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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ COORDENAÇÃO DE ENGENHARIA AMBIENTAL CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL FRANCISCO FERREIRA MARTINS NETO GABRIELLE SOLDERA HENRIQUE CAMARÃO TREVIZAN ISÍS MOREIRA RAÍSSA MARTINS AMADEO IMPLEMENTAÇÃO DE CRIADOURO DO Caiman latirostris (DAUDIN, 1802) NO MUNÍCIPIO DE PORTO CAMARGO PR. CAMPO MOURÃO 2014

IMPLEMENTAÇÃO DE CRIADOURO DO Caiman latirostris (DAUDIN, 1802) NO MUNÍCIPIO DE PORTO CAMARGO – PR

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Após a regulamentação da criação do Caiman latirostris (DAUDIN, 1802), "jacaré-do-papo-amarelo” em abatedouros, certificados e fiscalizados, o mercado dessa espécie tem se tornado bastante atrativo para diversos tipos de produtores rurais. Neste sentido este trabalho demonstra um pouco mais o processo de cativeiro e o mercado dessa classe procurando realizar um planejamento completo de todo o processo de criação, transporte, abate e venda do animal.

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  • UNIVERSIDADE TECNOLGICA FEDERAL DO PARAN

    COORDENAO DE ENGENHARIA AMBIENTAL

    CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL

    FRANCISCO FERREIRA MARTINS NETO

    GABRIELLE SOLDERA

    HENRIQUE CAMARO TREVIZAN

    ISS MOREIRA

    RASSA MARTINS AMADEO

    IMPLEMENTAO DE CRIADOURO DO Caiman latirostris (DAUDIN, 1802) NO

    MUNCIPIO DE PORTO CAMARGO PR.

    CAMPO MOURO

    2014

  • FRANCISCO FERREIRA MARTINS NETO

    GABRIELLE SOLDERA

    HENRIQUE CAMARO TREVIZAN

    ISS MOREIRA

    RASSA MARTINS AMADEO

    IMPLEMENTAO DE CRIADOURO DO Caiman latirostris (DAUDIN, 1802) NO

    MUNCIPIO DE PORTO CAMARGO PR.

    Trabalho apresentado como requisito da disciplina de manejo de recursos naturais, referente ao stimo perodo do Curso Superior de Engenharia Ambiental da Paran campus Campo Mouro - PR Prof. Dra.: Dbora Cristina

    CAMPO MOURO

    2014

  • RESUMO

    Aps a regulamentao da criao do Caiman latirostris (DAUDIN, 1802), "jacar-do-

    papo-amarelo em abatedouros, certificados e fiscalizados, o mercado dessa espcie

    tem se tornado bastante atrativo para diversos tipos de produtores rurais. Neste

    sentido este trabalho demonstra um pouco mais o processo de cativeiro e o mercado

    dessa classe procurando realizar um planejamento completo de todo o processo de

    criao, transporte, abate e venda do animal.

    Palavras-chave: Caiman latirostris; jacar-do-papo-amarelo; cativeiro.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Fluxograma de Licenciamento Ambiental para empreendimentos de fauna

    silvestre. ...................................................................................................................... 7

    Figura 2 - Distribuio geogrfica de Caiman latirostris no Brasil. .............................. 8

    Figura 3 - Mapa de localizao do municpio de Porto Camargo - Paran, Brasil. ... 12

    Figura 4 - Trajeto entre o criadouro (Porto Camargo - PR) e o abatedouro (Corumb-

    MS). Distncia aproximada de 770 Km. .................................................................... 16

    Figura 5 - Etapas do abate: A) Tanques de assepsia B) Atordoamento C)

    Desmedulizao D) Esfola. ....................................................................................... 17

    Figura 6 - Formas de corte da pele. .......................................................................... 19

    Figura 7 - Processo de corte e embalagem da carne. ............................................... 20

    Figura 8 - Artesanato. A) realizado atravs de animal morto naturalmente B) Utilizando

    somente a cabea. .................................................................................................... 20

