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GRUPO DE ECONOMIA DA ENERGIA Impactos Econômicos da Competitividade do Gás Natural RELATÓRIO SETORIAL: Vidro

Impactos Econômicos da Competitividade do Gás Natural · tratamento térmico, o recozimento, no caso dos vidros planos. A figura a seguir apresenta as diversas etapas do processo

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Impactos Econômicos da Competitividade do Gás Natural

RELATÓRIO SETORIAL: Vidro

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IMPACTOS ECONÔMICOS DA COMPETITIVIDADE DO GÁS NATURAL

RELATÓRIO SETORIAL: Vidro

EQUIPE:

Edmar Luiz F. de Almeida

(Coordenador)

Clarice C. de M. Ferraz

Jacqueline G. B. Silva

Luciano Losekann

Marcelo Colomer

Renato P. de Queiroz

Ronaldo G. Bicalho

Agosto | 2012

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Sumário

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................. 4

2 A INDÚSTRIA DE VIDRO NO BRASIL ....................................................................................................................... 5

3 CARACTERIZAÇÃO DO PERFIL ENERGÉTICO DO SETOR VIDREIRO - A IMPORTÂNCIA DO GÁS

NATURAL ..................................................................................................................................................................... 7

3.1 A importância dos custos com gás natural para o setor vidreiro ........................................... 10

3.2 Impactos do gás natural sobre o nível de investimento e competitividade do setor vidreiro 10

4 CONTEXTO ECONÔMICO DO SETOR VIDREIRO NO BRASIL ............................................................................. 15

5 CENÁRIOS DE COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA VIDREIRA 2012-2025 ....................................................... 18

6 CONCLUSÃO ............................................................................................................................................................. 23

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................................................... 25

8 ANEXO METODOLÓGICO ....................................................................................................................................... 29

8.1 Projeções do desempenho econômico dos segmentos ........................................................... 33

8.2 Projeções do consumo setorial de gás natural ....................................................................... 35

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1 Introdução

O presente trabalho tem por objetivo investigar os impactos do gás natural sobre o nível de

competitividade da indústria de vidros brasileira. Em 2009, a indústria de vidros gerou 11.800

empregos diretos e faturou R$ 4,478 bilhões (MME - DTTM/SGM, 2010). A indústria de

vidro fornece seus produtos para diversos outros setores, como a construção civil, alimentos e

bebidas, indústrias automobilística, moveleira, entre outros mercados especializados que

consomem os vidros técnicos e especiais.

A trajetória da indústria de vidro tem seguido a do crescimento econômico do país. A partir de

2002, a indústria conheceu forte expansão, se tornando o maior produtor e exportador da

América Latina. A entrada do gás natural no setor marcou um processo de modernização e

expansão da indústria no Brasil que passou a crescer a um ritmo de 20% ao ano até 2007

(ABIVIDRO, 2009). A partir da crise econômica mundial de 2008, e já sofrendo o impacto do

aumento dos custos de produção, o ritmo de crescimento se reduziu fortemente e atingiu um

nível de 4 a 5% ao ano (ABIVIDRO, 2009). Somam-se ao cenário desfavorável os crescentes

custos de produção – em particular os aumentos do preço do gás natural a partir de 2007, e a

forte concorrência dos produtos chineses, que chegam a conquistar fatias importantes do

mercado interno de vidro, também a partir de 2008. O gás natural possui forte impacto nas

estruturas de custo da indústria vidreira do Brasil uma vez que 95% do consumo de energia

utilizada nos fornos provêm do energético (MME - DTTM/SGM, 2010).

Esse estudo apresenta uma análise das condições de competitividade da indústria de vidro no

Brasil e de como o preço do gás natural afeta os custos relativos das empresas nacionais frente

a seus competidores estrangeiros. O trabalho apresenta quatro cenários distintos de evolução

da indústria com destaque para seus aspectos econômicos e energéticos a partir de diferentes

hipóteses do nível de competitividade do preço de gás natural para o setor.

A metodologia de pesquisa adotada na elaboração do presente relatório envolveu três etapas.

Em primeiro lugar, foi realizada uma revisão da literatura e dos dados setoriais recentes sobre

a evolução da indústria de vidro no Brasil. Posteriormente, realizou-se uma análise qualitativa

das condições de competitividade da indústria de vidros brasileira a partir de entrevistas com

os principais agentes do setor (ver anexo metodológico). A partir dos dados e das informações

coletadas nas duas primeiras etapas, foram formuladas hipóteses de substituição energética

onde a participação do gás natural cresce de acordo com a redução do seu preço.

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O efeito positivo do aumento da participação do gás natural sobre a competitividade da

indústria de vidro parte de duas premissas. Em primeiro lugar, pressupõe-se que o uso do gás

apresenta vantagens técnicas e econômicas em relação a seus combustíveis substitutos. Em

segundo lugar, parte-se da hipótese de que todos os demais fatores de competitividade,

excetuando o custo energético, mostram-se neutros ao desempenho do setor1.

A apresentação desse relatório será dividida em quatro seções além dessa introdução e da

conclusão. Na seção 2 será apresentado um breve perfil da indústria de vidros no Brasil. A

seção 3 apresenta a importância do gás natural para a indústria brasileira de vidros. Para tanto,

ela traz uma análise do perfil de consumo energético do setor.

A seção 4 descreve o contexto econômico do setor no Brasil e as condições de

competitividade da indústria nacional frente aos principais países exportadores de produtos de

vidro.

Na seção 5 são apresentados os diferentes cenários de faturamento, balança comercial,

investimento e consumo de gás natural para a indústria de vidros brasileira. Como

mencionado anteriormente, os cenários elaborados captam apenas o efeito de variações no

preço do gás natural sobre as variáveis supracitadas, excluindo os efeitos de qualquer outra

componente.

Ao final do trabalho são apresentadas as principais conclusões sobre o potencial da difusão do

uso do gás natural e seu impacto sobre a competitividade da indústria de vidro no Brasil.

2 A indústria de vidro no Brasil

O vidro é produzido a partir da fusão de uma mistura de sílica e outros óxidos que em seguida

passam por outros tratamentos que definem suas características finais. A etapa de fusão dos

óxidos demanda temperaturas extremamente elevadas, podendo alcançar 1600 °C. Após a

fusão da mistura do composto, seguem-se as etapas de conformação e mais uma etapa de

tratamento térmico, o recozimento, no caso dos vidros planos. A figura a seguir apresenta as

diversas etapas do processo produtivo da indústria de vidro, de acordo com cada segmento.

