133
Carolina Baía de Freitas Impacto socioeconómico nos cuidadores informais de doentes de Alzheimer Dissertação de Mestrado em Gestão e Economia da Saúde, orientada pela Professora Doutora Maria Suzete dos Santos Gonçalves e Professora Doutora Maria Isabel Jacinto Santana apresentada à Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra Janeiro / 2019

Impacto socioeconómico nos cuidadores informais de doentes

  • Upload
    others

  • View
    3

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Carolina Baía de Freitas

Impacto socioeconómico nos cuidadores informais de doentes de Alzheimer

Dissertação de Mestrado em Gestão e Economia da Saúde, orientada pela Professora Doutora Maria Suzete dos Santos Gonçalves e

Professora Doutora Maria Isabel Jacinto Santana apresentada à Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra

Janeiro / 2019

Carolina Baía de Freitas

Impacto socioeconómico nos cuidadores informais de doentes de

Alzheimer

Dissertação de Mestrado em Gestão e Economia da Saúde, apresentada

à Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra para obtenção

do grau de Mestre

Orientadoras: Professora Doutora Maria Suzete dos Santos Gonçalves e Professora Doutora Maria Isabel Jacinto Santana

Coimbra, Janeiro / 2019

Fonte da Imagem: http://revistareviver.blogspot.com/2016/07/cuidar-de-pais-idosos-as-15-melhores.html

[29 de Janeiro de 2019]

iii

DEDICATÓRIA

Aos meus Pais e Irmão,

Luísa, Rui e Mário,

Pelo amor e apoio incondicional.

iv

AGRADECIMENTOS

A presente dissertação de mestrado decorre de uma única e longa viagem de crescimento

pessoal e académico, que não chegaria a bom porto sem o precioso contributo de várias

pessoas. Como tal, agradeço a todos a disponibilidade, o acompanhamento atento e a

partilha de conhecimento, nomeadamente:

À Profª Dra. Suzete Gonçalves pela disponibilidade, conhecimento e motivação, mas acima

de tudo pelas valiosas discussões, sugestões e críticas no decorrer deste trabalho;

À Profª Dra. Isabel Santana e restantes profissionais da Consulta de Demência do serviço

de Neurologia do CHUC pela atenção e prontidão em ajudar durante todo o processo de

recolha de dados;

A todos os cuidadores informais que participaram voluntariamente neste estudo e que

aceitaram partilhar comigo um pouco da sua vida, apesar do seu comprometimento

temporal e da ausência de benefícios diretos com esta participação. Sem eles nada disto

teria sido possível;

À Profª Dra. Aida Tavares pela disponibilidade, sugestões e precioso contributo no

tratamento dos dados deste estudo;

Aos meus pais e irmão, a quem devo todo o meu percurso até hoje, pelo amor, sacrifício,

confiança em mim depositada e apoio incondicional em todas as minhas escolhas;

Ao Pedro Delmar pelo carinho, compreensão, paciência e contributo imprescindível para o

desenvolvimento deste trabalho;

À Sara e à Sarmento pela atenção, presença constante e apoio incondicional em todos os

momentos, bons e menos bons, desta viagem;

Ao Pedro, Inês, Frederico, Maria Carolina, Mariana, Diogo, Catarina, Cristiana, Salomé,

Andreia, João, João Brás, Maria Luísa, Cátia, Salomé Milagres e Gisèle pela amizade,

desabafos e apoio mútuo neste trabalho;

Aos restantes familiares e amigos pelo apoio, atenção e motivação.

A todos, um sincero, muito obrigada!

iii

If you can't do great things, do small things in a great way.

Napoleon Hill

iv

RESUMO

Atualmente, Portugal enfrenta um dos principais desafios das sociedades modernas, o

envelhecimento. Esta problemática desencadeia discussões urgentes, de cariz social,

económico e político. Infelizmente, as transformações demográficas estão associadas a um

aumento significativo de doenças crónicas. A demência, cuja principal causa é a doença de

Alzheimer, cria cenários de dependência e necessidade de cuidados entre os idosos. O

cuidado informal é uma condição preferencial quer para os recetores de cuidado, quer para

os formuladores de políticas. Os cuidadores informais prestam cuidados com base num

compromisso de nobreza, sem remuneração ou vínculo profissional, tendo assim, um

enorme valor económico sendo estes atores imprescindíveis dos sistemas de saúde.

Contudo, a longo prazo, o ato de cuidar provoca sobrecarga física, psicológica e económica

nos prestadores de cuidados. Assim, o presente estudo pretende avaliar o impacto

socioeconómico nos cuidadores informais de doentes de Alzheimer, através da

caracterização e valorização monetária do cuidado informal.

Os dados do estudo foram obtidos a partir da aplicação de um questionário, baseado no

instrumento de recolha de dados Resource Utilization in Dementia (RUD), a cuidadores

informais de doentes de Alzheimer, na Consulta de Demência do Serviço de Neurologia do

Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC). No tratamento de dados, foi

conduzida uma análise de estatística descritiva das variáveis referentes aos doentes,

cuidadores informais e contexto da prestação de cuidados, sendo de seguida, aplicado o

método do bem substituo para a valorização monetária do cuidado informal e aplicada uma

regressão de Poisson para uma análise explicativa do número de horas de cuidado e,

consequentemente, do custo do cuidado informal.

Os principais resultados apontam para uma valorização de cuidados informais em 45,36€

por dia e 272,16€ por semana, como consequência de 11 horas diárias de cuidado, durante

6 dias por semana. A severidade da doença, o número de Atividades Instrumentais da Vida

Diária (AIVD) realizadas, viver com o doente, o tempo de cuidador, a percentagem de

envolvimento no cuidado e a situação profissional do cuidador informal influenciam o

número de horas de cuidado e, consequentemente, o custo informal.

v

Dados estatísticos, mostram que 47,4% dos cuidadores concilia uma profissão com o ato

de cuidar, sendo que 71,2% são prejudicados pelas entidades patronais quando faltam.

Apenas 7,2% dos prestadores reportam que recebem apoios pela prestação de cuidados.

A partir dos resultados obtidos conclui-se que a consciencialização da sociedade sobre a

importância do papel do cuidador informal e a dimensão e o significado dos custos dos

cuidados informais é urgente. Existem inúmeras necessidades não cobertas neste domínio

e a disponibilidade de respostas de cuidado formal é insuficiente, logo a orientação de

políticas e serviços de apoio aos cuidadores informais é essencial.

Palavras-chave: envelhecimento; doença de Alzheimer; cuidar; cuidador informal;

avaliação económica.

vi

ABSTRACT

Currently, Portugal faces one of the main challenges of modern societies, population

ageing. This problem generates an urgent discussion about social, economic and political

issues. Unfortunately, the demographic changes have negative repercussions on

population health, being associated with a significant increase of chronic diseases.

Dementia, whose main cause is Alzheimer's disease, creates dependency scenarios and

need for care among the elderly. Informal care is a preferred condition for both care

recipients and policy makers. Informal caregivers provide care based on a nobility

commitment, without payment or professional attachment. They have an immense

economic value and are essential players in health systems. However, in the long run, the

act of caring causes physical, psychological and economic burden on informal caregivers.

Thus, the present study intends to evaluate the socioeconomic impact on informal

caregivers of Alzheimer’s disease patients, through the characterization and monetary

valuation of informal care.

The data from the study were obtained from the application of a questionnaire, based on

the Resource Utilization in Dementia (RUD) data collection instrument, to informal

caregivers of Alzheimer’s disease patients, at the Consulta de Demência do Serviço de

Neurologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC). In the data treatment,

a descriptive statistics analysis was performed on the variables related to patients, informal

caregivers and care context, after that, proxy-good method was applied for the monetary

valuation of informal care, and a Poisson regression was applied for an explanatory analysis

of the number of care hours and, consequently, the informal care costs.

The main results point to a valuation of informal care at 45,36€ per day and 272,16€ per

week, as a consequence of 11 hours of daily care, for 6 days per week. The severity of

illness, the Instrumental Activities of Daily Living (IADL) performed, living with the patient,

the caregiver time, the percentage of involvement in the care and the informal caregiver's

labor situation influence the number of hours of care and, consequently, the informal cost.

The collected data shown that 47,4% of the caregivers conciliate a profession with the act

of caring, and 71.2% are impaired by employers when they are absent. Only 7,2% of the

providers report receiving support in the provision of care.

vii

From the results obtained, it has been concluded that the awareness of the society about

the importance of informal caregivers’ role and about the dimension and meaning of

informal care costs is urgent. There are numerous unmet needs in this area and the

availability of formal care responses is insufficient, so policy and support services’

orientation to informal caregivers is essential.

Keywords: ageing; Alzheimer’s disease; care; informal caregiver; economic evaluation.

viii

Listas (siglas, figuras e tabelas)

Lista de siglas

RUD – Resource Utilization in Dementia

CHUC – Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra

OMS – Organização Mundial de Saúde

UE – União Europeia

DA – Doença de Alzheimer

ABVD – Atividades Básicas da Vida Diária

AIVD - Atividades Instrumentais da Vida Diária

CDR – Clinical Dementia Rating

NFT – Tranças Neurofibrilares

Aβ – Beta Amilóide

LCR – Líquido Cefalorraquidiano

NINCDS – National Institute of Neurological and Communicative Disorders and Stroke

ADRDA – Alzheimer’s Disease and Related Disorders Association

DCL – Défice Cognitivo Ligeiro

RM – Ressonância Magnética

PET – Tomografia por Emissão de Positrões

TAC – Tomografia Computorizada

MMSE – Mini-Mental State Examination

MOCA – Montreal Cognitive Assessment

NMDA – N-metil-D-Aspartato

ERPI – Estruturas Residenciais para Idosos

ADI – Apoio Domiciliário Integrado

SAD – Serviço de Apoio Domiciliário

SNS – Serviço Nacional de Saúde

TICs – Tecnologias de Informação e Comunicação

RNCCI – Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados

UAI – Unidades de Apoio Integrado

CdD – Custo da Doença

ix

CAS – Caregiver Activity Survey

CATS – Caregiver Activity Time Survey

CSRI – Client Service Receipt Inventory

BTE – Boletim do Trabalho e Emprego

x

Lista de figuras

Figura 1. População global por faixa etária. Fonte: United Nations, 2017 ........................... 7

Figura 2. Número de pessoas com 60 anos ou mais por grupo de desenvolvimento. Fonte:

United Nations, 2017 ......................................................................................................... 7

Figura 3. Percentagem de população com 60 anos ou mais por região, desde 1980 até 2050.

Fonte: United Nations, 2017 .............................................................................................. 9

Figura 4. População da UE por faixa etária e género, 2016-70. Fonte: European Commission,

2018................................................................................................................................. 10

Figura 5. Índice de envelhecimento, Portugal, 1991-2080 (estimativas e projeções). Fonte:

INE, 2017 ......................................................................................................................... 12

Figura 6. Pirâmide etária, Portugal, 2015 (estimativas) e 2055 (projeções, por cenários).

Fonte: INE, 2017 .............................................................................................................. 12

Figura 7. “Hipótese da Cascata de Amilóide” e potenciais biomarcadores da DA. Fonte:

Anoop et al., 2010 ............................................................................................................ 19

Figura 8. Dos sintomas para a doença. Fonte: Shaw et al., 2007 ...................................... 21

Figura 9. Horas diárias de cuidado informal ..................................................................... 73

Figura 10. Número de ABVD e AIVD realizadas pelos cuidadores informais ...................... 74

Lista de tabelas

Tabela 1: Número e distribuição de pessoas com 60 anos ou mais por região, em 2017 e

2050................................................................................................................................... 8

Tabela 2: Dez países ou áreas com maior parcela de pessoas com 60 anos ou mais em 1980,

2017 e 2050 ..................................................................................................................... 11

Tabela 3: Sintomas comuns de pessoas com demência .................................................... 16

Tabela 4: Biomarcadores promissores para DA ................................................................ 21

Tabela 5: Medicamentos utilizados para o tratamento da DA .......................................... 24

Tabela 6: Estudos em retrospetiva – o custo do cuidado informal .................................... 40

Tabela 7: Estrutura do instrumento de recolha de dados ................................................. 45

Tabela 8: Custos diretos e indiretos na doença de Alzheimer ........................................... 50

Tabela 9: Caracterização sociodemográfica dos doentes .................................................. 53

Tabela 10: Caracterização do estado de saúde e consumo de cuidados dos doentes ....... 55

xi

Tabela 11: Caracterização sociodemográfica dos cuidadores informais ............................ 62

Tabela 12: Caracterização do estado de saúde e consumo de cuidados dos cuidadores

informais.......................................................................................................................... 63

Tabela 13: Custos dos cuidados de saúde consumidos pelos doentes .............................. 68

Tabela 14: Custos dos cuidados de saúde consumidos pelos cuidadores informais .......... 70

Tabela 15: Atividades e tempo de cuidado informal ......................................................... 71

Tabela 16: Caracterização da situação profissional e apoios recebidos pelos cuidadores

informais.......................................................................................................................... 74

Tabela 17: Custo diário, semanal e anual do cuidado informal ......................................... 79

Tabela 18: Resultados da regressão de Poisson ................................................................ 80

xii

SUMÁRIO

DEDICATÓRIA iii

AGRADECIMENTOS iv

Resumo iv

Abstract vi

Listas (siglas, figuras e tabelas) viii

Introdução 1

Parte I: Enquadramento Teórico 5

1. Envelhecimento demográfico: uma tendência global 6

1.1. Envelhecimento demográfico: o contexto europeu 8

1.1.1. Envelhecimento demográfico: o contexto português 10

2. O envelhecimento e a saúde da população 13

3. A demência 14

3.1. A doença de Alzheimer 17

3.1.1. O diagnóstico 19

3.1.2. A abordagem terapêutica 24

4. O ato de Cuidar 25

4.1. O Cuidado Informal 28

4.1.1. As necessidades do Cuidador Informal e as medidas de intervenção 30

5. O impacto económico da doença de Alzheimer no Cuidador Informal 36

5.1. Impacto socioeconómico nos cuidadores informais na DA. Revisão da literatura. 40

Parte II: Estudo Empírico 43

6. Percurso metodológico 44

6.1. Instrumento e processo de recolha de dados 44

6.2. Construção da base de dados e análise dos dados 47

xiii

7. Apresentação dos resultados 53

8. Análise e discussão dos resultados 81

Conclusões 90

Referências Bibliográficas 93

Anexos 99

xiv

1

INTRODUÇÃO

O mundo está no limiar de uma transformação demográfica e epidemiológica sem

precedentes. O envelhecimento global é uma das principais problemáticas das sociedades

modernas e, devido ao seu impacto social, económico e político, tem imposto discussões

urgentes entre os líderes mundiais. Atualmente, questiona-se a capacidade dos grandes

decisores de propor medidas que proporcionem um padrão de vida decente para os idosos

sem impor uma carga esmagadora aos jovens ou mesmo, dado o quadro atual, aos outros

idosos (Jackson, Howe e Nakashima, 2013).

Portugal tem hoje uma população envelhecida, com a agravante de enfrentar um cenário

de duplo envelhecimento, devido à diminuição da população jovem e ao aumento da

população idosa (Ministério da Saúde, 2018). Em 2017, correspondia ao país do mundo

com a quarta maior percentagem de pessoas com 60 anos ou mais e em 2050 espera-se

que ocupe a terceira posição do mesmo ranking (United Nations Department of Economic

and Social Affairs, 2017).

A melhoria das condições sociais e económicas, o progresso tecnológico da medicina e a

qualidade da saúde pública e dos cuidados de saúde prestados têm contribuído para o

aumento da longevidade da população (Sequeira, 2010). Contudo estão igualmente

associados a um impacto negativo na saúde, independência e qualidade de vida dos idosos

e das pessoas que com eles se relacionam (Veloso, 2015). Infelizmente, a evidência

científica mostra que as transformações demográficas e epidemiológicas dos últimos anos

estão associadas a uma maior prevalência de doenças crónicas, de entre as quais, a

demência, que apesar de não ser uma consequência natural do envelhecimento, é uma das

principais causas de incapacidade e de dependência entre pessoas idosas em todo o mundo

(WHO, 2012), sendo que a doença de Alzheimer é a principal causa de demência na

população idosa (Cerquera-Jaramillo et al., 2018).

Assim, na população com doença de Alzheimer são criados cenários de necessidade de

apoio na realização das atividades da vida diária. Por norma, este apoio é assumido pela

2

família, amigos e vizinhos, que são, assim, considerados cuidadores informais (Teixeira et

al., 2017).

Os cuidadores informais não são remunerados, sendo motivados pelo compromisso e

responsabilidade familiar. O valor económico do seu trabalho é considerável e afirmam-se

como a coluna vertebral dos cuidados continuados (Teixeira et al., 2017). A existência de

cuidadores informais está associada a um menor risco de eventos adversos, permitindo à

pessoa dependente permanecer o máximo de tempo possível no seu ambiente.

Constituem um fator de sustentabilidade dos sistemas sociais e de saúde e o seu papel é

fundamental, tendo em conta o futuro demográfico e o quadro de cuidados continuados

do país (Teixeira et al., 2017). Mesmo em países com uma rede de cuidados continuados

bem desenvolvida, estima-se que o número de cuidadores informais seja duas vezes maior

que a força de cuidado formal (Ferrer, 2015).

No entanto, a prestação de cuidados interfere na dinâmica familiar. Os cuidadores

informais passam a ter menos tempo disponível, sentindo-se privados do seu descanso, das

atividades sociais e de lazer. Assumir este papel implica, muitas vezes, deixar de trabalhar

ou reduzir o horário de trabalho, mudar de residência, ou receber o recetor de cuidados

em sua casa. Entre as possíveis alterações, destaca-se o tempo despendido no cuidado que,

por si só, representa um custo de oportunidade que não pode, nem deve ser

desconsiderado (Pires, 2015). Tornam-se cidadãos vulneráveis, confrontando-se muitas

vezes com problemas de saúde, fruto da sobrecarga mental, física, social e por vezes,

financeira (Monteiro, 2016).

Devido à incapacidade de antecipação das exigências e esforços dos cuidadores como

resultado da prestação de cuidados, é urgente a promoção de estratégias que possam

contribuir para apoiar os cuidadores, não só na resposta às necessidades da pessoa com

demência, como também na aquisição de ferramentas que contribuam para o bem-estar

pessoal, social e económico do cuidador (Monteiro, 2016). A promoção de medidas de

apoio e suporte ao cuidador informal é potenciadora de benefícios para todos: os doentes,

os cuidadores e os sistemas públicos.

Em Portugal, ainda são poucos os estudos de escala nacional que se debruçam sobre o

alcance da doença de Alzheimer a nível social e económico, não só numa perspetiva

individual e familiar, mas também, na perspetiva do impacto destes cuidados na economia

3

da sociedade (Pires, 2015). A esta condição e ao cuidado informal estão associadas muitas

variáveis heterógenas, o que torna a avaliação económica um desafio. Os custos associados

são repartidos pela esfera pública e privada, não existindo ainda números nacionais, quer

ao nível da sociedade, quer ao nível dos agregados, onde o cuidado informal ocorre

(Teixeira et al., 2017).

Assim, o desenvolvimento deste trabalho de investigação tem como objetivo principal

avaliar o impacto socioeconómico nos cuidadores informais de doentes de Alzheimer,

através da valorização monetária do cuidado informal e da análise dos apoios a que os

cuidadores informais têm acesso, bem como da sua capacidade para conciliar uma

atividade profissional com a prestação de cuidados. Os objetivos secundários são:

caracterizar os doentes de Alzheimer e os cuidadores informais em termos

sociodemográficos, nas diferentes fases da doença; estimar a utilização, o consumo e o

valor dos cuidados de saúde dos doentes e cuidadores informais, nas diferentes fases da

doença; caracterizar a tipologia do cuidado informal prestado na doença de Alzheimer, com

base no tempo e nas atividades desenvolvidas; identificar fatores que influenciam o custo

do cuidado informal na doença de Alzheimer.

Com os resultados pretende-se fazer um diagnóstico do quadro da doença de Alzheimer e

da situação de cuidador informal de doentes de Alzheimer em Portugal, identificando as

necessidades de saúde, sociais, profissionais e financeiras dos doentes e dos seus

cuidadores, de forma a definir medidas de intervenção, que abranjam os cuidados de

saúde, as estruturas e apoios sociais, as ações de sensibilização de profissionais de saúde e

da população em geral, entre outras.

Para atingir os objetivos definidos, foi aplicado um questionário em contexto de entrevista

como instrumento de recolha de dados, cujo guião foi criado especificamente para o efeito,

após recolha e análise da literatura sobre instrumentos de inquirição neste domínio. A

entrevista foi dirigida aos cuidadores informais de doentes de Alzheimer da Consulta de

Demência do Serviço de Neurologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.

A presente dissertação encontra-se organizada da seguinte forma: numa primeira parte é

feito um enquadramento teórico sobre o envelhecimento populacional, a doença de

Alzheimer e os cuidados informais. É, assim, feita uma revisão teórica dos conceitos que

sustentaram a investigação, sendo dada especial atenção aos métodos de avaliação

4

económica do cuidado informal e aos métodos de quantificação do tempo. Na segunda

parte, referente ao estudo empírico, são apresentados os objetivos do estudo e descritas

as metodologias e procedimentos adotados para responder às questões do estudo. A

terceira parte diz respeito aos resultados. A amostra é caracterizada e são apresentados os

valores calculados na avaliação dos custos do cuidado informal e os fatores de influência

do impacto socioeconómico. Posteriormente, são discutidos os resultados, face aos

posicionamentos teóricos anteriormente apresentados. Na quinta parte são descritas as

principais conclusões.

PARTE I: ENQUADRAMENTO TEÓRICO

6

1. Envelhecimento demográfico: uma tendência global

O mundo está a envelhecer. Esta é uma afirmação que resume um dos principais

fenómenos demográficos das sociedades modernas, o envelhecimento global, o qual tem

desencadeado importantes discussões entre formuladores de políticas, líderes

empresariais e o público em geral (Jackson, Howe e Nakashima, 2013).

De uma forma geral, o mundo em desenvolvimento ainda é muito jovem, no entanto

começa a mostrar sinais de envelhecimento, que, tendencialmente, se vão agravando. Esta

transformação demográfica afeta, de forma significativa, todas as dimensões, económica,

social e política, e questiona a capacidade das sociedades de proporcionar um padrão de

vida decente para os idosos sem sobrecarregar os mais jovens (Jackson, Howe e

Nakashima, 2013).

Face ao envelhecimento das populações, torna-se urgente o desenvolvimento de políticas

inovadoras e serviços públicos personalizados para a pessoa idosa, incluindo medidas

direcionadas para a habitação, o emprego, a assistência médica, as infraestruturas,

proteção social, entre outras (United Nations Department of Economic and Social Affairs,

2017).

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), um idoso é uma pessoa com mais

de 65 anos, independentemente do sexo ou do estado de saúde aplicável. Estima-se que,

entre 2017 e 2050, praticamente todos os países do mundo experimentem um aumento

substancial no tamanho da população com 60 ou mais anos. Esta população totalizou 962

milhões em 2017, mais que duplicando relativamente a 1980, quando havia 382 milhões

de idosos em todo o mundo. Espera-se que o número de idosos duplique até 2050,

prevendo-se assim uma aproximação a 2,1 bilhões (Figura 1). Globalmente, antevê-se que

o número de pessoas com 80 anos ou mais aumente mais de três vezes entre 2017 e 2050,

passando de 137 milhões para 425 milhões (United Nations Department of Economic and

Social Affairs, 2017).

7

Em 2030, espera-se que os idosos excedam o número de crianças menores de 10 anos (1,41

bilhão versus 1,35 bilhão). Em 2050, as projeções indicam que haverá mais idosos com 60

ou mais anos do que adolescentes e jovens entre 10 e 24 anos (2,1 bilhões versus 2,0

bilhões) (United Nations Department of Economic and Social Affairs, 2017).

Dois terços dos idosos do mundo vivem nas regiões em desenvolvimento, onde os números

aumentam mais rapidamente do que nas regiões desenvolvidas (Figura 2). Em 2050, prevê-

se que 8 em cada 10 idosos do mundo vivam em regiões em desenvolvimento (United

Nations Department of Economic and Social Affairs, 2017).

Em 2050, espera-se que os idosos correspondam a 35% da população na Europa, 28% na

América do Norte, 25% na América Latina, 24% na Ásia, 23% na Oceânia e 9% em África

(tabela 1) (United Nations Department of Economic and Social Affairs, 2017).

0

1

2

3

4

5

1980 2017 2030 2050

PO

PU

LAÇ

ÃO

(MIL

MIL

ES)

0-9 10-24 25-59 60+

Figura 1. População global por faixa etária. Fonte: United Nations, 2017

Figura 2. Número de pessoas com 60 anos ou mais por grupo de desenvolvimento. Fonte:

United Nations, 2017

8

Tabela 1

Número e distribuição de pessoas com 60 anos ou mais por região, em 2017 e 2050

Nº de pessoas com 60 anos ou mais em 2017 (milhões)

Nº de pessoas com 60 anos ou mais em 2017 (milhões)

Percentagem de mudança entre 2017 e 2050

Distribuição de pessoas idosas em 2017 (percentagem)

Distribuição de pessoas idosas em 2050 (percentagem)

Mundo 962,3 2080,5 116,2 100,0 100,0

África 68,7 225,8 228,5 7,1 10,9

Ásia 545,2 1273,2 131,8 57,1 61,2

Europa 183,0 247,2 35,1 19,0 11,9

América do Norte

78,4 122,8 56,7 8,1 5,9

América Latina

76 198,2 160,7 7,9 9,5

Oceania 6,9 13,3 92,6 0,7 0,6

Fonte: (United Nations Department of Economic and Social Affairs, 2017)

1.1. Envelhecimento demográfico: o contexto europeu

O fenómeno do envelhecimento resulta da transição demográfica, normalmente definida

como a passagem de um modelo demográfico de fecundidade e mortalidade elevados para

um modelo em que ambos os fenómenos atingem níveis baixos, originando o

estreitamento da base da pirâmide etária, com redução de efetivos populacionais jovens e

o alargamento do topo, com acréscimo de efetivos populacionais idosos (INE, 2002). A

Europa foi a primeira região a entrar na transição, sendo essa transição notória, entre o

final do século XIX e o início do século XX, em quase todas as áreas. Consequentemente,

muitos dos países da região estão entre os mais envelhecidos do mundo (Figura 3) (United

Nations Department of Economic and Social Affairs, 2017).

9

As projeções demográficas a longo prazo revelam que a União Europeia (UE) vai tornar- se

cada vez mais cinzenta nas próximas décadas (European Commission, 2018).

Presume-se que a população total na UE aumente de 511 milhões em 2016 para 520

milhões em 2070, sendo que população em idade ativa (15-64) irá sofrer uma diminuição

significativa, de 333 milhões em 2016 para 292 milhões em 2070. É igualmente esperado

que a taxa de fecundidade total aumente, entre 2016 e 2070, de 1,58 para 1,81 em quase

todos os Estados-Membros e que a esperança de vida ao nascer aumente, para os homens,

7,8 anos, de 78,3 em 2016 para 86,1 em 2070 e para as mulheres 6,6 anos, de 83,7 em 2016

para 90,3 em 2070 (European Commission, 2018).

A pirâmide populacional apresentada na figura 4, reflete, assim o impacto significativo da

problemática do envelhecimento na estrutura da UE (European Commission, 2018).

Figura 3. Percentagem de população com 60 anos ou mais por região, desde 1980 até

2050. Fonte: United Nations, 2017

10

1.1.1. Envelhecimento demográfico: o contexto português

Hoje, somos um país envelhecido. Portugal, à semelhança do que acontece com os países

desenvolvidos, tem vindo a sofrer uma profunda transformação demográfica e

epidemiológica (Ministério da Saúde, 2018). O aumento do número de idosos é

significativo, sendo o envelhecimento populacional um dos fenómenos mais alarmantes

nas sociedades modernas (INE, 2012). Esperando assim que esta problemática estabilize

daqui a cerca de 40 anos (INE, 2017).

Em 2017, Portugal era o país do mundo com a quarta maior percentagem de pessoas com

60 anos ou mais. Em 2050, prevê-se que ocupe a terceira posição deste ranking (tabela 2)

(United Nations Department of Economic and Social Affairs, 2017).

Figura 4. População da UE por faixa etária e género, 2016-70. Fonte:

European Commission, 2018

11

Tabela 2

Dez países ou áreas com a maior parcela de pessoas com 60 anos ou mais, em 1980, 2017 e 2050

1980 2017 2050

Ordem País ou área Percentagem com 60 anos ou mais

País ou área Percentagem com 60 anos ou mais

País ou área Percentagem com 60 anos ou mais

1 Suécia 22,0 Japão 33,4 Japão 42,4

2 Noruega 20,2 Itália 29,4 Espanha 41,9

3 Ilhas do Canal

20,1 Alemanha 28 Portugal 41,7

4 Reino Unido 20,0 Portugal 27,9 Grécia 41,6

5 Dinamarca 19,5 Finlândia 27,8 República da Coreia

41,6

6 Alemanha 19,3 Bulgária 27,7 Taiwan 41,3

7 Áustria 19,0 Croácia 26,8 Hong Kong 40,6

8 Bélgica 18,4 Grécia 26,5 Itália 40,3

9 Suíça 18,2 Eslovénia 26,3 Singapura 40,1

10 Luxemburgo 17,8 Letónia 26,2 Polónia 39,5

Fonte: United Nations, 2017

Segundo o mais recente exercício de Projeções de População Residente, conduzido pelo

INE, entre 2015 e 2080, Portugal perderá população, passando dos atuais 10,3 para 7,5

milhões de pessoas, ficando abaixo do limiar de 10 milhões em 2031. O número de jovens

diminuirá de 1,5 para 0,9 milhões, uma vez que, mesmo admitindo aumentos no índice

sintético de fecundidade, resulta, ainda assim, um decréscimo no número de nascimentos,

motivada pela redução de mulheres em idade fértil, como reflexo de baixos níveis de

fecundidade registados e verificados em anos anteriores (INE, 2017).

O número de idosos passará de 2,1 para 2,8 milhões. Face ao decréscimo da população

jovem, a par do aumento da população idosa, o índice de envelhecimento mais do que

duplicará, passando de 147 para 317 idosos, por cada 100 jovens, em 2080 (Figura 5). O

índice de envelhecimento só tenderá a estabilizar por volta de 2060, quando as gerações

nascidas num contexto de níveis de fecundidade abaixo do limiar de substituição das

gerações já se encontrarem no grupo etário 65 e mais (INE, 2017).