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ......................................................................................................... 3 2 OBJETIVOS ............................................................................................................. 5 2.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................................... 5 2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS ................................................................................. 5 3 LEGISLAO .......................................................................................................... 6 4 CARACTERIZAO DA ESPCIE ......................................................................... 8 5 MATERIAIS E MTODOS ..................................................................................... 10 5.1 CRIAO EM CATIVEIRO ................................................................................. 10 5.2 INFRAESTRUTURA ............................................................................................ 11 5.3 CAPTURA DAS MATRIZES ................................................................................ 13 5.4 ALIMENTAO ................................................................................................... 14 5.5 REPRODUO ................................................................................................... 15 5.6 TRANSPORTE .................................................................................................... 16 6 ABATE ................................................................................................................... 17 6.1 ESFOLA .............................................................................................................. 17 6.2 CARNE ................................................................................................................ 19 6.3 SUBPRODUTOS ................................................................................................. 20 REFERNCIAS ......................................................................................................... 21

  • 3

    1 INTRODUO

    Devido grande explorao de fauna silvestre sem normas regentes sobre a

    caa ou explorao comercial dos indivduos, muitas espcies entraram em declnio

    populacional, algumas com risco de extino. A perda de espcies ou de seus

    indivduos, que se convencionou em anos recentes a chamar de diversidade biolgica

    ou biodiversidade, tem causado em vrias ocasies a perda da funcionalidade

    ecolgica dos ecossistemas (Vitousek & Hooper 1994).

    A ocupao dos habitats naturais dos animais, seja para plantio ou

    crescimento urbano, foi mais um fator observado, ocasionando a necessidade de

    normas especificas para a manuteno da biodiversidade do Pas.

    A criao em cativeiro, onde a produo d-se inteiramente em ciclo fechado,

    havendo investimentos no apenas na coleta do produto, mas tambm na reproduo

    e crescimento dos animais, proporciona a preservao da fauna silvestre, visto que

    no ocorre a predao de exemplares na natureza.

    O Caiman latirostris (DAUDIN, 1802), popularmente conhecido como jacar-

    de-papo-amarelo estava includo na lista oficial de animais ameaados de 1989

    (Martins & Molina 2008), fato que no permitia sua explorao comercial.

    Porm o jacar-de-papo-amarelo no est mais includo na lista nacional da

    fauna brasileira ameaada de extino (MMA 2003), tendo sido avaliada como Menos

    Preocupante (LC) na oficina preparatria para a lista nacional em 2002.

    Mais do que uma nova atividade comercial, a criao de animais silvestres se

    integra em um conjunto de alternativas para utilizao sustentada e racional dos

    recursos naturais, que afirma que pode explorar comercialmente esses recursos sem

    necessariamente devast-los ou extingui-los, da mesma forma, promove a valorizao

    dos recursos faunsticos nacionais, representando uma alternativa para a produo

    de protena e subprodutos de origem animal altamente adaptada s reais condies

    naturais do ambiente (SANTOS et al, 2007).

    Devido ao considervel potencial econmico (Brazaitis 1989), alto valor

    agregado e normatizao da explorao, tem havido no Brasil nos ltimos anos

    interesse na explorao zootcnica da espcie devido alta demanda por sua pele.

    Alm disso, sua carne tornou-se uma iguaria muito apreciada e seus

    subprodutos so utilizados em larga escala. Na maior parte da dcada de 1960, o

  • 4

    Brasil foi o principal exportador de peles de jacars, atingindo 785 mil peles exportadas

    em 1967 (Mouro,2000).

    Estima-se que o potencial do mercado global de peles de crocodilos e

    similares seja de 1,5 milho de peas por ano, e, ainda assim no suficiente para

    atender a demanda. O mercado para o jacar de papo amarelo brasileiro promissor.

    O couro do couro do animal compete com o do crocodilo niltico, mas tem custo de

    produo menor. (Verdade, 2004).

  • 5

    2 OBJETIVOS

    2.1 OBJETIVO GERAL

    O objetivo do trabalho a implementao de um criadouro de Caiman

    latirostris (DAUDIN, 1802) no municpio de Porto Camargo, localizado no estado do

    Paran, Brasil.

