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NATAL-RN 2018 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL GEORGE DOS REIS SANTIAGO IMPACTO DA COBERTURA DE SANEAMENTO BÁSICO NA INCIDÊNCIA DE DOENÇAS E NOS GASTOS COM SAÚDE PÚBLICA NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

Impacto da Cobertura de Saneamento Básico na …...cobertura de saneamento básico na incidência de doenças e nos gastos públicos com saúde pública no Estado do Rio Grande do

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NATAL-RN 2018

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

GEORGE DOS REIS SANTIAGO

IMPACTO DA COBERTURA DE SANEAMENTO BÁSICO NA

INCIDÊNCIA DE DOENÇAS E NOS GASTOS COM SAÚDE

PÚBLICA NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

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Natal-RN 2018

George dos Reis Santiago

Impacto da Cobertura de Saneamento Básico na Incidência de Doenças e nos Gastos com

Saúde Pública no Estado do Rio Grande do Norte

Trabalho de Conclusão de Curso na modalidade

Monografia, submetido ao Departamento de

Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte como parte dos requisitos

necessários para obtenção do Título de Bacharel em

Engenharia Civil.

Orientador: Professor Dr. Lindolfo Neto de Oliveira

Sales

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Natal-RN 2018

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede

Santiago, George dos Reis.

Impacto da cobertura de saneamento básico na incidência de

doenças e nos gastos com saúde pública no Estado do Rio Grande

do Norte / George dos Reis Santiago. - 2018.

49f.: il.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de

Tecnologia, Departamento de Engenharia Civil, Natal, 2018.

Orientador: Dr. Lindolfo Neto de Oliveira Sales.

1. Saneamento e Saúde Pública - Monografia. 2. Saneamento

versus doenças - Monografia. 3. investimentos em saneamento no

Rio Grande do Norte - Monografia. I. Sales, Professor Dr.

Lindolfo Neto de Oliveira. II. Título.

RN/UF/BCZM CDU 628(81)

Elaborado por Raimundo Muniz de Oliveira - CRB-15/429

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George dos Reis Santiago

Impacto da Cobertura de Saneamento Básico na Incidência de Doenças e nos Gastos com

Saúde Pública no Estado do Rio Grande do Norte

Trabalho de Conclusão de Curso na

modalidade Monografia, submetido ao

Departamento de Engenharia Civil da

Universidade Federal do Rio Grande do

Norte como parte dos requisitos necessários

para obtenção do Título de Bacharel em

Engenharia Civil.

Aprovado em 6 de dezembro de 2018.

_________________________________________________________

Professor Dr. Lindolfo Neto de Oliveira Sales - Orientador

Departamento de Engenharia Civil da UFRN

_________________________________________________________

Professora Me. Amanda Bezerra de Sousa – Examinadora interna

Departamento de Engenharia Civil da UFRN

_________________________________________________________

Engenheira Sónia Maria Machado Prado – Examinadora Externa

Departamento de Engenharia Elétrica da UFRN

Natal-RN 2018

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DEDICATÓRIA

Ao meu Pai e à Minha família.

“Toda a educação, no momento, não parece motivo de alegria, mas de tristeza. Depois, no

entanto, produz naqueles que assim foram exercitados um fruto de paz e de justiça”

(Hebreus 12:11)

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AGRADECIMENTOS

Primeiro a Deus, que está acima de todas as coisas, a minha esposa Cidilene de

Oliveira Santiago e minhas filhas Rafaela de Oliveira Santiago e Geovana de Oliveira

Santiago, pela paciência e amor que, sem os quais, não teria conseguido trilhar esse caminho,

ao meu Orientador, Professor Dr. Lindolfo Neto de Oliveira Sales pela confiança e apoio

neste projeto.

Agradeço ao Capitão de Mar e Guerra Josean Alves Pinheiro, Comandante da Base

Naval de Natal, pela confiança e por proporcionar-me assistir às aulas no decorrer desses dois

últimos anos e ao meu Encarregado Capitão de Corveta da Reserva da Marinha Pláciton

Neves Ferreira. Aos meus colegas da Secretaria e Comunicações da Base Naval de Natal,

agradeço também pela disposição em ajudar nas minhas ausências.

Por fim, não posso deixar de lembrar, nesse momento tão especial de cada Professor,

que ministra o curso de graduação, o qual sou concluinte, pelo árduo e digno trabalho de

formar Engenheiros Civis, capazes de contribuir com o desenvolvimento do nosso país.

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RESUMO

Com base nos dados disponíveis no portal do Departamento de Informática de SUS

(DATASUS), Portal da Transparência, no Instituto de Geografia e Estatística (IBGE) e no

Portal do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) foi possível avaliar o

panorama do Saneamento Básico no estado do Rio Grande do Norte, a evolução temporal da

cobertura por abastecimento de água, esgotamento sanitário, coleta de resíduos sólidos, e de

algumas doenças relacionadas à deficiência no Saneamento Básico, com o propósito de

verificar os impactos da cobertura por saneamento básico nos gastos com saúde pública.

Constatou-se, com a revisão bibliográfica, que o saneamento básico adequado reduz a

incidência de doenças parasitárias e infecciosas transmitidas por via hídrica ou cujo agente

seja transportado por esgoto ou ainda por vetores que se proliferam no lixo. Verificou-se, pela

análise de dados secundários, uma redução das internações por doenças relacionadas quando

foram feitos investimentos em saneamento básico. Esse fato permitiu concluir que a cobertura

populacional com saneamento básico é capaz de reduzir os custos da saúde pública com a

redução dos gastos com medicina curativa.

Palavras-chave: Saneamento e Saúde Pública, Saneamento versus doenças, investimentos em saneamento no Rio Grande do Norte, indicadores de saúde e saneamento, esgotamento sanitário, abastecimento de água, resíduos sólidos.

Page 8: Impacto da Cobertura de Saneamento Básico na …...cobertura de saneamento básico na incidência de doenças e nos gastos públicos com saúde pública no Estado do Rio Grande do

ABSTRACT

Based on the data available on the portal of the Department of Informatics of SUS

(DATASUS), Transparency Portal, the Institute of Geography and Statistics (IBGE) and the

National Sanitation Information System (SNIS) Portal, it was possible to evaluate the

Sanitation Basic in the state of Rio Grande do Norte, the temporal evolution of the coverage

by water supply, sanitary sewage, solid waste collection, and evolution of some diseases

related to the deficiency in Basic Sanitation, with the purpose of verifying the impacts of the

coverage by sanitation spending on public health. It was found, with the bibliographic review,

that adequate sanitation reduces the incidence of parasitic and infectious diseases transmitted

by water or whose agent is transported by sewage or by vectors that proliferate in the trash.

Secondary data analysis revealed a reduction in hospitalizations for related diseases when

investments were made in basic sanitation. This fact allowed to conclude that the population

coverage with basic sanitation is able to reduce the public health costs with the reduction of

the expenses with curative medicine.

Key words: Sanitation and Public Health, Sanitation versus diseases, investments in sanitation

in Rio Grande do Norte, indicators of health and sanitation, sanitary sewage, water supply,

solid waste.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 9

2. MATERIAL E MÉTODO............................................................................................... 12

2.1. Caracterização da área de estudo .................................................................................... 12

2.2. Levantamento de Dados .................................................................................................. 13

2.3. Análise De Dados ............................................................................................................ 14

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................................................... 15

3.1. Breve Histórico ............................................................................................................... 15

3.2. Influência do Saneamento na Saúde Pública .................................................................. 19

4. RESULTADOS ............................................................................................................... 28

4.1. Situação da cobertura por Saneamento Básico ............................................................... 29

4.2. Situação da Incidência de Doenças ................................................................................. 33

4.2.1. Esquistossomose ........................................................................................................ 34

4.2.2. Dengue ....................................................................................................................... 36

4.2.3. Leptospirose ............................................................................................................... 37

4.2.4. Leishmaniose Visceral ............................................................................................... 38

4.3. Gastos Públicos e Internações ......................................................................................... 38

5. CONCLUSÃO ................................................................................................................ 45

6. REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 47

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1. INTRODUÇÃO

No Brasil, avanços importantes nos serviços de saneamento básico datam da vinda da

família real, em 1808.

Foram criadas leis que fiscalizavam os Portos e evitavam a entrada de navios com pessoas doentes.

O Brasil foi um dos primeiros países a implantar redes de coleta para o escoamento da água da

chuva. Porém, o sistema foi instalado somente no Rio de Janeiro e atendia a área da cidade onde se

instalava a aristocracia. Os Arcos da Lapa foram o primeiro aqueduto construído no Brasil em 1723.

(CALVINATO, 1992).

As casas da época não tinham sanitários instalados, escravos, chamados de tigres, eram

designados para transportar vasilhames cheios de fezes e despejá-los nos rios, após, eram

lavados e preparados para serem reutilizados. O crescimento das cidades evidenciava grandes

concentrações populacionais, e isso era o gatilho necessário para o agravamento das condições

de saúde e o surgimento de epidemias, como a Cólera e o Tifo, entre os anos de 1830 e 1840.

A relação direta de causa e efeito entre a falta de saneamento e a existência de doenças e

epidemias sempre foi percebida pela comunidade científica, especialmente, após a Revolução

Industrial ocorrida no século XIX, quando ocorreram as primeiras migrações dos campos para

as cidades.

No Brasil, o Higienista Oswaldo Gonçalves Cruz (1872-1917), cientista, médico,

bacteriologista, epidemiologista e sanitarista brasileiro, pioneiro no estudo das moléstias

tropicais e da medicina experimental, no Rio de Janeiro, iniciou um trabalho direto de combate

a doenças transmissíveis pela falta do saneamento básico, promovendo a destruição de

criadouros de insetos e focos de roedores. Apesar da polêmica histórica, a campanha de

Oswaldo Cruz obteve excelentes resultados.

