27
IMPACTOS DA SAÚDE SOBRE OS RENDIMENTOS INDIVIDUAIS NO BRASIL Sónia Maria Fonseca Pereira Oliveira Gomes Profª. do Curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Pernambuco – Campus do Agreste Doutora em Economia - PIMES / UFPE E-mail: [email protected] Endereço Profissional: Universidade Federal de Pernambuco, Centro Acadêmico do Agreste. Rodovia BR 104, KM 62 - Nova Caruaru - 55002-970 - Caruaru, PE - Brasil Danyella Juliana Martins de Brito Graduanda do Curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Pernambuco – Campus do Agreste E-mail: [email protected] Endereço: Rua Jerônimo de Albuquerque, 501 - Salgado - 55020-340 - Caruaru, PE - Brasil Roberta de Moraes Rocha Profa. do Curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Pernambuco – Campus do Agreste e do PPGECON/UFPE Doutora em Economia - PIMES / UFPE E-mail: [email protected] Endereço Profissional: Universidade Federal de Pernambuco, Centro Acadêmico do Agreste. Rodovia BR 104, KM 62 - Nova Caruaru - 55002-970 - Caruaru, PE - Brasil CLASSIFICAÇÃO JEL: I10, J01, J21, J24, J31 Área 12 - Economia do Trabalho 1

IMPACTOS DA SAÚDE SOBRE OS … · Web viewRoberta de Moraes Rocha Profa. do Curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Pernambuco – Campus do Agreste e do PPGECON/UFPE

Embed Size (px)

Citation preview

IMPACTOS DA SAÚDE SOBRE OS RENDIMENTOS INDIVIDUAIS NO BRASIL

Sónia Maria Fonseca Pereira Oliveira Gomes Profª. do Curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Pernambuco – Campus do AgresteDoutora em Economia - PIMES / UFPEE-mail: [email protected]ço Profissional: Universidade Federal de Pernambuco, Centro Acadêmico do Agreste.Rodovia BR 104, KM 62 - Nova Caruaru - 55002-970 - Caruaru, PE - Brasil

Danyella Juliana Martins de Brito Graduanda do Curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Pernambuco – Campus do AgresteE-mail: [email protected]ço: Rua Jerônimo de Albuquerque, 501 - Salgado - 55020-340 - Caruaru, PE - Brasil

Roberta de Moraes RochaProfa. do Curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Pernambuco – Campus do Agreste e do PPGECON/UFPEDoutora em Economia - PIMES / UFPEE-mail: [email protected]ço Profissional: Universidade Federal de Pernambuco, Centro Acadêmico do Agreste. Rodovia BR 104, KM 62 - Nova Caruaru - 55002-970 - Caruaru, PE - Brasil

CLASSIFICAÇÃO JEL: I10, J01, J21, J24, J31

Área 12 - Economia do Trabalho

1

IMPACTOS DA SAÚDE SOBRE OS RENDIMENTOS INDIVIDUAIS NO BRASIL

RESUMOEste artigo analisa os impactos da condição de saúde dos indivíduos como fator determinante nas variações dos seus rendimentos. Parti-se do pressuposto de que a saúde pode afetar tais rendimentos ao influenciar a decisão do indivíduo em participar da força de trabalho e por afetar sua produtividade. Usa-se a abordagem contra-factual, em que a saúde é uma variável predeterminada. A análise é feita por gênero e por grandes regiões brasileiras, a partir do suplemento de saúde da PNAD de 2008. Os resultados mostram que uma saúde precária afeta negativamente os rendimentos por meio da redução da probabilidade de participação na força de trabalho, do número de horas trabalhadas por semana e da média de salários. Além disso, há evidencias de que a probabilidade de participação na força de trabalho é maior para os saudáveis do que para os doentes, independentemente da região e do gênero e que a participação da força de trabalho dos indivíduos doentes aumenta na medida em que há um aumento nos anos de estudo. Porém, ainda assim, a diferença nas probabilidades de participar da força de trabalho permanece favorável aos indivíduos saudáveis. Os resultados apontam ainda que as mulheres doentes são as mais prejudicadas, apresentando as maiores reduções salariais, em comparação aos homens e que os indivíduos doentes oferecem um número menor de horas de trabalho por semana. Contudo, tal redução não se aplica para as mulheres das regiões Norte e Nordeste, levando-se em consideração todos os critérios.

PALAVRAS-CHAVES: Saúde, Rendimento, Brasil.

ABSTRACTThis paper studies the impact of health status of individuals as a determining factor in the variations of income earned by them, on the assumption that health can affect such income to affect the decision of individuals to participate in the labor market , its decision to offer work and, ultimately, to affect their productivity. We use the counterfactual approach, where health is a predetermined variable. The analysis is done separately for men and women, by Brazilian regions, using data from PNAD (2008). The results show that poor health negatively affects workers earnings by reducing the likelihood of participation in the labor market, the number of hours worked per week and average wages. The results show that the probability of participation in the labor market is higher than among the healthy patients, regardless of region and gender. Crossing the results of participation in schooling levels, it found that participation in the labor market of individuals patients increases to the extent that there is an increase in the years studied. But still, the difference in the odds of participating in the labor market remains conducive to healthy subjects. Were also observed wage cuts to sick people regardless of the region analyzed. The results showed that women still are the most affected patients having the highest salary reductions, compared to men. Furthermore, they found that in general, sick individuals offered fewer hours of work per week. However, this reduction does not apply to women in North and Northeast Brazilian regions, taking into account all criteria.

KEY-WORDS: Health, Income, Brazil.

CLASSIFICAÇÃO JEL: I10, J01, J21, J24, J31

Área 12 - Economia do Trabalho

2

1. IntroduçãoO acesso à saúde é considerado um dos principais fatores que influenciam a função de bem-estar

social. A sua importância tem suscitado o desenvolvimento de diversos estudos na área. Dentre alguns, estão aqueles que relacionam o estado de saúde aos rendimentos dos indivíduos (Luft, 1975; Kassouf, 1997; Alves, 2002). A idéia básica de que a existência de diferentes grupos de renda, que ocupam postos diferenciados no mercado de trabalho, faz com que haja na sociedade certos indivíduos (normalmente com menores rendimentos) que tendem a desempenhar tarefas que exigem mais esforço físico que intelectual, fundamenta a análise dos rendimentos individuais condicionados ao estado de saúde.

Nessa situação, a presença de qualquer tipo de doença que gere limitações físicas poderá ter um impacto maior sobre os rendimentos dos indivíduos que desempenham tarefas que exigem mais esforço físico, do que para aqueles que ocupam postos de trabalho que exijam menos esforço físico (Noronha e Andrade, 2004). Sendo assim, pode-se identificar um “circulo vicioso”, em que os indivíduos mais pobres, que tendem a ocupar postos de trabalho que demandam maior esforço físico, quando adoecem, tem um grande perda de rendimentos decorrente desse pior estado de saúde que os tornam mais pobre, o que pode agravar as disparidades de renda individuais.