12

O resultado da conjugação das tendências de declínio e envelhecimento demográficos

encontra-se bem evidenciado na evolução das pirâmides etárias para Portugal. Em 2055,

constata-se, então uma população cada vez mais envelhecida, com a base da pirâmide a

estreitar-se e o topo da pirâmide a alargar-se de forma bastante notória, acentuando-se

uma redução e envelhecimento da população em idade ativa e das mulheres em idade fértil

(Figura 6) (INE, 2017).

Figura 5. Índice de envelhecimento, Portugal, 1991-2080 (estimativas e projeções). Fonte:

INE, 2017

Figura 6. Pirâmide etária, Portugal, 2015 (estimativas) e 2055 (projeções, por

cenários). Fonte: INE, 2017

13

2. O envelhecimento e a saúde da população

O envelhecimento populacional deve-se a dois impulsionadores chave: o aumento da

esperança de vida e a diminuição da taxa de fertilidade (WHO, 2015). Estes acontecimentos

têm acompanhado o desenvolvimento socioeconómico dos países refletindo assim a

melhoria das condições de vida, as estratégias preventivas, o acesso e cobertura universal

de saúde, a prestação de cuidados de qualidade e segurança para o doente, os

medicamentos e meios complementares de diagnóstico efetivos, os seguros de saúde, os

melhores sistemas de informação, a transformação digital em curso para uma melhor

comunicação e proximidade com os cidadãos, estando estes mais atentos aos seus direitos,

deveres e responsabilidades (Ministério da Saúde, 2018).

No entanto, a par com o envelhecimento surge uma questão fulcral. Para o

desenvolvimento de políticas direcionadas, é crucial determinar, se as populações vivem

mais e com uma vida mais saudável, ou se, os anos adicionais são vividos principalmente

com problemas de saúde. Caso, os anos adicionais forem vividos em boas condições em

termos de saúde, o envelhecimento estará associado a um recurso humano muito

produtivo para a sociedade, nomeadamente por meio de uma vida ativa mais longa. No

entanto, verifica-se o oposto, significando assim, que as necessidades, cuidados de saúde

e assistência social serão mais frequentes e as pessoas mais velhas contribuirão menos

socialmente (WHO, 2015). Infelizmente, a evidência científica mostra que as

transformações demográficas têm reflexos negativos no estado de saúde das populações,

destacando-se o aumento significativo de doenças crónicas, que exigem uma complexidade

de cuidados inquestionável (Ministério da Saúde, 2018).

De entre o grupo de doenças crónicas, a demência é uma das principais causas de

incapacidade e dependência entre pessoas idosas em todo o mundo, não sendo, no

entanto, uma consequência natural do envelhecimento (WHO, 2012). É esmagadora não

só para quem a possui, mas também para as famílias e cuidadores envolvidos, existindo

muitas limitações na sensibilização e compreensão da demência na maioria dos países,

resultando em estigmatização e barreiras para o diagnóstico e tratamento. Devido ao

impacto tanto a nível pessoal, como social e económico, encaminhando para o aumento

dos custos de cuidados de longo prazo para governos, comunidades, famílias e indivíduos,

constituindo assim um dos principais desafios de saúde para o nosso tempo (WHO, 2012).

14

3. A demência

A demência é uma síndrome de natureza crónica ou progressiva, na qual ocorre o declínio

de múltiplas funções intelectuais, que são comumente acompanhados pela deterioração

do controlo emocional, do comportamento social ou da motivação (WHO, 1992). De acordo

com a classificação psiquiátrica americana “Diagnostic and Statistical Manual of Mental

Disorders” (DSM-5 - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), a

característica principal de uma demência é o desenvolvimento de défices cognitivos, em

que se salienta a deterioração da memória recente (amnésia) e de pelo menos uma das

seguintes perturbações: afasia (declínio da capacidade de linguagem); apraxia (diminuição

da capacidade para executar atos motores e gestos aprendidos); agnosia (deterioração da

capacidade para reconhecer ou identificar objetos ou pessoas); ou uma perturbação do

funcionamento executivo, com impacto no desempenho das atividades instrumentais da

vida diária (AIVD), primeiro, e das suas atividades básicas da vida diária (AIVD),

posteriormente (Monteiro, 2016). Esta síndrome acompanha-se de outras esferas de

sintomas/sinais, tais como alterações psicológicas e transtornos de comportamento

(insónia, agitação, agressividade, choro, comportamentos inadequados, desinibição,

alterações da personalidade) e deterioração funcional (perda de habilidades para se vestir,

cuidar da casa, cozinhar, organizar os compromissos, etc.). (American Psychiatric

Association, 2014).

A demência pode resultar de uma ampla variedade de entidades, que diferem em termos

etiológicos e neuropsicológicos, que se manifestam por padrões distintos de compromisso

cognitivo. A doença de Alzheimer (DA) constitui, no entanto, a principal causa de demência

nos idosos, sendo responsável por pelo menos 60% dos casos. Outras formas de demência

mais frequentes incluem a: demência vascular, demência com Corpos de Lewy, demências

mistas, demências frontotemporais e demência associada à doença de Parkinson (WHO,

2015).

A demência tem um padrão e progressão heterogéneos, influenciado pelo tipo de doença

e pelas características pré-mórbidas do portador (personalidade, cultura, etc.). Atualmente

o doente de Alzheimer tem uma esperança de vida de cerca de 10 anos após o diagnóstico

enquadrados em três fases de gravidade progressiva: a fase ligeira com duração de 2 a 4

anos, a fase moderada, entre 2 a 10 anos e a fase severa, cuja duração era estimada entre

15

1 a 3 anos, mas que poderá prolongar-se por muito mais tempo pelo controlo efetivo das

comorbilidades que acabam por causar a morte destes doentes. De notar que, estes

períodos correspondem apenas a um padrão evolutivo clássico que pode variar

individualmente (WHO, 2012). Numa fase inicial, a pessoa manifesta esquecimento de

fatos recentes, repete informação e pode perder objetos, tais como as chaves, a carteira,

esquecer-se de desligar o fogão. Numa fase mais avançada, o esquecimento atinge o

desempenho profissional e doméstico, os nomes de familiares e até o próprio nome e a

desorientação espacial torna-se manifesta. O defeito de linguagem (afasia) caracteriza-se

por um discurso pobre e muito vago, devido à incapacidade de nomeação de objetos e

pessoas e acaba por envolver a compreensão da linguagem oral e escrita. A apraxia

manifesta-se pela dificuldade em realizar tarefas rotineiras, como pentear-se, cozinhar,

vestir-se, etc. (Monteiro, 2016). Apesar da função sensorial estar quase sempre preservada,

a descodificação e interpretação dos estímulos a nível cerebral está comprometida,

manifestando-se por agnosia. Ocorrem perturbações na capacidade de execução, que

“envolve a capacidade de pensamento abstrato e de planear, iniciar, sequenciar,

monitorizar e parar um comportamento complexo” (American Psychiatric Association,

2014: 149). Na fase severa, a pessoa com demência não comunica (mutismo), não

reconhece os familiares e são afetadas funções autonómicas básicas (como a deglutição e

o controlo espenteriano) e a motricidade, ficando limitada a uma cadeira ou à cama, num

estado que se assemelha ao estado vegetativo. A atrofia muscular é comum nesta fase,

bem como as contraturas. O agravamento das condições de saúde manifesta-se através de

complicações como infeções respiratórias ou urinárias, úlceras de decúbito, que conduzem

à morte. (Barreto, 2005; Santana e Cunha, 2005; Santana e Duro, 2014).

É possível, através do julgamento clínico, caracterizar e classificar o nível de compromisso

global do doente com recurso, por exemplo, à escala Clinical Dementia Rating (CDR). Este

instrumento utiliza um sistema de cinco pontos, baseados nas capacidades cognitivas

funcionais do indivíduo. É mais comumente aplicada em projetos de investigação sobre

demência ou ensaios clínicos. As pontuações desta escala incluem: 0 = normal; 0,5 =

Declínio questionável; 1 = Demência Ligeira; 2 = Demência Moderada; 3 = Demência Severa

(tabela 3) (Lowe et al., 2012; Simões e Santana, 2015).

16

Tabela 3

Sintomas comuns de pessoas com demência

Nenhum Défice Cognitivo

Ligeiro

(0)

Fase Ligeira

(1)

Fase Moderada

(2)

Fase Severa

(3)

Memória Sem perda de memória ou ligeiro esquecimento inconsistente

Esquecimento ligeiro consistente; Lembrança parcial de eventos; Esquecimento "benigno"

Perda moderada de memória, mais marcado para eventos recentes; Defeito interfere nas atividades quotidianas

Perda de memória grave; Somente conteúdo aprendido significativamente é retido; Novo material é rapidamente perdido

Perda de memória grave; Apenas fragmentos permanecem

Orientação Totalmente orientado

Totalmente orientado, exceto por ligeira dificuldade com relações de tempo

Dificuldade moderada com relações de tempo; Pode ter desorientação geográfica em determinados lugares

Dificuldade severa com relações de tempo;

Geralmente, desorientado no tempo e no espaço

Orientado apenas para pessoa

Julgamento e Resolução de problemas

Resolve problemas do quotidiano e cuida bem de negócios e assuntos financeiros; Julgamento bom em relação ao desempenho passado

Deficiência leve na resolução de problemas, semelhanças e diferenças

Dificuldade moderada no tratamento de problemas, semelhanças e diferenças; Julgamento social geralmente mantido

Gravemente prejudicado em lidar com problemas, semelhanças e diferenças; Julgamento social geralmente prejudicado

Incapaz de fazer julgamentos ou resolver problemas

Assuntos Comunitários

Função independente ao nível habitual no trabalho, compras e grupos sociais

Deficiência leve nestas atividades

Incapaz de desempenhar de forma independente estas atividades, embora ainda possa estar envolvido em algumas delas; Parece normal em avaliações casuais

Nenhuma pretensão de função independente fora de casa;

Parece bem o suficiente para ser levado a atividades fora da sua habitação familiar

Nenhuma pretensão de função independente fora de casa;

Parece muito doente para ser levado a atividades fora da sua habitação familiar

Casa e Hobbies

Vida em casa, hobbies e interesses intelectuais bem

Vida em casa, hobbies e interesses intelectuais levemente

Comprometimento leve, mas definido, da função em casa; Abandono das

Apenas tarefas simples preservadas; Interesses muito restritos e mal

Nenhuma função significativa em casa

17

conservados prejudicados tarefas mais difíceis; Abandono dos hobbies e interesses mais complicados

conservados

Cuidado Pessoal

Totalmente capaz de cuidar de si

Totalmente capaz de cuidar de si

Precisa de apoio pontual

Requer assistência em vestir, higiene, guardar objetos pessoais

Requer muita ajuda com cuidados pessoais; Incontinência frequente

Fonte: (Simões e Santana, 2015)

3.1. A doença de Alzheimer

A doença de Alzheimer (DA) é a doença neurodegenerativa progressiva mais prevalente e

a principal causa de demência em todo o mundo. Representa cerca de 60% a 70% de todos

os casos de demência, eventualmente em associação com patologia vascular (Cerquera-

Jaramillo et al., 2018).

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), existem em todo o mundo 47,5 milhões

de pessoas com demência, podendo atingir os 75,6 milhões em 2030 e quase triplicar para

os 135,5 milhões em 2050 (Associação Alzheimer Portugal). O World Alzheimer Report

2016 estima que apenas 40 a 50 % dos casos de demência estão identificados nos países

mais desenvolvidos, o que sugere que os números reais podem ser muito superiores (Prince

et al., 2016). Em Portugal, existem cerca de 182 mil pessoas com demência e 130 mil com

Alzheimer (Santana et al., 2015). No entanto, de acordo com o relatório “Health at a Glance

2017”, da OCDE, publicado a 10 de novembro de 2017, o número de casos com demência

para Portugal sobe para 205 mil pessoas, podendo este aumentar para 322 mil casos até

2037. Ainda segundo este relatório, Portugal ocupa a quarta posição com mais casos por

mil habitantes, 19,9 casos por cada mil habitantes (Associação Alzheimer Portugal). A idade

constitui o fator de risco mais significativo para a doença de Alzheimer, consequentemente,

após os 65 anos de idade, a prevalência de DA duplica a cada 5 anos (Lane, Hardy e Schott,

2018).

Para além da idade, confirmam-se vários fatores de risco modificáveis e não modificáveis,

nomeadamente a hereditariedade e fatores genéticas (mutações patogénicas e genes de

suscetibilidade como o polimorfismo APOE-e4); fatores de risco vasculares (diabetes,

hipertensão, tabagismo, dislipidemia, obesidade); influências culturais e hábitos de vida

18

(escolaridade, estimulação social e cognitiva, sedentarismo vs. exercício físico); depressão

e traumatismo cerebral (Alzheimer’s Association, 2018).

A DA é em termos patológicos uma doença degenerativa (em que existe morte neuronal

progressiva) com dois marcadores histológicos: a acumulação extracelular do péptido beta

amilóide (Aβ), placas senis; e depósitos intraneuronais da proteína Tau hiperfosforilada,

constituindo as tranças neurofibrilares (NFT). O cérebro dos indivíduos com DA degenera e

o seu volume diminui, muito devido à morte de neurónios corticais em áreas chave como

os hipocampos, responsáveis pela memória (Sousa, 2017).

Na fisiopatologia da DA existem dois mecanismos fulcrais (Figura 7) (Sousa, 2017):

a) Aumento da produção do péptido beta amilóide (Aβ42), que se acumula e tende a

formar placas senis;

b) Hiperfosforilação da proteína Tau, que afeta a estabilização dos microtúbulos.

Desta forma, a organização do citoesqueleto axonal é perturbada e os filamentos

da proteína Tau defeituosos reúnem-se para formar agregados no neurónio. Esta

acumulação anormal cria tranças neurofibrilares (NFT), muito relacionados com a

morte neuronal.

A cascata de eventos bioquímicos, que conduz à clivagem da Proteína Precursora da

Amilóide (APP), tem como produto final a beta amilóide (Aβ) (Karch, Cruchaga e Goate,

2014). A Aβ é um péptido que está presente no cérebro e no líquido cefalorraquidiano

(LCR), quer sob a forma do fragmento Aβ40 e do fragmento Aβ42, sendo que este último

tem uma maior tendência para formar agregados tóxicos, como verificado na doença de

Alzheimer (Sousa, 2017).

Outra cascata patológica importante é a hiperfosforilação da proteína Tau que origina a

formação de tranças neurofibrilares (NFT) e pode conduzir, por si só, à patologia e

sintomatologia associadas à DA (Sousa, 2017).

As funções das proteínas Tau no seu estado normal incluem a regulação dinâmica de

microtúbulos, que dependem do estado de fosforilação. A hiperfosforilação da proteína

Tau conduz à perda de estabilidade dos microtúbulos, alterando o transporte axonal e

comprometendo a viabilidade neuronal, com consequente impacto a nível cognitivo

(Domise et al., 2016).

19

Diversos estudos têm examinado a dinâmica de biomarcadores do plasma e do LCR,

estando o grande foco na proteína Aβ e na proteína Tau, como possíveis biomarcadores da

doença de Alzheimer (Karch, Cruchaga e Goate, 2014). A acumulação cerebral de

fragmentos de Aβ e de proteína Tau antecede os sintomas cerca de 10 anos (fase pré-clínica

de DA) e pode ser detetada através da análise do líquido cefalorraquidiano, do plasma e/ou

através de neuroimagem (Wang et al., 2014).

3.1.1. O diagnóstico

Em 1984, o National Institute of Neurological and Communicative Disorders and Stroke

(NINCDS) e a Alzheimer’s Disease and Related Disorders Association (ADRDA)

estabeleceram critérios e descreveram o diagnóstico clínico da DA, baseando-se em

histórias médicas, exames clínicos, testes neuropsicológicos e avaliações laboratoriais.

Estes critérios, comumente referidos como os critérios NINCDS-ADRDA, foram bem-

Figura 7. “Hipótese da Cascata de Amilóide” e potenciais biomarcadores da DA. A clivagem

proteolítica da APP, primeiro pela β-secretase seguida pela γ-secretase, pode produzir Aβ42 e

outros fragmentos Aβ mais curtos. A agregação subsequente de Aβ42 resulta em oligómeros e

fibrilas amilóides. As fibrilas amilóides são eventualmente depositadas como placas senis, como

mostrado. A toxicidade dos oligómeros e das fibrilas amilóides pode levar à cascata de

hiperfosforilação da proteína Tau, que é de outra forma ligada aos microtúbulos, proporcionando

estabilidade aos microtúbulos. Após a hiperfosforilação, a proteína Tau dissocia-se dos

microtúbulos e agrega-se em NFT, o que, eventualmente, causa aumento da flexibilidade do

citoesqueleto e morte neuronal. Fonte: Anoop et al., 2010

20

sucedidos, tendo sido amplamente aplicados no diagnóstico e investigação clínica em

Alzheimer por mais de 27 anos. Em 2011, procedeu-se uma revisão que se impunha face à

evolução do conhecimento, dos quais se destacam (McKhann et al., 2011):

1. A patologia histológica da DA (que passou a ser entendida como uma entidade

biológica) pode ser encontrada num amplo espectro clínico, que inclui indivíduos

que ainda são cognitivamente normais (pré-sintomáticos), os que já apresentam

algum défice - Défice Cognitivo Ligeiro (DCL) e doentes com demência (Figura 8);

2. A demência devida a DA, uma fase clínica do referido espectro biológico, refere-se

à síndrome clínica que surge como consequência do processo fisiopatológico da DA;

3. Falta de reconhecimento das características distintivas relativamente a condições

de demência associada ao envelhecimento, que não foram completamente

reconhecidas anteriormente;

4. A implicação de que o comprometimento da memória é sempre o défice cognitivo

primário em todos os pacientes com demência de DA;

5. Necessidade de incorporar biomarcadores no diagnóstico de demência de DA e

DCL, como sejam a Ressonância Magnética (RM), Tomografia por Emissão de

Positrões (PET) e exames do Líquido Cefalorraquidiano (LCR);

6. Falta de informação sobre a genética da DA;

7. Limitações ao diagnóstico de demência por DA em idades mais avançadas;

8. Extrema heterogeneidade da categoria “possível” de demência da DA, incluindo um

grupo de pacientes que agora seriam diagnosticados como DCL.

O interesse atual de investigação tem-se focado nas fases mais iniciais da doença, uma vez

que a evidência científica sugere que o processo fisiopatológico da doença de Alzheimer

(DA) começa anos antes do diagnóstico de demência clínica, já sendo possível identificar

biologicamente a doença cerca de 20 anos antes de a pessoa desenvolver sintomas

(Sperling et al., 2011). Os novos critérios definem não apenas a demência por DA (McKhann

et al., 2011), mas também uma fase pré-clínica de DA (Sperling et al., 2011) e uma fase

intermédia de Défice Cognitivo Ligeiro (DCL), que precede a demência (Albert et al., 2011).

Este período pré-demencial por ser revelado pode ser detetado in vivo em indivíduos

21

assintomáticos anos antes do início do declínio cognitivo através de biomarcadores, como

sejam a proteína beta amilóide e proteína Tau, no líquido cefalorraquidiano (Weintraub,

Wicklund e Salmon, 2012).

A deteção pré-sintomática da DA é crucial, pois facilitaria o desenvolvimento de uma

terapêutica preventiva ou estabilizadora precoce. Os biomarcadores passaram assim a ser

valorizados como indicadores do processo patológico. Como tal, são essenciais para a

deteção precoce da doença, diagnóstico, monitorização da progressão da doença e da

resposta terapêutica (Aluise, Sowell e Butterfield, 2008). As técnicas de neuroimagem

avaliam a morfologia e função do cérebro. Os fluidos corporais, como o líquido

cefalorraquidiano (LCR), o plasma e a urina, são considerados fontes importantes para o

desenvolvimento dos biomarcadores da DA (tabela 4). Destes, o LCR apresenta o maior

potencial para o desenvolvimento de biomarcadores, pois está em contato direto com o

parênquima cerebral, refletindo mudanças bioquímicas que aí ocorrem (Maji et al., 2010).

Tabela 4

Biomarcadores promissores para DA.

Categoria Marcadores Vantagens Limitações

Avaliação imagiológica TAC, RM, PET, PIB-PET 1 – Não invasivo;

2 – Detalhes estruturais e funcionais do cérebro;

3 – Revela progressão da doença.

1 – Dispendioso;

2 – Requere pessoal especializado;

3 – A sensibilidade e especificidade para DA não são satisfatórias, nalguns casos.

Nascimento

10

20

30

40

50

60

70

100

90

80

Preventiva

Em modificação

Sintomática

DA Provável

DCL

Figura 8. Dos sintomas para a doença. Fonte: Shaw et al., 2007

22

Plasma Α-Macroglobina, fator H do Complemento, Aβ42

1 – Não invasivo;

2 – Amostras facilmente acessíveis.

1 - Menor correlação com DA;

2 – Menor sensibilidade e especificidade para o diagnóstico de DA.

LCR Aβ42, t-tau, p-tau p-tau / Aβ42, t-tau/ Aβ42

1 – Correlação direta com DA;

2 – Elevada sensibilidade e especificidade.

1 – Invasivo – amostra recolhida por punção lombar;

2 – Resultados pouco standardizados e reprodutíveis, devido ao armazenamento e transporte da amostra.

Fonte: Anoop, 2010

Infelizmente, ainda não existe um teste único específico para o diagnóstico da Doença de

Alzheimer. Em vez disso, uma equipa multidisciplinar, neurologistas, psiquiatras, geriatras,

psicólogos e enfermeiros, aplicam diversas abordagens e ferramentas, auxiliando assim o

processo de diagnóstico (Alzheimer’s Association, 2018; Norma nº 053/2011 de 27 de

Dezembro):

• Obtenção da história pessoal, incluindo um histórico médico individual e familiar;

• Avaliação cognitiva ou neuropsicológica para deteção, caracterização e controlo da

evolução do défice cognitivo, através da aplicação de instrumentos como o Exame

Neuropsicológico, o Mini-Mental State Examination (MMSE) e o Montreal Cognitive

Assessment (MOCA);

• Avaliação das atividades da vida diária para caracterização do prejuízo funcional do

processo demencial, controlo da evolução da doença e avaliação da eficácia da

terapêutica farmacológica e não farmacológica aplicadas, através da aplicação de

escalas funcionais;

• Avaliação das alterações psicológicas e comportamentais;

• Exame físico e testes laboratoriais, tais como análises ao sangue e à urina;

• Avaliação imagiológica para exclusão de lesões cerebrais e quantificação

volumétrica de atrofia em áreas cerebrais relevantes, através da Tomografia

Computorizada (TAC) crânio-encefálica e da Ressonância Magnética (RM);

23

• Outras análises e exames incluem: Punção Lombar para análise do líquido

cefalorraquidiano; Tomografia Computorizada por emissão de fotão único (SPECT)

cerebral; Tomografia por Emissão de Positrões (PET);

• Realização de Estudo Genético para pesquisa de mutações em genes implicados em

demências, em casos de história familiar sugestiva de doença autossómica

dominante ou um fenótipo sugestivo.

Défice Cognitivo Ligeiro

É importante salientar que, a doença de Alzheimer (DA) é uma doença lenta e progressiva,

sem eventos específicos que definem o seu início e progressão, dificultando o diagnóstico

e a definição das diferentes fases clínicas da doença (Albert et al., 2011). Existe, no entanto,

um crescente consenso de que a doença se manifesta inicialmente por um prejuízo da

memória (designado por Défice Cognitivo Ligeiro (DCL)) que não envolve outras funções

cognitivas e na qual o indivíduo tem a sua autonomia preservada. Quando o declínio

cognitivo interfere com as atividades diárias considera-se a fase demência por DA. (Albert

et al., 2011).

Os critérios para o diagnóstico da síndrome clínica e cognitiva de DCL incluem (Albert et al.,

2011):

• Queixas subjetivas de declínio da memória, comparativamente ao nível prévio da

pessoa. Preferivelmente se forem corroboradas por um informador;

• Comprometimento objetivo em um ou mais domínios cognitivos, tendo em conta a

idade e a escolaridade do paciente;

• Preservação da função cognitiva geral;

• Preservação da independência nas atividades da vida diária;

• Não demente, ou seja, as mudanças cognitivas devem ser suficientemente leves, de

modo que não haja evidência de um prejuízo significativo no funcionamento social

ou ocupacional

Estima-se que cerca de 15% a 20% por cento das pessoas com 65 anos ou mais sofrem de

DCL (Roberts e Knopman, 2013), sendo que estes doentes têm uma elevada probabilidade

de desenvolver Alzheimer com uma taxa de conversão de cerca de 15% por ano

24

(Alzheimer’s Association, 2018). Em doentes que, além da síndrome clínico apresentam

marcadores biológicos, pode considerar-se o diagnóstico de uma fase inicial de Alzheimer

(chamado DCL devido à doença de Alzheimer). No entanto, o DCL pode sinalizar outras

demências degenerativas e nalguns casos permanece estável ou reverte para a cognição

normal (Alzheimer’s Association, 2018).

3.1.2. A abordagem terapêutica

O percurso da investigação na área do tratamento da Doença de Alzheimer (DA) é muito

longo, com muitos sucessos, mas, também com muitas frustrações. Nenhum dos

tratamentos farmacológicos atualmente disponíveis têm capacidade de prevenir, reparar

ou retardar o dano e a destruição celular, o que torna esta doença fatal (Alzheimer’s

Association, 2018).

Desde 2003 que não é aprovado um novo medicamento (o último foi a Memantina), mas

continua a trabalhar-se afincadamente para identificar fármacos inovadores. A doença de

Alzheimer é a segunda área de investigação com o maior número de ensaios clínicos.

Existem, de momento, cerca de 3 milhões de artigos na área do cancro e 250 000 na área

do Alzheimer, o que sugere que aos poucos o trabalho nesta área vai acompanhando e

marcando presença (Patterson, 2018).

Uma vez que ainda não é possível impedir o progresso da doença, as terapêuticas

existentes apenas aliviam os sintomas, temporariamente (Sousa, 2017). Os fármacos

utilizados como primeira linha no tratamento da DA, da fase ligeira à severa são: o

donepezilo, a rivastigmina, a galantamina e a memantina (tabela 5) (Müller, 2007).

Tabela 5

Medicamentos utilizados para o tratamento da DA.

Mecanismo Indicação FDA

Donepezilo Inibidor das colinesterases DA Ligeira a Severa

Rivastigmina DCLewy ligeira a severa

Demência associada à doença de Parkinson ligeira a moderada

Galantamina DA Ligeira a Moderada

Memantina Modelador dos recetores NMDA DA Moderada a Severa

Memantina + Donepezilo Inibidor das colinesterases + antagonista NMDA

DA Ligeira a Severa

Fonte: Sousa, 2017

25

O donepezilo, a rivastigmina e a galantamina são fármacos procolinérgicos. A acetilcolina é

um neurotransmissor importante para a memória. A morte neuronal em regiões chave para

a sua produção conduz à redução deste mediador e a forma que se encontrou de aumentar

os seus níveis a nível da sinapse é reduzir o seu metabolismo por fármacos que inibem as

enzimas que a degradam – acetilcolinesterase e a butirilcolinesterase. Assim, uma possível

abordagem terapêutica passa pela inibição das colinesterases cerebrais, levando a um

aumento da concentração de acetilcolina na fenda sináptica e a uma melhoria da memória

(Müller, 2007).

Pertencem a esta classe de fármacos o donepezilo, um inibidor reversível da

acetilcolinesterase (Sousa, 2017), a rivastigmina, que inibe a acetilcolinesterase e a

butirilcolinesterase de forma irreversível (Müller, 2007) e a galantamina, que é um inibidor

seletivo, competitivo e reversível da acetilcolinesterase (Sousa, 2017).

A memantina é um modelador do recetor N-metil-D-Aspartato (NMDA) (Hager et al., 2016).

Os doentes de Alzheimer apresentam um aumento das concentrações de glutamato, que

tem um efeito tóxico através de mecanismos de neuroinflamação e neurodegenerescência

(Bading, 2017). A combinação da memantina com inibidores da acetilcolinesterase tem um

efeito eventualmente aditivo na cognição e pode ser utilizada no tratamento da DA (Hager

et al., 2016).

Para além da terapia farmacológica, na DA são também utilizadas terapias não

farmacológicas com o objetivo de manter ou melhorar a função cognitiva, a capacidade de

realizar atividades da vida diária ou ainda a qualidade de vida geral. Alguns dos exemplos

incluem: estimulação da memória por técnicas clássicas ou computadorizada (terapia

cognitiva), musicoterapia, a prática de exercício físico, etc. Infelizmente, tal como acontece

com as terapias farmacológicas, as terapias não farmacológicas não retardam ou impedem

a destruição neuronal progressiva que está na origem dos sintomas de Alzheimer e que

tornam a doença fatal (Alzheimer’s Association, 2018).

4. O ato de Cuidar

O envelhecimento populacional, associado ao aumento significativo de pessoas com

doenças crónicas, levanta desafios gritantes nos domínios da saúde e da prestação de

26

cuidados, uma vez que constitui uma das principais causas de incapacidade e dependência

física, criando cenários de necessidade de apoio por parte de terceiros (Sequeira, 2010).

Entende-se por pessoa em situação de dependência (Teixeira et al., 2017):

A pessoa que, por falta ou perda de autonomia física, psíquica ou intelectual, resultante ou agravada por doença crónica, demência, sequelas pós-traumáticas, deficiência, doença severa e ou incurável em fase avançada, ausência ou escassez de apoio familiar ou de outra natureza, não consegue, por si só, realizar as atividades da vida diária (Decreto-Lei n.º 101/2006, de 6 de junho). Por forma a avaliar o grau de dependência, deverá ser utilizado o método de avaliação funcional, pois este revela-se um indicador sensível e relevante para avaliar necessidades e determinar a utilização de recursos. A “funcionalidade” é a capacidade que uma pessoa possui, em cada momento, para realizar tarefas de subsistência, para se relacionar com o meio envolvente e para participar socialmente (Decreto-Lei n.º 101/2006, de 6 de junho).

É relevante distinguir os conceitos de independência e autonomia, pois são conceitos

díspares. Na visão de Sequeira (2010), a autonomia refere-se à capacidade de uma pessoa

gerir e controlar a sua vida tomando decisões no dia-a-dia, de acordo com os seus valores,

padrões, preferências e regras. Já a independência, segundo o mesmo autor, diz respeito à

capacidade de desempenhar atividades da vida diária e tarefas de autocuidado sem ajuda

de terceiros (Ferreira, 2017). Por conseguinte, um maior índice de dependência implica a

necessidade de recorrer a prestadores de cuidado (Sequeira, 2010; Fernandes, 2014).