1 Para maiores detalhes da metodologia utilizada ver anexo metodológico.

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Figura 1: Etapas do processo produtivo da indústria de vidro:

Fonte: Leite, 2010.

A indústria de vidros é dividida em diversos segmentos de acordo com o produto que fabrica.

No Brasil, ela concentra suas atividades nos segmentos de vidros planos e domésticos, As

embalagens de vidro, em importância de consumo, são utilizadas no setor de bebidas, no setor

de alimentos e, por último, na embalagem de produtos não alimentícios (farmacêuticos e

cosméticos). Os vidros planos são fabricados em chapas, utilizados, principalmente, pela

construção civil, seguida pela indústria automobilística, moveleira, e decorações de interiores,

principalmente espelhos. Os vidros especiais (técnicos) no Brasil compreendem as lãs e fibras

de vidro (para isolamento e indústria têxtil), os tijolos e blocos de vidro, os isoladores

elétricos de vidro, as ampolas para garrafas térmicas, os bulbos de lâmpadas, os vidros para

tubo de imagem e as ampolas farmacêuticas para medicamentos. Por fim, os vidros

domésticos são aqueles usados em utensílios como louças de mesa, copos, xícaras, e objetos

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de decoração (MME - DTTM/SGM, 2010). O gráfico abaixo ilustra a evolução recente dos

principais segmentos da indústria de vidros no Brasil. Mais recentemente, dados do Anuário

Estatístico 2011 (MME - DTTM/SGM) para o ano de 2010 apontam que o segmento de

vidros planos continuou crescendo e atingiu 50% da produção total de produtos de vidro; o

setor de vidros especiais passou para 5%; a produção de embalagens atingiu 37%; e o

segmento de vidros domésticos se contraiu fortemente representando somente 7% da

produção da indústria de vidros brasileira.

Gráfico 1: Produção de vidro no Brasil: principais segmentos

Fonte: Elaboração própria a partir de Anuários Estatísticos MME - DTTM/SGM, diversos anos

3 Caracterização do perfil energético do setor vidreiro - a importância do Gás Natural

A fabricação de vidro, que compreende uma série de processos térmicos, é classificada como

intensiva em energia. A energia consumida é utilizada principalmente para aquecimento

direto, como mostra o gráfico abaixo.

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90%

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Especiais

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Gráfico 2: Utilização de energia na produção de vidro:

Fonte: Elaboração própria

Tradicionalmente, a energia térmica era obtida através da utilização de óleo combustível. Em

seguida, com a modernização da indústria, passou-se a fabricar produtos de mais alta

qualidade onde a fabricação precisa de velocidade de manuseio e estabilidade da temperatura.

Nesse contexto, o uso do gás natural oferece diversas vantagens. Ele possibilita um controle

de temperatura preciso nos processos da produção de vidros não planos e vidros prensados, o

que é essencial para a qualidade dos produtos.

Desse modo, impulsionada pelos avanços tecnológicos de suas cadeias produtivas, já nos anos

90, a indústria vidreira tornou-se uma das pioneiras no uso do gás natural no Brasil, a partir do

momento em que esse se tornou disponível. Nos anos 2000, houve importante expansão de

seu uso, com a perspectiva de obter gás natural competitivo e em abundância proveniente da

Bolívia. Entre 2001 e 2006, houve forte penetração de gás natural na indústria em substituição

ao GLP e ao óleo combustível, como mostra o gráfico abaixo.

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Gráfico 3: Evolução do perfil de consumo energético da indústria de vidro:

Fonte: Elaboração própria a partir de Leite, 2010.

Atualmente, o gás natural é o principal combustível para a indústria de vidro. Seu consumo

mensal é estimado entre 40 a 45 MMm³/mês. Isso corresponde a cerca de 5% do consumo de

gás do setor industrial. O gráfico seguinte revela a importância do GN no perfil de consumo

energético da indústria.

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Gráfico 3 - Perfil de consumo energético do setor de vidro

Fonte: Elaboração própria a partir Leite, 2010.

3.1 A importância dos custos com gás natural para o setor vidreiro

Considerando a importância dos processos térmicos na produção de vidro e o uso intensivo de

gás natural, os gastos com energia são extremamente significativos para a indústria. Os gastos

com gás natural e energia elétrica, somados, correspondem a aproximadamente 40% do custo

final do produto. Somente o gás natural corresponde a aproximadamente 25% dos custos

finais de produção, podendo chegar a 35%, de acordo com as informações levantadas durante

pesquisa de campo realizada com representantes do setor.

3.2 Impactos do gás natural sobre o nível de investimento e

competitividade do setor vidreiro

A indústria de vidros no Brasil utiliza processos produtivos modernos e apresenta o mesmo

perfil produtivo dos mais importantes países produtores de vidro. Entretanto, devido à sua

forte dependência ao gás natural, o país assiste a uma estagnação dos investimentos no setor,

como veremos a seguir.

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Além dos impactos negativos dos altos preços do gás natural, a falta de segurança de

abastecimento para o setor representa um problema de extrema relevância. Como os fornos

não podem ser desligados, as empresas devem ter a garantia de que serão supridas de acordo

com suas necessidades a fim de evitar a realização de backups extremamente onerosos.

Mesmo com o aumento da demanda por produtos de vidro no Brasil, devido aos elevados

custos de produção, não há previsão de expansão da capacidade produtiva no mercado

interno. O gráfico 4 ilustra a dinâmica de preços adotada pela Petrobras para o gás natural.

Gráfico 4 – Evolução do Preço do Gás Natural no Brasil

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Petrobras e MME

Com efeito, entre 1999 e 2005, a Petrobras incentivou o consumo de gás na indústria

nacional, de forma a criar um mercado para o gás doméstico e o importado. O principal vetor

utilizado foi a adoção de uma política de preços que viabilizasse os investimentos necessários

para a indústria converter seus equipamentos ao gás natural (ver gráfico 4). Nesse momento, a

indústria de vidros aderiu massivamente ao uso do gás natural e promoveu a conversão de

suas plantas para essa utilização.

