazer. Email de contato: [email protected] Nem precisa de som. Basta fixar bem o olhar para se ouvir, no sussurro do passado, os barulhos da cena, um burburinho bastante conhecido: - Foi fora! - Não, bateu na linha, veja a marca da bola! - Quem saca agora? - É minha vez! Cena do filme Jogo de vôlei. É possível que falas semelhantes tenham sido ditas naquele jogo de vôlei, esporte que chegara à cidade na década de 1910, importado pela Associação Cristã de Moços, instituição norte-americana que desde o final do século XIX se instalara no Rio de Janeiro a fim de cumprir sua missão de difundir os princípios do Cristianismo

IMAGENS ESPORTIVAS DE UM TEMPO NEM TÃO DISTANTE … · esporte que chegara à cidade na década de 1910, importado pela Associação Cristã de Moços, instituição norte-americana

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IMAGENS ESPORTIVAS DE UM TEMPO NEM TÃO DISTANTE ASSIM

Victor Andrade de Melo (UFRJ)

Victor Andrade de Melo é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde

coordena o Sport: Laboratório de História do Esporte e do Lazer. Email de

contato: [email protected]

Nem precisa de som. Basta fixar bem o olhar para se ouvir, no sussurro do

passado, os barulhos da cena, um burburinho bastante conhecido:

- Foi fora!

- Não, bateu na linha, veja a marca da bola!

- Quem saca agora?

- É minha vez!

Cena do filme – Jogo de vôlei.

É possível que falas semelhantes tenham sido ditas naquele jogo de vôlei,

esporte que chegara à cidade na década de 1910, importado pela Associação Cristã de

Moços, instituição norte-americana que desde o final do século XIX se instalara no Rio

de Janeiro a fim de cumprir sua missão de difundir os princípios do Cristianismo

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Muscular, uma proposta de intervenção educacional que buscava articular preparação

física, visão religiosa e formação profissional.

O incremento de sua atuação era mais um sinal de que aumentara a influência

cultural dos Estados Unidos, algo que se manifestou pioneiramente nas ações das

escolas protestantes que chegaram ao Brasil na segunda metade do século XIX e que se

acentuou a partir dos anos 1920 com a grande circulação do cinema hollywoodiano e a

instituição de novos padrões publicitários e hábitos de consumo.

Sede da Associação Cristã de Moços, construída em 1929, na Rua Araújo Porto Alegre, numa

Esplanada do Castelo ainda com muitos espaços livres. O Morro do Castelo fora destruído

definitivamente em 1922, no seu lugar sendo montada parte significativa da Exposição

Internacional. À direita, ao fundo, se vê a Igreja de Santa Luzia.

Disponível em: <https://www.facebook.com/direitouerj80/posts/1841256899432052>.

No momento em que o filme foi produzido, o voleibol não estava mais restrito

ao espaço das quadra cobertas. Muitos jogos já eram promovidos no litoral, como os

norte-americanos vinham fazendo desde o início dos anos 1920. A novidade logo

chegou ao Rio de Janeiro, tornando-se apreciada especialmente pelos sócios das

agremiações que se instalaram na Praia de Copacabana, como o Atlântico Club e o Praia

Club, fundadas em 1927 e 1928.

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Time de voleibol do Atlântico Club.

Beira-Mar, 6 mai. 1928.

Disponível em: <http://theo-filho-paulo-donadio.blogspot.com.br/2011_09_01_archive.html>.

Rede de vôlei do Atlântico Club no Posto VI, 1927.

Ao fundo, se vê o Forte de Copacabana.

Num momento em que melhor se delineou uma estrutura pública de

entretenimentos – algo pelo qual o Rio de Janeiro se tornara reconhecido –, a praia

definitivamente se instituía como espaço valorizado pelos fluminenses, que logo

tornariam a mais usualmente ser chamados pelo gentílico que os designava no período

colonial e fora substituído em função das aspirações civilizacionais do período do

Império. Ser carioca voltava a ser um orgulho, uma denominação ao redor da qual se

construía um forte discurso identitário, um conjunto de procedimentos e modos de ser

consagrados por alguns cronistas e literatos.

Nesse cenário, pari passu com a maior ocupação da Zona Sul, crescentemente

valorizada como lugar de moradia, forjou-se a ideia de que carioca que é carioca gosta

de praia, algo que se impôs como imaginário (e hábito) mesmo para aqueles que vivem

nos bairros mais distantes do litoral.

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De fato, o processo de ocupação das praias como forma de lazer começara em

meados do século XIX. Inicialmente, deveu-se a questões de natureza médica, a

recomendação de esculápios de que o hábito trazia benefícios para a saúde. Logo,

contudo, as areias se tornaram espaços de entretenimento. Com o avanço dos costumes

e maior possibilidade de exposição corporal, os banhos de mar viraram uma diversão,

abrindo caminho para o desenvolvimento dos esportes náuticos – o remo, a natação,

posteriormente a vela, o water-polo, os saltos ornamentais.