Na literatura internacional, os principais estudos na área de Economia da Saúde são da década 1950. Um dos trabalhos clássicos em Economia da Saúde é o de Arrow (1963) publicado na American Economic Review. Ao estudar o financiamento da saúde, o autor chama atenção para as várias especificidades que o setor de saúde apresenta em relação aos demais setores da economia e como tais características podem causar distorções no mercado de saúde, gerando ineficiência econômica. As questões levantadas neste estudo alimentaram as discussões subseqüentes sobre saúde.

Grossman (1972) introduz a idéia de que a procura de saúde é resultado de um processo de escolha individual. Assim, os cuidados médicos são entendidos como um fator produtivo adquirido pelos indivíduos para produzir saúde. Para o autor, a saúde é um estoque, tendo duração de vários anos, e tal estoque se depreciaria com o passar do tempo. O modelo proposto pelo autor evidencia que a procura de cuidados médicos terá um objetivo último que é a procura de saúde e, além disso, a procura por cuidados médicos é influenciada por fatores sócio-econômicos que afetam o estado de saúde do indivíduo, como por exemplo, as preferências individuais, os salários, a idade, educação.

No Brasil, apesar da forte influência que a saúde exerce sobre o nível de desenvolvimento do país, o campo de pesquisa que enxerga tal influência é relativamente recente. Pode-se tomar a criação da Associação Brasileira de Economia da Saúde (ABrES), em 1989, como um marco fundamental da instituição e consolidação deste campo de pesquisa no Brasil (Medeiros,1999).

Um dos trabalhos de relevância realizado no Brasil foi o de Thomas e Strauss (1997) onde estes fazem uma análise do impacto da saúde sobre os ganhos. Verificam por exemplo que, a qualidade da saúde afeta os salários de homens e mulheres no Brasil urbano. Além disso, constam que a altura tem um efeito grande e significativo sobre os salários: os homens e as mulheres mais altos ganham mais.

Kassouf (1999) avalia o impacto das condições de saúde sobre os rendimentos individuais dos trabalhadores brasileiros, para 1989. O Índice de Massa Corporal (IMC) torna-se definidor do estado de saúde, sendo considerados doentes aqueles indivíduos que apresentam IMC inferior a 20, uma vez que tal situação indica o estado de subnutrição. Os resultados apontam para o efeito significativo que as condições de saúde têm sobre os rendimentos dos indivíduos brasileiros.

Alves e Andrade (2003) examinam a importância da saúde como determinante dos rendimentos dos trabalhadores brasileiros, tomando como elemento de estudo o estado de Minas Gerais. Partindo da suposição de que a saúde pode afetar os rendimentos a partir de três canais (pior estado de saúde está associado com menor probabilidade de participação na força de trabalho, com produtividade menor e com oferta de trabalho menor), tais autores encontram resultados que mostram que para os homens, a exclusão do mercado de trabalho é o principal efeito de uma piora no estado de saúde; enquanto que para as mulheres, o principal efeito de um estado de saúde precário é a redução na taxa de salários. Neste mesmo sentido, Alves (2002) realiza a mesma investigação, alargando o campo de estudo para o Brasil como um

3

todo usando os dados do Suplemento de Saúde da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD 1998.

É fato que a saúde afeta os salários através do efeito sobre a produtividade do trabalhador. A idéia é que os indivíduos saudáveis possuem maior estoque de capital humano e, conseqüentemente, tendem a ser mais produtivos do que os indivíduos doentes (Alves, 2002). Como a remuneração da mão-de-obra é bem definida pela produtividade dos trabalhadores, os indivíduos saudáveis serão mais bem remunerados. O estado de saúde também afeta o nível de salários por hora, na medida em que há discriminação no mercado de trabalho. Em geral, pode-se dizer que há uma relação positiva entre taxa de salários e saúde dos indivíduos. E por fim, o estado de saúde tem um impacto significante sobre a oferta de trabalho. Quanto mais grave o problema de saúde, maior será a probabilidade do individuo não participar da força de trabalho. A queda dos salários devido às más condições de saúde pode fazer com que o indivíduo decida alocar mais horas para o lazer (desutilidade do trabalho) e, assim, reduz-se a oferta de trabalho.

Sendo assim, o objetivo deste artigo é a partir de dados da PNAD (2008), replicar o estudo de Alves (2002) e avaliar os impactos do nível de saúde sobre os rendimentos individuais para o Brasil e Grandes Regiões, separadamente para homens e mulheres pela ótica da decisão de entrada na força de trabalho, de oferta e produtividade do trabalho. Para tanto, utilizar-se-á a análise contra-factual que em linhas gerais, requer a comparação dos rendimentos dos indivíduos classificados como doentes em relação ao que eles poderiam obter caso fossem saudáveis.

Para tanto, o presente artigo encontra-se divido 5 seções, além desta introdução. Na próxima seção apresenta-se uma análise do estado de saúde no Brasil. Na seção seguinte apresenta-se a metodologia que serviu de base para essa investigação. Na quarta seção apresentam-se os dados utilizados nas estimações. As duas últimas seções dedicam-se a apresentação dos resultados e as conclusões, respectivamente.

2. Análise do Estado de Saúde no Brasil segundo PNAD 2008Os dados utilizados neste trabalho provêem da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

(PNAD) 2008. Foram utilizados três critérios para classificar os indivíduos entre saudáveis e doentes: clínico/funcional, subjetivo restrito e subjetivo não restrito. Foi classificado como doente, pelo critério clínico/funcional, aqueles indivíduos que responderam “sim” a alguma das 12 perguntas1 sobre doença crônica ou se respondeu que “não consegue” ou “tem grande dificuldade” para alguma das perguntas sobre problemas de mobilidade física.

Através das informações de saúde auto-avaliada da PNAD2, foram estabelecidos os indicadores subjetivo restrito e subjetivo não restrito. De maneira geral, foi observada a resposta dos indivíduos sobre o questionamento de como eles próprios avaliam seu estado de saúde. Assim, aqueles indivíduos que consideram seu próprio estado de saúde como “muito bom” foram agrupados como saudáveis, pelo critério subjetivo restrito. Já o critério subjetivo não restrito de saudável foi composto por aqueles indivíduos que consideram sua saúde como “muito boa” ou “boa”.

Um panorama sobre a composição amostral de indivíduos doentes e saudáveis por gênero pode ser vista a partir da Tabela 1, a seguir. Pelo critério clínico/funcional constatou-se que aproximadamente 9,2% dos indivíduos do gênero masculino e 14,6% do feminino são enquadrados como doentes. Assim, aproximadamente 12% da população total é dita não saudável pelo critério clínico/funcional. Enquanto pelo critério subjetivo restrito foi observado um aumento significante da população classificada como

1 As doenças consideradas foram: doença de coluna ou costas; artrite ou reumatismo; câncer; diabetes; bronquite ou asma; hipertensão; doença do coração; doença renal crônica; depressão; tuberculose; tendinite ou tenossinovite e cirrose.2 As perguntas sobre mobilidade física são referentes às seguintes tarefas: dificuldade para alimentar-se, tomar banho, ir ao banheiro; dificuldades para correr, levantar objetos pesados, praticar esportes ou realizar trabalhos pesados; dificuldades para empurrar mesa ou realizar consertos domésticos; dificuldades para subir ladeira ou escada; dificuldades para baixar-se, ajoelhar-se ou curvar-se; dificuldades para andar mais de um quilômetro; dificuldades para andar cerca de 100 metros.