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2002.01

2002.06

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2012.1

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Preço Gás Boliviano no Sudeste (MME) Preço Gás Doméstico trimestral (Petrobras) Henry-Hub

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Entretanto, a partir de 2007 – antes mesmo que os investimentos para adoção do gás natural

pudessem ser amortizados – houve radical reversão da política de preços adotada para o gás

natural industrial. Esta revisão foi provocada pela mudança do contexto de disponibilidade do

gás boliviano com a nacionalização das reservas em 2006 e pela mudança da estratégia de

oferta da Petrobras, que passou a priorizar a oferta de gás para o setor de geração

termelétrica2.

Desse modo, com seu parque produtor já convertido ao uso do gás natural, a indústria de

vidro, assim como outros segmentos industriais intensivos em gás natural, passou a assumir

os ônus da adaptação da Petrobras a um contexto de menor disponibilidade do energético.

Como resultado, o preço do gás doméstico e importado vendido às distribuidoras situava-se

em torno de 4 dólares por MMbtu em meados de 2005 e ultrapassou US$10,00 durante o ano

de 2011. O preço de venda do gás natural para o segmento industrial no Brasil seguiu a

tendência dos preços de venda de gás pela Petrobras para as distribuidoras. No período entre

2005 e 2012, o preço do gás aos grandes consumidores industriais elevou-se sistematicamente

e situa-se atualmente num patamar médio de 14 dólares por MMbtu3. O gráfico abaixo mostra

que entre os anos de 2007 e 2011, o preço do gás natural no Brasil (city-gate) subiu cerca de

100%. Para a indústria de vidro, isso representa um aumento de 25% em seus custos de

produção.

Além dos preços elevados, o contexto de priorização do segmento de geração termelétrica

provocou mudanças nas condições de oferta de gás pela Petrobras. A empresa reduziu o prazo

dos contratos de suprimento para as distribuidoras e introduziu uma política de maior

flexibilidade contratual (contratos interruptíveis e de curto-prazo) para conquistar uma maior

complementaridade desta demanda com a do setor termelétrico (variável e imprevisível). Os

contratos mais flexíveis e de menor prazo trouxeram oportunidades para alguns segmentos da

indústria, mas para a maioria – como a indústria de vidro – representaram um grande

obstáculo. O fornecimento de gás interruptível não corresponde às necessidades de

manutenção de temperatura constante dos fornos que permanecem ligados durante toda sua

2 Diante do cenário de oferta de gás boliviano menos favorável, o governo federal orientou a Petrobras a dar

prioridade ao atendimento das termelétricas, visando garantir a segurança do abastecimento elétrico. 3 É importante ressaltar que as tarifas praticadas pelas distribuidoras para o segmento industrial variam de acordo

com a metodologia tarifária do estado. Além disso, é comum as distribuidoras praticarem descontos em relação

às tarifas autorizadas para os grandes consumidores. O preço de US$14,00 por MMbtu é o valor médio pago

pelas empresas entrevistadas neste estudo.

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vida útil, demandando assim abastecimento de gás firme. Em setores intensivos em gás

natural não é possível viabilizar investimentos em novos projetos produtivos sem contratos de

gás firme e de longo-prazo.

Assim, as condições contratuais desfavoráveis (contratos interruptíveis e não-firmes) e o

aumento dos preços de gás natural dos últimos anos, até o elevado patamar em que se

encontra atualmente, vêm deteriorando fortemente a competitividade da indústria de vidro no

Brasil.

O gráfico 4 ilustrou igualmente a crescente disparidade entre os preços de gás natural pago

pelo setor industrial brasileiro e os preços praticados na maioria dos países do continente

americano. Vemos que o preço do gás natural nos Estados Unidos (no Henry Hub) caiu mais

de US$ 10 para cerca de US$ 2 por MMBtu, no início de 2012. Atualmente, o gás natural é

vendido por menos de US$ 5 por MMBtu em diversos países como Estados Unidos,

Argentina, México, Canadá. Somam-se a esses países outros do Oriente Médio e da Ásia que

também oferecem gás natural a preços extremamente competitivos.

O aumento de preços do gás natural tem se refletido igualmente na sua perda de

competitividade face aos demais energéticos, como se pode ver no gráfico 5. Em algumas

regiões brasileiras, como de Minas Gerais, o gás natural não mais é competitivo nem mesmo

em face ao óleo combustível.

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Gráfico 5 - Preço Estimado dos Energéticos para Grandes Consumidores Industriais Brasil

Fonte: Elaboração Própria a partir de dados do MME e CEPEA

Atualmente, de maneira geral, o gás natural é competitivo apenas na substituição do GLP e do

óleo combustível. No caso específico desse último, o seu patamar de preço encontra-se muito

próximo ao do gás natural. Considerando que a Petrobras tem um papel preponderante na

oferta desses energéticos, essa proximidade tem por objetivo manter os dois segmentos de

mercado estáveis, fazendo com que aqueles consumidores que hoje consomem gás natural

sejam desencorajados a substituí-lo pelo óleo; e vice-versa.

Atualmente, as demandas de GLP e óleo combustível já foram totalmente convertidas para o

gás natural nas regiões atendidas pela rede de suprimento de gás. Ou seja, no contexto atual, o

mercado de gás natural industrial só poderá se expandir em presença do crescimento da rede

de gasodutos e/ou da expansão das empresas atualmente consumidoras. A substituição de

outros energéticos em consumidores atualmente atendidos não é economicamente viável.

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4 Contexto econômico do setor vidreiro no Brasil

Como mencionado na introdução desse trabalho, a trajetória da indústria de vidro

acompanhou a do crescimento econômico do país. A partir de 2002, a indústria conheceu

forte expansão, se tornando o maior produtor e exportador da América Latina. A entrada do

gás natural no setor marcou um processo de modernização e expansão. A indústria do vidro

passou a crescer em um ritmo de 20% ao ano até 2007. Em seguida, a partir da crise

econômica mundial de 2008, e já sofrendo do impacto do aumento dos custos de produção, o

ritmo se reduziu fortemente atingindo um nível de crescimento de 4,5% ao ano. Esse cenário

se torna cada vez mais desfavorável, pois, também a partir de 2008, o setor sofreu forte

concorrência dos produtos chineses – que chegam a conquistar fatias importantes do mercado

interno de vidro. Um fator importante de perda de competitividade face à concorrência dos

produtos chineses é o contínuo aumento dos custos de produção no Brasil, dentre os quais se

destaca o gasto com gás natural.