As primeiras praias a serem assim utilizadas pelos cariocas foram exatamente

aquelas da Baía de Guanabara, especialmente as do Centro.

Antigas praias da região central do Rio de Janeiro, hoje não mais existentes em função de

diversas reformas urbanas. Para facilitar a identificação, na Ilha de Villegagnon se encontra o

atual Colégio Naval; na Ponta do Calabouço o Museu Histórico Nacional;

na Lagoa do Boqueirão aterrada foi construído o Passeio Público; na Praia do Russel se localiza

o Outeiro da Glória. Disponível em: <www.crpiraque.com.br/historia_estadio_remo/historia_estadio_remo.pptx>.

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Sede do Club de Natação, instalada ao lado do Passeio Público. Para que se tenha uma ideia, o

prédio branco que se situa atrás da agremiação é o antigo Silogeu Brasileiro, onde atualmente se

encontra o prédio do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. O clube existe até hoje com o

nome de Natação e Regatas Santa Luzia, que se situa na região do Aeroporto Santos Dumont.

Disponível em: <http://www.clubesantaluzia.com.br/clubesantaluzia/clube.asp>.

Aquela praia na qual foi filmado o jogo de vôlei ocupava uma posição curiosa.

Entre as da Baía de Guanabara, foi uma das últimas a ser ocupada. Na verdade, a existir.

A cidade até nascera por ali nas redondezas, mas o Pão de Açúcar era uma ilha.

Somente na segunda metade do século XVII, por meio de aterros, foi unido ao

continente, dando origem à Praia Vermelha.

Imagens do Pão de Açúcar separado do continente. À direita, mapa de 1624, Ilustração de

Reysboeck. À esquerda, mapa de Duval, elaborado a partir das viagens de Villegagnon e Jean

de Leri (1557 e 1558). Pode-se ver em destaque a Ilha de Villegagnon e a Ilha do Governador.

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Nessa imagem se pode perceber bem como as Praias Vermelha e da Urca

foram resultado de aterros.

Disponível em: < http://www.nasestradasdoplaneta.com.br/2016/09/urca-o-mais-desejado-

bairro-do-rio-de.html>.

Já a Praia da Urca somente começou a se materializar com a preparação da

Exposição Nacional de 1908. Ainda assim, o loteamento do bairro só avançou no início

dos anos 1920, inclusive quando foi construído um Hotel Balneário para receber os

visitantes da Exposição Internacional de 1922. Archimedes Memória e Francisco

Couche foram os arquitetos do prédio em estilo eclético. A Praia da Urca foi mesmo

concebida para que o mar não o danificasse.

Hotel Balneário da Urca, década de 1920.

Disponível em: <https://vivaurca.wordpress.com>.

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Em 1933, o hotel foi reformado, perdeu a varanda que avançava na areia e virou

o célebre Cassino da Urca, ativo até 1945, quando o jogo foi proibido no Brasil. O

prédio somente voltou a ser utilizado em 1953, quando tornou-se sede da TV Tupi.

Como se pode ver no frame a seguir, nosso filme, portanto, provavelmente foi

produzido depois de 1933. Comparando com outras imagens do local, é possível inferir

que tenha sido realizado em meados da década de 1930.

Cena do filme – Imagem do Cassino.

A essa altura, as praias da Baía de Guanabara perdiam prestígio para as

oceânicas, especialmente Leme e Copacabana (Ipanema e Leblon seriam mais

valorizadas alguns anos depois; a Barra e o Recreio ainda eram areais distantes). As

praias do Centro (Santa Luzia, Boqueirão, Russel, Glória e Lapa) já estavam muito

alteradas pelas reformas urbanas, além de poluídas. Ainda mantinham boa frequência a

estreita faixa do Flamengo (que depois seria modificada com a construção do Aterro), a

Praia Vermelha e a nossa Praia da Urca, cujas águas eram menos bravias, consideradas

mais adequadas para famílias com crianças.

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Praia da Urca, década de 1940.

Disponível em: <http://www.elianebonotto.com/2010/11/o-inicio-de-uma-historia-

notavel.html>.

Mesmo com a perda de prestígio, podemos ver no filme que o balneário ainda

era muito frequentado e utilizado para as mais diferentes práticas de lazer. Alguns

remam seus caiaques. Outros navegam em barcos à motor, aproveitando para fazer uma

espécie de esqui aquático. Enquanto umas apenas tomam sol e conversam, outras fazem

ginástica. Ao fundo de algumas cenas, vemos uma espécie de plataforma/escorrega que

poderia servir aos saltos e brincadeiras diversas.