    2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS

    Dimensionar as instalaes do local do criadouro.

    Revisar a legislao pertinente.

    Planejar a criao, transporte, venda e abate do animal.

    Analisar o mercado consumidor.

  • 6

    3 LEGISLAO

    A criao de animais da fauna brasileira em cativeiro para fins comerciais ou

    econmicos, previstos no Artigo 6 da Lei 5197/67, de 3 de janeiro de 1967,

    regulamentada atravs de portarias publicadas pelo IBAMA.

    A Portaria 132/88 de 5 de maio de 1988 uma portaria geral que trata da

    implantao de criadouros comercias para as espcies que no possuam um plano

    de manejo especfico. Porm, por ser considerara uma espcie em risco, a mesma

    no poderia ser criada para fins comerciais.

    Foi apenas em 1997, atravs das portarias 117/1997 e 118/1997 do IBAMA,

    que definiram aspectos legais quanto a criao, abate e comercializao de fauna

    silvestre no Brasil, conforme os artigos:

    Art. 1 Normalizar o funcionamento de criadouros da fauna silvestre brasileira com

    fins econmicos e industriais.

    Art. 2 Para os efeitos desta Portaria, considera-se criadouro a rea dotada de

    instalaes capazes de possibilitar o manejo, a reproduo, a criao ou recria de

    animais pertencentes a fauna silvestre brasileira.

    Art. 3 Considera-se fauna silvestre brasileira todos aqueles animais pertencentes

    s espcies nativas, migratrias e quaisquer outras, aquticas ou terrestres,

    reproduzidos ou no em cativeiro, que tenham seu ciclo biolgico ou parte dele

    ocorrendo naturalmente dentro dos limites do Territrio Brasileiro e suas guas

    jurisdicionais.

    E a Portaria No.117/92 a responsvel pela normatizao da comercializao

    de peles de crocodilianos brasileiros.

    O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis

    IBAMA, tambm estabelece a criao de jacars em cativeiro: a Instruo Normativa

    no. 01/1999 (Renomeada para IN 003/99) estabelece os critrios para o licenciamento

    ambiental de empreendimentos e atividades que envolvam manejo de fauna silvestre

    extica e de fauna silvestre brasileira em cativeiro; Instruo Normativa no. 02/2001

    Dispe sobre a obrigatoriedade na identificao individual (marcao) de espcimes

    da fauna silvestre para fins de controle de criao e comrcio; Portaria no. 102/1998

    Dispe sobre a implantao de criadouros de animais da fauna silvestre extica com

  • 7

    fins econmicos e industriais; e Portaria no 93/1998 Dispe sobre a importao e

    exportao de espcimes vivos, produtos e subprodutos da fauna silvestre brasileira

    e da fauna silvestre extica (AVEIRO, 2012).

    Para empreendedor abater e comercializar animais exticos necessrio ter

    a Autorizao de Empreendimentos Utilizadores de Fauna Silvestres (Figura 1).

    Figura 1 - Fluxograma de Licenciamento Ambiental para empreendimentos de fauna silvestre.

  • 8

    4 CARACTERIZAO DA ESPCIE

    Os crocodilianos apresentam-se divididos em 3 subfamlias, 8 gneros e 22

    espcies. Como j citado anteriormente, o Caiman latirostris (DAUDIN, 1802),

    vulgarmente conhecido como jacar-de-papo-amarelo, pertence classe Reptilia,

    da ordem Crocodylia e famlia Alligatoridae.

    Segundo Verdade (2006) seu nome derivado do latim lati (amplo, largo) e

    rostris (focinho) e refere-se ao focinho largo da espcie, proporcionalmente o mais

    amplo dos crocodilianos existentes.

    um crocodiliano de porte mdio, com comprimento total mximo de 3,5 m,

    mas atualmente difcil encontrar animais maiores que 3 metros na natureza

    (VERDADE, 1998).

    Moulton (1999) cita que o mesmo ocorre em ambientes lnticos, sendo

    frequentemente encontrado em lagoas marginais, manguezais, brejos e pntanos de

    gua doce e salgada.