4

doente (aproximadamente 76% dos homens e 79% das mulheres). Por este critério 77,3% da população total não estaria saudável. E, pelo critério subjetivo não restrito, 21% dos homens e 25% das mulheres seriam classificados como doentes, o que corresponde aproximadamente a 23% da população total.

Tabela 1Número de observações de indivíduos doentes e saudáveis por sexo

Critérios

  Homens     Mulheres  

Saudáveis Doentes Total Saudáveis Doentes TotalClínico/Funcional 173.003 17.586 190.589 171.899 29.398 201.297Subjetivo Restrito 46.270 144.319 190.589 42.517 158.780 201.297Subjetivo Não Restrito 151.202 39.387 190.589 150.819 50.478 201.297

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados da PNAD 2008.

Também foi observada a proporção de indivíduos doentes e saudáveis, dado os diferentes critérios, para cada região brasileira (Tabela 2 e Tabela 3, respectivamente). Através de tal análise foi possível constatar que a proporção de doentes é maior pelo critério subjetivo restrito tanto para homens como para mulheres, em todas as regiões. Enquanto que a proporção de saudáveis é maior pelo critério clínico/funcional. Ainda por este critério a maior proporção de indivíduos doentes está na região Sul (aproximadamente 10% dos homens e 16% das mulheres).

Tabela 2Proporção de indivíduos doentes por regiões brasileiras e sexo

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados da PNAD 2008.

Tabela 3Proporção de indivíduos saudáveis por regiões brasileiras e sexo

Critérios Clínico/Funcional Subjetivo Restrito Subjetivo IrrestritoRegiões Homens Mulheres Homens Mulheres Homens MulheresBrasil 0,91 0,85 0,24 0,21 0,79 0,75Norte 0,92 0,88 0,18 0,15 0,78 0,74Nordeste 0,91 0,87 0,21 0,17 0,77 0,71Sudeste 0,91 0,85 0,30 0,26 0,82 0,78Sul 0,90 0,84 0,26 0,24 0,80 0,76Centro-Oeste 0,91 0,86 0,25 0,22 0,80 0,76

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados da PNAD 2008.

Pelo critério subjetivo restrito tal proporção é maior na Região Norte (aproximadamente 82% dos homens e 85% das mulheres) e pelo subjetivo não restrito pode-se dizer que as regiões Norte e Nordeste apresentam as maiores proporções de indivíduos doentes. Vale ressaltar que tais proporções são muito próximas em ambas as regiões, pelo critério subjetivo não restrito.

A Figura 1 descreve a relação existente entre a proporção de indivíduos doentes e a idade destes. Desta forma, identifica-se uma relação crescente entre essas duas variáveis, semelhante ao que foi

Critérios Clínico/Funcional Subjetivo Restrito Subjetivo IrrestritoRegiões Homens Mulheres Homens Mulheres Homens MulheresBrasil 0,09 0,15 0,76 0,79 0,21 0,25Norte 0,08 0,12 0,82 0,85 0,22 0,26Nordeste 0,09 0,13 0,79 0,83 0,23 0,29Sudeste 0,09 0,15 0,70 0,74 0,18 0,22Sul 0,10 0,16 0,74 0,76 0,20 0,24Centro-Oeste 0,09 0,14 0,75 0,78 0,20 0,24

5

observado por Alves (2002) para os dados da PNAD 1998. Pode-se dizer, então, que a proporção de indivíduos doentes é maior para aqueles de idade mais avançada.

Figura 1 - Proporção de indivíduos doentes por idade e sexo

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados da PNAD 2008.

A relação entre a proporção de doentes e a escolaridade, ou seja, anos de estudo, pode ser observada na Figura 2. Nesta figura, observa-se que aqueles grupos que tem menos de sete anos de estudo apresentam proporção superior de doentes comparativamente aos grupos com mais de sete anos de estudo, tanto para o sexo masculino como para o feminino.

Figura 2 - Proporção de indivíduos doentes por escolaridade e sexo

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados da PNAD 2008.

A relação entre a proporção de doentes e os ramos de atividade dos indivíduos, representada na Tabela 4 e, graficamente, na Figura 3, aponta que as atividades agrícola e de serviços domésticos (exatamente nesta ordem), ambas que requer muito esforço físico, são as que apresentam as maiores proporções de homens e mulheres doentes em relação aos saudáveis.

Tabela 4Proporção de indivíduos doentes por ramo de atividade e sexo

Critérios Clínico/Funcional Subjetivo Restrito Subjetivo Não RestritoRamos de Atividade Homen

sMulheres Homen

sMulheres Homens Mulheres

Agrícola 0,13 0,25 0,83 0,91 0,31 0,43Outras atividades industriais 0,06 0,09 0,74 0,72 0,16 0,14Indústria de transformação 0,06 0,14 0,77 0,82 0,17 0,26Construção 0,07 0,11 0,82 0,76 0,24 0,21Comércio e reparação 0,07 0,10 0,77 0,79 0,19 0,21Alojamento e alimentação 0,09 0,14 0,78 0,82 0,22 0,26Transporte, armazenagem e comunicação 0,07 0,06 0,79 0,75 0,20 0,13Administração pública 0,07 0,10 0,74 0,75 0,18 0,19Educação, saúde e serviços sociais 0,05 0,09 0,70 0,76 0,13 0,18Serviços domésticos 0,11 0,13 0,81 0,87 0,26 0,31Outros serviços coletivos, sociais e pessoais 0,07 0,11 0,74 0,79 0,19 0,24Outras atividades 0,05 0,07 0,71 0,71 0,14 0,15

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados da PNAD 2008.6

Figura 3 - Proporção de indivíduos doentes por ramo de atividade e sexo

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados da PNAD 2008.

Na Figura 4, foi identificada a distribuição de acordo com a posição na ocupação do indivíduo. Neste aspecto, vale ressaltar a baixa participação dos doentes entre os trabalhadores militares, para todos os critérios e para ambos os sexos. Também foi observada uma elevada participação dos doentes entre os trabalhadores domésticos sem carteira de trabalho assinada e os trabalhadores por conta própria.

Figura 4 - Proporção de indivíduos doentes por posição na ocupação e sexo

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados da PNAD 2008.