Além do citado higienista, o Engenheiro Sanitário Saturnino Rodrigues de Brito (1864-

1929), considerado o Patrono da Engenharia Sanitária e Ambiental do Brasil, destacou-se pelos

projetos e obras de sistemas de distribuição de água e coletas de esgotos, como exemplo, tem-

se os canais de drenagem de Santos (1907)

O Brasil fez um esforço importante no início dos anos 1970 para reduzir os déficits no

saneamento básico. Reconhecendo a fragilidade institucional dos municípios, o Governo

Federal criou instrumentos institucionais e financeiros para alavancar o setor. É dessa época a

criação do Banco Nacional da Habitação (BNH) que, via Caixa Econômica Federal (CEF),

passou a injetar recursos financeiros nas Companhias Estaduais de Saneamento, igualmente

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criadas naquele período. O Plano Nacional de Saneamento (PLANASA) passou a ser o marco

legal do setor e os municípios ficaram instados a assinarem convênios ou contratos com as

Empresas de Saneamento.

Esse modelo vigorou até 1985, quando faliu e o BNH, órgão financiador foi extinto.

Ocorreu, então, um vácuo institucional, financeiro e legal que em muito retardou o

desenvolvimento do Saneamento no Brasil.

Somente em 2007 o Brasil conseguir reorganizar o setor com a Lei nº 11.445, tida como

o atual Marco Legal do setor. Este vácuo temporal deixou as Companhias Estaduais

fragilizadas e os municípios iniciaram processos de retomada dos serviços anteriormente

transferidos aos estados, mormente os de água e esgotamento sanitário.

Como os demais estados, o Rio Grande do Norte (RN) viu o reaparecimento de doenças

anteriormente controladas. Em 2017, diversos casos de diarréia, dengue, zika e chikungunya,

entre outras doenças cujas incidências poderiam ser evitadas se houvesse um investimento

maior em políticas públicas voltadas para o desenvolvimento e ampliação do Saneamento

Básico, que é fundamental para a melhoria da qualidade de vida e da saúde da população.

Fato esse, bastante atual, que incentivou o presente estudo. A Lei nº 11.445/2007

estabeleceu prazos até 2013 para que os municípios elaborassem seus Planos Municipais de

Saneamento Básico (PMSB). Este prazo foi prorrogado por três vezes, sendo a última para 31

de dezembro de 2019 (BRASIL, 2007, 2014, 2015, 2017). Tal situação corrobora o fato da

grande maioria dos municípios do Brasil, e em especial aqueles situados nas regiões mais

pobres do país, não disporem de boas estruturas institucionais e técnicas para darem

cumprimento ao arcabouço legal. Na prática, com os adiantamentos ocorridos para elaboração

dos seus PMSB, os municípios ficaram dentro da legalidade. No entanto, não conseguem

acessar os recursos do Ministério das Cidades, onde encontram-se alocados as verbas do

Orçamento Geral da União (OGU), para o Saneamento, pelo fato de não terem seus projetos

executivos, etapa posterior à elaboração dos PMSB, concluídos.

Teixeira e Guilhermino (2006) analisaram diversos trabalhos acadêmicos que avaliaram

a influência da existência de saneamento básico sobre indicadores de saúde e concluíram pela

relação direta da cobertura de saneamento nas reduções, por exemplo, da mortalidade

proporcional por doença diarreica aguda em menores de cinco anos de idade.

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Face ao exposto, com o intuito de conscientizar os Gestores Públicos da importância em

desenvolver seus respectivos PMSB, esta pesquisa tem por objetivo avaliar o impacto da

cobertura de saneamento básico na incidência de doenças e nos gastos públicos com saúde

pública no Estado do Rio Grande do Norte. A fim de atingi-lo, deverão ser alcançados os

seguintes objetivos específicos:

a) avaliar o impacto nos custos com medicina curativa direcionada ao tratamento de

algumas doenças desencadeadas pela falta ou inadequação de Saneamento Básico;

b) identificar os municípios do estado com melhores índices de cobertura por

Saneamento Básico e os municípios com os piores índices;

c) identificar a incidência de algumas doenças relacionadas ao Saneamento; e

d) analisar e identificar o percentual do contingente populacional atendido por

Saneamento Básico e a ocorrência de algumas doenças relacionadas ao Saneamento.

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2. MATERIAL E MÉTODO

2.1. Caracterização da área de estudo

Mapa 1: O Rio Grande do Norte

Fonte: Mapas Blog (2018)

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A área de estudo compreende o estado do Rio Grande do Norte (RN), que

compreende uma área geográfica de 52.811,047 km², composto por 167 municípios, com uma

população estimada para 2018 de 3.479.010 pessoas, distribuídas entre as zonas urbana e rural

de acordo com o Gráfico 1, com uma densidade de 59,99 habitantes por km² (IBGE, 2010).

Gráfico 1: Distribuição da população do RN entre a Zona Urbana e Zona Rural

Fonte: IBGE (2010).

De acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA) o RN integra a Região

Hidrográfica Atlântico Nordeste Oriental, em conjunto com os estados do Piauí, Ceará, Paraíba,

Pernambuco e Alagoas, cujas bacias atendem a um total de 24,1 milhões de pessoas, com 19

milhões nas regiões urbanas e 4,9 milhões nas rurais, atualmente, somente no RN, registra-se

uma perda hídrica de 53,80% (BRASIL, 2013).

Quanto ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o último censo do IBGE

registrou uma considerável melhora, saindo de 0,428 em 1991 para 0,684 em 2010, mas ainda

se encontra abaixo da média nacional que era de 0,699 (IBGE, 2010).

2.2. Levantamento de Dados

Para o desenvolvimento deste trabalho foi realizada uma ampla revisão

bibliográfica utilizando-se livros, artigos científicos e teses de mestrado obtidos por uma

pesquisa parametrizada, com a inserção dos termos seguintes, nos sites de busca de trabalhos

acadêmicos, Scielo, Google Acadêmico e o no Repositório da UFRN:

a) Impacto da cobertura do saneamento básico na saúde;

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b) Saneamento e saúde;

c) Investimentos em saneamento básico;

d) Impacto na saúde da população de um Saneamento básico inexistente ou

ineficiente;

e) Doenças por falta de saneamento;

f) Saneamento Básico e sua Relação com o Meio Ambiente e a Saúde; e

g) Custo da medicina curativa por doenças causadas por saneamento básico

inexistente ou ineficiente, entre outros.

Além da revisão bibliográfica foram pesquisados e avaliados dados secundários

inerentes, à caracterização da área de estudos e aos indicadores, de saneamento e saúde,

selecionados para comporem este projeto, conforme a seguir especificado:

a) Informações sobre a área de estudo, o estado do Rio Grande do Norte, foram

obtidas dos bancos de dados do IBGE;

b) Indicadores de Saneamento são os dados referentes à cobertura populacional

por abastecimento de água, esgotamento sanitário e coleta de resíduos sólidos, disponibilizados

pelo Departamento de Informática do SUS (DATASUS) armazenados nos bancos de dados do

Sistema de Informações de Atenção Básica (SIAB) e das Informações Estatísticas sobre

saneamento;

c) O Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgoto (2016) foram consultados no

banco de dados disponibilizado pelo Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento

(SNIS); e

d) Os Indicadores de Saúde foram obtidos no banco de dados do Sistema

Nacional de Agravo de Notificação (SINAN).

2.3. Análise de Dados

Cabe salientar que não foi possível o estudo de dados primários, os dados secundários

captados de acordo com o subitem 2.2, foram utilizados para gerar tabelas e gráficos que

permitiram comparar a evolução da cobertura por Saneamento Básico e os registros das

doenças relacionadas ao Saneamento, verificar pontos da pesquisa bibliográfica e analisar o

impacto no número de internações no tempo. Manteve-se esta pesquisa nos três pilares:

Abastecimento de Água, Esgotamento Sanitário e Coleta e Destinação de Resíduos Sólidos. A

Drenagem Urbana foi citada, mas sem aprofundamento.

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3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1. Breve Histórico

No Brasil, avanços importantes nos serviços de saneamento datam da vinda da família

real, em 1808. As casas da época não tinham sanitários instalados, escravos chamados de tigres,

eram designados para transportar vasilhames cheios de fezes e despejá-los nos rios, após,

lavados e preparados para serem reutilizados. O crescimento das cidades evidenciava grandes

concentrações populacionais, e isso era o gatilho necessário para o agravamento das condições

de saúde e o surgimento de grandes epidemias, com a Cólera e o Tifo, entre os anos de 1830 e

1840 (RIBEIRO e ROOKE, 2010).

No decorrer da história, face às epidemias provenientes da concentração de pessoas nos

grandes centros urbanos, pós revolução industrial, desenvolveram-se grandes trabalhos

científicos, destinados a solucionar e descobrir as causas de tantas moléstias. Destacou-se,

nesse período, os trabalhos de Louis Pasteur (1822-1895), cientista, químico e bacteriologista

francês que revolucionou os métodos de combate às infecções, que conseguiu entender alguns

processos de transmissão de doenças e possibilitou que os Governos investissem em pesquisas

médicas e científicas (RIBEIRO e ROOKE, 2010).

Houve importantes avanços proporcionados pelas pesquisas do Higienista Oswaldo

Gonçalves Cruz (1872-1917), cientista, médico, bacteriologista, epidemiologista e sanitarista

brasileiro, pioneiro no estudo das moléstias tropicais e da medicina experimental no Brasil. Ele,

no Rio de Janeiro, iniciou um trabalho direto de combate a doenças transmissíveis pela falta do

saneamento básico, promovendo a destruição de criadouros de insetos e focos de roedores, que,

apesar da polémica histórica, obteve excelentes resultados (SOARES, BERNARDES e NETO,

2002).

Nesse contexto, o Engenheiro Sanitário Saturnino Rodrigues de Brito (1864-1929),

considerado o Patrono da Engenharia Sanitária e Ambiental, destacou-se pelos projetos e obras

de sistemas de distribuição de água e coletas de esgotos (RIBEIRO e ROOKE, 2010).