Prestar e receber cuidados são componentes centrais da vida social, na medida em que se

manifestam pelos seus valores, atitudes e comportamentos (Sequeira, 2010). São, hoje, o

cerne de uma questão política candente em todas as sociedades (Kröger, 2009). O número

de cuidadores será insuficiente para atender às necessidades de um número crescente de

pessoas dependentes (Tronto, 2013).

A literatura sobre cuidados evoluiu significativamente nos últimos anos. O conceito de

cuidado tem sido sucessivamente modificado, de forma a torná-lo mais abrangente,

explicando a dinâmica dos seus atores, e das condições em que é prestado (São José, De,

2016). Sequeira (2010:159) reitera que cuidar “não é apenas mais uma função ou uma

tarefa, mas sim uma forma de estar no mundo, um ato solidário que envolve respeito,

reciprocidade e complementaridade. Assim, o cuidar está presente em todas as culturas e

apenas difere na sua forma de expressão e de realização.” Segundo Pimentel (2013), o ato

de cuidar inclui cuidados pessoais diretos e da vida prática, suporte emocional e assistência

pessoal, de acordo com as necessidades sentidas. A mesma autora defende que o cuidado

27

é fundamental para a promoção da qualidade de vida e bem-estar geral da pessoa

dependente (Ferreira, 2017). São José (2016) avança com uma definição inovadora do ato

de cuidar numa tentativa de incluir a maioria das relacionadas com este conceito:

Care is both a disposition and na activity, materialised in a process involving at least one caregiver and one care-receiver, both having their own social identities. Care is intrinsically relational, as it is na action oriented to the other, usually with the ultimate purpose of promoting his/her well-being. The care relationship is based on interconnectedness and interdependence, can be anchored in kinship and/or other kinds of social relations, can take place in the state domain and/or other social domains and in different locations or settings. Care can be founded in love, duty or other rationales and, as na activity, may include diferente kinds of tasks, which are carried out under certain working conditions and by using a certain approach. The activity of care, as well as the caregiver and the care-receiver, are embedded in contexts of diferente nature and diferente level of proximity, which shape the care process, the care practices and the meaning of care for all the actors involved. The consequences of care, for both the Caregiver and care-receiver, can be positive or negative (São José, 2016: 68).

A prestação de cuidados assume dois âmbitos distintos - o cuidado formal, que se direciona

para uma atividade profissional, ou o cuidado informal (Pimentel, 2013).

No âmbito do cuidado formal, este pode ser desenvolvido tanto pelo setor público como

pelo privado e é realizado por profissionais remunerados com a devida qualificação

(médicos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas, técnicos sociais, entre outros) que se

transformam em cuidadores formais, pelo facto de possuírem competências específicas

para assumirem essa função (Sequeira, 2010). Estes cuidadores estão, normalmente,

integrados em instituições sociais ou de saúde onde desenvolvem a sua atividade (Ferreira,

2017). Atualmente, Estruturas Residenciais para Idosos (ERPI), Centros de Dia, Centros de

Noites, Centros de Convívio, Apoio Domiciliário Integrado (ADI), Unidade de Apoio

Integrado (UAI) e Serviços de Apoio Domiciliário (SAD) são as principais respostas de

prestação de cuidados à população idosa e dependente (Ferreira, 2017).

Já no âmbito do cuidado informal, este carateriza-se por uma prestação de cuidados, não

remunerada e não planeada, preferencialmente no domicílio e, por norma, desenvolvida

por familiares, amigos ou vizinhos (Sequeira, 2010).

Um cenário de necessidade implica a tomada de decisão por cuidados formais e/ou

informais. O preço, a qualidade, disponibilidade dos cuidados formais e o compromisso dos

familiares ou de outros em assumir esse papel são fatores que influenciam a escolha (Pires,

2015). Por norma a prestação de cuidados é assumida num primeiro momento por atores

do cuidado informal, que recorrem, posteriormente, aos cuidados formais quando já não

28

conseguem satisfazer as necessidades do recetor de cuidados (Ferreira, 2017). No entanto,

o cuidado informal é uma condição preferencial para os recetores de cuidado e os

formuladores de políticas, devido aos custos elevados associados ao cuidado formal

(European Commission, 2018). Em Portugal, as políticas motivam a permanência da pessoa

dependente no domicílio e desencorajam a institucionalização. Assim, os cuidadores

informais ocupam a primeira linha de apoio dos cuidados continuados prestados a pessoas

dependentes. O seu trabalho tem um valor económico inquestionável e constitui um fator

de sustentabilidade dos sistemas sociais e de saúde (Teixeira et al., 2017). Segundo

Fonseca, Mira e Gato (2008), a prestação de cuidados em contexto domiciliário pode trazer

benefícios para a pessoa com demência e para o cuidador. Não implica horários e o cuidado

é prestado no momento mais adequado, permitindo a proximidade da pessoa com

demência com aquilo que são as suas rotinas diárias, o seu espaço e as suas recordações,

possibilitando assim ao cuidador a manutenção do seu papel familiar e social e uma melhor

gestão do seu tempo permitindo , igualmente, que o cuidador e o recetor de cuidados

mantenham a intimidade que tinham antes do cenário de dependência (Monteiro, 2016).

4.1. O Cuidado Informal

O cuidado informal é uma comodidade heterogénea, variando no tempo investido, na

duração da prestação e no número de tarefas de cuidado prestado. Constitui um processo

dinâmico e está intimamente ligado às necessidades do recetor de cuidados que, por sua

vez, dependem de outros fatores, como o estado de saúde (Berg, van den et al., 2005).

Segundo Martín (2005), o cuidador informal é considerado o elemento da rede social do

indivíduo (familiar, amigo, vizinho) que presta cuidados regulares a uma pessoa de modo

não remunerado e sem vínculo profissional. Podem ser principais ou secundários, tendo

em conta o grau de envolvimento na prestação de cuidados, podendo viver junto ou

separado da pessoa a quem presta os cuidados. São os primeiros responsáveis pela saúde

dos dependentes, tornando-se parceiros quase invisíveis para os serviços de saúde

(Monteiro, 2016).

Segundo Alves e Teixeira (2016), os cuidadores informais são pessoas que cuidam de outra,

fora do âmbito profissional, numa situação de necessidade, sendo que o cuidador informal

principal é aquele que se assume como o responsável pela prestação de cuidados. Os

29

cuidadores desenvolvem múltiplas tarefas, exclusivas ou complementares do cuidado

formal, e caracterizam-se por: não terem competências específicas no domínio do cuidado;

não terem um vínculo contratual; não serem remunerados; executarem múltiplas

atividades; investirem um tempo ilimitado no ato de cuidar (Teixeira et al., 2017).

A frequência e o tipo de cuidados prestados pelos cuidadores informais variam consoante

fatores não estáticos, que se desenvolvem ao longo do tempo, introduzindo novos aspetos,

tarefas e sentimentos. Tais fatores incluem a fase da doença, o tipo de dependência (física,

mental ou ambas), a proximidade geográfica entre o cuidador e a pessoa cuidada, a

situação socioeconómica de ambos, entre outros (Paúl, 1997). As tarefas desempenhadas

pelo cuidador caracterizam-se como: antecipatórias (antevisão de necessidades futuras),

preventivas (evitar, prevenir ou retardar a doença), de supervisão (ações diretas de

resolução de problemas), instrumentais (realização das atividades básicas e instrumentais

da vida diária) e protetoras (proteção contra as ameaças à autoimagem, identidade e bem-

estar emocional da pessoa dependente) (Monteiro, 2016). Os cuidadores informais atuam

em três domínios: Atividades Básicas da Vida Diária (ABVD); Atividades Instrumentais da

Vida Diária (AIVD); Apoio emocional (Teixeira et al., 2017).

As ABVD estão normalmente relacionadas com o autocuidado e a mobilidade e são

definidas como um conjunto de atividades primárias que permitem ao individuo viver com

autonomia e independência, incluindo atividades como: comer, uso da casa de banho,

arranjar-se, vestir-se, tomar banho, deambular, etc (Sequeira, 2010). As AIVD possibilitam

ao indivíduo adaptar-se ao meio e manter a sua independência na comunidade.

Relacionam-se com o estado cognitivo e abrangem tarefas como cozinhar, usar

transportes, usar dinheiro, usar o telefone, etc (Sequeira, 2010).

Quando uma pessoa se assume enquanto cuidador informal, assume-se também como

agente de promoção da participação na comunidade da pessoa dependente, da construção

de um ambiente seguro e confortável para indivíduos dependentes, de colaboração com

os profissionais de saúde, de defesa dos direitos da pessoa que cuidam e de sensibilização

da população para as situações de dependência (Teixeira et al., 2017).

Ser cuidador informal é um compromisso de grande nobreza, que está associado a um

enorme desgaste físico, emocional e social, no entanto, são inúmeros os relatos de

gratificação e de significância do ato de cuidar, que não deixa de ser uma fonte de

30

satisfação, amor e aprendizagem (Martín, 2005). É um ato voluntário, que deve ser

incentivado (Teixeira et al., 2017).

A identidade do cuidador resulta da sua história pessoal e do contexto social e cultural. A

investigação na área refere que, de uma forma geral, os cuidadores informais são mulheres

(Andrade, 2009; Figueiredo, 2007; Lemos, 2012). Muitos autores têm focado o seu trabalho

no estudo da influência do género no cuidado e acreditam que, para muitas mulheres,

cuidar de um familiar é uma ampliação do seu papel de esposa, mãe e dona de casa. Quanto

à idade, vários estudos revelam que a maioria dos cuidadores informais se encontra no

intervalo de idades dos 45-60 anos (Andrade, 2009; Figueiredo, 2007). Por norma, quanto

mais velha for a pessoa dependente, mais velho será o cuidador. Quanto ao grau de

parentesco, na maioria das vezes, são os cônjuges que assumem a maior responsabilidade

do cuidado, sendo que, quando estão ausentes, são normalmente os filhos que prestam os

cuidados (Andrade, 2009; Figueiredo, 2007; Cunha, 2012; Lemos, 2012). A nível laboral,

Figueiredo (2007) revela que 64% dos cuidadores têm uma ocupação remunerada (52% a

tempo inteiro e 12% a tempo parcial) e apenas 16% estão reformados, considerando-se os

restantes como “não empregados”. A atividade profissional dos cuidadores varia

consoante os países. Em Portugal, Figueiredo (2007) concluiu que as maiores percentagens

correspondem à atividade doméstica. Num estudo português, conduzido em 2015,

concluiu-se que os cuidadores informais têm baixas habilitações académicas e pouco mais

de metade encontra-se empregada, revelando a dificuldade em conciliar a função de

cuidador com a atividade profissional (Teixeira et al., 2017).

4.1.1. As necessidades do Cuidador Informal e as medidas de intervenção

Segundo o Despacho nº 5988-2018 de 19 de junho do Gabinete do Secretário de Estado

Adjunto e da Saúde, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) deve organizar- se e focar- se na

qualidade e na ética da prestação de cuidados, promovendo disponibilidade,

acessibilidade, comodidade, celeridade e humanização. Deve prevenir a doença e

promover a saúde dos cidadãos, quer daqueles em situação de fragilidade, quer dos

cuidadores informais que prestam cuidados às pessoas dependentes. Assim, tendo em

conta o quadro da demência em Portugal, de contornos que se preveem assustadores para

o futuro, é urgente que o Estado reconheça a demência como uma prioridade nacional e

31

que defina uma estratégia nacional na área das demências. As pessoas com demência têm

os mesmos direitos que as pessoas que não sofrem desta condição assumem como

garantidos: direito ao diagnóstico; direito à prestação de cuidados de saúde; direito aos

serviços e estruturas de apoio (Despacho nº 5988-2018 de 19 de junho).

Através do Despacho nº 5988-2018 foi igualmente aprovada a Estratégia da Saúde na Área

das Demências, que define os princípios a que devem obedecer os cuidados a pessoas com

demência, os critérios a utilizar na intervenção preventiva, as medidas a adotar

relativamente à deteção precoce, as medidas de acesso ao diagnóstico médico bem como

ao diagnóstico compreensivo, e o escalonamento das respostas terapêuticas (Despacho nº

5988-2018 de 19 de junho).

Infelizmente, a atenção que Portugal tem dado às demências é irrisória, estando muito

longe na definição de políticas nacionais e no acompanhamento de redes e programas

internacionais neste campo. Trabalha agora na sua primeira estratégia de saúde nesta área,

enquanto a maioria dos países europeus já desenvolve a sua segunda ou terceira

estratégia. Contudo têm sido registados passos recentes a nível político, legislativo,

associativo e científico (Despacho nº 5988-2018 de 19 de junho):

• Publicação do documento “Plano Nacional de Intervenção Alzheimer”, pela

Alzheimer Portugal, em 2009;

• Aprovação das Resoluções da Assembleia da República, nº 133 e nº 134, em 2010,

que convidavam o Governo a considerar as demências como prioridade nacional;

• Publicação da Lei nº 25/2012, de 16 de julho, em 2012, que regula as diretivas

antecipadas de vontade, designadamente sob a forma de testamento vital;

• Promoção do Seminário “Estruturação do Plano Nacional de Intervenção em

Perturbações Demenciais” e do II Seminário “Estruturação do Plano Nacional de

Intervenção em Perturbações Demenciais”, pela Direção Geral da Saúde (DGS).

Estes seminários promoveram discussões sobre estratégias para a demência em

Portugal;

• Aprovação da Estratégia de Proteção para o Idoso, em 2015. No seguimento, foram

apresentados dois Projetos de Lei, nos 61 e 62/XIII/1ª, que modificariam o regime

das incapacidades e o seu suprimento, e criminalizando um conjunto de condutas

32

que atentam contra os direitos fundamentais dos idosos. Contudo, ainda não foram

apreciados em Plenário.

• Publicação de normas para a abordagem terapêutica das alterações cognitivas, pela

DGS, em 2011. Não é claro o seu caráter vinculativo;

• Participação em estudos estatísticos internacionais como o “Actifcare — ACcess to

TImely Formal care” e o “RHAPSODY — Research and Strategy for Dementia in the

Young” e desenvolvimento de projetos nacionais como o “VIDAS (Valorização e

Inovação em Demências)”, da União das Misericórdias Portuguesas, o

“Identificação de problemas e necessidades psicossociais de pessoas idosas em

centros de dia e lares residenciais, em relação com as demências”, e o “Cuidar

Melhor”, da iniciativa da Alzheimer Portugal (em colaboração).

De uma forma geral, na área das demências, o sistema de saúde português apresenta

aspetos favoráveis como o acesso universal e tendencialmente gratuito ao SNS, a

excelência dos serviços especializados e a qualidade e crescente formação na área da

psicogeriatria e gerontologia. No entanto, são ainda inúmeras as barreiras e desafios

(Despacho nº 5988-2018 de 19 de junho): dificuldade dos hospitais gerais em lidar com as

especificidades e complexidade da demência; as dificuldades dos cuidados de saúde

primários em lidar com o diagnóstico e gestão da doença e a ligação com os cuidados

especializados; a escassez de opções para intervenções não farmacológicas; a dificuldade

de articulação de todos os intervenientes, os setores de saúde, público e privado, e o

terceiro setor. Uma das maiores problemáticas atuais em Portugal na área das demências

passa também pelo cuidado informal, que tem desencadeado inúmeras discussões públicas

e parlamentares (Despacho nº 5988-2018 de 19 de junho).

É crescente a tomada de consciência das inúmeras necessidades não cobertas nos

cuidadores informais. Existem desigualdades nos padrões de acesso e no uso dos serviços,

tal que a maioria não tem condições económicas que suportem o pagamento de cuidados

formais, e a complementaridade entre os cuidados formais e informais é muito fraca

(Barbosa e Matos, 2014). Também uma publicação recente da Alzheimer Europe classifica

como insuficiente a disponibilidade de respostas (Despacho nº 5988-2018 de 19 de junho).

Desta forma, os cuidadores informais são sobrecarregados com uma enorme

responsabilidade na prestação de cuidados e, constituindo um fator de sustentabilidade do

33

sistema de saúde, o Estado tem por obrigação proteger os cidadãos que assumem este

papel (Teixeira et al., 2017).

As tarefas envolvidas no ato de cuidar são desconfortáveis, pouco agradáveis e, quando

realizadas durante um longo período de tempo, provocam sobrecarga não só física, mas

também psicológica nos cuidadores informais, que, por norma acusam stress e exaustão

(Barbosa e Matos, 2014). Cuidar envolve um enorme investimento de dinheiro, energia e

tempo, o que limita a inclusão e participação social do cuidador. É igualmente expectável

um aumento dos custos do indivíduo dependente e do prestador de cuidados, uma vez que

aumenta a utilização de serviços e recursos de saúde pelos dois, normalmente aliado a um

cenário em que o cuidador reduz ou abdica do trabalho e reorganiza o seu contexto familiar

pela necessidade de compatibilizar as responsabilidades profissionais, de cuidado e

familiares. Para atenuar o grau de exigência muitos países europeus têm já adotado e

implementado políticas reativas para uma abordagem mais proactiva, orientadas para a

prevenção da perda de autonomia e redução das necessidades dos cuidadores (Teixeira et

al., 2017). Infelizmente, em Portugal, o apoio do Estado ao cuidado informal é ainda uma

realidade muito aquém do que seria desejável. O Governo português não reconhece

legalmente o papel dos cuidadores informais, confiando, em vez disso, na "obrigação da

família de cuidar de seus ascendentes e descendentes, com base na sua afeição e no papel

central da família" (Portugal, 2007:43).

A Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu, 1984, que a saúde é "um estado de

completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença e de

inimizade". Tendo em conta esta definição, é uma prioridade a preocupação com a gestão

da doença da pessoa dependente, mas é também fundamental orientar o olhar para o

cuidador informal e para as condições em que este gere e controla a sua vida e a prestação

de cuidados (Janssen et al., 2017). Os apoios que o cuidador recebe são particularmente

importantes para o sucesso do papel do cuidador (Teixeira et al., 2017).

Carretero, Stewart e Centeno (2015) referem que as necessidades dos prestadores de

cuidados se refletem na formação, educação, informação, apoio psicológico,

aconselhamento, participação social, linguagem e cultura, reconciliação casa e trabalho e

proteção dos seus direitos. Implicam, assim, a intervenção de vários setores de atividade.

34

Algumas das medidas de proteção que foram já adotadas noutros países europeus incluem

(Teixeira et al., 2017):

• Promoção do descanso do cuidador, que tem como principal objetivo aumentar ou

restaurar a habilidade do cuidador e aliviar a sobrecarga associada ao cuidar;

• Estimulação do Empowerment. Agregação de indivíduos que partilham o seu

conhecimento, aumentando a consciência crítica, a proatividade na utilização de

serviços e recursos de saúde e a colaboração com os profissionais de saúde;

• Utilização de Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), que promovam a

vida independente. Estas incluem o telecuidado, as tecnologias assistivas, os

sistemas de alarme em casa, dispositivos de geolocalização, sensores, etc. Aliviam,

assim, a preocupação dos cuidadores;

• Criação de oportunidades de aprendizagem e formação, relevantes e acessíveis,

tendo em conta as desigualdades geográficas, as condições organizacionais e o

reconhecimento legal dos cuidadores;

• Orientação, aconselhamento e apoio. Países como a França, a Finlândia, Itália,

Suécia e Reino Unido já desenvolvem medidas nestes domínios. Em Portugal, foi

também lançada uma plataforma para apoio aos cuidadores informais, estando

disponível a nível nacional pelo site www.cuidadoresportugal.pt;

• Reconhecimento legal dos cuidadores informais. Representa uma valorização com

recurso a medidas políticas mais protetoras e de reconhecimento crescentes. Países

como a França, Alemanha, Irlanda, Reino Unido e Suécia já implementaram um

Estatuto do Cuidador Informal;

• Atribuição de um subsídio ao cuidador. Este funciona como instrumento de

valorização e reconhecimento, que permite a compensação pelas despesas

adicionais associadas à prestação dos cuidados e à redução da atividade

profissional. Este tipo de pagamentos na Suécia, Noruega, Dinamarca e Finlândia

constituem uma remuneração que é atribuída num contexto de sobrecarga e

exigência. No Reino Unido, na Irlanda e na Austrália a atribuição destes subsídios é

limitada aos cuidadores economicamente vulneráveis. Em Portugal, um dos apoios

35

da Segurança Social é o Complemento por Dependência, com um valor monetário

que varia entre 94,64€ e 189,29€ mensais. Este valor é atribuído à pessoa com

dependência e com base nos seus rendimentos, sendo que este não pode receber

mais de 600€ mensais no total de todas as pensões recebidas (Pires, 2015);

• Criação de leis de proteção laboral para as pessoas cuidadoras, de forma a que estas

possam conciliar a prestação de cuidados e a sua atividade profissional. Promoção

de licenças sem vencimento por questões de emergência relacionadas com o

cuidado, atribuição de horários de trabalho flexíveis, adoção de planos de saúde

dos cuidadores trabalhadores em empresas, a atribuição de benefícios fiscais para

as empresas amigas dos cuidadores trabalhadores.

Em Portugal, como referido anteriormente, o trabalho no domínio do cuidado informal é

ainda escasso. Contudo é possível realçar marcos importantes no enquadramento

normativo desta matéria (Teixeira et al., 2017):

• Criação da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI) e a sua

constante expansão e melhoria. Esta rede tem como objetivo a prestação de

cuidados de saúde e de apoio social de forma continuada e integrada a pessoas que,

independentemente da idade, se encontrem em situação de dependência. A RNCCI

também reconhece e apoia os cuidadores informais;

• Recomendações ao Governo para a criação do estatuto do Cuidador informal e de

medidas de apoio aos cuidadores informais por Múltiplas Resoluções de 2016. Uma

comissão liderada por Maria de Belém sugeriu um projeto que previa a

contemplação do estatuto dos cuidadores informais e do reconhecimento da

importância do papel dos mesmos na nova Lei de Bases da Saúde, contudo o mesmo

não se verificou na lei que foi aprovada a 13 de dezembro de 2018. A atual Ministra

da Saúde, Marta Temido, defende que não faz sentido detalhar o estatuto na nova

Lei de Bases da Saúde, uma vez que não é apenas da tutela da saúde;

• Implementação e definição das condições de organização e funcionamento das

diferentes estruturas e medidas de proteção social: Apoio Domiciliário Integrado

(ADI), Unidade de Apoio Integrado (UAI), SAD, Centro de Noite, Centro de Dia,

Acolhimento Familiar para Pessoas Idosas, Estrutura Residencial para Pessoas

36

Idosas (ERPI) e apoios financeiros como o Complemento Solidário para Idosos, o

Complemento por Dependência e o Complemento por Cônjuge a Cargo;

• Dinamização de respostas comunitárias gratuitas ou a preços sociais. São exemplo

o Gabinete de Apoio da Alzheimer Portugal e o Café Memória, específicos para a

doença de Alzheimer e outras demências, grupos de suporte para cuidadores e

projetos desenvolvidos regionalmente. Em estudos recentes, foram contabilizados

cerca de 47 projetos a nível nacional.

5. O impacto económico da doença de Alzheimer no Cuidador Informal

O impacto da demência afeta três níveis inter-relacionados (Ferri et al., 2009):

• A pessoa com demência, dependente, com a qualidade de vida afetada e a

esperança de vida reduzida;

• A família e os amigos que assumem o papel de cuidadores informais e funcionam

como pilares de suporte dos sistemas de saúde;

• A sociedade, que, direta ou indiretamente através dos gastos do Governo, incorre

nos custos sociais e da prestação de cuidados de saúde e no custo de oportunidade

da perda de produtividade.

Os estudos de Custo da Doença (CdD) descrevem e estimam o impacto económico de uma

doença na sociedade. Para isso, é necessário identificar e medir todos os custos diretos,

indiretos e de oportunidade associados à mesma. Os custos diretos, médicos ou não

médicos, medem os recursos utilizados para tratar uma doença e podem ser estimados por

gastos per capita, tarifas nacionais, preços de mercado e estudos publicados. Os custos

indiretos medem a perda de produtividade, o efeito da doença no paciente ou a capacidade

de o cuidador conciliar a sua atividade profissional com o ato de cuidar. Os custos de

oportunidade correspondem ao valor monetário da oportunidade perdida de utilizar de

forma diferente os recursos que são aplicados na doença (Costa et al., 2012).

Os estudos CdD são utilizados pelos formuladores de políticas como ferramenta de tomada

de decisão, educação, informação e esclarecimento. Estes estudos são particularmente

37

relevantes em doenças crónicas, devido ao seu peso no orçamento da saúde (Costa et al.,

2012).

No caso da demência, os custos resultam, essencialmente, dos recursos utilizados na

prevenção, diagnóstico, tratamento e gestão da doença (O'Shea e O'Reilly, 2000). Estes

custos são repartidos pelo setor público e privado e a sua análise é uma área sobre a qual

o investimento e a investigação têm aumentado nos últimos anos (Pires, 2015). Segundo o

World Alzheimer Report de 2015, os custos globais da demência aumentaram de 530,03

bilhões de euros em 2010 para 717,82 bilhões de euros em 2015. Excluindo os custos

indiretos, os custos diretos totais representam cerca de 0,65% do PIB mundial (Prince et

al., 2015).

Um estudo sobre os custos da doença de Alzheimer na Europa27 concluiu que 60% dos

custos se referem ao cuidado informal (Gervès, Chauvin e Bellanger, 2014), sendo que, um

estudo na Irlanda mostrou mesmo que 50% do custo total da demência é suportado pelos

cuidadores informais (O'Shea e O'Reilly, 2000). Em Portugal, infelizmente, são escassos os

estudos que se debruçam sobre o impacto económico desta condição quer na sociedade,

quer nos agregados familiares, onde ocorrem os cuidados informais (Pires, 2015).

De acordo com os valores referidos, conclui-se que o impacto da doença nos cuidadores

informais é profundo, sendo de enorme interesse e importância a sua consideração nos

estudos de avaliação económica da doença (Hoefman, Exel, Van e Brouwer, 2013).

A prestação de cuidados informais caracteriza-se pelo sacrifício dos cuidadores informais.

Estes agentes do cuidado incorrem em perdas de saúde e qualidade de vida e investem a

maioria da sua energia, tempo e dinheiro no ato de cuidar. Todos estes parâmetros são

muito difíceis de calcular, uma vez que variam muito entre os diferentes prestadores de

cuidado (Pires, 2015)

Em termos económicos, Van Den Berg (2005) entende o cuidado informal como uma

comodidade não transacionável, e considera que um cuidador informal pode auferir um

valor monetário pela prestação dos cuidados, desde que este seja inferior ao valor

praticado no mercado dos cuidados formais. Defende também que só se trata de cuidado

informal quando o cuidador recusa cuidar de alguém fora do seu ambiente social,

38

concluindo-se, assim, que um cuidador informal é voluntário e não deve receber

pagamento, ao contrário do cuidador formal (Pires, 2015).

Como os cuidados informais não são um produto comercial, não existe um preço de

mercado para os mesmos. Logo, de forma a expressar o valor do cuidado informal em

termos monetários, são aplicados métodos de avaliação e valorização monetária. Esse

valor é posteriormente multiplicado pelo número de horas de cuidado e incluído na

totalidade dos custos de uma avaliação económica (Hoefman, Exel, Van e Brouwer, 2013).

Alguns dos métodos de avaliação e valorização monetária em saúde utilizados na avaliação

económica dos cuidados informais são o método do bem substituto (proxy-good), o

método do custo de oportunidade e o método da valoração do bem-estar, que consistem

em métodos de preferência revelada. Por norma, estes são os métodos mais utilizados,

uma vez que se baseiam no comportamento e escolhas dos indivíduos em estudo. Os

métodos de preferência declarada, que se baseiam em cenários hipotéticos, incluem os

métodos de avaliação conjunta e de avaliação contingente (Hoefman, Exel, Van e Brouwer,

2013).

Os métodos referidos diferem na forma de cálculo dos valores (Hoefman, Exel, Van e

Brouwer, 2013). O método do bem substituto avalia o tempo investido pelo cuidador

informal através do preço de mercado de um substituto próximo. Este método é dos mais

aceites e aplicados pela comunidade científica, uma vez que é atribuída de forma “simples”

um valor monetário à hora de cuidado prestado pelos cuidadores informais. O método do

custo de oportunidade considera o valor da realização de uma atividade que o cuidador

informal sacrificou para cuidar de um indivíduo dependente. Ou seja, valoriza os benefícios

perdidos, devido ao tempo gasto na prestação de cuidados (Paraponaris e Davin, 2015).

Estes dois métodos fornecem apenas uma avaliação parcial do cuidado informal, uma vez

que se focam no aspeto financeiro do cuidado e no valor do tempo sacrificado, não

considerando os aspetos psicossociais e de saúde, e a heterogeneidade do ato de cuidar,

em termos de horas investidas e atividades realizadas (Hoefman, Exel, Van e Brouwer,

2013). O método da valoração do bem-estar, para além dos aspetos financeiros, considera

também as perdas do bem-estar do cuidador informal, pretendendo calcular o valor

necessário (valor de compensação) para manter o mesmo nível de bem-estar do cuidador

informal depois de sacrificar uma hora adicional de cuidados informais (Pires, 2015).

39

Os cuidadores informais investem o seu tempo em três domínios básicos: apoio nas ABVD;

apoio nas AIVD; supervisão, que pressupõe a prevenção de eventos perigosos (acidentes

com fogo, trânsito, água quente, quedas, etc.) e gestão de distúrbios de comportamento

(desinibição, agressividade, gritos, etc) (Wimo A et al., 2002). Para quantificar o tempo

investido pelo cuidador informal na prestação de cuidados, os investigadores recorrem a

um conjunto de ferramentas, que inclui o método do diário e o método de recordação. O

método do diário implica que os prestadores de cuidado registem o tempo que investem

em todas as atividades que realizam no âmbito do cuidado. É um método muito demorado

e pressupõe paciência por parte do indivíduo em estudo, o que nem sempre é fácil,

resultando no enviesamento dos resultados. No método de recordação, os investigadores

questionam o cuidador sobre o número de vezes e horas que dispensam na realização de

determinadas tarefas, num período de tempo específico. É mais rápido, contudo os

resultados são facilmente sobrevalorizados (Hoefman, Exel, Van e Brouwer, 2013).

O registo exato do tempo investido no cuidado informal é muito problemático, resultando

normalmente num número sobrevalorizado de horas. Este facto deve-se à dificuldade dos

cuidadores informais de diferenciar as atividades da vida normal daquelas que estão

associadas ao ato de cuidar e da realização de várias atividades em conjunto (Hoefman,

Exel, Van e Brouwer, 2013). Também o efeito da sobrecarga psicológica provoca

enviesamentos (Pires, 2015). Muitos cuidadores tendem a indicar que prestam cuidados

durante 24 horas por dia, 7 dias por semana. Contudo, este cenário não é realista, uma vez

que os próprios necessitam de cuidados pessoais e tempo de sono, que, por vezes, é muito

reduzido. Alguns estudos na área estabelecem limites de 16 a 18 horas por dia para o

número total de horas de cuidado, presumindo-se que o cuidador passa a maioria do seu

tempo a realizar atividades de cuidado (Hoefman, Exel, Van e Brouwer, 2013).