A Tabela 5 a seguir apresenta uma análise do diferencial bruto de rendimentos por gênero e estado de saúde segundo as três definições. Através dos dados dessa tabela é possível constatar que homens e mulheres saudáveis recebem, em média, salários superiores aos indivíduos doentes. Também a participação na força de trabalho é maior para os indivíduos saudáveis, pelos critérios clínico/funcional e subjetivo não restrito. Pelo critério subjetivo restrito ocorre o inverso. E, de maneira geral, também há uma tendência ao número de horas trabalhadas dos indivíduos saudáveis ser superior ao dos doentes.

Tabela 5 - Participação na força de trabalho, número de horas trabalhadas por semana e a taxa de salários por hora: média e desvio-padrão

CritériosHomens Saudáveis Mulheres Saudáveis

%trabalha horas salários (R$) %trabalha horas salários (R$)

Clínico/Funcional90,93 42,51 28,02 85,87 35,72 22,87(0,07) (12,78) (66,24) (0,08) (14,59

)(55,40)

Subjetivo Restrito24,45 42,13 36,32 21,66 36,54 33,40(0,10) (12,52) (85,43) (0,09) (13,68

)(94,03)

Subjetivo Não Restrito

79,57 42,40 29,18 75,72 35,92 24,69(0,09) (12,63) (65,73) (0,10) (14,36

)(63,23)

7

CritériosHomens Doentes Mulheres Doentes

%trabalha horas salários (R$) %trabalha horas salários (R$)

Clínico/Funcional9,06 40,77 21,75 14,13 31,22 16,17

(0,07) (15,55) (61,42) (0,08) (17,64)

(62,89)

Subjetivo Restrito75,55 42,44 25,02 78,34 34,81 19,34(0,10) (13,18) (58,96) (0,09) (15,38

)(42,69)

Subjetivo Não Restrito

20,43 42,26 21,28 24,28 32,85 14,17(0,09) (14,46) (66,07) (0,10) (16,85

)(26,88)

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados da PNAD 2008.

Corroborando essa análise dos diferenciais brutos de salários, optou-se neste estudo também por observar a razão entre as médias de salários dos indivíduos saudáveis em relação aos indivíduos doentes, levando-se em consideração as diferenças regionais. Através da Figura 5 pode-se observar que por todos os critérios, em todas as regiões, os indivíduos saudáveis possuem uma média de salários por hora superior a dos doentes. Uma vez que a razão entre as médias de salários dos indivíduos saudáveis e doentes é maior que um. Este resultado é compatível com o observado na Tabela 3.

Figura 5 - Razão entre as médias de salários dos indivíduos saudáveis e doentes, por região e sexo

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados da PNAD 2008.

A Figura 6 permite observar a razão entre as médias de salários dos indivíduos saudáveis e doentes, levando-se em consideração o grau de escolaridade. É possível observar que, pelo critério clínico/funcional, as diferenças de salários são em alguns casos favoráveis aos trabalhadores doentes. Contrapondo-se a tal realidade, pelo critério subjetivo restrito, a média de salários dos indivíduos saudáveis é na maioria das situações superior a média de salários dos indivíduos doentes.

Figura 6 - Razão entre as médias de salários dos indivíduos saudáveis e doentes, por escolaridade e sexo

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados da PNAD 2008.

Vale ressaltar que o diferencial salarial dos indivíduos saudáveis em relação aos doentes se acentua para o grupo com menos de um ano de estudo. O comportamento da razão entre as médias de salários dos indivíduos saudáveis e doentes com mais anos de estudo é crescente pelos critérios subjetivo restrito e não restrito para as mulheres, ou seja, esta razão aumenta para as mulheres com mais anos de estudo. Quando a mesma análise é feita em relação à idade constata-se também que a razão entre as

8

médias de salários dos indivíduos saudáveis e doentes é maior que um. Corroborando a idéia de que a renda média dos indivíduos saudáveis tende a ser superior a renda média dos doentes.

Figura 7 - Razão entre as médias de salários dos indivíduos saudáveis e doentes, por grupo de idade

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados da PNAD 2008.

Em relação ao número de horas trabalhadas, a Figura 8 retrata a razão entre as médias de horas trabalhadas por semana dos indivíduos saudáveis e doentes, ressaltando os diferenciais regionais.

Figura 8 - Razão entre as médias de horas de trabalho por semana dos indivíduos saudáveis e doentes, por região e sexo

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados da PNAD 2008.

De maneira geral, tanto para indivíduos do sexo masculino quanto feminino, pode-se identificar uma tendência para que, em média, os indivíduos saudáveis ofertem mais horas de trabalho do que aqueles doentes. Como esta figura mostra existe regiões que não apresentam essa tendência geral, por determinados critérios. Contudo, pelo critério clínico/funcional, a razão entre as médias de horas trabalhadas dos saudáveis e dos doentes é sempre maior que um, ou seja, aplica-se a tendência geral anteriormente descrita.

A razão entre médias de horas trabalhadas também é observada pela perspectiva do nível de escolaridade, ou seja, anos de estudo dos indivíduos (Figura 9). É possível constatar que as mulheres saudáveis ofertam mais trabalho do que as doentes, principalmente aquelas que compõem os grupos com menos de sete anos de estudo. Tal diferença de oferta de trabalho feminina é suavizada quando são observadas aquelas com mais de oito anos de estudo. Os homens doentes em geral ofertam mais trabalho do que os saudáveis, pelos critérios subjetivos. Enquanto pelo critério clínico/funcional ocorre o inverso, apesar de nos três critérios a razão entre as médias de horas de trabalho estar bastante próxima da unidade, para os homens.

9

Figura 9 - Razão entre as médias de horas de trabalho por semana dos indivíduos saudáveis e doentes, por escolaridade e sexo

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados da PNAD 2008.

Observando-se a razão entre média de horas trabalhadas por semana dos indivíduos saudáveis e doentes, tendo em vista a composição etária da população, constata-se que esta razão tende a ser maior que um (Figura 10). Isto significa que a média de horas ofertada de trabalho dos indivíduos saudáveis é maior do que a dos doentes, principalmente para aqueles grupos acima dos 45 anos de idade. Um fato curioso é que para os grupos mais jovens a média de horas ofertadas de trabalho dos indivíduos doentes é em muitos casos superior a média de horas ofertadas pelos saudáveis.

Figura 10 - Razão entre as médias de horas de trabalho por semana dos indivíduos saudáveis e doentes, por idade e sexo

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados da PNAD 2008.

Faz-se extremamente importante ressaltar os resultados desta primeira abordagem em relação ao impacto do estado de saúde sobre os rendimentos dos indivíduos. Foi observado que um pior estado de saúde é, de fato, correlacionado com perdas de rendimentos por meio da redução do número de horas trabalhadas por semana e com a média de salários.

É provável que o estado de saúde dos indivíduos exerça um impacto direto sobre a participação destes na força de trabalho. De forma geral, como a Tabela 3 informa, a participação na força de trabalho é menor para os indivíduos doentes em comparação aos saudáveis, pelos critérios clínico/funcional e subjetivo não restrito.