Graças a esses pioneiros, que impulsionaram a pesquisa científica na área de

saneamento, foram desenvolvidas várias técnicas para solucionar os problemas sanitários

apontados, porém enfrentaram grandes desafios com o crescimento populacional acelerado,

principalmente nas Zonas Urbanas, além da cultura do consumismo que aumenta,

sobremaneira, a poluição do meio ambiente. (RIBEIRO e ROOKE, 2010)

Page 17: Impacto da Cobertura de Saneamento Básico na …...cobertura de saneamento básico na incidência de doenças e nos gastos públicos com saúde pública no Estado do Rio Grande do

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A preocupação mais explícita, atualmente, com saneamento remonta do início do século

XIX, com as constatações desastrosas sobre os efeitos da Revolução Industrial na urbanização

acelerada das cidades, que passaram a comportar grandes concentrações humanas sem

infraestrutura que pudera garantir a manutenção da qualidade de vida. Historicamente, o

processo de implantação de sistemas coletivos de saneamento, iniciado nos fins do século XIX

e início do século XX, desencadeou melhorias constantes na saúde das populações beneficiadas

(TEIXEIRA e GUILHERMINO, 2006).

No Brasil, a evolução do Saneamento Básico, deu-se por campanhas sanitárias de

controle e erradicação de doenças infecciosas e parasitárias, convênios entre órgãos e

fundações do Governo Federal com estados e municípios visando a implantação e operação de

Sistemas de Abastecimento de Água e Sistemas de Esgotamento Sanitário, desde a década de

1950. Um avanço significativo dessas ações deu-se em 1967, com a formulação do Plano

Nacional de Saneamento (PLANASA), principal política federal de Saneamento, à época, que

objetivou fomentar as ações de abastecimento de água e esgotamento sanitário, com enfoque

nas áreas urbanas, para fazer frente aos efeitos da industrialização do país e a consequente

urbanização, iniciada na década de 1970 (OPAS, 2004).

O Estado do Rio Grande do Norte foi incluído de forma mais expressiva no cenário

nacional como alvo de investimentos públicos com vistas a desenvolver o Saneamento Básico,

em 2001, com o advento do então Projeto Alvorada, que foi um extenso programa social do

Governo Federal que previu investimentos em diferentes áreas, dentre as quais se destacaram a

ampliação da infraestrutura de saneamento disponível nos municípios que apresentavam Índice

de Desenvolvimento Humano (IDH) igual ou inferior a 0,500, das quais incluíam ações com

vistas a implementar sistemas de abastecimento de água, de esgotamento sanitário e melhorias

sanitárias domiciliares (OPAS, 2004).

O Programa de Saneamento, estudado pela OPAS (2004), apontou o advento de

importantes campanhas sanitárias de controle e erradicação de doenças infecciosas e

parasitárias cujo ciclo epidemiológico é relacionado com o ambiente, porém, cabe ressaltar que

os convênios com os municípios para financiamento, construção e operação de Sistemas de

Abastecimento de Água (SAA) e Sistemas de Esgotamento Sanitário (SES), em localidades

urbanas e rurais, datam da década de 1950, por intermédio do Serviço Especial de Saúde

Pública (SESP), que se transformou, posteriormente, na então Fundação de Serviços de Saúde

Pública (FSESP), posteriormente Fundação Nacional da Saúde (FUNASA), vinculada ao

Ministério da Saúde.

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17

O estudo envolveu 1.846 municípios que tiveram programas de saneamento contratados

pela Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), entre janeiro de 2001 e julho de 2002, dos quais

mais de 100 municípios foram selecionados no estado do Rio Grande do Norte, escolhidos por

terem o IDH menor que 0,500 e firmado convênio com a FUNASA para desenvolverem

atividades de implantação e operação de Sistemas de Abastecimento de Água e Esgotamento

Sanitário, conforme demonstrado no Gráfico 2 (OPAS, 2004).

Gráfico 2: Distribuição do número de municípios contemplados, por estado, com

financiamentos do Ministério da Saúde.

Fonte: BRASIL (2004).

Esses municípios receberam sete tipos de conjuntos de intervenções em Saneamento, de

acordo com as necessidades apresentadas e ações desenvolvidas com os investimentos

destinados pela FUNASA, conforme demonstradas no Quadro 1.

Tabela 1: Número de Municípios e valores per capita de investimentos segundo tipo de

intervenção de saneamento.

(Continua)

Tipo de Intervenção Número de

Municípios

Valor per capta (R$)

Máximo Mediana Mínimo

Abastecimento de água 205 265,34 22,14 0,83

Abastecimento de água+esgoto 18 350,00 36,00 4,00

0

50

100

150

200

250

300

350

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Tabela 1: Número de Municípios e valores per capita de investimentos segundo tipo de

intervenção de saneamento.

(Conclusão)

Tipo de Intervenção Número de

Municípios

Valor per capta (R$)

Máximo Mediana Mínimo

Abastecimento de água+melhorias sanitárias domiciliares

808 715,00 38,00 3,00

Abastecimento de água+esgoto+melhorias sanitárias

104 954,00 155,50 3,00

Esgoto 40 168,58 20,85 2,44

Esgoto+melhorias sanitárias domiciliares 85 624,00 31,00 6,00

Melhorias sanitárias domiciliares 586 144,92 12,09 0,57

Fonte: BRASIL (2004)

No eixo epidemiológico, foi constatado que há impactos produzidos pelas intervenções

de saneamento, tanto na morbidade quanto na mortalidade por algumas doenças

correlacionadas, contudo, a avaliação desses impactos é um trabalho complexo, principalmente

por envolver intervenções que interferem na saúde humana, face ao dinamismo dos

determinantes das condições de saúde da população, além de que o monitoramento de doenças

específicas deve ser feito pelo acompanhamento e análise de séries temporais de indicadores de

morbimortalidade (BRASIL, 2004).

Outro aspecto importante constatado no estudo da OPAS (2004), foi sobre o

conhecimento acerca da relação existente entre saneamento ambiental e saúde, revelou que

melhorias sanitárias eleva o nível de vida da população por desempenharem um importante

papel na redução das taxas das doenças diarreicas, controle da ocorrência de epidemias, como

da tifo e cólera, além de constatar que o amplo acesso desses serviços nos países

desenvolvidos, principalmente aos dispositivos de eliminação de excretas e a disponibilidade de

água de boa qualidade e em quantidade suficiente determinaram uma drástica redução da

incidência das doenças relacionadas a estes meios de transmissão.

Apurou-se, também, a época do estudo, que nos países em desenvolvimento as doenças

relacionadas ao saneamento mantiveram-se como problemas relevantes de saúde pública e

apresentaram-se como importantes causas de morbidade e mortalidade, especialmente entre

crianças, em razão de um determinante comum, a ineficiência, inexistência ou precariedade do

Page 20: Impacto da Cobertura de Saneamento Básico na …...cobertura de saneamento básico na incidência de doenças e nos gastos públicos com saúde pública no Estado do Rio Grande do

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esgotamento sanitário, e a não disponibilidade de água em quantidade suficiente e qualidade

adequada para o consumo humano.

Essas descobertas motivaram campanhas sanitárias desenvolvidas desde o início do

século XX com uma forte ênfase no Saneamento Ambiental, como consequência, conseguiram

reduzir significativamente e, em alguns casos, erradicar algumas doenças endêmicas e

epidêmicas, mas, apesar do avanço no conhecimento científico-tecnológico na assistência, a

extrema desigualdade social existente no país, contribuiu e ainda contribui para que

permaneçam extensas áreas de pobreza, com precária infraestrutura de saneamento e saúde que

potencializam os elevados índices de mortalidade infantil e de morbidade e mortalidade por

causas evitáveis, aplicando corretamente ações de saneamento básico.

3.2. Influência do Saneamento na Saúde Pública

A Lei nº 11.445, de 05/01/2007, que estabelece diretrizes nacionais para o Saneamento

Básico, define-o como o conjunto de serviços, infraestruturas e instalações operacionais de

abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos

sólidos, drenagem e manejo das águas pluviais urbanas (BRASIL, 2007).

Na última década do século XX e na primeira do século XXI, cresceu a compreensão de que as

atividades de saneamento integram as ações de saúde pública, uma vez que visam à saúde da população,

no seu sentido mais amplo de promoção e proteção da saúde coletiva. Ainda, deve ser destacado o papel

crescente da educação ambiental nos programas de saneamento, sendo que, sem a participação popular,

dificilmente os programas de saneamento obtêm êxito (TEIXEIRA e GUILHERMINO, 2003).

Estudos desenvolvidos pela Organização Mundial da Saúde demonstraram que o

investimento com Saneamento Ambiental, traduz-se em economia significativa para

Assistência à Saúde da População, a ampliação da cobertura populacional com esses serviços

permite racionalizar os recursos financeiros destinados aos cuidados com a saúde pública,

devido à redução da incidência de doenças transmitidas por vetores que se instalam nos

mananciais, e se proliferam em resíduos sólidos dispostos irregularmente, ou pela falta de

coleta e tratamento adequado do esgoto gerado em determinada região.

Teixeira e Guilhermino (2006) identificaram, em seu artigo, que houve um

ressurgimento de patologias do início do século XX, em função da ausência de serviços de

saneamento, o que também agrava a situação, já precária, de uma parte significativa da

população brasileira, dentre as quais, destacam-se as de veiculação hídrica, como diarreias,

Page 21: Impacto da Cobertura de Saneamento Básico na …...cobertura de saneamento básico na incidência de doenças e nos gastos públicos com saúde pública no Estado do Rio Grande do

20

hepatite, cólera, parasitoses intestinais e febre tifoide, que resultou em uma elevada taxa de

mortalidade infantil, 27 óbitos de menores de cinco anos por mil nascidos vivos, porém, se

comparados aos índices de 1970, no qual, a cada mil nascidos vivos, cem vinham a óbito,

constatou-se uma significativa melhora nesse indicador.