Moore et al. (2001) e Gervès, Chauvin e Bellanger (2014) a partir de estudos de avaliação

de custos do cuidado na doença de Alzheimer, concluíram que o número de horas de

cuidado e, consequentemente, o custo do cuidado informal dependem do grau de

severidade da doença, do recurso a cuidados formais e da coabitação do prestador de

cuidados com o recetor de cuidados.

40

5.1. Impacto socioeconómico nos cuidadores informais na DA. Revisão da literatura.

Os estudos de avaliação económica no domínio dos custos do cuidado informal constituem

uma área de investigação e investimento crescentes, no entanto ainda é recorrente a

exclusão desta componente nos estudos de custo da doença (Hoefman, Exel, Van e

Brouwer, 2013).

Em Portugal, segundo um estudo da Associação Cuidadores Portugal, o trabalho realizado

pelos cuidadores informais vale 3 951 223 008 euros por ano. Este valor foi calculado com

base no salário mínimo nacional (Teixeira et al., 2017).

Na tabela 6, são apresentados outros estudos sobre os custos do cuidado informal,

conduzidos em diferentes países e, especificamente, na doença de Alzheimer.

Tabela 6

Estudos em retrospetiva – o custo do cuidado informal

Estudo País, Ano Instrumento de recolha de dados

Método(s) de avaliação económica

Unidade de valoração/hora

Custo do cuidado informal (€/ano)

(O'Shea e O'Reilly, 2000)

Irlanda, 2000

RUD Método do custo de oportunidade

1,89€ 7 570,16€

(Moore et al., 2001)

Estados Unidos, 2001

RUD Método do bem substituto

7,38€: média do vencimento de auxiliar no domicílio;

6,50€: empregada doméstica;

10,30€: profissional de ocupação/animação.

2080€ a 12 532€, dependendo da severidade da doença

custo total: 16 432€

(Wang et al., 2010)

China, 2010

RUD Método do custo de oportunidade

2,05€: média do rendimento anual nacional

17 611€

(Wimo et al., 2016)

Suécia, 2012

RUD Método do custo de oportunidade

15,20€: média do custo do trabalho perdido e do tempo de lazer perdido

953 400 000€

(Wimo et al., 2013)

Alemanha, França, Reino Unido, 2013

RUD Método do custo de oportunidade

Reino Unido

18,25€: custo do trabalho perdido

6,39€: custo do tempo de lazer

Reino Unido: 45 948€

França: 33 456€

Alemanha: 52 176€

41

perdido

França

24,27€: custo do trabalho perdido

8,50€: custo do tempo de lazer perdido

Alemanha

24,09: custo do trabalho perdido

8,43€: custo do tempo de lazer perdido

(Gervès, Chauvin e Bellanger, 2014)

França, 2014

RUD a) Método do bem substituto

b) Método do custo de oportunidade

a) 11,49: média do vencimento de auxiliar no domicílio

b) trabalhadores: valor médio do mercado do cuidador

reformados: valor médio da pensão da categoria do cuidador

a) 127 400€

b) 161 304€

(Paraponaris e Davin, 2015)

França, 2015

RUD a) Método do bem substituto

b) Método do custo de oportunidade

a) 12,42€: média do salário mínimo bruto

b) 13,74€: mulheres novas

21,41€: mulheres próximas da reforma

14,92€: homens novos

28,70€: homens próximos da reforma

12,42€: cuidadores reformados

a) 4 864 000 000€

b) 6 461 000 000€

(Peña-Longobardo e Oliva-Moreno, 2015)

Espanha 2015

Survey on Disabilities, Autonomy and Dependency

a) Método do bem substituto

b) Método do custo de oportunidade

c) Método de avaliação

a) 12,71: média do vencimento de auxiliar no domicílio

b) trabalhadores: salário médio nacional, por género e região;

a) 31 824€ a 52 780€

b) 20 072€

c) 18 668€ a 29 068€

42

contingente não trabalhadores: média do salário de empregada doméstica

Através da revisão da literatura, é possível observar a preferência dos investigadores pela

utilização dos métodos de preferência revelada, o método do bem substituto e o método

do custo de oportunidade. Na aplicação do método do bem substituto, é visível a diferença

na unidade de valoração por hora utilizada para calcular o custo do cuidado informal nos

diferentes estudos, uma vez que este número varia consoante o mercado no qual se aplica

o estudo e consoante o vencimento médio do profissional mais próximo escolhido pelos

investigadores. A recolha de dados é feita, essencialmente, com recurso ao instrumento

Resource Utilization in Dementia (RUD), a partir do qual se obtém informação sobre

cuidados formais e informais do cuidador e do doente, com especificidade para a condição

de demência (Wimo et al., 2013).

43

PARTE II: ESTUDO EMPÍRICO

44

6. Percurso metodológico

6.1. Instrumento e processo de recolha de dados

Em Portugal, o número de pessoas com doença de Alzheimer e, consequentemente, com

necessidade de apoio de terceiros é tendencialmente crescente. Assim, o papel do

cuidador informal é hoje um tema de discussão pública e parlamentar. (WHO, 2012)

O desenvolvimento deste estudo pretende contribuir para esta discussão, conduzindo uma

análise do quadro da doença de Alzheimer e do cuidado informal nesta condição, na

Consulta de Demência do Serviço de Neurologia do Centro Hospitalar e Universitário de

Coimbra.

Na literatura é possível identificar vários instrumentos de recolha de informação, que

permitem a realização de estudos de avaliação económica do cuidado informal de forma

integrada. Alguns desses instrumentos são: o Caregiver Activity Survey (CAS), desenvolvido

para medir o tempo do cuidador e alguns aspetos da sobrecarga no cuidador; o Caregiver

Activities Time Survey (CATS), desenvolvido para medir o tempo de cuidado formal e

informal investido em determinadas atividades e tarefas; o Client Service Receipt Inventory

(CSRI), desenvolvido para estimar custos com base em informação detalhada sobre a

utilização de serviços e apoios às famílias; o Resource Use Inventory (RUI), desenvolvido

para a análise da utilização de recursos e da situação profissional do doente, mas não do

cuidador (Wimo et al., 2013). Contudo, o instrumento mais utilizado para a recolha de

informação sobre o uso de recursos na demência é o Resource Utilization in Dementia

(RUD), que pode ser aplicado em diferentes condições de cuidado e sistemas de saúde,

permitindo a comparação entre os diferentes países (Wimo et al., 2013).

O RUD é específico para as demências e tem como principais objetivos medir a utilização

de recursos na prestação de cuidados aos doentes e aos seus cuidadores informais e

calcular o tempo investido no cuidado formal e informal (Wimo et al., 2013).

A sua aplicação permite a recolha de informação relativa às pessoas com demência,

nomeadamente sobre as condições de alojamento e o consumo de cuidados de saúde das

mesmas, e relativa aos cuidadores informais, sobre as características sociodemográficas, o

45

consumo de cuidados de saúde, a situação profissional e o tempo e atividades de cuidado

informal que os mesmos realizam (Wimo et al., 2013).

Por norma, o RUD é administrado sob a forma de entrevista pelo investigador ao cuidador

informal, que assume o papel de informador. São utilizados dois questionários diferentes:

o questionário base, aplicado na primeira vez que o RUD é administrado, e o questionário

de acompanhamento, aplicado nas visitas subsequentes. No primeiro questionário, as

questões remetem para os últimos 30 dias, enquanto que, no questionário de

acompanhamento, remetem para o período desde a última administração (Wimo et al.,

2013).

Assim, para atingir os objetivos do estudo, foi desenvolvido um questionário com base no

instrumento RUD, constituindo uma adaptação da versão inglesa do mesmo. O referido

questionário tem uma única versão e foi administrado apenas uma vez, em forma de

entrevista, a cada cuidador informal. As suas questões remetem para os últimos 6 meses,

período que foi definido com base na frequência com que os doentes de Alzheimer fazem

a Consulta de Demência.

O questionário é constituído por 3 áreas de análise referentes ao doente (caracterização

sociodemográfica, caracterização do estado de saúde e apoios recebidos) e 5 áreas de

análise referentes ao cuidador informal (caracterização sociodemográfica, caracterização

do estado de saúde, apoios recebidos, situação profissional e atividades e tempo de

cuidado informal). Cada área de análise é constituída por várias questões de resposta

aberta, as quais dão origem a variáveis quantitativas e qualitativas (nominais e ordinais),

que foram, posteriormente, estatisticamente analisadas para obter os resultados

necessários aos objetivos do estudo (tabela 7).

Tabela 7

Estrutura do instrumento de recolha de dados

Questionário

Áreas Número de Questões Variáveis

Doente

Caracterização Sociodemográfica 10

“Idade”, “sexo”, “estado civil”, “grau de escolaridade”, “concelho”, “tipo de alojamento”, “com quem vive”, “origem do rendimento”, “valor do rendimento” e “despesas

46

gerais mensais”.

Estado de Saúde 9

“Fase da doença”, “condições de saúde adicionais”, “episódios de internamento”, “custos de internamento”, “episódios de urgência”, “custos de urgência”, “consultas realizadas”, “custos de consultas”, “exames realizados”, “custos de exames”, “custos de medicação”, “dispositivos de apoio adquiridos”, “custos de dispositivos de apoio”, “utilização de acessórios de cuidado”, “custos de acessórios de cuidado”, “adaptações físicas no domicílio”, “custos de adaptações”, “serviços de apoio” e “custos de serviços de apoio”.

Apoios Recebidos 2 “Isenção de taxas”, “subsistema de saúde”, “apoios financeiros” e “valor dos apoios financeiros”.

Cuidadores Informais

Caracterização Sociodemográfica 11

“Idade”, “sexo”, “estado civil”, “grau de escolaridade”, “concelho”, “viver com o doente”, “relação com o doente”, “número de cuidadores envolvidos”, “percentagem de envolvimento no cuidado” e “tempo de cuidador”.

Estado de Saúde 9

“Condições de saúde”, “episódios de internamento”, “custos de internamento”, “episódios de urgência”, “custos de urgência”, “consultas realizadas”, “custos de consultas”, “exames realizados”, “custos de exames” e “custos de medicação”.

Situação Profissional 11

“Atividade profissional”, “motivo para não trabalhar”, “origem do rendimento”, “valor do rendimento”, “horas semanais de trabalho”, “horas de trabalho perdidas”, “dias de trabalho perdidos”, “justificação de faltas”, “prejuízo por falta” e “efeito no desempenho”.

Apoios Recebidos 3

“Isenção de taxas”, “subsistema de saúde”, “apoios financeiros”, “valor dos apoios financeiros” e “apoios não financeiros”.

Tempo e Atividades de Cuidado 7 “ABVD realizadas”, “número de

47

Informal ABVD realizadas”, “AIVD realizadas”, “número de AIVD realizadas”, “dias semanais de cuidado”, “horas diárias de cuidado”, “horas de ABVD”, “horas de AIVD” e “horas de supervisão”.

Legenda: ABVD – incluem o apoio pessoal e na mobilidade; AIVD – incluem a realização de tarefas domésticas, controlo da medicação, gestão das finanças, utilização do telefone, compras, utilização de transportes públicos, ir a consultas e realização de atividades de lazer.

O desenvolvimento do presente estudo teve o parecer favorável da Comissão de Ética para

a Saúde do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), tendo cumprido todos os

requisitos impostos pela mesma. O questionário foi administrado durante 5 meses aos

cuidadores informais de doentes de Alzheimer da Consulta de Demência do Serviço de

Neurologia do CHUC, que, para participarem, assinaram um consentimento informado,

esclarecido e livre, após serem clarificados os objetivos do estudo, as condições de

participação e o direito ao anonimato e confidencialidade da informação prestada.

6.2. Construção da base de dados e análise dos dados

As informações obtidas a partir do questionário foram, numa primeira fase, organizadas

numa base de dados, na qual foram, posteriormente, aplicados os critérios de inclusão.

Assim, foram considerados todos os doentes acompanhados na Consulta de Demência,

com diagnóstico clínico de DCL (CDR=0) ou de doença de Alzheimer em fase ligeira (CDR=1),

moderada (CDR=2) ou severa (CDR=3) e acompanhados por pelo menos um cuidador

informal. No que diz respeito aos cuidadores informais, foram considerados todos os que

aceitaram participar voluntariamente no estudo, por assinatura do consentimento

informado, contudo, para o cálculo do tempo e do custo do cuidado informal, foram apenas

incluídos os dados daqueles que prestam cuidados a doentes não institucionalizados. O

método de amostragem utilizado foi o de conveniência, uma vez que os doentes e

cuidadores informais foram escolhidos de acordo com as características de conveniência

para o estudo.

A análise dos dados foi desenvolvida com base numa metodologia quantitativa, tendo sido

seguidos os seguintes passos:

48

1. Análise de estatística descritiva das variáveis relativas às características

sociodemográficas dos doentes e cuidadores informais;

2. Estimação da utilização, consumo e valor dos cuidados de saúde dos doentes e

cuidadores informais;

3. Caracterização da tipologia de cuidado informal na doença de Alzheimer, através

da análise de estatística descritiva das variáveis relativas às atividades realizadas e

ao tempo investido no ato de cuidar, pelos cuidadores informais;

4. Valorização monetária do cuidado informal e análise de estatística descritiva das

variáveis relativas à situação profissional dos cuidadores informais e aos apoios

prestados aos mesmos;

5. Análise explicativa do número de horas de cuidado despendido pelos cuidadores

informais.

Para cada variável foi realizada uma análise de estatística descritiva, determinando-se a

frequência absoluta e relativa para as variáveis qualitativas (nominais e ordinais) e, no caso

das variáveis quantitativas, foi determinada a média. De forma a caracterizar a amostra de

participantes, para além da análise das variáveis em cada fase da doença, foi também feita

uma análise global das mesmas.

De seguida, são detalhados os passos da análise de dados:

1. Análise de estatística descritiva das variáveis relativas às características

sociodemográficas dos doentes e cuidadores informais

No sentido de caracterizar os doentes em termos sociodemográficos foi feita a análise

descritiva das variáveis “idade”, “sexo”, “estado civil”, “grau de escolaridade”, “concelho”,

“tipo de alojamento”, “com quem vive”, “origem do rendimento”, “valor do rendimento”,

“despesas gerais mensais”, “isenção de taxas”, “subsistema de saúde”, “apoios financeiros”

e “valor dos apoios financeiros”. Na caracterização dos cuidadores informais foram

consideradas as variáveis: “idade”, “sexo”, “estado civil”, “grau de escolaridade”,

“concelho”, “viver com o doente”, “relação com o doente”, “número de cuidadores

envolvidos”, “percentagem de envolvimento no cuidado” e “tempo de cuidador”.

49

2. Estimação da utilização, consumo e valor dos cuidados de saúde dos doentes e

cuidadores informais

Foi possível estimar a utilização, consumo e valor dos cuidados de saúde de ambos os

grupos de participantes, através do estudo descritivo das variáveis que caracterizam o

estado de saúde dos doentes e cuidadores informais. No caso dos doentes, as variáveis

analisadas foram: “fase da doença”, “condições de saúde adicionais”, “episódios de

internamento”, “custos de internamento”, “episódios de urgência”, “custos de urgência”,

“consultas realizadas”, “custos de consultas”, “exames realizados”, “custos de exames”,

“custos de medicação”, “dispositivos de apoio adquiridos”, “custos de dispositivos de

apoio”, “utilização de acessórios de cuidado”, “custos de acessórios de cuidado”,

“adaptações físicas no domicílio”, “custos de adaptações”, “serviços de apoio” e “custos de

serviços de apoio”. Para os cuidadores informais foram analisadas as mesmas variáveis, à

exceção da “fase da doença”, “dispositivos de apoio adquiridos”, “custos de dispositivos de

apoio”, “utilização de acessórios de cuidado”, “custos de acessórios de cuidado”,

“adaptações físicas no domicílio”, “custos de adaptações”, “serviços de apoio” e “custos de

serviços de apoio”, uma vez que apenas se pretendia uma análise detalhada das mesmas

para o DCL e para a doença de Alzheimer.

Relativamente aos custos associados aos cuidados de saúde, existem três tipos principais

de custos considerados num estudo Custo da Doença: diretos, indiretos e intangíveis

(França, 2014). Nesta análise foram considerados apenas os custos diretos, médicos e não

médicos, que medem a utilização de recursos para o tratamento de uma doença, e os

custos indiretos que medem as perdas de produtividade e o efeito da doença na

capacidade do doente e do seu cuidador manterem uma atividade profissional (tabela 8)

(França, 2014). Foram considerados os custos diretos quer dos doentes, quer dos

cuidadores informais, no entanto a avaliação dos custos indiretos foi conduzida apenas nos

cuidadores informais. O cálculo do custo indireto é explicado mais à frente neste capítulo.

Relativamente aos custos diretos, foram calculadas as médias dos custos de internamento,

urgências, consultas, exames, medicação, dispositivos de apoio, acessórios de cuidado,

serviços de apoio e de transporte reportados pelos cuidadores informais, relativamente a

si e aos doentes que cuidam.

50

Tabela 8

Custos diretos e indiretos na doença de Alzheimer

Tipo de custos Recursos Método de cálculo

Custos Diretos Custo Médicos Internamento Custos reportados pelos cuidadores informais Urgências

Consultas

Exames

Medicação

Custos Não Médicos Dispositivos de apoio Custos reportados pelos cuidadores informais Acessórios de cuidado

Serviços alternativos

Adaptações físicas no domicílio

Transporte

Custos Indiretos Cuidado Informal Horas de cuidado prestado

Método do bem substituto

Fonte: França, 2014.

3. Caracterização da tipologia de cuidado informal na doença de Alzheimer, através

da análise de estatística descritiva das variáveis relativas às atividades realizadas

e ao tempo investido no ato de cuidar, pelos cuidadores informais

O cuidado informal foi caracterizado, tendo em conta as Atividades Básicas da Vida Diária

(ABVD) e Atividades Instrumentais da Vida Diária (AIVD) realizadas e o tempo investido nas

mesmas e em supervisão dos doentes. Desta forma, foi feita a análise descritiva das

variáveis “ABVD realizadas”, “número de ABVD realizadas”, “AIVD realizadas”, “número de

AIVD realizadas”, “dias semanais de cuidado”, “horas diárias de cuidado”, “horas de ABVD”,

“horas de AIVD” e “horas de supervisão”.

4. Valorização monetária do cuidado informal e análise de estatística descritiva das

variáveis relativas à situação profissional dos cuidadores informais e aos apoios

prestados aos mesmos

De forma a avaliar o impacto socioeconómico nos cuidadores informais, foi proposta uma

análise dos apoios a que os cuidadores informais têm acesso, bem como da sua capacidade

para conciliar a prestação de cuidados com uma atividade profissional. Assim, foi feita uma

análise descritiva das variáveis “atividade profissional”, “motivo para não trabalhar”,

“origem do rendimento”, “valor do rendimento”, “horas semanais de trabalho”, “horas de

trabalho perdidas”, “dias de trabalho perdidos”, “justificação de faltas”, “prejuízo por

51

falta”, “efeito no desempenho”, “isenção de taxas”, “subsistema de saúde”, “apoios

financeiros”, “valor dos apoios financeiros” e “apoios não financeiros”.

Para valorizar monetariamente o cuidado informal, foi aplicado um dos métodos mais

aceites na comunidade científica da área, o método do bem substituto, que permite a

atribuição de um valor monetário ao tempo de cuidado informal, através do preço de

mercado de um profissional próximo (Hoefman, Exel, Van e Brouwer, 2013). Neste estudo,

definiu-se como profissional próximo do cuidador informal o Técnico(a) de Apoio Familiar

e de Apoio à Comunidade, o qual constitui um dos profissionais que desempenha funções

em organizações que prestam Serviço de Apoio Domiciliário. Este profissional, segundo o

Boletim do Trabalho do Emprego (BTE) nº 49 de 2013, atualizado em 2016, desempenha

atividades como:

• Preparar o serviço relativo aos cuidados a prestar;

• Prestar cuidados básicos no domicílio ou em contexto institucional;

• Apoiar os indivíduos na realização das AIVD;

• Apoiar os indivíduos nos cuidados de alimentação e nutrição;

• Prevenir acidentes domésticos no domicílio ou no contexto institucional;

• Participar no desenvolvimento de atividades de tempos livres;

• Estabelecer a articulação com a equipa técnica, reportando a evolução do estado

de saúde físico ou psíquico, situações anómalas ou agravamento do estado de

saúde;

• Participar na prevenção da negligência;

• Auxiliar os profissionais de saúde na prestação de cuidados.

Através do contacto de várias empresas de prestação de cuidados no domicílio em

Coimbra, foi possível estabelecer o valor médio por hora de vencimento deste profissional

em 4,20€. Ao ser aplicado este valor no número de horas diárias e de dias semanais de

cuidado, obtidos na caracterização do cuidado informal, foi possível determinar o custo do

cuidado informal por dia e por semana.

52

5. Análise explicativa do número de horas de cuidado despendido pelos cuidadores

informais

Segundo a revisão da literatura, alguns fatores relacionados com os doentes, os cuidadores

informais e as condições da prestação de cuidados influenciam o número de horas de

cuidados prestados e, consequentemente, o custo do cuidado informal.

A análise de regressão foi a técnica de estatística descritiva utilizada para atingir o objetivo

proposto, uma vez que identifica a relação funcional de uma variável dependente com uma

ou mais variáveis independentes, sobre as quais existe conhecimento teórico (Hilbe, 1998).

A variável dependente nesta análise é o “número de horas de cuidado” e as variáveis

explicativas ou independentes são: “severidade da doença”, “número de ABVD realizadas”,

“número de AIVD realizadas”, “viver com o doente”, “tempo de cuidador”, “percentagem

de envolvimento no cuidado” e “situação profissional”.

O método de estimação utilizado foi uma regressão de Poisson, visto que a variável

dependente toma valores positivos inteiros e, portanto, assume uma distribuição de

Poisson e não uma distribuição normal (Hilbe, 1998).

53

7. Apresentação dos resultados

Através da aplicação do questionário na Consulta de Demência do Serviço de Neurologia

do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, durante cerca de 5 meses, foram

recolhidas informações de 86 doentes e 97 cuidadores informais. A diferença numérica

entre os dois grupos, deve-se à administração do questionário a dois ou mais cuidadores

informais que prestam cuidados ao mesmo doente.

Dos 86 doentes, 24 apresentam diagnóstico clínico de Défice Cognitivo Ligeiro (DCL)

(CDR=0), representando 27,9% da amostra total, e 62 apresentam diagnóstico clínico de

doença de Alzheimer, representando 72,1% da amostra total. Dos 62 doentes de

Alzheimer, 24 encontram-se em fase ligeira (CDR=1), 17 em fase moderada (CDR=2) e 21

em fase severa (CDR=3), representando, respetivamente, 27,9%, 19,8% e 24,4% da amostra

dos doentes.

Dos 97 cuidadores informais entrevistados, 24 prestam cuidados a doentes de DCL, 28 a

doentes de Alzheimer em fase ligeira, 20 em fase moderada e 25 em fase severa,

representando, respetivamente, 24,7%, 28,9%, 20,6% e 25,8% da amostra dos cuidadores

informais.

Caracterização sociodemográfica e do estado de saúde e consumo de cuidados dos

doentes

Os resultados da tabela 9 dizem respeito à caracterização sociodemográfica dos doentes e

os da tabela 10 à caracterização do estado de saúde e consumo de cuidados pelos doentes.

As duas tabelas permitem não só uma análise global da amostra total de doentes, como

também uma análise da amostra de doentes com DCL e com doença de Alzheimer em fase

ligeira, moderada e severa.

Tabela 9

Caracterização sociodemográfica dos doentes

Características Total DCL Ligeira Moderada Severa

N % N % N % N % N %

Doentes 86 100 24 27,9 24 27,9 17 19,8 21 24,4

Idade

Média 75 75 75 72 77

Sexo

Feminino 51 59,3 14 58,3 13 54,2 11 64,7 13 61,9

54

Masculino 35 40,7 10 41,7 11 45,8 6 35,3 8 38,1

Estado Civil

Casado(a) 63 73,3 18 75,0 19 79,2 13 76,5 13 61,9

Solteiro(a) 2 2,3 1 4,2 1 4,2 0 0,0 0 0,0

Divorciado(a) 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0

Viúvo(a) 21 24,4 5 20,8 4 16,7 4 23,5 8 38,1

Grau de Escolaridade

Sem escolaridade 1 1,2 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 4,8

Ler e escrever 1 1,2 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 4,8

1º-4º 58 67,4 16 66,7 15 62,5 11 64,7 16 76,2

5º-6º 4 4,7 2 8,3 2 8,3 0 0,0 0 0,0

7º-9º 3 3,5 1 4,2 2 8,3 0 0,0 0 0,0

10º-12º 4 4,7 1 4,2 0 0,0 1 5,9 2 9,5

Técnico profissional 2 2,3 1 4,2 0 0,0 1 5,9 0 0,0

Ensino Superior 13 15,1 3 12,5 5 20,8 4 23,5 1 4,8

Origem do rendimento

Trabalho 3 3,5 0 0,0 1 4,2 2 11,8 0 0,0

Reforma 69 80,2 20 83,3 20 83,3 12 70,6 17 81,0

Invalidez 5 5,8 1 4,2 1 4,2 1 5,9 2 9,5

Desempregado 1 1,2 0 0,0 0 0,0 1 5,9 0 0,0

Sem rendimentos 8 9,3 3 12,5 2 8,3 1 5,9 2 9,5

Valor do rendimento (mensal)

<500€ 44 51,2 13 54,2 11 45,8 7 41,2 13 61,9

500€ - 1000€ 27 31,4 9 37,5 8 33,3 6 35,3 4 19,0

>1000€ 15 17,4 2 8,3 5 20,8 4 23,5 4 19,0

Média 680,47 € 520,50 € 772,63 € 867,24 € 606,76 €

Despesas Gerais (mensal)

Média 810,81 € 612,50 € 758,67 € 885,88 € 1 060,00 €

Alojamento

Casa própria 72 83,7 23 95,8 23 95,8 14 82,4 12 57,1

Casa de familiares 3 3,5 0 0,0 1 4,2 1 5,9 1 4,8

Instituição 11 12,8 1 4,2 0 0,0 2 11,8 8 38,1

Vive com

Sozinho 10 11,6 6 25,0 3 12,5 1 5,9 0 0,0

Conjugue 56 65,1 17 70,8 18 75,0 12 70,6 9 42,9

Filhos 18 20,9 3 12,5 4 16,7 7 41,2 4 19,0

Pais 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0

Irmãos 1 1,2 0 0,0 1 4,2 0 0,0 0 0,0

Outros familiares 5 5,8 1 4,2 0 0,0 2 11,8 2 9,5

Cuidadores formais 3 3,5 0 0,0 1 4,2 0 0,0 2 9,5

Isenção de taxas

Sim 39 45,3 12 50,0 10 41,7 5 29,4 12 57,1

Não 47 54,7 12 50,0 14 58,3 12 70,6 9 42,9

55

Subsistema de saúde

Sim 23 26,7 6 25,0 7 29,2 6 35,3 4 19,0

Não 63 73,3 18 75,0 17 70,8 11 64,7 17 81,0

Apoios financeiros

Sim 10 11,6 1 4,2 2 8,3 1 5,9 6 28,6

Não 76 88,4 23 95,8 22 91,7 16 94,1 15 71,4

Valor subsídios (mensal)

Média 115,53 € 100,00 € 112,50 € 186,31 € 107,33 €

Tabela 10

Caracterização do estado de saúde e consumo de cuidados dos doentes

Características Total DCL Ligeira Moderada Severa

N % N % N % N % N %

Doentes 86 100 24 27,9 24 27,9 17 19,8 21 24,4

Condição de saúde adicional

Sim 65 75,6 21 87,5 19 79,2 12 70,6 13 61,9

Não 21 24,4 3 12,5 5 20,8 5 29,4 8 38,1

Internamento (6 meses)

Sim 22 25,6 8 33,3 4 16,7 4 23,5 6 28,6

Não 64 74,4 16 66,7 20 83,3 13 76,5 15 71,4

Número de episódios

Total 30 10 5 4 11

Média 1,4 1,25 1,25 1 1,8

Duração de internamento

Média 12,2 14,1 9,5 8,0 14,3

Urgência (6 meses)

Sim 15 17,4 0 0,0 6 25,0 4 23,5 5 23,8

Não 71 82,6 24 100,0 18 75,0 13 76,5 16 76,2

Número de episódios

Total 37 0 13 6 18

Média 2,5 0,0 2,2 1,5 3,6

Número de consultas (6 meses)

Total 196 65 54 40 37

Média 2,3 2,7 2,3 2,4 1,8

Exames (6 meses)

Sim 38 44,2 14 58 7 29,2 8 47,1 9 42,9

Não 48 55,8 10 42 17 70,8 9 52,9 12 57,1

Número de exames

Total 75 34 13 15 13

Média 1,97 2,43 1,86 1,88 1,44

Dispositivos de apoio

56

Sim 26 30,2 0 0,0 5 20,8 3 17,6 18 85,7

Não 60 69,8 24 100,0 19 79,2 14 82,4 3 14,3

Acessórios de cuidado

Sim 25 29,1 0 0,0 3 12,5 4 23,5 18 85,7

Não 61 70,9 24 100,0 21 87,5 13 76,5 3 14,3

Adaptações em casa

Sim 11 12,8 2 8,3 4 16,7 2 11,8 3 14,3

Não 75 87,2 22 91,7 20 83,3 15 88,2 18 85,7

Serviços de apoio alternativo – cuidado formal

Sim 32 37,2 5 20,8 9 37,5 8 47,1 14 66,7

Não 54 62,8 19 79,2 15 62,5 9 52,9 7 33,3

Meio de transporte

Carro 65 75,6 17 70,8 20 83,3 13 76,5 15 71,4

Mota 1 1,2 1 4,2 0 0,0 0 0,0 0 0,0

Táxi 7 8,1 0 0,0 2 8,3 2 11,8 3 14,3

Autocarro 5 5,8 3 12,5 1 4,2 1 5,9 0 0,0

A pé 1 1,2 0 0,0 1 4,2 0 0,0 0 0,0

Comboio 3 3,5 3 12,5 0 0,0 0 0,0 0 0,0

Transporte de doentes 4 4,7 0 0,0 0 0,0 1 5,9 3 14,3

Numa análise global da amostra de doentes da Consulta de Demência, é possível concluir

que a maioria são mulheres (n=51, 59,3%), têm uma média de idades de 75 anos,

encontram-se na faixa etária dos 71 aos 80 anos (n=39, 45,3%), são casados (n=63, 73,3%)

e têm um grau de escolaridade que vai do 1º ao 4º ano (n=58, 67,4%), sendo de notar o

número significativo de doentes que completaram o ensino superior (n=13, 15,1%). Grande

parte dos doentes estão reformados (n=69, 80,2%) e aufere mensalmente menos de 500€

por mês (n=44, 51,2%) ou entre 500€ e 1000€ (n=27, 31,4%), sendo a média dos

rendimentos mensais 680,47€ e de despesas mensais (despesas gerais e de alimentação)

810,81€. Contudo, foram registados 8 doentes que não têm qualquer rendimento, sendo

totalmente dependentes do ponto de vista financeiro. A maioria dos doentes da amostra

vive em casa própria (n=72, 83,7%), com o conjugue (n=56, 65,1%) ou com os filhos (n=18,

20,9%), tendo sido, igualmente, assinalados 11 doentes institucionalizados. A maioria não

é isenta do pagamento de taxas no consumo de cuidados de saúde (n=47, 54,7%), usufrui

unicamente do Serviço Nacional de Saúde (SNS) (n=63, 73,3%), não tendo acesso a nenhum

subsistema de saúde, e não beneficia de qualquer apoio financeiro (n=76, 88,4%). Contudo,

os que beneficiam (n=10, 11,6%) recebem um valor médio de 114,48€ por mês, que diz

57

respeito a subsídios de doença (n=2, 20%), complementos por dependência (n=5, 50%) ou

pensões de viuvez (n=3, 30%).