    A distribuio geogrfica (Figura 2) da espcie compreende a regio sudeste

    da Amrica do Sul, incluindo Argentina, Bolvia, Brasil, Paraguai e Uruguai. Estende-

    se pela regio costeira do Brasil, estando presente nas bacias do So Francisco e

    Paran at o rio Paraguai (BRAZAITIS 1973, GROOMBRIDGE 1982 e BRAZAITIS et

    al., 1990).

    Figura 2 - Distribuio geogrfica de Caiman latirostris no Brasil.

  • 9

    Os crocodilianos so predadores oportunistas, podendo se alimentar de

    qualquer animal vivo capturvel, incluindo os da mesma espcie (Santos et al., 1993).

    Na natureza os filhotes de crocodilianos alimentam-se de crustceos, gastrpodes e

    principalmente insetos, enquanto os adultos so oportunistas e consomem mamferos,

    artrpodes, peixes, aves e rpteis (SARKIS-GONALVES 2001).

    Segundo Molina(1992) a presena de animais dominantes em uma rea pode

    fazer com que outros indivduos tenham que restringir sua rea de ocupao para

    lugares imprprios para a sua sobrevivncia.

    Sua reproduo ocorre entre os meses de janeiro e maro, coincidindo com o

    perodo de enchente dos rios, sendo influenciado pelas altas temperaturas e a

    primeiras chuvas que sinalizam as fmeas a fazerem as posturas do ovos. O jacar-

    de-papo-amarelo constri ninhos em forma de montculos de material vegetal (folhas

    e ramos) e terra, durante a estao chuvosa (VERDADE, 1998), com a postura

    podendo variar entre 14 e 51 ovos (VERDADE,1995). A massa dos ovos varia entre

    60 e 82 gramas, com dimenses variando entre 3,4 e 4,5cm de dimetro e entre 6 e

    7,5cm de comprimento (Campos & Mouro 1995)

    Da postura dos ovos at a ecloso dos jovens pode demorar at 70 dias,

    dependendo das condies de incubao dos ovos e dos cuidados das fmeas. O

    nmero de ovos depende principalmente do estado nutricional e do tamanho das

    fmeas, que pode variar entre habitats e entre anos (Campos 2004).

    Quanto aos aspectos entre os gneros, segundo VERDADE (2003),

    apresentam dimorfismo sexual, machos em geral apresentam tamanho corpreo e

    crnio relativamente mais largo que as fmeas.

  • 10

    5 MATERIAIS E MTODOS

    5.1 CRIAO EM CATIVEIRO

    Apesar da existncia de criadouros de jacar no fim dos anos 90, o intuito dos

    mesmo baseava-se na restituio da espcie ao habitat natural, eliminando o risco de

    extino. Segundo o IBAMA(2005) existem nove criadouros legalizados no Brasil.

    A criao em cativeiro tem como principal fator limitante o custo de produo.

    A alimentao responsvel por 50 a 60% do custo total de produo (RODRIGUEZ

    et al., 1996). Este problema pode ser resolvido atravs da obteno e utilizao de

    alimentos de baixo custo, como descartes de produo animal (VERDADE et

    al.,1990).

    Mesmo com altos custos, a viabilidade econmica d-se pelo alto valor

    agregado, dado o fato de, segundo VALADARES (1997) a carne de animais silvestres

    contm baixo teor de gordura e so ricas em protenas, qualidades ideais para os

    consumidores que procuram carnes mais saudveis (VALADARES, 1997).

    A segunda espcie de jacar brasileiro em valor potencial de pele no mercado

    internacional o Caiman latirostris (DAUDIN, 1802) (jacar-de-papo-amarelo),

    tambm pela menor presena de osteodermos e padro de escamas (FUCKS et

    al.1989, KING e BRAZAITIS 1971). Segundo MARINHO (2006) osteodermos so

    placas sseas de origem drmica situados sobre a epiderme e recobertos por uma

    camada de queratina.