Esses fatos, certamente se deram pela relativa melhora na cobertura por saneamento,

mas, ainda exordial, pois, de acordo com dados disponíveis no IDB (2003), 80% da população

contavam com abastecimento de água por rede geral, 66% dispunham de esgotamento sanitário

por rede geral ou fossa e 83% da população estudada dispunham de coleta de lixo, isso

significa que uma grande parcela da população, em sua grande maioria carente, ainda

necessitava de atenção emergencial nessas áreas, e ficavam, por isso, expostas às doenças

veiculadas pela ineficiência ou inexistência do saneamento básico.

No estudo de Teixeira, Guilhermino e Souza (2011), consegui-se resultados importantes

que apontaram para a influência positiva do Saneamento Básico sobre a saúde da população.

Constataram que o número de óbitos por 1000 nascidos vivos recuou para o patamar em torno

de 20 óbitos, uma redução de cerca de 21%, em 2006.

Observaram que a maior cobertura populacional por serviços adequados de esgotamento

sanitário, reduz a mortalidade infantil em estados da Federação, dos quais, inclui-se o Rio

Grande do Norte, e perceberam uma redução de 11,4% na mortalidade proporcional por

doenças diarreicas aguda em menores de cinco anos de idade, e esses dados foram fortemente

confirmados pela continuidade positiva na análise dos dados, realizada pelos autores, nesse

estudo e nos resultados alcançados com base nas pesquisas dos mesmos Teixeira e Guilhermino

em 2001 e 2006.

Ressalta-se que um dos resultados apresentou, em um primeiro momento, um dado

controverso, porém autoexplicativo, pois concluíram que quanto maior foi o gasto público com

saneamento em um estado brasileiro em proporção ao Produto Interno Bruto (PIB), maior foi a

taxa de mortalidade proporcional por doenças diarreicas aguda em menores de cinco anos

registrada naquela região, detectaram que houve uma priorização da destinação de recursos

para a melhoria do Saneamento nas localidades que apresentaram índices elevados de

morbimortalidade naquela faixa etária (TEIXEIRA e GUILHERMINO, 2011).

Quanto aos sistemas de abastecimento de água, Ribeiro e Rooke (2010) destacam a

importância de sua implantação, a fim de atingir os seguintes objetivos:

Melhoria da saúde e das condições de vida de uma comunidade;

Page 22: Impacto da Cobertura de Saneamento Básico na …...cobertura de saneamento básico na incidência de doenças e nos gastos públicos com saúde pública no Estado do Rio Grande do

21

Diminuição da mortalidade em geral, principalmente da infantil;

Aumento da esperança de vida da população;

Diminuição da incidência de doenças relacionadas à água;

Implantação de hábitos de higiene na população;

Facilidade na implantação e melhoria da limpeza pública;

Facilidade na implantação e melhoria dos sistemas de esgotos sanitários; e

Diminuição dos gastos particulares e públicos com consultas e internações hospitalares.

Além de definir os objetivos do abastecimento de água, Teixeira e Guilhermino (2010),

definiram o Sistema de Esgoto Sanitário como o conjunto de obras e instalações que propicia

coleta, transporte e afastamento, tratamento, e disposição final das águas residuárias, de uma

forma adequada do ponto de vista sanitário e ambiental. A construção desses sistemas propicia

o afastamento rápido e seguro dos esgotos, a coleta individual ou coletiva, o tratamento e

disposição adequada, objetivando atingir benefícios sustentáveis e garantir a conservação dos

recursos naturais, melhoria das condições sanitárias, eliminação de focos de contaminação,

diminuição dos custos no tratamento de água para abastecimento, entre outros.

Ribeiro e Rooke (2010) definiram lixo como o conjunto de resíduos sólidos resultantes

da atividade humana, constituído de substâncias putrescíveis, combustíveis e incombustíveis, e

concluíram que devam ser bem-acondicionados para facilitar a remoção e a destinação final de

forma segura ao meio ambiente, uma vez que sua disposição, de forma inadequada, traduz-se

em problemas sanitários e ambientais inevitáveis, com consequências nocivas à saúde humana,

pois tornam os locais em que foram acondicionados inapropriadamente passíveis à proliferação

de vetores de diversas doenças, além de serem responsáveis pela poluição do ar, quando da

queima, do solo e das águas superficiais e subterrâneas. Nesse trabalho foram sintetizadas

informações importantes sobre consequências de poluentes encontrados nos esgotos, na água,

nas fezes e em vetores encontrados nos resíduos sólidos, nos Quadros 1, 2, 3 e 4.

Page 23: Impacto da Cobertura de Saneamento Básico na …...cobertura de saneamento básico na incidência de doenças e nos gastos públicos com saúde pública no Estado do Rio Grande do

22

Quadro 1: Consequências de alguns Poluentes encontrados nos Esgotos

Poluentes Parâmetros de

caracterização Tipo de efluente Consequências

Sólidos em

suspensão

Sólidos em

suspensão totais

Domésticos

Industriais

Problemas estéticos

Depósitos de lodo

Adsorção de poluentes

Proteção de patogênicos

Sólidos

flutuantes

Óleos e graxas Domésticos

Industriais

Problemas estéticos

Matéria

orgânica

biodegradável

Demanda

bioquímica de

oxigênio (DBO)

Domésticos

Industriais

Consumo de oxigênio

Mortandade de peixes

Condições Sépticas

Patogênicos Coliformes Domésticos Doenças de veiculação

hídrica

Nutrientes Nitrogênio

Fósforo

Domésticos

Industriais

Crescimento excessivo de

algas

Toxicidade aos peixes

Doenças em recém

nascidos (nitratos)

Compostos não

biodegradáveis

Pesticidas

Detergentes

Outros

Industriais

Agrícolas

Toxicidade e espumas

Redução de transferência

de oxigênio

Não biodegradabilidade

Maus odores

Fonte: RIBEIRO e ROOKE (2010)

Page 24: Impacto da Cobertura de Saneamento Básico na …...cobertura de saneamento básico na incidência de doenças e nos gastos públicos com saúde pública no Estado do Rio Grande do

23

Quadro 2: Doenças relacionadas com a água.

Grupo de

doenças

Formas de

transmissão Principais doenças Formas de prevenção

Transmitidas

pela via feco-

oral

O organismo

patogênico

(agente causador

de doença) é

ingerido.

Diarreias e

disenterias; cóleras;

giardíase; amebíase;

ascaríadiase

(lombriga)...

Proteger e tratar água de

abastecimento e evitar uso

de fontes contaminadas...

Controladas pela

limpeza com a

água (associadas

ao

abastecimento

de água)

A falta de água e

a higiene pessoal

insuficiente criam

condições

favoráveis para

sua disseminação.

Infecções na pele e

nos olhos, como

tracoma e o tifo

relacionado com

piolhos, e a escabiose.

Fornecer água em

quantidade adequada e

promover a higiene

pessoal e doméstica.

Transmitidas

por verores que

se relacionam

com a água.

As doenças são

propagadas por

insetos que

nascem na água

ou picam perto

dela.

Malária; febre

amarela; dengue;

filariose (elefantíase)

Combater os insetos

transmissores; eliminar

condições que possam

favorecer criadouros.

Fonte: RIBEIRO e ROOKE (2010).

Quadro 3: Doenças relacionadas com as fezes.

(Continua)

Grupo de

doenças

Formas de

transmissão Principais doenças Formas de prevenção

Feco-orais (não

bacterianas).

Contato de pessoa

para pessoa, quando

não se tem higiene

pessoal e doméstica

adequada.

Poliomielite; hepatite

Tipo A; giardíase;

disenteria amebiana;

diarreia por vírus.

Implantar sistemas de

abastecimento de água;

melhorar as moradias e as

instalações sanitárias.

Page 25: Impacto da Cobertura de Saneamento Básico na …...cobertura de saneamento básico na incidência de doenças e nos gastos públicos com saúde pública no Estado do Rio Grande do

24

Continuação do Quadro 3: Doenças relacionadas com as fezes.

(Conclusão)

Grupo de

doenças

Formas de

transmissão Principais doenças Formas de prevenção

Feco-orais

(bacterianas).

Contato de pessoa

para pessoa,

ingestão e contato

com alimentos

contaminados e

contato com fontes

de águas

contaminadas pelas

fezes.

Febre tifoide; febre

paratifoide; diarreias e

disenterias

bacterianas, como a

cólera.

Implantar sistema de

abastecimento de água;

melhorar as moradias e as

instalações sanitárias;

promover a educação

sanitária.

Heilmintos

transmitidos

pelo solo.

Ingestão de

alimentos

contaminados e

contato da pele

com o solo.

Ascaridíase

(lombriga); tricuríase;

ancilostomíase

(amarelão).

Construir e manter limas

as instalações sanitárias;

tratar os esgotos antes da

disposição no solo.

Tênias

(solitárias) na

carne de boi e

de porco.

Ingestão de carne

mal cozida de

animais infectados.

Teníase; cistircercose. Construir instalações

sanitárias adequadas; tratar

os esgotos antes da

disposição no solo.

Helmintos

associados à

água.

Contato da pele

com água

contaminada.

Esquistossomose. Construir instalações

sanitárias adequadas;

controlar os caramujos.

Insetos

vertores

relacionados

com as fezes.

Procriação de

insetos em locais

contaminados por

fezes.

Filariose (elefantíase). Combater os insetos

transmissores; eliminar

condições que possam

favorecer criadouros.

Fonte: RIBEIRO e ROOKE (2010).

Page 26: Impacto da Cobertura de Saneamento Básico na …...cobertura de saneamento básico na incidência de doenças e nos gastos públicos com saúde pública no Estado do Rio Grande do

25

Quadro 4: Doenças relacionadas com o lixo e transmitidas por vetores.

Vetores Formas de transmissão Principais doenças

Ratos Através da mordida, urina e fezes; e

Através da pulga que vive no corpo do

rato.