Relativamente à caracterização do estado de saúde e consumo de cuidados pelos doentes,

todas as questões remetem para o período de 6 meses que antecede a administração do

questionário e verifica-se que 65 doentes (75,6%) apresentam uma ou mais comorbilidades

em simultâneo com o DCL e a doença de Alzheimer, destacando-se a diabetes, as doenças

cardíacas, os transtornos mentais e o cancro. 22 doentes (25,6%) estiveram internados em

média 1 vez, durante um período médio de 12 dias. As especialidades dos internamentos

mais reportadas foram cirurgia geral (n=7, 23,3%), cardiologia (n=6, 20%) e neurologia (n=6,

20%). Cerca de 15 doentes (17,4%) recorreram às urgências, numa média de 3 vezes, e 38

(44,2%) realizaram uma média de 2 exames, sendo as análises clínicas (n=26, 34,7%) e as

TAC (n=13, 17,3%) os exames mais frequentes. Os doentes foram, em média, a 2 consultas

de especialidades como Neurologia (n=86, 43,9%), Medicina Geral e Familiar (n=56, 28,6%),

Cardiologia (n=13, 6,6%) e Ortopedia (n=7, 3,6%).

26 doentes (30,2%) adquiriram, como consequência da doença de Alzheimer, dispositivos

médicos de apoio, entre os quais cadeiras de rodas (n=19, 35,8%), dispositivos para o banho

(n=11, 20,8%) e camas articuladas (n=10, 18,9%), e 25 doentes (29,1%) necessitam

regularmente de acessórios de cuidado, como fraldas (n=23, 39,7%), toalhitas (n=13,

22,4%), luvas (n=11, 19%) e resguardos (n=10, 17,2). As famílias de 11 doentes (12,8%)

realizaram adaptações físicas no domicílio, tais como a substituição de banheiras por

polibans, de escadas por rampas, instalação de cadeiras elevatórias, construção de anexos

totalmente amplos e direitos, etc. As famílias de 32 doentes (37,2%) recorreram

igualmente a serviços de apoio, nomeadamente Estruturar Residenciais Para Idosos (ERPI)

(n=11, 34,4%), serviços de limpeza (n=10, 31,3%), Serviços de Apoio Domiciliário (SAD)

(n=4, 12,5%) e serviços de estimulação cognitiva (n=2, 6,3%). No que diz respeito à

deslocação para o local da prestação de cuidados médicos, o meio de transporte mais

utilizado é o carro (n=65, 75,6%), percorrendo em média 69,6 Km de distância (ida e volta).

A análise dos resultados referentes à caracterização sociodemográfica e do estado de

saúde e consumo de cuidados por fase da doença, permitiu concluir que:

• No Défice Cognitivo Ligeiro (DCL),

58

Os doentes são, na maioria, do sexo feminino (n=14, 58,3%), têm uma média de idades de

75 anos, encontram-se na faixa etária dos 71 aos 80 anos (n=12, 50%), são casados (n=18,

75%) e têm um grau de escolaridade que vai do 1º ao 4º ano (n=16, 66,7%). Grande parte

já se reformou (n=20, 83,3%), tem um rendimento mensal inferior a 500€ (n=13, 54,2%),

sendo o valor médio dos rendimentos mensais 520,50€, e suporta despesas gerais a rondar

um valor médio de 612,50€ por mês. A maioria vive em casa própria (n=23, 95,8%), com o

conjugue (n=17, 70,8%) ou sozinhos (n=6, 25%), usufrui unicamente do SNS (n=18, 75%) e

não tem acesso a qualquer apoio financeiro (n=23, 95,8%). Apenas 50% dos doentes de

DCL são isentos do pagamento de taxas no consumo de cuidados de saúde (n=12, 50%).

Relativamente ao estado de saúde e consumo de cuidados dos indivíduos com DCL, 21

doentes (87,5%) apresentam uma ou mais comorbilidades. Num período de 6 meses, 8

doentes (33,3%) estiveram internados em média 1 vez, durante um período médio de 14

dias. No mesmo período de tempo, foi registada uma média de 3 consultas por doente e

14 doentes (58%) realizaram uma média de 2 exames. Não foi reportado nenhum episódio

de urgência neste grupo de doentes. As famílias de 2 doentes (8,3%) realizaram adaptações

físicas no domicílio e as de 5 doentes (20,8%) recorreram a serviços de apoio. Contudo, não

foi registada a aquisição de qualquer dispositivo de apoio ou acessórios de cuidado. No que

diz respeito à deslocação, o meio de transporte mais utilizado é o carro (n=17, 70,8%),

percorrendo em média 82,3 Km de distância (ida e volta).

• Na fase ligeira,

Os doentes são, maioritariamente, mulheres (n=13, 54,2%), têm uma média de idades de

75 anos, localizam-se na faixa etária dos 71 aos 80 anos (n=14, 58,3%), são casados (n=19,

79,2%) e têm um grau de escolaridade que vai do 1º ao 4º ano (n=15, 62,5%). São, por

norma, reformados (n=20, 83,3%), com um rendimento mensal igual ou superior a 500€

(n=13, 54,1%), sendo o valor médio dos rendimentos mensais 772,63€, e com despesas

gerais a rondar um valor médio de 758,67€ por mês. A maioria vive em casa própria (n=23,

95,8%), com o conjugue (n=18, 75%), não é isenta do pagamento de taxas no consumo de

cuidados de saúde (n=14, 58,3%), usufrui unicamente do SNS (n=17, 70,8%) e não tem

acesso a qualquer apoio financeiro (n=22, 91,7%).

Relativamente ao estado de saúde e consumo de cuidados dos indivíduos com doença de

Alzheimer em fase ligeira, verifica-se que 19 doentes (79,2%) apresentam uma ou mais

59

comorbilidades. Num período de 6 meses, 4 doentes (16,7%) estiveram internados em

média 1 vez, durante um período médio de 10 dias. No mesmo período de tempo, foi

registada uma média de 2 consultas por doente, 6 doentes (25%) recorreram às urgências,

numa média de 2 vezes, e 7 (29,2%) realizaram uma média de 2 exames.

5 doentes (20,8%) adquiriram, como consequência da doença de Alzheimer, dispositivos

médicos de apoio e 3 doentes (12,5%) necessitam de acessórios de cuidado regularmente.

As famílias de 4 doentes (16,7%) realizaram adaptações físicas no domicílio e as de 9

doentes (37,5%) recorreram a serviços de apoio. Para a deslocação, o meio de transporte

mais utilizado é o carro (n=20, 83,3%), percorrendo em média 54 Km de distância (ida e

volta).

• Na fase moderada,

Os doentes são, maioritariamente, do sexo feminino (n=11, 64,7%), têm uma média de

idades de 72 anos, encontram-se na faixa etária dos 71 aos 80 anos (n=5, 29,4%) ou dos 81

aos 90 anos (n=5, 29,4%), são casados (n=13, 76,5%) e têm um grau de escolaridade que

vai do 1º ao 4º ano (n=11, 64,7%). A maioria encontra-se já reformada (n=12, 70,6%), com

um rendimento mensal igual ou superior a 500€ (n=10, 58,8%), sendo o valor médio dos

rendimentos mensais 867,24€, e com despesas gerais a rondar um valor médio de 885,88€

por mês. Por norma, vivem em casa própria (n=14, 82,4%), com o conjugue (n=12, 70,6%),

não são isentos do pagamento de taxas no consumo de cuidados de saúde (n=12, 70,6%),

usufruem unicamente do SNS (n=11, 64,7%) e não têm acesso a qualquer apoio financeiro

(n=16, 94,1%).

Relativamente ao estado de saúde e consumo de cuidados de indivíduos com doença de

Alzheimer em fase moderada, 12 doentes (70,6%) apresentam uma ou mais

comorbilidades. Num período de 6 meses, 4 doentes (23,5%) estiveram internados em

média 1 vez, durante um período médio de 8 dias. No mesmo período de tempo, foi

registada uma média de 2 consultas por doente, 4 doentes (23,5%) recorreram às

urgências, numa média de 2 vezes, e 8 (47,1%) realizaram uma média de 2 exames.

3 doentes (17,6%) adquiriram dispositivos médicos de apoio e 4 doentes (23,5%)

necessitam de acessórios de cuidado regularmente. As famílias de 2 doentes (11,8%)

realizaram adaptações físicas no domicílio e as de 8 doentes (47,1%) recorreram a serviços

60

de apoio. No que diz respeito à deslocação, o meio de transporte mais utilizado é o carro

(n=13, 76,5%), percorrendo em média 50,8 Km de distância (ida e volta).

• Na fase severa,

A maioria dos doentes são mulheres (n=13, 61,9%), têm uma média de idades de 77 anos,

encontram-se na faixa etária dos 71 aos 80 anos (n=8, 38,1%) ou dos 81 aos 90 anos (n=7,

33,3%), são casados (n=13, 61,9%) e têm um grau de escolaridade que vai do 1º ao 4º ano

(n=16, 76,2%). Grande parte são reformados (n=17, 81%), com um rendimento mensal

inferior a 500€ (n=13, 61,9%), sendo o valor médio dos rendimentos mensais 606,76€, e

com despesas gerais a rondar um valor médio de 1060,00€ por mês. A maioria vive em casa

própria (n=12, 57,1%), com o conjugue (n=9, 42,9%) ou com os filhos (n=4, 19%), é isenta

do pagamento de taxas no consumo de cuidados de saúde (n=12, 57,1%), usufrui

unicamente do SNS (n=17, 81%) e não tem acesso a qualquer apoio financeiro (n=17,

71,4%). No entanto, são o grupo com um maior número de indivíduos que beneficiam de

apoios financeiros (n=6, 28,6%), como subsídios de doença (n=1, 16,7%), complementos

por dependência (n=3, 50%) e pensões de viuvez (n=2, 33,3%). De registar também que 8

dos doentes em fase severa se encontram institucionalizados.

Relativamente ao estado de saúde e consumo de cuidados dos indivíduos em fase severa,

verifica-se que 13 doentes (61,9%) apresentam uma ou mais comorbilidades em

simultâneo com a doença de Alzheimer. Num período de 6 meses, 6 doentes (28,6%)

estiveram internados em média 2 vez, durante um período médio de 14 dias. No mesmo

período de tempo, foi registada uma média de 2 consultas por doente, 5 doentes (23,8%)

recorreram às urgências, numa média de 4 vezes, e 9 (42,9%) realizaram em média 1

exame.

18 doentes (85,7%) adquiriram dispositivos médicos de apoio e necessitam de acessórios

de cuidado regularmente. As famílias de 3 doentes (14,3%) realizaram adaptações físicas

no domicílio e as de 14 doentes (66,7%) recorreram igualmente a serviços de apoio. No que

diz respeito à deslocação, o meio de transporte mais utilizado é o carro (n=15, 71,4%),

percorrendo em média 88,4 Km de distância (ida e volta).

Conclusões: Ao traçar o perfil dos doentes em cada uma das fases, é possível concluir que,

no que diz respeito às características sociodemográficas, não são expressas grandes

61

diferenças entre os grupos. De notar, no entanto, que o rendimento médio mensal dos

doentes aumenta com a severidade da doença até à fase moderada, assumindo o valor

mínimo no grupo de DCL e máximo no grupo de fase moderada, diminuindo

significativamente na fase severa. A institucionalização dos doentes e o valor médio mensal

das despesas gerais aumentam gradualmente com a severidade da doença e é também na

fase severa que se regista um maior número de indivíduos isentos do pagamento de taxas

moderadoras e beneficiários de apoios financeiros.

Através da análise do estado de saúde e, consequente, utilização e consumo de cuidados

de saúde pelos doentes de DCL e de Alzheimer nas diferentes fases da doença, conclui-se

que o número de comorbilidades reportadas diminui com a severidade e que o registo de

episódios de internamento, bem como a duração dos mesmos é maior nos grupos de DCL

e de doentes em fase severa. Apesar do número médio de doentes que recorrem às

urgências não ser muito diferente entre os grupos, o número de episódios por doente

aumenta significativamente na fase severa. O número médio de consultas e exames

realizados por cada doente diminui com a severidade, no entanto e tal como seria de

esperar, o recurso a dispositivos médicos, acessórios de cuidado e serviços de apoio

alternativos aumenta com a severidade da doença. Relativamente à deslocação dos

doentes e dos seus cuidadores para receber cuidados de saúde, a distância média

percorrida (ida e volta) é maior nos grupos de DCL e doença de Alzheimer em fase severa,

nos quais são identificados indivíduos que viajam de distritos como: Aveiro, Leiria, Guarda,

Viseu e Castelo Branco.

Caracterização sociodemográfica e do estado de saúde e consumo de cuidados dos

cuidadores informais

Os resultados da tabela 11 dizem respeito à caracterização sociodemográfica dos

cuidadores informais e os da tabela 12 à caracterização do estado de saúde e consumo de

cuidados pelos cuidadores informais. As duas tabelas permitem não só uma análise global

da amostra total dos prestadores de cuidados, como também uma análise da amostra de

cuidadores que prestam cuidados a doentes com DCL e com doença de Alzheimer em fase

ligeira, moderada e severa.

62

Tabela 11

Caracterização sociodemográfica dos cuidadores informais

Características Total DCL Ligeira Moderada Severa

N % N % N % N % N %

Cuidadores Informais 97 100 24 24,7 28 28,9 20 20,6 25 25,8

Idade

Média 60 61 63 58 57

Sexo

Feminino 65 67,0 16 66,7 18 64,3 15 75,0 16 64,0

Masculino 32 33,0 8 33,3 0 0,0 5 25,0 9 36,0

Estado Civil

Casado(a) 85 87,6 19 79,2 26 92,9 17 85,0 23 92,0

Solteiro(a) 9 9,3 5 20,8 2 7,1 0 0,0 2 8,0

Divorciado(a) 3 3,1 0 0,0 0 0,0 3 15,0 0 0,0

Viúvo(a) 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0

Grau de Escolaridade

Sem escolaridade 1 1,0 0 0,0 1 3,6 0 0,0 0 0,0

Assinar 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0

Ler e escrever 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0

1º-4º 27 27,8 7 29,2 6 21,4 5 25,0 9 36,0

5º-6º 6 6,2 2 8,3 3 10,7 0 0,0 1 4,0

7º-9º 9 9,3 5 20,8 0 0,0 3 15,0 1 4,0

10º-12º 24 24,7 1 4,2 6 21,4 7 35,0 10 40,0

Técnico profissional 1 1,0 0 0,0 1 3,6 0 0,0 0 0,0

Ensino Superior 29 29,9 9 37,5 11 39,3 5 25,0 4 16,0

Vive com o doente?

Sim 52 53,6 14 58,3 16 57,1 13 65,0 9 36,0

Não 45 46,4 10 41,7 12 42,9 7 35,0 16 64,0

Relação com o doente

Conjugue 49 50,5 14 58,3 15 53,6 10 50,0 10 40,0

Filhos 40 41,2 8 33,3 10 35,7 10 50,0 12 48,0

Irmãos 1 1,0 0 0,0 1 3,6 0 0,0 0 0,0

Genro / Nora 1 1,0 1 4,2 0 0,0 0 0,0 0 0,0

Vizinho(a) 1 1,0 0 0,0 1 3,6 0 0,0 0 0,0

Amigo(a) 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0

Sobrinho(a) 1 1,0 0 0,0 1 3,6 0 0,0 0 0,0

Neto(a) 1 1,0 1 4,2 0 0,0 0 0,0 0 0,0

Cunhado(a) 1 1,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 4,0

Acompanhante 2 2,1 0 0,0 0 0,0 0 0,0 2 8,0

Número de cuidadores

Média 1,8 1,5 1,8 1,9 2,1

Percentagem de cuidado

1-20 9 9,3 0 0,0 1 3,6 1 5,0 7 28,0

63

21-40 12 12,4 2 8,3 4 14,3 2 10,0 4 16,0

41-60 16 16,5 1 4,2 7 25,0 6 30,0 2 8,0

61-80 9 9,3 1 4,2 3 10,7 2 10,0 3 12,0

81-100 51 52,6 20 83,3 13 46,4 9 45,0 9 36,0

Tempo de cuidado

<6 meses 3 3,1 1 4,2 1 3,6 1 5,0 0 0,0

6 meses - 1 ano 5 5,2 1 4,2 1 3,6 1 5,0 2 8,0

1-2 anos 21 21,6 8 33,3 9 32,1 4 20,0 0 0,0

2-5 anos 28 28,9 8 33,3 11 39,3 5 25,0 4 16,0

>5 anos 40 41,2 6 25,0 6 21,4 9 45,0 19 76,0

Tabela 12

Caracterização do estado de saúde e consumo de cuidados dos cuidadores informais

Características Total DCL Ligeira Moderada Severa

N % N % N % N % N %

Cuidadores Informais 97 100 24 24,7 28 28,9 20 20,6 25 25,8

Condição de saúde

Sim 59 60,8 17 70,8 17 60,7 13 65,0 12 48,0

Não 37 38,1 7 29,2 11 39,3 7 35,0 12 48,0

Condição de saúde adicional

Diabetes 17 17,5 6 25,0 5 17,9 6 30,0 0 0,0

Cancro 4 4,1 1 4,2 0 0,0 2 10,0 1 4,0

Doença cardíaca 40 41,2 12 50 16 57,1 6 30 6 24

Tireoide 8 8,2 3 12,5 3 10,7 1 5,0 1 4,0

Doença respiratória 2 2,1 0 0,0 1 3,6 0 0,0 1 4,0

Doença renal 2 2,1 0 0,0 2 7,1 1 5,0 0 0,0

Ossos e articulações 11 11,3 3 12,5 3 10,7 3 15,0 2 8,0

Reumatismo 5 5,2 1 4,2 1 3,6 2 10,0 1 4,0

Transtorno mental 12 12,4 4 16,7 3 10,7 0 0,0 5 20,0

Doença neurológica 4 4,1 1 4,2 2 7,1 0 0,0 1 4,0

Internamento (6 meses)

Sim 7 7,2 0 0,0 4 14,3 2 10,0 1 4,0

Não 88 90,7 24 100,0 24 85,7 18 90,0 22 88,0

Número de episódios

Total 7 0 4 2 1

Média 1 0 1 1 1

Duração de internamento

Média 9,0 0,0 9,8 0 5

Urgência (6 meses)

Sim 1 1 0 0 1 4 0 0 0 0

Não 94 97 24 100 27 96 20 100 23 92

64

Número de episódios

Média 1 0 1 0 0

Consultas (6 meses)

Sim 61 62,9 16 66,7 19 67,9 13 65,0 13 52,0

Não 34 35,1 8 33,3 9 32,1 7 35,0 10 40,0

Número de consultas

Total 116 31 34 23 28

Média 1,9 1,9 1,79 1,77 2,15

Exames (6 meses)

Sim 20 20,6 3 12,5 7 25,0 5 25,0 5 20,0

Não 75 77,3 21 87,5 21 75,0 15 75,0 18 72,0

Número de exames

Total 42 7 11 10 14

Média 2,1 2,3 1,6 2,0 2,8

Medicação

Sim 60 61,9 17 70,8 17 60,7 13 65,0 13 52,0

Não 35 36,1 7 29,2 11 39,3 7 35,0 10 40,0

Relativamente aos cuidadores informais dos doentes de Alzheimer da Consulta de

Demência, a análise global permite concluir que a maioria são mulheres (n=65, 67%), têm

uma média de idades de 65 anos, encontram-se na faixa etária dos 51 aos 60 anos (n=28,

28,9%), são casados (n=85, 87,6%) e têm um grau de escolaridade que varia muito entre o

1º - 4º ano (n=27, 27,8%), o 10º - 12º ano (n=24, 24,7%) e o ensino superior (n=29, 29,9%).

Relativamente ao contexto da prestação de cuidados, 52 cuidadores (53,6%) vivem com o

doente, ao contrário dos restantes 45 (46,4%), 49 mantém uma relação conjugal com o

doente (50,5%) e 40 são filhos do mesmo (41,2%). O número médio de cuidadores por

doente é de 1,8. Cerca de 57 cuidadores (58,8%) prestam cuidados há menos de 5 anos e

51 cuidadores (52,6%) reportam que assumem cerca de 80 a 100% da responsabilidade da

prestação de cuidados do doente em causa, sendo, na sua maioria, o cuidador principal.

No que diz respeito à utilização e consumo de cuidados de saúde pelos cuidadores

informais, 59 prestadores (60,8%) sofrem de pelo menos uma condição de saúde,

destacando-se as doenças cardíacas (n=40, 41,2%), a diabetes (n=17, 17,5%), os

transtornos mentais (n=12,12,4%) e problemas de ossos e articulações (n=11,11,3%),

muitas vezes consequência do ato de cuidar. Em 6 meses, 7 cuidadores informais (7,2%)

estiveram internados em média 1 vez, durante um período médio de 9 dias. As

especialidades mais registadas foram Cardiologia (n=4, 57,1%), Oncologia (n=1, 14,3%),

Ortopedia (n=1, 14,3%) e Neurologia (n=1, 14,3%). 61 cuidadores (62,9%) foram a uma

65

média de 2 consultas, cujas especialidades variam entre Cardiologia (n=15, 12,9%),

Endocrinologia (n=15, 12,9%), Medicina Geral e Familiar (n=39, 33,6%) e Psiquiatria (n=10,

8,6%), apenas 1 cuidador (1%) sofreu 1 episódio de urgência, e 20 (20,6%) realizaram uma

média de 2 exames, sendo as análises clínicas, eletrocardiogramas e os raio x os mais

registados. Cerca de 60 cuidadores (61,9%) fazem medicação regular.

A análise dos resultados referentes à caracterização sociodemográfica e do estado de

saúde e consumo de cuidados por fase da doença, permitiu concluir que:

• No Défice Cognitivo Ligeiro (DCL),

Os cuidadores informais são, na sua maioria, do sexo feminino (n=16, 66,7%), têm uma

média de idades de 61 anos, encontram-se na faixa etária dos 61 aos 70 anos (n=8, 33,3%),

são casados (n=19, 79,2%) e têm um grau de escolaridade que varia entre o ensino superior

(n=9, 37,5%) e o 1º - 4º ano (n=7, 29,2%). 14 cuidadores (58,3%) vivem com o doente a

quem prestam cuidados e 14 mantém uma relação conjugal com os mesmos (58,3%). O

número médio de cuidadores por doente é de 1,5. Cerca de 20 cuidadores (83,3%) da

amostra assumem entre 81 a 100% da responsabilidade da prestação de cuidados do

doente em questão e 8 cuidadores (33,3%) prestam cuidados há 1-2 anos, enquanto que,

o mesmo número presta há 2-5 anos.

Relativamente à utilização e consumo de cuidados de saúde pelos cuidadores informais,

verifica-se que 17 prestadores (70,8%) sofrem de pelo menos uma condição de saúde. Em

6 meses, 16 cuidadores informais (66,7%) foram a uma média de 2 consultas e 3 (12,5%)

realizaram uma média de 2 exames. Não foram registados episódios de internamento ou

de urgências neste grupo de cuidadores. Cerca de 17 cuidadores (70,8%) fazem medicação

regular.

• Na fase ligeira,

Os prestadores de cuidados são, por norma, mulheres (n=18, 64,3%), têm uma idade média

de 63 anos, encontram-se na faixa etária dos 71 aos 80 anos (n=8, 28,6%), são casados

(n=26, 92,9%) e têm o ensino superior (n=11, 39,3%). Cerca de 16 cuidadores (57,1%) vivem

com o doente, 15 mantém uma relação conjugal com o doente (53,6%) e 10 são filhos do

mesmo (35,7%). O número médio de cuidadores por doente é de 1,8. 13 cuidadores

(46,4%) prestam cerca de 81 a 100% dos cuidados ao doente em questão e 11 cuidadores

66

(39,3%) prestam cuidados há 2-5 anos, enquanto que 9 cuidadores (32,1%) prestam há 1-

2 anos.

Relativamente à utilização e consumo de cuidados de saúde pelos cuidadores informais,

verifica-se que 17 prestadores (60,7%) sofrem de pelo menos uma condição de saúde. Nos

6 meses que antecederam a entrevista, 4 cuidadores informais (14,3%) estiveram

internados em média 1 vez, durante um período médio de 10 dias. 19 prestadores (67,9%)

foram a uma média de 2 consultas, apenas 1 (4%) reportou que sofreu 1 episódio de

urgência e 7 (25%) realizaram uma média de 2 exames. Cerca de 17 cuidadores (60,7%)

fazem medicação regular.

• Na fase moderada,

Os cuidadores são mulheres (n=15, 75%), têm uma média de idades de 58 anos, encontram-

se na faixa etária dos 51 aos 60 anos (n=9, 45%), são casados (n=17, 85%) e têm uma

escolaridade do 10º ao 12º ano (n=7, 35%). Cerca de 13 cuidadores (65%) vivem com o

doente que cuidam, 10 são filhos (50%) e 10 mantém uma relação conjugal com o mesmo

(50%). O número médio de cuidadores é de 1,9. 9 cuidadores (45%) prestam 81 a 100% dos

cuidados ao doente em questão e o mesmo número presta cuidados há mais de 5 anos.

Relativamente à utilização e consumo de cuidados de saúde pelos cuidadores informais,

verifica-se que 13 prestadores (65%) sofrem de pelo menos uma condição de saúde. Em 6

meses, 2 cuidadores informais (10%) estiveram internados em média 1 vez, durante um

período médio de 10 dias, 13 (65%) foram a uma média de 2 consultas e 5 (25%) realizaram

uma média de 2 exames. Nenhum indivíduo reportou episódios de urgência. Cerca de 13

cuidadores (65%) fazem medicação regular.

• Na fase severa,

Os cuidadores informais são, na maioria, indivíduos do sexo feminino (n=15, 75%), têm uma

média de idades de 58 anos, encontram-se na faixa etária dos 51 aos 60 anos (n=7, 28%),

são casados (n=23, 92%) e têm uma escolaridade que varia entre o 10º - 12º ano (n=10,

40%) e o 1º - 4º ano (n=9, 36%). 16 cuidadores (64%) vivem com o doente que cuidam, 12

são filhos (48%) e 10 mantém uma relação conjugal com o mesmo (n=10, 40%). O número

médio de cuidadores é de 2,1. 9 cuidadores (36%) prestam entre 81 a 100% dos cuidados,

67

enquanto que 7 (28%) prestam entre 1 a 20%. Cerca de 19 cuidadores (76%) da amostra já

prestam cuidados há mais de 5 anos.

Relativamente à utilização e consumo de cuidados de saúde pelos cuidadores informais,

verifica-se que 12 prestadores (48%) sofrem de pelo menos uma condição de saúde. Nos 6

meses que antecederam, apenas 1 cuidador (4%) esteve internado 1 vez, durante 5 dias,

13 cuidadores (52%) foram a uma média de 2 consultas e 5 (20%) realizaram uma média de

3 exames. Cerca de 13 cuidadores deste grupo (52%) fazem medicação regular.

Conclusões: Após traçar o perfil dos indivíduos para cada uma das fases da doença, é

possível concluir que, em termos sociodemográficos, os 4 grupos de cuidadores informais

são mais heterogéneos do que os dos doentes, salientando-se uma maior variação das

características relacionadas com a idade, que diminui ligeiramente com a severidade da

doença, e o grau de escolaridade. No entanto, a análise das variáveis referentes ao sexo,

ao estado civil e à relação que os cuidadores estabelecem com os doentes não expressa

diferenças significativas entre as fases da doença.

Relativamente ao contexto da prestação de cuidados, é de notar que o número de

cuidadores que vive com o doente diminui na fase severa, devido a uma maior taxa de

institucionalização dos doentes. Também devido a este facto, a percentagem de

envolvimento no cuidado diminui com a severidade. O número médio de cuidadores por

doente aumenta com a severidade e, por norma, os cuidadores informais de doentes em

fases mais avançadas da doença prestam cuidados há mais tempo.

No que diz respeito ao estado de saúde e consumo de cuidados pelos prestadores, é de

notar que a maior parte dos cuidadores é acompanhado por pelo menos uma condição de

saúde, ao mesmo tempo que presta cuidados, no entanto, salienta-se, igualmente, que o

número de problemas de saúde reportados diminui com a severidade da doença. No geral,

registam-se poucos episódios de internamento ou urgências, sendo que os números mais

significativos surgem na fase ligeira. A maioria dos cuidadores faz medicação regular, no

entanto este número também diminui ligeiramente com a severidade.

Estimação dos custos dos cuidados de saúde consumidos pelos doentes

68

Na entrevista, os cuidadores informais prestaram informações sobre a utilização e o

consumo de cuidados de saúde, por si e pelos doentes, e sobre os custos relacionados com

esse consumo, suportados por ambos.

Na tabela 13 são apresentados os custos médios anuais suportados pelos doentes como

consequência de episódios de internamento e urgências, consultas, exames, medicação,

acessórios de cuidado, serviços de apoio alternativos e deslocações. São, igualmente,

apresentados os custos das adaptações físicas no domicílio e dispositivos de apoio,

adquiridos esporadicamente.