3. Metodologia

Antes de apresentar a metodologia cabe informar a definição de saúde que será usada neste trabalho. Sendo assim, assume-se que a saúde é pré-determinada e a justificativa para esta hipótese é dada por Alves (2002) com base na argumentação de Smith (1999), em que pelo menos no curto prazo, supõe-se que o estado de saúde atual dos indivíduos não é afetado pelos seus rendimentos.

10

A análise do impacto do nível de saúde sobre os rendimentos individuais é realizada a partir de três canais: a decisão de entrada na força de trabalho, a oferta do número de horas de trabalho e a sua produtividade.

Para atender ao primeiro objetivo estima-se a probabilidade da participação na força de trabalho para homens e mulheres separadamente, através do modelo de regressão Probit (equação 5 a seguir). O indivíduo toma a decisão de fazer parte da força de trabalho ao comparar os salários de mercado 3 aos de reserva. Então, defini-se o salário de mercado como dependente de variáveis ligadas ao capital humano e outras características pessoais, isto é:

(1)

Onde W é o logaritmo natural da taxa de salário por hora, 1 é o vetor de parâmetros que mede as taxas de retornos para as características de X1i e 1i é o erro.

Por outro, o salário de reserva é determinado por características pessoais e outras variáveis que influenciam o valor no tempo, tais como a renda não oriunda do trabalho, o número de crianças na família, o estado civil, etc., como mostra a equação 2 a seguir.

(2)

Onde Wr é o logaritmo natural da taxa de salário por hora de reserva, 3 é o vetor de parâmetros, X3i é o vetor de características pessoais e outros fatores que influenciam o valor do tempo e 3i o erro.

No entanto, o salário de reserva não é diretamente observável. O que se verifica é se o indivíduo trabalha ou não, que reflete em outras palavras a sua decisão em participar da força de trabalho. Sendo assim, a decisão de entrar no mercado de trabalho é expressa como uma variável do tipo latente definida como:

(3)

A probabilidade de participação na força de trabalho é dada por:

(4)

Simplificando tem-se:

(5)

Onde Yi é participação na força de trabalho (variável binária definida que assume valor “1” quando o indivíduo apresentar renda do trabalho superior a zero “0” em caso contrário). E, o índice ‘i’ denota o indivíduo, Φ representa uma distribuição acumulada normal, Z é o vetor de características individuais4; γ é o vetor de parâmetros e µ1 os choques aleatórios5..

3 Assume-se mercado competitivo, onde salário é igual à produtividade marginal do trabalho.4 As variáveis pertencentes ao vetor Z encontram-se no Quadro 1 do próximo tópico.5 Estima-se o Probit para o indivíduo saudável, porém por conta do viés de seleção usam-se os valores preditos obtidos desta estimação para calcular a Inversa de Mills (lambda) e incorporá-lo à nova estimação do Probit, no entanto, com a inclusão do lambda.

11

Em seguida, avalia-se os efeitos da saúde sobre a produtividade mensurada pela taxa de salários padronizada pelo número de horas de trabalhadas (W), a partir da relação explicitada na equação 6, a seguir, onde X1i, é o vetor de características individuais6; β1 é o vetor de parâmetros e ɛ1i o choque aleatório. O subscrito i denota o indivíduo e j indica os estados de saúde (d=doente, s=saudável).

(6)

A taxa de salários e o número de horas que o indivíduo oferece, apenas são observados para aqueles que participam da força de trabalho, sendo assim, os estimadores de mínimos quadrados são viesados e inconsistentes, pois a amostra não é aleatória. Para corrigir em ambos os casos, a razão inversa de Mills é incluída como uma variável independente. Ela é descrita pela equação (7)

(7)Onde o numerador corresponde à função de densidade normal padronizada e o denominador a

função acumulada.Para o cálculo da taxa de salários utiliza-se o procedimento de Heckman que é realizado em duas

etapas na equação (8). Esse procedimento faz a correção do viés de seleção ao incluir a razão inversa de Mills.

(8)

Onde é a taxa de salários por hora observada, é a correlação entre ɛ1 e µ1, é o desvio-padrão de ɛ1, 2 é o choque aleatório.

Por fim, estima-se a equação do número de horas trabalhadas por semana, dado por S.

(9)

Onde W é a produtividade do trabalho, mensurada pela taxa de salários por hora, S é a oferta de trabalho, dada pelo número de horas trabalhadas por semana, X2 é o vetor de características individuais exógenas, 2 e são os vetores de parâmetros e 2 o choque aleatório.

O procedimento de tratar o viés de seletividade como um problema de variáveis omitidas é resolvida com a inclusão da razão inversa de Mills. Assim a equação (9) será modificada para:

(10)

Onde S* é a taxa de salários por hora observada, 2 é a correlação entre ɛ2 e µ1, 2 é o desvio-padrão de ɛ2 e 3 o choque aleatório7.

No entanto, existe endogeneidade entre salários e oferta de trabalho e somando-se à existência de correlação residual entre as equações (8) e (10) utiliza-se o método de Mínimos Quadrados em Três Estágios em que se estima primeiramente as equações (8) e (10) em função de todas as variáveis exógenas, obtendo-se seus respectivos valores preditos, em seguida estima-se separadamente as equações e substituindo-se os valores observados das variáveis endógenas pelos seus valores preditos no primeiro estágio e por fim, as duas equações são estimadas novamente conjuntamente por Mínimos Quadrados

6 As variáveis pertencentes ao vetor X1 encontram-se no Quadro 2 do próximo tópico.7 Vide Alves (2002) para maiores detalhes.

12

Generalizados Factíveis, através da matriz de covariância, que é calculada com os resíduos encontrados na segunda etapa e com os valores preditos das variáveis endógenas no lado direito das equações.

Todos os modelos serão estimados considerando-se separadamente os indivíduos saudáveis, dos quais os coeficientes são aplicados aos vetores de características dos indivíduos doentes para obter os rendimentos médios ajustados, supondo que esses últimos apresentem as mesmas taxas de retorno das características pessoais que os saudáveis, como a educação e a experiência. E, a diferença entre essas estimações fornecem as estimativas de perdas devidas às condições de saúde dos indivíduos.

Assim sendo, três tipos de diferenciais serão obtidos, os quais são reportados nas equações a seguir:

(11)

(12)

(13)

A equação (11) representa a diferença na probabilidade de participar da força de trabalho entre indivíduos saudáveis e doentes. Em geral, a diferença na probabilidade de participar da força de trabalho reflete em perda de rendimentos agregados, uma vez que alguns indivíduos doentes não podem trabalhar devido seu estado de saúde. O diferencial 2, representado pela equação (12), proporciona a análise do impacto do estado de saúde sobre a produtividade do trabalhador, através das mudanças na taxa de salários por hora. E, finalmente, a equação (13) representa os diferenciais de rendimentos pelo impacto da saúde sobre o número de horas de trabalho. É importante ressaltar que, um diferencial negativo para qualquer uma das três equações significa que os indivíduos doentes recebem rendimentos inferiores em comparação ao que eles poderiam receber caso apresentasse as mesmas condições que os saudáveis.