Como ilustrado no gráfico abaixo, a balança comercial do setor se deteriorou fortemente e de

maneira acelerada.

Gráfico 6: A balança comercial da indústria do vidro brasileira:

Fonte: elaboração própria a partir de dados Aliceweb

Como há barreiras logísticas importantes associadas, sobretudo, ao transporte do vidro

(bastante oneroso), a indústria preserva uma parte do mercado interno, mas já sofre com a

entrada a preços competitivos de produtos importados. Os principais países de onde o Brasil

vem importando vidro, e suas respectivas participações, são a China (29%); os Estados

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Unidos (13%); o México (12%); a Colômbia (5%); a França (4%) e a Índia (4%), como

mostra o gráfico a seguir:

Gráfico 7: Origem das importações brasileiras de vidro:

Fonte: elaboração própria a partir de dados AliceWeb

Em vista desse cenário desfavorável, as empresas interromperam seus investimentos na

expansão de capacidade de produção. Resultados da pesquisa de campo revelam que isso se

deve principalmente aos elevados custos de produção no país.

A indústria de vidro do Brasil já foi grande exportadora, sobretudo para países vizinhos da

América Latina. Ultimamente, ela enfrenta forte perda de competitividade para os mesmos

países vizinhos que disponibilizam gás natural a preços mais competitivos e com condições

contratuais mais favoráveis para o setor industrial. Atualmente, além de terem perdido o

mercado externo, os stakeholders do setor pensam em atender o aumento da demanda

brasileira por seus produtos a partir de novas plantas a serem instaladas em países, como Perú,

CHINA

29%

ESTADOS UNIDOS

13%

MEXICO

12%COLOMBIA

5%

INDIA

4%

FRANCA

4%

ALEMANHA

3%

ITALIA

3%

REINO UNIDO

2%

ESPANHA

2%

BELGICA

1%

OUTROS

18%

EMIRADOS ARABES UNIDOS

1%

VENEZUELA

1%ARGENTINA

1%

TAIWAN (FORMOSA)

1%

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Argentina e Colômbia. Este último, cujo preço do gás se situa em torno da metade do valor

cobrado no Brasil, possui ainda, a vantagem de poder entrar no mercado americano.

Em recente apresentação na FIESP, o Sr. Syada4 expôs a grave perda de competitividade das

indústrias brasileiras perante as situadas em outros países. Para sua empresa, o Brasil é o país

que oferece o preço de gás natural mais elevado, afetando negativamente os custos de

produção, como mostra a tabela a seguir.

Tabela 1: Preços do gás natural em diversos países produtores de vidro

País Preço médio Guardian Vantagem com relação

ao preço médio do país

Rússia $3,00 -33%

Oriente Médio $2.00 -23%

Europa $8.00 -13%

EUA $3,00 -11%

Asia $10,00 4%

Brasil $10,00 12%

Fonte: Apresentação R. Syada, FIESP, 7 de agosto 2012

Para avaliar o impacto potencial do gás na recuperação da competitividade das indústrias do

sistema produtivo de insumos básicos buscamos inicialmente identificar alguns cenários de

competitividade do gás natural. Com essa finalidade, buscamos identificar o preço do gás

natural na indústria para os principais países exportadores dos quais o Brasil importa produtos

de vidro. Além do preço do gás natural nos outros países, levou-se em consideração o custo

adicional do gás embutido nos produtos importados para compensar os custos de transporte

dos produtos até o mercado brasileiro, as tarifas-médias de importação, além de uma margem

adicional para compensar o risco do importador. O gráfico 8 permite comparar os diferentes

cenários de preços de gás no Brasil com o custo do gás embutido nas importações de países

selecionados.

4 Diretor da Guardian, grande multinacional do setor e presente em 25 países de cinco diferentes continentes.

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Percebe-se que, aos preços atuais, o gás natural no setor vidreiro brasileiro somente é

competitivo perante o gás embutido nas importações oriundas de países europeus (regiões que

dependem de gás importado de alto custo).

Gráfico 8 - Custo relativo do gás natural para o setor vidreiro

Fonte: Elaboração própria

5 Cenários de competitividade da indústria vidreira 2012-2025

Seguindo a metodologia de cenários apresentada na introdução deste trabalho, e descrita mais

detalhadamente no anexo metodológico, esta parte do relatório analisa as projeções feitas

acerca das principais variáveis econômicas da indústria de vidro. Nesse contexto, é analisada

a evolução do consumo, faturamento, balança comercial, investimento e consumo de gás

natural para diferentes cenários de preço deste último. É importante ressaltar que o estudo

analisa somente os ganhos ou perdas de competitividade advindas de variações no preço do

gás natural sobre o comportamento do setor.

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Europa

(media

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Risco do importador

Proteção tarifária

Adicional do custo de transporte

Preço para grandes consumidores industriais

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Para fins de simplificação, foram escolhidos 4 níveis de preço para o gás natural: 7, 10, 14 e

17 dólares o milhão de Btu. A fim de isolar os efeitos do gás natural sobre a competitividade

da indústria vidreira foi comparado o preço do gás natural no Brasil (para cada cenário de

preço) com o preço de importação do gás natural nos principais países exportadores de

produtos de vidro para o Brasil (China, Estados Unidos, México, Colômbia, Índia, entre

outros – ver gráfico 5).

A partir da comparação feita entre os preços do gás natural em cada cenário, analisou-se

quanto das importações poderiam ser deslocadas pela produção nacional em função da

variação da competitividade trazida pelo preço do gás natural. A evolução do consumo ou o

crescimento do mercado interno de produtos de vidro foi projetado com base nas taxas de

crescimento do PIB e nas elasticidades-renda da demanda de produtos de vidro adotadas pelo

projeto PEG, de acordo com estudos de FIPE-USP. Quanto às exportações, partiu-se da

premissa que estas mantêm sua participação de 2011 no faturamento do setor. Desse modo, as

projeções do crescimento da renda gerada pelo setor siderúrgico são função do deslocamento

das importações ocorrido em cada cenário de preço de gás natural.