Tabela 13

Custos dos cuidados de saúde consumidos pelos doentes

Tipo de Custos Origem dos custos Total DCL Ligeira Moderada Severa

Custo Médicos (anual)

Internamento 15,28€ 25,50€ 13€ 0€ 13,34€

Urgências 52€ 0€ 42€ 32€ 80€

Consultas 15,38 19,66€ 10,96€ 20,76€ 11,20€

Exames 63,02€ 90,72€ 97,20€ 24,88€ 27,22€

Medicação 885,84€ 658,56€ 846,12€ 1 037,64€ 1 068€

Custos Médicos totais (anual)

1 031,52€ 794,44€ 1 009,28€ 1 115,28€ 1 199,76€

Custos Não Médicos (anual)

Transporte 130,68€ 246,24€ 209,04€ 255,12€ 282€

Acessórios de cuidado

781,92€ 0€ 540€ 609€ 860,64€

Serviços de apoio alternativos

6 180,72€ 2 304€ 8 192,04€ 3 947,52€ 9 198€

Custos Não Médicos totais (anual)

7 093,32€ 2 550,24€ 8 941,08€ 4 811,64€ 10 340,64€

Custos totais (anual)

8 124,84€ 3 344,68€ 9 950,36€ 5 926,92€ 11 540,40€

Custos totais (mensal)

677,07€ 278,72€ 829,19€ 493,91€ 961,70€

Custos Esporádicos

Adaptações físicas no domicílio*

5 092,73€ 15 800€ 4 537,50€ 675€ 1 640€

Dispositivos de apoio*

404,92€ 0€ 535€ 192,67€ 404,12€

Nota: * custo suportado apenas uma vez pelos doentes

Através da análise da tabela 13, é possível concluir que, por ano, os doentes gastam em

média 1 031,52€ em cuidados médicos, sendo que a maior despesa diz respeito à

medicação (885,84€), e 7 093,32€ em cuidados não médicos, sendo que os custos dos

serviços de apoio alternativos (6 180,72€) são os que mais contribuem para este valor.

69

Assim, os doentes gastam, em média, 8 124,84€ em saúde, por ano, ou seja, 677,07€ por

mês. As adaptações físicas no domicílio e a aquisição de dispositivos médicos acarretam

custos médios de 5 092,73€ e 404,92€, respetivamente, que apenas são suportados no

momento da aquisição.

Na análise dos custos por fase da doença, verificou-se que, no Défice Cognitivo Ligeiro, os

doentes gastam em média 794,44€ em cuidados médicos e 2 550,24€ em cuidados não

médicos. Os custos de medicação (658,56€) são os que mais contribuem para o primeiro

valor, enquanto que os custos dos serviços de apoio alternativos (2 304€) são os que mais

contribuem para o segundo. Assim, por mês, os doentes gastam em média 278,72€ em

saúde, o que perfaz um valor anual de 3 344,68€.

Na fase ligeira, os doentes gastam, por ano, em média 1 009,28€ em cuidados médicos,

sendo que a maior despesa diz respeito à medicação (846,12€), e 8 941,08€ em cuidados

não médicos, sendo que os custos dos serviços de apoio alternativos (8 192,04€) são os que

mais contribuem para este valor. Assim, a despesa anual em saúde destes doentes é

9 950,36€, que corresponde a 829,19€ por mês.

Os doentes em fase moderada gastam, por ano, uma média de 1 115,28€ em cuidados

médicos e de 4 811,64€ em cuidados não médicos. As despesas que mais contribuem para

estes valores são as de medicação (1 037,64€) e de serviços de apoio alternativos

(3 947,52€), respetivamente. Assim, os doentes nesta fase gastam uma média anual de

5 926,92€ em saúde, ou seja, 493,91€ por mês.

Na fase severa, os doentes gastam, por ano, em média, 1 199,76€ em cuidados médicos,

sendo que a maior despesa diz respeito à medicação (1 068€), e 10 340,64€ em cuidados

não médicos, sendo que os custos dos serviços de apoio alternativos (9 198€) são os que

mais contribuem para este valor. Assim, em saúde, os doentes nesta fase gastam uma

média de 961,70€ por mês, que perfaz um valor anual de 11 540,40€.

Em conclusão, os custos médicos totais aumentam com a severidade da doença. Em todas

as fases, são os custos de medicação que mais contribuem para este valor, aumentando

também com a severidade. Não foram registados custos com episódios de urgência no DCL,

no entanto estes custos assumem o valor máximo na fase severa de DA. Os custos

associados à realização de exames diminuem significativamente nas fases moderada e

70

severa. Os custos das consultas são mais altos no DCL e na fase moderada e os de

internamento atingem o máximo no DCL, diminuem nas fases ligeira e severa e são

inexistentes na fase moderada. Quanto aos custos não médicos totais, estes aumentam

com a severidade, contudo regista-se uma diminuição na fase moderada. A maior

contribuição para estes custos são os serviços de apoio alternativos, cuja despesa também

aumenta com a severidade, apresentando, igualmente, uma descida na fase moderada. A

utilização de acessórios de cuidado e, consequentemente, os custos associados aos

mesmos aumentam com a severidade.

De uma forma geral, os custos totais decorrentes do consumo de cuidados de saúde pelos

doentes aumentam com a severidade da doença.

Estimação dos custos dos cuidados de saúde consumidos pelos cuidadores informais

Nos cuidadores informais foram apenas avaliados os custos diretos médicos. Assim, na

tabela 1, são apresentados os custos médios anuais suportados pelos cuidadores informais,

como consequência de episódios de internamento e urgências, consultas, exames e

medicação.

Tabela 14

Custos dos cuidados de saúde consumidos pelos cuidadores informais

Tipo de Custos Origem dos custos Total DCL Ligeira Moderada Severa

Custo Médicos (anual)

Internamento 0€ 0€ 0€ 0€ 0€

Urgências 9€ 0€ 9€ 0€ 0€

Consultas 51,58€ 69,94€ 59,62€ 8,92€ 59,92€

Exames 65,78€ 64,80€ 87,98€ 59,40€ 37,40€

Medicação 460,08€ 449,28€ 397,44€ 586,56€ 429,84€

Total custos médios anuais

586,44€ 584,02€ 554,04€ 654,88€ 527,16€

Total custos médios mensais

48,87€ 48,67€ 46,17€ 54,57€ 43,93€

Através da análise da tabela 14, é possível concluir que, por ano, os cuidadores informais

gastam em média 586,44€ em cuidados médicos, correspondendo a cerca de 48,87€

mensais. Os custos de medicação são os que mais contribuem para a despesa total, ao

contrário dos custos associados a episódios de internamento e urgências, que são quase

inexistentes.

71

Na análise dos custos de cuidados médicos dos cuidadores informais por fase da doença,

verifica-se que os custos médios totais de cuidados de saúde assumem um valor anual de

584,02€ no DCL, 554,04€ na fase ligeira, 654,88€ na fase moderada e 527,16€ na fase

severa.

Em conclusão, não foram verificadas diferenças significativas entre os custos totais de

cuidados de saúde nas diferentes fases da doença, sendo que, ainda assim, o valor mais

alto foi registado na fase moderada. Em todas as fases, os custos de medicação são os que

mais contribuem para a despesa total. Não foram reportados quaisquer custos associados

a episódios de internamento e só se verificaram custos de urgências na fase ligeira. Os

custos das consultas assumem um valor significativamente baixo na fase moderada e o

valor mais baixo do custo de exames foi registado na fase severa.

Caracterização da tipologia de cuidado informal, com base no tempo investido e

atividades realizadas, nas diferentes fases da doença

Tabela 15

Atividades e tempo de cuidado informal

Características Total DCL Ligeira Moderada Severa

N % N % N % N % N %

Cuidadores Informais 97 100 24 24,7 28 28,9 20 20,6 25 25,8

Atividades básicas da vida diária

Cuidado pessoal 33 34,0 1 4,2 8 28,6 9 45,0 15 60,0

Mobilidade 20 20,6 1 4,2 6 21,4 4 20,0 9 36,0

Atividades instrumentais da vida diária

Tarefas domésticas 39 40,2 2 8,3 12 42,9 11 55,0 14 56,0

Controlo da medicação 68 70,1 9 37,5 26 92,9 17 85,0 16 64,0

Gestão de finanças 53 54,6 3 12,5 18 64,3 16 80,0 16 64,0

Utilização do telefone 42 43,3 1 4,2 12 42,9 13 65,0 16 64,0

Compras 55 56,7 4 16,7 19 67,9 16 80,0 16 64,0

Ir a consultas 61 62,9 8 33,3 21 75,0 17 85,0 15 60,0

Passear 34 35,1 3 12,5 12 42,9 8 40,0 11 44,0

Nº Atividades básicas da vida diária

Média 1 0,08 0,5 0,65 0,96

Nº Atividades Instrumentais da vida diária

Média 4 3,9 4,5 5,5 4,6

Dias semanais de cuidado

Média 6,0 5,7 6,0 6,3 6,3

Horas diárias de cuidado

72

Média 10,8 9,7 10,5 11,8 11,7

Horas atividades básicas (diárias)

Média 1,59 0,09 1,04 2,56 3,63

Horas atividades instrumentais (diárias)

Média 2,72 1,17 3,04 3,50 3,50

Horas supervisão (diárias)

Média 10,78 9,61 10,57 11,78 11,69

Neste estudo, o cuidado informal foi caracterizado não só pelo número de horas e de dias

semanais investidos pelos cuidadores informais, como também pelas atividades realizadas

pelos mesmos, no âmbito do ato de cuidar.

Através da análise da tabela 15, é possível concluir que, de uma forma geral, os cuidadores

informais investem uma média de 10,8 horas diárias de cuidado, durante cerca de 6 dias

por semana. Prestam apoio na realização de, pelo menos, 1 Atividade Básica da Vida Diária

(ABVD), como cuidados pessoais (n=33, 34%) ou mobilidade (n=20, 20,6%), e de, pelo

menos, 4 Atividades Instrumentais da Vida Diária (AIVD), como controlo da medicação

(n=68, 70,1%), acompanhar a consultas (n=61, 62,9%), fazer compras (n=55, 56,7%) ou

gestão das finanças (n=53, 54,6€). Investem, em média, 1,59h no apoio nas ABVD, 2,72h no

apoio nas AIVD e 10,78h na supervisão do doente.

Na caracterização do cuidado informal por fase da doença, conclui-se que, no Défice

Cognitivo Ligeiro, os cuidadores informais investem uma média de 9,7 horas diárias de

cuidado, durante cerca de 6 dias por semana. O apoio na realização das ABVD é muito raro,

sendo que apenas 1 cuidador (4,2%) referiu que apoiava o doente nos cuidados pessoais e

mobilidade. Contudo, prestam apoio na realização de, pelo menos, 4 AIVD, como controlo

da medicação (n=9, 37,5%), acompanhar a consultas (n=8, 33,3%), fazer compras (n=4,

16,7%) ou gestão das finanças (n=3, 12,5%). Investem, em média, 1,17h no apoio nas AIVD

e 9,6h na supervisão do doente.

Na fase ligeira, os cuidadores informais investem uma média de 10,5 horas diárias de

cuidado, durante cerca de 6 dias por semana. Prestam apoio na realização de, pelo menos,

1 ABVD, como cuidados pessoais (n=8, 28,6%) ou mobilidade (n=6, 21,4%), e de, pelo

menos, 5 AIVD, como controlo da medicação (n=26, 92,9%), acompanhar a consultas (n=21,

75%), fazer compras (n=19, 67,9%), gestão das finanças (n=18, 64,3%) ou tarefas

73

domésticas (n=12, 42,9%). Investem, em média, 1,04h no apoio nas ABVD, 3,04h no apoio

nas AIVD e 10,57h na supervisão do doente.

Na fase moderada, os cuidadores informais investem uma média de 11,8 horas diárias de

cuidado, durante cerca de 6 dias por semana. Prestam apoio na realização de, pelo menos,

1 ABVD, como cuidados pessoais (n=9, 45%) ou mobilidade (n=4, 20%), e de, pelo menos,

6 AIVD, como controlo da medicação (n=17, 85%), acompanhar a consultas (n=17, 85%),

fazer compras (n=16, 80%), gestão das finanças (n=16, 80%), utilização do telefone (n=13,

65%) ou tarefas domésticas (n=11, 55%). Investem, em média, 2,56h no apoio nas ABVD,

3,50h no apoio nas AIVD e 11,78h na supervisão do doente.

Na fase severa, os cuidadores informais investem uma média de 11,7 horas diárias de

cuidado, durante cerca de 6 dias por semana. Estes prestam apoio na realização de, pelo

menos, 1 ABVD, como cuidados pessoais (n=15, 60%) ou mobilidade (n=9, 36%), e de, pelo

menos, 5 AIVD, como controlo da medicação (n=16, 64%), utilizar o telefone (n=16, 64%),

fazer compras (n=16, 64%), gestão das finanças (n=16, 64%) ou acompanhar a consultas

(n=15, 60%). Investem, em média, 3,63h no apoio nas ABVD, 3,5h no apoio nas AIVD e

11,69h na supervisão do doente.

Em conclusão, no gráfico da figura 9, verifica-se que, de uma forma geral, o número de

horas diárias de cuidado aumenta com a severidade da doença. Contudo, este número

diminui na fase severa, relativamente à fase moderada. O mesmo acontece com o número

de horas de AIVD e de supervisão do doente. Ou seja, apenas o número de horas de ABVD

aumenta gradualmente ao longo das fases de severidade da doença.

Quanto ao apoio nas atividades da vida diária pelos cuidadores informais, conclui-se que o

número de ABVD realizadas pelos cuidadores, apesar de pouco, aumenta com a severidade

0

2

4

6

8

10

12

14

Amostra Total DCL Fase Ligeira Fase Moderada Fase Severa

mer

o d

e h

ora

s d

e cu

idad

o

Horas diárias de cuidado Horas ABVD Horas AIVD Horas supervisão

Figura 9. Horas diárias de cuidado informal

74

da doença. O mesmo acontece com o número de AIVD realizadas, contudo é igualmente

registada uma diminuição deste número na fase severa, relativamente à fase moderada

(Figura 10).

Avaliação do impacto socioeconómico nos cuidadores informais

Para avaliar o impacto socioeconómico nos cuidadores informais, foi feita a análise dos

apoios a que os cuidadores informais têm acesso, bem como da sua capacidade para

conciliar a prestação de cuidados com uma atividade profissional. Posteriormente, foi

conduzido o processo de valorização monetária do cuidado informal.

Análise da situação profissional e apoios recebidos pelo cuidador informal

Tabela 16

Caracterização da situação profissional e apoios recebidos pelos cuidadores informais

Características Total DCL Ligeira Moderada Severa

N % N % N % N % N %

Cuidadores Informais 97 100 24 24,7 28 28,9 20 20,6 25 25,8

Atividade profissional (6 meses)

Sim 47 48,5 12 50,0 11 39,3 11 55,0 12 48,0

Não 48 49,5 12 50,0 17 60,7 9 45,0 11 44,0

Motivo para não trabalhar

Nunca trabalhou 2 4,1 0 0,0 1 5,9 1 11,1 0 0,0

Reforma 42 87,5 11 91,7 15 88,2 7 87,5 9 81,8

Despedimento 1 2,0 0 0,0 1 5,9 0 0,0 0 0,0

0

1

2

3

4

5

6

Amostra total DCL Fase Ligeira Fase Moderada Fase Severa

mer

o d

e at

ivid

ades

rea

lizad

as

Nº ABVD Nº AIVD

Figura 10. Número de ABVD e AIVD realizadas pelos cuidadores informais

75

Cuidado Informal 5 10,1 1 8,3 0 0,0 1 12,5 3 27,3

Rendimento (mensal)

<500€ 26 26,8 8 33,3 8 28,6 6 30,0 5 20,0

500€-1000€ 39 40,2 9 37,5 10 35,7 8 40,0 11 44,0

>1000€ 30 30,9 7 29,2 10 35,7 6 30,0 7 28,0

Média 915,86 € 859,00 € 942,37 € 911,35 € 918,57 €

Horas perdidas (6 meses)

Média 13,3 10,2 9,1 12,8 20,9

Dias perdidos (6 meses)

Média 2,1 1,0 1,0 3,7 2,4

Justificação de faltas

Sim 38 82,6 9 75,0 9 81,8 9 81,8 11 91,7

Não 9 19,6 3 25,0 2 18,2 3 27,3 1 8,3

Prejuízo

Sim 33 71,7 11 91,7 7 63,6 8 72,7 7 58,3

Não 14 30,4 1 8,3 4 36,4 4 36,4 5 41,7

Efeito no desempenho

Sim 15 32,6 5 41,7 3 27,3 3 27,3 4 33,3

Não 32 69,6 7 58,3 8 72,7 9 81,8 8 66,7

Isenção

Sim 26 26,8 8 33,3 7 25,0 7 35,0 4 16,0

Não 70 72,2 16 66,7 21 75,0 13 65,0 20 80,0

Subsistema de saúde

Sim 38 39,2 9 37,5 12 42,9 11 55,0 6 24,0

Não 57 58,8 15 62,5 16 57,1 9 45,0 17 68,0

Apoios financeiros

Sim 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0

Não 95 97,9 24 100,0 28 100,0 20 100,0 23 92,0

Apoios não financeiros

Sim 7 7,2 2 8,3 3 10,7 0 0,0 2 8,0

Não 88 90,7 22 91,7 25 89,3 20 100,0 21 84,0

Apoios não financeiros

Informação 3 42,9 1 50,0 2 66,7 0 0,0 0 0,0

Formação 2 28,6 0 0,0 2 66,7 0 0,0 0 0,0

Psicológico 2 28,6 1 50,0 1 33,3 0 0,0 0 0,0

Material 1 14,3 0 0,0 0 0,0 0 0,0 2 100,0

Grupo de cuidadores 1 14,3 0 0,0 1 33,3 0 0,0 0 0,0

Na tabela 16, são apresentados os resultados da caracterização da situação profissional dos

cuidadores informais e dos apoios por eles recebidos.

76

Na amostra total, foi calculada uma média de rendimentos de 915,86€, sendo que foram

ainda registados 5 indivíduos (5,2%) que não auferem quaisquer rendimentos. 46

cuidadores (47,4%) mantém uma atividade profissional, ao contrário dos restantes 49

(50,5%), cujos motivos para não trabalhar incluem: nunca terem trabalhado (n=2, 4,1%),

reforma (n=42, 87,5%), despedimento (n=1,2,0%) e envolvimento total no cuidado informal

(n=5, 10,1%). Relativamente aos trabalhadores, no período de 6 meses que antecedeu a

entrevista, foi registada uma média de horas e dias perdidos de 13,3 e 2, respetivamente,

como consequência do ato de cuidar. 38 empregadores (82,6%) compreendem e aceitam

a justificação da falta, mas, ainda assim, 33 cuidadores (71,7%) são prejudicados quando

faltam, nomeadamente por: reposição de horas (n=17, 51,6%), redução do salário (n=14,

42,5%) e perda de dias de férias (n=4, 12,1%). Cerca de 15 cuidadores (31,9%) refere que o

seu desempenho profissional é afetado negativamente pelo ato de cuidar.

Relativamente aos apoios recebidos, 26 cuidadores (26,8%) são isentos do pagamento de

taxas moderadoras, 38 (39,2%) usufruem de subsistemas de saúde, tais como ADSE, SAMS

e seguros de saúde, e apenas 7 cuidadores (7,2%) confirmam que recebem apoios,

nomeadamente, informativos (n=3, 42,9%), formativos (n=2, 28,6%), psicológicos (n=2,

42,9%), materiais (n=1, 14,3%) e de grupos de cuidadores (n=1, 14,3%). Não foi registada a

receção de nenhum apoio financeiro.

Através da análise da situação profissional e apoios recebidos pelos cuidadores informais

por fase da doença dos indivíduos que cuidam, verifica-se que:

• No Défice Cognitivo Ligeiro,

O rendimento médio mensal registado é 859€. 12 cuidadores (50%) exercem uma atividade

profissional e os restantes 12 (50%) não trabalham, sendo a reforma (n=9, 75%) o motivo

mais registado. De notar que 1 cuidador (8,13%) referiu ter deixado de trabalhar para se

dedicar totalmente à prestação de cuidados. Relativamente aos trabalhadores, no período

de 6 meses, a média de horas e dias perdidos é de 10,2 e 1, respetivamente. 9

empregadores (75%) aceitam a justificação de faltas, no entanto 11 cuidadores (91,7%) são

na mesma prejudicados quando faltam. 5 prestadores (41,7%) referem um efeito negativo

do ato de cuidar no desempenho profissional.

77

Relativamente aos apoios recebidos, 8 cuidadores (33,3%) são isentos, 9 (37,5%) usufruem

de um subsistema de saúde e 2 (8,3%) recebem apoios, nomeadamente, informativo e

psicológico.

• Na fase ligeira,

A média dos rendimentos mensais é 942,37€. 11 cuidadores (39,3%) trabalham, ao

contrário dos restantes 17 (60,7%), cujo motivo mais registado foi a reforma (n=15, 88,2%).

Relativamente aos que exercem uma atividade profissional, ao longo dos 6 meses

anteriores à entrevista, a média de horas e dias de cuidado perdidos, por consequência do

ato de cuidar, foi 9,1 e 1, respetivamente. 9 cuidadores (81,8%) confirmaram compreensão

da justificação das suas faltas pelas entidades patronais. Contudo, 7 cuidadores (63,6%) são

prejudicados quando faltam. 3 prestadores (27,3%) referem que o seu desempenho

profissional é afetado negativamente pelo ato de cuidar.

Relativamente aos apoios recebidos, 7 cuidadores (25%) são isentos do pagamento de

taxas moderadoras, 12 (42,9%) usufruem de um subsistema de saúde e 3 (10,7%) recebem

apoios, nomeadamente, informativo, formativo e de grupos de cuidadores.

• Na fase moderada,

O rendimento médio mensal registado é 911,35€. 11 cuidadores (55%) exercem uma

atividade profissional e os restantes 9 (45%) não trabalham, sendo a reforma (n=5, 55,6%)

o motivo mais registado. De salientar que, 1 cuidador (12,5%) reportaram o abandono da

profissão para o total envolvimento na prestação de cuidados. Relativamente aos

trabalhadores, no período de 6 meses, a média de horas e dias perdidos é de 12,8 e 4,

respetivamente. 9 empregadores (81,8%%) aceitam a justificação de faltas, no entanto 8

cuidadores (72,7%) são na mesma prejudicados quando faltam. 3 prestadores (27,3%)

referem um efeito negativo do ato de cuidar no desempenho profissional.

Relativamente aos apoios recebidos, 7 cuidadores (35%) são isentos e 11 (55%) usufruem

de um subsistema de saúde. Não foram registados quaisquer apoios recebidos pelos

cuidadores de doentes em fase moderada.

• Na fase severa,

78

A média dos rendimentos mensais é 763,6€. 12 cuidadores (48%) trabalham, ao contrário

dos restantes 11 (44%), cujo motivo mais registado foi a reforma (n=7, 63,6%). De notar

que, 3 cuidadores (27,3%) reportaram o abandono da profissão para o total envolvimento

na prestação de cuidados. Relativamente aos que exercem uma atividade profissional, a

média de horas e dias de cuidado perdidos, por consequência do ato de cuidar, foi 20,9 e

2, respetivamente. 11 cuidadores (91,7%) confirmaram compreensão da justificação das

suas faltas pelos empregadores. Contudo, 7 cuidadores (58,3%) são prejudicados quando

faltam. 4 prestadores (16%) referem que o seu desempenho profissional é afetado

negativamente pelo ato de cuidar.

Relativamente aos apoios recebidos, 4 cuidadores (16%) são isentos do pagamento de

taxas moderadoras, 6 (24%) usufruem de um subsistema de saúde e 2 (8%) recebem

apoios, nomeadamente, de aquisição de material necessário ao cuidado.

Em conclusão, o valor médio mensal dos rendimentos não varia significativamente entre

as diferentes fases da doença. Ainda assim, o valor mais baixo foi registado no DCL e o mais

baixo na fase ligeira.

Em todas as fases, à exceção da ligeira, o número de prestadores que exerce uma atividade

profissional é superior ao número dos que não exercem, cujo motivo mais registado foi a

reforma. No DCL e nas fases moderada e severa, foram reportadas as 5 situações de

abandono profissional para total envolvimento na prestação de cuidados.

O número médio de horas perdidas, como consequência do cuidado, atingiu o valor

máximo na fase severa e mínimo na ligeira, enquanto que o número médio de dias perdidos

atingiu o valor máximo na fase moderada e mínimo no DCL e na fase moderada. Grande

parte dos empregadores aceita o cuidado como uma justificação válida de faltas. Contudo,

em todas as fases, a maior parte dos indivíduos são prejudicados quando faltam para

cuidar.

Relativamente aos apoios, a maioria dos cuidadores não são isentos do pagamento de taxas

moderadoras, nem usufruem de qualquer subsistema de saúde. Infelizmente, também o

número reportado de apoios recebidos foi muito baixo, tendo sido mesmo nulo no que diz

respeito a apoios de natureza financeira.

Valorização monetária do cuidado informal

79

Posteriormente, foi conduzido o processo de valorização monetária do cuidado informal

através do método do bem substituto. Ou seja, o número de horas diárias de prestação de

cuidados, reportadas pelos cuidadores informais, foi multiplicada pelo valor do mercado

(4,20€/hora) do substituto mais próximo escolhido, o Técnico(a) de Apoio Familiar e de

Apoio à Comunidade.

O custo do cuidado informal, diário, semanal e anual, foi assim calculado para o total da

amostra e para cada uma das fases da doença.

Tabela 17

Custo diário, semanal e anual do cuidado informal

Custo do Cuidado Informal Total DCL Ligeira Moderada Severa

Nº horas diárias (média) 10,8 9,7 10,5 11,8 11,7

Custo diário 45,36 € 40,74 € 44,10 € 49,56 € 49,14 €

Nº dias semanais (média) 6 5,7 6 6,3 6,3

Custo semanal (7 dias) 272,16 € 232,22 € 264,60 € 312,23 € 309,58 €

Custo anual (52 semanas) 14 152,32 € 12 075,34 € 13 759,20 € 16 235,86 € 16 098,26 €

Pela análise dos resultados da tabela 17, pode constatar-se que, para a amostra total, o

custo diário do cuidado informal é 45,36€, que perfaz um custo semanal de 272,16€ e anual

de 14 152,32€.

Para cada uma das fases, verifica-se que o cuidado informal tem um custo diário de 40,74€

no DCL, 44,10€ na fase ligeira, 49,56€ na fase moderada e 49,14€ na fase severa.

Assim, pode concluir-se que o custo do cuidado informal aumenta com a severidade da

doença. Contudo, é de notar a ligeira diminuição do valor em causa na fase severa,

relativamente à fase moderada. Tal surge como consequência da diminuição do número

de horas de cuidado na fase severa, já identificada anteriormente.

Análise explicativa do número de horas de cuidado despendido pelos cuidadores

informais

Entre outros objetivos, este estudo pretende identificar fatores que influenciam o custo do

cuidado informal, o qual é calculado com base no número de horas de cuidado.

Assim, foi aplicada uma regressão de Poisson que identifica a relação funcional entre a

variável dependente “número de horas de cuidado” e as variáveis explicativas ou

80

independentes “severidade da doença”, “número de ABVD realizadas”, “número de AIVD

realizadas”, “viver com o doente”, “tempo de cuidador”, “percentagem de envolvimento

no cuidado” e “situação profissional”.

Tabela 18

Resultados da Regressão de Poisson

Nº horas de cuidado Coeficiente St. Error z p>z [95% Conf. Interval]

Severidade da doença -0,107 0.043 -2.51 0.012 0.190 – 0.024

Nº de ABVD realizadas -0.095 0.061 -1.56 0.118 0.214 – 0.024

Nº de AIVD realizadas 0.095 0.019 5.02 0.000 0.058 – 0.133

Tempo de cuidador 0.079 0.035 2.23 0.026 0.010 – 0.149

Viver com o doente 0.761 0.099 7.70 0.000 0.568 – 0.955

Situação profissional -0.29 0.083 -3.48 0.001 0.450 – 0.126

Percentagem de cuidado 0.071 0.035 2.01 0.045 0.002 – 0.140

Na tabela 18, são apresentados os resultados da análise de regressão de Poisson, a partir

dos quais é possível concluir que todos os fatores, à exceção do “número de ABVD

realizadas”, têm uma associação estatisticamente significativa (valor p < 0,05) com o

número de horas de cuidado.

A interpretação dos coeficientes permite descrever a forma como os diferentes fatores

influenciam a variável dependente do estudo. Assim, como os coeficientes para a

“severidade da doença” (-0,107) e “situação profissional” (-0.29) são negativos, quando a

severidade aumenta e os cuidadores informais exercem uma atividade profissional, o

número de horas de cuidado e, consequentemente, o custo do cuidado informal diminui.

Por outro lado, uma vez que os coeficientes para o “número de AIVD realizadas” (0.095),

“viver com o doente” (0.761), “tempo de cuidador” (0.079) e “percentagem de

envolvimento no cuidado” (0.071) são positivos, quando o número de AIVD realizadas

aumenta e os cuidadores vivem com o doente, prestam cuidados há mais tempo e

reportam uma maior percentagem de envolvimento no cuidado, o número de horas de

cuidado prestado e, consequentemente, o custo do cuidado informal aumenta.

Através da comparação da dimensão dos coeficientes, é possível concluir que a variável

que mais contribui para mais horas de cuidado é “viver com o doente”, uma vez que tem

81

um coeficiente de maior dimensão (0.761). Pelo contrário, a variável que mais explica

menos horas de cuidado é a “situação profissional” (-0.29).

8. Análise e discussão dos resultados

Neste capítulo é feita a análise e reflexão dos resultados obtidos, comparando os mesmos

com as conclusões retiradas ao longo da revisão da literatura.

O presente estudo foi realizado com o objetivo de analisar o impacto socioeconómico nos

cuidadores informais de doentes de Alzheimer. Numa primeira fase, foram exploradas as

características sociodemográficas e do estado de saúde da amostra total e por fases da

doença dos doentes e cuidadores informais.