4. DadosOs quadros 1, 2 e 3 apresentam as variáveis que serão utilizadas em cada uma das três fases da

estimação. Para obter a probabilidade de participação na força de trabalho são usadas as variáveis descritas no Quadro 1. Para a estimação da equação de salários por hora são usadas as variáveis do Quadro 2, a seguir. E para estimação da oferta de trabalho, as variáveis a serem usadas estão no Quadro 3.

Quadro1 - Variáveis explicativas da equação de probabilidade de participação na força de trabalhoVariáveis Explicativas DescriçãoLn (renda não trabalho) Logaritmo da renda não salarialEducação Número de anos de estudo completosEducação² Número de anos de estudo completos ao quadroExperiência Experiência potencial = Idade - Educação – 6*Experiência² Experiência potencial ao quadradoCor = 1 para indivíduos brancos; 0 para indivíduos não-brancosSetor Urbano = 1 se residente no setor urbano; 0 se residente no setor ruralRegião do País Variável binária com valores igual a 0 ou 1Região NE = 1 para região NordesteRegião SE Região Sudeste: Categoria de referênciaRegião SU = 1 para a região SulRegião CO = 1 para a região Centro-Oeste (exceto o Distrito Federal)Distrito Federal = 1 para o Distrito FederalEstado Civil Variável binária com valores iguais a 0 ou 1Casado 1 = 1 se o indivíduo é casado e o cônjuge não trabalhaCasado 2 = 1 se o indivíduo é casado e cônjuge trabalhaSolteiro Indivíduos solteiros: Categoria de referênciaPresença de criança na família Número de crianças na família por faixa etária

13

Crianças 0 a 2 anos Número de crianças com idade de 0 a 2 anosCrianças 3 a 6 anos Número de crianças com idade de 3 a 6 anosCrianças 7 a 9 anos Número de crianças com idade de 7 a 9 anosCrianças 10 a 14 anos Número de crianças com idade de 10 a 14 anos

Fonte: ALVES (2002). *Optou-se por utilizar 6 anos, por ser o primeiro ano de entrada na escola.

Quadro2 - Variáveis explicativas da equação de salários por horaVariáveis Explicativas DescriçãoEducação Número de anos de estudo completosEducação² Número de anos de estudo completos ao quadroExperiência Experiência potencial = Idade - Educação – 6*experiência² Experiência potencial ao quadradoCor = 1 para indivíduos brancos; 0 para indivíduos não-brancosSindicato = 1 se o indivíduo participa de sindicato; 0 em caso contrárioSetor Urbano = 1 se residente no setor urbano; 0 se residente no setor ruralRegião do País Variável binária com valores igual a 0 ou 1Região NE = 1 para região NordesteRegião SE Região Sudeste: Categoria de referênciaRegião SU = 1 para a região SulRegião CO = 1 para a região Centro-Oeste (exceto o Distrito Federal)Distrito Federal = 1 para o Distrito FederalRamos de Atividade Variável binária com valores iguais a 0 ou 1Agrícola Atividade agrícola: categoria de referênciaTransformação = 1 para trabalhadores da indústria de transformaçãoConstrução = 1 para trabalhadores da indústria de construçãoOutras indústrias = 1 para trabalhadores em outras indústriasComércio = 1 para trabalhadores do comércioServiços = 1 para trabalhadores em atividades de serviçosServiços auxiliares = 1 para trabalhadores em atividades de serviços auxiliaresTrasp. e comum. = 1 para trabalhadores no ramo de transportes e comunicaçãoSocial = 1 para trabalhadores em atividades sociaisAdm. Pública = 1 para trabalhadores da Administração PúblicaOutras = 1 para trabalhadores em outras atividadesPosição na Ocupação Variável binária com valores iguais a 0 ou 1com carteira Empregados com carteira: categoria de referênciamilitar ou fp = 1 para militares ou funcionários públicossem carteira = 1 para empregados sem carteiraDoméstico = 1 para empregados domésticosconta-própria = 1 para trabalhadores por conta-própriaEmpregador = 1 para empregadoresLambda Razão inversa de Mills

Fonte: ALVES (2002). *Optou-se por utilizar 6 anos, por ser o primeiro ano de entrada na escola.

14

Quadro3 - Variáveis explicativas da equação do número de horas de trabalho por semanaVariáveis Explicativas Descriçãoln(renda não trabalho) logaritmo da renda não salarialExperiência Experiência potencial = Idade - Educação – 6*experiência² Experiência potencial ao quadradoCor = 1 para indivíduos brancos; 0 para indivíduos não-brancosSindicato = 1 se o indivíduo participa de sindicato; 0 em caso contrárioSetor Urbano = 1 se residente no setor urbano; 0 se residente no setor ruralRegião do País Variável binária com valores igual a 0 ou 1Região NE = 1 para região NordesteRegião SE Região Sudeste: Categoria de referênciaRegião SU = 1 para a região SulRegião CO = 1 para a região Centro-Oeste (exceto o Distrito Federal)Distrito Federal = 1 para o Distrito FederalEstado Civil Variável binária com valores iguais a 0 ou 1Casado 1 = 1 se o indivíduo é casado e o cônjuge não trabalhaCasado 2 = 1 se o indivíduo é casado e cônjuge trabalhaSolteiro Indivíduos solteiros: Categoria de referênciaPresença de criança na família Número de crianças na família por faixa etáriaCrianças 0 a 2 anos Número de crianças com idade de 0 a 2 anosCrianças 3 a 6 anos Número de crianças com idade de 3 a 6 anosCrianças 7 a 9 anos Número de crianças com idade de 7 a 9 anosCrianças 10 a 14 anos Número de crianças com idade de 10 a 14 anosRamos de Atividade Variável binária com valores iguais a 0 ou 1Agrícola Atividade agrícola: categoria de referênciaTransformação = 1 para trabalhadores da indústria de transformaçãoConstrução = 1 para trabalhadores da indústria de construçãoOutras indústrias = 1 para trabalhadores em outras indústriasComércio = 1 para trabalhadores do comércioServiços = 1 para trabalhadores em atividades de serviçosServiços auxiliares = 1 para trabalhadores em atividades de serviços auxiliaresTrasp. e comum. = 1 para trabalhadores no ramo de transportes e comunicaçãoSocial = 1 para trabalhadores em atividades sociaisAdm. Pública = 1 para trabalhadores da Administração PúblicaOutras = 1 para trabalhadores em outras atividadesPosição na Ocupação Variável binária com valores iguais a 0 ou 1com carteira Empregados com carteira: categoria de referênciamilitar ou fp = 1 para militares ou funcionários públicossem carteira = 1 para empregados sem carteiraDoméstico = 1 para empregados domésticosconta-própria = 1 para trabalhadores por conta-própriaEmpregador = 1 para empregadoresLambda Razão inversa de Mills

Fonte: ALVES (2002). *Optou-se por utilizar 6 anos, por ser o primeiro ano de entrada na escola.