As projeções apresentadas a seguir, foram realizadas a partir da adoção de uma série de

premissas quantitativas e qualitativas. Foi adotada uma elasticidade-renda da demanda igual a

1, comum a todos os cenários, que deverá seguir sua tendência histórica até o final do período

analisado. A elasticidade venda-investimento utilizada foi igual a 1,04. A tarifa média de

importação dos produtos de vidro empregada foi 10% (para alguns países se somam ainda

taxas ad valorem sobre alguns de seus produtos) enquanto o custo médio logístico de

transporte adotado foi igual a 15%.

Em relação aos cenários de preço, estima-se que com o preço igual a US$ 7 / MMBtu, há um

potencial de redução de 90% das importações de produtos de vidro. Persistem somente as

importações de produtos específicos, não produzidos internamente.

No cenário de preço igual a US$ 10 / MMBtu, ainda se verifica uma redução estimada de

60% da taxa de importações. Entretanto, o país já não é competitivo perante as importações

oriundas dos Estados Unidos, da China e do México. A indústria de vidro nacional segue

competitiva face às importações da Colômbia e de países europeus.

Com o preço do gás natural igual a US$ 14 / MMBtu ocorre o que chamamos de manutenção

do “Status quo” e uma crescente deterioração da competitividade do setor vidreiro no Brasil.

Com esse preço de gás natural, a expansão do setor no Brasil torna-se inviável. Nesse cenário,

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mantém-se a capacidade de produção constante e todo o aumento da demanda interna é

suprido por importações. As indústrias locais estudam abrir novas plantas em países vizinhos

cujos custos de produção sejam inferiores aos brasileiros, para atender a crescente demanda

por vidro no Brasil. Por fim, o cenário com o preço de gás natural a US$ 17 / MMBtu

apresenta as mesmas características do cenário anterior (de US$14/MMBtu).

Os gráficos abaixo mostram os diferentes cenários de faturamento, balança comercial,

investimento e consumo de gás natural no setor de vidro. Como é intensiva em gás natural,

espera-se um grande impacto em todos os níveis examinados.

O gráfico abaixo mostra o impacto do nível de preço do gás natural sobre o faturamento da

indústria de vidro. Entre os cenários de gás natural a US$ 7 e a US$14 por MMBtu, há grande

disparidade. O nível de faturamento para o preço mais elevado de gás natural é da ordem de

3,5 bilhões de dólares, 30% inferior ao cenário mais favorável - o que comprime a capacidade

de investimento da indústria.

Gráfico 9 – Setor Vidreiro: Projeção do Faturamento Segundo Cenários de Preço para o Gás Natural

2012-2025

Fonte: Elaboração Própria

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Já o gráfico seguinte apresenta os impactos do nível de preços do gás natural sobre o resultado

da balança comercial da indústria de vidro. Esse gráfico mostra de forma contundente a

degradação da competividade da indústria, diante de preços de gás natural não competitivos –

acima de US$ 7/MMBtu. Até US$10/MMBtu o setor consegue se manter ligeiramente

superavitário, mas em presença de gás natural com preço a US$ 14/MMBtu a indústria se

torna fortemente deficitária. Chama a atenção a brusca inflexão da curva. Com o gás natural a

US$7 o setor conhece um superávit de 0,5 bilhão de dólares enquanto num cenário de gás

natural a preços superiores a US$14 por MMBtu o resultado é de um déficit da ordem de 2,3

bilhões de dólares.

Gráfico 10 – Setor Vidreiro: Projeção da Balança Comercial Segundo Cenários de Preço para o Gás

Natural 2012-2025

Fonte: Elaboração Própria

Diante dos resultados das projeções anteriores, o impacto negativo do preço elevado do gás

natural sobre o nível de investimento do setor já era esperado. Com efeito, o gráfico abaixo

mostra que entre os cenários mais favoráveis e os preços acima de US$ 14,00 a diferença da

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capacidade de investimento é superior a 50% caindo de possíveis US$ 0,9 bilhões para menos

de US$ 0,5 bilhões.

Gráfico 11 – Setor Vidreiro: Projeção do Investimento Segundo Cenários de Preço para o Gás

Natural 2012-2025

Fonte: Elaboração Própria

Com relação ao nível de consumo de gás, o ritmo de diminuição é mais lento, como podemos

ver no gráfico abaixo. Como as plantas produtoras de vidro foram concebidas para funcionar à

base de gás natural, enquanto elas estiverem operando não possuirão outra opção de

abastecimento. Ao converter suas plantas, a indústria se encontra atualmente em uma situação

de lock-in pois é dependente do gás natural para continuar produzindo. A todos os níveis de

preço a indústria apresenta elevado consumo de gás natural. Entretanto, entre o cenário de

preço do gás natural a US$7 e o de US$17 por MMBtu o consumo até 2025 passa de 2 para

3,2 milhões de m3. Conclui-se que a preços mais competitivos a indústria se expande e

aumenta seu consumo de gás natural. No caso contrário, o oposto que se verifica: a indústria

tem sua demanda reprimida e é forçada reduzir seu ritmo de produção e expansão.

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Gráfico 12 – Setor Vidreiro: Projeção do Consumo de Gás Natural Segundo Cenários de Preço para

o Gás Natural 2012-2025

Fonte: Elaboração Própria

6 Conclusão

O presente trabalho teve por objetivo investigar os impactos do gás natural sobre o nível de

competitividade da indústria de vidros brasileira. Para tanto, realizamos extensa pesquisa

documental e de campo com atores chave do setor, citados em anexo. Com base nas

informações e dados levantados, elaboramos diferentes cenários de competitividade da

indústria de vidros, para quatro distintos níveis de preço do gás. Os diferentes cenários

obtidos para os níveis de faturamento, balança comercial, grau de investimento e consumo de

gás natural para a indústria de vidro captaram apenas o efeito de variações no preço do gás

natural sobre as variáveis supracitadas, excluindo os efeitos de qualquer outra componente.

Sua análise revelou que a existência de gás natural a preços competitivos é condição essencial

para a preservação da indústria de vidros no Brasil.

De fato, a competitividade da indústria de vidros brasileira vem sendo drasticamente reduzida

por mudanças na estrutura de custo do setor e por mudanças conjunturais ocorridas na taxa de

câmbio. Isso se reflete no desempenho da balança comercial que, nos últimos anos, tem

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verificado um aumento considerável nas importações e uma redução das exportações

brasileiras de produtos de vidro.

O gás natural possui o potencial de auxiliar a indústria de vidro na recuperação de sua

competitividade, uma vez que este representa em torno de 25% dos custos finais de produção.