Relativamente aos recetores de cuidados, de um modo geral, não houve surpresas, sendo

que o perfil encontrado corrobora com aquele que é definido noutros estudos similares

(Coduras et al., 2010; Jönsson et al., 2006; Reese et al., 2011; Zhu et al., 2015). A maioria

dos doentes são mulheres, encontram-se na faixa etária dos 71 aos 80 anos e têm um grau

de escolaridade e estatuto socioeconómico baixos, reportando rendimentos mensais

inferiores a 500€. Estes factos confirmam alguns dos fatores de risco identificados para a

doença de Alzheimer. O envelhecimento é o fator de risco mais significativo nas condições

demenciais, cuja prevalência aumenta drasticamente com a idade (Alzheimer’s

Association, 2018; Daviglus et al., 2011). O número de casos e o risco de desenvolver

Alzheimer é também maior no sexo feminino (Nebel et al., 2018). Algumas justificações

para este fenómeno incluem a maior esperança de vida das mulheres, existindo um maior

número de mulheres em idade avançada e, portanto, mais sujeitas ao desenvolvimento de

demência (Nebel et al., 2018). Menos anos de educação, que implicam menos reservas

cognitivas, e o baixo estatuto socioeconómico, associado a uma vida social e cultural mais

pobre, também aumentam o risco de desenvolvimento de Alzheimer (Alzheimer’s

Association, 2018; Nebel et al., 2018). Ainda assim, 15% dos doentes deste estudo

completaram o ensino superior, mostrando que uma educação de mais anos não elimina o

risco. A maioria dos doentes vive em casa própria, normalmente, com o cônjuge e/ou com

os filhos, à semelhança do que é verificado noutros estudos de avaliação económica na

área do Alzheimer (Coduras et al., 2010; Jönsson et al., 2006; Reese et al., 2011). Ainda

82

assim foram registados 11 doentes institucionalizados, sendo que 8 deles se encontram já

em fase severa, comprovando o recurso a cuidados formais quando o comprometimento

funcional do doente e o desgaste do cuidador informal são mais significativos, não

conseguindo satisfazer sozinho as necessidades complexas do doente (Ferreira, 2017;

Reese et al., 2011).

Como esperado, dada a média de idades, grande parte da amostra de doentes estão já

reformados, sendo que apenas 5 indivíduos, com um início de doença precoce, foram

obrigados pela condição a deixar de trabalhar. Os rendimentos mensais registados

assumem um valor médio de 680,47€, que embora seja superior ao valor médio mensal

das pensões de velhice pagas pela Segurança Social, que, em 2016, segundo o PORDATA,

já era de 427,62€, continua a ser baixo e insuficiente, tendo em conta as necessidades dos

doentes. Verificou-se também que, no geral, as despesas médias mensais (despesas

domiciliárias gerais e alimentação), que assumem um valor médio de 810,81€, aumentam

com a severidade da doença e são superiores ao valor dos rendimentos mensais, sendo

esta diferença mais significativa na fase severa onde se regista o valor mais baixo de

rendimentos e mais alto de despesas. Todas estas conclusões comprovam as condições

precárias em que muitos doentes vivem, com a agravante de que lidam com uma doença,

cujo impacto económico é enorme e crescente ao longo das fases de severidade (Costa et

al., 2012; Reese et al., 2011). Assim, é compreensível que se identifiquem na fase mais

avançada, mais indivíduos isentos do pagamento de taxas moderadores e beneficiários de

apoios financeiros. Contudo, de uma forma geral, os doentes de Alzheimer não são isentos,

sendo as queixas mais recorrentes a falta de informação sobre o procedimento e

documentação necessária ao pedido de isenção e a dificuldade no reconhecimento do grau

de incapacidade igual ou superior a 60%.

Relativamente ao estado de saúde dos doentes, as comorbilidades mais frequentes

incluem as doenças cardíacas, de entre as quais a hipertensão e hipercolesterolemia, a

diabetes e os transtornos mentais, que são identificados em diversos estudos como

condições que aumentam o risco de desenvolvimento de Alzheimer (Alzheimer’s

Association, 2018; Daviglus et al., 2011). Como consequência destas condições, as

especialidades das consultas e episódios de internamento mais registadas foram a

Neurologia, Cardiologia e Medicina Geral e Familiar. O número de consultas e exames

83

realizados diminui com a severidade da doença, uma vez que nas fases mais avançadas, a

mobilidade é gravemente afetada e o doente fica limitado, tornando-se a sua deslocação

muito complicada (Reese et al., 2011). Assim, são feitas menos marcações de

acompanhamento, sendo que as que se realizam são, por norma, não presenciais,

deslocando-se apenas o cuidador informal. Por outro lado, a frequência de episódios de

urgência e internamentos, bem como a necessidade de dispositivos médicos, acessórios de

cuidado e de recurso a serviços de cuidado formal aumentam com a severidade,

confirmando o agravamento das condições de saúde com o avançar da doença, descrito

em diversos estudos (Barreto, 2005; Monteiro, 2016; Reese et al., 2011; Zhu et al., 2015).

Relativamente aos resultados da análise exploratória das características sociodemográficas

dos cuidadores informais, o perfil traçado coincide com o que é descrito em diversos

estudos da área. Os prestadores de cuidados são, na sua maioria, do sexo feminino, sendo

por norma, a esposa e/ou, na ausência desta, a filha do doente, corroborando com a ideia

de que a mulher, por ampliação do seu papel maternal, tem mais tendência para cuidar

(Andrade, 2009; Barbosa e Matos, 2014; Gervès, Chauvin e Bellanger, 2014; Lemos, 2012;

Nebel et al., 2018; Reese et al., 2011; Zhu et al., 2015). A idade, varia muito, no entanto a

maior parte encontra-se na faixa etária dos 51 aos 60 anos, sendo que, como verificado na

literatura, o cuidador é tanto mais velho quanto mais idade tiver o doente (Andrade, 2009;

Figueiredo, 2007). Assim, a maior parte dos cuidadores está ainda em idade ativa e mantém

uma ocupação remunerada em simultâneo com o ato de cuidar (Figueiredo, 2007). Por

norma, os prestadores apresentam baixas habilitações académicas (Teixeira et al., 2017),

contudo, neste estudo a maior percentagem de indivíduos completou o ensino superior.

Tal facto pode ser explicado pelo meio onde se inseriu o questionário, no Centro Hospitalar

e Universitário de Coimbra, em Coimbra, uma cidade universitária.

Como verificado na literatura, a maior parte dos cuidadores entrevistados é o cuidador

principal e vive com o doente (Gervès, Chauvin e Bellanger, 2014; Lemos, 2012; Nebel et

al., 2018; Zhu et al., 2015). No entanto, com o aumento da severidade da doença, o número

de cuidadores por doente aumenta, a percentagem de envolvimento no cuidado diminui,

o recurso a serviços de cuidado formal e a institucionalização aumentam, devido ao

agravamento da condição de saúde do doente e da sobrecarga dos prestadores de

cuidados, como foi anteriormente discutido (Ferreira, 2017; Reese et al., 2011).

84

Relativamente ao estado de saúde, a maior parte dos cuidadores sofre de pelo menos uma

condição física, sendo que as mais registadas incluem: as doenças cardíacas, a diabetes, os

transtornos mentais e problemas de ossos e articulações. Dado que grande parte destas

condições são desenvolvidas como consequência do ato de cuidar, estes resultados

confirmam o que é defendido em muitos estudos na área: a prestação de cuidados tem

efeitos negativos na saúde dos cuidadores informais (Nebel et al., 2018; Sousa et al., 2017;

Zhu et al., 2015). Os prestadores percecionam perturbações na sua saúde física e mental,

nomeadamente alterações do sono, cansaço físico e desgaste emocional, sentindo a

necessidade de melhorar a sua qualidade de vida (Sousa et al., 2017). Uma vez que as

mulheres têm duas vezes mais probabilidade de desenvolver depressões do que os homens

e a maioria dos cuidadores são mulheres, o desgaste do cuidado informal é por norma

maior nas cuidadoras informais (Nebel et al., 2018).

Infelizmente, a investigação sobre o consumo de cuidados de saúde pelos próprios

cuidadores é ainda escassa. Este é um tema muitas vezes esquecido, ainda mais porque,

no ato de cuidar, o prestador sacrifica a sua saúde em detrimento do cuidado do doente,

mobilizando todos os recursos nesse sentido (Zhu et al., 2015). Segundo a revisão literária,

o esperado seria que, com o agravamento do estado clínico da pessoa com demência,

ocorresse uma deterioração gradual do estado de saúde dos cuidadores, conduzindo a um

maior consumo de recursos de saúde pelos mesmos (Zhu et al., 2015). Contudo neste

estudo, embora os cuidadores reportem efeitos negativos na sua saúde, o consumo de

cuidados pelos mesmos é baixo, baseando-se em consultas e medicação, e chega mesmo

a reduzir nas fases mais avançadas. Tal acontece porque, como referido pelos próprios, não

há tempo, dinheiro ou força de vontade para cuidar da própria saúde.

Numa segunda fase do estudo, foram calculados os custos de saúde suportados pelos

doentes e cuidadores. No que diz respeito aos doentes, os principais resultados indicam

um gasto médio mensal em saúde de 677,07€, que perfaz um valor anual de 8 124,84€ e

que, como esperado, aumenta com a severidade (Jönsson et al., 2006; Reese et al., 2011;

Wimo et al., 2013). Este valor inclui os custos diretos médicos (internamento, urgências,

exames, consultas e medicação) e não médicos (transporte, acessórios de cuidado e

serviços de cuidado formal), calculados a partir do questionamento direto dos cuidadores

e das taxas aplicadas nos serviços públicos de saúde, tal como é feito noutros estudos

85

relacionados (Jönsson et al., 2006; Reese et al., 2011; Uribe et al., 2017; Wimo et al., 2016).

Verificou-se que os custos médicos aumentam com a severidade (Jönsson et al., 2006;

Reese et al., 2011; Wimo et al., 2013) e que a variação dos custos neste grupo de valores é

consistente com o consumo de cuidados, à exceção dos custos de internamento que

diminuem na fase severa, na qual deviam aumentar. Tal acontece, porque a maioria dos

doentes em fase severa são isentos. A despesa de medicação é a que mais contribui para o

total de custos médicos. A rivastigmina, medicamento não comparticipado, foi muitas

vezes referido pelos cuidadores como excessivamente caro, ao contrário do donepezilo ou

memantina, corroborando com estudos que demonstraram uma despesa total em saúde

mais baixo, aquando da administração da memantina (Reese et al., 2011). No caso dos

custos não médicos, os serviços de cuidado formal são os que mais contribuem para os

custos totais, indo ao encontro dos resultados de estudos que concluem que a despesa

total em saúde aumenta quando se recorre a este tipo de serviços (Jönsson et al., 2006;

Reese et al., 2011). Neste estudo, este tipo de custos aumenta com a severidade, no

entanto, foi registada uma diminuição na fase moderada. Tal pode ser explicado pelo tipo

de serviços utilizados, que podem ter custos associados mais baixos, e pelo estatuto

socioeconómico dos doentes que os utilizam, que pode implicar pagamentos mais

reduzidos.

Relativamente aos custos de saúde dos cuidadores informais, verificou-se que estes gastam

um valor médio de 48,87€ por mês, perfazendo 586,44€ anuais. Foram apenas avaliados

os custos de internamento, urgência, exames, consultas e medicação, sendo que a variação

destes foi concordante com o consumo registado. Assim a medicação e consultas são os

que mais contribuem para a despesa total, diminuindo na fase severa, na qual os

cuidadores reportam menor atenção à sua saúde (Wimo et al., 2013).

O cuidado informal foi, posteriormente, caracterizado segundo o tempo investido e as

atividades realizadas. No cálculo do tempo, foi somado o número de horas investidas na

realização de Atividades Básicas da Vida Diária (ABVD) e Atividades Instrumentais da Vida

Diária (AIVD) e na supervisão, tal como é feito noutros estudos da área (Gervès, Chauvin e

Bellanger, 2014; Peña-Longobardo e Oliva-Moreno, 2015; Wang et al., 2010; Wimo A et al.,

2002; Wimo et al., 2013, 2016). Verificou -se que a supervisão é o que ocupa maior tempo

ao cuidador (Wang et al., 2010; Wimo et al., 2013). Quantificar o número de horas de

86

prestação de cuidados é problemático, uma vez que a realização conjunta de atividades

pessoais e de cuidado resulta na sobrevalorização do tempo de cuidado (Hoefman, Exel,

Van e Brouwer, 2013). Assim, nalguns estudos ou foi imposto um limite de horas ou o

cuidador foi questionado sobre o número de horas de sono ou inatividade para evitar

respostas de 24 horas diárias de cuidado (Gervès, Chauvin e Bellanger, 2014; Peña-

Longobardo e Oliva-Moreno, 2015). No presente estudo, foi incluída uma questão sobre o

número de horas de sono para contornar a sobrevalorização, mas, ainda assim, 9

prestadores reportaram noites agitadas, devido à desregulação do ciclo sono-vigília do

doente, referindo 24 horas diárias de cuidado. De uma forma geral, os resultados indicam

uma média de 10,8 horas diárias de cuidado, durante 6 dias por semana, aumentando com

a severidade da doença, tal como verificado na literatura (Gervès, Chauvin e Bellanger,

2014; Peña-Longobardo e Oliva-Moreno, 2015; Wang et al., 2010; Wimo et al., 2013, 2016).

Apurou-se também que em média os prestadores realizam 1 ABVD e 4 AIVD, realizando um

maior número de tarefas à medida que a doença avança, corroborando com a

manifestação gradual da agnosia, apraxia, atrofia muscular e agravamento das condições

de saúde ao longo das fases de severidade (Barreto, 2005; Monteiro, 2016). De uma forma

geral, o tempo de cuidado e o número de atividades realizadas aumenta com a severidade,

ainda assim, verificou-se uma ligeira diminuição na fase severa, que se justifica pela maior

utilização de serviços de cuidado formal, sendo o tempo de cuidado repartido pelas

vertentes formal e informal.

Posteriormente, de forma a avaliar o impacto socioeconómico nos cuidadores informais, o

cuidado informal foi valorizado monetariamente e foi feita uma análise aos apoios

recebidos pelos prestadores e à sua capacidade de conciliar o ato de cuidar com uma

atividade profissional. No que diz respeito à situação profissional, seria de esperar que a

maioria dos cuidadores mantivesse uma ocupação remunerada (Figueiredo, 2007), no

entanto os resultados indicam que a percentagem de trabalhadores não atinge os 50%. É

importante salientar que 2 indivíduos nunca exerceram uma profissão, 1 foi despedido e 5

abandonaram a profissão para se dedicar totalmente ao cuidado informal. Os

trabalhadores que prestam cuidados, perdem em média 27 horas de trabalho por ano.

Apesar de 83% das entidades patronais compreenderem e aceitarem o cuidado como

justificação válida, mostrando valorização e proteção laboral dos cuidadores por parte das

87

mesmas (Teixeira et al., 2017), cerca de 72% dos cuidadores são, ainda assim, prejudicados,

por redução de salário, perda de dias de férias e reposição de horas, confirmando que o

cuidado conduz a perdas físicas, emocionais e de rendimento, que obrigam muitas vezes à

redução ou abandono do trabalho e à reorganização do contexto familiar (Teixeira et al.,

2017; Wimo et al., 2013).

No que diz respeito aos apoios prestados aos cuidadores, os resultados refletem uma infeliz

realidade. Apenas 7% dos cuidadores confirmaram a receção de apoios de natureza

informativa, formativa, psicológica, material ou de grupos de outros cuidadores, não tendo

sido registados quaisquer apoios financeiros num contexto económico tão devastador.

Assim, confirma-se que, em Portugal, o trabalho neste domínio é escasso, cuidar de quem

cuida ainda não é uma prioridade e os apoios existentes são na sua maioria dinamizados

por pessoas individuais ou associações, dentro das próprias comunidades (Teixeira et al.,

2017).

Para a valorização monetária do cuidado informal foi utilizado o método do bem substituto

à semelhança de outros estudos (Gervès, Chauvin e Bellanger, 2014; Moore et al., 2001;

Paraponaris e Davin, 2015; Peña-Longobardo e Oliva-Moreno, 2015). Segundo os

resultados, o cuidado informal tem um valor diário de 45,36€, que perfaz um custo semanal

de 272,16€ e anual de 14 152,32€. Estes valores aumentam com a severidade da doença,

tal como foi verificado na revisão da literatura (Gervès, Chauvin e Bellanger, 2014; Peña-

Longobardo e Oliva-Moreno, 2015; Wang et al., 2010; Wimo et al., 2013, 2016). Contudo,

como consequência da diminuição do número de horas de cuidado na fase severa,

discutida anteriormente, o custo do cuidado informal também assume um valor menor na

fase severa relativamente à fase moderada, refletindo uma maior utilização de serviços de

cuidado formal. Assim, na fase mais avançada da doença, os custos dos cuidados são

repartidos pela vertente formal e informal.

Por último, foi proposta a identificação de fatores que influenciam o valor monetário do

cuidado informal. Como este é calculado com base no número de horas de cuidado, foi

conduzida uma análise explicativa do número de horas de cuidado despendidas. As

variáveis independentes estudadas incluem: “severidade da doença”, “número de ABVD e

de AIVD realizadas”, “viver com o doente”, “situação profissional”, “tempo de cuidador” e

“percentagem de envolvimento no cuidado”, tendo sido escolhidas com base na literatura

88

(Gervès, Chauvin e Bellanger, 2014; Moore et al., 2001; Paraponaris e Davin, 2015; Wang

et al., 2010; Wimo et al., 2013). Segundo os resultados, a situação profissional e a

severidade da doença têm uma associação negativa com o número de horas de cuidado,

as quais diminuem quando se verificam as duas variáveis. Relativamente à situação

profissional, as conclusões coincidiram com a literatura (Pires, 2015; Wimo et al., 2013).

Contudo, relativamente à severidade, seria de esperar que, ao longo das fases da doença,

o número de horas de cuidado aumentasse (Gervès, Chauvin e Bellanger, 2014; Paraponaris

e Davin, 2015; Wang et al., 2010; Wimo et al., 2013). O mesmo não se verificou, tal que na

fase severa o tempo de cuidado diminuiu relativamente à fase moderada, devido ao

recurso mais frequente a cuidados formais. O número de AIVD, viver com o doente, o

tempo de cuidador e a percentagem de envolvimento no cuidado têm uma associação

positiva, sendo que quando se verificam provocam um aumento no tempo e,

consequentemente, no custo do cuidado (Peña-Longobardo e Oliva-Moreno, 2015; Wimo

et al., 2013).

Limitações do estudo

A administração única do questionário sob a forma de entrevista aos cuidadores informais

sujeita os resultados à influência do enviesamento da recordação na informação reportada

acerca do valor das remunerações, despesas e apoios recebidos, do consumo de cuidados

de saúde e dos custos a estes associados e do número de horas de cuidados prestados por

dia.

Na revisão da literatura sobre o cálculo do valor monetário do cuidado informal, foi

identificada uma grande variedade de metodologias e variáveis consideradas, dificultando

as comparações diretas entre o significado dos custos obtidos e dos verificados na

literatura. Neste estudo foi aplicado o método do bem substituto, contudo a escolha do

método do custo oportunidade teria sido uma mais-valia, pois seria atribuído um valor

diferente às horas de cuidado prestado pelos cuidadores que trabalham e por aqueles que

não trabalham. No entanto, este método não permite um cálculo direto e apenas existem

preços de mercado para os trabalhadores.

89

A escolha do Técnico(a) de Apoio Familiar e de Apoio à Comunidade, enquanto profissional

próximo, foi baseada na literatura, mas não é comum a todos os estudos, nem o valor por

hora é igual em todos os países, constituindo, igualmente, uma barreira à comparação

direta entre os custos do cuidado informal obtidos e os da literatura.

Na valorização monetária do cuidado informal, foi considerado o valor global de horas de

prestação de cuidados. Contudo, uma vez que o questionário foi desenvolvido com base

no Resource Utilization in Dementia (RUD), o mesmo incluía questões que permitiram o

detalhe do número de horas para as ABVD, AIVD e supervisão. Assim, seria desejável que,

ao invés de utilizar um único preço, aplicado ao número de horas global, deveriam ter sido

identificados preços no mercado para cada tipo de atividades realizadas, que seriam

posteriormente aplicados ao número de horas de ABVD, AIVD e supervisão,

respetivamente, permitindo um cálculo mais detalhado do custo do cuidado informal.

Na análise explicativa do número de horas de cuidado, só foram estudadas 7 variáveis

independentes. Os resultados teriam sido mais ricos se tivessem sido considerados mais

fatores, tais como o sexo dos cuidadores, as suas comorbilidades, o recurso ao cuidado

formal, os apoios recebidos, entre outros.

90

CONCLUSÕES

Nas últimas décadas, os progressos da medicina, a qualidade de saúde pública, a

transformação digital e a melhoria das condições sociais e económicas têm contribuído

significativamente para o envelhecimento demográfico (WHO, 2015). Infelizmente, a par

do benefício de uma maior esperança de vida, é visível a dificuldade em viver mais anos de

forma saudável, com melhor qualidade de vida e uma autonomia que possibilite, numa

idade avançada, a satisfação de todas as necessidades básicas e fundamentais sem o apoio

de terceiros (Teixeira et al., 2017).

A evidência científica mostra que as transformações demográficas têm reflexos negativos

na saúde das populações, destacando-se o aumento significativo de doenças crónicas

(WHO, 2015). A demência, cuja principal causa é a doença de Alzheimer, exige uma

complexidade de cuidados inquestionável e caracteriza-se pelo enorme impacto pessoal,

social e económico, levando a um aumento dos custos de cuidados a longo prazo para os

governos, comunidades, famílias e os próprios indivíduos, constituindo hoje um dos

principais desafios de saúde dos países desenvolvidos (WHO, 2012). Cria cenários de

incapacidade e dependência que pressupõem a necessidade de cuidados quer formais,

quer informais (Sequeira, 2010).

Em Portugal, os decisores políticos e os próprios agregados familiares privilegiam a

permanência da pessoa dependente no domicílio, definindo o cuidado informal como a

primeira linha de cuidados e um fator de sustentabilidade do sistema de saúde (Teixeira et

al., 2017).

Segundo a literatura, o cuidador informal é o elemento da rede social do indivíduo (familiar,

amigo, vizinho) que presta cuidados regulares a uma pessoa em situação de necessidade,

de modo não remunerado, sem vínculo profissional e sem competências específicas no

domínio do cuidado. É um compromisso de grande nobreza, que se suporta no amor,

satisfação e aprendizagem, mas, essencialmente, no sacrifício do tempo e da identidade

pessoal do cuidador, enquanto indivíduo ativo, produtivo e social (Martín, 2005).

Infelizmente a prestação de cuidados a longo prazo está associada a um enorme desgaste

físico, emocional, social e económico, estando os cuidadores informais sujeitos a um maior

91

risco de pobreza, isolamento e problemas de saúde, e em Portugal, o apoio do Estado ao

cuidado informal é ainda uma realidade muito aquém do que seria desejável (Teixeira et

al., 2017).

Assim, o presente estudo foi desenvolvido com o objetivo de avaliar o impacto

socioeconómico nos cuidadores informais de doentes de Alzheimer. Nesse âmbito, os

principais resultados indicam que, os cuidadores informais, na sua maioria mulheres, por

norma, esposas ou filhas dos doentes, prestam uma média de 11 horas diárias de cuidado,

durante cerca de 6 dias por semana. Como consequência do ato de cuidar, os prestadores

que exercem uma atividade profissional faltam uma média de 27 horas por ano, sendo que

72% desses profissionais são prejudicados com reduções de salário, perda de dias de férias

ou reposição de horas. Ou seja, foi demonstrada a perda de rendimentos e produtividade

e a consequente dificuldade ou mesmo incapacidade de conciliação de uma atividade

profissional com a prestação de cuidados. O cuidado informal foi valorizado em 45,36€ por

dia, que perfaz um valor mensal de 272,16€ e anual de 14 152,32€. Estes valores aumentam

quando o cuidador vive com o doente e quando o número de Atividades Instrumentais da

Vida Diária (AIVD) realizadas, o tempo de cuidador e a percentagem de envolvimento no

cuidado aumentam. Por outro lado, diminuem com a severidade da doença e quando o

cuidador tem uma ocupação remunerada. Infelizmente, apenas 7% dos prestadores de

cuidados reportaram que usufruem de apoios de cariz formativo, informativo, psicológico,

material ou de grupos de outros cuidadores.

A partir destes resultados, conclui-se que Portugal está ainda muito longe na longa

caminhada de resposta à demência, enquanto prioridade de saúde pública. O impacto

económico desta condição é devastador para a sociedade, para os próprios doentes, mas

acima de tudo para os cuidadores informais, e alia-se a barreiras já antigas como a falta de

voz das pessoas com demência, o estigma, a discriminação, a perspetiva negativa de que

nada pode ser feito e as falhas recorrentes do sistema social e de saúde.

Os cuidadores informais assumem uma função do Estado e, como tal, devem ser apoiados

e dignificados. Acima de tudo, deve sempre reconhecer-se a relação que já existia entre o

cuidador e o doente antes da prestação de cuidados. Não é só o cuidador, é o filho, o

marido, o sobrinho, etc. As comunidades devem saber responder corretamente aos

prestadores de cuidados.

92

É urgente que a sociedade tome consciência do significado do impacto do cuidado informal

e o utilize como linha orientadora de decisões políticas e serviços que se adequem à nova

realidade portuguesa. Mais do que nunca, é urgente olhar para quem cuida e reconhecer

a importância do papel dos cuidadores informais enquanto atores insubstituíveis no

sistema de saúde português. Os prestadores de cuidados precisam de não se sentir

sozinhos no processo de cuidar. Necessitam de benefícios, apoios e estruturas que lhes

permitam encontrar um equilíbrio entre o ato de cuidar e a sua vida familiar, profissional e

social. (Teixeira et al., 2017). Precisam que as suas necessidades sejam identificadas e

respondidas.

O diagnóstico das necessidades dos cuidadores informais é essencial para: os profissionais

de saúde poderem adequar as intervenções, visando a melhoria da qualidade de vida, a

melhoria dos cuidados prestados e a permanência do doente no domicílio; para os próprios

cuidadores desempenharem melhor o seu papel; para as instituições de cuidado formal

adequarem a prestação de serviços (Sousa et al., 2017). Mas acima de tudo é essencial para

os formuladores de políticas orientarem as decisões no sentido de assegurar o bem-estar

e qualidade de vida dos doentes e cuidadores.

Os cuidadores informais de pessoas com doença de Alzheimer manifestam

maioritariamente necessidades relacionadas com a gestão de sintomatologia, informação,

formação, gestão das relações familiares e sociais e falta de apoio do Estado. Assim, as

medidas de intervenção têm que abranger as áreas de saúde, social, laboral e financeira e

devem incluir: apoios sociais, de saúde, benefícios fiscais, formação e aconselhamento,

medidas de proteção e flexibilidade profissional, melhoria da rede de serviços de cuidado

formal e medidas de promoção do descanso do cuidador (Sousa et al., 2017). Deve também

incentivar-se a investigação sobre a intervenção do cuidador, o contexto da prestação de

cuidados e todos os agentes e estruturas de suporte ao cuidado informal. Devem

promover-se estudos nacionais, que são escassos nesta área.

Os cuidadores informais serão os atores dos sistemas de saúde de maior relevância num

futuro muito próximo. Ser cuidador é um ato nobre, que deve ser incentivado e enaltecido.

Cuidar de alguém que nos é querido deve ser uma escolha e não uma imposição. Todos

devíamos poder cuidar de alguém.

93

Referências Bibliográficas

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION - DSM-5: Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais. Lisboa: Climepsi Editores, 2014.

ANDRADE, F. - O cuidado informal à pessoa idosa dependente em contexto domiciliário: necessidades educativas do cuidador principal. Braga: [s.n], 2009. Dissertação de Mestrado.

ANOOP, A. et al. - Biomarkers for Alzheimer's disease diagnosis. International Journal of Alzheimers Disease. (2010).

ALBERT, Marilyn S. et al. - The diagnosis of mild cognitive impairment due to Alzheimer’s disease: Recommendations from the National Institute on Aging- Alzheimer’s Association workgroups on diagnostic guidelines for Alzheimer’s disease. Alzheimers Dement. 7:3 (2011) 270–279. doi: 10.1016/j.jalz.2011.03.008.

ALZHEIMER’S ASSOCIATION - 2018 Alzheimer’s disease facts and figures: Includes a special report on the financial and personal benefits of early diagnosis. Alzheimers Dement. . ISSN 15525260. 14:3 (2018) 367–429. doi: 10.1016/j.jalz.2016.03.001.

ALUISE, C. D., SOWELL, R. A. e BUTTERFIELD, D. A. - Peptides and proteins in plasma and cerebrospinal fluid as biomarkers for the prediction, diagnosis, and monitoring of therapeutic efficacy of Alzheimer’s disease. Biochimica et Biophysica Acta. 1782:10 (2008) 549–558.

ASSOCIAÇÃO ALZHEIMER PORTUGAL - Associação Portuguesa de Familiares e Amigos dos Doentes de Alzheimer [Em linha]. Lisboa: Associação Alzheimer Portugal, 2019. [Consult a 21 de Setembro de 2018]. Disponível em: http://alzheimerportugal.org/pt/

BADING, H. - Therapeutic targeting of the pathological triad of extrasynaptic NMDA receptor signaling in neurodegenerations. JEM. (2017) 569–78.

BARBOSA, Fátima; MATOS, Alice Delerue - Informal support in Portugal by individuals aged 50+. European Journal of Ageing. . ISSN 16139380. 11:4 (2014) 293–300. doi: 10.1007/s10433-014-0321-0.

BARRETO, J - Os sinais da doença e a sua evolução. In Castro-Caldas, A. & Mendonça, A. A doença de Alzheimer e outras Demências em Portugal. Lisboa: Lidel, 2005.

BERG, Bernard VAN DEN et al. - Economic valuation of informal care: The contingent valuation method applied to informal caregiving. Health Economics. . ISSN 10579230. 14:2 (2005) 169–183. doi: 10.1002/hec.893.

CARRETERO, S., STEWART, J., e CENTENO, C. - Information and communication technologies for informal carers and paid assistants: benefits from micro-, meso-, and macro-levels. European Journal of Ageing. 12:2 (2015) 163–173.

CERQUERA-JARAMILLO, María Alejandra et al. - Visual Features in Alzheimer’s Disease: From Basic Mechanisms to Clinical Overview. Neural plasticity. . ISSN 16875443. 2018:2018) 21. doi: 10.1155/2018/2941783.

CODURAS, Alicia et al. - Prospective one-year cost-of-illness study in a cohort of patients with dementia of Alzheimer’s disease type in Spain: The ECO study. Journal of Alzheimer’s Disease. . ISSN 13872877. 19:2 (2010) 601–615. doi: 10.3233/JAD-2010-1258.

94

COSTA, Nagede et al. - Methodological considerations in cost of illness studies on Alzheimer disease. Health Economics Review. . ISSN 21911991. 2:1 (2012) 1–12. doi: 10.1186/2191-1991-2-18.

CUNHA, Palmira Da Luz Chaves Sousa E - O Múltiplo Olhar Institucional Sobre os Doentes de Alzheimer [Texto policopiado]. Viseu: [s.n], 2012. Dissertação de Mestrado.