A Tabela 6 a seguir apresenta a média e o desvio-padrão das variáveis explicativas do modelo.

15

Tabela 6 - Média e Desvio-Padrão das Variáveis Explicativas do Modelo Econométrico

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados da PNAD 2008. Desvio-Padrão entre parênteses.

5. Análise de ResultadosOs primeiros resultados mostram que a probabilidade de participação na força de trabalho é

maior para os saudáveis do que para os doentes, independentemente da região onde o indivíduo mora e do seu gênero. A Figura 11 mostra que por todos os critérios, os indivíduos saudáveis teriam uma maior probabilidade de participar da força de trabalho.

Figura 11 - Razão entre as probabilidades de participar da força de trabalho dos indivíduos saudáveis e doentes, por região e sexo

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados da PNAD 2008.

Controlando pela escolaridade, a Figura 12 demonstra que a probabilidade de participação da força de trabalho dos indivíduos doentes aumenta na medida em que há um aumento nos anos de estudo. Porém, ainda assim, a diferença nas probabilidades de participar da força de trabalho permanece favorável aos indivíduos saudáveis.

Critérios: Critérios:Total Saudáveis Doentes Saudáveis Doentes Saudáveis Doentes Total Saudáveis Doentes Saudáveis Doentes Saudáveis Doentes

30,2 27,7 55,1 23,3 32,5 26,7 43,9 32,1 28,0 56,3 23,5 34,5 27,8 45,1(20,01) (18,43) (17,84) (16,51) (20,53) (18,02) (21,37) (20,72) (18,26) (17,56) (17,51) (20,90) (18,86) (20,61)

5,78 5,90 4,50 6,32 5,60 6,08 4,61 6,21 6,47 4,71 6,67 6,09 6,57 5,12(4,65) (4,66) (4,32) (4,90) (4,55) (4,70) (4,24) (4,77) (4,79) (4,38) (5,14) (4,66) (4,85) (4,34)54,96 56,60 38,92 63,98 52,07 59,05 39,28 61,35 64,77 41,37 70,84 58,81 66,80 45,06

(62,94) (63,40) (55,65) (68,62) (60,72) (64,50) (53,74) (66,34) (67,18) (57,20) (73,68) (63,99) (68,54) (56,20)17,77 16,37 34,94 12,27 19,55 15,18 28,66 18,35 16,07 35,43 11,75 20,10 15,18 28,51

(15,76) (15,03) (14,33) (12,94) (16,18) (14,39) (16,64) (16,11) (14,90) (14,47) (12,93) (16,41) (14,59) (16,54)564,16 493,87 1426,05 318,02 643,87 437,57 1097,92 596,25 480,15 1464,34 305,25 673,40 443,34 1086,71

(762,92) (701,30) (940,74) (542,66) (805,73) (650,81) (947,56) (790,41) (687,80) (951,13) (534,62) (828,38) (664,95) (946,00)0,17 0,18 0,10 0,18 0,17 0,18 0,14 0,17 0,19 0,09 0,19 0,17 0,19 0,13

(0,42) (0,43) (0,32) (0,43) (0,42) (0,43) (0,38) (0,42) (0,44) (0,30) (0,44) (0,42) (0,44) (0,37)

0,26 0,27 0,15 0,27 0,26 0,27 0,22 0,26 0,28 0,14 0,29 0,25 0,28 0,20

(0,53) (0,54) (0,40) (0,54) (0,53) (0,54) (0,49) (0,54) (0,56) (0,39) (0,56) (0,53) (0,56) (0,48)

0,16 0,17 0,10 0,17 0,16 0,17 0,13 0,16 0,17 0,09 0,17 0,15 0,17 0,12

(0,40) (0,41) (0,32) (0,41) (0,40) (0,41) (0,37) (0,40) (0,41) (0,31) (0,41) (0,40) (0,41) (0,35)

0,33 0,34 0,22 0,34 0,33 0,34 0,28 0,33 0,35 0,21 0,35 0,32 0,35 0,27

(0,61) (0,62) (0,51) (0,61) (0,61) (0,62) (0,58) (0,61 (0,63) (0,49) (0,62) (0,61) (0,62) (0,57)

74,95 74,96 74,79 74,82 74,99 74,92 75,06 65,46 67,89 51,21 69,73 64,31 67,95 58,01(0,10) (0,10) (0,33) (0,20) (0,11) (0,11) (0,22) (0,11) (0,11) (0,29) (0,22) (0,12) (0,12) (0,22)3,06 2,94 4,28 2,55 3,22 2,85 3,88 4,37 4,01 6,53 2,30 4,93 3,53 6,89

(0,04) (0,04) (0,15) (0,07) (0,05) (0,04) (0,10) (0,05) (0,05) (0,14) (0,07) (0,05) (0,05) (0,11)21,99 22,10 20,94 22,63 21,79 22,24 21,06 30,17 28,10 42,26 27,97 30,76 28,52 35,11(0,09) (0,10) (0,31) (0,19) (0,11) (0,11) (0,20) (0,10) (0,12) (0,29) (0,22) (0,12) (0,12) (0,22)43,67 43,64 43,98 50,37 41,53 44,77 39,46 45,88 45,73 46,73 53,97 43,71 47,48 41,09(0,11) (0,12) (0,37) (0,23) (0,13) (0,13) (0,25) (0,11) (0,12) (0,29) (0,24) (0,12) (0,13) (0,22)83,18 83,53 79,71 86,10 82,24 84,18 79,31 85,35 85,50 84,51 88,50 84,51 86,25 82,67(0,09) (0,09) (0,30) (0,16) (0,10) (0,09) (0,20) (0,08) (0,08) (0,21) (0,15) (0,09) (0,09) (0,17)10,93 10,70 13,25 9,90 11,26 10,46 12,74 7,06 7,00 7,43 6,90 7,11 6,92 7,50(0,07) (0,07) (0,26) (0,14) (0,08) (0,08) (0,17) (0,06) (0,06) (0,15) (0,12) (0,06) (0,06) (0,12)0,91 0,64 3,49 0,45 1,05 0,61 2,06 1,51 1,13 3,75 0,83 1,70 1,12 2,68

(2,27) (1,96) (3,27) (1,69) (2,41) (1,92) (3,02) (2,66) (2,37) (3,11) (2,16) (2,75) (2,39) (3,05)

Variáveis

renda não salarial (R$)

número de crianças até 2 anos na família

anos de estudo

idade (anos)

número de crianças entre 3 e 6 anos na família

número de crianças entre 7 e 9 anos na família

número de crianças entre 10 e 14 anos na família

anos de estudo²

% casado do tipo 1

% casado do tipo 2

% brancos

região urbana (%)

sindicato* (%)

Experiência

Experiência²

% solteiros

Homens MulheresSubjetivo Não RestritoSubjetivo RestritoClínico/Funcional Clínico/Funcional Subjetivo Restrito Subjetivo Não Restrito

16

Figura 12 - Razão entre as probabilidades de participar da força de trabalho dos indivíduos saudáveis e doentes, por escolaridade e sexo

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados da PNAD 2008.