Para que a indústria vidreira no Brasil possa preservar seu nível de atividade e voltar a seguir

uma trajetória de desenvolvimento expressivo, é fundamental que ela tenha acesso ao

suprimento de gás natural a preços competitivos. As limitações impostas pelo elevado nível

de preço do gás natural se tornam evidentes quando são comparados os diferentes preços de

gás cobrados pelos demais países grandes produtores de vidro (Syada, 2012).

Com o preço do gás natural se situando em torno de a US$ 7,00 por MMBtu, a indústria

recupera importantes perdas de competitividade que vem sofrendo ao longo dos últimos anos.

Sem uma redução no preço de seu principal combustível, a indústria não consegue ser

competitiva nem mesmo perante os produtos importados que chegam com importantes custos

logísticos embutidos. É preciso que o preço do gás natural se estabilize a um nível inferior à

US$10,00 para que a indústria possa preservar ao menos o mercado interno. Atualmente,

novos investimentos estão sendo cancelados e importantes indústrias multinacionais

examinam as condições de abastecimento de gás natural dos países vizinhos para futuramente

aumentar sua capacidade de produção nesses países.

O gás natural aparece como elemento chave para recuperar as importantes perdas de

competitividade que vem sofrendo ao longo dos últimos anos, pois ele é responsável por

parcela expressiva dos custos de produção de vidro. Contudo, para que tal potencial se efetive,

há necessidade de mudanças não somente nas políticas de preço do combustível como

também na administração dos contratos de suprimento.

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8 Anexo Metodológico

O método utilizado neste estudo combina aspectos quantitativos e qualitativos para elaborar

as projeções de desempenho econômico e de uso de energia de segmentos industriais

intensivos no uso de gás natural e que são parte do sistema produtivo dos insumos básicos

(Rocha et al., 2010). Os segmentos industriais analisados neste estudo foram: Pelotização,

Papel e Celulose, Química, Vidro, Cerâmica, Siderurgia e Alumínio.

As principais fontes de dados quantitativos foram as publicações do IBGE, do Ministério do

Desenvolvimento, Indústria e Comércio, do Ministério de Minas e Energia, da Empresa de

Pesquisa Enérgica e de associações industriais, que seguem listadas na tabela A1.

Tabela A1 - Fontes de dados

Dados Fonte

Faturamento e Investimento (Unidades Empresariais) Pesquisa Industrial Anual - IBGE

Produção física industrial Pesquisa Industrial Mensal - IBGE

Exportações e Importações Sistema Aliceweb - MDIC

Consumo industrial de energia Balanço Energético Nacional – MME/EPE

Consumo de energia útil Balanço de Energia Útil 2005 - MME

Consumo de Energia do segmento de vidro Oportunidades de eficiência energética para a

indústria: relatório setorial: setor vidreiro – CNI

Consumo industrial de Energia – Dados Internacionais World Energy Balances - OCDE

Dados setoriais: Química Abiquim

Dados setoriais: Papel e Celulose Bracelpa

Dados setoriais: Alumínio ABAL

Dados setoriais: Siderurgia IBS

Dados setoriais: Vidro Abividro

Dados setoriais: Cerâmica Anfacer

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Dados setoriais: Pelotização Plano Nacional de Mineração 2030 - MME

Dados setoriais: Química Abiquim

Fonte: Elaboração própria

Para desenvolver a análise qualitativa foram realizadas entrevistas com executivos e

pesquisadores de empresas, das associações industriais, especialistas setoriais e pesquisadores

do BNDES. A tabela A2 apresenta a lista dos pesquisadores e das empresas entrevistadas.

Tabela A2 - Lista dos entrevistados

Entrevistado Instituição

Alessandra Pereira Alcoa

Alexandre Gallotti CSN

Anderson Baranov Guardian

Andre Carvalho Foster Vidal BNDES

Andre da Hora BNDES

Andre M. Gohn BRASKEM S . A.

Antonio Carlos Kieling ANFACER

Antonio Carlos Sampaio BAYER S.A.

Arlindo Villaschi Filho (Professor) UFES – Universidade Federal do Espírito Santo

Cassius Cerqueira Instituto Aço Brasil

Ciríaco Pacheco Arcelor Mittal

Daniel Bittencourt de Souza Suzano Papel e Celulose

Eduardo Spalding ABAL/ALCAN;

Elaine Andreata Azeituno ABIQUIM

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Fátima Giovanna Ferreira ABIQUIM

Francisco Bras Saliba BRACELPA

Fulvio Medina FIBRIA

Germano Mendes (Professor) UFU – Universidade Federal de Uberlândia

Henrique Casotti USIMINAS

Henrique Sonja Penha Energia BRASKEM S . A

Job Rodrigues (especialista cerâmica e vidro) BNDES

Luciana Nunes Vale

Lucien Belmonte Abividro

Luís Fernando Marino Eliane

Maria Cristina Yuan Instituto Aço Brasil

Martim Francisco de Oliveira e Silva e equipe BNDES

Nelson Flávio Samarco

Paulo Hirama CSN

Pedro Vilas BRACELPA

Pedro Landim BNDES

Ray Siada Guardian

Robson Martins Arcelor Mittal

Rogério Lopes USIMINAS

Willian Okai ABAL

Fonte: Elaboração própria

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Esta pesquisa de campo buscou levantar informações e opiniões sobre três tipos de questões:

i) A competitividade do gás natural no Brasil; ii) a competitividade atual do setor; iii) e a

dinâmica de investimentos do setor. As principais questões apresentadas aos entrevistados

foram:

1 – Quanto à competitividade do gás natural

Quais são os combustíveis concorrentes do gás natural no setor?

A empresa vê espaço para aumentar o consumo de gás natural através da substituição

de outros energéticos?

A empresa/setor fez estudos sobre potencial da cogeração?

Qual o preço do gás natural que viabilizaria a substituição dos diferentes energéticos e

possibilitaria investimentos na cogeração?

2 – Quanto à competitividade do setor industrial

Qual a participação aproximada dos custos de Energia no custo total da empresa/setor?

Deste total, o quanto o gás contribui?

Como tem evoluído a competição da importação no mercado interno?

Preço do gás é um fator importante da competição das importações?

Qual é o custo adicional (%) aproximado de internalização de produtos importados no

seu setor (transporte + Imposto de importação)?