    A implantao de um criadouro de jacars em cativeiro necessita da presena

    de um profissional de formao superior em reas como zootecnia, biologia,

    veterinria ou agronomia, para servir como responsvel tcnico pelo empreendimento

    perante o IBAMA. A obteno do registro no rgo de fiscalizao requer a prestao

    de informaes detalhadas a respeito do tipo de criadouro a ser instalado, espcie a

    ser criada, quantidade de animais e uma estimativa de produo (MATTAR, 2011).

    Ainda segundo o mesmo, o registro vlido por dois anos e o criadouro deve

    encaminhar, uma vez ao ano, um relatrio ao IBAMA, que servir de base para a

    fiscalizao por parte do rgo.

  • 11

    Ser implementado o sistema de criao Farming, tambm conhecido como

    ciclo fechado, onde segundo AZEVEDO (2007), todas as etapas do ciclo produtivo

    ocorrem em cativeiro, incluindo a cpula, postura, incubao, ecloso dos ovos e o

    desenvolvimento dos filhotes at o abate. Para se iniciar o sistema produtivo deve-se

    capturar os primeiros animais que serviro como reprodutores. Neste caso, para

    capturar as fmeas, estas devem medir 1,60 m de comprimento e os machos 1,80 m.

    Apenas o abate no ser realizado no local, sendo os animais destinados a

    cooperativa de criadores de jacar localizada no muncipio de Dourados MT. A

    mesma proporciona uma parceira com os produtores, realizando o abate por meio de

    local devidamente apropriado e regulamentado. importante frisar que somente a

    segunda gerao nascida em cativeiro pode ser comercializada (CRIAR E PLANTAR,

    2011).

    5.2 INFRAESTRUTURA

    O criadouro ser implantado no Distrito de Porto Camargo, no municpio de

    Icarama-PR, onde ocorre a ligao do estado do Paran com o Mato Grosso do Sul

    atravs da BR-487 (Ponte Porto Camargo/PR - Cabure/MS). Esta rodovia que corta

    o Rio Paran possibilita viagens mais curtas entre os dois estados. No Distrito j existe

    um porto fluvial, o que tambm facilita e diminui os custos de exportao/importao

    na regio.

  • 12

    Figura 3 - Mapa de localizao do municpio de Porto Camargo - Paran, Brasil.

    Em relao as instalaes, existem requisitos determinados pelo IBAMA,

    sendo eles: rea com cerca de tela de 1,5 m de altura; muro de alvenaria de 30 cm de

    altura na parte inferior; no mnimo um espao de 40 m para cada animal, sendo que

    cerca de 10 m deve ser constitudo de gua, com um lago com 60 cm de

    profundidade. As laterais do lago devem ser inclinadas para facilitar o acesso dos

    animais e a regio seca deve conter arbustos e capim para a confeco dos ninhos.

    O recinto necessitar de local com sombra para que os animais possam se

    proteger do sol forte. A sombra deve ser fornecida por rvores, para tornar o local

    parecido com o habitat natural da espcie. Deve-se porm tomar cuidado para o tipo

    de rvore a ser plantada no recinto, pois as suas razes no devem comprometer os

    tanques. Nos locais de criao devem haver reas midas e secas, sendo preciso

    observar diariamente os animais para verificar a possvel ocorrncia de doenas

    (ARURA, 1997 apud AZEVEDO, 2007).

    O criadouro ter rea de 10 hectares, podendo comportar at 100 fmeas e

    25 machos. Do total da rea, obrigatoriamente 2/3 sero compostos por gua, com

    aude de no mnimo 60 cm. Define-se est profundidade para que possa ocorrer a

    cpula, dado que a mesma realizado no aude. As margens dos audes devem

  • 13

    apresentar inclinao de 45 graus para facilitar a entrada e sada dos jacars.

    Deveram existir ilhas dentro dos audes para servirem de local para os ninhos.

    A incubao dos ovos ou filhotes com at um ms de idade ser realizada

    atravs de uma caixa de PVC de mil litros. No seu interior, ser instalada uma luz

    infravermelha para manter a temperatura constante.

    Para promover a segurana dos indivduos contra predadores e evitar fugas,

    toda a rea do criadouro dever ser devidamente cercada. A cerca deve ter 30 cm

    debaixo da terra e 1,50 m de altura (MATTAR, 2011).