A razão entre as probabilidades de participar da força de trabalho de saudáveis e doentes tendo em vista a idade da população dá continuidade a idéia de que os saudáveis possuem uma maior probabilidade de participar da força de trabalho, uma vez que a razão analisada é maior que um (Figura 13). No geral, pode-se identificar uma situação favorável para os indivíduos não doentes, quando analisado a questão da participação no mercado de trabalho. Assim, os resultados encontrados apontam para perdas resultantes da baixa qualidade de saúde, ou seja, uma saúde precária reflete na participação da força de trabalho.

Figura 13 - Razão entre as probabilidades de participar da força de trabalho dos indivíduos saudáveis e doentes, por idade e sexo

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados da PNAD 2008.

A Figura 14 mostra o valor percentual da redução da participação na força de trabalho dos indivíduos doentes, por regiões. A Região Sudeste apresentou a menor redução na probabilidade de participação na força de trabalho, contrapondo-se ao que ocorre na Região Norte, onde os indivíduos doentes possuem uma significante redução de probabilidade de participar da força de trabalho em comparação aos indivíduos saudáveis.

Figura 14 - Probabilidade de participação na força de trabalho dos indivíduos doentes, por regiões e sexo (%)

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados da PNAD 2008.

17

Já a Figura 15 mostra as reduções de salários dos indivíduos doentes, por regiões. As perdas dos indivíduos doentes são constatadas em todas as regiões. A Figura 15 coloca em evidencia o fato de que as mulheres doentes são mais prejudicadas, apresentando as maiores reduções salariais, em comparação aos homens. Vale ressaltar que uma redução negativa, ou seja, um valor na redução percentual negativo significa um aumento, uma situação de vantagem par o indivíduo doente.

Figura 15 - Redução na taxa de salários por hora dos indivíduos doentes, por regiões e sexo (%)

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados da PNAD 2008.

A Figura 16 mostra esta redução em relação ao número de horas trabalhadas por semana dos indivíduos doentes. Mais uma vez, a saúde precária afeta negativamente os rendimentos por afetar o número de horas de trabalho semanal que são oferecidas. Contudo, tal redução não se aplica para as mulheres das regiões Norte e Nordeste, levando-se em consideração todos os critérios. Resultado parecido é obtido entre os homens.

Figura 16 - Redução na oferta de trabalho semanal dos indivíduos doentes, por regiões e sexo (%)

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados da PNAD 2008.

Tabela 7Redução na probabilidade de participação na força de trabalho, nos salários por hora e na oferta de trabalho dos

indivíduos doentes no Brasil (%) - 2008

Critérios  Homens     Mulheres

PFT Salários Horas PFT Salários HorasClínico/Funcional 3,48 0,88 1,53 4,65 3,16 0,60Subjetivo Restrito 1,75 0,53 0,06 4,21 6,37 0,50Subjetivo Não Restrito 1,42 1,28 0,06 4,16 3,98 0,50

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados da PNAD 2008.

E por fim, a Tabela 7 acima apresenta um resumo das perdas decorrentes do estado de saúde precário. Os resultados mostram que o rendimento do indivíduo sofre perdas por conta da diminuição da probabilidade de participação na força de trabalho, por conta do número menor de horas ofertadas e pelo menor salário recebido. Vale ressaltar que os valores positivos representam justamente as perdas destes indivíduos não saudáveis.

18

6. Conclusões

Este artigo avaliou a relação existente entre o estado de saúde e o nível de rendimento individual. Com enfoque para os três canais de rendimentos: participação na força de trabalho, horas ofertadas de trabalho e média de rendimentos salariais, mostrando que uma saúde precária afeta negativamente os rendimentos por meio da redução da probabilidade de participação na força de trabalho, do número de horas trabalhadas por semana e da média de salários.

Os resultados mostram que a probabilidade de participação na força de trabalho é maior entre os saudáveis do que os doentes, independentemente da região e do gênero. Cruzando os resultados da participação com faixas de escolaridade, contatou-se que a probabilidade de participação da força de trabalho dos indivíduos doentes aumenta na medida em que há um aumento nos anos de estudo. Porém, ainda assim, a diferença nas probabilidades de participar da força de trabalho permanece favorável aos indivíduos saudáveis. Constatou-se ainda que a redução percentual da participação na força de trabalho dos indivíduos doentes é verificada em todas as regiões. No entanto, a região Sudeste apresentou a menor redução, contrapondo-se aos resultados da região Norte.

Foram constatadas também reduções salariais para os indivíduos doentes independentemente da região analisada. Os resultados indicam ainda que as mulheres doentes são as mais prejudicadas, apresentando as maiores reduções salariais, em comparação aos homens.

Além disso, verificou que em geral, os indivíduos doentes ofereciam um número menor de horas de trabalho por semana. Contudo, tal redução não se aplica para as mulheres das regiões Norte e Nordeste, levando-se em consideração todos os critérios.

Referências ALVES, LUIZ FERNANDO. Impactos do estado de saúde sobre os rendimentos individuais no Brasil. Disponível em: <http://www.cedeplar.ufmg.br/economia/dissertacoes/2002/Luiz_Fernando_Alves.pdf>. Acesso em 23/03/2011

ARROW, KENNETH. Economic Welfare and the Allocation of Resources for Invention. In R. Nelson (Ed.), The Rate and Direction of Inventive Activity. Princeton: Princeton University Press, 1963.

GROSSMAN, MICHAEL. On the concept of Health Capital and the demand for Health. The Journal of Political Economy, vol. 80, issue 2 (mar-apr 1972), pp.223-255.

HECKMAN, J.J. Sample selection bias as a specification error. Econometrica. v.47, n. 1. 1979.

KASSOUF, A. L. Rendimentos perdidos por trabalhadores em condições inadequadas de saúde. Economia Aplicada. São Paulo, v. 3. 1999

KASSOUF, A. L. Saúde e mercado de trabalho. Pesquisa e Planejamento Econômico. Rio de Janeiro, v. 27. 1997

LUFT, H.S. The impact f poor health on earnings. The Review of Economics and Statistics. Cambridge, v.57. 1975.

MEDEIROS, M. Princípios de justiça na alocação de recursos em saúde. Texto para discussão número 687. Brasília: IPEA, 1999.

NORONHA, K; ANDRADE, M. A importância da saúde como um dos determinantes da distribuição de rendimentos e pobreza no Brasil. XXXII Encontro Nacional de Economia, Anpec, 2004.

19

STRAUSS, J.; THOMAS, D. Health, nutrition and economic development. Journal of Economic Literature, v.36, n.2, p.766-817, 1998.

ALVES, L. F. E ANDRADE, M. V. Impactos da Saúde nos Rendimentos Individuais no Brasil. Revista de Economia Aplicada. São Paulo, 2003.

20