Deve-se ter em conta que já há décadas a região acolhia iniciativas ligadas aos

esportes náuticos. A Enseada de Botafogo fora um dos principais espaços de provas de

natação e remos no século XIX. Na primeira década do XX, quando já havia no fim da

Praia dois importantes clubes – o de Regatas Botafogo e o de Regatas Guanabara – se

construiu o Pavilhão de Regatas.

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Postal do Pavilhão de Regatas, Praia de Botafogo. Ficou lá instalado entre 1905 e 1928.

Disponível em: < https://cidadesportiva.wordpress.com/category/pavilhao-de-regatas/>.

No final dos anos 1930, na Praia da Saudade foi instalada a sede do Fluminense

Yacht Club (em 1943, mudou de nome para o atual, Iate Clube do Rio de Janeiro).

Antes disso, no início da década de 1920, na entrada da Urca foi construída no mar uma

piscina para acolher as provas de natação, polo aquático, salto ornamental e nado

sincronizado dos jogos esportivos organizados por ocasião da Exposição Internacional

de 1992. Para tal, aproveitou-se um cais que já existia desde a Exposição Nacional de

1908. Nos dias de hoje, conhecido como Quadrado da Urca, funciona como

ancoradouro.

Imagens da piscina, hoje Quadrado da Urca.

Revista da Semana, 23 set. 1922.

No filme, percebemos bem o momento de transição no que tange à exposição

pública. Os corpos são muito diversos. Embora haja magros, há também gente mais

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gorda. Nos dois casos, os padrões de beleza são distintos dos moldes atuais. O clima é

de alegria, um ar saudável que ia ao encontro dos discursos higienistas tão em voga. O

sol e a água do mar, numa representação ideal, rejuvenescem e curam.

Nada mais moderno do que juntar os cuidados com a saúde e a diversão, ainda

mais por se tratar de um entretenimento que unia os novos usos do mar e os novos usos

do corpo, sendo o esporte emblemático dessas possibilidades que se conformavam. Tão

moderno quanto era a ideia de congregação da massa, potencializada pela utilização de

recursos tecnológicos – o cinema exponencia esse aspecto e a própria celebração dos

novos tempos.

Mas quem era essa massa? Vejamos a cena a seguir:

Cena do filme – Público assistindo os banhos de mar.

Nas pedras, alguns mais recatados usam roupas mais longas. Mas seriam mesmo

banhistas ou eram curiosos, talvez empregados das famílias que se banhavam? A

propósito, praticamente não se vê negros no filme. Seria isso um indício do perfil

societário dos frequentadores do balneário? Aparentemente, o filme representa gente de

classe média a aproveitar seu tempo de lazer. Provavelmente, pelo número de pessoas,

as imagens foram captadas num fim de semana ensolarado.

Na moda, que reforça a composição societária dos frequentadores, já se sentia a

influência da cultura norte-americana, conhecida pelos brasileiros, como vimos, pelos

filmes de Hollywood e pelos novos padrões publicitários e bens de consumo. Entre os

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banhistas, há homens que já usam sunga. A maior parte, entretanto, ainda traja um

conjunto de bermuda e camiseta. As mulheres vestem roupas que aos olhos de hoje

podem parecer recatadas, mas que eram, de fato, ousadas se considerarmos as

vestimentas do século XIX, como vemos a seguir.

Roupas femininas para banhos de mar, século XIX.

A Estação, 17 jul. 1879, p. 118.

Em muitas cenas, sem que significasse qualquer exagero ou perda de respeito,

vemos homens e mulheres desfrutando de uma certa intimidade (ou proximidade) no

espaço público, algo impensável em décadas anteriores. Elas são mesmo as estrelas do

filme.

A nova postura feminina, mais ativa e presente no cotidiano citadino, tinha

relação com os ares que chegavam dos Estados Unidos, mas também exponenciavam

um processo que se podia perceber em marcha na cidade desde meados do século XIX,

especialmente no que tange ao esporte, que sempre foi um dos principais fóruns no que

tange ao aumento da visibilidade social das mulheres,

Aliás, se antes elas eram valorizadas por “embelezar” as arquibancadas, no

momento do filme já se envolviam como “atletas”, praticando efetivamente diversas

modalidades.

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Cena do filme – Mulher esquiando.

As imagens de mulheres fazendo “Ginástica sem rádio” – uma provável

referência ao programa do professor Oswaldo Diniz Magalhães, pioneiro a lecionar

aulas da modalidade utilizando o aparelho – lembra-nos que um certo ativismo tornara-

se valorizado, que a educação física passou a receber maior atenção no âmbito de um

governo Vargas que a considerava de fundamental importância para o progresso e

defesa da nação.