    No recinto haver um barraco de engorda, para onde devem ser levados os

    filhotes nascidos em cativeiro para o crescimento, at o momento de abate. As baias

    devem ter quatro metros quadrados, cada uma com 40 animais (10 animais/m2)

    (AZEVEDO, 2007).

    Baseado no Servio Brasileiro de Normas Tcnicas (SRBT, 2012) a baia deve

    possuir piscinas com gua ocupando 30% do espao total e com profundidade de 25

    cm. A gua deve ser de qualidade e trocada todos os dias antes da alimentao,

    utilizando-se desinfetantes a base de iodo para a higienizao. Deve-se construir um

    corredor de 1 m de largura para permitir o acesso para o manejo e a utilizao de

    canaletas para o fluxo de gua durante a higienizao (AZEVEDO, 2007).

    Segundo AZEVEDO (2007), a temperatura mais adequada para criao de

    30C e, para isso, coloca-se a gua em estufas ou em caldeiras, podendo tambm

    serem instaladas resistncias no piso. Ainda de acordo com o mesmo, a qualidade da

    gua deve ser analisada e cada local deve ter sua fonte para evitar a propagao de

    doenas de um local para o outro.

    5.3 CAPTURA DAS MATRIZES

    Inicialmente sero capturados exemplares adultos na natureza, respeitando o

    tamanho mnimo definido pelo IBAMA. No caso de futuramente novos animais forem

    inseridos no criadouro, deve-se fazer o isolamento e a observao destes, durante um

    perodo de 45 a 65 dias, para evitar a entrada de novas doenas. A alta temperatura

  • 14

    e umidade do local propicia o crescimento de micro-organismos patognicos que

    podem contaminar toda a criao (ARUR, 2011).

    A captura ser realizada atravs de dardo com anestsico, posteriormente

    imobilizando a boca do animal com tiras de borracha ou cordas e cobrindo seus olhos.

    Esse mtodo visa ocasionar o mnimo de estresse para o exemplar.

    5.4 ALIMENTAO

    Para alimentao da populao sero utilizados subprodutos e

    descartes de criadouros de animais de corte, tais como bovinos e sunos, localizados

    prximos ao empreendimento. Tais produtos so triturados, e acrescentasse

    compostos de vitaminas e sais minerais. Para indivduos adultos, a proporo de

    composto ser de 3% do peso corporal do mesmo, e 35% no caso de filhotes. Sero

    adicionados carboidratos a misturado, pois segundo STATON et. al.(1990a), dieta de

    crocodilianos deve conter at 14% de carboidratos para proporcionar um

    desenvolvimento adequado aos animais.

    As refeies para adultos sero realizadas duas vezes por semana, sendo

    cada refeio equivalente a 3,5% de seu peso corporal. Filhotes a partir de um ms

    de vida realizaro cinco refeies semanais, totalizando 7% do seu peso corporal

    semanalmente. Indivduos recm-nascidos receberam alimento a partir do terceiro dia

    aps a ecloso dos ovos, sendo alimentados diariamente com carne moda, ossos e

    vsceras na proporo de 3% do peso vivo. As sobras devero ser retiradas e o local

    lavado com gua sob presso. ARURA (2011) recomenda o fornecimento de comida

    ao meio-dia, porque nesse horrio os animais esto mais ativos.

  • 15

    5.5 REPRODUO

    H grupos grandes mantidos num nico local onde um nico macho

    responsvel pela fertilidade de um grande nmero de fmeas (Pooley 1990). Ser

    adotada a proporo de cinco fmeas para cada macho reprodutor.

    A reproduo ocorrer dentro dos audes inicialmente no ms de julho, por

    fmeas com pelo menos 7 anos de idade e machos com 10. Os mesmo preferem a

    ocorrncia da copula no perodo matutino, dada as temperaturas mais amenas.

    A postura comea entre o oitavo e o dcimo dia aps o acasalamento, com a

    desova ocorrendo durante o dia. Segundo MATTAR (2002) a fmea constri o ninho,

    escavando com as patas dianteiras a uns 5 a 10 m de distncia da gua e em locais

    sem muita declividade. Os ovos so enterrados a uma profundidade de 30 cm.