A empresa/setor vem aumentando as exportações?

Qual o papel do gás natural na competitividade das exportações?

3 – Quanto à dinâmica de investimento do setor

Perspectivas atuais de expansão da empresa/setor. Papel do mercado doméstico e das

exportações neste processo.

A empresa estaria disposta a aumentar a produção, em relação à perspectiva atual caso

haja gás competitivo? O que seria um gás competitivo?

Qual seria o preço do gás para viabilizar uma planta voltada para o mercado interno?

Qual seria o preço do gás necessário para viabilizar uma nova planta voltada para o

mercado externo?

Qual seria, em sua opinião, o aumento na taxa de crescimento do setor num cenário de

oferta abundante de gás natural?

A partir das entrevistas, foi possível levantar informações necessárias à elaboração de

cenários econômicos para os setores em diferentes níveis de competitividade para o gás

natural. Para isto, foi elaborado um modelo de projeção de faturamento, investimento,

importações e exportação. As projeções foram realizadas em base anual no horizonte 2025.

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O modelo de projeção parte da estimativa da demanda do produto a partir de um cenário de

crescimento do PIB. Este cenário de crescimento econômico utilizado nas projeções foi

desenvolvido pela FIPE-USP e considera uma taxa média de crescimento do PIB de 4,4% ao

ano.

Tabela A3 – Projeção do crescimento do PIB

2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 2024 2025

2,0% 4,8% 4,8% 4,8% 4,5% 4,5% 4,5% 4,5% 4,5% 4,5% 4,5% 4,5% 4,5% 4,5%

Fonte: Abrace/FIPE-USP

Este cenário pode ser considerado um cenário otimista de crescimento do PIB. Entretanto, o

objetivo do estudo foi avaliar justamente o papel do gás na competitividade da indústria de

insumos básicos para sustentar um crescimento desejável do PIB.

A análise foi construída com base em quatro cenários de preços de gás natural. Utilizamos

como premissa metodológica isolar o efeito do preço do gás natural na competitividade

industrial. Ou seja, o exercício considera apenas as alterações da situação competitiva

decorrentes de variações do preço do gás, não levando em conta as demais variáveis que

sabidamente impactam a competitividade industrial, como taxa de câmbio e tributação.

O cenário de gás natural mais competitivo considerou que o preço final do gás para

consumidores industriais de grande porte seria de US$ 7/MMBTU. Esse cenário

corresponderia a uma situação de elevada disponibilidade do combustível e resultado de uma

política de precificação voltada à promoção do desenvolvimento industrial em segmentos

intensivos em gás natural. O segundo cenário considerou preço de gás de US$ 10/MMBTU. O

gás natural teria maior disponibilidade. Neste cenário, consideramos que não haveria grandes

rupturas com a atual metodologia de formação de preços na cadeia do gás natural. O cenário

de preço de US$ 14/MMBTU corresponde a manutenção do nível atual de preço do gás para

os consumidores industriais dos segmentos analisados. Esse preço considera os descontos

praticados na atualidade para o segmento industrial. O preço de US$ 17/MMBTU

corresponde a uma deterioração da competitividade do gás nacional. Esse seria o preço se os

descontos praticados na atualidade fossem eliminados.

8.1 Projeções do desempenho econômico dos segmentos

As previsões contemplaram os seguintes aspectos de desempenho dos segmentos:

faturamento, balança comercial e investimento.

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O consumo aparente de cada segmento foi estimado através da elasticidade-renda (PIB) de

cada segmento, fornecida pela FIPE-USP. O faturamento corresponde à soma entre consumo

aparente e exportações líquidas.

Tabela A4 – Elasticidade da demanda nos segmentos em relação ao pib

Mineração 0,95

Papel e Celulose 1,33

Química 1,20

Vidro 0,96

Cerâmica 0,96

Metalurgia 1,71

Siderurgia 1,07

Fonte: FIPE – USP

As importações consistem na variável mais sensível em relação a variações no preço do gás

natural. Para analisar a situação de competitividade, foi comparado o preço do gás natural

para a indústria no Brasil com o preço do gás incorporado em produtos que são importados

pelo Brasil. Ao preço do gás natural do produto importado, foram adicionados os custos de

transporte, a tarifa de importação e o risco do importador. O custo de transporte foi calculado

como uma média dos valores divulgados em contratos de importação pelo SECEX/MDIC,

adicionados de uma estimativa de custos logísticos para embarque e desembarque dos

produtos. A tarifa média de importação seguiu os valores estimados em Castilho et. al. (2009)

e levantados nas entrevistas realizadas. O risco do importador corresponde ao diferencial de

custos que justifica recorrer a importações e foi estimado em 15%, a partir das entrevistas

realizadas. Ou seja, se o diferencial de preço entre produto doméstico e importado for inferior

a 15% não há estímulo para o importador competir com o produto nacional: o importador fica

sujeito a maiores riscos, já que a interação com o produtor será custosa, o prazo de entrega

será maior e os volumes negociados serão mais significativos.

Assim, foi utilizado como hipótese o fato de os fornecedores brasileiros substituírem os

produtos importados quando o preço do gás é mais competitivo que o valor do gás embutido

nos produtos importados. Assim, nos cenários de gás brasileiro mais competitivo, a taxa de

importação se reduz gradualmente até 2025, quando as importações serão provenientes de

países que têm acesso a gás natural mais competitivo.

Para a taxa de exportação, assumimos que essa só será alterada nos segmentos voltados para

exportação, ou naqueles em que o peso do gás natural é mais significativo. Nesses casos,

adotamos como referência os cenários oficiais e de associações. No caso do alumínio, foram

utilizados os cenários da nota técnica 4 do Grupo de Trabalho do Alumínio (ABAL, 2011).

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No caso de pelotização, o documento de referência foi o Plano Nacional de Mineração – 2030

(MME/SGM, 2011). O cenário de exportações de celulose seguiu o Plano 2020-2021 do

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA/Embrapa, 2011).

De acordo com a metodologia adotada, as diferenças no faturamento para os diferentes

cenários de competitividade do gás natural analisados estão associadas aos impactos do preço

do gás na balança comercial do setor industrial. Desta forma, é possível observar o potencial

que o gás natural tem para afetar a dinâmica econômica do setor.