Oswaldo Magalhães dando aulas de ginástica pelo rádio.

Disponível em: <http://radionahistoria.blogspot.com.br/2015/01/hora-da-ginastica-com-

oswaldo-diniz.html>.

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Flexibilidade, equilíbrio, força – sem perder jamais a graça e a “feminilidade”,

as mulheres do filme demonstram estar sintonizadas com os novos tempos.

Cena do filme – mulheres fazendo ginástica.

A própria edição do filme, misturando imagens mais espontâneas com outras

claramente “posadas”, nos permite sugerir que o cineasta – creditado apenas como J.

Nunes – parecia influenciado ou mesmo desejar enfatizar algumas dessas “ideias

modernas”. Essa composição fica clara nas cenas finais, onde são exibidas as pessoas

dentro do mar. Mais uma vez, a sonorização quase não faz falta. Basta um pouco de

imaginação para se escutar a algazarra de tanta gente se divertindo.

Cena do filme – banhistas.

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A propósito, deve-se perguntar a motivação do cineasta. Por que registrou essas

imagens? Para depois se divertir com amigos e família? Preservação de memória? Puro

exercício de um novo hobby que também se tornava mais acessível em função do

avanço tecnológico? Fins comerciais?

Não temos como saber exatamente qual foi o intuito do cineasta, mas podemos

precisar a validade desse material para os que hoje o assistem. Para o grande público,

trata-se de uma incrível curiosidade, cujo potencial é apresentar algo da cidade ou

mesmo trazer à tona algum lembrança de algum momento da vida. Para o historiador, é

uma inestimável fonte, indício de um passado que não foi nos dado viver, mas que

temos a pretensão de interpretar sempre pretendendo entender o espírito do tempo.

Para o historiador do esporte e das práticas corporais, são 3min22seg de pura

preciosidade. Sobre o tema, material escrito, especialmente de imprensa, temos aos

montes. Fotografias também. Já antigas imagens em movimento é algo mais raro. Na

verdade, até existem, especialmente no acervo da Cinemateca Brasileira, todavia esse é

um acervo difícil de acessar.

O filme, portanto, ajuda-nos a perceber o quanto as práticas corporais têm

integrado o cotidiano dessa cidade que já há tantas décadas se mostra apaixonada pelo

esporte, não só pela manifestação em si, mas porque também a registrou na construção

de discursos sobre o que é ser carioca.

As imagens permitem-nos conhecer melhor momentos relevantes da dinâmica

dessa nossa cidade esportiva. E o quanto é esportivo o morador dessa maravilhosa São

Sebastião do Rio de Janeiro. E o quanto esse envolvimento é também uma forma de

cultuar sua beleza (na mesma medida em que também expõe suas fraturas e

desigualdades).

Sugestões de leitura

CARVALHO, Sérgio. Hora da Ginástica: um resgate da obra do professor Oswaldo

Diniz Magalhães. Santa Maria: UFSM, 1994

DRUMOND, Maurício. Nações em jogo: esporte e propaganda política em Vargas e

Perón. Rio de Janeiro: Apicuri, 2010.

GOELLNER, Silvana. Bela, maternal e feminina. Imagens da mulher na Revista

Educação Physica. Ijuí: Unijuí, 2003.

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MAUAD, Ana Maria. A América é aqui: um estudo sobre a influência cultural norte-

americana no cotidiano brasileiro (1930-1960). In: TORRES, Sônia (org.). Raízes e

rumos: perspectivas interdisciplinares em estudos americanos. Rio de Janeiro: 7Letras,

2001. p. 134-46.

MELO, Victor Andrade de. Cidade Sportiva: primórdios do esporte no Rio de Janeiro.

Rio de Janeiro: Relume Dumará/Faperj, 2001.

MELO, Victor Andrade de. Rio esportivo. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2015.

O'DONNELL, Julia. A invenção de Copacabana. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.

PRIORE, Mary Del, MELO, Victor Andrade de (orgs.). História do esporte no Brasil:

do Império aos dias atuais. São Paulo: Editora Unesp, 2009.

SANTOS, João Manuel C. Malaia, MELO, Victor Andrade de (orgs.). 1922:

celebrações esportivas do centenário. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2012.

SCHPUN, Mônica Raisa. Beleza em jogo: cultura física e comportamento em São Paulo

nos anos 20. São Paulo: Boitempo, 1999.

Sugestões de sítios

História(s) do Sport

Sport: Laboratório de História do Esporte e do Lazer

https://historiadoesporte.wordpress.com/

Théo-Filho, o intelectual da praia

História balneária de copacabana, 1925-1940

Paulo Donadio

http://theo-filho-paulo-donadio.blogspot.com.br/