    Os ovos alocados pela fmea sero recolhidos imediatamente a postura,

    evitando assim contaminao ou quebra, e sero colocados nas incubadoras para que

    haja o controle da temperatura entre 30C e 32C e umidade relativa de 100%. Esse

    controle de temperatura ocorre dada que nessa faixa no a diferenciao entre o

    nascimento de machos e fmeas. Em temperaturas mdias de 28C a 30C nascem

    mais fmeas e em temperaturas mdias de 32C a 34C nascem mais machos.

    Caso a recolha dos ovos ocorra entre o segundo e o dcimo-quinto dia aps

    a postura ou se tenha perdido a data da postura deve-se seguir a orientao correta

    dos ovos, ou seja, mant-los na mesma posio em que se encontravam no ninho.

    Desta forma, impede-se a morte do embrio por asfixia, j que nessa fase ele no

    consegue se reposicionar sobre a gema aps fixar-se casca internamente (Webb et

    al., 1987a, 1987b).

    A sobrevivncia do embrio est intimamente ligada ao controle da umidade

    e temperatura nas incubadoras. Baixas temperaturas resultam na morte embrionria,

    enquanto comum que ovos expostos a alta umidade e temperatura se infectem com

    fungos e bactrias presentes no momento da coleta.

    Os primeiros sinais de proximidade de ecloso so as rachaduras na casca

    do ovo e a vocalizao dos animais ainda dentro do ovo. Funcionrios realizaram a

    quebra dos ovos, dado que os filhotes no conseguem realiza-la sozinha, sendo

    auxiliados pela me quando na natureza. O perodo para ecloso dos filhotes de 60

    a 65 dias.

  • 16

    5.6 TRANSPORTE

    O abate ser realizado em frigorifico devidamente licenciado para abate de

    animais silvestres, localizado no municpio de Corumb - MS. Para isso, os animais

    sero transportados vivos sendo necessrio obter a Licena de transporte emitida pelo

    IBAMA; documento de origem do animal ou o termo de depsito do IBAMA; alm da

    Guia de Trnsito Animal (GTA) do Ministrio da Agricultura, Pecuria e

    Abastecimento, por se tratar de transporte interestadual, que ser emitida por um

    veterinrio contratado pelo criadouro, autorizado pelo Ministrio.

    A Empresa Caimasul Caimans do Sul do Pantana Importao e Exportao

    Ltda. De Atividade: Abatedouro, produo e comercio de produtos e sub-produtos da

    carne de jacar ser a responsvel pelo fim do processo de criao dos animais at

    a venda.

    Figura 4 - Trajeto entre o criadouro (Porto Camargo - PR) e o abatedouro (Corumb- MS). Distncia aproximada de 770 Km.

  • 17

    6 ABATE

    Para o abate e a comercializao da carne de jacar e outros animais silvestres,

    deve-se seguir a legislao do Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento

    (MAPA) e da Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVISA), que regulamentam

    a construo de matadouros, alm de outras necessidades para a comercializao de

    alimentos.

    No frigorfico, o animal dever passar por etapas de higienizao os chamados

    tanques de assepsia, atordoamento e desmedulizao para ento ser feita a esfola

    (Figura 3). A pele do jacar de papo-amarelo no apresenta placas sseas, o que

    permite o aproveitamento de 100% do couro.

    Figura 5 - Etapas do abate: A) Tanques de assepsia B) Atordoamento C) Desmedulizao D) Esfola.

    6.1 ESFOLA

  • 18

    A esfola, termo utilizado para a retirada da pele, feita manualmente e por

    isso exige certa prtica da pessoa que ir realiza-la para que seja obtida uma pea

    inteiria de forma que no apresente furos e nem remendos, o que enobrece ainda

    mais seu custo.