Os investimentos foram projetados a partir da identificação da elasticidade do investimento

em relação ao faturamento de cada segmento. Para tanto, foram rodadas regressões estatísticas

que utilizaram a base de dados da Pesquisa Industrial Anual (PIA) do IBGE (ver resultado na

tabela A5) (IBGE, 2012). Portanto, para cada projeção do faturamento nas diferentes

indústrias, podemos associar uma trajetória para os investimentos totais esperados. Da mesma

forma que no faturamento, as diferenças nas curvas projetadas do investimento podem ser

associadas aos diferentes cenários de competitividade do gás natural.

Tabela A5 – Elasticidade do investimento em relação ao faturamento setorial

Mineração 0,85

Papel e Celulose 1,04

Química 0,94

Vidro 1,04

Cerâmica 0,91

Alumínio 1,02

Siderurgia 1,20

Fonte: Elaboração própria

8.2 Projeções do consumo setorial de gás natural

Para estimar o consumo de gás natural dos segmentos foi utilizado um modelo desenvolvido

pelo Grupo de Economia da Energia que permite projetar a matriz energética futura de cada

segmento industrial, considerando substituições energéticas baseadas no balanço de energia

útil (modelo intitulado GEE-Matriz). Ao levar em conta o balanço de energia útil, o modelo

GEE-Matriz considera os diferenciais de rendimento energético entre as fontes nas estimações

da substituição inter-energética.

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O primeiro passo do modelo consistiu em projetar a matriz de uso de energia nos segmentos

analisados em 2025, mantendo as participações das fontes energéticas. Foram aplicadas as

projeções de crescimento do faturamento em cada segmento e as elasticidades do consumo

total de energia em relação ao faturamento. As elasticidades foram estimadas estatisticamente

a partir do relacionamento entre o índice de produção física da Pesquisa Industrial Mensal do

IBGE (IBGE, 2012a) e o consumo de energia por setores da indústria fornecidos no Balanço

Energético Nacional (EPE, 2011), compreendendo o período 1997 a 2010.

Tabela A6 – Elasticidade do consumo de energia em relação ao faturamento setorial

Papel e Celulose 1,25

Química 0,85

Siderurgia 1,02

Alumínio 1,10

Cerâmica 1,03

Mineração 0,89

Vidro5 1,02

Fonte: Elaboração própria

Uma vez estimada a demanda total de energia dos segmentos industriais, foram construídos

cenários de substituição de outras fontes energéticas por gás natural. Estes cenários se

basearam na avaliação dos preços relativos entre os energéticos. Ou seja, em cada cenário de

preço do gás natural, a taxa de substituição foi estimada a partir da competitividade em

relação aos combustíveis utilizados em cada segmento. As entrevistas serviram para

identificar o potencial de substituição dos segmentos.

No cenário de gás a US$7/MMBTU , a substituição é mais intensa, alcançando combustíveis

atualmente mais competitivos que o gás natural, como carvão, lenha plantada, coque de

petróleo6. Ao preço atual, a substituição seria limitada ao óleo combustível e GLP. Com o gás

a US$ 17/MMBTU, não ocorreria substituição de energéticos.

5 Como o balanço não disponibiliza dados para o segmento de vidros, tomamos como referência a média das

elasticidades dos segmentos. 6 No caso da lenha nativa e do coque do petróleo a substituição seria parcial (apenas na expansão dos setores) e

motivada por questões ambientais, já que seus preços são muito baixos.

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Tabela A7 – Cenários de substituição de fontes energéticas por gás natural no período 2010-2025

Fonte: Elaboração Própria

Assumimos que a substituição ocorre de forma gradual e linear entre 2010 e 2025. É

importante salientar que, como os setores experimentam forte crescimento no período, a

substituição nem sempre implica diminuição absoluta do consumo do combustível

substituído.

Em um cenário de preços competitivos do gás natural, uma parcela relevante de seu consumo

na indústria corresponderá à cogeração (produção conjunta de calor e eletricidade). Foi

elaborado um estudo de viabilidade técnico-econômica de um projeto padrão de cogeração

para identificar o preço do gás natural que estimularia a cogeração. Foram adotadas as

seguintes premissas:

Taxa de retorno do capital próprio 12%

Taxa de Câmbio: 2,00 R$/US$

Cogeração em ciclo simples

Preço da eletricidade R$150/MWh

US$ 17/MMBTU

Siderurgia

50%

Carvão

metalúrgic

o (finos)

80% Óleo

Comb.80% GLP

80% Óleo

Comb.80% GLP 80% Óleo Comb. 80% GLP -

Vidro -

Alumínio50% Óleo

Comb50% GLP

25%

Coque Pet

25% Óleo

Comb25% GLP

12,5%

Coque P-

Química80%

carvão

80% Óleo

Comb80% GLP

50%

Coque Pet

80% Óleo

Comb80% GLP

25%

Coque Pet80% Óleo Comb 80% GLP -

Papel e

Celulose

80%

carvão25% lenha

50% Óleo

Comb50% GLP

12,5%

lenha

50% Óleo

Comb50% GLP 50% Óleo Comb 50% GLP -

Cerâmica 50% Lenha50% Óleo

Comb

25%

Coque Pet25% Lenha

50% Óleo

Comb

12,5%

Coque Pet-

-

25% Óleo Comb

US$ 7/MMBTU US$ 10/MMBTU US$ 14/MMBTU

100% Óleo Comb. 100% Óleo Comb. 100% Óleo Comb.

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Geração de eletricidade na base (sem excedentes)

Eficiência energética: 30% energia elétrica, 50% energia térmica e 20% Perdas

Nessas condições, o projeto de cogeração seria viável com um preço do gás natural de US$

8,14/MMBTU. Assim, consideramos o consumo adicional de gás natural para cogeração

apenas no cenário de menor preço (US$ 7/MMBTU).

Baseados nas entrevistas, assumimos que cerca de metade do calor de processo proveniente

da utilização de gás natural pode ser utilizada para cogeração. No segmento de cerâmica,

dadas as características técnicas do processo produtivo, os sistemas de cogeração utilizam

calor de queima direta (fornos). O potencial de produção de eletricidade é menos relevante já

que a eficiência elétrica é menor (Eficiência: 72% calor, 18% eletricidade; 10% perda).

Assumimos que a participação da cogeração no segmento alcança o padrão da Espanha, onde

a cogeração é bastante difundida no segmento (Miralles, 2011).