DAVIGLUS, Martha L. et al. - Risk factors and preventive interventions for alzheimer disease: State of the science. Archives of Neurology. . ISSN 00039942. 68:9 (2011) 1185–1190. doi: 10.1001/archneurol.2011.100.

DESPACHO nº 5988/2018. D. R. 2ª Série. 116 (18-06-19)

DOMISE, M. et al. - Activated protein kinase modulates tau phosphorylation and tau pathology in vivo. Sci Rep. (2016).

EUROPEAN COMMISSION - The 2018 ageing report : Economic and budgetary projections for the EU Member States (2016-2070).

FERNANDES, A. - Quando a vida é mais longa… Os impactos sociais do aumento da longevidade in O Sentido das idades da vida, col. Gerontologia social. Lisboa: CESDET, 2004.

FERREIRA, Eunice Sofia Dos Santos - Cuidar em parceria da pessoa idosa dependente Um estudo de caso com cuidadores formais e cuidadores familiares em contexto de apoio domiciliário [Texto policopiado]. Leiria: [s.n], 2017. Dissertação de Mestrado.

FERRER, Lourdes - Engaging patients, carers and communities for the provision of coordinated/integrated health services: strategies and tools. (2015).

FERRI, Cleusa P. et al. - World Alzheimer Report 2009: The Global Prevalence of Dementia. Alzheimer’s Disease International. 2009) 1–96.

FIGUEIREDO, D. - Cuidados familiares ao idoso dependente. Lisboa: Climepsi Editores, 2007.

FONSECA, A., MIRA, H. e GATO, L. - Dar vida aos dias. Associação de Enfermagem Oncológica Portuguesa. 1:3 (2008) 17-20.

FUNDAÇÃO FRANCISCO MANUEL DOS SANTOS - Pordata: Base de dados Portugal Contemporâneo [Em linha]. Lisboa: Fundação Francisco Manuel Dos Santos, 2019. [Consult a 3 de Janeiro de 2019]. Disponível em: www.pordata.pt/

GERVÈS, Chloé; CHAUVIN, Pauline; BELLANGER, Martine Marie - Evaluation of full costs of care for patients with Alzheimer’s disease in France: The predominant role of informal care. Health Policy. . ISSN 18726054. 116:1 (2014) 114–122. doi: 10.1016/j.healthpol.2014.01.001.

HAGER, K. et al. - Effect of concomitante use of memantine on mortality and efficacy outcomes of galantamine-treated patients with Alzheimer’s disease : post-hoc analysis of a randomized placebo-controlled study. Alzheimers Res Ther. (2016) 1–10.

HILBE, Joseph M. - Poisson Regression. Modeling Count Data. . ISSN 2172-3427. (1998) 35–73. doi: 10.1017/CBO9781139236065.003.

HOEFMAN, Renske J.; EXEL, Job VAN; BROUWER, Werner - How to include informal care in economic evaluations. PharmacoEconomics. . ISSN 11707690. 31:12 (2013) 1105–1119. doi: 10.1007/s40273-013-0104-z.

95

INE: Instituto Nacional de Estatística, I.P. - Censos 2011 Resultados Definitivos Portugal. Lisboa, 2012.

INE - O envelhecimento em Portugal: situação demográfica e sócio-económica recente das pessoas idosas [Em linha]. Lisboa: 2002. [Consult. 10 Nov. 2018]. Disponível em http://www.ine.pt

INE - Projeções de População Residente 2015-2080. Destaques. 2015 (2017) 1–19. doi: 10.1063/1.4963473.

JACKSON, Richard; HOWE, Neil; NAKASHIMA, Keisuke - The Global Aging Preparedness Index. Center for Startegic and International Studies. 2013) 76.

JANSSEN, Eveline P. C. J. et al. - Caregiver profiles in dementia related to quality of life, depression and perseverance time in the European Actifcare study: the importance of social health. Aging and Mental Health. . ISSN 13646915. 21:1 (2017) 49–57. doi: 10.1080/13607863.2016.1255716.

JÖNSSON, Linus et al. - Determinants of costs of care for patients with Alzheimer’s disease. International Journal of Geriatric Psychiatry. . ISSN 08856230. 21:5 (2006) 449–459. doi: 10.1002/gps.1489.

KARCH, C. M., CRUCHAGA C. e GOATE, A. M. - Alzheimer’s disease genetics: From the bench to the clinic. Neuron. (2014).

KRÖGER, Teppo - Care research and disability studies: nothing in common? Critical Social Policy. 29:3 (2009) 398-420.

LANE, C. A. Lane, HARDY, J. e SCHOTT, J. M. - alzheimer’s disease. European Journal of Neurology. 25:1 (2018) 59–70.

LEMOS, Jacinta Almeida - Avaliação Das Dificuldades Dos Informais De Idosos Dependentes [Texto policopiado]. Bragança: [s.n], 2012. Dissertação de Mestrado.

LOWE, Deborah A. et al. - Greater precision when measuring dementia severity: Establishing item parameters for the clinical dementia rating scale. Dementia and Geriatric Cognitive Disorders. . ISSN 14208008. 34:2 (2012) 128–134. doi: 10.1159/000341731.

MAJI, Samir K. et al. - CSF biomarkers for Alzheimer’s disease diagnosis. International Journal of Alzheimer’s Disease. . ISSN 20900252. 2010:Table 1 (2010) 12. doi: 10.4061/2010/606802.

MARTÍN, I. - O cuidado informal no âmbito social. Lisboa: Climepsi Editores, 2005.

MCKHANN, Guy M. et al. - The diagnosis of dementia due to Alzheimer’s disease: Recommendations from the National Institute on Aging-Alzheimer’s Association workgroups on diagnostic guidelines for Alzheimer’s disease. Alzheimer’s and Dementia. . ISSN 09739769. 7:14 (2011) 263–269. doi: 10.1016/j.jalz.2011.03.005.

MINISTÉRIO DA SAÚDE - Retrato da Saúde, Portugal, 2018

MONTEIRO, Carla Patrícia Preto - Cuidadores informais de pessoas com demência - perceções e necessidades socioeducativas [Texto policopiado]. Bragança: [s.n], 2016. Dissertação de Mestrado.

NEBEL, Rebecca A. et al. - Understanding the impact of sex and gender in Alzheimer’s disease: A call to action. Alzheimer’s and Dementia. . ISSN 15525279. 14:9 (2018) 1171–1183. doi: 10.1016/j.jalz.2018.04.008.

96

MOORE, M., ZHU, C. e CLIPP, E. - Informal Costs of Dementia Care: Estimates from the National Longitudinal Caregiver Study. Journal of Gerontology: SOCIAL SCIENCES, 56B:4 (2001) S219-S228.

MÜLLER, T. - Rivastigmine in the treatment of patients with Alzheimer’s disease. Neuropsychiatr Dis Treat. 3:2 (2007) 211–8.

Norma nº 053/2011 de 19 de Janeiro. Direção-Geral de Saúde. Abordagem Terapêutica das Alterações Cognitivas.

O'SHEA, E. e O'REILLY, S. - "The Economic and Social Cost of Dementia in Ireland", International Journal of Geriatric Psychiatry, 15 (2000) 208-218.

PARAPONARIS, Alain; DAVIN, Bérengère - Economics of the Iceberg: Informal Care Provided to French Elderly with Dementia. Value in Health. . ISSN 15244733. 18:4 (2015) 368–375. doi: 10.1016/j.jval.2015.01.002.

PASSOS, J., Sequeira, C., e Fernandes, L. - The needs of older people with mental health problems: a particular focus on dementia patients and their carers. International Journal of Alzheimer Disease. (2012) 1-7. doi: 10.1155/2012/638267.

PATTERSON, Christina - World Alzheimer Report 2018 The state of the art of dementia research: New frontiers. Alzheimer’s Disease International. . ISSN 14679272. 2:4 (2018) 14–20. doi: 10.1111/j.0033-0124.1950.24_14.x.

PAÚL, C., e FONSECA, M. A. - Envelhecer em Portugal: Psicologia, saúde prestação de cuidados. 1ª ed. Lisboa: Editora Climepsi Editores, 2005.

PEÑA-LONGOBARDO, Luz María; OLIVA-MORENO, Juan - Economic valuation and determinants of informal care to people with Alzheimer’s disease. European Journal of Health Economics. . ISSN 16187601. 16:5 (2015) 507–515. doi: 10.1007/s10198-014-0604-6.

PIMENTEL, L. - Filho és, pai serás...cuidar de pessoas idosas em contexto familiar. Lisboa: Coisas de Ler, 2013.

PIRES, Cátia Da Luz - Avaliação económica dos cuidados informais à população idosa da região Norte de Portugal [Texto policopiado]. Porto: [s.n], 2015. Dissertação de Mestrado.

PORTUGAL, S. - O que faz mover as redes sociais? Uma análise crítica das normas e dos laços. Revista Crítica de Ciências Sociais. (2007).

PRINCE, Martin et al. - World Alzheimer Report 2015 The Global Impact of Dementia An analysis of prevalence, incidence, cost and trends. Alzheimer’s Disease International. . ISSN 0963-7214. 2015). doi: 10.1111/j.0963-7214.2004.00293.x.

PRINCE, Prof Martin et al. - World Alzheimer Report 2016 Improving healthcare for people living with dementia. Alzheimer’s Disease International. 2016).

REESE, Jens Peter et al. - Cost and care of patients with Alzheimer’s disease: Clinical predictors in german health care settings. Journal of Alzheimer’s Disease. . ISSN 18758908. 27:4 (2011) 723–736. doi: 10.3233/JAD-2011-110539.

ROBERTS, R. e KNOPMAN, D.S. - Classification and epidemiology of MCI. Clin Geriatr Med. 29:4 (2013) 753-72.

SABBAGH, M. et al. - Evaluating the cognitive effects of donepezil 23 mg / d in moderate

97

and severe Alzheimer ’ s disease : analysis of effects of baseline features on treatment response. BMC Geriatrics. 1:1 (2013).

SANTANA, Isabel e CUNHA, Luís - Demências: Manual para Médicos. Amadora: Tip. Peres, 2005.

SANTANA, Isabel e DURO, Diana - Envelhecimento cerebral e demência. In Geriatria - saber e praticar. Lidel - Edições Técnicas, Lda, 2014. ISBN 978-989-572-056-3. p. 159-178.

SANTANA, Isabel et al. - Epidemiologia da Demência e da Doença de Alzheimer em Portugal: Estimativas da Prevalência e dos Encargos Financeiros com a Medicação. Acta Médica Portuguesa. 28:2 (2015) 182-188

SÃO JOSÉ, José DE - What are we talking about when we talk about care? A conceptual review of the literature. Sociologia, Problemas e Praticas. . ISSN 08736529. 81:October (2016) 57–74. doi: 10.7458/SPP2016816958.

SEQUEIRA, C - Cuidar de idosos com dependência física e mental. Lisboa: Lidel - edições técnicas, lda, 2010.

SIMÕES, Mário e SANTANA, Isabel - Escalas e Testes na Demência. 3ª Ed. Porto Salvo: Novartis, 2015. ISBN 978-989-20-5611-1.

SOUSA, Bárbara Martins - Abordagem terapêutica na Doença de Alzheimer [Texto policopiado]. Algarve: [s.n], 2017. Dissertação de Mestrado.

SOUSA, Lia et al. - Necessidades Dos Cuidadores Familiares De Pessoas Com Demência a Residir No Domicílio: Revisão Integrativa. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental. . ISSN 16472160. 5:spe5 (2017) 45–50. doi: 10.19131/rpesm.0166.

SPERLING, Reisa A. et al. - Toward defining the preclinical stages of Alzheimer’s disease: Recommendations from the National Institute on Aging- Alzheimer’s Association workgroups on diagnostic guidelines for Alzheimer’s disease Reisa. Alzheimers Dement. . ISSN 00408905. 7:3 (2011) 280–292. doi: 10.1016/j.jalz.2011.03.003.Toward.

TEIXEIRA, Ana Ribas et al. - Medidas De Intervenção Junto Dos Cuidadores Informais

TRONTO, Joan C. - Caring Democracy. Markets, Equality, and Justice, New York and London. New York University Press. (2013).

UNITED NATIONS DEPARTMENT OF ECONOMIC AND SOCIAL AFFAIRS - World Population Ageing 2017. Highlights. . ISSN 1092-8529. 2017). doi: 978-92-1-151551-0.

VELOSO, Ana Sofia Tanoeiro - Envelhecimento, Saúde e Satisfação Efeitos do Envelhecimento Ativo na Qualidade de Vida [Texto policopiado]. Coimbra: [s.n], 2015. Dissertação de Mestrado.

WANG, Huali et al. - Caregiver Time and Cost of Home Care for Alzheimer’s Disease: A Clinic-based Observational Study in Beijing, China. Ageing International. . ISSN 01635158. 35:2 (2010) 153–165. doi: 10.1007/s12126-010-9056-1.

WANG, L. et al. - Cerebrospinal fluid amyloid β42, phosphorylated tau181, and resting state functional connectivity. JAMA Neurol. 70:10 (2014) 1242–8.

WEINTRAUB, Sandra; WICKLUND, Alissa H.; SALMON, David P. - The Neuropsychological Profile of Alzheimer Disease. Cold Spring Harb Perspect Med. . ISSN 1080-2371. 22:2, Dementia (2012) 419–434. doi: 10.1212/CON.0000000000000307.

WHO - Dementia: a Public Health Priority. WHO Library Cataloguing-in-Publication Data.

98

. ISSN 03045412. 2012) 1–4. doi: ISBN 9789241564458.

WHO - International statistical classification of diseases and related health problems. 10th Revision. Geneva, 1992.

WHO - World Report on Ageing and Health. WHO Library Cataloguing-in-Publication Data. 39:5 (2015) 561–563.

WIMO, Anders et al. - Time spent on informal and formal care giving for persons with dementia in Sweden. Health Policy. 61:3 (2002) 255–268.

WIMO, Anders et al. - The GERAS study: A prospective observational study of costs and resource use in community dwellers with Alzheimer’s disease in three European countries - Study design and baseline findings. Journal of Alzheimer’s Disease. . ISSN 18758908. 36:2 (2013) 385–399. doi: 10.3233/JAD-122392.

WIMO, Anders et al. - Application of Resource Utilization in Dementia (RUD) instrument in a global setting. Alzheimer’s and Dementia. . ISSN 00135852. 9:1 (2013) 429–435. doi: 10.1016/j.jalz.2012.06.008.

WIMO, Anders et al. - The societal costs of dementia in Sweden 2012 - Relevance and methodological challenges in valuing informal care. Alzheimer’s Research and Therapy. . ISSN 17589193. 8:1 (2016) 1–11. doi: 10.1186/s13195-016-0215-9.

ZHU, Carolyn W. et al. - Health-care use and cost in dementia caregivers: Longitudinal results from the Predictors Caregiver Study. Alzheimer’s and Dementia. . ISSN 15525279. 11:4 (2015) 444–454. doi: 10.1016/j.jalz.2013.12.018.

99

ANEXOS

100

Anexo I – Instrumento de recolha dos dados.

Página 1 de 17

QUESTIONÁRIO SOBRE O IMPACTO SOCIOECONÓMICO NOS CUIDADORES

INFORMAIS DE DOENTES DE ALZHEIMER

Este questionário é sobre o impacto socioeconómico nos cuidadores informais de doentes de Alzheimer. Pode ter sido cuidador informal de outros doentes com a

mesma doença ou com uma doença diferente, mas, ao responder a este questionário, pense no doente de Alzheimer a quem presta cuidado informal no momento atual.

Por favor, demore o tempo que entender e responda de forma completa às perguntas colocadas.

Sendo este questionário anónimo, garantimos a completa confidencialidade dos dados que nos fornecer. Nunca ninguém poderá ser identificado a partir dos resultados deste

inquérito. Assim, muito agradecemos que responda às perguntas abaixo da forma que considerar

a mais correta. Agradecemos desde já a sua disponibilidade e participação.

Nº do questionário: _____ Data de preenchimento: _____________

Estudo “Impacto socioeconómico nos cuidadores informais de doentes de Alzheimer”

no âmbito da dissertação de mestrado em Gestão e Economia da Saúde.

Página 2 de 17

1. Doente

1.1. Caracterização socioeconómica do doente de Alzheimer

Qual é a sua idade? _______ Anos

Qual é o seu sexo?

___ Feminino

___ Masculino

Qual é o seu estado civil?

__ Casado/a com registo

__ União de facto

__ Divorciado/a

__ Separado/a

__ Viúvo/a

__ Solteiro/a

Que grau de ensino é que completou?

___ Sem escolaridade

___ Sabe assinar

___ Sabe ler e escrever

___ 1º Ciclo do Ensino Básico (1º - 4º ano) / Antiga 4ª classe

___ 2º Ciclo do Ensino Básico (5º - 6º ano) / Antiga 6ª classe / Ciclo Preparatório

___ 3º Ciclo do Ensino Básico (7º - 9º ano) / Curso Geral dos Liceus

___ Ensino Secundário (10º - 12º ano) / Curso Complementar dos Liceus

___ Ensino Médio / Ensino Técnico Profissional

___ Ensino Superior (Politécnico ou Universitário)

Qual a principal origem do seu rendimento mensal?

___ Trabalho

___ Pensões de reforma ou aposentação

___ Pensão de invalidez

___ Pensão de sobrevivência

___ Pensão social

___ Subsídio de desemprego

___ Subsídio de doença

___ Rendimento social de inserção (antigo rendimento mínimo garantido)

___ Encontra-se a cargo de familiares

___ Rendimentos próprios (propriedades, negócios)

___ Outro. Qual? _________________________

___ Sem rendimento

Qual é a sua profissão (atual ou última)? _________________________

Página 3 de 17

Qual o distrito/concelho do país onde reside? _________________________

Qual o seu alojamento atual?

___ Casa própria (proprietário)

___ Casa de familiares

___ Alojamento residencial (não específico da demência)

___ Alojamento residencial específico da demência

___ Instituição

___ Outro. Qual? _________________________

Com quem vive? (Pode escolher mais do que uma opção)

___ Sozinho/a

___ Cônjuge

___ Filhos

___ Pais

___ Irmãos

___ Outros familiares. Quais? _________________________

___ Instituição

1.2. Caracterização do estado de saúde do doente de Alzheimer

Há quanto tempo o doente manifesta sintomas de doença de Alzheimer? (RC)

_________________________

Qual a fase em que o doente se encontra na doença de Alzheimer? (RC)

___ Défice Cognitivo Ligeiro

___ Fase Ligeira

___ Fase Moderada

___ Fase Severa

Nos últimos 30 dias, o doente foi hospitalizado/internado? (RC+Questionário)

___ Não

___ Sim

Serviço de especialidade Motivo Número de dias

Página 4 de 17

Nos últimos 30 dias, quantas vezes o doente visitou um profissional de saúde?

(RC+Questionário)

___ Nenhuma

Serviço de especialidade Número de vezes

Nos últimos 30 dias, quantos exames médicos o doente realizou?

(RC+Questionário)

___ Nenhum

Exame médico Número

Página 5 de 17

Nos últimos 30 dias, que meio de transporte utilizou para se dirigir a consultas

ou para realizar exames médicos?

Meio de transporte Número de viagens Custo / Distância (Km)

Especifique, por favor, os medicamentos, prescritos ou não, que o doente toma

atualmente. (RC+Questionário)

Nome do medicamento Dose Número de vezes por dia

Nos últimos 30 dias, qual o valor gasto em

internamentos/consultas/exames/medicamentos? Ou qual o valor gasto em

saúde no último ano?

Valor em internamentos: _____

Valor em consultas: _____

Valor em exames: _____

Valor em medicamentos: _____

Valor em saúde: _____

Página 6 de 17

O doente utiliza dispositivos de apoio (óculos, cadeira de rodas, cama

articulada, bancos/cadeiras adaptadas, pulseira identificadora, bengala,

canadianas, etc.)? Qual o custo dos mesmos?

___ Não

___ Sim

Dispositivos de apoio Custo

Nos últimos 30 dias, o doente recorreu a serviços de apoio alternativos (serviços

de apoio domiciliário, institucional, lares de 3ª idade, centros de dia, etc.)? Qual

o custo?

___ Não

___ Sim

Tipo de apoio Número de vezes Custo

Página 7 de 17

1.3. Apoios recebidos pelo doente de Alzheimer

O doente tem algum subsistema de saúde (ADSE, ADME, SAMS)?

_________________________________________________________________

A que apoios, proporcionados pelos serviços sociais, associações, entidades,

etc, o doente tem acesso?

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

Apoios financeiros

___ Subsídios eventuais (ex.: subsídios para compra de medicamentos e dispositivos

médicos)

___ Reembolsos

___ Subsídios por assistência a 3ª pessoa

___ Complemento por dependência

___ Pensão de velhice

___ Pensão de invalidez

___ Pensão social de velhice

___ Pensão social de invalidez

___ Outros. Quais? _________________________

Apoios materiais

___ Colocação em instituição (lar, centro de dia, serviço de apoio domiciliário)

___ Prestação de serviços de apoio

___ Realização de obras de adaptação da casa

___ Ajudas técnicas (cadeira de rodas, cama articulada, fraldas)

___ Outros. Quais? _________________________

Página 8 de 17

2. Cuidador Informal

2.1. Caracterização socioeconómica do cuidador informal

Qual é a sua idade? _______ Anos

Qual é o seu sexo?

___ Feminino

___ Masculino

Qual é o seu estado civil?

__ Casado/a com registo

__ União de facto

__ Divorciado/a

__ Separado/a

__ Viúvo/a

__ Solteiro/a

Que grau de ensino é que completou?

___ Sem escolaridade

___ Sabe assinar

___ Sabe ler e escrever

___ 1º Ciclo do Ensino Básico (1º - 4º ano) / Antiga 4ª classe

___ 2º Ciclo do Ensino Básico (5º - 6º ano) / Antiga 6ª classe / Ciclo Preparatório

___ 3º Ciclo do Ensino Básico (7º - 9º ano) / Curso Geral dos Liceus

___ Ensino Secundário (10º - 12º ano) / Curso Complementar dos Liceus

___ Ensino Médio / Ensino Técnico Profissional

___ Ensino Superior (Politécnico ou Universitário)

Qual o distrito/concelho do país onde reside? _________________________

Com quem vive? (Pode escolher mais do que uma opção)

___ Sozinho/a

___ Cônjuge

___ Filhos

___ Pais

___ Irmãos

___ Outros familiares. Quais? _________________________

Vive com o doente?

___ Sim

___ Não

Qual a sua relação com o doente? _________________________

Página 9 de 17

Quantos cuidadores estão envolvidos no processo de cuidar do doente?

___ 0

___ 1

___ 2

___ 3

___ 4 ou mais

Tendo em conta todos os cuidadores, qual o seu nível de contribuição no

processo de cuidar do doente?

___ 1 – 20%

___ 21 – 40%

___ 41 – 60%

___ 61 – 80%

___ 81 – 100%

Há quanto tempo presta cuidados ao doente?

___ Menos de 6 meses

___ Entre 6 meses a 1 ano

___ Entre 1 a 2 anos

___ Entre 2 a 5 anos

___ Mais de 5 anos

2.2. Caracterização do estado de saúde do cuidador informal em

consequência da sua atividade

O/A senhor/a desenvolveu alguma condição de saúde específica em

consequência da sua atividade de cuidador?

___ Sim. Qual? _________________________

___ Não

Nos últimos 30 dias, foi hospitalizado/internado em consequência da sua

atividade de cuidador?

___ Não

___ Sim

Serviço de especialidade Motivo Número de dias

Página 10 de 17

Nos últimos 30 dias, quantas vezes visitou um profissional de saúde em

consequência da sua atividade de cuidador?

___ Nenhuma

Serviço de especialidade Número de vezes

Nos últimos 30 dias, quantos exames médicos realizou em consequência da sua

atividade de cuidador?

___ Nenhum

Exame médico Número

Página 11 de 17

Nos últimos 30 dias, que meio de transporte utilizou para se dirigir a consultas

ou para realizar exames médicos?

Meio de transporte Número de viagens Custo / Distância (Km)

Especifique, por favor, os medicamentos, prescritos ou não, que toma

atualmente em consequência da sua atividade de cuidador.

Nome do medicamento Dose Número de vezes por dia

Nos últimos 30 dias, qual o valor gasto em

internamentos/consultas/exames/medicamentos em consequência da sua

atividade de cuidador? Ou qual o valor gasto em saúde no último ano?

Valor em internamentos: _____

Valor em consultas: _____

Valor em exames: _____

Valor em medicamentos: _____

Valor em saúde: _____

Página 12 de 17

Foi necessário adquirir dispositivos de apoio à atividade de cuidar (monitores,

intercomunicadores, câmaras, aplicação, tecnologias de localização do

doente)?

___ Não

___ Sim

Dispositivos de apoio Custos

Nos últimos 30 dias, recorreu a serviços de apoio alternativos em consequência

da sua atividade de cuidador (serviços de apoio domiciliário, institucional, etc.)?

Qual o custo?

___ Não

___ Sim

Tipo de apoio Número de vezes Custo

Página 13 de 17

2.3. Situação profissional

Atualmente, exerce alguma atividade profissional?

___ Sim

___ Não

Qual a sua profissão (atual ou última)? _________________________

Se deixou ou reduziu a sua atividade profissional, especifique, por favor,

porquê.

___ Nunca trabalhei

___ Atingi a idade da reforma

___ Reforma antecipada (não relacionada com doença)

___ Despedimento

___ Problema de saúde próprio

___ Para cuidar do doente

___ Outro. Qual? _________________________

Se deixou a sua atividade profissional, Há quanto tempo o fez? ___________

Responda às seguintes questões se exerce uma atividade profissional

atualmente.

Que tipo de vínculo profissional possui?

___ Trabalhador por conta própria

___ Trabalhador por conta de outrem

___ Outro. Qual? _________________________

Quantas horas, no total, trabalha por semana? _________________________

Durante os últimos 30 dias, da totalidade de horas semanais de trabalho,

quantas horas reduziu devido às responsabilidades de cuidador informal?

___ Nenhuma

Número de horas: _____

Durante os últimos 30 dias, quantos dias de trabalho perdeu para cuidar do

doente?

___ Nenhum

Número de dias: _____

Quando tem que faltar, as suas faltas são justificadas?

___ Sim

Página 14 de 17

___ Não. Porquê? _________________________

Quando reduz horas de trabalho ou falta dias de trabalho completos, o seu

vencimento é afetado?

___ Sim

___ Não

Considera que o tempo que despende para cuidar do doente afetam o seu

desempenho no trabalho (motivação, expectativas, realização profissional)?

___ Sim

___ Não

2.4. Apoios sociais

Tem algum subsistema de saúde (ADSE, ADME, SAMS)?

_________________________________________________________________

Tem acesso a algum apoio específico para cuidadores informais?

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

Como cuidador informal, recebe algum apoio dos seguintes serviços? (Pode

escolher mais do que uma opção)

Sim Não

Serviços de informação sobre a evolução da doença de Alzheimer, formas de cuidar do doente, estratégias a utilizar e atitude a adotar perante o doente

Serviços de formação para tarefas específicas de cuidado

Serviços de nutrição

Cuidados de enfermagem

Assistência médica

Apoio psicológico aos cuidadores informais e familiares

Serviços de adaptação da casa

Apoio para emergências

Página 15 de 17

Grupos de apoio aos cuidadores informais

Benefícios financeiros

Serviço legal

Outro. Especifique, por favor: __________________________

2.5. As atividades e o tempo do cuidador informal

Que tipo de cuidados presta frequentemente ao doente? (Pode escolher mais do

que uma opção)

Atividades da vida diária

Pes

soai

s

Apoio pessoal (higiene pessoal, vestir, alimentação, etc.)

Apoio na mobilidade (deslocar, subir/descer escadas)

Inst

rum

enta

is

Efetuar os trabalhos domésticos (limpar, cozinhar, lavandaria)

Controlar a medicação do doente

Fazer a gestão das finanças do doente

Utilizar o telefone

Ir às compras

Transportar o doente

Tratar de assuntos administrativos ou ir a uma consulta médica

Passear; Fazer atividades de lazer

Quantos dias por semana presta, em média, cuidados ao doente?

_________________________

Quanta horas por dia presta, em média, cuidados ao doente?

_________________________

Num dia típico de cuidado, quantas horas passa, em média, a dormir?

_________________________

Num dia típico de cuidado, quantas horas passa, em média, a ajudar o doente

com tarefas como casa de banho, vestir, comer, andar?

_________________________

Página 16 de 17

Num dia típico de cuidado, quantas horas passa, em média, a ajudar o doente

com tarefas como as tarefas domésticas, ir às compras, cozinhar, transporte,

tomar a medicação, gerir as finanças? _________________________

Num dia típico de cuidado, quantas horas passa, em média, a supervisionar o

doente (ex.: prevenir quedas, acidentes com água quente, com fogo, com o

trânsito)? _________________________

2.6. Equipamentos e custos associados ao cuidado informal do doente

Nos últimos 30 dias, qual o valor gasto, pelo doente ou cuidador informal, com

os seguintes equipamentos ou serviços?

Valor gasto pelo doente

Valor gasto pelo cuidador informal

Alimentação Fraldas Ajudas técnicas/Adaptação da casa (cadeira de rodas, andarilho, cama articulada, colchão anti escaras)

Contratação de uma empregada doméstica para companhia ou apoio às atividades da vida diária

Apoio legal Outros. Especifique, por favor, quais: _________________________

O doente ou o cuidador informal são reembolsados por alguma das despesas

anteriores?

___ Sim. Quais? __________________________________________________________

___ Não

2.7. O impacto da doença de Alzheimer na vida do cuidador informal

Que implicações, positivas e negativas, teve a doença de Alzheimer na vida do

cuidador informal? (Pode escolher mais do que uma opção)

Po

siti

vas Aprendeu novas tarefas

Aprendeu a gerir melhor o seu tempo

A família tornou-se mais próxima

Página 17 de 17

Os amigos tornaram-se mais presentes

Sentiu-se mais realizado/a por ser útil

Outras. Quais? _________________________

Neg

ativ

as

Teve implicações na sua relação conjugal

Teve que adaptar fisicamente o espaço

Teve que mudar as rotinas domésticas

Deixou de ter tempo para si

Diminuiu as relações com os amigos

Diminuiu o contacto com a sua família

Afetou a produtividade no seu trabalho

Teve implicações no seu nível económico (muitas despesas face ao rendimento mensal)

Agravou o seu estado de saúde pelo cansaço físico

Agravou o seu estado de saúde pelo cansaço emocional (sente-se angustiado/a, deprimido/a, revoltado/a)

Acentuou a sobrecarga de tarefas (domésticas, cuidados, outras)

Outras. Especifique quais?

MUITO OBRIGADA