    O tipo de corte da esfola depende da exigncia do comprador e pode ser Belly

    onde a inciso feita a fim de manter o couro do ventre inteiro, obtendo uma pea

    mais lisa e delicada ou da forma Hornback, onde a inciso ser realizada preservando

    o couro das costas, obtendo uma pea mais rugosa e rstica (Figura 4) (FERNANDES,

    2011).

  • 19

    Figura 6 - Formas de corte da pele.

    O ponto de abate do animal determinado pelo tamanho da circunferncia

    abdominal quando esta atinge 18 cm, no entanto comum abat-lo com um ano e

    meio a dois anos de vida, quando sua circunferncia abdominal chegar a 27 cm de

    dimetro para um melhor aproveitamento da pele. (FETT, 2005).

    Aps a retirada do couro, este recebe um banho de bactericida e fungicida

    para evitar a proliferao de agentes externos. Ento, deixado secar e posto no sal

    para conservar a pea, que embalada contendo identificao e informaes sobre o

    processo e numerao fornecidos pelo IBAMA.

    6.2 CARNE

    A carne do jacar tambm aproveitada, passando por processos de

    resfriamento, desossa e embalagem (Figura 5). A carne tem textura semelhante

    carne de frango, porm seu sabor assemelha-se a carne de peixe. Um animal adulto

    produz em mdia 1,7 kg de carne, sendo a carne da regio caudal mais apreciada e

    valorizada.

  • 20

    Figura 7 - Processo de corte e embalagem da carne.

    Conforme a qualidade da carne o preo do quilo, no mercado interno, varia de

    R$ 20 a 25, preo este que incentiva o surgimento de novos criadouros no pas

    (Revista Rural, 2015).

    6.3 SUBPRODUTOS

    O jacar fornece ainda, outros subprodutos como o caso de sua urina,

    utilizada pela indstria de cosmticos como fixador para perfumes. Alm disso, sua

    cabea, unhas e animais que morrem naturalmente so utilizados em peas

    artesanais (Figura 6).

    Figura 8 - Artesanato. A) realizado atravs de animal morto naturalmente B) Utilizando somente a cabea.

  • 21

    REFERNCIAS

    AVEIRO, A. V. D. Criao de Jacar em Cativeiro. Instituto de Tecnologia do Paran TECPAR. 26 Janeiro 2012. AZEVEDO, Isabela Ciarlini de. Anlise sensorial e composio centesimal de carne do jacar-do-papo-amarelo (Caiman latirostris) em conserva. 2007. 75 f. Dissertao (Mestrado) - Departamento de Programa de Ps-graduao em Medicina Veterinria, Universidade Federal Fluminense, Niteri, 2007. Disponvel em: . Acesso em: 14 de dezembro de 2014. AZEVEDO,J.C.N. 2003. Crocodilianos: Biologia, Manejo e Conservao. Joo Pessoa: Arpoador BRAZAITIS, P. 1989. The forensic identification of crocodilian hides and products. pp.17-43. In: Crocodiles: Their Ecology, Management, and Conservation. IUCN - The World Conservation Union, Gland, Switzerland. CAMPOS Z. Movimento e rea de uso do jacar-do-pantanal. IV simpsio sobre recursos Naturais e scio-econmicos do Pantanal Corumb. 2004 Campos, Z. & Mouro, G. 1995. Caiman latirostris (broad-snouted caiman) nesting. Herpetological Review, 26: 203-204. Disponvel em: http://www.botanicaonline.com.br/geral/arquivos/a8.pdf FERNANDES, Vitria Rgina Takeuchi. Caracterizao e processamento da carne de Jacar-do-pantanal (Caiman Yacare): composio fsico-qumica e rendimento. 2011. 129f. Dissertao (Mestrado em Zootecnia) Universidade Estadual de Maring, Maring, 2011. Disponvel em: . Acesso em: 21 de janeiro de 2015 FETT, M.S. Servio Brasileiro de Respostas Tcnicas. SENAI, RS, 29 set. 2005. Capturado em 13 mar. 2006. Online. Disponvel em: . Acesso em: 19 de janeiro de 2015 GLOBO RURAL, Mister Cayman aposta em jacar para exportar. Disponvel em: Acesso em: 19 de janeiro de 2015

  • 22

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