Peste bubônica;

Tifo murino;

Lepstospirose.

Moscas Por via mecânica (através das asas, patas e

corpo);

Através das fezes e saliva.

Febre tifoide;

Salmonelose;

Cólera; Amebíase;

Disenteria;

Giardíase.

Mosquitos Através da picada da fêmea. Malária;

Leishmaniose;

Febre amarela;

Dengue;

Filariose.

Baratas Por via mecânica (através da asas, patas e corpo)

Através das fezes.

Febre tifoide;

Cólera;

Giardiase.

Suínos Pela ingestão de carne contaminada. Cisticercose;

Toxoplasmose;

Triquinelose;

Teníase.

Aves Através das fezes Toxoplasmose.

Fonte: RIBEIRO e ROOKE (2010).

Assinalaram que parasitas, em geral, possuem duas fases de vida, um adentro do

hospedeiro com condições ideais para seu desenvolvimento, como temperatura, umidade e

alimento; outra no meio ambiente, onde morrem com facilidade devido à luminosidade

excessiva, à presença de oxigênio, de calor e à falta de alimentos, portanto eles necessitam

passar um mínimo espaço de tempo, no ambiente exterior, que seja suficiente para alcançarem

novos hospedeiros e continuarem seu ciclo de vida. Através das excretas, os parasitas se

misturam aos microrganismos que vivem livremente no solo água e ar, como também podem

Page 27: Impacto da Cobertura de Saneamento Básico na …...cobertura de saneamento básico na incidência de doenças e nos gastos públicos com saúde pública no Estado do Rio Grande do

26

ser disseminados por insetos (moscas, mosquitos, pulgas, baratas), ratos e outros animais,

identificados, por isso, como vetores (RIBEIRO e ROOKE, 2010).

Foi visto, também, por Ribeiro e Rooke (2010), os principais grupos de microrganismos

que podem provocar doenças em seres humanos, são eles os vírus, as bactérias, os protozoários

e os helmintos, que têm, na falta do saneamento básico adequado, o meio propício para se

instalarem na busca por novos hospedeiros humanos, por isso, concluíram que a utilização do

saneamento como instrumento de promoção da saúde infere-se a superação dos entraves

tecnológicos, políticos e gerenciais que têm dificultado a extensão dos benefícios aos residentes

em áreas rurais, municípios e localidades de pequeno porte, também verificaram que a diarreia,

com mais de quatro bilhões de casos no mundo por ano, é uma das doenças que mais aflige a

humanidade, causou 30% das mortes de crianças com menos de um ano de idade, e sua

incidência também está relacionada com as condições inadequadas de saneamento básico.

Figueiredo e Ferreira (2017) estudaram o panorama da coleta e destinação dos resíduos

sólidos domiciliares e observaram que o Rio Grande do Norte atingiu a marca de 90,89%, um

dado animador, que o coloca acima da média entre os estados do Nordeste, aproximando-se do

índice nacional de 92,7%. Os dados do estado referem-se a 91 municípios, 54,5% do total de

167, dos quais 33 atingiram cobertura total e 10 não atingiram 50%, destes, apenas Venha-Ver,

Lelmo Marinho e Lagoa de Pedras coletaram abaixo de 38% dos resíduos sólidos domiciliares.

Contextualizando com os países em desenvolvimento, o estudo estimou que cerca de

30% das doenças são decorrentes de um ambiente doméstico inadequado, e, conforme o

Ministério da Saúde, a cada R$ 1,00 investido em Saneamento, economiza-se R$ 4,00 na área

de medicina curativa (GUIMARÃES, CARVALHO e SILVA, 2007), valor esse que já foi

superado, de acordo com afirmação do atual Ministro da Saúde, Ricardo José

Magalhães Barros, durante o I Congresso Internacional de Engenharia de Saúde Pública e

Saúde Ambiental - I Ciesa, de que “a Organização Mundial da Saúde refez as contas e disse

que não é mais quatro, é nove”. (CIESA, 2017)

Figueiredo e Ferreira (2017) se dispuseram a realizar uma ampla pesquisa, com visão

crítica sobre o Saneamento Básico no Brasil, com um enfoque no Rio Grande do Norte,

analisaram dados estatísticos em diferentes escalas, basearam-se em informações disponíveis

no Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), do Ministério das Cidades,

estudos e estatísticas do Instituto Trata Brasil, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE), deste último, incluindo dados sócio demográficos sobre saneamento. Concluíram que o

Page 28: Impacto da Cobertura de Saneamento Básico na …...cobertura de saneamento básico na incidência de doenças e nos gastos públicos com saúde pública no Estado do Rio Grande do

27

Estado do Rio Grande do Norte contou com uma cobertura de 82,73%, sendo o 2º da região

Nordeste. Verificaram, também, que 22,16% dos municípios norte-rio-grandenses fornecem

água a mais de 90% da população, 16,17%, fornecem para mais de 80% da sua população,

outros 16,17% fornecem a mais que 70%, outros 16,77% fornecem a mais de 60% da

população, 11,98% a mais que 50% e, mais preocupante, outros 11,98% dos municípios

oferecem água tratada a menos de 50% da população, desses destacam-se, negativamente, Patu,

Touros, São Miguel do Gostoso e Lelmo Marinho, que não alcançaram 15% da população

quanto ao fornecimento de água tratada, um índice alarmante. Desse cenário, destacam-se as

áreas urbanas das cidades como melhor atendidas, e as zonas rurais necessitam de grande

atenção.

Page 29: Impacto da Cobertura de Saneamento Básico na …...cobertura de saneamento básico na incidência de doenças e nos gastos públicos com saúde pública no Estado do Rio Grande do

28

4. RESULTADOS

No Brasil, o IBGE apurou em 2010 a situação da população do Estado do Rio Grande

do Norte, quanto ao esgotamento sanitário, abastecimento de água e coleta de resíduos sólidos,

demonstrados no Gráfico 3.

Gráfico 3: População atendida por Abastecimento de Água, Esgotamento Santiário e Coleta de

Resíduos Sólidos.

Fonte: IBGE/Censos Demográficos 1991, 2000 e 2010

Neste período, de 1991 a 2010, pode-se perceber um avanço no percentual da população

do estado quanto ao abastecimento de água e à coleta de resíduos sólidos, pois houve um

aumento de cerca de 20% comparando os patamares de 1991 e 2010. Cabe ressaltar que,

conforme especificado no estudo OPAS em 2004, esse resultado engloba os efeitos dos

investimentos ocorridos até 2001 com o então Projeto Alvorada. Daí em diante o trabalho da

FUNASA, junto aos municípios com menos de 5.000 habitantes e do Ministério das Cidades,

nos demais municípios, tem trazido efeitos positivos que puderam ser refletidos nos dados

secundários disponíveis nos bancos e dados do SNIS e no SIAB/DATASUS. Já o esgotamento

sanitário teve um aumento de menos de 10% da população atendida em 20 anos, conforme

dados do citado censo. O que requer maior atenção dos Gestores Públicos no intuito de

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

1991 2000 2010

Esgotamento Sanitário AbastecimeÁguanto de Coleta de Resíduos Sólidos

Page 30: Impacto da Cobertura de Saneamento Básico na …...cobertura de saneamento básico na incidência de doenças e nos gastos públicos com saúde pública no Estado do Rio Grande do

29

desenvolver seus PMSB e projetos executivos vislumbrando a implantação do esgotamento

sanitário que possa atingir os patamares do abastecimento de água e da coleta de resíduo sólido.

4.1. Situação da cobertura por Saneamento Básico

O Rio Grande do Norte, de acordo com os últimos dados disponíveis no SNIS, tratou

apenas 23,84% dos esgotos coletados, entre os municípios atendidos com abastecimento de

água, baseando-se no percentual em relação à quantidade de água consumida, tratou-se 24,02%

do esgoto. O abastecimento de água atingiu o percentual de 79,23%, dados do SNIS, 2016

(Tabela 2) e 79,70%, dados do SIAB-DATASUS (Gráfico 4), o que demonstra coerência dos

resultados, dentro de uma margem de erro aceitável.

Tabela 2: Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos – 2016 – Indicadores Operacionais

NE

ÁGUA ESGOTO

Índice de atendimento total de

água

Índice de atendimento urbano de água

Índice de atendimento total de

esgoto referido aos municípios atendidos com água

Índice de atendimento urbano de

esgoto referido aos municípios atendidos com água

Índice de atendimento urbano de

esgoto referido aos municípios atendidos

com esgoto

Índice de coleta de esgoto

Índice de tratament

o de esgoto

Índice de

esgoto tratado referido à água

consumida

% % % % % % % % IN055 IN023 IN056 IN024 IN047 IN015 IN016 IN046

RN 79,23 92,12 23,48 29,58 37,45 27,87 78,89 24,02 Fonte: Adaptado pelo Autor. SNIS (2016).

Cabe ressaltar que apenas 31,14% dos municípios tinham dados registrados no SNIS,

desses, destacaram-se Riacho da Cruz, com 80,91% dos esgotos coletados, Acari, com 80,23%,

Parelhas, com 79,67%, Santa Cruz, com 77,72%, Florânia, 77,16% e Serra Negra do Norte,

com 70,47%, constituindo os municípios do estado com índices mais elevados de atendimento

total de esgoto. Com os piores índices ficaram São José do Mipibu, com alarmantes 0,64%,

Macaíba, com 1,33%, Alto do Rodrigues, com 1,49%, Parnamirim, com 2,52% e Nova Cruz,

com 3,81% (SNIS, 2016). Mais precisamente, dos municípios que apresentaram dados, ou seja,

50 de um total de 167, dos quais 21 registraram um índice de tratamento de esgoto por água

consumida superior a 50%, sobressaíram-se, nesse contexto, os municípios de Passa e Fica e

Riacho da Cruz, com 100% de esgoto tratado, São Fernando e Santana do Seridó, tiveram

acima de 90%, Lucrécia, Serra Negra do Norte e São José do Seridó, que trataram acima de

Page 31: Impacto da Cobertura de Saneamento Básico na …...cobertura de saneamento básico na incidência de doenças e nos gastos públicos com saúde pública no Estado do Rio Grande do

30

80% da água fornecida. Em níveis que enseja preocupação cabe citar Nova Cruz, Alexandria,

Cruzeta e Tenente Ananias, com menos de 1%, São José do Mipibu e Alto do Rodrigues, com

menos de 2%, Macaíba e Parnamirim, com menos de 4% do tratamento por fornecimento de

água (FIGUEIREDO e FERREIRA, 2017).

Gráfico 4: Cobertura por redes públicas de Abastecimento de Água, Esgotamento Sanitário

e Coleta de Resíduos Sólidos Domiciliares.

Fonte: Ministério da Saúde (2015)

Esses dados ratificam a preocupação apontada por Figueiredo e Ferreira (2017), em

relação à Coleta e Tratamento de Esgoto, pois seu estudo, também apontou, um atraso

considerável – em todo o país – apesar do avanço alcançado pela região urbana, no período de

1992 a 2012, passando de 45,5% para 63,8%, porém esta pesquisa aponta que, deste percentual,

apenas 29,58%, da população urbana, é cobertura redes coletoras, mesmo assim, registra-se

uma redução da fossa séptica, em contrapartida, na zona rural, ocorreu o inverso, nesse período,

aumentou o uso das fossas de 7,3% para 27,7% na população rural.

Quanto à situação dos resíduos gerados no Rio Grande do Norte, esta pesquisa

apontou, em 2016, que 76,43% são coletados, contudo, 72% não tem uma destinação final

adequada, somente os 28% restantes são destinados aos Aterros Sanitários, no total de dois,

uma unidade em Mossoró e a outra em Ceará-Mirim, esta atende a região metropolitana de

Natal, e municípios próximos, totalizando 10 municípios. (ALVES FILHO, 2016).

79,70%

76,43%

12,82%

AA RS ES

Page 32: Impacto da Cobertura de Saneamento Básico na …...cobertura de saneamento básico na incidência de doenças e nos gastos públicos com saúde pública no Estado do Rio Grande do

31

Apenas 14,4% dos municípios do estado do Rio Grande do Norte concluíram sua

Política Municipal de Saneamento Básico. O número de municípios com dados registrados no

SNIS referentes à coleta e tratamento de esgoto sanitário subiu, em 2014, para 31,14%, dentre

estes, destacaram-se, Acari, com 80,23%, Parelhas, com 79,67%, Santa Cruz, com 77,72%,

Florânia, 77,16% e Serra Negra do Norte, com 70,47%, contrastando com esses municípios

aparecem São José do Mipibu, com apenas 0,64%, Macaíba, com 1,33%, Alto do Rodrigues,

com 1,49%, Parnamirim, com 2,52% e Nova Cruz, com 3,81% e, mais preocupantes ainda,

Nova Cruz, Alexandria , Cruzeta e Tenente Ananias, com menos de 1%, São José do Mipibu e

Alto do Rodrigues, com menos de 2%, Macaíba e Parnamirim, com menos de 4% do

tratamento por fornecimento de água.

Os Gráficos 5, 6 e 7, seguintes, demonstram a evolução do Abastecimento de Água, do

Esgotamento Sanitário e da Coleta de Resíduos Sólidos, no período de dezembro de 1998 a

junho de 2015.

Gráfico 5: Evolução da Abastecimento de Água no Rio Grande do Norte

Fonte: Adaptado pelo Autor. SIAB, MS (2015).

O abastecimento de água por rede pública já é maioria no modelo de abastecimento,

mas ainda existe um percentual considerado que é abastecido por outros formas, presume-se,

sem tratamento adequado.

0

200000

400000

600000

800000

1000000

1200000

1400000

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

CO

BER

TUR

A

PERÍODO

Ab_água-rede_públ Ab_água-poço/nasc. Ab_água-outros

Page 33: Impacto da Cobertura de Saneamento Básico na …...cobertura de saneamento básico na incidência de doenças e nos gastos públicos com saúde pública no Estado do Rio Grande do

32

Gráfico 6: Evolução do Esgotamento Sanitário no Rio Grande do Norte

Fonte: Adaptado pelo Autor. SIAB, MS (2015).

A situação da coleta de esgoto é mais delicada, pois a utilização da fossa séptica ainda é

o maior modelo de coleta de dejetos humanos, fato esse que infere a quantidade de esgoto não

tratado adequadamente que é lançado no subsolo e que atinge os mananciais.

Gráfico 7: Evolução da Coleta de Resíduos Sólidos no Rio Grande do Norte

Fonte: Adaptado pelo Autor. SIAB, MS (2015).

Cabe salientar que, quanto ao lixo, o problema maior apresentado é quanto a destinação

final, pois, como foi evidenciado, existem apenas dois aterros sanitários no estado, que não

atendem à demanda total.

0

200000

400000

600000

800000

1000000

1200000

1400000

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

CO

BER

TUR

A

PERÍODO

Fez.Urina-esgoto Fez.Urina-fossa Fez.Urina-céu_ab

0

200000

400000

600000

800000

1000000

1200000

1400000

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

CO

BER

TUR

A

PERÍODO

Lixo-coletado Lixo-queim/enterr Lixo-céu_aberto

Page 34: Impacto da Cobertura de Saneamento Básico na …...cobertura de saneamento básico na incidência de doenças e nos gastos públicos com saúde pública no Estado do Rio Grande do

33

4.2. Situação da Incidência de Doenças

Com os dados extraídos do DATASUS e do IBGE, foi possível avaliar a evolução da

ocorrência de algumas doenças relacionadas ao Saneamento Básico ineficiente ou inexistente,

de forma a permitir identificar se houve uma redução significativa na ocorrência dessas

doenças com o avanço da cobertura populacional por abastecimento de água, coleta e

tratamento de esgoto sanitário, coleta e destinação final dos Resíduos Sólidos. O Gráfico 8

apresenta o número de municípios do Estado, onde ocorreram endemias e epidemias de

algumas doenças, cuja transmissão, pode ser facilitada pelo saneamento básico inapropriado,

com detalhes na Tabela 3.

Gráfico 8: Municípios, total e com ocorrência de endemias ou epidemias associadas ao saneamento básico, nos últimos 12 meses, 2017

Fonte: Adaptado pelo Autor. IBGE (2018).

Conforme visto no Gráfico 9 e na Tabela 3, o estado do Rio Grande do Norte registrou o

maior número de casos de cólera entre os estados da Região Nordeste, o 3º, nos casos

registrados de diarréia, doença que causa muitas mortes entre crianças menores de cinco anos,

3º, também na incidência de doenças causadas por verminoses, igualando-se ao estado da

Paraíba, e teve o alarmante registro de 87 casos de dengue, ficando atrás da Bahia, Pernambuco

e Ceará, estados com maior extensão territorial.

0 20 40 60 80

100 120 140 160 180

Dia

rrei

a

Lep

tosp

iro

se

Ver

min

ose

s

lera

Dif

teri

a

Den

gue

Zik

a

Ch

iku

ngu

nya

Tifo

Mal

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Hep

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e

Feb

re a

mar

ela

Der

mat

ite

Do

ença

do

ap

are

lho

res

pir

ató

rio

Ou

tras

Total Doenças

Total Com ocorrência de endemia(s) ou epidemia(s) Sem ocorrência

Rio Grande do Norte

Page 35: Impacto da Cobertura de Saneamento Básico na …...cobertura de saneamento básico na incidência de doenças e nos gastos públicos com saúde pública no Estado do Rio Grande do

34

Tabela 3: Número de municípios com edemnias .

NE

Algumas Doenças com causas relacionadas ao Saneamento Básico ineficiente ou inexistente

Diarreia Leptospirose Verminoses Cólera Difteria Dengue Zika Chikungunya Tifo Malária Hepatite Febre

amarela

RN 84 8 52 9 13 87 52 73 3 2 22 3

Fonte: Adaptado pelo Autor (IBGE 2017).

Apresenta-se a seguir o panorama, ao longo do tempo, da incidência de algumas

doenças que podem ser evitas com a implantação do adequado serviço de Saneamento Básico.

4.2.1. Esquistossomose

Desde 1975 existe um programa de controle específico para a doença, no Brasil, com a

criação do Programa Especial de Controle da Esquistossomose (PECE), pela então

Superintendência de Campanhas de Saúde Pública (SUCAM), posteriormente, substituído pelo

Programa de Controle da Esquistossomose (PCE), desde 1980. O PCE passou à

responsabilidade dos estados partilhada com os municípios, a partir de 1999, devido à

descentralização das ações de vigilância e controle de doenças. (BRASIL, 1999; FAVRE ET

AL, 2001).

O Gráfico 9 mostra a significativa redução do número de casos confirmados de

esquistossomoses ocorridos no Rio Grande do Norte, no período de 2005 a 2015, doença

transmitidas por vetores que se proliferam, principalmente, em resíduos sólidos mal destinados,

como é o caso dos ratos. Os dados foram obtidos do PCE, via DATASUS/Tabnet. A Tabela 4

descreve o número de casos por município de ocorrência.

Page 36: Impacto da Cobertura de Saneamento Básico na …...cobertura de saneamento básico na incidência de doenças e nos gastos públicos com saúde pública no Estado do Rio Grande do

35

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

TOTAL

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Gráfico 9: Programa de Controle de Esquistossomose - Período de 2005 a 2015.

Fonte: Adaptado pelo Autor. Dados do DATASUS/SIH – Sistema de Informações Hospitalares, disponível em http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sinan/pce/ cnv/pcern.def, acesso em 19/11/2018.

Tabela 4: Número de casos de esquistossomose por município de ocorrência.

(Continua)

MUNICÍPIO 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Arês 0 35 28 30 0 224 23 15 46 18 0

Baía Formosa 32 11 11 1 53 11 5 7 16 8 0

Brejinho 0 0 0 0 0 0 0 4 1 0 0

Canguaretama 7 4 5 2 2 1 0 1 4 3 0

Ceará-Mirim 698 471 430 579 430 315 306 403 178 232 32

Extremoz 51 17 59 32 0 16 9 0 108 5 4

Goianinha 2890 14 6 5 824 33 23 18 12 9 0

Maxaranguape 3 67 204 131 37 93 50 57 8 4 0

Natal 130 31 97 66 20 10 2 0 10 15 0

Nísia Floresta 49 8 32 4 9 3 4 1 27 7 2

Rio do Fogo 0 0 0 0 0 20 22 18 0 18 0

Pedro Velho 10 14 4 5 5 1872 9 16 4 0 5

Pureza 1572 408 990 198 0 0 68 7 54 116 13

Page 37: Impacto da Cobertura de Saneamento Básico na …...cobertura de saneamento básico na incidência de doenças e nos gastos públicos com saúde pública no Estado do Rio Grande do

36

Tabela 4: Número de casos de esquistossomose por município de ocorrência.

(Conclusão)

MUNICÍPIO 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

São Gonçalo do

Amarante 6 45 1 8 33 19 0 0 10 1 3

São José de Mipibu 25 29 3 2 0 9 1 4 0 0 1

Senador Georgino

Avelino 3 12 1 0 0 0 0 4 5 0 0

Touros 0 524 455 342 394 203 551 282 129 291 94

TOTAL 5476 1690 2326 1405 1807 2829 1073 837 612 727 154

Fonte: Adaptado pelo Autor. Dados do MS, DATASUS/SIH (2018)

4.2.2. Dengue

Doença infeciosa transmitida pela picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti, cujo

agente etimológico é o arbovírus, cujo vetor encontra-se no Brasil, ambiente climatológico

propício para proliferação, principalmente no verão, isso devido à incidência de água parada,

que em muitos casos, são provenientes da drenagem urbana inadequada. O Gráfico 10

apresenta os casos de dengue ocorridos o estado o período de 2001 a 2016. Percebe um

aumento expressivo nos anos com maior incidência de chuvas.

Gráfico 10: Dengue - Casos confirmados notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação - Rio Grande Do Norte - 2001 a 2012.

Fonte: Fonte: Adaptado pelo Autor. MS, SINAN (2018)

0

5.000

10.000

15.000

20.000

25.000

30.000

35.000

40.000

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Page 38: Impacto da Cobertura de Saneamento Básico na …...cobertura de saneamento básico na incidência de doenças e nos gastos públicos com saúde pública no Estado do Rio Grande do

37

Em linhas gerais, apesar da oscilação do número de casos de dengue, percebe-se uma tendência de redução, em 2012, comparando-se com os dados registrados de 2001.

4.2.3. Leptospirose

A leptospirose, cujo agente infeccioso é bactéria de nome Leptospira, transmitida pelo

contato com a urina de roedores, por isso, agrava-se na ocasião de chuvas, principalmente em

regiões onde há o acúmulo de lixo, sem coleta adequada e que o sistema de drenagem não

funciona corretamente. Outros animais também podem transmitir essa bactéria, como

exemplo, o boi, porco, cavalo, cabra, entre outros. Essa enfermidade apresenta elevada

incidência em determinadas áreas, alto custo hospitalar e perdas de dias de trabalho, além do

risco de mortalidade, que pode atingir em torno de 40%, dependendo da gravidade. Sua

ocorrência, como verificado nesta pesquisa, está relacionada com as precárias condições de

infraestrutura sanitária, além da infestação de roedores infectados que se abrigam em regiões

sem coleta e destinação adequada dos resíduos sólidos. “As inundações propiciam a

disseminação e a persistência do agente causal no ambiente, facilitando a ocorrência de

surtos.” (SAÚDE, 2017). O Gráfico 11 apresenta os casos registrados de Leptospirose

ocorridos no período de 2001 a 2017.

Gráfico 11: Leptospirose - Casos confirmados notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação - Rio Grande Do Norte - 2001 a 2017

Fonte: Fonte: Adaptado pelo Autor. MS, SINAN (2018)

Observa-se um pico dos casos registrados de leptospirose em 2009, contudo percebe-

se uma tendência de redução na incidência de casos, nos últimos 7 anos.

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Page 39: Impacto da Cobertura de Saneamento Básico na …...cobertura de saneamento básico na incidência de doenças e nos gastos públicos com saúde pública no Estado do Rio Grande do

38

4.2.4. Leishmaniose Visceral

“A Leishmaniose Visceral é uma doença infecciosa sistêmica, caracterizada por febre

de longa duração, aumento do fígado e baço, perda de peso, fraqueza, redução da força

muscular, anemia e outras manifestações.” (SAÚDE, 2018)

Pode ser evitada com a higiene ambiental adequada, sua transmissão ao ser humano

dá-se pela picada das fêmeas do inseto vetor infectado. No Brasil, o mais comum é

a Lutzomyia longipalpis. Os cães são a principal fonte de infecção para o vetor no meio

urbano. Os casos dessa doença têm ocorrência regular, com pouca variação, conforme

demonstra o Gráfico 12.

Gráfico 12: Leishmaniose Visceral - casos confirmados notificados no Sistema de Informção de Agravos de Notificação - Rio Grande do Norte - 2001 a 2017.

Fonte: Adaptado pelo Autor. MS, SINAN (2018).

4.3. Gastos Públicos e Internações

O Saneamento Básico assume uma abordagem mais ambiental, com vistas à

sustentabilidade dos ecossistemas e a saúde humana, no Brasil, de modo complementar, o

saneamento básico se relaciona a uma abordagem sobre as implicações que a não prestação

desses serviços tem nas despesas públicas em saúde, por isso são poucos os estudos que

buscam avaliar o resultado da implantação e operação desses serviços, com a redução das

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Page 40: Impacto da Cobertura de Saneamento Básico na …...cobertura de saneamento básico na incidência de doenças e nos gastos públicos com saúde pública no Estado do Rio Grande do

39

despesas com a cura de pessoas doentes, o que envolve custo com internação hospitalar,

despesas com profissionais de saúde, despesas operativas dos estabelecimentos de saúde

despesas com remédios e alimentação do doente, entre outras não mencionadas.

Pode-se perceber, analisando o Gráfico 13, que houve um aumento nos gastos com saúde

pública no Rio Grande do Norte no período de 2002 a 2015, com uma tendência de redução de

2015 para 2016. Os dados foram avaliados no período de 2002 até 2006, disponibilizados pelo

DATASUS, do Ministério da Saúde, enquanto que o número de internações por 100 habitantes

teve uma considerável redução, conforme explicitado no Gráfico 14.

Gráfico 13: Indicadores de Saúde do Rio Grande do Norte

Fonte: MS, DATASUS (2018).

Houve um aumento nos investimentos públicos voltados para a saúde que pode ser

justificado pelo aumento populacional, pelos custos de modernização de equipamentos ou

investimentos em doenças de maior grau de complexidade, porém para se especificar, exigiria a

coleta de dados primários de informações financeiras, juntos aos órgãos e entidades de saúde,

com o propósito, inclusive, de identificar o quantitativo destinado especificamente à medicina

curativa por casos de doenças afins ao saneamento ineficiente.

R$0,00

R$200.000.000,00

R$400.000.000,00

R$600.000.000,00

R$800.000.000,00

R$1.000.000.000,00

R$1.200.000.000,00

R$1.400.000.000,00

R$1.600.000.000,00

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

Page 41: Impacto da Cobertura de Saneamento Básico na …...cobertura de saneamento básico na incidência de doenças e nos gastos públicos com saúde pública no Estado do Rio Grande do

40

Gráfico 14: Internações hospitalares por 100 habitantes no Rio Grande do Norte.

Fontes: Ministério da Saúde/SE/DATASUS - Sistema de Informações Hospitalares do SUS

(SIH/SUS); IBGE - Base Demográfica.

Os investimentos destinados para a melhoria do Saneamento Básico ainda são

incipientes, não só no Rio Grande do Norte, como em todo o Brasil, conforme pode ser

constatado no Gráfico 15, a seguir, que mostra o percentual do Produto Interno Bruto (PIB) que

são destinados para investimentos em Saneamento Básico.

Gráfico 15: Gastos Federais com saneamento em proporção (%) do PIB de 1995 a 2010.

Fonte: IPEA/DISOC - estimativas anuais a partir dos dados do SIAFI/SIDOR, das Contas

Nacionais do IBGE e do FGTS da Caixa Econômica Federal.

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

1995 1998 1999 1996 2000 2001 1997 2002 2003 2004 2005 2010 2006 2011 2009 2008 2007 2012

0

0,05

0,1

0,15

0,2

0,25

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Total

Page 42: Impacto da Cobertura de Saneamento Básico na …...cobertura de saneamento básico na incidência de doenças e nos gastos públicos com saúde pública no Estado do Rio Grande do

41

Em 2001 houve a maior destinação, com um percentual em torno de 0,23%, recuando

em 2003 a um patamar semelhante ao de 1995. Essa situação piora quando se avalia recursos

destinados, exclusivamente, para gastos diretos com saneamento, de acordo com o Gráfico 16,

os valores oscilaram entre 0,01 a 0,02%, deixando de ser investido nos anos de 2003, 2004 e

2005.

Gráfico 16: Percentual do PIB destinado a gastos diretos com Saneamento Básico

Fonte: IPEA/DISOC - estimativas anuais a partir dos dados do SIAFI/SIDOR, das Contas

Nacionais do IBGE e do FGTS da Caixa Econômica Federal.

Mesmo com pouco recurso destinado ao avanço da cobertura populacional por

saneamento básico, pode-se constatar, conforme demonstrado no Gráfico 14, extraído da

pesquisa Estatísticas da saúde: assistência médico-sanitária 2009, que o número de internações

por doenças relacionadas ao saneamento básico caiu, em 2008, comparando-se com os dados

registrados nos últimos 10 anos. Face ao exposto, infere-se que existe, realmente, impacto das

ações de saneamento básico sobre a medicina curativa, pois uma vez que diminui as

internações com a incidência dessas doenças, ficou evidente que se reduziu, também, os

respectivos custos.

0

0,005

0,01

0,015

0,02

0,025

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Gasto Direto com Saneamento

Page 43: Impacto da Cobertura de Saneamento Básico na …...cobertura de saneamento básico na incidência de doenças e nos gastos públicos com saúde pública no Estado do Rio Grande do

42

No Rio Grande do Norte, o número de internações por 100 habitantes foi reduzido de 13

para menos de 10, isso só foi possível pelo avanço na implantação e operação das

infraestruturas do Saneamento Básico, contudo esse número deveria ser bem maior, mas como

visto no Gráfico 2, página 17, do total de municípios do estado, apenas 17 receberam e

concluíram a aplicação de recursos oriundos de convênios com a FUNASA, nesses municípios

o números de doenças cujas causas estão associadas com o saneamento básico inexistente ou

ineficiente foi reduzido ou nem apareceram nas tabelas aqui apresentadas. Gráfico 17 mostra

uma redução no número de internações por 100 habitantes já em 2008.

Gráfico 17 - Internações em estabelecimentos de saúde, por 100 habitantes, segundo as Unidades da Federação - 1998/2008.

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Pesquisa de Assistência Médico-Sanitária 1999/2009 e Estimativas de População Residente nos Municípios em 1º de julho.

Informações obtidas do Portal da Transparência do Governo Federal evidenciam um

atraso considerável na consecução dos PMSB, evidenciados pelas prorrogações ocorridas no

limite para os municípios se adequarem, mesmo não impossibilitando, ainda, aos receberem

recursos da FUNASA e do Ministério das Cidades, dificulta o seu recebimento pela falta de

outros elementos necessários, como por exemplo, o projeto executivo voltado para a

Page 44: Impacto da Cobertura de Saneamento Básico na …...cobertura de saneamento básico na incidência de doenças e nos gastos públicos com saúde pública no Estado do Rio Grande do

43

implantação do Saneamento Básico, isso impacta diretamente na saúde da população, uma vez

que doenças que já deveriam ter sido erradicadas no estado, continuam fazendo vítimas no

estado. O Gráfico 18, elaborado com as informações extraídas do Portal da Transparência,

aponta os 17 municípios, dos 167 do estado, que firmaram convênios com a FUNASA e

obtiveram recursos liberados, desses, Riachuelo aparece com dois convênios e a Tabela 9,

relaciona os objetivos desses convênios.

Gráfico 18: Municípios do Rio Grande do Norte que tiveram convênios deferidos com a FUNASA no período de janeiro de 2000 a novembro de 2005.

Fonte: Adaptado pelo Autor, dados do Portal da Transparência, acesso em 02/11/2018.

Quadro 5: Objetivos dos Convênios entre Municípios do Rio Grande do Norte e a FUNASA no

Período de janeiro de 2000 a novembro de 2005.

(Continua)

NOME MUNICÍPIO OBJETO DO CONVÊNIO

Afonso Bezerra Ações de saneamento, construção de unidades sanitárias.

Antonio Martins Ações de saneamento / construção e/ou ampliação do sistema de

abastecimento de agua da sede municipal.

Ares Ações de saneamento, construção de oficina de saneamento básico.

Barcelona Ações de saneamento / construção de conjuntos sanitários

domiciliares na zona rural.

R$0,00

R$50.000,00

R$100.000,00

R$150.000,00

R$200.000,00

R$250.000,00

VALOR CONVÊNIO VALOR LIBERADO

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44

Quadro 5: Objetivos dos Convênios entre Municípios do Rio Grande do Norte e a FUNASA no

Período de janeiro de 2000 a novembro de 2005.

(Conclusão)

NOME MUNICÍPIO OBJETO DO CONVÊNIO

Brejinho Ações de saneamento / construção de conjuntos sanitários em

varias localidades.

Espirito santo Ações de saneamento / construcao do sistema de abastecimento de

aguaem distritos.

Florania Construção do sistema de esgotamento sanitário. Ações de

saneamento.

Janduis Ações de saneamento, ampliação do sistema de abastecimento de

agua.

Lagoa de Velhos Ações de saneamento / construção de conjuntos sanitários.

Natal Estudos e pesquisa: gestão em saúde publica - avaliação da

efetividadedes ações de saneamento do rio grande do norte.

Nísia floresta Ações de saneamento / construção de oficina de saneamento

básico.

Paraná Ações de saneamento / construção de unidades sanitárias completas

nas zonas rural e urbana.

Pureza Ações de saneamento, construção de conjuntos sanitários

domiciliares.

Riachuelo Ações de saneamento básico

Riachuelo Ações de saneamento básico

São José do campestre

Ações de saneamento - construção de conjuntos sanitários

domiciliares em diversas ruas zona urbana e rural nos distritos de

lagoa da pedra, pedra lisa e favela - zona rural do município.

São Pedro Ações de saneamento / construção de abrigos e tanques e instalação

de dessalinizadores.

Severiano Melo Ações de saneamento. Saneamento básico em pequenas

localidades. Construção de 38 unidades sanitárias no sitio ipueiras.

Fonte: Adaptado pelo Autor, dados do Portal da Transparência, acesso em 02/11/2011.

Page 46: Impacto da Cobertura de Saneamento Básico na …...cobertura de saneamento básico na incidência de doenças e nos gastos públicos com saúde pública no Estado do Rio Grande do

45

5. CONCLUSÃO

Com a revisão bibliográfica e os dados secundários estudados foi possível concluir que

houve um aumento considerável em relação ao abastecimento de água e à coleta de resíduos

sólidos, contudo, em relação ao esgotamento sanitário o avanço foi mínimo. O percentual

populacional que ainda utiliza fossa séptica é ainda é extremamente alto. Foi possível também

inferir que:

a) a destinação de resíduos sólidos no estado do Rio Grande do Norte é preocupante e

indica uma falta de política que priorize a gestão adequada desses resíduos, o impacto negativo

na saúde é evidente, pois foi possível detectar doenças transmissíveis por agentes infecciosos

que se instalam em vetores que utilizam o lixo como abrigo. Cabe enfatizar que, quando são

implantadas corretas soluções técnicas, em conjunto com a adequada operação dos sistemas de

destinação final dos resíduos, que incorporem modernas tecnologias de tratamento, os efeitos

da poluição são mitigados e até evitados, reduzindo, sobremaneira, os impactos na saúde

pública e no meio ambiente. Em contrapartida, lixões e aterros controlados são responsáveis

pelo comprometimento das águas subterrâneas e superficiais, por não adotar medidas

necessárias e suficientes para a contenção e destinação dos líquidos que podem percolar até os

mananciais subterrâneos ou escoar até os superficiais, o que aumenta os custos do tratamento

da água, pela contaminação do manancial, diminui a reserva de água de qualidade. Ressalta-se

a necessidade de se estabelecer políticas públicas voltadas à implantação de Aterros Sanitários.

b) os indicadores de saúde mostraram que as regiões do estado com cobertura mínima

de saneamento básico, a incidência de doenças estudadas foi maior que nas áreas em que é

avançado o atendimento populacional por abastecimento de água, esgotamento sanitário e

coleta de resíduos sólidos;

c) ficou evidenciado um atraso relacionado às instalações de redes de esgotamento

sanitário, mesmo assim, houve um desenvolvimento positivo na cobertura populacional por

esses pilares do saneamento, ao longo do período estudado;

d) no mesmo período, verificou-se a redução no número de internações hospitalares por

cem habitantes no estado do Rio Grande do Norte pela incidência de doenças que se proliferam

em vetores e agentes patogênicos que se instalam em água contaminada, esgoto e lixo mal

acondicionado;

e) a informação obtida no último censo do IBGE sobre o avanço no Índice de

Desenvolvimento Humano, no estado, ratifica, também, a influência do saneamento básico

sobre a saúde da população, uma vez que, esse dado é considerado no cálculo do IDH;

Page 47: Impacto da Cobertura de Saneamento Básico na …...cobertura de saneamento básico na incidência de doenças e nos gastos públicos com saúde pública no Estado do Rio Grande do

46

f) o avanço na cobertura populacional por Saneamento Básico se deu de forma mais

acentuada nas regiões urbanas;

g) foi possível identificar os municípios com maior cobertura populacional por

esgotamento sanitário, abastecimento de água e coleta de resíduos sólidos, dentre eles Riacho

da Cruz, Acari, Parelhas, Santa Cruz, Florânia. Sera Negra do Norte, entre outros citados.

h) identificado também os municípios com os piores índices, dos quais São José do

Mipibu, Macaíba, Alto do Rodrigues, Parnamirim, Nova Cruz.

i) o esgotamento sanitário das zonas rurais é feito, em sua maioria, por fossas sépticas;

Por fim, é fato que a cobertura populacional por saneamento básico, reflete-se nos

gastos públicos com saúde pública, pois proporciona a redução da incidência de doenças,

evidenciado na redução das internações e, consequentemente, a diminuição dos custos da

medicina curativa.

É propício ressaltar que não foi possível, neste projeto, quantificar o impacto positivo

sobre os gastos com a medicina curativa, mais ficou evidenciado. Seria necessário um amplo

trabalho de pesquisa com dados primários, com um enfoque mais econômico para avaliar e

correlacionar esses gastos com os investimentos em saneamento básico.

Sugestões para estudos posteriores:

- Quantificar e avaliar os recursos financeiros destinados ao Saneamento Básico;

- Quantificar e avaliar o custo com medicina curativa pelo tratamento de doenças relacionadas à

falta do Saneamento Básico;

- Panorama da drenagem urbana;

- Efeito da drenagem urbana sobre proliferação de doenças;

- Situação dos municípios quanto à implantação dos Planos Municipais de Saneamento Básico.

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